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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

ADRIANA CALLEJAS DE ASSIS


MATEUS HENRIQUE OLIVEIRA PEREIRA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO BÁSICO I

CORUMBÁ
2022
ADRIANA CALLEJAS DE ASSIS
MATEUS HENRIQUE OLIVEIRA PEREIRA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO BÁSICO I

Relatório apresentado ao Curso de Psicologia da


UFMS/CPAN, como requisito parcial de avaliação
da disciplina Estágio Obrigatório Básico I, sob
orientação da Professora Ana Maria de
Vasconcelos Silva.

CORUMBÁ
2022

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. OBSERVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO DA PROBLEMÁTICA APRESENTADA


PELA INSTITUIÇÃO

3. PROJETO DE INTERVENÇÃO

4. REFERÊNCIAS

5. ANEXOS

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1. INTRODUÇÃO

O procedimento de formação inicial nos cursos de educação superior, a partir do estágio


supervisionado e a foco das políticas públicas de educação tem se tornado mais estável como
importante campo de investigação científica em diferentes campos do conhecimento, com
maior implicação a partir da década de 90.
Tal década é definida pela transformação da reestruturação produtiva, reforma do Estado e
mudanças nas políticas educacionais. Em 96 é sancionada a Lei de Diretrizes de Bases da
Educação Nacional (LDB) n. 9394 de 20/12/1996 que traz consigo uma grande renovação em
relação a retirada dos currículos mínimos e a implantação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais da educação (PCNs) para a educação formal, e as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) direcionados aos Cursos de Graduação.
Apenas em 25 de setembro de 2008 é sancionada a nova Lei de estágio n. 11.788 que modificou
a redação do art. 428 a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, validada pelo Decreto-Lei
n. 5.452, de 1 de maio de 1943, e a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Essa Lei vem com o intuito de fazer com que o Estágio Curricular Supervisionado sirva para o
preparamento do trabalho produtivo dos academicistas, objetivando o conhecimento de
qualificações próprias a atividade profissional e a contextualização curricular.
Santos (2004) considera de extrema importância que para se compreender a prática enquanto
práxis é fundamental não separar a teoria da prática. A práxis demanda movimento, interação e
a dialogicidade essencial para o aperfeiçoamento do fazer reflexivo e refletido. Entender a não
separação das extensões teórica e prática da realidade onde esse profissional irá fundamentar
sua identidade a partir da dinamicidade, entre o saber e o saber-fazer, entre ambiente de
formação e ambiente de trabalho, que possivelmente acrescentará para o seu aprimoramento e
a compreensão da ação formativa como dimensão infindável na área profissional.
A colaboração do estágio no curso de formação profissional, com base no saber-fazer não se
resume a aprendizagem de um conjunto de técnicas e metodologias de ensino, mas sim para se
pensar na execução da qualidade da intervenção. Ao mesmo tempo que o estágio é uma
emancipação do profissional, ele proporciona ao mesmo o entendimento sobre a não separação
entre a formação teórica e prática, dessa forma, o estágio da mais importância às etapas e
desenvolvimento pessoal, e cognitivo dos indivíduos enredados no vínculo entre o ensino e a

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aprendizagem, levando em conta ser de extrema importância formar um profissional coesivo
com a práxis experenciada em seu âmbito de conhecimento.
Todo esse entendimento em relação ao estágio curricular supervisionado como uma fase
destinada a um processo de ensino e aprendizagem nos mostra que ainda que o aprendizado em
sala de aula seja essencial, não é o bastante para capacitar os academicistas para sua futura
profissão.
Sendo assim, o Estágio Curricular Supervisionado é visto como um meio de desenvolver
habilidades e competências essenciais para o desenvolvimento das profissões devendo fazer
parte do projeto pedagógico de cursos de graduação.
Os processos gerados a partir da Constituição Federal de 1988, no que dizem respeito à
Assistência Social, tiveram implicações fundamentais, uma vez que colocaram suas ações
articuladas com a Saúde e a Previdência Social. Constituiu-se, assim, o Sistema Brasileiro de
Seguridade Social, a partir do qual, desde 1993, com a vigência da Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS), esta passa a ser reconhecida enquanto política pública, devendo garantir direitos
e promover a cidadania de amplos os segmentos da população, que amargam, pela produção e
acirramento das desigualdades sociais, o lugar de excluídos.
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004), operacionalizada através do SUAS
(2005), traz como projeto político a radicalização dos modos de gestão e financiamento da
política de Assistência Social. Essas marcas, se garantidas e legitimadas por meio dos
movimentos populares, da participação plena de seus usuários e do fortalecimento dos espaços
e instâncias de controle social, deverão fazer com que as ações propostas estejam conectadas
com seus territórios, seus sujeitos, suas prioridades. Estamos, então, falando da sua efetividade
enquanto uma política para a promoção da vida.
O foco da atuação do CRAS é a prevenção e promoção da vida, por isso o trabalho do psicólogo
deve priorizar as potencialidades. Nossa atuação deve se voltar para a valorização dos aspectos
saudáveis presentes nos sujeitos, nas famílias e na comunidade. A atuação do psicólogo no
CRAS tem foco na prevenção e “promoção de vida”, mas isto não significa desconsiderar outros
aspectos relacionados às vulnerabilidades.
A atuação do psicólogo, como trabalhador da Assistência Social, tem como finalidade básica o
fortalecimento dos usuários como sujeitos de direitos e o fortalecimento das políticas públicas.
As políticas públicas são um conjunto de ações coletivas geridas e implementadas pelo Estado,
que devem estar voltadas para a garantia dos direitos sociais, norteando-se pelos princípios da

