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P(0,0,z) z

b r
d
3
𝑚  C/m


y

a x

P(x,y,z)

I
r+ r+

r r

z
q q

𝑥 r- r-

𝐴×𝐵  

d d O


d/2cos

-q d/2cos
-q
𝑧 𝑦 (a) (b)

𝐵
l2

N1 N2 l2 l1

𝐴
2
Copyright © 2020 Farshad Yazdani
Publicado por
.com
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
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torização, por escrito, da....
Primeira edição, Abril 2020
4
Autor

O autor graduou-se em engenharia de telecomunicação na universidade SYU


no Irã em 1990. Seu Tcc foi sobre desenvolvimento, modelagem e a fabrica-
ção de um sistema de amostragem mecanizado a base de microprocessadores.
Fez o mestrado em sistemas de telecomunicações, também no Irã, na univer-
sidade KNT em 1994, em que na dissertação foi abordado sobre um sistema
de reconhecimento de padrão a base de redes neurais. Em seguida, come-
çou a ensinar no Departamento de Engenharia Elétrica em uma universidade
particular no Irã. Seis anos depois, entrou no curso de doutorado em fí-
sica de materiais condensadas no laboratório de fotônica na Universidade de
Brasília-UNB, com a orientação do professor Unezio de Souza Thoroh, cujo
ao longo da sua pesquisa com caracterização de diodos de poços quânticos,
fez doutorado sanduíche com o professor Anderson Gomes no Laboratório
de fotônica do departamento de física em 2002, na Universidade Federal de
Pernambuco-UFPE, pesquisando sobre fabricação de grade de polarização
em cristais de Niobato de Lítio. Após finalizar o doutorado entrou no pro-
grama de recém doutor no laboratório de átomos frios, com a orientação do
professor Cláudio Lenz Cesar, na Universidade Federal do Rio de Janeiro-
UFRJ. Logo depois, iniciou sua participação no programa de pós-doutorado
na Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, com a orientação do profes-
sor Joaquim F. Martins-Filho, sobre fabricação de Células Solares no início
e, posteriormente, a caracterização e modelagem de transmissão de alta taxa
de solitons em fibras ópticas. Logo depois, passou no concurso de professor
visitante e em seguida, no concurso do professor efetivo na Universidade Fe-
deral de Sergipe-UFS no Departamento de Engenharia Elétrica-DEL, desde
então presente lecionando nesta mesma instituição. Ele aproveitou a oportu-
nidade de capacitação e entrou no grupo de pesquisa no Centro de Pesquisas
Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologias na universidade de
Mackenzie em São Paulo.

5
6
Dedicação

Dedico esse livro aos meus alunos ao longo da trajetória de aprendizagem,


principalmente os da Universidade Federal de Sergipe-UFS, que mostram
interesse procurando-me para esclarecer assuntos e questões. Um obrigado
sincero a (...) pela assistência, também um obrigado sincero a (...), pelo (...)
e por fim, um muito obrigado a toda minha família, em particular à minha
esposa Joice, pela atenção e encorajamento constantes, sem os quais não teria
sido possível escrever este livro.

7
8
Agradecimento

9
10
Sumário

I Análise Vetorial 27
1 Álgebra Vetorial 29
1.1 Operações Aritméticas Vetoriais Gráficas . . . . . . . . . . . . 30
1.2 Sistemas de Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.2.1 Sistema de Coordenadas Cartesianas . . . . . . . . . . 35
1.2.1.1 Operações Aritméticas . . . . . . . . . . . . . 38
1.2.2 Sistema de Coordenadas Cilíndricas . . . . . . . . . . . 40
1.2.2.1 Operações Aritméticas . . . . . . . . . . . . . 41
1.2.2.2 Conversão de Coordenadas . . . . . . . . . . 42
1.2.3 Sistema de Coordenadas Esféricas . . . . . . . . . . . . 46
1.2.3.1 Operações Aritméticas . . . . . . . . . . . . . 47
1.2.3.2 Conversão de Coordenadas . . . . . . . . . . 48

II Eletrostática 53
2 Técnicas de Análise 55
2.1 Lei de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.1.1 Distribuição Linear, Superficial e Volumétrica . . . . . 59
2.2 Potencial Elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.2.1 Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.2.2 Potencial Elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.3 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.3.1 Divergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.3.1.1 Divergência em Coordenadas Cartesianas . . 72
2.3.1.2 Divergência em Coordenadas Cilíndricas . . . 74
2.3.1.3 Divergência em Coordenadas Esféricas . . . . 75
2.3.2 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.4 Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

11
12 SUMÁRIO

2.4.1 Técnica da Separação de Variáveis . . . . . . . . . . . 91


2.4.2 Separação de Variáveis/ Coordenadas Cilíndricas . . . 96
2.4.3 Separação de Variáveis/ Coordenadas Esféricas . . . . 101
2.4.4 Solução Numérica da Equação de Laplace . . . . . . . 104
2.5 Método das Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
2.5.1 Condutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
2.5.2 Método das Imagens... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

3 Materiais Dielétricos ... 121


3.1 Materiais Isolantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
3.2 Análise de Campo Elétrico... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
3.2.1 Técnica de Análise ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.2.2 Materiais Dielétricos ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
3.2.3 Passagem de Campo ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
3.3 Energia Eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
3.4 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
3.5 Força Eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
3.6 Projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

III Magnetostática 171


4 Técnicas de Análise 173
4.1 Lei de Biot-Savart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
4.2 Lei de Ampère . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
4.2.1 Rotacional e Circulação . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
4.2.1.1 Rotacional em Coordenadas Cartesianas . . . 181
4.2.1.2 Rotacional em Coordenadas Cilíndricas . . . 182
4.2.2 Lei de Ampère . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
4.3 Potencial Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
4.4 Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
4.4.1 Divergente do Potencial Vetor Magnético . . . . . . . . 198
4.4.2 Laplaciano Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
4.4.3 Potencial Escalar Magnético . . . . . . . . . . . . . . . 202

5 Materiais Magnéticos... 205


5.1 Efeito Microscópico... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
5.1.1 Dipolo Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
5.2 Campo Magnético... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
5.2.1 Lei de Ampère Modificada . . . . . . . . . . . . . . . . 223
5.2.2 Potencial Escalar Magnético . . . . . . . . . . . . . . . 229
SUMÁRIO 13

5.2.3 Materiais Magnéticos Lineares . . . . . . . . . . . . . . 232


5.2.4 Método de Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
5.3 Circuitos Magnéticos Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
5.4 Cir. Mag. Não-Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
5.5 Condições Contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
5.6 Autoindutância ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
5.7 Energia Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
5.8 Projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260

IV Campo Elétrico e Magnético Variável no Tempo 263


6 Eletrodinâmica 265
6.1 Análise de campo pela Lei de Faraday... . . . . . . . . . . . . 266
6.1.1 Lei de Lenz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
6.2 Dispositivos Eletrodinâmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
6.2.1 Geradores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
6.2.2 Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 276
6.2.2.1 Como fazer um Transformador . . . . . . . . 279
6.2.3 Leitor/Gravador de Fitas/Discos Magnéticas . . . . . . 281
6.2.4 Alto Faltante Eletrodinâmico . . . . . . . . . . . . . . 282
6.2.5 Anel Voador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282
6.2.6 Freio Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284
6.2.7 Forno a Indução Magnético . . . . . . . . . . . . . . . 285
6.2.8 Recarga Sem Fio de Baterias . . . . . . . . . . . . . . 286
6.3 Projetos dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287

7 Ondas Eletromagnéticas 291


7.1 Técnicas de Análise das Ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
7.1.1 Meio não Condutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295
7.1.2 Meio Condutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
7.2 Características da Onda Eletromagnética . . . . . . . . . . . . 298
7.2.1 Impedância do Meio de Propagação . . . . . . . . . . . 300
7.2.2 Polarização da Onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303
7.2.3 Potência de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
7.3 Condições de Contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
7.3.1 Incidência em Dielétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
7.3.2 Incidência em Ferromagnético . . . . . . . . . . . . . . 314
7.3.3 Incidência em Ferromagnético/Condutor . . . . . . . . 315

Apêndice A Derivativas de Vetores 323


14 SUMÁRIO

Apêndice B Regras de Multiplicação 327

Apêndice C Teoremas 329

Apêndice D Tabelas 331

Apêndice E Tabela de Integrais e Fórmulas 339

Índice Remissivo 349


Lista de Figuras

1.1 Representação de deslocamento de um objeto sob efeito de


uma força. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.2 a) Representação de dois vetores A ⃗ e B.,
⃗ b) Soma dos vetores.
c) Soma de vetores pelo método do paralelogramo. . . . . . . 32
1.3 a) Inversão do vetor A. ⃗ b) Representação da subtração de
vetores. c) Representação da i) Amplificação, ii) Atenuação
do vetor A.⃗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.4 Representação gráfica do trabalho ′ W ′ resultante da força F⃗
e do deslocamento L. ⃗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.5 A direção do produto vetorial A ⃗ ×B ⃗ pela regra da mão direita. 34
1.6 Determinar sentido e a direção do terceiro eixo . . . . . . . . . 36
1.7 Representação de um ponto P (x0 , y0 , z0 ) em coordenadas re-
tangulares e versores x̂, ŷ, ẑ definidos neste ponto. . . . . . . . 37
1.8 Representação da troca cíclica de versores em coordenadas
cartesianas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.9 Representação de um ponto P (r0 , φ0 , z0 ) em coordenadas ci-
líndricas e versores r̂, φ̂, ẑ definidos neste ponto. . . . . . . . . 41
1.10 Integral do versor φ̂ ao longo da circunferência do circulo de
raio a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.11 Representação de um ponto P (r0 , θ0 , φ0 ) em coordenadas es-
féricas e versores r̂, θ̂, φ̂ definidos neste ponto. . . . . . . . . . 46
1.12 Integral do versor θ̂ ao longo da superfície de um esfera de
raio a e ângulo φ constante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

2.1 Representação do efeito de n cargas elétricas em um ponto P


do espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.2 Esquema de escolha de uma elemento infinitesimal de carga
se houver distribuição: a) Linear ou 1D, b) Superficial ou 2D,
c) Volumétrica ou 3D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

15
16 LISTA DE FIGURAS

2.3 a) Distribuição linear de cargas elétricas ao longo de um fio


com densidade linear de ρl C/m. b) Escolha de coordenadas
e a origem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.4 Campo elétrico na altura h de uma distribuição de cargas
superficiais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.5 Uma distribuição volumétrica de cargas elétricas no raio a. . . 64
2.6 a) Superfície infinitesimal necessária para achar a divergên-
cia de um campo vetorial E ⃗ em um ponto. b) Coordenadas
cartesianas definidas e a numeração das seis faces do volume. . 72
2.7 Representação gráfica de uma superfície fechada infinitesimal
para cálculo do fluxo total em coordenadas cilíndricas. . . . . 74
2.8 Representação gráfica de uma superfície fechada infinitesimal
para cálculo de fluxo total em coordenadas esféricas . . . . . . 76
2.9 Volume finito para aplicar a definição de divergência de um
campo vetorial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
2.10 Fio longo com densidade de carga ρl junto com uma superfície
Gaussiana (S.G.) escolhida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.11 Folha grande com densidade de carga elétrica ρs C/m2 . . . . . 81
2.12 Cabo coaxial longo com as densidades de carga ρsa e ρsb C/m2
na superfície do núcleo e na casca, respectivamente . . . . . . 82
2.13 Duas esferas concêntricas de raios ”a” e ”b” com as cargas
superficiais Q e −Q, respectivamente. Ilustração de uma su-
perfície Gaussiana com raio r > a. . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.14 Uma esfera com densidade de carga superficial ρs C/m2 . . . . 84
2.15 Duas placas paralelas com a distância d e a diferença de po-
tencial V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.16 Cabo coaxial com diferença de potencial V0 entre núcleo e casca. 88
2.17 Duas placas semi infinitas com ângulo interior α conectadas
em uma fonte de tensão V0 . Existe um gap isolante entre os
semi planos no ponto de intersecção. . . . . . . . . . . . . . . 89
2.18 Duas esferas de raio a e b > a conectadas a uma fonte de
tensão V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
2.19 a) Dois cones concêntricos identificados por θ = α1 e θ = α2 ,
onde α2 > α1 , conectados a uma fonte de tensão V0 . b) Um
cone com a tensão V0 e uma folha plana aterrada. . . . . . . . 91
2.20 Tubo retangular aterrado com uma tensão V0 em uma extre-
midade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
2.21 Duas placas metálicas paralelas a uma distância a . . . . . . . 95
2.22 Tubo longo com interseção retangular de metal e a conexão
de fonte de tensão V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
LISTA DE FIGURAS 17

2.23 Cubo metálico com 5 faces aterradas e a fonte de tensão V0 é


conectada ao último lado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.24 Tubo retangular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.25 a) Cabo coaxial com a secção transversal quadrada. b) Divisão
de espaço entre dois condutores por células quadradas de lado
∆x = ∆y. c) A matriz equivalente dos potenciais dos nós de
M linhas e N colunas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
2.26 a) As posições das cargas extras em um condutor. b) Um
condutor sob efeito de um campo externo. . . . . . . . . . . . 109
2.27 Uma carga q dentro da cavidade de um condutor. . . . . . . . 111
2.28 a) Um condutor plano grande e uma carga elétrica pontual na
altura h do plano. b) O modelo equivalente. . . . . . . . . . . 112
2.29 Uma carga pontual Q entre dois condutores semi infinitos com
a interseção de 90°. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
2.30 a) Uma carga pontual na frente de um condutor esférico. b)
O modelo equivalente pelo método das imagens. . . . . . . . . 116

3.1 a) Modelo atômico de Bohr sem presença de campo elétrico


externo, b) Alterações possíveis na estrutura do átomo sob
efeito de um campo elétrico externo. . . . . . . . . . . . . . . 123
3.2 a) Dipolo elétrico de duas cargas opostas q separadas por dis-
tância d. b) Ponto P distante em relação a d (r ≫ d), e troca
de linhas cruzadas por linhas paralelas. . . . . . . . . . . . . . 125
3.3 Consideração de um segmento infinitesimal de um dielétrico
polarizado com densidade vetorial volumétrica de momento
de dipolo P⃗ C/m2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
3.4 a) Esfera dielétrica de raio a polarizada na direção z. A den-
sidade P⃗ = P0 ẑ C/m2 . b) Carga de polarização induzida na
superfície da esfera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
3.5 a) Dielétrico cilíndrico polarizado ao longo do seu eixo, unifor-
memente. b) Campo elétrico distante do cilindro. c) Quando
altura do cilindro é muito menor que o seu raio. . . . . . . . . 134
3.6 Fio capado reto com densidade de carga ρl C/m. O diâmetro
da borracha é 2a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
3.7 Comprimento l de um cabo coaxial longo com espaço preen-
chido por um material dielétrico entre núcleo e casca a < r < b.136
3.8 A interface entre dois dielétricos lineares com permissividade
ϵ1 e ϵ2 . A superfície Gaussiana e elo fechado escolhido para
estudar a continuidade dos componentes do campo. . . . . . . 144
18 LISTA DE FIGURAS

3.9 a) A carga q na proximidade de um material dielétrico. b)


O modelo equivalente para encontrar o campo na região de
permissividade ϵ1 . c) O modelo equivalente para encontrar o
campo na região de permissividade ϵ2 . . . . . . . . . . . . . . 146
3.10 Procedimento de reunir as cargas pontuais em um corpo para
encontrar a energia necessária. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
3.11 Um cabo coaxial de raio interno ’a’ e raio externo ’b’, compri-
mento l e a tensão aplicada de V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
3.12 Análise da capacitância de um corpo a partir da soma das
capacitâncias ou da soma do inverso das capacitâncias dos
segmentos infinitesimais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
3.13 Um capacitor de placas paralelas preenchido com um dielé-
trico linear. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
3.14 Um capacitor de placas radiais com ângulo α preenchido com
um dielétrico linear. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
3.15 Um capacitor de dois cones concêntricos com ângulos α1 e
α2 e comprimento ’a’ e espaço entre eles preenchido por um
dielétrico linear com permissividade ϵ. . . . . . . . . . . . . . 162
3.16 Um capacitor de um cone com ângulos α e o plano infinito.
Espaço entre cones é preenchido por um dielétrico linear com
permissividade ϵ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
3.17 Um dielétrico linear parcialmente inserido entre duas placas
de um capacitor de placas paralelas. . . . . . . . . . . . . . . 163
3.18 Bomba eletrostática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
3.19 Projeto de gerador de eletricidade estática por meio de atrito,
conhecido como gerador Van de Graaff, realizado por Saulo. . 166
3.20 projeto de gerador de alta tensão eletrostática de 4 kV, reali-
zado por próprio autor do livro em 2007, utilizando multipli-
cador de tensão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
3.21 projeto de um gerador de alta tensão eletrostática de 4 kV,
realizado por autor do livro em 2007, utilizando um transfor-
mador elevador e dobrador de tensão. . . . . . . . . . . . . . . 167
3.22 projeto de um detector de campo eletrostático, utilizando um
transistor FET com canal n e outro de canal p como sensor
de campo realizado por Gustavo de Almeida Siqueira, em 2006.167
3.23 Projeto de um medidor de campo eletrostático a base de sen-
soriamento da corrente de FET, realizado por Isla Almeida
Oliveira/ Thiago Lião dos Santos, Italo Gonçalves Gomes em
2018. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
3.24 Projeto de um precipitador eletrostática do ar realizado pelo
Leonan Figueredo Fernandes, em 2018. . . . . . . . . . . . . . 168
LISTA DE FIGURAS 19

3.25 Projeto de alta falante eletrostático realizado por Lazaro Silva


de Castro, Paulo C. Menezes martins, Leandro S. da Silva, em
2018. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

4.1 Representação de campo magnético gerado por um segmento


infinitesimal de corrente elétrica em um fio. . . . . . . . . . . 175
4.2 Representação de campo magnético gerado por um segmento
infinitesimal de corrente superficial, isto é, K ⃗ A/m. . . . . . . 176
4.3 Representação de campo magnético gerado por um segmento
infinitesimal de corrente volumétrico J⃗ A/m2 . . . . . . . . . . 177
4.4 a) Campo magnético na altura h de um fio reto onde per-
corre uma corrente I A. b) Para um segmento dl′ do fio, as
coordenadas e origem são escolhidas. . . . . . . . . . . . . . . 178
4.5 Campo magnético ao redor de um fio reto por onde percorre
uma corrente I A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
4.6 Corrente superficial K ŷ A/m. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
4.7 A relação de direção de rotacional e o plano de circulação. . . 181
4.8 Representação de circulação no plano yz no sentido anti ho-
rário ao longo de um caminho infinitesimal nas coordenadas
cartesianas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
4.9 Representação da circulação em coordenadas cilíndricas para
a) Componente r de rotacional. b) Componente φ de rotaci-
onal. c) Componente z de rotacional. . . . . . . . . . . . . . . 183
4.10 Aplicação da definição de rotacional para uma superfície finta. 185
4.11 Corrente que percorre um fio longo como fonte de campo mag-
nético. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
4.12 Campo magnético gerado por uma corrente superficial K ⃗ (A/m).
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
4.13 Campo magnético gerado pela corrente I que percorre em um
solenoide com N espiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
4.14 Campo magnético gerado por uma corrente I que percorre um
toroide com N espiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
4.15 Campo magnético gerado por uma corrente que percorre um
cabo coaxial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
4.16 a) potencial vetorial A ⃗ para uma corrente elétrica I que per-
corre um fio reto. b) Escolha de origem, coordenadas e ele-
mento infinitesimal de corrente. . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
4.17 Potencial vetorial gerado pela corrente que percorre um sole-
noide longo com N espiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
4.18 Potencial escalar magnético ϕ gerado por uma corrente que
percorre no núcleo de um cabo coaxial. . . . . . . . . . . . . . 204
20 LISTA DE FIGURAS

5.1 a) O estado estável dos elétrons no átomo. b) Caso extremo,


onde B ⃗ é perpendicular ao plano do orbital do elétron no
sentido oposto de m.⃗ c) Caso extremo onde B ⃗ é perpendicular
ao plano do orbital do elétron no mesmo sentido de m. ⃗ . . . . 206
5.2 Um anel de corrente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
5.3 a) Esfera rolante com a velocidade ω rad/s com a densidade
de carga superficial ρs C/m2 como a modelagem do spin do
elétron. b) Dipolo magnético parcial resultado da passagem
de corrente ∆I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
5.4 a) Situação de distribuição de domínios de spin em um mate-
rial ferromagnético não magnetizado. b) Situação de distribui-
ção de domínios a partir da aplicação de um campo magnético. 213
5.5 Potencial vetorial magnético de um material com densidade
de momento dipolo magnético M ⃗ A/m. . . . . . . . . . . . . . 216
5.6 Um ímã esférico de densidade vetorial de dipolo magnéticos
M⃗ A/m constante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
5.7 a) Um ímã cilíndrico de comprimento b e de raio a, com den-
sidade vetorial de dipolo magnéticos constante M ⃗ A/m ao
longo do eixo principal. b) Cálculo de campo distante do ímã
r2 ≫ ab. c) Quando o raio é muito maior que o comprimento
do cilindro, i.e. a ≫ b. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218
5.8 Uma esfera magnetizada com a densidade de dipolos magnéti-
cos M ẑ, correspondente com uma corrente superficial M senθ′ φ̂.219
5.9 a) Curva de histerese de um ferromagnético duro. Ciclo com-
pleto de magnetização é dividido por vários trechos. b) Curva
de histerese de um ferromagnético duro. c) Curva de histerese
de um ferromagnético doce. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
5.10 Um toroide com 500 espiras, 4A de corrente, e raio médio de
15cm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
5.11 Circuitos magnéticos lineares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
5.12 Circuitos magnéticos lineares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
5.13 Circuito magnético com dois enrolamentos. . . . . . . . . . . . 245
5.14 Curva característica magnética de Ferro fundido, Aço fundido,
Aço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
5.15 Toroide com um núcleo não linear. . . . . . . . . . . . . . . . 246
5.16 Interface entre dois meios magnéticos diferentes. . . . . . . . . 248
5.17 Interface entre dois meios magnéticos, onde a corrente super-

ficial Kpercorre na direção x. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
LISTA DE FIGURAS 21

5.18 a) Corrente I percorrida em um meio magnético µ1 , e em pa-


ralelo com um material magnético µ2 . b) Configuração equi-
valente para achar as fontes do campo H ⃗ no meio magnético
µ1 , i.e. x > 0. c) Configuração equivalente para achar as
fontes do campo H ⃗ no meio magnético µ2 , i.e. x < 0. . . . . 250
5.19 Dois circuitos percorridos por duas correntes continuas I1 e I2 . 252
5.20 Acoplamento de dois solenoides concêntricos e longos percor-
ridos por duas correntes distintas I1 e I2 . . . . . . . . . . . . . 255
5.21 Indutância mútua entre um toroide e um fio que o atravessa. . 256
5.22 Indutância mútua entre um fio longo e um fio em formato
triangulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
5.23 Indutância mútua entre um fio longo e um fio em formato de
triangulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
5.24 Indutância mútua entre um fio longo e um fio em formato de
circulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
5.25 Solenoide de comprimento l e área do núcleo s, e a permeabi-
lidade do núcleo µ, percorrido por uma corrente I. . . . . . . . 258
5.26 Força de atração entre um fio de corrente e uma espira qua-
drada de corrente, nas proximidade. . . . . . . . . . . . . . . . 259
5.27 Força de atração magnética sobre uma peça ferromagnética. . 261
5.28 Medidor de campo magnético a base de efeitos hall realizado
por ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
5.29 Locomoção de um Trem em tubo de fio com base na força
Lorentz, realizado em 2018 por José G. Andrade Leal, Nícolas
H. Gomes da Silva, Luiz E. da Silva lemos, Victor Moura
Almeda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262

6.1 a) Circuito elétrico se movendo com a velocidade ⃗v dentro


de um campo magnético. b) Campo magnético móvel para
esquerda com a velocidade ⃗v . c) Campo e circuito em repouso,
enquanto o campo é variável no tempo. . . . . . . . . . . . . . 267
6.2 a) Um ímã cilíndrico longo de comprimento l e raio a se mo-
vendo com a velocidade vẑ na direção de um anel. b) Fluxo
magnético que atravessa o anel. c) A tensão induzida no anel. 271
6.3 Indução de corrente na bobina no momento de liga ou desliga
do circuito 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272
6.4 Disco de Faraday. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
6.5 a) Estrutura de um gerador de corrente alternada. b) Visão
de um gerador de outro ângulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 276
6.6 Estrutura geral de um transformador. . . . . . . . . . . . . . . 277
6.7 Estrutura básica de um cabeçote magnético. . . . . . . . . . . 282
22 LISTA DE FIGURAS

6.8 Estrutura de um Anel voador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283


6.9 a) Estrutura básica de um freio magnético. b) Fenômeno de
amortecimento do movimento do pêndulo metálico quando
atravessa um campo magnético. Cortes no pêndulo reduzem
o efeito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
6.10 Estrutura de um forno a indução. . . . . . . . . . . . . . . . . 286
6.11 Estrutura de um recarregador sem fio de baterias. . . . . . . . 287
6.12 Recarga sem fio feito por alunos. . . . . . . . . . . . . . . . . 288
6.13 Protótipo de um forno elétrico feito por alunos. . . . . . . . . 288
6.14 Protótipo de um detector de metais, feito por alunos. . . . . . 289

7.1 A relação da densidade de corrente com a velocidade de des-


locamento das cargas elétricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293
7.2 Onda eletromagnética propagante no meio não condutivo com
amplitude invariável i.e. onda plana. Nos planos a amplitude
do campo elétrico e magnético não varia. . . . . . . . . . . . . 297
7.3 Polarização da onda eletromagnética propagante na direção z.
a) Polarização horizontal, onde o eixo x é paralelo a superfície
da terra. b) Polarização vertical. c) Polarização linear. d)
Polarização elíptica, rotação sentido horário . e) Polarização
circular. f) Polarização elíptica, o sentido de rotação é anti-
horário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304
7.4 Geração de uma onda com a polarização circular. a) Rotação
sentido direito, i.e. (RHCP). b) Rotação sentido esquerdo, i.e.
(LHCP). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304
7.5 Padronização do IEEE para a) Polarização à direita. b) Po-
larização à esquerda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305
7.6 Rotação à direita do campo elétrico ao redor de uma trajetória
elíptica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 306
7.7 Continuidade da onda eletromagnética. . . . . . . . . . . . . . 312
7.8 Onda incidente à superfície de um dielétrico. . . . . . . . . . . 313
7.9 Onda incidente à superfície de um ferromagnético. . . . . . . . 315
7.10 Onda incidente à superfície de um condutor. . . . . . . . . . . 316
7.11 a) Onda com a polarização circular à direita incidente à super-
fície de um condutor ideal. b) Polarização esquerda da onda
refletida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318
7.12 Possíveis ondas planas incidentes obliquamente a superfície de
um meio diferente. a) Polarização linear em geral. b) Polari-
zação linear com campo elétrico incidente paralelo a superfície.
c) Polarização linear com campo magnético incidente paralelo
a superfície. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319
Lista de Tabelas

2.1 As possíveis respostas do Laplaciano. . . . . . . . . . . . . . 92


2.2 As possíveis respostas da equação de Bessel e do Potencial
elétrico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2.3 As possíveis respostas da equação diferencial de Legendre. . 102
2.4 As possíveis respostas da equação de Laplace em coordena-
das esféricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

D.1 Tabela de Constantes Físicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331


D.2 Susceptibilidade Elétrica dos Materiais. . . . . . . . . . . . . 331
D.3 Rigidez Dielétrica dos Materiais. . . . . . . . . . . . . . . . . 332
D.4 Condutividade Elétrica dos Materiais; σ. . . . . . . . . . . . 333
D.5 Susceptibilidade Magnética dos Materiais em Temperatura
de Ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
D.6 Bitola(AWG) dos fios de cobre para utilizar em transforma-
dores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 334
D.8 Tabela de Abreviações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335
D.7 Espectro Eletromagnético. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338

E.1 Identidades Trigonométricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342


E.2 Variáveis complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343
E.3 Tabela de integrais com funções trigonométricas. . . . . . . . 344
E.4 Tabela de integrais com frações. . . . . . . . . . . . . . . . . . 345
E.5 Tabela de integrais com raízes. . . . . . . . . . . . . . . . . . 346

23
24 LISTA DE TABELAS
PREFÁCIO

Este Livro é resultado de mais de 16 anos de ensino de disciplina de


eletromagnetismo, ministrada no Departamento de Engenharia Elétrica da
universidade KNT- Irã e também na Universidade Federal de Sergipe- UFS.
A disciplina de Eletromagnetismo é uma disciplina que necessita de uma base
de conhecimento sobre análise vetorial. Senti que os alunos ainda tem certa
dificuldades de acompanhar os assuntos relacionados com campo vetoriais.
Infelizmente as maiorias dos livros não possuem uma revisão sobre o assunto
focada em eletromagnetismo, dificultando ainda mais acompanhamento dos
alunos. Isto me motivou a juntar as peças de quebra cabeça, e tentar trazer
os assuntos de um jeito contínuo, ligando um ao outro, de forma a man-
ter as ligações dos assuntos da mesma maneira que meus alunos conseguem
acompanhar na sala de aula.
Este livro possui no total 7 capítulos com um cronograma para que o
aluno consiga entender as etapas, que serão feitas ao longo do tempo na
ciência relacionada. No primeiro capítulo será apresentada a revisão da te-
oria básica de análise vetorial. As operações aritméticas tais como soma
e diferença, amplificação e atenuação e a multiplicação dos vetores serão
apresentadas. Inicialmente, as operações serão feitas graficamente que em
continuação, apresentação de coordenadas sistematiza-las. Os exercícios são
selecionados para ter algumas relações com análises do campo nos próximos
capítulos. Portanto, recomendamos resolver todos exercícios deste capítulo,
ajudando que o leitor seja preparado para entender melhor as formulações
nos próximos capítulos.
O segundo capítulo é dedicado ao primeiro descoberto humano na área de
eletromagnetismo chamado Eletrostática. Neste assunto, tentaremos escla-
recer os efeitos experimentais que foram utilizados para fazer a modelagem
do campo elétrico. Um campo vetorial devido de presença estática de cargas
elétricas no espaço, ou seja, o campo vetorial é variável em função de posi-
ção, e é invariável em relação ao tempo. Serão apresentadas as técnicas para
modelagem e análise de campo elétrico. No próximo capítulo, falaremos de

25
26 LISTA DE TABELAS

comportamento de materiais, com a presença de campo elétrico e as altera-


ções necessárias nas técnicas de análise do campo elétrico. No final, serão
apresentadas as técnicas para o cálculo da energia eletrostática ou energia
necessária para carregar um corpo. Logo logo chamaremos este corpo de
capacitor, e usaremos as técnicas para achar a capacitância de um corpo
qualquer.
O quarto capítulo é dedicado aos efeitos magnéticos, devido a passagem
de cargas elétricas com velocidade constante. Como o campo é invariável no
tempo, o chamaremos de magnetostática. Neste capítulo, será apresentadas
as tecnécias de análise de campo magnético. Em seguida, no Quinto capítulo,
falaremos sobre o comportamento de materiais com a presença de um campo
magnético, e contaremos com modificações nas técnicos de análise de campo
magnético. No final deste capítulo apresentaremos técnicas para encontrar
a energia magnética armazenada em um corpo com passagem da corrente
elétrica, que posteriormente, chamaremos de indutor. Além destes assuntos
tentaremos simplificar a modelagem de um dispositivo magnético, através
da lei de Ampere e a dualidade entre campo elétrico e campo magnético.
Assim, o circuito equivalente do dispositivo magnético é chamado circuito
magnético.
O primeiro contato com fenômenos eletromagnéticos variável no tempo será
no sexto capítulo, onde consideramos os novos efeitos devido a variação no
tempo do campo elétrico e magnético. Neste capítulo começaremos a análise
dos campos com variações no tempo relativamente lenta. Apesar de análise
individual dos campos vetoriais nos últimos capítulos, serão apresentados
fenômenos que mostram as interligações entre o campo elétrico e magnético.
No ultimo capítulo, como esperamos, será sobre o estudo de campo elétrico
e magnético, onde a variação no tempo sugerida por uma fonte é razoavel-
mente alta. Contaremos que neste caso, a energia será propagante no espaço,
o que sustenta a toda tecnologia de telecomunicação de sinais por meio de
vácuo ou ar. Apresentaremos as tecnécias utilizadas para análise de campo,
e em seguida falaremos sobre o comportamento de materiais na presença
de uma onda eletromagnética e as condições de contorno quando a onde no
caminho de propagação enfrenta um meio de propagação com caraterísticas
elétricas e magnéticas diferente. Finalizaremos o capítulo, com apresentação
de energia de uma onda eletromagnética propagando no espaço.
Parte I

Análise Vetorial

27
Capítulo
1
Álgebra Vetorial

O fundamental conceito matemático necessário para estudo de eletromagnetismo


é álgebra vetorial.

1.1 Operações Aritméticas Vetoriais Gráficas . . . . . . . . 30


1.2 Sistemas de Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.2.1 Sistema de Coordenadas Cartesianas . . . . . . . 35
1.2.2 Sistema de Coordenadas Cilíndricas . . . . . . . 40
1.2.3 Sistema de Coordenadas Esféricas . . . . . . . . 46

O foco geral deste livro é sobre os campos elétricos, magnéticos, e


eletromagnéticos. Conhecemos na física, as grandezas físicas como tempo,
peso e a temperatura, onde a informação completa é obtida, sabendo do seu
tamanho. Este tipo de grandeza é conhecido como escalar. A simbologia
adotada neste livro para representar os escalares são letras alfabéticas como
’a’ ou ’A’ ou ’A’. Podemos resumir que as operações aritméticas estudadas até
este momento, tais como soma, diferença, multiplicação, e divisão, referem-se
as grandezas escalares.
Obviamente, não basta saber do tamanho do campo elétrico, se não for
esclarecida a sua direção e sentido, ou seja, não podemos tratar grandezas
físicas tais como um campo elétrico como um escalar. Por isto, apresenta-
mos outro tipo de grandeza, conhecida como vetor. Uma grandeza é dita

29
30 1.1. OPERAÇÕES ARITMÉTICAS VETORIAIS GRÁFICAS

vetorial, quando além do tamanho, é necessário saber a sua direção e sen-


tido. A simbologia adotada para representar vetores neste livro são as letras
alfabéticas junto com uma seta acima da letra, para diferenciar de símbolos
representante de um grandeza escalar. Então, ⃗a ou A ⃗ são alguns sím-
⃗ ou A
bolos de grandezas vetoriais. Assim, o tamanho do vetor é representado por
o símbolo do vetor sem a seta, se não tiver grandezas escalares com a mesma
letra alfabética. Por exemplo, ’A’ é o tamanho do vetor A. ⃗ Se tiver alguns
grandezas escalares com o nome padronizado, igual a letra do vetor, obri-
gatoriamente utilizamos o símbolo || para representar o tamanho do vetor.
Por exemplo, como o simbolo padronizado para representar a massa é ’m’, o
tamanho de um vetor com a mesma letra alfabética como m ⃗ é representado
por |m|,
⃗ excepcionalmente. A figura 1.1 esboça a força aplicada F⃗ sobre um
objeto, com tamanho F = 10 N e o ângulo 30° em relação à superfície da
terra, sendo respectivamente, informação do sentido e direção da força.
Uma classe especifica dos vetores é conhecida como campo vetorial, quando
a grandeza, além de possuir natureza vetorial, for uma função variável no
espaço. Neste caso, representamos o campo vetorial com a letra alfabética
como um vetor, junto com as variáveis independentes espaciais. Por exemplo,
o campo magnético ao redor de uma ímã pode ser representado por B(r), ⃗
onde r é o tamanho do vetor de distância ⃗r em um ponto no espaço em
relação ao ponto de origem. As grandezas vetoriais que serão tratadas no
eletromagnetismo cabem neste tipo de quantidades físicas.
Existe também o campo escalar, quando a grandeza escalar for uma fun-
ção de variáveis do espaço. O campo escalar é representado por uma letra
alfabética junta com a variável do espaço. Um exemplo de um campo esca-
lar é T (r), representando o mapeamento da temperatura em uma superfície.
As operações aritméticas básicas como soma, diferença, multiplicação, so-
bre os vetores são menos abordadas para os leitores nos cursos anteriores.
Na próxima seção, serão apresentadas algumas destas operações aritméticas,
graficamente. Em seguida, serão apresentadas as representações dos vetores,
por componentes nas coordenadas cartesianas, cilíndricas e esféricas. Após
isso, nos próximos capítulos serão apresentadas as operações diferenciais dos
vetores tais como gradiente, divergência e rotacional, gradualmente.

1.1 Operações Aritméticas Vetoriais Gráficas


Nesta seção, as operações aritméticas básicas como soma, diferença, in-
versão e multiplicação serão apresentadas a partir de diagramas. Os vetores
serão denotados por setas, cujo comprimento é proporcional à magnitude do
vetor e a ponta da seta indica sua direção e sentido. Graficamente, a soma
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 31

𝐹

Fig. 1.1. Representação de deslocamento de um objeto sob efeito de uma força.

de vetores pode ser encontrada colocando a extremidade inicial do segundo


vetor na ponta do primeiro vetor. O resultado da soma é o vetor que parte da
extremidade inicial do primeiro vetor em direção à ponta do segundo vetor,
como mostra a figura 1.2b. É importante ressaltar que, em um diagrama,
é possível movimentar a seta à vontade, desde que não haja modificação de
seu comprimento ou sua direção. Uma forma alternativa para somar vetores,
também pode ser a partir do paralelogramo gerado pelos dois vetores, com
extremidade inicial comum, mostrada na figura 1.2c. A inversão de um ve-
tor A⃗ é definida como um vetor com a mesma magnitude e direção, todavia
em sentido oposto (figura 1.3a). Portanto, para subtrair dois vetores, basta
realizar a soma o primeiro vetor com o segundo vetor invertido (figura 1.3b).

A operação de amplificação ou atenuação de um vetor é obtida a partir


da alteração do tamanho deste, quando multiplicado por um escalar, sem
que altere sua direção. Neste caso, se o fator for negativo, além da alteração
do tamanho, o sentido do vetor será invertido (figura 1.3c). Esta operação
resulta também em um vetor específico denominado versor, caso o fator de
amplificação do vetor seja o inverso do seu modulo. O símbolo adotado é
a mesma letra do vetor correspondente, porém com símbolo circunflexo, ou
seja:

A
 = (1.1)
A
Existem grandezas escalares que também podem ser encontradas a partir da
32 1.1. OPERAÇÕES ARITMÉTICAS VETORIAIS GRÁFICAS

𝐵
𝐴
𝐴
𝐴

𝐴+𝐵
𝐵 𝐴+𝐵

𝐵
(a) (b) (c)

⃗ e B.,
Fig. 1.2. a) Representação de dois vetores A ⃗ b) Soma dos vetores. c) Soma
de vetores pelo método do paralelogramo.

−𝐵
𝐴
𝐴 𝑎𝐴
−𝐴
𝐴−𝐵 𝐴

𝐵 𝑎𝐴

(i) a>1 (ii) a<1

(a) (b) (c)

⃗ b) Representação da subtração de vetores. c)


Fig. 1.3. a) Inversão do vetor A.

Representação da i) Amplificação, ii) Atenuação do vetor A.
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 33

W=FL cos
𝐹 𝐹

𝐿
Fcos

Fig. 1.4. Representação gráfica do trabalho ′ W ′ resultante da força F⃗ e do deslo-


camento L.⃗

multiplicação de duas grandezas vetoriais, como o trabalho ’W ’, resultado do


deslocamento L ⃗ de um objeto sob o efeito de uma força F⃗ . Sugestivamente,
a essa multiplicação é dada o nome ”produto escalar”. Sendo definidos W =
F⃗ · L.
⃗ Obviamente, o trabalho será máximo para uma força, quando a força
e o deslocamento estiverem alinhados (θ = 0°) e será nulo se a força for
perpendicular à direção do deslocamento (θ = 90°), ou seja, o valor de cos θ,
além da intensidade da força e do deslocamento entra no cálculo do trabalho,
portanto, W = F L cos θ (figura 1.4).
Existem outros tipos de grandezas físicas que precisam ser definidas a
partir do produto de dois vetores, mas que resultam num vetor, como é o
caso da força por unidade de carga elétrica sentida por uma carga elétrica
movendo-se com velocidade ⃗v em um campo magnético B, ⃗ chamada de força
de Lorentz. Esta força é descrita com mais detalhes quando tratarmos do
magnetismo. Sugestivamente, a essa multiplicação é dada o nome ”produto
vetorial”, denominada por F⃗ = ⃗v × B.⃗ A força por unidade de carga elétrica
será máxima quando campo magnético e a velocidade são perpendiculares
entre si (θ = 90° ou ortogonais) e será nula quando a carga elétrica se desloca
ao longo do campo magnético (θ = 0°), ou seja, o valor de senθ além do
tamanho do campo magnético e da velocidade entra no cálculo da força,
então F = vB senθ. A direção do vetor resultante é perpendicular ao plano
formado pelo vetor da velocidade e do campo magnético. O sentido deste
vetor é obtido pela regra da mão direita. Aponte seus dedos na direção do
primeiro vetor e vire-os pelo menor ângulo em direção ao segundo vetor: seu
polegar indicará a direção do vetor resultante do produto vetorial. Veja na
figura 1.5 mais detalhes. Neste caso, o vetor da velocidade é o primeiro vetor
34 1.1. OPERAÇÕES ARITMÉTICAS VETORIAIS GRÁFICAS

𝐴×𝐵

⃗×B
Fig. 1.5. A direção do produto vetorial A ⃗ pela regra da mão direita.

⃗ e o vetor do campo magnético é o segundo vetor (B).


(A) ⃗
Após apresentar as operações de soma, diferença e multiplicação, seria
natural descrever a matemática para a divisão de vetores. Entretanto, não é
conhecido nenhum fenômeno físico que precise ser descrito através de divisão
vetorial. Além dessas operações básicas, existem ainda as operações como
diferencial e integral que, serão apresentadas, gradualmente nos próximos
capítulos.
Exemplo 1.1. a) Encontre o componente do vetor A ⃗ ao longo do vetor B.

b) Ache o componente do vetor A ⃗ perpendicular ao vetor B.

Resposta: a) Primeiro é necessário achar a direção e sentido do vetor B ⃗ a

partir de B̂ = B/B. Portanto, o tamanho do componente do vetor A ⃗ ao
longo de B ⃗ · B̂. Logo, a apresentação vetorial deste componente será
⃗ será A
A · B̂ B̂.

b) Sabemos que qualquer vetor pode ser unicamente representado por dois
componentes transversais, ou seja:

A ⃗ · B̂ B̂ + A
⃗=A ⃗ ⊥.

⃗ ⊥ é o componente perpendicular ao vetor B.


Onde A ⃗ Logo:
⃗⊥ = A
A ⃗−A ⃗ · B̂ B̂. (1.2)

Exercício 1.1.
Utilizando o método gráfico para análise de vetores, mostre que:
⃗ × (B
a) A ⃗ + C)
⃗ =A ⃗×B ⃗ +A ⃗ × C.

b) A · (B + C) = A · B + A · C.
⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ⃗
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 35

Exercício 1.2.
⃗ =A
Considere C ⃗ − B.
⃗ Encontre o tamanho do vetor C.

Exercício 1.3.
⃗ × (B
Mostre que A ⃗ × C) ⃗×
⃗ não possui a propriedade associativa, ou seja A
⃗ × C)
(B ⃗ ̸= (A⃗ × B)
⃗ × C.

Exercício 1.4.
Prove: a) A fórmula de cosseno: a2 = b2 + c2 − 2bc cos θ.
b) A fórmula de seno:
senα senβ senγ
= =
a b c

1.2 Sistemas de Coordenadas


Na seção anterior foi apresentada a análise vetorial de forma gráfica,
sem se referir a nenhum dos sistemas de coordenadas. Geralmente, a análise
dos vetores é mais simples representando-os em certas coordenadas pelos três
componentes. Neste caso, as operações aritméticas serão aplicadas sobre os
componentes dos vetores ao invés do vetor inteiro. Dessa forma, é possível
desenvolver a definição de campos vetoriais e a matemática para novas opera-
ções tais como diferenciação e integração vetorial. Nas seções seguintes serão
discutidos três dos sistemas mais simples como o retangular ou cartesiano, o
cilíndrico e o esférico.

1.2.1 Sistema de Coordenadas Cartesianas


Para a maioria dos problemas práticos, que podem ser descritos a partir
da geometria retangular, o sistema de coordenadas cartesiano é o mais comu-
mente utilizado. Este sistema é representado por três eixos ortogonais nome-
ados como x, y e z, onde a direção e sentido de dois destes eixos é opcional
e a direção e sentido do terceiro eixo obedece a regra da mão direita. Cor-
respondente com cada direção é definido um versor (x̂, ŷ, ẑ) respectivamente.
Assim, um vetor (⃗v ) pode ser descrito unicamente por projeção do vetor ao
longo de três eixos chamados componentes vx , vy e vz .
⃗v = (⃗v · x̂)x̂ + (⃗v · ŷ)ŷ + (⃗v · ẑ)ẑ (1.3)
ou:
vx = ⃗v · x̂ vy = ⃗v · ŷ vz = ⃗v · ẑ (1.4)
36 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

y x x

x z y
(a) (b) (c)

y
y
x
z y
z
(d) (e) (f)

Fig. 1.6. Determinar sentido e a direção do terceiro eixo

Exercício 1.5.
Encontrar o terceiro eixo das coordenadas cartesianas na figura 1.6. ■

O sistema deve possuir uma referência, chamada de ponto de origem O, que


é definida pela interseção dos eixos. Assim, pode-se representar também uma
certa posição P no espaço pelos componentes do vetor op ⃗ (figura 1.7). Como
visto na seção anterior, o sentido do produto vetorial obedece à regra da mão
direita, portanto, a operação entre dois versores das coordenadas cartesianas
produz o terceiro versor seguindo a ordem padronizada x̂ → ŷ → ẑ → x̂
que podemos chamar de troca cíclica (figura 1.8). Portanto, o produto de
versores em ordem serão:
x̂ × ŷ = ẑ ŷ × ẑ = x̂ ẑ × x̂ = ŷ (1.5)
Enquanto, o produto de versores fora de ordem padronizada gera o terceiro
versor no sentido oposto:
ŷ × x̂ = −ẑ ẑ × ŷ = −x̂ x̂ × ẑ = −ŷ (1.6)
A troca cíclica seguindo a ordem padronizada é representada na figura 1.8
com a troca no sentido horário e fora de ordem com a troca com a troca no
sentido anti-horário.
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 37

z
Plano z0

𝑧
P(x0,y0,z0)
O 𝑦
y
𝑥
Plano x0

Fig. 1.7. Representação de um ponto P (x0 , y0 , z0 ) em coordenadas retangulares e


versores x̂, ŷ, ẑ definidos neste ponto.

𝑥̂

𝑧̂ 𝑦̂

Fig. 1.8. Representação da troca cíclica de versores em coordenadas cartesianas.


38 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

1.2.1.1 Operações Aritméticas nas Coordenadas Cartesianas


Na seção anterior representamos álgebra vetorial através de diagramas.
Nesta seção repetimos as operações aritméticas com vetores através de seus
componentes. Por exemplo vetores A ⃗ eB ⃗ em coordenadas cartesianas são
representados por:
⃗ = Ax x̂ + Ay ŷ + Az ẑ
A
⃗ = Bx x̂ + By ŷ + Bz ẑ
B
A soma desses vetores é feita somando os componentes correspondentes dos
vetores. A subtração também é feita subtraindo os componentes correspon-
dentes dos vetores, ou seja:
A⃗±B ⃗ = (Ax ± Bx )x̂ + (Ay ± By )ŷ + (Az ± Bz )ẑ (1.7)
Um vetor pode ser amplificado ou atenuado, multiplicando cada componente
do vetor por fator de amplificação ou de atenuação:
⃗ = aAx x̂ + aAy ŷ + aAz ẑ
aA (1.8)
⃗ e B
O produto escalar dos vetores A ⃗ pode ser descrito utilizando a sua
propriedade de distribuição:

⃗·B
A ⃗ = (Ax x̂ + Ay ŷ + Az ẑ) · (Bx x̂ + By ŷ + Bz ẑ)
= Ax Bx x̂ · x̂ + Ax By x̂ · ŷ + Ax Bz x̂ · ẑ
+ Ay Bx ŷ · x̂ + Ay By ŷ · ŷ + Ay Bz ŷ · ẑ
+ Az Bx ẑ · x̂ + Az By ẑ · ŷ + Az Bz ẑ · ẑ.

Utilizando a ortogonalidade de versores, ou seja î · ĵ = 0 se i ̸= j, tere-


mos:
A⃗·B⃗ = Ax Bx + Ay By + Az Bz . (1.9)
A partir da definição de produto escalar podemos encontrar o módulo de um
vetor em função dos componentes do mesmo:
q q
A= ⃗·A
A ⃗= Ax 2 + Ay 2 + Az 2 . (1.10)

Exercício 1.6.
a) Para o vetor 10x̂−5ŷ +4ẑ, separe os componentes paralelo e perpendicular
ao vetor 1x̂ + 3ŷ + 2ẑ. b) Encontrar o componente do campo vetorial A ⃗ =
2xx̂ − y 2 ŷ + yz ẑ ao longo do campo B ⃗ = 2xyx̂ − y 2 ŷ + xyz ẑ no ponto
(1, 2, 1). c) Achar o versor perpendicular aos campos vetoriais A ⃗ e B
⃗ em
(0, 2, 3).
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 39

Exercício 1.7.
a) Encontrar o versor normal ao plano 4x + 5y − 7z = 6.
b) Decomponha o vetor 10x̂ − 5ŷ + 4ẑ em componentes paralelo e perpendi-
cular ao plano 4x + 5y − 7z = 6.
c) Se ⃗r representa o vetor de posição no espaço 3D, e se A ⃗ for um vetor
constante. Prove que (⃗r − A)
⃗ ·A ⃗ representa uma superfície plana. ■

⃗ ⃗
O produto vetorial de A e B pode ser descrito em função dos componentes
vetoriais, utilizando a propriedade de distribuição da multiplicação vetorial:

⃗×B
A ⃗ = (Ax x̂ + Ay ŷ + Az ẑ) × (Bx x̂ + By ŷ + Bz ẑ)
= Ax Bx x̂ × x̂ + Ax By x̂ × ŷ + Ax Bz x̂ × ẑ
+ Ay Bx ŷ × x̂ + Ay By ŷ × ŷ + Ay Bz ŷ × ẑ
+ Az Bx ẑ × x̂ + Az By ẑ × ŷ + Az Bz ẑ × ẑ,

Utilizando a ortogonalidade de versores e a regra da troca cíclica, tere-


mos:

⃗×B
A ⃗ = (Ay Bz − Az By )x̂ + (Az Bx − Ax Bz )ŷ + (Ax By − Ay Bx )ẑ (1.11)
Observe que a regra da troca cíclica é válida para cálculo de cada componente
do produto vetorial. Por exemplo, o componentes x do produto é resultado
da multiplicação dos componentes Ay e Bz , seguindo a ordem, subtraído do
produto dos componentes Az e By , seguindo a ordem oposta. Logo, o cálculo
de um componente do produto pode ser através de regra de troca cíclica.
Enquanto o cálculo simultânea dos três componentes do produto vetorial
pode ser obtido reorganizando a fórmula como determinante de uma matriz
3 × 3:
x̂ ŷ ẑ
A × B = Ax Ay Az
⃗ ⃗ (1.12)
Bx By Bz

⃗ e B,
Exemplo 1.2. Encontrar o produto vetorial de A ⃗ = x̂ + 4ŷ − 3ẑ
⃗ onde:A
⃗ = 2x̂ − 5ŷ − 6ẑ.
eB
Resposta:

x̂ ŷ ẑ
⃗ = 1 4 −3
⃗×B
A
2 −5 −6
= (4 × −6 − (−3 × −5))x̂ − (1 × −6 − 2 × −3)ŷ
+ (1 × −5 − 2 × 4)ẑ
40 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

Simplificando, temos o seguinte:


⃗×B
A ⃗ = −39x̂ − 13ẑ

Exercício 1.8.
⃗ perpendicular ao vetor B
Prove que o componente do vetor A ⃗ será:

⃗ ⊥ = B̂ × (A
A ⃗ × B̂).

Dicas: lembre da resposta do exemplo 1.1 e a equação (B.10).


Exercício 1.9.
Os três vértices de um triângulo estão localizados em
A(6, −1, 2), B(−2, 3, −4), C(−3, 1, 5). Encontre:
−→ −→
a) AB × AC;
b) A área do triângulo;
c) O vetor unitário (versor) perpendicular ao plano em que o triângulo está
inserido.
Exercício 1.10.
Encontrar o ângulo entre duas diagonais de um cubo.

1.2.2 Sistema de Coordenadas Cilíndricas


Em uma determinada análise de campo vetorial, observa-se um tipo
de simetria chamada de simetria cilíndrica, onde a geometria possui uma
curvatura ao redor de um eixo. Neste caso, é vantajoso representar vetores
ou posições em novas coordenadas. No sistema de coordenadas cilíndricas,
um ponto no espaço é localizado pela sua distância até o eixo z, nomeado
como r, o ângulo φ, entre a projeção da reta que liga o ponto à origem e o
eixo x, e a altura até o plano xy nomeado como z, conforme a figura 1.9.
Obviamente, r é um parâmetro positivo e o ângulo φ varia entre 0 e 2π.
Assim, um ponto P é representado por (r, φ, z).
Os componentes de um vetor serão encontrados a partir da projeção do
vetor ao longo dos versores definidos neste sistema de coordenadas. O pri-
meiro versor é r̂ que em um ponto (r0 , φ0 , z0 ) aponta radialmente para fora
e é normal à superfície r = r0 . O segundo versor é φ̂ que é normal ao plano
φ0 neste ponto e aponta no sentido crescente de φ. O último versor é ẑ que
é o mesmo que o versor ẑ do sistema de coordenadas cartesianas. Assim, um
vetor (⃗v ) pode ser descrito unicamente, pela projeção do vetor ao longo de
três versores vr , vφ e vz .
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 41

z Plano z0
𝑧
𝑟 

r0 O
Plano r0 y

0

Fig. 1.9. Representação de um ponto P (r0 , φ0 , z0 ) em coordenadas cilíndricas e


versores r̂, φ̂, ẑ definidos neste ponto.

⃗v = (⃗v .r̂)r̂ + (⃗v .φ̂)φ̂ + (⃗v .ẑ)ẑ (1.13)


ou:
vr = ⃗v .r̂ vφ = ⃗v .φ̂ vz = ⃗v .ẑ
Os versores definidos são ortogonais entre si e a regra da troca cíclica é
válida com o seguinte ordem r̂ → φ̂ → ẑ → r̂. Assim, os produtos vetoriais
de versores serão da seguinte forma:
r̂ × φ̂ = ẑ φ̂ × ẑ = r̂ ẑ × r̂ = φ̂

φ̂ × r̂ = −ẑ ẑ × φ̂ = −r̂ r̂ × ẑ = −φ̂ (1.14)


É importante ressaltar que a direção dos versores r̂ e φ̂ variam com a coorde-
nada φ. Por isso, em caso de operações tais como soma, diferença de vetores
ou quando se calcula a integral em função de φ, os versores r̂ e φ̂ devem ser
tratados como variáveis.

1.2.2.1 Operações Aritméticas em coordenadas cilíndricas


Como mencionado na seção anterior, qualquer operação aritmética que
surge da alteração do ângulo φ não será permitida diretamente em coordena-
das cilíndricas sem considerar alterações da direção dos versores r̂ e φ̂. Por
exemplo, a soma ou diferença de vetores, sabendo da mudança do ângulo
polar, somente é possível indiretamente. Para isso, inicialmente é necessária
42 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

a transformação dos vetores para as coordenadas cartesianas que será abor-


dada na próxima seção. É importante ressaltar que as operações aritméticas
em um ponto P (r, φ, z) podem ser calculadas diretamente sem conversão dos
componentes. Logo, a amplificação ou atenuação de um vetor A ⃗ pode ser
encontrada diretamente:
aA⃗ = aAr r̂ + aAφ φ̂ + aAz ẑ (1.15)

Exemplo 1.3. Encontre a integral do vetor φ̂ ao longo da circunferência de


um circulo de raio a em função de variável φ.
Resposta: A integral é equivalente a soma de vetores φ̂ definidos ao redor do
circulo, ou seja, soma de vetores tangenciais ao circulo em diferentes pontos,
conforma a figura 1.10. Sendo assim, a integral é permitida somente após
a transformação do vetor para as coordenadas cartesianas. Deixaremos a
resposta final após da apresentação de conversão de coordenadas. ■

z
 
a 
O y

x
Fig. 1.10. Integral do versor φ̂ ao longo da circunferência do circulo de raio a.

Outras operações aritméticas tais como o produto escalar ou vetorial po-


dem ser encontradas diretamente em coordenadas cilíndricas se os vetores
foram dados no mesmo ponto no espaço P (r, φ, z). Obviamente, o modulo
de um vetor A⃗ dado em coordenadas cilíndricas ainda é calculado pela raiz
de soma das quadradas dos componentes, ou seja:
q
A= Ar 2 + Aφ 2 + Az 2 (1.16)

1.2.2.2 Conversão de Coordenadas


A análise vetorial devido a simetria da geometria pode ser mais conve-
niente em certos sistemas, mas as informações dadas podem estar em outros
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 43

sistemas de coordenadas. Por exemplo, se as coordenadas de um ponto fo-


rem dadas em coordenadas cartesianas como x, y e z, os componentes para
representará-lo em coordenadas cilíndricas são obtidos geometricamente (fi-
gura 1.9) a partir de seguintes fórmulas:
q  
−1 y
2 2
r = x + y φ = tg z=z (1.17)
x
Se tiver um vetor dado em coordenadas cartesianas como A⃗ = Ax x̂+Ay ŷ +
Az ẑ, o componente Ar , ou seja, a imagem do vetor ao longo do versor r̂ em
coordenadas cilíndricas é obtido a partir de produto escalar do vetor com o
versor r̂:

Ar = A.r̂
= Ax x̂ · r̂ + Ay ŷ · r̂ + Az ẑ · r̂
Lembrando o ângulo φ entre x̂ e r̂:
Ar = Ax cos φ + Ay senφ (1.18)
O componente Aφ também pode ser encontrado de maneira semelhante,
⃗ na direção φ̂:
projetando o vetor A
⃗ · φ̂
Aφ = A
= Ax x̂ · φ̂ + Ay ŷ · φ̂ + Az ẑ · φ̂

Lembrando o ângulo π/2 + φ entre x̂ e φ̂:


Aφ = −Ax senφ + Ay cos φ (1.19)
Podemos representar a posição de um ponto P nas coordenadas cartesianas
enquanto a posição é dada em coordenadas cilíndricas. Por exemplo a posi-
ção P(r, φ, z) no espaço pode ser representado na coordenadas cartesianas
conforme a figura 1.9 da seguinte forma:
P(x = r cos φ, y = r senφ, z = z) (1.20)
Também podemos representar um vetor nas coordenadas cartesianas en-
quanto o vetor é dado em coordenadas cilíndricas . Por exemplo o vetor
Ar r̂ + Aφ φ̂ + Az ẑ pode ser representado com as seguintes componentes nas
coordenadas cartesianas:
⃗ · x̂
Ax = A
= Ar r̂ · x̂ + Aφ φ̂ · x̂ + Az ẑ · x̂

Sendo assim, como o ângulo entre x̂ e r̂ é de φ e o ângulo entre x̂ e φ̂ é de


π/2 + φ:
44 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

Ax = Ar cos φ − Aφ senφ (1.21)


De forma semelhante o componente Ay será:
⃗ · ŷ
Ay = A
= Ar r̂ · ŷ + Aφ φ̂ · ŷ + Az ẑ · ŷ

Lembrando que o ângulo entre ŷ e r̂ é de π/2 − φ e o ângulo entre ŷ e φ̂ é


de φ:
Ay = Ar senφ + Aφ cos φ. (1.22)
Vamos completar a resposta dado para o exemplo anterior. Utilizando as
equações (1.21) e (1.22) teremos φ̂ = − senφx̂ + cos φŷ. Sabemos que a
integral das funções senoidais em um período completo será nula. Logo, a
integral das duas partes da integral serão nulas:
Z 2π Z 2π Z 2π
φ̂dφ = −x̂ senφdφ + ŷ cos φdφ = ⃗0.
0 0 0

Exemplo 1.4. Para A ⃗ = ax̂+bŷ e B


⃗ = cx̂+dŷ, prove que a soma ou produto
escalar destes vetores não podem ser calculadas diretamente em coordenadas
cilíndricas.
Resposta: A soma correta é:
⃗+B
A ⃗ = (a + c)⃗x + (b + d)⃗y .

ou seja a resposta certa em coordenadas cilíndricas é:


q
⃗+B
A ⃗ = (a + c)2 + (b + d)2 r̂

Como Ar = a2 + b2 e Aφ = 0, os vetores convertidos para coordenadas
√ √
⃗ = a2 + b2 r̂ e B
cilíndricas serão: A ⃗ = c2 + d2 r̂.
Sem consideração de dicas sobre a soma vetorial em coordenadas cilíndricas,
a resposta será: √ √
⃗+B
A ⃗ = ( a2 + b2 + c2 + d2 )r̂,
que é diferente com a resposta obtida anteriormente.
A resposta certa do produto escalar dos vetores é
⃗·B
A ⃗ = ac + bd

Enquanto, o cálculo diretamente em coordenadas cilíndricas é:


√ √
A⃗·B
⃗ = a2 + b2 c2 + d2 .
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 45

A razão pela qual as respostas das operações em coordenadas cilíndricas


não são válidas é que os versores r̂ dos vetores não são iguais. O φ para
primeiro vetor é tg−1 (b/a) e para o segundo é tg−1 (d/c), enquanto φ para a
soma é tg−1 ((b + d)/(a + c)). ■

Exemplo 1.5. Dado um vetor B ⃗ = yx̂ − xŷ + z ẑ, qual é a representação do


vetor em coordenadas cilíndricas?
Resposta:

Br = yx̂ · r̂ − xŷ · r̂ + z ẑ · r̂
x y
= y cos φ − x senφ = y − x
r r
= 0,
Bφ = yx̂ · φ̂ − xŷ · φ̂ + z ẑ · φ̂
= −y senφ − x cos φ
y x
= −y − x
r r
= −r,
Bz = z.

⃗ = − x2 + y 2 φ̂ + z ẑ.
Portanto: B ■

Exercício 1.11.
a) Represente o vetor A⃗ = −5x̂ + 10ŷ + 3ẑ em coordenadas cilíndricas.
b) Qual será a representação do vetor A no ponto (−5, 10, 3) em coordenadas
cilíndricas.

Exercício 1.12.
⃗ = − senφx̂ + cos φŷ para coordenadas cilíndricas. Res-
Converter o vetor A

posta: A = φ̂.
Exercício 1.13.
Considere o vetor A⃗ = −2r̂ + 5φ̂ + 4ẑ e o vetor B
⃗ = 2x̂ + 3ŷ − 5ẑ. Calcule
as seguintes operações em um ponto P (x = 1, y = 3, z = −3).
a) |A⃗ × B|.

b) A⃗ · B.

c) A ⃗ (Resposta: −4r̂ + 12φ̂ − 3ẑ.)
⃗ + B.
Exercício 1.14.
Para o vetor A⃗ = r2 cos φr̂ + 5rz sen2 φφ̂ + 4r/z senφẑ, calcule resultado das
seguintes operações:
46 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

⃗ no ponto P (10, π/3, 5).


a) O vetor A
b) O componente tangencial do vetor A ⃗ ao cilindro de raio 10 no ponto P .

1.2.3 Sistema de Coordenadas Esféricas


Em alguns casos existe simetria esférica na geometria estudada. Neste
caso, dois sentidos ortogonais de curvaturas do meio pedem um novo sistema
de coordenadas. No sistema de coordenadas esféricas, um ponto no espaço
é localizado pelas três variáveis (r, θ, φ). O tamanho r é a sua distância até
a origem (r > 0). O ângulo θ é ângulo entre o eixo z e a linha traçada da
origem até o ponto em questão (0 < θ < π). O ângulo φ é ângulo entre o
eixo x e a projeção, no plano z = 0, ou seja, plano xy da reta traçada da
origem até o ponto (0 < φ < 2π)(veja a figura 1.11).

z 0


P(r0 , 0 ,0)

Plano r0 
r0 𝑟
O y

0

Fig. 1.11. Representação de um ponto P (r0 , θ0 , φ0 ) em coordenadas esféricas e


versores r̂, θ̂, φ̂ definidos neste ponto.

Os componentes de um vetor serão encontrados a partir da projeção do


vetor ao longo de versores definidos neste sistema de coordenadas. O pri-
meiro versor é r̂ que em um ponto (r0 , θ0 , φ0 ) aponta para fora e é normal à
superfície r = r0 . O segundo versor é θ̂ que é normal ao plano θ0 e aponta no
sentido crescente de θ. O último versor é φ̂ que é normal ao plano φ0 e aponta
no sentido crescente de φ. Assim, um vetor (⃗v ) pode ser descrito unicamente
por projeção do vetor ao longo de três versores vr , vθ e vφ .
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 47

⃗v = (⃗v · r̂)r̂ + (⃗v · θ̂)θ̂ + (⃗v · φ̂)φ̂ (1.23)


ou:
vr = ⃗v · r̂ vθ = ⃗v · θ̂ vφ = ⃗v · φ̂
Os versores definidos são ortogonais entre si e a regra da troca cíclica é
válida com a seguinte ordem: r̂ → θ̂ → φ̂ → r̂ que representada pelos produ-
tos vetoriais nas equações (1.24). É importante ressaltar que a direção dos
versores r̂ e φ̂ e θ̂ varia com os ângulos φ e θ. Por isso, em caso de operações
tais como soma, diferença, ou quando faz integral em função de φ ou θ, os
versores r̂, φ̂ e θ̂ devem ser tratados como variáveis.
r̂ × θ̂ = φ̂ θ̂ × φ̂ = r̂ φ̂ × r̂ = θ̂

θ̂ × r̂ = −φ̂ φ̂ × θ̂ = −r̂ r̂ × φ̂ = −θ̂ (1.24)

1.2.3.1 Operações Aritméticas nas coordenadas esféricas


Em coordenadas esféricas, o argumento dado na seção anterior para as
operações aritméticas dos vetores é válido. Sendo assim, qualquer operação
aritmética somente é possível diretamente para um ponto fixo P (r, θ, φ) em
coordenadas esféricas. Por exemplo, a amplificação ou atenuação de um vetor
⃗ será obtida da seguinte forma:
A
aA⃗ = aAr r̂ + aAθ θ̂ + aAφ φ̂ (1.25)
Se tiver alteração do ângulo φ ou θ, ou seja, a operação for em múltiplos
pontos, teremos que converter o vetor para as coordenadas cartesianas. A
razão disso é que a direção e sentido dos versores r̂, φ̂ e θ̂ variam com a
posição do ponto no espaço.
Exemplo 1.6. Encontre a integral do vetor θ̂ ao longo da superfície de uma
esfera de raio a para um ângulo constante φ0 e 0 ≤ θ ≤ π.
Resposta: A integral é equivalente a soma de vetores θ̂ definidos ao longo
do arco conforme a figura 1.12, ou seja, soma de vetores tangenciais ao se-
micírculo em diferentes pontos. Sendo assim, a integral é permitida somente
após a transformação do vetor para as coordenadas cartesianas. Deixaremos
a resposta final após da apresentação de conversão de coordenadas. ■

Outras operações aritméticas tais como o produto escalar ou vetorial po-


dem ser encontrados diretamente em coordenadas esféricas se os vetores fo-
ram dados no mesmo ponto no espaço P (r, θ, φ). Obviamente, o modulo de
um vetor A⃗ ainda é calculado pela raiz de soma das quadradas dos compo-
nentes, ou seja:
48 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS


O
0
y

x
Fig. 1.12. Integral do versor θ̂ ao longo da superfície de um esfera de raio a e
ângulo φ constante.

q
A= Ar 2 + Aθ 2 + Aφ 2 (1.26)

1.2.3.2 Conversão de Coordenadas

A análise vetorial pode ser mais conveniente em coordenadas esféricas


do que em outras. Assim, é necessário converter as coordenadas de um ponto
ou os componentes de um vetor para novos sistemas de coordenadas. Por
exemplo, se as coordenadas de um ponto P forem dadas em cartesianas como
x, y e z, os componentes para representar o ponto em coordenadas esféricas
são obtidos facilmente, olhando para figura 1.11a :
√   
√ −1 x2 +y 2
r= x2 + y2 + z2 θ = tg z
φ = tg−1 y
x
(1.27)

⃗ = Ax x̂ + Ay ŷ + Az ẑ dado em coordenadas cartesianas, o


Para um vetor A
componente Ar em coordenadas esféricas é obtido a partir da imagem do

a
Recomendamos encontrar as fórmulas.
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 49

vetor ao longo do versor r̂:


⃗ · r̂
Ar = A
= Ax x̂ · r̂ + Ay ŷ · r̂ + Az ẑ · r̂
Lembrando do ângulo π/2 − θ entre r̂ e plano xy e o ângulo φ entre a
imagem do versor r̂ no plano xy e x̂ e o ângulo θ entre r̂ e ẑ na figura
1.11:
Ar = Ax cos φ senθ + Ay senφ senθ + Az cos θ. (1.28)
O componente Aθ também pode ser encontrado por:
⃗ · θ̂
Aθ = A
= Ax x̂ · θ̂ + Ay ŷ · θ̂ + Az ẑ · θ̂
Lembrando do ângulo θ entre θ̂ e plano xy e o ângulo φ entre a imagem
do versor θ̂ no plano xy e x̂ e o ângulo π/2 + θ entre θ̂ e ẑ na figura
1.11:
Aθ = Ax cos φ cos θ + Ay senφ cos θ − Az senθ. (1.29)
Também, o componente Aφ pode ser encontrado por:
⃗ · φ̂
Aφ = A
= Ax x̂ · φ̂ + Ay ŷ · φ̂ + Az ẑ · φ̂
Lembrando do ângulo π/2 + φ entre φ̂ e x̂ e o ângulo π/2 entre φ̂ e ẑ na
figura 1.11:
Aφ = −Ax senφ + Ay cos φ (1.30)
Se tiver componentes de um ponto dado em coordenadas esféricas como r,
θ e φ, os componentes em coordenadas cartesianas são obtidos na figura
1.11:

x = r cos φ senθ
y = r senφ senθ (1.31)
z = r cos θ
Para um vetor A ⃗ = Ar r̂ + Aθ θ̂ + Aφ φ̂ dado em coordenadas esféricas, o
componente Ax em coordenadas cartesianas é obtido a partir da imagem do
vetor ao longo do versor x̂ na figura 1.11:
Ax = A ⃗ · x̂
= Ar r̂ · x̂ + Aθ θ̂ · x̂ + Aφ φ̂ · x̂
Basta lembrar os ângulos entre versores:
50 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS

Ax = Ar cos φ senθ + Aθ cos φ cos θ − Aφ senφ (1.32)


De forma semelhante o componente Ay pode ser obtido:

⃗ · ŷ
Ay = A
= Ar r̂ · ŷ + Aθ θ̂ · ŷ + Aφ φ̂ · ŷ

Ay = Ar senφ senθ + Aθ senφ cos θ + Aφ cos φ (1.33)


E o componente Az será:
⃗ · ẑ
Az = A
= Ar r̂ · ẑ + Aθ θ̂ · ẑ + Aφ φ̂ · ẑ

Az = Ar cos θ − Aθ senθ (1.34)


Vamos completar a resposta dado para o exemplo anterior. Utilizando as
equações (1.32) e (1.33) e (1.34) teremos θ̂ = cos φ0 cos θx̂ + senφ0 cos θŷ −
senθẑ. Logo, teremos a seguinte resposta:
Z π Z π
θ̂dθ = (cos φ0 cos θx̂ + senφ0 cos θŷ − senθẑ)dθ.
0 0

Logo, a resposta final é −2ẑ.


Exercício 1.15.
a) Transforme os componentes de um vetor em coordenadas cilíndricas para
esféricas. b) Repete desta vez, a transformação de um vetor em coorde-
nadas esféricas para cilíndricas. c) Encontre formulações para converter as
coordenadas esféricas de um ponto P (r0 , θ0 , φ0 ) para as coordenadas cilíndri-
cas.
Exercício 1.16.
Represente o vetor A⃗ = − senφx̂ + cos φŷ em coordenadas esféricas. Res-
posta: A ⃗ = φ̂.
Exercício 1.17.
⃗ = yx̂ +
a) Encontre a expressão do ponto P (−2, 6, 3) e o campo vetorial A
(x + z)ŷ em coordenadas cilíndricas e esféricas.
b) Encontre o campo vetorial A ⃗ no ponto P em coordenadas cilíndricas e
esféricas.
CAPÍTULO 1. ÁLGEBRA VETORIAL 51

Exercício 1.18.
⃗ = 3r̂ + 2θ̂ − 6φ̂ e B
Considere os vetores A ⃗ = 4r̂ + 3φ̂. Calcule resultado das
seguintes operações no ponto P (2, π/3, π/4):
a) |A
⃗ × B|.

b) A⃗ · B.

c) Componente do vetor A⃗ em P (2, π/3, π/4) paralelo ao ẑ.
Exercício 1.19.
Para o vetor A⃗ = r2 cos φr̂ − 1/r senθ cos φφ̂ + 4r2 φ̂, calcule resultado das
seguintes operações:
a) O vetor A⃗ no ponto P (10, π/3, π/4).
b) O componente tangencial do vetor A ⃗ à superfície de uma esfera de raio
10 no ponto P .
c) O versor no ponto P perpendicular ao vetor A ⃗ e tangencial ao cone θ =
π/3.
52 1.2. SISTEMAS DE COORDENADAS
Parte II

Eletrostática

53
Capítulo
2
Técnicas de Análise de campo elé-
trico

Sem a força eletrostática para segurar o elétron junto com próton no átomo, um único átomo de hidrogeno teria o tamanho maior que nosso
universob . Vivemos em um mundo eletromagnético junto com fenômenos gravitacionais, cuja origem são cargas elétricas.

