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(lo|iright (i Ycrhg vi oÍ() Klosl.

rnrann
 .ssôn.itl Ja lit)rtutiLl! hLrora|.r: ir)troduçã1r à ÍilosoÍir Martin Heidegger
l'ilLrlo originâl: I)is Wtscn d!r mens.hlr.hen l-rciheil: liinlejtrxrg irr di. I,hitosophi.
liss.t obra Íiri c.litrdr.orn o apoi().to (locrhc InslilLrt

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GOETHE

A essência da
INSTITUÍ

IRÀ r )uÇÃ()
\lar.o Artlinro (lusl ovr Liberdad e hufilâÍ-tê:
introducã oàfiIosofia
r{rj\,1s^o
Ir.ul0 (lrs.rr (lil I errcir J

Il)l(iÁ()

CA P^, l'Í.t()JII',O (iR^l-l(j() lj I)lÂCtt,\ \1A( tÀo 'fitulo cm alcmiio

Das Wese n der menschlichen Freiheit:


Irrugc di clpa: orlr»,,r 1,aul la.kÍ,r I,olkJ.k
Einleitung in die Philosophie

Il.165r' 'liadução

1 Icidcggrr, M.rrtin, I 8i11.) 1 97íl Marco Antonio Oasanova


,\ essôr.iâ dt1 libcfth(lc lrunrana : introiluçrio à lil(,soÍir / Mnrtin
tlcrdeggcr i lrrduç.ro ]!0ar.o AIt(»io (j.r\irlrovir i rcvisio l)rulo ( i,srr (;il
lrrrreirâ. l. cd. Itr) dc lanciro: \,ja Verilâ,2012 Revisào
-]48 |. : 2l cnr.
Paulo Cesar Gil t"erreira
'linlluçio d.: I)rs Wcscrr d.r nrenschli.h.n lieihl:it: Ftir)lritung in (tic
Philosophie.

tsuN

). IrilosoÍin IntrodLrçoes.2. t,ilosoÍli e (itncir L Iitut0

(it)t) lo0 Rio dt lttncirc,20l2


'lirl,is os dir.ir.s de\(r cdiç.nj rc$ !.dos i
vlA \. Il(lI,\ lll)ll()llA
1lür h,liDr lnnrini.o.6(x)/ l0: AP()Io
Rri Lt.linrir) IU 2.1.161 01x)

B§\\Lavcrilr.oDr br GOETHE
.dilrn,rl.i \ ir\.fl 1,..nr [rr
\/IAVEItITA INSTITUT
SUMARIO

CONSIDERACAO PREVIA ,. ....,,,,,,,, 15

§ l. npnrr tL co l tliçtlo etúr(: o qucslito "porÍiculdr" tlcttcLt


^
rírr.-s-si/?.,.r í/r.r libetrlnlc lurrtnrttt c tr torclit "gcral" dc u o i Íroduçno
ri lihtso.lirt . ............l5
a) O "particular" do tcrlrir e o "universal" (le (tnta inlroduçio à íilrsoÍia. . 17

b) Suprcssào tlas restriçócs à qucstão rcerca tla cssência clir libcrdade


hurrara enr tlireçii) ilo todo do ente (mundo e I)cus) nà disctlssiio
pror.is<iria ch Iiberdatlc'icgativil A peculiaritlade do qucstionarlrcnto
lilosrlllco enr sua tiiÍàrença em relaçio iro questi(manrenk) científico . . . I 9

c) lnterprctaçan) apnúindadora ch "liberclacle negativa" conto


libeldacle clc-.. a plrtir (h cssôncil clc seu catáter de ligaçito.
O eDte nlr totirlicllrle necessariatrenlc co tcnriítico na qtlestão
acerca da litreldaclc hunrana. . ............ 25

tl) IrilosoÍia conlo tornar mânifêsto o lodo na tr-à\'cssia rlos problemas


pirrticr.rlares eíetivatncnte apreendidos.. . .... .... ..... 28

PR|ME|RA PARTE... ...........31


DL lr RN.4INALAO DOSI , IVA DA I ll oqor A A PARI lR D0 CON ll iDo
DA OU ESTÀO DA LIBERDADE

O PROBLI NIA DA I IBFRDADI HUI,4A\A I A OLFS-ÀO


FU N DAN,4 ENTAL DA FILOSOFIA
PRINIEIRO CAPITULO ..,.,,,,,,.]3 cl) A comprccnsio veladir paril si nresrra clo ser (oüoi.tt) conro
Primcira in-upçài) do problenrâ da liberclarie na climensãir presentidildc cor)stirnte. Oôoin como o b(rscado e pri' conrpreen,:liclcr
propriirnrcntc ditir crn Klrtlt. O nexo.lo problema da liberdade nir rltrestio dirclriz cliÍilosohâ. ...........72
conr os problcnrrs funtlamertais dr metâfisicâ
§ Áp.§rnÍdÇro r/o signiJraub Jiordotrrctúnl telodo dt otjsilÀ
,8.

§ 2- l:ilosLt/rtr cono qutstiottottcnto t'nl direçtro rto Lcrtt drr totalidtlc. (presrfilidade co stu tc) .iufito à iütülrrrloç\it) grtgt dt tnotiitrnlo,
O tunlo do LoLlo cono o ir-Lis-rrlízcs . . . . . ............. 13 scr L) qut r !ítr tJeLitonltfik rcol (pr.isc çu t\ vistu) . .......75
a)Selc rnovin-rento. Orxlur ct»uo nopotnia do imc4rír,rov. .. .. ... .. .... . 15
§ J. I)i-scrssrio lnrlicntivLt Jõrnol do "liberdodt posiliva" a potLir dc um
b) Scr c <luiclidatle. Or.)oio. como nnpotoiü do €iôoq. . . . . . . . . . . . . . lt2
rccurso à libanludc "tnusccndcnlal" t à libenl*lc "1trático" tftt Kanl 36
c) Scr c substância. O prosseguimento (lo desenvolvimcnto
§ 1. A anrylioçuo itklicuda uo carLilet dr: Jinulqoo Lld liberLldde do problema do ser sob ir Íigura ckr problema cia subslància.
tritscetldentoL do pntbletu do liberdaLle ntl perspcctiú) do prol)ltmd Substirncialiclaclc e presel)tidilde constante. . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. . 85
cosrllllógiLo: libenlaLlL causolitladr trctitrcnk) e lc üiquonlo til . . 1) d) Scr e rcaliclaclc efetivir (presença à vista). O nexo estrutural inlerno
tleoüoic conro rspouoiü.orn irví:py€rü e actualitas . .... ... ... u6
§ 5. O caulcr qucsLir.trtávcL dc invcsLídutt do questao otpliodo
do libenlodc c o liguri tn lick)tul dd qtrstao diretriz da .fiLtsoJio. i
§ 9- Ser, vr:nltdc, ltrcsL'ntidtdc. A Ícrptctttçtio grcgo Lloserconto
NL,ccssidade dc utrt tlutstit.,lttúte k) rc otado di Llucsltlo dirctriz. ..- . 19 sigtlilicado dc ser 1)erdotlciro no horizt»tte de scr cotrto ltrc:eulid«{e
coir.strrltc. 0 óv d4 riÀ10i:ç conro ruprótatov óv (Arist(iteles,
SEGU N DO CAPíTULO. ..,...,.. 57
MctIJísicu@ l0) ...... .......... 91

a) A siturçiio cla investi!Íição. Os significarios até aqui cliscutidos do


A qucstão dirctriz da iilosolia e sua questionabilidatle.
ser sob il caraclcrizaçâo dir.ompreensào tie ser e o significado irtsigne
flxplicitação da qucstaro dirctriz a pârtir tle suirs prriprias
possibilidacles c pressupostos.
tieserdo ser verclacleiro. . . . . . ............94
b) Quatro signiÍicaclos tlc ser enr -,\ristóteles. O aliial)leDk) do
§ 6. questão diretriz da íilosot'ir (ti rit 6v)cotno que.§líio .r.cr'.íl 1rv ri4 riÀ1oâçem i\lctolisicn Er...... .............. 98
^
doscrdoente. .........57 c) explicitirçâo tcrnática clo óv d4 riàr10í5 conro rtpLótutov na
^
l)Ittafísica O i0 ea questào sobre o pertcncinrcnto do capítr1lo ao livro
§ 7. A co 4)re. soo tle scr prt conccitual c a poluvra Jundtmentd O. Â conexão entrc a questão tcxtuai c a questào nrâterial cnquank)
Llo jlttsoJia oúiga ltrirír (,§erj oü6iot ....... 59
qucstio da copertinência do ser,qua ser vercladc com o set qua ser
ir) ()s cara.teres da compreensão pré conceitual do scr elitivamcntc real (i:vêpyera óv; .......... l0l
eo esquecillento do ser -... .............59 o) A rcicição do tàto de O l0 pertencer a O ea tradicional
b) ,,\ plurissigniÍicância de oüoin como sinal cla riqueza c da irrcligôncia intcrprctação do ser vertlarieiro como pnrblema da lógica e tla tcoria do
clos problenras intlônritos no despertir da compreensão tle ser... . . . 6,1 conhccimcnto (Schrvcgler, laeger', Ross). A interpretaçào despropositada
c) O uso Iinguístico cotidiano e o signihcado tintiamental de oüoitt: do ruptótatc como conscquência ciessi interpretaçào.. . . . . . . . . . . 10,1

p) Prova tle clue o capítulo 10 pcrtcnçe ao livro O. A ambiguitiade


no conceito grego de vcrdacle: verdirtle coisal e verdade proposicit»ral
(vcrdade do enunciado). A discussão tenrática do ser verdadciro
se-oo todo) c a singularizaçao irtvusita (o ir-às roízcs) lo tonpo conto
do ente (propriamente dito) (àni rôv npcyprátrov). ser.
lrtrizttntt: do contprecnsoo dc .........156
não do couhecimento, no capitulo O 10... .... ...... I l0
d) A compreensão grcga da verdade (d).fOern) como § 11. O rlcsLocLtrntnto dd pcrsprctivo da íluestão: d Lluestào dirctria itl
desencubrimento. O ente verdacleiro (dÀr10àq óv) como o cnte tncto/ísico Jiuda y nd qu.stio dcerca dt cssência do libcrdodL,.... 160
rn:ris propÍiamente dito (ruprrír«tov óv). O ente mais propriamente
tlito como o simples e constantemente presente - . . . . . . . . ..... ...115
n) A correspondência de ser e ser vcrdadeiro (desencobrirlcnto). SEGUNDA PARTE .. ... -... 167
Dois tipos Ílndamentais do ser c os nlodos que lhc são CAUSALIDADE E LIBERDADE. LIBERDADE TRANSCENDENTAL
correspondentes do ser vercladciro .......116 E PRÁT CA EN,1 KANT
p) Verdade, simplicidade (unidade) presentidadc constante.
e PR ME RO CAPÍTULO I íI9
0 simplcs (riôraipeto. rioúv0eto, dnÀâ) conro o cnte proprianrente (lausalidacle e Iibcrclaclc conto problemir cosmokigico.
r.lito e seu desencobrimento como o modo nriris clevado possivel
O prirnt'iro cantinho para a libtrrlirdc no sistenti kanliirno, passanclo
pelir qucstio acerca da possibiliclacle da experiêl)ciir conro questão
y) O desencobrimento do sintples conto purâ presenti(lade sitrtplcs lcerca cla possibiliclaiie da própria metaÍisica
c inrediata nele mesnlo ...... ...... . .... l-10
c) A questão acercâ do ser verdadeiro do ente propriamente dito coIno § 1-5. Olr-s.rrdÇiro pr.(jviq sobn'o prol cno út Lrtusulidodt
a questão mais elevacla c ntais profundir dn interpretação aristolólica /r.r.s ari,raid-s .......171,
clo ser. O capitulo Ol0 conto momento c1e conclusão do livro O a) Causalitilclc corr)o cxpressào parâ ir qucstionabilidade da niltureza
e da metafisica aristotélica em geral 170
b) Oausrlidacle na fisica ntoderna. Probabilidatie (estatistica)
§ 10. A reulid*lc efctit d do espírit(, o Hcgcl ú»no prcsente dbsoluro . . . I 15 ecausalitiaclc . 174

§ 1(). Priutcito \rvitt(, to pdrd a contctcriztçrio da corrccltçào konliuna


TF R( T IRO CAPI'LLO, ll9
A elaboração cla rluestão diretriz da metafisicâ dt cousulidrulL: c dc seu texo jinlanttntrrl: aursalidudc
cm clireção à questão tindamcntal da filoso6a
c ordem tcntporol .....-......178

§ I I. A qucsÍdo Jltkianental da Jilos<tfio colno a qucstot accrca § 17. Cdraclerização yen Llos oualogirts dt txpcriircio ......... . 182

do nexo origínario rle scrc ttntpo. ........140 a) Às analogias cla expcriência corno regrls da deternrinaçiio teluporal
geral do estar preselltc à \,istâ do cnlc presente i\ \'isla no contexto
§ I2- O homern como sílio da questao Juulanenk . Conprrcnsão dc scr tlu possibilitrçiio intcrna tla experiência . . . . . . . . ..... 182
cr»no Jwtdamcnto da possibilidudc do essôttcio do httmctt 146 b) Os trôs r»oclos temporiris (pcrrnirnôncia, sucessão e sinrultancidade)
conro nroclos da intratemporalidirdc dr) ente preseI](c il vista Ilt9
§ 13. Ocarnt.r Llc dlnrdogcm do qutstao do ser (questao futtdanental)
c) Para a dilàrenciação dos prirrcípios dinânricos
c Lt problena da Líbcft1idc. A ol plitudc abrdfigcnte do ser (o r. rcter-
c rl,,s prinr rpiu. llt.rtcr llJlii( r5 . l9l
cl) As aDakrgias da expcritrlcia conro regras das relirçires firndanrentais tenrporal distintivo clil càusâlidrde iLlnto ao exernlro .la .oncolnitiincii
doser no. tenpo possivel rlo cnlc prcscnte i\ \,istr .. ......... ... 193 decnusaeelêito ........225
c) Segunda prova da oricntação da càusalidadc pclo rnocio dc scr
§ 18. llrllcitrrçrirr rlo nodo de dcnnnstraçào Llos dnaktgils lo da preseuça à visla junto ao conccitr) dâ irção. Aç,ro conro corccito
L'tpcritruiu c dc scus.lilndd rcfitos o pnrtir do $cttq)l() do Pittciru consetluente <ia ligaçiio dc causa c cfcilo ........ -.... 229
rtndogio. O signijclrdLt littulornet al dt prírrtciro oru ogiu .. . . . . . . 195
l) r\ prirneira anllogia. I)errrirt(\ncia e tenlpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . I95 § 21. O lugdr sistemaLico do liberdtLlc enl Kdtll . . . . . . . . . . . . . . . . . 234
b) O firndamcnto qucsliorável dâs ar)alogias: a justaposiçiio ) C) lugar sistcl,nático col1lo nexo nrâterial, que prelineia a ciireçiio
niio esclirrecida tle tcmpo c'i'u pcnso" (entendinrenk)) etn unla eit anrpljludcdo qucstionamenk) ..... -..234
irssunçiio préviil rriio coloclcla à prova clir cssôncia do honrenr b) Os dois canrinhos para i libcrdadc crn Krnt c a problcnr:iticr
conro unr srLieito finito.. .... .. .... ...... l9ll trariicional dir metalisica. O lugar cla qucstão da liberclidc no
i dcduçào trlrscendentill dos puros
c) r\s alirlogias <ia experjônciir c problena da possibilir-laclc tla experiênciâ como â questão acerci
conceik)s dl) el)tendimento. A eslrulurx lrigica clas analogits tia tia possibilida«ie ila rretalisicir proPtiamcntc dita.. . . . . . . . . . . . . . 237
expcriêrciircàqLlestàodeseucariiterirnakigico. ..... 200
§ 22. Atusulidade por libcrLlode. LibtdaL]e coxto ideio cosrnológico . . 212
,:l) Sobrc o siguilicltlo funchnrentirl da primcirl irnllogir.
I)enrirnôncia(sLll)starrcialitlatle)ecarrsalidirclc......-..........203 a) O problcnra da libertiatle enrerge do ou conro problema do rrundo.
Liberclacle conro moclo insigrre cla ciusaliclacle natural. ..........212
§ 19. ,1 srgrrrrdrr ntuk)gir. Aco Ltaitlrctlto, ordctn ltrtpordl b) A ideia tla !jbcrcladc conlo "conceito trânscendentâl de naturezâ":
c ctttLsilidddc . . .... 206 cirusalidircle natural rbsolutimclltc pcnsidâ . . . . . . .............. 216
a) Ocorrêncin (acr»rteciri'rcn1o) c (ndenr tcrtrporll. Ânálise tla cssência
dir ocorrôncia e possibilitlade de sua pelccpçiio. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206 § 2-]. O-ç doi-§ lirroJ dc.ousdlidítL: c d dütitttic.t tlu tutzào lrurd na

[r) Ilxcurso: sol)r-e a ilniilise essencial eaan:rlítica .....210 lcrceiru anlinotni(r. ...........219
a) A tcse cla terceirâ ilntinonria. A possitrilidirde da causirlidacle por
c) (iar.rsnlidrtle corlo rclaçiio lcntl)or-tl. (lnttsalitlade tro setrtitkr rlo scr
libcrclaclc (liircrclade transcendental) ao laclo r.ia car.rsalidade segundo
causâ ó âDteceder no tenlpo conro dcixilr scguir sc dctcrnrinirnte . . . 21.1
a natLrcza na cxplicrçào dos fànirnrenos do munclo conro

§ lc Luusulidode: tuusrrlidLtdc scgLotrlLt o rnlurt:u t'


20. I)ois tiltos rrnr protrlerlrir univcrsalnrcrtc ortolóliico.. ... . -. . .... . ........ 252
trtux irlnlc por lilttdulc- ()tmt!tri:açoo tlo lturizotúe o lo /rigico.gcrrl/ b) A antitcsc dr tcrceira ântinomia. À exclusio da libt'rclacle
do pft,blc n dtt libt'rdulc m delcntintlçtio dd libcnlodc LornLt untt da causaiidrclc tlo curso do nrunckr. ......256
cspécit: dc.d sdlidodt. O ntxo otlrt ttusalidtttk cn gt'rt c o ttu)do c) A distinçiio das iclciirs cosrnoltigicas nâ qucstalo accrcâ
lc scr da prcsettçLt ti vl-§lír..... -.. - -... -..221 tia possibiliLlade da nrelirllsiclr propriamcntc clita c o intcrcssc
r) oriürtirçào (la clusaliclitdc enr gerirl pcll clusalitlirtle tla uatureza. rllr raziio em srra rcsoluçio. .... -......... 25tl
^ ir problcnráticn dl cilr-ilcterização (lir Iibcrchclc conro utna
Sobrc
espa'cic clc crusâlidide.. ... .. ........... 22-l § 2,1. I)etermi ttções prcpdrtltóritts ( cgdÍitos) pLlrLt d r.iloluçào

b) I)rinieirit prova dr orientirçio rir cirusnlirlille pelo tnodo dc scr


(lo cnlc |rcscrte à visti i pirtir (la cons((luência enqltlr)to o r ).lo ) C) cngano cla rilT-ào conunl no manuseio de seu principio . . . . . 261

l0

,ffi.
b) A clifcrerciaçio entre fênômeno e coisa em si ou entrc § 27. A rcolidalt cletiva do libL:rdodc hurnLrnt (ptilica) .. .

conhecimcnto finito c ii]6nito como chave para a resoluçIcr r) Libcrclrtle conro làto. A l:rctr-raliclatle (realidatlc c[itivr)
tlo problerrir da antinonliil ... ........... 269 tla libcrdaclc prática na prilxis éticit c o [)roblelra de sua "experiétrcia'i
r\ realiclaclc práticit cla liberdade. .. ....105
§ 2.5. A íJrsJoirlçrro positivd di tercciro i tino titt. Liberdaic cottut
b) Sobrc ir cssência cla rlzio pura enquinto razio Prriliair-
ctttsolidodc d;t rozão: iLlein trd sccl Ltúol dt unts trtusoLidarle -... ll-l
A rlzio pura pt-ática cnqlLank) a Pttra \'ontadc - - .
irrconr{icitnado. Caráto t lirnitcs do probLurta dt libcnl«lc tto
c) À realidadc cÍetiva (lil rariú Puril Priilica lrâ lei nroral. . .......-llu
inttrit»'do pntblc»ut dn ntltitútnid. .......272
d) O impcrrtivo categririco. Sobre a pcr-guntir de stta realiclatle
a) A c{issoluçiio tlo problema tias antinomias para alérr
do problema clo corltrccinento llnito corno problema rin finitutle
lli'tiva erle slrir "villidade uuiversal" ..... .... - -.- -.- 3».

tlo honrenr enr geral ......... ...........272 § 28. A .o/r.§r iir.iri rlu lilterrlttd,: hunut,r r: dt sut rolidode e.letiu . . 328
b) O acliamcnto do pnrblcml cla soluçao dils antinomias na cxecuça(). ,l| \,,lrt.r(l( lrrrr.r r. rr.rlirl.rrlc rltIl\.r. I I (,rr.rlcr l,r,,l,rii,
A questiio ircercu dc unr scr cirusa dos Íi'rrônrcnos t'irra dos Íenômenos clo el,etivrnrente real \1)litivl) en(iuatrlo lrlto . . ... . .............. 328
e clas contliçires r.io tenrpo. A soluçiro clir lcrccira !tntinonriâ nâ visào
l.l) O tirto cla lci nroral e I corrsciêucia dit liberdade da volltxde.. .. -133
1>rúr,ia do htrrDenr como pessoa eticanrente ilgente. ...... - -... -. 2/-8
c) Oaráter empirico e inteligivel. () carfitcr intcligívcl conro ntockr clo
scr cmrsa da clrsrlidlde por liberdadc. O carilter clup[r clo lcnirrncno CoNCLUSÃ0..... .. .. .. ..... ..33e
c a possibilitlacle rie riuas clttrslliciarles iilndilnrcl)lalmerlte divclsils A tlinrcnsrio onloltigicl priipriit cla liberdil(lc. () cnrâizilnlcnlo clil
coln rclaçio iro tcnônrero enquauk) el-eito... ........ 2lt3 qucslio tlo ser nu pcrguntl sobrc a essêncil ria libcrrllde httmltra.
cl) A causaliclatle tla rlzào. Libertlatie conro cnusllirlatle inteligívcl: l.ibercl;rclc conro lirnclnnrento r.la cirusnlitlirtle
ideia trltnsccndentirl cle unrr cirusalidacle irconclicionatla. Á aplicaçio
da problcnrática univcrsalnrcnlc ollr)l(igica (cosrnoijgica) :ro homenr § -?9. lirrrllr.s rír r/i-s.u.s.sritr kttrlítrrrr rlu libcrdadc. A titcuLoçàLt
O-s

......289 kafilitutLt tlo l)rolrle n do lil,trdade con o ltroblcno do coLtsulidodt'. . 33r)

§ 30. LibLrLlodc cotno ctrttrl4rio rlt' lu.çsllr ilidodt' dtt »ttrtrileskúilidtúc


SEGUNDO CAPÍTULO, .,,.....299 do str io r:rtlL', isto t, dd t:otttPrL'.ttsâo r'lt'.çcr . . .......l'12
O segulclo carrrintro parir l libertlade nr) sistenrâ kantiilno. Liberdarie
práticir coqrLrnto distinçiio especi6ca tlo horrrenr corDo rrnr ser rilci(nral
POSFÁC|O DO EDTTOR. ... .. 34s

ltumrtn aorio ser sltsível t aoDto scr rkiornl


5 2ó. ;1 c-s-sirrr'iri rlo
ctdiJcrertçocntrelibcrduLlctrortsccndetúolcPrá,tícLt.............300
ir) À essência tlo honrenr (humanidarle) corno pcssoa (pessoxlidu(le).
Pcssoalitiatleelutorresporrslbilidlde. .............. 300

b) O segultio carlinho para a liberrlrde e r cliÍerença da liberdar.le


transceudentâl em relaçào i\ liLrerrlatle priitica. Ibssibilidade
c' cÍetivitlnde da liberdacle.... ........... 303

t2
CONSIDERAÇAO PREVIA

§ t. A apdrenla contrudíção enlre o questão


"parLicular" octrca da essência dct liberdatle humatur
e d tarcltt "gerol" Llc uma íntroduçutt à.filttsoJio

O tenra clo qual tratâ il prcsente introdução r\ fikrsolia já se


acha designado no anírncio cla preleção: ir essência da liberdacle
hurrana. A preleçáo trata da liberdaclc c, cnt verdade, cla liberda
cle hunrana. No tema sc cttct»ttra o horncnr.
Por conseguinte, trirtallos clo homcttr e nlio clo aninlal, nào
clirs plantas, não clos corpos m.lteriais, nio de produtos artcsallais
c técnicos, nao dc obrirs de artc, não de f)eus nras do hometll e
de sr.ra Iiberclaclc.
O aqui introduzir.nos para alénr e ao lado do homen't
<1ue
sob ir fbrrla rla enunteraçào ttos é tito ctlnhecido quauto o htr
nrenr. 'l udo aquilo que cxpr.lsellos se encolttra, por assinl dizcr,
estenciido cliante de n(rs. liullrem podcnros tlistirtguir o quc é
assir.n sinrplesrrente conhcciclo - tlm cm rclaçáo lttt outro. APC
sar de toda clistinção c de tocla divcrsidacle, porém, tambént co-
rrhecemos o conhccido corlt vistas i\qLrilo no quc, sctrt prejuiztr
clas ditêrenças, clcs concorclam ulls corl os otltros. (lotthecemos
todos eles e cadir unr deles conro aquilo tlue l; aquilo que d deste
ntoclo, chalnarlos um ente. Scr Llnt eutc: nisto coltcorda elltre si
u princípio c por Êm tuclo aquilo que lbi clcnominado.
O honrcnr, cle cuja libcrdade clevenros trirtirr, é rrrl ertte cn
lre os outros elltes. I)esigtranros na maioria tlas vezes a totalida
clc do cnte conto rrrundo e chatmamos o fundantento tlo nrttndtt

l5
habitualmcnte Deus.r Se ntis, ainda que indctcrntinirdiunen te, lrmpreender uma introduçào à filosoÍia pela via cie um tra
rcpresentarmos a tota]idadc clo ente conhecido e ciesconhecido tamento da questào âcercir da essência t1a liberdadc hunrana, ou
e peirsarmos neste c.Iso expressaDtente no hor])crn, entào sc nos seja, buscar urna compreensão clo ur iwrsol da JtlLtsoftLt c ai escor
mostrar.i o seguinte: na totalidacle do cnte, o honrcr é irpcnls rcgar pnra o lado de uma questào parliculirr: este é evidcntenten-
unr pcqueno canto. No que cotrcerne às potências cla nalur eza c tc uÍn intuito impossível. Pois o intuito e O carninho para a sll.r
.Ios processos c<istlricos, esse scr ínlimo nlostra unta fragilicladc rcalizaçào yâo un] dc encontro ilo outro.
scnl esperanças; no que cliz rcspreilo à hist<iria e aos seus envios
clestinamentais e clestinos, ele revcla unta iurpotência insuplan- a) O "particular" do tema e o "universal"
tável; com vistas à tluração clos proccssos crisnricos e mestrro cla de uma introduçâo à filosoÍia
iclacle cia histriria, ele possui urn cariiter
inintcrruptamentc Íilgi- Conr ccrteza, o particular e algo divcrso cLr univcrsal. A dou
dio. E e dessc cnte ínhmo, frágil, irlpotente e tirgiclio, o honrerr,
trina clos cálculos clilêrenciais não é rr ntatentáticir; a ntortitlogia e
que tratanlos aqui.
a Íisiokrgia dos Íurrgos e Irrusgos não é a botânica; a interprctação
Neie, consiclcrantosJ por sua vez, irpcltils unta propriedadc:
d.\ Atllígotlu de Sófircles nao e r.i filologir clássica; a histtiria de
sua Iibcrclade; não as outras Í-irculclades, rcaiizaçites c car.lctercs.
lrcderico [[ niio e a história da ldade Media. l)c maneirtr corres-
Anrarranros .lo tetna "I)ít do libcrdade l.turnsnt" ur:.la
cssêrtLio
purdcntc, o tratado sobre o problenra da liberdadc lrurrana nãcr
qLtcstiio portítuldr (a liberclacle), quc, alem disto, estii ligacla, por
e ri ÍilosoÍia.
sua parte, a LLrn Ütt portícular (o horrertr) a partir da trÍalidade
E, contudo! Corno c que ilticianros irs coisils l)a lnirtentática,
do ente.
por exernplo? Não contr:çiln.tos c(»r as doutrinas das cquaçires di
O lratamcr)to clesse tcnra cleve, porent, se translorntar cÍn f-crenciais, tr.tas ccrtamente cortr o cálculo difcrencial: e desse ele-
una ínlroduçao à JilosoJtu. l)c uma tal introduçio, esperiunos llcnto pârticular que tratamos c nuncr da matemática elr geral
que clir crie para nrls uma yisuirlização dtr fibsofiu, isto é, do trrrlo
c do nlatenrhtico cnq[.lnto tal. Corneçanros com a leitura c a in-
de suas questões. (lont essa visualizaçiio do todo, qucremos con
terpretrção de determinaclas obrirs literárias c não cont a likllogia
quistar unra visão panorâmica tlo campo integral da ÍilosoÍia.
em geral e com a questão acerca dir obra cle arte litcriiria enquanto
UÍna ir)trodução ir lilosofia precisa se tornar uÍna orier)tação so
lal; e irssim acontcce cm tod;rs as ciôncias. Nris corneçantos cour
bre o quc hii ntais univcrsal da lilosolia. Ela tern precisarrente de
o particular e concreto, n)as não para ficarmos pirrados aí e nos
cvitar o perigo de se perder;ror dcnliris ent qucstôes particulares
perdermos aí, mls para krgo nos clepararnlos corn o esscncial e
e, assir.n, encobrir o olhar para o todo universal. F)nr verdircle,
universal. (lor)] certeza, o particular é scmpre algo ditcrso clo
no intcrior da própria liloso6a, potle haver quest<-rcs particulares.
universal, mas csse ser diverso nào significa nenhunt litigio, as-
Tuclaviir, uma introcluçao r\ lilosolia prccis.l tentirr scÍnpre apro
sim conto nenhurn exclLlir,se ntutuantente. Muito ao contriirio: o
xinrar rlcsclc o início o loclo universal enquilnto tal.
particular e semprc dc um, nlais cxatanlente: clc e sentpre do scrr
univcrsal, que se encontra nele incluído, e o universal e sempre
I "NIuncb" e "l)eLls" agora apenas visacios conto exprcssôcs orien- o univcrsal do particular cleternriuado a partir dcle. De acordo
tadorts fàcultttivirs para a totlliclacle do entc (a totllidade una de nàtu corn isso, o particLllar é r'espectivame nte a ocasião autêntica e cor
Ícza e hist(iria: ruutrclo) c o lindatncnlo da kÍilidade (Deus). reta, na qual encontr.rntos o Lrniversll. Por nteio do tratantento

t6 t7
cla questão particular - a liberdade hunrana , nós pcnetraremos a possibilidadc flndantentircla de ao menos colocirr em qucstão
no universirl t1o conhecimento filostiÍico: csse não é ncnhum em- e contestar o cariiter de ciôncia cla 6losofia, caráter esse tiuc se
preendimento inrpossivel, mas o caminho unicamente frutifero e, supóe assim simplesmente.
alérrr clisso, cientiÍrco cle uma introcluçào à lilosoÍia. É o carninho, Deduzimos em primeiro lugar da possibilidade dc contes
tluc toda ciência, dc acordo cont a suil n.rtureza, percorre. L c as [âr essc pressuposto do caráter dc ciêr.rcia da Í]losofia unta coisa:
sim que as coisas sc apresentam da ntelhor mancira possivel no quc jo C. erttJr,, Jt rrr.rrrcirit algtrrna litL, ccrlo quJI|l(r parc(iJ.
quc tirngc, ii tarefa assurnicla pela prcsente preleção. se tenos o direito ou não de tomar na hlosofia o proccdinten-
É assinr que as coisirs se contportant sob o prcssuposto de to cientillco conro modclar e se podemos partir de u.na queslao
que â ÍllosoÍla também é unra ciência e dc que, com isso, cla per- lso/ada - o problenta da libcrclacle - para, atraves dela, encontrar
nrânece prcsir aos princípios cliretrizes do proceclintcnto das ci- o unívarsaL almejado pela "introcluçãril o universal dc unra orien
ências. Sri rluc csse pressuposto cle que a ftlosolia seria unta ciên- tuçao geral sobre a JilosoJia.
cia é unr pressuposh equivocado. F)l vertlade, essa opinião tiri A opinião de que, por ser cientíÍico, essc procedimcnto tam-
e col)tinua sendo compartilhatla c clelêndida por ntuitos e scnl bem scria propicio c uecessário para a ltkrsoÍia, ainda se baseia,
tlualqucr intenção escusa. Em quc ntedicla se partc equivocada poréln, ern un1 outro pressuposto, aquele justarnente scgundo o
nrentc dcssc pressuposto do cariiter clc ciência da hlosolia, e algo qual a questão acerca dir cssência da liberdacie [runrana seria uma
tltte tti(' rlcvr''cr tliscttlirl rrgrrr.r. questiro espccial. De inicio, urna tal opiniào tenr ao seu lâdo, cn.)
Sri reÍlctirnos sobre unra coisa: dc início, mencionarros a verdade, a anuência do scnso contum. Sint, ntis mesntos apon
nrultiplicidadc do ente: l)atufezâ ntirtcrial, natureza viva etc. tarnos logo no início para o Íàto de quc a liberdade seria urna
'lbclo esse ente o todo de nundo e Deus c diviclo proprieclade particular do honrenr e de que o pr(rprio hontenr
1.rela ciôncia
eur rcgiôes cliversas, c essas regiircs divididas são dislribuiclas cn seria um ente particular no intcrior clo todo do ente. lsso talvez
trc irs ciências - niltrlrez.l: teoria tísico,ntatenriitica; histriria (ho esteja correto e, apcsar disso, a peÍgtll.ttâ acerca cla essência cla
mcm):ciênciir histririca e sisteniitica clo espírito; [)eus: teologia. liberdadc humana não é nenhuma questâo cspecial. Se essa aÍir-
I)ara a frlosoÍia, nalo restir nenhuma rcgião particular oriuncla tlir Ínatçito tem razio, se com o telra não nos encolttramos, portanto,
nrultiplicidaile clo entc. (lorn isso, ela s<i pode se ocupar com o cliante <ie unir questào partictúar, então nao estirnlos de mirncira
toc r do cntc e, em verdirdc, justamentc na totalidaclc. Se nào res alguma em condiçóes de partir primciramente de- unt problcnra
ta nenhuma rcgião particular do ente enquirnto região, cntão isso cspecial, a linr de chegarrnos ao unir,ersal.
signiÍica, inversamcnte, que toda e qualquer ciência se detcrmina
scgunclo sua essência regionalrneÍtte e nurca consegue dontinar b) Supressão das restriçôes à questão acerca da essência
enquânto ciência a caclir vez sel)iio uma regiiio cnquanto estir. Se da liberdade humana em direção ao todo do ente (mundo
essa rcstriçào reliional pcrtence i\ essôncia cla ciência, ent;l() a h e I)eus) na discussâo provisória da liberdade "negativa I
losoliir não pode ser nranilêstamentc nenhunta ciência, e tartr A peculiaridade do questionamento filosírfico em sua
bém rão hii aqui o tlircito cle denonrinii la assim. l.lssa rellexiio diferença em relação ao questionamento científico
r.tão ilevc dccidir a cluestiio de saber sc a lilosofia seria ciência ou
Mas enr que nedida ct prohle mo íla libcrdade :nao é nenhu
sc ela enr geral o poderia scr, rnas âpelas deixa claro quc existe mo quasl[)o tspecíal? Só podcmos elucidar agora de nraneira

Itl l9
rudinrcntar âpenas em um aspecto, ent quc medida o problema
e o todo ur.ro de história e naturcza. Segue jLll'tt.rmclltc colll esse
cia libcrdade nato se deixa articular clesde o principio nos cluaclros pri rciro cor.rccito negâtivo dc libcrdade, irincla quc ncm sempre,
cic uma tluestlto especial. l)entre as cleterrrinaçt-res da essêt.tcia um segunclo corrceito negativo; e isso precisamcntc iri, ontle tles
da liberdade, [n]a sempre se impôe uma vez mais. De acortlo pertil umir consciência originiiria da ij[rerdac]c.
coll cssa determinação, liberclacle significa o mesrtto que indc 2. [)c acordo cott.t csse segunclo conceito, libcrdade de... sig
pcndência. Liberclade é o ser livre cle... [)az tlinc isl vri dirz tlii r.riÍica rr ruesnro tluc iulepenLltncía de l)eus, irutottotttirl t/itlrtlc
an nihte h;rnget und an clenre ouch nihit enhangetr.'Ncssa rle rlelc. Pois somente se unra tal indepenclência clo homent perarr
terminação cssencial da libercladc como inclependêtrcia, conto te l)cus existe, é possivel unta relação cttttt [)eus por partc do
não-clependênciir, resicle a clenegação (negaçlo) cla clcpcutlência lromc-m. Sonrentc cntio, clc 1-locle buscar, reconhecer, sc rllanter
em relação a unl outro. Fala se, por isso, do concei[tt ncgativo da jr.rnto a lile e, assinr, acolher enr .sl a cxigônciir tle Detts. l'odo o
libcrclatlc ou, cm resLlnro, t1,t"libcrdqdc ltcgolit,tt".Iissa liberclacle ser tlcsse gênero em relaçio a f)eus seriir funclarltentillmente im
negirtiva clo honrenr só é, cntão, mânilêst.lntentc tletctminaclir clc possivel, se o homenr não tivcssc a possibilidacle c1a rcnÚucia a
mancira prlena pelo fato clc que e dito cle que o homcnr livt e nessc I)eus. A possibilidatle cle renÍtncia ou tle urn voltar sc pirra [)etts
sentido é in(iepenclentc ou c concebiclo conto inclcpenclente. Flsse pressupõe, porcn)J enr gerirl e dcs<le o princípitl, ttt.nir ccrta inde-
de qut du indcpctulênciu é, segutrclo a cotrcepçiro e itlteÍprctaçiio penclência tle e rrnri libcrdirtle perlttte I)etls. () co ccit() plctto dd
tla liberclacle até aqui, experimentaclo c problematizaclo a partir lilt c rtl atle rigaÍivr.r si gniÍtcir, portanto, o seguintc: i n d c pt ndê nc o
i

de duus dire çõe s e'-s-çc rr c ia i.s. dn honcttt ern rclaçào tto rnurulo c a [)eus.
O ser livre <le... é índcpandirtcitt do tutlurezt:t. (lotn isso,
l. [)e acordo com isso, se trati]ntos da essência da liberciacle hu
tenros ern vist.r o segllinle: o agir rio holnetr nilo é, eltqllânto mana, apesar cle sri o fazerntos eÍr-r ur)la conrPreensão ncllativa,
tal, causado por processos rrirturaisi elc'rtão sc eltcol)trir sob a isto c, sc pensamos cÍiltivirmente essa dLrpla indepenclênciil, cntilo
coação clir lcgalidacle clo decurso dos processos nirttrriris e tle sua râo podemos nos riô-sÍttir no pensarncnto e na cottcepção tlcssa
necessidadc. F)ssa independe\ncia cla nltureza pocle- scr concebi liberdade daquilo dc qrie essa inciepcndôncia é ir carla vez urna tal
da aincla cle moclo csscttciirlnrenle nrais atnplo, nir nreclida cru indepenclência: tlo mundo, cle l)eus. Mrnrlo c l)ctl.s rtão são, por
que sc reflete sobrc o fato tie a resolução c ir tlccisão mais intimils exenrplo, ro cL»tceito ntgLtlivtt de liLtcrdatle, citsualtncntc represen-
do honenr tantbórn screm ern certo aspccto independentcs da tatirrs trrmbém cm acréscimo. ntas nrundo e Deus são co-con(t'
necessidade, quc rcsitle no transcurso tlos envios e clcstinos hu- bitJos clc nutncira $se cií nrcnte necessúrit Ira libcrdade negativa.
manos. I)oticmos sintetizâr essa indepeudência clir rtcccssitiade Se a liberdacle regâtiva é tcn)a, entalo muntlo c l)etts pertenccnl
dâ n.rtuÍeza c,-la hist(rria, de acortlo com o que clissenros acinla, cr»rconritantemente ao tcrna como o'ilc quc" pcrtinente cla indc
como irrclepcntlôncia clo "munclo", c esse urunclo entcntlido cttnttt penclêr.rcia. Munclo e I)cus, porénr, cor.tstituctlt ent stta unicladc
o todo clo ente. Sc a liberdacle se torna Problenla ent sua cssên-
I En1 illcmio Incdier,ll no ot iginal: 'A
coisa é livrc, t1r'tanrlo eh niio cia, ainda rlue cle inicio apetl.Is corrlo libcrdatle negativa, cntão jii
cslii atrclacll a nada e quancio nach se liga tailpouco a eldl (N. 'll) perguntanlos cle lntcmão fiecl"rsoriont te nu diraçao do todo do
-t ivlcstre tlckhlrt, l,i»r tktt I2 aú:en unscrs hcrrtn lic,ltrrrrcs (NIis erlc. O problemir tla liberclacle não é, por cttnseguintc, nenhu-
ticos ilemies clo século 1.1, org. pol }rranT PÍcifiir, Segttntlo \tolunre). ma questiio especial, ou seja, cla é evicleltteu]elltc unlâ questão
3 erliçi-io inaltcrLrtla, (;iÍtingcn 1914, P.379,2.718.

20 2t
r-rniversal! Não se está falando de um pârticular, nras de unr uni cientiÍica. Pois nenhurna ciência tcnt enquanto tal, nátl apcnas
versal? Considerenlos âtenlamente. quantitativamente, mas também r-lualitativantente, de acoftlo
A pergunta acerca da essência da liberdade humana nâo corn sua essência, ent geral, a lmplitude e a envergadurir do ho-
apenas não restrinlic a consideração a uma rcgião particulirr, rizonte, pirra abarcar ent seu questiolliu]lcnto o todo uno, tlue é
nras, ao invés de restringir a qucstão, cla suprime ds suír-§ res visaclo desde o principio no questionarrcnto acerca da liberdacle,
lriçôes-. Por nreio dc tal supressão, contudo, nris não somos re- ainda qr.rc de nraneira incletcrminircla e niio esclarecitla.
pelidos de algo particular para o universal. Pois mundo e f)eus fii a explicitação totalmcnte rudittrcntar cl;r libcrdatle ne
não são o universal em relação ao hontem conlo LuÍr;rarticular girtivil nos pcnritiLl veÍ cont clareza o segLlil.ltc: o problerra tla
O homem não é nem rnesnlo um caso particular de f)eus, assinr liberdade não é nenhuma questão cspecial regionalmerlte rcstri-
conro a rosa alpina é um caso particular cla essência clas plirntas ta. Conl ccrtcza ttito, assirn se retrucaria, unlir questão dc unrir
ot o Prt»ncteu de Ésquilo um caso particular da tragéclia. ciêrcia pirrticular qualquer, nas, dc qualquer moclo, itlstamente
A supressão das restriçÕes nos conduz para o totlo do cnte, un't prohlema c.special no intcrior da Iilosolia. A ÍilosoÍia, poren.r,
parir o nruntlo e para Deus. Em lncio iro totlo do cntc, o homcm não se csgola no tratantento dcsse tirllco problenla. Alérlr clele,
nresmo e e, em verd;rde, é dc tal modo que cle sc cncontra ern existe de qualqucr Íirrtla a questão, por exenlplo, accrca da es
uma relação com o ntundo e cont l)eus. Com isso, lica comple- sêncir da verdarlc, acerca da essênciir clo conhecimcnttt hunrano,
tamentc claro: a questtio acerco dd cssência da liberdade hwnana irccrca cla essência cia natureza, cla histtiria, cla arte e dacluilo qtre
niio é nett a questào dcercd de ulgo ltarticular, nem acerctt de olgo sc costun'rl cllurrerar assittt, rluando se quer ofcrecer unla visãtl
universul.Ela é em geral de um tipo diverso cle tocla questão .lcÍ panor âmica sobre o cirmpo cla ÍilosoÍia. Ao lado dessas questi)es,
ty'ica, pois essâ questào sempre pergunt.r, scgundo ir sua cssôn a questão acerca cla liberdacle hLrmana tanlbém se lllostra incol')
cia, no interior dos iimites de unra cleterminada rcgiâo, sobrc O test.rvclnrcnte coÍt)o unt.I qucstão especiirl e tod.rs as qllestÕes
particulirr de ur.n universal. Com a questão accrca dir libcrdadc, citadas sio, no intcriot cla filosofia, unla l'cz nlais protrleuras es
abandonan.ros turio aquilo tlue é conÍbrne a urna rcgião, melhor peciais cnr comparirção com a questão ainda mais universal e dc
aincla, nris não chegamos de maneira alguma até ai. Nt medida toclas a nrais universal accrcir da essência clo entc cnquanto tirl c
c[1 que essil alteridatle e peculiaridade completâs que se anun- enr gcral, rluer cle se chamc naturezir, histírria, homem ou I)eus.
cianr agora, essa irlteritlade e peculiaridade dâ questão acerca da (}rnr certcza, a alucstão acerca dir essência tla verdirdc e

essência da liberdacle hunranâ, àpontanr clesde o princípio para unrir qucstão cliversir da quest;to ircerca cla cssôncia cla libcrdade.
o toclo do ente, â questão vem i\ tona como uma qucstão especi Mts tanto L'ssir quanto aquel;r pcrguntatl as tluirs tto e conl vistas
íicamente./ilosty'ica. .rrr loclrr. ctttrrttlrartrLr \c. fr)r irs,t. cttl tttttlt crtttcx.to tlc.t'rr.iriit
Se, segunclo sua essência, tocla e qualqrrer questao cicntífica conl a qucstão mais universal irccrca da essônciit do entc enquln
c toda c qualqucr ciência em gerirl é restritir a unrir regiâo e se a to t.rl. Conlo é que a qucstão acerca dir Iiberclacle suprinle cles
questão accrcil da cssência da libertlade humana, segurtclo o seu de o principio as restriçocs iro h()rizollte e apont.r Pirril o [odo,
scntido mais prriprio, impele necessal iamente pârâ o interior dâs isso firi algo quc indicantos na explicitaçiro cla libcrdade negati
retàrências do todo do ente enquanto tâI, então â questáo acerca va. []ssa reÍerencialiclacle ao todo, quc e dada ctlm a suprcssãtr
da essência da liberdacle humana não pocie ser nenhunla qucstão das restriçircs, porétn, uão seria dc um tipo birstante unilateral e

22 23
incornpleta? Liberdade em seu cntenclintcnto negativo como in- concluímos a partir daquilo que c apresentado pcla liberdacle nc
depenclência eur relilção ao mundo (naturezir e história) c como gati\,â como tema o que está envolvido no problenrtr cla liberdadc
indepcnclência de Dcus mostra, cm verdadc, uma ligaçiio com em geral, isto e, concluíntos que essc problema nào abarca tudtt.
esse entc, nas iuslantentc irpenas urnir ligação ncgativa, unr afas Nestc caso, nós clesconsideramos o fato de que, na nrcdida em
tâÍnento dc; nrunclo e I)eus simplesmcnte conto aquilo cont que quc falirmos em geral legitin.ramente cle un.ra liberdadc nr3ali-
o Iivre nao está lígado. Lm verdade, scn'rpre precisal.nos pensirr va, tanrbém preciso t pode ser pensada uma liberdade positiva,
concomitantcn)eltte esse "independcntc de r1ue", csse'!'-onl o quc que essa liberdade eltquanto positiya também prelineia ao mesmo
não sc encontra ligaclo'] ntas elc não perte.ucc, cle qualquer ntoclo, ÍeÍnpo em primeíra línha o ârubito do problena da liberdade; quc,
propriantente ao nosso terna, clc só se acha no limite clc nosso eÍn todo caso, só a liberclade negativ.r precisa ser representacla
tema. Precis.Intos lr)anter em vista o limite, rrras não prccisantos junt.rmente com a liberdade positiva, se nós quiscrnros dccldlr
entrirr rrilis detidanrotte nele. enr relação ao problema cla liberdade, se ele e apenas umil qLres
Se as coisas se nrostrilnt .lssillt, cntão reside no
ltroblema dir táo cspecial entre outras da lllosoÊa ou sc, por fim, o todo da
liberdadc, ilpesar da suprcssào ntaterial clas lestriç(-)cs, Llnta res lilosofia está de qualqucr modo concebiclo nele. Ao inves disso,
tÍição tenática. llnquanto tal, o todo do cnte não sc toÍlt.l tenta. ntis nos deciclir.nos de maneira por clemais precipitada por esse
Assirn, o problcma cla liberdadc penlanccc, aÍinal, no intet ior ou-ou em meio a urn aspecto unilateral cla libcrclacle negativa.
da 6losolia, uma qucstilo espccial. Nossa plarrejada introcluçito, Não apenas isso: nós tambem já concebemos a libcrdade negati
por isso, precisa ton].1Í uma oricntirção unilirtcral; por mais que va mesma de moclo insuíiciente.
seu tcnra possa ser de uma importância particular, ela pcrnta-
nece irconrpleta conto introcluçio. Esse é unt inconvenientc. o c) Interpretação aprofundadora da "liberdade
fato cle nio poclermos cscirpar desse inconyenientc talvez possa negativa" como liberdade de... a partir da essência de seu
ser desculpado gror meio tlc uma ret-crência ao Í-irto cle que todo cariitcr de ligação. O entc na totalidadc necessâriamentc
lilosolirr enquanto um fazcr humano é justantente Íiagrrentário, co tcmático na questão acerca da litrerdade humana
linito e restrito.'lalnbént a hlosoÍia enquirnto conhecimcnto cla Nós tínhamos interpretado a Iiberdacle negativa como intle,
totalidade ;rrecisa sc conlbrntar c abdicar dc apreender dc uma pcr.rclência do muntlo (natureza e história) e cle l)cus, O "de que'
sti vcz- o toclo. A conÍissáo cle uma ti.rl confirrltidade e tlc unta tal foi, enr verdatle, co pcnsaclo, rnas elc não se tornou cxpressamente
resignirção sentpre soa "sintpática"; ntais aiuda, ntuitos tornirnl tema; não tivemos como nos cleter nele, mas o tet'na era a liberdade,
isso conro cxpressiro tle unta assirl chamacla postura crítica, que o que signiÍica a<1ui o ser inr.lepentlente dc... enquanto tal. 0 que
sti questiorra até o poltto cm ilue algo pocle ser donrinaclo. está scndo clito com isso? [ntlepenclência dc se deyemos carircte
E, contuclo, essa modestia banal do Íilosotãr que acabamos rizar essa independência dc maneira totalmcnte geral, precisantos
dc cxpressar não c apenas a carta branca para a superficialiclacle dizer: trata sc dc uma ligação, uma ligaçixr de indepenclência de
dcsnreclicla e pirra o arbitrio tlo senso conrunr, que niio consiclera um em relaçâo ao outÍo. Uma tal ligação tamtrem é, por exentplo, a
o hlosoiàr senão corno o cônputo de despcsas de negricio. Nós igualdade de unr com o outro, assim como a tlivcrsidacie enquan
mesrnos jii cedemos por clentais a essa superficialitlade na dis to desigualdacle tle unt com o outro. Em toda ligação distingui
cussào antcriornlente cxposta da liberclade negativa. [)e inÍci<t, mos l. O estar ligado de urn corn o outro enquanto tal, e, então,

21
2. Justamcnte esse um e outro, entre os quais subsiste r ligaçâo: os llndamento clessa possibilidade.i
3. Onde reside o
ckrs cla ligação. A expressáo "ligaçâo'é na ntaioria tlas vezes am- Nós tratanros, portanto, cla essinciri de uma ligaçtio. Não
bigua. Por ul lado, telnos em vistâ com isso simplesmente o estar queremos constatar e demonstrar uma tal ligação aqui e acolá
ligado enquanto tal; em seguida, porenr, de maneir.r igualmente como fàto- Mesmo quc isso pudcsse scr fêito, precisaríamos sa-
frequente, o estar liliado junt.urente con.r os elos dir ligação. bcr dc antemão o rTrie I isso gae sc quer ver constatirdo c qLre cleve
A cles igualdade é como a in clepenclência umir ligação1"ne ser constatado aí. Quando consideramos uma ligação em sua
gativiil Qtranclo constatamos, por exemplo, a desígualLlLtdc entre cssência, também precisamos, então, nos detcr cm algo assim
csta basc c csta luminária na nlesil. cntão cstirmos lidando conr conlo Lrfila constatação dos e]os cla ligação? Quando tratamos,
unra ligação. Em meio à constatação de uma tal tlesigualdade não por exer.nplo, da "desigualdade'i precisamos nos deter, então,
prccisamos apenas pensar concomitantemente os elos da ligação sobre c-sÍa base e c.slc lunriniiria? Ou, além dessa clesigualdade,
basc, lumilária - para qlle a ligação não paire por assim dizer precisamos constatar ainda outras desigualdades (casa e árvore,
no ar seÍ) llndanrento, mas precisamos adentrar muito mais rros triângulo c lua, c coisas do gênero)? llvidcntcmente nio. Para
elos da ligação. Ao aclentrarrnos aí, constatamos o n.roclo cle ser cla aprccnder a cssôncia da <icsigualdadc, é indiÍtrente qual é a desi
base e o modo de ser cla lunrin;iria, e apreendenros nesse lnoclo gualdadc dctcrminada que temos em vista iri dc maneira cxem
cle ser clos dois a sua desigualdade. É assim que as coisirs se dão plar entre tais entes clesiguais deterrrinados. Por outro lado,
em rclação a todas as constirtaçôcs dc ligação, ó prcciso atlen precisanlos ter de <lualquer modo em vistâ elos de ligação, não
trar nos e/os de lígtçao mcsmos. lsso é eluciclativo; mas se s.'gue poclemos nos abstrair disso.
dai quc nossa explicitaçiio planejada da liberdade, por exemplo, Portânto, quando clemarcamos a essência cle uma ligação,
consiclerada como independênciâ, precisa adentrar do mesmo não sor.nos obrigados, em verclacle, conlo em meio à constataçáo
modo nos elos da ligação? Evidentemente! Como e que podemos cle urna Iigarção dcterminatla prescnte cntre dcterminados entes
curstâtâr cle outro nrodo a incleper.rdência? Ela não e cle qualquer prcsentes, l adcntrar nesscs glos determinados r/e /rgnçao, nras
moclo dada por si en'r lugar algum conro uma ligação que paira prccisanros ter cm vista prccisanentc os elos de ligação enquar.r
livremente, mas é dada dc nrodo corrcspondente: ao adentrirr to tais. É arbitrário saber se eles são constituídos tàticamente de
mos no homcn.r co[ro ulr dos clos c1a ligação c no rnundo conro ntirneira precisantente assinl e não diversa. A artritrariedade do
o outro, nós a cncontramos. Mas quercnros, afrnal, coDstatar ir respectivo contehdo material dos elos de ligação não significa
independência (liberdade)? Podemos Íàzer isso? Ncm uma coi que é indifêrenle se eles são ou não deixados sem consideração
sa, nenl a outra. Náo trâtanlos âssin simplesmente da liberdade na clarilicação essencial da liglção enquanto tal. Procuremos
humana, mas da e-ssdncia da liberdade. Da essência da Iiberdacle? À aplicar isso ao nosso problerna, até onde isso Í-or possível.
clarilicaçáo da essênciâ pertence algo triplo: l. C) ser-o-t1ue, o que N.r questão acerca da cssência da liberdade hulr.nr.ra, ii lne
ela (a liberdacie) é. 2. Como é que esse ser o que é err si possível. dida quc aditamos o conceito negativo como base de sustentação,
ntis pcrguntamos sotrre a essência da intiepcndência do homcm
4 O termo alemão llezlt,/rurrg possui um campo semâDtico amplo. em relação a Deus e ao rnundo. Não <lueremos constatar se c
l,ilc designa tanto uma ligaçio, quanto uma relaçào c uma refcrônciir.
Nós optâmos em geral por ligação, mas há de qualtluer modo acima a
noção de ulna ná relação. (N. 'l:) Ct. abaixo p. l Tll e segs., .Solrrc ri análisc do assôncio c a onalíticn.

2,6 ).7
que estc ou cquele homen) enqllarnto tal seriant indepentlcntes (-ont ccrteza. tantbérn resf;r com isso urna Í-alha. Aincla
que
em relação ao rnundo e a l)eus et)quanto tâis. precisantente se o problema da liberdacle coloquc cliantc clos olhos o totlo da Íllo
quiserrtros aprcender a essência tlessa ligação, clessa indepen_ solia, isso acontece tle qualquer rnoclo cll Llr)ta perspectiva parti
tlência, precisarenros perguntar sobre a cssência clo homem, as cuJar, justartrenle na peÍspectiva d.r libertlacle c nào, por exctnpio,
sinr conto sobre a essência do ntundo e de [)eus. Se e cozro unrir da verdade. O toclo da íilosoíia ntostra se ent lo.§-srl inlrodução
tal qrrestiio é executável, e algo que pcrntaltcce reservado a uma por itssint clizcr ent urn cleslocarncnto totâlntcÍtle tlcternrinado.
cliscussão vincloura. Sc elegôssentos, por cxemplo, o problelta cla vcrdatlc, cor)to isso
L)eduzintos cia reílexilo atual ao ntctros o seguinte: do Íirto de acontecell cm Ltnra introdução ilnterior.,,,cr)tão o tocla cla lilosolla
que a inclependência por assint clizer sc liberta e se nrantertr alàs
sc rnostrirrial ent unlâ outra estrâtiÍicitçito c crl unr oritro entrcte_
tacla daquikr de que ela e inclependência, niio se segue o fiúo cle
cinrento dos probleruas. C) todo reirl e efetivo ila Íllosofia sri scria
a consitleraçiio essencial ria indepcndência não porier do mcsnto rprcentlitlo, com isso, sc tratiissen)os e pUtléssentos tratar dit to,
nroclo se libertar cia consicleração daquikr, de que a indcpendência
talidacle possível tlc totlas as tlucstões c de suas perspectivas.
é unta tal indepcndência. Ao contriirio, scgue-sc clai o contriirio: I)ol rtrais tlrrc venharnos a dirr as costas e nos virernos, hii
conro a inclepentlência de... e trma ligaçiur c cuno pertcnce a clit umil coisa tle quirlqLrer nrodo clue não ten) conto ser abirlada: o
enquanto tal a ligirção coln o rnundo c colt I)eus, csse,.tlc que,,cla I'ltto de cluc a intro<iuçào à Íilosolia lonra, a partir.clo Ílo conclutor
intlcpendêlcia taurbént precisir ser consicleraclo, tambenl precisa clo problema cla litrerdadc, uma orientaçào particular e singulari
ser cot-rcoitlitalttet)tcnte tcnt.ltizaalo. llnt sunta: o cluc e viilido ent
zacla. Por íin,
isso não e ncnhunra làlha c carcce ainda ntenos cle
relaçiio ao conluido essencial tla ligação, ser um a fastar-sc de..., unra dcsculpir por nrcio da busca cie unr relugio na precaricclaile
rtâo vale para a consir./crrrçâo essct.rcial da ligação.
tlc toclo tazer humano. Talycz resida justantejtte aí a.força c u
contbstít,ídatle do flos<$rr, no.fttto dc tlue clc só lorno nnrtifcs_
d) Filosofia como tornar rnanifesto o todo na travessia t,,,r torl,t ttt, I'rol,ltmt p,trlictl,tr lttivntltt,ltt.ttprL.L,ttJni,,. l;j1..,
dos problemas particulares efetiyamente apreendidos aquele tào aclorirdo procedinlento, que sintetiza enl unt quirdnr
Cont a qucstào ircerca tla essôncil da liberclade humana, qualcluer tuclo lcluilo rluc há enr termos cle quest(-)cs likrstiflcas e,
portank), o toclo clo ente é tlesde o l.rrincípio constirntenteltte correspoucientenrentc', fala tic tuclo c cle cacla coisir, sent .7re-sÍio
tenratizado, mLrndo e l)cus, c nâo apcnas o liÍnite. Co[) certeza, irar eÍàtivarrente, seja o contrário dc Lrnta introdução à ÍilosoÍjir,
a questi.io acerca da essência da libercladc é uma qucstão di isttr é, unra aparência de liiosoha, untl sofístí1.a.'
versa cla qucstão accrca tla essôncia da t,erdade, e, contudo, ela
nào i, nenhunta qucstão cspecial, mas se lança enr clireçâo ao
toclo. Il isso talvez scja viiliclo tantben) para a questito acerca cla
essência cla verclacle. Mas isso signilica o seguinte: toda qucstào
filosóÍlca remete se para a totalidade. Il, assir.n, podcrnos, sin.r,
Precisafttos, a p.rrlir do Íio condutor da questão acerca da cs_
6. ItúrLrduçào à .lilosofio, I)r'eleção de Freiburg Senreslre cie inverncr
cle 1928/29.
sôncia da liberclade hultritna, ousil!-urlil introclução efêtiva na
lilosofia corno urtr [odo.
7 Ct. Arist<itelcs, rUctry'i.srca (Chris). Leipzig l1It6. (; 2, l00,lb
l7csegs. ti tr 26.

2ll
29
PRIMEIRA PARTE

DETERT/INACÀO POSITIVA DA FILOSOFIA


A PARTIR DO CONTEÚDO
DA OUESTÃO DA LIBERDADE

O PROBLEMA DA LIBERDADE HUMANA


E A OUESTÃO FUNDAMENTAL
DA FILOSOFIA
PRTMEtRo cAPÍruL-o

Primeira irrupção do probtema da liberdade


na dimensão propriamente dita em Kant

0 nexo do probLema da [iberdade com


os probLemas fundamentais da metafísica

§ 2. Fílosoha como qucsliotnmcrtltt cm direção tto cerne


di totolidadt. O runto oo-todo cttmo o ir às raízcs

Assirr, nossa pretensão cle ctltrtlttziç por meio clo trâtalnellto


clo problema particular da liberciirdc humana, para o toclo da hlo-
soha e, irssir.n, introcluzir cur tal todo, estii, apesar da dirvicla inicial,
cnr orderl. As coisas não se coml)ortitnl itqui c<lnxl nas ciêtrcias,
mas a filosoha apotrta clescle o prircipio para o toclo, aintla tlue
em unra pcrspectivir clcterntinada. Ntis poclcmos nos scntir aquie
tados por tcrmos sob os pés o camiuho irpropriaclo parir chegar
ri nreta corretâ. No trirnsctlrso da considcraçlio previa até aqui iii
expcrirrentamos cm algttns aspeclos, ainda tlue apcttirs em traços
largos, algo sobrc liberclaclc, in<iepenclêttcin, ligaçào, sobre o cirrii
ter do queslionallento Íilost'tfico et.n suir diferença ctu relação i\ ci
ência. A intençilo das cliscttssires, porém, era patente: aqtlietâr nos
quanto à legitimidaclc cla tarell escolhitla. Estirtros eIêtjvarncute
aquietaclos? f)evemos c potlemos cstar elêtivirllrente aquictados?
Seln dírvicla alguma, isso é necessiirio, se e clLtc devenlos chcgar
na Íilosolia a unra lida trânquila com todo o tiPo de qucstocs intc

3l
ressantes e n)cnos intcÍess.Ittes. Ora, lras scrá que o problelna dil
insuficiente, enquanto nós não concebcrmos o "lançirr sc em-
liberdacle hLrnrana potle nos ser simplesmcntc apresentaclo, isto é,
direção-ao-todo' como um "ir às raizes'l Será, então, porém,
serii que ele pocle passar ao nosso largo? Ou scrii que nós mesmos
rlue o filosofar pode se nrostrar irinda conro tranquilizaçiio e será
clevcnros ser irrlroduzickrs no problema, a frm de perntanecermos
que ele pocle teÍ cnr r.ista algo assim? Começamos elttivanlenle a
ir partir de eÍrtao inseridos nclc? Nós ntesmos, rriio utna pessoa
Írlosotàr, quando introduzimos a introduçiro coÍn Lllrlâ tranquili
tlualqucr, não outros quaisclucr! Ou serii <1ue u likrsolia c cle làto
zlrção? Ou scrá que começamos dessa nr.rnei[.].r vo]lar as costirs
apenas unra ocup.lçaro tâlvez mais clevada,;ror que miris universirl
logo cle irricio para a lilosolia?
clo espirito, um lLrxo e uma mudança, a quc nós nos prernritirros 'lirclavia, não se tÍ.tta de netrhunra tranquilização, quirrdo
no jnterior do curso com frequência ntorrotônico e cansativo dirs
rros assegnramos cle que a Íneta e o canrinho tlc nosso proptisito
ciências?A fikrsolia é aquela ocasiâo por vczes útil cle liberar o
cstão em ordem; lalvez- isso não signiÍiquc otttra coisir scniio que
olhar cativo para uma região restrita e ntaximaÍltente circunscrita
estirmos nos ilproxilr-ritndo corn ccrtcza dc uma zonc tie perigo -
dc umir ciência;rara urna ccrta pcrspectiva alrpla do todo univer-
clito cle maneira miris cirutelosa: que temos â possibilidade segura
sal? Pois o que signilicaria se tlissésseÍuos que o likrsot-lr se lança-
parâ isso. F,rn toclo cirso, nessa metlicla,.já sâbemos âlguma coisa
ria dc nraneira questionadora pirÍa o interior da krtalidacle? Serii
rrais agora. Sabcmos tlue a deteminaçaro ate âqui cia Íilosofia: a
tlue isso significa apenas que criantos para nós untit perspcctiva, a
dctcrminirçâo segunclo a qual ela se rcmctc pirra o todo, Írão c su
Ílm de sermos cokrcaclos mais Íavoravclmente como espectirdorcs,
ficicnte', miris exâtalÍIenle: esse lânçar sc run-lo ilo totlo prccisa
nrâis Í:Ivoravclmcnte do que nas regiircs particulares e com ticqu
scr concebido enl si como unr "ir às raizcs". linr vcrtladc, essir é
ência corretas e por dcrnais estreitas da ciência? Ou será que a alir
apenas ulra aÍirnração anteposta sob a fonra de anseio. (lomo é
mirçào de que o que está em questão na filosoliir é a totâliciacle tcnr
que clevemos clemonstrá la? Manif-cstanrente, a partir apenas do
cm vista ainda algo complctirnrente difêrente? Isso signiÍica <1ue o
conteúrclo lrraterial das pr(iprias qucsta)es Íilosólicas. C) conteúclo
que está ent questiio pãru ntis, para ntis mesmos, é utn ir às raízes?
n.raterial dos problcrras filosrilicos taz com que iilgo âconteçir co
l:, em verdacle, não de tal modo que tambem aplicanros discus-
nosco em si e cnquanto tal. f)e que mâneirâ isso acontece e algo
sires e proposiçoes filosólicas, depois tle as ternos supostamcnte que prccisa ser colocaclo à prova no filosoÍàr cÍ-ctivo. Não obs
compreendido, de maneira moral sobrc nós e, assim, criamos pirra
taDte, jii necessitârlos cle início de urra refcrênciir para o scntido
um efcito ulterior edificante sobre ntis? Por lim, sri con
a íilosofia
plcno daquilo que se chama: a Íilosofia dirige o qucstionirnrcnto
ceberemos o filosoÍàr, se o questionamento, de acordo cont o scu
para o interior da totalidade.
conteúclo de questão, segundo a climensão de questão, t-or de tal
O Íato cle não tcrmos podido avançar efir r]ossâs reÍlexoes
rnodo que ele se remeta em si rnesrno, não ulteriorntente, para as
iniciais ate esse sentido plcno tcm a suil razão de ser particular.
raízcs. F-ilosofia não e nenhum conhecimento tcórico, ligado cont
Ao clistir.rguirmos a fikrsofia funtlamentalmente rla ciência, nós
uma aplicaçâo prática, ela não e teórica e priitica ao mesmo tempo,
continLlilmos orientando a lllosofia pelo conhecimcnto cicntíÍl
ntas não é nenr uma coisa nem a outra, ela é nnís originária do qr,re
co. [],ssa comparação não íornece mais clo que o Íàto de que aqui
as duas, que, por sua vez, só caractcrizant as ciências.
kr justirmente pelo que a Íilosofia se nrede a ciência se baseia
A característica do Íilosofar como o questionâmento que sc
em possibilidades de tlistinção. Por isso, precisamos tcntar agora
llnça para o interior da totaliclade permanece fundantentalmente
conceber a .filosoJia posítivanrcnte o Partir dela tn es,?rd, e, em ver-

34
35

' , :l: i:i ::::::i::,: i:ri !I1;iI::: :


clade, não pol rncio de uma discussiro livre sobre hkrsofia err escolhcmos agorâ para r.rossas explicitaçr-res preparat(rrias unta
geral, nras a portir dLt conteúào do problerrut c-sco/Àirlo, a partir deterrrinada concepçào dc liberdade, sem qualquer fundamen
do contcirdo da liberclade humana. Com isso, abrerrt-se parir nris tação ulterior sobre por quc cxirtal.trente ela.
ilo nlcsIno tempo perspectiYils, que estarão em questito para nós Litrerclaclc ncgirtiva significa: liberclade cle... coerçao, um li
concretirmenle durante toclâ a ;rreleçào. vrar se de, unr afastar-se clisso. Liberdacle r.ro senticfu positivo rrio
tem em vista o afàstar-se cle..., n'râs o enl direçào a; libercladc po
§ 3. I)i.scir-s-srio intlíctúivo -.lor nral tlo " li bcrdadc sitiVa significil scr-livre para..., manter se aberto p.rr.r..., portanto,
posilivn" o portir (lc um rccurso à libcrdotlc r)ranter sc abcrto para..., cleixar -sc dctcrnrinar por meio ila..., cle-
"lransccndenltl" c à liberdadc "Pftitictt" tnt Kont tcrmir)irr a si mesnro parir... Nisso rcside: puramente a partir de
-si, isto c, a partir cle si nresnro, dctcrnrinar o prtiprio agir, dar por
Até aqui, on lrrcio r\ cxplicitação cla tarctà, tlo tcnra e tlc si mesnro ao agir a sua lci. [i ncsse sentido tla autocleternrinação
scu nrocfu dc trirtamcnto, n)iu)tiveno nos silr plcsnrerte iult o to que Kíirl conccbc positivirmente a liberclacie; e, alénr disso, corro
conccito ncgativo dc libcrdadc. Não por ircaso partimos ria lssinr autoativiclacie absoluta." llle a circunscreve conro "fàculclaclc'l inc
chamada libcrtlaclc negativir. Por toda prrtc onde tiespertt unr rente ao horrcm, rle "se cieterminat.. por si nresnro i"
sirbcr enr torno rh libercladc. a libcrdircle ci dc inicio concetricla O lirto dc denominarntos precisâmente I(.Irl nesse colrtcxto
no sentirio ncgativo, conro ser- ir rricpenclenle- rle... Se encontra à não acontccc, a llm de introcluzir unrtr prova conhccitla qualquer
lrasc dcssir autoimposição cla liberdtde ,(g.iliv.r, sinr, talvez clo ,'rillr)d.l r'l,irli(''(\ (h,\ lil,rs(}lirr, ttlil\ il\rtttlc(( .lnlc\ l,(,r(luc
(1.1.
ncgatiyo eur geral, o Íirto tlc o -sr'r liyre ser cxperimenlarlo conro Kant assur)re uma posiçào insignc nir histtiriir tlo prolrlenta cla
tunr /iücrlar-.sc tle uma vinculaçao. O clesprencier sc, o âtirstanrcn libcrdade. Kânl traz pclir prirncira vez e,rpressamente o probienra
to dos gr ilhoes, o alijamento cle Íbrçirs e poderes acossautcs pre da liber clacle paril o interior dc um nexo râdical com problenras
cisr ser uma experiência lirnclanrental do horrrern, corn a cluirl firndanrentais cla mctaflsica. Naturahlentc., essir prinreirir irrup
a liberdacle no serltido negativo ganhe l clarcza t1o saber lr,nr çâo na climensão proprian)ente dita do problema traz consigo
contlaposição it cssr dctcrnrinaçi1o rclirtivanrcntc clirra e ilo que coIDo scn)prc nccessarianlenle ent tais instantes dccisivos um en-
parece tolirlmentc incquívocir c scgura da libcrdirdc legativir, a curtamcnto unilateral, cont o qual precisarcnrcs tros conÍiontirr
cârâcterizâç.io cla libcrtlaclc positiva é obscura c plurissigni6ca Nós clisscmos cxplessilÍnente que a doutrina kantiana da
tiva. A "experiêr.rcia" dcssa libt'rclrtl,-'ó vacilantc c esth sutrrretiiia liberdade assumiria Lrma posição insignc no interior clos proble-
a ruutlanças particulirrcs. Não irpcnts as conccpções particLllâres nrirs fikrstificos. Antes dc Kirnt, na teologiu cristã descie os seus
cla libcrdacle positiva siio clivcrsas c plurissigniÍicâtivas, mirs o prinlirclios, o problenra tinha crescido com uma prolundiclade
corrccikr dir libcrdaclc positiva cnr geral tambelm é incleternrinil- prtipria, a pârtir dâ qual iurpulsos tanto positjvos quanto nega
rio, -soárclrrrlo rlualdo compreendenos, lal corno acontecc ilgoril, ti\,os penetriuanl nir Íilosofta. Por outlo lilclo, itrvcrsirnreutc, a
por libcrtlatle positiva provisoriamente o seguilrte: a libcrdacle
ttio ncgíttivd. Niio litrerilade negativa pocle signilicar: l. Libcrda pu (li. Schmidt). t.eipzig (l'l Mcirtcr)
s Kirrrt, Crítico do rozão
tle positiva como o contráriu cla negativa; 2. Liberclacle, que não 192(r. A t lll. 11 .146.
é nent negirtiva, nent positiva, nem un]a coisa, ncnr a outra. N(is 9 ()p. cit., A 51.1, Il 562.

-16
I

discussão teoltigica não tinha aconteciclo sem influência clir clis livrerncnte a partir clc si, espontancatnente, espontaneidadc, au-
cussâo filosólica (Paulo, Agostinho, Lutero). Iii a caracterização toatividade absoluta. l,ibcrclade conto a absolutir cspontirnciclacie
da libcrdade íc.gdrild corro inclcpenclência dc l)eus precisaria é liberdacle no entendimen[o cosrnol<igico: ideh lransccndanlul.
.rpontar para essa suspcnsiro cle urua problcnttitica tcokigica c fi Nós cliscutircrnos ntais tarclc o que essirs últirlas tlctcrntinaç<)cs
losirlica. lsso é o birstantc ntis lomarros a concepçilo kanliana têm em vistir. Antes de tutlo pergunten]os: o rlue signilica liber
cla iiberdadc, selr agora atlentrar ent un)a interprctação, quase clade "no cntenclinrento prritico'?'A libcrclacle no cntendintetrto
que apenas coÍrlo unl exenrplo, no qual cxplicitamos ir Iiberclade
Prálico é a indepenclênciu do arbitrio pcrilnte .i coação advinria
lrr,rilrv.l ( \cu ('l|lll.(ito: c isrrr,;',11 \uJ vc/, p.lrJ qus (r,t]qUis dos irrrpulsos da scnsibilidrdc'lrr Ljberdaclc no ententlirnento
temos r.lnl.r visão clara da perspectiya uiterior clo;rroblcnra cla priitico é índtpendêncío. Portanto, precisamcnte aquilo que in-
libcrdatle e enr nossil tareln em gcral. trocluzinros como característica tlo conceito ncgativo tle libercla-
Nós dissenos: Kaltt conccbe a liberdadc conro laculdacle cle. Ora, rnas não disscmos que os dois conceitos cle liberdatle cle
cle cleternrinar a si ntcsn)o, conto "autoatividirtle absoluta'l Nos K.rnt - o conceito t ranscc-uclental e o priitico - não seriam ncgir
clois casos, não há nada ncgativo. (lonr certeza. No cntanto, elcs tivos? (lonr certeza. Mls a de6nição exposta cla libcrdade prática
rrio visnnr cle qualquer nrocirt no zic-stro. Kant tambcnt clistin tomâ essa liberciacle intliscutivelmentc de ntaneira negativa. li sc
gue, por isso, liberclacle'dc acordo com o entenciilucnto cosnto- ntis cQrrsiderarnros rlais p«rxintarnente, Kant tanlbérr cxplicita a
Itigico" e Iibcrtlacle "no entcndirrento priitico'l 1,Essa distinçao libcrdacle no entcndinlento priitico justamcnte por ntcio dos la-
dc Kanl, porén, não etluivalc cle ntuneirir algunta à dif-crerrça torcs, que introduzintos em prinrciro lugar por nteir> da denomi-
entrc liberdaclc negativâ e positiva, mas a distinção rccai ela nação do conce'ito kantiano dc liberclade: "O arbítrio hunrano é...
rlesma unra vez ntais clo laclo da liberdade positiva, rnelhor, da (livre), porque a sensibiliclacle niio torna necessárias suas irçÕes,
I

liberdaclc não negativa. nras é ineÍente ao horncnt uma Í-aculclacle de se determinar por
l)c saída: o quc Kirnt entendc por liber-dade cosmoltigica e si mesmo, inclependentcrrente da coação por nrcio cle intpulsos
por libcrdacle prática? "... cornprecnrlo por libertlade, r.ro entcr) sensiveis'lL1 Arbítrio nã,o signilrca aqui: ausência de cullivo c de
dinrento cosmológico, a tlculdacle cie iniciar por si ntcsllto Lltr lci, r'r-ras Jàculdodc dtt yontodc. Menciona se aqui a libcrclacle ne
cst.rclo, cuia causaljclade não sc encontra tlc acorclo conr a lei da gativa, mas, ilo mesnlo ternpo, algo divcrso: a capacidacle de sc
naturezâ, rras sob uma outra causalidadc, que a deternrinou se- dctcrminar lsso não significa, porém, silnplesrllentc o Ínesmo
gundo o tempo. A liberclacle i,, segunckr esse signiÍicaclo, unra pura <ytc a csp<tntuneído r/e, ou seja, isso não e idêtrtico ao conccito co.s-
ideia transcendental'lr Liberdadc signiÍica, portanto,.r.firculdade noltiglco ile liberdadc? Flsse, então, representari.l o conceito posi-
do autoinício de urn cstnlo. (lom isso, acha,sc cxplicitailo o que tiyo, enquanto o conccito prático, cm contrapartida, represcntaria
introduzirlos acirua colrro o conccito de liberdirtlc en.r Kant: "arr o conccito negativo, a independência cla sensibiliclade.
t0utiviLl.rt[ .rl'rs,rlut.r" irri.i.tr p('r ri trrr.rrrr,r. csln)llliIl(..1r]tcnlc. Dt manaira olguna. F,n't verdade, não há como contestar
su.r spor']tc, spons, sponclrrr, spond, IIIENA, oÍÉvôo: doar, dar que Kânt introduz na delinição da libcrdade no cntelldimcnto

t0 Op. cit., A 533cseg., B 56lcscg. t2 Op. cit., A 53.1, l] 562.


1l Op. cil., A 533, B 561. I3 Idem.

38 l9
prático a indtpentlência cla coação sensivel. lsso terr a sua razão nresma?" " C) conceito positivo de Iiberdade si gl;ifrcr- aulonomía
cle ser. Toda a cliscussáo encontrâ-se nà Críticd da ntzao pura, tla vontade, oú<tlcgisltçao. A liberdade no entendinrcnto prático
isto é, na obra em que ir razão pura, a faculclacle teórica do ho- não e o negativo enr relação à Iiberdade no entendilrcnto fr.r,r-§
nlcm, sc r.rlostra como temai nio a razão prática, a ÍpAEtç no cendental, nras é a libcrclade no próprio entenclintento prrÍlco,
scntido do agir moral. Por isso, antes dc Íixarnros Kant violen tlue se articula err libcrdirdc negirtiva c positiva.
tamente na dcÍinição introduzida da liberdade prática como (iomo é que as coisas sc mostram, então, em relação r't li-
independência da scnsibilidade, precisanros pcrguntar: como berdade no L'ltendimcnto trarrsccnclental, erl relaçao à espon-
é que Kânt determinâ a liberdade no entendimento prritico, lá taneiclacle absolula, se é que ela nào e a libertiadc positivamente
onde ele trata tenraticamente cla rpô(rq, cla eticidade, ou sejir, prática ante a liberclade negativâmente pr áticir? Iispontaneidacic
na Crílictt do ntzao prálica? Perguntaclo cle maneira ainda mais absoluta, isso rtao é o nlesmo que autonomia? Nos dois casos, o
incisiva: como e que Kant concebe a liberdade prática, moral, (lLrL- cstá em questão é o si mesmo, irquilo que e clotado dc cariiter
lá onde a sensibilidadc sc transÍirrma parir ele ern urn problenra tle si rncsnro, o sua spor)tc, oüróç. F)viclentenlente, âs duas en-
metirfísico, ou seja, na Fundamttúaçao du meÍafísit.r r/o.s co.slrr contralr) sc crrr colcxiio, mas não são idênticas. Considerentos
nres? No coneço da tcrccirir scção do escrito assinr intitulaclo,
nrais agudirrrcrrte. Esptnttancídade obsolulo: a tàculdade clo au-
Kant escreve: "A votúadc é una cspécic- dc caLrsalidadc cle sc loiuÍcio de unr estado: ilulononlia: dar a si nrcsmo lcis clc uma
res vivos, na medida em <1ue eles são racionais, e libcnlqde sc votrtade racional. Na espontâneidade absoluta (rra liberclade
ria aquela proprieciacle dessa causalidacle, urna vez tlue ela potle t ranscenclen tal), não se làla cle vontade e de lci volitiva, nras do
se mostrar como âtuiurte, independentemente cle causas alheias .ruk)i!'liciar cle utr estado; na.lutonuritl, em contrapartida, de
quc a deterntinem; tal como unra nccc.sslr/ade nalurt de que a tum entc tlctcrminatlo, a cujir essênci.r pertence querer, npâEtç.
propriedade da causalidirde cle todos os seres racionais sejl de' Eles niio são urra e a rlesmil coisa c, contuclo, há llgo de rtresnto
tcrminirda ptrra a ativiclade por rneio cla influêr'rciir cle causas nos tlois: cles sc ct)pertel.tcen). (lomo? () deterrninar-a-si-mesmo
alheias'll'Aqui sc dcnomina unn yez mtis a " indapandê nc it". pirra o agir como irutolegislirçiio é um autoir.riciar cle um estirclo
'fodavia, Kant fala agora de maneira rnais clara:'A explicaçiio
na regiito parlicular clo agir humano de um ser rircional ent ge
introduzida da liberdade e rcg,rÍiua e, por isso, para perceber sua rirl. Autor.romia e uma especie de espontaneidadc absoluta, essl
essência, infrutifera. Só que flui dela um conceito Posirivo, que cspontaneiciade denrarca a essência uniyersal daqucla. (lonr base
e tanto nlâis abunclante e frutifero'lF A<1ui .já fica claro: se urn nesse cariitcr csscncial cnquanto cspontaneiclacle absoluta, a aLt
conccito l.rositivo r.le liberclacle cleve ser concluistaclo agora, er.r
tunornia é possivel. Sc nào houvesse absolutantente neuhuma
tão esse cleve ser nraniÍêstlmente um conceito pr.illao. Kant diz: espontaneiclirdc absoluta, cntão tambcÍn não haveria nenhurtrir
'fique a liberdacle da vontacie poderia ser, aÍlnal, seniro arlono- autonomia. A irutonomia firrrda se, scgundo a possibilidâde, na
mia, isto é, senão il propricdadc dir vontatlc dc scr umir lci parir si absoluta espontaneidade, a liberdade prática na libcrdade trans-
cenclental. De acorclo coÍn isso, Kant mesnro diz cxpressanten
l,l Kânt, Ftndotlte Loltio dt neLojísicrt ílo.i coslr/rcs (Vc»liinclcr).6' tc ia CríLico do rLtztrtt prrrr: "E extremamentc estranho, que o
ediçao, l.eipzig (f. MeiDer) 1925, p. 7'l (1V,,146).
15 ldem. lÍ Op. cil., p. 7,1cscg. (lV,,1,16eseg.).
.10
conceito prático dc libcrdade se tunclc ncssir idcia transcendental oferecer uma interpretaçào previa do modo como o contc-Írclo do
dc [íberddde, crrquanto aqucla libcrdadc It ransccndcntal ] se Íln problema ele mesnro, portânto, rto lançar-se para o todo, tiur)
da ucssa libcrdadc Iprática]. llssc constituio fàtor propriamcntc bem vai ao encontro de nossas raízes. No;rroblema mcsmoi e,
clito das dificuldades, que envolveranr clesde sempre il questiio eÍn verclacle, cor))o pertencente a clc, reside unr carhter olensi-
- vo. Ilavia nraniÍêstanente pouco clisso a scr visto ate a(lui. Pre
sotrre a sua possibilidade'l
cisava se, atrnal, ircrcclitar quc o cirriitcr invasivo do problenra
Liberclacle t ranscendental consistiria no Íàto r-lc que a libcrdadc, que estii em questào aqui,
Lihardnlc prátíctt > ? liberdadctranscenclcntal scriir iustamcnte unra propriedade em n<is honrcns e, conr isso,
(\rontacle clc unr scr racionirl) nos diria rcspcito. Essa opiniiio e cotrl certezil corrcta, sin), por
/\ demais corrcta, para que ela pudesse tocirr naquilo quc busca
ncgativirmentc positivarrcntc mos. Pois nir opinião triviirl rlue acatrarnros cle exteriorizirr apcnirs
independêuciir da sensibilidade autolegislaçio .lpolltamos parà un.ra significância priitica, que aclvem à liberda-
de, iusl.rmente como litrerciadejunto ao homenr. Essa refurência,
Assim. a liberdade transcendental não e i:oorilenada à Ii- contudo, lanrbém pocle ser clacla já a partir cla liberdacle negaliya
berclacle prática, mas pfti orclenacla .\ prdlicr.] cor.no a concliçào cle quirsc clc nrirncira ainda miris clara. Sc cssa firssc a única coisa
sua possibilidacle. Por isso, na Fundonranlação da mctolísico dos cln qucstio, cntão podcriamos tcr dcixado a tliscussão da liber
coslumcs, a lerceira scçao é aberta conr o título: "O conceílo drt dadc positiva t1c lado. O tluc está crn qucstão, poróm, ó irlgo cli
libcnladc é a chavc pttra o explicoçao Ílo oulotlomío da voutodc".'" vcrso. O cariitcr ofênsivo deve vir à tona a partir da essêttcia rtn
A detcrnrinação cla libcrdadc positiva conro "ilutonon)iir" contúnr ximatt(ntc itltüna cla liberclacle, na medicl.I ern que essa essênciir
tn problcnn próprio, cort unra dificrilcladc, rlue esse problerua se encontra no horizonle clo questionamento lilosírÍico.
porta cnr si clcsdc ir Antiguitlaclc. Por isso, com vistas il explicitação da liberclacle positivâ e de
seu problema, explicitaçao ess.r que k)rnecenros com o auxilicr
§ 1. A ompliaçao índicacla no cartiter dc.l ndaçio da da dislir.rção kantiirnir, prccisanros irgora pcrguntar três coisas:
liberdatlc transcentlcnlal do problcmo da libcniadc l. lr i,isível na libcrclircle positiya cf-ctivanrcnte unra arnpliação
à perspattivtt do problama cosmológico: líbardode Íintlarncntirl tla problcuriitica? 2. Pirra ondc é quc irponta cssa
causalidaLle movimento efite enquotlto tal anrpliação? ()u sejir, que perspectiva se trbre? 3. A anrpliação do
problema e cle tal nroclo que vislumbrtmos â pirrtir do proble-
O quc conquistanros ilgora a pirrtir da brevc- c rudinrentar ma ampliatio tl possibilidâcle cle clizer em que medicla o Írlosotrr
cxplicitaçâo clo colceito positir«r dc libcrdaclc para a nossir irr enquiurto o "lançar- se - para-o - todo" se mostrâ enquanto tal ao
1enção? Queriamr)s elucidirr com isso a visada e o campo de vi- nrcsmo tenrpo con)o unr "ir às laízcs"?
srio dessa visada para o problema ria liberdade, islo é, querianos O f-irto cie quc conr ir libcrclirde positiva est.i ligacla unra anr
pliação clo problcnra, c, cm r.crr-lirdc, unrir irnrpliação Íundanren
ti Kanl, (,,./li.r./ drr rozao pum, A 533, B 561. tirl, podc sc nrostraÍ de mirncira brcvc c fiicil na rclação conr as
duas questires seguirltes 2 e 3. Já aconteceu: a liberdatle positir.a
Iu Kant, 1irrr./írr7iclrl((-riLt ia ttcttJísiLo iLts.oslrri..§, p. 74 (l\r, 146).

42 43
é, entluanto libcrtladc prática, igual .r autonomia. Ela sc Íirnda, a causalitlirde (a causaliclade da causa). Nesse sentido, clc t-ala cii
seguntkr a sua possibiliclacle, na esl.rontaneidade absoluta (liber retânrente tla'tausalidade tla ciu.rsa (r.la coisa originária)'irr OaLr
dacle transcendental). (iom essa liberclade, retornamos a.rlgo salidacle cla causâ (da coisâ originriria), porénr, não signilica cau
cliverso, ulterior. O fakr dc, alcm cla liberdacle positi\,â e nega sa (coisa originiiria) cia causa (coisa originária), n1âs o ser caus.t
tiva, ernergir a liberdade transccnrlcntirl revela ulr.ra am;rliirçi«r, (coisa originária) de urna causa (coisa originária): oJito e ct nrodLt
e tratr se de uma anrpliaçâo Íuntlanrcntal, porque lquilo rlue se conro urnil cilus.l (coisir originiiria) e1 causa (coisir originária).
.lcrcscentâ na anrpliaçiio, a espontaneiclade absoluta, é estabele- Pois ber.n, cle acordo com Kant, [oda experiênciâ, isto e, to(lo
citkr colno o findarrento cla liberdade prática, como aquilo ern corhccirncnto teririco tla nirtrlrezir prcsentc i\ vista, encoÍrtra se
que essa libcrr-ladc se fir.rcia. O lirto tle essir relação entre libcrclacle sob o principio da lei da causalitlaclc. lissir lci tlo scr cirusa clc unr
prática c libcrtlatlc transcencienlal existir é exprcsso por Kant, na ente datlo na cxperiência pilril o outro, isto é, a lci clo scr causlclo
nreditla cnr tlue elc tliz: "a suspensno cla liberclirde- trirnsccndentll do outro por mcio ckr unr é, scguntlo Kirnt no título da II. Ar.ra
(extinguiria) ao mesnlo tcmpo tocla liberclacle'l'" A possibilidatlc logia e de acorclo conr it prinreira ecliçifu: "Tutkr () que acolrtccc
dessa liberclade priitica ricpcnde cla possibilida(le datluela. Oonr (conreça a ser) pressupôe algo, ao que ele segue sr:gtuulo utrttt
isso,.r primeira pergLrnt.r ó rcsponclidir. ngra"r'; e, alénr clisso: "assinr, a causlliclirde é a calrsa tlatluilo quc
(]uc pcrspcctiva se abre com cssa ampliação? A perspectiva acor)tccc, ou slrrgL-, nrcsnro do qtre surgitr, e r)eccssita, segundo
c evitlcntcrnente determinada pelo contcúdo do problerr.ra claqui- o principio tlo pr<iprio cutcndirncnto, por suir vez, cle unra ctrrr-
Io cluc sc rnostra como;rossibilitaçiio da libcrrladc priitica (auto- sa".r' O scr c.rusir respcctivo t1c urna causir scgue se, por sua vez,
nuria), por nrcio clo conteírdo do problcma tlaquilo qr.re Kant a umil cillrsil ilntecctlente, isto ó, ncnhum ser cirusir de unra clustt
clenomina " espttnttuteidode tbsttlutct". O tlue isso siglilica? I.irn se inicia nir naturez.l por si mesmo. Ao contriirio, o otttoinícíttr
que se baseia ai o problcnra propriântente dito? Ultra vcz rniris: dc unt cstado (de uma serie cle ticontecinentos), e, cm vcrclade, o
esl.rontaneitiacle signilica o "por si rnesntd'; e, em tcrclade, itri o oinícídr totol.é, por consegllinte, unt scr causo cottpletome te
ciar por si ilesmo, o iniciar de unra "série cie acontecintentos";r1' diyerso tiLt |iusalitlodL'do fioIurczt, uma causolidudc totalnrc te
cspontirneiclacle absolutâ: "totilllrcrtc por si nresrno" iuici.lr ulua r/ivcrrc. Kirnt a clcntrnrina, a saber, colno: o espottlruteidait ubso-
stiric clc acontecimel'rtos; ser inicio de unr ircontccirrento. cleixh- luttr, clusdid«le por líbanlade. A partir claí Íica claro: o que h.i
lo scguir se a si. Atluilo que tleixa algo (Lrnrir coisa) seguir-se a si clc propriirnrcntc problcnriitico na cspontaneidacle lbsoluta é unr
dcssc morlo sc rrostra, segunclo Kant, conto il caLlsa clcssc algo. problenra dt cousalídadc, tl<) -scr ..u.r.s,r. A 1iÚr rrlrllc ó vista consc
Nir rluestão tla cspontirncidade, clr inicio e do deixar quc sc siga
trâta-se da questão irccrcir cla causa (coisa origináriir). lsso, o ser ispns, criancb un) joqo enlrc o lcr-r)ro cnr âlcl)ra() c o lcrnto lillino, op
tamos por trir(hrzir literillnlcnte o termo alenrào, i 6nr dc r»àl]ter I cs
catusat de uma coisa originária (causa)', é clenontüraclo por Kant
lruturir prcsel1tc no original. (N. ll)
2l Ot. !i1., A 513, Il. 56l.
l9 Kàil, (:rítico do u.tio purd, A 5l'1, B 562.
2-l L PriDcipio (lir persistincia tla sutrstâncin. lll. Analogia:
-10 Iclcrn. ^naLrSia:
l)rinciPio do scr ao mcsmo lempo scguurlo a lci da açio recÍproca ou dr

2l Ilrn irlemiio, o ternro cilLrsà (L,rrsachc) signilica litelalnreIttt "r-oisa conruniclaclc.


(S.rchc) originária (Ur )'l (](rmo Heicleggcr inscrc o te.n1o latiro entre l+ Kirnl, ()//i(rr dd ruztit) puro, A )89.

14
I

quentcnrente por Kant como aficillílade de um ser causa próprk)


e mesnro um.I nrâis radical .'qual seril ela, isso e algo quc aintla
c i sigtrc. A perspectívo, que se abre consequenlenlentc con] .l
dcixarerlos por agorâ totalnrentc cIn aberto. Se nos ntantiyefltros
ânlpliaçâo principial clo probler.na da libertlacle prática, isto
é, do
na orientaçâo pela perspectivir conquistadl juntt) a Kant, cntão
estabelecimcnto cla aLrtonontia como espontirncidade absoluta, é
isso signitica: pcrgunt.rr sobre â essêltcia dir liberdacle humana,
a perspectiva tlo problema da causalidatk ern gerai. A causalicla
ou seja, accrcir dc scu qr.rid, acerca da possibilitlade interna e do
de no sentido da cspontaneidadc absoluta, isto ó, o ser c.lusa no
fundamcnto dc tal liberclacle âssim, perguntar sobre a essência
serrticlo do autoinício con.rpleto dc unta serie de acontecintentos
da libertlatlc é o nrcsmo que: tornar a c:sérrcia t1a causaliciacle, clo
c.tlg,r l.rl. qu( Ito\ Itio CIt('ol'ttrJtl(,\ llir c\l)(riclt(i.l ,r t;tre
'igrri- ser causar, Lrm problema. Para oncie nos ntovenlos perguntanclo,
lica, para Kant, no conhccintento te(irico da natureza prcsente ii
se quisermos clariÍicar assinr a essêr'rcilr do ser causa? Somentc
vista. O que nós reprcscntantos ern nrcio a essa represcntirçao cla
conr ir respostâ a essa questão é quc a anrplitucle do problcrna da
espurtirne idacle absoluta reside Íbra do que é experimcntalmen -
libcrdatlc tcrá siclo mensuraclir.
te .rcessivel, ultrirpassa esse âmbito (transcendcrc). A liberdoLla
Scr causa signiÍica enlre outras coisirs: dcixar seguir-se, ini-
como cspontaneídodc dbs( uta ó a libelclade transcerrtlental.ri
ciirr; pcrtcnce ao contexto ciaquilo que ocorrc; é unt cariiter dos
A liberdatle posjtivâ como se Íunclirnckr nir espontaneida proccssos, dirs ocorrônciits, clos acontecirtrentos.'l'ais ciirâcteres
de absoluta (na liberclaile trirnscenclental) atrrigir err si, entio,
ntostrilnr iDteirorrente aquilo que clenontinarl].os ttoyínrcfiIo enl
o problcnta d,t causalidade en geral, cxiltamente sc, cot.no Kânt
senlitlo muis amplo. (-,onl vistas a essa ntultiplicidatlc tlc nrovi
ahrnra, a liberclade prática se lirndar na liberclade transcendenlal
nrentos yent à tona o segrrintc: movimeÍlto e ntoyimento não é
e essa constituir uma causalidade insignc; nesse caso, o problema
senrpre o mesmo. C) que vale, por exemplo, para o assinr charnirdo
clessa causalidircle lrrsigtc scrá cont aindamaior razào un Íirn lrovinlcuto nrecânico, o mero fluxo cnt nreio ao leito de pirrtÍcu
clamento da necessidade de acolher o problcrna da causirlitlircle
las rlc massl, e, alénr clisso. o utero transcurso c o ciesennrlar cle
err geral.
rur) proccsso, não vale pura e sintplesntentc pirrir o ntovir-ltent(),
Com essirs questões,.já Dos colocamos naturalmente para
por excruplo, no scrrtido do crescimento e tlo dcfinhar.nento. De
alcrn do problema kantiano. Para nrls, cor.rludo, Kant não signili
llt.Ineir.I correspondentellrcnte, são cliversos o ser carrsa, o deixar
ca sinplcsntenle a ycrdacle absolutil, lnas e.lgora irpcnils lnolivo
sc'guir-se, o iniciar e o frnclar. Urrra vez ntais diverso, por sua vcz,
e ocasião para o pleno dcsclobrantcnto clo prolrlema por rlais
em relâçaro ao processo c ao crcscinrento e aquilo que (icnonrina
que pcnr)aneç.I o ryuc foi dito irltcs: o signiÍicado dccisivo cle
nlos o conrportanrento de arimais, o cor)rportaÍ se clos hontens.
Kiurt pâra o problenta da liberclacie ent geral.
lisscs, por outro iaclo, podent ser vistos no interior cle ocorrên,
A libcrdadc t díscutids na parsputiyrr rlo.scr caa-rc. Prccisa
cias nos movin'lcntos clo agir e do trânsito. Uma viagem, por
Ír'rente Kant concebeu o problcma cla Iiberdade cle tal modo que
exemplo, nâo é nenhunt ntovimento continuo ntecânico conr
e'lc aponta para essil pclspeÇtivil. Sc cssa é a úrlicl, pcrspectivir
uma mátluina (trenr, navio, avião), ela tambent não é nenhunt
para o problema da liberclacle, se há irincla uma outra perspectivil
movimento mccânico adicionaclo cul un1 contp()rtanrento dos
hr»lens, rnas ela e um ircontccimeltto próprio, sobrc cujo cirriiter
25 A expli.itiçiio clirclir tlo "trlnscendentirl" é âpenas totalmentc pro essencial sabemos tãu pouco quanto sobre a essência dos outros
visriria; ela c suÍiciente, todivia, por agora. tipos citaclos de nroYinlento.

