Você está na página 1de 24

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3926/a-coesao-textual-no-genero-conto-popular

Planos de aula / Língua Portuguesa / 6º ano / Análise linguística/Semiótica

A coesão textual no gênero Conto Popular


Por: Michele Batista Da Silva / 04 de Janeiro de 2019

Código: LPO6_08SQA07

Sobre o Plano

Este plano de aula foi produzido pelo Time de Autores NOVA ESCOLA
Professor-autor: Michele Da Silva
Mentor: Luciana Soares
Especialista: Silva Albert
Título da aula: A coesão textual no gênero Conto Popular
Finalidade da aula: Explorar contos populares para descobrir como e para que funcionam alguns recursos coesivos mais recorrentes no gênero.
Ano: 6º ano do Ensino Fundamental
Gênero: Conto Popular
Objeto(s) do conhecimento: Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentido provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos. Semântica. Coesão.
Prática de linguagem: Linguística e Semiótica
Habilidade(s) da BNCC: (EF69LP47), (EF06LP12)
Esta é a 7ªaula de uma sequência de 15 planos de aula. Recomendamos o uso desse plano em sequência.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

A coesão textual no gênero Conto Popular

Materiais complementares

Documento
Texto adaptado para impressão - Textos I e II
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/PGpnMctgkYqRSbn4FskyPr7TBaPwy3FKgDqEAqNE9Yp2NcyjXxMgQRh6v7XS/texto-adaptado-para-impressao-textos-i-e-ii-lpo6-08sqa07.pdf

Documento
Atividade complementar - Características dos personagens
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3AknccWJHRf3yW86d9PKnNcgURhKfZ9w3hGFh2ycRqzPrJ9Nx7gMcemFy2PG/atividade-complementar-caracteristicas-dos-personagens-lp06-08sqa07.pdf

Documento
Atividade para impressão - Imagens
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/FP6mQeQJAGaAtFKsARt2CdUwMMFTVJ7TkZktguQR8w4eHk3pyqA3NmjyzPWp/atividade-para-impressao-imagens-lp06-08sqa07.pdf

Documento
Texto para impressão - Palavras mágicas
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/mVjpm34ChWkYpBRuw2G99MJDdjw2Mv2JpmCANUaPKEXXwTDhvCEwTNY6RJuM/texto-para-impressao-palavras-magicas-lpo6-08sqa07.pdf

Documento
Texto para impressão - Quirino, o vaqueiro rei
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/Y73Xz7nfnCD5wCkZv3hFpv2JRGzpH9gfmmSTGPG7ntdB3MSksxyqRDWpnzyC/texto-para-impressao-quirino-o-vaqueiro-rei-lp06-08sqa07.pdf

Documento
Resolução da Atividade complementar - Características do personagem
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/mYYjsYUtgBKbHZs8WxG3qRWTEeCTNe2brafrGh3YmYwzp8BCcpdhyrsqTQbp/resolucao-da-atividade-complementar-caracteristicas-do-personagem-lp06-
08sqa07.pdf

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

A coesão textual no gênero Conto Popular

Slide 1 Sobre este plano


Este slide não deve ser apresentado para os alunos,
ele apenas resume o conteúdo da aula para que
você, professor, possa se planejar.
Sobre esta aula: esta é 7ª aula de uma sequência de
15 planos de aula com foco no gênero Conto
Popular e no campo de atuação artístico literário. A
aula faz parte do módulo de Linguística e
Semiótica.
Materiais necessários: Textos impressos; Caneta
marca-texto; Material para escrita (lápis e
borracha).
Observação: Organize a disposição da sala para que
os alunos trabalhem em quartetos.
Informações sobre o gênero: Contos Populares são
narrativas baseadas em relatos orais. Passadas
“boca a boca” de geração em geração, muitas
vezes são compiladas por escritores, autores,
estudiosos do folclore da região em que a história
se origina. Com o tempo ou de acordo com quem os
conta ou escreve, sofrem modificações.
Dificuldades antecipadas : Alguns alunos podem
apresentar dificuldade em relacionar o uso de
elementos coesivos a seus devidos contextos, por
questão de proficiência leitora ou por não ter o
hábito de ver o texto como um todo coeso.
Referências sobre o assunto:
CASCUDO, L. Contos Tradicionais do Brasil . - 13.
ed. - São Paulo: Global, 2004.
ROMERO, S. Contos Populares do Brasil . MG- Belo
Horizonte: Editora Landy, 2001.
Mecanismos de Coesão Textual. Vídeo (4,24s).
2016. Publicado por Trilhante. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?
v=RvFDfHQjXLA>. Acesso em: 17 out. 2018.
MENDONÇA, Márcia. Glossário CEALE- Recursos
Coesivos. Disponível em:
<http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/recursos-
coesivos>. Acesso em: 16 out. 2018.
Fatores de textualidade - Coesão Textual.
Disponível em:
<http://fatoresdetextualidade.blogspot.com/p/coesao-
textual.html>. Acesso em: 20 out. 2018.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

