Você está na página 1de 71

ffi

pmryBH$n* TüXT[JH[,
Hr§HHSü Eü eür§üm#§
ü nmmpftüuf'§ $gm

;I'"
§, nnrumrunnrs

1.2. Análise da língua com base na


1,3. Quando se estuda a lÍngua, o r
í
;lE
llolo Prévio
it e i nrpress ionar a quantidade
c1e
:'^:11'l :il,'lt::',t:::
d
,rfr,[i;ry:.""',j.ffi;';";;,-; que surgiram nesses ít]timos ""l":i
anos
tenlatruur LtL rutrulsv teses ( :---.'--^ ]].'.-
Bfa_ se U,enSinO,nO
textuats e
err torno da questão dos gêi-reros de
presencianclo unra espécie
sil. Podenros afirmar qtte
estar-t-tos
i'."'lt:,,]:. ",t:
ão' de e studosr" -á'"'',
' explo s
::::::: r::
.,,o,ffi;,"::Íi.'i:ffi'ü,1la,a"c1ostraba]1.rosémuitovariada
esquecer que
e não se pode esqlrcucr
- 1tUfii,1i: i:":::H;l'il:fti:
,Ltumuita '"i" fazer justiça a
e prover*orr. Não é possír'el
mas boa parte é repetitiva Pollco é convet-riente
;;';;;;;.,-,,,Uo breve como esta. N'Ías
essa proclução em
saberclesrraexistência.Daprociuçãomaisrecente,ressaltopelonrer.iosestas
recentes
poã"'a tl" g'^"d" proveito' Outros trabalhos
obras cuja leitura '"t
;;; .'istos bibliografia a.er:r .o
final'
;.1"". ''ra

ostt;;;; f"""""'"t=n';::'tt"dos sêneroso


Brzr:*rr.rr,charles(2005).clánerostextuaís.típifit:dçàoeítúeraçàoSà"P'rrrlo:cortez(l-lstaobra
tern umalto potcncial aplicativo'fiata ll,,,r',lor,o llra d' 1lo'iç:i. tl. rll'('r (lll'llllr) t tt"t io
ial filr;r \e t( r '
pritnciro c,r1rilrrl,, c c.\( ttr
degêr,cro.,,,,.,,,in'"*u,,,,"ii,"'i,,t"ll::;l';,.:;:;::l..:'ii;
\lo L\',ir,-t1",",,:,,r..r cLi,cro{/cr/rr.ric:1r,,ri,r
(:Rr>1,,\v).\(rJLrrti;tl,upt'ç\rr' l\ll ,1, rrab.rllr,,' c [.r1. dc
ortlro
c prolit't t Lorltlritra: l'rtttJltc;r" '\rlttcri'rtrt problullla do el]:itto')
congresso U" *u"t'"' t'tt't i't"U'ff'"' r'oltatlc'' Drtl't o l(í'rlL/
l' 1't'",'n' "lrrrr;''(-(/'1r"\/t\1i/'Ír\:
cHtsr"rr"'\'ct:tt'itl.,t',,''l"'':'
p'r"*' 't' " ''tr'i''i
c1a vitória:
;oltta""n e o'sestttrcla pr.cluzicla
a

e pÍátícd''
il*ão cspecial sobre tcrtras
pariir clo
" i"""' "1';ttil;t''ttt;n
t1á i'itái' - t'R e
ten uttrn seção

'""r"',l;:;t;;""'"*", (.Lgs ) (2006) oôtteros


Beatriz; Rni'r.. Karim siebeneicher
.rillj*lr:ii,\iriil]'l*"r.2*.
llio cle }arleir<l: ,,.,."'*..i0.,.,
coletânea é protltrto rl:rs
cclttfcrêtlci:rs
para
textuais: *1ln,a)., ,erro.irz<1. estuclos inportatrtes
u";eo tt" iiltn'in PR e cotrtóm
tlt u"] tnt'g""; '"t)it' *e"'"'ti' ,'",t. l|'o,'.uto etll tetrtto.s c1c gêleros tertltats
clo .1...-...,., senc]o t]ebatido
sc ter Lrtrta ideia
entre tlós )
(orgs ) (2ll"ff",:Í:ffi;ÍJL'li1,JÍ'
Niu.r.R. José L.iz;Boririr, Aciair;\'111-n31u'llesirée aclui lnals Íeccl
{'I'cmos 21

rlos, clebates Si" r]^tf c,' Par;ibola Erlitorial É :rconselh:i'el PrrÍir


(llrerr] qurser
,."rt", I..oi"
",,, ''ogr. Os tertos aprof'trdarn as tc.rtas e
co,, Lrr.21 n.r::,;:;';Jrr"'ãr, a. rrr,,"iro',r'.,"i, n,rtilr.
:rprof..clar "r',r*.i;i;:;i.u,
11.1o sàu rirrr|1" cctntrastíro'dc 2tncn' tcriua/Rio
de
e cctrta-conrcrcial: estuclo
Zl,loL'lo, Normelio 12005)E-inail de. tttur tcse de dotrtorado
EDUói: ;;'"",r',u^il'" é fruto
)aneiro e bem como uila an:ilisc
ten uila"r.I]i.l"i.íl;;",;r.
proveitosa introclução
tt"'i"li";";t;;;;';I; início'
e '"' gôr";;r;títrais, particulanuente as cnrtas coruetctats ett
.1",
bast:Irte clara do funciotlâilrento
."- ,r.i,t:';j:,,,pj.], """itt"aos i\ obra
é aconselhír'el
os e_ntails,qr.re são cornparaclos
do' gêr.rcros resses dois casos )
qrtet.u qrtiser;t*ffi;;;bltut"

Cornestasobtas,jápoclenlosfornarur'traicleiaclaraclealgrrrnasposi-
informação e
ã"'t"'"' série de novas fontes cle leitura'
ções recentt''
1i';;-;;
fclrmação,u"n',.n,,oalternatirascletrabalho.Aolol-rgodoCurso,cler,erenos
voitarr a esses estudos e seria âconseihá\'e1 sua leitura ató para urr
aprofunci:l-r-rento rur questão, tendo erri vista que hoje o ensiuo de língua ancla
bastante centrado er-n gêneros e isso não é tão sir-nples nenr pode ser realizado
c1c rnodo ingênuo. A coletânea organizacla por NÍeurer; Bonini & N{otta-Roth
(2005) contérn nma séric de estudos cuja leituia pode clar uma ideia bem
mais clara da clii,ersiclacle clc tcorias eristentes l'roje nos diversos países. Sua
leitura será aqui aconselhada de rrodo enlãtico porque pocle conclttzir a utn
aprofundar-neirto clos ternas centrais tratados.

2.t. O esludo dos gêneÍos nõo é novo, mos eslú no mdo


O estudo dos gêneros tertueris não é novo e, no Ocidente, ih tem pelo
menos vinte e cinco sécillos, se considerârnos qlle srla observação sisten-rática
iniciou-se eir
Platão. O que hoje se tem é uma novn visão do mesttto tcrna.
Seria gritante ingenuidade histórica imaginar que foi nos Írltin-ros clecênios do
sóculo )C( clue se descobrirr e iniciou o cstudo dos gêr'reros tertuais. Portanto,
un'ra ciificulclercle natural no tratamento desse tema acha-se na abundância e

dii'ersiclacle clas lortes e perspectir,'ers de análise. Não é possír,el realizar aqui


urn levantar-nento sequer clas perspectir'':rs teóricas atuais.

A erpressão "gônero" este\,e, na tradição ocidental, especialmente ligada


aos (gêneros literários, cuja análise se ir-ricia com Platão para se firrrar con't
Aristóteles, passando por Horácio e Quintiliano, pela Idacle N,Iéclia, o Renasci-
rrento e a Nlodernidade, até os prir-nórclios do século )o(. Atr-ralrncnte, a no-
ção cie gênero já não mais se vincula âper]âs à literatura, corno le mbra Su'a1es
(1990: l3), ao clizer que "hoje, gênero é faciln'rente usado para referir un-ra
catcgori:r distintiva de discurso cle clualqr-rer tipo, falado ou escrito, con) ou
sem aspirações lrterárias". É assirn qrle se usar et rroção de gênero tertr.tal ern
etnograrlla, sociologia, antropologia, retórica e na Iinguística. É r-resta Írltinra
que nos interessa analisar a noção de gênero.

É Aristóteles quc surgc una teorirr rnais sistemática sobre os gêneros


"nr',,
c solrre a natLrLeza clo cliscurso. No cap. 7 claRetórica [1358a], Aristótclcs cliz
clue há três elementos colnpondo o cliscurso:

(a) aquele que fala;


(b) aquiio sobre o que se fala e
(c) aquele a quem se fala.
Num discurso existclr'r, segundo Aristóteles, três tipos de ouvinte qlle operzllll:

(i) corto espectador que oll'ra o presente;


(ii) como asserr-rbleia .1ue olha o futuro;
(iii) cor-r'ro iuiz que julga sobrc coisas prrssadas'
E a esses três tipos cle iulgamenio Aristóteles associa três gêneros cle clis-
curso retórico:

(i) dísuLrso delíberatít'o;


(ii) discurso iudiciárío;
(iii) disciirso demonstrativo (epidítico)'

Do ponto de vista funcional, o discurso deliberativo setvia pata aconse-


lhar/clesaconselhar, e Voltava-se Pàlra o futuro Por ser exortativo por
natureza;

iá o judiciárío teln a ftrnção de acusar ou defender e reflete-sc sobre o


díscurso
passaclo, enquanto o discurso dentonstratiyo tein caráter epiclítico,
ou seitr, cle
oll censura, situanclo-se r-ra ação presente. Enl Aristóteles, terl-se urna
"logio no esquema
construção teórica associatldo foruas, fu|rções e tempo, que se vô
dc Reborri 11993).
OS TRÊS GÊNEROs DO DISCURSO SEGUNDO ARISTÓTELES

A r,isão cle Aristóteles sobre as estratégias e as cstrun.; :", gê,eros foi


clesen'olvicla arnplanente na Idacle N4éclia. Tornott-se inclusir''e a ênfase
pela
distirl-
qual a retórica ,. .l"r"rr"olueu e propiciou a tradição estrutural' Aristóteles
juitr entre a epopeia, a tragédia, a comédia, cttios tratados foranl colse.ados e

,i,,.1, , arLlética, o cJitírantbct e a citarística, cujas análises perderanl-se.

Hoje o cstudo dos gêneros textuais está lla nloda, Ilas enl perspectiva
cliferente da aristotéli.r. É o que Bhatia (1997) constata em sua revisão
sobre
t-naneira
o tet'na. Assitr, a erpressão "gênerrt" r'ern sendo atualrnente usad:r cle
cacla vcz ntais frequente e em nÍtmero cada vez n-iaior de áreas de inl'estiga-
(1977:629), trata-se cle "um conceito
ção. Para cancllin, citado por Bhatia
interes-
que achotL o sett tentpo". Fl n-ruitos estudiosos cle áreas diversas estão sc
sanclo cada vez mais por ele, tais como:
'lêóricos da literattrra, retóricos, sociólogos, cientistas da cognição, traclutores,
linguistas da comptttação, analistas clo discurso, especialistas no Ensirro clc Inglês
para F ins Específicos e professorcs de língua.

Isso está tornattclo o cstudo cle gêneros tertuais Llrl enrpreendimer-rto cada
\rez urais ntultidisciplinar. Assim, a anailise cle gêneros cr-rgloba urna anzilise cio
terto e do discurso e uma clescrição da língua e visão da sociedadc, e ainda
tenta responder a questões de natlrreza sociocultural no uso da lúrgua de rra-
neira geral. O trato dos gêncros cliz respeito ao trato cla língua em scll coticlia-
no nas mais divc-rsas forrnas. E se aciotarmos 11 posição cle Carolvn N{iiler
(198'+), podenros dizer que os gêneros são uma "lorma de ação social". Eles
são trnr "artefttto culttLral" importantc corno parte integrante da estrutura co-
municativa cle nossa socieclacle. Neste sentido, há rnuito a cliscutir e tentar
ciistinguir as iclei:rs cle quc gêncro é:

uma categoria cultural


um esquema cogniiivo
uma forma de ação social
uma estrutura textual
uma forma de organização social
uma aÇã0 retóÍica

certa.rente, gê.ero podc ser isso tuclo ao nesnlo tcmpo, iá quc, ei,
certo scnticlo, cacla trrn desses inclicadores pocle ser tido como urn aspecto da
obsen,ação. Isso dá a noção rnais :rprorimada da cor-npleridade da cluestão e o
porquê cla ausência cle trabalhos sister-náticos qlre até recenteniente desser-r-r
conta clo probler-na na perspectiva diclática.

L2 O esludo dos qêneÍos moslro o


Íuncionomenló do sociedode
T\REi-r'\ PÀR{ o l,S'|LIDO DOS t}ÊNERoS: para i,troduzir este capítulo, sugiro
a leitura clo texto de Charles Bazerman (2005: l9-46), intitulaclo "Atos de fala,
gêr'reros texti-rais e sistcr-nas de ativiclades: conlo os textos organizam atividades e
pessoas"i. Aqui se pocle observar os mais diversos aspectos relatir,.os aos qêneros eur

l. O texto crcolltra-se ern Charles Bazcrrnan (,20051. C)êneros textuaís, tipílicaçio e Lntcrttcclo
organizaqão: Ângcla I'aiva l)ionísio & Judith chambliss Hofliraqel.são paulo: Qortcz.
seLlhrncion:lrnento e a noção de fato socla/, berri como orttros conceitos básicos
para o trat:rrrento clos gêneros. Un-r fato social é acluilo ern qtle as Pessoas ;rcreditalr
e passaln 1toinar como se fosse vcrdacle, agindo cle acordo com ess:l crellça. N4uitos
fatos sociais são realid:rcles constitnídas tão somente peio discurso situado. Daí a

iniportânci:t clc se trabalhar esse aspecto central'

Para Bhatia (1997: 629;, os gêrleros pernlitem o tratamento da intrigante


e difícil questão que indaga:

Por que os nrernbros cle cornuniclacles cliscursir.as específicas t1s:lrl a língua tla tll:r-
rieira cottto o lazen?

Por exempio, por que todos os que escreverl Llma monogrdfid de final de

lrais ou rrel)os J r)e\nrJ ct-,isa] E a:sirtt tarltbelll ,o prortttttt'iar-


crrrso [azerrr
lros L1nlâ conferütcia, darmos ;inta aula expositfid, escrevelmos Ll,na tese de
dotLtorado, fazem'ios un] resur?o, tlrria resenltd, prodtlzimos te\tos sin-iilares na
estrlltula, e eles circulam em ambientes recorrctltes e próprios. Isso ocorre
tambénr nurta e lr-lpresa com os n-Letnordndos, os pedídos de venda, as promissó-
rlas, os cotúrdtos e âssint por diante. Vai ocorrer na esferâ jr-rrídica, na esfera
jornalística, religiosa e em todos os clerlais dornír-rios.

Na resposta a est:l indagâção estão envolr,idas questões ntais clo qlle tlperas
socioculturais e cognitir,as, como obsen'a Bl-ratia lI99i-:629), pois hál'ií ações clc
ordem coilllnicati\'â conl estratégias convcncionais para atir-rgir deten'ninados
objetiyos. Por eren-iplo, Llna ,r7o7?o grafia é procluzida Para obter uma nota, umt-l
publicidade sen/e para prorrover a \rencla de ttm produto, L\r7111 receit(l culinária
orientâ na coltfccção de itntzr conida etc., pois câda gênero tertual tenl um pro-
pósito bastmnte claro clue o cleterrlina e lhc dá Llma esfera cle circulaç:lo. Aliás'
esse serií rlm âspccto b:rstante interessante, pois toclos os gêneros tênt ttttla fotultr e
prna f1nção, ben como um estilo e um conteÍtdo, rnas sLla deteÍl-nitlação se clii
basicarnente pela fur-ição e não pela fonna. L)aí falharertt os estuclos estritarnerlte
forrlais otr estruturais clo gêlero. Tbnclo isto em visttr, Biratia (1997: 629) frisa:

Esse aspecto tático d:r constrnção clo gêncro, stta interpretação e ttso é provavclrrlen-
tc 1p clos f:rtore s mais reler,ante s p:rra clar cottta dc sua popularidade atual llo cilrlrPo

clos estuclos clo cliscurso e cla cotrittnicação.

E cor-1o ocorrc com toclos os conccitos ort áreas qrie setornarr popr-rla-
res, proliferzlm e \'âriant neles as teorias e as ilteipretaçõcs, o (+1e acaba se
transfornranclo nunr inconveniente para o estuclo. A i'ariação clos entendinlen-
tos eristentes é um problenai que ocorre hoje nos estuclos c1e gêneros que
recebern todo tipo de contribuição teórica.
Na realiclade, o est*do dos gêneros tertuais é hoje urra fértil área
interclisciplinar, colrl ater-rção especial pâra a lingr-ragern em funcionamcnto e
Para as atividades cuiturais e sociais. Desde que não concebantos os gêneros
como rnoclelos estanques nem cor-no estruturas rígiclas, nias con-]o formas cul-
turais e cognitivas de ação social (N4iller, 198,1) corporificadas na linguagem,
somos ler,ados â \'er os gêneros cctttto entidades dínântlcas, cujos 1ir-nites e
clenrarcação se tornârr flr-riclos.

Di:rnte desse interesse, pode-se dizer que ao tarnanho das preocupações tarn-
béir corresponde uma tau-nanha profusão de terminologias, teorias e posições a
respeito da questão. Em princípio, isso seria mrrito bont se não losse desnorteernte.
É q.,rse impossír''el hoje dominar com satisfatorieclacle a quantidacle cle sugestões
pâra o tratarnento dos gêneros textuais.

N,luitas são as perspectivas teóricas nos estuclos clos gêne ros. Podemos
aqui, brel'e mente, inclicar pelo menos algumas dessas linhas sem nos deter-
mos rnuito. Vou somerite situerr os autores e nacla mais. C) quadro a seguir dá
essa r.isão que pode ser tida con-ro rlma "tipologia de típologias"r. Dominique
N'lainguencau (2004: 107-108)iembra que há urna profusão c1e tipologias e
elas seguern en-i geral certos critérios clue c1ão uma orientação básica3. C)
problerna ó que essas tipologias não seLvem para entencler o luncionanteitto
clos gêneros e sin-i para entencler o que os autores estão fazendo perra agrupar
os gêneros. Un-r esforço qlre ne rn seilrpre clá certo. P:rra i\'{arir-rguenealt (2004:
108), o costLttne nais comurn na análisc c1o cliscurso é categorizar os gêneros
por critérios sittt:tciotrais, obse rvanclo-se os clispositivos cornunic:rtivos sócio-
-h istoricarnente clefiriidos.

2. Llssa arálise encontrâ-se em Bernard Schneuri.h (198(t't. Quelle ttpologie de textes prsLLr
l'ertseígnentent? Llne ttpcictgie de tt,pologies. 'ltxto apresentaclo ao Terceiro Colócprio Internacional cle
l)iclática do Francôs, NanLrr, Franqa.
3.Rcfiro-meaqui aotrabalhocleDominiqLrei\Iaingucneau(2t)(l'1) Retolrsurulecatógorie: le
gctrre. ln: Jean-N{ichel ,\clarn; Jean-Blaisc C}rize & Nlagid Ali Bonach;r (otgs.).Texte et discr.ttrs: ctrtégoríes
prttLr l'anah'se. Dijon: Liditions Universitaircs cle Dijon, pp. 107-t lE. O autor cita as segrrintes tipologias
desenvolviclas (p. I081:
( 1 ) Os tertos forau categorizacios conr base em critérios lirryuísticos: enunciação; distribuição

estatística clc rnarctrs linguísticas; organização tertual ;


(2J A classilicação pocle ser feita tanrbérn com critérios
frntcionais;
(3 t Às tipologias mais couplerns fitrtclam-se enr critérios situacionais: o tipo de atores sociais, as
cjrcttnsiânci:rs cla coururricacão, os papéis, soci:ris, o canal Lrtilizaclo, a tcurática;
('11 Tambén podcnos falar ern tipologias disctLrsivas: cornbinanr características lingrrísticas, fun-
cionais e sitttacionais. Aqui tem-se categorias rnais amplas, tais corno "cliscurso cle vulg:rriza-
qão", "cliscurso jornalístico" etc.
Luir Àntônio lJkrrusthi I Ptoduífro Íexlusl, onrilise de gênero* e eoírpreensto

z.r Algumos perspedivos poÍo o esludo dos gênêros


O cstuclo clos gêneros textuais é n-iuito antigo e achava-se concentrado na
literatura. Con-io r.intos, ele surgiu con-r Platão e Aristóteies, tendo origem en]
platão a traclição poética e em Aristóteles a traclição retórica. Agora szri clessas
fi-ontciras e venl para â linguística cle maneira geriil, rnas err-r particulâr nâs
perspectivas discursivas. Veiamos primeiro como se aciranl essas correntes hoie
no Brasil, onclc temos r,árias tendências no tratamento dos gêneros textuais:

i ) Urua linha bakhtiniana alimeltada pela perspectiva de oricntação


r1,gotsk1,ana socioconstrutivista da Escola cle Ger-rebra representalda
por Scl-rneurvl-v/Dolz e pelo interacionismo sociodiscursivo cle
Bronckart. Essa linha de ctrráter essencialmente aplicativo ao etlsino
rle lír'rgua materna é desenvolvida particularmente na PUC/SP.
2) Perspectir,a "srvalesiana", na linha cla escola norte-atrlericana mais for-
pal e influenciacla pelos estudos cle gêneros de )otin Srvales (1990) tal
conlo se observa nos estudos da UFC, UF SC, UFSM e outros polos.
j) Una linha marcada pela perspectiva sistêmico-fttncioual é a llscola
Australi:rna cle Sydney,, alimentada pela teoria sistên-rico-funcior-ialista
de Halliclav corr interesses lla análise linguística dos gêneros e influ-
ente na UFSC.
4) Uma quarta perspecti'a nlenos narcacla Por essas li1has e mais ge-
ra1, cor-n influências cle Bakhtir-r, Aclam, Bronckart e tarnbérn os nor-
te-americanos como Cl-rarles Bazerr1tan, Carolyn Miller e outros in-
gleses e austraiianos como Giinther Kress e Nornan Fairclough, é a
que se l'eut desenvolvenclo na UFPE e UFPB'

De maneira geral, o que se tem notaclo no Brasil foi uma eltorlrle prolife-
ração c1e trabalhos, inicialn'rente na linha cle Swales e clepois da Escola de
Gelebra com influências cle Bakl-rtin e hoje com a influência cle norte-ameri-
calos c cla análise cio cliscurso crítica. Corno Bakhtir-r é urn antor qlle âPenas
fornece subsíclios teóricos de ordem macroanalítica e categorias nais anplas,
pode ser assinilaclo por toclos de forrna bastante proveitoszr. Bakl'rtin represen-
ta nrna espécie de bon-senso teórico en-r relação à cor-rcepção cle linguagen'r.
Ao laclo em cltrso no Brasii, poclemos, cle um moclo
dessers perspectivas
mais arnplo, inclicar algumas perspectivas teóricas ert cllrso internacionalmente:

(a) irci',1tcr'{ii a si;i:io-lrislcricr t' r'iial,igii,a (Bakhtin),


(b) pi-r . pci, fi r ;r t oilrriricai.ir rr (Steger, Giilich, Bergurann, Berkenkotter);
(c) pt,rslrii.rir;i sr:iinrici;-t1illir,nrt1 (Hallicla,v): aná]ise cla relação texto e
contexto, estrLltura esquemática do terto e.r estágios, relação
situacional e cultr-rral e gênero corno reaiização cio registro (Hasa1,
Martin, Figgins, Ventola, IJoer,, Dudlel.Evans);
(cl) perspectit'a sociorretórica de caráter etnogr;ifico voltacla para o elsi-
tlo de segttnda língua (Sr,r,aies, Bl'ratia): basicarrente, analisam e i{e1-
tificarn estágros fmovit-nentos e passos] na estrutnra do gênero. Persiste
um caráter prescritivo nessa posição teórica. Há tarnbér-n preocupa-
ção com o aspecto socioinstitucional clos gêneros. Vinculação parti-
crtiar com gêneros do domínio acaclênico e forte l,inculacào ilstitr-rcio-
nal. Maior preocupaçào conl a escrita do que conl â oraliclacle. Há
una visão nitidarnente marcada pela perspectir,,a etnográfica cou-i os
conceitos de comunidacle, propósito cle atorcs scici,is;
(e) perspectjr.a irtteracionist;r e sociocliscrrlsii';r c1e cariítcr psicolingrrísticç
c ateDcão ciidrítica roltaci:r para língLra rnntenrrr l(Bronckart, Dolz,
Scl-ir-icuu,lv): conr r.inculação psicológica (influêr,rcias de Bakhtin e
vl'gotskr') estão preoc,paclos en-r particular co,l o ensino clos gêne-
ros na língua materna. Prcocupação naior com o ensino lilclamen-
tal e tanto conr a oraliclade conlo iI escrita. A perspectiva geral é cie
caráter psicoiingr-rístico ligaclo ao s,cioi.terarcio.is,ro;
(fl ar:iiisc criiica (N. Ir-arrclough; G. Kress), para a qual o
PCr,ci)cLrii\rr rla
discurso ó utlla prática social e o gêncro é urra maneira sclci:rlnreltc
ratificada cle usar a língua com Llnr tipo particular- cle atir iciacle social;
(g) Persllec'tilri socior:-ctórji,a;'.rccio-histriric:r c cirltlrr:r1 (C. NIilicr,
Bazerman. F-recch-nan): escoin arnericana influenci:rcla por Bakhtin,
nras cn) especral pelos antropó1ogos, sociólogos c etnógrafos, pre()-
cupa-se coln a organizacão sociai e as reiações cle poder que os gêne_
ros ellcallstllarll. Tem ttrnn visão histórica dos gôneros e os torla coruo
:rltamente vinculaclos com as instituiçõcs que os procluzem. À atencão
t'tão sc volta parao ensino e sim para a compreensão c1o fnlciola-
nrento social e histórico, bem co.ro sua rclarção com o pocler.

