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“MÍDIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA”: UM RELATO SOBRE DISCIPLINA OPTATIVA

OFERTADA A ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO DA UNB

Renata Alves de Albuquerque Othon1

Resumo: Este relato de experiência tem como objetivo apresentar o trajeto realizado por estudantes de
graduação no âmbito da disciplina “Mídia, Infância e Adolescência”, ofertada como componente curricular
optativo para os alunos da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília no semestre letivo de 2022.1
– ainda em curso. Ao longo do semestre, realizou-se discussões em torno de leituras e perspectivas centrais ao
campo. Dentre elas, os Estudos da Infância e das Crianças; a discussão em torno do fenômeno Tween; as
relações tecidas entre jovens, identidade e práticas de consumo; a privacidade de dados na internet; os processos
de literacia e de riscos e oportunidades online; e os preceitos éticos que permeiam a pesquisa com crianças e
adolescentes. Para tanto, utilizou-se textos de autores como Othon (2021), Tomaz (2019), Buckingham (2012),
Angelini et al. (2021) e Livingstone (2011). As leituras foram complementadas por outras metodologias de
ensino-aprendizagem: consultas e análises de dados quantitativos produzidos na pesquisa TIC Kids Online Brasil
(CETIC.br); debates pautados por produtos audiovisuais (como o filme Capitão Fantástico, o episódio Arkangel,
de Black Mirror, e o documentário Criança, a Alma do Negócio); e estudos de caso sobre ações mercadológicas
voltadas para o público infantojuvenil. Estes últimos foram apresentados em seminários, cujos casos trabalhados
envolveram as marcas Nescau, Itaú, McDonalds, Mattel e C6. Após o devido embasamento teórico-
metodológico, planejou-se, de maneira colaborativa, o projeto final do componente curricular, trazendo a
pesquisa de campo com crianças e adolescentes como ponto de partida para a produção do conteúdo e para as
reflexões tecidas. Em um primeiro momento, os estudantes escolheram um tema central que seria trabalhado: as
relações entre os jovens e os influenciadores digitais. Em um segundo momento, foi definido o formato dos
conteúdos: dois artigos científicos e um infoproduto. Programou-se, então, uma roda de conversa com dois
grupos de crianças/adolescentes de distintas faixas etárias (12 a 14 anos e 15 a 17 anos). Para acompanhar cada
um deles, os graduandos também se dividiram em dois grupos – cada um responsável por uma faixa etária. A
partir disso, escreveram os questionários que seriam entregues aos participantes, os roteiros semiestruturados das
conversas e os Termos de Assentimento e Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente alinharam os
documentos para que houvesse certa unidade na abordagem. A pesquisa ocorreu na manhã do dia 24 de agosto
de 2022 em duas escolas públicas do Distrito Federal, uma de Ensino Fundamental e outra de Ensino Médio.
Ambas haviam sido contatadas previamente pela docente da disciplina. Os diálogos foram mediados por oito
estudantes da matéria que se voluntariaram (quatro em cada escola), e participaram um total de quinze
crianças/pré-adolescentes de 12 a 14 anos e nove adolescentes de 16 a 19 anos. Tais participantes foram
escolhidos pelos coordenadores e professores das respectivas escolas, que também auxiliaram no processo de
entrega e recebimento dos termos devidamente assinados. Atualmente, os estudantes da Faculdade de

1 Doutora em Estudos da Mídia (UFRN), professora do curso de Publicidade e Propaganda na Faculdade de


Comunicação da Universidade de Brasília. E-mail: renata.othon@hotmail.com.
Comunicação da UnB estão em processo de escrita dos artigos científicos e de produção do infoproduto para que
haja, ainda neste semestre, a devolutiva para as escolas e, especificamente, para os sujeitos participantes da
atividade. O trajeto aqui apontado sinaliza a importância em se priorizar produções colaborativas que permitam
que estudantes de graduação exercitem distintas competências e habilidades. Estas podem ser traduzidas a partir
de três aspectos: i) a leitura crítica acerca dos fenômenos midiáticos e digitais que envolvem crianças e
adolescentes; ii) a organização e gestão de trabalho colaborativo; iii) a experiência da pesquisa de campo, o que
inclui as fases de planejamento da pesquisa; interação com os participantes; análise dos dados coletados e
devolutiva dos resultados. Reflete-se, para oportunidades futuras, sobre a possibilidade de múltiplas entradas de
campo que ocorram ao longo do semestre, e não somente nas últimas semanas. De modo semelhante, aponta-se
para a relevância em se tratar das temáticas que envolvem a infância, a adolescência e a mídia em um contexto
de ensino de graduação em Comunicação que não inclui em seu currículo básico componentes curriculares que
tratem do público infantojuvenil no cenário midiático e estabeleça um diálogo com ele.

Palavras-chave: Experiência docente. Produção acadêmica. Crianças. Adolescentes. Influência Digital.

REFERÊNCIAS

ANGELINI, Kelli; BARBOSA, Alexandre; SENNE, Fabio; DINO, Luísa Adib. Privacidade e
proteção aos dados pessoais de crianças e adolescentes na internet: marco legal e ações estratégicas
para prover direitos na era digital. In: LATERÇA, Priscilla Silva; FERNANDES, Elora; TEFFÉ,
Chiara Spadaccini de; BRANCO, Sérgio (Coords.). Privacidade e Proteção de Dados de Crianças e
Adolescentes. Rio de Janeiro: Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro; Obliq, 2021. E-
book.

BUCKINGHAM, David. Repensando a criança-consumidora: novas práticas, novos paradigmas.


Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 09, n. 25, p. 43-72, ago. 2012b.

LIVINGSTONE, Sonia. Internet Literacy: a negociação dos jovens com as novas oportunidades on-
line. Matrizes, São Paulo, ano 4, n. 2, p. 11-42, jan./jun. 2011.

OTHON, Renata. Infância conectada: contextos, práticas e sentidos de crianças nas redes sociais
online. São Paulo: Pimenta Cultural, 2021.

TOMAZ, Renata. Da negação da infância à invenção dos tweens: imperativos de autonomia na


sociedade contemporânea. Curitiba: Appris, 2019.

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