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Fenomenologia: mótodos e pressupostos

Embora o criaclor do movimento denominado fenomenológico, Edmund


Husserl, não fosse propriamente existencialista, dificilmente se fala em
Existencialismo sem associálo de imediato à Fenomenologia. Tàl fato se
deve à influência de Husserl em Heideggerl e Sarhe. E também em razão
de o método utilizado pelos existencialistas em sua tentativa de compreen-
são do homem ser o nétodo fenomenoÌógico. Exemplo disso é a grande
obra de Sartre, O Ser e o Nada, possuir o subtítulo "Ensaio de Ontologia
Fenomenológica"2.
"Falar de Sarhe", é Ferreira quem nos ensina, "é falar do Existen-
cialismo - que ele sobrehrdo divr.rÌgou - como é falar da Fenomenoìogia -
onde colhe uma orientação geral e alguns temas fundarnentais"S.
Ao tentarmos redimensionar algumas noções da Fenomenologia
enquanto rnétodo e pressuposto, é imprescindível fazer uma retomada do
movimento em si.
"Segundo a etimologia (de acordo com Dartigues4), a Fenomenologia
é o estudo ou a ciência do fenômeno. Como fudo o que aparece é fenô-
meno, o dornínio da Fenomenologia é praticamente iÌimitado, e nìo
poderíarnos proibir ninguém de pretender-se fenomenólogo, desde tprc
sua atihlde tenha algo a ver com a etimoÌogia do termo: Se nos ativenros
à etimologia, qualquer que trate da maneira de aparecer do que qucr (llÌc
seja, qualquer unr por conseguinte que descreva aparências ou a1:ariçõcs
faz Fenomenoìogia"5.
A Fenonrenologia parecia pÍometeÌ uma fuga de mrtitas cois;rs, rrì<r
apenas da gercralidade6, mas iambém daquela espécic rlc lllcrx rrprrçìo
JL,I t)lí,titl)t;t í,Ìt,illIìljtill
VirkkirÌriI (ìiIìrÍ)rì
^I(lI:il{r^rì(lÍriìllìi
( orÌr rì suÌ)ictivj(liÌcÌc
c
a vj<ia erhctltatlas cottt l: tittais srtrrcitlislrts
c lrcrrclilrrrs a*otrullltcti.t ferrôrtteno conìo Ììtrìa peìícuìa de intprcssircs ort rtttt:t corlirlt rtlris rlrt
lelrte iìo tllesllìí) telììPo'
"rtnu",r,,
r',r rr pr. nrcti4'si. ProgrJllìaticalttcttlc <1ual se abriga o nistério das "coisas em si". I-ìegel izí dizia qrrc ithris tlrt
cortina não há nada a ver. Falar de uma visão das essências trão sigttificrt-
_1 ] :'r".r""^,rn'.gia
srrrge coÌlo rÌnr;Ì tentatira cle anáÌisc do Íenônrerro
(. ..tr,jIIil lo lcrrr)r111,116. rá devotar-se a uma contemplação mística que permita a alguns iniciatlos
f)çrr,1 ,,
.,r.pLeensão cÌo Ì,orrerr,,, jïlïïj;jj í!'li:l':,,ïn:i:ì,:;ïì:i:: j: veÍ o que o conrum dos mortais não vê, mas, ao contrário, ressaltar quc o
rl.c,c;rda ferrônrcrro ó que sentido de um fenômeno lhe é imanente e pode ser percebido, de aÌgu-
passa a ser corrsìderada.
Sa po. u,rt ìrao prr""" ma maneira, por transparêncialo.
:,,lJï:::ï',ïïlì:' :j,:'LX":l' ;;;; o ren ònr
xr, e,, o
1",',neno, por
bi:st'litlc trrtnplcro ttl nterlicllt Para melhor eÌucidar sua explicação, Dartigues contrãpõe a questão
.,,na"r,= "tolo
irrrc \crrìprc rt rrros rrr ent da essência em seu significado: "Tradicionalmente, a essência correspon-
r;..",,, j;;,,;;,,;;::;ïl;::::ï..1ïï[ï]ï:j::::lï:li::ï.,ì:1.i",,ï de à questão: o que é o que é? Esta questão pode ser colocada a propósi-
ÌÌrrÌrtas'ezes c'raizacÌos ao .. to de qualquer fenômeno e, se não a colocamos, é porque já estamos asse-
lo.go cÌc,,r,,ori" ."Rãl''"",
tta-l",taÌ conro era praticada antcs de gurados de sua essência ou poÌque peÌo menos acreditamos estar"ÌÌ.
