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Segnrndo

/ criança à
.l mento da

rógica, para erçticar o desenvolvirn *rrffo^ll!#^":i;^


conceitos e significados"
reintêrpretaçâo de informaçóes' ele, a primeira tendência compara o evil'.Á\ntaSios do
(Oliveira, f993, P. 3B)'
botânica, ou seja, entende qoe o dq/í{/1,(aiánasua
crianÇa depende de qp prooesso Oe rrr,tlJjol lado para
Na perspectiva Wgotskiana ' a
Ínt?n:!1ação das
o desenvolvimento nismó como um todo'". Esta concepÇui',\',ol o.,rurto, u
práticas culturais, queãnstituem veremo§
ConÍo-rme de que "a mente da criança contém Alif,',Á{desenvot-
humano, assume papei de destaque'
suas principais era a de futúo aesenvolvimento intelectuql I l'^/ nt" huma-
a seguÍ, uma de ry"o""piry:s
passagem de ações "tei'
Íorma completa, esperando o momelrr,,'l,o/2rca e zuu
de
analisar a dinâmica do movimento inkr- p' 26).pa\r1',ilst[ -
(itto é' entre as pessoas' emergir" (Vygotsky, 1984,
realizadas no plano (no
'o"ia ou intramentais
psicológico) para aç0""-ii-tàãau'aoas
interior do individuo, portanto'
intrapsicológico)' ffiY"?5TJl:ffiH,,ffi"'ff::'.H9[;;'' r de mais
;";ois essas aepeno"* au i"tã,"rçáo?i ,r/Jâffff
cultura' ,!r^dlt q.."""r"u
NA AÍirma que a segunda abordagerr rnl.!j' p36;esbio-
5. O DESENTIOLVIMEITTO INFAI{TIL
ibis"p-BáCúesÔcro-HrsrÓRrcA avançada gue a anterior, é tarúém egnl'l/^na[,aram., por
da em que busca respostas as questq,l/{iff psicologi-
ao papel da a partÍ de e><periênciasno reino an6qr''/l (, p a criNtça
Vygotsky afiibui enolme importância
doser humano' Uma experimentos contribuÍam nata o esq{,lirf ;4vergência
inteÍação social no o"tãnuJuirnento
das.rcses quê foÍ" Iógicas do comportamento [uI11616 6[^[,fl '6,éyjLos para
das mais significativas ãtíttú"iço"s (e não apenas eximpto, algnrmas semelhanças no pgtl!firt,frtsricados,
mulou está na tentativa de elçlicüar
cos elementares entÍe os macacos antrr,,ii ^cí,{
Hffi :':3,ffi*#{";",;,."":"lt;;l:l;xxlx-#'}*; pequena) . Sua crÍtica reside no Íato de ii {o
-_ I ps
intelesse no estudo da infância'
ããiriãã"si, animal e da criança-; ffi1'' -x*eno-
ã dos processos interestuaxfi/ ,ln:'aquilo
É curioso conhecer suas cdticas aos
paradlgmas "r.pri""ção
q,r;;ã;;rp"cináamente n r**or]-'',4 d1'' indivíduo
nape§qui§üPsl00'
"botânicodl' e "zoológiãsJ adotados'
Seu ponto de vista C Uastante dirr,,{/í
res. Segnrndo ela, a estrutura Íisiotóçrr lll
que é inato, não é sÚiciente pry6
B,i/ trno,,iardim de
14. Embora as Iormulações de
vygotsky soure a. @ú nfantü'
àe apresentem como.ums8t ,/4Cão
o.r.n ãivi*.*o humano não
toiço ;tan frru* o 0o
oroanizado e articulado **"lJãáãiiià'Jtüo "útl
Herui w"uã""qtít trii'õt'"* a'aeunerrEi uüse
pstcótogo írancês
do pruuu§Du
Íundamentais oo -#::t,'ffi;õ;1**t:
processo **I*l I 15. Vygotsky chama a atenç?o Pata a relu^4'
_;r r;.ilr;o Íene;Õog â!@pryj
Íundamentars
inÍancia", usado para designar os pnmeitm q,j/
H1i,,*ll;i3,""'lI3l''ii.?*x ;; íoànuorui-"nto
u anffiry{qm
e a concePçáo botânica'
do ser humano. t
ii 57
56

-!t"
de suas necessidades
responsabilizam pelo atendimento hisiene etc')'
humano, na ausência do ambiente social' As caracterÍs- násicas (locomoção, tb;ü' JÁ9nmção'
ticas individuais (modo de agir, de pensar' de sentÚ' aÍetivas (carinho, ur"rrçáài "
p"la formação^do comport'a-
valores, conhecimentos' vÍsão de mundo etc')
depende bevido a característica ima-
mento tipicam""t" nu*uáo'
oa inteiaçao do ser humano com o meio Íísico
e social' e longo o perÍodo de depen-
para recÍproca existente turidade motola do nene
Vygotsky'chama atenÇão a ação
importância Jencia dos adultos'
entie o organismo e o meio e atribui especial psicológica é bastante
ao fator humano presente no ambiente' lnicialmente, sua atividade biológica' Vy-
pãi
elementaÍ e aeterminaJa 'uu-r'e'unça
O caso veídico de duas crianças (as chamadas qotsky ressalta q'u otlãtãiàsbiologicos. têm FrePonde-
vida da
"meninas-lobas") que Íoram encontradas, na lndia' viven- da
que para rância sobre ot uo"^Jto*t't" 'io inÍcio gruposocial
seu
do no meio de uma manada de lobos, demonstra criança. Aos poucos
u' i"te'uç0"' com o
precisa cÍescer num ambiente cultura passarn a goveÍnaÍ
r" n raurrira o indivíduo e com os obietos Ot tuu pensamento'
encontra-
social e interagir com outras pessoas' Ouando :"-:pàü,,iJiló eo
de seu
aeJenvoruimento
áàr, ptuti"a-ente não aplesentavam um compoftamento
pé' andavam
humano: não conseguiam permanecer em Dessaforma,noprocessodaconstitúçáohumanaé
;;; " apoio das mãos, não falavam, se alimentavam de
oossivel distinguir
q:"f"1:T".*e diÍeren-
"ouà" fi"ftu"
carne crua ou podre, não sabiam usar utensílios
(tais ãiterináo quanto- asua origem:
(Davis i;JHH;"#ãúi*"nto ãú*tntu'ut' são de origem
;mã, ô", gario etc-) nem pensar de modo logico de um lado, o'p'o""*àt 9u9
superiores'
a p.
Ouveiia, iggo, ouando isolado' privado do
16). f"nçO"t psicológicas
pro- biologica; de outro' "t do comportamento da
contato com outros seÍes, entregue apenas a suas de origem socio-cutúíã histuia
dos Íecursos da natureza' o dessas duas linhas"
prias condições e a Íavor cianÇa nasce do unÇa'Jiu^*nüo
homem é Íraco e insuficiente' Nysótslry, 1994, P'
52)'

