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Tesesário 2004
Tesesário 2004
TESÁRIO
FLORIANÓPOLIS
2004
ÍNDICE
TEOLOGIA DA FÉ....................................................................................................................22
Tese 06..........................................................................................................................................23
Tese 07..........................................................................................................................................26
Tese 08..........................................................................................................................................29
Tese 09..........................................................................................................................................33
CRISTOLOGIA..........................................................................................................................57
Tese 15..........................................................................................................................................58
Tese 16..........................................................................................................................................60
Tese 17..........................................................................................................................................65
Tese 18..........................................................................................................................................67
Tese 19..........................................................................................................................................69
PNEUMATOLOGIA..................................................................................................................72
Tese 20..........................................................................................................................................73
Tese 21..........................................................................................................................................77
Tese 22..........................................................................................................................................80
2
TEOLOGIA DA GRAÇA..........................................................................................................102
Tese 29..........................................................................................................................................103
Tese 30..........................................................................................................................................105
Tese 31..........................................................................................................................................108
ESCATOLOGIA.........................................................................................................................110
Tese 32..........................................................................................................................................111
Tese 33..........................................................................................................................................112
MARIOLOGIA...........................................................................................................................141
Tese 38..........................................................................................................................................142
ECUMENISMO..........................................................................................................................148
Tese 39..........................................................................................................................................149
SACRAMENTOS........................................................................................................................152
Tese 40..........................................................................................................................................153
Tese 41..........................................................................................................................................157
Tese 42..........................................................................................................................................160
Tese 43..........................................................................................................................................163
Tese 44..........................................................................................................................................165
Tese 45..........................................................................................................................................166
Tese 46..........................................................................................................................................167
Tese 47..........................................................................................................................................171
Tese 48..........................................................................................................................................176
Tese 49..........................................................................................................................................179
Tese 50..........................................................................................................................................181
Tese 51..........................................................................................................................................183
Tese 52..........................................................................................................................................187
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................189
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PARTE I: A VERDADE SOBRE A
REVELAÇÃO E A FÉ
TEOLOGIA DA REVELAÇÃO
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TEOLOGIA DA REVELAÇÃO
Tese 01: O homem, criatura de Deus, tende naturalmente para Deus. Pode conhecê-lo
pela criação e pela revelação (Rm 1,18-32; Vaticano I, DS 3004-3007, Trad. Port.:
Documentos Pontifícios 96, 1785-1788). A crise modernista nega esta capacidade. O Vat.
II amplia e consolida na Dei Verbum (92-6) a posição do Vaticano I (CIC 27-29).
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revelação. Os seres são um eco da palavra daquele que os nomeou, manifestam sua presença,
sua majestade, sua sabedoria (Sl 19,2-5; Pr 8,22-31; Eclo 42,15-43; Sb 13,1-9). Deus aparece
como que velado numa nuvem (Ex 13,21), abrasador como fogo ardente (Ex 3,2), atroante na
tempestade (Ex 19,16), suave como a brisa leve (1Rs 19,12ss). A fonte sacerdotal acaba
vendo o universo como expressão da vontade de Deus que, pelos astros e estações, regula os
tempos litúrgicos, os sábados e as festas (Gn 2,2-3); por sua palavra governa os fenômenos da
natureza: a neve, a geada, os ventos (Sl 107,25; 147,15-18), as águas do abismo (Is 44,27); às
suas ordens astros e elementos combatem por Israel (Sl 46,7);
Deus está presente em todas as coisas (panenteísmo), pois em tudo podemos ver e sentir o
seu amor para com todos nós;
A tradição católica considera que há revelação natural: a partir da natureza a razão
humana pode “descobrir” a Deus. Segundo o Vaticano I, a razão natural pode induzir com a
certeza da existência de Deus e isto é possível a partir das coisas criadas (DS 1785; 1806;
1975). “A partir das coisas criadas” pode ser entendido de duas formas: 1) que a partir do
positivo da criação podemos induzir a Deus como causa de efeitos positivos (implica
continuidade entre o mundo e Deus – se entendida num sentido físico, não é compatível com a
afirmação da transcendência de Deus: se os fenômenos da natureza têm seus mecanismos
autônomos de causa e efeito, a transcendência de Deus é reduzida à imanência); 2) que a
partir da carência radical da natureza podemos induzir a Deus como fundamento que dá
consistência a essa natureza (estabelece a relação mundo-Deus no nível metafísico: o físico
tem sua razão de ser ou seu fundamento ontológico no metafísico). A indução racional de
Deus pressupõe uma opção filosófica, isto é, a possibilidade da inconsistência da realidade em
si mesma ou a impossibilidade do sem-sentido da realidade. Se Deus não existe como único
fundamento ontológico possível, a criação é absurda. Sem Deus o mundo é ontologicamente
inconsistente;
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Objeto da revelação: o conteúdo da revelação é duplo: revelação do próprio Senhor e
revelação do seu desígnio de salvação;
Resposta do ser humano: Se Deus fala, a pessoa deve escutar. Pela palavra, Deus se
comunica com sua criatura. Escutar indica a primeira atitude da pessoa ante a revelação: não
de modo material e passivo, mas em disponibilidade totalmente ativa. A palavra ouvida deve
ser assimilada pela fé e pela submissão, numa entrega de todo o ser, como o fez Abraão (Gn
15,6; 24,7). Resposta à palavra deverá ser a docilidade do espírito e da conduta (Mq 6,8).
Quem ouviu a palavra, deve cumpri-la, vivendo segundo as exigências da Aliança. Em suma,
revelação e fé são correlativas;
Traços característicos da revelação: 1) É essencialmente interpessoal; 2) É uma iniciativa
divina; 3) É a Palavra que dá unidade à economia da revelação; 4) Pela revelação a pessoa é
posta em confronto com a palavra, que exige fé e execução; 5) É toda orientada para a
esperança de uma salvação que há de vir.
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não passaram de opiniões humanas. Acontecimentos reveladores de certas religiões se perdem
no universo do mito e não têm nenhuma consistência histórica para fundar a verdade racional;
Acentuaram a crise os mestres da suspeita: Marx, Nietzsche e Freud;
Primazia da razão, da técnica, do instrumental, da tecnologia, da autonomia do indivíduo:
como resultado, uma grande crise para a pessoa religiosa, para a concepção de Deus.
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de sua caridade, sai do seu Mistério, rompe o silêncio e dirige-se ao ser humano, interpelando-
o num diálogo de amizade, através de gestos e palavras;
DV 3: A primeira frase afirma e distingue uma dupla manifestação de Deus: a primeira,
pelo testemunho da criação, dirigida a todos; a segunda, por uma revelação positiva, dirigida a
nossos primeiros pais. O mesmo Deus que criou o cosmos manifestou-se também na histórica
humana; segunda frase: após a queda dos primeiros pais, Deus os reergueu pela esperança de
uma salvação futura; Terceira frase: Deus chamou Abraão, instruiu-o e formou Israel seu
povo, preparando assim o caminho do Evangelho;
DV 4: Cristo leva a revelação à sua plena realização. O parágrafo retoma o tema do Cristo
Mediador e Plenitude da revelação, já agora, porém, na perspectiva da história da salvação.
Evidencia a superioridade da revelação nova sobre a antiga. Entre ambas as economias há
continuidade e diferença: continuidade por causa de Deus e sua palavra; descontinuidade
quanto às épocas e modos de revelação, formas, destinatários e mediadores. Cristo, ápice da
revelação, é a Palavra consubstancial do Pai, na qual Deus se exprime a si mesmo e toda a
criação. Cristo, Palavra eterna do Pai que se fez carne, é ao mesmo tempo o supremo
Revelador e o supremo Objeto revelado. Nele a revelação atinge seu término e sua perfeição;
DV 5: o objeto da fé é o próprio Deus enquanto revelador. Devemos acreditar em Deus
que se revela, que fala. Todo o ser humano precisa aderir a Ele, livremente. Pela revelação,
Deus vem ao seu encontro e este se torna seu amigo. Mas, essa amizade não é pura iniciativa
do ser humano, mas graça de Deus, dom. É o Espírito Santo que lhe possibilita esta graça;
DV 6: as verdades reveladas que se devem crer: os mistérios e as verdades cuja revelação
é moralmente necessária no estado atual da humanidade.
Tese 02: Aprouve a Deus em sua bondade e sabedoria revelar-se a si mesmo e tornar
conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual o homem por intermédio de Cristo e no
Espírito Santo, tem acesso ao Pai. Essa revelação aconteceu na história do povo hebreu,
de Jesus de Nazaré e da Igreja primitiva. Dessa revelação Jesus Cristo, enquanto
anunciador do Reino de Deus, é ao mesmo tempo mediador e plenitude (HB 1,1-3; DV 2-
4; CIC 51-73).
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a) Aprouve a Deus em sua bondade e sabedoria revelar-se a si mesmo e tornar
conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual o homem por intermédio de Cristo e no
Espírito Santo, tem acesso ao Pai.
“Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido
o mistério da sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne,
no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina” (GS 36);
Deus, que é Amor, em sua infinita bondade e misericórdia, veio ao encontro de sua
criatura, e a ela se mostrou, com toda sua grandeza, deixando-se ser conhecido. Contudo,
quanto mais a criatura o conhece, mais percebe a inefabilidade de Deus;
O projeto divino da revelação realiza-se ao mesmo tempo por ações e palavras,
intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente. Este projeto comporta uma
pedagogia divina peculiar: Deus comunica-se gradualmente ao ser humano, prepara-o por
etapas a acolher a revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e
na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo (CIC 53);
Em Cristo melhor se percebe o verdadeiro rosto de Deus, porque Ele é o Filho que,
enviando junto com o Pai o Espírito Santo, permite-nos chegar mais perto da Verdade.
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ouça a palavra de Deus. Os textos sapienciais, todavia, trazem sua contribuição a uma teologia
da revelação ao insistirem na gratuidade de uma sabedoria que, sem ser “revelada” no sentido
técnico, vem ao ser humano do além de si mesmo. Se Deus se manifesta por sua criação, a
sabedoria é o vetor privilegiado desta manifestação. E se é mesmo a todos que Deus se revela
como criador, então é possível dizer que a idolatria dos pagãos “não é perdoável” (cf. Rm
1,20).
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Son los que a continuación se escriben: del Antiguo Testamento: 5 de Moisés;
a saber: el Génesis, el Exodo, el Levítico, los Números y el Deuteronomio; el
de Josué, el de los Jueces, el de Rut, 4 de los Reyes, 2 de los Paralipómenos,
2 de Esdras (de los cuales el segundo se llama de Nehemías), Tobías, Judit,
Ester, Job, el Salterio de David, de 150 salmos, las Parábolas, el Eclesiastés,
Cantar de los Cantares, la Sabiduría, el Eclesiástico, Isaías, Jeremías con
Baruch, Ezequiel, Daniel, 12 Profetas menores, a saber: Oseas, Joel, Amós,
Abdías, Jonás, Miqueas, Nahum, Habacuc, Sofonías, Ageo, Zacarías,
Malaquías; 2 de los Macabeos: primero y segundo. Del Nuevo Testamento:
Los 4 Evangelios, según Mateo, Marcos, Lucas y Juan; los Hechos de los
Apóstoles, escritos por el Evangelista Lucas, 14 Epístolas del Apóstol Pablo: a
los Romanos, 2 a los Corintios, a los Gálatas, a los Efesios, a los Filipenses, a
los Colosenses, 2 a los Tesalonicenses, 2 a Timoteo, a Tito, a Filemón, a los
Hebreos; 2 del Apóstol Pedro, 3 del Apóstol Juan, 1 del Apóstol Santiago, 1 del
Apóstol Judas y el Apocalipsis del Apóstol Juan. Y si alguno no recibiere como
sagrados y canónicos los libros mismos íntegros con todas sus partes, tal
como se han acostumbrado leer en la Iglesia Católica y se contienen en la
antigua edición vulgata latina, y despreciare a ciencia y conciencia las
tradiciones predichas, sea anatema. Entiendan, pues, todos, por qué orden y
camino, después de echado el fundamento de la confesión de la fe, ha de
avanzar el Concilio mismo y de qué testimonios y auxilios se ha de valer
principalmente para confirmar los dogmas y restaurar en la Iglesia las
costumbres.
Se acepta la edición vulgata de la Biblia y se prescribe el modo de interpretar
la Sagrada Escritura, etc.
Además, el mismo sacrosanto Concilio, considerando que podía venir no poca
utilidad a la Iglesia de Dios, si de todas las ediciones latinas que corren de los
sagrados libros, diera a conocer cuál haya de ser tenida por auténtica;
establece y declara que esta misma antigua y vulgata edición que está
aprobada por el largo uso de tantos siglos en la Iglesia misma, sea tenida por
auténtica en las públicas lecciones, disputaciones, predicaciones y
exposiciones, y que nadie, por cualquier pretexto, sea osado o presuma
rechazarla.
Además, para reprimir los ingenios petulantes, decreta que nadie, apoyado en
su prudencia, sea osado a interpretar la Escritura Sagrada, en materias de fe
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y costumbres, que pertenecen a la edificación de la doctrina cristiana,
retorciendo la misma Sagrada Escritura conforme al propio sentir, contra
aquel sentido que sostuvo y sostiene la santa madre Iglesia, a quien atañe
juzgar del verdadero sentido e interpretación de las Escrituras Santas, o
también contra el unánime sentir de los Padres, aun cuando tales
interpretaciones no hubieren de salir a luz en tiempo alguno. Los que
contravinieren, sean declarados por medio de los ordinarios y castigados con
las penas establecidas por el derecho... [siguen preceptos sobre la impresión y
aprobación de los libros, en que, entre otras cosas, se estatuye:] que en
adelante la Sagrada Escritura, y principalmente esta antigua y vulgata edición,
se imprima de la manera más correcta posible, y a nadie sea lícito imprimir o
hacer imprimir cualesquiera libros sobre materias sagradas sin el nombre del
autor, ni venderlos en lo futuro ni tampoco retenerlos consigo, si primero no
hubieren sido examinados y aprobados por el ordinario...
b) ... porque escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm a Deus como autor e nesta
qualidade foram confiados à Igreja.
Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. “Na redação dos livros sagrados,
Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e
capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e através deles, escrevessem, como
verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio quisesse” (DV 11);
Uma aproximação a partir do dogma da inspiração da Escritura afirma que as pessoas que
redigiram os textos da Bíblia escreveram tudo o que Deus queria que escrevessem e só o que
ele queria (afirmação acima). Assim, com propriedade pode-se afirmar que Deus é o autor
principal da Escritura e o Espírito Santo era quem inspirava esses redatores bíblicos;
Afirmação de que Deus é o autor da Bíblia: 1Cr 16,40; Is 34,16; de que o Espírito Santo
inspirava: 2Pd 1,20; 2Tm 3,14-17;
Estes livros foram confiados à Igreja, que através da sua Tradição e do seu Magistério,
estudam e aprofundam com propriedade a mensagem de salvação e libertação lá contida,
atualizando-a ao tempo presente.
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c) Não obstante, os homens que escreveram estes livros sob carisma da inspiração são
verdadeiros autores.
Deus inspirou pessoas a escreverem os livros sagrados. Deus respeitou a integridade e os
condicionamentos culturais e pessoais de cada escritor;
Deus fala ao ser humano à maneira dos seres humanos. Então, para bem interpretar a
Escritura é preciso estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e
àquilo que Deus quis manifestar-se pelas palavras deles. Para descobrir a intenção dos autores
sagrados, há que se levar em conta as condições da época e da cultura deles, os “gêneros
literários” em uso naquela época, os modos de sentir, falar, narrar, correntes naquela época.
“Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários
modos históricos ou proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão” (DV 12,1)
(CIC 109-11);
Na escrita dos livros sagrados, Deus e o ser humano trabalham em conjunto, em sinergia.
É um livro divino-humano, e aí está a sua maravilha. Deus respeita as limitações do ser
humano e este tenta, de todas as formas, compreender a mensagem de Deus;
O Concílio Vaticano II indica três critérios para uma interpretação da Escritura conforme
o Espírito que a inspirou: 1) Prestar muita atenção “ao conteúdo e à unidade da Escritura
inteira”; 2) Ler a Escritura dentro “da Tradição viva da Igreja inteira”; 3) Estar atento “à
analogia da fé” (coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação) (CIC 112-
114).
d) Os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que
Deus, em vista de nossa salvação, quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras.
Justamente por ser inspirada por Deus, a Bíblia é inerrante: não pode conter erros, pois
seria negar a validade desta garantia divina que denominamos inspiração;
Somente em 1943, com a publicação da encíclica Divino Afflante Spiritu, de Pio XII,
liberou-se a pesquisa honesta do texto bíblico e a reflexão sobre seu significado. Estes estudos
constataram com maior clareza que a inerrância bíblica está relacionada com a verdade
salvífica, pois a Bíblia contém essencialmente uma mensagem religiosa, interpretada à luz da
fé;
Reconhecer que na Bíblia há erros científicos, matemáticos, geográficos, entre outros, não
vai em nada contra a inerrância da mensagem da salvação. Afirmar que “a Bíblia é inspirada
em toda sua extensão e, portanto, é também verdadeira em todas as suas partes” (DV 11), uma
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vez que nela toda se encontra presente o Deus que inspirava e quer salvar o ser humano, não
significa que todas as afirmações bíblicas tenham validade normativa. O que é verdade é que
tudo o que diz a Bíblia corresponde à realidade antropológica de Israel e à sua maneira de ver
e de dizer as coisas. E essa visão é integralmente assumida por Deus como mediação concreta
para transmitir sua verdade salvífica, válida e normativa para as pessoas de todas as culturas
de todas as épocas.
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4) Os teólogos: refletem sobre o “depósito” revelado, servindo-se dos instrumentos
científicos que pareçam mais adequados para explicitar a “inteligência da fé” à comunidade
humana de cada época; refletem a Palavra de Deus e suas explicitações feitas ao longo da
tradição pelos Padres, pelos Magistérios e pelos teólogos anteriores, em constante diálogo
com a cultura de seu tempo;
5) O sensus fidelium: sua maneira de compreender e de viver a fé é um ponto de referência
fundamental para captar o sentido da mensagem revelada;
6) Os sinais dos tempos: é um verdadeiro lugar teológico para captar ou explicar o autêntico
significado da fé recebida.
DV 8: E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros
inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos.
Por isso, os Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a
que mantenham as tradições que aprenderam quer por palavra quer por escrito (cf. 2Ts 2,15),
e a que lutem pela fé, recebida uma vez para sempre (cf. Jd 1,3). Ora estas tradições, recebidas
dos apóstolos, abrangem tudo quanto contribui para a santidade de vida do povo de Deus e
para o aumento da fé; assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a
todas as gerações tudo aquilo que ela própria é e tudo quanto ela acredita.
Esta Tradição, que se origina dos Apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do
Espírito Santo. Com efeito, cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que
constituem parte da Tradição, quer mercê da contemplação e do estudo dos crentes, que as
meditam no seu coração (cf. Lc 2,19.51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam
das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado,
receberam um seguro carisma de verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, caminha
continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de
Deus.
As afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição,
cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja que acredita e ora. Esta mesma Tradição
mostra à Igreja quais são exatamente todos os Livros Sagrados [o cânone da Bíblia] e faz
compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante
sem cessar. Assim Deus, que outrora falou, continua sempre a falar com a Esposa do seu
amado Filho; e o Espírito Santo, pelo qual ressoa a voz viva do Evangelho na Igreja e, por ela,
no mundo, introduz os crentes na verdade plena e faz que a palavra de Cristo neles habite em
toda a sua riqueza (cf. Cl 3,16).
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b) ... a qual possui assim caráter modelar para a tentativa de traduzir o único Evangelho
à linguagem de cada época e frente aos problemas, desafios e valores de cada cultura.
Se a Palavra não for devidamente interpretada, ela será letra morta. Se não for
continuamente atualizada, ela nada dirá à pessoa do tempo presente. É por isso que o
Magistério, com todo o seu “depósito de fé”, tenta traduzir, com linguagem acessível aos fiéis
de cada época, as verdades ensinadas nas Sagradas Escrituras e em toda a história da Igreja.
Somente assim terá respostas a oferecer às perguntas e desafios feitas hoje pelas pessoas e
pelas diversas culturas.
b) O conjunto dos fiéis, pelo senso da fé, não recebe a palavra dos homens, mas a
Palavra de Deus, apegando-se definitivamente à fé, penetra-a e aplica-a à vida.
Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada.
Receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e os conduz à verdade na sua totalidade.
Conforme a LG 12: “O conjunto dos fiéis [...] não pode enganar-se no ato de fé. E manifesta
esta sua peculiar propriedade mediante o senso sobrenatural da fé de todo o povo, quando
‘desde os bispos até o último dos fiéis leigos’, apresenta um consenso universal sobre
questões de fé e costumes. Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da
verdade, o povo de Deus – sob a direção do sagrado Magistério [...] – adere indefectivelmente
à fé ‘uma vez para sempre transmitida aos santos’; e, com reto juízo, penetra-a mais
profundamente e mais plenamente a aplica na vida”.
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da fé. Surgindo tensões entre o magistério e o teólogo, haverá a necessidade do diálogo,
devendo estar o teólogo aberto às objeções que lhes serão feitas através de seus irmãos em
Cristo;
O objeto da teologia é a verdade, o Deus vivo, revelado em Cristo Jesus. Aqui está o
maior desafio do teólogo, que é harmonizar seus estudos e pesquisas científicas, todas as
exigências e as conseqüências que o conhecimento desta revelação exige. Usando dos
instrumentos necessários, deverá ter muita abertura e disponibilidade para mudar suas
próprias opiniões, não deixando influenciar-se por elementos estranhos que interfiram na
investigação deste objetivo;
O teólogo deverá estar sempre em sintonia com o magistério, pois ensina em nome da
Igreja. Na América Latina, o teólogo tem a peculiaridade de caminhar junto com o povo de
Deus, auscultando através deste o Deus da Vida.
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TEOLOGIA DA FÉ
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TEOLOGIA DA FÉ
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O espírito experimenta o irreprimível desejo de atingir, em sua essência, este Absoluto
que polariza e dá sustentação a todo pensamento. Somos obcecados pela paixão de ver este
Deus que por ora conhecemos apenas por analogia;
Mas, embora a fé, para ser um ato verdadeiramente nosso, deva encontrar em nós sua raiz
ou proceder de nossas faculdades, é em Deus mesmo que encontramos sua fonte originária. A
fé provém do poder divino de salvação. Criados por Deus, em nosso coração está o desejo de
chegar até Ele. E Ele vem!
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Dogmática: "Considero a analogia entis como uma invenção do Anticristo, e acho que é por
causa disso que não se pode se tornar católico. Ao que me permito acrescentar que todas as
outras razões que se pode ter para não se fazer católico me parecem pueris e de pouco peso".
No movimento paralelo à rejeição da analogia entis, Barth - coincidindo com as críticas
feitas por Marx, Nietzsche e Freud contra a religião - negará todo valor teológico à religião
enquanto tal, compreendida como tentativa humana de uma apropriação de Deus, e irá lhe
opor o movimento "descendente" da fé;
Para Barth, religião significa um esforço em apoderar-se de Deus, para captar em seu
proveito as forças do universo (é idolatria, segundo ele). Esse esforço de auto-justificação, de
auto-redenção, não permite ao ser humano encontrar o verdadeiro Deus. Ao contrário, só o
conduzirá para longe dEle, colocando-o em oposição a Ele, pois toda revelação nega ao ser
humano o direito de resolver ele mesmo o problema de sua vida;
Em nome do Evangelho, rejeita a religião. Todavia, esta pode servir de contexto para a
resposta da pessoa frente ao Evangelho se se coloca ao serviço das pessoas na vivência do
"ser-para-os-outros", como um meio até Cristo.
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simplesmente um ser humano. Jesus não fundou uma religião, mas trouxe uma vida nova.
Então, não é um ato religioso que faz o cristão ser cristão, mas a sua participação no
sofrimento de Deus na vida do mundo.
Tese 07: Abraão é chamado o Pai dos Crentes. A fé se tornou exemplar nos pobres do
Senhor, dos quais Maria é exemplar (HB 11,8-40; Rm 4,1-25; Lc 1,26-38; CIC 144-149).
No Novo Testamento, ela é condição para o seguimento de Jesus e para o ingresso no
Reino de Deus. Sobre a fé, merecem destaque as teologias de João e de Paulo. Este
último afirma que "o homem é justificado pela fé sem as obras da Lei" (Gl 2,16). Na
interpretação deste texto, há polêmicas entre católicos e protestantes.
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Durante toda a sua vida, e até a sua última provação, quando Jesus morreu na cruz, sua fé
não vacilou. Maria não cessou de crer "no cumprimento" da Palavra de Deus. Por isso a
Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé (CIC 149).
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ressuscitado (20,25): feliz aquele que acreditar sem ver! (20,29). A fé vai exprimir-se em
confissões de fé explícitas (6,29; 11,27). O fim declarado de escrever o Evangelho é levar os
leitores a crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (20,31). A fé joanina abarca, ao mesmo
tempo, o Evangelho e as Escrituras do Primeiro Testamento (2,22; 5,46; 20,8). Ela é fonte de
vida (20,31).
e) ... e de Paulo. Este último afirma que "o homem é justificado pela fé sem as obras da
Lei" (Gl 2,16).
As cartas paulinas insistem muito na fé (54 vezes "crer" e 152 vezes "fé) e em seu
aspecto interpessoal. Cristo vive no crente (Gl 2,20; Ef 3,17); esse está "em Cristo" (2cor
5,17; Fl 3,9); está crucificado com ele (Gl 9,19; Rm 6,6), para viver com ele ressuscitado
(Rm 6,4.11). O aspecto doutrinal não deixa de ser sublinhado: adesão à mensagem (1Cor
15,3);
Paulo compreendeu que as pessoas são "justificadas" pela fé em Cristo e não pela
observância da lei de Moisés (Gl 2,16; Rm 3,28). Paulo define assim a base da vida cristã.
Quem crê em Cristo "morto por nossos pecados" é libertado de suas faltas "gratuitamente"
(Rm 3,24). Refletindo sobre a lei e a fé, afirma que a lei feita para a vida só engendra o
pecado e a morte (Rm 7,7-10). A vida e a morte de Cristo põe fim a esta situação,
manifestado a justiça de Deus (Rm 3,21-26) que se obtém pela fé. A fundação da lei
terminou, portanto. A justificação (salvação) não é um débito, mas uma graça de Deus. O
crente não pode se gloriar de sua justiça própria ou apoiar-se em sus obras.
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Atualmente, as polêmicas estão se dissipando. Com a declaração conjunta sobre a
justificação, em 1999, muitas das controvérsias já foram resolvidas;
Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação (1999):
1. A base bíblica é comum para ambas as confissões. Seguindo o pensamento de Paulo,
afirma-se que toda justiça vem de Deus e só se obtém pela fé, que também é dom de Deus. A
justiça salvífica é dada unicamente em Jesus. Esta é vencedora do pecado, de modo que a
justiça de Deus e a justificação do ser humano estão em relação íntima;
2. A relação fé-obras: a justiça de Deus manifesta-se pela fé em Jesus Cristo (Rm 3,21), de
modo que a doutrina da justificação pela fé é conseqüência do primado absoluto de Cristo
(Gl 5,4). A justificação se produz pela fé, compreendida como o reconhecimento da obra
salvífica de Jesus e primado de Deus como fundamento radical da própria existência e da
própria salvação, trazendo consigo a renúncia a apoiar-se em si mesmo e nas próprias obras.
As obras são os bons frutos produzidos pela fé - a fé age por meio da caridade (Gl 5,6),
produzindo uma atuação conseqüente;
3. Por graça Deus perdoa o ser humano e o liberta do pecado, e este já não vem imputado
porque a pessoa já tem parte com Cristo, vivendo no seu Espírito. Contudo, o justificado é,
ao mesmo tempo, justo e pecador, como a Igreja, santa e pecadora;
4. Dimensão eclesiológica: sem o artigo da justificação por graça e fé, a Igreja deixa de ser
Igreja de Jesus Cristo. É aqui que Deus manifesta a sua misericórdia, justificando a pessoa e
dando-lhe o dom da fé. O ser humano alcança a justificação enquanto entra na comunhão
eclesial. Na Igreja realiza-se a santidade de cada um dos seus membros, e somente enquanto
membro do corpo de Cristo é que se é filho de Deus.
29
O Vaticano I procura responder à tese racionalista de que razão humana é tão perfeita em
si mesma que pode chegar por ela mesma ao conhecimento de toda a verdade e que, então, a
revelação e sua aceitação pela fé é contra seus direitos. O Concílio distingue entre
conhecimento natural e conhecimento sobrenatural da fé. O sobrenatural é aquele
fundamentado na "autoridade de Deus que revela" (DS 3008). A pessoa inteira, dependendo
de Deus, tem a obrigação de acatar como verdade aquilo que Deus venha a revelar. A
submissão da razão à revelação é a atitude que decorre da própria estrutura do ser
contingente. Assim, a razão humana, embora tendo seu campo específico de pesquisa, de
modo algum é violentada pelo fato de imperar sobre ela a fé (DS 3031).
30
ainda que o progresso terreno deva ser cuidadosamente distinguido do crescimento do Reino
de Cristo, contudo, é de grande interesse para o Reino de Deus, na medida em que pode
contribuir para organizar a sociedade humana. Para o concílio, a fé não nos aliena ou afasta
das responsabilidades terrestres: "afastam-se da verdade os que, sabendo não termos aqui
morada permanente, mas buscamos a futura, julgam por conseguinte, poderem negligenciar
os seus deveres terrestres, sem perceberem que estão mais obrigados a cumpri-los, por causa
da própria fé, de acordo com a vocação a qual cada um foi chamado" (n. 43). E se adverte
para o problema grave do divórcio entre fé e vida: "não erram menos aqueles que, ao
contrário, pensam que podem entregar-se de tal maneira às atividades terrestres, como se elas
fossem absolutamente alheias à vida religiosa, julgando que esta consiste somente em atos de
culto e ao cumprimento de alguns deveres morais. Este divórcio entre fé professada e a vida
cotidiana de muitos deve ser enumerado entre os erros mais graves do nosso tempo" (n. 43).
E conclui-se: "ao negligenciar os seus deveres temporais, o cristão negligencia os seus
deveres para com o próximo e para com o próprio Deus e coloca em perigo a sua salvação
eterna" (n. 43).
32
A liberdade da fé: a pessoa deve responder a Deus, crendo por livre vontade. Então,
ninguém deve ser forçado contra a sua vontade a abraçar a fé (CIC 160);
A necessidade da fé: é necessário, para obter a salvação, crer em Jesus Cristo e naquele
que o enviou para a nossa salvação (CIC 161):
A perseverança na fé: a fé é um dom gratuito, que podemos perder. Para viver, crescer e
perseverar até o fim, devemos alimentá-la pela Palavra de Deus, pedir ao Senhor que
"aumente a nossa fé", agir pela caridade, na esperança e enraizar-se sempre mais na fé da
Igreja (CIC 162);
A fé - começo da vida eterna: a fé faz-nos degustar como por antecipação a alegria e a luz
da visão beatífica, meta de nossa caminhada. Ela é o começo da vida eterna (CIC 163-165).
Tese 09: Como ciência da fé, a teologia tem um conceito definido, objeto definido,
objeto específico, método peculiar, finalmente pastoral. Exige condições internas e
externas para frutuosa reflexão. Ela exerce na Igreja uma função ao mesmo tempo
positiva e especulativa. Mantém um relacionamento especial com o Magistério (IVET
21-41). Pode ser estudada em suas grandes etapas históricas. Na atualidade, diversifica-
se em correntes e baseia-se em determinados temas de grande importância para a
missão da Igreja.
a) Como ciência da fé, a teologia tem um conceito definido, objeto definido, objeto
específico, método peculiar, finalmente pastoral.
Teologia: seu conceito situa-se numa seqüência de movimentos que terminam em Deus.
Trata-se de uma operação intelectual humana. Configura-se determinado tipo de saber, de
conhecimento. Esforço de compreensão que a inteligência humana empreende. O ato do que
crê não termina no enunciado, mas na coisa. A teologia trata de Deus, mas mediado pela fé,
pela acolhida de sua Palavra, que, por sua vez, vem-nos comunicada pela revelação
transmitida na Tradição da Igreja – escrita, vivida, pregada, celebrada, testemunhada;
Conceito: discurso sobre as coisas divinas; discurso, saber, palavra, ciência de ou sobre
Deus. Mas não é tanto um discurso sobre Deus, mas um falar com Deus e deixar Deus falar
ao ser humano;
Objeto principal: Deus;
Objeto específico: verdades reveladas por Deus e conhecidas mediante a fé;
33
Método peculiar: dois caminhos se apresentam. Pode-se partir do teólogo que vai
construindo a teologia até chegar a seu objeto fundamental – Deus – ou da fonte mesma da
teologia – Deus – até chegar ao teólogo. Nos dois casos, a Igreja intermédia os dois parceiros
fundamentais: Deus e o teólogo. Este último está preocupado em aprofundar sua fé.
Provocado pela vida, pelas experiências, por questionamentos, intenta dar-se a si mesmo
razão e conta de seu crer. O primeiro encontro do nascer da teologia realiza-se entre o
teólogo e a sua fé vivida numa comunidade. Esta fé, contudo, não é posse sua, mas a recebe
da Igreja e nela a vive. A Igreja está na origem e no lugar de sua reflexão. Fora dela, não há
sentido refletir sobre essa fé que ele tem. Todo teólogo elabora suas reflexões como membro
da Igreja. Elabora-as com clareza e didática para devolvê-las à comunidade como alimento
de sua fé. Nisto, a comunidade torna-se instância crítica de sua teologia. No fundo, a teologia
se resume em transpor para a linguagem a experiência da fé, como acolhida da revelação.
Pelos dois lados impõe-se a dimensão comunitária. A experiência da fé se realiza numa
comunidade, já que a revelação lhe foi dirigida. E toda linguagem nasce da comunidade e
dirige-se à ela. A linguagem e a comunidade relacionam-se mutuamente, de tal modo que a
comunidade cria a linguagem e a linguagem cria a comunidade. Por sua vez, a comunidade
na pessoa do teólogo cria a teologia, e a teologia, por sua vez, cria a comunidade com sua
linguagem.
34
a teologia refletida posta em prática, nos mais diferentes contextos e comunidades eclesiais.
Quando a teologia pode ser vivida nas bases, ela é sinal de salvação.