2.1 Lei de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56


2.1.1 Distribuição Linear, Superficial e Volumétrica . . 59
2.2 Potencial Elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.2.1 Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.2.2 Potencial Elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.3 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.3.1 Divergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.3.2 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.4 Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
2.4.1 Técnica da Separação de Variáveis . . . . . . . . 91
2.4.2 Separação de Variáveis/ Coordenadas Cilíndricas 96
2.4.3 Separação de Variáveis/ Coordenadas Esféricas . 101
2.4.4 Solução Numérica da Equação de Laplace . . . . 104
b
Do livro: Introdução a eletrodinâmica, escrito por David J. Griffiths.

55
56 2.1. LEI DE COULOMB

2.5 Método das Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107


2.5.1 Condutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
2.5.2 Método das Imagens... . . . . . . . . . . . . . . . 111

N este capítulo, vamos apresentar alguns métodos de análise de campo


elétrico devido a uma distribuição geométrica de cargas elétricas. Começare-
mos de uma lei conhecida como lei de Coulomb, que relaciona a intensidade
do campo elétrico sendo diretamente proporcional ao tamanho das cargas elé-
tricas e inversamente proporcional ao quadrado da distância até a fonte do
campo elétrico. Em sequência, teremos uma continuação da análise vetorial
e de operadores diferenciais como o gradiente. A partir da apresentação do
gradiente, teremos um novo método de análise de campo elétrico, chamado
potencial elétrico, que por sua natureza escalar pode ser mais conveniente do
que o primeiro método.
Em seguida, falaremos de mais uma operação diferencial com vetores cha-
mada de divergência. A partir da definição de divergência, chegaremos a
mais um método de análise de campo elétrico, chamado técnica de Gauss.
Em vários casos, aproveitando da simetria que existe na distribuição de car-
gas elétricas, podemos utilizar esta última técnica e facilmente obter o campo
elétrico no espaço. Em seguida, substituindo o campo elétrico pelo gradiente
do potencial elétrico na equação da lei de Gauss, chegaremos ao Laplaciano
do potencial elétrico que oferece mais uma maneira para análise de campo
elétrico, utilizando a equação diferencial de segunda ordem junto com as
condições de contorno. Finalmente, falaremos do método das imagens e as
caraterísticas de condutores.

2.1 Lei de Coulomb


O conhecimento de eletricidade estática é um assunto milenar. Existem
evidências arqueológicas do conhecimento de humanos sobre a manifestação
desse fenômeno a partir de atritar um corpo com um material de composição
diferente. Efeitos como a atrações de partículas por objetos e a sensação de
choques elétricos ao tocar condutores elétricos aterrados. O choque ocorre
devido ao acúmulo de cargas elétricas após o atrito do seu corpo com a roupa.
Entretanto, por muitos séculos a origem destes fenômenos era desconhecida.
No século 18, o cientista francês Charles Augustin de Coulomb, descobriu
pela primeira vez a lei de força entre corpos carregados através das medidas
experimentais. A modelagem matemática ficou conhecida como lei de Cou-
lomb, que esclarece a relação direta entre a força com o tamanho das cargas
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 57

elétricas, e relação reversa ao quadrado da distância entre elas, semelhante à


lei da gravitação universal, ou seja:
q1 q2
F⃗ = k 2 r̂ (2.1)
r
Nessa equação q1 , q2 , r e k representam as duas cargas, e a distância entre
si e o coeficiente de proporção, respectivamente. No sistema internacional
de unidades (SI) ou MKS, o tamanho de k é 9 × 109 N.m2 C−2 . O vetor da
força é o que está ao longo da linha que conecta as cargas pontuais. Caso
as duas cargas tenham o mesmo sinal, a força é repulsiva, caso contrário, as
cargas atraem-se. O versor r̂ representa o sentido e direção da força aplicada
sobre a carga q1 pela carga q2 . Ou seja, r̂ é o versor correspondente ao vetor
r⃗1 − r⃗2 onde r⃗1 e r⃗2 são os vetores de distância em relação com a origem das
coordenadas.
Percebe-se que a Lei de Coulomb representa forças que agem sem haver
contato físico, ou seja, trata de um força de campo. Sendo assim, a carga
q1 vai sentir a força eletrostática através da geração de um campo elétrico
pela carga q2 nas proximidades. Logo, podemos representar o campo elétrico
como a força eletrostática por unidade de carga elétrica dada pela equação
(2.1) com a unidade N/C. Sendo assim, o campo elétrico gerado pelo q2 na
posição da carga q1 é obtido pela seguinte equação:
⃗ = k q2 r̂.
E (2.2)
r2
Obviamente, a carga elétrica q2 vai sentir a força eletrostática devido o campo
elétrico gerado pela carga elétrica q1 .
Se tiver um arranjo de cargas elétricas como ilustrado na figura 2.1, o
campo elétrico resultante é a soma vetorial de campos elétricos individuais.
Isso porque a regra da superposição é válida para a modelagem linear deste
fenômeno. Por exemplo, para n cargas q1 na posição r1 , q2 na posição r2 ,
... qn na posição rn no espaço da figura 2.1, o campo elétrico resultante no
ponto P(x, y, z), será:
⃗ = k q1 r̂1 + k q2 r̂2 + ...k qn r̂n .
E (2.3)
r21 r22 r2n
A equação 2.3 pode ser simplificada, deslocando a origem das coordenadas
para o ponto P, ou seja: ⃗ri = ⃗0 − ⃗ri . Logo:
X
n
qi
⃗ = −k
E r̂i ,
i=1 ri2

Exemplo 2.1. Três cargas idênticas de 1 nC estão posicionadas em (1, 2, 0),


(1, 1, 0) e (−1, −1, 0). Encontre o campo elétrico gerado em P(1, 1, 1).
58 2.1. LEI DE COULOMB

P
q1 r1

rn
r2
r3
qn
....
q2
q3

Fig. 2.1. Representação do efeito de n cargas elétricas em um ponto P do espaço.

Resposta: Os vetores de distância serão:

r⃗1 = (0, −1, 1), r⃗2 = (0, 0, 1), r⃗3 = (2, 2, 1).

E os módulos são de 2 e 1 e 3, então, os versores serão: r̂1 = √1 (0, −1, 1),
2
e r̂2 = (0, 0, 1), e r̂3 = 31 (2, 2, 1), respectivamente. Portanto:

⃗ = 9 r̂1 + 9 r̂2 + 9 r̂3 = √


E
9 9
(0, −1, 1) + 9(0, 0, 1) + (2, 2, 1)
2 1 9 2 2 27

⃗ = 0, 667x̂ − 2, 51ŷ + 12, 52ẑ N/C.


Então: E ■

Exercício 2.1.
Encontre o campo elétrico no ponto P(0, 1, 2) devido a distribuição uniforme
de 8 cargas iguais, de 2 nC, ao redor de um circulo de raio 2, no plano z = 0.
Considere uma das cargas posicionada ao longo de eixo x. ■

A ideia da superposição de campos elétricos na equação 2.3 pode ser es-


tendida no caso da presença de inúmeras cargas elétricas. Sendo assim, su-
ponhamos a função de distribuição das cargas no espaço em forma contínua.
Logo, o campo elétrico gerado por um elemento infinitesimal das cargas dq
será:
dE⃗ = k dq r̂. (2.4)
r2
Logo, a soma de vetores dos campos elétricos infinitesimais, dada pela equa-
ção (2.3) é transformada em uma integral. Na seguinte seção, vamos apre-
sentar a modelagem matemática do campo elétrico resultante da distribuição
unidimensional, bidimensional e tridimensional das cargas elétricas.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 59

2.1.1 Distribuição Linear, Superficial e Volumétrica


A primeira modelagem de campo elétrico, resultado de medidas experi-
mentais, é uma formulação discreta do fenômeno. Em que as cargas pontuais
discretas qi são a fonte de campo elétrico. Como a equação 2.3 mostra, o
campo elétrico, resultante de uma distribuição espacial de cargas, é obtido
a partir da superposição de campos elétricos individuais. Se o número de
cargas for relativamente grande, o campo elétrico pode ser obtido a partir da
segmentação da região de distribuição de cargas. A segmentação em escala
menor terá o campo elétrico resultante mais preciso. Assim, uma segmenta-
ção infinitesimal dq gera um campo elétrico dado pela equação 2.4 e a partir
da soma vetorial dos campos infinitesimais teremos a resposta exata. Essa
soma dos elementos infinitesimais na equação 2.3 é uma representação da
integral da seguinte forma:
Z
dq
⃗ =k
E r̂. (2.5)
r2
Por exemplo, se tivermos cargas distribuídas ao longo de uma linha reta
ou curva como na figura 2.2a, e tivermos informações da forma como está
distribuída, através da densidade de cargas, ρl (x′ , y ′ , z ′ ) C/m, então a carga
acumulada em um segmento infinitesimal dl′ da linha é dq = ρl dl′ . Portanto,
o campo elétrico correspondente será:

⃗ = k ρl dl r̂.
dE (2.6)
r2
Basta fazer a soma vetorial usando a propriedade de superposição, para achar
o campo elétrico total. Para fazer a distinção entre as coordenadas da fonte
e do campo, utilizamos um apóstrofo (′ ) para as coordenadas da fonte, onde
as cargas elétricas estão distribuídas. Sendo assim, as coordenadas do campo
são representadas por (x, y, z) e as coordenadas da fonte são representadas
por (x′ , y ′ , z ′ ).
Se houver cargas distribuídas em uma superfície plana ou curvada, dada
informação de densidade de cargas superficiais ρs (x′ , y ′ , z ′ ) C/m2 , a carga
pontual em uma fatia infinitesimal ds′ da superfície é dq = ρs ds′ (veja a figura
2.2b). Portanto, o campo elétrico correspondente será:

⃗ = k ρs ds r̂.
dE (2.7)
r2
A superposição dos campos infinitesimais se torna uma integral. Caso a carga
se espalhe em um volume e seja conhecida a densidade volumétrica de cargas
ρ(x′ , y ′ , z ′ ) C/m3 , a carga pontual em uma fatia infinitesimal dτ ′ da superfície
é dq = ρdτ ′ (veja a figura 2.2c). Portanto, o campo elétrico correspondente
será:
60 2.1. LEI DE COULOMB

P P P

r ds' r r
d'
dl'
S C/m2  C/m3
l C/m
(a) (b) (c)

Fig. 2.2. Esquema de escolha de uma elemento infinitesimal de carga se houver


distribuição: a) Linear ou 1D, b) Superficial ou 2D, c) Volumétrica ou 3D.

ρdτ ′
dE r̂.
⃗ =k (2.8)
r2
Para compreender melhor os conceitos, veja o exemplo 2.2 .

Exemplo 2.2. Encontre o campo elétrico a uma distância h de um fio reto


como está mostrada na figura 2.3a.
Resposta: Escolhemos as coordenadas e a origem mostradas na figura 2.3b
. Basta encontrar a relação de r com h e z: ⃗r = hŷ − z ′ ẑ, dl′ = dz ′ .
Substituindo as variáveis na equação (2.6):

ρl dz ′
⃗ =k
dE 2 ′2 1,5
(hŷ − z ′ ẑ)
(h + z )

Os componentes de campo vetorial podem ser calculados individualmente a


partir das seguintes integrais:
Z
ρl hdz ′
Ey = k
(h2 + z ′2 )1,5
Z
ρl z ′ dz ′
Ez = − k 2
(h + z ′2 )1,5

As integrais podem ser simplificadas utilizando a troca de variáveisa : z ′ =


h tgθ e r = h sec θ. Sendo assim, podemos encontrar as integrais das seguintes
a
Você também pode conferir as respostas das integrais usando a tabela E.5 no apêndice
do livro.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 61

y
𝐸
P r
l C/m
h  h
z O
z' z'

x
(a) (b)

Fig. 2.3. a) Distribuição linear de cargas elétricas ao longo de um fio com densidade
linear de ρl C/m. b) Escolha de coordenadas e a origem.

formas:
Z
h sec2 θdθ kρl Z θ2
Ey = kρl h = cos θdθ
h3 sec3 θ h θ1
kρl
= ( senθ2 − senθ1 )
h
Z
h tgθh sec2 θdθ kρl Z θ2
Ez = −kρl =− senθdθ
h3 sec3 θ h θ1
kρl
(cos θ2 − cos θ1 )
=
h
Onde, θ1 e θ2 são ângulos correspondentes aos limites da integrala .
Para um fio muito longo, i.e.b comprimento ≫ h, e o ponto P distante
das pontas do fio, os ângulos serão θ1 = −90o e θ2 = 90o , logo, tere-
mos:
⃗ = 2kρl ŷ.
E (2.9)
h
Para outros casos de tamanho de fio e posição do ponto P onde se deseja
calcular o campo, basta encontrar os ângulos correspondentes aos limites da
integral. ■

a
veja a tabela E.3 no apêndice do livro
b
Isto é, ou seja, em outros termos (Referência: wiktionary).
62 2.1. LEI DE COULOMB

Exemplo 2.3. Encontrar o campo elétrico na altura h de uma superfície


plana de cargas elétricas ρs C/m2 .
Resposta: Primeiramente, escolhemos as coordenadas e a origem como a
figura 2.4 mostra. Para distribuição superficial de cargas é necessário encon-
trar r e o elemento infinitesimal de superfície ds′ para substituir na equação
(2.7). Pela configuração dada na figura 2.4:
⃗r = hẑ − x′ x̂ − y ′ ŷ
ds′ = dx′ dy ′ ,
portanto, o campo gerado por um elemento diferencial ρs ds′ de cargas é dado
pela equação (2.7):
ρs dx′ dy ′
⃗ =k
dE ′2 ′2 2 1,5
(hẑ − x′ x̂ − y ′ ŷ).
(x + y + h )
Os componentes de campo vetorial podem ser calculados individualmente a
partir das seguinte integrais:
Z
ρs x′ dx′ dy ′
Ex = −k
(x′2 + y ′2 + h2 )1,5
Z
ρs y ′ dx′ dy ′
Ey = −k
(x′2 + y ′2 + h2 )1,5
Z
ρs dx′ dy ′
Ez = kh .
(x′2 + y ′2 + h2 )1,5
Em caso de interesse em calcular o campo elétrico ao longo do eixo no
centro do plano, os componentes Ex e Ey serão nulos devido a integral de uma
função impar e a simetria de variação de x e y. Se houver um plano circular ao
redor do eixo z podemos transformar as variáveis para coordenadas polares,
ou sejaa :
Z
r′ dr′ dφ′
Ez = khρs
(r′2 + h2 )1,5
Z r
r′ dr′
= khρs 2π
0 (r ′2 + h2 )1,5
1 r
= −2khρs π √ ′2
r + h2 0
A resposta ainda pode ser mais simplificada para um plano muito grande
em relação com a altura h (dimensões do plano ≫ h). Sendo assim, podemos
simplificar a fórmula do campo elétrico, levando r → ∞ na resposta obtida,
ou seja:
a
veja a tabela E.5 no apêndice do livro
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 63

∆𝐸 z

h r
 y
x'
s C/m2 x y'

Fig. 2.4. Campo elétrico na altura h de uma distribuição de cargas superficiais.

⃗ = 2πkρs ẑ.
E (2.10)
Portanto, o campo elétrico bem próximo a uma superfície plana de cargas
elétricas é homogêneo e não varia com altura h. ■

A técnica da lei de Coulomb é bastante eficaz para encontrar as variações


de campo elétrico no espaço. Entretanto, exige uma soma vetorial que pode
ser bastante trabalhosa como o seguinte exemplo mostra:
Exemplo 2.4. Encontrar o campo elétrico no espaço devido a uma distribui-
ção volumétrica de cargas elétricas em uma esfera de raio a como ilustrada
na figura 2.5.
Resposta: No início, para um ponto P(x, y, z) nas coordenadas cartesianas
com a origem no centro da esfera teremos ⃗r = (x − x′ )x̂ + (y − y ′ )ŷ + (z − z ′ )ẑ
e dτ ′ = dx′ dy ′ dz ′ . Então, a equação (2.8) vai ser:

ρdx′ dy ′ dz ′ h i
⃗ = kh
dE i1,5 (x − x′ )x̂ + (y − y ′ )ŷ + (z − z ′ )ẑ
(x − x′ )2 + (y − y ′ )2 + (z − z ′ )2

Para simplificar o resultado, podemos escolher as coordenadas de forma que


o ponto de campo seja ao longo do eixo z, conforme a figura 2.5. Assim, os
componentes de campo elétrico serão:
Z
x′ dx′ dy ′ dz ′
Ex = −kρ
(x′2 + y ′2 + (z − z ′ )2 )1,5
Z
y ′ dx′ dy ′ dz ′
Ey = −kρ
(x′2 + y ′2 + (z − z ′ )2 )1,5
Z
(z − z ′ )dτ ′
Ez = kρ .
r3
Como se percebe, a primeira integral é uma função ímpar da variável x′ ,
logo, o componente Ex será nulo, sabendo-se que a variação de x′ é entre
64 2.1. LEI DE COULOMB

z
𝑑𝐸 P(0,0,z)

r
 C/m3 d
'
r'
y
'
x
Fig. 2.5. Uma distribuição volumétrica de cargas elétricas no raio a.

−a e +a. O mesmo ocorre para a segunda integral em função de y ′ . A


integral relacionada com o componente Ez do campo elétrico transforma-se,
em coordenadas esféricas, para:
Z
(z − z ′ )r′2 dr′ senθ′ dθ′ dφ′
Ez = kρ . (2.11)
r3
onde, o elemento diferencial de volume é dτ ′ = r′2 dr′ senθ′ dθ′ dφ′ .
No apêndice E do livro é apresentada uma técnica de troca de variáveis
com todos os detalhes para encontrar a resposta desta integral. A resposta
é dada pela equação E.2 para pontos fora da esfera, i.e. z > a. Assim, o
componente z do campo elétrico a uma distância z do centro da esfera será:
4π 3
⃗ =k 3

E ẑ. (2.12)
z2
Lembramos que 4π/3a3 representa o volume da esfera, logo, 4π/3a3 ρ sig-
nifica a carga elétrica total da esfera com a distribuição uniforme. Pela lei
de Coulomb, o campo elétrico a uma distancia z da carga pontual 4π/3a3 ρ é
dado pela equação 2.12. Portanto, podemos tratar uma esfera carregada ho-
mogeneamente, como uma carga pontual no centro da esfera, com a mesma
carga total. Vale relembrar que o ponto do campo está fora da esfera. ■

Exercício 2.2.
No exemplo anterior, o campo foi calculado fora da esfera, ou seja, z > a.
Refazer o procedimento, se tiver interesse na análise do campo elétrico dentro
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 65

do espaço ocupado pela esfera. Dicas: Aproveite da resposta da integral no


apêndice E para z < a. ■

Em geral, a soma vetorial necessária pela modelagem da lei de Coulomb


pode ser uma tarefa nada fácil. Na próxima seção, apresentamos uma téc-
nica de análise de campo elétrico, tentando se livrar da soma vetorial. Este
método é chamado potencial elétrico e em algumas ocasiões pode reduzir a
complexidade da resposta.
Exercício 2.3.
Encontre o campo elétrico no eixo de um anel de raio a, carregado com a
densidade ρl C/m.
Exercício 2.4.
Obter o campo elétrico no eixo de um disco de raio a carregado com a den-
sidade ρs = r C/m2 , onde r é raio polar.
Exercício 2.5.
Uma superfície plana quadrada com 1 m de largura está localizado na região
0 < x < 1, 0 < y < 1 e z = 0. A densidade de cargas é de xy(x2 + y 2 + 9)
nC/m2 . Encontre: a) A carga total sobre a folha. b) Campo elétrico gerado
na altura 3 do eixo z. ■

2.2 Potencial Elétrico


Como percebemos, a técnica de cálculo de campo elétrico diretamente
pela lei de Coulomb pode ser bastante complexa devido à necessidade da
soma vetorial. Estamos em busca de uma maneira mais eficaz, em que a
integral pode ser encontrada em forma escalar. A análise escalar de campo
elétrico é possível através de uma operação que representa a taxa espacial
de um escalar em forma vetorial. Esta operação é representada na seguinte
seção.

2.2.1 Gradiente
Se tivermos interesse em calcular a taxa espacial de variação de uma
função como f (x), simplesmente a taxa é obtida pela df /dx. Suponha que
estamos tratando de uma função espacial 3D, que contém, nas coordenadas
cartesianas, as variáveis x, y e z. A taxa de variação obviamente, não será
obtida através de somente um diferencial, mas sim de três diferenciais ∂f /∂x,
∂f /∂y e ∂f /∂z. Mas, para informar a taxa correspondente com cada dife-
rencial, é necessário informar a direção e o sentido do resultado. O gradiente
66 2.2. POTENCIAL ELÉTRICO

oferece todas estas informações em uma operação vetorial representada em


coordenadas cartesianas por:
∂f ∂f ∂f
Grad(f ) = x̂ + ŷ + ẑ (2.13)
∂x ∂y ∂z
Para facilitar mais a representação do gradiente, definimos o operador veto-
rial ∇ chamado nabla:
∂ ∂ ∂
∇= x̂ + ŷ + ẑ (2.14)
∂x ∂y ∂z
Para entender melhor o significado do gradiente de uma função, podemos
começar do cálculo de crescimento de uma função f . Neste caso, basta
encontrá-lo a partir do teorema de derivadas parciais de uma função, como
segue:
∂f ∂f ∂f
df = dx + dy + dz.
∂x ∂y ∂z
Nesta equação, identificamos um produto escalar entre o vetor de desloca-
mento infinitesimal d⃗l = dxx̂ + dy ŷ + dz ẑ e o vetor ∇f , ou seja:

df = ∇f · d⃗l.

Podemos também, representar o produto escalar a partir de módulos de


vetores e o ângulo θ entre vetor de gradiente e o vetor de deslocamento.
Então:
df
= |∇f | cos θ. (2.15)
dl
Esta equação mostra que a máxima taxa de variação espacial da função f
ocorre na direção dada do gradiente, onde θ = 0, que é a direção perpendi-
cular à função f .
Exercício 2.6.
Encontre a taxa de variação espacial da função f = x2 + xy 2 + z 3 em direção
3x̂ + 4ŷ + 7ẑ que passa pelo ponto (2, −1, 4).
Exercício 2.7.
Encontre a equação da força relacionada a energia de um sistema. ■

Se a função f estiver em coordenadas cilíndricas, como f (r, φ, z), tam-


bém é fácil encontrar as taxas de variação em três direções, que são ∂f /∂r,
∂f /(r∂φ) e ∂f /∂z. Portanto o operador de gradiente em coordenadas cilín-
dricas será:
∂ ∂ ∂
∇= r̂ + φ̂ + ẑ (2.16)
∂r r∂φ ∂z
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 67

Em coordenadas esféricas, a taxa de variação da função f (r, θ, φ) em função


de varáveis r e θ e φ serão ∂f /∂r e ∂f /(r∂θ) e ∂f /(r senθ∂φ) respetivamente.
Então, o operador gradiente será:
∂ 1 ∂ 1 ∂
∇= r̂ + θ̂ + φ̂ (2.17)
∂r r ∂θ r senθ ∂φ

Exemplo 2.5. Encontre o gradiente das seguintes funções:


a) r (raio em coordenadas esféricas),
b) r (distância entre fonte e o ponto de campo),
c) 1r ,
d) 1r ,
e) 1r desta vez queremos as taxas espaciais em relação de variáveis x′ , y ′ e z ′ .
Resposta: a) Em coordenadas esféricas:

∂r
∇r = r̂ = r̂
∂r
b) Começando em coordenadas cartesianas:

∂r ∂r ∂r
∇r = x̂ + ŷ + ẑ
∂x ∂y ∂z
x − x′
=q x̂
(x − x′ )2 + (y − y ′ )2 + (z − z ′ )2
y − y′
+q ŷ
(x − x′ )2 + (y − y ′ )2 + (z − z ′ )2
z − z′
+ q ẑ
(x − x′ )2 + (y − y ′ )2 + (z − z ′ )2
= r̂.

Em geral, podemos considerar r como função deslocada da função r. Como


as operações de gradiente e deslocamento são operações lineares, podemos
alterar a ordem de operações, ou seja, a resposta encontrada para ∇f (r)
pode servir para ∇f ( r) somente com a troca de variável.
c) Em coordenadas esféricas:

1 ∂1/r 1
∇ = r̂ = − 2 r̂.
r ∂r r
d) Lembrando do que falamos anteriormente, teremos:
68 2.2. POTENCIAL ELÉTRICO

1 1
∇ = − 2 r̂. (2.18)
r r
e) Similarmente, basta lembrar que diferencial em função de coordenadas da
fonte (x′ , y ′ , z ′ ) acrescenta um sinal na equação, ou seja:
1 1
∇′ = 2 r̂. (2.19)
r r

O conhecimento básico do gradiente nos permite desenvolver uma nova


técnica de análise de campo vetorial a partir da Lei de Coulomb que será
apresentada na próxima seção. Especialmente, os resultados do exemplo 2.5
serão aproveitados.

2.2.2 Potencial Escalar Elétrico


No início do capítulo, apresentamos a modelagem matemática do campo
elétrico descrita pela Lei de Coulomb na equação (2.4). Aproveitando o
resultado do exemplo 2.5d na equação (2.8):
Z
⃗ =− 1
E kdq∇ .
r
ou seja:
Z
⃗ = −∇ kdq
E
r (2.20)
= −∇ϕ.
Isso quer dizer que o campo elétrico é resultado do gradiente de um campo
escalar, que é chamado potencial elétrico ϕ. Assim, a unidade do potencial
elétrico seria N m/C, ou seja, Volt. Somando todos valores infinitesimais do
potencial elétrico, teremos:
Z
dq
ϕ=k + C. (2.21)
r
Como o potencial elétrico (equação (2.21)) é encontrado pela integral do
campo elétrico, consideramos a constante C na equação, ou seja, o potencial
elétrico é uma grandeza física relativa e o seu tamanho é sempre informado
em relação a um referencial. A equação (2.21) é uma equação geral para
distribuição continua de cargas elétricas. Basta inserir dq = ρl dl′ para dis-
tribuição 1D. Então:
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 69

Z
ρl dl′
ϕ=k + C. (2.22)
r
Se tiver uma distribuição bidimensional de cargas em uma superfície, basta
inserir dq = ρs ds′ na equação (2.21), onde ρs representa a densidade superfi-
cial de cargas elétricas. Assim teremos:
Z
ρs ds′
ϕ=k + C. (2.23)
r
E, se tiver uma distribuição volumétrica de cargas com a densidade ρ C/m3 ,
o potencial elétrico será:
Z
ρdτ ′
ϕ=k + C. (2.24)
r
O potencial elétrico de uma carga pontual é obtido a partir da integral da
função do campo elétrico dada pela equação (2.2), ou seja:
Q
ϕ = k + C. (2.25)
r
Considerando um ponto no infinito como referencial, podemos desconsiderar
o termo constante C da equação de cima.
Percebemos que a análise de campo vetorial através do potencial elétrico
é mais vantajosa devido ao cálculo escalar, que pode simplificar considera-
velmente a solução da integral. Após encontrar o potencial, basta fazer o
gradiente para achar o campo elétrico. Podemos, também, achar o potencial
a partir de um dado campo elétrico, ou seja:
Z
ϕ=− E ⃗ · d⃗l. (2.26)

Exemplo 2.6. A densidade de carga elétrica é ρl C/m ao longo de uma linha


de comprimento l. Encontre o potencial na distância h posicionado no meio
do fio. √
Resposta: Na equação (2.21) substituindo dq = ρl dz ′ e r = z ′2 + h2 , tere-
mos:
Z
ρl dz ′
ϕ = k √ ′2 + C.
z + h2
A partir da troca de variáveis z ′ = h tgθ e r = h sec θ e dz ′ = h sec2 θdθ
teremos: Z
ϕ = kρl sec θdθ + C

Utilizando a tabela E.5 de integral no apêndice do livro:

ϕ = kρl ln(sec θ + tgθ) + C


70 2.2. POTENCIAL ELÉTRICO

Para um referencial do potencial elétrico no infinito,q


i.e. C = 0, considerando
os limites da integral acima, tais como sec θ1 = h2 + l2 /4/h, e tgθ1 =
q
−l/2h, e sec θ2 = h2 + l2 /4/h, e tgθ2 = l/2h, teremos a seguinte equação:
√ √
h  l2 + 4h2 l   l2 + 4h2 l i
ϕ = kρl ln + − ln −
√ 2h 2h 2h 2h
h l2 + 4h2 + l i
= kρl ln √ 2 .
l + 4h2 − l

Sabemos que trabalho necessário para deslocar um objeto sob efeito de


uma força F⃗ do ponto ”a”ao ponto ”b”é encontrado pela seguinte equação:
Z b
W =− F⃗ · d⃗l.
a

Também, sabemos que a força sentida pela uma carga elétrica Q sob efeito
de um campo eletrostático E⃗ é F⃗ = QE.
⃗ Sendo assim, o trabalho necessário
para deslocar uma carga elétrica Q do ponto ”a”para o ponto ”b”em um
campo elétrico é obtido através da seguinte equação:
Z b
W = −Q ⃗ · d⃗l.
E (2.27)
a

A parte de integral da equação (2.27) representa a diferença do potencial


elétrico entre dois pontos ”a”e ”b”, dado pela equação (2.26). Logo, a energia
necessária para deslocar uma carga Q do ponto ”a”para a posição ”b”sob
efeito do campo eletrostático E ⃗ será:
W = Q(ϕb − ϕa ), (2.28)
Onde ϕa e ϕb são os potenciais elétricos do ponto de partida e ponto final da
trajetória, respectivamente. Vale ressaltar que no caso em que o ponto final
for o mesmo que ponto de partida, ou seja, uma trajetória fechada, o trabalho
será nulo, que podemos representar pela seguinte equação:
I
E⃗ · d⃗l = 0, (2.29)
c

onde o contorno c pode ser qualquer trajetória fechada. Sendo assim, o


⃗ é chamado conservativo, ou seja, a energia necessária para
campo vetorial E
deslocar uma carga em um caminho fechado é nula.
Exercício 2.8.
a) Obter o potencial elétrico na altura z do eixo de um anel de raio a carregado
com a densidade ρl C/m. b) A partir do potencial elétrico encontrar o campo
elétrico.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 71

Exercício 2.9.
a) Encontre o potencial elétrico no eixo de um arruela de raio interno a e
raio externo b, carregada com a densidade ρs = r22 C/m2 , onde r é raio polar.
b) A partir do potencial elétrico, encontre o campo elétrico. ■

2.3 Lei de Gauss


Como estudado anteriormente, resolver problemas utilizando a Lei de
Coulomb envolve soma vetorial, o que nem sempre é conveniente, em es-
pecial se estamos utilizando outro tipo de sistema de coordenadas diferente
da retangular, como a cilíndrica ou esférica. A técnica de potencial escalar
também possui certas complexidades para resolver distribuição do campo
elétrico no espaço. Por isso, nesta seção serão apresentadas ferramentas para
evitar os cálculos relativamente complicados que enfrentamos nas técnicas
anteriores como lei de Coulomb e potencial elétrico. Para chegar neste nível
de conhecimento é necessário apresentar mais uma operação diferencial com
vetores chamada de divergência que será explicada a seguir.

2.3.1 Divergência
⃗ que atravessa uma superfície s é definido
O fluxo de um campo vetorial E
da seguinte forma:
Z
Φ= E ⃗ · d⃗s (2.30)
s

Se a superfície for fechada, o fluxo é chamado fluxo líquido para fora que é
representado da seguinte forma:
I
Φ= E ⃗ · d⃗s (2.31)
s

A partir do fluxo líquido, a divergência de um campo vetorial ⃗ é definida


E
como fluxo líquido por unidade de volume. Logo, podemos formularizar
a divergência como o fluxo líquido para fora de um volume infinitesimal
dividido por volume, ou seja:
I
⃗ · d⃗s
E
⃗ =
Div(E) s

X∆τ (2.32)
Φi
i
= ,
∆τ
72 2.3. LEI DE GAUSS

z
y
x 4
1
E

5
z O 3
y
2
6

(a) (b)
x

Fig. 2.6. a) Superfície infinitesimal necessária para achar a divergência de um


campo vetorial E ⃗ em um ponto. b) Coordenadas cartesianas definidas e a nume-
ração das seis faces do volume.

onde Φi representa o fluxo para fora de cada uma das superfícies ao redor
do volume infinitesimal. Geralmente, a fórmula de divergência é obtida pelo
fluxo líquido por unidade infinitesimal de um volume ao redor de um ponto,
ou seja, o ponto fica no meio do volume, onde considera-se a origem das
coordenadas. Entretanto, como a definição é a base de quantidades infinite-
simais, não altera o resultado se focar somente no fluxo líquido que atravessa
uma superfície fechada sem influência da posição de origem das coordenadas.

2.3.1.1 Divergência em Coordenadas Cartesianas


Para encontrar a divergência nas coordenadas cartesianas, o volume in-
finitesimal escolhido é um paralelepípedo retangular de largura ∆x , altura
∆y , e profundidade ∆z localizada na origem conforme a figura 2.6. O fluxo
total do campo E ⃗ para fora deste volume é a soma de fluxos das 6 faces do
paralelepípedo, ou seja:
1. plano x = 0: ∆⃗s = −∆y∆z x̂
Φ1 = −∆y∆zEx (0, 0, 0)

2. plano x = ∆x: ∆⃗s = ∆y∆z x̂


Φ2 = ∆y∆zEx (∆x, 0, 0)

3. plano y = 0: ∆⃗s = −∆x∆z ŷ


Φ3 = −∆x∆zEy (0, 0, 0)
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 73

4. Plano y = ∆y: ∆⃗s = ∆x∆z ŷ


Φ4 = ∆x∆zEy (0, ∆y, 0)

5. plano z = 0: ∆⃗s = −∆x∆yẑ


Φ5 = −∆x∆yEz (0, 0, 0)

6. plano z = ∆z: ∆⃗s = ∆x∆yẑ


Φ6 = ∆x∆yEz (0, 0, ∆z)

Logo, a soma do fluxo da face x = 0 e da x = ∆x será ∆z∆y(Ex (∆x, 0, 0) −


Ex (0, 0, 0)) que é equivalente com:

∂Ex
Φ1 + Φ2 = ∆x∆y∆z .
∂x

Também, o fluxo que sai pelas faces y = 0 e y = ∆y será ∆x∆z(Ey (0, ∆y, 0)−
Ex (0, 0, 0)), ou seja:
∂Ey
Φ3 + Φ4 = ∆x∆y∆z .
∂y
A soma do fluxo da face z = 0 e da z = ∆z será ∆x∆y(Ez (0, 0, ∆z) −
Ez (0, 0, 0)) que é equivalente com:

∂Ez
Φ5 + Φ6 = ∆x∆y∆z
∂z

A soma dos fluxos de três pares de face representa o fluxo líquido para fora
neste volume. Sendo assim, a divergência nas coordenadas cartesianas é
obtida a partir da equação (2.32), dividindo o fluxo total obtido por volume
do cubo que é ∆x∆y∆z, ou seja:
⃗ = ∂Ex + ∂Ey + ∂Ez
Div(E) (2.33)
∂x ∂y ∂z
Se utilizarmos a definição de produto escalar, dada pela equação (1.9), po-
demos representar a divergência da seguinte forma:

∂ ∂ ∂
⃗ =(
Div(E) x̂ + ŷ + ẑ) · (Ex x̂ + Ey ŷ + Ez ẑ) (2.34)
∂x ∂y ∂z

Lembrando do operador vetorial nabla (Equação (2.14)), podemos represen-


tar a divergência como produto escalar de ∇ com o campo vetorial ou ∇ · E.

74 2.3. LEI DE GAUSS

𝑧
r
z r

O  y

r

Fig. 2.7. Representação gráfica de uma superfície fechada infinitesimal para cálculo
do fluxo total em coordenadas cilíndricas.

2.3.1.2 Divergência em Coordenadas Cilíndricas


O procedimento que fizemos para encontrar a divergência na seção ante-
rior também pode ser repetido nas coordenadas cilíndricas, escolhendo uma
superfície infinitesimal fechada como ilustrada na figura 2.7. O volume da
área fechada ilustrada será r∆r∆z∆φ com 6 faces. Dessa forma, tentaremos
encontrar o fluxo que atravessa estes planos individualmente da seguinte
forma:

1. Plano r + ∆r: ∆⃗s = r∆z∆φr̂


Φ1 = Er (r + ∆r, φ, z)r∆z∆φ

2. Plano r: ∆⃗s = −r∆z∆φr̂


Φ2 = −Er (r, φ, z)r∆z∆φ

3. Plano φ + ∆φ: ∆⃗s = ∆r∆z φ̂


Φ3 = Eφ (r, φ + ∆φ, z)∆r∆z

4. Plano φ: ∆⃗s = −∆r∆z φ̂


Φ4 = −Eφ (r, φ, z)∆r∆z

5. Plano z + ∆z: ∆⃗s = r∆r∆φẑ


Φ5 = Ez (r, φ, z + ∆z)r∆r∆φ
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 75

6. Plano z: ∆⃗s = −r∆r∆φẑ


Φ6 = −Ez (r, φ, z)r∆r∆φ

O fluxo total é a soma dos seis componentes encontrados, com isso podemos
somar o resultado de cada 2 faces na mesma direção anteriormente. Por
exemplo para faces na direção r̂ o fluxo para fora é r∆z∆φ(Er (r +∆r, φ, z)−
Er (r, φ, z)). Basta lembrar da definição de diferencial de uma função para
chegar o seguinte resultado:

∂(rEr )
Φ1 + Φ2 = ∆r∆z∆φ
∂r
E o fluxo para fora dos planos na direção φ̂ é ∆r∆z(Eφ (r, φ + ∆φ, z) −
Eφ (r, φ, z)), ou:
∂(Eφ )
Φ3 + Φ4 = ∆r∆z∆φ
∂φ
Para faces na direção ẑ, o fluxo para fora será r∆r∆φ(Ez (r, φ, z + ∆z) −
Ez (r, φ, z)) ou:
∂(Ez )
Φ5 + Φ6 = r∆r∆z∆φ
∂z
Inserindo os resultados na equação (2.32) teremos a equação da divergência
nas coordenadas cilíndricas:
∇·E ⃗ = 1 ∂(rEr ) + 1 ∂(Eφ ) + ∂Ez (2.35)
r ∂r r ∂φ ∂z

2.3.1.3 Divergência em Coordenadas Esféricas


O procedimento que fizemos para encontrar a divergência nas duas se-
ções anteriores também pode ser repetido nas coordenadas esféricas, esco-
lhendo uma superfície infinitesimal fechada como ilustrada na figura 2.8. O
volume da área fechada ilustrada será r2 ∆r senθ∆θ∆φ com 6 faces. Dessa
forma, tentaremos encontrar o fluxo que atravessa estes planos individual-
mente da seguinte forma:

1. Plano r + ∆r: ∆⃗s = r2 senθ∆θ∆φr̂


Φ1 = Er (r + ∆r, θ, φ)r2 ∆θ senθ∆φ

2. Plano r: ∆⃗s = −r2 senθ∆θ∆φr̂


Φ2 = −Er (r, θ, φ)r2 senθ∆θ∆φ

3. Plano φ + ∆φ: ∆⃗s = r∆r∆θ φ̂


Φ3 = Eφ (r, θ, φ + ∆φ)r∆r∆θ
76 2.3. LEI DE GAUSS

z
𝑟

r


r
 

O  y
 rsen

Fig. 2.8. Representação gráfica de uma superfície fechada infinitesimal para cálculo
de fluxo total em coordenadas esféricas

4. Plano φ: ∆⃗s = −r∆r∆θ φ̂


Φ4 = −Eφ (r, θ, φ)r∆r∆θ

5. Plano θ + ∆θ: ∆⃗s = r∆r∆φ senθθ̂


Φ5 = Eθ (r, θ + ∆θ, φ)r∆r senθ∆φ

6. Plano θ: ∆⃗s = −r∆r∆φ senθθ̂


Φ6 = −Eθ (r, θ, φ)r∆r senθ∆φ
A soma do fluxo das faces r e r + ∆r será r2 senθ∆θ∆φ(Er (r + ∆r, θ, φ) −
Er (r, θ, φ)) que pela definição de diferencial de uma função é equivalente com:
∂(r2 Er )
Φ1 + Φ2 = senθ∆θ∆φ∆r
∂r
E a soma do fluxo das faces φ e φ + ∆φ é Φ = ∆r∆θ(Eφ (r, θ, φ + ∆φ) −
Eφ (r, θ, φ)), ou seja:
∂(Eφ )
Φ3 + Φ4 = r∆r∆θ∆φ
∂φ
E finalmente, a soma do fluxo das faces θ e θ + ∆θ é r∆r∆φ senθ(Eθ (r, θ +
∆θ, φ) − Eθ (θ(r, θ, φ)), ou:
∂( senθEθ )
Φ5 + Φ6 = r∆r∆φ∆θ
∂θ
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 77

𝑛
Volume v

j
s
Fig. 2.9. Volume finito para aplicar a definição de divergência de um campo veto-
rial.

Basta somar os fluxos parciais para encontrar o fluxo líquido dado pela equa-
ção (2.32), e em seguida achar a equação da divergência nas coordenadas
esféricas:
2
∇·E⃗ = 1 ∂(r Er ) + 1 ∂(Eθ senθ) + 1 ∂Eφ . (2.36)
r2 ∂r r senθ ∂θ r senθ ∂φ
Como percebemos a divergência na equação (2.32) é formulada para um
volume infinitesimal. Podemos estender a formulação relacionada para um
volume finito como ilustrada na figura 2.9. Neste caso, dividimos o volume
em fatias infinitesimais como foi feito na figura 2.9 e o fluxo total do campo
será obtido pela soma do fluxo parcial de cada volume infinitesimal, ou seja:
XI
Φ = lim ⃗ · d⃗s
E
∆τj →0 sj
j

A soma ocorre sobre todas superfícies dos volumes infinitesimais ∆τj . É


óbvio que contribuições da superfície compartilhada entre dois volumes infi-
nitesimais vizinhos se anulam como a figura 2.9 mostra. Logo, o fluxo total
é somente o fluxo da superfície externa do volume, ou seja:
I
Φ= ⃗ · d⃗s
E
s

onde s representa a superfície externa do volume. O lado esquerdo da equação


(2.32), para este volume, é a soma de ∇ · E∆τ
⃗ j sobre o volume total:
X Z
lim ∇ · E∆τ
⃗ j= ∇ · Edτ

∆τj →0 v
j

Então, a partir da substituição de dois lados da equação (2.32) teremos a


seguinte equação:
78 2.3. LEI DE GAUSS

Z I
∇ · Edτ
⃗ = ⃗ · d⃗s
E (2.37)
s

que é conhecido como teorema de Gaussa .


Exemplo 2.7. Encontre a divergência dos seguintes campos vetoriais:
a) E⃗ = 12 r̂.
r
b) E⃗ = 12 r̂.
r
Resposta: a) Basta implementar a fórmula de divergência nas coordenadas
esféricas:
∇ · rr̂2 = r12 ∂r

(r2 r12 ) = 0
Ou seja, fluxo total para este campo vetorial é nulo. Aliás, aplica-se o teorema
de Gauss e calcula inicialmente o fluxo total para fora de uma esfera de raio
a teremos: I

Φ= · a2 senθdθdφr̂ = 4π.
s a2

Parece um paradoxo onde fluxo total existe, mas a divergência calculada


é nula. Se olhar melhor no formato da função vetorial percebemos que a
integral volumétrica da ∇ · E ⃗ dentro da esfera inclui a variação de r entre
0 e a, onde a função vetorial r̂/r2 possui singularidade. Podemos justificar
que a divergência é infinita somente na origem e para outros pontos do es-
paço é nulo. A única função com esta propriedade é a função impulso δ(r),
portanto para satisfazer o fluxo total calculado de tamanho 4π, o coeficiente
do impulso deve ser 4π. Sendo assim, teremos a divergência da seguinte
forma:

∇ · 2 = 4πδ 3 (r) (2.38)
r
A potência 3 da função impulso é somente para confirmar que a mesma é
definida no espaço tridimensional.
A parte b da pergunta pode ser respondida, lembrando que r é função
deslocada da r. Portanto, a divergência do vetor deslocado é equivalente
com a divergência deslocada do vetor. Assim, basta fazer o deslocamento da
resposta final da parte a da questão, ou seja:

∇· = 4πδ 3 ( r) (2.39)
r2

Com conhecimento básico do operador divergência podemos desenvolver


mais uma técnica de análise de campo elétrico que é chamada de lei de Gauss,
que será apresentada na próxima seção.
a
Também, é conhecido como teorema de divergência.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 79

2.3.2 Lei de Gauss


Para deduzir a lei de Gauss da lei de Coulomb, basta aplicar o operador
divergência nos dois lados da equação (2.8).
Z

∇·E
⃗ =∇·k ρ(x′ , y ′ , z ′ ) dτ ′
r2
Trocando a ordem de ∇ com a integral, temos:
Z

∇·E
⃗ =k ρ(x′ , y ′ , z ′ )∇ · dτ ′
r2
Na equação (2.39) encontramos a divergência da função r̂/ r2 que pode ser
muito útil neste momento:
Z
∇·E
⃗ =k ρ(x′ , y ′ , z ′ )4πδ 3 ( r)dτ ′

Aproveitamos da seguinte propriedade da função impulso:


Z
f (x′ )δ(x − x′ )dx′ = f (x),

onde consideramos a integral ao redor da posição da função impulso. Logo:

∇·E
⃗ = 4πkρ(x, y, z) (2.40)
Em que ρ(x, y, z) indica a densidade volumétrica de carga elétrica onde a
análise do campo vetorial é desejada, enquanto ρ(x′ , y ′ , z ′ ) é a densidade
de cargas elétricas responsável pela geração do campo. Afinal, o que foi
desenvolvido é chamada de equação diferencial da lei de Gauss.
Ainda podemos manipular mais a equação da lei de Gauss, i.e. equação
(2.40), aproveitando do teorema de Gauss, i.e. equação (2.37), substituindo
a divergência do campo elétrico por 4πkρ(x, y, z), ou seja:
Z I
4πk ρ(x, y, z)dτ = ⃗ · d⃗s.
E

Mas, a integral volumétrica da densidade de carga elétrica é a carga total


inclusa dentro da superfície fechada. A partir de agora, a superfície fechada
escolhida chama-se a superfície Gaussiana, com sigla SG. Assim, deduzimos
a forma integral da lei de Gauss:
I
4πkQinc = E ⃗ · d⃗s. (2.41)
80 2.3. LEI DE GAUSS

em que Qinc é a carga total inclusa em volume determinado pela superfície


Gaussiana. Z
Qinc = ρ(x, y, z)dτ

O fluxo de campo elétrico numa superfície fechada, chamada de superfície


Gaussiana (abreviado em S.G.), é equivalente a carga inclusa no seu interior.
Para encontrar o campo elétrico da equação do fluxo (equação (2.41)), basta
garantir a invariância do campo elétrico na superfície Gaussiana. Assim, o
fluxo simplesmente é obtido pela componente transversal da superfície do
campo elétrico por área da superfície Gaussiana.
Exemplo 2.8. Mais uma vez vamos encontrar o campo elétrico em um ponto
P ao redor do fio longo com densidade de carga ρl C/m, desta vez seguindo
a lei de Gauss.
Resposta: Basta escolher a superfície Gaussiana considerando a simetria

S.G.
r l C/m

Fig. 2.10. Fio longo com densidade de carga ρl junto com uma superfície Gaussiana
(S.G.) escolhida.

e homogeneidade do campo elétrico nesta superfície fechada. A análise do


campo elétrico pela lei de Coulomb no exemplo 2.2 garante a invariância do
campo em uma distância fixa do fio e também esclarecemos que o campo
é radial. Portanto, a superfície Gaussiana escolhida será um cilindro em
volta do fio que passa pelo ponto P e possui comprimento l. O fluxo elétrico
da superfície inferior e da superfície superior do cilindro é nulo, porque o
campo elétrico é radial. Assim, o fluxo total neste cilindro é resultado do
campo elétrico que atravessa a superfície lateral do cilindro, ou seja 2πrlEr ,
conforme a figura 2.10. Pela lei de Gauss, o fluxo elétrico de uma superfície
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 81

fechada deve ser igual a carga total inclusa, i.e. ρl l, multiplicando por 4πk.
Ou seja:
2πrlEr = ρl l4πk
Então, o campo no ponto P a distância r será:
⃗ = 2kρl r̂.
E (2.42)
r
Em caso de escolha de ponto P muito distante do fio, ou seja, o comprimento
do fio for comparável com r, não teremos mais a simetria e homogeneidade
do campo para a superfície Gaussiana escolhida. Por exemplo, o fluxo nas
superfícies inferior e superior do cilindro não será nulo e também o campo
não será radial. Assim, sem a condição necessária de simetria do campo, a
integral de campo elétrico sobre a superfície fechada não será trivial. Logo,
nestes casos, a técnica de Gauss não será eficaz para análise de campo elétrico.

Exemplo 2.9. Calcule o campo elétrico na proximidade de uma folha grande


e plana carregada com densidade ρs C/m2 . (veja a figura 2.11).
Resposta: O tamanho grande da folha em relação a distância até onde

En
s

s

En

Fig. 2.11. Folha grande com densidade de carga elétrica ρs C/m2 .

o campo elétrico vai ser calculado, garante a simetria e homogeneidade do


campo elétrico nas proximidades da folha. Além disso, a resposta da mesma
pergunta dada no exemplo 2.3 permite a consideração de um campo trans-
versal a folha. Então, basta escolher uma superfície Gaussiana fechada que
atravessa a folha sem se importar com o formato das extremidades da su-
perfície Gaussiana que pode ser circular, retangular ou triangular. Basta
somente que as extremidades da superfície sejam planas e paralelas ao plano
de cargas. Assim, o fluxo total para fora de superfície será 2En ∆s, onde
índice n representa o componente normal. E enquanto isso a carga total
inclusa é ∆sρs . portanto, o campo elétrico será:
82 2.3. LEI DE GAUSS

r
b a
S.G.

Fig. 2.12. Cabo coaxial longo com as densidades de carga ρsa e ρsb C/m2 na
superfície do núcleo e na casca, respectivamente

⃗ = 2πkρs n̂,
E (2.43)
onde o versor n̂ é perpendicular à superfície do plano. ■

Exemplo 2.10. Considere um cabo coaxial longo com as densidades super-


ficiais ρsa e ρsb na superfície do núcleo e na casca, respectivamente. Levando
em consideração que a carga total igual no núcleo e na casca sejam opostas
(veja a figura 2.12). Obter o campo elétrico em todas regiões.
Resposta: Neste caso mais uma vez uma superfície cilíndrica garante a
simetria e homogeneidade do campo vetorial. Ou seja, em um raio r o fluxo
total será 2πrlEr . A carga elétrica total inclusa na superfície Gaussiana in-
terior do núcleo é nula, portanto , o campo elétrico é nulo. Esta carga será
de 2πalρsa para raios com tamanhos entre a e b e normalmente será nula fora
do cabo coaxial porque a carga inclusa é nula, ou seja, 2πalρsa − 2πblρsb = 0.
Isto significa a presença de campo elétrico somente na região entre o núcleo
e a casca do cabo coaxial da seguinte forma:
a
Er = 4πkρsa ,
r

Exemplo 2.11. Supondo que existem duas cascas esféricas e concêntricas


com raios a e b > a e carregadas com carga Q e −Q, respectivamente,
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 83

-Q
S.G.

r +Q

a
b

Fig. 2.13. Duas esferas concêntricas de raios ”a” e ”b” com as cargas superficiais
Q e −Q, respectivamente. Ilustração de uma superfície Gaussiana com raio r > a.

conforme a figura 2.13. Obtenha o campo elétrico em todo o espaço.


Resposta: Para uma superfície Gaussiana esférica de raio r concêntrica com
as esferas, o campo elétrico é radial e homogêneo. O fluxo total que atravessa
esta superfície é 4πr2 Er . Para r < a e r > b a carga total será nula, portanto
não teremos campo elétrico. Entretanto, para a < r < b a carga total será
Q. Neste caso o campo elétrico:
⃗ = k Q r̂
E (2.44)
r2
O resultado é equivalente com o campo elétrico gerado por uma carga
pontual Q Coulomb na distância r ao seu redor. Em geral, quando fazemos
análise de campo elétrico fora de um corpo carregado com uma distribuição de
cargas homogênea, ele pode ser substituído por uma carga líquida, localizada
no centro do corpo carregado. ■

Exercício 2.10.
a) Uma esfera sólida de raio a contém a densidade volumétrica de ρ1 C/m3 .
Uma casca esférica concêntrica, com a esfera de raio interno b e raio externo
c, possui a densidade volumétrica de carga ρ2 C/m3 . Encontre o campo elé-
trico em todo espaço.
b) Ache o potencial elétrico no espaço com o referencial no infinito.
84 2.3. LEI DE GAUSS

S.G.

s
r

Fig. 2.14. Uma esfera com densidade de carga superficial ρs C/m2 .

Exercício 2.11.
Um cilindro longo de raio a contém carga elétrica volumétrica de ρ = r2 cos φ
C/m3 . Encontre o campo elétrico no espaço. (Dicas: É óbvio que o campo
elétrico não é simétrico e homogêneo). ■

Exemplo 2.12. Uma esfera de raio a possui uma densidade de carga em


sua superfície de ρs C/m2 , conforme a figura 2.14. a) Encontrar o potencial
elétrico no espaço com o referencial no infinito. b) Uma casca esférica con-
dutora e aterrada é adicionada ao redor da esfera com raio b > a. Repita a
pergunta da parte a.
Resposta: a) O campo elétrico é facilmente encontrado pela lei de Gauss,
escolhendo uma esfera como superfície Gaussiana de raio r. O fluxo total do
campo elétrico será de 4πr2 Er , enquanto a carga total inclusa é nula para
r < a e é 4πa2 ρs para r > a que é a carga total Q da esfera. Portanto:


0, se r ≤ a
Er =  Q
k , se r > a
r2

Basta encontrar o potencial elétrico a partir de:


Z r
ϕ(r) − ϕ(∞) = − Er dr

ou seja:


 Q
k ,se r ≤ a
a
ϕ(r) =  Q

k , se r > a.
r
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 85

b) Sabemos que o potencial elétrico da esfera aterrada será nula, logo:




0, se r < a


 Q
Er =
k 2, se a < r < b

 r

0, se b < r

Assim, o potencial será alterado da seguinte forma:




 11


kQ(− ), se r ≤ a
 ab
ϕ(r) = kQ( 1 − 1 ), se a < r ≤ b



 r b

0, se b < r

2.4 Laplaciano
Até este momento, apresentamos a lei de Gauss como uma técnica para
análise de campo elétrico, dada pela equação (2.40). Esta lei relaciona a
divergência do campo à densidade de carga elétrica, ou seja, ∇ · E
⃗ = 4πkρ.
Também, foi apresentado o potencial elétrico como mais uma técnica de
⃗ = −∇ϕ. Se substituir
análise de campo, a partir de seu gradiente, ou seja, E
o campo elétrico pelo gradiente do potencial elétrico na fórmula da lei de
Gauss, teremos:
−∇ · ∇ϕ = 4πkρ (2.45)
Apresentamos o operador ∇, como um vetor, nas coordenadas cartesianas
pela equação (2.14). Assim, podemos achar o resultado de ∇ · ∇ nas coorde-
nadas cartesianas:
∂ ∂ ∂ ∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
∇ · ∇ϕ = ( x̂ + ŷ + ẑ) · ( x̂ + ŷ + ẑ).
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
ou seja:
∂ 2ϕ ∂ 2ϕ ∂ 2ϕ
∇ · ∇ϕ = + + 2 (2.46)
∂x2 ∂y 2 ∂z
O novo operador obtido a partir de ∇ · ∇ é conhecido como Laplaciano
representado por ∇2 . Assim, podemos apresentar a lei de Gauss em função
do potencial elétrico da seguinte forma:
86 2.4. LAPLACIANO

∇2 ϕ = −4πkρ. (2.47)
que é uma equação diferencial de segunda ordem.
É importante lembrar que ρ é a densidade de cargas elétricas na posi-
ção (x, y, z), ou seja, na posição que gostaremos de encontrar o campo elé-
trico. Sendo assim, ρ(x, y, z) será nula na equação (2.47) para pontos de
campo fora da região de distribuição de cargas elétricas. Neste caso, a equa-
ção diferencial é chamada de equação de Laplace, representada da seguinte
forma:
∇2 ϕ = 0. (2.48)
Se tiver interesse em encontrar o potencial elétrico no interior da região de
distribuição de cargas, a equação (2.47) deve ser resolvida considerando a
função de densidade de cargas ρ(x, y, z). Neste caso, a equação diferencial
de segunda ordem (2.47) é conhecida como equação de Poisson.
Até este momento, representamos o Laplaciano em coordenadas cartesi-
anas pela equação (2.46). Em coordenadas cilíndricas, basta substituir os
operadores nabla e divergente dados pelas equações (2.16) e (2.35) na formu-
lação do Laplaciano, ou seja em ∇ · ∇:

1 ∂(r) 1 ∂ ∂ ∂ 1 ∂ ∂
∇·∇=( r̂ + φ̂ + ẑ) · ( r̂ + φ̂ + ẑ)
r ∂r r ∂φ ∂z ∂r r ∂φ ∂z

Após a simplificação do produto escalar de dois operadores vetoriais, teremos


o operador Laplaciano em coordenadas cilíndricas:
1 ∂ ∂ 1 ∂2 ∂2
∇2 = (r ) + 2 2 + 2 . (2.49)
r ∂r ∂r r ∂φ ∂z
O mesmo raciocínio pode ser feito para as coordenadas esféricas. Só basta
lembrar do operador ∇, apresentado na equação (2.17) e o operador diver-
gente dado pela equação (2.36) e substituí-lo na equação ∇ · ∇:

1 ∂(r2 ) 1 ∂ senθ 1 ∂ ∂ 1 ∂ 1 ∂
∇·∇ = ( 2
r̂ + θ̂ + φ̂)·( r̂ + θ̂ + φ̂)
r ∂r r senθ ∂θ r senθ ∂φ ∂r r ∂θ r senθ ∂φ

O produto escalar destes dois operadores é o operador Laplaciano em coorde-


nadas esféricas que após a simplificação, é representado pela:
   
1 ∂ 2∂ 1 ∂ ∂ 1 ∂2
∇ = 2
2
r + 2 senθ + 2 . (2.50)
r ∂r ∂r r senθ ∂θ ∂θ r sen2 θ ∂φ2
Geralmente, a técnica de Laplaciano é útil quando o interesse é determinar
o potencial elétrico a partir de condições de fronteiraa no espaço junto com
a
Condições de contorno ou em resumo CC.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 87

densidade de cargas elétricas. Assim, a equação diferencial de segunda ordem


(2.47), junto com as condições de contorno deve ser resolvida. A existência
e a unicidade da solução da equação de Laplace com dadas condições de
contorno fornecidas é garantida pelo teorema de unicidadea .
A resolução analítica das equações é viável facilmente, quando falamos
de uma equação diferencial de uma única variável, tais como os seguintes
exemplos.
Exemplo 2.13. Achar o potencial elétrico devido a presença de duas placas
paralelas conforme a figura 2.15.
Resposta: Em uma modelagem simplificada, podemos considerar o campo

V0
z
d
x y

Fig. 2.15. Duas placas paralelas com a distância d e a diferença de potencial V0 .

elétrico homogêneo entre as placas paralelas. Porém, o potencial elétrico


deve mudar entre as placas de potencial nulo para V0 , ao longo de eixo z.
portanto, ϕ é variável, somente com z. Então, o Laplaciano nas coordenadas
cartesianas será da seguinte forma:

∂ 2ϕ
∇2 ϕ = =0
∂z 2
ϕ(z) = Az + B

Sabemos que o potencial na posição z = 0 é nulo e na posição z = d é V0 ,


então:
V0
ϕ(z) = z
d

a
Para maiores informações sobre o teorema de unicidade, verifique apêndice do livro,
ou as referencias, tais como, livro de introdução a eletrodinâmica do Griffiths.
88 2.4. LAPLACIANO

Exemplo 2.14. Vamos considerar um cabo coaxial com as especificações


dadas na figura 2.16. Encontrar o potencial elétrico no espaço.
Resposta: A informação básica que temos indica que o campo é radial e

b
a V0

Fig. 2.16. Cabo coaxial com diferença de potencial V0 entre núcleo e casca.

não varia com z ou φ. portanto:


1 ∂ ∂ϕ
∇2 ϕ(r) = (r ) = 0
r ∂r ∂r
ou seja:
ϕ = A ln r + B
Como o potencial elétrico em r = b é nulo, então 0 = A ln b + B e para ter
tensão V0 em r = a a equação será V0 = A ln a + B, portanto:
V0
ϕ= ln r/b
ln a/b

Exemplo 2.15. Dois planos semi infinitos com ângulo interior α conectados
em uma bateria de tensão V0 . Existe um gap isolante entre os semi planos
no ponto de intersecção (veja a figura 2.17). Encontre o potencial elétrico no
espaço.
Resposta: Para as coordenadas cilíndricas escolhidas e tamanho grande das
folhas esperamos a variação do potencial somente em função de φ. Portanto:
1 ∂ 2ϕ
∇2 ϕ(φ) = =0
r2 ∂φ2
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 89

V0

Fig. 2.17. Duas placas semi infinitas com ângulo interior α conectadas em uma
fonte de tensão V0 . Existe um gap isolante entre os semi planos no ponto de
intersecção.

A resposta geral da equação diferencial será ϕ = Aφ + B. Sabemos que o


potencial em φ = 0 é nulo e em φ = α é V0 . Assim, a resposta final será:
φ
ϕ(φ) = V0
α

Exemplo 2.16. Duas esferas de raio a e b estão conectadas a uma fonte de


tensão V0 conforme a figura 2.18. Encontrar o potencial elétrico no espaço.
Resposta: Neste caso, o potencial somente varia radialmente, então, para
as coordenadas esférias escolhidas, o Laplaciano será:

1 ∂ 2 ∂ϕ
∇2 ϕ(r) = (r )=0
r2 ∂r ∂r
A
ϕ(r) = + B
r
Sabemos do potencial V0 em r = a e nulo em r = b, então:
1 1

ϕ(r) = V0 1 1b
r

a b
90 2.4. LAPLACIANO

V0

a
b

Fig. 2.18. Duas esferas de raio a e b > a conectadas a uma fonte de tensão V0

Exemplo 2.17. a) Dois cones concêntricos identificados por θ = α1 e θ = α2


conectados a uma fonte de tensão V0 , conforme a figura 2.19a. Achar o
potencial elétrico no espaço. b) Repita a parte a, se tiver a configuração da
figura 2.19b, onde a fonte de tensão está conectada a um cone e uma folha
plana.
Resposta: a) Neste caso o potencial elétrico é somente função de θ.
1 ∂ ∂ϕ
∇2 ϕ(θ) = ( senθ )=0
r2 senθ ∂θ ∂θ
Aplicando as condições de contorno ϕ(θ = α2 ) = 0 e ϕ(θ = α1 ) = V0 . Assim,
a resposta vai sera :
V0 tgθ/2
ϕ(θ) = ln
tgα1 /2 tgα2 /2
ln
tgα2 /2
b) Basta inserir α2 = 90o na resposta a e α1 = α. Assim, teremos:
ln tgθ/2
ϕ(θ) = V0 .
ln tgα/2

Como percebemos a resposta de laplaciano de uma variável não é tão difícil.


Entretanto, a resolução analítica das equações em duas ou três dimensões
precisa de uma técnica específica chamada de separação de variáveis que será
discutida na próxima seção.
a
A resposta da integral pode ser encontrada diretamente pela troca de variável ou pela
tabela de integrais no apêndice E.3 do livro.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 91

V0

V0
V0

2
1

(a) (b)
Fig. 2.19. a) Dois cones concêntricos identificados por θ = α1 e θ = α2 , onde
α2 > α1 , conectados a uma fonte de tensão V0 . b) Um cone com a tensão V0 e
uma folha plana aterrada.

2.4.1 Técnica da Separação de Variáveis


Até este momento, aprendemos que a análise do campo pela técnica de
Laplaciano começa com a escolha de coordenadas mais convenientes. Na
segunda etapa, achamos com quais variáveis o potencial elétrico varia. Se
o potencial elétrico for uma função com múltiplas variáveis independentes,
é necessário adotar uma nova técnica para resolver a equação diferencial de
Laplace. Felizmente, o Laplaciano é uma equação separável, ou seja, pode-
mos separar as equações diferenciais, de modo que cada uma seja função de
uma única variável independente. Em seguida, utilizamos os métodos tradi-
cionais para resolver as equações diferenciais. Geralmente, serão encontradas
múltiplas funções que satisfazem as equações diferenciais, junto com as con-
dições de contorno. Pela propriedade de superposição dos sistemas lineares,
a resposta completa é soma das respostas parciais. Este técnica é chamada
de método de separação de variáveis que em geral é utilizado para resolução
de equações diferenciais ordinárias e parciais.
Para começar, consideramos a representação do potencial elétrico em co-
ordenadas cartesianas. Neste caso, a geometria de contorno é retangular. Se
o potencial elétrico for função de três variáveis, ou seja ϕ(x, y, z), podemos
considerar o potencial elétrico como a multiplicação de três funções como
ϕ = f (x)g(y)h(z). Inserindo na equação (2.46), temos:
fxx gh + f gyy h + f ghzz = 0 (2.51)
onde, fxx , gyy e hzz representam a derivada segunda em função de x, y e
z, respectivamente. Após dividir a equação (2.51) por ϕ = f (x)g(y)h(z),
92 2.4. LAPLACIANO

obtemos:
fxx gyy hzz
+ + =0 (2.52)
f g h
Como observamos, cada fração é somente função de uma variável indepen-
dente, enquanto que a soma de três frações deve ser nula para qualquer valor
de variáveis x, y e z. Isto é possível se o resultado de cada fração na equação
(2.52) for constante.
Se a constante obtida for nula, a única resposta será um potencial elétrico
linear em função da variável. Por exemplo, para a função f com α = 0,
a equação diferencial será fxx = 0. Logo, a resposta será f (x) = Ax + B.
Em caso de equação diferencial obtida em forma fxx − α2 f = 0, quando
a constante for positiva, a resposta será uma função exponencial. A última
possibilidade será uma equação diferencial como fxx +α2 f = 0 com a resposta
trigonométrica, quando a constante for negativa. O resumo de possíveis
respostas da equação diferencial para a função f (x) é apresentado na tabela
2.1.

Tabela 2.1: As possíveis respostas do Laplaciano.

Equação Diferencial Resposta


fxx = 0 Ax + B
fxx − α2 f = 0 Aeαx + Be−αx
fxx + α2 f = 0 A senαx + B cos αx

A escolha da função certa depende das condições de contorno. Por exem-


plo a geometria sem limite de uma variável, i.e. x → ∞, impedindo as
funções crescentes como Ax + B ou A exp αx ou senh(αx) ou cosh (αx) se-
jam consideradas na resposta. Como outro exemplo, a condição de contorno
ϕ(x = 0) = 0 descarta as funções cos (αx) ou cosh (αx) ou A exp (±αx).
Sabendo que o campo elétrico em x = 0 é nulo, significa que somente as
funções cosh αx e cos αx podem ser consideradas para o potencial elétrico.
Para esclarecer mais, vamos resolver os seguintes exemplos.
Exemplo 2.18. Uma extremidade de um tubo metálico longo é mantida a
tensão V0 , conforme a figura 2.20. Encontre o potencial no interior do tubo
aterrado.
Resposta: Pela geometria dada do tubo, adotamos as coordenadas cartesia-
nas da figura 2.20. Sendo assim, a equação de Laplace será nestas coordena-
das, dada pela fórmula 2.46. Observamos que pelas condições de fronteiras
o potencial elétrico varia com as três variáveis, ou seja, ϕ = f (x)g(y)h(z).
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 93

x
b

a V0

y z

Fig. 2.20. Tubo retangular aterrado com uma tensão V0 em uma extremidade.

O potencial nulo em x = 0 e em x = a é uma justificativa para escolha


da função senoidal f (x) = senαx. Também, o tamanho de α = nπ/a,
logo, f (x) = sen(nπx/a). Também, com a mesma razão a função g(y)
é senoidal devido as condições de contorno em y = 0 e em y = b, logo,
g(y) = sen(mπy/b), onde n e m são números inteiros. Sabendo da condição
de contorno em z = 0 e z → ∞, a função h será uma função exponencial de-
crescente de z. O coeficiente do exponencial será obtido a partir da equação
2.52, ou seja, γ 2 = (nπ/a)2 + (mπ/b)2 . Logo:
r
nπ 2 mπ 2
h(z) = exp − ( ) +( )z
a b
Com as três funções escolhidas, teremos o potencial elétrico da seguinte
forma: r
nπ mπ nπ 2 mπ 2
ϕ = sen x sen y exp − ) +( )z
a b a b
Vale lembrar que qualquer valor de n e m pode gerar uma resposta válida
para o potencial elétrico. Como a modelagem matemática dos fenômenos
eletrostáticos é linear, pela propriedade de superposição, a resposta completa
é a soma das respostas parciais, ou seja:
r
X nπ mπ nπ 2 mπ 2
ϕ(x, y, z) = Anm sen x sen y exp − ) +( )z
n,m a b a b
Ainda falta aplicar a última condição de contorno em z = 0, ou seja,
ϕ(z = 0) = V0 que deve ser utilizada para determinar o o coeficiente Anm .
X nπ mπ
V0 = Anm sen x sen y
n,m a b
94 2.4. LAPLACIANO

Utilizando o fato da ortogonalidade das funções senoidaisa , teremos:


a b ab
V0 (1 − cos nπ)(1 − cos mπ) = Anm
nπ mπ 22
Portanto: 

 16V0
, se n e m for ímpar
Anm =

nmπ 2
0, se n ou m for par
Assim, teremos a resposta final para n e m ímpares:
r
X 16V0 nπ mπ nπ mπ 2
ϕ(x, y, z) = 2
sen x sen y exp − ( )2 + ( )z
n,m nmπ b b a b

Exemplo 2.19. Considere duas placas metálicas paralelas a uma distância


a. As duas placas são relativamente grandes e aterradas. A fonte de tensão
aplicada é V0 conforme a figura 2.21. Encontre o potencial entre as duas
placas.
Resposta: Adotamos coordenadas cartesianas como a figura 2.21 mostra.
Nesse caso ϕ depende de 2 variáveis, ou seja, ϕ = f (x)g(y), porque z varia
entre z → ±∞. Como percebemos a função g(y) somente pode ser senoidal
devido a presença de dois zeros da função em y = 0 e em y = a e obrigatori-
amente, a função f (x) é exponencial. Então:

X nπ nπ
ϕ(x, y) = An sen y exp − x
n=1 a a

Se aplicarmos a última condição de contorno teremos:



X nπ
V0 = An sen y
n=1 a

Então só resta encontrar a constante An pela ortogonalidade das funções


senoidais:
a a
V0 (1 − cos nπ) = An
nπ 2


0, se n for par
An = 4V0

 , se n for ímpar

a
A ortogonalidade das funções senoidais serve para encontrar os coeficientes do serie
de Fourier.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 95

V0 a

Fig. 2.21. Duas placas metálicas paralelas a uma distância a

Juntando as equações temos:


X 4V0 nπ nπ
ϕ(x, y) = sen y exp − x
1,3,5,... nπ a a

Exemplo 2.20. Considere um tubo longo de metal com interseção retangular


e conexão de uma fonte de tensão V0 , conforme a figura 2.22. Encontre a
variação do potencial elétrico dentro do tubo.
Resposta: Adotamos as coordenadas cartesianas ilustradas na figura 2.22.
Nesta configuração dá para perceber que z → ±∞, ou seja, a variação ao
longo do tubo não altera as condições de contorno, portanto ϕ é invariante
em função z. Como antes, a função g(y) deve ser senoidal devido a presença
de dois zeros da função em y = 0 e em y = a e obrigatoriamente, a função
f (x) deve ser exponencial. Mas, o potencial nulo em x = 0 indica que a
função permitida deve ser seno hiperbólico, ou seja:

X nπ nπ
ϕ(x, y) = An senh x sen y
n=1 a a
Aplicando a última condição de contorno em x = b, encontra-se a seguinte
equação:
X∞
nπ nπ
V0 = An senh b sen y
n=1 a a
Mais uma vez utilizamos a ortogonalidade das funções senoidais para encon-
trar o coeficiente Anm :
a a nπ
V0 (1 − cos nπ) = An senh b.
nπ 2 a
96 2.4. LAPLACIANO

x
a V0
b

Fig. 2.22. Tubo longo com interseção retangular de metal e a conexão de fonte de
tensão V0 .