A coesão textual no gênero Conto Popular

Slide 2 Tema da aula


Tempo sugerido : 04 minutos
Orientações:
Peça aos alunos que escolham os seus lugares de
acordo com a organização da sala (quartetos). A
citada organização tem o intuito de estimular a
atuação e a troca entre os educandos. Esta aula tem
como foco a análise de elementos coesivos na
escrita de contos populares, com o intuito de
observar que estes evitam repetições de palavras
e/ou ideias e representam personagens e/ou
passagem de tempo utilizando-se de recursos
como a sinonímia, a pronominalização, a elipse e
marcadores temporais.
Peça aos alunos que respondam à questão do slide.
“As palavras criam formas, sentidos?”. Espera-se
que percebam que, ao unir-se a outros elementos,
as palavras criam sentidos diversos, formatos
variados.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

A coesão textual no gênero Conto Popular

Slide 3 Introdução
Tempo sugerido : 15 minutos
Orientações:
Entregue aos grupos dois exemplares de contos
populares adaptados (“O jabuti e a onça” e “O
cágado e a festa no céu”).
Solicite a leitura dos textos internamente nos
grupos.
Projete no datashow as atividades referente aos
textos lidos. Enquanto os alunos realizam a
atividade, passe entre os grupos, auxilie-os no que
for necessário, instigue-os a pensar sobre o texto:
“A leitura foi fácil? Foi fluida? Quem era (m) o(s)
protagonista (s)? Algum elemento do texto
impossibilitou sua fluidez? Qual? A passagem do
tempo é explícita no conto? Quais palavras ou
expressões representam essa passagem? Otempo
representado é real ou imaginário?”
Espera-se que percebam que a repetição de
palavras, principalmente a referência aos
protagonistas (no texto 1 a onça e o jabuti e no
texto 2, o cágado) sempre da mesma forma,
“trinca” o texto, deixando-o repetitivo e
impossibilitando assim uma melhor compreensão
do todo. Espera-se também que percebam as
expressões “um dia, uma tarde, durante vários
dias/uma vez, três dias, nos dois primeiros dias,
sempre, como recursos que explicitam a passagem
do tempo, assim como os verbos, flexionados no
pretérito perfeito do modo indicativo ou pretérito
imperfeito do modo indicativo como: caiu,
partiram, foram, pôde, aceitou, etc. Essas
expressões, por representarem os acontecimentos
em ordem linear, de acordo com o relógio, com a
realidade, estão no tempo cronológico.
Proponha a socialização entre os grupos (leitura
dos dois exemplares dos textos, seguida de um
representante de cada grupo para ler as impressões
de seu grupo).
Materiais complementares: Para acessar os textos
(adaptados) escolhidos para esta aula, clique aqui.
Para saber um pouco mais sobre Tempo
Cronológico e Psicológico, clique no link abaixo:
Oficina de Redação - Tempo Cronológico e
Psicológico. Vídeo (2,20s). Publicado por: eniactv3.
(2015). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?
v=TBkxGy0c5_E. Acesso em: 08/12/18.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

