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Monocromático: previsão e
aplicação dos direitos LGBTI na
ordem internacional
Monochromatic International
Law: provision and application of
LGBTI rights in the international
order
Editorial .......................................................................................................................... 3
Conseguimos pensar em narrativas críticas do Direito Internacional no Sul Global? ......................... 3
Voice and exit: How emerging powers are promoting institutional changes in the
international monetary system......................................................................................71
Camila Villard Duran
Revisiting the critique against territorialism in the Law of the Sea: Brazilian state
practice in light of the concepts of creeping jurisdiction and spoliative jurisdiction...161
Victor Alencar Mayer Feitosa Ventura
The ISIS eradication of christians and yazidis: human trafficking, genocide, and
the missing international efforts to stop it...............................................................239
Sarah Myers Raben
Resumo
Abstract
The paper investigates the extent of the protection to LGBTI people un-
der international law norms. Guided by the theoretical framework of recog-
nition as a matter of social status, proposed by Nancy Fraser, it is questioned
whether international law provides sufficient protection and recognition to
LGBTI by using the juridical-comprehensive method of investigation and
* Recebido em:16/02/2018 the techniques of literature review, documental analysis and case-law resear-
Aprovado em: 30/03/2018 ch. The results indicate an absence of LGBTI rights in international binding
** Graduando em Direito pela Universidade documents, as well as precedents that recognize rights to these individuals
Federal de Juiz de Fora. Email: rafael.carrano. mainly under the fundament of the right to privacy. It can be concluded,
lelis@gmail.com therefore, that exists a paradigm of the Monochromatic International Law
*** Mestrando em Direito Internacional pela
which doesn’t provide sufficient recognition nor protection to LGBTI peo-
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ple and also invisibilizes them.
Email: gcgalil@gmail.com
Keywords: LGBTI; Monochromatic International Law; International
Courts of Human Rights.
LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
1. Introdução digna aos LGBTIs.
Para além dessa primeira razão, podem ser destaca-
Lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersex (LGBTI1) dos dois motivos para a escolha do plano internacional:
têm sua mera existência criminalizada em, pelo menos, a alteração do próprio espaço de realização da justiça,
72 países. Além disso, mesmo quando a discriminação como proposto por Fraser2, sendo transposto para além
contra essas pessoas não é imposta pela legislação, ela das meras fronteiras dos Estados, adquirindo proemi-
se dá de forma efetiva, física e simbolicamente, pela po- nência a dimensão global de efetivação dos direitos; e a
pulação de cada país, ocasionando a morte de milhares influência exercida pelo Direito Internacional no campo
LGBTIs todos os anos. A esfera de preocupação des- jurídico doméstico.
ses indivíduos inclui onde podem ou não dar as mãos,
Com a intensificação da globalização, os Estados,
onde podem ou não expressar sua identidade de gênero
com suas limitações fronteiriças, não são mais capazes
livremente, onde precisam ou não temer simplesmente
de dirimir, isoladamente, as desigualdades ocasionadas
andar pelas ruas. É negada a esses indivíduos a mínima
em virtude das dimensões econômica, cultural e política
dignidade inerente à pessoa humana e seu próprio reco-
da justiça. Dessa forma, transporta-se o protagonismo
nhecimento enquanto sujeitos de direitos.
de promoção da justiça dos Estados para a esfera inter-
É com base nessa violência sofrida pelos LGBTIs nacional, mais apropriada a suprir as diversas demandas
em todo o mundo e seu não reconhecimento como advindas de um mundo mais integrado e cosmopolita3.
sujeitos de direitos que se justifica este trabalho. Dessa Nesse ponto, é essencial o papel exercido pelos siste-
forma, sustentando-se no marco teórico do reconheci- mas internacionais, regionais e global, de proteção dos
mento enquanto uma questão de status social, proposto Direitos Humanos; pelos tratados multilaterais e demais
por Nancy Fraser, segundo o qual a legislação e a juris- fontes de Direito Internacional; bem como pela atuação
prudência possuiriam um importante papel na mitiga- da sociedade civil transnacional e organizações interna-
ção das desigualdades, indagou-se se o Direito Interna- cionais, atores cruciais na efetivação da justiça na con-
cional fornece proteção e reconhecimento suficientes temporaneidade.
aos LGBTIs.
Tal análise é embasamento suficiente para a expan-
O Direito Internacional é importante precursor da são da luta por direitos LGBTIs para o plano interna-
proteção e garantia de direitos a minorias representati- cional. Além disso, levando-se em consideração um
vas. É justamente nesse plano que se vê avançar a con- processo contínuo de desenvolvimento normativo no
cretização dos Direitos Humanos, na tentativa de esta- Direito Internacional, é possível sinalizar o forte peso
belecer padrões mínimos de existência a cada indivíduo transformador dos tratados internacionais, gerando al-
da sociedade. Em um contexto no qual os LGBTIs pos- terações na legislação interna de cada país4. Dessa ma-
suem uma quantidade inimaginável de direitos negados neira, adotando-se a concepção de um sistema de prote-
e não reconhecidos, a análise da tutela dos direitos des- ção multinível para a efetiva tutela dos direitos LGBTIs,
sa população na esfera internacional é importante para
uma real compreensão da importância que é dada eles.
