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ESPORTE E DIVERSIDADE
N
as p~g-inas anteriores, procurei oferecer um panorama geral da
historia do esporte, seu desenvolvimento desde os preceden -
tes até o surgimento e a difusão por todo o mundo. Identifiquei, nes-
se processo, a transformação dos passatempos e jogos populares para
0 esporte (denominado por Elias padrão de um movimento de lazer de dimen-
são m1wdial) , fato que permitiu realizar um enorme fluxo de trocas es-
portivas que, conseqüentemente e por diversos fatores culturais, po-
líticos e econômicos, lhe concedeu enorme visibilidade social.
Tal foi a relevância social alcançada pelo esporte que passou a ser
alvo de atenção dos intelectuais vinculados à investigação sociológi-
ca . Apesar de o esporte não ser um fenômeno tão novo e de ser re -
cente o que se pode denominar sociologia do esporte, muitos autores
já se têm debruçado sobre o tema e tentado compreender o fenôme -
no esportivo a partir de um olhar sociocultural 1• É então possível afir-
1. Nas linhas anteriores utilizei a expressão sociologia do esporte e agora utilizo olhar so-
ciocultural. Sobre a primeira expressão, destaco que foi utilizada porque - em que
pese, no contexto brasileiro atual , estar se configurando, também, uma m,tropologia
52 EDU C AÇ Ã [ _ ESPO RTE E D IVERSI DADE 53
O F S IC A , ESPO RTE E D IVERS IDAD[
mance eacompeti~ão.Com essa perspectiva de análise, afirma que "só . política,aob1et1 1 ,tico Com essas bases, oesporte sena
acompetição efetivamente organizada realiza plenamente amfocia da
!0~1a
·asocial eop
rincípioburocra . li
d endimento corporal (1976, p. 1 ~
) eo
qu1 . . abstrata or . li
competição esportiva"(Boun, 19ó~, p. 50, grifo meu) eque sem a , 111aterial1zaçao . li oção-chave da sociologia do esporte ,
a . osena uma n . ,,
bum da performancr - uma "leiintrínseca"(idem, P·40) no sentido do reco~e esportrv " terísticas esse nciais do sistema espo rttvo
esforço sistemático para Oprogresso -,oesporte não má mais do que sigo as carac . .
or trazer con ·d oesporte seria aperversão do Jogo, pois
um jogo. Bouet propõe-se ainda aexplicar as fun~óes do esporte, con- P ~). Nesse senti o, .
(idem,P· 14 . rendimento corporal impondo acompe·
cluindo dessa análise que ele não éum fenômeno homogêneo, mas que ·sternaucarnente 0 d
introouz s, . f ncionaria também como reprodutor as
se expressa numa grande pluralidade, relacionada com fatores diferen- . re pessoas egrupos, u , .
ti~ao ent . . . 1· t s pois da mesma forma que acompetenc1a
ciais (sexo, idade, profissão, meiosocioeconómico erealidade de cada ões soc1a1s capita is a , , . .
relaç , . . d a competência esportiva se sustentaria
país) .Apartir disso, apresenta diversas fun~ões epapéisque oespor- ômica e raciona 1JZa a,
te desempenharia (função de espetáculo, fun~ão comercial, função de econ i'd' alienada. Apoiando-se em Freud, Brohrn ainda de-
numa forma u ,ca "
lazer, papel educativo, papel de adaptação eprepara~ão para otraba- ntexto Oindivíduo pam asofrer de uma neces·
fende que, nesse Co , ,
lho etc.), os quais identifica como aspectos extrinsecos aem ativi- 't·ca de compararão" (19n p. 20),aqual etransposta para
sida deneuro ' )' ,
dade. Preocupado em compreender os aspectos extrinsecos eas con- as demaisesferas da vida humana, incluindo ado lazer.Concluindo um
tradições aeleí relacionadas,critica oesporte de forma veemente, pois dos seus textos, Brohm apresenta um chamamento aos militantes mar-
conclui que acompetição domina quase toda asua significação no
xistas, para convencê-los da impossibilidade de reformar oesporte.
momento atual. Contrariando aideiade pluralidade por ele mesmo
~opõe também uma discussão profunda acerca de uma cultura do cor-
referida, enfatiza aideia de homogeneidade, uma vez que relaciona for-
po que não seja repressiva, que não seja baseada no princípio do ren-
temente oiignificado do esporte ao que considera ser aconjuntura
dimento e da realidade alienada, mas sim num princípio de prazer
hipercompetitiva eburocrática da rnciedade moderna, vinculada es-
pecialmente,àidéia de produtividade, concorrência etécnica. C~mo ludico.
ESPORTE E DIVERSIDADE 5 7
56 EOUCAÇAO FÍSI C1\ , ESPO RTf E DIV[ RS IDl\l)[
volvidos a priori acerca de brinquedo, jogo, competição e esporte. Dessa ,·sso de in dustriali. zação
cio pro C '- _ alguma s. das
_ çuas ca rac tcnst1
, .caç (a
forma, numa síntese conclusiva, Guttmann apresenta um quadror. e111 P i·zaç5o a es tandard1 zaçao, e a prec1sao da s mcd içõeç) i t
raciona , ' ' ' . . n egra-
que compara os diversos esportes analisados, diferenciando -os Pela ada vez mais na sua vida e na sua cultura, o que també
va m-se e , m ca-
presença ou não das sete características estabelecidas. Especificamente . r,·a mais do que noutros periodos, os passa tempos popul
ctertZél ' , ares.
sobre o esporte moderno, considera -o um reflexo da Revolução Indus - ra do Mandell, a nova concepção de esporte passa a ser difund 'd
5cgun I a
mundo, com especial receptividade nos Estados Un ido d
trial e do movimento da Reforma Protestante, transformações sociais or to do O . . s a
. , . · nto da raciona/idade do esp P , . visto que a prosperidade da sociedade in glesa se presta co
que seriam responsave,s pelo surg,me orte Ame rica, . mo
ara as demais .
