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DMat UA Cálculo II – 2014/15 Agrupamento I

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Teste 1: esboço de resolução


Z +∞
[15 p.] 1. Calcule, usando a transformada de Laplace, o valor do integral impróprio I = sen(x)e−3x d x.
0

Z +∞
1
Pela definição de transformada de Laplace (e pela tabela), L {sen(x)} (s) = sen(x)e−sx d x = para s > 0.
Z +∞ 0
s2 + 1
1 1
Logo, I = L {sen(x)} (3) = sen(x)e−3x d x = 2 = .
0
3 +1 10

[70 p.] 2. (a) Determine, usando a transformada de Laplace, a solução do problema de valores iniciais
 00
y − y =e ,
x

y(0) = 1,
y 0 (0) = 2.

Seja Y (s) = L { y} (s) a transformada de Laplace da função (incógnita) y. Pela tabela, sabe-se que L { y 00 } (s) =
s2 Y (s) − y 0 (0) − s y(0) = s2 Y (s) − 2 − s. Assim, transformando ambos os membros de EDO, pela linearidade tem-se que

1 1 s2 + s − 1
L y 00 − y (s) = L {e x } (s) ⇔ s2 Y (s) − 2 − s − Y (s) =

⇔ (s2 − 1)Y (s) = + s + 2 ⇔ Y (s) = 2 .
s−1 s−1 (s − 1)(s − 1)

(Só agora podemos concluir que Y (s) está definida para s > 1.)
A solução do PVI é dada pela transformada de Laplace inversa de Y (s). Como (s2 − 1)(s − 1) = (s + 1)(s − 1)2 , então

s2 + s − 1 A B C (A + B)s2 + (−2A + C)s + A − B + C


Y (s) = = + + = .
(s + 1)(s − 1)2 s + 1 s − 1 (s − 1)2 (s + 1)(s − 1)2

Os coeficientes A, B e C determinam-se, graças à independência linear das potências, resolvendo o sistema

B = 45

A+ B = 1 B =1−A
 
 

−2A + C = 1 ⇔ C = 1 + 2A ⇔ C = 12
A − B + C = −1 A − 1 + A + 1 + 2A = −1
  
A = − 14

sendo, pela linearidade e pela regra do deslocamento da transformada,

1 1 5 1 1 1
§ ª
−1 −1
y = L {Y (s)} = L − · + · + ·
4 s + 1 4 s − 1 2 (s − 1)2
1 1 5 1 1 1 1 5 1
§ ª § ª § ª
= − L −1 + L −1 + e x L −1 2 = − e−x + e x + xe−x .
4 s+1 4 s−1 2 s 4 4 2

Pela teoria sobre PVI com EDO linear de coeficientes constante, o domínio I da solução depende apenas da continuidade
do termo independente, sendo neste caso I = R.

2. (b) Determine a solução geral da equação diferencial

y 00 − y = x 2 .

A solução geral de uma EDO linear pode sempre ser escrita da forma y = yh + yp , onde yh é a solução geral da EDO
homogénea associada e yp é uma solução particular da EDO completa.
Como tem coeficientes constantes, a equação homogénea associada, y 00 − y = 0, resolve-se calculando as raízes da
equação caraterística s2 − 1 = 0 ⇔ s = s1 = 1 ou s = s2 = −1, ambas de multiplicidade 1. A cada raiz corresponde
um número de soluções igual à sua multiplicidade, φ1 = es1 x = e x e φ2 = es2 x = e−x , que constituem um sistema
fundamental de soluções da equação homogénea associada. Portanto, a solução geral é

yh = C1 φ1 + C2 φ2 = C1 e x + C2 e−x , C1 , C2 ∈ R.
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Dado que o termo independente da EDO completa é uma potência, pode obter-se uma solução particular usando o
método dos coeficientes indeterminados. Em particular, x 2 = p(x)eαx cos(β x) com p(x) = x 2 , de grau 2, e α = β = 0.
Como α ± iβ = 0 não é solução da equação caraterística, uma solução particular será dada pela fórmula

yp = x 0 e0x A(x) cos(0x) + B(x) sen(0x) = A(x) = A0 + A1 x + A2 x 2 ,

sendo, necessariamente, grau A(x) ≤ 2 — nesta expressão, os coeficientes A0 , A1 e A2 são indeterminados.


