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DA FISCALIZAÇÃO
Modalidade: conformidade
Ato originário: Acórdão 367/2012 - Plenário
Objeto da fiscalização: Implantação de Complexo de Poliéster e Resina PET em Ipojuca
Funcional programática:
• 22.662.2055.125U.0026/2012 - Implantação de Complexo de Poliéster e Resina PET, em Ipojuca
(PE) - No Estado de Pernambuco
Tipo da obra: Obras Especiais
RESUMO
SUMÁRIO
Título Página
1 - APRESENTAÇÃO 4
2 - INTRODUÇÃO 5
3 - ACHADOS DE AUDITORIA 10
5 - CONCLUSÃO 41
6 - PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO 42
7 - ANEXO 44
1 - APRESENTAÇÃO
A Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco - Citepe é uma sociedade anônima de capital fechado
controlada pela Petrobras S/A e está intimamente ligada à operação da PetroquímicaSuape, cujo
produto gerado é o ácido tereftálico - PTA, principal matéria-prima das plantas da Citepe. Ambas são
hoje controladas pela Petrobras.
As obras Citepe se dividem na construção de duas unidades, uma para transformar o ácido tereftálico
em resina para embalagens PET (politereftalato de etileno), e outra de polímeros e filamentos de
poliéster (POY).
A unidade de PET produzirá 450 mil toneladas/ano de resina para embalagens plásticas, e a unidade de
polímeros e filamentos de poliéster terá capacidade de produção de 240 mil toneladas/ano, distribuída
entre filamento POY (partial oriented yarn); filamento texturizado DTY (draw textured yarn),
produzido a partir do POY; e filamento liso FDY (full draw yarn).
O objeto desta auditoria é o Contrato aliança 14/2010, celebrado sem prévia licitação entre a Citepe e a
Construtora Norberto Odebrecht - CNO no valor de R$ 1.799.000.000,00.
Vale ressaltar que as obras para a unidade geradora de PTA, a cargo da PetroquímicaSuape, também
foi contratada por meio de contrato aliança com a CNO, e que, apesar de quase pronta, sua entrada em
operação depende da conclusão das obras da Citepe. Isso porque a maior parte da sua produção será
destinada à produção de PET, na Citepe. Caso esta não entre em operação, a PetroquímicaSuape terá
dificuldades em escoar sua produção no mercado interno a preço viável, uma vez ter sido concedido
isenção tributária para a importação do insumo, no âmbito de um acordo comercial amplo com o
México. Hoje, o grupo Mossi & Ghisolfi (M&G), principal produtor da resina PET no Brasil, importa
todo o PTA de que necessita do México.
O contrato aliança, de acordo com o Manual de Procedimentos Contratuais da Petrobras, se caracteriza
por "envolver todas as fases necessárias à obtenção do objeto contratual, com controle, riscos e ganhos
compartilhados".
A equipe de fiscalização do Fiscobras/2011 se encarregou de analisar a legalidade da contratação da
Construtora Norberto Odebrecht - CNO na modalidade contrato de aliança, no âmbito do TC
014.754/2011-8. Concluiu pela impossibilidade jurídica da contratação, em face de interesses não
convergentes entre a Citepe e a CNO (à Citepe interessa a obra pronta, à CNO, o lucro). A constatação
de 2011 relacionada a "fiscalização ou supervisão deficiente ou omissa" acabou confirmada nos
trabalhos de 2012.
Na fase de planejamento da auditoria, constatou-se que havia um acúmulo de diversas solicitações de
alterações de escopo, ainda não aprovadas, que elevariam o valor do contrato substancialmente e que
poderiam estar incluindo compras para finalidade outra que não a execução da obra.
Diante disso, o planejamento inicialmente estabelecido previa as seguintes questões de auditoria:
1) Os termos aditivos realizados no contrato aliança referem-se a alterações reais de escopo?
2) Os termos aditivos onerosos que são decorrentes de alterações reais de escopo possuem custos
compatíveis com os de mercado?
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Importância socioeconômica
Segundo informações da Citepe, o Complexo Petroquímico de Suape, quando em plena operação, será
o maior pólo integrado de poliéster da América Latina, poderá gerar cerca de US$ 1 bilhão em
economia de divisas na balança comercial brasileira devido ao volume que deixará de ser importado de
PTA (ácido tereftálico purificado) e PET para o atendimento da crescente demanda do mercado
doméstico.
Ainda de acordo com a Citepe, toda a resina PET produzida será destinada ao mercado brasileiro,
sendo 30% para o próprio Estado de Pernambuco e o restante para as Regiões Sul e Sudeste.
2 - INTRODUÇÃO
As alíneas "f" e "g" das considerações iniciais do contrato aliança objeto desta fiscalização (14/2010)
expõem os objetivos desse acordo prévio:
"f) As partes celebraram em 04 de dezembro de 2009 um Contrato Parcial de Aliança nº 17/2009, para
possibilitar a realização de serviços iniciais das obras de implementação do Projeto, antes da
elaboração de orçamento definitivo; e
g) Durante a vigência do Contrato Parcial de Aliança as partes puderam orçar os custos da Obra e
estabelecer o Preço Meta e os Prazos Teto e Meta finais, bem como de um Sistema definitivo de bônus
e penalidades."
A elaboração do projeto básico foi contratada em 6/4/2009, enquanto que o contrato aliança 14/2010,
objeto desta auditoria, sucessor do pré-contrato 17/2009, foi assinado dezessete meses depois, em
1º/9/2010, no valor de R$ 1.799.000.000,00 (a estimativa para o empreendimento teve intervalo de
precisão fixado entre -1% e +3%). Já no âmbito dessa aliança, foi firmado contrato com a empresa
Genpro, para elaboração do projeto de detalhamento da Citepe (projeto executivo).
CONCEITOS DE CONTRATO ALIANÇA
Um princípio fundamental dos contratos aliança é o comprometimento comum das partes para a
completude do objeto no preço e no prazo definidos. A performance do contratado, outro pressuposto
básico, é medida por meio de indicadores de desempenho, para fins de bonificações ou penalizações ao
final do contrato.
Em contratos convencionais, as partes situam-se em posições antagônicas, onde cada uma defende seu
exclusivo interesse. Nos contratos aliança, os interesses são supostamente convergentes, como em um
convênio. Por esse motivo, os aliançados são normalmente chamados de parceiros. O parceiro
proprietário é o contratante, que paga, enquanto o parceiro não proprietário é o contratado, que
constrói.
O parecer jurídico elaborado pela Gerência Jurídica da Citepe acerca da obrigatoriedade da Companhia
de realizar ou não certame licitatório para a formação de aliança expõe conceitos e requisitos especiais
dos contratos aliança, dos quais destacamos:
"Um contrato de aliança é um contrato com incentivo à performance onde parte da remuneração da
empresa aliada estará ligada ao resultado do projeto, frente ao custo pretendido";
"elaboração conjunta de um orçamento, o mais realista possível, que contemple todos os custos
necessários à consecução do projeto";
"conjugação de esforços no gerenciamento do empreendimento";
"estabelecimento de sistema de bônus e penalidades, que tenha como parâmetro o preço meta"; e
"para a CITEPE, o cumprimento do cronograma de implantação do projeto é passo crítico, e devem ser
envidados todos os esforços para que tal cronograma seja cumprido."
Portanto, resumidamente, pode-se definir um contrato aliança pelas seguintes características:
1) riscos e responsabilidades compartilhados equitativamente;
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2) gestão compartilhada;
3) comprometimento com o preço e prazo meta estabelecidos de forma conjunta; e
4) remuneração da contratada com estabelecimento de sistema de bônus e penalidades relacionados à
performance.
SISTEMA DE REMUNERAÇÃO NOS CONTRATOS ALIANÇA
De acordo com a literatura estrangeira acerca de contratos aliança, em especial a australiana, o preço
meta (target cost ou target outcome cost) é o alvo a ser atingido em termos de preços. Após uma
estimativa conjunta (open book) dos custos da obra, com as necessidades reais do escopo levantadas
com todas as composições de custo e memórias de cálculo abertas, os parceiros fixam o preço meta
dentro de uma curva de distribuição de probabilidade de custo.
O preço meta, portanto, não é necessariamente a última linha da estimativa de custo, mas um valor
negociado abaixo do custo máximo estimado, por levar em conta a desejável agregação de valor pela
melhor performance do parceiro não proprietário.
O sistema de remuneração em um contrato típico de aliança é composto por três fases (parcelas). Na
primeira, o parceiro não proprietário é ressarcido de todos os custos diretos incorridos durante a
execução do projeto. Essa fase é sem risco para o contratado, uma vez que se garante o ressarcimento
integral dos custos reais de execução. A segunda fase é composta de uma taxa, constituída de um
percentual de lucro bruto e de um percentual referente aos custos de administração central (overhead).
