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Nota: Textos em vermelho correspondem a exemplos, designados para uso primariamente oral,

e dispensáveis para o leitor caso pensem ter compreendido o raciocínio com base em seu
próprio arcabouço experiencial e imaginativo. O objetivo desses exemplos é suprir a deficiência
de imaginário tão prevalente no homem moderno, especialmente no brasileiro.

Título: Deus é o autor da personalidade


Texto base:

E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e
o homem foi feito alma vivente. - Gênesis 2:7
Perguntas: O que é essa “alma vivente” que, de forma inspirada, Moisés escreveu? Quais
benefícios podem acarretar de uma correta compreensão acerca desse tema?
Introdução: Para alguns a resposta pode parecer óbvia, mas para outros, pode parecer confuso.
Se existe uma alma vivente, existe então uma alma “morrente”? como entender no que consiste
uma alma? Do que ela é feita? Qual sua natureza? O Homem, no sentido genérico “Ser humano”
é uma alma? Para entendermos tudo isso primeiro precisamos entender o processo que Deus
utilizou para fazer o homem como alma vivente. No Texto base vemos que o processo utilizado
por Deus para tornar o homem uma “alma vivente” é constituído por duas etapas. Vamos explorá-
las ao longo da pregação.
1) “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra”
a) Essa primeira parte é muito importante. Vemos aqui que o primeiro elemento formador do
ser humano é a matéria. Deus primeiro formou o homem do pó da terra, como um boneco
de barro, antes de quaisquer outros processos. Não só isso; o texto não diz “e formou o
Senhor Deus um corpo do pó da terra”. Isso quer dizer que mesmo antes de haver vida ou
consciência naquele boneco inanimado, Deus já o chamou de homem. Isso significa que o
elemento material, corporal, é o fundamento da identidade humana.
b) Se ao invés de ter dito “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” Deus dissesse
“e formou o Senhor Deus o corpo do homem do pó da terra” ou então “o corpo que viria a
ser o homem”, então entenderíamos que aquilo que o Senhor fez do barro ainda não
poderia ser chamado de homem (ou humano), mais somente o corpo dele, ou seja, um de
seus elementos ou partes. E essa seria uma parte de menor importância, pois não
conseguiria por si só dar àquilo que estava feito a identidade “humana”. Assim, seria
necessário adicionar outro elemento a esse corpo para a partir daí poder ser chamado
humano. Esse segundo elemento, portanto, seria muito mais importante que o primeiro,
pois esse foi capaz de dar identidade ao que antes não tinha.
i) Para facilitar o entendimento, tomemos o exemplo de se querer fazer um doce. Se
dentro de uma tigela pomos claras de ovos, isso por si só não constitui um doce. Ao
adicionarmos açúcar, utilizando de determinada técnica, já podemos dizer que temos ali
um doce, ainda que esteja cru. Ou seja, o segundo elemento foi o responsável por dar
a identidade de “doce” para aquela substância dentro da tigela. Isso significa que para
formar um doce genérico o açúcar é mais importante do que a clara. Nesse analogia,
em que o homem é o doce, a materia que nos constitui é “clara” ou é “açúcar”? se for
clara, significa que não é capaz de nos dar o nome de “doce”, mas se é açúcar, então
já temos a identidade de doce, antes mesmo das claras. Vemos no texto bíblico que o
homem já é chamado homem, só pela sua matéria (pó da terra).

2) “e soprou em suas narinas o fôlego da vida”


