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Problema 4 - HIV e SIDA | MAD

OBJETIVOS

1. COMPREENDER AS CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HIV E OS MECANISMOS DE REPLICAÇÃO


2. CONHECER A FISIOPATOLOGIA DA INFECÇÃO POR HIV
3. CONHECER AS INFECÇÕES OPORTUNISTAS INDICADORAS DE SIDA
4. COMPREENDER O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO COM OS ANTIRRETROVIRAIS (TARV, PREP,PEP)
5. DISCUTIR A EPIDEMIOLOGIA DO HIV E SIDA NO BRASIL E EM ALAGOAS

HIV E MECANISMO DE REPLICAÇÃO

Os vírus mais simples consistem em um genoma de ácido Famílias de Vírus de RNA e alguns membros
desoxirribonucleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA) importantes
empacotado em um envoltório protetor de proteína e, em
alguns vírus, em uma membrana. Aos vírus, falta a
FAMÍLIA MEMBROS
capacidade de gerar energia ou substratos e de fazer suas
próprias proteínas, além de não terem a capacidade de Paramyxoviridae Vírus parainfluenza, vírus Sendai,
replicar seu genoma independentemente da célula do vírus do sarampo, vírus da
hospedeiro. Para usar o maquinário biossintético da célula, caxumba, vírus sincicial
os vírus devem adaptar-se às regras bioquímicas dela. respiratório, metapneumovírus

CLASSIFICAÇÃO
Ortomyxoviridae Vírus influenza dos tipos A, B e C
Os vírus podem ser agrupados por características, tais
como doença (p. ex., hepatite), tecido-alvo, meio de Coronaviridae Coronavírus, síndrome respiratória
transmissão (p. ex., entérico, respiratório) ou pelo vetor aguda grave
(p. ex., arbovírus; vírus transportado por artrópode).
Arenaviridae Vírus da febre de Lassa, complexo
de vírus Tacaribe (vírus Junino e
A forma mais consistente e atual de classificação é pelas
Machupo), vírus da coriomeningite
características físicas e bioquímicas, tais como linfocítica
tamanho, morfologia (p. ex., presença ou ausência de um
envelope de membrana), tipo de genoma e meios de Rhabdoviridae Vírus da raiva, vírus da estomatite
replicação. vesicular

● Os vírus DNA associados com doenças humanas Filoviridae Vírus Ebola, vírus Marburg
são divididos em sete famílias.
● Os vírus RNA podem ser divididos em pelo Bunyaviridae Vírus da encefalite da Califórnia,
vírus La Crosse, vírus da febre do
menos 13 famílias.
mosquito-pólvora, vírus da febre
hemorrágica, hantavírus.
Famílias de Vírus DNA e alguns membros importantes
Retroviridae Vírus da leucemia de células T
● POXVIRIDAE - Vírus da varíola, vírus da varíola humana dos tipos I e II, vírus da
do macaco, varíola do canário, molusco imunodeficiência humana,
contagioso oncovírus de animais
● Herpesviridae - Vírus do herpes simples dos
Reoviridae Rotavírus, vírus da febre do
tipos 1 e 2, vírus varicela-zóster, vírus Epstein-
carrapato do Colorado
Barr, citomegalovírus, herpes-vírus humano 6, 7 e
8 Togaviridae Vírus da rubéola, vírus da
● Adenoviridae - Adenovírus encefalite equina do oeste, do
● Hepadnaviridae - Vírus da hepatite B leste e venezuelana; vírus do Rio
● Papillomaviridae - Papilomavírus Ross; vírus Sindbis; vírus da
● Poliomaviridae - Vírus JC, vírus BK, SV40 Floresta Semliki
● Parvoviridae - Parvovírus B19, vírus adeno
Caliciviridae Vírus Norwalk, calicivírus
associados

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Picornaviridae Rinovírus, poliovírus, ecovírus, Retróvírus Apresentam Vírus placentário
coxsackvírus, vírus da hepatite A endógenos sequências de humano
retrovírus que são
Delta Agente delta integradas ao
genoma humano
Flaviviridae Vírus da febre amarela, vírus da
dengue, vírus da encefalite de St. Os oncovírus incluem os únicos retrovírus que podem
Louis, vírus do oeste do Nilo, vírus
da hepatite C imortalizar ou transformar células-alvo. Esses vírus
também são categorizados pela morfologia de seu
nucleocapsídeo nos tipos A, B, C ou D quando
RETROVÍRUS visualizados pela microscopia eletrônica.
● A: são formas intracitoplasmáticas imaturas que
Morfologia brotam através da membrana plasmática
formando partículas maduras dos tipos B, C e D.
● São vírus envelopados, de ácido ribonucleico ● B: nucleocapsídeo excêntrico no virion maduro
(RNA+) fita simples de polaridade positiva, com (ex.: vírus do tumor mamário do camundongo);
morfologia e meios de replicação únicos. ● C: nucleocapsídeo centralmente no virion maduro
● Codificam uma polimerase de ácido (ex.: vírus linfotrópico de células T humanas);
desoxirribonucleico RNA-dependente (a ● D: ucleocapsídeo cilíndrico (vírus símio Mason-
transcriptase reversa) e se replicam por meio de Pfizer e HIV).
um intermediário de DNA.

Classificação e variabilidade genética

Os retrovírus são classificados de acordo com as


doenças que causam, o tropismo tecidual, a gama de
hospedeiros, a morfologia do virion e a complexidade
genética.

SUBFAMÍLIA CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS

Oncovirinae Estão associados HTLV-1, HTLV-2,


com câncer e HTLV-5
transtornos
neurológicos

Lentivirinae Acomete uma Vírus da


enfermidade de imunodeficiência
progressão inicial humana* (HIV-1, Estrutura
lenta; causam HIV-2); visna
transtornos vírus (carneiro); O virion (partícula do vírus) consiste em um genoma de
neurológicos e vírus da artrite-
ácido nucleico empacotado numa cobertura proteica
imunossupressão; encefalite caprina
são vírus com o (cabras) (capsídeo) ou numa membrana (envelope). O virion pode
nucleocapsídeo conter também certas enzimas essenciais ou acessórias
cilíndrico do tipo D ou outras proteínas para facilitar a replicação inicial na
célula. As proteínas do capsídeo ou as proteínas de
ligação do ácido nucleico podem associar-se com o
genoma para formar um nucleocapsídeo, que pode ser o
Spumavirinae Apresentam pouca Spumavírus
mesmo do virion ou envolto por um envelope.
importância clínica e humano*
são caracterizados
por causarem efeito O genoma do vírus consiste em DNA ou RNA.
citopatológico com
vacuolização que ● O DNA pode ser de fita simples ou dupla, linear
conferem aspecto ou circular.
“espumoso” às ● O RNA pode ser de sentido positivo (+) (como o
células RNA mensageiro [RNAm]) ou negativo (–)
(análogo a um negativo fotográfico), de dupla-fita

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(+/–) ou de duplo sentido (contendo regiões + e
– de RNA ligadas extremidade a extremidade).

A camada externa do vírion é o capsídeo ou envelope.


Essas estruturas são o pacote, a proteção e o veículo de
liberação durante a transmissão do vírus de um
hospedeiro para outro e para a dispersão para a célula-
alvo dentro do hospedeiro.

