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23/04/2019 SALVAÇÃO – DÁDIVA DIVINA OU CONQUISTA HUMANA?
Em parte, essa mudança foi uma reação contra o crescente antinomismo (rejeição
da lei e dos mandamentos) que se difundia entre os cristãos. Muitos crentes,
entendendo o evangelho de maneira parcial, tendiam a desprezar o conteúdo ético
da vida cristã. Esqueciam-se de que a fé genuína precisa ser acompanhada por
frutos (Gl 5.6). No entanto, essa preocupação com a obediência levou a um
entendimento legalista e moralista da vida cristã que persistiu ao longo dos
séculos. Uma das poucas vozes que defenderam a perspectiva paulina da
supremacia da graça e da fé foi o grande bispo Agostinho de Hipona (354-430).
Porém, seu pensamento nessa área foi rejeitado pela igreja. Solidificou-se a idéia
de que a salvação é um processo que dura a vida inteira, no qual a perseverança e
a prática do bem por parte dos cristãos contribuem decisivamente para o resultado
final. Somente com a Reforma do século 16 seria resgatado o ensino do apóstolo
Paulo de que “pela graça sois salvos mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom
de Deus” (Ef 2.8).
Dolorosamente, essa mensagem libertadora tem sido esquecida por grande número
de herdeiros da Reforma. Muitos evangélicos atuais, embora teoricamente
comprometidos com a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, vivem na
prática um entendimento legalista da salvação. Esta é vista como uma transação
com Deus, na qual Deus abençoa e recompensa os crentes na medida em que
estes se mostram obedientes e zelosos na prática de determinadas ações, como
orar, contribuir e freqüentar a igreja. Quando isso ocorre, o relacionamento com o
Senhor deixa de estar fundamentado na graça, e sim nos merecimentos humanos.
É por isso que tantos se sentem à vontade para reivindicar direitos e até dar
ordens a Deus, esquecendo-se de uma verdade destacada por Martinho Lutero:
“Somos todos mendigos”, isto é, plenamente carentes da graça divina. Existe um
lugar importantíssimo para a obediência e as boas obras na vida cristã, mas não
como condição para sermos aceitos e abençoados pelo Deus gracioso.
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