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.
A rupn,ra opc r;, tla pela literat , 1 ·, j e a apropriacão do idioma
ura pos-co onia ·
, 1
curnp cu para ucscnvolver a expressao - · ·
unagmat1va· na ficcão
, aconteceram
•·' pc.
· ,,::-· 1·nvcst1·gaçocs
- e re fl. exoes
- so bre o mecar · 0 do universo imperial o
nsm '
· · 1 d
m:rn1que1smo por e e a otado, a marnp · u laçao
- constan te do poder e a aplicacão
,
do fator desacreditador na cultura do outro. Talvez pelo fato de ter
sido O mais
extenso e o mais estruturado de todos, o império britânico propo
rcionou ao
crítico uma singular ocasião para ele poder analisar a literatura
escrita em
inglês por povos tão diversos, em circunstâncias geográficas e hi st
óricas tão
diferentes. Nestas últimas três décadas, centenas de livros foram public
adas sob
a rubrica do pós-colonialismo, especialmente pela editora britânica
Routledge.
Editaram-se várias revistas acadêmicas especializadas em pós-colonial
ismo para
a divulgação e a discussão das ideias inerentes ao tema. A editora Heine
mann
tem não apenas coleções de obras críticas sobre a experiência literár
ia pós-
colonial da África (o conceituado African Literature in the Twentieth
Century, de
O. R. Dathorne, abrangendo inclusive a literatura africana em portug
uês e em
francês), mas também publicou, no Reino Unido, a maioria das obras
literárias.
Por outro lado, os livros seminais de Fanon, Ngugi, Achebe, Memm
i, Said e de
outros teóricos continuam tendo várias edições, tal é o interesse sobre
os temas
pós-coloniais.
Editora Ática publicou uma série de autores africanos e os livros ele Jameson,
enquanto Heloísa Buarque de Hollanda organizou a tradução de ensaios de
autores como Bhabha e Said. Poucos são os trabalhos sobre a literatura brasileira
do período colonial que tentam analisar as estratégias coloniais existentes
na literatura e os mecanismos de subversão pelos quais a imaginação poética
experimentou a subjetificação. Raríssimas vezes (por exemplo, os trabalhos das
feministas brasileiras) foi questionada a formação do cânone brasileiro em seus
privilegiados e excluídos. Tampouco parâmetros pós-coloniais foram adotados
para abordar as questões do idioma português e de sua apropriação na formação
da literatura após a independência política e, especialmente, no modernismo
e nos anos que o seguem. Os grandes silêncios e hiatos do indígena e do negro
escravo ou foragido, como também a dupla colonização da mulher, são dignos
de serem apreciados no contexto pós-colonial brasileiro.
A teoria pós-colonial
19
■ O PÓS-COLONIALISMO E A LITERATURA
20
PÓS -COL ONIA L ■
CAP ITUL O I ASP ECT OS DE TEO RIA
resolvidas, com o a
Sem dúvi da, muit as questões aind a não foram
dores e as línguas indígenas; a
relação da língu a euro peia trazida pelos coloniza
ral híbr ida dent ro de uma mes ma
conv eniê ncia das traduções; a influ ênci a cultu
ativas ~rais) com a literatura;
cultu ra e fora dela; a pari dade da oratu ra (narr
ia das instituições (como as
os padr ões de valores estéticos; a impo rtânc
a; a revisão do câno ne literário.
univ ersid ades ) para a prod ução literária e crític
a crítica pós-colonial se
Desd e a sua sistematização n~s anos 1970,
o da literatura prod uzid a pelos
preo cupo u com a preservação e docu men taçã
s' e 'incu ltos' pelo imperialismo;
povos degr adad os com o 'selvagens', 'primitivo
cultural de povos colonizados;
com a recu pera ção das fontes alternativas da força
as pelo imperialismo e man tidas
com o reco nhec imen to das distorções produzid
pelo siste ma capitalista atual.
do inglês, o estu do dos
Vári os auto res perc ebem que, pelo menos no caso
e o desenvolvimento dos impérios
idio mas euro peus com o disciplinas acadêmicas
a. Ambos func iona ram com o
no sécu lo 19 part iram de uma únic a fonte ideológic
ção de valores. No últim o caso,
fatores utili tário s de prop agan da e de consolida
nos acadêmicos conf irma ram a
os valores, o estilo e os parâ metr os inculcados
cons eque nte degradação e total
supe riori dade da civilização europeia, com a
a, cons idera da inferior, primitiva
rejeição de qual quer manifestação cultu ral nativ
e selvagem, dign a de ser extirpada. A tempestad
e e Robinson Crusoé teste mun ham
a europeia, estu dada em seu
tais fatos, com o será disc utido adiante. A língu
port anto , rejeitava as 'distorções
padr ão culto , não adm itia concorrências e,
em. A sedução era tanta, que
não-canônicas' oriu ndas da periferia e da marg
nega ndo
muit os nativos com ecar am a merg ulha r nessa cultu ra. impo rtad a e,
.
