Você está na página 1de 112

Marlin Heidegger

N?1
trrundação Urivcrsidarle tle llrasília

Ilcitor Ivrn NIirr<pes de "lirletlo (Jtriargo


Vir:e-[Ieitorr Sônia Nair [Jáo

EDITORÀ

L_Jfr
t"§srB
I) ir:etora Ana Mariu ]iernanrlcs

ConselLo Eiiitorirl Ane Mari'a ll'cmanrles - J)r'r.ç.


EXpf,_§CAÇo85 DA POE§tA
ôo
Ana Váléria Maclratlo Nlcndonçrr
Iiltlu,rrtlo'l'arler L Vieirl MH HOLDERLIN
llerrranclo [olge Rodrigues Ncves
Francisco Cllar-rrliri Sernplio cle Nlenezes
Nlarcus Mota
Ncicle Aparecicla (-lonies
Perr:r ]l;rl<rrzis
Sylvia Ficher
Wil"^on'l'rrj eno liillrtr
Wivian Wellet
Tradutora
Claudia Pellegrini Drucker

EDITORA

NZ
UnB
Equrnr rDlror\r^L

Gerêrcia dc pro<iLLçíro editorial Marcus Ptrlo l{ocha l)rrarrc


Revisáo Ilcgina Marqucs e Aclriana Pereira dos Santos

Nornralizaçáo Lucincia N. da Mata


Digiração I)anielle Sarrmne
,supen isáo grtfica Elmano Rodrigucs I'inlrcir:o, Luiz A. It. lLibciro

(irpyrighr O 201-3 by
Iltlitora Llnivetsir:{ade de Brasílie

'l'itulo origiualr IJrlárrrcrtrngcr zu hiil<ierlins <lichrrrng

lnrprcsso no Br""il
l)ireitos exclLsiyos par:r esr;r eclil:áo:
lrrli«rra Uuiversicladc cle Brasília
SCS, rlrraclra 2, blorrr fl, no 78, c<iificio ()K, 2a anrJar,
Ctt.P 7 0302-907. llrasília. [ ) [i
'I'clcl-one: (61)
3035 42OO
I:ax: (61) l()35-423{l
wrvw.cc{ it orn. r rnb.b r

r:o rr tato(4f cd i r or:r. un b. b r

Tbtl,r.s os dircitos rcscrvaclos. Ncnhunra partc clesta


pr.rblicação podüi scr annazenaJa ou reproduzi(lx l()r
tlttal<1rtcr meio senr r arrtorizaçáo Por escrito <la F.clitora.

Iricha catalográíica eleborad:r |cla Bihliott:ca ce.rrrÍ rla (J*ivcrsidade rle lJrasília
t{cidcgger, Maltin.
ÍI'/27.Yh Explicaçõcs da pocsia dc Il<ilderlin / Martin
Ileicicgger ; Itraduçrio de Clautiia Pellcgrini
Druckell. - Rrasília : llclitora IJnivcrsiclac{c rie
llrasilia, 20 I 3.

224 p.;22 cl:"r.

'liadução de: Iirlãr-rteruLngel zu l{ôlderlíns dichtung.

IStsN 97U-85-230,1089 8

1. i{iikierlin, }olrann Christian l"-rjeclrich, I770- O texto desta eclição é iclônÍ.ico quanto à letra e à paginação ao
1843.2. Poetas alernães. 3. irilosofia cla arte. 4. da reedição clo volume 4 cla eclição coligida das obras de l-ieiclcgger
Iiilosofi a contemporâ11ea.. L'l'ítulo.
(Gesomtausgaüe), pubiicacla ao mesmo tempo. Eclitado por
CDU 830 Irriedrich-Wilhclnr von I-lerrntann. Sexta edição, revisada, I99ó.
Surnário

N{)lâ soblc a trarlrrçrio brasileira clas Expllcrrçõr:s Lilt le Ílijklerlin...........9


ltoesiu
PreÍiicio i\ lcitura c!rs poemas de llôlderlin.... ............................1 I

['rti1ogo............ .........__.._........_..._...15

A clregltia a casa/Aos l].uentes........... ................17

...93

Olrselvaq:ão preliminar ii conferência em ,VIuuiqrrr... ...........................17 l


Observação prclintinar r\ conltrência ern Stuttgarrt....._. .. ... .. ........._...171

observaçã. preli.ri,ar à corrli:rêrrcia ern lrriburg. eur }rrisgrivia....... [72


A te rra t-. o céu rle Ikjlderlin......... ..._...175

O poerna.......... ...........................203

......219

I'osliicio do etlilor i\ se xta edicáo.. .....)2r


i{OTA sCIBRE A
TRADUçÃO BRASILEIRA DA§
ExPrrcAÇÕrs na pors,A oe ruolprnIfN

Enc'lrtrani-se ail-ri rePr.cluzidas arg.unas traduçÕes de p.euras cie


I Iólclerli' p*bliciidas ,o scg.ndo v.lume das obras completas de paulo
Quirúela (L,isboa: Irunclação carouste Gurbenkia,, 1997). cabe aqui
cleviclo agradei:imc,to à Fu,dação calo*ste Gr"rlbeni<ian pela
perrni.ssãr,
'
co,ce<iicla para ir repnrd*5:ão. As traduçom de paulo
euintela foranr
mociiíicaclas' cpiancio exigido pela i.terpretação cre Heidegger.
Fartando a
inciicação ila íônte, as traduçcies rios rle,rais poelnas, sentenças
e versos de
llólclerlin são novas. Para tanto, cronsultei também as trad.uçÕes cle
Maria
Htircterlín * Iitegias (Lisboa: Assírio
'lbresa Dias Irurtaclo em kiiedridr
{k Alvirr.r, 2000) e Frie.drich Hõklerlín -- [ Iinos tardios (Lisb<ta:
Assírio &
.Alvinr, 1999); Márcia sá cavalcante schuback em Friedrich lliildcrlin *
lleflexoa (lljo dc ]aneiro: Relume f)urn ué1, Lg94 e Marco Au-élio werle,
Poeskt e pensamento em Ilõklttrün e lJeidegger (São paulo; tlnesp, 2005).
Âgracleço a werner lleiclcrma,, pero cotejamento cla presente
traclrrçi* com o origi,al ern alernãr. para a traciução dos ensaios de:
l'{eideeger:, foi cle gra,de ajuda a corsurta a traduçoes prévias
das
l')xltlitnçoes da trtot:sia de Hiildertin para o francês, por lienry corbi,,
Miclrcl Deguy, Fra,ç.is ljóilier e Jea, Launay ern Approche de t:tiiklerlin
(lraris:()allirnar<l, 1973)eparaoinglôs,p.rKeithlloellcr,entElucidatiorrs
<tfIltiklerlin's Poelry (Amherst, NI: IJun,ranity Books,2000).
Agracleço o irpoio clecisir«r de l{enryk Siewierski, quanclo
diretor cia Bilitora l.lniversiriade cle Ilrasília, ao projeto clc tracluzir
esttts llxplimçôcs i:ara o portuguôs"

Claudia Pcllegrini 1)rucl<er

Martin Heidegger i 9
PREFÁcIo A LEITURA
DÔS POÊMAS DE HOIOTRIITTI

Iv{itÍs uma vez: será que o aperceben-ros?


A, poesia de l{ôlderliti nos é urn destino. }lla espera que os
rnortais lhe corresporrdant.
O que cliz a p«resia cle I-Ii)lclerlin? Sua palavra é: o sitgrado.
Esta paiavra íirla sobre a Íiiga clos deuses. Eio tliz qUe oç dquseg
Ílgidgq los pÍllrparnl. Até que esrcjamos inclinaclos a habitar err sua
proxirniclacle e sejarnos capilzes clisso. O lugar da proximidacle é a
peculiariclade da piitria. Por isso, continua a ser necessário antecipirr
a preparação da estadia nestâ proxirxidade. Assim, darnos o primeirr
pâsso no carninho que nos leva ate [á, até onde corresponclenios
apropriaclirrnerrte ao clestino clue a i:oesia cie l-Iôklerlin é. Mas talvez
assirn alcirncenros o arrecior da localidade na qual, talvez, o "l)eus
supremo" apareça. I)ois nenhum cômputo ou ato humano pode,
apenas por si mesrno e por meio cie si mesmo, muclar. o rurno do
estackt atual clo ntun<lo; porqlle justanrente a rnaquinação irrrmana já
fcli rnoldacla por es1.e estado do munclo e the pertence. Como então,

pois, ela pocleria rlssenhorear-se dele?


A p-q_-e-q-|i."tl"_ Ifôlderlin Írgs é l1il _dçqli1n llll egpq{q que os
n9r-!1is lhe correspolld4gl. A corle'spondênçi4 lqvtr ao c4miniro cle
nma entrarl;r na proxirniclacle dos cleuseg fugidos: no espaço cla stia
fuga que nos pgqpa.
No entanto, como devemos nos aperceber disso tudo e não
perrlê-locle vista'i lvlediante nossir escuta cla poesia cle l{ôlclerlin.

Âindir assirn, apellas poucos poemâs podern ser ditos aqui. thl
parcimônia se limitii a uma coleção. Ela conservará a aparêncla cle

MartinHeideggerlll
arbitrâriedâde, que se âteDuaú, se acompanhârmos mlicitaneüte, I'oÍ meio dâ âudição repetida nos tornaremos mâis aplos â
por meio de umâ âldição frequente, as sentençâs orienladi{tuc quc I ouvir. Mas também miis âtentos à maneirâ .onlo o dto do poera
sáo liradês da poesiâ de Hôlderlir. {I pôde ser dito- I,ois ndâ mnis djÍicil que selecionar os poemâs, é
A primeira sentença orientâdoÍa ó: âcertar o tom. No hsLlnte da íala tecricamenle registrâda, o t.rn
mâs dê modo isualmente rácir Pode ser
' 'rudoéirrenso :::*fi};[***"'
(Rascunho"FiguràeespíritdlEdiçãodesruttsáÍrII,r,p.rzr.)
."".f.:,,:."r..i:"il1,il,:";:::,:":ff:;ITl"H§:?j:l
Isso qucr diar: cada qual transferiu a posse de si mesmo âo
odro, mas tal que permânece em seu próprio, e sí, então, de fato, aúUe o snD desâfina,a por coi§âs humildes

est€ ponto: os 4gs9§-e--o-qh"o. J,tsns, lIE eJ 4l A iDtcnsidâde não cono a nerc, corn o qual os homêns râze' soâr â hora do júrâr.
signifi€a nenhlunâ fusào ou dissoluçâo dâs disúnções. Â jnleDsidâ.le
nomeiâ o pe(encimento recíproco do estnngeirq o imPério dâ Nestas pâlâvras, o iocomum e gmndioso é nomeado mediant€
estrqnheza, a exigênciado püdor a humildad€ do cotidiâno:
À segunala sentença orientadora é uma Pcrguntâ:

r ,,.,,r,'\ n horâ do jaDtal' é à noite do túpo que Sira €m torno d€ si.


Como hci,ie âsràdcc.r? \,
"r'
("Á. ch%ada a casa", últinrâ est.ofe.) 'A nevC é o invêrno:

O agradecimento éâ recordação pudicâncDt€ revercnte, Ai de m im, ondc colherei, quando


apÍobati do que foi guar(üdo, nem que este seja âpenâs um signo fo. invcíDo, âs nores, e onde
na proximidade da íuga dos deuses que nos Poupaln. o bdt;o do sol,
A tercejm sentençâ orientadora diz: e$mbrás.lâ iêÍâ?)

Con examê profundo, é islo de apreenderr ("Met.de d. vidd,)

("Â fest. da paz'l quiDtn est.ofe.)


M.r o sino - seu repicâr - é o canto do poeta. Ele chama parâ
o."rqq'i1q4-ol49y" .çI q"-posto 'de ioelhosi A teimosiâ devÊ â virâda do temPo
qe.çqrya. 9 ds§??3!sl -r C4be à mÊditação € ao pensaq§rllo-9P"e!ê§ .
uga- !gi§4, p!Ír§9!_g!tt{iSêdc!sq4ll1.Êti!dê.de Polllqi, püa §9J.
qpqzde, q!ráo, rqg!rycds-r rlu4lq d.plql

I QUIN'l"EL,A, 1997, p. 39{). 2 QLllN l'lrl,r\, 1997,p.371

l2 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martirr Heidegger I l3


PRÓLOGCI

Prólogo ti tlttarta ediçao, ampliLldLl (l9Zt)


Ilstas lixplicações não reiyindicarn constituir_se eÍn
contribuiçÕes à pesquis-a em IListória da Literatura e à Esrética. lllas
surgern cle urna necessiclacie do per1sny11sn6o.

Prólogo à seguntla ediÇao (1951)

Os ensaios de explicação cle alguns poerxas de iiôlderlin, até


agora impressos cle Íonna avulsa, 1'orarn rer-rniclos aqui, inalteraclcls.
As explicações pertencerr-r ao cliálogcl de um Lrensamento
conl urna poesia, cuja singulariciacle histórica nunca pode ser
der,orstrada cle forrrra histórico-liferária, rnas pode ser indicada
rnecliante o diiilo^gopeq-sa=nte. L)ma observação anteriormentepublicarla
cliz o segrrinte a respeito da explicação:
Apesar clos nomes 'elegia" e "hin«t'] até agc»:a ain<la nãcl
sabe,ros, de verciacie, o que são as poesias de Hólclerlin. Os poenras
aparecem com un1 santuár'io serrr templt-r, no qnai o poematizarclo
tl conservaclo. Os poemas são, em meio ao ruíclo das "línguas nãcl
poéLicas'l corlro sino, clue pe,cle ao ar livre e clesafi'a q,anclo
',1
uma neve suave cai sobre ele. 'làlvez por issr-r Htilclerlin cliga uma vez,
ern vcrsos tirrdios, trrnir scntetrça qlle soa cotno prosa e, contuclcl, é
poética como poucas (projeto pirra "Colornbo" IV, 39S):r

MIrtwLrrf zrl Iiolornb I\l 395. Ncsta eclição, as indicoçoes entre


I)arênleses accrca clos Pot»ras ilc
IIôlderlir reÍercttr-se respcctivarncnte ao volruue c página.kr origirral utilizado pu. il"i.l"gg...
Prescrvarnos a paelronização ilo originrl rcssc caso. (N. do Il.).

Martin Heidegger I l5
Por coisas huinildes A CHETANA
lJesafinava corno pelâ ncvc A CASAIAOS PARENTES
o sino, corr o qual
os honrct.ts lazent soar
A lrorr rio jitir{irr.

Taivez cada explicação destes poemas sejíl um cair da neve


solre o slno. ]Seja 1á o que {br que ulna cxplicação consiga ou l1ão,
t-
pocle-se semprc rlizer a respeito dela que a firla expliclttiva cleve se
1 No nrcio cios Alpes é ainrla noite clara e a nuvenl,
\ despedaçar, [rern como arluilo que ela br-rsca, para (lue a<priltt <1tre
poemalizan«kl o Aiegrc, recobre o vale bocejantc.
f ,',., 1ro,r,ro é pocmatizaclo esteja aí, um pollco mais claratnclttc.
I)ara iá e para cá ruÍ{e e se arroja, brincando, o vento cia montanha,
l1 A explicaçào <lo p,rcnra cleve âmbicionar tonlar-se supérílua eln favor
l.: ti brusco er-rtre pinl.reiros cai, brilha e .some um relânrpago.
du qr" e clito poetjcarnelltc. O último Passo cle cacla interpretação,
lÍ Lentanrcnte se apressa c luta o (laos fremente de alegria,
rnirs tarnhent tr rnais ilnportante, consistc etn rlesaparecer, jturtir
i cic figura jovem, contudo frlrte, celelrra uma iutir aulorosa
com sua cxplicaçio, diante clo simples estar aí do poenta. Jintão, cr
l.
'foenra erguiclo crrn suil própria jei traz uma ]ttz aos otttr<ts poetnâ.s, solr rocherkrs, se lança c vacila dentro de iimites eternos,
pois mais báquica de clentr"o deles se alça a nranhã.
ele rnesmo e cle ttrocio inrediato. liis ptirclue parece-ltos, ao rcpetir a
f\ris r:resce aí irrfinito o alto e as sagradas
leitura, que selnllrc tivéramos cornpreenclido os p()etnâs tlesta firrrla.
horas, os ciias, <iue estão nrais audazrnente ordenados, nristurados^
E btlm qttc ttos l)crcÇa accil)).
flontudo acllsa 2l estaç:ão o pássaro
c1a tempestade e entrc

rnontanhas, alto no vento ele paira e chama o día.


Agora lambén-r vigia c clentrc as proÍir.nclezas a aldeiazinha,
irrlrépicla, conÍiirnte no alto, olha do s«rpé dos pi;os para cirna.
Presserrtiltclo o fruto, pois já, como raios, jorram as autigas
nâ,§ceutes <ic rigua, il solo se urollra sob o seu impacto,
o eco re lnnrba ao rcdor, e a oíicina irnensurávc]
agita clia e noite, enviando cládivas, seu braço.

)
'li;rnquilos cintilarn, contudo, os culltes c1e prata 1á no alto,
cobertir tle rosas jír estií lá em citna a neve luminosa.
U nrais alto aincla, por sobre a luz habita o puro
berrr-aventur;tdo L)eus clue se aJegra com o jclgo clos raios sagrados.
Silcn[.e rnora ele soziniro, e claro aparece scu rosto,

l6 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger I l7


o etéreo parece inclinaclo a trirnsrrritir vitla, 4
a criar aiegria, corlosco, conrcl quando tantas vczes cottltececlrlr Mas é clariilF, a terra natal, o solo cla piitria,
cla rneclida, conhececlor dos respirar.rtes tarrrbénr hesitatrte e clernettte o L)etts o que buscas estii perto, já
verr-r âo terr encontro.

envia lirrtnna prócliga às ciclarlcs e cilsils e 1l-aca I.lnãoéerrrvãoquepára,corloumíiliro,cliantedaportabalidaporeslrondo


chuva, para abrir o carxpo, rlLlvens carregatlirs, e a vtis, de onclas e vê e busca nomes enamorirclos pilra ti,
brisas tão familiares então, vós, primavcras sttaves, corn canto um hclrnem peregrino, bem-clitosa Lin<iaul
e com ruão vagarosa alegrrr novanrente os tristes, Uma das portas hospitaleiras r-1o país e esta,
qutnclo lile renova as estaçõcs, o (lriador, «rs nrudos ilcil"anclo a prartir para lonjuras ricas cnr pr(rmessas,
ctiraçõcs dos hoinens que envelhecertl renova e contove, até lá, oncle eslão as nrarar.iliras, até iá, onck: estáo as 1àras clivinas,
e para bilixo, para âs proltrnclezas acer)a, e Íianqut'iir e ilttnrina, o Reno ciesce até a pianície rasgauclo um cal.nir.rho audaz,
como é cio seu agrado, e agora rnais unra viclt comerçir, e làncle os rocheclos de onde extrai o vale exultante,
() encanto Íloresce, corno outrora, e o espíritu vetn à presell(;a, sejir a aclentrar:, atr"avés da nrontanha clara, indo até Com6,
e utna coragern mais alegre de novo abre as asas. seja a descer, quanclo o dia muda, até o iago aberto;
Ínas me incitas, sobretuclo, porta consitgradal
3. A ir para casa, oncie os canrinhos flor:iclos me são conhecickts,
Muito }he clisse, pois, o que tiimbéru os poetâs nrer,litarn a visitar aí o carnpo e o belo vale c1o rio Nécar,
ou cantall"l, refere-se qtlase selllfre ittts atrjos e a ele'; e as Ílorestas, o verde das ru'vores santas, onde agracla
muito pecli, por arror cla ptitria, prlra qrie nunca o ao carvalho ircompanhar as bétulas e faias,
espírito não rogaclo subitautetrte r-ros coiha; e às rnontalth.Is unl ltrgar amigiivel me prencle.
rnuito também por vós, cltte na pátria carregânl l)tt'octrl)ilÇÕcs,
aqlrem a graticlão sagracla, a s<.lrrir, clevolve os Íirgitivos, 5

conterrâncosl por vós pedi, enrl.rautti o ltgo tne enrbiilava, Aí tue rcccbcm. Ó voz da cidacie, da rnãel
e o rernador, calmamente se seirtava e lrirvessia.
lottvava a 'Iiitocas, tu clespertas em rninr algo há rnuito sabiclol
Na ampla superfície clo lag«-r havia l)rrr flutuar alegre 'lbdirvia tudo ísto irincla existe! Ainda Í']clresce o srll e a alegria vossa,
sob as velas e agora lloresce e se ilurnina a cidacle <i caríssimos! Vê-se no oihar aincla nrais clara do <1ue antes.

[á ao arnanhect-r, e viucio clos Alpes sutnbrosos Siurl O Ar.rtigrl ainr{a existel Iile liutifica e arnaclurect-., nras nacla
venl beln concluziclo e clesctursii agora no porto tt rtavio. cir-re vivc e arnir clesiste da fideiidade.
Cálicla é a ntargem aqui e an-rigávcis :rlrertos vaies, hzlas o nrelhol, o tesoluo que está sob o arco da paz
belos, ilLnlinados por trtirlhos, verLlejarn e me visluttrbrarn. sagrariir fui reservaclo para joveus e velhos.
]arciins se empareihau e o botãrl reluzente já brota, Iralo crn delírio. Li cle alegria. Mas amanhá e no futriro
e o canto das avcs con'n,ida o vitjante. quartdo sairntos a passeari e olharnros o cal)rpo vivo ircliante,
1-uc1o parece iarniliar, até a saucltiçao de passagern sob o florescer cias árvores, nos Iêriaclos da prirnavera,

l)arece rlita por arnigcls, cirtla roslo l)111:el:e aparentaclo. clirei muito sobre isso e muito aguarclarei cortvosco, ó carosl

lB I Explicaçóes da poesia de l-lôkierlin Martin Heidegger I 19


Muito ter.rho ouvido sobre o grande Pai e há rnuito corn os conterrâneos piítria. o poe,]ra narra uma viagern
Peio lag',
r.ra
calei sobre ele, que I'enoya as estações mutantes "vi.ckr iios Alpes sonrbrosos" até Lincrau. Na prilnavera
<lc rg0r,
1á enr cirna no Alto e reina sobre corriilheiras, Ilôlt]erli,, o preceptor'' retornou de Hauptwyj, loçaricracle [urírrgia
é ele que rlos reserva rládivas celestes para logo e tomará para si ao pé de Oonstanç:a, t\ sua phtria suábia pelo lago cle Constança.
um canto inais claro e euviará rnuitos espíritos bons. Ó não tarcleis, Assi,r, o poenla 'h chegada a casi' pocleria apresenrar rrnia fa,tasia
vinde, vtls que tuclo mantendes! Anjos rlo ano! Ii vr'rs, p.ótica s.bre uma viagenr alergre para. casa. Contudo, a últi'ra
estroíi, disposta cle actirdo conr a palavra 'tuidaclol ,ão i,dica ,acla
6
do contentarnento cloqucle quc clespreocupadamente chega
i\ p11111o.
anjos da casa, vincle! Que crn todas as veias da vida
A irltirna palavra do poema é ur, súbito "não'l A prirneira estroÍ'e,
toclos se alegrern ao mesmo tel11po, que o celeste sc compartilhe!
porém, que ,uneia a cordiiheira dos Arpes enÇima, era mesr.a
Enobreceil Ilejuvcncsccil Para que nada hnmanamerrte bom, pâra que
e irne.liatamente, uma monÍanha de versos. Ela nacla cliz
sobr.e as
ueuhuma hora do dia passr: scln os r\legrcs e para qrrc
dcUcias tlonrésticas.O "eco" da 'bficina ,.imensurávei,, do que é
tanranha alegria, col11o agora que os arlantcs sc reencolltraÍll,
estriurho "retumha ao redor". 'A chcgada a casil cjrcunrlada por
como é justo, seja santificacla como crnvém. tais
estrofes, dificilmente se esgotará, se íôr co*rpreendida corno
cliegacla
Quando abcnçoarmos a refeição, quern clevo nonleítI e tluando
às r.argcns do "país natal'l De fato, esta chegacla à costa
clcscansarnros dir vida do clia, dizei, corno hei rle agraciecer? clomiciiiar já
é trastante estranha:
Nomeando o Alto nesse iustante? Â inapticlão nao (: arn:r<.Ja pelo I)ens,
para abarcá-lo a nossa alcgria é ainda dernasiaclo pequella. 'l'rirlo parecc fanriliaq iité a saudação
dc passagent
Calar é o que cleve mos no mais cias r.ezes; faliam-nos nornessagrirdos,
pare,, e dita por arnigos, cacla rosto parece aparcntaclo.
coraçôes palpitaur c' aitrda assinr a fala se contónt?
Mas um som cle cordas ernpresta a cada hora o seLi tont,
Coisas e pessoas cla phtria clã' uma impressão cie famiriaridirde.
e alegra taivez os Celestiais que se aproximam.
Mas uã'sã. aincla fa'rilirrres. Elas tarnbém escondem o que é próprio
Isso prepara e assim cl.rase tarnbém apazigua
no rnais alto grau. Eis porque a pátria dita imediataÍnente ao recénr-
o cuidado que se abriga sob o Alcgre.
chegado esta sentença:
Cuidados como este, querendo ou não, um c;urtor
deve suportar na alma e arniúde, nlas os outros não.
O quc lu buscas está perb, jii vetn ao teu encontro.

Saber pouco, rras muito sobre a alegria


A, <Jregar, o regressante ai,cla não alcançou a pátria. I)e Êrto,
ó .latlo atrs rrrorltis,...
ela e'difícil cle conquistnr, a reserva<la" ('h migraçãci, IV, 170). I por
(tv,240)
isso, o regressante aincla irermanece alguém que procura. Mas
o

l)e acordo corl o título, este pocrna de Fiolderlin lala da chegada


a casa. Corn isso, pensrunos na chegacla ao solo pátrio e na reunião I [Ír'ilderlirr, l]ricdrlch.AtLígrtçíio.'lratlur.irorlepatrlo()uintcla.)n frarluçires I. l,jshoa: (lal<uste
(lulbcrrl<ian, Olt.trs cottrllekrs, V lI, I997, p.395.

20 | Explicações da poesia de Hõlderlin


Mar-tin Heidegger | 2l
procurado já vem ao seu encontro. [Jstá próxinio. Mas tt procuraclcr C) aberto ar-rrigiivel, o ilunri^ac1o, o ci,tilante, o respla'descente,
ainda r-rão é encontrado, se "encôltrar" significa recebel'o achaclir o luz.iclio rla piitria vcm ao encontro em Lrma úrnicir airarição an-rigável,
como ur11r1 propriedade, para nele se insialar, corno eln Lun na c:hegada ao portal cia ptitria.
patrimônio.
Illa é

Mas o nrelhor, o tesouro que está sob o arco cla paz


sagrada foi reservado parajovens e vellios. IM]inlia terrir
itrcitando a partir para krnjuras ricas ertr prolnessas,
I{ijlclerlin passou a lirnpo, tnais tarcle, uma .segunda cópia tl
dcl ;loema, e err vez de "Mas o rnelhor, o tesouro..." escreveu: Mas mc int:itas, sobretudo, porta consagraclarl
"Mas o [esouro, o alernão... lbi reservatlo." O que, da pátriir, é A ir para cnsir, .ncle os carnirh.s íl.r.idos nre sã(r c.trhccicl.s,
próprio 1ro mais alto grau jri está hii muito ternpo prepartrdo e a visilar aí o país e o belo vale ilo rio Nócar,

atribuíclo àc1ueles que liabitanr o país natal. Da pátria, o próprio e as Í[orcstas, o verrle clas iir.vores santas, t»rle agr.acla

no mais alto grau já é enviado ])or um envio, ort, como agora nós iro carvalho ircorr"tprrnhar as bétulas e llias,
empregarnos o termo, "lIistória'l I)o mesrno modo, o cPte ntl etrvio e i\s montrrnhas url lugirr.anrigtirrel nrc prcncle.

é mais próprio aincla nâo é trarrsrnitic{o. Ainda estti reticlo. Por


isso, também, o enviaclo ainda não ioi encotrtrado tro qtte apenas
(i.rn. tlevenros chirrnar este brilho cal,r., no q,ai ttrcro - coisas
é conforme iro envio. Assim, o que já lbi conceclitlo e ao nlesmo e pessoas - cnvia stLa satrdação àquele clLre procura? C) que, ua piitria, é

tempo intertlitado é o reservaclo. llnquanto reservaclo, o tesouro o rnais convidirtivo e jii vern ao eÍrcontro, clevemos chaurar pelo noure

achado já vem ao tnc()ntr(), e pennallecc {) procurado. Por quê? tlue lançir srra luz sobr-e [otlo o p()ema 'A chegacla a casi'com a palavra
'b Àlegrel Na segu,cl. est«rle acumnlam*se as referência.s ao 'Alegri'
Porclue aqueles "carregam preocupaçôes na pátria' ainda não
estão prontos para possuir o mais próprio cla pátria, "o alemão", e i\ alegriir, assim como na últinril. Nas denriris estroGs, essas palirvras

como se fclsse sua proprieclacle. Assim, a chegacla a casa reside ressoírlrr de rrrotlo mais esparso. Apenas na qllarta estrofe, que narríl

precisamente em qlre os conterrâneos sintam-se em casa, pela ilnetliatirrnente a visào do Alegre, a palavra se Írusenta. o corleço clo

primeira vez, dentro c1a essência cla pátria ainda reticla; de fatcl, poenra norneia o'Alegre" igualmente ern sua relação corlr o yroernatizar:

antes clisso aincla, que os "caríssinros" c1e casa aprendarn a sentir-


se em casa pela primeir:a vez, p()r f icarem à vontade ttel;r. Para No rneio clos Alpes é ainda noite clara e a nuven.],
poematizanclo o Alegrc, colrlc o vale bocelanlc.r
isto, é preciso conhecer previaurente o tnuis próprio e o rnelltor re

que há na pátria. Cr:lmo, porem,.podenros encontrá-lo, se nâo


houver para nós alguérn que busclue, e se a essência procurada cla
2 f)ara rr vcrso "l)lc llolkc, lrtwligcs tlíJúLtnil,. )' láo há unra solul-ào única, ner» sctlirer drr
pátria não se the mostrar? Porrtr) (le vista aPettas grrrriticrrl. A tradur,:ão tie Milria'1'ercsa l)ias |rtrlado ó: "a nuvcr; drxrsa
tle alegria...'1 (llrllcleilin, 200i), p. Bl) Dkhtentl é o'pilrticípio tlo presenle do verlro r)irhten e
Jittuligcs é rri» arlicrivo declirradtr rreutr o singulrr ('trlegre"), e não arlvérbio, ile tal qroilo que rr
nlesnlo verso tanrbóru sc potie ler corno "a nuven, rrndcnsantlo o Alegrc'i Mrs o verlro rliclrlalt
O que buscas estlt próxirrio, e ver)l ao teu encontro.
signilia senrprr, ni inrerprctaçarr) lrcidtggcriarra, "pocrnatizar,l (N. rta ll)

22 | Explicaçóes da poesia de Flôlderlin Martin Heidegger j 23


li disposto nr alegria, a partir clcsta.
O Alegre é o poemaiizactrr:. prrixirlri é o pró;rri. cla.. cre,trcl cl. quar rrorneus e coisas
ap.re.er*
Destc mo<lo, ele é o alegrado e assim o que se alegra a si próprio. pe[a primeira vez, emr:ora serja menos aparente que
bétulas e faias
Por sua vez, torna-se capaz dc alegrar outrern. I)esse tnodo, o Alegre e, p'r iss, llresnro, negligenciado e quase senlpre ignorado.
0 crar«r
é também o que traz alcgria. A nuvem "lh nos Alpes" clemora-se clern.ra-se se' apar:ecer, sern chamar a ate*çiio pilra si. Niio
galganclo os 'tulres cle pr:ata'i Eia descobre pirra si a claridade rio
'o
exige nacla para si, não é ,enhum objeto que se corúrapo,ha
a unra
céu que se ergue, enquanto ao mesmo tclltpo "recobre" o "vale ccrrrsr:iência IGcgcn-standf, e do mesmo modo ,.naclal
nãcl é firclavia,
irocejante". A nuvem pocle ser vista a partir da claridacle íianqueacla. .o Alcgre qlrc ao enc()ntro iinperil já a sauciação cro qu*: crarcia
'enr
A nuvem poenratiza. úna vez que ela olhir para acluilo a partir dc c aninra. os que e,vianr a sauclação cio daro sã, os c,issririos, a)/
ortclc cla meslna é olhacirl, scu poenratizar não é fictícirl c ilescoberto ggcloi, os "anjos'l rlis prlrclrre o poeta jnvoca na 'thegada a
casa,]
cle rnoclo íútil. O poernatizar é trrn cncontrar. Pr:r isso, é: rnaniÍ-esto qua,do saúrda o Alegre que, .,a piítria, \rcln a., cncontro, o "irrrjo
dir
clue a nuvclu t{eve se ultrapilssar, i.rté não ser rnl:js «r qur: cla niesrua é. casa' e o "irnjo do ano'i
O poeticarnente dito não surse por seu inlen.néclio. O poeticarueutc 'A cas*" siguifica aqui o espaço proviclenciado
paÍa os h.me*s,
dito não se origina da nuvem. Ille vem por sobre ela, corno a<luiicl o írnic.r no qual eles poder, "sentir-se e,r casi' e por is.so tanrbér,
contra que a nuvcln sc demora. A clariclade abcrta enr que Íl "ern casa" no rnais própri. clo clue lhes foi
enviaclo. Este cspaço faz
nuvem se dernora anima este demorar-se. A nuvem é animarla por: da terrir iucól"u,e rirn prese,te. rila insrala os povos no seu
espaço
esta clarirlacle. 0 que ela poemirtiza, 'b Alegre", é o claro. N(rs cr histririco. A terr. dareia e a.ima "a casal A terra assirn clareacla
c
chamamos agora tarnbónr 'tr dcsin-rpedido'i Pensanros nesta prslxyls anirnirda ó o primeiro anjo 'tia casa',.
âgorâ c doravante ern ul1t senticlo estrito^ O desimpediclo ó o clue teve "L) arrri' i,stala as épocas que chanranros "estaçr5es
cro arro,r
seu espaço liberaclo, clesen-rbaçaclo e tornado habitlrvel. S(r o claro, o No jog. "mist*r^cio" da clariilade cie fogo e da escuriclflo gelacla
qtre
clesimpediclo, consegue instalar outrem eln seu h,rgar aclequaclo. consefvâ as cstaçoes, as coisas florescern e se fccham üovarncnte"
As
A essência c1o .Alegre está no <Iaro que torna radiante. 0 claro, por estaçÕes'i,lo a.o" prese,tei:rrn o homern, ,as muclanç.s do
claro, co*r
sua vez, mostra-se pela primeira vez no qrie traz alegria. Confornrc a pir.rsil ailc,quacla à srra estadia histórica eni "casal "o anri,,envia sua
a radiância ilurnina tuclo, claro concecle a ca<la coisa seu espaço
«r sar rdaçir, n, j.go da h-rz. Â l,z q*e anima é o primeiro "anjo ci' a,o i
essencial, ao qual ela pertcnce <io sei.r próplio modo, parii aí perrn?lncccr, Ânrbos, terra e luz, o "anj. casa,' e o
,hnjo
c1a clo ano,, se chamam
no brillio do claro, cotr]o uma luz serena, satisfuita con) a própria ,s 'ina,lcne<iores'l pois, a. sautra' fazem c.,r que apareÇâ. o craro,
essência. O alegrante lança sua luz na rlireção do poela que vai para casa, ern cuja claridacle a 'hatr-rrel:a" clas coisas e dos iromens
é resguardacla
sã e salva. O qrie í: rcs{utrrdad., são c salvo, cstá ,.ei, casa,,
,a sua
IO]ndc agracla cssência. os nrensageir.s saiirlam a partir do claro, que perrnite
que
ao carvalho acompanhar as trótulas e làias, tudo tr»rre s,a rcsiciência. A essê,cia da pátria co.siste er, conscrvilr
e às nrontrrnhas unr lugar amigrivel ne prendc. o domiciliacl.. A pátria jri vem ao encontro, precisarne,te, na
aregria
(luc aparecc imcdiatarnentc no claro.
A proximiclade éo feitiço rnaltso das coisirs já bcm conhecicias (ltxrt,do, o que já vem i.lo encontro neln por isso
deixa cle ser
e de suas relações sir:nples. Aproximanclo-se aincla mais c ainda mais algo ai,da 1,rocurad.. unra vez q'e o Alegre só porJe vir ao encontro

24 | Explicaçôes da poesia de Flôlderlin


Martin Heidegger | 25
quallclo a ativiclade poética o saúda tie volta, tanrbérn «rs atrjos, os espaço de claridircle. o Altíssirno "aléni tla lsz" é a prrópria clareira
rnensageiros do claro, só Íirzem sna apariç:ão se são prietas. Por isso corlbrrne *ma pal.vra a,tiga cla nossa língua mateura,
racliaute.
se encontra a sentençâ no poerril 'A chegada a casí': r:hamitrnos "ser:enidade" o pilro reluzir, que ,.i,stalir,, pela prin.reira
vez, parâ cacla "espaço" e pilrâ catla "espaço cle tenrpo,,, tl alrerkr, e
f P]ois, o qne tantbém os i,oclas mctiitam cleste rnoclr os preserva. A serer-riclacle e, de urna só vez, a clariciade
ou cantilm, refere-sc ([Lrasc sc!]1p,'c aus .rrrjos c a c:le; (claritas) enr que repolrsa tudo . clue é claro, a altezir (serenitas) em
cLrja força repoLl.sit tudo o ciue é nobre, e a alegria (lrilaritas) ent
O canto cla palavra poética "quase sempre aos anjos" se refere, cujo j.gri vibra tudo o que é cleixacl. livre.:' A
sere.iclacle recebe
pois eies são os rnais próximos, colll() ulensagciros clo claro, 'trs que toclas as coisirs e as mantém dc modo irnune ao rrânstorno, sàs
se aproxirnirni'; "e a ele" refere se o clizer poético. O 'i:" signilii:a aqui e sa[vas. A sere,iclade é o que sa]va, r1e r,o<1o origi,ário. Ela é
o nlesrno que "c, sobretr.rclo" -"a ele'l . Sagraclo. "(f Altíssimo" e 'b Sagracl." são o mesüro, paril o poeta:
Quent é EIe? Se o poerriâtiziir reÍêre-se "a ele" no tnais alttr a sereniclade. Por ser alegre no mais alto grau, ela perrrrarrece colno
grau, mas poematiza o Alegre, então Elc liabita o iuhilante, o Alegre a origem de todo alegrar-se. No alegre no nrais alto grau acontece
no mais alto grau. O que, porém, e corno e[e é? a puÍa rarliância. Âc1ui, no ',4.1tíssimo", habita o ,Alto,l que é assirrr
A nuvem "poematizarntlo cl Alegre" dii a intlicação. Â nuvenr enquanto se alegra com o "jogo dos satrtos r.aios,,: ele é o Aiegre
paira entre os cimos rlos Alpes e escon«le os precipícios tlas por excelência. Corno tirl, ele "parece a criar alegria, conosco,l Uma
cordilheiras, sobr:e cuja profuudeza escura se 1al1ça o raio de luz riue vez qLle sna essência é a raciiância, "ele ami' "abrir,, ..aclarar,l por
e
clareia. Doncle o jovem Caos 'telebra', sob os rocheclos, "liernetrte tic: meio cla clara serenidacle, o A.lto "franqlreia" as coisas na alegria cltr
irlegria', Luna "iLrta amorosa". A nur,/c:m, p'oréÍn, urn'buteiro celeste", slra pl'eserlçâ. Mediernte a alcgre sereniclade, ele dese0rbaça a mente
clevaneia por entre as alturas, ellr contentamento AY,7l). A nuvern hur'ana, pirril qLre sna coragefir seja liberacla para a soliclez dos seus
aponta para o a1to, para o Clarcl, confonne elir poematiza. carnpos, cidacles e casâs. &Iediante a sereniclade de alteza, ele pcrnrite
pela primeira vez que uma fencla illrmine n profuncleza escura. o q*e
'Iianquilos cintilam, corrtuclo, os culnes de prata lá no alto, seria cla profundeza sem a clarc'ira?
coberta de rosas já está lá ern cimtr a nevc lunrinosit. "O Alegre" traz alegria até ntesmo ao ..triste,,, ainda qr-re
Ii miris alto aincla, por sobre a luz lrabita o puro "com urla rnão vagarosa". Elc não leva embort] a tristeza, mas a
bern-aventuraclo Deus que se alegra conr o jogo dos raios sagracios. translirrma, conformc dcixa clue o triste suspeite que até a tristeza só
b'ota dc rr,ta "alegria antiga". 0 Alcgre é o ..pai,, de tudo que traz
Na cordilheira clos Alpes acontece o r-rltrapassar-se, cacla
alegria. Aquelc cluc habita on.r screnitlade, só pennite clue o' chamem
vez mais silencioso, rlo Alto na direção do Altíssimo. Os cr.rmes da ern primeiro lugar de acordo corn esta morada. A altura scr oham:r
cordilheira, isto é, da oferta mais extrerna cla term, erÍIuenl-se nir
clireção cla luz, clo "anjo do ano'l lbr isso eles são os "ctrnres do ternpo'l -] Alé aqui, fez-se Iienção tt tlus Ileítere, Íorma substanlivada do a{jetivo lciter. A partir tie
agora, o a.tor enrprega dic lIelleld, subslantivo Ieminino arcaico, que scrá traduzido por
Além cla luz, e para clma dela, iiumina-se, pela primeira vez, o Claro "sere.idade". o adjetlvo "scre.o" se aplica, se.r estraulreza, tanto
à realeza q.ant. a um
em pura radiâIcia, sem a qual tanrpouco abrir-se-ia para a luz um estado de es1>irito lcve ou clivertitlo tluanto, Íinalmente, as condiçôes atmosíéricas, corno.
oposto de "trrrvo'l (N. da't:).

26 | Explicações da poesia de Holcierlin Martin Heidegger | 27


"o Étcr", At0{p. () "ar" arejantc e a. "luz" iluminantc, c corn clcs daqueles (lrre então fr,,rarn chauraclos "cleuses,, é nomeacla
cle rnotlo
a "tcrra" dçsabroçhante são os "três conlonncs e uniclos" nos cpuais mais puro. Pois os deuscs siro os que tritzelt1 radiância, os quc
enviatrr
a sercnidatlc se torna racliantc c permitc que o Alcgrc brote, vindo a saudação a parÍir cia radiârrcia, e a siluclação, por sua vez, er.ia a
sauilar os horncns em alcgria. sere,idade. A screniciade é o solo essenciar cra sarrrla,te, isto
é, clo
(lortto a sercnidade, porórtr, desce c]a sirir alturl até os i.rourens? argelico, qLrill c,nsiste o «1ue ti r.ais próprio a's cleuses. c'nforrne
^o
Por si lttesmos, o Alegre e o nrensageiro alegre dir radiância, o . pocta nrantém crll rescrva o llorne ,.os ,leuses,i e
só os enlpr.ga
pai litcr, o anjo tla casa (ir terrra) e o anjo clo ano (a luz) não ccurseguenr depois de hcsitirr, ilurlira-se meihor o que ó próprio
a estes, scja,
nacla por si rnesmos. A tríade, cmbora seja, <.lentre trrcl<l qr-re irabitn 'u
q.e os dcuses sã' os rlue saúdam, medianLe os quais, a sere,iriaclr:
o âmbito cla sereniclade, a pr:eferida em toda alcgria, cleve cluasc enyia sua sauciação.
csmorecer r1a sua essência, isto é, na r:acliância, se não hclr,rver <le 0 poeta que vai pilÍa casa se tornou rnais experieute a
restrreikl
tempos eur tempos aiguénr c;ue, pcia prinrcila vcz e , por isso inesnro, cla essência dos denses, isto e, clos Alegres.
solitariarnente, venha por:l-icaurente ao seru enc:ontro e lhe pertença.
lris por:que a elegia cujo título "O peregrino" já renrcte à relação cun 0 que buscas esth prtixirno, e venl ao teu e1lÇontro.
a elegia tarclia'?\ chegada a Çasa" diz (lV 105-106):
t) poeta tern maior clareza a respeito da sereniclacle. Ag.ra
E assirn cstou s<i. Mas 1r.r, ó I'ai da piitria, lá por sotrrc elc r:o,siclera a alegria clue veio ao seu elrcorltro ao avisr.ar
a pátria
as lruvens, Ó Íiter potlcrosol e tu, alguma c.isa que só poderia provir do que se torna radiante
a partir
terra, e I-,rrz! vris três confonres c unidos, qr-rc reinais e arnais, clo Jubilante, e apenas a parl,ir cleste permrrnece púxiina.
porém,
Se,
deuscs eteurosl convosco nurlca os laços ntc qucbranr. aquilo r;ue "rarnbérn nreditam e cantam" refere-se, sotrrer.uclo
os poeras
Írartido de vírs, convosco vag,ueeÍ tantbénr, c ir v(rs, a "el*'l . alto Pai Iiter, então o poeta que busca ti
Jubirante não deve
ó deuses alcgles, a vós ruais plovados vos {rago de novo.n fazer scu pouso no lugar em que rnorarn os Alegres,
portanto não no
Iugar em <rrre, de acor<1. c,r, a pri,reira cstroíe do "hino
cro Rer.r«i,
A terra ea |uz, o anjo cla casa e o do ano são chrrnrarkts "cleuses" (lY, 172), eücontralr-se as
ern 'A rrrigração". Tar-nbém na primeira cópia a lirnpo da elcgia
'A chegatla a casa" Hôlclerlin já tinha <lito: 'iieuscs do anti' e "deuses ... escadas da lvlontar:]rir <los Aipes
da casal Do rnesrno modcl, na prinreira cripia ir linrpo ila úrltinra quc pâra ntinr, segundo vclhir cr:crrça,
cstrofe cle'h chegacla a casa" aincia se <1iz (v. 94),s iro irrvés der "scrn os i'o castclo dos dcrrscs, p()r deuses
Alegres'l "senr os dcuscs'l Os deuses for:rm rcbaixados a simpJes anjos coustnríckr, mas donde
na cornposiçã<l posterkrr? Ou os anjos forarn introduzidos ent pri cle crn segredo aincla muitas coisas clcciclirialnente
igualdade com os <leuses? Não - rnçlhor clizendo -- agora a essôricia chegaln a1é os honrens;...?6

4 QulN',t',LÍ-^, 1e97, p. 35s.


5 Nesta ediçiio,;rs inrlicaçõcs entrtr parêtrleses acerca clos irocrrras clc I liilrlcrlirr rcfcrr-rn se a verso
(v.) do origirnl corro utiliz.ado l,or I'lcidcggcr. (N. do l,l.) 6 {llIlN'l fit.Â, 1r)97, p. j\)6.

