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GINÁSTICA
*11 AO.
Figura. 9.
novação intelectual e, naquele período, iluminaram-se os
textos que refletiam novos pensamentos. Até mesmo a vida
do espírito, que parece tão distante da terra e das coisas da
terra, passou por uma fase de esplendor e podemos admirar
os milagres de trabalho nos templos, que reuniam os homens
em adoração, e que surgiram onde quer que existisse vida
espiritual.
São Francisco de Assis, cujo espírito foi talvez o mais
simples e puro que jamais tenha existido, disse certa feita:
“Estão vendo estas montanhas? Estes são os nossos templos
e neles devemos buscar a nossa inspiração”. Apesar disto, o
dia em que foram convidados para erigir uma igreja, tanto
ele como seus irmãos espirituais, sendo pobres, usaram as
pedras toscas de que dispunham, e todos levaram as pedras
para construir a capela. E por quê? Porque se existe um
espírito livre é necessário materializá-lo em algum trabalho e
as mãos devem ser adotadas. Encontram-se vestígios da mão
do homem por todos os cantos e, através destes vestígios
.podemos reconhecer o espírito do homem e o pensamento de
sua época.
Se nos transportamos com a mente à obscuridade dos
tempos longínquos qué do homem nem mesmo os ossos nos
chegaram, o que pode nos ajudar a conhecer e distinguir
os povos de então? As obras de arte. Considerando estas épo
cas pré-históricas, aparece-nos um tipo de civilização primi
tiva, calcada sobre a força. Os monumentos e as obras dos
homens daquele tempo são constituídos por descomunais
blocos de pedra, e nos indagamos, assombrados, como foi
que os conseguiram construir. Em outra parte, obras de arte
mais refinadas revelam-nos o trabalho de homens de um
nível de civilização indubitavelmente superior. Portanto, po
demos dizer que a mão seguiu a inteligência, a espiritualida
de e o sentimento, e a marca de seu trabalho nos transmitiu
as provas da presença do homem. Mesmo sem considerarmos
os fatos sob um ponto de vista psicológico, percebemos que
todas as mudanças ocorridas no meio-ambiente do homem
foram devidas à sua mão. Na verdade, poder-se-ia dizer que
o objetivo da inteligência é o trabalho das mãos; isto porque
se o homem tivesse apenas idealizado a linguagem falada
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para se comunicar com seus semelhantes, e a sua sabedoria
tivesse sido expressa somente através de palavras, não teria
restado nenhum vestígio das estirpes humanas que nos pre
cederam. Graças às mãos que acompanharam a inteligência,
criou-se a civilização; o órgão deste incomensurável tesouro
dado ao homem é a mão.
As mãos estão relacionadas à vida psíquica. Realmente,
aqueles que estudam as mãos demonstram que a história do
homem está gravada nelas, e são um órgão psíquico. O estudo
do desenvolvimento psíquico da criança está intimamente
ligado ao estudo do desenvolvimento do movimento da mão.
Isto nos demonstra, com clareza, que o desenvolvimento da
criança está ligado à mão, a qual revela o estímulo psíquico
que sofre. Podemos nos exprimir da seguinte maneir-a: a
inteligência da criança atinge um determinado nível, sem
fazer uso da mão; com a atividade manual ela atinge um
nível ainda mais elevado, e a criança que se serviu das pró
prias mãos tem um caráter mais forte. Assim, também o.
desenvolvimento do caráter, que poderia parecer um fato tipi
camente psíquico, continua rudimentar se a criança não
tiver a possibilidade de se exercitar no seu meio-ambiente
(o que é feito pela mão). A minha experiência demonstrou-
me que se, devido a condições particulares do meio-ambiente,
a criança não puder utilizar a mão, o seu caráter permanece
num nível muito baixo, é incapaz de obedecer, de ter inicia
tiva, é preguiçosa e triste; enquanto que a criança que pode
trabalhar com as próprias mãos revela um desenvolvimento
acentuado e tem força de caráter. Este fato nos leva a re
cordar um momento interessante da civilização egípcia, quan
do o trabalho manual estava presente em todas as áreas, na
arte, na arquitetura e na religião; se lermos as inscrições
sobre os túmulos daquela época constataremos que o maior
tributo feito a um homem era declará-lo uma pessoa de
caráter. O desenvolvimento do caráter é muito importante
para este povo, que tinha realizado com as mãos trabalhos
colossais. Trata-se de um exemplo que prova, mais uma vez,
como o movimento da mão acompanha, através da história,
o desenvolvimento do caráter e da civilização e como a mão
está ligada à individualidade. Se, por outro lado, observarmos
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como caminhavam todos estes povos diferentes, descobrire
mos, naturalmente, que todos caminhavam sobre as duas
pernas, eretos e equilibrados; provavelmente dançavam e
corriam de um modo um pouco diferente de nós, porém sem
pre utilizavam as duas pernas para a locomoção comum.