16
17
De tudo isso, nris satremos pouco ou nada. No entânto, isso e considerada tlcsde muito lempo conro a questão clecisiva, Pri
não acontece de nraneira alguma, porquc algo desse gênero nos nreira e írltima rlo hlosolàr propriamcnte tlito - a queslao diretriz
scria inacessivel, Ínas porque existirnos de maneira por denrais du JtktsoJia: ti tr) riv, o que e o cntc?
su;rerlicial, isto é, nào radical, para perguntarmos sobre isso c
pressentirmos cssas qucstôes como ardentes. F, assint quc as coi § 5. O canilcr questionúvel dc investídura do
s.rs se Ínostran) na fikrsoÍia etr. relaçâo à clarilicação cla cssência questiio anrpliLtch da libcnladt't a.figuro trudícional
clo nroyilrento: dc maneira inteiramente precária. I)csclc Arist<i da queslatt diretriz do Jilosofa. Neccssidadc de un
telcs, que tiri o prinreiro e âte aqui o ílltinro ir cotrceber o prcblema ques|iofiontc to renovado da questao diretriz
.lilosLifico, a filosofia nito tleu nenhunr pirsso i\ ficute Iresse proble-
ma. Ao contrário, ela cleu unr passo atriis, nir medida ern clue nãcr  cluestão accrca do ente enquiutto tal t eio à tot.t.l .Io persc
concebeu nerlr nresmo o problerna enr gcralcomo problenta. N'Ies- guirmos o conteircio prriprio do problenra cla liberclade. Ela não
mo Kant liacassir ncssc por)to colr)pletamente. Isso é tanto ntiris lôi obtida, por exemplo, conro una questalo, ttit qual o problema
estrirnho, unra vez quc, pirra cle, o problema cll causaliclaclc cra da liberdade'simplesnrente sc conÍina, nào conro unra questào
central. É lácil vcr, quc o problema cla essência do nrovitlcnto ó o quc paira simplesnrentc colno unra questao nlais geral sobre a
pressuposto prara tirrmularrttus em gerll o problclna da causalida- qucstão palticulirr acerca cla liberclacle. Ao contrítrio, se eleti
cle, clo scr causa, parir nrio làlarmos cle sua soluçiio. vallente perguntanros sobre a essência da libcrdade, entato Ítos
li, o problenra do movintento pur sua pirrtc? O nrovintettlo, cncontr.Intos no intcrior dir questão accrca do cnte en<luanto tal.
isto e1, o scr movido ou repousâr (conro unr modo prtiprio clo A cluestão acercir tla essência cla libertladc humant é, port.rnto,
movimento), revela sc conro uma tleterminaçào lirnclanrer.rtal necessariarlente introduzicla tra questiio sobre o que o cntc scria
ilaquilo, para quc atribuínros cm geral um ser: colrto unra de propriar))cr'rte enqu.lnto tal. lircontrar-se ness.r qucstão sigltih-
tenlrinaçáo Íunclanrcntal do cntc. O modo da nrobilidaclc ou da cit lnanifcstamente: lilnçar sc pura e simplesnteute Parir o todo
imobiliclacle possír,eis altera se juntamente com o tipo do cntc 1.rois nrais amplanrentc clo quc em nleio à questão sobre o ente
respectivo. O problerla do movimento está firnclirdo na questii() ( l]qu.lr)t() t.rl nit L P,rs'tvel .tutpli.tr I rqttrrt.i,t.

acerca da cssôncia do ente entluanto tal. 'lirdavia, cs.sa anrpliaçiio clo canrpo do problema é, então,
Assirn, a visão que atravessa o problema cla libertlade am- de tal tipo que cictluzinros do conteítclo aurpliaclo do problerra
plia se. As posiçôes particulares dc passagenr para a ampliação enr clue rreclitia o lirnç.u-se pala o totlo sigtrifica: ir ii nossir raiz?
dc tal visiio precisanr ser enumeradas iltlora ulna vez mais: liber Corl isso, chcgal1ros it terceira qLlcstão.
dade prática (aulonomia) libcrtladc transcendental (esponta Ntis cstamos em concliçircs agora de lbrrlulii la nrais de-
neidacle absoluta) causirlidirdc insignc'- causaliclacle (ser cau ternrinadiuncnte. A questào accrca tia essêrtcia cla Iiberdade hu-
sa) enquanto tal lnobilidade enquânlo tal entc cnquanto tirl. r))ilnir, enquanto uma qut-stiio embuticla na qucstão acerca clo
E onde nos encontrilmos agorl? cutc, cnquanto urnil qucstão tlue se volta para a totalidacle, e enl
(,om cssa questiio acercil clo ente enquiulto tal, accrca tla- si uln "ir-às-raízes"? Poder se-ia respottdcr: tta uredida etl que
quilo que o cntc enquallto erlte seriJ propri.rmcntc crn toria a rrris, perseguinclo o conteltdo clâ questào tla liberdade, pergun
sua amplitude e proluncliciacie, l-ornrulamos aquela questão, que tantos sobre o ente enquânto tal, mirs ntis ntesntos, porérr-r, os

'1ll
homens que questiot.tilnt, pcrtencentos tambénr ao entc, tambem irccrcir dcssc cntc ou claquele. A questào não apellirs irccrca dtr
se pergunta nâ quL-stio âcerca do ente sobre nris. Apenas clo làto ente r:nquanto till (aninral, hornem), nlas acerca rJo cntc cnquan
de t1ue, na questão acerca do ente, tirnlbém sc pergunta sobre to tal, significa o qucstionirr sobre aquilo qLle () eltte euquanto
r)(is enqllatrto enles, niio se podc de ruancira alguna cieduzir, po enle é en geral, abstraindo sc dc sc o cnte é precisâNente ulla
rcln, qLle e cnr que metlida se dcte ir às nossas raízes. euarrclo planta ou um animal ou um honrcur ou I)eus. Nessa questão,
se pcrgunta sobre o entc, tantbenr se pergunta sobre o anintirl e portanto, âbstrâi-se do respectivo caráter objetivo e parlicular
a naturez.l rnaterial, pois eles tantbém cacm, exatalncnle corno o Pergul.rtâ-se sobre âquilo que advénr iro ente enl geral ent sua
homem, sob o dorrínio do cnte. Essir questiio acerca do ente diz dinrensão nrais universal ;rossivel.
respeito con colr itaD tenlentc ao anirtral, ntas cssal copertinênciir Quanto rrais amplirÍneltte perguntanos em mcio a cssa per
não e cn) seu caso, contudo, tal corlto ilcontccc conosco, unl "ir gunta, o quc scria o ente enquanto tal, tanto mais uuivcrsal, con]
r\s raizes'l relirção a um cntc particular tanlo m.ris indeterminiivcl c abstrato
quâo pouco isso procetlc, é algo c1r.re licr claro parir ntis,
C) se tornâ o catrrpo. Em verdadc, todo c quirlquer ente determinado
rquando cr»rsideramos nt.tis dcticlantentc ir qucstào acerca clo câi sob o dominio do ente cnquiroto tirl, rnas isso de um rtodo tão
entc. Nessa cluestão dir filosoÊa, o que e qucslionado é o quc se conrplet.rmente universal c anrplo quc, manifêstamente, a questio
ria (, cr)le. Pergunta se o que e o cntc, e, ent vcrdatlc, enquanto irccrca do ente cnquânto Íal nao pode mois dizer respeito am par-
tal, com vistas ao fàto tle que ele é um ente. A rluestiio diretriz, tícuLar xt ente particular. Portankr, niio é mais, por exen.rplo, tal
porlalrto, pocle scr titrrnulacla de nrirneira nriris irgucla conto: o conro irte aqui, obscuro, em que med tcla o " questíonor rla lok ida
que e o cnte e quonlo lal? lissa exprcssào "erquanlo tal" e a tra r/c" significa o urcsn)o que: rr â no-s.srl raiz, mas e e m gcral impossí
dLrção do latint uÍ Íale, rTrra talc, usada na ntetaÍísica da Idacle vel. Pois perguntar sotrrc o errte enr geral signilica: pcrgu tar para
Média trrrdia, que corrcspontle ao ff ila Antiguidadc. F,la significa allrr de krdo e qualtlucr cnte parllcllar, e, nesse sentido, tanrbénr
quc irquilo ao que ela e acresccntacla - il utesa cl)quânto n)csit clo humem. Oomo é quc cm um tal questionar parâ alént de n<is
- nio e pura c simpleslnente objeto ile unta aprc.clrsão, clc. uma cleve residir e pode efêtivamcntc residir un.r caráter cle abordagenr?
ol.rinião, cle uma valoração ou cle uma ntanipulação, ntas que ir O ir i\s raízes prc'cisa enqLlânlo abordtgcrr tomilr ao menos a di-
ÍIresir cr)qu.lnto tal, isto é, na ntedida ent que ela é uma nresa, rcçã(, pí,1r l7ri.s, precisa nos ter como meta. A qucstão acerca do
deye scr tomada cot-lt yistas ao seu scr ntesa. O ser ntcsa cla ntesa cute ern gerai, inciepenclentemente tle se o tluc cstii cnr jogo é unt
anuncia pclir printeirir vez- aquilo <1ue o mcsa é, o seu ser o que, alintirl clu ttnr homem. não é nenhum ârretnetcr se a rrós rnt'srrcrs
a sua essência. [nc;uirir un entc enquirnto tal significa inquiri-lo enquanto tais, c, dcssc rroclo, ele é tuclo ntenos uma abordagcnr
hoc ens qua tale, na medicla ent que ele ó csse elttc, com vistas.ro voltada para nris. O pcrguntar parâ irlénr ckr enle particular ent cli
seu scr unt ente. Essa cxpressão linguistica "encluirnto lal" e Lln1.r reçlio ao que hii cle miris univcrsirl e muito Ínâis luga de r(is collo
expressão espccificamentc filostillca. F,la clá a inriicação para o um ente particular e, assim, tle krtlo c quirlqucr ente.
l'ato dc que atiuilo cle quc trâta o discurso não é visado simplcs Por collseguinte, quando torlamos o probler.na escolhido,
rnente apenâs corno ele lr.tcsl'no, llils e yisado clesde o principio a questao.rcerc.t d.r essência da liberdade hunrana, precisantenle
em urr ilspecto irr-srgrre - com vistas à,çlra cs:drrcia: Ti tô óv óv. ir partir cle seu conteirclo pleno e derradei«) cnquanto problenta,
fi
A questão acerca do ente cnquanto tal nã0 pcrgunta, porém, a partir dir qucstào ilccrca do ente enquânlo tal, então torna sc

50 5l
evidenle o seguinte: esse questionar-em-direção ao todo niio A cxplicitaçao cla lc.sc do cartiter de altLtrtlugtrn do.fibsoJiu
apenals nalo vai âté âs nossals raizes, mas não ío-s cliz ne m mcsmo colocir nos em ur-Itar situação cstranharnente dissonirnte: por lrt
respeito, nà medidil enr que na)s sonros esses homens. Pcrnranecc /r.rrlo, rrrrssit tese correspondc i\ visiio totalment e tldtufttl Lli\ h)o
vigentc irí: a tcsc dc que o qucstjonal cr.n -clireçao-ao - toclo seria sofia, segunclo a qual a lllosofia mesma tem.tlgo em corirLlrn con)
lum ir às raízcs cl Lunr a6rrnação arbitriiria, cujo clireito naro pode o prtiprio honrenr c tlcve tcr umr iníluência sotrre o scu agir. l;,
scr dc nrirncirir algunra corroboracio a parlir clo conteítdo mate- isso 1rr» r.nais qrc .\ i tcrPretoçdo, que o senso colnum clii ir cssir
rial dl respectiva ciucstio. Potlemos introciuzir pârâ tânto aincla convicção, assim corro ir representâçito rlue lhe é correspottdcntc
unla outra provt, cr.rja firrça tlcnronstrativ.r, porén), nào pocie scr cia Íilosoha, tarlbém sejt extremaÍnentc conÍisir c dcsçrroposita
simplesmente riesprezada. cll, clc tal rnodo tlue ela evoca .r maior dcsconÍiança possivel; pois
Nris tlissenros, que a questão, na clual o problcrna clir libcr por "proxinridatle enr rel.rçao à vicla" sc courprcetrcle a intromis-
clacle, enr confirrnriclacle com o nosso tlcst-ntranhirmento tlc suir são do fazcr e clas aspirações nas assinr chanrirtlirs nccessirlades
prripriir perspectiva, se baseia, l questão trcercir do ente cnqurnto atuais. A clueslão é qLrc.justirmcntc isso é o tlue hh cie nrais clillcil,
tâI, selia tão antig.r quânk) a lilosoÍia ocirlental. Se colsitierar pois para repetir a expcriôncia e colvicçào n.rturais pre Íilo
nros cle nraneira p.lnorâÍnica a sua histririt, erttilo se nrostrarii sriÍicas exigem aquilo qLlc n(')s irr)teri()rlrenle jri recusar.nos à Íilo
qrlc cssir qucstão fiu co e crn porte .]lgutfitt ir-npelc a cirptal il solla. Sua.lssinr chalr.t(la "proxinriclaclc cllt rclilção à vidril por
questão, il ÍilosoÍia enr si, corno rLrn ir às rirízcs a siber, coÍr'to tânto, possui a mctlidl clir ausência cle cariitct-. N{as sc a hlosolia
turr ir i\s rirízcs tlaquclc clue qucstiona. Ao contriirio, o eslbrço é uma clerradcira c primeira possibiliclacle da cxistôncia hurnrtra
senlpre ullil vcz miris rctomirdo, sobrcttLdo dcsdc o corncço cla ern qeral, niio se prtrcurarri inrpingir a ela Ltm tirl firzcr, [ras, iro
ÍilosoÍia moclerna, se volta irntes para a tcntativa de clcvar a filo contriiri(), se exigini dela, t pttrtir de si e do que há dc darrLtdcírLt
soÍia Íinalnlente ao nivel cle uma ciência ou da ciência absoluta. c dc prinrciro dur a si ntasnn o seu carátcr.
como conlportantenlo te()rico puro e sinrples, conro pura coll Por outro lrirlo, o clcsdobrarrcnto precisamen[e clo con
tenrplaçào, cor-n<t conltccímcnto aspcrulutivo (Kant), no qual não tcúclo pleno da questào clirctriz dir ÍilosoÍia nito tr'âz cor.rsigo
Podc c nio devc rcsitlir absolutirnrente lraciir cle una tbonlagr:rn. nircla cie unr carátcr dc abordagcm que resicliria nessa qucstão.
() conteúdo ínterno da. questão accrca clo enle enquanto tal Ao contrhrio, essir questiio interprett.I si mesmil conro Oeopicr,
tanrbcnr não nrostra clc nrodo algunr, tal conro ir história clessa conto contenrplativo, conhecirlento especulâtivo. Nossa tese vili
iluestiio na quirl o problerlir <1a libcrdadc cstii cnrbuticlo, o cariitcr tlc ao encontro <1a assim chanracla convicção naturirl c pró-filosti-
ltborciagerl alirmackr por nris. Se isso c assim, entio tiurbónr vcnr i\ lica cla cssôncia da ÍilosoÍia e si) é supostanrcnte tleterntinacla a
tona o Íàto cle rtossir tese sobre o cirniter de abordagcnr tlo qucstiona partir tlai. Por oulro lado, ela nada fala sobre o conteúdo nr.r
mento-na-totalidarle que e prtiprio ao fikrsofar niio scr dc mirncira tcrial da questào expressa e Íilosoficanrctrte diretriz, 'ir que é

algunra ribvia, muito menos para a lilosolia e parâ a suâ interpre- o ente en(lll.tnto tal?'l fala a Íavor dessa tese, ilssir-n cottt<l nadit
tação coÍÍcnte. A c'xplicitação cla tese e sua llalantià naro residenr Íala enr f'avor al.r intcrprctaçilo dessa questito. Fim rlr-re instiittcia
absolutaurcntc ii rnilo, por rnais próxinra que possâ se encontrar ir devemos coníiar r).rilis, uir convicçiio nâturâl cla lilosofia ou nir
opinião cotidiirna c quasc 'irirtural" cle que a filosolia precisaria, tal grancle tradiçao de seu problemir diretriz e de scLl lrirtanrel)to
conro se firrmula ir "tiascrl ter unir "pnrximidatlc crn rclação i\ vitla'i até aqui?

52 5l

. ,rrrrr,r, ,.,l li!;!;.r i r .l :


Prccisarros desconÍiar das duas instâncias. na nteciida em te cssa questâo. (lt»I certezit. No entalnto, se, juntilmente conl .l
qr"re elas sc nos olàrecem na figura corrente. Âssim conro não con- sua respost.r, apresenl.u'nos ul.na vez nrais essa questão, que gânha
cordamos com aquela convicçiio nirtural no sentido cle tr.rnspor- voz neles, e se.rpenas collsl.rl.rnos que a questão ocorrc lii, isso
nros a íilosofia pirra o anÍrncio de urna visão cie ntundo no crrten signilicâ que essa questao Íiri eJeÍivamente col<>cada, quc a qucstâo
dimento usual, tirmbénr nào acolhemos sintplesmente a questào lói aJctinmcntc clucstionatll? O Í-ato dc a questão c, nrais aincla,
tlirctriz lraclicional conro a questão matcrialrnente primeira c úl (lC \U.r r(\l1rr\lir ( \lr.l\ (or)\(quóllr'iil\ r)Ct,r-rCTCl]r \( nrl)r(' ttl]lJ vC/
tinra. Por que não <icvcnros acolhê-la simplcsrrente? 'le mos o di mais na filusofia subscqucntc siguifica que ir questiio tiri cokrcaclir?
reito tlc declarar a grande tradição um nada c irlinrentar a opinião [)e nrirncirir alguma. Ilctluestionâr a queslalo l'ornrulada por Pla-
ritlícula dc que precisâtros c p<tclernos começar tuclo contpleta tão e Aristóteles, err sLrnlâ, pela IilosoÍia ociclental, signiÍica algo
mente tlo início? Se, contudo, não poclemos saltar para Íbra dir
tradição, como e por clue devcmos rejeitar â qucstão diretriz? Serii c/c.s. Na histriria cle tudo o que é essencial, o primatlo tanto quirnto
quc essa questão, Í't tà óv, é, por excmplo, l-orntulada dc miureira a responsabiliclacle cietoc rs os que veinr <lcpois cr o firto dc e-lcs prc
f-irlsa? De uide retirarl.ros, admitindo ir "Íirlsiclacle" da firrrnulaçao, cisilrent se transÍirrmar nos assassinos dos scus antcccssrlrcs c sc
o critér'io de medidir para unt tal julganrcrrto? Qual é o vcrdadciro encontralrenl cles n)csrnos sob o tlcstino cle urn assassinato neces
moclo dc questionamenk)? Conro é que a qucstã() pocle sc-r crn siirio! Sonrcntc cntão conquistamos o ntodo de <luestionltmento,
geral forn.rulada de mrncira Í-irlsa? C) ente na totaliclade exige dc rro qual clcscxistiralt irncdíututncntc, nlas que justanrente por isso
clualtlucr moclo ou pocle exigir essa tluestio elcnrentar acerca dir elcs não puderirm elirborar em sua clerrilcleirr lrírr-?íldl,. iÍr.
quilo quc clc, o enle enquaDto eltte, seriâ. Essa questao Llirctriz da Nris nresmos, porlilnto, enl noss.rs reÍlexões âte aqLri, co
JilosoJitt ocidcntd nao éJormulado da nnneira Jàlsu, nras cla lrlo I krcamos a questalo de saber o c;ue e o ente? Absolutan)entc não:
on gcral.formulada. À primeira vistir, cssa é uIrra afirnração nalu- n(rs só a coliginros. Nós só clcixirnros claro, quc o problcrna dir
ralnrente inaudita c presunçosa. Alénr disso, ela contradiz aquilo liberdade eslá enrbutido ncssa qucstao. Fizcrnos unrir rcÍ-crência
qllc ircabanos de'introduzir, o firto tle Aristóteles enunciar e Íi, à amplitucle claquilo que é cluestionado ncssa questâo: o cntc na
xar ir questiio ti tà óv conro a questiio tlo lilosofàr proprianrcnte totalitladc cnquanto tal. Il veio à tonir pârâ nris, então, que justâ-
dito, pois clc clii voz àquilo que tocla a hkrsoliir antiga antes clclc nrente cssa qucstão, de acordo com o seu ctráter universâlmen-
buscou esclarecer conro tarcÍit enl nleio ir uma lttta gigalltesca. te abstrato, não mostra nadir de um caráter ile abordagem. lVIas
Platão c Aristóteles colocarirn.r essa qLlestào, e, descle então, po- rerii rlut' terrro. ,' tlircit,, tic .rlirrttiu i",r. ( nquilnto n.i() li\crnlír\
cientos cr»rstatii la erl seus escritos tradicionais cOnr<t ocorrendO esgotado completamente o conteíldo cie questilo? I)oclemos esgo
lii. Aristciteles e Platào, nao tão clirctrrnente quanto o scu trabalho tar tal conteúdo, sim, ao menos apenas vislumlrrá 1o, cnquanto
como um toclo, dcraÍn até ntcsmo ul-na cerlâ respostil i\ respectivil naro livernlos colocado eletivanrentc a questao, rnas a tivcrr)ros
questão; Llnra resposta quc, clesde então, através de todir a hiskiria apcÍrals por âssinr dizcr citaclo como uma questiio quc ocorre na
tia metafisica ocidentalirtó a sua grandiosa concluslro por ntcio dc íilosoíia antiga? Somcntc quantlo c na mcdida en que tivermos
Hegcl, f-oi tomacla no findo corno clerradcira. qucstionado cfctivirmcnte ir qucstão tiiretr iz do hlosofar, podere-
(iorno e que podemos afirmar, portank), que a questiio não
nros nos decidir quanto à nossa tese, quanto a se no filosofar há
teria sido tirrrnulacla? Platr.lo e Aristóteles forrlulararn elàtivamen orr rrio rrrl clrrler Je uhorelugcrl.

5'1
SEGUNDO CAPITULO

A questão diretriz da fiIosofia


e sua questionabilidade

Exp Licita ção da questão diretriz


a partir de suas próprias
possib iIidad es e p ressu postos

§ 6. A qrl(rlro tlirctriz du.filosoliu (ti tir óv)


«)mo (lucsliio accrctr do ser do etÍe

O que sigr.ri6ca rlucstionar eÍêtiyâmente cssir qucstão? Na(la


alem ikr que cleixar irronrpcr c vir li tona tuclo lcluilo quc sc rc\rc
la nela ctrnro quastion átcl, colocar em qLlestào tudo aquilo que
nelr e r/rgto de questiononento. No entanto, aquilo que é cligno
de qucstionaurcnto abarcl luclo irquilo quc perlctt.c íI c-s-srl í1rcs-
lao scgundr.t o sua ltrtiprio possíbiliLl«la, tudo aquilo tlue resicle
ncla mcsrnir cnr terntos dos itssit't'r chirnatlos ;rrc-s-sr;ro-sÍit-s.
O elemento peculiar a krda c qurlcluer qLrestÀo e o tàto tlc
quc, cm nreio ao seu primeiro dcspertrq ela nito coJoca jii enr
questiio tuclo a<1uilo que pcrtcnce ao seu prtiprio pÍessuposto.
ll precisamente àquele qucstionamento c1ue, tal conto o questio
n.lmenlo merrcionado ircerca do ente eÍrqunrlto tal, jii se reme-

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tc cm seu ethos piua a totalidatlc, e cle início nccessariamcnte § 7. A comprcensão tlc ser pró cofit:citual e 0 palí]vro
aquictaclo por seu prinreiro estridio. A questiio é: precisalrcnte
Júndume ntol do.filoso.ha otúigo pard o -srr: ouoiü
essc questionânento que, cle acortlo cor.n a suir tcnclência firntla
mc.ntirl, pergunta ctlr direção à totalidacle, não tcm o clireito clc'sc a) C)s câractercs da compreensão pÍe-conccitual
aquietirr junto .i Íigura do printeiro estiidio. do ser c o esquecintento do ser
'lirclaviir, para aprovcitar linulmentc
a oportunidacle: o ilue
Niio é preciso senão unta lentbrança daquilo quc acontece
pocle e tlcvc aincla se rnostrar como qucstionáyel Da questão di
o lempo illtciro ell t.tosso scr aí. Se perguntanros nas cousiclera-
retÍiz trâdicional da íilosofia ri tô óv? Ncssa questio, r)ào h,r
çôes ate aqui: o trirtantento tlo problema da libcrdacle enquirr)to
nadir que se possa tonrar cotrto valenclo rnenos a pena rluestiol.ralÍ
uma questâo particulirr pode scr considerado uma introduçã<t
clo que aquilo sobre o que se coloca aí propriirnlente a qu.'stão.
aLltêntica r\ filosofia?, então cortrprccrrclenlos clr toclo caso, scn.r
Prccisamos transfbrnrar essa qucstão cliretriz "o que e o cntc?"
abarcarnros irincla il questão como um todo, cacla palavra da sen
em unr questionanreuto eÍêtivo, ou sc.ja, precisantos buscar
tcnçir, cntre oLltras talttrcrn a palavra quc Ítri por último pronun
arluilo sobre o que sc pcrguntâ: o elte enqu.rnto tal, o óv i1 ilv.
ciada, a palavra "ser'l Ntis conhecentos o scr como o infinitivo tla
O que ó isso, porém, tluc col.tstitui o cnte enquaoto um entc?
lbrmir vcrbal "e'i Se eu digo c os senhores o corlpreendcm ao ou-
(i»lo é clut' clevernos charnh-lo scnão juslamentc dc o -scr?
vir: o temir da preleção cia libcrtlacle humanir, cntho con)prcen
A questão acerca clo ente cnquanto tal dirige se propriirn)ente
dcrlos o "é'l Nris contpreentlenros algo lotalntcnte cleterntinaclo e
par.l o ser. O quc e questionado e o que o -ser clo ente é, niio o que
podemos em todo cirso ratilicá lo ao inlinito: não tentos en) vista
o cnte é. C) tlue é digno de t1u.'stao e proprialrente o ser.
collr o't'] por exctnplo, uma pctlrir, uÍn triângulo ou um nÍrnrcro,
Esgoliunos conr isso o elemcnto questioniivel da tlue's
nrirs "ó'l As coisas se cor)tpoltant dc rlancira correspondente em
tiro diretriz? Um perguntàr efetivo s(t se mostra conto efêtivo,
relação a uma outra flcxãu: ent relaçiio iro "liri'l ao "tinha siclo'l ao
quantlo cle se empenha pela resposta, isto é, quanclo buscamos "scrá'l Nós ttos ntar)tclnos e nos ntovil]1Cntanlos constirntentente
no perguntar ao mesnlo tentpo ir po.s.sllrili tação d,a resposta.
em tll compreensào datluikr que significa "ser'] e, cm verclacle,
A possibilitação cla resposta só estii, porént, asseguracla e só
não apenas c rrão sornente, tluanclo entpregatnos cssas exprcssoes
pocie mesmo ser assegurada, se o question.llrento tivcr clareza
linguisticas para ser e sLtas flcxires no cliscurso cxpresso. Mcsntcr
qttanLo ao nrodo como ele questiona e sobrc aquilo tluc clc bus-
quando, por cxcÍnplo, escutantlo a preleçiio, rros cleixamos lcvar
ca. Como e, irfrnal, ilue se questiona ent meio à questão: o que é
silcrrciosnrnentc e achanros: o que clc cstá dizendo não é pJausivel,
o scr clo ente? O quc é buscado? Aquilo que clctermina a essdt
conrpreendemos o "ó" e nos ntoyintclrtarnos nessa contpreensrio.
cia do ser. A <1uestão é umâ qucstâo de deternrinaçào. 0 quc é
Ou quirndo passeando por unta paisagem, nos detcnros por urn
buscado, entaro, e a partir de ondc nós comprccndemos o ser tlo
instirnte olhamos ao llosso redor e dizcntos, em yoz alta ou sem
e
ente, tluirndo nós o compreendemos. Nós efetivirmcnte o com-
elocllçiio: mirraviihoso!, conrpreendemos ncsse caso: essa paisa
preendemos c quando o compreendcmos? A todo tcntpo nris jii
gem ao r)osso redor e ntirravilhosa. Ela é maravilhosa, tal corno
o cornprecntlentos, sem que saibanlos, sent que emprestentos a
ela jLrstanrcnte é e conto ela sc nos revela conro senclo. Não ó so
esse lato qualquer significado. Em que lnedicia já comprcencle-
ntente no tliscurso e na fala sobre o ente, no cxpresso dizer "é'l que
mos o que significa "ser"?
rrtls nos movimentamos na comprcensão do'?l mas.já ent todo

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tottporlometlto silcncioso cm rclação ao ente. Isso, por sua vcz-, ser. Por lnais qlle seiamos clominados por essir conrprecnsão, ela
não irpcnas c niio somente no gozo co[teDrplatiYo do cr)tc ou r)a nilo chcga dc nroclo irlgunr a nos ch.rmâr a ittençiio cnqual)to tirl,
considcrilção Ícóri«r d<l mesmo, rrrirs cnr totlo ajuizamerrto, tlorní dc tal fbrnra que não nos voltarlos absolutamentc para cla de
nio e utiliztrçiio priiticos do ente. E, por oulr() lirtlo, nào e apenas r)rilnt:ira exprcssil, cluc prccisamos ser primeiro lertrbrados cx
enr toclo e qualquer compoltâmeilto enr relaç;ro ao enle, que nos pressirnente desse elemento pirra nós aut<leviclente. Nris o esquc
circrrndir, que corrrpreendenros o lato cle rlue esse ente "i'e de celtosi o esquccemos tão protirnclanrcnte, que n(is la nraioria
que ele't".rssinl e nio cle outro modo, màs t.rmbénr no col]lpor- clas vezcs jamais tinhirmos pcnsaclo nisso. Nós conteçiunos ltossil
tilrncrlto cr)) rclaçilo a nris rnesn)os, quc -sor?!oJ, c err) relirção aos existência conr tâl c-srrrlcairrc trto dl L'ontprcensàtr dc .scr c clullntcr
outr-os quc s.1o nossos iguais, os outros corlr cls quris lr<is so,ros, nrajs nós nos âbrinros p.lrir o ente, tanto r)rais profinclo se torna
nris corrrprccntlcrnos algo clo gclrrcro do.scr. Por 6rn cssc scr do cle inicio o esquecimento ckr elemento uno, rlo Íirto cle clue nós
cntc tlc totlo c qualquer tipo não é conrprccncliclo por u<is sonrcn conrpleenclentos em tocla aberlura para o cntL'o scr [.isse pro
te c;uirndo ntis e nir nteilicla em que nris usanlos expressamente a firndo csquccinrer)to, porér'rl, r.ro qual se eltcontril pirra nris cssir
palavr-a para "ser'l "é'l "tiri" e outr as tlo gênero. Ao contriir io, enr corrrprccnsio dc scr que inrpera sobre todo collrportar)rcnto, nio
toclo tliscurso tentos en') vista c cornlrreenclen]os o ente ent serr ircorrtccc r1e manaíro ttlguttto por trcoso. Flle niro e antes tlc tudcl
scr assirrt c cliverso, nalo ser.lssinr etc. Sinr, s(t podenros usar o rrcnhunra provil contr.l o clolnínio tla cr»rrpreensiio de ser, rtras
't" e o "liri" c oLllros [cnnos clo gênero e nos exprinrir conr eles silat cm _fotor r/e/rr, cm Íiryor clcssa conrpreensio ckr ser do ente
sobre o quc e1 visacio, porquc nós já conrprecnclenros arrtcs cle tocla cour vistirs à sua indistilção.
cxpressao c clc toclas as proposiçõcs o scr clo cnte. Ntis clissetr- os: na qucstilo dirctÍiz efetiviLrtrente lbrruulacla
Ntis cornprcerdcnros o scr tlo cnte tlc tal nroclo que o ser cla Íllosolla, o .llre é questionado ó o que ó o -scr clo ente. Dito de
jii se articulou destlc o início. Nris cluciclirnros para n<is cssa ar Ínaneiril aindâ n.tis clirrir, o rlue é buscatlo c aquilo, a partir cLr
ticulaçiio iniciirl junto ilo "c": a tcrra "rl", tcnr cuquanto plancta que colttpleencientos algo assim corno o scr, sc c quc o corr)preen-
realidode efi:tivc, "cxiste'i 'A terra ó pcsacla'l "é cobcrta pckr nrirr clernos. Agora se rnoslra muito mais: nr'rs não o corrrprcenclentos
e pela terrii': ser nalo signilica âgorâ "cxistir'l mâs -scr ír.s-sir,l. 'i\ aPcnas ocirsiorrirln)crle, mas coltst iIn tentent e e enr todo corDpor
lerlir é rrnt planeta": ser con]o .§cr-o-rllrc. ";1-r coi.srr-s sc ditLt dc lal tirncnk). (lada um colttpreende o "é" e "ser"; e cadir rrm cstluc
rrorio, que a terril se ntoyinlenl.I ell torno clo sol'l Ser conto -scr ccu aí sinrplcsrrrcn te, que ele se nrâlténr en tal corlprccnsao dc
t,crtloLlcíro. Isso cle inicio ilpen.ls como relêrência à articulâçào scr. (lorrrrr se rrão birstasse, úldo um o c<ttttprcctdc e ninguétt o
inicial, na qr.ral corrprcendonos scr coi)lo prcscr)ça i\ \,istil, con)o conci:lre, cirda uln sc cr)cor)tra de imecliato na nt.rior perplexida
quitlidaclc, cor.no nroclo dc ser, conro ser vcrclacleiro. cle possívcl, quantlo sc vê cliante cla necessiclacle de lbr-necer unr
N'ós nos nrillltcr)ros o tclr)po intciro c cr)r todos os aspcctos tlisclrrso c Lllril rcspostil p.rra a pcrllunla: o que tu teDS ent vistit
cm rosso comportamcl)to eln rclaçao ao cntc, que r)(is mcsmos conr esse "é" "ser"? Nós
- nio estiunos apenas cnrbaraçaclos cont
niio sorrros c cluc lrls mcsrnos sonlos conro horncrrs. 1.r'ris rros .I resposta, mils nos sentinlos antcs clc tuclo clcsanrparaclos coltt
miurten)os constallteDrente cnr uDra ttl colrprcersão tle ser. vistas i\ lirnte, tla qual tleve'mos hirurir unrir rcsposla.
Nosso comprlrtarlenkr é suportado e dorlinado inteiramente Se pergrrntarmos: o que é unra rncsa?, cr)tiio poclerenros cli
por essâ - coltto clissentos de maneila sucinlal ao[lprccl-sro ,lc zer: Lll'n obieto de uso. Mesmo se lrão csti\.ermos cnr contliçircs

60 6t

' ::t:.: : ::i:;: :ir :


dc dar uma tlcfiniçào escol.rrntente corretir tla essência clo objeto o irceno para o Íàto, não obstiuttc, irintla cniguiitico, de quc
cle uso enquanto tal, jii scmpre nos Ínovenlos de qualqucr moclo conpreendenr<ts na imcrsào na cxistênciir cotidiiuta o ser tlo
en1 unra comprecnsão de- tais coisas. Ou se sontos pcrgutrtados: ente. Não apenas isso, nris já tomiunos c(Dtato ai cont tocla uma
o rlue é url triângulo?, potlcrrros ao nrenos clizer: una figrtra seric de carrlclcre-s dassu contprctnsão r.1c.scr, que reunimos agorir
plana e, com isso, espacial. N<is já nos ntove[ros ri cnr rucio por mcio cie urna cnumerirçilo: l. Á ar.rrplitude clo ser, (tocios os
ao conhecinrenlo e à intuição tlo clcmerto espaciâl e do espa âmbitos clo ente, isto é, de algr,rm modo a totalicl;rde tlo ente)
no qual nós nos llrilntel.ltos; 2. Penetração de todo tipo dc cont-
ço. Aqtrilo, o portir do riue nris dctcrminamos mesa e triângulo
- objeto dc uso, cspirço se utostra para n(rs por irssir.n clizer em portanlerto humano; 3. Carátcr. inexprcsso; 4. Esquecimel)to;
abertrr colno aquilo, corr yisltts oo quc algo clo gôncro clos obje- 5. Indistinçiio; 6. Pré conceptualiclacle; 7. Isenção dc ilusiio; 13.
tos citatlos pode scr compreencliiio e determinado. As coisas se Articulaçiio inicial.
achan de mancira corrcspondente no que diz respcito ao ente, I)ois bem, se agora o tilosoÍirr encluanto [al irronrpe e cornc
indepenclentenrente de que clrtc clc é; todo ente, que conhecc ça a firrnrar-se I si lnesrno a partir tlo tàto de que o qucstionâr
mos enqu.lnlo tal, jri foi por nrls corrpreendido cle algum motlo lrunrirno se encolttra cliante do ente ntesmo e cokrca pirra ele tr
com vistas alo seu ser. Mas nris lrão conrpreendemos e conhe questão sobre o rluc ele, o cnte, é enquanto tal, entalo precisa vir
ccnros irpenirs o ente, nlas, scnt dízcrntos, tombtnt ct.çcu .scr. E ir cxpressirmcn[e à tona t]o transcurs(:r rit- um t;tl qur-stionamcnto e
qucstâo pcrsistc: a partir cle oncie contprccntlcrlos o "ser" e o't'] dc uÍr1â tal tcntativa dc respostas por ntiris que tudo pareçir ain
colr vistas iros quais o ser é enquanto tal intcrpretirctr? O "ser" da por ilemiris desajeitaclo como o <1ue ó nesse caso nho apcnas
precisa scr iotcrpretildo colu vistâs a alguma coisa qualtlucr, cle o cnte enquanto tal, mas tambem o .scr do cnte e cor.npreendido.
outro nrodo não o podcríanros cornpreender, e nris o comprc Essa cornprcensâo rlc ser que se enuncia na fikrsoÍia não

encler.nos de qualquer nrotlo, quanclo dizeiuos o "é" c cluando Íbi irrvcrrtirda c irrraginada pcla Iilosofia, trras o filttsoftr enquanto
ciiferenciamos conr segurirnça o "e1" do "lbi'l Ent ve«latle, nris ttçtio origintirh do homem desptrto nesstt c(rrnprac sào meyna,
podenros nos iludir na constirtaçiio voltacla para saber se o ser é assim conto ele erncrge do nresnto rnodo daquilo que cla já era
agoril c cm uma posição cleterminada um objcto cleternrinaclo, antes de toda Íilosofia cxpressa, Além disso, uma vez que l)cssa
sc ele nãofàl inversaÍnente âpenas unr dia lá. A questào e que, cxistência pre Íikrsrifica do honrent já precisa havcr uma colr.r-
ntis uâo nos iluciimos, nent podentos nos iludir quanto i\ clilê- prcensao dc ser - pois de outro modo elc não poderia se corn
rença do "é" c do "f-oi" enquanto tal.r" portar de maneira algunta em rclação ao cnte -, a comprecnsão
Nós todos cornprccndcmos o ser e não o concebemos, ist<t
cle ser, que se cxpressâ nir lilosofia, é aquilo que o horncm j;i traz

é, não estamos em condiçocs de cleterntiná-lo expressa e cxpli consigo enquanto tal a pirrtir de sua própria cxistência pre-lilo
cit.rmente naquilo corzo o que cle corlpreende aí, como aquilo sóÊca, O despertar da conrpreensão de ser, o encontrar se pre
a quc nós vis.lnros llo lindo conr isso. Ntis nos movintelttantos viâmente disp()sto para ela mesnta, é o nascimento da filosofla a
cnr utrla rorlpreeí sao pr( - conceítutl de scr. Conr isso, está clado partir do scr aí no honter.n. Agora, não tcmos como acornpirnhar
aqui esse nascitncnto dt JilosoJia cottto despartur da compreenstto
,lt sL'r nt lti:t,lria Ltti,lcttt,tl. Prc. i.lrn,'* no\ i..onlcnl(tr ion) urn
16 Ter conro posse pira rris algo em sua verdade, o quc siguiíict 'tcelr<t esquenático.
livre tle ihLsõcs por naturezir?
isso? Corrro rr quc isso é possível:

62 6l
b) A plurissigniÍicância de oüoiu como sinal da riqueza I)e maneirit correspondente, tô óv não tenl ent vista
e da indigência dos problemas indôrnitos no despertar irpenas totlo ente prescnte à vista, ntas o que e senclo, aquilo
cla conPreensão de ser que é um cnte, quando cle e, apesar dc ele nao precisar scr
n cccssa r iame ntc. tô rcrróv tem em vista, por um larlo, como
O clespcrtar dir cotrpreensão de ser signiÍic;r exPCrinlellt.rr
o cnle enquanto eltte, isto e, comPreenclê lo conctlttlitantemente tlcsiglação conjunta, tudo aquilo que pertence ao iimbito dtr
cotrt víslas do seu ser. O ser é aí vislunlbratlo e o é enl nleio à vi ruim, rlesignand<), entào, porém, o àrnbito meslno, que atrarca
são de umir comprecnsão ainda totalmentc veladir para si mesnlir. cnr si aquiln que e primeiramente visado. [)e mancira cttrres
O velarlento clcssir contprccnsiitl cle scr, porénl, cncerra, nâo obs- ponciente, tô óv e urr nomc que reúne todo o ente presentc
t.lnte, cm si o fato tle r1ue, sc ela é unta compreensão tlo ser' o ser ii vista: o que cai sob o âmbito clo ente, aquilo que temos em
precisa ser ai clirrihcaclo a pirrtir de utn lugar qualqtter como isstr vista com "sendril Flm scguida, ele é tt rtL»ne porrt tt antbilct dtt
e aqtrilo. Se e oncle o entc etlqLl.IÍlto cnte é exPcrimentado' tl ser ente, cle acorclo com aquilo que acaban.ros de dizer: nontc Pilra
do ente encontr.I- sc nt cloridodc, pot mais velacla quc ela seia, aquilo que um entc é.
de uma cotnprccttsâo. Sc e onde, pttrém, unr ente é assinl expe A ambiguidadc tle tais palirvras niio é casual, mas tenl url')
rirrentaclo c, então, sc inquirc crprc.s.sri e ifite ci(ttlolttrc t( o qut firn<lamento metirÍisico proÍLnclo. Por mais inirpirrentc c itritlttrl
ele e, aí se ftla dc algunt rroclo clo ertte clll seu ser. A experiêncil que poss.I p.lrecer ess.r clilêrcnça e sua indistinção const.tllte,
do entc cnquànto ente, o quc signiÍica agora I conrpreensão de n(js estanlos aqui junto ao abismo cle um problema centrirl. A
se1 prccisa se cxprintir, então, cle algunl modo cxPresslnlcllte, grancleza intcrna, por cxetnplo, dos diálogos platirnicos só se
ela prccisa girnhar voz. Ondc quer qrtc se Êlosof-c, ir colttprecnsão torna colnprccnsivel, quirndo se vê e perscgue o ntoclo como
clc scr ganlra voz, o scr é comprcettdido e, dc irlgutl t.t'loclo, cir1.r os viirios embates vcruirculares intrincaclos e alpalrcntcmente
tirdo e concehirio, visto à luz cle... tle que? yazios, ir contenclil cnl torno dos signilicados clas pirlavras, nos
Sob quc luz a Íilosofia ar.rliga a íilosolia ocicientirl enr sett clirigcm para esse irbismo, melhot, pairam sobre ele e, assittt,
in icio clecisivo - colnpreencle o scr, isstl é algo tlue prccisanltls, portirn err. si toda a intluietude do problenta ÍilostiÍico derra-
portanto, tlescobrir, nl meditlir em que Pcrgulltirnros e lespoll clc iro e prinreiro.

rlenros: cnrqrrepr ot,ra.lundonrcttta/ sc cxpressa a Antiguiclatlc Tà rcrróv c um nonle coniunto e un1 r.tonrc pirra desiguar
sobre o scr, que palirvra é usatla pela 6losoÍia cotntl tlesignação rum ârlbitoi com esse seu ítltinto signiÍicaclo, clc tcm em vista o

terminológicir rlo se( isto e, como tlcsignação cxPressirn)cl)te tlue e ruilr.r, justarrente enquanto tal. Tirl ente ruint é o que ele é,
clcmarcacla c nolteada para ele? Nós pergutltirtllos sttbre a pa- na nreclidir cm tlue deternritrirdo por nreio do ser ruim, da ruitt
llvra antiga para tt ser, não, por exerrplo, para o etlte, apcsar ile clacle KoKiü. De nrancira corresponclcntc, tô óv é unt nonte
os rcspectivos significirdos vernacullres pâra os dois, outror.l conjunto c um nome para clesignar um âtnbito; com esse seu úl
tirnto (luanto aincia hoje, se cortfitnclirerr firra cla filosoftit e tlo tir.no significado, ele dcsignir o er.rtc quL'é euquanto tali tal ente
interior clcla. Quartdo Iemos em t.tossâ ]itcrirtura Íilostifica atu possui esse caráter, na medida enr quc é tleterrlinado por meio
irl e ântiga: o seÍ, cntio o qtlc sc tem em vista é semPre o elltc. do scr urn eute, da cntidade: oúoi<x. Aquiltt, 1.ror nteio do que unl
Nr,' htts, lntos, P()rlJItto. .r dc.'ignu1l,, .ll)ti$ü P.lrJ rt rer. rtirr entc c determinado para algo atssim, c a enticlade do ente, o seu
parir o eDte. ser: oxoirÍ roú óvtoç.

6.1 ó5
O ruim (que está) presente à vista o ente presente à vistâ rnciro realizaclir una vez. E desde entâo a história cla filosoíia está
O que é ruim enquanto tal o ente enquanto tal dcbr.rlhar.rdo cssa colheita. Alenr disso, as pessoas não se achan.r
irgrrrJ scn.l'r dcbulhrrrd,' palh.r razi.r: prc\i\ nro\ prirneir(' lrr)\
A ruinclade - a entidade do ente
(o quc constitui o ser ruim) (o ser) afastar unra vez mais e recuperar Ll[ra vez n)ais a colhcita. No
entânto, isso signiÍica: conhecer o carrpo onde ficanr as colhci
Assim como no caso da palavra tà KüKóv o significado tas, o campo e o seu crescimento. Só poderemos fazer isso c sri
conjunto e o significado para o âr.nbito oscilam e se alternam e estârernos prontos pârâ isso, se â âiveca estiver aÍiada e nem tudo
o respectiyâmente ruim mesrno c o que é ruinr enquanto tal, o tiver se enÍêrrujado e sc tornaclo insípido, de tal moclo que tudo
ser ruim, e visado, também pocle ser agora que o signiÍictrdo e a sc transf-orme cm meras opinióes, em tàlatório e escrivinhàção.
palavra "ruindade", nos quais e visada e citada a essência do ser Precisanros aprentler uma vez miris prrimeiro a lavrar e a ârar, esse
ruim, sejam usaclos como uma designaçáo conjunta: "a ruindade é o nosso dcstino, para que o negro e o obscuro do fundantento

no mundo", isto é, o ruim que ocorre, que se encontril presente à gânhe â luz do sol - nós, que iá por um tempo longo demais e de
vistir. L)e mancira correspondente, 'b ser" e usado no signiÊcado màreira lácil clernais só nos movimentairos daqui para lá pelas
do ente prcsente à vista. viirs desgârr.rdâs e obstruídas. A íilosolia ântigâ encontrava-se
Podemos constâtar: no discurso cotidiirno e no discurso li- no alto. Ao nresmo [en1po, com Platão e Arist(iteles, ela se achava

losóíico vulgar, o que é concomitantenrcnte visado com o "ser" é diarrtc de uma rica colhcita.
nâ maioriâ das vezes o ente. De acordo conr isso, o que era pro- e oúoio significa muito c muitas coisirs. Por isso, a pàrris
priamente buscado no interior da questão antiga ti tô óv, rnas signiJicàncía rra quirl essa paLrrra Jundantentd da JtbsoJio antiga

quc iustamente por isso não tinha siclo expressa e claramente re ocorre em Plat.io e em Aristóteles nrio se deve à arbitrariedade
conhccido, apesar de se mostrar de algum modo como conheci e ao desleixo nâ terminologia, mas é antes um -sinal dt riqueza
do, obtcvc a designação de oóoict. De início e antes de tudo, no e Lla urgôncía índômita dos problemas. Mas precisamente se e ssa

entanto, todo empenho estirva voltaclo para o esforço por reter a multipliciclade clos signiÍicados da oüoicr, rlaquilo que era visa-
questào Ti tô óv e por encontrar uma resposta para ela, isto é, do e ainda o é com ser, t-oi retida e sustent.rda, então e preciso
pâra apontâr pâra â oüoiü, para visualizá Ia em geriil pela pri' quc tenha sido comprcer.rdido enr toda essa rnultiplicidacle algo
meira vez. E já aí náo se obteve senão urra multiplicidacle confu' corrente, algo uno, scm que ele pudesse captar a si nresmo.
sa claquilo que Írerece esse nome oóoicr,ri e, com isso, abriu se
O que significa no fundo, entâo, a palavra oüoicx enr toda a
uma amplitude cla problenrática, que não pode ser nem vislunr snâ multiplicidade? Será que conseguimos encontrar csse signi

hrrrda. nem l.rrrpoucô tlorninrtll crrr rneio l prinreira irrrrpçào ficado lá onde os próprios gregos se exprimiran nais sobrc elc?
C)s €iregos tâmbem nâo se encontravâm lá onde nós mesnlos nos
propriamente clita em Platão e Aristóteles. A luz clue sobreveio
era tilo clara, que esses dois grandes ficaÍam incessantenlente por encorltramos parados? "Ser'l 't'1 "[oi'] "serí': algo desse gênero
assim clizer cegos e só puderam a princípio nredir e reter o clue se e algo que compreendemos por si nresnro e de tal modo que,
ol'erecia ai de saída. A primeira grancie colheita precisou ser pri- aí, não há mais natla a compreencler, ou seja, também não mais
nada a questionar. O que deve nos impelir ainda a continuar
(lf. acima a articulaçào inicial cla compreensão de ser questitltrando? fustamente esse fàto estranho da colnpreensão dc

66 67
"ser"; 1-lois se n(rs o comprcendemos, entâo acontece isso: nós to- conlo o que conrpreendernos cste sf,Ís - rresa quando nós o
nlamos o que c clcsignirdo e visatkr corn ser, ouoict, como "isso' cornpreendemos? Se, portanto, a formulação linguística das cluas
e'iqLrilo" como o clue? Mesa corno objeto tle uso, o lriângulo questires tbr a mesnlâ, entáo nào se segue dai que o tipo dc qucs
conro figura espacial. Ser como...? Ser no senticlo c no sigr.tilicaclo tionamento e de compreensão tem arí o mesmo caráter. Não se
dc? l)e que? Essa é a clueslão. obtenr daí senào o tato de que a questão accrca clo ser se reveste
Mirs as pessoas ainda poclerianr nos impedir,.le Íirnnular e pocle se revestir com a mcsÍna ligura ou nresmo clue ela precisa
cssir qucstão, a questào de saber à luz de que algo assinr conro o sc n'lostrar como a questão acelcir do cnte. I)aí, por sua vez, só se
ser é conrpreenclido na cornprccnsão de scr. lilas poderiam nos segue novirmcnte que a questâo pode se escondcr crl urna ligura
inrpreclir por lneio cle unra lcÍcrôncia ao Ínto dc que.iustamer)te estranha c sc nrostrilr como irreconhecivel para aquclc que cstá
algo do gênero do ser nào podc scr cquiparackr com a mesa e o habituatlo a perguntar exclusivamente sobre o cntc. Sri se scguc
triângulo. Essas são coisas dctcrnrinaclas, isto é, entes, em relirçiro tlai que nris percorreIrros com a pergunta a senda prtipriir à filo
âos quiris sc poclc e sc precisir mesmo perguntilr sobre o ser o solia, sencla essa que sc percleu enr meio ao dominio do senscr
quc clc c, scr o quc. Mas o ser - isso e, cie qualquer rloclo, iusta con]unr, mell.ror: que tentanros percorrer essa senda. Assim, per-
nrcntc o cluc há tle tlerracleiro e de pr imeiro no ente enquar'rto tal, siste a necessidatle de perguntar: o que sigr.riÍica a palavra funda-
ele mc-snro não é urn ente, unra cois.I. Portanto, não ternos clireito nrentrl cla ÍikrsoÍia antiga, ol]oio, se é qLre ela não é uma merir
algum de colocá-lo sob o nresnro lipo de questilo quc cnvolvc <r cnscir c r.rnra mcra fumaça, mils conseguiu donrirr corn a vioiência
cnte. Esse é unt àrgulrento cor-rvincente. Reportirntlo lros ao ca de scu signiÍicaclo o gênio de um Platio?
rrlter completânlente cliverso do scr eÍn relaçào ao cntc, cxiginros Or:oin ro0 óvroç signilica na trirduçiio corrcsporldentc
que âs questa)es, que sao possívcis conr vistas iro ente, não se.ialn paril a nossil lingua: entidaile do ente (Seiendheit des Seienden);
sinrplesnrente transportadirs para u scr do ente. n(rs dizemos: ser clo ente. "Entidade" é uma cunhagem muito
Coll rlue clireito, porénr, n<is rros rcportamils ao cirriiter tiura e inabitual, porrlue ela é uma cunhagem linguistica artifi-
completamentc clivcrso t1o ser em rclirção ao ente? Nisso jii re- ciirl, tlue s(r n.rsce no inlerior da meditaçho íilosófica. De qual-
sidc dc qualqucr firrna a pretensiro tie tlue conhecenros o t'ttoclo quer moclo, aquilo quc virlc para a cunhagcm lir.rguística alerrà
divcrso c o mo<io prr)prio do ser, isto é, que conhecenros it sua "Seiendheit" (enticladc), nao podc scr dito da cunhagem grega
essênciir, quc sabcmos algo dela. Ntis sabentos, alinal, algo clela? corresponclente. Pois oloio não é ncnhunra cxpressão técnica
Ou scrii tluc nos rep()rtantos por nssinr clizer apenars a ttm prcs artiÍlcial, criarla pcla prinreira vcz na hlosolia, n)as pcrtcnce ao
scntimento obscuro de que o "ser'] cle que o "é" c o "tiri" nilo discurso c à linguagem cotidiana dos gregos. A filosofia acolheu
são coisir alguma e ente algum conro esla coisa lnesrna, tla quirl simplcsnrcnte a palavra da Iinguagem pre-lilostifica. Se isso pôcie
se diz tlue ela I ou Íbi? Pocler.r.ros e qur-remos sabcr, alinirl, algo acontecer por assint dizer por si ntesntcl e sem citusar estranha-
sobre a essência clo ser, quanclo nos dcslocatuos ao nlesrno tern- mento, ent.io precisanros clecluzil dai o làto cle que a linguagerr
po pela via de unr questionamento accrca delc? Manitêstarlente já era JilostiJica. Fl esse é de lirto o caso.
pré-Jilosti;lica dos gregos
lrão. Portalrto, precisanros pcrguntar o quc <\ ser significa. E se A histtíria da palavra Íindarrcntal da filosofia ar'rtiga e apenas
a questão: colno o que conrprrccnclcnros o scr, quando o com- uma prova lnslgne clo Íàto cle que a /irgua grega é JibsóJica, isto é:
prccndernos?, uir f<rrmulação /ir.gúl-sÍicc soasse como a pergunta: nào é nrarcada impositivamente por uma terminologia filosrilica,

6u 69
mâs e filosoÍànte como línguâ e como conliglrràçalo IinguÍstica. determinar o elenlento distintivo prcscnte na casa e na corte, nir
Isso e vailido para toda e qualquer língua autêntica, naturalmente posse e no benr, o clemento distitttívo em tudo isso, na medida em
sempre segunclo gr.rus respectivamente ciilêrentes. C) grau e me- que eles se r.nostram precisâmente como um ente e, assinl, por
cliclo pela proÍirr.rdicladc c pela violêr.rcia dir existência clo povo e assim dizer, na nedicla ent que impôem a entidade c a deixam
cla estirpc, quc fala a lingua c cxistc nela. S<i a nossa língua alenil saltar aos olhos.
tcm ainda o carátcr filostifico profundo c criatlor correspondcntc O que é essc elemento distintivo? Posse e bem são cons,
ao da lingua grega.r" tantemente alcançáveis. Conto esse elemento constantemente
alcançável, ele e o que se cncontra próximo, ele se encontra na
c) C) uso linguístico cotidiano e o signiÊcado proxinridade, rra bandeja de preser.rtificação, ele st preserúíJtco
fundamental de oüoicr: presençâ cofisldnteme te. Ele é o clue há de mais prtiximo e, enquanto essc
Porlanto, procuramos auscultar o significado funclarren
se elemento constânterrente próximo, presenle ri ylsÍa em um sen
tal cla palavra tlndirmcntal oüoicr, cntao precisamos tlar ouvido tido acentuirdo, atual, presc,ile. Porque ele e o presente insigne,
iro uso linguístico cotidiano. l-ogo vcrcrnos: no uso linguístico aquilo que se presenta, ró.s o denominamos casa e corte, capaci-
cotidiano não cxistc nenhuma cisão agutla cntre "cnte" c "ser'l dade, aquilo que os gregos clesignam com o tcrlno oltoio,, o quc
nlals ser tem em vista conl frequência o ente. Âssim, o ntesrlo sa presenta. Não se t(]m de fàto outra cois.l ern vista com o ter
também âcontece no grego. A ouoio tem em vista o ente, Ínas mo oüoicr senão presentidade constanLe, e é isso justamente que
nalur.rlnlente naro Llm ente qual<1uer, m.rs um ente tal clue ele se se contpreende por entidade. Flssa entidade, essa presentidade
rrostr.l de certo nroclo cor.no di.sÍinÍo enl scll scr, aquele enle que constânte, é o que temos em vista com o termo "-ser'l (}»no ente
perlcnce a alguén.r, quc se rcvela como suir possc e bcm, casa e cn.r senticlo próprio, o que é interpelado pelos gregos e aquih que
corte (proprieclacle, capacidadc), quc sc acha ciisponívcl. I'i csse scÍis/àz a essa compreensiro de ser: prescntidade constànte, o que
entc: cilsil e corte, pode se encontrar à clisposiçio dc alguén, semPre se encontro presc te l) vísta.
porque efc cstá inquebrontavelmente _firme, constantemente al Nós perguntamos: corno é que esse ente particulirr - câsa e
cançávcl, à mão, presente à vista na mais imediata vizinhança. corte - chega cÍ-etivaÍnente a receber a designação do termo Íun-
Por que é, então, que os gregos cobrem.justirntente esse cflrc de- clamental para o cntc cnquauto tal - entidade? Se pcrguntamos
terntilado: casa e corte, posse e bem, cont aquele nonle e coÍl âssim, entào isso desperta a impressão de que estariamos pen-
aquele ternro, qr.re tem eln vista o ser ern geral? Por que é que sando que, de saída, o termo oüo't tr seria dotaclo do signiÍicado
iusl(rmetúe cssc enle obtém a r/l.slfuçao de ur.na tal clenominação? Íur.rdamental exposto: presentidade constante, ter estâdo prc
Evialentenrelrteírperrr.i.s porque e.s.§e enlc corresponde cln um serl sente, e, então, que os gregos teriam questionírdo qual dentrc os
tido ínsigne e maí.s argerlc i\quilo que.sc compreenclc de maneira muitos en[es nlereceria mais do que todos os outÍos esse termo
rrão cxplícita na comprccnsão de scr cotidiana por cntidade dc cono designaçào e a que el.lte gostariarros de atrilruir a palavrâ
um entc (por seu ser). li o quc se compreentlc por ser? Nris te- por ossínt dízer como notne?. O estado de coisas mostra se conlo o
rcmos ir oportunidade cle irpreender isso, quando conseguirmos inyerso. A palavra oloirx, por estâr linguisticanrente em conexão
com óv óvtrx, surgiu enr primeiro lugar dir experiência clesse
(ll. Mcstrc Ilckhart e Hcgel. ente. Nâturalmente, ela stl pôc1e crescer, nâ medida em quc já se

70 7t
encontrava etetivamente presente.i vista aquilo quc é visado conr -§eao,querer arrirÍrcar o contcút1o <kr problelna de todir a filosoÍia
o signilicado da palavra: prcscnlídude constonte. Na maioria das antiga a partir dc unr significado vocabular isolado, sobretudo
vezcs e Íiancarnente onde o que est.i ern questâo é algo derradeiro quanclo se leva em consideraçiio o fàto de o resultado, segundo
e essencial, lal como no caso dcssa palavra funclamental, o ho o rlual scr significa presentidade const.tnLe, nãn ser lirrnrulado c
mem já tinha hii muito tempo unra cornpreensão claquilo que ele cxpresso cm parte alguma na Antiguidacie? Prccisanros conccdcr
tem em vistir, senr quc ela tivcsse vindo à tona para ele. Aqui, fbi esse últinro ponto. No entanto, o fàto de a Antiguicladc não nos
o cntc tlertontinado. (üsJ e (orle. (luc impós ent si tonro insigrtc dizer expressu e dirctamc lc o que ela tern enr vista no fundo com
nrentc presente o nome do ente; o rlue só pô<lc acontcccr, na mc- o lermo oüoiu é justamente a rirzão pela qual perguntamos e
clida em que, por entidade antes da cunhagem do tcrmo oüoict precisanros perguntar sobrc isso. Como é que as coisâs se encon-
, o que era visado e compreendido erir: prescntitiirtle constante. tr.rnr, porérn, crr rclação à vloldli:ia, à urtificiulídudt e tto curátcr
A questão, porem, é que preciso afastar a seguinte suposição: cxlrínsec'o tlc nossir interpretação e tese?
a suposição cle que, no significado cotidiano cle ouoicr, se teria enr É preciso âtentar por unr lado para o firto dc quc r)io nos
vistâ a cada vez a capacidirdc, a posse e o bem cleterminaclos. Na virlenros tlc nenhunra etimologiir, parir dcscortinannos algo ori
compÍeensão e no uso do signilicado, os gregos têm em vista isso; giniirio em relação ao signiÍicatlo a partir do étimo tla palavra
no entanto, cles tên1 enl vista isso, na medidir cnr que clcs compre- urrr 1-lr-oceclimcnt<), quc cstá cxposto a grandcs abrrsos c crros,
endem de irntemão: presenticlacle constantc, Os grcgos compre mas que justamcntc por isso tambi'rr, tluando é empreendido no
endem a presentidade constante ern uma pré comprccnsáo, senr lugar certo e da rnaneira e nos limites corretos, pocle ser Iiutilêro.
'lan.rbénr rr.io pc.ga rnos sintltle srn.rrlt o terrlo clüoicr e deconrpu
voltar essir presentidacle mesnla para unra visirda temática. Essâ
signilicação funclamental cstirbelccida na palavra empregue coti scnros prlramente seu signilicaclo, 111às afilramos no cnte mcsnro
dianâmente oúoitr,, urna significação tomada como óbvia e, por tlue é denulinaclo nesse signilicirdo vocabular, c, cm vcrdacle,
isso, não lorn.rulada dc maneira irlguma ulteriormente cle rloclo com vistirs ao nrotlo como ele é visado no uso tla palavra. Ntis
expresso, t-oi transpostar para o uso Êlosófico cla palavra oôoin. tontilnlos ir palavra como ull) rJlÍo, no qr.ral u[t contPortamtnto
Esse signifcado _furtdumental tornou a ouoio possível conto ter c.ssorcir.i/ clo hon em em relação ao ente se expressa pârâ o seLl

nto, nào como urn terrno quâlquer, l'nas como o tcrmo quc ticsig- cfilorno constontc e imcdiuto. Nós tomamos a língua como um
na aquilo que tiri buscado, ciiscr.rtido e.já pre contprccntliclo na todo er)quanto ir nranilestação originária clo ente, ern meio ao
questão diretriz do lilosoÍàr propriarr.rcnte dito. qual o hornenr existe, o homem, cuja distinção essencial é exis
tir na linguagem, nessa manifcstação. Foi prccisanrcntc cssa tlis
d) A compreensão velada para si mesma do ser (oúoicr) tinçiio essenciâ] que os grcgos expcrinrcntirrarn c cxprcssilralr
como presentidade constantc. Oúoiu como o buscado como ninguérn antes ou dcpois dclcs. A distinçiio de existir nir
e pré compreendido na questiio diretriz cla ÍilosoÍia linguirgcnr tiri Íixada pelos gregos âté mesmo diretâmente como
o momento de cisir«r da definiçào essencial do homem, na medi-
Mirs podemos colocar, aÍinal, tocla a interpretação c con-
da cnr quc eles tlisseram: ávOpornoç (Qr-iv Àóyov í:Xov, unr ser
cepçao do conceito de ser na íilosoÍia antiga sobre a basc dcssa
vivo que possui linguagem, isto é, que se n.lntém na n.raniÍêsta
mera explicaçáo clo signiÍicaclo cotidiano de oúoia? Niio é unt
prrocedimento violento e artificial, c, alem disso, bastante dxtrln- çtio do ente na linguagerr.r e por nrcio dcla.

72 73
Nossâ interpretâção não nasce de nenhuma constatação ex- Se o ser é compreendido comtl presctrtidatle constante: de
terior de um significado vocabular com bâse cn unl dicionário. onde é que uma ttl compreensão recebe t suo luz clarifitrulttra? llm
Ântes de tuclo, porém, conr o que foi dito até aqui sobre a oôoicr que horizonte moviÍrcnt| se o comprccnsao r/c .seri Antes tle res-
não se expressou a última palavra. Ao contrário, l.tão tivemos se ponclermos express.rmcnte a essa qttestão clecisiva, prccisirnlos
não a preparaçáo para a interpretação do significado filostifico mostr.lr qre em geral e crtno, então, precisamente na filosolia
da palavra. Iissa interpretação não consiste em reunir os signi tâmbem, na meclicla cm clue ela é guiada pela questào Íi Tà óv,
licados, que a palavra teln em diversos lugares dos escritos lilo ser é compreendiclo conto presentidade collstalrtc e concebido ii
sóficos, nas em comprová lo como ternro Ílndamental e como luz dessa comprcensáo. Precisirmos nos satisfazer aqui conl par
termo central para o problema, a hm de trazer à luz-, assim, a cas rcterências a Plâtão e Aristóteles.
problernática n.rais interna da metafísica antiga, na qual é preciso
compreencler a oüoict como palavra designativa do problema a § B. Apresentação do signifcodo Jundamcntal
partir da e na questão diretriz da lilosoíia. Flssa seria naturalnlen velatto de oioio-
(ltresentidade constante) .iLttlto à
te uma questão pâra ulna preleção própria. ínterPretaçao grega de movimento, ser o quc e ser
Fornecemos agora apenars ilcenos, e, em verdade, no colt cJelívamentc real (presença à tista)
texto e nos limites de nosso prtiprio questionan.rento. O aoírs.r-
to e às persPectívos para o problema da liberdade, essa é ir ques- N(is partimos do signilicado cotidiano da palavra ouoi«,
tão: o que e o entc? Em quc meclicla reside no questionamento mais exatamentc da<1uilo a que cla visa enl particular no uso pré
assin.r erigido um caráter dc abordagem? O que e exigido para e extr alinguístico: o enle enquanto casa c corte, no uso íilosófico
a tlecisão dcl problema e colocar eJetívamcnte a questão diretriz' mais amplo tle todo e qualquer ente Presente à vist.r ellquanto
colocar em questão precisântente atluilo que e digno de ques algo presentc à vista. Conr isso, se atcntarmos agtlra, sob o cott-
tionamento! O que é perguntado é o ente cnqual'rto tal - o serl trole clir questâo cliretriz'ir que é o cnte enqu.rnto tal?'l para o
ll como é que se prccisa perguntar sobre isso, para qLre uma ente que vem mais irnediatirnteute.lo Dosso ellcontro, sejam eles
resposta sejâ possível? O que significa ser? A partir do que ele e coisas naturais or.l coisas de uso i\ rtossa volta, c sc Pcrgl-lntarnlos
cornpreendido? F)lc e comprcendiclo na comprecnsão tle ser, e, sobre irquilo neles clue constitttiria a entidar-lc, etrtão essâ questào
em verdade, não primeiramcnte na filosoÍia, nlas, ao contrário, parecc colocacla de maneirir inetluivocit e estar preparada para
a hlosoÍia emerge daquele despertar dir compreensão de ser. ulna respostil. O 1àto, porént, de essa qucstão element.Ir, pl'ccisa-
F,r.n um tal despertar ircontece um exprimir se. Portanto lá, I.to nente porque ela é elementar, ser cla n.raior cliÍicttlclade e sempre
despertar da likrsoÍia, no acolltecimento apropri;rtivo decisivo umn vez lnais não ser suttciententente prepatacla, isto e, elirbora-
da Antiguidade, a compreensão de ser ganha voz. A palavra da, isso é algo que tocla a hist(rria cla lilosoÍia ate hoie mostra.
par a ser é, e, em verdade, iá no discurso cotidiano, oôoict: casa
c corte, presenç4. Nossâ interPretação lnostrou que e corno a a) Ser e movimento. Orlois como nüpolroio do óropávov
compreensao tie ser pré-crtnceitLtal insetídd nesse signtJ)cado ctt- Quanclo nrls perguntantos: o que constitui a entidade em
titliono de oioia dá a enlender a entidLtde do ente cono Prtse - un.ra coisa prescnte à yista
Por exemplo, em uma cadeira?, elt
tidaLle co st|nte. tão perguntamos imediatamente na direçáo: col'l1o apreendemos

71
I

a cadeira, ou mesnto: podenlos efetivâmente apreendê la? Mâs dc tais coisast-oi desconsiclerado de rnodo tenirz. Mas o que tlue-
se nos abstraímos da questão desprovida dc solo e de sentido rcnlos conr isso? O clue conquistâmos cont a rcfcrência ao Íàtcr
sobre se nris só captamos unta inagent psíquica ou a cadeira real de quc a cardeira, colno algo que se encontra ai parado, cstii ent
e efetiva, se nos ntantivermos nâ situação ent que temos diante repouso? Ora, no Íàto de quc ela estii erl repouso, de cluc cla tcnr
tle nós essa coisa presente à vista como trlgo presentc à vista, rnes de làto um "pouso", url pou-sr) contrário (cor.no algo quc sc con
n1o nesse caso não estará tudo preparado parâ perguntarmos o tra;rire),r'r reside o fato de ela cstar enr rnovintento. Ntis acabirntos
que constitui a prcsença à vista cla coisa. Muito se fala, então, na cle lãlar, contudo, tlue ela cstariir em repoLlso; n(rs dirntos a essa
filosofia, indo de um lado para o outro, sobre os ob.jetos c seu ser 'tonstirtação" un1 peso particLrlar. Com ccrteza, rnirs só aquikr ir
obietivo, sem anteriormente prestar um esclarecimento suÍjcien- cujo nroclo cle ser pertence o ser movido podc cstar eln repouso.
te sobre o que se tem, aÍinal, em vista aí, tluando se terr.r diante de O núrnero'c'ir.rco" não est.i, nem nuncil estarii cm repouso. Niro
si, por exemplo, a cadeira presentc à vistâ como presentc à vistâ. porqLrc cle estii constantenrente ent rr()villrcnto, mas çrorque ele
Agora, podernos dizer: isso se transtirrntou hoje. nulcir pode cstirr cm nrovilnento. O que estii em repouso cstii cnr
Mas o que nrais devernos encontrar ainda na cadeira, mais nrovirrento, isÍo é, a mobilídaL/e pertence ao ser dacluilo qtLc re
exatamente, ern seu rnodo de ser, se é que ela se acha ai assim? pousa. O scr do ente cnr questão, cla cacleira rlue se encontrir aí, da
O tàto dc ela possuir quatro pés? Em caso cle necessidacie, ela cacleira presente à yista, não porle, por isso, ser problerratizado,
poderia lictrr com três pés. E se clir tivesse dois pés, ela acabaria sem que aclentrenros no problcrna tla nrobiliclade, isto e, do ser
caindo, ela tambem continuâria sendo uma cadeira prcsente à moviclo. sem aclentrarntos na essência do r)-rovimento. Ao contrli-
vista, s(r que uma tluebrada. Tarnbém há cadeiras de unr úrr.rico rio, orrcle a essência do moyimento é trarstirrnrada crr problentt,
pc. Ou que ela tenha um braço ou não tenha ncnhum, que ela a qucstio sc lnantLllr l.ril mais illediata proximiclatlc da pcrgunta
seja cstoíada ou nâo, baixa ou altâ, ct»lt-oÍtável ou clescontirrtá acerca tkr scr. Ontlc algo e questionado sobre ir essência tlo nto
vel tudo isso pode ser contado por nós. Mas n(is perguntamos yimento, ai o ser prccisir ganhar voz. Ainrla tlue não dc rnancira
sobre unt modo dc ser, quando elà se encontrâ tão simplesmcn e,\pressamentc temática, e preciso que se l.lle sobre o scr.
te enl sua serventia, conto quer que ela venha a ser constituída. É assim que as clrisirs se cncontrtn) enr Aristóteles, ent re
O que importa que ela esteja aí aprumada, ou que ela tenha vira- lação ao qual já l-oi clito, que clc lançou nrão pela pÍimeira vez
do, esteia no châo? Pois bem, ela está parada; ela íica parircla; ela clo problema clo movimento e o lcvou essencialmente a sair do
não anda, portanto, por aí; ela nâo e nenhunr anintal e nenhum lugar. Isso coln certeT-il cie tal modo quc clc, apcsar clisso, nenr
homenr. Náo obstante, não queremos saber u que ela nâo é, mas ctctivanrcntc viu, ncrn concebeu o nexo interno vclado corr-r o
o que ela é, o quc acontece com ela, quando ela se apresenta aí. problema do scr. Mas elc contpreencleu: se o estirr ent nrovinten
Ela está parada. Portanto, cla está em repouso. Ora, essa cons- to ó urna clctcrminação das coisas n.rturais e do entc cm gcral,
tatação não e nenhuma grânde sabedoria. Com certeza não, e, entito a essência clo moyimcnto ncccssita cle uma explicitação.
porém, por toda parte e precisamente lá onde não se pode gritar
de maneira suÍicientemente alta o fato de que tais coisas corno
tttna carlcirir e UmJ mcsa slo cm si e nào mcrJs rcprcscntilçóes l9 Enr alemiio, Gcgc stu d (objcto) signilica literalmente estrclo
contrâposkl. radüzinros ircinra Starrd por pouso apenas pirrr t'nlltltca o
l
em nós, esse elemento óbvio junto ao tào Íàmigerado "ser,enr si" ptralclismo conr -sÍc,lror (estar ern pé,6car parado). (N.'l'.)

76
Iissa cxplicitação Íiri levada a termo por Aristóteles em uma caso, o branco não se torna vermelho, mas, a partir do giz bran-
gralrtle preleçào, que nos foi legada e que se intitulou brevemente co, vem a ser um vermelho; não simples um róôs yiyveoeot
conro iTslca. Essa pirlavra, porem, não pocle ser equiparacla com (Íóôs) dÀÀd rcri àrc toôôeir'...,r']náo foi, por exemplo, a partir
o conceito moderno da "fÍsica"i e isso nào porque a llsica cle Aris do giz que um giz vermelho surgiu. Na yÉveorq êr rlvoÇ siÇ
tóteles é Ievâdâ â terr.r.ro de m;rneira por clemais priÍnitiva e nres ÍL,ri nós temos três momentos, que pertencem à possibilitaçáo
rro sem unr.l nratenrática mais elevacla ou senr uma rnatemiitica, interna: únopêvov, aquilo que se mantém em meio à mudança
mâs porque ela não é efetivirmente ciência natuÍal, rr.ras frlosolia, - sob ela por assim dizer -, que subjaz. Esse algo, porém, o giz,
conhecimcnto hlosrifico dos Súoer óvtcr, das coisas presentes à de acordo com â contagem uma única coisâ, possui segundo o
vista cnquanto prcsentes à vistir. A tisica aristotelica náo apenas seu aspecto um duplo eiôoq: em seu aspecto reside em primei
nâo é rnais prinitiva do clue a moclerna, nras ela é antes o seu ro lugar o ser giz, para o qual não pertence necessariamente
pressuposto necessário, rnaterial e historicamente. o ser branco, e, em segundo lugar, esse ser branco mesmo. As
A explicitaçaro tem.itica clo movimento é levacla ir ternro duas coisas não coincidem e as duas precisam ser diversas, se
nos livros III, V e VIII cla Fi-slcc. C) prinreiro livro Íirrnece unra é que uma mudança deve ser possível, uma mudança que, en-
introdução. Aristóteles mostr.r a neccssídade interna rlo pro quânto transição, sempre passa para algo que desde o ponto de
blema d<t movinlento, na mcdidir cm quc comprova como o partida é divcrso e que, de algum modo, precisa se encontrar
qucstionilmcnto dcrradciro e prirreiro de toda a filosofia anti- em contraposição, algo que o transiente náo é antes da tran
ga antes dcle aponta para essc problcma não f<rrmulaclo. Nesse sição: orápr1orç (privação). Assin, pertence a uma ]áv€orç
contexto, ele discute ao mesmo telnpo as dificuldades, dian- no sentido pleno esses três elementos: 1. ónopávov,2. Éiôoq,
te das quais unl.r novâ tentâtivâ cle explicitâr o problema clo 3. orÉp4orç. Pois xcri ôí1Àóv óotrv ótr ôei ónorceio0oL rr
movimento se vê de saida colocada. Nesse caso, ganham voz toiç àvuvtioLç rcri tdvcrvticr ôúo ávut'}a." Portanto, três
algumas coisas sobre o próprio movimento e a essência do rlo riplai: únotrrávov e oposiçáo, porque seus dois membros sào
vimento é problen.ratizacla.r" Pergunta se sobre aquilo a parllr concomitantemente contados, na medida em que por oposi-
do qtre un movimcnto cnquanto tal ó internalrcnte possívcl. ção está concomitantemente concebida a duplicidade dos elos
Isso, a partir do quc se detcrrninir a possibilidade intcrna dc da oposiçáo. É preciso no mínimo que essâs três (duas) dploi
uma coisa, significa para Arist(itclcs ripp], principio. O cará' sejam dadas para a possibilidade do movimento; não precisa
ter lundamental do movimento é perupo)"rj, nrudança. Esse
termo designâ a mudança de - para. Por exemplo, se esse giz
se torna (yÉveorç) por alguma razáo vermelho, então podemos
3l llm grego no original: não apenas "este aqui torna se este aqui,
mas tambérn a partir deste aqui'i (N. T.)
tornar esse processo de duas rnâneiras: por um lado, como Ír.l-
32 Op. cit., I7, 190a6.
dança do giz "de cor branca" para a colorirção vennclha, ou, por
33 llnr grelio no original: "o vit a scr a partir cle algo em direção a
outro lado, porén, como o tornar sc vcrmclho tlo giz. Ncssc algo'l (N. T.)
34 Em grego no original: "e está claro que é necessário que algo seja
30 CÍ. enl particular Aristóteles, Pà)§ica (Prantl.). Leipzig (Teubner) subjacente aos contrários c que os opostos sejam dois'l (N. T.)
18,79 1, t-. 35 Op. cit., 17, I91a4eseg.
haver mais. Tpónov ôá Írvo áÀ)"ov r-rtx rivnlrcriovn6.tt De inrutável em meio ao significado tle au-sência c pre scntidacle,
r.rma certa maneira cliversa, a triplicidade dos princípios náo é não presença e presença.
necessária para a possibilidade da pstupoÀrj. lravôv ydp áotar
tô átepov rôv Àvnvtirov rortiv ri tinouoiqr rtxi nupouoig., (rrxp)oúoicr
pois pode ser suficiente para a possibilidade cle uma mudança,
que um dos dois que se encontram contrapostos, isto é, rircouoi 7rüpouoio àt
o ou Ítüpo!Õio constituam a mudança.
lssa passagcm e signilicativa para ntis em muitos aspectos se A rcrpouoia express.lmente yisaclir, enunciirda c cstirlrcieci-
gundo toclo o seu contexto. L)e saída, há duas construçôes linguis- cla coirtra a tirouoíc é apenas com trase na TropolJoio( originiiriir.

ticas a partir tia palavra já conhecida oüin. Essas construçóes são Oor.no e que isso e possivel e o que significa, e algo qr.rc pcrmanccc
características. Elas dão expressáo a clois significaclos cle ouoic: au- Lrnr problenra; e, erl verclircie, não apenas unr problcnra litcrário
sência e pre sentidacle. F.las apontam de maneira inequívoca para calirclcrístico da intcrprctação cle conceitos lintclantentais altti
o Íàto de que se lrír la no c<tnceilo de oia\a do que está presente e do taos, lr)ils ur)r problcura Íindarrcntiri, puranrenLe ntâteriâ1.
que fiao está prese,rlc. Ao mesmo tcmpo, poÍérn, tanrbérr.r se pocle Antes dc ros clisporrnos a nos irproxir-nar desse problenta,
dizcr agora: sc tinouo'to rupouoiu significarn respectivamcntc é ilrport.rntc irtentar paru o que nos diz, alóm disso, a passagerl
ausência c prescntidade, entio a ortoic significa meramente essen citada no que concenre ii taref-u tle interpretirção c1o tcrrno Íilo
cialidade, algo que paira sobre as duas, que niio é nent umâr nem a sólico lurrclanrental ouo'ttx. O Í:lto de a intcrprctirçào c n)csrno
outra. Ela não significa, como n(rs afirÍnânlos, prdJ.rÍií.ladc. () gre- jii a descrição cla pretcxBoÀr] estirrern orientadirs pelir ausência c
!!o expressa essa presentidacle por meio clo termo nupouoiü. Essa pcla prcscnticladc c, cnr vcrclade, de cerla ntiuteira jii ent Pla
objeção Ítrrmalmente linguislica parece ser irrefutável. I)e fato, ela tiio, pois lii cr)cor)trarnos: passagcnr do nào ser ào ser e llcc-yer
não pode e não tenr o direito de ser reÍutada de nraneira t-orrlal i.r vcr esse fnto é algo quc possui urna cnornte antplitucle. A
mente linguística, ela não pode e não tem o direito de ser reÍutacla alterirção dir coloração, por cxcrnplo, e concebida cot.r.ro dc-sa-
por mcio dc um recurso ao que é rri-sado riireta e expressanlente no porccimellto de unta e o yir à totut tlir outra: pcrmancccr c r)ão
uso linguistico, porquc a tese de que a oüia seria etluivalente à pernrilnecer Caso nito se fale simplesnentc dc unra irltclação
presentidatle constante não se reporta àtluilo que é visado clireta e (muclança), mas do prrocesso rlue denominamos uo scntido rnais
expressamente no uso linguístico coticliano. estreito "vir a ser" o giz branco ven-r lr ser vermelho , ircon
O que é visado conr o signiÊcado funclamental alirmado lc.c .ri .'rsrr lrrrrrslirrnrir,.'rrrr rlc irrrpcrrtr.rrterttiJ IJr.l lrcntlJ c
por nós e o moclo conro ele é visado, é algo que deverá ser expli- cia, rlc tal urodo c1uc, sob csse processo irincla: únó, trlgo pcrnut
citado nrais tarde. Ntís insistimos agora sinrplesnrente no seguir.r- rrccc, pévov. A iúerPrctaçio dt cssirrcia dtt mttyirncnlo acuttcct,
tc: a oüoio tem um signilicirclo tirl, quc ela c em certo scntido int(irtlnütlr (Dttl(lüutitrd\\\' tlo l rl únt, rr,' /rÍir, l( rrl,r/rL\i r.
do lttrmonccer oí c do ltermarrecer de Jitru.
Se aterltàrmos, então, para o t-ato de quc vir r ser c surgir rro
-)6 F)r grego no original: "Mas clc um outro nroclo, cles não são ne
cessários'l (N. 'l'.) llnclo signilicam: ganhar o seq chegirr a ser rle tal c tirl rlorlo, para
Op. cit., I 7, t9la 5 cscg. o fato cle que o.scr outro diz respeito .i alteraçiro, à mudança, entio

It0 8l
salta aos olhos o nexo entre ser e pernanecer, assim corno suas isso, suas questóes e rcspostâs sio etnpurradas dc um lado pirra
modulações. Pennanecer significa: reter a presentidade constânte; o outro ap.rrenterlente de maneira desorcletrada. Por unt lildo,
entidade, oüoio, é con.rpreendida cono presentidade constante. encontrilmos a tão 1àmigerircla obvicdacle do ser compreenclido
A questão, porém, é que jii vimos cle qualquer modo o se na conrpreensão de ser; por outro lado, bcm ao laclo clcssa obyie-
guinte: o tlue atribuírnos à oüoia só é expresso tle qualquer ma clacle, a incornpreensibilirlade daquilo quc está emjogo na pre-
ncira propriamente na rctpotoict: nopá, esse termo tarrbém ex sentidade, o n.roclo como o ser pro;rriamente dito do ente deve
pressa o "junto al o "âi'] o estar na série, imediatamente presente poder ser compreendido a partir dâ1.
à vistâ. Esses sao naturalmente aqueles momentos significativos, Por isso, gostaria de introduzir um e,remplo ntuito ilrpres
que sáo visaclos precisarnente, quando o grego compreende oüoi sionirnte, oriurdo dc urn dihlogo platônico, d,o l:ulidemo. Prcci
cr no significado vrlgar. Assinr, impr-re se a tese: orloin signili- samos naturalmentc abdicar de dcscrever aqui a situação do diii
câ propriirmente quer de maneira acentuada ou náo - sempre krgo, o entrelaçamento de dois diálogos, assim colno o seu curso,
,ropo1)oio{,; e somente porque a oüoicr signiÊca algo desse gêne o seu conteírclo e a sLrâ intenção. A passagcm, que está a principio
ro, <inotoi« pode expressar: o "estar de fora' e a Íàlta, a saber, em questiio, pocle ser extraitla cle maneira rclativamentc simples
da prescntidade. Ausência nao e a fãlta de essencialidadc, mas a e considernda por si.
tàlta de presentidacle; e, irssinr,'tssencialidade'l oôoitr., signifi ca Sócrates contir a Criton un.r diálogo sofístico filostúànte, r.ro
no ftrndo prcsenlídade. Os gregos compreenderanr entidaele no qual tonraram partc I)ionisodoro, Ilutidento, Cleinias e Ktesipos.
s,tttiJtI lL' PrcsL nlida,k tottsltntt. Na passagem, que cxtrairernos agorars, Sócrates faz unt relato de
si como participirnte no diálogo que é narrado por ele: "E disse,
b) Ser e quididade. Ouoict como ropoloict do úôoç por que tu estás rindo, Cleinias, cle coisas tão serias c belas?"
Seria naturalmente um grancle erro, se estivésserros dispos l)ionisodoro leva, entâo, Sócrates ao pé da letra e pcrguntâ a
tos a achar tlue tudo estaria esclareciclo por meio dai. N<is nos ele, de acordo com o relato t1e Sócrates: "'l u, Sócrates, tu já viste
irfastariamos colnpletanrente da concepção c da intcrpretação algum dia urna coisa bela?" "Com certeza'l disse eu (Sócrates),
"c, cm verclade, muitas, cle ntuitos tipos, nteu caro l)ionisocloro'l
corretas da compreensio dc scr antiga, se estivessemos dispos-
tos a desconsiderar o firto de que pertence ao modo de ser dessa l)ionisocloro: "Será que essas (as rnuitas coisas belas) são algo
compreensão de ser a luta constante para trazê-la a umâ primeirâ cliverso do belo (nresnro) ou Íbnlam unta unidade com o bclo?"
cltrrcza, assirn como para clariÍicar o que ela signiíica e conro é S(rcrates: "Por rneio dessa questào fui coiocado cn um estado
possívcl que ser deva signiÍicar aquilo que precisa ser justameÍ]te de complcta perplexidatle, não encontrei nenhuma saícla (únô
compreendido por assim dizer de nraneira óbvia e totalnrcntc rizopinç) e precisei dizer a mim mesnro que isso era bem Íêito
inconcebida por ele: presentidade const.rnte, preser.rtidadc em para minr, por ter me comportado de mirneira ârrogante. Não
geral, oóoi«; de f'ornra ir.rtensiÍicada: Ícrpoloiü. obstante, porénil disse eu em rclação à questão, "as coisas belas
Esse significado quase natural de ser, que nris formulamos particulares são algo diverso do próprio bekr. Contudo, em cirda
âgora expressirmentc como prescnticlade, torna-se de saída táo uma delas está prcsente algo assim (como) a beleza'l
problemático para os grcgos, que eles nem mesmo encontrâm
ondc reside no fundo o caráter problemático do problen.ra. Por Platao,Erilirlorro (Stephanus), 300c 301a.

82 It.l
Acltri chama nos a atcnçiio, p(,rtânto, ent rneio à rcsprosta c clc nr;rneira alguma tio tibvio o que se tent cr).I vista com essir
dccisir.a de SócÍ.rtes, ir palavra que para nós é irr.rportante zá ,tüpoloio, com a enticladc dc urn enle, de untir coisa que e. lj,,
psorlv, fiopúvot, Íropouoi; e, em verclade, ela sc coloca cort- se não e óbvio, entào o problcnta precisâ ser colocaclo e leyado
plet.rmentc por si mc'snta. Pois o cltre estii cÍ-etivitmente enl (lues iI termo.
tão aí? C) cluc scriam as coisas belas. O quc scriam as coisas ücla.s, Ntis dcduzir.nos ao mesmo tcnrpo dessa e de outrirs passl,
por exenplo, nio ern sua diÍerença ilntc as coisas feias, ou seja, gens o f-ato tlc quc rneslno ai, e precisal)tetrte aí, onde sc faia clcr
colr.ro seria preciso compreencier o.ser ách desstrs coisas belirs l.rttto ser irssim c cla pura <luiclidadc, não, por exemplo, tle seu
particulares. A tocla e qualqucr coisa bela enquanto beia cirbc o surgiÍnento e perecilreuto, cle seu tlespontirr c de seu desal,a
scr belo (ir beleza). Mas conro? Sc as coisas belas Í-orcnt divcrsas rcccr, fàz se usu cia palavra acentuacla noapouoiü. flapouoio
clo ser belo, então elirs rncsnrirs não siio belas. Ola, r-nas se o screll não é unr lermo orientado lleccssari.lntente pcla tinotoiu conro
bclas clas nlr.lit.rs coisas firr ir mcsrrra coisa tlue ele, então cttmtr conccito oposto, neill tallpoLtco é urn termo inserido ent ttris
é que poclc havcr uruitas coisas [relas? A rcsposta tle Sócrates, contextos. Ao contriirio, a lopouoi« ct)colttrir-se sill]plcsrner'tte
isto é, a reÍerôncia de Platrrc ao problcmir c suir soluçiitt, aÍirntir conto uDr tcrn)o pllÍal oUoia e c unra cLrnhagent rliris clara c t
cluas coisirs: L As coisas belas sao algo clivcrso da beleza. 2. Nào significado dc oloio. Isso se ntostra just.lntente no fàto cle clrre
obstiulte, essa, a belcza, est.i prcscnte ent cada utttil ciclas. Ilssa precisanrente lá ondc a ouoiu clo óv se torna unr problema, por
prcscntidacle constitui o .scr belo das coisas particulirrcs. (irtu cxcnrplo, o ser belo das coisas belas, f-nla sc irí de nraneira conr
isso, o problema e resoh,ido? [)c maneira algunra. F)le é apcnas fiopoloio.
pletamente inre(liata crr
firrnulatlo e expÍesso, Irir nrctlitla em que se l-irla cxplicitanrente No entanto, seria lcviano e superlicial, se quiséssentos
tlo "ser" clo cntc bclo, e, em verclttcle, no scntido da cotnpreen- simplesmcnte [on]âr a nossil tcsc dc que oüoio, scr, signiÍica
stro cle ser, scguntlo ir rlual ser signiÍica prescntidode. Apesar cle o rnesn)o quc presenticlatle const.utte, corno chirve, quc atrriria
tudo isso: cssa "prc-serrtirlar/e" é cot.npletarncnte obscurtt e leva sirttplesnrcntc todas as portas como sc firsse simpleslt)ct)te sLl-
a inconrprccnsires, e, cie maneira correspondcnte, a resposta cle liciente inscrir por assim clizer o signilicado "presentidirdc cons
Sticratcs para os pârticipantcs do diálogo tambént nao é clc nra tante" por toda partc enr que viesseru à to[a cxpressites e tern)os,
tt( ir.l .lls,uulir i.'{'rt][)r(( r']\r\( l c plllttttrcl. E i\\r' (ltrc rlr)\ lll(,\lrJ r] que ciissessem respeito iro scr.
ruroclo cono, entao, I)iorrisocloro oÍcrece unra réplica à rcsposta
cle S(rcrates. Sc o scr bclo dc uma coisir bela cleve residir na pre c) Ser e substância
scnç.r (lil h(l(,,/.r. ( nl;l(r rc\ultir rl.ti o s,.gttirtlc: \c Ir(I0ftYiVfrül O prosseguimento do desenvolvinrento do problema
oot... "se algo chcga.l estilr âo teu laclo, ele cstii cotupletamente do ser sob a figura do problema cia substância
presente junto ir ti se esse algo lbr un] [ouro, cntão tu serits utt] Substancialidade e presentidade constante
touro? [] tu, Sticrates, será I)ionisotloro, porque eu, I)iottisodoro, Apesar tlisso, conquistoLl se urr poltto tlirctriz clecisivo parir
mc cncontro agor.r.ro leu lado (rripertrl)?" A tese cle Sticratcs a illterprel.rção a ser lcvatla a ternto da lilosolia antiga; e niio
dc rluc o ser belo em geral, o scr dc tal notio e a quidiclaclc dc apcnas para essa interprctirçao, Ílt.ls pâril o curso clo ciesenvol
um ente particular, consistiria cnr unra presenticlacle, cotxluz a vimento cle tocla a ntetaÍlsica ociclental ate Hcgel, isto e, para ir
Llnl evidente dispirrate. Platiio quer moslrar, coln isso, tlue nito contiolrtação lilosólica com ela. (lo1r certeza, entâ o, a concepçào

84 It5
I

tradicionul e a Jórrnaçiio ulterior do problerna do ser clesde a An tância reside do nresmo modo o significado originário de oüoicr
tiguidade Íbram domhadas pekr tàto de a oloio ser compre qua nüpo!oi0.
endicla conro substância, tnelhor. como substonciqlidade: subs 4) Enr tudo isso pernranece obsclrro o que deve signiíicar
tância é o que há cle propri.rmente sendo em um ente. Não Íiri aclui e que no fundo signiÍica or-roin no sentido de rd,poooícr.
por ncnhurn acaso que o problema clo ser assurniu a figura do Nossa tese de que ser significa presentidade constante pode
problcma da substilncia e, assim,.rtraiu loclas âs outras questóes ser comprovada a partir da própria problemática, tanto mais
para essa dircção. l,i[n Platào e Aristóteles nlesmo encontram- porquanto não temos cm vista efetivamente cont a tese o Íàto de
se os impulsos iniciais para tanto. Isso nao pode ser ntostrado que os grcgos teriam reconhecido expressaÍnente essa contpre-
agora. Em contrâpârtida, não podemos deixar de oferecer uma erlsão de scr enquanto tal e a transformaclo expressamente enr
indicação de em que direçào precisamos destravar o problemit problenra. L)izemos apenas que o seu questionirmento acerca clo
cristalizaclo cla substância. ente girava no interior cio horizonte dessa compreensão de scr.
Substantia: id quod substat, o que se encontra sutrjacentc: [.)l uma passagent decisiva, porént, a nossa tese fracassa
únóotootq. Iisse ónó já veio ao nosso encontro na interpretação manifestamente. PrccisaÍnente no momento em que visualiza
aristotélica do nrovimento: coÍr.lo o primeiro momento estrutu mos aquele conceito de ser que desempenha um papel excep-
ral mostrou-se c, ónopêvov' aquilo que permanece em meio.\ cional no uso habitual da palavra ser. Ou seja: ser tonrado em
mudança clas propriedacles, ou seja, o que se rnantént o ntesnto sua diferença ent relâção ao nâo-ser de acordo conr aqucle: ser
.junto â umâ âlteração dessas propricdades e, assirr, em meio à ou não ser, essa é a questão. Ser signiÊca estar presente à vist.t,
transltrrmaçáo da coisa, atluilo que, como mantido, permanece existentia. Por exemplo, a terra é, Deus é, existe ou e efetiva
por assim clizer Íixo: rúoectr. Por isso, reside no conteúdct mais nente. Ser ctxn o signiÍicado de realidade c/eÍlla. Em verdade,
interno do conceito de suhslôtrcia o coráter do que permanece e é vinros que esse signilicado de ser é apela.s urr deles, um quc
mantidct, isto é, a Presentídadc constante. pertence à articulação inicial origi[riiria do conceito de ser na
compreensaro de ser cotidiana. Portanto,.já seria um equívoco
d) Ser e realidade efetiva (presença à vista) fundamcntal em relação ao problema do ser, se quiséssemos
O nexo estrutural interno de oóoiü conro ropolo.in colocá lo apenas ou preponrlerantementc col.no o problcma da
com àvôpyern e actualitas re.tliJJdc ulttiv:t. APe5;r di\so. precisarrrcntc no (luc (oncer-
Se resunrirmos agora o que foi dito até aqui sobre o concci ne tambem ii Antiguiclacle, nâo podernos saltar pela pergunta:
to dc seÍ erntigo (oúoio), então resultâm daí três coisas: rcside tambem no conceito da "rcalidade efetiva" existência
I ) A intcrpretação do nrovimento como um caráter funda no sentido tradicional em Kant, por exentplo o significado
mental do ente estii oÍientada pela drouoitt e fictpoloío, pcla frrndamental de oóoitr: presentidade constânte? li se a resposta
ausência e pela presença: lbr afirmativa, de que maneira? Mostra se aqui imediatamente
2) A tentâtiva de clarificar o scr o que do ente, por exer.n- tlue ntis não conseguinros dar um passo adiante com uma ntera
plo, a quididade das coisas que são bclas enquarnto tirl, está orien explicação vocabulâr de rcaiidade efetiva e de efetuação. Com
tada pela ncrpouoia. certeza não, enquanto permanecermos no plano de explicita
l) Na concepção tradicional da oüois no sentido da subs çôes linguísticas.

