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3 - BIOTERMOLOGIA

3.1 – Introdução

De todas as partes da biofísica, talvez seja a biotermologia seja a mais aplicada em terapias
no corpo humano e possivelmente em animais. A variação da temperatura é um fator presente direta
ou indiretamente em quase toda, senão toda, intervenção terapêutica. Diretamente podemos citar
termoterapias como o forno de Bier, parafina, laser, ultrassom, micro-ondas, ondas curtas, etc. Até
mesmo crioterapias como compressas com gelo, aplicações de água fria ou spray são exemplos da
aplicação física da temperatura nos meios biológicos. Indiretamente, a variação da temperatura está
presente em terapias como o aquecimento antes de uma atividade física, alongamentos, massagens
ou até mesmo aplicações de correntes elétricas de baixa intensidade. O conhecimento dos princípios
tanto físicos como biológicos dessas terapias é de suma importância para o profissional de saúde e
para a biologia.

3.2 – Conceito

Biotermologia é a parte da biofísica que estuda a temperatura e suas propriedades


relacionadas com os seres vivos. Em especial para a fisioterapia estudaremos a influência da
temperatura no corpo humano e o princípio físico das terapias que envolvem a variação de
temperatura no corpo humano.

3.3 – Calor e Temperatura

Temperatura: chamamos de temperatura a quantidade de vibração das moléculas de um


corpo. Todas as moléculas se encontram em vibração se a temperatura estiver superior a - 273º C
ou 0 kelvin.

INORGÂNICAS

ORGÂNICAS

1
E. Mecânica
E. Térmica
E. Química
E Elét.

t2 > t1
Temperatura Temperatura
t1 t2
Escala de Temperatura:

Em cada país ou continente, é bastante comum se observar unidades de grandezas físicas


diferentes. Com a temperatura, isso não é diferente. Basicamente existem três unidades
mundialmente conhecidas: o grau Celsius, o grau Fahrenheit e o Kelvin. Como em outras grandezas
físicas é possível transformar uma unidade em outra. No caso da temperatura a fórmula para
transformação de uma unidade em outra é:

C F − 32 k − 273
= =
5 9 5

Ex. 01 – Sabendo-se que a temperatura média do corpo humano/animal é de 36 ºC, qual seria essa
temperatura em ºF e K?

Fahrenheit desenvolveu esta escala em 1724 de modo que 100ºF representaria a temperatura normal
do corpo e 0ºF representaria a temperatura mais fria que um homem poderia produzir (misturando
gelo e sal).

Ex 02 – Qual a diferença do princípio de funcionamento entre o termômetro de mercúrio e o


medidor de temperatura infravermelho?

Variação da Temperatura:

A variação da taxa de vibração das moléculas de um corpo é nada mais que a variação da
temperatura. Essa variação ( = tfinal – tinicial) quase sempre se processa devido à perda ou ao ganho
de energia com outro corpo. Dá-se o nome de calor a essa energia mensurável em trânsito.

2
Calor:

É a energia em trânsito?

SÉRIO?

Dizemos que um corpo perde ou ganha calor quando sua temperatura diminui ou aumenta
respectivamente. Calor é a quantidade de energia que um corpo perde ou ganha para variar
sua temperatura. Esse calor, terapeuticamente pode ser fornecido por meio de equipamentos como
ultrassom, laser, lâmpadas infravermelhas, micro-ondas etc.

Calorimetria: É a parte da física que estuda o calor, ou seja, a energia térmica em trânsito. Logo,
não se pode dizer que um corpo tem uma determinada quantidade de calor e sim que um corpo
ganhou ou perdeu uma determinada quantidade de calor, o que o corpo adquire, ao final desse
processo é a temperatura final. A unidade de calor, comumente utilizada é a caloria (cal) e o seu
múltiplo Kcal. É comum a unidade de calor também ser dada em Joules, uma unidade usada para
quantificar trabalho: 1,0 cal = 4,186 J. Isso por que Trabalho pode ser definido como variação de
energia, e como calor é energia em trânsito...

