Você está na página 1de 34

ESCRITO POR TAY L.

O CONTEÚDO ABAIXO É DE USO EXCLUSIVO DOS


INTEGRANTES DO PGIC E NÃO PODE SER COMPARTILHADO POR
REDES SOCIAIS, GRUPOS E AFINS.

Por apenas um dia ela terá que amá-lo como... Criança.


Sabe aquelas situações inacreditáveis que a gente não sabe como entrou?

Esta era minha situação nesse exato momento. Era algo tão surreal que, mesmo estando
em frente aos meus olhos, eu simplesmente não conseguia acreditar.

Não fazia muito tempo que Taehyung havia batido na porta da minha casa sem aviso
prévio, deixado uma bomba sem qualquer explicação razoável e saído em seguida para
uma gravação, não me dando sequer a oportunidade de negociar.

E agora eu estava sentada à mesa da minha sala de jantar, observando, de frente para
mim, uma versão infantil de quatro anos do meu namorado, Jungkook, comendo com
dificuldade o cereal com leite que eu havia servido em um prato para ele.
Provavelmente porque a cadeira continuava baixa demais para ele mesmo depois das
almofadas que eu colocara para ajustar a sua altura diminuta. Ou talvez porque as suas
pequenas mãos não conseguiam segurar a colher apropriadamente.

“Cuide dele, apenas por hoje, por favor! Depois eu explico tudo! Ah! E ele ainda não
tomou café da manhã!” — as palavras de Taehyung continuavam ecoando na minha
cabeça. Explicar o que? Tinha explicação para Jungkook de repente aparecer com
menos de um metro à porta da minha casa? Por mais que eu pensasse, eu não conseguia
encontrar uma.

— Estou cheio. — a voz, agora, infantil de Kook me tirou dos meus pensamentos,
fazendo-me voltar minha atenção para ele. E não consegui deixar de me surpreender
com o rostinho encantador que essa criança tinha.

Não muito diferente do Jungkook crescido, na verdade, mas, se é que era possível, ele
estava ainda mais fofo com aquele aegyo extra de criança.

Olhei para o prato dele, conferindo-o vazio. Um sorriso brotou nos meus lábios.

Mesmo naquela situação, o apetite dele parecia continuar intacto.

— Muito bem. — elogiei-o automaticamente como eu fazia com crianças e ele abriu o
sorriso adorável que me encantara à primeira vista. Eu nunca tinha visto fotos de
quando Jungkook era criança, mas agora podia afirmar que ele mantinha o mesmo
sorriso apesar dos anos.

Levantei da mesa e peguei o prato dele, rumando até a cozinha para lavá-lo, e percebi
que o pequeno Kook me seguiu. Ele inclinava a cabeça para cima como se tentasse ver
o que eu estava fazendo com o prato na pia e me fitava com uma expressão atenta e
olhos grandes de curiosidade.
Ele era, de fato, extremamente adorável, tanto que decidi esquecer por um momento a
minha necessidade de ter uma explicação para aquela situação e apenas curtir o
momento. Afinal, não é sempre que se pode conhecer pessoalmente como o seu
namorado era na infância. Eu podia muito bem aproveitar essa oportunidade sem me
preocupar muito, pelo menos até Taehyung e os meninos voltarem.

Resolvida, fui para a sala com Jungkook depois de terminar com a louça e o carreguei
no colo para sentá-lo depois de vê-lo escalando o sofá alto sem muito sucesso,
sentando-me ao seu lado em seguida.

Pensei que seria melhor investigar o nível de compreensão dele quanto a sua própria
situação.

— Hm... Você sabe me dizer o seu nome?

— Jeon Jeongguk! — ele respondeu prontamente.

— E quantos anos você tem?

— Hm... — ele demorou um pouco desta vez, contando nos dedos enquanto franzia a
testa ligeiramente com o esforço — Quatro!

— E quem era aquele rapaz que trouxe você?

— V hyung, ele tem um sorriso engraçado. — disse ele e não pude deixar de rir. Era o
perfil de Taehyung ensinar o seu nome artístico para a criança.

— Tem mesmo. — concordei — Você já o conhecia antes?

Kook balançou a cabeça de um lado para o outro negativamente.

Aparentemente ele tinha uma consciência básica de quem era, mas não sabia nada sobre
sua vida de idol. Ele realmente havia voltado a ser apenas uma criança, e não tinha a
mínima ideia disso. Eu só tinha mais uma pergunta, uma curiosidade minha, na verdade.

— E você sabe quem eu sou?

Jungkook me encarou por alguns longos segundos como se tentasse buscar a minha
imagem em algum lugar da sua memória, então esticou os lábios em um sorriso que não
mostrava os dentes.

— É a noona bonita que V hyung disse que tomaria conta de mim.

Fiquei sem palavras por um momento. Ele claramente não sabia que eu era a sua futura
namorada, mas isso não me impediu de corar, imaginando Jungkook “adulto” dizendo
que eu era bonita assim, sem rodeios. Geralmente ele era mais tímido, então essa era
uma situação bastante incomum.

Tentando controlar a minha imaginação que já estava voando, mudei de assunto.


— B-Bom, então, você quer fazer alguma coisa, Kookie? — perguntei.

Ele ergueu os ombros em resposta, subitamente tímido. Talvez pelo modo que eu o
chamara.

Maravilha, ainda eram nove horas da manhã e eu não tinha a mínima ideia do que fazer
para entreter uma criança de quatro anos até à noite. Pensei por um momento, sentindo
o olhar fixo de Kook sobre mim em expectativa, o que não me ajudava muito. Então
lembrei de repente de algo que poderia ajudar.

Tentei descer Jungkook do sofá, mas ele teimou dizendo que conseguia sozinho.

Deixei que ele fizesse como queria, mas observando de perto para qualquer
eventualidade. Felizmente, descer era aparentemente mais fácil do que subir, então ele o
fez sem maiores problemas, fazendo-me sorrir e elogiá-lo automaticamente de novo, o
que parecia deixá-lo orgulhoso de si mesmo pelo sorriso que ele me deu em resposta.

Quando comecei a andar na direção do meu quarto, Jungkook me seguiu novamente,


mas desta vez segurou a minha mão, fazendo-me parar ligeiramente surpresa com o seu
gesto. Era um pouco estranho porque eu sentia uma confiança cega vinda dele naquele
gesto, embora ele tecnicamente não me conhecesse.

Segurei a mão dele em resposta, ignorando por hora certos sentimentos se remexendo
dentro de mim, e o guiei até o meu quarto.

Achei o que eu queria debaixo da minha cama: um baú velho de bom tamanho. E senti
um sorriso em meus lábios. Fazia um bom tempo que eu não mexia nele.

Desviei um olhar de canto para Kook e vi que ele fitava o objeto com viva curiosidade.
Não o torturei com isso, abrindo o baú sem muita cerimônia, e o pequeno se inclinou
automaticamente para ver o seu conteúdo.

Havia muito coisa ali: livros infantis, brinquedos antigos, fotos... Dentre outras coisas
da minha infância que eu havia preservado nesse baú. Meu baú de memórias, poderia
assim dizer.

— Você pode escolher qualquer coisa que estiver aqui dentro para brincar, Kookie. —
disse a ele, fazendo-o virar a cabeça para mim com um brilho nos olhos.

— Posso? — indagou como que para ter certeza.

— Claro, qualquer coisa.

Um sorriso empolgado tomou os seus lábios antes de se voltar para o baú cheio de
segredos aos seus olhos e começar a vasculhá-lo. Não demorou muito para ele achar
algo que o interessasse, tirando de lá um jogo de lego que há um bom tempo eu não
tocava.

— Podemos brincar disso, noona, por favor, por favor? — Jungkook se virou para mim,
pedindo de maneira tão empolgada e adorável que negar nem chegou a passar pela
minha cabeça. Era uma pena que eu não tivesse uma câmera para registrar esse
momento.

— Claro, vamos lá para a sala.

— Ya! — ele exclamou feliz, correndo para a sala na minha frente.

Quando eu cheguei à sala, as peças já estavam espalhadas pelo chão, prontas para serem
utilizadas, e Kook me esperava com um sorriso enorme.

De repente lego parecia um jogo tão divertido que eu me peguei pensando por que não
brincava disso há tanto tempo. Sentei de frente para Jungkook e fiquei observando ele
montar uma espécie de boneco até parar de repente e me encarar seriamente.

— Noona, você tem que montar também! — ele disse, e empurrou algumas peças na
minha direção.

— Ah... Mas eu não sei o que montar.

— Hm... — ele pareceu pensar por um momento — Você pode fazer uma casa para o V
hyung.

— Oh, esse é o V? — indaguei, apontando para as peças montadas pela metade em suas
mãos.

— Sim! Depois vou fazer a noona e eu também, então você tem que fazer uma casa
beeeem grande para nós três. — ele falou, arrastando a palavra e abrindo os braços para
demonstrar que tinha que ser grande.

Contive um riso, perguntando-me porque eu tinha que morar com V e imaginando a


loucura que seria. O Jungkook crescido não ficaria nada feliz com a própria ideia,
principalmente por Taehyung ser, entre os outros membros, o que mais me abraçava e
tocava, muitas das vezes na frente de Kook, pelo simples prazer de perturbar o maknae
que se apressava para nos afastar, reclamando do contato excessivo.

— Noona? — o pequeno me chamou quando não o respondi, a cabeça inclinada em


confusão.

Balancei a cabeça, deixando meus pensamentos de lado para dar-lhe atenção.

— Tudo bem, vou fazer uma casa bem grande e bem bonita, então. Mas e os outros
hyungs? V não apresentou você a outras pessoas? — perguntei, provavelmente ele havia
“conhecido” os outros meninos.

— Sim, mas é muita gente para eu fazer, eles podem ser os vizinhos, assim eu não
preciso montar.

— Hahah, tudo bem, então. — falei, mas depois pensei em algo e sorri internamente,
achando que poderia ser engraçado — Você sabe quem é Jimin?
— Jimin hyung menor que todos os hyungs. — ele disse como resposta e eu me segurei
para não rir.

— Ele mesmo, não é melhor colocar ele no lugar do V?

Jungkook foi enfático na sua resposta.

— Não, não. Prefiro o V hyung.

Pobre Jimin, ele não conseguia o respeito nem do Jungkook criança. Eu podia até
imaginar a cena: a alegria de Jimin ao ser finalmente chamado de “hyung” obliterada
por Kook, mesmo sendo menor que ele no momento, apontando o dedo para Jimin e
chamando-o de baixinho, fazendo os meninos ao redor rirem e Jimin se encolher na sua
própria indignação. Esse menino sofria na mão do seu dongsaeng.