Devido a essas caracteísticas especiÍicamente


hu-
Desde o nascimento'
o bebê está em constante
manas toma-se impossível considerar o desenvolvimento que não só asseuuram sua
interação com os "ãúiot' com
do suieito como um processo previsível' universal'
linear
sobrevivênciu*u"Ãúãá medeiam a sua relaçâo a
àu gtáara. O desenvolvimento está intimamente
relacio- piocuram'n-"oTo'*--* crianças
o mundo' Os aaurtos e aos
condutas
n"a]o contexto sócio_cultural em que a pessoa se insere il;;il, atribúnáo signiÍicado às da hlstória'
de ao longo
,u pro"".ra de forma dinâmica (e dialética) através
"o
obietos cuturais túi; tãi"**urn
"
,upt*ut edesequilíbrios provocadores de contÍnuas reor-
dos
criança recebe inÍluências
gánizaçoes por parte do indivÍduo' O compoftamento da ern
cultuia' como por exemplo
costumes e oui"to'ãJ'''a usa
Se comparado com as demais espécies animais'
o
ocidental: dorme no berço'
paralidar nossa cultura urnaná para comer'
mais indefeso e despreparado e' mais tarde' talheres
bebê humano roupas para st uqotto
é o
com os desafios de seu meio' A sua sobrevivência
depen- a relação da criança
grupo' que se sapatos p*" *a^''ãi""i"i"iat"nt"
de dos suieitos mais experientes de seu

58
que vive'
iá que as
interações com o meio social em
com o mundo dos objetos é mediada pelos adultos; por vida
exemplo, eles aproximam os objetos que a criança guer
iot*"Ã psicológicas mais sofisticadas emergem da
psiquismo humano
apanhar, agitam o brinquedo que faz bamlho, alimentam-
rà"ia. e"ti-, ó desenvolvimento do
pessoas do grrupo
ã-ruÍnptu mediado pelo outro (outras
na com a mamadeira etc. significados à
ãúturó, que indica, delimita e atrilcui membros
Com a aiuda do adüto, as crianças assimilam ativa- ;Jã;i;. Êor intermedio dessas mediações' os
mente aquelas habilidades que foram construÍdas pela imatulos da espécie humana vão pouco a pouco se
história social ao longo de milênios: ela aprende a sentar, dos modos de tuncionamento
psicológico' do
ãíãpri*d" patrimônio da
a andar, a controlar os esfíncteres, a fa]ar, a sentar-se à ãããõottutn"nto e da cultura, enÍim, do
mesa, a comer com talheres, a tomar líquidos em copos da humanidade e de seu grupo cultural'
ouando
úi;óri" sem a
etc. Através das intervenções constantes do adulto (e de internalizados, estes processos comeÇam a ocorrer
crianças mais experientes) os processos psicológicos intermediação de outras Pessoas'
mais complexos começam a se formar. precisou ser
Desse modo, a atividade que antes
Um exemplo poderá ilustrar o quanto a interação que inter-
É mediada (regulação interpsicológica ou atividade
o indivÍduo estabelece com o universo social em que se processo voluntário e
fessoal) pasÉa a constituir-se um
? insere, particularmente como os parceiros mais experien- 'inO"p"nd"nt" (regulaÇão intrapsicológica. ou atividade
tes de seu grupo, é fundamental para a Íormação do
,l comportamento e do pensamento humano- um pai, ao
inrápessod. "pesde-os primeiros dias do desenvolvi-
um signifi-
passear com o filho de aproximadamente 2 anos, costuma mento da criança, suas atividades adquÍrem
ptoprio num sistema de comportamento social e'
ãaãà
I chamar a atenção para todos os carros que váo encon- refratadas atra-
senao Oirigiaas a objetivos deÍinidos, são

t, trando no caminho. Na medida em gue mostra o carro


fala o seu nome, marca e tece outros tipos de comentários-
Depois, em outras ocasiões, essa criança demonstra o
vés do prismu do ambiente da criança'
obteto aie a criança e desta até o obieto
O caminho do
passa através de
é o pro-

I: àriru put.ou. Essa estrutura humana complexa


quanto incorporou das inÍormaçÕes que recebeu: brin- profundamente
cando na escola nomeia com desenvoltura os carrinhos
à"to d" um processo de desenvolvimento
entre Nstoria indiüdual e NstÓria
| 'l
ãnráiruOo nãs [gações
de brinquedo, ou passeando com sua mãe demonstra
social" (Vygotsky, 198a, P' 33)'
reconhecer as marcas dos carros que avista pela rua.
Pode, com isto, provocar surpresa e admiração por parte A fala (entendida como instrumento ou signo) tem
prá-
dos adultos que talvez julgnrem esta competência como um papel fundamental de organizadora da atividade
1 um sinal de perspicácia ou inteligência inata da criança. tica-e àas funções psicológicas humanas' E por isso que
r* Vygotsky se preocupa em pesquisar o desenvolvimento
l.r No entanto, podemos interpretar este episódio de uma que começa
f outra forma, como eúdência de que as conquistas indi-
viduais resultam de um processo compartilhado-
daintelgência prática da criança na fase em
a falar. Segundo ele, a verdadeira essência do comporta-
mento humano complexo se dá a partiÍ da unidade
Podemos concluir que, para Vygotsky, o desenvolvi-
mento do sujeito humano se dá a partÍ das constantes

