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Fundamentos de Matemática I
APLICAÇÕES DO
CÁLCULO INTEGRAL
Gil da Costa Marques

19.1 Cálculo de áreas


19.2 Área da região compreendida entre duas curvas
19.3 Trabalho e Energia potencial
19.4 Valores médios de grandezas
19.5 Somas
19.6 Propagação de sinais
19.7 Sinais periódicos

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19.1 Cálculo de áreas


O método mais simples e intuitivo de se determinar uma área é o que se baseia na decom-
posição de uma figura plana num número de figuras planas cujas áreas sejam bem conhecidas.
A área total é igual à soma das área das partes. Essa é também a base do cálculo integral.
Assim, se f é uma função contínua em [a,b] e tal que f(x) ≥ 0, para todo x ∈ [a,b], então a área
da região compreendida entre o eixo x e o gráfico de f, para x variando em [a,b], é por definição:
b n
A = ∫ f ( x ) dx = lim ∑ f ( xi * ) ⋅ ∆xi 19.1
n →∞
d i =1

onde

a = x0 x1 x2 ... xn − 1 xn = b
Figura 19.1: Partição do intervalo [a, b].

e em cada subintervalo [xi − 1, xi] tomamos um ponto xi*, isto é, xi − 1 < xi* < xi, para todo
i = 1,2,3,...,n.

Exemplos
• Exemplo 1:
Determine a área compreendida entre a parábola y = ax² + bx + c e o eixo x, considerando-se
apenas o intervalo [d, e], como indicado na Figura 19.2.

Figura 19.2: A região compreendida entre a parábola


e o eixo x, para x pertencente ao intervalo [d,e].

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→ Resolução
Por definição, a área solicitada é dada por:
e e e e
A = ∫ ( ax 2 + bx + c )dx = a ∫ x 2 dx + b ∫ xdx + c ∫ dx 19.2i
d d d d

Efetuando cada integral separadamente, obtemos:


e e
a 3 b e a a b b
A= x + x 2 + cx d = e3 − d 3 + e2 − d 2 + ce − cd
3 d 2 d 3 3 2 2
19.3i
a b
= ( e3 − d 3 ) + ( e2 − d 2 ) + c ( e − d )
3 2

• Exemplo 2:
Determine a área da região compreendida entre a parábola y = 3x² + 1 e o eixo x. Considere o caso
particular do intervalo [0, 4]. Adote o sistema MKS para interpretar as medidas de comprimento e
a área encontrada.

→ Resolução
A área solicitada é dada pela integral
definida:
4 4 4
A = ∫ ( 3x 2 + 1)dx = 3∫ x 2 dx + 1∫ dx 19.4i
0 0 0

Efetuando cada uma das duas integrais


separadamente, obtemos:
4 4
A = x 3 + x 0 = 43 + 4 = 68 m 2 19.5i
0

Figura 19.3: A região compreendida entre a parábola e o eixo x, para x


pertencente ao intervalo [0,4].

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• Exemplo 3:
Determine a área do círculo de raio R dividindo-o em quatro quadrantes e calculando a área do
primeiro quadrante.

→ Resolução
Tendo em vista que a área do primeiro quadrante é a área da região delimitada pela curva descrita
pela função y = R 2 − x 2 e o eixo x, onde a coordenada x, no caso do primeiro quadrante, varia no
intervalo 0 ≤ x ≤ R, temos que a área da região é dada por:
R
A = ∫ R 2 − x 2 dx 19.6i
0

Fazendo a mudança da variável de integração tal que:

x = R cos θ ⇒ dx = R ( − sen θ) d θ 19.7i

os limites de integração passam a ser, respectivamente,


Figura 19.4: A região é a quarta π
parte de um círculo. x =0⇒θ= x=R⇒θ=0 19.8i
2
Assim, a área do primeiro quadrante é dada por:
R 0
R 2 − ( R cos θ) ( − R sen θ) d θ
2
A = ∫ R 2 − x 2 dx = ∫ 19.9
0 π2

