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Patricia Berry
Tradução Flora Schroeder Garcia
Uma figura emerge espontaneamente, um menininho, com uma vida criativa que
o ego sente faltar a ele. Jung não considera essa figura como uma projeção
personificada de si mesmo, e sim como um personagem com autonomia e
animação próprias.13 Embora o menino esteja conectado à memória da infância
do próprio Jung, ele existe enquanto figura para além de Jung e
independentemente da personalidade adulta dele. Como uma figura
independente e, nesse sentido, “impessoal”, o menino possui algo que falta a
Jung. Para conectar-se com essa figura, Jung retoma uma atividade similar.
Não tive escolha exceto retornar a isso e retomar uma vez mais
a vida daquela criança com seus jogos pueris. Esse momento foi
um ponto de virada no meu destino. Entretanto, cedi somente,
com um senso de resignação, após infindáveis resistências. Pois
foi uma experiência dolorosamente humilhante perceber que
não havia nada a fazer exceto jogar jogos pueris.14
O retorno de Jung à infância ocorre por meio de uma atividade com uma relação
mimética com uma atividade da infância. Não há um foco em um “evento” da
infância enquanto chave para as dificuldades presentes ou em uma emoção a
“ab-reagir”, e sim uma intenção de revitalizar uma paixão infantil.15 Ao abordar
essa criança por meio da ação, e não pela busca de significado ou por um insight
sobre a memória, Jung coloca a atividade antes do conhecimento, a criação
(“making”) antes do insight ou da ideação. Essa criação ocorre em um lugar
interino entre a atividade presente com um propósito e a memória de uma
atividade no passado.
Criar é uma espécie de poiese — nesse caso, não com palavras, e sim
concretamente pelos sentidos, o manuseio de lama e de pedra para formar uma
estrutura.16 Então, a atividade é também uma aisthesis, isto é, dos sentidos. Jung
não fala do objetivo da atividade como a beleza, a verdade, a totalidade
(“wholeness”) ou qualquer outra abstração. O objetivo da atividade é o serviço a
um processo psíquico — nesse caso, a experiência de uma criança — que pode
ser servido somente pela encenação (“enactment”) mimética em relação a algo
além de si, o que dá-lhe o caráter de rito ou de ritual.17
Com essas figuras, vemos algo das tensões em Jung e das preferências dele.
Ele suspeita distintamente de e não fala com Salomé, a anima erótica, pois ela
I
No original, em inglês, “herm”. De acordo com o Merriam-Webster Dictionary Online,
em junho de 2023, “uma estátua na forma de um pilar quadrado em cujo topo há um
busto [...], especialmente de Hermes”. [N. da T.]
não vê o “significado”. Para Jung, Ka, ligado à beleza, à reflexão, ao concreto,
enquanto o que obscurece o significado, e ao físico é demoníaco. As únicas
figuras com quem Jung se envolve, de fato, em conversação e que afirma sem
reservas são Elias, o velho sábio, inteligência e conhecimento, e Filemon,
espírito e significado.
Embora a psique de Jung contenha possibilidades para uma elaboração
estética por meio da sensualidade concreta do artesão Ka e da indefinição
(“elusiveness”) da anima erótica de Salomé, ele não persegue essas
possibilidades. Em vez disso, prefere o significado e a espiritualidade mais
abstratos das figuras da sabedoria. Ao longo da obra de Jung, Ka e Salomé
continuam a aparecer. No entanto, nunca se desenvolvem completamente,
assim como a psicologia de Jung nunca se desenvolveu esteticamente.
O coup de grace dessa possibilidade estética é o tratamento de Jung de
uma figura que ele denomina “a dama estética [die ästhetische Dame].”