35
A fé que a teologia procura compreender e aprofundar é a fé da Igreja, guardada e
interpretada pelo Magistério, que é serviço. Os teólogos devem prestar fidelidade ao
Magistério, e toda tensão entre ambos deve ser resolvida no diálogo. O teólogo precisa estar
aberto para acolher aquilo que o Magistério tem a dizer;
Entre ambos deve reinar a colaboração. Certamente, o Magistério vivo da Igreja e a
teologia têm o mesmo fim: conservar o povo de Deus na verdade que liberta fazendo dele luz
das nações. Esse trabalho – serviço à comunidade eclesial – põem em relação recíproca o
teólogo com o Magistério, que ensina autenticamente a doutrina dos apóstolos, beneficiado
pelo trabalho do teólogo, que ajuda a teologia a adquirir, no tempo presente, compreensão
atual sempre mais profunda da Palavra de Deus, da Tradição e do Magistério, esclarecendo
com uma linguagem para a pessoa de hoje o ensinamento da revelação diante das solicitações
da razão, conferindo uma teologia orgânica e sistemática;
Todavia, esmorecendo esta colaboração, nem teólogo nem Magistério devem se deixar
levar por equívocos ou confusões. Preciso é distinguir cuidadosamente entre a doutrina
comum da Igreja e as opiniões de teólogos ou as tendências que passam. Magistério paralelo
não existe. Existe apenas o Magistério verdadeiro fundado em Pedro e nos Apóstolos.
36
entradas” de Aristóteles na teologia funcionam como divisor de águas. No século VI, faz-se
presente como mestre da gramática, influenciando as regras do discurso. Nos séculos XI e
XII, condiciona o raciocínio, com a dialética e o método do “sic et non” (sim e não). Por fim,
entra na teologia no século XIII por meio da metafísica, com suas categorias globalizantes
para compreender o ser humano e o mundo;
A teologia antimoderna e manualística: são cinco séculos de vigência, compreendendo o
período em que a humanidade realizou mudanças qualitativas com rapidez cada vez maior
(desde o início da idade moderna até o limiar do Vaticano II). É uma teologia submissa ao
magistério, que está aí para combater as heresias e eliminar o dissenso no interior da Igreja.
Especializou-se nas tarefas de expor, definir, defender, provar e confirmar a fé ortodoxa,
eliminando e condenando os erros;
A teologia em mudança: correntes católicas e evangélicas que nos séculos XIX e XX
rompem o hermético círculo da teologia, ao abrirem diálogo com a modernidade. Eis
algumas delas:
1) Século XIX: Tübingen e a Escola Romana;
2) Início do século XX: o despertar da teologia católica – movimento neotomista;
3) A teologia no entreguerras (1918-1939): – movimento neotomista;
4) A teologia no entreguerras (1918-1939): humanismo cristão, movimento querigmático,
movimento litúrgico, movimento bíblico;
5) No limiar do Vaticano II: Nouvelle Theologie;
Teologia contemporânea: apresenta leque muito amplo de características e tendências,
difíceis de detectar com um só olhar. Mas, algumas características merecem destaque: 1)
Teologia em diálogo com a modernidade; 2) Teologia plural; 3) Confronto com a
subjetividade e a historicidade; 4) Verdade, veracidade e prática.
37
5) Teologia da esperança;
6) Teologia feminista;
7) Teologia da cruz;
8) Teologia da Libertação (Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff e outros);
9) Teologia negra (África);
12) Teologia da Trindade (Europa).
38
PARTE II: A VERDADE SOBRE
DEUS
TRINDADE
39
TRINDADE
Tese 10: O mistério de Deus uno e trino é inacessível ao homem. Contudo, por uma
iniciativa de amor do mesmo Deus, dá-se um admirável intercâmbio entre ele e o homem,
sua criatura: Deus procura o homem, o homem procura Deus (CIC 230-231).
O mistério de Deus é inacessível ao ser humano. Mas Deus se revela a este. Quanto mais é
acolhido, mais se compreende o mistério, a inefabilidade de Deus;
Mas, é só aos poucos que o ser humano vai compreendendo quem realmente é Deus:
1) Deus se revela a todos as pessoas, mesmo permanecendo como incompreensível mistério e
estritamente inefável (teorema fundamental);
2) Deus se revela como o ser infinitamente santo, atualíssimo e oniperfeito, absolutamente
singular e único (teorema da santidade divina);
3) Deus se revela como eterno vivente, imenso e onipresente; sua presença é espiritual e pessoal
(teorema da divina presença);
4) Deus se revela como infinitamente inteligente e onisciente e como absolutamente livre e
onipotente, também em sua justiça e em seu juízo de reprovação ao mal (teorema da divina
justiça);
5) Deus se revela como Criador bom, em sua santa e misteriosa providência; como Senhor fiel,
em sua aliança de salvação para todos os homens; como Pai misericordioso, cheio de graça e
compaixão (teorema da divina fidelidade);
Essa iniciativa da revelação é de Deus, que por amor vem ao encontro da sua criatura. A
revelação é plena, mas a sua compreensão se dá paulatinamente;
A revelação de Deus: Do modo de ser a ação de Deus depende a nossa possibilidade de
descobri-lo e compreendê-lo. Uma visão intervencionista de Deus resulta numa revelação tipo
“ditado” divino. Esta não serve mais para a teologia atual:
a) Fim da revelação como “ditado”: uma Bíblia “ditada” por Deus não “copiaria” textos de
outras religiões, nem levaria em todas as páginas as marcas e feridas do trabalho humano.
A revelação é real não porque Deus tenha que “entrar no mundo”, mas porque já está “falando”
desde sempre pela sua presença criadora e salvadora. O fato da criação em si, já é sua revelação
fundamental. Esta consiste em “aperceber-se” do Deus que, como origem fundante e amor
40
comunicativo, habita-a e manifesta-se nela. Se algo falha, se o processo revelador é lento, não é
por parte de Deus, mas por parte do ser humano. Não existe, então, o “silêncio de Deus”, tão
somente a surdez humana.
b) Origem e verificabilidade da revelação: a partir desta perspectiva, esclarecem-se os dois
momentos estruturais da revelação: sua origem e sua comunicação. A origem da revelação não
está num milagre acrescentado à realidade, mas na captação daquilo que Deus está procurando
nos dizer através dela. Lá onde alguém se “apercebe”, é produzida a “revelação”. Não é Deus
quem muda, mas a pessoa, que, por fim, descobre o que lhe estava sendo dito: “[...] o Senhor
está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28,16), e ao descobri-lo, transforma a sua vida. Eclode,
então, o momento da comunicação: quem “apercebe” Deus, é pioneiro, descobre e abre caminhos
– o profeta. Posto que não capta algo que apenas o afete, mas a todos, esse algo está destinado
igualmente a todos – o profeta é um mediador, uma antena, e empresta sua voz à mensagem que
se dirige a todos, porque revela aquilo que afeta o conjunto – aí a possibilidade da sua
verificação.
Esse Deus que é amor, vem ao encontro do ser humano. Este, por nascer do útero de Deus,
também tem o desejo de encontrá-Lo. Assim, o Deus que desce se encontra com sua criatura, que
com o desejo da eternidade, da subida, acolhe-O no coração.
41
Ef 2,18; 2Pd 1,4). Em virtude desta Revelação, Deus invisível (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), no seu
imenso amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e conversa com eles
(cf. Br 3,38), para os convidar e admitir a participarem da sua comunhão. Esta “economia” da
Revelação executa-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal
maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e corroboram a
doutrina e as realidades significadas pelas palavras, enquanto as palavras declaram as obras e
esclarecem o mistério nelas contido. E, a verdade profunda, tanto a respeito de Deus como a
respeito da salvação dos homens, manifesta-se-nos por meio desta Revelação no Cristo, que é
simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a Revelação.
3. Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cf. Jo 1,3), oferece aos homens um
testemunho perene de si mesmo na criação (cf. Rm 1,19-20) e, além disso, decidindo abrir o
caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a si mesmo desde o princípio, aos nossos
primeiros pais. Depois da queda destes, juntamente com a promessa da redenção deu-lhes a
esperança da salvação (cf. Gn 3,15), e cuidou continuamente do gênero humano, para dar a vida
eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação (cf. Rm
2,6-7). No devido tempo, chamou Abraão, para fazer dele um grande povo (cf. Gn 12,2-3), ao
qual, depois dos patriarcas, ele ensinou, por meio de Moisés e dos profetas, a reconhecer em si o
único Deus vivo e verdadeiro, o Pai providente e o juiz justo, e a esperar o Salvador prometido;
assim preparou, através dos tempos, o caminho ao Evangelho.
4. Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus
ultimamente, nestes nossos dias, por meio de seu Filho (Hb 1,1-2). Enviou o seu Filho, isto é, o
Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e explicar-lhes os
segredos de Deus (cf. Jo 1,1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado “como homem aos
homens”, “fala” portanto “as palavras de Deus” (Jo 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai
lhe mandou realizar (cf. Jo 5,36; 17,4). Por isso ele, vendo o qual se vê também o Pai, (cf. Jo
14,9), com toda a presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres,
e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição dentre os mortos, enfim com o envio do
Espírito de verdade, aperfeiçoa a Revelação completando-a, e confirma-a com um testemunho
divino: o de termos Deus conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte, e para nos
ressuscitar para a vida eterna.
Portanto, a “economia” cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e não se há de
esperar nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus
Cristo (cf. 1Tm 6,14; Tt 2,13).
42
5. A Deus que revela é devida a “obediência da fé” (cf. Rm 16,26; Rm 1,5; 2Cor 10,5-6); por ela,
entrega-se o homem todo, livremente, a Deus, oferecendo “a Deus revelador o obséquio pleno da
inteligência e da vontade” e prestando voluntário assentimento à sua Revelação. Para prestar esta
fé, é necessária a graça divina que se antecipa e continua a ajudar, e o auxílio interior do Espírito
Santo, auxílio requerido para mover e converter a Deus os corações, abrir os olhos da alma, e dar
“a todos a suavidade, no assentimento e na adesão à verdade”. Para entendermos cada vez mais
profundamente a Revelação, o Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons.
6. Pela Revelação divina quis Deus manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos
eternos da sua vontade a respeito da salvação dos homens, “para os fazer participar dos bens
divinos, que superam absolutamente a capacidade da inteligência humana”.
Este sagrado Concílio professa que Deus, princípio e fim de todas as coisas, “tornou-se
inteligível pela luz natural da razão através das criaturas” (cf. Rm 1,20); mas ensina também que
deve atribuir-se à sua Revelação “poderem todos os homens, mesmo na presente condição do
gênero humano, conhecer com facilidade, firme certeza e sem mistura de erro o que, nas
realidades divinas, não é de si inacessível à razão humana”.
b) Pelos nomes atribuídos a Deus, podemos igualmente afirmar algo sobre Ele. Deste modo
descobrimos o ser e o agir de Deus.
Atributos divinos do Segundo Testamento: João nomeia Deus “espírito” (4,24), “luz” (1Jo
1,5), “amor” (1Jo 4,8.16), mas a novidade do Evangelho é a revelação dos três nomes divinos
pessoais, Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus revelou que “Pai” é o verdadeiro nome de Deus (Jo
17,6; Rm 8,15; Gl 4,6);
Os atributos divinos segundo os Padres da Igreja: estudaram os atributos por três motivos:
para ensinar a perfeição cristã como imitação de Deus (essa foi a obra de Atanásio e dos
capadócios, de Clemente de Alexandria e de Orígenes), para afirmar o monoteísmo cristão
perante o paganismo, para mostrar (nas controvérsias contra Ário e Eunômio) a igualdade das
pessoas divinas na unidade da essência divina. Assim, os nomes divinos “Luz” são nomes que a
um tempo qualificam a essência divina e são comuns às três pessoas da Trindade, e nomes
próprios de pessoas divinas que exprimem sua relação entre elas ou com as pessoas. Basílio, por
exemplo, mostra em seu Tratado do Espírito Santo que “Deus é luz”, o Filho “a Luz nascida da
Luz” (símbolo de Nicéia) e o Espírito a “Luz na qual vemos a luz” (Sl 35,4);
Reflexão teológica: Dionísio Areopagita (séc. V-VI), no capítulo III de sua Teologia mística,
caracteriza os tratados sobre os nomes divinos em razão da distinção entre teologia afirmativa e
teologia negativa. A teologia afirmativa trata de três categorias de nomes divinos: 1) os nomes
43
que concernem à natureza divina una e trina, a Trindade e a encarnação do Filho; 2) os nomes
divinos inteligíveis, como o Bem, o Ser, a Vida, a Sabedoria, a Potência e o Uno; 3) os nomes
divinos simbólicos, de que teria tratado na Teologia simbólica (metonímias do sensível ao
divino, dizendo o que significam em Deus as formas, as figuras, as partes, os órgãos; o que
significam em Deus os lugares e os ornamentos; o que significam as cóleras, as dores, os
ressentimentos; o que significam os entusiasmos e a embriagues; o que significam os juramentos
e as maldiçoes, o sono e as vigílias, e todas as formas de que se reveste a santidade divina para
lhe dar uma figura). Os nomes divinos concernem, assim, à natureza divina, a seus atributos
inteligíveis e às “metonímias” ou metáforas que atribuem a Deus ações ou paixões humanas.
Deus é, ao mesmo tempo, anônimo e polinônimo, segundo as duas primeiras hipóteses do
Parmênides: anônimo e inefável em sua transcendência absoluta, polinônimo enquanto pode ser
celebrado a partir da multiplicidade de seres que dele procedem e dele participam. Ainda neste
tratado dos nomes divinos, Dionísio Areopagita ordena os nomes divinos segundo a distinção
fundamental entre: 1) os nomes que convêm às realidades divinas; 2) os nomes que se tiram das
operações de sua providência. Nomeia “qualidades causativas” o Bem, o Belo, o Ser, o
Vivificante, o Sábio e todas essas denominações que recebe a Causa de todos os bens segundo os
dons que convêm à sua bondade. Os nomes divinos são o Bom, a Bondade, a Beleza e o Amor, o
Ser, a Vida, a Sabedoria, o Intelecto, a Potência, a Justiça, a Salvação, a Desigualdade, a
Grandeza, a Pequenez, a Identidade, a Diversidade, a Semelhança, a Dessemelhança, o Repouso,
o Movimento, a Igualdade, o Tempo e a Eternidade, a Paz, o Santo dos santos, o Rei dos reis, o
Senhor dos senhores, o Deus dos deuses, o Uno;
Segundo Tomás de Aquino: A simplicidade, a perfeição de Deus, o Bem, a Bondade, a
infinidade, a existência de Deus nas coisas, a imutabilidade, a eternidade, a unidade, o
conhecimento de Deus, os nomes divinos;
Jena-Jacques Olier compôs um tratado dos atributos divinos, que permaneceu inédito, em que
distingue 19 atributos divinos, quase todos sem relação com as criaturas: a existência de Deus,
sua necessidade, sua independência, sua suficiência, sua unidade, sua verdade, sua perfeição, sua
infinidade, sua simplicidade, sua santidade, sua grandeza, sua imensidade, sua eternidade, sua
ciência, seu amor, sua vontade, sua bondade, sua justiça e sua força;
Em suma: os atributos físicos são: onipotência, onipresença, onisciência, sabedoria,
eternidade, imutabilidade, santidade e unidade; os atributos morais são: bondade, misericórdia,
fidelidade, justiça e amor.
44
Tese 12: A revelação do mistério trinitário tem suas origens já no Primeiro Testamento.
Mas é no Segundo Testamento que esta revelação se tornou plenamente manifesta. Os
Santos Padres, o Magistério da Igreja e especialmente os concílios iluminados pelo Espírito
Santo definiram o dogma trinitário, percorrendo um caminho demarcado por heresias,
problemas e controvérsias doutrinais (CIC 232-248; Nicéia: DS 125; Constantinopla I: DS
150).
45
b) Mas é no Segundo Testamento que esta revelação se tornou plenamente manifesta.
Sugerida no Primeiro Testamento, a Trindade é, para o teólogo, explicitamente revelada no
Novo, mas indiretamente, no contexto de uma postura particular que consiste em reler tudo à luz
da ressurreição de Cristo. O Pentecostes (At 2), quando ocorre segundo Lucas a primeira
proclamação oficial desta ressurreição (querigma pascal), já tem uma dimensão trinitária. Outras
narrativas põem em cena o Pai, o Filho e o Espírito Santo: a anunciação de Maria (Lc 1,35),
batismo de Cristo no Jordão (Mt 3,13-17), palavras de Cristo dirigindo-se a Deus como a seu Pai,
com menção, às vezes, do Espírito Santo: júbilo de Cristo em Lucas (10,21) ou discurso de adeus
em João (14-17);
Jesus, vivendo como Filho de Deus, sabia-se enviado pelo Pai (Mt 10,40; Jo 6,57;
17,8.18.21). Apresentou-se como Filho do Pai (Jo 5,19-47); veio fazer a sua vontade (Lc 22,42;
Jo 4,34); lia as Escrituras que o Pai consignara a seu povo (Mt 5,17-48); pregou o Reino do Pai
(Mt 6,10.33); foi expressão do amor do Pai (Lc 6,20). Viveu como ungido do Espírito Santo,
concebido por ele no seio virginal de Maria; foi batizado no Espírito Santo (Lc 3,22); venceu as
tentações na força do Espírito (Lc 4,10); sabia-se possuído pelo Espírito para evangelizar os
pobres (Lc 4,18) e expulsar os demônios (Mt 12,28); alegrou-se no Espírito pela evangelização
dos pequenos (Lc 10,21); ressuscitado pela força do Espírito (Rm 1,4), enviou-o aos discípulos,
para continuarem a sua obra (Lc 24,49; Jo 14,16-17,26; 16,5-15). Como Filho de Deus-Pai e
Ungido do Espírito Santo, viveu como Deus feito homem. Sabia-se divino (Jo 10,36). Afirmou
ser o pão da vida (Jo 6,35), a porta e o pastor das ovelhas, caminho, verdade e vida (Jo 14,6), a
videira que nos reúne como seus ramos (Jo 15,1);
Mt 28,19: é um dos textos mais importantes para a história do dogma trinitário (Ide, de todas
as nações fazei discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). A
fórmula coordena as três “pessoas” (e, e) colocando-as num pé de igualdade, mas segundo certa
ordem, o Pai ocupando o primeiro lugar;
O Segundo Testamento contém uma primeira série de curtas proclamações do querigma
pascal que constituem profissões de fé de dimensão trinitária. Uma segunda série, enumerativa
de conteúdo trinitário, comporta ora dois termos (1Cor 8,6; 1Tm 2,5s; 6,13), ora três (1Cor
12,4ss; 2Cor 13,13; Ef 4,4ss e, naturalmente, Mt 28,19).
46
c) Os Santos Padres, o Magistério da Igreja e especialmente os concílios iluminados pelo
Espírito Santo definiram o dogma trinitário, percorrendo um caminho demarcado por
heresias, problemas e controvérsias doutrinais.
Erros de compreensão do mistério trinitário:
Como se detecta algum erro teológico da fé trinitária? O NT não tem uma elaboração
rigorosa e completa da doutrina trinitária. Lá, a fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo, não está
elaborada de maneira clara e explícita. Assim, a linguagem da ortodoxia trinitária encontra sua
origem basicamente em duas fontes:
1) A mensagem do querígma bíblico: feita das profissões de fé monoteístas do AT e do NT,
acrescidas e combinadas com as fórmulas neotestamentárias duais e triádicas;
2) As fórmulas doxológicas (de louvor e glorificação) na liturgia e na catequese. A tradição
litúrgica é o lugar teológico privilegiado de onde sairá a elaboração mais profunda e detalhada do
que será o dogma trinitário. Assim, embora não se encontre no NT uma elaboração completa da
doutrina, já se encontram fórmulas saídas de um contexto litúrgico que já dão testemunho de
uma Igreja que adora o Deus-Trindade (ver 2Cor 1,3; 13,13; Ef 1,3; 1Pe 1,3; Mt 28,19).
Esses primeiros tempos são marcados por uma quase total ausência de preocupação e
interesse especulativo na maneira de dizer a fé. Quando surgem, em primeiro lugar, apelam para
a linguagem da angelologia, da função que os anjos tinham junto a Deus (Orígenes). A Igreja a
abandona. Terá que lançar mão das categorias existenciais (a categoria dos anjos é muito
presente na apocalíptica judaica) para explicitar a novidade que trazia;
Apologetas do século II:estão em meio a controvérsia com o paganismo e a gnose. Refletem
a partir da filosofia helenística e seus esquemas de pensamento Justino: identifica Deus Pai
como sujeito divino absoluto e o Filho e o Espírito como uma segunda e terceira ordens da
divindade – mas não diz que o Filho seja criatura. Teófilo de Antioquia: usa, pela primeira vez,
a palavra Trindade para falar de Deus e seu mistério. Introduz a idéia de Logos a Jesus Cristo.
O cristianismo passa a combater com movimentos que surgem do interior da própria
comunidade cristã, a partir de duas correntes principais: do judaísmo e do helenismo;
Os ebionitas: pensavam que Jesus era um profeta a mais. Aceitavam apenas a versão
aramaica do evangelho de Mateus e continuavam fiéis à prática do judaísmo; marcionitas:
seguidores do teólogo Marcião, aceitavam apenas o NT e suprimiam o evangelho da infância de
Lucas. Propunham a separação da Igreja com relação ao judaísmo e a fundação de uma igreja
própria. Contra eles, Ireneu de Lião escreveu Adversus Haereses;
47
Esses hereges, antes de tocarem no assunto Trindade, ocupam-se da Bíblia, tentando
determinar o lugar onde aparece a revelação de Deus;
Três grandes heresias em relação à compreensão racional do mistério trinitário:
1) Subordinacionismo: surgiu em Alexandria (centro cultural importante da época). Entrou
pelas portas dos fundos na teologia trinitária. Personagem central: Ário. Não admitia que Jesus
fosse da mesma substância do Pai – semi-deus, criado por Deus-Pai, subordinado a Ele, assim
como o Espírito estava subordinado ao Pai. Doutrina de Ário: 1) Houve um tempo que Deus não
era Pai, pois o Filho é criatura – Filho não coexiste eternamente com o Pai; 2) O Filho não é
substância de Deus – o Verbo não é o Filho do Pai por natureza; 3) O Verbo é estranho a Deus e
diferente dele – a natureza do Filho não procede da Natureza do Pai; 4) O Verbo está sujeito a
mudança física e moral (pode sofrer e pecar); 5) O Verbo foi criado do nada – é criatura;
Então, o Verbo não é o Filho do Pai por natureza. Se Jesus não é Deus, como ter certeza da
salvação? É um problema ao mesmo tempo cristológico e soteriológico;
Concílio de Nicéia – 325: afirmou que o Filho é Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro
de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Figura central do concílio:
Atanásio, que encontrou a palavra consubstancial: ambos são da mesma substância divina, ainda
que diferentes.
Superou o subordinacionismo ariano em relação à pessoa do Verbo. Mas o
subordinacionismo trinitário em relação ao Espírito Santo? Os macedonianos, seguidores de
Macedônio, bispo de Constantinopla, em meados do século IV (pneumatômacos – assassinos do
Espírito), diziam que ele é uma espécie de fluido, de energia, de força que vem do único Deus,
uma simples energia, quase que afirmando a criaturalidade do Espírito;
Reação dos padres Capadócios (Basílio Magno, Gregório de Nissa e Gregório Nazianzeno).
O Espírito Santo é o princípio de divinização e de retorno do ser humano a Deus – base do credo
niceno-constantinopolitano;
Concílio de Constantinopla – 381: afirma que o Espírito Santo é Senhor e fonte de vida, que
procede do Pai e com o Pai e o Filho deve ser adorado e glorificado, porque é também Deus.
Procede do Pai: o Filho por geração e o Espírito, bom, dele não se fala como, apenas que procede
do Pai. Aqui, o Ocidente afirmará, mais tarde, o filioque: o Espírito procede do Pai e do Filho – o
Filho só do Pai; o Espírito do Pai e do Filho, da relação de amor entre os dois;
Os padres capadócios foram os consumadores de Nicéia: aplicaram a consubstancialidade
intratrinitária ao Espírito Santo;
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Os grandes perigos da heresia subordinaciana: patriarcalismo (negar a divindade do Filho –
cria-se uma religião do Pai como senhor absoluto – religião caracterizada pelo verticalismo
espiritual e/ou político) e espiritualismo (negar a divindade do Espírito);
2) Modalismo: alguns teólogos entendiam que Deus mesmo é um só. Insistiam tanto na unidade
divina que passaram a ver as três pessoas apenas como máscaras de Deus. Pai, Filho e Espírito:
três modos diferentes de o único Deus ser e aparecer a nós. Negar a realidade e a divindade de
cada pessoa é desprezar a história da revelação e da salvação. O modalismo reduz as três pessoas
a três modos de Deus ser. Encontra sua base na heresia cristológica do docetismo (ensinava que
Jesus era o único e mesmo Deus em aparência humana). A partir disso, desenvolveram-se as
várias heresias trinitárias do modalismo. Diziam que há um só Deus, que se apresento à história
em três modos – as pessoas divinas são vistas como funções salvíficas, não pessoas em sua
identidade e individualidade próprias; o monarquianismo propõem a idéia de um só princípio,
um só Deus incognoscível do qual emanam a Sabedoria (o Filho) e a Força (o Espírito Santo),
que não são consubstanciais com o Pai, mas intermediários.
Essa heresia quer salvar o monoteísmo judaico helenizado e resolver o problema cristológico
do NT, que é: “Deus pode se revelar totalmente através de um ser humano?”
Riscos presentes na heresia do modalismo: funcionalismo, institucionalismo, uniformismo.
Cria-se uma religião da essência de Deus, do Deus Uno, que justifica uma sociedade sem espaço
para as diferenças. Nessa religião, espaço demasiado à pessoa do Filho – cristomonismo,
responsável pelo visibilismo juridicista e uniformismo clerical da Igreja do ocidente.
3) Triteísmo: insistência na diversidade das três pessoas, a ponto de dividir a una e única
essência divina. Propunham três deuses, como se fossem três princípios criadores e sustentadores
do universo, que teriam assumido viver em comunhão, como se essa fosse simples produto da
vontade dos três. Negavam assim que a comunhão divina faz parte da própria essência de Deus.
Pretendendo salvar as diferenças em Deus, contra o modalismo, caíram no triteísmo (Dionísio,
bispo de Alexandria, século III). No século XII, a teologia trinitária de Joaquim de Fiore, após
sua morte, foi questionada pelo IV Concílio de Latrão (1215), porque identificou as três pessoas
divinas com três presumíveis eras da história: a do Pai (AT), a do Filho (NT) e a do Espírito, em
sua época de anseios de renovação eclesial e social.
Riscos dessa heresia: subjetivismo, anarquia, democratismo, basismo, conflitivismo. Cria-se
a religião do Espírito, onde não há critérios de identidade e diferencialidade para o acesso a
Deus. Cada um se acha dono do Espírito, num individualismo exacerbado: cada um cria o seu
Deus.
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A originalidade dos concílios: usar palavras bíblicas e não-bíblicas para expressar aquilo que
quer dizer sobre Deus. Do Filho: é consubstancial ao Pai, gerado, não criado. Do Espírito: é
Senhor e vivificador, fonte de vida, com o Pai e o Filho recebe a mesma adoração e a mesma
glória; é o mesmo que falou pelos profetas – existe deste toda a eternidade;
A divindade do Espírito é afirmada: a) atribuindo a ele um nome divino – Senhor; b)
atribuindo-lhe funções divinas (vivificador, santificador); c) atribuindo-lhe origem divina, a
partir do Pai (procede do Pai); d) atribuindo-lhe culto igual; e) atribuindo-lhe a inspiração do AT
(profecia), do NT (é o Espírito de Cristo) e a inspiração em nós (in-habitação).
Esses concílios definem que Deus é uma substância (ousia) em três pessoas distintas
(hipóstases).
No século XI: separação entre ocidentais e orientais, por causa da concepção diversa sobre a
procedência do Espírito.
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Pai, sem esclarecer sua relação com o Filho). Este “e do Filho” – filioque – provocou uma
dolorosa polêmica entre ocidentais e orientais, a ponto de levar à divisão da Igreja, em 1054,
entre latinos e ortodoxos;
7. No Concílio de Florença (Itália), entre 1431 e 1447, tentou-se uma fórmula de conciliação:
dizer que o Espírito procede do Pai e do Filho é o mesmo que dizer que ele procede do Pai
através do Filho ou pelo Filho – fórmula aceita, mas a divisão continuou.
8. Muitos estudos recentes, em ambas as Igrejas, para esclarecer melhor as duas maneiras de se
entender a procedência do Espírito Santo. Fica cada vez mais claro que não se trata de uma fé
diferente, mas de modos diferentes de se entender e explicar a mesma fé.
Que palavra usar para dizer que Deus é um? Substância, essência e natureza (indica a
unidade).
O que é Deus? Uma substância, uma essência, uma natureza.
O fundamento, o ser de Deus é um.
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b) ... na trindade das pessoas divinas, distinção de pessoas...
11. As pessoas divinas são realmente distintas entre si. Deus é único, mas não solitário. Pai,
Filho e Espírito Santo não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino,
pois são realmente distintos entre si: Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho
não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho. São distintos entre si pelas suas
relações de origem: É o Pai que gera, o Filho que é gerado, e Espírito Santo que procede. A
unidade divina é trina;
Que palavra usar para dizer que Deus é Três? Hipóstase, subsistência, pessoa (indica a
Trindade na sua distinção real).
Quem é Deus? Três hipóstases, três subsistência, três pessoas.
12. Hipóstase (termo grego) designa a individualidade que existe em si, distinta de todas as
demais. Assim devemos dizer que cada Pessoa divina existe em si numa existência singular,
distinta das duas outras. Subsistência é o termo latino para hipóstase. Cada pessoa divina é um
Subsistente, possui uma existência real, não dependendo de nossa mente e de nossa
representação, porquanto subsiste em si mesmo de modo singular. Pessoa (termo latino) designa
a individualidade racional, o sujeito espiritual que se possui a si mesmo. Três conceitos de
pessoas: 1) é o sujeito existente, distinto dos outros; 2) relação subsistente ou a subsistência
individual e incomunicável de uma natureza racional – da reflexão escolástica - (o Pai entrega
tudo ao Filho, menos o fato de ser Pai; o Filho entrega tudo ao Pai e ao Espírito Santo, menos o
fato de ser Filho gerado do Pai; o Espírito Santo tudo entrega ao Pai e ao Filho menos o fato de
ser espirado do Pai e do Filho – a pessoa está em si e para si em total independência do outro
exatamente no ato de se entregar totalmente ao outro (pericorese – relação de comunhão entre as
três pessoas, uma dentro totalmente da outra, pois tudo nelas é comum e é comunicado entre si,
menos aquilo que é impossível de comunicar: o que as distingue uma das outras); 3) identidade
que se faz a partir do outro – pensamento moderno.
13. Sobre o Pai: é criador onipotente do céu e da terra, princípio sem princípio, fonte e origem da
vida trinitária. Ele é o Pai do Filho unigênito. É também princípio ativo espirador do Espírito
Santo;
14. Sobre o Filho: eternamente gerado do Pai, não sendo por isso criatura. Por comunicação
recebe do Pai a natureza divina, a essência e a substância, não por ato arbitrário de vontade nem
por qualquer coação extrínseca. Sendo consubstancial ao Pai é dele Verbo, imagem e sacramento
tanto na esfera intratrinitária quanto em sua missão encarnatória;
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15. Sobre o ES: procede, como de um só princípio, do Pai e do Filho, sendo consubstancial a
eles, igualmente adorado e glorificado. A processão do Espírito a partir do Pai e do Filho (ou
também pelo Filho) não deve ser chamada de geração, mas de espiração, expressão eterna do
mútuo amor do Pai e do Filho.
e) ... processões...
19. Por processão se designa a origem de uma Pessoa da outra;
20. Assim existem no mistério trinitário duas processões: aquela do Filho e aquela do Espírito
Santo. O Pai gera desde toda a eternidade o Filho e junto com (através do) Filho dá origem ao
Espírito Santo. Em outras palavras:
1) Processão por geração por modo de conhecimento: ato segundo a inteligência, imanente ao
Pai, colocando o Verbo no interior deste último;
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2) Processão por espiração: ato segundo a vontade, que segue a operação da inteligência e a
supõe, pois nada pode ser amado que não seja primeiro conhecido. Ela se identifica com o
Espírito Santo;
21. O Pai não procede de ninguém. Afirma o Concílio de Florença (1442): “O Pai, tudo o que é
ou possui não o recebe de outrem, mas de si mesmo, pois é princípio sem princípio” (DS 1331).
A Ele pertence à inascibilidade, o ser fonte primigênia da qual tudo emana e promana.
f) ... e missões.
22. As missões designam a presença da Pessoa divina na criatura; trata-se de uma auto-
comunicação de uma Pessoa a alguém criado. As Pessoas divinas não se entregam mutuamente
tão-somente no círculo trinitário. A efusão da vida divina e a fecundidade do amor faz com que
as Pessoas se auto-entreguem para fora, na criação;
23. Assim o Pai enviou o seu Filho ao mundo para no homem Jesus divinizar, verbificar e filiar
todos os seres humanos. Enviou juntamente com o Filho o Espírito Santo, para na mulher
Maria pneumatificar a humanidade e revelar o rosto materno de Deus;
24. As Escrituras nos falam do envio e da missão do Filho no mundo: o Filho foi enviado pelo
Pai (Jo 3,16; 5,23); o Espírito Santo também foi enviado pelo Pai através do Filho (Lc 24,19; Jo
14,16);
25. Pai: Criador; Filho: Redentor; Espírito Santo: santificador.
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Tese 14: A Santíssima Trindade, no mistério de sua vida íntima (Trindade Imanente) e na
iniciativa de sua auto-manifestação (Trindade econômica) é a fonte da Salvação, modelo da
vida espiritual, paradigma e crítica da sociedade e da Igreja, origem e meta do Reino de
Deus.
b) ... modelo da vida espiritual, paradigma e crítica da sociedade e da Igreja, origem e meta
do Reino de Deus.
A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, modelo de vida para todos os que buscam
uma vida harmoniosa;
A comunhão trinitária critica:
1. Na pessoa: o individualismo, o isolamento, os direitos individuais sem relação com a
sociedade, as poucas relações interpessoais, a desvalorização da história;
2. Na sociedade capitalista: a ditadura das classes mais ricas, a divisão de classe/raça/sexo, o
desejo de acumular, o elitismo, o mercado, o capital, o consumismo, o hedonismo;
3. Na sociedade socialista: a imposição do pessoal a partir do partido, o social burocraticamente
imposto, as diferenças não respeitadas, a coletivização com traços de massificação;
4. Na Igreja: a ganância e concentração do poder, a autoridade paternalista, a estrutura
piramidal.
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A comunhão trinitária inspira:
1. Na pessoa: abertura, identificação como pessoa, relacionamento atuante e permanente para si
e para os outros;
2. Na sociedade: unidade na diversidade, afirmação do outro, respeito pelas culturas, pelo
diferente, economia solidária;
3. Na Igreja: comunhão e participação igual para todos, Igreja Povo de Deus, confiança mútua;
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CRISTOLOGIA
57
CRISTOLOGIA
Tese 15: Em sua existência histórica, Jesus de Nazaré anunciou o Reino de Deus, mostrou
por ações e palavras uma relação consciente e única com o Pai, revelando assim sua
preexistência, condição e missão divinas. Pela encarnação, Ele tudo recapitulou (Ef 1, 10),
renovando e elevando toda a realidade em suas dimensões cósmicas, antropológica, eclesial
e salvífica (CIC 456-463) . Os hinos cristológicos de Paulo resumem a história divino-
humana de Jesus Cristo (Fil 2,6-11; Col 1, 15-20; Ef 1, 3-14).
a) Em sua existência histórica, Jesus de Nazaré anunciou o Reino de Deus, mostrou por
ações e palavras uma relação consciente e única com o Pai...
