05/01/2024, 21:03 Pandemia no mundo dos insetos | Popula(R)mente: popularizando conhecimento sobre o meio ambiente

4 weeks ago Pandemia no mundo dos insetos

Onde estão os insetos?

Em memória das inocentes joaninhas...

Você já observou que há menos insetos nas lâmpadas, nos para brisas dos
veículos e em todos os lugares que você frequenta? Se não observou, você pode
ter uns 20 anos ou menos. Eu sou da década de 90, e minha infância era repleta de
insetos... a cada chuvarada havia uma explosão de insetos, formigas aladas saiam
em revoada após a chuva e eu brincava com elas... Havia borboletas de várias
cores em passeios e jardins... Aos oito anos eu brincava com outras crianças
apostando quem coletava mais joaninhas em um terreno baldio próximo, sim
fazíamos uma competição para quem tinha mais joaninhas em um pote de
maionese. Eu sempre residi na “cidade”. Hoje eu procuro joaninhas para fazer
controle biológico das plantas de casa e infelizmente... não acho...

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Por que esse sumiço de insetos é preocupante?

Como isso me afeta?
Os insetos representam 90% das espécies de animais do planeta, eles
estão em todos os lugares, desempenhando as mais diversas funções nos
ecossistemas, e contribuem ativamente para o equilíbrio ambiental. Além de
trabalharem muito, esses pequenos organismos oferecem benefícios significativos
em várias fases dos ciclos naturais.

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Em primeiro lugar, a atividade de polinização

[https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2022/05/abelhas-por-que-sao-importantes-e-como-

podemos-evitar-seu-desaparecimento] realizada por insetos é essencial para a reprodução

de muitas plantas, incluindo várias culturas agrícolas de importância econômica! Os

insetos são responsáveis por polinizar mais de 200 mil espécies de plantas, sendo
que 80% delas são espécies silvestres. A transferência de pólen de uma flor para
outra, realizada principalmente por abelhas, borboletas e outros insetos
polinizadores, é fundamental para garantir a produção de frutas, grãos e sementes
que utilizamos na nossa alimentação diariamente.

Os insetos também desempenham um papel indispensável no controle natural

de pragas. Predadores como joaninhas, libélulas, louva-a-deus e vespas ajudam a
manter populações de insetos nocivos sob controle, minimizando a necessidade de
intervenções humanas com pesticidas.

Outra contribuição importante é a reciclagem de nutrientes. Insetos

decompositores, como besouros e larvas de moscas, desempenham um papel
crucial na decomposição de matéria orgânica morta. Essa atividade, além de limpar
o ambiente, também devolve nutrientes essenciais para o solo, enriquecendo-o e
promovendo a saúde das plantas.

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O que está acontecendo?

Estamos convertendo áreas naturais em plantio e pasto, ou seja, estamos

transformando florestas em áreas destinadas à agropecuária. Além disso, ainda
poluímos áreas naturais. Em ambientes urbanos, além dos exemplos acima citados,
eles ainda sofrem com o excesso de luminosidade, pois a iluminação artificial altera
os ciclos naturais dos insetos. Todos esses fatores associados às mudanças
climáticas, colocam os insetos em alto risco [https://www.bbc.com/portuguese/geral-47216079] !
Estamos praticando um inseticídio em massa! Você acha o termo inseticídio
[https://stories.site/br.boell/agrotoxicos-e-inseticidio/] um pouco exagerado? Acredite, não é!
Como aponta Pedro Cardoso e colaboradores, pesquisador do Laboratório de
Pesquisa Integrativa da Biodiversidade da Universidade Helsinki, na Finlândia.
Cientistas estão pesquisando os vários fatores que estão colocando os insetos em
risco e muitos desses fatores já foram citados no texto acima, porém há um que
ainda é pouco estudado: A pandemia silenciosa por envenenamento. É muito
fácil apontar os pesticidas, a iluminação artificial e as mudanças climáticas como
causas, mas o declínio dos insetos provavelmente está associado a vários fatores
simultâneos.

