Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escrevi este material com o objetivo de ajudar os alunos do Canal Resenha Forense. A
playlist das aulas está aqui. Este curso é básico e não tem grandes pretensões. É uma versão
inicial que, talvez, passe por futuro aprofundamento.
1
Imprescindível SOLJENÍTSIN, Aleksandr. Arquipélago gulag. Trad. Francisco A. Ferreira, Maria M. Llistó
e José A. Seabra. São Paulo: Círculo do Livro, 1975.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
morrendo. É lamentável, mas o futuro glorioso da URSS acabará por justificar”, como disse
GRIGORY IVANOVICH PETROVSKY, citado por PAULINE PERETZ2.
Há fundamentos ex ante que deslegitimam tudo isso. Quais são os tais fundamentos?!
Uma coisa é certa: tais bases “de bem” fundadas para um povo são inexplicáveis
cientificamente. É impossível demonstrar, cientificamente, que o nazismo é ruim. Por mais
impressionante que seja o estudo do átomo e por mais longe que tenha ido o ser humano,
nada, absolutamente nada, pode explicar o peculiar fator temporal daquilo que precedeu o próprio
universo. Aliás, a ciência não se autoexplica. Mas pressupõe ordem, lógica, sentido. Daí a
famosa colocação de WILLIAM LANE CRAIG: há muitas coisas que não podem ser explicadas
cientificamente, como i) verdades lógicas e matemáticas, já que a própria ciência as
pressupõe; ii) verdades metafísicas; iii) crenças axiológicas (no exemplo memorável: “você
não pode mostrar, pela ciência, se os nazistas nos campos fizeram algo mau em contraste
com os ‘cientistas das democracias’ ocidentais”); iv) juízos de estética; v) a ciência nela
mesma, que não pode ser explicada pelo método científico (p. ex.: “na teoria especial da
relatividade, a teoria toda depende da suposição de que a velocidade da luz é constante entre
quaisquer pontos A e B, mas isso estritamente não pode ser provado”, de maneira que
devemos apenas supor isso) etc.
Há uma magnífica discussão entre MANUEL CARREIRA (Padre, astrofísico e
membro do Observatório do Vaticano) e um jurista espanhol, ANTONIO TREVIJANO, onde
se percebe, com clareza solar, a necessidade de uma transcendência material para o encontro
de algum valor. Na ocasião, disse o Padre MANUEL CARREIRA que há um pressuposto lógico-
objetivo impossível de refutação: no ser humano, há uma atividade que não se pode atribuir
à matéria, a exemplo da percepção de que um poema é belo. A realidade humana não encerra
um amontoado de processos físico-químicos, porque nenhum fluxo biológico, físico,
químico poderá explicar uma poesia ou o desejo de conhecer, de encontrar a verdade, a
beleza e o bem. Aí está a grandeza humana. Sendo assim, a razão filosófica de quem é o ser humano
há que admitir uma realidade não material, inábil de desaparecimento apenas pela morte ou pela
doença. Após sofrer objeções de ANTONIO TREVIJANO, para o qual tudo se explica com
alguma derivação da evolução para o campo da neurologia, o Padre MANUEL CARREIRA lança
o questionamento do que seria, afinal, matéria. E matéria seria tudo aquilo que atua com
uma das quatro forças (1. eletromagnética; 2. gravitacional; 3. nuclear forte; e 4. nuclear
débil)3. O que explicaria uma poesia dentro dessa gama de forças? ANTONIO TREVIJANO
arrisca: “uma faculdade espiritual”, emergida... Da matéria (sic). Do que vem nova pergunta
2
“Nous savons que des millions d'hommes sont en train de mourir. C'est malheureux, mais le glorieux avenir de l'Union
Soviétique le justifiera” (PERETZ, Pauline, La Grande Famine ukrainienne de 1932-1933: essai
d'interprétation, Revue d'études comparatives Est-Ouest, n. 49, 1999, p. 46).
3
Sobre o assunto, ver ZABOT, Alexandre. Curso de Astrofísica Geral – O Universo faz Sentido? Programa
Astrofísica Para Todos (Programa de Extensão da Universidade Federal de Santa Catarina), tema 30.
Disponível em https://tinyurl.com/y7ju5w9q.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
4
TAVEIROS, Alaide. A última expressão do pensamento de Hans Kelsen. Revista da Faculdade de Direito de
São Paulo, v. 48, 1953, p. 169.
5
SIQUEIRA PONTES, José Antonio. Fundamentos para uma leitura crítica de Hans Kelsen no século XXI:
em busca de um modelo kelseniano clássico. Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, v. 110, 2015, p. 594.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
jurista brasileiro em seu ofício”6. Sobre este assunto, confira-se um outro vídeo da série
Esforço teórico pelo jusnaturalismo, do Canal Resenha Forense, aqui.
Sem desmerecer a grandeza de HANS KELSEN, mas sempre com avisos e
advertências, prossigamos.
6
SCHAEFER ANDRADE, Luiz Fernando. A universalização do primado da norma: o obstáculo
epistemológico etnocêntrico da teoria pura do direito. Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, v. 112,
2017, p. 738. Destaquei.
7
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 193.
8
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017, p. 535.
9
FERREIRA, Pinto. Princípio da supremacia da Constituição e controle de constitucionalidade das leis.
Função constitucional do Supremo Tribunal Federal no Brasil. In: CLÈVE, Clèmerson Melin; BARROSO,
Luís Roberto. Doutrinas Essenciais – Direito Constitucional, v. 5. Defesa da Constituição. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2011, p. 467-468.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
ilustrar, num negócio jurídico inválido por motivo qualquer. O negócio nulo existe. Se
chegou a ser inválido, necessariamente existiu.
Aliás, o que prevalece no Brasil, certamente, é a teoria da nulidade. FLÁVIO
MARTINS ALVES NUNES JÚNIOR arrola alguns juristas que defenderam este entendimento:
RUY BARBOSA, ALFREDO BUZAID e CASTRO NUNES10... Não bastasse a força da ideia na
doutrina, há também a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
10
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017, p. 545.
11
STF, AgRg no RE n.º 395.902-6/RJ. Rel. Min. CELSO DE MELLO, 2.ª Turma. Julgado em 07 de março
de 2006.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
12
DELGADO, José Augusto. Lei inconstitucional (sua caracterização). In: CLÈVE, Clèmerson Melin;
BARROSO, Luís Roberto. Doutrinas Essenciais – Direito Constitucional, v. 5. Defesa da Constituição. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 405-406.
13
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 195.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional”).
Espécie terceira — inconstitucionalidade formal propriamente dita ou
stricto sensu: é a mais famosa, não por acaso a mais lembrada por todos nós. Haverá
inconstitucionalidade formal stricto sensu quando violada alguma regra do processo
legislativo, o que acaba abrangendo qualquer afronta aos arts. 59 a 69 da Constituição da
República.