O núcleo histórico de Jesus de Nazaré pode ser concentrado em alguns elementos centrais:
Deus Pai, que era a referência absoluta, pela qual Jesus pautava todas as suas preocupações; o
Reino de Deus, que Jesus anunciou e iniciou através de sua mensagem e de sua práxis
messiânica; a práxis profética de denúncia do anti-reino; sua morte na cruz;
Para Jesus, Deus é o Deus da terra, do êxodo e da aliança; é o Deus da transcendência; é o
Deus da lei; é o Deus da criação, do direito e da justiça; é o Deus dos pobres, dos órfãos e
estrangeiros; o Deus da intervenção gratuita e apoteótica; o Deus do cotidiano, do bem-viver;
para Jesus, Deus é bom e exigente, e com Ele se relaciona no louvor (Mt 11,25), na angústia (Mc
14,35-36), em decisões históricas (Lc 6,12-16), por pessoas concretas (Lc 22,32); apresenta-o
como Deus da misericórdia, do perdão, da ternura (Lc 6,36; 15,11-32), um Deus que é amor e
exigente (mantém Jesus no caminho da provação, da obscuridade, da crise e da cruz). Com esse
Deus, Jesus encontrou a luz da caminhada e na sua “noite escura”, entregou-se totalmente a Ele,
por causa do seu Reino;
Em Cristo se realizou aquilo que Deus Pai sonhou para toda a humanidade – o Reino;
O centro de sua mensagem foi o Reino, a realização de uma esperança, da superação de todas
as alienações humanas, a revolução e a transfiguração total da pessoa e do cosmos, pois o Reino
abarca todas as coisas e as transforma. É a revolução total;
Por Reino de Deus deve-se entender o projeto de Deus para toda a humanidade. Em termos
existenciais, o Reino é a situação projetada para que todos os seus filhos e filhas tenham alegria,
justiça e paz no Espírito Santo (Rm 14,17), sejam felizes, realizem-se como pessoas, em todas as
dimensões da existência humana. Em termos político-econômico-sociais, trata-se da plataforma
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de governo de Deus, com projetos, programas e prioridades de ação que façam acontecer sua
vontade: que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10);
Ao mesmo tempo, Jesus denunciava o anti-Reino: Jesus, aos poucos, foi tomando
consciência de que a sociedade de seu tempo estava estruturada em cima de uma disjunção entre
as forças da vida e as forças da morte;
Tudo o que Jesus fez e falou estava direcionado ao Reino do seu Pai, pois assim como ele
estava no Pai e o Pai nele (Jo 17,21), desejava que todos estivessem no Pai, o Abba, aquele que
sempre o acompanhou desde toda a eternidade, pois desde sempre o Filho estava designado para
a missão de recapitulador de toda a criação.
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c) Pela encarnação, Ele tudo recapitulou (Ef 1, 10), renovando e elevando toda a realidade
em suas dimensões cósmicas, antropológica, eclesial e salvífica. Os hinos cristológicos de
Paulo resumem a história divino-humana de Jesus Cristo.
Seguindo uma teologia otimista, não hamartiocêntrica, Cristo, desde o princípio pensado
como o recapitulador da criação, encarnando no seio de Maria, reencabeçou toda a criação,
redimindo-a e plenificando-a;
Encarnando-se: 1) reconciliou-nos com Deus; 2) mostrou-nos que Deus é amor; 3) fez-se
modelo de santidade; 4) tornou-nos participantes da natureza divina (CIC 456-460);
Com a encarnação, toda a criação se viu redimida, porque tudo foi assumido por Ele;
Hinos cristológicos paulinos: ver acima.
Tese 16: Jesus é o verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Assim atestam as Escrituras e os
Santos Padres, como também os Concílios e o Magistério da Igreja. Ele é consubstancial ao
Pai, e em sua Pessoa divina, pela união hipostática, agem inconfudivelmente duas
naturezas, duas vontades e duas operações (Calcedônia: DS 301-302; Constantinolpa III:
DS 554-556; CIC 464-483; 522-567). Tudo isso constitui o ser e a consciência de Jesus.
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b) ...e os Santos Padres
Após a era apostólica, os problemas complexicam e heresias surgem. Em respostas a estas,
vêm os Santos Padres e os Concílios;
a) Inácio de Antioquia ( 110): afirma incisivamente que Deus apareceu humanamente, e por
nossa causa, tornou-se visível o intemporal e o invisível; o que não podia sofrer, sofreu por nossa
causa. O acendo na historicidade de Jesus e do seu destino assumem um tom fortemente
polêmico, em oposição ao docetismo gnóstico;
b) Justino Apologeta ( 165): para ele, Jesus é o outro Deus e Senhor, o Filho preexistente de
Deus, feito homem igual a todos no seu sofrimento;
c) Ireneu de Lião ( 202): Como homem da unidade, vê a unidade do homem com Deus no
único Senhor Jesus, o que vai contra o gnosticismo e o marcionismo, totalmente dualistas.
d) Tertuliano (160-222) e Hipólito (160-235): Jesus é a Palavra que procede de Deus, com
poder criador divino, tornada homem. Acentuando a realidade da carne de Jesus, opõem-se ao
dualismo gnóstico e ao docetismo. Ambos afirmam, também, que o divino e o humano são o
mesmo. Indo além dos mestres da reflexão cristológica, Tertuliano distingue, no único Jesus
Cristo, duas substâncias, a divina e a humana. Como Filho de Deus, Jesus participa da substância
espiritual de seu Pai, e como Filho de Maria, participa da substância humana;
e) Clemente de Alexandria ( 215): apresenta o Filho de Deus como o Logos, aparecido aos
homens em forma de Homem, fazendo-se carne para ser visível, tornando-se o “um e o mesmo”,
o mediador, participando de Deus e dos homens.
f) Orígenes (184-254): Jesus é tudo, não podendo ser reduzido a uma concepção. É Deus e Filho
de Deus, Palavra, Sabedoria, Vida, Redentor, Médico, Primogênito dos mortos, entre outros
títulos. Pode-se distinguir em sua vida entre aquilo que fez ou disse como Deus ou como
Homem, na base da sua natureza divina e humana, havendo como que um entrelaçamento entre
as duas naturezas
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“em si”, consubstancial ao Pai, sobrepõe-se ao Cristo morto e ressuscitado “por nós”, ainda que
este não seja excluído da confissão litúrgica da fé eclesial.
2) O nestorianismo e o Concílio de Éfeso (431): Nestório envolveu-se numa disputa relativa ao
uso de theotokos (“mãe de Deus”) como título para Maria. Contra este, recomendou que
honrassem a Maria como christotokos, “mãe de Cristo”. No fundo, é uma questão cristológica,
embora a linguagem se refira diretamente à Maria. A pergunta que se levanta é: a unidade de
Cristo é tal que sua mãe pode ser chamada Mãe de Deus? O título theotokos não quer significar
que Maria seja divina ou fonte da divindade de Cristo, mas sim à maternidade do Filho de Deus,
visto que Jesus é homem e Deus ao mesmo tempo (confissão de Nicéia). Referente às naturezas
de Jesus, é a fonte de sua realidade humana, não de sua divindade, e por isso, o termo em questão
possui sentido cristão legítimo.
Para Nestório, em Jesus há duas naturezas correspondentes a duas pessoas: separa em Jesus o
divino do humano; o divino e o humano se juntam em Jesus numa unidade moral (pacto), não
essencial (ontológica), e com isso nega o realismo da encarnação, a divindade faz de Jesus um
homem adotado, elevado como filho de Deus.
Resposta do Concílio: União hipostática: uma pessoa com duas naturezas.
3) O monofisismo e o Concílio de Calcedônia (451)
a) O monofisismo: Pertence a esse grupo aqueles que só admitiam uma natureza em Cristo e não
duas, humana e divina, como sancionou o concílio de Calcedônia. Para Eutiques, a natureza
humana foi absorvida pela divindade – havia duas naturezas até a encarnação, depois temos uma
só: a humana se anula.
b) O Concílio de Calcedônia: Este acabou se tornando a formulação clássica da doutrina
cristológica, professando tanto a unidade de Cristo como a completitude de sua divindade e
humanidade: seguindo, portanto, os santos Padres, todos nós, a uma só voz, ensinamos que deve
ser confessado que nosso Senhor Jesus Cristo é o único e o mesmo Filho, o mesmo perfeito em
suprema divindade, o mesmo perfeito em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem, o mesmo (consistindo) de uma alma racional e um corpo; homooúsios com o Pai
conforme sua humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, com exceção do pecado; gerado
pelo Pai antes da eternidade conforme sua suprema divindade, e nos últimos dias, o mesmo, para
nós e para nossa salvação, pela Theotokos Virgem Maria conforme sua humanidade;
O único e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Único gerado, feito conhecido em duas naturezas
(que existem) sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação; a diferença de naturezas
tendo sido de forma alguma eliminada em razão da união, mas pelo contrário as propriedades de
cada uma sendo preservadas, e (ambas) concorrendo para uma Pessoa (prosopon) e uma
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hypostasis - nem separada nem dividida em duas pessoas (prosopa), mas o único e o mesmo
Filho e Único gerado, o Logos divino, o Senhor Jesus Cristo; conforme os profetas de
antigamente (falaram) referente a ele, e conforme o próprio Senhor Jesus Cristo ensinou, e
conforme o símbolo dos Padres entregaram a nós.
De fundamental importância é o uso de quatro advérbios na confissão: sem confusão, sem
mudança, sem divisão e sem separação. Os dois primeiros contêm a rejeição do monofisismo; a
parte final rejeita o nestorianismo. A justaposição dos quatro reflete a preocupação de
Calcedônia em se opor às posições extremas tanto de Alexandria quanto de Antioquia. Assim, o
buscado foi um equilíbrio entre as partes. Mas, isso não quer dizer que este foi possível.
Calcedônia tentou um acordo entre o difisismo dos antioquenos e o monofisismo dos
alexandrinos, mas não satisfez nenhuma das partes. A reação foi imediata, principalmente dos
monofisitas do Egito e da Síria. Procurando reverter a situação, o patriarca Sérgio de
Constantinopla (610-38) ensinava que, mesmo com duas naturezas, há apenas uma operação da
vontade, que é tanto divino como humana. Considerada aceitável pelos monofisitas, houve uma
reconciliação de diversas províncias com Constantinopla, e em 638, o imperador Heráclio (610-
41) assinou um decreto confessando “uma vontade de nosso Senhor Jesus Cristo”.
O papa Honório (625-38), embora não tenha se oposto, outros o fizeram, percebendo o
problema mais claramente. Então, em 649, um sínodo lateranense (DS 510) condenou o
monotelismo (uma vontade em Cristo) e ensinou a presença de duas vontades unidas
harmoniosamente.
4) O terceiro Concílio de Constantinopla (680-81): Convocado a 10 de setembro de 680 pelo
imperador Constantino IV para resolver a crise monoenergita e monotelita. Se em Jesus temos
duas naturezas, há também nele duas ações/vontades? “O concílio condenou os principais
defensores, vivos e mortos, do monoenergismo e do monotelismo; entre eles Sérgio de C., Ciro
de Alexandria, Honório de Roma [...] e Macário, e na profissão de fé confirmou que Cristo,
como tem duas naturezas, também tem duas vontades em perfeita harmonia entre si e duas
energias inseparáveis”, sendo a vontade humana submissa (obediente) à vontade divina.
Consciência de Jesus: “Jesus foi crescendo em idade, sabedoria e graça...” (Lc 2,52) – Jesus
tinha a ciência do seu tempo, mas também uma ciência especial – a ciência infusa – que o Verbo
lhe comunicava conforme a capacidade da sua mente humana, que transcendiam toda a
experiência religiosa e toda reflexão humana. Esta comunicação de uma ciência divina à natureza
humana do Verbo encarnado ajuda-se à doutrina da “união hipostática” – as duas naturezas estão
substancialmente unidas na única pessoa do Verbo, embora se conservem distintas uma da outra.
64
Tese 17: Em sua vida, morte e ressurreição, Jesus foi totalmente voltado para Deus e para
os outros. Sua morte tem explicações em conflitos históricos com os servidores do poder
religioso e político. Também motivos teológicos: nela Jesus enfrenta e vence os ídolos da
morte. Mas o significado salvífico de Jesus não se limita exclusivamente a sua morte: inclui
toda a sua vida, desde a encarnação até a glorificação. Sua ressurreição é o fundamento da
fé cristã. O fato e o anúncio da ressurreição são simultaneamente evento de fé e evento
histórico, profissão de fé (1Cor 15, 3-5) e testemunho de vida (At 2, 35; 5, 32). A
ressurreição de Jesus dentre os mortos é o fundamento da ressurreição de toda a carne e
antecipação do futuro do mundo (CIC 571-658).
a) Em sua vida, morte e ressurreição, Jesus foi totalmente voltado para Deus e para os
outros.
Segundo São Paulo, Jesus Cristo aniquilou-se totalmente, de condição divina fez-se homem,
assumindo totalmente a condição humana, menos o pecado. Verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, toda a sua vida foi voltada para Deus e para as pessoas. Sua vida de oração, sua
acolhida, seus milagres... demonstram isso:
Na acolhida dos publicanos e dos pecadores ("Estando Jesus na casa, sentado à mesa, muitos
coletores e pecadores chegaram e se sentaram com Jesus e seus discípulos" - Mt 9,9);
Na cura de doentes e endemoninhados ("Jesus percorria toda a Galiléia ensinando nas
sinagogas, proclamando a boa notícia do Reino e curando todo tipo de enfermidades e doenças
entre o povo" - Mt 4,23);
No respeito e na valorização da mulher ("Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro"
- Jo 11,5);
Na acolhida das crianças e dos pequeninos ("Depois chamou uma criança, colocou-a no meio
deles, acariciou-a e lhes disse: 'Quem acolher uma destas crianças em atenção a mim, a mim
acolhe. Quem acolhe a mim, não é a mim que acolhe, mas sim àquele que me enviou’" - Mc
9,36-37);
No perdão dos inimigos e dos malfeitores ("Um dos malfeitores crucificados o insultava: 'Não
és tu o Messias? Salva a ti mesmo e a nós'. O outro o repreendia: 'E tu, que sofres a mesma
pena, não respeitas a Deus? Quanto a nós, é justo, pois recebemos o pagamento de nossos
delitos; este, ao contrário, não cometeu nenhum crime'. E acrescentou: 'Jesus, quando chegares
ao teu Reino, lembra-te de mim'. Respondeu-lhe: 'Eu te asseguro que hoje estarás comigo no
paraíso'" - Lc 23,39-43).
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b) Sua morte tem explicações em conflitos históricos com os servidores do poder religioso e
político. Também motivos teológicos: nela Jesus enfrenta e vence os ídolos da morte.
Porque foi fiel a Deus e ao seu Reino, entrou em conflito com os poderes dominantes, tanto
religiosos quanto civis, foi preso, julgado e morto. No fundo, quem também foi julgado foi o seu
Deus: era a imagem do deus do império, do judaísmo, contra a imagem do Deus de Jesus.
Aparentemente, quem vence não é nem Jesus nem sua imagem de Deus. Contudo, Deus o
ressuscita!
c) Mas o significado salvífico de Jesus não se limita exclusivamente a sua morte: inclui toda
a sua vida, desde a encarnação até a glorificação.
Ressuscitado, Jesus é o verdadeiro Caminho, Verdade e Vida para se chegar ao Deus
verdadeiro. Toda a sua vida, por ser salvífica, leva-nos ao encontro do Pai, porque toda a sua
vida é exemplar! E o cume dela é a ressurreição! Assim como Jesus ressuscitou, todos nós
ressuscitaremos!
Todavia, toda a vida de Jesus é salvífica, pois toda ela é exemplar, toda ela é plenamente
humana.
66
A ressurreição de Jesus é protótipo, modelo de toda a ressurreição da carne. Desde já
vivemos dessa esperança, pois acreditamos num Deus que é amor, que sustenta desde sempre sua
criação. Sem ressurreição, a vida não teria sentido;
Significado da ressurreição:
1) Teológico: aí está o ápice da ação de Deus-Trindade;
1) Cristológico: Jesus é o Senhor da história;
2) Salvífico: com sua ressurreição, toda a criação foi salva (Rm 6,18-23; 7,6ss)
3) Escatológico: nós já somos ressuscitados, livres: “já” e “ainda não”.
Tese 18: A paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus constituem, como um todo, sua
glorificação e entronização como Senhor e Rei; ao mesmo tempo confirmam sua doutrina,
ação e títulos messiânicos (CIC 430-455): sacerdote, intercessor (Hb 5, 10; 4, 14-15) e
Senhor (At 2, 36). Sua glorificação acarretou benefícios para Ele, para a Igreja, para cada
homem e todo o mundo (CIC 659-682).
67
Israel à sua consumação (enquanto que Kyrios sublinha a soberania de Jesus sobre o universo,
sobre a criação inteira, visível e invisível). Todavia, Senhor é sinônimo de Rei em todas as
passagens onde se ressalta a oposição à pretensão de soberania do imperador, e quando Jesus é
chamado “Rei dos reis” e “Senhor dos senhores” (1Tm 6,15; Ap 17,14), o autor pensa em sua
soberania sobre o mundo. Paulo, em 1Cor 15,25, também pensa na soberania de Jesus sobre a
criação inteira.
b) ...ao mesmo tempo confirmam sua doutrina, ação e títulos messiânicos: sacerdote,
intercessor e Senhor.
Sacerdote: o sumo sacerdote é a figura ideal do judaísmo. Na epístola aos Hb 7,27, Jesus é
designado o verdadeiro sumo sacerdote, consumando, de forma absoluta, a função do sumo
sacerdote judaico (tradição relativa a Melquisedeque – Gn 14). Hb 7 demonstra a superioridade
deste rei sacerdote, que prefigura Jesus, sobre os levitas, os sacerdotes da antiga aliança, pois
Jesus é o verdadeiro mediador entre Deus e os homens. Assim, Jesus, além de pôr fim ao antigo
sacerdócio judaico, ele o consumou em sua pessoa. O elemento novo e valioso que entra na
cristologia, graças a essa concepção judaica de sumo sacerdote, é a idéia de que Jesus, ao
sacrificar-se, manifesta sua soberania sacerdotal. Sacrificando-se, indo ao mais fundo da
humilhação, Jesus exerce a função mais divina que se conhece em Israel: a de mediador
sacerdotal. Jesus realiza de uma vez o antigo sacerdócio judaico e, cumprindo-o, torna-o
supérfluo. Mas, além disso, Jesus, o sumo sacerdote, leva a humanidade à sua perfeição
tornando-se ele mesmo perfeito. Assim, restabelece o pacto com Deus. Como o sumo sacerdote é
mediador entre Deus e o homem, a realização do homem perfeito representa a coroação de sua
obra.
Intercessor: Jesus é o nosso intercessor junto ao Pai. Por meio do Espírito Santo, intercede
pelo mundo inteiro (CIC 739), sendo a ponte entre nós e o Pai.
c) Sua glorificação acarretou benefícios para Ele, para a Igreja, para cada homem e todo o
mundo.
Mestre e Senhor, o Messias desde toda a eternidade foi exaltado e antes de retornar ao seio da
Trindade, enviou sobre todos o Espírito Santo, fonte de vida e renovador de todas as coisas. Por
meio dele, a Igreja, cada pessoa e toda a criação podem acolher o Reino de Deus, inaugurado por
Jesus Cristo, protótipo de toda vocação. Olhando para o Cristo, podemos nos configurar nele e
fazermos daqui um novo céu e uma nova terra.
68
Tese 19: Hoje percebemos o surto de diversas cristologias, as quais têm como ponto de
partida ora o Jesus histórico (cristologia de baixo), ora o Cristo da fé (cristologia de cima).
Tais cristologias repercutem necessariamente no dogma, na celebração e na pastoral da
Igreja em nossos dias. Na América Latina, há um modo peculiar de se falar sobre Jesus
Cristo.
a) Hoje percebemos o surto de diversas cristologias, as quais têm como ponto de partida
ora o Jesus histórico (cristologia de baixo)... Tais cristologias repercutem necessariamente
no dogma, na celebração e na pastoral da Igreja em nossos dias.
“Jesus histórico”: é o Jesus que pode ser conhecido pela investigação histórica;
A cristologia bíblica (a Patrística também) parte do Jesus histórico:
1. Mc: narra os eventos da vida de Jesus que culminam no drama “recusa-exaltação”;
2. Mt: relê Jesus à luz do Primeiro Testamento;
3. Lc: exprime o desígnio histórico da salvação ð Jesus é o “centro do tempo”;
4. Jo: voltado ao evento salvífico; cristologia da encarnação;
Retomada desta cristologia, em oposição à cristologia de cima, a partir dos anos 60-70 –
crítica ao modelo de Calcedônia. A “virada antropológica” da cultura moderna foi determinante
para isso;
Pergunta-se pela realidade humana de Jesus, que nos revela quem é Deus;
Tenta identificar a realidade divina de Jesus analisando a sua relação com o Pai, ressaltando
os aspectos humanos da sua figura, da sua relação com o Pai, sobretudo na oração;
Valor desta cristologia: insistência na realidade concreta e histórica de Jesus;
Limite: compromete a validade desse projeto ao apresentar-se como modelo cristológico
exclusivo e alternativo ao modelo de cima – pretensão de ser auto-suficiente e completo. Além
disso: ausência de uma correlação com a linguagem de cima, de uma pré-compreensão religiosa
do discurso sobre Cristo; aversão ao dado dogmático, julgado com muita facilidade como uma
infiltração do dado cristológico; recai-se, com facilidade, numa interpretação unidimensional da
figura de Jesus. Dessa forma: a identificação de Jesus com o Pai entra em crise, a sua relação
trinitária com o Pai e o Espírito torna-se meramente funcional, a Trindade imanente é dissolvida
na Trindade econômica;
Conseqüências da valorização unilateral do Jesus histórico
• Reduz-se Jesus a um revolucionário;
• Jesus de Nazaré e sua proposta configuram-se o único critério da fé cristã;
69
• Jesus de Nazaré separado do Cristo da fé é um encontro estéril.
70
c) Na América Latina, há um modo peculiar de se falar sobre Jesus Cristo.
O “Cristo libertador”: nova imagem e nova fé:
• Cristo sofredor ð símbolo de protesto contra seu sofrimento ð símbolo de libertação;
• Melhora a relevância de Cristo para um continente de opressão por ser “libertadora”;
• Recupera melhor a identidade de Cristo ð remete ao Jesus de Nazaré;
• É fundamental dessa imagem:
• Cristo: visto como libertador;
• Nova forma de viver a fé em Cristo;
• Esse Cristo e essa fé são também conflitivos;
• Imagem também conflitiva entre os pobres ð imagens cristológicas de salvação
“antilibertadoras”.
Nova imagem: superação de imagens alienantes:
• Não deveria ser imagem nova ð é a dos evangelhos;
• Supera a imagem de:
• Um Cristo “abstrato”
• Um Cristo “reconciliador”
• Um Cristo “absolutamente absoluto”
• Desvela:
• A presença de Cristo nos oprimidos; Salvação como “libertação”;
• Esperança e práxis;
• Os destinatários privilegiados da missão de Jesus são os pobres, sacramento da presença
de Cristo.
Dessa forma:
1. Primazia do elemento antropológico sobre o eclesiológico: o foco maior está sobre a pessoa –
a Igreja deve resgatar a sua dignidade;
2. Primazia do elemento utópico sobre o factual: a utopia determina a prática presente;
3. Primazia do crítico sobre o dogmático: a crítica purifica todo discurso estagnado, fora do
tempo;
4. Primazia do social sobre o pessoal: o bem para todos, e não só para alguns;
5. Primazia da ortopraxia sobre a ortodoxia: a teopráxis é mais importante que a simples teoria.
71
PNEUMATOLOGIA
72
PNEUMATOLOGIA
Tese 20: O Espírito Santo é Deus com o Pai e o Filho. Sua revelação estava implícita no
Primeiro Testamento, tornou-se explícita nas ações e palavras de Jesus e da comunidade
primitiva (CIC 687-747). Os Santos Padres tiveram que defender sua divindade diante das
heresias que a negavam (Constantinopla I: DS 150).
73
O tema aparece em três áreas principais com seu conteúdo teológico: a) Tradições arcaicas
relativas à súbita intervenção de um indivíduo possuído do Espírito (Ex.: os salvadores do
período dos Juízes, o rei Saul, Elias e Eliseu); b) Os 9,7 chama o profeta “homem da roûah” – o
exercício da profecia é um dom do Espírito; c) o Espírito pode ir de um inspirado a um sucessor
(caso de Moisés: Dt 34,9 – imposição das mãos) ou mesmo a um povo (Is 59,21);
3) Propriedades do Espírito
O caráter imaterial e pessoal da roûah torna-a própria para significar a circulação, a
intimidade, a comunicação da intimidade. O Espírito é difundido (Is 32,15; 44,3), ele enche, faz
viver (Ez 37). Santo, ele santifica. Aproxima-se da Sabedoria quando se torna uma presença
permanente ligada a um eleito, ou ao povo (Is 11,1s; Pr 1,23; Sl 51,8.13; Sb 1,6; 7,7.22ss; 9,17).
4) O Espírito prometido
Nos escritos tardios, o conceito de Espírito é associado aos tempos escatológicos (Jl 3,3s; cf.
Is 63,19), à promessa. É na medida em que se inscreve numa nova concepção da aliança (Is
59,21; Ez 11,19s) que o Espírito será visto como o objeto principal da promessa (cf. Lc 24,49).
74
Espírito. A autoridade que reivindica em sua pregação e em seus atos o demonstra; as fórmulas
pré-paulinas mais antigas discernem na ressurreição de Jesus um ato de Deus, às vezes descrito
como a expressão da atividade do Espírito de Deus (Rm 1,3s);
Paulo: a) Cristologia: a proclamação do Evangelho de Cristo é obra do Espírito (1Ts 1,5;
1Cor 2,4), que suscita a fé (1Cor 12,3), e só ele permite confessar Jesus como Senhor; b)
Soteriologia: o Espírito cria a vida. Por ele, a pessoa é arrancada à potência do pecado e da
morte e colocada no espaço de vida e liberdade inaugurado por Cristo (Rm 8; Gl 5). O sinal
sacramental dessa mudança é o batismo; c) Eclesiologia: o Espírito une as pessoas na comunhão
visível do corpo de Cristo (1Cor 12), onde o maior dos carismas é o amor (1Cor 13); d) Ética: o
Espírito é o agente de toda a ação que corresponda à vontade de Deus, que só pode ser cumprida
no amor. A expressão concreta da liberdade cristã é o amor; e) Escatologia: o Espírito age de
maneira central no cumprimento da existência cristã. Constituindo as primícias da glória
vindoura (1Cor 1,22; Rm 8,23), o Espírito é o fundamento da esperança (Rm 8);
A obra lucana: concepção determinante para a noção lucana do Espírito é a história da
salvação. Sua promessa domina o período veterotestamentário. Durante a vida de Jesus, a
atividade do Espírito se concentra quase exclusivamente na pessoa de Jesus, que se torna de certo
modo seu depositário exclusivo. Seu nascimento manifesta a atividade criadora de Deus (Lc
1,35). Seu batistmo faz dele o portador messiânico (3,22). O relato da tentação mostra o tentador
se retirando porque Jesus porta o Espírito (4,13). A pregação inaugural em Nazaré liga o dom do
Espírito e a proclamação do Evangelho (8,18s).Só quando elevado ao Pai, Jesus transmitirá o
Espírito aos crentes (24,49). O tempo da Igreja caracteriza-se pelo dom do Espírito a todos os
crentes – Pentecostes (At 2);
João: os livros joaninos referem-se a uma comunidade que vive essencialmente uma
experiência espiritual. Libertou-se totalmente do judaísmo e da Lei e vive do Espírito uma
experiência mística tranqüila e permanente: “Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele
em nós: ele nos deu o seu Espírito” (1Jo 4,13); “Nisto reconhecemos que ele permanece em nós:
pelo Espírito que nos deu” (1Jo 3,24). O Espírito é a prova que Jesus permanece na comunidade,
e confere a ela uma vida nova (Jo 3,5.6.8). Passou pelo batismo do Espírito (Jo 1,33). Adora a
Deus no Espírito e na verdade (Jo 4,23s), vive da efusão do Espírito prometido por Jesus (Jo
7,39). Por isso, a Igreja também nasceu do dom Espírito, embora não aluda diretamente ao
Pentecostes. O próprio Jesus derramou o Espírito e assim formou a Igreja (Jo 20,22).
d) Os Santos Padres tiveram que defender sua divindade diante das heresias que a
negavam.
75
Irineu de Lião foi o primeiro a descrever mais longamente a obra do Espírito Santo.
Distingue bem o Filho e o Espírito Santo, que são como as duas mãos do Pai. A atividade do
Espírito está a serviço do Filho, que por sua vez está submetido ao Pai. Sem dúvida, contra os
montanistas, insiste no vínculo entre o Espírito Santo e a Igreja e, contra os gnósticos, na
economia da salvação;
Tertuliano, em sua reação contra o monarquianismo de Praxéas, que negada a
individualidade própria do Espírito, retoma imagens binárias montanistas acrescentando-lhes um
terceiro termo: “Eles são três. Terceiro é, com efeito, o Espírito a partir de Deus e do Filho,
igualmente terceiro a partir da fonte, o regato que sai do rio, e terceiro a partir do sol a ponta que
sai do raio”;
Orígenes, com base no batismo, associa o Espírito ao Pai e ao Filho. Contra os
monarquianos, aplica ao Espírito Jo 1,3: “Tudo adveio por ele (o Filho)”. O Espírito recebe do
Filho e é por isso que se distingue dele;
Controvérsias no século IV: ausente de Nicéia (325), a questão do Espírito só veio a ser
discutida a partir de 359-360. Cristãos do baixo Egito que aceitavam a unidade do Filho com o
Pai faziam do Espírito Santo um “espírito servidor”. Em 374, os macedônios aproximam-se de
Nicéia, mas recusam-se a confessar o Espírito Santo como Deus, sem dizer, no entanto, que é
criatura. Atanásio e Basílio de Cesaréia contrapõem-se a esta idéia. Se o Espírito Santo diviniza,
não há dúvida alguma de que sua natureza seja a de Deus. Os Padres Capadócios (Basílio,
Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo);
As definições conciliares: o concílio de Nicéia menciona o Espírito Santo no fim de seu
“símbolo” numa fórmula muito breve, mas significativa enquanto traço da prática do batismo na
confissão de fé: “E [creio] no Espírito Santo” (DS 125). Constantinopla I (381) menciona o
Espírito Santo em duas passagens: “Cremos [...] em Jesus Cristo, feito carne do Espírito Santo e
[de] Maria Virgem”. E mais longe: “Cremos no Espírito Santo Senhor e vivificador, que procede
do Pai, que com o Pai recebe a mesma adoração e a mesma glória, que falou pelos profetas” (DS
150). Esse segundo desenvolvimento defende a divindade do Espírito contra os macedônios. Mas
o vocabulário técnico de Nicéia não é retomado. A origem a partir do Pai é o sinal principal que
testemunha a “divindade” do Espírito, igualmente sugerida pelo título divino de Senhor e a ação
divina de vivificar. A adoração e a glorificação do Espírito com o Pai e com o Filho significa que
têm a mesma posição que eles, mas igualmente que é uma “Pessoa” divina, recebendo com ele e
com eles o mesmo culto. Outros concílios mencionam o Espírito Santo: Toledo (589): “O
Espírito Santo é da mesma natureza do Pai e do Filho”, Lião II (1274), que precisa que o Espírito
76
Santo procede do Pai e do Filho (filioque) “não como a partir de dois princípios, mas como de
um só princípio [...], por uma única espiração” (DS 850) e Florença (1439-1445), que retoma
longamente a questão do filioque (DS 1300-1302) e lembra que “em Deus tudo é um, onde não
faz obstáculo uma oposição de relação” (DS 1300).
Tese 21: Há diferenças no modo de conceber o Espírito Santo entre as Igrejas do Ocidente
e do Oriente. Essas diferenças têm fundamentos históricos e teológicos no modo mesmo de
conceber a Trindade e na questão do Filioque.
77
A ação do Espírito sempre existiu. Sua reflexão, todavia, no segundo milênio, foi esquecida;
Existiram místicos que vivenciaram com grande intensidade sua presença; a liturgia não
deixou nunca de implorá-lo; surgiram grandes hinos a ele. Todavia, começou-se a criar um hiato
entre a Teologia e a espiritualidade, que desembocará num verdadeiro divórcio no séc. XIV. A
teologia patrística e monástica (espiritual e sapiencial) será substituída pelas Quaestiones e as
Summae da teologia escolástica, centrada na racionalidade da fé, no intellectus fidei;
Em nível eclesial, o Espírito aparece tão vinculado à hierarquia, que entram na penumbra
outros temas. A teologia dos carismas e a teologia da Igreja local desaparecem, perdendo-se toda
a sua riqueza pneumatológica;
Eclesiologia de encarnação que olvida o princípio pneumatológico da Igreja, como se a Igreja
tivesse nascido em Belém de Judá. Nesta perspectiva: Igreja demasiadamente “terrena”;
Eclesiologia meramente encarnacionista: “cristomonismo” - origem da tensão entre oriente e
ocidente;
Entrementes, o Espírito nunca parou de agir, e suscitou na Igreja da cristandade um pólo
profético. Havia, pois, a corrente eclesiológica episcopal (marcada pelo paradigma tradicional e
por uma eclesiologia mais cristomonística) e a profética (marcada pela dimensão pneumatológica
da Igreja);
Com a cisão de 1054: o cristomonismo latino se acentuou e a ortodoxia perdeu a dimensão de
unidade e catolicidade que Roma lhe assegurava. Por detrás disso há uma lógica eclesiológica: o
papel distinto atribuído à pneumatologia no Oriente e no Ocidente, conduzindo à ruptura;
Movimentos leigos e populares dos séc. XI ao XIII: outro momento profético, crítico e
pneumatológico da Igreja medieval; a conquista da América Latina também apresenta algumas
dimensões proféticas; todo o movimento de Reforma é fundamentalmente um movimento
profético; próximo ao Vat. I, a escola católica de Tubinga tratou de renovar a eclesiologia, com
grande sensibilidade simbólica e pneumatológica – essa teologia não prevaleceu, mas triunfou no
Vat. II.;
São três os grandes temas que suprem a ausência da pneumatologia neste período: a
Eucaristia, a Virgem Maria e o papa.