— Noona! — exclamou o Kook de repente, fazendo um bico impaciente, e percebi que


estava viajando de novo.

— Opa. Desculpa, desculpa. Já estou montando.

E assim nós ficamos por um bom tempo, porque montar qualquer coisa no lego era mais
difícil do que parecia. A primeira casa que eu fiz foi rapidamente reprovada por ser
pequena demais, parecia até que Jungkook sabia que Namjoon faria visitas e precisava
de espaço para não quebrar nada.

Quando a segunda casa estava sendo finalizada, percebi que já havia passado algumas
horas sem que eu notasse. Eu tinha que fazer o almoço, pois se o apetite de Jungkook
não havia mudado, ele logo sentiria fome.

— Kookie. — chamei sua atenção já me levantando e ele me olhou — Eu vou fazer o


almoço, enquanto isso você pode ficar brincando comportado aqui, está bem?

Como eu não esperava outra resposta além de “sim”, comecei a andar para a cozinha
assim que terminei de falar. E só percebi no meio do caminho que Jungkook estava me
seguindo, de novo.

— Kookie? O que foi? Você quer alguma coisa?

Ele balançou a cabeça negativamente, fazendo o seu cabelo se mexer de um lado para o
outro. Certo. Voltei a andar e, novamente, o pequeno seguiu meus passos.

— Kookie, querido, você pode continuar brincando. — falei, virando-me para ele de
novo.

— Não. Eu quero ajudar a noona.

E, em um estalo, novamente eu senti aquele sentimento novo que começara a surgir


dentro de mim desde que Jungkook aparecera desse tamanho na minha frente.
Sem escolha, permiti que o pequeno me ajudasse, mas achei por bem evitar qualquer
coisa que envolvesse objetos cortantes e fogo, sobrando apenas a tarefa de buscar os
ingredientes na geladeira e armários baixos. Felizmente, isso parecia ser o suficiente
para Kook se sentir útil, porque cada vez que eu pedia algo ele ia correndo buscar e
voltava com um sorriso de quem havia salvado um filhote de passarinho de se afogar na
chuva.

Percebi que estava me divertindo com isso quando o tempo passou tão rápido que, logo,
o almoço estava pronto.

Levei a comida, os acompanhamentos e bebidas para a mesa enquanto Jungkook levou


os pratos e talheres, depois os copos. Arrumei novamente as almofadas na cadeira do
pequeno para que ele alcançasse a mesa e coloquei a quantidade de comida que ele me
orientava, pois eu não sabia ao certo quanto uma criança conseguia comer. Depois me
sentei na cadeira na qual há poucas horas eu estivera observando-o tomar o café da
manhã e me servi também.

Pouco depois percebi a dificuldade de Kook em equilibrar o talher na mão e o próprio


corpo sobre as almofadas ao mesmo tempo, e foi impossível não rir diante dessa cena.

— Não ria! — reclamou ele, fazendo um bico emburrado.

Limitei-me a sorrir para não chateá-lo e, tendo uma ideia, arrastei minha cadeira de
modo que ficássemos lado a lado, então peguei o talher da sua mão. Kook me deu um
olhar confuso.

— Você ajudou a noona, então que tal se a noona te ajudar agora? — propus, pondo um
pouco de comida na colher e erguendo-a significativamente.

Jungkook não pareceu muito satisfeito com a ideia a princípio, apertando os lábios
firmemente, mas ao olhar da colher para mim ele pareceu entrar em um complicado
conflito interno entre ser um menino crescido ou aceitar minha ajuda.

Abri um sorriso satisfeito quando ele separou os lábios ligeiramente e suas bochechas
ficaram vermelhas.

Assim que terminamos de almoçar, o que demorou um pouco, Jungkook disse ter
enjoado de lego, então voltamos ao meu baú de memórias. E durante o resto do dia o
pequeno Kook se dedicou a fazer uso de tudo o que ele achava de interessante, fazendo
questão que eu o acompanhasse em toda brincadeira.

Ao final do dia, depois de comermos o jantar, peguei uma escova de dente nova do meu
armário e uma toalha que eu não usava muito, orientei-o para que fosse ao banheiro
escovar os dentes e tomar um banho.

— Pode fazer isso sozinho? — perguntei, sem ter a mínima ideia do nível de
independência de uma criança de quatro anos.
— Sim, noona. — ele respondeu com um sorriso convicto que me fez acreditar
piamente nele.
Aproveitei que ele estava tomando banho e fui para o outro banheiro fazer o mesmo,
felizmente a louça já estava toda lavada e a bagunça da brincadeira devidamente
arrumada, isso porque Kook fizera questão de me ajudar a secá-la e arrumá-la,
respectivamente.

Se ele era assim quando criança, Jungkook havia sido o menininho mais adorável da
face da terra quando tinha quatro anos.

Quando a água escorreu deliciosamente morna pelo meu corpo percebi o quão cansativo
realmente era cuidar de uma criança e como elas tinham uma energia incrível. Meu
corpo relaxou finalmente e o sono começou a tomar cada pedaço meu de tal modo que
quando terminei o banho, sai bocejando do banheiro.

Parei à porta ao ver Jungkook sentado no chão, curvado sobre alguma coisa — um
papel, talvez? — concentrado o suficiente para não me ouvir quando abri a porta.

Aproximei-me sem que ele percebesse e tentei ver o que ele fazia por trás dele.

Aparentemente, ele estava desenhando algo.

— O que você está desenhando, Kookie? — perguntei.

Jungkook quase deu um salto ao ouvir minha voz, assustando-se, e assim que me olhou,
escondeu o papel o mais rápido que conseguia.

— N-Nada...! — ele respondeu, afoito.

Franzi o cenho. “Nada” com certeza não era, mas como ele me dava um olhar quase
desesperado e parecia disposto a inventar uma mentira para esconder o que desenhava,
resolvi deixar de lado. Devia ser importante para ele.

— Se é assim... Vamos dormir? — falei sorrindo amavelmente.

O pequeno pareceu aliviado ao assentir mais do que o necessário com cabeça.

Reparei que Jungkook ainda estava com a toalha grande demais para ele enrolada no seu
corpo e fui imediatamente procurar uma roupa que pudesse servir nele.

Obviamente eu não tinha roupas de crianças na minha casa, por isso peguei o que tinha
a disposição: uma blusa branca de botões. Franzi os olhos para a peça. Com certeza
ficaria enorme nele, mas pelo menos ficaria confortável.

Quando voltei, o papel que Kook havia tentado esconder a todo custo havia
desaparecido das suas mãos, substituído por outro objeto, o qual reconheci ao me
aproximar como sendo um dos meus livros de conto de fadas que eu costumava ler
quando ainda vivia no Brasil, sem sonhar em pisar em terras estrangeiras, muito menos
na Coréia do Sul.
Ignorei isso por hora e me agachei em frente a JungKook para vesti-lo com o pijama
improvisado. Enquanto eu o arrumava, talvez cansado de esperar que eu comentasse
algo sobre o livro, ele resolveu falar.

— Noona.

— Hm? — murmurei, concentrada em fechar os vários botões.

— Sobre o que é este livro cheio de figuras?

— Ah... Esse é sobre um conto de fadas chamado “A Pequena Sereia”. Fala sobre uma
sereia que se apaixona por um humano e tenta virar humana para poder se aproximar
dele. — expliquei.

— Hm... E porque eu não consigo entender o que está escrito? — ele franziu as
sobrancelhas e olhou para o livro como se, quando menos esperasse, as palavras
magicamente fariam sentido.

Soltei uma pequena risada, terminando de arrumá-lo para dormir, e peguei o livro de
suas mãos, folheando-o a esmo, sentindo o cheiro ligeiramente desagradável que o
impregnara depois de tanto tempo trancado no baú.

— É porque este livro não foi escrito na língua que você está acostumado, mas sim em
português, a língua do lugar onde eu morava quando era da sua idade. — expliquei,
colocando uma mão sobre os seus fios sedosos.

— Hm... — Kook murmurou, colocando uma das mãos no queixo como se estivesse
pensando profundamente a respeito do que eu havia lhe dito — Então a noona consegue
entender o que está escrito ai? — ele apontou para o livro.

— Sim.

— Então pode ler para mim? Quero que a noona leia para eu dormir. Por favor.

Embora eu já estivesse esperando por esse pedido, ainda não consegui deixar de sorrir
bobamente por essa situação. Um sentimento doce se espalhado pelo meu coração.
Meus pais nunca haviam lido contos de fadas ou qualquer outro livro para eu dormir,
pois eram ocupados demais para isso, então conforme eu crescia, em algum momento
da minha vida, pensei no dia que poderia ler uma história para os meus próprios filhos.

Pelo jeito, esse dia chegara mais cedo do que eu imaginara.

— Claro que eu leio. — sorri e envolvi meus braços no corpo pequeno de Kook,
erguendo-o em meu colo. E senti um prazer indescritível nesse pequeno gesto.

Ele deu um gritinho tipicamente infantil de alegria e eu o acomodei na minha cama,


deitando-me ao seu lado em seguida já abrindo o livro em minhas mãos.
— Pronto? — perguntei, e embora eu estive cansada, vi-me ansiosa para perder alguns
minutos de sono lendo para esse pequeno Jungkook que eu estava tendo a sorte de
conhecer.

— Pronto! — ele respondeu animado, aninhando-se debaixo do cobertor.

— “Muito longe da terra, onde o mar é muito azul, vivia o povo do mar...”

(...)

— “E assim eles viveram felizes para sempre.” Fim. — fechei o livro com um som
surdo e soltei um pequeno suspiro, seguido de um sorriso. Fazia muito tempo que eu
não lia um conto de fadas clássico, de modo que, envolvida da história, eu tive que me
policiar várias vezes no meio da leitura para não usar minha língua nativa.

— Então o que você achou da...

Parei no meio da frase ao olhar para o lado e ver que Jungkook estava de olhos
fechados, com a cabeça apoiada no meu braço e respirando lentamente.

Um sorriso automaticamente surgiu nos meus lábios. Eu não sabia em que parte da
leitura, mas ele havia adormecido. E só então eu percebi que, apesar de não demonstrar,
ele também devia estar cansado por ter brincado o dia inteiro.

Tentando ser o mais silenciosa possível para não despertá-lo, levantei-me para guardar o
livro, foi quando senti um pequeno puxão na barra da minha blusa de dormir. Olhei para
trás e vi um Kook sonolento com os olhos quase fechados e um dos seus pequenos
braços estendidos, segurando o tecido da minha roupa entre os seus dedos.