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impessoalidade, universalidade, economia e racionalidade e tendendo a dialogar com o sujeito
cidadão.
O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), fazendo parte da política de Assistência
Social, como uma unidade de atenção social básica, é responsável pela oferta de serviços às
famílias, grupos e indivíduos, atuando na prevenção de riscos e no fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários. Muitos profissionais estão envolvidos nessas atividades e o
psicólogo é peça importante nas ações e na promoção de impactos nos modos de existência dos
usuários do CRAS.
Os psicólogos no CRAS devem promover e fortalecer vínculos socioafetivos, de forma que as
atividades de atendimento gerem progressivamente independência dos benefícios oferecidos e
promovam a autonomia na perspectiva da cidadania. Atuar numa perspectiva emancipatória,
em um país marcado por desigualdades sociais, e construir uma rede de proteção social é um
grande desafio. Temos o compromisso de oferecer serviços de qualidade, diminuir sofrimentos,
evitar a cronificação dos quadros de vulnerabilidade, defender o processo democrático e
favorecer a emancipação social. Para isso, é importante compreender a demanda e suas
condições históricas, culturais, sociais e políticas de produção, a partir do conhecimento das
peculiaridades das comunidades e do território (inserção comunitária) e do seu impacto na vida
dos sujeitos.

2. OBSERVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO DA PROBLEMÁTICA APRESENTADA PELA


INSTITUIÇÃO

O CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) ou CRAS I, espaço em que será realizado
o estágio, se encontra na Rua Cáceres, s/ N° Corumbá MS CEP:79304-– Bairro: Centro
América, do município de Corumbá, localizado no estado do Mato Grosso do Sul. Ao chegar
no local, a dupla foi buscar informação com a recepcionista sobre a psicóloga desse CRAS,
após esse contato foi pedido para esperar que logo seríamos atendidos. Após esse pequeno
tempo, fomos encaminhados para a psicóloga Elaine Alves Maciel da Silva. Num primeiro
momento ela apresentou quais atividades eram realizadas naquele CRAS e com quais grupos
eles trabalhavam. Depois dessa prévia apresentação, ela explicou sobre o grupo com que ela
trabalhava, sendo o grupo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV)
Intergeracional ou grupo das mulheres, que é realizado das 8 às 9hrs e que tem por objetivo

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trabalhar a autoestima, autonomia e empoderamento feminino daquelas mulheres. Ela também
falou sobre outro grupo que poderíamos trabalhar, já que o horário que a dupla teria disponível
seria somente nas quartas-feiras na parte da manhã. O segundo grupo apresentado, era com
outra psicóloga foram o dos adolescentes de 12 à 17 anos que é realizado das 9 às 11hrs, cuja
atividade era realizada no CAIJ pois esses adolescentes tem aula na parte da manhã e não daria
para ir até o CRAS. Após essa conversa fomos convidados para conhecer o grupo na quarta
para fazer a escolha para o estágio.