Ex. 2 – Um pacote de certo alimento tem 250 Kcal. Qual seria esse valor em Joules?

Ex. – Qual seria a temperatura final do corpo de uma pessoa de 60 kg a 36ºC caso toda esta energia
seja transformada em calor. Admitindo que 70% do corpo humano é formado por agua, adote calor
especifico dela para calcular.

Ex. 3 – Quantos vezes uma pessoa teria que levantar e abaixar um peso de 10 kg a 1 m de altura
para queimar toda caloria ganha no exercício anterior?

Princípios da Calorimetria

Princípio da Transformação Inversa: “Se na transformação sofrida por um sistema, de um estado


(1) para um estado (2), for necessário fornecer uma quantidade Q de calor (energia térmica), na
transformação inversa, do estado (2) para o estado (1), será necessário retirar a mesma quantidade
de energia Q”.

Princípio da Troca de Calor: “Quando dois ou mais corpos, constituindo um sistema isolado,
trocam entre si apenas calor, a soma das quantidades de calor cedidas por uns é igual à soma das
quantidades de calor recebidas pelos outros”.

Qcedida = Qrecebida

1o Princípio da Termodinâmica: “Se um sistema recebe energia, esta deve ser armazenada pelo
sistema, fornecida ao ambiente sob forma de Trabalho ou, como na maioria das vezes, ambos
devem acontecer”.

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Se um sistema recebe 1.000 J, toda essa energia deve ir para algum lugar. Suponha que o
sistema realize um Trabalho (aumento do metabolismo) que consuma 600 J, resta saber para onde
foram os demais 400 J. Só podem ter sido armazenados pelo sistema. Lembre-se que o sistema
biológico não pode armazenar energia indefinidamente e que, para devolvê-la ao meio ambiente,
terá que utilizar os recursos da circulação, transpiração, etc. Se estes mecanismos falharem, as
células poderão sofrer sérios danos.

Fonte de Energia
(1.000 J)

Trabalho Energia
Realizado Armazenada
(600 J) (400 J)
Sistema Biológico

2o Principio da Termodinâmica: “O calor passa espontaneamente dos corpos de maior


temperatura para os de menor temperatura”. Portanto, só é possível transformar calor em trabalho
quando se dispõe de duas fontes de calor em temperaturas diferentes.

Sabemos que Calorimetria é a parte da Física que estuda o calor e suas manifestações. Como
foi visto anteriormente, calor está intimamente ligado com a variação da temperatura. A quantidade
de calor trocada Q, durante a variação da temperatura  de um corpo depende de sua massa m, da
própria variação da temperatura  e do material que é constituído, conforme a equação a seguir. A
constante c abaixo é conhecida como calor específico e varia de um material para outro, geralmente
sua unidade é cal.g-1.ºC-1.
Q = m.c. 
Onde:

“m” é a massa do corpo geralmente dada em gramas


“c” é o calor específico
“ ” variação da temperatura (tf – ti )

O calor específico “c” é uma grandeza física que basicamente descreve a quantidade de
energia que um grama de determinado material necessita para variar sua temperatura de 1º C.
Quanto maior o calor específico maior a quantidade de energia que ele necessita para variar sua
temperatura. A Tabela 01 a seguir mostra alguns índices de calor específico de alguns materiais não
biológicos em cal/goC, já na Tabela 02 pode-se ver alguns índices de calor específico de alguns
materiais biológicos em J/kg.K.

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Tabela 01 – Intensidade de calor específico de alguns materiais não biológicos.

Material C (cal.g-1.ºC-1)
Água 1,000
Ferro 0,113
Alumínio 0,217
Vidro 0,199

Tabela 02: Densidade e Calor específico de alguns tecidos humano. [kg/m ] e calor específico
[J/(kg.K)].