28 | Explicações da poesia de Hôlderlin


Martin Heidegger | 29
Agora, pclrém, a 'thegacla a casii' con<lLtz o Poeta, expressa- por isso, por(luc ent vr:tJta se apinharn

mente, cla "Montanha tlr:s Alpes'l atrirvés cla águas clo lago ató os clunes clti tenrpcl, c os iluericlos
vivem perto, esnorccenrio
â rnargem cio país natal. Ilenulrcia'se à estadia "sob os Alpcs", a
ent Íllcllrles clue l.orrâil a distâncir iníinita,
proxin'rirlacle ao lubilante, precisatue tlte em função da chegaclir
tlá-nos, água inocente,
a casa. E, clecerto, ainda rltais estrauho qtle o Alegre apareça, aincla
oh cli nos asas, para atravessar pair;r Jii
assim, sobre as águas cluc levanr o poeta para lgrrge tia cordiiheira
cle ânir-uo fidelíssin'ro e voltarr rie novo.7
dos Aipcs, sob as aslts tlo ttitvio \lllc u cllrl'cgtl:

O poeta deve "atravessar" er.n clireçao à corclilheira clos ,Aipes,l


Na uupla slrperticie do laqo havia Um fluttrar alegte
lnas err "ânimo ficlelíssirno'l isto é, a partir c{a iideliciacle à pátria,
sotr rs veias...
ile rnoclo que a ela retclrne. A pátria é <lnc1e, conforme a expressã.
eur 'A chegada a casii] o procuracki "se aproxima'l pclrtanlo, a
O contentanren[o Ílilresce ao reclor c1a despediclir da 'tidade
celeste'l Se nos representarülos o Iâ8;o t1e Colrstança, que tarnbém irrrixirni<laclc ao ]ubilante, islo é, à origem de tocla alegria, nâo est;i lá
"sob os -A,lpel;'l Assint, o procuraclo mantét, *nra relação secrete corn
se chama "mar: sttábio', cm termos geográficos, navegaciotrais, rltt a
proxinridadc;i origem. Assim, a piitriir suábia, clisrirnte <ia corcJillieira
ainda foiclóricos, então referiretno-n<ls ao lago qtte se encolltra
clos Alpes, é precisantc.nte o lugar cla proxir-,iclacle r\ origer,. Si.r,
entre os Àlpes e o cLlrso st4rerior clo lJanúbio, ttravés do qual eia

tanrbérn o rio Reno, iuicialurcnte, se esgueira. Assim, uão pensamos


e. As prir,eiras estroiês do hi,o 'A migração" o clizem. Flõlclerlin
publicou estc hino junto com a clegia 'A chegada a casa" ern
poeticamente nestas águas. Iior qltanto tetnpo :rilrda o farernos? l)or 1f102,
dfil nrimero clo alrnanaciue [)lora. Na aber:tura, o hino i:nigmático
Lrrlr
r}ranto terlprt rti0cla prel'crirelnos cliz.er que existe tttrla naturcztl em
nomeia a pátria. Depois de ponclerirr, o poeta lhe clh o antigo norne,
si, irrtcclialnniclltr'Ll'JdJ, c I'll)lll Pitisiltcln IlLlr si tltcslrtJ' (ltl.:, dolll
"sLréviril l)este nrodo, ele nomeia ir essê.cia rla piitria: a mais a'tiga,
a ajtrcla de "vivências poéticas", Poclenr ser c«lloriclas nriticatrtente'i
lnais própria, aincla ocultl, rllas, clesele o corneço, tiisporrível no mais
Até rl-rando trOS escluivareüros de experimetrtilr o enle corntl cttte?
allo grau (fV, 167).
Aré clualdcl ainda quercrãtl os alet.niies ser stirclos âo qtle lirilderiin
O hino 'h migraçãri'corueçl assim:
cilntou rta prittteira estroíê do hin<l "Pirttnos"-i (1\/, 199 e'227)'

lrt liz Srrcr i,i, rrrirtlrrr rrr.rt,


Perto est/t
e diilcil de preneler o l)etts.
tanrlrérn (u, como a tuir rtrris br-ilhaLrte inní
lornbrilda ;rlérn,
tlrs onde há perigo, cresce
Iegrrtia ile ccur legabsi
tarribénr o que salva.
fl árvttles lrastrrtrtr:s, rlc floles brarncus e rosadas,
l.io escuro rnoratrt)
e rnais escrrriis, bravas, cheias de Íblhagern verde carregada,
as liguias e in[réPicias vão
e vizinltas rnontarrhas alpinas cla Suíça tarnbém, te ensonrt:rarn,
as Iiihas dos Alpes sobre rl abisnro
por pontes cle construção lcve e fáci[.
7 (.)till\11'lil.A, IJiulo, t1)97, p. 407, rr0clilica<la.

30 | Explicaçôes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 3l


pois jurlto à lareira cla casa iuata a esta pátria a fideliclade i\ origern. ilis por<1ue só com pe.sar
tu lnolas, c otlves col'no iá clctttro ó que se clcixa o lugar <la proxirnidacie, quando é preciso fazô io.
de argêntcas taçts sagradas Se, todavia, o ntais próprio cla pátria consiste eir scr o lugar,la
a Íbnte ruge, vertida proxirrriclarlc ao ]rrbilanlc, etrtâo errr que consiste a chegada :r
clc máos puras, cluando tocado casa ?

A ciregacla r:aminhcl tle voltir à proxiririciacle à


a casa é o
de raios querrtes 'rígenr.
Só pode retornirr quern, previarnente e talvez por tnuito ternpo,
o gelo cristalino e, derrr.tbado carregou sobrc os ombros, c()rno per.e€yino, o fardo da peregrinação,
pelo toque ligeiro da luz,
c alcançou a origcm, Para então experimentar, coltro buscante, o que
o pico ner,ado inttttda a tct'ra
era pilra ser buscado, e regressar, nrais experiente.
com tiguir puríssitna. Por isso te ó

inata r Ii,lclidatle. Â r'rtslo abart,-lon;t


() que ltrrscas estrÍ pr<ixirno, jii ve nr ao teu cncontro.
o lugar o quc vive pcrto cla origcm.
e as tuas filhas, as cidades,
A proximidacle qrre agom ilrrpern perntite, ao tnesmo ternpr;,
r-)as rnarge ns do lago crcpttscuiar ao longe,
<1ue o pri'rxirno esteja prriximo, e qtre seja o procuracio _.porlnnto,
junto aos salgueilos do Nécar, jrtrtto ao I{eno,
quc não esteja prrixinro. I)e resto, compreendemos a proxinrir,lacle
todas elas pensanr quc melltor rnolada
como ít r.ncrror nredicla possível do intervalo que separa dois lugares"
não haveria nenhures rt<l tnundo.3
Âo corrtrári., a essê,cia cla pr.ximiclade agora piirece ser r1*e ela
aproxinra o próximo, conÍonnc o lrtrntém a clistância. A proximiclircle

nror?r l)erto .l,i


;'l,rreira
da casa". A iareira vigia
iorigcrn c rurr scgrcrlo.
Suóvia, a 111ãe,
Se, tod:u.ia, chegar etrl casa sigirifica sentir-sc ent casa qualr<Io
o ardor 1rerlranelttemellte preservado do fbgo, que [ranqlleia os
próxirrtr à urigem, então:r vin<la para casa náo dcve consistir, em
arcs c a luz i\ sercniclacle, cluanclo se iníla.mâ. Ao redor d«l logo da lareiril
plirueiro lirgar e talvczporrnuit«r tempo,
fica a oficina, enr que o sccreralnentc decitliilo é fi»jadrl. A "lirrr:jrir da ern sirber a respeito do scgretLo
rlcsta proxiriLirJrrrle, ou pclo rncnos enr ciregar a toÍnar conhecimcntr:
Çasa", isto é, a tcrra nlaterllâ1, é a origem clir racliância, ctrja ltrz é
Íah, nunca salrernos um segreclo por tenrlos levantaclo o scu
<lele? L)c
quem primeii-o clerrama ortdas sobre a tcrra. A Suévia moril perto
véu ,u por telnros clesrnembra<lo, mas apenas conforntc guarrliurros
rla origern. Este habitar prtixitrrcl é uomeaclo ciuas vczcs. A pró1rria
o segrccl: como segredo. (lonro guarclá-lo, porérn, ,scrn conhccer o
pátria mora per1o. Íjla ó o lugar da proximiciade ii lareira c à clrigelrr.
scgreclo rla proxirniclade? Ii.rn prol <Ieste conheçimento, devc sentpre
A Suévir., a voz da mãc, sc ntostra na essênci.r do país tratal' Sobre:
havcr alguó,t quc, rle ,lovo e pcla primeiril 1,e2, l"etorue ao lar, para
a proxinriclade à origcnt sc funcia a vizitlliirnça r1o |trbilante. I)a
i:turtar o scgredo:
pátria, o que é rtrais próxin-ro e tttelhor consiste utticat.l'tetltc ettt
ser esta proximiclacle à origern -' c nada alénl clisso. I)or isso, é
Mas o mel[ror, o tcsouro qrrc eslii solr o arco da paz

S QUlNl Ir,A, 1997, f. .]1)2-39-1, motlillcarla.


sagrada íoi reservaclo Para jovens e velhos.

32 | Explicações da poesia de Hólderlin Martin Heidegger j 33


"O tesorrro", o n.rais pr<iprio à pírtria, "o aleruad'esl.á prcservac'lo. poeta de modo eminente; âo contriirio, o pclematizar é a alegria, a
A proximiclacle à origenr é ttnra prttxirniclacle prc'servaclora. Iila racliância, pois a prirneira chegacla à casa consiste no poematizítr.
marltérn o Alegre no mais irlto grau, isto é, o Jtrbilirnte, erlr reserva. A elegia 'A chegacla a casi' não é um poema sobre í1 chegada a cdsa:
I,)la o guarcla, pondo-o à prtrtc pílra t'rs rlue virritt, ntas esta proxirnicLitle nrelhor rlizendo, a elegia é, por ser o poenra que é, .r própria chegacla
niio suprime o iubilante; ntelhor clizendo, a proxinriclacle perrnil.e, il casa, clue cclntinuará a acontccer enqllaltto sua palavra replcar
precisâú1ente, quc o guirrdadtl cpareça. Nia essência cla proxir.niclacle colno rin) siDo na língua cl<ls alemães. Ibcmatizar significa estar. rra
ricontccc ttm resguarclar oculkt. O segreclo cla proxiruiclacle atr alesria que abriga, na pa[xy;i1, o segrec,lo cla proxinridacle ao Alegre
Jubilontc é que ela resgtrarda o próxitner. O poeta sabe que eriça o no nais irlto gralr. A alegria ti a alegria clo poeta, de acorcio corn sLla
senso corllllrrt, clttando chntrta "resguarcladti' o tcsouro. I)izer clue palavra: "j,!ossa alegria" (v. 100). A alegria poética é o saber que, er11
algo estli próxirno, confornre se manlér't.t ao largo signilica ou ferir a toclo Álegre clue jii vern ao e.contro, o Alegre saúlda ao resguardar,se.
regra {iurclamental c1rt rnclclo habitual cle pensar, isto é, rt plitrc(rio cle Assirn, para que a proximiclacle resgtiarcla'te ao Jubila,te perÍnaneça
não contradição, ou então jogar corn pnlavrts vaziits, olr ail)(la l)ctlsar abrigacla, a palar.ra proética deve çuidar para que nào se perca por
em rlgo extravagante. Daí o poeta clever itrterrorttper:'se, lttgo após precipitação o que envi;r sua sauclação a partir do Alegrc., ainda que
ter se resoivido a falar sobrc o se6;redo tla proxir.rriclaile tltte rcsgtlarcla: se poupirnclo, pelo mesrno gesto. Assinr, o cuidado se põe sot: o
abrig. rio Alegre, pois é preciso cr.riclar clo abrigo da proxirrridacle ao
Falo em clelírio. nrais corrtente clue se poupa.
lvlas aintla assinr lirla. O poett precisa 1alar, pois I)onde ir alegriir clo poeta é na verdacle o cuicjaclcl do aecio,
Il cle alegria. cujo canto abriga o .|r"rbiiante, isto e, o lleser:vaclo, e perntite que ct
procuraclo se aproxinre, na proxirnidacie reservante.
'Irata-se clc unta alegria indeternrirtirtla rlualcprer a t'espeito de Como o poeta deve, porém, dizer o fubilante, se o cui(1il(io esiá
alguma coisa ou cla alegrin que só e alegriir porqtle nela st clesclobra a late*te, abrigaclo sob ele? Aproxinraclamente, na nlesmil ép«rca ciir
essôncia cle toclo alegrar-sc? O que é a alcgria? A essêttcia origintiria elegia'A chegada a casi'e do hino'A r,rigração'l Ikililerlin arlotorr
cla alegr':ia é a domiciliação rta prrlxiuriilacle à origern.e Pois rlesta conlo o cantirr clcl jubilante, isto e, clo lleservaclo, bent como o'tanto
proxirlidarle, el-rviirndo sua satttlaçâtt, aprtlxirtta-se a ratliârtcia itir dos alernães" cleveriam ser cantaclos ern urn "epigranra'l O epigra'ra
qual a serenidirde aparece. O poela vai çraçx casa crlníortrre alcança a se intitula "Sólbcles" e enuncier (IV S),
proximidacle ti origeru. l-lc aiciurça a proximiclacle cottÍirrttte c«tntil ct

segredo cia proxiniiclacle ao cltLe estii prtixirno. Ille o cottta i:rlttÍilrntc jVttritos tentaram em vão clizer.irlegremente o
]ubilarúe,
iranslirrma o Jtrhilirnte en'r poesia. O poctnatizar trãti corttent;r tr arlui finalmerrte ele r^e cleclara a rninr, aqtri rro [uto.

9 'l)onriciliaçào": lIi:ittriscl*vcr,len. tleitnís;h signilica 'irativo'] "inilígcnr" e si,:h ltcitrith


Jiihlett, fuinLisch scll signilictnr "senlir se cttt casii',
"estar à votrtailtrl lleirlegger opôe tr Agora stibemos por qrle o poeta precisou traduzir "as
r(ijetiy(, h.trlllafi ('secretli') t utitLinli,lt, "cstrirrrlrri', "nrio larriliar'l assitn cotrto rt aproxinta tragéclias fTrutterspiele] de Sóftrcles" na rnesrna éprica em clue veio
tle ht:imisch, escollras clue irirlicirrn o r:aráter ioici;rhuente encolrerlo da pátria. /\ telra rlatal,
a pátria,0 elctfrcrto uirtivo l)âo se nl(,stia irrlr(li,rtd[renlc àqrrcic tluc alrenas ulscert aí, mas pitra casê, pírr'íl a pátrirr cr:rno lugar cla proxirnidacle clue reserva
e descoitcrta rtrctliante a exPosiçao ao não l'arriliar [)ai lão se (rnl)regdrclrl ailrti its lttlavras
"regrcsso" orL "rcpiitria5:iitii (l'.J. cla'l:)
a origern. O luto l'li'auer), clistante da sirnples tristeza por um

34 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 35


abismo, ó rrlegria quc se anima pelo lubilanle, confcrrtne este ainda Para dizer e, ao rliz.er, pcrrnitir q!1e apareça qlrenr é llle, o
hesita c sc poupa. Pois set.rão cle onde vir:ia a luz interna clo luto, pr<iprio jrairitante clo santificado, falta a palavra nomeacrora. liir;
clue a tuclo ilumina, se ele não fosse, no seu tundarnento octtlto, a porque o 'tantar" poótico perrnanece, uma vez que llre 1àlta a pal.vra
alegria pclo |ubilante? p.ipria, nornead.ra, urnir cirnção sern paiavras - r1m sonl'tlc coxias'l
Só que o diálogo poético de l{õlderl-in corn Sóíbcles cttcoritrattro I)c fato, a 'ttrrção' daqrrele q,e toca a lira vai ern busca clo Ahíssil,«r.
nas "trac{uções" e nas "Observaç:ões" pertcncc ao ârnbito do regresstr A "alr,a" do aecio olha na clircção cla screnidade, mas ele nunca vô .
poético a casa, mas não o csgota. Eis por que a deciicat(rria que prriirrio AItíssimo. o aed. ó cego. No poema "o ar-:cl. cego ] preceriido
I{õlclerhn acrescentou à tr:rciução clas "tragéc1ias c1e Sófocles" termina por lrnra senteuça cle SóÍircles, i-{ôidcriin riiz (IV, 5B):
com esta cunÍissão (V !ll):
... e vris, (r minhas corilns!,
I)c resto, eu gostaria, se o ternpo permitissc, de cantar os atttepassaclos scgui-Lt corn v()sriil nrúsica, c it nrinha cançâtr
de nossos príncipes. seus tronos c os atrj<ls da si-rnta pátria. vivc cortt elc, e, cotno a Íilttc seguc â cor:rentc
para ontle cla rpcr, eu nre sitrto lrrrastado e
"De resto": aqui, a locução tírnicla significa "na verdade'l Pois sig,o selr passo scgtrro na caLreira urrante.rí)

agora e iloravirntc o canto referc-sc "sobrel.uckr aos aujos c a cle'l


O Altíssimo, que habita a serenidade cio santificado, é qucur tnais "t)rn s.rn de corrlas" -- eis o norne rnais tírnido para o
ca,to
próximo está do interior da prclximiclade resguardante, eu c;ue i1 hcsitante clo aeclo ctridadoso:
alegria resguardacla do poeiir [az sua rloracla. Contudo,
Mas uri-r som tle crrrclas ernpresta a cada hclra o seu tom,
Para abarcá-lt) a no§sa alegria ainda é dernasiado pequcnâ. e alcgra lalvez- os Cclestiais tlue sc aproxintanr.
Isso pt"epara
'Abarcar" signiÍica nomear o próprio Altíssirno. Nontear
poeticamente significa deixar quc o próprio Altíssirno apareça na Prepaur alegrernente a proxiui<lade conyeniente para a
palavra, e não apenas enunçiirr seu lugar cle morada, a serenidade. aproxinração clos rnens,rgcilos açs111111.s que trazern a saudação do
Significa clizer o Sagrado, e não apenas uonreii-lo por reÍ-erência à tes«ruroai,da reservado - eis o que cletermina a do poeta
sua morada. Mas a aiegria enlutadã ainda não consegrie notneaÍ o (]ue vcll l).rra casa. O Sagrado aparcce, decerto.'ocação
O l)eus, porém,
próprio Altíssimo, ainda <1ue se dernore nâ sua sinrples prcrxirniclacle permilnecc iiistante. A época dtl tesouro ;"escrva<lo e a época em qtle
cnviada. lulta o Deus. A "laita" clo Deus é o Íunclarnento para a falta de "nonres
Decerto, de qiiando em quando'b Sagradri'podc scr nornca<lo, sagrac[os'l Jri clnc ao rrlesnlo terl)po o tesouro se
rnantérn;rróxirno, com<l
ea palavra pocle ser dita a partir cie sua racliância. Mils cstas palavras feservado, o l)eus auscnte eilviâ sua saudação descle o aproxinrar-
"sagradas" não são "nomes" nomeadores nenhuns: se clo «:eleste. Ikrr isso, a "1àlta r,ie l)eus" tampouc:o é uma an.sôncia.
[\rr isso, .s c.,tcrrâneos r.rão estão, em princípio, autorizados na
|] alrarn-nos norncs sagrallos.
|
l0 ()irlN l'iit.^, 1l)97, p.34{).

36 | Explicações da poesia de Hólderlin Mar-tin Heidegger | 37


sua pretensão a prodllzir para si lresmos, por ntejo de artifícios, um clue se deve se(luer falar em chegacla ir casa it col)lcirrâneos qrre des(le
I)eus, e cleste nrodo pôr c1e lado, cotn violência, a sup()sta trusência. sernpre estiveraru na pátria? A sauclação passugcira dos conte rrâr.reos
Tirnrpcluco estão autorizaclos a se acotttoclal, iuvocanclo ttm l)elts a veln tlo ertcoutro clt poctl. liles ]rrrrrct,nt l)itren[es, mas aincla não
que jii se habiluaranr. Por tais catuinhos perde-se cle vis[a a presença são - isto é, parentes clo poeta. Mas supondo ciue os que acabarn
da falta. Sem a prorimiclacle <1ue detennina ir falt:r e cllte por isso a de ser chamarios 'ils outros" sejaur os clue devem tornar,se parentes
preserva, o tesotiro nuuca poderia estar irróxirnrl, como de firto está. clo iroettr, por (lue este se resolvc precisantente a excluí-los cias
Por isso, o que import.t l)irrl o cuiilar-icl do poeta é r4rertas isto: sent preocupações cjo aedo?
rnedo da aparência da percler con.rpleta de Deus, pennanecer próxirno O 'itãri' sírbito desobriga "os or,rtros'] precisarneute, cler se
da falta e agttarclirr, por tanlr.r tempo quanto seja necessário, lta stta l)reocnparelr) corn o cliz.er poético, mils de Íirrma algunra i.lr: se
proxirnidade preparatória, até clue a ;ralavra inaugttral clue trolneia <t I)reocLlpsreln coln o ouvir cl .luc, ua 'tliegtrla ir casa", 'bs poetirs
Altíssiino sej a preservada. nreclitanr ou c:iurtanil O 'bãri' é o charniicli) secretu "aos" orrtrr.rs
t{ôiderlin rJivulgou na mesrna pr.rblicaçÍo en} que a elegiir n<l piiís natal para que sc tornern ouvintes, pâl-â que irprcnclanr
'A chegada a casd'e o hirio'i{ rnigraçiiti'apireceral-Ir tantirern utn Poetlla a conlret:er a essência da piitria ;lela prinreirir vez. "Os out«rs"
cujci títu1o é "\'ocrrção de poetil ljste poema ctrhrina ua estnrfe (l\{ l'17): 1;recisam irprcnder, pela pr:irneira vez, íi rrreclitar solrre o segreclo
rla proxirnidticle reservacla. Qtrarrclo I)ensilrlt assirr.r, tontant.se pela
À4as scn'r meclo lica, quanclo é prcciso, o hotnetl primeira vcrz os metlitativos, os rlue não passrrrão ao largo clo tesotrro
sozinho, ante I)ctts, a carrclura o proteÍle, rt:servacil-r e pr:eservackt na palavra do poerrra. Os rnetlitativos se
e nãcl são precisas armas lrcnr tnrurltâs, tortrarãcl os vagarosos, tlotirclos de unt ânirno cluraclor:ro que aprcncle
até clue a lalta cle l)eus o venha ajurlar.r' continuâmenLe â suportar a lulta clo Der-rs. Os rneclitativos e os
vagarosos são, cle rnoclo emit.ren[e, os cuicladosns. ]lles o são, porque
A vocação do poeta é a cltegacla a cirsa, ntediirnte a qual, pelir pens.un no qrre loi dito poeticameute no poeilta, conl o cuidir<lo
prirneira vez, a pátria é preparada para ser o país da proximidade à riue o aeclo declica ao segrecio da proximiclacle reservacla. ,A partir
origem. Abrigar o segreclo cla proxinridatle resguardirnte ao Jtrbilante desta tleclicarçãr: concentracla sobre eie, os rtuvirrtes cuiclaclosos
e desclobrá-lo, a'brigando'o: eis ir pre()cupllçào envolvida na chegtrda se tornanl trparenteclos cotrl o 1alante, "os orilrcls" se tornirm "os
a casa. !,is porqr-re a sentença clue couclui o poenra é: p:rrerrtes" do poetir.
Sr.rpr»rdo, poltiulfo, qlre os sirlplcsruetrle resiclentcs scibre o
Ciuiciailos c.Jnlo cste, querendo ou ttão, urt cantor l
solo rla terr.a natal aindir nào sej:ur os clue vieram alé tt nrais pr'/tprio
deve suportar na alnra e amiÍtclr:, Inas os outros nào. da pátria; mas suponclo, tarubém, cple a superaq:ão dos ha.veres
simplesmente casuais reiativos às coisas donrésticas c i\ vitla pirrticular
Quern são "os outros", ir qucrn se diz um "não" sÚtbito? O poenra
1

periença à essência poética da ciregacia a câsí,r, pirrir abrir-se para t\


que termirra assim é encirlado pela derlicatória "aos paretrtes". Por
l

essêrrcia cia alegria; suponclo qu.e nmbtts as condições estejanr clirclas,


l
I
então os lilhos cia pátria quer, embora distantcs clo s«rlo da ptitria,
ainda elirigenr o olhar parir a screnidacle cla pátriti que lhes errvia sua
1 1 QUINl'El.Â, 1997 , p. j3L).

38 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlirr Martin Heidegger | 39


lrrz, cledicam sua r.'ida ao tcsouro reservaclo e se cloam cr-rr sacrifício - ajude a c.nrpr:ee,der n palavr. poética, para que, na conlpreerlsão,
não seriarn estcs os parentes rnais;rróxinros c1o poeta? Seu sarrifício a chcgacla a casa ac()nleçir, parâ cada qual rie acorclo çorn a rlaneira
abriga crn si o çhamado poótico aos (laríssimos nir prítria, para que o corno ftii convenieníe.
tesouro reservado possa ser aiircia rnais cliscreto. Por causa da custridia eÍn qlie a palavra dita dcve perÍnaneL]er
Assirrr ele permanece, qrrando aqueies "ipre carregiun paril .,s poctâs e seus parentes, o aerlo de'lA chegacia a casa,, nonrciâ,
preocupações" se tornam <ls cuidadosos. z\í surgc o parentesco conl 11a lnesnla época, a outra r:elação que 0 poeta tem com 'bs outros",
o poeta. Aí acontece a chegada {r casa. Ilsta chegacla a casa, toclavia, é no poernir "vocação de pesin'l Ac}ri, Hôiclerlin diz ., scguinte
o luturo da essência histririca dos iúemães. a respeito do poeta c seu saber sobre o segredo cla proxirniclade
E[es sãg o Povo. da poesia e (io ['ensarnenlo. Pois agora clcs rcscrv;rnte (lY, )a7):
precisam ser, sobretudo, p)ensadores, para que a palavra poótica seja
perccptível. O pengar clos cuidadosos só subsistc confrrrnre pcnsa no IVlas niu; o rctén-r íàcihnente sozinho,
segrcdo proeticamente dito da proxirnidnde reservada, a "recorclação c cle bour grado sc junta, para quc o ajudctn
do9 pggtasl Na recorclnçà() conrcça rr plirneira aÍinidade - iskr c, a a corrtprecnclcr, o l)octa a orrtros honrcr-rs.i2

afinidacle qrre serii firtr-rr311sn1ç, e por muito te,npo, a nlais extensa *


com o poeta que veio para c?rsa.

Mas cotno --. se 'tls outros" se tol:rrarenr parentcs, por nreio


da recorclação, clcs jii não se voltarão na direçáo do poeta? 0 "não"
sirbito corn qrrc a'A chegada a casa'terrriina não se rcfere, ainda, a
elcs? llcfcre-se. (lontuclo, não apeuas isso. "Os oulros" serão, sc e]es se
tornarem parentes, "os r-x.rtros" ainda em r-nais urn scnticlo, ao Ínesnrio
tetnpo. Conforme prestarem atenção na palavra falacla e pensarenl
nela, e na maneira couro ela tlcve ser interpretacla c guardac{a, r'los
contribuirão corr o poeta. Esta coutribr-rição corrcspondc à cssôr'rci;r
cla proximiclacie rescrvante em que o Jubilante se aproxima. Pois
assim, cotno os nrcnsageiros acenantes devem contribuir parâ que,
na radiância, a sercniclade alçance os homcns, assinr tarnbérn <leve
hayer uur precursot que, diantc do nrensageiro accnante, alegre-
se de voita. Ilis o único e o prirrciro capaz de abrigal na palavra, a
sirudação.
Iklrque a paiavra, porém, Luila vcz dita, cscapa i\ cusl(rclia
do poeta cuidacioso, não lhe é fiicil rctcr, nii suir vertlade, o sal',er
trnutrciaclo sobre o tesouro reservaclo e a pr<iximiciade resguanlirnt.c.
Iis porclue o pocta se volta para os outros, para que sua rrrcordação
ufiiiilI. õ,,,p::,
40 | Explicações da poesia de Hôlderlin
Martin Heidegger | 4l
HOLDERLIN E A
EsSÊNCIA DA POESIA

Norbert von l{ellingrath, rnorto em


conrbirte crn 14 de dezembro
de 1916, in
rnentoriant.

As cinco sentenças orientadoras

1. I)oematizar: 'l{ tnais inocente de todtrs as ocupaçôes". (1II,377)

2. "ll por lsso the íiri <iado [...] o mais perigoso dos bens, a lírgr_ra,
para que elc [...] dô testemunho do que é [...]" (l\i 24íj) l

3. "V.lulto aprencleu o homem.


clos Celcstiais muitos n{rmcou,
rlescle r1r-re solnos um colóquio
e p«r<lcmcls ouvir urn rlos outros." (IV, 3rt3),
4. "Mas o que fica, os poeta o Íirndam." (1V,63),

5. "Cheio cle nrérito, corrtudo ptieticanrenie habita


o hornem esta f'erra" (VI, 25)

Por clue a obra Lle Íliilderlin Íbi sclecionacla com a intenção


de mostrar a essêrrciir da poesia? I)or que nao I1omero ou Sóíbcles,
por (lue não Virgílio ou l)ante, por que não Slrakespeare ou Goethe'l
Nirs ohras tlestes poelits a essênciii cla poesin se realiza, decerto, e de

I QUIN I IiL.A, 1997, p. .149


2 Idern, p.387.
3 lclen, p. -114.

Martin Heidegger | 43
forma aló rnais rica do que na criação de Fiiildcrlirl, lão prenriltura e sobre apenas circo sente,ças n'rtearlcrras do poeta sobre a .poesia.
brtrscamente in terronrpida. o orclenanreuto cletc.minado destas senterças e sua concxão inl.erna
Pode ser. Contudo, lIôideriin, c sír ele, foi escolhitl<t. Mas ó clcve.r pôr diarrtc dos nossos olh.s a essência essencial cla poesia.
possível, de toclo, recolher da obra dc urn único pocta a essência
universal c1a pocsia? O ttniversal, no seirticlo daquilo qlle vale Para 1

muitos, sti pode ser alcatrçaclo por uma consicicraç:ão colnparativa.


Para tanto, é necessária a apresentação cltr tnaior varictlade possível Enr u,ra cartir à r nãc clc ja iie iro rie 1799, Hôlcledin chaina a poesiir
clepoemas e fbrntas poéticas. Neste caso, a poesia cle iiiilclerlin ó -qó de : 'A mais iroce,tc «le krdas as ocupaçÕes" (rrr,377).Em q*c r,erlida
unra dentre rnujtas. l)e íirrnta algunta elir bilsta sozitlha, cotno me clicla eln ó a nrais rlesproücla de culpa? A poesia aparece sob a co,Íiguração,
parir a deterruinação cssencial dir poesia. Pol isso, nossa intertção rtrodesla tlo jogo. Livrc de cnr.raves, ela inventa seu rnunclo de imagens,,
nalogra, desde «r colneço. l)ccerto - etlquanto cotnprcetltlcrrtlos e }:lefrniluecc airsorta no âmbitri clo imaginado. com i.sso,
eslc jogo se
por "essência da poesia" algo qrte pocle ser rettnido enl llm conceito subtrai à scriedir<le d;rs dccisõ>es que sempre âcar:rctarn cr;\ra, rle uma
geral e rlue vale iral"a toda poesiir do uresttto tlotlo. Mas este gcral, filrnra ou cle ourra. Assiur, o poe nratizar: é pcrfeitamente inofênsivo.
Ao
(lue vàle igr.ralurcnte par:a Loclo particular, é serlpre o irlcliferente, rlcs1110 ternp0, é ineficirz, pois pcr"nrarrece Llrn mero falar e discorrer.
aquela "cssôncia' (lt1e nttnca pocie se tornar esselic:ial. Iluscatnos, Não tem rrada a vcr corn o ato q.c i*tcrvém na realidade e a rnocliÍica.
porém, precisat:tente o essencial da essêlrcia, aqtrilo clue nos illlpele a A pr.esia é colno u.l sonlr., ,ras não é *acla reai. É ,m j.go cle palavrls,
decidir coll)o levarenros a poesia a sério, í'uturamcnte, se e colllo
se c ,ão a scriedade da A poesiir é inofensiva e i,eílcaz. Aciemais, <l
açáo.
traremo$ collosco as prcinissas que nos pernritirão tnantet'nto ntls que e mais inoícnsivo qtre a pr«ipria língua?
euando tomamos a poesia
dentro clo ân-rtrito de podcr dil poesia. como a 'inais inocentc de todas as ocupaçÕcs" aincla não concebcnros,
Hiilderlin trão fcli escolhido porqtle stta obra realiza a essêtrcia em absolukr, sua essência. 'roriavia, foi-nos dacla urna indicação cic
tla poesia cotn<t sc fosse uma entre outras, lnas âpcllas P()rque a pocsia «,rdc clevemo.s procrrrá-la. A poesia cria suas obras no â,rbito e a
de l-Iô[clerlin é propriarncnte susteutacia pcla clctcmrinação poélica parLir clo 'inaterial" da lí,gua. o que cliz Hiilclerlin sobrc a iíngua?
de poemrtizar especií:camente a cssôIIcia da poesiil. I Iiil<ierlin é para Esculeotos urna segundtr sentença.
nós, em um sentido insigne, o Poeta dr.t ptteto. ilis por que ele c«rmpele
à clecisão. 2
S<i clue poematizar sobre a poesia trão é o indícicl de ttm
retorno equivocado sobre si fitesmo, e tarnbénr a coníissão tlc rtma F,m unr esboço Íragmentárir> ciue data da mesma época (1g00)
carência cle conteúclo munclano? Poematizar sobtc a pocsia não é clue a carta ntenciotrarfa, o poeta diz:
um exagero .insensato, um gesto tardio, e cle fakr tlrn beco setn saída?
A resposta será dada a seguir. É claro que a saícla por meio Ma.s em choupanas vive <l homenr, c entbrulha-se ern vesles
da qual alcauçaretnos ulita resposta é rrm cxpecliente. Não porlemos p,dicas, pois elc é nrais irtens«r linnígerl, mais atento tanrbérn, e seu
aqui, como cleveria ser o
caso, expor os Poelnas inciiviilLrais de e,tenclimento ó q,c ele collserve o espírito, cotrro a sacerclotisa a
tlolderlin eln urla sequência completa. Bm vez clisso, relletir:emos cha,ra celeste. Ir, por iss. lhe foi ilado a cle, ao hornem seurelhante

44 | Explicaçóes da poesia cle Hôlderlin Martin Heidegtrler | 45


aos cleuses, o arbítrio ú podeÍ superior de errur c excitllal, c o rnais ser-homent c, collt isto, sua consnnração específica aconlece a partir
perigoso clos bens, a lingua, parâ (ILIC ele, cliarltlo, clcstruinclo, e claliberdade tia decisão. Esta captrrríl o necessáricl e se instala dentro
afunclancio-se, e regressan,lo à eternamente viva Mcstra e lv[ãe, cle cornpromisso cle uma exigência superior. ser a testenrunha c{este
c1<i

testeruunho clo que é, do qrre.lela ltercltlrt e aptencleu, o t1-te cle tnais pertencirnento tx) ente no seu toclo acontecc como história. I?ara que
divino ela posst-ti, o Atnor rluc ttrtlo ttrantérn (tV,2'16).4 a história seja p«:ssíveJ, conrucl., a Iíngr,ra l'oi dacia ao hornenr. Ela é
rrnr belr do hornent.
A língua, o campo cia 'bcutr;ação mais ioocente" de todas, é 'b En'r que rnetlicla, por'ém, a. lÍngutt éo "mais perigoso rl<ls bens',?
lrais perigoso clos bens". Como se reconcilianr alrbos? I)eixemos esta Illa é o perig. stlprerno, pr-li.s constitui a po.ssibilidtrrle c1e tun perigo.
pergllnta em segtrndo plano, por ora, e reflitamos sobre três qrrestÔes O perigo d: a arneactr, rnediante o entc, ao ser. Mas é bent graças à
preliminrires: a) De quem língtta é um bem? b) Íln qtle lnedicla ela )írg,a clue o ho*rern, clc tocio, sc expÕc a algo
r,a,ifesto, que corro
é o bem mais pe rigoso? c) F)nr que meclicia ela é, de todo, tttrt betn? ente asseclia e inllarna o honrern efil sell estar-aí, e ceuio não ente
Consideremos a seguir eln que lugar se encontra a sentença o engaltil e decepciona. A língtia cria pela prirneira vez o lugar cie
sobre a líng'"ra: no prtijeto Para unl poerna rluc cleve tlizer quenr é tlmeaçi] ao ser e cle cr|o, e rrssinr it pclssibilidacle cle perciir do scr, isto
o homem, em contraste coill iis outrirs criattlras tia ltatureza; são é, de perigo. JVIas a língua não é só o pe:rigo clos perigos, rnrs abriga
mencionaclos 0 rosa, os cisnes e o vcado na lloresta (IV, 300, 385). em si ntesrna e parâ si nresnla, necessariamente, urn perigo contíüut>.
Por estabelecer uma distinção, o esboç() fragmentário mencionaclo A tarela cla língua é tornar manilcsto o enle, co_rno tal, na obra e
começa com: "fuIas etn chottpauas vive o hon'renil const-'rvá-lo. Na liligua vênr à palavra tanto o mais puro e o urais
Quem é o hornem? É acluele que deve dar testemunho clo c1r-re recôntlito quanto r,l rnais turvo e colrrurn. De Íato, a paiavra essenc--ial
é. Dar tester.nrinho sigrrifica, por um l;ido, reportar; Inas ao üIesnlo até cleve lornar,se comunt, para que se tonre compreenclida e, desse
tempo signilica resp<lntler, ao reportar, pelo reportiid«1. O h«lrrrem rnodo, urna posse compartilhacla. Em cclnÍtormiciade com isso, cliz-se
é aquele qtte é precistltnente ao atestar o sell estar aí [,])asaín]. ]iste en) oulro esboço fragmentár:io cie Hrilclerlin:'I'u falas à clivindade, rnas
testernunho não signiÍictr aqui uma exPressão posterior e acessória isto vós torlcls esqueceis, c}rc as primícii,rs nunca são para os rnortais,
do ser^homem, antes ela ajuda a consl"ituir o estar-aí. L)e qr-re, clue elas pertencerlr aos deuses. o fruto prrecisa se torna rnais comurn,
porém, deve o homem clar um tcstemunho? IJe seu pertencinrento rnais coticliarto, para que seja próprio aos mortais (IV 238). 'Ihnto
à terra. Ilste pertencimento consisie em ser o hotnenr o hercleiro e plrro colno o cotnlln) sâo, igualmente, cla orclern cio clito. por issc»,
o aprencliz, em todas as coisas. Esttrs, contuclo, se eDcolltl'aln en) a palavra conro palavra nLrnca ofàrece irneriiatarnente ;r garantiil de
estado de conflito. Aquilo (:llle separa tocias as ctlisas etlt <-lposição, e ser esseucial ou lantasnraliórica. Ao contrário: uma palavra essencial
com isso ao nlesrrlo ternpo as re(rne, IIôlderlin chama "iniensicladil sc pr'esla a ser tomacla, l)a sua sirnplicidacle, írerluentcrncnte col)to
O testemunho do perteltcirnell[o a ta] interrsitllcle acotrtece Por se Íbsse algo cle nã«l essetrcial. Por outrri lado, aquilo que, ern seus
meio c1a criação de um mundo e do seu ernergir, assinr cotno pela aclornos, dti a impressão de ser essencial é apenas uma récita oLl rrnla
clestil-rição e declínio deste mestno lnundo. O lestemunho acerca clo refêrência. Assin'r, ir língua tleve se postar c«rnstarlernente no interior
rle unra aparência procltrzirla por elir nlcsrlra e, por iss(), ameaçar o
clue lhe é rnais prriprio, <l riizer ar-rtênl-ico.
4 QUIN1ELA, lL)97, p.44.8, rnodilicada.

46 | Explicaçóes da poesia de F{ôlderlin Martin Heidegger | +7


Eur que sentido, agora, o que ó perigr-rso tto lnais alto gtau Muit<l aprcrtrlcu tt lttttltcttt.
tlos Ceies{iais lluilos rrouleou,
ó um "bern' para o iromem? À língua é suir posse' EIe dispÔe
deia para os irropósitos da comtlnicação das experiênciâs, desclc tluc solnos uln coiricltrio
(ltllt.ttr e po<lernos ouvir unr tlos outros. (lV 343.)
<lecisÕes e acordos. A língua serve i\ comPrccnsão ltlLtlua.
um instmrnento efrciente para o entcnclimento llilturl, ela é tlm
"bem'i l\4as a essôncia da lírlgua não sc esgota po| ser uill lni:io titr lJcstacarernos destcs versc,s, cnr pr.irnciro iugar, o clue se referc
cle inrcrliato ao colrtexl-r.r clc que se trata até aciui: .tlescic que sornos lrrrl
enten«limento recíproco. l'Jão se encontra sua essôncia própria p<ir
desta deterrrliltação, antes e sornente Se inv()ca uniâ collsequência
col(rquio...'l Nós - os h,nlens'- sornos ulua conversa. o ser clo hornem
se Íiurrla na língua, nras esta aclrntece, antcs cie tudo e proprianrerr[c,
<le sua essência. A língua não ó urn instrunrento cientre muitos
,lil cotlversít.l.r,sl.a nãri é apenas urna maileira de a lí1rgrra
outros que o irrltneül possui, nlas antes garanle, em geral e Pela sc consinltar;
urelhor clizendo, sorncute errrluanto conversa a língua é essencial.
primeira vez, a possibilidade de erguer-se no ureio rla abertura
O qrre c1e reslo qucrcinos dizer collt "líllglra'] a sabcr, um estoque cle
cio ente. Só oncle há iíngLra, há munclo, ou seja, o círctrlo ert
palavras e regrâs para a jrrnr;ã<l cle pirlavras, é apenas urn prirneilo
constante trausftrrmirção da decisão e do trabalho, do ato e da
plano cla lírrgu:r. () cluc significa agora'tonversa"? Ivlanifestametrte, o
responsabiliclade, uras tambérn cla arbitrariedacle e do ruído, cla
firlar uns conl outros sobre algo. Por isso, a fala ó o intenrrecliário
()s
decaclância e da confusão. sri há iristória onde o rnundo governa.
para o enc()rltro de uns c()rn os outros. só riue Hôkierlir-r ciiz: "Desc{e
A língua é um bein e111 tlm seuticlo mais originário. llla promcte,
qlle surlos ur-n colóc1uio e pclclcnros ouvir um dos outros,,. O poder
isto é, garante clue o homem possa §€,'hist<irico. A língua não c
or'rvir não é apcnas urnâ consequôncia do Íàlar uns conr os outros.
um instrulnento «lisp0nívei, mas antes aqucle irc<lnteciment<:
o .posto é Lrern antes o caso: 1.rocler ouvir é pressuposto pero ltarar. por
que dispoe cla suprema possibilicladc cio ser-hornel.tl.5 l-)evctnos,
sua vez, o iroder ouvir também é remeticlo ent si mesrno e novâlncnte
primeirarnente, nos ccrtificar desta essência cla língua, para cntão
ii possibiliclade palavra, e pr:ecisa cla palavra. pocier falar e pocler
concel:er verdadeiramente o âmbito iie operação da p<>esia, e com
11a

orLvir são igualmcnte originários. N(rs somos ur-na corrversa - isto


isso a própria poesia. Conro a língtra ar:ontece? Para respoticler a
cluer dizer: nós podernos ouvir um dos olrtros. N<is somos uma
esta pergunta, reflitar.nos sobre uma terceira sentcnça <ie Fliilclerlin.
cotlyel:sa -isto qr-rer clizcr, a() ntesÍDo tempo e sempre: nris s<lrrlos
J rr'l,Í.r con\rcrsa. A uniilacle cicsta conversa corrsiste em que o Unr e
Mesnro se anrrncin ner pirlavra essencial em re<lor da qual nos *nim«rs

e co1l1 §xsç na qual estluros uniclos e somos nris mesmos em sentido


f)eparatno-nos Çoln csta 'iclltellça ent nle io a uur esboço longo e
prriprio. O cçrnversa e sLra uniclaclc carregam o nosso estar-aí.
intricacio para llm poelna inacabado, que colneça por "Ó conciliante,
tu que, já não criclo. .: (ly,162 ss., 339 ss'): Mas I'Iôlcle rlin nâo cliz simplesrtrenle "nós solltos uln
cokiqrridl rrras antes: "tlerstlc qrlc sorros um coióquio'i Onde a
Í;rcr-rkllcle cla língua lrurnirna está clisponível à rnão e assirn é cxercida,
.ão se dá serrr rnais, o acontecinrento essenciirl da Iíngua - o cli;ikrgo.
5 l.il,lI, e,iição cle 1951, l95l: propesitalrneute anrbíg,r«r 11i1o riguosatrtetrlc (l()vcria corlstar l)estle qrra*clo solllos coilversa? se deve haver uma co,versa, a
'inellror dizcntlo, o ac()l)lcci,nenlo (lue, colllo tal'l (N. tlo À.) ']1rÍr

48 | Explicações da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 49


palavra cssencial cleve se rel'erir ao Utn e Mesrn(). Setrl esta reÍêrência trazem para a corlvetsa, clescie o tempo em que há tempo, descle então
lirrnbénr é irnpossível trnra disptita verbal, e Por essil riiziio. O [Jln e urna conversa é o fundarnento do nosso estar-ilí. A sentença clue
Mesmo só podent, cc'rtttuclo, se tnatriltestat'à lLtz tle ttlgtt llerttlaneute pronunciir a língtra o acontecimento sr.lprcrDo do estar-aí hurnirno
e consl.lnte. Constância e pet'manêttcitr só vêrn a a1)üreccr eluancltl alcançou, por isso, esclarecilnento e Íirndantentação.
a pcrsistência e a presençil brilhanr. Isso acorttecc tro itlstatltc ctu Mas ao tnesnlo lempo ünpÕe-se â perguntâ: como cor-tteça esti]
cjue o lempo se :rbre llas suas extetts(les." LJnra vez que tl hotnetl sc c()nversA clue nós sornos? Quern leva a termo a nomeação clos deuses?
instalar na presença aigo perntartctrte, Poderá se expor irssitlr, pela
cle Quenr aprccncle, no tempo devorador, Llnr perlnanente qualquer e
prime-lru vez, ao rnutável, iio qtte vem ito scr"t eltcontro e se retira; ptlis Íixa-o na palavrn? I{ôlderiin no-lo diz corn a si,.rpricidade conÍia.te
sornente o pernranente é tntttável. Só qrrantlo tl "tt:ntprl tlevtlra.lor" se do poeta. Ouçaluos Lrma quartâ sentenÇit.
divicle em presente, passaclti e futttro ,subsiste a possibilitlade de unir-
se em torüo cle algo Permaltcllte. i-lr'ta conversa sottlos nós, clestle <l 4
tenrpo cnt qlle "o tempo e'l Dcscle que o lelllpo sttrgitL e l)cllllitllccett'
nós solrro-s históricos. Arnbos [ênt a ntesnra idacie - slet Ltilta cottversLt Esta sentença constitui o làcho clo poenra "Recorclaçãi/,:
e ser liistórico .-; cacla um irnplica o otttro c ttrn[>os stio tl tlterstlo' "Mas r-r qr,re íica, os poetas, funcl*rn" (tV,63). (iorrr esta senten§ta
I)esc1e qtre soÍros ulrl colóc1uio rl ltomem cxPerirnelrtou se ilumina nossa pergunta sobre a essência da poesia. A poc.sia e
muito e cleu nornr: ir mttitos deuses. Descle clue a língtra acolltece fu,clação por meio tia palavra e na palavra. o clue se Íunda deste nroclo?
propriilrnetrte corlro conversa, os deuses vêm ii palavra c L1tll tlruttdo o per,rer.e,te. Mas po<le ser o perrnanerlte firndacl. assirn? Flle já
aparece. Contuclo, cabe novamettte c<lrrsiclerirr: .r prescltça tltls deuses nã«r é o sernpre já clisponível à,rã.? Nãol precisanlente o permanente

e o aparecer clo rrir.urdo não são antes cle trttltl ttnta cousetlttêllciir cltl cieve ser lixaiio, enr opcrsição ao arrebata,rento; o sinrples cleve ser
acontecimento cla língua, mas antes lhes são sin'rullâncos" li isto é tanto extraício dir cclnhrsão, a rneclicla devi: ser oíerecicla ao clesrlecliilcl.
rliiis verclttcleiro conltcrrtle a corlversa que sol)Ios, e(n scnti(lo próprio, o que slrstenta e d.nrinir o eute cnr sLra totaliclade cleve se torntrr
consiste efir norrear os cleuses e uo torltar-se palavrir clo tnutrclo. rnanifesto. O ser tleve ser frauquetrcl<i, para clue o cnte apar.eça. Mas
Os deuses, porérn, só poelem chegar: a ser clitos, erltão, se eles a[é r:resnro este ])ennar]enter é algo fugiclio. 'hssim é velozmente
mesmos nos dirigircnt a palavra e Ilos itrtet'pclarent. A paliivra c1r-tc transitórÍo tuclo o qtre é ceJeste; rnas não em vão" ( IV I ó3- 164)./ para
norneia os cleuses é sernpre ulnâ resPos[Ll a tal exigêr'rcia. llsta resl.rosta que este perrnalleça, p.rérn, e'tonÍiacio aos cuidac"l.s e ao serviço dos
brota, a cacia vez, da rcsportsabilicltrcle cle utrt clestino. (jott{irrrttc poetas" ([V i45). O poeta nonreia os deuses e nonreia lotlas as coisas
os cleuses lrazem à línguir o n()sso estar-aí, renlolitalllo rlos pcla rraquilo que el;is são. Ilste fiolnear não consiste em prover tle urn
primeira vez ao àrnbito cla riecisãti: se nós n<ls prottlctertltts tis clcttses nonre algo já previarnente conhecitlo. Ao cuntrário, pelrr noirleaÇão o
ou se t1os ]"ecusamos a cles. ente ó uomeaclo no clue ele é, pela prirncira vcz, conlornre o poeta cliz
Só agora abarcatnos corrt a vista pela Prirncirit vcz o (ltle a palavra esscncial. Assim, o cnte se clii a conliecer como errte. r[ por-'siir é a
significa'descle que soltlos rlnr colti<1itio..ll l)escle qtle os clettses nos l'unt1ação do .ser prela palavra. O que pernrauece,
l)ortarlto, nunca é

6 lixplicrçocs ilapocsLr cle lliilderlin l-.1'll. IIt.ic[1ger, i!)51 ( 1. J-cr d /d/r//)r), §§ 79-11 I 7 ()IJIN tllt.A, 1997, p..11)0