Será subjetiva se o descumprimento se ligar à fase de iniciativa. P. ex.: Lei “X”
era de iniciativa privativa do Presidente da República, mas acabou sendo concebida, no
Congresso Nacional, por algum parlamentar. Aliás, vale lembrar, aqui, a redação contida
no art. 61, § 1.º, da Constituição da República:
14
STF, ADIn n.º 2.583/RS. Rel.ª Min.ª CÁRMEN LÚCIA, Plenário. Julgado em 1.º de agosto de 2011.
15
STF, ADIn n.º 3.458-8/GO. Rel. Min. EROS GRAU, Plenário. Julgado em 21 de fevereiro de 2008.
16
STF, ADIn n.º 2.909/RS. Rel. Min. AYRES BRITTO, Plenário. Julgado em 12 de maio de 2010.
17
STF, ADIn n.º 546-4/DF. Rel. Min. MOREIRA ALVES, Plenário. Julgado em 11 de março de 1999.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
18
STF, Repercussão Geral no RE com Agravo n.º 879.911/RJ. Rel. Min. GILMAR MENDES, Plenário.
Julgado em 29 de setembro de 2016
19
STF, ADIn n.º 5.004/AL. Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Plenário. Julgado em 12 de abril de 2018.
20
STF, ADIn n.º 2.966-5/RO. Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, Plenário. Julgado em 06 de abril de 2005.
21
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 196.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
22
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 50.
23
A respeito, com grande riqueza de detalhes, cf. PASLEY, Jeffrey L. A Revolution of 1800 After All: The
Political Culture of the Earlier Early Republic and the Origins of American Democracy. Conferência de dez. 2000.
Disponível em http://www.pasleybrothers.com/jeff/writings/Pasley1800.htm.
24
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 50.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
O 2.º Presidente dos EUA, JOHN ADAMS, Vencedor das eleições de 1800, THOMAS
teria mandato até março de 1801. Ele era JEFFERSON era republicano e assumiria o
federalista. cargo apenas em março de 1801.
25
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 50.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
26
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 50.
27
WRZOSZCZYK, Monika. The idea of judicial review in the United States of America. The context of
creating and early judgments of the Supreme Court. Orbis Idearum, v. 7, 2019, p. 49.
28
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 51.
29
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 51.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
30
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 51-52.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
JOHN MARSHALL reconheceu que a retenção do título necessário para a posse de WILLIAM
MARBURY era inadequada, mas negou a ordem impetrada, argumentando que seu writ
foi gestado por uma lei ordinária, quando, na verdade, “a competência originária da Suprema
Corte estava fixada pela Constituição, não podendo ser alargada por diploma
infraconstitucional. A lei que o pretendesse fazer entraria em atrito com o Texto Magno.
Aqui, então, desenvolveu a tese de que a lei inconstitucional é inválida e de que cabe ao
Judiciário declará-la”31. LUIZ GUILHERME MARINONI escreveu, a respeito, o seguinte:
Com habilidade política, o juiz JOHN MARSHALL acabou dando força para o Judiciário, que teria a
palavra final do controle de constitucionalidade.
31
GONET BRANCO, Paulo Gustavo. O valor da Constituição – perspectiva histórica. In: MENDES, Gilmar
Ferreira; ______. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 52.
32
MARINONI, Luiz Guilherme. Controle de Constitucionalidade. In: SARLET, Ingo Wolfgang; ______;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 2.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 811.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
33
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 205.
34
MARINONI, Luiz Guilherme. Controle de Constitucionalidade. In: SARLET, Ingo Wolfgang; ______;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 2.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 792.
35
MACCORMICK, Neil. Retórica e Estado de Direito. Uma Teoria da Argumentação Jurídica. Rio de Janeiro:
Editora Elsevier, 2008, p. 145.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
controle de constitucionalidade das leis foi pela primeira vez realizado por um juiz, nos
Estados Unidos, sob a forma do judicial review)36.
O controle de constitucionalidade consagrado nos Estados Unidos, de matiz
judicial, é difuso, feito diante da concretude (in concreto), pela via da defesa (através de
exceção), de forma incidental, no bojo de um processo subjetivo (“dentro da lide”, digamos
assim), com efeitos inter partes.
O sistema da Áustria
É impossível deixar citar HANS KELSEN no estudo do sistema austríaco de controle
de constitucionalidade e, de consequência, na própria análise do controle abstrato e
concentrado. Daí se falar, aliás, que ele foi o “pai intelectual” do modelo institucional não
só da Áustria, mas também da Alemanha (“der geistige Vater des österreichischdeutschen
Institutionsmodells”, como expressaram KRISZTA KOVÁCS e GÁBOR ATTILA TÓTH37). Aliás, o
nome de KELSEN também é tradicionalmente associado ao nascimento da primeira República
da Áustria: “nella ricca letteratura fiorita attorno alla sua opera, Hans Kelsen è stato spesso definito
«padre della Costituzione austriaca del 1920», «ideatore della Corte costituzionale»; il suo nome è
stato tradizionalmente associato alla nascita della prima Repubblica d’Austria e al sistema di controllo
giurisdizionale delle leggi”38.
HANS KELSEN nasceu em 1881, em Praga, região austríaca do Império Austro-
Húngaro. Com três anos de idade, KELSEN mudou-se com sua família para Viena, onde
cursaria direito. Na verdade, KELSEN desejava estudar filosofia, mas acabou decidindo pelas
ciências jurídicas. Inicialmente, KELSEN não demonstrava maior apreço pelo direito. Com o
passar do tempo, na graduação, KELSEN acabou demonstrando constante e crescente
interesse pela matéria, ao ponto de obter o doutorado em 1906. Sua Habilitation — o topo
do doutoramento da época — possibilitou-lhe ingressar na carreira acadêmica, logrando,
em 1911, a cadeira de Teoria do Estado e de Filosofia do Direito na Universidade de Viena.
Durante a 1.ª Guerra Mundial, KELSEN foi Ministro da Guerra; em 1918 tornou-se professor
associado de direito da U. de Viena. Depois da 1.ª Guerra, a República da Áustria logrou
sua independência como um país de fala alemã. Na época, KARL RENNER era o chanceler
daquele Estado, e, em governo provisório da Áustria, nomeou HANS KELSEN na tarefa de
36
GROPPI, Tania. Origini e caratteri della giustizia costituzionale in Europa. Napoli: Jovene, 2004.
37
KOVÁCS, Kristza; TÓTH, Gábor Attila. Aufstieg und Krise: Wirkung der deutschen
Verfassungsgerichtsbarkeit auf Ungarn. In: BOULANGER, Christian; SCHULZE, Anna, WRASE, Michael.