..^.1 Saftrc, semPre foi tâo abstrata
que necessariarnenrc utilizar:r Dartigues, na seqüência, explicita melhor essa temática: "Não existe,
:..,:ï,:l,rj:rï,,r^"]r^"ìi;r8iiísrico
uc|rìÌçoes c Irq.Ìções cor rce;lh na bLrsca <ie com efeito, nenhum fenômeno do quaì possamos dizer que ele não é
r; tirs. Sarhr.Prrrc
qre lossc oposta a isso: urna rrrlrr;t rrrrra filosoÊa
fiìosofia r ;i, U nada, pois o que não é nada nâo é. Se todo fenômeno tem uma essência,
mcroÌogìa. Sirnonc de Bca.voir, ;"rg,,,, i_i" :r".ïì,rrl" 0"""- * o que se traduzirá pela possibiÌidade de designáJo, romeáJo, isso signifi-
c'nrparrheira rÌc srr:r r,ida,'ana
rÌnÌ nìara_
:lil:::,,::*l:.LJrd\;r tur''?nd d"; ;r,;:' ì;;' ì,.,,,,i,.-*,,0,,, ca que não se pode reduzi-ìo à sua úrnica dimensão de fato, ao simples fato
."* IJassJrdo rìnì :ìÌro Ìlo lrrstjtrrto de que ele tenha se produzido. Através de um fato é sempre visado um
F_rancôs rle Berìirn,
cshrdarrcÌo llus.,erl e prepararcìo
sinrLrltarrearlentc uÌììa tesc sentimento. Husserl gosta de evocar a esse respeito o exernplo da IX
QurrrrcLr rcir;r paris. filàrr ir Sarrrc
crl História. Sinfonia. Esta pode se traduzir pelas irnpressões que experimento ao
lrrÌir rro Bec
t[. ,,,.,"ri. t;ìr;;;;;r'ì,ì,,a,',,,,,, no,_
cle Cu:. tta rru NIrLttll.:arn,tsse. petÌirrros.uq,,.tCìr,l. escutar este ou aquele concerto, pela escritura desta ou daqueÌa partitu-
especiaÌidadc cÌa casa. Aporrran.ln rUri.o, ra, pela atividade do regerte da orquestra ou dos músicos, etc. Em cada
o .rÌro,;;;; iiì"."ì",rrì". ru
( irru. \c \r)cc É rrnr lcrrc,lrrcrrulogisl:r, n,.,, caso, poderei dizer que se trata da ÌX Sinfonia e, contudo, esta nào se
e capirz .f" frn a"ri _U"","ï"
I'rzcr ir filr,"ofir dclc'. Sartre reduz a nenhum desses casos, se bem que pode a cada vez se dar neles
cmnalidccerr
t:litta 9 qttç cle brrr, rrra pnr. ,rrrrilo..rrro*, de errroq:ìo ao orrr ir aquilo. ÁJi inteiramente. A essência da IX Sinfonia persistiria mesno que as parti-
,.lr,screrc,r,,s objelos L.orrro
t t't c locrn;r. e tlc..c os turâs, oÍquestras e ouvintes viessem a desaparecer para sempre. Ela per-
p19çç5re cxlrrrr [ilo,r_,|ir..,,
Enr seguida, cÌescro,ernos sistiria não como realidade, um fato, mas como uma pura possibilidade.
aÌp presstqrostos fcn'rrenoÌógicos
il colnpreersão 6e se. méto4o Surrs para Não obstante, é essa pura possibilidade que me permite distingui-la de
imediato de outra sinfonia, mesmo que o disco no qual eu a escuto este-
ia ruim. (...) Vemos em que a intuiçãolz da essência se distingue da per-
A Base Fenomenológica cepção do fato: ela é a visão do sentido ideal que atribuímos ao fato mate-
rialmente percebido e que nos permite ider.rtificá-lo"ì 3.
( )or rro virnos
anteriontrcnte. a Fcnc_,mcnologia Nessa questão da essência, é necessário colocar que, se ela perrnitc
sc coÌlccntl.a no estudo
Icrrôrncno enquanto do
único e isoÌ identificar um fenômeno, é porque é sempre idêntica a si próprir, rrìr,
r . ,,, ,,,;;,,,ìos'l;'. i; ;'ilr: i::l:',: ,t;j,ïllï",rï,ft11,* iï importando nem os fatos tampouco as circunstâncias contingetttcs cÌc strt
/rrg'rs ;11, lerìpí) qlrc ferrônr.ro. \r" ,";;;:
ïiïi:.1j realização. Dartigues esclarece esse ponto: "Por nrais rìÌrrìcros()s (lu(
','".,r,o ;;ì. ..ï,,.",*, ,
sejanr os tempos e lugares em que se faìa do triânguÌo, 1)or Ìrllis rrrrrt t,
vill(l(Ìlllill /\ll(ilrsl(r,\rltl lìtrrrr r{rìrrUrr