Percebe-se que os coeficientes An existem somente para n ímpares. Logo, o


potencial elétrico no interior do tubo será da seguinte forma:

X 4V0 nπ nπ
ϕ(x, y) = nπ senh a x sen a y
n=1,3,5... nπ senh b
a

Exercício 2.12.
Cinco faces de um cubo estão aterradas e o sexto lado metálico está conectado
à tensão V0 . Encontre a função espacial do potencial elétrico dentro do cubo.
Veja a figura 2.23. ■

Exercício 2.13.
Encontre o potencial elétrico e a intensidade do campo elétrico conforme as
condições de contorno da figura 2.24. ■

2.4.2 Separação de Variáveis/ Coordenadas Cilíndricas


Para geometrias em que as condições de contorno são dadas em coor-
denadas cilíndricas é necessário resolver a equação diferencial do Laplaciano
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 97

V0
a
a
a

Fig. 2.23. Cubo metálico com 5 faces aterradas e a fonte de tensão V0 é conectada
ao último lado.

x
2y
a
0 10

𝜕(𝑥=0)
𝜕𝑦
=0 b y
Fig. 2.24. Tubo retangular.
98 2.4. LAPLACIANO

em coordenadas cilíndricas dado pela equação (2.49), ou seja:


1 ∂ r∂ϕ 1 ∂ 2ϕ ∂ 2ϕ
∇2 ϕ = + 2 2 + 2 =0 (2.53)
r ∂r ∂r r ∂φ ∂z
pelo método de separação de variáveis, substituindo o potencial elétrico pela
função f (r)g(φ)h(z), no laplaciano:
1 ∂ 1
gh (rfr ) + f h 2 gφφ + f ghzz = 0
r ∂r r
Em seguida, dividindo a equação obtida por f (r)g(φ)h(z), sabendo que ne-
nhuma das funções é nula:
1 ∂ gφφ hzz
(rfr ) + 2 + =0
rf ∂r r g h
A última parcela é a única que varia com z, semelhante com as equações
diferenciais nas coordenadas cartesianas, ou seja, hzz − α2 h = 0. Logo, temos
que procurar a solução entre respostas dadas na tabela 2.1, tais como linear,
exponencial e senoidal. Em geral, o potencial elétrico não é periódico ao
longo do eixo de cilindro, logo a resposta trigonométrica sé descartada. Sendo
assim, somente a resposta linear e exponencial em função de z é considerada,
onde α2 ≥ 0. Supondo hzz /h = α2 , o resto da equação diferencial será da
seguinte forma:
1 ∂ gφφ
(rfr ) + 2 + α2 = 0
rf ∂r r g
Se multiplicarmos a equação diferencial acima por r2 , teremos mais uma
equação diferencial de variável única φ, ou seja, gφφ /g = −β 2 , semelhante
com as equações diferenciais nas coordenadas cartesianas. Logo, teremos
a mesma coleção de respostas dada na tabela 2.1. Entre as respostas, as
lineares e exponenciais serão excluídas, porque a variação do potencial em
função de φ é periódico e o limite de variação φ é 0 a 2π. Sendo assim,
somente a resposta trigonométrica é admissível, logo, a constante β 2 será um
número inteiro negativo. Em seguida, teremos o resto da equação diferencial:
r ∂
(rfr ) − β 2 + α2 r2 = 0
f ∂r
Multiplicando por função f , teremos:
r2 frr + rfr + (α2 r2 − β 2 )f = 0
Esta equação diferencial é conhecida como a equação diferencial de Bessel.
As possíveis respostas da equação diferencial estão apresentados na tabela
2.2.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 99

Tabela 2.2: As possíveis respostas da equação de Bessel e do Potencial elétrico.

Constantes Resposta do Bessel Potencial Elétrico


α=β=0 A ln r + B ϕ(r) = A ln r + B
α = 0, Arn + Br−n ϕ(r±n , sennφ, cos nφ)
β = n ̸= 0
α = m ̸= 0, AJn (mr) + BYn (mr) ϕ é função Bessel de r,
β=n Função senoidal de nφ e
exponencial de mz

A primeira linha da tabela mostra um caso onde o potencial elétrico é


somente variável em função de r, ou seja, α = β = 0. Neste caso, a resposta
da equação de Bessel será uma função logarítmica de raio r, i.e. A ln r + B.
Este caso foi apresentado nos exemplos anteriores.
Em situações que o comprimento da geometria cilíndrica for muito maior
que o seu raio, podemos descartar a variação do potencial elétrico com z
(α = 0). Assim, o potencial elétrico varia somente com φ e r. Como a
segunda linha da tabela 2.2 mostra, a função parcial será em potências de r
e a variação com φ será trigonométrica. Se o eixo z, onde r = 0 for incluso
na região de interesse, obviamente, os termos tais como r−n serão excluídos.
Para o espaço estendido até o infinito, i.e. r → ∞, não tem como incluir o
termo rn .
Exemplo 2.21. A tensão na superfície de um cilindro longo de raio a varia
da seguinte forma:

V 0<φ<π
0
ϕ(r = a, φ) =
−V0 π < φ < 2π

a) Encontre a distribuição espacial do potencial elétrico em todo espaço.


Resposta: a) Obviamente, as coordenadas adequadas para esta geometria
são cilíndricas. Devido ao comprimento longo do tubo, podemos descartar
a variação do potencial elétrico em função de z. Entretanto, o potencial
varia com as duas variáveis r e φ. Sendo assim, a forma possível da res-
posta será dada na segunda linha da tabela 2.2, i.e. ϕ(r±n , sennφ, cos nφ).
No interior do tubo, onde r pode ser nulo, a resposta é representada por
ϕ(rn , sennφ, cos nφ) e no exterior do tubo por ϕ(r−n , sennφ, cos nφ), devido
a inclusão de r → ∞. O potencial elétrico em função de φ é periódico com
o período 2π. Logo, a sua expansão em serie de Fourier em r = a será:

X
ϕ(r = a, φ) = g(φ) = An sennφ + Bn cos nφ
n=0
100 2.4. LAPLACIANO

Devido a imparidade da função g(φ), os coeficientes Bn serão nulos. Os


coeficientes An serão encontrados pela ortogonalidade das funções sennφ:
Z 2π Z 2π
g(φ) sennφdφ = An sen2 nφ
0 0

Logo: Z π Z 2π
V0 sennφdφ + −V0 sennφdφ = πAn
0 π
Sendo assim, a expansão de Fourier será:

X 4V0
ϕ(r = a, φ) = g(φ) = sennφ (2.54)
n=1 nπ

Lembrando que a variação do potencial elétrico no interior do tubo com


o raio deve ser em formato rn e no seu exterior em formato r−n . Logo,
basta acrescentar (r/a)n na equação (2.54), para representar a variação do
potencial elétrico com raio no interior do tubo. Sendo assim, o potencial
elétrico dentro do tubo será da seguinte forma:

X rn 4V0
ϕ= n
sennφ.
n=1,3,5,... a nπ

Seguindo o mesmo raciocino, o potencial elétrico no exterior do tubo será


com a inserção do termo (a/r)n na (2.54). Logo, o potencial elétrico para
r > a será da seguinte forma:

X an 4V0
ϕ= n
sennφ.
n=1 r nπ

Exercício 2.14.
Repita o exemplo anterior para a tensão na superfície do cilindro da seguinte
forma: 
V 0<φ<π
0
ϕ=
0 π < φ < 2π
dicas: O potencial na superfície pode ser representado por:

V0  V20 0<φ<π
ϕ= + −V0
2  π < φ < 2π
2
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 101

Exercício 2.15.
Um campo elétrico uniforme E ⃗ = E0 x̂ é aplicado perpendicularmente ao eixo
de um cilindro metálico de raio a. Encontre o potencial elétrico no espaço. ■
A última possibilidade é quando o potencial elétrico for uma função de três
variáveis. A terceira linha da tabela 2.2 mostra que a resposta da equação
de Bessel será a função Bessel de primeira espécie e também, a função Bessel
de segunda espécie. A principal diferença entre elas é o valor da função
em r = 0. A função Bessel de primeira espécie, i.e. Jn (mr) é uma função
bem definida em r = 0, contrária da função Yn (mr). Logo, se tiver o eixo
principal do cilindro incluso, a função Yn (mr) será descartada. Se o espaço
estiver estendido até o infinito, a função Yn (mr) será considerada.

2.4.3 Separação de Variáveis/ Coordenadas Esféricas


Para geometrias que as condições de contorno são dadas em coordena-
das esféricas, é necessário resolver a equação diferencial do Laplaciano em
coordenadas esféricas. Neste caso, deve-se aplicar o operador laplaciano na
equação (2.50) ao potencial elétrico:
   
1 ∂ 2 ∂ϕ 1 ∂ ∂ϕ 1 ∂ 2ϕ
∇2 ϕ = r + senθ + =0
r2 ∂r ∂r r2 senθ ∂θ ∂θ r2 sen2 θ ∂φ2

Pelo método de separação de variáveis, o potencial elétrico é considerado


como f (r)g(θ)h(φ). Então:

1 ∂ 2  1 ∂  1
gh r f r + f h senθg θ + f g hφφ = 0
r2 ∂r r2 senθ ∂θ r2 sen2 θ
Dividindo por f gh e multiplicando por r2 sen2 θ, a última fração é parecida
com a equação diferencial da tabela 2.1. Logo, terá as respostas possíveis
entre linear, exponencial ou senoidal da variável φ. Entretanto, a função
linear ou exponencial do ângulo φ é descartada, porque o ângulo φ varia
entre 0 e 2π. Assim, a variação do potencial em função de φ será senoidal e
a constante da última fração deve ser um número inteiro, representamos por
n2 . O restante da equação diferencial será da seguinte forma:

sen2 θ ∂  2  senθ ∂  
r fr + senθgθ − n2 = 0
f ∂r g ∂θ

Desta vez, dividindo por sen2 θ, a primeira fração fica da função do r e o


restante da equação é puramente função de θ. Logo, podemos trocar a cada
parcela por um constante. A equação diferencial obtida em função de r terá
102 2.4. LAPLACIANO

respostas em forma de rm e r−(m+1) , ou seja, a constante da primeira parcela


deve ser em forma de multiplicação de dois números inteiros consecutivos,
i.e. m(m + 1). A última parcela em função de θ será:
1 ∂ 
m(m + 1) + senθgθ − n2 = 0
g senθ ∂θ
A equação diferencial obtida é conhecida como a equação de Legendre asso-

Tabela 2.3: As possíveis respostas da equação diferencial de Legendre.

m Pm (cos θ) Qm (cos θ)
1 1+cos θ
0 1 2
ln 1−cos θ

1 cos θ 1
2
1+cos θ
cos θ ln 1−cos θ
−1
2 1
2
(3 cos2 θ − 1) 3
2
xQ1 (x) − 21 Q0 (x)|x=cos θ
3 1
2
(5 cos 3
θ − 3 cos θ) 5
3
xQ2 (x) − 32 Q1 (x)|x=cos θ

... ... ...


dm
m 1
2m m! dxm
(x2 − 1)m |x=cos θ 2m−1
m
xQm−1 (x) − m−1
m
Qm−2 (x)|x=cos θ

ciada. As respostas da equação diferencial são representadas por Pmn (cos θ),
e Qnm (cos θ), chamadas as funções de Legendre da primeira e da segunda es-
pécie da Legendre associada, respectivamente. Em caso de invariância do
potencial elétrico com a variável φ, ou seja, n = 0, a equação diferencial é
conhecida como a equação de Legendre, com a seguinte forma:
1 ∂ 
senθgθ + m(m + 1) = 0
g senθ ∂θ
A tabela 2.3 mostra as possíveis respostas da equação diferencial de Le-
gendre (n = 0). Em caso de variação do potencial elétrico com a variável φ,
as respostas da equação de Legendre associada, representadas pelas funções
Pmn (cos θ) e Qnm (cos θ), são obtidas da seguinte maneira:
dn
Pmn (cos θ) = (1 − x2 )n/2 Pm (x)|x=cos θ (2.55)
dxn
dn
Qnm (cos θ) = (1 − x2 )n/2 n Qm (x)|x=cos θ (2.56)
dx
Em caso de variação do potencial elétrico com a única variável r, ou seja,
m = n = 0, a resposta da equação de Laplace é apresentada na primeira
linha da tabela 2.4. Podemos descobrir este caso, olhando para as condições
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 103

de contorno. Por exemplo, este caso ocorre quando há a simetria esférica,


quando a distribuição de cargas elétricas não varia com os ângulos θ e φ, como
foi discutido nos exemplos do início de apresentação da técnica de Laplace.
Se tiver a variação do potencial elétrico somente com r e θ, a resposta
da equação de Laplace será a segunda linha da tabela 2.4. Para descobrir
este caso, basta verificar as condições de contorno e a distribuição de cargas
elétricas no espaço. Neste caso, a equação de Legendre terá as respostas
Pm (cos θ e Qm (cos θ) e a equação diferencial em função de r terá a resposta
em forma de potência de r, i.e. Arm + Br−m−1 . Além disso, quando o eixo
z, ou θ = 0 e π estiver incluso na região de interesse, a função Qm (cos θ)
será descartada, devido a sua singularidade nesses ângulos. Afinal, se várias
respostas satisfazem as condições de contorno, o potencial elétrico será dado
pela superposição das funções encontradas.

Tabela 2.4: As possíveis respostas da equação de Laplace em coordenadas esféricas.

Constantes Potencial Elétrico


m=n=0 ϕ(r) = A + Br
n = 0, m ̸= 0 ϕm (r, θ) = (Arm + B
rm+1
)Pm (cos θ)
n ̸= 0, m ̸= 0 ϕmn (r, θ, φ) = B
(Arm + rm+1 )Pmn (cos θ)
(C cos nφ + D sennφ)

Exemplo 2.22. O potencial elétrico na superfície de uma esfera de raio a


varia por V0 cos θ. O centro da esfera se localiza na origem. Determine o
potencial elétrico em todo espaço.
Resposta: A simetria ao redor do eixo z é uma justificativa para que o poten-
cial elétrico considerado invariável com φ (n = 0). Sendo assim, a equação
diferencial da variável θ será o tipo Legendre com as possíveis respostas
apresentadas na tabela 2.3. Devido a singularidade da função Qm (cos θ)
no eixo z, onde θ = 0 e π, que faz parte da região de interesse, a resposta
da equação diferencial de Legendre somente pode ser escolhida da primeira
coluna da tabela 2.3. Sendo assim, as funções (Arm + Br−m−1 )Qm (cos θ)
serão desconsideradas. Logo, a resposta geral do potencial elétrico será
ϕ(r, θ) = (Arm + Br−m−1 )Pm (cos θ), apresentada na segunda linha da tabela
2.4. Comparando a condição de contorno em r = a (ϕ(r = a, θ) = V0 cos θ)
com a primeira coluna da tabela 2.4, leva a conclusão de m = 1 pois, so-
mente as funções lineares de cos θ podem ser incluídas. Portanto, o potencial
elétrico será da seguinte forma:

ϕ(r, θ) = (Ar + Br−2 ) cos θ


104 2.4. LAPLACIANO

Onde devemos encontrar os coeficientes A e B.


Devido a singularidade da função r−2 em r = 0, a função ϕ(r, θ) = Ar cos θ
somente é aceitável no interior da esfera. Enquanto, no exterior da es-
fera, com a inclusão de r → ∞, somente ϕ(r, θ) = Br−2 cos θ é aceitá-
vel. Aplicando a continuidade do potencial em r = a, teremos Aa3 = B.
Também, o potencial em r = a deve ser ϕ(r = a, θ) = V0 cos θ. Logo,
A = V0 /a e B = V0 a2 . Afinal, o potencial elétrico será da seguinte forma:
 r

V0 cos θ, Dentro da esfera


 a
ϕ(r, θ) =


 2
V0 a

cos θ, Fora da esfera.
r2

Para condições de contorno onde o potencial elétrico varia com o ângulo


azimutal φ, além de r e θ, a resposta é apresentada na terceira linha da
tabela 2.4. Neste caso, o potencial elétrico variando com potências de r, i.e.
rm ou r−(m+1) e com uma função Legendre associada da variável θ e com
senoidal da variável φ. Geralmente, por possuir singularidade nos ângulos
θ = 0 e θ = π como parte das condições de fronteira, a função Qnm (cos θ) não
foi incluída como parte da resposta.

2.4.4 Solução Numérica da Equação de Laplace


Ao utilizar a aproximação da diferencial de segunda ordem, podemos
desenvolver uma técnica numérica para resolver o Laplaciano por iteração e
aproximações sucessivas. Começamos com a diferencial de primeira ordem
da função ϕ(x) definida por:

dϕ(x) ϕ(x + ∆x) − ϕ(x)


= lim
dx ∆x→0 ∆x

Ou:
dϕ(x) ϕ(x) − ϕ(x − ∆x)
= lim
dx ∆x→0 ∆x
Assim, a diferencial de segunda ordem da função ϕ será:

d2 ϕ(x) dx

dϕ(x+∆x) dϕ(x)
dx
= lim
dx2 ∆x→0 ∆x
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 105

Substituindo as definições da diferencial de primeira ordem nesta equação


teremos:
d2 ϕ(x) ∆x
− ϕ(x)−ϕ(x−∆x)
ϕ(x+∆x)−ϕ(x)
∆x
= lim
dx2 ∆x→0 ∆x
ϕ(x + ∆x) − 2ϕ(x) + ϕ(x − ∆x)
= lim
∆x→0 ∆2 x
Assim, para uma equação de Laplace unidimensional, por exemplo, em fun-
ção de x, i.e. ∇2 ϕ(x) = 0, o potencial na posição x é a média aritmé-
tica de dois potenciais vizinhos equidistantes ϕ(x + ∆x) e ϕ(x − ∆x), ou
seja:
ϕ(x + ∆x) + ϕ(x − ∆x)
ϕ(x) = (2.57)
2
A resposta torna-se mais precisa quando a segunda amostra do potencial
elétrico for mais próxima da primeira, i.e. ∆x → 0.
No caso de uma função de potencial bidimensional, por exemplo, ϕ(x, y),
a equação de Laplace pode ser aproximada por:
ϕ(x + ∆x, y) − 2ϕ(x, y) + ϕ(x − ∆x, y)
∇2 ϕ(x, y) ≈
∆2 x
ϕ(x, y + ∆y) − 2ϕ(x, y) + ϕ(x, y − ∆y)
+ =0
∆2 y
Se considerar ∆x = ∆y, podemos achar o potencial ϕ(x, y) a partir da média
aritmética dos potenciais elétricos dos quatro pontos que o circundam, a uma
mesma distância:

ϕ(x + ∆x, y) + ϕ(x − ∆x, y) + ϕ(x, y + ∆y) + ϕ(x, y − ∆y)


ϕ(x, y) =
4
(2.58)
Repetindo o processo, a função tridimensional do potencial elétrico em qual-
quer ponto pode ser obtido através da média aritmética dos potenciais dos
seis pontos vizinhos:

ϕ(x, y, z) = 1/6[ϕ(x + ∆x, y, z) + ϕ(x − ∆x, y, z)


+ ϕ(x, y + ∆y, z) + ϕ(x, y − ∆y, z) (2.59)
+ ϕ(x, y, z + ∆z) + ϕ(x, y, z − ∆z)].
Considerando, ∆x = ∆y = ∆z. Este método é conhecido como diferenças
finitasa .
a
Finite Difference Method.
106 2.4. LAPLACIANO

Exemplo 2.23. Considere um cabo coaxial, onde os condutores são de sec-


ção transversal quadrada, conforme a figura 2.25a. A tensão do condutor
interno, de dimensões a × a, é Va e a do externo, de dimensões b × b, é Vb . O
espaço entre os dois condutores é ar. a) Encontre a distribuição espacial do
potencial elétrico. b) Ache o campo elétrico entre os condutores. c) Como
será a distribuição de cargas na superfície dos condutores? d) Encontre a
carga acumulada por unidade de comprimento do cabo coaxial.
Resposta: Percebe-se que a equação de Laplace é bidimensional, i. e. ∇2 ϕ(x, y) =
0, conforme as condições de contorno da figura 2.25a. Em seguida, o espaço
entre dois condutores é dividido por células quadradas de lado ∆x = ∆y,
conforme a figura 2.25b. Assim, podemos representar o potencial do nó da
grade como ϕnm na linha n e a coluna m, criando uma matriz do conjunto de
potenciais dos nós de tamanho N ×M , conforme a figura 2.25c. Obviamente,
dimensão maior da matriz induz uma maior precisão à resposta. Na próxima
etapa, a resposta aproximada do potencial em cada nó (i, j) no interior do
cabo coaxial será obtida pela equação (2.58), ou seja:
ϕi+1j + ϕi−1j + ϕij+1 + ϕij−1
ϕij = (2.60)
4
Considerando os valores iniciais dos potenciais da seguinte forma:

 Na superfície do condutor externo
Vb ,

ϕij = Va , Na superfície do condutor interno



0, No meio dos condutores
Assim, podemos atualizar um novo valor do potencial por meio da equação
(2.60), mantendo fixas as tensões dos nós que pertencem à superfície me-
tálica em todos os passos. Em cada iteração, o potencial do nó entre os
condutores é obtido a partir da média dos quatro potenciais vizinhos. Este
procedimento se repete para todos os nós no meio dos condutores. Repetindo
este procedimento, os potenciais se aproximam do valor real, gradualmente.
O procedimento será repetido até que as alterações em todos os nós sejam
desprezíveis. O critério para finalizar as iterações no passo k será:
|ϕk ij − ϕk−1 ij| < ∆, ∀i, j
Onde ∆ é a tolerância permitida do potencial e ϕk ij representa o potencial
do nó ij na iteração k. O algoritmo pode ser implementado no ambiente de
qualquer software interativo, como o MATHLAB. No apêndice, encontram-
se os comandos em ambiente de MATHLAB para O cálculo numérico dos
potenciais.
Uma vez, sabendo do mapeamento do potencial elétrico, o campo elétrico
em cada nó é obtido pelas seguintes expressões:
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 107

ϕij − ϕij+1
Eij x = , (2.61)
∆x
ϕij − ϕi+1j
Eij y = . (2.62)
∆y
Podemos também, encontrar a densidade de carga na superfície metálica a
partir da relação entre a componente normal do campo elétrico e a densi-
dade superficial, dada pela equação (2.63)a . Por exemplo, ρs do nó (2, 1) é
aproximada por:
E1,2x ϕ2,1 − ϕ2,2
ρs2,1 = =
4πk 4πk∆x
Por fim, a carga total por comprimento unitário dos condutores é obtida
somando a densidade superficial de todos os nós que pertence ao condutor e
multiplicando por ∆x. Como existe a simetria de distribuição de cargas nas
superfícies x = 0 e x = b e y = 0 e y = b, basta somar a densidade de um
lado e multiplicar por 4∆x:
−1
1 MX
QExterno = (ϕi,1 − ϕi,2 )
πk i=2
Podemos repetir o procedimento para encontrar a carga acumulada na su-
perfície do condutor interno. ■

2.5 Método das Imagens


Além das técnicas apresentadas até este momento, existem casos espe-
cíficos onde uma nova maneira de análise do campo elétrico pode facilitar
bastante a resolução do problema. Este procedimento é chamado de método
das imagens onde elementos fundamentais presentes no espaço são conduto-
res junto a uma distribuição de cargas discretas ou contínuas. Para discutir
qual é o efeito de um condutor na presença de uma carga elétrica precisamos
conhecer melhor um condutor.

2.5.1 Condutores
Condutores são conhecidos pela presença de um mar de elétrons, onde
esses elétrons são relativamente livres. A liberdade do elétron de se movimen-
a
Após a apresentação das características dos condutores, na próxima seção, será escla-
recida a relação do campo elétrico perpendicular à superfície do condutor com a densidade
superficial de cargas.
108 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS

y
Vb b y

Va a

a x x
b

(a) (b) (c)

Fig. 2.25. a) Cabo coaxial com a secção transversal quadrada. b) Divisão de


espaço entre dois condutores por células quadradas de lado ∆x = ∆y. c) A matriz
equivalente dos potenciais dos nós de M linhas e N colunas.

tar termina na superfície do condutor. Para o elétron escapar da superfície


do condutor e ser considerado absolutamente livre, é necessário a sua energia
cinética seja elevada acima da função trabalhoa do condutor. Neste seção,
apenas os elétrons com energia abaixo da função trabalho serão considerados.
Portanto, encontrarão-se ligados à estrutura dos metais.
Primeiramente, consideramos a situação onde o condutor está com carga
elétrica extra conforme a figura 2.26a. Lembre-se que, por serem cargas
elétricas, as forças repulsivas entre as cargas negativas farão com que os
elétrons se afastem uns dos outros. Portanto, até no momento em que elétrons
estão livres, o movimento deles continua a afastá-los o máximo possível. A
repulsão entre cargas continua até que estejam distribuídas na superfície do
condutor com a maior distância possível. Por isso, não há elétrons livres no
interior do condutor, ou seja, a densidade de carga é nula e somente existe a
distribuição superficial das cargas elétricas ρs , conforme a figura 2.26a.
Com ausência da carga elétrica no interior do condutor, percebe-se que
o campo elétrico interno será nulo, utilizando a lei de Gauss. O resultado
não muda se o condutor for oco. O campo elétrico nulo é razão para ter
potencial constante no condutor inteiro, lembrando a relação campo com
potencial (E⃗ = −∇ϕ).
Respeito da forma de campo elétrico presente na superfície do condutor,
basta considerar uma superfície Gaussiana atravessando a superfície do con-
dutor. Se tiver componente tangencial do campo elétrico na superfície, signi-
fica que os elétrons extras presentes na superfície do condutor sofrerão uma
a
Work function.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 109

s s 𝐸𝐸𝑥𝑡 s Carga induzida


Er En=0
V0
𝐸 =0
𝐸 =0
 =0
 =0 V0

(a) (b)

Fig. 2.26. a) As posições das cargas extras em um condutor. b) Um condutor sob


efeito de um campo externo.

força que vai deslocá-los. Isto é contra a hipótese de estado estático dos
elétrons extras no condutor. Portanto podemos considerar que o campo elé-
trico devido as cargas extras é normal à superfície do condutor. Mais uma
vez, aplicando a lei de Gauss com uma superfície Gaussiana que atravessa a
superfície do condutor,
En ∆s = 4πkρs ∆s
onde ρs é densidade de cargas extras na superfície do condutor. Podemos
ver que o campo elétrico é:
⃗ = 4πkρs n̂
E (2.63)
O resultado obtido justifica a relação direta entre a intensidade do campo
elétrico e a densidade superficial de carga extra do condutor. Ou seja, quando
a área é relativamente pequena para um certo número de cargas, é esperado
um campo elétrico elevado na região. Por exemplo quando existe um ponto
agudo do condutor como a vela do sistema de ignição dos motores a gasolina.
Neste caso, o campo elevado pode alcançar o nível que oferece aos elétrons a
energia necessária para escapar da superfície do condutor.
Até este momento, descobrimos o comportamento das cargas extras no
condutor. Queremos também saber do condutor sob efeito de um campo
elétrico externo. O mar de elétrons livres do condutor não será homogêneo
em todo material e as cargas livres vão se acumular próximo ao polo positivo
do campo elétrico, o que levará a um aumento da densidade de cargas nas
suas proximidades, conforme a figura 2.26b. A presença de cargas negativas
perto do polo positivo ocorre com o acúmulo de cargas positivas próximo
do polo negativo. A presença dessas cargas denominadas cargas de indução,
110 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS

induz um campo elétrico E⃗ind . O acúmulo de cargas aumentará tanto que a


⃗ ind encontra-se
força induzida pela distribuição não homogênea das cargas eE
em equilíbrio com a força de atração por campo externo eE ⃗ Ext . Assim, o
acúmulo de elétrons livres perto do polo positivo vai parar e a relação dos
campos elétricos será da seguinte forma:
⃗ ind = −E
E ⃗ Ext
Em resumo, para um condutor posicionado em um campo externo, somente
teremos a distribuição de cargas induzidas na sua superfície. O campo elé-
trico interno é nulo, logo, o campo induzido é oposto do campo elétrico
aplicado. Sem campo elétrico, o potencial elétrico do material inteiro é cons-
tante. Somente existe campo elétrico perpendicular à sua superfície externa
e
Exemplo 2.24. Uma carga positiva q se encontra dentro da cavidade de
um condutor. Queremos saber como será a distribuição das cargas levando
em consideração que a carga não está em contato com o condutor, para mais
detalhes vejam a figura 2.27. Encontre também, o campo elétrico em todo
espaço.
Resposta: A presença da carga pontual q induz a distribuição de carga ne-
gativa na superfície interior da cavidade. Isto leva a uma indução na distri-
buição de cargas positivas na superfície externa.
Pela lei de Gauss, para um suposto campo elétrico radial e uma superfície
Gaussiana esférica ao redor da carga, teremos o fluxo total de 4πr2 Er , onde
r representa a distância até a carga q. Para uma SG dentro da cavidade e
ao redor da carga q, a carga total inclusa é q. Sendo assim, o campo elétrico
dentro da cavidade será:
⃗ = kq r̂,
E
r2
onde r é a distância até a carga q.
Considerando a propriedade elétrica do condutor, o campo elétrico no meio
condutor será nulo. Agora, se considerar uma superfície Gaussiana esférica
que engloba todo o condutor e é concêntrica com o condutor, a carga total
inclusa será q de novo. Sendo assim, o campo elétrico pelo lei de Gauss será:
⃗ = kq r̂,
E
r2
onde r representa a distância até o centro da esfera. ■

Exercício 2.16.
Uma esfera metálica de raio a está emersa em um campo elétrico uniforme,
conforme a figura 2.26b. Encontre o potencial elétrico no espaço pela técnica
do Laplaciano. ■
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 111

's

q -s

Fig. 2.27. Uma carga q dentro da cavidade de um condutor.

2.5.2 Método das Imagens para Análise de Campo Elétrico


O resultado do estudo que fizemos sobre condutores sob efeito de um
campo elétrico oferece as primeiras etapas para desenvolver mais uma técnica
de análise de campo elétrico. Suponha que a fonte do campo elétrico seja
uma carga pontual ou uma distribuição de cargas em uma região do espaço.
A presença de um condutor leva a uma indução de cargas em sua superfície.
Neste método, em vez de análise de campo elétrico pela presença da carga real
e da carga de indução, tentaremos substituir a carga de indução, na superfície
do condutor, por uma carga equivalente que mais adiante chamaremos de
carga imagem. Ou seja, de algum modo isto parece com estudo de espelhos
na ótica geométrica. Em outras palavras, o condutor funciona como um
espelho para o campo elétrico.
Inicialmente, vamos considerar um condutor plano grande e uma carga
elétrica pontual na altura h do plano, conforme a figura 2.28a. Adotamos as
coordenadas como na figura 2.28b. Em vez de distribuição de carga induzida
na superfície do condutor, consideramos a uma carga imagem q ′ , posicionada
ao longo do mesmo eixo que carga real, i.e. oz. O tamanho da carga imagem
q ′ , e a sua posição exata h′ são encontrados a partir de condições contorno,
tais como o potencial elétrico em dois pontos arbitrários do plano. Se tiver
um condutor aterrado, um ponto é a origem e outro é um ponto da distância
polar r da origem na superfície do condutor. As equações do potencial elétrico
112 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS

P(x,y,z)
x
𝑛 r-
r+
h
h h
q -q O q z

Placa s
y
Condutor Carga Induzida

(a) (b)

Fig. 2.28. a) Um condutor plano grande e uma carga elétrica pontual na altura h
do plano. b) O modelo equivalente.

nestes dois pontos serão:

kq kq ′
+ ′ =0
h h
kq kq ′
√ + √ ′2 =0
h2 + r2 h + r2
O raio r escolhido nas coordenadas polar é uma variável independente, por
isto:

q ′ = −q
(2.64)
h′ = h
Com a modelagem encontrada na figura 2.28b, o potencial elétrico em um
ponto no espaço P(x, y, z > 0) será:

kq kq
ϕ(x, y, z) = −
r+ r−

onde r+ e r− são as distâncias do ponto P até as duas cargas q e −q, respec-


tivamente.
⃗r+ = xx̂ + y ŷ + (z − h)ẑ
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 113

⃗r− = xx̂ + y ŷ + (z + h)ẑ

1 1
ϕ(x, y, z) = kq( q −q )
x2 + y 2 + (z − h)2 x2 + y 2 + (z + h)2

Exemplo 2.25. a) Encontre a distribuição de carga de indução na superfície


do condutor. b) Qual será a carga total de indução no condutor?
Resposta: a) Basta encontrar a componente normal do campo elétrico que,
de acordo com equação (2.63) representa a distribuição superficial de carga.
En (z = 0)
ρs = .
4πk
Como n̂ é na direção z, o campo elétrico En encontrado a partir da taxa de
variação espacial do potencial em função z em (z = 0) é:
∂ϕ 2kqh
− =− 2
∂z (x + y 2 + h2 )1,5
Portanto, a distribuição de carga superficial será:
−qh
ρs = .
2π(x2 + y 2 + h2 )1,5
b) Basta fazer a soma de todas cargas induzidas na superfície do condutor:
Z
−qh
Qind = ds
2π(x2 + y 2 + h2 )1,5
Podemos, então, transformar para coordenadas polares:
Z 2π Z ∞
−qh
Qind = rdrdφ
0 0 2π(r2
+ h2 )1,5
Z ∞
du
= −qh
0 2(u + h2 )1,5
1 ∞
= −qh √
u + h2 0
= −q
Assim, a carga total induzida na superfície do condutor é exatamente igual
à carga imagem q ′ . ■

Importante lembrar que até este momento consideramos um condutor ater-


rado. Se tiver um condutor com a tensão diferente de zero, basta utilizar a
114 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS

regra da superposição. Primeiramente, encontramos o potencial elétrico no


espaço, resultado da condição contorno dada na superfície do condutor, sem
consideração da carga elétrica. Em segunda etapa, encontramos o potencial
elétrico resultado da carga elétrica real na proximidade do condutor aterrado,
utilizando o método das imagens.
Se tiver uma distribuição de cargas em vez de uma carga pontual q, pode-
mos utilizar a regra da superposição e encontrar a carga imagem infinitesimal
e sua posição, correspondente com cada carga real infinitesimal dq. Afinal,
podemos conferir que a carga imagem será negativada da distribuição real
das cargas. Por exemplo, Suponha um fio carregado com a distribuição de
carga real ρl C/m na proximidade de um condutor plano. Pela técnica das
imagens, podemos substituir o condutor por uma carga imagem distribuída
ao longo de um fio. A densidade da carga imagem será de −ρl C/m. Podemos
utilizar a óptica geométrica para encontrar a posição do fio imagem.
Em outro caso, considere cargas elétricas distribuídas na superfície de um
disco com a densidade ρs C/m2 , na proximidade de um condutor plano. Pela
técnica das imagens, podemos substituir o condutor por uma carga imagem
distribuída na superfície de um disco com densidade −ρs C/m2 . Podemos
utilizar a óptica geométrica para encontrar a posição do disco imagem. E
assim por diante, para uma esfera carregada de ρ C/m3 na proximidade de
um condutor plano, a imagem será uma esfera de cargas com a densidade
−ρ C/m3 . Logo após a substituição do condutor, o potencial elétrico será a
soma de dois termos: um resultado da distribuição de cargas reais e outro
da distribuição da cargas imagens.
Exercício 2.17.
Seja a superfície y = 0 um condutor perfeito no espaço. Duas linhas infinitas,
de carga uniforme 30 nC/m cada, estão localizadas em x = 0, y = 1, e
x = 0, y = 2. a) Determine a densidade superficial de cargas na origem. b)
Determine ρs em P(h, 0, 0).
Exercício 2.18.
O segmento de linha x = 0, −1 ≤ y ≤ 1, z = 1, carrega uma densidade
de carga linear de ρl = π|y| µC/m. Considere z = 0 um plano condutivo e
determine a densidade superficial de cargas em: a) ponto (0, 0, 0); b) ponto
(0, 1, 0).
Exercício 2.19.
Uma carga pontual Q é localizada entre dois condutores semi infinitos, como
mostrada na figura 2.29. A distância da carga até os condutores é a e b,
respectivamente. Encontre o potencial elétrico no ponto P(x, y, z). ■

Até este momento tratamos de condutores planos. Podemos estender a


CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 115

q b

Fig. 2.29. Uma carga pontual Q entre dois condutores semi infinitos com a inter-
seção de 90°.

técnica para condutores com curvatura. A figura 2.30a mostra um espelho


eletrostático feito de um condutor esférico na proximidade de uma carga
pontual. Mais uma vez, tentaremos encontrar o tamanho da carga imagem
q ′ e a sua posição b. As coordenadas são escolhidas com a origem no centro
da esfera e a carga real ao longo do eixo z, conforme a figura 2.30b. A carga
imagem é posicionada ao longo da linha que conecta a origem da esfera à
carga elétrica real. O raio da esfera, a posição da carga pontual q e a posição
da carga imagem são R, a e b, respectivamente. O tamanho da carga imagem
q ′ e a sua posição b são encontrados, satisfazendo às condições contorno em
dois pontos A e B na figura 2.30b. Sabendo da tensão nula na superfície da
esfera, teremos as seguinte equação no ponto A:

kq kq ′
+ =0
a−R R−b
Repetindo o procedimento para o potencial elétrico do ponto B, teremos:

kq kq ′
+ =0
a+R R+b
A partir dessas equações, não é difícil obter a carga imagem q ′ e a sua posição
b em função de q, a e R. Os resultados são:
116 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS

P(x,y,z)
q
r-
r+
R a b
R q' q
B A z
a

(a) (b)

Fig. 2.30. a) Uma carga pontual na frente de um condutor esférico. b) O modelo


equivalente pelo método das imagens.

R
q ′ = −q
a (2.65)
R
b=R
a
Conforme a figura 2.30b, a fração R/a é menor que um, ou seja, a carga
imagem terá o tamanho menor do que a carga real, dado pela equação (2.65).
A sua posição será menor do que raio da esfera R, ou seja, dentro da esfera.a
Apesar de análise foi feito para a carga real fora da esfera, as respostas
encontradas na equação (2.65) são validas quando a carga elétrica for dentro
da esfera (R > a). Neste caso a fração R/a é maior que um, ou seja, a carga
imagem terá o tamanho maior do que a carga real e está posicionada no lado
fora da esfera.b
Agora que encontramos o modelo equivalente conforme a figura 2.30b,
o potencial elétrico em um ponto no espaço P(x, y, z > 0) é encontrado,
somando o potencial de duas cargas pontuais no próximo exemplo.
Exemplo 2.26. Encontre o potencial elétrico no ponto P(x, y, z) da figura
2.30a.
Resposta:
kq kq ′
ϕ(x, y, z) = +
r+ r−
onde ⃗r+ são vectores de distância entre o ponto P e a posição da carga real
e da carga imagem, respectivamente:

⃗r+ = xx̂ + y ŷ + (z − a)ẑ


a
O caso é analógica com a imagem criado pelo um espelho convexo na óptica geométrica.
b
O caso é analógica com a imagem criado pelo um espelho côncavo na óptica geométrica.
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 117

⃗r− = xx̂ + y ŷ + (z − b)ẑ


Então, o potencial elétrico é dado por:
R
1 −
ϕ = kq( q +q a )
x + y + (z − a)
2 2 2 x + y + (z − b)2
2 2

Exemplo 2.27. Para as configurações dadas na figura 2.30a, encontre a


distribuição de cargas induzidas na superfície da esfera.
Resposta: Começamos pela Equação (2.63) que foi encontrada pela lei de
Gauss. Esta equação relaciona a distribuição de carga induzida com o campo
elétrico perpendicular à superfície do condutor, ou seja:
En |r=R
ρs = .
4πk
Neste caso, o campo perpendicular à superfície da esfera é o campo radial
Er . Podemos achá-lo a partir da taxa de variação espacial do potencial em
função de r em (r = R):
∂ϕ
Er |r=R = − |r=R
∂r
Temos que representar o potencial ϕ em coordenadas esféricas:
R
1 a
ϕ = kq( √ 2 −√ 2 )
r + a2 − 2ar cos θ r + b2 − 2br cos θ
Portanto a distribuição de carga superficial será:
R
q −(R − a cos θ) (R − b cos θ))
ρs = ( 2 + a )
4π (R + a2 − 2aR cos θ)1,5 (R2 + b2 − 2bR cos θ)1,5

Substituindo o valor de b = R2 /a:

q R 2 − a2
ρs =
4πR (R2 + a2 − 2aR cos θ)1,5

Exemplo 2.28. Achar a carga total induzida na superfície da esfera do


exemplo 2.27.
118 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS

Resposta: Basta fazer a soma de todas cargas induzidas, distribuídas na


superfície do condutor:
Z
Qind = ρs ds
Z
q R2 senθdθdφ
= (R2 − a2 )
4πR (R2 + a2 − 2aR cos θ)1,5
Z −1
q −du
= (R2 − a2 )2πR2
4πR 1 (R2 + a2 − 2aRu)1,5
qR(R − a ) −1
2 2
1
= √ |−1
2 aR R + a − 2aRu 1
2 2

−q(R2 − a2 ) 1 1
= [q −q ]
2a (R + a)2 (a − R)2

Para a carga real fora da esfera, i.e. a > R:

q(a2 − R2 ) 1 1
Qind = ( − )
2a a+R a−R
Portanto, a carga total induzida será:
R
Qind = −q (2.66)
a
Ou seja, a carga total induzida na superfície da esfera é equivalente à carga
imagem. ■

Em todos casos que estudamos até agora, o condutor foi considerado ater-
rado. Caso contrário, podemos aproveitar da propriedade superposição desta
modelagem linear do fenômeno. Neste caso, observa-se que o potencial elé-
trico no espaço é composto de duas respostas. A primeira resposta é obtida
pelo método das imagens, considerando o condutor aterrado, ou seja, a ten-
são do condutor é nula. A segunda resposta é obtido para um condutor
com a condição contorno dado, sem a presença da carga elétrica. A resolu-
ção pode ser por quaisquer técnicas apresentadas neste capítulo, tais como
lei de Coulomb, potencial elétrico, lei de Gauss, ou equação diferencial de
Laplace.
Exercício 2.20.
Encontre o potencial elétrico no espaço para a configuração da figura 2.30a,
com a tensão da esfera V0 , ou seja, o condutor não está aterrada. ■

Até esse momento, nós já aprendemos várias técnicas de análise de campo


elétrico, tais como a lei de Coulomb, potencial elétrico, lei de Gauss, Lapla-
ciano e método das imagens. Aprendemos o comportamento de uma classe
CAPÍTULO 2. TÉCNICAS DE ANÁLISE 119

de materiais chamada de condutores na presença de um campo elétrico. No


próximo capítulo, vamos continuar o estudo de materiais sob efeito de um
campo elétrico.
120 2.5. MÉTODO DAS IMAGENS
Capítulo
3
Materiais Dielétricos, Energia/ Força
Eletrostática/ Capacitância

O efeito de campo elétrico sobre materiais no universo, é a indução de cargas elétricas nos condutores e a criação de carga de polarização nos
dielétricosb .

3.1 Materiais Isolantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122


3.2 Análise de Campo Elétrico... . . . . . . . . . . . . . . . 126
3.2.1 Técnica de Análise ... . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.2.2 Materiais Dielétricos ... . . . . . . . . . . . . . . 137
3.2.3 Passagem de Campo ... . . . . . . . . . . . . . . 143
3.3 Energia Eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
3.4 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
3.5 Força Eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
3.6 Projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

No capítulo passado, conhecemos o comportamento de um condutor


carregado e, também, quando o condutor estava sob efeito de um campo
elétrico externo. Neste capítulo, conheceremos outra classe de materiais cha-
mados isolantes, onde todos os portadores de cargas elétricas estão ligados aos
b
Do livro Introdução a eletrodinâmica escrito por David J. Griffiths.

121
122 3.1. MATERIAIS ISOLANTES

átomos. Assim, não existe carga elétrica livre nestes materiais para permitir
a condução do material. Começamos a nossa modelagem de efeitos elétricos
sobre cada átomo. Apresentaremos uma deformação da nuvem eletrônica
gerada pelo campo elétrico aplicado, conhecido como polarização atômica e
geração de dipolos elétricos. Faremos uma modelagem matemática do poten-
cial elétrico gerado por um dipolo elétrico. Com base na análise de campo
elétrico de um dipolo elétrico, será desenvolvida uma técnica para encontrar
o campo elétrico na presença de um material dielétrico. Relacionaremos a
polarização do material com a geração de cargas superficiais e volumétricas
de polarização. Em seguida, falaremos de energia eletrostática e meio de
armazenamento de carga elétrica junto com a força eletrostática.

3.1 Materiais Isolantes


Em resumo, podemos classificar os materiais isolantes como aqueles em
que todos os portadores de cargas elétricas estão ligados aos átomos. Por-
tanto, não se espera o movimento livre de elétrons no meio isolante. Até
então, queremos saber o comportamento destes materiais sob efeito de um
campo elétrico. Começamos com um átomo neutro imerso em um campo elé-
trico, utilizando o modelo atômico de Bohr, ilustrada na Figura 3.1a. Neste
modelo, o núcleo com a carga positiva de +e Ca é cercado por uma nuvem ele-
trônica, com a densidade volumétrica constante de −3e/(4πa3 ) C/m3 , onde
a é o raio atômico em ordem de 10−10 mb . O formato básico de nuvem é
uma esfera ao redor do núcleo, conforme a figura 3.1a. Com a presença de
um campo elétrico, o átomo sofrerá uma deformidade, ou seja, atração da
nuvem eletrônica no sentido oposto do campo elétrico e repulsão do núcleo ao
longo do campo elétrico. A deformidade do átomo pode ser como ilustrada
na figura 3.1b(i), onde o nuvem de elétron não é mais esférico. No regime de
campo elétrico moderado, espera-se que o orbital do elétron como um parâ-
metro quântico não mude. Assim, deformação ilustrada na figura 3.1b(i) é
improvável.
Vale salientar que no regime de campo elétrico aplicado relativamente in-
tenso, pode ocorrer a excitação do átomo, ou seja, mudança de orbital do
elétron. Também, pode ocorrer a ionização do átomo nas intensidades mai-
ores do campo elétrico aplicado. Neste estado, a presença dos íons no ma-
terial dielétrico, que pode ser no estado gasoso ou líquido ou sólido, permite
a condução do material dielétrico de modo temporário ou permanente. Ge-
ralmente, em estado sólido do dielétrico, a passagem de corrente elétrica e a
a
O simbolo e representa a carga do elétron, ou seja 1, 6 × 10−19 C.
b
Unidade é chamada Angstrom com símbolo Å.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 123

EExt

EExt
(a) (i) (b) (ii)

Fig. 3.1. a) Modelo atômico de Bohr sem presença de campo elétrico externo,
b) Alterações possíveis na estrutura do átomo sob efeito de um campo elétrico
externo.

elevação da temperatura regional do dielétrico pode quebrar a sua estrutura


cristalina e gerar dano permanente ao material de forma irreversível. Tam-
bém, os íons e elétrons acelerados podem colidir com os átomos do material e
gerar mais elétrons e íons. O resultado é um fenômeno conhecido como ava-
lanche. A intensidade do campo elétrico que ocorre a ionização e condução
instantânea do material é conhecido com rigidez dielétricaa .
A tabela D.3 mostra a rigidez de materiais elétricos. Por exemplo, a rigidez
do ar é na faixa de 3 MV/m. Isto significa que se tiver uma tensão de 3 V entre
dois eletrodos de 1 mícrons de distância, ocorrerá a ionização e a passagem de
corrente entre dois elétrodos. Este fenômeno ocorre frequentemente por causa
de campo elétrico gerado pelas nuvens carregadas. Em caso de vácuo, apesar
de falta de átomos, pode ocorrer a condução entre dois elétrodos devido à
função do trabalho dos elétrodos. Assim, os elétrons serão arrancados da
superfície do metal por um campo elétrico elevado. O efeito que ocorre entre
dois elétrodos no ar é conhecido com efeito corona. A rigidez do material
dielétrico utilizado nos capacitores é a razão da necessidade de manter a
tensão aplicada nos capacitores menor que a tensão limite indicada.
Voltando para a deformação das nuvens eletrônicas gerada por um campo
elétrico da figura 3.1. Se o campo elétrico aplicado não for tão elevado para
excitação ou ionização do átomo, os orbitais permanecerão intactos. Assim,
o raio do orbital e formato do orbital não mudarão. Logo, a deformação
atômica pode ser modelada como ilustrada na figura 3.1b(ii), mantendo o
formato esférico do nuvem. Assim, novo estado das partículas pode ser dis-
a
Também é conhecida como ruptura dielétrica.
124 3.1. MATERIAIS ISOLANTES

cutido a partir do equilíbrio entre força de repulsão do núcleo pelo campo


externo e a força de atração do núcleo pela nuvem eletrônica.
Como mostrada na figura 3.1b(ii), o deslocamento relativo do núcleo d gera
uma força de atração proporcional com d. Considerando uma distribuição
homogênea de cargas até raio a com a densidade volumétrica −3e/(4πa3 )
C/m3 , a carga inclusa no interior da SG de raio d será −ed3 /a3 . Enquanto, o
fluxo elétrico para fora da esfera de raio d será 4πd2 Er . Portanto, pela lei de
Gauss, o tamanho do campo elétrico induzido pelo deslocamento d do núcleo
será:
ed
Er = k 3
a
O estado em equilíbrio do núcleo sob efeito da força de atração pelo campo
induzido eEr e a força de repulsão do campo aplicado eEext , permite encon-
trar o deslocamento relativo d:
a3
d= Eext
ek
A partir do deslocamento d, será encontrada um termo importante chamado
a polarização p, resultado da multiplicação da carga elétrica do núcleo e o
seu deslocamento i.e. ed. A polarização é considerada de natureza vetorial,
com a mesma direção e sentido do campo elétrico aplicado, ou seja, da carga
negativa para carga positiva:
a3 ⃗
p⃗ = E ext (3.1)
k
A constante de proporcionalidade a3 /k na equação acima é chamada de
susceptibilidade atômica ou polarizabilidade atômica do material e tem ta-
manho em ordem de 10−40 , em sistema métrico. O seu tamanho é encontrado
a partir do raio orbital na ordem de 10−10 m e tamanho de k de 10−10 . Os re-
sultados experimentais confirmam o resultado da modelagem de polarização
de um átomo simples como do hidrógeno (H), onde o valor obtido é em or-
dem de 0, 667×10−40 . Haverão muitas simplificações, se adotarmos o modelo
esfério da nuvem eletrônica, sem inclusão da interação de elétrons-elétrons
ou de prótons-prótons para os átomos mais complexos, com mais elétrons e
prótons. Apesar disso, a susceptibilidade atômica encontrada para átomos
tais como hélio (He) é 0, 205 × 10−40 ou do neônio (Ne) é de 0, 397 × 10−40 ,
que fica na mesma ordem de magnitude.
Até este momento, conseguimos modelar o efeito de campo elétrico sobre
um único átomo de hidrógeno. Como justificamos, para átomos mais com-
plexos ou até moléculas, a modelagem do efeito do campo necessita a consi-
deração das interações entre partículas e a geometria de orbitais dos elétrons.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 125

P(x,y,z)

r+ r+

r z r

q q
r- r-

 

d d O


d/2cos

-q d/2cos
-q

(a) (b)

Fig. 3.2. a) Dipolo elétrico de duas cargas opostas q separadas por distância d. b)
Ponto P distante em relação a d (r ≫ d), e troca de linhas cruzadas por linhas
paralelas.

Apesar da complexidade, podemos continuar com a nossa modelagem e es-


tender para uma escala macroscópica, onde todos os átomos ou moléculas
do material vão sofrer a deformação chamada de polarização. Logo, a aná-
lise do campo é feito pela soma vetorial de campo elétrico gerado por cada
polarização induzida. Mas antes disso, precisamos calcular o campo elétrico
gerado por um único átomo polarizado. A partir de agora, podemos chamar
o átomo polarizado como dipolo elétrico induzido e chamaremos o termo p⃗
como o momento de dipolo elétrico e utilizamos a palavra dielétrico em vez
de isolante.

A figura 3.2a mostra um dipolo elétrico, sendo d a distância entre as cargas


q e −q. Lembramos que os dipolos microscópicos são formados por duas
cargas iguais e opostas, separadas por uma distância em ordem de 10−10
m. Sendo assim, é razoável supor r ≫ d, o que leva o nosso ponto P a ser
considerado no infinito, onde as linhas paralelas se cruzam. Logo, as linhas
serão consideradas paralelas, conforme a figura 3.2b. Em seguida, o potencial
126 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

no ponto P(x, y, z) será:


kq kq r− − r+
ϕ(x, y, z) = − = kq
r+ r− r− r+
A diferença entre as linha r+ e r− é obtida pelo triangulo na figura 3.2b, ou
seja r− − r+ = d cos θ. Como r ≫ d, podemos aproximar r+ r− por r2 . Logo,
o potencial elétrico é obtido por:
cos θ
ϕ = kp 2 (3.2)
r
Onde, p = qd é tamanho do momento de dipolo elétrico. Para as coordenadas
escolhidas na figura 3.2, o momento de dipolo elétrico será p⃗ = qdẑ. Sendo
assim, p cos θ = p⃗ · r̂. Logo, o potencial elétrico da equação (3.2) modificado
para seguinte forma:
p⃗ · r̂
ϕ=k 2 (3.3)
r
que é um resultado independente das coordenadas escolhidas.
Em seguida, o campo elétrico i.e. E ⃗ é encontrado pelo gradiente do poten-
cial elétrico. Para a equação (3.2) dada nas coordenadas esféricas, o campo
elétricoa é encontrado por:
⃗ = kp (2 cos θr̂ + senθθ̂)
E (3.4)
r3
Como mencionamos anteriormente, sabendo do potencial elétrico gerado
por um dipolo elétrico, é possível fazer análise do campo elétrico de um
material dielétrico. Para este motivo, basta fazer a superposição dos efeitos
de conjunto de dipolos um material dielétrico. Na próxima seção, este assunto
será discutido.

3.2 Campo Elétrico na Matéria


Na seção anterior encontramos o campo elétrico gerado por um dipolo
elétrico posicionado na origem das coordenadas. Neste momento estamos
tentando achar o campo gerado por um material dielétrico polarizado. Antes
de tudo, definimos a densidade vetorial volumétrica de momento de dipolo P⃗
C/m2 para o dielétrico. Com dada densidade de dipolos podemos encontrar
o momento de dipolo de um segmento infinitesimal do dielétrico pela p⃗ =
P⃗ dτ ′ . O potencial elétrico em uma posição P é obtido a partir da equação
(3.3), substituindo o valor de p⃗ e considerando a origem das coordenadas no
espaço.
a
Gradiente em coordenadas esféricas é dado pela equação (A.11) no apêndice.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 127

(x,y,z)

r
d

Fig. 3.3. Consideração de um segmento infinitesimal de um dielétrico polarizado


com densidade vetorial volumétrica de momento de dipolo P⃗ C/m2 .

P⃗ · r̂ ′
dϕ = k dτ (3.5)
r2
O potencial elétrico infinitesimal na equação (3.5) é calculado se tiver a
densidade volumétrica de momento de dipolo P⃗ . Sendo assim, podemos
encontrar o potencial elétrico do material dielétrico inteiro, a partir da su-
perposição dos efeitos da seguinte forma:
Z
P⃗ · r̂
ϕ = k 2 dτ ′ (3.6)
r

Exemplo 3.1. Uma esfera dielétrica de raio a é polarizada com a densidade


de momento de dipolo P⃗ C/m2 , conforme a figura 3.4. Ache o potencial
elétrico no espaço pela equação (3.6).
Resposta:
O momento de dipolo de um segmento infinitesimal da esfera é p⃗ = P0 ẑr′2 dr′ senθ′ dθ′ dφ′ .
O vetor ⃗r para um ponto qualquer P(x, y, z) é ⃗r = (x − x′ )x̂ + (y − y ′ )ŷ +
(z − z ′ )ẑ. Inserindo p⃗ e ⃗r na equação (3.6):
Z
r′2 dr′ (z − z ′ ) senθ′ dθ′ dφ′
ϕ = kP0
r3

A integral pode ser resolvida, utilizando a fórmula (E.2) no apêndice. Neste


exemplo, achamos a resposta da integral (2.11) por 4πa3 /3z 2 a , onde o ponto
do campo foi escolhido ao longo do eixo z e fora da esfera. Assim, teremos
o potencial elétrico como resultado da polarização permanente da seguinte
a
No apêndice, encontramos a resposta da integral para o ponto fora da esfera pela
equação (E.2) e para ponto dentro da esfera, i. e. r′ > z, dada pela equação (E.3).
128 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

forma:
4πa3
ϕ = kP0 (3.7)
3z 2
Também, o campo elétrico é encontrado a partir do gradiente da equação
(3.7):
⃗ = 2 k P0 4π a3 ẑ
E
z3 3
Neste caso, podemos interpretar a resposta dada pela equação (3.7) como
potencial elétrico de um momento de dipolo total obtido a partir de d⃗p = P⃗ dτ
que nas coordenadas esféricas será:

d⃗p = P⃗ r2 senθdθdφdr

Sendo assim, o dipolo elétrico total da esfera inteira vai ser:


Z
4π 3
p⃗ = P0 r2 senθdθdφdrẑ = P0 a ẑ (3.8)
3
Ou seja, para uma densidade de dipolos elétricos invariável, o dipolo total
é obtido, multiplicando a densidade de dipolos por volume da esfera, i.e.
4πa3 /3. Assim, podemos substituir a esfera polarizada por um dipolo elétrico
real obtido na equação (3.8), posicionado no centro da esfera. Em seguida, o
potencial elétrico fora da esfera pode ser encontrado, substituindo o momento
de dipolo obtido pela equação (3.8) na equação (3.3). Assim, a resposta é
válida para qualquer ângulo θ da seguinte forma:

4πa3 cos θ
ϕ = kP0 (3.9)
3r2
É obvio que potencial elétrico ao longo do eixo z é encontrado substituindo
θ = 0 que é a mesma resposta calculada pela equação (3.7).
Com a fórmula do potencial elétrica na mão, podemos encontrar o campo
elétrico diretamente pelo gradiente do potencial, ou podemos utilizar a equa-
ção (3.4) diretamente, substituindo o tamanho do dipolo elétrico, i.e. p =
P0 4πa3 /3. Logo, teremos a seguinte equação para o campo elétrico:

⃗ = k P0 4π a3 (2 cos θr̂ + senθθ̂)


E (3.10)
r3 3
Para pontos no interior da esfera e ao longo do eixo z, a resposta da integral
é dada pela equação (E.3). Então, teremos o potencial elétrico dentro da
esfera da seguinte forma:

ϕ= kP0 z (3.11)
3
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 129

𝑧 𝑧
r
ds'
𝑃𝑑 𝑦
𝑃 𝑟′

(a) (b)
Fig. 3.4. a) Esfera dielétrica de raio a polarizada na direção z. A densidade
P⃗ = P0 ẑ C/m2 . b) Carga de polarização induzida na superfície da esfera.

O campo elétrico correspondente será E ⃗ = −∇ϕ = −4π/3kP0 ẑ. Mais uma


vez podemos obter o potencial elétrico a partir do momento de dipolo total
entre 0 < r′ < z que é p⃗ = 4π3
z 3 P0 ẑ. Aliás, podemos, com mais um passo,
representar o potencial elétrico por ϕ = kP0 4π/3r3 cos θ/r2 , ou seja, ϕ =
kP0 4π/3r cos θ = kP0 4π/3z. É interessante confirmar a continuidade do
potencial elétrico, dado pela equações (3.7) e (3.11) na superfície da esfera;
z = a. ■

Vale ressaltar que, em caso de um dielétrico polarizado em uma única di-


reção constante, é possível aproveitar da invariância do versor P̂ e reescrever
a equação (3.6) da seguinte forma:
Z
P r̂
ϕ = P̂ · k 2 dτ ′ (3.12)
r
A integral é a mesma que é utilizada para calcular o campo elétrico de uma
distribuição tridimensional de cargas, dada pela equação (2.8), onde ρ = P
C/m3 . Por exemplo, para a esfera polarizada, o potencial elétrico será o
produto escalar entre o versor P̂ e o campo elétrico de uma esfera com carga
distribuída, homogeneamente, i.e. ρ = P C/m3 . Assim, podemos utilizar
qualquer técnica que seja conveniente entre as que foram apresentadas no
capítulo passado. Por exemplo, neste caso de distribuição homogênea de
130 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

cargas volumétricas em uma esfera, podemos aproveitar da técnica de Gauss:



Z k 4πa P r̂,
P dτ ′
3
Fora da esfera
k r̂ =
k
3r2
r 2 4πrP
3
r̂, Dentro da esfera
Em seguida, basta fazer o produto escalar para encontrar o potencial elétrico,
como a fórmula (3.12) sugere:

k 4πa3 P r̂, Fora da esfera
ϕ = ẑ ·  3r2
4πrP
k 3 r̂, Dentro da esfera
Percebe-se que o resultado confere com a resposta obtida pelo primeiro mé-
todo que foi desenvolvida a partir da fórmula (3.6).
Exercício 3.1.
Considere um dielétrico cilíndrico de raio a, com a polarização permanente
ao longo do seu eixo principal, conforme a figura 3.5. Encontre o potencial
elétrico e o campo elétrico a partir da equação (3.6). Dicas: Como a polari-
zação é homogênea e constante, podemos começar pela fórmula (3.12). ■

Além da técnica apresentada pela equação (3.6) para análise do campo


elétrico, podemos modificar a equação (3.6), utilizando a relação desenvolvida
no exemplo 2.5c e trocar r̂/ r2 por ∇′ 1/ r.
Z
1
k P⃗ · ∇′ dτ ′
ϕ=
r

Se trocar P⃗ · ∇ r pela regra da distribuição de divergência i.e. equação (B.2)
1

no apêndice B:
Z Z
P⃗ ′′ ∇′ · P⃗ ′
ϕ = k ∇ · dτ − k dτ
r r
Ainda podemos simplificar o primeiro termo da equação do potencial, utili-
zando teorema de Gauss i.e. equação (2.37).
Z ⃗ Z
P · ds⃗′ −∇′ · P⃗ ′
ϕ=k +k dτ (3.13)
r r
Está na hora de comparar a resposta com as equações de potencial para
uma distribuição de cargas superficiais dada pela equação (2.21) quando
dq = ρs ds′ , e para uma distribuição de cargas volumétricas dada pela equação
(2.21) quando dq = ρdτ ′ . O primeiro termo da equação (3.13) representa a
existência de uma carga superficial de polarização ρsp . E o segundo termo
da equação (3.13) representa a existência de uma distribuição volumétrica
de cargas de polarização ρp da seguinte forma:
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 131

ρp = −∇ · P⃗ , ρsp = P⃗ · n̂, (3.14)


onde n̂ é o versor normal à superfície do dielétrico polarizado. Agora que te-
mos as cargas elétricas equivalentes com a polarização do material dielétrico,
podemos utilizar uma das técnicas mencionadas no capítulo anterior como
lei de Coulomb, ou lei de Gauss, ou potencial elétrico ou Laplaciano.
Podemos deduzir que a polarização do material dielétrico gerar uma dis-
tribuição superficial de cargas elétricas além de dipolos elétricos induzidos
no corpo do dielétrico. O autor durante o período de pesquisa com niobato
de lítio, conhecido com um material ferroelétrico, experimentou a presença
de carga superficial devido à polarização permanente alinhada em uma di-
reção. A tensão gerada para uma pastilha de 500 micrômetros de espessura
pode chegar em torno de 10 kV que somente será sentida quando aumenta a
temperatura da pastilha. Na temperatura ambiente as cargas de blindagem
cobrem as cargas de polarização e anulam a tensão.
Exemplo 3.2. a) Um dielétrico esférico de raio a é polarizado em uma di-
reção, conforme a figura 3.4. Encontre a densidade superficial e volumétrica
das cargas de polarização. b) A partir da resposta obtida, encontre o poten-
cial e o campo elétrico no espaço.
Resposta:
a) Basta substituir a P⃗ = P0 ẑ na equação (3.14):
ρp = −∇ · P0 ẑ = 0
ρsp = P0 ẑ · r̂ = P0 cos θ
A resposta indica que dentro da esfera a densidade de momento de dipolos
é nula, ou seja a soma de cargas opostas de dipolos alinhados em um material
polarizado homogeneamente. Enquanto, existe uma carga líquida na super-
fície da esfera conforme a figura 3.4. A concentração máxima das cargas de
polarização ocorre nos polos da esfera, i.e. θ = 0 e θ = π.
b) Começamos pela equação (3.13), substituindo as densidades de carga
de polarização, onde teremos:
Z
P0 cos θ′ a2 senθ′ dθ′ dφ′
ϕ=k
r
Para simplificar a integral, podemos levar o ponto ao longo do eixo z:
Z π
P0 cos θ′ senθ′ dθ′
ϕ = 2πka2 √
0 z 2 + a2 − 2za cos θ′
que com uma troca de variável cos θ′ = u será convertida para:
Z 1
udu
ϕ = 2πkP0 a2 √
−1 z 2 + a2 − 2zau
132 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

Aproveitando da resposta da integral dada na equação (E.4), o potencial


elétrico será: 
 4πkP0 a3 , Fora da esfera
3z 2
ϕ = 4πkP
 0z
, Dentro da esfera
3

⃗ = −∇ϕ:
Basta aplicar o gradiente do potencial elétrico para achar o campo E

 8πkP0 a3 ẑ, Fora da esfera
⃗ =
E 3z 3
(3.15)
 −4πkP0 ẑ, Dentro da esfera
3

Exemplo 3.3. Um campo elétrico uniforme E ⃗ = E0 ẑ é aplicado em uma


região, onde uma esfera metálica de raio a é presente. a) Encontre o mo-
mento de dipolo elétrico devido à indução de cargas elétricas. b) A partir da
resposta (a), encontre o potencial elétrico no espaço.
Resposta:
a) O campo elétrico, antes da presença da esfera, é E ⃗ = E0 ẑ. Com a blinda-
gem elétrica da região esférica pelo objeto metálico, espera-se a criação de um
⃗ ind = −E0 ẑ. Pela técnica do Laplaciano,
campo elétrico no interior da esfera E
o potencial elétrico em forma ϕ(r, θ) terá a resposta dada na segunda linha
da tabela 2.4. Pela condição de contorno em r ≫ a, onde o efeito da presença
da esfera é descartado, E⃗ = E0 ẑ e o potencial elétrico será ϕ = −E0 r cos θ.
Logo, percebe-se que somente P1 (cos θ) é aceitável e a resposta geral será
ϕ(r, θ) = (Ar + Br−2 ) cos θ. Dentro da esfera o potencial deve ser em forma
Cr cos θ e no seu exterior deve ser em forma (Ar + Br−2 ) cos θ, confirmando,
que muito longe da esfera; r ≫ a, o efeito de presença da esfera é descartado
e o campo elétrico volta a ser homogêneo e linear. Logo, A = −E0 . Como o
campo elétrico no interior da esfera é nulo, o potencial elétrico será constante
em todo espaço ocupado pela esfera. Se considerar a tensão da esfera como
nula, C = 0 e pela continuidade do potencial em r = a, −E0 a + Ba−2 = 0,
ou seja, E0 a3 = B. Afim, o potencial elétrico fora da esfera r > a será:

ϕ(r, θ) = E0 (−r + a3 r−2 ) cos θ

.
Para encontrar a densidade superficial de cargas elétricas, pela lei de
Gaussa , ρs = 3(4πk)−1 E0 cos θ. A distribuição de cargas de indução e as
linhas do campo elétrico são mostradas na figura 2.26b.
Vale comparar o resultado com a distribuição de cargas de polarização
superficial obtida nos exemplos anteriores. Percebe-se que basta trocar 4πkP0
a
ρs = (4πk)−1 E
⃗ · r̂|r=a = −(4πk)−1 ∂ϕ |r=a = 3(4πk)−1 E0 cos θ.
∂r
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 133

por 3E0 nas formulações obtidas fora da esfera dielétrica. Sabemos que o
campo elétrico no interior da esfera metálica é nulo. Assim, uma esfera
com cargas induzidas na superfície é equivalente com um momento de dipolo
elétrico
4π a3
p⃗ = P0 a3 ẑ|4πkP0 =3E0 = E0 ẑ.
3 k
b) Podemos considerar o campo elétrico como a superposição do campo
aplicado e campo gerado por diplos induzidos. Também, o potencial elétrico
no espaço será a superposição do potencial elétrico da fonte (−E0 z) e o gerado
por o dipolo elétrico p⃗ da equação acima. Logo, o potencial elétrico será da
seguinte forma:
a3 cos θ
ϕ = −E0 z + E0
r2

Exercício 3.2.
Um campo elétrico uniforme E ⃗ = E0 ẑ é aplicado em uma região, onde um
cilindro metálico sólido de raio a e de comprimento l é presente. Considere
que o campo elétrico é aplicado ao longo do eixo do cilindro. a) Encontre o
momento de dipolo elétrico devido à indução de cargas elétricas. b) A partir
da resposta (a), encontre o potencial elétrico no espaço. ■

Exemplo 3.4. Um dielétrico cilíndrico é polarizado ao longo do seu eixo,


conforme a figura 3.5a. a) Encontre a densidade superficial e volumétrica de
cargas de polarização. b) A partir das densidades de cargas obtidas, encontre
o potencial elétrico no espaço pela técnica utilizada no exemplo 3.2. c) Ache
o campo elétrico.
Resposta:
a) Devido à densidade de momento de dipolo constante, a densidade de carga
de polarização em volume será nula, conforme a equação (3.14), enquanto a
densidade superficial de carga é:

+P, C/m2 Superfície superior do cilindro z = b/2
ρsp = 
−P, C/m2 Superfície inferior do cilindro z = −b/2

Ou seja, o dielétrico corresponde ao conjunto de dois discos com cargas su-


perficiais opostas. b) Se tiver interesse de encontrar o campo elétrico muito
longe do cilindro, i.e. b ≪ r, conforme a figura 3.5b, podemos aproximar
o cilindro como um dipolo elétrico de cargas P πa2 C e a distância b entre
cargas. Logo, o seu momento de dipolo elétrico será p⃗ = P πa2 bẑ. Assim, o
potencial elétrico é encontrado pela equação (3.3), i.e. ϕ = kP πa2 b cos θ/r2 .
134 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

z

r  
r
r r
 Carga positiva
de polarização 𝑝
𝑃
Carga negativa
de polarização
(a) (b) (c)

Fig. 3.5. a) Dielétrico cilíndrico polarizado ao longo do seu eixo, uniformemente.


b) Campo elétrico distante do cilindro. c) Quando altura do cilindro é muito menor
que o seu raio.

Em seguida, o campo elétrico será:


E⃗ = kP πa2 b(1/r3 )(2 cos θr̂ + senθθ̂).
Vale ressaltar que podemos encontrar o momento de dipolo diretamente a
partir da sua densidade, ou seja, p⃗ = P⃗ dτ ′ , em vez de achar a densidade
superficial de cargas de polarização.
Em outro extremo, quando o raio do cilindro for muito maior que o com-
primento do cilindro, i.e. a ≪ b, a distribuição de cargas opostas nas extre-
midade do cilindro corresponde a um capacitor de folhas paralelas, portanto,
o campo elétrico é dado por:

−4πkP ẑ, Dentro do cilindro
⃗ =
E
0, Fora do cilindro

Até este momento, encontramos duas técnicas de análise de campo elé-


trico. A primeira sugestão foi discutida a partir da equação (3.6), sabendo
da densidade de polarização do material i.e. P⃗ . A segunda técnica é sugerida
a partir da equação (3.13), onde inicialmente, acharemos a densidade de car-
gas de polarização ρsp e ρp , e em seguida, o potencial elétrico é encontrado a
partir das equações (2.23) e (2.24). Ainda, podemos desenvolver mais uma
técnica a partir da resposta encontrada na equação (3.14), que será discutida
na próxima seção.

3.2.1 Técnica de Análise a partir da Lei de Gauss


No capítulo passado apresentamos uma técnica bastante simplificadora
de análise de campo, chamada de lei de Gauss representado na forma di-
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 135

ferencial pela equação (2.40), relacionando a divergência do campo com a


densidade de cargas. Na seção anterior, percebemos que a presença de dielé-
trico pode induzir cargas de polarização na superfície e no corpo do material.
Assim, nesta equação deve-se considerar a carga de polarização além das
cargas livres, portanto:


E
∇· = ρlivre + ρpolarização .
4πk

Se substituir a densidade de cargas de polarização pela equação (3.14), tere-


mos:

E
∇·( + P⃗ ) = ρlivre (3.16)
4πk

O campo vetorial E/(4πk)+ P⃗ é conhecido como densidade de campo elétrico
⃗ a . Portanto, a unidade de D é a mesma de densidade de polarização P ,
D
ou seja, C/m2 .

⃗ = E + P⃗ .
D (3.17)
4πk
Em seguida, a lei de Gauss em função do campo de deslocamento D ⃗ pode
ser representada da seguinte forma:
∇·D ⃗ = ρlivre . (3.18)
Vale relembrar que a simetria e homogeneidade da distribuição da carga
elétrica na superfície Gaussiana escolhida é uma condição necessária e sufici-
ente para utilizar a facilidade que a lei de Gauss oferece na análise de campo
elétrico. Com a simetria garantida, observa-se uma simplificação significante
da análise do campo elétrico, relacionando o fluxo do vetor D ⃗ na superfície
Gaussiana com a carga inclusa, ou seja:
I
⃗ · d⃗s = Qinclusa
D (3.19)

No seguinte exemplo, será abordado um caso com a distribuição homogênea


de cargas livres.
Exemplo 3.5. Um fio longo e reto com a densidade de carga ρl C/m está
encapado por uma borracha até raio a. Encontrar o deslocamento elétrico D ⃗
no espaço. O diâmetro do fio é desprezível.
Resposta:
Para uma superfície Gaussiana cilíndrica ao redor do fio o suposto fluxo total
a
Também, é conhecido como campo de deslocamento.
136 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

a
Capa de borracha l C/m
Fig. 3.6. Fio capado reto com densidade de carga ρl C/m. O diâmetro da borracha
é 2a.