Utilizando a relação fundamental entre o quadrado dos senos e cossenos e o domínio de integração,
a expressão para a área se reduz a uma integral da forma:
0
A = −R2 ∫ sen θd θ
2
19.10
π2

Utilizando a identidade cos2θ = (cosθ)2 − (senθ)2, obtemos:

1
sen 2 θ = (1 − cos 2θ) 19.11
2
Assim,
0 0 0 0
1 R2 R2
A = − R ∫ sen θd θ = − R ∫ (1 − cos 2θ) d θ = −
2 2 2
∫π 2 d θ + 2 ∫ cos 2θd θ 19.12
π2 π2
2 2 π2

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Efetuando as duas integrais explicitamente, obtemos:
0 0
R2 R 2 sen 2θ R2 π R2 π
A=− θ + = − (0 − ) + (sen0 − sen π ) = R 2 19.13
2 π 2 2 π 2 2 4 4
2 2

A área do círculo é o resultado acima multiplicado por 4. Temos assim:

Acírculo = 4 A = πR 2 19.14

19.2 Área da região compreendida


entre duas curvas
Consideremos a área da região delimitada por duas curvas no plano. Admitamos que essas
curvas sejam descritas pelas funções y1 = f(x) e y2 = h(x), ambas não negativas. Consideremos
a área associada ao intervalo [a,b] (veja Figura 19.5). As áreas A1 e A2 compreendidas entre o
gráfico das funções e o eixo x, no intervalo considerado, são dadas respectivamente por:
b
A1 = ∫ f ( x )dx 19.15
a

b
A2 = ∫ h ( x )dx 19.16
a

a b c

Figura 19.5: a) e b) as duas regiões consideradas, vistas separadamente, e c) a região delimitada pelas duas curvas.

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Consequentemente, de acordo com as Figuras 19.5a e 19.5b, a área A delimitada pelas


curvas, no intervalo [a,b], é dada pela diferença entre as áreas:
b b
A = A1 − A2 = ∫ f ( x )dx − ∫ h ( x )dx 19.17
a a

É preciso observar que se f e h não forem ambas positivas, para calcular a área da região
delimitada por elas no intervalo [a,b], basta considerar as duas funções acrescidas de uma mesma
constante, de maneira que ambas deem origem a gráficos situados acima do eixo x.
a b

Figura 19.6: a) e b) As duas regiões consideradas,


vistas separadamente, e c) a região delimitada
pelo gráfico das duas funções dadas, acrescidas
de uma mesma constante.

Agora, a área da região é dada por


b b

∫ ( f ( x ) + k )dx − ∫ ( h ( x ) + k )dx =
a a
b b b b

∫ f ( x )dx + ∫ kdx − ∫ h ( x )dx − ∫ kdx = 19.18


a a a a
b b

∫ f ( x )dx − ∫ h ( x )dx
a a

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• Exemplo 4:
Considere o caso em que se queira determinar a área entre as curvas
y( x) = 2 x + 3
2
h ( x ) = xe − x

no intervalo [0,2] e a unidade metro.Vide Figura 19.7.

Figura 19.7: A região considerada, delimitada pelas


curvas que são os gráficos das funções dadas.

→ Resolução
A área que se quer determinar pode ser escrita como:
2 2
A = A1 − A2 = ∫ ( 2 x + 3)dx − ∫ xe − x dx
2
19.19
0 0

Assim, obtemos:

2
1 2 1 2 1 1
A = ( x 2 + 3x ) + e − x = 22 + 3.2 − 02 + e −2 − = (19 + e −4 ) m 2
2
19.20
0 2 0 2 2 2

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• Exemplo 5:
Determine a área da região delimitada por:

y( x) = 2 x + 9
h( x ) = x + 1

definidas no intervalo [0, 2 2 ] e considerando o metro como unidade de comprimento.Veja Figura 19.8.

Figura 19.8: A região considerada, delimitada pelas


curvas que são os gráficos das funções dadas.