A questão do filioque: Os representantes do Oriente cristão tiveram muitas intervenções nas
sessões do Vat, lembrando a todos o tema do Espírito. Tal sensibilidade possui raízes culturais,
espirituais, teológicas e trinitárias profundas. O oriente sempre foi sensível à dimensão da
experiência espiritual e fez dela a base da sua reflexão teológica - teologia mais apofática e
78
litúrgica, mais mistérica e sacramental, busca mais a transformação do coração do que o mero
cumprimento moral e mais a transfiguração do cosmo do que a sua conquista;
O oriente parte das Pessoas da Trindade, não da natureza; parte do Pai como princípio de
unidade trinitária cristalizará numa concepção de Espírito. Para os ocidentais: Espírito procede
do Pai e do Filho, é o vínculo de amor e de união entre o Pai e o Filho; para os orientais: procede
do Pai, do mesmo modo que o Filho é gerado pelo Pai e goza de maior autonomia pessoal do que
no ocidente. O Filho e o Espírito constituem as duas “mãos” do Pai - controvérsia sobre o
Filioque: o oriente acusa o ocidente de ter introduzido no credo esse termo, afastando-se da
tradição primitiva;
O símbolo niceno-constantinopolitano afirma que o Espírito procede do Pai. O concílio de
Éfeso mantém a mesma fórmula e condena com excomunhão quem acrescentar algo ao credo de
Nicéia. No III Concílio de Toledo, em 589, o ocidente diz que o Espírito procede do Pai e do
Filho (filioque), para reafirmar, diante dos arianos, a divindade do Filho, já que, se o Espírito
procede do Pai e do Filho, reforça-se a igualdade divina, com a consubstancialidade entre o Pai e
o Filho;
Carlos Magno fez do filioque uma arma arrojadiça contra o oriente, tentando mostrar que este
era herético por não aceitá-lo. Todavia, o ocidente, até 1014, resistiu também;
Desde o século IX, Constantinopla mostrou-se contrária a tal introdução, herética. Cume:
excomunhão da Igreja do Oriente por ter suprimido do credo o filioque;
Em 1950: teólogos católicos e ortodoxos concluíram que a Escritura não fala nem do filioque
e nem da procedência do Espírito somente do Pai, e que as diferenças entre o Oriente e Ocidente
são mais teológicas do que dogmáticas. Os orientais reconhecem que Padres gregos e latinos têm
textos onde afirmam que o Espírito procede do Pai e do Filho. Para sair desse embaraço: propõe
que sejam enriquecidas ambas as tradições teológicas. Evdokimov: propõe completar o filioque
com o spirituque: assim como se contempla o Espírito em relação com o Pai e com o Filho, que
se contemple também o Filho em relação ao Pai e ao Espírito. Teria apoio na Escritura, que diz
que o Filho é enviado pelo Espírito e que Jesus nasce por obra do Espírito;
É preciso reconhecer que a sacramentologia oriental manteve muito viva a epiclese ou
invocação do Espírito em todos os sacramentos;
Além disso: acento à espiritualidade monacal; papel importante aos leigos; integração
teológica de temas como sexualidade, mulher, corpo, matrimônio e dimensão cósmica da criação
- a teologia da transfiguração é uma teologia do Espírito; contribui para uma visão mais
79
integradora; a escatologia tem uma estreita relação entre Reino e Espírito, entre a ação do
Espírito e a consumação da obra de Cristo;
É preciso reconhecer que a recuperação pneumatológica do Vat. II é devida, em muito,
àquela Igreja irmã (o ícone de Roublev resume e simboliza a visão teológica, eclesiológica e
pneumatológica da tradição oriental).
Tese 22: A ausência de uma teologia mais explícita sobre o Espírito Santo tem acarretado
sérios problemas para a vida da Igreja. A prática e a reflexão da Igreja dos nossos dias tem
salientado mais sua presença na vida das pessoas, da Igreja e do mundo, e no mistério do
Reino de Deus.
a) A ausência de uma teologia mais explícita sobre o Espírito Santo tem acarretado sérios
problemas para a vida da Igreja.
Vat. II: abriu caminho para uma nova concepção de Igreja: a pneumatologia cristã nos lançou
à história, a Igreja é uma Igreja extrovertida na direção do Reino;
O fato de se ter esquecido, por muito tempo, uma das “mãos” do Pai, trouxe conseqüências
muito negativas para a vida da Igreja. A história do mundo parecia que impenetrável e resistente
ao Espírito; mundo distante do Reino; dualismo; missão da Igreja contra o mundo, que ia contra
o Reino; história fora do interesse do cristão; conseqüência: a história moderna nasce à margem e
até contra a Igreja - uma das raízes do ateísmo moderno; voltar à “mão” do Espírito para
conseguir o equilíbrio teológico e eclesial;
A missão do Filho é visível; a do Espírito, não: é anônima, universal e progressiva, não se
identifica com nenhuma pessoa concreta, tudo dinamiza e fermenta; sua ação prossegue
ininterruptamente; a missão do Filho se manifesta nas palavras e atos recolhidas pela Escritura; a
do Espírito não é identificável em nenhum lugar e em nenhum momento concreto, pois atua nas
pessoas e nos acontecimentos, nem sempre fácil de serem discernidos; todavia, a missão do Filho
se complementa com a do Espírito;
Se Jesus fala exteriormente a nós, o Espírito o faz interiormente, tornando audível e
compreensível a Palavra; a mensagem do Espírito é a mesma de Jesus; atualiza-a e dinamiza-a na
história; desvincular Palavra e Espírito = heresia;
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b) A prática e a reflexão da Igreja dos nossos dias tem salientado mais sua presença na vida
das pessoas, da Igreja e do mundo, e no mistério do Reino de Deus.
1) O Espírito Santo nas pessoas: O Espírito age de forma especial nas pessoas, libertando-as de
todas as amarras que as impedem de viver o Evangelho da liberdade. Ver o Espírito Santo agindo
principalmente nos pobres.
1.1) O clamor dos pobres
Na América Latina, a Igreja se abriu ao mundo moderno e ao mundo dos pobres;
“É o grito de um povo que sofre e pede justiça, liberdade e respeito aos direitos mais
fundamentais do homem e dos povos” (DP 87);
Medellín – Carta pastoral Ouvi os clamores do meu povo (bispos do Nordeste – 1973) Puebla
– D. Romero: a teologia buscou escutar o clamor (que brota do povo que sofre injustamente por
situações históricas de pecado social) do povo, refleti-lo teologicamente e tirar conseqüências
pastorais; é um tema que atravessa toda a bíblia; nesse clamor se oculta o grito do Espírito;
existe uma conaturalidade entre o Espírito e os pobres; somente a partir do povo é possível captar
a importância que a Bíblia concede aos pobres;
Existe estreita conexão entre a missão de Jesus e sua unção pelo Espírito: ela se orienta para
o direito e a justiça, como sinais inequívocos do Reino, num mundo dominado pela injustiça e
pela desigualdade; no clamor dos pobres se discerne a ação do Espírito, que clama através deles,
pedindo justiça e libertação.
1.2) Uma nova experiência espiritual
Na América Latina surgiu uma nova experiência espiritual em função do contato com os
pobres, uma nova espiritualidade, que surgiu da dor e da pobreza do próprio continente começa
a beber do seu próprio poço. Suas características: nasce da contemplação da realidade do nosso
mundo; brota da vida, da cotidianidade do povo, do trabalho, do contato direto com as cidades e
bairros marginais, do campo, dos hospitais e das escolas, de contemplar como o povo sofre, luta,
morre, reza, espera e festeja. É um caminhar na presença do Senhor experimentando a dor e a
indignação ética diante das injustiças (pecado social). É uma experiência muito concreta,
balizada constantemente pela visão dos rostos dos pobres, diante do silêncio e cumplicidade de
muitas pessoas. Nesses rostos humilhados se percebe o clamor e a presença do Crucificado,
identificado com as vítimas da história, de forma vivencial. Em solidariedade a estes, há uma
experiência de comunhão, uma verdadeira liturgia vital e histórica que confere sentido a toda
vida eclesial;
81
Nesta experiência se experiencia Deus como o Deus da vida: leva a viver a situação de morte
em clima de esperança pascal naquele Jesus que ressuscitou; conduz a uma confiança filial;
O compromisso pela justiça e a opção pelos pobres são fonte de espiritualidade; a
solidariedade alimenta evangelicamente a vida espiritual, e o resultado é uma contemplação na
libertação, na ação pela justiça, que é libertação com Espírito.
1.3) Eclesiogênese pneumática
Essa experiência é de todo o povo e produz seus frutos na vida pessoal e eclesial. O povo lê a
Bíblia a partir do Espírito com que foi escrita, como inspiração e reflexo de sua própria vida:
devolveu-se a Bíblia ao povo;
Surgiram comunidades que uniram fé e vida, Palavra e compromisso. As CEBs geraram um
novo rosto eclesial, uma verdadeira “eclesiogênese”. Suas características: Igreja Povo de Deus;
dos pobres e dos fracos, dos espoliados e desumanizados, onde os seculares se sentem ativos;
uma Igreja de comunhão, toda ela ministerial; uma Igreja libertadora que sacramentaliza as
libertações concretas... É uma igreja fruto do Espírito, e não de um planejamento pastoral; é o
pólo profético do Espírito; é a Igreja samaritana, Igreja-lar, acolhedora, onde se celebra e se
pratica a reconciliação;
Para um povo que busca a oração, a Igreja voltou a ser santuário, espaço para a oração e para
o crescimento fraterno na fé; para um povo que anseia pela boa nova, a Igreja se transformou em
missionária que dialoga, convida à participação e lê o Evangelho com a vida; para um povo que
reivindica seus direitos e se organiza, as CEBs são uma Igreja profética;
A partir dessa experiência: os diferentes serviços e ministérios se renovaram (bispos, padres,
religiosas, diáconos, leigos e leigas comprometidos com a justiça);
Destaque nesta eclesiogênese pneumática à vida religiosa - inserção;
Depois desse primeiro passo, veio um segundo: a necessidade de se inculturar nas diferentes
culturas do povo pobre;
Característica típica desta eclesiogênese: conflitividade: o martírio é uma das notas mais
características desses anos. Por trás disso tudo está o Espírito do Senhor.
1.4) Um novo paradigma teológico
Toda teologia nasce de uma experiência espiritual profunda. A experiência latino-americana
deu origem a uma teologia própria: teologia da libertação: elaborada a partir da América Latina,
busca a libertação da miséria, respondendo aos desafios da segunda Ilustração; busca a
responsável diante da miséria, preocupada com a libertação da exploração; dirige-se a povos
pobres e que crêem; acentua a urgência protológica (o Reino deve começar aqui)...
82
Não é fácil escutar o clamor do Espírito, que grita através dos pobres, porque não é um
clamor tranqüilizante, mas sumamente exigente e conflitivo. Seria mais fácil extingui-lo. Mas,
não se pode esquecer que é pecado extinguir o Espírito (1Ts 5,19);
O mero fato de escutar o clamor do Espírito não garante que a teologia que se elabore seja
correta. Para isso, é necessário um constante discernimento dos espíritos.
2) O Espírito Santo na Igreja: o Espírito Santo não é enviado a uma Igreja já constituída antes
da sua missão. A missão do Espírito Santo é constitutiva da Igreja. Pois a Igreja existe porque o
Espírito Santo lhe foi enviado. Surge a partir deste dom. Primeiro há uma missão do Espírito a
toda a criação para que esta criação exista. Dentro desta missão geral surge e existe a Igreja, que
não mostra os rumos do Espírito, mas, ao contrário, esta deve seguir e somente existe na medida
em que segue os rumos do Espírito, que faz da Igreja o seu instrumento e a sua mediação para
agir no mundo. Ver a presença do Espírito nos sacramentos, nos ministérios, na hierarquia, na
liturgia, na Palavra etc. Segundo o Vaticano II:
Não se pode medir a pneumatologia do Vat. II pelo número de vezes (umas 260) que o
Espírito Santo é mencionado explicitamente nos textos conciliares. Ela é mais profunda que a
meramente deduzida do número de citações sobre o Espírito. O Concílio vê a Igreja a partir de
uma perspectiva não monoteísta, mas trinitária, até fazer dela um “povo reunido na unidade do
Pai e do Filho e do Espírito Santo” (LG 4), que tem na Trindade seu modelo e princípio supremo
(UR 2): o Espírito que ungiu Cristo é o mesmo que vivifica a Igreja para o incremento do corpo
de Cristo (LG 8); Cristo encheu a Igreja com seu Espírito (LG 9), de modo que a Cabeça e todos
os membros participamos do mesmo Espírito (LG 7), pois todos fomos ungidos pelo mesmo
Espírito (PO 2);
Outras duas recuperações pneumatológicas importantes: o sentido da fé dos cristãos - todo o
povo possui a unção do Espírito Santo, o que faz com que a universalidade dos fiéis, graças ao
sentido da fé, não possa falhar em sua crença; e a teologia dos carismas. É o Espírito que os
distribui livremente, para a edificação da Igreja; recupera uma visão positiva e ativa de todo o
povo de Deus, para dar aos leigos sua dimensão profética e fundamentar uma teologia da vida
religiosa. Todavia, instituição e carisma não se opõem: ambos são dons do Espírito. Existe uma
relação mútua entre a dimensão cristológica e a dimensão pneumatológica da Igreja;
O Espírito:
1) atualiza a inteligência da Palavra de Deus (DV 8,23);
2) suscita iniciativas e vocações para a vida religiosa (LG 44-45);
3) antecipa-se em iniciativas missionárias aos que governam a Igreja (AA 29);
4) impulsiona o ecumenismo (UR 1, 4, 24);
83
5) atua nas demais comunidades cristãs (LG 15; UR 3-4);
6) é força misteriosa que se encontra presente na história da humanidade (NA 2);
7) fundamenta a teologia da Igreja local, distribuindo seus dons a pessoas, comunidades, lugares
e culturas diferentes (LG 13, 25, 49);
8) renova a liturgia: colocar em evidência a função essencial do Espírito na comunidade (PO
2,5; SC 5-113); a reposição da epiclese nas orações eucarísticas obedece esse propósito; permite
o diálogo, respeito e comunhão entre a Igreja e as diferentes confissões religiosas do mundo;
3) O Espírito Santo no mundo: o Espírito Santo é enviado ao mundo para realizar uma nova
criação. Pairava desde o princípio sobre a face da terra (Gn 1,2), e continua pairando, renovando
todas as coisas, permitindo a acolhida do Reino. O Espírito, presente e atuante na história da
humanidade, leva-nos ao encontro definitivo com o Salvador, com o Reino de Deus, porque o
Espírito é agir, é povo, é história, é vida, é dinamismo, é evolução, é plenificação. Segundo o
Concílio Vaticano II: O Espírito do Senhor enche o universo
É necessário avançar mais. É na Gaudium et Spes que se introduz uma nova visão do Espírito
presente no mundo: O povo de Deus, levado pela fé com que acredita ser conduzido pelo
Espírito do Senhor, o qual enche o universo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas
exigências e aspirações, em que participa juntamente com os homens de hoje, quais são os
verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus” (GS 11). E no número 44: “É dever de
todo o povo de Deus, [...], com a ajuda do Espírito Santo, auscultar, discernir e interpretar as
várias linguagens do nosso tempo, e julgá-las à luz da palavra de Deus de modo que a verdade
revelada possa ser cada vez mais intimamente percebida, melhor compreendida e apresentada
de um modo mais conveniente”. Essa idéia é a raiz de uma nova concepção teológica e de uma
nova práxis eclesial; contempla o mundo de hoje, é o começo de uma nova epistemologia
teológica, que olha o mundo como verdadeiro lugar teológico, onde Deus se comunica e se
revela;
A afirmação da presença do Espírito no mundo e na história é de capital importância
teológica e eclesiológica: a Igreja deixa de possuir o monopólio da verdade e do Espírito e, sem
negar a revelação que ela recebeu do Senhor, abre-se a todos os povos, raças, culturas e religiões,
numa atitude de diálogo e de busca comum dos sinais do Reino. A teologia latino-americana será
a que mais desenvolverá todas as conseqüências dessa presença do Espírito no mundo,
inaugurando uma nova epistemologia teológica.
4) O Espírito Santo e o Reino: o Espírito transfigura a história, inaugurando nela o Reino de
Deus. O Espírito Santo é realização atual do Reino de Deus.Segundo o evangelista Lucas, a
vinda do Espírito Santo ocupa o lugar do reino de Deus anunciado (At 1,6-8). O Espírito é o
84
penhor, o sinal de que este reino de Deus se torna realidade. Na teologia paulina, o Espírito
ocupa o lugar do reino na proclamação da Boa Nova (Rm 8; 2Cor 1,22; Gl 5,5). Em João, o reino
de Deus ficou mais apagado ainda e a promessa é o Espírito Santo; o centro da mensagem é o
Espírito Santo. O Reino de Deus envolve o mundo inteiro.
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PARTE III: A VERDADE SOBRE O
SER HUMANO
ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA
86
ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA
Tese 23: O cristão de hoje deve saber conciliar os relatos bíblicos da criação (Gn 1-3) com
as teorias evolucionistas. Deve, em especial, repensar a origem do mundo e do ser humano
em perspectiva cristológica e pneumatológica. Deve, ainda, no estudo da origem da vida
humana entender como se dá a ação própria de Deus. Importa, por isso, saber em que
consiste a essência da fé na criação (Pio XII: DS 3896; GS 12-14; CIC 279-301).
a) O cristão de hoje deve saber conciliar os relatos bíblicos da criação (Gn 1-3) com as
teorias evolucionistas.
Os relatos bíblicos da criação não são respostas ao “como” surgiu todas as coisas, mas ao
“por que” da criação;
Os relatos bíblicos, então, não são respostas científicas à grande pergunta científica: “Como
surgiu o universo?”, mas uma resposta teológica. Por isso, ela pode se conciliar com as respostas
científicas atuais;
Teilhard de Chardin trabalhou neste sentido, afirmando a evolução da criação da
cosmogênese à cristogênese, passando pela biogênese e noogênese;
Não pode haver oposição entre ciência e teologia. Hoje, na interdisciplinariedade, as duas
têm que dialogar e somar forças, para juntas, com a ajuda de outras disciplinas, encontrarem
respostas que satisfaçam às questões latentes do ser humano contemporâneo.
87
O Espírito Santo, fonte de vida, age continuamente na história da salvação, principalmente
quando do evento Jesus Cristo;
Assim, em toda a criação, desde sempre, a força do amor intratrinitário esteve presente,
sustentando e renovando todas as coisas. E o ser humano foi criado no Espírito segundo a
imagem do Cristo, imagem perfeita do Pai.
c) Deve, ainda, no estudo da origem da vida humana entender como se dá a ação própria de
Deus.
Deus é amor! (Jo 4.8.16). Desde sempre cria, sustenta e mantém a criação por amor;
Deus cria por sabedoria e por amor (CIC 295). Cremos que o mundo procede da vontade
livre de Deus que quis fazer as criaturas participarem do seu ser, da sua sabedoria e da sua
bondade: “Pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade elas não existiam e foram criadas” (Ap
4,11). “O Senhor é bom para todos, compassivo com todas as suas obras” (Sl 145,9);
Deus cria “do nada” (CIC 296-298): a fé na criação a partir “do nada” é atestada na Escritura
como uma verdade cheia de promessa e de esperança: “Eu te suplico, meu filho, contempla o céu
e a terra e observa tudo o que neles existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que Deus
os fez, e que também o gênero humano surgiu da mesma forma” (2Mc 7,28). Pelo Espírito Santo,
deu vida às pessoas, criando nelas um coração puro. Pelo Verbo, pôde fazer resplandecer a luz a
partir das trevas, dando a luz da fé àqueles que a desconheciam;
Deus cria um mundo ordenado e bom (CIC 299): feita no e através do Verbo eterno,
“imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), a criação está destinada ao ser humano, imagem de Deus.
Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade e desta ordem bem feita;
Deus transcende à criação, mas está presente a ela (CIC 300), mantendo-a e sustentando-a
(CIC 301): Deus é infinitamente maior que toda a criação, mas por ser sua causa primeira, está
presente no mais íntimo de todas as coisas, mantendo e sustentado tudo, porque é amor!
88
A fé em Deus criador do céu e da terra: A narração bíblica da origem de todas as coisas nos
mostra a energia criadora e ordenadora da Palavra divina fazendo surgir do caos um cosmo de
harmonia e solidariedade, onde tudo é querido e abençoado em seu lugar e bem no íntimo do
próprio ser vem entrosado no conjunto dos seres:
1) Parceiros de Deus no cuidar do mundo: de maneira ativa e criativa, o ser humano é
chamado a participar da Providência de Deus Criador, gozando da sua intimidade e sendo o seu
confidente. Ao confessarmos “Creio em Deus Pai Criador do céu e da terra”, professamos uma
grande estima e assumimos uma responsabilidade diante do bem primordial, da mãe terra, que
tudo nos dá, mas que precisa de nós, de nossos cuidados. O sentido da criação e dos desígnios do
Criador leva-nos a prezar todas as coisas, a reconhecer todas as maravilhas do imensamente
grande ou lindamente pequenino universo, mas respeitando-lhes a hierarquia, as formas diversas
e solidárias do ser, da vida, das coisas e das pessoas.
2) O Pai Criador, raiz da espiritualidade: a nossa fé em Deus Criador ilumina o nosso olhar
sobre o mundo, levando-nos ao sentido da beleza, a expandir-nos em uma primeira gratuidade
que nos liberta de nossos limites acanhados. Nossa felicidade está em ser envolvidos e elevados
por essa gratuidade. A graça leva a viver sempre nessa atitude jubilosa e amorosa diante de Deus,
envolvendo toda a criação em um imenso abraço de fraternidade universal. Nas rudezas da vida e
da luta, a beleza da criação nos há de despertar e conduzir sempre à beleza do Criador.
3) O dom da criação, princípio da partilha: feito à imagem de Deus (Gn 1,26-27), o ser
humano torna-se o pequeno senhor, submisso ao Senhor do Universo, mas colocado acima de
todas as coisas. Essa grandeza do ser humano o associa à providência divina, dando-lhe a missão
de prosseguir o plano do Criador, inspirando-se no seu amor universal. Essa missão se concretiza
em um feixe de responsabilidades que tem sempre sua fonte na generosidade efetiva desse amor
universal: o ser humano não é senhor absoluto da criação, mas todas as coisas são destinadas ao
seu bem e serventia, desde que usadas com responsabilidade. Segundo Santo Tomás de Aquino,
a doutrina da criação firma e justifica na bondade mesma de Deus a exigência de uma partilha
universal da terra e de todos os bens terrestres em proveito de toda a humanidade. O crer em
Deus Pai Criador tem um alcance social sempre e cada vez mais atual, na medida em que a
história da economia “globalizada” faz crescer a ameaça de uma concentração sistemática e
perversa das riquezas dos grandes meios de produção.
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Tese 24: Os anjos e demônios são criaturas de Deus. São mensageiros do Reino de Deus
ou obstáculo para a obra da salvação dos homens. Sua existência e realidade pessoal tem
sido negada ultimamente. É necessário, por isso, fazer um trabalho de hermenêutica,
mantendo firme, porém, a verdade de fé atestada pela Escritura, pela Tradição e pelo
Magistério da Igreja (CIC 328-354; 394-395; SCDF: Fé Cristã e Demonologia 26.06.1975).
90
etc) é clara. Satã é o Maligno por excelência (Mt 13,19.38; 1Jo 2,13s; Ef 6,16), o Tentador (Mt
4,1-11; 1Ts 3,5), o Príncipe deste mundo (Jo 12,31) ou o “deus deste mundo” (2Cor 4,4), e
também Belzebu, “príncipe dos demônios” (Lc 11,15). Sendo o Mentiroso e o Homicida (Jo
8,43s), sua influência mais perniciosa manifesta-se na rejeição obstinada de acolher o Cristo
revelador.
b) Sua existência e realidade pessoal tem sido negada ultimamente. É necessário, por isso,
fazer um trabalho de hermenêutica, mantendo firme, porém, a verdade de fé atestada pela
Escritura, pela Tradição e pelo Magistério da Igreja.
A modernidade tem muitas dificuldades em aceitar a idéia de anjos e demônios. Remetem, na
maioria das vezes, à superstição mitológica, e os teólogos preferem calar-se a esse respeito;
Urge uma sã angelologia e uma sã demonologia;
Reflexão teológica sobre os anjos:
1. A afirmação da existência dos anjos pertence ao depósito da fé. Mas a angelologia precisa ser
renovada segundo os princípios de uma sã hermenêutica que saiba discernir as afirmações
essenciais dos elementos folclóricos ou imaginativos. E sobretudo a angelologia deve ser
estudada no conjunto da história da salvação e ligada à cristologia, pois os anjos têm sua razão de
ser em Cristo;
2. A existência dos anjos se deve a um pensamento do amor de Deus, e sua atividade não
consiste somente de missões excepcionais, pois a revelação no-los mostra presente e atuantes no
desenrolar dos acontecimentos cotidianos;
3. A revelação é sóbria sobre a natureza dos anjos. Diz-nos, porém, que são criaturas que
pertencem ao mundo invisível – são seres espirituais, duma plena maturidade. Segundo a
Tradição, são criaturas imortais;
4. Concílio de Nicéia (325): “Deus é criador das coisas visíveis e invisíveis”; IV Latrão (1215):
“Deus criou do nada o mundo dos anjos e o mundo terrestre”.
Reflexão teológica sobre os demônios:
1. O IV Concílio de Latrão ensina que “o diabo e os outros demônios foram por Deus criados
naturalmente bons, mas por si mesmos se tornaram maus” (DZ 428); o Concílio de Trento
assevera que o diabo mantém os homens na necessidade de lutar contra ele (DZ 806); o Vaticano
II repete que fomos arrancados “da servidão do diabo” (GS 22), porque Cristo “quebrou o poder
do Maligno” (GS 2), “expulsou o príncipe deste mundo que retinha o homem na escravidão do
91
pecado” (GS 13), libertando-nos “do poder de Satanás” (SC 6) e derrubando “o império do
diabo” (AG 9);
2. Paulo VI preocupou-se em manter acesa a crença nesse “agente obscuro e inimigo”, sendo o
mal não apenas uma deficiência, mas um eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e
perversor;
3. Cristo veio nos libertar das garras do demônio. A revelação só nos fala dos demônios (como
dos anjos) dentro dessa perspectiva histórico-salvífica. Assim, estamos todos envolvidos numa
luta cósmica: dois mundos em conflitos: o de Cristo e seus anjos e o de Satã e sua corte.
Contudo, essas potências inimigas são apenas criaturas – deve-se rejeitar o dualismo. Os
demônios são criaturas espirituais, criados bons e decaídos por própria culpa.
Tese 25: Na teologia atual se reflete bastante sobre a condição relacional do ser humano
como ser que em sua corporeidade e espiritualidade está aberto para Deus, para os outros e
para a criação, chamado por Deus a colaborar na edificação do Reino de Deus. Este modo
de ver o ser humano tem seus fundamentos na Revelação, na Tradição e no Magistério da
Igreja (CIC 355-373; GS 11-39).
b) ... como ser que em sua corporeidade e espiritualidade está aberto para Deus, para os
outros e para a criação...
O ser humano, unidade indissociável corpo-espírito, autotranscende-se. A dimensão de
transcendência ou abertura comporta os seguintes aspectos fundamentais:
92
1. Abertura para Deus: é o aspecto mais fundamental da pessoa. É o aspecto que a Sagrada
Escritura privilegia. Deus estabelece relação dialógica com o ser humano: só este pode falar com
Deus e aceitara sua proposta. A relação com Deus, relação única e exclusiva, faz de cada
indivíduo uma pessoa, e com Jesus Cristo, a valorização do ser humano como pessoa chega até
um ponto inimaginável. Nele percebemos como a pessoa se realiza sobretudo na relação com o
Tu divino, um Deus certamente com características pessoais. Decerto, a orientação para Deus é a
dimensão mais íntima e radical de toda criatura. Todavia, ela é chamada a assumir e a viver
consciente e livremente esta relação;
2. Abertura aos outros: este é um aspecto do ser pessoa. A liberdade, a autonomia e a
autofinalidade da pessoa se realiza na relação, no diálogo, no encontro, na abertura aos outros
seres pessoais. Sair de si para o encontro é constitutivo da pessoa;
3. Abertura ao mundo: é verdade que a pessoa é qualitativamente diferente das coisas do
mundo da natureza, mas é igualmente certo que a pessoa, encarnada, forma parte também do
mundo natural. É criatura entre as criaturas, unida a todas as coisas numa solidariedade
fundamental. A pessoa, imagem de Deus, é chamada a trabalhar o mundo para transformá-lo em
morada digna; mas trata-se de um relacionamento que deve ser vivido responsavelmente e deve
estar sempre penetrado do respeito às leis que regem o dinamismo do ecossistema do qual a
pessoa é parte. As duas atitudes – transformação responsável do mundo e percepção-celebração
do seu caráter simbólico não utilitário – estabelecem uma forte tensão no relacionamento entre a
pessoa e o mundo. Importa não sacrificar nenhum dos dois pólos de tensão (nem idealismo –
separa a pessoa excessivamente do mundo natural -; nem materialismo – confunde-a com os
processos naturais).
d) Este modo de ver o ser humano tem seus fundamentos na Revelação, na Tradição e no
Magistério da Igreja.
93
“Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”
(Gn 1,27). Ocupa o ser humano um lugar único na criação: ele é “à imagem de Deus”; na sua
própria natureza une o mundo espiritual e o mundo material; é criado “homem e mulher” e
constituído amigo de Deus (CIC 355);
De todas as coisas visíveis, só o ser humano é capaz de conhecer e amar o seu Criador, o
único chamado a compartilhar, pelo conhecimento e o amor, a vida de Deus. Para este fim foi
criado e por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: é alguém
capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras
pessoas, chamado a fazer, na liberdade, a aliança com o seu Criador. Mas, o mistério de sua
humanidade só se clarifica frente ao mistério do Verbo encarnado (CIC 356-359);
Graças à origem comum, o gênero humano forma uma unidade, sendo ao mesmo tempo um
ser corporal e espiritual. O relato bíblico exprime esta realidade com uma linguagem simbólica,
ao afirmar que “O Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou nas suas
narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). Unidade corpo-alma: é
uma unidade tão profunda que se deve considerar a alma como a “forma” do corpo (Concílio de
Viena, em 1312 - DS 902); ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria
é um corpo humano e vivo; o espírito e a matéria no ser humano não são duas naturezas unidas,
mas a união deles forma uma única natureza (CIC 360-365);
Homem e mulher criados uma para o outro: criador para a relação, têm vocação de
“submeter” a terra (Gn 1,28) com “intendentes” de Deus. Contudo, esta soberania não deve ser
uma dominação arbitrária e destrutiva. À imagem do Criador “que ama tudo o que o existe” (Sb
11,24), homem e mulher são chamados a participarem da Providência divina em relação às
demais criaturas. Daí a responsabilidade deles face ao mundo que Deus lhes confiou (CIC 371-
373).
Tese 26: A questão do mal é um problema chave para toda a humanidade. Nela entram o
sentido da própria criação, da bondade de Deus e da liberdade do ser humano, da
edificação do Reino do amor e da justiça. A fé cristã tem para tudo isso uma resposta
específica, baseada na Escritura e na práxis da Igreja (CIC 302-314).
94
A experiência do mal faz parte da vida de todo ser humano. E esta experiência perturba
gravemente sua consciência, especialmente a daqueles que confessam a existência de um Deus
bom, único criador de tudo quanto existe, e afirmam que o ser humano é criado à imagem de
Deus. Um criador que é também providente. Um ser humano bom por natureza, dotado de uma
estrutura dialógica, chamado a ser responsável, solidário etc. É fácil constatar que a existência do
mal, com suas múltiplas manifestações, questiona tanto a realidade desse Deus quanto a verdade
dessa visão de ser humano;
Na América Latina, na África, nas regiões pobres da Ásia e do resto do mundo, em especial,
como anunciar, sem cinismo, a Boa Nova do Deus criador-salvador, do Deus-Ágape, a um povo
tão sofrido, a um povo empobrecido e deixado de lado por um sistema socioeconômico que é
defendido precisamente por muitos e muitos daqueles que afirmam acreditar nesse Deus? O
“mistério” do mal constitui, sem dúvida, uma urgentíssima interpelação para o compromisso
cristão, suscitando inseparavelmente a interrogação a respeito do Deus criador-salvador;
Que sentido tem o mal num mundo criado por um Deus bom? E diante da realidade da vida
concreta do ser humano, onde está esse homem e essa mulher criados à imagem de Deus, com
toda a riqueza que isto comporta?
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O mal nas Escrituras: a Sagrada Escritura, no seu conjunto, constitui uma narração das
sucessivas intervenções de Deus no intuito de libertar o ser humano do mal, especialmente do
pecado e das suas conseqüências. De maneira toda especial, o Primeiro Testamento focaliza o
mal praticado pelo ser humano, pois é sobre o pecado humano que atua a ação salvífica-
libertadora de Deus. O Segundo Testamento também leva muito a sério a existência do mal,
especialmente a realidade do pecado. Está fora de qualquer dúvida que todos os seres humanos
são pecadores e precisam da salvação oferecida por Deus através de Jesus Cristo. Assim como o
Primeiro Testamento, o Segundo não procura uma explicação racional do mal. Limitam-se a
focalizar a luta prática de Jesus contra o mal, a vitória sobre ele bem com a atitude que devem
adotar os discípulos de Jesus em face ao mal e aos maus. A realidade e o poder do pecado são
ressaltados especialmente por são Paulo: o pecado consiste no fechamento radical, fonte da má
conduta moral e das diversas transgressões. No problema do mal, o mais grave, segundo são
Paulo, é o fato de que, por uma parte, o ser humano pratica o mal freqüentemente contra a
própria vontade (Rm 7,14-24), enquanto que, por outra, este fazer o mal é expressão do seu ser e
da sua existência humanas;
Em suma, nas Escrituras a realidade e a experiência do mal ocupam um espaço importante,
mas sempre em função da mensagem da salvação oferecida gratuitamente por Deus. Ressalta que
o mal é um poder a afetar tanto o indivíduo quanto à sociedade, que está presente em cada vida
humana e que o homem sozinho não é capaz de vencê-lo. Quanto à sua origem, as respostas são
múltiplas:
1. O mal atribuído diretamente a Deus (Gn 32,23-33; Ex 4,24-26; Is 6,10ç 1Rs 22,19-22)
2. A desobediência humana como origem do mal (Gn 1-11);
3. “Satã” e a origem do mal (escritos joaninos e 2Ts 2,9);
4. O mal como uma realidade natural inerente ao ser humano (Jó 4; 32-37).
Frente a esse mal, uma sã teologia pode oferecer boas respostas às inquietações humanas:
1. Assim como a cruz é inevitável, o mal também o é. Fugindo de uma cultura religiosa
intervencionista, Deus, na cruz, por exemplo, não poderia fazer nada além do que fez: sustentar
seu Filho para que este fosse fiel até o fim. Ora, um Deus que pudesse evitar o mal e não o
fizesse não seria amor, não seria Deus. Diante de um Deus amor, que nos cria e nos sustenta por
amor, se algo de ruim nos acontece, é porque se trata de algo inevitável. Mas jamais será Deus o
mentor da cruz; Ele sempre a suportará, não obstante, acompanhando e apoiando os seus com
todo o seu amor para que não traíam a missão. Porque esse Deus é amor, cria por amor e é
antimal;
96
2. O mal é inevitável. Uma realidade finita e em realização é necessariamente carencial, estando
inevitavelmente aberta ao choque e à competição. No mundo natural, certas qualidades excluem
outras (se escolhes uma possibilidade, tens de eliminar outra, por exemplo), e o que alguém
monopoliza, muitas vezes precisa fazê-lo às custas do outro;
3. A liberdade precisa enfrentar a dura necessidade de realizar-se entre erros, deficiências e
conflitos: por ser limitada, uma escolha exclui necessariamente a oposta; além disso, não pode
ser totalmente dona de si mesma, nem do conhecimento dos motivos, nem no esclarecimento da
infindável complexidade de seus condicionamentos, nem do domínio de seu fundo instintivo;
4. A realidade final é “boa”, mas não de modo total e acabado, ou seja, é “boa-afetada-pelo-
mal”, pois deve ir se realizando em luta contra ele, sem nunca conseguir a vitória plena e sem
poder sequer excluir a possibilidade e, em muitos aspectos, a garantia do fracasso. A finitude não
é o mal. É tão-somente sua condição de possibilidade: condição que torna inevitável sua aparição
em algum ponto ou momento, mas não equivale à sua realização concreta.