Die Politik des Verfassungsrechts. Interdisziplinäre und vergleichende Perspektiven auf die Rolle und Funktion von
Verfassungsgerichten. Recht und Gesellschaft - Law and Society, v. 6, 2013. p. 4.
38
LAGI, Sara. Kelsen e la Corte costituzionale austriaca: un percorso storico-politico (1918-1920). Giornale
di Storia costituzionale, Periodico del “Laboratorio Antoine Barnave”, n. 11, Università di Macerata, 2006, p.
165.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
ajudar a Áustria a redigir uma Constituição. Foi neste contexto que KELSEN estabeleceu a
ideia de uma Corte Suprema de caráter constitucional, com funções jurídicas específicas 39.
O resto é história... Ele, que foi o principal autor da Constituição de sua nação, teve chance de
assumir uma cadeira na Corte Austríaca que ele próprio concebeu, recusando a proposta do
Partido Social-Democrata de sua época:
Hans Kelsen, the main author of the Austrian Constitution, could have returned
to the Constitutional Court upon a proposal made by the Social-Democratic
Party, but vehemently refused to do so. He accepted a chair at the University of
Cologne and left Austria, profoundly embittered by personal attacks and the
circumstances of the Court’s depoliticisation40.
39
Estas informações biográficas foram obtidas da nota introdutória de A. JAVIER TREVIÑO, tradutor da obra
Philosophischen Grundlagen der Naturrechtslehre und des Rechtspositivismus (a Teoria Geral do Direito e do Estado), de
HANS KELSEN, para o inglês (cf. KELSEN, Hans. General Theory of Law & State. Nova Brunswick e Nova Jersey:
Transaction Publishers, 2006, p. i-xxxiii).
40
VERFASSUNGSGERICHTSHOF ÖSTERREICH. Historic Case Law. 1927: Dispensation instead of
divorce. Disponível em https://tinyurl.com/y9cffe3s.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Em HANS KELSEN, é clara a noção segundo a qual a jurisdição tem o condão de criar
o direito: há, nessa função estatal, uma atividade criativa. A unicidade da jurisdição, em
KELSEN, deriva justamente da sua visão de unicidade (Ausschliesslichkeit, nos textos originais),
também, daquilo que chama de “ordem soberana”. Um sistema jurídico é apegado a uma
ordem soberana (“no sentido próprio da palavra, que é a ordem total”), sendo impossível
que o atributo soberania pertença, “simultânea e igualmente, a vários sistemas de normas ou
a várias comunidades jurídicas”41. Por isso, todo sistema normativo é uno, único. É por isso
que HANS KELSEN falava do “princípio da não-contradição”, igualmente aplicável ao
“conhecimento normativo”42.
Esta forma de pensar gerou um sistema judicial de controle, de matiz concentrado,
onde apenas um órgão jurisdicional teria atribuição para tanto. O controle kelseniano é
abstrato (ou seja: em tese), pressupondo, inclusive, ações específicas. Logo, o controle
austríaco se dá pela via principal, sendo rotineira a menção doutrinária de que este controle
perfaz um processo objetivo (“sem lide”). A sentença terá efeitos erga omnes, vinculando toda
a máquina estatal. Embora as ações de controle brasileiro gerem efeitos ex tunc, o fato é que
a previsão originária de HANS KELSEN era um pouco diferente: na verdade, “a decisão de
inconstitucionalidade, no esquema kelseniano, não teria efeitos retroativos. A Corte
Constitucional, ao decidir pela inconstitucionalidade, expulsaria a norma do ordenamento
jurídico com eficácia ex tunc, a menos que a Corte entendesse que era o caso de manter a
41
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Estado. Trad. Fernando de Miranda. Saraiva: 1938, p. 46.
42
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Estado. Trad. Fernando de Miranda. Saraiva: 1938, p. 46.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
norma em vigor por período que não poderia superar um ano. Daí a Corte Constitucional
ser comparada a um ‘legislador negativo’”43.
O modelo austríaco teve muito sucesso, sendo adotado: a) pela Constituição da
Itália de 1948; b) pela Lei Fundamental Alemã de 1949; c) pelos países ibéricos na década
de 1970; d) por países da América Latina na década de 1980; e) pelo Leste Europeu e pela
África do Sul nos anos 199044.
Note-se que os casos citados não são “puros”, quero dizer, não são homogêneos
entre si. O sistema brasileiro de controle abstrato não é rigorosamente idêntico ao modelo
kelseniano (a começar pela diferença de efeitos da decisão: aqui, a regra é a eficácia ex tunc;
em KELSEN, a proposta foi ex nunc, como visto acima), embora haja inegável inspiração do
modelo adotado na Áustria.
Na Itália, e. g., a Corte Constitucional “atua, basicamente, por meio de ação direta
e em caráter incidental: no primeiro caso, diante de requerimento estatal contra as leis
regionais e de requerimento regional em face de leis estatais ou de outras regiões; no
segundo, mediante requerimento de qualquer juiz, no curso de um processo” 45. O efeito
decisional, segundo a Constituição Italiana, é ex nunc (o que mostra mais adesão ao sistema
de KELSEN): “quando la Corte dichiara l’illegittimità costituzionale di una norma di legge o di atto
avente forza di legge [134], la norma cessa di avere efficacia dal giorno successivo alla pubblicazione
della decisione” (art. 136), ou seja: “quando o Tribunal declara a ilegitimidade constitucional
de uma norma de lei ou de um ato tendo força de lei, a norma cessa de ter eficácia a partir
do dia seguinte à publicação da decisão”.
BRENO LOBATO CARDOSO notou que “mesmo na Áustria e nos Estados Unidos tem
se verificado que as teorias de Kelsen e Marshall têm sofrido atenuações”, e o julgamento
Linkletter vs Walker, de 1965, provaria este ponto de vista, já que, na ocasião, a Suprema
Corte dos EUA afirmou que “a Constituição não proíbe, nem exige o efeito retroativo. Ficou
decidido que a Corte determina se a aplicação do efeito retroativo ou prospectivo é
apropriada, levando-se em conta as reações e condutas particulares, os direitos reclamados,
enfim, trata-se de uma questão de política judiciária a ser analisada caso a caso”46.
43
MARINONI, Luiz Guilherme. Controle de Constitucionalidade. In: SARLET, Ingo Wolfgang; ______;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 2.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 817-
818.
44
MARINONI, Luiz Guilherme. Controle de Constitucionalidade. In: SARLET, Ingo Wolfgang; ______;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 2.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 820.
45
MARINONI, Luiz Guilherme. Controle de Constitucionalidade. In: SARLET, Ingo Wolfgang; ______;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 2.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 822.