em detrimento da espontaneidade do jogo. mo de Io P
· d b , numa abordagem histórica, Richard Assim, aponta o autor, o esporte moderno está vinculado a aspec -
rn sp,ran o-se tam em 'tico -ideológicos, relacionados com as suas origens nas no
Mande li ( 1986) propõe-se a tratar "mais do que do esporte propria - toS po l1 . . vas
. -es culturais e matena1s presentes também no desenvolvime
mente dito e do problema da sua definição, [... ] do esporte na vida das con diç 0 - . , . n-
. dustrial e com as adaptaçoes ps1colog1cas para a vida moderna -
popu/ações"7(p . IX) . Sustentado em provas arqueológicas e observa- to 1n _ . . .a
ênfase em resultados, obJet1vos racionais, organização, burocracia,
ões et 'f· anha aspectos da história do esporte desde
ç nogra ,cas, acomp .sc1p
. . , autoridade, competitividade, ideologia democrática , me n--
. · até o esporte como hoje é prati d 1
11 113
o que considera ser seu surgimento, - wcracia . O autor conclui apresentando uma crítica veemente ao es -
cada (o esporte moderno) . Isso é por e/e desenvolvido apoiando as
porte e à sociedade mode~na, consid_erando que trazem consigo a ho -
conclusões tanto no instinto lúdico do jogo (um comportamento ani -
mogeneização da vida soCJal em detnmento da variedade da natureza.
mal do qual seria originário o esporte) 8, quanto nos aspectos estrutu-
Para Mandell, o esporte é um "sistema ritual e retórico de símbolos pú-
rais relacionados com O momento histórico, político e econômico da
blicos que supõem um apoio positivo para as forças que fazem possí-
sociedade em que está inserido. vel a vida moderna " ( 1986, p. 286) . Mandell afirma que o esporte con-
Essa análise leva -o a considerar que o esporte moderno foi inven-
tém mensagens intrínsecas em favor do mérito, da democracia e do
tado na Inglaterra do século XIX 9, vinculado- assim também como afir-
êxito verificável, valores que, segundo ele, não têm funcionado nem
mam Guttmann e Brohm - ao processo de industrialização em curso.
no esporte, nem na sociedade moderna.
Considera ainda que, à medida que a sociedade inglesa se transformava
Apresentado sob o título La culture sportive 10 e considerando que 0
J
60 Eouc"ç ·
AO FÍSICA
, ESPORTE E
. DIVERSIDAD E
ESPORH E D IVERS IDADE 61
texto anár .
qu,co em t
ern diante m orno das tentativas de conceituar O esp
, , ostrando . orte D , . tação numa dimensão mais ampla da sociedade, a qual
P1tulo 11) -se insatisfeito com esse quadro apres · ª' tra orren , .
.d . 0 s resultados d O f ,, . ~ , enta (ca . encon d minante das suas caractenst1cas .
1 ent,ficar es orço de dissecar o fenomeno a r ,
e um
fator eter . , . -
•ra esporte desempenhana uma ou varias funçoes na
O s seus co . .. . " im de ssa manei ' O
considerand mponentes s1gnif1cat1vos (GUAY, 1993 P 3 De . um elemento de reprodução da realidade . Dentre os
o -os va · , . ' · O) . d de e seria
lhe dão a s naveis endógenas do esporte como sistema [ ' soc 1e ª tados Bouet e Brohm são os mais enfáticos em rela -
ua especific 1·d d Que] apresen ,
vidade f' . ª e e a sua originalidade " (idem, p. 104) · a . atitores
- es sas con
siderações sendo também os mais contundentes nas
' , .
is,ca, a com . - . . , . at, .
gra e , . pet,çao, o d1vert1mento, o que esta em jogo a çao ª orte moderno . Isso fica bastante expl1c1to quando afir-
O espinto esportivo . , re . , . as ao esp .
critic ,, nceito de função [... ] oferece uma categoria fundamental
ue oco
III) , Posteriorme
.
.
nte e continuando a sua construção teórica (capítul rnam q
O
empreendimento de descrever e de melhor compreender
ve d
ana 1isa o e . . . A
sporte a partir de uma perspectiva s,stemica, ou seJ·
o para [. . .J humano do esporte" (BouET, 1968, p . 392) e que "o es -
n o -o com O a, fenômeno
0 arte integrada na totalidade concreta : a sociedade capi -
d f parte de um todo em que cada parte é ligada às outras é uma P
e orrna que n h , porte u dinamismo ", sendo que a "sua função social e política
. en uma delas tenha existência autônoma; ao contrário rsraeose
cons,derand 0 ' ta 1 , d ·tada pelo lugar que ocupa dentro da totalidade das rela-
. que entre elas são estabelecidas relações causais de [ J lhe e 1
interdependAenc,a. li . eonclui "que o esporte constitui uma verdadeira ·· · •ais" (BROHM, 1978, p . 18) .
õeS sOCl
1
dcu tura" Cd
I em, p . l 20), que se insere no processo de racionalização
ç
Dessa 1
•nterpretação deriva um segundo ponto a ser considerado,
, f to de que esses autores visualizam o esporte de uma pers -
Xe todos os aspectos da vida na sociedade ocidental desde o século que e o a . -
. . titucional. Nesse sentido, tanto Bouet como Guay sao bas-
VII. Cultura esta que é produzida e reproduzida pela comunidade es- ect1va ,ns
p plícitoS chamando a atenção para aspectos que, mesmo im-
portiva (modelos de atitudes e comportamentos vinculados a normas tante ex ,
. . ente estão presentes nos pensamentos dos demais : o primeiro ,::;-,
formas de execução, busca de resultados mensuráveis e comparação) pl1c1tam ,
. que no esporte estão contidas todas as características de uma
que, passando a fazer parte da interioridade das pessoas, a ponto de se af,rma
torna rem inconscientes,
· · instituição no sentido sociológico; o segundo analisa o esporte numa
se apresenta como universal e encaminha no
perspectiva sistémica, levando em consideração tanto os seus com -
sentido da homogeneização desse campo, já que se opõe à originali-
ponentes básicos quanto a sua estrutura e organização. Em síntese, 0
dade e às clivagens socioculturais.