50 | Explicaçoes da poesia de Holderlin Martin Heidegger | 5l


criatio a parl.ir elo transitório. O simples ttunca podc scr aprceudido enÍática c:ontraposição - nacla disto ircide sobre a essência do serr
irnediatarncnte a partir clo conluso. Â predirla 11áo sc etlcontra ucr habitar solrre esta'J'cn a, niicia tlisto alcança o fiurdarnento do scu estar-

clesmedido. Não encoutralro$ nunca o futrdanrento uo abismo' aí huur.ro. liste é "p«rótir:o" no seu fundamento. Mas entendernos
O ser nunca é um ente. Mas porque o ser e a essência clts coisas agora a pclesia come o rloilear ÍirDdante dos deuses e da essência das
nunca rcsultarn de um cálcul«r nenr poclei'n ser derivados a partir clo coisas. "LIa[tita i: pclcticame nte" significa; perrnallecer na presença dos
disponível à mão, cles tlevcur scr livretlretlte cria,"los, postos e doados. clc,ses e scr atingicl<; pela proxirnidacle esscncial das coisas. "poóticri'
'l al ciolrçii,, livrc ó funJa,r'ao. é o cstar-aí em serl funclarnento - isto significa âo rnesmo teml)o eln
O estar-irí tio hornetn é traziclti Parii unla relaçâo scgllrâ e clue o estar-aí, coníorrne ó irrstituído (funrlacio) não o é em llrrçiro rlc
coloca«lo sobre utnir base, rlltaudo ocorl-e atls c]euses serent notrteados serviços prcslados, mas poÍ cloação.
de modcl originário e de a cssêucia <las coisas vir i\ palavra, irâra qtle  poesia não é urtr enfcite acessório do estar-aí ]rtrmitno, não
destc tnodo as coisas reluzirm, pela priu.reira vez. O dizcr dos poetas é apcuas rrrn enlusiasrno passagciro e muito Ínenos urla sintples
não ó uma íunclação aPellas no senficitl cla livre doação, tnas atltes e exrltação e entrelcnirncnto. A poc'sia ó o íundanrell[o ql]e sustcllla
ao rresrlo teürpo no sentit{o cle uma fuilclamentação firtne clo cstar-aí a histririn e, portanto, taurpouco é apenas uma rtranifestação cla
lrumano sobre sua base" Se abarcarmos esta essência da poesia' a saber cultura e, sobretucln, jarnais utra rnera "expressão" de uma "alrna
clue ela é a funclação d<l ser pela palavra, então po«leretnos pressentir civiliza cionai'l
algo sobrc a verdacic ciaclr-r.cla seutcnça prolericla por i lirlcleriin, llem (]tre nosso eslar-aí sejt, no lirndo, poético tanrpouco pocic
cicpois da iroite cla loucur:a o hirver tonraclo sob stra proteç:ão. significar, ao Íirn e ao calro, que ele seja em senticlo çrrriprio apenas
utn joqo inolcnsivo. Não é o próilrío HÕlclerlin, 1.rclrém, cii_re chama
5 a pocsia "ir nrais inocente dc 1o<lirs as ocupações" nir setrteltça
orientaclora ntençionacla inicialrnente? Cclmo eia se c-oacluna c(»1r a
Iirrcontrarent<ts t quinta sentença Ilo poctllil ao llleslno le ll1po essência da poesia agora cicsclobrada? Com isso voltautos ir pergurita

rnagníÍico e terrívcl que cot-Iteça: qrre ailrcla agor"a cxcluíntos. Corrfr-rnne rcsponclarlos a esta pergutlta
ag«rra, tcnturclrlos ir{) n)esmo tcrnpo reunir cliantc rlo oiiro interior ;r

No irzul atuctro ílorcsce collt o essência tla por:sirr c clo pocta.


telhacto metiilico o crtrpaniirio (V l' 24 ss.). lnicialtncrrtc rcsLrltou <1uc o âmbito cle efutiviclacie dir poesia
ó a [íngrra. A essôncia cla pocsia precisa, portailto, scr concebitia a

Âqui I Iiildcrlin tliz: partir cla cssôrrcia cla lírrgua. Iint scguida, porém, tornou-se claro <.iuc
a pr:csiir é o norncar funtlante clo ser e da essência cle todas as cojsas *
Chcio cle n-rérilo, contrtclo poeticiiurcnte habita não unt discrrrso aleakirio, ruas acluele pornrcio <1o qual tudo n<1trikr
«r hotncrtt sobre csta'l'erra. rllle corlversltnlos enl IíngUa coticliiina e sobrc clue debirtemos adentra
rto pela prirneirir vez" I)onr.le n pocs.ia jan-rais totra a língua corno
o aire
O clue r.r hotrretl rcaliza c cmpreertde é'aclcpiriclo e cou«ryistacltr unr material jh disponível à mão que pode ser trabalhaclo; rnclhor
por meio rkr seu próprio esforço. "ContLrclo'-'diz. I'ii)lder:lin enl <lizendo, a pocsia l.ontir a líugua possível pela primcir:a vez. A poesia

52 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 53


l\4as a ntis cabe, sob as trovoirclrrs tlo rleus,
e a língua originária de um pc-rvo histórii:o. Ptlrtatr[rl, a essência da
ti poetasl [)enltanecer clc cabeça clescoberta,
]íngua cieve scr reciprocirrnerlte cotnpreenditla a parlir cla essêucin
e corrr il pró;rria rnão lgirrrar o l lio tlo l)iti,
cia poesia.
0 Íunclarnento do estar-aí hunrlno é a ctltlversa como .rcontecer
o irrópi io raio, e, ocultl na canção,
olcrecer ao p{rvo a clidiva celcste.
língua. A línguir origitrária, prortltr, é a poesia
')
próprio e autêntico cla

como ft-rndaçáo cio ser. A iíngua, triclavia, é "o rlrais perigosrl clos
Il urrL ano rnais tirrclc, clcpois clue Iliildcrlirr voltara à casa da
bens'l Portanto, a poesiit é a clbra milis perigosa e ao lneslno tertrpo "a
ntãe conio irlgr-Lc1nr já atingido pela louctrra, e screvc r() mcstnL| lmigo,
rrtais iurtcetltc t'ic todas i.ls ()cul)llçocs".
baseaclo nas recrlrclações cla estaclit na França: "O elemento violento,
De làto -- só quandt) Pensarmos c<lnjutr[atnent.e ambas as
o Íilgo do céu e a calma clos hornens, sua vicla na natureza, e seu
determinações, na stlil uniclatle, conceberemos a essência crinlpleta
correclimento e conten tameuto, imirressionara m-me cotrti nu arnente
r1a poesia.
e, como se contu. tios hertiis, bcrn posso clizer que Apolo nre l.eriri'l
Contr-rclo, a poesia é, eritáo, a clbra rnais perigosa? Na carta il
A claridacle excessiva lançou o poeta na escLrricião. Será necessiirio
um amigo imecliatatnertte tnterkx à ptlrlicla para a última viagern
outro testenrunho para a extrerna pcricuklsidacle cla sua'bctrpaçâo"?
à França, escreve t{õlderlin: "Meu amigo: O munr-io se mt)stra pâra
O destino rnais própr io do poetir cliz tuclo. Ilessoa coilto um presságio
rnim, com clarkliiCe ut:rior clo que outrora e com maior graviclaclel
a sentença t1o Empódocle.s c1c ikjlderlin:
Agracla-me o que acontece, aglacla-ure cotrlo, t.to verão, b pai antigtl
sagrac'ro envia das nttvells eucarnadas, coln luão seretla, l"aios de
..Iile, queru o cspíri«t Íitli,r, cle,,,e partil ir lemlio. (ill, 154)
bençircll l)entre toclcls os sintis cle i)e trs que posso ver, este se tornott tl
meu prefericlo. Antigamente eu 1-rodia exrrltar diante de uma vertlacie
lodirvia: a poesirr é "a mais jnocente dc toclas as ocr_tpirçires."
Fl,
nova, de umil opiniào llrelhtlr .r respeito do cl"re se ettcotttm ilcima e
destino do velho'1ântalo, que recebett
Iltilderlin assitn o eÍ;cre\re ern slra c-arta niro apenits parii poupar a
ao reclor rle trós" Agora, tcmo <l
rrrãe, mas ântes porqLte sabe cpre esta rollpagen-r inoli:nsiva pcrter)ce
clos deuses mais do que porlia silportar" (V,321)'
riisto r à essênciit da poesia, assirn corno o valc l-rertencc à ntontirrrlra; pclis
0 poeta se expõe aos rilios do cler'Ls. Diz algo a respeit<'r
conrtl, enlão, cstir tuais perigosa das obras pocieria ser excrcicla e
poemit que reconhecemos colno o poenratizar nrâis pul'o da essência
prcscrvarln, se o poeta não fbsse "expulso" (Erupédot:les,III, 191) do
da poesia, e que colneçir:
tltre é costunteiro na sna é1;oca e protcgiclo conlro este peltr aparência
dc irrocuiclitcie cla suir ociipaçío?
Assiur cotno em dia s:rIrto, l)ilrâ ver as terras,
o lavrador sai, pela nranhá, quarrrkr... (lV, 151 ss.)
3 A poesiu se parecr cr)nt jogo, e, tonlucltl, não é. O jog<r
r.trr)
tc'úrte os lxlrnens, iiecerto, nias dc tal lirrntir c1r-re nele c:rcla urn se
esquece precisirmenle cle si mesrno. Na poesia, :to cotrtriirio, o hrtrnertr
Aqui a ú1tima estrofe enttncia:
sc leúure sobre o firnclarriento clo seu estar,aÍ. lile atinge então cr

8 9 (lUlN'l'lil.A, li).)7,yt.373:
QUINI'EI.A, 1997,P.37 t.

54 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 55


rcpouso; eviclenternentc, niir) o rcPorlso aparcnte da ociosidaclc e cla recebinrent«l c, colrtud,, ilolllcsijlo telllpo, ulltâ t]ova cloação; pois
ausência tle pensanrento, rnas antes aqtleie rcpouso inriefiniclarlente o poctir tarnlrénr jii entrevô nos "primeiros sinais" o complcto, r:
prriongado no c1ual tclclils as rclaçCrcs e toclas as forças estão iitivas (a auclazrrrente põe uas suits palavras o percebido, i,i íim de pressagiar o
calta ao irmão jirttciro tie 1799: itI, 36lt-369).
c1e 1' cie ainclil não consumado. Assinr,
A poesia clesperta a apirrência cle irreficácia e clo sonho etn
cotrlraslc con] a rr:aiidacle paipávcl e .soltora na qual acrcc'ljlamos ... allra viro o espír"ito autlaz, coirto a iiguia na

estar enl casa. E, cot-tlutlo, o real ó bem irntes o ctltrtriirio; ó o que o tctrtpg5[nd6, prt'ssagi I trtlo seus

poela diz e aceita scr. Assim a Pirnteia tle Entltédodes achl]ite, a Partir rleuses viurlouros, urtecipaclaÍnelllc - (l\,, 135.)
cio claro sabcr de ltrna atniza<lc (lII, 7lt):
.A firndação <1o ser clcpendc do aceno dos deuses. E, ao rncsrno
... Ser si ntestuo, ó ternpo a palavra poótica ó apcnas a interpretação clir "voz clo povo,i
a virla e o re.sto rie nós ó o sorrlto clela. Assinr, nomeia IlÕklerliri os clitos elr que um povo ciernonslra
recorclar-se <1o seu perteilcin.rento ao errte en1 sua totirlidacle. Mas
Assir-n, pârece qire a cs5ôncia cla poesirl, ,lu scLt ill)ilrcLel frecluentemcntc esta voz emuclece e .sc e)ilenua ern si mesrla. Ilm gcral,
autôr-rlico, abala sua roltpagem cxterior c se trurntétt't firlne. l)ois eltr é cle toclo incapaz, dc ctizer o ar,rtôntico a partir de si rlesma, mas precisa
lncsma, na sLlil cssôttcia, é, toilavia, llnclação isto é: lirlclamentação de quent a interirrcte. O pssms cjr-re traz o título "Vrz c1o povo'nos Íiri
ílrnre. lep,aclo erl duas versÕes. sobreti-rkr, as estrofes finais são rlistir.rtas, e cre
I)eccrto, tocla firnclação pcrmatrece Llma livre rloação, e fato c1e lal rno«lo qlle sc comple tam" Na primeira versão, o Íêcho é:
iliiliierlin ouvc tlizerem: "scjaur livrcs, çomo ancloritlhas, os Poetas"
(iv, 16g). Mos esta liberdadc não ó arbitraricdade iliruittrtla ncnt I\rrrlrre cla ó pia, ve nero [)or Íll]or âos Celcstiais
desejo obstinado, mirs atttes nccessidirdc suprelna. a voz elo l)(.)v0, il tranquila,
A poesia se vô, conro furrdação dti ser, duplamt:nt.e <lbrigrrila' poL dcrrses e clos horlens conluclo
Ao consicierarmos estâ lei interna abirrcantos ctltnlrlctatllctlte, pela que scr trantluiia lrão a contente scmprcl (1\a 141 .)
prirneira vez, a essêltcia cia poesiir.
O poetnatiz.ar óa nolrretrção originária tlos rleuses' Mas, etltãtl, Alcr.u dcsta, ii segurrda versão:
calle à palavra p0éticit sua lorça noureaclot'a, sc os prt'rpri<ls dcttscs
nos lrottxeren.r a lírtgua. (lorno ÍhJirrlr os clcrtscs? ...c tnuilo
lloas sii<l as sagâs, l)ois siio runa urentóriir
L ircen<ts são tlos z\l{.íssiuros, crrrlrora ela Prer:isc
Descle os {cntpos atrligos a língtra rlos tlettscs. (lV' 135.) cle LIrn ilue intcrprete o cclcstc. (IU 1.14.)

A lala r1o poeta é o actllhimetlttt destes accror], para que Assirn, t poesir csih irrscrida nestas Ieis clo acerno dos cleuscs
em scguida âccrle fl sctl povo. Eslc acolliilrtt'trlo <lo siital c ult e clir r«rz. do povo lcis qr.re tenderl para a clivergência e para a

56 | Explicaçoes da poesia de l{ólderlin Martin Heidegger | 57


convergência. O próprio poeta se cncoi)tra eltre estes .- os cleuses em pensilmerrt.s os qrre jii se tirram, esper.rr pacienterncrtc
s<.rb.e
* e acluelcs - o povo. Ille é um excluído - urn .lirnçaclo para filra, os que virão e adormecer enr rneio a este vácuo
nparerlte. lvlas ere
para aquele intervalo entre os deusc-s e os honrens. Mas apenas e se erg,e, Íirntc, e,r nre:io l,,acla clestit rroile. Co,lorme o poeta
primeiramentc, lleste intervakr se rlecirle clueln o hornenr é e onrle persiste uii ,raior cras solidôes, ent'c[Jue ii s,a cleterr,inação
e a sÍ
seu estar'-aí estabelece seu clornicílio. "Poeticarnente lrabita o honrenr rnesnto, alcança a verdade etn Íiivclr <Jo seu povo,
represcntanclo,o,
sobre estlr I'cr lal' por isso mesmo de fo,rra verídica. Este é , tema
cra sétirna estrofê cra
Continuaurente e cacla vez nrais connante, valendo-se cle uura "0
elegia pão e o vinho" (tv, 123_124) Nela ciiz,se poericar'ente o
riqr.reza t1e imagens copiosas e cada vcz ntais sir-nples, Ílrilcierlin que a<1ui sri pôcle ser interprcltrtlo de modo pensaute.
consagrou sua paiavra poética a este lugar inler.valar:. Isso nos
compele a clizer rir.re ele é o lioeta tlo poetir. ,VÍar;, ar,ig.l vie,r.s tr'cle de nrais. i)ec.rt, vivcr.ri .s derrses,
Nris aincla ciiremos, cotn is1o, que }lôlclerlin se enredou enr rrras lii ern citna, noutn> nrtrncio,
l.ror solrre as nossas caiteç:a.s.
r-rma rellexão sobre si, vazia e exirgerada, rlevicla à Êalta cie crlnteút1o iniinclamcnte ali agcnr t: pouco parece inrportirr_lht s
munclano? Ou reconhecerellos (ple este poetit l)ellsa poeticantente, se rrris vivemos ou rrão, tanto os I)ivinos nos poupaln.
a partir cle urn transborclantento de írnpeto, sol;re o frrudanretrt<l e Irois ncrn senll)l.e côrrscgire utr vaso lraco prelrclê 1os,
no centro do ser? Aplica-se rlo prrriprio Ítiildeilin a palavra proft_-rirla só cle tentpro eJn ternpo o homem suporta plcnitude
clivina.
sobre Edipo, naquele poelna tarciio "No azul ameno floresr:e...": e a vicla é
cltpois souhar corn eles. Mas o clesvau.o
ajuda corno o sono, e a rtlição e a noite são f6pç15
0 rei Eclipo talvcz tenha urr olho a rnais. (VI, 2(r.) até que Lcrtiis bastantes tenham crcscitio no
Lrcrço cle bronze,
corações, como outrora, serneiliantes aos tleuses
ern íôrça.
i{ôlderLin pcernatiza a cssência cla poesiii - mas não no sentido 'frovejantes vôm eles então.
Bntretanto às vezes ntelhor t)le pitrc.e
r1e lrm conceii;o r,álitlo atemprtralutente. Iista essêr-rcia clir poesia tiornrir do que viver assim sern conrpanheir.os, tcr
pertence a unla épocii especííica. lvlas não para apeÍlas aclequar-se rlc esperar assirn; e o tlue lirzer e clizer cntretanto
a urna época jii corstil,uícla. É antes o citso c1r,re Iloiclcrlin eletermina não sei; e para quê l)octas enr lempos de incligência?

pela prinreira vez unta nr.rva época, confornre ltrntlit riovametrte Mtrs cles são, (lizes t,, li()lro os stltrtos sacercl.les clo cie,s clo'inho,
a essôncia cla poesia. É a época «los deuses fugicios e dos clenses clue ianl r1e terra cltl terra na noile sagritdu.r0
vinclonros. E a ópoca indípentt:, irois se encr()rllra ent nreio a umir lirlta
e l)cgação ciuplas: ao Ítão rriais ckrs tleuses fugidos e ao aincla nÍo clos

vindouros.
A essência cia poesia, tal corno fr-rnclada por I kiklerlin, é
histórica no mais aitcl gi'au, pois antecipa urna épocit histórica. Como
essência histórica, porém, é a única essência e,ssencial.
Indigente é a é1,,'rci1, ê l)or isso setr p6ettr é próiligo e11
presentes - não prócligo que Íreqnentemenlc preferiria afrouxar-se
l0 QUIN1 tit.A, i9e7, p. j59

58 | Explicaçôes da poesia de Hôlderlin


Mar'irr l{eidegger | 59
ASSIM COMO EM DIA SANTO.".

Assinr conxt em clia salrto, para ver os carxpos,


o lavrador siri, pcla nranhã, quando
cla noite queltte caír'atrr os relân-rpagos refrescantes
t<rdo esse tcnti:)o e ô trovão ruge aincla ao longe,
o rio rcgressa de novo ao seu leito,
e fresco o solo vcrtlcja.
e cla chuva alegre do cóu
g,oteja a videira, c resplendenles
ao sol tlanrluilo se erguern as ár:vores do bosque:

Âssint se ergucrn eles crn telnpo propicio,


âquelcs, â qucJtl nenhunr rrestre só, a quem milravilhosa
e ulipresente educa e cria etn leve enlace
a irotcnte, a divinarnente lrcla Natureza.
Por isso, cluantlo ela parece dornrir cltl certas estaçÕes tlo ano
r-ro córr ou cntre as plantas oli nos povos)
se errclre <Je luto lanrbórn a face dos poetas,

l)arecerll cstar soz.irrhos, rnas cles pressenterri §entpre.


l\ri.s, prcsscniincLr, ela prripria repousa também.

Agora, porérn, rornpc o dial Flu esperava e via-o vjr,


e o que vi, o Sagrarlo, seja o rneu Verbo.
pois ela, eia rnesma, que é rnais veiha gue os tcmpos
e esÍii acinra dol; deuses clo Oeste e do Oriente,
a Natureza aci.rlclou agora cotl-t ruído de arntas,
c do aito do Éter ati: ao fundo abismo

Martin Heidegger i 6l
seglrnclo lei lixa, colno outrora, saíclo cio (laos sagraclo, Ir, por isso irebr:n.r Í-ogo celeste agora

senle se tlc novo o eillu\iilsltl() os Íllh,,s tla tt'rrir s(.ili r)e t.ig().

qr-re tuclo cria. lVias a nós cirbe, sob ls trovoadas «lo .ierrs,
ri poetas! perrtlarleccr de cirbeça dcscoberta,
il como ucl olhar clo liolnern ltrilhir urn Íbgo e coln a própria rlão agarrar o raio ritr l)ai,
Liuando coucebett altas coisils, assirn o próprio raio, e ocr-rlta na canção,
se incencleia de rtrivo c'trs sinais, c'os Íeitos clo rllrtnclo agora, olàrecer ao povo a daidiva cclcster.
Lim íbgo na altna dos poetas. Pois se rrris formos puros cle corirção
e o que outrora aconteceu, mas tlal se sr:ntitt, conro criançlls, c ils n()ssas nrios sern cul1>it,
eis qlle só agora se reveia,
e as que a sorrir nos lavraratn o calnpo «l raio ckr P;ri, o puro, não o qucrimarh,
ent fignrzr de escravos, são-te agora crlnhecidas, e, firnclarnente abalario, sofrenclo clo rnais lorte

ts semprL'vivas, as lbrças dos deuses. as riores, r'r coraçãcl eferno contr.rdo irca lirnie.r

queres interrogá-los?: ntr canção sopra seu espíritil, Ape,.s I i 0 a'os rnais taxle se t',rou
llste poenra clata cle 1800.
quando c1o so1 clo clia e da terra quente c<»rhecirlo clos alemries. Nolbert von Iiellingrath lhe deu unia lornra

ela desperta, ou clas trovoadas clo ar, e cle outrirs . partir de estroços rniL^uscritos, e o publicou pcla prirneira vez no
que, mais preparaclas nas fuudttras do ten.tptl liuo clr 1910 Desdc então, rnais rrma geração se passou. Durante estas
e mais ricits de senticlo i: il nós rr-raris clistirltas, rlécarlas, cotncrç(ltl o tumr-ilkr rtranilesto da histclria rnunclial rnoriernir.

vagueiam entre terril e cétt e entre os povos. Sua,rarcha compele à clecisão a respe ito da lciçâo Íirtrrra cla tlominação
pensamentos do espírito ctlmunr são, hirmarra que, tornacla inconclicional, subjLrgir o glolro terrestre irrieiro.
'lirtlaviir, o poema tle I-Iôlderlin ainda agurarda sua irrterpretaçio.
que acabarn calmos na ahna clo poettr,
0 texlo qlle seÍ:ve rle base t esjta conlerência, ctlnlericlo
tais que cia, Íêrida de repente, hri nlrito já rePeticlanrenlc com os prinreiros esboços escritos, repousa sobre <r
patente ao Influitcl, trerne t1e recorclação, etrsaio rle interpretaçáo qne sc segLle.

e, inflamacla rlo raio sagraclo, lhe é datlo |alta unr títrilo ari pocn)a. 0 todo se divicle ern sete estroÍàs.
hotrtetls, (lacia roíe c.nsisLe, à exceçâ. cla quirita
o flruto nascido en) atttor, ollra de dettses e e.st e cia sétinra, de nove ve rsos.
o canto, qtte a atlbos clê testemttnlio. lia qrrinta estro[e firlta o norro vcrso. ,A sétinra estlole, cle acorcio corn
Assirn caiu, colllo os lx)etas contam, por ela tlesejar a etlii:ão (lc v()' Ilcllirrgratlr, conrprr:ende cloze verso.s.,A. e<1ição de

ver coln os olhos o cletts, o seu raio sobre a casa de Sênrele, Zinl<erntrgcl acresccrila, t\ guisa cie oitava estroÍe, Írirgnientos clc uur
c ell, ti'ririr tto rletrs, palitt, pro.ieto anterirtr.
fruto cla trovoacla, o Bac«t sagraclo.
I QtllNl'hl.A, 1) 371 )7-1, u11)(lilr(.arla

62 I Explicaçóes da poesia de H<jlderlin Martin Heidegger | É,3


r

A prirneira estrof'e trarisporta-nos para fora, para a campina "natureza" perr-neia o pocma inteiro, até a última palavra. Â
naturr:za
onde esl:i run camporrês, nzr nianhã cle urn iiia santo. O tl'aballro estii "ecluca" o poera. Ensir-ur e aplç1161i7u..1o só conseguenr incutir
razões
suspcnso, e o l)cus sc aproxinra rnais clos homors. 0 camponês qucr .tr conhecirnenlos. lvfas por: si i-nesmos náo têm pocler nenhurn.
vcr conlo o fruto íicou cicl:ois <lt ternpcstacle que, surgicla cla t'roite Alguma oulra cois:1, além tlo zckr lrurnaro
|ela fabricaçã. hurnana,
quente, arlreâçoll a coll'reita. C) [ror,ã<l clue se afasta aincla traz o rncrlo cleve educar, clc urna outra Íbrn.ra. A natureza educa 'irraravillrosa
à lelnbrança" Mas ncnhunr;r ir.runclação anreaça o câuri)o. Irresco, e oniprcsente'l i:inr tudo que é real, ela está prcscnte. A natrrreza
o solo r.ercleja. A vii{eira se alegra peia bençiro da bebida sagratla. ver, à lrresençâ no trabalho lurman' e no destino dos pc-rvos, nas
 flor:esta se pÕe soh a luz tranquila do sol. O carnponês entcnde eslrelas e nos deuses, rnas tarntrém r1âs pedras, pianlas e animais,
o clirna arreaçii constanlenrente seus haveres, mas ain<la assirn
qr-re e taurbórn nos rios e tcrnporais. "I\tlar:avilhosa" é a oniprese,ça <Ja
sente por locia parte o rcpouso do cpre traz alegria. Coníiante, elt: rillurcza. Ela nr,rnca se pcrrnite apontar precisarlente cJentro clo
aguarda o rlour Íuturo do cÍrÍ]rpo e d:r.ridcira. O fiulo e o hornerr ânrbito rlo rcal, corno sc Íirsse algo reai si,gular. o o.ipresente nu*c.
cstão abrigaclos pela [íraça qric regc ar tcrra e o céu, e que concccle ó, [amp..rc., o rcsrrltaclo c1a co,rp.sição cle vários indivícl*os reais.
aigo permanente. A tr:taliclarle do real, pol sua vez, é, quar.rcio muito, a consequência cL:
l,is o que é nonreado na primeira estloÍc, qllase colno se onipreserrtc. I;ster se esquiva a. tocla expiicação a partir do <Ire ó real.
cpriscsse ciescrrevcr urn querclro. Seu íiltirno ver:so tcnnina, ltoréur, Jarnais o .nip'cse,te Pocleria ser insinuado por mcio do q,e é real. Já
por ciois pontos. Â primcira estrclfe clesemlroca na segunda. Ao prescutc, elc irnpcrie, impcrceptivelnrente, r;ue o rcal exerça sobrc si
"assinr como" cia primeira cstrofe con:espotrde ao "irssim" collr que algu,ra forrna específica de coerção. se o íazei-.rlulnano o ter)r.a, o, se
começa a scgunda. As cxpressões "assim como" er "assirn" estão enr o efctuar diviuo é enrpr:cgado coll esse propósito, conseguern apenas
uma rclação comparativir, que inclui a priureira estrofc junto com a cleslruir a sirnpliciclacle ticl rmaravilhoso. Este se esquiva a tocla ação
seguncla rlentro da mcsrnir chave, e talvez esí.abeleça uma uniclirrie tie procluzir, e, no ent.nt., Perpassa cada qual conl sua presença. Eis
cour torlas as cstrolcs scg,uirrlc:;. p()rque ir natureza cduca "errr leve enlace'l o onipresente não conhece
l)o n.resrno modo que um calnponês, ern seu carnirrlro no llcÍn a unilatcraiidaclc, rrern o pcso do apenas rcal, qr"re se limita a
campo, se demora e se alegra porqlre scu n-urnclo cstá abrigado, oríi apeltas aprisionar tl homem, ora apenâs o repelir, ora âpenas
'hssim se erguenl eies cnt tempo propicio" - <ts
iroctas. Ii rlucrrr lhes pcnrancccr cstiivcl, scrnpre o alrancionando à dispersão de tucl() 0
coucecle a graça cia faculriirdc dc prcssenÍir o pr:opício? A graça de q*e é casual. o "levc e.lace" cla natureza não inclic:a talnp.uco unra
ser aquelcs irnpotência dos fracos. A'hnipre.sente" c, de fato, a "potente,l I)e olcle,
porénr, ela tirrr sua força, se, em trido, jii estii previamente prcsente?
IA] querr nernhrLrn nresirc só, a qucnl nraravilhosa A nirtrrreza nã<l toma rlc emprésÍirno ainda n:rais força cle lugar
c oniprcscr-rtc educa c cria cm lcve' enlacir ncnhurn. ulr é o quc torlla f<rrte. A essência da ftirça se <Ieterrnina a
ir polenlc, a clivinanrcntc bela Nalureza. parlir tla onii.rreserrçir da nalurcza, ciue I-{iilderlin chama, 'h potcr.ite,
a cljvinamente beiiii A nirtureza é potente porque divinarnenlc
O nrovitlentt'r interriri deslcs três yersos visa i\ palavra lr.e[a" .li]a seria, portanto, igual a .m deus ol.t rllna deusa? Se tosse
"r.ratureza'] tcrminarrclo cle vibrar rrela. 0 que Hiilclerlin lrpri citarna assinr, então 'h rratureza" cluc já está presente em tud«r, inçlusive

64 | Explicações da poesia cle Hôiderlin


Martin Heidegger | 65
nos cleuses, seria novantertle rnecliila conl o ttretrtt clii tiivinclatle, e A natllreza potente, por(lue divintmente beia, porque
então iír nào seria ntais "it tutlulcza". Illa sc diz "bcla" polciue cst/t nraravilhosanrente onipre.seirte enla5:a os poetas. Eles são atraíclos
"rrreravilhosalnente en) totla pirrte'l A totllidacle da sua presetrç:ir ttão l)rlra o enlace. [ista atraçiio con<iuz os poctas ao traço funclarnental
-lal
significa clne eltr abirrca toc'kl real tie uroclt.r ctlmpleto, ilo ponkl clc cla srra essência. transpor:te é n eclucação. Hstir cunha o clestino do
vista c1-rantitittivo, ttas o mocltl corl)o reL1e c pernteirt trté nlesmo o real pr-icta:
cluanclo este parecc se exCtrrlir tle n6d6 recíplCrctt e ()l)()t'-çc il si t nt'strtr.
O onipresentc suslerlta, [tll1 c()[tf il () otltrt), os o])ost()s trtais extret]1os, Por isso, quanrio cla palece cltirrlir er.n certas estações do atro
o céll mais alto e o abisnto rnais prttÍutrclo. [)este tttoiio, <l que opóe no cén otr ct1[rc as p[arrtas ()Lr nos pr)vos,

resislêr1cia ao oLltro permi{llece, na sua rccirlcitrâtrciit, separado r-lele. sc enclte dc luto tarnbtiur ir íirce rkls l.rocttrs,

Assirn, os opostos se clescobrt,trl na suil trtáxittt;t rriticlez. () aparerlle parreceln cstat' soziniit.,s, rrrirs eles l)rcssentcrn scllpre.

ao "extrerno" é o aparerúe tto rnais alto grrru. O tltte assirl ilpilrece


é o atraenl-e.' Ao tnesuto terilpo, porérn, tl ttnipresente arrebatl os I)«lrntir é urna forrna cle ir,se emboLir, cle itusentiir-se. Como,
oposlos até a unidade do sett pertencimetlto rcc(rroctl. 'iirl utriclacle porérn, "a latur:eza" pocleria assunrir o sernblante cLo irtrsente, se
perrniie clue tt Obstintrtlo tiãtl t:;e i.ll)aliüe ntlnla coln|etlsilçírt o[)ilcír, ela rrão se íizesse presenie nos (lclestiais, lla terrâ e sua vegetaçãu,
remetcndo-o antes àcltrcla caitna tluc cirrtila, br-iihalrd<l tratttlr'rila, nos pov()s e surr história? "Eiu cerlas estações c]o ano" it onipresente
a partir cio fogo do cr,mbate cnl que os aclvelstiri{)s se lritzettl parerre riorrnir. "O itno" se refere atIri, ao r]]esmo tetnpo, acl ano cliis
mutuanrcnte t\ luz. Tirl unidacle clcl onipresente é o Arrcllatildor. 'tstaçilcs" e üo "arro clos povos'] i\s idacles do r:rundo. A natureza
A ualurezir onipresente atrai e arrebiita. A sinrr-rltalleidadc tle atraçã<l parece dorrnir, e, contnrio, não ciornre. Iilla está acorciacla, mas
e rrrretrntamento é, con[tt<,Io, a essênciir rkr bel«r. À bclez-a cleixa <1tle accrrdada sob a Í'orrrra do ltrto. Este sc retrai cle tr-r<io o tnais na
cls corrtrários sejarn contráritis, deixir quc as rt:lações rccíprocas recorclirção de lln. A men:tiria cio luto continua perto, toclavia, cLt

eilcontrem sua uniclade, e assittt cleixa quc tuclcl esteja prescnLe em que lhe li-li letirado e parece disttnte. (J L_rto não snbrnerge, conto
tuclo a partir cia pttre?.it f}edieutilrcil] do completattlertte rliverso. qr-re arrastaclo por rllna corrente, crn ctireção ao qlle fiti sitnplesmefile

A beieza é o onipre'sente. l'l 'tlivirranrente beli' se ehiima a llattlreT.a, perciicio. Ille ileixa que o ilusente l'etorne selrpre de novo. por isso,
porque urn cleus oll Lul1r cleusa, attt itpàreccr, evocitttl, tie nroclil parece qlre írs poelas enjulrttlrs se crrnÍ-rnilrrr ao scLl isolarnento,
eminente, o senrblante tla atraçiio e arrebatarlrento. (l<itrtttclcl, na encarceraudo-se nelc. Eles naio estáo "soz.inhos'l Na verdade, "eles
verrlaclc eles ainda não alcanç:aur o l)Llranrente belo; pois sua aparição pressentem senrpre'l O pressentinlento pensa antecipadirmcrlte nL)
car:rcterísticrl continua settclo tttttrt aparêtrcia, ptlis a pura cilPttlra di.stante, cpre uão distancia, nras, ao contrário, vem zr nós. C<_rntuclo,

("epifania') parcce o arrebatatttellto, c o arrebattttrtcnto (na .ittir't.sào urna vez qtre o vindouro ainda repousa na sria iniiuguraliclacle, e rrela
rnística) parece urua captLlra. Ainda assitn, o l)etrs alcatlça o g,râu se mantérn etll reserva, o pressentirnento
clo vindor-rro é ao rtresr:to
nráximo da apar:ência de belez.a, c assitu é «t qtte tuais se aproxittla a«.l tr:rupo um pensilr antecipaclanrente c um pensar retrri.spectivo. Assim
n-ráxirno <1o puro írparecer rla oniprescnça" pressentilclo> perscvcraÍ[ os poetas uo 1>ertencirnento à "r:ratu.reza":

Pois, pressentinclo, clir prtipria t"epoltsil tar-nbem.


17 l,l'll,stgrLndaeclição, l95l:i:tcrfovl:ototou bp«olrrdx«'tov Tb rcoÀóv.

66 | Explicaçóes da poesia de Hólderlin Martin Heidegger | 67


A natureza rcpousa. Seu rcpotrso r-rão signiÍica cle rnodo algunr deve scl- atrihuícl. i\s rePercuss(res tardias ce nm pocler e,.catório
o Íln do tnovimcnto. O repoustl é o rccolher-se errr torno cio conreç:o cuja orige'r se estentlc inuito atrirs de nós que a palavra .,uaturczi,
que eni fodo rnovimento cstá plcsente, e da chcgarla tlc tirl cor»eço. airrcla seja adrnitirla cruno palavra-chave cleste pocma.
liis porque a lrirtureza, ent repolrso, tamtrém prcsse' nte. Flla está "cm Nalureza, nilíure. charna-se Súotç, cm grc[lo. Esta c a palavt.a
casi] coníorrlle pcÍrsa irnlecipadarncnte na sua c:hegada. Sua chegada Írnd,r,enlal dos pcnsad«rres Ílo colrÇço clo pe,sar,e,lo ocidçrtai.
éa plescnciação da oniprcscuça c, portÍrltto, a cssêlrcia (lesta. Mas iír a l.racfirçã. dc (lúor-q par ,orttra (natureza) ir.,çcriat*rnçntc
Âpenas <luando existe-rn ()s que pressentem, exislcnr irrscrc algo tarilicl n. inaugural, c põc, no l'gar dc algo
que só é
ttrnbérn os quc pcrtencem ;\ natureza c lhe correspol.ldeln. Os Co próprio ao coincço, algo que lhe é cslranho.
rcspoudcrrtcs ao nraravilhosírlnente onipreserrle, ao i]oteule, ao 4tiúorq, rprelu, signiÍioa crescimenlo. Mas conro os grcgos
divinanrente belo são'bs poctas'l A rlue poetas iliilck:r:lin se re[cir:? corilp|ecrrclcrn o crcs«;imento? Não c()mo acróscimo cFranlitativ0,
Àqueles que se ergueÍr1 ent tcmpos propícios. Só elcs persistcln cnl lrolll (:(')r1.lo "cvoluçixr", c nlÇr.tos ainda corno a sucessâ0 dc unr
corresponder à uatrrreza que, c'm repolrso, pressente. A partir ciesta "dcvir". Õúorç ó o provir c u rebcntar, é o ab.ir-se quc, aLr
rcbc,t,r,
corresponclência, a essência rlo poeta é novamenlc deciclida. "Os ilo nreslTl(, tcr.nllo rctornâ para a proveniência c sc cr.]Çerra naqr,rilo
poetas" não são toclos r:rs pot--tas, enr gcral, tarnporic<l aigturs deles, conccde a todo prcscntc â sua prcse,tciação. Õúorq, pensada
c1r.rc

aleatória c inclcternrinaclainente escolhicios. "Os poetas" são os quc conro lralavra hurdamçrrtal, signiíica o rcbcntar no abcrto, o clarcar
têm no firt,,rro seu iugar de origern - os Viuclruros - cuja essência rlc t.cla çla'cira clentro clr qual algo porlc i-rp[*.oÇor, assur,ir.sçus
será rledicla quanclo ela mesma tonrar a essôncia cia "rraturezd' por corrt(rrrr<.rs. rnostrar-sc no scu "ílspccto" (eiôoç, rôá«), c
dçstc rnockr
meclida. il o que aclrri se nomeia algo há rnui!'r tenrpo conirecicio, Prcscnoiar c;orro iskr ou ncluilo. rlrúotç ó o rctorna a si quc rcbe:nla, c
e eutrementr,:s desgastaclo mccliante a anrbigrrida«le clrr palavra ,o,rci, o prcsenciar-se clo qrie pcrclura cor,o rchcntar, e tícste nr'<lo
"natureza" -, tlevc ser dctcrnrinado somente a partir deste írnico sc nrantónr atrerto ç é. I'crccbc-sç a clarçira clo abcrto, clo modo
rnais
poema singrrlar. pur.r, qua,do ela tlcixa pâssar a transparôncia da clarcira, isto
ó, a
Ile
resto, "a natureza" vern ao encontro nas clistinçíles "luz". ôúotq óo rebc,tar clarcira do ihirninacl,, e assim a larcira
tJa
habituais cntre "natuleza c arte", "nirlurcza e espírito'] "naturcza c c .lugtrr rln luz. O luzir cla "luz', pcrtencc ao Íbgo; ó o lbgo. []stc e,
história'i "uatureza e sobrenatural']'iratureza r: <Jesnatut'amentol luo n.1cÍirl.lo (cmpo, clarirladc c ardor. A claridaclc brilha,
e só cla dá a
Assirn, "naLurczi' signiÍrca a cacla vez unt ântbito particular do cnte. t,clo aparccor o espaço at:crlo, bem ço,ro clá a tuclo o que .parece
Se quisés.seuros, porém, i<'leniiÍicirr o quc neste poerna se chirrna a pcrccptibilidaclc. o ardor ilur.nina c inccndeia ató
abrasar, até torrrar
"uatureza" corl o que Schelling, o alnigo de lliilclerlin ni1 rreslna aparentÇ t.do que circrge. Assirn, o fogo é, como "luz" ilurninanrc
c
época, chamou 'espíritol no sentido dc "identitlaclc'l tirrnbérn nos ao mÇ)srno lemlro arclento,0 abcrto cluc já esl.ir prcr,,iarncnl.c em tud<i
enganaríamos. Nem nresnro o que o próprio Ilôlllerlin cliz até estc o quc, no âmbito <io aberlo, vetr e se vai. z\ (túotç cstá cm tudo quc
lrino, rro Llilté,rion e nos prirncilos projctos paraEn4tédoclc.s irlcança o cstá prcs,ilc. Clonluclo, sc ... natureza', é Qúorq, ela não dcvc ser ao
que agora se quer nonrear corn a expressão "clivinarnente oniprescnte'l rllÇsrlro tclllllo a ardcníç crr tocla partc, já que e ',oniprçsçntc,,?
Ilis
Ao rnesmo Ir:rnpo, "naturezii'ilgora se torna urna palavra inadequatla l)or(lrrc Itiilclcrlin nOnrcia "a nâ1urÇ2a", nestc pocrna, tarnbóm â (.que
coru rcspeito ao vinrlouro que ela dever nomear. Do rncsrnt-r nrodo, tLrtlo cria" c a "scrrrpre viva".

68 | Êxplicacóes da poesia de Hólderlin


Martin Heidegger | 69
A palavra hôlderliniana "Ít natttreza" poer.rlatiza a essência da Ntis te norrreanros, lirr'çaclr.rs tle sanl"a rreccssiclade, te nollrealTlos
a ti, Nirtttleza! e 11ovo, conto do barrhtl, siri
nAtureza de acordo cor.n a verciade encobcrta da llalavra Íirndanrcnlal
dc ti tr,tlo riuarto ntsce divino.
inaugural (lÚOtq. FIõlclerlitr, torlavia, tiiffrpouco c:ottlicÇett a lir|q:a '
l

ainrla hojc não suÍicienlerncnte avaliatla . ti1 palal,ra lutrdarnerrtrtl


Contuckt, o poeta depois riscou a lápis, 1-rrccisatnentc eslcrs versos,
inaugural $Úotq. Dt: toclo rnocltl, ao tlirr o nttnre "a uittureza" a algo,
o clue Íbi inclkado por f{elliugra[ir, quc observa qLle o lr()n]c'irirturezir'l
I-liiltlerlin não quer apeuas Íàzer roviver: o que íbi experirlenlaclo
na Antigui<lade grega. Na palavra "a ntttureza", llÕkJerlin iliz clali em dii.i.nte, já náo satisÍària i:lôldedin (IV, 337 338). Sri c1r,re o nome
"natureza" jri lilra sr.rperaclo no hino "Assim colno enl cliir si.rrtto" cortro
poeticalnellte outra coisa, clue clecerto ntantétn ttnla rclaçào rloulta
como o que outrora se chantou (lÚorE. lralavra poetica fuuclamental. li,stir superação é a conseouência e o sinal
de unr dizer que encontra scri ponto de paltida ern uril lugar nriris alb.
A natttreza, clue "ern levr; etllace" retórii ttrtlo em $tla abcrtura
e clareira, parcce dormir eln Çtrtas epoc:asl. O iluminadtl, ern ltrto, Ilô]clerlin chama rorltDer do clia, o cli.rr.ear c1a clareirn q,-re estti
parece recolller-sc. O luto qrle se Í'echa sohre si tttesl.tlo e opttoo, c
presente crn tuilo. 0 clcspertar cla 1r-rz rpre ilumina é, no entantg, o rnais
silenciosri de tocltis cls evcnlos. Por qr-re é nonrt:irckl, e de ftiltt:i e1e ruesmo
pârece escuro. Cotttuclo, este lrrto não é ttma escul.idão sinrples c
pecle un-ra nomeação, o dc.sper:tilr "da naturez.a" r'essoa cullo palavrir
alealória, mas utlt repouso clue pre:ssentc. O escttro ó a noitc. Anoitc
poóticir. Na palavla se clcsencobre ii essônciir tio rxrmeatlo. lbis a plúavra
é o pressentimenttt calmo do dia.
separa, ao notltear o essenciiú, a essência cla não essência. r\o separar

Agora, porém, rorrlPe o clial []u esperalva e viit o vtr, unra rla outra, a palavra rlecicle seu courbate. A palavrii é uma anna. Iiis

e o que vi, o Sagrado, seia o nren Verbo. p(,rqrie, l1o rnesmo lr iuo "]rurtcl t\ nasceute do DanÍtbio'i I lôklerlin iàla cla
"arrna da palavra" conril cle,;rl'tllru sagradri'que preserva o Sagraclo.rt

A exciamação collt (ltle c()meça a terceira estrofe nolleia o LJrna vez qtrelrii apeltírs urna iinica coisa para ser dita, e que cle
rebentar c1a claridacle ardente. O raiar do dia é a r;hegada tla naturezit 1àÍo é posta ern palavras - a (irre lirz romper o clia, a c1e levc enlaço
anteriormente em repouso cheio de pressentirnenlos. A anrora é ir e rnariivi[ho.s?u]lellte itniirresente ,, "ltgora" a natllreza "desperta
própria natureza que cliega. A exclamação: 'Agclra, porém, rompe o coni rilído r-le armas'l lvlas por que 'b Sagraclo" dcve ser a palavra

clial" soa como Ltm apelo cla natureztt. Só que o apeltl já invoca aigo a do pcleta? Irois aclucle que "sc ergue eltl tentpo prripício" stl tcnt
carninho. A palavra do poeta é o purcl ittvocar do <1ue os poetas qtle cle ttoruear aqui[o c1're ouve, presseutinclo: ál l]atureza. (lorrlbrrne
pressentem semprc já espcrarn, dacluilo pelo clual sempre já anseiam' desperta, clcsencobre sua pr:ópria essêr.rcia, corllo o Sagrarlo.

O nomear poético diz o clue o próprio invocacltt, a partir cla sua


essência, precisa qtte o poetir cliga. Assitn premido é que llóiderlin Pois cla, ela nrc.srrra, clrLe é rnais velha qr.re os tenrpos
acinta dos clt,lrscs clo Oestc e clo ()riente,
charna a natureza "santa'. No hino "Junto à nascetlte tlo DanúbiLl'l
e está

 Natureza .lcoldou agorl com rtríclo cle arnlrs,...


escrilo pouco depois, I-{ôlderlin diz:l

4 IiPLl,scgundaccliçáo,l95l:Naturez.rerqilalrtoo-sri{r,rrlo-- prccisadeuósnat(),nea\âoesteé
o "a l)artir Lic orr<li' e t. llrissrrr'r II, 2, íi95 ss,
(ltllN t'lil.A,
3 QUINTILA, t997,P.1Bt. 5 19(t7, p. .181.

