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A PROBLEMÁTICA OCASIONALISTA:

Para clareza neste texto, permita-me explicar a distinção entre o decreto de Deus e a providência de Deus.
Deus é eterno, e Ele age no tempo. Deus, sendo eterno, decreta. O Seu decreto é o Seu desejo: o simples
desejo de Deus já é decreto. Deus, eternamente, decreta em Seu desejo. Deus decretou absolutamente
tudo o que ocorre na história, inclusive Suas próprias ações no tempo. As ações de Deus no tempo são a
Sua providência. Então, há esta distinção: o decreto de Deus é eterno, e providência de Deus é temporal.

Entendido isto, permita-me dizer: os ocasionalistas afirmam que Deus é o autor do pecado. Em que
sentido afirmam isto? Afirmam no seguinte sentido: Deus decretou ativamente o pecado de Adão. Por
"ativamente", entenda-se "não-permissivamente". Qual implicação há nessa afirmação? Há a seguinte: se
Deus decretou ativamente o pecado de Adão, então Deus, providencialmente, influenciou Adão a pecar.
Esta é a implicação lógica. Onde está escrito nas Escrituras que Deus providencialmente influenciou Adão
a pecar? Em nenhum lugar. Mas esta é a implicação do ensino dos ocasionalistas.

Pensemos: qual o problema na implicação de que Deus providencialmente influenciou Adão a pecar? O
problema é este: se Deus providencialmente influenciou Adão a pecar, então Deus promoveu o pecado de
Adão. Se Deus promoveu o pecado de Adão, então Deus em Si mesmo seria pecaminoso (o que é
blasfemo pensar, mas é essa a implicação do ensino ocasionalista).

Os ocasionalistas respondem a isso dizendo que Deus não seria pecaminoso pelo fato de que o pecado é a
transgressão da Lei de Deus, e a Lei de Deus não é para Deus, é para os homens. E sim, de fato a Lei de
Deus é para os homens. Mas o ponto aqui não é necessariamente a jurisdição da Lei, mas sim a essência
de Deus. As Escrituras afirmam que Deus é essencialmente bom. Assim, o cristianismo crê que Deus é
essencialmente bom. Se os ocasionalistas se consideram cristãos, então eles devem afirmar que Deus é
essencialmente bom. Se os ocasionalistas afirmam que Deus é essencialmente bom, então eles devem
afirmar que as ações de Deus são essencialmente boas. Se o ensino deles implica no ponto em que Deus
providencialmente influenciou Adão a pecar, e se a problemática nessa implicação é a de que Deus teria
promovido o pecado de Adão, então se segue a conclusão de que os ocasionalistas devem afirmar que a
promoção do pecado de Adão é algo bom e que, se a promoção do pecado de Adão é algo bom, a
promoção do pecado é algo bom, pois, se eles se consideram cristãos, eles devem afirmar que todas as
ações de Deus são boas, pois Deus essencialmente é bom. Repetindo, o ponto aqui não é a jurisdição da
Lei, mas sim a essência de Deus.

Algum ocasionalista que esteja lendo isto que escrevi deve estar agora com as entranhas se comovendo,
seja em sarcasmo irracional, seja em ira pecaminosa. Motivado por tal sarcasmo ou ira pecaminosa, muito
dificilmente ele irá usar a lógica para tratar devidamente da problemática acima exposta. O ponto é que
Deus é essencialmente bom, e dizer que Deus influenciou Adão a pecar é dizer que influenciar outrem a
pecar é algo bom, pois Deus é bom.

As Escrituras condenam esse tipo de pensamento: "Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que
fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" (Isaías 5.20, ACF). O
tipo de raciocínio que baseia o ocasionalismo é um raciocínio que não se encontra nas Escrituras, e por
isso o falso deus ensinado pelos ocasionalistas não é o Deus bíblico. Em relação a isto, pretendo
demonstrar futuramente.

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Samuel Santos.
Doxa Theou Estudos.

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