I"ic1ue, no entanto, claro qr-re esses enqlradrcs são prec:irios, tenclo c11
Yista o fato dc não represetttarenr de mocio cornpleto toclos as possibiliclacles
tcóricas eristentes tto uotnento. 'lirnrbérn não é nrna classific:rção rígicla, rnas
aberta e sr-rjeita a cliscttssão. I'or fim, seria interess:rnte lnzer cssa classificação
cotn base cnt critórios tnais finos c tcoricamente nrais cletalhaclos, o que aqui é
totalmente intpossír,el.
24 llo,rõo,d? gÇpero lexluol, tipo lexluul
e domínio distursivo

Urna das teses centrais a ser defenclida e adotacla aqui é a cle que é impos-
sír.el não se cor-nulticar verbah-nente por algun'r gênero, :tssin'i como é impossí
vel não se cornuriicar verbalrnente por algum texto. Isso porque tocla a rnzrnifes-
tação i.,erbal se dá sempre por nreio cle tertos realizaclos em zrlgum gêr'rero. F-,nr
outros tcrmos, a cornunicação verbal só é possír'el por algurn gênero tcrtr-ral. Daí
a cer-rtraliclade clzr noção de gênero terhLala no trertci sociointcrativo da proclução
linguística. Enr consequência, cstamos subrnctidos a ta1 r.;rrieciade de gêr'reros
tertnais, :r ponto de iclentificação parecer clifusa e aberta, sendo eles inútrne-
sr-ra
ros, tal cono lembra muito bcrn Brrkhtin t19791, mas nào infinitos.

Quanclo clourinanos um gênero tcrtual, não clominât-Iios Lllrrtr forttt:-t


1ir-iguísticit e sin-i ur-na forn-ia de realizar linguisticamente obietivos específicos
em situaçõcs sociais particularcs. Esta icleia foi cleftndicla cle nraneira simiiar
também por Caroh'n N1iller (1984). Como alirmou Bronckart (1999: 103), "tr
apropriação clos gêneros é unr necanisrno funciamental c1e socialização, de
inserção praitica nas atividades comunicativers htrrnernas", o quc perrnite ciizer
clue os gêneros tertuais operarn, em ccttos contertos, como forrnas c1e
legitimação cliscr-irsiva, já quc se situar-r-r numa relação sóciolistórica cour fon-
tes cle produção qtre thes c1ão sustcntação alérn cla iustificativa indiviclual.

Para deirar aiguns conceitos claros nest:r erposição, trazentos ulnrls pou-
cas definições com as quais clepois \'ânros trabalhar perra obserr.'ar a possibili-
clacle cle tracluzir isso para o ensirro. \êjamos de rrtaneira nrais sistemática
conro clevemos entencler os ternros que estamos usanclo, j:i que eles rarzrrnente
são definidos c1e modo crplícito.

a. i; :,'' ' , rclesigna una espécie de construção tcórica {em geral nrna
scquôncia subjacente aos tertos) definida pela natltreza linguística de
sr.rár corrjposição iaspectos lericais, sintiiticos, tempos verbais, relaçõcs

1ógicas, estilo]. O tipo c:rracteriza-se muito rnais conro scquências


linguísticas (secpências retóricas) do clue corro tertos m:rtcri:rlizaclos; a
rigor, são moclos tertuais.Err gera1, os típos terhLais abrangen-r cerca c1c
rreia <iírzia de categorias conhccidas como: narração, argtnrctúação,

-i.\:iorarrostliscuiiraqui seém:rispertinelteacrprcssão"gônarolertttr:tl"ou:tc\prtr\\iiu gcr?r/o


<líscLLrsít'o" oLt "gêtterct cLo cliscrLrsct". \irnros adotlr a posiç'ão clc quc toclas essas e\l)ressa)es poclettt scr
usaclas intcrcaurbiarcLncrtt', salr'o naqrreles norrentos crl qlrc se pretencie, cle modo erplícikr c claro,
i, lt I rl i I it,tt ;tlgt tt t t lL t lIt r rr I D $l)e( tii,'o
exposição, descrição, injunção. O conjunto de categorias para designar
tipos textuais é limitado e sen tendência a aumer-rtar. Quando predorni-
nã urn moclo num dado terto concrcto, clizentos qlle esse é lrr-n texto
(trquntentotito on ttdrÍúlilo orr crposifi r o orr descritit'o otr irr jtrttlivo.
(icrilr.o tcriLr:rl relêre os tertos rnaterializzrdos em situações cor-lluticâti-
vas Íecorrentes. C)s gêncros tertuais são os tertos que encontrantos enr
cliiíria e qlle rtprcsent:rn paclrões sociocornrnicatiios caracte-
r-rossa vici:r
rísticos clefiniclos por composiçÕcs ftrncionais, objetir.os entrnciativos e
estilos concretnrnente realizaclos n:r integração cle lbrças históricas, so-
ciais, institucionais c técnicas. Em contrapclsiçãcl aos tipos, os gêneros
são entidacles empíricas em situações corru-rnicatiras c se e\pressaltt enl
clesignacões cliversas, constituinclo em princípio listagens abert:rs. Àlguns
ereruplos de gêneros tertuais serianr: telefcnenm, sennão, ccttÍd conrcr-
cial, carta pessoal, ront(tnce, bilhete, repcnlagem, artla expositit,ct, reuníão
de condonúrrio, nr:tícia jomalístíca, horóscopo, receita culináría, btLla de
reméclio, listtr de contpras, cardápio de restaurante, instntções de uso, irt-
quérito policial, resenha, edital de cotTclrrsoT piacla, conrersação espontâ-
nea, conferência, carÍa eletrônicct, bate-papo por ccurtptLtador, atLlas tir-
ttLais e assirn por cliante. Como tal, os gêneros são formas tertuais escri-
t:rs ou orais bastante estár'eis, histórica e socialrnente sitr-radas.
C. i !,r'i :rtr, iliri,'i;.,t,:, constitui rnuito mais urla "esferrt da atividade hu-
-:1

mana" no senticlo bakhtrniano c1o terrno do que um princípio c1e clas-


sificaç:1o dc tertos e inclic:r instâncias disurrsiyas (por erernplo: ciiscur-
so juríclico, cliscr-rrso iornaiístico, cliscurso religioso etc.). Não abrar-ige
urn gênero em particular, mas dá origem :r r,ários dclcs, já qrie os gêne-
ros são institucion:rlmente marcados. Constituent práticas discursii.rs
nas cluais podenros identificar r-rnr conjunto cle gêneros textuais qr-re às
vezes thc são próprios otr cspecíficos como rotinas con-runicatir,as
ir-rstitncionalizaclas e instauracloras cle relac.'Ões de poclcL.

Para clcfencler essas posições, adrritinros, corn Bakhtin? qrle toclas :rs ativi-
clades hutnanas estãci relacionaclas âo uso da língua, qlre se efetiva atrar'és de
cttttnciados (orais e escritos) "concretos e Írnicos, (iue erranarn dos integrantes
clc ttt'na ou cle or-rtra esfera da atiriclacle hrrmana" (1979: 279). Ii com essa
posição teórica chegamos r'i r.rnião c1o gênero ao seu enr.olvirnento social. Não
se pode ttatar o gênero dc cliscrrrso inclependcnternente cle sua realid:rcic so-
cial e cle sua relação com árs atiridacles irnrnanas.

Na rcaliclacie, o estudo clos gêneros tcrtu:ris é nnra férti1 rirea interdisciplinar,


com atencão espccial pirra o func ionanrcnto c1a 1ú-rgri:r e pilr:l :rs atir iclacles culturais
c sociais. Desde que não conccbarrios os gêneros collto moclelos estanqttes,
1elr con']o estrutulas rígiclas, rl]as como fotu;rs culturais e cognitivas cle ação
social corporificadas cle inodo particular na linguagem, tentcls c1e ver os gêneros
como entidacies dinârnicas. I\llas é claro que os gêlcros têu r.tma identidade c
eies são entidades poderos:rs cille, 1lâ proclução tertual, nos conclicioltAlll il esco-
l1-ras que rtão poclern ser totalrncnte livres ncn aleatórias, seia sob o ponto clc
vista do iérico, grau cle formalidade ou natureza clos tettttrs, como bctr lernbrel
Bronckart (2001). C)s gôneros limitam lross:l âção na escrita. Istci faz com qtlr:
Arny Devitt (1997) iclcntificlue o gênero colllo lloss:l "lhtgtragem estancldr", o
J.
que por nn 1aclo in-ipõc restrições e padronizaçõcs, rtáts por otttro laclo é urn
convite a escolhas, estilos, cri:rtividaclc e variação.

Veiamos agorâ Llnr sinrplcs erenrplo pitlâ ter cltrra a clucstão rclatii'a à
inserção clc sequôncias tipológicas (os rloclcis terttt:ris) sttbjacentcs à orgirniza-
ção ir-iterna cio gênero. Isto scn'e Paril CglllPIo\'âI que os gêneros tttio siir, sP05-
tos a tipc-rs e cltre antbos ltào fonnrlm Lrlla clicotorria e sint sãcl cornpleulent:t-
res e integraclos. Não subsistenr iscilaclos nem rrlhcios Ltlu ito outto, são formas
cortslittrlirrt. tlo lerlo .,tt [tttt.. iottattteltlo.

(lost:rria cle fiisar ulrr poLl(o m:ris csse irspecto pela sr-ra iruportârtcia: n;icr
clcvenros irnaginar que a distiirção entrc gênero e tipo tertual lc,rr-ne tttlla visãcl
clicotônrica, pois eles são clois:lspectos cor-rstitutivos c1o furcictttatrtcttto c1a lírl-
grla enr situaçõcs cornunicatir,as cla r,ida diária. Corno air-rc1a vcrernos, todir vez
qr.re clcsejarrios procluzir- algurna ação linguística enr sittração rea1, recorietllcls
a alguru gêncro tertual. Eles são parte integrante cl:r socicclade e ttão aperlas
elemcntos clllc se sobrcpõeru a ela.

Veiarnos agora unra ccu'td pessr,ta/. observanclolhe as seqttônciets trpcllógicas


subjacentcs. Seria muito interessirnte re:ilizar estttclos r.ariaclos dc gêttelos par:l
ider-rtrfrcar ciuais são as sequôncias nrais conltlIIS etl cacla ttrr cleles. Isso perrtti-
tiria obscn,er não apenas as estrLlturas tertriais, tnas sobretuclo os atos retóricos
praticaclos Iros gêneros.
Exempto (2): NELFE-003 - Carta pessoal

Sequências j
:

Gênero textual: carta pessoal


tipológicas
Descritiva Rio, 11/08/1991

lnjuntiva Amiga A.P


0i!

Para ser mais preciso estou n0 meu quarto, escrevendo na escrivaninha, com um Micro
System ligado na minha frente (bem alto, por sinal).
Está ligado na l\rlanchete FM - ou rádio dos funks - eu adoro funk, principalmente
com passos marcados.
Expositiva
Aqui no Rio é o ritmo do momento... e você, gosta? Gosto também de house e
dance music, sou fascinado por discotecasl Sempre vou à K.l,

Narrativa ontem mesmo (sexta{eira ) eu fui e cheguei quase quatro horas da madrugada.

Oançar é muito bom, principalmente em uma discoteca legal, Aqui no condomínio


Expositiva
onde moro têm muitos jovens, somos todos muito amigos e sempre vamos todos
juntos. É muito maneiro!

Narrativa C. foi três vezes à K.1.,

lnjuntiva pergunte só a ele como é!

[stá tocando agora o "Melô da Mina Sensual", super demaisl


Expositiva
Aqui ouco também a Transamérica e RPC FM,

lnjuntiva E você, quais rádios curte?

Demorei um tempão pra responder, espero sinceramente que você não esteja
chateada comigo. Eu me amanei de verdade em vocês aí, do Recife, principalmen
te a galera da El vocês são muito maneiros! l\,leu maior sonho é viajar ficar um
Expositiva tempo por aí, conhecer legal vocês todos, sairmos juntos... Só que não sei ao certo
se vou realmente no início de 1992. Mas pode ser que dê, quem sabel /.,,...,,...,.,/
Não sei ao certo se vou ou nã0, mas fique certa que farei de tudo para conhecer
vocês o mais rápido possível. Posso te dizer uma coisa? Adoro muito vocêsl

Agora, a minha rotina: às segundas, quartas e sextas{eiras trabalho de B:00 às


1/:00h, em Botafogo. De lá vou para o T., minha aula vai de 18130 às 10:40h. Chego
aqui em casa quinze para meia-noite. E às terças e quintas fico 050 em F. só de
Narrativa 8:00 às 12:30h. Vou para o T.; às 13:30 comeÇa o meu curso de Francês (vou me
formar ano que vem) e vai até 15:30h. 16:00h vou dar aula e fico até 1/:30h. 1i:40h
às 18:30h faço natação (no T, também) e até 22:40h tenho aula, /,..,,..,,.,,...,,./ 0ntem
eu e Simone fizemos três meses de namoro:

lnjuntiva você sabia que eu estava namorando?

Ela mora aqui mesmo no ((ilegível)) (nome do condomÍnio). A gente se gosta


Expositiva muito, às vezes eu acho que nunca vamos terminar, depois eu acho que 0 namoro
não vai durar muito, entende?

0 problema é que ela é muito ciumenta, principalmente porque eu já fui afim da 8,,
Argumentativa que mora aqui também. Nem posso falar com a garota que S. já fica com raiva,
-1.................t
Narrativa É acho que vou terminando

escreval
Faz um favor? Diga pra M., A. P e C. que espeÍem, não demoro a escrever
lnjuntiva Adoro vocês!
um beijãol

Do amigo
Narrativa PP
15:16h
É notár,el a l'ariedade c1e sequências tipológicas nessa carter pcssoai, crn que
preclorrinam descrições e exposicões? o qLre é n'ruito comllm pârâ o gênero. Esse
tipo de aná1ise pocie ser clesenvolr.ido com todos os gêneros e, clc rnaneira gera1,
vai-se notar que há ur-na grande heterogcneiciade tipológica nos gêneros tcxtr-rzris.

As definições acpri traziclms c1,e gêrrcro, til:o, clonínio discursiyo são muito
ruris operacionais do qr-re lormais e segLrenr de perto a posição bakhtiniar-ra.
Assirn, pârra a noção de tipo tertttal, predonrinâl a iclcntificação cle secpências
lirrgrrísticas conro norteaclora; e pâra a noção dc gênero tertual, preclominanr
os critérios cle padrõcs cornnnicativos, aqões, propósitos e inse rção socio-histórica.
No caso dos donlírtios disctLrsbos, não liclamos propriarrrente collr tertos e sirn com
formações históricas e sociais que origin:rm os cliscursos. Eles aincla n:lo sc achanr
bem definiclos e oferecerr alguma resistência, mas segurerlrente, sua clefinição cleve-
ria ser rur base de critérios etr-rográficos, antropológicos e sociológicos e históricos.

Enr trabalho sobre o domínio pedagógíco, Kazue Saito N,lontciro cle Barros
(2004)5 sugcÍe r.ários critérios para o tratamento clos domínios e conclui afirrnan-
c1o clue:

,.i  tlusüa de definiçãn do donrínio pedasógicü (nu qualquer dornínin) r.i*vc partir de
diferentes peí§pertivas de observaçã0, considerândü âspecto§ fnrmais, funcinnais e
rfintcxtos de eirculaçãu" Vistos isoladaffente, nsnhilm dns critérios parere s*r sufiei'
snte para definiçã0.
É urgente (re)pensar o eonceito de domínio ern bases rn*nüs intuit;\râs, atraves da análiss
detalhada rle gôneros que parecem enmpartilhar earacterístieas {nac sú fnrmais) {:ümuns,
'- Â análisr deve priorizar 0 p0nt0 ele vista dr:s intaractantes, ohsrrvanrio âs mâreíls quÊ
deixam no discurso"
l{a don:ínio perlagógico, 0 asfrecao formal mais nhservado em esludns anterinres igênerr:s
da aralirlade) *
a organizaçãc dos turn*s -
não e (obviamente) rlefinitivc, mas pede
a;:rcs*niar esp*eificidades.
llc dnmínir pedagógica, CIs papúis §$üiâis sãú ben: marradcs e pndem ser ev*cados em
situaç*es ele c*nflito, deixanck: marnas fr:rmais n0 t*x10.
Itl* rir:mínio ped;lgogir{r, a interação envolve regras especiais e partieulares qur cs parici-
pantes runsideram n* jLrlganrenir d0 que sãü contrihuições permitidas na etividadc.
Nr: rinrnínio pedegóg!üü, a interação ineorpora rÊgía§ "tóenira§" esp{:ríÍieâs qLle se eonereli
raír 8í11 r1lâí'ca§ f,lrlxais nos textü§, p*r exemplo, ü eíxpreg0 de termes ternicns c elcilttiiOüs.
ü interessante nãn e desrnhrir que estruturas sãfl lípiCIâs ou exclusivas dn rliscurs* peda'
gúgier, mas identifiear pürqile elas sã0 recürsnt*§.

i. Kazrre Saito \lorrteiro cle Barros i2lli)'{t. (lárieros tcrtuais do clornín.io pedttqógico: (tproiilt(.t
çc)es e clít'ergêttclas. À1>r-escrrt:rilo n:r \\ ,}ornacla Nacioral de EstLrclos l,irguísticos do GFll,\F,. ]oãcr
Pcssoa: Uuilcrsidade l,'ecleral da Paraíba. I a l0 dc sctcrnbro de 20(l-{
f á cor-r'r estas observações poder-nos notar que não é fácil deterr-ninar para

cacla clomítrio cliscursivo suas coordenadas, tenclo em vista o conjunto de variá-


veis a serem observaclas. N4as seria reler,ante e de interesse tratar a questão de
modo mais sistenrático e menos intr-ritiro. Flsse é Lur campo aberto ao debate
c à investigação.
Por todas essas obscn,ações, já poclenos afirmar qlre os gêneros não são
entid:rclcs forr-nais, tnas sirtr entidades corrunicatil.as enr quc predor-ninam os
aspectos relativos a ftutções, propósitos, ações e contetidos. Nesse scnticlo, pocle-
-se dizer clue a tipiciclacle de unr gêirero venr c1e suas caractcrísticas funcionais e

organização retórica. Segundo sugestão cle Carolr.n N{iller (1981), os gêneros são
fcrrruas r.erbzris cle ação social estabilizadas e recorrentes en-r tertos situados enr
corruniclacles de pr:iticas err donríuios clisctrrsivos especiticcls. -\ssir-n os gêneros se
tomatn propriedacles inalienár'eis dos tcrtos empír-icos e ser\iem de guia parâ os
intcrl«rctttores, clando intcligibilidade às ações retóriczrs. Resunriclarnente, poclcria
<1izer que os gêne ros são entidacles:

a) dinâmicas orientadas para fins específicos


b) históricas ligadas a determinadas comunidades discursivas

E
c) sociais ligadas a domínios discursivos
d) situadas recorrentes
e) comunicativas estabilizadas em formatos mais ou menos claros.

As distinções entre rtnr gênero c outro não são predoninantemente


linguísticas e sim funcionais. Jai os critérios para clistinguir os tipos tertuais
scriarn linguísticos e cstruturais, cle rnodo qlle os gêneros são ciesignacões
'.: r , ,,i e os tipos são clesignaÇões i ',' ,..'Iernos ntuito rnais designa-
çires par-a gêneros corlo manifestirções empíricas do quc para tipos.
Os gêncros tertuais são dinârnicos, c1c complericlacle variiir,el e não s:rbe-
llros 2ro certo se é possír.el contá-los tocios, pois como são sócio-1-ristóricos e
r.arriár'eis, não há conio fazer nma lista ftechacla, o clue dificulta ainda mais sua
classifrcaqão. Por isso ó nruito difícil fazeL uura classificação de gôneros. Ali:is,
qttarlto a isso, hoie não ó mais Lrlna preocupação dos estucliosos fazcr tipologias.
A tendência hoje é crplicar como eles se constitr:crn e cir-cularri socialnrcnte.

Retor-nando ao trabalho de Nlaingtrcneau (2004't, iá citaclo:rqui, iernbro que


o :rutor scllpre loi cétrco rluanto à classificação clos gêneros. lirn artigo clc 1999ú,
cle pr«rpôs ttmit dirisão clos gôneros enr três grancics conjuntos cle arcordo cor-r-r o
sct"regime de genericidade" , ç1o segrrintc rnoclo:

6. l)onrirtiqire \ [:rir tgtteueat t r I 999 i. .\na]r sing Sclf-Constitutirrg i)iscor-rrscs. Dlscour.-e SÍrir/le s,
rol. 1. l( 1999):1;;-l9t)
(a) Côrrcros autorais: são os tertos que rnantêm nm caráte r de autoria pelos
traços cle estilo, caráter pessoal e se situam ern especial na literatura,
j ornalismo, pol íticer, religião, filosofia etc.
(b) Cêneros rotineiros: são os colluns de nosso dia a dia, tal como aclueles
que se realizam en entrevistas radiofônicas, tclo''isil'as, fornalísticas,
corrsultas, n-iéclicas, clebates etc. Seus papéis são firaclos a priori e
não rnnclam rnuito cle situação piira situação e r-reles as marcas auto-
rais se nanifestam nlenos. Têru uma estabilidade institucional bas-
tante clefir-rida.
(c) Cêtreros torn,erscrciotzals: são os gêr-ieros de r-nenor estabilidade e serrr
un-ra organizaçãcl tcrnática prcvisír'el como as corversações. Ern serr
conjunto, são de clifícil clistinção e divisão cor-no gêneros em catego-
rias bem clefinidas.

Esta classificação foi r-r-roclificacia pelo autor, pois, segundo ele, a tripartição
ircpi postr:lacla não era pertinente (N4eringucncall,2004: 110). O próprio ter-
tno "rotineiro" não p:lrecc aclequaclo, já que daria a in-rpressão cle clue as conver-
sações não seriarn rotineiras qnzrndo cl:rs são rotinas muito con'iLrns. N.las o mais
cornplicado era distinguir cle m:rneira tão rigorosa entre os gêncros autorais e os
gêncros rothrcíros, pois uma crônica jornalística tern sern dÍrvida lrarcas lltrtc»ais
e não pocleria ser incluícla no primeiro conjunto. Assirrr, N,lainqucncau sllgere
qlre se parta p:n:t tttn "regime de genericrclaclc" enr cluas categorias e não rraris
em três. Com isso, ele dcfcncle qlle se clistinga entre:

( ct
) t tl c gô t i t, tt't } t i}' ? i t! L' i (-)i i i t
r'-:'ii in L' { :; L e
(b) rc:ínte t!c r1iti,:ros t;t;iititítk;:,t.
O segunclo grtqro contcria :rgora os gêneros lntorlis e os rotinciros. A an:ilise
clesenvolvida pelo autor é r'nimrcios:r e conrplera c apresenta una série de critérios
parat acorrodnr os gêneros nessir classificação. Não i'ros interessam os clctalhes cless:i
teoria, tn:rs interessam sinr os propósitos cla mesnrâ, ou scia, a icleia cle que é possíi'el
clistrnguir reginrcs cle proclução tcrtual no conterto c1a interdiscursir,iclaclc. F, corn
isso sabetnos cpre a escolha cle urn on outro gênero em nossa ativiclacle cliscursiver não
é ttma escolha aleatória e sir-r-r corrrnr-rclacia por intercsscs específicos.
l
f)eve aclui ficar claro, tal corno visto ncinra. que rreo lr:i irnli Cillicnri:r
eirit.i'r,:irit.'io i: ii1;,r. Trata-se dutna relação de corrplcnrcntariclacle. Arnbos ccl-
cristerri e não são dicotôrnicos. Todos os te\tos realizarn urn gênero e toclos os
gôneros realizam scqr-rênci:rs tipológicas dircrsificaclas. Por isso mesmo, os gône-
ros são em gcral tipologic;rnrcnte heterogêneos. \/ej:rrros isto nurn ererrplo:
Tome-se o câso do telefonema. Corno gê.nero textual, trata-se de um evento
falado muito claro e definido ern suas rotinas, identificável pela n-raioria dos indi-
r,íduos que vivern ern culturas em que telefonar é uma prática usual. Caracteriza-
se como Lrm diálogo mediado pelo telefone, sem a presença física dos falantes.
Contudo, clo ponto de vista de tipo tertual, um telefonema pode envolver argu-
mentações, narrativas e descrições, ou seja, ele é I'reterogêneo. Podemos, pois,
ir-rdagar se a noção de telefonen-ra é clara l-roje en'r dia. Observem-se algumas das
diversas maneiras de usar o ielefone:

& há a conversa telefônica (por telefone celular ou fixo) que rnariternos


todos os dias com nossa mãe, filhos, amigos, colegas de trabalho ao
qual chamamos de telefonerna;
* há o telefor-rema que r-nandamos a cornpanhia telefôr-rica clar por nós
e se chama de telegratna fonado;
* há o telefonen-ra na forn-ra de um recado gravado oLt recddo em secre-
tária eletrônica;
e há os telefonernas de aniversário, casarnento etc., através de agências
e que char-namos conumente de telenrcnsdgens.