2.1 Estrutura e funcionamento da instituição

1. Histórico da instituição

O Centro de Referência de Assistência Social -CRAS 1, criado em novembro de 2004 de acordo


com decreto n° 5.085/2004, pela necessidade do município de Corumbá.
Porém, antes era a própria Secretaria de Assistência Social que facilitava uma maior
participação da população em busca dos direitos, existindo uma maior capacidade de
aproximação possível do cotidiano das pessoas. Anteriormente eram realizadas palestras dentro
da própria Secretária de Assistência Social para as famílias.
A partir de 2009 foi determinado pela Prefeitura Municipal e Secretária Municipal de
Assistência Social que todos os CRAS deveriam ter um nome, pois até então só era identificado
por números, e a homenagem foi feita para: ANA TEREZINHA DE SIQUEIRA (DONA
NANÁ), devido à grande personalidade e de ações realizadas nessa área de Assistência Social
em Corumbá.
Os Serviços de Proteção Social Básica têm como missão potencializar ações dentro de sua
territorialidade a fim de prevenir situações de vulnerabilidade e promover conscientização de
direitos, com finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenindo a sua ruptura.
Garantindo assim o direito à proteção social básica, ampliando a capacidade de proteção social
e de prevenção de situações de risco no território de abrangência do Centro de Referência da
Assistência Social - CRAS 1.

2. Organograma

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A organização do CRAS no Brasil funciona seguindo algumas hierarquias dentro de um
sistema. Em primeiro lugar, se tem a Prefeitura vigente da cidade e incluso nela, a Secretaria
de Assistência Social, que é responsável pelas políticas públicas dirigida para esse ambiente e
o CRAS se encontra na Secretaria de Assistência Social. O CRAS 1 é dirigido por uma gestora
nomeada pela Secretaria Municipal de Assistência Social e cidadania, formada em Psicologia,
com especialização em Educação Inclusiva.

3. Objetivos da instituição

A instituição tem por objetivo oferecer serviços de assistência/apoio e proteção para as famílias
consideradas em situação de vulnerabilidade, que residem na região.

4. Recursos humanos e materiais

O CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) é composto por uma equipe


multidisciplinar, tendo em seu corpo de trabalho, técnicos de nível médio e superior, sendo que
são 3 assistentes sociais e 2 psicólogas. Além, desses tem 1 Pedagoga, 4 Educadores Sociais, 5
Cadastradores do Cadastro Único, 2 Auxiliares de serviços gerais e 8 Estagiários.
Ademais, no caderno de Orientações técnicas do CRAS, criado pelo MDS (Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome), existe uma distinção entre o papel do psicólogo
e do assistente social.
Os materiais Pedagógicos utilizados na instituição (CRAS I) são: Data show, Computadores,
Impressoras, Caixa de som. O prédio ainda conta com 7 salas de atendimento, sala de técnicos,
recepção, copa e cozinha. Com cadeiras, escrivaninha, ar condicionado, telefone e veículo
próprio.
As atividades que são feitas pelo psicólogo mudam de acordo com o serviço social que o
profissional está envolvido, dado que é a instituição oferece três serviços de Proteção Social
Básica, sendo estes:
a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF);
b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; e
c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas.

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5. Clientela

A clientela do CRAS 1 é composta por crianças de (0 a 3) anos, de crianças (4 a 6) anos, crianças


de (7 a 13) anos, adolescentes de 14 a 17 anos, adultos até os 59 anos, grupo de idosos acima
de 59 anos e as gestantes. Essa clientela é composta por pessoas em condições de
vulnerabilidade e até mesmo dependentes químicos, ou seja, famílias vulneráveis através de
demanda espontânea ou encaminhamentos de outras redes de atendimento (saúde, educação,
conselho tutelar, etc.).

1. Identificação do problema

O grupo que optamos por trabalhar visa atender mulheres em situação de vulnerabilidade social
que já passaram por algum tipo de violência, negligência.
Nosso primeiro dia na instituição (CRAS 1 - Centro de Referência de Assistência Social) foi a
reunião com a psicóloga, onde ela nos falou sobre o trabalho que é realizado na instituição. Nos
informou que no momento ela está trabalhando com dois grupos: SCFV Intergeracional de 18
a 59 anos (Mulheres) e o SCFV de 0 a 3 anos. O grupo SCFV Intergeracional acontece todas
às quartas-feiras na parte da manhã. O grupo tem por objetivo trabalhar a autoestima, autonomia
e o empoderamento feminino.
No primeiro dia de observação da dupla no grupo, foi realizado uma breve apresentação dos
novos estagiários para as participantes do grupo. Posteriormente foi realizada a roda de
conversa, que é habitual do grupo, nesse dia elas estavam continuando uma atividade que já
sido passada na semana anterior, baseada em um vídeo passado pela psicóloga sobre “¨formas
de parar de se culpar por tudo”. A atividade consistia em elas escreverem numa folha de papel
6 defeitos e 6 qualidades delas mesmas. Algumas já trouxeram de casa pronto, o restante
respondeu lá na hora e a conversa foi se desenrolando por conta disso. Ao final, elas perceberam
que falarmos sobre nós mesmos requer todo um processo e reflexão.