A terceira e última fase do sistema de remuneração é composta pelas bonificações e penalizações,
dependentes da eficiência da contratada na execução da obra. Essa eficiência é mensurada por
indicadores de desempenho estabelecidos contratualmente.
A gestão do empreendimento, que por definição é compartilhada entre os parceiros, é um diferencial
em contratos aliança. Se bem gerido o projeto, haverá economia de recursos para o parceiro
proprietário e bonificações para o não proprietário. Se mal gerido, ambos devem arcar com o ônus,
sendo que o parceiro não proprietário tem as penalizações limitadas ao montante percebido de lucro e
administração central (fase 2).
Note-se que, de acordo com a literatura estrangeira, o parceiro não proprietário poderá vir a ser
penalizado inclusive sobre a parcela da remuneração da administração central. Isso porque nessa
parcela estão inscritos, inclusive, os pró-labores da diretoria, e, como pressuposto do contrato aliança
está a norma implícita de que um parceiro só poderá obter ganhos se o outro também obtiver. Se
houver perdas na aliança, esta deverá ser, de igual forma, para os dois parceiros.
No entanto, a cláusula 8.5 do Contrato 14/2010 prevê que a soma dos valores dos bônus e penalidades
no caso concreto é limitada ao valor da RG (lucro) que tiver sido recebida pela CNO, não incidindo,
portanto, sobre a parcela da administração central.
Pelo exposto, percebe-se que o preço meta é o principal parâmetro de aferição de desempenho do
parceiro não proprietário. Se o preço meta for atingido, ou seja, se o custo total do empreendimento
ficar igual ou abaixo ao estipulado como meta, o contratado fará jus à bonificação. Se o preço meta for
ultrapassado, haverá uma penalização ao contratado. Isso não afasta, no entanto, a necessidade de
acompanhar os indicadores de desempenho estabelecidos, pois estes indicam como a contratada tem
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gerido os recursos disponíveis para a execução da obra. O não acompanhamento desses indicadores
poderá escamotear aumentos quantitativos decorrentes de ineficiências da contratada, o que rompe
com os princípios de um contrato aliança.
No sistema de bônus e penalidades definido no contrato (cláusula 8), tem-se que "as partes se obrigam
ao cumprimento das metas pré-estabelecidas, bem como observar fielmente o orçamento".
No Anexo 10 - Diretrizes de Planejamento, há a informação de que os indicadores de desempenho e os
índices de produtividade devem ser acompanhados.
O Gráfico 1 ilustra o sistema de remuneração em contratos aliança.
MOTIVOS DE ESCOLHA DA CNO COMO ALIANÇADA
A fase de definição do preço meta é extensa e trabalhosa. Também chamada de fase de
desenvolvimento do projeto "project development", normalmente demanda pré-contratos com o
parceiro não proprietário para trabalhos de detalhamento das atividades e necessidades do
empreendimento. No caso concreto, esse trabalho conjunto foi formalizado por meio do já citado
"early work agreement" (Contrato 17/2009).
A CNO foi escolhida como parceira não proprietária devido a sua expertise como empresa construtora
no segmento petroquímico e por privilégios de conhecimento acerca do objeto que se desejava
construir. Esses privilégios advêm, em especial, de contrato celebrado com a PetroquímicaSuape,
empresa subsidiária integral da Petrobras, para a construção de unidade de produção de PTA (ácido
tereftálico), em terreno contíguo à Citepe, e por ser sócia da Petrobras em outros empreendimentos
petroquímicos, como é o caso da Braskem.
Foi, aliás, o privilégio de informações que a CNO detinha o motivo alegado para sua contratação direta
por inviabilidade fática de competição. Para ilustrar, destacam-se os seguintes argumentos extraídos do
já citado parecer jurídico da Citepe:
"Desde 2008 a CNO constrói a planta industrial da PetroquímicaSuape, o que lhe atribui significativa
vantagem sobre eventuais outras concorrentes, tendo em vista os profundos conhecimentos sobre todos
os aspectos de uma adequada realização, fiscalização e conclusão das obras de uma planta industrial;
Num eventual processo licitatório, a CNO, sem dúvidas, teria a possibilidade de ofertar os melhores
preços e as melhores condições de técnica e prazo para a realização dos serviços. Isso é inviabilidade
fática de um processo licitatório;
Mas não se deve considerar somente a vantagem da CNO em relação a outras empresas. Deve-se
também considerar a tranquilidade que os atuais conhecimentos da CNO permitem supor em favor da
CITEPE;"
Ademais, vale lembrar que o Contrato 14/2010 foi celebrado em 1º/9/2010, dez meses após a
assinatura do contrato parcial de aliança. Além desses 10 meses de prazo formal para maturação das
necessidades do projeto e formação do preço meta, a CNO detinha informações privilegiadas que
datam de 3/12/2007, quando foi com ela celebrado o contrato parcial de aliança com a
PetroquímicaSuape, para o início dos trabalhos na unidade de produção de ácido tereftálico (PTA), que
é contígua à Citepe e fornecerá a maior parte dos insumos doas unidades de POY e PET.
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Fica claro, portanto, que a CNO detinha conhecimentos privilegiados acerca do empreendimento que
datam, pelo menos, de três anos de antecedência à assinatura do Contrato 14/2010, mas esses
conhecimentos não se mostraram úteis para a formalização e para a execução de um bom contrato, o
que se evidencia por estar a situação encontrada bastante aquém do ideal propugnado nos textos a
respeito de contratos aliança.
1) A formalização do contrato atendeu aos preceitos legais e sua execução foi adequada?
2) A administração está tomando providências com vistas a regularizar a situação da obra?
3 - ACHADOS DE AUDITORIA
A celebração de contrato aliança com base em projeto básico deficiente, o aumento de quantitativos de
insumos e serviços acima do razoável em contratos aliança, a evolução injustificada da relação
MOI/MOD, o não acompanhamento dos indicadores de desempenho e dos índices de produtividade
inicialmente pactuados, e o salto de quase 100% no valor previsto (de R$ 1,8 bilhão para R$ 3,6
bilhões) indicam gestão temerária de empreendimento.
Segundo Paschoal Mantecca, ações de gestão temerária se caracterizam por decisões arriscadas,
perigosas e imprudentes:
"A gestão temerária traduz-se pela impetuosidade com que são conduzidos os negócios, o que aumenta
o risco de que as atividades empresariais terminem por causar prejuízos a terceiros, ou por malversar o
dinheiro empregado na sociedade infratora." (MANTECCA, Paschoal.Crimes contra a Economia
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Relatório ainda sem despacho do relator
O relatório da comissão interna de análise e revisão do contrato aliança (Evidência 7) expõe a decisão
pelo novo preço meta da contratação no valor de R$ 3.593.058.051,00. Em uma análise ampla, o fato
de o custo da contratação passar de R$ 1,8 bilhão para R$ 3,6 bilhões sem alteração do objeto
contratado, por si só não é razoável, uma vez ter a contratada participado do orçamento e influenciado
na elaboração do projeto básico. Agrava o resultado o fato de se tratar de contrato aliança, firmado
com base em uma estimativa à qual se atribuiu faixa de precisão de -1% a +3%.
O aumento do preço da contratação se deu, resumidamente, a dois grandes grupos: acréscimos
quantitativos e inclusão de serviços não previstos inicialmente, decorrentes de incompletude ou
inadequação do projeto básico. Não houve alteração do objeto da contratação, ou seja, a unidade
industrial prevista continuou com as mesmas capacidades, utilizando a mesma tecnologia e os mesmos
equipamentos de processo.
É evidente que ajustes no preço meta podem ser admitidos, mas, se ocorrerem, devem ser passíveis de
fundamentação em eventos extraordinários imprevisíveis ou previsíveis mas de impactos incalculáveis,
na mais pura aplicação da teoria da imprevisão.
O Guia Completo de Projeto Aliança (Evidência 41) traz orientação nesse sentido:
"Although it is expected that variations, If any, will be very limited, the alliance agreement needs to
include a mechanism for adjusting the TOC [Target Outcome Cost] and other targets if there are
variations." Em tradução livre:
"Embora se espere que variações, se houver, sejam muito limitadas, o contrato aliança deve incluir um
mecanismo para ajustamento do preço meta e de outras metas, se ocorrerem variações."