As estruturas da superfície do capsídeo e do envelope


medeiam a interação do vírus com a célula-alvo por meio
de uma proteína de fixação viral (VAP) ou estrutura. A
remoção ou o rompimento da parte externa deste pacote
inativa o vírus. Os anticorpos gerados contra os
componentes dessas estruturas impedem a infecção viral.
Corte transversal do vírus da imunodeficiência humana. O
Propriedades características do retrovírus
virion envelopado contém duas fitas idênticas de RNA, a
Morfológica RNApolimerase, a integrase, e dois RNAde transferência
(RNAt), com bases pareadas com o genoma dentro do
● Os retrovírus são vírus RNA de formato esférico, núcleo proteico. Este é cercado por proteínas e por uma
envelopados, com diâmetro de 80 a 120 nm. bicamada lipídica.
○ Duas fitas simples idênticas de RNA+
Genômica
estão no interior do capsídeo.
■ RNA+: tem mesma polaridade do O genoma dos retrovírus apresenta na extremidade 5’ uma
mRNA → assim esse RNA pode proteção denominada CAP e na extremidade 3’ uma
ser traduzidos diretamente nos cauda de poliadenilato ou poli A. Embora o genoma se
ribossomos; assemelhe a um RNA mensageiro (RNAm), não é
● O envelope contém glicoproteínas virais e é infeccioso, porque não codifica uma polimerase que possa
adquirido pelo brotamento a partir da membrana gerar diretamente mais RNAm.
plasmática. Esse envelope reveste o capsídeo.
● O vírion também contém entre 10 e 50 cópias das O genoma dos retrovírus simples consiste em três genes
enzimas transcriptase reversa e integrase e principais que codificam poliproteínas para as seguintes
dois RNAs de transferência celular (RNAt). proteínas enzimáticas e estruturais do vírus:
○ As enzimas DNA polimerase RNA-
dependente (transcriptase reversa), ● Gag (antígeno específico do grupo, capsídeo,
protease e integrase são carreadas no matriz e proteínas de ligação ao ácido nucléico)
virion; ● Pol (polimerase, protease e integrase)
● O receptor do vírus é o determinante inicial do ● Env (envelope e glicoproteínas).
tropismo tecidual;
● A replicação ocorre por meio de um intermediário Em cada extremidade do genoma existem sequências
de DNA chamado de pró-vírus; terminais repetidas longas (LTR). As sequências LTR
● O pró-vírus se integra aleatoriamente no contêm promotores, amplificadores e outras sequências
cromossomo do hospedeiro e se torna um gene gênicas utilizadas para a ligação de diferentes fatores de
celular; transcrição celular. Vírus oncogênicos também podem
● A transcrição do genoma é regulada pela conter genes reguladores do crescimento.
interação de fatores de transcrição do hospedeiro
Os retrovírus complexos, incluindo o HTLV, o HIV e
com elementos promotores e iniciadores
outros lentivírus expressam proteínas precoces e tardias
presentes nas sequências terminais repetidas
que codificam diversos fatores de virulência que requerem
longas (LTR) do genoma;
um processamento transcricional (splicing) mais complexo
● Os retrovírus simples codificam os genes gag,
que o dos retrovírus simples.
pol e env. Os retrovírus complexos também
codificam genes assessórios (p. ex., tat, rev, nef,
Glicoproteínas
vif e vpu para HIV);
● O vírus é montado e brota a partir da membrana As glicoproteínas virais são produzidas pela clivagem
plasmática; proteolítica da poliproteína codificada pelo gene env.
● A morfogênese final do HIV requer a clivagem por
protease dos polipeptídeos Gag e Gag-pol após a O tamanho das glicoproteínas difere entre cada grupo de
aquisição do envelope. vírus. Por exemplo, a glicoproteína gp 62 do HTLV-1 é

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clivada em gp46 e p21, e a gp160 do HIV é clivada em
gp41 e gp120. Essas glicoproteínas formam espículas
trímeras com a ponta arredondada (em formato de pirulito)
que são visíveis sobre a superfície do vírion.

A maior glicoproteína do HIV, a gp120, se liga aos


receptores da superfície celular, determina o tropismo
tecidual primário do vírus e é reconhecida por anticorpos
neutralizantes.

A subunidade menor (gp41 do HIV) forma o cabo do


pirulito e promove a fusão célula a célula.

A gp120 do HIV é extremamente glicosilada, por


conseguinte, sua antigenicidade pode ser alterada. Além
disso, a especificidade ao receptor pode sofrer alterações
por mutações ocorridas durante infecção crônica por HIV.
Esses fatores impedem a eliminação do vírus pela
resposta imune

Replicação

A replicação dos retrovírus humanos (p. ex., HIV) se inicia


com a ligação das espículas das glicoproteínas virais
(trímero formado pelas moléculas gp120 e gp41) ao
receptor primário, a proteína CD4, e a um segundo
receptor, o receptor de quimiocina ligado à proteína G com
7 domínios transmembrana.

A ligação ao receptor é o determinante principal do


tropismo ao tecido e a gama de hospedeiro para um
retrovírus.

O co-receptor utilizado na infecção inicial de um indivíduo


O ciclo de vida do vírus da imunodeficiência humana
é o CCR5, o qual é expresso nas células mieloides,
(HIV). O HIV se liga ao CD4 e co-receptores de
células T periféricas e subgrupos de células T helper
quimiocinas e penetra por fusão. O genoma é transcrito
(macrófagos, [M]-trópico). Depois, durante a infecção
reversamente para DNAc (DNAcomplementar) no
crônica de um hospedeiro, o gene env sofre mutações que
citoplasma e integrado ao DNA nuclear. A transcrição e a
fazem com que a gp120 se ligue a um receptor de
tradução do genoma ocorrem de maneira semelhante à do
quimiocinas diferente (CXCR4), que é primariamente
vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV-1). O vírus
expresso nas células T (T-trópico).
é montado na membrana plasmática e matura após o
A ligação ao receptor de quimiocinas aproxima o envelope brotamento a partir da célula. DNAc: DNA complementar,
viral e a membrana plasmática celular e permite que a RNAm: RNAmensageiro.
gp41 interaja com as duas membranas, promovendo sua
fusão. Esse mecanismo de fusão mediado pela ligação de
CCR5 e gp41 é o alvo para drogas antivirais que
interferem com a ação da gp41.

O HIV pode também se ligar a uma molécula de adesão


celular, a integrina α-4 β-7, presente no tecido linfoide
associado com o intestino (GALT, gut-associated lymphoid
tissue) e em uma molécula não integrina, captadora da
molécula de adesão intercelular específica das células
dendríticas 3 (DC-SIGN, dendritic cell-specific intercellular
adhesion molecule-3-grabbing non-integrin) e outras
células.

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uma enzima que é codificada e transportada pelo vírus, a
integrase.

A integração requer a multiplicação celular, mas o DNAc


do HIV e de outros lentivírus pode permanecer no núcleo e
no citoplasma na forma de um DNA circular não integrado
até que a célula seja ativada. A integrase é outro
importante alvo para drogas antirretrovirais.

Fase tardia da replicação

Uma vez integrado, inicia-se a fase tardia e o DNA viral ou


Ligação do vírus da imunodeficiência humana (HIV) à
provírus é transcrito como um gene celular pela RNA
célula-alvo. O receptor de quimiocina CCR5 é utilizado no
polimerase II do hospedeiro. A transcrição do genoma
início da infecção de um indivíduo, depois ocorre mutação
produz uma molécula única de RNA que, nos retrovírus
no gene env e o receptor CXCR4 passa a ser também
simples, é processada para produzir vários RNAm, que
utilizado.
contêm as sequências dos genes gag, gag-pol ou env. Os
- CCR5 – mais expresso em macrofagos (maior infecção
transcritos completos do genoma também podem ser
no início) ⇒ M-trópico
agrupados dentro de novos virions.
- CXCR4 – mais expresso em linfócitos (após a
estabilização no organismo) ⇒T-trópico Pelo fato do provírus atuar como um gene celular, sua
replicação depende da extensão da metilação do DNA
Fase precoce de replicação
viral e da taxa de multiplicação celular, mas
principalmente da capacidade da célula de reconhecer
Uma vez que o genoma seja liberado no citoplasma, inicia-
as sequências promotoras e amplificadoras
se a fase precoce de replicação. A transcriptase reversa,
codificadas na região LTR (região promotora viral).
codificada pelo gene pol, utiliza o tRNA presente no virion
como um primer e sintetiza um DNA complementar
A estimulação celular em resposta a outras infecções
(DNAc), de polaridade negativa. A transcriptase reversa
(por meio da ação das citocinas ou mitógenos) produz
também atua como uma ribonuclease H, degradando o
fatores de transcrição que se ligam às LTR e podem ativar
genoma de RNA e sintetizando a fita positiva do DNA.
a transcrição do vírus. Se o vírus codifica oncogenes virais,
eles podem promover o crescimento celular e estimular a
A transcriptase reversa é o principal alvo de drogas
transcrição e, assim, a replicação viral.
antivirais. Durante a síntese do DNAc do virion (provírus),
sequências de cada extremidade do genoma (U3 e U5)
A capacidade de uma célula para transcrever o genoma
são duplicadas, dessa forma ligando as LTRs a ambas
retroviral é também um determinante importante para o
terminações. Esse processo cria sequências necessárias
tropismo tecidual e a gama de hospedeiros de um
para a integração e sequências promotoras e
retrovírus.
amplificadoras dentro da LTR para a regulação da
transcrição. Genes regulatórios necessários