61
60

ffi
dialética da atiüdade simbótica (a fata) e a atiúdade 6. REL/IçÔES ENTRE PENSAMENTO E
prática. "o momento de maior sigmificado no curso do LINGUAGEM
desenvolvimento intêlectual, gue dá origem às formas
puramente humanas de inteligência prática e abstrata, O estudo das relações entrepensamento e linguagem
acontece guando a fala e a atividade prática, então duas é considerado um dos temas mais complexos da psicolo-
linhas completâmente independentes de desenvolvimen_ gia. Vygotsky se dedicou a este assunto durante muitos
to, convergem" (Vygotsky, 1984, p. 2T). anos de sua vida16. Ele e seus colaboradores trouxeram
importantes contribuições sobre o tema, principalmente
Em sÍntese, na perspectiva vygotskiana o desenvol_ no que se refere à questão da compreensão das raÍzes
vimento das funçóes intelectuais especificamente huma_ genéticas da relação enüe o pensamento e a linguagem.
nas é mediado socialmente pelos sigmos e pelo outro. Ao
Afirma que a relação enfie o pensamento e a Íala
intemalizar as orperiências fomecidas pela cultura, a
passa por várias mudanças ao longo da vida do indiúduo.
criança reconstrói individualmente os modos de ação
Apesar de terem origens diÍerentes e de se desenvolverem
realizados extemamente e aprende a organizar os pró_
de modo independente, numa certa altura, grraças à
[', prios processos mentais. O indivÍduo deixa, portanto, de
inserção da criança num grupo cultural, o pensamento e
se basear em signos externos e começa a se apoiar em a linguagem se encontrirm e dão origem ao modo de
la recusos intemaliz6fl6s (imagens, representações men- funcionamento psicológico mais sofisticado, tipicamente
tais, conceitos etc.). humano.
I Concordamos com Smolka e Góes quando aÍirmam Segnrndo Vygotsky, a conquista da linguagem repre-
que "o que parece fundamental nessa interpretação da senta um miuco no desenvolvimento do homem: "a
I
formação do sujeito é que o movimento de individuação capacitação especiÍicamente humana para a linguagem
I se dá apartt das experiências propiciadas pela cultura. habüta as crianças a providenciarem instrumentos auxi-
liares na solução de tarefas difíceis, a superarem a ação
r O desenvolvimento envolve processos, que se constituem
impulsiva, a planelarem a solução para um problema
mutuamente, de imersão na cultura e emergência da
I indiüdualidade. Num processo de desenvolvimento que antes de sua execução e a controlarem seu próprio
tem caráter mais de revolução que de evolução, o sujeito comportarnento. Signos e palavras constituem para as
se faz como ser diferenciado do outro mas formado na crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato
relação com o ouüo: singnrlar, mas constituído socialmen- social com outras pessoas. As funções cognitivas e co-
te, e, por isso mesmo, numa cornposição individual mas
não homogênea" (1993, p. 10).

16. Para um estudo mais aproíundado das idéias de Vygotsky sobre


a questão da ünguagem e suas relaçfus com o pensamento, ver o liwo
I Pensátrnento e )ingaagem (Vygotsky, 1987).

l; 62 63
de dialogo' os
então' a base de Através de inúmeras opor[unidade'q só interp^retam
municativas da lingnragem tornam-se' adultos, que iá dominam a linguagem' não
e superioÍ de atividade nas crianÇas' posturas' express'es
uma forma nova ããõ;# ;ignificados aos gestos'
dos animais" (vvgotsky' 1984' p' 3i)' a inserem no mundo
ãiJnguroo-as e sons da criança to*o 1uilnem
o pensamento em que a criança
§enoJassim, a lingnragem tanto expressa ,i.nJri* a. suà cutturà' Na medida
desse pensa- *i:I:*ts
de sua
da criança como age como organizadora lnterage e dlaloga ã' membros
"o* como instrumento
mento. cultula, aprende a usar a linguagem Nesse
Veiamos como isto se Processa' do pensamento e como *eó aé comunicaçáo'
a funÇão momento o pun'"'n"nio e a linguagem se associam'
Tanto nas crianças como nos adultos' pàn'u*tnto torna-se verbai e a faia
isto conseqúentemente o
pri.ããiá da fala é o õontato social' a comunicaÇão;
da linguagem é impul- racional".
q,r;; di;;t que o desenvolvimento
mais detalhes as expli-
puü necessidade de comunicação' Asslm' mes- E interessante analisar com
primeiros *n'" o pÍocesso de conquÍsta da
*ãã tufu *uis pdmitiva da criança é social NosexpressÕes
"-ionuao caçÕes de Vygotsky
instrumento de pensamen-
as
É
*át"t A" vida, o balbucio, o riso, o choro' cumprem não utilização da iinguagem como
pelo quai a criança interioriza
iããiuit ou as primeiras palawas da criança to, que evidencia o 'náOo
I roÀánt" a Íunção oe aúvio emocional
(como por exemplo
como tambem
os padrÕes de comportamento fornecidos
nor seu grupo
À*ir*"ça" ãe conÍorto ou incômodo)
cultural.Atravésdeseusexperimentos,pô.deobservar
de seu grupo' No e nãolinear' passa
I são meios de contato com os membros que este processo, apesar de dinâmico a Íala
entanto, esses sons, gestos ou expres-sões
são manifes-
por estágios q" on"átt"m à seguinte fiaietóila:
pois rndlclm slsnificados
I ;;õ;-ilt*te ditusas, nã'o
pode evoluideumafalaexteriorparaumafalaegocêntricae,
;;;;, ;;; uma rala interioi' A Íala esocê*t:i " :::l-
ó chorodo bebê significar
àrpã"ifi"ot (por exemplo,
l, áãr oe barriga, tome etc')' Vygots§ chamouesta
da
Íase de
fala' ãid^ ;*" um estágio de transiÇão entle
a fala extertor
que ocorrem noplano
árosio pré-lntelectual do desenvolvimento (Íruto das arividades inlerpsiquicás'

t;t\ Antes de aprender a Íalar a criança demonstra


ntetigencia priti"a que consiste
agir io ambiente e resolver
na
problemas
sua capacÍdade
práticos'
uma
de
inclusive
socia) e a fala interior'i;dú'ã"
intrapsiqúca' individual)'

(por exem-
cóm o auxitio de instrumentos intermediários
para encher de
;i;,'t*ú, de se utüzar de um baldinho
pattit desse t9T^:l::j pensamento
areia ou de subir n rn b*to para alcançar.um
objeto)' 17. Vvsotskv a{iÍma
que a
No
Vygotsky' passa a ser predomrnairte na atividade psicológtca humana
Segundo
Ãá. ."rn a mediaçáo da linguagem' do
verbai
entanto, o pensamento nuo
u"inãi (por exemplo' ,,it,l:"idi9T:::
nao
Lrtà O o estágio pré-lingiÍstico do desenvolvimento exlqem apenas o uso da lntehgencla eJ?tica) e. -Ilgluagem

lil pensamento. intàlectual (por exemplo'


qua;ã;il
rado ou nas linguagens emoàionais),
adultos como nas clianças.
indivÍduo recita-aum poema deco-
continuam presentes tanto
nos