Corn efeito, há muito mais fon-nas de usar o telefone do que o sin-iples


tclcfonema. O cpre é então r:n telefonerr-ra (enquanto gêr-iero) cliante cle tanta
variação na forma e nos recursos rrtilizadosT Essa sitr-ração vari repetir-se cor-n â
carta, o formulário, o resun-ro, a lista e âssinr por cliante, de modo qlre â ques-
tão de dar non'ie aos gêr-reros é algo cle enorrr-ie cornpleridade.

Poderíamos apelar aqui para a conl-recida noção cle cor-rstelação textual


ou colônia cle tertos ou então a ideia de sistema de gêneros, tal corno o faz
Charles Bazernan (2005), como ainda vererlos r-nais adiante.

e"s &ômercs texfusHs (omo sisÍeffis de romürole so«iutr

Os gêneros são ativiclacles cliscursivas socialrnente estabiiizaclas que se


prcstart aos mais variaclos tipos de controle social e até r-nesr-no ao erercício
de pocler. Pocle-se, pois, clizer quc os gêneros tertuais são nossa forma cle iriser-
ção, ação e controle social no dia-a-dia. 'fbda e qualquer atividade discursivtr
se 11á cm alguir gênero que não é decidido adhoc, corno iá lenibrava Bakhtin
([1953]lc)79) ern seu célebre ensaio sobre os gêrLeros do discurso. Daí tarn-
bém a imcnsa pluralidade c1e gôneros e ser-r caraíter essencialmente socio-históri-
co. Os gêr-ieros são tambér'n necessários para a interlocução humana.
Un'r sin'rples exemplo pode dar a climensão disso: tornel-nos a atividade
cliscursiva na r,.icla acadêmica: qr-rem controla a cientificidacle etn nosso traba-
li'ro investigativo diário? Em boa r-nedida, os gêneros por nós produzidos dão'
pclo ncnos em Llma prirneira instância, legitirniciade ao ltosso discttrso. Nesse
particular, certos gêneros tais como os ensdios, as teses, os artigos cientíiicos, os
resutilos, as conferêrtcías etc., âsstlmenl um grancle prestígio, a ponto c1e legiti-
ilrarem e até imporem cleterminada forrna cic fazer ciêncier e clecidir o que é
cier"itífico. E conr isso cheg:-r-se inclusive à ideizi de qtre não são ciência os
cliscursos produziclos fora de um certo câlon cle gêneros dat área acaciêrnica.

Assim, podemos dizer clue o controle social pclos gôneros cliscursir''os é


incontorl:iye], mas não cleterministir. Por um lâdo, :r rornântic:r icleia de qlle so-
mos liyres e de que tenros enr irossr-rs rnãos todo o sister-tta decisório ó ui-na quil-nc-
ra, já quc estamos irnersos r-r-rma socieclacic que nos tttolcla sob r'ários aspectos e
1es colduz a cletcrrrinadas ações. Por ouiro laclo, o gêr-iero tertuetl não cria reia-
ções clcterrninistas nem pcrpetua relações, âpenas rnattifesta-as
elll certas condi-
ções clc suas realizações. Desclc qlle llos cor-rstituímos coltto sercs
soctais. tlos
achamos envoli,idcls nunra rniiquina sociocliscursir.'a. Ii urri clos instrtlnlcrltos lllilis
poclerosos clessa mácluina são os gôneros tertuais, sendo que clc sett domínicl e
nranipulação clepencle boa parte cla forrna cle nossa inserção soci:rl e cie nosscr
pocler social. Enfiur: cluenr pode erpcclir vn diplonn, \ntLt cctrteira de identidacle.
11n. alyarti de solhLrcL, tlina ceftidão cle cascnnentrt, ttrt't porte cle ctmuL, escÍever tlmlt

repoftagent jomalístíca, r-rnta Íess de dotLtorado, clitt tttt'tit torferAncia, rttrta attlrl
expositira, realizar ;:in-t inqtLéríto ittdicicLl e tlssilll por c1i;rnte?

Diante disso, parece possír'e1 clizer qtre a procluçào cliscursiva é um tipcr


c1e aqão cpe transcencle o aspecto-nteramente comutticativo e ilrForrnacional.

L)aí cprc não se poclc tcr na ativiclerde infon-n:rcional a funçãrt rn:tis irnportantc
cle-r 1íngua. E,u rne atrer,erizr a clizci que a intormação é ttttt fettômetio evetlttlal

e talr,ez r.rm sinrples efeito colater:r1 c1o funcionarncnto cla 1íngua. Tockls nós
sabcnros que a língua não é apenâs Llnr sistema c1c cottrrtnica<,io tlcm ttttt
sin-rples sistcnra sirnbó1ico para c\pressar iclci:rs. NI:rs ntuittt tttitis ttttll't lornm de
vida c vrn'a ionna de ação, cottto dizi:r o velho \\"iitgerlstein.
'làlr'ez se ja possír.el clefenclcr que boa parte cle nossils atii'iciades discursivas
ser\.cm pirr:r atir.iclades cle contr-clle social e cogniiivo. Qtranclo qllereillos cxer-
cer qualcluer tipo de poder ou c1e influência, rccorrclllos ltcl cliscurso. Nin-
guénr faia só para erercitar as próprias corclas vocais ot1 os tílttPârlos alhcios.
1l-a realiclacle, o trteio em que o ser htllllâno vive e tlo citt:r1 se acha imerso í:
muito rrtrior qrle seu anlbiente físico e contorno imedit-rto, já que está enr,'olto
tambén por sua história e pela sociedade que (o) criou e pelos seus discursos.
A vir,ência cultural hurriana está sernpre en'u'olta em linguageill, e toclos os
rlossos tertos sitnzrn-se nessas vir,ências estabilizaclas em gêneros. Nesse con-
terto, é central a icleia de que a língr-r:r é uma atit'idade sociointeratila cle
caráter cognitir,o, sistemátic:r e instauradora de orclens clir,ersas na socieclade.
O funcionarnento c1e nma língua no dia-a-clia é, mais do cpe tudo, unr proces-
so de integração social. Claro que não é :r 1íngua que cliscrimina ou que age,
rrurs nós que com ela agimos e procluzimos senticlos.

Aspecto que rnereceria aqui pelo nrcnos urr:r rrota ó a clistinção que po-
cleinos lazer entre urn evento e tim gêncro tcrtual. Sabcnros quc conscllar rrnrâl
cri:rnça chorosa é un evento orl rrmâ i-rção bastantc conrplcra e, rlesse câso,
não varr-ios recitar Llrr poema, mas clar urr conselho, cor-rtar algo alegre etc. O
gênero inr.esticlo para consolar distinguc-sc clo cvcnto, :rssirrr como unln ancli-
êrrcia no tribrrnal é urn evento e ncstc cvcnto ocorrellr aiguirs gôncros especí-
ficos. C) cvento ó nrarcirclo por r1r]r conjrrnto cle ações e o qênero e.r lqzLo
linguística pratic:rcla cono recorrelrte eni situ:rções típicas marcaclas pelo cvcn-
to. L.lm jogo c1e lutebol é rrr-n evento, irssinr conlo unr colrgrcsso :rcaciêrnico or-r
urna sessão do (longr-esso Nacioral. NIas ern cacla situação clessas teinos gêne-
ros aclcqnaclos e não acleclLraclos. Portanto, podenros distinguir com aigurn:r
clareza entre urrr crcnto c unr gênero.

2Ã Ãquestõo do inlergeneriridode:
que nomes dor ooigêneros?

Como é que se cl-rega à denominação dos gêneros? Com certeza, as de-


signações que usâmos para os gêneros não são uma invenção pessoal, mas
uma denominação histórica e socialmente constituída. E cada um de nós já
deve ter notado como costumamos com alta frequência designar o gênero que
produzimos. Possuímos, para tanto, uma metalinguagem riquíssima, intuitiva-
mente utilizada e, no geral; confiável. Contudo, é difícil determinar o nome
de cada gênero de texto. Como já notaram muitos autores, em especial Bakhtin
(1979), os gêneros se imbricam e interpenetram para constituírem novos gê-
neros. Como observamos anteriormente, não é uma boa atitude imaginar que
os gêneros têm uma relação biunívoca com formas textuais. E isso fica com-
provado no caso de um gênero que tem a função de outro, como é típico das
publicidacles. Tome-se o caso da epígrafb que âpârece em múrltiplos lugares,
rras de n-rodo particular nos livros dicláticos. Urna epígrafe é constituícla de un'r
poema, uma frase, um conto brer''e, urna máxin-ia ou qualqtter outro gênero e
não tern uma característica específica, a não ser urn cleternrinado local no
texto, que nos srlgere se tratar de uma epígrafe. Assim, em muitos casos, ape-
nas o local ern que uur texto aparccc perrrite que cleterminenos corn algurna
prccisão c1e que gêr-rero se trata.

Ern geral, d:rmos nornes aos gêneros nsanclo r-ul desses critérios:
1. forma estrutural (gráfico; rodapé; debate; poema) 4. meio de transmissão (telefonema; telegrama; e-mail)
2. propósito comunicativo (errata; endereÇo) 5, papéis dos interlocutores (exame oral; autorização)
3. conteúdo (nota de compra; resumo de novela) 6. contexto situaciona[ (conversação esp.; cada pessoal)

NIas r,ários clesses critérios poclem rltuâr em conjunto. Basta ver os nollles
que encontralllos para os rrais r,ariad<)s gêneros para imecliatamcnte constatirr
qlre na constituição clo nomc scmpre irtua rrais cle um critério. N,las o certo é
que cluando se telr-l algum problenra ou conflito n:r designação, ela surge em
atenção ao propósito comunicatir o ou função.

\/eja-se a cornplexiclacle cio caso dcl tcrto abairo, que aparecelr em quase
todos os periódicos serranais e jornais diários, por ocasião c1a clespeclida do
autor clo pcrsonagcnr Snoopr,.

Caroe amigos, Tive a satisfeção dÊ contar Êm


Ttve o praz*r de deseahar todos esses aloç com a lesldade
-Brorrr
Charlie * flra fiu'ma dt nossm odiúoms e som o:mloÍ e
durante quase cinqüenta anm o apoio maravilhoao tmnsmiüdo*
Foi a reaúzaçâo dimeu sonhc Pe§ §-s ds meusquadrinho*.

v
detnfância. Chârlfugrowa, Saoopy, Linus,
Infellzrr*nte, uâo posso rnatrlEy"" como esquecô'Iu..,
dedicar o tempo exigido por
quadrinho's diárioc, Por isso,
an uncio minha apoaentadoria

Na partc csqncrcla, unrzr carta dc cicspcclicl:r c.:) direita, um cpr:rdrinho


con a figura c1o Snoopv pensativo drante cle urna nriicluina de escrever antiga.
Tratar.a-se cle trrrrrr tirirha? Un:r carta pessoal? l'lra unr terto produziclo ntrnr
intercliscurso cnjo espaço fora constnrído por rneio sécr-rlo no conterto cle nrna
tiririltct de iortrul or1 unlil história em quttdritilto.

:\ centr:rl não é o problerna cli norneacão clos gêneros, mas a cle


c1-rcstão
sua iclentiiicação, pois ó co1lrlll btrrlarnros o cânon cle um gênero fazenclcr
Lirn:r rncscl:r clc tonrLrs c lhrcircs. No gcr:rl . os gôncr-os cstão bcnr tiraclos e não
ofcrcccur problernas para sua iclentificaEào.
No caso cle rnistura cie gêneros, acloto a sugestão cia linguista aler-nã Ulla
Fir (1997: 97), clue r1sâ â e\pressáo "intertextualidade tipológica" para desig-
nar esse aspecto da hibriclização otr nresclar cle gênercls em qrle uru gênero
assrlme a ftrnção cie outro. l'essoalrnente, estou usando ir rtcr.gcncr rt itllrtle como
a erpressão clue melhor tracluz o fenôrrer-ro. Essa violação de cânones subver-
tcnclo o moclelo global cle um gênero pocleria ser visualizada nlrm diirgrama
seurelhante a orrtros rrcpri deseni'olr,idos. A título clc crcnplo, torrrcrrros Lurr
gürcro A. por eremplo, ttna prtblicidade e ttrt gêrLero B, por eremplo, ur-rur
hrLlct de renúclio, conro no ercmplo traziclo por Lllla Fir (1997: 100), cla eclito-
ra alenrã L)iogenes, qlre ap:rrece na cprarta capa: dos lir,'ros. \/eja a tradução:

livros
Víva saudável com os E

DxoGENEs.o §

0s livros Diogenes acham-se internacionalmente introduziclos na biblioterapia


ê

Posotogia Ê

As áreas de aplicação são muitas. Principalmente resfriados, corizas, dores de garganta e $

rouquidão, mâs tambÉm nervosismo, irritações em geíal e dificuldade de concentraçã0, Em ê


geral,0s livros Diogenes atuam n0 processo de cura de quase todas as doenças para as quais ã

prescreve-se descanso. §ucessos especiais foram registrados em câsos de convalescenÇa. e


ê

Propriedades 3

0 efeito se fâz notar p0ut0 tÊrnpu após iniciada a leitura e tem grande durabilidade, livros ê

üiogenes aliviarn rapidamente a dor, estimulam a circulação sanguínea e 0 estado {eral rnelhora.
É

Precauções/riscos i
im geral, 0s Livros Diogenes são bem tolerados. Para miopia, aconselham-se meios de auxílio à É

leitura. São conhecidos casos i§olados nos quais 0 uso prolongado produziu dependência. E

Dosagem
Caso não haja ouka indicaçã0, sugere-se urn livro a cada dois ou três dias, §egularidade no uso i
É o pressuposto essencial pâra a curâ. Leitura diagonai ou desistência prematura podem :
interferir noefeito, i

7. Não é o caso de discutirmos aqui, mas muitos autores tratam a quaúa capa como um gênero.
Cor-rtudo, a quarta capa é, a meu ver, muito mais um lugar (talyez até mesmo um suporte) especial para
gêneros diversos. Muitas vezes acha-se ali um excerto do texto que vem no interior do livro ou um
parágralo da apresentação feita por alguém que não o autor; mas pode âparecer a relação dos livros da
coleção da qual faz parte aquele livro. Em muitos casos, na quârta câpa, apârecem elogios de autores
conhecidos ao autor do livro. Portanto, a quarta capa é um lugar em que figuram as mais variaclas formas
textuais e os mais variados gêneros e se for tomada como gênero é difícil determinar até mesmo a função
dele, pois em cada caso isto vai variar nuito. Uma discussão mais complicada é aquela que discute se
a capa de livro é um gênero e se a capâ de revista é outro gênero. Esta questão do que é ou não um
gênero ainda não está muito esclarecida e merece mais discussões.
Composição
Papel, cola e cores na impressã0.0s livros Diogenes são ecologicamente produzidos. Neles são
usados somente papéis fabricados sem cloro e sem ácidos, o que sarante alta durabilidade.
Iambém, n0 caso de qualidade de vida, garante-se
ótima distraçã0.
LIVROS DIOGENES

São menos aborrecidos

mrrr: ljlla FIX (1997: 100) traduÇão de tuiz Antônio Marcuschi

qlle se segue é uma tentativa c1c representar a intcrtertualidacle


C) cliagrar-na
tipológica aqui verificacla. Não obstante a in-ipressão c1e natr-rraiiclade ciesse
fenôrneno, gostaria cie chani:rr a ertcnção p:rra problcmas b:rstar-ite cor-npleros
no cilso dessa análise. Não é eviclente que se possa distingrrii conr clareza tot;rl
cntre forrnas e fttnEões corno aqui se d:i a cntcndcr. 'lirmbórn é pror,ár'el cpre a
intergenericiclacle scj:r unra sitnacão bern nrais natnral e nomal clo que imagi-
nârllos, c os tcrtos corn'ivenr ern geral em irrteracão constante.
INTERGEN ERICIDADE

Funcão do
Gênero A

-ffiil.d;;\
publicidade

Forma do
***9 formato de uma )

Forma do
Gênero A Gênero B

bula de remédio

Função do
Gênero B

A intergenericidade de funções e formas de gêneros diversos num dado


gênero deve ser distinguida da questão da heterogeneidade tipológica do gêne-
ro, que diz respeiio ao fato de um gênero realizar sequências de vários tipos
textuais (por exemplo, uma carta pessoal, como iá vimos, pode conter uma
narrativa, uma argumentação e uma descrição, entre outras). No exemplo aci-
ma, temos um gênero (publicidade) com o formato de outro (bula de remédio).
Em princípio, isso não deve trazer dificuldade algumapara a interpretabilidade,
já que impera o predomínio da função sobre a forma na determinação
interpretativa do gênero, o que evidencia a plasticidade e dinamicidade dos
gêneros. Resumidamente, no caso dos gêneros, temos:
(l) intergenericidade -+ Lrm gênero cot11 Ll funç'ão de outro
(2) heterogeneiclade tipológica -) Lntt gônero cot11 cl presettça
de vários tipos.

A publicidade opera c1c merneira particularrnente proclutir,'a na subversão


da orclerr instituída para charriar a atcnção sobre unt procluto. Parece qrte
clescnquacirar o produto cie seu enquadre normal é unra foma cle reelquaclrá-
io em lol,o enfoque para que o vejamos de forma rnais nítida no mâr cle ofer-
tas cie proclutos.

C)bsen,e-se o caso abairo, nrn texto da Folha de S.Paulo, caracterizado


colno artigo de opittião, produzido por ]osias c1c Souz:r. Temos aqrri unr poc-
ma produzido nurna níticla intcrtextuarliclade corn o conhccido poema r1e
L)rtrrrrnrcrncl de Anclrade. Contudo, na F'olha de S.Paulo, trata-se cle ttm artlgcr
cle opirtião na fornra c1c um poenrct.

Urn novo José


Josias de Souza

-§ão Paulo- mas nem tudo acabou,


nem tudo fugiu,
talna, José. nem tudo mofou.
À festa não recomeçou, Se voltar a pergunta,
a luz não acendeu, E agora, José?
a noite não esquentou, Diga: ora, Ilrummond,
o Malan não amoleceu. Agora FML

Mas se voltar a peígunta: Se você gritasse,


e agora, Jo§é? se você gemesse,
Diga: ora, Drummond, se você dormisse,
agorâ camdes§us. se você cansasse,
Continua sern mulher, se você morresse.,.
continue sem discurso, 0 Malan nada faria,
continua sem carinho, mas já há quem faça.
ainda não pode beber, Ainda só, no escuro,
ainda não pCIde fumar, qual bicho-do-mato,
cuspir ainda não pode, ainda sem teogonia,
a noite ainda é fria, ainda sem parede nua,
o dia ainda não veio, para se encostar,
o riso ainda não veio, ainda sem cavalo preto,
nãa veio ainda a utopia, Que fuja a galope,
o Malan tem miopia, você ainda marcha, Jose!
lsir ÀElôEio ffarrurrhi I Produçõo lexluol, onólire de gêneros e eonpreetsõo

Se voltar a pergunta: Elementar. elementar.

José, para onde? Sigo pra Washington

Diga: ora, Drummond, e, por favoç poeta,

por que tanta dúvida? não me chame de José^


Me chame Joseph"

romr: FlLHA Dt SPAULI, Caderno 1, p. 2 - 0piniã0, 04/10n999

E bastarrlc colnllnl que ltos órgàor de intprertsa 5e rlselll as cottlrtttittlt-


ções de gêneros ou se proceda à hibridização cott-to forua de
charllar rnais ;t
atenção e tuotivat a ieitura. De algum modo, Parece qtle essa estratégia teur o
poder quase nágico de levar as pessoâs a interpretarent tnuito tnais e cotlt
rnais intensidacie o que ali está. Esse aspecto ntereceria r-trn estttdo à partc.

O gráfico abairo representa a intergenericidacle e intertertrraliclacle eris-


teltcs no terto cle )osias c1e Souza. De r.rr-t-i lado, tenros duas fr-rrções sobrepos-
tas (interttntcíonalidade) e clois gêneros se funclincio corti ttln Poema no artigo
c1e opinião (,intergenerícidadele, por firn, urr-r:r série c1c eletncntos clo conl'rcci-
clo poerna clnrrnmoncliano "E agora, fosé?" apareccrldo no itttelior c1o artigo
dc opinrão líntertexttLatídade). Pocleríanros falar- tarnbélr en interdontíníos
disctLrsitcts, já qr-re são clois clornír-rios sobrepostos (literatura e propaganda).
Isto nostra o conrplero nír'el cle f-iibriclização clcsse tcxto.
Função do
Gênero A
\
funqão de um artigo
de opinião no formato \
de um poema \
Forma do
Forma do Gênero B
Gênero A

Função do
Gênero B

Pocleríarnos citar tambérn o farroso caso do relatório de Graciliano Ra-


nros como prefeito cle Palrncira dos Índios, entre 1929 c 19j0 e agora publi-
caclo conro urna obra litcrária e que n:r época foi muito discutido por ter r-tnl:r
ftrnçrlo cuja forrna não era adequada, r'nas qlle foi ber-n aceito pelo goi'cmaclor
clas Alagoas, a qlreirl elc se destinava. Como se obscr-r'a, este caso ó cliverso clos
dois anteriores porqlre ali tfuhan-ros urna atir.'idacle de rnescla cle gêneros (áuia
cle ren"Lédio Ó pLLblicidade) on tnescla de gêneros cor-n interiextualidacle (poe-
nta 6'ttrtigo de ftLndo), sendo qlre agora ternos um terto que não perde sua
função, mas assllme um no'o lugar, ou seja, rnigra, ao lorigo cla história, de
r-rm dornínio (política) para uni outro (literatr:ra), sem deixar de continuar
senclo un-r relatório. Trata-se dc un-i movimento histórico qlle se dzí pela funcio-
naiiclacle do gênero e pela particular situação de scu autor. Não é cormrn cpe
os tertos procedat-tt a essa nigração. NIas isso eriste e pocle ser notaclo errr
muitos tertos históricos.

Vejanros uura parte do relatório de Graciliano Rarnos.

Farte inieiai rlo Relatório de Graciliano Ramos ao governador do estado de ,&lagnas, entregue
em l0 de janeiro de 1929 (citação da abertura, pp, 3I-38 e conclusã0, pp. 45 46)

PREFEITURA MUNICIPAL DE PALMEIRA DOs ÍNDIOs


RELATARIA
Aa Governa da estado de Álagaas

Exmo, Sr. Governador:


Trago a V. [xa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palrneira dos hdios em lg28.

Não foram muitos, que 0s n0§s0s recursos são ex(uos. Assim minguados, enket{nto, quase
insensíveis ao ohservador afastado, que desconheÇa as condiÇões em que o Münicípio se
achava, muito me sustararn.

c0M§Ç0s

0 0 que seni demora inicial, o de que dependiam todos os outros, segundo creio, foi
Pftll'iülPÁl-,

estabelecer alguma ordem na administraçã0.


Havia em Palrneira dos índios inúmeros prefeitos: os cobradores de inrpostos, o Comandante do

Destacamento, os soldados, outros que desejassem administrar" Cada pedaço do lllunicípio


tinha a sua administração particular, com Prefeitos coronÉis e Prefeitos inspetores de quartei-
rões. üs fiscais, esses resoiviam questões de polícia e advogavam.
Para que semelhante anomalia desaparecesse, lutei com tenacidade e encontrei ohstáculos
dentro da Prefeitura e fora dela - dentrs, uma resistência rnole, suave, de algodão ern ramâ;
fora, uma campanha sorna, oblÍqua, carregada de bílis. Fensavam uns que tudo ia bem nas
mãos rlo Nosso §enhor, que administra nrelhor do que todos nós; outros me rlavam irês meses
para levar urn tiro.
Dos funcionários qüe encontrei em janeiro do ano passado restam poucos, saíram os que
faziam política e 0s que não faziam coisa nenhuma. 0s atuais não se metem onde não são
necessários, cumprem as suas ohrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devn
muito a eles,
Não sei se a adminisiração do Município É boa ou ruim. Taivez pudesse ser pior.

(o autor relata aqui uma serie de assuntos administrativos e presta contas)

CANCLUSAO

Prticurei sempre 0s caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há curvas onde as
retas forarn inteiramente impossíveis.
[vitei emaranhar-me em teias de aranha.
julgam
Certos indivíduos, não sei por que, imaginam que devem ser consultados; outros se
autoridade hastante para dlzer aos contribuintes que não paguem impostos.
Não me entendi corn estes.
Há quern ache tudn ruim, e ria constrangidamente, e escreva cartas anonimas, e adoeça, e se
morda por não ver a infalível maroteirazinha, a abenqoada canalhice, preciosa paía quem a
pratica, mais preciosa ainda para os que dela se servem como assunto invariável; há quem não
compreenda c0m0 um ato administrativo seja isento de iucro pessoal; há até quem pretenda
ernharaçar-me em coisa tão sinrples como manrlar quebrar as pedras dos caminhos"
Fechei os ouvidos, deixei gritarem, arrecadei 1:325$500 de multas'
Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numero§os disparaies, Todos os meus erros, porém,
foram da inteligência, que é fraca.
Perdi vários amigos, ou indivíduss que possam ter semelhante nonne'
Não me fizeram falia.
Há descontentamento. Se a minha estada na Frefeitura por estes dois anas dependesse de um
plebiscito, talvez eu não ohtivesse dez votos,

Paz e prosperidade.
Palmeira dos ínrlios, 10 de janeiro de 1929
"$
Graciliano Ramos, §
c
I

Aspecto interessalte na identificação de r-tnr gêirero tertual é a clificuicla-


de, que às vezes sentimos, cle deterr-r-rinar o início c o final do terto enquanto
entidacle empírica, cor-no jír lembramos acima. Sttpontrirmos o c:lso de tlnr
liyro didátíco como gênero. f,ogo ocorre a dÍrvida cle sc de fato ternos aí un-r
gênero oL1 Llnr suporte r-riuito específico. Pois o livro ciiclático contóu tertos clos
rrais variados gêneros, tais como corttos, poenas, tirinlrus de iornal, notícias
ionrulístícas, adiyinhas, cttcts, cartas pessoais etc., seur contar com gêneros
conro sunrário, expediertte da edítora, ficha catalográficct, exercícios, bihliogra'
/irz e outros. Pessoah-nente, defeldo a posição de que o lir,'ro cliclático é um
suporte e não um gênero.