a) A segunda parte revela outro elemento do que virá a ser “alma vivente”. Ao homem
material, que já podia ser identificado como homem, foi-lhe acrescentado o fôlego de vida.
A princípio não sabemos qual é a natureza desse fôlego. A palavra utilizada na Bíblia para
fôlego é “Neshamah”, e está intimamente ligada com a palavra “Ruakh” que é traduzida
como espírito, mas pode ser também traduzida como brisa, vento, etc. Enquanto a Ruakh
é um vento qualquer, a “Neshamah” é o sopro, a espiração (na perspectiva de Deus), e a
inspiração (na perspectiva humana). Se entendermos “Neshamah” no seu sentido mais
literal, poderíamos pensar que o fôlego de vida é uma espécie de sopro, e sendo o sopro
algo material, visto que todos nós podemos sentir um soprar em contato com nossa pele
material, então cairíamos no erro de achar que esse fôlego descrito em Gênesis 2:7 é
também algo material.
i) É importante atentarmos que a língua hebráica não possui palavras para conceitos
abstratos. É uma lingua extremamente concreta. Isso significa que não existe palavra
específica para se referir a um conceito abstrato como pecado, porém utiliza-se um
conceito concreto como alegoria desse fenômeno, que é a palavra “khata”, significando
errar o alvo, de forma literal. Pelo contexto, não havendo um alvo literal a ser acertado
por um dardo, pedra ou flecha, fica evidente o seu uso simbólico, no sentido de errar
um alvo mental, abstrato, isso é, a Lei de Deus. Da mesma forma, a Bíblia usa muitas
vezes a palavra “Ruakh” para falar mais do que simples vento, como por exemplo
vemos em 1 Crônicas 28:12 onde a palavra comumente traduzida pela palavra “mente”
está no hebraico como “Ruakh”, ou seja, “vento”. A ideia da representação utilizada é
que assim como o vento é uma força invisível que empurra coisas (e na visão das
pessoas daquela época o vento era considerado como algo imaterial, intangível), assim
existe alguma força dentro do homem, além da força dos próprios músculos.
ii) Um exemplo que poderia ilustrar isso é o ato de uma pessoa que levanta o braço: antes
mesmo de exercer a força de seu músculo deltoide, precisa primeiro de uma força
imaterial que decida utilizar a força dos músculos. Muitos de nós, para não dizer todos,
já tivemos a experiência de dizer que “estou sem forças para levantar hoje”. Isso não é
plenamente verdadeiro em termos fisiológicos, visto que, na maioria dessas situações,
nossos músculos possuem fibras e nutrientes suficientes para fazer a força necessária
para nos levantar, porém ao dizermos essa expressão falamos de nossa força mental.
Nesse sentido, falamos por analogia de uma forma muito semelhante como os antigos
hebreus faziam.
iii) Vemos, assim, que a palavra “Ruakh”, que originalmente significa brisa ou vento, pode
significar conceitos imateriais como espírito, mente, vontade e intenção. De igual modo,
a palavra “Neshamah”, traduzida como “fôlego”, pode significar também algo além de
seu sentido concreto.
b) Entendendo que a palavra “fôlego” não é necessariamente algo material, mas depende da
forma que é empregada, devemos investigar pelo contexto imediato da palavra e por meio
da concordância com outras passagens bíblicas qual o sentido pretendido.
i) Primeiro vemos que o fôlego de vida é soprado da parte de Deus. Se Deus é material,
então esse fôlego é material. Mas se Deus for imaterial, então esse fôlego também o é.
ii) Em João 4:24 Jesus disse: “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade.” Jesus elucida mais esse assunto em Lucas 24:39:
“Observai as minhas mãos e meus pés e vede que Eu Sou o mesmo! Tocai-me e
comprovai o que vos afirmo. Por que um espírito não tem carne nem ossos, como
percebeis que Eu tenho.” Primeiro obtivemos a informação que Deus é Espírito. E em
seguida aprendemos que um Espírito não possui nem carne nem ossos. Portanto Deus,
o Pai, não possui carne nem ossos. Ao Jesus convidar Tomé a tocá-lo, ele está dizendo
que um espírito não pode ser tocado, pois é imaterial. Deus é imaterial.
iii) Podemos concluir então que o fôlego soprado dentro do homem não foi de um sopro
material vindo de um ser material, mas de um sopro imaterial, vindo de um Ser
imaterial. Portando, o segundo elemento adicionado por Deus é um elemento
imaterial/espiritual.

