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Fábio Belo
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posição política aparece de forma muito tênue em sua obra teórica, nunca de forma explícita.
Ao que me consta, os textos mais claramente políticos de Laplanche são aqueles que versam
sobre e contra a pena de morte, além do artigo dedicado a H. Marcuse.
Desde 1966, Laplanche produziu vinho em sua propriedade na Borgonha, o Château
Pommard, seguindo tradição familiar tanto materna quanto paterna. Em 2009, com a venda
do Château Pommard, foi criada a Fundação Jean Laplanche, destinada à divulgação da obra
de Laplanche e ao desenvolvimento da psicanálise.
Desde 1992, Laplanche realizava as Jornadas Jean Laplanche, nas quais reunia-se um
grupo de pesquisadores interessados em sua obra e muitos deles orientados por Laplanche em
Paris VII. Destaco, dentre muitos outros: Silvia Bleichmar, Paulo César de Carvalho Ribeiro,
Maria Teresa de Melo Carvalho, Marta Rezende Cardoso, Dominique Scarfone e Luiz Carlos
Tarelho.
Laplanche foi casado com Nadine Guillot (depois Nadine Laplanche), desde 1950 até
2010, quando ficou viúvo. Laplanche faleceu, aos 88 anos, em 6 de maio de 2012, dia que
coincide com o aniversário de nascimento de S. Freud.
Para mais informações biográficas de Laplanche, consultar Conte (2012), Ribeiro et
alli (2017) e Scarfone (1997).
Com Pontalis
As problemáticas
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Laplanche publicou, a partir dos anos 70, seus cursos na Universidade de Paris VII.
Ele os chamou de problemáticas e isso tem tudo a ver com seu método analítico que visa
questionar a teoria, mostrar suas contradições, suas tensões, suas exigências. Os temas das
problemáticas e suas respectivas datas:
A penúltima ainda não tem tradução para o português. A última teve algumas aulas
traduzidas como Freud e a sexualidade (1997).
Apenas em 1992 Laplanche escreve o livro Novos Fundamentos para Psicanálise, no
qual apresenta um panorama geral da TSG. Se se pode marcar um ponto cronológico de
fundação seria esse, mas insisto na imprecisão disso. As teses fundamentais da TSG vão se
formando aos poucos e não é uma teoria que nasce de uma só vez… além de fazer jus a uma
das metáforas que está em sua origem: é uma revolução copernicana inacabada e, por
consequência do que supomos exigência do inconsciente, inacabável.
Teses fundamentais
(b) masoquismo como posição originária - tanto no artigo de 1967 quanto no de 1991,
ambos dedicados ao tema do masoquismo, Laplanche começa a destacar a
importância absoluta da passividade no que ele irá chamar mais tarde de situação
antropológica fundamental (SAF) ou situação (de sedução) originária. O masoquismo
é, inevitavelmente, nossa posição originária, primeiro recurso do eu para manejar,
metabolizar, o sexual que lhe é endereçado. A questão não é se, mas como o
masoquismo irá se instalar na constituição psíquica de cada sujeito. Essa tese tem
consequências enormes para se pensar a perversão, por exemplo… se em Freud, o
paradigma da perversão é o fetichismo, em Laplanche ele passa a ser o masoquismo.
(c) pulsão sexual de morte. Apesar da noção aparecer publicada bem mais tarde, em
1995, no artigo “La soi-disant pulsion de mort: une pulsion sexuelle”, a tese que dará
origem a ela está em Vida e Morte em Psicanálise, de 1970. O livro de Laplanche
sustenta uma tese radical: houve um recalcamento do sexual “demoníaco”, disruptivo,
tal como apresentado em 1905, nos Três Ensaios… ele foi aos poucos cedendo lugar a
uma noção biológica, a pulsão de morte. O sexual vai se transformando em Eros, uma
sexualidade ligada, por assim dizer, e não desligante e mortífera, como em 1905.
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(h) Sublimação e/ou inspiração (1999) é o artigo mais recente de Laplanche sobre a
sublimação, mas já na problemática dedicada ao tema, de 1975 a 1977, Laplanche
critica fortemente a ideia de dessexualização para se pensar a sublimação. A TSG vai
aproximar a sublimação da simbolização e do sintoma. Faz isso retomando a noção
estética da inspiração: é em resposta à alteridade interna que o sujeito cria, sempre em
resposta ao sexual… na criação artística, o sexual é posto em circulação, a relação do
sujeito (o artista e o espectador) com o sexual é, por assim dizer, reaberta pela arte.
(i) O gênero, o sexo e o sexual (2003) e Castração e Édipo como códigos narrativos
(2006) são textos muito importantes, pois vão dar uma dimensão ainda mais especial
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Pesquisa laplancheana
Referências
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Conte, Bárbara. (2012). Jean Laplanche: fundamentos e intersecções. São Paulo: Scortecci.
Ribeiro, P. et alli. (2017). Por que Laplanche? São Paulo: Zagodoni.
Scarfone, Dominique. (1997). Jean Laplanche. Paris: PUF.
Obras de Laplanche
Laplanche, Jean. A tina: a transcendência da transferência. Trad. Paulo Neves. São Paulo:
Martins Fontes, 1993.
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_____________. Court traité de l’inconscient. In. Entre séduction et inspiration: l’homme.
Paris: Quadrige/PUF, 1999c (pp.67-114).
________________. Du transfert: sa provocation par l’analyste. In. La révolution
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Laplanche, J. (1961/1991). Hölderlin e a questão do pai. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
________________. Interpréter [avec] Freud. La révolution copernicienne inachevée. Paris:
Aubier, 1992c. (pp. 21-36)
________________. Implantation, intromission. In. La révolution copernicienne inachevée.
Paris: Aubier, 1992k. (pp. 355-358).
________________. La psychanalyse comme anti-herméneutique. In. Entre séduction et
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________________. La psychanalyse: histoire ou arqueologie? In. La révolution
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________________. La révolution copernicienne inachevée. Paris: Aubier, 1992.
________________. Le mur et l’arcade. In. La révolution copernicienne inachevée. Paris:
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________________. Narrativité et herméneutique: quelques propositions. In. Entre séduction
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________________. Notes sur l’après-coup. In. Entre séduction et inspiration: l’homme.
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