Substituindo yp = A2 x 2 + A1 x + A0 e a sua derivada de ordem dois, yp00 = 2A2 , na EDO completa, tem-se que

 A2 = −1 −A2 = 1
 

00 2 2 2
yp − yp = x ⇔ 2A2 − A2 x − A1 x − A0 = x ⇔ −A1 = 0 ⇔ A1 = 0 ⇔ yp = −x 2 − 2.
2A2 − A0 = 0 A0 = −2
 

Juntando os resultados obtidos separadamente, y = yp + yh = −x 2 − 2 + C1 e x + C2 e−x , C1 , C2 ∈ R, com domínio R.

2. (c) Determine uma solução particular da equação diferencial

y 00 − y = 3e x − x 2 .

[Sugestão: na resolução da alínea (c) pode aproveitar as informações obtidas na resolução das alíneas (a) e (b)]

Observe-se que a solução do PVI da alínea (a), y1 = − 41 e−x + 54 e x + 12 xe−x , é uma solução particular da equação
y 00 − y = e x e que na alínea (b) foi obtida uma solução particular, y2 = −x 2 − 2, da equação y 00 − y = x 2 . Portanto,
pelo princípio de sobreposição, uma solução particular de y 00 − y = 3e x − x 2 será

3 15 x 3 −x
yp = 3 y1 − y2 = − e−x + e + xe + x 2 + 2, x ∈ R.
4 4 2

Observação: visto que, pela alínea (b), e x e e−x são soluções da equação homogénea associada, também yp = 32 xe−x +
x 2 + 2 é uma solução particular da equação dada.

[45 p.] 3. Usando uma substituição adequada, determine a solução geral (em forma implícita) da equação diferencial
y x
y0 − = , x > 0.
x y

[Sugestão: a EDO é, ao mesmo tempo, homogénea e de Bernoulli]

y
É uma EDO homogénea, pois, em forma normal y 0 = x + xy , o segundo membro da igualdade depende apenas da
y
fração z = x . Derivando y = z x ⇒ y 0 = z 0 x + z e substituindo na equação dada, obtém-se
Z Z Z Z
0 1 0 1 0 1 1 1
z x + z − z = ⇔ z x = ⇔ z · z = ⇔ z dz = d x ⇔ 2z dz = 2 dx ⇔
z z x x x
 y 2
z 2 = C + 2 ln x ⇔ = C + ln x 2 ⇔ y 2 = x 2 (C + ln x 2 ), C ∈ R.
x

É uma EDO de Bernoulli, já que a equação homogénea associada é linear, mas o termo independente contém o fator
y −1 . A mudança de variável prevista pela teoria é, neste caso, z = y 2 , sendo z 0 = 2 y y 0 . Substituindo na equação dada,

y x 1 2 2
y0 − = ⇔ y y 0 − y 2 = x ⇔ 2 y y 0 − y 2 = 2x ⇔ z 0 − z = 2x.
x y x x x
1
A EDO linear na incógnita z pode resolver-se usando o fator integrante, que é µ = e−2 ln x = eln x 2 = 1
x2 , sendo −2 ln x
uma primitiva do coeficiente de z, − 2x . Assim,
Z Z Z
1 2x 2
2
y =z= µ · 2x d x = x 2
d x = x2 d x = x 2 (C + ln x 2 ), C ∈ R.
µ x2 x
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[55 p.] 4. Considere a equação diferencial linear (x + 1) y 00 + x y 0 − y = (x + 1)2 para x > 0.