— Não quero dormir sozinho... — ele murmurou com uma voz completamente tomada
pelo sono e considerei seriamente a possibilidade de Kook ainda estar dormindo.

Quase automaticamente joguei o livro sobre o criado mudo, deitei sob os lençóis e
carinhosamente envolvi meu braço livre ao redor de Jungkook, acariciando os seus fios
pretos.

— Está tudo bem, eu estou aqui. Volte a dormir, Kookie. — ninei-o suavemente para o
caso de ele realmente estar falando dormindo.

Logo o senti se aconchegando no meu peito como uma... Criança. E o que ele falou em
seguida me fez paralisar completamente e meu coração emitiu um baque surdo.

— Boa noite... Omma. — pela sua respiração suave, ele caiu no sono em seguida.

“Mamãe”. Essa pequena palavra me afetou de uma maneira inacreditável que eu não
conseguia descrever, apenas senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Nesse momento, eu me dei conta de dois fatos que estavam ocorrendo dentro de mim.
Primeiro, eu finalmente entendi o que era aquele sentimento que havia se remexido o
dia inteiro dentro de mim toda vez que a versão infantil de Jungkook sorria ou olhava
para mim como se eu fosse um modelo a seguir: a vontade de ser mãe. Uma vontade
latente que eu não sabia desde quando estava ali, mas estava.

E agora ela pulsava como um outdoor brilhante na noite escura.

Apesar do súbito desejo maternal que se apossara de mim, eu não queria ser mãe de
Jungkook. Se ele tinha que ser algo, era pai. Pai dos meus filhos.

Esse era o segundo fato que eu compreendera: eu amava Jeon Jeongguk de uma maneira
que eu jamais amara ninguém na minha vida inteira e que, provavelmente, jamais
amaria. Queria viver com ele, morar junto, casar, ter filhos que tinham seus olhos
puxados e amá-lo pela eternidade que me fosse concedida.

Apertei o pequeno Kook em meus braços e, em meio aos meus soluços, desejei
ardentemente que ele voltasse a ser o Jungkook de sempre. Eu amava essa criança, mas
ela não existia na minha realidade. Eu precisava do jovem Jungkook que envolvia seus
braços na minha cintura quando eu estava distraída e distribuía beijos pelo meu pescoço,
mesmo que isso o fizesse corar quando eu me virava para retribuí-lo. Eu precisava do
Jungkook que me amava como mulher.

Com esses pensamentos em mente, deslizei para um sono conturbado, do qual eu


esperava ardentemente acordar e ver meu sonho realizado na vida real.

(...)

— Hm... — os raios do sol irritaram meus olhos mesmo fechados, fazendo-me apertá-
los com força, mas isso não diminuiu o meu incomodo, fazendo-me revirar sob os
lençóis, então me virei na cama para o outro lado, encolhendo-me contra algo que
bloqueava a luz do sol.

Então senti meu corpo ser envolvido por um braço, juntando-me ainda mais contra o
que eu havia me encolhido.

— Está melhor...? — uma voz sonolenta murmurou contra os fios do meu cabelo.

— Hn... — murmurei em resposta e me dediquei a voltar para o meu sono.

De repente, algo estalou na minha cabeça e tudo voltou como uma enchente: V à minha
porta de manhã, Jungkook criança à minha mesa e meu desejo intenso à noite.

Levantei da cama tão rápido que minha cabeça girou, tirando os lençóis de cima de mim
sem qualquer cuidado, então vi Jungkook despertar assustado ao meu lado, arregalando
os olhos e olhando de um lado para o outro como se esperasse ver fogo no quarto.

— O que foi?! O que aconteceu?! — ele perguntou exasperado e deve ter continuado
quando eu não respondi, mas eu não estava ouvindo.

Ele estava ali. Eu mal acreditava em meus olhos. Alto e jovem. A minha blusa que ele
usava como pijama quase não suportava seus músculos em desenvolvimento e vários
botões haviam saído de suas casas, revelando o seu corpo como prova irrefutável: era o
meu Jeon Jeongguk.

Não escutando qualquer palavra que ele estava falando, joguei-me sem reservas sobre
Jungkook, apertando-o e passeando minhas mãos por todo o seu corpo, cada músculo,
cada pequena parte... Com medo de que ele pudesse sumir de repente em uma nuvem de
fumaça.

— Ei... Está tudo bem? — ouvi-o perguntar suavemente ao meu ouvido, talvez
percebendo que havia algo errado no meu modo de agir, e senti sua mão passeando pela
minha costa com clara preocupação — Teve um pesadelo?

Pensei nisso. Não sabia dizer. Um pesadelo regado a sonho, talvez. Ruim e bom.

Do qual eu sentiria falta, mas não me arrependia de ter acordado.

Afastei-me um pouco dos braços de Jungkook, o suficiente para enxergar o seu rosto, e
levei minhas mãos a sua face, tomando-o em minhas mãos com o mais puro deleite
correndo pelas minhas veias e analisando cada detalhe: a curva charmosa dos seus
olhos, os quais me fitavam em clara confusão, a pinta que adornava seu queixo, o
rosado suave dos seus lábios... E gravando tudo no fundo do meu ser.

Com a testa ligeiramente franzida, Jungkook levou uma de suas mãos ao meu rosto e
meus olhos se fecharam automaticamente, sentindo a carícia suave que seus dedos
esguios faziam na minha face. Só então eu percebi o quanto eu realmente havia sentindo
falta disso e quanto medo eu havia tido de não poder mais apreciar essa sensação que
apenas Jungkook me fazia sentir.

— Porque você está chorando? — ele perguntou e foi nesse momento que notei
lágrimas descendo pelo meu rosto. Lágrimas do mais puro alívio.

— Eu estava com tanto medo de nunca mais te ver, Kook. — choraminguei, sentindo
novas lágrimas se acumulando em meus olhos, as quais foram prontamente aparadas
pelos dedos de Jungkook ao escorrerem.

— Medo? — ele franziu a ponte do nariz — Porque você nunca mais me veria? Como
eu poderia sair do lado da mulher que eu amo? — sua mão deslizou do meu rosto para o
meu cabelo ao falar, colocando uma mecha atrás na minha orelha.

E eu fechei os olhos novamente, saboreando suas palavras como se fosse o mais fino
dos vinhos.

— Aliás — notei uma ligeira mudança no seu tom de voz como se ele tivesse se dado
conta de algo — Porque eu estou no seu quarto? — abri os olhos — E porque eu estou
vestido desse jeito? — ele olhava genuinamente confuso para a minha blusa apertada
em seu corpo.

Pisquei duas vezes, era a minha vez de ficar confusa. Fitei fundo nos seus olhos e ele
me devolveu um olhar totalmente sincero de quem realmente não fazia a mínima ideia
do que estava acontecendo.
— Você... Não se lembra? — perguntei, cautelosa.

Jungkook pendeu a cabeça ligeiramente.

— Lembrar o que?

Senti meus olhos se arregalando e meus lábios se abrindo em choque. Ele realmente não
se lembrava de nada que havia acontecido no dia passado.

Ajustei-me no colchão e, pelos próximos minutos, contei a Jungkook tudo o que havia
acontecido no dia inteiro que ele passara como uma criança de quatro anos, aos meus
cuidados.

E ao final da história, esforçando-me para ser o mais fidedigna possível, esperei pela
reação de Jungkook que, até então, apenas me ouvira atentamente. Mas, de tudo que eu
imaginei, ele fez o inesperado: começou a rir.

— Hahah, ai, essa foi a história mais louca que eu já ouvi na minha vida.

— Eh? Mas...

Jungkook me interrompeu, tocando meu rosto amorosamente e me olhando com


compaixão.

— Você deve ter sonhado, essa história é impossível. Como eu poderia voltar a ser
criança?

— Mas é verdade! — retruquei, recusando-me a acreditar que eu havia imaginando tudo


aquilo. Havia sido real demais para ser um sonho — Como você explica estar vestindo a
minha camisa? Dormindo na minha cama?

— Isso é apenas um detalhe e, bom, essa não seria a primeira vez que eu acordo na sua
cama. — ele disse ligeiramente malicioso, não parecendo nem um pouco preocupado
com a lacuna de informações daquela situação.

Engoli grosso na tentativa de não reagir as suas palavras ousadas, não enquanto ele não
acreditava em mim.

— É sério, Kook! Eu não estou louca! — argumentei, fechando as mãos em um punho


de convicção sobre o colchão.

— Eu não disse que você estava. — ele envolveu meus punhos docemente, desfazendo
a pressão dos nós dos meus dedos com o seu calor — Apenas quero que entenda que
você estava sonhando e pare de se preocupar com isso.

Crispei minhas sobrancelhas, sentindo um vinco de formando entre meus olhos


conforme a dúvida tomava conta de mim. Será que eu realmente havia sonhado tudo
isso? Se eu parasse para pensar, essa história realmente não fazia muito sentido. Mesmo
assim...
— Um sonho? — indaguei.

Jungkook sorriu satisfeito.

— Isso.

Baixei a cabeça, sentindo-me perdida. Jamais tivera um sonho que eu não conseguisse
distinguir da realidade, mas, aparentemente, havia uma primeira vez para tudo.

Talvez percebendo o meu estado conturbado de espírito, Jungkook passou uma de suas
mãos pelo meu braço, fazendo uma fricção gentil.

— Aish... Não faça essa cara. — pediu, franzindo o cenho por não saber o que fazer.

Tentei melhorar minha expressão, mas a inconformidade daquela situação não permitiu.
Simplesmente parecia haver algo errado. Girei meu corpo sobre a cama, jogando minhas
pernas para fora do colchão, para não ter que olhar Jungkook de frente, e foi então que
eu vi algo que podia mudar completamente o ângulo dessa situação e tirar, de uma vez
por todas, qualquer dúvida.

Estiquei meu braço e peguei o meu livro que narrava o conto “A Pequena Sereia” que
eu, supostamente, teria lido noite passada para o Jungkook criança. Mas ele não era o
meu alvo, e sim, o pedaço de papel aparente escapando das últimas folhas intocadas do
livro, as quais tinham apenas análises do conto.

Puxei-o do meio das folhas e sorri satisfeita ao constatar o seu conteúdo.

Então me virei para Jungkook, o qual olhou desconfiado o sorriso repentino em meus
lábios.

— Veja isso. — foi tudo o que eu falei, estendendo a folha de papel para ele.

