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Resenha do livro “A Riqueza das


Nações” de Adam Smith
Iago Folgoni
14-19 minutos

O texto base do liberalismo econômico

O livro “A Riqueza das Nações” de Adam Smith foi o primeiro


grande marco para a fundamentação teórica na defesa de
uma economia de mercado. Em um momento em que se
estava ganhando forma a primeira revolução industrial na
Inglaterra, Smith elaborou uma série de novos conceitos e
relações que mudariam completamente a forma como a
Economia Política seria posteriormente analisada. Dentre
suas principais contribuições, a relação entre a especialização
do trabalho e a produtividade, o foco no consumidor e não na
acumulação de metais, e a eficiência gerada pelo egoísmo de
cada produtor e consumidor (mão invisível), continuam
presentes até os dias de hoje.

O século XVIII foi decisivo para os rumos do mundo


contemporâneo. Entre seus acontecimentos, destacam-se a

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revolução americana, de 1776, a francesa, de 1789, a


repercussão das ideias iluministas, as primeiras revoltas e
rebeliões de algumas colônias europeias na América (como
por exemplo a inconfidência mineira, ocorrida no Brasil no
mesmo ano da revolução francesa)e os enormes avanços
científicos nas ciências, especialmente no campo da química
e da física. Tais acontecimentos não eram em vão, ou apenas
mera coincidência. Havia, no mundo todo, uma mudança
estrutural da sociedade, causada principalmente pela
mudança na economia e no modo de compreender a geração
da riqueza. Nesse sentido, as mudanças geradas pela
economia tiveram um impacto ainda maior do que as próprias
revoluções presentes no mesmo período. Tanto a
independência das 13 colônias e a sangrenta revolução
francesa, que colocavam em Xeque toda a estrutura político-
administrativa colonialista e absolutista, não tiveram a mesma
intensidade quanto as mudanças econômicas. A última,
consolidada no século XVIII representa uma mudança na
geração de riqueza, deixando para trás não só as ideias
econômicas do feudalismo e, mais contemporânea ao período
descrito, o mercantilismo, mas também a organização social e
as interações pessoais.

Compreender todas essas mudanças e seus impactos no


mundo não era uma tarefa fácil. Alguns autores se
aprofundaram nos estudos desses fenômenos, como por
exemplo Edmund Burke, que fez uma análise detalhada sobre
a revolução francesa, e Tocqueville, que embora autor do

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século XIX, compreendeu as raízes da democracia Americana


desde o período de sua independência. Porém, no campo
econômico, houveram diversos autores que foram capazes de
identificar as mudanças que ocorriam no comércio e na
produção. Entre eles destacaram-se Richard Cantillon e
Francis Hutcheson, que fizeram as primeiras contribuições
para a economia política. Tais pensadores contribuíram de
formas pontuais, tratando sempre de temas um pouco mais
restritos da economia. Entretanto, foi apenas em 1776 com
Adam Smith, aluno de Hutcheson, que toda a sociedade
ocidental moderna foi descrita, de forma sociológica e
econômica, servindo como base teórica para toda a economia
política liberal do mundo.

Adam Smith nasceu em 1723, na Escócia, e por lá


permaneceu durante grande parte da sua vida. Foi criado
somente pela mãe, pois seu pai, também chamado Adam
Smith, falecera um pouco antes de seu nascimento. Dedicou
sua vida aos estudos, e se formou na Universidade de
Glasgow, onde fora discípulo de Hutcheson, e teve seu
primeiro contato com as ideias de economia política. Smith
apresentou diversas palestras a respeito de filosofia moral e
direitos naturais, matéria que até então englobava muitos
assuntos como Ética, teologia, Jurisprudência, entre outras.

Foi somente em 1752 que Smith conseguiu a cadeira para dar


aula na Universidade de Glasgow. Ao longo de sua vida,
Smith ascendeu e obteve contato com grandes pensadores

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contemporâneos, entre eles David Hume, de quem se tornara


amigo, Voltaire e Burke. O professor já havia escrito “Teoria
dos Sentimentos Morais” em 1759, mas foi em 1764 que
Smith começou a elaborar um tratado de economia política,
tratado esse que demoraria doze anos para ser finalizado,
denominado “Uma investigação sobre a Natureza e as
Causas da Riqueza das Nações”. O tratado é uma junção de
cinco grandes livros, e o impacto causado por tal obra no
mundo econômico e social é enorme, motivo pelo qual me
propus analisar e identificar as mudanças descritas por Smith,
e que serão apresentadas logo adiante. Smith morreu em
1790, em Edimburgo, mas seu pensamento e seu legado
seguem vivos nos livros e na economia mundial. Vale lembrar
mais uma vez que o tratado que Adam Smith se propôs a
escrever condensa todo um pensamento que vinha sendo
descoberto pelos grandes intelectuais ao observarem as
mudanças da sociedade e da economia.