(a) Justifique que {x, e−x } é um sistema fundamental de soluções da equação homogénea associada e

Basta verificar que o conjunto dado contém duas (ordem da EDO) soluções linearmente independentes da equação
homogénea associada. Ambas as funções são soluções: substituindo-as na parte homogénea da equação, obtém-se

para φ1 = x, (x + 1)φ100 + xφ10 − φ1 = (x + 1) · 0 + x · 1 − x = 0,


para φ2 = e−x , (x + 1)φ200 + xφ20 − φ2 = (x + 1)e−x − xe−x − e−x = (x + 1 − x − 1)e−x = 0.

Finalmente, pela teoria estudada, qualquer conjunto de potências (com expoente não negativo) e funções exponenciais
é linearmente independente.
No entanto, para verificar esta propriedade pela definição, é suficiente provar que só quando a = b = 0, a equação
aφ1 + bφ2 = ax + be−x = 0 é satisfeita para qualquer valor de x. Em particular, para x = 1 e x = 2, tem-se que

a + be−1 = 0 b = −ae b = −ae b=0


   
⇔ ⇔ ⇔
2a + be−2 = 0 2a − ae · e−2 = 0 a(2 − e−1 ) = 0 a = 0.

Observe-se que todas as condições são satisfeitas em R, logo também para x > 0.

(b) determine a solução geral da equação completa.

A solução geral é dada pela fórmula y = yh + yp , onde yh é a solução geral da EDO homogénea associada, ou seja,

yh = C1 φ1 + C2 φ2 = C1 x + C2 e−x , C1 , C2 ∈ R,

pela informação dada na alínea (a), e yp é uma solução particular da EDO completa. Como não é possível aplicar
o método dos coeficientes indeterminados (a EDO não tem coeficientes constantes), pode encontrar-se uma solução
particular pelo método da variação das constantes, ou seja, considerando a solução particular dada pela fórmula

yp = F1 φ1 + F2 φ2 = F1 x + F2 e−x , onde F1 e F2 são funções incógnitas. (*)

As funções F1 e F2 determinam-se resolvendo o sistema (ver os apontamentos para a notação)


 0 0
 F1 φ1 + F2 φ2 = 0
 0 0 −x
 F1 x + F2 e = 0 
F20 = −F10 xe x
 0
F2 = −xe x
b(x) ⇔ (x + 1)2 ⇔ ⇔
 F10 φ10 + F20 φ20 =  F 0 − F 0 e−x = F10 (1 + x) = x + 1 F10 = 1
a0 (x) 1 2
x +1
reparando que, na última passagem, o fator 1 + x pode ser simplificado, pois é diferente de zero para x > 0.
Após calcular as primitivas (por partes, no caso de F2 ) das soluções do sistema, uma solução particular é dada pela
fórmula (*) com F1 = x e F2 = (1 − x)e x . Substituindo, yp = x · x + (1 − x)e x · e−x = x 2 − x + 1. Logo, a solução geral é

y = x 2 − x + 1 + C1 x + C2 e−x , C1 , C2 ∈ R.

Observação: também y = x 2 + 1 + C1 x + C2 e−x é solução geral, pois x é solução da equação homogénea associada.

[15 p.] 5. Justificando devidamente, determine uma solução (expressão e domínio) do problema de valores iniciais

y2 − 4

y0 = ,

x
y(1) = 2.

[Sugestão: não é preciso resolver a equação diferencial]

Repare-se que a EDO é de variáveis separáveis e que, para separar as variáveis, antes de dividir, é necessário acrescentar
a condição y 2 − 4 6= 0. Contudo, os valores de y tais que y 2 − 4 = 0, ou seja, y = 2 e y = −2, são soluções constantes
(possivelmente singulares); a primeira, satisfazendo a ‘condição inicial’ y(1) = 2, é uma solução do PVI dado.
Quanto ao domínio da solução, sabe-se pela definição que é o (maior) intervalo I onde a solução é diferenciável até
à ordem da EDO (o que, para uma constante, acontece em R) e são satisfeitas as condições de existência da equação
(0 6∈ I) e a condição inicial do PVI (1 ∈ I). Juntando as três informações sobre I, deduz-se que I = R+ .

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