Entende-se, assim, que o plano internacional representa 2 FRASER, Nancy. Reenquadrando a Justiça em um Mundo Glo-
balizado. Lua Nova, São Paulo, n. 77, p. 11-39, 2009, p. 29-32.
o cenário no qual a tutela dos Direitos Humanos ocor- 3 FRASER, Nancy. Reenquadrando a Justiça em um Mundo Glo-
re de forma mais abrangente, permitindo evidenciar o balizado. Lua Nova, São Paulo, n. 77, 2009, p. 11-17.
quão perto (ou longe) se está de se assegurar uma vida 4 Apesar de o trabalho ter como foco a proteção oferecida às
pessoas LGBTIs a partir do Direito Internacional Público, não se
ignora a proteção oferecida à pessoa humana a partir do Direito
1 A utilização da sigla “LGBTI” não tem a intenção de excluir Internacional Privado, sendo ela, em alguns casos, como no do
quaisquer outras formas de identidade ou sexualidade que não sejam reconhecimento da união homoafetiva, até mesmo anterior àquela
diretamente abarcadas por suas letras. Definiu-se sua utilização, jus- oferecida pelo Direito Internacional Público, cf. VASCONCELOS,
15, n. 1, 2018 p.277-298
tamente, por se considerar uma das formas mais inclusivas de men- Raphael Carvalho de. Constituicionalização e Direito Internacional
ção aos diversos indivíduos dessa população. Ademais, em coerência Privado no Brasil. Rev. secr. Trib. perm. revis. ano 4, mai. 2016, p
com o marco teórico adotado, entende-se estar mais próximo de um 192. Ainda, sobre o importante papel da disciplina na temática LG-
remédio transformador, como será visto adiante, ao se utilizar uma BTI cf. ALMEIDA, Bruno Rodrigues de. Os casamentos e as parce-
sigla com um menor número de letras e que, ainda sim, represente rias entre pessoas do mesmo sexo no direito internacional privado
uma grande diversidade de indivíduos, como ao se utilizar a letra “T” brasileiro: aspectos transnacionais das famílias contemporâneas.
para se referir às diversas integrantes da população trans. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 11, n. 1, 2014 p. 43-52.
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LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
é essencial o avanço normativo no plano internacional. referentes ao atual estágio de proteção e tratamento
Sob tal perspectiva, faz-se necessária a construção de dos direitos LGBTIs no cenário global. A investigação
uma proteção a nível local, regional e global. Nesse documental, por sua vez, possibilitou a coleta de dados
sentido, os organismos internacionais detêm forte “im- primários referentes à positivação dos direitos LGBTIs
pacto transformador”, desencadeando o avanço na pro- na ordem internacional, seja em tratados, resoluções da
teção dos Direitos Humanos no ordenamento jurídico Organização das Nações Unidas ou princípios orienta-
interno de cada país5. dores. Por fim, a técnica de pesquisa jurisprudencial, a
partir da seleção de uma amostragem não probabilística,
Como suposição inicial para responder ao questio-
oportunizou o levantamento de dados primários para a
namento da pesquisa, adotou-se a hipótese de que o
análise do tratamento judicial dado aos direitos LGBTIs
Direito Internacional não fornece o reconhecimento e
pelas Cortes de Direitos Humanos.
proteção necessários aos LGBTIs, atuando de maneira
tímida na defesa de seus direitos e contribuindo para O objetivo geral da pesquisa é demonstrar a invisi-
sua constante invisibilização. Nesse ponto, é importante bilização sofrida pelos LGBTIs no Direito Internacio-
conceituar o que denominamos de “Direito Internacio- nal dos Direitos Humanos, seja na legislação, seja na
nal Monocromático”. Como poder ser aduzido, faz-se jurisprudência. Como objetivos específicos desta inves-
tal referência em razão da invisibilidade sofrida pelos tigação podem ser evidenciados: realizar revisão biblio-
LGBTIs no Direito Internacional, fazendo com que gráfica sobre a temática; analisar as normas de Direito
essa dimensão do direito abarque apenas “uma cor”, ex- Internacional quanto ao grau de proteção conferido aos
cluindo uma pluralidade de sujeitos, quais sejam, a pró- LGBTIs; evidenciar todas as normativas de Direito In-
pria população LGBTI, cuja diversidade é comumente ternacional que abordem os direitos das pessoas LGB-
simbolizada pelas várias cores do arco-íris. Esse con- TIs; analisar a jurisprudência das Cortes de Direitos
ceito se traduziria, de forma normativa, na ausência de Humanos relativas à temática; indicar a necessidade de
legislação que trate expressamente de pessoas LGBTIs, mudança de paradigma no tratamento dado pelo Direi-
garantindo sua proteção e reconhecimento. E, ainda, to Internacional às pessoas LGBTIs com o protagonis-
em uma jurisprudência que se apoie em fundamentos mo dos indivíduos afetados (bottom up).
demasiadamente genéricos, possibilitando grande varia-
ção na esfera de proteção desses indivíduos.