65
M
F Primeiramente a criança utiliza a fala como meio de
comunicação, de estabelecimento de contato com outras
;ro próprio sujeito da ação18. Nesse estágio a criança fala
illto mas não se dinge a nenhum interlocuior, dialoga
pessoas. Para a resolução de um problema, por exemplo
r;onsigo mesma. Também serve para planeiar e solucionar
(como alcançar um brigadeiro que está em cima de uma
H geladeira), a criança Íaz apelos verbais a um adulto. Nesse
um problema, so que é como se planeiasse ern voz alta,
antes ou ao longo da realização da atividade (por exem-
estágio a faia é global, tem múltiplas funçÕes, mas não
plo: "Como eu posso pegar aquele brigadeiro que está tão
serve ainda como um planejamento de seqüências a
serem realizadas; assim não é utüzada como um instru- longe? Ah... já sei! Vou subir na mesa!")
mento do pensamento. Vygotsky chamou essa fala de Vygots§ esclarece as características da Íunção pla-
discurso socializado.
nejadoradaÍalaapartir de uma interessante analogia com
Aos poucos, a fala socializada, que antes era dirigida a fala das crianÇas enquanto desenham. As crianças
ao adulto para resolver um problema, é intemalizada, ou menores tendem a nomear seus desenhos somente apos
seja, a criança passa a apelar para si mesma para solu- realizá-los e vê-los. A decisão do que serão é assim,
É posterior à atividade. Uma criança um pouco mais velha
cionar uma questão: é o chamado discurso inteior. Deste
? modo, além das funçoes emocionais e comunicativas, a nomeia o seu desenho quando este iá está quase pronto
fala começa a ter também a função planejadora. Nesse s, lnais tarde, geralmente decidem previamente o que
caso, a criança estabelece um dialogo com ela mesma, desenharão. Nesse caso, a fala é anterior à atividade e,
sem vocalização, com vistas a encontrar uma forma de portanto, dirige a ação, Ouando a fala se desloca para o
início da atividade, uma nova relação entre íala e ação se
I solucionar o problema (é como se ela falasse para ela
estabelece.
mesma. "Preciso arrumar um jeito de alcançar esse doce.
I Posso usar uma escada ou um banco"). Poilanto, a fala Como foi possÍvel verificar, na perspectiva esboçada,
passa a preceder a ação e Íuncionar como arxílio de um o domÍnio da linguagem promove mudanças radlcais na
I
plano já concebido mas ainda não executado.
Í criança, principalmente no seu modo de se relacionar com
o seu meio, pois possibilita novas formas de comunicação
lq Ao aprender a usar a linguagem para planejar uma
ação futura, a criança consegue ir além das experiências
imediatas. Esta "üsão do futuro" (ausente nos animais)
permite que as crianças realizem operaçÕes psicológicas
18. Piaget chamou este tipo de fala de discurso ou fala egocêntrica.
bem mais complexas (passa a poder prever, comparar, A questão da fala egocêntÍica é um dos pontos de grande discordância
deduzir etc.). entre Vygotsky e Piaget, como esclarece Oliveira: "Para Piaget a função
da fala egocêntrica é exatamente oposta àquela proposta pol Vygotsky:
ela seria uma transição entre estados men[ais individuais não verbais,
IJ Vygotsky explica gue existe um tipo de fala interme-
diária que funciona como uma espécie de transição entre de um lado, e o discurso sociallzado e o pensamento lógico, de outro.
Piaget postula uma traietória de dentÍo para íora, enguanto Vygotsky
o discurso socializado e o interior. A caracterÍstica prin- considera que o percurso e de Íora para dentro do individuo" (1993, p.
cipal dessa fala é que ela acompanha a ação e se dirige 53).

66 67
com os indivÍduos e de organização de seu modo de agir
recendo a linguagem escrita como tal" (Vygotsky, 1984,
e pensar.
p.119).
O aprendizado da escrita, esse produto cultural cons-
truÍdo ao longo da historia da humanidade, é entendldo
z. A AgursrçÃo DA LTNGUAcEM EscRrrA por Vygotsky como um processo bastante complexo, que
é iniciado para a crlança "muito antes da primeira vez que
Vygotsky afirma que não é somente através da aqui- o professor coloca um lápis em sua mão e mostra como
sição da linguagem falada que o indivíduo adquire formas formar letras" (Vygotsky, L.S., et al. 1988, p. 1a3).
mais complexas de se relacionar com o mundo que o
cerca. O aprendizado da linguagem escrita representa um A complexidade desse processo está associada ao
novo e considerável sa.lto no desenvolvimento da pessoa. fato de a escrita ser um sistema de representação da
realidade extremamente sofisticado, que se constituÍ num
I "Algumas pesquisas demonstraram que este proces-
so ativa uma fase de desenvolvimento dos processos
conjunto de "sÍmbolos de segunda ordem, os sÍmbolos
escritos funcionam como designações dos símbolos ver-
? psicointelectuais inteiramente nova e muito complexa, e
bais. A compreensão da linguagem escrita é eÍetuada,
que o aparecimento destes processos origina uma mu_ primeiramente, através da linguagem falada: no entanto,
I dança radical das caracterÍsticas gerais, psicointelectuais graduaimente essa via é reduzida, abreviada, e a lingua-
da criança" (...) (Vygotsky, 1988, p. 116). O domínio desse gem falada desaparece como elo intermediário" (Vygots
I sistema complexo de signos fornece novo instrumento de ky, 1984, p 131).
pensamento (na medida em que aumenta a capacidade
de memória, registro de informações etc.), propicia dife- Sendo assÍm, o aprendizado da linguagem escrita
rentes formas de organizar a ação e permite um outro tipo envolve a elaboração de todo um sistema de repre-
de acesso ao patrimônio da cultura humana (que se sentação simbólica da realidade. É por isso que ele

t; encontra registrado nos livros e outros portadores-de


textos). EnÍim, promove modos diferentes e ainda mais
abstratos de pensar, de se relacionar com as pessoas e
identifica uma espécie de continuidade entre as diversas
atividades simbólicas: os gestos, o desenho e o brinque-
do. Em outras palavras, estas atividades contribuem para
com o conhecimento. o desenvolvimento da representaÇão simbólica (onde sig-