A cópia de DNA do genoma é maior que o RNA original. HTLV e HIV são retrovírus complexos e passam por duas
fases de transcrição. Durante a fase precoce, o HTLV-1
A transcriptase reversa é muito suscetível a erros. Por
expressa duas proteínas, denominadas Tax e Rex, as
exemplo, a taxa de erros da transcriptase reversa do HIV é
quais regulam a replicação viral.
de um erro a cada 2.000 bases, ou aproximadamente
cinco erros por genoma (o genoma do HIV possui cerca de Diferente dos outros RNAm virais, o RNAm de Tax e Rex
9.000 pares de bases), o equivalente a pelo menos um requer mais de uma etapa de processamento (splicing).
erro de digitação a cada página deste texto, porém
diferente em cada livro. Essa instabilidade genética do O gene rex codifica duas proteínas que se ligam ao RNAm
HIV é responsável por promover a geração de novas viral impedindo o processamento e promovendo o
cepas do vírus durante a infecção de um indivíduo, uma transporte do RNAm para o citoplasma.
propriedade que pode alterar a patogenicidade do
vírus e promover escape à resposta imune. O processamento duplo e a expressão dos RNAm de
tax/rex ocorrem na fase precoce (quando há baixa
Integração concentração de Rex) e as proteínas estruturais são
expressas na fase tardia (quando há alta concentração de
O DNAc de fita dupla é então transportado para o núcleo e Rex). Nessa fase da infecção, Rex seletivamente aumenta
inserido no cromossomo do hospedeiro com a ajuda de a expressão e o processamento dos genes estruturais que
são requeridos em abundância.

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A proteína tax é um ativador transcricional e eleva a As poliproteínas Gag e Gag-Pol são aciladas e se ligam
transcrição do genoma viral a partir da sequência à membrana plasmática contendo as glicoproteínas do
promotora do gene LTR na extremidade 5’. envelope viral. A associação de duas cópias do genoma e
moléculas do RNA de transferência celular promove o
Tax também ativa outros genes, incluindo aqueles para a brotamento do virion.
interleucina-2 (IL-2), IL-3, fator estimulador de colônias de
granulócitos e macrófagos e o receptor de IL-2. A ativação Após a aquisição do envelope e a saída da célula, as
desses genes promove a multiplicação da célula T proteases virais clivam as poliproteínas Gag e Gag-Pol
infectada, o que aumenta a replicação viral. para liberar a transcriptase reversa e formar o núcleo do
virion, garantindo, assim, a inclusão desses componentes
Genes regulatórios acessórios dentro do virion.

A replicação do HIV é regulada por até seis produtos A clivagem promovida pelas proteases virais é
gênicos denominados “acessórios”. fundamental para a produção de virions infecciosos e,
portanto, essas enzimas são importantes alvos de drogas
● Proteína Tat - assim como a Tax, é uma antivirais.
transativadora da transcrição de genes virais e
celulares. A aquisição do envelope (envelopamento) e a liberação
● Proteína Rev - age como a proteína Rex para dos retrovírus ocorrem na superfície celular. Durante o
regular e promover o transporte do RNAm viral brotamento e a formação do envelope viral, o HIV capta
dentro do citoplasma. proteínas celulares, incluindo moléculas do MHC.
● Proteína Nef - reduz a expressão de CD4 na
superfície celular e de moléculas do complexo A replicação e o brotamento dos retrovírus não
principal de histocompatibilidade classe I (MHC I), necessariamente destroem a célula. O HIV também
altera as vias de sinalização de células T, regula pode se disseminar de célula a célula por meio da
a citotoxicidade do vírus e é necessária para produção de células gigantes multinucleadas, ou sincícios.
manter altas cargas virais. Os sincícios são frágeis e sua formação aumenta a
- A proteína Nef parece ser essencial para atividade citolítica do vírus. ⇒ protease vai ser responsável
promover o progresso da infecção da pelo amadurecimento para levar à patogenicidade
AIDS.
● Proteína Vif - promove a montagem, a
maturação viral e se liga a uma proteína celular
antiviral denominada APOBEC-3G para impedi-la
de hipermutar o DNAc viral, ajudando o vírus a se
replicar nas células mieloides e em outras células.
● Proteína Vpu - reduz a expressão de CD4 na
superfície celular e amplifica a liberação do virion.
● Proteína Vpr (Vpx no HIV-2) - é importante para
o transporte do cDNA para o núcleo e para a
replicação viral em células que não se
multiplicam, como os macrófagos.
- A proteína Vpr também paralisa a célula
na fase G2 do ciclo de multiplicação
celular, o que é provavelmente ideal
para a replicação do HIV.

As proteínas traduzidas a partir dos RNAm gag, gag-pol e


env são sintetizadas como poliproteínas e, em seguida,
clivadas para se tornarem proteínas funcionais.

As glicoproteínas virais são sintetizadas, glicosiladas e MECANISMOS DE PATOGÊNESE VIRAL


processadas por retículo endoplasmático e complexo
de Golgi. O principal determinante na patogênese e doença
causadas pelo HIV é o tropismo do vírus por células T que
Essas glicoproteínas são então clivadas em subunidades expressam CD4 e células mieloides. A imunossupressão
que atravessam a membrana e subunidades extracelulares induzida pelo HIV (AIDS) resulta da redução no número de
da proteína de ligação viral, que se associam para formar células T CD4, o que dizima as funções auxiliares e de
trímeros e migrar para a membrana plasmática. hipersensibilidade tardia (DTH) da resposta imune.

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Durante a transmissão sexual, o HIV infecta uma superfície
MECANISMOS PATOLÓGICOS DO HIV
de mucosa, entra e rapidamente infecta células do tecido
● O vírus da imunodeficiência humana infecta linfoide associado com a mucosa (MALT). Os estágios
principalmente células T CD4 e células da iniciais de infecção são mediados pelos vírus com
linhagem mieloide (p. ex., monócitos, macrófagos, tropismo às células mieloides (denominado M-trópico), que
macrófagos alveolares pulmonares, células se ligam ao CD4 e ao receptor de quimocinas CCR5 nas
dendríticas e células microgliais do cérebro) células dendríticas e em outras células da linhagem de
● O vírus causa a infecção lítica de células T CD4 monócitos-macrófagos, assim como em células T de
permissivas e induz apoptose de células T CD4
memória, TH1 e contendo CD4.
não permissivas
● O vírus ocasiona infecção persistente pouco
produtiva e infecção latente de células da linhagem Indivíduos com mutações no receptor CCR5 também são
mieloide e células T de memória resistentes à infecção por HIV, e a ligação ao receptor
● O vírus provoca a formação de sincícios em CCR5 é importante alvo para drogas antivirais.
células expressando grande quantidade de
antígeno CD4 (células T), com subsequente lise
O HIV pode se ligar e permanecer na superfície de
celular
● O vírus altera a função de células T e dos células dendríticas (DC). As células T CD4 são
macrófagos infectadas pela adsorção viral ou pela transmissão célula a
● O vírus reduz os números das células T CD4 e A célula após a ligação às DC. → Macrófagos, DC, células T
capacidade auxiliar mantida pelas células T CD8, de memória e células-tronco hematopoéticas são
macrófagos, além de outras funções celulares persistentemente infectadas pelo HIV, e são os principais
Consequentemente, o número de células T CD8 e reservatórios e meios de distribuição do HIV (agem como
a função dos macrófagos diminuem
“cavalo de troia”).

Reduções no número de células T CD4 podem resultar da


citólise direta induzida pelo HIV, citólise imune induzida
por células T citotóxicas ou ativação crônica em resposta
ao desafio do principal antígeno do HIV, acarretando
rápida diferenciação terminal e morte de células T.

O desenvolvimento dos sintomas da AIDS está


relacionado com o aumento da liberação de vírus no
sangue, com o aumento de vírus T-trópico, com a
diminuição das células T CD4 e com o subsequente
decréscimo no número total de células T (incluindo
células expressando CD3), em razão da ausência da
função das células T CD4 (o chamado T helper ou T
auxiliar)

O HIV induz vários efeitos citopatológicos que podem


destruir a célula T infectada. Estes incluem:

● A elevação na permeabilidade da membrana


plasmática
● A formação de sincícios
● A indução de apoptose (morte celular
programada) resultante da acumulação de cópias
circulares de DNA não integrados do genoma em
células T CD4 não permissivas.