Mesmo sem entender, Kook a pegou.

— O que é isso, um desenho? — ele analisou — Esta parece com você e... Quem é essa
criança? Hm? — finalmente seus olhos se focaram na parte inferior da folha e vi seus
olhos se arregalando gradualmente — Não pode ser. Essa assinatura... Eu usava quando
era criança. Mas essa data...

A data de ontem. O desenho era o qual o pequeno Jungkook havia tentado esconder de
mim na noite passada. E, felizmente, Kook havia sido uma criança metódica, de modo
que assinara e até colocara a data no rodapé da folha. Sem querer, criando uma prova
incontestável de que Jungkook havia, sim, virado criança por um dia.

— Então – ele deu uma pausa, piscando aleatoriamente — É tudo verdade?

— Eu disse que não estava louca. — falei muito satisfeita por provar as minhas
palavras.
Jungkook caiu em uma meditação profunda como se tentasse entender como aquilo era
possível, mas, depois de um tempo, acho que ele chegou ao mesmo beco sem saída que
eu já chegara há tempos, desistindo de achar um sentido naquela loucura.

Aproximei-me dele, sentindo como se um peso tivesse saído dos meus ombros, e
envolvi meus braços na sua cintura, aconchegando-me no seu peito, aspirando o
perfume agradável que se desprendia do seu corpo.

— Se quer saber, você foi a criança mais adorável que eu já conheci. — confidenciei,
rindo discretamente, sentindo a vibração do meu próprio riso no corpo de Jungkook. E,
para a minha surpresa, ele reagiu à isso com um leve tremor.

Senti que um clima diferente havia tomado o quarto e, talvez sentindo o mesmo,
Jungkook me afastou delicadamente com as mãos em meus ombros, olhando em meus
olhos.

— É mesmo? — ele indagou com um tom subitamente grave que me fez morder o lábio
inferior.

Meus olhos baixaram para os seus lábios e percebi Kook fazer o mesmo.

Umedeci meus lábios, sentindo um desejo incontrolável de beijá-lo, como se a


abstinência do dia anterior estivesse fazendo efeito somente agora. Mas sequer precisei
tomar uma iniciativa, Jungkook a fez na minha frente, inclinando-se significativamente
e juntando seus lábios aos meus.

Sempre que Jungkook me tocava de uma maneira mais íntima, meu corpo sentia um
prazer inexplicável do qual eu nunca me enjoava, e agora a sensação percorria o meu
corpo necessitado depois de mais de vinte e quatro horas sem seus toques com ainda
mais força.

Deslizei meus braços da sua cintura para o seu abdômen amostra através dos botões
abertos da blusa, arranhando o local com as minhas unhas conforme o beijo tomava
proporções exaltadas; como se respondesse, senti uma das mãos de Jungkook descer até
a minha coxa e apertá-la ousadamente. E eu me deliciei com a atitude que o tomava
nesses momentos mais íntimos.

Arfei, sem ar, separando nossos lábios quando Jungkook subiu sua mão em minha coxa
pelo short que eu usava para dormir, infiltrando-a por dentro da minha blusa e
agarrando a minha cintura com certa força. Ele sabia muito bem como eu era fraca nessa
região e fazia de propósito, provocando-me com suas unhas que habilidosamente
arranhavam meu ponto sensível, o que me fez arquear de prazer e pender a cabeça para
trás com um gemido arrastado.

Parecendo disposto a se redimir pelo dia anterior, Jungkook não pensou duas vezes
antes de se aproveitar do meu pescoço exposto, depositando diversos selinhos que me
fizeram sorrir. Levei uma de minhas mãos ao seu cabelo, acariciando-o gentilmente,
mas ouvi um resmungo insatisfeito vindo de Kook, como se essa não fosse a reação que
ele quisesse causar em mim.

Então seus doces selinhos transformaram-se em longos beijos, intercalados com suaves
mordidas, e quando ele me sentiu estremecer em seus braços e me remexer inquieta
sobre a cama, inclinando-me instintivamente em busca de mais contato, eu senti o seu
sorriso de satisfação contra a minha pele, seguido do passar da sua língua úmida, como
se redimisse pelas marcas que seus dentes, com certeza, deixavam no meu pescoço.

Minha mão em seu cabelo passou a agarrá-lo com um pouco mais de força que eu
pretendia devido a minha incapacidade de raciocinar normalmente com Jungkook
praticamente desvirtuando a área entre meu queixo e colo com sua boca, mas ele não
parecia se importar com isso. Na verdade, meus puxões como clara demonstração de
descontrole pareciam apenas estimulá-lo ainda mais.

Distraída pelas suas carícias quentes, soltei uma exclamação surpresa quando Kook me
jogou na cama e, em seguida, sustentou seu corpo sobre o meu, fazendo questão de
subir as mãos pela lateral do meu corpo, excitando-me por completo ao arrancar a parte
de cima do meu pijama no processo, jogando-a para qualquer canto e me deixando
completamente nua na cintura pra cima, antes de apoiar suas mãos no colchão.

A minha blusa nele pouco escondia o seu físico e, de repente, fiquei bastante consciente
de que não havia nada o cobrindo além do cobertor frouxo ao redor do seu quadril.
Após se livrar no empecilho em seu caminho, Jungkook percorreu o meu corpo com um
olhar intenso — e isso parecia o suficiente para me fazer incendiar — analisando-me
despudoradamente antes de voltar para me olhar nos olhos, e o sorriso travesso que
brincava em seus lábios alterou o meu ritmo cardíaco.

— Que tal brincarmos de algo um pouco mais adulto hoje? — ele perguntou com uma
voz embebecida de malícia.

Não havia dúvidas que eu sentiria falta da criança que ele havia sido por aquelas poucas
horas, mas eu não tinha condições de viver sem esse Jungkook sobre mim.

Devolvi seu olhar com minha vontade explícita e não achei motivos para dizer não.
Os olhos negros dele me fitavam com astúcia por cima das centenas de peças de
lego espalhadas sobre minha cama e eu me perguntei pela centésima vez por que havia
concordado com aquilo.

Olhar para aquelas peças e Jungkook me fazia lembrar demais da última vez em
que ambos haviam estado juntos. A única diferença era que ao invés de um Jungkook
adulto havia estado sua versão criança.

Ele franziu a testa enquanto encaixava uma peça na parte mais instável da
estrutura e um calafrio subiu por minha espinha por sua expressão compenetrada o ser
exatamente igual ao do pequeno Jungkook que ele me fizera conhecer.

Sacudi brevemente a cabeça, como se assim pudesse me concentrar no presente


momento, e minha distração temporária foi suficiente para que nosso trabalho de horas
se desfizesse em segundos.

Jungkook exclamou em aflição enquanto esticava suas mãos tentando impedir,


mas diante de nossos olhos a construção em que havíamos estado empenhados em
montar desmontou. Peças de lego voaram para todos os lados e a imponente montagem
que criamos se tornou apenas um monte indefinido na nossa frente.

— Você se distraiu. — Jungkook me acusou com um adorável bico de birra em seus


lábios e com a decepção estampada em suas feições.

— Isso não aconteceu por que eu quis. — rebati arriando os ombros e fitando
desanimada a pilha indistinta de peças, por isso não percebi as intenções de Jungkook
embora ele logo tenha me feito ficar muito bem ciente delas.
— Então vou te dar um motivo válido para ficar distraída. — murmurou antes de me
puxar até ele pelos pés, atiçando a cosquinha que sentia no tornozelo, e meu grito
empolgado apenas o motivou a continuar com aquilo.

Quando dei por mim Jungkook havia afastado apressadamente as peças de lego
que restaram sobre a cama, empurrando-as com o braço para o chão de qualquer jeito e
fazendo o barulho ecoar por todo o quarto fazendo parecer uma cascata de plástico,
antes de deitar por cima de mim.

Os dedos dele percorreram minha pele, arrepiando-me com seu toque firme e
confiante, e como se ele soubesse exatamente como me fazer perder completamente as
estribeiras seus lábios atacaram a parte de trás de minha orelha. Um ofegar escapou por
entre meus lábios e senti quando ele sorriu satisfeito sobre minha pele.

Por ele realmente estar abusando de mim resolvi retribuir, afinal, aquele era um
jogo para dois. Enlacei sua cintura com minha pernas e o puxei para baixo, contra mim.
Uma das coisas que mais amava nele era sua capacidade de um momento estarmos
passando o tempo com lego e no outro estarmos rolando ofegantes pelos lençóis.

Ele se moldou à minha vontade, desatento demais para perceber minhas reais
intenções, e quando ele estava próximo o suficiente ondulei minha pélvis contra a dele.
Encontrei certeiramente o ponto duro e excitado nele e meu movimento o fez gemer
prazerosamente contra o meu ouvido. Obviamente que não estava esperando que esse
som me afetasse a ponto de me fazer esquecer que o alvo era ele e não eu.

Rolamos pela cama, envolvidos demais um no outro, totalmente absortos


enquanto nos beijávamos intensamente — os lábios dele me requisitando sem me dar a
chance de escapar ou sequer respirar — que nem percebemos que a extensão da mesma
terminou antes de cairmos no chão.

Ofeguei sobre Jungkook com o susto, mas não me machuquei por ter caído sobre
seu corpo, que me protegeu do impacto. Encarei seu rosto, que fazia uma careta de dor,
e me preocupei que ele tivesse se ferido por minha causa.

— Você está bem? — perguntei afobada e em minha necessidade imediata de garantir


que ele estava inteiro comecei a apalpar todas as partes de seu corpo procurando por
algum osso quebrado.

Estava tão preocupada que não notei para onde minhas mãos seguiam quando
desceram de suas costelas e foram para suas partes íntimas. Jungkook fechou os olhos
brevemente e choramingou quando meus dedos esbarraram com firmeza contra seu
membro ainda entumecido. Sorri mesmo que ele não pudesse ver e dei a ele o prazer
que podia proporcionar.

Moldei minha palma sobre seu sexo e o massageei com lentas puxadas. Ele
mordeu os lábios, totalmente entregue para mim, seus olhos completamente cerrados a
ponto de criar adoráveis rugas ao redor do puxado de seus olhos, e suas mãos em minha
cintura me apertaram a ponto de deixar a marca de seus dedos. Continuei os
movimentos sem pressa, querendo estender aquilo pelo máximo de tempo possível,
antes que ele se desfizesse completamente debaixo de minha mão.