46
CARDOSO, Breno Lobato. A necessária modulação dos efeitos na declaração de inconstitucionalidade de
incentivos fiscais de ICMS decorrentes da guerra fiscal. Revista Abradt Fórum de Direito Tributário - RAFDT,
Belo Horizonte, n.º 2, jul./dez. 2017, p. 82.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
O sistema da França
O sistema francês tem algumas peculiaridades. A graduação brasileira geralmente
exibe os modelos estudados anteriormente (Áustria e Estados Unidos), numa ênfase
completamente natural, já que o controle judicial do Brasil é de tipo misto, ou seja, difuso e
concentrado a um só tempo.
Na França, a Constituição de 1958 (Constituição francesa da Quinta República) criou
o Conseil Constitutionnel, um órgão dotado de competências “para exercer o controle de
constitucionalidade de normas”48. Este órgão (Conselho Constitucional francês) é composto de
nove membros (nomeados), além dos membros vitalícios. Dos nomeados, três são
escolhidos pelo Presidente da República, três são escolhidos pelo Presidente da Assembleia
Nacional e três são escolhidos pelo Presidente do Senado. Os membros exercem mandato
de nove anos, sendo impossível, em regra, a recondução. Será possível recondução,
excepcionalmente, “se um membro tiver sido inicialmente nomeado para substituir outro e
o tempo de substituição for inferior a três anos (art. 12 da Ordonnance de 7 de novembro de
1958). Assim sendo, o tempo máximo de permanência no Conselho pode chegar a 12 anos”.
Há renovação de um terço dos membros a cada três anos. E, “além dos nove membros
indicados, os Presidentes da República tornam-se automaticamente membros vitalícios do
Conselho Constitucional após o fim de seus mandatos. Historicamente, só dois entre eles
(Vincent Auriol e René Coty) participaram efetivamente dos trabalhos do Conselho”49.
47
Assim: GAMPER, Anna; PALERMO, Francesco. The Constitutional Court of Austria: Modern Profiles
of an Archetype of Constitutional Review. Journal of Comparative Law, 2008, n. 3, p. 61.
48
LUNARDI, Soraya Gasparetto. Controle de constitucionalidade na França: vantagens e inovações. Revista
Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 103, jul./dez. 2011, p. 288.
49
LUNARDI, Soraya Gasparetto. Controle de constitucionalidade na França: vantagens e inovações. Revista
Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 103, jul./dez. 2011, p. 288.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Diferentemente do Brasil que, em tese, exige “notório saber jurídico” para que
alguém ocupe o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, “aos membros designados
para o Conselho Constitucional não é feita nenhuma exigência nem é imposta condição
objetiva de conhecimento jurídico-constitucional. Vale a vontade política de quem os
nomeia e falta qualquer possibilidade jurídica de controle da nomeação por outras
autoridades”50. Como se nota, o sistema francês é essencialmente político. Além de
tantas peculiaridades (bem exploradas por SORAYA GASPARETTO LUNARDI, sendo
recomendável leitura integral de seu texto referenciado neste trabalho), pode-se dizer que
o controle francês: a) tem viés preventivo; b) deve ser provocado; c) admite alguns controles
repressivos; d) admite controles oficiosos, conforme o caso; e e) tem um parâmetro
alargado, pois abrange a própria Constituição francesa e o chamado bloc de constitutionnalité
(bloco de constitucionalidade)51, que, por decisão de 27 de dezembro de 1973, abrange
princípios da Declaração de Direitos do Homem (1789), além dos preâmbulos das
Constituições de 1946 e de 1958. “Portanto, a criação do bloc ampliou sensivelmente as
possibilidades do controle, na medida em que a obra ordinária do Parlamento passou a ser
50
LUNARDI, Soraya Gasparetto. Controle de constitucionalidade na França: vantagens e inovações. Revista
Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 103, jul./dez. 2011, p. 289.
51
Cf. FAVOREU, Louis; PHILIP, Loïc. Les grandes décisions du Conseil constitutionnel. 8.ª ed. Paris: Dalloz,
1995, p. 277 em diante.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
O sistema do Brasil
O Brasil é, mesmo, um país curioso. Na teoria das ações, os processualistas
(inspirados nos italianos, é verdade — ENRICO TULLIO LIEBMAN) encamparam um conceito
“misto” ou “eclético”, suavizando a abstração do direito subjetivo de ação. Com o controle
de constitucionalidade judicial não seria diferente: inicialmente, por marcante influência de
RUI BARBOSA, a Constituição da República de 1891 encampou um controle difuso 54. Ele,
“que postulava a democracia federativa ligada à independência dos três Poderes, em face da
impossibilidade de contar com o Parlamento, proporia como freio ao Executivo a criação
de um poder Judiciário forte. O Judiciário seria fundamentado no modelo americano”55.
52
GOMES, Joaquim B. Barbosa. A quebra de mais um tabu no mundo jurídico: implantação e evolução da
jurisdição constitucional na França. Interesse Público - IP, Belo Horizonte, n.º 19, mai./jun. 2003.
53
TROPER, Michel. Interpretação constitucional. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC,
Belo Horizonte, n.º 7, jul. 2008.
54
Recomenda-se, a respeito: VIANA FILHO, Luiz. A vida de Rui Barbosa. São Paulo: Martins Fontes, 1965.
55
ROCHA, Leonel Severo. A Institucionalização do Republicanismo no Brasil: o papel de Rui Barbosa na
Constituição de 1891. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; STRECK, Lenio Luiz (orgs.). Entre Discursos
e Culturas Jurídicas. Coimbra: Coimbra editora, 2006, p. 65.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
56
CUNHA FERRAZ, Anna Candida da. Notas sobre o controle preventivo de constitucionalidade. Revista
de Informação Legislativa, Brasília, n.º 142, abr./jn. 1999, p. 281.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
57
STJ, REsp n.º 23.121/GO. Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, 1.ª Turma. Julgado em 06 de
outubro de 1993.
58
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 10.ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 538.
59
BINENBOJM, Gustavo. A Nova Jurisdição Constitucional Brasileira – Legitimidade democrática e instrumentos de
realização. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014, p. 276.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
60
STF, MS n.º 24.642/DF. Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Plenário. Julgado em 18 de fevereiro de 2004.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
61
STF, MS n.º 32.033/DF. Rel. orig. Min. GILMAR MENDES; Rel. p/ Acórdão Min. TEORI ZAVASCKI,
Plenário. Julgado em 20 de junho de 2013.
62
MARQUES, Andreo Aleksandro Nobre. Evolução do instituto do controle de constitucionalidade no
Brasil. Da Constituição Imperial à Emenda Constitucional n.º 45/2004. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, n.º 170, abr./jun.2006, p. 18.