sirs (lll( scjrÌìì its irÌscriça)cs dc lriângulo soìrrc os tlrraclros_ncgr os <lc loclas das 'coisas lìÌeslÌìiìs', isl<t tl' ll:l tt"' rt rr't
clo t;rtc tlc orttrl. Partircnos
ollrs do nrurrcÌo, é scrrpre cìo triângul<l que se tratâ"14.
crttluarntolercebida, do ato da percepção-da-nìâciciriì IÌo irtrtlìtrr, rlttt < rt
rrs csc

 l,'crrone noÌogia srlrgiu


nuÌn monento eÌÌl que erâ tratacÌo de vivência original a pârtir da quâl chegalnos a concebeÍ t"rr t 11111çi1it't rrrt
rrrrrrrcim autônorna o modo de aparecimento das Llma mâcieirâ rePreselìtadâ"ì6.
coiias; e suaÌ proposta,
irricirÌncnte clescnvoÌvida, era aqueÌa que djzja que o senticìo
cle ser e o Nesse ponto, voÌtamos à questão anteriormente citada da característi-
tlo lenôrreno não podiam ser dissociados. Como uma de
suas premrssas câ que o àb1eto adquire ao seÍ Percebido Pela consciênciâ Ele rìeixa de
llri.cip'is propu'Ìra retomar as coisas mesmas, esse fato tornou_se um de ,., àb1.to-p.nrudo, imaginado, reÌembrado etc. E, assim, será necessária
scus rnaiores determinantes.
uma reflexão constrita da análise intencional para que esse equaciona-
No entanto, para nos manter fiéis a esse princípio, não podemos
con_ Ìììento não se torne estéril, ou simplesmente uma merâ digressão carente
cebcr um ÌocaÌ onde as idéias pudessem ter residência. Se de sentido; es:a reflexâo Íaremos a seguir.
é como vivên_
cia na consciência que eÌas se dão a nós, a questão torÌra_se
constÍita nesse
ruspecto. Consciência é sempre consciência de aÌgo;
torna_se consciência
ao estar dirigida para um objeto esse é o princípio cla intencionaÌidarÌe
- 0 Método Fenomenológico
(veremos no item "método fenomenoÌógico,, , o.ráÌir.
intencional como
rrrn dor irrrlrurnentos de invesligaçào ienomenoldgica r. A Análise lntencional

De outra forma, o objeto só pode ser definicÌo a partir cle sua relação A análise intencional vai nos obriSar â conceber a relação entre consciên-
com a consciência. Torna-se, assim, .,objeto para um sujeito,,;
o objeto cia e obieto sob uma forma que certamente se mostrará distante e estra-
lão está preso nem contido na consciência como se estâ fosse una nha ao senso É interessante ressaltar que consciência e obieto
sula: ele adquire sentido enquanto objeto para una dada consciência
cáp_ "o-.t-.
não são, em distinção e efeito, duas entidades sePâradâs ra natureza que
ea
partir desta. o fenomenóÌogo trataria, na seqiiência, de reÌacionar' Consciência e