Tecido [kg/m ] [J/(kg.K)]


1 Osso 1810 1.256
2 Gordura 920 2.973
3 Pele 1010 3.662
4 Olho 1170 3.664
5 Músculo 1040 3.639
6 Sangue 1060 3.894

Ex. 1 – 100 calorias são irradiadas em 10 g de água, ferro e alumínio respectivamente. Sabendo que
todos esses elementos se encontram à temperatura ambiente de 25ºC. Qual a temperatura final de
cada um desses elementos? Qual deles deve esquentar mais? Por quê?

Ex. 2 – Utilizando o ultrassom terapêutico um fisioterapeuta incide em 1 Kg de pele, gordura,


músculo e osso, todos a 36ºC uma quantidade de 1000 J. Qual a temperatura final em oC em cada
um desses tecidos.

Dilatação Térmica

Um fenômeno bastante comum e importante que deve ser levando em conta durante os
tratamentos com termoterapias é a dilatação térmica. Didaticamente ela pode ser classificada em
três tipos:

A) Dilatação Linear: que ocorre em fios, linhas, cabos ou corda e está mais interessada em medir a
dilatação em uma dimensão apenas (1 D). Ela pode ser dada pela fórmula:
L =  .L0 .

Onde L é a dilatação linear,  é o coeficiente de dilatação térmica linear e T a variação da


temperatura.

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B) Dilatação Superficial: que ocorre em chapas, placas ou superfícies. Ela medi a variação
superficial de uma placa pro exemplo quando esta mesma é submetida a uma variação da
temperatura. A dilatação superficial é dada pela fórmula:

S =  .S 0 .

Onde S é a dilatação superficial,  é o coeficiente de dilatação térmica superficial e T a variação


da temperatura.

C) Dilatação Volumétrica: na verdade é a dilatação que ocorre naturalmente nas três dimensões.
Ela é dada por:
V =  .V0 .

Onde V é a dilatação volumétrica,  é o coeficiente de dilatação térmica volumétrico e T a


variação da temperatura. A relação entre os coeficientes de dilatação térmica é a seguinte;
  
= =
1 2 3

Transmissão de Calor

As modalidades segundo as quais o calor pode ser transmitido são: Condução, Convecção e
Conversão.

Condução: Neste, o processo de transmissão do calor se dá de molécula para molécula, do corpo


com maior temperatura para o de menor temperatura até que ambos atinjam o equilíbrio térmico.

Considerando-se uma parede com Area A e espessura l, separando dois meios (1) e (2), com
temperaturas diferentes, t1 maior que t2, o calor passará atraves da parede no sentido de 1 para 2.
Podemos definir como fluxo de calor ou fluxo térmico como a quantidade de energia que atravessa
um meio intermediário entre dois corpos de temperatura diferente por unidade de tempo. O fluxo de
calor pode ser expresso matematicamente por:

Q K . A.  cal   J 
Fluxo = =  s  ou  s 
t l
A
Fluxo Onde K é a constante de condutividade térmica
específica de cada material, A é a superfície de
Meio 1 Meio 2 contato e  a variação da temperatura entre os dois
Temperatura t1 Temperatura t2 meios.
l

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Terapias por condução:

Compressas quente ou frias


Banhos quentes
Banhos de parafina
Cataplasmas (subst. pastosas)
Bolsas de água (térmica) quentes ou frias
Aplicações de gelo

B) Convecção: neste caso, a transmissão do calor ocorre devido ao movimento de fluidos (gás ou
líquido) causado pela diferença de densidade entre os dois meios de temperaturas diferentes. Ex. ar
condicionado, saunas, turbilhão, hidroterapia e banhos a vapor, forno de Bier.

calor

Ar
condicio
nado
Corrente de
+ denso Convecção: - denso
livre ou forçada

calor

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Turbilhão Forno de Bier

C) Conversão: Dá-se o nome de conversão à transformação de um tipo de energia qualquer em


energia térmica. Um bom exemplo são as ondas-curtas, onde temos a transformação de ondas
eletromagnéticas em calor. O ultrassom e o micro-ondas também são exemplos.

