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O sentido visual dos bebés

O sentido visual desenvolve-se na criança de forma muito rápida, iniciando por uma visão turva
que se torna cada vez mais nítida. Os mobiles propostos nas atividades sensoriais não apelam
apenas ao estímulo estético, mas sobretudo a desenvolver na criança a partir dos poucos dias
de vida experiências que lhe permitirão focar a atenção, concentrar-se e desenvolver
progressivamente as suas percepções visuais.

O ponto de interesse dos mobiles é não apenas os contrastes de forma e de cores, mas
também o movimento e inércia numa interessante dinâmica. Em muitas culturas indígenas as
crianças são deitadas debaixo das árvores de forma a que os reflexos das folhas e os seus
movimentos atuem como mobiles naturais.

É importante considerar alguns conceitos acerca do desenvolvimento visual nos primeiros


meses de vida:

A criança possui ao nascer um sistema imaturo que se irá desenvolver à medida em que o
córtex cerebral receba estímulos apropriados e mais ou menos simétricos a ambos os olhos.
Desde o momento do parto e durante a primeira infância irão gerar-se alterações qualitativas
e quantitativas em quase todas as estruturas oculares, mais acentuadas nos primeiros anos de
vida. Isto é, muitas características oculares do recém-nascido e da criança são muito
diferentes. As principais fases do desenvolvimento visual nas crianças durante os primeiros 12
meses são:

• Distingue silhuetas se estiverem a uma distância de 20-30 cm e apenas vê


sombras, em branco, cinzento e preto.
• Reage a uma luz brilhante piscando os olhos com apenas dias de vida.
• Tenta evitar objetos que se aproximem da sua cara (3 semanas).
• Pelas 4-6 semanas faz contacto fixo e direto com a mãe.
• Demonstra interesse por objetos brilhantes e pontos luminosos (até aos 2 meses)
• Entre os 2 e os 3 meses começa a distinguir cores, especialmente o vermelho.
• Aos 4 meses aprende a mexer os olhos independentemente da cabeça, segue os
objetos que movemos lentamente à sua frente, num raio de 180 graus, e percebe
mais variedade de cores. Começa a focar melhor e reconhece cada vez mais rostos.
• Entre os 5-6 meses vai começando a coordenar os movimentos oculares e os das
mãos e pode pegar em objetos.
• Os movimentos oculares não conjugados que fazem que troquem os olhos
desaparecem por volta dos 4 meses - é um fenómeno normal, relacionado com a
imaturidade do sentido visual, que acontece nas suas tentativas de focar, porque
os bebés pequenos não vêm bem ao longe.
• Aos 6 meses o bebé pode fundir as 2 imagens retinianas de um objeto, obtendo a
visão binocular única a 3 dimensões, o que significa que já poderia calcular a
distância a que se encontra cada objeto no ambiente. Se continuar a mostrar
movimentos oculares de estrabismo, deve consultar-se um pediatra.
• Aos 12 meses o cálculo de distâncias é eficaz e a coordenação entre os olhos, as
mãos e o corpo melhorou consideravelmente. Nesta idade também já desenvolveu a
memória e discriminação visuais.
• A criança não apenas distingue objetos desde o seu nascimento, como também pode
fixar-se num por um instante, de cerca de 4 a 10 segundos. Nesse momento, os olhos
abrem-se e as pupilas ficam dilatadas. Quando perde o interesse, fecha os olhos ou o
seu olhar fica indefinido.
• Com a estimulação e a visualização repetida de objetos adequados, um bebé pode
prolongar o seu período de fixação do olhar, construindo as bases para a sua
capacidade de concentração e de atenção. Quando já conhece o objeto e não se
surpreende, o seu fascínio diminui pouco a pouco. Por isso, devemos ir aumentando
gradualmente a complexidade dos estímulos que lhe apresentamos.
• Até aos dois primeiros meses os exercícios de seguir um objeto com os olhos não
funcionam, exceto se o objeto se mover muito lentamente. Com estes exercícios
consegue-se que a criança aprenda a situar qualquer coisa no espaço, a isolá-la do
fundo e a desenvolver a coordenação óculo-manual: sincronizar o olhar com o
movimento das suas mãos, pés, corpo, etc.

