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Na tradição cristã
existem sete pecados capitais.
Soberba, avareza, ira,
inveja,
preguiça, gula e luxúria...
Nem ao menos
poderia alegar ignorância
para suavizar
minha penitencia quando era vivo.
Talvez
essa fosse a verdadeira natureza
do meu castigo.
Afinal
quem teria coragem
de se aproximar de uma criatura
assustadora
como eu?
De sumo sacerdote,
a curandeiros camponeses,
toda sorte de homem místico
foi consultado por meus progenitores
para que
eu
existisse.
Sangue e lágrimas
cobriram meu berço de marfim
antes mesmo que pudesse repousar nele,
pois
a cada tentativa frustrada
resultava em uma cabeça cortada.
Uma garantia cruel
de que nenhuma outra imperatriz
seria enganada novamente.
Mas
três homens
foram capazes de romper a longa tragédia
que assombrava a família real.
A receita macabra
que alegaram ter sido usada pela mãe deles,
mostrando que
definitivamente
o mal
que hoje corre em mim
deriva em parte
de longo sangue
maldito.
E numa noite
especialmente escura
eu nasci,
literalmente
banhado
pelo sangue de outros 9 pequenos camponeses,
roubados de suas mães
seu primeiro e derradeiro
suspiro de vida.
Riqueza e opulência
preenchiam a residência real:
brinquedos eram feitos pelos melhores artesãos do continente,
os tecidos mais nobres importados do além-mar.
As comidas mais finas
e os músicos mais requisitados
me faziam companhia desde o meu despertar.
Nada
me era negado
por mais extravagante que fosse o meu pedido.
Então me lembro
vagamente
de estranhar quando meus serviçais
hesitaram
quando eu pedi para conhecer o que havia
além do palácio.
A pobre criadagem
acreditara que em minha tenra idade seria capaz
de me chocar com a dura realidade do mundo exterior.
No entanto,
a paisagem sofrida que via
através das pesadas cortinas do meu palácio
apenas me entediara.
O mundo exterior era
cinzento
e fedido.
Uma obsessão
que me subjugava
mesmo no além vida.
Minha
e apenas minha
Chihiro.