Ao tratar da possibilidade de alteração contratual em decorrência de falhas ou omissões do projeto
básico, o artigo 125, § 6º, inciso III, da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2012 (Lei 12.465/2011)
determina, para os contratos a preço global, que suas alterações não devem ultrapassar a 10% do valor
total do contrato:
"III - mantidos os critérios estabelecidos no caput deste artigo, deverá constar do edital e do contrato
cláusula expressa de concordância do contratado com a adequação do projeto básico, sendo que as
alterações contratuais sob alegação de falhas ou omissões em qualquer das peças, orçamentos, plantas,
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especificações, memoriais e estudos técnicos preliminares do projeto não poderão ultrapassar, no seu
conjunto, 10% (dez por cento) do valor total do contrato, computando-se esse percentual para
verificação do limite do art. 65, §1º, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993." (grifos acrescidos)
O dispositivo legal acima indica que alterações contratuais, inclusive as originadas por falhas ou
omissões no projeto básico, não podem ensejar incrementos quantitativos e de preço na magnitude
vista nesta negociação. Ora, se em um contrato a preço global o aumento decorrente de falhas de
projeto não pode ultrapassar 10%, em contratos aliança esse limite deve ser ainda menor, pois o
parceiro não proprietário participa ativamente do desenvolvimento do projeto, tornando-se por ele
corresponsável.
Mesmo se se tratasse de alteração de escopo por decisão negociada entre as partes, o limite de
incremento contratual seria de no máximo 25%, nos termos do item 7.2, alínea "b", do Procedimento
Licitatório Simplificado da Petrobras, aprovado pelo Decreto 2.745/98:
"7.2 Os contratos regidos por este Regulamento poderão ser alterados, mediante acordo entre as partes,
principalmente nos seguintes casos:
b) quando necessária a alteração do valor contratual, em decorrência de acréscimo ou diminuição
quantitativa de seu objeto, observado, quanto aos acréscimos, o limite de vinte e cinco por cento do
valor atualizado do contrato."
No contrato foi prevista uma cláusula que permite fazer flutuar o preço meta em decorrência de
alterações quantitativas. O item 3.1.4, do Anexo 1, do Contrato, que estabelece bases e premissas do
orçamento, dispõe que:
"O Preço Meta será ajustado com base nas variações das quantidades previstas no Adendo 1.1
(quantitativos de construção civil e montagem eletromecânica) e nas alterações das especificações,
RMs e FDs consideradas neste orçamento e as definidas pela engenharia de detalhamento. Os reflexos
devidos às variações nas quantidades e especificações deverão ser considerados nos prazos previstos
no Adendo 1.6 - Cronograma".
Ocorre que, da maneira como o contrato está sendo executado e como está sendo proposta a revisão do
preço meta, conforme será detalhado no decorrer do relatório, o regime de execução de fato adotado
aproxima-se de um contrato por administração, vedado na contratação pública por envolver riscos
inadmissíveis para a Administração Pública. Nas razões de veto do Presidente da República à previsão
de contratação por administração na Lei Geral de Licitações e Contratos, a Advocacia-Geral da União
assim se manifestou:
"A experiência tem demonstrado que a execução indireta, sob o regime de administração contratada,
envolve a assunção de elevadíssimos riscos pela Administração, que é obrigada a adotar cuidados
extremos de fiscalização, sob pena de incorrer em elevados prejuízos em face do encarecimento final
da obra ou serviço. Como é sabido, nesse regime de execução interessa ao contratado, que se remunera
à base de um percentual incidente sobre os custos do que é empregado na obra ou serviço, tornar esses
custos os mais elevados possíveis, já que, assim, também os seus ganhos serão maximizados."
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Em assim ocorrendo, o parceiro proprietário vê frustrada sua expectativa de custo final da obra, ao
passo que o parceiro não proprietário vê aumentadas suas expectativas de remuneração, uma vez que
este recebe um percentual de lucro empresarial (RG), que é calculado sobre o custo da obra.
Em outras palavras, conforme será tratado no tópico 3.3, ambos participam da elaboração do projeto e
da estimativa de custo da obra, mas só a Citepe tem a perder com as falhas do projeto e da estimativa,
o que não pode ser denominado aliança, tampouco parceria.
A Cláusula 6.1.2 do Contrato 14/2010 (Evidência 1) dispõe que o prazo meta para a completação
mecânica da obra era de 333 dias. O já citado relatório da comissão interna de análise e revisão do
contrato aliança (Evidência 7), evidencia aumentos no prazo inicialmente pactuado em mais 873 dias,
ou seja, um incremento temporal acima de 160%.
As partes justificam a postergação dos prazos de conclusão em virtude de:
Além do aumento do preço meta, como demonstrado, o aumento expressivo do prazo sem
penalizações à contratada por baixa produtividade desequilibra o contrato em prejuízo da Citepe, e em
benefício à CNO por ter seu lucro praticamente dobrado.
O prazo meta também é um objetivo pactuado entre os parceiros de um contrato aliança, e relaciona-se
com a necessidade de conclusão do empreendimento, de um lado, e com a capacidade e eficiência na
execução dos serviços, de outro.
Na metodologia dos contratos aliança, o risco de não execução dos serviços no tempo estabelecido
recai especialmente sobre o parceiro não proprietário, e a ele são impostas penalidades caso os prazos
não sejam cumpridos.
Convém retomar a manifestação do já citado parecer jurídico da Citepe (Evidência 31), no que
concerne à contratação direta da CNO por inexigibilidade de licitação:
"(...) para a CITEPE, o cumprimento do cronograma de implantação do projeto é passo crítico, e
devem ser envidados todos os esforços para que tal cronograma seja cumprido."
O § 5º da cláusula 8.3 do contrato, estabelece que o cálculo da penalidade pelo descumprimento de
prazo se dá com base no preço meta ou no custo real:
"§ 5º - Se o prazo de Completação Mecânica for superior ao Prazo Teto, a CNO pagará à CITEPE uma
penalidade adicional equivalente a 0,01% (zero vírgula zero um por cento) por dia que ultrapassar o
Prazo Teto, calculado com base no Preço Meta ou Custo Real, o que for menor, limitada esta
penalidade ao valor total do RG que tiver sido recebido pela CNO, excluídos os impostos que tiverem
sido recolhidos relativos a RG".
Não obstante haver penalização prevista para o contratado, e apesar de o prazo meta ter sido
aumentado em mais 873 dias, a Citepe deixou de demonstrar a ausência de culpa da CNO, ou seja, não
comprovou que as ações da contratada ou sua baixa produtividade não tenham concorrido para que a
dilatação do prazo se tornasse necessária.
De acordo com as justificativas apresentadas para a prorrogação dos prazos apenas as referentes aos
movimentos grevistas (34 dias - Tabela 1) e as referentes a chuvas e suas consequências é que podem
ser consideradas extraordinárias, ou seja, que derivam de eventos extracontratuais, sem gestão da
aliança. Às demais, caberiam ações dos gestores no sentido de mitigar os efeitos das necessidades
apresentadas, em especial pela aceleração do ritmo da execução, por meio da utilização de horas extras
(previstas no orçamento), abertura de outras frentes simultâneas de trabalho, entre outras.
Nesse sentido é o item 8.1 do Anexo 10 do contrato (Evidência 36), que elenca as diretrizes de
planejamento para a contratação:
"8.1 Todos os serviços deverão ter sua execução controlada de forma a possibilitar a reavaliação do
planejamento e, em consequência, permitir a necessidade de alocar mais recursos de forma a atender
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Foram identificadas diversas falhas no acompanhamento dos gastos e na execução dos serviços, das
quais destacamos quatro: demora na percepção das deficiências do projeto; não percepção da
extrapolação dos custos indiretos; não acompanhamento dos indicadores de desempenho pactuados; e
aceitação de aumentos injustificados de quantitativos.
De acordo com Eliseu Martins, mão de obra indireta é "a relativa ao pessoal da chefia, supervisão ou
ainda a atividades que , apesar de vinculadas à produção , nada têm de aplicação direta sobre o
produto: manutenção, prevenção de acidentes, contabilidade de custos, programação, controle da
produção e etc".
Ou seja, não é a mão de obra indireta que faz o avanço físico da obra. Assim, quanto mais mão de obra
direta alocada, mais tende a avançar a obra, mas o mesmo não pode ser dito em relação à mão de obra
indireta, que deve ser minimizada tanto quanto os requisitos de qualidade e segurança permitirem.
Segundo Sérgio Conforto e Mônica Spranger, para empreendimentos industriais, a relação entre a MOI
e MOD oscila entre 15 a 20%, sendo menor para grandes obras e maior em pequenos
empreendimentos:
"A relação da mão de obra indireta sobre a mão de obra direta (em quantidade de HH) varia entre 15%
a 20%.
