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Figura 10.

14 - Exemplo de barragem de enrocamento com núcleo de argila (Fonte:


Furnas, 1998).

Figura 10.15 - Exemplo de barragem de enrocamento com face de concreto.


10.5. Geologia no Projeto e Construção de Barragens

10.5.1. Critérios de Seleção do Local

O local de construção deve atender, a uma série de requisitos, dentre os


quais pode-se destacar:

9 O material presente na fundação deve ser capaz de resistir às forças


estáticas e dinâmicas;
9 Os taludes dos vales devem ser estáveis com o reservatório cheio;
9 A fundação deve estar a salvo de rupturas;
9 A rocha de fundação deve ser preferencialmente de um só tipo litológico,
de maneira a se evitar variações no módulo de deformabilidade (E);
9 As paredes da fundação e do reservatório devem ser impermeáveis;
9 Devem ser resistentes à dissolução, erosão, decomposição e outros
efeitos cíclicos (umidecimento / secagem);
9 As rochas existentes no reservatório devem ser resistentes à erosão, de
maneira a não contribuírem com cargas pesadas de assoreamento;
9 Condições geológicas e topográficas devem permitir a localização
favorável do vertedouro, canal de desvio, casa de força, etc.;
9 As jazidas de materiais de construção (principalmente agregados) devem
estar a uma distância economicamente justificável do canteiro.

Em geral, um conhecimento adequado do local de implantação é


fundamental, embora sua escolha e orientação do eixo da barragem possam ser
decididos por critérios morfológicos e topográficos. No entanto, em relação às fundações,
o projeto da estrutura é basicamente orientado por condições geológicas.

As informações essenciais ao projeto são:

9 Distribuição das características de resistência, deformabilidade,


permeabilidade e da estabilidade, em termos geométricos e quantitativos;
9 Ocorrência de água subterrânea e distribuição das respectivas pressões;
9 Localização de materiais de construção;
9 Identificação dos riscos geológicos específicos.

Assim, a participação da GEOLOGIA pode ser dividida em 4 etapas:

9 Investigação do local da barragem (investigações diretas e indiretas);


9 Tratamento do maciço de fundação (melhoria das propriedades de
permeabilidade, resistência e deformabilidade);
9 Controle do comportamento do barramento face às perturbações
impostas às condições naturais da crosta e ao próprio meio ambiente;
9 Investigações de possíveis fatores geológicos ligados ao insucesso da
obra.

10.5.2. Investigação do Local da Barragem

É a etapa que mais exige da Geologia, pois é necessário, a partir dos dados
obtidos nas investigações diretas e indiretas, realizar uma interpretação do substrato.
Assim, deve-se pesquisar:
9 Os tipos de rochas presentes e suas distribuições;
9 Os estados de alteração de cada tipo de rocha e suas distribuições;
9 A alterabilidade de cada tipo de rocha e a previsão de sua evolução face
à mudança das condições do meio;
9 Propriedades das rochas perante os diversos estágios de alteração;
9 Estrutura detalhada do maciço rochoso (anisotropia e descontinuidades
com respectivas propriedades físicas);
9 Condições de água subterrânea;
9 Estado natural de tensões instalado no maciço de fundação.

10.5.3. Fases dos Estudos Geológicos e Geotécnicos

10.5.3.1. 1a Fase – Estudo Preliminar (Inventário)

9 Reunião dos elementos geológicos existentes (regional e local);


9 Estudo fotogeológico;
9 Reconhecimento geológico, de superfície, da área;
9 Definição do programa preliminar de prospecção geotécnica;

10.5.3.2. 2a Fase – Anteprojeto (Viabilidade)

9 Reconhecimento geológico de superfície (continuação);


9 Prospecção geofísico (eixo e área de inundação);
9 Prospecção mecânica e manual (eixo e zonas de acidentes
tectônicos);
9 Prospecção em pedreiras e áreas de empréstimo;
9 Definição do programa complementar de prospecção geotécnica;

10.5.3.3. 3a Fase – Projeto (Projeto Básico)

9 Ampliação da prospecção no eixo e pedreiras;


9 Prospecção geofísica (túnel de desvio, tomadas d’água,
vertedouros, canais, etc.;
9 Prospecção mecânica nos locais citados acima;
9 Ensaios “in situ” – deformabilidade, estado de tensões, perda
d’água e injetabilidade de caldas no maciço de fundação.

10.5.3.4. 4a Fase – Execução da Obra (Projeto Executivo)

9 Ajuste dos elementos geológicos em face das escavações para as


fundações e abertura de túneis, canais, etc.
9 Acompanhamento e liberação das escavações executadas.
Tabela 10.1 - Problemas Geotécnicos Mais Comuns em Barragens (Fonte: Cabral, 1987).