As proteínas acessórias do HIV são importantes para a


Patogênese do vírus da imunodeficiência humana (HIV): O replicação e a virulência. A proteína Nef é necessária
HIV causa infecções líticas e latentes de células T CD4, e para promover a progressão da infecção do HIV para a
infecções persistentes de monócitos, macrófagos e células AIDS.
dendríticas, afetando a função de neurônios. Os resultados
dessas ações são imunodeficiência e demência Indivíduos infectados com mutantes naturais de HIV para o
relacionada com a síndrome da imunodeficiência adquirida gene nef e primatas infectados com mutantes do vírus da
(AIDS). DTH, hipersensibilidade tardia. imunodeficiência símia, os quais não possuem nef, não
desenvolvem a AIDS (são os chamados não
progressores).

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MECANISMOS DE EVASÃO DO SISTEMA IMUNE PELO CD4 em repouso mantém o vírus em células e tecidos
VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA imunologicamente privilegiados (p. ex., sistema nervoso
central e órgãos genitais).
Característica Função
A evolução da doença por HIV é paralela à redução no
Infecção de linfócitos Inativação de elementos-chave número de células T CD4 e ao aumento da carga viral
e macrófagos da defesa imune no sangue. Logo após a transmissão sexual, o HIV infecta
e elimina as células T CD4 expressando CCR5 do GALT.
Inativação de células Perda da célula ativadora e
CD4 auxiliares controladora do sistema imune Durante a fase aguda da infecção ocorre grande aumento
na produção de vírus (10 elevado a 7 partículas/mL de
Variação antigênica plasma). A proliferação de células T e a resposta contra
(via mutação) da as células infectadas promovem uma síndrome
gp120
semelhante à mononucleose.
Evasão da detecção por
Intensa glicosilação anticorpos
de gp120 Os níveis de vírus no sangue diminuem durante o
período clinicamente latente, mas a replicação viral
Disseminação direta continua nos linfonodos. O vírus também permanece
célula a célula e latente em macrófagos, DC, células T de memória e em
formação de células-tronco hematopoéticas. Com a progressão da
sincícios doença, a viremia aumenta, os níveis de CD4 são
reduzidos significativamente, assim como os níveis de
A resposta imune contra o HIV tenta restringir a infecção CD8, o vírus T-trópico aumenta, a estrutura dos linfonodos
viral, mas contribui para a patogênese. é destruída e o paciente se torna imunossuprimido.

● Anticorpos neutralizantes são gerados contra O papel central das células T CD4 auxiliares no início de
gp120. uma resposta imune e na DTH é destacado pela depleção
● O vírus é recoberto por anticorpos, entretanto, é da resposta imune causada pela infecção do HIV.
infeccioso, e é capturado por macrófagos. Células T CD4 ativadas iniciam a resposta imune por
● As células T CD8 são fundamentais para o intermédio da liberação de citocinas necessárias para a
controle da progressão da doença pelo HIV. ativação de macrófagos, outras células T, células B e
Essas células podem destruir células infectadas células natural killer. Quando as células T CD4 não estão
por ação citotóxica direta e podem produzir disponíveis ou funcionais (número de CD4 menor que
fatores supressores que restringem a 200/µL), a resposta imune contra antígenos específicos
replicação viral, incluindo quimiocinas que (especialmente a resposta imune celular) se torna nula e a
também bloqueiam a ligação do vírus ao seu co- resposta imune humoral fica descontrolada.
receptor.
A perda das células T CD4, TH1 e TH17 que são
Indivíduos com certos tipos de MHC (antígeno leucocitário responsáveis pela ativação de macrófagos e neutrófilos
humano – HLA, alelos B27 ou B57) podem permite a instalação de muitas infecções intracelulares
preferencialmente ligar mais peptídeos do HIV no lugar de oportunistas que são características da AIDS (p. ex.,
peptídeos celulares, tornando as células infectadas alvos fungos e bactérias intracelulares).
melhores para as células T CD8, consequentemente,
esses indivíduos são mais resistentes à infecção pelo A diminuição do número de células T CD8 e a
HIV. No entanto, as células T CD8 requerem ativação por incapacidade de ativação dessas células aumenta o
células T CD4, logo o número de células T CD8 diminui potencial de reativação dos vírus latentes.
juntamente com o número de células T CD4 e essa
redução se correlaciona com a progressão da doença, Além da imunodepressão, o HIV também pode ocasionar
sendo um indicador para o desenvolvimento da AIDS. O anormalidades neurológicas. As células de microglia e
HIV possui diversas maneiras de escapar ao controle macrófagos são os tipos celulares predominantemente
imune. infectados por HIV no cérebro. Monócitos e células da
microglia infectados podem liberar substâncias
A mais significativa é a capacidade do vírus sofrer neurotóxicas ou fatores quimiotáxicos que promovem
mutações e, portanto, alterar sua antigenicidade e respostas inflamatórias e a morte de neurônios no cérebro.
escapar à eliminação por anticorpos. O HIV A imunossupressão também coloca o indivíduo sob risco
compromete todo o sistema imune por atacar as células T de infecções oportunistas no cérebro.
CD4. A infecção persistente de macrófagos e células T

INFECÇÃO POR HIV E SIDA

8
CARACTERÍSTICAS GERAIS - gue ou hemoderivados e em usuários de
drogas injetáveis); e da mãe para o filho,
● de grande relevância na atualidade, em função de durante a gestação (infecção congênita),
sua transcendência e seu caráter pandêmico durante o parto (infecção perinatal) ou
● A infecção pelo HIV, sem tratamento, podem aleitamento (infecção pós-natal); e
evoluir para aids, resultando em grave disfunção transmissão ocupacional
do sistema imunológico, à medida que vão sendo - Ocupacional: contato com sangue ou
destruídos os linfócitos T-CD4+, uma das objetos perfurocortantes em acidentes
principais células-alvo do HIV. de trabalho de profissionais de saúde
● A história natural dessa infecção vem sendo representa risco de transmissão.
alterada, consideravelmente, pela terapia Entretanto, o uso adequado de
antirretroviral (Tarv), iniciada no Brasil em 1996, e equipamentos de biossegurança e a
pelo tratamento para todas as pessoas vivendo descontaminação de material biológico
com HIV, independentemente da carga viral, em são eficientes estratégias de prevenção.
2013, o que resultou em aumento da sobrevida ● Período de incubação: O tempo entre a infecção
das pessoas, mediante reconstituição das pelo HIV e o aparecimento de sinais e de
funções do sistema imunológico e redução de sintomas da fase aguda, denominada síndrome
doenças secundárias retroviral aguda (SRA), é de uma a três semanas.
● Período de latência clínica: Após a infecção
AGENTES ETIOLÓGICOS aguda, o tempo de desenvolvimento de sinais e
de sintomas da aids é em média de dez anos.
● HIV-1 e HIV-2 são retrovírus da família
Entretanto, sinais e sintomas de imunodeficiência
Lentiviridae. Pertencem ao grupo dos retrovírus
associada à infecção pelo HIV, não aids, podem
citopáticos e não oncogênicos.
aparecer com período de latência variável após a
● Para se multiplicarem, necessitam de uma
infecção aguda.
enzima (transcriptase reversa) responsável pela
● Período de transmissibilidade: A partir do
transcrição do ácido ribonucleico (RNA) viral para
momento em que a pessoa é infectada, ela tem a
uma cópia do ácido desoxirribonucleico (DNA), e
capacidade de transmitir o HIV.
tornam-se capazes de se integrar ao genoma do
- Durante o período de infecção recente,
hospedeiro.
ou durante o estágio mais avançado da
● Reservatório: o ser humano
infecção com carga viral alta, existe um
● Transmissão: Concentração no fluido biológico
aumento da transmissibilidade do vírus.
(inóculo viral); integridade e vulnerabilidade da
Outros processos infecciosos e
mucosa envolvida (mucosas anal, vaginal ou
inflamatórios favorecem essa
oral); duração da exposição; tipo de amostra viral
transmissão, especialmente quando
transmitida; e background genético.
presente alguma infecção sexualmente
- Os fatores comportamentais estão
transmissível (IST).
diretamente relacionados com os fatores
- A replicação viral ativa e a livre
biológicos e podem ser exemplificados:
circulação do vírus na corrente
indivíduos com múltiplos parceiros
sanguínea causam a formação de um
sexuais; não uso de preservativos e
pico de viremia por volta de 21 a 28 dias
compartilhamento de seringas e/ou
após a exposição ao HIV. Essa viremia
objetos perfurocortantes contaminados.
está associada a um declínio acentuado
no número de LT-CD4+.