Jungkook estremeceu fortemente ao mesmo tempo que ele abriu a boca numa
muda exclamação enquanto seu membro voltava ao normal debaixo de minha palma e
eu soube que ele havia alcançado o orgasmo. Corei com a expressão de prazer que
tomou suas feições, assim como o suspiro que ele soltou, mas um sorriso surgiu no
canto de meus lábios.

— Foi bom? — questionei, mesmo estando acanhada, enquanto pousava meu queixo
sobre seu peito que descia e subia com sua respiração acelerada e quando Jungkook
abriu seus olhos, revelando que estavam no aspecto de petróleo derretido que tanto
amava não tive dúvidas de que ele gostara.

— Você sempre me faz bem. — declarou com doçura, com a voz rouca e um pouco
fraca antes de abrir um sorriso carregado de ternura e preguiça por conta do ápice em
que o fizera chegar.

Sorri de volta e pousei minha cabeça sobre meu abdômen, ficando abraçada a
ele, e seus braços logo me cercaram em um abraço doce, me mantendo perto dele. Seus
dedos começaram a brincar com a parte sensível de minha cintura, acariciando-me e
com isso fazendo arrepios subirem por minha nuca.

Muitas mulheres reclamariam de não receber em troca uma carícia mais íntima
após ter feito o mesmo por ele, mas se havia algo pelo qual sempre abriria mão do meu
próprio prazer era poder tocar Jungkook dessa maneira.

Ver com meus olhos todo seu corpo se contorcer e chegar ao prazer por contar
do meu toque. Não havia preço. O poder que ele colocava em minhas mãos era
imprescindível.

— Eu queria ficar assim para sempre. — comentou distraído enquanto suas mãos
desciam por meu corpo, distribuindo doces toques, antes de pararem sobre minha
barriga. Fiquei tensa automaticamente.

Faziam meses que a surreal e quase inacreditável situação em que Jungkook


aparecera em minha porta tendo somente quatro anos de idade havia acontecido, mas
todos os dias me lembrava disso.

A imagem do Jungkook em sua versão criança me acompanhava como uma


sombra, confundindo meus sentimentos. O desejo entre ser namorada e mãe me
perseguiam dia e noite, mas eu não estava pronta para ser as duas coisas. Não agora. E
ele sabia disso.
— Não. — pedi segurando sua mão, que estava tracejando círculos suaves e carinhosos
sobre minha barriga. Eu sabia o que ele aquele gesto queria dizer. O que ele, Jungkook,
estava dizendo sem palavras.

Desde o estranho episódio de sua regressão infantil ele estava mais sensível com
esse assunto e também mais receptivo. Muito mais. Haviam tido pelo menos três
ocasiões em que ele dissera diretamente que gostaria de se tornar pai.

Seus gestos, no entanto, já haviam feito com que esse seu desejo se tornasse
incontável para mim. Assustava-me que quanto mais ele expressava esse desejo mais
aumentava minha reação oposta.

Era um temor, no fundo eu sabia disso. Temor de ceder ao que ele queria, que
também era o que eu queria, e quando piscasse os olhos ele voltasse a ser a adorável
criança de quem eu cuidara por todo um dia.

Fora a melhor experiência do mundo, mas também completamente apavorante e


confusa. Se eu estivesse grávida sabia que precisaria dele cada minuto do dia e não
como criança. Eu precisaria do homem que ele era.

— Aquilo não vai acontecer de novo. Fazem mais de meses e eu não mudei mais. —
garantiu decifrando com facilidade meus pensamentos e mesmo sabendo que ele tinha
razão, que não havia nenhum sinal de que aquilo voltaria a acontecer, ainda assim eu
continuava a ter receio. Como uma espécie de presságio. Até hoje não havíamos
encontrado uma explicação embora não estivéssemos esperando exatamente por uma.
— Alguma hora você vai dizer sim. — ele murmurou sobre meu ouvido após suspirar
ao entender minha reação e isso me arrepiou.

Eu e ele sabíamos que era verdade. Mas ele respeitou meu espaço, como sempre.
Afastando meu cabelo para o lado ele depositou um delicado beijo em meu pescoço
antes de se colar em mim, abraçando-me por trás e me mantendo entre seus braços.
Senti seu nariz contra minha nuca.

Por haver coisas demais em minha cabeça demorei a dormir e logo percebi a
respiração de Jungkook desacelerando e ganhando um ritmo tranquilo e suave, que bem
conhecia. Ele havia adormecido. Isso bastou para embalar meu sono, envolvida pelo
calor de seus compridos e musculosos braços.

Quando despertei com o sol da manhã tocando meu rosto não imaginava o que
me esperava, mas logo descobri. Geralmente quando dormíamos juntos eu nunca
conseguia despertar antes de Jungkook, porém, dessa vez, não o encontrei com doces e
suaves carícias sobre minha pele como costumava. Isso atraiu minha atenção, mas não
mais que o pequeno braço que eu sentia agarrado ao redor da minha cintura. Aquele não
era o braço do Jungkook adulto.

Meu sangue gelou nas veias e meu coração disparou. Fechei os olhos com força
como se estivesse presa em um sonho e assim pudesse despertar. Aquilo não podia estar
acontecendo de novo. No entanto, quando voltei a abrir os olhos o braço ainda
continuava ali. Respirando fundo reuni coragem e então girei.

Meus olhos se depararam, pela segunda vez na vida, com a versão infantil de
Jungkook. Ele continuava exatamente igual como da última vez em que vira nessa
forma, mas se possível ainda mais adorável.

Seus pequeninos lábios faziam o mesmo bico que o Jungkook adulto quando
estava dormindo profundamente. Seu pequenino braço continuava grudado em minha
cintura e notei que sua mãozinha estava agarrada na minha blusa com a mesma
posessividade de sua forma adulta. Minha cabeça girou. Aquilo não podia estar
acontecendo outra vez, mas estava.

Contemplei Jungkook em sua forma de criança dormir tranquilamente, agarrado


em mim como se tivesse medo de dormir sozinho e eu fosse sua mãe.

Mãe.

A palavra ficou girando na minha cabeça. Era algo que eu queria muito ser,
especialmente por essa criança. Ela me fizera perceber o quanto o desejo de ser mãe
estava vivo dentro de mim, porém, também comprovou meu terror interno.

E se eu estivesse grávida e voltando a viver essa situação surreal como agora?

Acariciei os cabelos negros de Jungkook incapaz de me manter indiferente,


sentindo a maciez dos fios sobre meus dedos, e suspirei. Mais uma vez ele precisaria de
mim, dos meus cuidados e apoio.

Eu não estava grávida, mas teria a chance de voltar a cuidar de uma criança. Eu
apenas esperava que se repetisse como da última vez e, após o período de vinte e quatro
horas, ele voltasse a ser o Jungkook adulto.

O apanhei em meus braços com cuidado para não perturbar seu sono, tirando-o
do chão por não ser um lugar adequado para uma criança, onde horas atrás havia estado
com sua versão adulta. Corei por lembrar o que havíamos estado fazendo.

Carregá-lo no colo dessa forma me aqueceu por dentro, remexendo com aquele
sentimento maternal adormecido. Deitei seu corpo do lado da cama onde eu costumava
dormir antes de me deitar ao seu lado, pronta para velar seu sono. O deixei vestido
apenas com a camisa, uma vez que a boxer e a calça de moletom haviam escorregado de
seu corpo por serem grandes demais.

Fiquei fitando sonhadoramente seu precioso rosto, imaginando o que causava


sua típica regressão e se ele lembraria de mim quando acordasse, que não sei
exatamente quando voltei a adormecer. Senti apenas quando duas mãos pequeninas me
balançaram suavemente.
— Noona. — a voz de Jungkook criança dizia, me chamando, e com isso me
despertando. Quando abri meus olhos me deparei com seus olhos negros completamente
abertos e despertos.

Um misto de ansiedade, empolgação e dúvida me tomaram enquanto o encarava,


notando que pela sua cara de sono ele não devia estar acordada a muito tempo. E então
me dei conta de que ele me chamara de ‘Noona’, algo que o Jungkook adulto raramente
fazia depois de se tornar meu namorado, mas que indicava que ele se lembrava de mim.

— Você se lembra de quem eu sou? — questionei querendo averiguar o que havia


guardado em sua memória.

Ele franziu a testa para mim enquanto coçava adoravelmente um de seus


olhinhos puxados e bocejava. Seus lábios formaram um fofo “O”.

— Você é a Noona bonita que V hyung disse que cuidaria de mim. — ele me deu
exatamente a mesma resposta quando lhe fizera a mesma pergunta meses atrás e
constatei que a memória dele provavelmente havia parado naquele dia então.

Ele não se lembrava de nada depois daquilo, aparentemente. Para ele, era como
se tivesse fechado seus olhos em um dia e os abertos para o dia seguinte, não meses a
frente. Tive medo por ele, sem saber o que essas regressões poderiam causar nele e
quanto tempo dessa vez ele ficaria nessa forma.

— Noona, você está bem? — ele perguntou me fitando preocupado e notei que eu
estava mordendo nervosamente os lábios.

Me forcei a parar com isso. Não adiantava nada ficar me afligindo. Tudo que
podia fazer era viver aquele momento e dar meu melhor para cuidar dele, como da
primeira vez. Não podia controlar ou influenciar essa situação, podia apenas vivenciá-la.

Então, por hora, me esqueceria de minhas preocupações e agiria como a mãe que
sua versão adulta tanto queria que eu fosse. Pensar nisso fez algo estalar em mim, como
se a resposta para esse mistério estivesse envolvido de alguma forma com isso.

— Noona. — Jungkook murmurou se aproximando e sua mão tão pequenina tocou meu
rosto, tentando atrair minha atenção, e isso desfez o meu fluxo de pensamentos.

A resposta que procurava escapou por entre os fios de meu raciocínio.

— Estou bem. — respondi abrindo um sorriso carinhoso para ele. — Que tal me ajudar
a fazer panqueca deliciosas para o café da manhã?

Minha proposta o empolgou, que soltou um gritinho extasiado, antes de se


levantar rapidamente. Ele pulou alegre da cama, arrancando um sorriso bobo dos meus
lábios, antes de me levantar e segui-lo.

Minutos depois estávamos nós dois na cozinha, no meio de uma verdadeira


bagunça de panelas. Tomando cuidado para não delegar tarefas nas quais ele pudesse se
machucar o deixei encarregado de mexer a massa. Suas bochechas estavam tomadas por
respingos da massa grudenta e seu cabelo negro estava branco de tanta farinha que havia
sobre o mesmo. Ainda não sabia como ele conseguira se sujar tão rapidamente.

