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23/04/2019 SALVAÇÃO – DÁDIVA DIVINA OU CONQUISTA HUMANA?

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SALVAÇÃO – DÁDIVA DIVINA OU CONQUISTA HUMANA?


 Equipe APECOM  23 Apr, 2019  0 Facebook Tweet Google +

Lições da História da Igreja

Salvação – Dádiva Divina ou Conquista Humana?


Desde o início têm existido duas tendências no cristianismo com respeito à
salvação. De um lado, salienta-se a prioridade da graça divina e a salvação como
resultado da iniciativa soberana e misericordiosa de Deus. Nessa perspectiva, a
única participação do indivíduo é receber, por meio da fé, o que lhe é oferecido
graciosamente por Deus. De outro lado, dá-se ênfase a um maior envolvimento do
ser humano na experiência de salvação. Ao invés da aparente passividade da fé,
acentua-se a prática de ações positivas ou “boas obras” como requisito igualmente
importante para o recebimento da salvação. No Novo Testamento, a primeira
abordagem é representada principalmente pelo apóstolo Paulo e a segunda, por
Tiago.

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23/04/2019 SALVAÇÃO – DÁDIVA DIVINA OU CONQUISTA HUMANA?

Na maior parte da história da igreja, a segunda abordagem tem tido


predominância, e isso desde uma época muito remota. Os historiadores e teólogos
chamam a atenção para uma clara mudança de perspectiva nos escritos cristãos
posteriores ao Novo Testamento. Entre os anos 95 e 150 foi composto um conjunto
de documentos que ficaram conhecidos como “pais apostólicos”. Os principais são a
1ª epístola de Clemente, sete cartas de Inácio de Antioquia, a Didaquê, a Epístola
de Barnabé e o Pastor de Hermas. Poucas décadas os separam do Novo
Testamento. Todavia, a mudança de perspectiva é sensível: em contraste com a
ênfase paulina na graça e na fé, a salvação passa a ser entendida em termos de
obediência a uma nova lei. Ela não é vista primordialmente como uma dádiva
graciosa de Deus, mas como fruto do esforço e da fidelidade dos cristãos.

Em parte, essa mudança foi uma reação contra o crescente antinomismo (rejeição
da lei e dos mandamentos) que se difundia entre os cristãos. Muitos crentes,
entendendo o evangelho de maneira parcial, tendiam a desprezar o conteúdo ético
da vida cristã. Esqueciam-se de que a fé genuína precisa ser acompanhada por
frutos (Gl 5.6). No entanto, essa preocupação com a obediência levou a um
entendimento legalista e moralista da vida cristã que persistiu ao longo dos
séculos. Uma das poucas vozes que defenderam a perspectiva paulina da
supremacia da graça e da fé foi o grande bispo Agostinho de Hipona (354-430).
Porém, seu pensamento nessa área foi rejeitado pela igreja. Solidificou-se a idéia
de que a salvação é um processo que dura a vida inteira, no qual a perseverança e
a prática do bem por parte dos cristãos contribuem decisivamente para o resultado
final. Somente com a Reforma do século 16 seria resgatado o ensino do apóstolo
Paulo de que “pela graça sois salvos mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom
de Deus” (Ef 2.8).

Dolorosamente, essa mensagem libertadora tem sido esquecida por grande número
de herdeiros da Reforma. Muitos evangélicos atuais, embora teoricamente
comprometidos com a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, vivem na
prática um entendimento legalista da salvação. Esta é vista como uma transação
com Deus, na qual Deus abençoa e recompensa os crentes na medida em que
estes se mostram obedientes e zelosos na prática de determinadas ações, como
orar, contribuir e freqüentar a igreja. Quando isso ocorre, o relacionamento com o
Senhor deixa de estar fundamentado na graça, e sim nos merecimentos humanos.
É por isso que tantos se sentem à vontade para reivindicar direitos e até dar
ordens a Deus, esquecendo-se de uma verdade destacada por Martinho Lutero:
“Somos todos mendigos”, isto é, plenamente carentes da graça divina. Existe um
lugar importantíssimo para a obediência e as boas obras na vida cristã, mas não
como condição para sermos aceitos e abençoados pelo Deus gracioso.

- Alderi Souza de Matos

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