Partindo desse pressuposto, Vygotsky faz importan-


nos representam signiflcados), e, conseqüentemente,
para o processo de aquisição da linguagem escrita.
tes crÍticas à visão, presente tanto na psicologia como na
Pedagogia, que considera o aprendizado da escrita ape-

It nas como habilidade motora. "Ensina-se as crianças a


desenhar letras e construir palavras com elas, mas não se
ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a
Considerando a importância do domÍnio da lingua-
gem escrlta para o individuo, Vygotsky enfatiza a neces-
sidade de investigaçoes que procurem desvendar a
gênese da escrita, o caminho que a crianÇa percorre para
mecânica de ler o que está escrito que se acaba obscu-
aprender a ler e escrever, particularmente antes que se

68
69
tr submeta ao ensino sistemático desta linguagem na esco-
rnundo. O aprendizado é considerado, assim, um aspecto
la: "A primeira tarefa de investigação cientÍfica ó revelar llecessário e fundamental no processo de desenvolvimen_
essa pré-história da linguagem escnta; mostrar o que leva
t,o das funções psicológÍcas superiores20.
Fl as crianças a escrever; mostrar os pontos importantes
pelos quais passa esse desenvolvimento pré-histórico e Portanto, o desenvolvimento pleno do seÍ humano
qual a sua relaçâo com o aprendizado escolar,, (Vygotsky, depende do aprendizado que realiza num determinado
1984, p. 121). Esse programa de pesquisa foi realizado por grupo cultural, a partir da interação com outros indivÍduos
LurÍa, que, através de e>perimentos, procurou identiflcar da sua espécie. Isto quer dizer que, por exemplo, um
o percurso da pré-histfu.ia da escrita, a gênese da lingua_ rndivíduo criado numa tribo indígena, que desconhece o
gem escrita na criança slstema de escrita e não tem nenhum tipo de contato com
um ambiente letrado, não se alfabetizará. O mesmo ocorre
com a aquisição da fala. A criança só aprenderá a falar se
8. rNTERÂçÃO ENTRE APRENDTZÂDO E pertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, as
if
,, DESEI\IVOLVIMENTO: A ZONA DE condiçÕes orgânicas (possuir o aparelho fonador), embora
DESENTVOLVIMENTO PROXIMAL necessárias, não sâo suficientes para que o indivíduo
adquira a hnguagem.
Como vimos até agora, Vygotsky não ignora as Nessa perspectiva, é o aprendizado que possibilita e
definições biologicas da espécie humana; no entanto, movimenta o processo de desenvolvimento: ,,o aprendi_
I atnbui uma enorme importância à dimensão social, que zado pressupõe uma naturcza social especíÍica e um
I fornece instrumentos e sÍmbolos (assim como todos os prccesso através do qud as cianças penetram na vida
elementos presentes no ambiente humano impregnados intelec'tual daqueles que as cercam" (Vygotsky, 1g84, p.
I de significado cultural) que medeiam a relação do indivÍ_ 99). Desse ponto de vista, o aprendizado é o aspecto
I duo com o mundo, e que acabam por fornecer também necessário e universal, uma espécie de garantia do de-
seus mecanismos psicologicos e formas de agir nesse senvolvimento das caracterÍsticas psicologicas especifi_
I
camente humanas e culturalmente organizadas,
rd E justamente por isso que as relações entre desen-

II 19. Os resultados desse trabalho podem ser conhecrdos através

Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem (Vygotsky, L.S. et. al,


1988 p. 143-189). É interessante observar qr" a. iãeia, áe Vygotsky,
do
artigo escrito por Luria: "O desenvolvimento da escnta na criança,,. In:
volvimento e aprendizagem ocupam lugar de destaque na

ili que insplraram as investigaÇões eíetivadas por Luna


nos anos 20 e 30,
guardam muitas semelhanÇas com os postulados elaborados pela
quisadora argentina EmÍlia Ferreiro e seus colaboradores, partÍ
a
pes-
dos 20. Sobre este assunto, ver especialmente o artrgo: ,,lnteração
anos 70. Para uma anrílise das profmidades e divergências entre esses entre aprendÍzado e desenvolvimento". In: A formação socid da mente
trabalhos consultar M.T.F. Rocco (1990) e M. da G.A.B. Santos (1991). (Vygotsky, 198a, p 89-103).

70
71
tr obra de Vygotsky2l. Ele analisa essa complexa questão pendente, como por exemplo: andar de bicicleta, cofiar
sob dois ângulos: um é o que se refere à compreensão da com a tesoura ou resolver determinado problema mate-
relação geral entre o aprendizado e o desenvolvimento; o mático, estamos tratando de um nÍvel de desenvolvimen-
Ff outro, às peculiaridades dessa relação no perÍodo escolar. to já estabelecido, isto é, estamos olhando o desen-
Faz esta distinção porque acredlta que, embora o âpren- volvimento retrospectivamente. Nas escolas, na vida co-
Ir dizado da criança se inicie muito antes deia freqüentar a tidiana e nas pesquisas sobre o desenvolvimento infantil,
escola, o aprendizado escolar introduz elementos novos costuma-se avaliar a criança somente neste nível, isto é,
no seu desenvolvimento. supÕe-se que somente aquilo que ela é capaz de fazer,
sem a colaboração de outros, é que é representativo de
Vygotsky identifica dois nÍveis de desenvolvimento: seu desenvolvimento.
um se refere às conquistas já efetivadas, que ele chama
[l de nÍvel de desenvolvimento real ou efetivo, e o outro, o
nível de desenvolvimento potencial, que se relaciona às
O nÍvel de desenvolvimento potencial também se
refere àquilo que a criança é capaz de fazer, só que
tl capacidades em vias de serem construÍdas, conforme mediante a ajuda de outra pessoa (adultos ou crianças
,f mais experientes). Nesse caso, a criança realiza tarefas e
explicaremos a seguir.
soluciona problemas através do diálogo, da colaboração,
O nível de desenvolvimento real pode ser entendido da imitação, da experiência compartilhada e das pistas
como referente àquelas conquistas que já estão consoli- que the são fornecidas. Como por exemplo, uma criança
dadas na criança, aquelas funções, ou capacidades que de cinco anos pode nao conseguir, numa primeira vez,
ela já aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozi- montar sozinha um quebra-cabeças que tenha muitas
nha, sem assistência de alguém mals experiente da peças, mas com a assistência de seu irmão mais velho ou
i cultura (pai, mãe, professor, criança mais velha etc.). Este mesmo de uma criança de sua idade mas que ;á tenha
I nível indica, assim, os processos mentais da crlança que experiência neste jogo, pode realizar a tarefa. Este nÍvel
f' já se estabeleceram, ciclos de desenvolvimento que já se e, para Vygotsky, bem mais indicativo de seu desenvol-
I
completaram. vlmento mental do que aquilo que ela consegue fazer
I Desse modo, quando nos referimos àquelas ativida- sozinha.
des e tarefas que a criança já sabe fazer de forma inde- A distância entre aquilo que ela é capaz de fazer de
forma autônoma (nÍvel de desenvolvimento real) e aquilo
que ela realiza em colaboração com os outros elementos
de seu grupo social (nÍvel de desenvolvimento potencial)
caracteriza aquilo que Vygotsky chamou de "zona de
l; 21. O termo aprendizado deve ser entendido num sentido mals
amplo do que o usado na língua portuguesa. Ouando Vygotsky fala em
aprendizado (obuchenie em russo) ele se refere lanto ao processo de
ensino quanto ao de apÍendizagem, isto porque ele não acha possível
desenvoivimento potencial ou proximal". Neste sentido,
o desenvolvlmento da criança e visto de forma prospec-
tlva pois a "zona de desenvolvimento proimal define
tratar destes dols aspectos de íolma independente. aquelas Íunções que ainda nâo amadureceram, que estáo