O desenvolvimento do movimento é portanto duplo: em
parte está ligado a leis biológicas, em parte relacionado com
a vida interior, de vez que está sempre ligado ao uso dos
músculos. Estudando a criança, acompanhamos dois desen
volvimentos: o da mão e do equilíbrio, e o do andar. Na
figura 9 vemos que somente com um ano e meio estabelece-se
um relacionamento entre os dois: ou seja, quando a criança
deseja levar objetos pesados e suas duas pernas a podem au
xiliar nisto. Os pés, que podem caminhar e levar o homem
aos diversos cantos da terra, leva-o para onde possa trabalhar
com as próprias mãos: o homem caminha demoradamente e,
pouco a pouco, passa a ocupar a superfície da terra, e pro
cedendo nesta conquista do espaço, vive e morre, porém
deixa atrás de si, como um vestígio de sua passagem, o
trabalho de suas mãos.
Estudando a linguagem tivemos oportunidade de ver que
a palavra está ligada, sobretudo, à audição, enquanto que o
desenvolvimento do movimento está ligado à visão, já que é
preciso os olhos para que vejamos onde pomos os pés, e quan
do trabalhamos com as mãos precisamos ver o que estamos
fazendo. Estes são os dois sentidos particularmente ligados
ao desenvolvimento: audição e visão. No desenvolvimento da
criança ocorre, antes de mais nada, a observação daquilo que
está ao seu redor, pois ela deve conhecer o meio-ambiente
através do qual se movimenta. A observação precede o mo
vimento e quando a criança começa a se deslocar, haverá de
se orientar baseada na observação, portanto, a orientação no
ambiente e o movimento estão ambos ligados ao desenvolvi
mento psíquico. Aqui temos a razão porque o recém-nascido
permanece imóvel no começo; quando ele se movimenta está
seguindo a orientação da própria psique.
A primeira manifestação do movimento é a de segurar ou
prender; tão logo a criança segura algum objeto, a sua cons
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ciência é atraída para a mão que foi capaz de realizar esta
empresa.
O ato de agarrar que, inicialmente, era inconsciente,
torna-se consciente; e como se vê, no campo do movimento,
é a mão e não o pé que atrai a atenção da consciência.
Quando isto acontece o ato de segurar desenvolve-se com ra
pidez e, de instintivo que era, toma-se, aos seis meses, inten
cional. Aos dez meses, a observação do ambiente já despertou
e atraído para ele está o interesse da criança que dele quer
se apoderar. O ato de segurar intencional, provocado pelo
desejo, deixa de ser, assim, um simples ato. É então que tem
início o verdadeiro exercício da mão, expresso, sobretudo, com
o deslocamento e a movimentação de objetos.
A criança, possuidora de uma clara visão do ambiente e
invadida pelos desejos, começa a agir. Antes de completar
um ano de idade a sua mão ocupa-se com as mais variadas
atividades que representam — poderíamos dizer — outros
tantos tipos de trabalho: abrir e fechar portas, gavetas e
coisas parecidas; colocar tampas em garrafas; retirar obje
tos de um recipiente e metê-los de volta ali etc. Com estes
exercícios desenvolve-se uma habilidade cada vez maior.
Nesse meio tempo, o que aconteceu com o outro par de
membros?
Neste caso não intervieram nem a consciência, nem a
inteligência; acontece, ao contrário, algo anatômico no rá
pido desenvolvimento do cerebelo, o dirigente do equilíbrio.
É como se uma campainha tocasse convocando o corpo
inerte para se erguer e equilibrar-se. Neste caso o ambiente
não influi em nada, é o cérebro que dá as ordens: e a criança,
com esforço e sozinha, senta-se e, depois, põe-se de pé.