c) Enquanto a “Ruakh” é um vento qualquer, uma força invisível relacionada a vontade,


desejo e intenção, e que segundo a Bíblia até mesmo os animais possuem (ver Eclesiastes
3:21), a “Neshamah” é um vento peculiar, que sai da boca de Deus. Por isso não é um
simples vento sem característica, nem um vento sem direção; é um vento que carrega
hálito, carrega a identidade, a direção e a intenção de quem soprou. Evidentemente, isso é
figurativo, as a intenção dessa figura de linguagem é mostrar que essa força invisivel, esse
soprar, tem origem na parte mais elevada de Deus, isto é, sua cabeça; mais
especificamente, a boca de Deus, mesmo lugar de onde sai a sua Palavra. O soprar de
Deus é quase como um sussurrar, não é um simples vento que possui somente força, mas
sim um sussurro que transmite sua identidade e sua mensagem. É um vento que contém
informação, conhecimento e entendimento. Isso a Bíblia confirma, como vemos em Jó
32:8, “Na verdade, há um espírito [Ruakh] no homem, e o sopro [Neshamah] do Todo-
Poderoso lhe dá entendimento.” O ser humano é exclusivo entre as criaturas, pois
enquanto os animais possuem somente o espírito “Ruakh”, o homem possui os dois, tanto
o espírito quanto o fôlego.
i) Quando pensamos em exemplos de nosso dia-a-dia que tenham característica
imaterial, podemos pensar em algumas coisas. Uma delas é a “vontade”, que é
impossível de pegar ou apontar, mas existe e está no homem. Esse é o espírito, o
vento. Outro elemento imaterial que podemos pensar é a informação, o conhecimento.
A informação até pode ser passada sobre um substrato material, como tinta e papel,
barro, ondas eletromagnéticas, sonoras, etc. Porém a informação não está nas ondas,
ou na tinta, ou no barro. Letras, para quem não conhece a escrita, são apenas rabiscos.
É necessária uma inteligência que produza uma mensagem, e outra inteligência capaz
de decifrá-la. Outro exemplo se encontra nas leis da natureza. Elas ja existem e estão,
figurativamente, escritas no universo, e nós só as transcrevemos em linguagem
humana. Essas leis são informação.
ii) Então, segundo a palavra de Deus, a inspiração proveniente de Deus colocada em nós,
o seu fôlego, é algo relacionado a informação, ao conhecimento. O idioma grego possui
uma palavra chamada “Logos”, que inclusive foi usada pelo apostolo João para
descrever Cristo. Logos significa “palavra”, e o que é a palavra se não uma informação?
De “Logos” também vem a palavra lógica, ou seja, razão. Existe uma relação íntima
entre a informação e a razão, pois o raciocínio é o responsável por transformar a
informação em conhecimento. Portanto, o Conhecimento, o Entendimento, pressupõe a
informação e a capacidade de raciocínio. Dessa forma podemos compreender o fôlego
como sendo a mente humana em sua camada mais elevada, ou seja, o raciocínio
lógico, a razão; no sentido que todos os seres humanos são distintos entre si, pois são
produtos de distintas composições materiais, mas a razão e a lógica, correta e
coerente, são uma só, independentemente da pessoa, pois elas proveem de um
mesmo Deus coerente.
iii) Adendo: [Aqui pode ser incluído um exemplo sobre como pessoas de diferentes
denominações chegam a diferentes conclusões em relação a palavra de Deus. Se a
lógica fosse individual, cada um teria sua lógica e estariam todos corretos. Porém a
lógica é uma só, e claramente alguem está pensando logicamente sobre o tema,
enquanto outros estão sendo ilógicos. A lógica é igual para todos, e Deus deu a todos a
capacidade de raciocinar logicamente, ainda que o raciocínio de alguns esteja
debilitado pelas consequências de milhares de anos de hereditariedade do pecado.
Deus leva em considerações todas as coisas, e tem tolerância com aqueles que são
incapazes de raciocinar logicamente sobre determinados temas, porém isso não é
desculpa para permanecer voluntariamente da ignorância, pois existem meios pelos
quais Deus pode operar na restauração da capacidade de raciocínio – ver mensagem
de saúde]

3) “e o homem foi feito alma vivente.”