(...)
Em pequenas montagens, a tendência é a de pessoal indireto corresponder a um percentual maior,
ocorrendo o inverso nos casos de grandes montagens."
Essa relação MOI/MOD pode ser vista como um macroindicador de eficiência de gestão.
Ao se calcular a relação para as quantidades inicialmente previstas no contrato, chega-se a quase 15%,
o que está de acordo com a literatura especializada, mas, nas quantidades realizadas até abril/2012, a
relação MOI/MOD foi de 22%. Já para a conclusão do projeto a relação deve ultrapassar 27%, como
indicam as tendências.
Extrai-se dessas informações que, em contratos aliança como este em análise, aliado às deficiências de
acompanhamento dos gestores da Citepe, passou a ser mais interessante para o contratado manter um
elevado efetivo de mão de obra alocada, pois sobre ela perceberá lucro. Além disso, o realinhamento
do preço meta, como pretendido pelas partes, não trará penalizações para a ineficiência do parceiro não
proprietário.
Seria de se esperar que os gestores da Citepe tivessem acompanhado a evolução dos gastos de MOD e
MOI para obstar a extrapolação dos custos indiretos e assegurar a manutenção da relação MOI/MOD
fixada no contrato original.
"8.2 Deverão ser emitidos relatórios mensais, em 2 vias para a Citepe em data a ser acordada, a serem
utilizados nas reuniões de coordenação, contendo no mínimo, as seguintes informações:
(...)
Indicadores de desempenho: variação de prazo (SV), variação de custo (CV), índice de performance de
custo (CPI) e índice de performance de prazo (SPI), conforme o Practice Standard for Earned Value
Management - PMI."
Esses indicadores de desempenho deveriam ser acompanhados e seus resultados divulgados por meio
dos relatórios mensais de acompanhamento, conforme orienta o item 5.3, alínea "a", do mesmo Anexo
10:
"5.3 - A CNO deverá emitir Relatório Mensal de Acompanhamento dos serviços do contrato,
detalhando as atividades conforme estrutura da EAP [Estrutura Analítica do Projeto], e contemplando
os seguintes tópicos:
a) acompanhamento dos Indicadores de Desempenho do Contrato;"
De acordo com as práticas para a gestão por valores agregados (Practice Standard for Earned Value
Management - PMI)(Evidência 42), a variação de prazo (SV), também chamada de schedule variance,
determina se um projeto está à frente ou atrás do cronograma. É calculada pela diferença entre o valor
agregado (EV) e o valor previsto (PV). Um resultado positivo indica condição favorável e um
resultado negativo, condição desfavorável. (SV = EV - PV)
O índice de performance de prazo (SPI), indica quão eficiente a construtora está gerindo o tempo. É
calculado pela divisão entre o valor agregado (EV) e o valor previsto (PV). Um valor abaixo de uma
unidade indica ineficiência na gestão do tempo, ou seja, parte do tempo planejado foi utilizado para
outras atividades que não as previstas. (SPI = EV / PV)
Já a variação de custo (CV), demonstra como o projeto está se desenvolvendo em relação aos custos
programados. É calculada pela diferença entre o valor agregado (EV) e o custo atual (AC). De forma
semelhante ao SPI, o índice de performance de custo (CPI) indica quão eficiente a construtora está
gerindo os recursos. (CPI = EV / AC)
Por não se ter encontrado qualquer evidência de acompanhamento do desempenho da gestão nos
RMAs, a Citepe foi questionada acerca desses indicadores. Pela sua resposta, percebe-se que a
Companhia não está cumprindo essa cláusula do contrato, tendo as partes convencionado
informalmente acompanhar apenas o total desembolsado, tal qual num contrato por administração:
"(...) as disposições do anexo de planejamento seguem um modelo utilizado usualmente nos contratos,
mas customizações são realizadas no decorrer da obra de acordo com as características de cada obra e
do acerto entre as partes envolvidas. Neste caso, por ser um contrato em Aliança onde parte do
suprimento de equipamentos e materiais é de responsabilidade da CITEPE e o critério de medição
prevê ressarcimento de custos à medida que os mesmos são desembolsados, o entendimento das partes
foi que a utilização dos indicadores na forma transcrita não seria o mais adequado e que, de forma
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alternativa, constariam como anexos ao relatório mensal as curvas de execução financeira prevista e
realizada e o quadro do Acompanhamento dos Valores Contratuais."
Customizações na utilização de indicadores de desempenho - estabelecidos contratualmente - que
deixem de demonstrar a performance desejada da construtora está em desacordo com os preceitos
básicos de contratos aliança, e configura falha de acompanhamento do contrato.
Em resposta a novo questionamento acerca da sistemática utilizada para a medição dos serviços
executados e o confronto destes com os valores do projeto detalhado, a Citepe se manifestou indicando
não haver a aferição de quaisquer indicadores de desempenho da contratada:
"O confronto dos valores pagos ao longo da obra com o preço meta é feito no final dos serviços
através do levantamento dos quantitativos do projeto final de detalhamento e o custo baseado nos
standards e valores definidos no Contrato. Em suma, com a conclusão da obra, calcula-se o preço meta
em função das quantidades finais levantadas do projeto executivo e confronta-se com o desembolso
total realizado ao longo da obra. Caso o valor desembolsado seja menor haverá pagamentos de bônus à
aliançada e, em caso contrário, a cobrança de penalidade."
Ora, pela forma com que está se pretendendo pactuar o novo preço meta da contratação, toda a
ineficiência e baixa produtividade da contratada ficará escamoteada nos incrementos quantitativos,
uma vez que a Citepe pretende aferir a eficiência da CNO apenas ao final da contratação por meio do
confronto entre as quantidades finais levantadas do projeto executivo e o desembolso total realizado.
Nota-se também, em análise conjunta da Tabela 3 e do Gráfico 2, que as quantidades previstas de mão
de obra direta (MOD) para todo o empreendimento já havia sido ultrapassada em mais de 16% em
abril/2012. É grave essa constatação uma vez que, em junho/julho de 2012 (momento em que a Citepe
alega ter percebido o descolamento dos quantitativos), o avanço físico previsto era próximo de 60%,
enquanto que o realizado situava-se pouco acima de 30%. Não é razoável a alocação de mais mão de
obra prevista para todo o projeto em abril, com menos de 30% de execução física, se os quantitativos
de projeto só passaram a aumentar 2 a 3 meses após.
Isso indica que os índices de produtividade efetivos foram muito aquém dos utilizados na
orçamentação do empreendimento. Na medida em que não houve alteração do objeto contratado, e a
CNO elaborou o orçamento em conjunto com a Citepe e influenciou na elaboração do projeto básico
ao longo de dezessete meses, tal queda de produtividade indica clara ineficiência da contratada.
O mesmo item 5.3, do Anexo 10, também determina o acompanhamento dos índices de produtividade
e dos efetivos de homens-hora, como se lê nas alíneas "c" e "f" do documento:
"5.3 A CNO deverá emitir Relatório Mensal de Acompanhamento dos serviços do contrato,
detalhando as atividades conforme estrutura da EAP, e contemplando os seguintes tópicos:
c) efetivo, homens-hora e horas-máquina envolvidas no período;
(...)
f) análise comparativa dos índices de produtividade previstos e realizados."
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 20
Relatório ainda sem despacho do relator
com as alterações determinadas pela CNO. Permanece uma diferença de 133 toneladas de estruturas
metálicas sem explicação nem justificativas razoáveis.
Esses indícios são indicativos de que podem existir graves erros nos acréscimos dos novos
quantitativos de serviços e insumos para a formação do novo preço meta da contratação, não passíveis
de análise por ausência de informações detalhadas (composição de custos dos serviços e memórias de
cálculo dos histogramas).
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 22
Relatório ainda sem despacho do relator
MD-000-000-940-SEI-002.
Planilha de quantitativos finais de projeto.
Anexo 1 do Contrato 14/2010.
Resumo da estimativa final da EPB para o empreendimento PET/POY + utilidades.
93D - OfícioRespostaTCU_11 2012_21mai12 - Questionário nº 01 respondido pela Citepe.
Parecer jurídico da Citepe.
23 - Anexo 10_Diretrizes de Planejamento.
15 - Anexo 2_Resumo Orçamento.
Anexo 8_Forma de Pagamento.
21e - Adendo 8.5 do Anexo 8_Ressarcimento_Critérios de Medição.
3 - TerceiroAditivo_CNO_CTP_mar12.
Relatório Mensal de Acompanhamento - out/2010.
Relatório Mensal de Acompanhamento - nov/2010.