P D R E E E E E Q E
e e e s s r r s u s
r f s t t o o t a t
m o i a a s s a n a
e r s b b ã ã d t b
a m t i i o o o i i
b a ê l l d l
i b n i i d a d a i
l i c d d e e d d
i l i a a J e a
d i a d d T u T d
a d e e a s e e e
TIPO DE d a a l a n
PROBLEMA e d o T T u n s Q T
e a a d t ã u e
C l l e e o a t
o u u s l o
r d d i s
t e e d
e s s . e

N E M P
LOCAL a s a a
t c t r
u a e e
r v r d
a a i e
i ç a s
s ã i
o s
Maciço de Fundação e Ombreiras • • • •
Área de Inundação • • •
Pedreiras e Empréstimos • •
Vertedouros • •
Central não subterrânea • •
Central Subterrânea • • • •
Canais • •
Chaminé de Equilíbrio • • • •
Descarga de Fundo • •
Galerias de Desvio • • •
Tomadas d’água • • • •
Túneis de Bombeamento • • •
Tabela 10.2 - Trabalhos de Prospecção mais Adequados (Fonte: Cabral, 1987).

Geofísica
Elétrica Sísmica Poços e Rotativa SPT Galerias
Trincheiras
Eixo da Barragem • • • • •
Área de Inundação • • •
Pedreiras e Empréstimo • • • •
Vertedouros • • • • •
Central Não • • •
Subterrânea
Central Subterrânea • • • • •
Canais • • • •
Chaminé de Equilíbrio • •
Descarga de Fundo • • • •
Galerias de Desvio • • • •
Tomadas de D’Água • • • •
Túneis de Desvio • • • • •

Tabela 10.3 - Barragens Mais Altas do Mundo (Fonte: Cabral, 1987).

NOME CONCLUSÃO PAÍS TIPO ALTURA (m)


Rongunsky 1985 URSS TE 352
Nurak 1985 URSS TE 317
Grand Nixence 1962 SUIÇA PG 285
Inguri 1985 URSS VA 272
Vaijont 1961 ITÁLIA VA 262
Mica 1974 CANADÁ ER 242
Sayano- 1980 URSS VA 242
Sushesenskaya
Chiocasen 1980 MÉXICO ER 240
Mauvosin 1957 SUIÇA VA 237
Chivor 1977 COLÔMBIA ER 237
TE – Terra VA – Arco PG – Gravidade ER - Enrocamento

Tabela 10.4 - Capacidades Instaladas Mais Elevadas do Mundo (Fonte: Cabral, 1987).

NOME CONCLUSÃO PAÍS POTÊNCIA (MW)


ATUAL PROGRAMADO
Itaipu 1985 BRASIL 12600 12600
Grand Coule 1942 USA 3463 9780
Guri 1985 VENEZUELA 2553 8850
Tucuruí 1983 BRASIL 6480 6480
Sayano- 1980 URSS ------- 6400
Sushenskaya
Corpus ------- ARGENTINA ------- 6000
Krasnoyarsky 1972 URSS 6000 6000
Ust-Limsk 1982 URSS 4600 4600
Paulo Afonso ------- BRASIL 1524 3500
Ilha Solteira ------- BRASIL 3200 3200
10.6. Sismicidade Induzida

A construção de barragens pode, após o enchimento do reservatório induzir


terremotos, denominados sismos induzidos, que podem causar danos consideráveis e
mortes.

A Tabela 10.5 mostra alguns exemplos de sismos ocorridos em vários locais do


mundo, suas intensidades e efeitos. No Brasil, o estudo destes fenômenos teve início no
final da década de 80, tendo sido medidos sismos induzidos nas barragens de Cajuru,
Capivari-Cachoeira, Porto Colômbia-Volta Grande, Paraibuna-Paraitinga e Capivara. Um
exemplo mais recente é a usina de Nova Ponte (CEMIG), que produziu, em abril de 1995
vários sismos, sendo os mais fortes um com intensidade 3.7 na escala Richter e 4 a 5 na
escala Mercali e outro com 4.0 (Richter) e 6 (Mercali).

Tabela 10.5 - Exemplos de sismos induzidos por barragens em diversas regiões do


mundo (Fonte: ABGE, 1998).