Embora seja verdade que alguns insetos são uma ameaça para os seres
humanos como, por exemplo, as moscas, percevejos e mosquitos transmissores de
doenças, a grande maioria dos insetos é amigável, e indispensável para a
manutenção das cadeias alimentares. Processos essenciais para o bem-estar
humano, como a produção de alimentos, a manutenção da qualidade de solos, o
controle biológico de pragas e a decomposição de matéria orgânica, ficarão mais
lentos se os insetos se tornarem escassos. O valor econômico destes serviços é
incalculável – a agricultura não poderia continuar sem eles.

Os insetos estão sendo expulsos, quando não expulsos, são envenenados!

Lembra da poluição como uma ameaça aos insetos? Veio a sua mente um rio
poluído com esgoto e plásticos? Ou veio a sua mente uma praça muito iluminada,
ou mariposas se debatendo no vidro de uma janela? Você sabia que além da
poluição luminosa, há um tipo de poluição que ninguém fala... a poluição silenciosa
decorrente do uso desregrado de agentes químicos, como fármacos médico-
veterinários e pesticidas [https://www.amda.org.br/index.php/comunicacao/informacoes-

ambientais/5477-pesticidas-podem-causar-extincao-dos-insetos] .

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A maioria dos fármacos são eliminados do corpo sem serem totalmente

metabolizados (isso ocorre em humanos e animais). Isso significa que parte dessas
substâncias são expelidas nas excretas dos animais, ou humanos, e vão poluir o
meio ambiente. Um exemplo clássico dessa poluição em organismos não-alvo é a
ivermectina. [https://pt.wikipedia.org/wiki/Ivermectina] Descoberta em 1975 e liberada para
uso em animais em 1981, a ivermectina é um fármaco importantíssimo para controle de
parasitas em animais e humanos
[https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0924857907004451] (1987). Desde então,
a ivermectina e outros compostos semelhantes estão sendo usados de forma
crescente para o tratamento de parasitas em rebanhos bovinos. A questão é,
alguns parasitas estão criando resistência, levando o produtor a aplicar doses cada
vez mais altas para o controle de parasitas.

No gado, cerca de 50% a 80% da ivermectina aplicada é eliminada para o

ambiente nas fezes e na urina durante a primeira semana, como informam Rafael e
José Guimarães [https://link.springer.com/article/10.1007/s11270-022-05744-0] em um estudo de
2022. A presença da ivermectina é danosa aos besouros rola-bostas, as moscas, a
fauna presente no solo e até mesmo para as abelhas que coletam água na urina
animal, conforme observado por Milagros e colaborares no estudo de 2021
[https://link.springer.com/article/10.1007/s00436-021-07064-4] .

A ivermectina diminui a capacidade dos besouros rola-bostas de encontrar

comida em 70%. Isso evita que o esterco seja misturado ao solo e disponibilizado
rapidamente para as plantas. Em abelhas, a mortalidade de abelhas contaminadas
pode chegar a 33% no caso da ivermectina e até 61% no caso de pesticidas,
conforme descrito no estudo realizado por Eric Peterson e colaboradores em 2020
[https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acs.est.0c03603] . Essa contaminação ocorre via contato

direto e via contato indireto também, já encontraram contaminantes de pesticidas

na ração animal, ou seja, esses químicos não metabolizados estão sendo
espalhados por todos os ambientes! Quer saber mais sobre esse assunto? Acesso o
link https://br.boell.org/pt-br/atlas-dos-insetos [https://br.boell.org/pt-br/atlas-dos-insetos] e leia o
Atlas dos Insetos [https://br.boell.org/pt-br/2021/12/03/atlas-dos-insetos] .

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Débora Lima Santos

Postado há 4 weeks ago por Débora Lima Santos

Localização: Montes Claros, MG, Brasil
Marcadores: ação antrópica, educação, meio ambiente

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