Então, uma nova ideia veio a mim: ao anotar todo esse material
para análise, eu estava, em efeito, escrevendo cartas para a
anima, ou seja, para a parte de mim mesmo com um ponto de
vista diferente do meu ponto de vista consciente. Eu obtive
observações de um caráter incomum e inesperado. Eu era como
um paciente em análise com um fantasma e uma mulher [bei
einem weiblichen Geist]! 48
Jung fala agora da anima como se ela fosse inconsciente em geral, o que, de
fato, está de acordo com uma das descrições posteriores que ele faz dela como
“a vida por trás da consciência... a partir da qual... a consciência emerge.”49 O
efeito aqui, contudo, é que a figura da anima de fato é substituída por uma noção
geral sobre ela. O resultado é fantasmagórico — uma estranha ironia, uma vez
que, como observado no sonho da pomba-moça, a anima é parte fantasma. O
aspecto fantasmagórico atesta uma qualidade sobre-humana; a anima existe
para além da vida (e, portanto, não é idêntica à mulher que Jung conhece). De
fato, aqui Jung é um paciente da anima. “Eu era como um paciente em análise...”
Mas Jung não se submete como um paciente; o ponto de vista consciente dele
não se altera. Em vez de aprender da figura, ele parte para a especulação
teórica. Aqui, Jung usa essa noção da natureza como ou... ou... para bloquear
efetivamente a anima estética. Ou é natureza ou é arte, sem possibilidade
intermediária. Jung continua:
De acordo com a afirmação de Jung aqui, ele não necessita mais das figuras da
anima porque está “consciente imediatamente” de e compreende já quaisquer
ideias que a anima possa ter. A hybris dessa atitude aparece em uma passagem
posterior como projeções de Jung sobre a natureza da arte. O artista moderno,
de acordo com Jung, procura “criar arte a partir do inconsciente.” Essa tentativa
é utilitarista [Utilitarismus] e auto importante [Wichtigtuerei]. Tal arte consiste em
“invenções arbitrárias” [arbiträre Leistung], convidando à intolerância [Vorurteil]
e à “hybris da consciência” [Hybris des Bewußtseins].68
Essas afirmações a respeito da arte são extremas de tal modo e
contradizem a tal ponto as atitudes de Jung expressas em outros lugares que
devemos considerá-las como peculiares ao contexto e à constelação presentes
aqui.69 A identificação de Jung com a consciência da mandala alega uma
superioridade que cegou a habilidade dele de auto reflexão. A hybris dessa
posição aparece na inconsciência dele sobre a arte. O que ele projeta como os
perigos da arte — a arbitrariedade, a utilidade, a auto importância, a intolerância,
a hybris — é uma descrição muito mais hábil da própria posição dele. Afinal de
contas, é ele que nega a anima estética, ele que alega poder sobre ela. O único
crime dela foi dizer “é arte”.
As objeções de Jung à arte são ainda éticas:
Jung considera esse aspecto da anima como o “lado negativo” dela. Ela cria
inflações sedutoras, ilusórias. Se ele houvesse ouvido a anima, ele teria passado
certamente a acreditar ser um “artista mal compreendido.” Com certeza, essa
inflação teria sido perigosa — porém, não mais do que qualquer outra inflação.
Se ele tivesse acreditado ser um visionário ou um profeta mal compreendido, a
crença dele teria sido igualmente infundada.
Em outras passagens, Jung enfatiza a importância da consciência
confiável para pessoas em papeis profissionais, contrastando a situação delas
com a de artistas e de pessoas criativas em quem a divisão entre o consciente
e o inconsciente é permeável de modo irresponsável.71 Uma vez que os artistas
são presumivelmente menos confiáveis, Jung sente-se justificado em proteger-
se de ilusões artísticas. Como médico responsável por outros, ele deve renunciar
às auto indulgências que acompanham as disposições artísticas.
Armado com esse preconceito sobre a irresponsabilidade do talento
artístico, Jung julga a anima estética como “negativa” e perigosa. Se ele
permitisse o estético, tornar-se-ia “somente estético”, perdido em “uma
fantasmagoria que tudo envolve” sem uma noção de responsabilidade moral. 72
A partir da posição com a qual Jung se identificou, ele alega toda moralidade
como sua de modo que não há possibilidade para Auseinandersetzung com a
anima. Ele decidiu de antemão em que a moralidade consiste e onde está
localizada. Consequentemente, ele sabe, antes mesmo de envolver-se com a
anima, que ela é negativa, perigosa, sem “convicção” ou “obrigação moral.”