A coesão textual no gênero Conto Popular

Slide 4 Desenvolvimento
Tempo sugerido : 23 minutos
Orientações:
Entregue aos grupos cópias dos textos originais,
acompanhados de uma caneta marca-texto.
Solicite a leitura compartilhada, entre os grupos,
dos textos originais.
Proponha que marquem, no texto original, com a
caneta marca-texto, os termos que foram
utilizados para evitar a repetição de palavras e
ideias. Espera-se que marquem as palavras e
expressões: (Texto I- ela- os bichos- ela- vê-los -
a-dela - todos os bichos- ela- dela - ela) ( Texto
II- ele- ele- levá-lo-ele- ela- ele- lhe- ele).
Peça que retornem à primeira frase do texto 1
adaptado. (“Um dia uma onça caiu de cima de um
pau e a onça foi obrigada ficar de cama durante
alguns dias.”) Em seguida, peça que retornem ao
mesmo trecho do texto original (“Um dia uma onça
caiu de cima de um pau e foi obrigada ficar de cama
durante alguns dias.”) e que conversem entre o
grupo: Qual a diferença entre um trecho e outro?
Espera-se que percebam que no trecho original a
expressão “a onça” , antes da locução verbal “foi
obrigada” está implícita, evitando assim a
repetição desta. Explique aos alunos que o recurso
utilizado é denominado elipse, ou seja, quando um
termo ou mais são suprimidos, com a intenção de
evitar repetição, já que é subentendido pelo verbo
ou locução verbal. Mostre a eles que o mesmo
acontece no último parágrafo com a supressão da
expressão “o jabuti”, por duas vezes. Passe entre
os grupos e auxilie-os no que for necessário.
Materiais complementares: Para acessar os textos
originais, acesse aqui.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

A coesão textual no gênero Conto Popular

Slide 5 Fechamento

Tempo sugerido : 8 minutos


Orientações:
Peça a participação de um voluntário para
socializar as respostas de seu grupo quanto aos
termos utilizados para evitar repetição de palavras
e ideias (ver a resposta na orientação 3 do
desenvolvimento).
Questione-os quanto às classes gramaticais das
palavras e expressões apresentadas. Auxilie-os a
chegar à conclusão de que, nestas listas de
palavras, há: pronomes pessoais retos, pronome
indefinido - todos, substantivos - bichos, no caso,
um sinônimo de animal, pronome possessivo -
dela, pronomes pessoais oblíquos - “os” em “los”,
lhe, a.
Solicite que um aluno, de outro grupo, explique
como se dá a passagem do tempo nos textos
analisados (ver sugestão de resposta na orientação
3 da introdução). Auxilie-os sempre que
necessário.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Texto I 
 
O Jabuti e a Onça 
 
Um dia uma onça caiu de cima de um pau e a onça foi obrigada ficar de cama 
durante alguns dias. Como todos os bichos tinham medo da onça, ninguém ia 
visitar a onça e a onça começou até a passar fome. 
Uma tarde o jabuti passou por perto da janela da onça e a onça pediu ao jabuti 
que avisasse a todos os animais que a onça estava à morte e que queria ver todos 
os animais antes de morrer, e despedir-se dos animais. 
O jabuti foi avisar todos os animais. Pouco a pouco, todos os animais vieram 
visitar a onça. Cada um que chegava perto da onça e perguntava se a onça estava 
melhor, ela dizia que sim e... comia o visitante! Assim a onça fez durante vários 
dias, matando a fome e até engordando. 
Um dia o jabuti, que não era nada bobo, foi ver a onça. Antes de entrar na casa 
da onça, porém, o jabuti observou bem as condições de entrada e saída, 
descobrindo que só havia rastros de entrada de bicho e nenhuma de saída. O 
jabuti tratou logo de fugir dali e não quis saber de visitar onça nenhuma.   
 

Adaptado de Teixeira, F. (1959). In: Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro: Estórias e Lendas de 
Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro / Seleção e Introdução de Mary Apocalypse – São 
Paulo: Ed. Edgraf, 1962 
Ilustração: José Lanzellotti 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Texto II 
 
 
Uma vez houve três dias de festa no céu; todos os bichos lá foram; mas 
nos dois primeiros dias o cágado não pôde ir, por andar muito devagar. 
Quando os outros vinham de volta, o cágado ia no meio do caminho. No 
último dia, mostrando, o cágado, grande vontade de ir, a garça se 
ofereceu para levar o cágado nas costas. O cágado aceitou, e 
montou-se; mas a malvada ia sempre perguntando se o cágado via a 
terra, e quando o cágado disse que não avistava mais a terra, a garça 
largou o cágado no ar e o pobre cágado veio rolando dizendo: 
“Léu. Léu, léu 
Se eu desta escapar, 
Nunca mais bodas no céu...” 
E também: “​Arredem-se, pedras, paus, senão vos quebrareis​.” As pedras e 
paus se afastaram, e o cágado caiu; porém todo arrebentado. Deus teve 
pena do cágado e juntou os pedacinhos e deu ao cágado de novo a vida 
em paga da grande vontade que ele teve de ir ao céu. 
Por isso é que o cágado tem o casco em forma de remendos. 
 