No dia 06/04, foi tratado o assunto do Burnout, numa perspectiva mais relacionada ao cotidiano
e não ao trabalho. Para essa conversa a psicóloga também utilizou um vídeo chamado
“Síndrome do Esgotamento Emocional (Burnout) para introduzir o assunto.

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No dia 20/04, o outro trio que também está realizando o estágio no mesmo grupo, trouxe uma
dinâmica relacionada a ansiedade, porém uma das participantes trouxe o assunto do luto pois
tinha perdido um parente próximo, então todos optaram por discutir o assunto.
No dia 27/04, foi discutido o tema “relacionamento”, a psicóloga mostrou um vídeo chamado
“6 erros que as mulheres cometem em relacionamentos”.
No dia 04/05, foi discutido o tema relacionado a confiança.
Posteriormente, foram tratados temas relacionados a insegurança, amadurecimento emocional
e familiares tóxicos.

2. Justificativa da escolha do problema e importância do seu estudo para a


instituição.

Conforme observado no decorrer das semanas que passamos na instituição, os temas discutidos
não seguem um padrão quanto ao assunto. Todos os temas tratados são escolhidos baseando em
questões que atravessam a vida dessas mulheres, mas que elas não têm um lugar para falarem
e serem ouvidas, e o grupo serve como um espaço para isso. Sendo assim, decidimos trazer
mais assuntos que atravessam suas vidas, com temas relacionados ao que o objetivo do grupo
visa tratar, sendo o empoderamento feminino, autonomia e autoestima dessas mulheres.

3. PROJETO DE INTERVENÇÃO

“FALAR PARA TRANSFORMAR”

1. INTRODUÇÃO

Dados relacionados a violência doméstica, bem como da menor remuneração e a forma de


inclusão no mercado de trabalho, a distribuição desigual dos serviços domésticos e a sub-
representação política, dentre outros aspectos, constituem um cenário negativo para as mulheres
brasileiras. Para superar tais problemas, um fator indispensável é o empoderamento feminino,
tido como um processo multidimensional que visa transformar o papel social da mulher, que

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deixa de ser subjugadas pelos homens e passa a ocupara um papel de agente atuante, capaz e
com poder de tomar decisões pessoais e coletivas (ROWLANDS, 1995; LEÓN, 2001).
Por conta dessa importância, é importante que se crie estratégias de promoção e mensuração do
empoderamento e de avaliação de seus possíveis condicionantes, para que sejam pensadas e
postas em prática, o que justifica e motiva este projeto.
A desigualdade de gênero no Brasil se fundamenta em um sistema social patriarcal, que vem
do período colonial, onde os homens possuem o poder e impõe as normas que regem as
atividades coletivas e individuais (DELPHY, 2009). Esta estrutura mantém os indivíduos
a executarem determinados papéis, fazendo com que à mulher ocupe um papel de subordinação,
que se estende a vários espaços sociais, como família, religião e política (BASTOS et al., 2018).
De um ponto de vista feminista, o empoderamento é um dos componentes essenciais para
superar a subordinação feminina e alcançar a igualdade de gênero (LISBOA, 2008).
O autor Batliwala (1997) salienta que o termo empoderamento possui, em si, a palavra poder,
que poderia ser compreendido como o manejo de recursos materiais, intelectuais e ideológicos.
O poder está com quem controla a distribuição e aplicação destes recursos, uma vez que, quanto
mais se controla, mais é o poder do indivíduo (ou grupo). Sendo assim, o empoderamento
feminino pode ser entendido como um desafio às relações de poder correntes e, ademais, uma
dedicação para conseguir maior controle sobre as matrizes deste poder.
Rowlands (1995) destaca como é essencial se considerar gênero, cor e outras maneiras de
opressão em análises da distribuição do poder na sociedade. Essa autora ainda ressalta que o
poder é historicamente interpretado como uma relação de obediência e, se examinado sob a
perspectiva de gênero, é comum a mulher ser subordinada ao homem. Dessa forma, é uma
ferramenta para a dominação que pode ser utilizado para prejudicar nos mais variados pontos
da vida das mulheres. Ainda, o empoderamento pode ser considerado como um processo
multidimensional (ROWLANDS, 1995; BATLIWALA, 1997; LEÓN, 2001), para além de não
linear, contextual e heterogêneo. Esse processo pode ocorrer de formas diferentes entre as
mulheres (ou grupos de mulheres), conforme suas vivências e seus contextos tanto cultural,
histórico e socioeconômico (LEÓN, 2001).
Importante trazer também que, o empoderamento possui aspectos individuais fundamentais,
tais como o processo de tomada de consciência, autonomia e autoestima, mas é inseparável de
um processo coletivo que proporcione mudanças significativas no papel social da mulher a nível
estrutural (ROWLANDS, 1995; BATLIWALA, 1995; LEÓN, 2001; BERTH, 2019).