B6 87
Se perguntarmos, porém, sobre o conteúclo de problcrnil da essência clo movinlenlo enquânto tal, se valha precisamente das
palavra "rcalidirde efêtiva'] entào precisaremos pcrguntar de voltir expressões e conceitos àvápyer« e ôóvaptrç; e, erl verclade, cle
sobrc o terrlo filosófico, ao qual a palavra corrcspotrdc. 'liata-se tal moclo que, clito de nraneira rudinrentar, e atribuido i\quilo,
tla trirdução do ternro latino actuâlitas crls in actlr: esse é unr que de saída é ca1Íatlo por nrcio da ncrpoloicx, a car.rcteristica
ellte, na medicla ern quc clc sc cncontra cfetivan]ellte presente à corro àvêpyetcr.
vista; clilêrentementc do cus ratione, do ens in potentia, do enle, nir
nedida em rlue ele é unrir mcra possibilidade.,r\ctualitas, contudo, MercrpoÀÍ1
e a trâduçilo latina do termo grego ivôp1t:ro. A palavra cstran
,/
geira "energiii no sentido de lbrça, não leÍn, portirnto, nirda enl droroio r(xpo!oio(
ôóvo1.rLq €vÊpY€r(I
cor.num conr isso. Sobreturlo enquan[o exprcss.io filostihca para
cxistência, reirliclade elêtiva, estar prescntc à vista, àvép"Ítl0( signi'
Íica em Aristóteles trrclo nrcnos/àrça. Aprecnder a àvÉpyercr assinr
Aquilo clue hoje nris e a grirnde tratliçiio fikrsrifica dcsde hii
revela uma conrpreer)sio do corccito tão extrínseca e problerlá
nruito, sobretuckr também Kant, assim repercutin)os como rcali
dade ef-ctiva e possibilidade, diz respeito a estes conceitos funclir
tica quanto a àrgurucntaçiio citarla tlc l)ionisocloro enr relação i\
Íüpouoitx. àvêpyetrx óv visa ao ente erl sua realiclirclc clitiva, di nrentais que surgiram pela primeira vez em Arist(iteles a partir
clo probJema do nrovimento. Como isso acontece e enr que nre-
lererrtenrcntc do ô!váFsl óv, do que é seguttclo ir possibilidadc, o
possívcl, mas justar)rente por isso não eÍêtivantcntc rcal. clicla, por rreio daí, pode ser cornprovado o rrexo entre ôvápyeru
(iouro é com;rreencliclo, então, esse cirriitcr dc scr clc unr e rro(pouoto, seria agora por clemais abrlngente e cliflcil de se
cnte, a realiiiade eli-tiva clo eÍêtivanrt'ntc rcal? O que signitica àvá
mostrar Escolho, por isso, ur.na via nr.ris curtir para a clariÍicaçao
pyttcl, conrpreenciida a partir clo conteúdo do problenra, nao r ckr ncxo cntrc o scntido lilostifico e pre frlosrifrco clc rcalitladc
cf-etiva c a corlpreensio tle ser como "prcsenticlaclc corstirntc".
grartir do clicior.riirio? Fissa comprccrrsiio cle ser também se nro
vinlentâ n.l ciireçào daquilo r-1uc irlirmamos enr geral sobre o scr, Na palavrir àvÉpyera temos a presença dc: êpyov a
na direção tlo t-irto de tlue ele signiÍica: presentidaclc constantc? O
obra. Êv ipyov, em obra, signiÍica m.ris exât.rmente: manter-
se no caraiter cle obra. O caráter cle obra cla obra e a essência ila
que i:vêpyeto tenl em conlLun coln presenticlirtlc coustante? l)e
a

lakr, não há conro perceber isso, enquanto tràcl irclctrtrarmos nir obra. Enr rlue é que os gregos veenr o caráter cie obra da obra?
problcmática clo ser que é caracteristicir da Antiguidade (Platão C) morrento clo pronto, clo estar pronto, resicle naquilo ilue
c Arist(')teles).
os grcgos c, sobrctudo, Arist(itclcs vccnr na obrir corno o seLl
No entânto, já vir.rros como Arist(iteles clesenvolve o pro clcmcnto distinto. "' Portirnto, nào o fàto dc que a obra e cÍ-ctua
trlema do ser a partir do problcnra do movinrento, ton.tirnclo o dir c procluzidir a pirrtir tlc algo por a(udrr. llrnbénr não o fàto
n'rovinlento conro psÍüpo)"ú, cort.to tttuclartçn. Em utna tnudiru dc que cla é cfctuacla com vistus a a(o, colrr ttnt tleterminado
ça e err) ulna alteração, enc(»rtranlos o clesaparecintento dc'algo
ltropósito. lsso é, em veftiirde, visto concomitante mente junto à
e o surgimcnto de algo diverso: dnouoiu c fiüpouoioa. ll, er-
tào, trata sc clc um tato e,\trenramente estilnulirntc quc Aristti- .re Cf. Aristórclcs, Mcrry'isica (.) 8, 105021: Íà yàp apyov táÀoç (pois
ir obra é ir suir linirlidadc), c O I , 1045b3,1: óv... rarà tà êpyov (entc...
tcles, lír onile ele penetra na profunclitladc propriunrenle clita cla scgundo ir obra).

l.ltt
essênciâ dâ obra, juntanlente com o seu caráter de obra, mas não nanual decente, que se atribui prirneirâmente a Platão e Aristó
como o momento essencial decisivo. O caráter de obra da obra teles algo por clemais inlàntil e que, em seguida, coÍ)t tudo isso,
reside em set] estar pronto. E o que isso signilica? Estar pronto apenas sc repete ate o convencintento há séculos aquilo que,
é o mesmo que ter sialo produziclo. E, nesse caso, uma vez miris logo depois da queda cla Íilosolia tla altura cle um Platau e de unr
não de tal modo que ela teria precisaclo ser produzida, ao inves Aristóteles, se ergucu nas escolas c junto aos compiladores. F,sse
dc ter crescido por si mesma. Ao contrário, a compreensão está modo cle Íàzer história cia filosofia dei se exatamentc do ntes-
voltada para o contcírdo interno do ter siclo produzido, pârâ o nro moclo <1ue quando se procura criar a nossa interpretação de
pró - sempre e a cada vez um scr trazido para cá e para lá e, Kant, por exenlplo, a partir daquilo que um jornalista escreveu
enquânto lal. enco trdr-sc desde entoo aí presente.'l'cr sido pro em l924 para o .jul.rileu de Kant.
duzido visa, com isso, ao car áter do que sc encontrtr aí presente e Corno é que as coisas se enconlram, porérn, no que tliz
àvápyeLcr. âo nlanter-se no ter sido produzido e no encoÍrtrar se respeito.r essa realizaçiio eÍ-etiva cla lbrma na rratéria, por meio
aí presente. da qual a realidade efetiva cla coisa deve ser visada? De início,
Vemos agora simplesrnente como o nlomento decisiyo vem rrão há ai nenhuma clariíicação da essértcio do rcalidade eJbtivu,
à tona de maneira reluzente: a presentidâde do tlue está pronto enquânlo niio sc tivcr dito anteriorltente o que deve signiÍicar
colno um tal. A pirrtir daí, prccisamos buscar o cantinho para raolízaçt7o eJatívo. Alén disso, náo há ncnhuma interpretaçao
â interpretâção filosrilicir corrcta e propriamente dita daquela clo conceito antigo de rcaliclade elêtiva, enquanto naro se tivcr
peça doutrinária cla teoria aristotélica do ser do ente, que mais mostrado que os gregos compreencliarl a realidilde elêtiyâ a par
esteve expostâ a uma fàlsa interpretação c a uma desÍiguração, e, tir do erto cla realizaçào efetivaj o que justirmcnte não é o caso.
consequentemente, que se clesviou muito do problerna propria Sobretudo, porém: essas explicitaçÕes s[cessivas sobre Íorma e
mente clito. Trata se da doutrina da ó)"r1 e do eiôoç, dc matéria matéria trilnscorrem e se propaganr, serr jantais se apropriar da
e Íigura. Na concepçào vulgar e com frequência enr apirrentc ar l.rosiçào de visrio c nenl trresmo perguntar sobre ela, sobre aquela
ticulação justiÍicada com o leor das proposiçóes aristotélicas, ir posição no intcrior da qual etôoq c úÀ1 são visados e são Ievados
realidatle eÍêtiva de una coisn consiste na reâlização efetiyâ de cm cont.l pâra a clarilicação dir realidade efctiva do efetivamente
suâ forma, eiôoç, n" nrateria. A Íbrnra da cacleira, que o artíÍice rcerl. Nào se trâta de unla tr.rnsplântaçâo e de unt assentamcnto
precisa anteriorrlente reprcsentar cm seu espírito, eiôoç, iôÉcr, da Íirrnra na nlateria, ncr)r tampouco da qucstão acerca clo pro
e reâlizacla efetivamente na matéria, por exemplo, a rnadeira. ce-s-so da procluçiro clo ente, rnas antes da questão acerca daquil<r

E as pessoas Íicam, entâo, nlatutando quanto a isso ou se dcparan.r que se cncontra no ter sido protluzido de unt produto enquanto
conl a tentalivâ cle saber como un.ra tal forma "espiritual" tleve tal. A qucstão acinta citâda diz: como é que cleve ser caracteriza-
tolr'r.lr.l su.r nlor.lcia em uma matéria prima. Aintla sc cxtrai, cr.r c1,:» o caráter de olta cla obra prescnte à vista enquanto tal, se, no
tão, dc Aristótcles uma prova particular cle que ele conseguiu, enr caráter cla obra, se auuncia o ser do ente cm questão? A resposta
contraposição a Platao, resgatar ideia, lirrma e Íigura, que aquele é: no ter sido produzido enquâitto tal el)colttra-se o emergir e o
tinha enraizado no cspaço suprassensível, nâ nratériâ e nas prti- aparecer do aspecto da coisa ent questão. Á ou6itr, o d-srdr pre
prias coisas. Não se nota nessa interpretaçáo corrente da Êloso- sente à vísta do ente conto algo eJbtivdme te presenle à rista, reside
íia aristdelicâ, <1ue os senhores potlem cncontrar err qualquer

90 9l
eJéliva sígntJtca tcr sido prctduzido, tttcctnlrur se tí prestnte lto sen to Íilosr'rÊco àvépyerrx con.r a ouoicr enquanto rrupouoio-. Corn
liLlo da prescrttídodc do aspecto.t" isso, contluistamt)s ao meslr]o lenlpo un)ir visão luminosa para
Sc l(arrl diz mais tarde que nós não conhecen.tos o ctlte à conlpreensão clo conccito flndarnental tla doutrina prlatônicir
coluo coisa ent si, isto é, visto ettt unta intuição absolulir, mils sitr do ser: iôêcr ou iiôoç. A forrlulirçlto conceitual da r-loutrina pla-
coDO lenômeno, cnti.Ío ele não tenl el]l vistâ o Íitto dc qtrc nr'rs só tôr'rica do ser conro 'tloutrinir rlas ideias" e ltaturirllncnte uma
apreenclemos unra reitliclacle efctiva apirrente ou umir rcalitlacle ÍàlsiÍicação, na n:edicla em quc csse conceito é tomado c1e ntoclo
efetivrr parcial c dil.I)ir]uta do ente. Ao contrário, se o entc ntesnlo, puramcnte doxográíico. Ser signiÍica para Platiio scr o que.
o ente prcscnte à vista, é tonrirdo como lênÔntcno, então isso nâct O que algo c sc mostra ent seu "irspc'cto". Flsse aspecto e aquilo
signilica outra coisa scniio: a realiclacle ef-etiva tlo etêtivamentc em que sc prcscntificir o ente em qucstão, o íitc c-sÍri lrre-se/lfe. No
real reside em seu cariitcr enquanto aparição. Aparecer significir aspeckr da coisir rcside a sud presentídade (ser).
vir ii apare!ncia, presenticlade do aspecto, da plena cleterntirração O tàto dc a obrl eln seu caráter dc obra e em seu ter sido
tlctcrminante c1o crte meslllo que sc t)tostra. KanI l'llovill)enta-se procluziclo enquonto tal scja ela pensadir corlo obra do arte-
totallrente na nrcsola compreensiio tlc scr que a Íilosofia antiga. são, seja como obra de artc propriar.nente dita tcr contribuÍdo
O tato cle o nexo originário entre o conceilo cle apariçilo c o pro- cssencialnrente pirra a purifrcaçao e para a reconfigurirção pr()-
[:rlenra do scr ratlicalnrente conccbido ter precisaclo PCrrnanecer prianlcnle clita clo conceito de scr antigo pode e prccisa rresrrro
velaclo não c slia culpa. No cnt.ulto, se corttinuanlos tal:rrtdo stl ser clarihcado a partir de posiçôcs Ílnciantentâis da cxistência
bre Kant c rlualquet outro da tniureira usual sem problemas, trtis grcga irr)tigir. Essas posiça)es ntostrant a conquista c o arrancar
nos [ornarcn os cLllpados c passirremos a íazer partc ciatlueles se das coisas e Íiguras a partir do c em rneio ito caráter terrivcl cla
res clcgcncraclos, quc dcixau o espirito da histriria ser triturado existência. lllirs dcsmascaranl â rnentiril enr rclação à serenitla
por scu prirprio cariitcr deplorável. cle tia existêlcia antiga. É preciso atentar parlicularmente parir
L)e mâneirâ sintética, pocleriantos clizer: o cttnceito irris- o litto de tlue'a rê1v1 é desde berl ceclo o tcrnto para todo o
totelico de realidade cfctiva tlo eíêtivarrcnte real e, conr rnirior corlhecimento, pilra o tornar manilêsto o pr<lprio ente. A tá1vq
raziro aincla, o conceito posteÍior determinado a partir dai cle nào clesigna nem ir "tecnicii' coÍr'lo âtividade práricÍ1, nent estii
actualitâs (realidade e1êtiva), o coltccito de àvápyetn, nào mos- ela nesnra trpenas restrita rie saícla ao sâber,filzcr artesanâI. Ao
trir nacla de sirítia sobre a orientaçào tundamental afirmada por contr.irio, el.I tenr enl vista tudo como pnrdlrçrio no scntido rnais
n(rs cla corrprecnsiio cle ser antigit conl vistas à "Prcsentjdâde arnplo 1.rossíveJ, assin como o "conhecintentri'<1uc guiir essir pro
constantc': l'odavia, se nilo Itos cnttrrenhtntos crr.t verlrorragias tluçào. Ncfa exprinre-se a luta pcla prcscntidLtLlc do cntc. Não
e clecluzinros de nraneira tosca realidacle efàtiva de eletuação, podcnros irclentrar agora mais tlctidarnente lto cantpo dc outros
nenr tàzcrlos a partir tlai ncnhuma teori.l, mas mergulhantos tcrmos Íinclanrentais ântigos par.r o serJ nent ent toda a ampli
na concepçâo e na intcrpretação antigirs do êpyov enquirnto tal, tucle e profundidacle cla problemiiticir quc cstii envolyidir lteles.
então brilha irnecli.rtanrente o nexo estrutural interno do cottcei- No trirnscurso da explicitaçao cio conceito tlc êví:pyelcr já apon
Iamos parir o conccito kanliano de "f-cnômcno'] O làto cle o entc
enquanto tal possuir o cariiter de fênôntcllt niro signilica outra
{0 Cf. abaixo p. 73esegs. sobrc o tiv ú riÀneáç (o enlc con)o verdir
deiro) e sobre lletutllsica O enr particulirr. coisa seniro: o ser do entc conr vistas à sua rcalitladc cfetiva e

92 93
compreendido conlo Ínostrar-se, ir âo encontro, como chegada se segue depende da correção dessa interpretaçâo. Pois supondo
e presentidâde. Com essa interpretação do conceito kantiano que essa interpretaçâo de ser, oúoio, como presentidacle cons
dc Íênômeno, nós nos lançamos do ntesmo modo quc no caso tante não tbsse plausível, então não haveria nenhuna base de
cla interpretação do conceito antigo de scr para alén daquiltr apoio para desdobrar ufil nexo de problerlas el)[Íe ser e tempo,
que Kant c a Antiguidade dizem expressamente, e retornanros tal como e exigido pela questão fundanrental.
àquilo que se enct)ntrâvâ enlre outras coisas no horizonte de sua A questão é que, por maior clue seja o sigr.rilicado da me-
cunpreensão do ser. Se pergunt.lrmos diretamente, se e como tafísica antiga cnr geral e da metaiisica ocidental que se segue
Kant mesmo interpÍetou e dcterminou expÍessamentc a reali- a ela para o nosso problema, a amplitude nào se estende de
clade et-etiva do ente eÍ-etivamente reâI, então encontraremos o qualcluer ntodo tão enornlemente. Pois supondo quc a inter
scguinte: Kant diz na Crítíca da razão Pura. "O que sc encontra pretaçâo do ser exposta por nris não fossc realizável por râzões
en conexão corr.r as condiçr-res materiais da experiência (da sen- quaisquer, a orientação aÍirmada cla comprcensão de ser poderia
saçãt'»\ é eJetít,dme nte real" " . Realiclatle et-etiva significa conexão ser imediatamente aprescntada a partir cle nosso próprio com-
com a sensaçâo. 'làmbérn precisamos deixar de considerar aqui portamento em relaçâo ao ente. Por isso, precisamos dizer, nós
em que mcdida umâ interpretação suflciertemente concreta nâo desdobramos a questao diretriz da metâfisic.r na direçâo cla
clcssa tlctcrminação cla essência da realidadc efativa conduz parir <1uestão Íundamental (ser e tenrpo), porque o scr jii tinha sido
aquilo que dissenros sobre o conceito kântiano de Í-enômcno. compreendido na Antiguidade e depois, naturalmente de ma
neira inexpressa, a partir do tempo, mas, ao contrário, porquc,
§ 9. Set rcrdade, ltresantidade. como e possivel mostrar, a compreensão de ser humanir precisa
A interpretaçao grega do ser com o signíJtcado dc str cornpreender o ser a partir clo tempo. IJor isso, onde queÍ que
verdtdeiro no horízt»úe de ser conto presentidade o ser se torne tle algum ntodo tema, ai a luz do tempo precisâ
constante. o óv óç dÀr10áç .orro KlplóÍcÍÍov óv vir i\ tona. Nossa tese de que oóoícr signiÍica presentidade cons-
(Aristóteles, Met0Íísíca O 10) tante, isto e, cssa interpretação da história da metallsica, nunca
poclc entrar em questão como tundamcntação do problenra cle
a) A situaçáo da investigação. Os significados até aqui ser e tcmpo, mas serve apenas conlo exen.rplo clo desdobramento
discutidos do ser sob a caracterizaçáo da conrpreensão e da apresentação do problem;r. Ainda n.rais, nós nâo podemos
de ser e o signiÍicado insigne de ser do ser verdadeiro visualizar e encontrar de maneira alguma essas conexões em
A elaboração visada da questão diretriz da metafísica en.t meio à concepção de scr antiga, se nós não tivermos clarificado
relação i\ questão fundanrental e i\ sua cxplicitaçâo constrói se antes de rloclo Íilosofante o contcxto nraterial.

com base na tcse: ser e compreendido cono presenticlade cons Nâturllnrente, a história da lnetalísica ainda tem de qual-
tantc. 'l'e ntamos comprovar cssa tese por meio de urna interpre- quer rloclo unr outro significado para a nossil prtipria lornta de
tação do conceito antigo de scr, o conceito cieoúoio, segundo os tomar o problentr para alem do signilicado do elenrcnto exemplar
scus diversos signiÍicados ccntrais. Manil'est.rmente, tudo o que
Em verdacle, nunca podentos fundarnentar ttIn problelra ou unta
tese de maneira autoritária e nos apoiar aí, porque Platão ou Kant

1l Kant, Orítica do r.tzíio purd, A 21tt, B 266.


o disseram. Apesar disso, o retorno à histriria possui unt outro

91
valor, ciiverso do valor dc exemplo;vakrr esse que é eleito coÍno se nado: "C) giz I
branco'l então temos em vista com o ilcento, por
Íirsse apenas uma oc.rsiio parâ mostrar um estágitt anteriol irgora sua vez, um ser deternrinado. Nrls qucrcmos clizcr: é verdar.leiro
ultrap;rssirdo do problcrna. Abstraindo-se clo Íàto de que nào há o ser verdadeiro do giz, o scr coisa, <) cstar prcscotc à vista. Nós
nenhunr progresso ua filosolia, mas toda lilosofia autêntica é tiitr tcmos eÍn vista tgora o ser tcrdadeíro.
pequena e tào grande quanto quirlquer outra, a lilosoÍia anterior Pirra os três signiÊcados que citâmos primeiro do ser, in
tem, tle qualqucr tirrnta, urn cfeito constante, ainda quc velado, tcrpretirmos e mostr.rmos conceitos antigos correspondentes: no
rôhrc J ru\\.1 cxislcnaiit .rtttll. Prrr isso, rc cl,n''eBuilrlo\ ilPrccll significado respectivo de ser se encontra senlpre concomitante-
der o conceito de ser irntigo, então essa não e nenhrtnla questão nrente "presenticlircle constante'l Só en.r relação ao ser verclacleiro
de unra tomada de conhecimento extrinseco. Ntis verenlos, quc é que, conr a observação de que isso seria por demais abrangente
csse conceito ainclir estii presente cln ttma lirrrra modiÍicada na e clillcil, não ciemos nenhum prova.
metaíísica de Hegel. Não temos como adelllÍar ilgora n.I collc-
xão intcrna da rretafisica hegcliana cot.n a metatlsica alltiga; tallto
Scr dr tilc lill nlodo qrirlidrclc vista scr vcrrlarlciro
cstar prcscDtr i\
Ínais porqu.urto ntis sti prerscguimt)s o collceito antigo dc ser elr
(ora dc unr nrotlo (possibiliclacle) (reali(lâde.làti!ir) ?
algumas cle suals cxpressÕes. Ntis nos ntantivcnltls etn nleio ii stttt
cscolha junto i\quilo que introduzitrtos de nraneirar sistcmáticâ e dnouoiu Plalaro:
.;
€v€pr/€1(:t
material sobre o significaclo do ser enr meio l\ caractcrização da rupotoiu
compreensão tle ser Nós falamos cla articulaçiro inicial tlo ser, quc nupouoro(t:pYov nupouoru
aproxinramos cle nós por rreio clos diversos signittcirdos cltl "é'i
Parir explicitar isso ttma vcz ntais a plrtir de unl exenrpkr,
poclemos dizer: "O giz e bralrco'l O "é branco" expressa o ser L)ivcrsas intluiriçoes me nlostraram que mesmo a compre

bÍ.rnco, port.lnto, o ser de tirl c tal moclo clo giz; de titl e tal tlrodo: cnsiio tkrs três signiÍicados clepende da cliu iÍicaçio clo quarto.
o quc não lhe cabc necesslrianrente, pois clc tambénl poderia Tambem podemos cleduzir isso materialmente do tlue acabamos
cle introcluzir: o ser verclacleiro por nreio do acento. Mesnro sem
scr verntelho ou vercle. Sc clizemos: "O giz e uma coisil lnirterial'l
cntiio também tentos ell) vista conl isso ttm ser cio giz, nlits nao o acento, u signiíicaclo clo ser verclacleiro est;i cor.rcomitantemen-
te presente em todos os outros. Ele e,l)ortanto, ur.n signiÍicaclo de
urr ser rlualquer, senão unr ser tal, que lhe pertence, qtte precisa
Ihe pertencer, se é que ele deve poder ser o que ele é. [],sse ser não ser particularmente abrangente. No que concerne il isso e antes
dc algumas qucsta)cs, gostaria dc tcntirr rcsgatar dc nraneirir bre
é nenhum ser de tal e tal modo irrbitrário qualquer, nl.ls ulrla
quiclidadc necessiiria para o giz. Sc tlizemos: 'ir giz é'1 ou seja, v. il intcrprcl.r\.io,.1,, r. r vcr.lirdcir,,
"está prcsente à r,ista'l por exemplo, ent comparação coln unla lirn quc rnctlidir tamlróm aqrLi, no scr conr o signiÍicaclo cle
afirmirçáo tentada de que elc seria apenas intaginado, cntão scr scr vc-rclacleiro, sc L-ncontÍa o signiÍrcirdo fundamental ahrmirdo
significa estar preseute à vista (realidacle efetiva).'r Se clizemos,
por nris da "presenticlacle constante"? Qual e a conexiio que se
alérl disso, as proposiçôes irgora citadas ern uln acento cieternti- rlostra entre o ser verdadeiro e o ser em geral? Uma tal corl
provação não e fácil, porque ela vai maximatrlente cle encontro ii
opiniáO vulgar e porque a doutrina.rntiga clo ser vercladeiro, em
Kant: existôttcia (ser iri)l ct. ctu corrtrapartidi a nrinh lernlilrologia.

96 97
particul.rr a de Aristóteles, tambér'n Í-oi interpretadâ atc aqui a reconhece quatro maneiras, nas quais nós denonrinamos o ente
partir cla concepção vulgar. Por isso, é que nho se chegou efetivir enquanto tal, quâtro maneiras, que não se confundcnt sint;rles-
mentc nem mesmo â compreendcr a problernáticâ proprianrcnte mente conl âs quatro articulações do ser, que nris expusentos - o
dita de Aristóteles. Em tais casos, a saídir mais confortável c al que agora e conrpletanrente insignificante. As quatro n)anciras,
terâr o texto de tirl rroclo que ele correspondtr à opinião vulgar e ras quais tomanros o ente, o óv, e, de nroclo corresponclente, o
que essa opinião nâo se ve.ja em apuros. pLl óv, o não ente, saro as seguintes:
Nossa interpretação clo ser verdadeiro nir direção, segun- t) rô óv rrxt<i tci oXrlrcrra rôv xotlyoprôv (rí1ç rtr
clo a qual ele está clo mesn.ro moclo ligado ao signilicado flnda- rlyopicrÇ) óv rcoO'oúró, o ente, nâ meditla em que ele e vi,
mental atirmado, deve ser le-yada a ternto conl base em um texto sado, tâl como ele se mostra nas câtegorias. Por exentplo: "Este
ilristotelico. Deye ser mostrirclo que e em que medida mcstno se giz é brânco'l este giz, csta coisa aqui prresente à vista: categoria
concebe o scr wrdadeiro como sígn(icttlo Lle ser no Antiguídrtde, clo tóôe rr (do este aclui). Ser brirnco, isto é, ser dotado de uma
e, en venlade, à [uz da "prcscntidade cotstantc". qualidacle: Íoióv (como). "O giz é do tamanho de um detlo":
nooóv (quanto). "C) giz encontra sc aqui sobre a cátctlri': no0
b) Quatro significados de ser enr Aristóteles. (ondc), lugar. Nào poclemos adcntrar agora ntais amplirrnente
O alijamento do óv óç dÀ40Éç em Metafísica E 4 nesse c()ntcxtô.
I)e início, uma visiio prévia geral clo problenta material e do z) tô irv rntd outrtBeBrlróç, o ente com vist.rs .ro ser exatil
problema cie conteúdo. Nr'rs sabenros que â questiio diretriz cia mente de tal e tal nrodo, aquele ser junto ao cntc, que se estâbele
metaflsica antigâ, tal como Aristóteles.r formulou, é: ri rô óv (o ceu precisamente junto a cle e precisâmente agora, por exenrplo,
que e o cntc)? O que e perguntaclo ó o óv i1 óv (o ente enquanto scr vernrelho, ser branco, mas ser aquilo tlue ele nào precisa ser
ente). Agorir, Aristóteles.lcentua senprc uma vez mais e parti ncccssarianlente.
cular mentc lá onde ele introduz um problema fundantental da 3) tô óv rcrrti ôóvagtv rcni êvêp1ercrv, o entc com vistas
metallsica: tô óv ÀáyÊÍcxr Ío)"ÀüIA{.1r O termo noÀÀaXôç é ele ao seu ser possível e ao seu ser efctivarnrente real.
mesnro ambíguo. Por um lado, ele tem em vista a pluralidade cle a) tô óv ôq tiÀr10àç rai rfeôôoç, o cnte corn vistâs ao scu
signiÍicados de ser. Por outro laclo, prorém, ele também tem em ser verdadciro c ao seu ser lãlso.
vista a pluralidade no inteÍior cle cada um desses significaclos, A invcstigaçào do óv 1 óv precisa tcr ciesde o priucípi<r
isto é, as c.rtegorias. O óv das KoÍsyopiot (o ser das catcgorias) clareza quanto aos múltiplos significirdos do óv. F.ste nâo foi
celc mesmo plural, e, por isso, c possível perguntar unta ycz mais sempre o caso. Só lentamcnte é que essa claridadc Íbi alcança-
sobre um npórtr4 óv.i' da, e, nresmo em Aristótclcs, faticantente sti esscs quatro signi-
O cnte é interpelado de muitas nraneiras. I)e lbrnta sucinta licados e que t'oram distintos. Por que exâtâmentc cles e apenas
e clârâ, nós conpreendentos ser de ntuitas tbrmas. '' Aristóteles eles? (lom vistas a que eles tirranr distintos? F)n relação a isso,
Arist(')tcles nunca nos oÍ'erece- nelhuma elucidaç,x). Para nós, o
4l lim grcgo no original: "o ser sc cliz de nruitas nraneiras". (N. T.) qLre e irnportante agora do ser é
é o seguinte: entrc <ts signl)cados
11 firl grego no original: "utn ser primeirtii txpressdmenle denominatlo o ser verdodeiro. A Íilosolia propria
'15
(lt. Âristóteles, Àíel aJísico L 7. mente dita, quc pcrgunta sobre aquilo tlue e proprianrente o cnte

98
enquanto tai, precisa pcrguntar, cntão, sobre os quâlros moclos do tiq ôtovoiaç tL rá0oç, '' un.r estado e um caráter da determina
ser, ou, poÍéIr-r, irpcnas accrca do erlte e de seu ser, que se alturlciat ção pensante do ente, mas não do ente mesmo. C) ser verdacleiro
justirmeute como cutc pÍopriirmente (lito? Evidentemente apenas diz respeito apenas à apreensão e ao pensâmento do ente, mas
sobre essc cntc. Pois se a essência do ser e explicacla.iur.rto ao entc nâo ao ente meslno. f)ito em termos tradicionais, o problema do
propriamente dito, o ente impróprio pode ser clariÍicado cnr sLrir ser verdadeiro (verdade e falsidade) pertence à lógica e à teoria
essência ir partir dai. do conhecimento, mas não à meta[ísica. Assinr, o alijarnento do
liirssinr que procede, enth0, mesmo Aristóteles na Meld segundo e do quarto significados são completanrente compre-
Jísica E (VI), oncle ele fbrncce urr csboço tlo campo tenlritico ensíveis e sem mâis elucidativo. Para o tratâmento temático por
da Íilosofia propriaÍnente dita, c, crn vcrtlatle, com base nos meio da metafÍsica como conhecinrento do próprio ente e do
qr.ratro signilicados introcluziclos clo óv. Ncssc caso, o óv rntà ente enquanto tal, só o óv clas catcgorias e o óv ratti ôóvuprv
oopÍlsÍllr(oÇ citado enr segunclo lugar c o óv óq riÀqOáç cit«lo rui êvépyercrv são levados em questão. O óv das categorias
enr quarto lugar são alijados do campo ii1 melâIlsic.r. Rest.rrÍt e, em verdade sobretudo a primeira categoria, que tirnda todas
.ll)cn!i5 ()\ si1,nili,.rtl,r' iilrd,r. rr.r l,rinr(irir c rr.r terteir.t pr,'i as outrâs -
e tratado por Aristóteles na Metalisíca Z, H; <t óv
çaro e esses tlmbénr são, cntiio, tratados laticamente nos livrns KüÍà ôúvoprv rni àvêpyercrv, o ser no sentido do ser possivel
principais tlir MetoJísicu: Z, H, O, I (VII X). Por que e qtre <r e clo ser efetivirmcnte real, na MeÍry'Áica O. Mais ainda: no livro
segundo c o quarto signilicados são excl,ríclos? Nris já inclica O, a àvápyero (àvte)"â1era) é exposta como o significado fun-
Inos, quc nelcs estii sendo visado um ente, junto ao qual o scr dan.rental da realidade eÍ'etiva do ente eft:tivamente real. C) ente
clo ente proprianrente dito, ou seja, tambénr o ser propriamentc pÍopÍiamente dito e óv àvêpyetg. Aquikr, ao que precisamos
dito, nio se irnuncia. Em clue nredicla? 0 óv rnrd ouppsllnKóq atribuir segundo a nossa interpretaçào constânciâ na presentida
c rióprotov (ilinritaclo), ele nunca é cletenninatlo cn] seu ser, dc, merece propriamentc a designaçáo de ente, r1 ouoiu rcni tà
elc ó ora de tal moclo, ora cle outro rnoclo, isto tr, ele não tcm áôoç àvápyerct.'" Assin.r, o livro O da MetaJisica de Aristóteles e
cm vista nadir constântemente presente, ele nilcl tem cnr Yistir aquele livro, no qual o ser do ente propriâmente dito e tratado.
nápctq e prop$r], tiôoç,'" rnirs aqr.rilo quc ora vem à lona, orii
desaparece. Por isso, Arist(rteles diz: Qrxivercrt t<) orppeprlrôç c) A explicitação ternática do ôv ti4 tiÀ10êç como rupró
àyyóq rr toir pr) óvtoç'i. '' Aqui, portanto, não se tem em yist.I rnrov na Metafísica O 10 e a questão sobre o pertencimento
o ente propriamente dito. E por quc c que o óv óç dlr10áç (o do capítulo ao livro O. A conexão entre a questão textual e â
ente coÍno verdadciro) ó excluído? Para dizer cle nraneira breve: questâo material enquanto questão da copertinência do ser qua
verclacleiro e Íirlso são proprieclades do conl.tecimento clo erte, ser verdade com o ser qua ser efetivamente real (àvêpY€ro ôv)
do enunciado, do Àóyoç sotrrc o ente. Arist(iteles o clenonrina Ora, mas esse livro se conclui com um capítulo 10, que
começa da seguinte tirrma. Cito a princípio de maneira total
Iinr grego no original: "linrite, lôrnra c rspccto'l (N. '1.) e, em seguida, de maneira abreviada. Érei ôà tô óv Àáyetar
.l; l,lm grcgo no original: "Pois o concomitante apilrecc conro itlgo
próxirno tlo não ser''i (N. T.) Op. cit., E 4, 102{ta1.
.1ll Op. cil., ll2, 10261)21. 50 Op. cit., O 8, 1050b2.

100
rccri tô
puj óv rô pàv rotri rri op]trrarrx tôv rareyoprôv,
segundo a conrposiçâo literária. C) frto cle esse capÍtulo sobre o ser
tà ôàrcxtà ôúvalrrv fi àvápya«v roúrt»v r] trivnvtia, tô verdacieiro uão poder perLenccr ao ensaio sobrc a realidacie efctiva
Eà xuprórará óv riÀr10áç fi rfeúôoç, roôto ô,àri tôv npny-
e nlgo que fica contpletermente ciirro a partir do fato cle que, aqui, o
práttov êori tQ oryreio0ut r:1 ôL1pr1oear. cir,ot,riÀr]eeúei prlv
óv ti4 riâ108{, o que é vercladeiro, é int«rduzido conto r) cnte miis
ó tô ôr1p4pÉvov oióprevoq ôrppflo0oL rcai rô o.uyreipsvov próprio, ou seja, como o cÍrte, que ainda é rrais proprialt)cltte unl
ouyrcúo0or, ár]reuorrxr ôà ó Àvorí04 êXtov rj tà rpriypato, sendo clo que o àvápyercr ôv, o clue contradiz a tudo o clito
nór'êoriv r] otr ôort tô óç riÀ10àç Àeyólrevov ri úeôôog;
<1uc e
irte aqui e a tudo o que é conhecido por Aristóteles.
roirto yrip oren,ráov ri l"áyopsv5r.5tr ... tô ôà ruprótcrro óv Yirrros como é que, cont basc na qlldJlro texluol sobra o
riÀÉàç i rleôôoq.t'O que se mostra a<1ui? O tiv (dD dÀIOêç é pertencinenlo desse ctpítulo conr.lusívo .soále o .ser verdatleiro ao
expÍessanlente tematizado nessa passagem. No fim do livro pro_
/ilro Q, ve n ii lona ao mesmo tempo o lrroble tto malerial, isto
prianrente dito e do livro tenlático centràl d a Metalísica, trata se
é, o quastao accrca do siglíJtcodo tkt próprio ser terdatleiro, ntiris
r.ic urrr Iemr da lógica, quc l'oi, contuJô. excluitlr, pelo próprio
precisirmente, d .Jltcstào accrcu dt copertinêncio enlre scr enquon
Aristóteles exprcssâmcnte em E4 do âmbito da lilosoÍia primei
to scr vertiadeíro c ser cnquanto ser cJetívamente rcol. O problerla
ra. É simplesmente claro que essc capítulo não pertencc a esse
e que, para a interpretirção tradicional e precisaÍnentc tiulbenr
contexto. O sinal extrínseco disso é, de mais a mais, o fato de quc
para a ir)terpretação e pilr.r o tratanlento ntâis recelttes desse
cle se cncontra no llnal do livro, ou seja, ele foi de algum modo
capitulo 10, supr-rc se niio hayer aqui absolutantctrte ncnhunr
anexado mais tarde por outros, ainda que o contcúdo d<) todo seja
problema, porquc não pode havcr nenhum. pois, culo sabe
scnr tlúvitlu :rlgunr.r rristotelitrr. Nào hi. dc Íalo, ne|lhrrnra clili-
quirlquer estudantc ir.riciante em frlosofia, o pr oblen.ra cla verclacle
culdade e rrr assumir isso, uma vez q ue a Metafísica d,e Aristóteles
pertence à lógica e não à nrctaÍlsica, o que sc acirra ainda mais
conlo um todo não é nenhuma obra e nenhunt sistemâ compos-
no cnsaio, que tem poÍ tenta o problcma funclamental cla meta-
tos por elc, nlas unla reunião de cliversos ensaios, em si natural
tisica- A partir de tais reflexircs, Schwegler, a quem dcvernos un.r
mente cocsos, que se copertencem segurrdo o conteúdo, ntas nào
comentário lilosoficrnrenle vrlioso e mlrcaclo por Hcgel à Met4
fir.Jlca de Ariskitcles, escreve de lr.raneira totalmcnte espontânea:
-51 l-lrr grcgo no original: "Posto que o enle e o não ente se dizem, "Flsse capítulo não pertcnce a esse curtcxto'lir \&trner
(rll uIl \cnli(lô. \(llrrnJo cs tigur.rr J.r..Jtcgoria\. eI|t t,ulr(,, porem,.c /aeger, ao
qual tlevemos uma investigação lnuito mcritosa sobre a compo
6ttrtLir.r po.siLrilitJ.rtle otr,, s..r (lctivJr)lcnl( reitl de.:.ir..or"go.,xs,,,,
seguntlo os seLrs cotrtrários, c, em um outro sentido ainrla (que:é o rlais siçao da Mctuli-sica aristotélica5', consitlcra essa cor.rcepção de
prriprio), segundo o verdadeiro ou falso, o que significa nas ioisas o firto
de elas cstarem juntas ou scparaclas, de tal irodoilue se adéqua à vcrda-
tle ar;uele que pcnsa que o separ:rdo é separatio c rlue o junà ó junto, e 51 A. Schwegler: Ari.itoÍl]I..§, Mctaphysik,l Yolurnes, 11]46,17. Ilcinl
erra aquele cujo pensan)cnto está ert.t contraclição cànt ascoisas, quantlo pressão não altcracla, FrtnkturtjLrnlo ao Main (NIincrva) 1960, \l)1. IV,
é que existc ou nâo existe o que charnamos de vcrdadeiro ou Íàlso? Ilc p. lli6.
venlos, com efêito, considerar qLte as coisas são coÍno <lizenos,l (N. T.)
55 W. Jaeger, StruliLn zur Êrrtn. ir.Áâor.rJr3esclit.htt det Nlctttphysik dcs
s2 Op. cit.,(, 10, l05la3,t b6. ,,lrl.slorllr,-s (L)studos sobre ir lristtiria do desenvolvinento dt Mt,talisitu
5-l llm grego-no otiginal: "as coisas mais inporlantes, porénr, (le.\ri.lllcle.J ltcrlilt. Iqll.( j. t.lnthcnt \\. I.reg,,r., -lrirt,,t,y',s /i,r,i.r
vercladeiras ou falsas'l (N. 'l'.)
são t cnlúçào de umu hiskirío Lle scu descnrolvimcnkt. Berlint. 192j. lcmos
ai reierênciirs a irrvestigâçôes miris aDtigas.
102
103
Schrvegler convincente. 'Ao mesnro tempo, precisantos aÊrmar compreenderia dc rnaneira falsa o teor vocabular c pcnsaria, cle
que o capítukr s.- cncontra ai desarticulaclo cle seu contextri'.56 nrais a mais, cle modo não aristotélico'lit faeger quer dizer: quem
Apesar disso, ditêrentementc de Schwegler, faeger pensa conr afirma que Arist(iteles estaria concebendo aqui o ser verdadeiro
certeza que o próprio Aristóteles teria, scn) tleixar dc levar en] como o ser nrais propri.urlente dito tláo coll.tPreende o que signi
consideração â ausência de conexão com o livro todo, insericlo lica ruptótrxtcr e teÍr.r uma opinião sobrc o ser, que se €ncontra
aí esse "apêndice'l completanrente clistantc da de Aristóteles.
Flu, cm contr.lpartida, afirmo que quem concebe o O 10
n) A rejeição do fato de O l0 pertencer a O conxr pertencendo ao livro O, sim, quent vê ent geral irté mes-
e a tradicional interpretaçâo do ser verdacleiro como problema cla nro ai o hpice proprianlente dito do ensaio e cla MetafÍsica de
kigica e da teoria do conhecimento (Schwegler, faeger, Ross). Arist(itelcs, esse Dào apenas não p(]ltsa de maneira trão aristoté-
A interpretação despropositada clo ruplóÍoÍo como lica, nras pensir nesnlo não apcnas de ntaneira ilutellticarlerlte
consequência dessa interpretação âristotélica, como também de maneira simplcsmeute antiga. No
Se nos articularmos, tal como acontece com |acgcr, conr a làto dc Ariskiteles concluir o livro con.r O 10, isto é, no Jàto dc ele
interpretação nrâteriâl cle Schwegler e dissermos que urn capi i lcrprctltr o scr wrdulciro coru| o ser propriamente dito, t tí que
tulo da lógica nào poderia pertencer apenas à nletafísicâ, entiio ganho voz pcla primciro c última vez de rnodo radic'ol o co cep'
é por demais conscqucnte nào atribuir ao próprio Aristóteles o çtio _fturlamanlttl decisiva de ser e verdatle na metafísíco ontíga.

acréscinro dcssc capítulo; e isso sobretuclo se levarnros em con- Sti alguém que considera aristotélico os lugares comuns que se
sideração como é que Aristóteles con.rpôe de maneira deticlâ os c-ncorttrant há muito terupo em uso na tracliçilo ctlnsicleraria que
capitulos e livros e como é que esses capítulos e livros são aí cons pensar assinr cr algo nào aristotélico.

truíclos. A opiniáo cle Jâeger e tanto mais estranha, porque ele, Conr isso já está indicado tlue a questão aParentelrellte ex
na Íundamentâção da ausência de conexão do cirpitulo conr o trínseca accrca do pertcncinento do capitulo ao livro só é pas
livro, ainda vâi além de Schwegler. )aeger vê como o principal sível clc scr resolvicla por ueio cle uma consideração deticla do
obstáculo'externo" par.r um pertellcirnento do capitulo ao livro problema que é tratado no Iivro c no capitulo, isto é, por meio
o Íàkr dc, segundo a posição do capítulo, o óv d4 dÀ10Éq nao de um trât.rmento da questão: qual e o signiÍicado Íindamental
apcnas dever ganhar o cerne clo temar, mas de, alérl clisso, esse de ser, de tal rroclo, em verdade, que o ser verdadeiro possa e
óv dever ser consiclerado ainda como rcoptóttxto, o ente verda- precise ser tratado enl conexão corn o ser efêtivamcnte real, sim,
deiro corro o ente mais pÍopriameÍrte dito. Flssa "possibilidacle cle tal notlo tlue até nresnro o ente verdadeirt) deva constituir
é para mirn improvável e ela o scrá para qualquer unil "Por- o ente mais proprianrente dito? Antes de rcspondermos a essa
tânto, se alguém devesse apoiar a posiçáo de O 10 no Íàto cle ter questão c, assim, ântcs de dentonstrarmt)s Positivamente a per
sido alcançado aqui pela primeira vez o K!p1óÍüÍü óv, então clc tinência internâ c necessiiria de O I0 ao livro O, clevenros discu
tir brevemente as clúviclas levantlclas contra a possibiliclatlc de
umir conexão dc O 10 corn o livro O. As dúr'ir.las conr rclação à
56 W laeger, Studict zur Entwicklungsgfschichte der Metaphysik des
Aríslotcles (listudos sobre a história c{o clcsenvolvimento da Metafísica
cle Aristóteles). t). 53. 57 Op. cit., p.52

10,1 105
diversidaclc cssencial no tenta poclem ser resolvidas simplesmen que justilique essa concepção a partir de Aristóteles. O fàto de o
te por si ntesmas eD) nlc,io a unla intcrpretaçiio l.rositiva. Antes "é" Íuncionar na nraioria das vezes como ctipula é corrcto. l\,Ias
de tuclo, porém, é prcciso discutir a argumentação, quc se dirige
o fato <ie a c(rpula significar na nraioria das vezes proprianente
contra o rupróÍcrrc. 't verdacleiro'l ser verclacleiro, é incorreto. Fl isso não porque a
(laso se consiclere clesde o principio conto estabclecido
cópula't" não tenr esse signiÍicaclo na nraioria das vezes, nas
que o que estaria enl jogo r.ro capítulo scria o óv rra riÀr1eóç,
.lpenas raranlente, nrirs muito rlais porque ela tem sempre esse
que niio pertenceria enquanlo problema /rígico ao tema do livro,
signiÍ'rcaclo, quer cle maneira express.r, quer de nraneira implíci-
então também se prccisa consiclerar intpossível que sc Íàle aqui ta. Dizcr como facger quc a cópula signilica na naioria das vezes
dc óv óç riÀqOáç como o cnte miris propriamente dito, o K!- propriancnte ser verdadeiro é L'xatamente o mesnlo quc se cu
plóÍorcr óv. Esse xuprór0Ío, portanto, nccessita ser retiraclo quisesse dizcr clue 2 rnais 2 é na n.raioria das vezes propriamentc
daqui. Duirs possibilidades apresentam se: l. Nós o elinrinamos 4. No entanto, ainda que no "é" da cópular resida o ser verdadeiro,
simplcsntente,2. Ntís o reinterpretamos, de tal troclo quc o sig justânrente o "ser" nâo e na maioria das vezes com;rreendido as-
nilicatlo se adéque àquilo que sc tinha em vista dcscle o principio sim, mas no sentido cla quidirlade, do modo cle set da presença
iotno o conteudo tlo errprlulrr. lr segrrrrdo e*us du.rs possihili .'r vistâ. Parâ â tese de que o't" signiíicâ na maioria d:rs vezes
dacles de reinterpretação que proceclem Schweglcr e sobrctuclo
propriirmente ser vcrdadciro, firlta toda e qualquer basc legítin.ra
Jaeger. Pelo primciro caminlro se decjcle o nais reccnte trabalho rntrterial e, por conseguintc, fàlta tarnbcm o Íilndamcnto para in
que fbi levado a cabo por lloss: seclusi: an post [àv (a 34) trans
terpclar o <iÀ10áq óv como KuptóÍcraÍov com essc significaclo:
poncncla?53 Não hii a nrenor raziro parautril intel venção táo tos- o que e prefcrcncialmente r.rtilizado. Sobrctnclo, porem, Ktlpró
ca llo texto, que e aqui complctan]entc nornral. A questào e quc
IüTOV ulrca sig,rtilicu u,.1ui L, n)c\rno (llrc: o que c na maioriu
justamente o desacordo clo rupróratrx em relação r,rquiio quc
das vezes proprianente usuâ1, pois náo se trâta aqui da tluestâO
se supÕe como o contcúcfu do capítulo causa unta perturbação.
do uso terminológico mais liecluente e nlais raro. Schwegler e
C) quc Ross inicia com isso prccisa se mostrar, de acordo corr.r
Jaeger, portanto, também se omitiram diante da necessidâde de
ir srr;r crrrrvicção, ll Mctafísicu.llc traduz aqui rcoptórnr<r por indicar algun.ra prova linguística para essa a6rmaçào retirada clo
"preíêrencialmentc'l C) ser verdadeiro e aquilo rlue é interpclldo vcnl(, err um rTr()mc lo do maror imp.rssc.
prcÍêrencialmentc coll.to scr laegcr cleÍende a ntesnril concepção Ktp'roq, rcúproq, o senhor, o possuidor de, o propliet;írio
do KuplóÍorrr. Kuptótato óv signiÍica o niesmo que o "ser de algo. Kóptoq, K!piorq, considerado ern seu elemento peculiar,
com o signiftcaclo ou o emprego que c ntais usual na língua, tal próprio: se K!piú\ e dito de uma palavra, então o que se tem
como ele na nraioria das yezcs é propriamente emprcgue'i "E o em vista nâo e â tiequência do uso terminológico, mas antes a
fàto dc esse sentido nais usual ser o'esse'da c(rpula e cluciclati pâlâvra, considerâda em seu significâdo prtiprio. O signilicado
vtil5'O que é preciso dizcr quanto a isso? Nao há ncnhumir proya próprio é ao mesmo tenrpo aqr.rele que, na nraioria das vezes, e
enrpregue terminologicanrente, o signiÍicado Íigurado, em con-
58 ,{risl(iteles, Mcrafi-sica (Ross). Oxfbrd 1924. \,o1. ll. trapartida, psÍoÔopd, é o nrais raro, o estr.rnho, "não usual'l
59 \V. .laeger, Stt,llien atr lrit|yicklungsgcs.hichti, (Estudos sobre a
Kupio4 óv é aquilo que um ente propriamente é. Kuptótcrtov
história tio desenvolvirnento), p. 52. (-n) óv e aquib que uur ente é no sentido mais prtlprio possível.

106
I07
Em Aristóteles, KUpiú\ é com frequência usaclo enl contraposi- (tqr". Três coisas na alnra é que constituenr o rúptrx, o elementcr
ção a rntri petn$opriv, uma palavra em scu sentido próprio em propriamente dito do agir e do conhecer: Percepção, Pensâmen
contraposição â uma palavra em seu sentido figurado. to e âspiração. Seria cornpletamente sem sentido tratluzir rúpto
De fato, rcúprov, o predominante, tanlbem tem ntesmo en1 aqui por "usual'l Il no livro 9, Aristótcles nos diz no contexto dtr
Aristóteles o siglliÍicado de 'b usual"; de maneira correspondente problema tla amizade e do amor próprio do homem: ei yáp trq
ao signilicado xúproq, scnhor, tô rúprov designa, então, a ter- riei onorôá(or T à Eirtrtcr fipáÍÍ€lv aútôq trrú)"rota návrov
minologia dominante. O r.rso terminológico estranho, longinqr.ro, r] td oógpovrn i1 ónorcroÍrv á)"Àrx rôv ratti triq ripÊÍúç, KCri
e designado corrcspondentemente como Ía) EÊvlKóv. Aristóteles óÀr»ç tô ruÀàv ôtxurQ reprnoiro, otôeiq àper toôrov ouôà
nos diz na Retóricol2: Éotro oôv àreivn rcri ópio0o Àóssoq rfê(er. Se alguem, um homem, está senrpre empenhardo em fazer
ripetl otr$4 eivor6", todo discurso tem sua excelência, ciperf, o rlue justo, assim como o que é plenamente comedido e arquilo
e

no fato de que ele é compreensivel, o«$í1, e, en.r verdadc, qrrlnclo qur: perlencc de resto à esfera do ético, e, cm geral, sc empenha
as palavras tornam evidcnte o que elas têm em vistir: oüôtl [àv por se apropriar da nobreza, en1ão ninguén') tl criticará como se
fiotá Íd rúproÍ". O discurso tambént carecc, porérn, se é que ele lbssc um egoista. E, contudo, precisamente cle será alguém
cle não deve ser iní<1uo, Íoaft€rví, t1a (evrrá, das palavras que que porta enr si o verdadciro amor prtiprio: p«ÀÀov eivor Qi
não Íirram trazidas de fbra para cá, tlas palavras distantes. L,ntre Àaltoq... roi Xapi(er<n à«uroô rQ KupuDÍáÍq06ir, pois elc re
essas palavras estào nteláforas, provincianisÍnos etc. No contexto quisita p.rra si o que há de mais uobre e o que há clc maxima
do problema da terminologia, portânto, Aristóteles fala de rú mente bom, c ele está Propellso, isto e, ele sc acha intcrnamentc
plov no sentido do usual. O uso terminológico propriamente comprometido colÍl o ql-le há de mais próprio e nlais essencial
dito, porenr, é usual, porque ele é próprio, não o inverso. O sig- nele. Aqui também seria absurdo tracluzir por: o quc há de mais
ni6cado proprianlente dito é o fundarnento para a frecluência e usual. Além disso, cncontramos fornrulados no livro 1: etica é a
para o caráter usual no uso terminológico. Por isso, o significado ànrotrjprl lro].tÍrKn, pois essa é a ànrorriprl KUploÍáÍI"1, isto
prin.rário e propriamente dito de r{rprov é a propriedade. O que própria, clue abarca todo agir hu-
é, a ciência mais elevada e n.rais
está em questão nir ntetafísica também nào é de maneira algur.r.ra lnano c que lhc dá a mcta. É assirn que Aristóteles fala tambem
â questão do carátcr usual, esse caráter não tent aqui lugar algum nessc sentido cle ciycx0óv ou roprótcrtov tiycrOóv,
rirpótorov
em termos materiaris. clo bcm mais pr(rprio possível, clo bem puro e simples.
Por isso, precisamos perguntar: o que signilrca de resto rú l)e maneira comPletanente de acordo com as Passâgens
ptov em Aristóteles no caso da terminologia filosóÍica? No livro 6 que acabamos de citar, nós encontranlos no capítulo 10 do livro
da Ética a Nícômaco, nós lemos o seguinte: Tpio ôÍ Àorrv àv tfl @ <Ia Metafísica o ente propriamente dito. Por mais desagradá
rfuX11 rà rúprtr ÍpáEsútq roi riÀ10ei«ç, oioOrlorç voôq ópe vel que seja, e preciso admitir isso! F.tn verdade, é preciso que

Arist(iteles, Dthica Nichonachea (Susemihl). Leipzig ('leLtbner)


60 Aristótelcs, R.,r.iri.d (Roemer), Lcil.rzig (Teubner) 19t4. f 2, t404
1882.
b teseg. 6l oP. cit., I 8, I l68b 25 31.
61 Op. cit., 1404b6. 64 CI. op. cit., A 1, I094a2sesegs.

l OIJ I09
se adluita que Jaeger teÍn râzâo ao dizer que rúprov pocle signi_
AÍistóteles diz imediatamente em seguida: ToôTo, otl seja, o ser
ficar: o que é mais usual. Em termos nlâteriais, porém, continua
verdadeiro, toôto ô'àri rôv npa^yp<itrov,65 isso, o scr veÍda-
sendo preciso insistir no fiüo de que isso não e pertinente para
cleiro, é compreendido com vistâs às coisas ntesmas que sào, o
o ser verdadeiro, ne[t nir compreensão de ser vulgar, nem tam
ser verdâdeiro como ser verdadeiro dos npaypátov, das coisas,
pouco na âristotelica. Não há natla para abalirr no KtlpróÍdÍü.
isto é, não o ser verdadeiro cotno caráter do pensamento que
F,le se cncontra prescnte ent todo o seu rigor e inclica a vontade
apreende as coisâs, não o ser verdadeiro como Propriedade do
de Aristóteles de tratar do ser vcrclacieiro nâo apenas em geral
conhecimento do ente, não como propriedade do enunciado do
na MetaJísico, nlas de interpretá-kr como o entc mâis próprio e
)"óyoç sobre o ente, nào como propriedade da opinião sobre...
de concluir com essa interprctação o ensaio sobre o ente pro_
enquanto tal, tudo isso não, mas simplesmente como caráter do
priamente clito.
própÍio ente. Na primeira proposição do capítulo encontra-se
palpável o fato de que se trata âqui de un tema completamell-
B) Prova de que o capítulo t0 pertence ao livro @. A ambi te diferente daquilo que se tinha Pressuposto desde o princípio
guidade no conceito grego de vcrdadc: verdade coisal e verclade
ate aqui de maneira geral e de maneira despercebida, conpleta
proposicional (verdacle do enunciado). A discussão tentática do
mente diferente daquilo que se pressupunha que Precisava ser
ser verdadeiro clo ente (proprianrente dito) (àni rôv npoylrri
o tenla: o ser verdadeiro cono caráter da determinaçáo c do
Tov), náo do conhecimeuto, no capítulo O l0
enunciado pensantes. Desse caráter diz se, aliás, em E 4: ànei
A afirmação nua c crua de Aristóteles é a de que o ser ver_ ôà 1 orpnÀorri àortv rsi r1 ôrcr'rpeoLq âv ôrcrvoig tiÀÀ'oür
cladeiro é o ser mais próprio junto ao ente, â de que no ente àv túç npá1pcror, tô ô'oótrr4 óv ê-repov óv tôv «-rpi«466,
verdadeiro enquanto tal se anunciâ a essência mais própria cio a saber, das categorias... <i$erÉov. A Iigação e a dissociação
ser. Esse e unr problema, que surge lá onde ele trata constante apontam para um cornportamento do pensar sobre o ente, eles
e expressarnente do ser proprianrentc clito (êvópyero, àvte),ê rrão se encontram no próprio ente, sobre o qual é pensado.
X€t0.): no livro @. Em que meclicla a afirmação se mostrâ cor]sis- Portanto, esse ente e todas âs suas propriedades, ou seia, mesmo
tente, é algo que ele procura nostrar no Ol0. Em suma, o tema o ser verdadeiro e o ser falso, precisam ser colocados cle lado.
do capítulo é o desdobramento e a demonstrâçào da tese: o ser Irenráov ôà toô óvtoç ottoô td <xiltn67, o ente ncsnlo
yerdarleiro cottstittLi o ser mais próprío tlo entc propriarrtentt
tlíto. precisa ser visualizado com vistas àquilo que torna possível o ente
O tema e o ser verdadeiro do ente, isto é, o que se pergunta é: mesmo enquanto ente. Em Ol0, porém, assim como em todo o
como é que o eitte mesmo precisa ser enquanto ente, para poder livro O em geral, o que se faz não é outra coisa senão perguntar
ser propriâmente vcrdadeiro, e o que é o ser verdadeiro mesrlo sobre o ente mesmo, e, com efeito, agora e em últinra instância,
propriamente dito que e assim possibilitado? Como as coisas se sobre o ser verdadeiro e sua possibilidade, náo sobre o ser verda
comportam ent relação .lo ser propriamcnte dito do ente? deiro do pensamento. E se afirma do ser verdadeiro do ente que
É preciso mostrar cle saída c em geral que o scr do ente
tanbérn perntanece como tcn.la err.r O10 e qLre o ser terdadeiro 65 Aristóteles, Mcfalísica O I 0, t05 I b2
é incluído nesse lema cliretriz. Assim, depois de ter introduzi_ 66 Op. cit., E 4, 1027b29esegs.
do o riÀr10àç óv, o ser verdadeiro, como o ente mais próprio,
67 Op. cit., E 4, I028a3.

110 lll

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ele até nlesmo constituiria o ser propriamente dito do ente. O pro- simplcsmente conto óbvio c não se pergt-lnta de ntaneira alguma
blcma não se moyimcnta, portalrto, apenas de modo geral cont- sobre ele. Se, então, no livro principal cia teoria do ser, Arist(itclcs
pletamente nos quadros da npótr1 $rÀooo$ia, nras é ele nrcsrro inscreve um capítulo, que tratir logo na primeira sentença da vcr
o problerna nrais raclicirl da ÊlosoÍia primcira. Em OI0, conr isso, clacle, justamente csse tenlâ nâo pode fãzer partc dcsse contexto.
não sc tratir absoiutamentc cie nenhunt problenta cla ltigica otr da Se um tal procedimento se clegenera t1e ntaneira ntais ou menos
teoria clo conhccitlento, tal corno sc srrpunha sintplesrncnte des tosca, quer de mirncira suntária, rlucr de nraneira dctalhacla, isso
de o principio, mas o quc eslá err questão c.tntes o problema nio altera em nada a impossibilidade de umâ tal rretodologiâ.
findamental da mctafísica. Orir, ntas ainda çrode subsistir, porent, ()nde é que se uchir, portanto, a falha firndantental na con
alguma drlrvida em rclação a considerar cssa capitulo c(»lto per- cepçiio do capítulo que estii aqui ent tliscussão? No fato clc nào
tencente ao livnr, tluc leva ao mais elevaclo clesdobrarrento pos- se ter qucstionaclo ir comprcensão antiga da cssência da vcrdacle,
sível a cluestão diretriz da metaflsica antiga? O capítulo nâo pre- .lssim con)o não se qLlestionou o llndameuto c o lnodo tlc ser
cisa, cntão, pertencer neccssariirntcnte ao livro? O capítulo não da culpreensiio dc ser antiga. Pois bent, o problerra da verdadc
se encontr.r dcsconectado do liyro e de seu contexto c Aristritclcs como problcma , exalalmentc cotno o problertra clo ser, tam-
lambenr não o introduziu aí apesar da ausênciir tota] dc conexào. berr rrão lbi clarificirdo na Antiguitlade, e isso e r,álido ao nresrDo
Uma coisa e ntais it.npossivcl clo que- ir outra. tcmpo para toda a ÍikrsoÍia subsequente. Sint, essa frlosoÍia niLr
Mas como e que se pôtlc desconsidcr.ar dc nraneira tão [osca soutre nenr mesntoJ por razôes que não precisantos tliscutir ago,
c tenaz o tcnrâ propriantente dito do capítulo? (ls comentadores e ra, acolhcr efêtivantente e tornar liutitero aquilo clue o tlcsclo
irqueles quc os citarn tantbent lcrant e il]terpretarirru elêtivatnenle branrcnto .rntigo do problcltrir cla verdadc irlcançou. Se as coisas
o capítulo. (lorn certeza, porent, hii unta diÍàrença cntre ler c lel.. se encontralr irssim, elttão não podelt-tos cont ntaior razâo itinda
A qucstão e sirber se nris lcrlos coln os olhos apropriirtlos, isto c, acrcditar que, cnr urn livro e ertr um capítulo tluc afirntir e cliscute
se nris mesntos estantos preparados juntc, ir nós ntesnros parir vcr até r-ttesrnO ur)1il conexào entre scr e verclade. tuclo se'riir trirt:rtio
o que c preciso ser visto. Orr sejir, se eslalltos à alturir da proble cr.n unrâ pura transparência. Ao contrário, onde a ntais proluntia
rniitica ou não, o t1r.rc signilicir aqui, se nós cotlprecndelt)os o pro- problcnriitica é alcançirdir, aí reina a uraior otrscuridaclc, apes.rr
blema do ser e, portanlo, o problenra cla verladc e sua conexào de todir agucleza do qucstionailento.
possivel de nraneirir suÍiciententente originárir, para llos n)oyer- A prir.rcípio, o quc os gregos ent gcrirl contpreeldertr, tle rla-
mos no horizoltte ern que se mantém a filosoÍia irntiga de plalão neira pré Iiiosóíica e hkrsrifica, por verdadc?,'" ÁÀí10ercr, clesvela
e Aristóteles por assirtr dizer por si mesnra. Ou, por uutro laclo, nlento; não cstar velirclo, mas estar desencoberkr; tlesencobrimento,
se ousilu.tos nos aproxinrar cla tradiçixr filosólica coln c(»lccitos isto é, ser arriurcaclo ao velatrento. \'erdacle conto r-lesencobrinten
lilosriÍicos gilstos e c(»]r os 1:seuiloproblenrls gendos por elcs c to, portanto, iii não é desde o cotrrcço unt caráter do conhecimento
se estillros dispostos .r tonrâr decisões cor)t unt tal equipanten c clir apreensrio do cntc, nlas o elttc ntesnto. l)esencobriÍnento
to precário cle visio em relação a clcs, clecisrics sobre irquilo quc ú tlcsencobrime rto t1o ente. Sc, portanto, Arist(itelcs pergunta
pocle se encontrar no texto e que podc ter sido pensado por Aris- sobre o desencobrimento do enle, sobrc a verclade do etrtc, cnlào
t(rteles. L irssint tluc ils coisas aconteccm ent Schtvegler Sabe-se
quc o protrlenta da verdacle pertcnce à kigica. O ser c considcraclo (iI Scr c /r,rrrpo, §,1,1.

lt2 lt3
essa é, no scntido antigo, a questào lrilis imediâtâ, prinleira e tamente superflua, no início do capítulo 10: oü 1<ip ôrri rô
nBôç
própria, quando se pergunta sobrc ir verdade. Primariamente, o oieoOcn tiÀ1Otiç oà ),eurôv eivor Ei oô Àeurôc, {iÀÀd ôrà
problema da verdade não é desdc o princípio nenhum proble tô oi r-i vor rrrcôv 4priq oi Qrivrcg roúru crÀr1-ecúopr:v. ,.
Àe

nra de apreensão e conhccirnento. Esse problema sti se mostra O riÀ10eóerv (o desvelar) também esrá fundado no riÀr10àç óv
corro uIll problenra cm segunda linha, a saber: na mcditla enr (ente desvelado). No entanto, como se leva tào pouco a serio a
que a âpreensão e o conhecimento câptanr o ente em seu desen- compreensão antiga originária da essência da verdade quânto a
tranhamento, em seu desencobrimento, o conhecimento é por compreensão antiga do ser, também não se vê a âmplitude des_
sua parte "vcrdadeilr'l isto é, dito em tcrmos gregos, algo que sa ambiguídade no conceito de vertlade. Tà riÀq0àç )"eyópevov,
cabe propriirmente ao desencobrimento do ente, que o cornunica aquilo que é originariamente interpelado como verdadeiro, de
e resguarda. O enunciaclo não e primariamente verdadeiro no sencoberto, assim como aquilo que tem de ser interpelado como
sentido do desencobrimento, mas cle é o modo cont o qual nós tal, é o próprio ente, o óv.
homens defendenlos e prcservamos a verdade, isto e, o dcsenco
brimento do ente: dÀIe€ósrv. d) A compreensâo grega da verdade (ri)"riOer<r) como
Não pocle ser dito do ente mesmo: tiÀ1eeÚer, tnas o ente é desencobrimento. O ente verdadeiro (riÀr10àç óv) como o
óv dÀn0ôq no sentido originário. Com o que, porém, também e ente mais propriamente dito (ruprórrxrov óv). O ente mais
possível denominar aquilo que dÀ1Oeúet verdadeiro em sentido propriamente dito como o simples e constantemente presente
derivado, isto é, o Àó1oç também e riÀ!0úç. <iÀIeôq signiÍica: Aristóteles colocà, então, o problema; nót'áortv { ortrc êorr
1. l)esvelado, dito do ente, 2. Captar algo dcsencoberto enquan rô tiÀr10àç Àsyópevov r] feôôoq?, se há a verdade, esse caso
to tal, isto é, ser clesencobridor, Por isso, reside enr riÀr10éç c enquanto tal não é discutido. A questão é: quando há e quando
riÀriOercr uma ambiguidade c, em verdnde, untir necessária, tão não há o ente verdadeiro enquanto um tâI, isto é, quando o ente
nccessária <1ue ela precisa scr rctida, caso se queira tomtrr pé enr enquanto um tal é de tal modo que possa ser verdadeiro? Como
geral sobre o problema da vcrdade. é que o ser do ente precisa set parâ que possa haver algo verda
Conro é quc as coisas se encolrtram no que diz respeito.ro deiro, desencoberto. Quando e que o ente pode ser propriamente
contra conceito crr relação à verdade, enr relação à inverclade? verdadeiro, quando ele é propriamente verdadeiro como um tal?
Inverdade nio é o nresmo tlue velanrento, mas diz o mesnlo que Desdobro o problema antecipâtoriamente. Resposta: quando toda
ciissimulação. 'lhmbem e preciso fàzer uma diferençâ correspoll e qualquer possibilidade da inverdade está excluida em todos
dente entre tàlsidacle e inverdadc, isto é, inverdacle não signilica os aspectos do ente. Quando acontece isso e o que signilica aí
il mesma coisa que nho verdaclc mesrro a beleza é unra nã<r
yertlade -, mas inverdacle só hri lá onde algo falta à verdatle, lii
oncle o há desencobrirrento e, de <lualquer nrodo, ntr rnaioria das
69 Em grego no original: "Nâo é porque estamos na verdade dizencio
sois branco que sois branco, nras o invcrso, porque és branco quc,
_que
vezes, dissimulação, lá onde algo, com eleito, se dá, mas se ofere- dizendo que sois, estamos na verdade." (N. T.)
ce conro aquilo quc ele não é. 70 Aristóteles, Metafkicd O i0,l05lb6esegs.
L) Iàto de o que está en1 quest.lo e o ser verdadeiro do ente é
7I Op. cit., t051b5cseg. (En.r grego no original:'em quc rnetiida há
algo que Arist(')teles acelrtua expressamcnte, de mâneira complc ou não o que chamamos verdadeiro ou o fàlso").
verclade? Quanclo pertence ao ser a verdade. Conto é tlue isso Êvêpyeto é o ser propriamente dito no sentido do manter se nà
é possível? Quando o scr verclacleiro constitui o quc há cle n.rais presenticlade constante. 2. Verdade e desencobrimcnto de um ente e
propriamcnte dito no ser ertquilnto tal. Ser, porém, o que é? Prc apenas com base e em relação a esse desencobrimento é que é verda-
sentidade cOr.tstirnte. Se, portirnto, nlcstna ttào significa
a verclacle deiro em sentido dcrivado, ou se.ja, algo acolhido ou rejeitado como
outrir coisà senào a mais elevada possivel e prtipria presentitlade, um desencobcrto, aquilo que apreer.rcle e determina o ente ntesmo:
cntão hii verdatlc. Essa é uma, sirn, essit é a questiro t.nctafisica rià1Oeúetv, o Q<ivo(t ou KorÍo($(ivü.r tà trÀ10í4." :. lrecisamentc
mais pura e nilo posstti tracla cm contunt cttttr n assinl chanrircla porque a verdade é, segundo sua essência, desencobrimento do entc,
teoria clo couhecintento. (lomo é rlue o scr verdacleiro potle per regula-se e determinâ-se o respectivo modo de ser do clesencobri-
tencer.lo scr tkr entc? O que e o prtlprio ser verdirdciro, cle tal nrento (verdade) segundo o tipo do entc, isto é, segundo o seu ser.
moclo quc ele possa pcrtcncer âo ser do ente? Aristótcles precisir A coordenação correspondência clo respectivo tipo cle desenco-
ea
entre outrils coisas no titn«lo pergttntar irssiln, se clc tluer rnos brincnto ao respectivo tipo do ente são, quando se captir c reténr ir
trar quc o set vertlarieiro não pertcttce apenas ao ellte, Illals colls- essência do conceito antigo de verclade, clesde o princípio claras e
titui o que h;i de mais proprianlcntc dito tto scr do ente: ciÀ10àç ribvias. Invcrsamente, quanclo essa correspondência sc exprcssou
óv.u,,r,, rrlptótcrrov óv. Fl, cvidentemente, só o ser vercladeiro claramcntc na Antiguidade, o queestava em questào era o fato de quc
propriâmentc dito podc coustituir o ser ntais proprianlcnte clittr na sua base residia desde o princípio a conccpçao de verdacle como
do ente, nao um tiesencobrimcnto quâlquer (le um elltc arbitr.i verdade do ente (tlesencotrrimento) . Assim o é de lato. Aristóteles
rio quitklucr. diz ao Íirial da Metu;físicu rr 1 de mancira inequívoca e elementar:
i:rsotov ti4 à1er toô eivar. oirto rni tfrq dÀr1et:iaq,i' assim
c) A corrcspottclência dc scr e ser verdirdciro como cada coisa se comportír em relâção ao ser, cada uma tambénr
(dcsencobrimcnto). Dois tipos fundaÍnentais do ser sc comporta em relaçâo ao desencobrimento. O rnodo tlc ser do
e os nrodos quc lhe sâo corresponclentes do scr verclatleiro ente dccide sobre o moclo que lhe cabe de seu possívcl desenco
Qual é a solução qtte Aristirteles dii it csse problelna? [)e brinento. Esse desencobrimento acompanllâ o ser Ao entc pro
ircorckr corn tudo trcluilo quc firi clito, nao tcmos o clircito cle achar priâmente dito pertence, eDtào, cnquanto tal, o ser verdadeiro
que esse ponto mâxilnanrcnte elevaclo clir problenliitica ontológi propriâmente dito.
cil cla Antiguidacle n'tostraria em seu tratamentO unl cirráter cli Nossa afirmação e a cle quc Aristóteles apresenta o proble-
verso do triltânrento antigo do problcttu em geral. lhmbem aqtli, ma em O10: como é que precisa ser o ser do ente, pilra que o ente
o problcma ertcontril se ent rleio à clariclacie cla corrpreensão de possa ser algo verdadeiro, isto é, desencoberto? O que é o ser
ser naturirl cotidiana, serl.t que a Iuz ntesnla tivcsse siclo clarca- verdadeiro propriaÍnente no ente? Deve ter ficado claro que esse
d.r. (larilcterizo o trirtantento aristotélico do problema lpenas cln problenra se torna incontornável para a Antiguidade e, com maior
scus tr.rços principâis. Un)a interpretaçiio cotttpletir seria por de razão, para Arist(itclcs, depois que desperta a questão diretriz
rniris amplir c precisaria prcssupor uttt cotrhecit.nento PCnetrânte
cla metatlsicir aristtttélica, 72 Um grego no original: 'desvelat o tiizer ou o atribuir o verda
Con'r vistns ao problcma, precis.rmos nos lembrirr tlc três coi deiro'l (N. T.)
sâs. l. O cnte propriamente clito e o ôv âvepydrq (o ente enr ato). 73 ()p. cit., (I 1,993b 30eseg.

116
ti tô óv. Isso e palpável. Ao me smo tempo, porém, deduzimos do Por exemplo, o ser branco do giz no que diz respeito a esse giz.
dito ct»lo é, então, que Aristóteles, Iogo ao acolher o problcna, dá Quando o giz é, ele não precisa ser branco. Enr contrapartida,
inicio âo seu tratamento e em que direção ele precisa desdobrá-kr. o fato de o giz ser, quando ele é, uma coisa material, isso, â ma-
Pois se sua tese é: o <iÀriOàç óv é o ruptótotov ôv, c, ente màis terialidade, não se coinseriu em algum momento e alguma vez
proprian.rente ditr), entáo ele precisa partir cm direção à pergunta em acréscimo, olp Ê€BnKóq, mas é um olyKei[€vov, ele se
sobre ir verdadc dt) ente propriâmer.lte dito. O problema náo é um encontrâ junto no giz, otv - xeípevov con.r o ónortip€vov (en-
tipo arbitrário qualquer de verdacle de um ente qualquel mas a contrar- se .junto com o subjacente). Aqui, o giz e a rnaterialidade
verdade do ente propriamente dito; isto e, de acorclo com o quc sâo dôúvotov ôrcrrpe0í1vnr, ou seja, é impossível tê-las disso
Íiri dito acima, âo nlesmo tempo: a verdade propriamente dita. ciadas diante de si; por exemplo, quando se apreende o ente giz
Aqui, jurrto à verdtde prÍ)priamente clita do ente propríame te e ele devc ser desentranhado naquilo que elc é. Por outro lado,
dit(1, o nexo propriarnente dito entra sar e rcrdade prccisa sc tornar se o giz e, então nruitâs coisas podem se colocar junto dele. 'Iit

visível, ou seja, é preciso vir à tona em que medida o verdade em davia, a mendacidade, por exemplo, nunca poderá ser colocada
geral constituí o ser propriamente dilo do ente. conjuntâmente com ele. É impossível reunir algum dia os dois,
Com isso, já prelüreamos o curso clas discussr-res de O10. C) por exemplo, iunto à determinação desentranhada do giz, e dizer:
"O giz niente'l Aristóteles diz: dôúvurov orvre0ivar. Natural
tratamento temático do problema comcçir em 1051b9 e estende
sc até b33 ou âte 1052a4. O que se encontra antes daí introduz o mente há, tal como já mencionamos, algo que ora pode se colo
problema. Nós dissenros o mais importarte âté âqui: tese, modo car iunto do giz, ora não. O que significa, então, o ser nlaterial
de questionamento, aceno para a vcrdade material (nprilpnr<r), em relação ao giz que e materialmente enquanto tal, o ser mate
esse íundamento da possibilidade da verdade enunciativa. C) que rial do giz? Signilica encontrar-sc junto e, assim, ser na coperti-
écliscuticlo depois de a4 são conse<1uências. A construçào dtr dis- nência de urn ente; não â mesna coisa, mas constituindo uma
cnssão temática, a composiçáo, o caráter coÍrciso, a agudeza e a coisa na multiplicidacle. De mancira correspondente, junto âo
clareza pertencenr ao que hii cle mais espantoso que eu conheço ser n.lentiroso do giz, aÍirma-se o não se-encontrâr junto, umâ
de Aristóteles nessa profundidacle dos problemas. dissociação pura e simples, uma multiplicidade desunida.
O desencobrimento clo ente regula se segundo o nrodo de Com a clarificação c cleterminação desses tipos diversos do
ser do ente, tà ôà ciÀq0àq ti4 tô éivcri.'' Nâ divisáo geral dos ser, Aristóteles começa a tliscussào temática: ei ôi td Uàv dei
entes, percebemos o fàto dc que conhecemos um tipo dc ente oúyretrrxr rcri dôúvntn ôr.ulp€eílvcrl, Íd ô'dei ôr1p1rcrr rtr.i
em relação ao qual Arist(Íeles observa o seguinte: êyyúç tr toü dôuvnrtr otvte0frvar, rri ô' àvôêletcrr rrivcrvricr rô pàv yrip
pl óvtoç," ele se aproxima do não ser. Em verdade, ele ainda é Eivcri àoro rô ouyrúo0«r rni êv Eivar, rô ôà pl eivcn tà
um ente, mas não propriamente; e esse ente, o óv KüÍd olpÍle pr1 ouyreioOut tiÀÀd nÀeío divür76." Não há aqui nenhuma
pqrcóq, e ele um ente tal que se acha cie tal modo presente, que ele
se coinseriu em algum nlonrento e alguma vez ocasionalntente. 76 op. cit., ol0, 105lb9esegs.
77 Em grego no original: "Se, por coDset$inte, umas coisas sempre
t'4 Ilm grego no original: "O vercladeiro como o ser'l (N. T.) cstãoiuntas e não podcm ser separadas, e outras sempre estão separadas
e não podem scr unidas, e outras adll]iten] o coDtrário, o scr ó estar jun-
75 Op. cit., f. 2, 1026b21. to c ser um, e o não ser, não estar junto, mas scr várias coisas'l (N. l.)

118 119
cliferença em relação i\ intcrpretaçâo c1a quiclidade e do modtr não ser possívcl. O segundo tipo é sempre simplesnrente cnr
cle ser clo ente. Podemos deduzir clessa intcrPretação â provâ si um certo niro ser [i agora pela primeira vcz, dcpois tle Aris
nrais palpiivel par.l il nossa tese geral sobre o ser. Ser signiíica tótelcs ter dctcrminado csse tipo do ser (quididade e modo
encontrar-se ur.riclo corno o ser cla quidiclade (materialidade clo dc ser) de um ente, ele passa para o problema propriamente
giz), ouyrcioOtrt. Nris nos lenrbrarnos, porém, que o únoxei dito, isto é, para a cluestào: quândo e como saro possíveis o ser
pevov significa únopávov. Por isso, ouyreioectr r.rao signili verdadeiro, que corresponde a esses diversos tipos de ente, e
ca sil]rplesnrentc apenas encontrar sc.iunto conto ser conjun o desencobrimento (ter siclo descoberto) correspondente? Ele
lamente datlo, mas clescle o princípio pernrirneccr.junto, estâr começa conr a interpretirção do clesencobrinrento do cnte, que
con s tan ter)r ente junto, isto ó, copresentidade constante de um pode ser ora dc un.r modo, ora tlc outro, do cntc cujo scr é o
colr o outro. Naquilo qrre clc mesmo é, o pr<iprio giz se encon que nrenos satisfaz a essência clo scr, ii prcscntidadc constantc,
tra junto conr â nraterialidade, pernranecendo constatltentente pernraneccntio falho, inconstantc c, por isso justamente, por
corl ela. En.r contraparticla, o giz e a mcndacidacle se mostrirnr vczes ilusente ern relaçáo a ele. Caso haja eÍetivanente uma tal
como Lrm constantc niio estar junto: o giz ellquanto tal nutlcir descoberta, quando e como se clá a clescoberta (verdade) do
porta ct»rsigo algo desse gênero, algo desse gênero ttttnca potle que pernranece incor]stân temenle de Íbra, do continger]te? C)
se colocar junto conr ele. A mcndacidacle prccisa Permanecer clese n cobrinre nto do casual não é scmpre e, cr.n verclacle, r.rirrr
constaultcnrcnte de Íirra, ternos irqui ir ausência cottstilnte tie un] tem lugar pÍecisrmcnte quando o coutir)gcnte é tal colno ele
erl relação ao outro." Por Íltn, hri algo lal quc nulca é constitn e. Resicle na essência do co ntin gentcmerltc cnte enquanto cnte
temente, que nunca está apcnas preserlte, nras que é inconst.ln que a verclircle que lhc c pcrtincntc niio scjir scmprc o quc cla
tc, ora presente, ora não, algo tlue estii presetlte e peÍÍnanecc, qucr scr vcrdarie. A vertlade transforma-se em inverdade.
pirra logo enr seguitla nilo estâr prescrlte e permanecer de firra. Não sc acha, portanto, primirriamente em ntis, por exentplo, no
Aqr.rilo que incor)stalrtemenle permanece de lbra é aquilo quc lr(,nrcttt.lrte.tprecttJe. rr [al{) Je ('\ l\or |e,7c\ rlls c(luivr'(itr-
ycm a cacla prescntc e cai sobre ele, que lhe cabe e que lhe é t.tlos e pensarmos de m;rneira errônea. Como é que precisa se
acrescentatlo, o co tifigente. Caso trào se tenlta, ctttiio, descle o mostrar, aÍinal, o desencobrimento do contingente, pâra que,
princípio cnr vista para a inter prctaçào que ser signilica presen- segundo a sua essência, eie possa não scr senrpre o que ele é,
ticlacle constante, enlalo nilo sc ctttrseguir;i atravcssar cle manei paÍâ que ele, o clesencobrimento, possâ se toÍnar ele mesmo
ra irlgurna cssa passirgeln dccisiva cle Aristótcles, nenl rllesn'lo a inverclade, e, conr efêito, de tal rnotlo qLle, senl il nossa apre
eln unr printeiro passo. cnsão, o cr)tc sc altere? Nris vemos esse giz e riizcnros: "O giz r!
.ltndomcntais dc -s.r: ouYKúoool
'le mos agora dois tipos brirncril Ilssc é um cnunciado verclirdeiro, portluc ele acolhc o
c oupÍlsÍlqKávüt. Nesse caso, é ilnportante observar cotlo irlgo giz enr si c contóm acluikr que csse giz e enr scu desvelarnen
decisivo o scguitrte: cacla uttt ciesscs tipos cle ser tcrr seu uoclo to. Nós retenlos esse enunciacio verclacleiro. conser\,armos essar
especíÍico dc não -scr, de au.sirciri. Atentar para isso é decisivo. verdade e vamos corr ela para casa. Nós podemos nos reunir
Ao primciro tipo cle ser enqual)to tal pertencc um clcterurinaclo e discutir o objeto, descreyendo-o, na medicla em que o pre-
sentificâmos. Nesse ínterim, porém, alguenr pode ter pinta-
C1. I'itrlrrc, liutide no. As bclas coisas e a trelcza; ropouoi«. rlo o giz.le r',.'rrrr.lho. olr. [(,r rJlóc\ quirisqu,.'r qllc 5io l)or

t2(') t2t
princípio possíveis, o giz pode ter mudado a suâ cor. Nesse ora dissimulado, tomândo essa mudança como um aconteci,
caso, o nosso enunciado verdadeiro torna-se inverídico, sem mento que sinplesmente se dá. Aristóteles nào diz onde é que
que nós tenhamos alterado algo nele. Sim, precisamente porque reside o fundamento propriamente clito da possibilidade para
rctivcmos o nosso enunciado yerdadeiro inalterado, justamcn tanto. Na cssência da verdade do contingente se asscnta a pos
te por isso ele se torna inverídico, simplesntente por meio do sibilidade constante da inverdade, essa inverdade nâo é em si
próprio ente e de seu modo de ser, ora de um maneira, ora uma verdade propriamente dita.
de outra. Inversamente, urn enunciado dissimulador, 'b giz é Como as coisas se conlportam, então, no que diz respei-
vermelho'l pode se tornar descobridor. Nosso enunciado tor- to à verdade do ooyreipevov, cla quididade? Caso o desenco,
nou-se invcrídico, isto é, n.lo é nrais descobridor, mas dissimu- brimento da quiditlacle do ente se dê, então cle é constante, por
lador. Se nós o enunciantos, então cobrimos com o enunciado mais que possamos ou não tàzer uso dele. Visto de outro ntodo, a
"branco" aquilo que o giz rnaniÍêstantente é, ou seja, de manei-
partir do ente: o ente nunca é, quando ele é clescoberto cont vis
ra desencoberta, a saber, vermelho. Nós náo apenas cobrimos. tas à sua quididade, ora descoberto, orâ encoberto, e, com isso,
Cono pretendemos dizer algo verdadeiro sobre o giz, n<is o elc nâo está exposto à possibilidade cla inverdade. E, contudo, os
fazemos passar por algo que ele não é. Nós náo cobrimos, mas oUYKsiU€Vtt não são purir e simplesnente, eles nâo são em todo
o encobrimos, dissimulamos sob o modo como elc dcscle então
c qualquer aspecto para alem da possibilidtrde da dissirnulação.
é, nós nos iludimos e iludinos os outros. O l"óyoç torna-se Ln.r verdade, o cnte, o giz, nunca poderá se alterar em seu quid,
rfeuô1ç é pÍeciso atentar bem, ele nào se torna simplesmen- de tal noclo que lhe poderia ser atribuída a deterr.ninação "men-
te incorreto, mas "equivocado'l um "err<il E claí vem à tona o
tiroso'l Apesar disso, o giz, na medida em que e determinado em
seguinte: o desencobrimento do contingente pode se alterar es-
gcrai em seu quicl como isso e aquilo, se acha constantemente
sencialmente a qualquer ntomento sem que precisemos fazer
nada. A verdade do entc contingente é em si inconstante, e,
iunto com certas determinações tais como a materialidade, a ex-
tensão, o que signifrca ao mesmo tenlpo que muitas outrâs coisas
por isso, um e mesnlo enunciado, que capta ele nresmo a ver-
não se enconlram essencialntente.junto com ele. Onde quer que
dade, pode ser ora descobridor, ora dissimulador. flepi pàv
algo tenha efetivanlente o modo de ser clo otyreí;,Levov, aí lhe
oôv rti àvôe1ópevo i1 cót1 yiyvsÍcr rfeuEilq xoi dÀI0rtq
pertence essencialmente à relação com algo tal que náo se encon-
ôó(« xrxi ó lóyoq ô crúróç, xrxi àvôê1eror ótà pàv riÀr1Oeú
tra junto dele. No quc concerne a csse caráter de não conjunção
erv ôtà ôtl {reúôÊoôor7e.no O mesmo ente em seu modo de ser
pertinente ao ente, existe a possibilidâde de fàzer aquib que não
é, abstraindo-se totalmente de se e clo modo como se altera a
está unido passar por algo que se âchâ unido, isto é, há a possi-
concepção humana, ora desencoberto segundo a sua essência,
biliclade cla dissimulação. C) mesmo ente, que é desencoberto em
relação ao que constantemente se presenta com ele, e constante
79 l,n grego no original: "No clue conccrne às coisas que admiten mente dissimulado em relação ao que está constànterrente au-
o contrário, a mesrna opinião e o nlcsrno enunciado se mostram por sente dele, ao que seria incompativel com ele, caso ele se tornasse
vezcs falsos, por vezes verdirdciros, e é possível se ajustar algumâs vczes
maniÍêsto enquanto tal. Por isso, tlepi ôà tà dôóvatcr riÀÀrrg
à verdacle e outras vezes errar'i (N. T.)
í:Xerv oi yiyvetcrr ôtà pàv riÀ10àç órà ôà rfeôôoç. ri)"À'dei
80 Aristóteles, MeÍ.y'/si.a, Ot0, l05l b13esegs.