"Mas.pergunta-se-á", é Dartigues queÌn nos escÌarece, ,,o objeto se definem respectivâmente a partir dessa correÌação, que lhes é,
, clue dizer cÌos
.
obletos da percepção sensível?" Retomemos para este finr de certo modo, co-original. "Se a consciêrcia é sempre 'consciência-de-
um exemplo
corìcreto que IlusserÌ propõe: "Nosso oÌhar, suponÌramos, r,oÌta_se alguma-coisa' e se o obieto é sempre 'obteto-pâra-a-coÌÌsciência', é impos-
com um
sentimento de prazer pãra umâ macieira em flor num (...). para o ,úl qu" se possa sair dessa correlação, já que fora deÌa não haveria nem
iarclim
senso comum, taÌ percepção consiste de início em colocar consciência nem objeto"Ì7, afirma Dartigues.
en relação com
cssa macieira a consciência do sujeito pensante, o que
procluzirá na cons_ A análise intencional, dessa forma, deve elucidar a essência dessa cor-
ciôncia uma macieira representada conesponcìcnte à macieira
real.
relação, e isso é bastante pecr-rÌiar desse processo Nessa correlaçâo nào
(ìonseqüência: haveria duas macieiras,
uma no jar<Ìin e outra na consciên_ rprr... tal ou qual obieto, mas de alguma forma pode ser esteu-
cia. Mas surge a dificuldade: como podem essiìs duas macieiras
"p.trr
dido ,o ,,trr.tdo inteiro. A análise intencional conduz à "redução fenonrc-
constih_rir
uma só? Será preciso, corl PÌatão, imagirtrr una terceira macieira
que per_ nológica", ou à colocação da reaÌidade entre parênteses tal como a cotr-
trita conceber a identidade das outras duas e assim ao infinito,,l5. c"bJo r.nro comum, que é tanto a do cientista como a do ìrotrrc ttt
(orrr('
Diante dessa questão incisiva, é necessário recorrer à anáÌise intencio- comum. Tudo isso Ìeva-nos a pensâr que o suieito está no mu do
rrlÌ para uma eÌucidação clara e precisa. Da forna proposta por platão, em algo que o contém ou como uma coisa entre outras coisas' ;x ttlitlrr
não ;rtingimos a essência mesma da percepção da macilira, ,,A ,ob uà entre objetos, idéias e outros seres vivos' Nessc pttttlo' lrrz sr'
partir da "éu,
irrrálise intencional, não partiremos da,,,acieira em_si necessáÍia a rìeterminante de que o acesso à análise intenciortitl tt' ' ;""
da quâÌ nàr rrb._ (i' s( l:r
rììos, rÌem da pretensa mâcieirâ representada, da quaÌ sível se a consciência efetua uma verdadeira conversão, islo ' "rr"
nada sabemos mais st tt'lturtt tl't
pencìe sua creltça na realidade do mundo exteriot, palil