70 | Explicações da poesia de l-lôlderlin Martin Heidegger | 7l


A natureza é nrajs antigâ (lo que o tetnpo segunilo o quai os ocorrc no acorclar. c) "e"
c0ncluz ao r{escncobrimento csscncial d.,
hornens, povos e coisils são nredidos. Não é rnais anl.iga, contttdo, que qrre é a r1âturczâ, isr-o é, a quc acorcia. Ao acordar, cla se volta s.br-e
'b ter:rpo'l Ct»ncl a nâturez.a pocieria ser tnais antiga cprc 'ir {cnrpd'? si nresnra. sente-se de novo o entusjasrr«-r'qr-re cria tuclo'l l,ljs conro
Ilnqnanto eia ;rermanecer 'irrais veilia que os tcmpos'] perlnanece se cham;r agora a na[rrre7.a o,ipresente. A clara franclreia, para tud<.1
rleccrto "mais antiga'l portanto anterior, portanto tttais "a tentpii] () (llte se tnostra avançartdo, o aparecer e o ltrzir, tai que o
real, pgr
portanto, precisarnente, rnais temporal que 'trs tempos" cont os quais os elir rnesnra inflerrna<]o, rn;:ntém*se dentro de scus próprios col)ton)o
filhos da terra calcuiarn. 'A naturcza" é a é1;ocl ruais autiga e cle tloclcr e mcdida. Assiin o reul se cliíêrencia em sua própria essência, e seu
algum o srqrratcrnporal a cluc a metaÍisica se refere, c atrsoltttirt:ttenle apâreccr é perprassackr peio raio clo espírito: entusiasrnarlcl. A natureza
nãr: ó o "eternt-r" pensacln c1e n-rodo cristão. A naturcza (r trritis tetnporal insu{Lr espírito cm tuclo, conformc é ir onipresenle que tuclo cr ia. Ijla
qr"re 'bs [cn]pos" l)orque, colno mara\.ilhosanretrte onipresentc, j1t
ó o pr<iprio cntusiastno qr.Le insufla espír"ito. Mas só podc insuÍlar
prescnteia tuclo clre ó reill, cie antcmão, cotn a clareira cletrtro de cuja cspírilo porque é 'b cspírito'l o e.spírito impera conro <lisputa .cr
abcrtura pode aparecer: tuclo clue ó real, pcla priltleir.t vcz. Âtrtct'ior a
Íncsuro tempo s<ibria e auclaz, que instala todo presentc dentl.'
todo real e todo agir, antcrior até aos clcuses é a natitreza. I\ris ela é
dos limites e reiaçires benr clifercnciacios que con,stituem scu vir i\
'inais veJha que os ternpos/ e está acitna dos deuses". A tratttrezt não 'lhl disputa é o
pl'e.iençâ. Pensarr-rento essencial. (J mais próprio a<r
está urn pou«:o sobrc dos rieuses, conro se ftrssc utn ânrbilo do real "cspírito' são os "pe.sarncntos" mediante os quais tucio se relaciona
"por cinla" cleles. Á naturcza está "acírna' dos tleuses. Iila, 'h poteute'l
cum tudo, porqlre separado cle tr.rdo. o espírito ó ir u,idacle q,e
consegue algo clilêrentc tlos clcuses: Lrfila vcz que ó clarcilir, ttttlo se
unifica. Esta deix;r aparecer o conjunto de toclo real na sua reu.ião.
faz presente ncla. I lolderlin chatna it nâtureza sagracla, pois ó 'lrrais
Iln sctrs "peusalnenlos'l o espírito é, portanto, o "espírito corr:rum,,cle
velha que os lerrrpos/ c estli acirna dos cleuses ckl Oeste e do Orir:trteri
nioclo esscncial. EIe é o espírito sob o modo cio en[usiasrno que engaja
Portanto, a "siurticlacle" niio ó, c1e lilrtna algumâ, u111.r prclpriedadc cpre
torl' aparecer na uniciade da oniprcsença. Esta encontra a fornra tla
pertençír a um l)eus subsislente. O Sagraclo nâo é saglatl<l porque é
srta presenciaçio lAnutcstu8J, clue é rebentar e acor<lar. Ao acordar.,
l)ivino; rnelhor dizenclo, o Divino é quc ó divino porquL't1 "sag,rat'lo"
a natureza voltir sobre si rnesrna, c por si firesÍna ó transpassacla.
se
er]1 sua essôncia; pois Êlól<lerlin, nestii eslrofe, talrtlrérn chatttir clivino ]ii
'b Caos'l O rluc a rraturcza é o inaugural, clrre a tudo precede, ela só pode, quanclo
Sagrado ó a cssência cla naturczit. I-lsta clesencobre sua
essêncir, quanclo, ao acor:dar, Ítaz rompcr o dia.
.lrovâtncntc se scllte, scntir-se cle 'hovol
o aber:t. clcntrrl do qr.ral c.da indivíd*o adquire preserrciação
A Nalureza acot'clott itgora com ruítlo tle rtrrnas,
c clrrração perpassa cle anternão os âmbitos cie toclos os setores. naí

e clo alkr clo Útcr irté ao Íirnclo arbisrno


o ac«rrclar impera''tlo alto do ílter até ao fundo abism<il "Éter" é o
scgunclo lci Íixa, conlo outrora, saído tlo Caos sagrarlo, ruorne clo l)ai da h.rz. e do claro ar que tu<lo vivilica.'Abismo'signiíica
sente-se dc novo o errtusiasnro o rlrre tucl. cilÇerra, . <ir-rc í'oi engoliclo pela "Mâe f'erra'l "fiter." c
que turlo cria.
"abisrno" noineiam âo rrlcsn-ro tcmpo os setores rnais extrernos
do
real, rnas tiurrbóln as divir.rclades suprernas. Anrbas são perpassatias
O "e" <1ue sc seguç dc "acordor.r" não concluz na clircção dc pclo espírito que entusiasrna e inspira. o entusiasnro não vagueia
outra coisa difcrentc do acorclar, talvcz cotno conseqrtôr.tcia ilo que conro un-lir ver:tigenr cegâ, Íro sabor do acaso. Ele clecorre

72 | Explicações da poesia de Hõiderlin Martin Heidegger | /3


Segunclo 1ei fixa, corlto olttr()ra, saítlo clo C)aos sagrailo, Ij<ilderli, i.titul* cste fragnre,to "r\ supre,ru'l A;rartir cle unra
reÍlexão pessoal, acrescentrr a seu respeito:
A natureza engaja toclo reai nirs íeições cle srta essêl1cia. ()s
rr:aços biisicos dir tottilidiide se clesclol:ranr coníilrrne o "espírito" O i.recliat., I rigor, e irnprossívcl para rlortais lrem c.,ro para
aparece tro real e o espiritual reÍlete tl eslliritr"ral. Para latlLo, ó precistr imortais; o I)er-rs cleve rlistinguír entre clilerentes rnunclos, r{e acorclcr
qr-re inrortais e rnortais se encttntrett), e qtle alllbos sc cromporteln, conl slla lratureza, por(lLre bcns celestes, enr virlude r.le si rriesnrr_rs,
cacla r.im à sua tlaneira, frente ;16 re1l. (lilcla real indiviilttalizrrtlg, ileve,r ser sagr:ados,ser' ,ristirrii. o lr.ruenr, cor,o c.nheccclor,
ern loclos os seus traços, só será possível, se a nalurez.a conccclcr deve tanrbérrr disti'gui. t1iÍere.tes, porque o corrh.ciure,lcr
'ru,dos
previarnentc o aberto clentr0 d<l qual irnortais e rtrortais, bcut contt) só e possível por contrilpoliiçâo. I).r isso o imediato, a rig.r, é tli.
cacla coisa, poder'á se encontrar. O aberto in{ertrledeia as relações inrpossívei para os rrrortuis colno 1rara os irnortais.

entre todos os reais. O real collsiste írpenils em tal irrternrecliação A niecliação risorosa, porérn, ti a lei.
e é, corno tal, algo interrnediiitlo. O que é assil.u meriiaclo é airenas
em virtude cia ntecliação. Ptlr isso, a mediaçãcl deve estar eln tudo. O que está presente previamente eru tudo reírne tudo o qtre
O próprirl aberto, ctlntttclo, que olcrece trm ârubilo a ttrclo quc é lbi isolatio ern rrr.r presença uniíicada e trarsmite, a cacla tim,
recíproco e artictúatlo, para clue entabulenr tais relilçÕes, não o apârecer. i)ara ruclo ciuc foi intenncdiirdo, isto e, o mediaclcl,
provém de nenhunra mecliação. O aberto é, ele t'nestntl, o irtediattl. a onipresença irnecliata é a r.,et1i.triz. o imecliato nunca é rinr
liís porcltre nacla mediaclo, seja Deus oti ltonretn, collseSrl€] atingir rlrcciiaclo; ao contriirio, o jmediato, a r:igor, é o clue torna possível a
iruecliatirnrente o irneclialo. Ao olhar para dentro clesta prolirndezir rr-rediaçiio clo rnecliado, porqLle ela torna este írliimo possível er)l suâ
essencial cla totaliclacle, Fltilcierlin recouhece, a partir tlo seu pflipricl essêrrcia. A "nalureza" é a mecliaçãcl que tucio interrnedeia; é a..lei,l
pensarirerrto, itrn fragmcnttl cle Pírtclaro (Schliider, 1922,,yt" l6()): Porclue a nertureza pernlanece sentiri o inau5lr-Lrar, préviir a t,clo r,ais,
origi,ariar.nente inabalável, eia é a "lei fixal confbrrne a natureza
uópoq b 'tLailal:lv Pucl).eÜq acorda paril si rlresrra, ela brota de acordo corn a própria essência:
0votôv tt Kctt c0cruomcov "segundo lei fixri'l
&rye L Excxiôu tb l3ratótutou 'l'otlavia, a
natureza saiu dcl '.Claos sagra<Jo,,. Corno se
tneptóag, Xerpi coadunarn "Claos" e "nómos" (lci)'/ para nris, .,Caos,, signiÍictr o
dospr.vitlo dc lei, a dcsorcler,. 0 próprio l{Õlder.lin diz: .,8 íinca
Na tradtiçit, tle IIôldcrlirr (\", -17t'): raízcs, nruito pleparanclo, asslyageria sagracla,,(..OsT.itãs,,, IV,,20g).
EIo se rolere às "sclvas santas" (1V,,2,50,341) conro à,.selvirgcria
A lei, acanhada" (1V., 216) o ri "uonflrsiio antiquíssinra,, (..O lleno,,, IV,,
para toclos sol.eratta, para mortiris e
180). Contu<io, X,ooÇ signilica, enr primeiro Iugar, o bocpiaborlo, o
imortiris; por isso contlrtz
abisnro entreaberto, o aberto c[le se abre previarncnte e pelo c1r-ral
poderosa até tnesmtr
turlo é engolido. O abisnro reousa qr:alclucr ponto cle apoio a algo
o direito rnais jttsto com a Inão u-rais alLa.
distinto e fundarncrrtado. ll por isso o câos parece, <1o ponto de vista

74 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Manin l{eidegger | 75


cle toda experiôltcia clue só tem acÇsso ao mediado, algo indistirrtcr Il como no olhar clo holnem brilha url fogo
O "caótico", tonlando neste
e, portanto, utna sitnples Çonfi-lsão. clualtt1o corrcclrcu allas coisas, assirr-r

senl.ido, ó, poróm, o dcsuaturatnetlto clo c1r:c "Caos" significa. sc incetr<leia de novo cirs siuais, cirs feitos do mundo agora,

Pcnsarlo, a partir da "natr-rrçza" (rfúor"ç), o Cacls pcrnlancce aqtrcla rurn firgo na alrna clos poetas.

atrcrtrrra (luc sc abrc a partir tio abcrto, para quÇ estc conr;çcla a caila
çoisa distinta sua prcscnciação ciclimitracia. [')is porquc IXÔltlcrlin I)o nresnro n.r'do rlue o alto projeto clo homern meclitativ.
chama o "Caos" e a "sclvagcril" "santt'rs". O Claos é o próprio se reflele err seu oll-rar:, também se incendcia ur.n clarão ..na alr,a

Sagraclo. Nada quc sc"ia real plccctlc çsita abertura; rtrclhor dizcndo, <los poetas'l sc o Sagrir«lo vern e, aovir, se cncobre. Urna claridade
ela o pcnrieia continuatnçnte. Tcrcla aparição já c ultrapassacla. por se cxpandc nas alnras solitárias c10s poetas que, enlaçaclos pelo
ola. Para todas as coisas e, sobrctrido, antetriorniçute a totlas çlas, a sagracio, pr-'r'terrce,r-lhe. Por<1ue eles e'lutam junto co,r a
'e no
natureza que pressentc, illuninarn-se tambóm
naturçza ó sernprc "Çoltlo outrora". ílla ó couro cta antcs, cm duplo rnorncnto em que
c o rnais anligo rlc ltrdo o c1t-tc vcio antcs e o tttais
sonticlo. [',la ela acorda, e elcs mesrnos se tornilm uma clarjclarie. -Iais
lroetas
rcccnlc dc tr-rdo o cluc vcio clr:i-lois. Confclt'mc a nalurcza acorda, eslão abertos dentro do abcrto que se ilurnina, cles<ie o'.alb clo

a sLra chegrtla advóm cot]ro o viudor:ro no ntais alto grau, a partir Étcr até ao l'*,clo abismo". A abert*ra do aberto se aÇresce,ta ao
que chamanros "muncl<il só p.r isso ó qut:, rlo ponto de vista destes
clo passado nrais antigo quc nttlrÇa ctrvelhccc, pois ó sernprc o nrais
jovcn-i" poet.s,.s si.ais e os feit.s d. mundo poclem aclentrar u.n lugar
O que sctnpre conto crutrora ó o Sagraclo, pois ulnil vez
á:
ilurni,ado, pois os poetâs não são desproviclos de mund.. Iirnbrrra
os poetas perlerrç:arn, enr ,irtr.rcle da própria essência, ao Sagrad<t, e
inaugirral, ele cotrtittua jncóluttrc c "sirivo" cttr si tncsnto. O origi-
sejarn esscncialrne ntc "inspri1xj6s", isto é, penscnr o ..cspír.ito,l ainda
nariarnente salvo concecie a caila real, meclianle sua oniprescnça, a
assirr rlevenl, iro ulesnlo terupo, ser adn-riticlos dentro clo real,
graça clo seu demorar-se. I!{ar; il graÇa} lrem crlnro aqui[o que coucccle e
pcnliu)cccr r:ativos dcle.
a graçir, enccrrail cttr si, como o itrtecliatcl, toda pletlitucle e cada
cstrutura, c, deste nroclo, nenhlttrr indir,ícirro, sejir elc unr cleus oLl tlln
Os I\rclas turnbónr, quc são d<t lrispírito,
honrenr, porlc sc aproxint:rr do inrccliato" Uttln vez cpte <l Sagrado nãcr
tônt r;uc scr do Murrclo.
e piissível de aproxintaçlto, Íorna vã cpralqucr pretensão irlretliata, da
("{ ) lJrricril l}rinreira vcrsão.) 6
parte do niecliarlo, a irnpor-se. O Sagraclo cxpulsa toda experiência
cle seu lugar hirbitual, rctira o solo sobrc o qrral cla se crgrlc c a clcstilui
Por iss., os sinais c: Í'eitos rio mu,do poclcrr se torn,r ur.irir
lhr: é atribuíilo. () ciuc tlt:ste tlociti clestittri é rl 1rrti1.'l'irr
cl«l l.rosto clue
opoltuuidadc para quc o illrnrinar cla claridaclc quc rebonta sç in{lanic.
l-lorrível. Scrt car:itcr .1c ltotrívcl, porólrt, pcrlnallcce cncoherto
As "scnsaçõcs", "rc.lizaq:ilcs" e "sucessos,, ..mundanos",ão
pela sriavidarle rio leve cttl;icc. fortltie rl Icve etrlace, tttclavia, ctluca sãcr
rnais que ooasiõcs; pois algo muudano nào pocleria cm rnornçrr(<r
os poertas vinrloitros, eles cotrhccct.n o Sagraclo, qtianrl<l tlclc sãtr
algum «:Í-ctrrar', p.r si rnçsl,o, a chegacla r1o Sagrado. Só aqucles
engajaclos. Seu saLrel í: o pressctttir. C) pre.sscrltintcrlkr cliz rr:spcito a«r
quc.já vÇcm a virrda do que vcm conseguent çsclareccr quc algo
chegar e ao rebenl:rr, isto é, à aurora. 'hgora, porértt, rolllpe o clial" O
qrle acontcce, cluanclo o prtiprio Sagraclo ndvórl-l i*,tullrrr I rv.li p.,r,,,t.

76 | Explicaçóes da poesia de Hólderlirr Martirr Heidegger | /7


no rrundo seia um sinal clo qlte veln e cstimar, corn rcspeito ao qLle riniplcsente à posir;ão de escrtrva. 'A sorrir'] porénr, ela c<xrcecletr que
vem, qLro seja r-tm íato. Aincla rnais importante, porcrl, e que os tbsse assi,r, c.rn a sere*iclatJe cornpatível c.,i o cyue é inaugural, er,

sinais e os Í'citr'rs do mttndo .iarnais são o qtte deve, propriaÍnente, posíçáo cle sr,rperi.riciacle frente a toilo sLrcesso. lila permitin que os
adentrar o allcrto. Na abcrltrra, e por isso tanrbém tro âmbito cla h.neus ,ã. co'rpre.nrlessern cl Sagrirdo. no porto cle vista de tal
pc|cepção humana "só agora" cltega o qLle "outrora acottteootl, tnas nial entenclickl sobre "a nattrrez,a'l cacla clrral 'é" apenas o <}re rencle,
nral sc senl.itt". "Otttrora" sigtriÍioa aqtti o qrtc e Irtais art(igrl qtrc o c:r.rquanto nn verdacie caclir qual só rendc o t}re é. Conluclcl, cada
clrral,
tempo, anterior a tudo o mais qtre seja tla ordertt clo real, cltre loi incl*sive cailir li*'ra'idacic, "é" soflrerlte cle ,.forura,,
ircord. com a
percebido deccrto auteriormeute, ainda clue allenas meiliante tle um conlo rl niltureza, a partir de si rncsrna - islo e, o sagrado -, continna
primciro brilho. O rebcntar inicial e inaugural clo que esl.á presonte presente nele.
enr tr-rdo o quc, descle cntão, está prcscnte é tt "rlatttreza" (QÚorE), NIas r:or,. o "p.vti'cleve se llril,ter rra presença cro sagrackr, se
ainda quc ela tambóm, t'lesclo então, tenha se desviatlo e ate caído no aperlas ()s poetüs sã0 lever"nentc enlaçadcls pelii niiturezir cllripresent.e'l

esqllecinlerlto. Ctlutudo, ctirlto intpcrava () (luc é intiugttral antçs clc clonro os "lilhos cla terra" rier.eil exPerlrnertar as "for.ças serlrpre
ter', agora, rccot.treçado a acordar c se tornado conltccitlo? vivas'l o sagratlo, se o lirg. pel'rlranecre encerrtrdo apenas'irir al'ra,
cios poetas? N.rr .serr.er o Pocta alc.rrça jar.ais o sagrarkl por [rrna
[1 as ciue a sc'»rrir nos lavrlrant o c.rll1PO reflexão pessoal, nem e§gotarr-r sua essônciil, n.,nl conseguern,
i)or
ilm ligura de escravos, são-te agora corthecitlas' 11r-resticinar, arrirstri-Io para ir-tnto cle si.
-r\s senrpro v-ivits, iis tilrS:as cltls tlettses.

QLreres inlclrogrl lo.s? na cançiit) s()pr.u o serr espírit()


A natureza 'bnipresente" tlttc "trtclo cria" ciranra'se ilgora
a "selupre viviil É verdacle que esta palavra qrraliÍtcil as tilrças clos Il rro 'tanto'l i:ricial e e_xclusiva,1e,te, rlLte . ,espíritti, se
rieuses. Í-l estas fbrçrrs tarnlréÍI1 são a(luilo p«lr rrteio r-le que os tleuses ricrcscerltír à cstl.rrlura do Siag|aclo, urna estruturil quc se presta
podem aquilo qtte lhes ó própr-io, e as^sitn são o tltte cles próprios à r»cclitação. À4irs rieur eru roiir.r'cartar" soprir () espírito. Iskr só
são. N4as as fbrçirs nâo nascem rlos dettses; ao cotrtrário, os dettses irc{iDtcae nt catrção,
sâo por força ilestas f'or5:as qrre, "selnl)re vivas'l cláo "viclit'' a tr"rdtl,
inclr-rsive aos cleuses. 'A sorrir'l a natu reza 'ilntrora" ltvrrltr 'il cittupcl" Se clo sol, rlo tli:i e cla tl.rra tlur-ule
para o liottrenr. A palavla 'ir
campci', tlue l'etl)cte clt: passirgern à cle rlcspcrtt...

primeira estrofe, está aqui ntt lugar dc tr.rclo clll qtle ti l.ioment ttt<lrit
e cle qne eie vive. 'A sorrir'l a 8raçü <1o Sagrado csleve outroril elll No prinieiro rnirnuscritri coÍtstir, tle rnitrkr incquívoco,
tuclo o qrre é presente, seln 1iúiga, an:igavelinente, e por isstl fiIe.slno 'ilesperfii' (t:rtttuoclt) a. i,vés r1e "brota" (enlruadtst),
como c,,sta
indilàrente ao fato cle os horncrts "tnal setttiretd' ti que acontecia. Na .as eciições até agora. A ca*ção de'e ciesce,clcr cio acorrlar da
sua precipitação em direção itt-l palltável, os hotnens recel'reram o quc natureza "clo alt. clo Etcr atti ao hnclo abisrrro". euanrio cla ircorda
thes foi reservado pela natureza rlivinirmente bela apeÍias crlnforme rlssirn, junto crnr o'entusiasinoclue acorda'l sopra sobre eia o háli«r
lhes Íbi útil, e o emprcSarüllt ctn setl serviçtl, assint rebaixanclo a cla clregrrcla clo Sagrad'. Agor;r a or:igem ria canq:ão é criferente do

78 | Explicaçôes da poesia de llôlderlin Martin Heidegger | 79


ll-

(luc era no pâssaclo. seu dcspertar acontecc rlas "trov()a(1as" que c irr:cser:vado riil suavitla<le. O <;uc, no Sagracicl, clespcrta horror
"vitgueiarl cntre tcrra c céu e en[re os povos'. O ttirnulto t-le toc]o este ícpousâ na suaviciacle cla alura'Uo poetai O Sagradr: ainda esi;i
ânrbito ent que a natureza anles parccia clorn-rir é necesshritl. Ilste presente, como vindouro. I)«rr isso tirmbém é que nunca pode ser

tutnulto clo tor{o surgc tlc um abalo "mais prepar-arlo tlas fttnclnras representado or,r apreenriido corr.ro objeto. De fato, ao lclngo dc todo

clo ternpo'l L) clcspcrtar reiüoltta ao tcmp(} lnais antigo clc tocltls, a o p{)crÍrit ili)ldcrlin se refere aos poctas, no plural (v. 10-11, 1(t-17,
partir clo qual tocio vinclotrro já eski prcpafado. Por isso tantb(rln 31, 56). Ailui, irorém, sti te tn elr vista r: poettr qr-rc rliz: "Eu espcrava c

ó quc os abalos clo to<lo são'lniris ricos rie scn{ielo a ntis'l a slrller, via-o vir'l Do sctt súer 1-rrovétr-t a certeza cla sentença: "Pensartrent<ls

parâ os poetas que clesl]ertan-r junlo com elc. Â riclueza do inatrgural cl«respírito corluln sãro,i Quc acaltam calntos na alla do poetal'

presentcia srra_palavra com fal proÍirsão clc sig0ificaclo clue nral pode Se contarmos, Íàltarh ufit vcrso na quinta cstrofe. Assim, urn

ser l)rofef ida. Ir,is porcltie uma'targa tlc achas" Íbi posta sotlrc scus ]rensânrcnto intermediírrio tleve ser acrescentado, para que se faça
omtrros. f)aí tambóm ser, parâ cJes, "muilo o tlue <leve scr griarcllrJo' tuurl trarrsição mais clara para a pr<ixinra estrofb.
("Maduros são'l lV', 7i) c "rnuito o que irh pilril tlizcr" (1y, 219,221), Agora rlue o clia ror-npc tarnbótl, o "pocta" cstá acorclilclo.
ltá inda Útuit.o a câr1tor" ("Junttt à nasr:enlr: rio I)irnítbio'l lV"
,'pois Perpassado pelo entusiasrno clesperlante e concorcle com elc, algtrérn
"cspiritual" agortr está deternrir.ra<lo a ser o irnico poeta, c é rla major
161). Mas porqrlc os iiliralos descendem clas prttfi.rrrrlezas lnais antiqas
cla natureza que lcorcla, c Porqrif. oS p{}ctas sãr-t por elir levetitente
irnportâtrr:ia clue haja ull poeta, para que a canção receba unta
cnlaçatlos, Para eles o enlusiasrnr) estii presente enr grau n.rais alto e, palavra. Iis(c pocta singulaç na quietude cio seri silêncio, preselva o

portanto, é "mais díslintcil abalo clo Sagrado, entremcntes sossegaclo. lJma vez que uln rertinir
de palavra legírima s(i pocle surgir a partir ila quietucie, ttido agora
Pcttsatrtcntos clo espírito contrttn sito, cstá preparaclo:

tprc acaltatl't r:almos tla alrnlr t1o poet-a


'lais quc cla. lcricla de repentc, há tnuito já

I{ôlderlin intencionahDerrte pôs untr vírgiila clcprlis elc "siiti'. patcntc ao Iirfitrito, trcnrc clc recordação,
c, inflarnatla rkr rrrio .saglaclo, lhe é alortrurado
como unta cinzelada invisível <10 escnlkrr dá ur.n cunho cliÍi:rel.rte
l\ figura, assim tirmbéttt a r'írgula <1á urlr pcso especíÍico ao
"sã«il o íiuLo r-rasciclo eÍl ilÍlor, obra tle dcuscs c homens,
riuc ir rrrnbos rlô tcsternunho.
A "nalureza <1ue acorcla'l <; "eirtusiasmo" está presente" A Íôrrua da
() canto,

sua presença é a chegacla. o sagrado guarda tudo no irlrcrliatismo


incólume da sua "lei fixa'l 0 cspírilo, ell-l Pel]salnenttl, separa tr-rdtr
A coirstnrção pir.rclárica <lestcs ver.sos é percorrida por Llill
írnico pensamento; portlue alma clo poeta preserva o Sagraldo, é-Ihe
o Ínais, une tudo a tudo através de tuclo, etn tudo intervétn.
cle tucict
a
dacla a lorluna do canto, e cste último significa agora: da palavra que
Flnquanto'b espírito'l ele é sertpre "espí'ito comLtri'. E ile clue tipo é
llil sti deve tlizer o Sagracio. A forl.una, por:ém, não consiste apenas em
a presença d0 cntusiirsnro do espír'ito qtlc regc ttrtlo c o col)servâ
"ac'.rbii' qrre haja urua cançrio, urrrs antes el-n que "ela'l a alma do poeta, scrá
unirjacle? li cla que "acaba calma na alma ckr poeta'l lila nã()
aíôrluuada cnquanto a ohra rrão maltgrar. A ênfase dada à palavra
no senticlo eln que se eSvai e cessa. Âo contrário, o etltttsiAstno é
"firrtuna" tlo caltto signiíica que a ameaça de um infortítnio essencial
engajario e conser:vaclo, e cle Íato "cahuatnente'l O abalo i' acalnratltr

B0 | Explicaçôes da poesia de Hôlderlin Martirr Heidegger I Bi

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)


foi vencicla. Nesse caso, trlrlavia, a parlil'clc otrtle ttttr irllirrtttlti,r infortriuio, urlta vez qr"re sitnificaria pertler a essência poética; p()is a

rleve ser Lnrla âÍneaçir? A partir tle cFrê, seuâo drr possibili<iaclc conrlição essencial cio poeta rrãti .se funcla rra recepção clo I)eus, mrs
cle não suportirr a Íbrtulra? Biltit en[etrtli.elrl, a lirrtttrla atlvincla tla z.rnl.es nil enlirce pelo Sagraclo.
venlura t-recessiiria Pírt'il () ttitsr.;ittretlto cla carlçiio. Mcsttlo tlttc a No etrtanto, <r poeta s0 erglre ergorir etn temlro propício, tal qtre
alrna cio poeta possil prL'scrvirr cll)'li it llrcsença tltl vintlttttro' tl estri Ían.riliarizatlo conr tl qrie jii se piesenciir cle anternão etn tudo o
pocta niio collsegue nlll'lcJ, Pot'si titt'srtto e irtrecliatlnlerlte, n()n1etu' r1-re é finito, ou sejtr, corn o "infinitril lt porclue a nirtureza <»tipresente
o Sagrado. O ardor tlo lrrz-ir, ntttliilo tratttlttilaulentc rlü alrrra clo é "mais velha tlue os ten-r1,ros", () perlerlcinrcnto it ela existe "irii rnuito
poeta, necessita ser irrflar.rraclo. Sti Lttrl rtti() cle luz que losse enviaclo, já'l Se,'rgora, o raio sagrado atiltge o poeta, ele não é arrebatado
m;ris urna vez, pelo próprio Sagraclo scritr lbrle o sr-tÍicienle plrra pe[o ardor do raio, mirs antes volta-sc] conrirletamente na direção tlo
isso. Portanto, é necessár'io que alguém lance o raio clue irrllamarlt Sagratlo. A alrna <-lo poeta, de fato, "lrerne'l e permitc clr-re <lesperte
a alma do pocta - algr.rern aitrcli'L mais alttl e próxirno iu) Sagrado, ern si o abalo tranquilo; nras cta trerle de recrtrtlação, a saber, cie
e que, justamente por não ser o Sagratlo, se lhe sttbortlitte - isto e, e,ypectativa rilt que jti aconteceu previanrente, ou seja, a aberturir do
urn l)eus. Assim, o l)errs totna a iietl ellcargo o qtl(l está acinla clc Sagraclo. C) tremor interronrpe a cirima clo caiar,se. À palavra su.rge.
si mesmo, isto é, o Sagrlclo, e o cotttlensrt, clandci lhe a agrrtlez.a e A tlbra-palavrír que surgiu assim deixa aparecer o pertencintentcr
conttrndência cle ttnr único raio clrrl: "envii'ao httmettt, colllo Llm reL:íprocc) cle, horlerrs e cleuses. A car-rçft«t testenlruha n tiudamento
presente clivino. do seu perlencimeuto recíproco, e1a testenrr.rnhir o Sagrado. "Só
Porque ilenl os hontetrs nenl os deuses pocletl-l consltnlar, a agorii'c1ue piltentes os pensanlentos clo espírito cornu[] é que o
saro
partir de si tnesmos, utna relação itnr:tliata con:r o Sagrailo, os hollletls cirnto agracia a almtr rlo poeta. Ma.s nem sen)pre a lortuna sobrevénr,
precisam dcis deuses, e os (lelestiiris necessitalu dos tnortais: cluanclo urna olrra é realizrrla.

()s cleuses
Assiur caiu, conlo os L)oetas contant, por ela desejerr
lli(, rotlsegtlülti ttttlrl. li (lllL' {'\ tttot Iltis
ver cont os oliros o cleus, o seu raio soLrle ir casa tie Sôlnele,
alcançtim o abisnto tttais cetlo. c cl,r, li'ritlr Ll() Li('ns, l)ariu,
("rVIenrr-rosirr a'l)
lruto da trovoacla, o 13aco sagratlo.

É só pr:rrque os clettses clevenr ser tlettses e os hottiens clevem A curiosidacie o tleus cle urna rrrancira hunranantente
cle ver
ser homens, tal que tlellhLtlts potlern exisl.ir sr:tu <ls ottttos, qr-re hii acleqr-rlda clespcclaçou Sêrnele no ardrlr singular do reiâmpirgo
ilmor enl t:e e1es. NÍerliarrte a rrieiliirçâ«l tlestc' lnlor, cottlttclo, elcs rlesatarlo. A geslante esqueceu o Sagr:rcio. I)ecerlo, nasccu rlaí o
l1unca perteltcenl a si rnesnros, lllas alllL's ao Slgmclo, qtre é para i'ruto, lJaco, o deus cla "r,idcira' rlue
eles a "mctiiação rigortlsa'l a "lei'l Agr-rra, sttbitirtrrettte, o raiti sagrado
atiuge o poeta. NurD á[irno elc é afirrtrurac]o cont a plcnittrcle <livina. 'lesternunha da tcrrt e clo céu, clLriurtlo emlretricla
Assim "atingjdo" elc pocleria se clecidir crronearllur|[e ir aPenils segtlir pelo sol nrais a1to, eleva-se ir partir rio solo escuro...
esla fortunir, perclet-rclo'se tra possessão pelo l)er-rs. Mas isto seria a (t.iltirrro cstroço do "lirrrp.(eloclcs'l)

82 I Explicaçôes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 83


fl-

Mas o f.r:ttto ttão nilsce tl clela, ciir pirrturiente que ardett até as nraneira aiucla nrais clccisivir que antes. Encluanto o inofensivo ag<».a

cjnzas ao concebê-io. Ao contrário, o rlestino cle Sêlltcle ensina qr-re só ó siinplesurente clestilraclo aos filhos da terra ("E por isso bcbcm..i'),

a presençrl do SaCraclo garflnte que o carrto rrcrclacleiramente florcsça. «rs poelas vindouros ("I\4a.s a nós cabe...") são expostos ao perigo
A r.eí'erência ao clestin0 de Sêrnele cotrtaclo por liü'ípides (Ilacant.es) rnais extrclno. Agora clevern erguer-se precisamente oncle o pr<'lprio

cpor C)víclio (Mr:tonutr"foses I1I, 293) estii apenas irnpiícita llo l)oelnâ, Sagratlo, rltis
prepar:rttiricl c nrais inaugnral, se abre. Os poetas
corlto 1111râ réplica. Iiis porqr-re tiu.ribérn o contcço cla cstrole seguinte dcvcl-n abrnclonar iro inrcdiato seu imediatisnto, ao rresnto tempo
(tr sótinra) não se concctou ao fim clir sexta estrofe, trras pilrte tlc'r eln que cmpreenden'I, colltr) larefa única, sel.sua mecliaçãrt. por isso
centro desta: sua cligniclarle e obrigação consistern em pcrrÍril.necer referitlos ttos
rncdiarlores nrais allos. Agorl clue rolllpe o clia, a'iarga <le acltas" rrão
[i iror issr.r bcbcnt f<rgo ccleste agorir cljurinr.riu, t.nirs aunrentou irlé o lirnite do suprortável. Se, tarnbént, o
os fillros (lit l('l rl scn) |cl i8(,. in.rcdiato nunca pnclcr" ser perr-:cbiclo imccliatamente, então <Icrre-sc
rttas a tttis cahe, solt as trovoticiits clo detts, aincla assim'tom a pr(pria tuiur agarrar o raio" n-ierliaclor, e pcrtnanecer
ti poctasl l)crrrlanccer de cabcçli clcscr;berta, sob as "trovoaclas" dcsatar.las pclo inaugurai. Ilor çonhecer a parte que
lhes loca, os poctas fomrnr Llm grupo. "Nós proetas" - estes sáo os
I)c Íàto, o "bebeni' relrolltil ao tleils clo vitrho, mas visa, solitários, os Viuclouros, cios quais Iiôltlerlin anuncia tudo o quc [rá
sobretuclo, a colheita cltt outro Íiúo: a percepção, por piltte doíi para dizer, scn«lo elc mesnro o prirneiro clentre e1es. A tare fa assinaiatla
homens, clo espírito qi]e soprâ na cilllção af<rrlunacla. () que elcs iurs poetas pode ser curnpricla, se o geslo c1e segurar e alcançar ccur
perccbenr ira catrção ri <l entttsiasmo que acorda, a clariclatle qtle arcle: as mãos é perpassado por urr] 'toraçâo puro I "Coraçãti' significa o
"fogo ccleste'l lista exprcssão, clue a partir rlaí é rccorrente no,s I'rinos lugar em quc se concentra a essôncia mais própria rlestes poctas:
("O llenti'v. 100; "Os titãs" v"271) nãr-r significa o rÍrio, nras aquele a tranquilir.lade tlo pertencimcnto ao enlace pelo Sagraclo. "purri'
"fogo' que "irgora se accnclcu na alrna dos poetas" antes do nascinlento ser!)pl e significa para I liilderlin o mesrno que 'briginário': aquilo clue
c1o cauto, isttt ir, o Sagr:ar1o. "Ceieste" se chanla esle ft>go, pois se l)enranece <lecididamente em urna cleterminação inaugural, colno as
transmite por utn "Cehstial'l 'Agora' que "rolrlle o riial "agora" que criarrças. O'toração prrro" não tem aqui unr sentirlo'inoral'l A palavrr
il natureza "ircordou cotn t'rtíclo dc arrnas'] "agorli' qlle "se rcvela o nonrcia a lonna da rclação e a ntaneira <la corrcspondêtrcia ir naturcza
que outrora aconteced', "agora" o Sagraclo pcrtlctr scu tnaior perigo 'ilripreserrlcJl Se <ls poctas pern:altecerelr no interior da oniplcsença
para os Iilhos cla lerra. O abalo do Oaos que não tlÍàrece nenhntn rla "rratureza" pol.entc e hela, errtiio cessará clualquer possibiliclatle <lc
irpoio, o horrtlr diartte do imerliato clue frustra qualclrier imposição scrvir-sc apenas do que lhe á próprio e assinr ecluivocar-sc a respcito cla
er o Sagrado sc translllulam ua suaviclatie da palavra lnetliaclora e lci. Suirs nrãos são "ir.roceutes". Sua íimrcza slrprenla, o c.lizer poético,
Íircilitadora, graças i\ trar:ciuili<iade do PoÇti't quc os atrriga. aprescnla então o aspecto cla 'inrris inoccnte de todas as octLpações'l
Porrque o cilnto que pror,ém rla cltcgaila foi al'orttrnado, os l)o ponto cie vista clo conteúrclo, o verso 62 conclui a sétirtra
"Íilho.s cia terra" e, sobre tuclo, "os poetirs" são ctlncluzi<'los a uma trov;r estrole; nras tantbárn 11«r porrt<l de vista do nír rnero de lersos escolhiclcr
klrrna essencial, toclar.ia de tal modo que as condiçÕes esseuciais prirâ as estrofes. A vírgula postrl por Fiellingr"ath e Zinkemagcl clcpois
talto {os filhos da terra conlo dos p6etas se afastaur mtttuatncntc, cie clc 'iuãos'l rro Íirn clti vcl-su (r2, não coÍrstir do manuscrjto original.

84 | Expiicaçóes da poesia de Hólderlin lÍatin Heidegger I B5


Com o verso 63 começa Lttn ])ensalrlcnto qtle retortra ao dizer sobrcl A expressiro 'it coraç:ão eterno" ocorre trma úrrica vez crn tocla
o Sagraclo, e c1-re irrtroduz. a conclltsãtt clo lloetlra. Iiis porqut-', nti p«resia rle Ilôkierlin. O c1r:i: significa tirmbérn só é clito neste úrnico

texto trünscrito no início cleste cttsaio, Íoi postti Llrll pollto ntl ltm tlir poerlla.
verso 62, cleixaclo por l-Iôlderlirt setn nenhtun sirral tle pontttação. O Sagrado e1, na sua origem, a "lci Íixiil aquela "mecliirçã<r

A sétima estrofe trata tle nnt assttnttl dupltl: o tlonr tllr cançíio, ri1;orosa" em que se encontrc.rrr toclas irs relações etrtret todos os reais.
mediado por clos "Cclestiais'l ciregil aos lilhos dii terra por
uln 'iirrlo é apeliíls porque tbi reuniclo na onipresença do incóltune.'llrclcl
interrnédio do poeta; os próprios poetas, corttuclo, se põe sob lrs está dentro da intensiilarle clo incólurne:
"trovoaelas de Deus'l No entatrto, a invocação clos filhos tla tcrra e dos
'iudo é interrso.
poetas não pclcleria colclrtir il totaiiclâde cleste poenra. I)«lis o t1r-rc lhe é

<lestinado propriamente, e por isso cleve ser tliL,i rla stril c()llsr.lnlaçáo,
o próprio poenla já diz. na terceira estrtlle, (lLre stlstellla toclo o resto:
I,lis colno conlcçir trrn esboço tardio ([V,,3{ll). lirclo ó irpenas
conlilt'rnc brilha a partir da intcnsíclirclc cla onipresenq:r. O Sagrado é ir
Agora, porém, ro,llpe o clial [u cspcriva e via-r' vir, própria inlensirlarle - "o coraçãcil
Cclnlutlo, o ,Sagrad<l "acinra dos rlr:uses" é "rnais velho <1ue os
e o aluÊ vi, o Sagrado, sejir o tnett Vcrbo.
tenrpos'l O quc liri orrtrora, anterior e postcrirlr a tucir,r o mais, ó o r1ue.

A palavra conclusiva deste poemir clcve retornar ao Sagrado. precedeu trrtlo e o incluiu enr si: o rlue inirurgrira, e rieste nrodo o
O poema só faia, além clisso, dos poetas e dtl tl«rrn tla cirnçáo porque (lue perrnallece. SeLl pern-rarleccr é ir etemidacle do elerno. O Sagrailcr

o Sagradcl é o terrclr que altala tuclo e o imecUato. Donile os Íiliros e ir irrteusirlar.le cle outrora, é 'ir coração eteruo". A peru.ranência clo

cla terra necessitam da mediação do Sagrad<l no donr do canto Sagratkr e amerrçarcla peia rnecliação tltre surgiu dele mesmo e que Íoi
inofensivo. Mas precisamente o fât{) r,le o Sagratlo clepetlcler c]e uma pct:rliticlir IJor sLra vinda, por: rncio cla palavra clntarlzr. Nenr secluerr
mediação divinir e pocticà e perntânecer ir salvo uô callto representa, é a palirvrir lrumana a mtiol omeitçâ. Antes, e cie rnodo aincla rnais
para a essênciâ do Sagr:aclo, a allleaça que ele se converta no seu clilacerante, jii o "ririo sagratlo" nranclat-io pelo Pai atneaça trurto
contrário. O imecliato se transfortna em algo rnediaclo. Pclrclue o arraucar rl Sagriido clo seu inrediatisnio, ao inílarnar ir palavra e
canto só clesperta com o acordar dtl Sagratlo, até nle$nlo r-i mecliatlo ofertá-lir errt tcsLenturrho, conto irbandouar o Sagraclo à anitluilirção
brota do próprio irnecliato. [,sta origen-r clo canto, o "rtríckr tle artnas" c1a sua essência, ao fralrspor[á lo para cLentlo do nreciiaclo. l)ois até
'tom" o qual a natLlreza acorcla, é tamhém o âbâlo que desce dtl alto lulesmo r-ro "raio clo Pai'l o Sagraclo tarnbón-r já firi exteriorizaclo para
até a própria profundeza cssencial do Stgraclo. ConÍbnlre o Sagrado clentrtl clo r-nediiido, pois trrlvez até os prdlprios iurortiris cstc,ian'r
se tornil paiavra, sua essênciit nlais íntima vacila. A lei e âlreirçada. ligaclos ao Sagraclo de nroclo apenas ntediaclo. Mas
O Sagrado está sob arneaça cie perder a Íixiclez- Sir
() raio do Pai, o pr.rro, uão o tprcirrrarri
O raio do Pai, o prtro, não o clr"rcimará,
e, fundtrmente abalacio, so{ierrdo tlo rnais ftrrte Não 'ii'qtreimará o coração eterno. "()r,ieinrlr" signiírcir nqui
as dores, o coração etertto cotrtudo fica firtne. o rnesülo que 'cicstruir:", corno na locução alc,rnã se;rgen unl brenne14

86 | Explicações da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger I 87


efil vezcle "niio queirr-r;rrií", ilõlderlin escrcveu rla prilneira vez "t'tãcr clue é tarnbérn nm sofrimento - irradiiurdo-.se, eie ainda l)erlnfll.rece

nrataríl Golpes cle pcntr, renhiclcls e abruptos, trrlçaram as segttirttes


na vercla<ie de stra essência, e assim sofre de r:toclo origilrár.io.
Por<1uc, todavja, o soliinrento que surge do comcço não é nr:nhunr
observaçÕes na margein cle rleutro dos versos conclusivos:
Padecitncnto, mas seurpre e ent sentido próprio a ir:tensidaile qur:
.r\/ esfcra/ que é mais alta <1uc/ rcúne tudo em si, a corupaixàrt tanlpouco tem a forma ilo pesar e
a rlos horttct-ts/ csta é o Dcus. tla nriscricórdia. O solrirnento ó a i:ennanência firme no cotneço.
I)o ponto visla do «:lme5:o, o rebentar e o doar-se não são nunca
cle

(Jacenoqueopoeta.JesejacorrservarPârírsimestllotlestâS Pcrda e anicluilação, r.nas antes e âpenas o começo rnais rnagniÍiccr


palavras cleve signiíicar lleste c:ontcxto: a esfcra ntais alta' o raio «: '.r intensiclade mais irraugural. Âo pennanecer firrne, o Sagraclo

saÍlrac1o, amcoç?, de ttraneira ainda nrais e'ttrellla até tncstno Prcsta-se a sr:r dito. Slra l,rcrnranência, porém, nâo sigr-riÍica rrunca
o

Sagraclo cotn a percla da sua essência. contuclo, estir esí'era é apetlas a nlcr:t drrraçâ«r vazia de ultrâ presentidade, mas é antes a clregacla
,,mais
alta'l não a "aitíssinral Assim, o rlue strrgiu da origem nacia cio começcl. Nada pode ser concebiclo colno anterior ao conteço,

pocle contra ela. Il, por isso fica "Íirme" o "coração ctetno", aitltla oern L:onlo rnais inrtrrg,rrral rluc ele. A pernrlnôncia corno chegada é a
<1ue

"fundarnentc abalaclo': I)ecerto o abalo se fiittila tlirquela prof'untleza inatrgnralidacle clo cor»eço, antes do qual narla é pensável.
a partir cla qrral o Sagraclo "conrpartilha as dorcs de u[ll I)cLrdl
Com<r

soíre o L)eus quc se envia cotilo relâmpago l1o raio sagla<lo? 0 raio N'las o ryue Íica, os poetas o funtlam. (Recordaçiio)7

se chatnir, cotrlirrttte o aP()sto,


"o puro", pois cle conserva a clecisão
de pcrtcncer alr Sagraclcx pois "bens celesles clcvetn, ai:esar cle si Sob vhrios aspectos o 1)oclr1íl permaneceu inconcluso.
Pci-rnauecc in<letcrrnirraclo, principahn€rl.e, por qual conliguração
nteslnos, se| s:tgrartrs" ("siobre o ír-agrncnkr cie Pínclaro A strprcma"'.
Y,, 276.) Esle pertenciflrcnto cr.tnstante, qtte trão é ulr-r sltllplcs r1e concl.rsão o próirrio t I<tldcrlin teria se ricci<lido. Mas a

paclccitl)er-lto, ó <i sofrinrer-rto. O tttOdo cotltrl lliiltlÜ"lin pcllSa


il irrconcludôncia é aqui aPenls a consequência clo transborclarncrrto

essênciâ d() sol'rintenl0, p0réin, se clescucobre clil ulllil alteraçiro


rluc jorra a par:tir <lo corneço nrais íntitno do poer.rta c exige unra
posterior cla versão t.ar,.liâ do hino intilLrlado
"O {-lnir-o" - rtüi hintl rlravc concisa. (fua[qrrcr tentatii,a de inclicar a estrutura da cstrofe
que cleve clizcr-, precisarrente, que cl Deus dos t:ristiros rriio ó o írnico. cottcliisiva p()stulr)atncil[c Poderá ambicionar apellas acrlrclal
acprcles clue poclern ouvir qualé: 'tr Verbci' deste poerna.
Aqui (lV', 379) iiiilcierlin fala cle unr

I)cscrto citcio dc l"ostos, tal que Pr:Ímâllí'cer ctrl it.tocctltc Agoll, porérn, r()n)pc o dial i:lu csperava e vii,r-o vir;

verclade ó ttm sofiimenlo.


Ii o que vi, o Sagrirdo, seja o tneu Verbo.