a) Por fim, o elemento resultante dessa união de elementos é a Alma vivente. E novamente
temos aqui a confirmação da identidade humana: o homem “tornou-se” alma vivente. O
que significa que antes do homem ter se tornado “alma vivente”, ele já era homem, só
não estava vivo.
b) Além disso, podemos perceber que, se a Alma vivente é constituída de dois elementos
de naturezas distintas (uma, material: pó da terra; outra, imaterial: fôlego de vida), logo
esse ser resultante chamado de alma vivente deve possuir os dois elementos unidos. O
homem, que antes só possuía um dos elementos, passou a ter os dois. Assim, o homem
passou de um estado em que era um objeto não vivente para uma alma vivente.
c) Portanto, se tivermos a intenção de tentar traduzir esse termo “alma vivente” para uma
linguagem de mais fácil compreensão para nós, devemos traduzi-la para uma palavra
que possa abarcar esses dois elementos do homem (ser humano): o elemento físico e o
elemento metafísico.
i) Vamos imaginar os seguintes exemplos. O primeiro, um garoto que conhece outro
garoto pela internet, a princípio somente por texto, mas acabam desenvolvendo uma
amizade. Ao um deles relatar para sua família o ocorrido, ele dirá que conheceu uma
pessoa de muito longe. Percebamos que esse garoto não viu ou tocou os aspectos
físicos do outro garoto, mas somente por meio da troca de ideias e informações ele já
se sente capaz de dizer que conheceu uma pessoa. Um segundo exemplo: uma
terrível tragédia de deslizamento de terra e inundação. Muita gente fica soterrada,
alguns sobrevivendo em baixo de alguma estrutura, outros infelizmente morrendo.
Quando a equipe de bombeiros encontra gente respirando, ainda que desacordadas,
é esperado que avisem: “encontramos pessoas soterradas!”. Porém, se, ao chegarem
em determinado ponto da encosta, encontrarem somente humanos sem vida, não
dirão que encontraram pessoas, mas sim “encontramos corpos de “tantas” mulheres e
de “tantos” homens. Não vemos mais corpos sem vida como pessoas, ainda que sua
identidade esteja preservada na matéria.
ii) No primeiro exemplo, um garoto pode dizer ter conhecido outro sem ao menos ter tido
qualquer percepção sensorial da presença física do corpo de seu amigo, somente
pelo contato de ideias e informações. No segundo exemplo, os bombeiros são
capazes de chamar de pessoa alguem desacordado, com quem não tiveram qualquer
interação intelectual.
iii) Vemos então que palavra “Pessoa” abarca tanto o sentido material do que é ser um
ser humano, quanto o sentido imaterial, intelectual do ser humano.
4)
a) Considerando então que a palavra “Pessoa” abarca todos os sentidos que o contexto
infere para expressão “alma vivente”, podemos dizer que uma forma mais clara de
entender o texto bíblico seria dizer que “E formou o Senhor Deus o homem do pó da
terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito uma Pessoa”. Ou
seja, a personalidade, significando o atributo de ser pessoa, é o resultado da interação
do homem material e o fôlego de Deus.
i) Entendermos isso é de fundamental importância para não cairmos em erros
teológicos tão comumente propagados. O texto bíblico diz: No suor do teu rosto
comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és
pó e em pó te tornarás. - Gênesis 3:19.
ii) O texto não diz: porquanto “teu corpo” é pó, e ao pó “teu corpo” tornará. Ele diz: tu és
pó, e ao pó tornarás. De novo, a questão da identidade humana está intimamente
ligada a matéria. Quem retorna ao pó é o ser humano e toda parte dele que tem
quaisquer conexões com a matéria.
iii) Se nossa personalidade depende da materia existente em nosso corpo, em especial
no cérebro com seus neurônicos, e ao mesmo tempo do fôlego de vida imaterial vindo
da parte de Deus, então não é lógico supor que no momento de nossa morte nosso
fôlego voltará para Deus carregando consigo nossos pensamentos e personalidade.
Aquilo que de nós volta para Deus só pode ser algo que não tem em si mesmo
pensamento, ação, humor, emoção, entre tantos outros aspectos da personalidade
humana regidos ou influenciados por fatores materiais como hormônios, alimentação,
etc., de forma que esse elemento não pode sequer ser chamado de homem, ou
humano, pois o elemento principal para caracterizar o homem, a matéria, está
ausente.
iv) O que de nós volta para Deus só pode existir em dois campos: o da vontade, e o da
informação. Ou seja, Deus recebe de nós nossa vontade última, seja ela a de querer
estar com o Senhor, ou a de não querer estar com Ele. Assim como Ele também
recebe de nós toda nossa memória, todo conhecimento e informação que
acumulamos em nossa vida e que fazem parte daquilo que compõe a nossa
personalidade. É como um grande “backup” das mentes humanas guardadas por
Deus, preservadas para se unirem novamente com os corpos glorificados que serão
refeitos no dia da ressurreição.
v) Para aqueles que não estão familiarizados com o termo “backup”, se trata do
armazenamento de dados a fim de preservá-los de possíveis acidentes. Por exemplo,
pode-se fazer um backup de todas as fotos de seu celular em um cartão de memória,
de forma que mesmo se seu celular cair na rua e um carro esmaga-lo completamente,
pode-se retirar o cartão de memória e todas as suas fotos estarão lá. Porém, só esse
cartão não são as fotos. Com somente o cartão em mãos não é possível ver uma foto
sequer. Trata-se de uma memória inativa, sem funcionamento. Para poder ver as
fotos é necessário que se compre um novo celular, e coloque-se o cartão de memória
nele, a fim de que o processador em pleno funcionamento do celular seja capaz de
interpretar e reproduzir na tela a imagem das fotos. De igual modo, no momento de
nossa morte nossa memória é guardada inativa até que possa reencontrar um novo
corpo para reintegrar-se em nossa personalidade.
vi) Para os pecadores, ainda que seus corpos e personalidades sejam destruídos
eternamente, algo restará deles, ainda que indiretamente: A vontade de cada um
deles de estarem longe da fonte da vida. Essa vontade ecoará eternamente
proclamando que Deus é justo, que Deus deu para cada um somente aquilo que o
indivíduo verdadeiramente pediu. Não haverá nenhum clamor para que se traga de
volta à vida os pecadores contumazes, pois suas vontades foram declaradas, de que
não desejam viver, pois para eles não é prazeroso estar na presença do cordeiro.

