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Fundamentos de
Lógica
1. Fundamentos de Lógica
Podemos dizer que Lógica Matemática é, essencialmente, o estudo da natureza
do raciocínio e das formas de aumentar ou melhorar sua utilização. Associa-
mos a Lógica Matemática a análise de métodos de raciocínio, a um conjunto de
regras para verificação se um pensamento é verdadeiro ou falso.
A Lógica está interessada, principalmente, na forma em detrimento ao con-
teúdo dos argumentos, estuda conceitos e juízos, e é uma ferramenta poderosa
que nos permite reconhecer contradições e eliminar probabilidades de erro.
De maneira geral, a Lógica Matemática ainda tem por objetivo demonstrar
se um argumento é válido ou mesmo ambíguo, evitando assim o duplo sentido.

E para que se estuda Lógica?


Estudamos Lógica Matemática para aumentar a capacidade de análise crí -
tica dos argumentos utilizados na organização das ideias e dos processos cria-
tivos; melhorar a capacidade de racionalização e organização de ideias, bem
como melhorar a compreensão de conceitos básicos, na verificação formal
de programas, ou ainda para facilitar o entendimento do conteúdo de tópicos
mais avançados.
Raciocinar utilizando regras lógicas é muito importante para disciplinar o
pensamento inferencial, evitando erros, e desenvolvendo a capacidade argu-
mentativa, ajudando a detectar contradições lógicas.
Podemos exercitar, treinar, desenvolver o pensamento lógico pode de modo
a chegarmos a conclusões verdadeiras acerca dos mais variados assuntos.

OBJETIVOS
• Identificar a importância da Lógica matemática e sua contribuição às disciplinas correlatas.
• Resolver problemas intuitivos de Raciocínio Lógico e Lógica Matemática.
• Identificar e representar uma proposição.
• Analisar o valor lógico de proposição simples.

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1.1 Problemas de raciocínio lógico

1.1.1 O princípio da casa dos pombos

Um tipo de problema bem interessante que envolve Raciocínio Lógico e Lógica


Matemática é um problema clássico: trata-se do Princípio da Casa dos Pombos,
também conhecido por Princípio das Gavetas de Dirichlet.
Johann Peter Gustav Lejeune Dirichlet, matemático alemão, utilizou este
problema, em 1834, com o nome de Schubfachprinzip, que significa justamente
princípio das gavetas.
A ideia do Princípio da Casa dos Pombos é que se pensarmos em um pombal
no qual existam mais pombos que casinhas disponíveis, então algumas casinhas
precisarão alojar pelo menos dois pombos.
Podemos enunciar, de maneira simplificada, o Princípio da Casa dos
Pombos como:
Se precisamos colocar n+1 pombos em n casas, então pelo menos uma casa
deverá conter, pelo menos, dois pombos.
Raciocinando sobre o Princípio das Gavetas, podemos enunciá-lo como:
Se temos n objetos para serem guardados em m gavetas, então pelo menos
uma gaveta deverá conter mais de um objeto.
Pensando em termos mais formal, o princípio pode ser encarado como se o
número de elementos de um conjunto finito A é maior do que o número de ele-
mentos de um outro conjunto B, então uma função de A em B não pode ser uma
função injetora.
Ainda que se pense ser um fato bem elementar, este princípio é muito útil quan-
do resolvemos problemas não tão imediatos, basta, no problema, na situação pro-
posta, identificarmos quem faz o papel dos objetos e quem faz o papel das gavetas.

SUGESTÃO DE OBJETO EDUCACIONAL: Princípio da Casa dos Pombos.


http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/17106

Descrição do Objeto Educacional:


Tipo do recurso: Animação/simulação
Objetivo: Apresentar aos alunos o Princípio da Casa dos Pombos na versão
simples e generalizada; Apresenta uma variedade não trivial de aplicações des-
se princípio em contextos diversificados.

CAPÍTULo 1 • 11
Descrição do recurso: Neste software apresentamos o Princípio da Casa dos
Pombos e sugerimos três atividades com aplicações variadas: uma aplicação
geométrica, uma aplicação combinatória e outra em contexto de Teoria de
Números elementar.

EXEMPLO
1. Em uma sala há um grupo de pessoas reunidas. Quantas pessoas devemos ter, no
mínimo, nesta sala, de modo a que possamos garantir que duas delas tenham nascido em um
mesmo mês?