"lci" 'hgora" - rluiurd«r será este "agora"? Ser:á aquele ponto no


Irorqtre a intcnsiclacle c[t: otttrora, o 1)crlnaltcccr rla
ir:rcrilurnc ó urn sofrimerlto, por isso o cor;rçilo elcrll0 softe clcscle
tenrpo por volta clc 1800 eln que o poema foi escriÍo?'Itldavia,
seu começ0 essencial. .Daí cle 'tontpartilhtrr as ciores tle utlr l)cll-is'l
cotrfclrrle o sagraclo si: olerta na fiurczit clecidiclrt tlo raio . firtneza 7 QtllN'f lit,A, 199't,p.,tt4

88 | Explicaçoes da poesia de l-lõlderlin Martin Fleidegger I 89


i-
ii

o "âgora'nonleia ineqrtivocamellte o pollto ll{) len1po el]1 qlte o


I

A palavra ó o acortecirncnto rlo sagraclo. A poesia de l{Õlricrrin ó

próprio IIôlcle11in cliz: 'Agora, ptirém, r()rnpe o di''r!"' I)ecerto, agora o charnado inaugnral do próprio vinclouro, para qlre o designe

o "agora" nomeia o lempo ,.1c I {Õltlcr}in, e trt-,nhutrt tiittro. i'Jo eI)tiurto, "Sagrndo", e apt:llâs a clc. A palavra hínica ó agora ,,Íbrçacla de santa
a palavra de Flôitierlir, e rnais natla, r1á 0 tom iro scu terlll)o.
() lenrp<r rrcccssidade"; c por que íbrçrda de rrecossiclacle ..santa,,, tambenr

de tlôldertin, a rlgor e acinra de tuckr, é o seu tetnpo. lVlas esle ser-t "s*ntame,te stibria". Isto é'que c'liz urn esboço cio ano de 1g00,
tempo nãO é, precisAlnentc, t) clue tarnbéIl i,lcônteceu tlesta tnest't-tlt intitulado "Canlo clos aleniães":
época, o apenas sinttrltâtreo, elrr setrticlo usttal.
O "agora" nomeiir a chegada do Sagrado. Só crsta chegarla ...então está sentaclo r-ra luncla sombrtr
indicer o "telnpo" cm que há "tcmpo" para a lristóriil se ilelrontar cluantlo sobre a cabeça sussur.ra o ulrneiro,

com cleoisões essenciais. Iiste tcmpo não se dr:ixa tloclnrar ("datar") jr.rnto arl regato que respira fl-escr.rra o poela alernãcr

rrern pocle ser mecliclo eni núnrero de anos or: irrtervalos de secttlos. e ciultir, depois cle Lreber já bastant.e rla água
,.Datas históricas" são apenas uru lio condtttor cstentlitlo sobre o sun{antente sóLrria, escutando lii ao longe nti silêncio

qual os homcns cnliloiram as ocorrências, seguudo os sclls prtiprirls o cântico da alma.e

cálculos. Datas histórieas scrtrprc Llctlpar)l âp(]llas o vcstíbLrlo cln (llsboço n. 111. 11r:, 221;1.)

história, que pctmancce acessivel apellâs à investigaçàp lloT opt:iu)'


Estc "1ristórico", porém, tiltnca é a própria história. A [risttiria ó rara' A
"l'uncia sor:rtrri' resgât.r a palavr:a poética da claridacle
excessiva clo "ítlgo do céri'l O "regato <pre respira li-escura'protege
Quando a essônoia cJa vercladc é docidicl.r ile rnarieirl inaugural,

então liá história.8 a palirvra poc(iica clo arrlclr excessivarnente potente clo "fitgo clo
Ao aclvir o Sagrirclo "rnais velho que os tt:trtpos" c "acitna dos céu'l ,r\ irescura e penurnbra cia sobriedade i:orrespondenr ao
cleuses" lunda urn otrtro conreço dc unrit otttra história. O Sagr:ado sagrado. Esta sclbrieii.cle rriro ,ega o entusiasrr.r.. A sobriedatle é <l
tlecicle de nrodo inaugural e de antemão sobre os deuscs e os hometls alinarnentr r lundamental [ ( ]ru n d s t i n rnr ung], pronta a torlo rnomen to,

se são, quem, c(»1]o e quanclo são. Ao r.'ir, o villdtltlro é cnnnciadrl cla clisponibilidacle para o Sagrado.
-
meciiante o chamaclo. C) vcrbo tlc lrlriiclcrlin e agora, a começrar por A palavri,i cle I{ólderlin tiiz o Sirgracll, e tleste rloclo norneia
o
cste pocma, r-r verbcl clue c:hatt'tit. A palavra dr; Fltllclcrlin e agora espaç() de tcmpo cla clecisão irrar.rgural parir a estruturação essencial

"hino" em Lrllt sentiilo recórn-currltaclo e singttlar. 'lratluz'itttos, dii lristtiria vindoura clos derrses c clrrs hunrauir{ades.
habitualrrtente, a palavra grega bptulÍv por "lotlvar" ç "cclehrar"' Aincla lão ouvida, esla ;ralavra estli salvagui.rrtlada na língtra
Temos eirt vista, corn isso, um csn[ar, óbrio do palavtas, sobte irlgo ocicÍental clos alenries.
ou para algnem. Agora, porétn, a palavra poélica c o dizer firntlador.
Apalavra clestc canto já uão e rnais unl "hino a" algo, tlr:ttt tttn "tlitto
aos poetas" e lnenos aitrtla ttnr lrino "à" natttl'cza, rtias o hirto "dtl"
sagrado. o sagrarlo ol'erta a palavra e vcrn ele mcsmo tresta palavra.

8 O hino de f]ôlderlin 'Assirn (rrrno cnr clia santo..ll I " etl 1tlrll; la5 ,\g.yn st:lbsl. 9 (.ltlINl lifA, *)t)'/, çt. 37 t, rnodilica<la

90 | Explicaçoes da poesia de Hólderlin Martin l{eidegger | 9l


I
RüCOfi,pAÇÃO

O poerna "Recordação" (fV Ot ss.) apar:ecer.r pcia prirueira


vez 1)o ano cle i80,3, no Almanaqae des Mu.sqs <ie secl<enclor:Í.r
Provavclrnente, lbi compristo por voita de 1g03-1g04. Só a últjnra
e.strofe é co,l-recida ern fornra de manuscrito. Ela se
encortril na
prir,cira das folhas tl. in-fólio quc c.ntém o projero de prerna
Ilrrvial que Norberi von ÍIelli,grath, corn boas razôes, intitulou
"C) Istro" (IV, 22t) ss., 300 ss., 367). To,cpoç é o norne grego
parÍl
o cllrso iilferior clo rio quc, seguifido os gre[íos] os ronlarlos
chamararn "lstro'l O ctrrso supe rior, porém, eles chamararr
"Danúrbiri' (Pí,daro, olímpica III e tradução parciar de I{ôlclcrli,
V, 13-14). O hino ao Istro diz poeticarnente a essência fluvial
cl. rio que, no se, crlrso superi«rr, torna cultivável a iocalitlacle
crn que o poeta nasceu. Il,ste rio se contrapõe ao 1leno, ern cuja
proxinridade "lannus (I"{onrburg<1, Frankfurt) dcclara-se
a. un.ra
essôncia autóctone (a elegia "O peregrino'l IV 102 ss.). perto rla
nascenle, no scu curso superior, o Danúbio corre entre os rochedos
cle nrodo lrcsitante. suas iiguas escuras se <le[êm e até reÍluern, ern
reclernoinhos. ti cluase coilx) se o rio cujas coÍrentcs o arrastam cle
volta i\ nascente Íluíssem a partir <1o lugar em que o rio clesernLroca
no mar estrangeiro. li quase coÍno se o rio que, ao chamar-se istfir,
pertence à terril lris111.l estrangeira, estivesse presente no Dalúliig
superior. sobre este, bein conro seu vale rochclso e floresta<io. diz
l-Iôlrlerlin poeticarnente ("O Istro'l Iy, 220):

, qilrrú-;;r de "r{r:corrlaSiui' frri rror]iÍicado de acorclo coin a lcitura proposra por ri


lleissrrrr (N. tlo Â.)

Martin Heidegger | 93
A este chamarn o Istro. ain.la nre lentbra bern c corlo

bela rnorada é a sttir.


2 irrcIiurt os largos cr-rrues
o bosque rlos olltos, por sobre o nroinho,
r)o piítio, contuclo, crcsce uÍllil figueira.
O rio nativo nos é acessivel por meio cle rtni Il(l'lDC estrlrnho'
ern tlias de lesta vào
O rio abriga o enigma da orig,em cle sua essência fltrvial a ser dita
p0cticamente (I\', 221 ):
es rnLrlhercs nrorenas prrl tli
r:nr chão cle seila,
no ntês tlc, nr,rrço,
Mas este Parece qitiise
rluarrrlo a noitc e igrral ixr clirr,
correr para trtis e
e por sobre rts atalhos vagilr()sos,
ctr,1rrlgo qttc devc vir
clo Oriente. I-)esadas cle sonhos dourarlos,
pirssnlri l>risas ernbalatlitrirs.
muito haveria
a clizer disto.3
Mas rlre rne rlê.
cht.:iil rle csctrrtt,
O poerna "lleL:orclaçâo" diz algo clisto. llis porqlle Íili escritti,
lrrz-

:tlgttern il litçil r'll('jr'r)\Ll.


provavehliente, sobre as meslnas 1iílras e na l.nesflta época'
(lrie e u possil reporislu"; pois tioce
scritt entrc sotttbras o sono.
O Nortleste sopra,
Não ó porcnr tronr
o mais qr-rerido elttre <ls ventos
\cnr itlt))ir esÍiu tlr. trrt,riltiS
prar rtim, pois Prornete fogoso
Pensarre Í1tos. lvlas é l>orn
espírito c boa viagent aos nilvegantes.
cortvclsll e dizer
Vai, por'ém, agora e saúda
a opinião clo coração, ouvir nnLiLtr
o belo Garona, lr

I
tle tlias dc rmor,
e os jarciil-rs de ltlorclérrs
l
e dc açites (lue acotlteccnl"
ali oncle na margenl escalPacla ii

seglte o atallru c lritLil o Lio I

I
l
Mas ondc estão t.rs anrigos? Rclarrnino
lá baixo cai o regato, ct'l(lLl.tlll() úlll Lilnil
I
c()lll o cóllprlrihcir-o?,\,htitos
con[etlplit um nol.»re Par ll

tóttt p11i1,11 tlt' it à nrricc,rtlc;


cle carvalhos e cüouptls al gênteos; I

I
pois é no rnar quc c()nlc:çir
il
a rír1"reza. lrles,
( ()lllO I)int()r('\, ;tjUrrlltrrr
il
o belo r-la'l'ernr c lão rlcscienham
2 OillN lTlI-A, 1997, p.415
I a gllerru alacla, c
3 Ibiclem.
I

94 | Explicaçóes da poesia de Hólderlin I Martin Heidegger | 95


li

li
l'-

enr relato de viageur, aluclc "enr prosa"? Segunclo gsln çrp.inião con-entc,
Ínorar so]itários, âllos a íio, sotr
o poema tern ull direito lcgítimo e evidente a levar seu título.
o nlastro scnr fblhas, otlde llão iiurninatn a noite
os rliirs tle Í'esta ila cicitlcle, No cntanb, supondo que o 'tonteúclo" do poenla nãcl seja a

ncnr a Jira netn a rlançil Ilativa. mesnta coisa rluc o que, de modo enrinenle, é poernatizado l:o poeÍna,
e suponclo também clue o título do poema norneie o poematizaclo pela
Mas agorn ftrrirtn para as Ínclias su.r poesia, c nào os contcúrlos que tambénr ocorrelir irí, entáo ]loss()s

os httt.netls, conrentários sobrc a palavra iroética, ao aferrar-se pressurosarnente


ali no cunte arcjatlcl ao "assunto", concluzenr ao erro. A mesma busca de "conteúclo" nos
junto aos vinherlos, ondc lcva ao errri de tomar as cartas rnencionaclas como sirnpies "fontes"
dcscc o l)ordotthir I)arir a Lriografia de lliilclerlin. llm vez disso, clevemos perceber na
e juntantente cotn o soberbcr letra cla carta um dizer clue possui ulna forma própria e que não é
Garotra larqo conto 11n1 filâr lnenos dccisivo - mrrilo Pelo contrário * ao rlontear, de uma ontra
o rio acerl;a. I\4as o nlat- tira rnanc:ira, o que é poético no p()cma. Na segunda carta, Ilõlclcrlirr
e clá tlctrtória, cs.reve que a hurnanidade clo Sul da iirança o íizeram conhecer
c () illttor tatnbelrr l,rcllcle cliligcntcs olltares' mais dc frerto r: essôncia pr<ipria clos gregos. A permanência sob o
l\Ias ti <1ttcr fica, os poetas tl fitltdanl'a c«irrsulista e o elerncnto estranho ao poeta eltcerrír ern si, clc saída
c clirí por diante, uma verdacle superior:: o "pensaurentri' fderilcen]
otítulo..Recor<lação,parecesignilrcaralgoclaro.C]tlrrtudo, clo poctrr "no" [rrrr] país dos gregos. Ilsta "recordaçãri' lAndenkenl
21lrós a prin)eira auclição a pirlavra iá percleu sua
stlposta tttlivo(:ic1aclc.
rrão encontra sua origent cssençial na estarla l'raucesa reiatatla; pois cl
inlagem
À primcira vista, o título pocle significar qtle o poenla é' çom«r um traço básico do poentatizar deste poeta, já que a peregrinaçâo ao
iill'ligos
verltal feliz., urn minro em sinal de "recorclaçãd" detlicaclo aos cxtcrior lhe ó essencial par:a chegar em casa segundo a própria lei cltr
observa-se tamlrérrl
em vista <le "vivôncias" anteriores. l)istraidanlerltc, seu cilnto p«rético. A peregrinação poética ao estrangeiro tânlporlce
que se trata de urn rloltuttlelllo verbal à estadiil de ljôk'lerlin n() "Sul
[enrina cont ir parti<la pi]ra o país do Sul. O corneço da estrcfe final
Françal As ciuas carlírs ao anligo Biihlendorf - a primcira dc
quirtrcr
<la cle "ltc:corclação" aponta alem cla Grécia, na direção clo Oriente, até
cie clezembro cle 1801, escrit:l logo apírs a pírrtida
parir llor<léris (V :tg "Írrdias'l O canto <iestc Poclna pensa previarlente nestas distâncias
as
ss.) e a segunda, cle <lois de clezcmbro de 1802, âlgunl tcmpo
tleiioi's
rernolas. A primeira cslrole clo hino ao Istro já o sinaliza:
da volta à casa cla máe (V 327 ss.) -, nos dão uln rclato
inequívocrr
"firtrtes" cotno Íi«r condutor,
sobre o ircontccido. se nós, tornauclo estas À4as nris ciuttÍunos, vinclos do lndo
buscir ao'tonteúclo'rlo poemâ nas lembratrr;as rla cstada
cie
derrnos lii ao longc,
Hôlrlcrlin na }:'rança, eÍlcontraremos nruiltt' O <1ue clecerttl estii ntais e do AIÍ'er.r,.-.r;
"liric;i' a«l
à rnão c1o que a informação de que () poell')ir clá uuril ftrrnla
lnesü]o conteítdo a que a segLlnda carta a Bôhlendorf. ir() sc c()illi8)urirl'

5 QLrIN'lIlL,\, t9e'7, l'. 414.


; rfuti'rtEI-À rr'r, p. 412'414,motliÍicada.

Martin l-leidegger | 97
96 | Explicações da poesia de Hólderlin
,.recorclaçãci' já é unl cllt rcctl(), elltio f)(jllsll
perrsallle nto clistinto da conÍirlrnação poélica das lenrbranças ile viirgem do
sc
nos rios clos inclilnos e clos gregos. À,Ías "recorclar" é apenas pellsar preceptor Ilôlclerlin.
enr rccu<t? A lernbranq:,r r.l<l que L-)assorr se tlepara cotl} O irreversível.
ljsle já não permite nenllLnr tluestionat-ucllto. AssiÍ1t, "rectirtlur" O Nordeste sopra,

preservt't o que passou, estltrivancio-se a cltlaltltter intlagação' Mas o o nrais cluerirlo orrtre os ventos
pra nrirn, pois pronrete lbgoso
poelna "ReCor:ciaçãii' qtrestionl. [lrgLre-sc, l1o setl Cetitrtl, l1o L]()Illeço
espírito e botr viaqclu i«rs navcganles.
cltr cluarta estrofe, a pergtttrta:

NIas oncle estão os anigtrs-( C) Norcleste é o venllr (r:nr vuiante clcl ctialeto suábio: iler ItJ'.,"o
ar") clue desanuvia 'b ar" (o F,Ler, die Luft) da piitrizr do poet.1 e abre lar go

O chamaclo aos anligos niio é un] cismilr aí'erraclo ao iritssirclo a esp.lço para a Sereniclacle. O Norcleste lirnpa o céu. Abre un'ra triiha livre

respeiio clo clur: procieria ter lhes acorttecido. A Pelgttt1ta reíletc sobre e íresca pírra os laios e o luzir: do sol (pirra'il fr.,go clo céu"). A clariclacie

o lugar para oncle Í'oraru os aurigtrs, se caminharat-rl até a nilscente, e pelletrante desle vento traz a transpirrência inconsptrrcada cle tocias

como foi.'I'trl questionanrento p0tlc se clramar "recort[açã«i'? coruo as coisas .lo ill em uue tricJo o clue vive e, sobretr.rclo, que os íilhos cla
un1 perlsar relrosprectivr:, "líric<i' e retnetrorativo :l 'I'erra respirarn, 0 Norcleste arcjtr a attnosfcra, ilo tnesmo temp() em
se explica eir
sentençâ cr,tlminante <leste poer' a? cprelhe dtí estabilidadc, e firz arrradurecer a estação livre de név<>as.
"Este venki' (dieser Luft) santtfrca o "ar sirgraclo, irmão do espírito,
Mas o qr.re Íicir, os poetrs o lirttilam. qtre lôgosarnente potentc rege e vive ent nós" (ÍIipérion, t. I, 1. 2, II,
147), O Nordeste aponta parer alérn do país nativo e conduz além
0 poeta "pensa" arlui rro passatlo, llo qtle perllliinecr dele, nunra clireção irnica, a clo cér-r sucloeste e seu "fogtil Quern se
apenrs coll1o L1Ín rersíduo? Para c1ue, então, irin<la urna firnclaçtio? cletem nas terras clo Sul recebe do I'Iordeste a nlensagenl de frescor e

A lunrlação nâo "pensa' ântes "nti' vinciour()? Ilttlãtl "rr:cot'c1ar" clareza penetrantes da pátria. IJrn I}agrnento (Ileliingrath n. 24, IV,
seria,'pensar enr", mas r1c r]lotlo tal â pensar uo vindottro. Sttptlndo 256 251') riomeia'bs eslonrinhos que, no pais clas oiiveiras, cultivarn
clue esta "I{ecorclaçlo" pense ac{iar.rte, então o pensatlelrtcl en] a inteligência. ll a pátria clue erles pressentem,..i'
recuo tampouco porle pellsar em um "pretérito" qrte classiÍ'icatl'rrls
apeltas colno irreversíve[. Perrsar no vitrclottro sti é possível Mas quanclo
COmO reCorcltrçãCl cle Utl passatl,l qtle ConlPt'deutlerttos cOtllo tlm o ar abre se u carlinho
presente quc ainda vige a distància, ao crlntráritl de utll sirrples e niais o Nordeste, sopninclo cortante,

pretérilo. o que é, então, este recordar ambíguo? o pcietir respolrcie aguça-lhes o olhar, levurtaur vôo,

i\ nossu pergulltlr cot]Íirrme cliz poeticirfilerlte it essência cleste


rccorclar. A verclacle poética ciestl essência é o pgeritatizado 3o O Nordeste chama as aves de arribação a prartir clo estrangeiro
,,Recorclrrção". Scr.r títulr.r signif icrr que irtltri se proetnatizl cle .rolta
a\ pátria, para qLre elas, ubrinclo mais os olhos, perceballl o que
pocnra
a essência dcl pensameilt() p<léliccl clos poetas vinciottros. Li algo é seu próprio, e cuiclem dele. O venro sopra..Diz-su. e-rrloquiullnente

98 | Expiicações da poesia de Hõlderlin Martin Heidegger | 99


fl.

o venlo vai. Ao "ir", todavia, ele não clcsaparece; ao


tan"rirélrt:
I
os ,avegarrtes siro .s poetas vi,do,ros da Ger,râria. tiles
I

contrtíti0, a "icl:l'<1o vento é o sett modo cle peilIanecer' Ii'lc dizem o


Sagr:ado. Illes devcn:r, portanto, conhecer o céu e se
sir permancce encluanto "vai'l "C Norcleste sopral' Está aí unra acos[urnar a se oricntar por ele. A estes "navegantes,, o Nordeste
declar:ação quc constata algo a respeito do tentpo?
(ltitno r.tlrl Poellla nrosl.rir antecipadanrente o hrgar de origerl do "reiuo arclente clo
pocleriil comcçar clc Íilrma tiro "prosaici'? A sentença é dcccrto uma lirgo clo céu" ("Os litãs'l IV 2OB-209) e prepara-lhes ir l;cnção <ia

descriçâr "poóticai' cla "natnreza', Iaivez taurtrém a rnolclul:il 1;ic1órica prrrtitla nrarílirna par:1 o estrangciro. A experiêrrcia <1o logo r1o céu nir
par.r "pensalnenl.<.rs" posteriores. Ou talvez o verrso conÍjrnrc, arr tÉrrra es[rar)geira é irrorneti<la pelo Nor<leste. Este rre nto 'Hrar.i' os

inlcrromper rirn silêncio encober[o, qüe unla clecjsão inlrochrziu a por:tas a encontrar-se no clestino clil sua essênciir histór'ica. prx.quc o

l.ortuna? () vcrso não soa cont() urn agradecimento? Não clevetnos nos Norclcstc fnz cia preservação clcste destino uma dádiva, ele é a verclatle

anlcciPar ao coÍneço rleste poenia, e peltsar etn tttll loflgo prclúclio, da vrxrtacle esse,cial cu.oberta dcstcs poetas. Neste poerna, semprc

pítra que ouçâlltos crlrretl-anrcnte o começo POr cste vcrso? O N«lrtleste que iltilcierlin cliz "eu" e "pilra mim'l ele fala con-ro urn destes poetiis.

é sautlaclo: "() trrais qtrelitlo entre <ls ventos / Pra min.r,'.l'Por que, Isto niro vaie aPe,as para âs ocorrê.cias de "pronomes pess'ais,, enr
enlre to<los os ()utros,0 Norcleste é o ven[<l hotuenagcatlo? Ondc riualcluer <Lrs pocnras de l-iôklcrlin, porquc. csta "recordaçiro,,
1.;crrsa
()trerrt a partir da clcstinaçiro essent:itl desle poeta, avança daí ent vez cle
cstri lqr"rele (lue quer e ama este vcnto mais clo cluc os outros?
yollar,se para trás, pârír sllas "vivências pessoais'l  predileção dcstc
Íàla aqui? O prriprio l{Õlclerlin. Mas qucur é, aqui e agora, tlÔlderlirr
em si ntesrno? [i aquele cuja essênciil foi prce[chicia pcla "votttarle" poeta pelo Nordcstc saúda ueste vcnto a irrgtalação clo cspaço de
que 0 ve Ítto scja tln ntaneira coÍto ó. O assirn recoihicio na volrtade te,rpo enr «1ue a vont^de essencial será a,ontadc'clos" vinclouros.
essenr:iai de uni si nrcsrno ó o l-Ilais rlucrickt e amtclo. 0 Nor"deste ó
"Contudo, aí vcrn o que rluero" (fragmento n. 25, I\,,, 257.) "euerer,,
o venlo nrais quericio, "ptlis promete ftrgoso / Ilspírilo e boa vingetrl nirl si;,,,,,,,,,,,,,,,,;.ifica aclui de morio irlgunr a compuisão urovicla pelo cgoísnro

acls navcgan{.es." côtrchti a just.iftcativa cli-r prcrlileção


A palirvra c1u.e tle um ciescjo aritocentrilclo e cirlculista. A vontade é a clisponibilidaclc

peio Norcleste invoca'trs navegantes'l A eles, e sol'llcnte a cles. reÍcre- Iúcida para o pertencinrento ao cicstino. I.,sta vontade sír quer o quc
se à quarta estrofe Co poetna. A quinta estrofe fala rios hotnens t1ue, :rcivém, por(pre o vinrlou«r já compromeleu esle querer com unt
sirinclo do rio "iargo como um nrar", "foralri pâra as Ínclias'l "Os sabcr c o cr>rrclanta a l)erl]lauecer exposto ao vcnto da promessa.
navcgilntcs" sio novantente rnencionarlos, prccisalnctrtc na estr()fe Na prcdilcção pelo Nortle.stc rcg,e o amor pela experiência do ,'[crgo
quc: tcnnina com a referêltcia aos "poetas'l Scria, para Ili)lcieriin, <l <1. cérr" no estrangeiro. A lci essencial c1o destino é o arnor ao não

r]c»trc "os navegatrtes" o sitrôtlitno essencial pilra 'irs poetas"? iirn làrniliar cujo propósito é cstabelecer resiciê*cia no lugar err qre o
unr esltoçO CornparccelIt Os seguintes versos, clescotrcctados c aincla. prríPrio es1á. Mecliante tal lei, o poeta é destinado a ftrndar a histtiria

assitt r-cleridos tlt'ls ilos outl"oÍi (fragn-retrto n. 1, i\2, 2-]7): tlo "país *atal'l Ft<ilcierli, cleclara seu saber decicljdo a respcito <icsta
lei r.ra'trrta" quc cnvia tro anigo rnttes da particia para o Sui cla t;rança
Assirn peregrinâ o tcnlpo de i)etts acitrta (v, lle-320):
rnas teu catrto sagtatlo
e buscas, ii p1lb1e navegante, o habitatlo Nh<la nos ó niais dillcil de:rprcndcr tlo que o uso livr.e clo
olha para as cstrclas nrrr:ional. E, couro creio, exatamentc a clarcza cla exibiçiio é-rros

100 | Explicações di.r poesia de Hôlderlin Martin Heidegger I l0l


r-
ll

originariamente tão rlatul'al cotno o Íbgo clo cétt era Pirra os grdlÀos. a preparação ile nrolclLrriis e lârriinas, a clivisão c a classiÍiolçiio.
[...] Porém, o .]tle nos é próprio tetu cie ser aprettditlrt, [ão [rern crttrlrr Ilá mtrito tenrpo c;ue o nalLrr';r[ aos alen.rãcs .jri tleixou cic scr
o que nos é cstranho. Por isso nos são os gregos irrdispensáveis. Só lrropriarnernle o qltc llres ó próprio, uma vez que a capacidaclo de
que lhes não devemos seguir as pisadas exirtâlnellte llo (lllc llos ó aplcensão niro sc vô prcniida ncnl Í) aproencler o inaprcensível,
próprio, no naciontil nosso; pois qltc, cotl1o jii ciisse, o titte é rrtais ncnr de, urna vez confiontada ooln Lrsto, proporoionar a si lltesr-na
.ljl'ieil.1 o /llr,'uso Llo proltrirt." Lima íbnna dc contenção. O cpre cleve vir ao errcnntro dos alcntães,
cnriuanto o cstranho dcvc ser cxperintentado no estrangeir.o é o
Eis n lei cla domiciliação poólica no ptóprio, a partir dil "Íogo clo çéu". Na urgênciu da pcrplcxidado r,lespcr.l.ada por. este,
travessia poótica da estranheza n(t eslrangeiro. 0 prclprio aos grcgos e eles stio lequisitados a se apropriar rJo sen próprio e a usá-lo
o "fogo do céu". São-lhes nativos alü?.e o ardor qLle ihes garanl.cm a adecprarlamentc. llis po[ciuc, lta epoca clos alenrãcs, a "tenclôncia
chegacla e a proxiÍniclade dos deuses. Mas no c{)mt:ço de sua história principal" devt: ser, sÇgLrndo a scntenç:a clo poela, "ser capaz cle
elcs precisamente aincla não estão à votrtiicie oonl este Íogtl. l)ara se crrcontrar aigo com precisão, ter 'jeilo' para o clestino lGeschik
apropriar deste próprio, pr€cisam atravessar cl que lhes é ostranho. zu hobenl, pois a ausência do ticstino ltlas ,Sr:hiksactllosel, <.: 6ít
Trata-se da "clareza da exibiçâo". l)evern ser srlrprecnilidtls c olt.Opoy, é a nossa fiaclueza." Esta obscrvação st; encontrzl l.lils
captLlrados por ela, para que os ajude a contluzir o Íilgll pcla prirttcira considerações clue Flijlclcrlin aclescentoLr ii sua tr.aclução da
vez ao brilho claro da clarielade estrutltrada. A travossia clo que ltres .ltrtí{tntr (V. l5X t.
ó estranho -' o pocler apreender-se friatrrcn{.e translirrma-lhes o O "naturzri" a Ltrn povo histórioo só é, porlanlo, natureza
seLl próprio, pela primeira vez, em proprierlacle. A partir do rigor: vcrclaclcira, isl.o e, solo essenoial, sc o natural e translirrrnudcl rro
da sua apreensão poétioa, pensante e irnagética, conseguem ir ao histórico de Lrnta história. Para isso, é prcciso qrie a hislória de trnr
encontro dos deuses en1 uma presenÇa clara e estruttlra(la. Eslc e llovo sc t;ficontre no scu próprio c habitc aí. Mas coltlo habita o
â sua fullclação e construção c1a nól"tq como lugar r:sse:noial da hotrrenr sobre esta'1'erra? No "l}n amcno a't-ll...", urn poerna tardio,
história, deteminado pelo Sagrado. A'nÓÀrç dotertnina "o político". de provcniência obscura, e ainda assinr irnpensável quanto à sr-ra

Ilor sçr uma oonsequência, o político nunca pode decidir notu stlbre verdirde senr o au.rílio do espírito vigilantc de I-lillderlin, onool'ltra-sc
ser-r próprio ftlndarnento, uetlt sobre a prtipria ttbXt.ç netn solrre o a se ntençtr (VI, 24-2.5):
funclatnento dcsta. A l'raqtteza tlcls gregos oonsiste enr ttão conseguir,
diantc do cxÇesso «lo destino c tlas suas destinações, lnallter o (lheio dc rnérito, conturlo
iroe ticanrcnte habitir
controle destes. Sua grandeza cottsistcr en1 [er aprendirlo o que lhos c o hornent esta l-cr-rir.
estranho o arttocontrole.
Conludo, o "natural" aos alcnrãcs e, ao contrário, ir "clarcza Os rrelsos contênr urnir rcsti'içào ao (luc Íoi concecliclo antes.
da exibição". Arrebatam-nos a capacidade tlc: crlntÍ»'cender, a "Clreio cle merito'l c1e lal.o, é o ]r«»ueur, quarrclo setL agir cria olrras.
prefiguração cle pro.icÍos, a corrslruçã«l dc andaintes e cercaduras, In-rcnsurável é o que o hornertr executa e por ureio rie que se arranjii na
tcrra, conforrtre a trabalhrt e exilr..rrc, servinrlo-se clela para se abrigar,
para Íi)merliar suas realizações e obterur.na situação segura. "(--«lntrrr[o"
6 Q Ul N' lnl.A, 1997, 1t. 7 6'1
-7 68, nxrrlilicatla.

102 | Explicações da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 103


r

- será que tuclcl isso já é o habitar eri que o hornenr pode l'azer llotlso, c) espírito é a vr,tilcle lúcicla que concebe cacia coisil clue possa vir a
Íicanclo ii vontacle no que aí hai rle ver<Jacleiftl? 'lbcla rcirlização e obra, se torllar real e scr c.ln<l irlgt'r iluc acedeu à verdacle cla sua essência.
construção e cultirro fiermanecejll i;eucl<l 'ttrltr-rra'l Íi senlpr:e apellas o espírito pensa a realiclade qr.re advé,r a tudo q*e é real a partir clar
e já a consecluência de um haiti|cr. Mas este é
"poético'] No etltirtllo, ruriclaclc dc sua essência. O espírito é a r«rntadc lúcirla «1a origem.

couto, de oncle proví:m o poetico? Será algo procluzi<Io i:elos poctas? O cspir:ito é, crxno espírilo cle torles, o espírito. .,Os pensamentos cio
Otr serã<t os poetas e o yroéticr-r a carlâ vcz cietcÜninados pela poesia? i'spírilo cornuni' L)crlsirm a rcalidacle do real, antecipar.rdo-se a este.
Mas qual é a essência tla poesia? Qtrenr a deterrlirtâ? Ijstir essêlrcia z\ rcalid.<le é cornputacla pclo real corno algo irreal que, prr;jetado
pode ser recolhida a partir clos vhrios méril"os lrun[rttos ucsta'I'crra? prcvianrente efi sua vcrdacle sohre a real.idacle, nela se consolida.
Parece que sim, pois a opirlião da Tt1ade Moclertra corlt:r o pocta Assinr se crursolidantlo, a Pr(lpria realiclacie irreal das çoisas reais
entre os prtlclutores criadores, e colllpllta errotletlrltcnte a pocsia sc lonra ci prirueil. assunto a Íier poematizado. os pensanrenl"os
eltre as realizaçí:es culturais. Se, prtrén, cle acortio colll () versç rltr clo espírit«r conll-nn são poóticos. euando "o espírito,l porvcnlura,
pneta, o poético se cttntrapõe a todo "mórito'l e r-rão «:ai soh ir rtrbricrt qucr sc tornar 'b cspíritri' cl;r história cie uma huruanidacle na .I.erra,
clos préstimos hurnatros, c se tamportco é algo prcsellie à mão enr os pcllsalrentos roéticos clo espírito devem se rcunir e cor)surllaf
quaiqr.rer: canto, ci,ttto os hornctrs clevetn expcril1rcntii'.lo etitãq, para nir alina rlo 1.,oeta, conforine este aponta acima da terra, na <iirer;ão
irabitar etn slia lei essenciai? Qucnr t-uais, seuilo o lrocta, potlc p<:nsar rlo cóu, e por ilicio clc tais sinais deixa pela prinreira vez que r tcrra
na cssônçia r1a poesia? Portanlo, devc har.crr poctas «;tte cxibanr Por.' ilpare!:a lro selr óter Poético. Entusiasmacla pelo espírito poético, a
si nresrnos o "poético" e o Íindanlentelll, conlo n lirtrdarne-nto clo alnra <1o iroela é vivificarrte, porque ele nonreia o funtlamento poético
habitar. Ilm prol clesta fuudamcntiição, eslr:s poetirs clcvcm habitar ckr rcal e o lev. até srra'essência" rnecliante sua in<iicação elo rlue
poeticarnente, eles rnesmos e dc saícla. Onclc cles pocler}t perttratleccr? scja a rcaliclade. o erspír'itr; poélico fundamenta, por intcrméclio do
Como o espírito poético encontril stia pátria, e onile ela Íi<-a? "auirnaclor", o habitar poético d.s filh.s da'Ierra. O próprio .,espíriro,,
cle'c, portanto, irabitar cle saída o solo fundante. o habitar poétir:o
Ii que o cspírito r-rão csl-á elll câsa tlos p.ctas lrrececlc o habitar poético ilos homens. por isso, o espirit*
r)em no ittício, nem tla nitst:ctl(c. A pritria o cspre ita. iroético, corno tai, cstará "ern casa" clesde a origeni. A árvore tarlbérn
t) espír'ito anra a co'lôuia, e o coritjoso r:stluecitrtt'trlo' se r:nraízir no solo, scrrr abandon;i-lo, clcsrlc o rnonrcnto en) que
Nossas ílot'cs c as sonibras tic nossas Ílctlcslrts alcgt:rrrt
o soliirlo. (]uase «ltre o lrnitnlclor rrrict't' scr titrivarla tlo priLtcipi<t cla srrlrjetividacle irrconclicionada ria mctatlsica ak:raã rlo alrsojuto
de Schellirrg e Ilelyl, senunclo ctriâ (loutrina o esltr-em si mcsnto cLt cspíriro o i[rpelq
para
o tct()rl(l a si ntcsmo e estc, poÍ suâ vez, exiile que o espírjto pros.siga adiante pôra Írrra rle
Il,stes versos pej:tencetu a rttn esboço tartlio tla r:stroí'e fiiral cla si tncsttto, r lanrbl:nr cnt <1rrc tiretlirll o recltfr^o à metalísicr, Jllfsilo qltc ar.erigrie correlaçi,c5
"lrisloricnnrcnte corrctrs'l conlribui rnais para esclarecer ou mais parir obscurc«r a
eicgia "C) pão e o vinho""7 Notrieiatn 'ir erspírito" e "o rtnimitclrr". lci 1roéticr,
Àlctrt tiiss,r. ca[rc,,irscrvar que a qlrestão clrr "viratla ocirleDral" dc Ilijldcrliit, fre<liierrlenrerrte
alrotrlutl:r oos csludos robÍ(' esle arrlor (se elc se interessa
fclo Ct istjanisslo porquerlh as costas
à í irécia ot, 9e tuoriiílça sttr alrrirtirgqlq de arrrhos), é peosa(lil clç tirrlia ailtla 11uit9
csircila
7 Irrierlrichli<'i."ncrrlt'scobriucstcsvelsosainrirnrio.li'.,ulgr,los1,or llcllirg,rrllrt'ttslxtblictrtt L(»no (lrrcsti](), ( l)clrlr.ncce tlcltcttdetrle tlr alivirlacic crtiinsccí ile prrblicirçirc. "histririt.as'l
pela prilreira vcz er)r seu irupor lanlc esi:ri{o')\s trarltrqires <1e iliil(lcllill a Partir (lÍ) Sirgdl 1c)-13, I\ris I liilrlcr lj n tlct cl lo rlrrrli,rr. lns rrâo tlc nrrno. r\o murlar, cn( oittrou
Pela ;trilteira vez o rlue
p. l,U. lleis-§rct lanrllór1 rccorrll:çcu o signiíicatlo (1c(1es veÍ.cos para a cxplir:rr;io rla tlllcslãtr Ílte et t prliprio c a rluc serttf.rc se rletlicar r. (}rrI esta ntrtcla[ça sc trartslorrna, tle
ponta ,r p9rr1n,
ila relaçã,r dc Iliiltlcrlirt r:orn "l IesPória c (irór:ja'l ()rre seja rPettas srtl,ttrelirlt, à rellexrrr o saltcr tla verclatle da Itclenirlatle c tlr crislaldadc e "do Orictrte". Cadtrcar,, o, ."tu, jp,,.".
lei 1:oetir:arrrerlte errrtrciada ttcstes verstls srtllte a Jtis(rrricirlaLJe lrx1c IrabilLralrrrerrtc crnprcgrrckrs na cou.sirleroçiro lrislórica. (N. do A.) ", "
l)oslctior eDl quc lnccli<lr a

I04 | Explicações da poesia de l-{ôlderlin Martin Heidegger I I05


corneça a crescer. Na ruaioria dtls casos, o iuritttal tanlbém t'l\'e t1o llorquc é a origern, ainda <pre necessariantente se feche, a princípio.
conleço, e enquirittt) este iJrtrir, no ovo. Até nrcsnro at c«lisa inanintarla I).is, a princípi., a origenr se mostra no que surgiu clela. O rnais, errr
e preparacla por irLna rnão hurnanrt ()cLli're prittteiratnettte r-'nt sett Solrr relação ao surgimenio, é cl que r,lele surgir-r. A origern o desprencieu clc
r1e foruração, para nrais tarcle, tr plrrtir tiesttr ocorrêtlcia rio nrateritl si incsnra, cie ttl nroclo clrc ela não se rnclstra neste surgido, nlAs iu)tes
trabalhado pelir rnanufatura, apare(:cr douio irlgo prottto. -Pelo tttctros esc<»(le-se atriís rlo scu apârecer e se retira. o
nativo imecliatalrente
l1o col11eçO1 tatrto o anitntrClO COnIO o inaniruaclo Ílorescenl a pirrtir clacio iriirrla trão e a proxiuridade cla pátria. No co*reçil, o espírito
clo seu lu1lar de provelliêl)cia, Ineslllo que Inais l.artle rtão trtttis tr não ctltrsegue encontrar a piitria, precisamente porque o seu rnanter_
faç:atn, e na époci1 clo cotrreço se cletêm neste lr:gar tle prtlveniência se alrerto quer abarcar iurecliatalrente a pir.tria na figura <1o qLrc
de r:rr.r rnclclo que, mais tilrde, jarntris será tão 1>uro. Isto valerá tatnbetrt é nativo e derivativo, Llnlzl vez tlue ela se escluivir a tal vontade cle
para o espírito, e sobretr,r<lo p,ar';i elr,:, segtrntlo a anakrgiir qr'te se pr:ei-ere Voliacio para o nativo e nele quererrrlo a pátria, o espírito
atrrrecnsã<i.

enrpregar para falar do real, cl.ralquer tlue se'ja ele. Pois etlt r-ertas éprtlcas é, ntr cnrneço, repudiaclo e lançado a rr[ra busca cada vez mtris vã.
ele íacilmente clii aos hotnetts a impressão c1c ser 'triailor" e 'gerrial'l No Assim, o espírit<l - assi* c.m., tir*le, suas forças essc^ciais
'rais
entanto, todri "proclutor" cleve, ntl lugar clo nascitlrento, setll.ir-se ern - se tonra a presa da própria vontacie cle sentir-se iurediatanrerrfe
casa. Senão, como pocleria elevar-se elr sLlA'granciezii'? Parece até clue enl casa dentro cio qr-re lhe é próprio. A piitr:ia, encerrada ern si
o espírito devcria, cotno cl "vivo" por excelência, ser airtda nlilis vcgetal rnesnla, o irbate. Eia anreaçil o espírito proeítico com o ab;rtirncnto,
que a plantâ, e tnais anitual que o animal. Contuclo, o esPírito é o espírito' cpre signiÍica a perda cla essência. Mats até neste instante o espírito,

Ser,r clizer poético segue Lrma lei pr:ópria. côrno vouta(ie 1Írcicia cla oligcrn, prrnrarlcrjc orientaclo na direção cla
"É que o espírito não cstá eln casa / Ner-r.r rlrl início, llelll na pátria, tal que precisamente esta orientação lhe desperta a vontade
nLlscente'l No corneçtl, o espírito nãtl se sente eln casa nx própria expressa cle buscar o nãri Íiu-[iliar, erri firnção da pátria, cle tal rnotlo
casir. A <lomiciliação é o qtre, rnecliante a proxirniclacle à pirlria qlre (ple esta rneslrrlt pátria qLrr: ora se lhe fei:lrir é trazida pÍlra pertc)
brota cla própria pátria e se coltservrl junttl cleltr. A pátria é a origern pelo não lurniliar. Isto aco-trtece clrianclo o espírito assulttc lta suâ
eo o espírito "nil ctlnteçtl" niio ser
soio c1e origern clo espírito. Se vontade essencial irquilo que presclrva essencialmerrte a corrdição
domiciliou, entao no corneço, qtlc aqLli significa "iníciri', talrpouco rle forâneo.'Irata se clo esh'angeiro qlie, ao nlesn)o tertprt, perurite
ele estti "na nascente". A locr,tção "nr:nr na llascellte" nrio se lirlrita ;r que pellselnos na p;itria,
repetir de outro Ítlodo a locuçáo "nent no irríciol Ptlis tl plinleiro "O espírito arua ir colôuial' A ccllônia é n tilha que sc rernete
'irern" do verso nega o precedenle "eru casal ellqu;rrtl() o segttrlclo i\ rnãe. Clorrl'orme o esprírito alna unt país cie tal essênciir, ele sri arna
"nem" nega o "na nascettte" cltre tt suceclc. Assim, é clito t1tr.: o Iolnflr de moclo in'redia1o, aincla que encoberlo, a Pátria nrãe. Iista é tr lerrir
don-ricílio 'ira própria casát'' consiste elll o espírito poótictt cletlrorar- piitria, <1uc segundo o irino'A peregrinação" tr, contudo,'dificil cle
se "na nascenle". Mas por que o espír:ito poético, isto é, cl irniruaclor, corrrluislar, a reser*racla" (lV, 170). Urna vez. que o espÍrlto não se
não está na nirscente ao corneçar'? linritou a Íugir na ciircçã<t do exótico, nras cle iato "ama a colôuia']
'A pátria o espreita'l O espírito está, crlnto espíritrl, tiurlbém já ele "niio" se sente "enr casa" rle nroclri essencial, il() amar clestir
forrla.
de saída no aberto; de outro modo ele não seria rl espírito- I)or isso, "[i o corajoso escluecimento" atrrir o es;;írito. ]lste arnor nao é
tarnbém a pátria vem ilo encontro da vclntade lírcicla. Mas elir venr urn outro, mas parte do antrlr à colônia. O "e" signiÍicer "e por isso'l c
í

106 | Explicaçôes da poesia de llôlderlin I


Martin"l-leidegger | 107
li
f-
I

cln virtucle deste amor, o espirito "tirrnbórn" ama uln esquecimeuto. exibição clara, lilrei'e sua forçir essencial rnediantc o contato cor)r (r,
O que é isto? Conhece[1os o esquecinrento, sobretuclo sob a íirrrna fogo e courpr.ureta a força esse,cial da iacurdade cre exibição com
cle urrr "não mais pensar ent". Ele é como uma ítlrma de recordação. o tFre deve ser exibido. com a liberação do próprio a páü:ia se abre
"llsquecer" pocle signiÍicar que algo sc nos cscrpíl c vai ertbttra, e torna pâtenlc s*a pxtpriedade, para que seja aproltr.iacla. Agilra,
nras tamlrétn rlue nós o dcixatnos csÇâPâr e o pertletnos clc vista. são as "r.rossas" flore.s c ns "nossirs" florestas oue fàzem cl* alcgria unr
Iisquecer ora é perclcr, t.rra (: cxpulsar, ora é arnbos. Sc maritelnos algcr pre'sente, alegria c,ja cssência consiste cnr abrigar o verdadeiro c
a rlistância, clttanc-lo esquecentos, então facilrnetlte nos evadimos na enr tal alrrigo dar inoraclia ao uso livre. As sornbras nativas trazcn]
clirc'ção cle algo que rlos cal-iva, tal que "ttos esqttecelltos clc n<is'l trjm Íl'escor ameno, o abrigo coÍrtra o arctror do íogr: estrirr.rgeiro. As
'
todas cstas Ílraneiras dc csquecer permâllecc um c()lllportatnetlltt iluc Íl,res nativas trazem o luzir suave, o atrrigo contra a claricla<le clo
cumprintos ou a qlle ttos tbandonanlos, cttqtlanto csquecernto's alg,o Íbg. crstrangeiro. No retorno à pátria que se abre, o pcleta, são e salv.,
e, coln respeito a várias çtiisas, (lstaillos cotlrpletauelttc es<ptccitlos. recouhece qrie "quase arcleu" i:i no estrangeiro, cluanclo privacio cla
No enÍanto, cxistc aincia urll outro c-cquecilncuto, cln qtle tlito nos pnrxinridacle à sua origern. I\{as este conhecirnento tambérn inclui a
esquecenlos cle aigo; rnelhor ciizeticlo, c[e nos esquecc, cle frrrnra que cr»rsciêucia cle que, se não tjvesse experirnentado o fogo, l.ernrpouco
sonros n(is os qtie foratn csquccirlos - ;relt dcstino -, e ttão reccbemils teria se:rpropriaclo rla cia.eza da exibição - clue é propria*ente o que
mais nenlrutrra destinaçâo, Il1as aÍltes vagamos pela l-ristória em tlevc ser apropriado n' f,escor suave c no h"rzir a,treno. o cspíritr.r
covarde fuga perante nossa própria origclll essencial. Ao ctltttrriri«r, poótic., que cleve fur.r<lar o habitar humano corno poétic., deve ele
o 'torirjoso esqtrecitttento" reccbc sua lnal'cil ciistintiva dtl amor rncsnio dorniciljar-se no que collcerne à lei da sua essêncja; o que
encoberto quc ama a origcm. À coragenl prei[eur:c o cttnhecimetlt<r acoutecerh, principalrner.rte, da maneira poética. Tal lei da poesia
daqr.rilo r1e rpte depen<le previaureute tu<lrl qtrc agitrtos c r;trÍ'retllos. <los poctiis vintlotiros é a lei fundamental da história que, por
Iitn vista destc saber ci tlue peltcuce r\ corageln celta tlohreza, cnr intcrnróclio claquela, se de Íirnrlar. f) retorno ao próprio concede
hrlr

distinção ii sinrl-ries "bravurii' ntt setttido da paixão arrcbiltaciora essôncia i\ historicidade da história e só pode ocorrer como partida
A coragetl ó rinra bravtrra qlle sailç:' No sctt
enr.olvicla no inrpulso. l)âril o estrangeiro. Eis 1)or qlle os poetas têm de sel antes cie iuclo,
snber encontra-se o I'undarnento da caltna, da circui'lsllecção, rla "nrvcg,anles" cuja viagern ao prlfs clo fogo celestc clepencle
do favor dcr
constância que distinguem o corajttsrt" O 'i:squecilnetlto corajoso" Nr»'deste L)ara sc orientar.
é a bravura i(rcicia para experinterti ,r'o cstrangciro, etrl visla da À sentcnçir "o Noi'destc sopra" é a. saudação cnviacla à chcgarla
aproxirnação futura do virrcioriro. ilntlenelrtcs, a coragcln clo csprírittr do ve,[. que "r,ai" e pernanece, precisa*rcnte ao "ir,l Mas coln. o
poético pro\ou a longa parlicla ao es;lrangeirtl. O cspíritci vek) para Nqrrdeslc deve, pois, permaltecer?
casa, l')orquc amou il colônia.
"Nossas Ílores e as sonrbras de nossas Ílorestas alcgrrrrn / O sotrici<il Vai, porérn, agola, c saúch
O cspírito, cuja pol.êucia' lto começo, rl priltria aittclir encerracla em si o belo (ialon:-r

abate, agora, rto esllattgciro, é severatnenlc tttaltrataclo sob o fogo


do ciru. O Íirgo fcz saber ao espírito i;uc cleve ele lraz.e-lo consigo, "Vai, porénr, ;rgora..Jl O poeta está peclincio ao Nordeste que
do estrangeiro âle âi:,iitria, pâra que o prt'rprio, isttt é, a facuirlrrcle cla elc praticanrerrtc p.re cic soplar, clue r,á emhora e cleixe atrás rle si

l0B I Explicaçóes da poesia de Hólderlin Martin Heidegger | 109


r
:,

Luna callnaria? c)u o "vai agclra" sigrrifica, rie prelerência: não tresites até a singularidade clir saudação poética enc()ntrarnos vários degratr.s.

mais irinclir r1o sell soPrar e sopre na millha tlireção, rla clircÇão Ao satrclar, o sa,clarte,orneia a si nres*ro, mirs apenas pirra ciizer
de quern te sauclou e rectlnhcceu qtle seLt telllPo é agtlra. I)or quê, cltre rrão qtrer nacla partr si, r11irs
frlrplvv-çionir ao sartclacltl tuc10 o que
contudo, o "pr-,rérn'? Porque cl poeta ele ntcsmo agtlra fictt parir triis lirc é rleviclo. A sar.rciação autêntica rec6n[s6" o clue é prtlprio iio
e ern tirl condição faz poesia. 'lVai, porénr, agorit'' aponta na clirtrçiitl sarrtiailo airrclir tlire sc aÍiliandcl à próirr:iir vontatle, clistir.rta portanto

clo "SLL[ c1a b'rança,, mas nonreia tlo morlo tnecliato, colno a pitlavri't rern(,trr cla vontacle clo saudaclo. A sauclação desdobr:r urna clistância

<laqureleque fici1, o lugar a partir tle oncie o Poeta diz'il Ntlrdeste errtre saudirnte e saudaricl, tal que em tal clistância se baseia uma

sopra': Suponilo qlle esta palavrir perpasse totlo o poelxa, etrtãtl, etn Proxinridade rlispensa a 1àmiiiariclade. A sauclação legítinra
clr-re

"vai, porénr, agoral' se deterrninam a lt-rcalidircle e cl lrtgar no ternptl errv[a ao saudaclo a aÍrniclac]c conr sllir essência. A sauclirçiro legítimii

desta poesia. O poe[a rlue licor-r para trás nãtt se etlctltttra nlais entre deix;r t\s vezes o sauciirclt.r ci,tilar cm slrir prrópri.a h,rz essenciai, tal

os navegaotes clue fcrram viajar. lile se callsotl da peregrinação? Ou que perca a tirlsa icienticlacie. A saudação legítirna instatrra ir prirnrrzia

será que a "boa viagerri' ao estrilngeiro o t()rllotl "valor<lso", Para tl tlo sr-rproslanrelite "irrcal" sollre o sirnplesnrente "rcal'l A sirudaç:âo
'tiregacla a casii' e forte o sLtllciente para perlnarlecel dolnicilia(lo? plrra e ao rlesllto ternpo sirnprles é poétit-:r seu irensar ncl sauclacltl ou

A permanência, na verclatle, tliio é urn cleixar-se restirr tle alguém recorclaç:ão perrlile clLrc este ac'lentre cle moclo originário a nobreza

que foi rrbanclC}naclo, tar}]potrc:O o perclurar <lesorientar.lo de algr-rem tla sua essê,cia, para que possLlâ, daí por dia,te ,. sautlação, seu
inexperiente, nlas arltes o retorn<l tlo que "foi pirra longi' etn bttscl Iugar esseneial ,ii o s.urlaclo sarida cle v.hir agorir, colno
siiuelaçã,.
do "tlestino'("O Istro", IV 220) e assilll se torlloLl niais experiente' sauciaclo, o sirurian[e, sem precisar ele rnesmo c'le outro rnensageiro.