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uìc$rÌÌit, cotÌìo corÌsciôrìcia trlrrscentlcntaÌ. [)ara tlnto,
scr;í rteccsszirro A 0ntologia Fen0menológica de Sartre
rrssrrrrrir a condição de seres transfenomenais que se
percebern enquânto
Ícrrônrerros, selìdo, portãnto, um além deste. Sartre ó rprenr cìeternrina, atrar,és dc suas idéias, a qucstão cla trattsÍcro
"Sc, com efeito, a correÌação sujeito_obieto rncnalidade rÌo fenômcno de ser. Através cìessa cotrdição, conto virttc,s
só se dá na intuição origi-
n;íria da vivência (Erlebnis) de consciência, o estudo dessa anterionnente, o horrem pode seÍ percebido como o "ser qtte é, ttìo ttttr
correlação rnero conjunto de necanismos desprovido de sentirnentos, mâs tÌm ser
consistirá numa análise descritiva do campo de consciência,
o que con_ transferromenaÌ, que se peÍcebe eÌìquânto fenôneno e se amtucia no
<luzirá HusserÌ a definir a Fenornenologia como,a ciência
descritiva das fenômeno corìlo um aÌém deste"2l.
cssências da consciência e de seus atos,. Mas não se trata
mais aqui de
trrna psicoÌogia descritiva tal como a praticava Brentano, pois Ao expor os pressupostos do métoclo fenomeloÌógico, Sartre define a
a consciên_
cia contém muito mais que a si própria: nela só percebËmos existência en duas categorias: o "ett't-si" (en soí) e o "para-si" (pour soí).
a essência
darluilo que eÌa não é, o sentido mesmo do,lru.rão.- direção O "en-si" seria coÍespondente ao ttuiverso das coisas martcrìais (obietos,
ao qual
cla não cessa de 'explodir' (éclater), como dirá Sartre,,l8. árvores etc.), coisâs que se enconhant fora rÌ:r pessoa, tendo existêr.tcia em
si de modo intemporal. O "para-si" é o mundo da consciência - a existên-
A Redução Fenomenológica e seu Resíduo cia por si mesma, a realidade humana. A consciência, por otttro lado, seria
tun "ser-para-si", por ser auto-reflexiva e pensar sobre si mesma. (...) o ser-
 análise intencìonal, que vimos anteriormente, concluz
a uma distinção en-r-si; tampouco pode ser derivado cle uma posibilidade. O possível é
cntre sujeito e objeto (ou consciência e mundo), convergindo
assim para umâ estrutura do para-si; é dizer que pertence â outrâ região do ser. O ser-
unra correÌação n.rais original que a cìualidade sujeito_ob]eto
e sua tradu_ em-si não é jamais nem possíveÌ nem impossível: simplesmente é"22,
ção conceitual ern interior-exterior, unìâ vez que e no próprio interior da
correlação que se procede â sepâração cntre interior e exteiìor. Entretanto, "o ser do fenômeno não se resolve num fenômeno de ser"23.
No entan_ Em outras paÌavras, se é decididamente o ser que se manifesta, eÌe nào se
to, o acesso a essa dimensão só é possível se a corrsciência proceder
a essa mostra inteirarllente cm cada uma de suas manifestações. E, cìe outra
conversão, deixando senr efeito sua cÍeÌìçâ na realidade do
mundo exte- forma, tanporrco dircrros que o ser se cria a si próprio, pois cumpriria,
rior para eÌa meslnâ ser colocacÌa en sua condição transcenclental.
então, fazer uso de catcgoriz:tções que o distanciarianr de urna análise amiú-
A consciência, dessa forma, deixa de ser uma parte do mundo,
tomanda de. O ser não deve, zrssinr, scr rclacionado a nenhum princípio, cotno se
se o Ìugar de seu desdobramento no câmpo original
da intencionaÌidade. devêssemos deriválo cle aÌgturra possibilidade, ou então reconduzi-lo ao
"O rnundo não é assim nada mais do que o que eìe para ,O
é a consciência: necessário, visando eucontrar-ÌÌre iustificativa. EÌe é sinrplesrnente, sent
nmndo, na.atitude fenorrienológica, não é uma existência, mas
um simples nenhuma outra nzão: "lsto ó o qrÌc - er'Ì.ì tenÌìos âÌrtropomórficos -
fcrrôrneno"'19
expressará a consciência ao dizeÍ qrÌe o ser-etn-si está a mâis, ou seia. qtrc
O mundo com a redução fenomenológica peÌmâr.ìece taÌ como era, ele não pode absoÌutarnente derivar do nada, nem de outro ser, Ììerìì
conservando seus vaÌores e suas significações antigas: ,,... de um possível, nem de uma lei necessária. Dessa tlaneira, sem razão tlc
esses valores e
cssas significações e entÍe eÌas seu sertido da existência .fenô_ ser, sem relação nenhuma conì orÌtro ser, o ser-em-si estí deterrrritlttlo
são
nrcnolizados', isto é, desembaraçados da atitrrrÌe ingênua
que nos Ìevava Pâra a eternidade"24.
ir coÌocálos como sendo 'em si'
especulações Na estrutura imediata da consciência, Sartre identifica dttrts trttrtt lt
'
r cr;rrísicas que estorvavam,. .f l,lïï"ï:ïtilJff : rísticas básicas; a temporalidade e a transcendência. A cottsciôttc i,t trt,, s.
enceÌra nem coincide consigo mesma. E, ao projetlr.-st tttltttrt tlrt,l;t
climensão, origina o tempo e neÌe se atira. O tenlto, assittr, tt:ìo, rl, littt
do corrro unt fenômeno exterior à consciêucia; o tcrìÌl)o s( tr t r It ttIr ' ', I r t ttrt