122 123
tcrutd txÀn0n rai rlrzuôr1e.*t Por isso, r.ro que se refcre ao que se L)e acordo com o ponto de partida e com o clesdobramento
encontra unido, ele é constântemente clesencoberto, no que se refere até aqr.ri do problemâ, essa questão precisa se mostrar agora da se
ao que não se encontra unido e a partir dele, ele é constantemente guinte tbrma: alem do ente cliscutido e dos tipos do ser, ainda hii
dissilnulado. Cabe âo ente como um ser o que um tipo mais elevado un.I ente tal ao qLral pertença o ser verdadeiro mais propriamcnte
de verdatle, pois esse clesencobrinento não pode se trânsforntar en.t dito? O respectivo ser verdadeiro mais propriamente dito precisa
si cm uma dissimulação, e, enr verdade, não porque o ente está cons ser deterrninaclo a partir do ser daquilo que constitui o tlue há de
tantemente presente naquilo como o que ele é desvelado. Nâo obs mais próprio no ente. Flssa é a qucstão mais imediata, tlue vem
tânte, mesmo o desencobrimento da quididade ainda se acha ligada à tona a partir do ponto de partida e da metâ da problemática.
a uma dissin.rulação possivel, mâs essa se encontra fora da verdade, Agorir, porérr, é decisivo para o conteírclo e para o problema do
justamente porquc mcsmo a dissimulação é uma constantc. capítulo como um todo, que o método tenha se alterado aqui, na
questâo acerca do ser verdadeiro mais propriamer.)te dito. Aris-
p) Verdade, simplicidade (unidade) e presentidade constante tótelcs não pergr-rnta em primeiro lugar sobre o ser do cntc quc é
O simples (riôraipetu, rioÚv0ern, rintrô) como o ente n.raisproprianente, a Êm de cliscutir ern seguida o ser vcrdadeiro
propriamente dito desencobrimento colno o modo
e seu que lhc c pcrtincnte, mas, depois do aceno para o qr.rc hii dc rnais
mais elevado possivel do ser verdadeiro próprio no ente, Aristóteles pergunta sobre o seu ser verdadei
ro, parâ determinar a partir daí o scr etr.t outras palavras e ditcr
Assim, obtem se o seguinte: quânto nrais próprio é o ente
e o seu ser, tanto mais pura e constânte é a presentidade, tan- de maneira mais agucla, a finr de determinar csse ser verdadeiro
to mâis constantemcntc o desencobrimento ou a dissimulaçáo mesnlo conlo o ser mais propriamcnte dito do ente propriamente
correspondentes pertencem ao ente enquanto tal, tanto mâis a dito, conro o que há de nrais próprio no ente propriâmente dito.
possibilidadc da transfbrmação e degradada ao nivel da dissi- Aristóteles diz cm duas passagens em meio à preparação
mulaçao, tanto nrais pertence ào ser do ente em questão o desen- do problenra n.ris propriamente dito: óorep... tô ti)"r10àç... oú
cobrimento. Mas enquanto a verdade em geral aincla peÍmane- Toç... Íô úvo(t ('lhl como é o ente verdadeiro, assim é o set)8'' e
ce ligada à possibilidade da inverdade, ela náo se nlostra como
rô ôà dvor tà óç riÀr10áç (mas o ser é como o ente vcrtladei
ro).sr Ante riormente, ele tinha dito tíronep tô úvrxr, oúttoq tir
a verdade proprialnente dita, como a verdade suprema. Só ela
podc evidentemente, se é que ela pode, constituir o ser propriir d),r10êq (tal como é o ser, trssim é o ente verdadeiro), agora temos
a afirmaçâo inversa. Portanto, nào âcontece aqui, tal conro acon
mente dito clo entc. Há, então, un1 tal ser verdadeiro, clue nãcr
pode mais estar ligado enquanto tal à inverdade, que exclui de si tecia anteriormente, â pass.rgem do ser do oopBepqróç para o
pura e simplesmentc a possibilidade da dissimulaçao? ser clo ouyreigsvov e, então, para o desencobrimento corres-
pondcnte, mas, ao contrário, pergunta se logo enr primeiro lugar
sobre o desencobrinrento. E, cm vertlade, como? f)e acordo com
itl Ern grego no original: "no entanto, no <1uc concerne àquelas que tudrr lqLrilo que li'i Jilo. Êia cllro quc agora ü (luc\lio [)re('isà
não pclclenr ser de outro nrodo, elas rtão se mostram por vezes corrro
vrrdaJeiras, por vezc. (onto lrl..r.. rllas it Illc\nra r tlin iio i 5( r)lPre \,cr'
dirdeira ou sempre t'àlsa'l (N. T.) 83 Op. cÍ., I051b22.
it2 Op. cit., 105lb15eseg. lt4 Op. cit., l05lb 33.

t24 t25
ser: qual e a verdâde mais propriamente dita, que também exclui diverso claquilo corno o tlue ele precisaria e poderia scr dcternti-
pura e simplesmente a possibilidâde de dissimulação? Quando e nirdo. Flle nunca é nranifesto corno isso e aquilo, mas scmpre cle
queéesseocaso? rrancira direta e sinrples como purarncnte nele mesnlr c sendo
Ntís vimos que o ente a ser por irllimo considerado era um trpenas ele mcsmo.0 desencobrimento clo sintples nele ntesnro
ouYr(Êiu€vov, por exemplo, o giz e a sua determinaçáo da ma- nunca poder scr dissimulatlo por algo tlue não pertence âo silr)
tcrialidade. 'lhmbém podcmos mencionar uma diagonal e a in- ples. Esse desencobrimento não pode se transfbrntar em dissi
conrcnsurabilidade dessa diagonal por nreio de um lado do qua- mulaçáo; e não porque, por exemplo, atluilo que é pertinente iro
drado. Os ouyrceiprevcr sáo riõóvrxtn ôrarpe0frvoL, isto é, em sirrrples se acha constantel])entc manifesto, mirs porque o simples
relação a eles existe a impossibilidade da dissociação, quando o enquaÍrto tal n;lo âdnlite nirda que lhe seja copertinente. O cie-
respectivo ente deye ser determinado. Algo desse gênero também scncobrimento clo simples cxclui pura e simplesntente a possi-
e designado de maneira breve por Aristóteles como tiôtcripetn." bilidade cla não-verdacle. O dcsencobrimento não apen.ls nunca
Hii ainda algo mais elevado que não pode ser dissociado, mais se trirnsfirrma enr dissimulaçho, mits não tcm em geral nenhuma
clevado do que aquilo que se copertence de mâneirâ constante e Iigação possívei corn ela. Esse desencobrimento do simples ten.r
necessária? Flvider.rten.rente. Aquilo que em geral não comporta como sua oposição possível apenas o simples náo-desencobri
ncnhuma conjunção dc uma coisa com a outra, que err geral mento, que nunca pode ser, segunckl a sua essênciit, clissintLtla-
não é en si nenhum estar-iunto, quc não pnssui nenhunr ouv, ção, inverdade. O desencobrirnento do simples cnquanto tâl é,
e rioóvOetov. Dito de maneira breve c positiva, os rioúvOe por isso, o modo mais clcvaclo possível do ser vcrdadeiro, o ser
Íü se mostrâm como: Íà
ánÀô. Assiln, vcm à tona a seguinte verclacleiro propriamente dib. F. o que é esse clesencobrimen-
serie da investigação: ougpeplxóro. 6uyl(sigsvü. riôóvcrrcr to propri.rmente dito? l)esencobrirnento é â maniÍ-estabilidade
ôrutpeOfr vot, tiôrcripetcr, dloúvOcrtcr. án)"d.*" de algo, de tal modo que ele pode se presentiÍicar ncle mesmo.
Nem tudo o que e dôrcripetov e ár)"oôv, mas certamente O descncobrimento clo simples é prcsenticlade pura c sinrples
o inverso é verdadeiro, todo án)"oúv e um ciôrcripetov e, com mente do ente nele ntesmo. Essa prescntidatle e a ntais imcdiata,
etêito, no sentido mais elevado e mais próprio possível, porque t.tito vem à tona nada entre ela e sua presentificaçào e nada podc
aquilo que é copertinentc não apenas é indissociável, mas por- vir à tona aí. A presentidade nlais iinediata, alén.r disso, é aquela
que aqui em geral não ocorre mais nada que seja copertinente, que ântecede a todas as outr.rs presentidirtlcs, se é que elas sâo
porque enquanto algo simples nada se mostra aqui como coper efetivâmente presentidades, pois ela e a nrais elevarcla e a mais
tinente. Portânto, se o puramente sinrples é desencoberto naqui antcrior. Isso, porem, a presentidade constànte dc maneira pu-
lo que ele é, então ele nuncâ traz consigo como algo simples algo ramente inrediata a partir de si, somente por si e antes de tudo,
essa presenlitludt maxiflanrcnte conslonle e purq ào é tttda alént
tlo scr moís eleyotlo e mais próprio. Por conseguinle, se os dnÀô
It5 Aristóteles, l)e anino (llichll Apelt. ). Leipzig (Teubner) l9l I. f 6, constituem o entc nlais propriamelttc dito, se eles se mostrant
430a26 e b6esegs.
corlto o que há de nrais próprio no cnte, e se seu desencobri
86 I'lnl grcgo no original: 'toncomitante, o que se encontra junto, mento é o mais elevaclo e mais pr(iprio, que justamente veio i\
aquilo que não pode ser dissociado, aquilo que não pode ser diferen
ciado, o quc náo pode scr colocado junto, o sinrples'l (N. l)
tona, se, arlem disso, esse scr verclacleiro mais propriantente dikr

t26 t).7
náo significâ outra coisa senão Presentidade constante, então o esse elemento maximamente simples, ele é o Íundamento pri
ente verdadeiro propriâmente dito é o ente propriiimcnte dito: rneiro e último da possibilidade de todo e qualquer ente fático
o ri),10àç óv e ruprótcrrov óv. Assirr, é preciso mostrar ntais pensável. Esse elemento mâximamente simples é o que há de
exatamente, 1. que os únÀô para Aristóteles constituem o que mais próprio no ente.
há de mais próprio no entc, 2. que na essência da verdade pro O que nos diz, então, Arist(rteles sobre aquilo que cons-
priamente dita não se encontrâ outta coisâ senão a presentidade titui junto ao ente propriamente dito, isto é, junto ao cnte
pura e simplcsmenle constante. que se presenta constântemente, o seu Íundamento de pos-
Lembremo nos. A questão diretriz do filosofar propria- sibilida<Ie (princípio, ripXí)l Ttiç tôv riei óvtov ripXàç
mente dito é, ti tô óv, o que é o ente? Pergunta-se sobre aquilo <iv«yrcaiov eivcn dÀr1OeoráÍctç8e.e. Ent Ot0, os únÀ& sao
que o ente é enquanto tal, o que constitui a sua possibilidacle tonados da maneira mais aguda possível: ôottv ónep eivoL
interna, isto e, a partir de onde ele é possível como aquilo que Ít êvspysiqe'." Esses princípios do ente que e ProPriamente,
ele é. Esse "a partir cle onde" tem em vista a tipXri, o princí isto é, o ser mesmo enquânto tal, se mostram como o que há
pio, o funclirmento, o{,iÍio(l. Pois ben.r, Aristóteles nos diz agortr: de mais verdadeiro, ou seia, pura e simplesmente em primei-
ra Iinha, antes de tudo e para tudo aquilo que vier a se mos-
UnÀÀov tipXil rô ánÀoúorepov,*r o que é mais sirnples, isto e,
o mais originário, e mais principio. Quanto mais avaIlçâmos cm trar como desencoberto. Dito a Pârtir de nossa concePçáo
direção ao sirnples, tanto mais nos aproxitlamos dos principios. nrais raclical do problema como um Íodo, o ser precisa ser efe-
liyamente desencoberto desde o príncípio e constontemente de
Quânto mais originário é unr conhecimento, tanto mais originá-
rio é o desencobrimento clo clesencoberto, tanto ánl.oúotepctr maneíra pura e simples, se é que o ente deve se lornar Pqssível
cri cririar rai dprri88. Â questão acerca do ente enquânto tal, de clescoberla e ocessível à determinaçoo. Quer caPtemos, in
porém, é o conhccimento primeiro, o conhecimento cm primei quirâmos e dcterminemos ou não cxPressamelrte o ser, ele já
ra linha. Por isso, a questào rrais simplcs, a questão justamente sc encontra scnlpre e constântelnente antes tle tudo isso de
acerca da<1uilo que se encontra à base do ente enquanto tal. B sentranhirdo. Ele se acha enquanto tal no desencobrimento.
o tlue é isso? O que é aquilo que em geral pertcnce ao entc en- O que significa isso: o fato de o simples ser o que há de mais
quanto tal? O ser t'nesmo, crutó tô óv, o ente nele mesnro con- verdadeiro, mais desencoberto? O que signiÍica no fundo de-
siderado puramente com vistas ao seu ser. Ser é aquilo quc náo sencobrimento? Com isso, chegamos à discussão da segunda
pertence vez por outrir ao ellte, vez por outra náo, mas aquilo tese de que, na essênciu da verdade, não há outrâ coisa senáo
que pertence pura e simplesmente e constantemente e antes de presentidade constante pura e sirnples.
tudo ao ente enquanto tal. Algo do gênero do ser em geral e cla
simplicidade e da unidade em geral não pode mais ser deconl ll9 Em grego no original: "as causas dos entes que são semple sâo
posto. lrat.r sc do sintples pura e imcdiatanlentei r:, enquanto necessarianlente mais verdacleiras'l (N. T.)
90 C)p. cit., (I1, 993b28eseg.

87 Aristóteles, Mcrry'Lsic.r K 1, 1059b 35. 9l Em grego no original: "sobre os entes que são alSuln ser e em ato'l
(N. r.)
88 Enl greÍlo no original: "nrais simples são as catlsirs e os principios'l
(N. r.) e2 op. cir., ol0, I051b3oeseg.

t29
128
y) O desencobrimento do simples como purâ é um Oryéiv, um mero tocar, isto e, um simples captar, nenhum
presentidade simples e imediata nele mesmo conceber mais, nenhuma apreensáo do simples como algo diverso,
Aristóteles diz no mesmo capítukr: tti 11 Qúoer $avepó nenhum conceber, mas um simples captar Aqui não se encontra
t«tcr trivtotv,''' aquilo que, segundo a sua essência mais inter- diante de nós nenhuma (útrlorç (busca) e ôtô<iÇtç (ensino) no
na, é mais manifesto, isto é, aquilo que se presenta o mais cedo sentido usual, mas um âtepoç rpotoq (um outro caráter)ea e ne-
possível, antes de tudo e da maneira mâis purâ possível, sâo as cessário junto aos cxnÀd. A simples tomada de algo é o modo de
dplcri (as causas, os princípios). O fato de, no desencobrimento âcesso, no qual se anuncia puramente nele mesmo para n(rs algo
do simples enquanto tal, não se ter em vista outra coisa senão imediatamente, na mâis imediâtâ proximidade, sem tolerar nada
uma presentidade insigne é algo que podemos elucidar a partir entre e antes disso, ou seja, o desencobrimento do simples enquan
da estrutura daquilo que é Êxado por Aristóteles como o único to tal que, segundo Aristóteles, só se tornâ acessível nesse tomar.
modo <le acesso correspondente a esse elemento simples. Esse desencobrimento niio é outrd coísa senão a pura presentidade

Lembremo nos antes de tudo do desencobrimento do ente do simples nele mesmo, presente Puro e sirzples, que pura e simples-
no sentido mais imediato possível, dessa coisa que é constituída de mente exclui tudo aquilo que ainda nào se acha presente e não está
tal e tal modo e que se acha presente, se é que ela deve ser apreendi- mâis presente, porque ela necessita dele segundo a sua essência.
da no modo como ela é manifesta. Se é que devemos nos exprimir Se, poÍtanto, o simples constitui o que há de mais próprio
sobre isso, então essa expressão é iustamente um enunciado, isto no ente e se o desencobrimento do simples não significa outra
é, nós enunciamos sobre o giz o seu ser branco. Nós interpelamos coisa senão a mais pura presentidade, que e antes de todo o resto,
a coisa branca como isso e aquilo, em termos gregos: o discurso, o isto é, constantemente, entào essa verdade suprema do simples
Àóyoq, é um rcrtoôávou nós atribuímos algo ao giz, rcrtcr$tivnr. é o ser mais propriâmente dito junto ao ente em geral, tô ôv
rô dÀr10êç (atribuímos o verdadeiro). C) simples pura e imedia- dÀq0áç e rcuprótüÍov óv.
tamente, porém, aquilo que nào possui nada em si, com vistâs ao Como é que se acham as coisas, entáo, com o alijamento do
que ele pudesse ser explicitado, esse simples só pode ser interpela- óv riÀ.r10áç (o ente verdadeiro) no capítulo E 4?e5 Somente agora
do nele mesmo enquanto tal, náo enquanto algo diverso, em geral fica claro o que é dito aí, por que e em que medida o ciÀ10áq óv
não mâis como..., mas ele só pode continuâr a ser simplesmente é agora alijado. Também se encontra ai uma referência para a
denominado nele mesmo, nós só podemos por assim dizer falar riÀr]0era (a verdade) dos rinÀô (das coisas simples), riÀriOerct
"tu'l o ser, a unidade, ele próprio. Aristóteles expressa esse Íàto da essa da qual Aristóteles diz que ela seriâ tratâdâ mais tarde.'6
seguinte maneira em O10: no que concerne ao elemento simples, A questão é que se mostra tâmbém iunto aos dr).â um tiÀr1eeú
nâo há nenhum rcrta$ávor, mas apenas o Q<ivcrr. O simples só €rv do voôq qua vó1orq." Esse também não é nenhum tema
pode ser captado em seu desencobrimento, se nós simplesmente
o ad-mirarmos, em sua simplicidade, e se não o deixannos estar 94 op. cit.,217 , I041bgeseg.
em relação conosco de nenhuma outra maneira. Ou quando Àris- 95 Cl tambem op. cit., K 8, l065b2lescgs.
tóteles caracteriza o $ávrxt rô dÀ10áç do <inÀoôv: ele diz que ele 96 Op. cit., E 4, Iq27b27esegs.
97 Em grego no original: "um desvelamento do espirito enquanto
Op. cit.,(Il,993bl I. pensamentoi (N. T.)

130 131
justificado. Assin, ou bem toda a remissâo não é correta, ou seja, e) A questâo âcerca do ser verdadeiro do ente proprianrente
é concebida de maneira falsa pelo redator, ou, porém, tambem dito como a questão mais elevada e mais profunda da
junto à ôt<ivoro (ao pensamento discursivo) se trata de algo di- interpretação aristotélica do ser
verso. Esse riÀr1Oeóerv (desvelaniento) não fica de fora, porque C) capítulo Ol0 como momento de conclusão do Iivro O e
cle é uma propriedade de unr estado subjetivo, mas porque aqui cla metatlsica aristotélica em geral.
sc encontrâ um ser verdadeiro e un.t ser dissimulado, que pode Uma vez que se traz à Iuz esse collteúdo temático do ca-
sc transformar em si. Flle não está dc maneira alguma preso ao pitrrlo Ol0 por mcirr dc urlx inlcrPrctJçJo Pcr)ctr.rntc c Llr iert
ente propriamente dito. Precisamente se esse desencobrimento tada dcsdc o principio e constantenlente para a compreensào
âcontece, então ele pode e precisa se transformar Enr contra antiga tlo ser e da verclade, não se mostra mais como cstra
partida, aquelii riÀí0ero da vorjorq (aquela verdade do pensa nho o Íàto de se considerar o KlptóÍüÍov como o caráter do
mento) está pura e simplesmente com ela mesma, quando ela é. ril1oàq óv. Seriâ, ao contrário, de sc espantar, sc o KoplóÍo
C) fundamento do aliiâmento não e o pertencimento ao sujeito, Tov naro se encontrassc aí. Ao mesmo tempo, deve ter licado
nras o modo de ser não determinado a partir do cnte Inesno claro que o modo conro Arist(iteles desenrola aqui o problema
clo tiÀr1Oeúetv (do desvelamento) em questào. A verdade da do ser verdacleiro não tet,. nada en1 comuIrr com lógica e com
ôtávorcr (do pensamento discursivo) náo torna fundamental teoÍia do conhecimento. A qucstao acarc do ser vcrdadciro do
mente manifesto, mesmo onde ela tem em vista como ri)"qOeú ente como ente descnvolvc-se como a qucslao Jundamcnlol accr
ttv o ente, algo pura e simplesmente autônomo no próprio ente co do ser propríamcnte dito do entc masmo. Como essir questão,
mesmo, ril"1oeóerv oüK àv túq
npá^ypnorv (àv ôrcrvoig)e8. ela se encontra no lnâis íntimo nexo com aquilo que é trata
o riÀq0óç, porérn, acontece de qualquer modo àni tôv do em totio o livro O, nos capítulos precedcntcs. F'açamos s(r
npoyUárov (nepi tri cinÀn... oüô'àv ôtcrvorg)".""' Nós mais uma referência ainda ao ncxo positivamente inequívoco
já indicamos, contudo, que sempre está concomitantelrente cntre O10 e O, para que não venha à tona a opinião de que, em
contida na cópula o ser vcrdadeiro. (iomo e que esse nexo en verdade, O10 nào estari.r complctamente clesconectado com cr
tre ser e ser vcrdadeiro e possivel? Ágora, encontramos pela livro @, mas não scria de qualcluer moclo propriamente corres-
primeira vez uma referência para a dimensão do problcnra. pondente a ele. No livro O, o tema é a ôúvcrprç e a êvÉpyera,
A reconliguração desfiguradora posterior do problema: sujeito a possibiliclade e a rcalidade efetivâ como modos fundamen
objeto, ato e ser e todas as coisas do gêtrero, permanece funda tais cie ser. O quc se mostra é que o ser propriamente dito é
mcntalmente insufi ciente. a êvépyeto. Propriamente ente é aquele ente que exclui de si
tocla e qualquer possibilidade, toda e qullquer possibilitlade
que ainda csteja por se fazer presente e toda e qualquer que
9{J Em grego no original: 'b desvelanrcnto não está nas coisas (mas lique de fora, em geral toda e qualquer possibilidade do tornar-
no pensarnento)'l (N. I.) se diverso. Costunramos dizer o scguinte: pirra que algo pos-
99 lim grego no original: 'tom vistas às coisas (com vistas iis coisas sa tlever ser efetiv.rmente, clc prccisa ser em geral possível. A
simples... não no pensamento). (N.'l-.) possibilidade, port.rnto, e o elemento primeiro e anterior, que é
l(x) CÍ-. op. cit., I027b25esegs. antes cla realiclade efetiva. Aristóteles aíirma, em contrapartida:

r32 133
npórspov àvápyera Etvópêcoq àoÍtv.L')' Anterior e nrais origi- O fato de a verdadc na Antiguidade ser prirnariamente un't
nário do que a possibilidade e a realidade eÍêtiva. Isso só pode caráter do ente mesmo, isto e, de o ser verdatleiro constituir o
ser nâturalmente afirmado a partir do ponto de partida espe- ser mâis propriamente dito do ente propriamente dito, Íbi mos
ciÍicanrente antigo clo prol.rlema do ser e da constituição irntiga trado claramente por nós. (iomo e que issn é possivel e o que
Íir.rdan.rer.rtai da verdacle como desencobrimento. Não potlemos isso no lunclo signiÊca, isso não foi nrostrado, porque o entc
aliscutir esse ponto agora. Uma coisa, porém, precisa ser dita: vc proprian]ente dito permaneceu junto à qucstào cliretriz, porque
mos cm O10, que unra parte lirndamental de todo o tratamento a questâo do ser não lbi elaborada e transf-ormada nâ questão
terrático e discutido aí, a eliminação crescente cla possibilidade funclancntal. lsso também não [oi ntostrado mais tarde, por<1ue
da inyerdade do âmbito da vcrdacle, a 6nt de tomar, assint, essa mais tarde o problema não f-oi nent rnesmo mantido em ntãos,
verclade no scntido mais próprio possível. F,m @10 co cefitro-se mas tuclo Íiri embalado em pseudoquestões e em pseudoaporias.
a co cepção rodícal, sim, de todas mais rudícal do problema Jin- Esses contextos cxigem uma clarificaçáo nrais profuntla e, ent
dame ntal r/c O. Em uma palavra: o copítulo O10 não c nenhun.r verdacle, a partir da problemática do ser ent gerâl e do ternpo.
irnexo que pertence a esse livro, I],tas o po to de conclusao íttter Não é suficiente e não diz nada colocar a verdacle intuitiva antes
nomenle neccssário tie totlo o livro @, que constitui elc mcsrno o da verdade proposicional, se permanecer sem esclarecimento o
livro rnais central de tod.a a Mctafísica. que sigr.riÍica a verdade da intuição. A verdade precisa ser clari-
Assim, com base na questilo textual, conseguimos visuali- ficada de tal modo que mesmo a relação de coordenaçáo entre
zar o significado tirndamental clo ser vercladeiro na Antiguidatle. verdade originária e verdade proposicional se torne concebivel
Também esse e precisamentc esse ser verdacleiro continua sendo em sua necessiclade.
presentidade constallte, puril. Disse no início que essa concep- Ntis abandonaremos ilgora essa consideração intermedi
çao da verclade niio seriâ apenas autenticanrente aristotélica, mas ária complementar e retornaremos ao te[râ. Em que rnedida
simplesmente antigâ. Sâbemos, que a qucstão diretriz da rptór1 essa consideraçâo ainda fez conr que algo diyerso em termos de
$rÀooo$ict, da filosofia en primeira linha, c: o que é o ente? O conteirdo ganhasse o nosso campo de yisão, o que é importante
quc c questionaclo é o ser clo ente, o ser do ente com vistas à sua para os problemas vindouros, e algo que se revelará no seu lugar
constância c presentidade, ou seja, o seu desencobrinrento. Por Agorir, precisamos reter âpenas o seguintc: ficou cornpletâmente
isso, Aristóteles pode dizer: ôp0ôç ô'á1er rai tô raÀeio0at claro o quão óbvio e clementar é o ser tomulo c(»no constâncio e
tlv QrÀooo$icrv ànrotripqv tí1q crÀr10eicq."'' Está comple- como presentidade, como é quc o cloridqde dessít compreensõo de
tamente em ordem, quando se clenomina a filosofia o conheci- ser ilumina desde o príncípio todas as questões e passos. A Jonte
mento dâ verdade, isto é, quando nào se tliz que a ÍilosoÍia seria dessa claridode, porém, a sua laz, é o Ícnrpo.
a teoria da verdirde como um cariiter do conhecimento, mâs que
ela e conhecimento da verdade, isto é, do cntc enquaÍ]to tal enl § 10. A n:uliclade e_Íbtiya do espírito am Hcgel
seu desvelirmenlo enquânto tirl. cotno presente absolulo

l0t oP. cir., 08, r049bs. Precisamos nos lembrar ainda de uma cois.r: â colrpree[
t02 Op. cit., (rl , 993b l9eseg são de ser cOnro presentidade constante não.lpenas se manteve
clesde a Antiguidade âté Kânt, deternrinando a problenática, real'l"r" IJegel quer dizer: o erte propriamente dito. Por conse-
mas essa interpretaçáo da compreensão de ser ganha de ma- guinte, o ser desse ente - ente como espírito * precisa fornecer ao
neira rcnovada uma expressão clara precisamente ai onde.r mesmo tcmpo uma chave para dizer como é que o ser em geral e
rrrclr[isica ociJental alcançou J sua con\unli]çào lroPri.lnlcn propriamente compreendiclo.
te dita, isto e, aí onde o ponto de partida da íilosoÍta antiga, (iomo é que llegel concebe, então, o scr do ente como cs
assim como â motivação essencial clesde entáo alcançada, foi pÍrito, ou a realídade efLlíva desse cnte cfetivan.rentc real? "o
equilibrada de maneira uniÍbrme e chegou a uma apresentação espirito... é eterno""'i, o n.rodo de scr do espírito é a eternídade.
plena, em Hegel. 'A eterniclade não será, nem f<ri, mas d"r')3,'i> eterno lé)... pre-
Podemos sintetizar a tese melaJísíca .fundamental de Hegel senla obsolulo".t't" Esse presente náo e o âgora momentâneo, tlue
e sua metafisica em geral nâ sentença: "Segundo o meu ponto logo flui e logo flr.riu, também não merâmente o presente du-
de vista, que só pode se iustificar por meio da apresentação do raclouro no scntido habitual do que conlinuâ perdurando, mas
próprio sistema, tudo depende de conceber e expressar o ver ilqualc l)rcsentc. que se cn(untrJ junlo.l 5i nle\rnr) ( for rneio
dadeiro náo âpenâs como substâncío, mas do t'nesnto modo de si mesmo, duração em si refletida; urna presentidade cla mais
tambem ct»no -sajello'lL"r O verdadeirarnente ente não é para ser elevirda constância, que só a egoidadc, o cstar junto a si mesmo,
concebitlo apenas como substâtrcií1, mas também como suleilo. consegue dar.
Isso signiÊca: substancialidade e, em verdacle, o ser do cnte, mas Nós cledrrzimos dessa menção breve às sentenças hegelia-
a substancialidade precisa, para compreender o ser do cntr: total- nas duas coisas: l. 'lhmbém em Hegel, que eleva a problemática
mente, ser concebida como -suájeÍiv,Jade. Com esse últiIno título, da metafisica ocidental a unra nova dimensào, na medida em que
o que é pensado no sentido moderno do conceito é o elemento conccbc o ser de maneira nrais radical como substância. tanl
egoico. Mas subjetividade não e aqui a egoidade do eu empíriccr bém aclui e precisaÍnente aqui em um senticlo absoluto, ser signi
imediatamerte conhecido das pessoas linitas particulares, nras o fica "presentidade constante" (presente absoluto). 2. Justamente
sujeito absoluto, o puro e simples conceber a si mesmo do toclo no tàto de â interpretaçào da realidade et-etiva do efetivamente
do ente, que concebe em si e por si toda a multiplicidade do entc real se exprimir como suspensão da interpretação do ser en-
enquanto tal, isto é, que pode culceber mediadorirmcntc todo (luünt(' \uh\t.inciJ sc JDur)!iJ o ttexo ittlerno c(,ll\cicr)larranlc
o ser diverso do ente a partir de si como mediação do tornirr se reticio cla metaÍlsica hegeliana com a metafísicir antiga e seu pon-
cliverso."" "O fàto de o verdadeiro só ser real e efetivo como sis- to de partida.
tema ou de a substânciâ ser essencialmente sujcito, esse tato está Se resurnirmos tocla a consideração sobre a signiÍicação
expresso na representação, que enuncia o atrsoluto como e-spíritu) fundamental de oúois, ser, então podemos experimentar que
o conceito mais sublime..ll"'5 "Só o espiritual é o e fetivamente
106 Idenr.
103 G. F'. W. llegel, Fenoraerologia do cspírito, Prefácio. WW (liclição 107 Cl. \\l l. Hegel, EllcicL(\,tLlio das ciinL:its flositJtca-s. W\'V. (i\sso
complcta realizaclir pekrs amigos do finado). Ilerlim llt32. Vtrl. II, p. 1,1. ciação clos amigos do Íinaclo), Ilctlirlt 1ll,t2. \trl. VIl, p. 5.1.
lo,1 Cl op. cit., II, 15. loli Op. cit., p. 55.
lo5 Op. cit., ll, 19. 109 lderl.

136 137
n)esnto uma visão Íugidia para o mundo dos grandcs
cokrca
diantc de nós lrr fàto em toda a sua simplicid;xle e ímpeto: TERCEIRO CAPírUIO
it
conlpreensão de ser não se mantém apenas em nreio
ao ser-ai
cotidiano do homcm, não apetras ent meio ao ponto de partida
da rnetaÍísica antiga, rnas em toclo o acontecimento da
nre,tafísica
ocidental na direção, segundo a qual o ser e compreenclido
conro
presentidade e constâr.rcia. A compreensão tem sua distinçáo A elaboração da questão diretriz da metafísica
na
claritlade, quc o compreencler imccliata e jii incxpressanrente em direcão à questão fundamentaI da fil.osofia
an_
tL-cedcnte cle presentidade e constância difunde.
Corl isso, con_
quistamos a resposta parir a pcrguÍtta sobre conto o tlue
é que o
scr é compreendido lá.justanrentc ontle há a questão sobre
ele.
Pergunta-se propriamente sobre o ser do ente na questão Nós não apenas constatanlos a questão diretriz cla metaÍisica
diretriz ocidentâ1, mas surprecndemos tantbem tluestôes
da metafísica: ti rô óv. C) que era importante cra efetivamcnte mais originárias,
que se baseiant nelas mesmas (Sobre o tlue é perguntado?
levantar essa questão. Colocar cm questão o quc há cie questio Como o
nável: 1. Sobre o quc se perguntir? (Scr). 2. Co,lo o que é quc tlue o perguntado é compreenclido?). Com isso, o questionâmen
o to dessa questão tbi vitalizado tornou se cfetivo?
scr e comprecndido? (presentidade c<»tstante). úós tambemjá
respondemos ao mesmo tentpo â questâo llrais originária.
A seguinte scrie de questões Í-oram obtidas até aqui: ri tô E uma
óv, resposta tem sua essência no fato de resolver sua
o que éo cnte? O queéo ente enquanto tal? O queéo questão perti_
ente com
yislas ao seu ser? O que e o ser? nente. làlyez tenhamos perguntaclo de matcira ntais originária
Ci;no o qac I que o ser e em geral a
questão diretriz, mâs tanrbem â afastamos justamentc
comprcendido? Com isso, penctrânlos cada vez mais ro
aÀt. ponncio da
rcsposta. Nós não apenas não experimentamos, por
údo de questão que é próprio à questáo diretriz e escavirmos exemplo, tal
por conlo aconteceu até aqui, o caráter da abordagem, n.ras jii
assim dizer aí questôes nrâis originárias. Tudo isso deve.ia se acha
o.o,r JIJ\tJdil cg,,rit ntcsnto a posrilriliJl.le de um.r tal cxperiénciu.
tecer, para qus 3 questão diretriz fosse elêtivamente questionatla; re e
que a abordagcm cleve residir no questionamento
e isso, por sua vez, pilra experimentar cnquanto ques_
o caráter da abordagem clo
filosofàr; e isso, por outro lado, para finalmente .o,r,pr"àd.. lionamento. Sim, ainda nlais. Antes de nos imiscuirntor.rn
tualu
o isso, quantlo sri tínhamos cliante de nós a tosca questão
que significa: se remeter para o filosotàr na totalidacle;
c isso, por ciiretriz,b
que é o ente?'lainda era no mínimo yisír,el como
sua vez, para conccber pura e simpleslnente tlesde é que um tal ques
o princípio o
problema da liberdade como o problenra da metatlsica, tionamento poderia ir ate as raizes, na medida ent quc
pr.à nu, n,is m"smus
arrernetermos de maneira suÍicientemellte preparâda em também sornos um ente e sontos concomitântementc
afetados por
direÇão aquela questão sobre o que o ente e. Agorâ, p.,.é,r,,
à sua elaboração. ,.,o -urn",,,
to em que se mostrou para nós que o questionamento
acerca dO
ente sc mantém na conrpreensâo de presentidade
e constânciâ, não
se consegue mais de modo algum ler o que essa
compreensâo cle
ser ou o que a constataçaro de que o ser significaria ..prcsentidade
constantd] mesmo consideraalâ como questâo, deve ter em
comum

I-19
com unla abordagcm de nírs mesmos. Com certezâ, na questão tem em vistâ o perclurar, o persistir em toclo e qualquer agora.
diretriz, Í-oi dcspcrto um questionâmento mais origin.irio. Nesse O agora também é do mcsrno moclo uma determinaçao tcmpo
crlso, chegou se certamente â unla respostâ, e, em verdade, corno ral. Presentidacle constante significa, de acorcio cotn isso: todo o
se mostrou, não a um.r opinião e a um ponto de vista .rrbitrários, presente, o agora, que é atuâ], constante em todo e qual<1uer ago-
privatlos, rnas a uma resposta, que é dacla constantemeÍ]te por todir ra. Presenticlade constante clesign.r, então, o clcment0 atual ent
a metâfísicâ ocidental e que e dada de maneira tão óbvia, quc ela todo agora (a qualqtrer monrento). Nir claridade, na qual o ser
náo exprime mais nem rnesmo explicitamente essa resposta como compreenclido como presentidade constirntc se encotttra, vem à
resposta a unli pergunta. Ser como algo conrprecndido c-nc(xrtra tona a luz, que cltra essa claridade. 'liata'se do próprio tempo. ()
se sob a claridade da "prcscntidadc constante'i scr é contprtenLliLlo, tanto na compreensâo vulgar de ser, quanto
Ora, mirs qucm nos diz quc, com a questáo'tomo o tlue na proLrlenrática ontológica cxprcssa da filosofia, â luz do lempct.
é que o ser é compreendido?", corl a questão digna cle questão Corro é que o tempo chcga a iluminar como essa luz? Por
cstabelecida na questão diretriz, nós teriâmos perguntaclo tuclo? que precisamentc o tempo? Mais aincla, por quc o tempo preci-
Quem é que nos diz que precisâmos Íicar paraclos junto a essa sanlente conr vistas a um cartiler, ao carátcr do prcscnte, do ago-
resposta inexpressa? E se essa respostâ: presenticlacle e constân- r'ú O eye é an gerd (, tcml,o masmo, port que ele ilumitrc comtt
cia, só losse aquelir respost.r que nos leva ir questionar dc ma cssrr /rrz e consiga clarear o ser? (,irrro é que ser e tenrpo ganhtm
neira ainda mais raclicirl e a precisirr questionar r.lc tal maneira? cJJc rcro originário? Qual é essc nexo? O que signilica tempo?
E tão óbvio que ser é conrpreendido como prescntidadc constirn O qr.rc significa ser? C) que significir antes de tuclo ser e tempo?
te e que precisamos acolher simplesmentc esse elemcnto tibvio, Com toda essa série de questões que, urllâ r,ez clesencacleadas,
porquc toda a mctaÍlsica ocidcntal persistiu nessa obviedade, e, se abatem prec jpitadirmcnte sobre nirs, nós mesmos jii dcixamos
alem disso, tle maneira despreocupada em torno clela encluanto há muito tenrpo p.rrir trás toda a obviedade. Con o accno para
tal? Ou tcmos o direito e precisarnos questionar: o que âcontece o fato cle qrc ser é compreendido como presentidatlc constante,
alinal ai, olrde o ser é simplesmente c<»rpreendido desse modo niio clemos nenhuma resposta pârâ a questão diretriz, mas co-
como constância e presenticlade? locamos a pcrgunta tliante do abisnro dc sua questionabiliclacle.
E com o chamado de "ser e tenrpo ] ousanros o salto nesse abisnro
§ A questiio Jundamcntal da ftktsoJit conto rt
11. e alvançamos agora sent solo e sem apoio na escuridito.
qucstiío tcerca do nexo originário de scr e tempo Scr e tempo hii um livro com cssc titulo. Mas o título des
sc livro enquanto tal é tão insignificânte quanto [antos outros.
Se ser se claridadc da constância e dir presen
encontra sob a O livro assim intitulado não é do ntesnto moclo o decisivo, ntas
0 quc vem à Iuz nacluikr
ticlade, que luz é a fonte dessa claridadc? sim o fato de o leitor tcr a sua atenção desperta p.lra o acon
que temos em vista com "presentidade'l "constânciii'? Tambem tecimento Íundarnental dt metafisica ocidcntal, da metatlsica
dcnominamos a presentidade presença e presente. Ntis distin- de nosso ser aí como rrm todo, unt acontecimento, sobre o c1ual
guimos esses termos, quando buscamos concebê-los enquanto Iivros particrrlarcs não têm como clecidir, um acontecimento,
tais, em contrâposição ao passado e ao fLúuro. Presente, presenti cliante do qual ntis precisanlos alrtes de tutlo nos curvar. Ser e
dacle, Íbrnrarn urn caráter do lc,flpo. E o'tonstante"? (lonstância tcmpo c tudo menos uma novidadc, menos r1nl assim chanrado

140 141
ponto de vista lilosóÍico ou nresmo uma Íilosofia particular, que que se torna etêtivamente possível uma diferenciação do ser em
teriâ crescido a partir de atmosferas revolucionárias ousadas da relação ao ente, com o auxilio da qual o tema da questão diretriz
juventude atual. Não se trâta de nenhuma novidade, sobretudo é determinado de maneira mais aguda? En que medida a pro
porque os antigos já tinham perguntado sobre a essênciâ do tem blemática de ser e tempo rrostra um caminho parâ â clarificação
po e, da mesma folma, Kant, Hegel e todo e qualquer filósofo. da essência dessa distinção entre ente e ser, com base na qual nós
Sim, justamente aqueles grancles filósoÍirs, Platão e Aristóteles, já sempre compreendemos ser no cornportamento em relâção ao
que levaram a questão diretriz da filosofia ao primeiro despertar ente, ou seja, com base na qual nós existimos na compreensão de
propriamente dito e apontaram para â oooícr, tambem pergun- ser cirracterizada?
taram pela primeira vez, sobretudo Aristóteles, expressamente Assim, a questao.fundamental ProPaga pela primeíra vcz loda
acerca do tcmpo e de sua essêncier. E, contudo, perguntar sobre a questionabilidade da questao diretrí2. Abre se todo um munclo
o ser e nlestlo sobre o tempo ainda não significa compreender de questires cm si suspensas, igualmente essenciais, a partir das
o problema -ser e tempo. Os dois, ser e tempo, permalteceram ve quais a questão diretriz e vistâ como se mostrando de manei-
Iados em seu parentesco mâis intento e não forâm experimcnt.r ra tosca e desajeitada, nlas náo conlo superfluâ. Ao contrário. É
dos, mesmo tuturamente não, comO problema. Ser, com certeza, agora pela primeiÍa vez, a pârtir da visao da compreensão de ser
tcn.rpo, conl certeza; rnas ser e tempo? O't'l que obriga os clois a ca partir do nexo com o tempo, que a questão do ser inicialnten-
se juntarem, é o indice propriamente dito do problen.ra. A ques, te apenas selecionada de um modo qualquer e irrompendo cle
táo diretriz'b que é o ente?" precisa se transtirrmar na questáo un lugar qualquer conquista a sua necessidade interna. Foi ago-
fundamental, que pergunta sobre o "e" entre ser e tempo e, assim, ra pela prineira vez, que a questào acerca do ente alcançou a sua
acerca do fundamento r/o-s dois. A questão fundâmettal é: qual perspectivâ plena e todâ â âmplitude na questáo tundamental:
precíyt ser a essência do tempo, para que o ser se funde nela e, nes- ser e tempo, e, com isso, porém, tâmbem â completa questiona
se horizonte, a questao do ser possa e precise scr desdobrodtt como bilidade de todas as questoes inseridas nela. Será que tambem se
proble ma fundam ental da met afí sic o? mostra â partir daqui o buscado câráter da âbordâgem da ques-
A partir da <1uestão diretriz, nós avançarnos para a qLrestão tâo diretriz efetivamente formulada? Pois essa é aguela Íerceíra
Íundamental, na nredida cm que descobrinrcs a questionabilida- das três questôes, das quais partimos, a Íirn de nrostrar, por meio
de da questão diretriz. Isso aconteceu por meio de duas questôes: de sua resposta, que o problema da liberdade é um problema
o que é tena na questão acerca clo ente? Resposta: o ser. Como verdadeiranente filosófico, que se remete para o todo e, ao mes
o que o ser é compreendido? llesposta: presentidade constante. mo tempo, parâ âs nossas râízes. Nós perguntamosrr0: é visivcl
Nós demos ao meslllo tenlpo respost.rs a essâs questa)es, respos- nâ liberdâde positivâ em gerâl umâ ampliâção Íundamental do
tâs essas que nos impelirâm tanto mais paÍa o interior da proble- problema? Nossâ respostâ e: sim, na âutonomia, na espontanci
mática cie ser e tempo e para as suas respostas. Pois só a partir da dade absoluta. 2. Que perspectiva se abre coÍ) essa ampliâção?
problemática de ser e tempo e que podemos perguntâr: por que é Resposta: .r espontaneidade absoluta, causalidade, moyimento,
que o ser é compreendido de saída e na maioria das vezes a par ente, questão diretriz.3. A perspectiva é de tal modo, que nós
tir do caráter temporal do presente (presentidade)? E no que se
refêre à primeira questão, é importante perguntar: por meio do I l0 Cl acima p.42 3.
142 I43
experimentanos a partir daí a possibilidade: o remeter-se ao perguntar. Dc maneira breve, ir frirmula é: ser e tempo. A questão
todo fikrsóÍico é um ir-às-nossas-raízes? Agora apreendenros o renctc se para o't'l parâ o nexo-e dos dois. Se esse nexo não é
modo de ser da perspectiva da questão diretriz por nreio da ela extrinseco, se ele não é simplesmente reunido e ajuntado, se o
boraçáo da questão fundanrental que a suporta e conduz (scr c nexo rresmo é muito rnais um nexo originário, ent.io ele enrerlie
tempo). Como esquema clessa perspectiva obtcvc se o seguinte: de maneira cooriginária cla essêr.rcia do ser e da essência clo ten.r
ser d tempo - tenrpo presenticlirde constantc scr - ente en- po. Ser e tempo buscam um ao outro e se entretecem. O "e" é o
quanto tâl - liberdacle positiva. título para uma coperlínência oríginária entre ser e tempo a partir
Mas é cnr vão que procLrranlos o caráter tie abordagem bus do.fundamento de suct essência.
cado do qrrestionamento da questiio fundamental. Talvez nào Nós rrào pcrguntanlos nem sobre o ser apenas, nem sobre
expcrimentemos clc modo algum o caráter da aborclagem, en o tempo apcnils. Nrís tambem não perguntarros tanto sobre o
quanto s<i procurarnos assim e logo esquecermos que nós, en.t scr, quanto sobre o tempo, mas perguntanos sotrre a sua coTrer-
primeiro lugar, só o experimentamos no questionrmento real e tí ê cia i ternd e sobre aquilo que emerfie claí. A copertinência
etàtivo, e, em segunclo lugar, que nós também só cxpcrimcnta dos dois e experimentacla por ntis, 1rorénr, apenas eln lneio ao
mos no questionanrento real e etàtivo a possibilidadc de serrnos âtrâvessamento cle suas essências bilaterais. Portanto, precisa
aborclados un.ra possibilidade, com ceÍteza, de um tipo total- mos pcrguntar tlc saída: o que c a essôncia rlo ser? E, entilo: o
mente particulirr. Por quc é quc não se apresentâ nenr mesmo que é a essência do tcmpo? A questão é que o dcsdobramento da
a possibilidadc dc tal experiência, lá ontle se desencacleia agora qucstão dirctriz já trouxe consigo o fàto dc que a cluesttio 'ir que
toda a questionabilidade da cluestão diretriz em nleio à questão é o scr?" conduz em si rlesma para a questâo acerca do tempo,
fundanrental? Por<1ue nós apenas nrostranros {rd a questão dirc na rredida jllstâmente en que ser e compreenclido â partir do
triz conduz à questáo lindamental e porque nós dcixarnos quc tempo, se e que nào se estai disposto a contesl.lr o làto cle que
essa questão nlesntâ se alpresentasse unra vez mais como algo constânciir e prresentidade são cle algunr modo câracteres tenl
presente à yista, tâl corno anteriormente a questào dirctriz, ao porais. Portânto, já nos deparamos conl a copertinênciir tle ser
lançarrnos r.r.râo clela de nraneira assim tiio simples. Conhecer a e ten.rpo. Ela anuncia sc agora dc nrancira miris clara no Íhto tlc
questão Íindanrental ainda não significa questioná-la. Ao con- que nós sorros impeliclos na qucstão acerca do scr enr direçiio à
tr.iÍio, quanto n-rais avança o nosso conhecirrento, tân1o nlâis questão acerca do tempo.
lôr)lrn)os (onlJl() c{,nr quc\lüe\ n)ai\ origirr.rriu:, lJrt() r))iri: ir) Sobre- o que perguntamos aí, quando pergLrntamos acerca
tcnsa se torna a aparência de que o conhecimento da questão jri do tenpo? O tempo - nós o dentxlinanlos na maioria das vezes
scria o seu questi(,nallento. InYersânlente, quanto mais originii juntamente com algo diverso, cont o espâço, conlo se o lelr]po
ria se lrrrrru.r tlrreslio conhe,.i.l.t. lJnto nt.ris intpr'rllivo rc lrrrrtit lirsse o irrrriitr tlu c'1'1ço. Ent loJo c.t','. (' t(tnp() lllo é c.1lxg,,.
o questionamento parir nós. vice-yersa. Portânto, se perguntamos sobre scr e tcnrpo, nras scr
Assim, em Íàce cla questão Ílndamcntal, tudr) correça una e cle <lualquer moclo a deterrninação r.niris anrpla possivel, quc
vez nrais novanente para nós. Sc quiscrmos tluestionirr efeti- abarca tuclo aquilo quc é c quc é possívcl, cntào essa clctcrnrinir
v.unente, então prccisarcmos tcr clarczir quanto àquilo -soürc o çào nr.rximan'rente ampla cstá ligada ai a algo quc só é algo jr.rnto
rlre prccisirmos no fundo perguntar ai e sobre colno lentos de a algo cliverso, por exemplo, ao lado clo espaço. Por que não se

t,14 t'15
diz do mesmo modo ser e espaço? Sobretudo se Ievarmos em damental em rclação ao fato de que, por todâ parte, o problema
consideração e lembrarmos do conceito cotidiano de ser e sua do tempo é em geral estabelecido e explicitado sem a orientaçâo
trânsição para a filosoÍia! Presentidade, o ente presente à vista - principial e expressa para o problema clo ser
aí, o ser do ente presente à vista enquanto tal nao é deternrinado Por outro lado, persiste o tàto dc que poclemos conquistar
apenas por meio do agora, mas também é detern.rinado por meio elucidaçóes importantes mesmo a partir da interpretaçáo dâ es-
do'hqui" corr.ro pro dutibilidade, pelo cariiter do encontrar se aí. sência do tempo na direção primeiramente citada. Se nos abs-
Nisso reside o para cá, para lá, qr.re são caracteres espaciais. Esses trairmos de determinaçóes particulares e perguntarmos sobre o
caracteres espaciais parecem ser até mesmo os câracteres âcentu- que é tlito correntemente acerca do tempo, então teremos o se-
ados que, além disso, tâmbém se expressârr na estranha replica guinte: o tcmpo não se encontra em lugar algum como uma coi
de Dionisodoro no Eutidemo. Em todo caso, o aguçarnento do sa entre coisas, mas em nós Íresnlos. Assim nos djz Arístóteles:
problema do ser com yistas ao nexo cle ser e tempo e um estrei- riôóvcrtov eivcn Xpóvov úuXnç pri oúolç.r" "O tempo nâo
tanrento cla amplitude originária da questão. Tempo não telr a poderia ser, se a alma não fossii Agostinfto diz nas Confs-sôes: In
mesma universalidacle que o ser. Visto mais proxiÍnamente, isso te, ânime meus, temporâ rnetior... AÍi-ectionent, quam res prae,
é apenas uma asserção, ainda que de saída elucidativa. Flla emer tereuntes in te faciunt et, cum illas praeterierint, mânet, ipsam
ge da concepção hirbitual do tenrpo, que ganha voz na conjunção n)etior praesentem, non eâ quae praeterierunt, ut fieret; ipsam
usual con o espaço (espaço e tempo). metior, cum tempora metior.rrr "Em ti, meu espirito, meço eu
o tempo. A impressão, que as coisas passageiras exercem sobre
§ 12. O homem como sítio àa questtto Jirulamental. ti, depois que elas passaram, Íica; portanto, meço essa impres
Compreensiio de ser como funrlame lo dtl são que me é presente, r'rão aquilo que passou e evocou em ti a
possíbilídade da essência do homem impressão; meço essa impressão, quando meço o tempo1 KanÍ
conccbe o lenrpo crrmo h,rnra dc noss.r intuiçlio intcrnl. eomo
O tempo é considerado como algo tal que tan.rbém ocorre modo do comportamento clo sujeito humano.
justamente entre outras coisas - espaço, núnrero, movimento. Alnra, espírito, sujeito ./o homem são os sítios do tempo.
Assim, tambérn se trata dele como algo que toca ao mesnlo tem- Se perguntarmos sobre a essência do tempo, então precisarerlos
po a consideração e a meditação fikrsírficas. O tempo, porém, perguntar sobre a essência tlo hLtmern. A questao Jundomental
não ganha e jamais ganhou ate aqui primariamente o cerne clo scerco do ser e do temPo nos obriga à questao ocerco do homen-
problema, na medida em que â questão acerca do ser enquanto Dito de naneira mais gcral: a questão acerca do ente, se nris a
tal radicalmente colocada não impele a ele. C) ponto de partida desdobramos efetivamente e a transforman.ros na <1uestão fun
usual da questão acerca clo ser enquanto tal é, como é lácil de damental, conduz à questio acerca do homem.
mostrar, decisivo para a direção do questionamento, e isso signi Ora, mas já chegamos unla vez a esse ponto, antes de nos
Íica, para a direção, a partir da qual a resposta à questão acerca de lançarmos em direção ao desdobramento expresso da questáo
sua cssência é dada. Assim, as investigaçôes do tenrpo em Aris-
tótelcs, Agostinho, Kant e Hegel estão ftrra de questão em seu II I qristól(l(., iLrsr,ri^i4, 22Jalt,.
significado, e, contudo, elas se acham submetidas à dúvida fun- I l2 Agostinho, C'onf-ssôes, Livro XI, c.27, Ír. 36.

146 t17
diretriz. Pois reside palpavelnrente na qucstão acerca do ente por exemplo, psicologia, pedagogia, mcdicina, tcologia.'lirdo
o Í-irto dc nós, na meclida em que pcÍguntamos sobre aquilcr isso.já não é rlais nenhunr mctodo, mas uma cpidcmia. Assim,
quc o ente enquanlo tal é, também iltingirmos concomitante nresmo lii onde se fàlir de antropologia filos<ifica, dc mancira
me tc coú1isso a questão acerca do homem enqu.lnto um cntc. nao esclarccitla, pergunta-se em primeiro lugar como se se es-
Jii tinha se nrostrado, contudo, nesse monlenlo, que esse qucs tivcssc pcrguntando sotrre o homent, e, ent segundo lugar, em
tionanlento não indicava, nem podia inclicar ncnhum carater que rncdida esse questiorlamento e filostiÍico. Nós poclemos,
Lle aborLlagem, um.l ve z que tirmbém perguntanros desse modo porém, e prccisamos mesnto dizer: todâ antropologiâ ÍilosóÍica
sobre plantas e animas e sobre toclo e qualqtrcr entc, siln, per- encontrâ-se forâ dâ questão ircerca do honrem, que emerge a
guntamos até nrcsmo para além clo homem enquanto homent, partir do fundamento cla questão fundarnental da metirfísicir e
perguntamos sobre o ente em geral. Assint, a constatação cle irpenas a pârtir desse Íundamento. Esse írltin.ro queslíonamento
que a rluestiio cliretrtT. tambcm se remete ao home m não oferece ucerce Llo honrcnt o portir do Jimdtrme nto dtt que stao Jundomen
muita cois.l, nlesÍro que nós atcstcnros isso agora a;rartir cl<t lal pergunta de antenúo e cont vistas à possibilituçao de todo
ncxo do ser conl o tempo. Não obstante, nós nos encontr.lmos queslionamcnto JilctsóJico acerctt do homem. O primeiro ques-
agora no curso cle nossa consideração ainda na mesma posiçao lion.lÍnento, em contrapartida, tambént pergunta no quirdro
que .urterionlrcÍ)t c?. Ot o que stionctmcnto ttccrca do ho re m, quc tla questão cliretriz sirnplesnrente e incidentalmente acerca clo
sc tonn necessárío na eluboruçlio Lla queslao dirctríz em meio à homcnr. Pirra todr) questionamento IilosóÍico r.rlterior acerca clo
queslao Jundantental de ser c tempo, é um qucstiofionrcnto acer- honcm e para todo qllestionâr.nento que l.rmbem se fàz por
c;r clo homem rJlrer-so daquele que est;i coimplicado irté nresttro frnr acercir do homem no contexto e eÍrl uma posiçiro tle co
na qucstão diretriz? f)e Íato, não se tratir apcnas em geral cle unt ordenaçiro com outras qucstôcs, o perguntar dc antcmão nã<r
outro questioniutlenlo alcercal clo homcm, mas de unt questitt se ntostrâ .Ipenas cono um perguntar tlivcrso conr vistas ao
namcnto Íundanrentalnrente divcrso. Sc somos impeliclos a sair modo cle ser enr rreio i\ ordcm rlos problcmirs, a sabe r, em uma
da problemática cie ser e tempo para o questionânlento acerca pre-ordenação em relação i\ qucstão fundamental, coordena-
do homenr, então nào pcrguntamos sobre o honrerrr, na mc clo no quirdro da qucstão diretriz e inserido ao mesnro len]po
ditia em que ele também e, em meio à multiplicidade do ente, na orclcrn tlcssa questiio. Ao contrário, ele e funclamentalmente
justânrente um entc, mas a ruadida en que o lcmpo c<tmo.fun diverso mcsnro segundo o seu conteirdo mâterial e segundo o
clamenlo Llo problenut dtt problcntt do ser rodicalizado Pertencc rrodo de ser de tocla a problemática.
ao h<tmettt. Uma diferença, contuclo, possui para nós agorir um signili
O questionamento acerca tlo hornetn c "a questão.Icerc.l cado particular. A questào .rcercir do homem no quadro tla qucs
c1o homcm" não são nem de longe.l mesmir coisa. Se tomârÍnos tão diretriz e um tanrbém t-ormular ir pergunt.r sobrc o honcm
O homem coÍt-to um ente entrc outros, então perguntalremos so ,..r/rülm iustamer)tc cntre outras coisirs. 'làmbém e preciso per-
bre ele rrâo no quadro clo questao diretriz, mas a plrlir
do.lun guntar sobre o horrem, sc é cluc todo cnte deve receber uma aten-
dsrnertto titt questao .fundtmental. Hoje. com intençôes com ç;ro unil'orn.re. O tirnrbém qucstionar é necessário para a execuçáo
pletâmente cliversas e com equipagens totâlmente dif-erentcs, pler.ra da resposta à pcrgunta diretriz tla metafisicâ e a essâ per-
cultiva se c cnpreende-se em muitos aspectos a antropologia; guntil cln geral. Enr curtrâpârtida, o questiolrirmento a partir

148 149
do fundamento da questáo fundamental não é necessário ape- Todavia, nós esquecemos em tuclo isso: nós não pergun-
nas para il complenrentação da resposta à questão diretriz. AO tirmos ao acaso sobÍe o tempo ou mesmo sobre a vivência tem-
contrário, ele é incontornável já com vistas à preparação e à poral, mas precisamos pcrguntar sobre o tempo, porque e fia
fundamentaçâo tlo qucstionamento da questão diretriz com<t medícJa em que o ser e compreendiclo a partir do tempo, à luz
umâ questâo Íundarnental efetiva. O questiondmento acerca do tlo tempo. Nós nào estâmos perguntando de maneira arbitrária
ser, ossim como o questíonamento acerca dc ser c tempo, o ques e sem orientação simplesmente acerca do tempo, mas o modo
tiondmento acerca da essência do tempo, impele inexoravelmente como e até que ponto nós perguntamos sobre ele nos e prescrito
para o ínteríor tlo questioname to acerca do,orrlern. A questão pnr mcio da questão acerca do Jcr, isto e, porém, por meio dâqui-
do ser corretarnente questionada enquanto tal in.rpele segundo lo que sabenros sobre e-sse .ser rlcsno, abstrainclo-nos completa-
o scu conteÍrdo de questão para o interior da questão acerca do mente de sua conexão com o tempo.
honcm. Será que esse inrpelir da questáo diretríz da filosoÍia O que já sabemos, aÍinal, sobre o ser? Pois benr, tudo
ate o homem, por exemplo, é o emissário do acontetimento de aquilo que jii enunteranros por ocasião da caracterização in
umâ âbordagem? De uma abordagenl, dâ qual nós não pode trodutriria cia compreensiio de ser: 1. Amplitude; 2. Penetra
mos de maneira alguma nos desviar arbitrariamente, ntas que çiio; 3. Caráter inexpresso;4. Escluecimento; -5. lndiferença;6.
precisamos muito mais suportar, se quisermos perguntar etêti- (lonceptualidade préyia; 7. Ausência de engano; 8. Articulaçã<r
vamente.r questão diretriz e não apenas nos ocupar com ques- inicial. Com certeza, são muitas as coisas que sâbemos e, por
tôes, isto é, com algo que pode ser abordado err seu caminho? Íirr, tanrbém sabemos algo essencial. Mas quando considerâ-
Se efetivamente levantarmos a questão diretriz, nós seremos, rlos mais detidamente, esses são caracteres da compreensão de
permanecendo nela mesma, isto é, cluestionan dçt-a como uma scr, do comprccndcr o sc( mas não do ser mesmo. No miixinro,
questao fundamentaL, ímpelidos questionadorame r,te a pergun irpenils o quc deterrninamr)s na quinta e na oitava posição diz
Íar sobre a essência do tempo e, com isso, sobre a essêncía do algo sobre o prriprio ser: ele e indiferente e, contudo, articu
homeru. Ternp<t e homem? Com certezâ! Mâs tentpo e homem: lado. Venos agora ulteriormente que, em meio à enumeração
ora, nâo se trâta dâ mesma coisa; o homem não é, âfiltâl, mera- dos oito carâcteres, misturamos indiscriminâdâmente uns com
mente "tempo"; âo lâdo dessa encontram se ainda muitâs ou- os outros caructeres do ser e caracteres da comPreensõo do ser.
tras "propriedades humanas". Nâo obstante, esse é, em verdade, Isso só aconteceu, porque se tratava de umâ orientaçáo provi-
um qucstioníInlerlto incontornável acerca do homem, mas, de sória, ou será que há um fundamento para tanto? A compreen-
<lualquer modo, um questionamento bastante unilateral: só se JAo dc ssr ten.l uma conexão particular estreíta conl aquilo 4re
pergunta acerca do homem, na medida em que o tcmpo se eÍ) ela compreende, a saber, com o,ser? Essa conexão e uma cone
contra r:nr uma conexão com ele. E, antes de tudo, o próprio xão totalmente diferente do que, por exemplo, a conexão entre
problemâ do tempo não tenr, de qualquer modo, nada em co compreensão e conhecimento de um ente arbitrário qualquer?
nlum com o homem, mas apenas, como se cliz, à "rivêncía" do Evidentemente sim, se é que ser e ente não são o mesmo. O nexo
lempo. A questão acerca da "vivência temporal" é uma <1uestão entre ser e compreensão de ser, contudo, é tão elementâr que
psicoiógico-antropológica, mas nio a questalo âcerca da essên- aquilo que é r,álido para o ser tâmbém e válido para a conlpre-
cia do tempo enquanto tal. ensão de ser, que o ser mesrro é idêntico ao seu desvelamento?

150 151
Dc tal modo que, âqui, a questão acercà do ser em gcral não ilrevitár,el. A qtrestão acerca do fundamento da essêr'rcia do ho
pode ser colocada, se n.lo se perÍluntar acercâ da comprcensão mcm jii se tornou, com isso, incontornável. A questão diretriz
cle ser (dcsencobrimento)? I)e tal rr.roclo que precisaríirmos to impele a partir de seu próprio conteirdo fundarnental para as ra-
nlar proprianlente ir questão funclamental assitt-rl. compreensao ízes e o enraizamento de nosso ser hurnano.
tle ser e tempo? Essas questôes só podem scr respondidas a par No entanto, se pertence completamente.i q[estão acer-
tir de uma discussão mais urgente enl termos materiais, de uma ca clo ser e acerca da compreensão de ser ir 4rreslao ocerca Llo
cliscussiro do problema do ser. tempo, sit71, se essa questão é ate mesmo o Jundamcfilo do pro-
Se ainda deixamos em aberto a deterntinação da conexão blema da questão do ser, cntão não temos mais agora nenhuma
internn cntre ser e conlpreensão dc ser, entao uma coisa ao rne escolhir em relação a perguntar aleatoriarnente acc'rca do tempcr
nos ó certa: o fato cle que sri tcnros acesso ao problcma do ser c de scu pertencinlento ao homem. Ao contriirio, precisanros
enquanto tal em todo caso por meio da compreensão dc scrr ' perguntar descleo princípio acerca do tenpo, de tal modo que o
A compreensão cle scr, porem, é - visto enr tcrmos gerais e pro vislunrbrenros clesde o princípio como.lundamento da possibi-
visórios - Lur conrportirmento clo ht»uern. Se perguntamos sobre lítlade da contpreüNiio dc ser, o que significa, porén1, como Íun-
o.sc,i entâo ao perguntamos orbitraríamenta sobrc proprictlatlcs damerto da possibilítlade do fundame úo da e ssêncía do homem.
ryraísqucr clo homem, n.rirs sobrc ;igo dcterminado lro homent, Assirl, c<lntudo, o tcrnpo não se mostra como nadar clue tanrbém
sobrc o corrprc,cndcr scr. L,ssc compreender ser não é uma es- ocorreria co[l isso no hclrncm. tal como no fundo mcsnro Kant
pecialidade qualquer do horncnr, que ele arrâsta consigo.juntâ- ainda considera c prccisa considcrar o tempo. A qucstão accrca
mente conl muitas outrâs, mas trl conrpreetrder penctril todo da essência do ser (compreensão de ser), a questão acerca da
o seu conportarncnto em relaçâo ao eDtc, isto é, ntesnto o seu essência do tempo - as cluas sáo umà questão acercâ do ho-
conlportamento em relação a si mesmo. C) colnpreender ser não mem, nlâis exâtilmente: âcerca do íundamento de sua essência.
.ttralvessâ apenas todo cor-nportanlento eln relação ao ente, como Isso conr mâior razáo e em Írllima instância, quando pergunta-
se ele estivesse por toda parte presente e nrcsmo aí, rnas ele e a mos até mesmo sobre;r copertinência entre ser e tempo, sobre o
condiçao Llc possibilidqde do comportanrcnto ün relaÇoo ao e tc "e'l Fisse questionamcnto tão exigido pelo conteútlo interno da
em gerd. Se nâo houvesse no honrent o compreendcr ser, cntão questào diretriz da filosofia, cstabelccido em seu próprio fun
ele não podcria se coirportar em relação ít si tnesrno cotfio e lc, danrento com ela e por mcio dcla, pergr,rnta sobre o homenl
ele nào poderia ciizer "edl nen "tu'l ele não pocleria ser e/c mes de uma tal naneira, que não se encontra apenas distante dir
nro, nào poderia scr pessoil. Elt seria impossívcl em sua esséncia. rleditação cotidiana do homem sobre si ntesmo, mas se nlostra
A compreensão de ser é, por conscguinte, o Jirndamento da possí como Llm questionamento acerca do homent, clue se lança para
bílidaele dq essência d<t homem. além do âmbito datluilo que, ro questionâmento cotidiano do
Se perguntarrlos sobre o ser e sobre a conrpreensáo de homem acerca de si nresmo, é vislunrbraclo e consideraclo. En.r
ser, não seremos rlpenas c cnr geral impelidos pirra o questiona- sunla, nosso questionamerlto acerc.r do homem e un1 lonçar o
rrcnto ilcercal do homem, mals esse questionamento se tornarii questào pàrà alem do honlem, esse consideraclo em su.r apari
ção cotidiana.
I tl Cl. ircinra, p. l2,lesegs. sobrc dn),ri e riÀqoÉq.

152 I5l
liberdade ele en1 seu fundamento. "Enquanto Llm remeter se ao todo'l o
1 questionamento acerca do ente nâ totalidâde e enquanto tal c
ser-at un1 "ir-às-nossas-raízes'l
?
O ponto é que esse questionamento âcerca do homem scguc
na direção do Íundarnento essencial clo honrem, perguntando, por-

home m tanto, acerca do honrcm enquanto tal e acerca do homem em gera/',


concomitantemcnte para alenr do hon.rcn.r respecliuo. O homent só
t
é tocado uma vez mâis em gerâI. lsso se nlostrou no Íirto de que
ser e ten.rpo
nlls podíamos em yerdacle conhecer como é que a qucstão acerca
de ser e lempo se encontrâ ent conexão c(»r uma qucstão acerca
Nós perguntamos na direção claquilo em que se abre a pos-
clo homem, no fato de que esse questioramento, porém, também
sibiliclade da compreensão de scr, isto é, a possibilidade de toda
não toca de maneira alguma precisamente a nós mesmos. Só se
a amplitudc da compreensâo de sc( na qual o honten se con.r
pocleria dizer que nós mesmos, n.r medida enr que forrnulàrlos
porta cm relação a todo ente na totalidade. Nós começamos con.r
csse questionamento, nos encontramos .rí concomitantenlente em
a qucstão fundanrental ern direção à totalidade clo ente, e cssc
tluestào de modo pirrticular. Mas esse é por firr o caso em todo e
questionanrento da questão Íundamental tenr em sl ao tcsnto
qualquer questionamento acerca clo homcm quc é Íbrmulado peJo
lemllo a àiÍeçío qucstionadora pa,ra o J ndanento da possíbili-
homem. E isso mesmo quando questioramos pura e simplesmen
datlc do ser humano. Í),la coloca o homem no Íirndo cle sua es-
te, no quadro da questão diretriz, acerca do homem, pcla razão
sêncià em questão, isto é, ela abriga em si a possibilitlade cle uma
completanlente formal de que toclo universâl tâInbem diz respeito
abordagem do homem, que nio o toc;r de [ora, mas que en]erge
concorritantemente ao seu particular Assim, por mâis que radica-
.l p.lrlir (lo furttluruerrlo tlc srra crrcnci.r.
lizenros a questão diretriz 11a questão Íunclamentâ], se essâ questão
Agora, Íica mâis claro: 1. O questionamento real e cÍ-etivo
contém em geral o problema de ser e tempo, entáo esse problema
da tluestão dirctriz irlpele eIL si pirra o queslionânento acerca
pode scr descnvolvido e tratado dc maneira totalmente obietiva,
do homem, e, em verdade,2. para o questionameirto acerca do
qucr sc tratc ou não aí do homcm, o pilrticular nunca é afetaclo
homem, quc o toca no fundo de sua essência, que o toca na
cnquanto particular Com certeza, é preciso aterrtar para o fato de
râiz.3. Lsst: questionamento da questào diretriz, contudo, é o que o conteúdo material do problen.ra ser e tempo é tão universirl,
questionamento acerca do ente enquanto tal c na totalidade,
que ele nâo possui enquânto tal nenhuma pertinência em rclaçào
não e nuncâ em princiro lugirr acerca do homem. Ao contrá-
âo pârticulâr e pârâ o pârticulâr. Mesmo na questão fundamental
rio, a questào corretamcnte compreendidir acerca tlo homenr
náo está contidâ nenhurnâ abordagem séria, isto é, uma tal para
en.rerge pelaprimeira vez na, radícalização da questao díretriz.
a qual pocleriamos estar necessariamente expostos por meio do
A questão cliretriz náo se remetc en primeiro lugar e direta questionamento na questão. Trata-se de ulra abordâgem no uni-
rrente para o homem, [ras o seu questionanlento, se ele é radi
versal, ela não diz respeito a ninguem, ela nâo e unr jato cle ar
calmente o que ele pretende ser: urlr questionânlento accrca do
Flm todas as nossas discussões sobre o caÍáter de aborda-
ente enquanto tal, cai sobre as costas do homcrr, se abate sobre
gem, o que estava enl jogo não era a questão de uma aplicaçào

155
possível bcm irtcstirda e prático moral de proposiçr-res likrs(rfi- possui? li isso uão apenas no sentido indctenninaclo cle <1ue n<is
cas sot>rc a pessoa particular do homem, nlas arpenas se e em simplesncntc não podenros sair dele, nâo apcnas como grilhires
quc medida o conteÍrdo material da questào mesrnâ e de âcor- aplicados, mas dc tal nroclo que o tempo, con.ro sendo a cada vez
do corn o rlodo como ele exige unr questionâmento abriga enr o nosso tenpo, nos sirrgulariza e singulariza cadir uln precisir
si uma aborclagenr. I)e nraneira nrais oÍiginária, porém, do que nlente con-r vistas a ele nrcsmo? O tempo é sentpre tclrrpo, lto
ate o probler.na cle ser e tempo,.r questão diretriz nunca se deixa qual 't tem1,o de'l no qtral "ainda é tempo'l no cluirl não há "rrais
desdobrar nrâterialmente enr ternros cle conteúclo. Não vejo, cn.r tempo algum". Enquanto r)iio virmos que o tentpo s(i e te ntporal,
todo càso, nenhuma outra possibilidadc. Se e r1uc, e aqui cfe- que ele satislaz a sua essência, na mcdida em que ele sirrgulcrlza
tivamente que o cirrátcr dc abordagcm prccisaria se naniÍ-estar o cado vez cado homen con yistas a si masnto. a temltoralidoda
segunclo a sua possibilidadc. enquanto csstncía do ttmpo pcrrnanecerii vedacla parir nris.
Se, coi'ltudo, tenrporalidade ó r.ro firndo singularização, crr
§ 13. O carattr de abortlagen da qucstiio tio ser Íão o questíonamefilo ocerca da ser e tempo é em si, segundo o
(questão Jundamcnnl) e o problcnu da liberdade. seu contcÍrdo, <tbrigado a ü1lrar o singulorizaçlo que rasitle no
A amplitule abrdfigutb do ser (o rantclcr-sa'ao-todo) própriLt tentpo. Assirl.l, o tempo como horizontc do ser também
e o singularizaçõo invasívt (o ir-tis raizcs) do te»rp<t já tcm a sua amplitude maximrnrente abrangente, e, enquanlo tal
cotno horizonla da compraensao de ser amplitucle, ele também.iii sc concentra, já reirnc a si mesnto na
clireção do honrem cm suir sir.rgularizaçáo. Ilenr conrprccndido,
Ser e tenrpo: tendo em vist.r o problernir do scr, nós pergun não do homenr conro um clos muitos casos especiais presentes
tamos sobrc o tcmpo, sc e conro r.'lc possibilita a condição Íunda- cliante de nós, mus do homcnr ern sua singularizaçáo, quc nun
rrental clc possibilidade da cxistência humana n corlpreensão ca cliz- respeito enquanto tal senão ao particular enquanto pirrti
de ser Ser: o quc há dc nais amplo, em cujo horizonte se en- cular. AssüI, no conteítdo maximanlente originário da qucstão
contra abrangido todo entc rcal e cfetivo, assim corno todo ente diretriz do Íilosolar, questão cssa clesenvolvida e transfornradir
imaginável. Supôe-se que a possibilidacle para essa amplitucle clo na questão llndamental, náo reside a possibiliclacle de uma abor,
ser cleva residir no terlpo. S(r ele, portanto, o tempo, seria a mais dagen'r const.urte e inlàlivelmente cstabclccida rra direçao de seu
abrangente arrplitude, na qual a compreensáo de ser abarcaria ponto cle.rtaque? Essa abortlagem c tanto nrais ameâçâdora, unra
desde o principio todo ente. C) tempo, essa arnplitude cle toclas a vcz quc ela cle saída e durante muito te nrpo, colr.ro vimos, âssume
mâis âbrangente, o que ele é e onde ele e? O tcmpo, a quc lLrgirr o aspccto dc quc não existiria, cle que se trirtaria de algo univer-
ele pertence? A quem ele pertence? sal, quc corrccrrc c oncomilantctncnte cont ccrtczil .l algo particri-
Càda um tenr seu tempo. Nós todos juntos temos o nosso lar, mas quc justarrente desse modo não é a cada vez pertinente
tenrpo. Para cada um de nós c para nós todos, ele é uma posse para esse particular enquanto tal. Agora se nx)stra: l1., essência do
tranquila nosso tempo, rreu tempo que podemos repelir de prtiprío tempo resíde singularízaçào, mas niio como particulariza-
maneira arbitrária? Ou scrá que cada um possui a sua porçáo çáo cle algo universal, pois ele nunca é originariamcnte algo ur.ri
própria de tempo? Possuínros em geral senrpre e a cada vez uma versal:'ir tempo'i Ao contrário, o tem;ro e sentpre a cada vez nleu
parccla dc ten)po, ou será que é o tempo inversânlente que nos tempo; mâs nleu e teu e nosso teÍnpo não no sentido extrinscco

156 157
da existência burgucsa privada, mas meu e teu tempo â partir do questão fundamental m(tstra a possibilidade, incluída ekt ntesruo
Íundamento da cssência do ser-aí, que e enquânto tal sempre e em seu conteúdo, de um caróter de abordagem do flosofttr.
a cada vez singularizado com vistas a sii uma singularização que Com isso, as preparaçôes para o tratament(> de nosso temir
representa pela primeira vez a condiçâo de possibilidade para a foram finalmente resolvidas. Nós sabemos agora em quc contex
cisão nas diferençâs entre pessoa e comunidade. to o temâ se encotrtra, embutido na questão diretriz e na questâo
Precisamente se conquistarmos com a questâo diretriz da fundamental da metafisica. Por meio daí Êca claro o seguinte: a
lilosofia, questão essa clesdobrada e transformada na questão questão âcerca da essência da liberdade humana, se n<'rs a per
fundanrental, a .maiot amPlitude possível do problema de ser e guntarmos de maneira correta, é uma questâo que se remete
tempo, seetêtivamente conquistarrnos e não apenas fnlarmos so- para o todo e, em verdade, trata-se de unl remeter-se-ao todo
bre isso, então jii reside no conteúdo derradeiro do problema pela que e ao mesmo tempo, segundo o seu conteúdo interno, unl
primeira vez e constantenrente o a.(uçdrre lo com vistas â todo e ir-às- nossas- raízes. Tema e nroclo de tratamento da preleção são
qtralquer particular enquânto tâ1. Á í? mplílude dbrongente do ser é de tal modo que, com eles, uma introduçào à Íilosofia pode ser
umd e a nlesma coisa qua a singularízação ínvasíva do lempo. No ousadâ. Com certeza o tema é, segundo o seu conteúdo, um
fundo de sua unidade essencial, ser e tempo são de tal modo que, particular, justamente liberdade e não yerdatle ou arte.
se eles são postos enr questão, essa questão se mostra em si con.lo
ahrangente c ínvasiva. O reÍneteÍ se ao todo é em si mesmo um Liberdade
ir-às-raizes de nós nresmos, de toclo c qualqucr particular. Eu re- /serai\
pito: não ulteriormentc e a caminho de un aproveitamento, mas t^
/\
\
o conteúdo da quesÍáo da fikrsolia - ti rô óv - exige uma questáo /\
que, quanto mais radicalmente ela se assegura de sua anrplitude
/ hrrment \
ser e tempo
e de sua abrangência, tanto mais seguramente ela ganha o seu
Íundan.rento, Íundamento esse no qual ela toca de maneira ques presentidade constirnte
tiona<lora o pnrllcular anquanto parlícuLar e o coloca em qucstao. ser
Com isso, responde-se à terceira cle nossas três questÕcs prepa ri tô óv
rat(rrias.rrr Nós perguntamos: l. Reside no conceito da libcrdade ente enquanto tal
positivâ umâ ampliação fundamental da problcmática? 2. Que ente
perspectiva se abre? (Qucstáo diretriz) 3. Ileside nessa questão movimento
enquanto tal um carátcr de abordagem? Por meio da conexão
cirr:salidade
interna clessas três questóes também se comprovâ, porém, o se-
espontaneidadc absoluta
guintc: a questão acerca ds essência da liberdadc hutnana está
autonomil
cmbutído na questao díretriz da JilosoJia. Essa questiio desdobrou
se e trons;fornrou-se na quastão Íundamental (ser e tempo). Ilssa
libcrclade positiva
liberdade negativa
liberclade humana
I14 Cf. acima, p. 27 e I17.

15ll
perspectivâs ulteriorcs, a liberclade, onde ela por assim dizer se
§ 14. O deslLtcamento do perspcctivd da questão:
encontra. Isso também foi deixado até aqui indeterminaclo, pois,
a questoo diretriz da metoJísica Jitnda se na questío
,tcerco da essência da liberdadc
com o fato cle termos lançado mão de divcrsas delinições, não Íi
cou expressamente decidido a que regiâo o que foi dito pertencc
e conro ele está estabelecido no interior cla regi;to em questão. Se
humana em sua essência. PoÍtanlo, o
C) tenra é a liberdade
â investigaçào da essência da liberdade humana deve tonraÍ urr
que importâ agora é investigá la efêtivamente. Onde e como en
curso seguro, cntáo precisamos nos assegur.lr do campo para o
contrâmos o objeto? Segundo o quc vimos ate aqui, ele não nos
qual temos de olhar a cada vez, quanclo perguntamos sobre a
é mais totâlmente estranho: liberdade negativa liberdade clc '
liberdade para.. Se pensarmos no tema, libcrdade e trabalhanros na clariÍicarção c1e sua essência.
liberdade positiva -
Agora, porérn, csse canlpo parecc cletcrminaclo de manei
então iá teremos t]]csmo todo tl campo erll todtrs as suas dinrcn-
ra tão inequivoca, quc n(rs podemos abdicar de uma discussâo
s(ies, carnp() esse no interior do qual a liberclade se elrcontra en-
mais longa. () tcma e a libercladc "humana", Iiberdade, port.rnto,
quanto problema. Cont certeza! Todavia, esse desdobramento clo
com vistas ao homern. A questão é que o homern é unt ser furta
horizonte para o problcma da liberr.lade.lconteceu, de qualquer
cor, cle tal rnodo que, com esse accno, irpenas clantos a conhccer
modo, com basc na interpretaçáo da liberdade que tinha sido
pela primeirtr vez propriamentc o quáo completamente inde-
dirda por Kant. Quem nos diz que essa intcrpretaç.io, por t.nais
ternrinircla c sem direção c a nossa visiro, que bttsca a essência
essencial que cla possa seÍ, é â interpretação lilosólica central?
cla libercladc humana. Se a única coisa que estivcssc cn) qllestáo
Quem nos diz que liberdadc precisa ser concebidir primarialrlen-
Ibsse encontrar e determinar umâ collstituição arbitrária quâl-
te em conexão com a causalidade? Nós lpenas tornanlos conhe-
qucr no homem, então poderiantos esperar nos deParar com ela,
cimento clisso até a<1ui, cxperimentant1(r ao mesnlo tenlpo em
contanto rlue exarniniissentos inteiraÍncnte durirnte unl tel.npo
rluc tiireção e possivel pcrguntar em cada caso sobre a liberdade'
sufrciente tudo o que havia de possível no honrem. Apesar r/e
No ent.rnto, nao cstá cle maneira algunla dito que rcside aqui tl
todo conlrccinrcnto da essência, contutlo, é deLisivo t> Êab de pre
único e necessário desdobranlento clo problema.
mostrallll assinl, cl)tão toda a nossil orientâção cisarnente rinles de tocla e qualqucr clarificação e determinação
Se as coistrs se
concretas ocorrcr tlesde o principio a visão das essôncias decisivtt,
se mostra vircilante. Ntis precisamos, em todo caso, restringir em
que mântéÍr.r desde cntão e para tudo o que vem depois a essência
certo scntido o que fbi dito até ac1ui. Se o problen.ra da libcrdacle é
em vistir. O quc é descle o princípio neccssário é ver a essência da
articulirdo con a causarlidade, tal como acontece em Kant, elltão
liberdatlc humana, e, ao mcsmo tempo, a liberclade do homent e
essecontexto nos conduz Pârâ ir Perspcctiva ulterior aberta por
(\\c h(,rrenr rrc\IDll. dc litl llt,rJr, (luc. c{,r'll ei\J frinlcirJ \isà1,,
nós e somente entáo. Supondo que a liberdade possa ser de-
por nrais quc ela possir sc encontrar encobertâ no que sc rcfere
terminada desde o princípio de outro modo, então a pcrspectivâ
ao seu conteúclo visível, o decisivo sejâ visto. Nossa introduçiio,
tambenr será uma outra. Não apenas isso, n(rs nãtt precisamos
portanto, precisa guiar desrie o início a visão da cssência, tle 1al
apenas admitir a possibilidade de que, em relação à liberdade,
firrma que se mostrc'irnde" é preciso buscar o que é vislumbrJtvel
sejam passíveis cie serent estabelecidas cliversas perspectivas,
c como ele se cletermina de maneirat corresponclentc à nossa po-
ntis precisamos ter antes cle tudo cltrreza quirnto ao lugar <»rcle
sição enr relação a ele. Esse griar decísívo do visão das essincid.s
abrigamos desde o princípio, antes de todo estabelecinento das

l6t
160
s(i pode ter de sirídâ e precisa ter sempre o caráter de un1â coer libcrdatle tenr clc ser buscacla como fundilntento da possibilidade
ção violcnta para uma direção da visão. O direito e a necessidadc do ser-ai, entáo elÍ7 ncsma ó cm suo essAncia moís oriçifiáriít do
do dirccionanrento dâ visão parar a essência sri sc comprovará a Llue o Lnrncm. l) homem não é scnão um adntinistrador da liber
partir do conteúclo essencial. A constalâção do direcionarnentcr dade, só alguém clue pode dcixar ser a libertladc do que e livre cla
essencial para o qucstionamento c a busca acerca dn cssência cla maneira qLlc lhe cabe, dc tal modo que, através do hontent, todir
liberdade humanir só pocle ser comurricircla por agora solr a for- â casuali.ladc dâ liberciade se tOrna visivel.
nra de um enunciacio e tese. Que enunciado e tese são csses? A liberdade hunranir não sigrriÍica n)iris agora: libercladc
Se quiserrros Íixar uln clirecionirntento para a visão, prcci conro propriecladc do homcm, rnirs, ao contrário, o honrcm ó que
saremos ter delinitivamcnte a multipliciclacle e a amplitude dc se mostra como umo p(tssibiliLlttde da líbcrtladc. Liberda<lc huma'
um horizonle. No que concerne à liberdadc, conquistantos algo na é a liberdade, na meclida enr quc ela irrompe no homc'nr e o
dcssc gênero por meio dc tocla a discussão ate aqui. Mostra sc toma parit si, possibilitando o por meio dai. Se a liberdade e o
agora pelir primeira vez, que cssa discussão não foi clc rraneira lundanrento da possibilidadc do ser ai, a raiz de ser e tentpo e,
alguma cstabelccicla assint de modo apenas casual. l,embremo- com isso, o tundânrento da possibilitação da cotnpreeusào de scr
nos do esquema cla perspectiva do problema da liberdacle ent enr tocla .r sua amplitude e plcnitude, errtâo o homem é, Jimdan
seu ponto dc partida provis(rrio. Se mautivernt()s isso presente, r1o -se em sua existência c ressa iiberclaclc, aquele sititt e ocasião,
então poderemos lixar agora cle mancira inequivoca a visão da na clual e ct»t't it qual o eltte n.l totalidade se tortl.I lnirlliÍesto, e
essência que fintlamenta as consideraçôes seguintes, dizcnclo: a lquclc ente,;ror rr.rcio do qual./à/rl o cnte ua totaliclade cnclttanto
assêncio da libudade só é vista proprianente, quando d buscomos tal c, assim, sc enuncíq. No começo da preleção, quattdo Irtis nos
como oJundamertt(, .lo possibilid.ldc do ser aí, conro aquilo quc aproxintarnos daquilo que tinl.ra sido nonteadtt no tenla conto se
oindo reside afií)s de ser c fertpo. Visto em relação com o es se trâtasse cle uDra coisa prcscnte à vista entÍe outras, n(is vinlos
quema, precisamos byar a termo um dcslocamento completo Llo o hornerrr co[)o LrIrr ente entÍe'outros, iniquo, frágil, inrpoten
lugar da libertllde, de tal modo que venhâ à tona agora o làto de te, llgidio, r.rnr pequer)o Íecanto rto todo clo ente. Agora, vis[o a
que o ltroblema da liberLladc nao se enc(»úra cmbuti.lo na quastao partir do Íirndamento clc sua essência, a partir da liberclacle, Íica
diretriz t na questao .lirndt»nental, rnos, ao colltrttrio, é o queslao claro para nós o alcscomunirl e nraravilhoso, o làlo dc quc ele
Llirctríz do metoÍísica que st: baseia na asstrtciu Lla liberdttde. existL- collo o eltte, no clual o ser do entc c, conl isso, esse cntc na
Mas se o direcionanlento do olhar precisa tonrirr essa clire totalidade se tornanl manifestos. Ele é atluele ente, elll cu.io ser
ção, se o problema funtlarnental precisa meslno ser visto a pirrtir rrais próprio e cnr cujo Íunclirntcnto essencial ílaoíÍecr rt con1tre-
dela, er.rtão e agora incliferente saber se a interpret.rção kantiana ursõo dc ser. O homem é nrais ingente, do que unr dcus jamais
dir concepção da libcrdade no quâdro da causalidade tem razão pode se1 porque o deus precisaria ser tolalntente difcrente para
clc ser Mesmo que esse não lbsse o caso, segundo a noval tesc poçler experimentâr àlgo.rssirn. llsse elemento descomunal, col't.t
da causalidade, Íesidiriâm ii sua base nloyimento, ser ent geral, ,, qüal trrl,r,,r,ls contato irí eÍêti\,âmente e que ntis elêtivanlentc
a liberdade. Líbcrtlafu nuo é nada purticuldr entre outros coistts, somos, só pode ser algo tal como o que hii tle mais íinito. No
ela náo sc cÍ]contÍa alinhavada ao laclo de outras coisas, nas é entanto, ncssa íinitudc, dá se a reunião existente dos contendo
pré ordcnada e impera prccísdme te sobre o loLlo Llo ante. Mas se a rcs rro interior clo ente e, por isso, a ocasiíio e a possibilidade do

t62 163
irrompcr dissociarlo a dt irntpçao d<) ente or -s&.r multiplicidode c pcrguntamos por isso: o que significa o ser-ài clo homerl, o que
plurolídade. Àqui rcsidc ao nlesnro tcmpo o ltroblerno nuclcr Lla significa lirndanrento? O que signihca fundamenLo clo ser aí hu
possí b í lidati t d u vc rd a de c onro de sencob r imc nto. nano? Em <1ue nrcclida nos depararttos ai conr a liberclacle? Por
Sevirmos o horncnr assint c precisamos vê lo ;rssint, na rlue via poderíirmos nos tirmiliarizar cle manc'ira Íilosolantc cotn
medida cm que soluos irnpeliclos a cle por nteio rio conteírclcr o problema rrctafísico cla liberdade.
funclamcntal da rluestiio tliretriz ila filosofia , se yirtlos, en.t Flscolhi, contutlo, um canrinho clivcrso, cluc conduz pirrl a
suma, o hornetn ntetafisican)enle, entiio, logo rlue cortrprccncler- nresnla rnctil, um câltlinho que nos obriga constant.'mcnte il ils-
nros il nós nresmos, já niio uos ntovirnenttrcn')os rlais hii nruito sumir um diálogo corn os ÍlkisoÍirs e, em pirrticular, cont Krirtl.
lcnrpo na vicla dc urna pequcna e breve reflcxão egoista sobrc iti a partir clo que ibi dito antcs é preciso lembrar rlue Itri ele,
o r-rosso eu. N(is nos ellcontrilrcnros agora enr ntis ntesntos, crlr Kant, quem viu pela prinrcira vez tla mirneiril mâis rirclical possí
t.rrssa essénciir, orrdc tocla psicologia e coisas clo gênero se dissol vel o problenra da libcrdatlc em sua amplitucle lilosóÍica. Se não
r.cnr. Seriir infiutitc«r,
se cluiséssenros cor.rtinuirr entprcenclendo clesclobrarnros o problema cla liberchcic crn unr rcflcxào tlono-
tliscussoes e suposiç<ics sobre cssit cxperiência ntctirflsica Íun logicamer)te livrc, nras enr um cliiilogo explicitaclor, L'lltão isso
rlanrcntal clo hontcrtr. O que ela ú, ou seja, conto cla se colocir não dcverii scrvir para que tolnentos Possír,cl unta tontada de
crn obra como filosofia, só é expcrirrre:rtável e cognoscível no conhccirncnto historioltígica acerca de opitritles anteriores so-
questionirÍnento concrcto. Só uma coisa cstá clara: o hotrem, brc o problenra, nras cicvcrá alltcs nos fazer compreencler que
Iunclando se na libertladc cle seu ser aí, tcm a;rossibilidade cle os problemas dotaclos clo carátcr do nosso problerla enr gerai
sontlar cssc seu lundanrcnto, a tirtr clc se pardcr corrr isso enr s<i possuem sua vitalidadc propriancDte dita nessa conlionLação
nreio i\ grarrrleza nretatlsica interior vcrdacleira cle sua cssênciit histórica, enr unra histtiriir, cujo acontecinrento rcsidc lbra do
e se (or.1ai-çfílr precis.ulentc crn sua particularidacie existenciá clecurso das ocorrônciirs.
ria. A grandcza cla Íinitude toÍnou-se hii ntuito tentpo pequcnir Se nos obrigamos a unra c()nliontaçio coln Kant, cntiio co
c irtsiPi1l.1. tlt llll rrrrtlr' (lU( n.i(' (on\cBUilt)o\ lili\ lic \Jr ( l locamos o problcrna ria liberdade de saídâ umil vcz mais nir pcrs-
conjur.rto linitutle c grancleza. O homern niio é a irtrilgcr.n cle l)eus pectir.a r-lo problema clir car.tsalidadc, rlo scr uuit determinaçlto
corrro o pequeno burguês absoluto, r'r'rirs esse l)eus é o procluto coisirl originária.r'i A necessidacle clc unrir confrontaçalo é tânto
inautêntico do honent. mais Llrgcnte, umâ yez, que nós ntcsrttos cortcebemos a liberdacle
Não obstantc, lcvalrta-se agorir a questrio pirra o ciesdobra conro fundanrento cla possibilicladc do ser aí. É rluestionável cli
r)ento e parâ ir elaboraçilo collcrctos do problenta tla liberclade: zer efl
que conexão sc cncontram cí1./§,t c Jit .ldmeúo.
corlo é que cleveríanros chegar àquclc ponto pat a o quirl nos cli- Nris estabeleccrros as nossas consiileraçôes seguir.rtcs sol)
rigc a visão cla essôncia cla liberdaclc? O que significa: lil>er.clacle o titulo totâlmente gcncrico: cuusslidtult c líbcrLladc. Abclico dc
e o funclalnento da possibiliclade do scr aí hurrano? A liberdade clesenvolver nrais irmplirmcnte unr prograÍna cias questôcs tlttc
sri se trlrnir nranilêsta pirra nós collo c.ssc Íirnclarlento, se sc cotl
segue, scgunclo o ponkr dc particla e o ntoclo de ser do qucstio tt5 l}I illemio, o ternro parà clusl (Ursrk:lic) signilica litcralmcntc
namento c cla clireção c irgucleza cla clariÍicação conceitual, clei coisa ( origikirio (Ur. ). (iorno tleiclcggcr insere no texk) acin)a
sachc)
xar a libertlacle, enquanto tal lindantento, scr linclamelto. Nris o lcnr)o lrtino Knusdlitiit (causalidacle) juntâmente com o termo ale
miio, oplamo§ por unra traduçâo literirl clo scgunclo tcrrno. (N. T.)