Tese 27: O estado de justiça original – ou a existência do paraíso antes da queda – tem
recebido diversas interpretações nos últimos anos. A mensagem central da narração do
pecado de Adão e Eva tem, contudo, valor permanente ( Pio V: DS 1921-1978; CIC 374-
390).
97
“a falta original trouxe à natureza humana um estado ‘que não é o mesmo no qual ele se achava
antes’”;
Tese 28: A fé da Igreja afirma que todos somos marcados pelo pecado original. Para isso,
há fundamentos bíblicos no Primeiro e no Segundo Testamento, sobretudo em Rm 5,12-21.
Agostinho e Lutero refletiram de maneira peculiar sobre o assunto. O Magistério da Igreja
emanou importantes definições (Cartago: DS 222-223; Trento: DS 1510-1516; Vat. II: GS
13-37; CIC 396-412). A teologia atual procura estabelecer os aspectos essenciais dessa
verdade, à luz da verdade sobre Jesus Cristo e sobre a dimensão relacional do ser humano.
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b) Para isso, há fundamentos bíblicos no Primeiro e no Segundo Testamento, sobretudo em
Rm 5,12-21.
A narrativa de Gn 2-3 relido em Sb 2,23 e Eclo 40,1 evoca mias as conseqüências infelizes
do pecado de Adão do que a transmissão deste pecado. Vários textos sublinham que o homem é
pecador desde seu nascimento (Sl 51,7; Jó 14,4; 15,14ss) e que o pecado é universal (Sl 14,2s).
Jesus enfatiza que todos precisamos da salvação (Mc 16,15s). E é do coração humano que sai,
segundo ele, tudo o que torna a pessoa impura (Mt 15,19). Mas o verdadeiro escriturístico da
doutrina do pecado original se acha no paralelo estabelecido por Paulo entre Adão e Cristo em
Rm 5,12-21. A Jesus, fonte de vida e de justiça, opõe-se Adão, que mergulhou a humanidade no
pecado e na morte;
Rm 5,12-21: A afirmação didática básica é: a salvação obtida por Jesus Cristo é
completamente universal. O paralelismo entre Adão e Cristo que o texto desenvolve está a
serviço desta afirmação principal. A confissão de fé na universalidade da redenção de Cristo não
é um despropósito, pois um indivíduo pode influenciar no conjunto da humanidade e isto é
ensinado pela tradição rabínica: o pecado de Adão, que prejudicou toda a humanidade. Então,
não há nada de absurdo afirmar que a obediência de Jesus Cristo possa ter um efeito positivo
sobre toda a humanidade. O texto não fala de uma herança do pecado, diretamente, mas afirma
que a nossa situação pecaminosa atual, evocada à morte, depende não só dos nossos pecados,
mas também do pecado do outro, anterior à nossa responsabilidade pessoal (afirmação
secundária do texto). Conteria este texto a doutrina sobre a verdade do pecado original? Nenhum
texto, isoladamente, contém uma afirmação formal sobre a existência do pecado original. A
Sagrada Escritura afirma que a situação pecadora e miserável em que nos encontramos não
corresponde ao desígnio de Deus sobre o ser humano, que inclinado ao mal, incapaz é de,
sozinho, superá-lo, necessitando da ajuda de Deus para isso.
101
TEOLOGIA DA GRAÇA
102
TEOLOGIA DA GRAÇA
Tese 29: A visão veterotestamentária sobre a graça é muito genérica. Somente nos
Evangelhos sinóticos e principalmente em João assume um sentido bem definido e rico em
expressões. Paulo amplia esta visão, analisando as diversas relações entre Jesus Cristo e
nós.
c) Paulo amplia esta visão, analisando as diversas relações entre Jesus Cristo e nós.
Paulo muito usa o termo charis, que acabou se tornando um conceito central da mensagem
cristã;
Charis é o favor ou benevolência de Deus, que livremente toma a iniciativa de reconciliar
consigo a humanidade perdida (Rm 4,16; Ef 1,7). Aparece concretamente em Cristo (1Tm 1,9).
Charis, assim, é a obra de Cristo, a encarnação e a redenção; também significa a comunhão com
Deus, concedida aos seres humanos por Cristo (Rm 5,2) - é o dom (força interna que move as
pessoas a agirem de acordo com os questão em Cristo Jesus - 2Cor 1,12; 12,9) que os cristãos
recebem por Cristo, a justiça (Rm 5,15-17,21);
A graça cumpre-se na justificação dos pecadores por Jesus Cristo, que se entregou por eles
(Rm 3,23s). Nele, a graça é oferecida a todos sem consideração de seus méritos (Gl 2,21). É a
potência que triunfa do pecado e da morte, e que traz assim a liberdade (2Cor 3,17). A pessoa
participa da graça pela proclamação do Evangelho, pela fé (Rm 1,16) e pelo batismo (Rm 6). O
ato da graça de Deus desdobra-se nos carismas que constróem o corpo de Cristo (Rm 12,3-21;
1Cor 1,4-9);
É a habitação de Deus na experiência cristã. O Espírito de Deus - a graça - é a fonte de fé,
esperança e amor, inspira e liberta da lei exterior, liberta do pecado, da conduta imoral, assiste na
oração, ilumina nossas mentes para nos conscientizar de nossos relacionamento com Deus.
104
Tese 30: Na obra de justificação, a iniciativa pertence a Deus, sem contudo prescindir da
colaboração humana. Nem todos pensaram deste modo na história da fé cristã. Uma é a
posição pelagiana e outra é a reforma protestante. Diante dela, o Magistério da Igreja se
posicionou com clareza, definindo a doutrina católica ( Cartago: DS 225-230; Quierzy: DS
621-624; Trento: DS 1520-1550; CIC 1987-2029).
b) Nem todos pensaram deste modo na história da fé cristã. Uma é a posição pelagiana e
outra é a reforma protestante.
105
Posição pelagiana: Pelágio (monge irlandês, viveu por volta do ano 400) queria salvar e
acentuar o valor da criação e o poder da liberdade. Viveu num contexto de muito laxismo moral,
de bárbaros tornando-se cristãos sem conversão. Para ele, Deus é bom e justo, dando aos seus
filhos a capacidade de cumprir seus mandamentos. Logo, não pode ser autor do mal. Então o
pecado é exclusivamente do ser humano, que tem em si a possibilidade de aceitar ou não a
oferta salvífica de Cristo. A heresia nasce entre seus discípulos, ao afirmarem que Deus nos deu
a existência, dependendo exclusivamente da pessoa o agir retamente. Logo, ser virtuoso ou não
se condiciona apenas à liberdade humana, pois o ser humano é autônomo, autosuficiente.
Remetem ao ser humano uma graça iminente, manifestada em suas próprias disposições naturais.
Deus nada exige que o ser humano não possa cumprir, sendo fundamentalmente possível a ele
viver sem pecado depois do batismo, devendo esforçar-se por fazê-lo. Contra esta, levanta-se
Agostinho e posteriormente o Concílio de Cartago, em 418, afirmando que o ser humano tem
absolutamente necessidade da ajuda particular da graça para a salvação;
Posição protestante: Lutero, monge agostiniano, sente profundamente sua pecaminosidade,
bem como sua impotência radical para vencê-la. Quando compreende o que era a justiça de
Deus, revelado pelo Evangelho (Rm 1,16s), sente grande alegria. Para ele, o ser humano não
podia ser justo por estar mergulhado no pecado, mas a justiça de Cristo lhe era imputada, desde
que acolhesse o evento salvífico de Jesus Cristo pela fé. Considerando a doutrina da justificação
o núcleo da fé cristã, desenvolve toda uma crítica às diversas mediações e instituições da graça
de Deus. Sua experiência negativa com uma teologia escolástica decadente explica sua aversão
instintiva à reflexão aristotélica, que teria supervalorizado a liberdade humana no que concerne à
salvação, ao afirmar que ela poderia alcançar por si mesma a justificação. Se Deus não lhe
concede é porque quer dá-la gratuitamente. Igualmente a ênfase exagerada posta na vontade
divina explicaria a justificação, sem que fosse requerida a aceitação da mesma na fé por parte do
pecador;
Lutero compreende a concupiscência como parte constitutiva da natureza corrompida. Desse
modo é concebida não como pecado atual, mas como a raiz de todos os pecados, podendo ser
utilizada par designar o pecado original. A concupiscência é parte do pecado original,
representando a tendência egocêntrica do ser humano, permanecendo mesmo depois do batismo
como pecado;
Concepção luterana da justificação forense: juízo de Deus que esclarece ser a pessoa justa,
não lhe imputando o pecado e imputando-lhe a justiça de Cristo; veredicto da não culpabilidade
que é o perdão, o qual implica estar o ser humano num relacionamento justo com Deus;
106
A justificação se realiza somente pela fé (somente pela graça ou somente por Cristo).
Significa que obra alguma humana pode preparar ou realizar a justificação. Mesmo a fé não é
obra humana, mas do Espírito na audição da Palavra de Deus. As obras são conseqüências dessa
fé, prova de sua autenticidade. A afirmação de Lutero se dirigia à exigência da escolástica de que
a fé deveria estar informada pela caridade, como se a fé dependesse desta obra para justificar;
107
3. Por graça Deus perdoa o ser humano e o liberta do pecado, e este já não vem imputado
porque a pessoa já tem parte com Cristo, vivendo no seu Espírito. Contudo, o justificado é, ao
mesmo tempo, justo e pecador, como a Igreja, santa e pecadora;
4. Dimensão eclesiológica: sem o artigo da justificação por graça e fé, a Igreja deixa de ser
Igreja de Jesus Cristo. É aqui que Deus manifesta a sua misericórdia, justificando a pessoa e
dando-lhe o dom da fé. O ser humano alcança a justificação enquanto entra na comunhão
eclesial. Na Igreja realiza-se a santidade de cada um dos seus membros, e somente enquanto
membro do corpo de Cristo é que se é filho de Deus.
Tese 31: A vida nova, fruto da justificação, é antes de tudo a presença de Deus em nós. A
fonte da graça e da salvação é Cristo. A ação da graça aparece no cosmos, na diversidade
dos dons, na vida do justo, no sentido cristão do destino, na perseverança final, na
edificação do Reino de Deus.
108
A Igreja Primitiva experimentará e expressará a salvação de Jesus Cristo de modo muito
variado, conforme as situações concretas que implicam falta ou diminuição de vida. Salvação
cristã significa libertação do pecado (Rm 6,22), da Lei (Rm 7,6) e da morte (Rm 8,2), dos
poderes malignos, das trevas (Ef 5,8) e da escravidão da carne (Rm 8,9). Mas significa
igualmente ser nova criatura (Gl 6,15), livre (Gl 5,1), santificado (Cl 3,12), filho de Deus (Rm
8,16), irmão de Jesus Cristo, escolhido eternamente (Ef 1,4s), participante da natureza divina,
gratuitamente remido, resgatado e justificado pelo sangue de Cristo (Rm 3,22s), templo de Deus.
c) A ação da graça aparece no cosmos, na diversidade dos dons, na vida do justo, no sentido
cristão do destino, na perseverança final, na edificação do Reino de Deus.
O Espírito de Deus paira sobre todas as coisas, renovando-as e levando-as à cristificação;
A graça nos liberta do pecado e nos torna partícipes da vida em Deus. Livres, podemos
perceber a ação de Deus em todas as coisas, das mais pequenas às maiores. Porque Deus é Amor,
cria todas as coisas e em todas deixa vestígios do seu amor. Assim, todo em todo o cosmos, em
toda a criação, o Espírito está sustentando e impulsionando tudo e todos;
Toda a criação está no coração da Trindade. A experiência da graça nos atesta isto. Todos,
amados por Deus, fazemos parte do seu sonho de salvação. A graça está em nossa vida, fazendo
de nós vocacionados à santidade, vocacionados à plenitude, vocacionados a perseverarmos na
acolhida do Reino, que já está entre nós.
109
ESCATOLOGIA
110
ESCATOLOGIA
Tese 32: Os cristãos confiam que Deus realizará suas promessas relativas à plenitude do
indivíduo, da comunidade humana e do cosmos, na união com Deus Trino. Essa esperança
cristã fundamenta-se nas promessas de Deus Pai, no anúncio do Reino de Deus, na morte e
ressurreição de Cristo, na presença e ação do Espírito Santo e na própria constituição do
ser humano, como ser de esperança, que leva dentro de si a semente da eternidade (GS 18).
b) Essa esperança cristã fundamenta-se nas promessas de Deus Pai, no anúncio do Reino de
Deus, na morte e ressurreição de Cristo, na presença e ação do Espírito Santo e na própria
constituição do ser humano, como ser de esperança, que leva dentro de si a semente da
eternidade.
Na casa do Pai há muitas moradas. Essa certeza nos vem de Jesus, o Homem por excelência
da Esperança. Assim como o Pai o ressuscitou e o glorificou, todos nós seremos ressuscitados e
glorificados. Deus não é Amor? Pois o Amado faz de tudo para ter àquele que ama ao seu lado;
111
O Reino anunciado por Jesus, ainda que já seja acolhido aqui, só na plenitude será completo.
O Reino, como presente, já nos é dado, mas não completamente. É somente na Eternidade que
nós o acolheremos em sua totalidade;
Àquilo que Deus reservou para Jesus está reservado a todos. Se não fosse assim, essa vida
não teria sentido. Sem a eternidade, nossa vida seria um absurdo e tudo poderia ser feito;
A tradição bíblica nos apresenta um Deus que ama infinitamente a sua criatura e por isso opta
pela vida em abundância. “Deus não é Deus de mortos, mas sim de vivos” (Mc 12,27). Este é o
ponto de partida para se superar, sem desespero, a morte, que continua sendo o termo, mas não o
fim de tudo. Esta é a esperança dos que crêem. Só com esperança é que se conseguirá vencer o
absurdo da morte como fim de tudo. Deus, sendo fiel, “[...] faz viver os mortos e chama à
existência as coisas que não existem” (Rm 4,17). Ao grito de abandono de Jesus de Nazaré na
cruz não se seguiu o silêncio, mas a ressurreição. “Irmãos, não queremos que ignoreis o que se
refere aos mortos, para não ficardes tristes como outros que não têm esperança. Se cremos que
Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus Deus há de levá-los em sua
companhia” (1Ts 4,13-14). O que aconteceu com Jesus Deus fará também conosco. Daí a
ressurreição de Jesus tornar-se sinal de esperança para todos;
Nossa constituição humana é aberta ao transcendente, ao infinito, à eternidade. Ansiamos
pelo encontro com o Pai, com àqueles que nos antecederam, que aqueles que nos sucederão. A
esperança cristã, fundamentada na Esperança de Deus, leva-nos a sonhar com o encontro
definitivo, com o Amor, onde seremos tudo em todos, onde todos seremos plenos e
verdadeiramente humanos.
Tese 33: Mesmo diante de concepções diferentes e até divergentes que hoje se apresentam
sobre o fim da vida humana e dos tempos, a fé católica confessa a presença histórica e a
realização escatológica do Reino de Deus, a ressurreição dos mortos, a comunhão dos
santos, a vida plena em Deus após a morte para os justos, a verdade sobre o céu, o inferno e
o purgatório, a transformação do mundo e a segunda vinda do Senhor Jesus. Por isso reza
Maranatha, Vem Senhor Jesus (2Cor 16, 23). ( Lião II: DS 856-859; Bento XII: DS 1000-
1002; Vat. II: LG 48-51; GS 18-39; CIC 946-962; 988-1060).
a) Mesmo diante de concepções diferentes e até divergentes que hoje se apresentam sobre o
fim da vida humana e dos tempos
112
Para muitos, não é fácil acreditar na bondade de Deus, que a todos oferece gratuitamente a
plenitude. Muitos, olhando apenas para a materialidade da vida, não conseguem ver algo além do
físico. Acabam dizendo que Deus não existe, que tudo termina com a morte, que não adianta
sonhar, ter esperança. Para estes, isso é alienação;
Muitos acreditam num fim apocalíptico, com data e hora marcada para o fim de todas as
coisas e a inauguração de um novo tempo;
Muitos acreditam que é preciso “comprar” a salvação, e fazem da sua vida uma tremenda
correria de fazer obras;
Muitos não amam a vida. Acham-na um absurdo. Absurdo maior, então, é a morte;
Muitos vêem em Deus algo terrível, e porque têm medo dele, temem tudo o que se passa aqui
e o que se pode passar por “lá”.
113
A ressurreição jamais poderá ser compreendida como sendo a revivificação de um cadáver,
pois Deus se interessa por pessoas e não por cadáveres. Por outro lado, também não é um
acontecimento que só diz respeito à dimensão corporal da pessoa. É muito mais que isso. É a
transformação completa e integral da pessoa que não perde sua identidade, apesar da
transformação. O modelo que nos ajuda a compreender isso é bíblico. Aqui tomaremos o texto
de Paulo em 1 Cor 15,35ss, que ao responder "Como ressuscitam os mortos?", afirma: “Aquilo
que você semeia não germina se, antes, não morrer. Não é o futuro corpo da planta que você
semeia, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie. Depois Deus lhe dá um
corpo conforme queria...”. Aqui está a resposta clara à pergunta sobre como imaginar uma
ressurreição na morte. Bem diferente de revivificação, ressurreição é a transformação completa e
total da pessoa, um salto qualitativo a partir do qual a pessoa mantém sua dimensão corporal,
diferente daquela que nós conhecemos. Segundo Paulo ainda, o corpo corruptível torna-se
incorruptível, o corpo psíquico torna-se espiritual e o corpo desprezível torna-se glorioso.
Ressaltando novamente, para Paulo corpo significa “o ser humano vivo”. Então, apesar das
características opostas, a identidade da pessoa permanece. Mas por que não enxergamos este
corpo glorioso? Recorramos novamente ao modelo de Paulo: “[...] imaginemos um verme que
não é capaz de sair da terra; tal verme ficaria sempre diante de uma semente que se decompõe
devagar, mesmo que, muito acima dele, numa dimensão inacessível a ele, a nova planta já exista.
O verme nunca seria capaz de enxergar esta planta. Assim também é com a nossa maneira de
perceber a realidade”;
Ressurreição é transformação total, é plenificação, é consciência total da dimensão pessoal,
socioestrutural e histórica. Ressurreição é “escolher a melhor parte”.
114
[...]. Assim nos uniremos na comunhão aos santos e por esta seremos unidos à nossa cabeça,
Cristo Senhor nosso, do qual - nós o cremos - somos o corpo, e por quem obtemos a comunhão à
natureza divina";
Comunhão das pessoas com Cristo, que morreu por todos, de sorte que aquilo que cada um
faz ou sofre em Cristo, por Ele produz frutos para todos;
A “comunhão dos santos” é a definição íntima da Igreja como mistério da graça que
reconcilia e santifica os seres humanos. A expressão “dos santos” é abrangente, compreendendo
as pessoas e as coisas santas, todos os dons e todos os seres humanos enriquecidos e elevados por
esses dons do Espírito. As graças que nos vêm do Espírito e o próprio Dom pessoal do Espírito
tocam o nosso coração. Em nossa identidade profunda somos transformados, divinizados pela
energia e pela presença do Espírito de Amor. Tanto mais real e profunda é em nós a força
transformadora do Espírito, quanto mais nos deixamos levar à solidariedade efetiva e universal,
fraternizando com os que nos são próximos e com todas as pessoas que sabemos amadas de Deus
e chamadas a serem promotoras da paz. A Igreja comunhão dos santos se realiza efetivamente
como a comunhão de consciência em busca e na aceitação da verdade, em um convívio de
liberdade, em um encontro ativo de inteligências que aprendem e ensinam. Essa atitude positiva
e criativa deve ser concretizada no dia-a-dia e iluminar os problemas práticos na compreensão e
na vida da igreja. Mas, como falar em “santos”? Quando Jesus morreu por todos, nós fomos
santificados. A partir dessa compreensão, o Novo Testamento atribuiu a palavra “santos” a todos
os cristãos, que não são santos por seus méritos, mas pela obra santificadora de Cristo e pelo
Espírito que habita em nós. Dessa forma, quando dizemos “creio na comunhão dos santos”
estamos afirmando crer na comunhão e na íntima unidade que existe, antes de tudo, entre todos
os cristãos, santificados por Jesus Cristo. E essa comunhão não interrompe com a morte. Afirma
o Concílio Vaticano II: “A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam, na paz de
Cristo, de maneira alguma se interrompe; pelo contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se
fortalecida pela comunicação dos bens espirituais”.
115
Vida plena para os justos: ela é dom de Deus. Por ser dom, é de “graça” e cabe a cada um
aceitar ou não. Os injustos também terão a oportunidade, caso contrário, Deus não seria Amor.
116
Céu não pode ser uma paz tranqüila no isolamento. Céu deve ser uma festa de amor, onde
nos reencontraremos com todas as pessoas que já conhecíamos na vida, inclusive com aquelas
que não amávamos e teremos a oportunidade de amá-las também;
O Deus do amor e da infinita ternura é o último fim e a plenificação da existência. Isso é céu,
união íntima, infinita e eterna com aquele que nosso coração desde sempre buscou, ainda que
nem sempre percebêssemos essa busca. União com Deus, encontro de dois apaixonados que
nunca mais irão se separar.
g) ... o inferno...
Inferno, o terrível risco da liberdade humana;
“Eu pus diante de vós a vida e a morte” (Dt 30,19): no tempo de Jesus uma parte importante
do judaísmo já tinha compreendido essa alternativa no sentido de uma felicidade eterna frente a
uma destruição definitiva, ou mesmo uma infelicidade eterna. Mas nem sempre foi assim;
No Primeiro Testamento: até o período helenístico, o sheol é somente a morada das sombras.
O castigo do pecador fica sendo a vida infeliz, a morte. É raríssimo que um prodígio divino fira o
indivíduo pecador (Nm 16,30-34). Isaías 66,24 (“verme imortal” e “fogo que não se apaga”)
amplia a visão de Jr 19,2-15: cadáveres insepultos junto a Jerusalém destruída no vale de Ben-
Hinnôm, que se tornará “geena”. O livro de Sb propõe, em termos velados, a destruição do
pecador por seu próprio pecado;
No Segundo Testamento: o que se diz do castigo final toma todo seu relevo nas parábolas:
cizânia, peixes rejeitados, conviva não vestido com o traje nupcial, mordomo infiel, servo que
esconde seu talento, mau rico. Mas Jesus é o único a falar da “geena” (11x). A imagem mais
freqüente é o fogo (Mt 13,40.50; 18,8s; Lc 16,24), o sofrimento é corporal (Mc 9,43-47: mão,
pés, olhos!). Mesmo a dor da separação é dita em termos físicos: “Choro e ranger de dentes” (Mt
13,42.50; 22,13; 24,51 e outros). Paulo descreve em estilo apocalíptico o castigo final em 2Tm
1,9: “ruína eterna, longe da face do Senhor e do esplendor de sua majestade”. Em outros lugares,
atem-se à “perdição”: Rm 9,22; 1Cor 2,15; 4,3; Fl 3,19. João tem poucas imagens (só Jo 15,6).
Deixa o destinatário interpretar as palavras “ressurreição de condenação” ou “vós morrereis em
vossos pecados” (8,21-24);
Afirmações dogmáticas: esse ensinamento jamais variou. Desde o credo dito de Dâmaso (séc.
V), é declarado que, por ocasião da ressurreição geral, a vida eterna recompensará o bem
merecido, e a pena de um suplício eterno será aplicada aos pecados. O símbolo Quicumque (séc.
117
V), o Concílio de Latrão (séc. XIII), os concílios de Florença (séc. XV) e Trento (1547) retomam
a mesma doutrina;
A pessoa pode, na hora da morte, dizer “não” a Deus. Neste caso, ela estaria se fixando na
sua situação de morte, uma morte definitiva, tradicionalmente chamada de inferno, onde não há a
presença de Deus;
Deus, na sua graça, encontra meios para salvar, na liberdade, todas as pessoas. Mas, há
aquelas que consciente e propositalmente rejeitam a salvação divina; não é Deus quem as
condena, mas ela própria, ao rejeitar Deus;
A pessoa que não quer, em função da sua personalidade demasiadamente fixada em si
mesma, aceitar Deus, assume a sua própria condenação. Para muitos, tornar-se pobre é muito
difícil... O que acontecerá a este? Aquele que diz “não” a Deus está arruinando essencial e
existencialmente sua vida;
Contudo, pessoa alguma poderá afirmar que alguém realmente preferiu o inferno que estar ao
lado de Deus. Será que, diante de uma pessoa que dissesse “não” a Deus, Este permitiria que sua
filha a abandonasse? Este Deus ficaria tranqüilo ao saber que, por ventura, alguém realmente
quisesse estar longe dele ao preferir estar junto a Ele? Se ele ama, não seria mais humano
acreditar que este amor também não permitirá que nem o “não” nem qualquer outra coisa
impedirá dEle de procurar o seu amado?
h) ... e o purgatório
Purgatório: oferta de um Deus que nos quer salvar;
Não é termo bíblico nem de emprego universal no cristianismo. Designa uma noção teológica
elaborada a partir de quatro elementos bíblicos:
1. A crença de uma vida após a morte, em particular na ressurreição de Jesus: “Se, com efeito,
nós cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também, aqueles que morreram, Deus, por
causa deste Jesus, com Jesus os reunirá” (1Ts 4,14);
2. A prática da oração pelos mortos, que prolonga os usos do Primeiro Testamento (2Mc 12,45);
3. A noção de uma purificação dos mortos no além. A imagem bíblica adotada na antigüidade
cristã é a do fogo: “Entramos no fogo e na água” (Sl 66,12);
4. A imagem muito antiga de um lugar de espera para os mortos: o sheol (Jó 30,23) ou, na
cultura helenística, os infernos, ou ainda, em certas correntes do judaísmo contemporâneo de
Jesus, o “seio de Abraão” (Lc 16,22) e o “paraíso” (Lc 23,43). Havia aí uma tendência a localizar
metaforicamente a existência dos mortos no além;
118
Somente em Trento a doutrina do purgatório foi afirmada expressamente: “A Igreja católica
[...] tem ensinado [...] que existe um purgatório e que as almas que ali são retidas são ajudadas
pelas intercessões dos fiéis e sobretudo pelo sacrifício propiciatório do altar” (DS 1820);
Ser salvo significa a remissão de nossa culpa pela graça de Deus que, rico em misericórdia,
está disposto a “de graça” dar tudo o que a pessoa devia. Agora, esta oferta jamais poderá ser
compreendida num sentido leviano e superficial, isto é, jamais poderemos pensar que “não
precisamos nos esforçar na vida, pois Deus nos dará, na morte, tudo de graça”. Deus, em sua
infinita bondade, jamais imporá a alguém a sua graça. Ele oferece, sim, mas caberá à liberdade
humana aceitar ou não o presente. E isso pode não ser tão fácil, pois exigirá uma profunda
conversão, que poderá doer “como fogo”;
A pessoa, na sua vida, fez de si uma personalidade com características próprias. Com esta se
apresenta diante de Deus, com esta deve dizer “sim” àquilo que Deus oferece. Mas, conforme o
tipo de personalidade, esse “sim” pode ser ou mais fácil ou mais difícil, uma vez que implica a
superação de todo o orgulho e egoísmo ainda existentes na personalidade. Esse “sim” exige um
tornar-se pobre em todas as dimensões do ser, uma entrega incondicional ao Deus da vida. Na
exigência dessa conversão profunda na morte é que encontramos o “purgatório”, oferta de Deus
para uma última conversão na morte;
Frente a morte, a pessoa deve abandonar, radicalmente, todo o orgulho, todo o poder, todo o
privilégio e todo o egoísmo. Para muitas pessoas, isso será muito difícil, pois necessitam de uma
grande conversão, que acontece, em sua essência, da atração e da experiência de que Deus a
ama; conversão onde a pessoa abandona tudo o que a impede de amar a Deus e se entregar
totalmente a Ele;
A convicção que na morte ainda se processe evolução foi descrita com a imagem de
“purgatório”, que ainda causa inúmeros equívocos. Sem dúvida, viver esta última conversão
pode se tornar uma experiência muito dolorosa, de acordo com a estrutura da personalidade
construída ao longo da vida;
Agora, esta purificação nada tem a ver com uma “câmara de tortura cósmica”, onde as
pessoas se purificam pelo fogo ou outros meios. Essa idéia não se harmoniza com a imagem de
um Deus amor. Essa última conversão é, sem dúvida, a destruição definitiva da “pessoa velha”.
Nesta, nenhuma pessoa está passiva: a sua participação ativa é requerida para que amadureça e
torne-se apta a estar em Deus e com Deus. Esta possibilidade de ser purificada na morte é “[...] o
verdadeiro significado daquilo que deveria ser compreendido pela imagem equívoca de
purgatório: um novo e reiterado ato de salvação de Deus, a fim de que o ser humano possa ser
119
salvo”. Caso a pessoa aceite esta oferta, para ela abrem-se novos caminhos de evolução, os quais
não consistem na repetição de mais vidas terrenas, mas sim um passo para dentro de dimensões
até então não vividas, onde, ao lado de Deus e com a sua ajuda, a pessoa pode tornar-se plena;
Sem dúvida, para muitos, essa evolução será difícil. Por outro lado, poderá ser também uma
experiência maravilhosa, um processo dinâmico onde a pessoa alcança aquilo que sempre
sonhou: a plenitude. Entretanto, para que isso realmente se concretize, para que a pessoa aceite
este amor como presente, a pessoa tem que ser pobre, impotente e totalmente dependente, a fim
de que Deus seja tudo para ela e somente nEle ela deposite sua segurança. Na morte, então, a
pessoa se entregará totalmente ao Deus da vida e, sabendo que nada mais poderá fazer, senão
confiar nEle, Ele fará tudo para salvá-la e realmente a salvará. Deixar Deus estar aí para me
salvar significa estar aberto, estar disponível. Gabriel MARCEL já afirmara que “Amar quer
dizer estar disponível para o outro”, ser-com-o-outro, aceitá-lo como presente gratuito. Para
tanto, a pessoa:
a) Deverá aceitar sua própria nulidade: aceitar que só lhe resta uma coisa, a saber, aceitar sua
própria pobreza, experimentando-a existencialmente;
b) Entregar-se a Deus, deixando que Ele a salve, envolvendo-a: a essa confiança dá-se o nome
de fé. Quem crê já optou em Deus na vida; quem não creu ou pouca fé tinha, na morte poderá
optar por uma fé maior;
c) Deixar-se remir por Deus: a redenção, mesmo contra a vontade de Deus, poderá ser negada.
Todavia, com a encarnação de Deus em Jesus, toda a criação foi redimida. Cabe a cada um
aceitar ou não esse presente.
j) ... e a segunda vinda do Senhor Jesus. Por isso reza Maranatha, Vem Senhor Jesus.
O termo parusia quer dizer simplesmente “presença”. Mas, no Segundo Testamento, é um
termo técnico para designar a manifestação de Cristo em glória. É encontrado 6 vezes nas
epístolas aos Ts (1Ts 2,19; 3,13; 4,15; 5,23; 2Ts 2,1.8) e uma vez em 1Cor 15,23. Nos sinóticos,
120
só em Mt, no discurso apocalíptico (4x: 24,3.27.37.39). É encontrado também em 1Jo 2,28; 2Pd
1,16; 3,4.12; Tg 5,7s;
Essa expectativa começou cedo, logo após a Páscoa. Será precedida de sinais variados,
acompanhada de perturbações cósmicas (Mt 24,27), quando o Filho reunirá os eleitos ao som da
trombeta (Mt 24,31; 1Ts 4,16). Mas, a parusia não serve nunca para designar a vida terrestre de
Jesus. Só há um retorno: é a primeira vinda de Cristo em sua glória. Somente mais tarde a Igreja
primitiva encontrará a idéia de duas, quando a espera de uma iminente parusia gloriosa já se
apagara;
Parusia é a certeza da eternidade, quando Cristo elevará toda a criação, pondo um desfecho
final a toda história humana. É um processo em acontecimento através da vida. É redenção, juízo
sobre tudo;
Parusia é gratuidade de Deus, a glorificação da vida.
Por isso rezamos “Vem, Senhor Jesus”.
121
PARTE IV: A VERDADE SOBRE A
IGREJA
ECLESIOLOGIA
122
ECLESIOLOGIA
Tese 34: A Igreja é obra da Trindade: Plano do Pai (Ef 1), Corpo de Cristo (1Cor 10,17) e
Templo do Espírito Santo (1Cor 3,16; CIC 758-769). Seu mistério foi elucidado sobretudo
pelos Santos Padres, através de imagens e figuras (LG 1-8; CIC 751-810). Sua vida na
história, sua doutrina e sua liturgia constituem a Tradição. O Vat. II, ora confirmando, ora
superando a eclesiologia tridentina, propõe com a imagem de Povo de Deus uma renovada
visão de Igreja. De sua essência fala a Lumen Gentium (9-17); de sua missão a Gaudium et
Spes (40-45). (CIC 914-933)
123
Israel e na antiga aliança e instituída ‘nos últimos tempos’, foi manifestada pela efusão do
Espírito, e será consumada em glória no fim dos séculos. Então, como se lê nos santos Padres,
todos os justos, a começar por Adão, ‘desde o justo Abel até ao último eleito’, serão congregados
na Igreja universal junto do Pai”.
124
d) Seu mistério foi elucidado sobretudo pelos Santos Padres, através de imagens e figuras.
LG 6: Assim como no Antigo Testamento, a revelação do Reino foi muitas vezes apresentada
em figuras, também agora a natureza íntima da Igreja manifesta-se-nos por variadas imagens
tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer também da contrução de edifícios ou da família e
dos esponsais, já delineadas nos livros dos Profetas.