b) Agora podemos mais claramente entender que a alma humana, no sentido bíblico,
corresponde a personalidade humana: sua mente em todos os seus fatores psicológicos.
Não por acaso, a ciência adotou o nome de psicologia para o estudo da mente humana.
A palavra psicologia vem do grego “psyche” que pode ser traduzido por “alma”, somada a
palavra “logos”, se referindo então ao estudo da alma humana. Os gregos possuíam
muitas concepções sobre a “psyche” – alma - contrárias ao ensino bíblico, mas um de
seus aspectos pôde ser corretamente apreendido pela ciência.
c) Nossa personalidade é o ponto de contato entre o material e o imaterial, o imanente e o
transcende, o físico e o metafísico. Jesus Cristo, que antes era imaterial, se fez materia.
O Deus transcendente se fez imanente. Isso não é por acaso. Era necessário que Deus
se fizesse como um de nós, para poder se comunicar conosco, na linguagem que
pudéssemos entender. Por isso a batalha de Cristo é por nossa mente, por nossa
personalidade, e consequentemente por nosso carácter. Por isso disse o apóstolo Paulo:
Mas nós temos a mente de Cristo. - 1 Coríntios 2:16. Cristo precisa habitar em nossa
mente, e nossa mente ser moldada conforme a dEle.

