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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
RUA JOSÉ DO PATROCÍNIO, 71, CENTRO - CAMPOS DOS GOYTACAZES/ RJ
DISCIPLINA: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO I
PROFESSOR: LEONARDO M. LEITE

VISÃO INSTITUCIONAL DE ADAM SMITH NO DESENVOLVIMENTO


ECONÔMICO DO BRASIL E AMÉRICA LATINA

Ester Duarte Gonçalves Barbosa*


RESUMO

Adam Smith discorre em suas obras, uma visão econômica acerca da Inglaterra no
século XVIII e não limita-se somente a ela, analisa ademais o contexto de
desenvolvimento de regiões como o Brasil e América Latina que será o objeto de
estudo deste artigo. E ainda aplicada à uma interpretação institucionalista do
respectivo autor, no entanto, desconsiderada por muitos pensadores clássicos
posteriores.

PALAVRAS-CHAVE: Adam Smith, Brasil, Institucionalismo, Desenvolvimento


Econômico.

ABSTRACT

Adam Smith discusses in his works an economic vision about England in the
eighteenth century and is not limited to it alone, it analyzes in addition the context of
development of regions such as Brazil and Latin America that will be the object of
study of this article. And still applied to an institutionalist interpretation of the
respective author, however, disregarded by many later classical thinkers.

KEY WORDS: Adam Smith, Brazil, Institutionalism, Economic Development.

INTRODUÇÃO

No livro de Adam Smith, “A Riqueza das Nações” o autor aborda sobre a divisão
do trabalho, valor, distribuição de renda, entre outros assuntos, à uma análise
histórica, econômica e regional, dentro de um contexto principalmente Inglês, mas
também expõe sua percepção a respeito de lugares afastados como Índia, China e
Brasil.
Neste artigo, será evidenciado de que forma o estudo de Smith era abrangente,
suas respectivas referências ao Brasil e América Latina em sua principal obra
anteriormente citada, de forma a relacioná-las com uma interpretação
institucionalista do mesmo acerca do desenvolvimento econômico.

ABRANGÊNCIA NO ESTUDO DE ADAM SMITH

Adam Smith, ao citar diversas regiões, demonstra uma ampla percepção de


mundo e todo esse conhecimento foi agregado por meio de essencialmente dois
fatores.
Primeiro, o autor possuía uma grande biblioteca no qual realizava pesquisas e
dessa forma apresentava argumentos advindos de influências de outros autores.
Segundo, Smith desfrutou de muitas experiências como membro do parlamento,
professor, contribuiu para lançamentos editoriais, entre outras atividades, portanto,
ele absorveu conhecimentos além das leituras realizadas.

INDICAÇÕES BRASILEIRAS NA “A RIQUEZA DAS NAÇÕES”


(Gustavo Inácio de Moraes, Carlos Eduardo de Freitas Vian, Aline Cristina Freitas
Vian, 2012) destacaram citações de Smith acerca do Brasil. A primeira delas foi no
capítulo XI, do livro I, em relação aos metais preciosos existentes na América e que
por meio deles, firmaram-se comércios entre regiões do velho continente. Além
disso discorreu sobre o potencial desses novos mercados. Prosseguindo, no
capítulo V, do livro II, Smith discute sobre a viabilidade de os investimentos de
capital aplicados na agricultura serem o fator principal do estímulo econômico,
apresentando de uma forma positiva ao desenvolvimento do Brasil, uma vez que
este apresentava o direcionamento do capital totalmente ao setor respectivo pois
este era o que dispunha de mais benefícios devido ao maior multiplicador de renda.
Adiante, no capítulo III, do livro IV são expostas vantagens e desvantagens
provenientes do comércio exterior. E que o fator de maior importância deveria ser na
balança de produção e consumo, não na balança comercial, apesar de também
considerá-la importante. Com isso, conclui-se que a balança comercial desfavorável
do Brasil, não seria impedimento para a realização do seu desenvolvimento, mas
sim no fato de que os produtos consumidos no Brasil colônia eram importados e o
capital não era reaplicado na atividade de produção nacional. Dando continuidade
no livro IV, no capítulo “As Colônias” Smith aponta que o desinteresse inicial da
metrópole portuguesa a respeito do Brasil colônia (antes da descoberta dos metais
preciosos) , foi importante para que ela se desenvolvesse sem grandes ajudas de
Portugal, ainda referiu-se à respectiva colônia como “grande e poderosa”,
demonstrando seu otimismo acerca do Brasil. No entanto, Smith considerava
duvidosa a formação populacional no aspecto de qualidade de produção, uma vez
que no Brasil residiam portugueses, seus descendentes, índios e negros, e dentre
eles, haviam muitos que foram expulsos de seus territórios (delinquentes ,
prostitutas, judeus de Portugal vítimas de perseguições) e realocados na colônia,
dando início à atividade de cana-de-açúcar.