63
STF, RE n.º 240.096-2/RJ. Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, 1.ª Turma. Julgado em 30 de março de
1999.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Há quem critique a ideia da reserva de plenário, como se nota dos escritos de FÁBIO
CARVALHO LEITE: “é chegado o momento de lançarmos um olhar crítico sobre esta regra,
cuja prática tem revelado dificuldades e problemas de ordem democrática que a sua
irretocável teoria oculta e – vou além – que até comprometem a legitimidade de que ela
aparentemente se reveste”65. Justificando sua proposta, o autor também dá o interessante (e
realmente instigante) exemplo do Tribunal de Justiça São Paulo:
64
MENDES, Gilmar Ferreira; STRECK, Lenio Luiz. Comentário ao art. 97. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK; Lenio Luiz (coords.).
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 1.333.
65
LEITE, Fábio Carvalho. Pelo fim da “Cláusula de Reserva de Plenário”. Direito, Estado e Sociedade, n.º 40,
jan./jun. 2012, p. 92.
66
LEITE, Fábio Carvalho. Pelo fim da “Cláusula de Reserva de Plenário”. Direito, Estado e Sociedade, n.º 40,
jan./jun. 2012, p. 93.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
↓
O relator, depois de ouvir o Ministério
Público e as partes, submeterá a questão à
Turma ou à Câmara à qual competir o
conhecimento do processo
↓
A arguição pode ser... REJEITADA, caso em que o
processo prosseguirá normalmente para o
julgamento
↓
Cópia do acórdão é encaminhada
para os julgadores
Se acolhida...
O presidente do Tribunal designará
uma data para a sessão de julgamento
67
STF, RE n.º 432.884/GO. Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, 2.ª Turma. Julgado em 26 de junho de 2012.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Observações:
• os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão
especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver
pronunciamento destes ou do plenário do STF sobre a questão;
• nada impede que as pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela
edição do ato questionado possam manifestar-se no incidente de
inconstitucionalidade se assim o requererem, observados os prazos e as
condições previstos no regimento interno do tribunal;
• a parte legitimada à propositura das ações previstas no art. 103 da
Constituição da República poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão
constitucional objeto de apreciação, no prazo previsto pelo regimento
interno, sendo-lhe assegurado o direito de apresentar memoriais ou de
requerer a juntada de documentos; e
• considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes,
o relator poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros
órgãos ou entidades.
68
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 210.
69
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 210.
70
STF, AgRg no RE com Agravo n.º 792.562/SP. Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, 2.ª Turma. Julgado em 18
de março de 2014.
71
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 210-211.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
sido reconhecida repercussão geral sobre o assunto72, sem fixação definitiva da tese, o fato
é que o STF parece, sempre, reconhecer que as Turmas poderão, isoladamente, decidir pela
inconstitucionalidade sem necessidade de “verificação” do Plenário. Neste sentido, veja-se o
trecho da ementa adiante:
72
STF, Repercussão Geral no AI n.º 838.188/RS. Rel. Min. CEZAR PELUSO, Plenário. Julgado em 23 de
junho de 2011.
73
STF, EDcl no RE n.º 361.829/RJ. Rel.ª Min.ª ELLEN GRACIE, 2.ª Turma. Julgado em 02 de março de
2010.
74
STF, RE n.º 240.096-2/RJ. Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, 1.ª Turma. Julgado em 30 de março de
1999.
75
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 211.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
76
STF, RE n.º 197.917/SP. Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Plenário. Julgado em 07 de maio de 2004.
77
MENDES, Gilmar Ferreira. A Reforma do Sistema Judiciário no Brasil: elemento fundamental para garantir
segurança ao investimento estrangeiro no País. Disponível em: http://goo.gl/Q9n9or. Acesso em 13 mai. 2020.
78
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2012, p. 15-21.
79
Cf. MARINONI, Luiz Guilherme. O Superior Tribunal de Justiça enquanto Corte Suprema: de Corte de
Revisão para Corte de Precedentes. Disponível em: http://goo.gl/IGoQML. Acesso em 30 set. 2015.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
80
MENDES, Gilmar Ferreira. A Reforma do Sistema Judiciário no Brasil: elemento fundamental para garantir
segurança ao investimento estrangeiro no País. Disponível em: http://goo.gl/Q9n9or. Acesso em 13 mai. 2020.
81
PELUSO, Cezar. Constituição, Direitos Fundamentais e Democracia: o Papel das Supremas Cortes.
Disponível em: http://goo.gl/5PF98g. Acesso em 13 mai. 2020.
82
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 472.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
e do alcance do papel do Senado neste caso: 1.ª) a função senatorial seria a de “mera
publicidade” da decisão do STF, como defenderam LÚCIO BITTENCOURT e PEDRO CHAVES;
2.ª) o Senado não seria “mero cartório de registro das decisões de inconstitucionalidade do
STF”, conforme FRANCISCO CAVALCANTI PONTES DE MIRANDA, FERREIRA FILHO e PAULO
BROSSARD; 3.ª) a resolução senatorial é ato político, conforme certas decisões do STF; e
4.ª) o Senado exerce uma “função complementar”, não jurisdicional, mas “político-jurídico”
e “quase legislativo”83.
O passar dos anos revelou a posição maioral do Supremo Tribunal Federal que,
hoje, praticamente encerra a discussão: seria necessário proceder com uma “releitura” do
texto constitucional, impondo-se, na prática, uma “mutação constitucional”. A visão merece
críticas, porque, na realidade, trata-se de interpretação que, extrapolando as balizas textuais,
simplesmente emenda a Constituição com base numa vontade, numa “criatividade hermenêutica”. Ora,
“a mutação do art. 52, X, rompe completamente o sentido da norma ao esvaziar a
competência do Senado e desequilibra a relação entre os poderes, dando primazia desmedida
ao STF. É certo que a norma não se confunde com seu texto. No entanto, existe um limite
semântico que deve ser respeitado sob pena de se permitir arbitrariedades judiciais através de
uma interpretação que desborda do texto. Essa compreensão ainda tem como resultado o
reforço de um único modo de controle de constitucionalidade pelo STF (a abstrativização
do controle difuso e concreto e a objetivação do RE). Se o texto do art. 52, X é obsoleto ou
mau usado pelo Senado, não seria mais adequado reformá-lo por PEC?”84.