72 IJ
ern processo de maturação, funçôes que amadurecerão, zona de desenvolvimento proximal da criança, aquelas
t.arefas que mesmo com a interÍerência de outras
pessoas,
mas que estão presentes em estado embrionário. Essas
ela não à de Íazer. Por exemplo: uma criança de 6
r4! funçÕes poderiam ser chamadas de "brotos" ou "flores" "tpu,
anos pode conseguir completar um esquema de Palavras
q* do desenvolvimento, ao invés de "ftutos" do desenvolvi-
mento" (Vygotsky, 1984, p. 97). Deste modo, pode-se Cruzádas com a ajuda de um adulto ou em colaboração
,*
afirmar que o conhecimento adequado do desenvolvi- com algum parceiro. No entanto, uma criança de 2 anos
i mento individual envolve a consideração tanto do nÍvel não será capaz de realizar esta tareÍa, mesmo com a
H assistência de alguém.
{ de desenvolvimento real quanto do potencial.
{ O aprendizado é o responsável por criat a zona de Segundo Vygotsky, o aprendizado de modo geral e o
desenvoivimento proximal, na medida em que, em inte- aprendizado escolar em particular, não só possibilitam
i ração com outras pessoas, a criança é capaz de coiocar como orientam e estlmulam processos de desenvolvimen-
em movimento vários processos de desenvolvimento que, to. Nesse sentido argumenta: "(...) todas as pesquisas
ü
sem a ajuda externa, seriam impossÍveis de ocorrer. Esses experlmentais sobre a natureza psicológica dos processos
,i processos se internalizam e passam a Íazer parte das deaprendizagem da arltmética, da escrita, das ciências
'f aquisiçoes do seu desenvolvimento individual. E por isso naturais e de outras matérias na escola elementar de-
I que Vygotsky afirma que "aquilo que é a zona de desen- monstram que o seu fundamento, o eixo em torno do qual
I volvimento proximal hoje será o nÍvel de desenvolvimento se montam, é uma nova formação que se produz em idade
real amanhã ou seja, aquilo que uma criança pode fazer escolar. Estes processos estão todos ligados ao desenvol-
com assistência hoje, eia será capaz de fazer sozinha vimento do sistema nervoso central. (.'.)
í amanhã" (Vygotsky, 198a, p. 9B).
Cada matéria escolar tem uma relaçáo própria com o
O conceito de zona de desenvolvimento proximal é curso do desenvolvlmento da criança, relação que muda
de extrema importância para as pesquisas do desenvol com a passagem da criança de uma etapa para outla lsto

i, : vimento inÍantil e para o plano educacional, justamente obriga a reexaminar todo o problema das disciplinas
forrnais, ou seia, do papel e da importância de cada
i(
porque permite a compreensão da dinâmica inlerna do
desenvolvimento individual. Através da consideração da materia no posterlor desenvolvimento psicointelectual
zona de desenvolvtmento proximal, é possÍvel verificar geral da criança" (Vygotsky, 1988, p. 116-117)'
não somente os ciclos já completados, como também os
gue estão em vla de formação, o que permite o delinea-
mento da competência cla criança e de suas futuras 9. O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE
conquistas, assim como a eiaboração de estratégias pe- CONCEITOS D O PÂPEL DESEMPENIIADO
dagógicas que a auxiliem nesse processo. PELO ENSINO ESCOI.AR
}ü Este é um tema de extrema importância nas propo-
Esse conceito possibilita analisar ainda os limites
desta competência, ou seja, aquilo que está "além" da sições de Vygotsky, pois integra e sintetiza suas princi-

74
t5
t pais teses acerca do desenvolvimento humano: as rela-
çÕes entre pensamento e linguagem, o papel mediador
da cultura na constituiçáo do modo de funcionamento
antes de estudar matemática na escola, a criança