Adoráveis vincos tomavam conta de sua testa franzida, entregando sua


concentração. Ele me trouxe a massa, carregando o pote pesado com suas mãos
pequeninas, e me entregou com um sorriso orgulhoso esticando seus bracinhos para
mim. Meu coração se derreteu.

— Muito bem. — elogiei como fizera na outra vez em que estivera com ele e o mesmo
completara com sucesso alguma tarefa. Fui agraciada com seu sorriso empolgado e
repleto com seu aegyo de criança.

Estava prestes a colocar a massa na frigideira quando senti um puxão na aba de


minha camisa. Olhei para Jungkook, que segurava um pedaço do tecido da minha
camisa e se esticava na ponta dos pés.

— Eu quero ver você fazendo, Noona. — ele pediu antes de esticar ambos os braços
para mim e abrir e fechar suas mãos em um claro pedido. Meu coração foi abraçado por
aquela imagem adorável.

Apanhei um banquinho e tomando o cuidado para não deixar muito próximo do


fogão o coloquei do meu lado antes de passar minhas mãos por debaixo de seus braços e
erguê-lo. O coloquei sobre o banquinho e ele sorriu.

Fritei a massa com seu olhar atento sobre mim o tempo todo e não demorou para
que toda a cozinha estivesse com um cheiro delicioso. Coloquei as panquecas uma
sobre a outra em um prato, formando uma pirâmide, conforme ficavam prontas.

Kook novamente esticou seus bracinhos para mim quando me aproximei e o


apanhei no colo com facilidade. Aproveitei para limpar seu cabelo e seu rosto antes de
arrumar várias almofadas sobre a cadeira, para que ele pudesse alcançar a mesa, e o
coloquei sentado sobre elas.

— Noona, eu quero com bastante calda, por favor. — ele pediu educadamente quando
coloquei diante dele um prato com panquecas fumegantes e atendi ao seu pedido
quando despejei sobre elas uma quantidade considerável de geleia de morango.

Cortei as panquecas, lembrando de sua dificuldade com os talheres grandes


demais. Ele franziu o nariz, mas não reclamou. Mas quando ofereci para lhe dar na boca
o pequeno negou firmemente com a cabeça, balançando os fios negros e ultrafinos de
seu cabelo. Deixei que ele comesse sozinho.

O pequeno Jungkook atacou as panquecas com a mesma voracidade que sua


forma adulta teria feito e sorri por comprovar que as semelhanças entre eles
continuavam evidentes. Tinha impressão de que era uma linha muito tênue que os
separava.
O observei comer enquanto também provava as panquecas. Vez ou outra ele
olhava para mim e sorria sem mostrar os dentes com seus lábios completamente
melecados e vermelhos da geleia.

Quando por fim terminamos fiquei pensando por alguns instantes no que
faríamos para passar o dia. No entanto, qualquer plano foi completamente desfeito
quando ouvi o celular de Jungkook tocar no meu quarto.

Com medo de deixá-lo sozinho e ele acabar caindo da precária torre de


almofadas na qual o colocara sentado o coloquei no chão antes de sair correndo.

Pude ouvir seus passos atrás de mim e seu riso animado, considerando aquilo
uma espécie de brincadeira.

Encontrei o celular vibrando e tocando em cima da mesa de canto onde


Jungkook costumava deixar o aparelho, mas ao ver o nome de Taehyung brilhando na
tela petrifiquei. Lembrar da existência dos outros rapazes também me fez lembrar que
eles tinham um importante ensaio hoje. Jungkook havia comentando brevemente algo
sobre isso na noite passada antes de resolvermos nos distrair com lego.

— Não vai atender, Noona? — Jungkook questionou com a testa franzida de confusão
por estar segurando o celular, mas não fazer nenhum movimento para atendê-lo, me
fazendo perceber que ele estava parado bem do meu lado. Ele era rápido.

— O que acha de passear com a Noona hoje? — ofereci evitando sua pergunta enquanto
o celular parava de tocar.

De fácil distração ele soltou um grito alegre com a simples menção do passeio.

Por sempre ter tido temor que ele voltasse a ser criança eu havia tomado
algumas pequenas prevenções secretamente e dentre elas estavam alguns conjuntos de
roupas de criança que havia comprado não muito depois de Jungkook ter voltado a ser
adulto. Parecia que minha ideia enfim viria a ser útil.

Apanhei um dos conjuntos e o entreguei para ele, que obedientemente seguiu


para o banheiro a fim de trocar. Quando ele retornou, vestido nas roupas que caíram
perfeitamente sobre ele, fui invadida por uma emoção que estivera tentando evitar todos
esses meses, mas que com ele aqui outra vez era inevitável.

Orgulho de mãe. Nunca vira uma criança mais linda do que ele.

“Se você aceitasse, ele poderia lhe dar filhos exatamente assim”. — a parte
maternal dentro de mim argumentou, atormentando-me com algo que ela sabia que me
faria ponderar seriamente mais tarde.

— Estou pronto, Noona. — Jungkook disse com seu adorável sorriso repleto de doçura,
inconsciente da minha crise mental, e era óbvio pelo brilho em seu olhar que ele
esperava minha aprovação.
— Quase. Acho que falta uma coisa. — disse fazendo mistério enquanto me agachava
na sua frente, fitando como ele ficara encantador com aquela camisa vermelha listrada,
calça jeans e um par de tênis All Star.

— O quê, Noona? Mas eu coloquei tudo que você me deu. — murmurou olhando para
suas roupas como se esperasse encontrar o que estava faltando.

Estiquei meus braços num claro convite e sem hesitar ele se aproximou, me
deixando que o pegasse no colo. A confiança que ele depositava em mim apenas fazia
arder ainda mais meu instinto maternal.

O coloquei sentado sobre a bancada do banheiro e apanhando um gel que o


Jungkook adulto sempre usava por saber que eu gostava muito da fragrância lambuzei
minha mão sobre o olhar atento dele antes de passar delicadamente em seus cabelos. Ele
ficou quietinho enquanto eu arrumava seus fios e chegou até mesmo a fechar os olhos
como se estivesse gostando da carícia.

Contemplei o pequeno Jungkook completamente entregue aos meus cuidados e


meu coração bateu em um novo ritmo.

Quando terminei o peguei no colo para que ele visse o resultado e o mesmo
abriu um sorriso ao ver seu cabelo arrumado em um penteado estiloso, mas que ainda
assim mantinha seu charme de criança enquanto passava uma mão sobre os fios.

Me arrumei rapidamente, mas quando voltei ao quarto, encontrando Jungkook


esperando sentado na cama fui agraciada com um elogio inesperado assim que seus
adoráveis olhinhos puxados pousaram sobre mim.

— Noona, você está muito bonita. — ele elogiou com toda sua sinceridade de criança e
me vi corando com aquilo. Apesar de sempre estar sendo elogiada por sua versão adulta,
como sempre, era de uma forma mais recatada.

— Obrigada. Vamos? — agradeci com as bochechas rosadas antes de estender minha


mão para que ele viesse comigo.

Ele pulou da cama e rapidamente se juntou a mim, com sua mão pequenina
segurando firmemente a minha palma. Sorri com aquilo. Era um sentimento muito
estranho e muito bom ao mesmo tempo.

Por termos que descer um lance de escada achei melhor levá-lo em meu colo e
ele veio com facilidade. Era impressionante o quanto ele confiava plenamente em mim.
No entanto, foi quando ele envolveu meu pescoço com um de seus bracinhos que tudo
mudou. Naquele gesto tão simples fui tocada profundamente como nunca antes. A
necessidade de ser mãe bateu forte dentro de mim e eu soube que precisava disso mais
do que tudo.

— Para onde vamos, Noona? — Jungkook perguntou, totalmente inconsciente dos


sentimentos que ele estava me causando, ainda abraçado a mim.
— Estamos indo ver o V hyung. Se lembra dele, não? — me limitei a dizer uma vez que
não estava confiando em minha própria voz. Ainda estava muito emocionada.

Ele franziu a testa, como se algo o aborrecesse e não pude evitar de especular a
razão. Pensei que ele gostasse de V, mas a simples menção do mesmo aparentemente
não fora de seu agrado.

— O que foi? Pensei que gostasse do V hyung. — disse olhando curiosamente para ele
que me fitou rapidamente antes de unir os pequenos lábios de desaprovação.

— Noona está muito bonita e V hyung vai notar. — ele revelou contra a vontade,
fechando ainda mais sua expressão, e mal pude acreditar no que estava acontecendo.

Ele estava com ciúmes. Definitivamente ele era o Jungkook por quem me
apaixonara perdidamente. Mesmo pequeno sua posessividade comigo era exatamente
igual, não mudara nem mesmo uma única grama. Um nó subiu em minha garganta e ele
parecia ser feito de ferro puro.

— Não se preocupe. A Noona é apenas sua. — garanti após superar o breve choque e
isso melhorou seu humor imediatamente, especialmente quando depositei um beijo
estalado em uma de suas bochechas que o fizeram corar como também rir.

Caminhei com ele em meu colo até a garagem do prédio, parando na vaga do
meu apartamento. No entanto, ao contrário do carro, uma moto esportiva estava
estacionada. Havia me esquecido por completo que Jungkook, apesar de ainda ter o
carro, estava andando na moto. Não que eu me incomodasse com isso quando me dava a
desculpa perfeita para ter minhas mãos em seu abdômen enlouquecedor.

— Noona, você dirige uma moto? — Jungkook disse admirado, observando com brilho
nos olhos a motocicleta digna da Stock Car. Seu gosto por motos pelo visto continuava
inabalável.

— Acho que vamos ter que pegar um transporte diferente. — disse sem graça,
percebendo o quanto era dependente de Jungkook quando se tratava de locomoção.

Quando estávamos juntos ele me levava para qualquer lugar que quisesse, mas
honestamente, com sua agenda tão apertada não me arrependia de abrir mão de minha
independência para passarmos todo o tempo possível juntos.

Lembrar da vida agitada que ele levava me colocou em movimento e segui para
o ponto de ônibus mais próximo. Senti o celular de Jungkook vibrar repetidamente em
meu bolso, mas não atendi. Seria melhor se os rapazes vissem com os próprios olhos
antes que achassem que eu tinha trancado Jungkook em meu apartamento e o impedido
de sair.

Quando entrei no ônibus muitos coreanos me fitaram com sorrisos amistosos,


observando o carinho com que carregava o pequeno asiático em meus braços. Sentei em
um lugar vazio, deixando Jungkook sobre meu colo, e retirando de minha bolsa
entreguei a ele um pequeno caderno com figuras a serem coloridas antes de também lhe
dar uma caixa de lápis de cor. Entretido com aquilo pude enfim encostar minha cabeça
contra o assento e pensar um pouco sobre tudo o que estava acontecendo.