→ Resolução
A área que se pretende determinar é dada pela diferença de integrais:
2 2 2 2
A= ∫
0
2 x + 9dx − ∫ ( x + 1)dx
0
19.21

Donde obtemos, na unidade m2:

2 2
2 1  x2  1 1 32  8 02 
( )
3 2 2 3
A = ⋅ ( 2 x + 9) 2 (9) −  + 2 2 − − 0 
2
−  + x = 4 2 +9 −
3 2 0  2 0 3 3 2 2  19.22
1
( )
3
2
= 4 2 +9 − 13 − 2 2
3

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• Exemplo 6:
Dadas as funções:

y( x) = x
h( x ) = x 2

considere um intervalo [a, b] arbitrário e determine a área da região delimitada por cada um dos
gráficos das funções dadas e o eixo x, para x ∈ [a, b]. Em seguida, determine a área da região deli-
mitada pelas duas curvas para x ∈ [0, 1].
a b c

Figura 19.9: As regiões solicitadas.

→ Resolução
As áreas no intervalo [a, b] são dadas, respectivamente, pelas integrais:
3 b 3 3
b
1 2x 2 2b 2 2 a 2
A1 = ∫ x 2 dx = = − 19.23
a
3 3 3
a

b b
x3 b3 a 3
A2 = ∫ x 2 dx = = − 19.24
a
3 a 3 3

A área entre essas curvas no intervalo [0,1] é, de acordo com as expressões acima:

A = A1 − A2 =
( ) − 2 (0 ) − 1 + 0 = 2 − 1 = 1
2 1
3
2
3
2
3 3
19.25
3 3 3 3 3 3 3

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19.3 Trabalho e Energia potencial


Um dos conceitos mais importantes da ciência é o conceito de energia. A energia potencial,
uma das formas mais comuns de energia, pode ser entendida como a solução do problema da
determinação da antiderivada da força. Para entendermos isso, consideraremos a seguir o caso
de uma força que depende apenas de uma das coordenadas, a qual tomaremos como sendo a
coordenada x. Escrevemos nesse caso:

F = F ( x) 19.26

Determinaremos a seguir o trabalho realizado por essa força quando nos deslocamos de um
ponto xA até um ponto xB. Por ser um movimento unidimensional, consideraremos, para tanto,
apenas deslocamentos, entre esses dois pontos, ao longo de uma linha reta. Tomaremos essa
linha reta como o eixo x. Lembramos primeiramente que o trabalho realizado por uma força
constante ao nos deslocarmos ao longo de um intervalo de comprimento Δx é dado por:

∆W = F ∆ x 19.27

Para uma força dependente da posição, como nesse caso, devemos dividir o deslocamento
entre as posições xA e xB em pequenos intervalos, ou seja intervalos infinitesimais de compri-
mento δx. Para cada um desses intervalos aplicamos a fórmula para força constante, pois essa
divisão procura justamente isso, isto é, busca intervalos tão pequenos que, para cada um deles
possamos utilizar a expressão para força constante. Daí obtemos, para o i-ésimo intervalo, o
trabalho que é dado pela expressão:

∆W i = F i δx i 19.28

Assim, a forma precisa de determinarmos o trabalho implica numa subdivisão num número n
de intervalos e ao fim, tomarmos esse número tendendo a infinito. Ou seja,

W = lim ∑ ∆W i = lim ∑ F i δx i 19.29


n →∞ n →∞
n n

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o trabalho nada mais é do que o limite de uma soma de Riemann e como tal podemos escrever:
xB

W= ∫ F ( x )dx
xA
19.30

Definimos a energia potencial associada à força, a partir da integral:


x
U ( x ) − U ( x A ) = − ∫ F ( t )dt 19.31
xA

Assim, de acordo com o teorema fundamental do cálculo, a energia potencial nada mais é
do que a antiderivada da força, precedida do sinal menos. Escrevemos:

dU ( x )
= −F ( x ) 19.32
dx

• Exemplo 7:
Determine a energia potencial associada à força elástica.