Mecânica
Química
Elétrica Térmica
Eletromagnética
Nuclear

Obs. Comumente a Irradiação é tratada como uma forma de transmissão de calor à parte.
Entretanto, aqui ela será ministrada como um tipo de transmissão de calor especial que faz parte da
conversão. Observando bem a Irradiação é uma forma de transmissão de calor que se processa pela
absorção de ondas eletromagnética (mais precisamente os raios infravermelhos) e transformado em
energia térmica. Então, a Irradiação não passa de um tipo especial de conversão.
Por se tratar de ondas eletromagnéticas de luz infravermelha as terapias por irradiação são aquelas
que utilizam esse tipo de luz. As lâmpadas de luz infravermelha, o laser de HeNe (Helio / Neônio) e
o laser de ArGa (Arseneto de Gálio). O princípio biofísico dessa forma de transmissão de calor será
melhor tratado em Bióptica.

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Ondas Curtas Lâmpada de Luz IV ultrassom terapeutico

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Calor e o Corpo Humano

Para compreender melhor o funcionamento da resposta do corpo humano às variações de


temperatura é necessário, primeiro, fazer uma breve revisão dos sistemas que interagem com esse
fenômeno. A pele, o sistema circulatório e o metabolismo.

PELE

SISTEMA CIRCULATÓRIO
Condições normais

26oC – Fluxo Sanguíneo Cutâneo 5%


36oC – Fluxo Sanguíneo Cutâneo 20%

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Custo energético
Atividade
(Cal/m 2 hr)
Dormindo 35
Sentado 50
Trabalhando sentado 60
Em pé 85
Banhando e vestindo 100
Andando (3 mph) 140
Andando de bicicleta 250
Nadando 350
Correndo 600

METABOLISMO

CALCULE SEU METABOLISMO BASAL

http://pt.calcuworld.com/nutricao/taxa-de-metabolismo-basal-metodo-harris-benedict/

http://slideplayer.com.br/slide/9505673/

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MECANISMOS DE REGULAÇÃO DA TEMPERATURA
A regulação da temperatura no corpo humano é feita pelo hipotálamo.

Lesões na porção anterior do hipotálamo leva a uma hipertermia e na porção posterior a uma
hipotermia.

Temperatura ( oC) Sintomas


28 Falência muscular
30 Perda do controle da temp corp. Regulação da Temperatura (Calor)
33 Perda da consciência 26oC
37 Normal
36oC 30oC
42 Parada do SNC
44 Morte * 35oC
45oC

Mecanismos Termolíticos

São mecanismos criados para aumentar a perda de calor do corpo humano

1. Aumento do fluxo sangüíneo periférico


2. Vasodilatação
3. Aumento da Freq. Respiratória
4. Evapotranspiração
Sudorese ➔ Umidade Relativa do Ar
5. Aumento da Irradiação
6. Micção e Defecação

Mecanismos Termolíticos Alternativos


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1. Banhos Frios
2. Banho de álcool
3. Resfriamento da temp. ambiente
4. Bebidas geladas
5. Roupas leves

Regulação da Temperatura (Frio)

26oC

36oC 20oC
15oC
05oC

Mecanismos Termogênicos
São mecanismos criados pelo corpo que geram calor ou evitam a perda do mesmo.

1. Físicos
a) Calafrios = aumento das contrações espasmódicas dos músculos esqueléticos.
b) Aumento da perda por Irradiação

2. Químicos:

a) Aumento do metabolismo
b) Queima da gordura marrom

3. Evitam a perda

a) Eriçamento dos pêlos


b) vasoconstrição

Mecanismos Termogênicos Alternativos


a) Aquecedores
b) Banhos quentes
c) Roupas de frio
d) Bebidas quentes

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