esporte é uma instituição, uma vez que é visto como um sistema de prá-
Sintetizando o apresentado neste tópico, inicialmente se pode
depreender que, nestes estudos, são desenvolvidas análises acerca do ticas competitivas situadas dentro de uma mesma lógica e coerência
esporte, numa tradição que tende a abordá -lo dando especial atenção internas, a qual - materializada nos seus regulamentos, nas suas nor-
à estrutura social, política e econômica na qual está inserido. Assim mas, nas modalidades, nos seus valores e em outros componentes - se
visualizado, o esporte é identificado como elemento da cultura que relaciona com formas de organizações que lhe são exteriores .
Essa orientação encaminha para mais um aspecto comum desses
trabalhos, nomeadamente a origem das suas análises, as quais têm re-
ferências fundamentais nas observações e reflexões relacionadas com
l l . Ele e st á s_e reterindo aos elementos constitutivos do esporte, à sua estrutura e à
sua organ,zaçao. as competições esportivas de grande evidência social. Mesmo quan-
t
\ F r
62 fDU CAÇÃO FÍS ICA, fWORTf E DIVER SID1\ Df
l 2. O que está apresentado a seguir não significa que todos os autores foram unâni -
mesª.º de:tacar as mesmas idéias e características. Mesmo correndo algum risco,
acredito na,o_ser falso afirmar que os seus pensamentos sobre o esporte - implíci-
13 .Ver Cuay (1993, pp. 48 -49) : ao analisar práticas esportivas em que a idéia de di -
tos ou expl,~itos nas suas obras -aproximaram-se muito, o que permite enquadrá-
/os num con1unto. vertimento se sobrepunha à competição, utiliza um argumento arbitrário, afirmando
que elas não se enquadram no conceito de esporte.
64 W UC t\Ç1\ 0 FÍSICA, lSl' O ~Tl 1. LJ IVE II SID1\ DI·
f.SPORTE l DIVERSIDADE 65
3. ESPORTE NUM PROCESSO HISTÓI\ICO DE LONGA DURAç - _ •m como para sustentar a twría multídiscíplinar das
Ao civilizc1çao, ass1 d . ,s
cesso de ., tilizadas em estu os antenores .
- , ambasJª
e oçoes ,,u relação
' .
entre o desenvolvimento da estrutura de
Numa perspectiva diferenciada das anteriores, Norbert H 111
. d ,,. d iaseE · A estudar
0
adesenvolvimento dos passatempos com característi -
D unn,ng esenvolvem suas ana ,ses acerca o esporte 11 a o bra A b r,c 0
115 poder 1·nglesa e ,, (ELIAS & OuNNINC, t 992, p. 49) , os autores concluem
da excitnriio ( 1992) , uma coletân ea de artigos escritos pel OS dOIS
. cn
cas de esportes derno é O resultado do processo de civilização ocor-
res, já referida no cap ítulo 1. O trabalho constitui -se em uma unidauto _ mo do século XVI 11, que tem como aspecto central o
que esporte
O la terra
na medida em que tem as mesmas bases teórico -epistemol ' . ade,
. , . og1cas ri·do na [ng nsibilidades em re 1açao- a' v10 · l"enc1a
· . Esse processo d e
qua,s estão expl icitadas no prefacio (Dunning) e na i,1 t rodu ' -as ento
aurn _ d das se .
ssatempos a esportes - posteriormente exportado quase
(Elias) 14 Sem perder de vista a idé ia de conjunto dos trabalh Çao . e pa
, - , os e tam _ transiÇ 30 ocorreu paralelamente à parlamentarização do Estado
bem dando espec ial atençao a forma de abordagem escolhida pe 1os au - lobalmente -1 a aversão a, v10 . exp l'1c1·t a e concreta se re f1 et1u
. 1"enc,a . nos
g
tores, para o desenvolvimento da discussão que é a especificidade des inglês, no qua •ais dos in d 1v1 . 'd a pe 1a v,o
' 'd uos, sen d o su b st1tu1 . 1"enc1a
. sim-
.
' bitos soc1
texto, além dos dois tópicos introdutórios, serão analisados d f se
. , e orma hª . d ..,.,esma forma que a arte da guerra era substituída pela retó -
especial os cap1tulos 1, li, Ili, VI e Vil, respectivamente · ''A busca da bólica: a ... iação os passatempos recebiam regulamentações que vi -
excitação no lazer " (ELIAS & DuNNING, 1992a) ; "O lazer no es pectro . e nego C ,
nca controlar a violência . Violência esta que , além de ser
do tempo livre " (ELI ASÜUNNING, 19926); "A 00 ênese do de sporto-
& 5
avarn ada pelo poder de Estado (o urnco , . que poderia utilizá-la) , pas-
um problema soc iológico " (ELI AS, 1992a); "A dinâmica dos orupos
O ·
contro 1a controlada de forma autocoerc1t1va, .. uma vez que os indiví-
desportivos uma referência especial ao futebol " (ELI AS & DuN NINC sou a se rendiam a dominar as suas próprias emoções _
1992d); ''A dinâm ica do desporto moderno notas sobre a luta pe 1os' duos aPr
E é com a ajuda da teoria multidisciplinar das emoções que Elias
resultados e o sign ificado social do desporto " (DLINNING, J 992) . e Dunning se propõem a contribuir para uma teoria mais geral dos
Identificando o esporte como um elemento estratég,·co para co - esportes . Incluindo o esporte nas atividades de lazer atuais, reconhe -
nhecer
. .