Relatório Mensal de Acompanhamento - dez/2010.
Relatório Mensal de Acompanhamento - jan/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - fev/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - mar/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - abr/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - mai/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - jun/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - jul/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - ago/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - set/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - out/2011.
Relatório Mensal de Acompanhamento - set/2010.
Practice Standard for Earned Value Management (PMI®).
Project Alliance.
3.1.8 - Conclusão da equipe:
Em documento eletrônico inserido como peça 85 no TC 14.754/2011-8, referente à fiscalização na
Citepe no exercício de 2011, a CNO se manifestou, em 25/6/2012, nos seguintes termos:
"Devidamente implementada, toda essa estrutura contratual permitirá, para o empreendedor (CITEPE),
a garantia de um projeto bem construído, com otimização de prazo e preço, uma vez que a eficiência
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 24
Relatório ainda sem despacho do relator
da empresa executora (CNO) será recompensada com uma maximização de sua remuneração. Em
outras palavras, a obra pronta e em operação no menor prazo e custo possíveis interessam a ambas as
partes, pois tanto a CITEPE quanto a CNO se beneficiam mutualmente com a eficiência na sua
execução".
A Citepe, também em manifestação no mesmo processo (Peça 74), ao elencar objetivos da aliança que
evidenciam interesses convergentes dos parceiros, apontou a importância no compromisso com os
prazos e custos pactuados e com a necessidade em minimizar as incertezas de custos nos contratos
aliança:
"Comprometer-se com prazos e custos pactuados e com a busca contínua da redução de ambos com a
garantia da manutenção dos critérios de qualidade e segurança definidos para a implementação do
empreendimento";
"Minimizar as incertezas de custos que, regra geral, elevam o preço de um orçamento de um contrato
tradicional ou epecista quando comparado ao modelo de aliança".
Chamam atenção a afirmação da CNO de que o contrato aliança permitiria a otimização de preço e
prazo e a declaração da Citepe de que um contrato aliança pressupõe incertezas de custos e que deve
haver contínua gestão no sentido de reduzir prazos e custos pactuados.
O que se viu nesta fiscalização é outra realidade. Pactuou-se um contrato aliança com base em um
projeto básico deficiente, um orçamento falho e uma gestão igualmente falha, que deixou de
acompanhar indicadores de desempenho e índices de produtividade da contratada, concorrendo para a
dilatação dos prazos e o incremento dos custos, em prejuízo à Citepe e benefício à CNO.
Assim, propõe-se oitivas da Citepe e da CNO acerca do aumento indevido do preço meta,
caracterizado por serem consideradas despesas que não se relacionavam com as alterações de projeto
ou que decorriam de culpa da contratada, como o aumento da relação MOI/MOD e o aumento
injustificado de quantitativos.
que está em fase final de conclusão, é dependente da Citepe para escoamento de sua produção, por ser
a maior parte do PTA produzido por aquela unidade (500 mil toneladas/ano de uma capacidade
produtiva de 700 mil toneladas/ano) destinado à empresa.
Ademais, o impacto econômico-financeiro da paralisação, segundo informações da Citepe e de estudo
da Condepe/Fidem, tende a se evidenciar também por perda de divisas por desequilíbrio na balança
comercial brasileira por maiores necessidades de importação de PTA, de resina PET e de polímeros e
filamentos de poliéster, e por perdas para a economia das famílias no Estado de Pernambuco.
3.2.2 - Situação encontrada:
O novo preço meta do Contrato 14/2010, que está em fase de aprovação, não está devidamente
justificado e apresenta inconsistências.
A forma com que o novo preço meta foi proposto para o Contrato 14/2010 foi por meio de negociação
entre a CNO e a Citepe.
Em 27/3/2012 foi elaborado o Relatório da Comissão Interna de Análise e Revisão do Contrato de
Aliança 014/2010 (Evidência 7). Esse relatório expõe uma negociação entre os parceiros da aliança
para tratar de alterações do preço meta e dos prazos meta e teto do contrato, em razão de aumento de
quantitativos, inclusão de serviços não previstos, greves e impactos de chuvas.
Tomou-se, como base da negociação, um orçamento elaborado pela CNO, no valor de R$
3.568.000.777,57 (Evidência 16), e outro elaborado pela Engenharia da Petrobras, no valor total de R$
3.000.058.051,00 (Evidência 28).
Durante a negociação, a Citepe e a CNO teriam verificado que seus orçamentos não só eram distintos
por apresentarem uma diferença de R$ 567.942.726,57, mas eram incompletos. Por isso, ambas
aumentaram seus valores.
A Citepe acrescentou os seguintes grupos de verbas: impactos decorrentes de greves e chuvas - R$
205.000.000,00; fornecimento de Bulk Material - R$ 103.000.000,00; construção e montagem dos
quadrantes 3 e 4 da texturização - R$ 76.000.000,00; serviços não previstos no contrato original - R$
189.000.000,00; e acréscimo de serviços com engenharia de detalhamento e TAC e RG sobre
suprimento off-shore - R$ 160.000.000,00.
Com esses acréscimos, o orçamento, que originalmente era de R$ 3.000.058.051,00, passou a ser de
R$ 3.733.058.051,00, perto de 25% a mais.
Já o orçamento da CNO, que inicialmente era de R$ 3.568.000.777,57, passou a ser de
3.849.000.777,57 (7,8% a mais), pelo acréscimo dos seguintes grupos de verba: construção e
montagem dos quadrantes 3 e 4 da texturização - R$ 76.000.000,00; e impactos decorrentes de greves
e chuvas - R$ 205.000.000,00.
Após uma negociação de descontos genéricos, foram retirados R$ 35.000.000,00 de serviços não
previstos no contrato original e R$ 105.000.000,00 das verbas de chuvas e greves, convergindo-se para
o valor final de R$ 3.593.058.051,00 para a contratação, que é superior à proposta inicial da CNO.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 26
Relatório ainda sem despacho do relator
Nota-se, de pronto, que havia uma diferença significativa entre os orçamentos originalmente
apresentados pelos parceiros (R$ 567.942.726,57). Apesar de se tratar de uma contratação aliança, na
qual se pressupõe a abertura das memórias de cálculo dos orçamentos (open book), em momento
algum ficou demonstrado que os envolvidos na negociação tentaram identificar minuciosamente as
diferenças apresentadas nos orçamentos, item a item, pela análise individual de cada composição de
serviço, de modo a comprovar se o que se apresentava tanto de um lado quanto do outro refletia, de
fato, os custos reais da obra.
O que ocorreu foi uma negociação que convergiu para um valor do preço meta, pelo acréscimo de
grupos de valores a ambas as propostas e pela concessão de descontos genéricos.
Assim, não há como afirmar que os valores apresentados refletem fidedignamente os custos da obra,
que se faz imprescindível por se tratar de um contrato aliança.
O adicional de chuvas e greves, acrescido aos orçamentos tanto da Citepe quanto da CNO, estimado
inicialmente em R$ 205.000.000,00 e negociado no valor final de R$ 100.000.000,00, não pode fazer
parte do preço meta da contratação porque são verbas meramente indenizatórias, não fazendo sentido
que a contratada aufira lucro ou receba bonificação por indenização de paralisações por chuvas ou
greves.
Não deve haver pagamento de lucro ou bonificação sobre indenizações por chuva ou greve.
O ressarcimento dos custos relacionados a chuvas extraordinárias pode ser razoável, mas o montante
desse ressarcimento não pode estar contido no preço meta da contratação.
Como anteriormente explicitado, o preço meta é o principal parâmetro de aferição de eficiência do
parceiro não proprietário, em um contrato aliança. Atingindo-se o preço meta, o contratado fará jus a
bonificações pecuniárias. Havendo recursos de natureza indenizatória no preço meta, haverá a
possibilidade de o contratado vir a ser bonificado sobre esses recursos, o que não é razoável.
Também não há que se falar em pagamento de lucros sobre custos decorrentes de eventos fortuitos,
pois esses devem ser pagos apenas na medida para que o equilíbrio inicial do contrato se mantenha.
Ademais, no caso de greve, há que se verificar se a contratada deu causa ao evento, ou concorreu para
que ele ocorresse.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 27
Relatório ainda sem despacho do relator
Na análise da memória de cálculo apresentada pela contratada para justificar o montante estimado de
R$ 205.378.515,42 (Evidência 8), foram identificadas as seguintes inconsistências:
A metodologia de cálculo dos custos de paralisação, para efeito de indenização, não pode ser
simplificada, devendo-se apurar o que ocorreu em cada frente de trabalho, com indicação precisa de
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 28
Relatório ainda sem despacho do relator
cada equipe efetivamente paralisada, do tempo exato de paralisação, dos equipamentos efetivamente
paralisados, com detalhamento da composição de custos das eventuais necessidades de serviços
adicionais na retomada dos trabalhos.