No caso do livro didático, aqueles tertos por ele trirb:rlhados não estão ali
cle tal rnodo aglutinados a ponto de foririirem ttt-n toclo orgânico couo obser-
r.ava Bakl-rtin !9791 pâra o romdnce. Ernbora o livro didático constitua um
todo, ele é feiio r1e partes que mantêrr-I sllas características. Por eremplo: um
poema não deixa de ser poemâ só porque eltra no lil,ro cliclático. Ele ali não
passa a operar como a br-rla no caso da publiciclade citada acima. Ou seja: o
poema no livro didático nào passa a ser poen-ra didático. Contudo, ainda deve-
mos pellsar o problerna da clidatização clos gêneros.

N{uitos são os problemas envolr''idos na questão cla intergenericidade e


ainda r-rão há trabalhos conclusi",os sobre o terna. Seria oportuna ulra discus-
são para ider-rtificar os aspectos novos er-I\roli,idos e a rclrovação da discussão
clos gêr-reros. Daqr-ri pocle surgir até nesn-ro una rnaior reflerão sobre o papel
dos prctpósitos (funções) e da fornru (organização tertual) parâ â detern-rinação
do gêr'rero. Essa discussão está por ser feita e deve iniciar em breve.

2.1 Aquestõo interrultuÍol

A autora alemã Susanne Glintl-rer (1991:400), ao analisar o uso


intercultural clo gênero prov-érbio, obsen'a qLre os gêneros não têrr a lllesma
circulação situacional ern todas as culturas. Cita o caso da piada que recebe
ai,aliaÇão diversa por parte de alernães e chineses em contertos de regócios.
Lembra a autora:

A cscolha dc urn gôncro que pode ser trsado par:r serr,ir a uma ccrta hrnção interatir':r
enl nossa cultura pode se torn:rr inadecluacla nunra situação cultural cliferente. Llrn
sinírlogo alemão, qne trabalhava colno intérprete ern encontros cle negócios entre
conrerciantes cliineses e alerrães, me apontou a prelcrôncia dos comerciantes ale-
urães por contar piadas enr negociações come rciais. Para os cliineses, é consideraclo
inapropriaclo contar piadas durante encontros cle ncgócios, c as piaclas não são espe-
raclas ncsse contcrto.

Esta observação é sintornática das diferenças interculturais na circLrlação


dos gêr'reros. Tais diferenças se nanifestam também no uso do "pequeno gê-
nero provérbio" na rclação entre alemães e chineses, lenrbra Ctinther (lt)9 1:
401) ao inforrnarr que em 12 conr,'crsações interculturais, ocorrerarl 21 pro-
l'érbios por partc dc chineses e nenhuir por parte de alemães. O uso de pro-
r,'érbios tanto na oralidade cono na escrita chinesa é um sintor-t-ra de boa eclu-
caçào. diz Ciirrflrcr 1199 l: 'll3t. Isso rrio terrr a nlesrra hrrrçào erl lrossâs
culturas ocidentais cle maneira geral, ern especial enl zonas urbanas.

O aspecto intcrcultural é crucial quanclo se trata clo ensincr de urra se-


gunda língua, como lernbra corn bastante acuidercle Bhatia (1993). Não pode-
mos supor qLre errr toclas as culturas se escre\ra uuar carta clo tttesmo ttrodo,
1reilr que se dê ur-r-r telefonema da mesma maneita. Esse aspecto é c1e particular
iruportância e, muitas \,ezes, notart.t os qlle as enbairzrdas clc um país distri-
buen'r aos nrerrbros de sua cornitiva ern r,isitas :ro ertcrior instntções c1e como
se cornportar ern situações diversas. Não se trata cle Llma banâtliclaclc, rttas cle

mocios de respeitar a cliveisiclaclc cultural.

Haveria aincla urn aspecto it-ttportantc a traltar llesse câSo, on scja. o Pro-
blema da r,ariedade cultural dentro <le nr-r-i mesillo país e como isso deveria ser
encarado peio próprio lir.ro clidático. 'lbrremos o caso do Brasil, b:rstante
heterogêr-reo culturalnrente falanclo. Scrá que a heterogcneiclaclc crrltural se
manifest:r t:rn-ibém nos gêncros e isso deveria passar p:lra o ensino fort'nah-tlen-
te? A qucstão está aberta e deve ser debaticla.

iiãoresta clíriida cle que o ensirro clevc ser ctilturalrncnte sertsír,el. o


problcrrar central é: corrro isso pode e cleve passar pârâ o livro cliclático l-illltl
país culturalmentc heterogêneo conro o nosso? Este aspecto é mttito polêrri-
co e sobre e1e não há cotrsenso. A qucstão é a scguinte:

', C)s rnannais de ensino deverianr ou não ser constrttídos com especial
atenção para a cultura local e rcgional, seln clesctlidt-rr c1a grande
cultura nacional?
Qual o lugar e o papel da cultr-rra regional no ensino? I'or que elal
aparcce tão pouco? A cargo cle cluent lica esse trabalho?
Caso os aspectos regionais clel.cssem estar refleticlos 1ro LD. qruis se-
riam eles? Os cncapsulados no iéxrco? A litcratr.rra, os costtttnes, as
formas c1c cc»lportanrento típiczrsT

NIinl-ra resposta a estas questões não vai alénr de ulna decldração de prín-
cípíos. Crcio que se clcveria oferece r ur-n ensirro cultttralmertte scnsír'el, tcttclo
cru vista a pir-rraliciacle cultur-erl. Não sc deveria privrlegiar o urbat-iisino elitizaclo,
lnas fiisar a r.ariação linguístic:r, social, tcnriitica, c1e costr-lmes, ctenças, r'alo-
res etc. Os lir,ros c1ic1áticos atuais não refletcn cle mzrneira rnttito clara essrt
posição, mas já são muito nrais abertcls a essil visão e sllgerern ativiclades
crtraclasse que conclnzenr a esse caminho. Visitits a [rllsetrs, p2lrques, lábricas,
insiituições, universiciacles, feirars, r-nercados, terrtros e assitn por cliante são stt-
gestões conrLrns hoje crr dia.

Quanto a tenias, hcije. clesde a I" séric se obsen'a urn trabalho cotlt tts
doenças endêir-ricas, a ecologia, as artes p1ásticas, a rnÍtsica, o sistcmzr cle trârt-
sito, a literatura, as lendas e os r-nitos, os meios de comutric:rção cle illztssâ, a
geogrâfia, a geopolítícâ, a situaÇão cie trabalho, a fauna e a flora, as relacões
interpessoais e assir-r-r por diante. N,Ias o que terri isso a l,er coilr a lír-rgr-ra? Apa-
rentemente nada, se não considerarlos que a linguagem é uma forma de ação
e inserção social e cultural.

Corn efeito, cluarnclo rios indagamos a respeito clos lir-r-rites cla aula cle
língua, ou da inserção da auia de língu:r na vidtr diária, estamos nos indagan-
clo sobre o papel cla linguagem e cla cultura. Nessa visão, é possír,el ciizcr que
.i .i;ri,r rl. iíirlrr;r ttt.titri]:r t: tutt lilr: ,l, it,.;tr: t111. lr,tt'r:r'r'r'rii r, ,trltt'. [() 1i)(l r-
lrirrriL inii:r-rro riri sisl.L:nrii ri:r iíngi-u i: r':ii ;ticlrr ri:i liivirludc coi:.rt-urii'iir.ir':i c
iriioriitai joir;rl. C) rreio enl que o ser humano vive e ncl qual ele se acha imerso
ó nruito maior qlre selr ambiente físico e sell contorno imediato, já cpre está
enr,olto também por sua história, sua sociedade e seus cliscursos. A vir'ência
cultural hnmana est:i sernpre enr,olta erri linguagern e toclos os tertos situanr-se
nessas vir''ências estabilizacias sir-nbolical-rente. Isto é um cor-rvite claro parâ o
ensino situaclo en contextos reiris dar vida coticliana.

2.8 A questõo do suporle de gêneros terluois


Discr-rssão ainda cm anclanrento é a clue cliz respeito ao suporte clos gêne-
ros. Nluitos livros didáticos falam em portadores de gêncros, Icnrbrando corrr
isso os diversos locais ou continentes cle gêneros como Llll jornal, nm lir.ro e
ruma rc."'ista sernanal. No entanto, ecllrivocaui-se os mlrnrrlis quando falan-r no
clicionário como portaclcir dc gôncro, pois elc próprio é um gênero. lr eqr-rir,o-
czrll-sc ao tr:rtar a ei-r-rbalagem colno gênero, já que cla ó un strporte. F,ssa é
urra questão conrplcr:r que não tern nrna clecisão clara. Ainda ineristem estuclos
sistenáticos a respeito c1o slrpor-te clos gôncros tcrtuais. Apenas agora inicianr as
inr,estigações sistenráticas ir cste respeito e rnuitas são ars inclagacõcs.

L)onrinique \laingueneau (2001: 7l) obserrir-l qLre "é nccessário rcservilr


nm lrrgar importante ao rroclo dc nnnifestacão ntateríal dos discursos, ao seu
ruporte, trcttt cotno ao sell rno<]o c1e ditirsão: enurrciados or:ris, rrci papel,
radiofônicos, na tela clo cornputador etc." (ênf:rse clo autor). O nídíunt, co'no
o charna N,laingueneau (2001: 71)é inrportante, rnas costur-niir.amos desprez:í-
1o porque nos corlcentrár,amos r-ro terto como tai. É interessante a obsen'ação
clo atttor quando afirn-ra quc "o nídiunr não é unr sirnples 'rneio', uln instru-
mento para trarisportar urra lreirsageln estár,'el: uuer mudanca irnportantc c1o
níclir-rrn rrroclifica o conjtnúo de gênero de discurso" (2007:71-i-2).lsso diz
respeito tanto ao rrodo de circulação colno ao tnodo de consulllo dos gêne-
ros e ainda nais ao rnodo como eles são estabilizados para seÍen-I "transporta-
clos" eficazrnente. Uri-r clia só transmitíailros os tertos oralmente; depois passa-
mos a fazê-lo por escrito; mais tarcle, por telefone; e então pelo rádio, teievi-
são e recenternente pela intentet. Esses rnídiuns são ao Irlesnto tempo modos
c1e transporte e de firação, mas interfercn flo discurso.

Diante dessas por.rcas obscrvações ir-rtrodutórias, Podemos indagar: qual


o papel do sr-rporte na relação com os gêneros? 'lbm o gêr-rero características
clistintivas aclicionais quando realizaclo e acessado el-rl um olt outro suportc? A
ideia cer-rtral é que o suporte não ó neutro e o gênero nào ficz-t inclifercnte a ele.
Mas air-rda estão por ser discuticlos a natureza c o alcance dessa inter{erêtrcia
ou desse papel. Uma observação preliminzu pocle ser feita a respeito da ir-n-
portância clo suporte. Ele é ir-nprescinclíl'el para que o gênero circule na socie-
cladc e deve ter alguma influência na natureza do gêr'rero suportaclo. NIas isso
não sigr-rifica que o suporte cletermine o gênero e sim que o gêncro erige urn
sr:porte especial. Contudo, essa posição é qucstionável, pois há casos compie-
xos cllr que o slrporte cleterrnina a disiinção qLte o gênero recebe. Tome-se o
caso deste breve terto:

"Paulo, te r7rt1o, me ligtLe o mais rápído qtte puder.


Te espero no t'one 55 +1 33 22. \'erônica" .

Sc isto estiver escrito nurr-i papel colocado sol;re a nresa da pessozl indicacla
(Parrlo), pocle ser urn bilhete; se for passado pela secretária eletrônica é ult
recado; remeticlo pelos correios rlr1r'r forrnul:ir-io próprio, pocle ser tnn telegra-
nn. O certo é que o conteírclo não nrucla, mars o gêncro é sernpre idcntificaclo
na relação conr o suporte. Portanto, há c1-re se consiclerar essc aspecto corrcl
Lrrl cilso de coernergência, jír que o gêncro ocorre (surge e se colcrctiza)
nurna relação cle fatores conbinados rio contcrtcl emergentc.

serr tcr segurânÇa a respeito da questão, i)ârece-1ne bastante ra-


N4esr-no
zoirvel tratar o suporte na relação com pelo nrenos outros três aspectos já
mencionaclos até aqui. Assirn, gostaria cle r,er unr contínuo clc categorias repre-
sentadas no quadro cla página seguinte.

Dlrrxtç.\O t)r,r sLrpoRTE: r:ritentlcnta-e dqui c'üütu :;L!Partt clc unr ginaro urtr
lotirs /iiicc ritt','iriliitl. çis1 t- fitnntttr: c:;l:ct:t'ii.r:tt q!-ra ,{!!'\'{: d,: brttta oti dtrtbicittc {11
ií't,;i,'àr; ilrt'4ôncrr; nittteria!i.:,tdo utnro l«.r1i.,. Pode-se clizcr que suporte cle ttir
gênero é una superfície física em formato específico que suporta, fira e mos-
tra um terto. Llssa ideia comporta três aspectos:
a) slLporte é un lugar (físico cttt tirtual)
b) suporte tern fctnnato específico
c) suporte serue pdrd iirur c ntostrur o texto.

QUADR() GtRAI. DAS CATEG()RIAS AtIAIÍIICAS

domínios discursivos

s
discuÍsos
!
+

evento
suporte discursivo

gênero

E
servrco canal instituição

c.r. (a) supõe-se que o suporte de'e ser algo real (pode ter realiclade
virtual como no caso clo suporte representaclo pela internet). Essa rrateriaiidacle
é incontornár.'el e não pode ser prescindida. Corr (b) admite-se que os sLlpor-
tes não são inforrnes nellr urnifortrtes, nlas seirrpre aparecem enr algum forma-
to específiccl, tal corrro um livro, umar rel'ista, unr jornal , r,Ln cxLtdoor e assilr
por cliantc. Aiém clisso, o fato de ser específico significa qr-re foi conrnnicatir,a-
mente produziclo para portar tertos e r-ião é urr portador er,cntual. Corn (c)
aclrnite-se que a função básica do suporte é firar o texto e assim torná-lo
acessír'el para fins comunicativos. N4as como o suporte tern urn formato es-
pecífico e é convencionalizaclo, ele pode ter contribuições ao gêncro. Con-
tuclo, isso é problenático, pois tanbém sc pode clizer que os gêneros sãcr
ecológicos, no senticlo de que clesenvolr,em r-richos ou ambientes de realiza-
ção tnais adequados, sejar para se fixarem ou circularenr. Seria interessante
zrnalisar a f-iipótese de que os gêneros têm preferências e não se n-ranifestar-n
na indiferenç:r a suportes.
É muito difícil contemplar o contínuo qlle surge na relação entre gênero,
suporte e olitros aspectos, Pois não se tlâta cle fenôrnenos cliscretos e não se
pocle dizer onde LtIn acaba e outro coueça. Torne-se o caso de uma carÍa
pessoal. Pode-se estabelecer esta cadeia:
@..P@,*€-.

§ carta pessoal (GÊNER[) + papel-carta (SUP0RI[) -+ tinta (MATIRIAL DA ESCRITA) + correios (SERVIÇ0 DE

ry::k
Não é fácil estabelecer a rnesrla cacleia para toclos os gêneros, tttas isscr
serve para pensar as uniclades corrponentes ciessa cadeia. O suporte firtlla ou
apresenta o texto pala que se tolne accssír,el cle certo r-noclo. O suporte não
der,e ser cor-rfundido com o contexto nem colrl a situitção, ltem colll o canal
em si, nerr coln a natureza clo serviço prestado. Contncio, o suporte lão cleixa
cle operar colno Lrnr tipo de contexto pelo seu papel c1e seletividacle. A rcleia
central é que o suporte r-rão é neutro e o gênero não fica indiferente a ele. NIas
ainda está por sel analisadtr a natureza e o alcarlce dessa intelferêtrcia.

O ntais intportante é distinguir cntre suporte e gênero, o cllle neit'l ser-IPre


é feito corn prccisão. ]1u mesnlo, em trabalhos ar-rteriores, Lravia ic.lerttificado o
otrtdoor conro gêncro, o qLre é feito por viirios atttores, nt:rs hoie adnito clara-
mentc que o ouÍrioor ó trrl suporte púrblico para vlírios gêneros, cotrt preferô'n-
cia para ptrblicidades, antincios, propagandas, cornrütictldos, cot»ites, declara'
ções, editais. Não é qualquer gênero qlle aPitrece nutn ouÍdoor,
pois esse é unl
sLrporte p:rr:r certos gêneros, preferencialtnente tra esfera cliscursiva r:ortlercial
or.r política. Este crenplo sugere qrle se trate o sttporte n:r relação cotn otttros
aspectos, tais couo: dontírtio discrLrsiyo, fonnttção discursít'ct, gÔnerct e tipo tex'
tttal. A relação entrc eles não constitr.ri urna orclenr hierárc1uicn, iii clte nãci hii
nnr sistenra de suborclinação interna. \'eja-sc clte o ictn'Lctlisnto é tul dornínio
clisctLrsito, ao passo tl::,e o jonml ó seguramente rtm sLLporte e que ir ídeologia
capitalista rrctrte-antericdnd se oferece como u/r?rl esfera de lctrnutção cliscursiva
bastante nítida, scndo a reportdgem jctnrulístico o gônero texhLal em cprestão e
zrs scqrrênci as ndrrdtircLs inte mas seri:rm o tipo textucLl clontittante no caso de
lnta reportctgeT?z sobre a Cluerra tto Iraqtte publicacla no Neu'York Tinrcs. o
gráfico cla pírgna seguinte cltí uma icleia nrell-ror clisto.

|á r,irros que todos os textos se realizzrm eilr algLtm gêriero c que toclos os
gêneros cornportam Lln:l olr mais seqnências tipológicas e são proclttziclos en-t
algum domínio cliscursivo qlle, por sLrA vez, se acha clentro clc ttrna formação
cliscursir,a, sendo que os tertos sen-rpre se firanl erl algun suporte pelo qual
atingem :r sociedacle.
EIPüTTAGEM
JORzuÂtí§TCÂ

lgênerol

TIPOS DE SUPORTE: (a) convencional;


(b) inciclentai.

Há suportes que forirn elaboraclos tendo en-r vista a sua função cle porta-
renr otl fixarem tertos. São os que passo:r charnar de ruportes cor-Lyencionais.E
outros qtle oPeranl coltto suportes ocasionais ou er,entnais, qrle poderi:rm ser
charnados cle suportes incidentais, conr Lrma possibilidade ilirnitad:r cie reali-
zirções nel relacão com os tertos escritos. Ern princípicl, toda superfÍc.ie física
pocle, ent algttrna circttnstância, funcionar corto suporte. \/eiar-r-i-se os trr»tcos
de áruores em florestas corn cleclarações de amor olr poelras eilr srlas cascârs.
Pcir isso, conr'ént restringir a nocão dc suportes textuais par:r o caso clos sllpor-
tes convcncionais. Nãcl obstante isso, r'armc'rs analisarr outros suportes inciclentais,
até porque eles são frcquentes na vicla urbana.

Assittt, o corpo huu:ttro pocle servir cle suporte para tertos, nas nãcl ó nr-r-r
suporte cottvencictttal. Hoje estii se tclrnanclo cacl;i vez rnais con-irrrr tatnnr cr
corpo com urria intagernr L11tt poena ou Llrtit cicciaração cle aruor. O corpo
tarnbém pocle sert'ir pilril os alunos inscreverern (ern especial na perna clu
cora) sttas colas ptua pro\.as ou cxrilries. O rosto cle ntuitos estnclantes fnleiona
colrro sllPorte perra slogcnts de protesto políticct, conto já se rin muitas r,ezes.
Até corpos de anirnais couo cachorros e cai'alos rcceberanr inscricões de pro-
testo. Contuclo, não parece razoár'el c1ue, do ponto de vistm comunicativo, se
possa classificar o corpo hurnano c o livro na rreslra categoria c1e suporte
tertual, iá que o livro foi concebido como suportc cle tertos clesde o iriícios.

8. Agraclcc;o a Beth N{arcuschi a sugest:lo de estabelecer alqLrnra clistinqão cle rnaneir:r sistcn:itrc:r
para identificar os suportcs enr sltâs c:itegorias.
Assim, pocieruos iclentificar cluas categorias de suportes tertrrais:

(a) a categoria clos stLportes conyencionais, típicos ott criractctísticos, pro-


cluzidos peira essa finaliclade;
(b) a categoria dos stLportes íncidentais que poclern trazer tertos, ntas não
são destii-raclos a esse finr de moclo sistemeitico nerr-r na atil'iclade co-
municativa reguiar.

l:lXir,\lPL{}§ {.iONViiNClON,I"IS: conro tl questão aincla


Lltr'l S[]POR't']!S
ó controversâ, parecc coir.,'eniente irticiar a ari:ílise dos suportes cliscutincio a
nattrreza clo suporte gcnérico mais cornuu de toclos que é a folha de pctpel.
N,{as não parece que se clel,er tomerr a folha papel como o suportc do gênercr
c1e

de uma trraireirzl geral, pois se 1'Io cztso c1e ltu:t carta pessoal ela seria, iá nci
caso de r:nr livro a ptigina não é o suporte e sint o /llro. No livro, a página é
rrma parte do toclo. Se fôsseltos tomar o papel intpressct collro Llt-I-t suporte cle
tulâ rraneira geral, não teríamos distiirçõcs entre livros, revistas, livros ciidtiti-
cos, quaclro cle ar..isos e outros corrro sllportes distintos. Com base nesta obser-
rraÇão prelirninar, r,efamos r,'ários suportes e sL12ls características. Não se trata
cle nrna classificação neln de ttm levatttaureuto exaustivo.

(l) Livro
Segurarnente, toclos \'âIlos concordar que o livro ttão é urn gônero tex-
tuai. Seja ele clual for, descle que visto cott-to /ivro. Trata-se de uIn suporte
naleár.el, mets coln formatos definiclos pcla própria condição erl qlle se aPre-
scnta (capa, ptíginas, encaclernação etc.). O livro cort'tporta os rnais diversos
gêneros qrlc se queira. Contudo, podemos ter um livro clue âo mesrlo tempo
realiza apenas urn gênero, corno lro caso clo rontütce or: da Íesa dez doutorado.
Nesscs casos, ciistinguimos entrc os gàrcros terhLais rolriance e tese clc douto-
rado e o suporte textrral livro. 'lbmenos Llrrl livro cottt cartas pessoais de al-
guénr. Aqueias cartas j:í não são nais pessoais descle o momento etn qtre fo-
ral'r publicadas. Passarani e1 ser docunentos pírblicos e até seu sÍaÍus pode ter
rnuclado se forem cart;rs cle algurn escritor. N,llas cor-n a clir.'ulgação eu livro
passalilr a operar como uma obra literária. C) problema é que tnttdou a furtção
e a natureza daqueles textos logônero carta pessoa/. Trata-sc de ttn-i livro com
muitos exemplares clc nm gênero ou simplesruente urn gônero con'ro tal? O
livro é, neste caso, rtr-t-t suporte e o gêncro é carta pcssoal.

Em sur-na, urn livro é scrnpre unr suporte, sendo qtle enr algttrts casos
conténr um só gêncro (um livro cle poemas), eur outros casos conténl mttitos
gêneros cliversos (ur-na obra com as publicações cle utn deternrir-rado iornal) ou
então urn írnico gênero (romance). Ern todos os casos, o livro é um suporte
pârâ os gêr-reros ou gênero que con-lporta. O problerna parece ser se o livro
didático, por exemplo, "engole" ou "transrruta" os gêneros do mesmo jeito
que o ronulnce. \'ejanros o câso n'rais dc perto.

(2) Livro didático

Ern primeiro lugar, é conr.eniente considerar qlre não fazer-r-ros uma dis-
tinção sisternática entre "/íyro" e "liyro didtitico", iá que se trata de fenômenos
similares. Contudo, como há eiernentos nruito específicos do livro diclático e
urna fitncionaliclacle típica, tratamos a questão em separaclo, rnas toclos são
iivros. O livro didático é nitidamer-rte um suporte tertnal, embora a opinião
não seja r-tnânime a esse respeito. Não obstante cls argur-nentos err contrário,
ainda se pode dizer quc o livro diclático (t,o), particularn-rente o r,n cle língu:r
portuguesa, ó urr suporte quc contérn uuitos gêneros, pois a incorporaçàcr
dos gêrtcros tertuais peio t-» não rnuda esses gôneros enr suas iclenticlacles,
erlbor:r the dê outra fttt'tcionaliclade, fato ao qual denorninei reversibilidade
cle ftrncão. Falo aqui em funcionalídade e não lunção para que se tenha claro
csse aspecto. Por erempio, unra carta, urr poerna, uma Lristória em quadri-
tthos, ntua receita culinária e unr conto continuam senclo isso qr-ie reprcsen-
tam originairnentc e uão nrudam pclo laio de migrarem para o interior cle urr
t,o. Não é o mesnro que se dii, por erempio, no caso de um rorrance que
incorpora cartas, poenlas e anírncios, entre outros.