Explicações do tratado

O primeiro livro da Riqueza das Nações explica toda a


mudança e adaptação das forças produtivas do trabalho, e
como essas mudanças impactaram as diferentes classes
sociais. Adam Smith procura investigar como, em seu tempo,
ocorrera um aumento significativo na produtividade
comparada aos séculos anteriores. Para Smith, tal fenômeno
tem relação direta com a divisão do trabalho. É bastante claro
e intuitivo que apenas uma pessoa produzindo qualquer

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artefato possuiria um rendimento muito inferior comparado ao


trabalho dividido entre muitas pessoas. Se uma pessoa, por
exemplo, produz 1 sapato em 3 dias, muitas pessoas, e cada
uma responsável pela produção de uma parte do sapato,
sendo elas limpar o couro, colocar o cadarço, entre outros,
poderiam produzir mais sapatos e em menos tempo.

Essa ideia representava uma mudança significativa do ponto


de vista de organização do trabalho, pois ela concebia uma
relação de causalidade entre o aumento na produtividade com
um maior nível de especialização. Os primeiros donos de
fábricas se utilizaram do conceito descrito por Smith, e o
resultado era nítido : mais produtos em menos tempo, ou
seja, a produção de riqueza tornava-se maior. Vale ressaltar
também que Smith fez uma distinção muito clara entre
aquelas sociedades que possuíam e não possuíam a divisão
do trabalho consolidada: as primeiras foram caracterizadas
como desenvolvidas, enquanto as segundas eram chamadas
de rudimentares. Após breve explicação, é importante
analisar os impactos decorrentes da divisão do trabalho.

O primeiro ponto a ser destacado é o tamanho do mercado.


Quanto maior for a população de uma região, e tendo já se
instalado a divisão do trabalho, maior será a especialização
de cada indivíduo na sociedade. E como consequência, cada
indivíduo produz não um artefato inteiro, mas uma parte dele,
e, portanto, necessita de trocas para que se adquira os bens
necessários para sua sobrevivência. Além disso, os

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indivíduos devem possuir um poder de troca em equilíbrio


com a quantidade de riqueza ou valor produzido, e que seja
muito aceito entre a população.

Esse poder de troca é convertido na moeda. A moeda torna-


se o facilitador necessário para que ocorram as trocas entre
diferentes produtores e assalariados, pois trocar moedas por
produtos é mais prático do que trocar produtos por produtos.
O livro conclui nos apresentando uma decomposição dos
componentes que estão embutidos dentro dos preços, sendo
eles o salário dos trabalhadores, o lucro do proprietário e os
custos fixos, como por exemplo o aluguel dos produtores.

Enquanto o primeiro livro trata das consequências da divisão


do trabalho e sua mudança na organização social, o segundo
livro começa a definir o capital, conceito esse que até o
período feudal nunca tivera destaque. Smith definirá o capital
como aquilo que poderá gerar rendimento, e possui 3
subdivisões, sendo elas o capital imediato, o circulante e o
fixo. O primeiro deles é utilizado para o consumo imediato de
bens básicos como (por exemplo alimentos e vestuários). O
capital circulante é principalmente empregado na compra e
venda de produtos com o intuito de gerar lucro (vale ressaltar
que o lucro só existe após a venda do produto) e, finalmente,
o capital fixo é descrito como o capital reinvestido na fábrica
ou empresa com o objetivo de aumentar a produtividade ou
aumentar seus lucros. Smith coloca o acúmulo de capital
como o terceiro e último fator para o aumento da riqueza das

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nações (o primeiro é a divisão do trabalho e o segundo é o


tamanho do mercado, já descritos anteriormente). O autor
acreditava que o acúmulo faria com que as pessoas
reinvestissem o capital, de forma a aumentar ainda mais a
produtividade e a riqueza das nações.

Embora os dois primeiros livros caracterizem e investiguem a


natureza do trabalho, das trocas, do lucro e das relações
sociais que Adam Smith observou, os três livros seguintes
procuram justificar aquilo pelo que Smith ficou mais
conhecido, que é seu liberalismo econômico. O final da idade
média trouxe o avanço dos chamados Estados nacionais,
caracterizados pelas monarquias absolutistas e o
mercantilismo. Embora as estruturas políticas e econômicas
tenham se modificado com o final da idade média, a
mentalidade da sociedade como um todo não possui a
mesma capacidade de adaptação, e por isso Adam Smith
ainda discorre em seu livro três sobre o final do império
romano. A ideia de que a riqueza de uma nação era
proporcional à quantidade de ouro e prata acumulados se
popularizou até mesmo em Roma, através de suas grandes
conquistas pelo mar mediterrâneo, e teve seu auge com as
descobertas de jazidas de ouro e prata na América. Tal
mentalidade contribui para o que Adam Smith definiu como
mercantilismo, e que resultaria em uma espécie de
protecionismo alfandegário, isto é, aumentar as tarifas sobre
os produtos importados com o objetivo de não estimular a
saída de ouro e prata da nação. Porém, a mentalidade

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mercantil não procurava atender um dos aspectos que Adam


Smith mais defendeu através do liberalismo econômico: O
consumidor. Talvez a primeira grande teoria econômica que
tenha de fato atribuído um sentido para que as pessoas
produzam e realizem trocas voluntárias tenha sido o
liberalismo.