A única conciição para a clouiciliaç:ão no prri;r|io loi satisfeita: a A satrlaçio ó r:ccorclação cujo rigclr cheio rrr-: rnistério abriga cle volta
particlar para o estrangeiro. Mas a satisÍàção sti oc<lrre se aqtr ilo tiue ftri o sauclaelo e o saudlnle na clistârrciir recíproca <le suts essências.
experimerrtarlo (a claridade e o ârclor clo l()g,l clo cétr) Íirr preservaclo, A sa,dação .ão q,er ,ac1a para si rnesrnr. e recc-be, precis*mente
cle tal nlodo que o poeta' rro exibir o que viver't' altrentla a làzer utn por isso, tudo aquilo cle quc, u sandante necessit;r para arlenfrar sua
uso livre do próprio. () cleixar-se íicar para trás, colro retttrntl, cleve Própria t:.ssê,cia. o envi, cla saucl;rçio é o retorno ao próprio tlaqrrcle
'fal tltte litott l)ilrit tl'ii\.
se'mpre recltar, enl pellsamento, a() ftrgo do cétt c recorriá-lo'
"Vai, p.r:ó,t, agorâ c saíic1a / O belo Garo,irll prirneira,rente,
recordação, n(] entaltto, não ;rocle simplesrr.rente produzir ai presellçil o
do que já l'c,i. O "f'ogo ckr cef' deve continuar a ser, LriISo tleva ser poeta cnvia sLra .saLrcllção ao i'io. o cspírito ckl rio é o espír:iro poctico.

acluilo que oferece a lo<la exibição a possibiliclacle cle ellct)r)triu'sua A. no rio, o poerâ pensil llirqueies que são os "sinais" cntre
perrrsar

cnnsistêucia. 0
pensamento clc, "passaclcl'l isttl é, dacltril<l qtte tcrn deuses e honre's, isto é, nos sinalizaclores. Iiôlcierlin tliz, no começo

sirio e chegou a ser, é a recorclação ern sentickl prciprio. cl:r déciura estlofc clo Poerna silbre a essência clo rio Reuo, clepois cle

"Vai, prtrétn, irgora e saúd.r-l A recordação é uurlt saucltrção' , jii ter antcrirtrtrcnte chanrarlo "fírriir clo serniclc:us,,o revoluteio clo
De fàto, quem licou para triis nío rnlris necessita do Nordeste para rio e,r r;ua rrasce,te esc,ril: "Se*ricleuse.s penso agora,, (,,O l{erro,]
parlir ao estrangeiro e, aincia assirn, precisa deste vento' O Nordeste iY I73). Pclr iss. tarnbé,r o poera cleve pens.r a'tes cre tlrdo'«: rio,
se transfbrma no melrsageiro ciir sauctação. Ilntre a sautlaq:ão gasta e
n., lllcsmo "agr:rd' em que ele se cleixa ficar na localiclacie cja sua
vazia clas trocas impensariâs, a raricllje lr1ior r.la sirttclirçirr gcuttína e e.çsêrcia e envia sua siruclar,:ão. Náo por ilcaso, o Canlnil é o prirrreiro

I l0 | Explicações da poesia de Hólderlin MartinHeideggerllll


r-
I

clcuma enurncr:rção das rnúltipias coisas rlue pertr'Ilcelll á paisagcr.n Não se trilla de "urn" atalho, ma.s'cio" fio estr:eilo e incronspíclr. <lr.,e

estrangeira. I'lle é o "bt:lo'l isto é, segundo o hintl ao l{ctro, o 'tlc lrela perllarlece pr<ixinio c 1;aralelo à 'irrirrgem escarpada,, e, a prartir
nroradal O cspírilo clo rio clue toi'lla a lerra "arável" e hirbitávcl é o <lc tal proxinridatle, i)rossegue juntr ao curso <1o espíritcl clti rio.
o
c1ue,segundo a or«lent cle itrtportância, tlevc scr saudatlo ettr prittreirtt irtallro abr:rto peios hourens rcrrrete ao espírito clo poet:r, sc clc l.alo o
lugar, porquc a pal'tir ciclc o país satrdaclo tttostra'sc lla stlil bcleza, lrabital hLrrnano da íàrtilidacle rla terra deve ser .,poeticcil
isto é, ern seu "scr": "[lrlpara o rio / Lá baixo cai o regato]r Urn regat. nrenor c lis<r
cujo f,u rrclcl irl)arecc eln nruitos lugares por baixo clo leito de peclra gasta.
f SlaÍrda l)ei,c se p.ecipitar para [;aixo, clas m.nlar.rhas ]á,. arto até a profuncleza
o l;clo Garona, e'r.rcolrerta ckr rio por este ser levado à sua deiernrinação, rio
lar11o, e
e os jarrlins c1e Ilordéus rnar que concluz à viagern d«rs navcgantes até a ,iolônia,l
ali onr'le uÍr margcrn cscarpatla "[Ii] nqua*to ern ci,a / contempral
Acima do rio e dos jardirs,
scl{llc o llallt,r c l)íll-a () ri() da ciclade, rlo atalho e rlo regato, co,tudo sempre partindo d. rio e
lá baixo cai o regalo, ettcJuatlto enr cilnir suir mírrgern errr direção à paisagem intcira, há rrma contemplação,
contempla um nobre par um ollrar (lue se abre e cm torno do qLrai cl aberto se reírne. cluem
cle canz;rlhos e cltoirpos argêntcos; Ianç:a o olhar e mantêrn tuilo aberto é "um nobre par / De carvallros
e chouiros .rgê,teos" rlecerto elas são clíspares: a árvore drrra,
Quem gostaria dc incorrer cm un.) clisctirso llreciosrl e, aincla fr'rrcl.sarnente e a árvore esgr"ria, trêmula de purior e levr:.
escrLrra
assim, cacl;r vez nrâis pobrr:? Qucm gostaria de dcsÍigttrar tl rltte é Illas c'urbi,ar,, p.rór,, no abcrto c1a sua nobreza quc sabe o que é
<1ito tão sinrplt:smettte Lrornleio cie paráfiases ilrlptlrtttnas? 0 que rlignirlatlc e por isso cliglifica, por rneio exciusivanrente do seu olliar
saitou à vista cle tnorlo pttro na saudaçâo poótica nãrl necessita clcr abr:r-to, o rio e tud'o que hallita em sua beleza. o orhar aberto desÍc
nosso discurso. Ao contrário, itós ó qtre prccisainos tic algr.rtnas "uobrc p:rr" nutrc a cssência e a vocação <Jo espír.ito cio rio. (]uant1<r
observaçõres, para que possalnos nolar o n:otlo cl»lttt o ttotncaclrr silt:ncia a saudaçiro rio "nolrre par" cle árvores da margem a.lta do rio,
nparece, isto é, con,rt o t;irudaclo quc saúda de voha o poetâ sartclantc, o ixrctil L)cnsa rla rlc,tpcdicla irnpreti.ritir que se tornou o conreço clil
para que o poeta possa pernl:lltecer i'lo canritrjro que conduz ao seu sr.ra at iviciade pr:ét[ca.
oficio de pocla. O dito não pode sc clissolvcr e1n ulllil de:'scrição
paisagística. O poettratizado cleste poema se confirrl-na ao rcrlor clo Ailrcla rlc k:rlblir bcrn
rio, rnecliante o cspírito do rio qtre fora sirudaclo etn printeiro Iug:rr.
"ll os jardins t1c llordé'us / Ali onclc ira lnarg,elll escat'pada". rcco*Jação, a saudaçã' recolhc acieq*ada,reirte o sa,clado.
1"\a
A ciiiacie e setrs jardins trão são Iromcados etn pé cle igualclacie com o sauclatlo rru,cir ít;i csclrrccido. 'Iarnpouco p<icle ser esqueciclo. Irois
o rio, mas este aparecc ante.s cotno o cspírito quc torna crtltiviivcis, o sariclaclo se cleciica, cln penÍiilnlento, ele mesrno ao saudante. Assir-u,
às mirrgens clo rio, os jar<lins verdejantes, cntrc os quais a ciclade se ir sarrclação não ó, ailsolutamente, sua
çrróirr:ia obra. será que talvez
encontra. A mai:getn é 'tscarpilcla'l O rio segtre, clecirliclo, seu cttrso, o saudante sti possa saudar i){)rque ele é quem de fato fcri sauclacio,
pois está scguro de sua determinação. Na margem "Seguc o atalh<il rluem Íbi interirelado erl suâ cssôncja histórica e rcçonheciclo em sua

I l2 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin l"lartin Heidegger I ll3


r
I
l
I

cletenninação poél"ica? Não é r.r poeta que sc derlica ao sauclaclo; o bosrltre clos olnros, pur sobre o moiuho,

rnelhor dizeldo,'ii'saudtdtt se "(ledicl ellr ])clrsly)lentti'r,r ele, at'r no pd1i6, contLrclo, cresce utnii figrrcira.

sâuCltu1te. "() Norcleste" rrUnca é trpenirs o rnensirgeil'tt 1-rttt rlleio


rle quern o poeta saúda. O Norcleste é o slttclirclo, it;tes tlc tttclo <r Pensarn-se iro "moinhci' e no "pátio'l Saúclarn-se o trabillho
rnais, pcris este vento, ao soprar, clareiir para o pocfir a Iocalidatie cotidiano c a casa do camporrês. Mas por que o moinho? Eie nrerece
e o esDaço c1e tempo de sua proesia, dc titl l'ortrra (llle o poetil algunra predileçiro cla parte do poeta? É exatamente «r moinho a ser
cieve "recorclar" cl passado e o vinciouro, e talvez o passircio cotno saudriclo pcir:t peregrino llLle relornou ao lar, na elcgia "O peregrind'

Vinclourcl.'Aincla me lcrlbra llcl1]" é Lll1l verso cie trr.rnsiçãtl. llle (IV 10.1):

pârcce interrourper a satrclação c a pausa junto ao sitttclado. Na


verdacle, ele conecta o passaclo sauciaclo ao vincltlurr) que veln Ao longc mLrnl)ura o nroiuho sernpre ocuparlo

sauclar; 1.rois o aprenclizaclo clo próprio oÍ'ício cle poeter encel'râ


algo vinclouro que perrritiril r"iue a cktl}riciliaç:ito ven]ta. A sentettçii O r.noinho saudaclo no cstrangeiro airrcia indica a terra natal.
nrediaciclra, ao t:ealizar a trarlsição c1a prinleira Pàra a segtlntla N'[as é apeltâs o llLrxo incessantc dit sua atividade que o poeta

es{rofe, perrrtite que o poeti't rcctrpere o lôlcg<i e se Prepirre Parli percetrc, or"r é tarnbér:r acl.rilo cont qrle o "sempre ocupado" sempre

O encOntro SilpÍemo cCuu aqUil() que (} Nrlrtleste satttlatrtc stlirrit está atarcfado? (J rnoin,ro prepara o gríio ('b fruto') e contribui para

ila sua clireçãr:. L)e fat(), esle vcnto reiolrlil seu crrrs() a pirrtir cltr I)repafar o pão. li,m vistir cla sua reÍlexão sobrer o pão, nesta oíiciria r1o
encontro c[)Í11 o poeta. Vlas é trnr clos seg,rcclgs ci,t rr:corrlaç:li«r,-1rte trirbulho irrrrniritci, o poeta é levaclo ir pen-câr nos "Celestiais" ("O pão
ela pensa vgltâcla ao pe.ssaflo e (ige cste, l-tttl;rvia, ao ser allgrtlacl6, eo vinho'llV 124):

retOrna r-rO Senticlo opOst(), intlo a() ettCorttL() rlirrluelc qtlc pcrnsa
para trás. l)ecerto nãcl se visa agoi:a nnra lirrnra ile presentilicação 0 prio é o Íinto ila terra, rlrirs estri abençnacio pela luz,

rlhjetiva no presentt: estático cle uirl tto presentillcartte. Se rl


pensilniento no quc pâ.ssotl corrcccle a este Passiulo sua essência, A oficina a cLieln c, "liut,o" irbeuçoaclo é confiaclo, rleve ela
c não clistorce sctt imperar, tueclianle um côntptttt) que se aPressa nlesÍtla tantbént ser prrotegicirr cla litz Íilrte dcmiris e cla tcm;:estacle
a torr.rá-[o objetivanrente presenle, etttão ctlttslâtü]il(]s qtle o <iilacerante. A lloresta cle olmos protege. Linr um csboço tardio,
passaclo, em setl retortto p«lr mcitl tla recorclaçâo, ttltrapassa o o poetir tatnbém se relere aos "olrncls sussurr.atltlrs", cuja sombra
nosso prtlprio prcseute e vertr cln nr-issa dircção ir lrirrtir clo Íirtrrrrl. prc)Íege o utrrigo drt exr:esso cle iirgo (n. 10, LV,244). Até a palavra

Subitanrer-rte, a recorclaçã«r cleve pe[1sar o passitcl«l (ottto algtl tnais irrconspícua e até a "inragcrrt'' que parece visur altenas compur

qLle aiJlda nào se clesclobrclu. A sauililção Pcrcebe qtte cleve Ie:vrtr trnr cnfeite "poético" são palavras de saudação. illas sáo palavras
ern baslante cunsicleração irrluilo (jue ctlt perrslrue trto jir sc lhe cle "recordação" c pensamel)to: no estrirrrgeilo que Íic«ru para triis,

anuncioLt e sauclá-lo. O já sautlaclo na clornicililção cpre aincla virii, e no pertencirnento recíprc,co e


origirriirio t'n{re os tiois.
"No pátio, contuclo, cresce unrit figtreirai' O 'tontudo" scia
[.i] como
inclinit os lirrg<-rs cutttes exagelatkl, pois estabelecc unr c()ntrastr ontle não buscamos nilda

I l4 | Explicaçoes da poesia de Hôldet'lin Martin Heidegger I l15


I
I

<1o tipo. Cclmo "rnoiuho" e "b,oscitte rle olinos'i "pátio" e "figtteira" festri'? ll,le os norncia porquc pelrsâ nas "mulhercs tnorenas pol aii"?
I
pocleriam não eutrar em hirrtrtonia? A clegia "O peregrino'l :rcirna As rnulhcres aparecem nos clias de Íi:sta ern belezl adomada" Mas por.
mcncionac{a, nomeia o lltesmo aspectcl do "pátio": que o poeta peÍrsa nas rnulheres? DiÍicilmente aindir seria nccessiir"i<r
jr"rstiíicá-lo em uma estrofe tão "poéticil Só que aqui não
se trata
[0]nclc o bosquc cobre cle vcrrlura o portãtr aberlo tle nenhurna descrição'thcia de atrnosfera'cla "terra e da gente'l de
da heldar'1e...8 nenhuura "poetagcnil mas clc poesia. Hôlderlin não alude aos clias de
Íêsta irrlr<1ue perlsa iras rnuihcres, mas nonreia as "nr,lheres moÍellirs
"Contuclo'l na rcc<lrclação saudaute é o país clo Sul gue saúda. por ali" porque tenr ent vista o dia <le festa. Mas por que isto?
O 't'orituclo" irrclina a recordaÇão da "Íigueira" na <lircção do fogo clti iieriirclos são clias de íesta. À primeira vista, "festejar,' signiÍica
céu do Su1. Os vcrsos scgrtintes apenas obedecetn a ersla tenclêllciil' interronrpcr a atividacle coticliana, çleixar o trabalho de lado. por isscr
h)lc's jii nãcr prccisatn riepender de ttttra palirvra cle transil:ãtt çoloca<la pode resultar que os clias de Êcsta, urna vez que referidos apenas aL]
l1o corncç() da estr-of-c. A sauclaçâo pertencc Çolllpletirnlente ao trabalho, scjarl vistos apcna.s corno Ltma interrupção clas l-ror:as cle
sau<laclo, âgorâ que cla rleve se cortslttnar. O sartilirtlo aparecc, por lrabalho. São entâo apenirs unra no ciecorrer: clo tlabarh<r
'ariação
Íinr, naquilo quc pertcucc pr:opriatnente ao csPirito poético c1o rio, e, finalmente, uma lrausa instiluída pelo próprio traballro eln selr
cpe ílri o pr:inreir«r a scr sarttlado. bcnefício. À4as a íe.sta, em serrticlo estrito, é algo dil.erente clo sirnples
vazio quc urria irrtcrrupçâo seria. I.tra trrel'a oposição ao trairalho pocle
Irrn dias cle ícs1ii vuo Iraver unra atitr.rcle clecisiva rle continência. Àí já vamos ern direção a
as nrullreres rnolcrtas por ali n(;s mcsrnos, rnirs não conx) sc nos embrenirássertros ern nosso "eu"
enr cl'rão clc sc<la, dc rnrncira cgoísta. De firÍo, o reÍicar-se transporta para uln âmbitcr
tro nrês c1e trarçlr, irrtrito pouco conh«:cido a partir do <}ral nossa essôncia se deternrina.
rluatt<k» a troite ó iguai ao tlia, A partil de tal desloçanrento cotrleça o espanto, ou tarnbém o terror,
c pot' sobre' os ataliros \rilgaros()s, ou ain<lir o 1rr.rdrtr. liil r1uak.;uet'Çaso, começa uma rcflexão. Ao rerlor
pcsrdas de sotrhos tlotttados, clo horncnr sllrge llr'na aberttrra. Mas o real a que o cotidiano nos
passâln blisas etttiralatloras. ircosturlou não conscgue maltter aberto o aberro. Só o instilib pode
ilulninar o abcrto, corrfornre ele encontra sua meclida secre[a na
Iirl utn
arco ítrtict'r, rnisteriosatttente vibrante clc tcnsão, os raridade clo sirlples cnt que se encobre a realidade do habituahnentc
versos sc: encaixaín naquclc pensilirertto do Unr ao qtlal il sâu(lação reri. O irrsrilito não se deixa tocar rlcm agarrar imediatamerrte
se volta. "E,m dias de festa" - a rncrtção aos "dias clc íistit" não foi no l.rabitr-ral. O insólito s(r se abre e só abre o aberto na poesia (ou
preparacla pelo que 1ôi c1ito anles e ocorrc corno <levida ao lllero cntão, clc fonrra abissalmcntc distinta, e l1a sua própria época, no
acirso. Por que o poeta pensir) prccisatneute agora clue seu pocura não "pensanierr[o"). lrestejar ó libeflar-se para o insólito que, em oposição
admitc lnais nenlnun aÇaso e: nctrhntn recurso arrxiliar, em "clias de à turvação sent l>riilro c'l«r <:oticliano, é iluminaclo. O festejo que sc
consrlnia aDcnas conro firn clo trabalho não olterece por si rnesuro
B ncnhurn nrotivo de celebração, e assim não é, essencialmente, unr
QUIN'I'tll.A, 1997,?.154.

I l6 | Explicações da poesia de Fiôlderlin Martin Heidegtr;er i ll7


r

fbstejo. Este se cietermina apenas por aqr-rilo que lesteja, a celetrração. A celeblação traz- c.nsig. ,,ra atnrosfêra rle pr-ernência encolrcrta,
De onrle vem a celebração? O ilue ela é, aos olhos clo poeta qtle pois é ela rnesula prenricia pela necessiclacle. Por issrt é rlue sc cliz, no
.,pensa
ern dias de festa'? A cerlebração, no sentirlo poétictl claclo por projeto de hincl "Mnclnosina" (Rccordaçào), para o c[ral tirrul;ém f'oi
este poeta, é "a bocla de homeus e tleuses". A clticirr.ra terceira estrolt cscollrido como título "O sinal" (1V,225, 3(D):

do hino ao Reno cliz (lV, 178):


Ilelo e

Ilntão celcbram a bocla hotnens e clettses o clil tla boclii, r'cceosos t-'stanros, contrrclo

P0r atur-a dir hotrrir.


palavra hiilderliniana 'teiebração" tem urn signiíicaclo
A
"Nós" sonxrs aclueies já
elevirdcl e âo rlesmo tempo simples. A 'telebração cla boda" é o cle quem se disse:

enconlro clo homem Colrr oS clettses do qual resu]t1 o nascirtlento


Unr sinal sonto.s nós,
claqueies qlre se encontrarn cntre os hotnens e cls clettses e que
.supor[i]rn esta conclição interrrreeliáriâ. são ()s "sernidetlses", os
(J serr-ric.leus, situaclo ircima clos irornens,
rios, que "clevem ser Llrn sinal" ("o Istrci').'['ais sinaliz.a<ltlres são <ls l.rocleria 1àcih.nente
"não" tluerer' "srr1'rs1131" a "desigualclacle" aos cleuses, e iissirn ao
poetas. o clia c1a celebração cla boda, o "dia da trocla',l deterniina o dia
nlesrno lempo se equivocar; pctr se rledir pela essêrrcia trunrana ("o
tlo nascimento do poeta, isto é, o amanhecer em cuja luz o aberkl se
l(erro'l oitavir cstrofe, lV, 175 ss.). Sem hesitar, o senrideus que rlasceu
abre, tal que o poeta vê aclvir o clue srla palavra deve clizer:
«o invocar: <lesta lesta pocleria "ávi<lo demais escolher Utri' ("&luemosiniil IV,
Por isso o primeiro hino deste poeta qlle
sagracio'i llocle
225). Arrastacla pilra uma irrricer dircçiiil (clo Deus ou <lo homenr),
sua priipritr essência pocleriri, cleste rnorlo, dcsavir-se consigo nlesntil
Agola, porém, rotnPe o tlia!
e ser lançacla nLr "dírvidii
... O Saglatlo, sejr o meu Veüro.

Seru rlítvitlas,
Coneça com o verso:
lx)rellr, é o Altissirno.
Assim contcr em dia satrto...
l)ecerlo, o Altíssimo é o "suprento'l Mas este é 'b Sagradd]
A observarrnos â regra geral, este coll)eço parece introchtzir a lei que rlispire cie uma rnaneirit ciiÍêrentc cla lei liumana. l)«t
ponto tle vista riesta, o tu<lckr cotllo o Sagracltl disirõe cle todos os
uma comparação. No entanto, Pellsa-se, at1ui, em algo clistinttl'
'tsttrttrtos" "riem" potleria sc chanrar- lci, pois eia é o envio de unt
O "tlia santo" permirllecel ilnediatamente refericlo à ger:ação clo
<lestino. Mcdiante a aviclez clivisiva de ser um só, clesvirtua-se aqucle
semicleus e, cle acordo corl esta, à 'telebração tla boda'l lJe rer:eio e
intervalo que o scnticleus cleve observar. A aberlura do intervalo
pavor, decerto, se enche o seuricleus, pois ele, r+re é o sinalizador, tem
se lechir. Tirl fechanren[o turnil inacessível o que, na condiq:ão <1t:
cle sustentar o interva]o entre os homens e os deuses, mantendo-os
suprerno, "acirna ck.rs ltornens e dos deuses", perrnite pela prirleira
ern gposição e ao ftreslno tempo «llrservaldo o intervaltl entre eles.

I lB ! Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger I I l9


ry Y

Çom o rcai cle rtrorlo serguro e desproviclo cie ceiebrar;ho, e o rnedc


1

vez quc stlrja o iutcrvalo eln quc ambos síro lar.rçados e crnl qLle
pelo Sagrado cie: âpenas cle acorcio conr sua cluraçãcl. A pausa é cornputada corlo algo
rurs são clestiuarlos aos outl'os' O quc lbi cnvi:ido
na cclebraçãtl tenrporário c posta dc la<i<l en; favor do que é constante. Mas a pausa
tnodo enlinente é a celehração. C) clenterito celebrarrte
O Sagrado rlr clcslino equiiitrrado é o tenpo de celebração. Sua cluração tern
ellcontra o fundan-rento cla sutr cleteuninâçã.o no Sagrrrr/o'
ó' 'lhl penrrissão íirrrna pri4rr:ia. A sirnples sequência que se estende indefinitlarnente
permitc tlue a celebração cla bocla scja o tiuc Par'1

scja é a saudação originária' A celebração éo rricltlelo ir que nos acostrrmamos quanckt se trata de cornpreeltder
qlle algo, rr111 sila essência,
"sappacld' saúrtla e' ao a ciuração. (luando se poc{e lenunciar nreucionar o começo c o Íim
é o acurteciÍllento c1a satlclação no qtlal o
a

celetrração r1a bocla da sequência, a cluração sem c()1neço e serrr Íim até parece equiiraler
sauclar, aPai'ece. O sernicleus geraclo rlurante a
cclebrante à sirnplcs pernriurôncil. O que tlura pouco, vislo descle o horizonte
é, porL;into saudado, do uodo nlais pr(')prio' O clernenlo
quantitativo, pode, t:ontuckr, clurar ató mais do que uma cluração que
ciacelebraçãoclaborias(lacarretarirunraaltritlsferacclcbrantesca
"clia cla tror-la-', vitrrar pura sc prolonguc inclefir.riclarnentc, se o íizer ii rnaneira cle uma pausa (lue
essência cio senridcus clue foi gerarlo no
ó obselvar tr rck)nlil a cssôncia rla destir.ração. A singrrlaridade clesta pausa não
er]l suíl cleterminação. contuclo, a essêucia cl() senriileus
,,clesigualdacie,, clianre rios rleuses e aos homel.is. ser e sta dcsigtralciacle re(luer unr regresso, 1)o.rqrrc cla é avessa a quakluer "repetição" clo
pa.ssado. No cntanto, tampoltco pausa para o singular é ultrapassável,
rclação ao céu c cotno à'l'er:r:a é o cpr: inrpcle a esÍiência
a a
tanto etn
pois ela dura para nos cnconlrirr a partir do vindouro, tai clue loclo
ele destinacla. Prc§ervar t essêtrcia ó o ajiistado ldas
Schicklichel"
isto é' vinc{ouro cirega a nris tra parisa cla singularidacle rio acontcr:icio.
O clestino encontl:ará etltão, e somentc c1]tão' seu equilíllrio'
não signilica A pausa rrão é Ílnitil nerr infinita. l,la antecedc tais nredições. F,sta
se a clesigualdaile existir como cicsigualclaclc' F'quilíbrio
r:tas pausa abriga o rcpollso clr.l qlre tclrlo envio clo destino está abrigarlo.
aqtri ueuhuirtit anulal:ão ciue leve à sttprcssáo cla clileretlça'
O ecprilíbr:io Ilntão o liagrarlo vem pela prirncira vez, abençoanclo a essência cla
equivale ao clcixar que a clifereuça il-IlPere no cliferentc'
deuses e h«ltnens pausa (lV 354):
não é ii apagamento do clifereute, lnas o retorno t1e
às próprias essências. Iirn tai retorno se ftrncla a
perlranêIlcia cla
ilconteL:e a ptlusà llil l],ntiro vr:m a crnção da lroda do céu.
clesiguirltladc. Quando esta permallece, só elltão
ql,,"in clestino pocle se rlemorar de tnodo puro ("O l(eno" rlécima
IV 78):
A 1-lirrlir: cio repouso desta pausa surge, pela prinrerira vez,
terceira estrofe, I
t<x[o movinrento clo sirlples acontccer. Por sua vez, neuhuu.r
acontecimento pode, por si só, encontrar o caminho que leva
Então cclebram a bo<ia hotnens c dcuscs
de voltir i\ prausa. A celebraçãcl enviacla pelo Sagrado, e só por ele,
celebratl ttltlos os',rivct ttes
perrnanece a origern cla história. Assim conlo a cordilheira lGebirg) é
e equilibraclo
o rlestii-to' a rerrniircr clas rnrintanlns [Ber,u,e.], a histót'ia fGeschichte) é a reunião
ntlnl;t PilLlsa es1á
cl<r.s acorrtccirnentos ldos Gesclichfl, o traço básico, originariamente

Apirtlsilenlqueclclcstinocnc()ntr.ltttt-t.tntlmettttltlercll<rustl urrificador e dctr:rminante clos envios clo destino. Sc, porénr, a


sclrlPrc scr celelrrirção i1 ir origcnr cssencial cla história de uma hutnanic{ade,
é a nrcclida da pennatrôncia arttôntica' A pausl Parccc
,.111CrA,,
pausir, <1() po11t0 (le vista r,le tlÍn pclisanlento <1tttl
ctlnta e sc o Por:ta lbi gcraclo ncsta cclebração, então o poeta se tortlit o
ullla

120 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlirr


Martin Heidegger I l2l
Y

fr-r1c1ac1or c1a história cle uma lrr,rntanitlade. lile prepara o


"poélicti' A verclaele poetica destes versos, então ainda encohertit ito
i
sobre cujo solo a hurnaniclacle histórica hrrbitalii. A celebração tlo clia próprl. P.eta, ii*mina o iriuo "Germâ,ia'l As mulheres alerrrãs
íesta é a clattr sccreta de nascirnr:tlto "cla" iristilria, o qLre sigrriíica
c1e salvam o apirrecimento clos cleuses, l)ara qLre ele possa con[inuarr
aqui a história dos alerilães. l,)is portlue.r irislória clos "reis e dris serrtloo acoritecimento ciir Ilistória, cuja cl_rração se esquiva à
"tliirs clt lcstit âprecnsão pelo ckrnrínio objetivo t1a contagem ternporal c1ue, rluando
povos" se acrescenta, segr,tnclo Ici clo celebrallte, il()s c1c

Germânia' e apeljas depois clestes ("(ierfitânial rhltinril estrole, 1V, enconLrâ livre curso, frxa "sitrrações histtiricas'l As mulheres alemãs

184 ss.). O poeta, exposlo ao sopr() clo Norcieste, é o satrclacio pela salvanr a chegada dos deuscs na suaviclatlc c1e uma luz anrigável. Lilas
saLrdação clo Sagrado. Por iss<,r cle cleve saudar () verli(l tlue o cxPõe retirarn desle acon[e(:inlento o itspecto ntedonho cujo hon:or pocle
à sua deterrninação esscrrcial. Por isso o poetil envia, tnecliattte este concltrzir errclneanre nte tlesnred idir, ou sob a Íi»ma cia rloaçiio de urna
vento, sua sauclação a0 ac0nteciclo. Acl pensar no ircotl{ecitlo, Pensír f<rrma setrsível à essência de l)errs e r\ s*a moracla ou sob a forrna tla

no vindoLrfo, Ou seja, tto Sagraclo, cuja vir-icla prei)afil o eletrreuttl apreensão conc:eitual da essência de Deus. A preservação da chegacla

ceiebrante ria celebração. A sauclaçiio c}re enVia setts cttntprit)lelltos é a contribLriçáo c.nstante à prcparaçã. cla celelrração. Na sauclaçiio

aO acOntecido nO que este tenl tle essencial clcvc, 1.1r6 isso ttlestttrr, cia "recortlação", çi111111ds, nã. siio rnencioradas as rnulheres alcn'is,
recordar a ceiebr:rção que pilssou. [r.is por<iue o poetii rccc»rcla clias c1e nlas antes

festa. Eles são a vespera da ceiet:raçao. Na nrelçã() atis clias cJe l'esta, a 'As mulheres nlorenas por ali'l lsso relemlrra o país ao Sul,
celebração da boda é incliciicla sob t1 lnoclo cla reticê1cia, e portllt.tttl onde o clcurento do "fogo t1o céu" irrarciia url excesso de clariclatle
cercada pelo máxirlo Pudor. e alrleírça quase consulnir os cltre se expÕem ao seu arclor. Contudo,

Mas porque a celebração é cle botla, o poela pelISa na celeblação a saudação às mulheres nlorertas é urua recorclação consunrad:r, do

clas n.rrilheres, quando it rectlrda. rnesmo moclo que a evocação do "rnoinho", tlo "rrimeirci'e do "pittio"
enuncia lrrn penr;alnento que recuir até o estrangeiro, porque se
Ilm dias de fesla vão estende adiante, isto é, no sentido cla ciomiciliação. para conservar
irs mulhercs ntrtrenas Por irli o clistante na proximidatle, otr seja, para couservilr sua presença a
em clrão cle seda, diz"por ali", urna exprcssão que o or_rvido de hr:rje
<iistância, o poeta
enrl)llrrd para o ârnbito clrr lirrguagern instituciclnal e comercial.
'As mulheres'l AqLri, signilicaclo mais anligt'r de "senhora' e
t'r Sri que cl elenrento poetico da situclação tleten.nina a atntosfera da
'guarcliÍ' aincla ressoa rlestc flolllc. Agora, porélrt, i,le é tuerrciouado csl r:oli: e1e rnirneira táo sirnples que toclo eco do elemento "prosaiccl"
com respeito Lrpenas a() nascirllento essencial clo lloeta. l',tn trtu Poenla se dissipli. Neste períorlo, o poeta está 1ãri p()uco assrrstaclo e
escrito pouco antes do período clos hinos e situaclo n:.t tr:atrsição prtra acuado por tu<Jo que pareça pertencer ao vocabulário não poétic«t
tal períocio, I-Itjlclerlin diz ttrclo cltre há para saber I l'cspeito ("(Jântictr e estrangeiro quc é capaz alé de ir Ao encontro deste, para escutii-
do alernão", décirna prinreira estroÍà, IV 130): kl cle maneira própria. Ele sabe que quanto rirais puro o invisível
deva ser, nrais decicliclantente ele exigirá que a palavra norneadora
Agratiecei às mttlhercs aletrâsl elas ncls se anule er:r Íàvor cia imagem que evoca estrirnlreza. "por ali" vão
prcservaralr o espírito aniigável tlirs inlalierls dos clettses, as urulhcres

122 | Explicações da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger I t23


r
I

I
I

.,Lnt o
lato cle não tcrmos o lnatruscrito rlcsla
chão cle secla'. 1 cluro e rígido ,o invenro corn o que há cle descontraído e vívic'lo

estroÍe torna irnpossível decidir se Fliilclerlin escreve Lr ilssitu ntesttto


no verão- A reconciliação rutolga aos combatentes os rlir.citos
hottt,e tlm erro iguais e priiprios que tênr â ser o que cada urn é. Jlal transição
luttf seitlnen Bodenf e se, no caso de tô-lo feito, se
"sttbre o chão rle é urn. íirrrna dc ecluilíl;rio cuja essência Çorresponcle à pausir
de ortograÍi:r. Talvez a forma auf saitlnem lJoLlcn,
-lalvez não sc devcssc ilPellas etturtciar cl soltr clurnnte a qual o dr:sthro ocorre.'1h1 transição não consisle enl
seda,,, íossc prefcrível.
sobre o qual se cartrinira. De íato, o pocta vô o irt;rlho pclo tluai as l)assar adiante apressaclantelttc, iras cilt pcnnanecer elll si uresnrr)
ao 111cs1110 tempo erlr que se carninha. lihl perrnanccer recebe o
rnulheres camiltham, que sobeln e iriiharn. Mas esta suposição será
o [ato cle quc' lro século XVIII' reirou§o <la suir cssência dos clois pólos ao mesmo tempo" Urna
clesnecessária, se atcntarmos pâra
óp.ca ilc tra,sição ti *ma época cie preparação dii ceielrr:ação. o
e írequente que â terrDinaçtlo tlos aiÜcl-iv«ts no ciativtl sirrgrrlar
seja rnôs
sedd'que nltrlhcres cle ntarço ó o mês da fesla saglacla.
n ao invés rle rn. Donel e é sobre o cl"lão "c1c irs

viro. Aincla assirn, o chiro não é o substrâto incliÍ-erente (i(] seu


(luarrclo a rtoitc é igrral ao dia,
Calninllar. O que restou dc primarrcril lla atittlde clos prrssatrtes c
ilos seus passos brola .Jo cháo. o chíio é scckrs.r. I'lle Llrilha. inar:io e
Á scqr,rêlrcia habituaI destas palavras 'dia e rroite'] i.,vocanros
caltno, ct1] rttcio r\ preciosidacie clue ó a ricluez;r cilcobcrta tla tcl'ra é r,r

aiuda rnal lericla' Qr't pcnsarii (! l)oeta nil PróPria tcrra qrtc ctttlr
clirr enrPrimeiro lugar, conro se fossc o pólo "positivo',i Fazeuros corrr
«1ue a iloilc vcnha em seguicla, como se fosse o seu definharrerllo.
seu hálilo faz lirotat- c recel-re de volta, a partir tle r;i ntestltrr c sobrc
.i\ noite í: t firlta r1o clia. Ilara Flrilclerlin, uo entauto, a noite c1r-re
si rnesma, aqrrela cl0çura ,-1ilusa clc tucio qrrc, rccém brotanclo, se
anuncia, n() dcsponl"ar cla pl'imavera? Petlsari o Poeta na lerra e Prececlc o <Iia é urn transhorclamento desle, encoberto e, contrrclo,
aincla intleciso. A noite é a ,.rãe do rliir. Assirn culo no rornpcr clo
ilâ estaçãO cilt que Ac()ntecell), aO nleslll() tcnryo, () encobrilrrct'tlcr
clia, o Sagrarkr advénr e aco*tece a dádiva da preservação cia chegircla
do incleterrlittado e, ainda assim, tamirénr a decisão clo clue sc
tlos derises, a noite é o espaçci cle ternpo da Íalta de De r"rs. A. expressão
maDtén) fecharlo sobrc si ntesmo? o verso scguinte, que n0 idioma
niro sigrriÍica aqLri, de,roclo algum, a sirlples lacrina ou a ausência
original consiste em clnas palavras, someute tlos traz ir rcsposta a
nrra cle Deus. A época cla falta <1e l)eu.s encerra a intlecisão daquilo
esta pergunta:
rpre aincla irguarda uma rlecisão, cmbora seja de pritlteira
i nrp o r t â n c i a. A noitc é o terr.ipo de :rllrigar o "divinarnente passadri' c
No Inês .le março,
rie cncobrirenr-se os dcuses vindouros. Porque a noite de tal anoitecer.
abrigante c encolrriclor não é um nter:o nada, cla tem 'tlaridatie"
É trin'.r época cle transição. A transiçiitt [)areLe ilPCllils .sr.ra

próirria c cxtensa, bem corno o "repouso" tla preparação tranquila clo


mecliar. O lrarrsi[ório parece ser âpellas o qne jri ]rassotl' o clLtc
"môs cle que virá" O vindouro rcquer turra vigília pectiliar, que não clepende,
leva c1e um pottto iI outro e nuncâ clura. Crltrtttdo, o
rnirrço" nacla tem cle pressuroso ou brttsco. No lrcrlislório Norte, Çolro a insôniir, tlo sono, rr-ras vigia e protege a noite. Ii possível rpre,
cle tiro longa, esta noite ir.n1're11[n às faculdadcs humanas, às veze§,
prepara-sc, enr secreta Irallsa, a reconciliação do inverno colll o
o desejo cle rnergulhar Íirndamente no sol1o. A noite, poróm, como
verão. A patrsa não é, poróin, r.rrn irnpasse, lllíts tl1l1 crescitnent<l
do clia quc trirrá consigo o Sagrado, é a "noite.sagrada" (IV 2i iJ):
singr_rlar, e urn ciespotrtar encobcrto: a reconciliação cio que há de
tr-rãe

124 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 125


r
,

tamlrérn clerste rnoclo é a ultrlpassrrgem clo poeta, lrern c.rno tuc]o


Itll quantll em rloitc -§aÍirildâ
c;uc sc the associa. Contu<io, de qr.re serveln as asas sen] as brisas'i Os
rireciita-se ntl futttrtl c se câl'reÍlitil-)
preocupações colll o§ qtte cltlrtttcttt sctrt ctticlirrlos
atirlhos vagarosos são rieste rnodo abcnçttaclos, tal clue acirna clcles
"Passnnr hrisas enrbaladoras." A scguncla estrolà, nu qual
as crianças recó'rn- dtlsalrt ochatlas,
se c()nsunlil ;i
saurlaçío ao Nclrrleste sauclante, ter.nlirra con) a
Se, toclavia, anoite é "igu.rt" ao dia, cntào elaiii cs{ii disltosta a sautlação a tais lrrisas. O .,,ento natiwr tlue saúcltr se inclintr para o

perrnitir ílo dia qLie inicie a strbicla por llleio clo ritral a ultrapassarir, vento estrangeirti, o sauclaclo. os;rtalhos são as trilhas e caminhos
sem qllc il privc de sua essêllcia' Agora, a época é tle
etluilíbrio' it.tcor.tspícuos cia ultrapassagern. liics não são Iugzrre.s vazios,
que rompe recei)eu sua atnrosfi:r'a cle Feriatlo santo da celel)riiç1o cle sprr.lvirlos tler "atmosltera" própria. B[es são conceclido.s e envolviclos
o <1ia
<jabo<]a.Aslnull.rerest<tttliltt-tseusatalllol;,setioi[eediirestã()em pclas lrrisiis qLre os envoiveni, enrlralarr<1o tls. I]ara orrde? Ernbalar

eqr-riiíbrio.
rluer ilizi:r lcvar er-nbora, no rloce torpor clo soncr, é lransportar aló
a embriaguez Íltrtuante rlu estluecimento. As "irrisas crnbalarioras"
li ltor sobre os atdhos vngarosos, fitzent isto, rlurrnclo os ventos festiv.s sopriuu acimar dos atalhos
pesadas clc sonltos douratlos, trilhados enr dia santo? A r:mbriaguez perÍerrce à celebração. Jlla
brisls ernbaladoras será, contrrclo, a simples bebedeira de unra intoxicação cega? "I3risas
Pass'J1n
eniiralacloras" nao poclcriam pr.r.ocar o cleiírio do errrebatamento
"L, por sobrc os ttalhos vagarososll Já a primeira estrofe selvagenr. Aincla assim, o ato cle eirrbalar. se relaciclna ao bcrç:o. !)le

menciona o atalho que Passâ acitna clo rio, irt.ris o canrittho


clo perfence ao nascimento. O berço se refêre àquilo cuja origenr se
homem nesta 'lerra cieve se ilter ilo poético. Agora os atalhos
slicl l'enlete à celebração cla boda. As lrrisas ernbala<loras rleverl coutribuir
que para rieterntinar a origenr esscncial clo senticleus, isto é, do poeta. Iror
norrametrtc rnencionadtls. Llles são os catninhos das nrttlheres
vão preparat, em atnrosfera festivir, a celebração? Os atalhos
são isso, elits são saLrdadas por úllinro, contuckt tarnbérn priuciptlmente.
"vagarosos". Pcr<lenr o passo nreditativo que collsegLlc se detnot:ar e se C) rnodcl c()nlo irs brisas embalam e por que ernbalanr se esclarcce a
partir do scu prriprio rnocio cle ser. ilias srio:
Senteàvorrtadellapausa'OsatallrosV?rgaros()Ssãorrscirtrrinhoscla
lestivos que "Pesirdirs clc soirl-los rlouraclos,'1 Vemos os sonlLos corncl
palrsa nô qr-ral o destintl atingitr o equiiíbrio, carninhos
siu.r;-rlr:s sonhos, conio ilusiics. Sen car:áter incerto e lirgidicl, qume
cleven acompanhar o cspírito iroético do rio. Se uos lclr pcrnriticlo
"a1alllris", mits arbitriirio, invatle, vago Ér clesataclo, o que na experiência clespertii
não pensar xpenas em sntrir e lrllhar, quallclo rtuvitnos
chamamos realidarle, or,r seja, o qr-rc é Íixo er constante. (]onsideranros
Lirmbémeilr ultrarpassar e chegar ao outt-o lado, cntãtl cltaltlaretnos
os sonhos algo ir:real, r.neraftrclrte sonhaclo. O que tem o cirráter
os alalhos â passagem partr "rllravcssar para o outro
laclo'l Qnando se
até a ruargelrr cle sonho é rneclido co1l.l o metro c1o real, como se soubéssernos,
parte clo estrangeiro, "sem asas ttão se pode ["'l chegar"
,, rnínirrras, l partir tie uma certeza que clispensa o qllestiollâlnelrto, o que é a
rrativa (..o Istro IV, 220)., Os atalLros são porttes irrvisíveis,
no asçrecto' Mas reirliciac{e. Decerto, explicarnos o real corno o cíàtivo (lue, por sLla
clestirraclasa pottcos e, nãtl rAro virciiantes e precárias
vcz, tanrbértr pocle elêtivar'. No entanto, quc são o ef'etivar e o eÍàtivo?
Só existe efetivaçiro quancio se veriÍicam resultaclos e su.cessos? Ou
,-fii*uiilI, rlõ,p ',,n.