Certarretrte, Barkhtiir r-)lrnca teria classilicado o iivro diclnítico entre os gêne-


ros secrtnclários e sim colflo Lrm coniur-rio cle gêneros. Aspecto iurportante é a
vasta produção dc gêneros tipicarmentc da esfera do cliscurso peclergógico, tal
conro a explícaçãct textual, os exercícíos es«tlares, a redação, instrLLções para pro-
dtLcão tertual e rnuitos or-rtros que se acharn rlo LD. O espaço pedagógico teni
t-nuitos outros gêneros clue circulam nessa área e não urigrar-rl p:lra o LD, tais
corlo as conferências, os relatórios, as atirs de retrniões etc.'lirclo inclica, pois,
qtle o l,l) pocle ser tratado colno unr sr-rporte corn características rnuito cspeciais.

(3) fornal (diário)

O iorlal, diário e illeslro o jornrrl scmanai, é nitidamer-ite un suporte


con rnuitos gêneros. Estes gêneros são, em boa nreclicla, típicos e reccberr,
ein ftrnção clo suporte, algumas características erri ccrtos casos, tal cono o cla
notícia. Aqui situarn-se tambérn as cartas do leítor e as noÍa.s soclaís, entre
outros. No jornal, tenros gêncros que não aparecem enr relistas serranais,
conro: dt1íutcios fúnebres, cortt,ites para missas de sétin-Lo dia, prettisões
nleteorológiccts, resutllos de filmes, horóscopo diário e assim Por diar-rte' Nlas há
outros Colt-rlltts Co1rt tls revistas, como notícias, reportagens, editoriais, receitas
uLlinárias, história ent quadrinhos, charge, erúrevistas etc'

('t) Revista (semanal / rnensal)

A rer.ister scpranal poderia ser r.'ista no conterto do iorual diárict, miis alénl
cle conter sensir,elrncrtte menos gêneros tertuais que o iornal, tct-n tttna peculia-
riclacle 1o processo c1c tertuirlizaÇão, corno se fiisott 1'rá pottco. ]ornais cliários
c revistats clir,ergem cu alguns aspcctos. Ern primeiro lugat, mttitos gêneros são
rnais específicos cle jornais diiirios clo que revistas semauais. Der.'e-se ter en-t
rnepte qlle as revistas semanais, qninzcnais ort mensais tambénl divergem en-
tre si e os jornais são ern ger:ri cliários. Assin'r certos gêneros que circtllarlr cottl
lotícias ou fatos Lrpcnils do cher (p.et.,anútncios túnebres e classificaclos) pou-
co aparecem ern revistas. N,Ias rrpeni-ls tuna auálise cletalhada cliria se há clife-
renças específicas. O certo é que a trtulação (rranchetagenr) enr revistas c
jornais tern cliferenças not:iveis.

(5) Revista científica (boletins e anais)

Seguranente, as rer,istas científic:rs, os anilis cle congressos e os bolctit-ls


cle associações científicas, Por exenlplo, são suPortes cle gêrleros bastante es-
pccíficos e ligaclos a ur-n domínio discursiio (o científico, acaclêtnico on
instruciolatl). A1i encontran-ros artigos cientílicos, resenhas, resLLtttos, cottlutlícLt'
ções, bibliografías, debates cientílicos,
prctgramação de cctttgressos, progr(ltl1tts
cle uLrsos e olltros dessa naturczer. São sr-tportes hoje tracliciollais e que sc esPC-
cializam cle maneira muito clara. Pelo fato de sereilt consideraclos científicos,
há inciusive um sldúus clos gêneros por cles r,eiculados cpe é difclentc dos
tertos sirrilares que rlp:treLcm elr jorturis cliários oll elIt revistas serranais cle
tlitrrlglrçio ott ttotitio:rt:.

L6) Rádio

Não obstante ter dito no início que nào rre reportrria aos gêneros ol:ris
de napeira sistemática, lembro o ráclio como sllporte pela suil rcle\'âllcia e
por ter sido clescnhaclo para esse fim. Cor-rtudo, friso que o r:írlio é uu caso
problemático porqllc pode ser consideraclo unr sttporte uurn sentido restrito
como um lugar dc firação, rnas é tur serviço ot-t ineio quando totnaclo cotl-io
sma enrissora. O rádio porta con un-ia multiplicicl:rde de gêneros. NIas como
ele conta com a transmissão sonora sern o recllrso visual, certa[leilte terá uma
interferência dir,ersa da teler.,isão. As notícias n:r Tv, no rádio e no jornal não
tênt o meslro tipo de tratalnento ern relação ao discurso relatado ou reporta-
do. Hzi pouco discursci clireto (citações de fala) no rádio e na T\/, ao passo qlle
isso ocorre mais no jornal c na rer,'ista.

(7) Televisão

A tele''isão acha-se no mesmo caso de arnbiguiciacle que o rádio (é simul-


taneanrente vista comcl snportc, n-reio e serviço), il-lrrs corn a diferença dc que
aclui terros a iuragettt c nào só o sor-rr. Aién-r disso, pocicrímrn«)s pcusar enl
meios on sistcnurs cle transporte divcrsos nâ T\', já que ela pocle sen'ir-sc cle
outros suportes e artó cle evcntos cornpleros, pois nzr tt pciclcntos ter a transnris-
são dc teatro, cintzrrtct, rtot,ela c assim por diante. N[as c]a não scria o suporte
clo tcatro ort clo cinctna e sirn um meio de transnrissão. De rcsto, não sabemos
ttincla couo tratar o caso clo cincma e do teatro. Estes não são propriamcntc
suportes e sim antbientes (casa cle espetáculo) ou até instituições (o Cinenta, o
Teatro). Já a peça rle teatro e o filne ern si são gêne ros.

(8) Telefone

Igualntente ao câso clo rric]io, terros:rqui unr suporte p;rla gêneros oreris.
O telefone está no rncsrno plano clue os anteriores e é um suporte qu:rnclo não
@
I

se Pensa aPcllas na tecttolcigia uem no sistema fttncionanclo collto rneio. Clas-


sifico conto unt slrportc-trteio. Nele sc dão muitos gêneros, nras har,eria que
discutir se clistinguitnos entrc o telefone enquarito urn aparclho e a telelonia
colllo Llma técnica cle cotnunicacão. ..\ssin'r, a telelonia perrnitc a realização
de gêneros que o telefottc rrio pcnritiria. Não me parece clara a clistinção que
se f:rz entre arnbos e isso cler.eria ser mais bem pensardo.

(9) Quadro cle avisos

Este é Llttt caso itrteressante que pode ser tido conlo i-rn-r suporte pela
quantidacle de gêncros qtrc abriga, mas l-i:í clrrcm o considerc urr gêncr<.r
tertual, o qlre parece ser equivoc:rcio. Nun quaclro cle avisos, tenros pu-
bliciclacics, avisos, pocmas, listargcns rle notas, infornrzrções c1ir,.crsas, car-
tazes cle elentos, placas. stigcstões, propostas, regirnento cle ctrrsos, re-
cortes dc ionral conr notícias, eclitoriais etc.'l'rata-se c1e nm suporte corn
características próprias quc conténr no geral tertos de curta ertensão.
N'Ias os cluaclros dc avisos hoje podenr conter ontros suportes conro os
folders e jornetis inteiros afix:rdos. Tanrbém conténr material visual conro
fotos e desenhos isolados.
(10'1 Outdoor

Trata-se de u.n suporte e não de u, gênero. Co,o lernbrado aci.ra, em


alguns mot'nentos eu o classifiquei como gênero, r'r-ras dada a diversidade que
esse

"suporte" r,'eio assuminclo quanto aos gêneros que alberga e quanto à ftrnção des-
ses gêneros, eu o classifico i-roje colno suporle. O outdoor teln peculiaridacles
,-ruito interessantes e nereceria urn estudo à parte. Ele veicula, como iá se ViLl,
Yez mais.
gêneros bastante especializados, mas \rem se generalizanclo cada

(ll) Encarte

Corro vamos tratar o encarte ern um iornai diário? Muitas','ezes é utna


re'ista conpleta, e.n outros casos, é u.ta publiciclade, u,1a proPaganda, uma
campanha publicttária e assim por diaDte. N{as o encarte semPre vern clelrtro
cle urr outro recipiente ou suporte. Já o próprio nome,cliz que se trata
de algo
cleper-rdente. Poclernos falar c1e suportes cle suportes? E importante nào consi-

clerar a bula de retnédio cotrlo Ltnl encarte por vir situada no ir-rterior de ui-t.ta
ernbalagern.

(1\ Folder
'fucio itrclica qrle o folder pocle ser ticlo corno utn sr:porte de gêr-ie ros
cliversos, embora haja quem o trate corno gênero. Adnito qse o folder é
tltr-t

suporte que porta gêneros tais como cantpanhas publicitárias, caml:anhas


gorerrTdmerTtais, {núliciclades, instntções de uso, currículcts, prospec'tos e
assii'tt

por diante. Eristem folders corn mais c1e um gênero. N4as a cluestão clo folder
não é clarzr e I-rá pouco consenso sobre o caso'

(13) Lurninosos

Os luminosos fora[r procluzidos para veicu]arenl tertos e inagens. São


estruturzs conrunicattir'âs cont as qr-tais os usltários têi'n em geral ut-r-r contato
bastante figaz e não tão sisterlático. Na maioria clos casos, ali figr-rrall tertos
eu ntot,itnento e gêneros ligaclos à publicidade c1c grancles elrPresas oll c:]m-
p:rnh:rs governameniais.

(l'1) Faixas

As faixas tan-rbént são suportes traclicionais e altailelte contrencionais'


São iugares aclequados para r,eiculzrr textos Parâ serelll vistos de lor-rge. Tarn-
bénr serr,'en-i para rlecoral as lr-tesâs de abertura de congressos orr festividacles'
As fairas constituem uma espécie cle sr.rporte bastante collllllll para eventos
Iestivos. Elas portarn um gênero àe caàa vez. São inscrições, \ogomarcas
ou
então inclicação cle eventos. I-Iá fairas coner-noratir,as cle aniversários de ern-
prcsas, festividades e situações cle grande pÍrblico.

AL(;[NS F,XFllÍPi,OS Dfj SLiPOttll,S INCIDENI;\IS: os suportes aqui


denonrinados íncidentais são apenas meios cirsuais e que enrergen-r ern situações
cspeciais ou até mestrlo corricpreirzrs, rnas não são conr,,encionais, como os apon-
tados no item anterior. Ninguérn nega que urna porta c1e banheiro porta textos,
rnas issct não é cornul-n etrl todos os banheiros, corno não é comunt todas as
pessoas tercrn seus corpos tatuados corn inscrições ou qlle as calçadas, as pare-
des e os muros ern geral estcjarn cheios cle inscricões. É inegár,el que boa parte
clos tertos hoie en-r circulmção pelos arrbientes urbanos se acham nesses stLportes
hrcidentais. Tratamos deles aqui, já que não devcrn ser ignorados.

(1) Embalagem

Este é un-, caso intercssante, pois, no geral, a eri'rbalagem não scria tida
coilro um suporte. Contuclo, tomamos a eilrbalagem colno um suporte na
rnedicla em que nas embalagens podem estar r,ários gêncros. Embalagens de
proclutos cornestír,eis muitas vezes trazem não só o róttLlo clo prodnto, rr:rs

F
ttma receita. C)u então, r-ro caso de remédios, pode-sc ter uma l>reve bttla de
remédio e assirrr por diante. Quanto a este Írltinro aspecto, pode-se indagar se
as indicações qr:e estão no rótulo são aigo dil'erso da buia que ven-r dentro da
caixa cle rerrédio. Se indagarn-ros de vários especialistas, elcs clirão que a bula
é cliferente claquilo qlre vem na embalagem. N,{as se obserr.armos as instruqões
qlle aparecem na embalargem, elas parecem urna bula.
(2) Para-choques e para-lamas de carninhão

Não parece haver dÍr'idas de que estes sejam um suporte de gêneros


rr-ruito cspeciais, tais corno frascs e prorerbíos. Certanente o caminhão é un-r
veículo en r'ários sentidos, pois transporta tanto o para-choclre conro o texto.
NIas não é só o para-choque do carnir-rhão e sim também de automóveis e
dernais veículos como ônibus etc. que serveni para essa finalidade. Essa é uma
fan-rília de suportes ligada a um meio cle transporte.'lalvez der,êssemos pôr
aclui tarnbén as janelas traseiras de ônibus urb:rnos, que hoje se torriaranr
suportes sister-náticos, especialmente de pubiiciclades.

(3) Roupas

Embora rnc clecida pelas roupas como suportes, não parcce muito claro
se clevenros tornálas corno tal, por erernplo, ttrna cún-tiseta. h)la parecc ser Llnl
suporte cle gêneros, iá que hoje en-r clia porta textos dos nlais variaclos gêneros,
não traz cle naneira sisteflrática
como poemas, provérbios etc. N{as a camiseta
tertos e talvez der'êssemos restringir esse aspecto'

('t) Corpo humano


tertos en-t
o corpo humano Vem cada vez mais servinclo para veiculirr
slogarls paral protestos elll
geral n-ruito curtos e na fornta de iatuagens ou cle
a ser 11111 suporte
ít.,açõe, especiais. Nem por isso o corpo hun-iano passa
qtre vai Varitlr de
co.r..e,cional. E,le continuàrii senclo uni suporte incidental,
sào ll-iltitas \rezes os
acordo com aS culturas. Nas culturas inclígenas, oS CorPoS
"suportes semióticos" tnais convertcionais etl-t situações cle festa ou de
ceriluô-
or-itros suportes espe-
nias especiais. N{as isso pela circunstância cle não terenl
c.ílicos rrerrr clisporerrr ch e:crillt Cottrcttciottltl erlr
alqtrrlla de tttrts lortlllts'

(5) Paredes
clc casas,
Todo trpo cle parccle está aqui rncluído. Pociern ser parecles
escola etc' Esscs sllPor-
edifícios or1 lnesrlo cle interiores coillo uliversiclacles,
tes Operant mr-tit2s \,ezes elll up COntíntlo COIIIO
no C21So cle sripgrtarenl Llll'I
quaclro de avisos que é o stlporte clc gêneros'

(6) N{uros
cotlrct-tcio-
Hoje ei]] clia parece qtle os ll-ItlloS estão se tornando suportcs
nais para alguns gêneros tertuais tilis cono as Propagilnclas
políticas' Flles ser-
\,em para iÃscriçoes, propagancltrs, publiciclades e picl'rações
em gertrl. São
tertos poll.o ,l"rer,r.nhlidor, nr^ c1c grande eficácia comttnic:rtiva. N'lesmcl quc
os ilnlros seiarn us:rclos corlo suportes etn grande esca]a, eles não são
os iornais e os 1ii'ios'
conr,encioriaclos p:rra essa finaliclircle col]ro as rel'istas'

(7) Paradas cle ônibus


botrs locais
Intagino qlle :ts parailas cie ôr-ribus estão scnclo tolllaclas crttro
estratéqica cotllo
para afrtar or1 lttesrto inscrever textos pela sr-ta cor-rdição
locais illtlito Visír'eis c
an-ibiente firr,orár,el à colltnnicação erll gracle escala. São
vtirio-s gêneros' t'lles sãcr
quancio hii algurra parecle ou tllll lllt1lo, cottlportatrl
publicrcl:rclcs cle :rpclo
para o grancie púrblico. r\li encontrar]los canpanhas ou
outros, mas llão de
geral como carros, apartailtentos, proclutos clc beicza e
supertttercaclos llcrll de proclutos perecír'cis'

(8) trstações de metrô

Emborirasestaçõesdernctrôsejanrclorrresmoestiloqrrcaparadade
cle gêtreros' Tem algo <le
ôrtibus,são sempre mzriores e com mais possibiliclacle
uzrs ]rá
silnilar co[r paredes e n']Ltros quanto aos gêneros qlle CoirlPortanl,
ainda quadros de avisos e cartazes ou outros suportes que estão nelas afirados,
o que lhes clá ur-n caráter diferenciaclo nerrl sempre ligado à ideia de suporte
de gêneros e sim de suporte de suportes.

(9) Calçadas

Hoie as calçadas passaram a ser locais para inscrições, tal corro se institui a
calçada da fama, em que pessoas famosas põem a ir-npressão de seus pés e a
inscrição cle seus nomes. Esse suporte em geral porta textos curtos e permanentes.

(10) Fachadas

As fachadas de prédios, em geral de grandes ertensões, são similares a pare-


des, mas ficarn seirpre de liente para grancles locais de circulação públicir e
portam inscrições maiores com gêneros cle curta ertensão. Na maioria das r.e-
zes, são logomarcas orl os nonles cle empresas, marcas de grancles produtos.

tl 1) fanelas de ônibus (meios de transporte em geral)

De atlgurts tempos para cá, as janelas ern especial a parte traseira,


c1e ôr'ribr-rs,
tornarat'n-se nn-i sttporte c1e publicidades e campanhas gor,ernamentais. N,{as isso
não é corrttur e não teir regularidacle. Trata-se de nrn sr:porte n-iuito incidental.

EXFI\II'tr.()S D1.. SIIRYICOS F,\t I.'i i\CÀO D\ .{I'n'tD.\tr)il (j{,}\IUNí-


C,{I.l\.\: os casos abaixo não devem ser situados entre os suportes tertuais,
sej:rm os inciclentais ou os con\/encionais. A tenclêr'rcia é r,ê-los como senicos.

(1) Correios

C)s correios são ir-iet-ios um snportc e mais urr meio de transporte ou url
serviço. É r-r-nrito cliferente clo caso cla revista e clo jorn:rl. Quanto a isso, seria
interessante discutir se o tclefone e os correios forman um conjnnto cle supor-
tes-rneio dir.,ersos da teievisão e do ráclio.

(21 {Programa de} E-mail


Aqui está um c;rso curioso, pois se turnarnros o programa OLLtloctk, por
ererrrplo, tercnros sen dÍrr''ida um suporte do tipo "correio eletrüticct", mas se
torrarnios os e-mails enquanto correlatos das cartas pessoais, tercnos uin gêne-
ro. Neste c:rso, trato a pala\rra e-nail como se fosse una hononírnia, ou sejâ,
t-tr-n termo conr duas acepções tanto cle origer-n como cle função. Contudo, o e-

ntail na ftrnção de correio elctrônico é nitidarner-rte urn serr,iço que transporta os


nrais variados gôneros, tais como propaganclas, ofícios, bilhetes, e-rrails, cartas
conlerciais, rclatórios, artigos científicos e assirrt por diante. Não obstar-ite isso,
hoje a ideia mais comlurr ern relação aos e-mails é que sejan'r vistos como ttnt
gênero da área epistolar, assim como obsen,ou fuliana de Assis (2002).

(3) Mala direta

A mala clircta se assemelha a um servíço e deveria ser tratada como tal. No


geral, a r-nala direta vcicula gêneros diversos cio clornínio cliscr:rsivo cla publicida-
de até a corrrunicação entre enlpresas c remessa c1e docurnentos a clientes dc
errpresas. A expressão 'nala díreta', qttando ernpregada pelos Correios, é erpe-
nâs rrmil clesignação para L1m ntpofte, ilas el)qtrâirto en'rpregada por ulna eln-
prcsa pode ser até rnesnro a ciesignação de um gênero, como o caso cle utlla
carta de aniyersairio. O caso nlerece rrrn estudo à parte pclzr compiericlade. Há
malas cliretas para pessoits (unta carta de atút,ers(trío cpre o gerente clo b:rnccr
rranda no scu anir,ersririo); há rralas cliretas para 10.000 pessoas (as cartas que
rcccbemos cle um candiclato a deputado); }iá rnalas diretas com pttbliciclacles cie
empresrts (as prornoçõcs cle urna loja) e assirn por diante. NIas há casos rriuito
nrais compleros do que estcs sendo chamados de mala clireta.

('1) Internet

'l-rata-se cle nrais nm casoJirnitc. Pessoalmente. trato a internet colno rtm


snportc irlberga e concluz gêneros clos rr:ris diversos fclrmatos.
qr-re A internct
contém todos os gêneros possír,cis.

l\) Homepage e site

Para alguns autorcs, a hontepage c até uesino o site são rtrn gênero, ntas
para ontros são um sr.rporte. Crcicl que, cle modo gerai, it hornepoge é unt
gênero bcnr estabeiecido, nas o slle é um suportc e não ttt-t't gêncro. A1ém
clisso, parece clirro clne .t hcnnepage institucionnl carrega ntna sórie cle gêireros.
Barsta olrscrr,ar a futnrcpage c\c quaicper rrniversiclacle pare ver a clivcrsiclacle de
coisas leitas ali dcntro. I}rtre outras coisers, esth ali a possibíliclade c1a ntattícu-
1a cle alunos on-\hrc. Se tomarnos o slÍe c1e aigum seri'idor c1a intcr-net como o

UOL, \'erlos quc sc trata de um sen,íço clr.t sttporte c1e orttros suportes, i:i que
ali cstão revistas, jorlais e livros.

z.q Anólise dos gêneros no oÍolidode

Neste monrento, \,oLr rre nter acls gêneros tertu:ris falados, ttrna ritca na
qual os estr.rckrs não são abunclantes. Obserr.c-sc que o estuclo c1a classificação
tuir Antônio llllarrusthi I Produíãa lexlurl, onúlise de gêneror e *onlFrçên!õq

círculo intellecliário clue envolr,e alguns gêneros (interrnodais?) cyre são de clifícil
'ltaltzr-se clos
localização em uilla ou outra modaliclade de tn:rneira tt-ruito clara.
chainaclos gêneros mistos ou híbridos sob o ponto cle vista cla moclalidade'

2.I3 0s gêneros emêrgenles no mídio virluql e o en§ino

N4ais c1o que em clualqucr outra época, hoie proliferau gêt-ieros novos clentro

de noyas teci-rologias, particularmente na rr. íclia e1e trônic:r (digital). Diante disso, r'a1e
inciagar-sc se a escol:r deverá :rmanliã sc ocupar cle como se produz urn e-n-Lail e otttros
gêr,"ios c1o ciiscurso do mundo virtual ou sc isso não é st-t:r atribuição. Pocle a escola
trnrrçi1an-iente cor-rtinuar ensinanclo conlo sc escre\re cartas e co[]o se prodttz t-ttt-i
clebate face a face? Será que o moclelo de interação fzrce a face proposto por Sacks,
Schegloffe Schifllin ilos :1rios 1970 1ri c1o'e scr revisto cr pontos essenciais, consiclc-
ranclo-se 11
llresenÇa nos bate-papos?

E,n prir-rcípio, Tom Erickson (1997), Pilra ql1clr1 o


é possír'ei concorciar corn
estuclo cl:r comunicação virtu:rl na perspectiva clos gêneros é particrrl:rrrllente intc-
ressante porqrie "a inter:rção c»tlirrc tctr o potcncial <le:rcelerar etlotulemeute a
er.,o1pçãoclos gêneros", tenclo enr vista a natureztt clo rueio tecnológico e os moclos
corro se desenr,olr.e . Flsse meio propici:r, ao contr:irio c1o clue sc ir-nagirlrlr'rl, Lllrlll
"intcração alt:lrente p:rrticipatil-:r", o (lue obrigarií a rever algutnas noções jií
consagradas.

Setomarntos o gônero enquanto terto concreto, situaclo históricil e socialtnetltc,


cnlhrralmentc sensír,e1, recorrente, "relativamente estár'el" do ponto de vista estiiístico e
coltposiciolal, sen.indo corno instrumento cornttnicativcl cont propósitos específicos
.u,,,à ,.rrrr, cic aqão socral, é f,ici1 pctceber qlle tlil't trovo tlleio tecnológico, quc inte rfc-
rc enr boa parte clessas condições, c1o'e tanrbém íntcrferir na tt:rhrreza do gênero proclu-
ziclo. 'lbrncmos o gênero rnais prirticaclo no nosso clia a clia, a corLrersrtção espotttânea
realizacla f:rce a face, c pensemos na clescrição oferecici:r por Sacks, Schegloff e Schiffi-irr
(197.1). Têntcmos agora:rplicar essa clescriqão a tlill bate-papo ctrtline. Que aspcctos clit
relação face a face transfcrcnr-se parrr o 1ro\ o rneio? Qual a intcrferênci:r clo anorlirnato
nranticlo nurr apelido 1tichnnrc'')? C) clnc urucl:r qnancio a relação interpessotLl Passâ il
ser Llma rclação hiperpessoal,coulo ilo caso de uttbate-pcrpo em aberto? Não é propria-
prente a estrr-rtnra qllc se reorgrrrrizrr, rnits o quaclro qtte forira a noção clo gênero. Errl
suma: r'r'tuda o gênero.

Não obstapte ess:rs poncleraçõcs, é borri tcr cttr.rtel:t cltt:utclo se rtfirtllr qtte
algo c1e nor.o cstir acontccenclo enr relação à lineuirgeu, pois faz rlluitíssimo
terrrpo qlre o ser humano fala e bastante temiro qlle escrcve. A icleia de que a
§egundo Psrte I Gêneros lexluois no ênsino de línguo

cada rova tecnologia, como lembra Davicl Cr1'stal (2001: 2), o mundo toclo
se renova por completo, é rrrna ilusão que logo desaparece. Nor.idades podem
ató acontecer, mas com o tempo percebe-se qne não era tão novo aquilo que
foi ticlo colno tarl. Ir, particulanrentc suas influências não fortrrn tão clerrasta-
doras ou tão espetaculares como se imaginai.'a. Daí a pergunta: quanto de
novo ysir? por oí coili a intenrct nos nossos r'ídcos?