ii.õá.t matemáticas. No entanto, ao ingressar na


já teve
r:xperiências com quantidades e, portanto' 1á iidou
com
escola'
psicológico do indivÍduo e o processo de internalização um outro tipo de conhecimento se plocessa'
rt de conhecimentos e significados elaborados socialmente.
processo de
Para explicar o papel da escola no
Na perspectiva vygotskiana, os conceitos são enten- impor-
desenvolvimento do indivÍduo, Vygotsky faz uma
didos como um sistema de relações e generalização tante distinÇão entre os conhecimentos construÍdos na
contidos nas palavras e deierminado por um processo experiência pessoal, concreta e cotidiana das crianças'
historico cuhural: " são construçÕes culturais, internaliza- que ele chamou conceitos cotidianos ou espontâneos e
das peios indivíduos ao iongo de seu processo de desen- por meio
aquetes elaborados na sala de aula, adquiridos
volvimento. Os atributos necessários e suficientes para dá ensino sistemático, que chamou conceitos cientÍfi-
deflnir um conceito são estabelecidos por caracterÍsticas cos". Mas veiamos no que consiste cada um desses
dos elementos encontrados no mundo real, selecionados conceitos.
r como relevantes pelos diversos grupos culturais. E o
Os conceitos cotldianos referem-se àqueles concei-
I grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que vai lhe
fornecer, pois, o universo de signiflcados que ordena o
tos construÍdos a partir da observação, manipulação
partlr de seu
e
vivência direta da criança. Por exemplo, a
real em categorias (conceltos), nomeadas por palavras da pode construir o conceito "gato" Esta
dia-a-dia, a criança
lÍngua desse grupo" (Oliveira, 1,992, p.28). palavra resume e generaliza as característlcas deste ani-
I mal (não importa o tamanho, a raÇa, a cor etc ) e o
De acordo com Vygotsky, o desenvolvimento e a distingue de outras categorias tal como livro' estante'
I aprendizagem eslão inter relacionados desde o nascl- passaio. Os conceitos cientÍficos se reiacionam àqueles
mento da criança. Como já mencionamos, desde muito ou açáo
I àuanto. não diretamente acessíveis à observação
pequenas, através da interação com o meio fÍsico e social,- imediata da criança: são os conhecimentos sistematlza-
I Por exem-
as crianças realizam uma série de aprendizados. No seu dos, adquiridos nas interações escolarizadas
cotidiano, observando, experimentando, imitando e rece- pfo, nu escola (provavelmenle na aula de ciências)' o
I ainda mais
bendo instruções das pessoas mais experientes de sua ãonceito "gato" pode ser ampliado e tornar-se
concei-
cultura, aprende a fazer perguntas e também a obter abstrato e abrangente. Será incluÍdo num sistema
respostas para uma série de questÕes. Como membro de
um grupo sócio-cultural determinado, ela vivencia um
I coniunto de experiências e opera sobre todo o material
cultural (conceitos, valores, idéias, objetos concretos, 22. Nos artigos "Um estudo experimental da íolmaÇão
de concel-

I concepÇão de mundo etc.) a que tem acesso, Deste modo,


multo antes de entrar na escola, já construiu uma série
tos" e "O desenvolvlmento
i"r*Ãrii, "
dos conceitos cientiÍicos na infância" do ltvro
lnguagem (1987) Vvgotskv se dedica à análise desse
Il
1t

tema.
de conhecimentos do mundo que a cerca. Por exemplo,
I
lln /C) 77

fr,1
típicas do adulto
graus de As formas de atiúdade intelectual
tual de abstraçÕes graduais, com diferentes presen-
o"ntu*àoto conceitual) estáo embrionariamenrc dos pro-
generalização: gato, rnamÍfero, vertebrado' animal' ser f

"o desenvolvimento
vivo constituem uma seqüência de palawas
que' partindo H;;Ã-sãÀ;;io inÍantil: na Íormação de concei-
cessos, que finalmente resultam
tr do objeto concreto "gato"
gência e comPlexidade'
adquirem cada vez mais abran-
i"t, í"t Lç" na fase mais precoce da. tnfância' mas as
combinação específica'
;;;;ã inlebctuais qo", nt'rn"processo de formação de
Apesar de dlÍerentes, os dois tipos de conceito
estão ffiáil ã n"r" psicológica do d_esenvolve so-
conceitos amadurece, ie confign[a e se
intimamente relacionados e se influenciam mutuamente'
pois fazem par[e, na verdade, de um único processo: o ;*à-na póeroaae" (vvsotskv' 1987' p' 50)'
"Frente a um
ãesenvolvimento da formaçáo de conceitos' que' se.o meio am-
desconhecido, a criança busca Vygotsky ressalta, no entanto'
conceito sistematizado o intelecto do
rü"í*à r" afiavés de sua aproximação com outros iá biente não desaÍiar, exigir e estimular
F cúhecidos, lá elaborados e internalizados'
ànraizá-lo na experiência concreta' Do mesmo
Ela busca
modo' um
adolescente, esse processo
não se completar, ou seja,
poderá se atrasil ou mesmo
Poderánão chegar a conquistar
Isto quer dizer que
É nebuloso, aproximado a um concei- ã""áói*rnáis elevadosde raciocÍnio'
f' áônceito eo que depende
"spontât coloca-se num quadro de generaliza-
io sistematirado, ã"p"-"t"*á"r" conceitual é uma conquista principalmente do
do esforço indÍvidual mas
,río
Ção" (Fontana, 1993, P. 125)' "o*""r" se insere' que define' aliás'
! §üntexto em gue o tndividuo
I O processo de formação de conceitos' Íundamental
seu "Ponto de chegada"'
no desenvolvimento dos processos psicológicos supe-
inte- os conceitos
I riores, é longo e complexo, pois envolve operações Na perspectiva vygotskiana' embora
palavras (tais como: desem-
lectuais dirigidas pelo uso das nao assimlladospronlos' o ensino escolar
atençao deliberada, memÓria lógica, abstração'
capacida- "eú papel importante na formação dos conceitos
pãnitu'"*
Para aprender um con- partlcular' A escola
de para comparaÍ e diferenciar)' ãã Àóoà gera e áos cientÍficos em
e necessário, além das informações recebidas do "* às crianças um conhecimento sistemático sobre
propicia

li "ãlt" de visáo
ex[eriol,umaintensaatividadementa]porpartedacrian- õ;;ú" náoestão associadosao "ul:1lpo
Ça. Portanto, um conceito
não é aprendido por meio de ;-;;ê;"à direta (como no caso tenhados conceitos espontâ-
pode ser me- acesso ao conhe-
um treinamento mecânico, nem tampouco neos)- Possibilita que o indivÍduo
"o ensino pela
cimento científico construído e acumulado
ramente transmitido pelo professor ao aluno:
profes-
àir"to o. conceitos é impossível e infrutÍÍero' Um humanidade.Porenvolveroperaçõesqueexigemcons-
qualquer que crian- as
.ó. q*" tenta fazeÍ isso geralmente não obtém liãn"n e controle deliberado' permite ainda
processos
conscientizem dos seus próprios
de
resuitado, exceto o verbalismo vazio' uma repetição ;;;;
de um papagaio' gue

It palavras pela criança, semelhante a


mentais (processo metacognitivo)'
iimuia um conhecimento dos conceitos correspondentes' de vista' o apren-
,u" qr. na realidade oculta um vácuo" (Vygotsky' 1987' Podemos concluir que, desseponto
p.72). dizado escolar exetce iigniÍicativa influência no desen-