Por mais que já tivesse passado por aquilo acredito que não havia como me
preparar psicologicamente para isso. Meus braços apertaram suavemente o corpo de
Jungkook, mantendo-o perto de mim, e mesmo o tendo entre meus braços era difícil de
acreditar. Não havia uma explicação plausível que pudesse dizer o motivo disso
acontecer com ele.

Lembrei da estranha sensação de saber do motivo dessas transformações surreais


de Jungkook e forcei meu cérebro a se recordar. Estava tão concentrada que quase
acabei perdendo o ponto em que deveríamos descer.

Segurando firmemente o pequeno mais uma vez em meus braços me levantei e


enquanto esperava que o ônibus parasse fui surpreendida por um elogio totalmente
inesperado.

— Seu filho é muito lindo. — uma senhora que estava próxima murmurou sorrindo
ternamente para mim antes de voltar seus olhos para Jungkook que se segurava em mim
como se realmente fosse meu filho.

Após conseguir despertar do choque e da surpresa inicial fiz uma mensura em


agradecimento e devolvi o sorriso, embora um pouco mais contido. Meus sentimentos
haviam ficado completamente em polvorosa depois de seu elogio.

Mesmo sendo ocidental havia uma ligação muito forte entre mim e o Jungkook
criança que não deixava dúvidas sobre ele ser meu filho, mesmo ele não tendo meus
olhos arredondados.

Desci do ônibus completamente atordoada, tendo cada vez mais certeza de que a
resposta para esse mistério de alguma forma estava ligada com meu desejo em ser mãe.
Antes, na primeira vez que acontecera, fora fácil curtir o momento.

Eu estava descobrindo o que realmente sentia, que estivera adormecido em mim,


mas agora era diferente. Eu sabia muito bem o que queria, estava apenas relutante.

Suas mãos pequeninas brincavam com os fios soltos de meu cabelo, entretido
comigo enquanto refletia sobre ele. Era quase como se Jungkook estivesse em harmonia
com esse termômetro materno dentro de mim, ocasionando sua mudança quando sentia
que esse desejo estava sendo deixado em segundo plano.

Entrei na sede da Big Hit e por ter acesso autorizado não tive problemas para me
infiltrar nos confins da agência musical. Jungkook olhava tudo com extrema atenção,
com seus olhos puxados perscrutando cada detalhe, e ele apontou para todas as coisas
que lhe chamaram a atenção.
Não foi difícil encontrar os rapazes, que estavam reunidos em um dos grandes
salões de ensaios. Me mantive nas sombras por alguns segundos, reunindo coragem, e
quando Jungkook olhou para mim ao notar meu nervoso abri um sorriso para
tranquilizá-lo. Era incrível a conexão que ele tinha comigo. Ele tocou meu rosto com
carinho, meu coração se derretendo com seu gesto.

Quando entrei no palco, carregando o pequeno Jungkook no colo, atrai os


olhares dos seis rapazes reunidos, que pararam de conversar no mesmo instante.

— Você está aqui! Tentei ligar para Jungkook várias vezes, mas ele não atende o
celular. O que ele... — Taehyung começou a discursar antes de seus olhos notarem a
criança em meus braços, o calando imediatamente.

Todos pareciam estar com os olhos petrificados sobre Jungkook e vi o momento


em que eles reconheceram o amigo em sua versão infantil. Todos se levantaram como
se tivessem recebido uma descarga elétrica e logo estava cercada por eles.

Jungkook se agarrou a mim com mais força, suas mãos pequeninas apertando
meu pescoço em um pedido de proteção. O abracei mais forte por reflexo.

— Meu deus, outra vez não. — Namjoon declarou chocado, sendo o primeiro a falar e a
representar a surpresa no rosto de todos.

— Como isso é possível? — Yoongi murmurou com sua língua se prendendo nas
palavras por conta de sua evidente perplexidade enquanto fitava o pequeno como se a
explicação pudesse surgir magicamente.

Jungkook se encolheu ainda mais contra mim quando os meninos se


aproximaram inconscientemente, nos apertando no círculo que formaram.

— Noona. — ele resmungou baixinho, como que pedindo socorro e isso me


descongelou, despertando com toda a força meu instinto materno.

— Rapazes, vocês o estão assustando. Onde estão seus bons modos em recepcioná-lo
assim? — disse numa voz de aço, agindo como uma leoa que protegia com garras e
dentes sua prole.

Eles me encararam como se enfim se lembrassem da minha existência ali e se


dando conta do que faziam recuaram imediatamente antes de fazerem mensuras de
desculpas pela falta de tato.

— Kookie, você se lembra dos hyungs, não? — perguntei apontando para os meninos a
fim de descontrair um pouco a situação uma vez que eles continuavam petrificados.

— V hyung! — ele concordou com a cabeça antes de apontar para Taehyung,


exclamando o nome artístico do mesmo.

Taehyung foi o primeiro a descongelar e voltou a se aproximar.


— Quando aconteceu? — ele perguntou enquanto abria seu típico sorriso quadrado para
Jungkook, que sorriu de volta, entretido com o jeito extravagante do garoto.

— Hoje de manhã, quando acordei. — informei tomando cuidado para não dizer nada
que pudesse chamar a atenção do pequeno e deixá-lo confuso ou perturbado.

Jungkook continuou fitando seu melhor amigo adulto, que esticou suas mãos
num claro pedido, e apesar de sentir sua hesitação em me deixar ele logo foi de bom
grado para o colo de Taehyung. Quando ele se afastou fui cercada novamente pelos
demais.

— Você tem alguma ideia do que possa desencadear isso? — Jin questionou, falando
pela primeira vez, e seu rosto refletia a preocupação que havia nas expressões dos
demais.

— Isso vai atrasar as gravações. O manager não vai ficar nem um pouco feliz. —
Hoseok se manifestou passando a mão na nuca em um gesto nervoso.

Todos me encaravam como se esperassem que eu já tivesse decifrado o enigma


que Jungkook estava representando. Mas a verdade era que eu sabia tanto quanto eles.
Eu tinha apenas uma vaga suspeita do que poderia estar ocasionando, entretanto, era
apenas uma suspeita que não tornaria a situação mais racional.

— Eu não tenho certeza, quando acordei ele já estava assim. — disse a verdade e eles
suspiraram sem esconder que realmente tinham esperanças de que saberia mais do que
eles.

— Bom, temos que seguir com o ensaio. Não podemos esperar que ele volte a ser quem
era. — Suga declarou, tentando mantendo a racionalidade nessa situação.

Antes que os demais pudessem dizer algo mais o choro de Jungkook ecoou por
todo o salão e meus olhos imediatamente procuraram por ele enquanto passava por entre
os rapazes e ia na direção em que Taehyung o levara.

No entanto, ao invés de estar no colo de Taehyung, ele estava nos braços de


Jimin, que eu nem mesmo percebera que havia se aproximado deles. As lágrimas
escorriam pelo rosto de Jungkook enquanto Jimin tentava em vão fazê-lo parar de
chorar.

— O que houve? — perguntei assim que me aproximei deles, sentindo uma agonia sem
fim tomar conta de mim enquanto escutava seu choro. Era como se estivesse sendo
queimada viva.

— Ele estava bem. Até Jimin pegá-lo no colo. Daí ele começou a chorar sem parar. —
Taehyung explicou, parado do lado deles e observando a cena sem compreender.

Jungkook esticou os braços para mim e rapidamente o tirei dos braços de Jimin,
que estava envergonhado e sem graça pela reação do pequeno.
— Eu não fiz nada. Quando eu o peguei ele começou a chorar. — murmurou confuso,
mas qualquer explicação foi desnecessária quando o próprio Jungkook se expressou.

— Noona, como pôde me deixar com o hyung baixinho? — ele disse aos soluços, como
se tivesse sido a pior coisa do mundo que eu poderia ter feito com ele, antes de passar
seus braços ao redor do meu pescoço e esconder seu rosto em meu peito.

Taehyung começou a rir no mesmo instante e eu mesma tive dificuldade para


segurar o riso. Fui obrigada a morder os lábios com força para não cair na gargalhada.
Parecia que Jimin estava destinado a ser eternamente menosprezado por Jungkook,
sendo ele adulto ou criança.

Depois dessa cena épica achei melhor ficar um pouco nas cadeiras da plateia,
assim eles poderiam voltar a ensaiar e eu conseguiria proteger Jimin de qualquer outra
tentativa de aproximação dedicada ao fracasso.

Jungkook se acalmou rapidamente uma vez longe das atenções obsessivas de


Jimin e ficou entretido no meu colo enquanto observávamos os meninos voltarem para o
ensaio. Apesar de ter assistido vários treinos deles nunca me cansava de ver.

Todos eram muito bons e extremamente dedicados. Dos rapazes brincalhões eles
literalmente sofriam uma transformação, assumindo uma seriedade e comprometimento
admiráveis. Quase como se assumissem uma nova personalidade. Senti uma falta
terrível de ver Jungkook junto com eles, mostrando seu talento evidente.

— Eles dançam tão bem, Noona. — Jungkook disse empolgado, sem desviar seus olhos
dos meninos que dançavam em uma sincronia impressionante. — Um dia quero dançar
igual a eles e eu quero que a Noona esteja aqui para me ver.

Sua declaração repentina seguida de suas mãos segurando meus braços, como
que para reafirmar seu desejo de me ter por perto, fez um nó subir em minha garganta.
Como poderia dizer que isso fazia parte do seu futuro? Acariciei seus cabelos e ele
olhou para mim com um sorriso de pura confiança.

— E você vai. Vai ser o melhor de todos, eu prometo. E eu estarei aqui para ver. —
garanti tentando controlar minhas emoções desestabilizadas por essa versão única do
homem que amava.

Seja lá o que estivesse desencadeando suas transformações não poderia


continuar para sempre. Uma hora isso teria que parar. E ele enfim poderia seguir sua
vida, seus sonhos. Era crueldade demais que ele estivesse preso nessa forma de criança,
impedido de vivenciar a vida que conquistara.

Ensinei Jungkook a cantar o refrão das músicas que os rapazes ensaiavam e não
demorou para que ele aprendesse, logo cantando sozinho as partes de que mais gostava.
Ficamos até o final do ensaio, voltando ao palco quando os meninos sentaram cansados
no piso impecavelmente encerado.
Desci Jungkook do meu colo, que não demorou a correr na direção de Taehyung
a fim de brincar com o mesmo. Ele pulou em cima da barriga de Taehyung, que estava
deitado no palco e gemeu de dor teatralmente, o que fez Jungkook cair na gargalhada.

