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Esse trabalho tem por intuito provar que a doutrina do Livre-Arbítrio é logica e bíblica,

refutando terminantemente a doutrina calvinistas da predestinação incondicional. Para tal,


foram utilizadas duas abordagens: 1. A abordagem da teologia filosófica 2. A abordagem
exegética. Por meio desses dois métodos, visa-se obter harmonia entre a lógica e a Bíblia, visto
que, como dogma cristão, A Bíblia é inspirada palavra de Deus, contendo em si mesma o Logos
Divino. Assim, doutrina bíblica e a lógica nunca podem estar em desarmonia, o que significa
que esse trabalho só será valido caso as duas abordagens cheguem a um denominador
comum. Caso não, terá havido erro em pelo menos uma das abordagens.

Para início da abordagem teológica é necessário definirmos os atributos divinos. Entre


eles, existem: Onisciência (Salmos 147:5), Onipresença (Salmos 139:7-8), Onipotência (Gênesis
17:1), Eternidade ou Imutabilidade (Gênesis 21:33 e Tiago 1:17), Bondade (Marcos 10:18),
Justiça (Atos 10:34) e Amor (1 João 4:8). Todos esses atributos influenciam na questão da
existência ou não do Livre-Arbítrio, e serão comentados posteriormente na abordagem
exegética. Num primeiro momento analisemos a questão somente em relação ao atributo
“Amor”.

Sabemos que Deus é Amor (1 João 4:8), e não só simples amor, mas o supremo amor
(Ágape). O amor “não busca os seus próprios interesses” (1cor 13:5), nem “busca receber algo
de volta” (Lu 6:35). Sendo assim, podemos definir o Amor de A para B como o sentimento de
altruísmo de A para B, sendo esse altruísmo por sua vez definido pelo desejo de A de fazer o
bem a B sem merecimento, expectativa ou certeza de reconhecimento ou vantagem para si,
sendo que o único benefício que possa existir diretamente vinculado à ação seja a sincera
felicidade gerada em A ao fazer o bem a B.

Tomemos então dois conceitos de Deus: O Deus Livre-arbitrário e o Deus


Determinístico. O Deus Livre-Arbitrário, por definição, concede a suas criaturas o livre-arbítrio
de escolher servi-lo ou não, enquanto o Deus determinístico determinou previamente quais o
serviriam e quais o rejeitariam. Por meio dessas definições, podemos interpretar os atos de
cada definição de Deus e obtermos deles conclusões teológicas. Comecemos pelo Deus
Determinístico.

O Deus determinístico deu o seu Filho unigênito para morrer pela humanidade,
oferecendo por meio dele o perdão dos pecados. Analisemos esse ato:

 Autor: Deus
 Receptor: Toda a humanidade (expiação ilimitada – Calvinistas de 4 pontos. Os
calvinistas de 5 pontos creem na expiação limitada, portanto se encaixando no
exemplo a seguir, onde o receptor consiste somente dos eleitos)
 Ato: Dar a vida de seu Filho na cruz
 Objetivo: Reconciliar o homem com Deus, os quais estavam separados por causa do
pecado
 Natureza do ato: Bom
 Garantia de sucesso: Nenhuma, pois o ser humano em sua carnalidade não é
capacitado para por si próprio aceitar esse dom.

Vemos então que esse ato divino se encaixa completamente na definição de Supremo
Amor Altruísta, pois é um ato bom feito sem merecimento da humanidade, sem certeza ou
expectativa de sucesso, pois Deus, em sua onisciência já sabia que a humanidade rejeitaria, e
mesmo assim o fez.
Partamos para a análise de um segundo ato: o Deus determinístico concedeu o Espírito
Santo a seus Eleitos para fazê-los aceitar o sacrifício de Cristo.

 Autor: Deus
 Receptor: Os Eleitos
 Ato: Conceder o Espírito Santo
 Objetivo: Restaurar no ser humano a imagem da semelhança do caráter de Deus, e por
fim capacitá-los a habitar eternamente na presença de Deus.
 Natureza do ato: Bom
 Garantia de sucesso: 100%, pois é um ato feito somente àqueles a quem Deus
determinou que aceitariam

Podemos ver que nesse caso o ato não se encaixa completamente na definição de
Altruísmo, pois é um ato bom feito sem merecimento dos eleitos, porém existe certeza e
expectativa de sucesso já que Deus em sua onisciência reservou esse dom somente àqueles a
quem ele já sabia que aceitariam.

