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JACQUES LACAN

(1901 – 1981)
VIDA E OBRA

Jacques-Marie Émile Lacan nasceu em Paris, em


13 de abril de 1901, em uma família de
fabricantes de vinagres de Orléans (os Dessaux)
de sólida tradição católica e conservadora. Filho
de Alfred Lacan (1873-1960) que conduzia os
negócios da família e Émilie Baudry (1876-1948)
sua mãe, apresentava-se mais intelectual e muito
dedicada à religião.
Lacan era o filho primogênito e teve três irmãos –
Madeleine, Raymond e Marc-François.
Na adolescência rompeu com o catolicismo e passou a
dedicar-se à vanguarda literatura – leu Baruch
Spinoza, Nietzsche, Charles Maurras, os surrealistas
e James Joyce. Foi assíduo freqüentador de
livrarias e grupos de escritores e poetas.
Cursou a faculdade de medicina com residência em
psiquiatris no Hospital Sainte-Anne, em Paris. Foi
intensamente influenciado pelo professor Gaëtan
Gatian de Clérambault.
Em 1932, iniciou sua análise com Rudolph
Loewenstein. Essa análise durou seis anos e meio,
tendo sido interrompida em função de forte
desentendimento entre ambos.
Embora estimado como um brilhante intelectual
fora dos meios psicanalíticos franceses, Lacan
não recebeu reconhecimento da Sociedade
Psicanalítica de Paris (SPP), na qual seus
trabalhos não eram considerados e seu
anticonformismo causava irritação.
Em 1934, casou-se com Marie-Louise Blondin
(1906-1983), Malou. Com Malou teve três filhos
– Caroline, Thibaut e Sibylle. Em 1937 teve um
relacionamento com Sylvia Maklès-Bataille com
quem teve uma filha Judith Bataille.
A partir de 1936, após iniciar-se na filosofia
hegeliana e participar de importantes grupos
de grande riqueza cultural e teórica, concluiu
que a obra freudiana devia ser relida “ao pé
da letra” e à luz da tradição filosófica alemã.
Lacan denominou o começo de seu ensino de “retorno a
Freud”. Apoiando-se na filosofia hegeliana, na
lingüística saussuriana e nos trabalhos de Lévi-Strauss,
retornou aos textos freudianos. Possibilitou a
elaboração de suas concepções sobre o
“significante”, o “inconsciente organizado como uma
linguagem”, “simbólico, imaginário e real”, a
“interdição do incesto” e o “complexo de Édipo”.
Na Sociedade de Psicanálise de Paris (SPP), Lacan
atraiu muitos alunos, fascinados pelo seu ensino e
desejosos de romper com o freudismo acadêmico da
primeira geração francesa.
Em 1953, no auge da primeira crise na
psicanálise francesa, acerca da questão da
análise leiga e da duração das sessões, Lacan
passou a integrar o grupo fundador da
Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP).
Nesse momento deu início ao seu Seminário
(quinzenal), comentando sistematicamente, ao
longo de dez anos, os grandes textos
freudianos.
A partir de 1953, o grupo de fundadores da
Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP)
iniciou negociações para a aprovação da SFP
como filiada da IPA. Após muitas discussões e
tentativas, o comitê executivo da IPA recusou a
Lacan o direito de formar didatas.
A segunda grande crise na psicanálise francesa
deu-se em 1963. Um ano depois, a SFP foi
dissolvida e Lacan fundou a École Freudienne
de Paris (EFP).
Em 1965, fundou a coleção Champ Freudien nas Éditions
du Seuil e em 1966, publicou os “Escritos”.
Diante do crescimento da EFP, Lacan criou o “passe”,
novo procedimento de acesso à análise didática.
Aplicado a partir de 1969, provocou a terceira crise
da história do movimento psicanalítico francês. Foi
criada a Organização Psicanalítica de Língua
Francesa (OPLF) e iniciada uma crise institucional na
EFP, o que resultou em sua dissolução em 1980 e,
posteriormente, na dispersão do movimento lacaniano
em cerca de vinte associações.
Em 1974, Lacan dirigiu um ensino do “Campo
Freudiano” no Departamento de Psicanálise
da Universidade de Paris VIII.
Sofrendo de distúrbios cerebrais e de uma
afasia parcial, Lacan morreu em 9 de
setembro de 1981, após a retirada de um
tumor maligno no cólon.

