Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
*
IMMANUEL WALLERSTEIN**
Há uns cinqüenta anos a palavra substancial (com uma lei do povo oposta à
"moderno" tinha duas conotações claras. Uma aristocrática, com essa lei do melhor); era a
era positiva e esperançosa. "Moderno" modernidade da satisfação das necessidades
significava a mais avançada tecnologia. O humanas e também da moderação. Essa
termo situava-se no marco conceitual da modernidade da liberação não era, pois,
presumível infinitude do progresso modernidade presumida, mas eterna, porque
tecnológico e, por essa razão, das inovações uma vez conseguida, não se a perderia nunca.
constantes. Aquela modernidade era Esse par simbiótico tem confirmado a
conseqüentemente fugidia porque o que hoje contradição cultural de um sistema mundial,
era moderno, no dia seguinte já era obsoleto. do sistema do capitalismo histórico, uma
E ademais era bastante material em sua forma, contradição que nunca foi tão aguda como é
pois tinha a ver com aviões, ar condicionado, agora, quando nos tem levado a uma crise
televisão, computadores, etc. O atrativo deste moral e estrutural.
tipo de modernidade não se esgotou ainda.
Porém, havia assim mesmo uma segunda
conotação primordial para o conceito de UMA RELAÇÃO SIMBIÓTICA
moderno, que era mais contestatória que
afirmativa, e que podia se caracterizar como Dada a relação simbiótica das duas
menos esperançosa que complacente (e modernidades, não foi tarefa fácil lograr a
também menos autocomplacente), ou como separação parcial de ambas. Não obstante, a
menos material que ideológica. Essa referida separação se completou para que se
modernidade era, brevemente, o presumido pudesse criar assim uma base geocultural
triunfo da liberdade humana contra as forças duradoura, capaz de legitimar as operações da
do mal e da ignorância, uma trajetória tão economia mundial capitalista. Essa base foi
inevitavelmente progressiva como a do avanço exitosa pelo menos durante cento e cinqüenta
tecnológico. Todavia, não era um triunfo da anos aproximadamente, e a chave de sua
humanidade sobre a natureza; era, muito operação foi a elaboração da ideologia do
mais, um triunfo da humanidade sobre si liberalismo, bem como a aceitação deste como
mesma, e sobre aqueles que tinham ideologia emblemática da economia mundial
privilégios. Seu caminho não era só de capitalista.
descobrimento intelectual, senão também de Em si mesmas, as ideologias foram uma
conflito social. Essa modernidade não era a da inovação surgida da nova situação cultural que
tecnologia, a do Prometeu desacorrentado, a se gerou com a Revolução Francesa. Duas
da riqueza sem limites. Era, a rigor, a idéias radicalmente novas eram agora aceitas
modernidade da liberação; a da democracia com amplitude e eram também quase
* WALLERSTEIN, I. El fin de ¿ qué modernidad? La Época, Costa Rica, 20 out. 1996. P 22-3. Traduzido por José
Flávio Bertero e Ana Maria de Oliveira Rosa e Silva.
** Diretor do Centro Fernand Braudel, prof. de Sociologia da Universidade de Birghamton, presidente da Associa-
ção Internacional de Sociologia e autor, entre outros, do livro O moderno sistema mundial.
-3-
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA 1997 UNESP - FCL
-4-
ESTUDOS DE SOCIOLOGIA N°03 IMMANUEL WALLERSTEIN
-5-
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA 1997 UNESP - FCL
-6-
ESTUDOS DE SOCIOLOGIA N° 03 IMMANUEL WALLERSTEIN
-7-
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA 1997 UNESP - FCL
-8-