7B
79
(.orsciôrìciir tlo lrorrrcttr: ,.lJlna
pc<lra exislc rìo csPlrço
lirrrilc,s dc srlr iircr. rlc ircorrlo corr os
A tlirrrer - (nrorlrrììos crtlcs, trlts -;lcrgullir l lcirlcggcr'- rtrrtlt. cslli o scrr sr,r,' l'or:,,
r,,,,,,,,,. r,rnrp,,rrco;;;;rï:Jilï:ï:ii;":ìï:ïi,::,:ïl:ìï::l:,:.ìï;:ì no linr clc contas, eÌc ó. O cdifício ó. Se aigo cxislc rlrrc l)(rl(r(.( :r (s\(,
rrrr'r tìir,ensào qrrc lrarrsce'de entc ó o seu ser; elltretarto não crrcontramos o scr <Ìentro rlcÌc"l'r.
r"u, lin,il",
Através dessas noções de ""r,rlr";;'l;r;"
temporaÌidacÌe tronra",rden.iu, Com efeito, os sentidos são cruciais para essa "presença do scr",;>anr rr
;r corÌr-
prcensâo do homem será
feita de modo Ìt;."," ,.;;;';r;:;ir* Ììossa aprecrÌsão de rrnr á nas coisas que nenhuma dissecação anaÌítica orr
pcÌo pensamento deterrninista, in,port^ descrição verl;al pode isoÌar. "Ouvinos" um pássaro voando, embora, estri-
no qual o tro_"nr t ,i"ìro,
. ,ro-rnnr"r- t:rnrente faÌando, o vôo não seja "audÍvel"; o nosso tato distingue irnediata-
de fatos enredacÌo,.n,n,,,.ìoìuì.ïiì,iÌ"",0"
i::ffi:::ì:ï: o" *,, nrente entre veludo e seda, "mas em que consiste a diferença de ser em um
e outro ente?" É urna te mpestade que se aproxima; foi uma tempestade há
A 0ntologia Fenomenológica uma hora. O que entendemos por ser do ente "tempestade", onde locali-
de Heidegger
lÌeidegger coÌoca ainda zanros o seLl ser? ljnra distante cordiÌÌreira recortada no horizonte á.
o que é que.a FiÌosofìa conciuz: .A
cura o que é o ente enquanto FìÌosofia pro- Revelará o seu ser ao viajante que saboreia a paisagem, ao distante meteo-
é. Á Filosofia está a can.-rntro
a caminho do ente sob o ponto -""""" ào ''" ,", ao "nt", roÌogista que preparâ serì boletim do tenrpo, ou ao agricultor que vive à
de u,rto do rJ,iu. sombra da montanÌra? A todos e a nenhum responde Heidegger. Pode
Para Heidegger, nenhum
deses cÌois legacÌos, o icÌeaÌista_nraterialista n.utito benr scr que cada um desses observadores esteja percebendo um
(ou) o a;"n,i1'"o_,ecnológico, e
sarisfaz a aspecto da corclilheira. Mas não se pode clizer que a soma desses aspectos
"o,ï;Ë;;,;ì lïl,tenu",
t;rrefa do pensamento. cJ p, ", constitna o ser do objeto3o.
"_il.;;;;ï;ï.ï:iïïj:lïl.i;l:,.ï1,ì,,ii,i,roJ").ï,';::ï:i,
FÌeidegger concebe coÌÌÌ O contraponto feito por l leidegger parâ â apreensão de determinado
serl emprecn,linr"nto .rr"n"iÌ :rì.ïooa, objeto nos dá a dimensão do leque de posibilidades que se abre à percep
sentido ainda a ser definido) 1nun,
as tiarltç0., ,,,"trfiJ
*""". ção. ExcÌuir detenr.rinadas possibilidades, ainda que sem uma exata dimen-
naram o ârgumento e a história
ocicÌentaisZi. ";;";;:ï u,,.
são real dos fatos, é enrpobrecer não apenas o fenômeno como também a
que proferimor, o ser d afinnado. Mas rrào apreensão em si. O próprio ctridaclo de Heidegger no sentido da palawa dá
.*^lï "r9",r"n,.nça
mos pâra indagar de nós nresn nos ciete_
parânretros da necessirÌacle cuidadosa e pormenorizada dos fatos.
:ttT * n,.
(rrzer o que e."-o "
-; ;; : ;;; ;ff-:: ï
S:ffi :i': ï,,.:1ï:':""'ï:ì:
E o sirnpler fito de nâo ì,,,lognr,r,;;:l;;,;ì ï
r", i,,,0r,n"" Notas
los exislenciais de nossl própria
exislência orr rrio existêrrcia _
tormal e substanciaÌrnente insepaúveis as cJrrar sào I A biografia de Fleideggcr é ernpanada por um acontecimento que seus adep-
_, rÌeÌn qrÌanto ao
entidade atriburdo ao mundo conceito de tos prctencÌeru redrrzir a unnrero cpisódio e seus opositores consideram a corr-
or e.qttaÌquer coisa
,,"",".;l; ;;;;;ü';ï ::ï ï'-l*
que dizelnos, nacÌa seqtiência lógica <Ìe suas icléias. Trata-se de sua adesão ao nazismo. Durlntc