161 165
se cncontram vclaclns sob esse título. C) qr.re me intportir aí é clue
SEGUNDA PARTE
os senhores acornpanhenr unl pouco o cantinho efetivo cla "in-
vestigaçâo'l correnclo o risco cle quc, r'ro carninho, pL-rcirm por
vezcs a visiro do tocio. Urna pequenir indicação cla problenriitica,
tirl conro eu a vejo residir telacla no titulo, pode, contutlo, scr
ilaila, e, cm verclacle, cle ntancira [ota]ntentc Í-orn.ral e aparcntc
mentc violcnta.
Na conrposiçiio cle causalidadc c liberclade rcsidc cle saída
a queslâo: q liberdode é um ltrobleno do ccrusulidsdc olt a cdu-
saLídatlc tl que é um prnblcma Llq líberdode? Se esse frltinro lbr o
cirso, a liberdade torna se, então, o finclamento do probienta?
Como ir liberdade precisa scÍ nesse caso coucebicla? Ela pode
CAUSALIDADE E LIBERDADE
ser conccbicla cle tal ntoclo que visluntbranros a partir de sua cs
sência err clue nteclicla a libcrciade pocle e prccisir ser curccbida
negativanlcnte? É possivel cluc se ntostre en) quc rneclicla a libcr LIBERDADE TRANSCENDENTAL
clacle e em suir cssênci;r liberdaclc clc... e liberdacic para...? Onde E PRATICA EM KANT
resicle a unidaclc originiiria e ratlical para essa estrutura clupla?
Illir é em geral uma tàceltr origináriir ou apellas untir faceta su-
per6cial? Todas cssas qucstires reluzcnt crr clireção iro problenta
lirnclanrental da lilosofia, ent ciireçiro ir scr, compreensiio clc ser
e seu acontecintellto.
PRIMEIRO CAPÍTULO

Causatidade e [iberdade como problema


cosmo[ógico. 0 primeiro caminho para a
[iberdade no sistema kantiano, passando pela
questão acerca da possibitidade da experiência
como questão acerca da possibilidade da
própria metaf ísica

A liberdade é unr problema da causalidade ou ir causalidade


ó clue e um problenra da liberdade? Prccisamos perguntâr imedia
tanrente de maneira tniris coltlpleta, sc esse ou-ou toca em geral
no problcrra, isto é, se, mesrno se a causalidade se revelirssc corr.rtr
problcma cla liberclade, a libcrdacle seria, cour isso, suficicntcnlen-
le apreenclicla? A essência tla liberclacle não rcmontariir a nad;t
mais do quc ir unr lundanento clo problemir da causalidirdc? Flm
caso aÍirmativo, scria suÍiciente, cntão, conceber ir causaliclilde uo
scnticlo em quc cla vcnr senclo ct»tccbicla no prescnte nrotnento?
Não! Precisamente sc a liberdade Íirr o funclamcnto clo problc
rra tlir causalidade, ela uão precisa ser conccbicla e aprccnclicla de
maneira nrais raclical e nào apenas cortro sc ela tnesma nilo lbsse
seuiio uru nrocio cle ser da causalicl;rcle? [)c onde retiramos as cli-
letrizes para um retorno ii essência ntais originária?
I)recisa havcr razões decisivas pelas quais sc gosta tanto de
colocar com ficquência a liberdadc crn conexão conr a causali
dade, algo que acontcceu cla mrneira ntais aguda c ntais ratlical
cnr Kilnl. O 1iúo de essa conexão entre causaliclade e liberdade sc
impor por nteio do conteúdo interno clo protrlenra e não por nteio

169
de unr mcro ponto cle vistir em Íclirçào a ele, é algo que poclemos diante dc si, que hoje o pesquisador particular niro conscgue n1âis
vislunrbrirt alenr clisso, a partir cle nossa prtipriâ tese. O conteúdo abarcirr enr sua disciplina, qurndo se observa a organização clas
cla tluestão firndamental contluziu à liberdacle como fundarrento ciências em sociedades, institutos c congressos, cluando sc tonta
da possibiliclacle do scr iri, no tlual ac(nttece.l cornPrccnsão cle ser. conhecimento do ritmo, com o rlual urn rcsultaclo clesencacicia o
A liberciacic n'rostril se como funclalnenlo. NIas o clenrento coisal próxinro e e transposto pirrir a assim chamada práxis, não parccc
originário (causa) tarlbém é uma especie dc fundirmctrto. firltar r.nais nada em nris senão a clintensâu descornunal do mecir
nisuro gigantesco e de seus meios. I)e fàto, sri nos Íalta isso para
§ l-5. Olr.scnaçôo prévia sobre o problcma ir âo cllcontro clir ruína, da ruína interior, pois tuclo aquilo que
Ja taus,tli,l,nlc /r,ts r i1r. i,i.. lrouxe algum dia para o interior da via cle uma técnicir que cor-
re por scus próprios veios também sc mantétr, e parcce mesnlo
a) Causalidade como expressão para a questionabilidade se nrântcr prccisalncntc, quanclo a necessidaclc interna e a fitrça
da natureza inanimada e viva nas ciências sirrples cle nlotivaça)es irutênticas ;rereceranr.
Se acollrermos o problema da liberdade ern conexiio com ir Apesar tlesse nrovinrcnto progressivo quase tecr.rico da pes
causirliclade, então é aconselhltvel delinritar dc saida de maneira rluisa cienlíÍica, apesar clessa indílstria Ílorcsccnte, que hoje rc
mais rictcrnrinrda o que se tcm cnr vista por causaliclade e quais ;rresenta a ciência, as ciências cla uirtureza e da histriria se torna-
sào os problemas ilue ela mesrnir já irtrrc. Busco unta tal orienta ram hojc mais questionáveis ckr quc nunca ent termos interiores.
ção concreta sobre a causalidaclc a partir do Íio conclutor do trata
A desproporção entre os resultados diariantente trazidos ii lona
mento kantiano do problerra, no qual sc cruzant, o que.rgora nilo e a insegurança c obscuridade dos conceitos e cluestires simples
é determinante, diversirs motivaçoes históricas (l.cibniz, Hume). c tindamentais nunca firi táo grande. Para aquele clue poclc vcç
Antes de nos aproximarmos dir concepção kantialra da causalida- nunca licon tão claro que o que e espiritual se tornou ern si ao
de, necessitalr.ros clc urra rcfi'rência à arnplitude do problema da mcsrno tenpo confuso, inrpotente ent relação a si Ínesrno e dcs
causllicladc, c, cm verclacle, em unr dr:plo aspcckr. A investigaçito provido tle raízes, ntas, contudo, pocle nt.lnter o nrunclo ocr.rpadcr
e o qucstionamcnto, <1ue denominallros ciência, segue em duas com resultados que se precipitalu sobre nl)s e ern um cstado cle
corrcntcs principais: em direção ii naturcza e à história. âdmiração coln srlrpresas lugiclias constanles. Niio sci quant.rs
pessoirs concebenr hoje eÍelivartrcntc essa situação c con'tpreen-
Natureza hist(rrir (homerr c obra hurnana) ciern os sens sinais.
Proccssos acontccilncntos Aparentcmentc, cstanros acentuando algo completanrcnte
Causa c cfcito causa c cfeito extrínseco. Na cidatlc dc Halle, houve no finirl cle abril o congrcs
Causalicladc causirlidade so alemão de historiatlores. As pessoas discutirant uesse congres
?
?
so se a histrlria seri.l unla ciência ou utr.l irrte. Mais cxatamente:
Ness.rs correntcs principais da pestluisa científica, na inves .rs pessoas nao tinham nenhuln nreio para tliscutir isso elêtiva-
tigação da nalurezir tanto quarto na investigaçâo t1a histtiria, a mentc. Não se viant os cantinhos paÍ.r elêtiyantentc apreender o
cirusalidacle se ton)oLr protrlenráticar cle unra maneira totalmente problema cncoberto e colocá k) de pé err seu solo. Sti uma coisa
diversir. Quantlo se tem de lora a pluralitladc das investigaçÕes Ílcou clara: os historiadores não sabem hoje o que é histtiria, eles

170 t71
n.1o sabem nem mcsmo o que é necessário para chcgaÍ a um saber o tirto cle <1ue a concepção tlo caráler processual das ocorrências
sobrc isso. Só é cvidcntc quc não sc sabe ncm mcsno por que não rnateriais se tornou questioniivel. Falta a possibilidirde de conce-
é possívcl sc valcr tlc aportes casuais de urr profêssor dc filosofia bcr c determinar.r natureza positi\.tmente de mirneira nova, cle
que se encontra casualmente ou que se tem corno colega. tal modo que âs novils questôcs c conlrccirlentos ntantctrhan.r
OttJe se cn.r,ttlr.r r, lttntlltnettlrr pJrir c\\.r \ituu\.1,' (.lt.r\- seu solo autêntico e a suâ lundaltrcntação. C) lltesllo ilcontcce
trofal, rlue não perde nada cle seu caráter terrivel pelo fato cle corr a qucstão acerca cla essência rlo orgirnismo, conr a questão
todos esses homens ciesamparados prrosseguirem no outro clia ile acerca dil e-ssêucia da vitalidade rio vit.cnte, acercil (la cotlstitui
maneira segura e tÍanquila com toda a ex.rtialão o seu trabalho? çno lirnclamental tkr moclo c1e ser ckr ente, do quirl clizentos clue
O ÍLnclanrento nào residc no f-irto c1e nós r.rão estarmos cnr concli cle é, vive e nrorre.
çôes clc dc6nir a essência clas ciências históricas, nras no fato cle o F,u repito. t\
cutrsolídode não é nenhrim conceito reútoto,
acontccimcnto hist(rrico cn<luanto tal, apcsar da pluralidadc das rlue paira livrenrente, para o,-1ual deve ser criirda unra deÍini
ocorrências, rriio possuir nenhuma tirrça una dc manifestação e, çaro corrctil, nras ela é inversirntcutc cÍpft§-Jí'io lturo t queslio
por isso, permanecer velatlo em seu caráter essenciirl, niio sendrr nobilidade mais ínlínta dd c(r stítuiçiío dt nolurcza inuninatla e
senão âinda mâis encobertâ e n)âl interprctacla por meio cle teo- ylyrt. O h<lmcnr nrcsnro, porém, err r)rcio ii nalturez.l e atrclaclo ao
rias gastas sobre unra ciência hislórica. O acontecimento históri itconlecinrento de sua históriir, vacila e bLrsca ucssa histtíria <1ucs
co enquanto tal nào tem como se anunciar, se ele Írão se clepara tionabiliilade c necessidircle. I-l a lilosofia sabc ao rresnto tentpo
col» um experienciar, que traz collsigo em si a clariclacle, coln a das perspectivas, parir as cluais o problentir col)cretantente colu
qual a historicidade da história pocle scr inteiranrente iluminada. preencliclo cla causaliclatlc da história e da naturcza aponta. N[as
Ncsse cirso, ó prcciso decidir se a hist<iria sri é dc inicio e cm geral prccisiurente essa aporia rluc tlcspolta por toclos os lados, esse
um conjunto de anexos de tatos e influências cirusalmente irrticu f-irto dc que tudo se nrostra vacilantc c vent à tolla como frágil:
lackrs ou se a causalidade do aconteciurento histririco precisir ser esse é o tempo correto clir lilosoliir. Scria ingênuo dcscjar irincla
concebida de maneira completirnrente diversir. que apcnas por um instante que as coisas Íitssent cliÍ-ercntcs. Mas
C)s senhores estão venclo que o problenra cla causaliclacle tirmbénr serin iguahrcrrte nríope achar quc seria possír,el tluerer
naro é nenhLn.na questão renrotà, cle algunr nroclo inventacla na salvar esse tempo conr o auxÍlio cle urtr sistcrnir cla lilosolil. Ao
lilosolia. Trata-se antes cla mais interna incligência cle nossa re contrário, l únicir coisa que estlt erl questilo c milnter.l necessi
lirção com o histtirico cm geral c, por conscguintc, tarnbérr conr dadc vcrclircleira e .rutenticiurcnte experintentada c cxl.',erimen-
a ciêucia da histriria (filologia no sentido rrais anrplo). Mas o tiivcl. A írrrica coisa tlue está em questâo é despertar para o Íàto
rnesrro valc para a outrir direção clo qucstionanrcnto cicntifrco, de quc il questionabilidade clnerger.rte, a precursora da grancleza,
para a ciôncia da natureza, scja cla a ciência do inanirrlado (fÍsi nio ó arrancirda por meio dc rcspostas e superstiça)cs bariltas.
ca, química), sejâ elâ cln nâtureza vivente (biologia). Chega-se ao Assim, tornir se elêtivantentc supcrÍluo .lssegurar aos sc
ponto de dizer t1ue, com base nas noyas teoriâs tlsicas, nâ teoria nhores ainda dc rnaneira ânpla quc o tcnta clessa introduçào ii
eletrica da mâtéria (estrutura atônrica), na teoria da relativiclade lilosoÍia emergc c rctorra as grandes corrcntes cla pesrluisa sobrc
e na teoria quàntica, a lei cla causalidade ate aqui vigente teri.r .r r'rltturezil c a histtiria, clireçôes essas nas quais os senhorcs se
perdido a sua validade sem cxceçÕes. Nisso se exprcssa dc saída crrcorltranl imerliatamentc por nteio do fato dc pertencelem a

172 t73
tàcrrldadcs particulares cla univcrsidade. O filosoÍar aqui não é mcntais em relação à causalidade da história. Alerl disso, porque
nenhuma ativiciacle secundária cnquanto fuga para necessidades precisaÍnente na discussão filosóÊca irtual sobre o problenta da
privadirs e para a ecliÍicaçao. Ao contrário, ele se acha em mcio à causalidade na psicologia fala se que a concepção kautiana seria
nccessicl;rcle clo trabirlho, ao <1ual os senhores se prcscrcveranl oLr insuficiente. Por fint, porque o problcma kantiano da causalida
pretendem ter se prescrito, quando os senhorcs sc movimentam de aponta para um.l conexrio, quc já conhecemos em todir a sua
nesse espirço. anrplitudc principial, r'to nexo entre ser c tempo. Pois é a ligoçtiLt
Com essas breves refêrências à situaçào das ciências da na- com o temPo que salta imediatamente aos olhos nà concepÇao
[ureza c da histriria, nao queríamos constatar, por exentplo, os kafitídnd do cousalidade, ainda clue o problcma aqui nao chegue
erros c os descasos das ciências, assirn como nào um tracasso da iis suas últimas consequôncias. I)e saída, o que importa e colocar
Íilosofra, ou seja, nào queríamos constatal absolutamente nada concretâmente diantc dos olhos o ponto de partida kantiano do
sobre o que se pudcssc ou devesse acusar mutuamcr-rtc. Ao con- problema cla causalidadc.
trário, tuclo isso são arautos e sinais de abalos c dcslocamentos No que concerne às r/iscrissôcs í1o problema «tusol na física
eÍ'etivos cle todo o nosso ser-aí, em relaçao ao quill o singulirr só trnderna e ao seu signiÍicado para a fiiosoÍia, é necessário fàzer
pode ter uma prcocupação: nao deixar de ouvir as novas vozes unra obscrvação, a Íim de ir ao cncontro cla confusão dcsespera
que cstiio suficientenrente siler.rciadas. É c<luivocadtl ach;rr que clora que já sc diÍirndiu aqui. A confusão tem seu fundtulento
ulr.r singulirr proderia se apoclerar dc tudo e rierrubar o diverso. em cliscursos quc'passant uns ao largo dos outros, o qlle, por sua
Com isso, não se alcançaria senão o caráter 1àtidico cle tudo o vez, emerge tlo Íàto de que não se vê clnrarncnte nen na Íllosofiir,
que ó retirrmador e que se tÍansfbrma da noite para o clia em uma nem na física, aquilo sobre o que propriamcnte se pergunta a
tirirnia insuportiivel. 'lh[rbém é importante, porém, tomar cui- circla vcz, e de tlue se precisaria perguntar, e aquilo que se pocle
dado para não cleixar tudo e cada coisa viger indifcrcntemente rcspcctivârrente perguntar. Por unr laclo - na flsica alardeia-se
e se torn.rr a vítima t1c uma opiniao cle todo mundo. O que vale que sc cstaria finalnrente em conciiçôes cle;rerceber quc a lei cla
é o rneio, r.rão o medíocre. O que vale é pern.rilnccer quieto artte causalidade não é nenhuma lei a priori do pensamento c 11ue, por
a pluralicladc inter ior e a relativiclade tlo cssencial, que nunca se ct»rsegllinte, s<i sc poderia decidir sobre cssa lei por meio clir ex
deixir aprisionar em Íórnrulas, nem salvirr por meio de [m.l [leÍi:I periência e do pensanrcnto lisico. "Os físicos não cluvidant ntais
derrotir dc scu aclversiirio. hoje de clue a qucstão acerca da presença de unta causalidade
plcna só pode ser deciditla pela experiência - dc que, portanto,
b) Causalidade na física moderna a causalidade náo e, por exenrplo, uma necessitladc apriorística
Probabilidade (estntÍstica) e causalidade <ie pensanrento'1"" Com a últirna observâç.lo tem sc cnt visla na-
turalmente a concepção kirntiana da causalidade, cnr relaçào à
Causolidade o que podemos dizer dela? Qucremos escu-
qual e preciso observar desde o princípio que Kant itunca c cn.t
tar cle inicio KarrÍ falancio sotrre ela e prccisarnente Kant por v.i
rias raztlc-s. Por Lrm laclo, 1.rorc1ue causalidirde e liberclacle sao co
locirdas por ele ent Llrna cor)exão particular; em seguida, porquc I l6 P. Jordin, k tt iliil urul Stotístik in dtr noderntn lrlrlsik (CaLr
Kirnt concebe a causalidade prinariamente conro causalidirtlc salitlade c cstatistica nl tisica motlcrna). Iltr: I)ic Ní7trirwissc,lsclld/icrr
dn natureza, cle tal nrotlo que resultam daí di6culdadcs funda- XI', 1927. P l05esegs. (Conlerência de livre clocôncia).

171 1/-5
parte alguma concebeu e têz.r lei da causalidade passar por um.r atômicas, nas quais se veent hoje os processos Íísicos elelrentarcs,
neccssidade apriorÍstic.r cle pensamcnto. Cotr.t certeza, Kânt diz de tal modo quc csses processos correspondcm ao nleslro tcmPo
que o princípio cl;r causalidade enquanto lei universal cla nature uma vez nrais ao decurso astroÍlsico (mot'irne'nto dos plarrctas).
za não pocleria janrais ser Íundamentado pela experiência, ntas Na tisica atônrica mostrou-se quc irs granclezas fisicamente
seria inversamentc a conclição de possibiliclade de toda c qual estabelecidas náo são scmpre dilirndidas na regiào cla Iratureza.
tluer experiência cla natureza em geral. Os nlovimentos não acontecent c1c uura maneira inteirirnlente
Assim, inversamente, por pârte cla Íilosofia enr rclação a constantc, há inconstâncias, saltos c lacunas. Não há nenhunla
todas irs prctensa)es da Íísica e i\s suits dccisires sobre a lei cau- cleterminaçito clara parâ o transcurso do nlovirr.rcnto. A legalida
sal, acretlitir-se, entào, clesde o principio cstar em umâ posiçào cle dcsse transcurso nito é nctrhuma legaliclade dinâmica, causal
scgura c superiot na meclicla cm quc sc decllra: os fÍsicos 1.ro- senr qualquer lircuua, ntas apcnas unta legalidade constatávcl,
rlem dizer sobre a lei causal o que elcs quiserenr. Enquanto eles isto c, estâtistica no valor médio de sua probabilidade.
continuarent a pcnsirr hsicanente, eles nalo se encontraÍão cnl A regra da sequência dos processos naturais elcnlcntares é
geral na únicl clinrcnsão capaz de lhes dar os r.neios parir acolhcr un1à regril tliversa; quc regra ela é, esse é o problenta. (iaso se
o problema causal. liru contraposição r isso, e preciso obscrvirr designe cssa regra como princ(rio tle caustlidade, etrtão se ob
que cssas duas posiça)es siio inlernamcntc inrpossíveis e questio- tém a partir dos tnodos cle questionirutento c tclnils da l'isica ir
niivcis. O rccurso filostilico ao a priori é tão qucstionilvel quânto neccssiclade cle dctcrminar cle nraueira nova a causalidade. Ir, o
o cnrijcciruento fisico enr meio ii instância da c'xperiência e itt- quc signilicir isso cntão? "Definir a causalidaclc não signiíica para
tcirallrente conluso. Por finr, as duas prctcnsa)es sào justilicadas o flsico outra coisa seniro indicar como é que sc pttde constatirr a
e as duas não são raclicais c clarirs o suÍiciente para eíêtivilmentc sua presençir ou rtito prescnça experinrcntalntente. Conl isso, jai
ver o prroblema decisivo. fica claro quc nesmo a dcfinição da causalidacle;rrecisa se alterar
C)nde resicle, cr)tão, porém, cle maneira tot.rlmcntc gcral, o progressiviuneDte conr o progress() de nossas intuições, couheci
L'
nlolivo para que a lei causal tenha se tornado questionávcl crr irl- mentos e ure ios experimcntais'lr
gunr scnticlo parir a fisica atual? "Na dinântica clássica, e válido de Aqui se torna totalmente palprável o seliuintc: dcfinir a cau
mancira irr.'strita o princípio segundo o qual o conhecimento clo salidatle signiÍica indicar o tr.toclo possivel da constataçào de sua
estado (a saber, das posiçôes e velocidadcs dc todas as particulas prescnça, de seu e-sfí]r pre.Jcnle à vista, do estiu Presente .\ vista
nrateriais) detenlina em unr instante o ttallscurso cle unt sistc <la causalidatlc. Mas o riac é essa causalitladc, ort o que é prc
rra lccltr.l(' lur.l lô(l(t rr lulttro: t''.u c ü ((rlLelli.l(,, qll( ilssull)r' ciso colnprccnder por isso, é algo quc já precisa ser cxplicado
a lei causal na flsica'l'rr [)iz sc que, evidentemer]te, na natLlrczil de tlualqucr tirrma antcs tla conslatação clo estar;rresente à vista
rr viBe \crl) (x(( çiio tlrllJ r atl ou rão estar presente i\ vista. Ou será quc isso tanlbéln precisa
r rdcru\( r
'li(.1 l.1,,t 1tro. cr.,, r)Jl uriris.
saliclaclc confiável, isto é, determinada; as coisas não sào assirtt, ser prirleiro constatado? E, se a rcsPosta lor positiva, por quc
contudo, nil rcgião microscópica, isto e, na rcgiào das estruturas vias? t,lssa e ii questão que a Íisica csquece cle fbrnlular, mas quc
a Íllosofia já decidc rápido clernais. Pois cttt.r't ir asserção: eu já

I l7 NL Rorn, Qudutcnnr.lM ik tul Stitistik (Mccànica quâ,rtici e


cst at ist ica ). l'lnr: 1)ic MiÍar wi.ssc nschaften XY, 19)7 , lt. ).39. ll8 P lordan, (4). cit., p. 105.

t76 t77
prcciso saber o quc eu coutprecndo por câusalidadc, pâra poder que umâ inclicação, cuja legitimidade e originariedadc precisam
const.ltâr aqui e acolá uma causirlidâdc, e eu preciso ter esse si1- ser a qu.rlqueÍ momento decididas novantentc.
ber irnles dc toda cxperiênciâ constatadorâ - com ess.l asscrçâo, Kant expressir se sobre a causalidade na "scgunda analogial
em vcrciade, cstou dirnclo uln aceno para algo tal que atlcccrJe as Analogias são denominadas poÍ Kaot um grupo determinaclo
constatações consollantes cont.l experiência. Todavia, o que L,sse cle prir.rcipios, nos cluais se enuncia o que pertence ii "existência
irnles, o que esse a priori, signíJ)ca, conro e/e I po.ssír,e/ c por que (ser aí) dos fenirmenos", isto é, ao cstar presertte à visla clo entc,
ele e nccessário, isso é clecisivo e não podc ser com maior razão cla'lraturezil tal conlo csse entc nos é acessivel. Os proccssos
sinlplesmcnte decidido por mcio de unt recurso a Kant. nirturais, isto e, as rclaçôcs do estar presente à vista dos f-cnônte
Assim, precisamos desconfiar, ern verdade, das pretcnsiles nos enr ul.n ternpo, sc cncontram sob o clomínio dc tlctcrllrinadas
de poder da Íisica, mas não temos o direito, de qualquer f-orma, regras no que conccrnc à sua delernlinirtrilitladc, c, cm vcrdade,
cle sinrplesmente colocar de lado os novos conteírdos ntateriais de
sob regras que não são conquistaclas a partir rle rclaçôes casuais
seus problentas atuiris como um assirn chatnado ntaterial empíri ou frequcntes, na m.Iioria clas vczcs usuais, mas sob regras que
co, pois esse n).rterial poderiir se nroslrâr Ínuito bem dc tal rtrodo clesde o principio determinam aquikr que pertence ent geral à
qtre ele fàrnt'ces:c a rrtdícttçtio dt novas tleternútraçôcs es:cncr.ai-s possibilidade de um processo nirtural; e de un.t processo nirtu
da noturcza em gcrol. Por outro Jado, precisamos desconliar das ral tal como ele é expcrimcntável por nós. Por isso, o "Pri cípío
asscrçóes rápidas e gencricas demais da Íikrsolia e não podemos geral" das.rnalogias da cxperiência é, segunclo a primeira edi-
esquecer de que cla lem a tarefà e de que sri cla tent os canrinhos, "Toclos os fenôrnenos
ção Lla Critica da ntzao purot)", o seguinte:
quc problematizarn as possibiliclades internas da física e de seu encontrarr se, scgundo a sua existência, a priori, sob regr.rs da
objeto; ainda que isso st'r ircoltteça nâturalmente, quanclo a pró- cleterminação de sua relaçao entÍe si crr utl teurpo'l A seguntla
pria filosríia ó conduzida aí por uma vitalidadc verdirdeira cla analogia nos Íirrnece uma dessils regras.Lr" Kant dri a esse princi
I)rohlürnJli(a qLrc llr,. .1 nr.ri,, prcPria. pio na primeira e na segunda edição tanto denttminoções dír,er
Jds, quanto umâ ao/7acpçíro díverstt. Ln A: "princípio cla proclu
§ 16, Prittteiro fioyimento pdr.t t coraclarizaçao dtr ção"r:r, em B: "prir.rcípio da sucessâo no len]po segundo r lei da
L'.ortcc1tçãokantiartu da causolídade e dc scu nexo causirlidade'l'I A coltccpção do princil.rio enr A c: "'ltdo aquik)
.litrula ne ntul: c uus rrli dttd e e onlc m I e mp oral que acontece (correça a scr) pressupÕe algo, ao quc clc se segue
scllundo umo regrur'irrr lm ll: "Toclas as mutlirnças ircontecent se
Ar.rtes dc perguntarn)os e dcciclirnros se a lei cirusal e lo_ gundo a lci da Iigaçiro entre càus.l c ci-cito':rrr
gicâmente nccessária ou ltão, sc esse tipo dc questionanrento
acerca cle sua validade em geràl tent um sentido ou não, pre_ I l9 Kant, CRP, A l77cseg.
cisamos conquistar uma elucidação sobrc o que siglifica enr [0 Op. cit., A I89cscgs., Il 232esegs.
gcrai causaliclatle. Para essa questão, precisa ser conquistâdo,
l2l Op. cit., A 1ttg.
por suâ vcz, o -so1o correto do Lliscussão, isto é, o cotllcxto fu (jt1
l2: Op. cit., I1 232.
minlal, ttr rluul |cr1.,11i.'" llg,,.r.sirrr (t'nlo (au\üliJirJc.,, g.."1.
Pârtirnos par.l tânto de Kant. Isso nunca podc forneccr mais do 12.] Op. cit., A 189.

12.1 op. cir., u 232.


ITtJ
t79
A lei produz um prlrrcípio do sucessaLt no ton
<la causaliciacle conduziria ao infiuito e é, portanto, itttpossivel prcssttpondtl
po. A caLrsalidadc c err si ligaria à silr-r-s.srio lorrlrorcl. (lomo e que a que csse "outro tcmpo'l tâl como Kirttt senl r.1zào PrcssllPôe, ti
causalidâde, ou srja, o ser unt elenrcnto coisal originário, entra ent vessc o lresltlo caráter tlue O prirnciro. Portilnto, sc no tenlpo en
uma ligaçao coll it succssão temporal? l,i o que significa sucessão qual]to tal mesmo não há ncnhumir sucessão, cr)tiio tirr]lbem não
tcnrporal? A causir e causa cle ur efàito. O ctêtuaclo e o pror«rcaclo há nenhur.r.r trirnscurso. "O tcurpo não [r.rnsc(]]rre, nlas é Ílclc quc
enquiurto [.ll tar.nbem são denorlinatlos por nós o sucedido ori o rt transcoÍre a cxistênciir tlo quc e nlutllvel'l "O tempo... nlcsnlo...
sultado (F)litlg). rl O resultado e atluilo quc sc seguiu a algo cliYcrso c I'ertttltrcttlc'.,r '"... () l(lllll() lll(\lll{r I).lr) \( lrirll\
lrl irttrllrrl
e precerlcntc: a consequência (día F'olga). Efàtuar significa, visto a Íbrma, mas só algo rlue est.i no tcmPo é tlue se trirnsÍirrmiil''"
;rartir tlaí: succdcr (erlirlgen) e dcixar ocorrer firlgel /c.s.srl). A cau Sucessão Do teúrpo, portânto, não sigrtifica uma scqttêtlcia cle
sa cr»lo ircluikr que proyoca o surgilrento do efcito c algo tal quc tempos pertencentc iro prt)plio tc)trPo, ntils tt suceclcr c a sttces
deixa lrcorrer, tltrc deixa se seguir a si e, cont isso, cla c cl clclr-rcnto são datluilo que estii no tentPo.
antcccden[e. Na relação de clusa e etcito resicle, por couscguintc, Ora. mas Kant cliz ttnrir vcz uais: "Sitrultane idacle e sucessilo
antcccclência e consctluôrrcia; ent gerirl, o segLlir-se url ao outro, são ls Írnicas relaçr-res no ten.tpo'ir"r Simultirncitlarie e sucessâo lril(l)
o trnr dcpois clo outrc, a sequência, quc Kirnt tonl.l como J&ces-sdo são, por exernplo, relaçircs tlaquilo que estii I)o tcmPo, rllas rclaça)es
lernporal. Assinr, ventos o tt(,ro elllrc aousalidodc c sucassão lo t(/ clo próprio tenrpo, relaçires perteltccl)tcs ao teulpo tncsnlo? Por
po. Urn lcxo, que precisa scr nriurticlo ilesde o princípio ent vista conseguinte,.r succssilo Do terupo é irlgo que pertcncc ao PróPrio
cle ntitneira clirra e íirtle, parir quc se possir corrrprecncler ent quc tenrpo? Oonsequentcmente, resicle tto Pr(iprio ten'lPo, Pertellce il
ciireçiro Kant inrpele ir clariÍicaçiio da essência tia causirlidade. ele, o lrrrn-scrir-so de algo tattporal (agora)? Assirr, cttcontr.In]-se
Causalidadc signiÍicir sucessiio no ten'lpo. O quc signiÍica rigirl.rtttettte tlttt !r)tltr.l r) ()lllrtr: rt lclllPo lllasllltr u ({)n\lJtlt(. rl
isso: sucessão no tcrrpo? I.iterâlntentc, significa rlue o tcl))po se tL'lrpo não transc()tre, ntâs Pcrltrilllece c pro-§-§t'{tle.
scguc, que un1 tellrp(]] sc segue â unl outro. Por conseguitrtc, Kant Kânt cirrircteriza a sllarssro llo tentptt: cla é urn ttodo do lem
tliz. por ererrl'lrr"'l(r)rlr(,\ (li\(r\r'\ rr.j,' p(r, e, em verrlircle, arr entrc otttr()s. "Os três ntodos clo tenlpo
'ri,r.rrl n)(\tl10 l(t]tPo. r
nlils siio unr dcpois clo outro'lrrí'O tempo "flui cotrst.rn tementc'l são persistência, succssão e concomitânciilr O quc é urrt rrtodtt
Srra "constânciii'é o Iluir. Por or.úro lado, Kant accÍltuâ expres letlpora/ c como se cornportilm esscs nrrtdos uns em rclaçãtl aos
samentc: "(iaso quiséssemos atribuir ao pr<iprio telrl.ro unra su outros? liles são coordenados otl tln) sc enconlr.t pré ordenirtltl
ccssao cle rrm dcpois do outro, então irincla precisariantos pensar iros outlos? [)e tlue uoclalizaçato do ten)Po se trata irqui? Como ri
uln outro tenrpo, l)o qual essa succssão seria possivcl".rri Isso quc isso é possivel a partir clo tcmP(), a partir clc suir cssência? Por
quc justânrentc csses Íri.s tnodos? llvidentetrcntc esses três nlo
tlos são diversos daquela triplicidacle, quc se couhece cle saída c
l-15 Ili'l um iogo clc palavlas tlue se perclc rralratluçrio. Na vcrclade, o
tefl)lo lrr/àl( (sucesso) teur urna lelaçao dirctil cor)1 lirlgr,(sequôncia,
orrlem). Ht'itleggcr ace,ttuil, ness('scl)tido, a ligirção l(igicil cntre cirusil, 128 Op. cit., À 1.1'1, Il 226.
eÍ-cito c ortlenr tenrporal. (N. ll) l]9 Op. cit., A ,11, B 5tl.
I26 Op. cit., A 3l , B 17. ll0 Op. cit., A I82, 13 226.
l2t Op. cil., A lti3, Il 226. t3l C)p. .it., Á 177,l\ 219.

Itto llt I
se introduz ent relação.ro tcmpo: prescl)te, passado filturo. Quc
c A sucessão no tenrpo, pcla clual o princípio da car.rsalicladc
tipos de cirracteres tenlporais teütos aqui e como eles se cornpor está orientado, representa uru modo temporal. Kant denontina o
tarl em relação àquilo rluc Kant clenonrirra moclos temporais, aos primeiro modo temporal permanênciit, o tcrceiro, conconritârl
quais pertence ir sucessáo no tcmpo, em relação;i tlual a causali- ciâ. A esscs três modos correspondc'm três analogias da experi-
riadc e concebida? ência. A primeira irnalogia está oricntada pâra a permanência:
Assirrr, err n)tio oo primeíro impulso paro o cardct(riziçii(, princípio da permanôtrcia cla substância: "Toclos rts f-enômentls
da concepçiio kontiana tla causolidadc, iá nos r:ncontramos iunto contêm o pernranente (substância) como o próprio obieto e o
il quest(-)cs c cliticuldatlcs centrais. O que intporta dc saícia e ycr nrutávelcomo a sua mela determinâçáo, isto é, um modo conlo o
nrais agudilmente como c que Ki}nt sc erprull.tâ e o que lemos de objeto existe'lBr "Em toclirs as mudanças dos t-cnôrlenos, a subs
compreender ai consequentemente p<tr "sucessáo no tenlpo" e tânciir pernrancce e a quantidadc de substânciir não é nenl lm
"princípio da sucessirlr no ten.rpo". Para t.rnto, e neccssário que pliacla, nem diminuítlalrl A terceira analogia e orientada Pclo
tentcnros conceber todo o problema tlas analogias tlo experiên- terceiro nrodo temporal, a concontitância: o princípio da ct»l-
cia ern seu cernc propriamente dito, a finr dc conceber o con, conritància seguncio a lei da ação reciprocir ou cla comunidade.
texto, r)o qtta,l o príncípio th causolidade se encoltlrâ, lançanclo "Todas as substâncias, na medida crn que sllo ao nrcsmo tenlpo,
ao trreslrlo tenrpo, porént, luz sobre a clintensâo t)tais originária sc cncontrarr enl uma corllunidade integral (isto é, ent uma açà(l
cla problenriitica, na quirl a rclação dt causttlidatle a líbcrdatle sc reciproca de umas sobre as outras)'lrr"'Ttlclas as substâncias, na
torna yisivcl- medida enr quc podem ser percebidas no espirço cottlo concorni
tantes, se encontrânl eut uma ação recíproca corrente".rrl
§ 17. Curacteriztçiio geral das analogíos da expcriência Nós perguntanos dc maneira genérica: tl que cstá fun-
dirnrentalmente enunciado nessas analogias? Nos Princípios,
Sc nos inscrimos na considcração das aualogias da experi- fàla se clc rcgras. C) quc c! regulaclo ncsscs princípitls conto re-
ência, cntão isso acontece com toclas as reservas que se colocan] gras?'liata se de regras da deternrir.ração geral do tempo. O que
Irecessariirnrcnte jLlnto il unta l.rl pretcnsão. Estri clirro o seguintc: significa aqui'ilcterminação geral do tentpo"? Por que e para
cnr unr p(rblerla quer lto cerne d,a Orítíca du ruzão pura, está quc as anâlogias são necessárias como regras de deterlrinaçeo
orientirdo para a problenrática miris central da filosofia, a pre gcral do ten.rpo? A partir da rcspostâ a essir últimâ questão,
paraçao precisariir ser nrais irbrangente rlo que nós a errrpreen- ist() é, â partir do rrtodo do Jundamcntdçãtt dq necessidode tlos
demos aqui. I)e maneira algumir, o que é cxigicio é apenas unta anulLtgitts, buscnntos conquistâr uma Prinleiril visão dc sua es-
visão panorâmica geral. Ao contt iirio, quercntos nos aproxilnar sência e, a partir clai, cntão, penetrar no conteúdo particular
concrctanrente do texto, ainda que nào enr unta interprctação cla segunda analogia.
[en]aticilnrcr)te exaustivil
l-r2 Op. cit., A 182.
a) As analogias da experiência como regras da determinaçâo l-ll Op. cit., B 224.
temporal geral do estar presente à vista do ente presente à l]4 Op. cit., A 2l l.
vista no contexto da possibilitaçào interna da experiência l]5 Op. cit., lt 256.

r82 r83
No que concerne à sua necessidade, as onalogías.fundam se lissa recepçlto aprcensão - âcontece nas Percc[',\'ocs (l( l( r tl

a cssê cia da uperiôncia. Experiência é a maneira, na qual se nadas por meio das sensâçÕes sensoriais. Essas perccpçot's s,r,,
torna acessível para o homem o ente mesmo no contexto de seu acontecintentos no homem. Se nós as tomamos enquant() lais eDl
estar pÍescntc !\ vista.'"' Nós tlelirlitanros a essência desse modo seu acontccimento, entáo se mostÍa que elas se seguern untas às
de accsso ao cntc mesmo c o moclo cle deterrninação clo ente, outras. Nenhuma percepção tcm, visto assiltl, ttt.n primado sobre
quando indicamos aquilo que pertence à possibiliclacle interna as outras, clas se diferenciam simprlesmente por meio da posiçáo

da cxpcriôncia. Kant diz:'A experiência sti é possível por meio no clecurso de sua apariçào e desaparição. Consideradas desse
da representaçiro de urla ligaçào necessária das perccpçircs'i rr: modo, as percepçôes s(i "se reportam umas i\s outras de maneir;t
E preciso certânlente observar que Kant niio iliz sinrplcsrlcntc: acidental'l ' " A "succssão, na âpreensão, [é ] sclnpre idêntica i' "'
a possibilidrrde (essência) cla experiênciir c()nsiste na ligação nc Nós ainda podcmos câracterizar essc estado de coisas de
cessiiria das percepções, nras: a possibilidade da experiência con uma Ílaneira um pouco lnais livre e ilo nlesnto tempo mais de
sistc excltrsivirmerúc it rcpresenloçâo cle unra ligaçho necessiir-ia ternrinirda. Pcrcepçôes reportam sc u mas às oulras err secluência
das pcrccpçircs, isto é, nir representrção de necessidades clo estar e se clão ncsse caso umas clepois das outrâs otl ato ntesmo tclnPo,
lrBirJ,, dirq u il(, quc c rlrtkr pcl.rs p( r.. cpçô( \. a sabcr, cm sua ocotrênciir como acontecimentos psíquicos. Por

Que tipo cle necessidades sào e'ssas do estar ligirdo? Por clue exenrplo: eu estou vendo agora o giz, sentindo o cirlor, ouvindo o
elirs pertencent em primeira linlia à possibilitaçio interna da barulho lh fora, considerando a caltecira. Nào temos aqui apeuas
experiência? Se pertence à possibilidade cla experiência a rcprc uma sequência ou uma conconritância do perccáer c(»Ílo com
sentação e o ser representado cle uma ligirção necessária, e'r'rtão portàmento em um sentido mais antplo, ntirs juntanenle con]
r,.rra cxperiência tambem precisa mostrâr enl sua essência algu isso e de rrrodo corresponclente uma rcunião datluilo qtle é a cada
do gêr'rcro dc unra coisir ligada ou clc un.ra nrultiplicidade carente vez percebido nesse percebeti giz, calor, barulho, cátedra. Onde
dc uma Iigaçào. e quc isso sc reúne? No ter sido percebido rJc lrrt perceber, que
linr quc mcdidil Kant cncontr.l algo clesse gênero na expe- é senrpre a cada vez o percebcr tlc uma 'ton.sciérc ia" percipiente
riêncitr? "Experiêrlcia é um conhecimcnto cmpíríco, isto c, urn c, crquanto tal, una. Sc tomarmos esse peÍcebido cnquanto tâI,
conltecimento tlue determina um objeto por nreio tlc perccp isto é, em seu ter sido pcrcebido, então se nlostrará como algo
dcsse gênero aquilo quc c reunido na e por rrrcio tla secluência
çôes'i"'Ct»l isso, está dito que o ente lreslro cstado contra
clo perceber Pois giz, cakrr, barulho e cátedra não têm, como os
1.rosto, objekr nresnro só e cognoscivel, na medid.r enr que ele
mesnlo sc nrostrir e se dá cie algurn modo. Conr relação â un.r entes lresmos que eles sito, cle sirídir nada ent c(»runt utts cont
tal nrostrar se, corn relaçao i\quilo que deve ser cletenrlinaclo en- os outros. Ncnhum desses percebidos tcm em si, considerados
quanto olicto cnr sua objetiviclade, o conhecinrento e printaria- segundo o scu mero conteútclo quididativo, umn ligação deter
nlente receptivo, ele tleixa quc algo vcnha ao cncontro cnr gcrirl. lninacla c mesmo necessiiriir coln os outros. EII outras palirvras:
se considcro a experiência tlo cntc tlesnttt simplesÍuente cont
l:16 A tcoria kantiirla dll cxpcriência; problurrl clo homcrn frilur./c.
l-17 Op. cit., li 2llt. r:r9 Op. cit., B 219.

l-lu Idem. 1.10 Op. cit., .,\ l9'1, Il 239.

I ti,l 185
vistâs às âpreensôes que residcm e que transcorrem nelâ, entaro l-ornecem apenas algo reuniclo, a unidade e o nexo niio podem scr
obtcr)ho rr \csuinl(: (s:rJs al)rccr\ric\ nr.rrcit pr{)rtl'\crlt \crlaL) clados por meio de percepções. Na medida em tlue o conhecimcn
uma "conrposição'i Mas por quc é que não se deveria permane to segundo Kant (.r experiência) é constituído a partir de intuiçào c
cer nesse ponto? Porque Íàticarnente a experiênci.r rrrl(í, mostra pensanrento (sensibilidade e entenclimento), essa uniciacle do nexo
fircrame nte c nunca em primeiro lugar uma tal multiplicidadc no cstar prcscntc ii vista do entc prcsente à vista só pocle provir
rcunidir, nrais ainda, porque nós r/Íro estamos dc maneira aLgu tlo pensar c dc unr reunir sc unitirrmc tlctcrmirrirdo cle intuiçiio e
mc ligados cognitivarrente a percepçoes como âcontecinrcntcls pelsanrcnto. Por meio irpenirs cio pcnsirt l)ão sc tclr) evidcntemel)
psÍquicos e ao seu decurso e reunião no tcmpo. (iorn o que nos te como determinar a uniclade do estar presentc à vista do cntc
encontranlos ligados, então, porém? (iom o cnte que se ânun- presente.i Yistâ. Pois conro e que isso deveria ser possível?
cia nâs percepçoes, com os fênônrcnos c sua rnultiplicidade, e, Estar presenle.i vistâ cle um ente presente à vista é semprc
em vertiade, conr vistas à sua prcscnça à vista, ii relação entre as presença à vista no tenrpo.,4 unídatie da raÍr.ircza, por isso, é pri
próprias coisas prcsentes à vistâ entre si enquanto presentes à nrirriarncntc dctcrnrinirtla como rrldode c ncxo d<t enlc prcsctttc à
vist.r. [)e nrernciÍa experimental, já sentpre nos colocarros diirntc tisltt ttttl(tttlo. M.ls l\rcci.Jll)clll( i\\(r..lr(\Pc(tivJllo\i(lôtetll
cie unra unidaclc do ente presente à \'ista enr seu est.lr prcselrte Poral tlctcrnrinatla c a rcspcctir.a rclirção tcrrporal cletcrntinircla
à vista de tal e tal moclo. F,xperiência não é um conhecinento tle un ente presente à vistir cor)r um outro, não pode ser pcnsado
r/a-s percepçires, ntas "uttt conhecinrento dos objctos por meio senr o pensilmento, não ;rode ser construido scrr clc. No cntan
dc pc'rcepçties'i 1r Nela, representa se "a relação nir existência do to, nós também nllo podemos perceber sinrples e dirctirmcntc a
mrhltiplo, náo como ele é composto r.ro tcnpo (do scr percebido), r€specti\,â determinaçào ternporâl cle algo presentc à \,ista cnl
mâs tal como ele é objctivarncntc no tenrpti'.r'r conexão coln a relaçalo tcmporal Llna. Par.r tarnto, seria necessário
Na experiência, para além do meru ser reuniclo clas percep que pudésscn.ros clccluzir a respectiva posição tenrporal cle cada
yista segundo o cntc prescntc i\ vista iunto ao tempo absoluto, o que pressLlporia,
çôes, experiment.r se ir unidade do cnte presente .\
seu estar presente à vista crr suma, Lo d n turcza. "Por natureza por sua vcz, que putlésscmos perccber o tempo mesnro por si
(enr um entendirrento empírico), contpreenclemos o nexo dos fe - absolutirmente na totalidrdc. lsso, porcrn, é in.rpossívcl. Kant
nômcnos scgundo a sua existência'l''' C) clecisivo no conceito de sentpre acentu0 uma yez mais n(, trilnscurso como um toclo das
n.ltuÍczir, por c<rnseguinte, é a unidade do cstur presefite à visto do analogias clue'b tempo absoluto não é nenhum objcto dir pcr
ente Presente à vistrr. Se é senrpre a natureza que se experimcnta na cepçáo" e que "o 1.rr(rprio tempo... nãc, tenl como se r pcrce bitlo'lr'r '
experiência, entào já senrpÍc precisa scr rcpresentado no fentime 'Assinr, o ternpo nào tem conlo ser percebiclo por si'i' li O "tempo
no, para alérn do mero percebido coligido, a unidade no estâr pre' enr si lnesnro não pocle ser percebiclo e é enr relaçâo a ele tlue
sente à vista dos fênôrr.renos. [)e oude vcm essa representação de lt,rrlr'rer tlclcrrnirl.ld,r rt(' r'hjcto, nliri\ ur.r rncl)o\ c lPiri(illIcrtc.
r"
uniclacle no entc prcsente à vista? (lomo as percepçóes semprc nos o qlrc se Ínostril como antecedente e corlro consequen te'lr

ltl oP cit., ll 219. t.1.1 Op. cil., Ii 219.

112 Idcm. l{5 Op. cit., B 225.

l4-l Op. cit., A 216, B 263 146 Op. cit., B 233, cf. B 257.

186
C)nde se errcontra a Íunclanretttação propriârltente dita? llssas regras cla deteminação transcenclcntal do tempo, cluc nào
Kirnt n;ro a firrncccu, nenr a podia Íbrncccr de ntaneira exprcssa são regras lais do mero pcnsaÍ, nt.lrcârt por assilrt dizer a unida
e explícita, porquc lhe faltava uma mctirflsica clo ser irí.rr: ".Sri há dc uriris abrangente do nexo nirtrtral e prelinciarn, assinr, a lirntra,
w tcmpo, no qual tockrs os ten.rpos diversos precisam scr prosi- tlc acorclo cont a qual tent dc se realizar torla ligação concreta tlo
cionaclos náo ao ntesmo tcr)rpo, Inas sucessivantentc".r 't A cle- percebiclo. |,ssa ligação naro estii lniris.rgora orientircla pela sequ
ternlinação clo telnpo c, conr isso, a uniclaclc do cstar presente ôncia do perccbcr clos ircontecirlerrtos psíquicos, nras por atptilo
à r,ista tlo ente presentc i\ vista, isto é, da ttitturcza, niio e nenl llesmo que irpirrcce collto perccbitlo, na rledida cm que ele e
pcrceptivel, nerrr construÍvel ir priori, apcsar de tanto a it'ttttição lcpreserrtirdtr dcsdc o prittc'ípiLt conro cslanclo sob puras relaçties
quiurto o llcnsirmcr)to estarent ettvolvid<ls. Ao contrário, cla sti tcrrrpoÍnis. Essa antecipaçào er irqtrela rcprcsentlçlxr, da qual Klnt
pode ser colrstiltada na mecliçào empírica clo tentpo. I)ara isso, rros lala no principio gcral clas analogiirs. A cleterntinação tem-
porénr, é neccssiirio que se.jarlr constirtadas tlescle o principio poral geral e artecipratlora, porrlue nela sc clispoe sobre os nroclos
.l(lu(lJ\ dclLrl)lill.l\.r(s l(tllP()f.li\. ll.l\ (]tlJi\ \( c\l)r(\\.llll .l(ltl( possiveis clo scr no-(entpo riaquilo que e fàticarncltte oÍerecitlo
las rclaçircs temporiris, rras quiris cm geral algo Prcscllte ii visla pclas pcrcepçires.
é no [cn)po erquâlrlo irlgo prcscnte ti vista. Relirçircs tettlporais
erlpíricas sri sào e'm geral tlctcr nr in ilveis corr basc lrirs Pur.Is re b) Os três modos ternporiris (permanêuciir, sucessão
lirçircs te'ntporais, trirs quiris se nlantclÍn il llaturczil em gclirl ctr e sinrultaneiclacle) como modos cla iltt râtemporirlidade
quank) tal, conro qllcr quc ela venha a scr cnr sclr tralscurso Íir clo ente prescnte i\ vista
ticiunente concreto. As alakrgias cla e\pcriôrcia, eutào, isto c, os Agon, tirmbénr já contprecnclcntos ntelhor por qLrc é que
principios.ros quais tambént pcrtcncc o priucipitt cic causaliriirrle cssirs Irês analogias, cr)quanto regras clc tlcterntinaçiro prévia
(seguncla irnalogia), siro clenomittadas por Kant as delanninaçõcs tla cleterrninubilidadc tlo ser presente à vista do ente prescntc ii
trutrsccttdentlüs dLt tcntlto. Fllas contôm as regras cla dctermitra- vista, estaro rrrientadas pclo tenrpo, pelos rlor/o.r lcrnltLtruis. Pri
çiro necessiiria c corrente clo tcntpo cle tuclo o quc sc cncontrâ nraÍianenle, o ser prescrrtc.\ vistâ e a unidaclc do ser prescntc à
presentc i\ vistir, "senr as quiris nresnto a cleterntitração enlpíri vista não signiÍicant outrir cois.r senão presentitlade (ser;rreseltc
ca do tcmpo seria inrpossívcl'l r'' Por ittterttteltlio de'ssas regtits i\ yista) no tentpo, unitlatlc c r-lcterminaçâo do ncxo das relaçires,
l.rodcnros
"alltecipar a cxpcriôtrcia"'", isto é, consitlerar cle an[e isto c, tlaquelas relaça)es quc ut)t ente prescnte ii vistir, na nteditla
lnão, rrão o tlecutso Íiitico c as constelaçires fiiticas, lnas aquilo atr em quc c "r.ro tentpo'] podc c precisa ter ent gcrill colu o terllpo.
quc todo e quirlqucr clecurso lático, na Irtcditia ent que sc l)ros Nloclos tcnrporais nào signihcanr, pol'conseguinte, tiu'tto uluir
tril conro urn clecurso naturrl, eslii desdc o principio sr.tbntcticlo. variaçiio do tcn)po por si enquanto tll. Ao contriirio, nroclos são
ls manciras, dc acorctr colr as qtrais lênôment)s prcscÍttes a'l vista
1.17 Ieurp() lenrporlliclatle fiuituclc sct--li do Itontenr. (ll. lirttll c cnt geral se coÍnport.ul ent relação iro [et]tpo, "silo lto tct'npdl
o ltrobk'nta ch t Lltllisittt. lint surna: rnotlos tcnrporais Diio são cilÍacleres funtlarncntlis
l,rit Op. cit., A ls8csc!i., ll 212. do lenrpo enquanto tai (presentc, passircio, lutLrro), ntl.s mtuteí-
I 19 Op. .it., 217, Il 26.1. nts du intratentpttraliLltttle clo ente prese tc à visto. O prímeirtt
150 ldetD. ^ nlorlo permirnência cxpressa a relação dos lenômenos'tonr o

l8t3 Iu9
pr(iprio tcnlpo como urra grirncleza"r5L, isttl é, a grandeza clo ser Nessir cor.rcepção do tempo reside a Íbrça da problemiitica dc
r)o-tenrpo do entc plescnte à vista (] a sua duraçáo. () segundo Kant, r.nas também seus lirnites.r5'
rrorlo rcsultatlo (sucessão) - expressa a relação clo ente prescn
tr: à vista no tempo como Ltrna série (resttltaclo clo agora); visto c) Para a cliferenciação dos princípios dinâmicos
enr rclirçâo a cssa séric, o entc Presente à visla vcnl à ttlnir em e dos princípios matemáticos
suâ lrc-s.rçíi à visla comtt ttnt de|tttís tlo ouÍro. O terctito mttdo Para a conclusão da caractcrizirção generica tlas analogias
- concort't itânc ia (sinrultaneidacle) exPress.l .r relação do eute tla experiênciit ainda precisamos lnencionar uma clesignirção
prcscnte à \,istâ colr o temPo ellquanto a.?ÍiÍÍ.rssincit de tudo o clada por Kant para esses princí;rios c para o grupo subsequente,
Lluc é presentu à vísta.t''l unra designação que não é comprecnsível por si mesnta. Ele os
Consccluentctlente, o tenlpo é consitlcrado aqui segundo tlenonrina princípios dinômicos, difcrentemente clos prirrcípios
trôs aspectos, conrrt .grrlltleza, como sórie, colntl -suna conccilual mqtemátícos.t3t' Com o auxílio dessa diÍêrenciação, ele tarrbent
tolal. l:,n't que nredicla o tenlpo pode scr irlgo dcsse gênero ou tlivide as categorias. Fissa clifercnciaçâo não cliz tanto respeito ao
trresnlo enr quc nrediclir ele precisa ser cttnsidetaclo tlessa manei- cirráter dos prtiprios principios e aos princípios cnquânto tais,
ra tripla, essa é unta outrir qucstio que por enquirnto tlittl potle- nras muito mais ao modo conro eles funcionarl Íirndamcntal-
mos consiclerar. Que sc contpare irpellas a Parte Principal "Sobre mcnte, oLt, dito em terntos kantianos, iro rnoclo como eles sãcl
o csquelrl.rtismo dos puros conceitos do entendimellttil na qual cnrpregues e conro eles possibilitaÍn aquikr ao que cles slto em
vcm clararncute i\ tona'" o fàto cle, enr rleio a essa carircteriz.l pregues (possibiliclade da intuiçiio, determinabilicladc na presen
ção do tenrpo como "séric", "conteúdo'l "ordcni', "suma concei ça à vista). "Pois bem, todas as categorias estiio clivitlidas em duas
tual total'l eslilrellr concomit.rlltenle'nte enl jogo as catcgoriirs' a classes, as matcmátícos que sc remetcm ii unidacle cla síntese na
tábua das câtegorias, a tiibua closjuízos, enr geral a ltigica.''1 Por representirção dos objetos e u clinômícas que sc rentetem i\ uni-
tlue Kant Iàla, entaro, porénr, simplesnellte de rclaçôes temPo- clade na representaçào da existência dos ob.jetos'i ,:
rais, sc o que estii em qucstio sao de qualquer l-orma as relaçties Os princípios c categorias, que são chamirdo s de múemti-
do cl)te prescnte à vista no telnPo conl o tenlpo? Porquc o tenl Íicos, dizenr respeim àquilo nos fenômenos que dcnominamos
po para Kant não é clcsde o princÍpitl c correntclrente outrir coi o intuitivo c o relativo ao conteÍtclo, na tcrnrinologia de Kant e
sa seniio aqucle âmbito no qual a multiplicidatle da percepçào da metallsica precedente: o real. O real não tent cnl vistâ irqui,
ir'rtcrna e externil sc ordena. O tenlpo é visto prinlária e exclusi tal con'ro âcontece lta terminol()gia inautêntica cle hoje, o efêtivo,
vanlente no que concernc ii sua lclação colll o illtratcmporirl, e mas irquilo que pertence i\ res, cluc a constitui, o contcúdo coi
as relaçircs tentporais signihcam, cont isstl: relações do tenrpo, sal. Os principios ntirtentiiticos são aqueles quc clemarcant aquilo
isto é, lrirlaçôe.s da relaçao clo tenlpo conl o ente intratenlPoral.

155 () tclltpo, \'isto assim, nio é o teDrryt origináriit, nem o tcnpo no


l5l OP cil., A 2l-r, Ii 262. qurl irronrpc ir essência clo tempo. Clí. .S.r c tel po, s§ 79 BI.
152 Cl. ir,lem. l-56 (lÍ. 1).t .-s-§(r/?.r o do.lundomcnto, 2l.
ç.t-
l5l (lf. op. cit., A 1.15, B t84/5. 157 Kant, Orítica Llo roztlo puru (Vorliincler). 9. ediçào, l.cipzig (Nlei
154 C.[. Kiltl eo problcxld do rcldlisictl, § )2, P.99. rrcr) 1929. P 120 (V, llt6).

190 l9l
que pertence à coisiclatle das coisas, â essentiâ' Na problemática (conhecimento e existência enquanto tal) é, então, a qae-stao acerca
ott- da essência da Jinitude da existência. Nesse contexto é que se en
de Kant, os princíçrios matenláticos são aquelas proposições
tológicas, que cleterminilm â essentiâ de unl entc' contra o problema da causalidade e, com isso, também o problema
f)a essentia, porem, há nluito tcnpo, se ditêrencia a exis- da liberdade. Pois bem, esse último problema abordado e, por fin.r,

tentia (presença à vista, kantianamente: ser-ai)ro" Se' então' os o contexto derradeiro e primeiro, o contexto originário, autêntico

fenômenos s;ro cleterminados dc naneira principial siniples e unicamente necessário prara o problema da liberdade. f)aí não se

mente cm fut]çáo de sua presençâ à Yista (existentia)' não


em segue naturalmente, poÍ outro lado, que o problema da liberdade

rclação à sua quididâde, então tais Principios são designados


por precisâria estâr orientado pela causalidade. A 'tausalidade' náo e
Kant princípios dirtrimico.s. Se as analogias das experiências estão o elernento mds originário que conteriâ a finitude da existência,
cntre-os principios clinâmicos, então vislumbra|nos a
partir daí essa existênciâ em geral não precisa ser primária e exclusivamen

oncle é que elas se encontranl no quadro do problema da


rnetati- te concebida a partir da "experiência" do conhecimento, do ele
sicir traclicional. Quanto a esst'' ponto, é preciso obserl'ar
que Pre rnento teórico, mas também não a partir do prático. Onde é que
cisamente Kant desenvolveu, a partir tio cxemplo de l'cibniz' precisamos buscar, então, a essência maís profunda da Jinitude ào
o
à vistâ exPressanlente c em co hnmem? Na compreensão de ser, no acontecimento de ser. Essas
;rroblenra ontol<igico da presença
,-r""ã<, a,r,r, o problenla do scr-o que com certeza sen-r levantirr são questôes, que surgem, quando formulamos a questão âcercâ
(ser-o da dimensão do problema para o problema da liberdade humana.
.r questão fundamental acerca da origem dessa clifêrença
que e tato de tlue) e sem colocii Ia na dinensão tlo problema
do li cssa questão mesma tem cle ser tomada rnais concretamente
ser raclicalntente concebiclo. Observo isso agora cxpressamente com vistas a uma elaboração e rcformulação completa do proble
porque, perseguindo o problcma da liberdacle' Por nlais tuÍ\'o mâ - e, enl verdade, no seguinte sentido: como e que a essência
clue isso possa pareccr cle saíc1a, nós nos deparermos
precisamcn- mais elevacla da finitude da existência precisa ser inquirida, em
t".unl questáo acerca cla origem do scr-o que e do Íàto de- que direção ela precisa ser desdobrada, p.rra que se obtenha um
"iao efetivir' por- fio condutor concreto para o problema da liberdacle?
t1ue, a questão acerca da possibiliclade e da realidacle
que até mcsmo o problcma da Iiberclade visto InctaÍisicâlrrente
j se ccntra aqui e não no problema da cottsalidoda' d) As analogias da experiência como regras das relações
A liberclade clcve ser discuticla no quad ro cla causalidac'le Qual Íundamentais do ser-no-tempo possivel do ente presente à vista
ó tr essência cla causalidacle? Cono é que Kant deternlina essên 'i A soluçâo da questão prévia acerca da determinaçáo kan-
cia cla causalicladc? Qual é o ncxo do;rroblema, tto tlttal itcontece tiânâ da dssêrclí; da causalidade equivale a uma interpretação
css.t rletcrnlilt.tçlit| esst'tttial? l)ilo ulltcciPxliviltllclltc:
c\\c llcx() i de sua doutrina das analogias da exPeriência. Sua caracterização
eo
a qucstalo acerca da possibiliclade dir experiênciir' Iixperiência geral conclui-se, por fim, por meio da discnssáo dessas analogias
ente
írnict, conhecimel.tto possível para o honern en.r relaçào ao conlo princípíos difláni.os e dâ contraposiçáo dos princípios na-
A questão acerca cia possibilidacle cle ul't.t conhecimento Íinito tem.iticos aos dinâmicos (essentia-existentia). O termo analogia
circunscreve em Kant o problema da presença à vista do ente
"á' (ser o-c1ue' presente à vista, cuja conexão com os problemas da causalidade
t -.*t (lf.
a.inra, p. 4oescgs., os divcrsos significados clc
e da Iiberdacle precisam ser discutidos tematicamente.
o tirto de scr; essentia, existelltia).
193
192
Nas analogias, Kant formula regr.rs que sâo representadas § I 8. F.xplícítoçao do modo de damonstração das
cm todâ e qualquer cxperiência humana enquanto tâl ânteci- anaktgias da experiência c de seus fundamentos a
pativâmente, de tal modo tlue elas reservam para a respectiva Partír do exemplo da primeira analogia. O signiJicado
experiência particular as relaçôes [unclamentais do ser-no tem Jundamental da primeira analogia
po possível do cnte presente ii vista, isto é, que elas pernritent
conrpreender o experimentado, o expcrimentável enquanto tal, â) A primeira anâlogia. Permanência e tempo
enquarnto uIn ente que venl ao encontrO nele mesnto no conreÍro A: "Todos os Gnômenos cuntêrl o que perrnancce (a sulrs
de sua presetrço ri li.sla. t.r-elcs concentrâ-se em parte o comPrt- târ.rcia) como o próprio ob.jeto, e o mutável, como a sua nrera de
ensào dt ser cor]l \,istas à presença à vista do cntc presente à terminaçào, isto e, uma espécie, o modo como o objeto existe'lr5"
vista (natureza). Trata se das leis gerais da natureza, nas quais é A prin.reira analogia chama se "princípio da permanência'l
exposto aquilo que a Datureza ern geral é, aquelas leis da natu- iskr e, princípio da necessiclade, que se tunda na essência da ex-
reza que as ciências naturais nuncir descobrenr e nunca podenr periência,'da existência (ser-aí) persistentc do sujeito propria-
descobrir, porque elas já sempre precisam ter sido descobertas mente dito nos fenômenos".rí")
e compreendidas, se e que cleve poder scr colocada ent tnarchir f)e saÍda, nós nos ntanternos intencionirlmente junto à ela
uma qucstão cientifico natural acerca de un.ra lei delerminada boraçiio cla primeirâ edição (A). Para Kant, não sc trata irpenirs
da natureza. Assim, o princípio da causaliclade como segunda tla cxposição expressa desse princípio, rnas, do mesmo modo,
anakrgia é umâ regra da determinaçãct transcendental do tem- tambenr da sua demonstração correta. Em yerdade, Kant acha
po. [)e acordo conr isso, o que estii em questáo é a presença à qr.rc, "em todos os tempos, não apenas o filtisofo, mas mesmo
vistâ do ente prescnte à vistâ e sua cleternrinabilidade objetiva. o entendimento comum, pressupôs essa permanência como unl
É da maior envergadura ver isso claramente, a fim de avaliar substrato de toda mudança dos fenômcnos'ir"i Só que o Íilósofo se
pâra que contcxto o problema da liberdadc nos leva, quando expressa de maneira um pouco mais dcterminada e diz: 'tnt to-
ele é articulado no senticlo kântiano com a causalidade, Ílesmo das as transformaçóes no mundo, a substância permanece e ape
quando a liberdade e estabelecida cm seguida como uma cau nas os acidentes nruclam'l'"r'A pârtir dessa proposição bastante
salidadc fundarnentalmente divcrsa da causalidade da naturcza. sintética, porem, nunca alcanço em pârte alguma nern m.-smo a
Nesse caso, elâ continua sendo serrpre e precisantente causali- tentativa de uma denonstração, sinr, é mesmo bem raro que ela
dtd,e - cctusalitlade, orientada para esse contexto na Prescrça íi sc encontre, tal como lhe cabe cle qualquer modo, no ápice das
vista de um ente presente à vista. Ieis da natureza quc subsistem de maneira pura e completâmente
Precisamos tcntar clesdobrar agora a partir do fio condu- a priori'lrr'r Coloca se, em vcrdade, esse princípio como base em
tor cla discussão geral sobre as analogias o problema concreto
cla segunda analogia. A Íim de, contudo, deixar vir à tona a sua 159 Kant, Crítica dd rdzelo purd, A182.
peculiaridadc especiíica, e importante tratar ântes disso da pri 160 Op. cit., A 1tt5, B 22tt.
rneira analogia. Isso é tanto mais incontornável, umtr vez que a t6l Op. cit., A 184, l\ 227.
primcira analogia representa de certa maneira o fundamento 162 ldem.
para a segunda e a terceira. 163 Idem.

t94 195
toda experiência, "porque se sente a sua necessidade em nreio cuja base erlr geral e possívcl toda mudança e toda transf'ormaçâo
ao conhecimento ernpíricoi1"r As pessoas se contcntaÍn com esse e, com isso, toda a multiplicidade das relaç<ies do ente presen-
Íato, \crn nern ao rncno\ \ lamar( rn por unri corn|rc( n\iio, i\lo tc à vista. A demonstração dessa necessidade da pcrmanência,
é, por uma clarificação da possibilidade e necessidade internas portanto, precisa comcçar com o múltiplo da aprccnsão pura e
desse princípio e de sua pertinência essencial à cxperiência. simplesrnente coÍr'tposto e, do mesnro modo, pertinentc à cxpe
A primeira analogia deve ser demunstrada. O que é impor- riência. As demonstraçÕes das três analogias conteçam scmpre
tantc demonstrirr na primeira analogia? Ern primeiro lugar, 'ir nqui, iunto ii sucessão primária da apreensào.
lirto de que, en1 todos os fenômenos, haveria algo permanente, Como as coisas se comportant, quando nós nos nlantenlos
jtrnlu ao qu irl u rnltt.rr el nito nt((ôr)to or.rlr.l L oi\J \enau unicamente iunto à sequência das percepçóes? Nesse caso, tentos
'c '\lrJriJ
conlo deternlinâçaro de sua existência (ser aí)'l'"'F,m segunclo lu- simplesmente uma mudança constante. Apenas dessa mudança,
gar, o Iàto de que esse tlenrcnlo permdncúe sería o próprío objeto, porém, nunca podemos deduzir se o próprio elcn.rento objetivo
isto é, o e ta ProPrfumente dito no J'enômenLt. L preciso ccrtarncn unilicado pelas percepçôes na experiôncia se seguiria ou se cla
te observar que, enr totlos os Í-cnômcnos, há algo pcrmancutc, r ia ao n.resmo tempo. Umâ tal decisão sobre sucessão e sintul
não apenas nessc ou naqucle Í-enômcno. O quc tlcvc scr dcmons taneidade, isto é, unra tal decisão entrc relaçoes temporais, só e
trado não é o Íàto dcsse ou daquelc clcnrento pcrmancnte, nas em geral possivel, caso se encontre dcstle o princípio à base- na
a sua pertinência essenciirl àquilo clue é experimentado na ex- experiência algo cluc se mantêm e permanecc, algo com relação
pcriência. A demonstração sri pode ser conduzitla por meio cla ao qual as relaçires citadas seriam apenas nrodos. Dito de ma-
apreseutação dar-1uikr que pertence de mâneira essenciâlmente neira mais exata: já a essência da sucessáo e da simultaneidade
necessária à possibiliclade (essência) da experiência em geral. enquanto a essência das relaçôcs clo ser-no-terrrpo oftrece uma
Como transcorre a demonstraçáo? l,embremo-nos de cluas indicação para a presençâ basilar necessária de algo pcrmanen-
coisâs que perteircem à experiência: t. O múltiplo pura e sinr te, pois cssas relaçôes temporais sri podent el'etivamentc "ser'] se
plesmente composto da percepção, que é carente cle ligação. 2. o pr<iprio tempo já permânecer c sc mantiver constantemente.
A ligaçào, que não pode ser nenhuma Iigaçâo arbitrária, nras C) tempo c aquilo que expressa em geral pern.ranência. Sti onde
precisa ser obrigakiria, nccessária; e isso de acordo com a obri há;rermanência, c possível tambem duração cnquanto grandeza
gatoriedacle que parte do próprio ente e tlc sua prescnça à vista clo que está presente à vista no tempo. lá a apreensão fcrrnecc
de tal e tal n.rodo. A prinrcira analogia, e, conr isso, toda e qual ent sua sucessão a indicação de algo permanente, que se expõe
quer anal<lgia, fr>rrrrula um dos nrodos a seretr ecessaridmetúe justamente enláo ao mesmo tenrpo como a forma originária da
rcpresentados do estar Iigado e, ao mesnlo tentpq tla unidade pernranência mesma e enl geral: o tempo. EIe e o substrato para
na qual tutlo o que é experienciável precisa se encontrar. Na pri- tudo aquilo que verl ao encontro na experiência em geral. Ele e
meira analogia em particular e nela antes de tudo, o importante aquilo que se encontrâ já sernpre de antemáo antes da visão, a
e demouslrur a lcLessidadc dà perut.tnirt.ia no lrern).lnelttc, cnl Puro ít1tuíçao. É com relaçáo a ele apcnas que mudança e simul
taneidade se mostranl como comparáveis e determináveis sob
164 Op. cit., A I85, Il 228. o pressuposto de que o tempo mesmo é em si perceptivel. lsso,
165 Op. cit., A 184, P, 227. contudo, não se sustenta, Portànto, se é que a experiência deve

I9ó t97
ser possível, entâo precisa ser possível encontrar no real um subs- se tornar conpreensivel ncssa necessidade; essa contprccusibili-
trato, ao qual tocla deternrinação temporal renronte. O tempo é a clade, por seu lado, não prccisa se basear em uma demonstraçào
condição necessária da possibilidade cle tocla unidade da Iigação teórica. Agora, poderia muito bem ser o caso de que os pressu
das percepções a substância. "Essa pernranência, contudo, não postos e teses, a partir dos <1uais emcrgc para Kant a necessidade
c de fato outra coisa senáo o moclo coltto nos lepresentaÍnos a dc suirs denronstraçôes e, com isso, a sua obrigatoriedade, tirssent
cxistência (o ser aí) das coisas (no fenôn.reno)'lr"" Permanência é elcs mesmos insustentáveis, e, em yerdadc, insustentllveis, por
,' nrr,,.lo',egtrnelo rr qual representarrt,,< desJc o l)ritl(ipio. L .nl quc cmergirianr cle uma prova e de umil deterntinação essen-
seu horizonlc, cnlir), que. f(i3 printeira t ez, o quc vcm a() nos\rl cial insuJicientes justamcnte daqueies estados de firto, rlos quais
encontro é determinável como algo presente à vista. está furrclatla toda a problcmáti ca e pard os tluais a problerr;itica
é desenrolada. Sc as coisas t-ossem assim. se a nccessidirde clas
b) O fundamento questionável das analogias: a justaposição demonstraçries kantianas tirsse intinclada, então não cairia por
náo esclarecida de tempo e 'tu penso" (entendimento) terra apenas o seu tào famigerado rigor, rnas antes de tudo iá c
em uma assunção previa não colocada à prova da essêtrcia enr geral a sua possibilidade. As coisas não pocleriam se mos
do homem como um sujeito finito trar simplesmente cle tal modo que isso tbsse váliclo para as de
Ao Íural, a demonstração das analogias, tal conro outras monstraçôcs kirntianas, mas Ílldo se tfiostri de Jàto assim.lsto é
dernonstraçires de Kant, não sc mostraralo aos scnhttres como válido tanto para as clenronstraçôes dos princípíos, quanto para
pura e simplesmente elucidtrtivas nent segunclo o conteÍtdo, nem a demonstraçào da duluçao tronscefi.lental. Já dc maneira pura-
lr.rcsmo segundo a sua obrigatoriedade e rigor, sim, elas perma rrente estilística c na exposição mostra-se urt parentesco pct:u-
nccerão nlesnlo cm gcral incompreensívcis. Isso, contudo, não líar com as dentonstroções na deduçao lronscendental. Os dois, os
tctrl suâ râzão cxtrínseca, por exemplo, na imperleição clo c<r princípios e a dedução trirnscendental, não são necessariamente
nhecimento das tcorias e discussões kantianas. Ao contrário, de acordo com a forma que cles assur.nem e em cujo solo elcs
tem suâs razoes intcrnas, sobre as quais e preciso unta brcve precisam assumir Isso não sig[rifica natur.rlmente que eles não
observaçâo; c isso sobretuclo porquc Kant mesmo aPosta muito abarcanr em si um problema.
enr suas dcmonstrâçóes e porque aqueles tlue se atôm a Kant se Por que as coisas são de tàto assirn? Porque o prtiprio Kant,
apoiam muito no rigor e na obrigatoriedade da condução kantia- dito dc naneira breve, não problernatizou de maneira suÊciente-
na das dcn.ronstraçires. Por mais exatamente que sc Possa ftrrmu- mente originária a linitude clo honem, finitude essa a pnrtir da
lirr as demonstraçÕes kantianas, elas não conquistam por meio qual e para a tlual ele dcsenvolveu o p rcl:lema àa Crítica do razào
clai nada em termos de obrigaloriedade, cnquanto não se tiver prra. Mostrar cssa insullciência é a tarefa de Lrma interpretaçaro
clucidado de antemão a sua necessidacle. Pois é preciso atentar de Kant. Ela não tem a intenção pseuclo-filológica de nostrar o
Íundar.nentirlmcnte parâ o seguinte: uma dentonstração sti é em Kirnt "correto" - rráo há algo desse gênero. ToíJà ínterpretação J)
geral obrigatória no contexto de scus passos, isto é, colno um losóJtca é em si dcstruiÇão, confrontação e radicalização, que nào
toclo, se ela mcsma é necessária enquanto um tal toclo e se ela erquivale a ceticismo. Ou ela não e natla c se transforrla apenas
em uma tagarelice, clue de maneira mais pormenorizâda repete
166 Op. cit., A 11.16, B 229. aquilo quc sc cncontra nelhor e mais simplesmente presente no

198 199
próprio autor. Não obstante, daí não se segue em relaçào a Kant, da determinação de algo como algo é a determinação de um su-
que se estaria declârando as suas demonstraçóes como coÍretas e jeito por meio de um predicado. O tempo mesmo é o elemento
entregando-as a si mesmas. Ao contrário, o que se obtem a Partir originariamente permanente, de tal modo que a unidade origi-
daí é inversamenÍe a necessidade de tornar efetivamente trans- nária do nexo da presença à vista do ente presente à vista é insti
parentes essas demonstrações, a frm de ver, assim, precisamente tuída por meio da permanência. O permanente é o substrato de
o fundamento sobre o qual ela se baseia, /andamento esse que é todos os fenômenos.
pressuposto Por Kant sem que ele o coloque à prova. 2. Agora, porém, o próprio tempo, por si, absoluto, nâo
Em nosso caso, temos â concePçáo do tempo de um lado e pode scr percebido. C) tempo como aquilo em que todo ente pre-
a concepção do entendimento do outro De mâneira mâis exata e sente à vista possui sua posição não e perceptível diretâmente
mais Íundamental: trata se da concepção da relaçao entre temPo cofio esse elemento determinante das posiçóes particulares do
e "eu penso" (entendimento); ainda mais claramente: trata se dâ ente pres€nte à vista. Com certeza, porém, o tempo como o per-
toscq iustaposição nao esclarecida dos dois em meio ao Ponto de manente exige que toda determinação da unidade do ente no
partiàa nao colocarlo à prota da esséncia do homem como um su tempo se âte nele.
jeito O fato de a conexão interna estrutural de tempo e eu
fnilo. 3. Portanto, precisa haver uma regra, de acordo com a qual
enquanto "eu pensti' (entendimento) Permanecer não explicada deva ser encontrada e buscada em tudo aquilo que aparece corto
e infundada e, com maior razão e juntâmente com isso, de a rela sujeito algo permanente, de tal modo que o sujeito apareçâ como
da relação substância. Flssa regÍa é o princípio da permanência da substân-
çáo Íundamental da unidade dos dois como a essência
do suieito com o objeto, em suma, o Íãto de a transcendência cia. Com isso, demonstra-se a sua necessidade a partir da essência
náo ser determinada de maneira sufrciente, para efetivamente se do Íànômeno, da unidade da composição de tempo e'eu penso'l
transformar em geral em problema, essa é a raz-ão interna Parâ.r A partir dâqui fica claro por que esse tipo de princípios se
diÍiculdade material da compreensáo, por exemplo, da demons chama;rnalogia. Segundo Kant, há analogias na mâtemática tan
tração kantiana das analogias. to quanto na Íilosofia.r6t Analogia em geral significa correspor.t
dêlcia de algo com algo, mais exatamente, a correspondência de
c) As analogias da experiência e a dedução transcendental uma relação com uma outrâ. Na matemáticâ, a analogia desigla
dos puros conceitos do entendimento. A estrutura lógica das a correspondência de duas relaçóes de grandezas, sua proporção.

analogias da experiência e a questão de seu caráter analógico Se três elos são dados, o quarto pode ser matentaticamente de-

Nós queremos repetir uma vez mais a demonstração dos


terminado por meio daí, isto é, mâtematicamente conquistado
c dado, construído. Na matemáticâ, a analogia é uma deterrri-
princípios em seus passos principais, de tal modo que os funda
nação constitutiva. Na JilosoJia, o que está em questão rao são
menltrs venham à tona e, assim, sc tornc do ll'lc\mo telnP(, cvi
relações quantítatiyíts, mâs qualítativas (WolÍI), e aqui o quarto
dente por que, alinal, esses princípios se chamam "analogias'l
elo não pode ser dado e conquistado enquanto tal, mas só é de
l Todos os fenômenos, isto é, o ente mesmo presente à vista
terminável como reLaçao com o quarlo e/o, ou seja, sti o modo
que nos é acessível, a nós homens, são no temPo e se encontram
na unidade de um contexto de sua presença à vista, oLl seja, na
unidade de uma determinaçáo temporal. O modo fundamental 167 Op. cit., A 179eseg., B 222.

200
como o quârto elo precisa ser é determirlávcl, só aquilo como o conclusires ônticas tliretas. Flm certo scntido mais ampkr, todos
que ele precisa ser alcuçado na experiência, se é que cle deve ser os quâtro grupos de principios correspondcm às quatro classes
em geral experienciável e'm sua existência- das categorias chamadas analogias, na medida em que sáo toma-
Exenrplo cia primeira analogia é a correspontlência cle duas das em correspor.rclência com as quâtro determinações lógicas
relaçoes: do predicado com o su.jeito e do acidente conl a subs- possiveis. Os quatro aspectos, segurdo os quais a multiplicidade
tância. O acidente cono algo que venl ao encontro no temPo se das formas do juízo (categorias) e os princípios são tbrmaclos cle
compoÍta em relaçào à substância, tal como P sc comporta clll maneira consonante, provêm da divisão tradicional dos.juízos
relação a S. A substânciir precisa se mostrar como o determinável, (forrnas dos juízos) na ltigica f'ormal: qr:antidade, qualidade, re
como aquilo que se encontra à basc, dito em terÍ)os tenlporais: Iaçâo, modalidade.
como o que perntânece. A analogia não afirnla o ser Presente à A perrnanência (substância) encontra se como câtegoria na
vista de substâncias, mas firrnecc a indicaçiio e a rcgra â priori classe cla relaçáo cla ligação, e, em verdade, tal conro Kânt diz
para buscar a qualquer momento em todo fenômeno resPccti- aquir"'a princípio, não tânto porque ela mesma conteria umâ
vamente o clemento Permanente. Conl cssa inclicação é dado ao relaçào, nras porque ela mesma constitui em gcral a condiçáo
mesnro tcrnpo unr traço característico, a fim de desencobrir al- das mesmas, isto e, de toclas as relações: inerência e subsistência,
gum dia nos íenômenos isso que satisfàz à permauência cxigida. substantia et accidens, causalidade e depenclência (causa e e f-eito),
As analogías são prircípitts ontológicos sobre o eslar Presenle comunidade (ação recíproca entre os agentes e os pacientes).17"
à risto do enle presenlc d vlsÍa (existcntia). A partir dessas propo Fio con<iutor para tanto é a tábua dos.juizos, isto e, as "relaçÕes
siçoes ontológicas nâo sc conclui a Presença à vista do clemento clo pensar em juízos'l Elas "são a) a rclaçâo do predicado com <r
ôntico corrcspondentc, mils antcs a necessidacle linita, perten- sujeito, b) do fundamento conr a consequência, c) do conheci-
cente à experiência, da possibilidade dc alcançar de ntaneira mento dividiclo e dos elos conjuntos da divisão cntre si".';'
cieterminadir atluilo que é visado ontologicanlentc no princípio,
o que equivale aqui à perntanência. "Pois benr, Ínas tudo isso é d) Sobre o significado fundamental da primeira analogia.
necessário com vistas aos objetos da experiência, sen'] que a ex Permanência (substancialidade) e causalidade
periência desses obietos mcsnlos se torne com isso i ntpossível'l"'n Ntis já verros a partir daqui como é que a permanência
(Denronstração da terceirir analogia) A uecessidade que pertence (e a prinreira analogia cm geral) se nrostra conlo condição
à experiência e uma nccessiclacle condicionada, que se funda en.l dc possibilidacle até mesnro dir relação causirl, e, em verdade,
trt'na casualidade da experiêI.tcia: ss unl ente hnito cxiste Nisso já apenas como relaçiio em geral. Isso Íica totalmente claro a
reside uma nova deterntinação da essêncil do ontoltigico. partir da consideraçao, com a qual Kant conclui a discussãcr
Em contraposição a isso, a rnetaÍísica anterior procede da tla primeira analogia. Ela diz respeito ilo conceito de "trans-
seguintc fbrrna: l.
As ;rroposiçt-res or]toltigicas são demonstrâ- fornação", que só agora ten'l corro ser apreendido de maneira
das de rraneira lógico-racional, não a Pirrtir da essência da ex-
periência.2. Essirs proposiçires ontoltigicas são empregues enl CL op. cit., A 187, B 230.
I /'0 (lf. op. cit., A ll0, B 106.

168 Op.cit., A 213, B 259eseg. Op. cit., A 73, B 98.

202
justificada, correta. "fiansformaçáo e um modo de existir, temporal, se funda efetivamente na primcira analogia. Nós con
que se segue a um outro modo de existir justamente do mesmo quistamos duâs coisâs, portânto, a partir da cliscussão da printei
objeto".ltl Uma ocorrência de diversos estados uns depois dos ra analogia: por um laclo, o fato de que nós, ern meio à discussão
outros, o cessar de unr e o despontar do outro é tnta mudan- da segunda analogia, precisanros co-pensar e co-conrpreendcr ir
ça ouJ como também dizemos, uma alteração. A mudança diz primeira, em suma, o fato de que o problema cla causalidacle está
respcito ao mutável enquanto tal. A transformâção, em con- clc algum modo cntrelaçado conr o problema da substancialida
trapartida, apontâ para a ocorrência de estados "justâmente de no scntido mais amplo cla pernranência. E, por outro laclo, já
do mesmo objeto'l Nisso reside o seguinte: só se transfbrma e nos encontrâmos âgora orientados sobre o nodo da demonstra-
pode se transformar aquílo que permanece, "só o permanentc ção das analogias e seu caráter fundamental.
(a substância) é transformado'lr'r De acorclo com isso, nresnro Falemos ainda mais claramente sobrc o primeiro ponto, so-
uma trirnsfornação só e perceptivel Li onde desde o princípio bre o rrcro efitre permofiê cia e causalidqde: se ir liberclade mes
algo que permanece é experin.rer.rtado. Pois sri sobre essa base e nra dctermina um tipo de causalidade, qual é o elemento pcr
na rctenção do clue permanece é possivcl perceber algo assim mancntc que precisa se encontrar.\ sua base? A permanência da
conlo uma trarsição de um para o outro: seln algo <1ue perma- pessoir que age. Essir permanência pocle ser concebida como a
nece, terí.lnros apenas urna plena alternância cle algo com algo. constância do ente presente à vista no tcmpo d.r lratureza? Se
Transição, porérn, assim como determinação, irbarca enr si o niro, é suficiente dizer simplesmcntc quc ir pessoir que.rge, isto é,
um depoís do outro, e, do nresnto moclo, reside nas transiçõcs â râz;Io, não está no tempo? Ou scrá quc a pcssoirliclacle da pes
e transl'ormaçôes que ocorrerdtn a simultaneidacle do ocorrcr. so.l, o ser humano do homem, tenr sua prripria tcmporaliclade
Sucessão e concomitância são as relaçoes fundamentais puras c, corresponclentenrente, unra "permanência" p«ipria, dc acordo
clc uma dctcrminaçáo pura possível do tcmpo. Assim, Êca claro com ir qual mesrro o caráter de .lcontecimento do ser aí do ho
que o pcrmanente nos Íentinrenos, isto é, as substânciâs, são "os mem, isto é, a essência da história no sentido propriamente dito,
substratos de todas as determinaçÕes tcmporais".rtl"Por conse- se determina de nraneira diversa ante o caráter de ocorrência da
guinte, â perrnanência é uma condição necessária, sob a qual natlrreza presente à vista?r7r'Para lançarmos ainda mais longe o
apenas fenômenos, como coisas ou objetos, são determináveis noss() questionamento prévio: o carátcr de tempo do essencial-
cm uma experiência possive1".r75 mente livre enr geral é de modo tal quc, para esse acontecimen-
Com isso, o signiJicctdo fundtmenlal da prímeira analogia to, a causaliclacle e prjmariamente decisiva? Se não, cntão estaria
é con.rprovado e, ao mesmo tempo, Í-ornece se uma referência a incluída aí a necessiclade de extrairmos por um giro o problema
enr que mcdida aquilo de que tr.rta a segunda analogia, a relação cla liberclade er.n geral da área da causalidacle, o que exigc natu
entre causa e eÍêito, como uma relação marcada pela sequência ralmente de inrecliato deternrinar positiyâmente uma nova área
nrais originária do problcrna.
t72 A 187, Il 230.
Op. cit.,
t73 Op. cit., A l{t7, B 230eseg. 176 Será qLle mesnro essa natureza pode ser representatla dessa ma-
neira'iratural"? Será que tal represcntirçâo é suílciente? Contparemos
174 Op. cit., A 188, B 231.
à tc()aia atual sobre a estrLúura atôInica, seu horizonte projetivo e a Íe-
t75 Op. cit., A 189, ll 232. presentação da mobilidacle ai.

204 205
Pernanência tcm, cm todo câso, umâ ligação interna com analogia. Sim, a ligaçào cla scgunda analogia com a primeira é
o tempo. O caráter dc permanente de tudo o que é experimen coníigurada em ll de maneira ainda mais estreita por meio do
tável é exigido pela essência da própria experiência, na medida Íàto cle que Kant antepa)c à demonstraçâo propriânlente dita
em que o que é acessível nele e determinado cm geral e desde uma "lembrança próvia"L7", na qual sua ligaçáo com a segunda
o princípio colno intrâtemporal. Por isso, de saída de maneira analogia fica ainda mais clara; por meio do fato de que, na segun'
consonante cr»l a experiência, o encontro corn o pernlanente da analogia, o que está em questáo é o acontecinlento enquanto
ta[nbéIr é constantemente atestado um atestar que nâo Íicou tal, a sucessão, que se anuncia de saída e constantemente colno
senr inÍluênci;r sobre a formação e a direçâo do compreender da rnudança - começar e cessar. Na medida cm que a primeira ana
lcrgia exige a representaçào previa do permanente na mudança, o
compreensão de ser em geral. Nírs nos lembramos: o ente pro
priâmente clito é o entc constantemente clisponível, constantc principio tambénr pode ser Íirrmulado da seguinte forma: "'l'oda
mente presente. Coisas desse gênero, mas também do mesmo mudança (sucessâo) dos f-er.rômenos é apenas transfcrrmação'ir3('
modo a experiênciâ que se encontra incessantemente articulada Sucessão é apenas isso,,âo um surgimento e um perecimento

conr elas do prtipricr -ser sl mesmo e de sua mesmidode, corrstân- puros e simples da substância, um vir à tona e um desaparecer
cia, auto nomiq impingem a icleia da permanência e, com isso, a
oriundos do nada. Ou concebido de outro modo e ainda mais
substància no campo de visão mais imediato de lodo comporta claramente r:m termos ontológicos: na segunda analogia, a rela
mento en1 relação ao ente, ção da primeira analogia com a segunda já é definicla a partir da
deternrinaçào esse ncial do "objeb propríamente dito" da cxpcri
A segunda analogid. Acontecímento, ência, da natureza, e, assim, dc maneira prelineadora, já se deh-
§ 19.
ordem temporal e causalídade ne tanrbem a essência tl<t movimento possÍvel: sucessão e npcnas
transÍbrmação. As transiçi)es sáo sequências e consequências de
a) Ocorrência (acontecimento) e ordem temporal. Análise da um ente e de um náo-ente, de tal modo que elas não mudanr
essência da ocorrência e possibilidade de sua percepçâo apenas pura e simplesmente, mas se segueÍl com base em;rlgo

"l udo o que acontece (começa a ser) pressupóe' permanente e constituem, assim, o acontecirlento, quc Pcrcebc
A: algo ao
mos na experiência. Nisso se exprcssa o seguinte: nris estanros
<1ue cle se seguc -segurido urna regra".t-i
articulados e reÍêridos a algo tal que se expõe como estando.já
Il: "'Ibdas as transformaçóes âcontecem segundo a lci da
sempre presente à vista, antcs de toda apreensáo. Aqui se anuncia
ligação cntre causa e efeito'1''n
a finitude cla experiência.
A partir da versão em A, e evidente o seguinte: trâtâ-se de
Se perguntarmos agora: como é possivel a experiência de
um problema de rearticulação de umtr ocorrência, que vem ao
algo que acontece enquanto tal, de processos?, então nào teremos
encontro, com algo determinantc- Nós deduzimos, além disso, a
mais simplesmente enr geral .r pergunta acerca da possibilidadc
pârtir cia versáo enr B, que é acolhido aqui expressarrente o con
da presença à r,ista do ente presente à vista e acerca do objeto
ceito com cuja discussão sc conclui a demonstração da primcira

17 /' Op. cit., A 189


t79 Op. cit., Il 232eseg.

I78 Op. cit., B 232.


180 Op. cit., B 233.

)07
206
da experiência, mâs antes a pergunta acerca daquilo que cons- se encontrâ à base, algo que muda simplesmente os esrados, e
titui ô caráter fundamental da presença à vista como um nexo. nesse câso, por sua vez, que aquilo que se dá se segue a um estddo
Como, portanto, a experiência de processos é possível? Somen anteríor. O que começa é algo tal que 'butrora" náo estavâ âí.
te por meio de uma regra da cleterminação pura do ten.rpo, que O não ter estado aí, contudo, não é nenhum não ter estado aí
pode ser expressa como "princípio da ordem temporal segundo puro e simples, mas um em relaçao a algo já presente à vista, o
a lei da causalidade'lrrrConsequentemcnte, caso se nostre que e outrora, a partir do qual o que começa começa: ele não é nada
conro só a causalidade possibilita a exPeriência de processos, en vazio. O que começa nunca vem à tona para nós a partir de um
tão se comprovará, gue a causalidade pertence à possibilitdção da tempo vazio, n1âs sempre a partir de um tempo preerchiào, isto
experiência em geral, à sua consistênciâ essencial, isto é, que a é, na relação com algo já presente à vista. Nós logo nos deparare-
essêncio da causalidade é, com isso, ela mesma trazida à luz. E rnos uma vez mâis com o problema do tempo vâzio.
nossa intenção se remete à essênciâ da causalidade ou à determi- Perceber a/go qac se dca significa, por isso, em si o seguinte:
nação kantiana dessa essência. não, por exemplo, apenas aprcender o vir à tona de algo, mas í7ao

Portanto, o que importa não é cm primeiríssimo lugar tor llrcr de antemao o fato de que aquilo que se dá se encontra como
nar conhecido e descobrir o principio da causalidade, mas sim algo quc sucede em relação com trlgo que o antecedc, ao qual ele
fundamentá lo em sua essência, o que signiÍica ar) mesmo tempo se segue. Nesse contexto, essa relação pode scr bastante indeter
dclcrminar sua essêneia. Tambem aqui ctrnto na prirneira lrtir- minada e plural, mas é sempre concomitântenlente percebida na
logia e aqui ainda mais, a lei enquanto tal é conhecida e cons- percepção de uma ocorrência, porque elâ pertence à essência de
tartemente empregue, mas náo verdadeiramente Íirndamentada. urna ocorrência em geral. À ocorrência, contudo, não e apenâs
Com isso, a essência não e conhecicla. O modo de discussão dcs em geral algo, quc eÍ'etivamente acontece, n.ras aquilo que sempre
se princípio no empirisr.r.ro inglês junto a I lun.re foi um impulso acontece respectivalnente erfl um temPo detenniflado, que conre
essencial para o filosotàr kantiano. ça a ser nessc tempo. Pcrtcnce, por conseguinte, à perccpção ple
Nós perguntamos novamente: conro é possível a experiên na dc clgo que se dá o acolher de antcmão não apenas algo que
cia de algo que acontece enquanto tal, de processos objetivos? antecede em geral, mas algo tal com o qual e em reÍêrência ao
De saída, é preciso ver mais exatamente o que é experimentâdo. qual ele vem ao encontro como esse ente que agora conleçâ â ser.
Iinr tal experiência encontra-se uma percepção de "ocorrências'l Na percepção de algo que se dá reside consequertenlente â ânte-
O que é uma'bcorrência'? AIgo se dá ai onde "âlgo eíetivamente cipaçáo de algo tal ao qual ele se seglre necessâriâmente segundo
acontece'iLn') O que efetivamente acontece 'tomeça a ser". F)sse co uma regra determinada. O que ocorre anuncia se senrpre de al
meçar a ser (estar pÍesente à vista) não é nenhuma origcm a par gurr nrodo como algo tal que sucede. Algo que sucede enquanto
tir do nada, rnas unla rnera "translbrmação' segundo a primeira tal só pocle se mostrar, se o olhar que apreende algo que vem ao
anakrgia.'3r Nisso reside, porérn, o fato de que algo permanente encontro tambem já se lançar de r«rlta para o antecedente, enl
seguida ao qual algo pode suceder Aquikr que vem ao encontro
181 Op. cit., B 232. na percepção só e, portanto, experimentável, então, como ocor
182 ()p. cit., A 201, B 246. rência, se ele for desde o princípio representado de tal modo que,
lltl Op. cit., A 206, B 251. nessa representaçào, uma regra seja diretriz, uma regra que dá

20lt
uma indicaçào para o retrocesso a algo antecedente enquanto a
a determinação preparatória daquilo 4ae cleve ser submetido à
condição, sob a qual a ocorrência se seguc a qualquer momento analítica. Quando e como ela e completamente estabelecitla? De
enquanto o condicionado, isto e, de trraneira necessária. Aqui, o acordo com o que indicamos acima, não ent Kant.
que se dá anuncia se ao flesn]o tempo como algo que começa a
Se adentrarmos de maneira breve nessa questão, buscare
ser, o que começa a ser como conteçando em um tempo preer-
mos de qualquer modo evitar elucubraçtles marcadas por rcÍle
chído, isto é, como -se segulndct a olgo; o qua sucede é o condicio
xóes vazias sobre o método e coisas do gênero. O que precisa se
nado. Assinr, ;ror m ei,.t àa analise da essência cle uma ocorrência e
nlostrar como antecedente é sentpre o conhecimento da coisa
de sua percepção crr gcríJl, expusemos aquilo que pertence à sua
mesnlâ. Mas a meditação sobre o canrinho ate elas, sobre o modo
possibilidade interr.ra.
como as retiramos do velamento, não e indiÍbrente. No entanto.
ela cleve ser sempre empreendida em meio ao próprio caminho,
b) Excurso: sobre a análise essencial e a analítica isto e, lá onde estamos verdadeirâmente a caminho; e isso, por
Se falamos aqui de aniilise, então isso náo tem r)ada en') sua vr:z, a Íinr de servirmos à preparaçâo do caminho e ao seu
comum com unl conceito tomado superlicialmente da descri âsseguramento. Na introdução, temos, além disso, a tarefa de, a
çAo, como se a ocorrência fosse aqui simplesmente retratada do caminho, iluminar vez por outra o próprio caminho, Íomentan
modo como nós descrevemos as coisas. A análise pertence atlui à do a possibilidade da compreensâo da coisa. Se meditamos pre-
analítíca, tal como Kdí, iá a concebeu em scu traço fundamental cisamente âgora novamente sobre o caminho e o método, então
cofi7o questiotlomento acarca da origem, isto é, acerca das possi- isso acontece em uma posição determinada do caminho, lá onde
Itilidadcs internas doquílo que ptrtence à consistêttciu essencial da devemos conquistar o nexo fundanrental, no qual se encontra
experíêuía. A exposição dessir análise pertencem naturalmente para Kant metalisicamente o problema da liberdade: causalidadc
olhos e uma visào dos contextos, um.r investigação e uma pes e sua essência.
quisa de um tipo prtigrrio e de uma legalidade prtipria. Pois anal/ Nós mesmos perguntamos nâ totâlidade e constantementc
tica como dpresentaçiio da possibilídade interfio é Jundamentaçao sobre a cssência da liberdade humana. Por isso, jii r.ros primeiros
da essência e, assím, determitaÇao essencial, não a narração da encontros fizen os uma breye referôtrcia ao elemento pcculiar do
prcsençir.r vist..r dc proprietlatics c.rcnr iais. conhecimento da essência, da clarilicação da essência. Nós deno-
A onolítíca da essência da ocorrência e de sua manifestabili, minamos nesse caso três níveis: l. f)cternriltâção clo scr o que.
dade possível em un.ra experiência já rnostrou entre outr.ls coisas 2. Determinação da possibilidacie interna tlo ser o que. 3. Dctcr
a necessidade de uma regra, que não é outra senão a scgunda ana- minação do Íindamento cla possibilidade intcrna do ser-o-qr.rc.
logia. Para Kant, contudo, a demonstração dessa anakrgia ainda A concxão entre os níveis não t-oi mais arnplamente cliscutida c
transcorre cle qualquer moclo dc mar.reira diversa, porque cle, com também nao o será agora. (iostaria de lembrar apenas uma coisa:
base no desconhecimento da transcendência, vê a ocorrência pri o nível I fornece um prelineamento dos níveis 2 e 3, e o nível 3
mária na scquência das apreensa)es em um suieito presente à vista reluz de volta sobre os níveis 1 e 2. Os níveis nâo indicam nenhu-
e por si. Assinr, prccisamos prosseguir cm seu sentido. Atenta,se, ma justaposição de passos flros e dehnitivos, mas sempre um ir
por isso, parir o fato de que não se ganhou nada com o estabele- para frente e para trás, um.r trânstbrmaçào crescerte, que não
cimento da tarefa da analítica. Ao contrário, a tarefa principal é admite fundirmentâlmente nenhuma deterlninacão definitiva.