a sociedade,
.
os autores propõem -se a compreende,- 0 se ll s1g-
· cem-no como uma atividade que proporciona tensões controladas e
111f1~ado soe1al, anal isando -o empiricamente num processo de longa du - agradáveis, necessárias para a manutenção da saúde mental. Essa afir-
raçao, cujo
um _ de partida é uma abordagem multidisciplina r, ou se;a,
. ponto . mação contraria muitas outras interpretações que identificam O esporte
a art,culaçao entre aspectos soc iológicos, ps icológicos e históricos
como uma prática que tem o objetivo de libertação das tensões, para
Ao mesmo tempo em que nesses trabalhos se busca o conhecime t .
sobre pensá-lo como produtor de tensões de um tipo particular (uma agra-
_. o esporte, o desenvolvimento contribu i para aprofundar a t n o-
dável tensão-excitação), que é uma peça fundamental de satisfação no
, ,a do processo his tórico de longa duração, denominado por Elias;:_
,, .
11~1<"•
!\1'()~1 1 1 i!l\1~ , ,. ,,11>1
1
. t ' i'Pl\ 11 1 tli \' l ~' i tlA i l l
j {l 11>1 1( ~( ,\ 0 1 \ \1 ( /\ ,
--- f SPO ll.fE E D I V EII. SI D/\Dl 71
esporte, que O apresentam como um fenômeno previsível com princí- Mesmo reconhecendo que as normas soc1a1s tem influencia n;
cultura . A • - ,
l
o tema da homogeneidade/heterogeneidade no esporte em geral
mo não identificando empiricamente as heterogeneidades) , charr
- - --&~~
J2 i ü lJC /\(ÀO / ÍS /CII , l\1'0~11 1 /l /Vl~~ //li\lll
, ,t•'nçfo
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p;irJ ;is possi bilid;ides ele diferentes. 5 1·gIli'f•IC;:i 1
P
odem ser ;itrib uídos pelos prJticrntcs . 'e os % e IL no tópico anterior pcrmitcm coloca r os três
'l (:5 ncontril J os
A pJrtir cl;is tíltim;is Jrgumentações v;ile rcssr1lt cc ros e . diferente <; ca mpo s c.k rcnsamcnto , os quais
, ar que .,~ ;isr 1 is
e~ cni e.o .
Jutores, cm que pese ,1 orige m, o dese nvolvimento a . ' Para esse iz 0 de ;iutor · que possam se r comp re e ndidos alguns as -
' ex,stên . s t1P ºs ·1·z;idos par;i
gr . ser utl 1 ' • As considerações apresentadas apontaram , de
e os aspectos que caracteriza m o esporte ele não re eia atual clcf11 debate . f
. , . . '
ria e mecanicamente as normas soc1a1s que porventura .
sponde ne
Cessá
r0ceras
deste
.
d
1
perspectivas dc a náli se di crcnciadas , por
ara uas
se1am do . · P csrcc 1.i ' p procu ram a compreensão do fenômeno es -
tes em cada contexto. Num palco de contradições soe · . íllinan. fo rrfl;i ·s os autores
. . . ,a,s, os dif qua•
tes protagonistas part,c,pam com uma posição ativa ca eren. me io daS
,. . , paz de cr· ·yo . ent o Bouet , Brohm, Cutt mann , Mandcll. e
recriar as sua s praticas culturais, na perspectiva do efeit 0 d 'ªr e parti ·rneiro rnom ,
e ªPropr Num pri . ectos estruturais da sociedade e tendo como
apontado por Bourdieu. 'ªÇcfo ivifeg1ar asp .
v ao pr . busca de aspectos que caractenzem o esporte
CuJ;, dológ1ca a
Quando utiliza o termo efeito de apropriação Bourd · opção meto !idade cultural específica, encaminharam a compreensão
' ieu está h
mando a atenção, entre outros aspectos, para o elementogo I e a. f110 ufllª rea ge neizada des sa prática . Segundo o ponto de vista
• A • s o, enqua co visão hom o . , . .
to aspecto de fundamental 1mportanc1a no momento das escolhas n. ;iril ufllª porte já estana ate certo ponto suf1c1entemente
· N o senti'do que Ih e e' at n'bu,'d o, gosto e, a propensão p tores, o es , . -
tura,s. 11
.cul.
,a apropriaçao
- (matena . 1e/ ou sim. bo, 1ica
· ) de urna determinadae apt, dão desses dau uma vez que tanto as suas caractenst1cas (reproduçoes ob -
exp lica o, . d de mais ampla) quanto as críticas que delas decor-
' · c1ass1·f·1ca das e c1ass1·fica doras [e] é catego. da socte a . -
ria de o bjetos ou praticas f
' a orma J·etivasde certa form a repetem -se nas mterpretaçoes
. .
.
.
generativa que está no princípio do estilo de vida " (BOURDIEU,
1983
ª rern, d rupo (Elias & Dunnmg, Poc1ello, Bourd1eu, Bento e
O segun o g
p. 83) . Assim, o esporte, junto com outras práticas culturais se .' mo reconhecendo elementos estruturais da socieda-
, mani - rone)
1 mes
festaria segundo aspectos distintivos dos seus praticantes ' , const 1·t u1n
7 . . Padig ' mbém para aspectos distintivos de atores e de grupos
ltou -se ta
do uma das expressões dos diferentes estilos de vida. de, vo de não apresentarem dados empíricos sobre o tema
sociais . Apesar . f - l - , dºd .'
demonstram insat1s açao em re açao a preten I a pos1 -
es autores
ess . dos protagonistas do esporte e conduzem a reflexão para
ão passiva . _ .
5. AS DIMENSÕES SOCIAIS DO ESPORTE ç . - da heterogeneidade das mamfestaçoes esportivas, ou seja
a ace1taçao . .