2. Em uma caixa, há 7 lenços brancos, 9 cinzas e 10 amarelos. Lenços serão retira-


dos, ao acaso, de dentro dessa caixa. Quantos lenços, no mínimo, devem ser retirados ao
acaso, de dentro dessa caixa, para que se possa garantir que, dentre os lenços retirados, haja
um de cada cor?

EXERCÍCIOS
01. Quantas pessoas, no mínimo, devemos ter em um grupo para que possamos garantir a
existência de, pelo menos, duas tendo nomes que começam com a mesma letra? (Considere
um alfabeto com 26 letras.)

12 • CAPÍTULo 1
02. Temos em uma caixa duas cores de bolas, de forma que 5 são vermelhas e 3 são azuis.
Quantas bolas devemos tirar da caixa para garantirmos que haja duas bolas de cores diferentes?

03. Tenho 16 meias em uma gaveta, sendo 8 meias brancas e 10 meias pretas. Quantas
meias, no mínimo, devem ser retiradas da gaveta, para se ter certeza de obter um par de
meias de cores diferentes?

1.2 Outros problemas envolvendo


raciocínio lógico

1. Uma lagarta sobe em uma árvore. Todos os dias sobe 7 metros, porém,
à noite, escorrega e desce 5 metros. Ao anoitecer do 15º dia, a subida tem fim.
Qual a altura dessa árvore?

CAPÍTULo 1 • 13
2. Três irmãs - Ana, Maria e Cláudia - foram a uma festa com vestidos de
cores diferentes. Uma vestiu azul, a outra vestiu branco, e a terceira, preto.
Chegando à festa, o anfitrião perguntou quem eram.
• A de azul respondeu: “Ana é a que está de branco”;
• A de branco disse: “Eu sou Maria”;
• A de preto respondeu: “Cláudia é quem está de branco”.
O anfitrião sabia que Ana sempre diz a verdade. Ele foi capaz de identificar
quem era cada irmã.
As cores dos vestidos de Ana, Maria e Cláudia eram...

CAPÍTULo 1 • 14
3. Você está numa cela onde existem duas portas, cada uma vigiada por
um guarda. Existe uma porta que dá para a liberdade, e outra para a morte. Você
está livre para escolher a porta que quiser e por ela sair. Poderá fazer apenas
uma pergunta a um dos dois guardas que vigiam as portas. Um dos guardas
sempre fala a verdade, e o outro sempre mente e você não sabe quem é o menti-
roso e quem fala a verdade. Que pergunta você faria?

REFLEXÃO
Júlio César de Melo e Sousa (1895-1974), brasileiro, professor, pedagogo, matemático e
escritor, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Malba Tahan, escreveu o clássico da literatura
O Homem que Calculava , premiado inclusive pela Academia Brasileira de Letras. Júlio César
de Melo e Sousa, considerado pioneiro da divugação da educação matemática no país, pro-
cura colocar a matemática de forma lúdica, interessante e divertida.

CAPÍTULo 1 • 15
LEITURA
O Homem que Calculava
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-homem-que-
calculava.html

© WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.2 –

Neste livro, Julio Cesar conta a história de Beremiz, um jovem árabe que viaja para Badgá
com Hank Tade-Maiá, bagdali -natural de Bagdá. Beremiz, muito habilidoso em matemática,
vai resolvendo vários problemas surgidos de situações ao longo da viagem.
Um exemplo de situação resolvida no livro, é a do problema dos camelos. Vamos a ela:
“ Poucas horas havia que viajávamos sem interrupção, quando nos ocorreu uma aventura
digna de registro, na qual meu companheiro Beremiz, com grande talento, pôs em prática as
suas habilidades de exímio algebrista.
Encontramos, perto de um antigo caravançará meio abandonado, três homens que discu-
tiam acaloradamente ao pé de um lote de camelos. Por entre pragas e impropérios gritavam
possessos, furiosos:
- Não pode ser!
- Isto é um roubo!
- Não aceito!
O inteligente Beremiz procurou informa-se do que se tratava.
- Somos irmãos – esclareceu o mais velho – e recebemos, como herança, esses 35
camelos. Segundo a vontade expressa de meu pai, devo receber a metade, o meu irmão Ha-
med Namir uma terça parte e ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a nona parte. Não