Sendo assim, a partir de um raciocínio hipotético- 2. O direito internacional como fonte de
-dedutivo, o problema levantado foi abordado pela reconhecimento
utilização do método jurídico-compreensivo de investi-
gação, que privilegia a decomposição do problema jurí- Os estudos da filósofa estadunidense Nancy Fraser
dico sob diversos aspectos para sua total compreensão. marcaram, de forma singular, o pensamento no campo
Desse modo, foram empregadas as técnicas de pesquisa da teoria da justiça. Por meio de um processo dialético
de revisão bibliográfica, investigação documental e pes- e constante de reanálise de suas ideias, Fraser6 conce-
quisa jurisprudencial para a obtenção e exame de dados beu uma teoria da justiça tridimensional. Dessa forma,
primários e secundários, visando à construção de uma visando à concretização da justiça, três dimensões cen-
pesquisa empírica de caráter tanto quantitativo, quanto trais devem ser observadas: a econômica, que se con-
qualitativo. cretiza por meio da distribuição; a cultural, que comporta
A revisão bibliográfica permitiu a definição e apro- a ideia de reconhecimento; e a política, materializada pela
fundamento do marco teórico adotado, por meio da representação. A partir disso, extrai-se que as formas pelas
leitura das diversas críticas levantas à concepção de quais a injustiça se consubstancia são a má distribuição,
reconhecimento elaborada por Nancy Fraser. Além o falso reconhecimento e a falsa representação. Como
15, n. 1, 2018 p.277-298
to Judith Butler. Social Text, Durham, v. 0, n. 52/53, p. 279-289, mas of Justice in a “Postsocialist” Age. In: OLSON, Kevin. Adding
1997.) Insult to Injury: Nancy Fraser debates her critics. London-New
9 FRASER, Nancy. Rethinking Recognition. New Left Review, York: Verso, 2008, p. 21.
Londres, n. 3, maio-jun 2000, p. 109. 13 FRASER, Nancy. From Redistribution to Recognition? Dilem-
10 FRASER, Nancy. Rethinking Recognition. New Left Review, mas of Justice in a “Postsocialist” Age. In: OLSON, Kevin. Adding
Londres, n. 3, maio-jun 2000, p. 113-114. Insult to Injury: Nancy Fraser debates her critics. London-New
11 FRASER, Nancy. From Redistribution to Recognition? Dilem- York: Verso, 2008, p. 29.
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LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
jurídico tem capacidade tanto de (re)produzir o falso LGBTI e garantia dos direitos que até hoje lhes são pri-
reconhecimento como atuar na afirmação de popula- vados. O referido instrumento seria a própria fonte de
ções marginalizadas, funcionando como remédio a essa empoderamento desses indivíduos perante seus opres-
injustiça. Ainda mais: a próprias lacunas existentes nesse sores.
campo conseguem reforçar as injustiças de reconheci-
mento. Dessa forma, uma lei que criminaliza relações
sexuais entre pessoas do mesmo sexo provoca o falso
reconhecimento, mas também o faz a norma que apenas
3. Uma perspectiva lgbti sobre a legislação
regula o casamento heterossexual, quedando-se silente a internacional de direitos humanos
respeito da união civil homoafetiva. Nesse sentido, ob-
serva-se que o exercício do Direito, principalmente da São inegáveis os avanços do reconhecimento de di-
legislação, figura com central importância na conquista reitos aos LGBTIs ao longo dos últimos anos, seja na
de espaço a indivíduos oprimidos, ainda que, nem de seara nacional ou internacional. Foram conquistas im-
longe, seja a única seara de avanço necessária. Aden- portantes, a maioria delas alcançadas pela via judicial16,
trando o campo dos direitos LGBTIs, Fraser14 identifica que têm permitido a esses indivíduos viverem com mais
a existência de uma reafirmação da heteronormativida- dignidade e menos medo em nossa sociedade. Todavia,
de por meio da edição de leis que reforçam esse para- qualquer avanço parece estrondoso, quando comparado
digma dominante e subjugam os grupos que nele não se ao cenário anterior no qual os LGBTIs não eram consi-
enquadram, classificados como desviantes. derados, nem mesmo, seres humanos. Desse modo, ain-
da hoje, há muito que se avançar para que eles usufruam
Ressalta-se, assim, que a produção legislativa e juris- de todos os direitos garantidos aos demais cidadãos e
prudencial que posicione os LGBTIs enquanto sujeitos que não mais precisem se esconder, culpar ou menos-
de direitos é etapa essencial para seu reconhecimento prezar por serem quem são.