⃗ é Dr 2πrl, enquanto a carga inclusa neste volume é ρl l. Portanto:


do campo D

⃗ = ρl r̂
D
2πr

Exemplo 3.6. Encontre D ⃗ se tiver um cabo coaxial longo, onde o espaço


entre núcleo e casca é preenchido por um material dielétrico (figura 3.7). A
carga total na casca é oposta da carga total do núcleo.
Resposta:

b
a s

Fig. 3.7. Comprimento l de um cabo coaxial longo com espaço preenchido por um
material dielétrico entre núcleo e casca a < r < b.

Considere uma densidade superficial de cargas no núcleo. O suposto fluxo


⃗ é Dr 2πrL em uma superfície Gaussiana cilíndrica ao redor
total do campo D
do núcleo, enquanto a carga inclusa neste volume é ρs 2πaL. Portanto:

⃗ = aρs r̂
D
r

CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 137

Exercício 3.3.
Uma casca esférica de um material dielétrico, onde raio interno é a e o externo
é b, possui uma densidade de polarização dada por c/rr̂, onde r̂ é o versor
normal a superfície da esfera e r é o raio até centro da esfera. Encontre:
a) A carga superficial líquida de polarização em r = a.
b) A carga superficial líquida de polarização em r = b.
c) A carga volumétrica total de polarização.
d) A densidade de campo elétrico D ⃗ no interior e fora da esfera.
e) O campo elétrico no espaço. ■

Como no capítulo passado observamos, a lei de Gauss pode simplificar


bastante a análise do deslocamento elétrico, quando as requisições da técnica,
tais como a simetria e homogeneidade da distribuição de cargas elétricas na
superfície Gaussiana sejam cumpridas. Além disso, para finalizar a análise
e encontrar o campo elétrico, dados da polarização do material dielétrico é
fundamental.
Na próxima seção vamos falar de um modelo simplificado do material di-
elétrico onde existe uma relação linear entre o campo elétrico aplicado e a
polarização do material.

3.2.2 Materiais Dielétricos Homogêneos e Lineares


A análise de campo elétrico pode ser bem complexa se houver um ma-
terial dielétrico na região. Isto porque a modelagem de densidade de dipolos
elétricos no material não é uma tarefa fácil. Entretanto, podemos começar
de um modelo linear de materiais dielétrico onde a polarização do material
obedece tamanho, sentido e direção do campo elétrico aplicado. Ou seja,
P⃗ = χE/4πk
⃗ em que o coeficiente χ é chamado susceptibilidade elétrica do
material dielétrico. Este caso é similar com a polarização que ocorre na escala
atômica dada pela equação (3.1).
Com a modelagem simplificada de polarização, a relação de densidade de
campo elétrico i.e. D,⃗ com E ⃗ na equação (3.17) muda para:

⃗ = 1 (1 + χ)E.
D ⃗
4πk
ou seja:
⃗ = ϵE.
D ⃗ (3.20)
Onde o coeficiente ϵ = (1+χ)/(4πk) é conhecido como permissividade elétrica
do material. Vale ressaltar que sem a polarização do material, i.e. p⃗ = 0 ou
χ = 0, a sua permissividade é representada pela ϵ0 onde índice zero indica
138 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

a susceptibilidade nula do material (χ = 0). Este caso ocorre para o ar ou


vácuo. Assim, a sua permissividade será:
1
ϵ0 = (3.21)
4πk
A tabela D.2 apresenta a susceptibilidade de alguns materiais dielétricos.
Lembramos que tamanho do χ é um indicador da polarizabilidade do mate-
rial. Vários fatores podem influenciar a polarizabilidade de um material, tais
como temperatura, umidade, impurezas, e a taxa de variação no tempo do
campo elétrico. Neste caso, a susceptibilidade χ é uma função de tempoa .
Voltando para técnica de análise pelo Laplaciano, podemos fazer um abor-
dagem mais profunda, quando for aceitável a linearidade dos materiais di-
elétricos. Nos próximos exemplos, trataremos o Laplaciano junto com as
condições de contorno oferecidas.
Exemplo 3.7. Numa região do espaço, existe um campo elétrico E ⃗ uniforme
e constante apontado em uma direção. Inserimos uma esfera dielétrica com a
permissividade ϵ, raio a nesta região. Encontre o potencial elétrico em todo
espaço.
Resposta:
Adotamos as coordenadas com o eixo z ao longo do campo elétrico. O cen-
tro da esfera é considerado como origem das coordenadas. As condições de
contorno obtidas são as seguintes: O campo elétrico é conservativo, ou seja,
⃗ = −∇ϕ. Sendo assim, o componente tangencial do campo elétrico Et na
E
superfície da esfera será contínuo, i.e. Et1 = Et2 . Sem presença de cargas
elétricas livres, ∇ · D
⃗ = 0. Logo, o componente normal a superfície do campo

Dn é contínuo i.e. Dn1 = Dn1 .
O potencial elétrico é encontrado pelo Laplaciano nas coordenadas esféri-
cas, ou seja, ∇2 ϕ(r, θ, φ) = 0. Devido à simetria azimutal (invariável com φ),
o potencial escalar será uma função somente de variáveis (r, θ). Pela técnica
de separação de variáveis nas coordenadas esféricas, a resposta geral é na
segunda linha da tabela 2.4, ou seja:
ϕ(r, θ) = (Arm + Br−(m+1) )Pm (cos θ)
Para o campo aplicado E ⃗ = E0 ẑ, o potencial elétrico será ϕ = E0 z ou nas
coordenadas esféricas ϕ = E0 r cos θ, logo, m = 1. Portanto:

Ar cos θ, r≤a
ϕ=
( B + Cr) cos θ, r≥a
r2
a
Em caso ideal, o que esperamos é acompanhamento da polarização com as alterações
em tempo real do campo elétrico. Entretanto, nas altas frequências, além da defasagem
da polarização existe a possibilidade de fatigue, quando a polarização não acompanha as
variações com tempo do campo aplicado.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 139

Teremos a continuidade do potencial escalar em r = a, i.e. Aa cos θ =


(B/a2 + Ca) cos θ. Isto corresponde com a continuidade do componente tan-
gencial do campo elétrico:

∂ϕ
Eθ = − |r=a .
r∂θ

Também, através da equação ∇ · D ⃗ = 0, teremos a continuidade do compo-


nente normal; Dr em r = a, i.e. −ϵA cos θ = −ϵ0 (−B/a3 + C) cos θ. Além
disso, longe da esfera, i.e. r ≫ a, a distorção do campo devido à esfera é
desprezível. Logo, −C ẑ = E0 ẑ, ou seja, C = −E0 . Em resumo encontramos
as seguintes equações:

B
Aa = − E0 a
a2
2B
−ϵA = ϵ0 ( 3 + E0 )
a
Logo, B/a3 = A + E0 , obtida da primeira equação. Inserindo na segunda
equação, teremos −ϵA − 2ϵ0 (A + E0 ) = ϵ0 E0 . Em seguida, teremos A =
−3ϵ0 E0 /(ϵ + 2ϵ0 ) e B = a3 E0 (ϵ − ϵ0 )/(ϵ + 2ϵ0 ). Assim, o potencial elétrico
será: 
 −3ϵ0 E r cos θ, r≤a
0
ϕ = ϵ+2ϵ 0
( ϵ−ϵ 0 a3E
0
− E0 r) cos θ, r ≥ a
ϵ+2ϵ0 r2

⃗ = −∇ϕ. O
⃗ por E
A partir do potencial escalar elétrico, podemos obter E
⃗ é encontrado através do produto do campo elétrico
deslocamento elétrico D

E vezes a permissividade elétrica da região. ■

Exemplo 3.8. No exemplo anterior, em vez da esfera, colocamos um dielé-


trico linear cilíndrico, com permissividade ϵ e raio a dentro do campo elétrico
homogêneo. O eixo principal do cilindro é perpendicular à direção do campo
elétrico. Encontre o potencial elétrico.
Resposta:
Podemos nomear o eixo principal do cilindro como o eixo z e o sentido
do campo elétrico como eixo y. O campo elétrico é conservativo, ou seja,
⃗ = −∇ϕ. Sendo assim, o componente tangencial do campo elétrico na
E
superfície do cilindro é contínuo, i.e. Et1 = Et2 . Sem presença de cargas
elétricas livres, teremos ∇ · D
⃗ = 0, pela equação de Gauss. Logo, o compo-
nente normal da superfície do campo D ⃗ é contínuo, i.e. Dn1 = Dn2 . Com as
condições de contorno encontradas, podemos analisar a resposta a partir da
equação do Laplaciano em coordenadas cilíndricas, i.e. ∇2 ϕ(r, φ, z) = 0.
140 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

Nas coordenadas cilíndricas, devido à simetria ao longo do eixo z, o po-


tencial escalar somente será função das variáveis (r, φ). Pela técnica de
separação de variáveis nas coordenadas cilíndricas, a resposta geral será
ϕ(r, φ) = (Arn + Br−n )(cos φ + senφ) dada na segunda linha da tabela
2.2. Como o potencial correspondente ao campo aplicado é ϕ = E0 r senφ,
percebe-se que n = 1, descartando a função cos φ. Portanto:

Ar senφ, r≤a
ϕ=
( B + Cr) senφ, r ≥ a
r

O efeito do cilindro em r ≫ a é desprezível, i.e. −C ŷ = E0 ŷ, logo, C = −E0 .


Teremos a continuidade do potencial escalar em r = a, i.e. Aa senφ = (B/a−
E0 a) senφ, correspondente com a continuidade do componente tangencial do
campo elétrico; Eφ . Também, pela ∇ · D ⃗ = 0, teremos a continuidade do
componente normal; Dr em r = a, i.e. −ϵA senφ = ϵ0 (B/a2 + E0 ) senφ. Em
resumo, encontramos as seguintes equações:
B
= A + E0
a2
B
−ϵA = ϵ0 ( 2 + E0 )
a
Logo, teremos −ϵA = ϵ0 (A + 2E0 ), ou seja A = −2ϵ0 E0 /(ϵ + ϵ0 ) e B =
a2 E0 (ϵ − ϵ0 )/(ϵ + ϵ0 ). Assim, o potencial elétrico será:

 −2ϵ0 r, r≤a
ϕ = E0 senφ  ϵ+ϵ0
2
( ϵ−ϵ 0 a
ϵ+ϵ0 r
− r), r≥a

Vale ressaltar que para um material elétrico de alta permissividade, o poten-


cial no interior do cilindro se aproxima a zero. A partir do potencial elétrico,
podemos obter E ⃗ por E ⃗ = −∇ϕ e o campo elétrico D ⃗ por produto do E ⃗
vezes a permissividade elétrica da região. ■

Exemplo 3.9. Numa região do espaço, existe um campo elétrico E ⃗ uniforme


e constante apontado em uma direção. Colocamos um tubo dielétrico linear
neste campo. A permissividade do tubo é ϵ, seu raio interno é a, e seu raio
externo é b. O eixo principal do tubo é perpendicular a direção do campo
elétrico. Encontre o potencial elétrico.
Resposta:
Podemos nomear o eixo principal do tubo como o eixo z e o sentido do campo
elétrico como eixo y. O campo elétrico é conservativo, ou seja, E⃗ = −∇ϕ.
Logo, o componente tangencial Et na superfície do tubo é contínuo, i.e. Et1 =
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 141

Et2 . Além disso, sem presença de cargas elétricas livres, teremos ∇ · D


⃗ = 0,
como uma razão da continuidade do componente normal a superfície do tubo,
i.e. Dn1 = Dn2 . Em seguida, as condições de contorno encontradas podem
ser utilizadas para achar a resposta certa do Laplaciano em coordenadas
cilíndricas, i.e. ∇2 ϕ(r, φ, z) = 0.
Nas coordenadas cilíndricas, devido à simetria ao longo do eixo z, o po-
tencial escalar somente será função de variáveis (r, φ). Pela técnica de
separação de variáveis nas coordenadas cilíndricas, a resposta geral será
ϕ(r, φ) = (Arn + Br−n )(cos φ + senφ) dada na segunda linha da tabela
2.2. Como o potencial correspondente ao campo aplicado é ϕ = E0 r senφ,
percebe-se que n = 1, descartando a função cos φ. Portanto:


Ar senφ,
 r≤a
ϕ=

( Br + Cr) senφ, a ≤ r ≤ b

 D
(r + Er) senφ, b ≤ r
O efeito da polarização do tubo dielétrico em r ≫ b é desprezível, i.e.
−E ŷ = E0 ŷ, logo, a constante E = −E0 . Teremos a continuidade do po-
tencial escalar em r = a, i.e. Aa = B/a + Ca, correspondente a continui-
dade da componente tangencial do campo elétrico; Eφ . Pela continuidade
do potencial em r = b teremos a seguinte equação B/b + Cb = D/b − bE0 .
Também, pela continuidade do componente normal; Dr em r = a, teremos
−ϵ0 A = ϵ(B/a2 − C) e em r = b, teremos ϵ(B/b2 − C) = ϵ0 (D/b2 + E0 ). Em
resumo, teremos as seguintes equações:
Aa2 − B − Ca2 =0
B + Cb2 − D = −b2 E0
Aa2 + ϵr B − ϵr a2 C =0
ϵr B − ϵr b2 C − D = b2 E 0
Basta resolver a seguinte matriz de coeficientes para achar o potencial em
toda região:  2    
a −1 −a2 0 A 0
0 1 b2 −1   −1
  B   
 2    = b2 E0  
a ϵr −a ϵr 0   C 
2  0 
0 ϵr −ϵr b2 −1 D 1
Os coeficientes simplificados para ϵr ≫ 1, produzem as seguintes funções de
potencial:

 −4

 r, r≤a
 (b2 −a2 )ϵr
−2 a2
ϕ = b2 E0 senφ
 (b2 −a2 )ϵr
(r − r
), a≤r≤b


(−2 a2 +b2 + 1) 1r − r
, b≤r
(b2 −a2 )ϵr b2
142 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

A partir do potencial ϕ, podemos obter o campo elétrico, aplicando o gradi-


⃗ = −∇ϕ. Em seguida, e obter o campo de desloca-
ente do potencial, i.e. E
mento D ⃗ é encontrado através de produto do campo E⃗ pela permissividade
elétrica da região. ■

Na prática existe uma modelagem mais precisa quando a polarização não


ocorre necessariamente na mesma direção do campo aplicado. Este é o caso
de materiais anisotrópicos onde ainda é possível manter a relação P⃗ = ϵ0 χE

mas, com a susceptibilidade matricial da seguinte forma:
 
χxx χxy χxz
⃗   ⃗
P = χyx χyy χyz  ϵ0 E (3.22)
χzx χzy χzz

Por exemplo, se tiver um campo somente na direção x, i.e. (E ⃗ = Ex x̂),


a polarização pode ocorrer nas três direções x, y e z, ou seja, P⃗ = [χxx x̂ +
χyx ŷ + χzx ẑ]ϵ0 Ex .
Exemplo 3.10. Uma esfera é polarizada permanentemente, conforme a
figura 2.14 encontre o campo de deslocamento.
Resposta: No exemplo 3.2 achamos o campo elétrico no espaço dado pela
equação (3.15). Para encontrar o campo de deslocamento fora da esfera,
basta multiplicar o campo elétrico por ϵ0 , pois, P⃗ = 0. Enquanto, no interior
da esfera o campo de deslocamento é obtido pela equação (3.17), somando o
campo elétrico e a densidade de polarização da esfera:

 2a3 P ẑ, Fora da esfera
⃗ = 3z 3 0
D
 ( P0 +
−1
P0 )ẑ = 2
P ẑ, Dentro da esfera
3 3 0

Como percebemos, o campo de deslocamento elétrico é contínuo na superfície


da esfera z = a. Também, percebemos que apesar da falta das cargas livres,
o campo D ⃗ não é nulo, o que pode ser deduzido por engano, olhando para
lei de Gauss na equação (3.19). Após apresentação do rotacional no pró-
ximo capítulo, voltaremos falar das possíveis fontes de um campo vetorial.

Exercício 3.4.
Uma esfera é polarizada com a densidade de momento de dipolos elétricos
dado por P⃗ = P rr̂. a) Encontre a densidade de cargas de polarização. b)
Achar o campo elétrico E⃗ e D.

Exercício 3.5.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 143

Considere um dielétrico cilíndrico de raio a, com a polarização permanente ao


longo do seu eixo principal, conforme a figura 3.5. Encontre o campo de deslo-
camento D.⃗ Dicas: Considere duas extremidade, primeira, o campo distante
do cilindro r ≫ b, onde D ⃗ Segundo caso, quando a ≫ b, conforme a
⃗ = ϵ0 E.
⃗ = ϵ0 E
figura 3.5c, onde D ⃗ + P⃗ = 0 em todo espaço.
Exercício 3.6.
O espaço de espessura h entre duas folhas planas de condutor é preenchido
com duas chapas iguais de material dielétrico com permissividade 2ϵ0 e 2, 5ϵ0 .
As folhas de condutor estão conectados a uma tensão V0 . Encontre:
⃗ no espaço. b) E
a) D ⃗ no espaço. c) P⃗ no espaço. d) Densidade de carga su-
perficial nas placas. e) Densidade de carga de polarização.
Exercício 3.7.
Em um material E ⃗ = 4x̂ V/m e P⃗ = 3x̂ − 2ŷ + 4ẑ nC/m2 . Encontre:
a) A susceptibilidade, b) O vetor do campo elétrico E ⃗ no espaço. c) O vetor
do deslocamento elétrico ⃗ no espaço.
D

3.2.3 Passagem de Campo Eletrostático por Meios Dielétri-


cos
É bem comum a passagem de um campo vetorial por meios com per-
missividades diferentes, onde, a partir de um dado campo elétrico em um
dos dielétricos, estamos em busca de informações sobre o campo na segunda
região. Neste caso, teremos que estudar a continuidade dos componentes
tangencial e perpendicular da fronteira do E ⃗ ao longo da passagem de um
meio para outro.
Primeiramente, tem que encontrar o versor n̂ para fora da região em que o
campo foi dado nomeado como a região 1. O componente perpendicular da
⃗ e a componente tangencial é E
interface é En = E.n̂ ⃗ − En n̂.
⃗t = E
Escolhendo o elo fechado mostrado na figura 3.8, a circulação do campo
elétrico é nula ou seja E1t ∆l − E2t ∆l = 0, ou seja:
E1t = E2t (3.23)
Dessa forma, para um campo eletrostático sempre a componente tangencial
a interface é contínuo.
Para descobrir a continuidade do componente normal à interface, basta
utilizar a Lei de Gauss, aplicando a superfície Gaussiana conforme a figura
3.8. O Fluxo somente atravessa o topo e o fundo da superfície Gaussiana,
então:
Dn1 ∆S − Dn2 ∆S
144 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

l
S.G.
Dielétrico 1 𝐸𝑡1
𝐸1 s
𝑛
𝐸𝑛1 𝐸𝑡2
𝐸2

Dielétrico 2
𝐸𝑛2

Fig. 3.8. A interface entre dois dielétricos lineares com permissividade ϵ1 e ϵ2 .


A superfície Gaussiana e elo fechado escolhido para estudar a continuidade dos
componentes do campo.

enquanto para suposta distribuição de carga livre ρs a carga inclusa será


ρs ∆s. Pela lei de Gauss:
Dn1 − Dn2 = ρs (3.24)
É bem provável que a interface dos dielétricos esteja sem cargas elétricas,
então:
Dn1 = Dn2 se ρs = 0 (3.25)
Logo, o componente normal da densidade do campo elétrico Dn é contínuo
se a interface for livre de cargas elétricas.
Exemplo 3.11. Um campo elétrico E ⃗ no ar é perpendicular a superfície de
um dielétrico com permissividade 2ϵ0 . Pede-se o campo elétrico, a densidade
de campo elétrico e o campo de polarização em todo espaço.
Resposta:
O campo possui somente a componente normal e não foi relatada a presença
de carga na interface. No ar sem dipolos elétricos, P⃗1 = 0, e D ⃗ 1 = ϵ0 E.
⃗ Lem-
brando da equação (3.25) que revela a continuidade da densidade do campo,
então: D⃗ 2 = ϵ0 E.
⃗ O campo elétrico no dielétrico é E⃗2 = D⃗ 2 /(2ϵ0 ) = 0, 5E,
⃗ ou
seja, o campo elétrico no dielétrico é metade do campo externo. Lembrando
⃗ − 0, 5ϵ0 E
da equação (3.17), a polarização vai ser P⃗2 = ϵ0 E ⃗ = 0, 5ϵ0 E.
⃗ Logo,
se tiver um campo elétrico perpendicular a superfície do dielétrico, a inten-
sidade do campo no dielétrico reduzirá para 1/ϵr do valor inicial no ar. ■
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 145

Exemplo 3.12. Repetir o exemplo anterior, se tiver um campo incidente


com ângulo de 30° em relação ao versor normal da interface.
Resposta:
Os componentes normal e tangencial do campo incidente são En1 = E cos 30° =
0, 87E e Et1 = E sen30° = 0, 5E. A densidade do campo no ar será D⃗ = ϵ0 E.

Pela continuidade do campo tangencial, o componente tangencial no dielé-
trico será Et2 = 0, 5E.
Pela continuidade do componente normal do campo de deslocamento, Dn2 =
0, 866ϵ0 E. Assim, o componente normal a interface do campo elétrico é
En2 = Dn2 /(2ϵ0 ) = 0, 433E0 . Com amplitudes do componente tangencial
e perpendicular, i.e. En2 e Et2 , teremos o amplitude do campo elétrico no
dielétrico E2 = 0, 66E. Em comparação com a resposta do exemplo anterior,
onde o campo era perpendicular a superfície, a intensidade do campo no
meio dielétrico aumentou. Também, observa-se um aumento da densidade
do campo D2 = 2ϵ0 × 0, 66E, i.e. 1, 32ϵ0 E.
A densidade de polarização no meio dielétrico será: P2 = D2 − ϵ0 E2 , i.e.
P2 = 0, 66ϵ0 E. O ângulo do campo elétrico na segunda região, em relação ao
versor normal da interface, é obtido por:
Et2
θ2 = tg−1 = 49, 1°
En2
Em geral, com o aumento de ângulo do campo incidente, a componente
tangencial aumenta cada vez mais, o que leva ao crescimento do campo no
dielétrico. Então, para uma intensidade do campo incidente o campo elétrico
no meio dielétrico terá miníma intensidade se o campo for perpendicular a
superfície. ■

Exercício 3.8.
A região z < 0 é preenchida por um material dielétrico uniforme com a per-
missividade relativa ϵr = 5. Enquanto a região z > 0 é preenchido por outro
material dielétrico com ϵr = 2. A densidade do campo elétrico na região
z<0éD ⃗ 1 = −5x̂ + 10ŷ + 7ẑ nC/m2 . Encontrar:
a) O componente perpendicular à interface do D ⃗ 1.
b) O componente tangencial à interface do D ⃗ 1.
c) Componentes do campo elétrico D ⃗ 2.
d) Campo elétrico E ⃗ 2 em z > 0. ■

Até este momento, apresentamos o efeito da variação de permissividade da


região sobre o campo elétrico. Este efeito é estudado a partir das equações
146 3.2. ANÁLISE DE CAMPO ELÉTRICO...

1
q"
q 1 q 2
r r
h h  𝐸 = 𝑘1
𝑞´ h 
P 𝑟2
Et Et
P 𝑞´´
h  En En 𝐸 = 𝑘2
2 r 𝑞 𝑟2

1 q'
𝐸 = 𝑘1 2
𝑟 2

(a) (b) (c)

Fig. 3.9. a) A carga q na proximidade de um material dielétrico. b) O modelo


equivalente para encontrar o campo na região de permissividade ϵ1 . c) O modelo
equivalente para encontrar o campo na região de permissividade ϵ2 .

(3.23) e (3.25). Também, no capítulo passado, estudou-se o efeito de um con-


dutor sobre a campo eletrostático. Neste caso, o campo elétrico não penetra
no condutor, ou seja o campo interno do condutor é nulo. Também, devido
à liberdade de cargas elétricas no condutor, as linhas do campo eletrostático
terminam-se na superfície do condutor, perpendicularmente, ou seja, o seu
componente tangencial a superfície do condutor é nulo. Assim, o campo ele-
trostático aplicado induz as cargas de indução na superfície do condutor. A
partir destas propriedades, apresentou-se a técnica das imagens, discutida na
seção 2.5.
Na teoria das imagens, o estudo do campo elétrico de uma distribuição de
cargas elétricas na proximidade de um condutor ideal é feito, substituindo
o condutor por uma distribuição de cargas imagem. Podemos estender a
técnica para uma distribuição de cargas em uma região com materiais de
permissividades diferentes, aplicando as equações (3.23) e (3.25) da conti-
nuidade de campo elétrico. Por exemplo, se tiver uma carga pontual q em
uma região com a permissividade ϵ1 na distância h de outra dielétrico com a
permissividade ϵ2 , conforme a figura 3.9a.
Pela técnica das imagens, o campo elétrico na primeira região é a super-
posição do campo elétrico gerado pela carga real q e pela carga imagem q ′ ,
conforme a figura 3.9b. Sendo assim, o campo elétrico gerado no ponto P na
interface de dois meios, será:
q q′ ′
k1 r̂ + k1 r̂ ,
r2 r2
onde k1 = 1/(4πϵ1 ). Logo, o componente tangencial da interface será:
q + q′
Et1 = k1 senα,
r2
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 147

conforme a figura 3.9b, e o componente perpendicular à interface da densi-


dade do campo elétrico será:
q − q′
Dn1 = cos α.
4πr2
Para encontrar o campo elétrico na região de permissividade ϵ2 consideramos
a presença da carga desconhecida q ′′ conforme a figura 3.9c. Pela lei de
Coulomb, o campo elétrico no ponto P será k2 q ′′ /r2 , onde k2 = 1/(4πϵ2 ).
Logo, os componentes tangencial e normal da interface, na região ϵ2 , serão:
q ′′ q ′′
Et2 = 2 2 senα e Dn2 = cos α
r 4πr2
pela continuidade do campo tangencial à interface, teremos:
q + q′ q ′′
k1 senα = k2 2 senα,
r2 r
e pela continuidade da densidade do campo elétrico, teremos:
q − q′ q ′′
cos α = cos α.
4πr2 4πr2
Simplificando as equações, teremos:
ϵ1
q + q ′ = q ′′ e q − q ′ = q ′′
ϵ2
Logo:
2 ϵ1 − ϵ2
q ′′ = q e q′ = q (3.26)
1 + ϵ1 /ϵ2 ϵ1 + ϵ2
Assim, se a carga real q estiver na proximidade de outra região de permissi-
vidade alta, i.e. ϵ2 → ∞, a carga imagem para encontrar o campo elétrico
na região ϵ1 será q ′ → −q, conforme a figura 3.9b. Isto é igual a presença de
um condutor na segunda região. Enquanto, a carga imagem para encontrar
o campo elétrico na região ϵ2 será 2q, ou seja, na segunda região o campo
será amplificado pelo material dielétrico de alta permissividade.
Se tiver a carga numa região de alta permissividade, ϵ1 → ∞, a carga
imagem necessária para encontrar o campo elétrico será q ′ → q, enquanto, a
carga imagem para encontrar o campo na segunda região será nula.

3.3 Energia Eletrostática


Neste momento queremos responder a pergunta sobre a energia de con-
sumo de um dispositivo eletrostático, ou seja, a energia necessária para reunir
148 3.3. ENERGIA ELETROSTÁTICA

r12 q1
q2
r23
r24
r14 r1n
q3
r34 
q4 =0

qn
rn-1n
qn-1

Fig. 3.10. Procedimento de reunir as cargas pontuais em um corpo para encontrar


a energia necessária.

as cargas nestes dispositivos. Como a nossa referência do potencial zero fica


em infinito, basta imaginar que as cargas são trazidas uma por uma do infi-
nito, até suas supostas posições, como a figura 3.10 mostra. A primeira carga
q1 vai ser trazida sem custo nenhum porque não existe o campo elétrico no
momento que ela foi trazida. Entretanto, para a segunda carga q2 existe o
campo elétrico gerado pela carga q1 , representado pelo E⃗1 . Este campo é
conservativo, então, a energia necessária para trazer a carga q2 não depende
do caminho e somente depende da suposta posição da carga. Então:
Z 2
W 2 = q2 E⃗1 · d⃗l
−∞

Mas, a integral representa o potencial elétrico na posição atual da carga q2


devido à presença da carga q1 , representado pelo ϕ21 , portanto, a energia
eletrostática é q2 ϕ21 . Se, adotar-se a simbologia ϕij como tensão no ponto i
devido à carga qj , a energia necessária para trazer a terceira carga será:
W3 = q3 (ϕ31 + ϕ32 )
Porque desta vez a tensão na posição da terceira carga é superposição de
potenciais gerados pelas q1 e q2 . Assim, a energia para trazer a última carga
qn será:
Wn = qn (ϕn1 + ϕn2 + ... + ϕnn−1 )
Somando a energias individuais, teremos a energia total:
W = W1 + W2 + ... + Wn
= q2 ϕ21 + q3 (ϕ31 + ϕ32 ) + ... + qn (ϕn1 + ϕn2 + ... + ϕnn−1 )
XX
= qi ϕij
i j<i

Ainda, podemos simplificar a formulação da energia, considerando cada termo


Wij como um elemento de uma matriz na linha i e coluna j, onde a diagonal
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 149

principal dela é nula. Assim, a energia total será a soma de todos os elemen-
tos abaixo da diagonal principal. Vale lembrar que a energia é independente
da ordem de deslocalização das cargas. Então a soma de todos os elementos
acima da diagonal também representa a energia total. Isto porque:

Wij = qi ϕij
q i qj
= k
rij
= qj ϕji
= Wji .

Ou seja, a soma de todos componentes da matriz é o dobro da energia ne-


cessária. Então :
1X
W = qi ϕij (3.27)
2 i,j
i̸=j

Se houver uma distribuição contínua de cargas, podemos começar a partir da


equação (3.27). A energia necessária para trazer um segmento infinitesimal
de carga dq do infinito para posição atual será:
1
dW = ϕdq. (3.28)
2
Assim, a energia total é obtida somando as energias onde estiver distribuição
de cargas elétricas. Por exemplo, a energia necessária para distribuir as
cargas elétricas, linearmente, é obtida somando as energias de elementos
infinitesimais de carga ρl dl. Então:
1Z
W = ϕρl dl. (3.29)
2
Para uma distribuição superficial com a densidade ρS C/m2 a energia de
armazenamento é obtida pela:
1Z
W = ϕρs ds. (3.30)
2
E assim por diante para uma distribuição volumétrica de densidade ρ C/m3
a energia necessária será:
1Z
W = ϕρdτ. (3.31)
2
Ainda podemos representar a energia em função de campo elétrico. Se subs-
tituir ρ utilizando a lei de Gauss dada pela equação (3.18):

1Z
W = ϕ∇ · Ddτ

2
150 3.3. ENERGIA ELETROSTÁTICA

E utilizar a regra da distribuição de divergência dada pela equação (B.2) do


apêndice B, temos:
ϕ∇ · D
⃗ = ∇ · (ϕD)
⃗ − ∇ϕ · D ⃗
Agora, basta lembrar que o gradiente do potencial é o campo elétrico, então:
1Z ⃗ +1 E
Z
W = ∇ · ϕDdτ ⃗ · Ddτ.
⃗ (3.32)
2 2
Podemos ainda simplificar o primeiro termo da equação, utilizando o teorema
de Gauss dado pela equação (C.2).
1I ⃗ 1Z ⃗ ⃗
W = ϕD · d⃗s + E · Ddτ. (3.33)
2 2
Lembrando que a menor taxa de redução de ϕ é 1/r e de D ⃗ é 1/r2 . Enquanto
isso ds varia com r . Isto significa que a menor taxa de redução do ϕD ·
2

dS é de 1/r, assim, podemos nos livrar da primeira integral considerando


uma superfície no infinito. Para chegar neste ponto, precisamos considerar a
segunda integral em todo espaço. Portanto:
1Z ⃗ ⃗
W = E · Ddτ (3.34)
2 ∀
Exemplo 3.13. Calcule a energia armazenada em uma seção de comprimento
l de um cabo coaxial de raio interno ’a’ e raio externo ’b’. O espaço interno
preenchido por um dielétrico com permissividade ϵ. A tensão aplicada é V0
como mostra a figura 3.11.
Resposta:
A distribuição de carga no núcleo é superficial, então pela equação (3.30), a
energia necessária para trazer uma carga infinitesimal ρS ds, será:
1
dW = V0 ρS ds
2
Porque a tensão do núcleo é V0 , onde as cargas estão distribuídas. A energia
total vai ser:
1
W = V0 Q
2
Temos que achar a carga total em função de V0 . Pela lei de Gauss, o fluxo
total que passa por uma superfície Gaussiana cilíndrica é Dr 2πrl que deve
ser igual a carga total inclusa. Se raio da superfície Gaussiana cilíndrica for
maior que raio do núcleo, a carga total inclusa será Q e para raios menores
será nula. Então: 
 Q a<r<b
Dr =  2πrl (3.35)
0 fora
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 151

b
a V0

Fig. 3.11. Um cabo coaxial de raio interno ’a’ e raio externo ’b’, comprimento l e
a tensão aplicada de V0 .

No espaço entre núcleo e casca, o campo elétrico é simplesmente obtido


dividindo Dr por permissividade ϵ. Afinal, obtemos a diferença de tensão
entre núcleo e casca pela integral linear do campo elétrico. Então:

Q b
V0 = ln .
2πlϵ a

Em seguida, teremos a relação da carga total com a diferença de tensão:

2πlϵ
Q= V0
ln ab

Afinal, podemos representar a energia em função da tensão:

πlϵ 2
W = V . (3.36)
ln ab 0

Uma alternativa para calcular a energia eletrostática necessária é através


da equação (3.34), calculando o campo elétrico. Anteriormente achamos o
campo elétrico pela equação (3.35). Em seguida:
  2
ϵ Q
, a<r<b
⃗ ·D
E ⃗ = (2πrϵl)
0, fora
152 3.3. ENERGIA ELETROSTÁTICA

Então:
1 Z  Q 2
W = ϵ rdrdzdφ
2 2πrϵl
Q2 b
= ln
2πϵl a
Basta inserir o valor do Q e chegar a mesma resposta que achamos anterior-
mente na equação (3.36). ■

Exemplo 3.14. Considere uma esfera de raio ’a’. Calcule a energia necessá-
ria para carregar a esfera com Q C para as seguintes situações: a) A carga
distribuída somente na superfície da esfera. b) Se houver a distribuição ho-
mogênea e volumétrica da carga. Desconsidere a polarização da esfera.
Resposta:
a) O potencial na superfície da esfera é constante e igual a ϕ = Q/(4πϵ0 a).
Então, através da equação (3.28), a energia necessária para carregar a super-
fície da esfera será W = 1/2Q2 /(4πϵ0 a), que pode ser representada por:

1 kQ2
W =
2 a
Vamos encontrar a resposta através da equação (3.34). Pela lei de Gauss,
o suposto fluxo no raio r é 4πr2 Dr . Entretanto, a carga inclusa não é zero
somente para r > a, i.e. SG fora da esfera. Então, a densidade do campo
será: 
0 r<a
Dr =  Q
4πr 2
r≥a
O campo elétrico existe somente fora da esfera, obtido através de Dr /ϵ0 .
⃗ ·D
Finalmente, E ⃗ será:

0, r<a
⃗ ·D
E ⃗ =  2
1 Q
r ≥ a.
ϵ0 4πr 2

Então, a energia eletrostática é encontrada através da equação (3.34):


Z
1  Q 2 2
W = r dr senθdθdφ
2ϵ0 4πr2
1 Q2
=
2 4πϵ0 a
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 153

Resposta b) Se houver uma distribuição volumétrica homogênea de carga


na esfera, a densidade de carga será 3Q/(4πa3 ). O fluxo total em uma suposta
SG esférica ao redor da origem é 4πr2 Dr . Para SG dentro da esfera a carga
inclusa será Qr3 /a3 e a mesma será Q se tiver SG fora da esfera. Então, pela
lei de Gauss. 
 Q r r<a
3
Dr = 4πa
 Q r≥a
4πr 2

Assim, teremos:   2

 1 Qr3
⃗ ·D
⃗ = ϵ0 4πa
r<a
E  2

1 Q
r≥a
ϵ0 24πr

A energia será obtida através da equação (3.34):


1 h Z ∞  Q 2 2
Z a
Qr2 2 2
i
W = 4πr dr + 4πr dr
2ϵ0 a 4πr2 0 4πa3
3 Q2
=
5 4πϵ0 a
kQ2
= 0, 6
a
Também, podemos achar a resposta pela equação (3.31). O potencial da
esfera é obtido através da integral do campo elétrico:
Z r
ϕ(r < a) = − Er dr
Z∞a Z r
=− Er dr − Er dr
∞ a
Q Q Zr r
= − rdr
4πϵ0 a 4πϵ0 a a3
Q Q
= + 3
(a2 − r2 )
4πϵ0 a 8πϵ0 a
3 Q 1 Q
= − r2 .
2 4πϵ0 a 2 4πϵ0 a3
Então, a energia é obtida pela equação (3.31):
!
1Z 3 Q 1 Q 3Q 2
W = − 3
r2 r senθdrdθdφ
2 2 4πϵ0 a 2 4πϵ0 a 4πa3
!
3 Q2 a3
= a −
3
4 4πϵ0 a4 5
2
kQ
= 0, 6
a
154 3.3. ENERGIA ELETROSTÁTICA

Exemplo 3.15. Repita o exemplo anterior, se considerar a polarização linear


da esfera, i.e. permissividade ϵ.
Resposta :
a) O potencial na superfície da esfera é Q/(4πϵ0 a) ou seja kQ/a. Como
o potencial elétrico da superfície é constante, a integral na equação (3.28)
representa soma de todas as cargas da esfera, i.e. Q C. Então, a energia
necessária para carregar a esfera será:
1 kQ2
W =
2 a
A resposta pode ser conferida através do cálculo do campo elétrico e a energia
dada pela equação (3.34). Primeiro, pela lei de Gauss, o suposto fluxo no
raio r é 4πr2 Dr . A carga inclusa nesta superfície Gaussiana é Q C, quando
a mesma fica fora da esfera. Caso contrário, a carga inclusa nesta SG será
nula. Então, a densidade do campo elétrico é:

0 r<a
Dr =  Q
4πr 2
r≥a
Para um dielétrico linear e homogêneo, O campo elétrico é obtido dividindo
o campo D⃗ por permissividade do dielétrico. Então, o campo elétrico no ar
é Q/(4πϵ0 r2 ),e no dielétrico é nulo. Logo:

0, r<a
⃗ ·D
E ⃗ =  2
1 Q
, r≥a
ϵ0 4πr 2

Então a energia necessária para carregar a esfera será:


Z
1  Q 2 2
W = r dr senθdθdφ
2ϵ0 4πr2
1 Q2
=
2 4πϵ0 a
que confere a resposta obtida a partir do potencial elétrico.
b) Se tiver distribuição volumétrica de carga na esfera, homogeneamente, a
densidade de carga será 3Q/(4πa3 ) C/m3 . Pela lei de Gauss, o fluxo total
em uma suposta SG esférica ao redor da origem é 4πr2 Dr . A carga inclusa
para uma superfície Gaussiana dentro da esfera é uma parcial da carga total,
obtida por:
4π/3r 3
QInclusa = Q 4π/3a 3

3
= Q ar 3
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 155

Se tiver uma SG fora da esfera, a carga inclusa será a carga total, i.e. Q.
Então, a densidade de campo elétrico será:


 Q r, r < a
4πa3
Dr =
 Q , r≥a
4πr 2

O campo elétrico é obtido, dividindo a densidade do campo por permissivi-


dade da região. Então, o campo elétrico no interior da esfera será Qr/(4πϵa3 )
e fora do material o mesmo será Q/(4πϵ0 r2 ). Portanto:

  2

 1 Qr3 ,
⃗ ·D
⃗ = ϵ 4πa
r<a
E  2

1 Q
, r≥a
ϵ0 2
4πr

Então, a energia necessária para carrega a esfera será:

1 Z ∞  Q 2 2 1 Z a  Qr 2
W = 4πr dr + 4πr2 dr
2ϵ0 a 4πr2 2ϵ 0 4πa3
4π  Q 2 1 1
= [ + ]
2a 4π ϵ0 5ϵ
Q2 1 1
= [ + ]
8πa ϵ0 5ϵ

Também, podemos achar a resposta pelo potencial elétrico na região de


distribuição de cargas dado pela equação (3.31). O potencial elétrico da
esfera é obtido pela integral do campo elétrico, ou seja:

Z r
ϕ(r ≤ a) = − Er dr
Z∞a Z r
=− Er dr − Er dr
∞ a
kQ Q Zr r
= − dr
a 4πϵ a a3
kQ Q
= + (a2 − r2 )
a 8πϵa3

Então, basta inserir a densidade de cargas volumétricas de 3Q/(4πa3 ) C/m3


156 3.4. CAPACITORES

e o potencial da esfera na equação (3.31):


!
1 Z a 3Q kQ Q
W = 3
+ (a2 − r2 ) 4πr2 dr
2ϵ0 0 4πa a 8πϵa3
!
3Q kQ a3 Q a5 a5
= + ( −
2a3 a 3 8πϵa3 3 5
!
3Q kQ Q
= +
2a 3 60πϵ
!
Q2 1 1
= +
8πa ϵ0 5ϵ

3.4 Capacitores
Na seção anterior, discutimos a energia necessária para transferir car-
gas elétricas para um corpo condutor ou dielétrico. Podemos chamar de
capacitor o corpo que consegue armazenar uma certa quantidade de cargas
elétricas. Por meio dessa definição, não é necessário que o capacitor tenha
um formato especifico. Ou seja, qualquer meio que armazene cargas elétricas
é um capacitor, independentemente da sua natureza, i.e. se for um condu-
tor ou dielétrico, com qualquer geometria. Para que se tenha um parâmetro
de estudo, que possibilita distinguir e fazer comparações entre capacitores,
definimos a capacitância C, como a quantidade de cargas armazenadas no
capacitor, i.e. Q, para a tensão aplicada V0 , então:
Q
C= (3.37)
V0
A unidade de capacitância é de Coulomb por Volts, conhecido como Farad.
A formulação obtida pode servir para medir experimentalmente a capacitân-
cia, medindo a quantidade de carga armazenada e a tensão do capacitor.
Além disso, é possível, desenvolver uma técnica analítica para o cálculo da
capacitância, a partir da tensão V0 aplicada. Assim, tentaremos encontrar
a carga armazenada em função da tensão aplicada. Logo, a capacitância é
obtida pela equação (3.37), dividindo a carga pela tensão aplicada.
Como um alternativo, podemos reescrever a equação (3.37) em função
do campo elétrico aplicado. Basta substituir a carga elétrica por fluxo do
campo de deslocamento D, ⃗ pela equação (3.19) de Gauss. Também, podemos
substituir o potencial elétrico pela integral do campo elétrico utilizando a
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 157

: Representa C
Capacitores em serie
Capacitores
em Paralelo s

l

Fig. 3.12. Análise da capacitância de um corpo a partir da soma das capacitâncias


ou da soma do inverso das capacitâncias dos segmentos infinitesimais.

equação (2.26). Logo, a fórmula da capacitância será:


I
⃗ · d⃗s
D
C= Z (3.38)
− ⃗ · d⃗l
E

A primeira vista a equação (3.38) pode dar a falsa noção de que a capaci-
tância, de uma dada geometria, depende do campo elétrico. Para investigar
isso, começamos de um segmento infinitesimal do capacitor ilustrado na fi-
gura 3.12. A partir da equação (3.38), a capacitância deste segmento será:
⃗ · ∆⃗s
D
∆C = ,
⃗ · ∆⃗l
E
Se o capacitor for preenchido por um material dielétrico linear e homogêneo,
podemos substituir o campo de deslocamento por campo elétrico dado pela
(3.20). Logo, a capacitância será obtida da seguinte forma:
ϵ∆s
∆C = (3.39)
∆l
Onde ∆l é um deslocamento ao longo das linhas do campo elétrico e é per-
pendicular as superfícies equipotenciais. Enquanto isso, ∆s se estende com-
pletamente em uma superfície equipotencial. Com isso, ficou esclarecida que
158 3.4. CAPACITORES

a capacitância é invariável com a intensidade do campo elétrico. Ela depende


somente das dimensões do capacitor e a permissividade do material dielétrico
utilizado.
Além disso, encontramos uma nova técnica para encontrar a capacitância,
aplicando a superposição de elementos infinitesimais da equação (3.39). Se
tivermos elementos infinitesimais em paralelos, as capacitâncias infinitesimais
são somadas diretamente. Enquanto isso, para os elementos em séries, as
capacitâncias são somadas inversamente.
Exemplo 3.16. Encontre a fórmula da capacitância de um corpo de placas
paralelas que tem um dielétrico linear de permissividade ϵ, área A m2 e um
espaço entre as placas de d m.
Resposta:
Começamos com a conexão de uma fonte de tensão V0 nas placas paralelas
mostrada na figura 3.13. Para cada placa e a superfície Gaussiana escolhida,
o fluxo total do campo será 2Dz ∆s, enquanto a carga inclusa será ρs ∆s.
Assim, através da lei de Gauss, a densidade do campo elétrico será Dz = ρs /2.
Então, no meio das duas placas teremos Dz = ρs e Ez = ρs /ϵ. Com o dado
campo elétrico, podemos encontrar a carga total para área A da placa através
de Ez ϵA, ou seja, V0 ϵA/d. Em seguida, a capacitância é obtida pela equação
(3.37):
ρs A
C=
V0
ϵA
=
d
Também, podemos achar a capacitância pela equação (3.39). Neste caso,
dl = dz ao longo das linhas de campo elétrico, e ds é a área infinitesimal dos
planos equipotenciais. Se juntar os capacitores infinitesimais um ao lado do
outro, correspondente com capacitores em paralelo, teremos:
ϵA
C∆z =
∆z
Que é um capacitor de espessura ∆z. Afinal, é necessário juntar os capacito-
res de espessuras infinitesimais ∆z, um atrás do outro, correspondente com
capacitores em série:
Z d
1 dz
=
C 0 ϵA
d
= .
ϵA

CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 159

Fig. 3.13. Um capacitor de placas paralelas preenchido com um dielétrico linear.

Em geral, a segunda técnica representada pela equação (3.39) é mais con-


veniente. Nos próximos exemplos, tentaremos encontrar a capacitância so-
mente pela segunda técnica.
Exemplo 3.17. Achar a capacitância de um cabo coaxial de raio interno a,
raio externo b e comprimento L, preenchido por um dielétrico linear ϵ.
Resposta:
As linhas do campo elétrico são radiais, ou seja, ∆l = ∆r nas coordenadas
cilíndricas. As superfícies equipotenciais estão posicionadas na lateral do
cilindro, logo, ∆s = r∆φ∆z. Sendo assim, a soma de áreas infinitesimais no
raio r equivale a associação de capacitores em paralelo:
ϵrL2π
C∆r =
∆r
E a inclusão de todos raios entre a < r < b corresponde à associação de
capacitores C∆r em série:
Z b
1 dr
=
C a 2πrLϵ
ln b/a
= .
2πϵL

160 3.4. CAPACITORES

Exemplo 3.18. Encontre a capacitância de um capacitor esférico formado


por duas cascas esféricas de raio a e b > a, onde o espaço intermediário é
preenchido por um dielétrico linear ϵ.
Resposta:
As linhas do campo elétrico são radiais nas coordenadas esféricas, logo ∆l =
∆r. As superfícies equipotenciais estão posicionadas na superfície da esfera
de raio r, logo a área infinitesimal será ∆s = r2 senθ∆θ∆φ. Sendo assim, a
soma de áreas infinitesimais no raio r corresponde a associação de capacitores
em paralelo:
ϵr2 4π
C∆r =
∆r
E a inclusão de todos raios entre a < r < b equivale à associação de capaci-
tores C∆r em série:
Z b
1 dr
=
C a 4πϵr 2
1 1 1
= ( − ).
4πϵ a b

Exemplo 3.19. Encontre a capacitância de dois planos com a interseção


em um ângulo α e espaço entre eles preenchido por um dielétrico linear ϵ,
conforme a figura 3.14. Altura das placas é L.
Resposta:
As linhas do campo elétrico são radiais, logo ∆l = r∆φ nas coordenadas
cilíndricas. As superfícies equipotenciais estão posicionadas na placa radial
de ângulo φ, logo a área infinitesimal no raio r é ∆s = ∆z∆r. Sendo assim, a
soma de áreas infinitesimais no raio r corresponde a associação de capacitores
em paralelo:
ϵL ln b/a
C∆φ =
∆φ
E a inclusão de todos ângulos entre 0 < φ < α equivale à associação de
capacitores C∆φ em série:
Z α
1 dφ
=
C 0 ϵL ln b/a
α
= .
ϵL ln b/a

Exemplo 3.20. Ache a capacitância de dois cones concêntricos com ângulos


α1 e α2 , e comprimento a. O espaço entre eles é preenchido por um dielétrico
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 161

Fig. 3.14. Um capacitor de placas radiais com ângulo α preenchido com um dielé-
trico linear.

linear com permissividade ϵ (veja a figura 3.15).


Resposta:
As linhas do campo elétrico são ao longo de versor θ̂, logo ∆l = r∆θ nas
coordenadas esféricas. As superfícies equipotenciais estão posicionadas no
cone de ângulo θ. Sendo assim, a área infinitesimal no raio r será ∆s =
r∆φ senθ∆r. Em seguida, a soma de áreas infinitesimais do cone no ângulo
θ equivale a associação de capacitores em paralelo:
2πϵa senθ
C∆θ =
∆θ
E a inclusão de todos os ângulos entre α1 < θ < α2 equivale á associação de
capacitores C∆θ em série:
Z α2
1 dθ
=
C α1 2πϵa senθ
tgα1 /2
ln tgα2 /2
= .
2πϵa

Exercício 3.9.
Ache a capacitância de um cabo coaxial de raios a e b. A permissividade
do dielétrico do meio entre os condutores varia com raio da seguinte forma:
ϵ = ϵ0 a/r.
162 3.5. FORÇA ELETROSTÁTICA

V0

2
1

Fig. 3.15. Um capacitor de dois cones concêntricos com ângulos α1 e α2 e compri-


mento ’a’ e espaço entre eles preenchido por um dielétrico linear com permissivi-
dade ϵ.

Exercício 3.10.
Calcule a capacitância de um capacitor de placas paralelas, com área A e
distância entre as placas d. A permissividade do dielétrico varia linearmente
de ϵ1 a ϵ2 , de uma placa até outra.
Exercício 3.11.
Ache a capacitância entre um grande cone e um plano infinito mostrado na
figura 3.16. Dicas: Veja a resposta do exemplo 3.20.

3.5 Força Eletrostática


Nas duas seções anteriores aprendemos como encontrar a energia neces-
sária para armazenar as cargas elétricas em um capacitor e a sua capacitância.
A partir de informação sobre a energia eletrostática, podemos também, de-
senvolver as formulações da força eletrostática. Lembramos que, a redução
de energia potencial do sistema, i.e. −∆W , significa a liberação de energia
cinética, e consequentemente, geração de uma força elétrica, ou seja:
F⃗ = −∇W

Exemplo 3.21. Um dielétrico linear com a susceptibilidade χ é parcialmente


inserido entre as placas de um capacitor de placas paralelas. A carga arma-
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 163

Fig. 3.16. Um capacitor de um cone com ângulos α e o plano infinito. Espaço


entre cones é preenchido por um dielétrico linear com permissividade ϵ.

zenada no capacitor é Q0 , conforme a figura 3.17. Achar a força sentida pelo


dielétrico.
Resposta:

l
En
d
w s
S.G.

x Q0

 𝐹

Fig. 3.17. Um dielétrico linear parcialmente inserido entre duas placas de um


capacitor de placas paralelas.

Primeiro, vamos encontrar a energia armazenada no capacitor em função da


carga total Q0 , pela W = Q20 /(2C)a . Nesta equação, C representa a associ-
ação de dois capacitores em paralelo, um com dielétrico cujas dimensões são
x × w e outro com dimensões l − x × w sem o dielétrico, conforme a figura

a
Um dispositivo
R com a corrente I e a tensão V terá o potencial instantânea IV , logo a
energia W = IV dt. Sabemos a relação da corrente e da tensão de um capacitor dado por
I = CdV /dt. Assim a energia em função de tensão total V0 será W = 1/2CV02 . Também,
Idt = dq, e V = Cq, logo a energia em função de carga total Q0 será W = Q20 /(2C)
164 3.5. FORÇA ELETROSTÁTICA

3.17. Sendo assim, a capacitância total será:

C = Car + Cdielétrico
ϵ0 w(l − x) ϵwx
= +
d d
ϵ0 w (3.40)
= (l − x + ϵr x)
d
ϵ0 w
= (l + χx)
d
Logo, a energia armazenada no capacitor será:

Q20
W =
2ϵ0 w(l + χx)/d

Percebe-se que a energia diminui com aumento de x, ou seja, a penetração


maior do dielétrico no capacitor. Assim, a força será na direção de redução
da energia armazenada que é a direção de aumento de x. Então, teremos a
força de atração do dielétrico para dentro do capacitor, dada por:

dW
Fx = −
dx
1 χdQ20
=
2 ϵ0 w(l + χx)2

Exemplo 3.22. No exemplo anterior, ache a força eletrostática sobre o


dielétrico se tiver uma fonte de tensão V0 conectada ao capacitor.
Resposta:
Neste caso, a energia armazenada em função da tensão aplicada é W =
1/2CV02 . Como uma fonte de energia é conectada, ela fornece a energia
necessária, logo a energia do capacitor não é mais limitada como no exemplo
anterior. Então, o aumento de energia do sistema corresponde ao trabalho
feito, além da energia fornecida pela fonte, i.e. ∆W = Trabalho + V0 ∆q,
onde, V0 ∆q representa a energia fornecida pela fonte para trazer a carga
∆q. Se considerarmos o trabalho feito como −Fx ∆x, para um deslocamento
unidimensional, e ∆q = V0 dC e ∆W = 1/2V02 ∆C, teremos:

1 dC 2
Fx = V
2 dx 0
1 ϵ0 w
= χV02
2 d
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 165

Assim, percebe-se que a força está na direção do aumento da energia armaze-


nada, que é fornecida pela fonte, ou seja, o dielétrico está sob efeito de uma
força de atração. ■

È importante lembrar que, nessa modelagem, somente consideramos o


efeito de polarização do material dielétrico sob a influência de uma fonte
de tensão. Sabemos que em casos reais, além de polarização dos dielétricos,
existe a condução elétrica sob o efeito de fonte de tensão. Assim, a força
sentida pelo dielétrico pode mudar drasticamente.
Exercício 3.12.
Calcule a força sentida por um dielétrico líquido de permissividade ϵ, con-
forme a figura 3.18, devido a tensão V0 aplicada. O raio do núcleo do cabo
coaxial é a e da casca é b. b) Discutir a possibilidade de fazer uma bomba
eletrostática de um dielétrico no estado líquido.

V0

Altura de
subida de
dielétrico

Dielétrico Liquido

Fig. 3.18. Bomba eletrostática.

3.6 Projetos Realizados Sobre Eletrostática


Algumas aplicações da teoria de eletrostática foram implementadas por
ex-alunos como atividade complementar. Os projetos foram realizados, prin-
cipalmente, utilizando sucatas e componentes disponíveis na oficina do de-
partamento de engenharia elétrica da Universidade Federal de Sergipe.
166 3.6. PROJETOS

Fig. 3.19. Projeto de gerador de eletricidade estática por meio de atrito, conhecido
como gerador Van de Graaff, realizado por Saulo.

Fig. 3.20. projeto de gerador de alta tensão eletrostática de 4 kV, realizado por
próprio autor do livro em 2007, utilizando multiplicador de tensão.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 167

Fig. 3.21. projeto de um gerador de alta tensão eletrostática de 4 kV, realizado


por autor do livro em 2007, utilizando um transformador elevador e dobrador de
tensão.

Fig. 3.22. projeto de um detector de campo eletrostático, utilizando um transistor


FET com canal n e outro de canal p como sensor de campo realizado por Gustavo
de Almeida Siqueira, em 2006.
168 3.6. PROJETOS

Fig. 3.23. Projeto de um medidor de campo eletrostático a base de sensoriamento


da corrente de FET, realizado por Isla Almeida Oliveira/ Thiago Lião dos Santos,
Italo Gonçalves Gomes em 2018.

Fig. 3.24. Projeto de um precipitador eletrostática do ar realizado pelo Leonan


Figueredo Fernandes, em 2018.
CAPÍTULO 3. MATERIAIS DIELÉTRICOS ... 169

Fig. 3.25. Projeto de alta falante eletrostático realizado por Lazaro Silva de Castro,
Paulo C. Menezes martins, Leandro S. da Silva, em 2018.
170 3.6. PROJETOS
Parte III

Magnetostática

171
Capítulo
4
Técnicas de Análise de Campo Mag-
nético

Os fenômenos magnéticos são decorrentes do movimento das cargas elétricas, de natureza elétrica. Razão pela qual, a unificação de eletrostática e
magnetostática foi possívelb .

4.1 Lei de Biot-Savart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174


4.2 Lei de Ampère . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
4.2.1 Rotacional e Circulação . . . . . . . . . . . . . . 180
4.2.2 Lei de Ampère . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
4.3 Potencial Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
4.4 Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
4.4.1 Divergente do Potencial Vetor Magnético . . . . 198
4.4.2 Laplaciano Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
4.4.3 Potencial Escalar Magnético . . . . . . . . . . . . 202

A
té este momento, aprendemos as técnicas de análise de campo elétrico
gerado pela presença de cargas elétricas no espaço, polarização de materiais
dielétricos e a indução de cargas elétricas nos materiais condutores. Está na
b
Do livro Introdução a eletrodinâmica escrito por David J. Griffiths.

173
174 4.1. LEI DE BIOT-SAVART

hora de responder à pergunta: que diferença faz a presença de cargas elétricas


em movimento, ou seja, uma corrente elétrica?
Neste caso, além da presença de um campo elétrico, é possível observar
a ocorrência de mais um efeito. Este fenômeno possui natureza vetorial e
interage somente com o campo gerado pelo ímã, por esta razão, nomeado
campo magnético. Neste capítulo, inicialmente apresentaremos a lei de Biot-
Savart que relaciona o tamanho do campo magnético em um ponto com a
corrente e a distância até a fonte. A direção do campo magnético é ao longo
do eixo perpendicular ao plano criado pelo vetor do fluxo da corrente e o
vetor de distância. O sentido do campo magnético é obtido a partir da regra
da mão direta, começando do vetor de fluxo da corrente ao vetor de distância.
Em seguida, com a apresentação de uma nova operação diferencial de cam-
pos vetoriais, chamada de rotacional, demostraremos que o campo magnético
é resultado do rotacional de outro campo chamado potencial vetor magnético.
A análise de campo a partir do potencial vetorial pode ser mais vantajoso de-
vido às simplificação geradas nas fórmulas, eliminando uma operação vetorial
exigida pela lei de Biot-Savart.
Posteriormente, relacionamos o rotacional de campo magnético com a den-
sidade de corrente, também conhecida como a lei de Ampère. A técnica de
análise pela lei de Ampère pode ser útil em muitas ocasiões, especialmente
quando houver simetria da distribuição de corrente elétrica. Finalmente, a
partir da fusão da Lei de Ampère com a formulação do potencial vetorial de-
senvolvemos a técnica do Laplaciano vetorial, que pode servir para a análise
do campo magnético.

4.1 Lei de Biot-Savart


A observação experimental do desvio da ponta de uma bússola ao se
aproximar de um fio no qual havia passagem de corrente elétrica, leva a
conclusão de geração de campo magnético pela corrente. O efeito magnético
da corrente foi estudado pelos físicos Jean-Baptiste Biot e Félix Savart, que
formularam o que ficou conhecido como lei de Biot-Savart.
De acordo com a Lei de Biot-Savart, dado um ponto no espaço ao redor de
um fio, tem-se que o tamanho do campo magnético gerado por uma corrente
I, que percorre no fio, é diretamente proporcional ao tamanho da corrente e
ao comprimento do fio reto l. Em contrapartida, caracteriza-se também por
ser inversamente proporcional ao quadrado da distância do ponto ao fio r. O
campo magnético é representado pelo B ⃗ com a unidade em Tesla. A direção
do campo magnético é perpendicular com a direção que a corrente percorre
no fio e também, com o vetor distância ⃗r. O sentido do campo magnético é
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 175

d𝑙 ′
I

𝑟′ r

𝑟
O 𝑑𝐵
P(x,y,z)

Fig. 4.1. Representação de campo magnético gerado por um segmento infinitesimal


de corrente elétrica em um fio.

encontrada pelo produto vetorial ⃗l × r̂, que pode ser determinado na prática
pela regra da mão direita.
O coeficiente de proporcionalidade no sistema de unidade MKS é 10−7 e
é representado pela letra k. Vale lembrar que o coeficiente de proporciona-
lidade da Lei de Coulomb é na ordem de 9 × 109 . Isto justifica o fato dos
efeitos elétricos serem mais evidentes do que os efeitos magnéticos e com ta-
manhos bem maiores. Por exemplo, o recorde mundial de campo magnético
gerado nos laboratórios mais avançados do mundo chega ao nível de 1200 T,
enquanto o campo elétrico de uma junção simples de semicondutor pn chega
em torno de 106 V/m.
Para um fio de corrente que não seja reto, a formulação ainda é válida para
um segmento dl′ . Assim, o campo gerado por um segmento dl′ conforme a
figura 4.1 é modelado matematicamente por:
⃗′
dB⃗ = k Idl × r̂ . (4.1)
r2
Assim, é necessária a soma vetorial para encontrar o campo resultante do
comprimento inteiro do fio, conforme a figura 4.1.
Caso tenha uma corrente superficial, iremos analisar um segmento de cor-
rente superficial, i.e. ds′ = dl′ dw′ , conforme a Figura 4.2. A formulação
(4.1) ainda é válida, somente temos que encontrar o equivalente do vetor
⃗ ′ . Caso exista uma densidade de corrente superficial K
I dl ⃗ A/m, a corrente
′ ′ ′ ′ ⃗ ′ pode ser substituído
de um segmento ds = dl dw será Kdw . Então, I dl
⃗ ′ ′ ⃗ ′ ⃗ ′
por Kdw dl , ou seja I dl = Kds . Sendo assim, a lei de Biot Savart pode ser
rescrita por:
⃗ = k K × r̂ ds′

dB (4.2)
r2
Também, podemos analisar a corrente volumétrica em um corpo, como o
da figura 4.3, por meio de um procedimento parecido. A formulação (4.1)
176 4.1. LEI DE BIOT-SAVART

𝐾 A/m 𝑑𝐵

dl' dw'

Fig. 4.2. Representação de campo magnético gerado por um segmento infinitesimal


⃗ A/m.
de corrente superficial, isto é, K

ainda é válida, torna-se preciso apenas encontrar a equivalência do vetor


⃗ ′ . Para um segmento de volume dτ ′ = dl′ dw′ dt′ na figura 4.3, o fluxo da
I dl
corrente I será J⃗ · ds′ , onde J⃗ é a densidade vetorial de corrente volumétrica
em A/m2 . Então, o termo Id⃗l′ é equivalente com Jds ⃗ ′ dl′ , ou seja I dl ⃗ ′.
⃗ ′ = Jdτ
Sendo assim, a lei de Biot Savart da equação (4.1) pode ser reescrita por:

⃗ =k J⃗ × r̂ ′
dB dτ (4.3)
r2
Exemplo 4.1. Encontre o campo magnético gerado na distância h de um
fio reto por uma corrente que percorre o fio, exposto na Figura 4.4a.
Resposta:
Com as coordenadas e a origem escolhidas na figura 4.4b, teremos:

d⃗l′ = dz ′⃗z

⃗r = hŷ − z ′ ẑ

r = h2 + z ′2
1
r̂ = (hŷ − z ′ ẑ)
r
Desse modo, o produto vetorial será dz ′ ẑ ×(hŷ−z ′ ẑ) = −hdz ′ x̂. Substituindo
os valores equivalentes na equação (4.1), teremos:

⃗ = −kIh dz ′
dB x̂
r3
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 177

𝑑𝐵

r
𝐽 A/m 2
ds'
dl'

Fig. 4.3. Representação de campo magnético gerado por um segmento infinitesimal


de corrente volumétrico J⃗ A/m2 .

Sendo assim, o campo magnético total é obtido pela seguinte integral:


Z
dz ′
Bx = −kIh (4.4)
(h2 + z ′ 2 )1,5
Podemos achar a resposta da integral na tabela E.5 do apêndice, ou a partir
de troca de variáveis. Conforme a figura 4.4b, r = h sec θ e z ′ = h tgθ, então
dz ′ = hsec2 θdθ, logo:

⃗ = kI ( senθ2 − senθ1 )(−x̂)


B (4.5)
h
Caso tenhamos um fio muito longo (comprimento » h): o limite superior será
θ2 = 90° e o limite inferior da integral será θ1 = −90°. Portanto:

⃗ = − 2kI x̂
B
h
É válido mencionar que, nas coordenadas escolhidas da Figura 4.4b, a direção
e sentido do campo magnético é −x̂, sendo perpendicular ao plano que inclui
o fio e o ponto do campo, seguindo a regra da mão direita do capítulo 1.
Sendo assim, o campo magnético em um raio r do fio será representado pela
B = 2kI/r. Neste caso, o campo magnético é direcionado ao longo do φ̂ nas
coordenadas cilíndricas, conforme a figura 4.5. Então, o campo magnético
em um raio r do fio longo e reto será:

⃗ = 2kI φ̂
B (4.6)
r
178 4.1. LEI DE BIOT-SAVART

y 𝐵

P r
I h  h
z O
z' I

x
(a) (b)
Fig. 4.4. a) Campo magnético na altura h de um fio reto onde percorre uma cor-
rente I A. b) Para um segmento dl′ do fio, as coordenadas e origem são escolhidas.

Fig. 4.5. Campo magnético ao redor de um fio reto por onde percorre uma corrente
I A.
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 179

■ Vamos aplicar a nossa modelagem do campo magnético para uma


corrente superficial no próximo exemplo.
Exemplo 4.2. Para uma corrente superficial K ⃗ A/m em um plano na figura
4.6, encontrar o campo magnético gerado.
Resposta:
Desta vez, começaremos a tratar o campo magnético pela equação (4.2). Para
o segmento superficial escolhido na figura 4.6, o vetor ⃗r é −x′ x̂ − y ′ ŷ + hẑ. É
necessário achar o produto vetorial K ⃗ × ⃗r que será K ŷ × (−x′ x̂ − y ′ ŷ + hẑ)
ou seja K(x′ ẑ + hx̂). Portanto, o campo magnético parcial é:
⃗ = kK x′ ẑ + hx̂ ′ ′
dB dx dy
r3
Ou seja, o campo magnético parcial terá dois componentes Bx e Bz nas
coordenadas cartesianas.
Nas coordenadas cilíndricas, teremos a área infinitesimal dx′ dy ′ represen-
tada por r′ dφ′ dr′ . Também, a variável x′ será substituída por r′ cos φ′ . Sendo
assim, o componente do campo magnético na direção z é obtido da seguinte
forma:
Z Z 2π ′
r cos φ′ r′ dφ′ dr′
Bz =kK
0 (r′2 + h2 )1,5
=0
Lembrando que a variável φ′ varia entre 0 e 2π.
O componente do campo magnético resultante na direção x pode ser en-
contrado a partir da seguinte integral:
Z
2r′ dr′
Bx = kKhπ .
(r′2 + h2 )1,5
Podemos achar a resposta da integral utilizando as formulas na tabela E.5
ou fazer a troca de variáveis, onde u = r′2 + h2 e du = 2r′ dr′
Z
−2 r1
Bx = kKhπ duu−1,5 = kKhπ √ ′2
r + h2 0
Para uma superfície muito grande, ou seja, com relação à largura/profundidade
muito maior que h, podemos fazer a seguinte aproximação:

⃗ = kKh2π(−x̂) √ 1
B
r′2 + h2 0
= 2πkK x̂
Neste caso, o campo magnético será constante independente da altura h até
a superfície, quando altura h for pequena em comparação com dimensões do
plano de corrente. ■
180 4.2. LEI DE AMPÈRE

z
𝐵
r h
x
O
y'
x' 𝐾 A/m

y
Fig. 4.6. Corrente superficial K ŷ A/m.

4.2 Lei de Ampère


Na seção anterior apresentamos a técnica principal de análise de campo
magnético pela formulação da lei de Biot-Savart. Lembramos que a técnica
exige produto vetorial além de soma vetorial que não é sempre conveniente.
Estamos em busca de novas maneiras de análise do campo magnético que em
certas ocasiões pode facilitar bastante nossa chegada ao objetivo. Mas, antes
de tudo, é necessário conhecer mais uma operação diferencial dos vetores
chamada de rotacional.

4.2.1 Rotacional e Circulação


O rotacional de um campo vetorial B ⃗ é uma grandeza física vetorial.
Para encontrar um componente de rotacional é necessário inicialmente de-
terminar o plano de circulação do campo. Este plano é obtido através da
regra da mão direita conforme a figura 4.7. Em seguida, em uma superfí-
cie infinitesimal deste plano, será calculada a circulação do campo vetorial.
A circulação é definida como a soma de produto escalar do campo com o
vetor de deslocamento ao longo de um caminho fechado. Assim, podemos
medir o grau da circulação do campo. Afinal, O rotacional será a circula-
ção obtida por unidade de área infinitesimal cercada pelo caminho fechado.
P⃗ · ∆⃗l
B
Um componente do rotacional = (4.7)
s
O termo B ⃗ · ∆⃗l representa acompanhamento do campo com o caminho. En-
tão, a circulação é obtida, somando os produtos escalares ao longo de caminho
fechado. O termo s é a área da superfície infinitesimal cercado por o cami-
nho fechado. Em seguida, apresentamos as formulações para coordenadas
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 181

Fig. 4.7. A relação de direção de rotacional e o plano de circulação.

cartesianas, cilíndricas e esféricas.

4.2.1.1 Rotacional em Coordenadas Cartesianas


Primeiro vamos encontrar as formulações do rotacional de um campo

z

y
y
𝑥
x
Fig. 4.8. Representação de circulação no plano yz no sentido anti horário ao longo
de um caminho infinitesimal nas coordenadas cartesianas.

vetorial nas coordenadas cartesianas. O componente x do rotacional é en-


contrado a partir da circulação no plano yz i.e. perpendicular à direção x
conforme a figura 4.8). O caminho fechado escolhido é um retangular com
largura ∆y e altura ∆z. A direção de rotação é no sentido anti horário ob-
tida pela regra da mão direta. O caminho fechado é dividido por quatro
caminhos retos e individuais. Portanto, a circulação é resultado de soma de
182 4.2. LEI DE AMPÈRE

quatro produtos escalares da seguinte forma:


Para o caminho ∆y (z = 0):
⃗ · ∆⃗l = By (x, y, 0)∆y
B

Para o caminho ∆z (y = ∆y):


⃗ · ∆⃗l = Bz (x, ∆y, z)∆z
B

Para o caminho ∆y (z = ∆z):


⃗ · ∆⃗l = −By (x, y, ∆z)∆y
B

Para o caminho ∆z (y = 0):


⃗ · ∆⃗l = −Bz (x, 0, z)∆z
B

A soma do primeiro e terceiro produtos escalares é −∂/∂z(By ∆y)∆z e a soma


do segundo e quarto componentes é ∂/∂y(Bz ∆z)∆y. Como área inclusa é
∆z∆y, o componente x do rotacional será:
∂Bz ∂By
⃗ x=
(Rot.B) −
∂y ∂z
Lembrando da formulação do produto vetorial na equação (1.12) e a defini-
ção do operador ∇ (equação (2.14)), podemos representar o componente x
⃗ x = (∇ × B)
do Rotacional por (Rot. B) ⃗ x . A representação de outros com-
ponentes pode seguir a regra da troca cíclica definida no capítulo 1. Afinal,
podemos representar o rotacional do vetor B ⃗ nas coordenadas cartesianas
pelo seguinte determinante:
x̂ ŷ ẑ
∇×B ⃗ = ∂
∂x ∂y
∂ ∂
∂z (4.8)
Bx By Bz

4.2.1.2 Rotacional em Coordenadas Cilíndricas


Os planos de circulação necessários para encontrar os componentes de
rotacional em coordenadas cilíndricas são exibidos na figura 4.9a. Para achar
o componente r do rotacional é necessário encontrar a circulação do campo
no plano zφ no sentido anti horário. A circulação neste caminho fechado é
dividido por quatro partes da seguinte forma: Para o caminho na direção φ̂,
o vetor de deslocamento é r∆φφ̂, portanto:
⃗ · ∆⃗l = Bφ (r, φ, z)r∆φ
B
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 183

z 𝑧 (c)
r


 z

𝑟
(b) (a)

O y

x
Fig. 4.9. Representação da circulação em coordenadas cilíndricas para a) Com-
ponente r de rotacional. b) Componente φ de rotacional. c) Componente z de
rotacional.