)ustarnente por não encontrar grandes respostas para essa questão, Cr-r,stal
escrevelr ser.r lir.ro A línguagern e a itúernet, na tentativa de clescobrir algo
sobrc "o papel da linguagem na intemet e o efeito da internet na linguagen-i"
(2001: r'iii). Quanto a isso, para o autor, surnariamente, três aspectos poder-n
ser frisaclos:

(I ) c1o ponto cle vista da linguagem, temos uma pontuação minirn:rlista, rttna
ortografia urn t:rnto bizarua, abundâncir-r dc abrel'iahrras narcla conr.encio-
nais, estri-rturas frasais porlco ortocioras c rllu:l cscrita senialfabética;
(2) do ponto de vista da nattrreza enunciativa clessa linguager-n, integram-se
r-nais sen-rioses do que usualrnente, tenclo em vista a natuLeza clo meio;
(3) do ponto de r,ista rlos gêneros reaiizaclos, a íntentet transn'iuta cle
maneira bast;rnte iaclical gôncros eristentes e clesenvolr'e aiguns real-
nrentc 1lo\os. Contuclo, urn fato é inconteste: :r internet e todos os
gêneros a e1a ligaclos são eventos tertuais hrlclamentalnrente baserr-
clos na escrita. .r:a intcrnet a cscrita cr.,ntinr-r:r esscncial.

Trrcio rnclica, aincla segunclo Cn,stal (2001), cluc a interireÍ seja menos
nr-na rer,olnção tecnológica c1o qlle L1m:i revolução clos rnoclos sociais de interagir
linguisticamente. Pode-se clizer que o cliscurso eletrônico aincla sc ach:r cnr
cstado nrcio sclr'agcrrr c indonrado sob o pontcl cle vista linguístico c organiza-
cional. O próprro cstado dc :inonim:rto clos b:rtc-papos favolece o lirclo instin-
tivo, descle a escolha clo apeliclo até :rs clecisões linguístrcas, estrlísticas e hbe-
rairdades qualrto ao conteÍrdo. Traia-se de lura estética err busca c1e seu cânon.
sc ó quc isso :rincl:l poclc acontcccr.

De rraneira gcr-al, a conu-n'Licctçíto mecliada prtr contprrtador abrange to-


clos os forrn:rtos c1e cornnnicaqão e os respectir.os gêneros qlle enrergcnr lrcssc
corrterto. F-rrturarnente, é prorái.el cpre :r crprcssão itúerrrct assrlmr.r il crrrgâ
serriântica e pragn-riitica c1o sistema cornpleto, já cpre se trat:r cla rcclc munclial
c1e cornnnicação iirinterruptarnente interconectacla a tockrs os comput:idorcs
ligacios a ela. c1e rnoclo particnlar, uru conjunto cspccífico c1e nor.os
'\naiisa,
gôrreros tcrtu:ris, clescnrolriclos no conterto cl:r hojc clcnonrin:rcla tnídio yir-
Írra1, iclcntificaclr centmlrnente n:r tecnologia computncionirl a p:ltir das três
Írltirnas clécaclas clo século )C(. Daí s1lrge rlrn nor-o tipo c1e conrunicação co-
(cxtc) ou' comunicação
[rl-recido como comunicação mediada por comptLtador
"discurso eletrônico"
eletrônica, que desenvolve uma espécie de

relevâr'rcia cle se tratar desses gêneros textuais reside


el]r pelo I'IeIfos
A
quatro asPectos:
(('il)
1l ) .i() gi,rrCro, CrI fr;rirto tlCrrttroiritrtt'itt,r c ia'e tl. íir.rc'in ll\L)

cacla vez rtrais gener:rhzaclo;


(Z)aprcscllt;rr'ilpecttiialid:rclesfori'tlaispróprias,tlãclobst:rrltctercn.t
corltrapilrtes etll gêneros prér'ios;
(3) ofeLeceil;r pOssibilidacle 11c se re\.er algrtus conceitos traclicion:ris:i
resPe ito c1;r iertLr:rliclacle;
(4) it,r-ir1aI'i sellsivelnrctrte ilossit relação colll:l oraliclacie r: a escriia' o

qllc tlt)s t:lbriqa a rePensá-i:t'

Para ll-relhor cor-npreensão do problema e Parâ que


a ar-rálise tentra mais
com elenientos teó-
autonomia, introcluzir-Dos, inicialmente, alguus conceitos
não é no\'o e vell1
ricos e metodoiógicos. O tema em si - gêneros textuais -
ar linguística cle terto e a
senclo trataclo clescle os anos 1960, quanclo surgira[n
análise cotl'eisacional, mas o eirfoque dado aqui corn
atelção particuiar aos
recente e calece ainda cle
gêneros textu;ris Do clolnínio cla níclia virtual é mais
trabaihos, cnrbora apareçaflr estudos específicos]'i sobre esse l-lovo t-tlodo

discursivo taltrbém clenominado " discurso eletrônico"'
anlbientes'
Ilntremos agoÍa na análise clos gêneios emergentes nesses
Desconheço leYantamentos eratos cle quantos gêneros
poderi:tm ser iclerltifi-
consaglacla pata os
cados na míclia r,ittual e ignoro se já irír uma designação
anostra e não unla
mesntosli. Tambént cleiro claro que esta list:rgenr é tttna
cle 11-res serer-n claclas
relação etaustiva, pois pocle haver mais gêlleros, aIém
os gencros tllais
outras clelinições e c:rracterizações. Dc todo tuoclo, entre
pelo
conheciclos e clue r,êrr sen<lo estudaclos llo lllonlellto, poclernos situar
rrenos estcs (com clesignações tentativas):

ent ttn'Lhícnte |irírtol' rccerte-


10.'lbrna-se irnper:rtiro citar aclui o lil ro InÍeraçã <t e aprendizag,cnt
Belo Horizolte' 2001i corl tlttt:i sét ic
Dcntc organiz:rclo c edit:rclo Por \iera Nlcrezes (FÀl,E-LII"\lG,
dc tertos,"a nraiori:r clelcs rcferida ao lorgo cleste trabalho
aos gêtteros cotno dcsiqtl:rções cieliniti-
11. Nao gostaria clue se tornassell os llolllcs acltri daclos
"DrlÍe-
r,as. Na pritne it-a r.ersão cleste estuclo, citacla por
,,,tito, c1r,c a cla tiverau !lcCSso, ell dettotttinal:r
dc "c/zats echrc,rcion'tís", ternlo quc vctn se cons:rgtanclo'
papos eúLcaciorrals" o cltte agota chatro
'l âr-rrbónr prefiro h o je ., ,,u,,,"
tl.o,rrn. sações chttt" otl ape ll.ls " chat" ttçt inr'és de 'batc-pa pos t'irtuais'
l. e-mailrr - correio elctrônico corn lormas cle produção típicas e jír padrortiza-
clas. lnicialrnelte um serviço (.electronic rnaíl), resultou nuln gênero (sr-rrgiu e nr
19721) nos EtJA c csta hoje entre os mais praticaclos na escrita).
r3
2. clrat em aberto (batelapo virtr-ral eli aberto
- roont-chcil
- itrÍtttterzrs Pessoas
intcragindo simultaneamentc em relação síncrona c rio Ineslro :rrnbiente. Sur-
giu conro IRC na Finlânclia cnr 1c)88.
) chat reservado (bate-papo virtual resen'ado) r':rriante closroom-chaÍs clo tipo (2)
lnas conr as falas pessoais accssír'eis âpenãs aos clois interlocutores uttttt:tntettte
selcciorrados, cmbora poss:url continuar vendo todos os clenr:ris enr abetto.
chat agenclaclo (batelapo agenclaclo - ICQI r'atiante cle (l), uras com:r c:rrâc-
-
tcrística cle ter sido agenclaclo c oferecer a possibiliclac]e demais recLlrsos
tccnológicos na recepção e enr,io clc arqrrivos.
5. chat privaclo (batc-papo virtu:rl em salas prir,aclas) são os bate-papos eur sal:r
priva<la corn apen:rs os clois parceiros clc di:ilogo presentes; unra espécie de varia-
çiro clos bate-papos de tipo (2).
6. entrevista conr corln'id:rclo lonna de diálogo corn perguntas e respostas nttm
-
esqLlenlzl cliferente clos clois anteriores.
7. e-mail educacional (aula r irtual) - inter:rções coni número lirnitaclo cle aiunos
t:rnto rio fornrato de e-nnil ot tle orquit,os hipertextLLai.s corn terl:l clcfinido enr
colitatos gcralniente assíncr onos.
E. aula ch:rt (chat educacionai) - intcrações síncronas no estilo clos c/ials conr
finalidade eclucacional, geralrne ntc para tirar drir idas, dar ate nclirnento pesso:rl
ou el]r grupo e corn tem:rs pr ór'ios.
9. rcirlizacla por cornputa<lor e sirnilar â Llma
r'icieoconlerênciir inter:rtiva
-
irrtcração lacc a làce; trso cla voz pela re<lc dc telefonta ou a cabo.
I0. lista cle discrrssao lnniling list) gmpo de pessoas cottt interesscs cspe cíficos,
-
qrie se conlurricarn em geral cle forrna assíncrola, nrediada por Llnl rcsponsár'e1
clue org:rrrizir rrs nrells:igens e eventualmcrrtc faz triagens.
I 1 . crrclcrcço eletrônico (o endereço eletrônico, scja o pessoal para e-mail oll par:l ál

hctnrc-page, tcn'r hoje c:rr:rcterístic:rs típicas e é urtr gênero).

I2. Note-se cllre o termo j;'Í r'errr serrclo clicir.»rarizaclo nessa forrra tanto pclo Dicionário,\ttrólío

Slcir/o X\I, conro pelo DícbntiríoLlctrütíutHouctíss dtt [,írtgrrrt Portuguesa I.(.)..\ssin, rão tr:rcluzo p:rr:r
" cctrreio elctrôrúcri' . colro scria o rtorrnal filzêlo.

13. ()s gôrcros clcnonrinaclos c/roÍs são na realidadc btttc-papos llrluals em tempo real (.ortlíne't
e lrrrxérrr cle urn prograrla ou sistcnra ch:uraclo IRC lhúenrct Relat Ohat1. Flrrstenr mritos sistcrras
clcsscs. Qtr:rnto ao ICQ il Se e ft lbu I e os lJ L/Ds (Nl::1tí ple U ser l)ontaíns ) . trata-se cle r ariações que aqui
Irão scrão clistinguidas tle maneir:r sisternittica, j:í clttc r:ri:rrrr .rl)en.r\ conl() f(,rIIl:ls opcllciort:ris tle
prograrrrâras fal:rs c cstabclccer os cont:rlos, rn:rs a proclnção tcxtltal n:1o rari:r sttbstantivamctttc, a lão
scr cprando se tratir de mostrar a natureza dos cliálogos.'Ihmbém chamo:rtencão para o tàto cle o termo
já se achar clicionarizatfu tanto no,'\rlrillo conro no Hourriss. Nestc, lcrnos, par:r o verbete chaÍ, o
segrrinte: "fônntt rlc uurtLrrticttçito ir dístâncitr, ttlilíztutdct c(»tlpLttLtd(ircs ligados à intentet, rru qttal o qtLe -*e
dígita no tcclado cle Ltnt deles (lpdrece cm tentpo real nct vídeo de todcts os ptrtícípttntes do bate-papo" .
12.ç,cblog (blogs; di:írios virtuais) são os rliários pessoais na recle; ttrna cscrita
-
altobiográfica com obsen'ações cliárias ott nãto, ageuclas, arloiaçõcs, em geral
rrlito praticaclos pelos aclolescentes na krrrna cle diários p:rrticipativos.

Entre os mais praticados estão os e4ndils, os ch(tts ern toclas :rs r-r-roclalicla-
cles, /isÍas de discussão e wehlogs (,diários1.I-loie corneçzlll a se popularizar
tambéru as attlas chat e por e-moil ro ensilo a distância. Em tocios esses gêne-
ros, rl comllnicação se clá pela linguagem escrita. Cotlo \rerelttos) essa escrita
tencle a urna cert:r informaliciacle, menor rnoiritoração e ccibratlça pela fluidez
clo rneio e peltr rapicicz c1o tempo.

Ern certos casos, esses gêneros elrergelttes parecern proieções or-l

"trapstrtut:-tções" c]e otttros coltlo suas conirapartes prér'ias, o citlc SllgeÍe â PCr-
gunta cle se os rieslgners de softtvr:res seguiram paclrões prceristcntes colllo base
pâra a nolclagem de seus progrârrils. Corno os novos gêneros só são possíl'eis
dentro cle cleterminados progrartas, Parece qtte il rcsPost:r devc ser sinrl+. N'Ias
não clevernos confundir um progrârna conl ttm gôuero, pois uresrno diante cla
rigídez cie um programa, r-rão hii rigicle'z nas estratégias <ie rcaiização clo gênero
coino instntrrielto dc ação social. O qr:e se deveria investigar é qual a teal novi-
{acle das práticas e não a simples estmtura interna ou a ttatttreza da lingu:-rgenl.

Por erernplo : nos bate-papcts úrhLais ahertos, são construíclas identicltrdes


sociais 111ito cliversas clas que se constroenl lllls c'orrlcrsaç'ões fdce a face. E,sse
aspecto rrão está nos clornínios de controlc de ncnhun engenheiro de software.
O er-rgenheiro pocle, cluando rriuito, controlar :t ferranleltt:r conceitual, r as
não os usos e, mtrito nlcrlos os usuários. Isso significa que os tlsos não poclcrn
ser controlaclos em tocla a sua extensão pelo sistetna. Assim ocorre tanlbénl
com as língr-ras riatnrais cle um r-nodo geral. Ernbora haia urn sistema linguístico
subjacente a cacia língtta, ele não irnpecle a variação. As variaÇões não sãcr
aleatórias e sim sistcnráticas, 1ro caso dos usos linguísticos. fá no caso dos usos
cle softwares interatit;os, que ftrnclarn usos resultantes em gêneros textr-tais, as
projcções clos engenheiros são ainda mzris fr:rcas. A rigiclez do progranra fica

1,1. Flssa qucstão é clc crtrerra intportância e, coillo viuros Iras palar,ras do ettgellheirtt <le soltware,
Thopas Ericksor (2{J00), ao crplicar a construção e o fttncionarnento clo Programa BABBLFI, os
tlesigners iir.erant corno ntoclelo padrão os gêneros prér'ios qtte coupõettt:rclttele progranl:r. Assitn, trrn
c/raÍ seguiria as esiratégias cle produção dialógica dc utttn corn,ersaqão cour siitlttlação d:rs ativiclacles ali
<lesenr.olvidas. Nlais:rdiantc, nos rcportirrenlos a estc aspecto ao tratarnlos dos chats etrt:rtllbientes
abertos. Outro engcnheiro dessa linha clc trabalho ó [,r'r Pernbertort (2000), qLre e:nt()ertre as ttSÍ.rtLcture
Concept for lnteractíon l)esígn Pattem LangtLtlges, "erplora a ideia dc que gàrcro pocle scr trtna lcrrauen-
ta conceitual úttrl para cstrutr.rrar padrões interacion:ris de sublirtguagens" e cou isso mapear o território
paÍa ir constÍuÇão clc sol-ts. O autor tom:r o trabalho <le Sriales (1990) cono ponto dc parti<1a para sua
noção de gênero da "ricla real".
Por conta cle stta caractcrística formulaica, já que ern últirra análise todos os
gêneros produziclos no conterto da mídia virtuai têm urn sabor de fomtulários
mais ou rnenos discursivos e não de n-rúrltipla escolha.

Aspecto reiteradamente salieniado na cerracterização dos gêneros enrcr-


gcntes é o intenso uso da escrita, clando-se praticamente o contrário en) ssas
contrapartes nas relações interpessoais não virtuais. Será isso relevante ra carac-
terizmção do gênero emergente olt é um aspecto que nos leva aperas a repcnsar
a nossâ relação com a escrita e con a oralidade, uas não a relação entre ambas?
Se nos dedicarrnos a Lrrrra ar-rálise cle detalhe dos gêneros erncrgentes na rníclia
eletrônica ern geral (telefonia, rádio, televisão, internet), r,eremos que algumas
clas icleias a respeito da interação verbal deverão ser revistas. por eremplo, a
presenç(l física não caracteriza a interação convcrsacional err si, mtrs siln cleter-
rninados gêneros, tais como os que se dão nos encontros face a face. De igual
modo, a proclução oral não é necessária, illas apenas suficiente para detcrrninar
a ir-rteração verbai, pois é possír,ei urn:i interação síncrona, pcssoal c clireta pela
escrita transnútídrt à dístârrcia, o cltre já era em parte possír.el pela conrunicação
pelo telégrafo e pelo código N{orse. Mas no caso ahral hei urna série de noyidar-
des que não arpenas simularl, mas reaiizarn efetivamente a interaçào.

'lbdos os gêncros aqui tratados dizerr respeito :r interaçõcs


entre indir,í-
cluos reais, crnbora suas relações sejarn no gcral r,,irtuais. Por isso optauros por
não tratar do "gênero textual" rro contcrto clo munclo imaginário dos N{t-lDs
(N,Iulti-Llser-Dungeon). Trata-se cle trm progranra de jogos mtrito conhecido
nos ânos 1970 e que posteriorrnentc redunclou em algo que poderia ser cha-
mado de logo de comhate ot r,uta com dragões. Corno opera nllmrl relação
colll Lllrl tt-tttnclo inaginário, pâreceu não caber nesse contertci cle anáiise. No
carso dos N,{LiDs, ternos rtur tipo cle relação irreal, relação conr a fantasi2 e pão
com scres rcais e trata-se cle urr jogo. PoL essâ razão, loi daqui ercluídor5.

Diarlte de trido isso, é possível inclagar-se cpre tipo cle prática social enrcr-
ge corr as nov2is fornras de discurso virtual pela íntenrct. Pode-se falar enr
letramento digital, corno foi inicialmente sugerido? Creio que é ceclo para
tanto. N'Ias já se poclc dizer que tcn-ios nol'as siÍuações de letranrcnto cultttral.

Tornanclo-se os gêneros apont:rdos :rcirna e seguinclo-se a ideia cle qr-re


nrr contínuo colr base ern alguns vetores, tal como já
eles poclern rcpresent;rr
hayia sido sr-rgerido para a relação fala-escrita en Marcuschi (1997). é possÊ
ve1, conr base na sugestão de Yates (2000: 276-276), traçar os clois gráficos
abairo cclno clois contínr:os contrapostos.

15. Para itrlorntaçõcs mais detalhaclas a respeito da linguagen e clos foniratos dessas ínteraçõcs
inraginárias, sugiro a leitura do cap.6 de Crvstal (2001). pp. 171-19.{.
O gráfico I mostra o contínuo entre :rlguns gêneros tradicionais na faia e es-
crita, tendo cor-no vetores os eiros cla cornunicação síncrona t)ersus cor-nuniczrção
assíncronâ, ott seia, con-tttnicacão que se dá no ternpo real (caso da conlunicação
face a face) e a con-runicação escrita (em geral defasacla no tempo). Além clisso,
ternos os outros clois vetores, a cornunicação grupal (de um para muitos, dc muitos
para um ou de n-iuitos para r-r'u-ritos) e a corriunicação bilateLal (cle um p:rr:r ttt'n).

O gLáfico I representa o contínuo entre os gêneros de ttnra certa cscrita


(cartas inforrnais) até a fala espontânerr nas colr\,ersações dialógicas. Há utrt
mor.imento do relatir,amente formal, pois as cartas podem recetrer r.'ários csti-
los quanto al esse aspecto, ató o bastantc informal. E igr-iahlcnte c1o tnais dis-
tanciaclo (coir-iunicaçãcl assíncrona) até a coinrlnicação em tempo rea1, firce tt
f:rce. Por outro laclo, podc-se ir descle a couutticação em gruPo até a bilateral.
(clescle
Quanto a este aspecto, note-se qlle uma cartzr pocle ter r,'árias fornras
urna carta pessoal cle unr pâru Lrm até urna cafter circulnr de um p:rra muitos.

Os gráficos I urra relação que tenta climinar a visão ciicotômica


e 2 trazenr
e ao illesnro tempo nrostra que há uma certa cliíerença entre o âml)iente soito-

& ro / impresso c o neio digital.

GRÁFrco 1: o c0NTÍNUo DE GÊNERos NA coMUNrcAçÃo TRADIcloNAL IMPRESSA E FALADA

Comunicação assíncrona

Interação Interação
em gÍupo umaum

Comunicação síncrona

FONTL Simeon J. YAITS (2000: 236)


enslno de lÍnguo

GRÁFrco 2: o coNTÍNuo DE GÊNERos NA coMUNIcAçÃo DTGITAL MEDIADA poR coMpurADoR


Assíncronos

I LlG Interação
bilateral

Síncronos
F0Ni[: Simeon J. YATTS (2000: 237)

O grírfico 2 traz, osrlesmos \retores acima, n-ras desta vez aplicando-os à conur-
nic:rçiio cligital. Neste caso, o qrlc se obsen'a é que os ertTdils são uma corrrunicação
dc flrto assíncrona, mas pocleli ser tanto grupais como inclividuais, tendo Llr-]ra prefe-
rência pela realização interinclividual. |á a videoconferênci:r clistinguc-se ciuanto a
isso. Por outro lado, o uso da recle (uuu,) em todas as sllas rr-ioclaliclacles e gêneros
F
abrigados, está num entrecruzamento quc pcnuite enorne variedade de realizações
eur terrnos de fomalidacle, informaliclade, relações cornunicertir,'ars e produção
síncrona olt não. N4as os bate-papos yirhLais ocrlpillrr a base que, em cedo senticlo,
corrcsponde à situação da cornnricação face a face, corn as dir.ersas possibilidades
apontadas em relação :r screr] comnnicações grup:ris or-r interindivich-rais.

A distribuição dos gêneros por esse contír-nro podcria ser feita num quaclro
nrulticlir-nensional, tomirndo os pzrrârnetros trazidos no quaclro acima e consicle-
rando os onzc gêneros tratzrdos. Vcríamos que hh unra orclcrn mnito ciara entre
eles e sr-ta clistribuição se c1á de forr-n:r não :rleatória e surr produção obeclece a
critérios bastante rigorosos. Gaston Hilgert (2000) já mostrirr,a essa qucstão conr
r-nttita precisão ao identificar "o contÍnr:o ern qlle se distribuen os gêneros cle
tertos escritos" (2000: 52) corrclacionando-os dentro clo irrnbiente digiial.

Observação interessante no conterto do discurso virtual é a construç:lo


das iclentidades sociais numa espécic cle contínr-ro. Podemos dizcr que zrli se
dão inicrações entre indir,ícluos no seguinte leque geral, consiclerando apenas
a natureza clas relações entre os participaltes e os gêneros aqui r.istos.
Hole cleveríamos observar com algun-r cuidado o caso do orkut, que não
é um gênero e sirn utna nlaneira de construir redes sociais.

irreais
conhecidos
I
I
I
I

e-mail
bate-papos agendados listas de discussão bate-papos abertos MUDs

bate-papos educacionais bate-papos abertos bate-papos em salas Privadas


aulas virtuais bate-papos reservados
videoconferência endereço eletrÔnico
endereço eletrônico e-mails
listas de discussão entrevistas
entrevistas

Neste ntornento, cleveria ser feita aqtti utlra obsenaç,1o sobre os gêneros
tertuztis virtuzris que não foranl mcnciollâclos ncsta listagenl, tais conro os blogs,
um tipo c1e cliário cletrônico, tlão raro escrito em cL:plas ou en n-ttrplos c1e
patticipantes que colaborartr para constntir um terto seIlPIe eilr e\ioluçã0.

2.It A queslõo dos gêneÍos e o en§ino de línguo


f)irrnte rla rruitipliciclacle cle gêneros eristentes e diante cla neccssiciade c1e
escoltra, pergunta-sc: será que cxistc erlgurr gênero icleai para tratametrto enl
sala c1e aula? Ou serii quc eristen gêtleros quc são ll-rais importantes quc outros?
L,sta questão será enfocada no rnomento em qlle nos declicarillos â analisarr e
sugcrir sctlttôrrci;rs clitl:iiicas, rnas clcsde logo deve ficar c'laro qtre não trá ttrna
res"posta conscirsual. Os próprios PCNs têm grande clificulclacle quando chegzrn't
a este ponto e pârecc que i-rá gêneros rrais adequaclos para a proclução e otttros
ltais 2clcquados para a leitura, pois tuclo indica que r:m certos casos solllos coll-
frontaclos apenas com um consLrrr]o receptivo e cu outros casos tcmos qlle Pro-
duzir os tcxtos. Assim, um bilhete, utna carta pessoal e Lllrla listagern são impor-
tantes para todos os ciclaciãos, Illas Llnla notícia cle jornal, uma reportageln e tllll
eclitorial são gêncros menos przrticados pelos inclir'íc1ttos, uas lidos por todos'
na ]rora de deciclir o
Questões cleste tipo der,em scr por nós enfrentadas
tr:rb:rlho efetivo e lros yoltarelnos 2l elas acliante. N{as vejarllos aciui algunlas
características de alguns gêneros e conto eles se organizan.

ir-nestigação zrté aqui trazida é cie interesse para os qrlc trabalham c


A
n'rilitarn na área do ensino de 1íngua de noclo geral, seja de língua materna ott
',,§esqndg, Parte I Gêneros lexluuis no ensino de línguc

um inclicaclor de quãcr
cle segr-rr-rda línguer/língua estrangeira. Tambérn cler,'e ser
redutora está senclo a visão dos Parâmetros CLLrrictLlares Nacionaís, lançados
pclo NIlEC para o ensirro funclamental e méclio, 11o que diz respeito à ciir,ersi-
claclc clc proclução tertuall('. Essa iedução or-r, nrais especificaniente, essa po-
breza se faziar lailentavclnente presente nos rranuais de ensino clc 1íngua
traclicionnis e tarlvez agora se tonre possír,el clar um patsso à frente.