·d ,.a de que existe uma d1vers1dade cultural nesse contexto . Par;
para a I e1 . , . . ,
Num esforço de síntese e mesmo sem ter a intenção de desenvol - Sp orte poderia ser visto como uma pratica social pass1vel d
eles, o e
ver uma análise compartimentada dos estudos acerca do esporte, ai - riada de forma diferente em realidades específicas, em qm
ser apr Op
com características distintivas, se inseriria em modos de vida particl
lares .
A partir das considerações que vêm sendo apresentadas , é pos i
17. No q~e concerne ~ aspectos influenciadores das distinções, Bourdieu destac
questoes relativas as difere a as vel dizer que, embora devamos reconhecer que o esporte é um fenôme •
d d' . - . nças entre eIasses sociais, mas amplia essa possibilida -
e para as istrnçoes no interior de u 1
19836 e 1990) . ma mesma e asse - ver em Bourdieu ( 1983a, cultural difundido globalmente na forma das competições esporti,
oficiais - por meio das quais traz consigo significações hegemoni·
74 E DU C AÇ,\ O ~Í S I C A , ESPO l': T I I D IVl l': SI DAD l f '"> J• C.>K Tf F D IVf K ..,J t:) A () f 7 5
(1',,ur, lwu), 11 /' 1' ' 1, lr,11 , ( \Vc h l'r) e cc, 11 [rJ
,1 ·d· f 1 . ·' "'"'-"º ( l: l iíl~)
.. , u t ,· 1ul r-i r, ., (r dc rn , 11 1:l <,) , 'íl (]ll íl I íl /'l'llp · ch egíl' íl· ,, d
, ;i rv~ t s1
·d
..
ri o ant -·
.
pa ra a inco mpl etud e
as class1f1cações dessa natureza D
e, ,orm ente' mes mo qu e e1as nao -
I
· e qua quer f
ex p !Citar os
•
de quais quer
orm a, co mo Ja
e abo.
seus lini i
tes16,
que s ·
., f0 · eia111
N tornº o l construiu-seco
titLl'窺 f 11ternente
. di ere irnento ,
pos de carater o
. - h;stórica, e e dos jogos e passatetll d trocas esporfr1as , ,n-
vêm perm1t1n o
-
aque -
---- maneira corno
___- b tanc ia\rnente a . 1·zada , vistas de
do s, especifica mente quant o ao modo d . ~ su s ·tuc1ona 1 .
e viver 0 ,,,,,, odif,qucrn versão inst1 a sua constitui -
e rn a sua rzadas n
ceu ele mentos para diversas d isc uss õe esporte . 1 ·r,d ;:i qll at 1cad0S n, d prát icas rea i rnitiu identificar
- s, e m que P sso of e ;i1 - pr, s as d tro per
relJçoe s e ntre as categorias encontradas . rocurei est b ere _ â r.is rce s 5;10 ,to d istant e ,. ,. , olhar de en d dos entre si , mos -
no interior d il ele r Pº rnu d u,.. stu a ,
com formulações te ó ricas acerca do es os grup 0 C:er 1cs e5 -o cr;irtl out ro la º '. rn os universos e esporte , como e\e e
. .. . porte quanto s, tarit
1dent1ftcadas em outras inve sti gações em , . colll cat 0 for.i r,J ,,.,;il. por d1fere nc1a relação corno
. , p1ncas sobre o egorias for"· que na sua
Fo, essa sintese comparativa que ofe llleslllo t ç㺠ontºs d iferenças - s esportivas. G o do Castelo
. receu element erria , ios p béfll , federaçoe ão no rup
enriquecer a compreensão sobre cada gr _ os capaze · .,,ar tJrtl d·do nas tou a atenÇ stituição do
. upo, assim colll s de do, fun , des per · r d de da con
esporte, visto como uma prática de Jazer qu O acerca d crilíl_ ado/d' ectoS que foi a flexibt t a d . contextos es -
- , e parece ter lllu · o rat 'c dos asP A ô nirnos - Nesses ois
soes . Parte dela sera apresentada nas páginas . itas dirrie p t.Jrtl entre Os n às suas dirnensoes . (respectivamente , qua -
seguintes . ti -
bértl uanto o esporte ~ cias de
e cartl de jogo, q de praticavam d ptado às circunstan
cafl1Pº esPªçº on de futebol) era a a . ezes aumentado ou
os, o rnPº do muitas v
1. SOBRE A ADOÇÃO DAS REGRAS ,,ort '" \e ibol e ca ontravam , sen . . tes que estivessem
i-- d vO 1 , e enc d part1c1pan
drª e ff1 que a s rn o número e os protagonistas ,
d dia e ardo co d o contato com
Para vários autores da sociologia do esporte um d ca a •do, de ac videncia o n \acionada tanto com
. . . . ' os aspectos . ,nu' forrne e que estava re .
d1ferenc1a o esporte moderno das at1v1dades tipo esporte . que dtrtl entes - con \ha dos dois grupos, oso e interessante emoc10 -
rea 11zadas 11 pres a esco jogo prazer
teriormente ao seu surgimento é a criação de regras pad .
ron1zadas
ª- ·sso era uffl desenvolver u~ articipação de todos .
adotadas em diferentes contextos geográficos, inclusive em e e , iflteresse effl nto com o direito de p etação sustentava-se nas estra -
sca Ia pla- o lrflente, qua d Castelo essa interpr ário que houvesse uma
netária . Entre outros fatores que proporcionaram o desenvolv· fia GruPº o a uem era necess ,
imento
do esporte como ele acontece atualmente em todo o mundo fo No ·ntegrantes, par q d dra de voleibol e o nume -
ramas d s seus t anho a qua .
suas regras que , uma vez tornadas universais, passaram a possibilitar tégias o d quada entre o tam ., ma quadra excessivamente
rção ª e artida, Jª que u .