Para o caminho na direção −φ̂, o vetor de deslocamento é −r∆φφ̂, portanto:

⃗ · ∆⃗l = −Bφ (r, φ, z + ∆z)r∆φ


B

Para o caminho na direção ẑ, o vetor de deslocamento é ∆z ẑ, portanto:

⃗ · ∆⃗l = Bz (r, φ + ∆φ, z)∆z


B

E finalmente, para o caminho na direção −ẑ, o vetor de deslocamento é


−∆z ẑ, portanto:
⃗ · ∆⃗l = −Bz (r, φ, z)∆z
B
A soma de primeiro e segundo componentes é −∂/∂z(Bφ r∆φ)∆z e a soma de
terceiro e quarto componentes é ∂/∂φ(Bz ∆z)∆φ. Como r∆z∆φ representa
a área da superfície infinitesimal, o componente r do rotacional será:
!
⃗ r=1
(Rot. B)
∂Bz
−r
∂Bφ
.
r ∂φ ∂z

O componente φ do rotacional é obtido a partir de cálculo da circulação no


sentido horário no plano rz conforme a figura 4.9b. Este caminho é dividido
por quatro segmentos que a circulação para cada é obtida da seguinte forma:
Para o caminho no sentido −r̂, o vetor de deslocamento é −∆rr̂, portanto:

⃗ · ∆⃗l = −Br (r, φ, z)∆r


B
184 4.2. LEI DE AMPÈRE

Para o caminho no sentido r̂, o vetor de deslocamento é r̂∆r, portanto:


⃗ · ∆⃗l = Br (r, φ, z + ∆z)∆φ
B

Para o caminho no sentido ẑ, o vetor de deslocamento é ẑ∆z, portanto:


⃗ · ∆⃗l = Bz (r, φ, z)∆z
B

Para o caminho no sentido −ẑ, o vetor de deslocamento é −ẑ∆z, portanto:


⃗ · ∆⃗l = −Bz (r + ∆r, φ, z)∆z
B

A soma dos dois primeiros componentes é equivalente com ∂/∂z(Br ∆r)∆z


e a soma dos dois últimos componentes é equivalente com −∂/∂r(Bz ∆z)∆r.
Neste caso, a área cercada pelo caminho fechado é ∆z∆r. Assim, o compo-
nente φ de rotacional será:

⃗ φ = ∂Br − ∂Bz
(Rot. B)
∂z ∂r
Por fim, o componente z do rotacional é obtido, calculando a circulação no
superfície infinitesimal ilustrada na figura 4.9c: Para o caminho no sentido
r̂, o vetor de deslocamento é ∆rr̂, portanto:
⃗ · ∆⃗l = Br (r, φ, z)∆r
B

Para o caminho no sentido −r̂, o vetor de deslocamento é −∆rr̂, portanto::


⃗ · ∆⃗l = −Br (r, φ + ∆φ, z)∆r
B

Para o caminho no sentido φ̂, o vetor de deslocamento é rφ̂∆φ, portanto:


⃗ · ∆⃗l = Bφ (r + ∆r, φ, z)r∆φ
B

Para o caminho no sentido −φ̂, o vetor de deslocamento é −rφ̂∆φ, portanto:


⃗ · ∆⃗l = −Bφ (r, φ, z)r∆φ
B

A soma dos dois primeiros componentes é equivalente com ∂/∂φ(Br ∆r)∆φ


e a soma de dois últimos componentes é ∂/∂r(rBφ ∆φ)∆r. Neste caso, a
área cercada pelo caminho fechado é r∆r∆φ. Assim, o componente z do
rotacional será:
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 185

!
⃗ z=1
(Rot. B)
∂(rBφ ) ∂Br
− (4.9)
r ∂r ∂φ

Exercício 4.1.
Repita o procedimento para encontrar o rotacional em coordenadas esféricas.
Conferir com a resposta final dada no apêndice do livro (equação (A.13)).
Dicas: utilize a figura 2.8. ■

sj

Contorno c
Superfície s

Fig. 4.10. Aplicação da definição de rotacional para uma superfície finta.

Até este momento, apresentamos as formulações necessárias para achar


cada componentes de rotacional pela circulação em um caminho fechado por
unidade de área infinitesimal. A dúvida é quais são as modificações neces-
sárias nas formulações, quando tiver uma superfície finita como ilustrada na
figura 4.10. Inicialmente, podemos dividir a superfície s em um conjunto de
áreas infinitesimais ∆sj conforme a figura 4.10. Assim, para uma superfície
infinitesimal ∆sj , podemos representar a equação (4.7) da seguinte forma:
I
∇×B
⃗ · ∆⃗sj = ⃗ · ∆⃗l
B
cj

O lado esquerdo da equação acima representa o fluxo do campo vetorial na


área ∆sj . Então, a soma de fluxos parciais sobre todas as áreas infinitesimais
é equivalente ao fluxo total do campo vetorial ∇ × B ⃗ na superfície s com a
circunferência c, ou seja:
X Z
lim ∇×B
⃗ · ∆⃗sj = ∇×B
⃗ · d⃗s
∆sj →0 s
j

Obviamente, a circulação do campo vetorial B ⃗ ao redor de qualquer caminho


cj , no interior da superfície, será anulada com a circulação do campo vetorial
ao redor das superfícies infinitesimais em vizinhanças, conforme a figura 4.10.
Ainda assim, a contribuição de integral de linha ao longo de circunferência
da superfície será mantida, ou seja:
XI I
lim ⃗ · ∆⃗l =
B ⃗ · d⃗l
B
∆sj →0 cj c
j
186 4.2. LEI DE AMPÈRE

Logo, a partir da definição do rotacional na equação (4.7), o fluxo do campo


vetorial ∇ × B⃗ sobre a área finita s deve ser equivalente à circulação do
campo vetorial B⃗ ao longo do caminho fechado c ao redor da superfície s, ou
seja:
Z I
∇×B ⃗ · d⃗s = B ⃗ · d⃗l (4.10)
s c

A equação (4.10) é chamada de teorema de Stokes.


Vale ressaltar que o teorema de Stokes para uma área fechada será de
seguinte forma: I
∇×B ⃗ · d⃗s = 0,
s
porque uma superfície fechada não possui nenhuma circunferência ou fron-
teira, logo, o lado direto da equação (4.7) será nula, ou seja, para um campo
vetorial obtido a partir de rotacional,i.e. ∇ × B ⃗ não teremos o fluxo total
em qualquer superfície fechada.
Também, podemos utilizar o teorema de Gauss dada pela equação (2.37)
para confirmar a resposta, sabendo que o fluxo total de um campo veto-
rial como ∇ × B ⃗ obtido em uma superfície fechada é equivalente a integral
volumétrica da divergência do campo vetorial, i.e. ∇ · ∇ × B. ⃗ A equação
será nula, para qualquer vetor B,⃗ pela regra de multiplicação (B.7) dada no
apêndice do livro.
Exercício 4.2.
Prove a seguinte equação:
! ! !
J⃗ × r̂ r̂ r̂ r̂ r̂
∇× = · ∇ J⃗ − (J⃗ · ∇) 2 + J⃗ ∇ · 2 − 2 (∇ · J)

r2 r2 r r r

Exercício 4.3.
Mostre que a seguinte relação é valida:
Z
r̂ ′
(J⃗ · ∇) dτ = 0
r2

Exercício 4.4.
Mostre que a seguinte relação é valida:

∇ × fA
⃗ = f∇ × A
⃗−A
⃗ × ∇f

.
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 187

Exercício 4.5.
A partir do teorema de divergência representado pela equação (2.37) prove
a seguinte relação: Z I
∇ × ⃗v dτ = − ⃗v × d⃗s. (4.11)

⃗ ×⃗c na equação (2.37), onde ⃗c é um vetor


⃗ por E
Dicas: Tente trocar o vetor E
constante e a formula (B.4).

4.2.2 Lei de Ampère


O próximo objetivo é achar o rotacional do campo magnético dado pela
lei de Biot-Savart da equação (4.3). Vale ressaltar que os operadores diferen-
ciais do rotacional são sobre variáveis do ponto de campo ou seja (x, y, z).
Enquanto, a integral é sobre variáveis (x′ , y ′ , z ′ ). Por isso, troca da ordem de
rotacional e integral é possível:
Z ⃗ ′ , y ′ , z ′ ) × r̂
J(x
∇×B
⃗ =k ∇× dτ ′ (4.12)
r 2

Pela equação (B.6) do apêndice do livro podemos transformar o rotacional


⃗ ′ , y ′ , z ′ ) × r̂ da seguinte forma:
de um produto vetorial J(x
! ! !
J⃗ × r̂ r̂ r̂ r̂ r̂
∇× = · ∇ J⃗ − (J⃗ · ∇) 2 + J⃗ ∇ · 2 − 2 (∇ · J)
⃗ (4.13)
r2 r2 r r r

O primeiro e o último termo da equação (4.13) são nulos, porque são as


operações diferenciais em relação x, y ou z da função J⃗ que é uma função
das variáveis x′ , y ′ e z ′ . Podemos aproveitar a equação (2.39) no capítulo 2
para substituir o terceiro termo da equação (4.13) pela:

⃗ ′ , y ′ , z ′ )∇ · r̂ = 4πδ( r)J(x
J(x ⃗ ′ , y ′ , z ′ ).
r2
⃗ y, z), utilizando a propriedade de
Assim, a integral deste termo vai ser 4π J(x,
integral de uma função impulso ao redor de zero. Aproveitando o resultado do
exercício 4.2.1.2, sabemos que a integral do segundo termo da equação (4.13)
é nula. Por fim, podemos substituir o lado direito da equação (4.12) pela
soma da integral dos quatro termos da equação (4.13).
∇×B
⃗ = 4πk J(x,
⃗ y, z) (4.14)
A equação (4.14) é chamada de lei de Ampère que relaciona o campo mag-
nético com a sua origem , ou seja, a densidade de corrente elétrica. Para
188 4.2. LEI DE AMPÈRE

uma superfície, a corrente total inclusa é dada pela integral superficial da


densidade de corrente. Enquanto isso, a integral superficial de ∇ × B ⃗ pode
ser substituída pela integral de linha ao longo da fronteira da superfície pelo
teorema de Stokes, i.e. equação (4.10):
I
⃗ · d⃗l = 4πkIInclusa ,
B (4.15)

que é chamada a forma integral da lei de Ampère, relacionando a circulação


do campo magnético com a corrente elétrica. Caso exista algum tipo de si-
metria na distribuição da corrente elétrica na superfície escolhida, o campo
magnético será invariável ao longo da circunferência da superfície. Portanto,
a integral de linha ou a circulação do campo é simplesmente obtida, multi-
plicando o tamanho do campo pelo comprimento da circunferência. Como
percebemos, a análise do campo magnético pode ser bastante simplificada,
após garantir a simetria do campo ao longo de um caminho fechado chamado
elo Amperiano (E.A.).

Exemplo 4.3. Encontre o campo magnético gerado por uma corrente I,


percorrendo um fio longo e reto.
Resposta:

Elo
P
Amperiano
P
h (E.A.) h
I
z I O
𝐵
(a) (b)
Fig. 4.11. Corrente que percorre um fio longo como fonte de campo magnético.

Conforme a figura 4.5 ou a regra da mão direita, as linhas do campo magné-


tico serão circulares ao redor do fio. Assim, o elo Amperiano apropriado será
um anel em volta do fio, onde o campo magnético permanece invariável na
direção φ, conforme a figura 4.11. O fato que o fio é longo garante a sime-
tria, o que prevalece a utilização da lei de Ampère apresentada pela equação
(4.15).
Primeiro, a circulação do campo magnético ao longo do caminho fechado
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 189

circular de raio r é Bφ 2πr. A corrente que atravessa esta superfície é I, logo:

Bφ 2πr = 4πkI

Logo, o campo magnético será:

⃗ = 2kI φ̂
B
r
A resposta é correspondente com a resolução dada pelo método de Biot-
Savart na equação (4.4). ■

Exemplo 4.4. Encontre o campo magnético produzido por uma corrente


⃗ (A/m) na figura 4.12.
superficial K
Resposta:
z

O
𝐵cima y
𝐾 A/m
w
𝐵abaixo Elo
x
Amperiano
⃗ (A/m).
Fig. 4.12. Campo magnético gerado por uma corrente superficial K

A corrente superficial planar é equivalente a um conjunto de elementos in-


finitesimais de corrente, conforme a figura 4.12. A soma vetorial de campo
magnético gerado por elementos infinitesimais de corrente anula todos os
componentes exceto o componente y. Assim, o elo Amperiano apropriado
neste caso será retangular com a largura ∆w. A simetria necessária para
uma solução válida pela lei de Ampère é garantida pelo fato de ter uma
superfície grande da corrente. A circulação do campo magnético neste elo
Amperiano, conforme a figura 4.12, será Bcima ∆w + Babaixo ∆w. Além disso,
o tamanho do campo magnético acima e abaixo da folha é idêntico. Então,
a integral linear do campo ao redor do elo será 2By ∆w. A corrente que
atravessa a superfície do elo amperiano (E.A.) é K∆w. Substituindo os re-
sultados na equação (4.15), teremos 2By ∆w = 4πkK∆w. Então, o campo
magnético será:
By = 2πkK
190 4.2. LEI DE AMPÈRE

A direção e sentido do campo magnético acima da folha é −ŷ e abaixo da


superfície é ŷ conforme a figura 4.12.
Anotamos que o campo magnético não varia com z i.e. a distância até a
superfície. Obviamente, isto é possível porque consideramos que as dimensões
da superfície são bem maiores que a distância z, onde calculamos o campo
magnético. ■

Exemplo 4.5. Achar o campo magnético gerado pela corrente I que percorre
um solenoide longo com N espiras na figura 4.13.
Resposta:

(2)
E.A.
B2
I B1 (1)
(3)

l
𝐵
Fig. 4.13. Campo magnético gerado pela corrente I que percorre em um solenoide
com N espiras.

Podemos considerar o solenoide como um cilindro de mesmo raio com uma


corrente percorrendo sua superfície lateral. Assim, a direção do campo mag-
nético deve ser ao longo do eixo do solenoide conforme a figura 4.13. O
sentido do campo magnético é obtido pela regra da mão direita. Assim,
basta escolher o elo Amperiano em formato retangular onde, o campo mag-
nético permanece invariável. O fato que o solenoide é longo (l >> a) garante
a simetria o que prevalece a utilização da lei de Ampère.
Nomeamos o campo magnético da parte inferior do elo como B1 e da parte
superior como B2 . Pela lei de Ampère da equação (4.15), a integral ao longo
de caminho fechado 1 é B1 l − B2 l. Nenhuma corrente atravessa a superfície
do elo, portanto, o campo magnético dos dois lados do elo serão iguais, i.e.
B1 = B2 . Esta relação ainda é válida para elo 2 da figura 4.13, onde o
lado superior do elo foi levado para muito longe do primeiro. Sabemos que
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 191

quanto mais distante da fonte, o campo magnético é menos intenso, logo, o


campo magnético do lado superior do elo é praticamente nulo. Sendo assim,
o campo nas proximidade do solenoide será nulo. Isto, justifica a ausência
de campo magnético fora de um solenoide longo.
Para o elo 3, a corrente atravessa N vezes a superfície do elo. considerarmos
a largura do elo sendo l, o campo magnético pela lei de Ampère será:

NI
B1 = 4πk .
l
Podemos chamar N/l de densidade de enrolamento do solenoide i.e. n espiras
por metro. Então:
B1 = 4πknI. (4.16)
Se considerar mais um elo, completamente dentro do solenoide, a corrente que
atravessa será nula, e mais uma vez o campo magnético deverá ser igual dos
dois lados do elo. Isto esclarece que o campo magnético dentro do solenoide
longo é homogênea e ao longo do eixo do solenoide. ■

Exemplo 4.6. Obtenha o campo magnético gerado por um toroide com N


espiras e corrente I, conforme a figura 4.14.
Resposta:

I N espiras

b
a
𝐵
r E.A.

Fig. 4.14. Campo magnético gerado por uma corrente I que percorre um toroide
com N espiras.
192 4.2. LEI DE AMPÈRE

A simetria é comprovada para elos Amperianos circulares concêntricos com


o toroide. A integral de linha do campo magnético será Bφ 2πr enquanto a
corrente que atravessa a superfície para raios menores que a é nula. Por-
tanto, nesta modelagem de toroide ideal não existe campo magnético nos
raios menores que a. Se o raio do elo Amperiano tiver um tamanho entre a e
b, a corrente que atravessa a superfície é N I. Portanto, o campo magnético
interno do toroide a base de equação (4.15) é:
2kN I
Bφ =
r
Se o raio for maior que b, a corrente que atravessa a superfície é N I para
cima e N I para baixo. Portanto, a corrente total é nula que justifica a
ausência de campo magnético no exterior do toroide.
O campo magnético no interior do toroide se intensifica à medida que nos
aproximamos do centro do toroide, ou seja, não é homogênea como no interior
do solenoide. Se considerarmos um toroide em que a espessura do núcleo seja
muito menor do que o raio interno, i.e. b − a ≪ a, podemos ter um campo
quase homogênea, ou seja, independente do raio, substituindo a variável r
por (b + a)/2. Sendo assim, o campo magnético será:
4kN I
Bφ = para a≤r≤a
b+a

Exemplo 4.7. Obtenha o campo magnético gerado por uma corrente que
percorre um cabo coaxial como a figura 4.15 mostra.
Resposta:
A simetria é comprovada para elos Amperianos circulares concêntricos con-
forme a figura 4.15. A integral de linha do campo magnético será Bφ 2πr
enquanto, a corrente que atravessa a superfície cercada por raios menores
que a é nula. Portanto, não existe campo magnético nos raios menores que
a. Se o raio tiver um tamanho entre a e b, a corrente que atravessa a super-
fície é I. Portanto, o campo magnético no interior do cabo coaxial a base de
equação (4.15) é:
2kI
Bφ = para a < r ≤ b
r
Se o raio for maior que b, a corrente que atravessa a superfície é I para dentro
do núcleo e −I para casca. Portanto, a corrente total é nula, o que justifica
a ausência de campo magnético no exterior do cabo coaxial.
Caso tenhamos um núcleo sólido, a corrente passará por toda parte do
mesmo, homogeneamente. Então, a corrente que atravessa a área circular
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 193

E.A.

I r
𝐵
b z
a
I

Fig. 4.15. Campo magnético gerado por uma corrente que percorre um cabo coa-
xial.

com raio menor que a será Ir2 /a2 . Portanto, o campo magnético

⃗ = 2kI rφ̂ para


B r ≤ a.
a2
Assim, o campo magnético aumenta linearmente com o raio no interior do
núcleo, mas começa a abaixar no espaço entre o núcleo e casca, proporcional
com inverso de raio. ■

Exercício 4.6.
Provar que ∇ × E ⃗ = 0 ou seja o campo elétrico é irrotacional. ■

Até este momento apresentamos a divergência e rotacional dos campos


elétrico e magnético. Pelo teorema de Helmholtz apresentado no apêndice,
o campo vetorial será completamento definido, sabendo do rotacional e di-
vergência do campo. Na verdade, estes duas diferencias vetoriais do campo
referem-se às suas fontes. Por exemplo, para um campo elétrico, a densi-
dade de cargas monopolos é a fonte de campo elétrico, descrita pela lei de
Gauss. Como o campo eletrostática é conservativo ou irrotacional, não existe
a origem do campo representado pelo rotacional do campo elétrico, ou seja,
∇×E ⃗ = 0. Sendo assim, teremos somente uma única fonte para um campo
eletrostática.
Em analogia, como o campo magnético é solenoidal, não existe a origem
do campo magnético dado pela sua divergência, ou seja ∇ · B ⃗ = 0. Enquanto
isso, o rotacional do campo magnético se refere a densidade de corrente,
descrita pela lei de Ampère (equação (4.14). Sendo assim, teremos somente
uma única fonte para um campo magnetostático, que é a corrente elétrica.
194 4.3. POTENCIAL VETORIAL

Futuramente, falaremos dos campos variáveis com o tempo, onde surgem


outras fontes para campos elétricos e magnéticos.
Até este momento estudamos a lei de Biot-Savart e a lei de Ampére em
analogia com a lei de coulomb e a lei de Gauss, respectivamente. Na próxima
seção tentaremos encontrar a função magnética em analogia com o potencial
elétrico.

4.3 Potencial Vetorial


A lei de Biot-Savart representada pela equação (4.3) possui um termo
conhecido r̂/ r2 que tratamos anteriormente no capítulo 2 na equação (2.18).
Lembramos que podemos trocar este termo por −∇(1/ r). Assim, o termo
interior da integral da equação (4.3) é alterado para −J⃗ × ∇(1/ r). Ainda
podemos substituí-lo pela:

1 J⃗ 1 ⃗ ′ , y ′ , z ′ ),
−J⃗ × ∇ = ∇ × − ∇ × J(x
r r r
utilizando a regra (B.5) do apêndice B. Entretanto, lembre que estamos fa-
zendo a diferencial espacial em relação a x, y e z da função J(x′ , y ′ , z ′ ) que
nos leva a um resultado nulo. Então:
1 J⃗
−J⃗ × ∇ =∇×
r r
Assim, a lei de Biot-Savart dada pela equação (4.3) vai se transformar em:
Z
J⃗ ′
⃗ =k
B ∇× dτ
r
O que equivale a:
Z
⃗ =∇×k J⃗ ′
B dτ . (4.17)
r
Logo, encontramos o campo magnético B ⃗ como rotacional de outro campo
⃗ = ∇×
⃗ ou seja, B
vetorial que será denominado de potencial vetorial A,
⃗ Este campo é um campo auxiliar no cálculo do campo magnético dado
A.
por:
Z ⃗
⃗ J ′
A=k dτ . (4.18)
r
Lembre-se que começamos com a lei de Biot-Savart em três dimensões,
ou seja, quando a corrente é volumétrica. Assim, se houver uma corrente
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 195

linear onde a Lei de Biot-Savart é a equação (4.1), podemos repetir o mesmo


procedimento e chegar ao seguinte resultado para o potencial vetorial A: ⃗

Z
⃗=k d⃗l′
A I . (4.19)
r
Por outro lado, se houver uma corrente superficial (2D), o campo B⃗ será
dado pela equação (4.2) e repetindo o mesmo procedimento teremos o po-
⃗ da seguinte forma:
tencial vetorial A
Z ⃗
⃗ K ′
A=k ds . (4.20)
r
Em alguns casos a análise de campo magnético pode ser mais conveniente
pelo potencial vetorial do que as equações de Biot-Savart. Comparando as
equações de potencial vetorial tais como a equação (4.19) com as equações
de Biot-Savart conforme a equação (4.1), percebe-se que o produto vetorial
não é mais necessário pela técnica de potencial vetorial. Além disso, se a
direção e sentido do fluxo de corrente elétrica não altera pela soma vetorial,
podemos descobrir facilmente a direção e sentido do potencial vetorial.

Exemplo 4.8. Encontre o potencial vetorial A ⃗ para uma corrente elétrica I


que percorre um fio reto, conforme a figura 4.16a.
Resposta:

y
𝐴
P r
h  h
I
z O
z' I

x
(a) (b)
⃗ para uma corrente elétrica I que percorre um fio
Fig. 4.16. a) potencial vetorial A
reto. b) Escolha de origem, coordenadas e elemento infinitesimal de corrente.

Escolhemos o eixo z ao longo do fio, a origem das coordenadas e eixo y para


passar√o ponto de campo como a figura 4.16b mostra. Portanto, d⃗l = dz ′ ẑ,
r = h2 + z ′2 . Vamos substituir na equação (4.19) do potencial vetorial
196 4.3. POTENCIAL VETORIAL

unidimensional: Z z2
dz ′
⃗ = kI
A √ ẑ
z1 h2 + z ′2
Podemos encontrar a solução da integral na tabela E.5 do apêndice do livro
ou utilizar a troca de variável z ′ para ângulo θ na figura 4.16b, onde r =
h sec θ, z ′ = h tgθ, então, dz ′ = h sec2 θdθ. Assim, a integral se converte em:
Z
dz ′ Z h sec2 θ
= dθ
r Z h sec θ
= sec θdθ

Com mais uma troca de variável u = senθ e du = cos θdθ, teremos:


Z
dz ′ Z dθ Z
du
= =
r cos θ 1 − u2
Z Z
0, 5du 0, 5du
= +
1−u 1+u
1 1+u
= ln
2 1−u
Ou seja:
θ2
⃗ = kI ln 1 + senθ
A ẑ.
2 1 − senθ θ1

Vale ressaltar que é possível achar a resposta alternativa da integral da função


secante na tabela (E.3). Sendo assim, podemos encontrar o campo magnético
⃗ a partir do rotacional do potencial vetorial. i.e. B
B ⃗ = ∇ × A. ⃗ ■

Com a formula do potencial vetorial Pela equação (2.30) do fluxo de um


campo vetorial, podemos representar o fluxo magnético que atravessa uma
área ⃗s, por: Z
Φ= B ⃗ · d⃗s
s
Se substituirmos o campo magnético em função do potencial vetorial, tere-
mos: Z
Φ= ∇×A ⃗ · d⃗s
s
que é após aplicação do teorema de Stokes:
I
Φ= A⃗ · d⃗l, (4.21)
C

onde o caminho fechado C é a circunferência da área ⃗s. O sentido da circu-


lação é obtido pela regra de mão direita.
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 197

a
A

Fig. 4.17. Potencial vetorial gerado pela corrente que percorre um solenoide longo
com N espiras.

Exercício 4.7.
⃗ para um solenoide da figura 4.17.
Ache o potencial vetorial A
Dicas: Pode ser utilizada a fórmula do campo magnético obtida para um
solenoide junto com a definição de fluxo magnético em função do potencial
elétrico na equação 4.21. ■

4.4 Laplaciano
Uma das técnicas de análise de campo elétrico era a equação de Laplace
do potencial elétrico. Vale lembrar que o Laplaciano escalar foi desenvol-
vido através da fusão da lei de Gauss e a formulação do campo elétrico em
função do potencial elétrico. Em analogia, podemos fazer um procedimento
parecido e encontrar o Laplaciano para um campo magnetostático. Pela lei
de Ampèrea , o rotacional do campo magnético B ⃗ é relacionado à densidade
de corrente elétrica, i.e. ∇ × B⃗ = 4πk J.
⃗ Também, encontramos o campo
⃗ ⃗ = ∇ × A.
magnético B como o rotacional de potencial vetorial, i.e. B ⃗ Assim,
a lei de Ampère em função do potencial vetorial magnético será:

∇×∇×A
⃗ = 4πk J.

Se utilizar a equação (B.8) do apêndice do livro teremos:

∇(∇ · A)
⃗ − ∇2 A
⃗ = 4πk J(x,
⃗ y, z) (4.22)

Nas próximas seções, discutimos sobre resultado de ∇(∇ · A)


⃗ e o Laplaciano
vetorial ∇ A.
2⃗

a
Equação (4.14).
198 4.4. LAPLACIANO

4.4.1 Divergente do Potencial Vetor Magnético


Para discutir o valor do divergente do potencial vetor magnético, co-
meçamos com o aplicação do operador ∇· sobre o potencial vetorial dado
pela equação (4.18). Como o operador ∇· aplica diferenciais em função de
variáveis x e y e z, é permitido a troca de ordem de integral e o divergente,
ou seja:
Z ⃗ ′ ′ ′ ′
∇·A⃗ = k ∇ · J(x , y , z )dτ ,
r
A divergência da divisão do vetor J⃗ por uma função escalar r pode ser
expandido, utilizando a identidade vetorial da equação (B.2):
Z h i
1 1 ⃗ ′ , y ′ , z ′ ) dτ ′ .
∇·A
⃗=k J⃗ · ∇ + ∇ · J(x
r r
Como o vetor J⃗ não é uma função de (x, y, z), a segunda parte da integral é
nula. Já tratamos o gradiente da função de distância na equação (2.18), i.e.
∇(1/ r) = −∇′ (1/ r) = −r̂/ r2 . Assim, podemos reorganizar o termo dentro
da integral por −J⃗ · ∇′ (1/ r) e mais uma vez utilizamos a identidade vetorial
da equação (B.2):
Z h Z h
1i ′ 1 ′ ⃗ J⃗ i
∇·A
⃗=k − J⃗ · ∇′ dτ = k ∇ · J − ∇′ · dτ ′ ,
r r r
Pela lei de conservação de cargas elétricas e estudo magnetostática, o fluxo
para fora da corrente elétrica é nula. Assim, a divergência da densidade
de corrente é zero, i.e. ∇′ · J(x
⃗ ′ , y ′ , z ′ ) = 0a . Logo, podemos simplificar o
resultado por:
Z ⃗
∇·A ⃗ = −k ∇′ · J dτ ′ .
r
b
Ainda, podemos utilizar o teorema de Gauss da equação (2.37):
I
J⃗ ⃗′
∇·A
⃗ = −k · ds ,
r
onde s⃗′ representa a superfície fechado que inclui toda fonte do campo mag-
nético. Assim, a densidade de corrente nesta superfície será nula, uma vez
que todas as correntes sejam incluídas. Logo:
a
Futuramente, tratamos o caso geral onde é possível a variação em tempo da densidade
das cargas elétricas e encontramos a relação de divergência da corrente J⃗ e a taxa de
variação das densidade de cargas, chamada de equação de continuidade.
b
Teorema de divergência.
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 199

∇·A
⃗=0 se ∇′ · J(x
⃗ ′, y′, z′) = 0 (4.23)
Existe outra justificativa para chegar a equação (4.23), chamada de escolha
de calibre, ou escolha de gauge. As transformações de calibre nos permitem
escolher a fonte certa para divergência do potencial vetorial de forma a sim-
plificar as equações diferenciais do vetor A.⃗ Isto, porque pode determinar
mais de um potencial vetorial que satisfaz a equação ∇ × A ⃗ = B,
⃗ inclusive o
potencial solenoidal, i.e. ∇ · A⃗ = 0.
Para um campo solenoidal, através de uma superfície Gaussiana escolhida
na fronteira entre duas regiões, podemos confirmar a continuidade do com-
ponente normal da superfície do potencial vetoriala , ou seja:

An1 = An2

Também, pela equação ∇ × A ⃗ = B,


⃗ escolhendo um elo Amperiano infi-
nitesimal, podemos confirmar a continuidade do componente tangencial do
potencial:
At1 = At2
Sendo assim, todos componentes do potencial vetorial magnético são contí-
⃗1 e A
nuos. Se representar o campo nas duas regiões por A ⃗ 2:
⃗1 = A
A ⃗ 2. (4.24)
No momento de aplicar as condições de contorno, a continuidade do potencial
vetorial na fronteira de duas regiões será bastante útil.

4.4.2 Laplaciano Vetorial


Sabendo da divergência nula do potencial vetorial, permite escrever a
equação (4.22) na forma:
∇2 A
⃗ = −4πk J(x,
⃗ y, z) (4.25)
A equação diferencial obtida nada mais do que a equação de Poisson, escrita
por cada componente do potencial vetorial, ∇2 A ⃗ j = −4πk J⃗j (x, y, z),b , em
analogia com Laplaciano do potencial escalar elétrico. A nomeação prevalece
nas regiões que a corrente percorre, i.e., J ̸= 0. Caso contrario, a equação
diferencial (4.25) é conhecida como Laplaciano vetorial:
∇2 A
⃗=0 (4.26)

a ⃗ a continuidade do componente Dn é
Na eletrostática, para um campo solenoidal D,
provada na equação (3.25).
b
A variável j pode ser x ou y ou z em coordenadas cartesianas.
200 4.4. LAPLACIANO

A equação (4.26) é análoga ao Laplace do potencial elétrico da equação (2.48),


só que tal fórmula é uma equação diferencial de segunda ordem da função
escalar ϕ. Enquanto, a equação de Laplace na equação (4.26) é uma equação
⃗ No entanto, a analogia estabelecida permite-
diferencial do campo vetorial A.
nos resolver um arranjo magnetostático com os recursos analógicas de um
arranjo eletrostático.
Em coordenadas cartesianas, o Laplaciano vetorial é dado pela equação
(A.4). Logo, teremos as seguintes equações diferenciais para cada compo-
nente:
∂ 2 Ax ∂ 2 Ax ∂ 2 Ax
+ + = −4πkJx
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
∂ 2 Ay ∂ 2 Ay ∂ 2 Ay
+ + = −4πkJy
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
∂ 2 Az ∂ 2 Az ∂ 2 Az
+ + = −4πkJz .
∂x2 ∂y 2 ∂z 2

Ou seja, ∇2 A ⃗ resulta em 3 equações diferenciais de segunda ordem. Em


seguida, deve substituir a cada componente do potencial vetorial por três
funções individuais de vareáveis x e y e z, utilizando o método de separação
de variáveis:

Ax = f1 (x)g1 (y)h1 (z)


Ay = f2 (x)g2 (y)h2 (z)
Az = f3 (x)g3 (y)h3 (z).

Assim, no total, existem nove funções desconhecidas. complexidade será


ainda maior nas coordenadas cilíndricas ou esféricas. Por exemplo, a equação
diferencial do Laplaciano vetorial em coordenadas cilíndricas é representada
no apêndice pela equação (A.10), com 16 componentes. Nas coordenadas
esféricas, o Laplaciano de um vetor é representado pela equação (A.15) com
22 componentes. Sendo assim, em maioria dos casos, prefere-se utilizar outras
técnicas de análise apresentadas. Entretanto, para densidade de corrente
unidimensional, a equação pode ser mais simplificada.
Exemplo 4.9. Considere um cabo coaxial onde no núcleo e na casca percorre
as correntes opostas I, conforme a figura 4.15. Encontre o potencial vetorial
⃗ no espaço a partir da equação de Laplace.
A
Resposta:
Vamos nomear o eixo principal do cabo coaxial como o eixo z nas coordenadas
cilíndricas. Sendo assim, a corrente percorre n núcleo na direção ẑ, logo, o
potencial vetorial terá somente um componente nesta direção, i.e. Az . Assim,
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 201

o Laplaciano nas coordenadas cilíndricas é escalar e será de seguinte forma


dada pela equação (A.9):
1 ∂ r∂Az 1 ∂ 2 Az ∂ 2 Az
∇2 Az = + 2 + = −4πkJz (x, y).
r ∂r ∂r r ∂φ2 ∂z 2
Entre os condutores, a corrente é nula. Além disso, o potencial vetorial não
varia com z e nem é função da variável φ, devido a simetria. Logo, teremos
somente a função Az (r). Portanto, a equação diferencial do Laplaciano será
simplificada para seguinte forma:
1 ∂ r∂Az
= 0,
r ∂r ∂r
com a resposta Az (r) = C ln r/r0 .
A partir da continuidade do potencial em r = b e Az (r > b) = 0, encontra-
mos o constante r0 = b. Além disso, ∇× A ⃗ = B,
⃗ que anteriormente foi encon-
trado, Bφ = 2kI/r. Logo, pela equação (A.8), −∂Az /∂r = −C/r = 2kI/r,
ou seja, C = −2kI.

A⃗ = −2kI ln r ẑ se a < r < b.


b
No interior do núcleo, começamos com a equação diferencial Poisson, de-
vido a passagem da corrente nesta região dada pela J⃗ = I/(πa2 )ẑ:
1 ∂ r∂Az −4kI
∇2 Az = =
r ∂r ∂r a2
Logo:
∂ r∂Az −4kI
= r
∂r ∂r a2
r∂Az −2kI 2
= r + C1
∂r a2
∂Az −2kI C1
= 2
r+
∂r a r
−kI 2
Az = 2 r + C1 ln r + C2 ,
a
Pela equação ∇ × A⃗ = B,⃗ sabendo que o campo magnético no interior do
núcleo é −∂Az /∂r = 2kIr/a2 − C1 /r = 2kIr/a2 , ou seja C1 = 0a . Pela
continuidade do potencial em r = a teremos
a
−2kI ln = −kI + C2
b
a
Também, podemos justificar C1 = 0, porque a função ln r tem singularidade na região
0 ≤ r < a.
202 4.4. LAPLACIANO

Logo, C2 = kI(1 − 2 ln a/b). e:


h 2 i
⃗ = kI − r + (1 − 2 ln a ) ẑ se r < a.
A
a2 b
Juntando as equações do potencial, teremos:
 h i
kI − r2 + (1 − 2 ln ab ) ẑ, se r < a
⃗=
A a2
−2kI ln r ẑ, se a ≤ r ≤ b
b

4.4.3 Potencial Escalar Magnético


Suponha a análise do campo magnético, onde não existe a passagem de
corrente elétrica, i.e. J = 0. Assim, a equação (4.14) da lei de Ampère será
∇×B ⃗ = ⃗0, que representa um campo vetorial conservativo. Pelo teorema de
Stokes, a circulação deste campo ao longo de um caminho fechado será nula
e não depende do caminho escolhido, ou seja:
I
⃗ · d⃗l = 0.
B
C

O mesmo resultado pode ser obtido, substituindo a corrente nula na equação


(4.15), ou seja, a integral de linha do campo magnético é nula se tiver o mesmo
ponto final que o ponto da partida da integral. Assim, podemos considerar o
campo vetorial como gradiente de uma função, chamado de potencial escalar
magnético com a unidade m Tesla no sistema SI:
⃗ = −∇ϕ se ∇ × B
B ⃗ = ⃗0 (4.27)
Também, a divergência do campo magnético será nula, lembrando que
⃗ e a
o campo magnético é resultado do rotacional do potencial vetorial A
equação (B.7) do apêndice, ou seja:
∇·B
⃗ = 0. (4.28)
Vale ressaltar que o campo vetorial com sua divergência nula é chamado de
campo solenoidal. Sabendo que o campo magnético é solenoidal e que ele é
gradiente de uma função escalar, leva a equação diferencial de Laplace em
função do potencial escalar magnético da seguinte forma:
∇2 ϕ = 0 se ∇ × B⃗ = ⃗0. (4.29)
O Laplaciano na equação (4.29) é parecido com a equação diferencial de 2a
ordem do potencial elétrico, discutida no capítulo 2. Logo, as técnicas apre-
sentadas anteriormente pode ser útil para resolver o Laplaciano de potencial
escalar magnético junto com as condições de contorno.
CAPÍTULO 4. TÉCNICAS DE ANÁLISE 203

Exemplo 4.10. Encontre o potencial escalar magnético ϕ gerado pela cor-


rente I que percorre o núcleo de um cabo coaxial e retorna pela casca, ilus-
trada na figura 4.18.
Resposta:
Inicialmente, vamos encontrar o potencial escalar ϕ entre dois condutores, ou
seja, na região a < r < b, onde a corrente é nula. Logo, O campo magnético
B⃗ será conservativo pela lei de Ampére, i.e. B⃗ = ∇ϕ e a equação (4.29) é
valida.
A relação do campo magnético e a corrente percorrida no núcleo obedece
a regra da mão direita ilustrada na figura 4.7. Logo, a direção e sentido
do campo magnético é φ̂ nas coordenadas cilíndricas, onde o eixo principal
do cabo coaxial é considerado como eixo z. Consequentemente, para ter o
campo magnético nesta direção, o gradiente do potencial escalar deve ser
feito em função de φ, ou seja:
∂ϕ
Bφ = − ,
r∂φ
Considerando o gradiente em coordenadas cilíndricas dado pela equação
(A.6). Logo, o potencial escalar somente é variável em função de φ, i.e.
ϕ(φ) e o seu Laplaciano em coordenadas cilíndricas será:
1 ∂ 2ϕ
= 0,
r2 ∂φ2
Utilizando a definição de Laplaciano em coordenadas cilíndricas dada pela
equação (A.9).
Com pouco esforço, acharemos a resposta por ϕ = C1 φ+C2 . Os constantes
C1 e C2 podem ser encontrados a partir das condições de contorno. Por
exemplo, pela lei de Ampère, encontramos o campo magnético dado por
2kI/r, que deve ser igual ao gradiente do potencial escalar, ou seja C1 /r,
Logo, C1 = −2kI. Podemos considerar C2 = 0, enquanto não for apresentada
outra condição de contorno. Sendo assim, o potencial escalar será:
ϕ = −2kIφ para 0 < φ < 2π.

Vale relembrar que o potencial escalar magnético ϕ será útil para análise de
campo magnético nas regiões sem presença da corrente elétrica, ou seja, fora
da região de fonte. Se tiver interesse de análise de campo magnético dentro
da região de fonte, o rotacional de campo magnético não é mais nulo ou seja
o campo não é mais conservativo, i.e. ∇ × B ⃗ ̸= 0. Neste caso, a definição do
potencial escalar magnético como integral de linha do campo magnético não
terá mais a resposta única. Assim, é mais conveniente a análise de campo
magnético pelos outros métodos apresentados.
204 4.4. LAPLACIANO

E.A.

I r
𝐵
b z
a
I

Fig. 4.18. Potencial escalar magnético ϕ gerado por uma corrente que percorre no
núcleo de um cabo coaxial.
Capítulo
5
Materiais Magnéticos/ Energia/ Força/
Indutância

A magnetização dos materiais é decorrente da interação do campo magnético com as cargas elétricas em movimento do material, tais como, a
rotação dos elétrons ao redor do próprio eixo e a sua orbita em volta dos núcleos.

5.1 Efeito Microscópico... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206


5.1.1 Dipolo Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
5.2 Campo Magnético... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
5.2.1 Lei de Ampère Modificada . . . . . . . . . . . . . 223
5.2.2 Potencial Escalar Magnético . . . . . . . . . . . . 229
5.2.3 Materiais Magnéticos Lineares . . . . . . . . . . 232
5.2.4 Método de Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
5.3 Circuitos Magnéticos Lineares . . . . . . . . . . . . . . . 241
5.4 Cir. Mag. Não-Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
5.5 Condições Contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
5.6 Autoindutância ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
5.7 Energia Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
5.8 Projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260

205
206 5.1. EFEITO MICROSCÓPICO...

N este Capítulo inicialmente, estudaremos o efeito de campo magnético


sobre materiais, e classificamos materiais com base em seu comportamento.
Para tal objetivo começaremos um estudo clássico de efeitos magnéticos da
estrutura atômica dos materiais. A modelagem e formulações encontradas
ajudarão a desenvolver técnicas para análise de campo magnético onde ti-
verem materiais magnéticos. Com à base da lei de Ampère, apresentamos
uma maneira de caracterizar comportamento de dispositivos magnéticos. A
metodologia é dual da técnica utilizada para análise de circuitos elétricos
resistivos. Por essa razão, é chamada de análise de circuitos magnéticos.
Afinal, falaremos de energia magnética armazenada e assuntos relacionados
como a força magnética e a indutância.

5.1 Efeito Microscópico do Campo Magnético


Um modelo semi clássico que serve para estudar os efeitos de campo
magnético é o modelo atômico de Bohr. O modelo descreve o átomo como
um núcleo de cargas positivas junto com partículas neutras cercado por elé-
trons em órbita circular, conforme a figura 5.1a. Classicamente, o estado
dos elétrons é estável devido à equilíbrio entre as forças centrífuga mv 2 /a e
eletrostática ke2 /a2 , onde m, v, a, e, representam massa do elétron, veloci-
dade linear de rotação do elétron, raio do órbita do elétron e a sua carga,
respectivamente. Ou seja:

𝐵 𝐵

a 𝑚 𝑚
𝑣
e

(a) (b) (c)


Fig. 5.1. a) O estado estável dos elétrons no átomo. b) Caso extremo, onde B ⃗
é perpendicular ao plano do orbital do elétron no sentido oposto de m.
⃗ c) Caso

extremo onde B é perpendicular ao plano do orbital do elétron no mesmo sentido
de m.

CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 207

ke2 mv 2
= (5.1)
a2 a
Entretanto, o campo magnético aplicado pode acabar com o equilíbrio entre
as forças centrífuga e eletrostática devido à atuação da força Lorentz sobre
o elétron dada pela equação (5.2).
F⃗ = e⃗v × B
⃗ (5.2)

A perturbação aplicada pode mudar o estado do elétron. Por exemplo, a


força perturbadora pode ser forte o bastante para ionizar o átomo ou mudar
o estado do elétron conhecida como excitação. Assim, o elétron entra em novo
estado de equilíbrio pela alteração do raio do orbital. A outra possibilidade
é o equilíbrio entre forças para manter o estado do elétron. Neste caso, um
parâmetro físico da partícula será alterado para manter o equilíbrio. Este
parâmetro é a velocidade do elétron.
A máxima força Lorentz ocorre quando o campo magnético seja perpen-
dicular ao plano do orbital do elétron, i.e., F = evB. A direção da força
será radial, enquanto o seu sentido é apontando para fora ou para dentro
do átomo, dependendo da direção do campo magnético. Por exemplo, para
configuração dada na figura 5.1b a força Lorentz será apontada para dentro.
Se levar em consideração a força adicional como uma perturbação no equilí-
brio entre forças centrífuga e eletrostática, somente o elétron vai girar com
a velocidade maior. Assim, o equilíbrio será mantido com aumento da força
centrífuga.
Para calcular a nova velocidade de rotação do elétron v ′ , basta consi-
derar o equilíbrio entre as forças para manter o elétron no mesmo orbi-
tal:
ke2 ′ mv ′2
+ ev B = (5.3)
a2 a
Trocando a força eletrostática pela equação (5.1) teremos mv 2 /a + ev ′ B =
mv ′2 /a ou m/a(∆v)2v ′ = ev ′ B. Portanto, o aumento da velocidade será de
aeB/2m e a velocidade nova será:
aeB
v′ = v + . (5.4)
2m
O segundo caso extremo é mostrado na figura 5.1c, onde as forças Lorentz
e centrífuga são somadas. Assim, a força centrífuga diminui para manter o
equilíbrio. Então, o elétron gira com a velocidade menor.
ke2 ′′ mv ′′2
= ev B + (5.5)
a2 a
208 5.1. EFEITO MICROSCÓPICO...

Repetindo o procedimento anterior teremos mv 2 /a = ev ′′ B + mv ′′2 /a ou:


m
− (∆v)2v ′′ = ev ′′ B
a
Isto significa a redução de velocidade por aeB/2m e nova velocidade de
rotação:
aeB
v ′′ = v − . (5.6)
2m
A alteração da velocidade de rotação do elétron leva à mudança da corrente
elétrica correspondente porque a corrente é definida por I = e/T , em que T
é o período de rotação, dado por 2πa/v. Logo, a corrente equivalente será
ev/2πa. Portanto, no primeiro caso da figura 5.1b teremos um aumento da
corrente, ao contrário do segundo caso da figura 5.1c. Podemos representar
aumento ou redução da corrente por:
e2 B
∆I = ± . (5.7)
4πm

5.1.1 Dipolo Magnético


O efeito magnético na escala atômica tem origem na rotação do elétron
ao redor do núcleo. Podemos modelar a órbita do elétron como um anel de
corrente e encontrar o campo magnético gerado. A técnica mais conveniente
para achar o campo magnético é o potencial vetorial A⃗ dado pela equação
(4.19). As coordenadas e a origem são escolhidas como na figura 5.2. O
elemento diferencial d⃗l é dado por d⃗l = adφ′ φ̂ e
q
r= (x − x′ )2 + (y − y ′ )2 + z 2
que pode ser simplificado por:
q
r= a2 + r2 − 2xx′ − 2yy ′
Assim, com a troca variáveis x = r senθ cos φ, y = r senθ senφ, x′ = a cos φ′
e y ′ = a senφ′ podemos representar r−1 por:
1
1 1 a2 a ′

= [ + 1 − 2 senθ cos(φ − φ )] 2
r r r2 r
É possível fazer a seguinte aproximação, lembrando que o anel de corrente
representa a modelagem da órbita do elétron, onde o raio atômico está em
ordem de Å. Então, r >> a ∼ 10−10 m:
1 1
= (1 − α)− 2 ,
1

r r
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 209

d𝐴 P(x,y,z)

z
𝑟
 r

O
a y
I '
d𝑙 ′
x
Fig. 5.2. Um anel de corrente.

Onde α = 2a/r senθ cos(φ − φ′ ). A partir do método de expansão binomial


(equação (C.4)), para α << 1:
1 1 α
≈ (1 + )
r r 2
1 a
≈ + 2 senθ cos(φ − φ′ )).
r r
Substituindo na equação (4.19):

kIa Z a

A= (1 + senθ cos(φ − φ′ ))dφ′ φ̂
r r
Como o sentido e direção do versor φ̂ altera com a variável da integral,
temos que representar o versor φ̂ em coordenadas cartesianas como:

φ̂ = (− senφ′ x̂ + cos φ′ ŷ) (5.8)

Então, a componente Ax é dada por:

kIa Z a
Ax = − [ senφ′ + senθ cos(φ − φ′ ) senφ′ dφ′ ],
r r
A variável da integral varia entre 0 e 2π, logo:

kIπa2
Ax = − senθ senφ.
r2
e seguindo o mesmo procedimento, a componente em Ay é dada por:

kIπa2
Ay = senθ cos φ.
r2
210 5.1. EFEITO MICROSCÓPICO...

⃗ será:
Portanto, A
2
⃗ = kIπa senθ(− senφx̂ + cos φŷ).
A
r2
Utilizando mais uma vez a equação (5.8) para retornar nas coordenadas es-
féricas:
2
A⃗ = kIπa senθφ̂. (5.9)
r2
em que πa2 ẑ representa a área vetorial do anel e senθφ̂ = ẑ × r̂ . Logo,

⃗ = k I⃗s × r̂
A
r2
Representamos o termo I⃗s como o momento dipolo magnético m.
⃗ Assim,
o potencial vetorial é calculado por:
⃗ × r̂
⃗ = km
A (5.10)
r2

A fórmula do campo magnético B ⃗ é encontrada pela aplicação do rotacional


nas coordenadas esféricas, ou seja, a equação (A.13) sobre potencial vetorial,
dado na equação (5.9):

⃗ =∇×A
B ⃗
!
1 ∂(Aφ senθ) 1 ∂(rAφ )
= r̂ + − θ̂
r senθ ∂θ r ∂r

A resposta final do rotacional do potencial vetorial será da seguinte forma:

⃗ = k|m|
B

(2 cos θr̂ + senθθ̂) (5.11)
r3
A equação obtida representa o campo magnético produzido por um anel de
corrente como a modelagem da rotação do elétron ao redor do núcleo. Tam-
bém, encontramos o elemento básico de magnetização chamado de momento
dipolo magnético.
Voltamos para nossa análise de comportamento de um átomo sob efeito de
campo magnético. Lembre que a máxima variação de velocidade do elétron
é dada por aeB/2m quando o campo magnético é perpendicular a superfície
da órbita. Sendo assim, a velocidade varia entre os seguintes limites:
aeB aeB
v0 − < v < v0 +
2m 2m
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 211

onde v = v0 é velocidade antes de aplicar o campo magnético. Correspon-


dente com a velocidade teremos a corrente que varia em:

ev0 e2 B ev0 e2 B
− <I< +
2πa 4πm 2πa 4πm
Em seguida, o tamanho do dipolo magnético correspondente com a corrente
varia da seguinte forma:a :

ev0 a e2 Ba2 ev0 a e2 Ba2


− < |m|
⃗ < +
2 4m 2 4m
Para caso extremo de campo magnético aplicado perpendicular a superfí-
cie do orbital conforme a figura 5.1b, o aumento máximo da velocidade do
elétron é dado pela equação (5.4). O aumento da corrente elétrica é corres-
pondente com aumento do momento dipolo magnético com o seu limite dado
na equação de cima. Então, quando o campo magnético é aplicado no sen-
tido oposto do momento de dipolo, a velocidade do elétron aumenta e com
ela também aumentam a corrente e o momento de dipolo.
No outro extremo, o campo aplicado é no mesmo sentido do dipolo mag-
⃗ como está ilustrado na figura 5.1c. Neste caso, a redução máxima
nético m,
da velocidade do elétron é dado pela equação (5.6)). A redução da veloci-
dade ou corrente significa a redução do momento de dipolo magnético, que
o seu limite é dado na equação de cima. Então, quando o campo magnético
é aplicado no mesmo sentido do momento de dipolo, a velocidade do elétron
diminui e com ela também diminuem a corrente e o momento de dipolo.
Em escala macroscópica, sem campo magnético aplicado, a soma vetorial
de todos os momentos de dipolo é zero, uma vez que a direção de dipolos
é aleatória. Com a presença de um campo magnético, há um aumento dos
momentos que estão no sentido oposto do campo aplicado e uma redução
dos que estão no mesmo sentido, o que leva a um momento magnético resul-
tante diferente de zero na direção oposta ao do campo aplicado. Esse efeito
é chamado diamagnético e é insignificante considerando que a variação de
tamanho do momento de dipolo magnético é na ordem de 10−28 , calculada
pela:
(ae)2 B
|∆m| =
4m
As formulações obtidas pela mecânica semi-clássica até este momento, so-
mente justifica o efeito diamagnetismo onde o momento dipolo total alinha
a
Apesar de nossa simbologia adotada para representar o módulo de um vetor, excepci-
onalmente, representamos o módulo de dipolo magnético por |m|
⃗ para distinguir da massa
do elétron.
212 5.1. EFEITO MICROSCÓPICO...

z
𝑚
ሬሬԦ Am2
𝜔
ሬԦ rad/s

ሬԦ A/m
𝐾 l I=s b2 sen  bsen
w

s C/m2 b
 b

(a) (b)

Fig. 5.3. a) Esfera rolante com a velocidade ω rad/s com a densidade de carga
superficial ρs C/m2 como a modelagem do spin do elétron. b) Dipolo magnético
parcial resultado da passagem de corrente ∆I.

no sentido oposto do campo magnético aplicado. Logo, precisamos de uma


nova modelagem para justificar o alinhamento de dipolos magnéticos com a
direção e sentido do campo aplicado que ocorre nos materiais. Enquanto me-
cânica clássica está ao limite para modelar os efeitos magnéticos, a mecânica
quântica consegue representar um modelo satisfatório explicando os efeitos
magnéticos através de um parâmetro conhecida como spin do elétron.

Apesar que considera-se o spin como a origem de magnetização obtida


quanticamente, podemos modelá-lo na mecânica clássica por uma esfera ro-
lante ao redor do seu eixo. Como o elétron é carregado, este movimento é
correspondente a uma corrente elétrica responsável pelos efeitos magnéticos.

Neste modelo, a velocidade de rotação do elétron é ω rad/s, raio do elétron


b em ordem de b ∼ 10−15 m, a sua carga elétrica é e C. Para uma distribui-
ção superficial da carga, a densidade de carga superficial será e/4πb2 C/m2 .
Assim, a rotação de carga superficial gera uma corrente. Para uma cinturão
da figura 5.3 de largura ∆w = b senθ∆θ e a velocidade linear de rotação
⃗v = b senθω φ̂, a corrente será:
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 213

(a) (b)

Fig. 5.4. a) Situação de distribuição de domínios de spin em um material ferro-


magnético não magnetizado. b) Situação de distribuição de domínios a partir da
aplicação de um campo magnético.

ρs ∆s
∆I =
∆t
ρs ∆l∆w
= (5.12)
∆t
= ρs v∆w
= ρs ωb2 senθ∆θ.

Assim, o seu momento dipolo é dado por:

∆m
⃗ = ∆Isẑ
= ρs ωb2 senθ∆θπ(b senθ)2 ẑ
= πρs ωb4 sen3 θ∆θẑ.

Logo, o momento total é obtido somando a superfície completa da esfera


(0 < θ < π):
Z π
4
m
⃗ = πωρs b sen3 θdθẑ
0
4
= πρs ωb4 ẑ (5.13)
3
eb2 ω
= ẑ.
3

Também, podemos encontrar a densidade superficial da corrente, a partir da


equação (5.12), lembrando que a corrente é definida como K∆w (A), então a
densidade de corrente superficial K⃗ da esfera é ρs⃗v ou K
⃗ = ρs ωb senθφ̂ A/m.
Agora que temos o momento dipolo correspondente com spin do elétron,
basta utilizar a equação (5.10) para encontrar o potencial vetorial magnético:
214 5.1. EFEITO MICROSCÓPICO...

⃗ = keb2 ω ẑ × r̂
A
3r2 (5.14)
2
keb ω senθ
= φ̂
3r2
Ou podemos achar o campo magnético correspondente com o spin do elétron
a partir da equação (5.11):
2
⃗ = keb ω (2 cos θr̂ + senθθ̂)
B (5.15)
3r3
Até este momento, relacionamos o efeito de rotação do elétron na órbita
com o efeito diamagnético. Também, descobrimos a relação de rotação do
elétron ao redor de si mesmo, com o efeito spin, a base de um modelo semi
clássico. Neste momento podemos levantar a questão, porque todos materiais
não apresentam magnetização à base de spin?
A justificativa vem do preenchimento quântico de lugares em cada orbital
por pares de elétron e, quanticamente, par de elétrons são com spin em dois
sentidos opostos. Ou seja, a expectativa é que um átomo com número par de
elétrons não apresente os efeitos magnéticos do spin. Logo, somente os efei-
tos diamagnéticos serão apresentados. Enquanto, para átomos com orbitais
incompletos, a expectativa é que será observado efeitos magnéticos devido ao
spin. Entretanto, como o efeito magnético é um fenômeno quântico, a jus-
tificativa semi-clássica e as conclusões não são regras gerais, especificamente
nos átomos mais complexos.
Existem materiais, nos quais, os spins se alinham paralelamente com um
campo magnético externo, sendo denominados paramagnéticos. Apesar do
alinhamento dos spins com o campo magnético, o efeito magnético ainda é
desprezível (veja a tabela dos materiais magnéticos no apêndice do livro na
tabela D.5).
Por outro lado, existem materiais chamados ferromagnéticos, nos quais são
formados domínios, onde os spins estão alinhados. A figura 5.4a mostra o es-
quemático de domínios antes da magnetização do material, onde os domínios
são orientados aleatoriamente. A figura 5.4b mostra o estado de domínios
após magnetização do material por um campo externo. Como percebe-se,
os domínios se fundem e criam dominós maiores dando origem a um campo
magnético forte em escala macroscópica. Existem materiais ferromagnéticos
que os domínios voltam ao estado anterior logo após ser retirado do campo
magnético externo, ou seja, o material não vai continuar magnetizado. Este
tipo de material é nomeado como ferromagnético doce.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 215

Por outro lado, existem também materiais ferromagnéticos que vão manter
a magnetização apesar de retirado do campo externo. Ou seja, ainda há uma
magnetização persistente ou residual (seus domínios continuam alinhados).
Este tipo de material é nomeado como ferromagnético duro.
Apesar do estado estável dos materiais ferromagnéticos duros, vibração
mecânica da estrutura cristalina do material pode reduzir ou anular a mag-
netização. Isto ocorre devido ao aumento da liberdade dos domínios que
pretendem mudar o estado, resultando em seus orientações aleatórios. Este
efeito é conhecido como ato de desmagnetização.
A vibração mecânica significante da estrutura cristalina pode ser resultante
da temperatura elevada, dando a desmagnetização do material ferromagné-
tico. A temperatura miníma que cessa a magnetização é conhecida como
temperatura Curie. Também, a vibração significante da estrutura cristalina
pode ser resultado de um choque mecânico. Além das técnicas menciona-
das para desmagnetização do material existe a passagem de uma corrente
alternada com período de milissegundos. Uma curiosidade sobre isso é que
em grandes navios há problemas de magnetização por campo magnético da
terra. A magnetização do navio pode interferir no funcionamento de equi-
pamentos eletrônicos de alta sensibilidade ou até aumentar risco de acionar
minas submarina na sua proximidade. Logo, desmagnetização periódica dos
navios por passagem de corrente alternada é crucial.
Exercício 5.1.
Um cilindro sólido de raio a, contém uma densidade uniforme de carga vo-
lumétrica ρ C/m3 . O cilindro gira ao redor do seu eixo com a velocidade ω
rad/s. Encontre: a) A densidade de corrente volumétrica. b) O momento
dipolo magnético. c) O potencial vetorial magnético. d) O campo magnético.

5.2 Campo Magnético na Matéria


Até então foi estudado a origem de magnetização na escala atômica.
Entendemos que a rotação do elétron ao redor do núcleo no modelo atômico
de Bohr pode ser modelado por um anel de corrente. Assim, justificou-se a
presença do fenômeno diamagnético. Desenvolvemos a fórmula de potencial
vetorial gerado pelo um dipolo magnético na equação (5.10). Também, en-
contramos o seu campo magnético correspondente dado pela equação (5.11).
Também, consideramos a rotação do elétron como uma esfera carregada e
rolante para justificar o spin. Em seguida, achamos a formulação do mo-
mento dipolo magnético dada pela equação (5.13)e e o potencial vetorial na
216 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

r (x,y,z)

d'
r
r'

Fig. 5.5. Potencial vetorial magnético de um material com densidade de momento


dipolo magnético M ⃗ A/m.

equação (5.14) e o campo magnético na equação (5.15).


Estamos prontos para análise de campo quando os materiais magnéticos
estejam na proximidade. Percebe-se a validade da equação (5.10) quando
considera-se um segmento infinitesimal do material magnético, conforme a
figura 5.5). Nesta equação, somente é necessário achar o momento dipolo
⃗ para este segmento. Se considerar que o volume do segmento seja ∆τ ′ e
m
a densidade vetorial de dipolos magnéticos seja M ⃗ A/m, o momento dipolo
magnético será ∆m⃗ =M ⃗ ∆τ ′ . A partir da equação (5.10), o potencial vetorial
parcial será:
⃗ = k M × r̂ ∆τ ′

∆A
r2
Como o dipolo magnético não é necessariamente posicionado mais na origem
das coordenadas, usamos r em vez de r. O potencial vetorial resultante é
obtido a partir da soma vetorial de campos de todos segmentos do mate-
rial:
Z ⃗
A⃗ = k M × r̂ dτ ′ (5.16)
r2
Com uma simples comparação da equação (5.16) com a equação (4.3) do
campo magnético, percebe-se que podemos reformular a questão e encontrar
a integral por uma densidade de corrente J⃗ = M ⃗ . Sendo assim, estamos livres
a escolher qualquer método de análise de campo magnético apresentado no
capítulo passado. No próximo exemplo apresentamos um análise de campo
magnético a partir da equação (5.16).
Exemplo 5.1. Encontre o potencial vetorial magnético fora de uma esfera
⃗ A/m em uma direção.
magnetizada de densidade vetorial de magnetização M
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 217

z
 r
𝐴
r' r

𝑀
a

⃗ A/m
Fig. 5.6. Um ímã esférico de densidade vetorial de dipolo magnéticos M
constante.

A figura 5.6 mostra os detalhes.


Resposta:
Adotamos a direção da magnetização como eixo z e a origem da esfera como
origem das coordenadas. Assim, a densidade vetorial de momento dipolo
representada por M ẑ e o vetor da distância por ⃗r = (x − x′ )x̂ + (y − y ′ )ŷ +
⃗ × r̂ = M/ r[(x − x′ )ŷ − (y − y ′ )x̂]. Sendo assim, o produto
(z − z ′ )ẑ. Então, M
vetorial na equação (5.16) gera as seguintes componentes:
Z
y − y′ ′
Ax = −kM dτ ,
r3
e Z
x − x′ ′
Ay = kM dτ .
r3
Se o ponto do campo for escolhido ao longo do eixo z i.e. (0, 0, z), a
resposta das integrais dessas funções serão nulas, devido as suas imparidades.
Contudo, deixaremos resolver as integrais e em breve tentaremos encontrar
a resposta completa seguindo outras técnicas. ■

Exercício 5.2.
Um ímã cilíndrico com raio a é magnetizado ao longo do seu eixo principal,
conforme a figura 5.7a. Encontre o potencial vetorial pela equação (5.16).
Dicas: Tente encontrar o campo B ⃗ para uma corrente J⃗ = M ⃗ , percorrendo
um cilindro comprido. Em segundo caso, considere raio do cilindro muito
maior que seu comprimento, conforme a figura 5.7c. ■
218 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

z
𝐴
r 𝐴 𝐴
r r

𝑚 𝐾
𝑀
𝐾
(a) (b) (c)
Fig. 5.7. a) Um ímã cilíndrico de comprimento b e de raio a, com densidade
⃗ A/m ao longo do eixo principal. b)
vetorial de dipolo magnéticos constante M
Cálculo de campo distante do ímã r ≫ ab. c) Quando o raio é muito maior que
2

o comprimento do cilindro, i.e. a ≫ b.

Ainda podemos reformular o potencial vetorial da equação (5.16) utili-


zando a equação (2.19) e também, a equação (B.5) do apêndice do livro, ou
seja:

⃗ × r̂
M
=M⃗ × ∇′ 1
r2 r

∇ ×M ⃗ ⃗
M
= − ∇′ × .
r r
Assim, a fórmula do potencial vetorial da equação (5.16) é dividida por dois
termos:
Z Z
∇′ × M ⃗ M⃗

A=k dτ − k ∇′ × dτ ′

(5.17)
r r
Podemos ainda trocar o segundo termo do potencial vetorial, utilizando a
equação (4.11):
Z Z ⃗
′ M⃗
′ M × n̂ ′
−k ∇ × dτ = k ds
r r
onde n̂ é o versor perpendicular à superfície do material magnetizado.
⃗ será reformulado pela soma dos seguintes
Afinal, o potencial vetorial A
termos:
Z ⃗ Z ′
⃗ = k M × n̂ ds′ + k ∇ × M dτ ′

A (5.18)
r r
Anteriormente, falamos do potencial vetorial devido a um distribuição super-
ficial de corrente através da equação (4.20). A comparação entre o primeiro
termo obtido da equação (5.18) e (4.20) sugere que deveria ter uma corrente
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 219

superficial na superfície do material magnetizado produzida pela densidade


de dipolos magnéticos:
K⃗M = M ⃗ × n̂ (5.19)
Também, a comparação de potencial vetorial gerado por uma corrente volu-
métrica dada pela equação (4.18) com o segundo termo obtido da equação
(5.18) esclarece a presença de uma corrente volumétrica no corpo de material
magnetizado dada pora :
J⃗M = ∇ × M⃗ (5.20)
Mais uma vez achamos uma técnica para analisar o campo magnético na
presença de materiais. Para começar, encontraremos as correntes superficiais
e volumétrica, utilizando as equações (5.20) e (5.19). Em seguida, basta
utilizar as técnicas de análise do campo magnético do capítulo passado, tais
como, lei de Biot-Savart, ou lei de Ampère, ou potencial vetorial, tratando as
correntes obtidas como verdadeiras. No próximo exemplo, voltaremos para
a esfera magnetizada e desta vez queremos encontrar o campo magnético da
uma maneira mais confortável.

Exemplo 5.2. a) Encontre a densidade de corrente de magnetização, para


uma esfera magnetizada homogênea em uma direção, conforme a figura 5.8.
b) A partir das correntes de magnetização, encontre o campo magnético.

r 𝐴
ds'
r
a

𝐾𝑀
𝑀

Fig. 5.8. Uma esfera magnetizada com a densidade de dipolos magnéticos M ẑ,
correspondente com uma corrente superficial M senθ′ φ̂.

a
A confirmação da presença das correntes na superfície e no corpo do material magne-
tizado somente foi aprovada teoricamente.
220 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Resposta:
a) A corrente volumétrica J⃗M é encontrada pela equação (5.20), ou seja,
J⃗M = ∇ × M ⃗ = 0, para uma densidade de dipolos magnéticos constante.
⃗ M da
Aplicando a equação (5.19), podemos encontrar a corrente superficial K
seguinte forma:

⃗ × r̂
⃗M = M
K
= M ẑ × r̂
= M senθ′ φ̂

b ) Como percebemos, queremos encontrar a resposta final do exemplo ante-


rior pela nova técnica apresentada. Neste caso, a pergunta pode ser reformu-
lada da seguinte forma: Encontre o campo magnético gerado pela corrente
superficial M senθ′ φ̂ A/m, percorrendo a superfície de uma esfera com raio
a.
Sendo assim, o campo magnético pode ser encontrado pela qualquer técnica
apresentada no capítulo passado. Por exemplo, pela lei de Biot-Savart na
equação (4.2) teremos a seguinte integral:
Z
M senθ′ φ̂ × ⃗r 2 ′
⃗ =k
B a dθ senθ′ dφ′
r3
Onde ds = a2 dθ′ senθ′ dφ′ . Para simplificar a integral, consideramos o ponto
do campo ao longo do eixo z, i.e. ⃗r = z ẑ, logo, ⃗r = z ẑ − ar̂. Então:

φ̂ × ⃗r = φ̂ × (z ẑ − ar̂)
= z(− senφ′ x̂ + cos φ′ ŷ) × ẑ − aθ̂
= z( senφ′ ŷ + cos φ′ x̂) − a(cos θ′ cos φ′ x̂ + cos θ′ senφ′ ŷ − senθ′ ẑ)
= cos φ′ (z − a cos θ′ )x̂ + senφ′ (z − a cos θ′ )ŷ + a senθ′ ẑ

As integrais do senφ′ ou do cos φ′ no intervalo 0 a 2π serão nulas, logo, os


componentes Bx e By não existem. Assim, o único componente do campo
magnético é:
Z π
sen3 θ′ ′
Bz = 2πkM a3 dθ
0 r3

Onde, r = z 2 + a2 − 2za cos θ. A resposta da integral é dada no apêndice,
pela equação (E.5). Logo, teremos:

 1
⃗ = 2kmẑ |z|3 , Fora da esfera
B (5.21)
1, Dentro da esfera
a3
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 221

Onde, m = (4πa3 /3)M . Lembrando que 4πa3 /3 é volume da esfera de raio


a.
Vale ressaltar que também, o campo magnético pode ser encontrado pela
outras técnicas do capítulo passado, tais como o potencial vetorial. Neste
caso, utilizamos a equação (4.20) que se trata do potencial vetorial devido à
⃗ A/m:
corrente superficial K
Z
M senθ′ 2 ′
⃗=k
A a dθ senθ′ dφ′ φ̂
r
Para o ponto do campo ao longo do eixo z, teremos:
Z
senθ′ (− senφ′ x̂ + cos φ′ ŷ) ′
⃗ = kM a2
A √ dθ senθ′ dφ′
z + a − 2za cos θ
2 2

Onde convertemos o versor φ̂ em coordenadas cartesianas, pela equação (5.8).


Observamos que resultado da integral para dois componentes Ax e Ay será
nulo, ou seja, o potencial magnético é nulo ao longo do eixo z.
Mais uma técnica alternativa para encontrar o campo magnético será pelo
momento dipolos magnéticos, dado na equação (5.10). Basta encontrar o
momento dipolo magnético m ⃗ da esfera devido à corrente superficial K ⃗ =

M senθ φ̂, correspondente com a análise do campo magnético do spin na
equação (5.14). Conforme a figura 5.3b, a corrente de um cinturão com
largura a∆θ′ será aM senθ′ ∆θ′ então, o dipolo magnético correspondente
será aM senθ′ ∆θ′ π(a senθ′ )2 ẑ, ou seja, πa3 M sen3 θ′ ∆θ′ ẑ. Assim, o momento
dipolo magnético total localizado no centro da esfera será:
4π 3
m
⃗ = a M ẑ
3
Afinal, basta inserir o momento dipolo magnético total na equação (5.10):

⃗ = k 4π a3 M ẑ × r̂
A
3 r2
senθ
= km 2 φ̂
r
Lembrando que neste procedimento, encontramos o momento dipolo mag-
⃗ = M
nético total a partir de corrente de magnetização, i.e. K ⃗ × n̂. Vale
ressaltar que podemos obter-lo a partir de dm ⃗ ⃗ 2
⃗ = M dτ = M r dr senθdθdφ
nas coordenadas esféricas. Sendo assim, para uma magnetização uniforme,
homogênea e alinhada na direção z, basta multiplicar o volume da esfera
pela densidade de magnetização para encontrar-lo. Assim, teremos a mesma
resposta para o potencial vetorial.
222 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Podemos utilizar a mesma técnica de momento dipolos e encontrar o po-


tencial vetorial dentro da esfera magnetizada. Para os pontos dentro da
esfera, o momento dipolo parcial será:
4π 3
m
⃗ =M r ẑ, para r<a
3
Então, o potencial vetorial dentro da esfera será:
3
⃗ = kM 4πr φ̂ = km r senθ φ̂,
A para r<a
3r2 a3
Onde m = (4πa3 /3)M . Sendo assim, teremos o potencial vetorial em tudo
espaço da seguinte forma:

 senθ φ̂, Fora da esfera
⃗ = km
A r2
 r senθ φ̂, Dentro da esfera
a3

⃗ pela
Ainda podemos continuar a análise e encontrar o campo magnético B,
equação (5.11):

1 , Fora da esfera
⃗ = km(2 cos θr̂ + senθθ̂)
B r3
(5.22)
1, Dentro da esfera
a3

Para pontos ao longo do eixo z, onde θ = 0 e r̂ = ẑ, a fórmula do campo


magnético é o mesmo obtido pela técnica anterior na equação (5.21). Verifi-
camos também que o campo magnético é contínuo em r = a, i.e. a superfície
da esfera. ■

Exercício 5.3.
Um cilindro sólido é magnetizado ao longo do seu eixo com a densidade ve-
⃗ A/m, conforme a figura 5.7a. O seu comprimento e raio é b e a,
torial M
respectivamente. Encontre o potencial vetorial A ⃗ e o campo magnético B. ⃗
Dicas: Compare-o com um solenoide comprido percorrido por uma densidade
de corrente M⃗ φ̂, onde B
⃗ = 4πkM ẑ no interior do cilindro. Fora do cilindro
pela semelhança com solenoide o campo magnético será nulo. Em uma se-
gunda aproximação, quando r ≫ a conforme a figura 5.7b, encontre o dipolo
magnético total começando de dm ⃗ = M ⃗ dτ ′ com a resposta m
⃗ = M πa2 bẑ.
Depois, utilizar as equações (5.16) e (5.11). Em uma terceira aproximação,
um ímã curto, i.e. a ≫ b conforme a figura 5.7c, considere-o equivalente a
um anel de corrente I = M b de raio a. Assim, a análise do campo magnético
de um anel no capítulo passado será útil. ■
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 223

5.2.1 Lei de Ampère Modificada


Até este momento foi apresentada a técnica para análise de campo mag-
nético na presença de um material, começando com potencial vetorial da
equação (5.16). Em seguida, pela modificação da equação de potencial veto-
rial encontramos as fórmulas de indução de correntes superficial e volumétrica
dadas pelas equações (5.20) e (5.19).
Lembramos da lei de Ampère apresentada pela equação (4.14), onde vin-
culamos o campo magnético gerado com a corrente elétrica. A presença de
material magnético induz corrente na superfície e também, no corpo do ma-
terial. Logo, a corrente elétrica é composta da corrente livre, i.e. J⃗l , e a
corrente de magnetização i.e. J⃗M . Então, a corrente total é soma das duas
correntes mencionadas i.e. J⃗ = J⃗l + J⃗M .
Lembrando da equação da corrente de magnetização dada pela equação
(5.20), a corrente total seré da seguinte forma:

J⃗ = J⃗l + ∇ × M

A substituição da fórmula da corrente na equação (4.14) da lei de Ampère:

∇×B
⃗ = 4πk(J⃗l + ∇ × M
⃗ ),

A fatoração do operador rotacional leva a equação da lei de Ampère para


seguinte forma:
!