210
2r I
Estanos hoje em particular diante da difusão de um dcsco Análise determina se aqui a partir da tarefa cle uma onalítica da
nhecimento peculiar do caráter do conhecimento das essências, e-s-sfucia, que Kant já tinha reconhccido em seus traços principais
desconhecimento esse segunclo o qual sc pensa que o conheci c seguido em suas obras. Análise não significa dissoluçâo e frag-
rnento filosólico da essência seria o elemento pura e simples- mentação em peclaços, mas dislensâo do nexo das estruturas tlo
mcnte clerradeiro e últin.to. EÍn contrâpârtida, o conhecimentcr relontt à suo unidadc conto a origem du divisao.
.saáer, isto é,
cientifico nunca seriâ senão o provisório. As coisas, contudo, se Com isso, tambem iá está.lito que tal análise não e descri
nl()stratrl de maneira inversa: o conhecin]ento cientiÍico é sem- çào (!), enquanto se entendcr pelo termo descrição a reprodução
pre clefinitivo, ele se movilrenta ncccssariamente em um ânrbito, cr.rumeradora de proprieclades e momentos prescutes;i vista dc
que ele mesmo não chega serluer a demarcarr nlâs que ele conde um ente presentc à vista. A determinaÇão essencial cla essência
na ao cariiter dcfinitivo- A ciência nunca ultrapassa por si mesntir tla "ocorrência" não era nenhuma "tlcscrição" conlo essa, mas o
esse caráter derradeiro, mas é somente dcsse ntodo <pe os Iimites Iançar de volta a tlucstão para aquilo que pertence à possibiliclade
são traçados para ela: eles só são tÍaçâdos por lneio de urna novir interna dc algo âssim como unla dação, unr retorno àquilo que
clariÍicaçâo da constituição cssencial de sua área. A ciência e ape- constitui o Íundamento do fato de tlue c do rnodo como nquilo
nas cla busca e precisa buscar segundo a sua prtipria intenção algo que se mostra conto copertinente se copertcnce. Já porqLlc sc tra
clerradeiro. A Jibsofa, ent colttrapartida, se rtrostra conto !rnta ta de contextos dc possibilidade c possibilitâção, uma "reprodu
constânte transJomnçio e isso, por exentplo, nilo apenirs pelo ção descritiva" cstá clescartatla. Quando se procura utilizar essa
lirto de seus assim chamatlos resultados se âlterârem, rras pelo cxpressão fàtal para o modo de ser cla clariÍicaçâo da essência
Íàto de ela em si, crn seu questionamcnto e conhecimento, ser cnr geral, porem, dcscrição, delineamento descritivo, não signili-
un.ra transÍ-ormaçâo. Parir vcr isso, é importante se Iitrertar de opi cam outra cois.l senáo o scguinte: para o cntendimento vulgirr, cr
niircs crrôneas, que se lixartrm justamente hoje mais ilttensanten, descrever é tomado como o comportamcnto cleterntinante, que
te do que nunc.li er em verdade, porque havia por algurn tempo semprc cstá entregue e exposto àquilo quc sc olêrece. No acento
o risco de tornar o conhecimento da essência a questão de Llma clado ao caráter ciescritivo, o que deve ganhar voz é a necessidade
tecnica passívcl de ser ensinada e aprenclida, isto e, de dcgradar o tlo ajustar-se àquilo que se ofcrece na essência conto essência.
conhecimento da essência iro nivcl dc unta questão tla ciência. Mas a questão é: conro é que se oferece em geral a essênciâ e o
A mii interpretirção do carátcr funclamental do conhe nexo essencial? Negirtivamente: não conlo âlgo ilssim como urn
cimento da essência deve se em parte às caracterizaçôes dcssc entc presente à vista. Em nreio à análisc da 'ttcorrência'] cm meio
caráter que se encontram expostas a grancles incompreensões, à clariÍicaçâo da essência da ocorrência, perguntou-se sobre ar
caracterizaçôes essâs que sc expressâm nos dois títulos: análise essência do fênômeno, partinclo do encontro col'n âquilo que co-
da essência e clelineamento da essência (descrição). Analisar meça no tempo e vent ao encontro em sucessão. A clarificação
signilica dissolvel explicitâr Mas análise da essência não é uma d;r ocorrência em geral não é de maneira algumtr possível, sem
dissolução, por exemplo, de um signilicado vocabular enr seus que iá tenhanos en't vista essc nexo originário: nenhum passo
elemenk)s, não é tanrpouco decomposição de urn conccito em pode ser dado sem a visão prévia constantemente diretriz da es
Íàtores que, casualmente, sem a exposição de seu nexo e de suit sência do fenômeno, do conhecimento Íinikr, da Ênitucle e da
nccessidade, são pensados cle maneira conjunta em unl conceito. transcenclência. O quc e visto ai de antentão não e elc mesmo

212 213
nâda presente à vista enquanto um esqueleto rigido, no qual nós
I se seguem umas às outras. Aqui tarnbem ocorre, cm terdade,
inseririamos alguma coisa. CIariíicação da essência exige trans- uma ordcn.r, um antes e um depois, ntas essa ordem é em si "lo-
formação, um pairar no ar, desprendimento em relação à lixaçáo tàlmente arbitrária"'Nt, enquênto na percepção de uma ocorrên
a cada vez unilaterais a algo derradeiro e meramente passivel de cia, em contraparticla, algo e experimentado crtmo efetivamente
ser sabido. Ela se mostra como um salto prévio en.r direção à to acontecendo, algo tal que se segue efetivalnente a alguma coisa
talidade do ser aí, conto ato fundantental da ação criaclora da anterior; essa ordcm não se encontra sob o dominio do arbítrio
likrsofia a partir da seriedade do jogado.'*' de nossa percepção, mas essa percepção está atada à ordenr real.
O que podemos deduzir daí para o nosso questionamento? Assim, cle acordo com o seu ponto de pârtida, Kant precisa per-
Preparação e postura são diversas aqui do que elas são em toda e guntar: como é que a ordern sub.jetiva do acontecimento se tornâ
qualquer descriçáo. O contexto de nossa questão exige o "lançar- objetiva, por neio do que ela obtem uma "relação com um ob-
jeto"?rk' O que dá à sequência de sâídâ arbitrária, isto e, justa-
se em direçáo à totalidade', o "ir-às nossas-raízes'l pois a ocor-
rência, a sua essência, não conduz apenâs para a liberdade como nrcnte reversível l unidade do nexo obrigatririo tle uma ordem
um retrocesso, que seria aleatório em relação àquilo para que o irreversivel? Como é ir experiência da obrigatoriedade da ordent
retr()cesso conduz. mas a liberdade se mostrará como o funda objetiva, que se anuncia nâ percepção cle ocorrências? Natural
mento de sustentâÇalo da possibilidade da ocorrência. O modo mente, nós precisamos reter constantcnente eul relação a essas
de ser dar analítica otienta se (retifica se) pelo estabelecimentrr questÕes o seguinte: não se trata irqui de percepçocs em geral e
Jo todo, isto é, pelo modo c()nlo \e fefis.l (om vislas rto toJo. L indeterminadamente, mas dc pcrcepçáo de ocorrências, de um
nessa área pela primeira vez que sào tomadâs as primeiras e as acontecinrento Prdsefile à vistL.
írltinas decisões das confrontaçóes da lilosofia e Precisan']ente Kant destâcâ essc tipo de percepção cm relação a outras
aqui a consor.râlrcia é a maior e a mais simples, por mais que ela pcrccpçties por meio dc dois exenrplos: percepção de unra casa
pareçâ pâra o scnso comum como ufil emaranhado confuso de que se encontra diante de mim e perccpção de um navio diantc
opinióes, pontos de vista e doutrinas que são ordcnados conjun de mim que desce um rio.r3; As duas percepções concordam cn
tâmente, então, com o auxilio de etiquetas. quanto percepçôes no fato cle que a cada vez nas ciuas é dada uma
sequência cle apreensões. Mas há entre elas uma diferença essen-
c) Causalidade como relação temporal. .ial. Nu pert cpçir-, .la clsa, podcm,rs cor)rcç.lr a pcrccpl.trr tto
Causalidade no sentido do ser causa é anteceder no tempo topo da casa e ternlinaÍ l-ro chão ou vice-versa, tlo mesmo ntodcr
como deixar seguir-se determinante quc podemos conreçar dir esquerda para dircita oLr vice versa.
"Na série dessas perccpçires, portanto, nào havia nenhunla or
Nas percepçôes e experiências em geral, nírs sti temos dc
dern determinacla, que tornasse necessário, quando (onde) é que
saída consciência de uma certa n.lultiplicidade dc apreensÕes que
eu precisaria iniciar a âpreensão, a fim de ligar empiricamente <r

184 C) problema da instâ:rcia cla demonstração dopftieh. Nir medi<ia


em que ele aconteçeu e acoDleceu a cada vez na totalidade, o r.leríoí.s llt5 Op. cit., A 193, Il 231.l.

rrar ou o retutar se ercontra|r do lado dos que fâlam iunto, nâo dos I86 Op. cit., A 197,1r 242.
que projetam enquirnto ti1l. Portanto, a verdade do proie«r equivale à
irrefutabilidade? De modo algum! O que cntão? I lJ7 Cf. op. cit., A 192, R 237.

215
211
múltiplo'l'1r'1 Por que a ordem das apreensôes e agai uma ordem das apreensões se passa aqui exatamente como no exemplo da
qualquer? Porque na multiplicidade dos próprios fenômenos, casa. Os dois casos não se distinguem de maneira alguma. Pois
isto é, nas propriedades e determinaçires da própria casa, não mesmo em relaçáo ao navio, posso começar corn a apreensáo do
se encontra nenhuma sucessão, não se acha nenhum um depois deque, da proa, da ponta do mastro ou da borda. Com certeza!
do outro no objeto, que tornasse enquanto tal obrigatório o um Nesse caso, porém, eu me atenho justâmente à percepção do na-
depois clo outro da apreensão. À presença ii vista da casa na uni- vio e das propriedades presentes à vista nele. Com isso, contudo,
dade das propriedades não pertence umâ sucessão, não se revela nâo tocamos de maneira alguma a experiência, que Kânt tem em
nenhuma ocorrência. vista nesse caso. Aqui se trata muito mais da percepção do navio
O que Kânt procura evidenciar aqui não e manifestâmente que desce a corrente, da percepção do navio em scu movimen
outra coisa senão a cli[erença entre o modo comt) a casa presente to de descida, de um "fenômeno que envolve um acontecimen-
à vista se encontrando aí evidentemente e, em contrapartida, a tolr'" C) acontecimento é percebido em sua presença à vista, e a
manifestabilidade de unra ocorrência presente à vista. Alénr disso, questão e agora saber se a ordem das apreensões, que visam ao
pode-se diz,er r.regativamente o seguinte: â ordem das aprecnsóes acontccimento enquanto tal, também é ârbitráriâ. Como é que
não está ligada por meio de uma ordem objetiva dos ftnômenos, eu percebo agora efetivâmente o acontecimento enquanto tal?
porque na casa náo está presente à vista nenhuma ocorrência. Manifcstamerrte r]c tal nrodo que eu per\igo o rravio que se mo
Com a casa, nada se dá - ela "se encontra parada'l 'ela se acha vimenta descendo a corrente, à meclida que ele atravessa as po
em rcpouso':r3e f)ito positivamente, é preciso com certeza aten- siçôes e os lugares particulares da corrente. Como é que fixamos
tar para o fato de que a sequência da apreensão possui aqui de esses lugares que descem a corrente, por meio do que nós os dis-
qualquer rnodo uma vinculação. Pois mesmo que eu comecc a tinguimos em termos de conteúdo e destâcâmos uns em relação
âpreensáo pelo topo, eu não estabeleço esse início como início aos outros possui agr>ra urn significado secundário.
da casa, como Íundamento e vice-versa. No caso da produçâo da Na experiência de se movimentar descendo o rio, a per-
câsâ, o topo, o tclhado, aponta etêtivamente para olim c perrna- cepção de uma posição do navio corrente âbâixo se segue a
nece na casa pronta â parte mais elevada. Lm outras palavras, a uma percepção tal que apreendeu anteÍiormente o navio em
arbitrariedade da ordem clas apreensoes é uma arbitrariedade tal uma posição mais acima da corrente. "E impossível", diz Kant,
apenas no interior, com base e com o pano de fundo da obriga "que, na âpreensão de.sse fentimeno (isto é, do navio que se mo
toriedade da justaposição e da superposiçào presentes à vista dos vinrenta em descida), o navio deva ser apreendido primeira
elementos construtivos presentes à vistâ que pertencem conco mente abaixo e depois acima da corrente. Portanto, a ordem na
mitântemente à casa presente à vista. sequência das percepções na aprccnsão é aqui determinada e a
Como as coisas se dào, porém, no caso da percepção do apreensão está atada a essa ordem".r'r A ordem da apreensão
navio que desce a corrente? De saÍda, podcr se ia dizer: a ordem não é arbitrária nâ percepçâo das ocorrências. Portanto, ela
se encontra vinculada. Por meio do que? Dir-se-á: por nreio

IBB Op. cit., A 192eseg.,8.238.


It]9 Não reside aí, por cxenrplo, nenhum problema? Fila ocupa um
r90 Op. cit., A ),92,8237.
cspaço, "teni'uma posição, acima, abaixo. l9l Idem.

2t6 2t7
do decurso objetivo dos processos mesmos, decurso esse que nras nunca posso apreender o posterior eflquanto um tal sern
ocorre no tempo. lrm verdade, na ocorrência da apreensão, no atravessar algo anterior O tempo anterior determina o tenrpo
seu dccurso, também nos é dtrda uma ordem temporal. Orir, subsequente de naneira necessária. O ten.rpo subscquente nãcr
pocle ser sem o anterior, mas o ânterior pode scr sem urn seguin-
rnas de onde essir orclem temPorâl retira a sua obrigatorieda-
te? O tempo é uma ordcm nao reversível, orientada ctt uma deter
de? Em Yertlade, o tenrpo é subjetivo, pcrtence âo stt.icito, assim
como a própria apreensao, mas o temPo é de qualquer nttldo ninado díreção. Por conseguinte, se é que deve ser deternrinado
em si mesmo absoluto. na cxperiência unl .lconteciÍnento intratemporal enquanto tal,
Conr isso, começa â clemonstraçáo corrcspondente, tal então essa deterninação precisa se manter na direção rla ordem
como tinha acontecido cont a primeira analogia. O tempo al) tenrpore . Tod;r deterrninação dos nexos fiiticos a cada vez parti-
culares realiza se com base nessa legalidacle. Por isso, de maneira
soh.rto "não é nenhum objeto da percepção'r":, isto é, o tempo
puro e simples nunca terr como nos ser ciirdo imediatamcnte plenâmente dotada de sentido, Kant diz no prirrcipio da relaçácr
na medida ern que nele é dcterminada a totaliclacle das posi- causal: a todo e qualcluer Íêtrômeno enquanto unta ocorrência
temporal, isto e, enquanto algo que começa a estar presente à vis
ções do ente quc é no temPo. As posiçoes temporâis dos Íênô-
mL'nos e, com isso, os clecursos têtromênicos dos processos não ta em um tr:mpo determinado, clcve corresponder algo presente
i\ vista no tempo, que detenrina o que se dá como o subsequen
podem "ser deduziclos da relação dos fenômenos com o teulpo
te.r''r Todo suceder como progresso er1 Lrnt processo só é experi
absoluto l'er Apesar clc o tempo ser tlado, náo é dacla cle clualquer
modo ir totalidade clo ente que é no temPo enl sua determinaçao mentável, se ele está ligatlo em geral e cle antemão ao antcceden-
temporal totâl. Se, contudo, a orden temporal das apreensoes te daquilo que ele detcrmina necessarianrente no seu seguir-se.
cleve te r aqui uma necessiclacle, o te mpo mesmo, como aquilo e m
Com isso, tarnbérn é necessária a regra quc diz: naquilo que an-
tececle, e possivel encontrâÍ a condição sob a qual a ocorrência
que toda e qualquer ocorrência presente à vista e clescle o prin-
cípio e é a qualquer mol.nento exPerimentada, precisa Íirrnecer necessariamcnte sucede. Esse e o "princípio dir relaçâo causal na
para essa experiência uma ir.rdicação, cle acordo com a qual algo orclenr dos fenômenos'i'''5 Esse princípio nesmo e o fundamento

assinl como a percepção de uma orclem necessária objetiva, isto da possibilidade da experiência de fenirmenos que se seguem e
é, necessária para a sucessão das apreensões, é ent geral possivel.
do nexo determinado por mcio disso de sua presença à vista.
O próprio tempo pode ftrrnecer unta tal indicação ou mesÍlo A partir dai lica claro que a lei causal, tal como Kaut a desenvol
contribuir para ela? No que collcerne à ordem, reside no tempo vc aqui, não é unra lei que sr'r aplicamos às ocorrências que vênr
ao encontro e à sua scquência, por exenrplo, para nos haverntos
ele mesnro uma legalidade e uma obrigatoriedade? Com certeza,
na medida em que trão posso chegar a um tenlpo subsequente, a quanto â elas, mas à. rePresentdção transcendental anteríor dessa
um tcmpo posteriot senão por intermedio tle unl anterior Pos- lci iá é a condíçao de possibilidade para o fato de que pttde vir tto
nosso encontro olgo assint como ufio ocorrênciq enquanto tal. lâ
so apreender algo ulterior, Posterior, nele mesnto, senl levar em
consideração a sua posterioridade, sem atravessar algo anterior, conr o fàto dc virem âo nosso encontro ocorrências, nas quais

192 Op. cit., A 200, B 245.


l9.l Cl op. cit., A l98escgs., t] 243esegs.
193 Iderr. le5 C)p. cit., A ).02,8217.
2t9
2r8
não conseguimos de saida nos orientar, ou seja, cujos contextos O que é, Portatlto, a cdusalidade? Uma relação, que não
aincla sâo indeterninados, precisâmos com;rreenclcr o que vcm ocorre apenas l:nl geral no tcmpo, mas que é deterrr.rinacla cn.sel
ao nosso encontro à luz da causalidacle. cariiter de relaçao como uma relaçao tentporaL, conro unt ntoclo
Na demonstração da segunda analogia, tirn.rbcm não vem à do ser no tcmpo: 11 "ço15çquência" uma relação, que represen-
tona cont clareza o carátcr de analogia do principio, algo que evi- la desde o princípio e que possibilita en geral pela prirneira vcz
dencia a rlificuldade interna que desde o princípitl acompanha a â experiência de un acontecimento intrâtemporal enquanto tal.
posição kar.rtiirna. A partir do contcxto como um todo, porem, é Enquanto tâI, trata-se clo ser desde o principio representado erz
possível clcduzir o firto de que sc encontra arlui clo mcsmo rnodo todo re prcscntar quc expcriÍnenta e que experinrenta pí.ira tudo
que na primeira analogia uma correspondência entrc duas rela (intuição e pensamento). F)ssa rclirção é de tal modo temporâI,
qu,c a causalídade enquonto ser detcrmirutdo como o elemenlo coi-
ç<-res. Nesse cnso, há tanto aqui quanto lá uma relação ttornlativa,
que se nrostr.l, segundo a afirmação cle Kant, como unta relaçào sal origínário passa a signilicar: ser afitecedcfiltJ. no letnpo cotto
fur.rdamental que pertencc à naturcza do entendimento c se ex- unr daixar sc scguir detcrmitnnte , de tal modo que csse antcccder
pressil como a relaçao lógica entre findamentt) e o qLre se segue, em seu deixar se seguir precedente mesnx) se nostra conlo uma
a consequência. Assiln comtl se estabelece jutttalnente conl unla ocorrência e está rearticulado enquanto tal corn algo antcriot quc
conscquência necessariamente um tundamento, também se es- o determina. Pertence à causalidade, enquanto tal relação, o cará
tabelece nccessariamcnte com o posterior que ocorrc no tenlpo ter lernporal do antecedente, isto e, da presença à vista no deixar
a relaçao do que sucetle enquirnto efeito com algo prcceder.rtc, estar presente à vista cle algo que se segue e sucede. Apesar de
anterior, enquânto catsa. O princípio da causalidatle, pttrém, nào tudo o que possa suceder: como algo que sucecle, ele só obtém
poLle ser logícamente tleduzido dtt príncípitt ltigico do fundamen' algo tal quc, cle algum n.rodo, já senrprc era. Nunca se sucecle com
Ío, mas sua necessiclade sc funcla no fato de se constituir ai um umir ocorrôncia algo tirl quc anteriormeotc pura e simplesmente
compone te necessário na totLLlidade, o (\ue pcrtence à possíbili- nâo cra. O produzir não é nenhum prodrrzir'brigináriol''q: Essa
taçtro da experiência tm geral, experiência essa que não é nem determinaçào esscncial da causalidacle, porem, como vimos, se
mera determinaçno lógica cle objetos, nem mera aprecnsáo de dá pela via de utrw determitvtçào da possibilídade interna, isto é,
rcpresentaçÕcs couto acontecin]entos subietivos no [en]Po, n]as do essência da expcritncia enqua to conhecimento hunnno Jrníto
uma unidadc deternrinacla da intuição clirigida pelo tcmpo e cltr dLt ente presente à vista com yistas ao nexo de sua presença à vísta.
L'n
pensâmento, que cletermina o assitn intuído.
§ 20. Dois tipos tlc cítusdliLlddt: causalidddt segundo a
196 O problenra da "unidade'l A possibilidade da unidadc não poclc nàturcza e causalidade por libmlade. CardcterizaÇão
ser conprovada por nreio de unl recurso a um erte Presentc à vista tlo horízonte ontológíco geral tlo probbrna da libenlade
descritivel. Ao contrário, subsiste Precisamente a necessidadc rle uma na dctcnnirutçã<t da líbenlaclc como umd espécie de
p«rblcmática do modo de scr claquilo quc Kirt Pres§uPa)e de manei-
ia clcspercebicla e indeterminada: sujcito, sensibilidacie, enlenclimeu causulidade. O nex<t cnlrc causalídadc em gcral
to. O que llauch consiclcra ontokigico, seguinclo urna orientação de N. e o modo de ser da presenÇa à vista
HartrDann, precisa ser problematizado por meio de umâ interpretâção
oÍltológica, de tll motltl que a "razão' tambén se torne unl problema
justamcnte por mcio daí. le7 Op. cit., A 5,14, U 572.

220 221

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A determinação da essência da experiência como conhe- no conceito tle'tausalidade por liberdade"? Flvidenterrentc, cau
cimento finito é, então, em si a determinaçáo prelineadora cla salidade não pode significar: causalidade segundo a nâtureza a
essência do objeto possír'el da experiência. Assim nos diz Kânt partir dâ liberdade, porque precisamente essas duirs causalidadcs
no ânrbito da terceira irnalogia, por exemplo, ao afirmar:'Agtl (a segundo a natureza e a por liberdade) se contraclizent mutu-
ra, ;rorérn, em relaçào aos ob.ietos da cxperiência, tudo aquilo ancntc, sio dois 'tonceitos opostos um ao outro'lr01 Portânto,
sem o que à experiência desses objetos mesmos seri;r impossívcl no conceito da "causalidade por liberclacle'l Kant s<i pode ter em
é necessário'l'eN Aquilo, entáo, que constittti a essência do que vista a causalidacle enr um senticlo geral, um sentitlo que se es-
pode vir ao encontro e se encontrar contràPosto enquânto ente pecilica, então, a cada vez, em "causalidade segundo ir naturezii'
prescnte à vistil l1o contexto de sua presença à vista, aquilo que e 'tausalidatle por liberdade'l Kant denomina a liberclade "um
podc se mostrar como ob.ieto, e designado POr Kant como tta- objeto suprassensívcl das categorias da causalidade'l para o qual
lureza em geral. Por ctlnseguinte, a clarificaçáo da essência da a "razão prática... cria realidacle'lr"'
causalidade a partir de sua pertinência necessária à experiência
diz respeito à causalidade que Pertence à naturezâ em geral ou, a) A orientação da causalidade em geral
ctrrno Kant diz de maneira resumida: à " causalidade segurulo a pela causalidade da natureza.
naturezq". Naturezâ em geral prelineia conlo pertellcente â si um Sobre a problemática da caracterizaçáo da liberdade
determinado modo tle ser causa: o ser causa, na medida em que como uma espécie de causalidade
ele é essencialmentc determinado a partir da unidade clo nexo O que entender por causalidade ncssc signiÍicado geral, de
da presença à vista do ellte Presentc à vista. "Necessidade natural acordo corrt o qual a causalitlade se rrostra ora como causalitlade
é a condiçáo..., segundo a qual as causas elêtivamente atuantes tla natureza, ora como causalidade segundo a liberclade? Como
são determinadas'lr" I)a'tausalidade segundo a nâtureza" Kant e onde deve ser determinada essa essência geral da causalida-
distingue a'tausalidade por libcrdadi""": "liberdade como una dc? l-vidcnl(mente t1e lal rrrodo quc. n(\\c dJ\(,. nio i nor,nrtivd
propriedade de certas causas clos fentimenos"']"', "liberdade como apenas a essência da causalidade natural, mas do mestno modo
unra espécic de causalidade'lr('r "causalidade como liberdade'l'"' ov dc modo igualnenle parco tambem ir causalidade do liberda
Na "causalidade por liberdacle'expressa-se o fato de que a rJe. Ou bem nao há nenhuma categoria geral e mais elevada da
liberdacle está orientada pela causalidade Mas aqui se levanta, causalidade em relação iiquela segundo a naturezâ e a partir da
entáo, imetliatanrente a questâo sobre o que signilica causalitlade liberdade, ou bem, se há un.rir tal categoria, cntão o conceito de
certegoria é .fundamentalmente atnbiguo: mcra categoria da na-
ren oP. cit., A 2 | 3, B 259. tureza, por um lado, e, por outro lado, categoria csquenlatizâda,
I99 Kant, Prtlcgômercs (Vcrrlántler). l.eiPziS (Meiner), 5" edição, csquerna. Nesse caso, porénr, é agora que surgem propriamente
1913, p. I l2 (1V,34'1).
os problemas: enr que medida puros conceitos do entendimeltto
200 Kànt, Crítica do razao Prótictt, P. lll (V, 32). podem tcr uma função categorial normativa para um ente (para
201 Kanl. /'rdl( go,x, ,, '), f. I l2 { lV. .114)
202 Kaú, Crítica do ruzao prutica, p.78 (V I 18) 204 Op. cit., p. l l l (V, 170).
203 Op. cit., p. 6 (V, l0). Observação 20s Op. cit., Prelácio, p.9 (V 9).

222 223
alg(-) suprassensível)?Qual é aqui a apresentação e o preenchi- f)e qualquer nto(fo, Por meio da caracterização da libenlade en
mento não esquemáticos ou por que uma tal aPresentação e pre- qaarÍo causalidade apesâr de ela ser pensada como rn Ítpo
enchimento não são âqui necessários? Kant levou a termo em de causalidade -, a existência do homem é concebída, por iss<t,
algum lugar essa determinação cla essêtrcia universal da causali .fundamentalmente como presefiÇa à visto e, conl isso, se mostra
dade? Se não ele estabelece por fim de qualquer modo unt con' completâmente como o seu contrário.
ceito geral de causalidade, que seia conquistado primariamente Agora, poder-se-ia dizer: Kant procura destacar e reter de
junto à natureza? Se sim - com que direito? Se sem direito por qualquer modo por meio do aceÍrto no caráter díverso da causali-
que Kânt procede assim? Que efeito a orientação kantiana pelo ilade por liberdade ante causalidade segundo a naturez:ao caráter
a

problema da causalidade e Pelas câtegorias em geral tem sobre o prtiprio da pessoa moral em relação à coisa natural. Com certeza,
problema da liberdade?r0" Assim, uma questáo imptie a outra. Á não temos como contestar esse ponto aqui. No entânto, por meio
questionabilidade assim emergentc nao diz respeito, por exemplo, clessa intençáo, o problema ainda está longe de ser resolvido ou

apenas ao tratamento kantiâno do problerna, mâs conduz pílr4 rnesmo apenas de ser levantado. Ao contrário, o que se indica con
justamente o Íàto de que o modo de ser do homem não se dei-
uma questão dotada de uma sigrtilicação Íundamental. Essa é a is.so é

írnica coisa que é decisiva para nós no desdobramento material xa determinar primariâmente como presença à vista. Nesse caso,

do problerna da liberdade. as coisas se mostram no mínimo de tal forma que o modo de ser

Se a determinação da causaliclade em geral está orientada do homem se revela ontologicamente indetcrminado e subdeter
de saída e de maneira totalmente geral pela cirusalidacle da na- minaclo uma falha que, na medida em que se trata de âlgo luncia
tureza, sendo que a natureT-a tem em vista en.r gcral à presença mental, possui uma amplitude principial e, por isso, náo pode ser
à vista de um ente presente à vista seja ele físico ou Psiquico corrigida pela via de un.r con'rplemento extrínseco ulterior. Kant
cru dotado de um outro modo qualquer , cntáo o ser caust é nâo chega ate âi, porque ele, apesar de tudo isso, bane llrÍnemente
cârâcterizâdo antecipativamente com vistas ao set modo tle ser o problcna da ontologia para o âmbito do problema do ente qua
para tudo o que vem depois como presenÇa à vista. Se, com isso, ente prcsente à vista. I: isso, por sua vez, acontece, porquc ele náo
a causalidade por liberdade e tleterminada à luz desse ser causa conhece e clesclobra o problema geral do ser Assim, falta em Kânt

uriversal, entáo a liberdade e o próprio ser livre com vistas ao o solo metafísico para o problema da liberdade; e isso já ern meio

seu nrodo de ser nos volta para a carâcterização fundarnental da à esfera, no interior dâ qu.rl Kant trata desse problema, ou seia, sob
presença i\ vista. Pois bem, a liberdade é a condiçâo fun<lamen- a cârâcterização da liberdade como causalidade.

tal cla possibilidade da pessoa agente como nloralmente agente.


b) Primeira prova da orientação da causalidade pelo modo
de ser do ente presente à vista a partir da consequência
206 Kant utiliza a caLegoria da causalidade para a cateEloria da nature- enquanto o modo temporal distintivo da causalidade junto
za? Ou de,:1ue elc se utiliza? O que signiÍica aqui categoria em geral? O
ao exemplo da concomitância de causa e efeito
que significa isso, então? Um puro conceito do entendimcnt(l chanlirdo
"natureza" não seria esquenlatizado senl uma ligação com o tcmPo. C) De início, porem, o importante é clarificar e apresentar o
que significa, então, 'tausalidade'? Cl em particular Crílico Lla rozoLt modo de questionamento de Kant até o Ponto em que consiga-
prtiticà,p.1 l9esegs. Onde não há nenhuma ligação temPoral, todo uso
de categorias ccssâ! Cf. Crítica da rozao prática,ts 308.
nros ver cfaramente qual é o problema metafísico Junàamental

225
221
que sc encontra à base do estababcímento da liberdaLle cotno umd A fim de ver agora o que há aclui de saída de decisivo, o nexo
cuusalidade. A partir disso que acabamos de dizel podemos de-
I
entre a cqusaliàade da natureza enquanto causaLidade em geral
duzir por enquanto ao menos o seguinte: é natural para Kant es- com o motlo tJe ser no sentido da presença à visÍi.t, gostariâmos
tabclcccr a causalidade da natureza como a causalidade em geral de explicitar ainda de maneira breve aquilo que Kant acrescenta
e cleternrinar o tipo particular de causulidade por liberdade con I em termos de discussões à sua demonstração da segunda analo
base e com vistas à causalidadc natural - em todo caso: aoftlo gia. Obtém se aqui a ocasião para determinar alguns conceitos
fiao tao origifiaria e Por si mesma. "Logo conrpreendo que, uma fundamentais dc nrodo aincla n.rais expresso, conceitos que são
vez <1ue não posso pensar nada sem uma categoria, essa catego- importantes em relaçáo às consideraçóes ulteriores.
ria tambem precisaria ser buscada cle saída na ideia da razão da De saida, Kant fàz uma critica a si ntesmo em relação à
Iiberdade com a rlual me ocupo, uma ideia que e aqui a catello- própria determinação da causalidade. Por causalidade com-
ria da cttusalidaàe" "'' O 'conceito da causalidade... (contém)... a preende se o ser causa (coisa originária) no sentido da ante-
qualquer molnento a Iigação a uma lei, que determina a existên cedência no tempo como um cleixar se seguir determinado.
cia do nrúltiplo em uma relação t.nútua'I('3 Por isso, na lei causal, cortto ttnr princípio da ordem temporal,
Formulado cle maneira ntais fundamental com vistas ao a causa é o anterior, o efeito, o posterior. Agorâ se mostra,
fãto de que o ser causa está orientado pâra a Presença à vista, o porem, que o "principio da ligação causal entre os fenôme
que Kânt equipara iustamente de maneira signiÍicativa ao ser aí, nos" não está restrito à ordcm clos fenômenos, mas também
à realidade efetiva e à existêr'rcia em geral: é natural para Kant concerne ao "seLr acompanhamcntri', o que significa dizcr,
ver a liberdatle e o ser livre no horizttnte da presença à vísta, ísto contudo, que câusa e eÍêito podem ser âo mesnro tcmpo.rr') I)e
é, omitir a Pergunta acerca do rnodo de ser esPecial do ente livre, acordo conr isso, então, a ordem temporal tan.rbén não pode
não atacando e desdobrando originarianente a liberdade como scr o único criterio e, assim, náo pode ser nem llesmo urt'l
problema metafísico. Se as cois.ls se mostram assim, e se a liber- criterio empírico seguro pâra algo corno efeito, isto é, para a
dade também se constitui parâ Kant como o elemento derradeiro ligação com â sua causa. f)esse modo, a causalidade não pode
e supremo na Íilosoha: se'b conceito de liberclade, na medida ser orientada de maneira alguma para um Principio da ordenr
em que sua realidade é denronstrada por meio de uma lei apodí temporal. Como é que Kant resolve a dificuldade acima, uma
tica da razão prática, constitui agort a pedru conclusiva de todo vez que ele orientâ â causalidade de qualquer forma unica
o edificio de um sistema da razão pura, mesmo da râzão esPe mente para a ordem temporal?
culativa"r')e, então precis.r haver naturalmente râzôes para Kant, L)e saida um exemplo para a concomitância de causa e efei-

quando ele pa)e um ponto final na questão acerca da essência to. "Há, por exemplo, calor no quârto que não se encontra ao ar
da liberdade humana com o estabelecimento da liberdade como livre. Procuro a causa e encontro um forno aquecido. Pois bem,
autolegislação da raz-ão prática. esse Íbrno enquanto causa e concomitirnte ao seu efeito, o calor
no quârtoi portanto, náo há aqui nenhurna serie temporal, se
20i OI'. cit., p. 120 (V, 185). gundo o tempo, entre causâ e efeito, nras causa e efeito são ao
208 Op. cit., p. 104 (V, 160).
209 Op. cit., Prefácio, p. 4eseg. (V 4). 2t0 Kant, Crítica da razao pura, A202,1r 247.

226 227
mesmo tempo, e, âpesar disso, a lei continua válida':rrr Kant ob comrr a succssão ou a concomitância nao reversível, dirigida, não
serva, âlém disso, que ate mcsmo "a maior parte" das causas na recíproca. O decísivo no conceito do modo temporal "set1uêncict"
turais seriam concornitantes aos scus eÍ-eitos e que o ser posterior não é a duração e a velociclade do decurso e do transcurso, ntas
e o ser depois do efeito só seria condicionado pelo fato de que a a ordem uniloteralmente dirigida nd presença de um e do outro.
causa não poderia erigir "todo o seu efcito cm um instante'lr'' De acordo com essa presença, a câusâ, mesmo se ela aürda for e,
Onde surge um efêito, o elêito sempre se encolltra ao nlesmo (1)n \cque ntcn rcn te, rnc\l|](, .,c cla for ir,rr, orrrildIlp it ([cito, c ir
tempo com o ser causa da causâ. Mais ainda: elc prccisa ser con- revogavelmente antececlente, e ela não pode se tornar em relâçáo
comitante. Pois se ir câusa enl seu ser causa ccssassc imcdiata ao eÍ-eito o seu elemento subsequente.r'r Sequência designir a cii-
mente antes do surgimento c1o eÍàito, então o elàito r1ão podcria reção do dccurso, o processo do decurso. Direção dtt decurso não
de maneira alguna surgir. Só enquanto a causa durar ent seu ser exclui, Porém, o esldr simultdneamente presente Lle causd e eJeíto.
causa é que o et-cito podc surgir e ser ele mesmo. Assim, unra Sequência não signilica que, se o efcito ocorre, o outro (a causa)
Cr)n\ olnilaIIciJ,.los .lois é reees:lria. precisaria ter desaparccido. A sequência conro ntodo temporal,
Apesar clisso, essa concornitância necessiiria não 1àla contra que distingue a causalidade, é, por ct»rseguinte, compatível conr
a pertinênciâ da ordem temporal à relação caus.rl; e isso â tal a sinrultaneidade de causa e eÍêito.
ponto que e só justâmente em contraste com essa concontitân- Por meio dessa dcterminaçào mais próxima do caráter da
cia quc podernos apreencler o autêntico significado claquilo que sequência como ordem e corno clireção do decurso, cntão, tâm-
está scndo visaclo com a ordem ternporal. lila não cxclui, ntas bcnr é apreendicla de maneira mais aguda a essência do nexo en-
irntes inclui o entrecruz.unento mútuo da duração da presença quanto tal. C) nexo e um nexo dc um ente presente à vista em seu
dir cau.a c do efeitrr. Mar por ntuior ou nlcn()r quc pr,ss.r \er ô estar presente.\ vista de tal rnodo e de unr outro diyerso e de un'r
periodo do decurso tcmporal entre â irrupçáo de unta causa por náo estar presente ii vista. O conceito do acontecimento é irgora
um lâdo e â irrupçâo do eÍ-cito por outro - ele pode ser iníquo, determinado; não sc trata de nenhuma presença e de nenhuma
isto e, os dois podem ser concomitantes -, â relaçâo entrL'ullt ausêrtcia de ocorrênciits isoladas. Ao contrário, na ocorrência re
enquanto câusâ e o outro enquanto efeito persiste cle qualquer side uma ligação retroativa ent verdade dirigida, regulacla a algo
modo. Pois essa relação permanr:ntc, quc é a qualquer Ínomento antecedente, à causâ. lnvcrsamenle: o ser causa é ent si uma rela-
determinável, visâ iustamente r\ Igaçao de unl conto o anterior
ção dirigidâ, que deixa se seguir e suceder algo.
conl o outro como o posteri(x, mais exatamente, à unilateralitla-
de da direção desse enfileiramento ou ao mesmo tcmpo, isto é, ao c) Segunda prova da orientaçâo da causalidade pelo modo de
fato de que a direção cla sequência, sua ordem, não e reversível. ser da presença à vista junto ao conceito da açáo. Açáo como
Sequência não é um termo para designar aqui, por conseguinte, o conceito consequente da ligação de causa e efeito
puro cnfileiramento na muclança do despontar e do desaparecer.
Essa apreensão da causalidade conduz, então, a um conceito
Ao contrário, a sequência tem em yistâ a ordem do que sucedc que e dotado de signilicação para o problenra do acontecimento

211 Op. cit., A 202, B 217cscg.


2ll Cl o exemplo de Kant cla csfàra e da pequena concavidade, op.
212 Op. cit., A 203, ll 248. cit.,A203,B248eseg.
em geral e para o acontecimento dâ essência Iivre em particular; para o ser no sentido da prescnça à vista, parâ aquelc mocio cle
trâta-se do conceito cla açao. Ntis costumamos usar para esse ter- scr, que não carâcteriza precisamente o ser da essência cticarnen
mo com frequência a pallvra grega pra-xij (pra/ttein levar algo tc agente, a existênciâ do homem. A cxistência do huncm per
a cabo) e entender o clemento prático, por sua vez, em unta du manec.', cntão, em seu modo de ser, rle maneira priucipial, cn.r
pla significação: l. O "homent práticril que possui habilidacles e rneirr l unra dcl( flrin.lçjo Illhu uu, .rrr mcnos, cm meio a unrir
sabe errpregá las no momento dirdo da maneira correta. 2. Prá Íàtidica indetcrminação, por mais que o hon.rcrn existente venha
xis c aÇão, âo nlesmo tenlpo no sentido acentuirdtt da uçrio étíctt, a ser fàticamcntc distinto como pessoa etica, como ente, de ma-
tlo cornportamento prático morirl. Kant tomir a práxis e o ternro neira clara e decidida, das coisas naturais e das coisas cm geral.
prático entre outrâs coisas tresse sentido acentuado. "Prático é Agir (ação) signiÊca para Kant o mesnto que efetuar (cf'cito), o
tudo aquilo que e;rossível por meio cle libcrdacle'lr" "Platao en- r).rcsrro que o termo latino agere effectus. Trata-se do conceito
controu suas ideiâs antes de tudo naquilo que é prático, iskr é, rurais amplo em relação a fazcr facere , ao qual pertcnce um
que se baseia na libcrdade'lr'' tipo particular dc eÍêito e eÍlêctus: a obra opus.r "
A açiio, por conseguinte, estii csscncialmente ligada à liber 'Iirdo Í-trzer é um agir, mas nem todo agir é um làzer "Fazcr"
tlacle. No entânto, cxatirnlente isso não e pertinentc para Kant. no sentido de produzir, Íãbricar, empreender ntesmo e distürto
Práxis e ação não se cquivalem totirlmente. 'Ação' é, Para Kant, do "fêitd'no sentido da ação ética, de umir "ação que abre o es-
muito mais o títLllo pdro n e.litívoçtio cm gera1. A ação não está de ;raço para o surgimento dc um feito". Pdra Kant, também há agir,
modo algunr articulada primária e ulticamente com o col'llpor lá onde ncnlturno obra é produzida
nà natureza. Por isso, Kant
tanlento ético e corn o lazcr moral-antoral. Illil náo apenas não utiliz,a simçrlesmerlte a exprcssão, o conceito de uma "açáo cla na-
esui ligada a um tazer confirrme à razão, mas tambénl nào está tureza'lrri Nos "Prolegômenos'l clc fàla da açáo ininterrupta da
articulada com um Íàzcr psíquico. Ao contrairio, ela está Iigada matériarL3 e aÍirnra, alem disso, que toda causa natural "prccisit
âo acontecimento cla natureza animada e, sobretudo, inanimada. ter conreçado a agir'1r'' Na segunda anllogia d,a Crítica dq razao
As pessoas sempre desconsideràram esse fato na interpretação pura, o conceito cla açáo tarnbem €, então, determinado de ma
de Kant, tomando a ação clesclc o principio como açáo moral e neira mais dctida: 'Ação já signihca a relação do su.jeito da causa-
não levando en.r consideração justamente o que acabamos de di liclade corl o cfcito'i:r0 Ação não e sirnplesmente unra ocorrência,
zcr. Atentâr para isso nao é, contudo, âpenas uma exigência dc Inas um processo, quc tem em si uma dação, que peÍtence ela
adaptação à ter[ninologia kantiana, nlâs ]rossui antes uma aÍn n'resmâ ao acontecimcnto.rrr "Sujeitd'não significa aqui, porem,
plitude tundamental. Se a irçâo signiíica o mesmo que produzir
um eleito em geral e está primariamente oricntadâ pelo arconte-
2t6 ( t. Ka l. ( rtlt.a JLt rú?it, purú.\ 4\.
cimento natural e por seu lrexo efetivo, então o conceito da ação
etica, livre ou, conro Kant gost.I de dizer, da àçào "arbitrarii', )17 Kant, Crítíca do rdzão p!trí|, A 5.17, B 575.

.iustermcnte como ação, tambent está orientada ontologicamente


218 Kant, Prolegórreros, § 53, p. I l2 (lY 14.1) Observaçío.
2i9 Op. cit., p. I l2 (lV 343).
2t1 Op. cit., A 800, B 82tt. 220 Kant, Ctítica do razão pura, A 205,8 250.
215 Op. cit., A 314, l] 17l. 22t Of. acirr.ra, p. 17.lcsegs.

230
por exemplo, "eu'] "si nresmo I "pessoa'l mas o mesmo que o ente minçao da permanência conto o caráter propriamcnte dito do
presente que já se encontrâ à base e que é causa. O termo sujei- ob.jeto da experiência, foi demarcada como mudança a essência
to precisa ser considerado aqui de rnaneira tão âmpla quanto o do nrovimento pertinente, possível. Na conclusáo da discussão
termo ação. Em toda dação, portanto, reside um agir, na medida cla segunda analogia, então, a mudança mesma é determinada
rnâis detidamente em sua essência com vistas ao fato de se mos-
iustamente em que a dação abarca em si um acontecimento con
dicionado e efetuado. A "ação'e, ântes de tudo, a força são, por tÍar que: â possibilidade da mudança se funda na contínuidacle
tânto, como Kant diz no prefácio aos "ProlegôInenos'l 'tonceitos da causalidade da ação. O novo monrento, que vem à tona, é a
que se seguem... à ârticulação entre causâ e efeito:r']r continuidade constânciâ. Esse momento estrutural já vinha
Náo se necessita mais âgora de nenhuma explicitação Por- sendo senrpre coÍrcomitantemente visado, mas não tinha sido
menorizada, para deixar que se perceba qual é a amplitude da <iestacado até aqui expressamente enquanto tal. A lei da conti
compÍeensão correta do conceito kantiâno da ação para a ela- nuidadc de toda mudança funda-se na essência do tempo (ir.r
boraçâo do problema da liberdade. Pois se um "ato livre" é inter tratemporalidade), no fato de o tempo não ser composto por
pelado discursivamente como "ação originária"2rr, então ele nos pârtes, de todas âs menores.'ltrda transiçâo cle um estado para o

volta, com isso, para o horizonte do conceito geral de efetuação outro, estâdos esses que podem sc dar err dois instantes, sempre
e de causalidade, que são determinados Primarian.rente por meio
acontece ainda em um ten.rpo entre os instantes e pertence, por
da causalidade da natureza. O agir da mâtéria não e um eÍ-etuar conseguinte, concomitanterrenle, à totdlidade do tempo da mu
originário. O agir da pessoa etica e um efetuar originário, isto e, dança, razão pela qual toda causa cle uma mudança anuncia essa
que náo provem primeiramente de uma origem, mas que e ele sua causalidade durante o tenrpo como um todo. l)ito de outro
mesmo uma origem. Assim, a partir do conceito da ação e de seu mocio: a ação da mirtéria é inccssante. Nâo há nenhum aconte-
signifrcado amplo vem à lona a imiscuíçao do cttnceito geral de cimento repentino como irrupção a partir de um nadâ ânterior
causalidade na determifiaçao da liberdade. Com isso, apreende puro e sin.rples. Aqui tambérn, o tempo é o lio condutor para a
mos de maneira cada vez mais clara o horizonte ontológico geral' cleterminação da constância e, em verdade, corno o tempo da
no qual se encontra o problema da liberdade para Kant, na medi- natuÍeza, tenrpo da copertinência de algo presente à vista.
da justamente em que a liberàade é umq espécíe de cdusolídade. Nós apresentamos agora suficientemente a concepçao kan
Com base nessa explicitâção do conceito de ação, conquis- tiono da essência da causalidade. Ela é uma àas determinaçoes
tamos ainda uma caracterizâção ulterior e dcrradeira desse ho otrtológicas do nexo da presença à vista do efita presente à yisto em
rizonte, isto e, daquele âcontecimento que acluz âs característi seu ocontecimcfito. C) caráter possivel de movimento clesse acon-

cas universais do acontecimento em geral, carâcterísticas essas tecimento da natureza é a mudança, isto é, o evento âcontece
para as quais o "agir da mâtéria'e e continua sendo normativo. com base na persistênciâ e ele acontecc sob o moclo cle um agir
Em meio à transiçáo da primeira para a segunda analogia, nós constante. Os conceitos de ação e de constância são deduzidos
já vimos como é que, na prinreira analogia, com base nà deter- primariamente da preser.rça à vista das coisas corporais. Com
preende se a observação própria de Kant sobre o primado dessa
regiào do ente iunto à apresentação e ao preenchimento intui
222 KanÍ, Prolegôme os. Prefácio, p.4 (V,258).
livos daquilo que é pensado nas cirtegorias universais. Onde a
223 K^ú, Críticd da razoo Pura, A 544,8 572.

232 233
causalidade e explicitada no sentido geral determinado até aqui, rígido, como se o sistema fbsse uma arrnadura lixa e uma es-
pressup<-re-se aí cottcomitantenlcnte un1 e te dotado de ttm tal trutura compostâ por gavetas, nas quais problemas e conceitos
moclo de ser, o fiatureza. Ao mesmo tempo, porém, iá sempre se são respectivâmente arrumados em seus devidos lugares. Em
acentuou até aqui muil.ls vezes o seguinte: liberdade é um tipo de verdacle, Kant tinha uma grande inclinação para a arquitetônica,
causaliclade. Nós tambem iá atestâmos essa concepçâo dc Kant e, em verclade, a partir clo fio condutor de csquemas conceitu

- Irlâs âpenas isso. C) que falta ate aqui? ais tradicionais- Muito trirbalho da investigação e apresentação
Íbi facilitado com isso, rnas, do mesmo rnodo, rnuitos conteúdos
§ 21. O Llgar si-sÍcmático da líberdade em Kant materiais e muitos fenômenos foram velados e vistos de manei-
ra enviesada tarnbém. O "lugar sistemático" de um problema é
a) O lugar sistemático como nexo material, que prelineia aquele nexo material, que prelíneia a direção e a amplitude de um
a direção e a amplitude do questionamento questionamento. Temos em vistâ com isso simplesmente o nexo
nraterial total na problemática da filosofia, de acordo com o qual,
Nós Ííro lnostramos onde se encontra, para Kant, a liberdade,
respectivamente, é prelineado a ctrda vcz, tal como clc é r,isto
isto é, que nexos materiais do problema e que mdivaçÔes impelenl
e estabelecido, a direçâo e a anrplitude de um problema. Nesse
Kant ao problema da liberdade e de que maneira isso acontece.
caso, deixa se para esse nexo nraterial mesrno e para o problc'ma
Eviclentcmente, necessitamos para isso de unla orientaçáo, pois só
prelineado o carnpo de jogo pleno pârâ outros pontos cle particla
assim poderenros avaliar como é quc a causalidadc ate aqui expli
possivcis para a questão e olrtrâs interpretâçôes. Quem está de
citadir, cujo lugar conhecentos no problema cle Kant, se comporta
posse de unr sistema no sentido extrínseco clo termo ou quern
em rr'laÇà() Lr liberdadc. M.t. cssl ná,' e r útlicJ rali('' ttent I rlzio
âspirâ â uma tal distribuição e divisão en.r gavetas especíÍicas de
propriâmente dita, pela qual precisâttlos nos assegurar quanto ao
Iugar da líberLlaLle no sistüna de Kdfit Essa razão reside no fato de
um suposto saber apaziguado ainda está longe de demonstrar
com isso que ele Íilosofà "sistematicamente'l Ao contrário, o fato
que nós mesmos tornamos compreensíYcl o problema da liberdade
de se maldizer um sistema tal como, por exenpkr, Kierkegaard
por meío de um ponlo de portida c de uma determinação do lugar
sc deixou dcscncaninhar em relaçáo a Hegel - não é suficicnte
no iúerior das perspectívas dds qucstoesJunLldmenlais da metafísíca
para compro\rar que o filosofar enr seu enraizamento material
enquanto problema. Íi de se perguntar por fim e em primeiro lugar,
traz (on\igo r lirrça do problerna.
como é que se encontra a nossa cleterminaçao locativa em relação
Vimos que o problema da causalidade eÍn K.rnt tem pri-
à kantiana. Não formulamos essa questào no scntido e com a fina-
mariâmente o seu lugar no problema da possibilidade da expe-
litlade de unra compâração historiológica. Qucretnos elucidar o
riênciâ, isto é, do conhecinrento humano Íinito do ente presente
caráter diverso de nossa problemáticâ à partir da diversidade que
à yistâ mesmo. C)ncle se encontra, então, para Kant, a liberdade,
sempre se mostra ao mesmo tcmpo cle algunr modo como uma
isto é, quale o nexo material do problema, a partir do qual o pro
concordância; e isso para mostrar juntamente com isso colno é
blema cla liberdade por assim dizer se ergue? Essa problemática
que, por meio dai, o positivo do problema kantiano é apropriado
.oh o nrodo Je unta trirnrlirrrrtaç.to. não se acha em uma conexâo necessária com o nexo da possibi
lidade da experiência? Trata-se de um e mesnlo nexo ou de um
Se falamos aqui do Iugar da liberdade no sistema de Kant,
completamente outro?
enÍão isso não deve ser tomado em unt sentido extrínseco e

235
É decisivamente signilicativo para a compreensâo do pro- essa questão diretriz: o clue é o ser? lleside aí ao ntesmo tenpo â
blerna kantiano da liberdade e, por conseguinte, pâra a conÍion- questão: em que se funda a possibilidade e n necessidade origi-
tação com eJe, que se veja o seguinte: l. Kant é conduzido para nárias da manifestabilidade do ser?
a liberdade por dois contextos de problernas completamente
cliversos. 2. Os dois caminhos que levam à libertlade são para b) Os dois caminhos para a liberdade ern Kant
Kant igualmente necessários de acordo com o solo universal, e a problemática tradicional da metafísica. O lugar
a partir do qual se determina para ele a problemática da filo da questão da liberclade no problema da possibilidade
soÊa. Os dois caminhos se copertencenl no interior de todo da experiência como a questâo acerca da possibilidade
o problerna cla ntetafísica. É preciso mostrar âgorir esses dois da metafísica proprianrente dita
caminhos. E, em verdade, não apenas para conquistar outros
Nós nos deparamos ern Kant com umâ redeterminaçâo ra-
conhecimentos acerca da filosofia kantianir, rnas lrara configu-
clical da cssência da ontologia, sent a qual, por excmplo, a ló
rar de maneira mais rica e mais originária as perspectivas ine
gica de Hegel não tcria sido possível. E, contudo, vist.r em scLr
rentes ao questionamento lilosoÍãnte. Com certezâ, tambén.l
toclo, essa redeterminação da ontologia é urna íixação renovada
é importante aqui e aqui com maior razão o fato cle n<is pre
do ponto de partida da antiga qucstão acercir do ser. À luz dessa
cisarrnos abdicar dc uma interpretaçâo temática e conlpleta.
tlucstão fundamcntal da filosoÊa, por isso, e completamente in-
Por isso, tambem nos vemos obrigados a trabalhar conl certas
justi6caclo colocar Kant em oposiçâo r\ Antiguidade, en.r pilrticLr-
versôes toscas e rudimentares. O caráter lalho tluc é intrinse-
lar cn relação a Aristóteles, tal como aconteceu no século l9 em
co às exposições seguintes, porem, ainda se deve a unta razão
meio ao Neo-kantisnto, que viu ent Kant unta teoria clo conheci-
totalmente diversa, que não telllos como afastar por enquanto
mento por ele contraposta â uma teoria do conhecimento supos
efêtivamente: hoje, ainda estan.ros longe de levar o problema da
tamentc diversa; uma contraposição, tlue sc acolheu avidamente,
metafísica à transpirrênciir e originariedade necessárias para que
por outro lado, junto à Neo-escolástica, a Íinr de inviabilizar Iate
a problenrática kantianâ possa ser clorninada de maneira positi
rJlrl)crte o JL (s\(, i Antiguiel.rde.
vamcnte crítica em uma confrontirção derradeira c total, isto é,
L)s doís camínhtts, cr.rtão, nos 4rlcls Ka nt é conduzido para a
para que possamos cor.npreender Kant de ntaneira Íilosofante.
líberdade como proülcma, sâo os seguintes. (-) primeiro, que tam-
Pois isso não ac<xrtccc iamais ern uma assim chamada interpre
bem foi ]ristoricarrente aquele que Kant percorreu ent printeiro
tação correta de Kant. No problema da rretafísica em geral e
lugar, conduz por sobre o nexo do problcma, no ir.rterior clo qual
enquânto tal, os dois carninhos que levam Kant à liberdade se
o problcma da causalidade tiri discutido: pos.§iüil idade da experi
confluem. Mas e precisamcnte esse nexo, que permanece pro-
ência como conhecimento .finito do ente. O que levou Kânt a cssa
blemático no próprio Kant; e, em verdade, a tal ponto que o
questào? Nadâ menos do <1ue a r1tc.s/rio ocerca da possibilidade da
próprio Kânt não consegue rnais ver esse problema, assin.r como
fielaíísica; e metafisica tomada no sentido imediatamente tra
ele não tem tampouco os meios parâ despertá lo. A razáo para
dicional. De acorclo com isso, metaÍisica significa, considera<Ia
tanto reside no fato de que mesmo em Kant a questão diretriz
crn seu significado originário, o conhecimento do entc supras-
tradicional da metafísica: o que é o ente?, não se reconÍigura
sensível, isto é, do ente, quc se encontra alénr c do ente na me-
e se transforma nâ questáo fundamental que conduz e suportâ
dida cm que ele sc encontra além do scnsível, alem daquele ente
276
237
que é acessível à experiência. Para a metafísica tradicional, pela de l)eus, do mundo, da alma e ele é "impelido pela necessidade
qual Kant se orientâ em sua críticâ, esse ente suprassensível e própria'de "responder a ela de maneira táo boâ quânto possí-
determinado pelos três títulos: alma, mundo, Deus. Alma e, em vel"rn Daí vem à tona o seguinte: se e ate que ponto essas ques-

verdade, com vistas àquilo pelo que o homem tem um interesse tões são ou não rcspolrdidas, elas pertencem à natureza humana
pârticula( e em relação à sua simplicidade, isto e, indestrutibili- e, em vcrdadc,tanto com vistas ao seu tundamento, conr vistas à
dade, ou seja, imortalidade. Mundo isto é, a natuteza Presente razão pela qual elas são formuladas, quanto com vistas à neces
à vista em sua totalidade e Deus como fundamento e autor de sidade de uma resposta para elas. Iim que n.redida essas pergun
todo ente. A alma ($rr26rj) e objeto da psicologia, o rnundo (todo tas se fundam na nâturezâ humâna r.rniversal? Como é que Kant

da natureza KóoFoç), objeto da cosmologia, e Deus (0eóç), demonstra essa afirmação? Como é apenas que elas podem ser
objeto da teologia. demonstradas? Orâ, simplesmente por meio de um aceno para a
Em rneio ao questionamento metafisico acerca da alma, do própria natureza humana. Por mais desconfurtável que seja esse
mundo e de Deus, trata se de um questionamento que Procu- estado de Íàto relativo à interpretação de Kant mais antigâ e atu-
ra determinar a essência de tudo aquilo que e denominado, que al, não é possível alijar esse estado de fato Íundamental por meio
gostaria de indicar todas as determinaçôes empíricas casuais. de nenhuma arte da interpretação ou mesnio;rpenas atenuá-lo
Conhecimento não enlpirico, porém, e conhecimento racional em seu significado, de tal modo que mcsmo a fundamentação da
para a metafísica tradicional, conhecimento a partir da mera ra metâfísicâ propriâmente dita não e outra coisa senão um retorno
zão, da rirzão pura. Livre da experiência, o puro pensar procede à nâtureza humâna. O modo e a legitimidade da tundamentação

a partir de meros conceitos. É apenas nessa medida que aque kantiana, porem, depende a princípio e em última instância da
las três disciplinas citadas acima pertencem à metaÍlsica e, em originariedade, da adequação e da completude de sua interpreta-
verdade, são elas que constituem â metafisica propriamente ditâ: ção do hon.renr com vistas à fundamentação da metafísica.
psicologia racional, cosmologia racional e teologia racional. Um questionamento a tal ponto necessário acerca do hO-
Perguntar sobre a essência da metafísica significa demarcar mem, naquilo que e como ele precisa se mostrât nào pode se
a sua possibilidadc internâ e distingui la, delimitá Ia em relação mostrâr nem como psicologia, nem como teoria do conheci
àquilo que não lhe pertence, traçando os seus limites - Kpivslv. mento, nem como fenomenologia da consciência e das vivências,
Dcterminâção da essência da metafisica e â crítica, aquilo que nem corro antropologia. O caráter próprio dessa interpretaçao
a razão pura conse8ue com vistas a unt conhecimento total do do homenr só tem como se determinar suficientemente, se ante
ente. Pois bem, era a convicção mais íntirna dc Kant o Íãto de que riormente e ao rresmo tempo se clariÊcar de maneira ratlical a
a metafísica enquânto questionamento acerca das três direçÔes tarefa, a cuja possibilitaçào ela serve: a tareía da própria netafísi
citadas é uma "disposição natural"r! do homem - essas direçôes ca. Portanto, não se pode empreender a princípio de maneira fir-
"emergem... da natureza da razão humana universal".I5 A "ra- nte e zelosa unra teoria do conhecimento ou uma fenornenologia
zão pura'hunana "lança para si" esse questionamento acercâ da consciência ou uma antropologia, e, em seguida e ocasional-
mente, meditar sobre o modo como as coisas estaÍiam dispostas

2.21 KaÍ\t, Ctílica da razào pura, B2l.


22s Op. cit., 822. 226 Idem.

238 239
em relação à metafísica. Por mais seguro que Kant se encontre simplicidade e indestrutibilidade, ou seja, na totalidacle de seu
na realização de seu empreendimento "crítico" no sentido mais ser e de sua essência. Se perguntamos sobre o mundo, então a
restrito, as bases de sua Íundamentação da metaÍisica são tanto razão tem em mente iustairente o todo do ente presente à vista
mais inseguras e intleterminadas. En todo caso, porém, e esse segundo o início e o 6m. Se perguntamos sobrc L)eus, então
ponto e âqui o decisivo: para a demonstração dos três direcio se tem con.r maior razão o todo derradeiro do ente diirntc dos
narnentos e ârrbitos de questionamento, Kant precisa recorrer à olhos. A razão visa nessa rcprcscntação da totalidade à unidadc
natureza humana. Em outras palavras: ele já nào toma essa na e à completude do rcpresentávcl c daquilo con o que o homenr
tureza cle modo algum radicalmente a partir de si ntesmo, mas sc relaciona enquânto tâl. Representâçôes cle algo sào, parâ
já a vê a partir da orientação pelos assim chamados lrês âmbitos Kant, conceitos. Conceitos, conludo, que representatn no uni-
de questionamento, que se encontrânt para e'le, de maneira con versal aquik> que eles representâm, mesnro.r totalidade de algo
sonaÍrte com a tradição, fora de questão. E apenas olhanclo antes cm gcral, são conceitos que se mostram como próprios à razão
para esses âInbitos que ele olha parl a natureza do homent. de uma maneira particular, à razão como aqucla Íàculdadc que
Abstraindo se totalmente da interpretação do pr(tprio ho- representa algo em seu início e cm seu desÍ-echo, isto é, cm seu
mem, portanto, iá reside aqui urr ponto de partida totalmente "principio'l É pr<lprio à razáo cnquanto unificação dos princí
deterrninado do honteln, ir sabcr, tal como o (lristianisnlo o vê. pios essas representaçôes de algo na totalidirde, os conceitos da
Esse ponto de particla, porém, náo é desde o princípio necessá razão ou, como Kant os clenonrina, as ideias. Segundo Kant, a
rio em terrros ÊlosóÍicos, com o que não se cstá naturalmcnte ideia é'ir conceito da razilo sob a tbrma de um todo, r.ra medi-
aíirmar.rdo que a essência do homent poderia ser determinada da enr que, por meio desse conceito, e determinacla a priori a
de maneira igualmente absoluta e em si solta no ar, algo em abrangência do múltiplo, assim como a posição das partes en
que ainda se acredita hoje em nruitos âmbitos. Só uma coisa se tre si".r, As ideias "contêm uma ccrta conrplctudc, para a qual
segue de tudo isso: é preciso meditar sobre o Íàto dc que o pro- não e suíiciente nenhunr conhecinrclrto crnpirico possívcl, c a
blerna do homem abriga em si diliculclades inerentes à própria razáo teÍn aí apenas unra uuidacle sistcmática no sentitlo quc
problemática, abslraindo sc c(xlpletamente de seLr respectivo ela busca sc aproxinrar da unidade empirica possivel, serl ja-
conteúclo histórico. Ao nrcsmo ternpo, aitrda estânlos muito mais alcançá la completamente'lr}
longe de ao menos presscntirmos algo desse fato (metatísica Kant procura, então, até mesnto em uma relação evidente
clo ser aí). A própria natureza hunrana, diz Kant, a saber, cotno com os três direcionamentos trâdicionais da questão que são
ser racional, "lança para si" a questão acerca de [)cus, mun- inerentes à metalisica propriamente dita, fundamentar a partir
do, alma. O que constitui nesse caso o elemento corrcntenlente da natureza do homem três direcionamentos tundamentais cla
peculiar a essas questóes, abstraindo-se completan.rente da di- representâçáo no sentido das ideias. Ideias possuem o carátcr
versidade do conteúdo nratcrial pelo qual elas perguntam? Se uniyersal ala rcprescntirção de algo. llepresentar refere-se sem
o homem enquanto ser racional vê desse nrodo essas questÔes, pre a algo.'lbdas as ligaçircs possíveis do representar podem
o que a razão tem aí em geral "em mente"? Na questáo âcerca
da imortalidade da alma, a alma é representada em geral com 227 Op. cit.,.,\ 1J32, B 1t60.
vistas àquilo que ela determina na contpletude de sua unidade, 228 Op. cit., A 5ar7eseg., B 595eseg.

240 24t
ser reconduzidas a três clirecionâmertos fundantentais: "Ora, problema da liberdade. A questão acerca da liberdade vem ao
considerada crn sua universalidade, toda ligação, que nos- encontro posteriormente à questão acerca da possibilidade da
sâs representaçóes podem ter, se mostrâ como 1. a ligação ao metaÍlsica propriarnente dita. Em que disciplina ou em que clas
sujeito,2. a ligação ao objeto, e, em verclade, ou trem como se de ideia emerge, entáo, a ideia da Iiberdade?
fenônrenos, ou bem como objctos do pensâr em geral'l'zr' Dc Nris conhecemos a liberdade como condição fundamental
acordo com isso, podemos Í-ormar aqui uma icleia: 1. Na di e caráter da pessoa eticamente agente, ou seja, do sujeito pro
reção da representação do su.jcito,2. Na direçào da represen priamente dito na subjetividade e na egocidade do homem. Do
tação do múltiplo do objeto no fenômeno,3. Na direção da "suieito pensante""", porém, no sentido do repÍesentar das ideiâs
representaçâo de todas;rs coisâs ern geral. A partir desses três desse sujeito, trata.r psicologia racional. Liberdade é, tomada ge-
direcionamentos fur.rclamentais de um possível representar enl nuinamente, liberdade da vontade como uma faculdade da alma.
gerâl vêm à tona três classes de ideias como representações de Liberdade e vm"conceito Psicológico'i Portanto, é na psychologia
algo enr geral conl vistas à sua totalidade. A primeira desen rationalis que se encontrará tambérn a ideia da liberdade. Não
tranha â totâlidade e a unidade incondicionadas do sujeito; a obstante, é em vão que a procuramos ai. A liberdade não é ne
segunda, a unidade e a totalidade do múltiplo dos fenômenos, nhuma ideia psicológica. Assim, somos levados a refletir sobre
dos quais sabemos âgora qlle eles Íbrmam uma série contínua o fato de que, por Íim, o homem só é condiciofiaílameflte c nao
de condições e condicionados; a terceíra, a unidade absoluta proprittmente /rvre e que, por Íim, liberd.ide e â disliíç..ro do ser
da condição de todos os obietos do pensar em geral. Em arti- supremo ellre todos os seres, l)cus. Ao mesmo tempo, trata-se
culação imecliata com essa dedução da triplicidade da repre- aqui de uma ideia teológíca que se encontra r.ra theologia ratio-
sentação possível das idcias, Kant menciona as três disciplinas nalis. Mas também se procura eln vão a liberdade na theologia
tradicionais da metaphysica specialis. rationalis. A liberdade está muito mais Iá onde, em últina ins
tância, ntis menos esperaríamos: ela é unta ideia cosmológica. Ela
§ 22. CqusaLidade por líberdade. emerge no contexto do problema do murdo, sendo que Kant com
Líberdade corno ideia cosmológica preende por "mundo" a'quintessência de toclos os fenômenos"r'rL
(natureza e cosmos), portanto, a quintessência do erlte presente
a) O problema da liberdade emerge à vista, nâ medida em que ele é acessível a um conhecimento
do ou como problema do mundo- humano finito.
Liberdade como modo insigne da causalidade natural É de um significado decisivo ver de maneira totalmente
Nós dissenros clue o prímeíro camifiho pard a questao acerca clara em que posição da metafísica propriamentc dita se encon
da líhertlade passa pelo problema da possíbilídade da experiêncía tra a ideia da liberdade. Assim, Kant nos diz en.r uma obser
como a questao acarca da possibilidode da metaJisica, que âbar- vâção à terceirâ seçáo do primeiro livro cla dialetica transcen-
cacono netafísica propriamente dita as três disciplinas citâdas. dentâl ("sistemâ das ideias trânscendentais"):'A metafísica não
A unra dessas disciplinas, por conseguinte, precisà pertencer o
230 Op. cit., A 334, B 391.
229 Op. cit., A 333, B 390eseg. 231 Idem.

242 243
ten por linalidadc- propriamente dita de sua pesquisa senáo três A razão, então, Íàz valer esse seu princípio em cada urna das três
ideias: I)eus, líberdode e imortolidqde":r2 Não ganha âqui umâ direçires introduzidas da representação. No campo da represen
expressão clara apenas o fato de que o problema cla liberclade, tação de objetos como fenôntenos, isso significa que a razâo exige
tomado nretafisicamente, é parâ Kânt um problema cosmol<igíco, a representação dâ totalidade absoluta da síntese dos tênômenos,
nras tanrbérr cr fato de que a ídeia de liberdade, por sua vez, ilssu isto é, a representação da completude incondicionada da unida-
nre ela mesma um primado entre as outrirs ideias cosmológicas. cle do nexo do ente presente à vista. Se, enlào, consicleramos a
O inlportânte âgora é nrostrar de maneirir nriris deticla como Íazão nessa representação exigicla por ela, ent,ro 'inostra-se unr
é que o problenra do líberdode emerge do problema do mundtt ttu novo fenômeno dir razão humana", um naturirl 'tonflito entre ls
enquanto o problenn do mundo. Podemos já antecipar agora leis (antinonria) da razão pura"2r'l, uma dissonânciir naquilo que
unra coisa: se il liberdacle possui o scu lugar no contexto do pro- a razão purir cnquanto tal precisa estabclccer necess.lriaÍnente.
blema do rnundo, nras mundo significa a quintessência e a totâ- Ao mesmo tempo, precisanlente sc o princípio da razão se torna
lidade dos fenômenos e de sua serie, assinr colno a unidade dos manifesto e moslra o seu caráter de principio, precisamente nes-
tenirmenos acessível de acorclo com â experiência é cletermina se caso se anunciam "as cenas de dissonância e discrirtlia"rr5.
cla, porem, em seu contexto pela causaliclacle e, en verdade, pela Em Íàce de tais declaraçôes cle Kant sobre a razão pura,
causaliclacle segundo a naturcza, então a liberdade pertencente oo seria sinrplesnrente ccgueirir e ignorância, se Íàlássemos de r.na-
prohlama do ,nunclo estó inserida etn uma conexão maximamente ncira filntasiosa c cm delírio sobre uma Íâz-ão pura absoluta e
estreíto cort t causalidade natural: e isso mesmo sc t libtrdade dcsconsidcrásscnros quc prccisarnentc o conceito cie razão em
for dístiúa enquanto unt típo Particulqr de cousalídade do cuu- Kant não é nunca apcnas o conceito dc urla razão humana, nras
salidade da notureza. Pois, nesse caso, ela é distinta.justânrente anuncia ao ntesnto tempo â mais profunda linitude do honem e
em rclaçao à causaliclade natural e aquilo em relação ao que ela é naro apresentâ, por exemplo, como se interpreta de maneira cx
distinta codetermina ao mesnlo tempo por si na distinção aquilo trínseca e Írúseaclora, unr traço de iníinitude. É sri aparentemente
<1ue precisa ser apartaclo clela. A liberclade emerge, para tlizer de que a razão é em sua representação, ou seiâ, em seus conceit()s,
maneira breve, como um modo fusigne do causalídade naturaL supcrior ao cntendimer)to como a tàculdade proprianrente dita
Se as coisas não se Ínostr.rssern assim, então não haveria nenhu- dos conceitos. No Ílndo, o que se tem é o inverso; â r.lzão em
rra possibilidacle de apreendê la con.ro idcia cosmológica, isto seu modo dc representar é apenas um excesso ilegítin.ro da es-
é, como uma itleia ligada essencialmenle à natureza, ou seja, à sênciir enr si já finita d,o etúendínrcnto, e, com isso, com maior
krtalidade da natureza. razãcr ainda, una Jinitizaçao, trma "impureza"]6, sc ó que uma
lcleias sáo puros conceitos da razâo, isto e, representâçoes representação ilegitimâ e um sinal de ultrapassagem dos limites
de algo em geral segundo o principio fundamental da razão. e de desmedida, ou seiâ, uma cârâcterística da linitude. Esse ex
Esse princípio é "o princípio da unidade incondiciontrda".rrr cesso ilegítimo, porém, não se torna de maneira alguma o sinal

234 Op. cit.,4,107, B 43,1.


2:12 Op. cit., A 337, B 395 Observação. A enurreraçiro geral é: I)eus, nrun
tlo, alma. Ao in,,és tlc mu do, temos (Bora liberdade:"alni': intortalidacle. 235 Idcm.
233 Op. cit., A 407, Il433. 236 Op. cit., A 164,1\ 492.

244 245
de uma infinitude por meio do fato de que ele é ainda até nesmo inconciicionada"Io? No Íênômeno aparece a multiplicidade do
necessárío para a nâtureza humanâ enquanto tql. Ao contrário, o ente presente à vista no nexo de sua presença à vista; nessa reside
que é comprovado por meio daí é o fàto de sua Íinitude náo ser unl acontecimcnto, uma mudança, a consequência de ocorrên-
nenhuma linitude arbitrária e casual, mas sim uma essencial. cias, isto é, um nexo dirigido de condições e de algo condiciona
Kant acentua expressâmeute que seria necessário obser do. Sc a razão faz valer o seu principio, então ela requer sob a exi
virr o seguinte: é só a partir clo entendimento que podem surgir gência da totalidade absoluta o progresso de uma condição para
conceitos puros, transcendentais, 'que a razão nâo gera propria a outra até o incondicionado. Sua sentença fundamental é aqui,
mcnte nenhum conceito, mas apenas liberta em todos os casos o de acordtr com o seu princípio, a seguinte: "se o corulicionado é
conceito do entendiraenío das restrições inevitáveis de uma expe- dado, cntao tanbém é dada toda o soma das condições, incluindo
riência possível, buscanclo, assim, ampliá Io para além dos Iimi- aí o pura e simplesmente incondicionado, por meio do que apenâs
tes do empírico, embora em articulação com ele".2r' Libertar das aquele condicionado se tornou possível'l':1" Se a razão representâ
restriçoes, no entanto, ainda está longe de se mostrar como uma a completude da serie das condições, então ela segue em frente
superaçao da Jtnilude. Ao contrário, st'r pode haver efetivâmente no interior da série da sequência de condiçoes e do condicionado
hnitização, se essas restriçóes pertencerem à consistência essen c retorna na direção da condição, sem descer e subir na direção
cial do conhecimento humano e se as tentativas de supressão das das consequências, "1.rorque, para a cor.rccpção plena daquilo que
restrições conduzirem à ruina da razãol Nós nào deduzimos daí e dado no fentinreno, nós precisamos do s
fundamentos, mas lnã<t

apcnas a Iinitude mesmo da razão pura, mas, ao nlesmo temPo, das consequências")aI
o fato de que os crxrceitos da razáo, âs ideias, náo se ligam nuncâ Dito de passirgem, isso é em todos os casos válido no in-
diretamente ao ente acessível enquanto tal, mâs imediatamente, terior e para o nexo processual na naturtza corpórea, mas não
de acordo cunt sua origern, âpenas.ro uso do entendimento.'A é válido de modo algum para a história, pois uma ocorrência
direção de uma unidade certa'é prescrita âo entendimento pe histórica e compreendida em termos essenciais precisamente a
las ideias.rrt (J uso do entendimento no cârnpo da experiência, partir de suas consequências. Para um evento histórico, as con
isto é, no campo do conhecimento dos objetos como tênômenos, setluências não são aquilo que nós dcsignanlos com o termo,
anuncia-se nos principios da experiência, aos quais tambénr per- algo ulterior e atrelado, mas, em teÍmos cssenciais e, por isso,
tencenl âs analogias, âs regras da unidacle do nexo (síntese) da tâmbém categoriais, algo que precisa ser determinado de um
multiplicidade dos fenômcnos. nroclo cliverso de uma consetluência. Nisso reside ao ntesmo
tempo o fàto dc que o passado histórico não é determinatlo por
b) A i<leia da liberdade como 'tonceito transcendental sua posição no sido, mas por meio das possibilidades de seu
de natureza": causalidade natural absolutamente pensada futuro. Nâo algo por vir, que se tornou Lrm evento e unra con
O que signilica, então, tirzer valer essas determinações do en- sequência depois da entrada cm cena de um acontecimento. Ao
tendimento em relação ao seu princÍpio,'b princípio da unidade
239 Op. cit., A 407, B,113.
)37 Op. cit., A 409, B 435eseg. 2.10 Op. cit., A 409, 13 436.

23ÍJ Op. cit., A 326, B 383. 241 Op. cit., A 4l I, I| 438.

).46 247
contrário, determinânte é aqui algo por vir enquanto possíveL. livre agír. O conceito de razão dessa causalidade incondicionada,
Por isso, uma história do presente é ulr contrassenso. O fato de que busca representar a unidade dada e a cada vez passír,el cie
Kant não ter atentado para toda essa dimensão diversamcnte ser dada dos fenômenos em suâ completude, está ligado a algo
conligurada do entc e, no fundo, não conhecê-la, é ir.rdireta- qr./e torna possível a príori a totalidacle do fenômeno, algo trans
nrente umâ prova de conlo o campo dos tenômenos equivale cendental, uma representâção de liberdade no sentido /rarscen
para ele ao ânúifu do e k presente à vista, dtt n.ituÍeza em sen- denlal: ideía da libertiade transcendenlal. l,iberdufu como uma
tido mais amplo- espécie de causalidade está ligada à lotolidade possível àa série de
'As ideias cosmológicas, portanto, (os conceitos da razão acontecímentos dos fenômenos em geraL. A ideia da liberdade é a
dotaclos da plenitude clo nexo dos objetos conro fenônlenos) representação de algo incondicionado dinâmico que diz respeito
ocupanr-se com a totalidade da sintese regressiva e canlinham in à completude do nexo da presença à vista de um fenômeno, isto
antecedentia, náo in consequentia'ir'r Agora, então, vinlos jun é. ün "conceito trqnsccndental do natureza".a\
to à cliscussão clo princípio da causalidade, que essc principio Com isso, de uma maneira a princípio rudimentar, percor-
está ligatlo expressamente enquanto unr princípio ditrâmico a rentos o primeíro canrináo, no qual Kant se depara com a liberda-
ocorrências, o que significa, à série tle acontecinrentos dos fe- cle. Esse caminho não caracteriz.r as nrotivaçóes historiológicas
nômenos. A razão, portânto, visir Prccisatllente aqui i\ uniclade e e as reflexõcs pessoais de Kant, motivaçôcs e reflexões por meio
à completucle dessa serie. O ttcxo das series, isto é, a relação do das quais cle chcgou à liberdade, mas o neÍo material entre a
condicionado com a condição, é determinado pelo ser causado ideío de Liberdode e o problema da possibilidade do conhecimento
do conclicionado, isto e, por meio do ser causa das condiçôes, por fnilo. Esse caminho até a liberdade, por isso, mostra ao mes[lo
meio tla causalidade, que deixa acontccer e enlerliir uma série tenrpo como e como o que a liberdacle e estabelecida. Liberdade
de f-enôrnenos. Uma representaçào da unidade incondicionada náo é outra coisà senão a causalídade dd natureza absolutqmente
tlessa série, da relaçio causal, se elevará, por conseguinte, a algo pensada, ou, como Kant mesmo o diz de maneira precisa, um
incondicionado e representará: 'A completude absoluta do surgi- conceito da natureza, que transcende a experiênciâ co[ro um
mento de um Í-cnômeno lr" A rcpresentâção por parte da razão todo.}6 Por meio daí, ele não perde o caráter fundamental de um
de unta causalidade incondicionada é a representaçâo de um ser conceito da natureza, mas esse caráter é rnar.rtido e é ampliado e
causa que, enquanto [al, não remonta mais a illgo prececlente, elevado prccisamente em direção ao incondicionado.
junto ao qrral ele, por seu lado, se iniciar, mas iro antecedente que
inicia cle mesmo pura e simplesmentc a série. A represcntação § 23. Os dois tipos de causalidade e a dntitética da razão pura
pela razão de unra causalidade inconclicionada nos coloca diante na terceira antinomia
de uma ação origináriarr'r, "umâ açâo que é ela rresma uma ori-
genil uma ação, um alçar-se por si à produção de um elêito, url.t O conceito, que e propriamente representâdo nâ ideiâ
da liberdade transcenclental, a causaliclade, é produzido pelo
242 Idern.
2.13 Op. cit., A .115, U,143. 245 Ct'. op. cit., A ,120, B 448.
)14 (lÍ. op. cit., A 514, R 572. C[ op. cit., A ,120, B 447eseg. Além disso, A 327, B 384; A 496,R 525.

248 249
entendimento e pertence às determinaçires essenciais de unra cxperiência. A razão pura humana, porém, permanece "inevi
naturezâ em geral. O que a representirçâo da razáo empreen tavelmente subrnetida" ao seu conflito,r5o A proposição tem ao
de e apenas a ampliaçao em direção ao incondicionaclo. Mas scu lado para a sua afirmação razi)es tão válidas e necessárias
essa an.rpliação em clireção ao incondicionaclo torna maniÍêsto quanto o seu oposto.r5r
agora ao mesnlo len]po o,na discórdio interna da razão. Essa A ideia transcendental da Iiberdade encontrir-se na origem
ampliação da representação em direção ao incondicionado de un curÍlito cla razão pura, do qual Kant trata, na disposiçâo
traz ela mesrna consigo uma disc(rrdia da razâo pura. A icleia das quâtro antinomi.rs, na terceira ântinomia. Essâ e a ântinomia
cosmológica da corupletutle âbsoluta do surgimento de um tê no conceito dit razão que diz respeito à totalidade incondiciona-
nômenor'abre cm seu próprio desdobramento em direção a da do surginrento dc um fenômeno.'liatâ se agora, portanto, da
proposiçóes a contenda entre uma p|oposição e o seu oPosto. rePresentaçao da completudc de todos os fenômenos com yistas do
Nessas proposiçôes vem à tona, por sua vez, url conceito que seu surgímetlto, isto é, à sua condicionalidatle causal. Se a razão
Kant concebe corno liberdadc trirnscendental. As duas propo- pura tenta representar algo desse gênero, então ela chega às duas
siçôes dorúrinárias que se encontram em discórdia sào prropo- proposiçóes seguintesrsr:
siçôes que náo clizem respeito as duas ii questoes arbitrárias, l. 'A causalidade segundo leis da natureza nâo é a Írnica, a
mas se mostrânl como proposiçôes tâis "com os quais precisa pârtir da quâl os lenônrenos do rrundo podenr ser deciuzidos enr
se deparar necessariamente toda e qualquer razão huntana en.t seu cor.r.junto. É necessária aincla uma causalidade por liberdade
scu progresso",t" proposiçires doutrinárias das quais cada unra para a explicação desses fànômenos".
portâ em si juntamente com o seu oposto "uma aparência na 2. "Não se trata
de nenl.rurr.ra liberdade, mas tudo no nrun-
tural e inevitável'l As duas senrprc se apresentam por si uma do acontece sirnplesmente segundo leis da natureza'l
vez nrais tle maneira inesgotávcl como sendo a verdade, ainda lJssa scguntia proposiçio estabelece o oposto daquilo
que se as tenham desnrascarado. Na medida em que as duas que é dito em primeiro lugar. Kant o denomina a antítese
se encontram contrapostas em tcrmos de conteúdo e cm que em relação à primeira proposição conlo tese. Para as duas
as duas se fazem valer a cada vez conl o I'nesmo direito como proposiçóes, Kant oíêrece a cada yez umâ provâ; provâs, que
verdadeiras, elas se encontram em uma competição constânte devem mostrar o Íàto cle que nâ e pâra a razão pura as duas
c nc(cssiriJ. Deixlr ver cssa crrntPetiç.lrt e, ('onl i\s(t. d (onlPe' proposiçoes são igualmente verdadeiras e fundamentáveis.
tição interior essencial à razão humana enquanto tal e papel As provas se segue, então, a cada vez uma observação à tese
da antítética tronsce dental. Essas proposiçóes doutrinárias c à antítcse. As provas das proposiç<ics sào indlrefírs, isto é,
competitivas, mas necessárias para a razào humana, são deno clas partem da suposição do oposto do que é estabelecido na
minadas por Kant "pseudo - racion ais"ra"; elas não podem nem proposição a scr comprovada.
esperar por conlirmaçãtt, neÍn tenler uma refutaçlto ern meio à

217 Op. cit.,4,122, B 449. 250 Íde rn.

2,1It Op. cit., A 422, t] 449. 251 Cl. op. cit., A,120esegs., U 448esegs.
249 Op. cit., A 421, li 449. 252 OP. cit., A 444esegs., B 472esegs.

250 251
a) A tese da terceira antinomia. A possibilidade da causalidade tal uma scrie de fenômenos que transcorre segu.rdo lcis da natu,
por liberdade (liberdade transcendental) ao lado da causalidade rezâ. Um tal ser causa, um tal iniciar pura e simplesmcnte por si
segundo a natureza na explicação dos fenômenos do mundo nresnlo, é csPott..ríeidade absoluta, istt> é, líberdacie transcendental
como um problema universalmente ontológico que se lança para alenr da serie das causas naturais. Sem ela, a
Suponclo que nào haia nenhuma outra causalidade senão a ordem serial dos fenôn.renos nunca é complcta.
causaliclade segundo â natureza, cntão tudo aquilo que âconte- Na observação articulacla com a tese, então, Katrt câracteri
za cie r.naneira mais pornrenorizada o conceito de liberclade quc
ce pressupõe um estâdo anterior, ao qual cle invariavelntente se
seguc scguudo uma regr.r. Pois bem, o estado rznlcrlor mesmcr en.rcrge n.l tese e o seu significaclo. Ao mesmo tenrpo, ele explici-
ta tutlo aquilo que, então, é comprovado juntamente cont a proyâ
Prccisa scr trlgo quc aconteceu e ycio c ser no tcmpo c que antes
disso não erir. Pois se o anterior, como âlgo qur: caust, tivesse da tesc no que concerne ao scr do munclo e conro seria preciso
estado Íorlo o tempo Presefile, entáo sua consequência tambén] conrprccndcr o "primeiro inicio" cle unta ordern serial cletermi-
nào teria surgido enr primciríssimo lufiar, mas sempre teria sido. nacla por liberdaclc.

C) ser causa de unt acontccimcnto é senrpre ele mesmo algo que O conccito de liberdade transcentlental que emerge na
.lconteceu e tudo o que acontecc é sempre ele mesmo algo acon- tese não esgota, cÍn verclade, "todo o conteúdo do concci
tecido e tudo o que acontece aponta de volta para algo <1ue é sent- to psicológico dcssa assirn chamada libcrclade transcendcn
pre aincla mais antigo, ou seja, todo início é apenas "subalter- tal, fconteúclo] esse quc é eln sua rnaior parte empírico'ir55 O
nti'r" enr relação a algo anterior, suborclinado en.r relação a algo rluc signilica essa distilrção entre o conccito transcendentol e
antecedente. Portanto, não há nenhum início prirrelro na serie de o conceito ltsicológico dc liberclade? No conccito psicológico,
derivação das cirusas. representa se uma alma, un.ra fàculclade da alma, urra vontade
'Agora, porónr, existe justamente aÍ a lei da natureza: a lei tlue c pcnsada livre, ou seja, um ente tot.rlntente tlcterntinaclo,
segundo a qual nada acontece sern urna causa suficicnte detcr ao quirl não aceclenros de maneira alguma a partir da nrera re-
minada a priori'l']5r Mas precisamente essâ lei da natureza na prescntaçào cle ur.n ente, de um ente presente à vista, lnas que
c.rusàlidâde não conduz a ncnhum início primeiro, â nenhunta precisa ser dado paru nrí.s. O conceito transcenclental de liber
causâ suficiente determinantc. A lci da causaliclade curtradiz a si dade, em contrirpaltida, entergiu no contexto da questão acer
mesma naquilo que ela exige e of-erece. Portanto, no que concerne ca da complctudc dos fêntimenos, do cnte presente à vista cnt
à representação necessária da completude do surgintento dos fe- geral, abstraindo se totalnlente de como esse ente e segundo o
nômenos, a causalidade segunclo a natureza não pocle ser a únicâ. scu conteúdo material. A liberclade transccnclental é um con
Por conseguinte, tornâ-se necessária a suposiçào cle uma causa- ccito ontológico geral, a liberdade psicológica é um conceito
lidade, em cujo ser causa â causa não seja mais determinada por regionalmente ontológico.rlr' Mas o ontokigico enr geralencon
uma causa antcrior O ser causa da causa precisa ser enquanto tal
por ele mesno o que ele é, a íim de in rciar por sí mevno cnquanto 2ss Op. cit., A 4,18, B 476.
256 "Geral" nào significa aqui "l-ormal'l mas visa àquilo que aclvérr
253 (lf. op. cit., A 414,1\ 472.
a toda região enqLlanto região do ente eln tcrnos de determinaçõcs
251 Op. cit., A 4,16, l] ,17,1. ontológicas. Aqui só se chega a urra exçrlicitaçâo provisória.

252 2s3
tra se.iustamente enquanto tal em tudo o que e regionalmen- como condição de possibilidade da cxperiência c, com isso, do
te ontológico, e ele constittli iunto ao conceito psicológico de objeto da experiência.
liberdade a diÊculdade propriamente dita. Por isso, Kant nos O que, afinal, assim perguntâ Kant em seguida na obserya
diz: 'Aquilo, portanto, nâ questão acerca da Iiberdade da vonta- ção à tese, e comprovado na prova dessa tese? Propriamente só
de, que a razão especulativa estabeleceu desde tempos imemo- sedefiniu a necessidade de um início puro c simples para a com-
riâis em um impasse tão grande, só é propriamente ,rarusce, precnsibilidade do mundo, da totalidade dos Íênômenos, isto é,
dental, e diz sin:,plesmente respeittt ao fato de se uma Íàculdade um início do mundo a pârtir da liberdade. Iim contraparticla, o
precisaria ou não ser assumida Para que uma serie de coisas mundo que um dia começou pernranece algo em si efetuado sob
ou estados sucessivos se iniciasse por si mesma".l5'- Ent suma, a coerção de causas naturais. Isso sri deixa em irberto a possibi
o problcma da liberdade, a liberdade da vontade no Particular, lidade de colocar o decurso de todas as outras ocorrências do
e propriirmente um problema ontologíco geral no interior da mundo compietamente sob a causalidade da natureza e sob a sua
ontología da presença à vista dtt ente presente à visra em sentido necessidade. Não obstante, porque âgora se comprova de Íãto a
absolutamente amplo, em si, seguntlo o conteúdo propriamen- capacidade de se iniciar uma série no tempo, por mais que ela
te dito c1o problema, isto é, náo talhado com vistas a um ser não seja rectxrhecidir, "tambérn nos é permitido daqui por dian-
volitivo e em geral espirituirl. As coisas não se dão cle manei te'l em pleno curso do mundo,'ãeixar series diversas... começâ-
ra alguma cie tal modo, por exemplo, que Kant estabeleceria o rem por si mesmas", isto e, acolhcr algo presente à vista, substân-
ser livre, em verdade, como caráter de um ser espiÍitual, mas cias às quais e aduzida a capacidade de 'hgir por liberdade ir'3
trataria desse ser, então, no horizonte da presença à vista. Arl Lm outras palavras, com base nessa prova não é impensável
contrário, a presença à vista clo ente presente à vista nlesmo e que haja no interior do entc presente à vista e em meio ao decur
enquânto tal - Í)aturezâ e ser natural dcsdobra cm si o proble- so do seu acontecimento un1 ente que venha a agir livremente.
rrra de uma " açao livrt". Nós retornaremos a essa tese de Kant 'làmbérn nesse ponto não há nada definido quanto a se são os ho
que esclarece tudo e tomaremos Kant ao pé da letra. mens ou outros seres, [las, de acordo com o conceito ontológico
Flm termos gerais,.já é possivel ver uma coisa: com a nlu geral da ação, isso não significa senão que, no interior do decurscr
dança tundan.rental do problema da ontologia altera se o pro do acontecimento do ente presente à vista, algo pode se iniciar
blema da liberdade. A única coisa que pode se nlostrar colllo completamente por si mesrno. Lsse autoinício, porém, nào preci-
um problema segundo Kant é se algo do gênero da esPontâl'lei sa scr nenhum início puro e simples "segturdo o tempo", isto é, ele
dade absoluta precisaria e podcria ser assumiclo no interior do náo exclui o fàto de, segundo o tempo, algo diyerso ter se mos
ser e em relaçáo ao ser do ente presente à vistâ em sua totalidade trado como antecedentc c a açáo livre se seguir ao antecedentc,
(r'nundo). (lomo uma tal causalidade seria possível, e tào dificil apesar de não "suceder" a partir do precedente. Por exempkr, diz
de compreender quanto como é possír'el a causalidade da nature- Kant, quando cu agora "ml] levanto de maneira completamente
za. Pois tambem em relação à sua possibiliclacle, nós precisamos livre... de minha cadeira"']5", algo pura e simplesmente se inicia no
nos contentar com a compreensão do fato de que ela é necessária
2s8 Op. cit., A 450, 8,178.
257 oP. cir., A.149,8 477. 259 ldem.
mundo de acordo com a causalidade, não de acordo com o tem- A prova tamltént e aqui inclireta, Íindamentaclir con) a suposi
po e, com isso, se inicia uma série de outras ocorrências que se ção do contrário, ou seia, com a suposiçào tla verclade dir tese.
seguem dai. "Pois essa resolução e esse tàito náo residem tie ma Se, cor.rr isso, rra prova ria irntítese, a vcrclarle do oposto da tese é
neira alguma no clecurso dc mcros cfcitos naturais'l16(' cornprovaclir, cntâo ir colttenda clas duirs proposiçõcs vent à tona
Kant oferece por fim ainda um aceno historiológico para a como igualntentc verciacleira c contproviivcl.
filosofia antiga, cuja explicação do mundo, abstraintlo se de ex- Prova cla antítcsc: "Caso sc eslabeleça que havcria una liber
ceça)es, tâmbem se projeta para alem da série de causas naturais clacle no entendimcnto Irânsccnderlta], conto unt tipo pnrticular.
em direção a um primeiro motor assim acontece, sobretudo dc causalidaclc"'"', entiio cstaria dito com isso que a causalidadc
er.n Aristóteles, com o 7rpôÍov Ktvoiv ririvrltov (prüneiro mo' corno unt tlcixar se scguir pura c simplesntcnte se inicia. para
tor imóvel). O modo de ser do movimento dessc motor imóvel elir, por isso, trao hii nacla a par tir do que ela scria ainda ullerior
não é naturalmente esgotado, sim, nem nresmo tocado por meio mcr)te cleterm ir).ivel, por cxentplo, irté mesmo seguntlo lcis cons,
da espontaneidade absoluta, por meio do despontar sem inicio, lâDtcs. Flsse ser ctusa ele nrcsnro corro alçalo quc .rcontecc c ult-l
Krvsi dlq ÀpópÊvov (move como coisa amada). Isso é iustamente ente. Sc, contudo, não hii pirra ela nenhuma legaliclacle, ntas essa
uma ratificação da necessidade da razáo, tal como ela se expressa legalidacle, cortudo, pertencc à essência e às possibilidades clos
nâ representação de uma completude incondicionada do surgi- lênômcuos, clo entc presente'i\ vista, entilo é pensada na libcrda
mento dos fenômenos. de transcenclental unt ser cilltsa, que niio pocle ser ertr geral natla
É de grande importância ittentar para o tàto de que a tese presente ii vista, "unra coisa varziir procluzida pelo pensantento'ir6r
e sua prova estão completamente de acordo com a razão pura e Portanto, uma vez quc ir Iiberdadc transcenclcntal jii c oposta à lci
com suas reflexóes entregues a si mesmas e nào possuem nadar cirusal enquirnto lei, sri hri a naturcz.r. Se a libcrclacle eutrasse nil
de imposto e ârti6cialmente inventado. Kant quer dizer com isso carisarliclade tlo curso do ntundo, entilo não entrari.l ltcssc curso
que o que e estabelecido na tese e o que é comprovirdo por meio utr.ta outra Iegaliclacle, ntiris a ausência cle leis. A raturezir, a cuja
da prova é pensado e afrrmado em seu conteúdo e no moclo de essência pertence a legalidacle, seria, corl isso, crn gerirl suspen-
conclução da prova nas reflexóes da razão humana conlun enl slt. Ou, contudo, sc a liberclade- fosse um tipo de legaliclâde, cntão
suas mais divcrsas modulaçôes. Ora, o mesmo vale, então, para a ela não scria justameÍtte outra coisa sct)ão naturcza. Portanto,
antítese, que afirma o contrário, umâ afirmaçào que se comprovâ não hii nenhumir liberdade.'llclo o cluc- acontecc é clelerntinirdo
como tão concludente quânto verdadeira. pela fnculdacle prtipriir e lotal da nalurezir.
Com base na verdacle da antítese impLlta-se cont certczil
b) A antitese da terceira antinomia. A exclusâo da liberdade iro conhecimenlo unt peso constirnte, a slbcr, o peso cle buscar
da causalidade do curso do mundo o início em utn ponto sempre miris eleva<io. Ao mesuto tertrpo,
'Antitese: não há nenhuma liberdade, mas tudo no mun- porem, atàsta sc a tanttrsntagoria dc unra libcrdacle e o conhe-
do acontece pura e simplesmente segundo leis da natureza".rí'l cimcnto é mautitlo inofensivo para o peso por nteio tla conser-

260 Idenr. )62 lclenr.


261 Op. cit., A 445, B 173. 26-l ()p. cit., A 147, l\ 475.

256
vaçào cla ur)idade corrcnte c legitimir da experiência. A liberda natureza humana. Resta apenas questionar de maneira mais pro-
dc, cm contrapirrtida, ó, cm vcrdaclc, libertação da coerção, mas funda a sua origem. Antes de Kant se voltar para essâ pergunta
tambem do 6o condutor dc toclas as rcgras, porquc com cla cn e encontrar o caminho de uma resolução, náo do afastamento
quirnto um início puro e simples, que nào tcm nada irnterior a si, dessa antinomia, ele levanta para si a questáo: se temos diante
o fio condutor das regras arranca cla cleterminaçao clo aconteci- de nós esse jogo incessantemente oscilante do conflito da râzão
mento a indicaçãr) p.rra o retorno determinante .Io .Interior. pura, será que nós nos encontramos aí de maneira totalmen-
Na observaçào sobre a antÍtese, Kant mostra conro unr de- te isenta ou será que preferiríamos de qualquer modo, se nós
íensor da onipotência da nilturezn se clctêncleria da doutrina t1a perguntássemos sobre o nosso interesse, tomar um dos lados?
liberdacle. Uma vez que a unidadc da cxpcriôncia torna a todo E que lado seria esse?']67 Nosso interesse - com isso Kant não tem
ternpo necessária a permarnênciir cla substância, isto c, qr.lc scnrprc em vista quâisquer necessidades e desejos, mas aquilo pelo que
tenha havido substâncias no nrundo, tamberr niio é prcciso supor o honrem se interessa enquanto homem, aquilo que diz respeito
lenhuma dihculclirde no íirto de qLre a muclirnça tenha acontecid() a ele enquanto homem. Nos conceitos puros da razão, nas ideias
o tempo inteiro, de rpe não haveria ao nlesnro tempo nenhLlm (alma, mundo, Deus), oferecem-se "perspectivas em relação às
primeiro inicio. (lonr certeza, a possibiliclade cle unra tal cleriva Íinalidades últimas (imortalidade, liberdade, l)eus), nas quais
çáo infinita não tenr como ser concebicla.'Ial incorr.rpreensibilicla todos os empenhos da razào precisam finalmente se unir'l26s
cle, porem, não é nenhunr argurnento concludentc pirra clinrinar O conflito, por exemplo, que nós apresentamos, diz respei-
"esse enigma dl nirttLrcziii Oaso se qLrisessc ceclcr a cla, cntão tirnr to de maneira totalmente genérica a todo ente presente à vista.
bém seria preciso rcjcitar a "mudança", umir vcz quc sua possibi I)esse ente tâmbem faz parte o homem singular como uma parte
lidadc tirnrbér'n precisa se rnostrar conro "escanclirlosa l"' "Pois, presente à vista da totalidade do mundo. A dissonância inerente
se não se descobrisse por meio da experiência rlue esse enignra t1 à antinomiii de saberse há ou não no interior do ente presente à
cl-Cliví), c|ltilr) v(r\ nun!J I'r,dcrrcis irn.rgirt.rr il lrt ir)ri rr)ntr) :eri.r vista algo tal que possa iniciar por si mesmo uma série de acon-
possivel uma tal sequência ininterruptâ de ser e não ser'lr"' tecimentos, essa dissonância universal transforma se, quândo o
homem particular a àrticula consigo conto um ente presetrte à
c) A distinção das icleias cosrnológicas na questâo acerca vista, na questão de saber "se cu seriâ guiado livremente €m mi-
da possibilidade da metafísica propriarnente dita nhas ações, ou, como outros seres, se eu scria guiado pelo 6o da
e o interesse da razão em sua resolução natureza e do dcstino'lrí" Será que sou livre ou será que tudo não
Assim, tese e antitese sâo igualmente necessárias, igualrlen passa de uma coerção natural? Na medida em que nos decidimos
te vertiadeiras e igualnrenle clenronstriiveis cle nraneira eviclente. pela tese, que lhe damos a preferência, nós nos decidimos pela
Seu conflito e uma "impureza"r"" interior que pertence à prír liberdade, e, em verdade, não como nrera ausência de vinculos,
prja râz.io. Essa inrpureza não pode ser arrancirdir c atàstada tla mas precisamente como condição de possibilidade da responsa

161 Op. cit., i\ 451, B .179. 267 Cf. op. cit., A 465, U 493.
265 ldenr. 268 Op. cit., A 463, U,191.
266 Op. cit., 4 .16.1, li 492. 269 Idem.