INTERPRETAÇÃO INSTITUCIONALISTA DA VISÃO SMITHIANA

(Huáscar Pessali e Fabiano Dalto, 2010) discorrem as instituições, no qual são


definidas como estruturas sociais que restringem, orientam e formatam a ação
humana, ou como (North, 1990) declara, as instituições são as regras do jogo em
uma sociedade.
Os autores que fazem parte dessa corrente de pensamento institucional,
defendem que o desenvolvimento econômico somente é alcançado por meio de
instituições que proporcionam isso.
Analisando “A Riqueza das Nações” infere-se essa interpretação institucionalista
de Adam Smith, uma vez que este declara no capítulo I, livro III, que o
desenvolvimento de uma região relacionado ao rendimento do cultivo provém das
instituições humanas, e ainda evidencia uma trajetória natural de desenvolvimento:
agricultura, manufatura e comércio, respectivamente. E indo adiante, no capítulo IX,
destaca as vantagens do clima, solo e localização da antiga China declarando que
se esta fosse formada por outras instituições, haveria possibilidade de um
desenvolvimento maior. Prosseguindo, no capítulo VII, do livro IV, Smith destaca
uma superioridade do Brasil diante das colônias inglesas, no entanto estas últimas
possuíam maiores probabilidades de desenvolvimento econômico devido às
instituições nelas presentes.
“Essas instituições políticas superiores manifestavam-se em cinco aspectos
centrais da vida política e econômica das colônias. O primeiro aspecto
dá-se pela ausência do princípio da primogenitura, que proporciona um
maior incentivo ao cultivo da terra e uma distribuição equitativa da mesma
no longo prazo. Outro aspecto é o limite para incorporação de terras ainda
sem propriedade por um único posseiro, também evitando a concentração
das mesmas. A existência de um mercado relativamente mais amplo, com
possibilidades múltiplas de comercialização, para mercadorias excedentes
seria uma terceira vantagem proporcionada pelas instituições superiores.
Uma quarta vantagem assinalada, também derivada da inexistência de
exclusividade de comércio, resulta da administração dos “termos de troca”
do comércio externo, visto que a pauta poderia sofrer controles internos.
Finalmente, como última vantagem, Smith percebe uma incidência de
impostos menores em paralelo a uma mão-de-obra mais produtiva.[...] Já
em 1829, no parlamento brasileiro, discutiu-se a abolição tanto da
primogenitura, quanto do morgadio, tomando por hipótese que tais normas
seriam restritivas à democratização do acesso a terra e estímulo ao
desenvolvimento econômico.” (MORAES, VIAN, VIAN, 2012, p.11)

A partir dos cinco aspectos mais importantes que demonstravam a perspectiva


superioridade de desenvolvimento das colônias inglesas acima citadas, o Brasil
começou em 1829, a aderir uma das medidas como forma de cessar a restrição ao
estímulo econômico.
Smith defendia que as políticas inglesas e francesas eram mais flexíveis do que
as políticas portuguesas e espanholas, o que justifica o melhor potencial de
desenvolvimento das colônias inglesas, em detrimento da colônia brasileira.
Portanto, as instituições consideradas boas e mais indicadas, pelo autor, eram as
anglo-saxãs.

CONCLUSÃO

Em “A Riqueza das Nações” o autor Adam Smith, revela uma concepção


institucional acerca do desenvolvimento econômico. No qual o objetivo deste artigo,
foi destacar as citações do autor no contexto brasileiro, analisar o ideal institucional
colocado por ele, e ainda com base nisso inferir os motivos do retardamento
desenvolvimentista do Brasil.
“Pelas passagens em que o Brasil e a América Latina são citados é
possível inferir que Smith percebia a colônia portuguesa como desenvolvida
e em boas condições para obter o desenvolvimento econômico, ainda que
numa situação inferior às colônias inglesas da América do Norte. A razão
principal para a situação inferior comparativamente, segundo outras
passagens, residiria na “qualidade” da população que era formada por
classes distintas daquelas que povoaram a América do Norte. Ademais, a
formação jurídica e o modo de administração do estado inglês permitiriam
que as instituições das colônias inglesas apresentassem melhores
condições para o desenvolvimento daquelas em detrimento das colônias
espanholas e portuguesas.” (MORAES, VIAN, VIAN, 2012, p.11)

Portanto, embora o Brasil fosse considerado por Smith como uma colônia “grande
e poderosa” e apresentasse aspectos positivos como direcionamento do capital à
agricultura (considerada pelo autor como setor de maior rendimento), não dispunha
de instituições ideais que poderiam proporcionar o desenvolvimento econômico
dessa região.

REFERÊNCIAS
MORAES. I; VIAN.C; VIAN.A; Adam Smith, Brasil e América Latina - Uma visão
institucional?. Paraná, Informe Gepec, Toledo, v. 16, n. 2, p. 57-72, jul./dez. 2012.
PESSALI,H.; DALTO,F. A mesoeconomia do desenvolvimento econômico: o papel
das instituições. Nova econ. vol.20 no.1 Belo Horizonte Jan./Apr. 2010. Disponível
em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512010000100001
>. Acesso em: 03 jul. 2018.
SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo, Abril Cultural, Col. "Os Economistas",
1983.

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