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Laboratorios I Ano Lectivo 2021/2022

TRABALHO PRÁTICO

ESTUDO DE ESPECTROS ATÓMICOS

Objectivo - Neste trabalho pretende-se observar o espectro de emissão dos átomos de hidrogénio e
determinar os comprimentos de onda das linhas da série de Balmer. Para o efeito
realizam-se duas experiências: uma em que se calibra o espectrómetro de difracção
com a linha amarela de sódio, e a segunda em que se medem os comprimentos de onda
da luz emitida pelos átomos de hidrogénio.

1. Introdução
1.1. Riscas atómicas
A existência das linhas discretas nos espectros de emissão e de absorção de diferentes elementos
químicos é um facto experimental conhecido desde finais do século XIX. Na tentativa de perceber
as razões físicas que explicassem estas observações foi feito um grande esforço de sistematização
dos dados obtidos com diferentes átomos e em diferentes condições. Em particular as linhas de
emissão do átomo de hidrogénio foram classificadas em várias séries, conhecidas hoje como série
de Lyman, série de Balmer, série de Paschen, etc. A série de Balmer, que é observada neste
trabalho, consiste em várias linhas, algumas na região do visível, cujos comprimentos de onda se
descrevem com a seguinte equação
 m2   m2 
 = B 2 2  = B 2 2  , (1)
 m −n   m −2 
onde B=364.56 nm é a constante de Balmer e m é um número inteiro >2.
A explicação para as linhas discretas foi encontrada mais tarde usando o formalismo da física
quântica.

Figura 1. Linhas de emissão da série de Balmer do átomo de hidrogénio.

1.2. Modelo do átomo de Bohr


A ideia do átomo como um sistema semelhante ao sistema solar, em que os electrões se movem
em trajectórias circulares (ou elípticas) em torno de um núcleo pesado com a carga eléctrica oposta
à dos electrões (cuja existência foi comprovada em experiências de Rutherford), encontrava-se em
forte contradição com a teoria clássica de electromagnetismo. De acordo com esta teoria, uma carga
sujeita a aceleração irradia ondas electromagnéticas. Assim, o electrão atómico, ao mover-se ao
longo de uma trajectória curvilínea, devia continuamente perder a sua energia cinética e aproximar-
se do núcleo num espiral até cair nele. Isto, como é sabido, não acontece. Os átomos, do mais
simples (hidrogénio) aos mais complexos, são sistemas estáveis.
Na tentativa de resolver essas dificuldades, e também tomando em conta as riscas atómicas cuja
existência dificilmente se encaixa no modelo clássico que tem a continuidade como o seu princípio

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base, foi proposto por Niels Bohr um modelo do átomo de hidrogénio baseado em três postulados
(i.e. afirmações sem prova):
1. O electrão move-se em volta do núcleo em trajectórias circulares (órbitas estacionárias) sem
emitir radiação. A cada órbita estacionária corresponde um certo nível da energia.
2. Radiação electromagnética é emitida apenas quando o electrão transita de uma órbita com
energia superior, E1, para outra de energia inferior, E2. A energia então emitida é igual a 𝐸 = 𝐸1 −
𝐸2 e está relacionada com a frequência das ondas electromagnéticas 𝜈 através da equação 𝐸 = ℎ𝜈,
onde ℎ é a constante de Planck. O processo inverso – a transição de uma órbita com energia inferior
para uma órbita com energia superior – é possível se o átomo absorver radiação cuja frequência
satisfaz a equação ℎ𝜈 = 𝐸1 − 𝐸2 .
3. O momento angular do electrão numa órbita estacionária é quantizado 𝑚𝑣𝑟 = 𝑛ℏ, com 𝑛 =
1,2,3, … (chama-se número quântico principal); m é massa do electrão, 𝑣 – a sua velocidade linear,

e ℏ = 2𝜋.

Embora não seja rigoroso como a teoria quântica posteriormente desenvolvida (e por isso é
chamado modelo), o modelo de Bohr prevê correctamente a estrutura dos níveis de energia do
átomo de hidrogénio, consegue explicar os espectros atómicos e descrever as séries de linhas com
precisão.
De acordo com este modelo, os níveis de energia potencial permitidos para os electrões no
E1
campo da força de Coulomb criado pelo núcleo segue a regra En = − , em que n é o número
n2
mee4
quântico principal e E1 =  13.6 eV .
8 02 h3c
A série de Balmer neste modelo corresponde às transições de electrões dos níveis de energia com
𝑛𝑖 > 2 para o nível com o número quântico principal 𝑛𝑓 = 2. A energia dos fotões emitidos será