d) Vimos que existe diferenças entre o que é o espírito *ruakh” e a inspiração “Neshamah”.
Ambas provêm de Deus e são indissociáveis uma da outra. Como o sopro é uma forma
de vento, muitas vezes a Bíblia, principalmente no novo testamento, onde a lingua grega
foi usada, acaba utilizando a mesma palavra – espírito – para se referir as duas coisas
unidas. O espírito “Ruakh” é responsável direto pela vontade, ou seja, o arbítrio humano.
Ele está ligado com a razão “Neshamah”, pois a razão e a consciência agem por meio da
vontade. Animais possuem vontade, mas não consciência, porém para o ser humano que
possui consciência, é impossível existir consciência sem vontade.
i) O Espírito também está relacionado com a personalidade, mas é algo distinto.
Podemos perceber isso quando pensamos no exemplo de duas pessoas que
possuem caráteres completamente distintos, mas decidem fazer a mesma coisa: Um
homem justo, era fiel a sua esposa, mas um dia, por diversas circunstâncias, como
ocorreu com Davi, tem a vontade de adulterar, e adultera. Para aquele homem, esse
ato é tão contrário ao feitio de seu caráter que, após o ocorrido, ele se arrepende, nao
entra mais em contato com a parceira de adultério, e decide de alguma forma reparar
o erro cometido. Já outro possui o caracter adultero, e tem a mesma vontade de
adulterar, e por fim adultera. Caráteres tão diferentes, mas tendo a mesma vontade
pro mal.
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ii) Sabemos que é muito mais comum que pessoas com caráter adultero tenham
vontade de adulterar, do que pessoas com caráter fiel. Ou seja, nosso espirito, no
sentido de vontade, está intimamente ligado com o caráter e personalidade. Porém,
pelo exemplo anterior vemos que são coisas distintas: pessoas podem ter vontades
avessas a seu caráter e personalidade, e a decisão de seguir essas vontades pode
alterar e corromper a personalidade ao longo do tempo. O que é material tem poder
somente sobre o que é material, mas o que é espiritual, tem poder de transformar
tanto a matéria quanto o espírito. Encontramos em Hebreus 4:12: “Porque a palavra
de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e
penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e intenções do coração.”. Alma e Espírito, pensamentos e
intenções. Caráter e vontade. Estas são coisas espirituais (a alma também tem um
aspecto físico), e o poder da Palavra de Deus tem o poder para transformar nossas
vontades, e consequentemente, nosso carácter. Porém, não somente Deus é
espírito, pois está escrito: “Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste
mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos
filhos da desobediência” - Efésios 2:2. Satanás também é um ser espiritual, e por
natureza possui poder de influenciar nossas vontades e macular o caráter que Deus
quer imprimir em nós, sua imagem e semelhança. Esses poderes espirituais disputam
agora pela sua alma, ou seja, pela sua personalidade.
Deus é infinito, e dentro dEle cabem todas as possibilidades da personalidade
humana. Próximos da influência de Deus somos cada vez mais nós mesmos, temos a
nossa personalidade fortalecida, ao mesmo tempo que não somos mais nós que
vivemos, mas Cristo que vive em nós. Esse paradoxo se dá porque aquele que
achamos que é o nosso “eu” não passa de uma deformidade, uma corrupção que o
mundo produziu e tenta nos dizer que somos nós. A verdadeira imagem do nosso
“eu”, de quem nós somos, somente Deus tem, pois somente Ele conhece o fim desde
o princípio, Ele sabe como eu e você seríamos no plano original dEle, e Ele sabe
como eu e você seremos quando ele terminar de fazer sua obra em nós. Ele chama
as coisas que ainda não são como se já fossem (Romanos 4:17). Ele já olha pra nós
pelos olhos de quem vê uma obra completa, ainda que ainda sejamos um rascunho.
Acontece que essa obra só pode ser realizada se o “eu” falso, que o diabo insiste em
dizer que somos nós, morrer, para que o verdadeiro “Eu” seja construído por Cristo.