A mera suposição de que todos os equipamentos e toda a mão de obra do empreendimento ficam
paralisados em função de chuvas ou greves é falha e irreal.
O Plenário deste Tribunal, ao tratar dos serviços de terraplenagem do Comperj, no que se refere aos
equipamentos paralisados por ocasião de chuvas, deliberou no seguinte sentido:
"Outrossim, cabe determinar à Petrobras que, doravante, somente utilize a metodologia para
pagamento da verba indenizatória decorrente de paralisações da obra em função de chuvas, descargas
atmosféricas ou resgate arqueológico após definir, com base em critérios objetivos, as parcelas efetivas
a serem consideradas no ressarcimento dos custos dos equipamentos impactados, demonstrando de
forma clara as metodologias empregadas na apuração dos custos dos "equipamentos paralisados
durante a ocorrência de chuvas" e dos "equipamentos operando em condições adversas a normal,
realizando serviços de mitigação das consequências das chuvas", baseando-se, para tanto, no que
couber, na referência de preços dos sistemas usualmente adotados (Sicro e Sinapi) ou, para os quais
não seja possível ajustar as composições de preços desses sistemas às peculiaridades das obras,
justificando as composições adotadas, com elementos suficientes que comprovem os preços unitários
dos insumos e dos serviços que integram o orçamento." (Acórdão 3077/2010-P).
No caso em tela, indícios indicam que mesmo serviços não diretamente afetados por chuvas são
ressarcidos, como é o caso dos serviços de engenharia de detalhamento. Os serviços de engenharia de
detalhamento, como já comentado, são objeto de contrato específico com a Genpro, com execução no
estado de São Paulo e pagamentos realizados por meio de critérios específicos (entrega de
documentos).
Indenizar esses serviços em sua integralidade não é razoável. No caso de ressarcimento em razão de
paralisações por chuvas ou greves, há que se identificar de forma inequívoca os reais impactos nos
serviços e seus custos, inclusive aqueles referentes à administração central.
Nesse mesmo sentido, o Acórdão 3077/2010-P já citado determinou à Petrobras que adotasse as
seguintes ações:
"9.5.2 definição de parâmetros mais objetivos para apuração das situações que realmente ensejam
paralisação dos serviços e, por conseguinte, pagamento de indenização, a fim de se ressarcir somente o
valor real e justo, em respeito aos princípios basilares que regem as ações da Administração Pública,
notadamente os da legalidade e economicidade;
9.5.3. aprimoramento da metodologia de orçamentação utilizada para se estimar o valor da verba
indenizatória a ser ressarcida, tomando-se por base os critérios efetivamente estabelecidos para
medição e pagamento da aludida verba."
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 29
Relatório ainda sem despacho do relator
O outro ponto a ser analisado no que se refere à metodologia de cálculo dos impactos das paralisações
decorrentes de chuvas e greves é o cálculo realizado para trás, ou seja, o que já foi efetivamente
considerado como custo incorrido.
Na memória de cálculo das paralisações (Evidência 35), consta mais de um milhão e setecentos mil
HHs paralisados em função de chuvas e greves, como ilustra a Tabela 4.
Como se extrai das informações, foram pagos à contratada mais de trinta milhões de reais apenas a
título de mão de obra paralisada.
Os lucros embutidos nesses valores, assim como aqueles contidos em outras indenizações, como os
oriundos de equipamentos de montagem, devem ser apurados detalhadamente e restituídos à Citepe.
Conclui-se que a Citepe deve excluir do preço meta os valores pagos referentes a indenização por
paralisações decorrentes de chuvas, suas consequências e greves; deve fazer-se restituir de eventuais
lucros sobre esses valores pagos; deve apurar discriminadamente os custos de mão de obra e
equipamentos efetivamente paralisados em cada frente de trabalho do empreendimento; deve abster-se
de adicionar ao preço meta contingências relacionadas aos eventos futuros de possíveis paralisações da
mesma natureza, além de promover a apuração, a tempo real, dos custos efetivos de eventos futuros de
eventuais paralisações, de forma também discriminada em cada frente de trabalho; e, como mais
importante, antes de firmar aditivo contratual pactuando novo preço meta, deve certificar-se de que os
custos apresentados são fidedignos à obra.
Os documentos enviados a esta fiscalização evidenciam que os serviços relativos aos quadrantes 3 e 4
da Texturização, que respondem por R$ 76 milhões de acréscimo no preço meta, estavam previstos no
escopo inicial do contrato aliança e, portanto, nos quantitativos de projeto, não podendo ser somados à
estimativa da Petrobras a fim de formar o novo preço meta do contrato aliança. Não há em nenhum
documento do Contrato 14/2010 referência que exclua os quadrantes 3 e 4 de seu escopo ou que o
limite apenas aos quadrantes 1 e 2.
Os quadrantes 3 e 4 da texturização foram previstos no FEED (Projeto Básico), como evidenciam as
memórias de cálculo das estruturas metálicas da texturização e seus desenhos respectivos: MC-002-
530-120-SEI-001 (Evidência 21), MC-002-530-140-SEI-002 (Evidência 22), MC-002-530-140-SEI-
005 (Evidência 23) e MC-002-530-140-SEI-006 (Evidência 24).
Esses quadrantes também estavam presentes no projeto detalhado, que serviu de base para a proposta
da Citepe, como evidenciam as memórias de cálculo MC-002-530-122-CNO-003 (Evidência 25) e
MC-002-530-122-CNO-004 (Evidência 26).
Assim, a verba relativa aos quadrantes 3 e 4 da texturização não poderia ser adicionada às propostas
levadas para a negociação e menos ainda ao valor original do contrato.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 30
Relatório ainda sem despacho do relator
3.2.2.4Bulk Material
O valor referente a fornecimento de bulk material somado à estimativa da Petrobras a fim de formar o
novo preço meta da contratação não é regular.
De acordo com as informações da diretoria da Citepe, o grupo de verba denominado de bulk material
destina-se a aquisições de materiais vendidos a granel, para utilização fora do escopo do contrato
aliança. Questionada a respeito (Evidência 34), a Citepe informou que:
"Os itens a que se refere a expressão bulk material dizem respeito, basicamente, a materiais de
tubulação, elétrica, instrumentação e infraestrutura seca de TI/Telecom e de segurança e serão
utilizados em atividades de construção e montagem acessórias ao Aliança, fundamentalmente,
Armazéns e Logística e Drenagem."
Por serem materiais corriqueiros que também seriam utilizados dentro do escopo do contrato aliança, e
em grande escala (cabos elétricos, eletrocalhas, eletrodutos, suportes, materiais de telecom, etc), a
Citepe solicitou à CNO que, quando os adquirisse para o contrato aliança, fizesse acrescido de
quantitativos para utilização exclusiva pela Citepe, fora do escopo do contrato aliança.
A justificativa informada foi o ganho de escala na aquisição, o que a tornaria mais econômica para as
necessidades exclusivas da Citepe, com se lê em resposta a questionamento da equipe: "O efetivo
ganho de escala teria de ser mensurado pela cotação em volumes menores de tais materiais, que por
certo encareceriam os valores unitários dos produtos."
A solução adotada é irregular, uma vez caracterizar fuga à necessidade de licitar. Sendo o bulk
material destinado a aplicações fora do escopo do contrato aliança, não haveria outra solução à Citepe
a não ser cumprir sua obrigação constitucional de licitar, como preceitua o art. 37 da Carta Magna.
O procedimento licitatório poderia ser dispensado, caso a situação se enquadrasse em uma das
hipóteses do decreto 2.745/98, mas isso se objetivamente demonstrado, conforme estabelece o item 2.2
do regulamento de licitações da Petrobras:
O valor total de aquisições de bulk material monta R$ 92.757.658,86 (Evidência 10). Sobre esses
valores foram pagos lucro (RG), taxa de administração central (TAC), além de impostos sobre TAC e
RG, o que elevou o valor final ao montante de R$ 103.048.014,49.
Esse montante, por não fazer parte do escopo do contrato, deve ser excluído do preço meta em sua
integralidade, pois sobre ele não pode a contratada vir a ser bonificada no âmbito do contrato aliança.
Além disso, cabe determinar à Citepe que abstenha-se de utilizar mecanismos de aquisição que possam
se caracterizar como fuga à licitação, a não ser que seja possível enquadrar a situação em uma das
hipóteses de dispensa ou inexigibilidade licitatória.
