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Publicar literatura, em especial poesia, tem sido o

norte dos nossos projetos editoriais. Trabalhar com a


Revista de Poesia é revigorante (além desta revista te-
mos também a Antologia Poesia Agora que publica em
livro impresso poetas de todo o Brasil).
Estamos a par do peso e do esforço que será ler cen-
tenas de poemas e tentar retratar a produção contem-
porânea brasileira – a par da audácia de conduzir um
projeto assim, de forma gratuita e democrática. Mas
também sabemos bem a delícia que é tratar/lidar com
poesia.
Agradeçemos aos participantes desta edição. Foi di-
fícil escolher apenas 10 para representarem todos os
inscritos – esperamos que gostem do extrato.

Editora Trevo
5 Gênesis
Maria Elena Leyva Gonzalez

6 Sombras à frente
Márcia Adriane Pfleger

7 Omi ewé- sou de água doce


Luana Mesquita de Araújo

9 O pássaro
Adecir das Chagas Gomes
11 22.
10 Nascer sua mãe Christian Dancini de Oliveira
Angela Coradini
12 Invasão à vida
Mara Lígia Biancardi

14 Extremo
João Rodrigues Pinto

15 quatro ditos a partir dela


Ayrla Victória G da Silva

16 hiato
Julia Murachovsky
PUBLIQUE CONOSCO ANTOLOGIAS
Maria Elena Leyva Gonzalez Gênesis
I

Sonho (Gênesis 2:21)

Sonhaste comigo,
de certo nasci de ti.
Como Eva, do sonho de Adão.

II
Transformação (Gênesis 2:22)

Osso com osso,


tua carne me fez.
Como Eva, de Adão foi formada.

III
Perda (Gênesis 3:23)

Maior que teu sonho,


é o deserto ante meus pés.
Mas efêmera que tua carne,
a esperança de volver-te a ver.
onho (Gênesis 2:21)

5 revista de poesia - n11 jan.23


Márcia Pfleger Sombras à frente >> >>
sombras mereciam nomes como
@marciapfleger.escritora/ as placas e cada um diferente conforme
a posição do sol: árvores a pino/ prédios retorcidos
à direita/sombreamento sinuoso à esquerda/
interseção de sombras de 2 ipês

e... DEVAGAR:
sombra
descendo
escada

6 revista de poesia - n11 jan.23


Luana Mesquita de Araújo Omi ewé- sou de água doce
@luahh_mesquita
Sou cria das águas...
Rios que vão em vem,
Abraçam!
Leito,
Gracejo,
Colo de Mãe!
Sou cria das águas...
Há muito mais segredos
Onde a correnteza
Toca as Margens
Em um singelo valsar!
Sou cria das águas...
O rio sinuoso corre,
Atravessa,
Vagueia n’alma,
Baila encantada,
Asas a ritmar!
Sou cria das águas...
Do rio mururé,
Dos encantos,
Amazônida-
Mulher!
YÁLÒJÚ

7 revista de poesia - n11 jan.23


Adecir das Chagas Gomes O PÁSSARO
@adecirgomes31083/
De volta para o seu ninho,
Vem meu belo passarinho;
Você excitou os filhotes a voar,
Agora retorna ao seu novo lar.

O ninho envelheceu,
Mas você não o esqueceu;
Veio-me num voo livre,
Nas entrelinhas de um livro.

Nas asas do silêncio,


Sobrevoa um assovio;
Na sombra do tico-tico,
Trazendo palha no bico.

Na doçura do seu canto,


Inaugurando outro campo;
Com sua encantada sintonia,
No palco da bela harmonia.

Relembrando sua morada,


Naqueles galhos molhados,
Debaixo de algumas folhas,
Que fez sua excelente escolha.