→ Resolução
No caso da força elástica, que depende linearmente do deslocamento (x),

F ( x ) = − kx 19.33i

O gráfico da função é dado pela reta mostrada na


Figura 19.10. O trabalho realizado pela força é
dado, basicamente, pela área do triângulo tracejado.
Dependendo de realizarmos o trabalho numa ou noutra
direção o trabalho será dado ou pela área ou pela área
precedido pelo sinal menos.
De acordo com a definição, o trabalho realizado pela
força, quando do deslocamento da partícula entre os
pontos xA e xB, é dado pela integral

xB xB

Figura 19.10: Gráfico da força como função do


W= ∫ ( −kx ) dx = −k ∫ ( x )dx
xA xA
19.34
deslocamento.

A última integral pode ser realizada de duas formas equivalentes.

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Na primeira integramos a função linear, cuja primitiva é uma função quadrática. Obtemos, assim,

1
W = − k ( x2B − x2 A ) 19.35
2

Na segunda forma, basta observar que a integral envolve áreas de triân-


gulos. Deve-se tomar cuidado, no entanto, em relação aos sinais.
A energia potencial elástica nesse caso é dada, por
Figura 19.11: Gráfico da energia
potencial elástica como função 1
da coordenada associada ao U ( x ) = kx 2 19.36i
deslocamento. 2

• Exemplo 8:
Determine a energia potencial associada à força gravitacional adotada como constante.

→ Resolução
Nesse caso, escrevemos:
xB xB

W= ∫ ( −mg )dx = −mg ∫ dx = −mg ( xB − x A )


xA xA
19.37

Assim, a energia potencial gravitacional é dada por:

U ( x ) = mgx 19.38

19.4 Valores médios de grandezas

Muitas vezes estamos interessados em determinar o valor médio de uma grandeza.Tal média
é sempre determinada tomando-se como base um determinado intervalo de valores. Assim, se
G(x) é uma grandeza que é uma função da variável x, definimos o valor médio dessa grandeza

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(e o representamos por G ) num determinado intervalo delimitado pelos valores xA e xB como


o valor dado pela integral:
x x
1 B
1 B
( ) G ( x ) dx onde Δx = xB − xA
xB − x A x∫A ∆x x∫A
G= G x dx = 19.39

quando I(ν) representa uma distribuição de probabilidades, ou seja, se a probabilidade de


encontramos o sistema com valores entre ν e ν + dν é dada por:

dP (ν ) = I (ν ) dν 19.40

de tal modo que


∞ ∞

∫ dP (ν ) = ∫ I (ν ) dν = 1
0 0
19.41

Então, o valor médio da grandeza ν (representado por ν ) é dado por:



ν = ∫ν I (ν ) dν 19.42
0

No caso de uma grandeza periódica, sendo o seu período designado por T, podemos escrever
para a grandeza G:

G (t + T ) = G (t ) 19.43

Definimos a média num período como a que é dada pela integral da grandeza ao longo de
um período, dividida pelo mesmo. Ou seja:
T
1
G = ∫ G ( t ) dt 19.44
T 0

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• Exemplo 9:
Determine a energia cinética média do oscilador harmônico, ao longo de um período.

→ Resolução
A energia cinética média é dada pela integral:
T T
1 1 m
Ec = ∫ Ec ( t ) dt = ∫ v 2 (t )dt 19.45i
T 0 T 0 2
Assim, considerando-se um oscilador harmônico simples, sua velocidade em função do
tempo é dada por:

v ( t ) = vM cos ( ωt + ϕ ) = Aω cos ( ωt + ϕ ) 19.46i

Figura 19.12:
Qual é a energia onde vM é a velocidade máxima, A é a amplitude do MHS, ω é a frequência do oscilador
cinética média e φ é uma fase arbitrária. Portanto, a energia cinética média do oscilador harmônico é
de um oscilador
harmônico em dada por:
movimento?
m ( vM ) 1
T 2 T
1 m 2
∫ cos 2 ( ωt + ϕ ) dt
T ∫0
Ec = v (t )dt = 19.47
T 0 2 2