Além disso, deve a Citepe apurar discriminadamente os custos de mão de obra e equipamentos
efetivamente paralisados em cada frente de trabalho do empreendimento em decorrência de chuvas e
greves.
A Companhia deve abster-se de adicionar ao preço meta contingências relacionadas aos eventos
futuros de possíveis paralisações da mesma natureza.
Deve ainda, a Citepe, promover a apuração, a tempo real, dos custos efetivos de eventos futuros de
eventuais paralisações, de forma discriminada em cada frente de trabalho.
Também é dever da Citepe abster-se de utilizar o Contrato 14/2010 para aquisição de bens e
equipamento não pertencentes ao escopo do objeto contratado, evitando, dessa forma, que se
caracterize como fuga à licitação.
Por fim, conclui-se que a Citepe deve certificar-se de que o orçamento de um novo preço meta a ser
pactuado reflita com fidedignidade os custos reais da obra, com a produtividade prevista no acordo
inicial.
O projeto básico sobre o qual a Citepe e a CNO elaboraram o orçamento para o contrato 14/2010 se
mostrou deficiente, incompleto e incapaz de delinear adequadamente a contratação. Essa constatação
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 34
Relatório ainda sem despacho do relator
está pautada em três principais fatos: 1) variação de cerca de 100% no valor final do contrato; 2)
ausência de projeto de 14 das 43 áreas consideradas; 3) finalização prematura do projeto antes de
concluído.
De acordo com o Decreto 2745/98, em seu item 1.3, "nenhuma obra ou serviço será licitado sem a
aprovação do projeto básico respectivo, com a definição das características, referências e demais
elementos necessários ao perfeito entendimento, pelos interessados, dos trabalhos a realizar".
A jurisprudência do TCU é no sentido de que a contratação com base em projeto básico deficiente
macula os princípios da administração pública aplicados à contratação de obras e serviços e é motivo
suficiente para responsabilização dos gestores responsáveis. Este entendimento do Tribunal pode ser
visto nos Acórdãos 2544/11-P, 0184/12-P, 1094/12-2ªC.
Ademais, o Decreto 2745/98 prevê, em seu item 7.2, alínea b, a possibilidade de alteração contratual
decorrente de aumentos de quantitativos, no entanto, limita os acréscimos a 25% do valor contratual
reajustado. Esta limitação sugere que o projeto sobre o qual é orçada a contratação deve ser suficiente
para não permitir variação maior que 25%, ou seja, deve ser detalhado a ponto que se tenha razoável
certeza dos custos finais do empreendimento.
Em contratos do tipo aliança esse percentual deve ser ainda menor, uma vez que os parceiros elaboram
em conjunto o projeto básico e o orçamento do empreendimento. No entanto, conforme salientado no
item 3.1, o contrato está por ser majorado em 100% de seu valor.
Antes de tratar dos fatos que sustentam a tese de que o projeto básico era deficiente, cumpre traçar um
histórico resumido de como esse projeto foi desenvolvido.
"Os quantitativos estimados descolaram da estabilidade que vinham mantendo nos meses de junho e
julho de 2011. A partir daí intensificamos o acompanhamento que já existia e passamos a analisar mais
detalhadamente estas tendências."
"As planilhas de Feed constantes do Contrato foram preenchidas pela SEI, segundo seu entendimento
e interpretação das orientações que constaram das mesmas. No seu preenchimento, as únicas
orientações recebidas vieram da CNO (o Feed não foi comentado pela Petrobras)."
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 36
Relatório ainda sem despacho do relator
Em outros três trechos do mesmo documento, a SEI reitera que a orientação para elaboração do projeto
básico e do Feed foi feita predominantemente pela CNO, como evidenciam os itens 3.1.1, 3.1.3, 3.1.5.
(grifos nossos):
"Conforme orientação da CNO, o escopo da SEI para as Torres de Resfriamento deveria contemplar
somente a Casa de Bombas em estrutura metálica e as bombas propriamente ditas."
"O escopo para o volume apresentado na planilha de tendências não é o mesmo que foi adotado para
elaboração do projeto FEED que seguiu a orientação da CNO, portanto, a comparação entre os
volumes totais do FEED e do Executivo não é apropriada em função das diferenças entre as premissas
seguidas."
"O escopo do projeto FEED (conforme orientação da CNO), difere do escopo do Projeto Executivo,
em função da mudança de arranjo no Projeto Executivo, acréscimo de bombas e do acréscimo de
escopo (bacias de contenção, bases de tubulação etc), o que justifica a diferença entre os volumes de
concreto em 377% a mais no Projeto Executivo."
A deficiência e a imprecisão do projeto se evidenciam pela relevante variação que houve entre os
quantitativos previstos no projeto básico e aqueles oriundos das planilhas de tendências elaboradas
pela Genpro e pela CNO (Evidência 15).
A cláusula contratual que prevê a alteração do preço meta em função da variação de quantidades faz
com que o ganho da construtora, por receber TAC e RG, seja proporcional às quantidades, sendo
vantajoso para a empreiteira o aumento de quantitativos. A seguir, destacam-se algumas das variações
evidenciadas nos quantitativos das diversas disciplinas que, em conjunto com algumas verbas extras
questionadas no achado 3.2, somam quase 100% do valor do contrato original:
"O Projeto Básico de Segurança e Combate a Incêndio das edificações Lurgi fazia parte do escopo
Contratual. Desta forma foi emitido a documentação do Básico e as Planilhas de FEED para estas
edificações exceto a rede de água de combate a incêndio. Não houve tempo hábil para o
desenvolvimento do Projeto Básico de Incêndio até o final de 2009, que permitisse a emissão de um
projeto pré-detalhado de uma rede de combate a Incêndio, por diversos motivos, sendo o
preponderante a impossibilidade da realização de reuniões técnicas com o pessoal de SMS da PQS,
ausente do Brasil nos últimos meses de 2009."
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 38
Relatório ainda sem despacho do relator
O relatório da comissão de negociação de 30/8/2010 (Evidência 16) traz como anexo a primeira
estimativa da Engenharia da Petrobras para o empreendimento. Nas considerações sobre a estimativa,
é afirmado que o nível de detalhamento do projeto utilizado permitia que se tivesse confiança de que o
custo final da obra viesse a ficar na faixa de -1% a +3% do valor estimado.
O valor da estimativa foi de R$ 1.751.492.414,96, assim, o custo do projeto deveria variar entre R$
1.733.977.490,71 e R$ 1.804.037.187,30. Mas, em se confirmando a nova negociação, o custo será de
R$ 3.593.058.051,00, com uma diferença de 99,7% a mais em relação ao valor inicialmente
contratado.
Tendo em vista a precisão da estimativa, presente em seu resumo, informada pelo setor de estimativas
de custos da Petrobras - SL/ECP, não seria razoável que uma variação em torno de 100% fosse
esperada, com apenas 54% de execução física, o que reforça a conclusão de que o contrato foi firmado
com o projeto básico deficiente e incompleto.
Além disso, há que se reforçar que a premissa do contrato aliança era de projeto e orçamentação em
parceria, diferentemente do ocorrido. Como evidência do praticado, tem-se o item 4.1.1 do memorial
descritivo da SEI. Ela informou que o aumento de estrutura metálica para o vigamento secundário
decorreu de determinação da CNO, que definiu que seria usada laje steel deck em vez de concreto,
encarecendo a obra.
"No projeto FEED, a estrutura metálica do Poy SUAPE foi projetada para receber lajes moldadas in
loco. Por determinação da CNO, no Projeto Executivo, a laje de concreto foi alterada para steel deck,
demandando um acréscimo de vigamento secundário"
Ainda, no memorial descritivo da SEI, em vários trechos, a empresa contratada para validar os
aumentos dos quantitativos (provenientes do projeto detalhado feito pela Genpro sob supervisão da
CNO) demonstra não concordar com os valores apresentados ou não encontrou justificativas
suficientes para os aumentos propostos (ver abaixo excertos extraídos do memorial - Evidência 58 e o
item 3.1).
"Não foi possível identificar o motivo do aumento na espessura das lajes uma vez que as cargas usadas
nos projetos FEED e detalhado foram similares" (Item 3.3.4 do memorial)
"Entendemos não ser apropriado, pelo menos para o Poy SUAPE, o acréscimo de 10% para as ligações
- que está acrescido na Planilha de Tendências da CNO - à todas estruturas de forma genérica" (Item
4.1.6 do memorial)
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 39
Relatório ainda sem despacho do relator
Diante desses exemplos e dos apresentados no histórico inicial, a suposição de que o contrato foi
orçado em conjunto, de forma a melhor caracterizar o escopo da contratação, não mais existe. Uma vez
não ter havido o devido compartilhamento de riscos e tarefas, como já apontado no item 3.1, há
indícios de que a predominância da CNO nas definições técnicas e na gestão da elaboração do projeto
básico, com pequena participação da Citepe, propiciou a aditivação posterior do contrato a favor da
construtora.