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sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos e a cada partilha proposta segue-se
a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e meio. Como fazer a partilha se a terça
parte e a nona parte de 35 também não são exatas?
- É muito simples – atalhou o Homem que calculava. – Encarrego-me de fazer, com jus-
tiça, essa divisão, se permitirem que eu junte aos 35 camelos da herança este belo animal
que, em boa hora, aqui nos trouxe!
Neste ponto, procurei intervir na questão:
- Não posso consentir em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viagem se
ficássemos sem o camelo?
- Não se preocupes com o resultado, ó Bagdá!! – replicou-me em voz baixa Beremiz. –
Sei muito bem o que estou fazendo. Cede-me o teu camelo e verás no fim a que conclusão
quero chegar.
Tal foi o tom de segurança com que ele falou, que não tive dúvida em entregar-lhe o meu
belo jamal, que, imediatamente, foi reunido aos 35 ali presentes, para serem repartidos pelos
três herdeiros.
- Vou, meus amigos- disse ele, dirigindo-se aos três irmãos – fazer a divisão justa e exata
dos camelos que são agora, como vêem, em número de 36.
E, voltando-se para o mais velho dos irmãos, assim falou:
- Deverias receber, meu amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade
de 36 e, portanto, 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saístes lucrando com esta
divisão!
E, dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou:
- E tu, Hamed Namir, deverás receber um terço de 35, isto é, 11 e pouco. Vais receber
um terço de 36, isto é 12. Não poderás protestar, pois tu também saíste com visível lucro na
transação.
E disse, por fim, ao moço:
- E tu, jovem, Hamir Namir, segundo a vontade de teu pai, deverias receber uma nona
parte de 35. Isto é, 3 e tanto. Vais receber uma nona parte de 36, isto é, 4. O teu lucro é
igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado!
E concluiu com a maior segurança e serenidade:
- Pela vantajosa divisão feita entre os irmãos Namir – partilha em que todos os três
saíram lucrando – couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que
dá o resultado (18+12+4) de 34 camelos. Dos 36 camelos, sobraram, portanto dois. Um
pertence ao amigo e companheiro, outro toca a mim, por ter resolvido, a contento de todos, o
complicado problema da herança!

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- Sois inteligente, ó Estrangeiro! – exclamou o mais velho dos três irmãos – Acertamos
nossa partilha na certeza de que foi feita justiça e equidade!
E o astucioso Beremiz – o Homem que Calculava – tomou logo posse de um dos mais
belos “jamales” do grupo e disse-me entregando-me pela rédea o animal que me pertencia:
- Poderás agora, meu amigo, continuara viagem no teu camelo manso e seguro! Tenho
outro especialmente para mim!
E continuamos nossa jornada para Bagdá.”

Assim, temos o seguinte problema:


Beremis Samir, o Homem que Calculava, e seu companheiro viajam num camelo pelo
deserto.
Brigam 3 irmãos por uma herança deixada pelo pai que morrera.
Eram 35 camelos.
O velho destinara
1/2 para o mais velho,
1/3 para o do meio e
1/9 para o mais novo.

Solução:
Dar o camelo em que montavam.
Total: 36 camelos.
Para o irmão mais velho 36/2 = 18
Para o irmão do meio, 36/3 = 12
Para o irmão caçula, 36/9 = 4
A Soma dos camelos dos irmãos é então:
18 + 12 + 4 = 34
E Beremis Samir, O Homem que Calculava, ganhou 1 camelo.

CONEXÃO
Texto do problema, com comentários, em:
http://www.uesb.br/mat/semat/seemat_arquivos/docs/mc4.pdf

18 • CAPÍTULo 1
CURIOSIDADE
Personagens Importantes na Lógica:
Aristóteles, o Pai da Lógica Formal.
Aristóteles (século IV a.C. 384 - 322 a.C.), um dos maiores pensadores de todos os tempos,
foi um filósofo grego, pode ser considerado o pai do pensamento lógico, o fundador da Ló-
gica Formal.
Segundo Aristóteles, que foi aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, a
Lógica era um instrumento para todas as ciências, e ainda defendia que, partindo de conhe-
cimentos considerados verdadeiros, podemos obter novos conhecimentos. Este pioneiro da
Lógica Formal formulou regras de encadeamento de raciocínios que, a partir de premissas
verdadeiras, chegava-se a conclusões verdadeiras.