A Igreja é o redil, cuja porta única e necessária é Cristo (cf. Jo 10,1-10). É o rebanho, do qual
o próprio Deus anunciou que seria o Pastor (cf. Is 40,11; Ez 34,11), e cujas ovelhas, embora
governadas por pastores humanos, são incessantemente conduzidas às pastagens e alimentadas
pelo próprio Cristo, bom Pastor e Príncipe dos pastores (cf. Jo 10,11; 1Pd 5,4), que deu sua vida
pelas ovelhas (cf. Jo 10,11-15).
A Igreja é a lavoura ou campo de Deus (cf. 1Cor 3,9). Neste campo cresce a oliveira antiga,
cuja raiz santa foram os Patriarcas e na qual se obteve e completará a reconciliação dos judeus e
dos gentios (Rm 11,13-26). Ela foi plantada pelo Agricultor celeste como vinha eleita (cf. Mt
21,33-43; Is 5,1). Cristo é a vide verdadeira que comunica a vida e a fecundidade aos sarmentos,
isto é, a nós que pela Igreja permanecemos nele e sem o qual nada podemos fazer (cf. Jo 15,1-5).
Mais freqüentemente é a Igreja chamada edifício de Deus (cf. 1Cor 3,9). O próprio Senhor
comparou a si mesmo com a pedra que os construtores rejeitaram, mas que se tornou pedra
angular (cf. Mt 21,42; cf. At 4,11; 1Pd 2,7; Sl 118,22). Sobre aquele fundamento a Igreja foi
construída pelos apóstolos (cf. 1Cor 3,11), e dele recebe estabilidade e coesão. Este edifício toma
vários nomes: casa de Deus (cf. 1Tm 3,15), na qual habita a sua família, morada de Deus pelo
Espírito (Ef 2,19-22), “tenda de Deus entre os homens” (Ap 21,3) e, especialmente, templo santo,
que os antigos Padres exaltaram, representado pelos santuários de pedra, e que a liturgia com
muita razão compara à Cidade Santa, a Jerusalém nova. 5 Nela somos como pedras vivas,
edificados aqui na terra em templo espiritual (cf. 1Pd 2,5). Cidade Santa, que João contempla na
renovação final do mundo, a descer do céu, de junto de Deus, “pronta como uma esposa, que se
enfeitou para o seu marido” (Ap 21,1).
A Igreja que é ainda chamada “Jerusalém do alto” e “nossa mãe” (Gl 4,26; cf. Ap 12,17), é
descrita também como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (cf. Ap 19,7; 21,2.9; 22,17),
que Cristo “amou… e se entregou por ela a fim de santificá-la” (Ef 5,25-26), que uniu a si em
aliança indissolúvel, e que incessantemente “alimenta e dela cuida ” (Ef 5,29); esposa que Jesus
Cristo purificou e quis unida e sujeita a si no amor e na fidelidade (cf. Ef 5,24), e que,
finalmente, encheu para sempre de bens celestes, a fim de que nós possamos compreender a
125
caridade de Deus e de Cristo para conosco, caridade que excede todo conhecimento (cf. Ef 3,19).
Mas enquanto, aqui na terra, a Igreja prossegue na sua peregrinação longe do Senhor (cf. 2Cor
5,6), busca e antegoza já agora, no exílio, as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de
Deus, onde a vida da Igreja se encontra escondida com Cristo em Deus, até aparecer refulgente
de glória com o seu Esposo (cf. Cl 3,14).
f) O Vat. II, ora confirmando, ora superando a eclesiologia tridentina, propõe com a
imagem de Povo de Deus uma renovada visão de Igreja.
Eclesiologia tridentina: no período do concílio de Trento vigoravam duas correntes
eclesiológicas: 1) idéia de Igreja como organismo vivo (corpo), comunidade de fé e de caridade;
2) Igreja como sociedade perfeita, com o princípio da autoridade centrada na monarquia papal.
Esta vigorou e se perpetuou até o Vaticano II. Na sociedade perfeita, só há espaço para a
hierarquia (hierarcologia da Igreja como societas perfecta). A hierarcologia é fruto do
neoplatonismo : assim como a realidade é reduzida ao Uno, do papa deriva tudo. Tem-se, então:
um Deus – um Cristo – uma cristandade – um papa;
O concílio quis rejeitar uma eclesiologia que divinizava a humanidade da Igreja. Ao fazer
isso, assumiu o estar da Igreja na história, no meio dos povos da terra, em movimento, solidária
aos outros povos, subsistindo em todos eles.
Povo de Deus: nova aliança e novo povo; sacerdócio comum; carismas no povo de Deus;
universalidade do único povo de Deus; caráter missionário da Igreja (capítulo II da LG).
127
cada um, como lhe apraz”, os seus dons (1Cor 12,11), e as graças especiais, que os tornam aptos
e disponíveis para assumir os diversos cargos e ofícios úteis à renovação e maior incremento da
Igreja, segundo aquelas palavras: “A cada qual… se concede a manifestação do Espírito para
utilidade comum” (1Cor 12,7);
4. Universalidade ou catolicidade do único povo de Deus (LG 13): Todos os homens são
chamados a formar o novo povo de Deus. Por isso, este povo, permanecendo uno e único, deve
dilatar-se até os confins do mundo e em todos os tempos, para se dar cumprimento ao desígnio
de Deus que, no princípio, criou a natureza humana una e estabeleceu congregar finalmente na
unidade todos os seus filhos que andavam dispersos (cf. Jo 11,52);
5. Os fiéis católicos (LG 14): Em primeiro lugar, é aos fiéis católicos que o santo Concílio
dirige o pensamento. Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, ensina que esta Igreja,
peregrina na terra, é necessária para a salvação;
6. A Igreja e os cristãos não-católicos (LG 15): Por múltiplas razões a Igreja reconhece-se unida
aos batizados que se honram do nome de cristãos, mas não professam integralmente a fé, ou não
mantêm a unidade de comunhão sob o sucessor de Pedro;
7. Os não-cristãos (LG 16): Por último, também aqueles que ainda não receberam o Evangelho
estão destinados, de modos diversos, a formarem parte do povo de Deus;
8. Caráter missionário da Igreja (LG 17): Assim a Igreja reza e trabalha ao mesmo tempo para
que o mundo inteiro se transforme em povo de Deus, corpo do Senhor e templo do Espírito
Santo, e para que em Cristo, cabeça de todos, seja dada ao Pai e Criador do universo toda a honra
e toda a glória.
Missão da Igreja (GS 40-45):
1. Relação mútua entre Igreja e mundo (GS 40): Igreja, que tem a sua origem no amor do eterno
Pai, fundada, no tempo, por Cristo Redentor, e reunida no Espírito Santo, tem um fim salvador e
escatológico, o qual só se poderá atingir plenamente no outro mundo. Mas ela existe já
atualmente na terra, composta de homens que são membros da cidade terrena e chamados a
formar já na história humana a família dos filhos de Deus, a qual deve crescer continuamente até
à vinda do Senhor;
2. A ajuda que a Igreja quer oferecer aos indivíduos (GS 41): [...] a Igreja, em virtude do
Evangelho que lhe foi confiado, proclama os direitos do homem e reconhece e tem em grande
apreço o dinamismo do nosso tempo, que por toda a parte promove tais direitos. Este
movimento, porém, deve ser penetrado pelo espírito do Evangelho, e defendido de qualquer
espécie de falsa autonomia. Pois estamos sujeitos à tentação de julgar que os nossos direitos
128
pessoais só são plenamente assegurados quando nos libertamos de toda a norma da Lei divina.
Enquanto que, por este caminho, a dignidade da pessoa humana, em vez de se salvar, perde-se;
3. A ajuda que a Igreja quer oferecer à sociedade humana (GS 42): O Concílio considera com
muito respeito o que há de bom, verdadeiro e justo nas instituições tão diversas que o gênero
humano criou e sem cessar continua a criar. E a Igreja declara querer ajudar e promover todas
essas instituições, à medida que isso dela dependa e seja compatível com a sua própria missão.
Ela nada deseja mais ardentemente do que, servindo o bem de todos, poder desenvolver-se
livremente sob qualquer regime que reconheça os direitos fundamentais da pessoa e da família e
os imperativos do bem comum.
4. A ajuda que a Igreja quer oferecer à atividade humana através dos cristãos (GS 43): As
tarefas e atividades seculares competem como próprias, embora não exclusivamente, aos leigos.
Por esta razão, sempre que, sós ou associados, atuam como cidadãos do mundo, não só devem
respeitar as leis próprias de cada domínio, mas procurarão alcançar neles uma real competência.
Cooperarão de boa vontade com os homens que prosseguem os mesmos fins. Reconhecendo
quais são as exigências da fé, e por ela robustecidos, não hesitem, quando for oportuno, em idear
novas iniciativas e levá-las a realização. Compete à sua consciência, previamente bem formada,
imprimir a lei divina na vida da cidade terrestre. Dos sacerdotes, esperam os leigos a luz e força
espiritual. Mas não pensem que os seus pastores estão sempre de tal modo preparados que
tenham uma solução pronta, para qualquer questão, mesmo grave, que surja, ou que tal é a sua
missão. Antes, esclarecidos pela sabedoria cristã, e atendendo à doutrina do Magistério, 17
assumam por si mesmos as próprias responsabilidades.
5. A ajuda que a Igreja recebe do mundo contemporâneo (GS 44): Para aumentar este
intercâmbio, necessita especialmente a Igreja, sobretudo hoje, em que tudo muda tão
rapidamente e os modos de pensar variam tanto, daqueles crentes ou não-crentes que, vivendo no
mundo, conhecem bem o espírito e conteúdo das várias instituições e disciplinas.
6. É dever de todo o povo de Deus e sobretudo dos pastores e teólogos, com a ajuda do Espírito
Santo, saber ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, e julgá-las à luz
da palavra de Deus, de modo que a Verdade revelada possa ser cada vez mais intimamente
percebida, melhor compreendida e apresentada de um modo mais conveniente.
Tese 35: A Igreja é uma realidade complexa (LG 8): compõe-na os leigos (LG 30-38; CIC
897-913) os pastores (LG 18-29) e os religiosos (LG 43-47). Cada grupo com carismas
próprios: é ao mesmo tempo comunidade de fé-esperança-caridade e instituição, visível e
129
espiritual, santa e pecadora (LG 39-42). Há diversos modos de se pertencer à Igreja (LG
13-36). Ela é o Povo de Deus peregrino (LG 48-51), o sinal indicativo e operante do Reino
de Deus e o sacramento universal de salvação. Suas notas características são: unidade,
santidade, catolicidade e apostolicidade (CIC 811-870).
130
é ferida pelos pecados dos cristãos. Com isso, o concílio pode afirmar que a Igreja é santa e ao
mesmo tempo tem que ser sempre purificada.
b.2) A “santidade verdadeira, embora imperfeita” da Igreja:
“Cremos que a Igreja, cujo mistério é proposto pelo Sagrado Sínodo, é indefectivelmente
santa. Pois Cristo [...] amou a Igreja como sua esposa, entregando-se por ela para santificá-la (Ef
5,25-26), e uniu-se a si como seu corpo e cumulou-a com o dom do Espírito Santo, para a glória
de Deus” (LG 39,1).
Afirma-se que aqui na terra a Igreja tem “uma verdadeira santidade, ainda que imperfeita”
(LG 48,3).A Igreja é “indefectivelmente santa” porque a santidade, realizada nela
escatologicamente por Deus em Cristo, tem sempre a primazia sobre sua pecaminosidade.
b.3) Abordagem sistemática
1) Em que sentido “a Igreja é santa”?
A Igreja é santa enquanto é ekklesía, “convocação” de Deus. Mas nem todos co-respondem
com a mesma fidelidade ao chamado de Deus. A graça de Deus é oferecida a todos, mas não é
igualmente acolhida por todos.
2) Em que sentido “a Igreja é pecadora”?
A Igreja é santa como ekklesía dos eleitos, convocados e santificados por Deus. Mas, uma vez
que foi congregada por Deus, corresponde mais ou menos facilmente à sua vocação, vive mais
ou menos fielmente segundo as exigências da nova vida para a qual foi chamada. Muitos dos que
foram santificados pelo batismo e incorporados ao Corpo de Cristo, são depois infiéis à nova
aliança, embora continuem a fazer parte do povo de Deus. Nesse sentido, podemos e devemos
dizer que a Igreja é também “povo pecador”.
Não existem duas Igrejas: uma santa, de cima, e outra pecadora, de baixo. Só existe uma
única Igreja, ao mesmo tempo santa e pecadora. Esse paradoxo faz parte do mistério da Igreja
desde sua origem. E o paradoxo permanecerá ao longo de sua peregrinação por este mundo até a
parusia. Não obstante, todas as suas infidelidades na história, a Igreja nunca será totalmente
infiel ao seu Senhor.
131
d) Ela é o Povo de Deus peregrino, o sinal indicativo e operante do Reino de Deus e o
sacramento universal de salvação.
A Igreja, Povo de Deus, sinal histórico e escatológico do Reino de Deus, foi instituída como
sacramento universal de salvação, porque ela é, ao mesmo tempo, santa e pecadora;
A Igreja é sacramento de Cristo (CIC 738);
A Igreja é, em Cristo, como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com
Deus e da unidade de todo o gênero humano: ser o sacramento da união íntima das pessoas com
Deus é o primeiro objetivo da Igreja. Visto que a comunhão entre as pessoas está enraizada na
união com Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade do gênero humano. Como
sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo, o sacramento universal da salvação pelo qual Cristo
manifesta e atualiza o amor de Deus pelas pessoas (CIC 775-776).
132
apóstolos é a doutrina santa de Jesus. Santa nos seus membros (2Cor 13,12; 1Tes 4,3-5; CIC
823). Todo cristão que vive em graça é santo.
Católica (CIC 830 a 856): a palavra "católica" vem do grego kath holon, que significa
universal. A Igreja do Deus vivo é universal, ou seja, está presente em todo mundo, chega a toda
criatura sem preconceitos.
A Igreja é universal em duplo sentido (CIC 830-831):
1) Porque nela está presente Cristo. Santo Inácio de Antioquia foi o primeiro a usar o termo
"católica" para indicar a Igreja. Onde está Cristo está a Igreja;
2) Porque é enviada em missão por Cristo para a universalidade do gênero humano, isto é, para
todas as pessoas (CIC 831). A Igreja não faz distinção de pessoas (Mt 28,19; Mc 16,15).
Jesus pregou uma doutrina universal e não só para alguns poucos. Ele ordenou aos seus
discípulos que pregassem o Evangelho até os confins do mundo.
Apostólica (CIC 857 a 865): fundada na doutrina de Jesus Cristo e governada pelos
apóstolos, nos dias de hoje por seus sucessores, os bispos (Ef 19-22; At 2,42).
Ela foi e continua sendo constituída sobre o fundamento dos apóstolos (Ef 2,19-20). Ela conserva
e transmite, com a ajuda do Espírito Santo, as preciosas palavras ouvidas da boca dos apóstolos
(2Tm 1,3-14). Continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos, através dos bispos.
O seu fundamento, seus pastores, seus mestres, suas colunas e seu colégio decisório são os
apóstolos. Jesus constituiu Pedro o chefe de sua Igreja (Mt 16,15; Lc 22,32). Deu revestimento,
poder a todos os apóstolos (Mt 18,18). Os apóstolos ensinaram na pessoa e com a autoridade
dada por Jesus Cristo (Lc 10,16). Receberam a unção do Espírito Santo (At 2,1-4). Em todo
tempo a Igreja sempre agiu e decidiu em unidade colegial, ou seja, todas as decisões foram
praticadas e tomadas depois de ouvidos os seus líderes e o Espírito Santo (At 1,21-26; 4,33; 6,2-
6; 15,22-28).
Tese 36: A hierarquia na Igreja é de instituição divina, conforme se conclui das palavras e
da ação de Jesus e da práxis da comunidade cristã primitiva, atestadas nas Escrituras (CIC
874-896). Durante sua história, a Igreja veio definindo a verdade sobre esse dado: os
diversos graus do sacerdócio ministerial, o primado do Papa, a infabilidade do magistério
papal (Vat. I: DS 3050-3074), a sacramentalidade e a colegialidade episcopal (Vat. II: LG
18-24).
133
a) A hierarquia na Igreja é de instituição divina, conforme se conclui das palavras e da
ação de Jesus e da práxis da comunidade cristã primitiva, atestadas nas Escrituras.
O conceito de hierarquia não se encontra no Segundo Testamento, que porém admite
distinções de posto entre os mais próximos a Jesus (primazia dos “Doze”, papel particular de
Pedro) e nas comunidades pós-pascais (autoridade de Paulo, graduação de ministérios [1Cor
12,28], insistência no papel do episkopos), distinções de que sairá no século II a tríade ministerial
(bispo-presbítero-diácono). Pseudo-Dionísio foi o primeiro a aplicar o termo hierarquia às
estruturas eclesiais. Mas, nos Santos Padres, encontramos em Inácio de Antioquia e Ireneu de
Lião as primeiras sistematizações teológicas.
b) Durante sua história, a Igreja veio definindo a verdade sobre esse dado: os diversos
graus do sacerdócio ministerial...
Com o desenvolvimento da eclesiologia canônica no séc. XII, a Igreja aparece como uma
sociedade (societas perfecta) comparável à coletividade política composta de classes desiguais –
clero e laicato – cujas diversas funções determinam novas diferenças de postos;
Na origem, os bispos, como verdadeiros detentores do ministério, recebiam com a ordenação
o pode pleno em relação a uma determinada Igreja local. No séc. XII impõe-se a idéia de que o
poder eclesial contém dois elementos, um resultante da ordenação e outro da jurisdição sobre
uma Igreja determinada. O poder de ordem é gradualmente conferido pelo sacramento da ordem
(diácono, presbítero e bispo) e determina a hierarquia da ordem; o poder de jurisdição está ligado
aos ministérios do papa e dos bispos, compete ao primeiro pela aceitação de seu cargo, e aos
segundos pela designação. Todos os outros cargos apenas participam de um desses dois graus
hierárquicos. O papa possui assim um primado de matéria de jurisdição, mas não em matéria de
ordem. Mas porque a Igreja se compreende como uma comunidade de crentes que constituem o
povo de Deus, e porque a ordenação define sempre a hierarquia na sua relação a uma
comunidade particular, um absolutismo hierárquico nunca pôde instaurar-se.
134
Características do primado papal: episcopal (poder supremo do papa sobre todas as dioceses);
ordinária e imediata (o papa tem poder de forma direta – não está vinculado a nenhum
intermediário); pleno, supremo e universal;
Infabilidade: caráter livre de erros “com o qual o Redentor divino quis que sua Igreja
estivesse equipada em definições definitivas de fé e costumes” (DH 3074).
Tese 37: Como o Pai enviou seu Filho, assim também Jesus enviou os Apóstolos (Jo 20,21).
A Igreja recebeu a missão de anunciar o Reino de Deus a todos os povos. A pregação
apostólica e a implantação do Reino se dá dentro da história humana, no diálogo com as
135
culturas. Na América Latina temos os ensinamentos de Medellín, Puebla e Santo Domingo;
a prática das CEBs, a Teologia da Libertação, o dinamismo das diferentes pastorais
voltadas para as diversas dimensões da vida humana. Tudo isso como esforço concreto de
missão evangelizadora.
a) Como o Pai enviou seu Filho, assim também Jesus enviou os Apóstolos (Jo 20,21). A
Igreja recebeu a missão de anunciar o Reino de Deus a todos os povos. A pregação
apostólica e a implantação do Reino se dá dentro da história humana, no diálogo com as
culturas.
“‘Como o Pai me enviou, também eu vos envio’. Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes
disse: ‘Recebei o Espírito Santo’ [...]” (Jo 20,21-22);
“E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme
o Espírito lhes concedia se exprimisse” (At 2,4);
A missão é universal. Todos os batizados, pelo sacerdócio comum, são missionários do Pai,
anunciadores e testemunhas da Boa Nova no mundo, na história e dentro da cultura de cada povo
- inculturação;
Nem o mundo, nem a história e nem a cultura, no processo de evangelização, podem ser
negados. Pois o Espírito Santo aí está.
136
Homem: 128 vezes/Pobre: 56 vezes/Transformação 24 vezes/Mudança social: 40
vezes/Desenvolvimento: 62 vezes/Estrutura: 24 vezes/Estrutura injusta: 21 vezes/Justiça: 38
vezes/Marginalidade: 14 vezes/Libertação: 22 vezes/Libertar: 24 vezes/História: 27
vezes/Educação: 66 vezes/Participação: 31 vezes;
Essas palavras nos mostram um retrato da mensagem do documento, e nos orientam para os
seus principais temas:
O homem: seguindo o caminho do Concílio Vaticano II, voltou-se ao ser humano universal,
colocando a Igreja ao seu serviço;
Os pobres: reconheceu-se que os pobres estão no centro da Bíblia, e que a Igreja deve ser a
Igreja dos pobres. Pobres estes frutos da injustiça social. O problema não se resolverá dando
esmolas, mas praticando a justiça. A pobreza é um problema social, com raízes na história latino-
americana, que pode ser sanada, corrigindo essa história. Deixando de ser o objeto, o pobre se
tornará sujeito da sua libertação;
A libertação: os especialistas em desenvolvimento afirmavam que a transformação social era
obra dos detentores dos capitais e das técnicas, e os povos, agentes passivos. Mas como esperar
que os dominadores se transformem em benfeitores? Os bispos apelam aos povos, usando a
linguagem de libertação, procedente dos próprios oprimidos. Estes sim serão agentes
transformadores do social.
A conjuntura mundial influenciou Medellín. 1968 foi ano, na América Latina, do fim das
democracias, o ano dos golpes militares. Logo após Medellín, vieram o AI – 5, no Brasil, e os
golpes de Estado no Peru, no Panamá, aliás, em quase toda a América Latina. Era a continuação
do cativeiro, agora explícito demais.
Em meio a tanto pessimismo, Medellín veio trazer confiança ao latino-americano. Foi uma
euforia, uma quebra das cadeias dos prisioneiros. Suscitou e orientou a resistência. No Brasil, no
Chile, no Peru, no Equador, no Paraguai, na Bolívia e na América Central, a Igreja pôs-se na luta
pelos direitos humanos. E por isso, também, foi perseguida e reprimida. Foi o seu martírio, junto
com o seu povo.
Depois de Medellín, pode-se falar de uma Igreja latino-americana, de uma pastoral e teologia
latino-americana. Em Medellín, houve o encontro entre a realidade e as aspirações latino-
americanas com a Igreja Católica Romana e evangelizadora. E com isso, torna-se um marco
essencial para todo o trabalho posterior. Inclusive, Puebla ganhou crédito e aceitação da Igreja
como continuadora da “linha de Medellín”.
137
Por tudo isso, pode-se afirmar que Medellín é “fundacional”: assumiu a realidade latino-
americana e seu processo histórico (com seus valores, pecados e ambigüidades, como lugar onde
se desenvolve a fé e a missão da Igreja) e porque propiciou uma tomada de consciência mais
madura da realidade de uma “Igreja particular latino-americana” – a Igreja na América Latina
possui raízes histórias e culturais comuns, desafios e respostas comuns, uma religiosidade
comum, uma fisionomia espiritual e missionária comuns. Sem dúvidas, a partir de então,
assumiu-se a identidade de uma Igreja particular, edificada num continente indígena,
“europeizado” duma forma castradora e anti-evangélica. Já era hora de se ouvir o clamor dos
oprimidos, denunciar a exploração, a injustiça, e levar a todas as gentes uma libertação real e
plena dos valores humanos;
Puebla (1979): Puebla foi um grande marco no processo de conscientização da realidade
latino-americana e mundial, de sua condição e da sua libertação:
Dignidade da pessoa humana - afirma o documento que a dignidade é própria de todos, e
reivindica tal dignidade;
Há que se ressoar novamente um sublime ideal dos povos: a liberdade, que não se alcança
verdadeiramente sem a libertação integral, meta da pessoa humana. É pela liberdade que a
pessoa, sempre em comunidade, consegue a realização inicial de sua dignidade, mas sem se
deixar enclausurar, principalmente, pelos bens materiais.
A comunhão e a participação verdadeiras só poderão existir se o uso e a transformação dos
bens da terra, da cultura, da ciência e da técnica, estiverem à serviço da dignidade humana,
respeitando-se a ecologia – o que parece ser utópico, se olharmos a nossa realidade.
Igreja na América Latina: comunhão e participação – eis a missão de Igreja evangelizadora:
pregar a conversão, libertar a pessoa e impulsioná-la à comunhão com todas as pessoas,
transformando-as em profetas, em protagonistas da história libertadora. Para tanto, cada pessoa
deve se sentir chamada a tal desígnio, começando em sua família, e estendendo tal apelo à
comunidade.
A família: apresenta-se como vítima das estruturas injustas, sobretudo dos meios de
comunicação, que propagam o divórcio, o aborto, a violência, as injustiças sociais; como vítima
da miséria, do analfabetismo, das condições desumanas de moradia; vítima da falta de amor.
Comunidades Eclesiais de Base: percebe-se que, nas comunidades, “[...] há um grande anseio
por justiça e um sincero sentimento de solidariedade, num ambiente social caracterizado pelo
avanço do secularismo e pelos demais fenômenos próprios duma sociedade em transformação”
138
(DP 622). Nelas, aceita-se o compromisso com a família, com o trabalho, com o bairro, pela
justiça, pela fraternidade, questionando-se as raízes do egoísmo e da injustiça.
Agentes de comunhão e participação – dos centros de comunhão e participação surgem os
agentes de comunhão e participação. Mas, quem são estes? As pessoas, como protagonistas da
história! O documento de Puebla afirma que tanto o ministério hierárquico, quanto a vida
religiosa e laical, são chamados a serem esses agentes, engajados na promoção da justiça, apesar
dos momentos difíceis por que passam (ação repressivas dos grupos de poder).
Meios para a comunhão e participação –os meios pertencentes à vida interna da Igreja
(oração, liturgia e piedade popular), e pertencentes à vida externa: testemunho, educação e
comunicação social;
Puebla cria a pastoral dos direitos humanos, tendo como base teológica a dignidade do ser
humano. “Todo homem e toda mulher, por mais insignificantes que pareçam, possuem em si
próprios uma nobreza inviolável, que eles mesmos e os outros devem respeitar
incondicionalmente” (DP 214);
Nessa luta pela vida, da violação da dignidade humana mesmo antes do nascimento da
pessoa, a Igreja conclama todas as pessoas de boa vontade a optarem pelos pobres, à sua
evangelização e à libertação de suas escravidões. É o tema central de Puebla, pois sabe-se que a
pobreza dos latino-americano é fruto de um pecado social, produto de situações e estruturas
econômicas, sociais e políticas, que atinge a todos, indiscriminadamente.
Para uma evangelização concreta, Puebla sugere:
1. Denunciar a pobreza extrema e os seus mecanismos geradores;
2. Apoiar as aspirações dos operários;
3. Comprometer-se com os camponeses;
4. Promover e respeitar os valores das culturas indígenas;
5. Rever as estruturas e a vida de todos os membros da Igreja.
Quer-se, com todas essas propostas, uma Igreja encarnada nos meios populares do
continente, uma Igreja popular, enraizada nele, que evangelize partindo dele. É a chamada
evangelização libertadora: evangelizar os pobres trabalhando contra as injustiças e escravidões
que os oprimem, fundamentando-se na doutrina social da Igreja, e, sobretudo, nas Sagradas
Escrituras.
Entretanto, Puebla vai mais além, e afirma que, em função da opressão, riqueza e poder,
deve-se evangelizar a política (a comunidade eclesial deve estar presente no mundo político) e as
culturas – evangelizar uma cultura significa “[...] alcançar e transformar, com a força do
139
Evangelho, os critérios de julgamento, os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas
de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida” (DP 272) desta cultura, a fim de ser
mais humana, um caminho à libertação integral do ser humano;
Santo Domingo (1992): a conferência trabalhou uma eclesiologia mais ortodoxa, fugindo à
linha das conferências anteriores. O documento é de eixo cristológico, apresentando o tema da
nova evangelização: Jesus Cristo ontem, hoje e sempre. A questão cultural disseminou-se no
tema cultura cristã, embora se tenha trabalhado a evangelização das culturas específicas. As
linhas pastorais prioritárias são: uma nova evangelização dos nossos povos; promoção humana
integral dos povos latino-americanos e caribenhos; uma evangelização inculturada.
c) ... a prática das CEBs, a Teologia da Libertação, o dinamismo das diferentes pastorais
voltadas para as diversas dimensões da vida humana. Tudo isso como esforço concreto de
missão evangelizadora.
CEB: novo modo de conceber a Igreja: o povo de Deus, organizado em pequenos grupos,
fazendo a sua caminhada de Igreja. É uma proposta concreta de se viver e refletir a experiência
de Igreja a partir do laicato, com base na teologia da libertação;
As CEBs querem ser uma Igreja visível que se constitui por quatro elementos: pela fé, pela
celebração, pela comunhão e pela missão;
Teologia da Libertação: a teoria das práticas libertadoras. É a teologia que presente ser a
teoria adequada às práticas do povo oprimido e crente; ela quer ser o momento de esclarecimento
e de animação do caminho da libertação popular, sob a inspiração evangélica;
Dois pressupostos básicos desta teologia: 1) Pressupõe uma experiência espiritual de
encontro com o Senhor na massa dos pobres. A teologia é um esforço de aprofundamento e de
sistematização desta experiência; 2) Só se pode elaborar uma teologia verdadeira de libertação
com a condição de que o teólogo tenha feito uma opção clara pelos pobres e pela libertação
destes;
O modo de ver desta teologia: mediação sócio-analítica;
O momento de julgar: a mediação hermenêutica;
O momento de agir: a mediação prático-pastoral: a liturgia, a catequese, a formação de
comunidades e o compromisso direto dos leigos em movimentos, partidos, grupos que querem
mudanças transformadoras da estrutura da sociedade. É o esforço desta igreja na missão
evangelizadora.
140
MARIOLOGIA
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MARIOLOGIA
Tese 38: Maria é Mãe de Deus, Mãe de Jesus Cristo Redentor, Mãe de todos os homens.
Primeira seguidora de Jesus, mulher profética e libertadora, ela anuncia e realiza de
maneira peculiar o Reino de Deus. Venerada como Mãe da Igreja, ela é seu membro mais
singular, seu tipo e modelo excelente (LG 52-68; CIC 963-975). A Igreja expressa a verdade
sobre Maria através dos dogmas da maternidade divina, da virgindade perpétua, da
imaculada conceição e da assunção gloriosa (Eféso: DS 251; Leão III: Colantes 407;
Trento: DS 1516, 1573; Pio IX: DS 2800-2804; Pio XII: DS 3900-3904; CIC 484-511).
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b) ... Mãe de todos os homens.
A maternidade divina pertence à história da salvação. Por isso, Maria possui uma vinculação
real conosco, que vivemos nesta história determinada pelo seu “sim”. Sua maternidade tem uma
dimensão universal que abrange todos os tempos e a totalidade das pessoas. “Carregando Jesus
em seu seio, Maria carregava também todos aqueles cuja vida se achava encerrada na do
Salvador” (Pio X);
Afirma-se na LG 52 que a maternidade de Maria perdura sem cessar na economia da
salvação e sem jamais abandonar seus filhos, Maria , por sua multíplice intercessão prossegue
em granjear-nos os dons da salvação eterna. Por isso é invocada com os títulos de Advogada,
Auxiliadora, Adjutriz, Medianeira;
Afirmar Maria como “Mãe de Deus e dos homens” é um mistério de fé.
Fundamento bíblico para a maternidade “espiritual” de Maria estendida a todos as pessoas,
enraizada na sua maternidade física: o milagre das bodas de Caná (Jo 2,1-12), a cena de Maria
aos pés da cruz (Jo 19,25-27) e o cap. 12 de Apocalipse com a famosa visão da “mulher vestida
como sol”..
Algumas afirmações do Magistério:
1. Pio IX: “A mãe de Deus é também nossa mãe, e mãe amantíssima de todos nós. Ela tem um
coração materno para conosco e, ao mesmo tempo que cuida das necessidades e dos interesses de
cada um, mostra-se solícita para com todo o gênero humano”;
2. Leão XIII: “Assim como chamamos Deus de Pai, também temos o direito de chamar Maria
de mãe e de considerá-la como tal”;
3. Pio X: “Mãe ao mesmo tempo de Deus e dos homens. Porventura não é ela mãe de Deus?
Por conseguinte, é igualmente mãe nossa”;
4. Pio XI: “Tu és mãe de todos... Aos pés da cruz, ela foi constituída mãe de todos os homens”;
5. Pio XII: Maria é “mãe comum e universal dos crentes... santíssima genitora de todos os
membros de Cristo”;
6. Paulo VI: “Mãe da Igreja, mãe de todo o povo de Deus...”
7. João Paulo II: enfatiza constantemente que a vida da Igreja, a salvação, o futuro da
humanidade, estão ligados à colaboração entre Maria, a mãe, e nós, os filhos.
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A mãe de Jesus foi sua primeira discípula. À exemplo das profetisas da Primeira Aliança,
viveu em sua vida o Magnificat e seguiu seu Filho, vivendo e anunciado a Boa Nova do Reino;
Nas pegadas de Puebla, afirma-se que Maria, como estrela da evangelização, é espelho do
Evangelho vivo porque: 1) conduz ao caminho que se deve seguir; 2) brilha, iluminando aqueles
que querem chegar à verdade; 3) atrai e impele a seguir seu exemplo de total adesão ao Senhor
na busca da promoção humana, porque é promotora da dignidade humana: “Eles não tem mais
vinho”.
d) Venerada como Mãe da Igreja, ela é seu membro mais singular, seu tipo e modelo
excelente.
Paulo VI, ao encerrar a terceira sessão do Concílio, em 21 de novembro de 1964, proclamou
solenemente Maria “Mãe da Igreja, mãe de todo o povo de Deus”;
Este título não é novo. Através deste, expressa-se a realidade do vínculo mais profundo de
Maria com o Senhor e, nele, conosco. Sua maternidade com relação à comunidade cristã é
derivação do dom e da tarefa que recebeu do próprio Deus: ser mãe do Cristo, cabeça da Igreja,
que é seu corpo místico;
Enquanto peregrinarmos, Maria será a mãe educadora da fé. Ela cuida que o Evangelho nos
penetre intimamente, plasme nossa vida e produza em nós frutos de santidade. Ela faz surgir na
pessoa o sentido de ser filha diante de Deus. Desperta o coração filial que está adormecido em
cada ser humano. Desse modo, leva-nos a desenvolver a vida do batismo, sendo modelo
excelente;
Maria é ícone da Igreja. “A Mãe de Jesus [...] é a imagem e primícia da Igreja, que deverá ter
seu acabamento na idade futura [...]” (Bruno FORTE). Quanto mais a Igreja se assemelha a
Maria, mais ela se torna esposa; quanto mais perto da esposa, mais se assemelha ao Esposo;
quanto mais perto do Esposo, mais se assemelha a Deus;
Como Maria, a Igreja dá à luz, é templo do Senhor, é Esposa, é morada do Espírito Santo.
e) A Igreja expressa a verdade sobre Maria através dos dogmas da maternidade divina, da
virgindade perpétua, da imaculada conceição e da assunção gloriosa.