De qualquer modo, lê-se do Informativo n.º 886, do Supremo Tribunal Federal, que
a Corte realmente caminha para a abstrativização do controle difuso. O Min. CELSO DE MELLO
“considerou se estar diante de verdadeira mutação constitucional que expande os poderes
do STF em tema de jurisdição constitucional. Para ele, o que se propõe é uma interpretação
que confira ao Senado Federal a possibilidade de simplesmente, mediante publicação,
divulgar a decisão do STF. Mas a eficácia vinculante resulta da decisão da Corte. Daí se
estaria a reconhecer a inconstitucionalidade da própria matéria que foi objeto deste processo
de controle abstrato, prevalecendo o entendimento de que a utilização do amianto, tipo
crisotila e outro, ofende postulados constitucionais e, por isso, não pode ser objeto de
normas autorizativas”. A Min.ª CÁRMEN LÚCIA aduziu que o STF “está caminhando para uma
inovação da jurisprudência no sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato
normativo, mas a própria matéria que nele se contém”. O Min. EDSON FACHIN “concluiu
que a declaração de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma preclusão
83
CUNHA FERRAZ, Anna Candida da. Comentário ao art. 52, X. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK; Lenio Luiz (coords.). Comentários à
Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 1.065-1.066.
84
FERNANDES, Bernardo Gonçalves; GODOY, Miguel Gualano de. Como o Supremo expandiu seus
poderes no caso do amianto? Jota Info, nov. 2019. Disponível em https://tinyurl.com/y724ffrq.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
consumativa da matéria. Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e
sem fim”85.
Mesmo com a orientação atual do Supremo (que parece definitiva), ainda há algum
sentido prático na utilização de resolução, pelo Senado Federal, baseado no art. 52, inciso
X, da Constituição da República. O Decreto n.º 2.346/1997, que “consolida normas de
procedimentos a serem observadas pela Administração Pública Federal em razão de decisões
judiciais, regulamenta os dispositivos legais que menciona, e dá outras providências”, prevê
que “as decisões do Supremo Tribunal Federal que fixem, de forma inequívoca e definitiva,
interpretação do texto constitucional deverão ser uniformemente observadas pela
Administração Pública Federal direta e indireta, obedecidos aos procedimentos
estabelecidos neste Decreto” (art. 1.º, caput), sendo que, “transitada em julgado decisão do
Supremo Tribunal Federal que declare a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, em
ação direta, a decisão, dotada de eficácia ex tunc, produzirá efeitos desde a entrada em vigor
da norma declarada inconstitucional, salvo se o ato praticado com base na lei ou ato
normativo inconstitucional não mais for suscetível de revisão administrativa ou judicial” (§
1.º), e que “o disposto no parágrafo anterior aplica-se, igualmente, à lei ou ao ato normativo
que tenha sua inconstitucionalidade proferida, incidentalmente, pelo Supremo Tribunal
Federal, após a suspensão de sua execução pelo Senado Federal” (§ 2.º). Sendo assim, o
Senado Federal poderá pungir a eficácia ex tunc ao Executivo, que ficaria
vinculado temporalmente diante de resolução senatorial.
85
STF, ADIn n.º 3.406/RJ e ADIn n.º 3.470/RJ. Rel.ª Min.ª ROSA WEBER, Plenário. Julgado em 29 de
novembro de 2017.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
86
Cf. CLÈVE, Clèmerson Merlim. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, n.º 179, jul./set. 2008, p. 143.
87
Cf. CLÈVE, Clèmerson Merlim. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, n.º 179, jul./set. 2008, p. 143.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
88
HORBACH, Beatriz Batisde. A gradual supressão da exigência da pertinência temática em controle
abstrato. Consultor Jurídico, São Paulo, fev. 2019. Disponível em https://tinyurl.com/yd9msbdx. Acesso em
13 mai. 2020.
89
Para detalhes, cf. QUEIROZ NETO, Vicente de Medeiros. A Pertinência Temática como Requisito da
Legitimidade Ativa para o Processo Objetivo de Controle Abstrato de Normas. Revista do Tribunal Regional
Federal 1.ª Região, Brasília, v. 15, n.º 7, jul. 2003.
90
STF, AgRg no AgRg na ADIn n.º 2.618-6/PR. Rel. orig. Min. CARLOS VELLOSO; rel. p/ Acórdão Min.
GILMAR MENDES, Plenário. Julgado em 12 de agosto de 2004.
91
STF, AgRg na ADIn n.º 3.617/DF. Rel. Min. CEZAR PELUSO, Plenário. Julgado em 25 de maio de 2011.
92
STF, AgRg na ADIn n.º 3.153/DF. Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Plenário. Julgado em 12 de agosto
de 2004.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
93
STF, ADIn n.º 2.024/DF. Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Plenário. Julgado em 03 de maio de 2007.
94
STF, MC na ADIn n.º 4.048/DF. Rel. Min. GILMAR MENDES, Plenário. Julgado em 14 de maio de 2008.
95
STF, QO na QO na ADIn n.º 1.244/SP. Rel. Min. GILMAR MENDES, Plenário. Julgado em 19 de
dezembro de 2019.
96
STF, ADIn n.º 5.122/DF. Rel. Min. EDSON FACHIN, Plenário. Julgado em 03 de maio de 2018.
97
STF, ADIn n.º 6.259/DF. Decisão monocrática do Min. ALEXANDRE DE MORAES. Julgamento em 16 de
dezembro de 2019.
98
STF, MC na ADIn n.º 4.412/DF. Decisão monocrática do Min. GILMAR MENDES. Julgamento em 27 de
novembro de 2019.
99
STF, ADIn n.º 5.434/DF. Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Plenário. Julgado em 26 de abril de 2018.
100
STF, MC na ADIn n.º 5.125/DF. Decisão monocrática do Min. GILMAR MENDES. Julgamento em 08 de
fevereiro de 2017.
101
STF, ADIn n.º 2.763/PE. Rel. Min. GILMAR MENDES, Plenário. Julgado em 28 de outubro de 2004.
102
STF, ADIn n.º 3.566/DF. Rel. orig. Min. JOAQUIM BARBOSA; rel. p/ Acórdão Min. CEZAR PELUSO,
Plenário. Julgado em 15 de fevereiro de 2007.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Cabe, agora, exibirmos uma segunda lista, desta vez exibindo casos nos quais a
doutrina e a jurisprudência não admitem Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Assim, não cabe Ação Direta de Inconstitucionalidade:
• contra norma constitucional emanada do próprio poder constituinte originário:
“a tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originárias dando azo
à declaração de inconstitucionalidade de umas em face de outras é incompatível
com o sistema de Constituição rígida”110. O assunto, aliás, foi exaustivamente
estudado por OTTO BACHOF, da Universidade de Tübingen, na monografia
Erfassungswidrige Verfassungsnormen? (ou seja: “Normas Constitucionais
Inconstitucionais?”)111;
• contra norma que tem vigência anterior ao dia da promulgação da Constituição
da República – neste caso, o exame é de recepção, não de constitucionalidade112.