e para a consequente diminuição da violência física e
simbólica sofrida por eles. A partir de uma análise dogmática, os direitos se-
xuais possuem duas dimensões de proteção no Direito
É com base nessa construção teórica que se entende Internacional, que pode se dar, ainda, em duas modali-
o Direito Internacional como potencial emanante de re- dades diferentes. Segundo André de Carvalho Ramos,17
conhecimento, capaz de inserir os indivíduos invisibili- as duas dimensões seriam: a positiva, que diz respeito à
zados na vida social. Todavia, esse reconhecimento não garantia de autonomia às pessoas LGBTI, permitindo-
pode ser apenas pela via judicial ou por meio de norma- -as exercer sua cidadania plenamente; e a negativa, que
tivas sem qualquer força vinculante. O texto positivado concerne a proibição de discriminação dessas pessoas.
é essencial à legitimidade e à manutenção do reconheci- Por outro lado, o autor assevera, ainda, que essa prote-
mento fornecido pelo Direito. Ainda mais: é dotado de ção pode ocorrer de maneira direta, com base na edição
fortemente de poder simbólico, uma vez que as próprias de normativas que consagrem direitos substantivos es-
normas que impedem a participação paritária dos LGB- pecíficos a essa população; ou, ainda, indireta, que se dá
TIs na sociedade são sedimentadas pelas práticas sociais por meio da interpretação ampliativa de disposições ge-
e reforçadas por um habitus de reiteração de costumes néricas já existentes, como do direito à igualdade. Como
tradicionalmente idealizados; sendo, portanto, o regis- será demonstrado, a proteção desses direitos na ordem
tro escrito da garantia de direitos etapa essencial para se internacional se dá, quase que absolutamente, pela via
alcançar o reconhecimento.15 indireta. Ademais, destaca-se, ainda, que tal forma pro-
Sendo assim, considera-se um instrumento inter- teção indireta pode ocorrer, além do direito à igualdade,
nacional escrito com caráter vinculante indispensável dicotomicamente, pelo: 1) direito à liberdade, que marca
ao avanço na luta pelo reconhecimento da população
15, n. 1, 2018 p.277-298
mover ações de combate a discriminação, dentre outras, em razão foram elaborados diversos tratados de alcance global
de orientação sexual. Todavia, não se enquadra esse texto como que visavam à proteção e ao combate à discriminação
uma vedação à discriminação, uma vez que ele apenas permite a de diversos grupos vulneráveis, mas nenhum deles vol-
realização de ações de combate à discriminação, sem criar qualquer
espécie de dever de respeito ou proibição de discriminação.
20 RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Hu- 21 RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Hu-
manos na Ordem Internacional. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 105 manos na Ordem Internacional. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 105
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LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
tado à discriminação por orientação sexual e identidade tra opinião, origem nacional e social, renda, nascimento
de gênero. Na perspectiva do reconhecimento da popu- ou outro status”. Como pode ser observado, ambos os
lação LGBTI, a ausência expressa (e simbólica) de seus documentos, mais uma vez, não especificam quaisquer
integrantes no texto normativo representa uma grande dos grupos LGBTIs com relação ao direito à não dis-
lesão à estima e ao status social desses indivíduos. criminação22.
Desse modo, pode-se apontar que o sistema global Como já explicitado, apesar da inexistência de men-
começa a traçar o paradigma do que chamamos de Di- ção expressa aos LGBTIs nos textos de quaisquer tra-
reito Internacional Monocromático, não dedicando es- tados, os chamados treaty bodies têm, sistematicamente,
forços suficientes à proteção das diversas sexualidades definido a reinterpretação da disposição normativa, de
e identidades de gêneros e relegando sua proteção às forma a incluir a proteção a LGBTIs nos termos “ou-
instáveis interpretações do termo “outra condição”. tros status” ou “outra condição social”23, presentes tan-
to nos documentos de alcance global, como naqueles
3.2. Os sistemas regionais de proteção dos regionais, característica marcante do Direito Internacio-
Direitos Humanos nal Monocromático.
Não obstante, ainda que importante tal esforço her-
Voltando a investigação para os planos regionais, menêutico para a inclusão desses indivíduos, indicar que
tem-se, mais uma vez, evidenciada a lacuna normativa eles já são contemplados por essas previsões genéricas
referente à garantia de direitos LGBTIs. A Carta da Or- (e que, portanto, não há necessidade de novas leis) não
ganização dos Estados Americanos (OEA), ao dispor somente ignora o forte poder simbólico e de reconheci-
sobre os princípios que regem a organização, indica, na mento carregados pela menção expressa de proteção a
alínea l de seu artigo terceiro, que “l) os Estados ame- um grupo, mas também desmobiliza e desmerece a luta
ricanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa para o reconhecimento dos LGBTIs enquanto sujeitos
humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, cre- de direitos. No entanto, essa ideia é defendida, até mes-
do ou sexo”, mais uma vez escancarando a invisibiliza- mo, pela Organização das Nações Unidas,24 indicando
ção sofrida pelos LGBTIs nesses documentos. que “a proteção de pessoas baseada na orientação se-
Do mesmo modo, o Pacto de São José da Costa xual e identidade de gênero não requer a criação de no-
Rica, em seu artigo 1º(1) garante a não discriminação vas leis ou direitos especiais para pessoas LGBT”.