:: j",: j
iìprendemos.
* P.*,"d, . q,,, Ì; ::,':ff :,;i;i":::Ëff
que pollco
: :::,,;,Jï jJ,,ïï
rnais é para rrós rJo tlue
r'ários anos, o filósofo marrteve siÌêncio sobre o assunto. Só em 1966, errtrcvis-
ta<ìo peÌa revista alenã Der Spíegel, consentiu ern abordálo, assirìì rÌìcsrro,
o som cÌe t,m, palrurr, sob a pronressa de as suas decÌarações serenr divnÌgadas apenas depois <lt trr;r
que nos coloca em perigo a
de servir unr
qlrmos com a nossa investigaçâo28.
,".r"-';;;" ;;;rì ;';;l,i, morte, cornpromisso efetivamente cumprido pela editora da prrblicrrç;1,,
,r."rr" I{cidegger srrbstitui [ìusserÌ, por recomenclação deste, como titulur rlrr r,rilt rlr;r
Prra melhor exemplificar,
Heidegger ilrrslra a sitriaçâo de !'ilosofia da Universidade de Freiburg. Ern l9ll, com FlitÌcr jri rr' 1rxl.r.
conrentário; "olhamos um corrr o scglnrìle foi noncado Íeitor, segtÌndo eÌe, indicado peÌos próprios profcss,,r'r,s, ,,,rrr,,r,
edifício ão
srlrs dimensões, características ",,,r"
Ì";; ;;;;.'i,u"li,n.rr,r,o, cjclos, então, de que cle era a úrnica pessoa em concliçixrs tk, r,vrl,rr ,1rr.
estruturais, conterido. por to<ìos os lacjos
a [Jnivcrsicla<ìe fosse desmanteÌatÌa peìa nova orclern polílit:r irrrl,lrrrrlrrrLr rrrr