No caso de “cogitação sobre a inconstitucionalidade da norma impugnada em
103
GASPAROTO, Carlos Henrique. Controle de Constitucionalidade dos Tratados Internacionais. Revista
Jurídica da Universidade de Franca, Franca, n.º 14, 2005.
104
STF, ADIn n.º 2.461/RJ. Rel. Min. GILMAR MENDES, Plenário. Julgado em 12 de maio de 2005.
105
STF, ADIn n.º 4.587/GO. Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Plenário. Julgado em 22 de maio de
2014.
106
STF, ADIn n.º 3.206/DF. Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Plenário. Julgado em 14 de abril de 2005.
107
STF, ADIn n.º 1.258/PR. Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, Plenário. Julgado em 26 de maio de 1995.
108
STF, AgRg na ADIn n.º 1.68-2/MG. Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Plenário. Julgado em 20 de setembro
de 1995.
109
STF, Referendo na MC na ADIn n.º 5.449/RO. Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Plenário. Julgado em 10 de
março de 2016.
110
STF, ADIn n.º 815-3/DF. Rel. Min. MOREIRA ALVES, Plenário. Julgado em 28 de março de 1996.
111
BACHOF, Otto. Normas Constitucionais Inconstitucionais? Trad. José Manuel M. Cardoso da Costa.
Coimbra: Atlântida Editora, 1977.
112
A respeito, cf. HERANI, Renato Gugliano. Direito pré-constitucional e “a crise do Supremo”. Revista de
Informação Legislativa, Brasília, n.º 182, abr./jun. 2009.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
face da Constituição anterior, sob cujo império ela foi editada, não constitui
óbice ao conhecimento da argüição de descumprimento de preceito
fundamental, uma vez que nessa ação o que se persegue é a verificação da
compatibilidade, ou não, da norma pré-constitucional com a ordem
constitucional superveniente”113. É dizer: para tais casos, cabe ADPF, não
ADIn;
• contra norma que já foi revogada, até porque, em regra, a Ação Direta de
Inconstitucionalidade é julgada prejudicada diante da revogação do ato
impugnado, havendo, no caso, “perda superveniente de seu objeto”114. Mas essa
regra sofre temperamentos. Com farta citação jurisprudencial, JORGE
OCTÁVIO LAVOCAT GALVÃO e SOPHIA GUIMARÃES arrolaram quatro
exceções. São elas:
1.ª) continuidade da cadeia normativa viciada — “aqui, mesmo que a redação
do dispositivo questionado e daquele que o substituiu sejam distintos, entende-
se que a razão de ser da medida legislativa estaria mantida”;
2.ª) fraude processual — “se houve revogação propositada da norma a fim de
evitar a apreciação de sua (in)constitucionalidade por parte do Supremo
Tribunal Federal, não há que se falar em perda do objeto, por estar configurada
hipótese de abuso de direito”;
3.ª) ausência de comunicação da revogação da lei ao tribunal; e
4.ª) casos em que o Supremo Tribunal Federal evita decretar a perda do objeto
de ações que apreciam leis revogadas ou de eficácia exauridas quando entende
relevante regular as relações estabelecidas durante a sua vigência — “ mais
interessantes para demonstrar como o Supremo tem se valido do controle
concentrado para sair do plano normativo e avaliar as consequências concretas
produzidas pela lei revogada”115;
• contra decretos não autônomos do Poder Executivo, já que o plano de
validade, nesses casos, é a legalidade, e não, diretamente, a Constituição da
República — “é firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de
que a questão relativa ao decreto que, a pretexto de regulamentar determinada
lei, extrapola o seu âmbito de incidência, é tema que se situa no plano da
legalidade, e não no da constitucionalidade”116;
113
STF, ADPF n.º 33-5. Rel. Min. GILMAR MENDES, Plenário. Julgado em 07 de dezembro de 2005.
114
STF, ADIn n.º 3.778/RJ. Rel.ª Min.ª CÁRMEN LÚCIA, Plenário. Julgado em 31 de outubro de 2007.
115
GALVÃO, Jorge Octávio Lavocat; GUIMARÃES, Sophia. A subjetivação do controle abstrato e a perda
de objeto em ADI. Consultor Jurídico, São Paulo, jul. 2019. Disponível em https://tinyurl.com/ybg7stdo.
Acesso em 13 mai. 2020.
116
STF, ADIn n.º 2.387-0. Rel. orig. Min. MARCO AURÉLIO; rel.ª p/ Acórdão Min.ª ELLEN GRACIE.
Plenário, Julgado em 21 de fevereiro de 2001.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
117
NASCIMENTO, Adriana Valentim Andrade do. Controle de Constitucionalidade das Leis ou Atos
Normativos Municipais no Direito Brasileiro. In: SLAIBI FILHO, Nagib (coord). Série Aperfeiçoamento de
Magistrados, n. 2. Curso de Controle de Constitucionalidade. Rio de Janeiro: EMERJ, 2011, p. 12.
118
STF, AgRg no RE n.º 596.108. Rel. Min. DIAS TOFFOLI, 1.ª Turma Julgado em 18 de junho de 2013.
119
Assim, cf. LAGES, Cintia Garabini; LIMA, Renata Mantovani. A legitimidade da atuação do Tribunal
Superior Eleitoral no exercício das funções consultiva e normativa. Revista do Instituto de Hermenêutica Jurídica
(RIHJ), Belo Horizonte, n. 19, jul./dez. 2015.
120
STF, RMS n.º 21.185/DF. Rel. Min. MOREIRA ALVES. Julgado em 14 de dezembro de 1990.
121
TSE, AgRg em MS n.º 3.710/DF. Rel. Min. CARLOS EDUARDO CAPUTO BASTOS. Julgado em 20 de maio
de 2008.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
122
“1. É assente na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral que ‘não compete ao TSE responder a
consulta fundada em caso concreto, ainda que verse sobre matéria eleitoral’ (Cta n.º 1.419, rel. Min Cezar
Peluso). 2. Consulta não conhecida” (TSE, Ac. n.º 22.699, de 12 de fevereiro de 2008).
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Caso a inicial seja recebida, porém, o relator intimará a autoridade responsável pelo ato
normativo impugnado, que terá prazo de 30 dias
↓
Depois, intima-se o Advogado-Geral da União, que terá 15 dias para defender o ato
normativo
↓
Entende-se que o Advogado-Geral da União não tem a obrigação de defender a lei quando
o STF já decidiu que a lei é inconstitucional123; ou, ainda, quando os interesses da União
convergirem com os do autor da demanda124
↓
Os autos são encaminhados ao Procurador-Geral da República, que terá prazo de 15 dias
para dar seu parecer
↓
O relator lança relatório com cópia aos Ministros, solicitando sessão de julgamento (nada
impede que ele solicite participação de amicus curiae, realização de audiências públicas etc.)