E1  E1  1 1 1 1
(h )i→ f =− − − 2 = E1  2 − 2  = −13.6  2 − 2  eV . (2)
ni  n f 1
2  n f ni 
 
 n f ni 
 
Para o comprimento de onda emitida numa dada transição e lembrando que
h 1 
 = c  = = pode-se escrever
 c hc
1 E1  1 1 
= − . (3)
 hc  n2f ni2 
A grandeza

Figura 2.
Figura 2. Modelo
Modelo de
de Bohr
Bohr do
do átomo
átomo de
de hidrogénio
hidrogénio ee algumas
algumas transições
transições
correspondentes
correspondentes
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às séries
séries de
de Lyman
Lyman e
e de
de Balmer
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E1
RH = (4)
hc
chama-se constante de Rydberg do átomo de hidrogénio. Os comprimentos de onda das linhas de
emissão dos átomos de hidrogénio, que se vão medir neste trabalho, permitem determinar a
constante de Rydberg.

2. Material
1) Banco óptico com sistema de focagem (duas fendas e duas lentes convergentes), uma rede
de difracção, medidor da intensidade da luz (um fotodíodo) e medidor do ângulo (contador
de rotações) já montados.
2) Uma lâmpada de sódio.
3) Uma lâmpada de hidrogénio.
4) Sistema de aquisição de dados por computador com interface PASCO.
O banco óptico com o equipamento montado é representado nas Figuras 3 e 4.

Figura Figura 3. óptico


3. Banco Banco –óptico
vista lateral

Figura 4. Banco óptico – vista de cima

O sistema de aquisição de dados por computador lê, através de uma interface PASCO, dois sinais:
1) posição angular do braço móvel com o fotodíodo,  ; 2) intensidade da luz registada pelo
fotodíodo, I. Ambas as grandezas são medidas numa sequência de curtos intervalos do tempo (diz-
se que se faz uma amostragem no tempo 𝜃(𝑡) e 𝐼(𝑡) ), o que permite correlacionar  e I e obter a
intensidade da luz em função da posição angular do fotodíodo 𝐼(𝜃). O valor absoluto da intensidade
da luz não é relevante para estas experiências, mas apenas a variação relativa.

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De facto, a posição angular 𝜃 do braço móvel não se mede directamente mas através das contagens
das rotações de um pequeno pino que está em contacto com o disco graduado (Figura 3). Por isso o
valor de ângulo adquirido por computador também é relativo e apenas a diferença entre duas
posições angulares tem significado físico.
O contador de rotações (nas Figuras 3 e 4 chama-se “Medidor do ângulo”) fornece ao computador
um número inteiro (número de rotações) que tem que ser convertido em ângulo (em radianos ou
graus). Isto faz-se introduzindo um factor de conversão no programa de aquisição de dados que é
igual à razão entre o diâmetro do disco graduado e do pino do contador de rotações. O factor de
conversão é 59,8 e deve já estar definido na configuração do programa. No entanto, recomenda-se
verificar a consistência dos valores de ângulos determinados por computador e das leituras directas
no disco graduado.

3. Parâmetros a variar
Os parâmetros que podem (e devem) ser ajustados para obter os melhores resultados são:
1. Larguras das fendas, uma em frente da lâmpada e outra em frente do fotodíodo. Quanto
mais finas forem as fendas, melhor a resolução angular e, portanto, melhor definição do
comprimento de onda. Por outro lado, a quantidade da luz ao chegar ao fotodíodo
(relacionada, obviamente, com a largura da fenda) deve ser suficiente para produzir um
sinal bem acima do ruído.
2. O ganho do fotodíodo que se regula com um botão em cima deste (×1, ×10 e ×100).
Quando maior for o ganho, mais se amplifica o sinal (mas também o ruído).
Boa prática será começar com as fendas e o ganho do amplificador no mínimo e ir
aumentando ambos procurando a combinação óptima para a melhor resolução e razão
sinal/ruído.
3. A posição das lentes de focagem, principalmente da lente 1 (Figuras 1 e 2), para obter a
imagem da fenda 1 o mais nítida possível e centrada na fenda 2 quando o sistema está
alinhado (i.e. o fotodíodo está em 𝜃 = 0º; o ângulo 𝜃 é lido na escala do disco rotativo).
4. A posição da lâmpada cuja janela tem que estar alinhada com a calha e a altura adequada.

A luz ambiente (iluminação da sala, a luz do monitor do computador e a luz reflectida nas
diferentes componentes do sistema) deve ser reduzida ao mínimo. Em algumas
experiências devem ser usadas os ecrãs, caixas e panos pretos para reduzir a luz ambiente.