Também vale ressaltar que a alegada expertise e o pré-conhecimento do empreendimento pela CNO,
motivos da sua contratação direta, não se demonstraram úteis quando da orientação da SEI na
elaboração do projeto básico e do Feed. Assim, não se cumpriu a premissa da inexigibilidade
licitatória, tampouco do contrato aliança, no qual os parceiros devem definir conjuntamente, com o
máximo de confiança possível, o objeto da contratação a fim de se orçar fidedignamente o preço meta.
Portanto, conclui-se que a Citepe contratou sem a presença de projeto básico completo, o que impediu
a elaboração adequada do orçamento para o empreendimento, em descumprimento ao item 1.3 do
Decreto 2.745/98. Além disso, a predominância da CNO na orientação do projeto básico coloca em
dúvida os incrementos posteriores de quantitativos, uma vez a contratada se beneficiar diretamente do
aumento de custos do empreendimento.
Propõe-se então, realizar-se a oitiva da Citepe e da CNO para que se manifestem, se assim desejarem,
acerca da contratação baseada em projeto básico deficiente e incompleto que, no escopo deste
contrato, deveria ser de responsabilidade compartilhada entre contratante e contratada.
3.3.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
(IG-C) - Contrato 14/2010-Citepe, 1/9/2010, Realização das obras de implementação do projeto da
Citepe para produção de POY e PET, Construtora Norberto Odebrecht S.A.
5 - CONCLUSÃO
Em se confirmando o aditivo que está em fase de aprovação, o contrato vai dobrar de preço e a
conclusão da obra ocorrerá 29 meses depois do previsto.
A Citepe terá prejuízo com essas alterações, tanto pelo aumento de custo como pela postergação da
receita.
A CNO lucrará em dobro, pois seu lucro é proporcional ao custo da obra.
De certo modo, pode-se dizer que a CNO tem culpa no grande aumento do valor do contrato, pois foi
sob sua orientação que a SEI elaborou a lista de serviços e materiais (FEED) que embasou a primeira
estimativa.
A Citepe falhou ao determinar a paralisação do serviço de elaboração do projeto básico e por celebrar
contrato com projeto básico incompleto (item 3.3).
A Citepe também falhou no acompanhamento do custo da obra, pois demorou para perceber a
extrapolação dos custos, por não acompanhar os índices de produtividade e os indicadores de
desempenho, e por aceitar aumentos injustificados de quantitativos de insumos e serviços (item 3.1).
Também se pode dizer que há indícios de irregularidade no cálculo do novo valor do contrato (item
3.2), e que o valor negociado não reflete com fidedignidade os custos da obra, em virtude de: ausência
de análise detalhada das composições de custo por parte dos parceiros; inclusão indevida de verbas
indenizatórias no preço meta; inserção em duplicidade de grupo de verba; e inserção indevida de
materiais para utilização fora do escopo do contrato.
Desse modo, cumpre propor oitiva da Citepe e da CNO para que se manifestem acerca das
irregularidades apontadas neste relatório.
Ademais, deve-se determinar à Citepe que encaminhe a este Tribunal eventuais termos aditivos que
venham a ser pactuados no âmbito do Contrato 14/2010 que alterem o preço e/ou o prazo meta, no
prazo máximo de 30 dias após sua assinatura, acompanhados das justificativas cabíveis, do orçamento
do novo preço meta, contendo a memória justificativa do custo detalhada, os índices de produtividade
adotados, os preços e referências dos insumos e todas as memórias de cálculo utilizadas com suas
fórmulas explícitas.
Entre os benefícios estimados desta fiscalização pode-se mencionar a possibilidade de redução do
preço meta, sendo o total dos benefícios quantificáveis desta auditoria de R$ 192.899.758,06. Esse
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 42
Relatório ainda sem despacho do relator
montante foi obtido pelo somatório dos seguintes itens, que devem ser excluídos do preço meta:
quadrantes 3 e 4 da texturização: R$ 76.000.000,00; chuvas e greves pagas: R$ 15.375.750,81;
estimativa de chuvas e greves: R$ 50.000.000,00; e Bulk Material: R$ 51.524.007,25. Esses valores
foram obtidos levando-se em consideração a bonificação que poderia incidir sobre os itens.
6 - PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Proposta da equipe
Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
Determinação:
6.1 Determinar à Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco - Citepe que encaminhe a este Tribunal
eventuais termos aditivos que venham a ser pactuados no âmbito do Contrato 14/2010 que alterem o
preço e/ou o prazo meta, no prazo máximo de 30 dias após sua assinatura, acompanhados das
justificativas cabíveis, do orçamento do novo preço meta, contendo a memória justificativa de custos
detalhada, os índices de produtividade adotados, os preços e referências dos insumos e todas as
memórias de cálculo utilizadas com suas fórmulas explícitas;
Oitivas:
6.2 Promover a oitiva da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco - Citepe, com fundamento no
art. 5º inciso LV, da Constituição Federal, na Súmula Vinculante nº 3 do STF, e no art. 250, inciso V,
do Regimento Interno do TCU, para que se manifeste, se assim desejar, acerca dos indícios de
aumento indevido no preço e no prazo meta, caracterizado pelas irregularidades abaixo apontadas:
6.2.1 negociação sem comprovação de que os custos apresentados refletiam a realidade da contratação,
apesar de se tratar de contrato aliança, com orçamento "open book" (item 3.2.2.1);
6.2.2 não comprovação de ausência de culpa da contratada nos incrementos quantitativos em
decorrência de baixa produtividade;
6.2.3 não acompanhamento dos índices de produtividade e dos indicadores de desempenho, como
estabelecido no anexo 10 do contrato;
6.2.4 não confirmação da real necessidade dos aumentos de quantitativos (item 3.3.2.3);
6.2.5 inclusão indevida de verbas no preço meta negociado no valor total de R$ 309.799.516,11 (item
3.2.2);
6.2.6 formalização do contrato de aliança 14/2010 com projeto básico deficiente e incompleto;
6.2.7 previsão de alteração do prazo meta sem a demonstração de isenção de culpa do contratado por
baixa produtividade.
6.3 Promover a oitiva da Construtora Norberto Odebrecht - CNO, com fundamento no art. 5º inciso
LV, da Constituição Federal, na Súmula Vinculante nº 3 do STF, e no art. 250, inciso V, do Regimento
Interno do TCU, para que se manifeste, se assim desejar, acerca dos indícios de aumento indevido no
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Relatório ainda sem despacho do relator
preço e no prazo meta, respaldado em projeto básico notadamente insuficiente, e que teve influência da
contratada na sua elaboração.
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Relatório ainda sem despacho do relator
7 - ANEXO
7.1 - Dados cadastrais
Obra bloqueada na LOA deste ano: Não
Observações:
7.1.2 - Execução física e financeira
Execução física
Observações:
Sem Observações
Execução financeira/orçamentária
Desembolso
Funcional programática: 22.662.2055.125U.0026/2012 - Implantação de Complexo de Poliéster e
Resina PET, em Ipojuca (PE) - No Estado de Pernambuco
Observações:
Sem Observações
Nº contrato: 14/2010-Citepe
Objeto do contrato: Realização das obras de implementação do projeto da Citepe para produção de
POY e PET
Data da assinatura: 1/9/2010 Mod. licitação: inexigibilidade de licitação
SIASG: -- Código interno do SIASG:
CNPJ contratada: 15.102.288/0022-07 Razão social: Construtora Norberto Odebrecht S.A.
CNPJ contratante: 33.795.055/0001-94 Razão social: Petrobras Química S.A. - MME
Situação inicial Situação atual
Vigência: 1/9/2010 a 13/10/2011 Vigência: 1/9/2010 a 30/5/2012
Valor: R$ 1.799.000.000,00 Valor: R$ 2.386.049.915,67
Data-base: 1/3/2010 Data-base: 1/3/2010
Volume do serviço: Volume do serviço:
Custo unitário: Custo unitário:
BDI: BDI:
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Relatório ainda sem despacho do relator
Alterações do objeto:
Observações:
equipamentos
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Relatório ainda sem despacho do relator
estrutura metálica
texturização
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Relatório ainda sem despacho do relator
laje aveolar
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Relatório ainda sem despacho do relator
pipe shop