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Como iremos utilizar rodas de conversa para desenvolver os temas, isso envolve dinâmica de
grupo. Em vista disso, é importante fazer uma breve passada pelo conceito.
Foi autor Kurt Lewin (1890-1947) quem derrubou as concepções do passado em relação à grupo
e cunhou novos objetivos para a psicologia social. Suas pesquisas focalizam em esclarecer e
explicar a dinâmica dos fenômenos de grupo em aspectos mais realistas e concretos. Essas
pesquisas tem pôr características, se focalizarem nos grupos frente a frente (pequenos grupos).
A partir de Lewin se teve a liberação da Psicologia Social de seus dogmatismos, se tornando
uma ciência experimental autônoma, que obteve sua identidade. Foi ele quem começou a
ciência dos pequenos grupos, às dividindo em dois tipos: a) o sócio-grupo (ou grupo de tarefa);
b) o psico-grupo (ou grupo centrado sobre si mesmo). (MAILHIOT, 1991).
Este autor defendeu a concepção de que os fenômenos sociais não podem ser examinados do
exterior, muito menos de um laboratório, de maneira inerte, dado que as pesquisas sociais
devem sempre à campo: o pesquisador deve fazer parte do devir do fenômeno em questão.
Sendo assim, ele implementou o uso dos pequenos “grupos-testemunhos”, átomos sociais
radioativos presentes no interior de cada grupo, para gerarem modificações de estrutura, como
também de atitudes.
Entre os principais conceitos de Lewin se tem o de campo social. Em sua visão, o campo social
é uma totalidade dinâmica que englobam entidades sociais co-existentes, não necessariamente
integradas entre elas. Podemos dar o exemplo de que em um mesmo campo social co-existem
grupos, subgrupos, indivíduos, divididos por barreiras sociais. O que define um campo social
são as posições relativas que são ocupadas nele, os diversos elementos que o compõe, criando
uma gestalt, que seria um todo irredutível aos elementos que engloba. Já o espaço vital, outro
conceito deste autor, constitui uma parte do campo social que pode livremente ser acessado
pelo sujeito, onde ele se desenvolve e evolui. O pequeno grupo é um setor deste espaço
fundamental (MAILHIOT, 1991).
Sendo assim, a importância do conhecimento e o uso da psicologia grupal vem justamente do
fato de que qualquer indivíduo passa grande parte do tempo de sua vida convivendo e
interagindo com grupos diferentes. A dinâmica de grupo é necessária, pois o ser humano é
sociável e apenas existe, ou subsiste, conforme seus inter-relacionamentos grupais. Em toda sua
vida, o indivíduo faz parte de diversos grupos, numa contínua dialética entre a procura de sua
identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social (ZIMERMAN &
OSORIO, 1997).

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Quanto as rodas de conversa, aponta autor Raphael (2015) que essas, surgem como um espaço
que possibilita uma escuta cuidadosa de participação coletiva em um processo de intervenção
comunitária. Este processo constitui-se por meio de um método que estimula a discussão e a
expressão de desejos e desabafos. Obtêm-se como resultado as trocas de ideias e experiências,
assim como o aprendizado. Além de tudo, as rodas de conversa tem sido uma ferramenta
bastante utilizada no contexto da saúde mental; algumas experiências no Brasil mostram o uso
dessa ferramenta no contexto do fortalecimento das ações na Atenção Psicossocial.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Proporcionar um espaço tanto de fala, bem como de escuta em relação a temas que atravessam
a vida dessas mulheres.

2.2 Objetivos Específicos


Utilizar rodas de conversa para tratar de temas que atravessam pontos de suas vidas, com foco
no que já objetiva o grupo, sendo o empoderamento feminino, autonomia e autoestima.
Buscando proporcionar uma mudança significativa em suas vidas através de reflexões trazidas
pelos temas. Dessa forma, possibilitando que essas mulheres transformem tanto si, como o meio
em que vivem.