126 | Explicaçoes da poesia de Hólderlin


Martirr Heidegger | 127
r
I

o ef'etivo a poesia hínica de Flôldcrlin se prenunciava, o poeta cscreve urll


há cfetivaçõcs cluc nâo cat:ecenl cle sucessos? será tluc só
l

um trào cnte' unt nada? tralado cujo título é "O clevir: ern dissoh_rção" (ili,309-316). Aí se
e rcal é, enquaulo o nio efetivo e irrcal é
ellcontra proposição:
Por oncle passa a fronteira entrc o real e o irrcali llsÍarãrl os
tlrlis a

separacios por urna linha clii,isór"ia cm ânlbifris tliferctttcs?


ou será
rio No cstaclo cntÍe ser c não ser, porém, o i-rossívd se trtrnsformâ lor
que o irreal já não mora iro real? o quc se passa corll a realirlacle
courO real? t,rla partc cru .:irl,
e o rcal crn idcal, e isto é, na irlitação irrtístii:a,
r:ea[? o rlue seriir <10 rcal, se náo cstiirc'ssc trir rr:alirlade
algo rcal' não lunr sorrho l)avor{)so, aincla que divjno.
Cor"rtrrclo, se p()r sua vez a própria realidade nãro lbssc'
se <lissolveria tla suposta niilidatle do telliicio "allstrirtci'? Ou e este
"abstratci', cuia vilipendiação sel\c antes cle ttrtltt para c<lnÍitnlar a 0 torrrar-sc rcal do possír,cl, como lornar-sç idcal clo real
exitli:, no âmbito da livrc irnaginaçiro poótica, çssencialnrçnte a
irrealidaile cla "rcalitlacie", o ecluívocrl iucrtritvel a resPeito clo irrcal,
real lirnna tlç ruri sorrlro. [,s[c solrhr.r o pavoroso, porque afl.anca a.qr-rcle
basearlo na negligência cega que só vô o rcal? se:, contttclo, loclo
a quÇnr se cxibç c'la sua i.nclracla tlesprcocupada. no real conÍiávcl
for apenas por ser a partir da re aiiciadc, cttt.ltl ele tlãtl estarti sllsPens()
c o arrcrlrcssa em rncio ao irrcal o sctr pavot'. Contudo, eslc sonjro
enr mcio ao irreal, qlle ao lneslno tetnpo não é jirmais a nulitlarle?
Assim. talvez. irreal terrha até certa preccclôncia cliante tlo real.
r> l).rvoroso c divino, por(illc o 1;ossível quc dcsponta na rcalidade ó
colno santiÍrr:lrki. art chcgar, pcla vinda do Sagrado. Este sonho peculiar
Flntão <levemos lio mellos ser capâzes c1e rcflctir sc os sotihos,
torna rrrais cntc I,seicnrlerl o possívcl e lrenos cnte ltm,reienderl ct
irreais, não porlerr-r scr de firto urna meclicla Ptlfa o real. l:lntãrl não
"real" e aló então consi«lerado cnlitalivo c rca[. E ao poeta qr-re tal sonho se
cstirmos mais autorizaclos a avaliá los nral. isto é, segtrnclo o
'[alvez, pr-rrérn, trem totlir cxibe, prlrciuc o sonlro, eln suâ irrcalidade divinamente nredonha, ó o
o qr.rc entendcmos imediatarnente corD isl.0.
'ihh'ez pocr-na clo Sagr:ado, qLlc Íu1tcs disso não é passível clc scr tt-ar.rsl-orntado
irrealidade tle tocios os sonhos scjir uma mcclicla Para o rcal.
cm pocsia. devcm dizcr tal pocma. Ao ouvir çsÍ.c
Sãrc os l"roctas c;uc
isto só valha para os sonhos rnenciotrados pclo pocta ent c<tnexárr
já que o poeta pocura, clcs sonhain o sonlro. Quando cles são "sonhadorcs", são
colr o nascimetrto cla essôncia <1o poeta t: cla iroesia,
"frr.rto" dt o h-ulo r.nacluro cla cclebração. Os poctas, poróln, só podcn-r dizer
como sernidcus é 'bbra de hornens e clcnses", isto ó, o
'[alvcz istcr o quo exislc antcs clo sÇu pocmatizÍtr e se llie oÍcrece, se disseicln
celebraçiro cia lrocla ('Assim corll() eúl clia santo'].. IV, 152).
clcve ser petrsaciir acluilo cluc prcccdc toclo rcal: o vinclouro. A palavra quc o cliz é a
s<i ,n alhil parÍr os "sonhos cloura<1os'l Sua irrealitlade
jri palavra prcrlitiva no scnlido cstrito do fipoôIÍÊúsrv. Os poetas são.
no scnticlo que lhc ciii () poeta. Só quc agora o irreal, todavia, lrão é
quarrtlo são csscncialrnçntc poctas, pntféÍic:ç.t. Não são, contudo,
peusatlo como mera nulidacie, pois nâo porle trenr scr o trãrl nrais rcal
"prol'elm" no scntido jndaico-crislão clo lermo. Os "prol'etas"
nem o aincla não rcal. o irreal contéin esla alkrnativa e, alóln disso
c

entre os lcl'lllos. dcstas rcligiõçs não clizcnt dc rnodo exclusiva e ctnincnlemcute


pr:inc\ralnteutc, eucobre a prdtpria incleciciibilidadc
irreal o aincla nào rcal' então cle se antcr:ipal(rrio a palavra do Sagraclo, ;r quai o preccclerá, lançando
Se supuseruros, contuclo, qr'te o é
bascs rlcstc. Fllçs clizcnt o lltesmo que o l)cus, alttcs qlle Elc o
situaria cntre a irreirliclacle e a re;rlidacle. Se agora cslabcJccertnos, uo
1?rça,

gutàtr por(luc csllio scguros cla salvação Ç cot.ltam com a bcnr-aventurança


senticlo tla rnetâfísica, que ii realicla<le é igtlai ao st:r vcrcla<11-i11,r,
srrplalcrrona. Não dcsÍigureln()s a ltocsia de IlÕlderlin nrr:diiurl.e a
o airrda não real que tâmbém potleria sc çharnar pos:sível' r:ntenrlicl<l
ern clue noção do "clcrncuto religioso na rcligião", quc conlinua a ser urn
Lrolno o estágio intcrrncdiário elltre ná«l ser e ser' NiI óptlca

l28 | Explicaçoes da poesla de Hôlderlin Martin Heidegger I l2l


I
I

telni] para a cxplicZrção rolnatlil tla rolaçãtl etltre ltottrcttr o I)ctrs. Não lVladuros estão, mergtültaclos nr: fcrgo, cozidos

sobrecerrrcggclltos cssôrrcia tlcsla obra poólica l.tanslilrlttantitl ti


il I
os llrutos e teslaclos na '1'erra c é ur-ira lei
O Saglâtlo tltre tlrLetutlti deve ir ali, colito sel"pentes,
lloclet em Lrnl "vidcnte" tlue prortrcte adiVinhaçr"les.
lianclucia o L:s[)aço cle toullltl plolêticarlente, sonhanclo corn
se pret1ltnoia pocticanlentcl ill)ollas
a colina dos céus.
para () aparecimento tlos dctrses e indica, pitra o ltolttern históLiccl, a
localidaclc do habitar ncsttr'li:r1a. Não sc estll attl.orizirdo it petlsar
se Ll
'lirclo
c1r"re cleve ser fiuto precisa ir ao logo. [st. e a 1ei cra partiria
zr essência dcstc poe:tir por allalogia cont arllrelc$
"prtlÍ'clas"; Ix)l ()tltra,
() que há cle ..profótir:o" nesta l)oosiir (levc :icr ctincc:bici0 a par{ir da
p.rra o estr.mgeiro corn o intuito de experirnentar o fogo do céu. Niida
clue seja prtiprio à terra natal pocle ilorescer senl ter sido cozido no
essôncia cia predição poe<tica. O solrh6 (k)s pootils c tlivit.tcl, trias c:lcs
es[range ilo, correnck; o risc<-r de rluase arder. Niicla clue sejir próprio está
não soniram Um l)ens. Listi: sonho te|n srrii prripria g|aviiiade , por l'tlr'çtr
clispensado riisto. Se, porérn, os lrLrtos anudurecern e, ao retontar ao
cla qual as brisas embalircloras não sc dissiparn em retletnoillhtl, mas
próprio, forenr testar]os, entào serão cluem clevenr ser: os poetas. Eles
traçam sua trillta solitária por sot)ro os iúalhos vagârosos'
são os "sinals" qLle, como tais, ao rnesmo temiro desatrrigarrr c a[rrigun.
ivlas como as brisas enrbalatloras poclerilrn ser graves?
São tâo arnbíguos rlLralto a serpente, razão pela qual tarnbénr lirl ctaclo
Porclue pesa.las de sonhos "clotrraclos". Iltn tltttrirs circitnstâtrcias,
rro projeto cle irino "À,,.lnenrcsiuli] ern vcz de "Os sinais'] 'As serpentes'l
o peso acaba se ttlrnatt«lo lrrn lirrdo, tle ião pesado C)s stlnhos
Os poetas cltre arnactueceraut atú a essência são 'toino serpentes'i Elc.s
clouraclos pesalt) colllo o Orlro eltl Virttlde cla ltertilitiade do citte cr
são pro.léticos. São "scinhaclores" e sonhartr com sclnhos qrle pesaru
poenratizaclo tern cle essencial. (lontcl () oilr(), eles brillianr L:o111 o
sobre as br:isas, levaclas pelos carninhos iraçackrs pelas 'tolinas do céd]
ardor dtl sagraclo. CoIuo o ollro, sãtl nobt.es, corl a Pt]rtza clo qne
ou seja, pelas nuverrs. Qr"ranclo os poetils estáo maduros, então poclen-r
t.,sagracio clecidir-r e etrviclu. Aqrri, o peso é a riqueza t'le rttna cliidiva
ser empregaclos pelos deuses que Lleles "necessit.arn'l Agora, deirois c{a
irr-rpouclerávei cltte Os sonhtls ettcobrent. O tltri: os sttnltrls drltrr:aclos
a.s "preocupações" do oÍicio de poeta ('A chegacla
tnaltrriclade, colleçaln
abrigam o poeta lrã() diz, prelo nrencls nào di|etirttetrte. Nlas o clue
ir cirsa'i IV 111). Pois eie clevc scmpre, para per-manecer na essência,
poderia se abrigar tlirs brisas erubaladoras tlt-r país ao SLr[, setrão tt
pensar no lbgo do céu e etrr cc)lno exibir isto que lhe íoi enviado. Anrbos
arclor e a L-rz cl<-r raio sagradtl ;rtl tlual o pcleta deve a geração da sua
clevern ser guarcltrtlos na rec<lrclação, a saber, os sonhos clourailclr; rlue
própria essôtrciii? As brisirs ertrbalam no berço de origel1]. A satrciação
pesanr sobre as lrrisas e o uso correto do Próprio, quanclo se tr;rta ile <lizer
ao país estrangeiro s{] ctonsriÍnil na sautlação às sttas br-isas. Atr
0 clue deve ser dito. Nern secluer para nm senrirleus ctinsegr.rir arlbos é
saudii-las, o poeta pcllsa rro "fogo clo cétr", que já deve tel siclo
pouco, nras rnnito. llis porquc o poema segr_re atliante, sem píIllsil:
suportado prcvia e continuanrcllte para que a exibiçào e a prílprirr
factrlclacle cle exibição tenhan:i aigo a exibir qtte irtlnha à prova a
l'l ttruitas coisas
1àculclacle cle apreensiro. Só se ()correrem tânt() a exlreriência cio
cont<l sobre os t)rnbrtrs unra
estrnngeiro cotno o exercícirt clo prtiprio et]1 SLl.l urlic{ade essencial carga de aclrrs,
irisiórica, o frLt[tl'tli IlesptiriJ'atrrrrdurccerá ("O pão e o vinho"' há a gulrdar.r"
lv 125). A essência clo poetar rrlemâo vinclortro será então Íirnclada.
Pois o poeta cliz (IV,71): r{) (liltN't'f:LA, t9,)7, 1:. 416.

130 | Explicações da poesia Ce Hôlderlin Martin Heidegger I l3l


I
Só tra recor<lirção que sup()l'la ulx filrclo é cltre antadurece e Algtrónt a 1aça clreirosa,

se coltscrva â essônciil clesta 0bra poótica. Iiis porque seu prittleiro Qrre eu possit rcpouÍiar; pois docr:

poeta deve, previa e cotttinuaineu[e, meciitar sobrc:r própria Seria entrc sornbras tl srrntr.

recordação. lsto signiÍica: dizô-la e realizá-la poeticamctttc. Donde


o poeta <;ue volta a casit, agora que sc subnrete à lci da Listrrriciclirdc, Isto evrtca o potllo <lc partida da carninhir<la que ieva ao
elvia, merliante o vellto Norcleste, sua satrdação ao íogo c1a to:ra natir'.? Por nrn laclo, o poeta já pátria. por outro iaclo, será
chegor-r :'r

estrangeira. Na saudação, cot.ttttclo, aqtrele que é sau,Jacltl envia cle que a nleril chegada aincla não ó suficieure? será qr-rc a chegacla a

volla ut.n cunrpriri:rento àqrrele qr,re se rleixott Íicar. O fogo do cétt se casa apenas corxeça conl () regres§o à piitria? A permanência na

cledica em l)ensairien[o iro sirudante, e thc perlnilllccc prílxit1lo conlcl piitria não sc prochrz pur si nresma. Ela não consiste ern o poeta cslar
presença do quc passaclo clivino. O estrangeiro, Lilna vez conheciclo, rlisPouível, clo mcsrno moclo que as coisas nativas. A perrnanência

não pertence ao passaiio apenas como ttnla reprcscutação aitrda só drcg,a a ser o iluc deve mecliartc o rcgresso a casa. para os filh«rs
r1a '['erra, o regresso a casa é a passagern para o aprendizaclo do
pirssível de cv«-rcação, embora já clespr:oviria de prescr-rça e capirciciatic nso
<le enviar lrma sirudação. livrc clo próprio clue os própri.s Celestiais "usirm,l O poeta perle a
'Ainda trre lenrhra bcm e como". f) r'erso de tra[rsição conchtz taça, "para (iue possa rr:pousar". íl assjnr que o auclaz fala, para que

cla primeira estroÍê parâ a segutrcla. Ao tnesuio tetrrp<t, arrcnlessa possa conquistar o próprio? ori não será estc o apeio extcnrrarl0 tlc
uln arco que Jcva cla segunrla cstrole à lerceira' ['0is o "ber.ri' não alguein <}rr: sír busca a tranqiiilicla<lc? L) poeta pecie a taça, para rlrre
"possa" rePoilsar ou vernha a ter a capacicla<Ie de tal, e isto signiÍica
cliz apenas quc o regressaote ir casa "ainclii" Conserlra Íirtne c ftrrte
o [ogo estrangeiro. O "beni' irrcitri, além clisso, o sentido cle una que rlcvota todo seu clcsejo (arnor) ao "rel.,ous<)'] para que venlra a ser
"lirgo do capaz- ile tai, piira que'cnha a ter lorças sr.rf,cientes para clar:, por si
restrição a ser precisada pelo qtle virii a segttir. Decerto, o
sul" se aproxirna. certamentc, rluem {icou para triis e daí cnvior.r nlesnlo, enstjo ao repouso. Portanto, este repouso não porle §e[ ulll

uma sau<lação sc tortror-r nrais experiente' Contu<lo, ele iá é capaz' relaxarnent. descansaclo c sooolento. Íi fato que, nas sombras dos
cle permatrcccr ncl pr<iprio pof tcl' ficaclo para trlts c enviaclti uma lr.sclucs nativos, o poeta jh errtrorr em contato com aqrrilo que trâz a

saudação? um mandartrcnto essencial da lci cla hiritoricidacle {bi alcgria. o Íicsc.r das s.r,trras p.deria levá-I. a esquivar se clo Íbg',

olteclecido: a parlicla pâr.r a colônia. Mrrs por cstil nrcs]rlir t'azão, e c tlansíilrnrar a cstadir sob a sornbra err u,r1 descarrso parecirkr corn

em flnção cle[a, o outro mand;tl.ncnto tievc pilcier ser glicciccirlo: o o s()lt():


"It-'}]ois cioce /,§eria enÍrc sontbras o sono." Sc íossc irssim,
uso livre clo prriprio na experiência do estratrgciro. I)e [àto, pensirr o
no acontecido é bom, niâs agora tan.rbélrt é relevante irpellas e rcpoirso scriir a inação do sono e a carga cle achas seria aliviada. Aí

exclusivirmeÍrte se vem sc juntar à re corclação clo l'inclouro' então o sor.ro não "scria" r.rada além de doce. Não é, porque nãcl lhe é
Pcrrrrititlo rlue srja. Assiru, o poetir pecle para ser capaz cle um orrtro
Aitrtiir tne ]crttl.r-a l,cttt c cotttc, tiiro dc rcPo,so. Iile jií tlisscra a palavra: 'hgora, porénr, rolnpe do
tl dial" (tV, I 51, I9). O p.cta clcve per.ranccer vigilante, c talvez ai,rla
Mas qtte tnc dê, rnais vigilanle i)ara ui,a nreclitirçã. mai.s alta. Ele só podc usar o
Chcia tle lttz escura, próprio, a clarczir cla cxibiçào, "livrenrentc" quando a clareza ckr clizcr ó

I32 | Explicações da pr:esia de Hôlcierlin Mar-tin Heideg4er | 133


pilra e'xibir' cscura não nega ir claridarle, ntas o que o clarho tem cle excessi'u'o,
deter:ntlnacia pela experiênci;r lriutcliteatla claqtrilo clue l"rá
qr.re se pois estc, qualtto ruais claro é, nrais cleciclirlantente rcchaça o olhar.
A palavrzr cleve .se unir previamellte 2\ luz racliaflte cio sagraclo
e ainda vige' O fôgo rlue ttrrlo incenileja niro apenas cega os olhos, mas tarnbém
ofêreceu ao poeta, quan.lo cste partiu para o estrangeirtl
tl aparente clarão exccssivo devora lodo rrrostrar'-se, tor:nirndo.se nriris escuro
c<llTlo LllTr envjo, na sauclaçãr: ao passado. só nesttr utrião
<-r

tnesllto ser que o escuro. O sirnples clarãrl arrrurça tocla exibição aincla nrais
pode se mostrar, e, inclicitntitl .unta orltÍa coisii, llocie ele
que por(lue seu aparecer aparenirr ser responsiivel por todo olhar. O poeta
um sinal. Só assim acontece a renútncia i\qucla Íalsa libertlade
pede a tládiva cla luz escr:ra c}re suavizir o clarão. IVias esta suaviclacle
consiste cm considerar irnecliatarnenle disponÍvel a her:ança natalicia
helciar não enflrlquecc a luz clo clarão. Pois a escuriclão Íianqueia o aparecer
colno se fosse um patrinrônio ilo poeta que este só precistisse
estabelece r1o qrLe encobertt c preservo neste o qr-re ele encobertou. O escuro
pâr.a que a possuísse. A vttntirile de Jlerdar imct'liatamente
"abate" tl espírito poéticrl. preserva a plenitucle do que o lr-rzir presenteon, en1 seu írparecet..
uma reiaçáo cega co!n zr p:itria, p()rque esta
A lrrz escura clo vinho rião suprirrre tr reflexão, mas antes r-leixa que
Aprencler o uso livre do próprio siglriÍica estar abertrl, tle nlrldo
cada
que esl)efa ela vii alérn cla rncra aparênciir de clareza qtre oÍêrece tucio quanto
vez nliris exclusivo, pafa o qLre se lhe destinclr.r, na vigília
clispersar: cle rnoclo seja tangível e nivelado, e sc eleve irté a altura e proxirniclacle do
o vindouro, na sobrie<lacle que se atéln, sern se
pafa o z\ltíssiruo. Porliutto, tirça cheia ruio produz nenhuur torpor. Illa não
vacilante, i\ verrladeira urgência. A abertura sóhr.ia c ticferente
a

corresponde deve intoxicrtr; rnas enrbriagar. A ernbriagur,z consiste no transporte


Sagraclo é ao mesmo tempo o recolhimento na calnla que
é o pocler: sut'rlimc i\quela atrlosfelir em qre é possível perceber a única voz
ao "repouso'em que o poeta está pcnsando' Esle rePorlso
capaz cle estabeleccr un)ii consonância cle tal ordern <1ue concluza
permanecer no próprio. 'ihl pernranência é aperlas ir camirlhatla
em

i.lrriplio na to<los arlueles que ela afinor-r il. se rleciclirent pelo extrt'nro mais
que se aprencle o regresso de volta âo que ó origirliirio tt<l e
apartaclo tk: si mesrnos. lllcs não estiLl clecidiclos pur ter chegaclo a
próplria casa. Se for verclircle, ;lorénr, qrle a perlll.lltôrrcin lla clirricllrt]e
lirna ct)nclusàrt porrcleracla, rtrils porque sua essênciit firi crlnceclicla
pocle ser aprerrdida, como potle agora o poeta clizer
por aqrrilti que firz concordar tLrtlo que soil rlil mcslna atrlosfera.
A ernltriaguez não cortltuncle ris "sentitl{ls"; uri contriirio, trirz consigo
Mas que lne dê,
Chela de 1uz escttrri,
tr sobriedade cluc irermite que se "pcnse" "nas" ahuras. A sobrieelaele

Aiguérn a taça cltcirosa, cle qlrent não lirz exigênr:ias, lnils, il seu nrodo próprio, é sriliclo
e seguro rle si é tle tln tipo irenr clistinto ilarlucla sobriedarle rlue
L,uscatu ()s secos e os Írrrplssívcis, os ár:irlos e os virzios. Anrbirs as
Quancioopoetapecleataça,lrãclestirrápetiirrr'looçler.lirrnctla
à irrtoxictrção' forrrras clir sobrietlaclc se clifàrenciant esriencialtnentc, por sua vez, da
irnestesia que leva a<i esqttecittlento e à bebicla qttc leva
arfastando cla reflerão'i (J vinho é chamacio
"luz esr:r.lrdl l)o::tauto, o sobriccla<le que pernrite ao ebrio a iiuclhcia de lrcy'111or'r..er nas altrrras

poeta pecle tanrbénr a luz e o clarão que ir ciariclacle cotrcetlc.


Nlas a tkr Altíssinro. A cnrbriagiri:2. eleva atea clariclade ilunrinada na rlLraI
as 1;r'olttrndezirs tlo erncobert<-r se abrcnr, e a er;curiclão ilpiirece conlo
luz escura suprime, por stlir vez, a clareza, já que ltrz e esctrridão
se
(le vista ir:ruii da clariclade. A elegia inacabada "A carninhacla ao campo" pode
confronlafiI. Ou pelo Inellos Parece ser este o ciiso' clo lrotlto
do pensar que se contenta emcalcr-riar usarrdo objett-rs. I)ecerto, o scrvil de cxplicação (f\a I l2 ss., 314 ss.). Só clue ir sinrpliciclacle cluase
clesusacla deste poenra r) tornil arinda rnaÍs <lilicil tle peltsilr quc os
poetavêumluzirqueserrralril.estaatrar,ésdesttaesctrri«]ão.Aluz

134 | Explicações da poesia de I-lôlderlin


Martin Heidegger | 135
I
I

outros. Suporernos aPeÍlas que a 'h calninhada ao calnpti' scjt tr


I
pela Iuz cscu;'ii, cl golc serviclo pela taça chcirosa se torna ele lnesmo unl

cafirinhar cle unia v0ha para casir em senliclo pr<iprio. A canrirll.racla d«urr rlue o regressante i\ c:rsa oíerece, pritnciro, aos cleuses e, depois,

que entpreencle o regresso nativo. () rcgrcsstl


zr casa é a perrnatrência no aos navegilltleÍi, a0 recor(lar. Mcdiante e§te dom, 0 poeta consagra a

é rnovi<lo unicar-nente pelo'desejo" cle thzer de utn lug:ir ern


qtle os sua própria cirminliacla até o nativo à preparação do solo soirre o c}.ral

honrens rnoraln a ciisa en1 que os cclestiais poclcrão ser recetriclos ir ntoracla dcve se ergiler. A pcregrinação deste peregrino tern:irra no

como convidados. Se cle hóspecles'l cste ittter:nlecliáritl entre


ir'tasa citranrlo começa a clonriciliaçiro, isto é, quando o nativo comcçi1 a ser a

os Cclestiais e os homcns, f<rr erguida, só e ntão sutgirír urn estatlo


de casa própria. Íl o quc riiz a elegia "O peregrino' (IY 106):

prot]ticião humitnit Piira a proxiuridiicle dcls celestiais, pârâ <1ue eles


scjarn pala n(is oÍi Cele.sliais que são. O pocrna se linrita a eltuttciar [)ai-nrc. pois, até o borclo clreia de viuho
"nos fcriaclçls l)os nrorrlcs qu€lltcs tlr l{eno clai-me a f aça!
o ciesej() rle se estar. ern conllições cle cumcçar a lat'rçar,
cla primaverir-] as funclaçires da ctrsa cls ltóspedcs. Parir tanto,
toclos Que cu belra prirnciro aos clcuses e à ntenrória clos J{eróis,

devem "esl.ar abertos'i isto é, "segundo o espírito": o piris natir«r e il I)os rravegantes, c rlcpois i\ vossa, mcrus <luericlos, tarnbénr,
Pais e artrigos! c es(plcçâ cansciras e todas as clores
vento, o c0ração clos rn«irtais c os Cclcstiais.rlNelsta elegiir se e ncolltra
I-{ojc c auanhã e cnt brevc cstcia entre os uleus.
a palavra:

Por isso cspcro talvcz, que acontcça, se iniciartltos


Ao pcdir a taça cheirosa, o poeta pede para ser autorizado a
pcrrnânecer; segunclo a lci csscncial cle sua atividade poéticâ, eltr rrrlt
0 dcsejarlo, c lross.l lírlgua sc soltar,
ll cncontrarmos rr palavra, e o cor:rçã<t sc abrir', peusÍri]lcnto que reúite o passaclo e o \rindouro, ao invés cle dornrir
ll unra lcflexão stlpcri«rr surgir de trttttL froltte óbriir cicnrais e perder o agora.
(]ue nrn:i Í1oração cclesle cotnecc, jtuto colll a nossâ

Il qrtc ao ollrar alrcrto o lltiminirute se abra' Não ó borrr


Íienr alrna estar clr: rriortais

O clcus do vinho, a qneill os poetas Pcrtcncenl, cottçcclc o tlom l)e nst rlcntos.

ria fr<lnte ébria, asseguran<lo uma pcrmanência iia clareza supe rior
qite

tleve exibir, na paiavra nomeadora, 'b lLurlliuarlldl Unra vcz oÍcrtado Agora c1r-ic o Nordeste clcclica ao poeta, saudando-o, a f-esta já
acontccida na terra cstraltgciÍ:a, tanrbéru traz a fresca clareza.
O N«rrclestr: faz com íllic o poela reÍlita sobre a permanência no
i1111'l irlo llln cl'nle nlo esttlnlttl :\
-., *.f ," -l* i*rl-.irs i\ rcÍicxão ts sirlauintr:s l)cl1lllll1âs: i'
poesia,lcttirtaralrr,sepensarlllosplcvirLllclttco"aber(ri'tletnotlotlittr lr<lótic,r,tt,llosesuâ prírprio <ie sua clcterntinação poética. Por isso o poeta «leve pcnsar
jli ltru irtlt |ressett[id0
cssê,cia tbsse a cl ru.cira rfur scr, cuja rc nr ipjscôncir írrnclamcttl al os grtgrls n() (lLlc é pl'opício ao irpt'enrlizaclo do ljvre llso do próprrio tirlenlo
ao íalar ern tÀí10etô( (cles e|coltrimerrto), cntbora nrllctr tctt]raut
ptttiitlo lortrrr explí(ritâ? orr
ser;i gue a poesia, aqui, llio se ellcontra cQDi o Pellsamcltcl' aitrllt qtlc
vilr(lr' (li'!crtr)' (le tl'll par.r a exibição e o quc não é.
or*.,r ân,bito'i Cí. o clrsaio',4 rlorttritta tlc Í'laliio solrrc ir ve(la(le" 'Johtlrytlt Íi|r rlit geirtisT'
{iberl.ir{crung. Seguncio volutnc, 1942, ptrblicrclo como sel)irâ1i cnr l(l'17 1)í)r
A lrtaitcke' "Não ó porém born'l listir recusa uão leva de ntodo irlgum a
1)rrlrro' é 1ão alheirr
8ernn. Lrr"r.",r.",ru,, u .1u" ililhc chama 'ir Aberttil ra'litavt tlas 1ilrrgirrr '/r'
strficicllles 1'c7'Ls algo incleterrninacio. A sr:nteuça não é sequer relativa aos homens.
ao petlsân)ento sobrc o fturclalnctlro ila rrT"rl8r:tcr clue ó ilrlpossívcl lll()sLtar
cncorllra rros antípoclas tla Palavra tlc i liiltlerliu
(lí' llo[zw'y'e' l')5Q'
rrtnto a p,rlavra,-1c I{ilke sc Llla scrvc r\ reflcxão sobrc o qrre é conveniente à ltausa cio destino
l, ln) ss. { N tlrr A.).

136 | Explicaçóes da poesia de I*lõlderlin Martin l{eidegger | 137


r
l

tlize-lo. Iuconvetrietltc e ciesajeltacltr se ergue e'ntre os homens e <ls deuses, como intermecliário e indicaclor.
eqtrilibra<fu e dá ao poeta o jeilo de
alrta' - ptlis cotno pocleria o poela tle otttro irartinclti destc intervalo, ele pensa r1o que, acinra cle cieusers e homens
seria agora "estar sern
"artitr.taclor"? ";\nirn<i' e clil'erer.rtemente de
ambos, é capaz de revestir algo c1e caráter sagrildo
mocio eslar à allura cia snir essênciir, quc ó ser o
tle toclas e se oltt.ece para ser pensado e clito r.ro poeüta. persarndo dc motlo
significa aqui algo bern clistinto clo princípio gelirl rlir vidii
"'l'er alnla' sigllilica arlui ter ârtitrto nrortal, o poeta iroernatiza o A1tíssirno. Não ter tais pensarnenl.os niro
as coisas vivas, incllstintafilente.
"ârlüno" oti cspjríto. l)ccel:to, é propício à permanência poética no próprio.
lGenitt).'Ah:ra' significa o lrteslllo qtte
tarnbém esta Palavra já perdeu para rlós a sua Íorça Irotneatlorit
inaugural. Quando rnuito, o ânirrto ccluivalc parir nós art langor
cla ivÍas e botn

l'rirqttezit (lonversarr e tlizrr


sentinrentaiiclade, quanclo náo ao excess() rle sentitnentos, à
cltle só A opirriao cl.r coração, ouvir ntuito
e frouxitlão. lv{as a palavra "âninlo" abriga utn veitl sullterrâneo,
a pensar De rlia-s tle anror',
consegrliremos ouvir novamente, uttl tlia, se clesallrenclernlos
O ârrirntt LMutl é'a L tlr rçóes rlltc ilr'or)lce!'n;.
o honretn segunclo as rlpiniilcs <la arltropologia'
üascente e o sítio, a disptisição e a voz clo qtre eln 0lernlitl
méclkr alto se
Mais umil vez, perguntar: o que é utna conversa?)2 De
ca[>e
diz muot,clacltiilo que rlos c«ttlcluz aié a i11l.ensiciaclc da cLltliulimiclade
tlir p,rnçii e clo acorclo collt o já dito rrn[eriorrnente, só poile ser o peusartrenlo
e da exantinaçlo, cla rlrirrtsidão e cla trobreza de espírito'
o àr.rimtl, clc pensarnentos rnrlrtais. O que, por
srrâ vez, explica qtre este
espíriiode sâcrifício, <Ia inag0anirnír1ilcle e da lorrganimit'lacie.
"lhndl O |orlleul cietenlor cle pcnsaÍueÍlto tenha o cariiter: cle conrrersa. C) qrre pertence i\ conversa
assirn compreendido, Hõiderlin chalnir a
é explicaclo peli: poeta peltr cor.rjunç:âo 't":
alrna é o altivo, o que teln a c(»'ager[ dc exigir pitrit si llleslllo
o que é
"Il1l ilizer [...], ouvir'l Isto não significará apenirs que irs par.tes
supericlr (v poeta estaria "sem irhnii" se elc'arpellas vegctirsse,
319). o
esPírito para c<lnstilutivrrs cla conrrersil cotrsistem crn rr.rporttlr informações e prestàr
despojaclo cle "pensamenlos rnurtais'l ilstes 1r-anqtteiatn o
(ltltrr<l os pensarnentos atenção? Urna conversa terii consistido, jamais, cla jutrção clestes dojs
a§ exigências que o essencial lhe seja deilicaclti.
componentes? Dizer e ouvir srl lbrmarão a corlversa conversada se
mortais ultrapassam cl"rern é tlesProviclo cic alnr,r? Mitrl ilcstanrrt]tt.' nào
desciobrarem a conyersil originária, e surgirenr eies nresrnos cie tal
Se tr.}trl cle pensamelltos Casuais e Lransiklritls, tlrtrs cie })ensiltnetl[oS
clesclobranrento, a partir da conversa originllria. F.sta é a interpelação
pensaclos pelos mortais, pelos "Íllii<ls da ]'erra'l Ntt entanto,
nito
tlue está acirna constantenrente mrLela clo enviitclo, a v<lz silenciostr tla sauclação, na clual
cornpete ao poeta pensar precisltrcute trc' Sagraclo'
tlevc cxibir' rlcontece a exigência cpre qlralqtrer pcssoa deve trazer jr.rrlto ao própricr
dos cleuses e clos hon'iens? Scl]r clÚrvitla. Aintla tissim, ele
âuirno, descle que tenlra sir]o escolhicirr peia vo:z rla sauclação para ser
o Sagraclo tal qr-re os cleuscs sintattr it si ntesnt<ls po| ttreitl clo dizer'
aquela que ntostra. Insisl-ir ern tirl exigência significa sai;er oLrvir. Eis cr
poético, e se façant visíveis pclr si nresntos nestir rrtoracla terreua
clos
da'l'erra clc que oíêrece o solo essencial c1o cliz.er: legítimo. liste é originariamente
hornens. 0 poeta deve pensar o (lue diz rcspei{t> aos Íilhos
lhes é natai. um ouvir, assirn corno a faculdade autêntica da auclição consiste eni
moclo eminente, se eles devenr ser capaT.cs de ilabitirr o clttc
"rrtortiilidadi' concertlente aos Íilhos clizer de modo originárÍo e novamente (não em rcpetir.) o que foi
Só clue o poeta cleve pensar esta
da f.erra tafitbém do ntoclo como esles Pellsam. Dentre
orttros tnoclcls
Pois ele
clepensar, taivcz o mortal seja o írnico (lue conlpete iu) poeta' l2 (.lf. "lJôltLerlin c a rssêrrcia rl.r poesla'l tleitlegger, 1951. (N. do A.)

138 | Explicações da poesia de Hólderlin Martin Heidegger | 139


r
I

"perictrcencitil aincla assint, "à virlri] decerlo trão como sirrrPlcs


ouvirlo. iJ só porque r:»s apirralos corp<lreos cla boca a ç1q o111'lil0 sãtr
cstão situados em Partcs sepraraclas clo corpo collo o qucos Íilhos da'1'errâ deveilr escutar: previamenlc,
;rcessório, nras
aparententente distirrtos e
se quiserent habitá-la. C,rno, no entanto, este habitar é ..poético,l .
que separa[1os o clizer e o ouvir, conlo se {bsseur cluas ttrcLrldaclcs
clifcrentes, ncgligencianclo a uniclacle originária cle rutlbos qlle
jii 1râ7. escritado e pertencentc à vida só porle ser 'b que querernos,, -. nós,
os poetas. A opi,ião dc seus «;rações equivaic ao poema cio Sagrado
consigo a possibiliclacie dc uma pcrtlruta entrc os tiriis. Dizcr e ouvir
brota.m cie modo igualmetrtc essetrciitl da cottvcrsa origirliiriir. Por isso,
quc perdura,. destino, na estação de festejo. A opiriã. clo coração
elt] ullta boa corrversa o riito e o otivido são o mcsltto. ilôldcrlin pcnsa, l)erlsa no làstejo cla celebração. Dizer tal opinião serve para se clispor
a insisiir na essência cl:r atividade poótica conceclida. ]á que, porénr, a
ao intr"ocluzir a boa conversa llo poelnil, no clizer c tltt ouvir a partir
originiiria sr-rrge. A boa cotlvcrsa tliz boa çouversa diz a opinião clo cclração, elir pernrite
clos quais a conversa
'A opinião clo coraçãol A boa collvcrsa visa a(luilo crn quc'
previa e constiutteurente, 0 coração pcllsil. lêln'se sólitios clireitos a IO]uvir rlruito
'bpiniâd' llt4cinungl I)e dias cie ilrnor,
traçar urnâ rerlação entrc as Palavras aletuãs para
o qtre E cle ações quc .rcontcceÍr.r.
e "atnor" LMinnc). O que o que o coração, lá no ftrndo, pcnsa á
tambérn jti "quer", e o qlle rcrine ern si toclo desejo. o dcscjo cssincial
O 'inuito" significa ariui a riqueza da plenitude urnir única
se clifurencia cia mera cobiça que quer apct-râs para si, e também a si c1e
coisa, ao invés cla multiplicidaclc <le urna variedacle cle coisas dispers:rs.
rnesma. Thl cobiça se ârasla clo ajus{acioIdas schickliche]. unla vez
que
iiste ouvjr nunca percebe apenas o trtinsitório, mas ouve o passatlo,
the falta o peltsârrrento coLreto, cla é clcsprovicla cle c|rlencliurerrto'
IV .:onfirnne cste se confia i\ essôncia do acontecirnento. Este ouvir peusa
Deste'tlesejo" cliz. T"Iirlilerlirr ("O Reno'l 173):
na rnagnauirnidacle, rnansidão e longirnimiclade cios clias de arnor. seLr
espírito Ici:i.sll e a vontacle c]e rlue o amado encontre sua pr(rpria essência
l')trrótlt i ttscnqltl o i'
e nc1;r se nralrtenira fiunc. Este orwir é uma recorclação r1a franclueza e do
l'crantc o l)cslilto desciar.''
cspírit«l dc renúncia clas 'hçÕes" que, urna vez acontecidas, são selnpre
urna c()nsunlação e fundam algo viilid<1. Amclr e açôes conrplcliun a
Em contrastc, o descjo gcnuino quer () ajustaclo, qLre a elegia

'A caminhada ao camPo' enullcia (IV 112): altivez da col'ascln que perrnite ao ânimo clcls rnortais se prcparar, rlc
maneira inaugr-rral, para a exigência de um destino qrie se rnanléru
acirna dos honrens e, conltrclo abaixo clos deuses, cleyendo suporlar a
Pois setlt ter poder, aintla pertctrcc à vida,
parcce Ao mesnlo tenliro convenicttl.e e alcgre' desigualdade própria ao serniclcus. o amor inserc o ânirno na ar-nroslôra
O que que rernos, e
de celcbração. As :rções Jiberam o ânimo para rnanter-se coostan[e no

"Sern porler". NIão é granclioso llefil ilnPre§sionante'


lei destino. Amor e ação são, no ântbito dos ntortais, a prripria fcsta em
que se [)r€:pirra a cclcbração. Para o poeta, é boni ouyir sobre amor e
talr-rpouco é cio tipo que elllprcga a violôncia e se nssclgtra de
ação. que sã«l o clernento poético, se ele cteve se exercitar
sua prevalêr'rc.ia mecliante a drirninaçãrl. iiste clcscjo rcgc iltvisível, no irso liyre
c1apalau:a qrre o que Íiurda o habitar terreno do,s mortaiso a par"tir da
experiêrrcia clo lirgo estrangeir«r e enr vista dela. confrirme a conversa
i.friliffiü,p,ro
140 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger I l4l
sobre iuuor e âçÕes fala, ela diz a opiniã() clo c«:raçàtl.
() dito e o otlvidcl . pacífico cla calrna reÍletícla, que proscreve a luta. o poé1ico é .
moclo tle accllher, concis. que clá cclntenção ao disperso. o poético é o que se conteve
são iguais e o lnesmo. Na Lroa cotrversa, o rePllcar é rtm
clentro de urn Iaço e umtr meclitla; é o rnoclerado por ser clotaclo cle
e perrnite cllle se pensc naquilo que toda recordação cleve recc»-clar'
intellOcutotes mais pensativtls, t'ttl setrtido ern merlicla. Por <lnde qrler q*e vá, cl proético não abanclo.a os lirnites,
A boa cCrnversa trtrna Os
() poeta lrca rnais anirnaclo, isto a cth.na, o laço, a rneilicla. A ativiclacle poéticl é o pensar no que
que seus "pensan'rentos" sã() "rnortiris'i
conversir' a Íala perrnarlece. Daí o colóquio ps[1içe exercitar a língr-ra cclm vistas à
é, mais poéticct. C pensarnento recortlante íàla, nir boa
exibição do clue pe*ranece, irssi.i prcse,tcarclo o poeta conl o Llso
poéticii. o poeta sabe oncle se irlojâ o teor poético cia boa conversa, prois
qtte llte serve' livre cla {riculd.acle de repousirr *. próprio. urna cclnversrr assiru é
ele conhece a cieformaçáo tla coltversa e da iingurrgem
boas. Nelil, u,ra recorcl.çã. vem clar as boas vi'clas à outra. Ncr
A crlntra-essência cla blra ctlnversir é a tagarelice "rlãtl ptléticdl lisüeve-
clas
cncorLtro se experimenta ir unissonância clos rnesrnos pensarnentos
se cnI Itrrl frrgmetrto tartlio (rl' 25' lV ?'57):
e o ;rertencirnento rníituo enqntrnto o teor cla arnizirde.

IOl esPírito da rrcite


lvÍas onde estão os antigos? Relarrnino
Quc traz tenipestatle ao cétt, cltte ao uosso país
(Jom o conrpa nI teir<.r?
Lnpingiu, cheio de língr-Lirs, t.ráu-poético, e
O entulho revolvett
Ató agora. A rluarta estrclle corneça cont urnâ pergunta. No poetna, é a
lviirs aÍ vetn o qrLe qtter(), úrnica. No ernlâ nto, como â "recordação'l que repollsa sobre o clecidiclo,
podelia clecair na inquietude tla dúvjda?'lalvcz a fbrma interrogativa
O que o poeta "quer", o quericl«l por tlrn desejo essertcial' é o cle ambos r)s versos seja aprenas urll o*tro uso
li,guager,, un) uso
cia

ciestirrirtivo ltlos ScLtickliche l. F)ste lião virá porque o Poeta


quer; ao enlático palavra Í}ernr:,te cle necessidade, a mesrna que, no hino
cla
"Os titãs'l o poeta;rrofere, ,rrtviclo pr:la tncs,ra precisãti cie ..repous.,,
contrário, o poeta rleve desejrrr o vinr'1ouro poeticamente' porqtte
este é o poema que não Pode ser colüpostÔ tle anternão' é
o sonho e pirr[inclo cla nresma recordação (]\,, 208):

do Sagrado. A este vinclouro os poetâs devetn 'torn btla collversa

consiigrar caminhaclir ao campo'] IV' 112)' Sri assirtt


o solo'('A Iintrctanto, etl h«rras festivas,

preparar-se,á para os fillios da '['erra o courpromisstl de uur hal;itar


lJ rltre err possil rcpousilr, dii que ctr nre lcnrbre
l)os rlortos. Morreritrt ntiritos
poético. Nit esboço clo fragt.nento, Hijlclerlirr se esforl:a pari.r clizer
(ienerais ent vi.ihos let]tpos
mais claramente o que etrtcncle por "trá<l-pilético"' A esse respeito'
lr tuu{heres lrelas e poetas;
N. t. Ileilingrath observu o segtrinte: "acirna tle 'não-iroétic<j se
p«llltuação: 'inlinito] ll em novos n'rtutos cl«ls hclmens.
empiiharn as seguintes variantes, sem sinal cle
Mas etr r:slou só. rl
' beiicoso','dis perso',' i nciom ado"' ( tY 392)'
Iror rneio desta exibição poétic:t cle sua próplia pirlavra'
o poeta nos clá ir saber qr're o poético é o 6rrito' t) LlLlc se encajxa
clentro clos limites do <lestinerdctr ldas sclúckliche)' o poético
e
I4 (lUIN',l',JLA, t9(.i7,
1'..130.