 
Este conto anda nas coleções portuguesa, tendo por heróis outros 
animais. No Brasil ouvimo-lo assim. (Nota de Sílvio Romero) 
 
 
Adaptado de: Romero, S.. Contos populares do Brasil. - São Paulo: Ed. 
Landy, 2000. 
 
 
Atividade Complementar- Características dos personagens 

1- Logo abaixo você tem a relação dos personagens principais de cada conto lido 
e  suas  respectivas  características  (adjetivos,  locuções  adjetivas  e  orações 
adjetivas). Relacione- as: 

Texto 1 

a- Quirino 

b- Rosa 
c- Boi 

d- Fidalgo 
e- Rei 

modelo de veracidade   

rico e poderoso   

orgulho do rei   

valente e mimoso   

bonito   

bonita   

barroso   

   
 
Texto 2 
a- Zé Malandro 

b- viajante 
c- Morte 
d- Diabo 
e- Diaba 
 

não era de muita conversa   

gente boa, folgado, pobre...   

muito velho   

malandro que nem ele só   

...um homem estranho, de cara feia,   


chapéu e paletó escuro.  

vestida com uma capa preta   

generoso   

um pobre velho miserável raquítico   


esclerosado caindo aos pedaços 

furiosa   

furioso   

invencível   
 

2- As características dadas a cada personagem, têm relação com as suas ações 


desenvolvidas, no enredo dos contos? Explique: 

___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________ 
3- Caso as características dadas aos personagens fossem opostas/diferentes às 
que estão explicitadas no texto, o sentido dos contos lidos seria alterado? Por 
quê? 

___________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________ 

4- Quando Zé Malandro se intitula como “um pobre velho miserável raquítico 


esclerosado caindo aos pedaços”, qual sua intenção? 

 
 

  

(Banco de imagens) 

https://www.google.com.br/search?q=boi+barroso&hl=pt-BR&source=lnms&tbm
=isch&sa=X&sqi=2&pjf=1&ved=0ahUKEwjj5OTL4PXdAhVQpYsKHfHPC4gQ_AUIDy
gC&biw=1366&bih=501#imgdii=o-iPueST9aI8YM:&imgrc=-e_Qg2gYGUdZMM​: 
 

https://docs.google.com/document/d/1mQfxRTHxqDxYDZviODJwhoLzkKP1F47JY
BOBphJgoFA/edit 

https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=501&tbm=isch&sa
=1&ei=cLu6W5y9GIKgwgSX2LCYBA&q=+Malandro&oq=+Malandro&gs_l=img.3..0
i67k1l4j0l2j0i67k1j0l3.218186.218540.0.219374.2.2.0.0.0.0.193.352.0j2.2.0....0...1
c.1.64.img..0.2.347...0i7i30k1.0.nmjGte9en-E#imgdii=SAfj5zGeP82ksM:&imgrc=Q
NO1HN5KfhVUkM​: 

https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=501&tbm=isch&sa
=1&ei=p7y6W9KLGcXGwASR3bWIAw&q=morte&oq=morte&gs_l=img.3..0j0i67k1l
2j0l7.137313.139409.0.139652.13.9.0.0.0.0.214.822.0j1j3.4.0....0...1c.1.64.img..9.4
.817.0...0.nOE-0pBloHc#imgrc=ufRn0WOgb4jTDM​: 
 

https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=501&tbm=isch&sa
=1&ei=Nr26W8P4EouIwgSEq6CYCw&q=diabo&oq=diabo&gs_l=img.3..0l10.46527
.48694.0.49248.10.10.0.0.0.0.369.1790.0j2j3j2.7.0....0...1c.1.64.img..3.7.1785.0..0i
67k1.0.yjLFl6p5Ox4#imgrc=oQoOnnyFu91pzM​: 

 
 
   

Palavras - chave 
 
Texto I 
 
 
 
 
ela- os bichos - ela- vê-los - a-dela - todos os bichos- ela- dela - ela.  
 
 
 
Texto II 
 
ele - ele - levá-lo-ele - ela - ele - lhe - ele. 
 