dos Estados signatários da Convenção “por motivo de Nesse cenário, as pessoas LGBTIs se veem à mer-
raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de cê de questões conjunturais para o reconhecimento de
qualquer outra natureza, origem nacional ou social, po- seus direitos, ocasionando uma grande insegurança jurí-
sição econômica, nascimento ou qualquer outra condi- dica, demarcando o campo de forma incipiente e repleta
ção social”. Ademais, a mesma Convenção dispõe, em
seu artigo 17(2), que o casamento e a formação de fa- 22 Com relação ao Sistema Africano, merece destaque, ainda, a
mília somente se darão entre um homem e uma mulher, resolução número 275 adota pela Comissão Africana em maio de
excluindo dezenas de outros arranjos familiares possí- 2014, que condena a violência e os abusos cometido contra pessoas
veis de serem concebidos. com base na sua orientação sexual e identidade de gênero, indicando
aos Estados que tomem medidas para solucionar a situação. OR-
Ainda nesse sentido, dispõem a Convenção Euro- GANIZATION OF AFRICA UNITY (OAU). African Commis-
sion on Human and Peoples’ Rights. 275: Resolution on Protec-
peia dos Direitos do Homem e a Carta Africana de Di- tion against Violence and other Human Rights Violations against
reitos Humanos e dos Povos. O documento europeu, Persons on the basis of their real or imputed Sexual Orientation
em seu artigo 14, proíbe discriminações em razão de or Gender Identity. Luanda: maio 2014. Disponível em: < http://
“sexo, raça, cor, língua, religião, opinião política ou ou- www.achpr.org/sessions/55th/resolutions/275/>. Acesso em: 03
fev. 2018.
tra opinião, origem nacional ou social, a pertença a uma 23 O’FLAHERTY, Michael. Sexual Orientation and Gender
15, n. 1, 2018 p.277-298
minoria nacional, a riqueza, o nascimento ou qualquer Identity. In: MOECKLI, Daniel; SHAH, Sangeeta; SIVAKU-
outra situação”. A Carta Africana, por sua vez, o faz MARAN, Sandesh. International Human Rights Law. Oxford:
Oxford University Press, 2014, p. 315.
em seu artigo segundo garantindo o gozo de direitos 24 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Es-
e liberdades sem distinção de “raça, etnia, grupo, cor, critório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos. Nascidos
sexo, língua, religião, opinião política ou qualquer ou- Livres e Iguais: orientação sexual e identidade de gênero no regime
internacional de direitos humanos. Brasília: UNAIDS, 2013, p. 11.
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LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
de incertezas. À guisa de exemplificação, pode-se aludir direito de adequação do nome civil com a identidade
à discussão em torno do direito ao casamento: a pró- de gênero e também à igualdade dos reflexos de direi-
pria Corte Europeia de Direitos Humanos já julgou fa- tos patrimoniais do casamento hetero e homoafetivo.
vorável e contrariamente ao exercício desse direito por A decisão da Corte foi que o direito de adequação dos
casais do mesmo sexo, enquanto o Comitê de Direitos registros públicos e documentos de identidade de acor-
Humanos já se pronunciou oficialmente expressando do com a identidade de gênero autopercebida encontra-
que o casamento homoafetivo não é protegido pelo -se tutelado pela atual redação da Convenção e, ainda,
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.25 que os Estados não devem condicionar esse direito a
procedimentos cirúrgicos ou tratamentos hormonais.
No ano de 2013, a partir de articulação conduzida
Decidiu, também, que a Convenção protege o vínculo
pelo Estado brasileiro, foi aprovada pela Assembleia
familiar que se origina de uma relação homoafetiva e
Geral da OEA o primeiro (e até o momento o único)
que os Estados devem reconhecer e garantir todos os
documento internacional de caráter vinculante no qual
direitos derivados dessa relação.
há menção a LGBTIs: a Convenção Interamericana
Contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância. Diante do exposto neste subtópico, tem-se que, ape-
sar do recente engajamento Interamericano, também os
O artigo 1º(1) da referida Convenção veda a discri-
sistemas regionais e seus diplomas normativos ajudam
minação, entre outros motivos, em virtude de “orien-
a compor a ordem monocromática que sustenta o atual
tación sexual, identidad y expresión de género”. Não
paradigma do Direito Internacional, protegendo os di-
obstante essa previsão seja pioneira no Direito Inter-
reitos LGBTIs de forma tímida e indireta.