PATOGÊNESE DA INFECÇÃO PELO HIV A infecção pelo HIV gera uma doença persistente crônica
caracterizada pela depleção de linfócitos TCD4 + e
disfunção imunológica, tornando o indivíduo suscetível a

9
infecções oportunistas e maior morbidade e mortalidade possam ser produtivamente infectadas e
pelas mais distintas infecções. contribuir para a liberação de partículas
infecciosas. Outros, entretanto, consideram que o
Os mecanismos envolvidos na geração de fenômeno só acontece in vitro
imunodeficiência ainda não estão totalmente esclarecidos - Essas células contribuam ativamente no
e parecem estar associados não só à depleção das processo de transinfecção de linfócitos T
células TCD4+, mas também à disfunção de células - as DC expressam outro receptor
apresentadoras de antígeno, ativação exacerbada da utilizado pelo HIV, chamado DC-SIGN
resposta imunológica, exaustão de linfócitos T e B, e (dendritic cell-specific intercellular
perda da arquitetura dos diversos tecidos linfoides, adhesion molecule-3-grabbing non-
incapacitando o SI de montar uma resposta adequada integrin). Esse é um receptor do tipo
para o controle dessa e de outras infecções que acometam lectina, associado à endocitose e capaz
o indivíduo. de reciclar para a membrana plasmática
após internalização.
Tipos celulares suscetíveis à infecção
Suscetibilidade/permissividade das células-alvo da
O HIV utiliza como receptores para a adsorção e a infecção – ativação celular e reservatórios
penetração a molécula CD4, além de correceptores de
quimiocinas, particularmente, CCR5 e CXCR4. Assim, as Os linfócitos TCD4+, monócitos/macrófagos e DC são
células que expressam essas moléculas, incluindo suscetíveis à infecção pelo HIV, entretanto, infecção
linfócitos TCD4+, macrófagos e DC são potenciais alvos produtiva e liberação de partículas infecciosas por essas
da infecção por esse vírus. Entretanto, a capacidade de células depende de vários eventos que incluem:
gerar uma infecção produtiva e os efeitos dessa infecção
difere entre os diferentes tipos celulares ● Linfócitos TCD4+: escape de fatores de restrição
celulares intrínsecos à célula hospedeira;
● Os linfócitos TCD4+ são as principais células- ● Monócitos e macrógafos: disponibilidade e
alvo da infecção. No seu estado ativado, ativação de nucleotídeos e fatores de transcrição
produzem vírus de forma produtiva e a replicação para a replicação e
viral pode levar à lise das células, possivelmente, ● Células dendríticas: a transcrição do genoma,
pela indução de morte celular por apoptose.
- é a principal responsável pela carga viral ↪ Assim, durante a infecção do hospedeiro, parte das
plasmática e manutenção dos células infectadas está produzindo vírus ativamente,
reservatórios virais e a depleção dessas enquanto outras células atuam como reservatórios virais.
células é o efeito mais marcante da
infecção por HIV. Os reservatórios virais são definidos, portanto, como
● Já as células em repouso, embora sejam células que permitem, por longo período de tempo, a
também alvos da infecção, são ineficientes em persistência de cópias de HIV em estado latente, mas com
sua capacidade de infecção produtiva e, competência para se replicar. Essas representam o
particularmente, linfócitos T de memória, principal desafio para o controle da infecção pelo SI ou
representam o principal reservatório viral ao longo para o tratamento antirretroviral, e a compreensão dos
da infecção mecanismos de latência e reativação viral têm sido um dos
● Os monócitos e os macrófagos também são principais desafios para o estudo da infecção por HIV.
alvos em potencial, e a eficiência da replicação
viral está relacionada com o estado de O perfil da infecção de linfócitos TCD4 +, em particular,
diferenciação celular. Os monócitos são as depende do estado de ativação dessas células. O início
células circulantes que, uma vez nos tecidos, se da infecção celular, ou seja, adsorção, fusão e
diferenciam em subtipos celulares de acordo com desnudamento, independem de ativação, e qualquer
o tecido residente célula TCD4 + é suscetível à infecção pelo HIV. Entretanto,
● Os macrófagos produzem vírus ativamente, mas de para que a transcrição reversa, integração e expressão
forma menos eficiente do que os linfócitos TCD4 + , e do genoma viral se completem, é imprescindível que as
a infecção dessas células não está associada à indução células entrem em estado de ativação, o que permite a
de efeito citopático marcante. De fato, em pacientes disponibilidade de todos os elementos celulares requeridos
infectados não se observa diminuição do número de para tais etapas do ciclo de replicação viral.
macrófagos ou monócitos circulantes → também
- Em linhas gerais, a ativação de linfócitos T por
podem representar reservatórios virais, principalmente
antígenos específicos ou mitógenos induz
pelo fato de que podem se manter viáveis apesar de
cascatas de sinalização intracelulares associadas
infectados e manter a produção viral por muitos dias.
à ativação de fatores de transcrição. Estes são
● A infecção produtiva de DC ainda é discutível.
translocados para o núcleo e induzem a entrada
Alguns autores propõem que essas células

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da célula em ciclo celular e outros eventos manutenção da replicação viral e disseminação do vírus
associados à sua função efetora no hospedeiro. A replicação do HIV nos linfonodos está
- As células ativadas podem, ainda, se diferenciar associada à intensa depleção linfocitária, devido à infecção
em células de memória, que voltam ao estado das células TCD4 +
quiescente, não proliferativo – os linfócitos T
virgens ou de memória são células em repouso, ● Nesse ambiente há intensa ativação celular
não ativadas, e que não estão em processo de ● Isso leva, subsequentemente, à lesão do tecido
divisão celular. linfóide, que é seguida de deposição de tecido
conjuntivo, assim como fibrose e destruição da
Após a infecção de linfócitos T em repouso, o vírus falha arquitetura e função desses tecidos
em completar a etapa de transcrição reversa e em integrar ● Além dos linfonodos, o tecido linfóide associado ao
seu genoma, e são encontradas cópias lineares do DNA trato gastrointestinal é um dos mais importantes sítios
viral extracromossomal no núcleo dessas células. A de replicação do HIV ⇒ as placas de Peyer e a lâmina
infecção de células T em repouso pode resultar, portanto, própria da mucosa intestinal situada adjacente ao
em um estado de latência transitório em uma etapa de pré- epitélio.
integração ⇒ leva à expressão de algumas proteínas virais, - Ocorre perda substancial da população
como tat e nef, e alguns estudos sugerem que os produtos de células TCD4 + da lâmina própria
desses genes podem induzir ativação celular, permitindo a logo nas primeiras semanas de infecção
integração do DNA proviral e continuação do ciclo. e o grau de lesão nesses sítios parece
estar associado ao tempo de progressão
- Após essa integração, fatores (NF-κB, NFAT e AP-1) para AIDS
que estão continuamente inativados no citoplasma da - A lesão do intestino induz, ainda, a
célula em repouso, passam a ser ativados e translocação de bactérias do lúmen para
translocados para o núcleo do linfócito T após sua os tecidos, contribuindo ainda mais, para
ativação ⇒ esses fatores irão reconhecer sítios ativação exacerbada, inflamação e lesão
específicos da região promotora LTR, do trato gastrointestinal.
possibilitando a modulação da expressão gênica
viral
- Isso é indicativo que células TCD4 + virgens podem
ser infectadas, mas são ineficientes no processo de
transcrição reversa e integração, só sendo capazes de
completar o ciclo replicativo viral se entrarem em
processo de ativação. ⇒ células TCD4 + de
memória podem representar reservatórios virais,

Outros tipos celulares, como macrófagos também foram


propostos como possíveis reservatórios virais. Algumas
linhagens macrofágicas, como micróglia no SNC, têm
meia-vida longa. Além disso, macrófagos podem se
manter viáveis e suportar a replicação viral por longo
período de tempo. Desse modo, a infecção pode contribuir
para a persistência do vírus in vivo.