Concluindo a análise do Deus determinístico, partamos para a análise do Deus Livre-


arbitrário:

O Deus Livre-arbitrário deu o seu Filho unigênito para morrer pela humanidade,
oferecendo por meio dele o perdão dos pecados. Analisemos esse ato:

 Autor: Deus
 Receptor: Toda a humanidade
 Ato: dar a vida de seu Filho na cruz
 Objetivo: Reconciliar o homem com Deus, os quais estavam separados por causa do
pecado
 Natureza do ato: Bom
 Garantia de sucesso: Nenhuma, pois o ser humano em sua carnalidade não é
capacitado para por si próprio aceitar esse dom.

Vemos aqui tudo em semelhança ao Deus determinístico. Passemos então para o segundo
ato: o Deus livre-arbitrário concedeu o Espírito Santo a toda a humanidade para capacitá-los a
aceitar o sacrifício de Cristo.

 Autor: Deus
 Receptor: Toda a Humanidade
 Ato: Conceder o Espírito Santo
 Objetivo: Restaurar no ser humano a imagem da semelhança do caráter de Deus, e por
fim capacitá-los a habitar eternamente na presença de Deus.
 Natureza do ato: Bom
 Garantia de sucesso: nenhuma, pois os receptores estariam capacitados a escolher
receber ou não o perdão já concedido por Cristo e a subsequente obra de
transformação pelo Espírito Santo.

Observamos que esse ato se encaixa completamente na categoria de Altruísmo, pois é um


ato bom, feito sem merecimento por parte da humanidade e que não apresenta certeza ou
garantia completa de sucesso. Sem dúvida, pela onisciência, Deus sempre soube quais dos
seres humanos aceitariam a Cristo por meio da ação do Espírito Santo, porém não se limitou a
conceder somente a esses. O Deus livre-arbitrário concedeu o Santo Espírito àqueles a quem
também o rejeitariam, o que configura altruísmo.

Concluímos assim que no atributo Amor, o Deus livre-arbitrário é mais amável que o Deus
determinístico. Sendo Deus o Amor Supremo, a existência de um ser com mais amor que Deus
é inconcebível. Sendo assim, caso concebamos alguem com mais amor do que Deus, então
esse alguém é que é o verdadeiro Deus, e não o Deus anterior. Sendo assim, fica evidente que
o verdadeiro deus é o Deus livre-arbitrário e que o Deus determinístico é um falso Deus,
portanto, um Demiurgo.

Agora, concluída a abordagem filosófica, partamos para a abordagem exegética dos textos
bíblicos.

O Livre-Arbítrio estipula que o ser humano possui responsabilidade moral em decidir pecar
ou não pecar. Esse conceito aparece claramente expresso pela primeira vez em “Se você fizer o
bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja
conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". (Gn 4:7). Aqui claramente Deus atribuiu a
responsabilidade do homem dominar os seus anseios pecaminosos. Deus não é mentiroso (Nm
23:19), portanto cabe ao ser humano dominar o pecado, para não ser conquistado por ele. Isso
não quer dizer que o ser humano consiga fazer isso sem auxílio, pois não está escrito “você
sozinho deve dominá-lo”, mas “você deve dominá-lo”. O texto evidencia que o ser humano
possui papel fundamental no domínio do pecado, mas não afirma possuir o papel exclusivo ou
suficiente para tal. Com isso, o texto não é base suficiente para defender doutrinas como o
pelagianismo, que argumentam ser a vontade humana suficiente para dominar o pecado.

O segundo texto para análise se encontra em “Quem dera que eles tivessem tal coração
que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem
lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre.” (Dt 5:29)

O hebraico bíblico, como a maioria dos idiomas, é repleto de expressões idiomáticas. Essas
expressões são formadas por palavras que, quando combinadas, assumem significado
diferente do seu sentido original. Uma expressão idiomática do AT é Mi-yitten. Mi é a pergunta
“quem?” e yitten significa “dará”. Então, literalmente, Mi-yitten quer dizer “Quem dará?”.