os encontros esportivos, tão habituais atualmente, mas que eram im - proPº . ipantes de uma p d mbas as equipes, que tenam
d part1c d f nsores e a d
possíveis de acontecer em épocas anteriores, tornando -se o que Guay ro e favoreceria os e e d d bola enquanto uma quadra gran e
quena d. que a a , \'
(1993 , p . 58) considera ser uma "linguagem internaciona\" 6 . pe . ·dade para irnpe ir a ue não teriam dificuldade para rea 1-
É dessa forma que , nos contextos estudados, os jogos aconteciam fac1h . os atacantes, q . " - t
. favorecena ·t ções O esporte sena sem m e -
derna1s . Em ambas as s1 ua ' A •
a partir de regras conhecidas e compartilhadas por todos, inspiradas ões ofensivas . . nante devido à existenc1a de um
zar a Ç ·a menos emoc10 .
no esporte desenvolvido na sua versão oficial. Sendo adaptações de
esse"7, visto que sen . ·J·d d de sucesso entre as ações ofensivas e
r . , . das poss161 , a es . d f
deseqwltbno . E t e Os Anônimos ocorria e orma
. das duas equipes . n r
as defensivas
6. Foi essa linguagem que possibilitou que, num dia de jogo entre Os Anônimos, não
houvesse nenhum impedimento para que estivessem presentes e participando numa
mesma atividade (futebol) indivíduos de quatro nacionalidades: muitos portugue- _ -i- ada pelos participantes.
ses, um francês , um colombiano, e eu, brasileiro.
7. Expressao utt iz
l\ -1 l nuc,, çAo I l~t CA, l ~l' O RT! l DIV lRSll) ADr
são -excita-
. rn a te n
do ass1 '
mentan ,
. . dade , au havia urna
semelh ante, mas , nesse caso , vin culad o ao pra / da at1v1 ortugueses or
:z:er rel ac· ccrf'P º dois grupos p ernocionante, p
von tade de praticar um "jogo jogado"Hno futebol 'ºnado co o s arte
. . , que des e n, a gaf'ldº·-.i idadc- urf' \ado no usca de ufl'\ esP o na re\ação corn o
isso porque uma pa rti da com um num ero excessiv o de nvo\vian, . \o_f'l f'\ ;i ílc1 se por de jogo na b ..,., segundo p\an participantes do
d .ma· a art1cu
· 1açao
- d e Jo
· gad as por part e dos atacant
.
Pessoa s in,p ·
es, aspecto e.
ªº ' (11 ,
Ç' pare do es Pª
ço
a coloca
do e,,.
. s: apesar
de os
, \ era pequeno
te na for ma como todos afirmavam que gostam9 d . Presen 50 esse er -o nos Jogo dispon1ve
e Jogar o f - dílPtílç e iflter , artiCÍPaça que o espaço ornpareciarn doze
Também outras adaptações que o Grupo do Castelo fez Utebol_ a e5s . a p ref11 que e
utrº direito onsidera s'º sernpre . guém· no caso
regras do voleibol oficial, demon stravam urna intençã 0 d ' acerca das o dº \o c dore , - de n1n ' .
e Prod · a\or caste d seis joga a e)(.c\usao da e)(.cess1 -
jogo de acordo com aquilo que escolheram. Esse prop , . uzir l.ln, v do .1 s e . s sern \ massem
. _ . .. os1to é ide .. GruPºdúas eqú Pe\i:z.avaf11 os Jogo \ uns rec ª ossi -
, s vezes , a g deveria ser p
cada na dec1sao do grupo de flex1b1ltzar diversas reg ntift_
ras relar parª s e\ eS rea ainda que , a \ecia a idéia de que d ntro de \imites
controle da bola na prática do voleibol , tendo em vista tvas ao e5sº ª ôflir11ºs , o'' , preva , \ de pessoas , e
o reconhe . p os Afl do carnP , ·rno poss1ve
menta das dificuldades que alguns participantes tinham Ct - de ,çẠ- do ma)(.t hamar
gestos esportivos de acordo com a regulamentação oficial d
ern rea\iz
ar
"º"
"ª rº
· aça 0
artiCIP . \l .
f · para e
\ vra escolha r O\
ª moda\·1 ·\·tada a p aceitos . destaquei a pa a os uma vez que
dade . Conforme afirmaram os informantes e se observou nos
seus com.
· b', ente ote . d d dos grup '
portamentos, se as regras não fossem flexibilizadas os jogos se . . co\etivaffl do anterior~; ote intencionah a e e praticavam e adequa-
narn s1s. Qúªº úrna ev1 e . . . dos esportes qu stos . A idéia
tematicamente interrompidos , deixando também de "ter inte , · o para s oftc1a1s uais seus go
resse' a ateflça das norma ·térios , dentre os q m o Caídos na
No caso dos grupos anteriormente referidos a adoção de · f taram utros cn parados co
' estra- se a as ·vidadeSa o . . dente quando com . quando não com -
tégias para prolongar a jogadas tinha o objetivo de alcançar um nível as at1 mais ev1 \ domingos
de tensão que consideravam ótimo, vinculado ao interesse particul raffl \ha ficava ticar o futebo aos i3 Conforme seus re -
ar, de esco d ·}(ava de pra d oito jogadores .
o que pode ser explicado pelas idéias oferecidas por Elias e Dunning \.le e1 , ·rno de ez
praia, q número 111101
( 1992a) ao estudarem o lazer a partir da teoria multidisciplinar das parecia um
emoções . Para esses autores , mais do que ser uma prática que propor- s que as oficiais.
mensões menore "
ciona a libertação de tensões, o esporte produz um tipo particular e d l . ão do "jogo jogado .
agradável de tensão-excitação . A busca do prolongamento das jogadas, Oespaço I s impedia a reahzaç ado segundo comen·
l O• ndo e e , •vamente ocup ,
O que, segu am com o campo excess1 Mesmo assim, como form,
evidenciada nos dois grupos da cidade do Porto, assemelhava-se à des - 11 · jogar t' cipantes. .