Sítios de replicação viral

● A porta de entrada dos vírus é constituída de


mucosas ⇒ Nesses sítios estão presentes DC, como
as células de Langerhans, além de macrófagos,
que são alvos da infecção
● Essas células, principalmente as DC, podem
carrear o vírus para tecidos linfóides onde HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
poderão transmiti-lo para linfócitos TCD4 + ,
além de ativar essas células, potencializando a A história natural da infecção pelo HIV ou o curso de
replicação viral. progressão da infecção pode ser caracterizado por 3
● O vírus pode atingir a corrente sanguínea, fases: fase aguda ou infecção primária, fase
sendo distribuidos pelo organismo persistente crônica, e AIDS. Os marcadores de
progressão para AIDS, que definem clinicamente essas
Tecidos linfóides são, por todo período de infecção, os etapas são a contagem de células TCD4 +, a carga viral
principais sítios acometidos e responsáveis pela plasmática e a presença ou não de manifestações clínicas.

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Infecção aguda ● Alguns pacientes também podem apresentar
candidíase oral, neuropatia periférica,
Essa fase ocorre nas primeiras semanas da infecção meningoencefalite asséptica e síndrome de
pelo HIV, quando o vírus é replicado intensivamente nos Guillain-Barré.
tecidos linfóides. Ela caracteriza-se tanto por viremia
elevada quanto por resposta imune intensa e queda rápida A SRA é autolimitada e a maior parte dos sinais e dos
na contagem de LT-CD4+, de caráter transitório sintomas desaparecem em três a quatro semanas.
Linfadenopatia, letargia e astenia podem persistir por
- Nem todas as pessoas recém-infectadas vários meses. A presença de manifestações clínicas mais
apresentam a fase aguda, e outras, quando a intensas e prolongadas (por período superior a 14 dias)
apresentam, o fazem de forma não específica. pode estar associada à progressão mais rápida da aids.
- Nessa fase o indivíduo pode ou não apresentar
sintomas clínicos. Anticorpos são detectáveis a partir de 2 a 4 semanas de
infecção, devido à elevada carga viral no plasma e em
Essa infecção é acompanhada por um conjunto de fluidos corporais, a fase aguda é caracterizada por alta
manifestações clínicas, denominado síndrome retroviral probabilidade de transmissão.
aguda (SRA). As principais manifestações clínicas de SRA
incluem: Nessa etapa da infecção observa-se intensa resposta
imunológica e, particularmente, a resposta mediada por
● Febre, cefaleia, astenia, adenopatia, faringite, células TCD8 + inibe significativamente a infecção, tendo
exantema e mialgia. A SRA pode ser associada a como resultado uma diminuição drástica de vírus
sintomas como febre alta, sudorese e circulante, e uma restauração parcial do número de células
linfadenomegalia. Podem ocorrer, ainda, TCD4
esplenomegalia, letargia, astenia, anorexia e
depressão. - alta produção de anticorpos importantes para o
● Sintomas digestivos, como náuseas, vômitos, primeiro combate ⇒ vírus entra em fase de latência
diarreia, perda de peso e úlceras orais podem para se proteger ⇒ 2° fase de latência
estar presentes.

CARACTERÍSTICAS DA INFECÇÃO AGUDA PELO HIV-1

SINTOMAS Febre, linfadenomegalia; cefaleia; mal-estar; perda de apetite; faringite; mialgia/artralgia; exantema
CLÍNICOS macular; trombocitopenia; leucopenia; náusea e vômito; diarreia; perda de peso; candidíase oral e
ulcerações na boca, esôfagoe/ou genitaise reto; hepatoesplenomegalia

CURSO DA Período de incubação de 2 a 4 semanas; sintomas duram de 1 a 3 semanas; linfoadenomegalia,


DOENÇA letargia e mal-estar podem persistir por muitos meses;geralmente seguido de um período assintomático
por meses ou anos

DADOS Primeira semana: leucopenia e trombocitopenia;


LABORATORIAIS segunda semana: número de linfócitos sobe devido ao aumento de linfócitos TCD8+, taxa CD4/CD8
diminui, linfócitos atípicos aparecem no sangue; antigenemia e viremia detectados; vírus pode estar
presente no SNC e sêmen; anticorpos anti-HIV detectados após 2 a 4 semanas da infecção

Latência clínica e fase assintomática (fase persistente bacterianos, como as infecções respiratórias ou
crônica) mesmo a tuberculose.
● Com a progressão da infecção, começam a ser
Nessa fase, o exame físico costuma ser normal, exceto observadas apresentações atípicas das
pela linfadenopatia, que pode persistir após a infecção infecções, resposta tardia à antibioticoterapia e/ou
aguda. Podem ocorrer alterações nos exames reativação de infecções antigas.
laboratoriais, como plaquetopenia, anemia e leucopenia
leves. Os exames sorológicos para HIV são reagentes e À medida que a infecção progride, surgem sintomas
a contagem de LT-CD4+ pode estar estável ou em constitucionais (febre baixa, perda ponderal, sudorese
declínio. noturna, fadiga), diarreia crônica, cefaleia, alterações
neurológicas, infecções bacterianas (exemplos:
● Enquanto a contagem de LT-CD4+ permanece pneumonia, sinusite) e lesões orais. A candidíase oral é
acima de 350 células/mm3, os episódios um marcador clínico precoce de imunodepressão grave, e
infecciosos mais frequentes são geralmente foi associada ao subsequente desenvolvimento de
pneumonia por Pneumocystis jirovecii.

12
- oligossintomas como os sintomas constitucionais progressão de outras infecções transmissíveis em
é comum de ocorrer na fase de latência caso de coinfecção (tuberculose, hepatites virais, sífilis,
entre outras).
Apesar da latência clínica, a infecção persistente crônica é
caracterizada por replicação contínua de vírus, depleção Em fases mais tardias da infecção, na ausência de terapia
progressiva de células TCD4 + e contínua evolução viral antirretroviral, é relativamente comum o aparecimento de
um conjunto de sintomas que caracterizam a “demência
- alguns autores consideram a 3° fase iniciando abaixo associada ao HIV” (ou ADC, AIDS dementia complex).
de 500/mm3 ⇒ maior replicação viral e surgimento de Esses sintomas envolvem perda de concentração;
doenças oportunistas desordem mental; alterações de comportamento; perda de
memória e confusão mental; depressão; até alterações de
AIDS fala, visão e equilíbrio, entre outros. Os sintomas parecem
ser causados por danos diretos do SNC, e possivelmente
Com a progressão da infecção e, consequentemente, da
pela resposta inflamatória gerada pela infecção de outros
disfunção imunológica, o indivíduo chega a uma etapa
tipos celulares, como macrófagos e micróglia. Sem
chamada de AIDS propriamente dita ou imunodeficiência,
tratamento, o indivíduo pode sobreviver nessa etapa por
caracterizada por depleção maciça de células TCD4 + com
cerca de 3 anos.
contagens de células inferiores a 200/mm3 , altos níveis de
vírus circulante e aparecimento de manifestações clínicas Uma minoria dos indivíduos infectados controla a
características de imunodeficiência, incluindo infecções replicação viral (< 50 cópias/mℓ) e mantêm a contagem de
oportunistas. TCD4 + estável, sendo classificados como controladores
de elite. Os critérios de classificação são relativamente
- O aparecimento de infecções oportunistas e
variáveis, mas os LTNP são caracterizados como indivíduos
neoplasias é definidor de aids.
infectados há pelo menos 7 a 10 anos, com contagem de células
- Entre as infecções oportunistas, destacam-se:
TCD4 + entre 350 e 1.600/mm3 e os controladores de elite
pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose
apresentam, além desses parâmetros, carga viral indetectável ⇒
pulmonar atípica ou disseminada, meningite
maior dificuldade de infecção
criptocócica e retinite por citomegalovírus.
- As neoplasias mais comuns são sarcoma de - Estirpes virais menos virulentas ⇒ presença de vírus
Kaposi, linfoma não Hodgkin e câncer de colo que não expressavam a proteína nef
uterino em mulheres jovens. - Fatores do hospedeiro ⇒ Geneticamente, um dos
- as doenças definitivas de AIDS normalmente fatores mais marcantes associados a não progressão ou
ocorre em taxas abaixo de 100 até a não infecção por HIV é o polimorfismo no gene
que codifica o correceptor CCR5,
À medida que a infecção progride, a resposta às infecções
bacterianas torna-se atípica, incluindo maior tempo de
resposta à antibioticoterapia, reativação de infecções
anteriores e, indivíduos com contagem abaixo de 350
células/mm3 começam a apresentar fadiga, diarreia
crônica, lesões orais.

Além das infecções e das manifestações não infecciosas,


o HIV pode causar doenças por dano direto a certos
órgãos ou por processos inflamatórios, tais como
miocardiopatia, nefropatia e neuropatias, que podem estar
presentes durante toda a evolução da infecção pelo vírus.