nacional, está longe de ser suficiente. Ademais, além de
o documento possuir eficácia apenas regional, mesmo
entre os países que compõem o sistema interamericano 3.3. Normativas da Organização das Nações
houve baixíssima adesão. De um total de 35 membros, Unidas
somente 10 assinaram o documento, com destaque para
a ausência de países de grande influência, como Estados Partindo para a investigação de outras fontes de
Unidos, México e Canadá. Direito Internacional que tratem dos direitos de pes-
soas LGBTI, foram encontradas quatro resoluções do
Destaca-se, de maneira positiva, todavia, que a apro-
Conselho de Direitos Humanos da ONU abordando a
vação dessa Convenção se mostra como mais um sinal
matéria.
do recente engajamento recente do Sistema Interameri-
cano na temática LGBTI, reforçado a partir da produ- No ano de 2011, passou no Conselho a resolução
ção do documento “Violências contra pessoas LGBTI” A/HRC/RES/17/19, encomendando um estudo pelo
lançado pela CIDH (2015), fruto do trabalho desen- Alto Comissariado a respeito da existência de leis discri-
volvido pela Relatoria Sobre os Direitos das Pessoas minatórias e violência contra pessoas com base em sua
LGBTI; e da realização de audiência pública, pela Cor- orientação sexual ou identidade de gênero. Sua aprova-
te IDH, para a formação de Opinião Consultiva (OC) ção se deu com 23 posicionamentos favoráveis, 19 con-
concernente a direitos LGBTIs em 17 de maio de 2017. trários e três abstenções. Salta aos olhos a proximidade
entre o número de Estados a favor da proposta (vinte e
A OC foi divulgada em 24 de novembro de 2017
três) e daqueles que não apoiaram o conteúdo da resolu-
e significou uma importante consolidação do entendi-
ção (22, somando votos contrários e abstenções), refor-
mento da Corte em relação à proteção de pessoas LGB-
çando a falta de compromisso estatal com a instauração
TIs sob os marcos normativos do Direito Internacional
de uma ordem de proteção efetiva a esses indivíduos.
dos Direitos Humanos. O pedido inicial formulado pela
Costa Rica pediu ao tribunal que se pronunciasse so- Três anos mais tarde, o mesmo Conselho aprovou a
bre a abrangência dos artigos 11.2; 18 e 24 da Conven- resolução A/HRC/RES/27/32, assinalando sua toma-
15, n. 1, 2018 p.277-298
Conquistas Do Direito Internacional Dos Direitos Humanos CKLI, Daniel; SHAH, Sangeeta; SIVAKUMARAN, Sandesh. In-
No Início Do Século XXI. Disponível em: <https://www.oas.org/ ternational Human Rights Law. Oxford: Oxford University
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ional: um estudo comparativo dos sistemas regionais europeu, in- Rights Law. Oxford: Oxford University Press, 2014, p. 423-425.
teramericano e africano. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 128-130. 38 http://www.african-court.org/en/. Acesso em: julho de 2017.
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LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
a referida Corte não possui qualquer sistema de bus- um caso42 (Atala Riffo and Daughters V. Chile). Posterior-
ca de jurisprudência. Dessa forma, foram analisados os mente, no dia 08 de junho de 2017, foi pesquisado o
acórdãos integrais de todos os casos disponíveis na ses- termo “transexual”, sendo novamente obtido como re-
são “Case”, sendo feita a leitura individual de todo seu sultado apenas o caso Atala Riffo and Daughters V. Chile.
conteúdo pelos pesquisadores. Em relação aos 35 casos Destaca-se que ambas as buscas foram realizadas defi-
disponíveis como “finalizados” na data de 5 de junho nindo a língua inglesa como a padrão para os resultados.
de 2017, nenhum possuía pertinência, direta ou indireta, Optou-se pela Língua Inglesa por ser uma das línguas
com a temática LGBTI. Desse modo, constatou-se que oficiais do Sistema Interamericano que coincidem com
a discussão acerca dos direitos LGBTIs não foi, até o o sistema Europeu e Africano, para fins de padroniza-
momento, debatida pela Corte Africana; carecendo-se, ção dos resultados da pesquisa.