úmeras vezes 't·cas de alguns dos par t . d d'1nâmica do bota fora , s1s
crição que Elias e Dunning (1992b) fazem da adoção de regras na caça 11. In • · ões cn 1 . seguin o a . . -
tários e op1n1I o·es os jogos reahzavam-seh . ma rotatividade na part1c1paça,
. exc us ,feitas várias equipe
de evitar · s e avia u
à raposa pela aristocracia inglesa dos séculos XV\ll e X\X. Segundo os rn que eram
autores, naquele contexto as regras surgiram para dificultar a caça, pro- te::t~vidades. . .o o com vinte e dois jogadores ( 11x '. \
o todos esperavam era reali,z~r um J ~8 ·o adores (9x9) . Muitas vezes dc1 x·
\3 . O~ee era flexibilizado até um mm1_ mo :re nãoJ t;r comparecido o mínimo cstabd
8. Expressão utilizada pelos participantes. oQ de realizar seus jogos semana1~ p ·o ocorriam havia discussões sobr e
rarn S re que os Jogos na ' d'
9. Refletindo sobre normas, utilidades e gostos no esporte, Lovisolo (1997) discute ciclo pelo grupo. emp . r número de pessoas; apesar isso, pr
.. ·d d realizar partidas com meno .
esses aspectos. Para o autor, a linguagem do gosto, mais do que as linguagens da nor- poss1b1h a _e .. d de não seria descaracterizada.
ma e da utilidade, oferece um caminho especial para a compreensão do esporte. valecia a ideia de a at1v1 a
~
ll& t l)uc,,,Ao . . UMA PRÁT ICA DE LAZE R 87
----- ~ A, rsl'URTI [ OIVlR SIDADr E 0 1VERS IDADL
ESPORTE
21 . Por visarem à liberdade na sua relação com as regras oficiais, assim como o prazer
pela at ividade. A cada fim de semana, dois elementos do grupo dividiam os presentes em duas
25
22 . Porque, em vez de limitar o número de pessoas, visavam a favorecer a participa- · equipes equilibradas . Dessa forma , eles não escolhiam as equipes (para cada um
ção de mais indivíduos. buscar constituir a melhor equipe para si) , mas sim, consensualmente, formavam
23 . Porque descentralizavam o poder de decisão em todas as suas instâncias, especial - duas equipes consideradas de um mesmo nível técnico-esportivo .
mente na apl icação das regras do esporte.
26 . Faziam de forma semelhante ao Caídos na Praia, mas espontaneamente, sem as for-
24 . Expressões utilizadas pelos participantes. malidades daquele grupo .
1
--- -----
90 lOU CA(ÀO FÍSI CA, lSPO~Tf [ D1\/l~S IIJAIJ[
r SPO l<í ~ ~ f R~ fJI\ D f ; U MI\ P~Áfl CI\ IJ[ 11\L[R 91
7
2 . Tendo em vista o anonimato, Os Anônimos não realizavam divisões eqüitativas dos
Jogadores .
Para Bouet, essa inter-relação é parte constitutiva do esporte, pois "a tensão rm dire-
28 . Expressão utilizada pelos participantes.
ção ao objetivo e a tensão em direção ao outro são recíprocas e fundadas uma sobre a ou -
29. Esse a~pecto do esporte vai ao encontro do pensamento de Michel Bouet ( 1968) tra " (1968, p. 57, grifos do autor) .
postenormente revisitado por Cuay ( 1993) , acerca do conceito de "com-contra u'.
30. Expressões utilizadas pelos participantes.
92 lDUC/\ÇÁO I Í ~ IC /\ , 1 !> l' Ols l l l D I VI R~ l f)/\IJ I
f ~ f' O R Tf f D I Y f R S lf JADI '. l l fAA PRÁ TI C.. A DE I A-".ER 9J
de
,, esporte por ele desenvolv ido , n o qual es tá i n se r ido O c on1pone o r t c m a s fazem a s i rnula cão; c.: lc.:s n ão estão ma is
m a is o csp ' .
o que está em jogo " (GuAY, t 993 , pp . 52 - 57) , elemento n - 0 lltc ra ti Cilri, s o rt ivo " ( id e m , p . 49) .
.
relac ionado com os int eresses materia
. is,
. mas tambem , a aspe ªt ªP e n as p o u,, 1
~ ·ve r so e. p _nt e a es s as i d e,.1as encam 1n . h a - se o p e n sa ment o de
, , c os con, 0 ,. t r ar 1arne
o prestigio pessoal e de g rupo , que tambem fazem parte do que d , c on co n s ide r a que o espo rt e para t o d os trouxe mudan -
J 985) , que . -
· 1on ge nas suas pos içõe ª sen _
t 1·d o a' cu 1tura esport iva . Guay va i· ma is CJaeYs ( d - s de p ar t ic 1pa çao n os es p o rt es d a Europa . Para esse
s relati - os pa r oe
, • A - •
;i s pa ra , cionado co m um proc esso de democratização cul -
vas a 1mportanc ia d o resultad o na , construçao
. do conce
. _ i to de e sporte çc . so esta re 1a -
;iuto r, 15 e u O m a io r acesso das p o pula çoes a esses bens cultu -
ao. cons iderar que sem O qu e es ta em Jogo a compet 1çao perde O signi .