A diarreia é um sintoma marcante da AIDS e pode ser


causada por uma série de patógenos, incluindo vírus,
fungos, bactérias e helmintos, mas também está associada
à enteropatia causada pelo HIV, com atrofia das
vilosidades e consequente mal-absorção. Assim, é
marcante na AIDS a síndrome associada à perda de peso
intensa, incluindo perda de gordura corporal e de massa Resumo da História natural da infecção pelo HIV-1.
muscular, normalmente associada à diarreia crônica,
Após o primeiro contato do indivíduo previamente
fraqueza e febre.
saudável com o HIV1, estabelece-se o período de
infecção primária que dura em média 4 semanas, e é
Além das infecções oportunistas, neoplasias e nefropatia,
caracterizado pela queda dos níveis de linfócitos TCD4 +
a infecção pelo HIV pode agravar o prognóstico e a
circulantes (linha bordô) e pelo estabelecimento de um alto

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pico virêmico (linha vinho), medido pela quantidade de A infecção pelo HIV é caracterizada por 3 principais
RNA viral presente no plasma. A primeira queda eventos associados à resposta imunológica que estão
significativa dos níveis de carga viral no indivíduo é inter-relacionados e contribuem para a incapacidade de
denominada set-point e caracteriza o início da fase controlar a infecção e para o desenvolvimento de
crônica assintomática da infecção que dura em média 8- imunodeficiência. São eles: depleção e/ou disfunção de
10 anos. A queda inicial, e o posterior estabelecimento dos células e tecidos do SI; ativação imunológica crônica; e
níveis de RNA viral plasmático na fase crônica da exaustão celular.
infecção, pode ser para níveis intermediários (conforme
representado) ou ainda para níveis indetectáveis. Durante Depleção e disfunção de células e tecidos do sistema
essa fase ocorre a recuperação parcial da quantidade de imunológico
linfócitos TCD4 + circulantes, entretanto para a maioria
dos pacientes, estes níveis nunca retornam aos níveis A depleção de células TCD4 + é o principal evento associado à
anteriores à infecção. A queda gradual e consequente infecção pelo HIV e pode ser resultado da própria replicação
diminuição da quantidade de linfócitos TCD4 + circulantes viral ou de excesso de ativação celular ⇒ a replicação viral pode
a níveis inferiores a 300 a 250 células/mℓ de sangue induzir apoptose de células T infectadas, mas as não infectadas
determina a progressão da infecção para a fase de AIDS, também sofrem, sugerindo a participação de outros mecanismos
podendo ou não ser acompanhada pelo estabelecimento
- A morte de células vizinhas às células infectadas
de quadros de infecção oportunista. Nesta fase os
pode se dever à secreção ou expressão de
níveis de carga viral também aumentam, podendo chegar
mediadores pró-apoptóticos pelas células
aos mesmos observados no pico virêmico da infecção
infectadas, ou pela secreção de componentes
primária.
virais.
DINÂMICA VIRAL - a morte de células não infectadas envolve, ao
menos em parte, a infecção abortiva dessas
Foi verificado que a supressão da carga viral se dava células ⇒ o acúmulo de transcritos incompletos no
sempre de maneira exponencial e a eliminação total dos citoplasma de células TCD4 + em repouso pode
vírus circulantes em média em 2 semanas, indicando uma ativar sinais pró-apoptóticos, levando à morte
rápida taxa de decaimento da carga viral, meia-vida de 1,5 celular, independentemente de replicação
a 2 dias. produtiva

Além do decréscimo significativo da carga viral, o aumento Independentemente do mecanismo associado, a depleção
exponencial de linfócitos TCD4 + na circulação também de linfócitos TCD4 + tem como consequência a disfunção
acontecia de forma sustentada, tendo sido o turnover de outros compartimentos que participam da resposta
desses linfócitos em média 15 dias. A coletânea dos dados imunológica, uma vez que sua principal função efetora é a
indicou, pela primeira vez, que a infecção viral no paciente modulação da homeostasia e ativação de outros
era altamente dinâmica, com taxa de produção diária de componentes do SI.
vírus da ordem de 10 10 partículas virais e eliminação de
metade dessas em um período de 2 dias, e igualmente - Estudos demonstram que o desequilíbrio entre a
rápido turnover da população de linfócitos T CD4 + que proporção de subtipos de células TCD4 + (Th1, Th2,
são o alvo da infecção Th17 e Treg) pode influenciar na progressão para
AIDS ⇒ a depleção e/ou preservação maior de
- Ficou claro que a infecção pelo HIV era altamente determinados subtipos em detrimento de outros,
produtiva e a destruição de células TCD4 + era por maiores taxas de infecção ou ativação celular,
em sua maioria consequência direta da replicação parece influenciar o estado imunológico do
viral. hospedeiro infectado
- As implicações terapêuticas foram claras; a
interrupção eficaz da replicação viral traria como Ativação imunológica crônica e exaustão celular
consequência imediata a rápida eliminação de
A incapacidade do SI em controlar a replicação viral é um
vírus da circulação e a reconstituição da
dos mecanismos associados à ativação imunológica
população de linfócitos TCD4+
crônica, visto que e a ativação de células do SI é
RESPOSTA IMUNOLÓGICA necessária para o controle da replicação viral, mas
representa também maior disponibilidade de células-alvo
O HIV infecta, principalmente, células do sistema imune, para a replicação viral. A ativação crônica exacerbada está
levando à lise e à disfunção dessas células. A infecção de associada à morte celular induzida por ativação e à
células TCD4 + é um dos principais fatores responsáveis exaustão celular
pela imunodeficiência, mas isoladamente não explica a
completa disfunção imunológica que poderia ser evitada - menor proporção de células TCD4 + ativadas era
caso houvesse controle eficiente da infecção diretamente correlacionada a menores níveis de

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DNA viral intracelular e progressão mais longa ● No caso de testes que detectam anticorpos,
para AIDS. utiliza-se o termo janela imunológica, ou janela
de soroconversão, que é o período entre a
Os linfócitos TCD8 + não são alvos da infecção, mas infecção até a primeira detecção de anticorpos
também apresentam alteração de função, particularmente contra o agente infeccioso.
na fase crônica e AIDS. É proposto que a ativação crônica - testes mais utilizados e baratos
dessas células, devido à exposição antigênica constante - utilização de técnicas para confirmação
(em virtude da não eliminação do vírus), associada à do resultado quando for positivo
ausência de “help” de CD4 induz um fenômeno de
exaustão celular Considera-se adequado trabalhar com o período médio de
janela imunológica de 30 dias, pois é o tempo após o qual
- A exaustão celular é caracterizada pela a maioria dos indivíduos apresentará resultados reagentes
expressão de marcadores de exaustão PD-1 nos testes utilizados para a investigação inicial da infecção
(programmed cell death protein 1) e CTLA-4 pelo HIV. Deve-se considerar, entretanto, que muitos
(cytotoxic T lymphocyte antigen 4), inibição da fatores podem contribuir para que esse período não seja
secreção de citocinas, diminuição da resposta equivalente para todos os indivíduos, pois a
citotóxica e, finalmente, apoptose. soroconversão é algo particular de cada organismo,
- os fatores ficam ativados, mas sem existindo a possibilidade de o tempo ser maior ou menor
coordenação, acabam entrando em que 30 dias.
apoptose
Por isso, caso persista a suspeita de infecção pelo HIV,
A produção de anticorpos neutralizantes por linfócitos B uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a
também parece ser deficiente nos indivíduos infectados. A fase data da coleta da primeira amostra. No período de janela
aguda da infecção é caracterizada por intensa ativação policlonal imunológica, os únicos testes capazes de identificar o
das células que contribui para a ineficiência da resposta vírus são os de biologia molecular, com a detecção do
específica e para a exaustão também das células B ⇒ Linfócito material genético viral.
TCD4 também manda coordenadas para a atividade dos
LB, estando os LTCD4 em depleção, em consequência o Diagnóstico da infecção pelo HIV em crianças com
LB também entrarão idade menor ou igual a 18 meses

Finalmente, a depleção linfocitária devido à replicação viral A identificação precoce da criança infectada verticalmente
ou à ativação celular e a própria ativação imunológica é essencial para o início da Tarv, para a profilaxia das
crônica levam à lesão dos órgãos linfóides, que são os infecções oportunistas e para o manejo das intercorrências
principais sítios de replicação viral infecciosas e dos distúrbios nutricionais.