Fonte: www.febrapsi.org/publicacoes/biografias/jacques-lacan/
A TRÍADE LACANIANA
INCONSCIENTE, SINTOMA E GOZO
O Inconsciente
 O Inconsciente é estruturado como uma linguagem.
Signo-Significado-Significantes/ Metáfora e
Metonímia/ Cadeia de significantes
 Freud considerava o sonho como a via real de
acesso ao inconsciente, Lacan considerava a língua/
linguagem falada/ discurso
 O inconsciente é um processo ativo, sob a forma de
emissão sempre renovada de um dito significante.
 “ o Inconsciente é o homem ser habitado pelo
significante.” J. Lacan
 O inconsciente só existe no interior do campo da
Psicanálise
 O inconsciente só existe no ato de um dito.
O inconsciente é um saber que, movido
pela força do gozo, trabalha como
uma cadeia metonímica, com vistas a
produzir um fruto – o significante
metafórico – e um efeito: o sujeito do
inconsciente.
“A formação do inconsciente é ocasionada quando
um primeiro significante, que representa uma
situação insustentável para a criança, sofre
repressão. Caso não houvesse castração, a criança
seria apenas capaz de formar conceitos e
hipóteses usados para dar conta da realidade em
sua volta, porém, sem uma dimensão subjetiva
dessa realidade, como acontece na psicose.”
“Lacan formulou que o discurso do inconsciente, a
verdade lógica sobre o desejo do Sujeito, se
instaura a partir da metáfora paterna, também
conhecida como O Nome do Pai. A metáfora
paterna é que faz a mediação da lei responsável
pelo funcionamento da sociedade, permitindo que
a criança tenha acesso à ordem simbólica, ou seja,
às regras e à estrutura da sociedade.”
“Portanto, o processo psíquico no desenvolvimento
da criança, iniciado pela metáfora paterna, faz
com que a criança se constitua como Sujeito e tenha
acesso ao registro simbólico, o que também
estabelece a divisão psíquica do Sujeito. A
metáfora paterna é sustentada primeiro pela
repressão do significante primordial, o falo
imaginário que a criança tenta ser para sua mãe,
segundo, em uma substituição desse significante, e,
finalmente, no advento do inconsciente ou do
Sujeito desejante.”
Conceito de Gozo
 Para Freud o desejo tinha 3 destinos:
1. Descarga (dissipa): manifestação do inconsciente
através dos lapsos, chistes, sonhos e sintoma.
2. Retenção: a energia é conservada e acumulada. O
recalcamento é a barreira para a descarga.
3. Descarga total: hipotético, ideal, desejo não
realizado. Ex.: a relação sexual incestuosa.
Esta teria corresponde ao conceito de Gozo em Lacan.
3 estados do Gozar
1. Gozo fálico: energia dissipada, descarga parcial,
alívio incompleto da tensão inconsciente. O falo como
regulador da descarga do gozo.
2. Mais Gozar: Gozo que permanece retido no sistema
psíquico. A saída é impedida pelo falo. Aumenta a
tensão. Mantém as zonas erógenas estimuladas.
3. Gozo do Outro: situação hipotética e ideal de uma
descarga completa. O gozo que o sujeito supõe no
Outro (sendo este uma suposição). Ponto de felicidade
absoluta.
 O Gozo é no inconsciente e na teoria, um lugar
vazio de significantes.
 “Não existe relação sexual.” / “Não existe relação
sexual absoluta”/ “Não existe gozo absoluto”
 O Gozo é a energia do inconsciente. “... O
inconsciente é que o ser, ao falar, goza.”
 É a energia que se desprende quando o
inconsciente trabalha.
 Sujeito do inconsciente.
O Falo em Lacan

 Não desígna o órgão genital masculino


 É um significante particular que baliza o trajeto do
desejo/gozo
 É o significante que marca e significa cada cada
uma das etapas desse trajeto
 Marca a origem do Gozo, marca os obstáculos do
gozo – recalcamento, marca as exteriorizações do
gozo – sintoma, fantasias, ação.
 O falo é o limiar para além do qual se descortina o
mundo mítico do gozo do Outro.
Sintoma
 O Sintoma representa dor e alívio. Dor para o Eu e
alívio para o Inconsciente. Ele representa uma descarga
energética.
 Trata-se de um sofrimento questionador.
 Num primeiro momento questiona-se o signo: Pq? Num
segundo momento se questiona o significante: Como?
 O aspecto significante do sintoma é o fato de ele ser
um acontecimento involuntário, desprovido de sentido e
pronto pra se repetir. Não se domina nem a causa, nem
o sentido e nem a repetição.

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