iii) É possível que tenhamos a terrível e falsa impressão de que servir a Deus significa
abrir mão de nossos gostos, nossos interesses, elementos que compõem nossa
personalidade. Aos jovens fica ainda mais forte essa impressão, quando imaginamos
que aqueles que servem a Deus tornam-se todos iguais, sem graça, antiquados e
uniformes. Talvez esse seja um erro que algumas igrejas façam transparecer. Parece
que perderemos nossa individualidade ao abraçar uma confissão de fé comum com
outros. Não existe maior mentira do que essa. Pensamos que os estilos de música
que ouvimos, os modelos de roupas que compramos e vestimos, os tipos de carro
que gostamos e dirigimos, as franquias de filmes e jogos que nos interessamos, ...,
que cada uma dessas coisas nos faz diferentes e únicos. A verdade é que ao
consumirmos ou usarmos todas essas coisas, somente fazemo-nos iguais a outros
bilhões de pessoas que correm atrás das mesmas coisas, consomem as mesmas
coisas, usam as mesmas coisas.
iv) Um exemplo terrível pude perceber ao entrar na faculdade pública. Vi garotas bonitas,
simples, cada uma com sua beleza natural e única. Com o tempo pude ver que, por
influência das ideologias que contaminam as mentes dos jovens universitários, essas
meninas passaram a rejeitar todo padrão de beleza que se argumentava servir aos
interesses de uma sociedade patriarcal e machista que buscava reprimir a liberdade e
individualidade da mulher. Elas passaram a raspar seus cabelos, seja na lateral, seja
completamente. Tatuaram seus corpos, deixaram os pelos de suas axilas crescerem,
pintaram-nos juntamente com os cabelos de cores chamativas como roxo, azul ou
verde, colocaram piercings em todo seu rosto, alargando e deformando a pele. Ao fim,
todas aquelas belas garotas que buscavam ser diferentes, que buscavam fugir do
padrão predeterminado, se tornaram todas iguais. Sua beleza natural se transfigurou
em deformação e assimetria. De longe você poderia ver a qual grupo ou tribo social
elas pertenciam. Não somente isso, apenas pela aparência você já sabia que tipo de
ideias elas tinham, que tipo de argumento dariam. Se tornaram pessoas previsíveis e
uniformes. Foram conformadas a esse mundo, e se tornaram como o principe desse
mundo, Satanás. Nele não existe liberdade, nem infinitude de variedade, nem poder
de criação. Todos os seus servos ele subjuga e os torna semelhantes à sua imagem.
A diferença é que a Imagem de Deus é infinita e multifacetada, pois ele é Criador.
Podemos todos sermos diferentes, e ao mesmo tempo sermos imagem e semelhança
dEle. Já Satanás é criatura, e não consegue fazer nada que no fim não seja uniforme,
conforme a forma dele. O exemplo que dei não é exclusivo das mulheres, pois o
mesmo poderia ser dito de tantos homens que deixam seus cabelos crescerem,
vestem preto, escutam o mesmo tipo de música pesada, e assim tornam-se todos
iguais também. Porém o exemplo das mulheres é mais chocante, pois os homens já
são feios por natureza..., o terrível é ver aquilo que antes era belo se tornar feio.
Por isso Deus nos adverte: E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-
vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus. – Romanos 12:2. Ou Seja, ou nos
transformamos naquilo que Deus sonhou que sejamos, ou seremos engolidos e
uniformizados pelo mundo que nos cerca. Não podemos permitir que o mundo seja o
autor de nossa personalidade.

v) (Apelo)
Achamos que vamos perder a nossa identidade e personalidade se deixarmos de
gostar das coisas que o mundo nos ensinou e hipnotizou a gostar. Na verdade, se as
deixarmos seremos cada vez menos parecidos com os outros, e cada vez mais
seremos únicos e diferentes. Qualidades e potenciais que Deus depositou em nós e
que nós nem imaginamos poderão florescer quando menos tempo for gasto naquilo
que achamos ser nós, e investirmos tempo em ser aquilo que Deus designou que nos
tornemos. E foi para isso que fomos chamados: Para sermos um povo peculiar seu,
distinto do mundo, um sacerdócio real, uma nação santa, composta por indivíduos
peculiares, por indivíduos santos, separados para seu uso exclusivo. Deus é o criador
e mantenedor de todas as coisas, sejam elas visíveis e invisíveis. Ele deseja hoje
criar em você um novo eu, o seu “eu” verdadeiro, não manchado pelo pecado. Ele
deseja te dar uma personalidade, uma identidade, um nome único que só você e
Deus saberão: Quem tem ouvidos, compreenda o que o Espírito revela às igrejas: ‘Ao
vencedor proporcionarei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedra branca,
e sobre essa pedra branca estará grafado um novo nome, o qual ninguém conhece, a
não ser aquele que o recebe’.” Apocalipse 2:17.
Novo nome, novo eu, nova personalidade. Que Deus seja o autor da sua
personalidade.

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