Efetuando a mudança de variável de integração

dx
ωt = x ⇒ dt = 19.48
ω

a energia cinética média é dada pela integral:


m ( vM ) 1 2 π 2
2

cos ( x + ϕ ) dx
T ω ∫0
Ec = 19.49
2

onde utilizamos a relação ωT = 2π. Lembrando que:



1  1 + cos ( 2 x + 2ϕ ) 
2π 2π
1 1 1
∫0
2
cos ( x + ϕ ) dx = ∫ cos2 ( x + ϕ ) dx =   = 19.50
ωT 2π 0 2π  2  0
2

substituindo-se o resultado 19.50 em 19.49, obtemos

1 m ( vM )
2
T
Ec = = M 19.51
2 2 2

ou seja, a energia cinética média é igual à metade da energia cinética máxima.

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19.5 Somas
De um modo geral, o conceito de integral está associado à ideia de soma. Muitas vezes,
abstraindo a rigor, vale a identificação:

∑ ⇔ ∫ 19.52

A soma, como no caso da soma de elementos de uma série, se aplica a elementos que sejam
contáveis, isto é, quando cada elemento pertence a um conjunto que pode ser colocado em
correspondência com os números inteiros, ou um subconjunto deles.
A integral se refere a um tipo particular de soma. Ela se refere à soma de grandezas que
variam continuamente. A título de exemplo, considere o caso de uma haste de comprimento
L em que desprezamos suas dimensões transversais. Admitamos que a massa seja distribuída
ao longo dela de tal sorte que sua distribuição dependa da coordenada x, onde a origem das
coordenadas se situa numa de suas extremidades. Nesse caso, a grandeza física relevante é a
densidade ρ(x), definida como a massa por unidade de comprimento:

dm ( x )
= ρ( x) 19.53
dx

Assim, a massa total da barra será dada pela integral:


L L
M = ∫ dm( x ) = ∫ ρ ( x ) dx 19.54
0 0

Quando dividimos a haste em diminutos pedaços, essa massa pode ser pensada como uma soma
de pequenos elementos de massa. Cada pedaço, correspondente a uma das subdivisões da haste, terá
comprimento ∆xi. O i-ésimo pedaço, localizado no ponto de coordenada xi, tem massa dada por:

mi = ρ ( xi ) ∆ xi 19.55

Assim, a soma das massas, para essa divisão da haste, será dada por:
n n

∑ m = ∑ρ ( x )∆x
i =1
i
i =1
i i 19.56

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A determinação da massa será tanto mais acurada quanto maior for o número de subdivisões
da haste. Assim, a integral 19.54 é a soma das massas, ou seja, é a massa da haste, no limite em
que o número de pedacinhos, obtidos pela subdivisão da haste, tende a infinito. Ou seja:
n n L
M = lim ∑ mi = lim ∑ ρ ( xi ) ∆ xi = ∫ ρ ( x ) dx 19.57
n →∞ n →∞
i =1 i =1 0

19.6 Propagação de sinais


Na era da comunicação e da informação, o conceito de sinal é de fundamental importância.
Ele é definido como um conjunto de dados (ou de informações). Os sinais se propagam,
por exemplo, em redes de dados ou circuitos elétricos. Sistemas processam sinais de entrada
convertendo-os em sinais de saída. Eles podem ser implementados por meio do uso de compo-
nentes físicos (implementação em hardware) ou de por meio de algoritmos que associam sinais
de saída a um determinado sinal de entrada (implementação em hardware).
Um sinal x será aqui considerado como função do tempo. Representamos tais sinais por
meio de uma função do tempo:

x (t ) 19.58

Sinais contínuos são aqueles para os quais a função x(t) varia continuamente com o tempo.
Se a referida função assumir valores discretos, como função do tempo, dizemos que o sinal é
discreto no tempo.
Um sinal é dito analógico quando sua amplitude (o eixo das ordenadas) varia continua-
mente. Se ela variar de tal modo a assumir apenas um conjunto finito de valores, dizemos
que o sinal é digital. Sinais digitais num computador podem assumir apenas dois valores,
os ditos sinais binários.
Sinais são caracterizados por meio de duas grandezas físicas: a energia e a potência do sinal.
Define-se a energia de um sinal como a integral:
+∞