portanto, de qualquer jurisprudência relativa à temática
passível de ser analisada. 4.1.3 Corte Europeia de Direitos Humanos
É importante notar que a ausência de casos que dis-
cutam a violação de direitos dos LGBTIs não significa Para a análise dos casos do sistema europeu, aces-
que os Estados submetidos a esse órgão jurisdicional sou-se o site oficial da Corte Europeia de Direitos Hu-
não cometam tais violações. Muito pelo contrário, o manos43 e foi utilizada a ferramenta de busca HUDOC
continente africano é um dos mais conservadores quan- – Human Rights Documentation44. Valendo-se do buscador
do se trata de avanço de direitos relacionados à orienta- mencionado, foi inserido o termo “LGBT”, sendo uti-
ção sexual e à identidade de gênero, sendo a homosse- lizado o filtro referente aos casos já finalizados. Foram
xualidade criminalizada, ainda hoje, em cerca de 30 de encontrados 23 casos que possuíam decisões da corte
seus países39. (judgments) no dia 5 de junho de 2017. Em seguida, foi
inserido o termo “transexual”, na data de 8 de junho de
Desse modo, o fato de essas discussões não terem
2017, resultando em 20 casos finalizados. Logo após as
nem mesmo alcançado a Corte Africana de Direitos
buscas, foi realizada uma análise manual dos casos en-
Humanos ilustra, mais uma vez, as características de um
contrados, a partir da leitura do relatório de cada um dos
Direito Internacional Monocromático, uma vez que,
julgados, para que se aferisse a adesão deles à temática,
diante de sua total invisibilidade, as demandas dessa po-
evitando a análise de dados incorretos. Após essa tria-
pulação nem chegaram a ser propostas na Corte, seja
gem, restaram 16 casos45 dos encontrados com o termo
para serem reconhecidas, seja para serem negadas.
“transexual” e 9 dos casos46 encontrados com o termo
Homofobia na África, 2014. Disponível em: < https://anistia.org. Cossey v. The United Kingdom; Case of Rees v. The United King-
br/noticias/a-crescente-mare-da-homofobia-na-africa/>. Acesso dom; Case of Van Oosterwijck v. Belgium.
em: 15 fev 2018. 46 Case of O.M v. Hungary; Case of Taddeucci and McCall v.
40 http://www.corteidh.or.cr/. Acesso em: junho de 2017. Italy; Case of M.C. and A.C v. Romania; Case of Identoba and
41 A escolha pela sigla “LGBT” se deveu ao fato de essa ser, ain- others v. Georgia; Case of Hämäläinen v. Finland; Case of M.E v.
da nos dias de hoje, mais comumente empregada no meio jurídico Sweden; Case of X and Others v. Austria; Case of Genderdoc-M v.
para ser referir à população LGBTI como um todo. Moldova; Case of Gas and Dubois v. France.
289
LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
“LGBT”. Dois casos se repetem em ambas as catego- Direitos Humanos Internacionais.
rias47. Destaca-se que, novamente, a busca foi realizada
Nos casos referentes à Corte Europeia em que se
na Língua Inglesa, devido aos motivos já apontados de
utilizou o termo de busca LGBT, a proteção jurídica
uniformização dos dados.
ocorreu, em 44% das vezes, com fundamento no direito
à privacidade (Art. 8 da CEDH), 22,2% com fundamen-
4.2 Análise dos casos encontrados to na proibição da tortura conjugada com a vedação à
Discriminação (Arts. 3 e 14) e 11.1% com fundamento
A partir dos casos encontrados pelo procedimento no direito à não discriminação, como mostra o gráfico
acima, a pesquisa utilizou o software “MAXQDA12” da Figura 1.
para que pudessem ser tabulados os resultados referen-
Figura 1
tes ao estudo de cada um dos argumentos jurídicos em-
pregados nas decisões das cortes de Direitos Humanos
sobre pessoas LGBTIs.
Nesse sentido, após a leitura da íntegra de cada um
dos acórdãos, definiram-se marcadores para represen-
tar o fundamento principal da decisão de cada uma das
cortes. Dessa forma, foram transpostos os artigos das
convenções de Direitos Humanos aludidos nas decisões Fonte: Autoria própria
para os direitos aos quais correspondiam. Em cada caso, Por outro lado, em relação às pessoas transexuais, é
foram observados os argumentos jurídicos principais possível notar uma utilização ainda maior do direito à
na decisão das cortes. Foram encontrados os seguintes privacidade como fundamento da tutela jurídica, uma
marcadores: direito à privacidade48; proibição à tortura vez que 87,5% dos casos foram tipificados como viola-
combinado com direito à não discriminação; proibição ções desse direito humano (Figura 2).
à tortura de forma autônoma; direito à não discrimina-
Figura 2
ção de forma autônoma; direito à livre associação; direi-
to à liberdade e segurança; direito a um recurso efetivo;
direito ao casamento; questão processual (direito for-
mal); e direito a um processo equitativo.
Em relação à Corte Interamericana (CrIDH), a aná-
lise se restringiu ao único julgamento encontrado. Nes-
se caso, a Corte decidiu com fundamento nos direitos à
privacidade e à não discriminação, invocando os artigos Fonte: Autoria própria
11.2 e 24 da Convenção Americana de Direitos Huma-
nos. Desse modo, analisando-se os casos encontrados
De outro modo, ao analisar os dados obtidos no com os dois diferentes critérios de busca, constata-se
tocante à Corte Europeia (CEDH), tendo em vista o a utilização do direito à privacidade em 72% dos casos,
maior número de casos encontrados, foi possível anali- frequência imensamente superior a todos os outros ar-
sar a tutela das pessoas LGBTIs e, ainda, de forma se- gumentos somados (Figura 3).
parada, a tutela das pessoas transexuais. A maior quan- Figura 3
tidade possibilita um entendimento mais profundo de
como ocorre a tutela das pessoas LGBTIs no plano dos
15, n. 1, 2018 p.277-298
56 FRASER, Nancy. Social Justice in the Age of Identity Politics: Isso porque os diplomas internacionais com força vin-
redistribution, recognition, and participation. In: FRASER, Nancy; culante são silentes em relação à proteção ou à vedação
HONNETH, Axel. Redistribution or Recognition? A political-
philosophical exchange. Londres: Verso, 2003.