Essa atitude de antecipação moral contrasta com a atitude de Jung em
outros momentos, como quando ele nota que “os conteúdos inconscientes
desejam, em primeiro lugar, ser vistos claramente, o que pode ser feito somente
dando-lhes forma, e ser julgados apenas quando tudo que eles têm a dizer esteja
presente de modo tangível.73 Ou, novamente, “quanto menos o material inicial
for moldado e desenvolvido, maior é o perigo de que o entendimento seja
governado não por fatos empíricos, e sim por considerações teóricas e morais.”74
A tensão entre o estético e o ético não é facilmente solucionada. Em
Creative Intuition in Art and Poetry, Maritain distingue entre a moralidade do fazer
(“morality of doing”) (agibilia) e a arte da criação (“art of making”) (factibilia).
Embora não seja uma virtude moral, a arte é, no entanto, uma virtude porque
Seguindo Maritain, Jung poderia muito bem ter arriscado o estético sem perder
a alma. De fato, ele teria se envolvido em uma atividade virtuosa. A moralidade
e a “obrigação moral” dele teriam sido questões com as quais seria necessário
lidar separadamente, mas o envolvimento artístico não teria prevenido essa
possibilidade.
Jung sustenta que, caso ele houvesse permitido a sugestão da anima,
as fantasias dele não teriam sido mais do que “percepções visuais.” Essa
desconfiança do sensível (sensate) visualmente supõe que ele poderia existir
desprovido de todas as outras qualidades e significados, como se o sensível
fosse de uma ordem diferente do que o significado e a inteligibilidade. Podemos
encontrar essa atitude difamadora do sensível na descrição de Jung do “tipo
sensação”, o indivíduo que pode ser tão preso ao concreto que “os eventos na
vida dele dificilmente merecem o nome ‘experiência’”.76
A preocupação de Jung de que as fantasias dele teriam sido somente
“percepções visuais”, ou seja, eventos sensíveis sem “experiência” é, de fato,
irônica, uma vez que a própria anima era invisível. Como poderia o problema
com essa figura invisível ser o fato de ela produzir somente no âmbito das
percepções visíveis? O dilema expresso inadvertidamente por Jung aponta um
complexo na raiz da anima estética. Ela é tanto invisível quanto visível. O
complexo é uma concatenação de ambos.
Para ler o complexo de dentro, podemos dizer que o invisível esconde
uma visibilidade potencial também e, inversamente, que o visível
perceptualmente contém uma invisibilidade. Na arte, essa invisibilidade, esse
“algo além” no interior da percepção, foi chamado por vários nomes. Valéry
chama essa invisibilidade de “infinito estético”; Maritain denomina-o “o ser
interior das coisas ou a poesia”; Platão chama-o mousikē.77
Esse “algo além” no interior do perceptual corresponde ainda às
descrições de Jung da anima ou da alma em geral, como vimos anteriormente.
Porém, quando Jung suspeita da anima, como aqui, a percepção torna-se
também suspeita — uma mera passividade sem convicção, uma interioridade
sem alma.
A negação de uma figura estética reconduz Jung à tradição dos
preconceitos racionais em relação à sensação e à percepção — prejuízos que
contradizem outras atitudes que encontramos na obra dele. Mais característica
de Jung é a ênfase no “corpo psíquico”, o feminino, a quarta força, que ele
considera ausente na trindade cristã. Esse quarto elemento é enfatizado ainda
na insistência na “sombra” substancial da atitude psíquica e funções, na ênfase
de Jung no “instinto” como a base dos arquétipos, assim como nos volumes
dedicados às substâncias físicas e às transformações da alquimia.78
Evidentemente, essas são atitudes e simpatias distintas em Jung. Uma
abraça a estética, afirma os sentidos e a imaginação sensual. Quando nesse
modo, Jung é homo faber — um criador simpático aos processos próprios à
psique. Fundamentado em um âmbito que é tanto sensual quanto imaginal, um
âmbito interino de esse in anima, Jung é atraído pelo concreto e pelo particular
como, a um tempo, visível e invisível.