Como usamos os mobiles?


Os mobiles são especialmente adequados durante os primeiros 3 meses de idade, depois dos
primeiros 15 dias de vida. Depois do 3º mês, o interesse pelos mobiles persiste, mas o bebé
adquire cada vez maior autonomia nos seus movimentos e o seu interesse diminuirá.

Todas as crianças são diferentes, mas a melhor forma de saber quando substituir um mobile
por outro será observar a criança. Ela exprime com movimentos dos braços e das pernas,
sorrisos e atenção visual o seu interesse por cada um dos estímulos que lhe ofereçamos. Se,
depois de cerca de duas semanas, observarmos que um mobile já não lhe interessa,
substituímo-lo por outro. Assim, a exposição aos mobiles é flexível porque o seu interesse
muda em pouco tempo.

Seguidamente propomos uma serie sequenciada por dificuldade, desde o primeiro mobile
centrado no contraste de cor (preto e branco) e na refração da luz, a outros mobiles que
incluem estímulos sonoros e tácteis:

Munari
O primeiro tem o nome de Bruno Munari, autor do desenho a preto e branco com figuras
geométricas que respeitam as dimensões de uma esfera transparente de vidro que o
completo, projetando a luz. O contraste de cores e o reflexo da esfera de vidro estimular o
interesse do bebé. Além do desenho de Munari, a combinação de branco, preto e o
estímulo transparente oferecem muitas combinações interessantes para bebés com entre 2
e 3 semanas. Nas primeiras semanas de vida o bebé desenvolve progressivamente a sua
visão. Os contrastes a preto e branco ajudam-no nesse desenvolvimento.
O desenho de Munari tem dimensões estipuladas, mas podemos oferecer ao bebé
combinações semelhantes a partir de outras figuras, despojadas de adornos e detalhes
desnecessários:

Octaedros

A segunda proposta é um mobile formado por 3 octaedros nas


cores primárias (azul, vermelho e amarelo). Como as faces dos
octaedros são brilhantes, produzem reflexos interessantes. Este
mobile é adequado para os bebés entre 5-8 semanas. Podem
fazer-se com papel metalizado e devem ficar suspensos com fio
de pesca (tanza) para centrar a atenção do bebé nos objetos.
Gobbi
A terceira proposta consiste num mobile feito com 5 esferas da mesma cor e tamanho, mas as
cores em 5 intensidades diferentes, dispostas numa linha diagonal, a alturas diferentes. Foi
originalmente criado por Giana Gobbi, assistente de Montessori. As esferas podem ser
forradas com fio ou lã com 5 cores em degradé, ou mesmo pintadas. As cores podem ser
variadas, desde que se respeite o degradé. Estes mobiles são adequados para bebés entre as 8
e as 10 semanas.
Bailarinos

A quarta proposta consiste num mobile com 4 figuras em movimento, chamado “Bailarinos”.
Em geral, são feitos em materiais brilhantes e muito leves, para que se movam facilmente.
São adequados a partir das 10 semanas.

O movimento pode ser sugerido (bolas forradas com tecidos que simulem bailarinos, golfinhos
em diferentes posições, etc.) ou com desenho abstrato assimétrico como os das imagens. Na
imagem da direita, o movimento vem do desequilíbrio entre o extremo esquerdo com duas
esferas e o direito com figuras regulares.

A partir dos 3 meses, com a visão mais nítida, os bebés podem interessar-se por: figuras iguais
de cores diferentes ou figuras diferentes com a mesma cor, objetos naturais, fitas coloridas de
diferentes cores, etc. as alternativas são variadas!

Por fim, podemos criar mobiles em que a criança possa tocar (tácteis) ou escutar (sonoros),
em que podemos pendurar:

• Uma bola Pikler (em material natural, pequena, com formas que a criança pode
agarrar), num elástico flexível;
• Aros de materiais diversos (madeira, vime, metal, acrílico), onde podemos pôr fitas
coloridas, lãs grossas, guizos, etc.
• Bolas macias, pompons, CD’s velhos, etc.

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