57 THORESON, Ryan. R.. Transnational LGBT Activism: 58 THORESON, Ryan. R.. Transnational LGBT Activism:
Working for Sexual Rights Worldwide. Minneapolis: University of Working for Sexual Rights Worldwide. Minneapolis: University of
Minnesota Press, 2014, p. 28 ss. Minnesota Press, 2014, p. 45
293
LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
de discriminação de pessoas LGBTIs. Por outro lado, CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Desafios
as resoluções da ONU e os Princípios de Yogyakarta E Conquistas Do Direito Internacional Dos Direi-
tutelam esses indivíduos, mas carecem de normativida- tos Humanos No Início Do Século XXI. Disponível
de. Sendo assim, a atual proteção LGBTI na legislação em: <https://www.oas.org/dil/esp/407-490%20can-
internacional somente ocorre pela interpretação amplia- cado%20trindade%20OEA%20CJI%20%20.def.pdf>.
tiva de dispositivos genéricos nos tratados de Direitos Washington: OEA, 2006. Acesso:17 mar. 2017.
Humanos, o que resulta na falta de segurança jurídica e
CONSELHO DA EUROPA (CE). Convenção Euro-
na ausência do avanço de direitos mais específicos para
peia dos Direitos do Homem, 1950. Disponível em:
a dignidade dessas pessoas.
<http://www.echr.coe.int/Documents/Convention_
Posteriormente, no terceiro capítulo, passou-se ao POR.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2017
exame jurisprudencial de casos relativos à temática
EUROPA, Corte Europeia de Direitos Humanos. Case
LGBTI nas Cortes de Direitos Humanos. A partir da
of O.M v. Hungary, julgamento em 5 jul. 2016
análise de uma amostragem não probabilística, consta-
tou-se que o reconhecimento de direitos a esses indiví- ______. Case of Taddeucci and McCall v. Italy, jul-
duos se dá sempre de forma indireta pelas cortes e com gamento em 20 jun. 2016.
grande primazia de embasamento no direito à privaci- ______. Case of M.C. and A.C v. Romania, julga-
dade. mento em 12 maio 2016.
Desse modo, o quarto capítulo foi dedicado a uma ______. Case of Identoba and others v. Georgia, jul-
análise conjunta do paradigma do Direito Internacio- gamento em 12 maio de 2016.
nal Monocromático, a partir dos resultados obtidos
nos dois capítulos anteriores. Abordou-se, também, a ______. Case of Oliari and Others v. Italy, julgamen-
necessidade de que a alteração do presente paradigma to em 21 jul. 2015.
se dê por meio da elaboração de um instrumento in- ______. Case of Hämäläinen v. Finland, julgamento
ternacional vinculante, que forneça reconhecimento e em 16 jul. 2014.
segurança jurídica aos LGBTIs e que conte com seu
______. Case of M.E v. Sweden, julgamento em 26
protagonismo no processo de criação normativa, pri-
jun. 2014.
vilegiando uma perspectiva do Direito Internacional de
baixo para cima. ______. Case of X and Others v. Austria, julgamento
em 19 fev. 2013.
______. Case of X v. Turkey, julgamento em 9 out.
Referências 2012.
______. Case of I. v. The United Kingdom, julga-
ACCIOLY, Hidelbrando; SILVA, G.E do Nascimento; mento em 11 jul. 2012.
CASELLA, Paulo Borba.
______. Case of Christine Goodwin v. The United
Manual de Direito Internacional Público. 22.ed. Kingdom, julgamento em 11 jul. 2012.
São Paulo: Saraiva, 2016.
______. Case of Genderdoc-M v. Moldova, julga-
ALMEIDA, Bruno Rodrigues de. Os casamentos e as mento em 12 jun. 2012.
parcerias entre pessoas do mesmo sexo no direito in-
______. Case of Gas and Dubois v. France, julga-
ternacional privado brasileiro: aspectos transnacionais
mento em 15 mar. 2012.
das famílias contemporâneas. Revista de Direito In-
ternacional, Brasília, v. 11, n. 1, 2014 p. 43-52. DOI: ______. Case of Schalk and Kopf v. Austria, julga-
15, n. 1, 2018 p.277-298
296
LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
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15, n. 1, 2018 p.277-298
LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático: previsão e aplicação dos direitos LGBTI na ordem internacional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v.
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15, n. 1, 2018 p.277-298
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