Esse Jung é um fenomenólogo, no sentido de que ele lida com o que
quer que apareça como aparece; ele é estético no sentido de que afirma o
sensorial (“sensate”) e o perceptual; ele é poético no sentido de envolver-se
enquanto criador da psique.
No entanto, há um segundo Jung, um Jung atraído pelo sistema e pelo
significado. Nessa atitude, Jung considera o sensorial (“sensate”) meramente
passivo, o estético sem compromissos, a anima sedutora e inflamante. Esse
Jung encara o feminino como fiador de intrigas e adota uma posição obstinada
em relação a ele. A intenção de Jung é administrar e educar essa figura,
negando-lhe poder persuasivo em relação a ele. Ao contrariá-la, contudo, ele
perde também a importância fenomenal dela enquanto uma figura psíquica. Ela
não possui mais valor em si mesma, ela não é mais um conteúdo, um outro a
quem ele deve escutar e responder.
Ao identificar-se com a mandala como representação e totalidade, Jung
substitui a particularidade de um fenômeno de fato — a aparência da anima de
fato — pela abstração geométrica. O significado precede a ocorrência, a
abstração precede o evento. A totalização resultante da experiência psíquica
evita o particular, a anima e o estético. O inesperado é visto como uma ameaça,
uma força destrutiva, em vez de como um prenúncio de potencial e de valor
psíquicos.
Psicologicamente, o negado não deixa de existir — em particular um
conteúdo tão poderoso, tão vital e tão sedutor quanto a anima estética é para
Jung. Ela continua a ter efeito ao longo do trabalho dele — embora esse efeito
seja, com frequência, contrário à intenção de Jung e obscurecido pelas posições
conscientes dele. Como um fator inconsciente, a anima contamina as tentativas
de Jung de ser contido sistematicamente e de ser claro nas exposições. O
resultado na obra de Jung é um misto de insight repentino e de intenção
sistemática, nem uma poética plenamente desenvolvida e nem um sistema
completamente bem-sucedido. A obra é contraditória e difícil de seguir porque
há duas forças operando — uma insistindo no significado, a outra na criação.
O capítulo seguinte trata do primeiro trabalho publicado por Jung — a
dissertação médica dele. Nesse estudo, Jung esforça-se para ser sistemático e
científico como apropriado a um tratado de pesquisa. Ele documenta a evidência
e menciona a literatura relevante. Se olharmos com mais cuidado para isso, no
entanto, notaremos algumas peculiaridades e lapsos óbvios nas intenções
declaradas e no método científico.
1
C. G. Jung, “Wandlungen und Symbole der Libido. Beiträge zur Entwicklungsgeschichte
des Denkens,” Jahrbuch für Psychoanalytische und Psychopathologische Forschungen
3, no. 1 (1911): 120–227; 4, no. 2 (1912): 162–464. Publicado em inglês com o título
Symbols of Transformation como o volume 5 de The Collected Works of C. G. Jung,
editado e traduzido por Gerhard Adler e R. F. C. Hull, 20 vols. (Princeton, N. J.: Princeton
University Press, 1953–79); doravante citado como CW seguido pelo número do volume
e dos parágrafos, salvo indicação em contrário.
2
Cf. Henri F. Ellenberger, The Discovery of the Unconscious: The History and Evolution
of Dynamic Psychiatry (London: Allen Lane, 1970), 672.
3
C. G. Jung, Memories, Dreams, Reflections, registrado e editado por Aniela Jaffé;
traduzido por Richard e Clara Winston (New York: Vintage Books, 1973), 170; doravante
citado como MDR. Publicado originalmente em alemão como Erinnerungen Träume
Gedanken von C. G. Jung (Zurich e Stuttgart: Rascher Verlag, 1962).