B
∇× −M ⃗ = J⃗l (5.23)
4πk

Para simplificar a equação obtida, representamos o vetor B/(4πk) −M ⃗
⃗ Este campo vetorial é chamado intensidade de campo magnético
por H.
cuja unidade é A/m:

⃗ = B −M
H ⃗ (5.24)
4πk
logo, a equação diferencial (4.14) da lei de Ampère modifica-se para a seguinte
forma:
∇×H ⃗ = J⃗l . (5.25)
A corrente que atravessa uma superfície é dada por:
Z
Il = J⃗l · d⃗s,

Logo, com aplicação do operador integral superficial sobre equação (5.25),


em vez de densidade teremos a corrente que atravessa a superfície. Então, a
224 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

lei de Ampère transforma-se para:


Z
∇×H
⃗ · d⃗s = Il

Ainda, podemos trocar a integral de superfície do rotacional pela circulação


do campo magnético, pelo teorema de Stokesa . Sendo assim, a equação
anterior será modificada para seguinte forma:
I
H⃗ · d⃗l = Il . (5.26)
c

A equação (5.26) é conhecida como lei de Ampère na forma integral. Como


foi mencionado no capítulo passado, a lei de Ampère pode ser muito útil na
análise de campo magnético após confirmação da homogeneidade do campo
ao longo de um elo Amperiano. Primeiramente, observamos que para resolver
a equação (5.26) não importa o comportamento do material perante campo
magnético. Somente basta ter certeza que a intensidade do campo magnético
H⃗ seja invariável ao longo de um elo Amperiano (E.A.). Assim a circulação
do campo ao longo de um caminho fechado c de comprimento l é encontrada
por Hl.
Após determinar a intensidade do campo magnético H, ⃗ a densidade do
campo magnético é encontrada pela equação (5.24), sabendo da magnetização
do material.
Exemplo 5.3. Para a esfera magnetizada na figura 5.6, encontre a intensi-
dade do campo magnético H. ⃗
Resposta:
Sabemos que fora da esfera magnetizada a densidade de magnetização é nula.
Logo, a intensidade do campo magnético será H ⃗ = B/4πk
⃗ a partir da equa-

ção (5.24), onde anteriormente foi encontrado o campo B na equação (5.22).
Enquanto, dentro da esfera, o campo H ⃗ é encontrado pela equação (5.24),
considerando a magnetização do material e o campo B ⃗ obtida na equação
(5.22):

 M a3 (2 cos θr̂ + senθθ̂), Fora da esfera
⃗ =
H 3r3
(5.27)
 M (2 cos θr̂ + senθθ̂) − M ẑ, Dentro da esfera
3

Se considerar o ponto do campo ao longo do eixo z, i.e. θ = 0, teremos a


seguinte resposta:

 2M a3 ẑ, Fora da esfera
⃗ =
H 3z 3
(5.28)
− M ẑ, Dentro da esfera
3

a
Equação (4.10)
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 225

Importante anotar que pela lei de Ampère representada pela equação


(5.26), a corrente livre é a fonte da campo magnético H. ⃗ Neste exemplo,
observamos que apesar da ausência da corrente livre, a intensidade do campo
não é nula. Baseado no teorema Helmholtz, para cada campo vetorial existe
duas fontes, uma que está relacionada com a equação diferencial da diver-
gência do campo e a outra que é ligada ao rotacional do campo vetorial. Pela
lei de Ampère, a corrente livre é uma fonte de campo magnético H. ⃗ Como
a corrente livre é nula, por um elo Amperiano na fronteira do material com
ar, chegaremos a conclusão de continuidade do componente tangencial do
campo H,⃗ ou seja, Htar = Ht . Como Mar = 0, pela equação (5.24),
material
Htar = Btar /4πk.
Falamos que o campo magnético B ⃗ é solenoidal ou seja, ∇ · B ⃗ = 0. Assim,
esperamos pela aplicação da divergência sobre a equação (5.24), chegar ao re-
sultado ∇· H ⃗ = −∇· M ⃗ . Em seguida, com a aplicação da lei de Gauss sobre a
intensidade do campo na interface entre o material magnetizado e o ar, chega-
remos no resultado Hnar −Hnmaterial = Mnmaterial −Mnar , onde Mnar = 0. Para
a esfera magnetizada Mnmaterial = M ⃗ · r̂, ou seja, Hnar − Hn = M cos θ.
material

Isto significa a descontinuidade do campo magnético H na interface devido
ao valor M cos θ. Logo, a intensidade do campo magnético não é nula apesar
da corrente livre nula. Em conclusão, a falta de corrente livre, é necessário
mas não é suficiente para concluir que a intensidade do campo magnético é
nula. A análise que fizemos para um ímã esférica nesse exemplo, confirma
que apesar da corrente livre nula, a intensidade do campo magnético é dada
pela equação (5.28). Logo, em casos de presença de materiais magnéticos,
será necessária adotar técnicas de encontrar o campo magnético B ⃗ no espaço,

utilizando as informações da magnetização do material M . Sendo assim, a
corrente nula é ilusória para considerar H ⃗ = 0 e calcular o campo magnético

pela B = 4πk M .⃗ ■

Exercício 5.4.
Uma esfera é magnetizada com a densidade de momento magnético M ⃗ =
M rr̂. a) Encontre a densidade de corrente de magnetização. b ) Achar o
campo magnético B ⃗ e H.
⃗ ■

Exemplo 5.4. Pelo teorema de Helmholtz , a) Justifique se que pode anular


o campo elétrico D ⃗ para um dielétrico cilíndrico, conforme a figura 3.5c.
Desconsidere a carga livre. b ) Repetir a pergunta desta vez para o campo
⃗ do cilindro longo magnetizado, uniformemente.
H
Resposta:
a) Pelo teorema de Helmholtz, as origens do campo vetorial D⃗ são descri-
tas pelo seu rotacional e divergência. Apesar da falta de cargas livres, que
226 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

surge ∇ · D⃗ = 0, descrita pela lei de Gauss, ainda temos que confirmar o seu
rotacional, i.e. ∇× D.⃗ Para a configuração da figura 3.5c, encontramos que o
campo elétrico E ⃗ fora do cilindro é nulo e a polarização do material é equiva-
lente com uma distribuição de cargas de polarização nas superfícies superior
e inferior. Então, podemos substituir o cilindro polarizado por um capacitor
com folhas circulares e paralelas. Sem a presença de carga livre, ∇· D ⃗ = 0 que
somente indica que o componente normal do campo de deslocamento D ⃗ na
fronteira seja contínuo, i.e. Dzf ora = Dzinterior . Como Ef ora = Pf ora = 0, tere-
mos Dzinterior = 0, ou seja, o componente normal do campo D ⃗ nas superfícies
superior e inferior é nulo.
Outra fonte da equação diferencial é o rotacional do campo D. ⃗ Apli-
cando o rotacional sobre equação (3.17), para um campo eletrostático irro-
⃗ chegaremos a equação ∇ × D
tacional E, ⃗ = ∇ × P⃗ . Assim, esperamos a
descontinuidade do componente tangencial na interface devido à presença
de material polarizado. Logo, para um elo Amperiano, teremos a relação
Dtf ora − Dtinterior = Ptf ora − Ptinterior . Sabendo que Df ora = 0 e Ptf ora = 0,
teremos Dtinterior = Ptinterior . O componente tangencial da polarização tam-
bém é nulo. Então, o componente tangencial do campo D ⃗ nas superfícies
superior e inferior é nulo. Afinal, o campo D ⃗ é nulo em tudo espaço. Sendo
assim, podemos utilizar a equação (3.17) para encontrar o campo elétrico da
seguinte forma:
⃗ = −ϵ0 P⃗ = −ϵ0 P ẑ
E
Na verdade, para um dielétrico cilíndrico com a polarização linear ao longo
do seu eixo da figura 3.5c, ∇ · D
⃗ = 0, sem a carga livre no espaço. Também,
∇ × D = ∇ × 1/ϵ0 E + ∇ × P⃗ para um campo elétrico conservativo e a
⃗ ⃗
polarização homógena do material será nulo. Logo, todas as fontes do campo
de deslocamento são nulas. Neste caso, podemos diretamente encontrar o
campo elétrico pela polarização do material.
b) Apesar que a lei de Ampère conta com a presença de corrente livre, não
é concluente dizer H ⃗ = 0 na região sem a corrente livre. Isto é justificada
pelo teorema de Helmholtz, onde a origem do campo magnético H ⃗ é relaci-
onada com o seu rotacional e divergência. O rotacional nulo da intensidade
magnético somente é a razão pelo qual o componente tangencial à superfície
do campo Ht é contínuo.
Podemos aproximar o cilindro magnetizado com a densidade homogênea
e uniforme M ⃗ = M ẑ, por um solenoide com a densidade superficial de cor-
rente K⃗ = M φ̂. Assim, podemos aproveitar dos resultados encontrados para
solenoide, tais como, ausência do campo magnético fora do solenoide, i.e.
Bf ora = 0. Logo, pela equação (5.24) e a continuidade do componente tan-
gencial Ht , espera-se que o campo Ht seja nulo no interior do solenoide, i.e.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 227

Hzinterior = 0.
Aplicando a divergência sobre a equação (5.24), teremos a equação ∇· H ⃗ =
−∇ · M ⃗ . Então, sabendo Bf ora = Mf ora = Hf ora = 0 e aplicando a lei
de Gauss na interface, teremos Hninterior = −Mninterior = M ẑ · r̂ = 0 nas
coordenadas cilíndricas, ou seja, todos componentes do H ⃗ no interior do

cilindro são nulos. Assim, pode-se encontrar o campo B no interior do cilindro
pela equação (5.24), ou seja:

⃗ interior = 4πkM ẑ
B

Em resumo, sem a corrente livre, rotacional da intensidade do campo mag-


nético é nulo. Também, para um campo magnético solenoidal e um material
magnetizado homogeneamente, teremos: ∇ · H = ∇ · B/4πk − ∇ · M = 0.
Logo, todas as fontes do campo H ⃗ são nulas. Sendo assim, o campo magné-

tico B pode ser encontrado através da densidade de magnetização M ⃗.
Vale ressaltar que para um comprimento do cilindro magnetizado com-
parável com raio l ∼ a, correspondente com um solenoide curto, o campo
magnético B ⃗ fora do cilindro não será mais nulo e em seguida, o campo H ⃗
não será nulo em todo espaço.
Vale a pena comparar os resultados com um solenoide longo com a den-
sidade de corrente superficial K⃗ = M φ̂ A/m. Neste caso, a corrente que
percorre no N espiras será M L/N A, onde L é comprimento do solenoide
e N é seu número de espiras. Desta vez, como a corrente é real, pela lei
de Ampère, o componente tangencial do campo H ⃗ é descontínuo. Como o
campo magnético Hf ora = 0, teremos Htdentro = M e o componente normal
do campo Hn continua sendo nulo em tudo espaço. Então H ⃗ = M ẑ e como

não temos material magnético dentro do solenoide, B = 4πk H ⃗ = 4πkM ẑ. ■

Exemplo 5.5. Para um cilindro longo magnetizado uniformemente da figura



5.7a, encontre a intensidade do campo magnético H.
Resposta: Para um cilindro longo e magnetizado, encontramos o campo
magnético B⃗ por:

0, Fora do cilindro
⃗ =
B
4πkM ẑ Dentro do clinandro

no exemplo 5.4 e também no exercício 5.2. Como



0, Fora do cilindro
⃗ =
M M ẑ Dentro do clinandro
228 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Então, a intensidade do campo magnético é obtida pela equação (5.24):



0, Fora do cilindro
⃗ =
H
M ẑ − M ẑ Dentro do clinandro

Ou seja, a intensidade do campo magnético é nula em todo espaço. Logo,


para um cilindro magnetizado, podemos achar o campo magnético B,⃗ sim-
⃗ = 4πk M
plesmente pela equação (5.24) por B ⃗. ■

Exemplo 5.6. Encontre a intensidade de campo magnético H ⃗ gerada por


uma corrente I que percorre um fio longo de cobre cujo raio é a. O fio é co-
berto por uma borracha até o raio b. Suponha que a corrente é homogênea.
Resposta:
A experiência do capítulo passado é útil para encontrar a direção da inten-
sidade do campo magnético gerado pela corrente do fio que é a mesma do
campo magnético (veja a figura 4.5). Se considerar um elo amperiano cir-
cular ao redor do fio de raio r, o comprimento longo do fio garante que a
intensidade do campo magnético seja invariável ao longo do caminho. Por-
tanto, para o elo amperiano escolhido, a circulação do H ⃗ será 2πrHφ . A
corrente que atravessa este elo depende do raio do elo. Se o elo for dentro
do fio (r < a), a corrente que atravessa o elo será Ir2 /a2 . Portanto:

I
⃗ =
H rφ̂, para r ≤ a.
2πa2
Se o elo for fora do fio de cobre r > a, a corrente que atravessa o elo será a
corrente total I. Portanto:

⃗ = I φ̂,
H para r > a.
2πr
A resposta não altera com a presença da capa de borracha ao redor do fio de
cobre na região (a < r < b). Vale lembrar que o campo magnético B ⃗ dentro
do fio ou na capa de borracha pode ser encontrado, se a magnetização da
borracha e do fio forem informadas. Entretanto, o campo magnético fora da
capa do fio (r > b), utilizando a relação (5.24), será da seguinte forma:

⃗ = 2kI φ̂,
B para r > b.
r

CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 229

Exercício 5.5.
Um cilindro comprido é magnetizado cuja densidade de magnetização é M ⃗ =
Crẑ, onde C é uma constante. A variável r é a distância até o eixo z, que é
o eixo do cilindro de raio a.
a) Encontre a densidade superficial e volumétrica da corrente de magnetiza-
ção.
b) Encontre a intensidade do campo magnético; H. ⃗
c) Como será a densidade do campo magnético; B. ⃗

5.2.2 Potencial Escalar Magnético


Com a apresentação da intensidade de campo magnético, podemos con-
tinuar e melhorar a técnica de potencial escalar do capítulo passado. Se não
tiver a passagem de corrente elétrica livre na região, i.e. JLivre = 0, a lei
de Ampère na equação (5.25) indica que a intensidade do campo magnético
é conservativo, ou seja, ∇ × H⃗ = ⃗0. Podemos considerar o campo vetorial
como gradiente de uma função, chamado de potencial escalar magnético Vm
com a unidade em Ampère no sistema SI:
H⃗ = −∇Vm , se tiver ∇ × H ⃗ = ⃗0 ou JLivre = 0. (5.29)
Apesar da propriedade solenoidala do campo magnético B, ⃗ a mesma carac-
terística não é necessariamente válida para a intensidade do campo magnético
⃗ porque:
H,

∇·H ⃗ =∇·( B −M ⃗ ) = −∇ · M⃗. (5.30)
4πk
Sabendo da divergência da intensidade do campo magnético, dada pela equa-
ção (5.30), e que ele é gradiente de uma função escalar, chegamos a equação
diferencial de Poisson em função do potencial escalar magnético da seguinte
forma:
∇2 Vm = ∇ · M ⃗ (5.31)
Se a densidade de magnetização do material for solenoidal, i.e. ∇ · M
⃗ =0
ou quando M = 0:
∇2 Vm = 0, se tiver ∇ · M ⃗ = 0 e JLivre = 0. (5.32)
A equação de Laplace acima, junto com as condições de contorno podem
servir para encontrar a distribuição do campo magnético no espaço.
Exemplo 5.7. Encontre o potencial escalar magnético Vm para a corrente I,
que percorre um fio reto e longo.
a
∇·B
⃗ = 0.
230 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Resposta:
Como não foi mencionada a presença de material magnético ao redor do fio,
∇·H ⃗ = ∇ · B/4πk
⃗ = 0, para um campo solenoidal. Também, fora do fio,
J⃗ = 0, então, o campo H ⃗ = −∇Vm . Substituindo
⃗ é conservativo, i.e. H
⃗ teremos a
a equação do potencial escalar na equação da divergência do H,
equação de Laplace ∇ Vm = 0.
2

Anteriormente, encontramos a intensidade do campo magnético pela lei de


Ampère:
H⃗ = I φ̂
2πr
nas coordenadas cilíndricas. Logo, somente o componente φ do gradiente
do potencial escalar existe. Sendo assim, a função Vm é apenas variável de
φ. Utilizando a equação de Laplaciano em coordenadas cilíndricas dado pela
equação (A.9), teremos a seguinte resposta:

Vm = Aφ + B

, onde A = I/(2π) e B = 0. Logo, o potencial escalar magnético será:


I
Vm = φ, para 0 < φ < 2π.

A função Vm é periódico em função do ângulo φ de periodicidade 2π. Logo,
para outros valores de φ, é necessário encontrar o ângulo correspondente no
intervalo 0 < φ < 2π, antes de calcular a função Vm . ■

No exemplo a seguir, aproveitamos da analogia entre intensidade de campo


elétrico e magnético e a semelhança entre suas equações para encontrar o
potencial vetorial escalar de um elo de corrente.
Exemplo 5.8. Encontre o potencial escalar magnético de um elo pequeno
de corrente, conforme a figura 5.2.
Resposta:
Encontramos o campo magnético B ⃗ de um elo pequeno dado pela equação
(5.11). Sem presença do material magnético, i.e. M = 0, teremos a intensi-
dade do campo magnético da seguinte forma:
⃗ 2
⃗ = B = Ia (2 cos θr̂ + senθθ̂)
H
4πk 4r3
⃗ = −∇Vm .
O campo H é conservativo na região fora do elo de corrente, logo H
Assim, lembramos da equação obtida para o campo elétrico de um dipolo elé-
trico na equação (3.4), que foi encontrada pela gradiente de potencial escalar
⃗ = −∇ϕ. Logo, basta trocar kp por Ia2 /4 na equação do potencial
ϕ, i.e. E
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 231

elétrico dado pela equação (3.3). Sendo assim, o potencial magnético escalar
Vm é dado da seguinte forma:

Ia2 cos θ
Vm =
4r2

Vale ressaltar que em caso de um campo não conservativo, i.e. ∇ × H ̸= 0,


ainda podemos definir o potencial escalar pela integral de linha da intensidade
do campo magnético: Z b
Vm = − ⃗ · d⃗l,
H
ab
a
só que seu valor depende do caminho escolhido entre dois pontos a e b, ou
seja, o potencial escalar não será unicamente determinado.
Exemplo 5.9. A intensidade do campo magnético é dado por H ⃗ = 1/rφ̂ em
coordenadas cilíndricas. Encontre o potencial magnético escalar no ponto
(5, π/2, 4).
Resposta:
A partir da aplicação da divergência sobre a intensidade do campo nas coor-
denadas cilíndricas (equação (A.7)), teremos:

⃗ = 1 ∂(rHr ) + 1 ∂(Hφ ) + ∂Hz = 0,


∇·H
r ∂r r ∂φ ∂z

logo, o campo H ⃗ é solenoidal. Também, aplicando o rotacional nas coorde-


nadas cilíndricas (equação (A.8)), teremos:

⃗ = ( 1 ∂Hz − ∂Hφ )r̂ + ( ∂Hr − ∂Hz )φ̂ + 1 ( ∂(rHφ ) − ∂Hr )ẑ = 0,


∇×H
r ∂φ ∂z ∂z ∂r r ∂r ∂φ
ou seja, o campo é conservativo. Sendo assim, o potencial magnético escalar
é unicamente definido entre dois pontos.
Z
1
Vm = − φ̂ · d⃗l.
r

Onde o vetor de deslocamento nas coordenadas cilíndricas é d⃗l = drr̂ +


⃗ · d⃗l = dφ. Assim, Vm = −φ + C, onde C é uma
rdφφ̂ + dz ẑ. Logo, H
constante. Afinal, o potencial magnético escalar no ponto (5, π/2, 4) será
Vm = −π/2 + C Ampères. ■
232 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Exercício 5.6.
Encontre o potencial magnético escalar ao longo do eixo z de um anel de
corrente posicionado no plano xy.

5.2.3 Materiais Magnéticos Lineares


A análise de campo magnético para um caso geral necessita de infor-
mações sobre magnetização do material. Podemos simplificar a modelagem
da magnetização de forma que o número de dipolos magnéticos alinhados
for proporcional com a intensidade do campo magnético H.⃗ Sendo assim, a
⃗ i.e. M
densidade de dipolos será proporcional com H, ⃗ = χH,⃗ onde χ é co-
nhecida como a susceptibilidade magnética do material. Neste caso, teremos
B⃗ = 4πk(H ⃗ + χH),
⃗ a partir da substituição da magnetização na equação
(5.24), ou seja:
⃗ = 4πk(1 + χ)H.
B ⃗ (5.33)
O coeficiente 4πk(1+χ) é chamado de permeabilidade magnética do material,
cuja unidade é Tesla.m/A, representado pelo simbolo µ. Se o material não
for magnético, i.e. M = 0 ou χ = 0, a permeabilidade magnética do material
é representada por µ0 . Assim, podemos trocar o termo 4πk por µ0 nas
equações (4.14), (4.15), (4.26), (5.24) e (5.23). Podemos também reformular
a permeabilidade magnética por µ = µ0 (1 + χ).
Voltando para técnica de análise pelo potencial magnético escalar, pode-
mos fazer uma abordagem mais profunda para os materiais magnéticos linea-
res. Nos próximos exemplos, trataremos o Laplaciano junto com as condições
de contorno oferecidas.
Exemplo 5.10. Numa região do espaço, existe um campo magnético H ⃗
uniforme e constante apontado em uma direção. Inserimos uma esfera ferro-
magnética com a permeabilidade µ e raio a. Encontre o potencial magnético
escalar em todo espaço.
Resposta:
Adotamos eixo z ao longo do campo magnético no espaço e a origem das
coordenadas no centro da esfera. Sem a corrente livre, pela lei de Ampère,
∇×H ⃗ = 0, ou seja, o componente tangencial; Ht é contínuo na fronteira, e
o campo é conservativo. Assim, é possível representar o campo como gradi-
ente de um potencial escalar Vm ; H ⃗ = −∇Vm . Sabendo, que o campo B ⃗ é
solenoidal em todo espaço, i.e. ∇ · B
⃗ = 0, e pela linearidade do material, i.e.
⃗ = µH,
B ⃗ teremos a equação de Laplaciano, ∇2 Vm = 0.
Pela simetria azimutal nas coordenadas esféricas, o potencial escalar será
uma função de variáveis (r, θ). Pela técnica de separação de variáveis nas co-
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 233

ordenadas esféricas, a possível resposta é Vm (r, θ) = (Arm +Br−(m+1) )Pm (cos θ)


da segunda linha da tabela 2.4. Para o campo aplicado H ⃗ = H0 ẑ, o potencial
escalar será Vm = −H0 z, que nas coordenadas esféricas é representado pela
Vm = −H0 r cos θ. Sendo assim, a potência do r será m = 1. Portanto:

Ar cos θ, r≤a
Vm =
( B + Cr) cos θ, r > a
r2

Teremos a continuidade do potencial escalar em r = a, i.e. Aa cos θ =


(B/a2 + Ca) cos θ. Isto é correspondente com a continuidade do componente
tangencial do campo magnético:
∂Vm
Hθ = − |r=a .
r∂θ

Também, pela ∇ · B ⃗ = 0, teremos a continuidade do componente normal;


Br em r = a, i.e. −µA cos θ = −µ0 (−B/a3 + C) cos θ. Além disso, longe
da esfera, i.e. r ≫ a, a distorção do campo devido à esfera é desprezível.
Logo, −C ẑ = H0 ẑ, ou seja, C = −H0 . Em resumo encontramos as seguintes
equações:
B
Aa = − H0 a
a2
2B
−µA = µ0 ( 3 + H0 )
a
Logo, B/a3 = A + H0 , da primeira equação. Inserindo na segunda equação,
teremos −µA−2µ0 (A+H0 ) = µ0 H0 . Em seguida, teremos A = −3µ0 H0 /(µ+
2µ0 ) e B = a3 H0 (µ − µ0 )/(µ + 2µ0 ). Assim, o potencial magnético será:

 −3µ0 H0 r cos θ, r≤a
Vm =  µ+2µ 0
µ−µ0 a3 H0
( µ+2µ0 r2 − H0 r) cos θ, r>a

⃗ = −∇Vm e
⃗ por H
A partir do potencial escalar magnético, podemos obter H
⃗ ⃗
o campo magnético B por produto do H vezes a permeabilidade magnética
da região. ■

Exemplo 5.11. No exemplo anterior, em vez da esfera, colocamos um cilindro


ferromagnético linear, com permeabilidade µ e raio a. O eixo principal do
cilindro é perpendicular a direção do campo magnético. Encontre o potencial
magnético escalar.
Resposta:
234 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Podemos nomear o eixo principal do cilindro como o eixo z e o sentido do


campo magnético como eixo y. Sem a corrente livre, teremos ∇ × H ⃗ = 0,
ou seja, o componente tangencial; Ht é contínuo na fronteira e o campo é
conservativo. Assim, é possível representar o campo como gradiente de um
⃗ = −∇Vm . Sabendo que o campo B
potencial escalar Vm ; H ⃗ é solenoidal em
tudo espaço, i.e. ∇ · B = 0 e pelo fato que o material é linear, i.e. B
⃗ ⃗ = µH,

teremos a equação de Laplaciano, ∇2 Vm = 0.
Nas coordenadas cilíndricas, devido à simetria ao longo do eixo z, o po-
tencial escalar estará em função somente das variáveis (r, φ). Pela técnica
de separação de variáveis nas coordenadas cilíndricas, a possível resposta é
Vm (r, φ) = (Arn + Br−n )(cos nφ + sennφ) da segunda linha da tabela 2.2.
Para o campo aplicado na direção ŷ, o potencial escalar nas coordenadas
cilíndricas será Vm = −H0 r senφ. Sendo assim, a potência de r será n = 1.
Também, a função cos φ será descartada do potencial. Portanto:

Ar senφ, r≤a
Vm =
( B + Cr) senφ, r > a
r

O feito do cilindro sobre o campo magnético é desprezível quando r é muito


maior que dimensões do cilindro (r ≫ a). Logo, −C ŷ = H0 ŷ, logo C = −H0 .
Teremos a continuidade do potencial escalar em r = a, i.e. Aa senφ = (B/a−
H0 a) senφ, correspondente com a continuidade do componente tangencial do
campo magnético; Hφ . Também, pela ∇ · B ⃗ = 0, teremos a continuidade do
componente normal; Br em r = a, i.e. −µA senφ = µ0 (B/a2 + H0 ) senφ. Em
resumo, encontramos as seguintes equações das condições de contorno:

B
= A + H0
a2
B
−µA = µ0 ( 2 + H0 )
a
Logo, teremos −µA = µ0 (A + 2H0 ), ou seja, A = −2µ0 H0 /(µ + µ0 ) e B =
a2 H0 (µ − µ0 )/(µ + µ0 ). Assim, o potencial magnético será:

 −2µ0 r, r≤a
µ+µ0
Vm = H0 senφ
( µ−µ0 a2 − r), r > a
µ+µ0 r

Vale ressaltar que para um material de alta permeabilidade, o potencial no


interior do cilindro se aproxima de zero. A partir do potencial escalar mag-
nético podemos obter H ⃗ pela equação H⃗ = −∇Vm , o campo magnético B ⃗
por H⃗ vezes a permeabilidade magnética da região. ■
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 235

Exemplo 5.12. No exemplo anterior, colocamos um tubo ferromagnético


linear com permeabilidade µ, raio interno a e raio externo b. O eixo principal
do tubo é perpendicular a direção do campo magnético. Encontre o potencial
magnético escalar.
Resposta:
Podemos nomear o eixo principal do tubo como o eixo z e o sentido do campo
magnético como eixo y. Sem a corrente livre, teremos ∇ × H ⃗ = 0, e com
a equação ∇ · B ⃗ = 0 e a linearidade do material, teremos a equação de
Laplaciano para potencial magnético escalar, ∇2 Vm = 0.
Nas coordenadas cilíndricas, devido à simetria ao longo do eixo z, o po-
tencial escalar estará somente em função das variáveis (r, φ). Pela técnica
de separação de variáveis nas coordenadas cilíndricas, a possível resposta é
Vm (r, φ) = (Arn + Br−n )(cos nφ + sennφ) da segunda linha da tabela 2.2.
Como o potencial correspondente ao campo aplicado é Vm = −H0 r senφ,
percebe-se que n = 1, descartando a função cos φ. Portanto:


Ar senφ,
 r≤a
Vm =

( Br + Cr) senφ, a < r ≤ b

 D
(r + Er) senφ, b < r

O efeito do tubo é desprezível quando r é muito maior que dimensões do


tubo (r ≫ b). Logo, −E ŷ = H0 ŷ, logo E = −H0 . Teremos a continuidade
do potencial escalar em r = a, i.e. Aa = B/a + Ca, correspondente com a
continuidade do componente tangencial do campo magnético; Hφ . A conti-
nuidade do potencial em r = b gera a seguinte equação B/b+Cb = D/b−bH0 .
Também, pela continuidade do componente normal; Br em r = a, teremos
−µ0 A = µ(B/a2 − C) e em r = b, teremos µ(B/b2 − C) = µ0 (D/b2 + H0 ).
Em resumo, teremos as seguintes equações:

Aa2 − B − Ca2 =0
B + Cb2 − D = −b2 H0
Aa2 + µr B − µr a2 C =0
µ r B − µ r b2 C − D = b2 H0

Basta resolver a seguinte matriz de coeficientes para achar o potencial em


toda região:
 2    
a −1 −a2 0 A 0
0 1 b2 −1   −1
  B   
 2    = b2 H0  
a µr −a µr 0   C 
2  0 
0 µr −µr b2 −1 D 1
236 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

Os coeficientes simplificados para µr ≫ 1, produzem os seguintes funções de


potencial:

 −4

 r, r≤a
 (b2 −a2 )µr
−2 a2
Vm = b2 H0 senφ
 (b2 −a2 )µr
(r − r
), a<r≤b


(−2 a2 +b2 + 1) 1r − r
, b<r
(b2 −a2 )µr b2

⃗ = −∇Vm e
⃗ por H
A partir do potencial escalar magnético, podemos obter H
⃗ ⃗
o campo magnético B por produto do H vezes a permeabilidade magnética
da região. ■

A modelagem mais realística da magnetização linear do material é quando


a direção do vetor M ⃗ for diferente da intensidade do campo magnético H.
⃗ Por

exemplo, o campo H = H0 x̂ pode gerar a magnetização em um material nas
direções ŷ e ẑ além da direção x̂. Sendo assim, a susceptibilidade magnética
do material será representado pela:
    
Mx χxx χxy χxz Hx
    
My  = χyx χyy χyz  Hy  (5.34)
Mz χzx χzy χzz Hz

Estes materiais magnéticos são chamados anisotrópicos, tais como ferritas,


que é a mistura cozida de óxido de ferro com pouca porção de elementos metá-
licos como Bário, Magnésio, Níquel, Zinco. A estrutura cerâmica ou amorfa é
a razão pela qual o material possui um tensor de susceptibilidade magnética.
Existe ferritas duras, com magnetização permanente, utilizadas para fabri-
cação de ímãs utilizadas nas alta falantes e motores elétricos. Outra classe
de ferritas são as doces, em que a desmagnetização ocorre facilmente, utili-
zadas para a fabricação de núcleo magnético de indutores, transformadores e
antenas. Geralmente, estes dispositivos são utilizados em altas frequências.
Também, como anteriormente mencionamos, existem materiais ferromag-
néticos duros, onde além de magnetização não linear do material, existe um
resíduo de magnetização que logo após a retirada da fonte magnetizadora,
ainda permanece. Como a tabela D.5 dos materiais ferromagnéticos mos-
tra, a magnetização destes materiais é considerávela ). Portanto, podemos
representar a relação da equação (5.24) por:
⃗ = µ0 M
B ⃗ (5.35)

Estes materiais são caracterizados por uma curva característica chamada de


histerese entre o B e o campo magnetizador H, conforme a figura 5.9a.
a
para uma aproximação linear isto é χ ≫ 1.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 237

B (T)

Saturação
B B

Br

Hs Hc O Hc Hs H A/m H H

Br

Saturação
(a) (b) (c)

Fig. 5.9. a) Curva de histerese de um ferromagnético duro. Ciclo completo de


magnetização é dividido por vários trechos. b) Curva de histerese de um ferro-
magnético duro. c) Curva de histerese de um ferromagnético doce.

A curva de histerese de um material magnético é composta das seguintes


variações de campo magnético desde início de magnetização:

1. Inicialmente, com o aumento do campo magnetizador H, ⃗ mais dipolos


magnéticos e domínios do Material alinham correspondente ao aumento
da densidade de magnetização M⃗.

2. A intensidade do campo magnetizador alcança Hs , onde o máximo de


número de dipolos magnéticos e domínios ficam alinhados, ou seja, che-
gam ao limite de magnetização chamado saturação. Após ter atingido
a saturação, não ocorre mais o aumento da densidade de magnetização
com a aplicação de um campo magnético H maior.

3. Apesar da redução do campo magnetizador H, a redução da densidade


de magnetização não ocorre da mesma forma que o aumento de M
ocorreu, ou seja, os domínios se desalinham com uma taxa menor. As-
sim, uma parte dos domínios alinhados mantém o sentido e o material
ainda apresenta uma magnetização Br , apesar da retirada do campo
magnetizador.

4. Para anular a magnetização do material é necessário aplicar um campo


desmagnetizador no sentido oposto. A intensidade do campo magnético
Hc aplicado para desmagnetizar o material é conhecido como campo
coercitivo.

5. A partir da anulação de magnetização e do desalinhamento total dos


238 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

domínios, é necessário o aumento do campo magnetizador para obter


o alinhamento dos domínios no sentido oposto.

6. O aumento da intensidade do campo magnetizador mais uma vez pode


acabar alcançando a saturação da magnetização, ou seja, o fluxo mag-
nético é mantido constante apesar do aumento da intensidade do campo
aplicado H.

7. A redução de campo magnetizador leva à redução da magnetização do


material, não linearmente. Assim, sem o campo magnetizador, todos
os domínios alinhados não vão relaxar necessariamente, ou seja, vão
manter um resíduo magnético Br .

8. Para anular a magnetização do material é necessário aplicar um campo


desmagnetizador Hc .

A curva de histerese dos materiais ferromagnéticos pode ser como a figura


5.9b, onde após a retirada de campo magnetizador, a maioria dos domínios
serão mantidos alinhados. Sendo assim, o campo magnético residual é consi-
derável, o que acontece no caso de materiais ferromagnéticos duros. Nestes
materiais, a curva de histerese é bem aberta e no qual, a queda dos laços 3 e
6 da figura 5.9a são mais suaves, enquanto os laços de desmagnetização são
mais acentuadas. Sendo assim, a desmagnetização do material pode ocorre
em uma intensidade determinada. Estes materiais são utilizados na fabri-
cação de ímãs permanentes, pela permanência dos domínios, sem redução
significante de magnetização após retirada do campo magnetizador.
A curva do histerese da figura 5.9c pertence aos materiais ferromagnéticos
doces, onde a magnetização residual será relativamente baixa. Em certos
casos, esses materiais apresentam magnetização residual quase nula que é
ideal para fabricação de eletroímãs.
Em aplicações onde o campo magnético muda o sentido varias vezes por
segundo, o mesmo vai ocorrer com os domínios do material ferromagnético.
Entretanto, a inversão dos domínios ocorre após a superação ao atrito e a
inércia, dissipando a energia térmica, que é chamada de perda por histerese.
Nas próximas seções apresentamos que a energia magnética é relacionada com
H⃗ · B,
⃗ ou seja, a perda por histerese em um ciclo completo é proporcional com
a abertura da curva de histerese. Assim, a potência de perda de histerese
pode ser obtida sabendo quantos cíclicos por segundo multiplicando por sua
área interna da curva de histerese.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 239

5.2.4 Método de Imagem


Apresentamos a teoria de imagem como uma técnica de análise de campo
elétrico no capítulo 2. Dois elementos principais neste método eram a dis-
tribuição espacial de cargas elétricas e um condutor elétrico. Em magnetos-
tática, este método pode ser útil, aproveitando a analogia com eletrostática.
Assim, dois elementos principais serão uma fonte de campo magnético, ou
seja, uma distribuição de corrente elétrica, além de um condutor magnético
em analogia com condutor elétrico.
Um material é considerado como condutor magnético, se tiver boa con-
dução de fluxo magnético, ou seja, a magnetização do material seja muito
maior do que o campo magnetizador, i.e. M ≫ H. Para um ferromagnético
linear e isotrópico, a boa condutividade magnética significa que a sua per-
missividade magnética é muito grande χ → ∞. Sendo assim, a intensidade
do campo magnético H no interior do condutor será nula. Sem corrente li-
vre na superfície do material, a circulação do campo H será nulaa , logo, o
componente tangencial a superfície do material será contínuo. Sem o campo
no interior do material, o componente tangencial a superfície será nulo, i.e.
Ht = 0. Logo, o campo H somente terá o componente perpendicular a su-
perfície do material; Hn . O caso é parecido com campo elétrico que somente
tem o componente perpendicular a superfície de um condutor.
A presença de uma distribuição de corrente elétrica provoca a magnetiza-
ção do condutor magnético, equivalente com a indução de distribuição super-
ficial e volumétrica de corrente elétrica no material. Nesta técnica, em vez de
considerar a distribuição de corrente induzida, o condutor será substituído
pela imagem da corrente verdadeira. Assim, o campo magnético no espaço
fora do material magnético é encontrado, utilizando as técnicas de análise
convencionais. A presença de uma distribuição de corrente elétrica provoca
a magnetização do condutor magnético, equivalente com a indução de dis-
tribuição superficial e volumétrica de corrente elétrica no material. Nesta
técnica, em vez de considerar a distribuição de corrente induzida, o condu-
tor será substituído pela imagem da corrente verdadeira. Assim, o campo
magnético no espaço fora do material magnético é encontrado, utilizando as
técnicas de análise convencionaisb .
Exemplo 5.13. Considere um fio longo de corrente estendido em paralelo,
com uma distância h da superfície de um condutor magnético ideal; χ → ∞.
a) Encontre a modelagem pelo método de imagem.
a
Pela lei de Ampère da equação (5.26).
b
Métodos tais como Biot-Savart, Ampère, potencial vetorial, Laplaciano vetorial ou
escalar.
240 5.2. CAMPO MAGNÉTICO...

b) Quanto será a força magnética sobre o fio por unidade do seu compri-
mento?
Resposta:
a) A passagem da corrente elétrica no fio, gera o campo magnético que atinge
o condutor magnético, induzindo a magnetização M e as correntes de mag-
netização dadas pelas equações (5.19) e (5.20). Em vez de corrente de mag-
netização, podemos considerar a corrente de imagem com o mesmo tamanho
e no mesmo sentido, em paralelo com a corrente verdadeira na distância 2h.
Logo, a modelagem equivalente será de dois fios de corrente no mesmo sen-
tido e em paralelo com a distância 2h.
b) Pelo método de Ampère, o campo magnético na distância 2h do fio de
imagem é obtido por 4πhH = I, ou seja, B = µ0 I/(4πh). Portanto, a força
por unidade de comprimento do fio será:

µ0 I 2
F = BI = N/m.
4πh
A direção e sentido da força Lorentz é encontrada pela regra de mão direita.
Percebe-se que a força será sempre atração do fio pelo condutor magnético.

Exemplo 5.14. Uma corrente I A percorre uma fita longa de largura h. A


fita está encostada em paralela com dois condutores magnéticos ideais.
a) Encontre a modelagem pelo método de imagem.
b) A partir do modelo matemático, encontre o campo magnético.
Resposta:
a) Fazendo uma analogia com a óptica, ao colocarmos dois espelhos paralelos
com as faces refletoras uma de frente para a outra conseguiremos um número
infinito de imagens da fita de corrente. A fita de corrente junto com as suas
imagens criam um plano infinito de corrente superficial com a densidade
K = I/h A/m.
b) Pela lei de Ampère, o campo magnético uniforme será:
K I
H= = .
2 2h
A direção e sentido do campo magnético é a mesmo obtida para um plano
de condutor no capítulo passado. ■

Exemplo 5.15. Um ímã permanente em formato semiesfera é posicionado


acima de um condutor magnético plano. A magnetização do ímã é ao longo
⃗ = M ẑ. Encontre a confi-
do eixo perpendicular ao fundo da semiesfera, M
guração equivalente pelo método de imagem.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 241

Resposta:
Como a densidade de magnetização é perpendicular à superfície do fundo
da semiesfera, a corrente de magnetização será nula, pela equação (5.19). A
corrente volumétrica de magnetização será nula pela equação (5.20), porque
a magnetização é constante. Dessa fora, a única corrente de magnetização
⃗ M = M ẑ × r̂ =
presente será na superfície superior da semiesfera dada pela K
M cos θφ̂, para 0 < θ < π/2. Pelo método de imagem, podemos substi-
tuir o condutor magnético plano por uma semiesfera com a corrente super-
ficial de magnetização K ⃗ M = M cos θφ̂, para π/2 < θ < π. Assim, a
configuração equivalente será um ímã esférico com magnetização M ⃗ = M ẑ.

Exercício 5.7.
Um plano grande feito de um condutor magnético ideal é dobrado ao meio
a um ângulo de 90°. Uma corrente percorre em um fio reto e longo, paralelo
ao plano dobrado. A distância do fio até os semiplanos é a e b. Encontre a
modelagem equivalente a partir do método de imagem.
Exercício 5.8.
Repita o primeiro exemplo do método de imagem, agora para o caso de um
condutor elétrico ideal, ao invés de um condutor magnético.

5.3 Circuitos Magnéticos Lineares


Além das técnicas mencionadas para análise de um arranjo magnético,
existe uma técnica com a base na analogia com circuitos elétricos. Assim, é
possível utilizar as leis de malha e nó, desenvolvidas na análise de circuitos
elétricos, em um arranjo magnético. Para desenvolver a técnica, começamos
a partir da lei de Ampère, dada pela equação (4.15). Assim, assumimos
a simetria e homogeneidade do campo magnético, ou seja, a circulação do
campo é obtida pelo produto do campo magnético pelo comprimento do elo
Amperiano, i.e. Hl. Além disto, inicialmente, desenvolveremos a teoria para
materiais magnéticos lineares, i.e. B = µH. Se tiver um enrolamento com
N voltas em comprimento l, a lei de Ampère é representada por Hl = N I.
O fluxo magnético dado pela equação (2.30) é obtido a partir do produto
do campo magnético por área de interseção s, ou seja, Φ = Bs. Então, a
equação de Ampère transforma-se para:

B l
NI = l= Φ (5.36)
µ sµ
242 5.3. CIRCUITOS MAGNÉTICOS LINEARES

Se considerar as seguintes analogias entre as variáveis obtidas na equação


(5.36) e a modelagem elétrica de um circuito resistivo, podemos concluir que
há uma analogia com circuitos elétricos:

1. NI seja análoga com fonte de tensão,

2. Φ seja análoga com corrente,

3. l/µs, chamada de relutância magnética (ℜ), seja análoga com a resis-


tência elétrica de um fio com a condutividade σ, comprimento l e seção
reta s.

A lei de Ampère, ou seja, a circulação do campo magnético em um elo fechado


pode ser considerada análoga com a regra da malha fechada em circuitos
elétricos. Além disto, a regra de conservação do fluxo magnético é análoga
com a lei dos nós utilizada no análise de circuitos elétricos.
Exemplo 5.16. Determine o fluxo Φ, o campo magnético B e a intensidade
do campo magnético H para um toroide com núcleo de ar, área de seção reta
de 6cm2 , raio médio l de 15cm, 500 espiras, no qual há a passagem de 4A de
corrente (veja a figura 5.10).
Resposta:

4A 500 espiras

6 cm2

15 cm
𝐵

Fig. 5.10. Um toroide com 500 espiras, 4A de corrente, e raio médio de 15cm.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 243

Sem material magnético, a relação B ⃗ com H ⃗ é linear. O campo magnético


ao longo de elo escolhido na figura 5.10 é homogêneo. portanto, a analogia
com um circuito elétrico é válida, onde a relutância é calculada por seguinte
forma:
l 2 × π × 0, 15
ℜ= = = 1, 25 × 109 A/Wb,
µs 4π × 10−7 × 6 × 10−4
O fluxo é dado por:
NI 500 × 4
Φ= = = 1, 6 × 10−6 Wb,
ℜ 1, 25 × 109
e o campo, por sua vez, é dado por:
Φ 1, 6 × 10−6
B= = = 2, 67 × 10−3 Tesla,
s 6 × 10−4
Por fim, calculamos H como:
B 2, 67 × 10−3
H= = = 2, 12 × 103 A/m.
µ0 4π × 10−7

Do exemplo anterior, percebe-se que a relutância obtida com o núcleo de


ar é relativamente grande, i.e. em ordem de 109 , o que diminui bastante o
fluxo magnético. O contrario disso ocorre quando o núcleo é de um material
ferromagnético com alta permeabilidade. Neste caso, o campo magnético
pode alcançar a saturação conforme a figura 5.9a, devido à baixa relutân-
cia. Para evitar a saturação magnética do núcleo, apresentou-se a ideia de
dispositivos magnéticos com núcleo ferromagnético, nos quais é providen-
ciado um gap (abertura) no núcleo. Um exemplo de dispositivos magnéti-
cos com abertura no núcleo é o cabeçote de aparelhos de gravação magné-
tica.
Exercício 5.9.
Ache o campo magnético, fluxo e intensidade de campo magnético para o
circuito magnético linear da figura 5.11a.
Exercício 5.10.
Ache o campo magnético, fluxo e intensidade de campo magnético para o
circuito magnético linear da figura 5.11b.
Exercício 5.11.
⃗ o fluxo magnético Φ e a in-
Encontre a densidade do fluxo magnético B,

tensidade de campo magnético H para o circuito magnético linear da figura
5.12a.
244 5.3. CIRCUITOS MAGNÉTICOS LINEARES

I1 l1 l2 I2 l1 l2
I N
N1 l3 N2 lg l3

(a) Com dois enrolamentos. (b) Com um enrolamento e um gap de ar.

Fig. 5.11. Circuitos magnéticos lineares.

Exercício 5.12.
Encontre o campo magnético, fluxo e a intensidade de campo magnético para
o circuito magnético linear da figura 5.12b.

I1 l1 l2 I2 I1 l1 l2 I2
N1 N2
lg l3 N1 l3 N2
lg lg

(a) Com dois enrolamentos e um gap de ar. (b) Com dois enrolamentos e dois gaps de ar.

Fig. 5.12. Circuitos magnéticos lineares.

Exercício 5.13.
Ache o campo magnético B, ⃗ fluxo Φ e intensidade de campo magnético H ⃗
para o circuito magnético linear da figura 5.13. Considere a área seção reta
dos braços com enrolamento e do braço sem enrolamento sejam A 2A, res-
petivamente. ■

Vale ressaltar, mais uma vez, que a analogia utilizada é válida somente para
arranjos magnéticos onde existe um campo magnético homogênea invariante
ao longo de elos fechados. Além disto, temos que considerar um núcleo linear,
ou seja, B = µH. Se não tiver as condições mencionadas, devemos utilizar
as técnicas básicas de análise vistas no capítulo passado. Na seção a seguir,
o dispositivo possui um núcleo não linear. Apesar disso, o campo ainda é
considerado homogêneo, portanto a lei de Ampère é aplicável.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 245

l2

N1 N2 l2 l1

Fig. 5.13. Circuito magnético com dois enrolamentos.

5.4 Circuito Magnético Não Linear


O núcleo ferromagnético de circuitos magnéticos, em geral, possui um
comportamento não linear e com histerese, conforme a figura (5.9)a. A re-
lação tipica entre a densidade do fluxo magnético e a intensidade do campo
magnético é ilustrada na figura 5.14. Logo, a razão entre o campo magné-
⃗ e a intensidade H
tico B ⃗ será variável, ou seja, a permeabilidade não é mais
constante. Então, a razão entre a fonte N I e o fluxo Φ é variável em função
do fluxo magnético, i.e. relutância. Assim, não terá mais como aproveitar a
Section 12.8 Magnetic Field Intensity and Magnetization Curves
■ 473
analogia com circuitos elétricos.
handbooks. A separate curve is required for each material.) Figure 12–19
shows typical curves for cast iron, cast steel, and sheet steel.

B (T)
1.6
Aço
Aço Fundido
1.4

1.2

1.0

0.8

Ferro Fundido
0.6

0.4

0.2

0 H (At/m)
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000

FIGURE 12–19 B-H curves for selected materials.

Fig. 5.14. Curva característica magnética de Ferro fundido, Aço fundido, Aço.
EXAMPLE 12–4 If B ⫽ 1.4 T for sheet steel, what is H?

Solution Enter Figure 12–19 on the axis at B ⫽ 1.4 T, continue across until
A solução you
paraencountermanter a steel,
the curve for sheet técnica útil é value
then read the corresponding
H as indicated in Figure 12–20: H ⫽ 1000 At/m.
começar
for pela lei de Ampère, com
a hipótese do campo homogêneo. B (T) Assim, a circulação do campo ao longo de
1.4 Sheet steel

H (At/m)
1000

FIGURE 12–20 For sheet steel, H ⫽ 1000 At/m when B ⫽ 1.4 T.


246 5.4. CIR. MAG. NÃO-LINEAR

um caminho magnético l será Hl, ou a lei de Ampère será representada por


N I = Hl. Para esclarecer mais a ideia, apresentou-se a análise de campo
magnético pela ideia de circuito magnético não linear no exemplo a seguir.
Exemplo 5.17. Consideramos o toroide da figura 5.15 com núcleo não linear
de aço fundido, com 500 espiras, área de 6 cm2 e raio médio de 15 cm com
um gap de 2 mm. Pede-se a corrente necessária para que a densidade de
fluxo seja igual a 1T. A relação (B-H) dada na figura 5.14.
Resposta:

I 500 espiras

6 cm2

15 cm
𝐵 2mm

Fig. 5.15. Toroide com um núcleo não linear.

O Caminho magnético é dividido por lar de 2 mm e lnúcleo de 0, 3π m. Da lei


de Ampère, para um campo magnético homogêneo temos: N I = Hnúcleo l +
Har lar :
500I = Hnúcleo 0, 3π + Har 2 × 10−3 .
Encontramos a corrente assim que achar Hnúcleo e Har . Utilizando a curva
característica da magnetização do núcleo mostrada na figura 5.14, encontra-
mos uma intensidade de campo no núcleo de 700 A/m. Ainda precisamos da
intensidade do campo no ar que tem uma relação simples com densidade do
campo magnético por Bar /µ0 . Como o fluxo tem continuidade em toda a tra-
⃗ multiplicando pela
jetória e é igual à densidade do campo magnético, i.e. B,
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 247

área, Φar = 6 × 10−4 Weber. Utilizamos a aproximação de que as linhas do


campo continuam linearmente sem franjas na região do gap de ar, portanto
Bar = 1 Tesla e Har = 7, 95 × 105 A/m. Agora temos tudo que necessário
para calcular a corrente:

700 × 0, 3π + 7, 95 × 105 × 2 × 10−3


I= = 4, 5A
500

Exemplo 5.18. No circuito do exemplo anterior, com núcleo não linear da


figura 5.15, considere uma corrente de 4 A percorrendo no toroide. Desta
vez, são pedidos o fluxo Φ, a intensidade de campo H e o campo magnético
B no núcleo.
Resposta:
Como descartamos a presença de linha de franja do campo magnético na
região do gap, podemos ainda utilizar a relação Har = Bnúcleo /µ0 . Portanto,
a partir da lei de Ampère, teremos uma equação linear entre campo B e H
do núcleo, que é chamada de linha de operação.

Bnúcleo 2 × 10−3
2000 = Hnúcleo 0, 3π +
µ0
Basta traçar essa linha na figura 5.14 e encontrar a sua interseção com a curva
B − H do aço fundido. Este ponto é conhecido como o ponto de operação,
dado por: Hnúcleo ≈ 600 A/m e Bnúcleo ≈ 0, 92 Tesla. O fluxo magnético que
atravessa a área s = 6 cm2 será Φ = 552 µWb. ■

5.5 Condições de contorno Magnéticas


No exemplo anterior percebemos a passagem de fluxo magnético por
núcleo ferromagnético, e também, por gap de ar. Conseguimos responder
a pergunta, utilizando o fato da continuidade do fluxo magnético. Neste
momento, queremos encontrar as condições de continuidade do campo mag-
nético nos meios diferentes em geral. Para analisar o campo magnético, é
necessário encontrar o campo magnético nos outros meios através da aplica-
ção das condições de contorno.
Conforme a figura 5.16, podemos considerar qualquer campo vetorial como
a superposição de um campo tangencial e um campo perpendicular à super-
⃗ 1 da figura 5.16:
fície da interface. Por exemplo, para o campo B
⃗ 1 = Bn1 n̂ + B
B ⃗ t1
248 5.5. CONDIÇÕES CONTORNO

l
S.G.
Meio 1 𝐵𝑡1 𝐾
𝐵1 s
𝑛
𝐵𝑛1 𝐵𝑡2
𝐵2

Meio 2
𝐵𝑛2

Fig. 5.16. Interface entre dois meios magnéticos diferentes.

É comum começar com o versor normal da superfície da interface n̂. Com o


versor dado n̂, o componente normal do campo B1 é Bn1 = B⃗ · n̂. Consequen-
temente, o componente tangencial do campo magnético será B⃗ t1 = B⃗ 1 −Bn1 n̂.
Sabemos que fluxo magnético total em uma superfície fechada é nulo, ou
seja, o campo é solenoidal ∇ · B
⃗ = 0 (equação (4.28)), portanto, para uma
superfície Gaussiana (S.G.) dada na figura 5.16:

−Bn1 ∆S + Bn2 ∆S = 0,

Logo, teremos:
Bn1 = Bn2 . (5.37)
Ou seja, o componente normal à interface do campo magnético é contínuo.
Se tiver meios lineares, podemos relacionar também os componentes normais
da intensidade do campo magnético por: Hn1 µ1 = Hn2 µ2 .
Para verificar a continuidade do componente tangencial, utilizamos a lei
de Ampère, dada pela equação (5.26), aplicada no elo conforme a figura5.16,
o que resulta em:

Ht1 ∆l − Ht2 ∆l = K∆l ⇒ Ht1 − Ht2 = K

Se não tiver a corrente elétrica na interface, i.e. K = 0, a intensidade do


campo magnético é continua:
Ht1 = Ht2 se K=0 (5.38)
A partir da equação (5.38), podemos relacionar, os componentes tangenciais
do campo magnético por: Bt1 /µ1 = Bt2 /µ2 , se tiver um meio magnético
linear.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 249

Exemplo 5.19. Campo magnético B⃗1 em um meio com a permeabilidade µ1


= 4 µH/m dado por:
B⃗1 = 2x̂ − 3ŷ + ẑ mT.
O meio 1 preenche a região z < 0. A partir de z > 0, a permeabilidade muda
para µ2 = 5 µH/m. Suponha que existe uma corrente na direção x dada por
K⃗ = 80x̂ A/m.
Encontre o campo magnético B⃗2 na segunda região z > 0.
Resposta:
Inicialmente, identificamos que o versor normal à interface é ẑ. Portanto,
⃗ n1 = 1ẑ mT e B
B ⃗ t1 = 2x̂ − 3ŷ mT.
Pela continuidade do componente normal do campo magnético:
⃗ n2 = B
B ⃗ n1 = 1ẑ mT.

Para dois meios lineares, a intensidade de campo magnético tangencial à


interface é:

⃗ t1 = Bt1 = 500x̂ − 750ŷA/m
H
µ1
Como não existe corrente na direção y, o componente x do Ht é contínuo,
ou seja, H2x = 500A/m. Mas, o componente y da intensidade sofre uma
descontinuidade devido à corrente superficial na direção x, conforme a figura
5.17:

Meio 1 Meio 2
𝐵𝑧1 𝑦 𝐵𝑧2
y
y
x z
𝐾 =80𝑥
Elo
Fig. 5.17. Interface entre dois meios magnéticos, onde a corrente superficial

Kpercorre na direção x.

−750∆y − Hy2 ∆y = 80∆y ⇒ Hy2 = −830 A/m


Logo, o componente tangencial da intensidade do campo magnético no se-
⃗ t2 = 500x̂ − 830ŷ A/m. E o campo H
gundo meio é:H ⃗ 2 vai ser:

⃗ 2 = 500x̂ − 830ŷ + 200ẑ A/m


H
250 5.5. CONDIÇÕES CONTORNO

y 1 1 2 2

x P
-z H'
r H"
P
I
h H 
r r I"
h
 
I I'
1 2 h h

(a) (b) (c)

Fig. 5.18. a) Corrente I percorrida em um meio magnético µ1 , e em paralelo com


um material magnético µ2 . b) Configuração equivalente para achar as fontes do
campo H ⃗ no meio magnético µ1 , i.e. x > 0. c) Configuração equivalente para
achar as fontes do campo H ⃗ no meio magnético µ2 , i.e. x < 0.

Também, o campo B ⃗ 2 é encontrado multiplicando H ⃗ 2 pela permeabilidade


da segunda região:
⃗ 2 = 2, 5x̂ − 4, 15ŷ + ẑ mT.
B

Exemplo 5.20. Uma corrente I percorre um fio reto localizado em um


meio magnético linear de permeabilidade µ1 . O fio está em paralelo com à
interface da segunda região de permeabilidade µ2 à distância h, conforme
a figura 5.18a. a) Encontre as correntes que podem servir para análise de
campo magnético nas duas regiões. b) Como será a resposta (a) se tiver um
meio magnético ideal?
Resposta:
a) Utilizamos o método das imagens e nomeamos a corrente imagem I ′ para
análise de campo magnético no meio magnético µ1 , conforme a figura 5.18b.
Pela lei de Ampére, a intensidade do campo magnético no ponto P, gerada
pela corrente I, será H = I/(2πr), onde r é a distância entre o fio e o ponto
P na interface. Sendo assim, o seu componente tangencial à interface será
H = I cos α/(2πr). Também, o campo gerado pela corrente I ′ no ponto
P será H ′ = I ′ /(2πr), logo o seu componente tangencial à interface será
Ht′ = I ′ cos α/(2πr), no sentido oposto do campo tangencial gerado pela
corrente I, conforme a figura 5.18b. Portanto, o componente tangencial do
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 251

campo na meio magnético µ1 será:


(I − I ′ ) cos α
Ht1 =
2πr
Para estudo de campo magnético na região µ2 , consideramos a corrente
imagem I ′′ na distância h da interface, conforme a figura 5.18c. Pela lei de
Ampére, o campo magnético no ponto P será H ′′ = I ′′ /(2πr), logo o seu
componente tangencial à interface será Ht′′ = I ′′ cos α/(2πr). Sendo assim,
teremos a relação entre as correntes da seguinte forma:

I − I ′ = I ′′ ,

pela continuidade do campo tangencial à interface dada pela equação (5.38).


O componente perpendicular à superfície do campo H na região µ1 será
(I +I ′ ) senα/(2πr) e na região µ2 será I ′′ senα/(2πr), respectivamente. Sendo
assim, o componente normal do campo magnético Bn , no meio magnético µ1
será µ1 (I + I ′ ) senα/(2πr) e no meio µ2 será Bn′′ = µ2 I ′′ senα/(2πr). Pela
continuidade do campo Bn dada pela equação (5.37), teremos a seguinte
relação entre as correntes:

µ1 (I + I ′ ) = µ2 I ′′ .

Em seguida, teremos as correntes de magnetização I ′ e I ′′ da seguinte forma:


µ2 − µ1 2
I′ = I e I ′′ = I. (5.39)
µ2 + µ1 1 + µ2 /µ1
b) Se o meio magnético µ2 for um condutor magnético ideal, i.e. µ2 → ∞,
pela equação (5.39), as correntes serão I ′ = I e I ′′ = 0, ou seja, teremos
um campo magnético em dobro, perpendicular à interface, na região µ1 ,
enquanto o campo magnético no meio condutor magnético será nulo. Sendo
assim, a presença do condutor magnético funciona como amplificador do
campo magnético. Anteriormente, apresentamos este fenômeno pela técnica
das imagens.
Também, podemos estudar a passagem da corrente elétrica no meio mag-
nético ideal. Neste caso, basta inserir µ1 → ∞ na equação (5.39), para ter
I ′ = −I e I ′′ = 2I. Logo, a corrente de magnetização, que serve para análise
de campo magnético no condutor magnético ideal, será no sentido oposto da
corrente I. Neste caso, o campo magnético total somente terá o componente
tangencial em dobro na superfície do condutor ideal, i.e. Ht1 = I cos α/(πr).
Enquanto, o campo magnético gerado no meio magnético µ2 será em dobro,
ou seja, H ′′ = I/(πr). ■
252 5.6. AUTOINDUTÂNCIA ...

d𝑙 ′1 d𝑙′2

c1 r12 r22 c2
r11 I2
I1
d𝑙2
d𝑙1

Elo 1 Φ12 Elo 2

Fig. 5.19. Dois circuitos percorridos por duas correntes continuas I1 e I2 .

5.6 Autoindutância e Indutância Mútua


Nos capítulos passados definimos um parâmetro que representa a quan-
tidade de cargas armazenadas em um dispositivo elétrico, chamada de capaci-
tância. Também, para dispositivos magnéticos, podemos definir um parâme-
tro comparativo de quantidade de geração do fluxo magnético ϕ por unidade
da corrente elétrica I do dispositivo, chamada de autoindutância, ou seja,
L = ϕ/I. Neste caso, consideramos que o fluxo gerado somente atravessa o
dispositivo em única vez. Se tiver a passagem do fluxo gerado em múltiplas
vezes, a autoindutância será:

L= , (5.40)
I
onde N representa o número de vezes que o fluxo atravessa o dispositivo
magnético. Por exemplo, para um solenoide N será o seu número de espiras.
Se tiver um dispositivo magnético com múltiplos enrolamentos, será neces-
sária reformular a autoindutância. Por exemplo, na figura 5.19 é ilustrada
um dispositivo que tem duas espiras de fio, i.e. N1 = N2 = 1. Suponha que a
corrente continua que passa pela primeira espira seja I1 , gerando o fluxo mag-
nético Φ1 . Do fluxo Φ1 , somente uma fração Φ11 passa em primeira espira.
Sendo assim, a autoindutância será ϕ11 /I1 . Se o fluxo magnético atravessa N1
vezes, a autoindutância será definida pela seguinte fórmula:
N1 Φ11
L1 = (5.41)
I1
Devido à proximidade das espiras, ocorre a passagem parcial de linhas
do campo magnético pela segunda espira, conforme a figura 5.19. Podemos
definir um parâmetro comparativo da quantidade de fluxo magnético que
atravessa a segunda espira produzido pela passagem da corrente na primeira
espira, chamada de indutância mútua M21 = Φ21 /I1 . Se o fluxo magnético
atravessa a segunda espira por N2 vezes, a autoindutância será definida pela
seguinte fórmula:
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 253

N2 Φ21
M21 = (5.42)
I1
Para a segunda espira, a passagem de uma corrente continua I2 , produzirá
o fluxo magnético Φ2 . Do fluxo Φ2 , somente uma fração Φ22 passa na segunda
espira. Sendo assim, a autoindutância será ϕ22 /I2 . Se o fluxo magnético
atravessa N2 vezes, a autoindutância da segunda espira será definida pela
seguinte fórmula:
N2 Φ22
L2 = . (5.43)
I2
Também, existe um fluxo magnético gerado pelo circuito 2 que passa par-
cialmente, N1 vezes pelo circuito 1, portanto, a indutância mútua M12 pode
ser definido por:
N1 Φ12
M12 = (5.44)
I2
Se o fluxo Φ21 representa as linhas parciais do campo que atravessa a se-
gunda espira, Portanto, a passagem da corrente na primeira espira produz o
fluxo magnético na segunda, Onde Φ22 é o fluxo gerado pelo circuito 2 que
passa N2 vezes em si mesmo. O Assim, a indutância mútua é definida da
seguinte forma:circuito 1 N2 o circuito 2. Onde Φ11 é o fluxo gerado pelo
circuito 1 que passa N1 vezes em si mesmo. Geralmente, autoindutância
é calculada a partir da fórmula (5.40). Entretanto, podemos desenvolver a
relação de autoindutância com campo vetoriais magnéticos. Primeiramente,
conforme , a passagem da corrente I1 no elo 1 gera o fluxo de campo mag-
nético Φ1 . O fluxo parcial Φ11 representa o fluxo magnético do circuito 1
por corrente aplicada I1 . Então, a autoindutância será : Podemos reformu-
lar a definição de autoindutância e indutância mútua em função do campo
magnético B ⃗ ou do potencial vetorial A.
⃗ Considere dois circuitos próximos
entre si conforme a figura 5.19. O fluxo magnético gerado pelo circuito 1 que
atravessa o mesmo circuito, dada pela equação (2.30) será:
Z
Φ11 = ⃗ 1 · d⃗s
B
c1

⃗ = ∇×A
Lembra-se a equação B ⃗ e o teorema de Stokes dado pela equação
(4.10): Z I
Φ11 = ∇ × A1 · d⃗s = A
⃗ ⃗ 1 · d⃗l1 (5.45)
c1

Nesta equação, podemos substituir a fórmula do potencial vetorial gerado


pela uma corrente unidimensional, dada pela equação (4.19). Em seguida,
podemos encontrar a nova equação da autoindutância em função da geome-
tria do circuito magnético. Para obter a nova equação da autoindutância,
254 5.6. AUTOINDUTÂNCIA ...

basta substituir na equação (5.41) o fluxo Φ11 em função da corrente I1 e


considerar N1 = 1, conforme a figura 5.19. Sendo assim, a autoindutância
será da seguinte forma:
I
d⃗l1′ · d⃗l1
L1 = k (5.46)
c1 r11
Seguindo o mesmo procedimento, teremos a fórmula da autoindutância do
segundo circuito:
I ⃗′
dl2 · d⃗l2
L2 = k (5.47)
r22
Utilizando a mesma analogia, podemos expressar M21 como:
H
⃗ 1 · d⃗l2
A
M21 = ,
I1

que após substituir o potencial vetorial pela equação (4.19) será da seguinte
forma:
I ⃗′
dl1 · d⃗l2
M21 = k (5.48)
r12
Basta repetir o mesmo procedimento em cima e encontrar a indutância mutua
M12 :
I ⃗′
dl2 · d⃗l1
M12 = k (5.49)
r21
Obviamente, as equações (5.48) e (5.49) são equivalentes, porque, dl1 e dl1′
representam o mesmo elemento diferencial do circuito 1. A mesma justifica-
tiva é válida para dl2 e dl2′ . Isso significa que o fluxo magnético, por unidade
de corrente, gerado no circuito 1 que atinge o circuito 2, é o mesmo produzido
pelo segundo circuito atingindo o circuito 1. Logo, a indutância mútua entre
dois circuitos torna-se única, representada somente por M . Esta propriedade
é chamada de reciprocidade da indutância mútua.
Vale ressaltar que as formulações obtidas para autoindutância e indutância
mútua (equações (5.41) e (5.48)) indicam que a indutância, em geral, depende
da geometria, do número de espiras, e do material magnético do núcleoa .
Apresentamos, no capítulo 3, a formulação da capacitância em função da
sua geometria e do material dielétrico utilizado, dada pela equação (3.39).
Esta equação em geral é mais conveniente do que a equação (3.37) para
calcular a capacitância. Fizemos a tentativa para achar a fórmula da in-
dutância em função da sua geometria e material magnético utilizado, dada
a
Se tiver um núcleo magnético, basta trocar o coeficiente k por µ/4π.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 255

pela equação (5.41). Entretanto, é mais conveniente encontrar a indutância


e indutância mútua pela equações (5.46) ou (5.42).
Exemplo 5.21. Calcule as autoindutâncias L1 , e L2 , e indutância mútua M
e o coeficiente de acoplagema para dois solenoides com núcleo de ar, conforme
a figura (5.20).
Resposta:
Anteriormente, fizemos análise do campo magnético gerado pela corrente
que percorre em um solenoide dado pela equação (4.16). Nesta equação
podemos trocar 4πk por µ0 , e N1 /l por n1 . Sendo assim, o fluxo magnético
será Φ1 = µ0 n1 I1 πa2 . Assim, a autoindutância do solenoide 1 por meio da
equação (5.46) será:

N2 espiras
2b 2a
N1 espiras
l
Fig. 5.20. Acoplamento de dois solenoides concêntricos e longos percorridos por
duas correntes distintas I1 e I2 .

N1 µ0 (N1 /l)I1 πa2


L1 =
I1
N12 µ0 πa2
=
l
Seguindo o procedimento parecido, teremos a autoindutância do segundo
solenoide da seguinte maneira:

N22 µ0 πb2
L2 =
l

A indutância mútua é encontrada a partir da equação (5.42):

N2 Φ21
M=
I1
µ0
= N2 N1 πa2
l
a

O coeficiente de acoplagem é definido por k = M/ L1 L2 .
256 5.6. AUTOINDUTÂNCIA ...

sendo assim, o coeficiente de acoplagem será:

N1 N2 µ0 /lπa2 a
k=q = .
N12 µ0 /(lπa2 )N22 µ0 /(lπb2 ) b

Logo, a formula obtida representa a acoplagem magnética é máxima quando


diâmetro dos solenoides for igual, i.e. a = b. Na prática, devido a dimensão
dos fios dos solenoides, o raio do enrolamento externo sempre será maior que
o interno ■

Exercício 5.14.
Ache a indutância mútua entre um toroide e um fio longe e reto, conforme a
figura 5.21.

I1
b
a

I2

Fig. 5.21. Indutância mútua entre um toroide e um fio que o atravessa.

Exercício 5.15.
Ache a indutância mútua entre um fio reto e um fio em formato de triangulo
na figure 5.22.
Exercício 5.16.
Repita o exercício anterior para o arranjo magnético da figura 5.23.
Exercício 5.17.
Repita o exercício anterior para o arranjo magnético da figura 5.24.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 257

a
I2
I1 d
Fig. 5.22. Indutância mútua entre um fio longo e um fio em formato triangulo.

a I2
ds
I1 d

Fig. 5.23. Indutância mútua entre um fio longo e um fio em formato de triangulo.

5.7 Energia Magnética


Nesta seção, abordaremos o cálculo da energia armazenada em dispo-
sitivos magnéticos. Para Isso, inicialmente, acharemos a energia para um
solenoide longo no seguinte exemplo, que nós permita justificar a fórmula
geral de energia armazenada em dispositivos magnéticos.
Exemplo 5.22. A corrente I percorre em um solenoide de comprimento
l, sua área de seção transversal é s e o seu número de espiras é N . A
permeabilidade do núcleo do solenoide comprido é µ, conforme a figura 5.25.
Encontre a energia magnética armazenada no solenoide.
Resposta:
Começamos com a fórmula de energia armazenada em um indutor dado na
teoria de circuitos elétricos:a :
1
W = LI 2
2
Anteriormente, achamos autoindutância em função do fluxo magnético, na
equação (5.41). O fluxo magnético é encontrado a partir do campo magnético
a
A energia armazenado no intervalo dt é dW = iV dt, lembrando da relação V dt = Ldi.
258 5.7. ENERGIA MAGNÉTICA

I2 a

d
I1

Fig. 5.24. Indutância mútua entre um fio longo e um fio em formato de circulo.

I l
N Espiras

s 

Fig. 5.25. Solenoide de comprimento l e área do núcleo s, e a permeabilidade do


núcleo µ, percorrido por uma corrente I.

B homogêneo em uma área s por Φ = Bs. Então, a energia será:


1 NΦ 2
W = I
2 I
Bs
= NI
2
Ainda, a circulação do campo magnético ao longo de um elo amperiano re-
tangular da figura 4.13 será Hl. Pela lei de Ampère (equação (5.26)), a
circulação do campo é equivalente a N I, o que nós permite substituir na
equação de energia acima:
Hl
W = Bs
2 (5.50)
1
= HBls.
2
Observamos que a área s multiplicada pelo comprimento l do solenoide re-
presenta o volume do dispositivo magnético, logo, 1/2BH representará a
densidade volumétrica de energia magnética deste dispositivo em J/m3 . Vale
lembrar que, para um solenoide longo, o campo magnético fora do solenoide
é nulo, portanto, a formulação da energia pode ser generalizada para integral
sobre todo espaço, ou seja:
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 259

1Z ⃗ ⃗
W = H · Bdτ, (5.51)
2 ∀

A fórmula obtida na equação (5.51) é valida para calcular a energia arma-


zenada em um dispositivo magnético. Se tiver um material magnético linear,
podemos ainda simplificar a equação por:
1 Z 2
W = B dτ (5.52)

Sendo assim, a força de atração magnética será encontrada a partir de
gradiente da energia, ou seja:
F⃗ = −∇W, (5.53)

Como o trabalho realizado pelo circuito magnético (F⃗ · ∆⃗l) leva a redução
da energia armazenada por −∆W , consideramos o sinal negativa na equação
(5.53).