No AT, porém, a expressão revela um desejo, um anseio ou algo que se queira muito e que
não está sob seu total controle. Por exemplo, após terem deixado o Egito, os filhos de Israel,
enfrentando desafios no deserto, exclamaram: “Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão
do Senhor no Egito!” (Êx 16:3). “Quem nos dera” é aqui uma expressão idiomática advinda de
mi-yitten. No Salmo 14:7 Davi declarou: “Quem dera que de Sião viesse já a salvação de
Israel!” Jó 6:8 afirma: “Quem dera que se cumprisse o meu pedido”. Novamente, “quem dera”,
nesses versos, é a tradução do hebraico mi-yitten.

Como pode ser que o Senhor – o Deus Criador, Aquele que fez o espaço, o tempo e a
matéria, que falou e o mundo veio à existência, que soprou em Adão o fôlego da vida – possa
pronunciar a frase “quem dera”, geralmente associada às fraquezas e limitações da
humanidade? Seria Deus limitado? Seria Sua Onipotência, falsa?

Um dilema semelhante a esse se encontra na proposição que, caso Deus não pudesse criar
uma pedra tão pesada que Ele próprio não pudesse carregar, isso tornaria Deus não
Onipotente. De maneira nenhuma essa proposição é válida, pois a Onipotência de Deus está
subordinada a Sua Natureza e a sua Vontade. A onipotência de Deus não existe como algo
isolado o qual Deus poderia ser qualquer coisa a qualquer momento, pois assim Deus não seria
constante, mas antes não teria controle algum sobre si mesmo. Se Deus é eterno, portanto,
imutável, seu absoluto poder está submetido a sua Carácter, que é o elemento unificante
eterno de suas vontades. O carácter de Deus é o Amor, o qual não força ninguém a ama-lo de
volta, antes o verdadeiro amor só existe quando se dá voluntariamente. A essa capacidade
dada por Deus à suas criaturas de escolher amá-lo livremente, chama-se Livre-Arbítrio. O livre-
arbítrio humano não nega a onipotência de Deus, mas está submetida ao Seu Poder e ao Seu
Carácter.

O Livre-arbítrio nega a graça de Deus?

Sem dúvida a entrada do pecado no mundo teve efeito sobre o nosso livre arbítrio,
pois “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete
pecado é servo do pecado.” (Jo 8:34). Sendo nós pecadores e, portanto, escravos do pecado,
não somos livres para amar a Deus, porém o mesmo Cristo disse: “Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres.” (Jo 8:36). Deus, por meio de sua graça, nos restitui o livre
arbítrio, para que possamos escolher amá-lo. Porém o amor “não busca os seus próprios
interesses” (1cor 13:5), nem “busca receber algo de volta” (Lu 6:35). Portanto, se Deus amasse
somente àqueles a quem Ele sabe que responderão positivamente a esse amor, seu amor seria
limitado. Mas Deus não fez assim, “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a
todos os homens” (Tito 2:11). A graça de Deus, que nos salva da escravidão do pecado foi
manifestada a todo o gênero humano – πᾶσιν ἀνθρώποις, Pasin Anthropois – para que “Como
pessoas livres que são, não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; pelo contrário,
vivam como servos de Deus.” (1 Pe 2:16). Ora, se aqueles que são livres podem escolher fazer
o mal, logo entende-se que a libertação do pecado dada por Cristo não é impositiva, mas sim
convidativa: convida a todos para que usem da sua liberdade para que se tornem servos dEle,
não por imposição da servidão, mas voluntariamente escolhendo tornar-se servo.