79
7B

fl
r volvimento das funções psi'cológicas superiores' ;usta-
mente na Íase em que elas estão em amadurecimento'
A imaginação é um modo de funcionamenlo
togico áspõcifióamente humano
pstco-
que não est'á plesente
pequena' E' portanto'
nos animais nem na crlanÇa muito
pequena
imoossÍvel a participação da criança muito
F- lmagináiia' Ela tende a querer satisfazer
A ruuçÃo DA BRTNcADETRA No
1«l. "rl,ããirrçào
r"rt O"t"iot imediatamente: "ninguém jamais encontrou
I DESEN1IOLVIMENTO INFANTIL uma criança muito pequena, com menos de três anos de ii

1,,. q"u qtisesse fazer alguma coisa dali a alguns dias' ii

E interessante observar que, paraVygotsky'


o ensino "i"á",
no futuio" (Vygotsky, 1984, P 106)
i
I

por alargar os
slstemãtico não é o único fator responsável das
proximal
1i

nãiá","t da zona de desenvolvimento Ele Ate essa Íase seu comportamento e dependente I

cánslaera o nrinquedo uma importante fontede


promoÇão ,.r*iiO"t impostas pelo ambiente' Vygotsky exemplifica tI

l de desenvolvimento. Afirma que, apesar do


brinquedo
não ser o aspecto predominante da infância'
ele exerce
ilffi;
extLrno: "a
.uã uça" é determtnada peto campo visual
grande dificuldade que uma crlança pequena il
il pedra' e preciso
tem em perceber que, para sentar numa
ll
desenvolvimento infanttlz3'
uma enolme innuência no
putu ela" (Vygotsky' 1984' p' til
I por Vygotsky num
piiÀ.lt"uitur-se de lil
O Iermo "brinquedo", empregado "oitut agir de forma
ao iôô]. ú.tt. perÍodo ela ainda não consegue rl

sentido amplo, se refere principalmente à atividade' rnãápunauttie daquilo que vê "há uma fusão muito Íntima 1l
que embora
;;;;;tr.;r. E necessário Iessaltar também se pede a uma
*ntrà o signlficado e o que é visto Ouando "Tânia ril

ãi. ã"àf". o desenvolvimento do brinquedo e mencione criança aó aois anos que repita a sentenÇa esIá de
I
espor
* outras modalidades (como, por exemplo' os iogos pã;, quunOo Tânia está seniada na sua frente' ela mudará
iivos), oeoica-se mais especialmente ao iogo de papéis (Vygotsky' 1984' p 110)'
a frase para "Tânia está sentada"
ri
i (como' por exemplo'
áuã'frincaaeira de "faz-àe-conta" liil

l, úrin"u, de polÍcia e ladrão, de medico' de vendinha etc )'


De acordo com Vygotsky, atraves do brinquedo'
a
crianças que ll
Este tipo dà brincadeira é característico nas que de-
r{
É
upr"ná., a falar, e que, portanto' já são capazes de criança aprende a aruai numa esfera cognitiva
(idade pre-es-
I

put Oà O"-rnotivaÇÕes intelnas Nessa fase


I

situa-
tt iàpià..ntut simboücamente e de se envolver numa
I

ããiàii o"orr* uma diferenciação entle os campos


de I

ção lmaginária. O pensamento que antes era


signiiicado e da visão
passa a ser regido
I

ãJàrmlnaao pelos obietos do exterior I

utilizar materiais que


fátas iaeias. A criança poderá ausente' por
ttl

servirão para representar uma realidade lr

ll
23.MaioresinÍormaÇÔessobreoestudodessetemapoderãosel A
ln: madeira como uma espada' um
ontiaãnos aitrgos "o paóel do brtnquedo no desenvolvtmento" exemplo, uma valeta de lr

menle (Vt,soLskl,, 1eB4 p 105-118) ver também o papéis cortados h

iíi,iiãa"-i"iiiiaa ;ô' pré-esco- boneóo como fiiho no iogo de casinha' il

;;ffiã;;;iie, p,incibios psico)ósicos 9' b'll-"ig:1" na brtncadeita de lojinha


e iprendtzagem (Vygotsky et aI ' como dinheiro para ser usado 1i

lar". In: Linguag em, desenvolvlmànto abstrair as


1988, 119-142). etc. Nesses casos ela será capaz de imaginar' ir

B1
80
I vareta e os lamento diário: no brinquedo e como se ela fosse maior
característlcas dos objetos reais (o boneco' a rio que é na realidade" (Vygotsky, 1984, p. 117)
no signiÍicado definido pela
pãJuço" de papel) e se deter
brincadeira. Mesmo havendo uma signiÍicativa distância entre o
n comportâmento na vida real e o compoilamenio no brin-
A criança passa a criat uma situação ilusoila e quedo, a atuaÇão no mundo imaginário e o estabeleci-
não
t imaginária, óomo forma de satisfazer seus desejos rnento de Iegras a serem seguidas criam uma zona de
que define o
ráafzaveis. Esta é, aliás, a caracterÍstica desenvolvimento proimal, na medida em que impuisio-
t geral' A criança brinca pela
brinquedo de um modo nam conceitos e processos em desenvolvimento'
r"i:ndo mais amplo dos
necessidade de agir em relação ao
t adultos e náo apenas ao universr rios obietos a
que ela
tem acesso.
I A brincadeira representa a possibilidade de solução
de
,l do impasse causado, de um lado, pela necessidade
á" criança e, de outro, por sua impossibilidade de
l' áõaó
executar as operaçoes exigidas por essas ações
criança quer, ela mesma, guiar o carro; ela
"A
quer remar o
barco sozinha, mas não pode agir assim' e não pode
pode
principalmente porque ainda não dominou e não
pelas condiçÕes obietivas
l ãominar as operaçoes exigidas
reais da ação dada" (Leontiev, 1988, p 121)' Assim'
i" u'
atraves do brinquedo, a criança proieta-se nas atividades
papéis assu-
áás aduttos proàurando ser coerente com os
l, nridos.
,(
H

Toda situação imaginária contém regras de compor


repre
I
tamento condizentes com aquilo que está sendo
"lojinha"
sentado Por exemplo, ao brincar de e

desempenhar o papel de vendedora ou de cliente' a


proximo àquele
criançá buscará agir de modo bastante
quu observou nos vendedores e clientes no contexto
iá. "i"
O esforço em desempenhar com fidelidade aquilo
It nÍvel bastante superior ao que na
que
que observa em sua realidade faz com
verdade
atue num
se
ela
encontra' no
"brinquedo a criança sempre se comporta além do com-
portamento habitual de sua idade, além de seu compor-

B3
82

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