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No século XIX, tal pensamento foi representado à perfeição nas obras de dois de seus
maiores historiadores e filósofos políticos: Alexis de Tocqueville e Lord Acton. Estes dois
homens desenvolveram com o mais pleno êxito tudo aquilo que havia de melhor na filosofia
política de Burke, dos filósofos escoceses e dos Whigs ingleses.
Por outro lado, os economistas clássicos do século XIX — ou pelo menos os discípulos de
Jeremy Bentham ou os radicais entre eles — se mostraram crescentemente sob a influência
de outro tipo de individualismo, um individualismo de origem distinta.
É justamente pelo fato de apenas o primeiro tipo de individualismo ser consistente, que eu
lhe atribuo a denominação de individualismo genuíno, ao passo que este segundo tipo de
individualismo deve ser considerado como uma fonte para o socialismo moderno tão
importante quanto as próprias teorias coletivistas.
Não há melhor ilustração da atual confusão a respeito do significado de 'individualismo' do
que o fato de aquele homem tido como um dos maiores expoentes do individualismo
genuíno, Edmund Burke, ser comumente (e corretamente) acusado de ser o principal
oponente do "individualismo de Rousseau" — cujas teorias ele dizia que iriam rapidamente
dissolver a sociedade "na poeira e no pó da individualidade" —, e que o próprio termo
"individualismo" tenha sido apresentado pela primeira vez no idioma inglês por meio da
tradução de uma das obras de outro grande representante do individualismo genuíno, Alexis
de Tocqueville, que utilizou o termo em sua obra Democracia na América para descrever
uma atitude que ele deplora e rejeita. No entanto, não há dúvidas de que tanto Burke quanto
de Tocqueville estão, em toda a sua essência, próximos de Adam Smith — a quem ninguém
negaria o título de individualista —, e que o "individualismo" ao qual eles se opõem é algo
completamente diferente daquele de Smith.
A diferença entre esta visão — que diz que toda a ordem que percebemos nas relações
humanas é o resultado não-premeditado de ações individuais —, e a visão que atribui toda
essa ordem perceptível a um planejamento deliberado é o primeiro grande contraste entre o
individualismo genuíno dos pensadores britânicos do século XVIII e o suposto
individualismo da Escola Cartesiana.
Mas essa diferença é apenas um aspecto de uma diferença ainda mais ampla entre as duas
visões. De um lado, temos uma visão que, no geral, não endeusa o papel da razão nas
relações humanas, afirma que o homem alcançou tudo o que já alcançou apesar do fato de
ser guiado apenas parcialmente pela razão, e afirma que a razão individual é muito limitada
e imperfeita. De outro, temos uma visão que pressupõe que a Razão, com R maiúsculo, está
sempre disponível de maneira plena e igualitária para todos os seres humanos, e que tudo
que o homem alcança é resultado direto de estar submetido ao controle da razão de uma
mente planejadora.
A abordagem anti-racionalista, a qual considera o homem não como um ser altamente
racional e inteligente, mas sim um ser extremamente irracional e falível, cujos erros
individuais serão corrigidos apenas no decorrer de um processo social, e que tem como
objetivo tirar o melhor proveito possível de um material altamente imperfeito, é
provavelmente a característica mais notável do individualismo inglês.
Portanto, para concluir, volto ao que foi dito no início: a atitude fundamental do
individualismo genuíno é de humildade em relação aos processos pelos quais a humanidade
alcançou vários feitos que não haviam sido planejados ou compreendidos por nenhum
indivíduo sozinho, e que são, com efeito, maiores do que as mentes individuais. A grande
questão neste momento é se a mente humana poderá continuar crescendo como parte deste
processo ou se ela deverá ser acorrentada aos grilhões que ela própria criou. O que o
individualismo nos ensina é que a sociedade será maior do que o indivíduo apenas se ela for
genuinamente livre. Se ela for controlada ou planejada, será totalmente limitada pelos
poderes das mentes dos indivíduos que a controlam ou planejam.
Se a presunção da mentalidade moderna — que não respeita nada que não seja
conscientemente controlado por alguém — não entender a tempo suas limitações,
poderemos, como nos alertou Edmund Burke, "estar seguros de que tudo a nosso respeito e
à nossa volta irá definhar gradualmente, até que, no final, nossos objetivos serão encolhidos
à insignificante dimensão de nossas mentes."