 
 
Quirino, o vaqueiro do rei. 

(Retirado de C
​ ontos de Exemplo¹​, de Luís da Câmara Cascudo) 

Era uma vez um Rei que possuía muitas fazendas de gado entregues a vaqueiros 
de confiança. Uma das melhores propriedades era confiada ao Q
​ uirino, q
​ ue 
tinha fama de não mentir. O Rei vivia gabando o
​ vaqueiro,​ apontando-o como 

modelo de veracidade. Essa opinião despertava inveja entre os fidalgos e um 


deles, rico e poderoso, resolveu acabar com a celebridade moral de ​Quirino, 

vaqueiro do Rei. 
Na fazendo de que Q
​ uirino ​se encarregava, o orgulho do Rei era um boi barroso, 

bonito como não havia outro. Cada ano ​o vaqueiro i​ a até a casa do Rei prestar 

contas. 
Chegava, riscando o cavalo e dizia por aqui assim: 

– Pronto, meu amo! Aqui está ​Quirino, Vaqueiro do Rei! 


O Rei perguntava: 

–Como vai, Q
​ uirino? 
– Com a graça de Deus e o favor do meu amo! 

– A obrigação? 

– Em paz e a salvamento. 
– As vacas? 
– Umas gordas e outras magras. 

– O boi barroso? 
– Vai forte, valente e mimoso! 
O fidalgo disse ao Rei que Q
​ uirino ​era capaz de mentir. O Rei repeliu a ideia. 
– Vamos apostar, Majestade? 

– Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas 
leiteiras com os chifres dourados? 
– Está apostado! 
O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou 
a aposta. Por dinheiro Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo 
de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego. 

Rosa se vestiu como uma mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi 
barroso. Encontrou Quirino e conversou com ele, fazendo tanto trejeito, dando 

tanta volta no corpo que o vaqueiro ficou alvoroçado e se apaixonou por ela. 
Ficaram muitos meses vivendo juntos, andando para lá e para cá, no serviço do 
campo. Numa manhã Rosa disse: 
– Quirino, você gosta de mim? 
– Como demais… 
– Quer bem ao seu filhinho que vai nascer? 
– Mais do que a luz do dia! 

– Pois se não quiser que seu filho morra, mate o boi barroso que eu quero 
comer o fígado bem assadinho… 
Quirino ficou assombrado mas obedeceu. Matou o boi barroso e a mulher 
comeu o fígado assado. 
Dias depois era o tempo de o vaqueiro ir até a presença do Rei. Rosa mandou 
dizer ao seu Pai que o boi barroso fora morto. 
Quirino vestiu a véstia de couro, perneiras, gibão, guarda-peito, calçou o guante, 

pôs o chapéu na cabeça, passou o barbicacho, montou no cavalo de confiança e 


galopou para a casa do Rei. 
Foi viajando e pensando. Finalmente avistou o palácio e parou o cavalo. Que ia 
dizer ao Rei: Era melhor preparar a conversa. Deu de rédeas, andou uns passos, 
riscou o cavalo e disse: 

– Chego e digo assim: “Pronto senhor meu amo! Aqui está Quirino, Vaqueiro do 
Rei” – Ele diz: “Como vai, Quirino?” – Eu respondo: “Com a graça de Deus e o 
favor do meu amo!” “A obrigação?” “Em paz e a salvamento!” “As vacas?” “Umas 
gordas e outras magras!” “E o boi barroso?” – Eu faço que estou triste e digo – 
“Saiba el-rei meu senhor que o boi barroso saltou um serrote e quebrou o 
pescoço…” 
Interrompendo-se, falava, alto, indignado: 
– Isto não é palavra de Quirino, Vaqueiro do Rei! 
E, chega não chega no pátio do palácio do Rei, Quirino resolveu a questão. Pulou 
do cavalo, amarrou-o, subiu as escadas, pediu para falar ao Rei. Entrou na sala e 

o Rei estava com o dito fidalgo que fizera a aposta, todo satisfeito, certo de 
ganhar. 
– Pronto, meu amo! 
– Como vai, Quirino? 
– Com a graça de Deus e o favor do meu amo! 
– A obrigação? 

– Em paz e a salvamento! 
– As vacas? 

– Umas magras e outras gordas? 


– E o boi barroso? 

– Saiba o senhor meu amo que o boi barroso deu o fígado para o meu filhinho 

não morrer! 
– Que história é essa, Quirino? 