'
a padr ão euro peia e a imit ar os
as suas origens, passaram a escrever na língu
coloniais britânicos, instigados
clássicos de sua liter atura . "Os adm inist rado res
21
• O PóS -C OLON IALIS MO E A LITER ATUH A
A prime ira etapa envolve textos literários produ zidos por repre
senta ntes
do pode r colon izado r (viajantes, admi nistra dores, solda
dos e esposas de
admi nistra dores coloniais). Tais textos e repor tagen s,
com detal hes sobre
22
CAPITU LO I ASPECT OS DE TEORIA PÓS-CO LONIAL •
CL)srt ltl1es , fauna, flora e língua, dão ênfase à metrópo le em detrime nto da
23
■ O PÓS -CO LON IALI SMO E A LITE
RATURA
Deslocamento e linguagem
24
-
C APITULO I ASPECTOS DE TEORIA PÓ S-C OLONIAL ■
Colonialismo e feminismo
25
• O PÓ S - C OLO NIA LI SM O
E A LI r E RA fUR J\
-. -rrc n )
~1: . 11ng
. u1s, -r·c
\' ~b t''.'.: pcritnc'n r:H;:10
" (ASHC ROTT; GRIFFlTH
1 ·~
· S·' TIFFI""1
t\l,
1~N"': fü.,N Nl C l, 1998c) .
26
CAPITUL O I ASPECTO S DE TEORIA PÓS-COLONIAL ■
Ah-rogação e apropriação
27
• O PÓS-COLONIALISMO E A LITERATURA
.~ . . . ·f
ht'm (orno d~ :-li:\ e.xicrencrn de fixar o s1g111 ica do das palavras. É um momento
du descoloni:acào do idioma europeu. A apropn•a,cão é um "processo pelo qual
b
. . · so da experiência da cultura
ú 1d1oma é apropriado e obrigado a carregar O pe
O cânone colonial
28
CAPITULO I ASPECTOS DE TEORIA PÓS-COLONIAL ■
29
Descolonização
1
_j
ÇAPlTlJLO I A S PECTOS DE TEORIA PÓ S- COLONIAL •
lí rcr{iríoi, rcfor1,; nt,t.;ii !~"> cur(>pcu (.'. ;.JCJ outro, e os clituJos de Jarne~op, Bhahha e
Spí-vitk (BENSON; CONOLLY, 1994) i,; ob rc o ímpacto J a íd eologí a na formação
Ju i,uícíw w lm1íal, Jcbatcm form.,-11~ pel_an quain a r, ubjetífícação Jo colonizado
podcr:11,1; r.mrw r rcalíuaJ -.;. j,Hnaí1, i'í e pode ei;queccr que a J ei;colonizaçào é o
prnà:rí!') O (Jf)C),.;ícíon íi,i-a Ç(Jnt:ra a domínaçào., "uma verd adeira criação de homens
novos 1. .. 1 nfto ,.; e ori14ín;1nJo de algum poder sobrenatural, purque o objeto qu e
foí colw, íza,J o to rna-1,c r c~sua Jurante o mes mo processo em qu e se liberta"
(FANON, 1990, p. 252).
A reinterpretação
31
• O PO S- COLON
I .\\..I SM O E A U ER ATU RA
.
lm guag em. a ar ru ga- no -·a ::, a rossc de territó
... • - rio alheio executadas
- por p .