80
81
r/t(ln.r r,^ròrnll,rirr

,,\lcrrarrlra. À frcrrlc
<la rcilori:r, llci<lcggcr a<ìerc [ornralrrrcrrlc to rr:rzisrrro, 14. Idem. ihiclem.
irrgr-cssarrclo no làrtido Nazista. No cliscurso de possc, apoltr a dollllina rilzrs- 15.ldem, ibiden.
lir corno ulterrrativa entÌe o cotnunisrìlo e o capitalisnìo. Pcrguntado sobrc os 16. Idem, ìbídem.
rììolivos (lue o Ìcvaranì rÌ retirar a declicatória a HusserÌ err Ser e lbmpo a par-
I7 . Idem, íbidem.
tiÍ d:r cdição dâ obra (19,11), Heidegger respondeu que as diferenças <kxrtri
5.
niírias cont seu antigo nÌestre sc acentuarant, partindo de Flusserì a irriciativa 18. ldem, ibidem.
de ronrpcr pubÌicamente a arnizade entre os dois. Ademais, a decisão de elirni- 19. Idem, ibidem
nar a dedicatória surgiu de un acordo enhe Heidegger e seu editor, desconfia- 20. ldem, ibídem.
SaÍtre nào crè na existêtrcia de uma
21. Existencialismo 6 Psicotercpía Op cít
do de que o livro não seria reimpresso caso permanecesse a reverência ao fiÌó-
sofo judeu. Heidegger acrescenta que proibiu quaÌquer propaganda anti-semi-
nahtreza humana, embora não negue tlma
condição hunana vãllda unÌver-
ta dentro da Universidade, alérr de impedir que os partidários do nazismo achar em cada homem una essência
salmente: "4Ìém disso, se é imposJveì
queimassem os livros de autores contrários ao regime. Ainda sobre esse episó- l.rt" , nahrreza huma.a' existe co.tudo uma universaÌidade
;ì;;;;;ì, q;
dio, existe o fato de que entre 19,15 e 1951, sob as leis de desnazificação esta- qne os pensadores de hoje faÌam mais
humana <ìe condiçao. Não é por acaso
beÌecidas pelas autoridades aÌiadas, Fleidegger foi colocado sob lzhnerbot natureza"'
facilmente d, cor',àição do homem <1ue da sra
(proibido de ensinâr enì quaÌquer instituição púrblica). Na medida ern que
22. EI Ser y Ia Nada. OP cit'
Sârhe tem posicionamento político bastante definido, posicionanento esse
que supera até ÌresIno possíveis contradições em seu pensalnento, essa qrÌes- 23. Idem, ibidem.
tão se torna aincla mais polêmica. Sartre, irreverentc e apontado por alguns 24.Idem, ibídem.
cor]ìo contraditório, apesar de a coerência scr virtu<ìc apeDâs dos nedíocres, 25. Exístencíalísmo 6 Psícotetapía Op' cit'
esteye sen'Ìpre presente com participaçiìo efctiva nos rnovinrcntos ern prol das
26. Being and Tíme. OP. cit'
causas justas e htrmanizadoras (Cf. O Que í) Iixisterrcíalísmo. Op. cit.).
27 . As ldéias de Heidegger' Op cít'
2. El Ser y Ia Nada. Op. cít.
28. Being andTime OP. cit'
1. O Exislencialismo d un Huntnìsmo.
29. Idem, ibidem.
4. Dartigues, A- O Que Ii) a l.bnonrcnologia. Rio de laneiro: Livraria Eldorado
Tijuca Lt<Ìa., 1973. 30. Idem, íbídem

5. O Que É a Fenontenología. Op. cit.


6. O Que É, Exístetrcialíuno. Op. cít.
7. ,\s ldéias de Sartre. Op. cit.
8. As Idéias de Sartre. Op. cít. p.20.
9. Beauvoir,5.1-|rc Príme of Lífe. Paris: GaÌÌimard, 1949.
10. O que ó a F'enomenologia. Op. cit.
ll. Idem, ibidem, p.22.
I Z. A palavra "intuiçâo" é empregada de modo diferente do sentido corrente do
ternro: 'i)ressentìnìento, captação mística das coisas". No carrpo cla Fenoure-
noìogia, trata-se da captação dircta do objeto por meios sensoriais e outros. É
o conÌrecilnento cÌaro, direto e irnediato da verdade.
11. O Que É a Fenomenología. C)p. cit.

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