“não é da benevolência do açougueiro, do fabricante de


cerveja ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas
da consideração que eles têm pelo seu próprio
interesse”1.

Em outras palavras (e estas mais famosas) para a teoria


liberal, quando os indivíduos agem em detrimento de seus
interesses pessoais, isto é, de maneira egoísta, eles são
guiados por uma “Mão invisível” do mercado, que se utiliza
de suas leis de oferta e demanda, para gerar o bem estar
social.

A crítica liberal não é apenas ao protecionismo, mas também


a qualquer tentativa de intervenção estatal que pudesse
modificar as leis de mercado. Smith criticou diversas leis que
interferiam no livre comércio, entre elas a lei de 1731 que
impediu o livre cultivo do vinho com a justificativa de que
havia vinho em excesso e poucos cereais,

“mas, se fosse real, ela mesma, sem nenhuma ordem do


conselho, evitaria de todo modo a plantação de novos
vinhedos”2

De certa forma, as intervenções distorcem as leis de oferta e

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demanda, desestimulando a produtividade e aumentando


seus custos.

Mas para que, afinal, servem os governos? Se os Estados


não deveriam interferir na economia com o objetivo de
promover o bem estar social, quais seriam as suas funções?
Essa resposta é fornecida no último livro do tratado: na
educação, na defesa e na justiça. Adam Smith percebeu
que a divisão do trabalho poderia levar à alienação,
prejudicando a saúde do indivíduo. Nesses casos, poderia
caber ao Estado estimular o estudo e outras práticas que
impedissem que os trabalhadores fossem prejudicados. Além
disso, o Estado deveria garantir a defesa da nação, para que
não fossem invadidas por outros Estados independentes, e a
Justiça com o objetivo de garantir a propriedade privada e o
cumprimento do contrato, aspectos fundamentais para gerar
confiança na sociedade e estimular o comércio (“no de
proteger, na medida do possível, cada membro da sociedade
da injustiça ou opressão de todos os outros membros da
mesma, ou o dever de estabelecer uma administração judicial
rigorosa”)3.

Uma perspectiva histórica

“Mas se não era a totalidade da Europa a seguir a liderança


política da América, depois que Smith pintou o primeiro
verdadeiro quadro da sociedade moderna, todo o mundo
ocidental tornou-se o mundo de Adam Smith”4.

A consolidação das ideias de Smith teve um enorme impacto

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na sociedade do século XVIII, pois fora uma forma de explicar


e definir toda a estrutura que começou a existir após o final da
Idade Média. O povo feudal jamais pensou em uma divisão do
trabalho para o aumento da riqueza, os juros eram
considerados pecado de usura, a economia era impulsionada
pela tradição ou pela imposição governamental, aspectos
totalmente contrários às posições de Smith em seu tratado.
Após sua grande obra, economistas futuros como David
Ricardo aprofundaram o liberalismo econômico através da
teoria do valor-trabalho e da vantagem comparativa, enquanto
Karl Marx fez oposição direta com base no socialismo
científico e comunismo. Além desses autores, vale destacar
Keynes, que fez sua contribuição econômica para a
macroeconomia e caminhou na direção oposta à visão de
liberdade de Smith, acreditando em um Estado presente e
desenvolvimentista, e Schumpeter, que além de ter feito
críticas ao sistema de Smith, contribui para a utilização da
tecnologia no sistema de mercado. A sociedade que Adam
Smith descreveu e que se desenvolvera de forma tão rápida e
produtiva graças à liberdade e à propriedade privada aos
poucos se desmoronou durante o século XX, atribuindo
maiores poderes aos governos intervencionistas.

Atualmente, este debate está aceso novamente,


especialmente no Brasil, onde questões sobre privatizações,
o papel do Estado na economia e até que ponto o governo
poderia cobrar impostos são temas que persistem na mídia e
nos governos, mesmo que de forma irresponsável e irracional.

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Portanto, nunca é demais ressaltar a importância de Adam


Smith para a defesa da liberdade e do livre comércio através
de um novo sistema econômico movido pelo livre mercado.
Sua principal obra foi fundamental para acelerar a quebra de
velhos paradigmas para que, assim, compreendamos o real
caminho para aumentar as Riquezas das Nações.

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