~o metifurns do dom r~ P'ttei
ínio coloni:ado r. a su
bm.Í5sã o to rç:ada. o
Clstii:_;o, â
reLt'd_,ill
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a e o u-: - o d" lm·ou
0
~
ao ~
em para amaldicoar pe rte
•
·
nc em ao colonizado C
~l ·L. -
(BON1'11Cl, 1993b)_ <111t_rã
Na mama linha, en co nt
r~ e o ro m an ce ap ar en
te m en te in óc uo \i ansfi
Park (1814), de Jane dd
Austen. que, atraxés
de urna estratégia de
colonial , poderá re wl leitura p~
ar certos fatores ou tro
ra ocultos. As bases ec
familias abastadas e da onômicas das
sociedade afluente ing
lesa, m ud as e em-oltas
são fatores demmciam em silencio
es do tráfico de escraY '
os e do lucro au fe rid
escraYo em An tig ua , o do tra balho
engendrados po r Sir Th
o mas Be rrr am , o tio da
Fa nny. A afirmação protagonista.
de Yasmine Goonerarne
em se u discurso "H ist
an d Litera11 'fictions' orical 'truths'
" (apud AS HC RO FT
; GRIFF1THS; Tl f" IT
193) , de que a leitura \ , 1991 , p.
e reinterpretação pó K
ol oniais do romance
privilegiar esses silên poderão
cim e torná~los os an
úncios m ais im po rta
re al m en te abre camin nt es do texto,
hos noYos. Além de m
encionar o silêncio de
(1995) faz semelhante Austen, Said
critica no caso de Ca m
us. ~o caso da literatu
An ch ie ta , na peça Na ra bras ileira ,
festa de Soo Lo urenço (1
587), tra nsfe re o Welc
eu ro pe u sobre demon anschammg
ologia , alteridade e mar
ginalização ao indígena
polariza a dicotomia co brasileiro ,
loni.zador-<:oloni.zado e
justifica a objetificaçio
(BON N IC I, 1996c) . do nativo
A segunda estratégia
refere-se à reescrita, ou
seja, "a retomada de
literárias do câ no ne obras
l...] para a reesrrururação das
'realidade s' europeias
te rm os pós-coloniais. em
A finalidade não é a rev
ersão da or de m hierár
in ter ro ga r os pressupo quica , mas
sto s filosóficos sobre
os quais tal or de m es
(ASHCROFT; G Rl ff tava baseada"
iT H S; T lf fiN, 1991,
p. 4). Exemplos clássico
são os romances Wide s da reescrita
Sargasso Sea (1966) , da
escritora do m in ic an a
(1890-1979) a pa rti r Jean Rhys
de Jane Eyre (1847), de
Ch ar lo tte Br om e (18
Foe (1986), do escritor su 16-1855) , e
l-africano J.M. Coetzee
(n. 1940), a pa rti r de
Crusoé, de Daniel De Robinson
foe (1994), origi.naria
mente publicado em
Sargasso Sea desenvolve líl 9. \Vide
os eventos do romance
de Br om e sobre a espo
de Mr. Rochester tranc sa 'crioula'
ada no só tão. Antoinett
e narra sua história de
pr at ic ad a pelo seu m espoliação
arido in glês na fazenda
dela no Caribe. A de
gradação e
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CAPITULO I ASPECTOS DE TEORIA PÓS-COLONIAL •
submissão forçadas de Antoinette por seu marido, até sua deportação para
Thornfield Hall, tornam-se o fator emblemático de encontros coloniais. O
incêndio da mansão mostra a resposta da mulher 'colonizada' diante da
arrogância e domínio do europeu (BONNICI, 1994; ABRUNA, 1988). Em Foe,
o narrador não é mais o inventivo e prático Robinson Crusoé, mas uma mulher
inglesa chamada Susan Barton. Desterrada numa ilha, ela encontra um pacato
e desanimado Cruso e seu escravo, o africano Friday. Cruso morre durante a
viagem de volta à Inglaterra. Na metrópole, Susan tem dois problemas: transmitir
a sua narração da estada na ilha a um elusivo escritor Mr. Foe e arrancar do
mudo Friday a sua história. Ambas as tarefas tornam-se quase impossíveis: a
primeira por causa da pretendida manipulação da história por Mr. Foe e a
segunda pela incompreensão do europeu diante de singulares manifestações
'literárias' empreendidas por Friday. O romance avança na problemática posta
pelo romance original e discute o silêncio do colonizado, a possibilidade de fala
após uma história de brutalidades cometidas pelos europeus, o relacionamento
entre o colonizador e o colonizado, as modalidades não-canônicas d'e fala e
escrita, a manipulação da história pelo europeu e a subversão gentil (o conceito
de sly civility, discutido por Bhabha) do subalterno (BONNICI, 1995).