Exemplo 5.23. Uma corrente I1 percorre um fio longo e reto na proximidade


de um fio quadrado, que é percorrido por uma corrente I2 , como ilustra a
figura 5.26.
a) Encontre a indutância mútua.
b) A partir de energia magnética, encontre a força magnética que um fio
aplica sobre o outro.
Resposta:

I2 a
I1 r

Fig. 5.26. Força de atração entre um fio de corrente e uma espira quadrada de
corrente, nas proximidade.

a) Para encontrar a indutância mútua podemos começar pela equação (5.42),


começando calcular o fluxo do campo magnético gerado por circuito 1 que
atravessa o fio quadrado. Já sabemos do campo magnético gerado pelo um
260 5.8. PROJETOS

fio reto na equação (4.6). Logo, a indutância mútua será:


Z
⃗ 1 · d⃗s2
B
M21 =
I1
µ0 Z b Z r+a 1
= drdz
2π 0 r r
µ0 b r + a
= ln .
2π r
b) Para que possamos achar a força de atracão entre dois circuitos, começare-
mos a modelagem dos dois circuitos magnéticos acoplados, em que a energia
magnética armazenada é:
1 1
W = L1 I12 + L2 I22 + M I1 I2
2 2
A única função variável nesta equação é a indutância mútua dada pela equa-
ção acima. Logo, a força magnética a partir da equação (5.53) é calculada
da seguinte forma:
∂W
Fr = −
∂r
∂M
= −I1 I2
∂r
µ0 b ∂ r+a
= −I1 I2 ln
2π ∂r r 
µ0 b 1 1
= I1 I2 − .
2π r r + a

Exercício 5.18.
a) Achar a força de atração magnética sobre a peça em uma distância ∆x a
um solenoide da figura 5.27.
b) Encontrar a autoindutância do circuito magnético.a ■

5.8 Projetos Realizados em Magnetostática


Ao longo de anos de ensino de eletromagnetismo, foram sugeridos vários
projetos de menostática para alunos de eletromagnetismo como a seguir:
1- Misturador de eletrolitos que funciona com a força induzida sobre íons
do eletrolito.
2- Força locomotiva de barcos pela força Lorentz conhecido como MHD b
a
Este dispositivo é utilizado para proteção contra sobrecarga de corrente.
b
Magnetohydrodynamic drive.
CAPÍTULO 5. MATERIAIS MAGNÉTICOS... 261

l2

l1

Fig. 5.27. Força de atração magnética sobre uma peça ferromagnética.

Fig. 5.28. Medidor de campo magnético a base de efeitos hall realizado por ...

3- Medidor de campo magnético, utilizando sensoreamento Hall.


4- Levitação magnética com sensoreamento óptico.
5- Levitação magnética com sensoreamento Hall.
6- Protótipo didático para mostrar a distribuição de campo Magnético.
7- Rastreador de fios de corrente DC.
8- Separador de materiais ferromagnéticos.
9- Locomoção de um Trem em tubo de fio à base da força Lorentz.
10- Trem magnético Maglev a .
11- Medidor magnético de velocidade linear.

12- Medidor magnético de velocidade circular.


Entre os projetos mencionados, os que já estão finalizados são mostrados nas
figuras abaixo.

a
Magnetic levitation.
262 5.8. PROJETOS

Fig. 5.29. Locomoção de um Trem em tubo de fio com base na força Lorentz,
realizado em 2018 por José G. Andrade Leal, Nícolas H. Gomes da Silva, Luiz E.
da Silva lemos, Victor Moura Almeda.
Parte IV

Campo Elétrico e Magnético


Variável no Tempo

263
Capítulo
6
Campo Elétrico e Magnético de Va-
riação Lenta no Tempo

Além da carga elétrica, a taxa de variação do campo magnético é a fonte de campo elétrico. Analogamente, além da corrente elétrica, a taxa de
variação do campo elétrico é a fonte de campo magnético.

6.1 Análise de campo pela Lei de Faraday... . . . . . . . . . 266


6.1.1 Lei de Lenz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
6.2 Dispositivos Eletrodinâmicos . . . . . . . . . . . . . . . 275
6.2.1 Geradores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
6.2.2 Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 276
6.2.3 Leitor/Gravador de Fitas/Discos Magnéticas . . 281
6.2.4 Alto Faltante Eletrodinâmico . . . . . . . . . . . 282
6.2.5 Anel Voador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282
6.2.6 Freio Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284
6.2.7 Forno a Indução Magnético . . . . . . . . . . . . 285
6.2.8 Recarga Sem Fio de Baterias . . . . . . . . . . . 286
6.3 Projetos dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287

265
266 6.1. ANÁLISE DE CAMPO PELA LEI DE FARADAY...

A té este momento estudamos os fenômenos elétricos resultantes de


uma distribuição espacial de cargas elétricas. Aprendemos que a distribui-
ção de cargas gera um campo elétrico ao seu redor, formulado pela lei de
Coulomb. O campo elétrico gerado é estático devido a distribuição estática
de cargas elétricas, ou seja, não ocorre alteração do campo elétrico com o
tempo. Aprendemos também que cargas em movimento, i.e. corrente elé-
trica continua, gera um campo magnético modelado pela lei de Biot-Savart.
O campo magnético é estático devido a presença de uma corrente elétrica
continua, ou seja, não ocorre alteração do campo magnético com o tempo.
A partir deste capítulo entramos em uma nova fase, caracterizado pela
existência de variação no tempo da distribuição de cargas elétricas ou de cor-
rente elétrica. Logo, além da variação espacial de campo elétrico e magnético,
há variação no tempo. Experimentos realizados indicam que a variação no
tempo de um campo magnético implica na origem de um campo elétrico.
A primeira vez que os resultados destes experimentos foram modelados foi
através do físico e químico britânico Michael Faraday. Pela reciprocidade
entre os campos existe expectativa que também, a variação de campo elé-
trico seja uma fonte de campo magnético. Entretanto, até este momento,
somente conhecemos a corrente elétrica como a única fonte de campo mag-
nético, através da lei de Ampère. No entanto, pela reciprocidade existente
entre os campos, nota-se que existe a possibilidade de que a variação de
campo elétrico também possa se tornar uma fonte de campo magnético.
Neste capítulo, tentaremos modificar a lei de ampere para incluir novos
fenômenos na modelagem expressa por esta lei. As evidências surgem a in-
clusão de um termo ligado a taxa de variação no tempo do campo elétrico
como sendo a fonte adicional de campo magnético. Dessa maneira, serão es-
tudados os efeitos físicos, resultantes da ocorrência da variação no tempo das
fontes de campos elétricos, e magnéticos na escala de milissegundos. Os fenô-
menos cujas variações no tempo sejam em ordens menores serão abordados
no próximo capítulo.

6.1 Análise de Campo variante no Tempo


A indução do campo elétrico em um circuito magnético foi observada
pela primeira vez por Michael Faraday. O circuito elétrico utilizado era um
arranjo de uma bateria, uma chave liga/desliga e uma bobina em série. Foi
observada que havia uma indução de uma corrente em outra bobina, na
proximidade da primeira, no momento de ligar o circuito. Notou-se também
que a passagem de corrente no sentido oposto ocorre no momento em que a
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 267

I I
𝐵 𝐵 𝐵(𝑡)
𝑣
𝑣 𝑣 a
𝑣
e e
ee ee
x b
x
(a) (b) (c)

Fig. 6.1. a) Circuito elétrico se movendo com a velocidade ⃗v dentro de um campo


magnético. b) Campo magnético móvel para esquerda com a velocidade ⃗v . c)
Campo e circuito em repouso, enquanto o campo é variável no tempo.

corrente que percorre a primeira bobina é interrompida. Vale destacar que


não existe nenhum contato físico entre as duas bobinas. Mais investigação
neste fenômeno foram resumidas posteriores observações:
A figura 6.1a mostra um circuito sob o efeito de um campo magnético de
uma ímã perpendicular ao seu plano. O circuito está em movimento com
a velocidade ⃗v para direita. Observou-se a geração de uma corrente per-
correndo o circuito no sentido indicado. A indução da corrente pode ser
esclarecida pelo deslocamento dos elétrons do fio através da força Lorentz.
Neste caso, a força será perpendicular da direção do movimento do fio e do
campo magnético. Sendo assim, o sentido da força na parte horizontal supe-
rior do circuito é para cima, enquanto, o sentido da força na parte horizontal
inferior do fio é para baixo, conforme a figura 6.1a. Então, como o corpo do
circuito é sólido, estas forças se neutralizam. No entanto, a força Lorentz na
parte vertical do circuito empurra os elétrons para baixo, fazendo com que
fiquem acumulados na parte inferior do fio vertical, conforme a figura 6.1a.
Esse acúmulo leva a geração de uma diferença de tensão e campo elétrico
induzido. A carga acumulada em um comprimento ∆l do fio é dado por ρl ∆l
onde ρl C/m é a densidade de elétrons. Logo, a força Lorentz dada pela
equação (5.2) será ρl ∆lvB, onde ρl v é a corrente em Ampere. Portanto, a
força total sentido por um fio de comprimento a será:
F = IaB
O acúmulo de cargas chega em um ponto de equilíbrio quando, a força
eletrostática eEind sobre o elétron é igual a força Lorentz, i.e. Eind = vB.
Logo, a tensão induzida para um campo elétrico homogêneo será:
ϕind = aEind = Bav(t) (6.1)
No segundo experimento mostrado na figura 6.1b, o circuito está em re-
pouso, enquanto o campo magnético é móvel para esquerda, com a mesma
268 6.1. ANÁLISE DE CAMPO PELA LEI DE FARADAY...

velocidade. Observamos mais uma vez a geração de corrente no circuito no


sentido indicado, ou seja, o que importa é o movimento relativo do circuito-
campo. Este experimento mostra que a corrente induzida é do mesmo tama-
nho e sentido que do primeiro experimento, ou seja, o acúmulo de elétrons na
parte inferior do fio vertical. Para justificar o acúmulo de elétrons, é neces-
sário realizar uma nova modelagem, visto que a força Lorentz somente será
sentida pelas cargas elétricas em movimento.
Na terceira parte do experimento conforme a figura 6.1c, o mesmo circuito
é posto sob efeito de um campo magnético variável no tempo, sem nenhuma
parte móvel. Mais uma vez, as cargas elétricas estão em repouso. Logo, pre-
cisamos de novas teorias para justificar a força sentida pelas cargas elétricas,
i. e. a razão pela qual os elétrons acumulam na parte inferior do fio vertical
e geram um campo elétrico.
O ponto comum entre as três partes do experimento é a variação no tempo
do fluxo magnético. Nos dois primeiros experimentos o fluxo magnético é
modificado devido a variação da área, i.e. Φ(t) = Bax(t). Enquanto, no
terceiro, o fluxo magnético varia devido a variação do campo magnético, i.e.
Φ(t) = B(t)ab. Nestas equações, a e b são dimensões do circuito e x(t) é a
largura parcial do circuito onde o fluxo magnético atravessa.
Encontramos a tensão induzida do primeiro experimento pela equação
(6.1). Ao trocar a velocidade por ẋ(t) nesta equação, é possível dizer que
a tensão induzida é taxa de variação do fluxo magnético, isto é:

ϕind = Baẋ(t)
(6.2)
= Φ̇(t)

Apesar do circuito elétrico estar em repouso e o fluxo magnético se mover


com a velocidade v(t) conforme figura 6.1b, ainda podemos utilizar da mesma
modelagem para a tensão induzida, realizada no segundo experimento. A
validade da formulação obtida, ou seja, a tensão induzida relacionada com a
taxa de variação no tempo do fluxo magnético, leva a seguinte equação para
o terceiro experimento:

ϕind = Φ̇(t)
(6.3)
= abḂ(t)

A lei que representa a modelagem matemática do campo elétrico induzido


é chamada a lei de Faraday. Baseando-se nessa lei, a tensão induzida (força
eletromotriz ou fem) no circuito para cada espira completa do circuito é
igual a taxa de variação do fluxo magnético, i.e. fem = Φ̇. Assim, se tiver
N espiras completas do circuito, o coeficiente de proporção será N , porque
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 269

cada espira contribuí por Φ̇ em força eletromotriz, logo:

fem = N Φ̇ (6.4)

Assim, o tamanho da fem gerada para o arranjo do circuito da figura 6.1a


e b será fem = Bav, sabendo que o circuito possui somente uma espira. An-
teriormente, encontramos a mesma resposta na equação (6.1) pela equilíbrio
entre as forças. Enquanto isso, no terceiro circuito da figura 6.1c, a fem será
abḂ(t).
Podemos representar a formulação através de uma função do campo elé-
trico, tendo em vista que a tensão é integral de linha do campo elétrico.
Como o circuito é uma malha fechada, temos:
I
fem = ⃗ · d⃗l
E
N ciclos
I
=N ⃗ · d⃗l
E
c

Lembrando que a fem para um circuito com N espiras é dado por fem = N Φ̇,
então: I
⃗ · d⃗l = Φ̇
E
c
Cabe ressaltar que somente a formulação do tamanho da fem foi obtida,
contudo não foi esclarecida a polaridade da tensão induzida ou sentido e
direção do campo elétrico. Pela mesma razão, na formulação de tensão em
função do campo elétrico a sua polaridade não foi considerada. Na próxima
seção a parte pendente, ou seja, a polaridade da tensão induzida abordada
pela Lei de Lenz.

6.1.1 Lei de Lenz


Voltando para experimento anterior da figura 6.1a, percebe-se que, para
tal direção de deslocamento, a taxa de variação do fluxo magnético é ne-
gativa, enquanto a fem induzida encontra-se positiva para a polaridade em
questão. Portanto, a representação algébrica correta da fem é dada por:

fem = −N Φ̇ (6.5)
O sinal negativo da taxa de fluxo magnético é uma justificativa da lei de
Lenz para encontrar a polaridade correta de força eletromotriz e o sentido da
corrente induzida no circuito elétrico. Foi descoberto que a corrente induzida
no circuito tem função de manter o fluxo magnético conservado. Se o fluxo
estiver reduzindo, a corrente induzida percorre no circuito de modo a gerar
270 6.1. ANÁLISE DE CAMPO PELA LEI DE FARADAY...

um fluxo adicional, compensando a redução do fluxo magnético. O sentido da


corrente será contrario ao do caso anterior, se o fluxo estiver aumentando, as-
sim gerando um fluxo adicional no sentido oposto. Dessa maneira, a corrente
induzida tentará eliminar o crescimento do fluxo magnético.
Por exemplo, na figura 6.1a, o fluxo magnético que atravessa o circuito
está reduzindo com o tempo, fazendo com que a corrente induzida seja ge-
rada no sentido indicado, de modo a compensar a redução ocorrida no fluxo.
O sentido da corrente é obtido considerando a direção do fluxo induzido
para dentro e seguindo a regra da mão direita a . É importante lembrar que
também é necessário inserir um sinal negativo na equação da integral linear
do campo elétrico em função da taxa de variação do fluxo magnético, ou
seja:
I
E⃗ · d⃗l = −Φ̇ (6.6)
c

Exemplo 6.1. A magnetização uniforme de um ímã cilíndrico longo de


comprimento l e raio a é representada por M ⃗ = M ẑ, onde o eixo z é o eixo
principal do cilindro. O ímã está atravessando um anel circular de diâmetro
ligeiramente maior que o do ímã com velocidade vẑ, conforme a figura 6.2.
Desenhe o gráfico:
a) Do fluxo que atravessa o anel.
b) Da fem induzida no anel em função do tempo.
c) Achar a direção da corrente induzida no anel.
Resposta:
A corrente de magnetização em volume é obtida pela equação (5.20):

J⃗M = ∇ × M
⃗ =0

Também, a corrente de magnetização na superfície do cilindro é encontrada


pela equação (5.19):
⃗M = M
K ⃗ × r̂ = M φ̂

Assim, podemos modelar o ímã cilíndrico por um longo solenoide com cor-
rente superficial M φ̂, como foi discutido no exercício 5.2 e exemplo 5.4. En-
contramos o campo magnético por B ⃗ = µ0 M ẑ no interior do ímã. Com
a aproximação do ímã ao anel, o fluxo magnético aumenta gradualmente
até a entrada completa do no anel, onde o fluxo maximiza com tamanho
Φ = µ0 M πa2 . O tempo que o fluxo magnético permanece constante é de l/v
segundos. Logo, com a saída do ímã, o fluxo reduz gradualmente e chega
a zero. A curva de variação do fluxo no anel com o tempo é mostrada na
a
Veja figura 4.7 para lembrar de regra da mão direita.
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 271

l
 
M0a2
Anel
ሬሬሬԦ
𝑀
1 𝑣
ሬԦ 𝑣
𝑣 a l/v t t
2

(a) (b) (c)

Fig. 6.2. a) Um ímã cilíndrico longo de comprimento l e raio a se movendo com a


velocidade vẑ na direção de um anel. b) Fluxo magnético que atravessa o anel. c)
A tensão induzida no anel.

figura 6.2b. Pela lei de Faraday (equação (6.5)), a variação no tempo do fluxo
magnético representa a tensão gerada ϕ como apresentada na figura 6.2c.
Para encontrar a direção da corrente, inicialmente, percebe-se o aumento
gradual do fluxo magnético que atravessa o anel, conforme a figura 6.2b. Pela
lei de Lenz a corrente deve ser no sentido 1 da figura 6.2a i.e. no sentido
horário de modo a anular o aumento do fluxo. Com a saída do ímã, o fluxo
magnético começa a reduzir. Assim, a corrente induzida no anel será no
sentido 2 ou seja no sentido anti-horário, compensando a redução do fluxo.

Exercício 6.1.
Encontre o sentido da corrente no momento de ligar a fonte do circuito 1 e
também quando a chave seja aberta na figura 6.3.

Exercício 6.2.
Para um circuito magnético com dois enrolamentos da figura 5.13, encontre
a força eletromotriz (emf) no secundário com os seguintes dados: N1 =
200, N2 = 100, I1 = 3 sen120πt A, µr = 300, A = 1 cm2 , 2l1 = l2 = 2 cm.

Até este momento representamos a relação da força eletromotriz com a taxa


de variação no tempo do fluxo magnético nomeado com a lei de Faraday na
equação (6.5). Podemos chamar a formulação na equação (6.6) como a forma
integral da lei de Faraday. Em vez, podemos representar a taxa de variação
do fluxo magnético em função da densidade do campo i.e. B. Se não tiver
variação no tempo da área do circuito, a taxa de variação do fluxo magnético
é obtido por:
Z
Φ̇ = B ⃗˙ · d⃗s.

Também, a circulação do campo elétrico na equação (6.6) pode ser subs-


272 6.1. ANÁLISE DE CAMPO PELA LEI DE FARADAY...

V0
G

Fig. 6.3. Indução de corrente na bobina no momento de liga ou desliga do circuito


1.

tituída por integral do seu rotacional, justificada pelo teorema de Stokes.a


Então, a equação (6.6) modifica-se para:
Z Z
∇×E
⃗ · d⃗s = − ⃗˙ · d⃗s
B

Logo teremos:
∇×E ⃗˙
⃗ = −B (6.7)
Que é conhecida como forma diferencial da lei de Faraday.b
Exercício 6.3.
Um disco circular metálico em rotação ω rad/s, emerso em um campo mag-
nético homogênea B, conforme a figura 6.4. Encontre a tensão medida pelo
voltímetro, sabendo do raio do disco representado por a.
Exercício 6.4.
A corrente que percorre em um fio reto e longo é A cos ωt. a) Encontre o
campo elétrico induzido ao redor do fio. b) Se tiver um pedaço de fio reto de
comprimento l, paralelo ao fio longo na distância a, calcule a tensão induzida
no extremidade do fio. ■

Até este momento, tivemos a modelagem de um fenômeno que relaciona


a variação no tempo do campo magnético como a fonte de campo elétrico,
a
Veja a equação (C.1) do apêndice do livro.
b
Adotamos um padrão onde a fonte de um campo aparece no lado direto da equação.
Esta regra foi respeitada nas equações (6.7) e (5.25) e (3.18).
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 273

 rad/s Tensão Induzida

Fig. 6.4. Disco de Faraday.

dada pela equação (6.7). Com a reciprocidade entre fenômenos elétricos e


magnéticos existe expectativa de gerar um campo magnético pela variação
no tempo do campo elétrico. Obviamente, nos experimentos de Biot-Savart a
única fonte encontrada era a corrente elétrica, porque as variações no tempo
de correntes e campos eram ausentes.
A consideração da corrente elétrica como a fonte do campo magnético
é mais transparente na formulação da lei de Ampère, dada pela equação
(5.25). No entanto, as evidências implicam que além da corrente elétrica
deveria considerar mais um termo na equação de Ampère como fonte de
campo magnético, relacionado com a taxa de variação no tempo do campo
elétrico. O próximo estudo será as modificações necessárias da lei de Ampère
para incluir a modelagem matemática dos fenômenos elétricos e magnéticos
variáveis no tempo.
A equação (B.7) no apêndice do livro justifica que a divergência do rota-
cional de um campo será nula. Assim, a resposta da divergência aplicada a
equação (5.25) será nula, ou seja ∇ · ∇ × H ⃗ = 0. Enquanto, o resultado do
∇ · J não é necessariamente nula.

Para esclarecer, considere um excesso de cargas elétricas livres acumuladas
em um região do espaço, i.e. Q C. Devido ao fenômeno de difusão essas cargas
vão se espalhar. A corrente devido ao espalhamento das cargas é obtida pela
taxa de variação no tempo de cargas, I = −dQ/dt. O sinal negativo é
um justificativo da redução da população de cargas na região, uma vez que a
corrente é positiva. Se tiver a densidade de cargas ρ C/m3 , a carga acumulada
274 6.1. ANÁLISE DE CAMPO PELA LEI DE FARADAY...

na região será: Z
Q= ρdτ,
Então, a corrente de difusão das cargas será:
d Z
I=− ρdτ
Z dt (6.8)
= −ρ̇dτ

Sabemos que a corrente é fluxo do campo vetorial J⃗ atravessando uma


superfície. Neste caso, a superfície escolhida ao redor da região com excesso
de cargas é fechada. Também, de acordo com o teorema de Gauss dado pela
equação (C.2), podemos trocar o fluxo por integral de volume da divergência.
Então:
I
I= J⃗ · d⃗s
Z (6.9)
= ∇ · Jdτ,

Comparando as equações (6.8) e (6.9), teremos a seguinte equação diferencial,


conhecida como a equação de continuidade:
∇ · J⃗ = −ρ̇ (6.10)
Portanto, em situações que a variação no tempo de densidade de cargas
elétricas existe i.e. ρ̇ ̸= 0, a divergência da densidade de corrente também
não é nula, i.e. ∇ · J.
⃗ Então, validando as equações ∇ · ∇ × H ⃗ = 0 e (6.10) é
possível somente com inserção de um termo adicional na equação de Ampère,
ou seja:
∇×H ⃗ = J⃗ + ⃗?
Assim, a divergência do campo vetorial é obtida por:
⃗ = 0 = −ρ̇ + ∇ · (⃗?),
∇ · (∇ × H) (6.11)

Se fizer o diferencial no tempo da lei de Gauss dada pela equação (3.18),


teremos ∇ · D⃗˙ = ρ̇. Comparando o resultado com a equação (6.11), o termo
faltante na equação de Ampère deve ser D.⃗˙ Assim, a lei de Ampère é modi-
ficada para:
∇×H ⃗˙
⃗ = J⃗ + D, (6.12)
para incluir os fenômenos elétricos e magnéticos variáveis no tempo. Cabe
ressaltar que a unidade de D⃗˙ é A/m2 , ou seja, a unidade da densidade de
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 275

corrente. Isto é suficiente razão para chamar D ⃗˙ como a densidade de cor-


rente de deslocamento. Este trabalho teórico foi desenvolvidas por físico e
matemático britânico James Clerk Maxwell.
Exercício 6.5.
Uma tensão alternada 50 cos ω0 t V (ω0 = 103 rad/s) aplicada a um capacitor
de folhas paralelas com distância de 2 mm e área de 10 cm2 e permissividade
2ϵ0 . Encontre a corrente que percorre no fio de contato. Encontre a corrente
de deslocamento.

6.2 Dispositivos Eletrodinâmicos


Nesta Seção os dispositivos eletrodinâmicos que funcionam com base nos
princípios da Lei de Faraday serão abordados. A indução de tensão resultado
de variação de um campo magnético em função do tempo é aproveitada para
geração de energia elétrica. Também, este fenômeno pode servir para indução
de tensão elétrica no secundário de um transformador. Anel voador, freio
eletrodinâmico, entre outros.

6.2.1 Geradores de Corrente Alternada


A figura 6.5a mostra a estrutura típica de um gerador de corrente alter-
nada ou alternador. O modelo básico é composto de um ímã, uma bobina
e as partes móveis que permitem a rotação da bobina por ω rad/s entre os
polos do ímã. A geração do campo magnético pode ser por um enrolamento
conectado a uma corrente contínua em vez do ímã. A parte fixa do gerador é
chamada de estator e a sua parte giratória é chamada do rotor. O estator é
projetado com uma geometria para gerar um campo magnético homogêneo.
A teoria de funcionamento do alternador é com base na variação do fluxo
magnético em função do tempo que atravessa a bobina. Para comprimento
b da bobina na figura 6.5a a força Lorentz sobre um fio de comprimento b
será e⃗v × B
⃗ = evB sen(90° + ωt), onde v = ωa/2 e a posição inicial (t=0)
da bobina for horizontal, conforme a figura 6.5b. Assim, no momento t
o ângulo percorrido será ωt. Obviamente, para uma bobina do rotor com
N espiras a força Lorentz se amplifica pelo número de espiras, equivalente
com N fonte de tensão em série. Sendo assim, o Então, a fem total será:
f em = N abωB cos ωt. A polaridade da tensão induzida é ilustrada na figura
6.5a.
Também, pela lei de Faraday, podemos achar a tensão induzida. O fluxo
magnético que atravessa a bobina é dΦ = B ⃗ · d⃗s. Se a referência do tempo
276 6.2. DISPOSITIVOS ELETRODINÂMICOS

b
𝑚

I
a
𝐵 𝑚
N t S

I
𝐵


(a) (b)

Fig. 6.5. a) Estrutura de um gerador de corrente alternada. b) Visão de um


gerador de outro ângulo.

for a posição horizontal da bobina, o ângulo entre o campo magnético e o


vetor de superfície será 90° − ωt, conforme a figura 6.5b. Então, o fluxo
magnético total que atravessa a bobina é Φ = abB cos (90° − ωt), conforme
a figura 6.5b. Sendo assim, a taxa de variação do fluxo magnético será
f em = N abωB cos ωt.
Vale ressaltar que para estrutura do gerador ilustrada na figura 6.5a, a
energia elétrica produzida será senoidal. Entretanto, com algumas alterações
na estrutura do gerador é possível gerar uma tensão monopolar ou corrente
continua.

6.2.2 Transformadores
A estrutura geral de um transformador é ilustrada na figura 6.6. Os
elementos básicos do transformador são o núcleo, os enrolamentos primários
e os enrolamentos secundários. O núcleo é geralmente feito de um material
ferromagnético doce (como o ferro, ferrita, ligas amorfas etc).
Em um transformador ideal, o campo magnético é produzido pela passa-
gem de corrente no enrolamento primário e pode ser definido a partir de:

V1 = N1 Φ̇1

E para o enrolamento secundário teremos:

V2 = N2 Φ̇1 (6.13)

Onde N1 , N2 , Φ1 , representam número de espiras do primário e secundário,


e o fluxo magnético produzido pelo primário, respectivamente. Então, a
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 277

I2
I1
N2 V2
V1 N1

1

Fig. 6.6. Estrutura geral de um transformador.

relação de tensões do primário e secundário será:

V1 N1
= (6.14)
V2 N2

Se for levado em consideração que o consumo e a dissipação de potência


são desprezíveis:
I1 V1 = I2 V2
Ou ainda:
V1 I2 N1
= = (6.15)
V2 I1 N2
A partir da equação (6.14), podemos classificar os transformadores com
base na relação de número de espiras do primário e secundário. Assim um
transformador é abaixador de tensão, se o número de espiras do secundário
for menor que do primário. Caso contrário, o transformador é considerado
como elevador de tensão. A elevação de tensão é acompanhada com a redução
de corrente e vice-versa, que pode ser confirmada pela equação (6.15).
As equações utilizadas para chegar a modelagem ideal do transformador
se conta com as seguintes aproximações:
1 - Único fluxo magnético que percorre circuito inteiro é Φ1 . Entretanto,
qualquer corrente, que passa pelas espiras secundárias ou primárias, pode
produzir um fluxo magnético. Por exemplo, a corrente I2 que passa pelo
secundário pode gerar um campo magnético que atravessa o primário do
transformador. Sendo assim, o fluxo que passa pelo primário do transforma-
dor será Φ1 + Φ12 . Então, a relação tensão e fluxo magnético será:

V1 = N1 (Φ̇1 + Φ̇12 ) (6.16)

ou seja,
V1 = L1 I˙1 + M I˙2 (6.17)
278 6.2. DISPOSITIVOS ELETRODINÂMICOS

Do mesmo jeito:
V2 = M I˙1 + L2 I˙2 (6.18)
Assim, não teremos a exatidão da relação de tensões com relação entre espiras
dada pela equação (6.14).
2 - O fluxo magnético gerado passa completamente pelo núcleo. Nor-
malmente, todas as linhas de campo magnético não passam pelo núcleo,
produzindo campo de franjas (do inglês, Friging Field), caracterizado pela
”fuga”das linhas de campo magnético. Para reduzir esse efeito, pode ser
utilizado um núcleo com relutância menor, bem como um enrolamento com
menor espaço entre as espiras. A relutância pode ser reduzida com aumento
da área de interseção, com redução do comprimento do núcleo, e trocar o
núcleo por um material magnético com a permeabilidade maior.
3 - Condução perfeita dos fios. Entretanto, sabemos que os fios possuem
uma certa resistência elétrica associada, havendo queda de tensão. Para
minimizar esse efeito, podemos aumentar a espessura dos fios ou trocá-los
por fios com maior condutividade. O consumo de energia pelo fio gera ca-
lor, aumentando a temperatura do transformador e, até então, aumento da
resistência dos fios.
4 - Desconsiderar a condução elétrica do núcleo. A maioria dos núcleos
utilizados são compostos de ligas de ferro que, além de possuir característica
magnética, também é condutor elétrico. Isso acarreta na passagem de um
fluxo magnético variável no tempo no núcleo i.e. Φ(t). Pela lei de Faraday,
a taxa de variação do fluxo magnético induz a tensão e então, produz uma
corrente elétrica no núcleo condutor. Essa corrente distribuída por todo o
núcleo não é desejada e, por isso, chamada de corrente parasita a . A resis-
tência local do núcleo, junto com a passagem de corrente parasita consome a
energia e produz calor. Então, além de reduzir a eficiência do transformador,
ou seja, invalidando a relação V1 I1 = V2 I2 , aqueça o transformador. A solu-
ção para reduzir a corrente parasita é utilizar um núcleo folheado esmaltado
conforme a figura 6.6.
Apesar de ser um problema para os transformadores, esse aquecimento
(denominado efeito Joule) pode ser aproveitado para a geração de calor nos
fornos chamados de fornos de indução. Embora a eficiência seja baixa, é
uma forma de energia limpa quando em comparação com o forno a gás, por
exemplo.
5 - Enrolamento nos braços separados do núcleo conforme a figura 6.6, o
que não é viável. Na prática é feito primeiro o enrolamento do primário e,
então, o do secundário acima do primário, em apenas um braço. Assim, na
a
Também conhecida por corrente de Foucault ou ainda corrente de fuga; e em inglês
por corrente Eddy.
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 279

modelagem é necessária considerar a área diferente dos enrolamentos. Sendo


assim a área da bobina secundária será maior.

6.2.2.1 Como fazer um Transformador


O transformador é utilizado para vários objetivos, tais como elevação
da corrente ou tensão, ou isolamento elétrico de circuitos. Para projetar um
transformador é necessário saber qual o seu propósito, pois, se for servir de
isolador elétrico em circuitos de baixa potência, suas impedâncias de entrada
e saída devem corresponder às impedâncias dos circuitos que irá isolar. Para
realizar esse casamento de impedâncias, podemos considerar o transformador
como ideal e modelar a impedância de saída como:
V2
Z02 = .
I2
Vamos ainda considerar as seguintes relações para tensão e corrente:
N1
V1 = V2 .
N2

N2
I1 = I2 .
N1
em que N1 e N2 indicam o número de voltas para o enrolamento primário e
para o enrolamento secundário, respectivamente. A impedância de entrada,
então, será dada por:
V1 N2
Z01 = = 12 Z02 .
I1 N2
Temos, então, a seguinte relação:
s
N1 Z01
= . (6.19)
N2 Z02
Nessas aplicações, o núcleo utilizado geralmente é de ferrita, uma vez que
este possui uma melhor resposta em frequências maiores (ordem de kHz),
mais utilizadas em circuitos de baixa potência. A estrutura do ferrita utili-
zado é sólida.
Por outro lado, se o dispositivo for projetado para elevação ou redução
de tensão, é necessário caracterizar o formato do transformador, a bitola dos
fios, o material do núcleo e o número de espiras. O formato mais comum para
os núcleos dos transformadores nessas aplicações são os que têm formato de
E, em que o primário e secundário são enrolados no segundo braço do núcleo.
Nesse caso, a área de interseção do seu segundo braço é o dobro da área dos
280 6.2. DISPOSITIVOS ELETRODINÂMICOS

seus braços laterais. Para facilitar o enrolamento de fios, é utilizada uma


bobina que encaixa no segundo braço do núcleo.
O material do núcleo para frequências de operação na ordem de Hz é feito
de ferro silício. Caso seja necessária a aplicação do transformador em frequên-
cias mais elevadas (a partir de kHz), é utilizado o núcleo de ferrita. Outra
característica a ser determinada, para o projeto do transformador, é a área da
seção do núcleo. Experimentalmente, essa área é dada por:

Área = 1, 2 P cm2 . (6.20)
em que P é a potência do transformador em Watts e área obtida em unidade
cm2 .
Uma das preocupações nos transformadores é o aquecimento do núcleo
devido a corrente parasita e a redução da eficiência energética. Como foi
mencionado, o núcleo nas frequências baixas pode ser de ferro silício, logo,
devido a condução elétrica do núcleo, a corrente parasita não é evitável. So-
mente podemos minimizar o efeito, utilizando núcleo laminado e esmaltado.
Outra preocupação é a saturação do núcleo. Geralmente, nos transforma-
dores de potência, a máxima densidade do campo magnético para um núcleo
ferro silício é limitada em 1 Tesla. Para densidades do campo magnético me-
nores, o núcleo terá a magnetização linear, aproximadamente. Para limitar
a densidade do campo magnético, precisa-se de controlar número de espiras
para dada tensão aplicada, porque, Φmax = Bmax A, onde Bmax = 1 Tesla e A
representa a área do núcleo, encontrada pela equação (6.20). O fluxo magné-
tico máximo é relacionado com amplitude e a frequência da tensão senoidal
aplicada pela equação (6.5):
1 Z
Φmax = [ V1 senωtdt]max
N1
V1
= ,
N1 ω
logo, número de espiras do primário é encontrado pelo:
V1
N1 = (6.21)

Da mesma forma, o número de espiras do secundário do transformador é
obtido por:
V2
N2 = (6.22)

A último fator determinante do transformador é a espessura dos fios, co-
nhecida como a bitola. A partir de potência de operação do transformador,
teremos informações sobre a corrente do primário e secundário. Assim, a
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 281

bitola dos fios é encontrada pela tabela padronizada ou AWGa que relaciona
a corrente permitida e a bitola do fio, dada na tabela D.6.
Exemplo 6.2. Projete um transformador com a entrada de 127 Vrms , a saída
de 12 Vrms , a corrente secundária de 2 A e a frequência de operação 60 Hz.
Resposta:
A potência nominal do transformador é 12×2 = 24 W. Então, a √ área do braço
central do núcleo é obtida pela equação (6.20), ou seja, A = 1, 2 24 ≈ 6 cm2 .
Na frequência de 60Hz da rede elétrica, o núcleo pode ser laminado de ferro
silício. Sabemos que a área dos braços laterais do núcleo é metade da área
do braço central, ou seja, 3 cm2 .
A bitola ou seção reta do secundário, onde passa uma corrente de 2 A,
deve ser de 0, 653 mm2 , obtida pela tabela D.6. Enquanto isso, a corrente
do primário é aproximadamente 200 mAb , logo, a bitola do primário deve
possuir seção reta de 0, 08 mm2 .c
O número de espiras do primário é obtido pela equação (6.21), ou seja:

127 2
N1 = ≈ 794.
2π × 60 × 6 × 10−4
Do mesmo jeito, o número de espiras do secundário é obtido pela equação
(6.22), ou seja:

12 2
N2 = ≈ 75. ■
2π × 60 × 6 × 10−4

6.2.3 Leitor/Gravador de Fitas/Discos Magnéticas


O meio de gravação magnética é um polímero em formato de fita ou disco
coberto de um material ferromagnético como óxido de ferro ou de cromo.
A gravação e leitura dos domínios magnéticos é feita por um dispositivo
conhecido como cabeçote. Ele é composto por um enrolamento sobre um
núcleo com um gap de ar exatamente na proximidade do meio de gravação,
conforme a figura 6.7.
No momento da gravação, uma fonte de corrente induz um campo magné-
tico variável, correspondente com às informações (áudio/vídeo/dados). Na
posição da abertura do núcleo, o campo de franja produzido atinge o meio
a
American Wire Gauge
b
A corrente do primário é obtida aproximadamente, pela equação (6.15), equivalente a
um décimo da corrente de secundário.
c
Na tabela D.6, a seção reta do fio é recomendada para corrente até 230mA
282 6.2. DISPOSITIVOS ELETRODINÂMICOS

Abertura

Fita Núcleo
magnética

Bobina

Fig. 6.7. Estrutura básica de um cabeçote magnético.

magnético, ajustando o tamanho, a direção e o sentido dos domínios ao longo


de meio magnético. Em caso de gravação de dados binários, os domínios se-
rão organizados em uma direção e sentido se tiver bit 1 e não é necessário
variação do tamanho de domínios magnéticos.
Quando for o momento da leitura, os domínios ajustados no meio magné-
tico se passam na proximidade do entreferro do cabeçote. Assim, a variação
do campo magnético atinge o enrolamento e induz uma tensão variável cor-
respondente ao sinal gravado na fita magneticamente. Após amplificação
e filtragem do sinal elétrico, o mesmo está pronto para ser reproduzindo,
gerando assim uma onda sonora ou uma imagem.

6.2.4 Alto Faltante Eletrodinâmico


O alto falante eletrodinâmico é composto por uma bobina móvel flutu-
ando em uma cavidade onde existe um ímã permanente. A bobina é acoplada
a um diafragma. O ponto de suporte dele é um enrolamento com núcleo de
ferro doce dentro do campo magnético estático de um ímã. A passagem
de uma corrente variável pelo enrolamento gera uma força mecânica variá-
vel, justificada pela força de Lorentz, que consegue deslocar o enrolamento
junto com um diafragma. O movimento do diafragma varia a pressão do ar,
resultando em um som.

6.2.5 Anel Voador


A estrutura necessária para este experimento é mostrada na figura 6.8a.
Uma bobina solenoide é enrolada em torno de um núcleo de ferro. Se for co-
locado um anel de metal (pode ser de qualquer condutor) e ligar o solenoide
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 283

Anel

Fonte CA

Campo magnético Enrolamento


(a) (b)

Fig. 6.8. Estrutura de um Anel voador.

a rede elétrica de corrente alternada, observa-se que o anel saltará. Pode-


mos começar a analise do funcionamento pela energia de armazenamento do
circuito magnético de um conjunto de dois enrolamentos. Um enrolamento
com N espiras e o outro equivalente ao anel com uma espira.
1 1
W = L1 i21 + L2 i22 + M i1 i2
2 2
A partir da equação (5.53) podemos achar a força induzida para a única
parte móvel que é o anel. Se considerarmos que a direção da liberdade de
movimento do anel seja z, a força será:
dW
F⃗ = − ⃗z (6.23)
dz
Para a corrente alternada da entrada i1 = I cos ωt, o fluxo magnético que
atinge o anel será Φ = M i1 = M Icosωt. Logo, pela lei de Faraday dada pela
equação (6.5), a tensão induzida no anel será V2 = −N2 dΦ/dt = M Iω senωt.
Pela análise fasorial, o circuito equivalente do anel está ilustrado na figura
6.8b, onde considerou-se a resistência e efeito indutivo do anel. A corrente
fasorial que percorre o anel é simplesmente obtida por:
−jπ
M Iωe 2
I2 =
R + jL2 ω
−1 L2 ω )
(6.24)
M Iωe−j( 2 − tg
π
R
=
|Z|
logo, a corrente i2 = Re[I2 ejωt ] é obtida por:
M Iω  L2 ω 
i2 = sen ωt − tg−1
|Z| R
284 6.2. DISPOSITIVOS ELETRODINÂMICOS

Portanto, a energia armazenada será:


1 1 (M Iω)2  
−1 L2 ω
W = L1 I 2 cos2 ωt + L2 sen 2
ωt − tg
2 2 |Z|2 R
M Iω  L2 ω 
+ M I cos ωt sen ωt − tg−1
|Z| R
O único parâmetro variável com a posição do anel é a indutância mútua
M (z), então, a força instantânea pela equação (6.23) será:

∂M M L2 (Iω)2  
−1 L2 ω
Fz = sen 2
ωt − tg
∂z |Z|2 R
! (6.25)
2
2M I ω  
−1 L2 ω
+ sen ωt − tg cos ωt
|Z| R

A força média aplicada no anel é calculado por:


!
∂M M L2 (Iω)2 M I 2 ω ωL2
< Fz > = − −
∂z 2|Z|2 |Z| |Z|
2
(6.26)
∂M M L2 (Iω)
=
∂z 2|Z|2
A equação obtida representa a força relacionada diretamente com a indutân-
cia mútua, a corrente do solenoide e a frequência da rede elétrica. Enquanto,
a força varia inversamente com a resistência elétrica do anel. Na prática,
observa-se um aumento notável da força quando o anel é esfriado por nitro-
gênio líquido, abaixando a resistência elétrica do anel. Também, na prática,
a passagem de corrente maior no solenoide induz a força maior sobre o anel
voador, conforme a equação 6.26.

6.2.6 Freio Magnético


A estrutura de um freio magnético também conhecido como freio de
indução é ilustrada na figura 6.9a. Os principais componentes de um freio a
indução são um disco metálico em rotação junto com veículo em movimento
e uma fonte de campo magnético como um eletroímã, que será acionada no
momento de freio. O funcionamento do freio é explicado a partir da lei de
Lenz. Como a região marcada como 1 do disco na figura 6.9a está saindo
da região do campo magnético, teremos a redução do fluxo magnético na
região (1) do disco. Sendo assim, um campo magnético será induzido no
sentido ilustrado na figura. Pela regra de mão direita, teremos a indução
da corrente Foucault, correspondente com o campo induzido nesta região,
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 285

Pêndula em Pêndula
movimento com cortes
Gerador de Campo
magnético Campo Magnético

Corrente
(2)
N
Foucault
(1)
Disco
Campo Corrente
Magnético S Metálico
Girante
Foucault
Induzido Campo Magnético
(a) (b)

Fig. 6.9. a) Estrutura básica de um freio magnético. b) Fenômeno de amorteci-


mento do movimento do pêndulo metálico quando atravessa um campo magnético.
Cortes no pêndulo reduzem o efeito.

conforme a figura 6.9a. O sentido do campo magnético induzido gera uma


força retrógrada, impedindo a rotação do disco.
Na região (2), teremos o aumento de fluxo magnético com a aproximação
da ímã. Sendo assim, um campo magnético será induzido no sentido ilus-
trado na figura, correspondente com a indução da corrente Foucault. Mais
uma vez, o sentido do campo magnético induzido gera uma força retrógrada,
impedindo a rotação do disco. A taxa de variação do campo magnético nas
regiões (1) e (2) depende a velocidade da rotação do disco ou seja a velocidade
do veículo.
Isto ocorre junto com dissipação de energia e aquecimento do disco pelo
efeito Joule. Este fenômeno é o principio de funcionamento da frenagem de
trens e de montanhas russas, freio secundário em caminhões e trailers e de
guinchos de grandes guindastes e até mesmo em carretilhas de pesca.
A figura 6.9b mostra o fenômeno de amortecimento da pêndula metálica
quando atravessa um campo magnetostático. Para confirmar a origem de fre-
nagem, basta fazer cortes na pêndula, reduzindo a corrente induzida. Neste
caso, a velocidade da pêndula não será abaixada consideravelmente, com sua
entrada no meio de campo.

6.2.7 Forno a Indução Magnético


Um forno a indução é uma fonte de campo magnético variável no tempo.
Para gerar este campo magnético, utiliza-se um oscilador de frequência re-
lativamente alta na faixa de 50 a 90 kHz e corrente na faixa de 10 a 20
Amperes do indutor, como elemento básico do circuito de ressonância do os-
286 6.2. DISPOSITIVOS ELETRODINÂMICOS

Corrente
Parasita
Campo
Magnético
Solenoide Plana
de alta corrente
Oscilador de em Frequência
Alta Frequência alta

Fig. 6.10. Estrutura de um forno a indução.

cilador, conforme a figura 6.10. Com a aproximação de um objeto metálico,


por exemplo, uma panela, teremos a indução de corrente parasita no objeto.
A passagem de corrente parasita na parte metálica do objeto gera energia
térmica suficiente para cozinhar os alimentos dentro da panela. Também
a mesma técnica é utilizada para fusão de metais dentro de um cadinho.
Vale ressaltar que existem também fornos elétricos onde eletrodos ou um fi-
lamento é conectado diretamente na rede elétrica, uma técnica que também
é utilizada nos chuveiros elétricos.

6.2.8 Recarga Sem Fio de Baterias

O circuito da recarga sem fio é formado por um circuito transmissor e


outro receptor. O circuito eletrônico do transmissor é muito parecido com
a estrutura do forno a indução na figura 6.10. Geralmente, o circuito do
receptor é embutido no aparelho que precisa recarregar a sua bateria. O
circuito do receptor é um conjunto de espiras planares como do forno, um
retificador e um regulador de tensão.
O circuito do transmissor é otimizado para ter maior alcance do espalha-
mento do campo magnético. Assim, é possível fazer a recarga a distâncias
em ordem de centímetros. A aproximação de qualquer aparelho que possui
o circuito do receptor induz uma tensão alternada no seu enrolamento. Em
seguida, a tensão de alta frequência em ordem de centenas de quilo Hertz, é
retificada por um diodo e logo depois, um regulador de tensão ajusta a tensão
adequada para recarregar a bateria. A estrutura básica do recarregador de
bateria é ilustrada na figura 6.11.
CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 287

Regulador

Receptor

Controle
do TX
CC

Transmissor

Fig. 6.11. Estrutura de um recarregador sem fio de baterias.

6.3 Projetos dos alunos


Os seguintes projetos foram oferecidos nos semestres passados de eletro-
magnetismo:
1- Levitação magnética a base de velocidade do veículo em cima de trilho
metálico.
2- Anel voador.
3- Controle da força sobre o anel voador através do controle da fase do
sinal de entrada no momento de ligar.
4- Carregador Sem fio de bateria com corrente maior que 2 A.
5- Carregador Sem fio de bateria veicular.
6- Modelagem, otimização, fabricação de detector de metais.
7- Rastreador de fios de corrente alternada.
8- Freio magnético.
288 6.3. PROJETOS DOS ALUNOS

Fig. 6.12. Recarga sem fio feito por alunos.

Fig. 6.13. Protótipo de um forno elétrico feito por alunos.


CAPÍTULO 6. ELETRODINÂMICA 289

Fig. 6.14. Protótipo de um detector de metais, feito por alunos.


290 6.3. PROJETOS DOS ALUNOS
Capítulo
7
Campo Eletromagnético de Varia-
ção Rápida no Tempo

A variação rápida no tempo dos campos elétricos e magnéticos é segredo da trafego da onda no ar ou no vacou. A razão pela qual, a teoria óptica
foi incorporada ao eletromagnetismo. Assim, a luz também é de natureza elétrica.

7.1 Técnicas de Análise das Ondas . . . . . . . . . . . . . . 292


7.1.1 Meio não Condutivo . . . . . . . . . . . . . . . . 295
7.1.2 Meio Condutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
7.2 Características da Onda Eletromagnética . . . . . . . . 298
7.2.1 Impedância do Meio de Propagação . . . . . . . 300
7.2.2 Polarização da Onda . . . . . . . . . . . . . . . . 303
7.2.3 Potência de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . 307
7.3 Condições de Contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
7.3.1 Incidência em Dielétrico . . . . . . . . . . . . . . 312
7.3.2 Incidência em Ferromagnético . . . . . . . . . . . 314
7.3.3 Incidência em Ferromagnético/Condutor . . . . . 315

No capítulo passado começamos a apresentar os fenômenos elétricos


e magnéticos relacionados com variação no tempo de densidade de cargas
elétricas e a corrente. Inicialmente, tratamos os efeitos observados quando

291
292 7.1. TÉCNICAS DE ANÁLISE DAS ONDAS

a taxa de variação no tempo fosse na escala de milissegundos. Observamos


que a taxa de variação no tempo de campo magnético é a fonte de campo
elétricos. Modelamos este efeito pela equação (6.5), conhecida como a lei de
Faraday.
Também, pela analogia entre campo elétrico e magnético, conseguimos
provar que a taxa de variação no tempo do campo elétrico é uma fonte de
campo magnético. Representamos a modelagem matemática com a inclusão
de um termo na lei de Ampère, representada pela equação (6.12).
A presença de corrente de deslocamento na equação (6.12), é uma justi-
ficativa de possibilidade de propagação do campo elétrico e magnético no
espaço. Isto fica mais transparente, quando a taxa de variação no tempo é
na escala microssegundo ou menos. Neste caso, o campo elétrico e magné-
tico serão propagados no espaço. Assim, em vez de chamá-los como campos,
nomeamos como ondas. Neste capítulo, apresentamos as técnicas de análise
das ondas. O método de análise é baseado as equações diferencias obtidas
nos capítulos passados, tais como a lei de Gauss (equação (3.18) e equação
(4.28), a lei de Ampère (equação (6.12)), e a lei de Faraday (equação (6.7).
Como a taxa de variação no tempo de um campo produz o outro campo, o
conjunto das equações deve ser resolvido simultaneamente.
Logo, depois de apresentação da técnica geral de análise, suponhamos um
caso especifico com dadas condições de contorno. Em seguida, as caracte-
rísticas da onda serão apresentadas, tais como frequência, comprimento de
onda, polarização, densidade de potência, número da onda, impedância do
meio de transmissão. Na última seção, a continuidade da onda nos diferentes
meios de transmissão será abordada.

7.1 Técnicas de Análise das Ondas


Para um campo elétrico com variação na escala de microssegundos ou
menos ainda a equação (3.18) conhecida como a lei de Gauss é válida. Tam-
bém, pela lei de Faraday, o rotacional do campo elétrico é relacionado com
a variação no tempo de campo magnético dada pela equação (6.7). A lei de
Ampère foi atualizada com a inclusão de corrente de deslocamento na equa-
ção (6.12), que pela primeira vez foi desenvolvida pelo físico e matemático
britânico James Clerk Maxwell. Afinal, sabemos da natureza solenoidal do
campo magnético dada pela equação (4.28). O conjunto das quatro equações
diferencias é conhecida como equações de Maxwell:
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 293

∇·D
⃗ = ρ (Gauss) (7.1a)
∇·B
⃗ = 0 (Gauss) (7.1b)
∇×H⃗ = J⃗ + D⃗˙ (Ampère) (7.1c)
∇×E⃗ = −B ⃗˙ (Faraday) (7.1d)
Percebe-se que alvo da resolução das equações de Maxwell são as funções
D, B, E e H e J que são variáveis de tempo e de espaço. Como primeiro
objetivo, queremos reduzir número de funções ou separar as variáveis nas
equações diferenciais de Maxwell, Pois a solução geral não existe. Na pri-
meira etapa, podemos começar com um caso em que o meio de transmissão
é linear,homogêneo e isotrópico. Assim, a polarização do meio pode ser
simplesmente representada pela permissividade, i.e. D⃗ = ϵE.⃗ Também, a
magnetização do meio de transmissão é modelada por B ⃗ = µH.⃗ Conforme

a figura 7.1, para a densidade de corrente J em uma área infinitesimal ∆⃗s é
obtida através da equação:
∆I = J⃗ · ∆⃗s (7.2)
Em volume ∆τ = ∆s∆l, a carga total obtida por ρ∆τ = ρ∆s∆l. Então,
a corrente também pode ser calculada por ∆I = ρ∆s∆l/∆t. Entretanto,
∆l/∆t representa a velocidade ⃗v , logo:
∆I = ρ⃗v · ∆⃗s (7.3)
Comparando as equações (7.2) e (7.3), teremos a relação da densidade de
corrente elétrica com a densidade de cargas em movimento com a velocidade
⃗v :
J⃗ = ρ⃗v (7.4)

v l
 J
s

Fig. 7.1. A relação da densidade de corrente com a velocidade de deslocamento


das cargas elétricas.

onde, ⃗v representa a velocidade das cargas elétricas. Se tiver um campo elé-


trico, a força sentida por eles gera um movimento acelerado (F⃗ = eE ⃗ = m⃗v˙ )
294 7.1. TÉCNICAS DE ANÁLISE DAS ONDAS

ou seja a velocidade será crescente. Entretanto, a passagem de elétrons entre


átomos do meio de transmissão é um movimento cheio de colisões e desvio
da trajetória da partícula. Assim, o seu deslocamento ao longo do campo
elétrico será com uma velocidade média muito menor do que a velocidade
instantânea. Nesta modelagem, a velocidade média é linearmente variável
em função do campo elétrico, ou seja < ⃗v >= µe E, ⃗ onde µe é conhecido
como a mobilidade do elétrona . Com a informação sobre o campo elétrico,
teremos a velocidade e em seguida a densidade de corrente pela equação (7.4),
ou seja:

J⃗ = ρµe E

(7.5)

= σE
Onde σ é condutividade do meio de transmissão, dada por σ = ρµe .
Até este momento, conseguimos reduzir número de funções envolvidas nas
equações de Maxwell para E e H:

⃗ =ρ
∇·E
ϵ
∇·H =0

∇×H
⃗ = σE ⃗˙
⃗ + ϵE

∇×E
⃗ = −µH⃗˙

Além disso, o meio de transmissão é livre de cargas elétricas, i.e. ρ = 0.


Se tiver variação no tempo senoidal da fonte com a frequência ω, podemos
utilizar a técnica fasorial e nos livrar de variável tempo.
 
⃗ = Re Ee
E ⃗ jωt (7.6)

Em que E(x, y, z) é fasor. As equações serão simplificadas da seguinte forma:

∇·E
⃗ =0
∇·H
⃗ =0
∇×H
⃗ = (σ + jωϵ)E

∇×E⃗ = −jωµH.⃗

É possível ainda nos livrarmos de um dos campos, utilizando a equação


(B.8). Assim, aplicando o operador rotacional à equação de Faraday, teremos
a
Para não confundir a permeabilidade µ com a mobilidade, o índice e adicionado a
representação da mobilidade.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 295

∇×∇×E ⃗ = ∇(∇ · E)⃗ − ∇2 E.


⃗ Ainda, podemos simplificar a expressão,
inserindo a equação de Gauss. Enquanto isso, o rotacional aplicado ao outro
lado da equação de Faraday levará ao resultado −jωµ∇ × H. ⃗ Basta inserir
a equação de Ampère para ter a equação diferencial exclusiva do campo
elétrico:
−∇2 E
⃗ = −jωµ(σ + jωϵ)E ⃗
Para simplificar mais ainda, o termo −jωµ(σ + jωϵ) é representado pela k 2 ,
onde a parte real de k é conhecida como número da onda.
q
k= −jωµ(σ + jωϵ) (7.7)

∇2 E
⃗ + k2E
⃗ =0 (7.8)
Ainda temos que resolver a equação diferencial para um campo vetorial no
espaço tridimensional, além de ter o laplaciano vetorial a . Para simplifi-
car ainda mais, o campo elétrico é considerado com um componente e uma
⃗ x (z)x̂.
variável, por exemplo, E
⃗x
∂ 2E ⃗ x = 0.
+ k2E
∂z 2
Que é uma equação diferencial de segunda ordem com coeficientes constantes,
cuja solução é:
⃗ x = Ae−jkz + Bejkz
E (7.9)
Vale lembrar que em geral o constante k é complexo. Em seguida, conside-
ramos dois casos típicos de meio de transmissão. Primeiro, vamos discutir
a presença da fonte do campo no meio não condutivo e em segundo lugar,
estudaremos o meio condutor.

7.1.1 Meio não Condutivo


Para um meio não condutivo, podemos inserir a condutividade nula, i.e.
σ = 0, na equação (7.8). Logo, teremos k 2 = −jωµ(jωϵ) = ω 2 µϵ. Assim, o
número da onda será:

k = ω µϵ (7.10)
e o campo elétrico obtido pela equação (7.6):
√ √
⃗ = Re(Ae−jω µϵz ejωt )x̂ + Re(Bejω µϵz ejωt )x̂;
E
(7.11)
= A cos(ωt − kz)x̂ + B cos(ωt + kz)x̂
a
Lembra de complexidade do laplaciano nas coordenadas cartesianas dada pela equa-
ção (A.5), cilíndricas dada pela equação (A.10),e esféricas dada pela equação (A.15), no
apêndice do livro.
296 7.1. TÉCNICAS DE ANÁLISE DAS ONDAS

A equação do campo elétrico encontrada representa um campo vetorial


variável com tempo e espaço. Uma vez que o tempo é positivo, o termo
ωt será crescente. Para um ponto da função senoidal com a fase constante
i.e. ωt − kz = cte a , aumento de fase pela ωt representa crescimento do
segundo termo, i.e. kz. Logo, o campo A cos(ωt − kz)x̂ representa uma onda
propagante na direção z e o campo B cos(ωt + kz)x̂ representa uma onda
propagante na direção −z, por uma justificativa semelhante.
A função do campo magnético também pode ser encontrada, seguindo um
procedimento parecido para chegar a seguinte equação diferencial:
∇2 H
⃗ + k2H
⃗ =0

Além disso, é possível achar o fasor do campo magnético a partir da lei de


Faraday ou seja ∇× E ⃗ = −jωµH. ⃗ O rotacional do campo elétrico propagante
⃗ x (z)x̂, será:
no sentido +z, E

∇×E⃗ = ∂Ex ŷ = −Ajke−jkz ŷ


∂z
Então, o fasor do campo magnético obtido por:

⃗ = k Ae−jkz ŷ
H (7.12)
ωµ
Afinal, podemos encontrar o campo magnético correspondente com campo
elétrico da equação (7.11), propagante no sentido z, através da equação (7.6):
k

H(z, t) = A cos(ωt − kz)ŷ (7.13)
ωµ
A equação da onda magnética propagante no sentido −z pode ser obtida,
começando pela equação
⃗ x (z)x̂ = Bejkz x̂
E
e aplicando a lei de Faraday:
k

H(z, t) = − B cos(ωt + kz)ŷ (7.14)
ωµ
A partir de hoje, podemos chamar o conjunto do campo elétrico e magnético
propagante como onda eletromagnética. Como a amplitude dos senoidais
nas equações (7.11) e (7.13) é constante, a onda eletromagnética é conhecida
como onda plana , conforme a figura 7.2. Assim, no plano perpendicular a
direção de propagação, a amplitude do campo elétrico e magnético invariável.

a
Geralmente, para visualizar o movimento da onda, escolhe-se o pico da onda senoidal,
onde a fase é nula.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 297

x
𝑣 x
𝐸
Planos de
amplitude
constante do y
campo
elétrico z 𝐵
z

y (a) (b)

Fig. 7.2. Onda eletromagnética propagante no meio não condutivo com amplitude
invariável i.e. onda plana. Nos planos a amplitude do campo elétrico e magnético
não varia.

7.1.2 Meio Condutivo


No seção anterior, discutimos os campos elétricos e magnéticos no meio
não condutivo, linear e homogêneo. Encontramos as equações que represen-
tam uma onda propagante sem atenuação. Outra possibilidade que estudare-
mos agora é um meio condutivo ou seja σ ̸= 0, entretanto, ainda considera-se
a linearidade e homogeneidade do meio. Também, consideramos a análise fa-
sorial válida. Assim, podemos começar da equação (7.8) com a resposta dada
na equação (7.9).
A polarização da maioria dos materiais condutores é desprezível ou seja
ϵ = ϵ0 , enquanto a condutividade é dominante σ ≫ ωϵ0 . Portanto, k 2 ≈
−jωµσ ou seja: q
k = πf µσ(1 − j)
Então, o fasor do campo elétrico dado pela equação (7.9) será:
√ √
E⃗ x = Aej πf µσ(1−j)z + Be−j πf µσ(1−j)z
(7.15)
= Aez/δ ejβz + Be−z/δ e−jβz
O parâmetro δ é definido por:
q
δ = 1/ πf µσ (7.16)

e é conhecida como a profundidade de penetração e β = πf µσ é número
da onda. Obviamente, o campo será atenuante, exponencialmente, em vez
de ser propagante, o que ocorre nos meios não condutivos. O campo elétrico
a partir da equação (7.6) será:
⃗ t) = Aez/δ cos(ωt + βz)x̂ + Be−z/δ cos(ωt − βz)x̂
E(z;
298 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA

que é um senoidal com amplitude atenuante. Para um comprimento de pene-


tração δ a amplitude do campo reduzida por quase um terço do valor inicial.
Podemos fazer o procedimento parecido para encontrar o campo magnético
que também é atenuante.
A redução exponencial de amplitude de campo elétrico e do magnético é
conhecida como efeito de películaa . Por esta razão, pode-se também justificar
a redução exponencial de corrente elétrica na profundidade de condutores,
ou seja, a maior parte da corrente elétrica percorre na superfície do condutor.
Por exemplo, em um fio de cobre utilizado na rede elétrica da frequência 60
Hz, a profundidade de penetração obtida pela equação (7.16) é de 8, 53 mm,
utilizando a informação da condutividade e da susceptibilidade da cobre nas
tabelas D.4 e D.5. Isto significa a redução de campo elétrico e magnético e a
corrente elétrica para ∼ 30% do valor nominal na 8, 53 mm de profundidade
do fio. Assim, a potência será reduzida para menos que ∼ 15% nesta profun-
didade do fio sólido. A passagem de corrente preferencialmente na superfície
do fio implica uma diminuição da área efetiva do condutor.
Ocorrência deste fenômeno é uma razão para fabricar os fios ocos de trans-
missão de energia elétrica e aproveitar os espaço interior do fio para preen-
cher com óleo, controlando a temperatura do fio. Em frequências maiores,
obviamente, não é necessário utilizar fios sólidos, como a profundidade de
penetração inversamente é reduzida com o aumento de frequência. Em vez
disso, podemos utilizar a deposição de condutor com a espessura em torno
de mícrons em cima de um dielétrico, nas frequências na faixa de Giga-hertz.

7.2 Características da Onda Eletromagnética

Se considerar a equação da onda plana em z = 0, ou seja, a posição


do transmissor da onda eletromagnética, teremos a equação do campo elé-
trico por Ex (0; t) = A cos ωt. Este sinal é um sinal periódico com a mesma
frequência da fonte, i.e. ω rad/s ou ω/2π Hz .
Se fazermos uma captura da onda elétrica no momento t = 0 teremos a
função A cos kz dada pela equação (7.11) que é um sinal senoidal espacial.
O período espacial do sinal é 2π/k, conhecido como a letra grega λ e é
chamado comprimento de onda, com a unidade em metro. Lembrando da
fórmula (7.10) para caso de não haver condutividade do meio de transmissão,

a
Skin Effect
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 299

o comprimento de onda será:



λ=
k

= √
ω µϵ

ou seja:
1
λ= √ (7.17)
f µϵ
A tabela D.7 mostra a relação de frequência e comprimento de onda eletro-
magnética no ar, junto com aplicação resumida de ondas eletromagnéticas
em cada faixa de espectro.
Exercício 7.1.
As informações preliminares indicam que o tamanho do vírus Corona é em
torno de 125 nanômetros. a) Considerando que o receptor deveria ter o
tamanho compatível com o comprimento de onda para receber o sinal ele-
tromagnético, encontre a faixa de comprimento da onda eletromagnética que
pode destruir as moléculas do vírus com base da informação na tabela D.7. b)
Percebe-se que implementar um emissor de onda eletromagnética nesta faixa
é improvável, para aplicação nos lugares públicos como hospitais. Então, a
segunda possibilidade pode ser a recepção de meio onda. Tente desenvolver
um circuito a base de lampadas de UVC disponíveis no mercado. Neste caso,
como justifica a eficácia do sistema? ■

Como a onda é propagante, é interessante encontrar a sua velocidade de


deslocamento. A velocidade da onda é obtida pela taxa de deslocamento
de um ponto da onda em unidade de tempo. Por exemplo, o pico da onda
na equação (7.11) é onde a fase do sinal senoidal for nula. Logo, a taxa de
deslocamento da onda por unidade de tempo é obtida por:
x ω
vf = =
t k
ω
= √
ω µϵ

ou seja:
1
vf = √ (7.18)
µϵ
que pode ser calculada também, por f λ. O cálculo da velocidade a base de
fase constante da onda é razão para nomear a velocidade como a velocidade de
fase vf . Se tiver vácuo ou ar como meio de propagação da onda, a velocidade
300 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA

de deslocamento será 3 × 108 m/s que é a velocidade de propagação da luz.


Para encontrar a velocidade de propagação basta inserir a permissividade e
permeabilidade do ar na equação (7.18). Se tiver outro meio de propagação,
a polarização e magnetização das moléculas reduzem a velocidade de trafego
da onda eletromagnética. Sendo assim, a velocidade de fase será reduzida
para:
c
vf = √
µr ϵr
Na maioria dos materiais dielétricos a magnetização é desprezível, logo, a

redução da velocidade de propagação será por ϵr que é conhecida como
índice de refração do material, i.e., n.
Para ocasiões onde tiver única onda, a velocidade de fase é suficiente para
caracterizar o deslocamento da onda em unidade de tempo. Entretanto,
existem meios de transmissão com o número de onda variável com a frequên-
cia, i.e. k(ω), devido a variação de polarização e magnetização do meio de
transmissão em função da frequência. Neste caso, a propagação de múltiplas
ondas com frequências diferentes, será com a velocidade de fase variável com
a frequência, i.e. v(f ). Isto ocorre quase sempre, devido a largura da banda
espectral da onda emitida, que representa a geração de múltiplas ondas ele-
tromagnéticas. Para indicar uma única velocidade para o conjunto de ondas,
definimos a velocidade de grupo por:


vg = .
dk

Devido a importância das próximas características da onda eletromagné-


tica, preferimos apresenta-las em seções separadas.

7.2.1 Impedância do Meio de Propagação


Na seção anterior encontramos o campo magnético através da lei de
Faraday para um fasor do campo elétrico dado pela equação (7.9). Para uma
onda propagante na direção +z, o fasor do campo magnético é dado pela
equação (7.12). Comparando o fasor do campo elétrico (equação (7.9)) e do
campo magnético correspondente na equação (7.12), observá-se a seguinte
relação:
Ex ωµ
= , onda propagante na direção +z.
Hy k
Ao fazer o cálculo para a onda eletromagnética que se propaga na direção
−z, percebe-se que para um campo elétrico direcionado para x, o campo
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 301

magnético correspondente é na direção −y. Sendo assim, a relação entre os


fasores será:
Ex ωµ
=− , onda propagante na direção -z.
Hy k
Resumindo, o produto vetorial de campo elétrico por campo magnético
dará a direção e sentido da propagação da onda. Sendo assim, podemos
encontrar a direção e sentido de um campo, segundo a regra de troca cíclicaa .
Para isso, basta saber a direção do outro campo e da propagação da onda.
Também, a razão entre o fasor do campo elétrico e do campo magnético é
chamada de impedância do meio de transmissão, dado por:
Ei ωµ
η≡ = , (7.19)
Hj k
em que Ei representa o componente i do fasor do campo elétrico e Hj é
o componente do fasor do campo magnético, correspondente com Ei . A
unidade do campo elétrico em sistema MKS é V/m e da intensidade do campo
magnético é A/m, logo, a unidade de η é V/A, ou seja Ohm. Substituindo
o número da onda pela equação (7.7) na equação (7.19), a impedância de
um meio de transmissão linear e homogêneo, é definida através da seguinte
equação:
ωµ
η=q Ω, (7.20)
−jωµ(σ + jωϵ)
Nesta equação, µ, ϵ, e σ representam a permeabilidade, permissividade, e
condutividade do meio de transmissão linear e homogêneo.
Podemos utilizar a analogia de campo elétrico com a tensão e analogia de
campo magnético com a corrente. Logo, a razão entre o campo elétrico e o
campo magnético chamamos a forma vetorial da lei de Ohm e a unidade da
impedância do meio de transmissão será Ohm. Sendo assim, a impedância
do ar ou vácuo, como o meio de transmissão, com as seguintes características:
ϵ = ϵ0 , µ = µ0 , σ = 0, através da equação (7.20), será:
s
µ0
η0 = = 377 Ω.
ϵ0
Enquanto, a impedância de um material dielétrico, com as seguintes carac-
terísticas: ϵ = ϵr ϵ0 , µ = µ0 , σ = 0, será:
s
µ0 377
η= = Ω,
ϵr ϵ0 n
a
Equação (1.5)
302 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA


onde n = ϵr é o índice de refração. Como o índice de refração é maior
que um, a impedância do material dielétrico será menor que a impedância
do ar, devido a polarização das moléculas do dielétrico. Enquanto isso, a
impedância de um material magnético não condutivo (ϵ = ϵ0 , µ = µr µ0 , σ =
0), será: s
µr µ0 √
η= = 377 µr Ω,
ϵ0
que pode ser bem maior que a impedância do ar, devido a magnetização das
moléculas do ferromagnético.
Percebemos que a impedância encontrada dos materiais não condutivos é
totalmente resistiva, entretanto, em um meio de transmissão com a conduti-
vidade (σ ≫ ωϵ), a realidade será diferente:
s
ωµ jωµ
η=√ =
−jωµσ σ (7.21)
1+j
= Ω,
σδ
que é uma impedância indutiva. É perceptível que com aumento da condução
do meio de transmissão teremos a redução da penetração da onda no meio
condutor, resultado da redução da impedância. Sendo assim, esperamos a
reflexão total da onda eletromagnética pela impedância nula de um condutor
ideal. Este Assunto será discutido em breve.
Exemplo 7.1. Para a onda Ey (x; t) = 104 cos(109 t − 50x), encontre o campo
magnético, sabendo que η = 200 Ω.
Resposta:
A onda eletromagnética é propagante na direção +x̂ e o campo elétrico so-
mente possui o componente y, Pela técnica oferecida, a direção e sentido do
campo magnético será +ẑ. Logo:
4
⃗ = 10 cos(109 t − 50x)ẑ.
H
200

Exercício 7.2.
Encontre o componente magnético da onda fasorial abaixo, sabendo que η =
200 Ω e a frequência é 100 MHz.
⃗ = 103 exp (−j20z)x̂ + 102 exp (−j20z)ŷ.
E
Dicas: Para cada componente de campo elétrico encontre o campo magnético
correspondente. ■
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 303

7.2.2 Polarização da Onda


Abordou-se em eletrostática que a polarização do material dielétrico é
resultado da aplicação de campo elétrico em dada direção e sentido. Por essa
razão, a direção e sentido do campo elétrico é nomeada como a polarização
da onda eletromagnética. A sua polarização é definida pela geometria de um
dispositivo do circuito oscilante chamada de antena. As principais caracte-
rística de uma antena são a impedância e seu tamanho. Pelo teorema de
máxima transferência de potência, deve ter a adaptação de impedância que é
razão pela qual a energia máxima do transmissor será entregue ao ar. A im-
pedância do transmissor será adaptada com a impedância da antena quando
as dimensões da antena for proporcional com a metade de comprimento de
onda. Sendo assim, a impedância da antena será aproximada da impedância
do ar e o transmissor conseguirá repassar a máxima potência para o ar.
Como a direção e sentido do campo elétrico é ao longo da antena, onda
percorre a corrente do circuito oscilante. Logo, a polarização da onda trans-
mitida é definida pela geometria da antena do transmissor. Por exemplo,
uma antena de meia onda pode ser instalada perpendicular a superfície da
terra. Assim a polarização da onda transmitida é chamada de polarização
linear vertical. Enquanto a polarização da mesma antena instalada horizon-
talmente com a terra será horizontal. Agora, se montar a antena inclinada
a superfície terrestre, a polarização será linear.
A polarização da onda eletromagnética é determinada, a partir da obtenção
da equação do campo elétrico no início da transmissão. Por exemplo, se
houver a propagação da onda na direção z, basta encontrar a forma do campo
elétrico em z = 0 em função de tempo.
Exemplo 7.2. Encontre a polarização da onda onde seu fasor do campo
⃗ = 3 exp (−jkz)x̂ + 2 exp (−jkz)ŷ.
elétrico é dado por E
Resposta:
O fasor do campo elétrico no início da propagação será:

⃗ = 0) = 3x̂ + 2ŷ
E(z

Logo, o campo elétrico é obtido pela equação (7.6):

Ex = 3 cos ωt
Ey = 2 cos ωt

Que é uma representação paramétrica do campo elétrico composto de com-


ponentes nas direções x e y. Logo, a polarização da onda é linear. Para
achar a forma da antena, basta retirar a variável independente, i.e. ωt das
304 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA

y y Ey E y E y E y
E
Ex Ey
x x Ex x x x

(a) (b) (c) (d) (e) (f)

Fig. 7.3. Polarização da onda eletromagnética propagante na direção z. a) Pola-


rização horizontal, onde o eixo x é paralelo a superfície da terra. b) Polarização
vertical. c) Polarização linear. d) Polarização elíptica, rotação sentido horário . e)
Polarização circular. f) Polarização elíptica, o sentido de rotação é anti-horário.

y x

Ei(0,t) Ei(0,t)

x y

z -z
(a) (b)

Fig. 7.4. Geração de uma onda com a polarização circular. a) Rotação sentido
direito, i.e. (RHCP). b) Rotação sentido esquerdo, i.e. (LHCP).

equações.
2
Ey = Ex
3
Neste caso, a antena será inclinada com a inclinação de 33, 7°, conforme a
figura 7.3. ■

Além de polarização linear, existe polarização circular e elíptica, quando


o campo elétrico faz uma trajetória circular ou elíptica com tempo. Para ter
essa polarização precisamos de uma antena com formato elíptico ou circular,
conforme a figura 7.4.
Existem dois sentidos de rotação para onda com polarização circular, con-
forme a figura 7.6, i.e. sentido horário e sentido anti-horário. Contudo, a
classificação acima é ambígua, porque depende do ponto de vista do observa-
dor. Por exemplo, o sentido da rotação de uma onda eletromagnética que se
afastando de um observador será oposto do sentido da rotação do outro que
se aproximando. Para padronizar o sentido de rotação, o IEEE a apresentou
uma forma conhecida como a polarização à direita e à esquerda. A polari-
zação à direita obedece à regra da mão direita, apontando com o polegar no
a
Institute of Electrical and Electronic Engineers.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 305

y x
Campo Elétrico

x y

Sentido da
z Propagação -z

(a) (b)
Fig. 7.5. Padronização do IEEE para a) Polarização à direita. b) Polarização à
esquerda.

sentido da propagação da onda, enquanto os demais dedos da mão se cur-


vam na mesma direção da rotação (figura 7.5a). Um argumento semelhante
se aplica para a polarização à esquerda, só que desta vez utiliza-se a mão
esquerda (figura 7.5b).
Existem inúmeras geometrias para as antenas do transmissor, e a escolha
de cada uma depende da politica da região, do clima e do tipo de aplicação
da onda eletromagnética. Assim, existem inúmeras polarizações dentro das
categorias linear, circular ou elíptica. Pela regra da reciprocidade, se houver
interesse de capturar o sinal transmitido, é necessário que a geometria da
antena do receptor seja a mesma da antena do transmissor, obedecendo a
polarização da onda desejada.
Exemplo 7.3. Encontrar a polarização para o seguinte fasor da onda eletro-
magnética:
⃗ = 10∠90°e−jkz x̂ + 5e−jkz ŷ.
E

Resposta:
O fasor do campo elétrico no início da propagação será:

⃗ = 0) = 10∠90°x̂ + 5ŷ
E(z
306 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA

y
Ei(t=0)
Ei(t)

Fig. 7.6. Rotação à direita do campo elétrico ao redor de uma trajetória elíptica.