-' e e nV O 1V
ru ra l, que formaç ão de uma cultura popular nessa área . Em vez
ficado e a razão de ser. . co rno a
ra is, ass im )"rnites rígi dos entre o conce ito de esporte e a filosofia
No caso dos g rupos estudados , mu i tos foram os depo i rnent Os
d e esta befecer •todo s Claeys considera que es s a últ i ma trouxe novos
opostos a essas id éias ' mostrando que, mesmo nas derrotas ' va' nos
. r te para , .
do es P 0 , at iv idade esport iva , os qua is , segundo ele, representam
dos part ic ipantes encontravam sentido ao prat icar o esporte. Isso p Or- (" s ig n •·f"c
1- a dos a ect iva para o conce i. to d e esporte .
que , para a ampla ma ior ia dos i ntegrantes dos três grupos investiga - ova persp
uri,a n ' rn d iversamente de Guay é conduz ido o pensamento de
dos , o esporte estava assoc iado fundamentalmente à idé ia de diver- íarn
. be ) , ao i nterpretar a d 111am . 1ca d o esporte
- mo d erno de -
1
( A •
Pon,,.,,
0 dicig;, a «enç5o «pedalmente pa,, ecca, fo,ma, de manife«,çõe, e,.
31 Apc_,., de
auto, deccn,ol,c <ua ,cflcx;o acccca do «pone de uma focm, <«ai.
) n ' ,
. º"''
pensar o espo r .
aprcsen a
t ssem rendimento esportivo compat1vel co,n
. ..
.
os tntere
L10s qu
e: d ;, d o
s ;, que j(un conte ça - 0 cu lados cu l a do a se n esses
. 6 . d o grupo e todos os Jogadores ali Inseridos esta ssc:s cl - 0 p:i •
r::1º ·vi ddcª
a . g ruP oe"' esta rvin - ent ·fica- 1 'lno , f"íl as
v1t n a , . . . . van, Col e: Ç' l1c a ac • r ó Pflº deve ras , 10 - de a !l
t tuto social d1ferenc 1ado, relat ivo a sua condiç- d 0 cac1 p::1ra q 'dos pe lo p ·gatór io , que s palaV produçao does -
num es a ao e t it 0s
re serva da equipe · . uIar ou ns cru1 ob fl ~ . s . Noutra l do " à prática
co d in-iento 0enc1a tá vincU a tido da - 1994, P ·
A partir das anál ises feitas anteriormente, é difícil acei ren conseq 50 es "o sen r...JDAO ,
un1 .i s suas te que n " quando , ,, (BRA
- . d e .interpretaçoes
de Ri gauer que, a partir - ace tar as f or. finai s e urn espor uj e itOS , ' fazer erl"l
mu laçoes . . rca do es ~mbi e nt es , ontrO dos s , mas no p\os apre -
d e alta competição, alargam a sua analise e concluem que a b Porte: ~ · 0 enc para , cort1 · s e:,,::em de
. ento esportivo . ca d a vez maior
. e. uma categoria q Usc:a cl próPfl . ' fazer fazer . dos , o es forrnas
ren d 1m . ue acaba 0 ao ão esta no a i nda, no rt1 ser cita diferent prá -
porte n utor) ou, pudesse ostrar 'dos a essa
ser cara Cterística central em todos os tipos de práticas re Iacio Por g rifo do a que t<1\vez buscaram m s atribui f de que ,
esporte Da mesma forma , esses dados e interpreta _ nadas 29, tros . res d . erso ato
com o · Çoes sã Entre ou 'gi nas anteflO sentidos iv a atenção o . l naqueles
0 de
d ·f'
, 1c1
·1 concil iação com as cons iderações de Bouet ( 19 68 )
_ _ , quando d d 5 na s Pª •rn corn° chama _ fic1a ,
f de que "sem intençao de perfonfümce, nao se faz mais qu . e. senta o sporte , ass 1 rt icu\ares , ua versao 0 orte foram
en , , . . e Jogar · ar o e 5 os Pª d na s o esP
e 'fazer exercício . F,ca-se a margem do esporte e mesmo lo 0u prac ,c . 1 Nesses ca é prat i ca o . trínsecos a dadas da
. 5 oc1a · 0 rno dos 1n . estU
qu nge dele" t ,ca da forrna e onsidera . as prática 5 . ela
(p . 37) . diferente aspectos c . . d i ferenciar - esportivas ,
Em vez de buscar uma caracterização universal para O es tos alguns . erm1t1u f deraçoes - do
. _ Porte, ta\. concex S a análise P ~ bito das e d propriaçao
vez seja melhor cons iderar pos,çoes como a de Bessy ( 1995) qu . . . ados . e d no am f as e a .
. . e, ªPos re\ac 1v1z -o prat ica as d · f rentes orm ·d categonas
analisar a Maratona de Medoc, conclui que ela se constitui " u corno sa ificar I e senti o ,
" . rna nova forn-iª, poss ib ilitou i dent . so do lazer. Nesse do resultado , se -
maneira de fazer esporte (p . 133) , que se inscreve num tipo e . rnbern . do un 1ver busca d .
spec:1fi- ca no interior . to divertimento , tras que , em 1 -
co de festa contemporânea diversa da festa ritualizada e da f esporte , . - end1n-ien , . entre ou
esta es.
petáculo. O autor desenvolve essas considerações entendend conio cornpet1çao~~dade, o que está em _J ogo , atível uma com a outra
0 que
apesar de externamente apresentar semelhanças com as provas d ' ri e dade, espont~:s aparecem de forma i~corr:~das não como e\emen -
e cor. ublicaço , f m aqui tra do
rida tradicionais, essa competição tradicional está associada tant versas P ·as radicai s , ora desse ser chama
' o Para dicotom 1 lgo que pu
os organizadores quanto para os participantes, a objetivos relac· ou corn:entam caracterizar e demarcadr a ominação . Articuladas de di -
tona-
dos com a idéia de festa e não com os resultados esportivos. Confor- tos que 1 uer outra en
de esporte de lazer ou quaf ~ considerar essas idéias noções capa -
me interpreta o autor, o evento - que já existe desde t 985 e que tern
esforço 01 para ferecer ele -
crescido em número de participantes - realiza-s e em oposição à corn- versas formas , o l universos particulares e o
·udar a desvelar aque es
zes d e aJ
~D