33
1
• O PÓS-COLONIALISMO E A LITERATURA
· ·to pos-co
O SUJet · loma
· l representa do na 1·1ter:1tur,1 11.. .'.L·ttl)''I'••
........ ·., vn, e :issitn possa
u
34
CAPITULO I AS PECTO S DE TEOR IA PÓS - COLONIAL•
povoam os romances, os rituais rdigi osos e a estn1tur,1 civil dei sociedade, que
formam o arcabo uço ela narrntiva e o substrato histórico, revelando aspectos
cio iníci o da colonização, indi cam uma tentativa Je resgate da civilização
que os europeus diziam não ter existido. Para cssn finalidade, comparam-se
as teorias propostas por Frantz Fan<m (1925-J961) e Ngugi wa Thiong'o (n.
1938) sobre o tema ela cultura no contexto da desco lonização, da luta para a
libertação nacional e cio surgimento ela literatura naci onal.
1... 1 o
intelectual nativo rea lmente demonstra haver assimilado
a cultura do poder colonizador. Seus escritos correspondem
exatamente, ponto por ponto, aos temas e às formas literárias do
país colonizador. Sua inspiração é europeia e facilmente pode-
se ligar essa obra às tendências definidas na literatura do país
colonizador (FANON, 1990, p. 178-1 79).
35
• O Pó~•GúLôNl í\l i~Mí) C A LI TE RATURA
i,m\1'' ~FAN~ )N, I\J9l\ p, 171)), Ness0 L'Stl1gl(), rfn li zn-se também o contato de
\ln\ ~nrn1k fl\lllh'I\) ,,.1 ~ t·s
,k nnth',,s l'liff\ HS l\' ll 1lll!\l .. dn opressão colonial, e tal fat
e 0
l' li l\'1':\rhl,
A ênfase sobre n cultura naci onal é uma reação e uma estratégia diante
da negnçfo dn culrura e das atividades culturais engendrada pelo poder colonial
qu1.: atingiu todos os povos colonizados. A dominação colonial existiu para
convencer ns na tivos de que a proposta colonial nada mais era do que banir
a escuridão da inexistência da cultura na sun vida e esclarecê-los sobre a única
culturn, :1 europeia, que eles, quisesse1n ou não, teriam de assimilar. "O nativo
que decide combater as rnentiras coloniais luta no continente inteiro" (FANON,
1990, p. 172). Porém se as pessoas de cultura africana insistem mais na cultura
continental (por exemplo, a africana) do que na cultura nacional (por exemplo,
a nigeriana), essa atitude pode levá-las a um beco sem saída, Lutar por "uma
cultura nacional significa, em primeiro lug·-u lutar pat··\ l'b t - J acão
aL1ude ponto estratégico Lllle torn·1 po " 1 ,1
e e e a I er açao
'
d
1 11 e. ' <
1 ºª 1
36
CAPITULO I ASPECTOS DE TEORIA PÓS-COLONIAL ■
37
1
• O PÓS-COLONIALISMO E A LITERATURA
38
CAPITUL O I ASPECTO S DE TEORIA PÓS-COLONIAL ■
rhc English Departm ent" (1972), Ngugi coloca propostas concretas contra
0 1·
39
l'd de social e
■ o PÓS-COLONIALISMO E A LITERATURA
- afasta da rota i a
1 .. 1 ocidental, .se 1 , . ossi,vel
. ma cu tUtcl der", à qua e imp
do continamento no siste •
. ·d . 1 "microfísica dopFo icault, contemporaneo
. . . .
aprox11na-se do md,v,duo absot v1 pe
.
°ª
arece que oL , .
tanto, p . , I forta lece o prestigio da
resistir (FOUCAULT, 1977, p. 26). Pot . ador irres1sttve e
1
de Fanon, representa o movimento co ontzc
cultura ocidental e do sistema que a contém. teoria crítica da Escola
. _
·1· b. a dom · 1nac ao, a • I' ta e a práxis
Apesar de sua ana 1se so te ' . ·, • icia ..
ant1-1rnpena is _ E _
.
de Frankfurt não diz nada sobre a teSi.stei í sa essa< pos1 cao. xcec ao
b as ( 1986) comes '
·
•
f •
publ1 ç.1( 1n \k t\ ~m l 195 5), mud ou para a França, em 1956. Subsequ entemente ,
puhli\'()ll L · scorfJio n ou la con[e.ssion imagina ire ( 1969), Le désert ( 1977), Le pharaoh
l lq~~) e uma coleção de poemas intitulada Le mirliton du ciel ( 1989). Sua obra
:soc iológica mais influente foi Portrait du colonisé précédé du portrait du colonisateur
(1957) (MERRlAM,WEBSTER, 1995).
Le portrait
Os condenados da terra
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