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Porém, neste artigo, vamos estudar as referências a duas delas: Maria Madalena
e Maria, irmã de Marta e Lázaro, na tentativa de descobrir se elas eram a mesma
pessoa. Também consideraremos a hipótese, até certo modo difundida nos
meios adventistas, de que a pecadora de João 8 também fosse Maria Madalena.
A Mulher Adúltera
Começando pela pecadora de João 8:2-11, o texto não informa nada a seu
respeito: seu nome, onde morava, nem seu estado civil. A tentativa de
apedrejamento após o flagrante de adultério não prova necessariamente que
fosse casada. Se fosse noiva, a pena seria a mesma. Porém, o castigo raramente
era aplicado nos dias de Jesus. Na verdade, o relato sugere que tudo não passou
de armação, a fim de pôr Jesus à prova, em público e, quem sabe, apanhá-lo em
algum deslize: se recomendasse o apedrejamento, perderia Sua
influência perante o povo, de quem Se dizia defensor. Se não, os líderes judaicos
O acusariam de descumprimento da lei de Moisés (Dt 22:22).
Maria Madalena
Tem-se como certo que o nome “Madalena” (em grego, Magdaléné) seja alusão a
Magdala, pequeno vilarejo na praia ocidental do Mar da Galileia, um pouco ao
sul de Cafarnaum. Alguns antigos manuscritos se referem a esse vilarejo como
“Magdã”, e é assim que ele é citado na maioria de nossas versões de Mt 15:39.
Não há dúvida de que Maria “Madalena” era assim chamada por ser originária
de Magdala, ou pelo menos por ter morado ali parte de sua vida.
Maria Madalena só é mencionada pelo nome uma vez nos evangelhos, antes do
relato da paixão de Cristo (Lc 8:2). Depois, ela é citada no contexto da
crucifixão. Em companhia de outras mulheres que haviam acompanhado o
Mestre desde a Galileia, ela presenciou a morte de Jesus (Mt 27:55, 56; Mc
15:40, 41; Jo 19:25), Seu sepultamento (Mt 27:61; Mc 15:47) e depois o
túmulo vazio (Mt 28:1-7; Mc 16:1-8; Lc 23:55-24:22; Jo 20:1). João é o único a
relatar o aparecimento de Jesus, após a ressurreição, exclusivamente a Maria
Madalena (Jo 20:11-18). A sequência dos fatos talvez tenha sido a seguinte:
Maria de Betânia
Irmã de Marta e Lázaro, essa Maria é mencionada pelo nome apenas nos
evangelhos de Lucas e João (Lc 10:38-42; Jo 11:1). O povoado de Betânia estava
localizado do outro lado do Monte das Oliveiras, distante de Jerusalém
aproximadamente três quilômetros, na estrada para Jericó.
João menciona apenas que quem O ungiu foi Maria, irmã de Marta e Lázaro, e
que o fato se deu em Betânia. Os demais evangelhos também contêm um
episódio de Jesus sendo ungido por uma mulher (Mt 26:6-13; Mc 14:3-9; Lc
7:37-50). A dificuldade é saber se os quatro relatos se referem ao mesmo
episódio. Os relatos de Mateus e Marcos são praticamente idênticos entre si e
muito semelhantes aos de João, embora nem Maria, nem Marta nem Lázaro
sejam mencionados, e Jesus foi ungido na cabeça e não nos pés. Sabemos,
porém, que o episódio ocorreu em Betânia, como em João, e há outros
detalhes na narrativa que também são muito parecidos àqueles mencionados
por João. Outra diferença, de natureza secundária, é que tanto Mateus quanto
Marcos mencionam que o banquete foi oferecido por um tal Simão, ex-leproso,
informação essa omitida por João. No geral, porém, não há porque negar que
tanto João quanto Mateus e Marcos se referem ao mesmo episódio.
Informações Adicionais
Ao escrever sobre esse assunto, em seu livro O Desejado de Todas as Nações (p.
557-568), Ellen G. White trata o relato de Lucas como tendo sido o mesmo que
ocorreu seis dias antes da crucifixão e que é relatado pelos demais evangelistas.
Ela também informa que o banquete fora oferecido por Simão pelo fato de Jesus
lhe haver curado da lepra. Quanto à identificação de Maria, ela claramente dá a
entender que se trata mesmo de Maria Madalena, embora não a cite pelo nome.
Refere-se a esta Maria como sendo a mesma de quem Jesus expulsou sete
demônios e que, mais tarde, acompanharia os eventos de Sua morte e
ressurreição.
“Foi Maria que se assentou aos pés de Jesus e dEle aprendeu. Foi ela que Lhe
derramou na cabeça o precioso unguento, e banhou os pés com as próprias
lágrimas. Achou-se ao pé da cruz e O seguiu ao sepulcro. Foi a primeira junto ao
sepulcro, depois da ressurreição. A primeira a proclamar o Salvador
ressuscitado” (p. 568). Bastante esclarecedora também é a informação de que
fora o próprio Simão que induzira Maria ao pecado e que, por isso, a
desprezava: “Fora por ele profundamente prejudicada” (p. 566).
Então, a Sra. White faz aquela que talvez seja a revelação mais
surpreendente, sugerindo que essa Maria seja, de fato, a mulher apanhada em
adultério (Jo 8): “Essa penitente mulher tornou-se um dos membros mais fiéis
do círculo de amizade de Jesus. Ela retribuiu Seu perdão e compaixão com um
ato de amor e adoração de profundo desprendimento [a unção na casa de
Simão?]. Mais tarde, quando estava cheia de pesar ao pé da cruz [Maria
Madalena?], seu coração foi traspassado novamente ao ver a agonia de morte na
face de seu Senhor e ouvir-Lhe o brado pungente. Ela sabia que esse sacrifício
era por causa do pecado, e sua responsabilidade como alguém cuja enorme
culpa havia ajudado a trazer tal angústia ao Filho de Deus parecia mesmo muito
pesada” (The Signs of the Times, 23/10/1879; “A sabedoria e a compaixão de
Jesus”).
Prudência
Na Bíblia, não temos informações suficientes que nos permitam
identificar Maria Madalena com Maria de Betânia, irmã de Marta e
Lázaro, muito menos com a pecadora de João 8. Ellen G. White, porém,
não apenas confirma tal identificação, explicitamente no caso das duas Marias e
implicitamente no caso da pecadora de João 8, como também fornece
importantes detalhes que muito enriquecem nossa compreensão dos fatos. Com
base nesses detalhes, não é difícil reconstruirmos a história de Maria, ainda
que hipoteticamente. Induzida ao pecado pelo próprio tio, acabou fugindo
para o norte, para os lados de Magdala, onde sua dor e complexo de culpa
a conduziram ainda mais fundo no pecado e no vício. Foi assim que Jesus a
encontrou, totalmente entregue às forças do mal, e a curou. Depois disso, ela se
juntou a outras mulheres que passaram a segui-Lo e ajudá-Lo no trabalho de
evangelização.