↓
O julgamento da ADIn deve respeitar o quórum de julgamento, que é de 8 Ministros. O
quórum de decisão é de 6 Ministros (i. e.: para desprovimento ou provimento)
↓
O STF pode realizar modulação de efeitos, desde que haja concordância de dois terços dos
votos (= pelo menos 8 Ministros)
123
STF, ADIn n.º 1.616/PE. Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Plenário. Julgado em 24 de maio de 2001.
124
STF, QO na ADIn n.º 3.916. Rel. Min. EROS GRAU, Plenário. Julgado em 03 de fevereiro de 2010.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
125
ARABI, Abhner Youssif Mota. STF aceita reunir pedidos de ADI e ADC em ação de controle concentrado.
Consultor Jurídico, São Paulo, jun. 2015. Disponível em https://tinyurl.com/yck4yda4. Acesso em 13 mai.
2020.
126
Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Do Poder Constituinte e da Mudança Constitucional. In: ______;
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p. 178.
127
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p.
79 e 105.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
aqueles dispositivos que têm sua aplicabilidade efetivamente reduzida, não podendo operar,
por si sós, no plano real. Reclamariam, pois, um processo legislativo específico 128.
Como se pode presumir, o campo fértil da Ação Declaratória de
Inconstitucionalidade por Omissão está nas normas constitucionais de eficácia limitada. Ora,
normas de eficácia plena e normas de eficácia contida já bastam em si: só as de eficácia
limitada precisam de atuação legislativa suplementar para gozarem de aplicabilidade.
Tudo o que já se disse sobre a ADIn “comum” se aplica aqui, com adaptações. Em
termos procedimentais, há poucas diferentes. Mais uma vez, adota-se a técnica de exibição
didática e simplória. Vejamos:
128
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p.
79, 106 e seguintes.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
129
MENDES, Gilmar. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental: demonstração de
inexistência de outro meio eficaz. Revista Jurídica Virtual Palácio do Planalto, n.º 13, jun./2000, p. 1-2.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Se a ADPF for admitida, a autoridade será intimada para prestar informações, com prazo
de 10 dias
↓
Depois, os autos seguem para o Procurador-Geral da República, que tem prazo de 5 dias
para manifestação (isso, claro, se ele não for o autor da ADPF)
↓
Nada impede que o relator solicite participação de amicus curiae, peritos, audiências
públicas etc.
↓
Regras de julgamento (quórum): as mesmas já vistas na ADIn
130
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 13.ª ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 256.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
• Universal:
- Presidente da República
- Procurador-Geral da República
- Mesa do Senado
- Mesa da Câmara
Legitimidade - Partidos políticos com representação no Congresso Nacional
- Conselho Federal da OAB
• Especial:
- Governadores
- Mesas das Assembleias Legislativas estaduais e da Câmara Legislativa do DF
- Confederações sindicais
- Entidades de classe de âmbito nacional
• Eficácia erga
• Eficácia erga
omnes e efeito
omnes e efeito
vinculante
vinculante
• • Suspende
Eficácia erga • Suspende a
omnes e efeito processos, efeitos de
validade da norma
vinculante decisões judiciais ou
Liminar impugnada e o
qualquer outra medida
• Suspende julgamento de
relacionada à matéria
julgamento dos processos que a
(salvo se decorrentes da
processos envolvam
coisa julgada)
• Eficácia
• Eficácia
temporal: ex nunc
temporal: ex nunc
(regra)
(regra)
• Eficácia erga omnes e efeito vinculante
Decisão de • Eficácia temporal: ex tunc (regra)
mérito • Modulação temporal: quórum de dois terços; razões de segurança jurídica ou
excepcional interesse social
131
NASCIMENTO, Adriana Valentim Andrade do. Controle de Constitucionalidade das Leis ou Atos
Normativos Municipais no Direito Brasileiro. In: SLAIBI FILHO, Nagib (coord). Série Aperfeiçoamento de
Magistrados, n. 2. Curso de Controle de Constitucionalidade. Rio de Janeiro: EMERJ, 2011, p. 12.
132
STF, AgRg no RE n.º 596.108. Rel. Min. DIAS TOFFOLI, 1.ª Turma Julgado em 18 de junho de 2013.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Neste caso, o que sucede é o seguinte: ou o STF julga improcedente a ADIn de sua
competência, de maneira que a ADIn Estadual voltará a tramitar no Tribunal de Justiça (que
reavaliará a lei impugnada, segundo os ditames da Constituição Estadual); ou o STF julga
procedente a ADIn de sua competência, de maneira que a lei é evidentemente
inconstitucional, não havendo mais razão para que o Tribunal de Justiça enfrente a ADIn
Estadual.
133
STF, ADIn n.º 3.482/DF. Decisão monocrática do Min. CELSO DE MELLO. Julgamento em 08 de março
de 2006.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
Referências bibliográficas
FAVOREU, Louis; PHILIP, Loïc. Les grandes décisions du Conseil constitutionnel. 8.ª
ed. Paris: Dalloz, 1995.
Pequeno Curso de Controle de Constitucionalidade
Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira
KELSEN, Hans. General Theory of Law & State. Nova Brunswick e Nova Jersey:
Transaction Publishers, 2006.
KOVÁCS, Kristza; TÓTH, Gábor Attila. Aufstieg und Krise: Wirkung der
deutschen Verfassungsgerichtsbarkeit auf Ungarn. In: BOULANGER, Christian;
SCHULZE, Anna, WRASE, Michael. Die Politik des Verfassungsrechts. Interdisziplinäre und
vergleichende Perspektiven auf die Rolle und Funktion von Verfassungsgerichten. Recht und
Gesellschaft - Law and Society, v. 6, 2013.
MENDES, Gilmar Ferreira; STRECK, Lenio Luiz. Comentário ao art. 97. In:
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo
Wolfgang; STRECK; Lenio Luiz (coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:
Saraiva/Almedina, 2013.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 10.ª ed. São Paulo:
Malheiros, 1998.
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2017.
PASLEY, Jeffrey L. A Revolution of 1800 After All: The Political Culture of the Earlier
Early Republic and the Origins of American Democracy. Conferência de dez. 2000. Disponível
em http://www.pasleybrothers.com/jeff/writings/Pasley1800.htm.
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1982.
SIQUEIRA PONTES, José Antonio. Fundamentos para uma leitura crítica de Hans
Kelsen no século XXI: em busca de um modelo kelseniano clássico. Revista da Faculdade de
Direito de São Paulo, v. 110, 2015.
VIANA FILHO, Luiz. A vida de Rui Barbosa. São Paulo: Martins Fontes, 1965.