Barragem / País Altura Cap. Embasamento E S Efeito


(m) Reserv.
(m3 x 104)
L’Oued Fodda, Argélia 101 0.228 Marga dolomítica 1932 1933 Sentido
Hoover, USA 221 38.3 Granito, micaxistos 1935 1936 Noticiado
(M = 5)
Talbingo, Austrália 162 0.92 1971 1972 M < 3.5
Hsifengkiang, China 105 11.5 Granito 1959 Alta atividade
M = 6.1
Monteynard, França 130 0.27 Calcário 1962 1963 M = 4.9
Kariba, Zimbabwe 128 160.0 Gnaisse e sedimentos 1958 1961 M = 5.8
Koyna, China 103 2.78 Basaltos 1962 1963 M = 6.5
177 vítimas
Benmore, N. Zelândia 110 2.04 Grauvacas, argilitos 1964 1965 M=5
Kremasta, Grécia 160 4.75 Flysch 1965 1965 Forte, M = 6.2
1 vítima
Nurak Tadzik, URSS 317 10.5 1972 1972 M = 4.5
Kurobe, Japão 186 0.19 1960 1961 M = 4.9
Koyna, Índia --- ----- Basaltos 1962 1967 R = 7.5
200 vítimas
Oroville, USA 236 4.37 Xisto 1968 1975 M = 5.9

Um exemplo de acidente com barragens bastante estudado, e que produziu uma


série de sismos induzidos foi o ocorrido com a Barragem de Vayont (Vajont) na Itália, aos
pés do Mont Toc, Sul dos Alpes. O primeiro enchimento do reservatório, em 1960,
produziu as primeiras atividades sísmicas que iniciaram um movimento superficial de solo
com alguns metros em uma das margens e um primeiro escorregamento do maciço
rochoso. Foi feito então um primeiro rebaixamento do nível d’água para a execução de
algumas medidas estabilizadoras. Em 1961 fez-se o segundo enchimento do lago e novos
movimentos superficiais ocorreram em decorrência da atividade sísmica. O lago foi então
mais uma vez rebaixado para a adoção de novas medidas de estabilização. Finalmente,
um novo enchimento teve início em 1963, atingido o nível máximo de projeto em setembro
daquele ano. Um forte movimento ocorreu em 09/10/63, dando origem à um
escorregamento de 250 x 106 m3 de rocha que causou uma onda que passou por cima da
barragem, destruindo a cidade de Longarone e matando cerca de 2000 pessoas.
Figura 10.16 - Barragem de Vaijont antes do escorregamento de 1963 (Fonte: Hoek,
2000).

Figura 10.17 - Aspecto do reservatório após o acidente (Fonte: Hoek, 2000).

10.7. Injeção

Muitas vezes torna-se necessário melhorar as propriedades de permeabilidade do


maciço rochoso na fundação e/ou nas ombreiras de uma barragem, o que implica em
reduzir a permeabilidade destes maciços.

Assim, faz-se uso de técnicas de injeção para os quais se utiliza um equipamento


especialmente desenvolvido para este fim, composto por um misturador, um agitador,
uma bomba e pelas tubulações para injeção a diversas profundidades. Para a injeção em
rocha são realizados furos de sondagem rotativa, espaçados de 3 a 6 m, com diâmetro
pequeno (35 a 75mm), injetados em comprimentos de 3 a 5m. São utilizados dois
métodos: durante a perfuração do furo (na descendente) e após a perfuração (na
ascendente). O método de injeção durante a perfuração é teoricamente melhor porque
permite o uso de pressões mais altas mas, na prática, o segundo é mais usado por que
evita a interrupção da perfuração para a realização da injeção e vice-versa. A Figura
10.18, abaixo, ilustra estes processos.
Calda Calda

Zona Injetada

Descendente
Zona
Ascendente Injetada

Figura 10.18 - Processos de injeção em maciços rochosos (Fonte: Lima, 1985).

No caso de injeções em solos são realizados furos espaçados de 1.5 a 2.5m, com
diâmetro de 65 a 130mm. Nestes furos são colocados tubos soldados de PVC (1” a 1 ½”)
com luvas de borracha para evitar retorno, distanciadas de 33 a 50cm. A cavidade do
furo/tubo é selada com suspensão de bentonita e cimento injetada pela válvula de fundo.
Durante a injeção as seções individuais são isoladas com obturador duplo e as luvas de
borracha se expandem sob pressão, permitindo a saída da calda. A figura abaixo
exemplifica o processo.

Antes da Injeção Durante a Injeção

Tubos com válvulas, 1 1/8” Tubos de calda Obturador duplo

Luva de borracha
Zona em injeção
Ruptura do solo
Furos para saída da calda durante a injeção

Luva de borracha
Zona Injetada

Solo

Parede do furo Luva e solo após a


iInjeção

Figura 10.19 - Processo de injeção em solos (Fonte:Lima, 1985).


A figura a seguir mostra alguns dos esquemas de espaçamento entre furos usados
para injeção

Figura 10.20 - Possíveis esquemas de injeção (Fonte: Lima, 1985)..

Figura 10.21 - Exemplo de pressão de soerguimento causada por fluxo pela fundação na
barragem de Hoover (Boulder, Colorado, USA) e a solução de injeção usada
(Fonte: Goodman, 1993).

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