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Aula 09

Instrução Continuada
PGE 2024:
Boletim de Ocorrência Unificado
PREENCHIMENTO DO BOU:
ASPECTOS ESSENCIAIS E ERROS
IDENTIFICADOS
Do Boletim de Ocorrência de
Violência Doméstica e Familiar

FICHA TÉCNICA:
Modalidade: Instrução Continuada (EaD sem tutoria - autoinstrucional)
Carga horária: 05 h/a
OGC: PM/3
Os Boletins de Ocorrência que
registram episódios de violência
doméstica e familiar são bastante
complexos e devem ser preenchidos de
forma criteriosa, com o máximo de
informações que for possível coletar.
Via de regra, todas as ocorrências que
caracterizam violência doméstica e familiar são
relevantes e merecem análise adequada. Por
este motivo, o descritivo deve ser MUITO BEM
DETALHADO, de forma a subsidiar as ações das
equipes da Patrulha Maria da Penha e permitir
análise de risco assertiva, observando o que
preconiza a Diretriz nº 12/2022.
1) Atentar-se para a Além dos demais tipos penais,
tipificação correta dos deve-se destacar a necessidade
fatos narrados em Boletim de selecionar “lesão corporal –
de Ocorrência Unificado violência doméstica” e não
(BOU); somente “lesão corporal”.

Mesmo que a natureza final seja “FATO


2) Atentar-se para a NÃO CONSTATADO”, cadastre como
seleção do campo “política política pública “violência doméstica”, pois
pública: violência há vários casos graves nos quais a vítima
doméstica”; se esconde ou mente para a primeira
equipe que atende
Não esqueça de fazer o I.E. de todos
os envolvidos, inclusive das vítimas
3) Qualificar todos os indiretas, principalmente crianças
envolvidos (vítima, autor e
testemunhas) no formulário e adolescentes. É MUITO comum
do BOU “Identificação do que os policiais simplesmente
Envolvido”; ignorem a presença de menores no
ambiente violento, sequer citando
que estavam no local por ocasião do
acionamento da equipe. No entanto,
4) Preencher todos os campos da esta informação é fundamental para
“Identificação de Envolvidos”, atentando-se
para a inserção de números de telefone, os atendimentos posteriores,
endereço comercial, e-mail e todos os dados prioridade de encaminhamentos e
para rápida identificação de todos os análise de risco adequada.
envolvidos (vítimas, autores e testemunhas),
como tatuagens, cicatrizes e características Portanto, faça o I.E de todos, com
outras que prontamente auxiliem; todos os detalhes possíveis.
Se possível, procure
5) Inserir a versão ouvir EM
6) Inserir a versão SEPARADO (não
da vítima no
do autor no campo permita nem mesmo
campo
“Descrição”; contato visual) todas
“Descrição”; as partes envolvidas,
o que possibilita
melhor percepção do
ocorrido, da
7) Inserir a versão 8) Descrever as existência do Ciclo
das testemunhas condições físicas de Violência e
no campo e emocionais da permite atuação
“Descrição”; vítima e do autor; isenta da equipe
policial.
9) Descrever as condições 10) Zelar pela autenticidade
do local onde se deu o fato, e imparcialidade das
sinais de desordem, dano informações inseridas no
em objetos, etc; Boletim de Ocorrência;

11) Descrever
detalhadamente a dinâmica
dos fatos e a participação 12) Descrever os materiais
de cada um dos envolvidos, apreendidos no local e que
ressaltando os tipos de tenham relação com o fato;
violência praticados e o
estado da vítima;
13) Relacionar os Boletins de
Ocorrência envolvendo o casal
registrados anteriormente.
Caso não seja possível a 14) Citar a existência ou não de
consulta no momento, ao medidas protetivas;
menos mencionar se já foram
registrados e em qual
instituição;

15) Em caso de
16) Orientar a vítima sobre os
encaminhamento médico,
seus direitos, bem como
inserir a identificação da
constar isso no BOU.
unidade de saúde; e
Veja um exemplo péssimo de descritivo de Boletim de Ocorrência, de uma
situação real atendida que resultou na prisão em flagrante do agressor:

“NO LOCAL SOLICITANTE SRA MARTA


DIZ TER SIDO AMEAÇADA PELO SEU
FILHO, SR. JOSÉ. DIANTE DOS FATOS
EQUIPE ENCAMINHOU AS PARTES
ATÉ A DELEGACIA DA MULHER PARA
PROVIDÊNCIAS.”
Na sequência, como o fato deveria ter sido descrito:
Equipe policial acionada para atender ocorrência de violência doméstica e familiar. Chegando na residência indicada, a
equipe conversou com a Sra. Maria, em local separado do agressor, e ela estava bastante nervosa e chorando,
segurando no colo o neto Júlio, de 4 anos, também nervoso. Informou que seu filho, Sr. Augusto, a ameaçou, dizendo
que iria sufocá-la quando estivesse dormindo. Ainda, o rapaz a teria empurrado e segurou em seu pescoço como se
fosse apertá-lo. Diz que começou a gritar e os vizinhos chamaram a Polícia Militar. Explica que estas ameaças
começaram após seu filho lhe pedir dinheiro para ir ao bar, porém ela se negou a entregar e disse-lhe que deveria
procurar um emprego, visto que está com quase 30 anos e continua “nas costas dela”, que inclusive ajuda a criar o neto
nos dias em que ele fica com o pai. Em seguida, equipe policial conversou com o Sr. Augusto, também distante da vítima,
que explicou para a equipe que a mãe é louca e que gosta de fazer cena. Diz que de fato lhe pediu dinheiro para tomar
uma “cervejinha” e que ela já começou a gritar. Observando a casa, não foram constatados objetos quebrado e nem sinal
de desordem, exceto por uma cadeira que estava caída quando a equipe chegou e alguns brinquedos pelo chão. Ao
conversar com a vizinha, Sra. Júlia, ela disse que brigas entre mãe e filho são comuns, completa dizendo que o rapaz é
muito agressivo e nervoso. A vítima disse que não tem medida protetiva de urgência e que não sabe como funciona. A
vítima não tinha lesões aparentes. Diante dos fatos, a equipe deu voz de prisão ao agressor pelos crimes de ameaça e
vias de fato, informando-o a respeito de seus direitos constitucionais [...], acionando apoio de outra viatura para conduzi-
lo à Delegacia da Mulher, onde foi acomodado no compartimento de presos e algemado. Nos termos da Súmula
Vinculante n° 11, o algemamento se deu para preservar a integridade física de todos os envolvidos, principalmente pelo fato que o
conduzido esboçou contrariedade no momento que foi informado sobre a sua prisão. Ainda, a Sra. Maria achou melhor levar o neto
com ela, fazendo contato com a mãe da criança para que a buscasse na delegacia. Em consulta aos sistemas, constatou-se que há
vários BOU envolvendo mãe e filho.
Veja outro exemplo de descritivo adequado:

Equipe policial patrulhava pela Rua das Flores quando foi abordada por uma menina, bastante nervosa, pedindo ajuda, pois o pai
estaria agredindo a sua mãe. No local, logo após ver os policiais, o sujeito investiu contra a equipe, xingando os policiais de “filhos
da puta” e obrigando a utilização de força física para contê-lo e algemá-lo com bastante dificuldade, pois o cidadão tentou golpear
o Sd. XXXX e morder a mão do Sd. YYYY. Na sequência, foi acionado apoio de outra equipe para auxiliar na condução. Quando
chegaram, colocaram o sujeito, agora identificado como ZZZZ no compartimento para presos da viatura policial, onde continuou
gritando e chutando a porta. Em conversa rápida com a vítima, Sra. Janaína, ela informou que seu marido chegou bêbado da rua
e ligou o som muito alto. Como o filho menor do casal, de dois anos, chamado Cauã, estava dormindo, a vítima pediu que
abaixasse o som. O marido ficou nervoso e deu-lhe um tapa na cara, puxando seus cabelos até derrubá-la no chão, chutando
suas costas em seguida. Então, a filha mais velha do casal, Marília, de 11 anos, saiu correndo para pedir ajuda e voltou com os
policiais. A vítima diz que episódios como esse são comuns em seus 15 anos de casamento, mas que nunca tinha feito um
Boletim de Ocorrência e que na verdade gostaria de “deixar para lá, pois logo ele se acalma”. Em conversa com o vizinho, ele
disse que prefere não se meter em briga de casal, comentando somente sobre o fato de que o agressor bebe com frequência. Na
casa, não havia sinal de desordem ou objetos quebrados. Diante do relato da vítima, confirmado pela filha maior, das escoriações
no joelho e cotovelo, de vermelhidão nas costas e no rosto, foi dado voz de prisão ao Sr. ZZZZ pelo crime de lesão corporal,
sendo-lhe informado sobre seus direitos constitucionais [...], permanecendo algemado para resguardar a integridade de todos.
Destaca-se que em nenhum momento a equipe conseguiu conversar com o agressor, pois estava muito nervoso e com odor
etílico. Diante da vulnerabilidade das duas crianças, foi acionado o Conselho Tutelar para acompanhar o caso, que orientou que
ambas foram levadas à DP junto com a mãe, em viatura diversa da que conduziu o agressor, onde a Conselheira Tânia Silva, RG
1111-1, encontrou a equipe e deu os encaminhamentos necessários à mãe e aos filhos, após as providências policiais.
POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ
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