Os psicólogos dizem que o homem se levanta em quatro
tempos: primeira, ergue-se para se sentar; depois, vira-se
sobre o ventre e caminha de gatinhas — e se, durante esta
fase, alguém o auxilia oferecendo-lhe dois dedos onde se
segurar, move os pés, um na frente do outro, porém apoiando
somente as pontas no chão. Finalmente, se sustenta sozinho,
mas, agora, já se apóia sobre o chão com todo o pé. Assim
atingiu a posição ereta normal ad homem e pode caminhar
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segurando-se em alguma coisa (o vestido da mãe, por exem
plo) . Depois de pouco tempo, ei-la andando sozinha.
Todo este processo é devido apenas a uma maturação
interna. A tendência seria dizer: “Adeus; tenho as minhas
pernas e vou-me embora”. Um outro estágio da independên
cia foi alcançado: porque a conquista da independência con
siste no princípio de poder agir sozinha. A filosofia destes
estágios sucessivos de desenvolvimento nos diz que a inde
pendência do homem é conseguida através do esforço. A
capacidade de agir sozinho, sem a ajuda de outros, isto é a
independência. Se ela existe, a criança progride com rapidez;
se não existe, o progresso é lento demais. Tendo presente
este fato, nós sabemos como nos comportar com a criança
e contamos com uma orientação muito útil: enquanto temos
uma tendência para lhe oferecer ajuda ela nos ensina a
não a ajudar quando isto não é necessário. A criança que é
capaz de andar sozinha deve fazê-lo a fim de que qualquer
progresso seja reforçado, e cada conquista fixada através do
exercício. Se uma criança, até os três anos, é carregada ao
colo, como tenho visto com frequência, o> seu desenvolvimento
não está sendo ajudado, mas sim obstaculizado. Tão logo a
criança tenha conquistado a independência das funções, o
adulto que desejar continuar ajudando-a acaba se transfor
mando num obstáculo para ela.
Portanto, está claro que não devemos carregar a criança
ao colo, mas sim deixar que caminhe, e, se a sua mão quiser
trabalhar, devemos fornecer-lhe a possibilidade de realizar
uma atividade inteligente. As próprias ações levam a crian
ça ao caminho da independência.
Observou-se que, aos 18 meses, surge um fator muito
importante e evidente tanto para o desenvolvimento das mãos
como para o dos pés: este fator é o aparecimento da força.
A criança que adquiriu agilidade e habilidade se sente um
homem forte. Seu primeiro impulso ao fazer seja lá o que
for não é simplesmente o de se exercitar mas, ao fazê-lo, de
realizar o máximo de esforço (nisto é muito diferente do
adulto). A natureza parece advertir: “Você tem a possibili
dade e a agilidade do movimento; portanto, torne-se forte,
pois, caso contrário, tudo é inútil”. E é a esta altura que se
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estabelece a relação entre mão e equilíbrio. Então a criança,
ao invés de andar pura e simplesmente, ama dar passeios
bem demorados e carregar coisas pesadas. Na verdade, o ho
mem não está destinado a caminhar apenas, mas também
a transportar a sua carga. A mão que aprendeu a segurar
deve exercitar-se a sustentar e carregar pesos. Assim, vemos
a criança de um ano e meio que segurando uma jarra dá
gua domina-a e regula o próprio equilíbrio caminhando bem
devagar. Também existe a tendência de infringir as leis da
gravidade e de superá-las: a criança adora trepar nas coisas,
e para fazê-lo deve agarrar-se a algo com a mão e tomar
impulso para cima. Não se trata mais do ato de segurar com
o objetivo de possuir, mas segurar com o desejo de subir. É
um exercício de força e há todo um período dedicado a este
tipo de exercício. Aqui também aparece a lógica da natureza,
de vez que o homem deve exercitar a própria força. Em
seguida, a criança, capaz de andar e segura da própria força,
observa as ações dos homens ao seu redor e tende a imitá-
los. Neste período a criança imita as ações daqueles que a
rodeiam, não porque alguém lhe diga para fazê-lo, mas por
uma necessidade interior. Esta imitação só se observa quando
a criança tem liberdade para agir. Portanto, eis a lógica da
natureza:
17G
cupou-se o bastante com o íato de que a criança se torna
uma andarilha de mão cheia e tem necessidade de fazer
longos passeios. Geralmente, ou nós a carregamos ou a colo
camos dentro de um carrinho.
A nosso ver, ela não pode andar, por isto a carregamos
ao colo; não pode trabalhar, por isto trabalhamos por ela:
na soleira da vida damos-lhe um complexo de inferioridade.