Logo, o campo elétrico é obtido pela equação (7.6):

Ex = −10 senωt
Ey = 5 cos ωt

Que é uma representação paramétrica do campo elétrico composto de compo-


nentes nas direções x e y. Logo, a polarização da onda é obtida, eliminando
a variável independente, i.e. ωt, das equações:

Ey2 E2
+ x = 1,
25 100
que é a equação de uma elipse. O sentido da rotação do campo elétrico é
obtido considerando a posição do campo no plano xy nos momentos t = 0,
⃗ = −10 senω∆tx̂ + 5 cos ω∆tŷ, conforme a figura
⃗ = 5ŷ e ∆t, i.e. E
ou seja, E
7.6. Portanto, a polarização é à direita. ■

Exercício 7.3.
Encontre a polarização e o sentido da rotação do campo elétrico (se for o
caso circular ou elíptica) para os seguintes fasores de onda eletromagnética:
⃗ = 3ejkz x̂ + 2jejkz ŷ
a) E
⃗ = 3je−jkz x̂ + 3e−jkz ŷ
b) E
⃗ = 10∠30°e−jkz x̂ + 5e−jkz ŷ
c) E
⃗ = 5∠40°e−jkz x̂ + 4e−jkz ŷ
d) H
⃗ = (1 − 2j)e−jkz x̂ + (2 + 6j)e−jkz ŷ
e) E
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 307

Se for necessário, considerar para todos η = 200 Ω. ■

Além de classificação da onda eletromagnética de acordo com sua polariza-


ção, classificamos conforme a presença dos componentes do vetor do campo
elétrico ou magnético. Se o campo elétrico e magnético estiver somente o
componente na direção perpendicular à direção de propagação, ou seja, so-
mente o componente transversal à direção de propagação, a onda é chamada
de transversal ou TEMa . Por exemplo, para uma onda TEM propagante na
direção +z, os campos E e H possuirão componentes apenas no plano per-
pendicular ao eixo zb , isto é, no plano xy. A figura 7.2 ilustra um caso de
onda TEM, onde o campo elétrico oscila apenas na direção x e o campo
magnético apenas na direção y.
Se tiver uma onda eletromagnética que somente o seu campo magnético
não possui componente longitudinal, i.e. ao longo do eixo da propagação, a
onda é chamada de TMc . Neste caso, o campo elétrico terá o componente
longitudinal. Por exemplo, a onda propagante na direção +z é TM, quando
o campo elétrico possui o componente Ez além de Ex . Sendo assim, o campo
magnético somente terá o componente By .
Se tiver uma onda eletromagnética que somente o seu campo elétrico não
possui componente longitudinal, i.e. ao longo do eixo da propagação, a onda
é chamada de TEd . Neste caso, o campo magnético terá o componente lon-
gitudinal. Por exemplo, a onda propagante na direção +z é TE, quando
o campo magnético possui o componente Bz além de By . Sendo assim, o
campo elétrico somente terá o componente Ex .

7.2.3 Potência de Transmissão


Existe um teorema desenvolvido pelo físico britânico John Henry Poyn-
ting que relaciona o produto vetorial do campo elétrico e magnético ao vetor
da densidade de potência. A densidade vetorial do potência é representada
⃗ obtida pelo teorema de Poynting da seguinte forma:
por S
⃗=E
S ⃗ ×H ⃗ W/m2 (7.22)
⃗ é nomeado como vetor de Poynting. Se S
O vetor S ⃗ representa a densidade
de potência por unidade de área, a integral em uma superfície fechada será a
potência da onda propagante neste volume. Para confirmar isto, começamos

a
Transverse Electric and Magnetic Field.
b
Em geral, a direção da propagação é determinada pela vetor de ⃗k = kx x̂ + ky ŷ + kz ẑ
c
Transverse Magnetic Field
d
Transverse Elétric Field
308 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA

por:
I
P= ⃗ · d⃗s
S
I
= ⃗ ×H
E ⃗ · d⃗s

onde P representa a potência da onda. Utilizando o Teorema da divergência


da equação (C.2): Z
P = ∇ · (E ⃗ × H)dτ

Podemos fazer a distribuição de divergência i.e. ∇· sobre o produto vetorial


dado pela equação (B.4):
Z
P= ⃗ ·∇×E
H ⃗ −E
⃗ · ∇ × Hdτ

O rotacional do campo elétrico é relacionado com a variação no tempo do


campo magnético pela lei de Faraday da equação (6.7). Além disso, o rota-
cional do campo magnético é relacionado com a densidade da corrente livre
e o deslocamento elétrico pela lei de Ampère da equação (6.12). Logo, a
potência da onda eletromagnética será:
Z Z Z
P=− H ⃗˙ −
⃗ · Bdτ ⃗ · Jdτ
E ⃗ − ⃗˙
⃗ · Ddτ
E (7.23)

⃗ = µH,
Se a magnetização do meio de transmissão for linear i.e. B ⃗ o primeiro
termo da equação (7.23) será:
Z
˙ ∂ 1 Z 2
H · Bdτ =
⃗ ⃗ µ H dτ
∂t 2
= Ẇm (7.24)

Onde Wm representa a energia magnética armazenada neste volume pela


equação (5.51). O sinal negativo na equação (7.23) significa a redução de
energia magnética. Logo, o primeiro termo da equação (7.23) é a taxa de
redução da energia magnética neste volume, ou seja, a potência magnética
transferida para fora do volume.
Se considerar dτ = dlds, o termo J⃗ · d⃗s representa a corrente parcial de
uma área ds e E ⃗ · d⃗l representa a queda de tensão ao longo de um caminho
dl. Então, o segundo termo da equação (7.23) é a potência de consumo
devido a condutividade do meio de transmissão. Também, se tiver um meio
de propagação linear com condutividade σ i.e. J⃗ = σ E, ⃗ o segundo termo
2
da equação (7.23) transforma para I R que o consumo de potência devido a
resistência R do meio de transmissão.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 309

⃗ = ϵE,
Se tiver a polarização linear, i.e. D ⃗

Z
˙ ∂ 1 Z 2
E · Ddτ =
⃗ ⃗ ϵ E dτ
∂t 2
= Ẇe (7.25)

Onde We representa a energia elétrica armazenada neste volume pela equa-


ção (3.34). Então, Ẇe é a taxa de variação da energia elétrica nesse volume,
ou seja, a potência elétrica. O sinal negativo da equação (7.23) significa a
redução de energia elétrica neste volume. Afinal, P representa a potência
transmitida para fora neste volume e S ⃗ representa a densidade de potên-
cia transmitida. Para campo elétrico e magnético de uma onda, o vector S ⃗
representa a densidade vetorial de potência instantânea. Para ter um va-
lor constante da potencia da onda, Podemos calcular o valor médio. Por
exemplo para uma onda plana dada pela equação (7.11) propagante na di-
reção +z o vetor da densidade de potência dada pela equação (7.22) será
⃗ = A2 /η cos2 (ωt − kz)ẑ. Logo, o valor médio será A2 /2ηẑ, ou seja, A2 /ηẑ
S rms
W/m2 .
Se tiver o fasor do campo elétrico em um meio de transmissão linear e
homogêneo, podemos calcular o médio do vetor de Poynting a partir da
seguinte equação:
 
⟨S⟩
⃗ = Re E ⃗ ×H⃗∗ (7.26)

vale ressaltar que a amplitude eficaz do campo elétrico é considerado na sua


representação fasorial, i.e. Arms .

Exemplo 7.4. O campo elétrico e magnético de uma onda propagante em


um ponto z0 são representados por:

⃗ 0 , t) = 3 cos (ωt + 30°)x̂ V/m, e H(z


E(z ⃗ 0 , t) = 5 sen(ωt + 60°)ŷ A/m,

em que 3 e 5 são amplitudes máximas. Encontre a densidade de potência e


a direção da propagação.
Resposta:
Pela equação (7.22) o vetor de Poynting será:

⃗ = 15 cos (ωt + 30°) sen(ωt + 60°)x̂ × ŷ


S(t)

Logo, a onda propaga na direção z e a densidade média de potência será:


310 7.2. CARACTERÍSTICAS DA ONDA ELETROMAGNÉTICA

1Z
⟨S⟩
⃗ = 15 cos (ωt + 30°) sen(ωt + 60°)dtẑ
T
Z 
T

15 15
= sen(2ωt + 90°) + sen30° dtẑ
2T 2T
15
= ẑ W/m2
4

O campo elétrico fasorial será E ⃗ rms (z0 ) = 3/ 2∠30°x̂ e o campo magné-

⃗ rms (z0 ) = 5/ 2∠−30°ŷ. Então, pela fórmula (7.26), a
tico fasorial será H
densidade vetorial de potência será:
!
⃗ = Re 3∠30°
⟨S⟩ √ × √
5∠30°
ẑ,
2 2

que é igual a 15/4ẑ W/m2 . ■

Exercício 7.4.
Encontre a densidade média da potência das seguintes ondas eletromagnéti-
cas dada em um ponto no espaço.

⃗ = 10 cos (wt − 40°)ŷ A/m.


⃗ = 5 sen(wt + 50°)ẑ V/m e H
a) E

⃗ = 10∠40°x̂ V/m no ar.


b) Onda propagante na direção z e E

⃗ = 0, 5∠30°ẑ A/m no ar.


c) Onda propagante na direção y e H

⃗ = 103 ∠30°ŷ V/m e η = 200 Ω


d) Onda propagante na direção z e E

⃗ = 2∠60°x̂ + 4∠30°ŷ V/m e η = 377 Ω


e) onda propagante na direção x e E

⃗ = 2∠60°x̂ + 4∠30°ŷ V/m e H


f) Onda propagante na direção x e E ⃗ =
0, 5∠30°ẑ A/m.

Exercício 7.5.
Uma onda plana incide perpendicular a um condutor plana com a densidade
média da potência de 100 W/m2 . a) Encontre a amplitude do campo elétrico.
b) Ache a corrente induzida na superfície do condutor.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 311

7.3 Condições de Contorno


Nem sempre uma onda se propaga livremente em um meio único, pois
existem meios diferentes que possuem características elétricas e magnéticas
diversas. Logo, a onda sofrerá alguns modificações nas suas características,
tais como seu comprimento da onda, e a velocidade, e número da onda, e a
impedância. Como sempre, estudaremos os componentes perpendicular na
fronteira e também o componente tangencial ou paralelo ao fronteira.
Para o componente perpendicular a interface, conhecemos a lei de Gauss
para o campo magnético dada pela equação (4.28) em formato integral:
I
⃗ · d⃗s = 0
B

Conforme a figura 7.7 para a superfície Gaussiana escolhida teremos

−Bn1 ∆s + Bn2 ∆s = 0,

ou seja:
Bn1 = Bn2 . (7.27)
A lei de Gauss para um campo elétrico dada pela equação (3.18) em for-
mato integral será: I
⃗ · d⃗s = Ql .
D

Conforme a figura 7.7 para a superfície Gaussiana escolhida teremos:

−Dn1 ∆s + Dn2 ∆s = ρs ∆s,

ou seja:
Dn2 − Dn1 = ρs . (7.28)
Geralmente, não há acumulo de cargas livres na interface entre dois meios,
portanto ρs = 0 e a intensidade de campo elétrico perpendicular da superfície
será continua.
Dn2 = Dn1 .
Para estudar continuidade do campo magnético utilizamos a equação (5.26)
da lei de Ampère. Para o elo Amperiano, conforme a figura 7.7:

Ht1 ∆l − Ht2 ∆l = K∆l,

ou seja:
312 7.3. CONDIÇÕES DE CONTORNO

Ht1 − Ht2 = K. (7.29)


Isso significa que, em geral, o componente tangencial de H não é contínuo,
exceto nos casos em que não há corrente superficial na direção perpendicular
a superfície do elo Amperiano (K = 0).
Afinal, a circulação do campo elétrico ao longo de um elo Amperiano,
conforme a figura 7.7 leva o seguinte resultado:
Et1 ∆l − Et2 ∆l = 0,
ou seja, o componente tangencial do campo elétrico é sempre continuo.

Et1 = Et2 . (7.30)

𝐵1𝑡 ou 𝐸1𝑡 l
S.G.
𝐾
𝐵1 𝑜𝑢 𝐸1 s
𝐵2𝑡 ou 𝐸2𝑡
𝑛
𝐵1𝑛 ou 𝐸1𝑛

Meio 1
𝐵2 𝑜𝑢 𝐸2

Meio 2 𝐵2𝑛 ou 𝐸2𝑛

Fig. 7.7. Continuidade da onda eletromagnética.

Nas próximas seções estudaremos casos específicos de propagação de onda


no ar onde se encontra com um meio diferente ao longo de propagação. A
onda é TEM e sempre propaga perpendicular a superfície de fronteira.

7.3.1 Incidência em Dielétrico


Se a onda eletromagnética propagante no ar enfrenta um material dielé-
trico linear, analisaremos os fenômenos que vão ocorrer. Como a impedância
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 313

do material dielétrico é menor que do ar, pelo teorema de adaptação de impe-


dância, não vai ocorrer a máxima transferência de potência para o material,
ou seja, somente uma parte da onda vai continuar propagar no mesma direção
e sentido, mas outra fatia de energia da onda eletromagnética será retornada
paro ar, ou seja refletida.
Para encontrar a energia retornada para ar e a energia transmitida, é neces-
sário confirmar as condições de contorno para as três ondas presentes, onda
incidente e onda refletida e onda transmitida. Como a onda propaga perpen-
dicular a superfície do dielétrico, somente precisa-se conferir a continuidade
de campo elétrico e magnético normal a superfície. Vamos considerar que a
onda incidente seja com a polarização vertical, ou seja, o campo elétrico re-
presentado pela A exp (−jk0 z)x̂, propagante na direção z, conforme a figura
7.8.

0 ,0
 , 0
x
Ei  Ae jk0 z xˆ ET  Ce jkz xˆ

Hi HT

Er  Be jk0 z xˆ z

Hr

Fig. 7.8. Onda incidente à superfície de um dielétrico.

A ω é frequência, e c é a velocidade, e k0 = ω/c é número de onda,


λ0 = c/f é comprimento de onda, e η0 = 377 Ω é a impedância da onda
incidente. Enquanto, no meio dielétrico linear, espera-se que a frequência
não altera. Mas a velocidade de propagação é reduzida para c/n. O número
de onda aumenta para k = nk0 , e comprimento de onda é reduzida para λ0 /n.
Afinal, a impedância da onda no meio dielétrico é reduzida para η = 377/n Ω.
Conforme as coordenadas na figura 7.8, o fasor da onda transmitida é
representado pela C exp (−jkz)x̂ considerando, que a polarização do dielé-
trico ocorre na mesma direção do campo elétrico incidente. A onda refletida
também, representado pela B exp (jk0 z)x̂. Pela continuidade do campo tan-
gencial a superfície do dielétrico dada pela equação (7.30), teremos:
A + B = C.
O fasor do campo magnético incidente será A/377 exp (−jk0 z)ŷ, enquanto, do
314 7.3. CONDIÇÕES DE CONTORNO

campo refletido é −B/377 exp (jk0 z)ŷ e do campo magnético transmitido será
Cn/377 exp (−jkz)x̂. A falta da corrente superficial, garante a continuidade
do campo magnético dada pela equação (7.29). Logo, teremos a segunda
equação necessária para achar amplitude C e B:
A B nC
− =
377 377 377
A − B = nC.
Então, 2A = (1 + n)C ou seja:
2A
C= ,
1+n
e a amplitude do campo refletido será:
−A(n − 1)
B= .
n+1
Ou seja, a amplitude do campo elétrico refletido sofre uma reversal em relação
com o campo incidente.
Exercício 7.6.
Uma onda eletromagnética propagante no ar na direção +z incide em z = 0
em um dielétrico. O fasor do campo elétrico incidente é 10 exp (−j5z)x̂.
Considere que a permissividade do dielétrico seja 9ϵ0 .
a) Encontre o campo elétrico e magnético refletido.
b) Encontre o campo elétrico e magnético transmitida.
c) Ache a densidade média da potência incidente e da refletida e da transmi-
tida.

7.3.2 Incidência em Ferromagnético


Neste caso a onda eletromagnética incide sobre um material magnético
linear com permeabilidade µ que não conduz (σ = 0), como o ferrita. No meio
magnético linear, espera-se que a frequência não altera. Mas a velocidade

de propagação é reduzida para c/ µr . O número de onda aumenta para
√ √
k = k0 µr , e comprimento de onda é reduzida para λ0 / µr . Sendo assim, a
impedância do meio ferromagnético será significativamente maior do que do

ar por fator µr .
Conforme as coordenadas na figura 7.9 o fasor da onda transmitida e refle-
tida são representados por C exp (−jkz)x̂ e B exp (jk0 z)x̂, respectivamente.
A partir de continuidade do campo tangencial, dada pela equação (7.30),
teremos:
A + B = C.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 315

0 ,0
0 ,
x
 jk0 z
Ei  Ae xˆ ET  Ce jkz xˆ
ET

Hi HT

Er  Be jk0 z xˆ z
Er

Hr

Fig. 7.9. Onda incidente à superfície de um ferromagnético.

O fasor do campo magnético incidente será A/377 exp (−jk0 z)ŷ, enquanto,
do campo refletido é −B/377 exp (jk0 z)ŷ e do campo magnético transmitido
√ √
será C/(377 µr ) exp (−jk0 µr z)x̂. A falta da corrente superficial, garante a
continuidade do campo magnético dada pela equação (7.29). Logo, teremos
a segunda equação necessária para achar amplitude C e B:
A B C
− = √
377 377 377 µr
C
A−B = √ .
µr

Então, 2A = (1 + 1/ µr )C, ou seja:
2A
C= ,
1 + √1µr

e a amplitude do campo refletido será:



A( µr − 1)
B= √ .
µr + 1

7.3.3 Incidência em Ferromagnético/Condutor


No terceiro caso, vamos considerar um material magnético linear que
conduz (como o ferro). Os materiais ferromagnéticos de metal possuem a
condutividade alta de ordem 107 (Ω-m)−1 , enquanto a polarização do material
é desprezível. Logo, σ ≫ ωϵ0 a . Neste caso, o número da onda dado pela
a
Apesar da frequência pode ser elevada, da ordem de MHz ou mais, ωϵ0 é quase 14
ordens de magnitude menor que σ, olhando para condutividade dos metais, dada na tabela
D.4.
316 7.3. CONDIÇÕES DE CONTORNO

0 ,0 0 ,,
x ET  Ce jkz xˆ
 jk0 z
Ei  Ae xˆ
HT

Hi

Er  Be jk0 z xˆ z

Hr

Fig. 7.10. Onda incidente à superfície de um condutor.

√ √
equação (7.7) será k = −jωµσ = ωµσ∠−45°. A impedância da onda
no condutor será complexa dada pela equação (7.21). Portanto, o fasor do
campo elétrico transmitido é dado por:
⃗ T = Ce− zδ e−j zδ .
E
Onde δ é a profundidade de penetração da onda atenuante definida na equa-
ção (7.16). O fasor do campo elétrico refletido é considerado como B exp (jk0 z)x̂.
Pela continuidade do campo tangencial dada pela equação (7.30), teremos:
A+B =C
O fasor do campo magnético incidente será A/377 exp (−jk0 z)ŷ, enquanto,
do campo refletido é −B/377 exp (jk0 z)ŷ e do campo magnético transmitido
será C/η exp (−z/δ) exp (−jz/δ)x̂. Se não tiver corrente na superfície do
condutor, ainda podemos utilizar a continuidade do campo magnético dada
pela equação (7.29). Logo, teremos a segunda equação necessária para achar
amplitude C e B:
A B C
− =
η0 η0 η
Cη0
A−B =
η
Então, 2A = (1 + η0 /η)C) ou seja:
2A
C=
1 + η0 /η
E a amplitude do campo refletido será:
A(η − η0 )
. B=
η + η0
Se tiver um condutor ideal, ou seja σ −→ ∞, a amplitude do campo
elétrico transmitido é aproxima a nula, ou seja a onda eletromagnética não vai
penetrar no metal e toda potência da onda será refletida.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 317

Exercício 7.7.
Uma onda eletromagnética incide perpendicularmente sobre a superfície do
mar. Água do mar possui a condutividade 5 (Ω-m)−1 e a permissividade é
80ϵ0 . O fasor do campo elétrico incidente é 10 exp (−j5z)x̂.
a) Encontre os campos elétricos e magnéticos incidente, refletido e transmi-
tido.
b) Qual será a profundidade de penetração.
c) A porcentagem de potencia que reflete no ar. ■

Todos ocasiões estudados até agora foram de uma onda incidente com
a polarização linear. Se tiver uma onda com polarização circular ou elíp-
tica as soluções obtidas em cima são validas para cada componente da onda
incidente. Ou seja, basta conferir a continuidade do campo transmitido e
refletido para cada componente, individualmente.
Exemplo 7.5. Uma onda eletromagnética propagante no ar incide sobre
um condutor ideal. A polarização da onda incidente é circular à direita. a)
Encontre a onda refletida e a transmitida. b) Encontre a polarização da onda
refletida.
Resposta:
Começamos com o fasor do campo elétrico da seguinte forma:
⃗ i = A exp (−jk0 z)x̂ − jA exp (−jk0 z)ŷ
E

propagante na direção +z. Sentido da rotação do campo elétrico é obtido


considerando a posição do campo no plano xy no momento t = 0, E ⃗ = Ax̂
⃗ = A cos ω∆tx̂ + 5 senω∆tŷ. portanto, a polarização é à direita,
e ∆t, i.e. E
conforme a figura 7.11a. O fasor do campo elétrico refletido para um condutor
ideal i.e. η = 0 correspondente ao componente A exp (−jk0 z)x̂ do campo
incidente será −A exp (jk0 z)x̂ e correspondente ao segundo componente do
Ei será jA exp (jk0 z)ŷ. Então, o campo elétrico refletido será:

−Aejk0 z x̂ + jAejk0 z ŷ

Em t = 0, E ⃗ r = −Ax̂ e no momento ∆t, E


⃗ r = −A cos ω∆tx̂ − A senω∆tŷ.
Como a onda é propagante na direção −z, a polarização é à esquerda, con-
forme a figura 7.11b. ■

Outros casos que também pode ser estudados são quando a onda eletro-
magnética incide obliquamente a superfície do segundo meio de transmissão.
Neste caso, temos que acrescentar a lei de reflexão ou seja que o ângulo em
que a onda é incidente sobre a superfície é igual ao ângulo a que é refletida,
conforme a figura 7.12. Para estudar a onda transmitida também precisamos
318 7.3. CONDIÇÕES DE CONTORNO

y x

Ei(t)
x y
Ei(t=0)
Ei(t)
Ei(t=0)

z -z

(a) (b)

Fig. 7.11. a) Onda com a polarização circular à direita incidente à superfície de


um condutor ideal. b) Polarização esquerda da onda refletida.

da lei de Snell, o desvio angular sofrido por a onda transmitida em relação a


onda incidente ocorre devido a índice de refração diferente dos meios. Neste
caso é necessário conferir a continuidade de componente paralelas a interface
e além de continuidade de componentes perpendicular a superfície.
CAPÍTULO 7. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 319

0,0 ,, 0,0 ,, 0,0 ,,


Er x
x
ET Er x
Br BT Br
ET
Br
r Er
T r
BT
T ET r
z T BT
z
Ei i i
z
Bi
i
Ei

Bi
Ei Bi

(a) (b) (c)

Fig. 7.12. Possíveis ondas planas incidentes obliquamente a superfície de um meio


diferente. a) Polarização linear em geral. b) Polarização linear com campo elé-
trico incidente paralelo a superfície. c) Polarização linear com campo magnético
incidente paralelo a superfície.
320 7.3. CONDIÇÕES DE CONTORNO
Apêndices

321
Apêndice
A
Derivativas de Vetores

Formulas: Coordenadas Cartesianas:


Gradiente:
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
∇ϕ = x̂ + ŷ + ẑ. (A.1)
∂x ∂y ∂z
Divergência:
⃗ = ∂Ex + ∂Ey + ∂Ez .
∇·E (A.2)
∂x ∂y ∂z
Rotacional:
∂Ez ∂Ey ∂Ex ∂Ez ∂Ey ∂Ex
∇×E
⃗ =( − )x̂ + ( − )ŷ + ( − )ẑ. (A.3)
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y

Laplaciano de um escalar:

∂ 2ϕ ∂ 2ϕ ∂ 2ϕ
∇2 ϕ = + + 2. (A.4)
∂x2 ∂y 2 ∂z

Laplaciano de um vetor:

∂ 2 Ax ∂ 2 Ax ∂ 2 Ax
∇2 A
⃗=( + + )x̂
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
∂ 2 Ay ∂ 2 Ay ∂ 2 Ay
+( + + )ŷ (A.5)
∂y 2 ∂y 2 ∂z 2
∂ 2 Az ∂ 2 Az ∂ 2 Az
+( 2 + + )ẑ.
∂y ∂y 2 ∂z 2

323
324

Coordenadas Cilíndricas:
Gradiente:
∂ϕ 1 ∂ϕ ∂ϕ
∇ϕ = r̂ + φ̂ + ẑ (A.6)
∂r r ∂φ ∂z
Divergência:
∇·E⃗ = 1 ∂(rEr ) + 1 ∂Eφ + ∂Ez . (A.7)
r ∂r r ∂φ ∂z
Rotacional:

⃗ = ( 1 ∂Ez − ∂Eφ )r̂ + ( ∂Er − ∂Ez )φ̂ + 1 ( ∂(rEφ ) − ∂Er )ẑ. (A.8)
∇×E
r ∂φ ∂z ∂z ∂r r ∂r ∂φ
Laplaciano de um escalar:
1 ∂ r∂ϕ 1 ∂ 2ϕ ∂ 2ϕ
∇2 ϕ = + 2 2+ 2 (A.9)
r ∂r ∂r r ∂φ ∂z
Laplaciano de um vetor:
∇2⃗v = ∇(∇ · ⃗v ) − ∇ × (∇ × ⃗v ),
∂ 2 vr 1 ∂ 2 vr ∂ 2 vr 1 ∂vr 2 ∂vφ vr
=[ 2 + 2 2
+ 2
+ − 2 − 2 ]r̂
∂r r ∂φ ∂z r ∂r r ∂φ r
2
∂ vφ 2 2
1 ∂ vφ ∂ vφ 1 ∂vφ 2 ∂vr vφ (A.10)
+[ 2 + 2 2
+ 2
+ + 2 − 2 ]φ̂
∂r r ∂φ ∂z r ∂r r ∂φ r
2 2 2
∂ vz 1 ∂ vz ∂ vz 1 ∂vz
+[ 2 + 2 + + ]ẑ.
∂r r ∂φ2 ∂z 2 r ∂r
Coordenadas Esféricas:
Gradiente:
∂ϕ 1 ∂ϕ 1 ∂ϕ
∇ϕ = r̂ + θ̂ + φ̂ (A.11)
∂r r ∂θ r senθ ∂φ
Divergência:
2
⃗ = 1 ∂(r Er ) + 1 ∂( senθEθ ) + 1 ∂Eφ
∇·E (A.12)
r2 ∂r r senθ ∂θ r senθ ∂φ
Rotacional:
1 h ∂( senθEφ ) ∂Eθ i
∇×E
⃗ = − r̂
r senθ ∂θ ∂φ
1 1 ∂Er ∂(rEφ )
+ ( − )θ̂ (A.13)
r senθ ∂φ ∂r
1 ∂(rEθ ) ∂Er
+ ( − )φ̂
r ∂r ∂θ
APÊNDICE A. DERIVATIVAS DE VETORES 325

Laplaciano de um escalar:

1 ∂ r2 ∂ϕ 1 ∂ ∂ϕ 1 ∂ 2ϕ
∇2 ϕ = ( ) + ( senθ ) + (A.14)
r2 ∂r ∂r r2 senθ ∂θ ∂θ r2 sen2 θ ∂φ2
Laplaciano de um vetor:

∇2⃗v = ∇(∇ · ⃗v ) − ∇ × (∇ × ⃗v ),
1 ∂ 2 rvr 1 ∂ 2 vr 1 ∂ 2 vr cot θ ∂vr
=[ + + + 2
r ∂r2 r2 ∂θ2 r2 sen2 θ ∂φ2 r ∂θ
2 ∂vθ 2 ∂vφ 2 2 cot θ
− 2 − 2 − 2 vr − vθ ]r̂
r ∂θ r senθ ∂φ r r2
1 ∂ 2 rvθ 1 ∂ 2 vθ 1 ∂ 2 vθ cot θ ∂vθ
+[ + + + 2 (A.15)
r ∂r2 r2 ∂θ2 r2 sen2 θ ∂φ2 r ∂θ
2 cot θ ∂vφ 2 ∂vr vθ
− 2 + 2 − 2 ]θ̂
r senθ ∂φ r ∂θ r sen2 θ
1 ∂ 2 rvφ 1 ∂ 2 vφ 1 ∂ 2 vφ cot θ ∂vφ
+[ + + + 2
r ∂r2 r2 ∂θ2 r2 sen2 θ ∂φ2 r ∂θ
2 ∂vr 2 cot θ ∂vθ vφ
+ 2 + 2 − 2 ]φ̂
r senθ ∂φ r senθ ∂φ r sen2 θ
326
Apêndice
B
Regras de Multiplicação

Regras de Multiplicação:

∇(f g) = f ∇g + g∇f (B.1)

∇ · (f A)
⃗ = f∇ · A ⃗ · ∇f.
⃗+A (B.2)

∇(A
⃗ · B) ⃗ × (∇ × B)
⃗ =A ⃗ × (∇ × A)
⃗ +B ⃗ · ∇)B
⃗ + (A ⃗ · ∇)A
⃗ + (B ⃗ (B.3)

∇·A
⃗×B ⃗ ·∇×A
⃗ =B ⃗−A
⃗·∇×B
⃗ (B.4)

∇ × fA
⃗ = f∇ × A
⃗−A
⃗ × ∇f (B.5)

∇ × (A
⃗ × B) ⃗ · ∇)A
⃗ = (B ⃗ − (A
⃗ · ∇)B ⃗ · B)
⃗ + A(∇ ⃗ − B(∇
⃗ · A)
⃗ (B.6)
⃗ · ∇)A
onde (B ⃗ é definido nas coordenadas cartesianas da seguinte forma:
 
⃗ = x̂ Ax ∂Bx + Ay ∂Bx + Az ∂Bx
⃗ · ∇)B
(A
∂x ∂y ∂z
 ∂By ∂By ∂By 
+ ŷ Ax + Ay + Az
∂x ∂y ∂z
 ∂Bz ∂Bz ∂Bz 
+ ẑ Ax + Ay + Az .
∂x ∂y ∂z

327
328

∇ · (∇ × A)
⃗ =0 (B.7)

∇ × (∇ × A)
⃗ = ∇(∇ · A)
⃗ − ∇2 A.
⃗ (B.8)

∇ × (∇ϕ) = 0 (B.9)

⃗ × (B
A ⃗ × C)
⃗ = B(
⃗ A ⃗ − C(
⃗ · C)) ⃗ A ⃗
⃗ · B) (B.10)
Técnica de separação de Variáveis
Apêndice
C
Teoremas

Teorema Stokes:
I Z
⃗ · d⃗l =
A ∇×A
⃗ · d⃗s (C.1)

Onde área é especificada pelo caminho fechado.


Teorema de Divergência ou Gauss:
I Z
⃗ · d⃗s =
A ∇ · Adτ
⃗ (C.2)

onde o volume é especificada pelo superfície fechado.


Expansão Binominal:

β(β − 1) 2
(1 + α)β = 1 + βα + α + ... (C.3)
2!
Que para |α| << 1 pode ser aproximada por:

(1 + α)β ≈ 1 + βα (C.4)

Teorema de Helmholtz:
O teorema de Helmholtz é um teorema fundamental de calculo vetorial,
afirma que se o divergente ∇ · E
⃗ e o rotacional ∇ × E
⃗ de um campo vetorial
sejam conhecidos, então esse campo vetorial existe e é único, contanto que
tanto o campo quanto seu divergente e rotacional caiam a zero suficiente-
mente rápido no infinito.

329
330

Ao longo do estudo de eletromagnetismo, aprendemos que a fontes de cam-


pos vetoriais sejam representadas no lado direto das equações diferenciais.
Olhando para teorema de Helmholtz de outro ângulo, ele explica que para
cada campo vetorial existe duas fontes em geral, uma fonte relacionado com
a equação diferencial da sua divergência e outra com o seu rotacional. As
condições fronteiras dadas no infinito são úteis para encontrar os coeficientes
da resposta do conjunto de equações diferencias obtidas pela rotacional e
divergência. Por exemplo, para um campo elétrico, a taxa de variação em
tempo do campo magnético é uma fonte para seu rotacional que é represen-
tada pela lei de Faraday, na equação (6.7). Outra fonte de campo elétrico
é surgida pela lei de Gauss na equação (2.40), que é a densidade de cargas
elétricas. Para um campo magnético, existe a corrente elétrica além de taxa
de variação em tempo do campo elétrico como fontes de campo magnético
representada pela lei de Ampére na equação (6.12). Outra fonte de campo
magnético é monopolos magnéticos se tiver existência justificada pela lei de
Gauss na equação (4.28).
Apêndice
D
Tabelas

Tabela D.1: Tabela de Constantes Físicas.

Quantidade Física Símbolo Tamanho


Carga do elétron e 1, 601 × 10−19 C
Massa do elétron m 9, 11 × 10−31 kg
Raio do Elétron r 2, 81 × 10−15 m
Permissividade Elétrica do ar ϵ0 8, 85 × 10−12 F/m
Permeabilidade Magnética do ar µ0 4π × 10−7 H/m
Velocidade da luz c 3 × 108 m/s
Impedância Intrínseca η0 377 Ω
Coeficiente de proporção k 9 × 109 m/F
Coeficiente de proporção k 10−7 m/H

Tabela D.2: Susceptibilidade Elétrica dos Materiais.

Material Susceptibilidade Elétrica χ


Ar 0
Vidro 3−6
Mica 5
Óleo Mineral 1, 1
Óleo oliva 2, 1
Óleo Transformadora 1, 2
Papel 2, 3

331
332

Continuação da Tabela. D.2


Material Susceptibilidade Elétrica χ
Parafina 1, 2
Plexiglas 2, 4
Polietileno 1, 3
poliéster 2, 2 − 3, 3
Borracha 2−3
Terra 9 − 19
Teflon 1, 1
Náilon 7
Madeira 1, 5 − 7
o
Água Destilada 20 C 79
Água do Mar 71
Óxido de titânio 90 − 170
Titanato de bário 1200
Niobato de Chumbo e magnésio 10000
Niobato de Potássio e Tantalato 0o C 34.000

Tabela D.3: Rigidez Dielétrica dos Materiais.

Material Rigidez Dielétrica MV/m


Ar 3
Papel 15
Óleo Mineral 15
poliestireno 20
Teflon 20
Baquelite 25
Alumina 35
Silício 30
Arsenieto de Gálio 40
Borracha Rígida 25
Vidro 30
Mica 200
Polietileno 47
Poliéster 400 − 600
Sílica (SiO2 ) 1000
APÊNDICE D. TABELAS 333

Tabela D.4: Condutividade Elétrica dos Materiais; σ.

Material σ (S/m) Material σ (S/m)


Prata 6, 17 × 107 Quartzo ∼ 10−17
Cobre 5, 80 × 107 Enxofre ∼ 10−15
Ouro 4, 10 × 107 Mica ∼ 10−15
Alumínio 3, 54 × 107 Parafina ∼ 10−15
Zinco 1, 67 × 107 Borracha ∼ 10−15
Níquel 1, 45 × 107 Porcelana ∼ 10−14
Ferro 1, 03 × 107 Diamante 2 × 10−13
Bronze 107 Vidro ∼ 10−12
Platina 9, 52 × 106 Mármore ∼ 10−8
Estanho 8, 7 × 106 Solo Seco 10−4
Nióbio 8, 06 × 106 Água destilada 2 × 10−4
Solda 7 × 106 Silício intrínseco 4, 4 × 10−4
Chumbo 4, 56 × 106 Argila 5 × 10−3
Titânio 2, 09 × 106 Água Potável ∼ 10−2
Mercúrio 1, 04 × 106 Germânio 2, 2
Bismuto 8, 70 × 105 Água do Mar ∼3−5
Ferro Fundido ∼ 106 Ferrite 102
Magnésio 2, 24 × 107 Grafite 7, 14 × 104

Tabela D.5: Susceptibilidade Magnética dos Materiais em Temperatura de Am-


biente.

Material Susceptibilidade χ
Bismuto (Diamagnético) −1, 66 × 10−4
Carbono (Diamagnético) −2, 1 × 10−5
Mércurio (Diamagnético) −3, 35 × 10−5
Ouro (Diamagnético) −3, 4 × 10−5
Prata (Diamagnético) −2, 31 × 10−5
Zinco (Diamagnético) −1, 58 × 10−5
Chumbo (Diamagnético) −2, 31 × 10−5
Cobre (Diamagnético) −9, 7 × 10−6
Água (Diamagnético) −9 × 10−9
Nitrogênio (Diamagnético) −5, 06 × 10−7
Oxigênio (Paramagnético) 1, 9 × 10−6
Oxigênio liquido em 200o C (Paramagnético) 3, 9 × 10−3
Alumínio (Paramagnético) 2, 1 × 10−5
Tungstênio (Paramagnético) 7, 8 × 10−5
Sódio (Paramagnético) 8, 5 × 10−6
334

Continuação da Tabela. D.5


Material Susceptibilidade χ
Platino (Paramagnético) 2, 8 × 10−4
Manganésio (Paramagnético) 5, 1 × 10−4
Cobalto (Ferromagnético) 250
Níquel (Ferromagnético) 600
Aço 0, 9% Carbono (Ferromagnético) 100
Aço 30% Cobalto (Ferromagnético) 0
Ferro pureza 99, 8% (Ferromagnético) 5.000
Ferro pureza 99, 95%(Ferromagnético) 200.000
Liga Permalói (Ferromagnético) 100.000
Liga super permalói (Ferromagnético) 1.000.000

Tabela D.6: Bitola(AWG) dos fios de cobre para utilizar em transformadores.

AWG Seção mm2 Diâmetro mm Capacidade A


0000 107, 2 11, 86 320
000 85, 30 10, 39 239
00 67, 43 9, 226 190
0 53, 48 8, 252 150
1 42, 41 7, 348 120
2 33, 63 6, 544 96
3 26, 67 5, 827 78
4 21, 15 5, 189 63, 5
5 16, 76 4, 620 50, 4
6 13, 23 4, 115 39, 9
7 10, 55 3, 665 30
8 8, 367 3, 264 24
9 6, 633 2, 906 19
10 5, 260 2, 588 15
11 4, 169 2, 304 12
12 3, 307 2, 052 9, 5
13 2, 627 1, 829 7, 5
14 2, 081 1, 628 6, 0
15 1, 651 1, 450 4, 8
16 1, 307 1, 290 3, 7
17 1, 040 1, 151 3, 2
18 0, 8235 1, 024 2, 5
19 0, 6533 0, 912 2, 0
20 0, 5191 0, 813 1, 6
APÊNDICE D. TABELAS 335

Continuação da Tabela. D.6


AWG Seção mm2 Diâmetro mm Capacidade A
21 0, 4117 0, 724 1, 2
22 0, 3247 0, 643 0, 92
23 0, 2588 0, 574 0, 73
24 0, 2051 0, 511 0, 58
25 0, 1626 0, 455 0, 46
26 0, 1282 0, 404 0, 37
27 0, 1024 0, 361 0, 29
28 0, 0804 0, 320 0, 23
29 0, 0647 0, 287 0, 18
30 0, 0507 0, 254 0, 15
31 0, 0401 0, 226 0, 11
32 0, 0324 0, 203 0, 09
33 0, 0254 0, 180 0, 072
34 0, 0201 0, 160 0, 057
35 0, 0158 0, 142 0, 045
36 0, 0127 0, 127 0, 036
37 0, 0102 0, 114 0, 028
38 0, 0082 0, 102 0, 022
39 0, 0062 0, 089 0, 017
40 0, 0049 0, 079 0, 014
41 0, 0040 0, 071 0, 011
42 0, 0032 0, 064 0, 009
43 0, 0025 0, 056 0, 007
44 0, 0020 0, 051 0, 006
45 0, 00157 0, 045 0, 005
46 0, 00125 0, 040 0, 003
47 0, 00100 0, 036 −
48 0, 00078 0, 032 −
49 0, 00062 0, 028 −
50 0, 00049 0, 025 −
51 0, 00039 0, 022 −
52 0, 00031 0, 020 −

Tabela D.8: Tabela de Abreviações.

Símbolo Nome Unidade


⃗v Velocidade m/s
Q Carga Elétrica C
336

Continuação da Tabela. D.8


Símbolo Nome Unidade
ρv Densidade volumétrica de Carga C/m3
ρs Densidade Superficial de Carga C/m2
ρl Densidade Linear de Carga C/m
τ Volume m3
⃗r Vetor de Distância m
Φ Fluxo de um Campo Vetorial -
ϵ Permissividade Elétrica F/m
ϵ0 ϵ de um Material que não Polariza F/m
ϵr Permissividade Elétrica Relativa -
µ Permeabilidade Magnética H/m
µ0 µ de um Material não Magnética H/m
µr Permeabilidade Magnética Relativa -
µe Mobilidade dos Elétrons V s/m2
E ⃗ Campo Elétrico V/m
D⃗ Densidade (deslocamento) de Campo Elétrico C/m2
⃗s Vetor de Superfície m2
W Trabalho J
ϕ Potencial Elétrica V
p⃗ Momento de Dipolo Elétrico C.m
P⃗ Densidade Volumétrica de p⃗ C/m2
I Corrente Elétrica A
J⃗ Densidade Volumétrica de Corrente Elétrica A/m2
K⃗ Densidade Superficial de Corrente Elétrica A/m
Q ou q Carga Elétrica C
e Carga Elétrica do Elétron C
χ Susceptibilidade Elétrica ou Magnética -
C Capacitância F
B ⃗ Campo Magnético T (Wb/m2 )
H⃗ Intensidade de Campo Magnético A/m
ϕm Potencial Escalar Magnético A
m
⃗ Momento de Dipolo Magnético A.m2
M ⃗ Densidade de Momento de m ⃗ A/m
σ Condutividade Elétrica 1/Ωm
ℜ Relutância A/Wb
L Indutância H
M Indutância Mútua H
ω
⃗ Frequência Angular rad/s
c Velocidade da luz m/s
APÊNDICE D. TABELAS 337

Continuação da Tabela. D.8


Símbolo Nome Unidade
λ Comprimento de Onda m
⃗k Número de Onda 1/m
η Impedância do Meio de Propagação W
δ Profundidade de Penetração m
S⃗ Vetor de Poynting W/m2
Z Impedância Ω
P Potência da Onda Eletromagnética W
338

Tabela D.7: Espectro Eletromagnético.

Frequência λ Classificação Aplicação


kHz ≫ 1 km RF Rádio AM
MHz Menor que 100 m Ondas Curtas TV, Rádio FM
GHz Menor que 1 m Micro-Ondas Celular, Radar
THz Menor que 1 cm Infravermelha Fibra Óptica
PHz Menor que 1 µm Visível e UV -
EHz Menor que 1 nm Raio X Radiografia
ZHz Menor que 1 pm Raio Gama -
>ZHz Menor que 1 fm Raios Cósmicos -
Apêndice
E
Tabela de Integrais e Fórmulas

Integral por parte (IPP):


Z Z
udv = uv − vdu (E.1)

Integral da função (z − z ′ )/ r3 em volume de uma esfera de raio a:


Z 2π Z π Z a Z πZ a
(z − z ′ )r′2 dr′ senθ′ dθ′ dφ′ (z − z ′ )r′2 dr′ senθ′ dθ′
= 2π
0 0 0 r3 0 0 r3
Onde consideramos r como a distância entre um ponto da esfera até o ponto
escolhido ao longo de eixo z, conforme a figura 2.5:

r2 = z 2 + r′2 − 2r′ z cos θ′

A diferencial parcial desta equação, considerando r como variável em função


de θ′ :
2 rd r = 2r′ z senθ′ dθ′
Ou seja:
rd r
senθ′ dθ′ =
r′ z
q
Assim, o limite inferior do r para θ = 0 é (z − r′ )2 = |z − r′ |, e o seu limite
superior correspondente a θ = π é z + r′b .
b
Para pontos do campo onde z > r′ , o limite inferior do r será z − r′ . Se tiver pontos
do campo onde z < r′ , teremos o seu limite inferior por r′ − z.

339
340

Também, podemos trocar z − z ′ por função de variáveis r e r′ da seguinte


forma:
z − z ′ = z − r′ cos θ′
2z
= (z − r′ cos θ′ )
2z
2z 2 − 2r′ z cos θ′
=
2z
r2 + z 2 − r′2
=
2z
com a substituição de z − z ′ e senθ′ dθ′ na integral:
Z a Z z+r′
r2 + z 2 − r′2 r′2 d r r ′ π Z a z 2 − r′2  z+r′ ′ ′
2π dr = r − r dr
0 |z−r′ | 2z r3 r′ z z2 0 r |z−r′ |

Para os pontos z fora da esfera, ou seja, z > a > r′ , |z − r′ | = z − r′ . Assim,


a integral será:
π Z a ′ ′ ′ z 2 − r′2  ′ ′ π Z a ′2 ′
z + r − (z − r ) − (z − r − ) r dr = 4r dr
z2 0 z − r′ z2 0 (E.2)
4π 3
a
= 32 .
z
Ou seja a integral será o volume da esfera dividido por z 2 .
Para os pontos z dentro da esfera, dividimos limite da integral por 0 <
r < z, ou seja |z − r′ | = z − r′ e z < r′ < a, ou seja |z − r′ | = r′ − z. Assim,

a integral será:
π h Z z ′2 ′
4r dr
z2 0
Z a
z 2 − r′2  ′ ′ i
+ z + r′ − (z − r′ ) − (r′ − z − r dr
z r′ − z
π Z z ′2 ′
= 2 4r dr (E.3)
z 0
4π 3
z
= 32
z

= z.
3
Afinal, podemos resumir a reposta da seguinte maneira:
 4π
Z 2π Z π Z a
(z − z ′ )r′2 dr′ senθ′ dθ′ dφ′  3z2a , para z ≥ a
3

= 4π
0 0 0 r3  z, para z < a.
3
APÊNDICE E. TABELA DE INTEGRAIS E FÓRMULAS 341

Integral trigonométrica:
Z π
cos θ senθdθ

0 + a2 − 2za cos θ
z2
com uma troca de variável de cos θ = u teremos:

Z 1  2a , para z ≥ a
udu
√ = 3z 2
(E.4)
−1 z + a − 2zau
2 2  2z
, para z < a
3a2

Integral trigonométrica:
Z π
sen3 θdθ
0 (z 2 + a2 − 2za cos θ)1,5
com uma troca de variável de cos θ = u e sen2 θ = 1 − u2 teremos:

Z 1  4 , para z ≥ a
(1 − u2 )du 3|z|3
= 
(E.5)
−1 (z + a − 2zau)
2 2 1,5 4
3a3
, para z < a
Equação geral de um superfície plana:
Ax + By + Cz + D = 0 (E.6)
Equação de um plano que passa em 3 pontos (x1 , y1 , z1 ) e (x2 , y2 , z2 ) e
(x3 , y3 , z3 ):

x − x1 y − y1 z − z1
x2 − x1 y2 − y1 z2 − z1 = 0 (E.7)
x3 − x1 y3 − y1 z3 − z1
Distância do ponto (x0 , y0 , z0 ) ao plano Ax + By + Cz + D = 0:
Ax0 + By0 + Cz0 + D
√ (E.8)
A2 + B 2 + C 2
Equação de Linha entre pontos (x1 , y1 , z1 ) e (x2 , y2 , z2 ):
x − x1 y − y1 z − z1
= = (E.9)
x 2 − x1 y2 − y1 z2 − z1
Cosseno direcional da linha entre pontos (x1 , y1 , z1 ) e (x2 , y2 , z2 ):
x2 − x1 y2 − y1 z2 − z1
cos α = , cos β = cos γ = , (E.10)
d d d
onde ”d”é distância entre dois pontos. Equação de Linha que passa por
(x0 , y0 , z0 ) e é perpendicular ao plano: Ax + By + Cz = D:
x − x0 y − y0 z − z0
= = (E.11)
A B C
342

Tabela E.1: Identidades Trigonométricas.

α+β α−β
senα + senβ = 2 sen cos
2 2
α+β α−β
senα − senβ = 2 cos sen
2 2
α+β α−β
cos α + cos β = 2 cos cos
2 2
α+β α−β
cos α − cos β = −2 sen sen
2 2
cos (α ± β) = cos α cos β ∓ senα senβ

sen(α ± β) = senα cos β ± cos α senβ


1
senα senβ = [cos (α − β) − cos (α + β)]
2
1
senα cos β = [ sen(α − β) + sen(α + β)]
2
1
cos α senβ = [ sen(α + β) − sen(α − β)]
2
1
cos α cos β = [cos (α − β) + cos (α + β)]
2
cos(α ± 90°) = ∓ senα sen(α ± 90°) = ± cos α

sen2α = 2 senα cos α cos 2α = cos2 α − sen2 α


1 − cos 2α 1 + cos 2α
sen2 α = cos2 α =
2 2
1
sec α = 1 + tg2 α = sec2 α
cos α
sen2 α + cos2 α = 1 cos2 α − sen2 α = cos 2α

sen3α = 3 senα − 4 sen3 α cos 3α = 4 cos3 α − 3 cos α


ejα − e−jα ejα + e−jα
senα = cos α = ejα = cos α + j senα
2j 2
Fórmula do cosseno em triângulos, onde ângulo α é oposto ao lado c :

c2 = a2 + b2 − 2ab cos α
APÊNDICE E. TABELA DE INTEGRAIS E FÓRMULAS 343

Tabela E.2: Variáveis complexas

Representação cartesiana: z = x + jy

Representação polar: r θ = r cos θ + j senθ

Relação polar/ cartesiana: x = r cos θ = Re(z) y = r senθ=Im (z)

Complexo conjugado: z ∗ = x − jy = r −θ = r cos θ − r senθ

Potência da variável complexa: z n = rn nθ = rn (cos nθ + j sennθ)

Soma de números complexos: z1 + z2 = (x1 + x2 ) + j(y1 + y2 )

Multiplicação de números complexos:

z1 z2 = (x1 x2 − y1 y2 ) + j(x1 y2 + x2 y1 )

= r1 r2 θ1 + θ2 = r1 r2 [cos (θ1 + θ2 ) + sen(θ1 + θ2 )]

Divisão de números complexos:


z1 x1 + jy1 z1 z2∗ (x1 x2 + y1 y2 ) + j(x2 y1 − x1 y2 )
= = =
z2 x2 + jy2 |z2 |2 x22 + y22
r1 r1
= θ1 − θ2 = [cos (θ1 − θ2 ) + sen(θ1 − θ2 )]
r2 r2
√ √ √
Raiz de um número complexo: z = r θ = r θ/2
1 x − jy 1
Inverso de um número complexo: = 2 2
= −θ
z x +y r
senhjx = j senx cosh jx = cos x
344

Tabela E.3: Tabela de integrais com funções trigonométricas.

Z
1
senaxdx = − cos ax
a
Z
1
cos axdx = senax
a
Z
u sen2u
sen2 udu = −
2 4
Z
u sen2u
cos2 udu = +
2 4
Z
cos 3au 3 cos au
sen3 audu = −
12a 4a
Z
sen3au 3 senau
cos3 audu = +
12a 4a
Z
cosn+1 au
senau cosn audu = −
(n + 1)a
Z
n senn+1 au
sen au cos audu =
(n + 1)a
Z
senau u cos au
u senaudu = −
a2 a
Z
cos au u senau
u cos audu = +
a2 a
Z
2u senau 2 u2
u2 senaudu = + ( − ) cos au
a2 a3 a
Z
2u cos au u2 2
u2 cos audu = 2
+ ( − 3 ) senau
a a a
Z
u3 u2 1 u
u2 sen2 audu = − ( − 3 ) sen2au − 2 cos 2au
6 4a 8a 4a
Z
u3 u2 1 u
u2 cos2 audu = + ( − 3 ) sen2au + 2 cos 2au
6 4a 8a 4a
Z
1 1 1
sec audu = ln | sec au + tgau| = ln tg(au/2 + π/4) = tg−1 senau
a a a
APÊNDICE E. TABELA DE INTEGRAIS E FÓRMULAS 345

Z
ln (csc au − cot au) 1 1 1 − cos au
csc audu = = ln tg(au/2) = ln
a a 2a 1 + cos au
Z
1
sec2 audu = tgau
a
Z
1
csc2 audu = − cot au
a
Z
1 1
sec3 au du = sec au tgau + ln | sec au + tgau|
2a 2a
Z
1 1
csc3 audu = − cot au csc au + ln | csc au − cot au|
2a 2a

Tabela E.4: Tabela de integrais com frações.

Z
1
du = ln |u|
u
Z
du 1
= ln |au + b|
au + b a
Z
1
(au + b)r du = (au + b)r+1
(r + 1)a
Z
1
un du = un+1
n+1
Z
du 1
2
=−
(u + a) u+a
Z
du 1 u
= tg−1
u2 +a 2 a a
Z
udu 1
= ln |a2 + u2 |
u2 +a 2 2
Z
u2 du u
2 2
= u − a tg−1
u +a a
Z
u3 1 1
2 2
du = u2 − a2 ln |a2 + u2 |
u +a 2 2
346

Z
1 2 −1 2au + b
du = √ tg √
au2 + bu + c 4ac − b2 4ac − b2
Z
du 1 a+u
= ln , a ̸= b
(u + a)(u + b) b−a b+u
Z
(u + a)n+1
(u + a)n du = , n ̸= −1
n+1
Z
du 1
2
=−
(u + a) u+a

Z  1 ln u−a , para u2 > a2
du 2a u+a
=
u2 − a2  2a
1 a−u
ln a+u , para u2 < a2
Z
1
eau du = eau
a
Z
eau
ueau du = (au − 1)
a2
Z
eau 2 2
u2 eau du = (a u − 2au + 2)
a3
Z
ln audu = u ln au − u

Tabela E.5: Tabela de integrais com raízes.

Z √
du
√ = ln(u + u 2 − a2 )
u2 − a2
Z √
udu
√ = u2 − a2
u2 − a2
Z √
u2 du u u2 − a2 a2 √
√ = + ln(u + u 2 − a2 )
u2 − a2 2 2
Z
du 1 u
√ = sec−1 | |
u u −a
2 2 a a
Z √
1 √ 1 √
u2 ± a2 du = u u2 ± a2 ± a2 ln u + u2 ± a2
2 2
APÊNDICE E. TABELA DE INTEGRAIS E FÓRMULAS 347

Z √ 1 2 3/2
u u2 ± a2 du = u ± a2
3
Z √
1 √ 1 u
a2 − u2 du = u a2 − u2 + a2 tg−1 √ 2
2 2 a − u2
Z
du u
√ = sen−1
−u
a22 a
Z √
du u
√ = ln(u + u2 + a2 ) = senh−1
2
u +a 2 a
Z √
udu
√ = u 2 + a2
u2 + a2
Z √
du −tanh−1 ( a2 + r2 /a)
√ =
u u2 + a2 a
Z
udu 0, 5 1
=
(u2 +a )2 r 1 − r (u + a2 )r−1
2

Z
du u
= 2√ 2 a ̸= 0
(u2 2
+a ) 3/2
a u + a2
Z
udu 1
= −√ 2
(u2 2
+a ) 3/2
u + a2
Z
u2 du u u
2 2 3/2
= senh−1 − √ 2
(u + a ) a u + a2
Z
u3 du 2a2 + u2
= √
(u2 + a2 )3/2 u 2 + a2 √
u
Z
u4 du 3a2 u − 3a2 u2 + a2 senh−1 + u3
= √ a
(u2 + a2 )3/2 2
2 u +a 2

Z √
2
u du u u 2 + a2 a2 √
√ = − ln(u + u 2 + a2 )
u2 + a2 2 2
Z √
1 √ 3 3 √ 3 √
( u2 + a2 )3 du = u u2 + a2 + a2 u u2 + a2 + a4 ln(u + u2 + a2 )
4 8 8
Z √ 2
u − a du = (u − a)3/2
3
Z √
du
√ =2 u±a
u±a
348

Z √
du
√ = −2 a − u
a−u 





 2a
(u − a)3/2 + 25 (u − a)5/2 , ou




3
Z 

√ 
u u − a du =  2 u(u − a)3/2 − 4
(u − a)5/2 , ou
 3  15








 15 (2a + 3u)(u − a)
 2 3/2

Z !
√ 2b 2u √
au + b du = + au + b
3a 3
Índice Remissivo

A Induzida 117
Alto Faltante Eletrodinâmico 282 Indução 111
Anel Voador 282 Livre 144
Análise Fasorial 294, 297 Polarização 129, 131, 133, 143
Autoindutância 252 Real 111, 116, 118
AWG dos Fios 334 carga
Polarização 122
B Carga de Polarização 130, 131
Bitola dos Fios 280, 334 Carga Imagem 115
Carga Real 115
C Cerâmica 236
Cabeçote Magnético 281
Ciclo de Histerese 238
Campo
Circuito
Coercitivo 237
Acoplado 260
Desmagnetizador 237
Circuito Magnético 206
Escalar 30
Linear 241
Vetorial 30, 40
Não linear 245
Campo Conservativo 231
Campo Magnético Circulação 180
Solenoidal 202 Campo Elétrico 143, 271, 312
Capacitor 156 Campo Magnético 188, 189,
Coaxial 159, 161 224, 228, 241, 242, 245,
Cones Concêntricos 160, 162 258
Esférico 160 Coeficiente
Placas paralelas 159 Acoplagem 255, 256
Placas radiais 161 Comprimento de onda 298
Capacitância veja também Condições de Contorno
Capacitor Elétrico 143
Cabo Coaxial 159, 161 Magnético 247
Esfera 160 Ondas 311
Placas Paralelas 158 Condutividade 242, 278, 294, 315,
Carga 317
Imagem 111, 115, 116, 118 Condutividade Elétrica 333

349
350 ÍNDICE REMISSIVO

Condutor magnético 239 154, 155, 158


características de 239 Campo Magnético 246, 280
Conservativo 193 Carga
Constantes Físicas 331 Linear 59, 80, 114, 135
Continuidade Superficial 59, 69, 109, 114,
Campo Elétrico 313 212
Campo Magnético 247, 311, Volumétrica 59, 69, 79, 86,
314–316 87, 114, 153–155, 215,
Campo Normal 143, 145 267, 273, 274
Campo Perpendicular 249, 318 Carga de Polarização 130, 134,
Campo Refletido 317 135
Campo Tangencial 143, 145, Corrente 175, 176, 187, 197,
226, 248, 313, 314, 316 213, 275, 293, 294, 308
Campo Transmitido 317 Dipolo Elétrico 126, 127, 137
Fluxo 246, 247 Dipolo Magnético 216, 219
Potencial Elétrico 129 Dipolos Magnéticos 216, 217,
Continuidade de Campo 219
Perpendicular veja também Energia Magnética 258
Continuidade Campo Enrolamento 191
Normal Fluxo magnético 246
Corrente Magnetização 216, 237
Deslocamento 275 Polarização 137
Eddy 278 Potência 307, 309, 310
Foucault 278, 280, 284 Superficial de Cargas 136, 149
Induzida 223, 268, 269, 271 Desmagnetização 215, 237
Livre 223, 225, 226 pela passagem de Corrente
Magnetização 219, 221, 223, Alternada 215
270 pela vibração mecânica 215
Parasita 280 pelo Choque Mecânico 215
Corrente Eddy veja Foucault, Dielétrico 122
Parasita, Fuga Dipolo
Corrente de Fuga 278 Elétrico 125
Corrente Parasita veja também Induzido 125
Corrente Foucault Magnético 208, 215, 216
Curva Característica Dispositivos Eletrodinâmicos 275
Aço 245 Divergência 71, 130
Aço Fundido 245 Cartesianas 72, 323
Ferro Fundido 245 Cilíndricas 74, 324
Esféricas 75, 324
D Domínios 214
Defasagem da Polarização 138
Densidade E
Campo Elétrico 135, 137, 144, Efeito
ÍNDICE REMISSIVO 351

spin 214 Campo Elétrico 294, 297, 301,


Corona 123 303, 309, 310, 314, 317
Diamagnetismo 211, 214 Campo Magnético 296, 300,
Fatigue 138 301, 305, 313, 315, 316
Franjas 278 Potência 310
Joule 278, 285 Fasores 294
película 298 FEM 268
Elo Amperiano 188–190, 224, 241, Fenômeno
258, 311 Avalanche 123
Energia Elétrico Microscópico 122
Eletrostática 147, 149, 150, Magnético Microscópico 206
154, 162 Ferrita 236, 314
Elétrica 309 Ferritas Doces 236
Magnética 257, 258, 308 Ferritas Duras 236
Entreferro Cabeçote 282 Ferromagnético Doce 214
Equação Ferromagnético Duro 215, 236,
Bessel 98 237
Continuidade 274 Finite Difference Method 105
Laplace 86 Fios Ocos de Transmissão 298
Legendre 102 Fluxo
Legendre Associada 102 Campo Elétrico 71, 80, 82, 110
Lorentz 207 Corrente 176, 195, 274
Poisson 86 Deslocamento 135, 136, 150,
Equação Diferencial 152–154, 158
Bessel 98 Magnético 241–243, 245, 247,
Campo Elétrico da Onda 295 248, 253, 255, 268, 275
Campo Magnético da Onda Magnético Induzido 270
296 Total Cartesianas 72
Legendre 102 Total Cilíndricas 74
Equações da Onda Total Elétrico 81, 83, 84
Eletromagnética 294, 295 Total Esféricas 75
Equações de Maxwell 292 Forno a Indução Magnético 285
Escolha de Calibre 199 Força
Escolha de Gauge 199 Centrífuga 206, 207
Espectro Eletromagnético 338 Coercitiva 237
Espelho Eletrostático 115 Coulomb 57, 162, 164, 206
Estrutura Amorfa 236 Eletromotriz 268, 269
Excitação do Átomo 122, 207 Eletrostática 57, 162, 164,
Expansão Binominal 329 206, 207, 267
Lorentz 33, 207, 267, 275
F Magnética 259, 260
Farad 156 Freio Indução 284
Fasor Freio Magnético 284
352 ÍNDICE REMISSIVO

Frequência da Onda 298 Indutância Mútua 252–256, 259,


Função 260
Bessel 99 Indução
Legendre 102 Corrente 223
Legendre associada 102 Ionização 122, 123
função Irrotacional 193
Bessel
primeira espécie 101 L
segunda espécie 101 Laplace
Função de Trabalho 123 Bidimensional 105
Função Trabalho 108 Tridimensional 105
Unidimensional 105
G Laplaciano
Gerador 275 Escalar 85, 86, 203
Gradiente 56, 65, 66 Cartesianas 323
Cartesianas 66, 323 Cilíndricas 324
Cilíndricas 66, 324 Esféricas 325
Esféricas 67, 324 Vetorial 174, 197, 199, 200,
Grandeza 295
Escalar 29 Cartesianas 323
Vetorial 30 Cilíndricas 324
Esféricas 325
Laplaciano por iteração 104
H Laço de Histerese 236, 238, 245
Histerese Magnética 236, 238, 245
Lei
Ampère 174, 180, 187–191,
I 197, 202, 206, 223–225,
Impedância 241, 246–248, 258, 274
Antena 303 Biot-Savart 174, 180, 194
Ar 301, 303 Coulomb 56, 63, 65, 68, 71,
da Onda 300 80, 175
Indutiva 302 Faraday 272
Material Condutor 302 Gauss 56, 71, 79, 80, 85,
Material Dielétrico 302, 312, 108–110, 124, 134, 135,
313 137, 143, 149, 150,
Material Ferromagnético 314 152–154, 158, 197
Material Magnético 302 nós 242
Meio de Propagação 301 lei
Meio de Transmissão 292, 301 Ampère 266, 274, 292, 311
Incidência Biot-Savart 266
Normal 310, 313–315, 317 Faraday 268, 271, 275, 278,
Oblíqua 317 283, 292, 296
Índice de Refração 300, 318 Gauss 292, 311
ÍNDICE REMISSIVO 353

Lenz 269 Dipolos Magnéticos 221


Ohm Vetorial 301 Expansão Binomial 209
Reflexão 317 Imagem 107, 111, 239
Snell 318 Paralelogramo 32
Leitor/Gravador de Fitas Separação de Variáveis 91, 200
Magnéticas 281 Módulo 38

M N
Magnetização 212, 214, 215, 217, Número da onda 295
224, 246
Anisotrópico 236 O
Histerese 237 Onda Eletromagnética 296
Linear 232, 293, 308 Plana 296
Não linear 236 Variação Rápida no Tempo 292
Saturação 238 Onda Polarizada Circularmente
saturação 237 à Direita-RHCP 304
Magnetização de materiais 300 à Esquerda-LHCP 304
Magnetostática 197 Onda TE 307
Material Onda TEM 307
Condutor 107–111, 113, 118 Onda TM 307
Diamagnético 212 Operador Nabla 66
Dielétrico 125, 126, 131, 135, Ortogonalidade 94, 95
137, 138, 144, 145, 154
Ferroelétrico 131 P
Ferromagnético 214 Permeabilidade Magnética 232,
Magnético Linear 232 300
Paramagnético 214 Permissividade Elétrica 137, 300
Meio Permissividade Relativa 145
Condutivo 297 Polarizabilidade
Não condutivo 295 Atômica 124
Mobilidade dos Elétrons 294 Polarização
Modelo Carga Superficial 130, 131
Atômico 206 Circular da Onda 304, 317
Bohr 123, 215 Direita da Onda 304–306, 317,
Linear 137 318
Semi Clássico 206 Elíptica da Onda 304, 317
Simplificado 137 Esquerda da Onda 304, 305,
Modo 317, 318
TE 307 Horizontal da Onda 303, 304
TEM 307, 312 Induzida nos Materiais 135
TM 307 Linear da Onda 303, 304, 317
Método Material Anisotrópico 142
Diferenças Finitas 105 Vertical da Onda 303, 304, 313
354 ÍNDICE REMISSIVO

Polarização da Onda 303, 304, 313 Pelicular


Polarização de Materiais 124, 131,
165, 297, 300
R
Polarização de Átomos 124
Recarga Sem Fio 286
Polarização Induzida 125
Reciprocidade da Indutância
Polarização Induzida nos Materiais
Mútua 254
129
Regra
Polarização Linear de Materiais
Conservação do Fluxo
137, 154
Magnético 242
Polarização Permanente de
Malha Fechada 242
Materiais 127, 131
Multiplicação 327
Potencial
Mão Direita 33, 35, 36, 174,
Elétrico 65, 68, 69, 84, 85, 91,
177, 180, 188, 190, 203,
93, 114, 126, 134
270, 304
Escalar Magnético 202, 229
Reciprocidade 305
Vetorial 194, 195, 197, 208,
Superposição 57
210, 213, 216, 218, 221,
Troca Cíclica 39, 41, 47, 182,
253
301
Potencial Vetor Magnético 174
Relutância Magnética 242
Potência
Resistência Elétrica 242
Consumo 308
Resíduo Magnético 238
da Onda 307
Rigidez Dielétrica 332
Densidade de 309
Rotacional 180
Densidade Média 309
Campo Elétrico 292, 308
Elétrica 309
Campo Magnético 308
Incidente 314
Cartesianas 181, 182, 323
Instantânea 309
Cilíndricas 182, 324
Magnética 308
Esféricas 185, 210, 324
Média 310
Rotação
Refletida 316
Anti-horário 304
Transferência 313
Direito 304
Transmissão 307
Esquerdo 304
Transmitida 309
Horário 304
Poynting
Relógio 306
Vetor de 309
Ruptura Dielétrica veja também
Teorema de 307
Rigidez Dielétrica
Vetor de 307
Produto
Escalar 33, 42, 47 S
Vetorial 33, 36, 39, 42, 47 Separação de Variáveis
Profundidade Coordenadas Cartesianas 91
Pelicular 297, 316 Coordenadas Cilíndricas 96
Penetração 297, veja também Coordenadas Esféricas 101
ÍNDICE REMISSIVO 355

Sistema Internacional de Unidades Núcleo de Ferrita 280


57 Núcleo Ferro Silício 280
Sistemas de Coordenadas 35 Núcleo Laminado 280
Cartesianas 35 Número de Espiras 280
Cilíndricas 40 Saturação do Núcleo 280
Esféricas 46 Área da Seção do Núcleo 280
Retangulares 37 Área do Núcleo 280
Solenoidal 193 Troca Cíclica 36
Solução Numérica da Equação de Técnica
Laplace 104 Análise de Campo Elétrico 56
Superfície Gaussiana 79–84, 108, Fasorial 294
135, 143, 150, 154, 158, Gauss 71
248, 311 Laplaciano Escalar 85
Susceptibilidade Laplaciano escalar Magnético
Atômica 124 202, 229
Elétrica 137, 138, 142, 331 Laplaciano Vetorial 197
Magnética 232, 333 Lei de Ampère 180
Lei de Biot-Savart 174
T Lei de Coulomb 56
Temperatura Curie 215 Método das Imagens 107
Tensor de Susceptibilidade 236 Potencial Escalar Elétrico 68
Teorema Potencial Escalar Magnético
Adaptação de impedância 313 202
Derivada Parcial 66 Técnica Análise de Campo Elétrico
Divergência 78, 187, 308, 329 veja também Lei Coulomb
Gauss 78, 79, 130, 150, 274,
329 V
Helmholtz 225, 226, 329 Valor RMS 309
Máxima Transferência de Velocidade
potência 303 Deslocamento da Onda 299
Poynting 307 Deslocamento do Elétron 293
Stokes 186, 188, 224, 253, Fase da Onda 299
272, 329 Grupo da Onda 300
Unicidade 87 Instantânea de Deslocamento
Teoria de Imagem 239 do Elétron 294
Transformador 276 Média do Elétron 294
Abaixador 277 Onda 299
de Impedâncias 279 Onda Eletromagnética 300
Elevador 277 Onda no Ar 313
Fabricação de 279 Onda no Dielétrico 313
Fluxo Magnético Máximo 280 Onda no Ferromagnético 314
Máxima Densidade do Campo Propagação da Luz 300
Magnético 280 Versor 31, 35, 41
356 ÍNDICE REMISSIVO

Coordenadas Cartesianas 35 Densidade de Dipolos


Coordenadas Cilíndricas 40 Magnéticos 216
Coordenadas Esféricas 46 Densidade de Fluxo Elétrico
Ortogonalidade de 38, 39, 41, 136, 142, 154, 158
47 Densidade de Polarização 134
Vetor Dipolos Magnéticos 221
Campo de Deslocamento 135 Intensidade de Campo Elétrico
Corrente de Deslocamento 275 56, 311
Corrente de Magnetização 219, Intensidade de Campo
221, 223 Magnético 223–225, 228,
Densidade 232, 301
Dipolos Magnéticos 217 Momento Dipolo Magnético
Densidade de Campo Elétrico 216
135 Vetor de Poynting 309
Densidade de Corrente 174,
175, 187, 193, 197, 213, �
227, 293, 294 Óxido de Ferro 236
Bibliografia

357

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