∫ x ( t ) dt
2
Es = 19.59
−∞

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Ela não dá uma medida da energia do sinal, mas da capacidade de energia do sinal, enquanto
sua potência é dada por meio do processo limite:
+T
1
Ps = lim ∫ x 2 ( t ) dt 19.60
T →∞ T
−T

A rigor, a energia dá o tamanho do sinal se a mesma for finita. Se não for esse o caso, a
potência se constitui numa melhor definição do tamanho do sinal. Para sinais periódicos, a
potência é, assim, um valor médio do quadrado da amplitude do sinal.

• Exemplo 10:
Determine a energia e a potencia do sinal dado por:

0 se t <0
x (t )  − αt
 Ae se t ≥ 0

→ Resolução
Ambos os parâmetros podem ser obtidos a partir da integral:
T T T
A2 −2 αt A2
I (T ) = ∫ ( Ae − αt ) dt = A2 ∫ e −2 αt dt =
2
e = (1 − e −2 αT ) 19.61
0 0
−2 α 0

Assim, a energia do sinal é dada por:

A2
Es = I ( ∞ ) = 19.62

enquanto a sua potência é nula:

1 1 A2
Ps = lim I (T ) = lim =0 19.63
T →∞ T T →∞ T 2α

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19.7 Sinais periódicos


Definimos sinais periódicos como aqueles que se repetem a intervalos regulares no tempo.
Assim, um sinal periódico de período T é definido como aquele para o qual vale a seguinte relação:

Figura 19.13: Sinal periódico do tipo “dente de serra”.

Sinais que se propagam, por exemplo, numa fibra óptica são sinais periódicos.

x (t + T ) = x (t ) 19.64

A Figura 19.12 apresenta um exemplo de um sinal periódico do tipo “dente de serra”.


Lembrando que as funções da forma:

 2πn   2 πn 
sen  t cos  t 19.65
 T   T 

são funções periódicas de período T, um sinal periódico pode sempre ser expresso sob a forma
de uma série de Fourier. Tal série é caracterizada pelo fato de que cada termo da série envolve
uma função periódica de período T da forma seno ou cosseno. Escrevemos:

 2πn  ∞
 2 πn 
x ( t ) = ∑ an sen   ∑ bn cos 
t + t 19.66
n =0  T  n =0  T 

onde os coeficientes an e bn são dados em função da força F como integrais no intervalo de um


período pelas expressões:
T T
2  2πn  ′ 2  2πn  ′
an = ∫ dt ′x ( t ′) sen  t bn = ∫ dt ′x ( t ′) cos  t n = 0,1, 2,... 19.67
T 0  T  T 0  T 
Os vários termos são denominados harmônicos.

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• Exemplo 11:
Considere um sinal de um byte (oito bits) da forma 01100010. Determine a série de Fourier e
analise o comportamento dos primeiros 4 harmônicos.

→ Resolução
Como função do tempo o sinal pode ser escrito sob a forma:

0 para 0 ≤ t < T 8
1 para T 8 ≤ t < 3T 8

x ( t ) = 0 paara 3T 8 ≤ t < 6T 8 19.68
1 para 0 ≤ t < 7T 8

0 para 7T 8 ≤ t < T

E, portanto, os termos da série são dados por:


3T 8 7T 8
2  2 πn   2 πn  ′
an =
T ∫T 8 dt ′ sen  T  t ′ + ∫
6T 8
dt ′ sen 
 T 
t
3T 8 7T 8 19.69
2  2 πn   2 πn  ′
bn =
T ∫T 8 dt ′ cos  T  t ′ + ∫
6T 8
dt ′ cos 
 T 
t

..

19 Aplicações do Cálculo Integral

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