Um argumento dos defensores da chamada “expiação limitada” tenta subverter o


significado da palavra “todos”, como se referindo a “todos os eleitos”. Tenta-se justificar que,
caso a expiação de Cristo fosse universal, mas visto que haverá uma multidão deperdidos,
então o sacrifício de Cristo teria sido inefetivo na vida desses, atribuindo assim imperfeição a
obra expiatória de Cristo. Essa argumentação contraria completamente o texto bíblico:
“Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os
homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os
homens.” (Rm 5:18). Vemos aqui a expressão “todos os homens” sendo utilizada duas vezes:
uma para dizer que pelo pecado de Adão todos os homens se tornaram pecadores – e por isso,
merecedores da condenação –, e outra para dizer que pelo sacrifício de Cristo todos os
homens receberam a vida – como oposta a morte causada pelo pecado. Ora, se admitimos que
no segundo caso a expressão “todos os homens” não se refere a literalmente todos, mas só a
alguns, então o mesmo poderia ser dito do primeiro caso. Assim, diríamos que pelo pecado de
Adão, um certo de grupo de humanos se tornou destinado a condenação, mas outro não.
Assim, se estabeleceria o pelagianismo, crendo que alguns seres humanos não estariam
condenados e portanto necessitando desse “ato de justiça” para lhes dar a vida. Por suas
próprias forças poderiam obedecer a Deus, não necessitando da obra expiatória de Cristo.
Claramente esse ponto não se sustenta e a morte de Cristo foi sim salvadora para todos os
homens, assim como o pecado de Adão foi condenatória para todos os homens.

Mas seria por isso a expiação de Cristo falha, visto que homens serão condenados ao
lago de fogo, homens aos quais Cristo pagou os pecados? Seriam os pecados pagos duas vezes,
visto que Cristo já os pagou na cruz, e os pecadores pagarão no lago de fogo? Não, pois:
“Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia
contra o Espírito não será perdoada aos homens.” (Mt 12:31). Vemos aqui que o pecado
contra o Espírito Santo não foi pago na Cruz, e esse não está sob o perdão de Cristo. Visto que
a Graça Salvadora foi dada a todos os homens, os homens a recebem por meio da ação do
Espirito Santo, que testifica de Cristo (Jo 15:26), Assim, aqueles que negam a Graça pecam
contra o Espírito, e pagarão por esse pecado no dia do juízo divino.

Portanto nenhum pecado é pago duas vezes, e a expiação de Cristo não é imperfeita,
cumprindo seu propósito de demonstrar seu carácter de Amor e Justiça a todas as criaturas. A
todos os homens foi concedida a graça salvadora de Deus, e, em circunstancias e momentos
que nem sequer podemos imaginar, em ao menos um instante, a cada ser humano foi
oferecida a questão “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a
tua descendência” (Dt 30:19)

Deus diz: “Escolhe a vida”, pois esse é Seu sincero desejo, mesmo sabendo que a
grande maioria escolheria a morte, pois “Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o
número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo.” (Rm
9:27). Ninguem, dessa forma, contraria a vontade de Deus, nem O surpreende ao rejeitar sua
graça e voltar à servidão do pecado na qual nasceu. Antes, cumpre a vontade de Deus de que
os homens livremente escolham seu destino.

Nem tão pouco o direito do ser humano livremente escolher o seu destino nega a
Predestinação divina, pois aqueles que são eleitos por Deus são “Eleitos segundo a presciência
de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus
Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1Pe1:2). Portanto, nos versos “Ou não tem o
oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para
desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder,
suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição;” (Rm 9:21,22), não
denota o desejo Divíno de que alguns homens sejam perdidos, enquanto outros homens sejam
honrados, mas sim demonstra a presciência do oleiro em saber que alguns vasos serão para a
honra, e outros para a perdição, e mesmo assim decidiu trazer ambos a existência, não se
furtando de fazer uns que viriam a trazer-lhe tristeza. Não haveriam condenados se Deus
abortasse todo feto que viria ser pecador inconfesso. Mas para demonstrar seu carácter Deus
decidiu dar vida a ambos, desejando a salvação daqueles que escolhem a perdição, “Porque
isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se
salvem, e venham ao conhecimento da verdade. (1 Timóteo 2:3,4)

Então vemos que a predestinação de Deus se dá da seguinte maneira: Que Deus,


conhecendo desde tempos eternos quem escolheria a vida e quem escolheria a morte,
permitiu-os vir a existência, para que se cumprisse o seu destino. Observamos dessa forma
total harmonia entre o Livre-Arbítrio concedido aos homens por Deus, e A Graça Salvadora
Universal de Deus (expiação universal) com Seus Atributos Divinos de Onipotência e
Onisciência (presciência) e Amor.

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