3. EXECUÇÃO DO PROJETO
3.1 Metodologia
A prática será realizada na modalidade grupal, com o grupo SCFV Intergeracional ou grupo das
mulheres, e que tem por objetivo trabalhar a autoestima, autonomia e empoderamento feminino
daquelas mulheres.
Os encontros ocorrerão uma vez pôr semana, às quartas-feiras no período matutino, entre os
meses de agosto e novembro de 2022.

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Sendo assim, como já explicitado serão realizadas rodas de conversa com temas que buscam
tratar o que já visa o grupo. Para fomentar a discussão dos temas escolhidos, decidimos fazer
essa introdução por meio de vídeos.
Contudo, os temas e vídeos abordados serão os seguintes:
1º Tema: Consciência Emocional, introduzido pelo vídeo “Você sabe o que é consciência
emocional? • Casule Saúde e Bem-estar". Encontrado no link: https://youtu.be/xkhN_vgMjfg.
2º Tema: Essência de Ser, introduzido pelo vídeo “Essência do ser e renovação”. Encontrado
no link: https://youtu.be/ZEzvC8rjo5Q.
3º Tema: Gratidão, introduzido pelo vídeo “Neurociência e Gratidão”. Encontrado no link:
https://youtu.be/BXYbA-Xu8xs.
4º Tema: Autoestima e Resiliência, introduzido pelo vídeo “Como Ensinar Bem - Capítulo 10:
Autoestima, Resiliência e Otimismo”. Encontrado no link: https://youtu.be/k_WSo2kVjps.
5º Tema: Autosabotagem, introduzido pelo vídeo “3 Causas da Autossabotagem". Encontrado
no link: https://youtu.be/ojSPLIUneJk.
6º Tema: Compaixão, introduzido pelo vídeo “Como você trata a si mesmo?”. Encontrado no
link: https://youtu.be/U6ZB4mgF1yY.
7º Tema: Protagonismo e Empoderamento, introduzido pelo vídeo “5 MANEIRAS DE UMA
MULHER SE EMPODERAR”. Encontrado no link: https://youtu.be/jPCe-V2pVkE.
8º Tema: Autoaceitação e Aceitação do Outro, introduzido pelo vídeo “Autoaceitação dói, mas
faz bem.”. Encontrado no link: https://youtu.be/odDih_CeHRc.

3.2 Cronograma

2022.2
AÇÕES/ETAPAS A S O N

Apresentação do projeto para instituição e X


público-alvo
Execução do projeto X X X X
Elaboração do relatório X X
Entrega do relatório X

4. REFERÊNCIAS
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MARRAN, Ana Lúcia. Estágio curricular supervisionado: algumas reflexões

http://site.cfp.org.br/resoluções

https://site.cfp.org.br/legislacao/leis-e-normas/

https://estagio.ufms.br/legislacao/

Estágio curricular supervisionado, Legislação federal Lei n° 11.788/2008 (lei do Estágio),


Legislação CFP; Regulamento de estágio do curso de psicologia da UFMS/CPAN;

Resolução CFP nº 06/2019


http://site.cfp.org.br
REVISTA DIÁLOGOS. Política de Assistência Social. Ano 7 • Nº 7 • Julho 2010.

Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) Referência técnica


para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS / Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Brasília, CFP, 2007.

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CRAS/SUAS Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2007/08/cartilha_crepop_cras_suas.pdf. Acesso em 10 de maio de
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ARAÚJO, Miriam Esperidião de. A atuação do psicólogo no CRAS: desafios e possibilidades.


2014. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. doi: 10.11606/D.27.2014.tde-20102014-
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ASSISTÊNCIAL SOCIAL. Disponível em: <https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acesso-a-
informacao/carta-deservicos/desenvolvimento-social/assistencia-social/cras-centro-de-
referencia-emassistencia-social-1> BRASIL, 1962. LEI Nº 4.119, DE 27 DE AGOSTO DE
1962. Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de
psicólogo. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/19501969/l4119.htm#:~:text=L4119&text=LEI%20
15
N%C2%BA%204.119%2C%20DE%2027
%20DE%20AGOSTO%20DE%201962.&text=Disp%C3%B5e%20s%C3%B4bre%20os%
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16
DE OLIVEIRA COSTA, Raphael Raniere et al. As rodas de conversas como espaço de cuidado
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5. ANEXOS

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