1) Dogma da maternidade divina:
Testemunho bíblico:
Gl 4,4-6: “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de
Mulher...”
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Lc 1: Maria é saudada como mãe do Filho de Deus ou de forma midráxica (com alusões ao AT:
Maria nova tenda e nova arca); Lc 1,43: “A mãe do meu Senhor” (saudação de Isabel) etc.
História do dogma
A maternidade de Maria foi sustentada permanentemente pela Tradição, desde os Símbolos da
fé, passando pela doutrina dos Santos Padres e senso dos fiéis. Mas foi em Éfeso (431), em
função de heresia nestoriana, que Maria foi declarada, dogmaticamente, Mãe de Deus.
Para Nestório, Maria teria gerado uma pessoa humana, a qual, posteriormente, o Verbo de Deus
se teria unido. Por isso, ela não deveria ser chamada “Mãe de Deus”, mas somente Mãe do
homem-Cristo.
Resposta de Éfeso: “[...] não nasceu primeiramente um homem comum, da Virgem Santa, e
depois desceu sobre ele o Verbo. Porém, unido desde o seio materno, diz-se que se submeteu a
nascimento carnal como alguém que faz seu o nascimento da própria carne... Dessa maneira, (os
Santos Padres) não acharam inconveniente chamar a Virgem Santa de Mãe de Deus. Calcedônia,
em 451, reafirmou a mesma doutrina.
Testemunho bíblico:
Lucas é o primeiro evangelista que usa palavras claras sobre a concepção virginal de Jesus: Lc
1,18: “Sua mãe Maria, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se
grávida por obra do Espírito Santo”.
História do dogma
Desde os primeiros tempos do cristianismo existia uma fé explícita na concepção virginal do
Senhor. São Justino, Santo Ireneu, Orígenes e outros sustentam essa verdade expressa
constantemente nos símbolos da fé. Mas foi a partir do Concílio de Constantinopla (553),
culminando no de Latrão (649), que se definiu a virgindade como dogma de fé. Este não se
refere a pormenores do nascimento de Jesus e suas conseqüências físicas em Maria. Afirma
positivamente que isso aconteceu sem que ela perdesse a integridade corporal, sinal externo de
algo mais profundo: sua total consagração ao Senhor, que opera nela maravilhas. Virgem
também pós-parto: Maria não teve mais filhos depois de Jesus e consagrou seu corpo totalmente
ao Senhor.
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A virgindade de Maria é a afirmação prototípica da qualidade esponsal que a humanidade
assume em relação ao Esposo que vem, como a forme integralmente receptiva (e, portanto,
plenamente ativa) que a humanidade assume diante da vinda de Deus para a carne humana.
A virgindade de Maria se insere na trama da vida atual como elemento de elevação dos costumes
e da moralidade humana, muito mais produtivo do que muitas figuras aparentemente
libertadoras. A Virgem voltará a inspirar a vida dos cristãos de hoje como atitude de
disponibilidade radicalmente ilimitada ao Deus da aliança, de liberdade do ser nas suas relações
e de ausência completa de narcisismo. Assim, Maria recordará a todos que a virgindade é
libertação daquele desejo que transforma o amor em dependência; mas não é absolutamente
renúncia ao amor.
História do dogma:
A afirmação de Maria Imaculada vem já do período patrístico. Contudo, foi a partir do século
XV que a crença firmou-se. Em 1476, o papa Sixto IV introduz universalmente a festa litúrgica.
Já se trata de uma verdade “universalmente” aceita quando, em 1854, Pio IX define o dogma:
“Declaramos, proclamamos e definimos que a doutrina – que sustenta que a beatíssima Virgem
Maria foi preservada imune de toda mancha da culpa original no primeiro instante de sua
concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em atenção aos méritos de Cristo
Jesus Salvador do gênero humano – foi revelada por Deus e deve ser, portanto, firme e
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constantemente crida por todos os fiéis”. Todos fazemos parte do plano salvífico de Deus. A
nossa eleição é gratuita. O mesmo vale para Maria. A preservação do pecado e a plenitude da
graça não são fruto da sua fé ou da sua liberdade orientada para Deus, nem das suas obras; elas
se inserem na eleição salvífica do Pai que desde a eternidade amar as pessoas gratuitamente,
superando o pecado e o mérito. A imaculada conceição manifesta a absoluta iniciativa do Pai e
significa que desde o início da sua existência Maria foi envolvida pelo amor redentor e
santificante de Deus.
Foi por causa da sua íntima comunhão de vida e de destino com Cristo que Maria foi envolvida,
desde sua concepção, pelo amor do Pai, pela graça do Filho e pelos esplendores do Espírito. Por
isso foi preservada de toda sujeição ao mal, tanto interior como estrutural, ou de toda conivência
com ele. A Imaculada é um exemplo de justificação por pura graça, provocando uma resposta de
fé total ao Deus santo que a santificou. Ela manifesta a plenitude e a perfeição do amor redentor
de Cristo, já que mostra a sua eficácia retroativa e preservativa. A imaculada conceição é o
começo de um mundo novo animado pelo Espírito; é plenitude de amor, superabundância de
realidade cristã, nostalgia do paraíso perdido e reencontrado.
4) Dogma da Assunção:
Testemunho bíblico:
A Assunção de Maria está radicada na Sagrada Escritura conforme a interpretação dos Padres e
teólogos.
Gn 3,15: “Porei hostilidade entre ti e a mulher”
Is 60,3: “Glorificarei o lugar onde meus pés se apoiaram”
Sl 45,10.14-16: “À tua direita uma dama, ornada com ouro de Ofir... Vestida com brocados, a
filha do rei é levada para dentro, até o rei, com séqüito de virgens... Com júbilo e alegria, elas
entram no palácio”.
Lc 1,28: “Ave, cheia de graça...”
Ap 12: os doutores escolásticos viram a assunção representada na “mulher” vestida de sol.
História do dogma:
No Oriente, a partir do século VIII, há numerosos testemunhos da fé na assunção. O mesmo
sucede no Ocidente, mas a partir do século XIII. Pio XII proclamou, em 01 de novembro de
1950: “A Imaculada Mãe de Deus, Maria sempre Virgem, após haver terminado o curso de sua
vida terrestre, foi elevada em corpo e alma à glória celeste”.
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Este dogma não se centra no final da vida terrena de Maria, mas em seu novo modo de
existência. O mais específico do dogma é a glorificação corporal antecipada. A Igreja declara
que Maria participou tão íntima e profundamente da obra da redenção, que lhe foi concedida,
desde agora, aquela ressurreição final da carne concedida aos justos. O que para nós é objeto de
esperança, para ela é realidade experienciada. É a superação do dualismo. É uma profissão de fé
no destino final escatológico a que somos chamados. A glorificação corporal de Maria ilumina o
sentido do corpo humano. Convida a valorizá-lo em sua dignidade e função como expressão do
espírito, meio de comunicação com a realidade e morada da Trindade.
ECUMENISMO
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ECUMENISMO
Tese 39: A busca atual da unidade entre as Igrejas cristãs é um movimento inspirado pelo
Espírito Santo, com eventos marcantes nesse nosso século. Sobre a comum identidade
cristã será necessário, além da oração e vida comum e engajamento na edificação do Reino
de Deus, a reflexão teológica sobre os pontos divergentes, tais como o sacerdócio
ministerial, o sacramento da eucaristia, a constituição hierárquica da Igreja, os dogmas
marianos, a figura do Papa (CIC 816-822; UR).
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1910: Confederação Missionária de Edimburg/Comissão Ação e Vida/Comissão Fé e
Constituição Mundial
1938: Ultrech: Início do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
1948: Amsterdã: Fundação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
1960: Criação do Secretariado Sobre as Questões Ecumênicas
1961: Nova Dehli: Igreja Católica participa do CMI como observadora
1964: Decreto Unitatis Redintegratio - Concílio Vaticano II
1980: Fundação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC (Brasil).
c) Sobre a comum identidade cristã será necessário, além da oração e vida comum e
engajamento na edificação do Reino de Deus, a reflexão teológica sobre os pontos
divergentes, tais como o sacerdócio ministerial, o sacramento da eucaristia, a constituição
hierárquica da Igreja, os dogmas marianos, a figura do Papa.
O ecumenismo, mais que oração e trabalhos sociais comuns, exige uma identidade doutrinal
comum quanto à natureza da Igreja (eclesiologia), unidade na fé, unidade sacramental e unidade
ministerial;
1) A compreensão da natureza da Igreja:
A divisão entre os cristãos tem a ver com as diferentes concepções de Igreja e dos elementos
que constituem a sua natureza. A doutrina romana afirma a existência da Igreja, tal como Cristo a
desejou, numa comunidade em que a Eucaristia é celebrada validamente por um ministro que
possua a sucessão apostólica - LG 3; UR 22;
As igrejas oriundas da Reforma dão maior ênfase à Igreja como “evento”. Daí duas
tendências eclesiológicas: 1) ênfase numa eclesiologia fundamentada numa fervorosa relação
pessoal entre Cristo e os fiéis, privilegiando uma união mais no afeto do que em elementos
institucionais; 2) tendência de conceber as estruturas no âmbito da provisoriedade característica
das circunstâncias do tempo presente, com uma organização eclesiástica de caráter temporário.
2) A busca da unidade na fé:
As igrejas manifestam diferentes modos de compreender a fé. Nas reformadas, a fé
manifesta-se como inegável sentimento pessoal da certeza do amor de Deus, tendo expressão na
comunidade dos crentes, que confirma a fé e a doutrina - grande desenvolvimento da piedade
individual. Contudo, aproximam-se da centralidade bíblica, na ausência de mediações entre o fiel
e Deus e na valorização da experiência individual. Bases dessa fé: sola fide, sola gratia, sola
scriptura;
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A doutrina católica: a fé é adesão a tudo que está contido na Palavra escrita ou transmitida e
que ao mesmo tempo é proposto como divinamente revelado pelo Magistério da Igreja.
3) Unidade sacramental:
As igrejas da Reforma têm em comum o número dos sacramentos, o Batismo e a Ceia, e a
tendência em negar uma eficácia salvífica aos mesmos, considerando-os mais como sinais da
promessa que significam;
Posição da Igreja Católica: os sacramentos são sete, todos eles salvíficos, com força própria
em função do Espírito derramado sobre cada um deles; foi o próprio Cristo que os instituiu;
Eucaristia: Elementos convergentes: base bíblica; fé na presença sacramental de Cristo, real,
viva e ativa (instituição desse sacramento na pessoa, palavra e ação de Cristo; significação
salvífica e mistério central da Igreja); este sacramento é memorial perpétuo da paixão, morte e
ressurreição de Cristo; benefícios da celebração deste sacramento (graça interna de poder receber
o Corpo de Cristo; a comunidade recebe os méritos e benefícios permanentes da paixão, morte e
ressurreição de Cristo - sacramento da redenção; fortalecimento da fé, restauração da paz da
consciência, intensificação do afervoramento do amor a Deus etc); a eucaristia influencia na vida
particular do cristão e forma a Igreja; é ação de graças. Elementos divergentes: diferença quanto
à concepção da presença real de Cristo; tendência das igrejas da reforma a negar a dimensão do
sacrifício da missa; a intercomunhão (falta o consenso de que na ação dos ministros, mutuamente
reconhecidos por todos, a ação salvífica de Cristo está presente na celebração da única
Eucaristia).
4) Unidade ministerial:
Elementos convergentes: o ministério ordenado tem origem divina; a natureza ministerial de
toda a Igreja de Cristo; a realidade ministerial da Igreja funda-se no ministério de Cristo; a
ministerialidade da Igreja, em Cristo, assume expressão peculiar no ministério ordenado.
Elementos divergentes: a natureza, a estrutura e o sujeito do ministério ordenado.
O primado na Igreja: para a Igreja Católica, o primado do bispo de Roma é bíblico, tendo um
ministério primordial (Jo 21,15-17), segundo a vontade do próprio Cristo. No colégio episcopal,
é proeminente o primado do papa, que exerce o ministério da unidade de todo o colégio
episcopal (LG 23). Exerce, além disso, o ministério de autoridade doutrinal, quando ex cathedra,
como supremo pastor e doutor do seu ofício, definindo, de modo infalível, uma doutrina. Mas as
demais igrejas não compartilham desta compreensão. Não reconhecem o primado jurídico ou
doutrinal, apenas sob o ponto de vista histórico - tradição.
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O que ser quer? A unidade, a mesma doutrina, mas cada igreja com a sua identidade eclesial.
O Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo propõe:
reconhecimento dos sacramentos, a intercomunhão e a oração comum.
SACRAMENTOS
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SACRAMENTOS
Tese 40: Jesus Cristo em sua humanidade, é o sacramento do Pai (Jo 12,45; 14,9; Cl
1,19; 2,9). Cada um dos sacramentos atualiza a salvação de Cristo e dela nos faz
participar. Esta participação, porém, só é possível através da ação da Igreja, cujo
organismo social tem, em relação ao Espírito, a mesma função que a humanidade de
Cristo em relação ao Verbo (LG 8; CIC 1117-1121). A Igreja não existe em função de si
mesma, mas do Reino, do qual os sacramentos da Igreja são sinais. Os sacramentos são
momentos densos e transparentes do Reino na Igreja. São lugares pascais de passagem
da morte para a vida, da efusão pentecostal, em que se manifesta a presença do Reino de
Deus como dom e tarefa. São tempos privilegiados (kairós) na vida do indivíduo e da
comunidade, em que o símbolo se abre ao sentido mais profundo e transfigura a graça
escatológica do Reino. Enquanto símbolos, os sacramentos são sinais rememorativos,
indicativos e prenunciativos (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica III: 60,3).
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14,9); “E quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12,45); “Pois nele aprouve a Deus
habitar toda a plenitude” (Cl 1,19); “Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade” (Cl 2,9);
Cristo entra na história humana como sinal-sacramento do Pai, na força do Espírito. O Pai
envia seu Filho Unigênito, que se faz um dos nossos, assumindo a natureza humana em
Maria, que se torna a cheia de graça porque acolhe o próprio autor da graça, Jesus Cristo.
Nele se revela o Deus invisível, nEle temos a certeza de que fomos aceitos e redimidos. Deus
nos visitou (Lc 1,68). Ele é o sacramento do Pai. Presença visível de Deus invisível, o
Emanuel, Deus conosco! Nele realizam-se o chamado divino à salvação e a resposta perfeita
do ser humano a Deus. Por sua ressurreição, o Unido do Pai se torna também o Senhor do
universo;
A encarnação do Filho de Deus é a sacramentalização radical e culminante da presença
visível do Deus invisível. Cristo é, pois, o sacramento primeiro, sacramento original. A
manifestação de Deus como salvador atinge nele seu centro decisivo.
b) Cada um dos sacramentos atualiza a salvação de Cristo e dela nos faz participar. Esta
participação, porém, só é possível através da ação da Igreja, cujo organismo social tem,
em relação ao Espírito, a mesma função que a humanidade de Cristo em relação ao
Verbo.
Cristo é o sacramento original, fundamento de toda a economia sacramental da Igreja e,
por conseguinte, da salvação. Não há outro caminho que conduza ao Pai (cf. Jo 14,6). A sua
ação libertadora continua, por meio do Espírito Santo, e se prolonga mediante o ministério da
Igreja, seu Corpo Místico. Em primeiro lugar, a Igreja tem uma dimensão sacramental pelo
seu próprio ser, por sua realidade e por seu mistério. Depende inteiramente de Cristo e do
Espírito, sendo por isso sacramento do Espírito de Cristo. Pelos seus sinais privilegiados (a
palavra, os sacramentos e a caridade) a Igreja é sacramento que, no fundo, é auto-realização
da Igreja;
Os sacramentos, como instrumentos de salvação, atualizam o mistério pascal de Cristo e
nos tornam participantes de sua força salvadora por meio da celebração ritual da Igreja. Eles
são eficazes, sobretudo, enquanto implicam e constituem palavra reveladora da salvação, com
a qual a Igreja se compromete, como prolongamento histórico da Palavra sacramental por
excelência, com o próprio Cristo;
LG 8: Cristo, Mediador único, constituiu e sustenta indefectivelmente sobre a terra, como
organismo visível, a sua Igreja santa, comunidade de fé, de esperança e de caridade, e por
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meio dela comunica a todos a verdade e a graça. Contudo, sociedade dotada de órgãos
hierárquicos e corpo místico de Cristo, assembléia visível e comunidade espiritual, Igreja
terrestre e Igreja já na posse dos bens celestes, não devem considerar-se como duas
realidades, mas constituem uma realidade única e complexa, em que se fundem dois
elementos, o humano e o divino. Não é, por isso, criar uma analogia inconsistente comparar a
Igreja ao mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza assumida pelo Verbo
divino lhe serve de órgão vivo de salvação, a ele indissoluvelmente unido, de modo
semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer
progredir o seu corpo místico (cf. Ef 4,16).
Esta é a única Igreja de Cristo, que no símbolo professamos una, santa, católica e apostólica, e
que o nosso Salvador, depois de sua ressurreição, confiou a Pedro para que ele a apascentasse
(cf. Jo 21,17), encarregando-o, assim como aos demais apóstolos, de a difundirem e de a
governarem (cf. Mt 28,18), levantando-a para sempre como “coluna e sustentáculo da
verdade” (1Tm 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo,
subsiste na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão
com ele, ainda que fora do seu corpo se encontrem realmente vários elementos de santificação
e de verdade, que, na sua qualidade de dons próprios da Igreja de Cristo, conduzem para a
unidade católica.
Do mesmo modo que Jesus Cristo consumou a sua obra de redenção na pobreza e na
perseguição, assim também, a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho para poder
comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo Jesus, tendo “condição divina…
esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo” (Fl 2,6-7) e por causa de nós “ele que
era rico, fez-se pobre” (2Cor 8,9): assim a Igreja, se bem que precise de recursos humanos
para cumprir a sua missão não foi constituída para buscar glórias terrenas, mas para dar a
conhecer, também com seu exemplo, a humildade e a abnegação. Cristo foi enviado pelo Pai
“para evangelizar os pobres… a proclamar a remissão aos presos” (Lc 4,18), “a procurar e
salvar o que estava perdido” (Lc 19,10): de modo semelhante a Igreja envolve em seus
cuidados amorosos todos os angustiados pela fraqueza humana, e mais, reconhece nos pobres
e nos que sofrem, a imagem do seu Fundador, pobre e sofredor, esforça-se por aliviar-lhes a
indigência, e neles quer servir a Cristo. Mas enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Hb
7,26), não conheceu o pecado (cf. 2Cor 5,21), e veio expiar unicamente os pecados do povo
(cf. Hb 2,17), a Igreja que reúne em seu seio os pecadores, é ao mesmo tempo santa, e sempre
necessitada de purificação, sem descanso dedica-se à penitência e à renovação.
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A Igreja “continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de
Deus”, anunciando a paixão e a morte do Senhor, até que ele venha (cf. 1Cor 11,26). No
poder do Senhor ressuscitado encontra a força para vencer, na paciência e na caridade, as
próprias aflições e dificuldades, internas e exteriores, e para revelar ao mundo, com
fidelidade, embora entre sombras, o mistério de Cristo, até que no fim dos tempos ele se
manifeste na plenitude de sua luz.
Os sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que existem “através dela” e “para
ela”. São “através da Igreja” pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio
graças à missão do Espírito Santo. E são “para a Igreja”, são esses sacramentos que fazem a
Igreja, pois manifestam e comunicam às pessoas o mistério da comunhão do Deus amor (CIC
1118).
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manifestado em Pentecostes; o sacramento da penitência é a reconciliação pela cruz; o
matrimônio é a aliança de amor entre Cristo e a Igreja; a ordem é a continuação da missão de
Cristo com a força do Espírito pascal; a unção é a participação nas dores e nos sofrimentos de
Cristo, em vista da saúde plena; e a eucaristia é o amor, a entrega e a unidade fraterna numa
espécie de concentração da pluralidade de aspectos do mistério;
Cada sacramento, por meios dos seus gestos e símbolos salvíficos, transfiguram a
realidade humana, divinizando-a. Presente em cada situação fundamental da vida, cada
sacramento é figura do Reino pleno de Deus. Cada um deles é um lugar pascal de passagem
da morte para a vida, momento especial da graça de Deus, atualizando a história da salvação:
1) A fé em Deus Criador;
2) A certeza da eleição divina;
3) A graça da libertação;
4) O amor que faz aliança;
5) A morada de Deus entre nós;
6) O caminho da santidade;
7) Testemunhas da fé e do amor;
8) O julgamento de Deus é salvador.
Tese 41: A relação entre fé e sacramento, desde os tempos apostólicos, foi problema na
teologia dos sacramentos (Mt 28,19; At 19,2; Rm 10,5). O Concílio Vaticano II afirma
que os sacramentos não só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam,
fortalecem-na e a exprimem (SC 59; PO 4; DV 8; CIC 1122-1126). As exigências da fé
comportam alguns requisitos também em relação ao ministro.
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“Ide, portanto e fazei que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19); “Perguntou-lhes: ‘Recebestes o Espírito Santo
quando abraçastes a fé?’ Eles responderam: ‘Mas nem ouvimos dizer que haja um Espírito
Santo’” (At 19,2); “E como podem pregar se não forem enviados? Conforme está escrito:
'Quão maravilhosos os pés dos que anunciam boas notícias'” (Rm 10,15);
O Concílio de Trento usa a expressão ex opere operato para dizer que os sacramentos
agem por força própria, que lhes advém da paixão, morte e ressurreição de Cristo, fonte
perene da graça.
b) O Concílio Vaticano II afirma que os sacramentos não só supõem a fé, mas por
palavras e coisas também a alimentam, fortalecem-na e a exprimem.
A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja
celebra os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos (CIC 1124);
SC 59: Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, para a edificação do corpo
de Cristo e, enfim, para prestar culto a Deus; como sinais, destinam-se também à instrução.
Não só supõem a fé, mas também a alimentam, fortificam e exprimem por meio de palavras e
ritos, razão pela qual se chamam “sacramentos da fé”. Conferem a graça, mas a celebração
dos mesmos dispõe otimamente os fiéis à frutuosa recepção da mesma graça, a honrar a Deus
do modo devido e a praticar a caridade.
Por este motivo muito importa que os fiéis compreendam facilmente os sinais sacramentais,
recebam com a maior freqüência possível os sacramentos que foram instituídos para alimentar
a vida cristã;
PO 4: O povo de Deus é reunido antes de tudo pela palavra de Deus vivo, que é justíssimo
esperar receber da boca dos sacerdotes. Com efeito, como ninguém se pode salvar se antes
não tiver crido, os presbíteros, como cooperadores dos bispos, têm, como primeiro dever,
anunciar a todos o Evangelho de Deus, para que, realizando o mandato do Senhor: “Ide por
todo o mundo, pregai o Evangelho a todas as criaturas” (Mc 16,15), constituam e aumentem o
povo de Deus. Com efeito, é pela palavra da salvação que é suscitada no coração dos infiéis e
alimentada no coração dos fiéis a fé, mercê da qual tem início e se desenvolve a assembléia
dos fiéis, segundo aquele dito do Apóstolo: “pois a fé vem da pregação e a pregação é pela
palavra de Cristo” (Rm 10,17). Por isso, os presbíteros são devedores de todos, para
comunicarem a todos a verdade do Evangelho, de que gozam no Senhor. Portanto, quer
quando, por uma convivência edificante entre os povos, os levam a glorificar a Deus, quer
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quando, pregando abertamente, anunciam o mistério de Cristo aos que não crêem, quer
quando ensinam o catecismo cristão ou explanam a doutrina da Igreja, quer quando procuram
estudar à luz de Cristo as questões do seu tempo, sempre é próprio deles ensinar não a própria
sabedoria, mas a palavra de Deus e convidar instantemente a todos à conversão e à santidade.
A pregação sacerdotal não raro dificílima nas circunstâncias hodiernas do mundo, se deseja
mover mais convenientemente as mentes dos ouvintes , não deve expor apenas de modo geral
e abstrato a palavra de Deus, mas sim aplicando às circunstâncias concretas da vida a verdade
perene do Evangelho.
Deste modo se exerce o multiforme ministério da palavra segundo as diversas necessidades
dos ouvintes e os carismas dos pregadores. Nas regiões ou agrupamentos não-cristãos, os
homens são conduzidos à fé e aos sacramentos da salvação mediante a mensagem evangélica;
na comunidade dos cristãos, porém, sobretudo para aqueles que parecem entender e acreditar
pouco o que freqüentam, é necessária a pregação da palavra para o próprio ministério dos
sacramentos, enquanto são sacramentos da fé que nasce da palavra e da palavra se alimenta; o
que vale sobretudo para a liturgia da palavra na celebração da missa, na qual se unem
intimamente a anunciação da morte e da ressurreição do Senhor, a resposta do povo ouvinte e
a própria oblação em que Cristo confirmou a nova aliança no seu sangue; nessa oblação
comungam os fiéis não só com o desejo, mas também com a recepção do sacramento;
DV 8: E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros
inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos.
Por isso, os apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que
mantenham as tradições que aprenderam quer por palavra quer por escrito (cf. 2Ts 2,15), e a
que lutem pela fé, recebida uma vez para sempre (cf. Jd 1,3). Ora estas tradições, recebidas
dos apóstolos, abrangem tudo quanto contribui para a santidade de vida do povo de Deus e
para o aumento da fé; assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a
todas as gerações tudo aquilo que ela própria é e tudo quanto ela acredita.
Esta Tradição, que se origina dos apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito
Santo. Com efeito, cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que constituem
parte da Tradição, quer mercê da contemplação e do estudo dos crentes, que as meditam no
seu coração (cf. Lc 2,19.51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas
espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam
um seguro carisma de verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, caminha continua-
mente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus.
159
As afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas
riquezas entram na prática e na vida da Igreja que acredita e ora. Esta mesma Tradição mostra
à Igreja quais são exatamente todos os Livros Sagrados [o cânone da Bíblia] e faz
compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante
sem cessar. Assim Deus, que outrora falou, continua sempre a falar com a Esposa do seu
amado Filho; e o Espírito Santo, pelo qual ressoa a voz viva do Evangelho na Igreja e, por ela,
no mundo, introduz os crentes na verdade plena e faz que a palavra de Cristo neles habite em
toda a sua riqueza (cf. Cl 3,16);
Tese 42: O Batismo nos incorpora a Cristo Crucificado e Glorificado (Rm 6,1-5) e à
Igreja (CIC 1267-1270), seu corpo, bem como nos orienta e nos introduz
escatologicamente no Reino de Deus (Jo 3,5 [novo nascimento]). Faz-nos
verdadeiramente filhos de Deus (Gl 4,5-7; 2Pd 1,4 [filhos adotivos de Deus, participantes
da natureza divina]; Rm 8,17 [membros do corpo de Cristo, co-herdeiros com ele]) e
concede-nos o Espírito Santo que nos gera para uma vida nova (2Cor 5,17 [nova
criatura]), que se expressa na conversão pessoal e na adesão aos valores do Reino de
Deus (CDC 849).
160
a) O Batismo nos incorpora a Cristo Crucificado e Glorificado...
“Que diremos então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça atinja sua
plenitude? De modo algum! Nós, que morremos para o pecado, como haveríamos de viver
ainda nele? Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte
que fomos batizados? Portanto, pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que
como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos
vida nova. Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por uma morte semelhante à sua,
seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua” (Rm 6,1-5);
Filhos no Filho: Em Cristo, somos filhos da luz e como tal devemos proceder. Pela fé e
pela conversão nos tornamos, também nós, filhos de Deus. Ser filhos no Filho é obra do
Espírito. A partir da fé em Jesus Cristo e do batismo em seu nome, o cristão aprende a
reconhecer a voz do Senhor e a realizar sua vontade.
b) ... e à Igreja, seu corpo, bem como nos orienta e nos introduz escatologicamente no
Reino de Deus.
O Batismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. “Somos membros uns dos outros” (Ef
4,25). O Batismo incorpora à Igreja. Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da
nova aliança, que supera todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das
raças e dos sexos. Os batizados tornaram-se “pedras vivas” para a “construção de um edifício
espiritual, para um sacerdócio santo” (1Pd 2,5). Pelo Batismo, participam do sacerdócio de
Cristo, da sua missão profética e régia. O Batismo faz participar do sacerdócio comum dos
fiéis (CIC 1267-1268);
Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo (1Cor 6,19), mas àquele
que morreu e ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na
comunhão da Igreja, a ser “obediente e dócil” aos chefes da Igreja (Hb 13,17) e a considerá-
los com respeito e afeição. Assim como o Batismo é a fonte de responsabilidades e de
deveres, o batizado também goza de direitos dentro da Igreja a receber os sacramentos, a ser
alimentado com a Palavra e a ser sustentado pelos outros auxílios espirituais da Igreja (CIC
1269);
“Em verdade, em verdade vos digo: quem não nascer da água e do Espírito, não pode
entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). Jesus adverte a Nicodemos que, para alcançar a vida eterna
e entrar no Reino, é preciso nascer da água e do Espírito. É preciso nascer do alto, nascer de
Deus!, pois a vida eterna exige transformação espiritual da mente, que nos revista do ser
161
humano novo criado à imagem de Deus. Pelo batismo, o Espírito nos torna filhos da promessa
(Gl 4,28), gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do ser humano,
mas de Deus (Jo 1,13). Nascer do alto, eis o dom sacramental do batismo cristão;
Assemelhar-se a Cristo é identificar-se com Cristo morto e ressuscitado. Ele, por primeiro,
realiza o definitivo encontro com Deus, abrindo para todas as pessoas o caminho da salvação.
Quem celebra o batismo se configura interiormente com Cristo.
c) Faz-nos verdadeiramente filhos de Deus (Gl 4,5-7; 2Pd 1,4 [filhos adotivos de Deus,
participantes da natureza divina]; Rm 8,17 [membros do corpo de Cristo, co-herdeiros
com ele])...
Gl 4,5-7: “[...] para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção
filial. E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que
clama: ‘Abba, Pai!!’ De modo que já não é escravo, mas filho. E se és filho, és também
herdeiro, graças a Deus”; 2Pd 1,3-4: “[...] mediante sua própria glória e virtude [...] Deus nos
concedeu promessas a fim de participarmos de sua natureza divina [...]”;
Rm 8,14-17: Todos os que se deixam levar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. E
não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas um espírito de filhos, que
nos permite clamar Abba! Pai! O Espírito testemunha a nossa espírito que somos filhos de
Deus. E se somos filhos, também somos herdeiros: herdeiros de Deus, co-herdeiros com
Cristo; se compartilhamos sua paixão, compartilharemos sua glória.
d) ...e concede-nos o Espírito Santo que nos gera para uma vida nova (2Cor 5,17 [nova
criatura]), que se expressa na conversão pessoal e na adesão aos valores do Reino de
Deus (CDC 849).
“Se alguém está em Cristo é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez
uma realidade nova” (2Cor 5,17);
Por força do Espírito Santo, o batismo constitui um banho que purifica, santifica e
justifica (1Cor 6,11). O Espírito unge, marca e conde as primícias da salvação. Lá onde se faz
a experiência de sua interioridade, aí está o Espírito que move a Igreja e cada cristão em
particular. Todos fomos batizados com um só Espírito (2Cor 1,21-22);
162
Tomar consciência da ação do Espírito significa, em primeiro lugar, viver a liberdade,
pois Cristo nos liberta dos velhos esquemas de uma vida espiritual mesquinha, nos quais
caímos com freqüência, e que nos mantêm presos ao ódio e aos egoísmos. Liberta dos
conflitos que desfiguram a personalidade e prendem ao pessimismo existencial. Livra da falta
de interesse pelas obras de Deus, porque onde o Espírito está presente, vive-se a plena
liberdade (2Cor 3,17);
A vida nova se expressa na conversão pessoal e na adesão aos valores do Reino de Deus:
“O batismo, porta dos sacramentos, em realidade ou ao menos em desejo necessário para a
salvação, pelo qual os homens se libertam dos pecados, são de novo gerados como filhos de
Deus e se incorporam à Igreja, configurados com Cristo por caráter indelével, só se administra
validamente pela ablução com água verdadeira, juntamente com a devida forma verbal” (CDC
849).
Tese 43: O Batismo é o sacramento da fé. No entanto, sempre foi práxis da Igreja
batizar crianças. Surge, por isso, muito espontaneamente a questão: não estará a Igreja
condicionando a decisão pessoal e impedindo a pessoa do que lhe é mais próprio e nobre
– o poder responder livre e pessoalmente a Deus? (CIC 1250-1255)
163
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé publicou, em 1980, a Instrução sobre o
batismo de crianças, e ao comentar a relação entre batismo e ato de fé, assegurou que esse
sacramento não é jamais celebrado sem a fé; no caso de crianças, é a fé da Igreja. Ademais, o
batismo não constitui apenas um sinal da fé, nem mesmo a causa da fé: opera no batizado uma
iluminação interior.
b) No entanto, sempre foi práxis da Igreja batizar crianças. Surge, por isso, muito
espontaneamente a questão: não estará a Igreja condicionando a decisão pessoal e
impedindo a pessoa do que lhe é mais próprio e nobre – o poder responder livre e
pessoalmente a Deus?
Todas as religiões têm cerimônias que precedem e seguem o nascimento de uma criança.
No cristianismo, não é diferente. As crianças são batizadas na fé da Igreja, fé confessada pelos
pais e padrinhos, em comunhão com todos aqueles que estão presentes à celebração. Eles
representam quer a Igreja local, quer a comunidade universal dos que crêem. Uma e mesma é
a Igreja, mãe que gera a todos e a cada um. Eis a dimensão eclesial do batismo. Assim, a
afirmação de que é a Igreja quem batiza não é uma expressão retórica, mas uma realidade
teológico-pastoral;
Em concreto: o que significa batizar na fé da Igreja senão que a fé da Igreja é anunciada
na comunidade, não apenas genérica e abstratamente, mas, de modo concreto e pessoal, é
transmitida pela família, a fim de que possa, mais tarde, ser assumida pela criança? Cabe à
Igreja local a responsabilidade fundamental na acolhida dos novos batizados;
Cristo enviou seus discípulos para que em seu nome fosse proclamado a todas as nações o
arrependimento para a remissão dos pecados (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem
discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19);
Embora no Segundo Testamento não existam afirmações inteiramente claras sobre este
assunto, pode-se, contudo, a partir da prática pastoral dos Apóstolos, obter alguns
esclarecimentos. Paulo, por exemplo, batiza toda a família de Estéfanas (cf. 1Cor 1,16). Nos
164
Atos aparecem outros exemplos semelhantes (10,48; 16,31-33). Batizar toda a família
significa também as crianças, uma vez que essas não são claramente excluídas;
Os testemunhos da Igreja primitiva são, também, favoráveis ao batismo de crianças.