4
MDR, 171.
5
Jung usa o termo “realidade psíquica” para referir-se à realidade como é
experimentada, seja a fonte um “fato” externo ou um pensamento interno. “Se eu
desloco meu conceito de realidade para o plano da psique — onde só ele é válido —,
isso coloca um fim ao conflito entre mente e matéria, entre espírito e natureza, enquanto
princípios explicativos contraditórios” (CW 8: 681).
6
Cf. Sigmund Freud, On Dreams, traduzido por James Strachey (London: Hogarth,
1952), 11.
7
A sexualidade como exemplificada no incesto recebe de Jung um significado mais
amplo. “Não é a coabitação incestuosa que é desejada, e sim o renascimento. O efeito
do tabu do incesto e das tentativas de canalização é estimular a imaginação criativa,
que gradualmente abre avenidas possíveis para a auto realização da libido. Desse
modo, a libido torna-se espiritualizada de modo imperceptível.” (CW 5: 332).
8
CW 5; cf. em particular § 194 em diante, em que Jung aborda a libido enquanto tendo
uma intencionalidade geral, em vez de uma intencionalidade limitada a um instinto
qualquer; § 652, em que ele distingue uma cosmogonia psicológica de uma cosmogonia
física.
9
MDR, 171.
10
MDR, 166.
11
Ibid. Para uma discussão desse sonho e das implicações dele, ver Robert Grinnell,
“Reflections on the Archetype of Consciousness: Personality and Psychological Faith”,
Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Jungian Thought (1970): 15–39.
12
MDR, 173–74.
13
É importante lembrar que Jung considera essas figuras fenomenologicamente, não
como invenções do sujeito consciente. “Não somos nós que as personificamos; elas têm
uma natureza pessoal desde o início” (CW 13: 62).
14
MDR, 168.
15
Para uma discussão sobre o jogo concreto de Jung, ver Daniel C. Noel, “Veiled Kabir:
C. G. Jung’s Phallic Self Image”, Spring: An Annual of Archetypal Psychology and
Jungian Thought (1974): 224–42.
16
Para “a criação como um tipo de poiese” recorro à noção de criação enfatizada por
Robert Creeley. Na discussão sobre a insistência de William Carlos Williams de que um
poema seja criado, Creeley comenta sobre “a noção de poesia evidente na introdução
de Williams a The Wedge, quando ele diz, ‘Quando um homem cria um poema — cria,
note,’ de modo que ele tem ‘um movimento intrínseco próprio que permita verificar a
autenticidade dele’ — em outras palavras, de modo que ele não corresponda
simplesmente a um desejo do escritor (ou que ele não seja simplesmente uma
comunicação, declarando ‘Eu estou dizendo isso a você’, e sim carregue em si tudo o
que necessita para sobreviver por mérito próprio. Isso, sinto, é uma condição necessária
para um poema que seja ativo” (manuscrito de entrevista, 1964: citado por Linda W.
Wagner, “‘Oh, Pioneers!’ One Sense of Creeley’s ‘Place’” in Robert Creeley: The Poet’s
Workshop, editado por Caroll F. Terrell (Orono: National Poetry Foundation, University
of Maine at Orono, 1984), 179.
17
A noção de mimese usada aqui, do início ao fim, deriva da compreensão de poesia
de Maritain como uma imitação do modo de operar da natureza, baseado em uma
“intercomunicação entre o ser interior das coisas e o ser interior do Si-Mesmo humano
(Maritain, Creative Intuition in Art and Poetry, 3). Essa ideia de imitação reaparece em
The Transformation of Nature in Art, de Ananda K. Coomaraswamy (New York: Dover
Press, 1956), e em A Year from Monday, de John Cage (Middletown, Conn.: Wesleyan
University Press, 1967); cf. pp. 31, 75.
18
MDR, 174.
19
Ibid., 174–75.