Sentei entre Suga e Jin e abracei as pernas enquanto observava o pequeno se


divertir. Sua alegria era evidente enquanto corria pelo palco com Taehyung atrás dele.
Os dois voltaram quando o mais velho se deu por cansado e sentaram-se atrás de mim.

— Aish, como consegue ter tanta energia? — Taehyung resmungou para Jungkook, que
tentava puxá-lo para voltar a brincar. Seu magnetismo para as crianças parecia estar
ainda mais forte hoje. Ele me olhou divertido antes de piscar os olhos como se somente
agora tivesse percebido algo. — Não tinha notado antes. Você está muito bonita,
Noona.

Corei com seu elogio repentino. Estava acostumada a esperar tudo de Taehyung
por conta de seu jeito imprevisível, mas geralmente tinha Jungkook para me defender da
afeição extrema que seu amigo tinha por mim. O que logo se tornou evidente que não
mudara.

— A Noona é minha. — o pequeno declarou emburrado, não gostando nada do que o


amigo dissera, isso ficando em evidência nos seus pequeninos lábios franzidos.

— Algumas coisas nunca mudam. — Hoseok declarou enquanto os demais riam da


evidente possessividade que Jungkook demonstrava comigo, fosse adulto ou criança,
antes de Taehyung convencê-lo a voltar a brincar.

Os encarei sem saber o que esperar do futuro.

— Tudo vai ficar bem, Noona. Ele logo vai voltar. — Suga prometeu lendo com
facilidade a ansiedade em meus olhos enquanto Jin envolvia carinhosamente meu
ombro com um de seus braços.

Eu apenas podia esperar que eles estivessem certos e talvez o mais saudável
agora fosse aproveitar a companhia inusitada de Jungkook criança ao invés de ficar me
atolando em dúvidas e receios.

Se no dia seguinte ele não voltasse como acontecera da primeira vez então me
permitiria entrar em desespero. Agora podia simplesmente aproveitar o que Jungkook
sempre quisera e eu também: agir como mãe. E não demorou para que precisasse entrar
em ação.

Pela segunda vez no dia escutei o choro de Jungkook e imediatamente olhei para
Jimin imaginando que ele novamente tentara se aproximar, mas vi que ele continuava
sentado na minha frente. Me levantei e vi Jungkook caído não muito longe,
provavelmente por ter escorregado enquanto corria. Taehyung o ajudou a se levantar
enquanto eu seguia apressadamente até eles.
Assim que me viu se desvencilhou dos braços de Taehyung e correu para mim.
O peguei no colo em um átimo, notando que ele machucara o joelho, onde havia um
corte e sangrava. A calça havia se rasgado naquele ponto.

— Está tudo bem, Kookie. A Noona vai cuidar de você. — prometi enquanto ele
chorava no meu pescoço e massageei suas costas para tranquilizá-lo.

— Ela já virou mãe, não é mesmo? Jungkook ia adorar ver isso. — não sei qual dos
rapazes disse isso por toda minha atenção estar voltada para o pequeno em meus braços,
mas amoleceu meu coração mais do que das outras vezes saber que Jungkook havia
comentado sua vontade de me tornar mãe.

Garantindo aos meninos que voltaria logo fui para o banheiro mais próximo e
cuidadosamente coloquei Jungkook sentado sobre a bancada antes de apanhar em minha
bolsa a pequena necessaire que carregava para cima e para baixo.

Peguei um pedaço de algodão, pomada e um curativo.

— Vai arder um pouquinho então você pode segurar na mão da Noona, tudo bem? —
disse esticando minha mão e ele concordou antes de seus dedinhos não hesitarem em
segurá-la com força.

Com a outra mão limpei o corte após subir a barra de sua calça até acima de
onde ele machucara, tirando o excesso de sangue, e Jungkook se encolheu. Seus
olhinhos estavam arregalados, mas ainda assim ele se mantinha atento, observando tudo
que fazia. Sua mão apertava a minha, mexendo novamente com meus sentimentos
maternos.

Terminei rapidamente, passando bastante pomada no ferimento antes de colocar


o curativo. Depositei um beijo sobre o mesmo, fazendo ele rir.

— Pronto. Agora não vai doer mais. — garanti e fiquei surpresa quando ele voltou a me
abraçar.

— Obrigada, Noona. Quero sempre estar perto de você. — Jungkook revelou se


apertando contra mim antes de sussurrar o que me faria perder as rédeas de uma vez por
todas. — Omma.

Meu coração bateu mais forte. A quem eu queria enganar? Desde que conhecera
a versão criança de Jungkook tudo que mais queria era um filho igual a ele. Passara
tanto tempo temendo não me entregar a esse sentimento que não percebera o quão
genuíno ele era.

Se não fosse possível ter um filho igual a ele, se Jungkook ficasse criança para o
resto da vida, eu cuidaria dele com um amor tão forte quanto o que sentira por sua
versão adulta. Mas, mais do que nunca, eu queria um filho dele.
Eu precisava de Jungkook de volta. As lágrimas desceram pelo meu rosto, a
saudade de sua versão adulta batendo forte em mim como ser atingido por um carro em
altíssima velocidade. E foi exatamente quando aconteceu.

Mãos adultas envolveram minhas costas e o corpo de criança foi substituído por
aquele que tão bem conhecia. Jungkook ofegou sobre meu ouvido, sua cabeça pendendo
contra a lateral da minha. Minhas mãos, que segundos antes envolviam sua cintura de
criança, agora envolviam seu corpo adulto. Ele cambaleou e o segurei com firmeza.

— Kook! — exclamei tocando sua nuca, buscando saber se ele estava bem.

Envolvi seu rosto entre minhas mãos e o ergui quando não tive resposta, de
modo que pudesse olhar em seus olhos. Notei que suas roupas haviam se rasgado por
completo, não suportando seu corpo de adulto. Minhas bochechas esquentaram ao me
dar conta de que ele se apoiava contra mim completamente nu.

— Kook. — voltei a chamá-lo acariciando seu rosto com meus polegares e lentamente
seus olhos puxados se abriram. Eles pareciam um pouco confusos e letárgicos, o que me
fez questionar se mais uma vez sua transformação teria passado completamente
despercebida por ele. — Você está bem? Se lembra do que aconteceu?

— Estou bem, apenas um pouco cansado. — declarou com a voz tomada por sono e
preguiça. Ele coçou os olhos como se tivesse acabado de despertar e me olhou com a
testa franzida, como se não compreendesse tudo o que eu estava dizendo. — Me
lembrar do quê?

Contive um suspiro, sem precisar de mais nenhuma resposta. Ao que parecia ele
realmente ficava completamente inconsciente do que acontecia quando virava criança.
Perguntei-me como isso exatamente deveria funcionar, como sua mente adulta poderia
ficar perfeitamente preservada quando essas transformações aconteciam. Mas então me
dei conta de que não importava.

O mistério estava resolvido e ele estava de volta.

Não sabia como era possível nem como tinha tanta certeza, porém, ele voltara
exatamente quando aceitara dentro de mim ser mãe e meu instinto me dizia que isso
colocara um fim nesses estranhos e surreais episódios. A primeira vez fora para me
fazer perceber e a segunda para me fazer aceitar. Estava feito.

— Aconteceu outra vez. Você voltou a ser criança, mas dessa vez por menos de um dia.
Acho que ficou apenas algumas horas antes de voltar. Estamos em um dos banheiros na
sede da Big Hit. — informei, esperando pacientemente que ele assimilasse as
informações.

— Voltei a ser criança? — perguntou surpreso, com os olhos mais atentos, e percebi
que dessa vez ele havia voltado mais confuso do que da primeira vez. Pelo menos ele
acreditava que isso acontecera, diferente de quando acontecera pela primeira vez, antes
dele arregalar seus olhos em preocupação por mim ao se lembra, do quando sempre
andara temerosa de que isso voltasse a acontecer. — Você está bem? Eu... Eu sinto
muito! Eu sei o quanto você estava com medo de que isso voltasse a acontecer.

Abri um pequeno sorriso por sua evidente preocupação sobre como isso havia
me afetado dessa vez e toquei seu rosto enquanto ele focava toda a sua atenção sobre
mim.

— Você está de volta, isso que importa. Mas acabou. Você está aqui. Não vai acontecer
outra vez. — disse convicta e ele arqueou as sobrancelhas sem entender como eu podia
ter tanta certeza de algo até então incompreensível. Entretanto, agora tudo parecia
absurdamente claro diante de meus olhos. — Pode parecer loucura, mas acho que tudo
isso aconteceu para me fazer perceber e aceitar meu desejo de ser mãe.

— E você aceitou? — perguntou com as sobrancelhas unidas enquanto buscava


entender cada peça daquele quebra cabeça.

Concordei com a cabeça, mordendo os lábios para conter minha animação


conforme esperava que ele percebesse o que aquilo significava para nós. Kook abriu os
lábios de choque antes de piscar e sorrir.

— Você quer mesmo. — disse maravilhado enquanto suas mãos tocavam meu rosto e
ele viu em meus olhos a verdade que agora brilhava viva neles antes de se dar conta de
suas roupas quando desci minhas mãos para seu abdômen.

Ou a completa falta delas. Ri com gosto quando seu rosto corou.

— Senti sua falta. — declarei o olhando com ternura, profundamente aliviada por ele ter
retornado e que tornava possível algo mais. O motivo de tudo isso ter acontecido. — O
que acha de te provar que aceitei? — ofereci sedutoramente antes de me esticar na ponta
dos pés e sugar seu lábio inferior.

Ele estremeceu antes de descer seu rosto e capturar meus lábios. Jungkook
precisou de apenas um único milésimo para corresponder a minha proposta, tanto com
os lábios como também com outra coisa localizada nas extremidades baixas de seu
corpo.

Seus braços envolveram minhas pernas e com facilidade ele me colocou sentada
sobre a bancada da pia, onde segundos antes ele havia estado em sua forma infantil e
assim invertendo nossas posições.

E enquanto ele me beijava e me tocava com uma necessidade tão pungente


quanto a minha eu nunca me senti tão bem. Enfim eu estava pronta para ter uma criança
igual a Jungkook, mas agora fruto de nossa junção. Tudo estava como deveria ser.

FIM
Tay L.
19h18min
09/11/2014

Você também pode gostar