Figura 5. Exemplo do espectro de sódio. A escala horizontal está em graus. Nenhuma das
linhas está saturada.

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4. Execução experimental
1. Inicie o programa Scienceworkshop usando um ícone no Desktop do computador
“FisLab1”. Todas as configurações necessárias serão carregadas automaticamente.
2. Ligue a lâmpada de sódio, coloque o braço móvel com o fotodíodo na posição =0º (lê-se
no disco graduado).
3. Reduza as fendas ao mínimo, foque e centre a imagem do feixe central no plano do
fotodíodo.
4. Observe os primeiros máximos de difracção à direita e à esquerda do máximo central e
meça a posição angular destes rodando o braço móvel e lendo o ângulo no disco graduado.
5. Adquira os dados com o computador. Para isso coloque o fotodíodo num ângulo um pouco
maior do que o medido no ponto anterior, inicia a aquisição com o botão “START” no
programa e desloque à mão, lentamente e o mais uniformemente possível, o braço móvel
do sistema de modo que o fotodíodo “apanhe” ambas as riscas da 1ª ordem de difracção e
também o máximo central. Para parar a aquisição carregar no botão “STOP” no programa.
6. O programa pode produzir vários tipos de gráficos e tabelas em diferentes unidades. É
preciso ter um especial cuidado para escolher as unidades adequadas para o ângulo
(recomenda-se graus). Abrir um gráfico, I() e a tabela respectiva com os ângulos em
graus. A figura 5 mostra um exemplo do espectro. Pedir ajuda caso seja necessário.
7. Verificar se a distância angular entre os picos observados no computador está de acordo
com a medida directamente no disco graduado no ponto 4. Caso não esteja, procurar a
origem da inconsistência (o mais provável é que as contagens do contador de rotações não
estão a ser correctamente convertidas em ângulo).
8. Não saturar o sinal do fotodíodo nos picos da 1ª ordem de difracção. Isto pode acontecer
por o ganho do amplificador ser demasiado elevado e/ou pelo excesso da luz incidente no
fotodíodo. A saturação do máximo central pode ser tolerada porque a posição deste não se
utiliza nas medidas.
9. Calibração do espectroscópio (determinação do espaçamento entre as linhas da rede
de difracção). Determine o desvio angular  = esq −  dir / 2 correspondente à difracção
de primeira ordem da linha amarela do sódio e obter aincerteza a partir das incertezas
dosvalores dos ângulos de difração. Com este resultado e o comprimento de onda
=589.3 nm desta linha, determinar o espaçamento d entre as linhas da rede de difracção
usada na experiência ( sin =  / d ) e a respetiva incerteza.
10. Substituir a lâmpada de sódio pela lâmpada de hidrogénio. A luz da lâmpada de
hidrogénio é muito menos intensa do que a de sódio pelo que se deverá ter mais cuidado
com a luz ambiente, escolher as fendas mais largas e maior amplificação do sensor de luz.
Fazer vários registos com diferentes parâmetros para decidir qual o melhor compromisso
de intensidade versus resolução.
11. Determinar os comprimentos de onda das linhas do hidrogénio usando a distância das
riscas da rede de difracção previamente determinada. Registar dados e resultados numa
abela. Considerar igualmente as incertezas respetivas.
12. As linhas do hidrogénio na região do visível pertencem à série de Balmer - transições cujo
estado final tem número quântico principal nf =2. Usar os comprimentos de onda obtidos e
a equação de Balmer para determinar:
i) o número quântico ni do estado inicial, para cada linha.
ii) o valor da constante de Rydberg.
13. Qualquer resultado tem uma incerteza associada. As tabelas e resultados finais devem
sempre incluir incertezas nas medidas e grandezas calculadas a partir das medidas.

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4. Relatório

O relatório deve ser elaborado em forma livre contendo, além da habitual introdução muito curta e
as conclusões:
1. A calibração do sistema com a risca amarela de sódio, i.e. determinação do espaçamento das
linhas da rede de difracção e respectiva incerteza.
2. Os comprimentos de onda determinados com a lâmpada de hidrogénio e respetivas
incertezas. Comparação com os valores tabelados (procurar essa informação).
3. Determinação dos números quânticos do estado inicial para cada linha observada.
4. Determinação da constante de Rydberg do hidrogénio e respetiva incerteza, e comparar com
o valor tabelado. Fazer o gráfico obtido a partir da Equação (3).
5. Incluir os gráficos 𝐼(𝜃) para cada medida efetuada, incluindo os detalhes para a
determinação das incertezas.

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