Quirino contou toda a história e, quando terminou, disse: 


– Assim é que fala Quirino, Vaqueiro do Rei! 

O fidalgo ficou preto de vergonha. O Rei findou dizendo: 


– Quirino, Vaqueiro do Rei, o que eu ganhei na aposta com esse amigo é o dote 

para casares com a mãe do teu filhinho… 

O que estava feito, estava feito. Quirino casou com Rosa e foram felizes como 
Deus com os Anjos. 

Obs: ​Esta é a variante norte-rio-grandense do B


​ oi Leição. O
​ utras versões são o ​Boi 
Cardil e Rabil ​em Portugal e
​ B
​ oi Barroso n
​ a Espanha. 
¹  ​Contos  de  exemplo  reúne  quatorze,  entre  tantas  histórias,  que  Luís  da  Câmara  Cascudo 
pesquisou e registrou durante suas viagens pelo Brasil. São histórias populares carregadas 
de  sabedoria,  entre  elas  estão:  Seis  aventuras  de  Pedro  Malazarte,  O  mendigo  rico,  A 
história  do  papagaio,  Os  quatro  ladrões,  Joãozinho  e  Maria,  e  Quirino,  vaqueiro  do  rei.  A 
leitura  desta  obra  possibilita  conhecer  um  pouco  da  nossa  cultura  popular,  formas  de 
expressão, crenças e valores. 

https://leiturasdiversas.wordpress.com/2017/10/11/quirino-vaqueiro-do-rei-luis-da-camara-casc

udo/​ Acesso em 27 de agosto de 2018.  

 
RESOLUÇÃO - Atividade Complementar- Características dos 

personagens 

1- Logo abaixo você tem a relação dos personagens principais de cada conto lido 

e suas respectivas características (adjetivos, locuções adjetivas e orações 


adjetivas). Relacione- as: 

Texto 1 

a- Quirino 
b- Rosa 

c- Boi 

d- Fidalgo 
e- Rei 

modelo de veracidade  a 

rico e poderoso  d 

orgulho do rei  c 

valente e mimoso  c 

bonito  c 

bonita  b 

barroso  c 

   
 
Texto 2 
a- Zé Malandro 

b- viajante 
c- Morte 
d- Diabo 
não era de muita conversa  c 

gente boa, folgado, pobre...  a 

muito velho  b/a 

malandro que nem ele só  a 

...um homem estranho, de cara feia,  d 


chapéu e paletó escuro.  

vestida com uma capa preta  c 

generoso  a 

um pobre velho miserável raquítico  a 


esclerosado caindo aos pedaços 

furiosa  c 

furioso  d 

invencível  a 
 

2- As características dadas a cada personagem, têm relação com as suas ações 


desenvolvidas, no enredo dos contos? Explique: 

Sim! 

Quando é afirmado que Quirino é “modelo de veracidade”, o interlocutor já 


espera que ele vá falar a verdade sempre. O mesmo acontece quando Zé 
Malandro já carrega uma característica em seu nome e é afirmado que ele é 
“malandro que nem ele só”, ou seja, espera-se encontrar peripécias do 
personagem.  
Personagens secundários também são caracterizados e, através dessas 
características, podemos antecipar uma ideia sobre como reagirão a cada ação 
dos personagens principais.  

3- Caso as características dadas aos personagens fossem opostas/diferentes às 

que estão explicitadas no texto, o sentido dos contos lidos seria alterado? Por 
quê? 

Sim, pois as características dos personagens estão intimamente relacionadas às 


suas ações. Como exemplo temos Quirino, caso ele não fosse um “modelo de 
veracidade”, o interlocutor poderia esperar que ele mentisse ou omitisse fatos 

ao rei. O mesmo acontece com Zé Malandro. Se ele fosse correto, verdadeiro, 


não teria coerência suas ações no desenvolvimento do conto.  

4- Quando Zé Malandro se intitula como “um pobre velho miserável raquítico 


esclerosado caindo aos pedaços”, qual sua intenção? 
 
Sua intenção é persuadir, ou seja, convencer tanto a morte, quanto ao diabo e à 
diaba, de que ele não tem mais forças ou idade para agir, precisando assim da 
ajuda deles e assim, poder enganá-los, sendo malandro mais uma vez.  
 

Você também pode gostar