20
Para a discussão sobre “realidade psíquica” de Jung, ver CW 5: 222; CW 7: 151, 158;
CW 8: 681, 683, 743, 748; CW 9.2: 85; CW11: 376, 766, 888; CW12: 93; CW 13: 62, 76n.
21
Para uma lista completa das referências à imaginação ativa de Jung, ver R. F. C. Hull,
“Bibliographical Notes on Active Imagination in the Works of C. G. Jung,” Spring: An
Annual of Archetypal Psychology and Jungian Thought (1971): 115–20.
22
MDR, 183.
23
MDR, 177.
24
Para uma elaboração dessa visão da psicologia de Jung como relacional, ver Paul
Kugler, The Alchemy of Discourse (Lewisburg, Penn.: Bucknell University Press, 1982).
25
James Hillman, “The Pandaemonium of Images: Jung’s Contributions to Know
Thyself” in Healing Fiction (Thompson, Conn.: Spring Publications, 2019 [1983]), 57–95.
26
Cf. Ilíada 20.403; Ilíada 16.148, onde “perder o fantasma” (“giving up the ghost”)
(expirar) é aistho.
27
De anima 3.433a-b; Metafísica 1072a-b.
28
Cf. James Hillman, “Anima,” Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Jungian
Thought (1973): 97–132; (1974): 113–46, para uma compilação dos usos da noção por
Jung.
29
Cf. CW 7: 521, 507; CW 10: 715; CW 14: 498n. 381.
30
T. S. Eliot, The Waste Land, V: 360. Para exposição adicional do terceiro como
fantasma, ver David L. Miller, “Between God and the Gods— Trinity” in Eranos Yearbook
49 (1980): 81–148; cf. ainda a palestra de Miller, “The Holy Ghost and the Grateful
Dead”, Eranos Yearbook 52 (1983): 277–346.
31
CW 6: 797.
32
CW 6: 66, 77–78, 281. “Estou, de fato, convencido de que a imaginação criativa é o
único fenômeno primordial acessível a nós, o Solo real da psique, a única realidade
imediata. Portanto, falo de esse in anima, a única forma de ser que podemos
experimentar diretamente” (Carta a Kurt Plachte, 10 de janeiro de 1929, in C. G. Jung,
Letters, vol. 1: 1906–1950, selecionadas e editadas por Gerhard Adler em colaboração
com Aniela Jaffé; traduzidas por R. F. C. Hull [Princeton, N. J.: Princeton University Press,
1973], 60).
33
CW 6: 750.
34
MDR, 181.
35
MDR, 182.
36
MDR, 185.
37
Ibid.
38
Para a importância da imagem fálica nas atividades de construção de Jung, ver Daniel
C. Noel, “Veiled Kabir: C. G. Jung’s Phallic Self-Image”, Spring: An Annual of Archetypal
Psychology and Jungian Thought (1974): 224–42.
39
MDR, 185.
40
Ibid.
41
Jung nunca revela a identidade da paciente que chama de “a mulher estética”. Porém,
há similaridades entre a descrição que ele faz dela e o que sabemos de Sabina Spielrein,
uma paciente que ele tratou em Burghölzi e com quem, mais tarde, teve um
envolvimento íntimo. Ver Aldo Carotenuto, A Secret Symmetry: Sabina Spielrein
between Jung and Freud, traduzido por Arno Pomerans, John Shepley e Krishna
Winston (New York: Pantheon Books, 1982). Tanto a mulher estética quanto Spielrein
foram pacientes com quem Jung teve também um relacionamento mais pessoal. Ele
credita ambas terem introduzido a ele a noção de “anima”. Além disso, ambas eram
claramente tipos estéticos. No diário, Spielrein refere-se de modo eufemista às
intimidades entre ela e Jung como a “poesia” deles! Ver ainda Bruno Bettelheim,
“Scandal in the Family,” New York Review of Books (30 de junho de 1983): 9–44.
Bettelheim crítica o tratamento insensível de Spielrein por Jung e aponta as negações
e desvalorizações do relacionamento por ele.