258
bilidade. Com isso, temos em mente a possibilidade da morali- das vezes não está nem mesmo em condições dc ver seu próprio
dade em geral. Na decisâo pela tese se mostra, entáo, um certo conflito sem preconceitos. C) nexo da tese corn o interesse geral
interesse moral.rto Ao mesmo te mpo, porem, mostra-se um inte do homem aponta, então, efetivamente para o fato de que,'taso
resse especulativo, isto é, puramente teórico, na medida em que se chegasse... ao fazer e ao agir'l "esse jogo da nrera razâo espe-

o que nos importa é poder tlar uma Íesposta satisfatória, isto é, culativii'entre tese e antitcse desapareceria "como imagens das
concludentemente aquietadora à pergunta acerca da totalidade sombras de um sonhri'e o homcm 'tscolheria seus principios
do ente presente à vista, uma possibilidade que não se apresenta merârnente segundo o interesse priitico'1r;-' Por outro Iaclo, "nã<t
do lado da antítese. Como o intercsse prático e teórico universal se pocle censurar ninguém, nem se pode impedir alguem de dei-

da razão humana tem uma inclinação naturalpara preferir a tese, xar enrergirem as proposiçoes e as proposiça)es opostas, tal como
seu conteúdo tcm uma certa popularidâde, que Íàlta à posição elas podem ser... deÍêndidas'1t'6A partir de tudo isso vem à tona
oposta. É exigido aqui um ascender sem pausa a causâs que se o seguinte: a razão pura nào porta âpenas esse conÍlito cm si, rnas
encontram cada vez mais atrás, aqui o conhecimento nunca che as tornadas dc posição possír,eis são diversas entre si e possucm
ga a um ponto íirme, no qual seria possível um aquietamento e uma legitimidade un.las en.r rclação às outras.
uma tranquilidade, mas o hontem se acha ai antes pendurado Precisamos abdicar aqui, no contexto de nosso problema,
"no ar todo tempo pelos pes'?7r Assim, com base na antítese, que de acomçranhar de maneira fundamental o problema das an-
de certo modo não se mostra como base alguma, uma vez que tinomias que foi desdobrado por Kant e de pcrguntar sobre o
não conlêre nada primeiro e nenhrrm início, não e possivel ne- cnraizamento originário clesse problema na essência do ser-aí
nhuma instauraçâo de um ediÍlcio completo do conhecimento.2Tl hunrano. Isso signiÍica ao mesmo tenpo abdicar de questionàr
Como, então, "a razáo humana..., segundo a natureza," e "arqui criticamcnte em que meclida.ls antinomias expostas por Kant
tetônica"r7r, isto é, como cla considera todos os conhecimentos sáo pura e sinplesmcntc nccessárias, em que medida elas sur
como pertencentes a um sistema possivel, "o interesse arquitetô gem simplesmente com base no estabelecimento especificamcn
nico da razão Ieva consigo... uma recomendação natural para as te kantiano do p«rblema da razào e da questáo acerca do homern

afirmaçóes da tesc".rta Com isso, está dito ao mesmo tcmPo que conro necessários. Para nós, o que está em questâo é apenas a
a direção principal do questionamento e da resposta metafísicos posição do problema cla liberdade no intcrior cl;r metafísica, ver
propriâmente ditos, emergindo da 'disposiçáo natural" do ho- seu caráter metafisico e uniJicar esse primeiro caminho até a liber-
mem, é dada por meio da tese. [sso, porém, considerado pura- dade c<tm o segundo.
mente segundo o conteúdo, não lhe dá nenhum privilégio diante O prctblena dd liberdade perte cc ao problema do mu.ndo.
da antítese, mas indica apenirs que a razào humana na maioria A problemática cresce como antinomia de uma ideia cosmológi
ca, do conhccimento racional da totalidade absoltrta da série do
27í) Cl op. cit., A 466, B 494. surgimento de um fênôrneno. A idcia cosmológico do liberdade,
271 Op. cit., A 467, I] 495. ;rorem, ainda experimenta tnta deterntinaçao e uma distinçã.o
272 CÍ. op. cit., A 47,1, B 502.
273 Iiiem. 275 ldem.

)74 Op. cit., A,175, ti 503. 276 Op. cit., A 475eseg., B 5()3eseg.
pdrticulares por n..eio do fato cle que as idcias cosmokigicas pos
ções que se contrâdizem nlutuâmente, não se mantivessern junto
suem um significado anterior a todas as outras ideias (as psico àquilo com o que elas estào relacionadas enquanto icleias cosnto
lógicas e as teológicas) en um aspecto detern.rinado, de tal nodo lógicas, os Íênômenos, e, antes de tudo, não com o modo como o
que não e possível se subtrair à tareÍà da resolução cle seu confli objeto dessas ideias nos é dado. Se refletimos sobre isso, contudo,
to. A tentação é naturalinente grande. PoderÍamos nos reportâr então encontramos por lim a chave para a soluçáo c para a ori
ao fàto de que seria uma "baztifia descarada" e un1 "sentimento gem desse conÍlito. Se ele se baseasse ent unra ilusão, então essa
de superioridade digressivri'r" querer resolver todas as questa)es ilusão precisaria se dissolver e seria dado, conl isso, um câmi
e que seriâ desejável se portar de maneira pura e simplesnren nlt,, parr resolvcr .r qucrclu e inscrir positiramentc o rcpr(.\cn-
te modestâ em relaç;ro a essas questões derrardeiras da razão. tado nas ideias na possibilidade da experiência. No entanto, se a
A questào é <1ue essa proteção previa cle unra obscuridade in.r querela tivesse que permanecer apcsar disso, entao precisaria ser
penetrável clas questôes últimas pocle ser possivel jrrr.rto às icleias buscado de qualquer modo algum caurinho qualquer para resol-
psicológicas e teológicas e sc mostrar conro un sinal de uma mo- vê la. No que concerne ao problema da liberdade, isso significa: a
déstia e cle unr recato rcais e eÍêtivos. No que concerne iis ideias liberdade como ideia cosmológica náo fica simplesmcnte paratla
cosmológicas, poróm, um tal conrportamento não e admissÍvel, como o conceito oposto à car.rsalidade da natureza, ntas a conten
isto é, a resolução dcssc conÍlito é nccessária. Em tlue nreclida? da entre as duas cxperimenta uma resolução, de tal nrodo que a
O objeto das ideias cosmoltigicas é a tdalidade clos íenôrrenos. possibilidade da unidade clas duas causalidade por libcrdade e
!,ssa completude do ente presente à vistâ em suâ presençâ à yista causalidade segundo a naturezn nio é ao menos irlpensável.
não é, em verdade, empírica e nunca é dada. Não obstante, o que Mas mesmo nos abstraindo completâmente da perspectiva
é denorrinaclo e visado tenlaticamente nas icieias cosmológicas, de uma possível resolução da contenda, já se tem algo essencial
cosmos, naturez.l, é, por outro lado, precisanrente o objeto possí no fato de que se apresentam urls contra os outros na àntitética
vel da experiência. Nessas irleias, o objeto precisa ser pressupos os argumentos da ràzão para as suas proposições. Kant denomi
to corno dado e as questôes, que desencadeiam essas ideias, não na esse método um metodo cético. Ele não serve a um ceticismo,
dizerr.r respcito justamcntc a outra coisa senão à completude da a una ntania de duvidar ou mesfi)o ao desespero em relação à
síntese da experiência. O objeto c nclc mcsrno conhecido. O tlue possibilidade da vcrdacle, mas é ske/vij no signiÍicado autêntico
e daclo aqui corno conhccido tambenr prccisa fornecer o critério da palavra - um mero olhar fixo voltado para o um contrâ-o-
cle n.reclida para o julganrcnto das ideias e para o rttodo conto o outro, para que nos dois lados todos os argumentos sejam tra
objeto dessas ideias nos é dado. As ideias cosmológicâs não são, zidos à luz e a contenda alcance sua agudeza mais extrema. pois
em verdade, realizáveis, isto é, a totalidade não e apresentável e somente assim e que ela pode ser resolvida, isto e, somente assim
não tem como ser dada enquanto tal intuitivârnente, mas a sua ela yem à tona conl vistas aos seus pressupostos ou vern à tona o
rr:presentaçâo precisa ser de qualquer forma seguicla toclo o [eln fàto de <1ue e err.r que medida precisa residir nessa contenda uma
po â pârtir de algo dado e para ele. Poderia ser que essas ideias, Íàlsidade. Essa Íàlsidade nos leva uma vez mais por meio daí para
no modo como elas Írlesn1as errergen.) e expÕem por si a6rma uma descoberta da verdade.r:3

277 Op. cit., A 476, B 504. 27lt Cl op. cit., A 507, B 535.

262
§ 24. Determínações prcparalórias (negativas) para porém, algo é assumido e se fàz passar por aquilo quc ele não e e
a resolução do ten:cira lntínomía vice-versa. Nesse caráter comunt da razào reside, por isso, sim,
plesmente ilusâo e engano.
a) O engano da razão comum no manuseio de seu princípio Em que medida esse princípio fundamental cla razão se tor-
Ntis vimos, tlue o colrcr-ito transcendental tla liberdade na comunl e indifcrenciado? Nós clissemos de saícla de maneira
emerge no interior de uma fbrmação de ideias, isto e!, de unta generica que, nesse princípio fundamental, o que está em jogo
representação necessária, junto à clual a raz.ào faz valer o seu é o condicionado e ar condiçâo. lá o conceito do condicionadcr
princípio cle uma reprcsentaçáo necessária, cntre outras coisas trâz consigo o tato de que é representada aí a ligação cont uma
justamente no interior daquilo clue se remcte paftr os objctos e - condição. Reside, por colrseguinte, no conceito do concliciona
para a sua nrultiplicidade, na medicla em quc cssa rnultiplicidade do a indicação do retorno a uma contlição, dito dc outro nlodo,
é uma série da síntc-se, retrocedettdo e:rcedendo clo contliciona esse retrocesso à serie das condições é enlregue como lareJu no
do parir as condiçires. Nesse.rspccto, a liberdade seria uma cau- conceito do condicionado. Essa tarelà já se encontra efetivan.ten-
saliclade incondiciurada. Que principio faz valer aí ar razão? Se o te pÍesente na relação em geral que é apenas representada eutre
condicionatlo é datlo, entào toda a série de todas as condiçi>es dtr a concliçáo e o condicionado, abstrainclo,sc completamente do
condicionado tambénr é datla. tlue é clado como condicionado, de se algo en.r geral é rnesmo
Sc cscutnmos esse principio, então presscntimos de qual dado. I-lssa tarefa subsiste puramentc enquânto tal para o dcter
quer modo uma clissonância qualquer, ainda que náo coltsiga n]inar pensante, para o lo/go.j. A tarcfa dislintiva do conceito do
nros tlizer cortt tocla clarcza, onde e que ela possui a sua sede. Só condicionado, â târetà do retorno às condiçôes, é, por isso, unr
subsiste cle início a suprosiçâo de que csse principio é englnador postulado puromentc lógico. Não obstantc, na medida cm que ele
Iim tlue consiste o cngirno? De que se fala em geral nesse prin- se nlostra como um postulaclo puraurente lógico, ele não apenas

cipio? De uma condição e do conclicionatlo, cla relação do con- não diz Íàtictrrrente nada sobre a relação de uma condicionado
dicionado com a condição. Sonrente disso? Nào, mas tirmbem daclo com a dação de suas condições, mas ele tambem não pode
cla relação tla dação do condicionado ct»l a clirção da condiçàtr em geral dizer nirda sobre isso. Se, por isso, o postulado lógico e
e de tocla a suir série, da conclição da daçáo de toda a série clas eh,rcidativo em scu signiÍicado c cm sua legitinridade - o fato de,
condiçôes. Sc fàla ai de algo bem diverso e de muitas coisas, e nós .juntamente com algo condici<»rado, estâr dado o retorno a umâ
luotamos irgora que, se cnunciamos assim o principio titnclanlel.t condição -, entâo isso niro significa de maneira alguma que se
tal, não nos vem i\ cabcça fazer jus ao seu conte(rdo pleno. ApesaÍ pode dizer com razâo que: cortr a daçào de algo condicionado
tlisso, acreditanros quc simplesmente o comprcendemos, percc tambérn está r/arla a condição e toda a sua série para frente. Essa
bemos e que poclenros aplicá-lo. Nós isto é, a razão contuÍIr. No diferença ÍLndamental entre a rc'lação do condicionado com a
que consiste o caráter cornum na concepção e no ntanuseio desse condição, por unt lado, e, por outro lado, a relação da claçào de
princípio íunclan.rental? O comum é o indiferenciado, aqr.rilo que algo condicionado com a dirção das condições - a primeira rela-
reúne tuclo elr'r ulrl c, por isso, sem perceber, toma de maneira çâo é uma relação lógico-conceitual naquilo que e apenas pensa-
homogênea o em si ciiverso, estabelecendo um pelo outro, por do, enquanto essa seguntla relação se mostra conlo uma relação
mais que clcs sejam completancnte ditêrentes. Por rleio dai, ôntica e fática no acontecimento temporal da experiência é a

261
primeira coisa a ser desconsiderada pela razão comum e equipa intuir possibilitador precisa intuir desde o princípio aquilo que
râdâ com algo indiferenciado. é por ele representável.
Mas a sua igualação vai ainda além. O que acontece quan- Esse deixar que os fenômenos venham a se dar encontra-
do a razáo comum acolhe o princípio fundamental com vistas se sob condiçóes determinadas, a saber, eles precisanr vir ao
ao discurso sobre o ser dado do condicionado? Um condiciona- encontro no espaço e no tcmpo, que náo sào os dois coisas em
do é dado, isto e, há um ente qualquer (coisas). Se essas coisas si as quais também estâriam presentes à vista, "ao lado de" e ao
são enquanto condicionadas, entáo é preciso que o condicio- mesmo tempo com as coisas intraespaciais e intratenporais,
nante serâ juntamente com elas, ou seja, a série completa das mas que são os dois modos da representâção, que pertencem
condiçoes e o incondicionado mesmo.iá precisam ser com ainda ao homern, de tal forma que ele deixa tudo aquilo que vem âo
mâior razão. Aqui, no discurso sobre a daçáo, não se pergunta encontro se mostrar desde o princípio no horizonte de espa,
de maneira alguma sobre o que, quando e como algo é dado, mas ço e tenrpo. Todas as relaçôes do ente que vem ao encontro
se considera óbvio que aquele que fala assim e que compreen- são, por isso, clesde o princípio determinadas como relaçôes
de o princípio fundamenlal, isto é, o homem, simplesrnente, rle temporais. lsso também e válido, então, para a relação entre a
maneira incondicionada e de modo puro e simples, conhece as claçâo que vem ao encontro do condicionado e a dação das con
coisas tal como elas são, e, por isso, pode decidir a sua coexistên diçÕes, isto é, se o conclicionado é dado no fenômeno e como
cia condicionada e condicionante. O discurso sobre o ser dado fenôrneno, então ainda não se segue dai que tambem estaria
do condicionado e da condiçào nào se mantém apenas nessa dada concomitantemente, isto é, ao mesmo tenpo e de uma
indeterminação, mas essâ indeterminação é ao mesmo temPo a vez, a unidade da relaçào temporal do condicionado colll â sua
obviedade da opinião de que o homem cognoscente conheceria condição. Ao contrário, essa série e sempre apenas sucessiva
as coisas de maneira incondicionada, tal como elas são pura e e e dada no tenpo como uma condição depois da outra. Por
simplesmente nelas mesmas. A razáo comum desconsidera que isso, o principio fundamental não pode ser: se o condicionado
nós, para termos um ente como dado, precisamos alcançar un.t é dado, então toda a série de todas as suas condiçóes também
conhecimento do mesmo, precisamos atingir primeiro o entc e dada. A única coisa que pode ser dita é que, com a clação de
e, de acordo com isso, precisâmos tê lo sulicientemente como algo condicionado no fenômeno, também é dado o retorno à
um ente que.já é anteriôrmente. Nós precisamos deixá-lo vir ao série das condições e que t.ris condiçoes não poderiam faltar,
encontro, a fim de ter enquanto tal aquilo que se mostra. O ente mas nâo que elas estariam presentes em sua totalidade. Assim,
só nos é dado como algo que se mostra, como fenômeno, e esse vemos o procedimento comurn da razâo na concepção e no uso
deixar que se dê se encontra sob condiçôes determinadas, sob desse princípio fundamental.
aquelas condiçôes nomeadamente, que possibilitam para nós Á linr de apresentâr ainda uma vez rnais a igualação das
uma representâçáo acolhedora, isto é, intuição. Aquilo <1ue pos difcrenças, âpresentaremos o princípio lundanental em sua
sibilita o acolhimento pertence a ele necessariamente. Se aco tunção en<luanto princípio, isto é, enquanto premissa maior
lhimento e intuição, então aquilo que precisa ser possibilitado tle um siJogismo na unidade com l:sse silogismo, no silogis,
também precisa ter o caráter intuitivo. O que possibilita algo é, mo da razão, com cujo auxílio, segundo Kant, a razâo chega às
em face daquilo que e possibilitado, o anteriot o precedente; o suas ideias cosmológicas, dentre elas a ideia de liberdade. Se

266 267
o condicionado e dado, então tambem e dada toda a serie das b) A diferenciação entre fenômeno e coisa em si ou entre
condiçoes dessc condicionado, o incondiciot.tado. Pois bem, o conhecimento finito e infinito como chave para a resolução
incodicionado e dado naquilo que surge e se segue â um ou do problema da antinomiâ
tro. Portanto. o incondicionado de um tal suceder-se e dado, Com certeza, ainda não se provou com isso que elas n;ro te-
o ser causa pura e sintplesmente inicial, isto é, a liberdade. A nham razão na coisa mesma, naquilo que elas aÍirmam enquanto
razão cclmum equipara de saída a evidência da relação concei- proposiçôes na conclusão do silogismo. Urna proposição pode
tual puramente ontoltigica de algo condicionado que é e de sua muito bem ser vcrdadcira, ainda que a demonstração de sua ver
condição essente. O ente é, nesse caso, tontado como coisa em dade seja enr si frágil e ilegitima. Se esse último ponto tiver sido
si, isto é, sem levar em consideração as condiçoes de sua da- mostrado também em relação à tese e à antítese, entào o conflito
ção possível. Justamente esse ente é tomado, então, na premissa continua perdurando de qr.ralquer rnodo conto antes, isto é, os
menor desse silogisrt'to, cono fenômeno, sem rtaturalmente ser clois sempre podem continuâr se "refutando nruito bem" mutu-
reconhecido com esse signilicado. O que já é enunciado agora amente.23' Por conseguinte, o conflito só pode ser apaziguaclo,
de maneira injusta sobre as coisas em si é transportâdo em se se tbr mostrado que os dois lados não estão brigando por nada.
guida uma vez mais para os Í'enôntenos, rctirando-se daí uma Uma certa aparêr.rcia tinge para eles previamente uma realidade
conclusâo, que porta sua ilegitimidade na fronte, supondo que efetiva, lá ondc no funclo não há nada para alcançar, de tal modo
o procedinrento comum cla Íazão enquanto tal tenha se torna- que o conflito é em si nukr. Precisa-se perguntar que caráter, en
do transparente. (J caráter contum tla razáo consistc, Porém, tão, tem essa contenda entre tese e antítese. Que tipo de contra
em últir.na instância no Íàto de quc ela náo se afirnra sempre ditoriedade (oposiçáo) reside nas antinomias?
apenas llcssa sua inclitêrença conro o que há de mais ribvio, mas Plra Jeterminar o tipo em questào. procurrrclnos nos
impede a si mesma justanrente por meio dai de chegar a uma manter junto à terceira antinornia, a única que loi tratada por
transparência. Âssim, Kant pode dizer: a razão comunt t'ltovi nós até aqui, colocando a para esse finr sob uma forma, na qual
nlenta se em uma "ilusão totalmente natural"2t" com esse prin o conflito vem à tona de maneirir n.rais palpável. A tese alirnra a
cípio fundamental c com o seu uso rra formaçào cosmol(rgica liberdade como causalidade incondicionada, como início origi
das ideias, Íormação essa clue conduz para o desdobramentcr nário, em relação ao qual nada sc mostra como unr antccedcnte,
das antinomias. O princípio tundamcntal, porém, residc tanto aquém do qual não há nenhum "e irssim por dirnte" em dircção
à base cla tese, quanto da antítcse. Por meio da clarificação do a novas condiçôes. Por isso, também podemos formular a tese
engodo que se encontra no princípio fundan.rclrtal, então, de assim: a série das causas ordenadas umas sobre as outrâs é em si
nlonstra se o "solisnta"tn" dars duas proposiçoes no modo cott.to Íinita segundo a sua totalidade. Agora já fica patente o que diz o
elas se mostram como verdadeiras. De acordo com isso, â pre lado o-posto: a serie das sínteses regressivâs das condições e em
tensáo das duas cle serem efetivâmente demonstráveis e auten si infinita. Dito de mancira lrreve, a contenc]a assume agora a
ticamente demonstradas é reieitada. seguinte forma: a natureza e finita il natureza não é finita, é in
linita. Uma tal contraposição é denominada uma simples contra
)7t) Op. cit., A 500, B 52ÍJ.
280 oP. cit., A 501, lJ 529. 28 t ldem.

268
diçáo. Na medida cm que, então, tornânlos o conflito conro uma precisa encontrar a sua determinação a partir e na essência do
simples e "direta'contradição, isto é, tâl como a razão comum o conhecimento. Demarcar a finitude do conhecimento ern sua
considerâ, jogando os lados constantemente uns contra os ou essência, no entânto, é a tarefa fündamental, que a 'trítica da
tros, já pressupomos aí que a natureza (ser mundo) é uma coisa razão pura'coloca para si em sua primeira parte basilar positiva.
em si, isto é, que ela é pura e simplesmente, e que elâ nos é dada Por isso, se a dissoluçáo das antinomias enquanto tais ocorre,
em seu todo de maneira absoluta, que ela é absolutamente reco, dissolução essa que só e possivel con.r base na dita difercnciação,
nhecida. Nessa pressuposição silencia se o fato de que â natureza então a doutrina alas antinomias é pat'a Kant âo mesnro tempo
enquanto conceito fundamental dos tênômenos não constitui de a demonstraçâo indireta daquilo que a estótica transcendental
maneira alguma a existência absoluta. Uma vez que cla não e o tinha de demonstrar positivamente. Kant nos diz isso de ntaneira
ser-em-si, não pode nem ser clito que ela é em si finita, nem que inequívoca, anunciando com isso por si mesmo o que está em
ela é em si infinita. O pressuposto das duas proposiçôes, da tese jogo na "critica da razio puriii Agora comprecndemos por que o
tanto quânto da antítese, é na mesma medida fâlso. Caso sc su problema das antinomias pôde sc tornar o impulso clecisivo para
prinla esse pressLrposto falso, isto é, essa ilusão, então o coDflito a "crítica da razão pura'de Kant: conro a meditação sobre a di-
supostamente âutêntico se transÍbrn1a enquanto contradição em ferença entre coisa em si e fenômcno, entre conhecimento finito
um conÍlito ilusório, isto é, em un.ra oposição dialetica. As duas e inhnito é neccssária para.l sltâ solução; dito cle maneira miris
proposiçoes não se contradizem apenas, mas as duas tlizem mais exatâ, corno esse problema compele a dcscobrir essa diferença
do que é nccessário para a contrâdição; c esse mais reside no fàto pela primeiríssima vcz enquanto tal e a fixá lo como o centro de
de que elas Íàzem passar aquilo sobre o que elas falan.r por uma todas as outras problemáticas cla metatisica.
coisa em si, por aquilo que ele não é. Elas trabalham com urnil Naturirlmente, tambem vemos na explicitação critlca cla
ilusão e, em verclade, como vintos, com umâ ilusão tal que é ne nrctaphysica specialis a iresma postura fundamental de Kant, tal
cessária pârâ â razáo natural conlunt.rsl como ele a perseguiu na demarcirçâo e cieterminação críticas cla
O conflito e suspenso por meio da comprovaçáo de uma metaphysic;r generalis (ontobgia). A iinitude do homem não Íài
pressuposição tàlsa de que os fenômenos são considerados como decidida e não se mostra fundamentalnrente com vistas ao pro
coisas em si, isto e, de que os dois não são diversos. Essa dife- blema de uma fundamentação da metafisica em geral e nos limites
renciação, contudo, é necessária no que concerne ao interesse desse problema. Na doutrina das antinomias, Kant se satisfaz, e o
da razão, se é que a razão deve tornar a si mesma transpârente faz com razão no que conccrne às suas finalidades n.rais imediatas,
em suas próprias possibilidades autênticâs e, com isso, em suas com a exposição do conflito, com a suà resoluçâo e, com isso, com
necessidades. Essa diferenciação, porém, entre tênômeno e coisa a referência à ilusão natural que reside nâ nâtureza do homem.
em si não é outra coisa senão a diferenciaçáo entre conhecimen A razão natural é uma razão comum, nâ medida em que ela ni-
to finito e infrnito, ou seja, o problema da razão pura precisa ser vela diferenças essenciais, tornando-as contuns, oLr não as deixa
reconhecido como o problema da razão pura frnita. Nisso reside, em geral emergir. Pertence à natureza da razão humana esse ca
além disso, o fato de que â linitude da natureza humana também ráter comum. Não é preciso apenas mostrar isso de maneira mais
abrangente e originária, mas e necessário antes de tudo tornar vi
282 Cf. op. cit., A 506, B 534. sível esse caráter comum natural conlo um momento essencial da

270 271
Íinitude. É preciso mostrar por que esse caráter comum pertence só é possivel pela via de uma resolução da contenda, isto é, por
à razão naturâl e no que consiste propriamente esse caráter No meio de uma demonstração de que a origem da querela não dá
modo como tenlâmos interpretar acima o uso do princípio da ra razào alguma a essa quercla de exigir para si uma decisão. Muito
zão, já tínhanios apontado a direção na qual a resposta tem de ser pelo contrário, a origem da qucrela não lhe dá senão precisa-
buscada. O que é que se anuncia em tal apag;rmento das diferenças mente o direito de, na natureza humana, lançar tudo ent uma
entre o lógico, o ônticoo ontológico, de tal modo que tudo é con-
e constante confusáo.
siclerado de maneira igualmente indeterminada como "ser"?rsr A resolução da querela, a consideração da origem, acontece
em duas etâpâs:
§ 25. A dissoluçào positiva da terceira antinomid. 1. Mostra-se que o princípio, com base no qual as conclu-
LiberLlade como cousalidade da razão: ideia soes sofísticas conduzem a proposiçôes conflitantes, no modo
tronscendental de umu causalidqde incondicionada. mesnlo como ele atua enquanto princípio, é enganador. O que é
Caráter e limites do problema da liberdade no interior válido para relaç<ies puramente lógicas e considerado como váli
do problema da antínomid do para relaçôes puramente ônticas e cssas relaçôes, por sua vez,
são uma vez mais concebidas, ora no sentido de tais relações que
a) A dissoluçâo do problema das antinomias para além só são acessiveis a uma conhecimento absoluto, ora no sentido
do problema do conhecimento Íinito como problema de tais relaçôes que pertencem âo conhecimento linib. Aquilo
da finitude do homem em geral que e válido para o conhecimento absoluto não e válido para o
conhecimento Íinito e vice-versa. Não é apenas o principio da
Na resposta a essa pergunta, nós concentraretnos o sentido
d.rnon5lraçào das prova., das Juas propo\içóe\ Jnlinôn)icJs e.
de nossa rneditação uma vez mais no problema da libeniade no
com ele, as demonstraçôes mesmas, que são enganadoras, mas
inleríor do problema das antinomids. Se seguirmos Kant em seu
o contcúdo material oposto das próprias proposiçÕes também é
primeiro caminho rumo à liberdade, entáo encontraremos a li'
em si nulo, trata-se de uma oposiçâo ilusória.
berdade no interior do problema das antinomias. Esse problema
2. Nâ câracterização mâis próxima da oposição se mos-
assume a forma do problema do mundo como a questão funda-
trâ que náo há nenhuma âutênticâ contrâdição, por<1ue as duas
mental da resoluçáo crítica da disciplina metafísica trâdicional
proposiçóes: â nâtureza ern si é Íinita - â nâturezâ e em si in-
da cosmologia racional. No interior do problema da antinomia e
íinitâ, dizem algo sobre a naturezâ que ela eíetivamente nácr
no ürterior da contenda das duas proposiçôes, o discurso precisa
é. As proposiçôes dizem nrais do que aquilo que é necessário:
se âter respectivamente nos dois casos à liberdade, e, em verdade,
uma contradição dialética, porque uma contradição que Í-orma
em sentidos opostos: trata-se da liberdade ao lado da e na natu-
uma ilusão.
reza trirta se apenas da natureza e de modo algum da liberdade.
A conclusão dessc dultla dissoluçao é a diferenciação entreJb-
A contenda náo pode ser decidida de tal modo que a verdade se
nômeno e coisa ert si, diJcrencíação essa 4 d porta em si o proble
cokrque de um laclo rlaqueles que estão em conÍlito. Uma decisáo
ma da Jinitude do conhedmento. Essa linitude do conhecimento
torna-se um problema em meio à demârcação do ente acessÍvel e
283 Cf. acina, p. ,12-3 e 143. A "indiferença'da compreensão de ser, a
da condição de possibilidade de sua acessibilidade.
"ausência de dit-erenças" era um dos oito caÍacteres enumerados.

272 273
O que, porém, significa a ausência de diferenças entre os nas antinonias seria um problema nulo. Ele mesmo desaparece
dois? Trâta-se apenas de urn erro da metafÍsica tradicitxral ou com as antinomiâs assim dissolvidas?
trata-se de algo essencial. Se o questionamento metâfísico per- Nós nâo conseguimos ir além do reconhecinrento talvez de
tence à natureza humana, entáo também pertence a ela sssí, cisivo: a líbeniade é esLabelecida no sentido de um conceito trans
inversao peculiar, aJtrmatla como necessária pelo próprio Kant. cendental de natureza, Com certeza, esse é o resultado nu e cru
O que é que, na naturcza hurrana, possibilita essa inversão? Nós e, de qualquer modo, não o resultado propriamente dito, aquele
.já o insinuamos: o modo dd cctmpreensao de ser, isto é, sua in que enrerge a partir tla compreensão propriamente dita do pro-
diferença. De onde vem e por que essa indiferença acontece? blena. O problema era a resoluçâo da contenda entre causalida-
É possível vislumbrar ainda a necessidade disso a partir da pr(i- de segundo a natureza e causalidade por liberdade. Dissolução da
pria compreensáo de ser? Em tlue medida esse modo de ser é contenda signiíica com certeza de saída o seguinte: afastamento
necessário e ele não é mais criticâmente questionável por meio cla irrpurezu, cuiJar plra que ela nao cxistl e rráo exista rnai\.
de um outro "por quê"? O que isso signi6ca? É preciso trazer Ou seja: trata se, em certo sentido, de algo negativo. A dissolu
à luz a Jtnitude do homem para além da mera linítude tle seu ção propriarrente dita cla contenda, porém, precisa levar a algo
cctnhecimento, É preciso deixar que essa finitucle se nostre; não positivo, à possibilidade d,a. unidade dos dois contendores. Per
para constatar quc c ondc cstão os limitcs, ondc a coisa chcga ao guntar sc á: por quc? Kant responderia: em primeiro lugar, por-
lim, onde tudo cessa, onde se abre o não-seguir-além, mas para que a razão enr geral, mesmo enquanto razão Íinit.r humana, tem
despertâr a serenidacle e a contenção interna, com a quirl e na por principio fundamental a unidade; e, então, porém, porque
qual o essencial se iniciâ e â partir da qual apenas ele subsiste precisamente as ideias cosmológicas estào ligadas de maneira
enl scu tempo. peculiar com a experiência, que representa cla mesma uma uni
Se o problema tirndanrental de uma Íitndamentação da nre- clacle da estrutura lcgal, Portanto, sri se uma unificação positiva
tafisica, tal conro ele se mostra na Crítica da rdzao pura, está tto tiver sido alcançada, podercmos conceber o cernc metafísico do
problema da linitudc do homem, então quanto mais abrangen problema da antinomia e do problcma da Iiberdade. F'oi para nos
tenrente e totalnrente atravessamos a Orítica da razào purd, tirÍrto aproximarnros dessa meta que serviram as discussões anteriores;
nlâis se torna urgente conl maior razão e cada vez mais incon nào apenas, por exemplo, pârâ uma complementação extrínse-
tornayelmente o problema da finitude. Ntis dirernos, pr)ren): csse ca do relato hiskrrioltigico sobre essa obra cloutriirária chanrada
problema pode ter um significado central. O que nos importa, Crític0 d0 rqzão pura.
contudo, é o problema da liberdade. C) que conquistanros ago- Na penetração kantiana clas antinonrias, o que teve ate ilqui
ra pilra esse problerr.ra a partir da discussão da dissolução clas carllter negativo exige urna virada enr direção ao positivo. lsso
antinomias? Por rreio daí, aquilo que buscamos se tornou enl signiÍica que a nrera crítica clo princípio Íindamental c de seu
algunra medida mais claro, t posição sísteftútica do problema da uso por partc rlil razão corrunl corr as suas conclusóes sofismáti-
liberdqde no quadro da Jindamentação da metafísica? Sc a con cas precisa passar para a constituição daquilo que esse principio
tenda é resolvida tla tirrma indicada, entào cssa rcsolução só tliz potlc ser, quc ele precisa mes[lo ser, em sua fornta corretâ, se é
respeito negâtivamente à sua ilegitirlidade e nulidade internas. que precisanente as ideias cosmológicas, de acordo colrl a sua
Nesse caso, porém, o próprio çrroblerna da liberdade discutidcr articulação insigne com a unidade clo experienciável, tambénr

274 275
pode requisitâr umà Íunçao positiva no interior da possibilidade cla contenda interna da râzáo terii a tarefa de abrir o sentido da
da experiência. consonância possível consigo mesnto, e, em verdade, em relação
Mostra-se com isso que a razão conrum desconhece o cará- àquilo que ai se mostrava clivergente de maneira conflituosa. Por
ter do princípio fundamental, na medida em tlue toma esse prin- isso, o que está em jogo agora e a questáo da impossibilidade
cípio como uma proposição, na qual algo e dito sobre as coisas da 'tontaminação" da caustrlidade com unta necessidade natural
em si. Em contrapartida, ficou claro que o princípio Íundamental por nreio da liberdade.
só oferece o progresso do retorno da dação do condicionado para Precisaremos contir.ruar perguntando pelo que, por Íirn, esse
a dação da condição. Nesse caso, contudo, nunca se pode perma problema da unidade possível de liberdade e natureza está orien
necer pârâdo junto a algo pura e simplesmente incondicionado tado e a partir de onde ele se acha nrotivado, se elâ tetr-t ou não o
como algo dado e possível de ser dado. 0 princípio fundamen- último fundamento de sua determinação em um interesse Pura
tal náo diz nada sobre a construçio cssencial da natureza, so- e simplesmente especulâtivo, em uma derradeira harmonia d<r
bre a sua constituição. B,le não é nenhum princípio fundamental conhecimento e do conhecido, ou se ainda se encontra, por de-
constitutivo tal corno, por exemplo, as analogias da experiên- trás desse, um outro interesse. Logo que, porénl, a questão âcerca
ciars', mas ele apenas fornece a regrâ pârâ um procedimento no de uma possível resoluçào da contenda e, então, levantada, náo
conhecimento da natureza, de acorclo com a ideia de uma pcr se pode mais partir, ncm permanecer parildo junto à altenlativa:
feição; ele é apenas vn Princípio regulalfuo. Formulado de outro todo efeito no mundo é ou bem por natureza, ou bem por liberda
modo e expresso com as palavras de Kant: o principio funda- de. Pois com esse ou ou já sempre se partiu desde o começo toda e
mental não ântecipà, não toma de antemão, mas postula, exige qualquer ponte capaz de levar a unta unilicação. Caso a unificaçâo
apenas enquanto regra aquilo que dcve acontecer no regresso. entre natureza e liberdade deva ser estabelecida mesmo que apenâs
Essa validade regulativa e a única coisa que se mântem positi- enquanto possibilidade e caso essa possibilidade mesma também
vanrente no princípio fundamental; e e de se perguntâr agora deva se mostrar em um primeiro momento como problema, então
o que resulta dessa tunção positiva do princípio fundamental o questionamento, ao menos para aléIn de unr ou ou dilacerador,
para a resolução positiva das ântinornias. Nesse contexto, não há precisa se tlecidir por um tanto-quânto no sentido de que venha a
conro pôr em contâ nenhuma interpretação ôntica da totalidade, ser explicitada a possibilidade de saber se uma e mesma ocorrência
mas antes apenas um postulado ôntico er]1 relação à totalidade do mundo enquanto efeito náo seria determinada tanto por meio
do conhecinrento das experiências. Uma dissolução positiva da causaliclacle segundo a natureza, quanto por meio da causalida-
de por liberdade. Se, porem, uma e a mesmâ coisa cleve remontar
enquanto efeito a dois tipos tundirmentalmente diversos de cau-
284 Ilssas analogias tambénr não são senão regulativas, elas nào são
salidades, então algo desse gênero só é em geral possível porque,
constitutivas, mas, contudo, são autênticas oposiçoes. "Não corlstitrl
tivo" ó urra cxpressâo ambiguir: l. Em geral, ela não cliz nada sobre os em meio à conservação da mesrnidade do eÍêito, no míninro algo
objetos enquanto tais,2. Ela não diz nada sobre o seu conteúclo quidi- desapareceu no efeito em relaçáo às diversas causas, a saber, jus
dativo, inirs antes apenas sobrl] o modo cle sua presença à vista. Cons tamente essa ligação mesma. As duas coisas, ou sejâ, â unificaçâtr
titutivo: l A expressâo diz respeito ao conteúdo <luididativo, 2. llla diz
respeito à presença à vista- No senticlo do segundo significado, as ana
entre natureza liberdade enquanto causalidades só e de qualquer
e

logiiLs também são constitutivas. forma manifestamente possível, se um e o mesmo efeito Permitir

2.76 277
enquânto tal que ela seja determinável de maneira causal em uma do ente presenle à vista. Em meio à questão acercâ dâ unifica-
relação diversa. A possíbilidade da uniJtcação das duas causulila- ção possível das duas causalidades, o que está em questáo é em
des em relação a um e ao mesmo eÍeito dtpende, portanto, do Jato de última instância una "salvação da liberdade"r3" em relâção a e
que um eleito admite em si umo duplo ralaçao com q causalídade, em conexão com um outro que.iá se encontra inexoravelmente
isto é, de que ele pode ser considerado com yistas à causalidade da firmado diante dela.
natureza e corn vistas à causalidade a partir da liberdadc. O problema precisa, por isso, assumir Íinalmente para Kant
a seguinte forma: efeitos são fenôrnenos, isto é, resultados e corl
b) O adiamento do problema da soluçáo das antinomias sequências que se mostram no fenômeno. Os eÍêitos permitem,
na execução. A questáo acerca de um ser causa dos aÍinal, dois pontos de vista diversos, de tal modo que â diver-
fenômenos fora dos fenômenos e das condições do tempo. sidade náo é uma diversidade arbitrária quirlquer, mas umâ tal
A soluçâo da terceira antinomia na visâo prévia qüe emerge da diferença dos duos causos e corresponcle ao seu ser
do homem como pessoa eticâmente agente causa, ou scja, fenômenos enquanto fenômenos se[lpre neces
Nós logo percebemos, porém, que, depois de tudo aqui- sitan de causas que são fenôrnenos, ou será que há fênômenos

lo que foi dito âte aqui, o problema àgoÍà precísa experímanlar que estão l$ados enquânto tâis ír r:írr.sírs, que nao sào Jênünenos?
um adianlento na execuçiio fática. txatamente porque o "tanto Se isso for possivel para nós, então isso significarii que há cau-sas,

quanto" não se encontra em equilíbrio, o peso câi sobre o lado qne se encontrâm elas mesmas, em seu ser causa, Jora da série
cla causalidade natural. Pois essa causaliclade já se revelou cnr dos fenômenos. No entanto, na mcdidir cm que as séries dos tê-

sua realidade, isto é, como aquikr quc precisa ser estâbelecido nômenos e, em verdade, precisamente conr vistas à causaçáo, sáo
enquanto pertencentc ao conteúdo essencial dc unta natureza determinatlas de maneira causal por meio dâ ordem temporal,
o que não siglifica dizer que umâ nâtureza precis.lria existir ou sej.r, por meio de uma relação temporal, o problema e: no que
de maneira necessariamcnte real e efetiva. Pois, de acordo con.t concernc a algo que se essencia no tempo, que se dá, há, ao lado
o próprio Kant, está inabalavelmente firmado na doutrina das das causas que são elas rnesmâs intrâtemporais, aquelas que são
anakrgias da experiência a correção clo principio fundamental elas nresmas e em seu ser causa fora do tentpo?

da causalidade segunclo a natureza. A uniÍicação com a causa Kant mesmo admite que, nessa exposiçào abstrata, o pro-
lidade a partir tla liberdade não pode acontecer, por exemplo, blema seria "extremamente sutil e obscuro", mas que ele se es
pela via de um compromisso, de tal modo que, nessa legalidade clareceria "na aplicação".']n7 Isso quer dizer quc o esclarecinlento
do nexo natural e de sua coesâo, âlgo seria tratado. A questáo clo problema só pode ser alcançado, se ele não permânecer sen-

acerca dâ possibilidade da unificação s(r pode, por isso, ter â do lbrmulado de maneira ontolírgica geral, sem levar em con-
seguinte formulaçâo: saber se, apesâr da legalidade cla nature- ta determinadas regiires do ente, mâs se ele for considerado a
za, "a liberclade também poderia ocorrer'lr,s Vemos aqui que a partir de tais regiôes. Nisso se mostra o fato de qüe o problema
instância normâtivâ continua sendo a causalidade natural e a
unidade da multiplicidade dos fenômenos, da presença à vista 286 Cf. idern. Cl tambérn Orítica da razao pura, p. 5l (V, 73) e p. l l7
(v, l8r).
28s Op. cit., A 536, tl 564. 287 Op. cit., A 537, B 565.

278
da resolução das antinomias causais conJlui para um ente lotal I)e saida, e preciso dizer que não deve ser demonstraclo
mente determinado, em relação ao qual, à guisa de aplicação, a que a liberdade é efetiva, que e como a liberdade enquanto tal
questão acerca da uniÊcação possível entre causalidade segun é possivel. Ao contrário, a torefa da dissoluçõo das antinomias
do a natureza e causalidade a partir da liberdade deve ser dis- é apenas a comProvaÇão da possíbilidade da uniJtcaçao de liber
cutidâ. Esse ente é o homem enquanto pessoa eticdmente ogcntc. dade e natureza, c, em verdade, em uma orientação normativa
No entanto, é preciso atentar parâ o Íãto de que Kant não quer pela natureza; salvação da liberdade em relação à natureza em
demonstrar, por exemplo, reportando sc a seres faticamente conexão com ela. Por meio desse problema da dissoluçáo deter-
existentes dotados do modo de ser do homem, que não há fa nlina se o carqter propriamente dito e, ao mesnn tempo, os límites
ticamente nenhum conflito entre as duas causalidades, mas ele do problema do líberdade. Por isso, nessas explicitações de Kant,
quer inversâmente, em uma retlexão que se constrói de modo não ouvircmr>s mais nada de novo em ternlos de conteúdo, mas
puran]eDte hipotético, genericamente ontológico, aPresentar a o importante é atentar para o modo de ser da problemática. Na
possibilidade da nnificaçâo das duas causalidades e,partir dai,
a medida em que Kant realiza certamelrte a soluçâo do conflito
a possibilidade da unilicação de nâtureza e liberclade. Como a partir de uma visao Prévia roltdda para o homem, oferece-se
isso, ele espera expor a possibilidade metafÍsica do hornem a ocasião de apreender mais concretamente a essência de uma
conlo um ser do mundo. causalidade por liberdade e c.lraclerizar o ser causa desse tipcr
Tudo o que importa se encontra uma vez mais ern Iigação de causa. Isso traz consigo o fato de que os conceitos âté aqui
com o fato de que os senhores veem os problemas, o modo e a di conquistados, conceitos tais como scr causa, âção e outros, ainda
reçâo do questionamento, e náo simplesmente os conteúdos, que recebem urla determinação nrais aguda.
ocorrem na questão. O ponto de partida do problema, a direção e O significado da solução precisamente clessa terceira anti
o campo de solução, contudo, não sào algo extrínseco, metamente nonia entre âs outras já vem à Iuz por meio do fato de que o tex
forrnal frente ao ct»rteúdo, mas eles deternrinam apenàs o elemen- to não é mais pornrenorizatlo, mas é articulado expressamente
to propriamente conteudista no conteúdo enquanto o elemento com vistas âo traço interno da problemática, e, em vcrdade, em
Íllosófico. Caso náo se veja esse elemento, então a filosolia de Kant três seçocs. A primeirâ prepara o problema da solução da tercei-
não se clit-erencia em narda das discussÕes mais comuns possíveis râ antinomia. llla diz respeito de nraneira totalmente genérica
sobre a liberdade da vontade. A postura característica de todas as ao conflito na ideia 'da totalidacle da dedução das ocorrências
concepçôes vulgares da Êlosofra em geral é o fàto de que ela só mundanas a partir cle suas causas".r33 A próxima seçàorn'porta o
consegue ver matérias doutrinárias e conteÍtdos do saber. título: "Possibilidade da causalidade por meio da liberdade, em
Nós estamos agora na posiçâo, onde podemos visualizar unificação com a lei universal da necessiclade da natureza'l
panoramicamente o elemento peculiar da problernática da liber- O estilo da formulação do problema é o seguinte. Kant per-
dade característica do primeiro caminho; não de maneira vazia gunta de saída de maneira ainda totâlmente genérica: como é que
e genérica, mas coln base na e em conexão com as cliscussões precisa ser um ente, que deve pocler ser detcrminado ao mesmo
concretas. O que deve ser mostrado com vistâs à liberdade? Eni
que hOrizonte se movinentâ a discussào? O que resulta de tudo 2BB Op. cit., A 532esegs., B 560esegs.
isso para o conteúdo interno do problema da liberdade? 289 ()p. cit., A 53Ílesegs, B 566esegs.

280 2ti I
tempo de mâneira una pela causâlidâde segundo a natureza e pela blema cosmológíco geral. De maneira mais aguda ainda é possí
causalidade a partir da Iiberdade? Se deve haver algo desse gêne- vel dizer: a problematíca metaÍísíco ontológica da eristência oo
ro, como é preciso pensar, então, a unidade da causalidade? Isso chega a irromper, mos é reprimida na problemótica geral e óbvía
significa ao rnesmo tempo e ern particular, como é que a liberda- do ser que é própria à metafísica tradícional. Portanto, aquilo que
de rnesma precisa ser determinada nesse caso nlais detidamente no homem possivelmente se mostrâ como nâo-natureza e que é
em seu caráter de causalidâde? Kant oferece, corn isso, uma cons diverso segundo o seu conteúdo ontológico também precisa ser
trução da soluçâo das antinonias e ele mesmo nos diz algo sobre determinado da mesma maneira que â natureza de modo cítusal.
essa seção: "Tomei por bem projetar ern um primeiro nlomento a O fato de a causalidade ser nesse caso modiÍicada não altera nada
silhueta da soluçáo de nosso problema transcendental, para que no fato de que é a câusâlidâde que está aduzida de mâneira pri
se pudesse visuâlizar melhor por nreio daí de maneira;ranorâ, mária e solitária à caracterização ontológica fundamentâI. A crí-
mica o curso da razáo na solução desse problema'l"0 Agora, pela tica a essa metafísicâ náo e nenhuma crítica radical, nem o pode
primeira vez, ele fbrnece um tratamento rnais concreto do mes- ser, na medida em que Kant não formula a questáo do ser a Partir
no problema pela via da aplicação desse problema ao homern. rio seu fundamento. Nisso está em última instância decidido: o
O que está em qucstão, porérr, não é um recurso ao homem coll]o problemâ da Iiberdade, por mais centrâl que se torne para Kant,
argunlento demonstrativ() para a construção, n]as, ao ct»rtrário, não consegue se colocar na posição metaÍisicamente decisiva no
a discussão do problema em relâção ao hon.rcm é sintplesmente interior da problernática da metafísica.
uma exposiçáo intuitiva. Por isso, Kant dá o seguinte título à ú1,
tima seção: "Explicitação da icleia cosnrokigica de urna liberdade c) Caráter empírico e inteligível. O caráter inteligivel
enr ligação conr a necessidade gcral da natureza'lr"r Precisamente como modo do ser causa da causalidade por liberdade.
se, etr.t [leio à introdução do homem, se tratar de uma prova ex- O caráter duplo do fenômeno e a possibilidade de duas
plicitadora e apcnas disso, fica completamente claro a partir daí, causalidades fundamentalmente diversas com relação
que a unidade da causalidade por liberdade e da causalidade da ao fenômeno enquânto efeito
natureza, tâl conro o homern a apresenta de maneira fática e con É importante agorâ apresentar ainda uma vez brevemente
üela, é apenas um caso du u iJicdção cosmológíca geral deterrní- o curso da solrçíro kantiana poslliva da terceira antínomia, o que
nada das duas causolidades. Com isso está dito que não é apenas significa, porém, a -so/uçâo propriam ente metafísica do problema
a liberclade por si que e cstabelecida conto um conceito naturâ|, da liberdade enquanto um problema do mundo. Atentâmos nesse
mas também a unidade do homem enquanto urn ser racional e caso particularmente para algumas determinaçôes complemen
sensívcl é prelineada metafisicamente a partir da problcr.nátic;r tares, que dizem respeito à causalidade em geral. l-embremo nos
cosmokigica. Se clesignarmos o ser do homem em sua totalidade, do conceito ontológico geral da açáorer:'A relação do sujeito da
assim como ir sua propriedade enquanto cxistência, então resulta causalidade com o efeito'l O obieto na relação com o sujeito e
darí o seguirrte: o problema do homem está articulaLlo cotn (, pro nesse caso visado de maneira genericamente ontológicâ. Em
seguida, Kant diz: "'Ioda causa âtuante, porém, precisa ter um
290 Op. cit., A 512, R 570.
29t Idenr. 292 Cf. acima, p. 196esegs.

282 2{t3
caráter'l"1 Caráter signiÍica aqui uma lei da causalidade, uma a empírico. O empírico diz respeito ao mod<l de ser do conhc
regra necessária do como do ser causa cla causa. O caráter regula, cimento do obieto. Intcligível, por outro lado, é uma caracteri
então, ao mesmo tempo, o rr.rodo da conexão das âçôes e, com zação dos obietos mcsmos. De acordo com isso, Kant escreve
isso, dos efeitos. Pois o caráter como o modo do ser causa deter en-r seu texto "De muncli sensibilis atque intelligibilis fôrma et
mina manitêstamente a relação do sujcito do ser causa conr o seu principiis" (l 770), § 3: "Objectum sensualitas ist ser.rsibile; quod
efeito, e isso justamente é a ação. autem nihil continet, nisi per intelligentiâm cognoscendum, est
Kant distingue, então, dois caractcres, o cqráter empírico e intelligibile. Prius scholis veterutn Phaenomenon, posterius M)Í-
o carater inteligivel. É incontornável que se precisa compreender menon audiebat"r"'.
nesse caso.l tenrlinologia, sobretudo porque ela não é atlui preci- Vemos aqui claramente: l. Inteligívcl e uma câracterização
samente inequivoca e consequente. Isso não âcontece por âcâso. do objekr. Por isso, precisamos dizer, em contrapartida, que algo
Partamos da caracterizaçào clo primeiro caráter, do assim chama- é uma coisa inteligível, quando ele pertcnce ao âmbito cle um
do carátcr "empírico" empiria, elnrpeiri/a, experiência. Algo é tipo determinaclo de objetos. Seu tipo e naturalmentc carâcte-
empírico, sc ele pertcnce à experiência, o que signilica, para Kant, rizatlo por meio do modo do ser conhecido: intelligcntia, intel-
se ele é acessível por meio da cxperiência, sendo que e necessiirio lcctus. O moclo de conhecintento pr<lprio aos objetos inteligiveis
atentâr nesse caso para o fato de que, para a experiênciir, errquan é puramente intelectual.2. O conccito oposto ao intelligibile é
to experiênciâ Íinita, e essencial a intuição sensível, a sensibili rr rcn.,ihilc. ntas nao o cnrpiricrrl E pre(i:'o alclllar a8r'ra P.lra
dade, en<luanto íundamento. Sua essência consiste na reccptivi o futo de que Kant denomina o sensibile por meio do empíri
dade, no acolhimento receptivo. Observemos bem, no entanto: co e, inversamente, de maneira correspondente, o intelectual
nem todo acolhimento, nem toda intuição, e receptiva. làmbém por mcio do intelligibile, por mais que ele designe tanrbem corn
há um acolhimento, que acolhe aquilo que a si mesmo se clá, um Íiequência o intelligibile, o intelectu.tl; e isso precisamentc nessa
acolhimento autodoador: intuição pura. Se algo e cârâcterizado posição da Crítíco da razao puro, na qual ele fala da causalidade
como empirico, entào ele e visto aí enr relação ao tipo de cog- inteligivel ct»no causalidade intelectual.
noscibilidade e de conhecimento que sc deu. O cuáter etnpírico A diIêrença erltre elnpírico e inteligível movimentâ-se no
é aquela legaliduàe do ser causa, que é empiricamerúe acessíyel na fundo em planos totalmente divcrsos. C) que foi primeiramen
experiência, enquanto tcnômeno, o scr causa em scu modo de ser tr: determinado tliz respeito ao nrodo de apreensão de objetos,
como pertencente ao fenômeno, isto é, causalidade da natureza. cnquanto o que tiri denonrinado em segundo lugar se reÍêre aos
O caráter inteligível nós já podemos adivinhá-lo - é o
- objetos mesmos, naturalmente com vistas à sua apreensibilidade
modo do ser cousa próprio à causalidade por líberdade. Com cer- possível. A partir daí e de saícla compreensivcl a estranha termino-
teza, isso é corretâmente adivinhado en] termos de conteúdo. logia de Kant. Mas há uma outra razão, Puramente material. Essa
Oom isso, porenr, nada e compreenclido. Inteligivel é o conceito razão rcside no motlo corno Kant resolve o problenta susPenso
oposto ao empírico. Visto de maneira aguda, contudo, inteligível
não pode ser de maneira algun.ra o conceito oposto em relação 294 Em l.rtiin no original: "O objeo da sensibilidatie é a coisir scnsivel;
aquilo, porém, que niio contém senão o que é passivel dc scr conhecidtr
pelo entendimcnto, é a coisa inteligivel. Os primciros fbram chamaclos
2e3 Op. cit., A 539, ll 567. pelos hltisofos antigosfcrórrcrros, os scgundos, noriruelos'| (N. T.)

284
das duas causalidades e de sua unidade. Kant trabalha e joga cons por meio do problema gerâl de umâ unificação possível tlas
cientemente com a ambiguidade da expressão inteligível e inte duas causaliclades. Tentemos colocâr diânte de nossos olhos o
lectual, e, em verclade, náo para velar algo, mas precisamente para problema ainda uma vez mais de maneira totâlmente elementar.
tornar visível o entrelaçamento peculiar dos contextos, quc clc A unificação possível das duas causaliclacles exige que um e o
mesmo não soluciona ulteriormente, porque eles não são ulte- mesmo eÍêito scja determinado de maneira causal em uÍl âs-
riormentc solucionáveis para ele mesmo. A antbiguidade cons- pccto diverso. l)c acordo corn isso, é prcciso perguÍrtar: uÍn tâl
ciente no uso de inteligível e intelectual com relaçáo à câusalidâde eÍ-cito cl realmente possível? O cfcito enquanto algo que se obtem
por liberdâde baseia-se ro fato dc que csse tipo de ser causa não e que se dá é sempre na experiência algo quc se mostra, um Íc
é apenas algo, que é pura e simplesmente acessível à inteligência e nômeno. Assim, o problema assume a seguinte forma: unr Í-cnô
ao entenclimento puro sem sensibilidadc, não apenas algo intelec meno encluanto Í'enômeno âdmite se encontrar cm unrir rclação
tual com vistas à apreensibilidade possível. Ao contrário, esse ser dupla e iundamerltâlnlente diversa? (-) fenônreno cnquanto illgo
causir é cle n.resmo crr si, segundo o seu moclo de ser, inteligência, que ocorre no tempo acha se manifestaflente em relação conr
algo intelectual, algo consonante com o entendimento, isto é, unr fêr.rônrenos, que lhe.lntececlem e sucederr temporalmente. Aqui
ser intelectivo. "l)cnomino inteligível aquilo em um objeto dos há, portanto, uma espécie de relação do fenômeno enquanto tal
sentidos quc não e elc nesmo tànômeno }'r:' "inteligível, porem, com algo, a s.lber, unla vez nrais com Íênômenos. Com cerlezâ.
'lirdavia, tambcm sc csgota com isso a possibilidade de ligações,
designa objetos em contraposiçáo a intclcctual como denonrina-
ção do conhecimento, na medida cm que cles podem ser ntera- nas quais unr fcnômcno pode se cncontrar. Scrá que o tênôlre-
menle representados pelo entendimento e nào podem se remeter n() r'nquanto tal não tem ncnhuma outra relação com algo? O
a nenhunra cle nossas intuiçôes sensiveis. Urna vez quc, contutlo, fenômeno, aquilo que aparece, é, porenr, o ente mesmo. (lon.r
a todo e qualquer objeto precisa corresponder uma intuição pos certeza. Mas rpenas na medida em que e até o ponto em quc ele
sivel, seria preciso pensar um entendimento que intuísse imedia se mostrâ para o conhecimento humano. Nris nâo sabernos o
tamente coisas; cle um tal entendimento, porém, não te[ros o nle que e aquilo que se mostrâ, em si, considerado pura e simples
nor conccito, assinr como tarrrbém não temos do ser intelectivo. Ínente, isto é, tomado conro um conhecer absoluto. No entânto,
ao qual ele devc sc remcter'lr!" O cariiter inteligível, por isso, e o jii nir nrcdidir cnr que n.lo sirbcnlo\ is\o, risrmos e l)ensalrr'\
modo do ser causa de uma causa, que pÍecisaria ser reconhecido nesse câso justamente naquilo que não sabemos. Ele nào e o
enquanto tal por mcio do entendimento sem sensibilidade, se e que aparece, mas o desconhecido, o X, o objeto transcendentâl.
que esse modo de ser causa poderia ser rcconhccido. hle precisa se encontrar à basc dos Í-cnômenos, na medida em
Por meio do que, então, Kant é levado, porém, a essa diÍê que cles não são nada além justamente desse X, uma vez que
renciaçâo clo câráter ernpírico e do caráter inteligível? fustamente clc sc mostra, ou scja, na medida enr que é um não X. A esse
X atribuímos de qualquer modo e em todo caso o seguinte: o
íato de "ele'l por mais desconhecido que seja para nós, apareccr;
.295 Kar)t, (:rítica Lld rdzão purd, A 538, li 566. Cf. B 312. 'tle" é o que aparece, de tal modo, em verdade, quc ele, justa
296 Karlt, ProLegômenos. § 34, p. 78 (IV, 317). Observação. As "inte- mente enquanto âlgo que apârece, não se rnostra "em si'l não é
Iigências" como conceito oposto em relaçào ao "fênômeno" são iguais
t.rl como ele é absolutamerlte, isto é, náo é como algo que não
aos "seres sensiveis". Cl. Crítica do rozão pura, B 306.

246
aparece.2'rt O X e um objeto, mas totalmente vazio; não obstan- causalidades está, com isso, ftndamentalmente comprovacla, mas
te, como esse objeto vazio, ele não é fenômeno, não é sensivel, não naturalrnente rl recurso ao horncrrr.
nras inteligível. No entanto, ele é negativamente inteligível, só
que náo ulteriormente reconhecido. O X é o objeto inteligível, o d) A causalidade da razão
inteligír,el no objeto. Isso, bem con.rpreendido, de maneirir uni Liberdade como causalidade inteligivel:
versalmente ontoltigica, válida para torlos. Mas esse X nao é ne ideia transcendental de uma causalidade incondicionada.
nhum objeto isolado do conhecimento em si mesmo. l)e acordo A aplicação da problemática universalmente
cor.n isso, Kant nos diz: "...assirn, nada irnpede que nào devamos ontológica (cosmológica) ao homem como ser mundano
aduzir a esse objeto transcenciental, alem da propriedade por Antes dc Kant transpor a aplicação do que e Íundamen-
nreio da qual ele aparccc, tambem uma causalidade, que não é talmente conhecido para o homenr, ele tenta apresentâr sem-
fenômeno, apesar de seu efelÍo ser encontrado cle qualquer nrodo pre ainda de rnaneira totalmentc universal a conexão estrutural
no f'entimeno'lt" O que não e fênômeno, porem, é inleligível. cla unidade das duas causalidades. N(rs destacamos o essencial.
De acorclo com essa lígação dupla do fenômeno enquanto tal, ele Manifestamente, a ligaçào de um e o mesno enquanto efeito a
pode se encontrar em relação corr outros fenômenos, pode ser dois tipos de causas não pode ser concebida de tal modo que as
eÍêito de trm fenômeno e eslar ligado ao mesmo tempo eflquonto causas cntrem simplesmente em iogo uma clepois da outra, pois
esse eJeito a causas inteligíveis.
unra, dotada de caráter inteligível, é caracterizâdâ justamente
A partir da essôncio do Jenônteno, cntáo, e deduzida a possi- por meio do fato de qr.re cla não transcorre no tempo. Por outro
Irílídade tlessa clupla relaçao no que concerne a um e o mcsn]o e, Iado, ela prccisa de qualquer modo, uma vez que se remete pârâ
ao mesmo tenrpo, a possibilidade do caráter cle pctição de duas o mesrno enquanto efeito, ter uma relaçâo com a causa citirda.
causalidades Íundancntalmente diversas a uma c mesmâ ocor- Âssim, a questão torna-se necessária: o scr causa da causa,
rênciâ enquanto cfeito. O caráter duplo essencial do fênôIneno, o que e ela mesma fenômeno, ou seja, que possui um caráter
fato de ele estar por um lado em conexão com outros fenônlenos empírico, precisâ ser necessariamente ele mesmo uma vez
enquanto fenômeno, mas, por outro lado, ser en<luanto fênôme mais um fenômeno, ou será que esse ser câLrsâ não pode ser
no um f-enômeno de algo que aparcce (X), contéIn a possibili ele mesmo efeito de uma causalidade inteligivel? O que acon
dadc fundaruental da reÍêrencialidade de um e o mesmo a algo teceria, então? Nesse caso, o ser causa da causa dotada de um
empírico e não empírico. Essas duas relaçóes fundamentalmcnte caráter empirico em relação à ação seria determinaclo por
diversas ern geriil dão a possibilidade para duas rclaçôes funda- meio de algo intcligível. Nós já conhecen.ros agora a ambiguida-
mentalmente diversas clo ser causa no sentido do carátcr empíri- de da expressâo. O inteligivel é ele mesmo uma essência intelec-
co e do caráter inteligível. A possibilidade cla unilicação das duas tiva. Onde o fundamento e algo inteligivel, aí 'b pensar (e agir)"
enquanto o elemento determinante funciona'ã partir do puro
297 (li
Kant, CríÍirü da razão purd, A 249esegs., e, em pirrticulat A entendirnento lr"' Em suma, do nresmo modo quc o fenômeno
25leseg., sobre o conceito de fànômeno em gcral. Alénr disso, B 307 en] sempre é o que ele é, como ligado em si a algo que não aparccc
relação ao c<rrrceito do noume írn no entendimento negativo e Positivo.
298 C». cit., A 538eseg., B 566eseg. 299 Op. cit., A 545, B 573.

288
(X), o caráter inteligível também não pode ser a causa trans- supost.rs conro objcto do conhccirnento absoluto. l)csse motkr,
cendental fenomenal do caráter empírico e, assim, com ele e portanto, com vistirs ii observação possÍr,el das ilteligências,
através dele, urn e o mesmo fenômeno enquanto efeito. O que s<i uma observação tkr volitivamente inteligivel nos é possivel,
aparece enquanto íenômeno também pode ser determinado daquclas inteligências, que n(rs mesnros sornos. Nisso resicle,
por meio do que não aparece, daquilo que o fenômeno é jus- porénl, o segllinte: no que concerne ilo nosso si lresrno existe
tamente o que aparece, e do que, por isso, pertence ao fenô para n(rs mesnlos a possibilidadc cle "observirr" a n<is lnesnros
meno. À causa inteligível, contudo, sempre se inicia, vista a ent nosso ser erl si, isto é, dc nos torrrarnros clc rnaneira formal
partir dos Íênômenos, por si mesma, e e viabiliza uma ação rnente "absoluti] pura e sinrplcs.
originária,r0('isto é, uma relaçáo com o eÍêito, a qual acontece 'lrirta se, contudo, de uma grande superíicialidade do pen-
por si. Kant disse certa vez em uma reflexão que chegou até samcnto concluir a partir dai o segllintr': portiurto, rtris nresmos
nós, que os dois tipos de causas precisariam "ser pensados somos scrcs infinitos, se é tlue o conhecimento clas coisas em si
em todos os seres, mas (que) é apenas na vontade que ob- e â distinçalo ctr cnnhecimento absoltLh cnr rclação iro conheci
servamos o último tipo".rr)r"Ep contrapartida, náo e possível nrento.rpen.rs linito. F, inlportalrte Ílxirr o senticlo prinrário da
pensar nenhuma causalidade do elemento inteligível dos cor apreensiro absoluta, ciaquilo que o quc precisa ser apreencliclo nao
pos, pois seus Íenômenos não revelam nenhuma inteligência; encontr.l previâmentc dado clc nrirneira algunrir, rnirs irntcs.iusta
portanto, tambem náo é possível pensar nenhuma liberdade r('lll( lir(](lU/ n,l irl)I(('Il\.1(,. No r]ttr'cottcr.'rllt .1t, 11lr.ro.tgit e.t
de seu substrato intelligibili, e nós não o conhecemos por unr scr fiitico, prorcm, n<is nos p«rduzimos tle certir nraneira por
meio de nenhum predicado'1r"2 lt)L'l() dr's\( \( r l)ilr.r
Ilr;\ ttl(\t)lr,s. It(rs tt{}s r ri.t tt tr rr lrirt.t nL,\ ltl(\-
A partir dessas observaçÕes deduzimos duas coisas. Por url nros. A questio e rlue tuclo isso niro se clá pura e sirrrplesnrente,
lado, que a difêrenciação das duas causalidades enquanto uni- nr'rs niro rtos clantos por nós nteslltos, por nteio de unta resoluçào
versalmente ontológica é estabelecida para todo e quâlquer ente pr(r;rria, nosso ser irí (nossa cxistência), nr.rs eÍrcontranros esse
como válida. En.] outras palavras: "inteligências" não sáo, por ser ai (essa existência) previilÍnentc, isto c, riós nrcsmos sor]ios
exemplo, apenas os homens ou os anjos, mas toclo e qualquer para nris ao rr)csrno tcnlpo Í-cnônrcnos. Nris sri sonros por assinr
ente, na nedida em que ele pode ser pensado como ligado.fusta clizcr contlicionados, isto é, n(is justallelltc não sornos tle manei
mente enquanto ente â um conhecimento absoluto, a uma inte ra irlrsoluta, urna tlcterrrinação quc se arlét1ua nral ii cssênciir da
ligência pura, a uma inteligênciâ por si. Um intelligibile tarnbem inÍinitudc. (lom ccrtcza, porérn, ó o sirber em torno do prtiprio
são âs coisâs materiais o que jamais significa dizer quaisquer querer enquirnto um "eu rluerri', ent lorno dtt "eu soti'llesse "eu
seres espirituais pensados em si, duendes. Pois tais reprcsentâçôes quero", o tlue leva Kant a lalar aqui da irpreensao enquanto tal
são precisâmente intuitivas, apenas Íàlsamente absolutizadas, tiircluilo tlue naro âpârece, mas que Íornra a si rnesmo.
Com essas reflexões jh cheganros ao âmbito, no qual Kant
aplica as suas consicleraçircs gcncricamcntc nrctirÍlsicas clc nranci
300 Op. cit., A 544,8 572.
ra explicitativa, airrriir qrLc não sc tcnhir corno ncgirr o Íato dc prc
301 ReÍlexôes de Kant sobre a Crítico do razão PurLt. Org. por Benno
Êrdmann. Leipzig 18t14. ReÍlexão 1404. cisamentc cssa rcgião sc cr)contrar constilntemcntc cnr vista des
de o principio como umir regiio central. Pois o homem nilo é para
302 Op. cit., Rcflexão 1531.

290 291
o homem um ser nlund.Ino qualquer entre outros, mas aquele "Merarncnte" niio signilicir nenhunra Ítüha c nenhurna lcstriçatt),
que e dâdo ao horlem cle antemão ser. lirdavia, por mais próxi nras positivamentc um prinraclo: por si sri já por ntcio cla, ou sejir,
mo e por nlâis premente que o ser humem scja parir o honrcnr, é tilnto quirnto "puramente" cm Íãce da "aperccpção e-mpÍrica'l
preciso tent.rr em toclo caso, no senticlo de Kant, cletcrminar de C) quc Kant tem ent vista c(xl isso? O conceito da aperccl.r
antcnrão clc milncirir totarlmente geneÍica esse ser ntundano corrr çâo desenrpenha um papel prepondcrante rn Crítíca du rnzào
vistirs à sua cssencialiclirtlc nrurrdana, isto é, aosutologicantente 7rura, e podcr se-ia sc sentir tcntado ir deterntinar o scrr signiÍi
c não rnorirlnrcntc. Isso signi6ca, porénr, consiclerar o ht»nem cado a partir cie contcxtos, nos quais cle é f ratado tri.,(,r' Tambén.r
conto um [rero caso possível de uIn c,rtc prcscr]tc ii vistar c coll observarlos, Porént, imcdiatan)cnte quc esse conceito c o rlue é
rluistar sobre ele em um tal nrodo de qllcstior)irurcllto gcral co com isso visado na interpretação cie Kant, particularmcnte do
nhecimenlos Íundamenttis. Pocle ser riito dcsscs conhecirnentos, neokantismo, foi incorrigivelntente mal interpretaclo, o que não
tal cr»lo Kânt o faz segundo a invcstigaçiio plcna cla construçào teria poclido acontecer, caso se tivcsse introduzirio precisamente
cosmológicir gcr)cricamente transcendentâl da possi[rilidade tla a nossa posição ent primeiro lugar ou, em todo caso, de mirneira
unidircle cle natureza e liberdacle, o seguinte: 'Apliquemos isso dccisiva. Pois Kânt não discute at1ui, crn verdacle, o signihcaclo
i\ r'xpcriência. O horrcnr cl url dos lênômenos do mundo sersí e ir flnção da aprerccpção para a ttndirmentirção tla nretafisica
vel'lr('r Como fenômeno, o hornem precisa ter um car.iter entpiri- geral, rnas é precisanlcnte aqui, cont ccrteza, que ele fôrnece a
co. "ilssirr conlo todirs as orrtrirs coisas naturais'l'r)rCoisas naturais cirractcrizàçiio miris geral e miris clecisiva de sua essência. "Mc,ra
sào sempre contlicionatlas conro fcnômenos por Íentimeltos, e, nal âperccpçào" - cont isso têm-se cnt vista "ações e deterntinâça)cs
ntedicla ent que o que apilrecc nunca sc nlostÍil senalo na e parat interiorcs, que clc (o honrent) nào pocle contar dc ntaneira algu
a sensibilidacle, o acontecimento no caso das coisas rrirturiris é ma conlo intpressa)es dos scntidos'lrr); f)e ircordo com isso, reside
conclicionaclo sensivelntente. Mesnto no caso tla "naturcza me-ra na mera apercepçiio conto açâo uma causalidade, um deixar se-
nrente aninrirl e aninrada, nós nalo er)contramos nenhum Íinda guir se e utrra deterntinaçiio. De clue tipo? Umâ dcterntinação,
r)rento para pens.rrmos de outra maneira, que lrâo sensivelmentc cujo elemcnto determinârtc e cujirs determinaç(res não podem
condicionirda, unrir faculdade qualquer. Só o hontem, que conhe- ser contadas conto rlnlil imprcssào dos sentidos, isto é, o quc é
ce de resto todir a naturcza simplesmente e apenas por nteio clos acolhido e reccbiclo enquanlo deterniuanle em seu dcterminar
sentidos, tarlbém conhcce a si nreslr.ro 1.ror meio da mera aper- Pelo horl1em conro algo previamente encontratlo e prcviàlICnte
cepçiio'i")o O homcnr ó uma coisa rratural distiuta, e, em verdacie, encontriivel, rtrirs que ele ntesmo se ciá, o que deixa surgir pela
por meio do làto de rpre ele conhecc a si mcsmo. [)ito dc nrirncirir prinreira vez unt clar se e scr por si só em um lâl vir a-ser "Mera
mais exatâ, nalo o âutoconhecimcnto cnquanto tal, a autoconsci apcrcepçãri' siglifica, então, clar sc ir si nresmo, e, erl vcrclacle,
ência no sentido totalmente frrrmal, c o clcmcnto tlistintivo, nrirs "pura e simplesntcnte" na cxistência,',rs não naquilo que cu sou
o tipo clcsse autoconhecimento "por meio da mera apercepçãci'.
106 (i)npareiDos a proposiçao acerca da unidirtle originariamentc
-]0-l Ktn'tÍ, Crítica du ru.ão purd, 546, B 574. sintil ica dâ apercepçiio IransceDdental.
^
-101 lcleur. l0; Kant, Crítíci la razão punt, A 5.16, B 574.
305 308 (lí. oP. cit., § 25, B l57esegs., cn] pirrticular B l57cseg. Observâçio.

292 293
cnt ulim mesnlo. Natltrilo rltre eu mesnlo srlu, t'tilo tcnlttl con-tll em que â razão se cleixa tlctcrminar por meio do deveq cla cria
nre conlrccer, sotnente nofàlo Lle quc cLt sou: nlinhir existência para si, em contrirposição i\ orclem da legalidade clos l-enôme
enr scu fato-de que é a Ítnica coisa quc Posso Pura e sinlples nos,'tom complcta espolttaucidacle, unta orclem própria scgult
nrente conhcccr. Por quc? Porque jii sempre litrtno o set "ctt" cla idcias'l'rr Pois o que é devido e essencialnrente irlgo tal quc
enquanto lal conro "eu pcnsti'en1 todo pensirr e em toclo dc- aincla nâ<l ilconteccu ou ern gerirl nunco acontecerá, mas que c
ternrinar, solnente no ato desse dcterminar sou claclo pura e tlaclo enquanto tlevitlo pirra a razão, islo é, que e re-prcscntâdo
simplesmentc prarl nritl, nunca antcs desse ato conlo ttm de- enqLlanto regulador, cnqu.rntc, universaltlcnte determinante.
tcrrtiltarÍ sc ellr si prcscnte à vista. O ntoclo conltl a essôtrcia clo licprcsentar irlgo "no univcrsal" signiÍica reprcscntá-lo concei-
cu, a egoiclade, é dcterurinaclo clcpencle cla rcsposta à qtlestalo tuirln)ente. Iissc replesentaclo nu urrivcrsal, o dcver enquirnttr
acerca clc sua aprecnsão e clo ntodo (la intcrPretilçào e conltlni regrir, e Llnl conccito. [)e acordo cont isso, o conccito e o fun
caçao possiveis.'"" clanrcnto tlir dctcnlinaçiio tlir açâo. "lisse clever cxpressa, cntão,
A rlera irpcrcepçàtl é um agir, cltlc tlito l.rocle scr contabili tunra açiio possír,el, cur relaçâo ri qual o tirlclarnento não é outra

zado na receptividade, nras tlue possui o caráter dc lttna tlutra coisit scnão un) ntcro conceito; nesse caso ent cor)traposiçiio
relação tla causa cortt o cÍcito. Esse irgir niio é netrhunl ser cic il uma ncra irçiro da nalurezir, cujo llndarnento prccisl ser a
tcrminaclo por unr outro enqu.lrlto tal, nlls utt-t se-r cletern-tinad<l qualquer n-toulento rrm Íànôlte no'l'rl
por si Ínesmo como un] tletertlinar. 'll'l.làculda,lc nilo receptivir (Jorl isscr, il e.s.selrrcic do crtusolídoclc Lla ruzao é clarificada.
e rriro empíricir, lal.ltculdadt ilcligíwl é tt rozao. [)ai se scgue' Seu agir e unr .lluar, tlue ó clelerntinirclo enquar)to lal por nteio
porém, ao mesnto te mpo que a rirTão ttresma é carncterizacla crn do scr ciesde o princÍpio rcpresentado tlaquilo quc cleve ser f-eito
seu scr rircior':al como Llrtl tipo dc causalichdc. com vistls ao efcito e rluc se acha errr si ligacio cc,ln unt qucrer.
A partir claí Ílca clartt, então, que a rilzão telll ttt.na cirttslli- lisse irgir que sc scllue ao tlcvcr pode ser nruito trenr atrelado c
dirclc ou que nós rcpresent.lmos algo dessc gônero nelir? Nessas acletluado, sob o ntoclo cia realização do ef-cito, ao decurso dos fe
açoes do "eu penso", que nós mesutos realizirmos, isto é, nesse t-tôrttenos. Por isso, oncle o agir acontece conto rto honrem na uni
tipo de atu.rçiio, utis estabclccetlos regras pârâ as "tirrças attt daclc conr urra nâlureza, ili .l razâo precisa, por nrais quc c'la tam-
antes'l Entrcgar c estabc'lccc-r Prevjlmcnte regras couo regttiil bóm seja razao, isto é, causa inteligír,cl, nrostrirr clr.r si um caráter
cloras é um tipo de cletenninaçito. O quc ucis clalrlos llo llosso eurpírico crrr si. F,sse cariitc'r empírico é "a1.renas o esquerra sell-
agir é semprc a cada vcz Par.r esse agir algo cleviclo. O carii sivcl" clo cirriiter inteligitcl.'rr(iorn relação a essc caráter nio vale
ter cle regra é, ;ror conseguittte, o dcver. "O clcvcr cxpressil tlnl nenhunr antes c ncnhurl depois. "Ela, a razão, estii presenle para
tipo cle ncccssidacle c de ligação conr rilza)es, ulua necessitlatle toclas as açôes do homem erl toclas as circunstânciirs tenlporais c
que ocorrc tle resto cnr toda a naturcziil'"'Ligaçio colll r.lza)cs é unir cont elas.lila rlesma, poreul, não sc eltcontrir no terrpo, c,
visa a unla rclação cleterntinatla pttr unla rirzãtl etrquirnttl ti.rl; por exerlplo, recai eÍn Llnt novo cstaclo, no qual ela anteriorntente
um fundtnrenlar, urr câLlsrlr cnr ttm sentitlo atugrlo. Nir meclida
- l Op.cit., 5,18, Il 576.

(lt. idem, Conclusiio Il ^


Op. cit., A 5.17eseg., ll 575eseg
109 cla observaçiio. -l

310 Op.cit.,A 547, B 575. -l tl Op.cit., A 553, B 5l.ll .

291 295
não cstavirj cl;\ é detcnnifia te, Ínas niio dcterminável corl vistâs Íinclamentos cletermitrantes de urr ti1.ro totaltlente rlivcrso,
a cssc novc, estaddl" r 'A razâo, portanto, é a condiçáo constartte quando ele sc pcnsa clotado enquanto inteligênciir de unt vonta
cle todas as açties arbitr;irias, sob as quais o homent aparece'l!i de, conseque'ntemcnte de causalidacle, e quando c-lc se percebc
A "raziio não (cstá) subneticla em sul carusalidi:rcle a nenhulna colÍro lltr fenômeno no mundo sensívcl (algo,que clc cletiva-
cordição clo lenôme no c clo dccurso lemporaf i"" Umir vcz quc mentc tilmbem é) e subnrctc sua causalidatle a uma cletcrrnina
nilo se moslr.ut'l conro ncnhurua coisir em si, os lênÔnrencls tant ção cxterior segundo lcis naturais'lrr:
bém não nenhuma causa cm si. Só a razao e "cnusa etn si", por
saro (iont isso, chegamos à Íneta do prinrciro caminho ater a liber
assim dizer causaliclade purâ. A explicitação da construção me- dade. O que veio à tona por meio de tal consiclerirçâo? Libcrdatle
taÍisica gcr.rerica da unidade possível entre natureza e liberdacle é unt tilto de causallrlarlc, a sabcr, u» tl1'to rtão-tmpírlco, um tipo
mostra: há um caso cle tais seres ntunclanos, no qual essa unidacle íntcligível, isto é, uma cuusalidade da ntzao, cuja utidade L:ont a
é Í-iitica, o caso do homent conto ur.n scr vivo racional. clusttlidade segundo a nalurezq é po-srír,c/. Com essl concepçáo
Unrir vez mais se accntuir o firto de que, no sentido dc Kant, clo resultaclo, tâl como tcr)t de ser, permanccemos totalmcnte lo
só t possiltilidutle melflisica do unidade cntrt curtsalidode da no interior dos linitts dt considcraçào pufttnrcnLa cosmológicu do
turcza e causalidadc da liberdadc deve ser pura e sinrplesnrctttc orle, paril a qual o ente, que acabamos cle'conhecer conto ult')
comprovacla. A possibilidade o que signilica isso? A pensa ente livre, o homem, constitui um ntero caso de um ente, quc não
bilidacie. Ora, mas por rreio ckr tlue algo é comprovado como tent nenhum privilégio em relaçilo a outros entcs e isso a tal
penshvel? I)or mcio clo Íirto cle que ele pode scr pcnsirdo setn poÍlto, que.-ssc cnte, o huleru, nào é nem ntes[lo.l ntotivaçào
conlracliçôes? (lom certeza. Todavia, a nrera pcnsabilidade ló- principal e dccisiva para o problcnra da liberdade. Esse proble-
gica, a iscnção de contradição, nao é prccisatDertte nenhttm cri ma cmerge nluik) miris sirnplesntentc tla tarela tentática de um
tério suÍrcicnte para a ;rossibiliclaclc rrctaflsica. Esse possibili conhccinrento cla totalidadc dos Gnômcnos, clo mundo, como it
dade, scgundo Kant, é denrarcircla pclo Íàto de que o possível e ideía transcentlcntul ds ctusdídatlc incondicionada. Chcgamos
conrpirtivc'l con relaçao àquilo quc a cssênciir da experiência c a agora, então, ao segundo caminho de Kant até a liberdacle.
cssência da rirzao exigcm cnr unidade. O.lutdtntcnto meto.lísico
universal essenciirl da possíhílidade da unidade dns duas causo'
/ldadcs reside no fato clc quc, clito de maneira brcvc, o,fàntitrr:-
no en(lua lo tal é cleterminávcl como sensívcl c ínteligívcl. Com
relação ao scr mundano particular holnem, que é previamente
encontrável como fenirnteno, isso sigr.rihca: "O homem, que se
considera clessa maneira cc»no inteligênciir, sc coloca por nreio
claí cm un-rir <lrdem diversa clas coisas L'e[l un]a relação com

31.1 (D. cil., A 556, I'i 5tt.1.


:l l5 Op. cit., A 553, Il 581.
-r t6 Op. cit., 556, Il 58,1. ll7 Kant, Fundamentaçato di metafísica dos.ostumes, p.87 (lV 457).
^
296 297
SEGUNDO CAPITULO

0 segundo caminho para a [iberdade


no sistema ka ntia no.
Liberdade prática enquanto distinção específica
do homem como um ser ra cio na I

Sc passirrnos clessa maneira 1.rara o segundo caminho de Kant,


cntiio isso sc dá de mancira extrínseca. I)espertâ-se a aparência
de que os dois canrinhos corrcriam dc fbrma conrpletamente
inclepenclente um ao lado do outro c unr na dircção contrári.t
alo outlo, corno se rtós nos clepariisscmos irgora imcdiatamente
com algo totâlnrerlte diverso. lsso é de certn tbrma pcrtinente e,
contuclo, unra vez lnais nào o e. Pois precisâmcnte a dircção do
prirnciro canrinho deixa claro que a icleia cla liberdade não cmer
gc apcnas cm lneio i\ persecução da contenda interna da razão
no pcnsarncnto do mundo, rrras de que justamente esse caminho
por assim riizer ofêrece umir pcrspcctiva em relação à liberclade
enr um lugar totahlente divcrso, pirra o qual naturalntente esse
primeiro caminho nurc.l conseguc conduzir. Llsse caminho ofê-
rece ainda umâ perspectiva enr relação à libcrdatle, e, em r.erda
de, uma totalnrente restrit.r, a saber, como liberdade do honrcnr.
linr vcrclacle, nós sempre acentuanlos cada vez mais o seguinte:
cssa liberclacle do honrerr vista a pârtir do primeiro caminho
- e sempÍe apenas um caso possível cla Iiberclade cosmológica.
A tluestão persiste: é prcciso saber se csse modo de ver a Iiber-
clade ilo homcm é o Linico modo possívcl, ou se um outro não é
do ntesmo modo possivel, ou mesnro necessário. Se isso se mos-
lril colrlo pertinente, entáo es1á âo mesmo terlpo comprovado
colrr isso a inrprcscindibilidacie do segundo cantinho. N4as não deve acontecer, entiio o ltontcm também precisa scr visualizado
irpenas isso. Sc um scl;undo cirminho concluz até a liberclade, e, cie mancira diversa do que na cxplicitaçâo cosmológica, e jr.rs
cnr r.crdaclc, até a libcrdaclc clo honrem cnquanto tal, e esse per- tamente cont vistas àquilo que o clistinguc. E o cluc é isso? Sua
mancce nr:sse caso scmprc aindir un-r caso do ser rnundirno, então pessoulidade. Kant usa essa expressào cont unt signilicirclo ter
tambenr e vailiclo para o segundo caminho aquikr quc o prirnciro nrinoltigico totirlmelrte deternrinaclo. Nós 1àlamos, por cxemplo,
caminho cliz sobre a liberdade. Nlais ainda. Segunclo a prtipria do Íàto de (lr.lc, cnt unta sociedade, cstariânt presentes cliversas
consideraçào expressa cle Kant, o conteúdo do conceito coslro "pcrsonalidadcs'l pessoas que "são algo" ou das quais sc diz, enr
Irigico clc libcrdade é até n)esmo.rquilo que corrstitui o elementcr todo caso, clue elas "scri;rnt alguent'l Não é r.reste scnticlo quc Kirnt
propriancntc problcniitico rro problema cla liberclade, na ntecli- Íala dc pessoalidade. Para Kant, a pessoalidade signiíica aquilo
da cnr que clc cnrcrgc no segunclo canrinho. que constitlli a pessoa enquanto pessoa, o .scf pcssor.i. A essôncia,
Alénr tlisso, a pirrtir dc tuclo o quc clissenros fica claro ilue porem, é apenns e unicamentc de alguern e, por isso, s(r pode
tutluilo que o primeiro cirminho trouxc consigo niio é ilsignifi scr clesignada no singular Assim, tlc lr.riueirir corresponclente, a
cante para o seguntlo, apesar cle cssc scguntlo carlinho prccisirr aninralidade tent em vista o rlue há de específico ao aninral, a hu
ser tot.rlmente estâbelecido por si. Segundo a sua naturczil, o sc naniclade, o que hii cle espccítico ao homem, c Ítào, por cxemplo,
gunclo car.ninho é essencialmente rlais breve, o que niio significa a soma cle todos os hontens.
naturalrnente quc os problenras qLle ele âpresenta serianr mais O que constitui, entâo, ir pessoaliclade de uma pessoa? Nós
tiiccis dc serern c rnrinados. No segundo caminho, ntis nos en- comprecnclemos isso, se consiclcrarmos a pessoalidacle em sua clj-
col)tramos irrcdiatamcnte diante cla liberclade, o que é conr cer- làrença enr relação à huntanidade e tl anirnalicladc do homern.,'n
teza unr rnotlo dc falirr inatlcquado. Tuclo âí constitui o todo dos elemcntos cla <ietcrnrinação da essênciir
plena clo homent. Em verclade, a deÍinição tradicional tlo homem
§ 26.,4 c-s-sirrcic do home m como ser sensível e conhece apcnirs clois elemcntos desta cleLerminaçho: honto animal
corrto scr rctcíonul c a díJbrenço entre lihertladc rirtionale, o honrent e um anintal dotirdo de razão. Por conseguinte,
tr|nsrnde tdl c pfl.ític é a aninralidade quc cilracteriza o honrem enrluanto ser ylyo. A ra-
zlio é o segundo Dr(»nento, quc não constitui agora naturalmcnte o
a) A essência do honrem (humanidade) como pessoa corrtcúdo daquikr quc Kant dcrromina a hurlanidade, ma s a huma-
(pessoalidade). Pessoalidade e autorresponsabilidade rirlade é aquilo <1ue caracteriza o homem cnquanto um ser yivo c, ao
Em direção segue, então, o scgundo carr.rinho? Illc não
qr.re mesmo tcrnpo, enquanto unt ser racionai. No conceito da humani
tem por nreta a liberdacic enquanto un tipo de causalidade pos rlacle resiclc conconlitantcmenle a ligação com a animalidade. Aqui
sivel no nrun<itr, ntas s liberdade enquanto dístínção csPecíJica í1o lo que Kant concebe por anin.ralidadc é em certa medida o conteúdo
homam cnquofito ut scr rdci(rnaL. Na rledicla, p()rem, em que o cla dcÍiniçin tradicional. Mas a essência do homcnr nalo é esgotada
honrem enquanto ser nlundâno cai em geral sub o domínio da em sua hurlanidade, mas ela se consuma pela primeira vez e se
ideia de liberdade encontrâdâ no primeiro canrinho, a liberdade
do honrem tambem já e copensâdâ lá, mas nào se trânsformâ
li 8 (lL Kân(, A rcLigido fio itúerit)r dos limitcs du rozriLt pura. w*\N
cxprcssamentc cnr problema con.ro clistinção específica. Se isso ((iassircr), VI, 164. Pirrte I, Seção IL

.100
30r
dctermina propriâmente na pessoaliclade. Ela transÍàrma o ho menle distínb, r, práxis tticít. Em qLre meclicla e cle rlue maneira
nrefil em urr ser racional e, ao n-]esÍlo tenrpo, em ut scr ímputá nós nos cicptrramos com a Iiberclacle, se consiclerarmos o homett.t
vcl. Um ser, ao qual algo pocle ser imputaclo, precisa poder scr cnr segundo a sua pessoalidacle, segunclo o ser pessoa?
si respons;ivel por si mesmo. A essência ds pcssoa,.\ pcssoolidodc,
cor.rsiste na autorresponsabilidarle. Kant acentLla expressilmente b) O segundo canrinho para a liberdade e a diferença dir
rlue a deterrrinação clo homem como um ser vivo racional nao liberdade transcendental em relação à liberdnde prática.
é suficiente, porrluc racional também pocle ser um ser, que naro Possibilidade e efetividade da litrerdade
possui a possibilidade de ser praticamente por si nresnro, clc agir viiliclo, cntiio, para a discussão do segundo caminho, conr
Él

err virturie tle si nresmo. A razão pocieria ser ur))il razio mcril ulna agudczir crn nadn atenuatlir, aquilo tlue lbi requisitacio pala
lrente teóricâ, cle tal moclo qtre o holnenr refletiria, cnr vcrda o prirnciro cirninho e p.lra il suil contpreensão: atentar palra o
rie, com o auxílio da rilzão enr seu tirzcr, nras clcduziria todos rnodo da problcmiiticir e nào parn o nrero conteúdo claquilo rlue
os impulsos de scu agiq porcrl, dc sua sensibilidatle, de sua ani- ganha a lingLragell. F,ssc ítltinro é o caso, cluantlo Iros sirtisfirzc
nraliclade. A cssênciir tlo homcrl. sc clir niio se conlirnde com a nlos com uma constallaçalo oLl cor)) tulil cliscussão tatnbém bas
suir humirnidirdc, consistiria, então, precis.rmente em ir alem cle tante atrrangente cla clifêrença cntrc os dois canrinhos da seguintc
si, cr)quanto pessoil, nil pessoirliclade. Assinr, Kânt tanrbónr dc nrarcira. No plir-r'rciro cirnrinho, nós nos deparanros conr a liber-
tcrmina a "pessoaliclacle" con.ro aquilo "clue eleva o lrolnenr parir chcle no contcxto cle uurir consitlerirçiro teórica (las coisirs presen
alérl de si nresnro (conro unra pirrte do nrundo scnsívcl)'i'L" A les ii vista, rla naturcza eur sua totaliciarle: libelclacle no cor]ceito
essência do honrenr, a humaniclacle, não consistc, por conscguirr cla6losolia tcórica (cspeculativa). No segunclo carnrinho, onde se
le, em sLril hunranidatlc, cirso cntcnclanros por tal hurnanitiade a tcm crn vista o ser munclâno particular honrern, c, c:n vcrdirdc,
unidirde de razão c scnsibilidatlc, mas elir se encontrâ para alenr cr)quilnto pessoa, islo é, conro uttr scr prlitico ilutonon)arncntc
ciessa scnsibilidatlc na pessoirlidade. O ser homerl propriamente agente e responsiivel, nós nos clepirrarros conr a libcrdirdc como
prripria hurranidade, resicle na pessoa. Assit.n,
c1ito, a cssência da conceito cia lilosoÍra prática.
Kant também utiliza a expressao hunraniclacle clc nrancira firrnral No prinrciro canrinho, o conceito cle liberdade surge no
como termo pâr.r o ser todo, propliirnrente dito do honrcnr, e firla contexk) cla pergLlnta: o que prccisl se dar, para rlue a totalitla-
da "humaniilade enr sua pessoa'i' "' clc clos fenônrcnr)s cnqlranto tal possa ser ileterrlinacla? Unra
Se lomarmos o honrern não colno scr se-nsivel c como ser tal pcrqunt.r ó uma pergunta "transcendental", pois toda ques
nrundano, r-rão cosmcllogicarrcr)tc, lras se o compreenclerntos a tio c toclo conhecimento que estejam direcionaclos para aquilo
partir daquilo quc o distingr.rc, a partir de sua pessoaliclacle, en quc torna possi,,,el clescle o princípio o conhccinrcnto do objcto
tão o tcremos cr1) r,ista como um ser responsável por si. Re.spon cnquanto tal é clent»linaclo por Kant "trirnsccndcntal'l O con
sobilídode por sl é, nesse caso, o lrodo ./irr dtunental r./o ser, quc ceilo que sllrgiu no prirnciro canrinho é o conceito cle libenlodc
<lcterrnina todo fazer e cleixar cle lazer, o tgir humano especiJica transccndenlt . O conccito dc libcrdade, ao qual deve con<luzir
o seguncio carrrinho, cluc estii ele mesrno orierttado pela prá-
-t l9 Kant, Crltic, Llo razitLt puro, p. 101 (V, 15,1). xis ética, é, entilo, tlcnonrinado por Kant o conceito cle "liber-
120 oP. cit., P. I02 (\" I55 e 157). doda prátíct". lim verdircle, cle acorclo collr toclas as ciiscLrssocs

302 303
prccedentes, compreendemos essa ditêrença e os termos dc uma § 27. A raalitlúe e;fttiva da libcrLlade hurnano (prittica)
maneira mais determinada e viva clo que era possível nos primei
ros encontros, nos tluais introcluzimos esses dois conceitos de a) Liberdade como fato
Iiberdadc c1e Kant a princípio apenas à guisa tle exemplo. A ques A factualidade (realidade efetiva) da liberdade prática
tão e que ainda não contpreende-ntos corrr isso prccisamente o ele na práxis ética e o problema de sua 'txperiência'l
mento especilico clo segundo caminho, isto e, a problcmática que A realidade prática da liberdade
seencontrir encoberta na expressão "liberdade prática'l Flnqu.rnto En que medida a liberdade real e etbtiva cla pessoa deve e
nos laltar essa comprccnsao, tambént uão será no lundo compre- pode ser problematizada? Se algo real e efetivo sc torna problema
endida a problerlática dcsse primeiro canrinho, apesar dc preci enquanto tirl, isto e, se ele se'torna questionável, et)tão encoltra sc
sanrcnte esse caminho pirrccer ser ürdcpcr.rdente do seguntlo, o sob invcstigação e deve ser dccir.lido, se ele e ou n;io real e eÍêtivo.
quc, inversanlente, não pode ser aparententcnte dito clo segundo.
Uma tal qucstão só pode ser enr írltir.r.ra instância de tal nrodo deci
Assinr, o ;rrtiprio Kant acentuou ccrta yez na lundomenldçõ(, da dicla, que o real e cfctivo aíirmatlo ou contestado enquanto unt tal
mcloÍísíca dos costunlcs, tlue a "ÍilosoÍia especulativa'l isto e, o scja apresentado ou sc torne acessivel. Caso, porém, essa tlcmons-
tratânlerto do problenta das antinontias, 'triaria unra via livre tração da realidade cÍ-etivii da liberdadc dcva conquistar um signi,
paÍa a Íilosofia práticirl'r' ficado Íunclantenttrl, cntâo cl;r precisa se desdobrar enr direção i\
Como é que nos aproximamos, cntão, da problerlática es inclicaçâo e à demarcaçâo do nrodo, no qual a rcalidade efetiva enr
pccilica do segundo can.rinho? Será tlue o printeiro caminho não questão a qualquer ntomento, na medida ent quc c até o ponto em
podc nos Í-ornecer tambent quanto â isso urr Íio conclutor para que ela é cÍctivamente real, pode se lorn.lr e permanecer acessiyel.
a compreensão, supondo que nao visluntbrcmos simplesmentc o
C) importânte, portanto, quanclo a qucstáo acerca da liberdacle real
resultâdo tlo prirreiro caminho, mas taÍnbém a sua problemáti c efetiya do honern é colocacla, é cornprovar a liberciadc con)o un.r
ca? Como é que o printeiro caminho ainda perguntava sobre a li
Íàto no homem, e isso sigr.riÍica no hornem elêtivânteltte cxisterlte,
berclade? Ele pcrguntava sobre a possibilidade rie sua r:nilicirçá<r cnquanto propriedaclc que elêtivâmentc ocorre. Essa é r,ista de
conr a cirusaliclade tla natureza. Ao mcsmo tempo, trirta se aqui mancira Í-orma] exatame ntc il nteslna tareta quc se teria, caso tils
enr geral apenas d e uma possíbílitlatle enr rclação à liberdadc, isto
se exigiclo levar a ternto a prova de que o homcn.r conte carne. lnr
é, não da liberdade real c efctiva ou mesnro cla liberdadc rcal e
vertladc, nenr todos íazent isso. l.lsses são justamcnte, então, as exce
efetiva tot.rlmente determinadir no hotl.tem. I)e acordo com isso,
ções. As coisas não se ntostram dc outro rnoclo, porém, no caso clil
o problema do segundo canrinho será cliscutir c comprovar a li liberciade. Pois acontcce de clualquer modo em múltiplos aspectos
berdade real c etctiva, e, em verdade, clo homem agcnte enquanto de os homens, que poderl agir livrentente, não agirem livrcntel'tte,
eticanrerrte agcnte . l) primeiro caminho Lr,:,It da líberdade possível por exemplo, na loucura, em uma situilção na qual eles se cncon-
de um aúe presente à ttisla em gerol, o scguííJo trata da liltenlade
trirm hipnotizados ou enl outras situaça)es do gênero, âcontece de
tiva de urn entc presente à \,ista determinado, do
reaL e efe lnmun os homens lrão serem imputá\€is em seu fàzer, Manifestarnente, é
efiquanto pessod. sri na c a partir cla experiência que se pode decidir quanto ii liber
dade prática real e eletiva do homem. O conceito de Iiberclade prá
321 Kant, FundanÜttoçrio dt meta_lisica dos costutt c.s, p. tt6 (IV,456). tic;r é, por colseguinte, um 'tonceito cmpíricdl Não, diz Kant, 'tsta

104
liberclacle (a prática) não (e) nenhum conceito enrpírico'i'rr Nrls clevemos aincla clue apenas perguntar sobrc ela. Negativirmente e
"não poclcrros clcmonstrar essa liberdacle como algo real e efàtivo cle maneira provisória, por nreio clc cnunciaclos inequívocos clo
lrenr rncslno cm nris mesmos e nl nalureza hur.nand]'t' A libcrda próprio Kar.rt, a írnicir coisa quc cstá clara pirra ntis é: a libcrdarlc'
dc prática nâo sc cleixa conrl.rrovar cle maneirir alguma'tomo algo priitica não é ne'nhnnr conceito empíricr). Nilo ollstar)te, nresmo
rcal c efetivo'l Isso signiÍicir, cntao, justarncntc quc a rcaliclacle efê a cssa cxplicaçiio se encontra coDtrapostir uma declaraçao ile
tiva clessa liberclacie não se n)ostrir absolutamcrtc corxr p«rblenta Kiurt, que afrrma diretamente o contrlrrio. Kant diz na (lrlÍi.d
algum. No que concerne a cssir liberclirclc, dc mirleira corresp(nl- da laculdade dc julgur, § 9l: a liberclade prhtica é urr "làt(i:'rr
dente ao que acontecia c(xn a libercladc cosmok'rgica, nós tarlbénr Essa cleclaração toi Íêitir corr certeza cinco anos clepois (1790)
sír podcrnos pcrguntar sobre a suir possibilidade. Mas sua possi em relação àrluelir clue citirmos prinrciro ( 1795). l.ibcrtlatlc é unr
bilidade é tlc qualtlucr uxrdo precisamente decidicla, no prinreiro l;rto e, cor-n isso, ao lncsrno tcmpo unr Íirto cxpcricnciiivcl c-: a
canrinho- Na mcdida em tlue esse primeiro cantinl.to rttostrou que liberclade pÍ.itica não é ncnhunr conccito crnpírico. Oonro é quc
a libe'rdade cle unr ser nrunclano é possír,cl nil concxilo conl a na as duas coisas poclem ser cr»rpatibiliza<las? L)las potlem ser enr
tureza, tambénr est/r comprovacia, conr isso, a possibilidaric da li- gcral unifrcarils?
berclatle cla pessoa elr concxio con) a naturezir irninral clo honem. A ttt.tir lriri.rl ittlorttt.rçirrr ettt l.tis t.rso., r,rr rlu.ris tt.rrr.e
Querer ciernonstrar a libcrdatlc priitica cnquanto algo rcal e e1àtivo corsegue reunir inrecliirtilr.nen[e leses essenciais tle unra ÍilosoÍia, e
e inrpossível. Oornplovirr a libertlirtle pnitica como algo 1.rossível é a clue alirma que o filtisoÍ-o rruclou o scll ponto de vist.r. Alco clcssc
sr.rpcrrfluo. (lour isso, um sel;undo cirninho para a liberclacle perde gênero pocle ocorrcr, e ir hlosofia dc Kant c rica cnr "rcviravoltas'l
enr gcral todo tlircito c totio e clualquer senticlo. Justamellte essas rcvirirvoltirs, porém, riio têm corno scr captirclas
Sc, então, porénr, existe um segunckr citt.ninho atc a libcr corn o nrótoclo fatal tlo entelclimento comutr. , que considerl algo
clirde, la rrecliila enr que Kant trata cle qullqucr nrotlo tlc uma tlcssc grlncro cono r-rma alteraçiio de ponkr tle vista, isto é, tluc
libe«lacle prálica e niro trata dela no 1:lrirrrciro canrilho, cntiio se coutrapõe tlois resultaclos diferentes. Urla itutêntica reviravolta,
levanta a tluestào: rm quc sa lido, enlão, tt liber,Tade Práticl podc suportirda por unlr necessichcle material, é, âo c()lrtr.irio, incessan-
sc lornrtr problcmtt? ler]rente o sinirl cle unra corrtintriclacle intcrn.l e, por isso, sri pocle
Assinr. clrcontrar)ro r)os cm rreio ris ntaiores cliliculclacles. ser concebicla por urna irprecnsilo da problcmiitica, na qual o todo
O qr.re sc aprcscntir como umit diferenciação tranquila e inecluí cla lranslbrmaçào e abarcaclo. F}r todo caso, prccisanros, corn isso,
voca, quandcl lcmos apenas os resultaclos e conslâtamos opini em tlce clos dois entrnciirtlos que sr- cncontrilnl contrapostos, nos
ires, a difererciaçtto entre liberclade cosrrológica c libcrdadc prá crnpenhirr por conceber o problemt. Entiio se ntostra que niio se
tica, é algo inteirânrente cltrestionávcl, logo cluc nos lcnrbrirmos grclc tàlar clc nenhuma nrudançr de ponto de vistu.
cfêtivamente clo lato cle que .rqui Íllosufiunos. Nris nâo apenas (lostaríanros cle tentaç por meio cla resposta à pergunta so-
não sabemos con'ro a libcrrladc rcirl c cÍêtiva deve se-r determina bre se é ou niio l.rossivel uniÍicar as clcclaraçires opostirs de Kant
cla, nras larnbeinr não saberlos rlem mesmo como e, alinal, que sobre a liberciacle prática enquanto conccilo olpírico c eÍrqurn[o

Op. cit., p. lls (1V,,1s5).