Urra análise clos rnailrais de ensincl cle língua portuguesa rnostra cpe h;í
uner relatir.a varieclaclc cie gêneros textuais presentes nessârs obras. Coltnclo,
utna obserr.ação nrais ateirta e qualificada revelâ quc â essa varieclacle não
concsponde uma realidade analítica. Pois os gêneros que aparecem n:ls sc-
cões centrais e btisicas, :rnalisaclos de mancira aprofunciacla sào senrpie os
ilesnros. Os clemais gêneros figuram :rpeniis para "enfeite" e até para clistração
clos alunos. São potrcos os casos cle tratamento clos gêneros de rnaneira siste-
nática. Lentamente, surgem novas peÍspectil'as e novas aborclagens clue ir-rclu-
cnr :rtó lreslno aspectos da oraliclacle. N,{as os gêneros orais enr geral aincla não
são trattados de rnoclo sister-neitico. Apenas alguns, cie modo particular os mais
fornrais, são lernbrados enr snas carncterísticas básicas.

Não é de sc sttpor, no entantcl, quc os aiunos aprendam naturalmente a


procluzir os clir.ersos gêncros escritos cle uso diáricl. Nenr é comum qlle se apreir-
derrn n:rturalmente os gclleros orais miris fornais, corro bem observanr Dolz &
Schnett"vlr,(1998). Por outro li,iclo, é cle se indagar se há gôneros tertuais icleais
para o ensir-ro de lfuguzr. Tuclo indica que zr rcsposta seja não. N'las é pr-ovzil'el
qlrc se possilll iclentificar gêneros com clificulclades progressivas, do nír,cl nrenos
formal ao naris formal, clo r-nais prir.'ado ao mais público e assin por diante.

Deve ter ficado claro quc há nuito urais gêneros na cscrita clo qne na
fala, o que é cle certo moclo surpreeridentc, nas erplicár'el pela dil'crsidade cle
ações linguísticas cpc praticarnos no dia a clia na rnoclalidade escrita. As civiliza-
ções ern que a escrita tern nrr papel central nas tarefas do diar a ciia, mormente no
coinércio, iuclÍrstria e produção clo conhecimento, tenciem a diversificar c1e ira-
neira acentuada as formns textuais utilizaclas. Essa tendência torna cle algun-r
n'rodo difícil a r,'icla do cidaclão comlrm, que á não consegue clominar com facili-
f

clade essa r''erdadeira selva tertuai. Por isso é irr-rportante que nos dediquerrios a
entencler nclhor essa questão.

16. Em ntritos otltros âspectos os l)CNs são inovadores e nuito claros, nras no clue tarrge aos
gêneros, h:í uma srrqestão pouco clrra do setr tratanrcrrto, cmbor:r esteja aí pel:r 1;rinrcira \c/ LlTnil
posiqão clcterurinacla e clctcrminante 'p:rÍa esse trabalho. O qrre eu critico aqui é a lbrrla cullo iss() \ crn
rcr rrlo lrrl r;rllrutlo I ro> Pe -\:.
Ao laclo clo problerna jadiversidacle tertual, há ainda a visão hoie
comurnente aceita e tão claramente defenchcla por Bakhtin (1979) que aponta
os gêneros iextuais como esquemas de conpreensão e faciliiação da ação
comunicatir,'a interpesso:rl. Flssa estabilização c1e forrnas teriuais repercute
lão
só no processo cle compreclrsà0, lllas na própria estabilização de forrrias so-
ciais de ir-rteração e raciocítrio.

Assim, en Írltina análise, :i ihsirilxrição c1:i proritlçãc, tliscr-trsii'il ciii gêne-


Los tcrl coi;o correl:ito lr prripr.irr,-rr.garriz:tqão r1.i socictiacie, o qlle Ilos
faz

pensar no estuclo sócioàistórico cios gêneros textuais colllo tlilla das maneiras
cle entencler o próprio fttr-rcionamento social da lír-rgua' Isto nos rernete ao
nítcleo cla perspectiva teórica cios estuclos lingllísticos sobre o texto e clo terto
aqui emprecncliclos, oLl seia, a iisà0 socir,iiltctirt'iÚilist:r.

z.t sUisto dos PCNg 0 Íe§peito do que§tõo dos gêneros


corretalllelte los
Rcssalte-se a posição enfática e erplícita tlefenclicla
PCNs de qr-re a }íngua falacla e a língu:t escrita não sc opõem cle forrna
dicotônrica nem são produções ern situaçõcs polares (p 551 Além disso, é
trotável a posição cle qtre tl LF e a t,l se clão rclacionadas no contexto cicl contí-
nuo clos gê,-r"ro, tertuais (p 56) coin cliferetrças tidas como gracluais' L'lrna
icleia aprorirnada clisso é fornecida nos dois clu:rdros (pp 41 e'l3) cgrn gêne-
ros siniilarcs nas dttas rttoclaliclacles. Irlport:rnte é a constat:rção de que ttr-tra
<]as confusões mais conltllis qtle

(ó)
circnlap 1a escola a respeito d:r relação entre ii rrocl:rlidade oral e a escrita
inragilar 1 escrita como lrera transposição do oral, ou tratar as cspecificicladcs de

cacla nrodalidaclc corro polirridades (p 5ql

A ênLrse clcsseprincípio geral cleve ser cada vez nt:.tis acentttacla, pois rlão l-r:i
cquír,clco tlais ilconveuiente clo que tratatr a escrita corlo rlera transposição cla
fri, 1rrru o papcl na fornra gr:ifica. A cscrita não é a representação griifica da fala.
São, no entanto, \,ilgas e imprecisas zrs obserYações cle detalhe sobre a cllla-
liclacle clms relações entre fala e escrital, pois parece que fala e escrita sc oporiarn,
"r'cruilcular", isto é,
pclo "interesse peclagógico", cotttct se ul]la (a fala) fosse o
,qr,"l, for,r-ra ,le con-runicação espontânea, face a face, coticliana e colclquial (p.
I5); e or.rtra (a escrita) a "nornál cltlta" referente à língtla-paclrão e socialnente
prestigiada. N,,las isso contrastariir con] :-l observação cle quc, precisarrente claí
decclrrem preconceitos or-r "niitos" dos quais a escoia cleveria lir''rar-se, tais coirlo:
o (preconceito) cle que eriste trma Írnica forn-ra'certa'de firiar, o de clue a fal:r'certa'
é a cle urna dcicrminada região (a carioca, por ererrplo), o de quc a fala 'certa' se
aptorirtr:r do padrão c1:i escrita, o clc clue o brasileiro fal:i rnal, o cle rlue é preciso
'consertar'a fala do aluno para er,itar que ele escrcva erraclo (p 1 5)

Tidas pelcls PCNs corno "insustentár,eis" e culturalurente r-nutiiadorzls,


essas crcnças são nefastas, e a escolâ deveria evitáJas, ilrostraltdo que há cliver-
sas forrnas de se expressar de acordo corl as situações, os contextos e os
inter.locutores, de modo que:

Aquestão não é dc correção cla fomra, m:rs de sua acleclrração r)s circur-rstâncias cle
Llso, or1 se ja, cle utilização adequacla cla lingu:rgeni (p. l6).

t)iante de tal afirr-r-ratir''a, a inevitár,el pergunta cle todo(a) o(a) professor(a)


cn sala de aula será esta: "Então c) qtLe fdÇo colt-L LutT altnto que diz 'nrjs yrti'?".
Seguramente, a posição dos PCNs não clá pisttrs para a anglrstiânte expectâtivár
cle uma resposta por parte do(a) professor(a) diante de alunos enr carnc e osso.

zlc Gêneros lexluois no língua Íolsdo


e e§(rilo de srordo (om os PCNs
Este aspecto é corrplero e não passr.r despercebido aos PCNs. Cor-rtuclo, ets

obsenações são, no geral, r.agas. À,,r"r., se trtrta de tipos de terto ou sequências


cliscrusivas (p a5) tais conro: narratiya, descriçõro, erposição, argunrcntctção e
(p.40 e,l3): entrer,.is-
contersaçãct. En-r outros casos, trata-se cie gêneros textuaris
ta, clebate, palestr:r, conto, novela, artigo, reportagem etc. Não se faz uma dis-
tirrção sister-nática entre Ílpos (cnquanto construtos teóricos) e gàleros (enquanto
formas tertuais empiricarrente reaiizadas e sempre hcterogêneas).

Considerarul-se aperlas os gêneros corn realizaçaio linguística r-r-iaris


formal e não os irais praticados nas :rtir,iclades linguísticas coticlianas.
Isto n:1o seria rttiu se hottvesse atenção pâra unl rnaior nÍrmero dc casos e
sitttações. Além disso, falta uma noção cla gradtrção cle clue se fala ern outras
ptrrtes clos PCNs. Tambérn é curioso que se tomen gêneros cliversos para
tratar a proclução e a cornpreensio, conro se observa no ciuadro apenso à p.
'10 cluando conrparzrdo com o cla p. 43, :rqui reproduziclos par:r obserr,.ação.

O que rritis serlta à vista, no entanto, é a confusão entre oraliclade e escri-


ta. Pois não há clirreza quanto ar critérios que teriam siclo usados para estabe-
iecer essas distinções. N{esmo as exposições ao longo cios PCNs rião ajuclam :r
entender o procedirnento nesse ponto.
luiz lnlônio ÍIlurtusthi I Produçõo lexluol, onólise dc gêneros e compreensão

O q,aclro I traz os gêneros sugericlos par:r trabalherr a "pr:itica clc cot'u-


traba-
preensão cle tertos"; já o quaclro 2 aprescnt;t os gellelos sugeridos para
ll'rar a "prática cle produção cle tcrtos". I{á rnais sugestões eIIl oLltros ll.Iol-I-lel}-
tos, mas aqrti vanios nos cleter aPenas llestes dois quaciros'
(quadro 1, p.40)
GÊNERos PREvIsros PARA A PRÁTICA DE coMPREENSÃo DE TExros

LIIERARIOS Cordel TITTRARIOS Conto


Texto dramático Novela
Romance
Crônica
Poema
Texto dramático

DE IMPRENSA Comentário DE IMPRENSA NotÍcia


radiofônico Editorial
Entrevista Artigo
Debate Reportagem
Depoimento Carta do leitor
Entrevista

DE DTVUTGAÇÃo Exposição DE DTVUTGAÇÃ0 Verbete enciclopédico


Seminário CIENTíFICA (nota / artigo)
CIENTíFICA
Debate Relatório de experiências
Palestra Didático (textos, enunciados de questões)

PUBLICIDADE pÍopaganda PUBLICIDADE Propaganda

O que se ncita é clue h:i muito mais gêneros sugericios Para a atividaclc de
conpreensão clo que para il atividacle cle proclução. Isto reflete em parte a
siir.ração ;rtuerl ern que oS alunos escreve[l Pollco c enl Certos casos qltase
niio

cscre\rerl. Parecc quc procluzir textos é uma atividacle nirtda porrco conhecida
e ruais conhecida é a que diz respeito à compreensão. As atividades relzrtivas à

compreensão são sentpre em naior níllrero.


(quadro 2, P. 43)
GÊNERos PREvIsros PARA A PRÁTIcA DE PRoDUçÃo DE TExros

utRÁRr0s IIITRÁRIOS Conto


Poema

DE IMPRENSA Enkevista DE IMPRENSA NotÍcia


Debate tditorial
Depoimento Carta do leitor
Intrevista

DE DIVUI.GAÇAO Exposição DE DIVUI.GAÇAO Relatório de experiências


Seminário CIENTÍFICA Esquema e resumo de artigos ou
CIENTÍFICA
Debate verbetes de enciclopédia
Os PCNs não negarn quc haja mais gêneros, rnas estes não são lembra-
dos. Por que não trabalhar telefoner-nas, conr''ersações espontâneas, consnltas,
cliscussõcs etc., para a fala? Por que não analisar formul:írios, cartas, biihetes,
clocumentos, receitas, bulas, anúrncios, horóscopos, diários, ata de conclomí-
nio e assirr por diante, para a escrita? Estes são muito mais coruuns clo que
erquelcs lembraclos nos quadros I e 2.

Na realiclade, aqui há um problema de ordem metoclológica paradorai:por


um lado, quando os PCNs propõen conteÍrdos progranráticos rrostram-
-se inevitar,'clnente redutores
por outro, quando concretizam as :tções, tornarn-
e,

-sc hotnogeneizzrdores, sugerindo que todos os professores trabalhern deterr-nina-


dos fenôrrer-ros. O fato é que para planos dessa orderri clever-se-ia operar no nír,el
conceitual, cxplanatório e não dc conteúdos. Nesscs casos, nocões, estratégias e
processos cor-n âs rcspectivas exemplificações são mais importantes do que
conteÍrcios específicos. O caso dos gêr"reros tertuais é apenas um eremplo
paradigmático disso.

Uma tzrrelà interessante seria anaiisar os livros did;iticos, obsen,anclo qr-rais


sãcl ms propost:rs por eles feitas parâ a produção tertual corr base nos gêneros.
Esta análisc já foi em parte feita r-ro trabalho cle cloutorado de Willianv N{irancla
cla Silr,ar', clue analisou os excrcícios de prodLrcão tertual com base lrllmzl
tcoria de gêneros. Sna constataçào foi que a escola ainda não se preocup:l
colr a procl-rção tertual baseacla ern gêneros.

Ll7 Os gêneros lexluois em solo de oulo: os


" sequências didútica{'
Dolz & Schrrettlvlv preocupilln-se eln fornecer elernentos cle interesse
para o ensino da oralidadc ern sala dc aula, e todo o esforço volta-se pâra a
consecttção clesse objctivo. Centrai é a inetodologia utilizacla parâ constrr-rir o
que ficon cclnhccido nessa escola como eruslrzo por seELêrtcias didáticas, reali-
zaclo com base eni gêneros tertuais cliversos, especialmente os gêneros orais
r-nais elaboracios. Para talto, os erutores clesenvolvern Lt[ra noção dc gênero,
corrcebicio corno Llnr instn-tmento de conttmicctção,qve se realiza ernpiricarrente
en tertos. l)eviclo a seu alto pocler Lreurístico, Scl'rneurvll, (199'1) chamou os

17. llefiro+e ao tr:rbalho dc \\rillianv Nlirarrcla cia Sih,a (2003). O gênero tertual no eripctÇo
dídtitico. Têse tle doutorado err litrguística, Pós-Cr:rduação e rn f,etras da L.lFPE, Recife . rrirreo (orien-
tacla por Luiz Antônio \'Íarcuschi).
gênerostertuaisàemegainstruntentosemoutrotrabali'ro'oqueéretomado
aqui, como se observa abaixo'

CornoosgênerosseacharlSenPreancoraclosenaigttnasittraçãoConcre.
plausír'el partiL c1e situações cla-
ta, particularrlelte os orais, o' at'to'es iulgam
râs pz]râ trabalhar a oraliclacle. Assim,
seucloo terto tlnl erelto sirlgular e sitttatdo
no eusitlo' é cotl'etli-
co.texto cle proclução, seia-ele orzrl oti escrito'
"rr.'rlg.r',, cle u1na situação e identificar alguma atividade a ser clesetlvolr'icla
ente partir
pârâ que se inicie .,r,-t,. .o,'-""-'icação'
Por eremplo' erplicar a migração clas aYes
cliarrtedertnaturrtra<lealunosouprocluzirumaentrer,istaradiofôrricir'
64) seguem a
Flilr sua postura tcórica central, Dolz & schneuu'lr'(1998:
posição baki-rtinian:r cie qtte :

clabora loruras rel:rtiva1]rerrte está-


Para possibilit:rr a cornutticação, trlda socicci:rc1e
eo destirl:rtá-
r.eis cle textos que ftutciotratrl cotno itlterruediários eutrc o etllttrciador
rio, ir s:rber, gêneros'

Eerploram()sgênclosconbasenanetáforados..ínsÍrulllettÍosqtleftttr-
aprendizager-r-r)" (1998:6'1)' As-
clam a possibiliclacle cle comunicação (e cie
nte, de'e i.stru,rentalizai-se co1ll
si,,,, q.rá,,.1o alguérn te,-r cle agir discursi'anle
.rrr', .tnit.rnto cle utensíIios, por eremplo'
usando o garfo Par:l colller' o ma-
cl,raclo para Cortâr Lrma átvore otl cntão
uln gênero como "itrstrttnlcnto para
trgir cliscursivamente". Segr-rnclo os autorcs'
o gêuero

siglos orgarlizados de maneira regular;


É urr instrurilellto semiótico coilstituído cle
nír'eis clifcrentes; é por isso cltre o cha-
este i.strr.re,to é co.rplexo c coirlpreencle
clizer qtle Se trata de tttt-l ct'rtljrttlto
ril:lmoS poÍ \iezes cle'ruegainstrtttilellto', para
rrias fttud:rnlent:rlme llte. trata-se
articul:rdo clc irrstruilrentos à Drocla de uma usiI}a;
ulrra ação rruttla sitttação partictriar. E
ile utrr itlstrtltletlto qtte perrrrite re:rlizar
apre11der a f:rlar é.pr,rp.,r,r-r. cie instrttttlentos para fal:rr eru sitrrações cliscursilas
( 1c)98: 65)
cliversas, isto ó, :rpropri:rr-se cle gêneros
pois os autotes não
A metáfora clo instrtt[rento c]eYe ser n'tttito belr etrtenclicla,
língua, já que isso seria inaclequzrclo'
ignoran o risco c1e uma noção instrunletltal cle
gênero colllo instrLlnrento?" (1998:
Por isso inclagan-r-se: "L)e çe moclo defilir o
essenciais:
6í) para tantã, na linha cle Bakhtil (1979), distinguel'r três climerrsões

1) tt'. i!:tj!-t;i;r,' que se torllam cleciclír'eis no gênero;


,.i,,:::,)!ii i::1,: particlllar tertOS que pertenCer-t-l ao gênerO;
2) .. :. 1;:.1;!1;1.;
clOS

L ";'""" rr;'l'j'irir" jl;'i:r'i''irl ri" COI1I0 tfatçOS da


3) ,i' r,;';511;,' i:r-:ir "'
particulares c1e
posição entrtlciativa clo enttnciaclor' os conjultos
secluêtrciastextuaisedetiposdiscursivosqLleforlnal-nessaestrtttura'
Isto é interessante porqlre, desse mcldo, na ótica escolar, os gêneros se
tornanl ttm pottto de referência concreto parâ os alunos, operando con'ro "enti-
clades interrnediilrias que permiterr-r cstabilizar os elenentos formais e rituais clas
prátrcas". Torna-se, assim, fácil opereir corr os gêneros qlle assegriranr Lull qua-
dro de estratégias para a análise e a produção tertual. os gêneros são tic1gs, pois,
como 21s unidades concretars nas quais cler,'c clar-se o ensino (199g: 66).

Na realicladc, atttores estão iuteressacios na noção cle gênero na meclicla


os clois
elll qtlc ela lhes ser:i úrtil trabalho com a oraliclade. A preocupação r,,ai centrar-se,
r'ro
et-tr essêircia, 1lo clttc os antores chamarr de generos
formais púhlicos procluzidos enr
situações públicas ritualizaclas e com modelos de produção bem ciefiniclos, tais
cotno sennão, dehate televisito, cr»tferência, entreyista radiofônica e outros cless:r
tlatLlreza trabalhados rleticlarnentc pelos autores em forrra cle seciuências clicláticas.
Pois, a hipótese é a de que os alunos já dorrir-iein os gêneros inforn-iais cla r.ida
coticliana (1998: 68) não se neccssitauclo de trabalhá-los clc rnoclo especial. Os
gêneros fornrais públicos, no entanto, têm formas pré-coclificaclas e rígicias qr-re não
se clctertrlitlam tta sitrtacão cclncretn. Precisar-n de esiímulo e aprenclizagerrl espe-
cial, claí serem um ob jeto preferencial, ou até n'iesmo "objeto autônon-to, cio ensing
na oralidacle ( 1998: 69).

@
Modelo de trabalho em sequências didáticas de loaquím Dolz,
Michàlel'Joverraz e Bemard schneuwly para o ensino de gêneros
nds séries fundamentais

Essa proposta apresenta a metodologia e os procedimentos para o ensino


de gêneros tal como sugeridos por Joaquim Dolz, Michàle Noverraz e Bernard
Schneuwly paÍa o ensino fundamental em francêsr8. A proposta parte da ideia
de que é possível e desejável ensinar gêneros textuais públicos da oralidade e
da escrita e isso pode ser feito de maneira ordenada.

os procedimentos têm um caráter modular e levam em conta tanto a


oralidade como a escrita. O trabalho distribui-se ao longo de todas as séries
do ensino fundamental. A ideia central é a de que se devem criar situações
reais com contextos que permitam reproduzir em grandes linhas e no detalhe
a situação concreta de produção textual incluindo sua circulação, ou seja,
com atenção para o processo de relação entre produtores e receptores.

Os autores definem a "sequência didática" como "Lur coniunto de ativiclades


escolares organizadas, de maneira sistenática, em torno de um gênero textual
oral ou escrito" (2004:97).Paratanto, leva-se em conta a comunicação em situa-
ção real, pois sabentos qlte escrever
ttma carta a um ar.rrigo oll Llltla carta corner-
cial é algo cliferente. F-alar nur-t-l barzinho corl os amigos ou procluzir
tlnl discurso
contelnplaclas
cliante clc um pítbiico n:io é a mesrrla coisa. Isso quer dizer que são
as semelhanÇas e as cliferenças etrtLe os gêneros e cntre as
dttas rlodalidades de
que serv'el]l
uso cla língua. Os gêneros são ticlos como illstrumentos conlttnicativos
para realizar essas atit,idacles forrnais e infor[r:ris de maleira adeqttacla.