8 revista de poesia - n11 jan.23


Angela Coradini nascer sua mãe seis centímetros
carregando um grito no peito
@angelacoradini que continuava desesperado
lembra quando a vida cada parte do seu corpinho tinha forma
nos apresentou pela primeira vez, filho?
e você deslizava sua vida dentro da minha...
a tela era tão grande eu ainda escondia os olhos marejados
e você, só um pontinho de seis milímetros
flutuando no escuro mas minha única escolha era te ventar paz
mas o seu coração criava picos nas linhas gráficas semanas depois
pulsava a vida cento e setenta vezes por minuto... você já transbordava a tela
eu ainda era medo e confusão e seus pequenos detalhes
minha mente questionava criavam fábulas na minha imaginação
o que a minha alma já sabia agora nossos encontros eram todos os dias
e então, o som da sua existência porque você se tornou
como um estrondo grande para responder o meu “bom dia, filho!”
preencheu tão alto toda aquela sala forte para me acordar quando ficasse entediado
tudo era imenso! e tão intenso para me fazer rir com suas acrobacias
a tela, o som, o inesperado, você você era o sol todo
tudo revirava e acariciava o meu peito dentro de mim
simultaneamente
e na lentidão daquele instante na tela ainda te vi outras vezes
você não saía da tela sempre escondendo parte do seu rostinho
nem dos meus ouvidos mas gosto de pensar
o ritmo do seu coração que suas pequenas mãos
era quase uma reza se mantêm em oração
que suplicava pelo meu... por nossa hora
quando você vai respirar neste mundo
e eu chovia pelos olhos eu vou olhar nos seus olhos
enquanto te ouvia e no mesmo segundo
nascer a sua mãe
com doze semanas
você já preenchia todo o espaço da imagem
9 revista de poesia - n11 jan.23
Christian Dancini de Oliveira .22
@ christian_dancini
Minha língua toca
o céu da tua boca
& derruba as estrelas
que lá dormiam.
& tomba ao solo
as verdades do oceano,
& ressuscita no bumbo do coração
a liberdade
de um outro silêncio,
como se fosse possível
voar pelos caracóis
da tua abóbada.
Minha língua ruge
dentro do teu céu,
planando poesia
pelas asas gigantes
que cobrem Netuno,
no movimento artificial
das flores das nossas vidas.

10 revista de poesia - n11 jan.23


Mara Lígia Biancardi INVASÃO À VIDA
@maraligiabiancardi/
“Há muitas noites em uma noite. ”
Ferreira Gullar

cerceados
num túnel
afogados pela água
imunda que corre por baixo
ratos e baratas a procura de comida

mísseis de desumanidade
cruzam acima
não se pode olhar para o céu
não se pode puxar o ar
que se divide em mil narinas

vidas por um fio


fios à espera de se arrebentarem
pios que se emudecem
caos na atmosfera
feras à solta sem piedade

os fios que ainda se mantém


amarram-se e não se soltam
até que os laços possam
ser refeitos

11 revista de poesia - n11 jan.23


mais sobre os livros da editora
poesia romances contos acadêmicos

12 revista de poesia - n11 jan.23


João Rodrigues Pinto EXTREMO
@rodriguespintojoao
Vem o dia
traja roupas claras como a neve
adormece ao crepúsculo
no contraste terno de sempre

Surge então a noite


trajando o seu melancólico
manto escuro
adormece num silêncio profundo...

Vem o homem
traja simplesmente a alma virgem
olha o tempo
procura respostas e não encontra
se acovarda julgando ser nada
envelhece na cega estupidez
fecha os olhos e morre!

Vem o poeta
trajando sua esfarrapada nudez
e escreve na areia umedecida.
Seus versos são lambidos por ondas
que se quebram nos rochedos...
Levam tudo, exceto
o dom da imaginação.

13 revista de poesia - n11 jan.23


Ayrla Victória G da Silva quatro ditos a partir dela.
@ a.linguagem.das.flores
I.
pedaços angustiantes de alegria
remendados em mercúrio:
signo, sol e lua em peixes.
sinto, você e eu contando causos do cais caseiro.

II.
viver é silente como encostar no ouvido
uma concha de mar
e imaginar que as batidas que os tímpanos ressoam
são os segredos da Atlântida perdida que você me
conta todo dia.

III.
saudade não existe: é sentimento inventado
por aqueles que se põem a escavar o silêncio
preso por camadas de passado.

IV.
tudo que você fez foi por amor
e essa é a sua maior riqueza.

14 revista de poesia - n11 jan.23


julia murachovsky hiato
@juliamurachovsky
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes -
Wislawa Szymborska

chega o momento –
no ocaso de um sol poente
ou na aurora, que vem
desanoitecer a manhã
– em que um se pergunta:

‘suporta, o mundo,
essas minhas cavernas de sol
minhas vísceras de fogo
minha muda confissão
meu silêncio perolado
meus olhos de lança?’

(a vida é um arco tenso


é lança sem ponta
faca sem fio
palavra ressoando
no corpo do silêncio
pelas fendas pálidas
do ser).

15 revista de poesia - n11 jan.23


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fim

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