Também os padres apostólicos Justino, Orígenes, Cipriano e Tertuliano e, em particular,
Policarpo, afirmam a origem apostólica dessa prática. A partir do ano 230 já se celebra, com
absoluta certeza, o batismo de crianças;
Assim, vê-se que sempre foi uma prática comum na Igreja. Da mesma forma que os pais
escolhem o nome da criança, uma educação e tantas outras coisas, assumem por ela o batismo
e a educação na fé sem, com isso, condicionar sua escolha ou obrigá-la a dar uma resposta que
não queira a Deus.
Tese 44: A Confirmação transmite o Espírito Santo, que nos une mais perfeitamente à
Igreja, engajando-nos na tarefa de edificação e crescimento da Igreja e do mundo (CIC
1285). O dom do Espírito Santo, comunicado pela Confirmação possui uma orientação
profética e escatológica na perspectiva do Reino. Recorda ao batizado e à Igreja que o
âmbito de sua missão são o mundo e o Reino (CDC 879).
a) A Confirmação transmite o Espírito Santo, que nos une mais perfeitamente à Igreja,
engajando-nos na tarefa de edificação e crescimento da Igreja e do mundo.
Pelo sacramento da Confirmação, os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja,
enriquecidos de força especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé
que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras
como por obras (CIC 1285);
A Crisma retoma a vida nova, dando-nos uma nova consciência daquela;
Crisma: é o novo agir, tomada de consciência do batismo;
Todo sacramento é obra do Espírito Santo. Mas, na confirmação, o específico do Espírito
é dar uma consciência nova de que ele já está em mim, que ele não nos é dado em prestações;
No nascimento, o Batismo; na maturidade, a Crisma. Por isso, esse sacramento é
considerado o vigor de todos os carismas. A fé exige adesão total a Jesus Cristo: um
engajamento do ser humano por inteiro: coração, espírito, inteligência e vontade. Crer em
Cristo significa estar pronto a segui-lo, a carregar sua cruz, a sofrer e a morrer por ele. A fé
165
cresce, desenvolve-se e afirma-se no compromisso diário, na fidelidade a Jesus. Ela nos
conduz à virtude da esperança, pois nos garante que somos amados por Deus;
A fé pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos muitas vezes parece estar bem
longe daquilo que a fé nos assegura; as experiências do mal e do sofrimento, das injustiças e
da morte parecem contradizer a boa-nova; podem abalar a fé e tornar-se para ela uma tentação
(CIC 164). Dessa forma, crescendo-se na fé, cada vez maior será a união com a Igreja, o
compromisso de acolhida do Reino e edificação da Igreja.
Tese 45: No decorrer da história, mas principalmente nos tempos atuais, procura-se
definir o efeito específico da Confirmação. A questão se coloca nos seguintes termos: se o
166
dom da Confirmação é o Espírito Santo que já havia sido recebido no Batismo, em que
se distingue então Confirmação do Batismo? O que acrescenta um que não esteja no
outro? (CIC 1302-1303)
O Espírito Santo não nos é dado em prestações. Todo sacramento é obra do Espírito
Santo. Contudo, sua ação é múltipla, conferindo a graça conforme a necessidade. No batismo,
o Espírito confere a graça da vida nova; na Crisma, a graça do novo agir, de acordo com a
vida nova;
O Espírito respeita a caminhada de cada pessoa. O alimento de uma criança difere da
alimentação de um adulto, embora ambos se alimentem. Da mesma forma, tanto na criança
como no jovem ou no adulto, o Espírito aí estando, só que agindo de forma diferente, de
acordo com a experiência vital de cada um. Para cada idade, suas exigências, seus direitos e
deveres. Não é que o Espírito seja diferente, menor ou maior. Ele respeita a individualidade
de cada um, o momento histórico e a maturidade por qual cada um está vivendo;
Os efeitos da Confirmação: da celebração ressalta-se que o efeito do sacramento da
Confirmação é a efusão plena do Espírito Santo (em todos os sacramentos, a efusão é plena!),
como foi outorgado outrora as apóstolos, no dia de Pentecostes. Por isso, a Confirmação
produz crescimento e aprofundamento da graça batismal:
1) Enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos faz dizer “Abba, Pai” (Rm
8,15);
2) Une-nos mais solidamente a Cristo;
3) Aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
4) Dá-nos uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé pela palavra e
pela ação, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de
Cristo e para nunca sentir vergonha em relação à cruz (CIC 1302-1303).
Em outras palavras:
1) Dado ontológico: imprime uma marca espiritual indelével, um novo “caráter”, que
aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis;
2) Dado eclesiológico: maior participação na vida da comunidade;
3) Dado missionário: leva a uma evangelização profética e mais efetiva;
4) Dado profético: leva a anunciar o Reino e a denunciar o anti-Reino.
167
Tese 46: A Eucaristia é o sacrifício de Cristo (CIC 1357, 1362-1367), que agindo com o
Espírito Santo, oferece-se livremente ao Pai pela nossa Redenção (Mysterium Fidei 27-
31). A Eucaristia é também sacrifício da Igreja (MF 32; CIC 1368-1372). A missa une
em uma única realidade sacramental o sacrifício de Cristo e o nosso sacrifício. O
conceito de Eucaristia-sacrifício, porém, exige o conceito de Eucaristia-presença. Para
compreender bem a presença de Cristo na Eucaristia é preciso situá-la num quadro de
pluripresença sacramental (SC 7; Eucharisticum Mysterium 9; CIC 1373-1377). O termo
“transubstanciação” é hoje objeto de interpretações. Alguns teólogos tentam traduzi-lo
com os termos “transignificação” e “transfinalização”, considerados mais
compreensíveis e mais vizinhos à mentalidade moderna (MF 46).
168
Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que entregou por nós na cruz, o próprio sangue
que “derramou por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28). A Eucaristia é um
sacrifício porque representa (torna presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e
porque aplica seus frutos (CIC 1365-1366);
O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: “É uma só e
mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a
si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere”: “Neste divino sacrifício que se
realiza na missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira cruenta
no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta” (Concílio de Trento, DS
1743).
169
d) O conceito de Eucaristia-sacrifício, porém, exige o conceito de Eucaristia-presença.
Cada vez que partimos o pão, como o Senhor nos mandou, ele se faz presente,
ressuscitado, com toda a sua divina energia, com seu Espírito Santo, como prometeu. Ao
partir o pão, a fé vê mais longe, para além dos meros símbolos humanos, para além das
aparências: é o Senhor!;
Presença invisível, mas real; imperceptível aos olhos humanos, vivenciada à luz da fé.
Presente na comunidade reunida, nos irmãos, na Palavra acolhida e na eucaristia, onde se faz,
de modo particular, alimento.
170
Cristo Nosso Senhor; essa mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão
transubstanciação” (DS 1642).
171
Tese 47: A Eucaristia é o sacramento da Igreja. Na Eucaristia a Igreja se revela
organicamente articulada. A diversidade de ministérios se manifesta na celebração
eucarística (IGMR III-IV). A dimensão eclesial da Eucaristia permite também
compreender a importância da Eucaristia no diálogo ecumênico (UR 22; CIC 1398-
1401). Como sacramento da Igreja, a Eucaristia é sinal de partilha fraterna. Na Bíblia, a
imagem do Banquete é o que melhor expressa a utopia do Reino. Na última ceia, Jesus
deixou seu corpo e sangue como alimento do Reino (Mt 26,29; Mc 14,25; Lc 22,15-18;
1Cor 11,26). Na Eucaristia, não só comungamos com Jesus, mas também com seu
projeto do Reino. Por isso, a Eucaristia é inseparável do amor e do serviço fraternos (Jo
13,1-20). Sem partilha concreta, não há Ceia do Senhor (1Cor 11,21). O sacramento da
Eucaristia se insere no contexto da ceia judaica, festa da libertação do Egito, e sobretudo
no contexto da Ceia do Senhor e da Páscoa de Jesus, assassinado por causa da pregação,
anúncio do Reino e denúncia do anti-Reino.
172
tanto mais prementes são as orações ao Senhor para que voltem os dias da unidade completa
de todos os que nele crêem;
“Há um só corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança à qual fostes
chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, há um só Deus e Pai de todos, acima
de todos, no meio de todos e em todos” (Ef 4,4). A eucaristia torna-se ponto de partida e de
chegada de todo o esforço pela unidade. Se, de uma parte, sua celebração não pressupõe
unidade perfeita, de outra, não justifica que se possa celebrar sem as condições mínimas de
fraternidade;
Os batizados por um só Espírito em um só corpo (1Cor 12,13) são nutridos pelo Corpo de
Cristo e formam, pelo mesmo Espírito, sempre mais um só corpo (1Cor 10,17). A eucaristia
efetiva a unidade, criando as condições necessárias para a perfeita comunhão dos fiéis em
Cristo. Na celebração comum, a comunidade se une na diversidade de dons, funções e
ministérios;
A eucaristia produz unidade por excelência. Isto não significa que seja um remédio de
efeito automático; o dom divino não dispensa a colaboração humana. Unidade e diversidade
estão simbolizadas no pão partido que, embora dividido, permanece sempre o mesmo Pão da
vida, uma vez que todos se alimentam do mesmo Cristo;
Paulo lembra aos Coríntios: “O pão que partimos não é a comunhão com o Corpo de
Cristo? Porque há um só pão, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos
desse único pão” (1Cor 10,16-17). Essa afirmação nos remete à unidade entre os cristãos que
celebram a mesma eucaristia. Todos os que participam da comunhão do Senhor têm a missão
de tornar-se fonte de comunhão;
Embora Jesus-eucaristia seja fonte de unidade, também entre as várias Igrejas cristãs que
acreditam e celebram este mistério da fé, a celebração ecumênica da eucaristia deve ser o selo
definitivo da comunhão entre elas. Evidentemente, deverão ser respeitadas as diversas
“formas litúrgicas” das respectivas igrejas, uma vez mantida a indispensável unidade
teológica.
173
Cristo não foi simplesmente um homem bom, que convidou os pobres à mesa do seu
amor. Mesmo nos conflitos, viveu até o fim a confiança em seu Pai e nas pessoas. Não apenas
falou de amor; amou a todos, até os inimigos, e os amou até o fim;
Para além da simples partilha, a eucaristia vai à raiz de todos os problemas que impedem a
convivência fraterna: o desamor. Constitui o sacramento social por excelência, uma vez que
nele se expressa, realiza-se e se celebra, como em nenhum outro, a dimensão social da fé e da
vida cristã. Inácio de Antioquia repreende os que não se importam com o dever da caridade,
não atendem as viúvas, os órfãos, os oprimidos e os prisioneiros, nem saciam os que têm fome
e sede (cf. Carta aos Esmirnienses, 6,2).
Afirma São João Crisóstomo: “Deus não necessita de cálices de ouro, mas de almas de
ouro [...]. De que valem os mantos bordados de ouro postos sobre a mesa, se o Cristo, no
pobre, não tem com que se vestir. Tu te preocupas em enriquecer o pavimento e as paredes,
enquanto o Cristo, nos pobres, está preso e acorrentado, e tu sequer o olhas [...]. Tu que
honras o altar sobre o qual está o Corpo de Cristo, ultrajas e desprezas, depois, em sua
pobreza, aquele que também é corpo de Cristo. Este altar tu podes encontrar em todas as
partes, em todas as ruas, em todas as praças, e sobre ele oferecer, a todo momento, um
verdadeiro sacrifício [...]” (Homilia sobre a primeira Carta aos Coríntios, 11,19).
e) Na última ceia, Jesus deixou seu corpo e sangue como alimento do Reino.
Segundo a linguagem bíblica, o banquete ilustra a felicidade presente de estar com Deus.
O último banquete de Jesus, o “banquete eucarístico”, com mais ênfase, ilustra esta plena
174
alegria. Atualiza o anúncio do banquete futuro e já é, para cada discípulo fiel, uma
participação do grande banquete celestial, sendo, agora, alimento de caminhada até chegar
àquele (o Reino).
f) Na Eucaristia, não só comungamos com Jesus, mas também com seu projeto do Reino.
Por isso, a Eucaristia é inseparável do amor e do serviço fraternos (Jo 13,1-20). Sem
partilha concreta, não há Ceia do Senhor (1Cor 11,21).
Quem comunga de verdade se compromete com a transformação/transfiguração da
realidade. O mistério da eucaristia não pode senão levar-nos a dela participar profeticamente,
com atitude de anúncio da notícia vida que nos salva, de denúncia das injustiças que nos
matam, de esperança dos desejos que nos anima, de defesa diante das inseguranças que nos
rodeiam, de amor diante dos ódios e divisões. A eucaristia é o coração do cristianismo; dela
parte e a ela retorna toda ação pessoal e social do cristão. Ponto de referência para se construir
uma Igreja que seja sinal válido para o mundo. Quando a Igreja se faz serviço, projeta
horizontes novos sobre a acolhida do Reino e sobre a vivência do mistério eucarístico;
Na perspectiva de libertação, os sacramentos são momentos de contestação, de esperança,
símbolos da verdadeira liberdade, em que se realiza de modo privilegiado a redenção de
Cristo, e a comunidade se compromete em favor da libertação de todas as escravidões. A
vivência do compromisso faz parte integrante do culto cristão;
A eucaristia é prelúdio e sinal do banquete de todas as nações (cf. Lc 13,29). Nesta todos
serão acolhidos para participar da ceia do Senhor. Quando a caridade ou o amor não se
empenham pela justiça, falta o espírito evangélica, e aí não há Ceia do Senhor. Amor e
compromisso pela construção de um mundo mais justo e fraterno são inseparáveis na vida de
Jesus e se exigem mutuamente na celebração eucarística;
A dimensão eclesial da eucaristia fundamenta seu compromisso social. Comungar Jesus é,
ao mesmo tempo, entrar em comunhão com os irmãos. Nova ceia, novo mandamento, nova
comunidade, nova missão. O amor à eucaristia não permite qualquer ódio. A paz é possível
porque o amor existe. Na eucaristia, Jesus é amor que se faz alimento.
175
A eucaristia tem como base uma ação humana: a refeição. Cristo não escolheu apenas os
símbolos do pão e do vinho, mas também o simbolismo da refeição. Refeição é a
humanização do ato de comer. Nela o ser humano procura não apenas se saciar, mas busca
também o prazer, a convivência, a alegria de estar junto com alguém que lhe é familiar;
As refeições sagradas da Bíblia e a eucaristia dos cristãos se inserem no contexto de ceia
memorial. No Primeiro Testamento, esse simbolismo humano se enriquece pelo fato de os
grandes acontecimentos salvíficos terem sido celebrados com banquetes. Cristo plenifica esse
significado.
Na última ceia, Jesus celebrou a Páscoa dos Judeus, a Ceia Judaica. Nesta, consagrou o
pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue. A partir daquele momentos, os discípulos, em
toda celebração, passaram a atualizar (fazer memória) tudo aquilo que lá foi vivido e suas
conseqüências: paixão, morte e ressurreição;
A Eucaristia foi instituída numa refeição pascal. Dividir o pão é dividir o mesmo amor.
Convém recordar-se que esta refeição pascal é uma refeição de aliança e, no caso de Jesus e
dos seus discípulos, refeição de despedida. Isso tudo é muito significado, pois mudou
complemente a vida dos seus.
Tese 48: Jesus Cristo deu a sua Igreja o poder de perdoar os pecados. De muitas e
variadas maneiras o povo de Deus pratica a penitência (CIC 1434-1439). O sacramento
da Penitência-Reconciliação, porém, tem uma importância sem igual neste universo
penitencial. Não é algo que acontece entre o penitente e o ministro, mas envolve de uma
ou outra forma toda a Igreja, pois a reconciliação com Deus se dá na reconciliação com
a Igreja. O pecado e a reconciliação, além de atos eclesiais, afetam a sociedade e a
história. A reconciliação com a Igreja deve levar à reconciliação com o mundo, deve
vencer e tirar o pecado do mundo. Pelo sacramento da Penitência-Reconciliação a Igreja
anuncia a misericórdia de Deus, denuncia o pecado do mundo e inicia a sua
transformação, ao comunicar o Espírito de Jesus para o perdão dos pecados (Jo 20,19-
23). Nessa perspectiva, devem ser revistas certas práticas de penitência comunitária que
tranqüilizam as consciências com a absolvição coletiva, sem a exigência de uma
mudança na vida pessoal, sobretudo nas relações sociais, políticas e econômicas.
176
O Segundo Testamento nos mostra a vontade de Jesus de comunicar aos seus apóstolos (e
fazê-los seus sucessores) o poder de perdoar os pecados. É o evangelista João quem escreve
(20, 19-23): “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão
perdoados; aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos”;
Nesta passagem, Jesus tem a clara consciência de estar cumprindo uma ação importante
para a sua missão, pois veio ao mundo justamente para salvar as pessoas de seus pecados (Mt
1,21), para se doar totalmente como preço de resgate para muitos (Mt 20,28), a fim de que
todos tivessem vida em abundância (Jo 10,10);
Segundo a teologia joanina, os discípulos perdoarão e reterão os pecados na medida em
que proclamarem a missão de Jesus no mundo;
A Tradição católica e ortodoxa acredita que o poder de perdoar os pecados é confiado aos
membros do colégio apostólicos.
b) De muitas e variadas maneiras o povo de Deus pratica a penitência.
A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A Escritura e os Padres
insistem principalmente em três formas: o jejum a oração e a esmola, que exprimem a
conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical
operada pelo batismo e pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os
esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo,as lágrimas de penitência, a
preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade (CIC
1434);
A conversão se realiza na vida cotidiana através de gestos de reconciliação, do cuidado
dos pobres, do exercício e da defesa da justiça e do direito, pela confissão das faltas aos
irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência, pela direção
espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça
(CIC 1435);
Eucaristia e penitência: a conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu
alimento na Eucaristia (CIC 1436);
A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo ato
sincero de culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e
contribui para o perdão dos pecados (CIC 1437).
177
O sinal sacramental representa e, ao mesmo tempo, realiza a penitência e a reconciliação.
Nenhuma forma penitencial é tão significativa, mais divinamente eficaz e mais elevada e, ao
mesmo tempo, acessível no seu rito, do que o sacramento da Penitência-Reconciliação (RP
28);
Entendemos isso observando alguns aspectos principais deste sacramento (RP 29-30):
1) “A quem perdoardes”: é uma missão querida por Jesus;
2) É sacramento do perdão. É da consciência da Igreja a certeza de que, por vontade de
Cristo, o perdão é oferecido a cada um por meio da absolvição sacramental dada pelos
ministros da penitência;
Para o cristão, o sacramento da Penitência é a via ordinária para obter o perdão e a
remissão dos seus pecados graves (RP 31).
d) Não é algo que acontece entre o penitente e o ministro, mas envolve de uma ou outra
forma toda a Igreja, pois a reconciliação com Deus se dá na reconciliação com a Igreja.
A Igreja tem a missão de anunciar a reconciliação e ser, no mundo, sacramento desta. Ela
é este sacramento pela sua própria existência: comunidade reconciliada que testemunha e
representa no mundo a obra de Cristo; pelo seu serviço de guardiã e intérprete da Escritura;
pelos sete sacramentos, são fonte de vida para a Igreja e instrumento de conversão a Deus, a si
mesmo e ao outro;
A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus (CIC 1445).
Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá
autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa
exprime-se principalmente na palavra de Cristo a Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos
Céus e o que ligares na terra, será ligado nos céus, e o que desligares na terra, será desligado
nos céus” (Mt 16,19);
A CNBB, no seu documento n° 6, afirma que a Igreja é uma comunidade a serviço da
reconciliação e da salvação das pessoas. Na celebração do mistério da reconciliação, toda a
comunidade eclesial desempenha um papel de mediação pela oração comum, que é a
intercessão em favor dos pecadores e os próprios membros da comunidade.
178
misericórdia de Deus, denuncia o pecado do mundo e inicia a sua transformação, ao
comunicar o Espírito de Jesus para o perdão dos pecados
Os pecados mais pessoais e ocultos têm repercussão sobre toda a criação. Qualquer
pecado já é um sinal de ruptura, uma desarmonia no cosmos. E cada um pode contribuir neste
sistema com um “efeito dominó”. Assim, a Igreja, fiel a seu próprio ensinamento, no
ministério da reconciliação, leva a pessoa a considerar as conseqüências dos seus pecados, dos
pessoais e dos sociais, tão esquecidos ultimamente;
O pecado, no sentido próprio e verdadeiro, é sempre um ato da pessoa. Todavia, o pecado
pessoal tem repercussão social e pode, muitas vezes, sustentar estruturas de opressão e de
alienação. A Igreja, o Evangelho, iluminando essa realidade, pedem de nós uma conversão
total, ou seja, o respeito ao outro, à criação, a Deus. Já os profetas do Primeiro Testamento,
em muitas situações, pediram a conversão do coração, a prática do amor e da justiça, mais que
holocaustos externos;
O pecado de cada um repercute no outro, na sociedade. Assim, o que é pessoal tem
dimensão social. O sacramento da reconciliação-penitência deve nos libertar de todos os
pecados. A reconciliação não se restringe ao foro interno. Reconciliação é conversão. E
conversão supõe extirpar o pecado, ter um reto conceito de misericórdia e assumir uma vida
pautada no amor e na justiça;
Denunciado deve ser todo pecado. Todo pecador, ao tomar consciência que errou, deve
voltar seus olhos para o Pai, e arrependido, acolher o seu amor e mudar de vida, pois jamais
lhe será negada a oportunidade do retorno à casa do Pai.
f) Nessa perspectiva, devem ser revistas certas práticas de penitência comunitária que
tranqüilizam as consciências com a absolvição coletiva, sem a exigência de uma
mudança na vida pessoal, sobretudo nas relações sociais, políticas e econômicas.
Há que se privilegiar, e muito, as confissões individuais e, só mesmo em caso de
necessidades, fazer-se confissões comunitárias com absolvição geral. Estas, por seu caráter
muito genérico, pode não levar a pessoa à conversão nem a admitir seus pecados,
principalmente os graves.
Tese 49: No decorrer dos séculos, a Igreja nunca deixou de celebrar o sacramento da
penitência-reconciliação, embora tenha variado na forma. Dentre as causas dessa
179
variação, estão as diversas interpretações dadas aos textos de Mt 16,19 e 18,18, e ainda
de Jo 20,22s, classicamente considerados os fundamentos escriturísticos do poder de
perdoar concedido à Igreja (RP 13; CIC 1461-1467).
180
Após a confissão e recebida a absolvição, louvam juntos a Deus pelas maravilhas operadas em
cada um;
3a) Reconciliação de vários penitentes com a confissão e a absolvição geral: é de caráter
excepcional, sendo regulada por uma disciplina especial, competindo ao bispo esta tarefa.
b) Dentre as causas dessa variação, estão as diversas interpretações dadas aos textos de
Mt 16,19 e 18,18, e ainda de Jo 20,22s, classicamente considerados os fundamentos
escriturísticos do poder de perdoar concedido à Igreja.
Mt 16,19: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado
nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus”. Caberá a Pedro “abrir” ou
“fechar” o acesso ao Reino, por meio da Igreja. “Ligar” e “desligar” são dois termos técnicos
da linguagem rabínica, que se aplicam primeiro ao domínio disciplinar da excomunhão com
que se “condena” (“ligar”) ou “absolve” alguém (“desligar”); mais tarde se estenderá às
decisões doutrinais ou jurídicas, com o sentido de “proibir” (“ligar”) ou “permitir”
(“desligar”). Pedro, conforme a passagem bíblica, exercerá o poder disciplinar de admitir ou
excluir quem ele julgar certo e administrará a comunidade através de todas as decisões
cabíveis em matéria de doutrina e de moral as sentenças e decisões ratificadas por Deus do
alto dos céus;
Mt 18,18: “Em verdade eu vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e
tudo quando desligardes na terra será desligado no céu”. No versículo primeiro encontramos a
expressão “discípulos”, que parece serem os “doze”. O versículo 17 traz a expressão ekklesía,
assembléia dos irmãos. Não se refere apenas a Pedro o poder, mas a toda a comunidade dos
discípulos;
Jo 20,22ss: “Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: ‘Recebei o Espírito Santo.
Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes,
ser-lhes-ão retidos’”. Segundo o texto, quem perdoa é o Espírito Santo, que também nos fazer
os nossos pecados, movendo nosso coração para o arrependimento e ao pedido de perdão.
Para o evangelista, os discípulos perdoarão e reterão os pecados na medida em que
proclamarem a missão de Jesus no mundo. A Tradição continua pensando que o poder de
perdoar é confiado aos membros do colégio apostólico, ao qual foi confiado também, em
comunhão com Jesus, o encargo pastoral (Jo 21,15-17).
181
Tese 50: A Unção dos Enfermos é um dos sete sacramentos do Segundo Testamento
instituído por Cristo. Ela confere a graça do Espírito Santo, que contribui para o bem
do ser humano todo. Reanima a confiança em Deus, fortalece contra as tentações do
demônio e as aflições da morte. Realiza a cura se for conveniente à salvação espiritual e
em caso de necessidade, perdoa os pecados. O Sacramento da Unção dos Enfermos pode
ser celebrado também com os idosos e com todos os debilitados física e psiquicamente.
Pela Unção, o Cristo Ressuscitado e seu Espírito consagram o ungido e o interpelam,
juntamente com os agentes da saúde e toda a comunidade cristã, para que assumam o
ministério da cura, da valorização da vida em todas as suas fases, também na velhice,
empenhando-se na luta contra a doença, contra a miséria, no combate às injustiças e a
todas as causas de morte.
b) Ela confere a graça do Espírito Santo, que contribui para o bem do ser humano todo.
Reanima a confiança em Deus, fortalece contra as tentações do demônio e as aflições da
morte. Realiza a cura se for conveniente à salvação espiritual e em caso de necessidade,
perdoa os pecados.
Os efeitos da celebração deste sacramento são, segundo o CIC (1520-1523):
182
1) Um dom particular do Espírito Santo: a principal graça deste sacramento é uma graça de
reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias ao estado de
enfermidade grave ou à fragilidade da velhice. Esta graça é um dom do Espírito Santo que
renova a confiança e a fé em Deus e fortalece contra as tentações, desânimo e medo da morte.
Essa assistência do Espírito pode levar à cura do espírito e do corpo, além do perdão dos
pecados;
2) União com a paixão de Cristo: pela graça deste sacramento, o enfermo recebe a força e o
dom de unir-se mais intimamente à paixão de Cristo;
3) Uma graça eclesial: ao celebrar este sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos,
intercede pelo bem do enfermo e este contribui para a santificação da Igreja e para o bem de
todas as pessoas pelas quais a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai;
4) Uma preparação para a última passagem. A Unção completa nossa conformação com a
Morte e a Ressurreição de Cristo, como o Batismo começou a fazê-lo;
Segundo o doc. 14 da CNBB (Pastoral da Unção dos Enfermos): a Unção nos dá a graça
do Espírito Santo; contribui para a salvação da pessoa toda; dá a possibilidade da cura física e
espiritual, e eventualmente perdoa os pecados. Supõe a fé tanto do ministro como de quem a
recebe, sendo este salvo pela sua fé e pela da Igreja.
c) O Sacramento da Unção dos Enfermos pode ser celebrado também com os idosos e
com todos os debilitados física e psiquicamente.
Conforme o doc. 14 da CNBB, a Unção se destina aos doentes, enfermos ou idosos
(portanto, não só aos moribundos). “A Unção dos enfermos não é um sacramento só daqueles
que se encontram às portas da morte. Portanto, tempo oportuno para receber a Unção dos
Enfermos é certamente o momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo
de doença, debilitação física ou velhice” (SC 73).
184
O presbítero, morando em uma comunidade, mesmo sozinho, jamais poderá se sentir fora
do presbitério de sua diocese ou congregação, pois ele faz parte de uma grande família, a
famílias dos padres ou religiosos;
Além disso, seu ministério estende-se sempre à unidade da Igreja toda e a todos os povos
nela congregados. Por isso, qualquer comunidade particular de fiéis precisa da comunhão com
o bispo e com toda a Igreja Universal. Será o padre aquele que será o elo desta união, desta
grande fraternidade, que vai muito além do colégio presbiteral;
Seguindo o exemplo de Cristo, os presbíteros cultivem com o bispo e entre si a
fraternidade, fundada na ordenação e unidade de missão, de modo que assim se torne mais
crível o testemunho presbiteral. Conforme a Presbyterorum Ordinis: “Especialmente na
diocese a cujo serviço, sob o bispo respectivo, estão adscritos, formam um só presbitério.
Embora ocupados em diferentes obras, exercem o mesmo ministério sacerdotal a favor dos
homens. Todos são enviados para cooperarem na obra comum [...]. Todos têm uma só
finalidade, isto é, a edificação do Corpo de Cristo [...]. Por isso, é da máxima importância que
todos os sacerdotes, diocesanos ou religiosos, se ajudem mutuamente, para que sejam sempre
cooperados da verdade. Cada membro do presbitério está ligado aos restantes por laços
especiais de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade [...]. Cada presbítero se une,
pois, com seus irmãos por um vínculo de caridade, oração e multímoda cooperação, e assim
se manifesta aquela unidade na qual Cristo quis que os seus fossem consumados, para que o
mundo conheça que o Filho foi enviado pelo Pai” (n° 8);
Missão do ordenado: ministério da Palavra, da Liturgia e do Governo do Povo de Deus:
1) Ministério da Palavra: os presbíteros, como cooperados dos bispos, têm, como primeiro
dever, anunciar a todos o Evangelho de Deus, para que, realizando o mandato do Senhor,
constituam e aumentem o povo de Deus. Com efeito, é pela palavra da salvação que é
suscitada no coração dos infiéis e alimentada no coração dos fiéis a fé. Por isso, os presbíteros
são devedores de todos, para comunicarem a todos a verdade do Evangelho, de que gozam no
Senhor. Portanto, que quando, por uma convivência edificante entre os povos, os levam a
glorificar a Deus, quer quando, pregando abertamente, anunciam o mistério de Cristo aos que
não crêem, quer quando ensinam o catecismo ou explanam a doutrina da Igreja, quer quando
procuram estudar à luz de Cristo as questões do seu tempo, sempre é próprio deles ensinar não
a própria sabedoria, mas a palavra de Deus e convidar instantemente a todos à conversão e à
santidade (PO 4);
185
2) Ministério da Liturgia e dos Sacramentos: os presbíteros são consagrados por Deus para
que sejam na celebração sagrada, ministros daquele que exerce de modo eminente na liturgia
o seu ofício sacerdotal a nosso favor, por meio de seu Espírito. Introduzem, pela liturgia, nos
sagrados mistérios e nos sagrados sacramentos àqueles que querem se configurar, sempre
mais, ao Cristo Bom Pastor (PO 5);
3) Governo e educação do Povo de Deus: exercendo, com a autoridade que lhes toca, o
múnus de Cristo cabeça e Pastor, os presbíteros reúnem, em nome do Bispo, a família de
Deus, como fraternidade bem unida, e levam-na a Deus Pai por Cristo no Espírito. Para
exercer este ministério, como também o outros, é conferido o poder espiritual, que é dado
para edificação. Cabe, assim, ao presbítero, zelar com muito carinho e atenção àqueles que
lhes são confiados, educando-os e amando-os em nome de Cristo (PO 6).
d) Os ministros, porém, como servidores de Deus, de sua Igreja e do seu Reino, exercem
de modo próprio e diferentemente dos fiéis o ministério sacerdotal.
“O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que é revestido, organiza e rege o povo
sacerdotal, oferece o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo em nome de todo o povo [...]”
(LG 10);
“[...] é pelo ministério dos presbíteros que o sacrifício de Cristo [...] é oferecido na
eucaristia [...], em nome de toda a Igreja [...]. Com efeito, o seu serviço, que começa na
mensagem evangélica, tira do sacrifício de Cristo a sua força e a sua virtude, e tende a fazer
com que toda a [...] sociedade dos santos seja oferecida a Deus como sacrifício universal pelo
grande sacerdote [...]” (PO 2);
Ministério da Palavra, da Liturgia e Governo do Povo de Deus.
187
princípio. A revelação deste mistério está no Novo Testamento: o casal homem-mulher
encontra sua verdade no casal Cristo-Igreja, conforme Ef 5,21-23: “Por isso, o homem
deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este
mistério é grande; mas eu o digo em referência a Cristo e à Igreja”;
Pelo sacramento do Matrimônio, o casal não é apenas um símbolo de união e fecundo
amor entre Cristo e a Igreja, mas participa também desse mistério;
“Casar-se no Senhor”: os amados voltam-se um para o outro assim como Cristo se volta
para sua Igreja, sua grande amada. Olhando para a aliança de Cristo com sua amada, os
noivos se casam no Senhor e comprometem-se a serem fiéis na fé, na esperança e no amor,
testemunhando a Boa Nova do Reino.
b) Por esse sacramento, pela fidelidade e indissolubilidade dele decorrentes (CIC 1615;
1644-1648), homem e mulher vivem o amor humano como um dos lugares onde o Deus
de Jesus Cristo se revela.
A unidade, a indissolubilidade e a abertura à fecundidade são essenciais no Matrimônio;
Na celebração do sacramento, os noivos prometem-se mutuamente serem fiéis por toda a
vida, amarem-se e respeitarem-se, acolhendo com amor os filhos que Deus os presentear.
Embora essas promessas sejam difíceis de serem vividas, elas são a base o sacramento e de
um matrimônio feliz;
O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade de sua
comunidade de pessoas que engloba toda a vida: “De modo que já não são dois, mas uma só
carne” (Mt 19,6). Esta comunhão humana é confirmada, purificada e arrematada pela
comunhão com Jesus Cristo, concedida pelo sacramento do Matrimônio A unidade deste
sacramento é também claramente confirmada pelo Senhor mediante a igual dignidade do
homem e da mulher enquanto pessoas, a qual deve ser reconhecida no amor mútuo e perfeito
(CIC 1644-1645);
O amor conjugal exige dos esposos, também, uma fidelidade inviolável. Isso é a
conseqüência do dom de si mesmos que os esposos se fazem um ao outro. O amor quer ser
definitivo. Não pode ser até “nova ordem”. O motivo mais profundo se encontra na fidelidade
de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja (CIC 1646-1647).
188
da sacralização do amor humano, implica conversão, participação no mistério pascal e
engajamento na construção da Igreja que marcha na direção do Reino.
O sacramento do Matrimônio se ilumina na união de Cristo com sua Igreja. Concede aos
esposos a graça de amarem-se com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja;
É uma realidade, ao mesmo tempo, humana e divina, pois é um sacramento;
Casar-se bem implica em mudança de vida, em saber perder, em acolher o outro com
ternura, em caminhar junto, em aprender a amar todos os dias um pouco mais, a ser sempre
melhor, mais companheiro e pedagogo. Casar implica em fazer novas escolhas, em acolher os
filhos com muito amor, educando-os na fé, na esperança e no amor. Casar-se implica em
aprender a sonhar junto com o outro, muitas vezes, o mesmo sonho, que não pode estar
desligado do grande sonho de Deus: o seu Reino.
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