A finalidacle cle trabalhar corl sequências dicláticas é proporciolar ao

altrno urn procedirnento cle realizar todas as tarefas e etapas para a proclução
cle um gênero. Segundo os autores (2004: 98),
"a estrutlrra de base de uma
erl.I conta
sequência diclática" pocle ter esta representação esquen-iática, tendo
as atiticiaclcs â serent clcsenvolvicizts lto pÍocesso de produção:

ESQUEMA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

| ./ ^r /-\ ^
|

Apresentação
-
PR0DuÇÃ0 'Módulo' 'Módulo'
l.|oorto' -.\ ll9DUÇ40
da situação llllclÂL123lNlClAt
I
L--
- _______i
Procedhnentos enyalttidos rLo nlCIdeÍo das sequôrrcias didáticas

como se r,iu no cliagrana acin-ra, o modelo de trabalho com base nas

sequêrcias didáticas en'u'olt'e 'l fases qlle se erplicitarn aqui:

I. Àprescitt:rção c1a sitttaçrio (pp. 99-101)

(a) PrimeiLo vent unrrt apresentação inicial da situação e1n que é formu-
lacia a tarefa a ser clesenvolvida pelos alttt'tos. Define-se a n-rodalida-
de: se escrit:r ou se oral.
(b) A prirneir:r climensão cla proposta leva en-i conta o projeio coletivo Para
a proclução clo gênero a ser traball'rado. Aqui sc decide qual o gênero
a

ser procluzido; para queln ele é procluziclo, qual a sua ilrodalidade;


a

forlna que terá a proclução: se ptrra ráclio, televisão, papel, iornal etc'

(.) A seguncla rlirrensão diz respeito aos conteítdos a serem rlesenvolvidos'


Isto rleve ter relação corrl o gênero e pode exigir algul]ra pesquisa que

(200'1)'
18. Refiro-me ao terto clc Joaqrrirn Dolz; N'Íichcle Novctr:rz c Bcrtrarcl Schneuu'lv
. .r.ritn, Aprescntação dc um procedintetlio' itt: Berrt:ud Schncurvlv
Sequê.cias 4iclhticas para o or:rl
"
C)êner<tsc»-aiseescrítosnaescola.C:rmpittns: Nicrcarlodel'etras,pp 95-l2E'
"|oaq.,i,r',Dolz(2004).
§egundu Porte I Gêneros textuois no ensino de línguu

cleve ser feita err classe. Dc que :irea se trata e sobre o clue falarão on
escrcverão. É irnportante que nesta fase sejam apresentarlàs a erempla-
res clo gêriero a ser realizado. Os :rlunos poclem ler tertos c1o rlesrno
gênero ou o.vir, se for cl carso de gêneros orais. os ahuros podem clisctr-
tir sobre a questão. o prirneiro cncontro cor) o gônero pocle ter o aco.-
panhatntento do professor p21ra se discutir aspectos cle sua organizacão.

ll \ prrnt'iiri pioilirtio (pp. I0l-103)


(a) O segunclo passo é a primeira produção. F,ssa prctdtLção inicidl é a
prinreira fcrrmulação do terto que pode ser realizacla tanto coictir.:r
como individuah-nerte. Ela é ai'aliacl:r form:rtiva.rente pcio profcs-
sor reccbendo nota.
(b) Fissa prineira procl.ção pocle scr feita crn esboço geral e eri.da ape.as
treinando o gênero sern uma clestinação específica. Posteriormente, se-
rão feitos os ajustes até a produção final. Esse csiroço cleve ser ticlo corno
o primciro contato conr o gêirero. Essa etapa é crtrcial, pois representa
zr printcira ativiclade cle produção err qlle o texto r,ai ser ai,aliaclo e rer.is-

to tantas r''czes quantas nccessárias e sucessivrrmente passanclo por


lnóclulos nos passos seguintes até chegar ao estágio final cle elaboracão.

lll. ( )' rrf i;i4.' (pp. 103-106)


(a) Scguern-se então os módulos, que poclem ser r,ários, até que se tenha
treir-rado suficienterrcnte a proclução para a elaboração final do ter-
to corn s*a avaliação son-ratir,'a que testa o aprenclizado. A constru-
ção dos r-r-róclulos do,e ser de tal moclo clue dê conta clos probler.as
aparcciclos até agora. Eles não são fixos, llras seglrem urna sequência
que vari cio rnais complero acl mais sirnples para, no final, voltar ao
cor-r-iplexo que é a produção tertual.
(b) No início clos rróciulos, trab,lhain-se os problemils qlle apareceram
na primeira produção. Tratar-se de "clar aos alunos os instrurrentos
necessários para superai-los" (p. 103) após terenr sido icieltificados
os problemas. Por exeirplo:
(i) corro foi a representação da situação dc co,r.nicação? (clesti-
natários, obietivos, gênero, modaiidacle etc);
(ii) corno foi a eiaboracão clos conteúrdos? (r,erificmr os conteÍrdos,
anaiisarr as notas que forarn feitas, as fontes etc.)
(iii) corno foi o planejamento do terto? (observar se o gênero obede-
ce à organização estruturerl adequada, por exeruplo, se foi uma
entrevista, como está a ordcn da P-R, se foi unr conto, sc foi
nrna notícizr, unla receiter etc.);
(iv) corno foi a realização clo terto? (observar con'ro foi a seleção
lerical, as estntlras sintiiticas e todos os elernentos ligaclos a
esse nír'el semântico da expressão)'
(b) Em scguicla, pocle[r-se fazer ativiclades de obsenação e arálise de tertos
(p. 105) com o objetivo cle icientificar se o gênero foi ben-r produzido, se
tem cntras alternativas; podem-se conrparar os textos procluziclcls e partir
para a ar-iálise coletir,,a cle problernas específicos ou ger:ris etc. Nttrn
,"g.,,,.1o rnomento, pocle-se tratar cle tarefas sirnplificaclas cle proclução
cle tertcls, eln qpe se traberlhariau aspectos poiltlais, por erempio, tratls-
forltar uma seqnência clescritiva enl :lrgulttentativa otl cltcairâr tttll tre-
cl-ro que rnonte Llna argllnentação oll uma expctsição cxplicativa llcces-
sária o1 e1tão variar o terto ern algurn cle seus zrspectos. Por firll, trata-se
cle c]'regar à elaboração de uma linguageln cortllllt, tenclo cm vista o
fato de se poder falar sobre o qtle se está fazenclo. E o tnornento cle
elabor:u utua forma cle ver o próprio trabalho'
(c) Nr-ul terceiro lnóclulo, ilepois cle o aluno ter aprelclido :r falar sobre o
gênero e aclquiriclo meios de obsenálo sob r'ários poutos cie vista, ele
cler.e adçirir ulna linguagern técnica pxra se e\Pressar sollrc rl qrte cst:í
fazenclo. Pocle até elaborar seu glossário a respeito do gônero ou das ativi-
clacles clesenvolr,iclas. hl o momento cle capitalizar toclas as aquisições
(p. 106) feitas :ro longo dos outros Iródttlos sobre o gênero em proclução.
,1
i\ i ..:r .! i,, : .:.i

Esta parte da secluôncia é resen'aclzr à proclução linal c1o gênero. Ncsse


rno.ento, o aluncl põe e,t priitica o qlre aprcnclctl ao lotlgo cios móclulos,
após a análise cla produção inicial. Aclui o professor pode pr-ocecler a una
ar.aliação souativa e não apenas fou-tlativa. Nessa proclução fila1, o traball'ro
cor-rccntra-se no polo clo alulo (p. 107). Aqui o aluno obténr utlt coutroie
sobre sLra própria aprcnclizagem c sabe o qllc fez, por que fcz e conlo fcz'
Aprer-icie:r regular sr-tas rrçõcs e suas lornras cle procltrção e seleção clcl gênero
cle:rcorclo cont a situação elr.r que ele poclc ser produzido. Essa avaliação cieve
levar enr conta tanto os progressos c1o aluno cortlo ttldo o cluc lhc falta para
chcgatr â 11111â proclução efeiiva de seu texto segtlr-rclo o gênero preterldicicl.

i,;i1,,1..,r',,.;i,'-,,,;.',ii.:t.,'1;,. i;r'i ,;-.'{i;ii,í'.,,' .I, , ,l l:,', ,''ti).ii''t ii:


O rroclelo apresentado aqui tern car:iter ir-ioclular, otl seiâ, e)e procecle
por ctarpzrs com tarefas específicas. A proposta trabalha colll â orahdacle e a
Não privilegia ttma das duas n-rodaiidacles e as r'ê integraciamente e
"r"ritr.
nuil grau ascendente de dificuldades e pern-rite articular a prodr-rção do gêne-
ro tertual corn outros dornínios de ensino de língua. Aqui len-rbranros a sinta-
re, a ortografia, o estilo etc. Vejamos alguns aspectos de urodo n-rais expiícito.

(r) Do ponto de vista teórico, esse tipo de proposta de trabalho com â


língua âge com a proclução textual e não apenas co.r as palavras
isolaclas. Assin. a proposta tenr por trás todos os princípios gerais da
linguística textual a fuirdarnentarem o trabalho. Alérl disso, tem uma
visão de língr-ra conro r.lrl conjunto de práticas sociais e vê os gêneros
tlester mesrrta linha. Não separa a oralidade cla escrita como se fos-
sen dois clomínios dicotômicos.
(b) consiciera-se que a produção textual é uma atividade qlre se situa ern
contertos cia cotidianar e os tertos são produzidos para alguérn
'ida
com algu,-r objeti'o. Supera-se aquela ','ellia icleitr de que a reclação
escolar é a única forn-ia de tratar a realiclade linquística.
(c) 'Itatam-se os gêtteros como formas históricas coln Llirl:l relativa esta-
bilidacle e que circulam na sociedacle para consllino dos falantes e
leitores enr geral. Ensi.a-se a produzir tertos e, em co.seq.ência de
rurna cor-rscientização do processo, :rprende-se tatmbém algo a respci-
to da teoria clo texto e clo gênero.
(c1) com isso, o aluno se prepara para e.frentrrr as sit.ações reais da
vida di:iria, pois a seleção dos gêneros clevc estar atenta pâra esse
lado da i.ida cliária. As produções consideralr :ls caracterísiicas dc
cada gêncro e sllas necessiclades.
(e) Intercssante perceber que a estratógia cle r-noclulariclade coLn que é
clesenvolviclo o trabalho situa as ações no conterto da realidacle e
não rlatrrralrza o trabalho corr a língua. Tarnbérn não fica apeirâs
etll observaçõcs impressiottistas, cor-rduzinclo as :rções par:r situacoe:
cotlcretas clo r]ia-a dia. O alltno conscicntiza-se e desenvolve um tra-
balho rnais claro e autorregulado.
(f ,\ r-noclulariclacle permite tanbém r:r-n trabalho cliferenciaclo entre os
al.nos e pcrmitc qlle se tenha atenção para problenras específicos de
cacla qual rta mcclida cm quc se acoillpanham as produções inclir.i-
d,ais e se faze, a'aliações específic,s da proclução corrente. A pro-
dução do alur-ro é r,alorizada.
(g) o trabalho moclular perrnite q.e os cas.s de i,succsso sc jirm
retr-abalh:rclos c recebam atc't-tcão especial serD que isso ocasionc trans-
tornos. Pclcle havei, pois, um traball-ro clilerenci:rclo e dc atenções
cspeciais scrrl a necessicladc cle dir,isão cle turrniis. A modularidacle
clcvc obedecer a Llma orclcr-n normal e não aleatória.
(1',) A oraliciacle e a escrita de'u,ern ser trataclas de forrla clara e o centro
cla atellção é o gênero. Há gêneros que se presta[u para
1Iln traba]I'ro
mais efetivo na oraliclacle e olltros na escritâ'
(i) A atir,iclacle moclular porle ser urnâ rnztneiia cle cornpreeuder mell]or
(p'
que o traball-ro cle escrita é tan-rbérn r.rm trabalho de re.scrita
112). O processo de proclução deve ser cle algur-n n-rciclo distinguido
c1a proclução final clo texto. Pois o produto
final é o resrrltado de unr
processo c1-re pocle Passâr por rnuitas revisões'
(i) ,,o terto escrito pode ser consider:rdo como tlllla fortlla permanente,
(p. 113). Esse
erteriorizacla, do próprio comportanlento clc liuguzrgeln"
obieto
processor por ser erteriorizaclo pode ser obserl,ado e tornar-se
de refierão. )á para o texto oral, essa observabrliclacle uão é tão
nattural'

rnas pode ser feita na nteclidii em qLle se grâ\'a o terto e se transcLeve.


Assim, um trabalho com estes instrrtnrentos seria de grande utihclacle
no caso da oraliclade até para se obsenar o qtre sc fez'
"iisatrl zro
hin-i sLuna,o que se pocle dizer é clue as sequências díc1átitres
aperfeiçoatrrento das práticas c1e escrit:t c de proclução oral e estão prirrcipal-
rnentc ccntr:rdas na aquisição clc procedin-rentos e c1e práticas" (p. 1la).

L)ntt: fserspecti\'ú te:tittt;l (.pp 1] > I tq)

C) noclelo sequências dicláticas segLle os princípios ger:ris cla lingtlística ter-


dars
interlig:l-
trur1. Fl ncsse 1ír,c1 pu.l",r, scr trataclos toclos os problcmas cla tertr-raiiclacle
clarnente coltt o clos gêneros tcrtuais. Ngutls clcsscs ;rspectos são os seguintes:

(r) Questões gramaticais: aqui podent ser trataclos, clentro clos nrcicililos,
c1e foma sistemátic:r, o problcn-r:r c1a organizaqão cla
frarse, os tcnlpos

verbais, a coorclettação e suirc»clinação, a pontuitção, a par:rgrrrfaçricr


e :rssim por cliaute. Einbora a sitltare não se ligue ;ro gêncro' eia
conhibr-ri pitril â cor-istrução do qênero e poclc scr tratadil colll Lllllll
aborclagerr-i "epilinguistica' corno o fazctrt, por erernplo, os
PCNs.
(b) Qucstõcs c1c ortografia: os problcmas cle ortograiia não são questões cie
gônero tertual, ntrrs poclcr-n ser trataclos tla pr-oclução lirlguística cscrita
senr clificttlclacle clentro clos rnóclulos e até na revisão firl:r1 c1o tcrto
par:r

a proclução final. O trabalho c1a ortogr-atia rtão cieve sobrepor-se ao


tr:r-

balho efctrro colll a proclução tertrtal, pois a ortogralia é tttlr cictalhe


espccíirco que c1ei.c ser cuiclaclo, iltals collt or.rtro tipo cle atenção e exPo-
sifão clo,1u,..'ltansfol*ar.a rer,isão ortográ{ica etrl ce.tro cl,s pr-ollle-
mas é cicsr.irhrar todo o trabalho c()ltt i] sec|-tência c1ic1ática.
i\gnLpa:trcnta el.os gàrcros e prrtgress{iCI (pp" il(} }2ó;
A qr-resião do agrr-rpamento dos gêneros é importar-itc, pois cliz respeito à
seleção clos gêr-reros a serem trataclos nar scquência cliclaítica. C)s autores suge-
rert qlle se agrllpeln os gêneros por séries e que então sc escolha un deles por
\.ez para ser trabalhado.

Por trás do processo cle seleção dos gêneros, estii tocla unra teoria clos
gêneros textuais e sr-ta atenção párra coir a sociedzrcie ern que esse epsino deye
dar-se. No geral, cle cultura perra cultnra, se dão as ilresmas situações básicas
na I'icia cliárizr. Ninguén duvida qlle cn) todas as culturas as pesso:rs falanr
rnuito mais clo qlle escre\ enr e qLle qnanclo falarn clialogam, isto é, procluzenr
convcrsaçõcs e não textos rnonologados.

os a,tores propõem o quaclro geral que apârcce abairo parra trartar o


ensit]o cle gêneros. Flsse quadro se organiza contcrnpl:rnclo uma série cle ars-
pcctos j:i erpostos ao longo das l>arses teóric:rs aclui trazidas c consicleraldo os
obietir,'os do ensiiro proposto. Estcs agrupanentos de gêncros se dão pelas
cinco mocl:rlidades retóric;ts qlle corresponclent rtos tipos textuais laclui trata-
clos co,o secluências tipológicas no interior clc cacla gêner,).
ASPECTOS TIPOLÓGICOS

Cultura literária NARRAR Conto maravilhoso


ficcional Mimeses da ação através Fábula
da criação de intriga Lenda
Narrativa de aventura
Narrativa de ficção cientffica
Narrativa de enigma
Novela fantástica
Conto parodiado

memorização de Representação pelo discurso


ffi*-l
Relato de viagem
ações humanas de experiências vividas, Testemunho
situadas no tempo Curriculum vitae
N otícia
Reportagem
Crônica esportiva
insaio biográfico
Discussão de ARGU[/ENTAR Iexto de opinião
problemas sociais Sustentaçã0, refutação e 0iálogo argumentativo
controversos negociação de tomadas Carta do leitor
de posição Carta de reclamação
Deliberação informal
Debate regrado
Discurso de defesa (adv.)
Discurso de acusação adv.
Transmissão e EXPOR Seminário

construção Apresentação textual de Conferência

de saberes diferentes formas dos saberes Artigo ou verbete de encicloPédia


Entrevista de esPecialista
Tomada de notas
Resumo de textos expositivos ou explicativos
Relatório científico
Relato de experiência cientffica

DTSCREVER AÇOES lnstruções de montagem


Regulação mútua de Receita
comportamentos Regulamento
Regras de jogo
lnstruções de uso
lnstruções

(2004:121)'
rorrt: Joaquim 0olz, Michêle Noverraz e Bernard Schneuwly

Segundo os âutores,
rião é possír'el
os i1g11lp3nentos, assinr clefiniclos, não são esLrnqttes ttrts ettt relação:tos ouhrls;
(p. l2 I )'
classilicar rtrn qênero cle rraneira absoluta rlurn clos agrt4rattrentos propostos

Os prrncípios desta progressão são estes (pp' 123-125):

i) A progressão é organizada ern torno de aglllPaillento dc gêrleros:


cacla grupo se âchâ fon-nado dentro c1e uua modaiidade cliscursiva
ou Lltit tipo bástco preclol-ninanclo'
2) A progressão se clá na forma espiralacla: o mcsillo gênero é clonlir-ra-
do en v:irios níveis.
3) Os gêneros são trataclos cle acorclo com os ciclos cle ensitio: llleslllo
assim as escolhas poclern ser flexír'eis, pois l1ào sc pocle estabelecer
tln'I grall cle dificuldades crescentes Ilos gêneros'
4) Apre|rclizageil't precoce para 2tssegrtrat domínio ao longo clo tem-
po: os lnesino tertos devern ser procluzi<]os ent vairios lllolllentos
ao longo clos ciclos.
5) Eyitar a repetição, sobreponclo-se diferentes nír'eis cle conrplericlade:
cacla gônero pode ser abordaclo enr ní\'eis diversos cic exigência e
clificuftlade, clcsde untrr sofisticzrçào mínirna ató urrtr máritna, c1e acor-
clo corn o 2r\.anÇo clo ensino. Deveria scr er''itado o ttzrtanietlto tcitc-
raclo dos llleslllos gêneros por sérics'

Veiamos aqui a proposta cla clistribuição dos gêneros por sér-ie, tai corno
os autores srlgererr para o cnsino c1e francês. Segurilrncrtte, clereri:r lt:rver al-
guma ttclapt:ição para o português e Para o Brasil elll gclal, nr:rs esse é ttttt
cletalhe qtte poclentos cliscutir de tllancira corlcreta a cacl:l trtotretlto clll qrle
\,âillos trabalhar os fe itôlllellos elll si tttcstltos'
sEQUÊNcIAs DIDÁTIcAs IARA ExpREssÃo oRll E ESCRTTA: DTSTRIBUIçÃo DAs 35 SEQUÊNcIAs

ctct0
AGRUPAMINTO
t-2 3" -4" 5"-6" 7"-8
I{ARRAR 1.0 livro para l. 0 conto 1. 0 conto do porquê e 1. A paródia de conto
completar maravilhoso do como
2. A narrativa de 2. A narrativa de 2. A nanativa de ficção
aventuÍa aventura científica
3. A novela fantástica
.l.0
RTI.AIAR relato de l. 0 testemunho 1. A notícia 1. A nota hiográfica
experiência vivida* de uma expe-
(Apresentação em riência vivida 2. A reportagem
áudio ) radiofônica
*

ARGUMTNTAR 1. A carta de 1. A carta de res- 1. A carta de leitor 1. A petição


solicitação posta ao leitor
2.0 debate 2. A apresentação 2. A nota crítica
regrado * de um romance
* de leitura
3.0 ponto de vista
4.0 debate público *
'1.
TRANSMIIIR Como funciona? 1. 0 artigo 1. A exposição escrita 1. A apresentação de
CONHECIMTNIOS enciclopédico documentos
(Apresentação de um 2. A entrevista 2. A nota de síntese 2. 0 relatório cientffico
brinquedo e de seu radiofônica* para aprender
funcionamento)
3. A exposição oral
* 3. A exposição oral
*
4. A entrevista
radiofônica*

REGUI.AR 1. A receita de 1. A descrição de 1. As regras de jogo


COMP()RIAMTNTOS cozinha
* um itinerário
*
(Apres. em áudio)

5 sequências I sequências 9 sequências 13 sequências


(sendo 2 orais) (sendo 3 orais) (sendo 2 orais) (sendo 4 orais)

rcrrr; Joaquim Dolz, Michàle Noverraz e Bernard Schneuwly (2004:126).


0bservação: os gêneros com asteriscos (*) indicam sequências de expressão oral.

zls À pÍoposto de Bromtkorü

Bronckart (200I) en L'enseignenrcnt des discotLrs, lembra qr-re os tertos


são urn objeto legítin-ro dc cstuclo e que a análise dc seus níveis de organização
perrnite traberlhar a rnaiori:r clos problern:rs relativos à Iúrgua em toclos os seus
aspectos. O trabalho con-r gêneros é interessante na nedida em cllle eles "são
instmmentos de adaptação e participação na vicla social e comunicativa". Quan-
to ao tratamento dos gêneros para elaborar unla série didzítica, Bronckart su-
gcre Llma atividacle ern cluatro fases:

(I) h,iaborar uu, rlodeio tlidz'iiico:


o primeiro passo é a escolha de um gênero e sua adaptação aos conhe-
cimentos clos alunos; em seguida trata-se de analisar as propriedades desse
texto, seus uSoS, SuaS formas de teaTização, SuaS variações e Seus contextos de
uso. Esse modelo assim escolhido e trabalhado permite delimitar três grandes
categorias de objetivos de ensino:

(r) analisar as atiyidades discursiyas: aprender os critérios da escolha


de um dado gênero numa dada situação comunicativa; simular a
posição de um produtor do gênero imaginando as intenções os inter-
locutores (destinatários etc.); identificar os conhecimentos mobili-
zad"os para produzir o gênero nas circunstâncias imaginadas; esPe-
cificar as estruturas comunicativas e o formato convencional que o
gênero apresenta;
(b) operar com as sequências típicas (tipos textuaís): saber como coorde-
nar as sequências que entram pârâ compor a coerência de base tex-
tual, tais como as sequências argumentativas, narrativas, expositivas
etc.; essas bases globais devem ser ordenadas e sequenciadas de ma-
neira organízada;
(c) dominar os mecanismos linguísúícos: nesse caso, trata-se de estudar e
analisar os aspectos sintáticos, morfológicos (gramaticais de uma ma-
neira geral) e as propriedades léxicas bem como a escolha clos regis-
tros e estilos; observa-se aqui a organização textual sob o seu aspecto
local (coesão) e global (coerência);

(II) Identiíicâr as capacidades adquiridas:

Têstar os alunos quanto ao fato de se adquiriram ou perceberam os três


aspectos trabalhados em (I) acima, ou seja: as capacidades relativas às ações
discursitt as, tipoló gicas, linguístico-textuais.

(III) Elaborar e conduzir atividades de produção:

uma vez identificadas as capacidades em relação ao trato dos gêneros


escolhidos, partir para exercícios de produção efetiva de gêneros dando con-
dições específicas e situações determinadas de acordo com os elementos
analisados em (I e II) acima. Aqui seriam elaborados os módulos de sequências
didáticas.

(W) Avaliar âs novas capacidacles adquiridas:

Neste ponto trata-se de analisar as produções textuais dos ahrnos dando-lhes


um retorno específico de maneira que Possam prosseguir no trabalho
com gêneros similares ou com outros gêneros dentro dos passos expostos até
aqui em (1, II, III) acima.

Este modelo, desenhado para o trabalho com gêneros textuais escritos,


pode muito bem ser estendido para os gêneros orais. Assim, podemos identifi-
car, como faz Bronckart, a exposição oral como objeto de análise e tratarnen-
to numa série didática. Vejamos como se poderia analisar :uma exposição oral
tal como as que são feitas por um expert sobre um tema, alunos em sala de
aula como apresentação de um tema diante da turma. Seguindo o modelo
acima proposto, temos:

(I) Elaboração do modelo didático:


O modelo escolhido é uma exposição didática que deveria ter sido gÍaya-
da e transcrita para análise:

(a) quanto às atividades discursiyas uma exposição oral apresenta:


I uma estrutura comunicativa institucionalizada e bem definida ou seja,
convencion alizada;
t em relação aos atores sociais, há um especialista que fala sobre um
tema determinado diante de um auditório interessado;
c há uma assimetria quanto à posse da palavra e disponibilidade de
conhecimentos;
. um dos propósitos da exposição oral é diminuir a assimetria de co-
nhecimentos e partilhar conteúdos;
f o expositor usará de recursos diversos para sua exposição, sejam os
meios próprios tais como a gestualidade, entoação, mímica, mas ain-
da outros recursos disponíveis (projetor, microfone etc.)
* poderá haver intervenção do público mediante permissão do exposi-
tor ou não.
(b) quanto às sequências típicas de üpos textuais uma exposição oral:
* é um monólogo em que um expositor tem a palavra;
a a organização interna apresenta uma aberturâ com a informação do
tema, delimitação do objeto e desenvolvimento do tema, recapitula-
Ções, sumarizações e observações conclusivas;
a quanto às sequências típicas tem fases descritivas, expositivas e
argumentativas.
(c) quanto aos mecanismos linguísticos mobilizados numa exposição
oral, teríamos:
a. do ponto de vista do léxico mobilizado, em geral trata-se de expres-
sões técnicas e um estilo característico de exposições científicas;
= a gesticulação, a rnímica e os elen-rentos suprassegn-rentais são usados
para criar efeitos;
,;, uso cle marcadores para encadearnento dos et-tttt'tciados e repetições, bern conlo
elementos ar-rafóricos são r-rtilizaclos para desenvolr,er os temas.

(II) idcr r ii ti crt r rt s <- atr:ti' t c1;rt1es itdipt i rirla s :

Neste ponto, trata-se de analisar alguma produção de erposição oral desen-


volyicla por um aluno e um profissional, identificando os aspectos apontados' l)e
um trodo gerai, pode-se pedir para ouYir, tomar uotas, ir se preparando para a
fase seguir-rte que será a da prodr-rção cle unla exposição oral'

(III) I ilab.,riri c cortiit.tzi: aiivjr.[arles cli: llr.otlilcrio:


Um:r vez iclentificadzis as capacidades eu relação à erposição oral' parte-se
para a proclução de urner exposição seja por um alttno ou por duplas. Para a
proclução segtlelrl-se Pâssos prel'istos desde as notas escritas para conslllta até o
desenr,'olvin-rento c1o teura e sua apresentação em púrblico.

([V) ,\t alirtr as t]ot,'âs cailrtr,'irildcs iiti'.lrtir icla::

A proclução lla fase anterior é observacla e allotacla poi toclos, que ilgora
analisam e fazcm suas sugestões. Obserr,:r-se a capaciclacle de conclrtzir o tetna;
a selcção dos tópicos e da linguagem; a aclequação ao pÍrblico e a capacidadc
clc envolver os ouviutes.

Ncste crernplo, alguns aspcctos estão aqui apontaclos, tt'tils pode-se ir


mais longe e tri-ltar clc muitos outros. Segurarncnte, pâra cada gênero traball-ra-
c1o, poclem-se trnzcr variações e observar a nrultipliciciacle cle forul:rs de proclu-
zi-lo. Tarnbérn se pocle proceder a pesquisas Por parte dos :rlulos que coletanl
claclos clc gêncros da mesma classe ou sit'nilares oll co1-u Pcqllenas variaÇões. E
possír,el que se tcnha erernplarcs de gêneros cluc não foram berll-sucedicios na
s1a proclução. Urner sequência clicl:itica cle gêneros poclc dedic:rr-sc n observar
também questões específicas rei:rciotlzrdas er gêneros.

=w
t
(a) GI0SSÁR0 SoBRE GÊNER0S IEXTUAIS: Dar continuidade à montagem do glossário com termos
tais como 0s que aparecem nesta unidade:

Você também pode gostar