O artigo acima foi retirado de um trecho do livro Individualism and Economic Order.
autor
Friedrich A. Hayek
(1899-1992) foi um membro fundador do Mises Institute. Ele dividiu seu Prêmio Nobel de Economia, em
1974, com seu rival ideológico Gunnar Myrdal "pelos seus trabalhos pioneiros sobre a teoria da moeda e das
flutuações econômicas e por suas análises perspicazes sobre a interdependência dos fenômenos econômicos,
sociais e institucionais". Seus livros estão disponíveis na loja virtual do Mises Institute.
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comentários
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comentários (21)
Gosto muito do "Egoísmo Racional" da Ayn Rand, vai nesse linha e tem uns melhoramentos.
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A vida é curta demais para ser gasta traduzindo Hayek e seus intermináveis
períodos compostos por inúmeras orações sintaticamente independentes
entre si.
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É curioso observar que quando um texto aqui publicado possui um conteúdo mais teórico,
filosófico ou mesmo ético, não surgem nesse espaço para comentários os patrulheiros da
esquerda com suas bobajadas sem fim. A não ser que se bata direta e abertamente em
símbolos esquerdistas concretamente reconhecíveis pelos seus sentidos, eles simplesmente
emudecem, como se estivessem atordoados sem entender o que se passa a volta. A medida
que se elevam as discussões, somos imunizados dessa gente.
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Bingo. Devem chegar na terceira linha, desistir de tentar compreender qualquer coisa,
e voltar pro facebook xingar o Olavo ou o Constantino de novo.
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Queria saber onde estão agora os debatedores que estavam zoando os comentários no
artigo sobre a liberalização das drogas!
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@Cauê e @Andre
Olha eu aqui! :)
----------------
Voltando ao artigo, interessante essa postura humilde dos ingleses
em relação à sociedade. Triste é ser chamado de arrogante pelos
coletivistas, quando, na verdade, você apresenta e defende uma
ideia do indivíduo livre para errar e aprender com seus erros (e não
prejudicar os outros). Parece que o simples fato de ter sua
ignorância exposta é ofensivo.
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**********************
QED
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Pedro. 01/11/2013 15:11
TAÍ,
Edu, perfeito!
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"Alguns descendentes de Alfred Nobel, notadamente seu sobrinho bisneto Peter Nobel, não
aceitam que o Prémio de Ciências Económicas seja referido como um Nobel, pois o
consideram como uma espécie de "campeonato de relações públicas para economistas" - algo
impensável por Alfred Nobel, que desprezava "pessoas para quem os lucros são mais
importantes do que o bem-estar da sociedade"."
pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9mio_de_Ci%C3%AAncias_Econ
%C3%B3micas_em_Mem%C3%B3ria_de_Alfred_Nobel
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De fato, não existe, e só este mês isso já foi explicado duas vezes aqui:
www.mises.org.br/Article.aspx?id=1709
www.mises.org.br/Article.aspx?id=1713
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Por que nasci no "brosil"? Esse país não tem futuro algum.
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Mas acreditar no ponto em que a liberdade individual será maior e não se deixar guiada pelos
"comandantes políticos" não é trocar o este pelos "comandantes econômicos"?
Ah, sempre tive outra dúvida. Como fica as questões de monopólio ou cartel em combinações
de preços.
Grato.
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Quanto à segunda, basta você vislumbrar a realidade à sua volta e perceber que
monopólio, cartel e combinações de preços só ocorrem justamente naqueles setores
regulados pelo estado. É uma rematada sandice acreditar que regulações estatais
protegem os consumidores. As agências reguladoras, por exemplo, existem para
proteger as grandes empresas e ferrar os consumidores.
Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de
regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado
(agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas
empresas surjam e cresçam. Pedir que o estado atue para acabar com cartéis é o
mesmo que pedir para o gato tomar conta do pires de leite.
E quando não era assim, o que ocorria? Quando o governo não tinha ainda poderes
para se intrometer, havia formação de cartel entre os poderosos? Havia "exploração"?
Não. O que ocorria era isso.
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Vlw! Lerei!
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Duas linhagens de pensadores e cada indivíduo tem que escolher com qual se alinhar.
***
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(eu sei, eu sei... Hayek é um grande economista, mas a escrita dele é um porre)
RESPONDER
"O que o individualismo nos ensina é que a sociedade será maior do que o indivíduo apenas
se ela for genuinamente livre. Se ela for controlada ou planejada, será totalmente limitada
pelos poderes das mentes dos indivíduos que a controlam ou planejam."
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