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Figura 1.3 –

Alexandre de Afrodísia reunião e publicou, no século II da era cristã, as obras de Aristó-


teles sob o nome de Organun, que significa "ferramenta para o correto pensar". Esta obra
estabeleceu princípios tão sólidos e robustos que são considerados válidos até hoje.
Já no século XIX, alguns filósifos e matemáticos eles perceberam que somente a Lógica
Fomal não era suficiente para se trabalhar no rigor matemático, uma vez que ela utilizava a
linguagem natural e esta poderia ser imprecisa e vulnerável a ambiguidades.

Boole e a Álgebra Booleana


George Boole (1815-1864) foi um matemático inglês que criou uma álgebra da lógica,
realizando uma analogia entre formas lógicas e símbolos algébricos. Boole publicou em
1854 este estudo em “An Investigation of the Laws of Thought on Which to Found the Ma-
thematical Theories of Logic and Probabilities”. Este trabalho originou a Álgebra Booleana,

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a qual possui aplicações em construção de computadores, circuitos e sistemas de comu-
nicação. Observe que este estudo foi publicado quase um século antes dos computadores
digitais serem inventados.

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Figura 1.4 –

Figura 1.5 –

Leibniz e a Língua Racional


Gottfried Wilhelm Von Leibniz (1646-1716) foi um matemático e filósofo alemão, que
acreditando na propensão da linguagem comum à ambiguidades e imprecisões, desenvol-
veu uma linguagem artificial, uma língua racional. Tratava-se de uma espécie de cálculo
universal para o raciocínio, na qual as estruturas do cálculo, leis sintáticas lógicas, substi-
tuíam as estruturas do pensamento.
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Figura 1.6 –

20 • CAPÍTULo 1
Leibniz construiu uma linguagem universal baseada em um alfabeto do pensamento
(characteristica universalis), utilizando procedimentos análogos aos procedimentos matemá-
ticos. Aos 20 anos, em 1666, o matemático alemão esboçou então um método para reduzir
pensamentos de qualquer tipo e assunto, a enunciados de perfeita exatidão: De Arte Combi-
natória (Sobre a Arte das Combinações).

De Morgan e suas Leis

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Augustus De Morgan (1806-1871) foi um matemático nascido
em Madura, Índia, que contribuiu significativamente com o desenvol-
vimento da moderna simbólica. Augustus, que perdeu a visão do olho
direito logo após o nascimento, introduziu as importantes leis de De
Morgan e reformulou a Lógica Matemática.

Figura 1.7 –

Frege e a Filosofia-Lógica
Gottlob Frege (1848-1925) foi um matemático e lógico alemão
que trabalhou na área da lógica com a filosofia da lógica matemática
e com a lógica da filosofia, enfim, na fronteira entre a Filosofia e a
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Lógica Matemática.

Figura 1.8 –

Bertrand Russell, um Lógico na Educação


Bertrand Arthur William Russell (1872-1970), filósofo e
matemático foi um dos mais importantes lógicos do século 20,
contribuindo de forma inovadora para os fundamentos da ma-
temática e para o desenvolvimento da logica forma e filosofia.
Além de descobrir o paradoxo que leva seu nome Parado-
xo de Russell, Bertrand Russell defendia o logicismo, a visão
de que a matemática é, em algum sentido significativo, redu-
tível à lógica formal.
A defesa do logicismo de Russel, em seus livros Princi-
ples e Principia Mathematica, baseava-se em duas teses. A
primeira é que todas as verdades matemáticas podem ser tra-
Figura 1.9 –
duzidas em verdades lógicas. A segunda é de que todas as
provas matemáticas podem ser reformuladas como provas lógicas.

CAPÍTULo 1 • 21
Como um dos fundadores da "filosofia analítica", Russell, além de usar a lógica para
esclarecer questões nos fundamentos da matemática, utilizava a lógica para esclarecer ques-
tões de filosofia.
Em 1950, Bertrand Russell recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, "em reconhecimento
de seus variados e importantes escritos nos quais advoga ideais humanitários e a liberdade
de pensamento".

LEITURA
Bertrand Russell - Um lógico na Educação
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/bertrand-russell-logico-educacao-423329.shtml

Autores vida e obra: Bertrand Russel.


http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&Sub-
secaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=506200

MULTIMÍDIA
Sugestão de vídeo:
“Ser ou não ser” - Aristoteles e a Lógica - Viviane Mosé - Globo - Fantástico
disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=qd3OicLy0iM>.

Referências bibliográficas:
FERNANDES, DENISE CANDAL REIS. Lógica matemática / Denise Candal Reis Fernandes. Rio de Janeiro: SESES,
2016.

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