-122
12.1 Kânt, Orítita Llo.loculdnlc r/c.lir{qar (\irriiintler). t.eipzig (t)iirr),
l2-l Otr. cit., l). 77 (lV, ,141'l). l (Jirri,,, 1.r0,.§et.f l;hí\. tq(,).
.r06 307
fato, determinar o problema cla Iiberdade prática, ou seja, prcli levar algo a ocorrer nele mesrno. () rnodo da dação pode ser nes
neí-lo. tal como potle c deve ser perguntctdo sobre o liberdade efeti se caso diverso. Kant diz aqui que dados da razão prática c da ra
ya do homent em contraposiçáo à pergunta sobre a possibilidade zão teórica scriam cncontriivcis. N<'rs cscutamr)s antcriormcntc,
cle unra liberclacle err relirçáo aos seres mundanos em gerarl. cm rrcio i\ preparação do problerla das antinomias, algo sobre
Liberdacie não e nenhum conceito enrpírico liberclade rcprcscntaçóes peculiares, sobre as ideias. Nelas, e pensatla tle tal
ó unr f-irto. O cluc é unr Íàto? Kant distingue três tipos cle "coi nrodo umu totalidade, umâ inconclicionaliclacle, que essâ tota-
sas cognoscívcis", isto é, três tipos cle cois;rs: "opinioes'] "tàtos" liciade c essl incondicionaliclade ultrapassam em seu conteildo
e 'trenças'l'ri ltes làcti (fakrs) são'irl)etos para conccitos, cuja tudo aclr-rikr que e1 expcrinrentável. Unra ideia, portanto, nào pode
realidacle objctivu (entre objetos presentes)... pocle ser compro ser cle nraneira algurra aprcsentada intuitivanentc por mcio dc
vailalJr" Se podemos comprovar, por exemplo, aquilo que nos rc uÍna experiência. l.ibcrdadc, porém, é unra idcia, por liberdadc
presentâmos em geral, por exemplo, Lrlla casa, como ocorrcndcl conrpreenclenros ef-ctivamcnte nna causdlídade incondicíonada.
cntre obietos presentes i\ vista ou colro pertencentes à presença Agorir, Kant nos riiz: "O que, porem, é muito estranho, e que se
à vista dos objetos, então o representaclo e unr Í:lto. A reâliclacle e cncontril até mesmo uma ideia cla razãc1... entre os liltos, e essa
uma realiclacle objetiva. O real de unla represenlação e o seu con- idcia c a icleia d,t libenlade".tt" Essa tese significa, portânto, o se-
teúdo quididativo. A prova do pertcncimcnto aos objctos, àquilo guinte: o que representilnlos conceitualrnente por liberdade pode
que é real e efetivo e clue pode se tornar, assirn, maniÍ-esto para ser apresentaclo enr ulna intuição corrcspondcntc. MirniÍ-esta
clualquer um corl)o presente, acontcce dc tal rlancira rluc o dc nrente, a.§-s.l inluiçâo aprescntaclora do quc é pcnsado nir ideia de
sâícia representâdo conceitualntente por nreio de urra intuição liberclacle nào pode ser urnir expcriôncia. Pois pcrtcncc à cssência
correspondente i\ sua realidade, ao seu conteírdo quididativo, é da icleia o fato dc que ela é excessiva em face de toda experiência,
apresentado: que se tem o apresentar clo que e uniyers.rlmente cic que ela nunca é apresentirda intuitivâmente por meio de uma
pensatlo ern um representar imecliato de um particular presente aprcsentação intuitiva coilsonânte com a experiência. Mas Kânt
à vista corrcspondente. accntua cxpressamente o làto de que a apresentâção intuitivâ
O nrodo inrediato quc nos é conheciclo da irprcsentação ir.r consonante conr a experiência nào seria a única. Isso signiÍica,
tuiti\,â, isto é, da aduçâo do prtiprio cnte prcsentc à vista corrcs então: não h1r íãtos apenas no ârnbito da experirhcia cntrc irs coi
pondente, é a experíôncia, seja essa uma cxpcriência prripria ou sâs nâturais presentes à vista. A partir dai fica claro o scguinte: d
alheiâ, que nos é intermecliacla por testcmunhos. A irprcscntaçiio libcrdadc potlc ser muíto bent um Jàlo e não precisa, cotttudo, ser
intuitiva, polenr, tanrbém pocle acontecer por meio da pura ra- ut conceito empíríco. Os dois enunciados: â liberdade é um fato
zão, e, em verdircie, "a paÍtir de dados teóricos ou práticos da a liberdadc não e nenhum conceito empírico, não se excluem
mesmal'r- Fln.r toclo caso, a provil cia objetividade de algo real mutuamente. (lorn certczir, permanece ainda indeterminâdo até
P1çç!.j srr \('nlPrc unril ill)rc\cnl.l(a() inturti\il, i\tô (,Prr'r-ir.r aqui conro, então, essa Jactualidadc (realíddde eÍctíw) iio ideflti
Jicável em consonâncía com a experiêr.iír cleve ser conlpreendida,
325 Op. cit., p.357 (V, ,15,1). essa _fuctualidade que advénl se[iundo K.rnt à liberdacle; c, sobre

326 Op. cit., p.35ll (V 456).


32 r' Idem. 328 Op. cit., p.358 (V, 157).

308 309
tudo, porquc Kant também fàla, por outro laclo, do Íàto dc quc nem r))esr)]o cnr nós nrcsrnos e na naturczal humana","" entrio
a itlcia da liberdade pode ser denronstrada na experiência. Ao isso significa apcnirs quc cla não é cxperinrentável coÍno u[r.r
novo t:.otrceito do Jactuulidode também corresponcle, então, unr coisa natural presente ii vista. Sua realidade ó scnrpre unra relli-
ovo co ceito de ex;teriênciu. clade objetiva, isto e, scu conteúdo quididativo é encontrável nos
Agora,;rocler-se ia clar uma guinada enr toclo o problenra, objetos efetivos da experiência espiicio-temporal. Sc a liberdadc
guinacla essa que conduziria ao mesmo tempo para uma soluçãtr não é nacla tlesse gênero, nras se mostra de qualquer rnodo conro
sinrples. Poder se ia apontar para o tàto de que Kant não diz: a um fatu, entao isso signilica que a realiclacle da liberdade, isto é,
libcrdar.lc é r.rrn fhto. ruas sinr: "a idcia dc libcrdaclc" é urn fàto. aquilo cor.no u que ela precisa ser representadâ essencialmente, é
Isso signiÍica, porénr, o seguinte: ó unr fato quc nris tcmos a idciir aprcsentiivcl clc Llnril outril mancira, não por nreio da experiência
t1a libcrtladc, quc o ato da rcprcscntação da libcrdade tambérn da coisa natural. A realicladc c1a liberclade exige um outro tipo
ocorre cm nossil represertação colrlo um lrcxo dc acontccinrentos dc rcalidatlc cfctiva do que aqucle que é nrostraclo pelos objetos
de âtos psiquicos, que isso é Íirctuirl, o que, contuclo, náo diz nacla nirturais: ela niLt é nerrhumu reqlidudc objctivo. ()u, cilso se con
sobre r làctualidacle clo representirclo nesse representar làclual. tinue concebendo a realidatle cfetiva tal corlo Kirnt o lirz, conr<r
A ocorrência da representaçaro e clo l.rensamento cle uma liber r-ealiclade efêtivr objetiva, então ir reirlidirde objetiva da libertladc
clacle prática cleixa se cornprovar a qualquer nronrento por rreicr é clislinla conl vist.rs ri sua ol.rjetividatle em Íace da otrjetividade
dc unra cxperiência psicokigica. Una tal intcrprctação dc Kant, das coisas naturais. A.fàclualídada, quc corrcspondc à rculidadt
contudo, scriir cornplctilnrcntc cquivocatla. Ilnr vcldirdc, Kant tliz: tla libcrtlada, ó a Jàctualidode dd pnixis. No agir prático, voliti-
a idcia da liberdatlc é unr tàto, mas isso significa justiunentc quc vo, aquilo que temos em vista por liberdade e experimentável.
o representado conceitualn)ente nessa ideiir, que o clue é com isso A Líbcrddde lcnt uma rcalidadc Pralica ou suir rcalicllclc e prática
rrlrjelir.rr:rerrle ris,rtlrr.
'e tleix.r c,,nr1'r'r,rlr irrttritiv.rrtrerrlc eorrru com vistirs i\ sua objctivitladc. Agora conrprccnr-1cmos a sentençit
algo real e efetivo. Kanl cliz expressarlente em relaçiro à ideia cie de Kant: "cntrc os fatos" tanrtrcm sc cncontra "a ideia da libcrda
liberdade: eltr e "a única entre todâs as ideias cla râzão purâ, cLr.jo de, cuja rcaiidade, enquanto unr motlo pirrticular tlc causalitlardc,
otrjeto é um lato, e quc precisa ser computacla entrc as scibilia'l'r' pode ser conrp«rvaclo por meio tle leis prráticas da razào purir,
O problcmo do libcrdode rcal e eJblívír e, portanto, a conipro e, de acordo com essâs leis, em açiles reais e efetivas, ao rresmo
vttçlo de sut rulidade e.l'e tivt. A qucstão e que isso signilica algo tenrpo que na experiênciiil"L A partir ilaÍ temos ilo mesIrro temp.)
cliverso de vcriÍicar ilpcnas um caso pirssível de scr cncontrirdo uma inclicação, em cu.ja direção precisa ser estabelecido o protrle-
na experiônciir de unr ser livre real c ef-etivo. Signilica rrosÍrar nra cla liberclacle efêtiva, isto e, cie sua realidade elêtiva, para a qual
o tiPo de reoLidadc efctiva da libcrdode e t\e ídenttJicoçtio ir-ttli- precisar.r'ros nos voltar, para que possanros toÍnilÍ o segunclo cirmi
tiva quc lhc é pertinente. Liberdade é fato, isto é, a Jàctualidadt r.rho. A realiclacle da ideia cle liberdacle, aquilo que é representaclo
dessc futo é precisanrente o problema decisivo. Se Kant diz que no concc'ito cssenciirl liberclacle, pode ser comprovado como algo
r.uro podemos clemonstrar a liberdade "cono algo real e elêtivo rcal c cÍ-etivo "por nrcio tlc lcis priiticas tlir razão pura'i

329 Op. cit., p. 157 (y,154). l)il-crcuça cntrc oPinirbilc, scibile, l1rere -'t-10 Kirtt, l:utuLúrclúoÇao it rrtctfiísicLt LlLts .o.r1r,rc-§, p. 77 (l\: ,l1u).
cretlibile. (lÍ. acirla p.238. Kint, (-il1r..r Lla lbculdodc de julgr?/, § 91, p. l5U (\i 457).

310 lll
llrn resumo: o segundo caminho coloca o problcmir cla li- pessoa. Pessoalidâde é a essênciâ propriamente dita tlo lrorncnr.
berdade real e efetiva, o que signilica agora, levanta-se a questao A experiêrrciir da pessoa é ao mesmo tempo a expcriênciir es
acercu da realidadc e;futivo da líbt:rtlade. Na resposta a essa per- senciirl do honrem, o nroclo cle saber, no qual o homem se tornir
gunta clctermina-se âo mesmo tentpo o rnodo do saber possivel rnirniÍ-esto err sua realidade elêtiva propriâmente clita. Kant não
ern torno da liberdade e[etla,, <> prttblcma da essêncitt específca Íàla naturallcntc dc "cxpcriência" dl pessoa enquanto tal. A
da "experiência" de dgo ossim como a líbcrdLtde no agír volitivo. "experiência" em gerirl é rescrvatlir para o tornar se ntaitiÍêsto
O primeiro caminho perguntir sobre ir possibilicladc de uma uni do efetiyamente rcal das coisas naturais. Fi, contudo, esse modo
dadc da liberclacle cont a natureza, o scguncio pergunta sobre o cle làlar se encontr.I necessâriamente na direção dc sua proble
tilto de reolidade tjltiva de unt;r libe«lade assim possivel, o que nrática. Kant náo ltri mais âlem. Por isso, o problcma da fac
significa dizer, contudo, iro ntesnto tempo para Kant, tlue clc per- tualidade cla liberdacle pernl.Ineceu cercado por dificuldaclcs
gunta sobre o moclo no qual a ideia da liberciade pode ser iden, e incompreensões. flssas diíiculdades e incomprecnsôes cstão
tiÍlcada conr vistas à sua realidadc enquânto libcrclacle efetiva. hoje muito krngc dc sercm supcradas, isto é, não se chega hoje
l,lla e iclentificávcl por nleio das lcis práticas tla razão pura. Sua nerr lrcsmo a olhá las nos olhos. O clesvio ent direçáo ii Íiloso-
rcaliciacle e prática, a liberclade pcrtence, segunrlo o seu conteú Êa dos valorcs c urna invcrsão conrpleta do problerna kantiano
do cssencial, ii realidade efêliva do prático. Demonstrar a reali- propriamente clito.
dade da liberclacle, por consegLrinte, signiÍica clescobrir razôes,
qLre con)provam o "fato de que essa propriedade (car.rsalidacle b) Sobre a essência da razão pura enquanto razâo prática.
por liberdade) cabe de f-irto à vontade humana (e, assim, também A razão pura práticâ enquanto â pura vontade
i\ vontade dc todo e qualquer ser racional)'i'rr Isso sentpre soir A tcsc kantiana corn vistas à realiclacie eÍêtiva da liberdade
uma vez mais, como se a prescnça à vista da libcrdacle devesse c pocle scr Íirrnrulirda de nraneira totalnrente !!enéricâ dâ seguinte
puclesse ser comprovacia empiricirntente como fàto. O problerna, f<trlna o reolídodt objetíva do líbartiada stí podc scr cttmprovutla
porém, segundo tudo aquilo que Íiri clito âte aqui, é o seguinte: por meio de Leis práticas do rozão pura. Col11 essa tese, a târefa
corno ó que precisa em geral ser compreendida a rcalidade eÍ'e- propriâmente dita do segundo caminho c, ao nlcsnlo tempo, a
liva (factualidade) da libcrdade? Pois manitêstamente cssa per- problenlática especílica siio fixaclas. A Íàctualidacle da liberdacie
gunta prccisa anles de tudo cle uma resposta, se é que a libcrclade só se deixa identilicar a partir da e na factualidirdc tla lcgitimi
efetiva, factual rnestna, deve se transÍbrmar ent problenta. Oaso dade prática da razào pura. Flnr surua, o fato cla liberdade só é
consigamos detenninar como scria preciso conrpreender a fac irccssível na conrpreeÍrsão da Jàcticitlatle da libartlaàe. A ftctici
tualiclade da libcrdade, entâo cstaria clado, conr isso, o preline tlade da liberdade só é comprovaivel e esclarecível a partir da,firc
amento do modo como precisa ser uma "experiência i que deve ticidade da razào Purd enquonlo rdzato prdtíco. Assim, a questão
poder tornar acessível a liberdadc factual enquanto tal. nrais inrediata c prinrcira pass.r ir scr: Lltu t a essêttcitt dt uma
O agir prático e o moclo de ser da pessoa. A experiência razão pura etkluanto razão pr.itico? F, a outra questào é: que lipo
da libcrdade prática é unra experiência da pressoa cnqu.utto de Jàctualidade épropria à razão pura prática conl base ent sua
assêncid? A essência cle uma coisil prcscrevc o rnodo cle sua Íàc-
332 Kant, Crítica.lo rdzão pruitictt, p. l6 (V,30). tr.raliclade, de sua realiclacle efetiva.

3t2
Ntís clissemos na tratlsição do printeiro para o segundo ca- A vontade, cotrtuclo, pcrtcncc essa representaçào de algo no trrti
nrinho que esse segunrio cirrninho tinha por meta a libcrclade en- vcrsal entluiutto algo tlctcrminante. Umir reprcscntação concei
quanto clislinçlto do ht»nenr no senticlo ile unt scr racional. A clis- tual é coisa clo entenclimcnto. Na rneclicia em tluc o reprcsertaclo
tilrçào cio homent, pori,nt, rcside na pessoaliclacle, a c.ssência dessa finciona conro tlgo detr-rminante, cnquirnlo princípio, rcsidc nl
pessoalidadc, por sui vez, se basciir na rcsponsa[riliclatle pror si. A representaçào unra firculilatle cl;r relação corr pri[cipios, isto e,
I\rrlir (lc\\ir 11.1',trrsirlrilicl.rtle. l,ur i:'o. u Lrsirtril P1s1'1-i.1111..111, a razão. Oncl.- hii Yolrtadc, iri hii razào, e, enr vcrcladc, conto Lltlt
dita cla hunrirniclacie clo homem prccisa se [ornar compreensivcl rcpresent.r.r que clctcrmina a atuaçalo, ut.n iltuilr ligaclo à práxis.
(. \(,r'l) i\\r'.,1 c\sill(r.r (l( unlir r.l/iu lrL -J L't)rluilIlo ri]/ii(l Prütii.l. Vonlo(le noo í outra toisct scniio rozão Prtítiu e vicc-vcr.sa. Ra
Ntis já introcluzirlos r)csse contexto il tese de Kant e a tarela que nro prática é r«rntarle, istct é, una Jàculdnle de atuur sagundtt a
se ellcontrâ aí contida: a rcaliclacle oi:jetiva da liberdacle só 1.rode reprcst:nloçao tlc dgo artquanlo prircrpio, Kant tàla Inuitas vezes
sct comprovirdir por meio dc leis práticas cla rirzào purir. Nós per- da "lazao priitica" ou cla "vontade cle urn scr racionirl'lr'r A razãtr
gul)tirmos: qual e a essência dir razao pura enquanto raziio priitica? é priitica corno "unra causir quc clcte rmina a vontitde'l"r \bntirdc
Ncssa pc-Ígunta se enc(»trir enrbutida a questão geral: o quc ó crn é'tausalidade por meio de razão'l"i isto é, razrxt prâticanrcntc
gcral umir razão prálica? O que significa'irrático'l práxis? Prrixis usadar, raziio prittica. "Conhccilllcuto prlttico" e, por cot'tseliLlintc,
signifrca açao. Mas ntis saberlos quc ir ilçào cnt gela) é a rellçiio dc urn conhccilrenlr) tal "que clc- sti tclr nlgo enr comum cotrr fin
um sujeito tla cirusalidacie ct»I0 efi'ikr. Priixis ó unr tipo particLtlitr clanrcntos de cleterrrinação tla vontltlil""
de tção, ircluelir cluc c possível por nteio tle unra yollaríc: ela e untir No que concernc ii tcsc rlc Kant, nós perguntamos sobrc a
relâça() 1al, na clual ir rr--laçao clo sLtjeito eltquirnto car.rsalidacle, en- cssôncia de ruril nzào priitica. Se "co nsicier.tnr os"lr' unlil rilzio
quilnto o elenrento dctenrriniurle, cont o elêito é caraclcrizada pela ttriret. lttt<ttt,. lrriilir.r.(tttir0 lerltll,,ttttt ..ot)lrl ir ril,/.it' ll.it' clll
vn)tade. Vontadc é "uma taculclirde cle atuar segundo conccikrs'l suâ relâção conl obictos, mirs estitnros n:ttcs lidantlo collt Lltl)â
( bnceito designa a reprcscutação cie algo no uliversirl, cluc pocle vontade. Nós considcrarnos ir razilo enr relaçilo corr a "r,ontatie
atuirt e querer' .Ituar segundo irlgo assim representirckr clquarlto c sua c.rusalidadc'l "" iskr e, em relaçalo ao ntoclo como a raz,lo
tal. O dcternrirrante é, por exentplo, ir rcpresent.lção da lirrntação cletermirrirria a vontircle. Se pelguntarnros sobre umir rttzào ptt
cientilica tlo honrcnr. Esse represcntaclo pode detel minur unt agir ranrenle priitica, cntalo perguntaren'ros: o quc significa ent geral
(]nquar)to rcpresentâdo. Urua atuação irssir.n deterntinatia é urua o lalo cle urra razão puft? ser prática? Ilirzio pura é uma repre
atuaçiio volitiva, tl pr'áxis. Ent untir rriiquirra, scgultdo Kâltt, tâut- sentirção dc algo em geral, que é aí rcprcscntado, nrirs que nào c1

bem e tiatkr unr agir, nrirs o que deternrina iri o nruvirrrcnto cie unra
parte não e reprcscntado poÍ essa parte deternrinatla conro o cle-
lerminirnte, dc tal nrodo que o ser representado tlo dctct nrinante l-l.l K.\t11,I\oklimc tuÇtio LLt »rcLalisi(i L{Lrs .o-str//r..t, p. 77 (lV,'l'lll).
copertencerin no tipo tlc sua cleterntinação, isto é, a uriiquina c as 3.1.1 ()p. cit., p.9Í) (1V,.:159). Observirçào.
pirrtes particulares niio podcnr agir volitivantente, não hi'i ncssc 3-15 Op. cit., p.92 (lV .161).
caso nenhuntat irluaçiro seguntlo e por nteio de cunceitos. Kirlt, (,',./frr1r r/Ír útziio prtiliLLt,l, 22 (\l l6).
\trntade e a lirculdadc clo agir no sentido cla práxis. A von 3-r7 Op. cit., p. l7 (\1, l2).
tatlc, porém, pertence â làculdaclc <1o agir no senticlo cla;rráxis.
-l-lu klem.
haurido da experiência, ncm cstá ligatio com aexperiência. Sc cu poderia se determinar? Pois bem, se elâ e a faculdade de deter-
rcpresento para nrim honrens de posse de uma Íirrr.r.ração confi minar o seu próprio ser causa, entáo reside na vontâde â possi-
gurirda de maneirir tottrlmente determinada e se essa rcprcscnta bilidade de se determinar em seu ser causa por meio de si mes
çàu entlu.rntl lal rlclcrtnina tn<u .tgir. ettlrio es:'c lgir c ttttt agir mo. O que isso significa? A vontade enquanto faculdade de atuar
voliÍivo, priitico, mas não uttt agir por nreio de urna razão;rura. segundo representações é em si o movimento de representar a
Pois o elemcnto cleterminante, um certo critcrio oriundo cle uma razâo possível de determinaçâo de seu querer A determinaçáo
lbrmaçào dctcrrlinaclamente configurada, esse represenlacltt volitiva é em si 'dirigida" para si mesma. Na representação vo-
cnquanto deternlinante, é conquistado â partir da experiência litivâ, portanto, o querer e sempre e necessariamente correpre
ou cm rehção ao experimentávcl, conrluistado junto a hometrs sentado. Esse, o querer enquanto tal, também pode, por isso, ser
cfetivamente presentes com propriedacles determinadas. O quc fundamentalmente representado como o determinante. Se isso
deternina a vontacle e a transtirrma em vontacle, isto e, aquilo acontece, então o querer enquantô tâl é o determinante da von
que a determina cr)quanto vontacle, e esse entc cxperinentável, tade. Com isso, porém, o querer não retira o fundamento de sua
ou esse ainda não cnte, enquânto àlgo a ser produzido. A vontacle determinaçáo de algum lugar qualquer,mas de si mesmo. E o que
não é deternrinada a priori, não é livre da cxpcriência, isto e, elâ o querer retira de si mesno? A si, em sua essência, a si mesmo.
não é umir vontade purâmente determinadir. A vontade é para si mesma o determinânte. Ela se deter-
Quando e tlue unra vontadc é dcterminada a priori? Quan mina a partir daquilo que ela mesma é, sua própria essência. A
do é que unra razão prática é, enqua to rdzão pura, prática? Ncs essência da vontade é, então, para o querer, o determinante. Um
sc cilso, se a vontade em geral não é determinacla por meio dir tal querer determinâ-se pura e simplesmente apenas a partir de
cluilo que ela efêtua e institui olr por meio cla representaçào de si mesmo, não por meio de algo experimentável, não empiri
algo a ser eÍêtrrado ou instituíclo, m;rs por meio dc por meio do camente, mas puramente a partir de si. Uma tal vonlade é pura
tlue então? Aintla há, então, para a vontade enquanto talem geral vontade.lJtma vontade pura é uma razao pura, que se determina
algo clue podcria tlctcrrniná-la, se é que ela não se tlcixa determi- apenas por si para o agir volitivo, isto é, para a prâxis. Vontade
nar por meio tle ur.n eÍêito descjado? O etêtuár'el a ser efêtuado pura é razão pura, que é prática para si aPenos. A partir daqui,
na vontade corlo Llma íirculcliicle é scmpre algo a ser realizado, podemos compreender, por exemplo, a proposição com a qual
algo real e cÍêtivo, algo enrpírico. A vontade é "uma Íàculdatlc Kant abre a discussão temática de sta Fundamentaçoo da meta-
"Náo há em parte alguma nada no mundo,
dc... ou bem produzir objetos corrcspondentes às representaçõcs, físíca dos costumes'.
ou bem, contuclo, detcrminar a si mesma pirra a efêtuaçâo clesses na verdade, nem mesmo fora dele, que pudesse, sem restrição,
objetos..., isto é, parr dcterminar ir sua causalidacle'l 'r" Vrntade ser considerado como bom a não ser uma boa vontade".3aa Sem
e a faculclade de determinar a sua causaliclacle, dc sc dcterminar restrição, aquilo que é pura e simplesmente bom é aquilo que
em seu scr causir. Por meio do que? Ou bcm por meio cle algo precisaria ser avaliado em si mesmo.'A boa vontade não é boa
a ser eÍctuirdo representiivel, ou bem por mcio tlo que, afinal? por meio daquilo que ela efetua ou institui, nem por meio de sua
O que ir vontade âinda teÍi.r como acluilo a partir clo que ela capacidade para atingir uma linalidade qualquer pressuPosta,

l3e Op. cit., p. l6 (\',29eseg.). 340 Kant, Funddfientaçoo da metafísica dos costumes.P.l0 (1V,393).

116 3t7
n1âs âpenas por meio do querer, isto é, ela é em si boa".rrr Uma lei determinânte para a existênciâ da vontâde, isto e, â vontade i'
boa vontade e, enquanto vontade, ou seja, na medida em que ela o próprio querer. A pura vontade, porenl, a essência da vontade
quer apenas o querer e só assim proprianlente quer, pura e sim- como representando de maneira deternrinante o puro querer, e
plesnrente boa. Llma bou yontade é, e quofito unto v<tntade pura o modo da legislação. Tudo o que e determinante nao conténl
e símplesmente boa, uma vontade puro. outra coisa senão a maneira e a f-orma como o qr,lcrer qucr pura
Assim, expusemos a!!orâ a essê cia de uma razuo Puro prá- mente em si c por si. Essa maneira c<xrro pura, a forma do modo
tíca enquanto yofitadc pura. E, contudo, ainda não esttrmos suÍi- como, é a maneira da legislação para o quercr. Se ela apenas é o
cientemente preparados para contpreendermos a tese de Kant de deterninânte, então a lei da vontacle pura não é oulrâ coisa se-
que â reâlidadc objetiva da liberdade stl pocieria ser comprovada não a forma da legislação para unra voutade purâ.
por meio de leis práticas da razâo pura.''r Quais sáo essas leis? Assim, trbtenr-se daí o seÉluinte: a lei funtlamental tla von-
Como chegamos a essas leis? Hlas pertencem à razão pura práti tade pura, da razõo pura prálicrr, não é outra senão a;forma da
ca, ou seja, à vontacle pura. Em que meditla essa vont.rde tem em legislaçao. llsse é o sentido da proposição, segundo a qr.ral a lei
geral algo em comum com leis e qual é a lei da vontacle pura, â lei fundamental da eticidade é uma lci fonnal. Formal e o conceito
fundamental da razão pura prática? oposto a material. Caso se compreendam essas expressôes no
sentido vulgaç isto é, caso não se rcconheça o seu signiÍicado
c) A realidade efetiva da razão pura prática na lei moral metâfísico propriâmente dito, então isso signiÍica formalmente
Vontatle pura c .l(luclc qu(rer, quc i('n\egue agir prrra c o mesmo que "de âcoÍdo corr umâ fórmulJ] vazio, não pre-
simplesmente conr base no scr deterntinado por meio do ser re enchido por materia, por materialidade. O formal e, então, o
presentado da essência da vontade enquanto tal. Vontacle purâ e: vazio, o indeterminaclo. Uma lei ética forn.ral é, entáo, unra lei
qucrer é o ser próprio da vontade. O determinalrte para a von- vazia, isto é, ela não diz propritrmcnte nada sobre aquilo que
tadc pura, o ser causâ pâra ela mesma, reside em sua prtipria eu devo fazer em termos materiais. Uma ética construída sobre
essência, na medida em que essa essência é representada corlo uma tal lei nroral Íbrmal prccisa, portanto, fracassar justamen
determinânte, isto é, é querida puraÍnente. C) ser causa, a causa te no que concerne ao agir moral prático efetivo, que sempre
lidade de algo, é, scgundo a sua essência, porém, sen.tpre a rcgra, exige decisa)es determinâdâs. Unla tâ1 eticâ permânece presa ao
â lei do ser-aí, da existência de algo. Isso signilica, nas próprias lbrmalismo. Ao invés disso, busca-se hoje construir utna ética
palavrâs de Kant, que'b conceito cle causalidade conténr inces materíLtl dos valores (Max Scheler, Nicolai Hartmann) e reieitâr
santemente a ligação com uma lei, que determina a existência do .r etica kantiana como Íbrmal. Essa interpretação não é ape
mírltiplo na relaçáo de um com o outro'lr'rr A lei cla vontade pura nas equivocada em muitos aspectos, ela desconhece em geral
não é esse ou aquele representável, efetuável determinado, mâs a o problema decisivo no conceito do Íbrrral, pois a factualidade
da razão pura prática não sc transforma cm um problcma ccn
311 Op. cit., p. 1 I (l\i 394). tral. Formal é com certeza a Iei da vontade pura, mas essa lei
-r42 Cf. Kant, Crítica da Jiculdade de jttlgor, § 91, p. 358 (V,457). (lfl nâo é vazia. Ao contrário, a forma da lei significa aquilo que, na
acüna p.271. Iei, na regulação, no ser câusa, constitui o elemento determi-
3.13 Kant, CtíLico íla rcz.no próri.d, p. I04 (V, 160). nânte, o elemento propriamente clito e decisivo. O formal não

3r8
é o vazio indeterminado, mas precisamente o "determinante" a vontade necessariamente boa, a lei é o próprio querer, o querer
(forma, eiôoq). simples da vontade. Para a vontade contingentemente boa, a lei e
O propriamente legislador para o querer é o querer puro o dever da vontade pura. O que é devido é o puro querer, isto é,
real e efetivo mesmo e nada alérn disso. Uma tábua valorativa. um querer tâI, que náo é mais querido com vistas a algo diverso,
por mais ricamente articulada e abrangentemente mâteriâl que que só poderia vir a ser alcançado por meio da vontade. A lei
ela seja, permanece um puro fantasma sem nenhuma legalida- da vontade, portanto, nào tem a forma: tu deves, a saber, se tu
de comprometedora, se o puro querer enquanto o propriâmente queres atingir isso e aquilo, ou seja, não, por exemplo: tu deves
real e efetivo de todo âgir ético náo quiser efetivamente a si mes dizer a verdade, se tu queres ser estimado na sociedade humana,
mo. Esse querer a si mesmo é o suposto vazio. No fundo, porém, Ao contrário, a Iei da vontade fala: tu deves simplesmente agir de
ele é o unicanente concreto e o mâximamente concreto iunto à tal modo, sem se e porém. Ora, na lógica, uma proposição sob a
Iegalidade do âgir etico. Essa lei supostamente vazia é uma lei forma: se a é, então b é, é uma proposição condicional, hipotética
fundamental precisamente pelo fato de que, se ela determina efê- (u{po/qesij, pressuposiçáo); em contrapartida, uma proposição
tivamente o agir, esse já sempre sabe a cada vez no instante e para sob a forma "a á" é uma proposição categórica. De maneira cor-
ele o que ele deve fazer, o que sempre signilica primariamente respondente, há um "tu deves" que se encontra sob condiçôes:
como ele deve agir. A eticidade do agir consiste não no fato de "tu deves, se..ll Um tal imperâtivo é um imperativo hipotetico.
que eu realizo um assim chamado valor, mas no fato de que eu Urn "tu deves" incondicional, contudo, que exige apenas o dever
efetivamente quero, isto é, me decido, quero no ter me decidido, do puro querer, é um imperativo, que pode ser denominado ca
ou seja, assumo a responsabilidade sobre mim e me torno um tegórico. Portanto, o princípio fundamental de uma vontade pura
existente nessa assunção. Jinita, isto é, de uma razao pura prática é um imperatiNo categó-
Náo obstânte, a essência do querer - esse querer em sua es rico. Nós perguntamos, então, de maneira involuntária: como é
sência - nào é, contudo, de fato algo vazio? Que tipo de vontade que se acha formulado esse imperativo? A questáo é que nós náo
é esse, afinal, que quer puramente a si mesma? Uma tal vontade podemos perguntar de modo algum dessa forma. Por que não?
determina seu próprio querer inevitavelmente, isto é, necessaria- Meditemos novamente sobre nossa tarefa e sobre aquilo que re-
mente. Uma tal vontade não pode ser senão consonante consigo alizamos até aqui a seu serviço. O que importa é compreender a
mesma, com sua essência pura, isto é, nâo pode ser senáo boa. tesera': a realidade ob;etiva da liberdade só pode ser comprovada
Uma vontade, contudo, que nâo pode ser outra coisa senáo boa, por meio de leis práticas da razáo pura. Mas nós acabanos de en
é uma vontade boa perfeita, ou, como diz Kant, uma vontade contrar agora a lei fundamental da razâo pura práticâ e, com isso,
sagrada, divina. alcançamos a base, a partir da qual apenas podemos comprovar a
'lodavia, onde a vontade pura não segue incontornavel- factualidade da liberdade segundo Kant.
mente a sua essência, mas pode e é determinada por outros im- Nós conquistamos efetivamente a lei íundamental da ra-
pulsos, tal como no caso de um ser finito, a cuia constituiçáo zào purâ prática? Podemos efetivamente ter conquistado essâ
perlen(e a sensibilidade. ai a legislaçào pura da vo,rtade tem o
caráter da imposiçào, do comando, do imperativo. A fórmula de
144 Compreender signilica aqui: l. Produzir para si aquilo que se tem
um comando e o "tu deves'l Para a vontade sagrada, isto é, para em visla e que \e exige.2. Preencher essd requisiçào.

320 32t
lei? Con.ro proccdemos ate âqui? Nós explicitamos aquilo que clo com isso, as coisas também estão dispostâs dc uma nraneirir
perteÍrce elr gcral à ideia de uma vontacle pura, o clue é em geral tot.rlmente peculiar no quc concerne ii Íãctualidade clir lei frrr.r
uma razão pura prática. Âlem disso, nós discutimos como é clue clamental rla razão pura prática, ern rorno d,a realidatle e.fetivo de
a lci de urna vontacle pura precisir scr, na medida enI que essa um imperutiyo c{ttegórico.
vontade é cleterminacla ao n)csnro tenpo enqu.lnto finita pela Iistá atrelada com a demonstração do fam de uma razão
sensibilidade. Ntis vimos quc ir lci precisaria ser um imperati pura prática a possibiliclade da demonstração da fàctualidade da
vo categórico. Nalo obstantc, ainda niio pr(,v.Imos que há tlc fato liberdade prática. A liberdade "torna'se mirnifàsta por rreio da lei
uma lal lei clotadar clo cará1er clo imperativo categórico. Ntis nenr moral".rr5 Dssa lei, portanto, precisa se lornar ela ntesr)a p.ltente
mesmo mostraInos que existe uma razão prática ftnita, purt. enquânto algo real c cfctivo. Se resulta de sua realidade eÍàtiva it
lictualidadc tla liberdadc, cntão est.i ào mesnto terrpo deciclido,
d) O imperativo categórico. Sobre a pergunta juntamente corn a realidadc cf-etiva cla liberdade, a sua possibi
de sua realidade efetiva e de sua "validade universal" lidade. O que é real e etêtivo precisa scr possível. Na medida em
Segunclo tudo o quc prccedeu, precisar-se ii dizer: conr que a realidacle elêtiva tla libcrclade a ser corlprovada ir partir
certeza, essa comprovação de que unra razão prática pura fini da fàctualidade da lei moral e uma rcaliclacle efêtiva peculiar, a
ta existe aindil não tiri expressanrente levadar a tcrnro por nris. possibilidacle pertinente também prccisa ser (lonr reiação ao
Pois isso é cornplctamente superÍluo o homem "c", sitl, url ser primeiro caminho, isso signilica que a possibilitlade da liberdade
vivo racional finito; não sabemos se elc é o ítnico dcsse tiptt. Náo priitica enquanto tal r.rão equivale simplesmente à possibilidacle
é mesmo inportante deÊnir aqui se há tipos diversos de seres da liberdade transcenclental. Assim, acentua-se adicionalmente
racionais hnitos. É suÍicientc lnostrar que um tipo, os homcns, o problema especifico do segundo caminho. Com a construção
cxistem faticamente. C)u serii que isso ainda precisa ser printei realizada ate aqui da icleia de uma vontacle pura, de uma vontirdc
ro colocado à prova? Nào sc vê dc maneira algunra como nós perÍêita, necessária, e de urra vontade contingentententc pura,
homens devernos oÍêrecer un.rir prova factual de que estamos com a construçiio do tipo pertincnte a essa vontade de legalidade
fâticamente presentes. A exigência de uma tal prova é scm sen-
( itt:1:cr31 iv,1 . x 1.*, rrico). rtós conl in uilrn{ )\ s( nl r)o\ (r't((,ll rJrnt()s
tido. Conr certeza. l)aí, contudo, se segue quc ntis cxistimos ou jn\tct iJitclualidade a ser comprovada de umt rozao purd pratica.
âpenas que é absolutamente óbvio que nós existitnos? fotlavia, Sti sabcmos enr relação ao que devemos denronstrar a factuali-
se supusern.ros isso alguma vez, ser;i quc se segue daí a existência clacle e o fato de tlue essa Íàctualidacle justamente é un.ra làctuali-

de uma razão pura prática? Isso é questioniivel. Ntis não ape clacle peculiar, de quc ela não coirrcide com a prescnça à vista do

nas não sabemos se, uma vez que os homens estáo presentes, homem. De quc tipo é essa Íàctualidade mesma? Como é, porérn,
tarnbem há 1àctualmente urna vontade pura: ntis tambénr não que a Íàctualidade espccifica cla vor.rtade pura, da razào pura, deve
sabemos, sobretudo, o quc é cle saida muito mais essencial, o que ser corlprovada? I)e acordo com tudo o que dissemos, nâo neces

deve significar: urra vontadc pura e de fato existente. Pois, por sitamos cle uma clemarcação suficier)tentente .rmpla conceitual da
Íim, a Íactualidacle clc unra pura vontade, o existir no puro qucrer essôncia dessa Í'irctualidade peculiar da pura vontade? Ou será quc

e enqu.urto um puro querer, é algo totâlmente diverso da mera


presença à vista de um ser t.nundano chamado hometl. De acor- 3.15 Kant, C'rl/icd dd rdzão prtitici, p. 4 (y,5).

322 323
o que há de mais imediâto e unicamente frutífero é simplesmen Iei subietivamente condicionada, mas uma lei objetiva. A pureza
te tentar demonstrâr que, no homem, uma vontade pura é um do querer eleva a vontade do particular acima das casualidades
fato, adiando como uma problemática posterior a questâo sobre de sua disposição e situaçáo particulares. A pureza do querer e
o que a essência desse fato seria, isto e, a facticidade do homem o fundamento da possibilidade da validade universal da lei vo-
enquanto pessoâ existente? litiva. Não é a pureza do querer, por exen.rplo, que se mostra,
Com certeza, para a razâo prática enquanto fato, não é ao contrário, como uma consequência da validade universal de
incondicionalmente necessário ter um conceito desdobrado e uma lei seguida. Se esse querer da pura vontade se eleva acima
universalmente fundamentado da facticidade desse fato e da fac da casualidade do agir empírico, ligado firmemente a impulsos
tualidade desse estado de fato. Por outro lado, náo é de modo casuais, então a elevação não tem em vistâ um perder-se na abs
algum possível empreender mesmo que âpenâs a tentativa de tração vazia de uma forma em si válida da legalidade, na qual
uma demonstraçáo de que a vontade pura no homem é um fato, permaneceria completamente indeterminado o que se teria de
sem compreender iá desde o princípio de maneira pré-concei- fazer a cada vez, mas, ao contrário, a elevação ao nível da pura
lual a esséncia dessa factualidade. E importante mo5lrar que. no vontade e a entrada em ação do querer concreto propriamente
homem, uma razáo pura é efetivâmente por si apenas prática, dito, que justanrente é o único a se nlostrar como concreto por
de que uma razão pura, sem se ter em vista um efeito desejado nreio clo fato de que ele quer efetivamente o querer e apenas elc.
ou uma vantagem alcançável, determina efetivamente por si a Se, em contrapârtida, o homem se dá uma lei, que ele considera
vontade, de que umâ razâo pura quer em si prâticamente uma como simplesmente válida para a sua vontade subietiva pârticu-
vontade pura. i5lo é, exige-a em si. E impôrtante ntoslrar que o lar, então um tal princípio fundamental apenas sub.jetivo e uma
homem sabe efetivamente se colocar sob um querer Puro. "máximíl "Caso alguém diga, por exemplo, que precisaria trâ-
Se o homem quer efetivamente em si uma vontade pura - se balhar e poupar na juventude, parâ não passar necessidades na
ele quer, por exemplo, dizer a verdade -, entâo isso significa: a re- velhice: então essa é uma prescrição correta e âo mesmo tempo
gulamentaçáo de seu querer reside unicamente na representação importânte da vontade. Vê-se facilmente, Porem, que a vontade
de uma vontade pura. Representação de regras do agir prático é remetida aqui para algo diverso l{"
é sempre coisa da razáo. Se, então, até mesmo a pura vontade, A vontade pura, isto e, o querer que é enquanto tal uma lei
ou seja, não apenas essâ ou aquela vontade empiricamente de- para si mesmo, é em seu caráter de lei, uma vez que náo é condi-
terminada de tal e tal modo, é representâda como rcguladora, cionada por nenhum estabelecimento subjetivo determinado de
então essa regra e legislação são uma regra e uma legislação da metas, uma lei objetiva, não uma máxima. Em contrapartida, se
razâo pura. Nesse caso, a razão é, na medida em que ela se deter- agirmos de tal modo que o fundamento de determinação de nos-
mina para a açáo, isto é, ela é prática, puramente por si. Mas se so querer, isto é, â nossa máxima, seja a todo momento de uma
a vontade pura é determinante, entáo sua obrigatoriedade tam tal maneira que essa máxima possa determinar necessâriamen
bem não está atrelada a se a lei está ou não ligada a um homem te todo e qualquer querer enquanto tal, então agimos de acordo
casual em uma situaçáo casual do agir. A lei da vontade pura é, com a lei fundamental objetiva de nossa vontade. Ou seja, a lei
ao contrário, obrigatória para todo homem enquanto tal, de ma-
neira universalmente válida, ou, como Kant diz, ela não é uma 346 Op. cit., p.23 (V,37).

324
fundamental objetiva da razão pura prática, que precisâ ter o ca- qualquer nromento o Íàto de que temos nariz e ouvidos? F,, en'r
riiter de um rnandamento incr»rdicionado, cle um imperâtivo ca- verdade, com o mais cotrlun entenclimento? Não se ttecessita,
tegórico, é: 'Age de Lal modo que a máxinrtr dc tua vontade possa portanto, de mirneira alguma de una ocupação Íilosófica, especu
valcr ilo lncsrno tempo .r quâlquer nlomento conro princípio de lativa e <1e disposiçóes particulares de uma met<idica particular
uma legislação universal'1 "' (ioloquemos à provir a aFrmirção kantiana. Se observartlos
Nris repctinros a nossa questão diretriz: em quc ir razio a ntis mesrnos de maneira totalmente concretâ agorâ âqui sen-
pura se comprova enr nós cle Íato corlo prática? Por meio do firto tados, tle modo imecliato e isento, sem qual<1uer auxilio de um
de que o imperativo categririco se comprova cofilo factual, como saber e de conhecimentos hlosrificos, entalo encontrarernos en't
tur lato.rrH Mas o que isso signiÍica agora? Temos aqui â po-siçrio nós como um fato o imperativo categórico? Nós encontramos
decísíva para d c(»nprcensao do prolrlama cotno um lodo. Kant diz aqui âlgo do gêncro do fato daquela exigência: 'Age cle tal rnodo
que podemos "nos conscientizar imediatamente" da lei moral "... que a miixinra de tua vontirde possa vâler a qualquer momento
krgo tlue projetirrros para nós máximas da vontirdi|]" O impera ao mesrlo tempo como princípio cle uma legislaçáo universal"?
tivo categórico se nos impôe ;ror si nresmo.'il) O fato dcssa lei 't Não encontrarnos nâda ciisso. Nós encontramos muito mais e já
inegável'ir'r "O entendinrento n1âis comuni'conseguc r,ê la "senr encontrilmos conl certeza logo em nteio à primeira apresentação
instruçãtiir5r "Esse principio flndanental, porém, nâo carece de dessa Iei o fato cle que esse princípio fundamental, filosoÍicanren
nenhLlmâ busca e de nenhurna invenção; ele esteve clurante muito te pensado, ven'r à tona no interior de um sistema ÍilosóÍico cle
tempo presente na razão dc todos os hontens e se incorporou em terminâdo. O quc podemos encontrâr é no Ínáximo a explicação
sua essênciâ. Trata-se do principio frrndantental clà etíciddde".t\r de que precisamente Kant decaiu nesse imperativo categórico. fá
lissas proposiçoes e, em particular, a últirna proposiçãcr faz muito tempo tâmbem que as pessoas encolltraram essa ex-
soam totias nruito estranhas e extremamente dificeis de contpre- plicação hiskirico-espiritual, e se costuma tornar contpreensível
ender O in.rperativo categórico - um fato inegávcl, imediatamen- a coisa rnesma conr o seu auxílio. O imperâtivo câtegórico dâ
te compreensível, e, em verdade, compreensívcl para a mais co- |azão prática - isso pertence à era tlo Esclarecimento, âo ternpo
nlum râzão humana, incorporado na essênciâ do hontem? Ou scja, do Estado Prussiano dc Frederico, o Grande. Expresso com os
algo que poclemos encontrar previamente a qualquer rnomento meios do nrocLr de pcnsar atual: o inlperâtivo categórico é uma
colro presente, mais ou menos do t'trodo como nós constatantos a ideologia ético lilos<llica determinada, condicior.rada sociolo
gicamente de n.raneira peculiar, mas de rnodo algum a lei n.rais
ur.riyersal do agir humano ent geral ou mcsmo do agir de cada ser
347 Op. cit., p. 36 (V, s4). racional finito, tâl como Kant gosttrria de ver essa lei fundarnen-
34Íl Op. cit., p.37 (V s6). tal concebida. Nós abclicarenros aqui de discutir ate que ponto
349 Op. cit., p. 122 (V, 18u). uma explicação sociológica conduzida en1 terIrros histórico-es-
3s0 Cf. Op. cit., p.36eseg. (V,56). pirituais pode contribuir em alguma medida pâra a cornpreen-
35r Op. cit., p.37 (\',56). sáo mâterial de uma problemática filosóÍica. Nós admitimos sem
352 Op. cit., p. ll (V, 49). qualquer problema que o Esclarecimento, que o F,stado Prussia
353 Op. cit., p. 122 (V, I88). no e coisas desse gênero íoranr poderes atuantes em relação à

326 327
existência concretâ de Kant e mesmo em relação ao seu trâbâlho imperativo categórico seria algo espiritual. Kant diz muito r.r.rais
filosófico. Nós precisamos até mesmo âcentuar que seria ântina- o seguinte: trata se da "lei moral, da qual nós nos conscientizir
tural, se Íàltasse algo desse gênero. mos imediatamente, Iogo que proietamos para nós máximas da
vontade".r5r A experiência da lei fundamental tla vontade pura
§ 28. A consciência da liberdade humana encontra se, por conseguilrte, sob uma condição: "logo que pro-
e de sua realidade efetita jetamos para nós máximas da vontade"; e isso não signilicâ ou-
tra coisa senão: logo que efetivamente queremos, Iogo que nos
a) Vontade pura e realidade efetiva conscientizamos dos nrotivos do agir, Iogo que nos decidimos
0 caráter próprio do efetiyamente real volitivo enquanto fato sobre eles, em relação a eles de tal e tal modo. A condição de
Com tudo isso, porém, se compreende alguma coisa daqui- possibilidade da experiência do fato da lei fundamental não é
Io que está em questáo? Ou será que náo demonstramos cont nenhuma condição menor do que a de que nós nos dirigimos
um tal falatório histórico-espiritual e sociológico senão o fato de antes em geral para o interior do ân.rbito especifico de tais fatos,
que nós não compreendemos nada, isto é, de que náo conhece isto e, de que nós queremos eÍàtivamente. Ijfetivamente querer é
mos nem trresmo a condiçáo fundamental mais elementar para sempre aqui e agora querer, não se trata de querer desejar, ou de
a possibilidade da compreensão, para não falarmos de â termos se pensar que se quereria. Querer efetivamente, isso tarlbem não
preenchido? Se as coisas se mostram âssim, então uma coisâ vem é se propor em geral ser enérgico, mâs efetivâmente querer é: a
à tona de saída: não se acha de maneira alguma patente para a qualquer monrento querer aqui e agora.
compreensão cotidiâna e para a cliscussão fibsóÍica vulgâr do Mas o que querer alinal? fá essa é uma vez mais uma ques-
problema, en.r que n.redida o impcrativo categórico deve ser unr tão vã e fatídica, tlue se desvia sorÍateiramente do querer real e
fato, o que deve significar dizer que esse Íàto mesmo seria aces- efetivo que, em verdade, se porta como questão como se se es-
sível âo entendimento mais comum. A prova ratiÍica O contrário. tivesse unicamente empenhado em eÍ-etivamente querer. Pois se
Nós náo encontramos, de qualquer modo, nada clesse fato. Com busca efetivamente algo, que poderia ser querido. Assim, porem,
certeza não! E nunca o encontramos tambcm dessa maneira por o querer se íecha precisamente uma vez mais em relação ao Íàto
toda a eternidade. E não, em verdade, porque nós na medida de que ele deve querer no instante. O que querer? Pois benr, qual
em que nos observâmos imediatamente da maneira designada quer um que eÍêtivamente queira sabe, pois qualquer um, que
ou sondamos também fenornenologicamente nossa consciência eÍetil,amente quer, nao quer outra coisa seniio <t dever, seu ser aí.
com vistas à presença à vista do imperativo câtegórico , buscan- Somentc quando queremos assit.n, é eÍ-etivamente realaqui-
do assim, nos enganamos em meio ao caráter factual do fato a lo no interior do que o fato da lei moral é efetivamente um fato.
ser encontrado. Essa realidade efetiva do dever encontra se totalmente em nós,
No que concerne ao fato do imperativo categórico, Kant ela e a realidade efetiva de nosso querer em um sentido essen
não afirma em lugar algum que ele simplesmente ocorreria, que cialmente duplo: 1. Trata se da realidade efetiva, que só fornece
ele seria algo presente à vista em nós de maneira corresponden o seu elemenio real e eÍêtivo em e por meio de nossa vontade.
te aos frlamentos nervosos e aos vasos sanguíneos, com â úni
ca diferença de que esses dois seriam algo mâterial, enquanto o 35a oP. cit., P.34 (v,53).
328
2. Ela e, cntão e apenâs então, a realidade ef-etiva, que é verda- não, isso e secundário; é suficiente que, no querer real e elàtivo,
deiramente própria à nossa vontade enquanto vontade. A factu- o fato do dever se anuncie. Nô querer real e efetivo, nós coloca-
alidade desse Íàto não se encontra diante de nós e contraposta a mos â nós mesmos nâ situâção de precisarmos nos decidir c1e um
nós, mas se acha unicanrente em nós rnesrlos, de tal ntodo, em modo ou de outro quanto ao fundamento de deterrninação dc
verdacle, que sornos a cada vez requisitados para a possibilida- nosso agir Mas, tlir se á, tudo se transpóe âgorâ para o querer
de dessa realidade efetiva, e, com efeito, não em urna requisiçáo real e et-etivo. Só se esse for real e eÍêtivo, há a realidade efetiva
qualqucr. nlu\ sdr??dJ rcquisitttlos t nos ins,,rirntos com d tuiso da razão pura prática; caso não queiramos real e efêtiyamente,
essdlrcia. Quando Kânt diz que mesmo o entenclirnento mais co- então essa realidade etêtiva não há. 'lhl como uma cadeira nturca
mum conseguiria se assegurar desse fato do imperâtiyo categó- pode se encontrar presente i\ vista sc não for produzida. Todavia,
rico, entào elc não quer dizer com isso que esse entendimento já decaímos aqui uma vez mais sob o pcso da opinião equivocada
comum, <1ue decai no campo das discussires teóricas sob a ilusâo que Irlensura a reâlidâde eÍêtiva da vontade a partir da realidade
e o uso enganoso dos princípios, seria a faculdade apropriada efetiva de uma coisa presente à vistâ.
para a apreensão do Íàto da lei moral. Ao contrário, ele quer ân, Mesmo que não nos decidamos, mas antes, nos pressione
tes dizer que o que estaria em questão em nleio a essa apreensâo mos, ou tentemos nos convencer e deixar enleyar por pseudo-
em geral não seria o modo e o grau do saber teórico ou meslro motivaçóes de lrosso agir, nós nos decidimos, a saber, nós nos
filosófico, rnas que o decisivo seria o quercr. Ao quererJ como ulll decidirnos a rejeitarmos o dcver Nessa rejeiçâo clo dever reside
atuar segundo a representaçào do querido, pertence concomi- precisamente a mâis forte experiência, a experiência de que ele
tantemente o saber em torno do fundamento de cleterminaçâo e, enquânto devet um fato. Nesse não-querer enquanto um tipo
do agir. Um querer real e efetivo e sempre em si utn ter clareza determinado de querer reside um sâber determinadu enr rela
e ter conquistado clareza quanto aos fundamentos de sua deter
ção ao Íàto de que nós propriamente devemos e ao que nris pro-
minação. Um querer real e efetivo é um tipo prriprio de saber e priameÍrte devemos. A realidade elêtiva do querer náo se inicia
compreencler reais e eÍ-etivos, que r.rao podem ser substituidos lá onde um ato de vontade está presente à vista, e tambérn não
por nadir, muito ntenos por conhecinrentos sobre o homeÍn, por cessa con.l maior razão Iá onde nós nào queremos seriamente.
exemplo, conhecimentos psicológicos etc. impelir se e esse
Esse náo-querer-serianlente, isto é, esse deixar
[,ogo que querernos, podemos experimentar aí o fato de deixar-que-tudo-gire-em-torno disso é precisamente um modo
que, corilo diz Kant, a razáo humana, "itrcorruptível e coagida insigne e talvez âté mesmo o mais frequente da realidade efetiva
por si mesmâ, mantém a máxima cla yontade em uma ação a do querel razao pela qual nós desconsideramos de maneira tão
quirlquer momento junto à pura vontade, isto é, em si nlesma, na fundamental na maioriâ das vezes essâ reâlidâde efetiva e nos
medida em que se consiclera praticamente a priori'i'51 No querer equivocamos com ela.
real e etêtivo experimentamos o fato de a essência do querer, o Agora, dcve ter ficado claro o seguinte: enquanto nós ob-
querer em virtucle da prripria vontade, exigir ser querido. Se a re- servarmos e analisarmos apenas nos movendo de um lado para
alização daquilo que é assin querido tem tàticamente sucesso ou o outro como entes presentes à vista, nós nunca encontraremos
o falt-r do dever, mesmtr que rrbservemos o nosso agir e o no\\o
3ss Op. cit., p.37 (V,56). querer de tal maneira que o tomemos como ocorrências físicas.

330 33r
A realidade ektíva do querer é apenas no querer dessa realidade de de sua essência. E apenas essa essência e que se encontra en1
efàÍlva. Nisso experimentamos o fato de que a razáo pura e práti- questão para o nosso problema.
ca para si mesma, isto é, de que a vontade pura se ânunciâ como Enquanto as pessoas naturalmente se mântiverem presas à
essência da vontâde enquanto fundamento de determinação da letra do texto e considerarem a filosoÍla kantiana tanto quanto
mesmâ. Com certeza, poder-se-ia dizet esse fato de um compro toda e qualquer outra grande lilosoíia autêntica de maneira anti
misso incondicionado pode existir, e, evidentemente, ele está em quária, como um ponto de vista talvez digno de atenção que foi
conexáo com aquilo que nós denominamos consciência moral. tomado um diâ; enquanto elas nâo ousarem se lançar decidida-
É possível admitir ainda mais que reside aqui evidentemente un.la mente em meio à confrontação filosofante no acontecimento de
factualidade totalmente peculiar de fatos, factualidade essa que uma liloso6a, tudo lhes permanecerá cerrado. Quando unr tal
nào pode ser reunida com a factualidade das coisas presentes à acontecimento prospera, as pessoas encontram, entáo, algumas
vista, razâo pela qual também é sem sentido, por exemplo, querer opiniôes e pontos de vista peculiares, em relação aos quais elas
constatar algo por meio de questionários, quer algo desse gênero não r:stão dispostâs â entender a razão pela qual eles são ot-ereci-
esteiâ ou não presente à vista tal como a consciência moral. Ou dos com tanto esforço em termos de trabalho conceitual e corno
querer demonstrar por meio de investigaçôes etnológicas, em um fenômeno único da humanidade. Quando unra confrontação
termos de uma psicológica dos povos, que certas estirpes popu- é colocada em curso, poróm, então já sc tornou indilêrente, como
lares nâo têm nenhuma consciência moral ou nenhuma palavra no nosso caso, saber se o inperativo categórico é formulado por
para designar algo assim ou coisas do gênero. Como se a etnolo- Kânt ou poÍ um outro homem. Naturalmente, confrontâção náo
gia pudesse demonstrar algo assirn, como se ela dissesse algo em signiÍica aqui, corno acha o entendimento comum, crítica do ou
tàvor ou contra a factualidade da consciência, quando se constatâ: tro e mesmo reÍutaçâo do outro, nlas antes devolver o outro e,
não há por toda pârte e em qualquer tempo a consciência moral. com maior razão, a si mesmo, para o elenrento originário e der-
Todavia, se mantemos aÍãstados de nós todas as más inter radeiro que, como algo essencial de si mesmo, é o comum e não
pretações como essas, não se segue de qualquer modo daí que a necessita de nenhuma irmanação comum ulterior. Confrontação
lei Íündamental da razão pura prática precisaria ganhar a formu Jilosófca é interpretaçao enquanto destruiçdo.
lação do imperativo categórico kantiano. Com certeza, o que está
em questão não é certamente a fiirmula. 'lambém não se tem em b) O fato da lei moral e a consciência da liberdade da vontade
vista que aquele que age eticamente, para agir eticâmente, pre- Para retirar da interpretação kantiana da essência da lei n.ro-
cisariâ por assim dizer se manter preso à fórmula e tê-la pronta ral a aparente estranheza, gostaria de discutir ainda de maneira
expressâmente. A fórrnula e sempre umâ interpretâção Íilosófica breve uma formulação do imperativo categórico. Ela se encon-
e há muitas dessas interpretaçoes que sáo possíveis, assim como tra na r"unllamentação da metafísica rlos costumes e nos diz: 'Age
nós também encontramos, afinal, em Kant mesmo, uma série de de tal modo que tu utilizes a humanidade, tanto nâ tua pessoa
interpretaçôes diversas. Sem levarmos em conta a diversidade quânto na pessoa de qualquer outro, sempre ao mesmo tempo
possível das formulaçôes e direçoes da interpretação, porem, to como Íim, jamais como mei<i)56 A humanidade é, de acordo
das elas têm de qualquer forma em vista algo essencial e decisivo,
que diz respeito à facticidade do fato do homem na proprieda- 356 KaDt, Furulamentaçao do metaJísica dos costumes. P.54 (lY,429).

332 333
corn essâ passagem, firn e apenas Êm no agir humar.ro. O que ligam a ele, isto e, aqrreles que, de qualquer modo, devem querer
signiÍica Íim? Nós o sabemos, sem que tenhamos discutido até pÍopriamente, e, em seguida, nos espantarnos com por quc e que,

aqui expressamente o conceito de frm. Firn é aquele elemento assim, nunca é alcançada a unicitlade e a comunidade, do nres
representado desde o princípio na vontadc, que é enquanto tal mo modo que a ftrrça concludente do ser-ai. Como se isso fosse
fundamcnto de deternrinação para a realização do objeto visa algo que pudesse ser instituído cle l'ora e ulteriormente. Nós naro
do na rcpresentação. O que e Íim tem o caráter da<1uilo que é compreendemos que é apenas um querer real e efetivo, isto e, un.r
desde o princípio delerminante. O que é apenas fim e nunca deve querer essencial, por si, em si e a partir cle seu fundamento, que
ser meio é o primeiro e extremo, que náo pode ser outra coisa coloca em acorclo com os outros; uma comunidade que sri é por
senáo determinante, o que não é mais ele mesmo determinante Í-orça do segredo, do querer real e efetivo cerrado do singular
em virtude de urn outro, o que, assim, cletermina enquanto fim a Se compreendemos tudo isso, então fica ao mesmo tempo
essência: "a humanidacle na pessoa'l isto é, a essência ilo homem claro o seguinte: a intelecção decisiva na compreensão da lei no-
enquanto pessoalidade. C) imperativo categórico signilica, por ral não reside no fato de nós chegarmos a saber uma formula
tanto, o seguinte: esteja a qualquer Ínomento ao ntesmo tempo qualquer ou no fato de mantermos diante cle nós urn valor qual-
cm tuir ação, ou seiâ, enr prinreiro lugar essencialmente en1 tua quer; umâ fórmula, que, introduzida até nesmo ainda em uma
essência. A essência da pessoa é essir autoevidência: vincular se tábua de valores, pairaria sobre ntis e em si ircima cle todos os
a si mesmo, não egoisticamcnte e em relação ao eu contingente. homens, de tal modo que os homens particulares seriam apenas
Ser responsável por si, apenas respondel o que significa, a prin- os realizadores da lei, assim como as mesas particulares realizanr
ci1.rio, sempre apenas perguntar sobre a essência do si nesmo. ao seu modo a essência cla mesa. Nris nào chegamos a saber uma
I)ar a palavra em primeiro lug;rr e em tudo a esse si mesmo, que- Íórmula e uma regra, rnas aprendemos precisamente .r compre-
rer o dever do puro querer ender o caráter da realidade efetiva única claquilo que se torna
[)e maneira simples e rápida clenrais esgueira-se aqui a so real e efetivo e e no agir e enquânto agir35r Com certeza, Kant
fistica e tenta abrir uma discussão teoricamente especulativa so per[ranece muito distânte de transformar essa fàctualidacle en
bre o que seriir a essência do homem e sobre o Íàto de que n(rs quanto tal expressamente en um problcma netafísico central e,
náo conheceríamos essa essência e, em todo caso, não a conhe- por essa via, conduzir a penetração conceitual dessa factualidade
ceríamos de tal modo que todo homem já estaria de antemão em ate o ser-irí do honrem, a lim de alcançar, conr isso, o umbral de
acorrlo quanlo a ela. As 1,ess,ra. trJnspôcm, com isso, o querer uma problen.rática fundamentalmente diversa. Essa é ao mesmo
e o agir reais e etêtivos para o ponto temporal, no qual antes de ternpo uma das razões, pelas tluais as visóes de Kant perl1lanece-
tudo essa concordância deveria ser obtida em um saber teori- ram enquanto tais inócuas no decisivo para a problenrática filo-
camente buscado, em um ponto temporal, que nunca admitirá sófica enquanto tal.
precisamente a temporalidade do homem; isto e, as pessoas se A|esar.le tudo isso. porem. pre(rsJrnos irsi5tir rro \eBuin
pressionam diante daquilo apenas que promove a realidade eÍ-eti te: Kânt experimentou cle maneira cenÍral a peculiarídade do que
va do homem e forma a sua essencialidade. Formulado de outro
modo, nós nos empenhamos em primeiro lugar por um progra-
157 Ct'. a relaçâo do "bem" e da lei moral. O "benr" determina se por
ma e, então, reunimos para tânto aqueles que o defendem e se neio da Iei moral, nâo o contráÍio.

334 3r5
há de real e eJetito volitívamente efiquanto .làto e determinou es liberdade, só se deixa comprovar por meio da factualidade da lei
sencialmente a partir dessa experiência a problen.rática da razão da razão pura prática.
prática, nos limites que ele considerou como possíveis e necessá Qual e o curso que a conduçáo da demonstração precisa
rios. A factualidade do fato de uma razão pura prática encontra-se tomar? Se perguntamos assim, entáo não compreendemos o pro-
a qualquer momento em nós mesmos e semPre d cada vez apenas blema. Não devcmos, portanto, nospreocupar de maneira alguma
junto a nós mesmos. Isso de tal modo que ntis nos decidimos pelo amplamente com o modo de ser da conduçâo da demonstrâção?
puro querer devido, isto e, de tal modo que nós efetivamente Devemos nos preparar simplesmente para conduzir efetiyâmen-
querenlos; ou de tal modo que nós nos decidimos contra ele, te a demonslração da factualidade da liberdade? 'fambém isso
isto é, não queremosi ou ainda de tal modo que nlisturamos em é uma incompreensão do problema. Pois a demonstraçâo já foi
confusâo e indecisão queÍer e não querer. Essa factualidade do conduzida. Compreender isso é o mais essencial para a cornpre-
querer é ela mesma sempre apenas acessível em uma experiência ensão real e eÍêtiva de todo o problema da liberdade prática e de
e enr um saber, que provêm de tal querer e nâo querer, melhor sua realidade objetiva.
ainda, que já sempre consistem nesse querer A realidade efetiva Eu disse anteriormente que a demonstração da factualidade
da pura vontade náo demarca um âmbito de urn ente presente à da liberdade prática seria breve, a saber, tão breve que, quando se
vista que e incliferente diante de nós, ao qual nós nos entregamos compreende a tarelà dessa demonstração, a demonstração náo é
ou não, no querer ou não querer. Ao contrário, esse querer ou de maneira âlguina âpresentada, na medida em que se compre
não querer deixam esse real e eletivo acontecer pela primeira vez ende por tal demonstração â exposição teórica de uma liberdade
e ser à sua maneira. presente â partir dâ presençâ à yistâ anteriormentc comprovada
Esse puro querer é a práxis, por meio da qual e na qual apc da lei prática. A den.ronstração da realidade prática da liberdade
nas a lei fundamental da razão pura prática tem a sua realidade consistc apenits e só pode mesmo consistir em compreender o
efetiva. A rrrnlade pura nào é unra ocrrrrência psiquica. que se fato de que essa líberdade só é enquanl<t <t querer rcal e efetivo do
comporta segundo uma assim chamada visão do valor de uma puromente devido. Pois esse devido, o fato de o querer só deixar <r
lei que é em si, visão essa que se dá de acordo com essa lei mes- querer ser sua própriâ essência, a vontade pura, o fundamento da
ma, mas a pura vontade constitui sozinha a íactualiclade cla lei determinâção pâra si mesma, a lei, no querer real e ef-etivo, não é
da razão pura prática. Sonrente na medida em que e porque ela outra coisâ senáo o tomar-se real e efetivo e o ser real e efetivo da
qucr e quc há a lci. liberdade prática.r5r f)o caráter da factualidade do fato da liber-
A partir daqui compreendemos a factualidade de uma ra- dade prática tambérn deduzimos agoÍa â essência dq libenlade:
zão pura prática e de sua lei. Ntis compreendemos que se trata líbenlade prátíca é legíslaçao sobre si mesmo, vontade pura, outo
de uma e mesma coisa, quando e como há aqui fatos e como eles nomia. F.la desentranha se afiora como condiçõo de possibilida-
podem ser alcançados, e quando e como o fato da razáo pura de rlo Jàctualirlade de uma razao pura prltlca. t.iberdacle prática
prática e de sua lei se mostra como demonstrável e demonstra-
do. Agora pela primeira vez estamos sufrcientemente preparados
para a tarefa envolvida na tese diretriz: na tese de que a realidade 358 Importante de nraneira fundamentalmentc metafísica: a fàctuali
dade diante da possibilidade. Cí Aristóteles, Mera/úica O. Cf. acima p.
objetiva, isto é, a realidade prática, a factualidade específica da l33eseg.

337
enquanto autononlia da pesso.r humana,.l essência p«rpriamcn CONCLUSÂO
te dita, a hurnanidade do homem.
Assim vem à tona o seguinte: vontirde pura - razáo pura
prática - legalidade da lei llndamental do agir fático responsâ-
bilidade por si pessoalidade - liberdade. 'lludo isso é o mesmo.
O rnesmo não em uma mesnlice que flui indeterminadamente,
mas o mesmo enquanto enl si necessârianente copcrtinente. Por A dimensão ontotógica própria da Liberdade
n.reio daí obtêm-se relaçires próprias condicionais entre a razâo
pura prática e a liberdâde. A razão prática e suâ lei são'ã condi 0 enraizamento da questão do ser na pergunta
çào..., sob a qual podemos nos conscientizar pela primeira vez da sobre a essência da [iberdade humana
Iiberdade (enquanto autonomia)",rse isto é, a lel é o Jundanento
da possibilidade do conhecimento da libertlLtde (ratio cognoscen- Liberdade como fundamento da causatidade
di). lnversanrente, a líberdatlc é o funddmento da possibilídade do
ser dd lei e dq rqzao Pratica, a ratio essendi da lei n.roral. "Pois,
se a lei moral náo fossc pcnsacla anÍe.s claranlente em nossa ra
zão, então nuncâ nos consideraríamos justiÍicados a supor algo § 29. Os limítes da Lliscussso kantíana da libenlacle.
corno a liberdacie (ainda que essa liberdade não se contradisses A vinculação kantiana do problema da liberd*le com
se). Se não houvesse nenhuma liberdade, porém, entáo a lei mo o problcnut da causalillade
râl náo teria de naneira alguma como ser encontnda em nós').t61)
"Liberriade e uma lei prática incondicionada ren.]etem, então, àl-
ternâdâmente uma para a outrâ. Assint, nâo pergunto aqui se Nírs chegam<>s à neta do segunclo caminho kantiano runto
elâs também seriam diversas de íàto e se uma lei incondiciona- ii liberdade. C)s dois caminhos precisaram ser efetivamente per-
da não seria muito mais apenas a autoconsciênciâ de uma razão corriclos, a Íim de clue pudéssemos cxperimentâr â sua completa
pura priitica, sendo que essa razão pura prática seria idêntica ao diversidade. E isso é necessário, se é que todo o peso do problerna
conceito positivo da liberdadel"'r Kant não pergunta sobre isso da liberdade deva ser pressentido, um problema que se encontra
nessa passagem, mas todâ a analítica da razão prática tem jus- implicado nos dois caminhos - no fato prccisamcnte de que eles
tilntente essa tareÍà, a tarelà de mostrar'que esse fato (da razáo foram escolhidos e percorridos.
purâ prática) está indissoluvelmente ligado com a consciência da A interprctação do problema kantiano da liberdade tornou-
liberdade da vontade, e é, sir.n, idêntico a ela'l16r se necessária, porque reconhecemos que a questão acerca da li-
berdade na tradiçáo da metafísica aponta para a pergunta acerca
359 Kant, Crítica do razao pritic!, p. 4 (Y,5). Observaçào. de um tipo de causalidade. Ora, mas Kant tratou o problema da
360 Itlem. liberdade enquanto um tipo particular de causalidade da manei
361 Op. cit., p. 34 (V,52). ra mais radical possível. A controntaçâo com ele não é apenas
362 Op. cit., p. 50 (V,72). incontornável, mas ela precisa se encontrar em primeiro lugar,
Iogo que o problema da liberdade é compreendido, como un1 e, por meio dai, com maior râzào em todas as demonstraçôes,
problema metafísico. Se a liberdade e compreendida enquanto que devam ou possam ser conduzidas aqui. Essa tese fundamen
tal problema, então tâmbém iá se coloca em questáo, se a liber- tal, com a qual irrompemos de maneira aparentemente violenta
dade precisa ser concebida como uma especie de causalidade ou na filosoÊa, nâo é, entáo, nenhuma proposição que seria teori-
se não é nuito mais inversamente a causalidade que se mostra camente demonstrável com os pequenos meios de uma ciência.
como um protrlcma da libertlatlc. Ela não o é, porque ela em geral não enuncia nada sobre algo
Com as coisas se encontram em relaçào a isto? O que acon presente à vista constatável. Mas ela fala de qualquer modo sobre
teceria se esse último caso fosse o pertinente? Causalidade é, en- a essência. E no que diz respeito à essência e ao nexo essencial
quanto categoriâ, um caráter fundamental do ser do ente. Se le- não podemos vislumbrar a essência e o nexo essencial de modo
varmos em consideração o tãto de que o ser do ente e concebido absoluto? Náo! A essência permanece para nós cerrada, enquan
de saída e na maioria das vezes como presentidade constante e to nós mesm05 nio nos lornàrmos essenciais na esséncia.
nisso reside produtibilidade, produção, fabricaçâo, em sentido Inicialmente buscamos uma simples caracterização dos
mli. rnrplo, realizaçáo, quc al''rig.r crn \i \au\ar c \('r L'aLl\a . dois caminhos kantiânos em relação à liberdade, na medida em
então frca patentc o seguinte: a causalídade é precisamente no que dissemos que o primeiro caminho tratava d,a possibilidade
sertido do entendimento tradicional do ser do ente, no entendi- da liberdade, enquanto o segundo caminho tratava da realidade
mento vulgar tanto quânto na metafísica tradicionâ1, a cdtegoria eÍetiva àa liberdade. Nós reieitâmos anteriormente a caracteri
Jundamental do ser enquttnto presetçd à vísta. Se a causalidatie é zação. Agora, no momento em que conhecemos a problemática
um problema da libenlude e não o iirverso, então o problema do dos dois caminhos, podemos acolher uma vez mais a caracte
ser em geral é em si um problema do liberdade. O problema do rizaçáo. Ela permite âgora, concebida corretâmente, uma con-
ser é, porem, tal cotrlo mostramos na considcração prévia, o pro centração decisiva de todo o problema. No segundo caminho,
blema fundan.rental da filosofia enr geral. Portanto, a perguntd a realklade efetiva da liberdade prática e de fato um problema,
acerca da essência da liberdade humana é a questao fuudamentaL na medida em que se trata de comprová-la como praticamente
da flosoJia, na qual até mesmo a pergu td acerca do ser esta en- real e efetiva e de expor a peculiaridade de sua demonstrabili
raizada. Essa, contudo, é â tese que enunciâmos na conclusão dade. A questáo é que a realidade efetiva dessa liberdade real e
da consideraçâo prévia e na passagem pâra o problerna da liber- efetiva não se torna problemâ precisamente de tâl modo que se
dade enquanto causalidade. O problema da liberdacle enquanto pergunta de maneira expressa e efetiva sobre a essência desse ser
causalidade foi explicitado agora. Mas não foi rr.rostrado que a especíÍrco, que se anuncia no agir volitivo da pessoa do homem.
causalidade é um problema da liberdade, isto é, que a questão Realídade efetiva da liberdade: é disso realmente que se trata. No
acerca do ser está enrbutida no problema da liberdade. Nossa entanto, não dela no sentido metafÍsico propriamente dito, nâo
tese Íündamental r1áo está demonstrada. dela enquanto um problema do ser.
Com certeza não, e, no entanto, concebemos algo essencial, No primeiro caminho, a possibilidade da liberdade é o
se e que efetivâmente o compreendemos: o fato de que se tratâ problema. Todavia, ela e o problema sob a forma determinada,
de uma coisa própria na realidade efetiva da liberdade e, com segundo a qual se pergunta sobre a possibilidade da compati
isso, evidentenrente em toda a problemática que a tem por meta, bilidade entre liberdade e causalidade da nâtureza. Isso dá im-

340 34r
pressào de que a possibiliclade da liberdade seria propriamente cia do ser hunrano finito. As categorias são, então, o caráter cio
o problerna, isto e, nós temos essa impressão porque justamente ser do ente assim nirnifesto, cleterrlinaçoes do ser cio ente, que
a liberdade é dcsde o princípio uma especie de causalidade, mas l.rossibilitam o fato tlc um ente se tornâr manifesto en1 seus di
ser causa está en si relacionado com algo cliverso cle deterrli- vcrsos irspcctos ontológicos nele nresmo. () ente, poÍérn, só pode
nável, efêtuável . Por isso, a pcrgunta accrca cla possibilidâde de sc mostrar por ele mesmo e a[é nlesmo se encontrar contraposto
uma liberdâde âssim concebida não pode scr outra coisa senão a prineira linha,
cottto objeto, se a apariçào do ente e, conr isso, cm
pergunta âcerca dâ compatibilidade dessa causalidade cor.n uma aquikr que possibilità no fuÍrdo umir tal aparição, a compreen
outra. Não obstante, a possibilidade da liberdade nâo se mostr.l são de se1 se essa comprecnsão tle ser tiver em si o caráter do
precisamente como problema dessa maneira. Não sc pergunta cleixar contrapor se de algo. L)eixar contrapor-se de algo como
cxprcssa e propriamente sobre â essência do ser cspccífrco do clado, lundamentalmentc: manifestabilidacie do ente na obriga-
entc, que é estabelecido enqu.ln[o possivel compatibilizado enr toriedade de seu ser tle tal modo e de seu fato de ser só é possível
e por meio das duas causalidadcs. Mrs doís caminhos permanece lii ontle o corlportâr.nento enr relação ao entc enquanto till tem
reprimidtt d questão ocerco do caráter ontol<igíco do real e eJetivtt o trlço fundamental da concessâo iiquilo que possivelmente se
c do possível que se encontram em queslao. O caráter de possibi- torna manitêsto, quer enr meio a um conhecimcnto te(irico ou
lidacle tanto quânto o caráter de realidade eÍêtivir da liberclacle prático, quer cle unr outro modo qualquer, descle o principio da
enquanto liberdade perlnanecem in<ieterminados c, com nraior obrigatoriedacie. Conccssão previa de obrigatr)riedâde, porém, e
razão, a relação aqui clominante dos dois, apesar dc se tratar dela um yincular-se originário, tlcixar ser um vinculo como obriga-
constantemente e cle só se tratar dela o tempo inteiro. tório por si, isto é, kantianirmente, dar para si unra lei. Deixar
o ente vir ao cncontro, comport.lnlento em relação ao entc cm
§ 30. Liberdade como condição de possibilidade todo e qualqucr modo da manifestabiliclade só é possível, lá onde
da manifestabilidade do ser do cnte, isto é, há libertlade. Liberdade é a coruliçao de possibiLidade da maniJes-
da compreensa<t de scr tabilidade do ser do entc, da compreensao de ser.
Uma determinação clo ser do cnte entre outrâs, contudo, é
A questionabilidade desses dois carrinhos e de sua unicla- a causalidade. A causalidade se funda nu liberdade. O problema
de, porem, é velada pekr fato de, nas duas vezcs, o problenra ser ds cqusaliLladc é um problema da líberdade e não o inverso. FLtn-
colocado sob a tleterminação diretriz da categoriir da causalida- damentalmente, a questão acerca da essência da liberdade e o
de, mas de a própria causalidade nâo se transformar em problc problenra Íirndamental da filosoÊa, se e que a questâo diretriz da
nra no sentido de uma explicitação radical do problema do scr íilosoÍia está incluída na questáo acerca clo set.
aí contido. O que precisari;r acontecer, se a causalidadc, dc saí Todavia, a tcsc fundamental e sua demonstração nào é coisa
da ainda totalmente no sentido de Kant, se tornasse problerna? dc uma discussão teírrico-cientííica, mas dc uma concepçâo ern
Tal como as outras categorias do ente presente à vistâ no sentido conceitos, que sempre abarca concomitanteme nte desde o prin-
mais amplo, causalidade e, segundo Kant, um caráter dâ obieti- cípio aquele que concebe, requisitando o na raiz de seu ser-aí.
viclade dos objetos. C)bjetos sâo entes, na rnedida ent que eles se Para que? Para nirda menor, nem nada naior, do que:se tornâr
tornam acessíveis na experiênciâ tetirica enquanto tal experiên essencial no querer real e efetivo da própria essência.

342
Se um ser livre e um querer reais e efetivos determinam POSFÁCIO DO EDITOR
a partir do fundamento da essência a postura fundamental do
filosofar e, com isso, o conteúdo da Êlosofra, então vale para ela a
sentença de Kant na Fundamentação da metafísica dos costumes:
'Aqui vemos, então, a filosofia de fàto colocada em um posição
O presente volume 3l da Obra Completa de Martin Hei-
precária, que deve ser Íirme, sem que encontre nern no céu, nern
degger apresenta o texto da preleçâo de quatro horâs semanais
na terra nada a que possa se atrelar ou em que possa se apoiar
dada no semestre de verão de 1930 (começo em 29 de abril). Base
Aqui, ela deve demonStrar a Suâ pureza Colno autossustentadora
da ediçáo desse volume foram o manuscrito da preleção tanto
cono arauto daquelas leis que lhe são segredadas
de suas leis, não
quanto uma cópiâ redigidâ por Fritz Heidegger, que fbi iuntado
por um sentido inato ou não sei que outra natureza tutelar..."16r
ao mânuscrito. A cópia foi completada por uma quantidade de
observaçôes nrârginâis e inserçôes oriundas do manuscrito, que
r.râo tinham sido acolhidas por Fritz Heidegger
As citaçôes foram com algumas exceçôes - verificadas no
exemplar manuscrito de Martin Heidegger. As indicaçóes biblio-
grálicas encontram-s€ respectivamente na primeira citâçào das
respectivas ediçôes. A partir das anotaçóes marginais no mânus-
crito é possível perceber em parte que Heidegger as tinhâ utilizâ-
du para a elabt'raçào dessa preleçáo.
O mânuscrito náo dividido da preleção, tirando duas exce
ções, foi expressamente dividido pelo editor de acordo com as
indicaçôes de Martin Heidegger pâra a edição da obra completa.
Os dois titulos que subdividem de maneira rudimentar o texto
corrido do manuscrito, "Causalidade e liberdade" e'A segunda
analogia] foram empregues pâra a determinâçáo do título tânto
quanto a intitulação de dois anexos e de uma síntese separadâ.
Para alén.r disso, o estabelecimento dos títulos aconteceu ampla-
mente sob a aplicação de passagens decisivas do texto.
Em meio à comparação com os dois pós-escritos disponí-
veis da preleção pertencentes a Helene Weiss e Heinrich Ochs-
ner mostrou-se que faltava uma cópia de uma discussão mais
longa sobre o óv ti4 <ilr10áç (Aristóteles, Metafísica Q l0), in
seridâ por Heidegger com base em questóes oriundas da audi
363 Kant, Fundamentação da netofísica dos costumrs. P 49eseg. (lV, ência. No manuscrito encontra-se apenas uma referência a um
42s).

344 34s
âdendo correspondente. Por meio de uma busca direcionada nos e transfbrrrada na questâo fundamental da filosofia (ser c tem
nlanuscritos ptistumos, esse adentlo çrôde ser achaclo. F,le estava po), uma introdução penetrânte no pensâmento em meio i\ esfe-
em uma partc separada do texto 'Aristóteles, Metafísica O'l as ra de sua obra capital Ser e tempo. O ir-à-k)talidade da filosofia,
sim cor.r.ro em uma c(rpia redigicla por Fritz Fleidegger. Martin visível nesse desdobramento cla questão da liberdacle, é ao mes
Heidegger tinha elaborado esse aclendo no âmbito da presente mo tempo inquirido segundo a petição atribuída à filosofia de
preleção e tambérn o tinha apresentado, deixando-o, corttudo, scr um ir-às rirízes, isto é, de mostrar um caráter de intervençâo.
para a preleção datla dois semestres miris tarde (semestre de ve- Esse contexto que reside no problema de tal modo desclobrado
ráo de l93l) sobre ArlsróÍclcs, Metafísicd O t-:, e, mais tarde, da libcrclacle rponta de alttenão para o fato de que o problenta
juntando o a essc convoluto. cla libcrdade tratado concretamcÍrte na seguntla pttrte da preleçácr
A cópia do adendo foi tio rnesmo modo coligida conr o junto à liberdade transcenclental e à Iiberdade práticâ cm Kant, e
manusclito e introduzida com o cumplenrento cle algumas pas isso tincltrntentalmente na conexâo corn a causalidade, não pode
sirgens não copiadas na passagenr incquivocamcnte designada ser explicitado cle maneira própria conro um dos "problemas"
por Martin Heidegger no manuscrito. O adcndo complementa a cle uma "filosoÍia prática" no sentido de uma disciplina íilostilica
interpretaçaro, dada lá corr o atrxílio dos significatlos de ser real cntre outrirs, rras só pode ser pensado na e a partir da dimensão
e etêtivo, quiclidade e ser movido, da exegese grega do ser (oüoict) ontológica aprcsentada na printeira parte e Íenovadamente aco
no horizontc da presentidade constante ctlIn unla exegese do Ilrida na parte L'onclusiya de maneira brevc, na <1ual a liberdade
signiÍicado insigne de scr do ser verdade. Heidegger busca con.r yern à tona conro condiçáo de possibilidade da manifêstabilidacle
provirr por nreio da interpretaçâo do capítulo @ I0 da MetQisica do scr clo ente, isto e, da conpreensão do ser. Nessa dimensão
dc Arist(iteles que e c(»ro não apenas na exegcsc clo ser coDr o ontológica, a lilosofia rnostra pelir prirneira vez cm seu ir-ao todo
significado de ser real e eíetivo, quididade e ser movido, a pre- sobretuclo na discussão cla liber<iade humana urn caráter de
sentidade funciona como horizonte inexpresso tla interpretaçào intervenção no sentido de remeter sc às nossas raízes.
grega do ser, mas também e precisan.]ente na exegesc do ser cont
o signifrcado de ser verdadeiro (verdade, ciÀfOsro). A exegese
desse capítulo predominante na fikrlogia clássica obriga, alem [)evo um grande agradecimento pelas rnúltiplas reÍerências
disso, a una explicitação da copertinência desse capítulo ao li decisivas relativas à c'diçâo clesse volume ao Senhor Dr. Her
vro O, que inclui, com base na conexiio entre â questalo material mann Heideggt'r e ao Scnhor ProÍ. Dr F. W Vtrn llerrmann.
(óv da dÀI0éq Xopo r(llprórürcr óv) e a questão textual, uma Alem deles, mcu agradecimcr)to vâi para a Senhora Dra. [.uise
confrontação com as teses de faeger e Schwegler. Michaelsen e ao Senhor cand. phil. Hans-Helntuth Gander pelas
correções extrclramente cuidaclosas realizadas.

A preleção carâcterizada no subtítulo pelo próprio Heidcg


ger conro "introdução à ÍilosoÍ'ia" oÍêrece em sua primeira Parte,
que desdobra a questão.rcerca da essência da liberdade humana
a p.rrtir da questão diretriz da mctafísica, questão essa elaborada

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