42
MDR, 185.
43
MDR, 185–86.
44
Cf. Psychology of the Unconscious, de Jung, traduzido por Beatrice M. Hinkle
(London: Kegan Paul, 1919), 7 em diante, em que Jung liga o discurso ao pensamento
dirigido, do qual a maior realização é a ciência, e relega o pensamento fantasioso ao
modo não-linguístico, que “afasta-se da realidade, libera desejos subjetivos e é, em
relação à adaptação, completamente improdutivo”. Apesar disso, o pensamento
fantasioso é relacionado ao pensamento estético e é o meio pelo qual a mente antiga,
mítica operava (cf. pp. 12–13).
45
Para uma lista de significados normativos importantes para o termo natureza, ver
“Appendix: Some Meanings of ‘Nature,’” in Arthur O. Lovejoy e George Boas, Primitivism
and Related Ideas in Antiquity (New York: Octagon, 1965), 447–56.
46
Richard Rorty, Philosophy and the Mirror of Nature (Princeton, N. J.: Princeton
University Press, 1979), 344–45, e como discutido em Jonathan Culler, On
Deconstruction: Theory and Criticism after Structuralism (Ithaca, New York: Cornell
University Press, 1982), 77 em diante.
47
Cf. CW 8: 179, onde Jung nota a importância do estético em dar forma; CW 8: 167
onde Jung fala dele como um afeto esclarecedor. Jung considera forma e compreensão
como opostos (CW 8: 176 em diante) e o processo psíquico como prosseguindo por uma
alternância entre os dois (CW 8: 179).
48
MDR, 186.
49
CW 9.1: 57.
50
MDR, 186.
51
Ver “The Dogma of Gender,” no meu Echo’s Subtle Body: Contributions to an
Archetypal Psychology (Thompson, Conn.: Spring Publications, 2017 [1982]), 39-52,
para uma discussão sobre as implicações desse tipo de pensamento.
52
MDR, 186.
53
Ibid.; tradução do alemão para o inglês modificada.
54
Jung fala do trabalho psicológico como um “aprimoramento” da libido da psique. Cf.
“On Psychic Energy,” in CW 8: 3–66.
55
MDR, 186–87; tradução do alemão para o inglês modificada.
56
“‘Ulysses’: A Monologue” in CW 15, pp. 109–34.
57
“Psychology and Literature [Psychologie und Dichtung]”, in CW15, pp. 84–105.
58
CW 15: 143.
59
CW 15: 151.
60
Ver Graham Hough, “Poetry and the Anima,” Spring: An Annual of Archetypal
Psychology and Jungian Thought (1973): 85–96.
61
CW 15: 136.
62
MDR, 194.
63
MDR, 195.
64
Cf. CW 15: 172, 175, 180–90.
65
MDR, 196.
66
Cf. James Hillman sobre a mandala como uma defesa, em “Dionysus in Jung’s
Writings”, Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Jungian Thought (1972):
198–99; ver ainda a distinção de Robert Creeley entre a percepção fenomenológica e a
percepção metafísica, como registrada por William V. Spanos, “Talking with Robert
Creeley”, Boundary 2, vol. 6/7 (Spring-Autumn 1978): 61.
67
MDR, 188.
68
Ibid., 195.
69
Cf. “Is there a Freudian Type of Poetry?” in CW 18, pp. 765–66; “On the Relation of
Analytical Psychology to Poetry” in CW 15, pp. 65–83; “Psychology and Literature” in
ibid., pp. 84–105.
70
MDR, 187.
71
CW 8: 135.
72
CW 8, p. 68.
73
CW 8: 179.
74
CW 8: 180.
75
Maritain, Creative Intuition in Art and Poetry, 49.
76
CW 6: 606.
77
Maritain, Creative Intuition in Art and Poetry, 3.
78
Ver “instinto” in CW 8: 277 e os ensaios sobre alquimia em CW9.2, CW 12, CW 13 e
CW 14.