Essa exaustão celular vai ocorrer no final da fase de No entanto, a passagem transplacentária de anticorpos
latência, passando para a 3° fase da doença maternos do tipo IgG-HIV interfere no diagnóstico
sorológico da infecção viral. Os anticorpos maternos
DIAGNÓSTICO podem persistir até os 18 meses de idade, portanto
métodos que realizam a detecção de anticorpos não são
Diagnóstico rápido / laboratorial recomendados para o diagnóstico em crianças menores de
18 meses de idade, sendo necessária a realização de
A doença pode ou não ter expressão clínica logo após a
testes moleculares, como a quantificação do RNA viral
infecção, sendo importante que o profissional saiba
(carga viral) e o teste para detecção do DNA pró-viral.
conduzir a investigação diagnóstica quando houver
suspeita de risco de infecção pelo HIV. - testes moleculares é feito em bebês até 18 meses
e banco de sangue
● Janela diagnóstica é o tempo decorrido entre a
infecção e o aparecimento ou a detecção de um Diagnóstico da infecção pelo HIV em crianças com
marcador da infecção, como RNA viral, DNA idade superior a 18 meses, adolescentes e adultos
proviral, antígeno p24 ou anticorpo. A duração
desse período depende do tipo e da sensibilidade Para o diagnóstico da infecção pelo HIV, é importante
do teste, além do método utilizado para detectar o compreender detalhadamente o tempo de curso da viremia
marcador ⇒ testes moleculares e da soroconversão durante a infecção recente pelo vírus.
- fase mais aguda ⇒ sintomas constitucionais Nesse sentido, Fiebig et al. (2003) propuseram um sistema
- Detecção de proteínas virais circulantes de estagiamento laboratorial da infecção recente pelo HIV-
- a partir de 10 dias ⇒ utilizadas em bancos de 1, conforme detecção dos marcadores RNA viral,
sangue antígenos (exemplo: p24) e anticorpos anti-HIV (IgM e IgG)

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Para a investigação desses marcadores em amostras mais específico, a fim de eliminar resultados falso-
biológicas, podem ser utilizados os seguintes testes reagentes.
diagnósticos:

● Testes moleculares: detectam diretamente o


Recomendações para o diagnóstico da infecção
RNA viral (teste qualitativo ou de quantificação da pelo HIV-2
carga viral do HIV) ou o DNA pró-viral (teste ● O Ministério da Saúde monitora o risco de
qualitativo de detecção do DNA pró-viral), infecção pelo HIV-2, a despeito de a infecção
desempenhando papel importante quando a pelo HIV-1 ser a mais prevalente no Brasil.
detecção de anticorpos não é possível. Essa medida se faz necessária tendo em vista
● Imunoensaios (IE) detectam anticorpos anti-HIV. o fluxo intenso de pessoas entre o Brasil e as
áreas endêmicas para o HIV-2. A distinção
Atualmente, os IE utilizados são os de terceira
entre HIV-1 e HIV-2 é fundamental para a
geração, que permitem a detecção simultânea de administração correta do tratamento
anticorpos anti-HIV IgG e IgM, e os de quarta ● O diagnóstico somente poderá ser concluído
geração, que detectam simultaneamente o após análise de amostra pelo Laboratório de
antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV. Referência Nacional para HIV-2. Dessa forma,
● Western blot/imunoblot/imunoblot rápido: são quando persistir a suspeita de infecção pelo
ensaios que apresentam proteínas virais imobilizadas HIV-2, deve-se contatar o Departamento de
Doenças de Condições Crônicas e Infecções
em suas membranas, capazes de se ligar a anticorpos
Sexualmente Transmissíveis (DCCI)
anti-HIV específicos ⇒ teste confirmatórios
● Testes rápidos: são imunoensaios simples que
majoritariamente utilizam a metodologia de TRATAMENTO
imunocromatografia, não necessitam de estrutura
O tratamento objetiva melhorar a qualidade de vida e
laboratorial para sua realização e fornecem
prolongar a sobrevida, em função da redução da carga
resultados em até 30 minutos. São realizados
viral e da reconstituição do sistema imunológico.
preferencialmente de forma presencial (teste
Evidências científicas indicam que a Tarv representa
realizado na presença do indivíduo), com amostra
potente intervenção para a prevenção da transmissão do
de sangue total obtida por punção digital ou com
HIV. A partir de 2013, no Brasil, ampliou-se a
amostra de fluido oral.
recomendação de oferta do tratamento a todas as pessoas
Um fluxograma é formado por dois ou mais testes logo após a confirmação do diagnóstico,
combinados (rápidos ou laboratoriais), com o objetivo de independentemente de critérios clínicos e imunológicos.
aumentar o valor preditivo positivo de um resultado
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
reagente no teste inicial. O primeiro teste a ser realizado
deve ser o mais sensível, seguido por um segundo teste ● finalidade de recomendar medidas de prevenção
e controle e avaliar o impacto da intervenção

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● No Brasil, desde os anos 1980, a vigilância população infectada, a fim de aprimorar a política
epidemiológica da aids é baseada na notificação pública de controle da epidemia.
compulsória de casos ● A vigilância da infecção pelo HIV e da aids está
● A partir de 2014, a notificação da infecção pelo baseada em um modelo de vigilância dos
HIV também se tornou compulsória, o que eventos: infecção pelo HIV, adoecimento (aids) e
permite caracterizar e monitorar tendências, perfil óbito.
epidemiológico, riscos e vulnerabilidades na

MEDIDAS DE PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO DO HIV com infecções sexualmente transmissíveis (IST),


prevenção da transmissão vertical e imunização
A estratégia adotada no Brasil é de prevenção para hepatite B e HPV.
combinada, que abrange o uso simultâneo de diferentes ● Intervenções comportamentais: contribuem
abordagens preventivas (biomédica, comportamental e para ampliar a informação, a comunicação e a
estrutural), de acordo com as possibilidades e escolhas de educação, a fim de possibilitar a percepção ou a
cada pessoa, sem excluir ou substituir um método de autoavaliação do risco de exposição ao HIV, de
prevenção pelo outro. Essa combinação de ações alcança forma a colaborar efetivamente para a redução
múltiplos níveis (individual, parcerias/ relacionamentos, desse risco, mediante incentivos a mudanças de
comunitário e social), para responder a especificidades de comportamento individual ou comunitário.
determinados grupos populacionais e formas de Exemplos: adesão às intervenções biomédicas,
transmissão redução de danos, estratégias de informação,
comunicação e educação entre pares,
● Intervenções biomédicas: são voltadas à fortalecimento das ações de base comunitária,
redução do risco de exposição ou de campanhas de prevenção, entre outros.
transmissibilidade. Exemplos: preservativos ● Intervenções estruturais: contribuem para
feminino e masculino associados a géis enfrentar fatores e condições socioculturais que
lubrificantes, tratamento antirretroviral para todas influenciam diretamente a vulnerabilidade de
as pessoas, profilaxia pós-exposição (PEP), pessoas ou grupos sociais específicos. Exemplos:
profilaxia pré-exposição (PrEP), testagem regular ações de enfrentamento ao estigma e à
para HIV, diagnóstico e tratamento das pessoas

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discriminação (decorrentes de racismo, sexismo,
Tarv deve ser oferecida independentemente de
machismo, homofobia, transfobia, lesbofobia e critérios clínicos e imunológicos, e não deve
outras formas de exclusão), políticas afirmativas ser suspensa após o parto.
de garantias de direitos e diminuição das ● O manejo clínico e laboratorial das crianças
desigualdades socioeconômicas. expostas, além da não amamentação, também
constitui ações essenciais de prevenção
Prevenção da transmissão vertical do HIV

● Pode ser reduzida para menos de 2% com a Referência:


adoção das medidas eficazes de prevenção.
● Importante a testagem para HIV na rotina do MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância em saúde.
pré-natal, que deve ser realizada na primeira 5ª ed. Brasília. 2021
consulta (idealmente, no primeiro trimestre da
gestação), no início do terceiro trimestre e na
SANTOS, Norma Suely de O.; ROMANOS, Maria Teresa
admissão para o parto, de forma a proporcionar
o diagnóstico precoce V.; WIGG, Márcia Dutra. Virologia humana. 3ª ed. Rio de
● Em relação às gestantes vivendo com HIV, a Janeiro: Guanabara Koogan. 2015

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