142 | Explicaçoes da poesia de Hõiderlin Mar-tin Heidegger I l+3

lr
T

Se quisermos ettteuder a pergunt a "Mas onde estão os arnigos?" a chcgircla elr casa sri pode clar início ao regressc) :ro nStivo, tortr;rrlo
con-ro sirnpleslnellte retórica, cntão e1a clcveria ser lormLrlada LrolÍl(): c(,n10 .., pr(rprio. Eis porclue rl rccérn-chegacio pecle a taça, e clcseja
"Mas onde estiio amigos, de nloclo gcriil?" O poeta, 1rldavia' pergunta pcrmanccer 1ro próprio. Ainda clevemos nos surpreender se
1-ro«ier
por "Belarrlino e o contpitntreirci I l)e llodo inequ ívoco' a pergutttir se o pocta Pcrgrrnta oncle está, supondo qlle a perglurta se dirija cur
refere r;o-s at-nigos. lila pergtinta ondc estão' H unra p,ergurlta iegítima. pensrmento ii pergunta solrre a ilorniciliação: con]() se potie estar
Aincla assinr, praira algo cie in<leterrniuaclo soirre ela- Os ainigos sobre enr eirÍia no Próprio iugar cssencial? Assim, a "I{ecorclaçiro,, não
cujo par:adeiro se perg[]lta são tts dtlis tnenciottitrltls, cont quet.n o exc]ui o <luestionanrento. llla sri não se cleixa eniaranhar cm clúrviclas
poeta rlcve errtreter uma boa conversa, na colrclição cic tcrceira pnrte, tnes<luiirhas. AIótr riisso, o <1ueslionalnento poótico ó rlc r-rnr oirtrr-r
para qlle eic rnesrno possa rcpousar? Nesse caso, () própri«l pocta lipo qr,rc o qucstionirrrrcnto pcnsirrivo, pois é essencial a este lançar. sc
se ria aurigo e companheiro c1e viagcln. Ou "os arlliSos" scrão aqucles rro ciigrro rlc qr.re.stionarnerrto c dar-lhe urna outra solução, que não é
clois Cpre cleve.nr falilt'Um cont o <tttlrtl e Ottvir uln tro outrtr? Contgrlo, tiizcr r sag,raclo. o pensaclor irensa à parti'rlo nào-farniliar, qlre para
llôlc1crlin pettsa cleccr:to Ita collvcr§;l (ltie lLre é pr<pícirr, jsto ó, cle irão ó unr h.rgar rle passagcm, lras, ao contr:árjo, ó or-rclc se se ute cru
pnrpícia a<l salvarnento cte suit poesiir. .l)e qLrc 11tc scn'r: llmíl cotlversÍt câslr. A peígrrLtta p0ótica <1uc recorcl;r,
llor sua Yez, corupere o pocnla
entrer amil5os de,:1ue ele trão piuticipc? "llclarminii'é o nonrc clrl nirtirro" [)e acor<lo c(]nr () scnticlo rleste questiclnamerito, a úuica
d<-r

conrpanheriro cle viagetn colll qLleln "T'lipóriou" otltl.ora Lon\rersoll pcrllunta do pocnra llca sendo a <.lcscoberia rcçatada cia per.g,unt;.r
rnuito, em urna série clc cartas qtlc narranl "dias clc iltnrlr" c "açÕes". quc sc oculla na cssônciir dtr. "recorclaçào" e visa tal essênciit. Só r]uc
"I{ipór:iori' é o trolne rlo poeta. F,le mesmo partiu ctn vi;rg,ettl, ó tr o fiocta inrJaga poeticarnelrte. Apesar de suir indagaçâo err[àtizar
'tompariheiro" cle viagcrn sobre cujo parirdeiro se pergttn{a agora. ururr descoberta. ainda assirl iruplica em ocnltarncnto. o estacl«l de
Contudo, o poeta te m de satrer orrde está, aincla nrais agora tlttc sc dett ;r snsircnsão rieslc octrltiurrento dá i\ pergunta seu caráter cic aparentc
conhecer como rl silildânte, cont0 aquele que se deix<ln ficar ttir pátria. inr"lcternrinação, e cl interrogarlo na inlerrogação pernrite presserr(i-
Só que o poela pt:tgirnta, etn prirueiro lLigar, por lJclat:minti "e" os ki. 0 p.et;r perg,nta tanto pelos 't.t,panheir"os" de viagem, cotuo
cornpanhciros r1e viagetn. Iistar:ão os courpanhciros cottt Ilerlarrnino? pelori artigol;, conro, cnr primciro lugar, senão apenas) por si mesnro.
Ir,starãcl provavelmentc sepatrados? Onde estão os atnigos? À irergrinta I)ccer'to cler não se rern(ri ern íunção c1o "cu" de sua pessoa, rnas crcixa
não cli nenhttma iudicação geográlica sobre o paradciro drls anlig,os. o eLl parir triís a0 pergrrntar sobre o seu lugar essencial. A reirlização
À pergunta pensa a partir da essôncia do lugar e111 referência a pleua de urtra ativiciacle poéiica é o que convém ao eu. Sobre o que
cuja iocalizaçâo c1ual cada uttl clos amigos pode ser delerrrtinado. nrais aquele que chcga etn câsa poclcr:ia indagar, scnão se a chegacla
Pois neste tneio tetrpo, desdc tr época poética clo poema llipérion, realnreute já o trolrxe até a 'tasa'] a "nascente"?
a(onteceranl outras coisas ao poeta. Ntl poema [intpéilocles, o amigo
já não é Relarmittrt, o contpanhciro clc viagenr. lile pr,rrtiu cnl viirgett-t À4 rr itos
para urn outro lugar essencial. Até lncsuto este foi abatltiottarlo, 'lêrn pudor rle ir i\ nasccnLe;

entrelanto. O poeruir IIrr pédttcles se rcl-ere à percgrinação. A "chegatla


a casa'só começa quando o "Pere6írilro" alcança o diz.er pclótico ltr l.iis a lcsposta à pcrgunta, ou ainda o centro íntirlo da resposta
ultrapassar até os ricls nativos ("O ll.enci'c "O Tstrii'). Mas irté ll)cslrlo a partil clo qr-ral toclo o restantc do poema se desdobrir. No ent:rnto,

i44 | i:xplicações da poesia de Holderlin Martin lleidegger | 145


I
tal resposta pocleria calrsar aincla ntais es[rilnheza dil tll,te a pergtrutir lleni irlguénr sensítt'o, ainda mais príncipe, e ntostret
enr estado cle suspensão. l)ttis agora se rncrrcir)ltitllt rls "rltuilos" coisas clivinir"^, sejarn eltrs rambém vastas conro o céu e funclas.
que clecerto Pertencem ír() grul)o clos c1t.tc jri tinhalrr se tie,:iciido'.i
cantinhar a[é a nasccnte. I]ste ql'tlPo e a ttllião cit'rs colllpatrhei ros' Sc o espÍrito retotnar à casa, vinclo clo esirangeiro, pensanclo

A amiza<{e que oS caracteriza rep()usa s6[re rl t'rrvio à atividirclt: DatlrLilo por qrle pâssou, então terá err'r vista, previatrerrte, o clue lhe f,«ri

poética vincioura. Os irürigcls por clrrerrl o poel.a pcrgunta e tletltre os exibir. corn vistas ao vinriouro, ele já nã<i vê a "casi'clt; mesmo
clad,-r a

qLlílis cLe rrreslno se encorrtra sã(} os "travegantes" (aitrtla hrlie) octrllos, mocio couro airfes, rla juventude, quanclo aincia pretendia apreentler
pensados n() conlcç() ilo poetna. I)erttre estes atnigos, viirirls têrn a piitriit cliretamente. Só agora vige a regra da ter:ra natal, porclue o
pr-rclor c1e il t\ ntrsccnte. Isto signilrca cptc rttttitcls tênr ptltlrlr: c por issn rnodo cle exibir: clue el:r legula fbi detcrnrinaelo pelo fogo a ser exibiclo.

algr-rns cleixam cle ir à nascente, etlb6ra a ntlittria corllece camiuhar


ar Alguérri rlue seja cle urr-ra essôncia superior, pr:i,cipesc*, cono a cle
imptidicarnente, sern ponderaçíio e ser.n rlerrrora? Ser tlesta opinião urrr semider.rs precisamente, e que sejtr sensato a resper'to cl;i claridiicje,

cclntrirritr a lei lirntlamental cla liisttlriciclatle, clite ri l lei cio vir a estar pclcle inclicar as coisas divinas, ainda clue a ciareza e trtrnclüiliclacie às

enl ccsa nr:r elemento nativo. No entiinto, tal doruiciliação requer a quais a exibição cleve se associar sejiirn vastas e profundas corno o céu.
experiência ria conclição rle estrangciftr a[é o Ponto rnais extrerno, e o pe6sn1lvs11lo c1a origenr clue reflui até a nascente é o mais clifícil cle
apetlas tal travessia torna alguém aPto a se apro|riar clo Prtipr:i<1. Pois todos. Por issr:l rnuitos têrl "pudor'] não porquc tenlArn o l11ais iliÍícil,
"'l rtascentd' é a origcm tlo rio tiue totrtal 0 cânlpo arável c irertnite nras porqrie o arnam. o ptrclor é algo bern dilêrente cla tinriclez qr-re
(lue os horrrens o irabitetn. A "nascente" é o esltíritri tlo rio, espíritrr nrÍo supera o itretlo e a insegrrrança sempre que encontra alguém otr
que abriga eIn si it prolusiio poéticir clo ;rró1tri<l cla ptitria. C«rntuclo, algo. Ao contriirio, o puclor .se contém em vista tla única cclisa, coesa

a nascente só se manifesta col|lo tal partt clttt:nr exPerintetita o tio e e unívoca, cliaute da cltial ele tern puclor. C) pu<ior não é inseguro
Seu desagllatnent0 no mirr. Ilis porquc a ciutrinhâcla '.\ niiscettte é cle e aincla assirn se cclntétn. 'Ial continência, conturio, não acarreta o
regresso a ela, torranclo o senticlo oposto lto curso hrrbitual tlo rio. Por risco cle qire os ptrclicos se enrerlern ern allições c.nsigo mesrn.s, à
isso a ca6inhada à nascente se âíasta cles[a, inicialr]Ientc, ao iuvés tle rnaneira clos rncdrosos. A continência <[. iruclor tampouco conhece
ir ao seu enCOnlrO c1e mocltl inleciiato. NO cclnleço do cresr:itnellto, tlíl a reserva. 0 puclor; enquantíl continência originária e firrne diante
juvcutr,tcle passada "ern casi', é itnpclssível experitlretltar cliretametrte tlo cltre pudcnclo é, ao'resmo tcmpo, a incii,ação rnais intensa em

a origem da domiciliação ern sua verdaclc. cotn respe ito a "o pãcl e ti clirt:ção a cste. Qtrern é lançarlo nir atnrosl'era do pucior é tomaclo
vinho", à elegia em função da qual foi explicitacla o lei cla clonrir:iliação, pela hesitação. No enlanto, o pudor hesitante não c:onhece nenhurrr
Norbert von I{ellingrath aclttz o seguinte esboç:o: nreclo ou clesalento. Sua hesitação se clecicle, resohrt.a e expectante, à
longarrimidatle. Ac1ui, a cxprectativa é a coragem, há muilo clecidida,

[iVÍ]as na origem i\ lenticiãii. A hesitaç,lo pudica é paciência. Mas tal hesitação nio
Pensa-se clificilmentc e a casa cla jr-rveuttrcle exaure ir
essêucirr clo pr-rdor. Pois precisamentc ncsta hesililção
Os videntes já uão abarcam' inipera urt peltsar qr-re se alêiç:oa ao pucler.rdo, e vai na direção cleste.
Contr:tlo algo vale, ell1 regrii pura, a 'I'erra. C) puclor é a rccorclação conticla, pacientemcnle csparrtacla, qllc se

Uma clariclacle, a noite, esta c o tratlcliiilo c<lnltece os recorciir c1o lrnlxiuro nnmir proximidar-le voltada
Para a rnanrrtenção

146 | Explicaçóes da;l;resia de Hólderlin Martin l-leidegger I t47


I
p'Ira sell incansavelmente incurnbido de exigir o amadurecimento pâril o
do ciistante em suil clistância mais plena e, por isso' I)ronta
rlo "pensallleDto pr(rprio. A profusão, toclavia, não éa inrensidão que sempre cleixa rn
trrotar vinclouro. Ilste puclor essencial é a almosíera
u

qrre a origem resto, mesrno depois cla sacicdade. A profusão legítima é aqr,rela clue
na" origcni, uma vez domiciliaclo' O pticior é o saber
é o ceutro dc sc ultrallassl e assim constitui unt excesso.'lal excesso irnplicir rlue
não sc <leixa apreencler irnediatamente' Este putlor
poetn crrja palavra o cxcessivo se translror«h e rctclrna rr si mesmo, clcscobrindo neste
graviclacle clrl quc cleve rcpousa'l o coração claqLtele
pr()ccríiso rlLrc não sc basta, porque constanternente sc cxcede. Mas
funda a canrinlracla histór-ii:a cle rlnta humanidadc eln
clireção à sr'ra
a origertr ii o clue nátt se btsta a si mesnto, excedendo-se. A riqueza
<lorrriciliação,paraqueacar.rrirllra<lanãtlpercaocquilíbrio'Opr.rcior
elll marcha o Lento' O puclor: I' a atutlsfera ó ir nasccnte esseuciai jurrto à clual o próprio, sri er-rtão e s«i assitr-r,
não incapacita. Mas PÕc
cclebração para os atalhos Yagârosos' O pudor dit
se lransíorrna enr proprit-'clatle. A nascente é o clesciobramento clo
Íun<lamental <1e
colll os LIno na inesgotabiliciacle dc sua uniclade. llste Uno é o Sirnples. S<i
o totn da catninh:rria à origr:nl. O pr'rclor afitra a camitlhada
pocle ser rico qucrn salre usar a riqncza iivremente e, sobretu<lo,
caminhos poéticos. llle é rnais clecisivo qtle toda vioiêttcia'
vcr de toclo a sr.ra essênciii.
S<i irlcança cste estágio qu.elr consegue
"Muitos /'1êrn pudor cle ir à nasceute;'l lsso não signifrca <}re se

verdac'le: rnuitcls ser pobre no scnticJo da polrrcza que exclui toda privação. Pois
:lfastarn c cleixarn dc ir à nascente. r\ sentença cliz nir
Síl no puclor eles a privação sentpre se enr:edir eln Lllna carência de <1uenr gostaria
hesita.trr e uáo se arrojaÍIl diretarncnte à tlascetrte'
rleixatn cle cle ter tuclo, iurediatrtrnetlte, porquc imediatamente nada tem,
conhecertr, coututio, a 1ci tla ida à origenr' Conftlrme
e

assinr carece de aptidão para possuir o que seja. E,sta privação


ir itlecliatarleute à nascente, precisarneute deste tnodo tonlaln o
rrão jorra da coragen-r pnra a pobreza. A privaç-ão <1ue ambiciorra
camil}hopróprio.Porisso,sóonraisprrrlicrletttretotioslloclettrtrrar
o ciiz possuir é apenas penúrria, que depencle incessantcrncnte rla rirlrieza
caminho" É cle alguérn assitn que se trata aqui' Mas ele
este
a cxt-cção' nlcsnlo sern podcr compreender a essência legítima desta, e setri
crrcolrertamente; pois não pocle se vangloriat' P()r ser
em perlr)âneccr l1a lei rlucrer assumir os pró-rcrluisitos çla riqlieza. A pobreza essenciaI
L'.le sarbe que conheccr a lei çonsiste apenas
etn pcrcgriuirr tlo é a criragern para o sinrplcs, o quirl só floresce no originário. Till
c, soltretLldo, esqucÇendo corajosamente a pátritr'
p<lbrcza tenr em vista a essônr-ia da riqueza c 1lor isso conlrece
que o espírito não está cnr casa / Ncm tto iiiício, nen-r
,,Él
estrangeir<t:
na tlascclltc' a lci rlcsta. A vonta<ic r]e ser rico aincla precisa cl.regar ao ponlo
na nasceute". Por ciue no Çonleço o espítrito não está
se ellcontra cnr (lue conseguirh sc exccder" lvlas primeiro rleve aprenclô-
on<1e, segunclo a tlpinião habitual, loda plenittlcle
jorra? lo. O aprenciizacio clcve começirr onde a riqueza se mostra
inrerliatanrente irbrigacla e de or-rde
rnais íacilnrente. lsto âcontece no lug;rr em que ela começa a sr:

llaÍ <lcrrarnrr c onclc a essôncia do sinrples, isto é, cla nasccnte, aincla


lbis é no ql1e col1leç?l
potle se ocultirr na plenitu«le imcditta clo apresentado. A ritlueza,
A t"icltlcza'
<1trc ó a prripria nascenle, se derrama oncle o rio, lendo brotarlo cla
ttasccnte c senrpre por ela inrpeliclo por toila pat:te, se clerranrou
A riiltteza tlunca cottsiste tlii siltrples Posse; lllenos lirtcla ó
a

A riqucz'a é il prra cnltio, "largo como urn rnar", se preparar para o rnar e nele
conscqüônciâ c{a posse, pois é scmpre a base dcsta'
conÍitrme clcscnrbocar. () rio "é" a uascen[e, tal que a conseqtiôr-rcia de ele
prcll'usão riacytilo quc garante a posse da pr<ipria essêucia'
franclueia o cirlninho Para a apropliaçào destt e pcrfflallccc lei: dcsernbilcaclo rro utar é rltre a nascente se encobre a si lnesrna

l48 | Explicaçoes da p'resia de l-iólderlin


Martin Heidegger | 149
.,Muitos", porém, cluc têm puclor de ir à llascelltc tlevetri, existe * c.rno belezir; u.r llovo reino, ptrra c.ncorclar corn I Iipérion,
no rnar.
espera por nós, oncle a belc2a é a rainlra.
pOf CaLlSa cleSte prudOr, ter recrtnhecitlo o canrirrho pi.lra a ttasCettlc
Acredito que todos n<ls direr-nos, no firn: santo platão, pertloal
como () clesvio que passa pel«r rtrirr. O espírito attra a coLônia. listes
pec()u-se (iniciahnente, ntis 1>ecanros)
l)uito cortra ti.
poetas são navegalltes.

L) etlitor"
Hcs,
Corno Pi ir torr:s, ajurttaln
O belo c1a'i'crra...
Á beleza é a pr:esença do ser. O ser é o verdacleiro clo ente.
o poenratizar destes poetas aincla náo é ptlesia na stla cssêtlcia
0 poeta cl<t l:lípériort, Iltiklerlin no perkrclo da particla para c)
estral)geiro, sempre c-harna "nalureza" ao verclirdeiro do ente. No cjia
mais própriâ. Ele aincla é cb tipo qrre os "pintores" praticatn. seu
eÍn (lue o poeta clomiciliaclo cleva dizer o qnc fiutcla propriarnente a
clizcr ait:cia niro se serltc em casir lto rlalivo. E aquele clizer poélico
,,Belarmiilo e os companheir.os" tinllam tle realizar: a poesia clor-niciliação,, decerto cle já niio cmpregará "nattrrezit'' como a palavra
qlre
rJe Ílipérion. Ao partir pilrd o cstrarrgciro |eltl ular clcs ajtrlrtarn
fr-rrrrlaruenlal riir sua poe,sia.r5 lrintr.etan{rl, porérn, os navegantes
rleveltr pelnritir qtre a beleza ria 'l'elra apâreçâ, se há qualcluer coisa
"o beio da'l'errril "O belo'não signilicir aqtri, de rltodo algut-rl' a
"O br:lo cla clne rievam rlizer na conclição tle poetas ckt ver.clacleiro. A beleza é o
rntútipliciilacle eclótica cle coisirs atÍaeilteÍj e agracláveis.
Uno originariantente uniÍicanle. liste Uno só poclerii irparecer; se Íbr
'Ierra' é a J'errai em sua beleza. (lorn esta palavra 1t Poeta clo ltipérion
"o ser" fSeyn). Ao invés tL: rnuilos testetnttn]tos, qr.re birste rcconclLrzido, enquírnlo uni{icante, à sr.ur uniclacle. O bv só se tonra
quer <1izer
(II, 546): visível a Piatão na Õ-Uyo,yúuyé,, isto é, returião. Mas os poetas, 'torno
a referência a um esboço cle prólogo pat'a o Hipériorr
pintrlres, ajrrntanil Eies pernriterr clLte "o ser" (a'rôéct) a1)areÇâ no
aspecto do visível. "Como pintores" não signiíicir que estes poelas
Pôr.Íirn t\quele conflitt) eterÍlo entre nós rnesnr()s c o ttltttttlti, restill-ll ar
talverz retlatetn o reai. O esscncial dtr pintura ó o projcto (,bnó0eoLq)
apàZstlpremii,cltleésttpetirlrirtodirrzrzão,uttirtrrrl-rrosàtta(urcza
cm url1 lbclo inlinito e o propósito cli: todo lossrt esltlr'ço, tltter trós o
dacluele olhür et1l cuja uniciade 'b belo" se ltrostra. (lorno o prólogo
('( )mPl cunrlilll toS' qtl(l l l,iL). nrencionario diz, os poetâs não siio 'i-elakrres tie inÍorrncçÕes"
quo c()rresseur atlris cla pura sut:cssiiu cle "lirttis" selxprc novos.
IVlas nem neltr }lossii ação cotrsegltel)1, etll ttetlltunl
r.rossr) sirbcr,
A conlparação clos poetas coril os pirrlrires ltio se relire de moclo
período cla existêncitr, chegrul a() ponto etll qtle Lotlo ctltlÍlito ct'ss.r-,
algrrrn.a\ "poesizt descritivtil Que ilõlclerlin a recrrsl,t, nlostra-o uln
onde tuclo e UrI; a lir-rha ticterrnjnacla só eÍlcontri a íniletenltirlaclir
clístico conrpost«t irletliatantente irpós a fliperiorr (ltl, {í):
numa aProxitlação infi nita.

Nós não teríanros nenhtrrrra rr0ção daquela paz.infinita do ser lseTli,


()r-rça! Apolo se [onroLr o rletrs dos re(]ator"es de jolnais,
tornado no único sentido r1a palavra, r\áo buscarítrmos tttls unir à
E seu hrtrr-rcnr é quert lhe collta o Iàto fie]mente.
tlaturezl, nãtr pensaríartl()s llenl agiríatrrcls Cotll() se nacla lr<lttvesse,
(pat'a nós) não pensaríalnos nada, (para nr\s) nlcsnl()s' se não
l5 (lf. () lririo
houvesse ac}iela uuião, atluele Ser rro único serltido da Palavra. Ble rlc I lôltlcrliri sarrto...'l (N. J,r A.)
'

150 | Explicaçoes da poesia de Hôlclerlin Martin Heidegger I l5l


t,,i

ti,i
T
I

Os poctas, cujo olício e prerrnitir clue o belo apareçíl no projeto IOiudc n?io ilLrtr.rinain ir noile
Os clias dc {i:sta da citlatic.
clir belcza, strbcnr, aittclir cluc solllcllle sob a lilrnta c19 pressctttiitrctilrl,
Nenr a lira ncnr a dança naliva.
aonde seu cantinhâr os leva. Por isso não se furlatn ii particlir pelcl
rnar. 'firam a coragem para a pobreza do pucl0r diante a naÍiccllte,
pobrcza <}re não se coilsiclera b<ia dç:rtrlis para não te r c[t' rerilizar a
os ,avcga,lcs ,ã. tênr clias de íesra. parecc,ia que eles ,â.
têrn relaçãci nenhurna com a celelrração e estão c,nclenados a una
passagetil ntetliantc a percgrinaçito. Os poetas vitrjittll
éP<lca privada deias. Mas por tltie }{tilclerlin se icfere espcci.Êcamentc
t\ noite? Por cluc os nav(lgantcs ern viagern fazem
a vigília. Corfi:rrrre
[B] rrão rlestlctrharn
A guerra alada, a vig,ília dcterntina o modo conoeles suportam o tempo rlc
peregritraçã<), estc tclnp() apflrecc cotno o tempo da noite. À rr<lite
'Alacid' se chnma a "gtterrii' at1ui, scgurltlo as "asirs do não estã, clarame,tc cicciclidos neln o que ó estrangeiro, ,em o <1ue é

barcol expressão col1r quc lIõlclei'lin nourcia as velas, trir elegiiL nativo. Mas esta inclecisã«r não é rrada. o lempo desta noite não aÍirncia
"O arquipélago" (lV 9l). A Slterrâ alacla é a luta conl os velficls jan'rais ila lüera cscuridão que irnpecle toda transparência. Iista noilc

contrários e o clitnir adverso. Pois o ular 5s 2brc a toclos rlc vr-ntos. lcnr sua própria clirl:idncle; ela é sérja, desprovida da, aiegria <[o jogr,r

Netn sr:nrpre a viager.n é lroa e sua ciircç:ã() é nítida. Mtrita coisa Íica tranrliiilo, crnbora espcrc errr silêncio, embora esteja privaclir clo leve

inclecisa. (iontUclo, estü guerra clcixa qrre surjâ a possihilicla<le da balanço cla cliirrça nar-iva. A n'itc dir peregrinaçiio clos nayegirrltes
riqueza tanto legítir:-ra c011to ilcgíLima, e com isso c{á a «iiteção ató a «1ue saíratlr r:rn viagcm Pirra conhecer o fogt, do céu continrra a ser

nascelltc, mesnto que a gllerrir não sejir a sua própria llilsccnte" Por l nrãe do dia cscolhiclo pâra scr, enquanto feriado, a véspertr da

isso os nilvegantes se deciciiranr a cdebração. No nrornento de çelebração, o destino em estaclo de


crlrrilíbrio pcn.nite que as coisas perrclurem. A viagem dos navegantcs
M,rrrtr soliliirir)s, illl()s lt lio' strlt ó a vigíiia lloturna cm vista cicl clestino. Os navegantes .se põcrn a
O mastro scnr tirlhas, carninho da clrigcm dc sua prirpria essência. Iror isso, nunca podenr
sc transí'orrnilr enr ilventureircls. Para o aventurciro, o estrangeiro
(iorno ttrn iongo inverlto cl1l (lue as íirvores Perdcln a é se,rprc o "exótico'l qrre eie salroreia conto ,1, narcótico, parir
tbihagern, e recolhem as l-orças e SeivaS c1o crescjutcnto, assitn
ó talvcz assinr sentir o impirctcl clo surpreendente e do extravagarrtc,
o ternpo clc viagenr n() rnar, soLr () r.irastrt>. Stra lllarieira entaliradir rFre ele errtão identiíica a«r "nlarayilhoso'l A viagem rnarítirna tlos

e cordarnes balançirnr iguais a unla á]:vore ll;r terntpcstadc, nâvcgallies é nobre c sóbritr. Ir',la ',,ivencia no estrangeiro o prirncir:o
desÍblhacla pelo inverno. No terripo clr arclor clo Íbgo clo sul, rcÍk:xo clo prriprio, para cuja apropriação eles clesejam tornar-sc
poróm, ele não oferece netliruma sotllllra. ;\ssiru tts ttal'egAlttes rnais expcriente. (J arrenlureiro, ao contrário, só é pttssívcl no csp:tç()
"urorant" longe das Ílorerstirs somitrosas da ph(ria, otrclc tl;lda lhes lrisl,riric. do absolutarrrcnte clesproviclo de celebração. cor.rtuclo, a<1ui
ó Íàmi[iar, c01no §e estirresscrn uo cstrairgeiro. l]lcs sirlri:tn cltre ll o âvcntureiro c aper)a§ o substituto para os hor-t-iens experient.es,
tenlpo qrre o rrer:dircieiro leva para irconlccer ó longo, e uinda assjtn strbstituto que ainrla lriro se reconhece, e cieste modo é o írltiltro
r"Lrn

suPortatn, "atros a l'ici' c<1uívoco <lo tcurpo desproviclo cie celcbração. Cs nat egantes, p()l"suâ

152 | Explicaçoes da poesia de Flôlderlin Martin l-leidegger | 153


"[,onge" estri o poeta, agora; nircl rnais rtir pátria; estal perto da
vez, encílittrant n() ato da ireregrinaçã0 a localidacle t1e stta essêtlci0.
I)esde cl começo, a peregrinirçãtl é regresso a casa' nasceltte. Mas eslá ktnge da Créciir e das converstrs passatlas. O moclo

O sentido poético cllr perguntir "Nlas tlrlcle estão ils anrigos?" se dc estar distante, ltor:ém, é a satrdação. Se o poeta quisesse, ern suit
esclarece a partir cia resposta quc cofi]eçil a se desclobrilr na ulesulil icia até a llascente, cor.rtar apenas L:onr seus poderes indivicluais, e]es
"se extraviarial Mas não se extravia; pois ele c.onirece ilgora, como
estrofe. Perguuta-se: elll que ltrgar da stta cssência estãtl agtlra os
poetas clo ternpo vindouro? .À res;posta emprella rocleios ptrdicos tla diz ir seguncla estroÍê clo poer.na, 'tr jogo rnajs aliaclo clcls venlos'i sua
sua r:ec1ação e soa irssirn: alguns aincla estito alrstlrtos Pela viagerD auclição é nriris chra. Ser-r clisr:urso é rnais rigoroso. lr,{as ele uão é o
"enr "profeta" qrle trovejii p<;derosarnente. Ir,le recém cuneçou a aprencler
marítima. Não os conhecemos. ()trtrtl já se clonriciliou. Agrira
casf', ele colneça propriatnente a calninhar até a nàscente' Aquj' ti livre uso do próprio. Por isso, o eslrilngeiro cleve conÍinuar p«iximo.

ele é o prirneiro aprendiz, e iror iss(l aiflcla uão lettr cotnpatrheiros. 1)or isso, a peregrinaçrio conserva seu caráter rie tarefa indispensável

A palavra do hino aos 'litãs i[clica agora o que o fltturo próxitu<r para os poetas virrdouros, cie acordo corn a lei da donriciliação. prlr

reserva (IV 208): isso, cl poeta que está só e se dedica a pensâr no próprio cieve se cledicar
a pensar ao lneslro terupo nos cornpauheilos ("Os titãs'l IV, 208):
Mlls eu estou só.
Mas eu cstou só.

<listancia mtrito cle urna constatação clesctinsoItrcla


Iista palavra se
.....-..-. e navegirnrJo piu'a o oceÍino
clo abatrciono vazb. Ela sigrriíica o sal]cr ineqr.rívoctl qtle se decicle
PergLrntirr às iihas pcrí'nrnaclas
a aprcnder apenas o prtlprio, cttnLrlrme r.isa senlpre o ajtrstatlo [r/rrs
Oncle clcs Íitranr?
schickliclrc) enfim encontrtrclo, cuja proprieciade característica é exibir
a destinação que foi experinrentacla- llsta palavra clecicle que ir
poeslia,
'tomo Até rncsmo acltri, onde faltar-n algutrs trechos de verso, o
agora, cleve ser <le um tip{) clifêrertte cla exibiçãtl cl<ls que'
conjunto é ciararricnte con)frreensivel. O poeta não pensa tlos
pintores", ajuntatl1 cl belo. Porqtle o poetâ, agora, dcve estar' sozinho'
rravegirntes com o propósito de se afundar no próprio isoi;rmerrto,
talvez a boa conversa não lhe poss:r tnais ajuclu. llá urn outro nrês
ao pellsar nii ciistância qLle o separa deles. Ele pensa sua soliclão
cle março. Seu dizer é outro. Se a soliclão náo íbr o allatidotrti vazio, e
pâra conscrvar a ligação cont os navegiltl[es e esclarccer bern a
por isso continuar a ser unlâ convcrsi't, entãil tarnbétrt a convcrsa será
lei vigenle da dorniciiiação, o que é perrnitido pela essência cia
de uma outra espécie; pois o próprio, cuja especie agora se clescc'briu,
passilgenl cpre ele empreende incliviclualmente. Para tanto e preciso
garantirá cle rnoclo emine n1e o florescer essetrcial. A Íritirru estrtlle dtl
(lY 69): conhecer o col.neço e as est.ações da partirla, o ponto cle ,titlexáo tlo
poenra "Ganimedes" expiica tutlo
rcgresso a casa e o começo cla chegircia ao lar. Eis porqrre o poeta
pergunta "oncie eles foram'l
A primavera vern. 'l-uclo, il setl lllod{),
llloresce. E1e, porém, está lougit; ttão est/t rnais aqui'
Extraviou-se; pois Lrons clenrais sãc>
Mtrs agora litranr prua a.s Índias
Os Gênios; colóqtlio celeste é o seit cgora. Os horncns,

154 | Explicaçóes da poesia cle l-1ôlderlin Martin Heidegger I I55

l
..N{asirgora,'SoacluaseCom()unlcliscttrsoclccepciiriraclo.os pr<iprio, e cxercitar.se nrelhrir no seu uso Jiwe. A viagcrlr qire cnrpuría o
ptleticatnentc h,mern rpie irprende e ensirra extrcmo mais distante cnrrespontle a
até o
navegantes não licaram no país saudaclo, qr'te represcnta
a Grécia. "Os l-rorüens"- nt) rascunho I{iilrlerlin esÇrevcLl
"os amigos" esle perrsamento -.conÍornre o invcrte * na época de tlipérbn, quantlo o
'. ,.forani,bern alérn tlo país sar-rdado, para o oritrtrlc, r;t»rto outror.r Prriprio já era buscado, ainda <p,rc apelias por indícios, mas o destinativo
()

('A percgtinaçir«l"' ainrla niio tinha siclo encr.rntracio. lJipérion escrcve a Belarrniuo, cluc
prripri<l pocta. Ele ctinla, afespeito ria sua peregrinação
(ll, lí)2):
tv 167): l)trrtiu

()trcro clregar até o Cátrcaso! Ii <-rxr.rtr rnc aborrcccssc com lreu Aclanras por tcr me c,leixado, mas
niur rne n[rorreço. Alr, eler bcm quisera voltar! Dizc.m quc se esconcle
nas profurtclezas da Ásia urll poyo de rara excelência; para lil o
os homens quc escrevempoesia se afastaratlt aiucla uriris le vou
slr,l esl)eratlçil, r:acla vez rnais longe.
rleciclidanrente tla phtria' Os travegantes, ilo es(lLreccr' clcvettt
scl:

ainda nrais ar"Iclazes. Mas' prt:cisrlrente por irtingir tls antíllodas


Ao illcarrçar Jlntrernenles, a "lonjura" cieste 'tada vez mais longe', perdeu o
cla phtria, nã0 se ap(rxitnarão aincla mais clo irróprio?
Ínclias" não alca,çam o ponto etn qlle it viugct. à,-'.li,rir
,,as fitz a cariíter incleternrinado que tinha ao ser apenas pressentida. O 'tada
ptlrlc vez rn;ris longe" não significa apenas a sinrples extensáo rle uma
volta para a nascente? C) petlsamento quc orictrtir sua viagcilr
cxpeclição aventureira quc alcança un.ra distância cacla vez rnaior.
consistir apetlas ern não pensar nir pátria?
() tli.stanÍe no rlais alto grarr é o "inaugural" da linhagem clos 'irossos
"Mas agora [...l par:a as Índias'l () cliscurso ('colrliirnte' () rio
pais'l Nas "Índias'se encontra a locali<lacle em que a peregrinaçãrl
Indo ó rl1-roul<l cle corrtofllo (lue traz a Germânia. Iltn ulrt rirscunho
(1Y'223): faz o c«»rtorno, do estrangciro ao nativo. A viagem de ida ató o
ile lrino qtre N. v. Hellingr:ath intittrlou'A riguia'i 'Jiz-se
ponto crn qrre se faz o contorno para "Gcr:n-rânia'leva a particla ao
estrangeiro ao seu potrto decisi'r,o. Com isso o país ao Sul, que a<1ui
N4as tro colneço
rcprese nta a Grócia, se terrna, por sua vez, o poltto de partida pnra a
[)as Ílorestas rio lnclo
L)e Íortc Pclfuttrc
irla ató o ponto de cx»rtorno da peregrinação. Por isso o poeta não
Nossos vieram. dcve rromcar" rlc n.roilo genórictl o ponto de partida. ,,\o er-rfatizar o
1>rlis
"ali'l ele deve aclnritir propriamente a nccessidadc de destacar alg,o
o espírito fluvial do lndo torrrcu Dxliva, prra nos§os Pais, â 1látriir insigire clentro da tcrrir estrangeira.

prinreva, e funclou a primeira rlclrada. No âmbito c csfe r:jo os virrjatltcs

precisâI1l provar o sabor deste ciernento illlcestl'al para quc' o{)


rcgressor' Ali rro r:urrrc arejatlo

cstejiun mais provados, e fiunbem ern concliçÕes cie cnt irrr rttrta srrtclaçãrr frurlo aos i.'ini-rcrlos, orrclc
por I)esct'o llordonhl
que chegue até o próprio ttriginiirio rlos ancr:strais c aqraclcr:er lhes
üa Pálria jurrtarrr:ntc com o sof. erLro
ter€rnl pt.eservarlo a origern qi.ie os viajarltcs rr:alizat'iio agora,
11

(,iarona largo cotlo urn ntar


alerlá. o pc[rsall]cnto quc ruciireção dos lrotuerts tltte fot'trtn pirra
se lar.rça
cacla vez nrais
() rio acilba.
as íltdias s(l r.isa aprenclcr a conhecer o proprio de tÜotio

156 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 157


I
l

Mais tlma vez aPaÍ.cce r-i país jii salrdado atllerittr'tnetrte, só amizacle entre poetas: cle que tipo é a recor.clação cujos pensarnentos
sllrgem na "gr-rer-ra'coÍIl o mar c anima os navegalltLrs? De que tipo é
que agora se trata cle uür geslo tlc clespedicla qrir cJIrcSJ cttrlsigrr
Lrm retorllo transfofluaclo. 0 "curlte arejarltt' cnseja a rccortlaçao
a recordação que entusiirstna o "aninraclor,, cklmiciliado?

renovilda clg "vento", do "ar" do Norcleste .lue irgrlar.la ilÍl()1 .1", conr
Mas o rnal tira
suir agucleza inclulger:rte, o Illonlellto cle pôr os naveBanles rttnto i\
li tlá nrentiiria,
lonjura extrema em que se enc()ritra o "iüaugurai',. Nr-, lnar allerto
se prepâra a ciecisáo derracleira clo contgruo clue leva clo estrarrgciro
ao próprio. A riqueza da nascente começi} a se ofbreccr. Por isso os Quando se parle por ixar, â costa nativa cjeve ser escluecicla,
()
e perlsirmento cleve se ciedicar: a() praís estrangeiro. conforme o
poetas pavegarrtes devern, pâra cotlservlr . caráter vittclouro clo
"no ruar suprime a Iecorclação rla pátriil, a() n1esmo tempo clesclolrra
passaclo, concentr.ílr sua recorrlação "ali" onde tr-tclu se reúrre,
sua riqueza. llle concluz, iiuanclo sua extensão é atravessada, à costa
r-rrêsde rnarço'l et:r volta clo "rio" e seus "irtallros viigar()sos", e olrdt:
.,f6go () Poeta '.Iillcltr estrangeira, e aí tlesperta o pensament. s.bre o q*e, a respeito clo
o r-1o céu" aparece pela prirneira vez. Llrlqual)to
estrarrgeiro, devc ser aprenclitlo, para que no regresso se consllnle a
pensa rlos navegantes clistantes e no nroclo como eles clevetn pcllsar
apropriaçãr,i tl. próprio, a parri. cla exibição cio elemento estrangeiro
sua peregrinação, sUa própria "recrtrclaç:ão" é elevaclil i\ claritlâcle de
quc liri traziclo para câsil c clcsse rncldo transfclrmaclo. o nrar tira
suâ essêtlcia, neste entretclllPo eln clue veio a refletir s<lbre o regresso
nrerntiria deste modo, isio é, conftrrrne dii. só que ele dá rrernriria
a casa, tnoviciti pela ciregatla ao lar.
"Mas agora fcram para Íis Índitls / Os }rt»nensil Assinr tàla Ao l]]esrrr() lernpo em qlre a tira. A viâgen1 marítirnir preserva a
orientirção para o estrangeiro. A orientirção para levar o estrangeiro
agora a paciêncla [ranqtiila c1o "honiem solitárid] qtlc vivencia sua
errr ctln.sicle r-a<;ão despcrta, cle nrodo eminente, o pensitrner]to
solidão conto preenÇhirnento essenciai de ttrua arlizaclc tal que exige
sobre ri próprio. A recorclaçãL) que agora se oÍêrta, clue já peusa
o sacrifícir-r rle nm Prinreiro dentre os poetas, Para ele cltle apretrda o
previaruerite na cla .\ nascente, pernite que seja esqr,recido o clue há
uso livre do próprio. A rci:or<.laça<t l'az cotn qrre o Poeta cornl,reencla
cic ir;rcrrirs esrlr-risitc no elerncuto estrangr:iro, tal qlrc ileste últirrro
cacla lugirr que cleva se transfirrnlill'ern parlSe[I no curso da viagent
s<i sec.nselve ariuiln que será triinsfigurlclo mediante o próPrio r:
ao estrnngeiro coÍno unt lugar erssencial ttrecliarnte cuja localiclade a
eln seLr beflel'ício. só pclr<1ue a suplessão r.la mernória tarnbérn e
peregrinação se o1àrece r() seu 1:róprio corneço t1e Íilt nla lr-rais clecisiva,
tunra doação, e a cloirção tarnbérn é uma supressão, é que o nrar
isto é, mais inar,igural. Por issrl, tatuptltti.o ptlde o Poela estinrar
ftnto tira qllanto dri nrenrtlria. A viagcru rnarítinra é governada por
uin lugar rnais clo qLre o outro. I)o rnesuro moclcl, o país clos Sregos
rurna rccorclação que pensa eln recuo, l)a piltria dcixacla para Lrás,
recebe a prinreira sauclação, porque se distiDgue c1a pátria rlirtiva, e é
e atliant.e, üa pátria a ser ct-lnrluistrrdii. Por issrl, rt pensamento dos
o últinro dc ciuem se ciespecle o viajante que cleixa para triis o Ponto
(ie colltorno cla peregrinaç:ãg. O eilignra tlo ;retrsatnenl.o, cle acordo
rlilv(jgar)tes nunc;r pocle ser until recorclação prura, pois exige urrr
esrluecimento const.ante . Decerto esta recordação tarnbém remonta
com cujtr maneira pellsam os poetas recordtrntes, tlivulgtlLr agora stllI
já à 'tasa" nela assenta os pensirdores.
plenitude essenciitl sirtrples. 't'al plenitude reclirtrla tr verbalizaçáo
nítida de sua simpliciclade, parir qr-re seja possível ttma resposta às
il essêticia da Ii o am«ir tantbtlnr prenrle tliligentes ollrarcs.
pergltntas nas quais vibra a reflexão poética sollre

l58 | Explicaçoes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 159


A troir conversa a quc o poeta pl'eferiria se juntar para apretlder o l)crlsalllcnto amoroso nào conscgue ftrnclar o soio sobrc o clual
íi pernlar')ecer no próprio Íàla clc "clias de an-ror'l Pois tl arnr.)r ó o qnalrlrrer âmor peftenccnle a un.ra pátria histórica possil nr0i-ar.
olhar na direção cla essência do amaclci, que atravessa tal essência até Â rcc.rcl*ção clos ,avcga,tes aju*ta decerto ao pensamenlo {i.,e
atingir o solo essencill clos arpantes. Cotltudo, cste «llirnr: cssencial ncl estrangciro e na pátri:r o "l;ekr da il'erra'encluanto solo de toci<r

se <iistingue cla pura t:or-rternplação que se esgota no prazer c1e ertc. Mas cste pcnsaüle.to que re,re[e tudo ao urn ai,cla nã. vai
inspecionar. O cllhar drt espírito ,-1o amor não se aferra a asirectos, à nascenle. Para ta,t', os navegantes cievem, primeiro, ancorar
mas vai se juntar à essência do amado prara situti-lo flrnrcmente eIn às r.arge,s d. país,ativr, rcnu,ciar à r.iagern marítirna e
se por
seu solo, rÚcdiante olhares 'tliligentes'l l'lõlclerlin já l"ravia escrit<r er, rrrarcha i\ Proxirtidatle da orige*r. li vercla,_ie que, e.quarrto
anícs ([V, -]01): cstivcrern viajanrlo, rr:r corrclição rler navcgantes, estabeleceur algo
Íirurc sobrcr um solo, por irrvcsÍigilr sobre ele. Mas os lugares
ull csscnciajs rlue assirn cireganr a experir1)entilr thes rlegilm rlualqucr
O amor íixa pernrauênr:ia c os impecleln de ch<:gar :ro qrie fica.
Os olhos.
Mrs o qrre íica, os poetas o Íulrdam.
O olhar íixaclo do al'nor sc cleve à cliligência, i.sto ó, não rrpenirs
graçras ao cuiclado collstante, mas antcs graça§ "âo propirsiki'. Só qrre Aqrrikr pilra que o lullor olha ,o scu olhar esse,ciai é algcr
cste prclpósito não é contábil. lilc surge cla atenção ,.lo ollrar essellcial tluc íica. Mas o.lhar anrorrso não fturda nada. (l ,roc1o com() os
voltada para () solo essencial dos arnirntes. 'lhl atcnç:ão lixa tr.rclo u<r navc'Banlcs invcstigarn c esl*belccem o ún é uma firnclação" Mas
solo. O pensanlcnto cio espírito tlt an"lot prcndc e também recordil. r:lcs uão lirnclani o qrre Íica. l]or isso, não funcjam cle r-rma n.rirneira
os arnantcs pcnsain arliantc na essência do arnado c, contudo, ao Íirzê- oliginária. l)or iss«r, niio são aincla os poetas da atividacle poó,tica
Io, devem Pensar cttnstantefilellle em rectlo, ]rarâ qtle pcl'sevcrcln virdoura. 'iirdavia, o rl..c é 'ipre Íica"? En-i qric co*siste o "funcla,i'
eln pensamento junto a tirl essência. Na recorcl:rçiio r-los rlÍrvcg,atltes oliginiirio? L/nr nâo 1'rr,-clc scr pensaclo sern o outro" Na relação entre
c na rccordaçãrt tlrls amantes venr ;.i luz, agor:a pclir printcira vcz', a íical c lunclar é qrLc "os por-'Ías" cslão.

essôncia originária tia rccor<lação. I{ecortiar é ulrl rrodo rle íixar "O qtrc íica'l lrcnt),lpcnlc. (f,uq1 rrâcl sabr: o que é isl.,
I-i (.)
que consiste cill pcnsar elr algo lirtue junlo arl qual os pcnsariores cnrbora nuncâ o trrrrlra enconirado, aincla qtie s«l como algo vjsirclcr
se rnantêI11, para qtle p()sÍiilln perse\rclrar em stlil prr'lpria cssôtlcia. pelo rlesejr'i o pcrnrancrrtc é o irnutávei. À4as este pocie, junto con; a
A recordaç:ãri çonsoiirla <;s pensadorcs ao scll solo essellcial. Mas própria inrir labilithcle, ir .se
enrbor;r eÍr) urn instante . l)oncle o rluc nãr:r
netn () pcnsamento dos navegantes, ttetn o tl«rs attlatltcs é ;rincla a se vai ;rassa a sel, dr" m,clo cnritrc,te, t-l imperecível, já que trão perecc.

recorclaçrio origirriiria. Ain<la clue o illtlof pense utticarnctl{c tto soio () irnl.,crccír,cl se nroslra c()nro o serupiteuro. o permanecer con.siste
esseuciaI cl0s arnantes, slla recorclação Jjca, cottÍtttlo, rcstrita cltt per<luritt', no sentitl6 <la presença estável. Assjm, petlsallos o
iro quc collccrl-le ar)s arl1aDtcsr c Pen§il il0 sctt pcrtcttcitrlcrtltr Peflrranclrte rlc nrodo iigci[o c tlificilrr-lente a.tentamos que talvez
mútrro. O pensamento do arnor reivinclica para si o solo essclttiirl atr! o lcsírlrr. que sobrou leur unrír filrma de pennanência.
euando
clo atnOr. N<t entantO, p()r compreencicr 6 s01o es$encial ctlttt«r ;ttntlr, isto acorrtccc, a pcrnranêricia pcrclc a sua caracteríslica notável, ern

160 | Explicações da poesia de l-lôlderlin Martin Heide5;ger I l6l

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)


virtutie quai clesejarnos o prertnatlettic. Ft:ec1[tcrrtcrtrct"ttt:, tatltbétn,
c1a Não por ircaso e.sta palavra se encoutrê no Ir ino 'A peregrinaçío']
fomztrros pr)r perlnant: llte âqtlilo qtte I]Os acollle, Ial cr.ltlto sollitls, cle cllre conieça co.nr o ekrgio rla terra natal (lV, 167). pernianecer é ter
Ínoco quc estejantos disponír,eis i\ tlràu crl] ]l1tio ao pel'll-lilllellte, col1l() clificuldacle pirra irbanrionar o lugnr cIe origern. r\ diÍlculcliicle clo
Se nóS trresltos ÍôSSeÍltos tlt.r14 coisa contitlit el]) tllll reecp[ilc:ttio coisal allantlono slrrge clo putlor de ir à nascente, pois o o puclor já se Íixor.r
ldinghaJ'tl.
'Ibrrarntls por coisirs, er loDeáttnefl1c, tilnLo o Pcnnatlelltc no puclenclo que o inspira. N{as então a nascente cleve ser o Fixo.
COmo nóS lneSmOS, e irssiIIl t()lltilt])Os o eSSêtICiA cl<i Petrrtaltecer Ela. é, co.úrrnre é entl-ranto orige,r, e por essa razã.. Na nascente
colno passí\rel cle ciiiculo e inteligivel â todos os intelectos. Aittclir rluc se consunta a riqueza que começâ no mal'. A nascentc é a riqueza,
O lrensanlento lltltnano SemPre se inclille a Collcet)cr O l)erlllallellte rilirs apenas se é experirnerrtaila etuluotttto il nascente. Ist«l acontcce
<ies1e rrodo e que fiern lnesrno I lijltlerlin se clesvcticilite deste milclcr qrrancl<1, rnedittnle a pet'egrinaçãcl ao estraltgeiro, i1 nrtsccntc se
de perrsar o perlrallel)1e, (levenlos, colltudo, escutar o Pr(iPrio transfr.rrnra no disiante no nrais alto grau, do qLral una chegacla a
poema, e apellas () pocrDa, pois nele se c(lltsuma a rl()nlci,rçã() tlaqtrilo casa pocle se a1;roximar para que se translirrmc eln regresso a casa.
"c1ue Íicil Neste [echo o poeta Irãtt olerecc nenhufir escliirecitnetrto C) habitar junto i\ origern deve brotar clo aproximar-se clo próximo.
sol)re o qlle Íica. Flle não uoilteiii o (lue desciaríanros apreetlder i\ Iiste habitar retérn tr forma cla aproxinraçao, sr"rponclo que esta saiba
guisar c1e "conteírclo' clcl pcrtnrttrettte. No rasctltrlto clo vcrsrl I lôlrlerlin ("Madrrros estão..1'; lV 7 t):
escreveLr inicialniente (IV 301):
lv[uito há
Utn pertrtanetlle, P()l-clll, llrntlarn ()s Poetlli. I)ara lctcr. Il nccessiiria a fitlelirlailc,

"Utrt perlnanente'l Nirtl o rlllatlellte eln g'erill, illgo


pe Mais precisamente, frtlclicladc à essêr-rcia cla rirl5Jem. pois a

ildeteil-[inado e clesl)r()vido de tFralcluer reÍàrência Precisil. "Ul]l otigenr se ultrapassa ao cleirarr algo brottrr, uuucir se basta. Mas ela
e

permanenle" é o perlnarlellte tll' ttlll PL'l'lll;Illecer próprio' Não é sti pode ser pobre cle si ruesma porcjLle se firrna no seu solo essencia[,

este luesnlo o quc se verbaliza no poclrla? o poclii


qtlc llcou paril antccipaclameute, nâo nbstanle o seu cleixar brotar. Só cl que se 1irrna

trás envia sua saudrção â() l)i1ís csltrtrtlgeirti. lVliis <lttetlt Íicotr para it si nresmo a partir tle unt ponto recuado collsegue deixar clue alg<r
trás não persiste na fixiclez tle unt ubatrd«lr"ttl cegc-r. iile itrvoc:rt tluent sen por isso percler srra essêucia. A origer.» conserva
lrr<lte de si,

lht: c1ê a facuidacle de "clescallsar'l isto í', irernratrccer, pa própria suo essência rnecliante cste firmar-se no .solo, o qural é rerlrrisilirdo
cie[errninação. 'Ial perr-nanôrrcia abriga srta essêllciil na p(.rguÍ]|il: ertluiurto sol0 pcla prinrcirir vez. o atrtoÍirma[iento cia origerrr
"NIls onde estaio os anrigos-i" A permanôncia il«r prrlpr:io é a itla até a tornl Ilrnre «l solLi. Â firnreza prtipria à origern resicle sonrente no
nascentc. Ela é r orige[r da qual brota todo habitar pttssível aos hlhos tornur'íirme. o carátcr origiriiirio cla nascente não se esgota cle rnodo
tla terra. o pernranecer ó utrra catDiülrada à pr(rxirIrítlntic cla origcrn. algLrnr em oÍêrecer suas iiguas, corllo se fosse unr recipiente.ctrlto.

Quem habita esta proximirlirde preel)che a essêllciir clo Pt'rtnauecer. O brotar originiirio da nascctrÍe se volla para triis, para o solu. Nãcr
só a terra oculta a rlascclrte, rnas o próprio lrrotar é r:rna Íbrrna c1e
I)iÍlcilrrrcntc :lbatrdot'tir ocultar-se no soio, abriganclo-se nele. Deste ntodo é que a nilscenle
I')ste ltigat qltetn lllot'a pelkr <la origetlt. pcllnanece enl seil solo 1]rrne. Àrlorar pertrr clii origer-n significa,

162 | Explicaçôes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 163


i
,1
portantr), perseguir o curso que ela torna ao ílrnrar-se no solo. t)lna llles são sernitleuscs.'h nascente" é a nascente do ri<;, e cle íato rios
vez quc 1al acompaniramcnto ncm firbrjca por si lnesnto a origenl, rios pátrios, cuja ess.incia ÍlLrvial é poematizacla nos hinos "Jrrnro :\
nel1l a encotrtra co1t1o se fosse algo presente e clispolívcli, clc tlevc r-lüscente cio Danúbioi"o lleno" e "o Istro'l Estes rios são o espírito
fazer utna pausa juntrl à firnteza, e assiln iuclir:ar q1le, tlo caso cJa vivo dos p,etas que, iro se crfJ*er el)tre os liomens e os clcuscs, rlcvcrrt
origem, o tornar firme é sempre um deixar br<ltar. A int{icaçào lraz [,rrrar o solo íirmc ])ara esse intervalo aberto ci<l qual sua cssência
o indiciiclo part perto e, c.ontu<1o, o titirntétn clistante' A inclicação broltr. s(r rreste Aberto é qur. deuses e homem encontlaln uris a(r.s
elpenas seaproxintit do indicaiio. Quanto inais t:ssencitrl i: a rlistâilcia .r.rlrurs, sc 1al lhcs é dcstinado. se ist<l ocorre, estc aberto sc abrc.

que pcrsel/erl nesta aproximação, tllais a intlicação se aproxiura o qLre vcrn c1e cirna c se encontra acirna dos deuses e dos hotrens
clo indicado. stc penllanece clistante tta ntcsttta pt'oporç.io etrr pcnrrite, cio modo enrinente, que unr Aberto se abra, cle tai moclo que
que retirar-se lhe cabe de mocio essencial. A distância clttc assirlt aigo verdaciciro (rlcser-rcobert.) possa ser. o clue abrc previame.te é

progressir,amente se destlobra acolire, colltrtd(), a proxirnidarcle illais o Sagrado, o poclna não courponível r{e antentão, que já abrangcri
esscncial entre incljcac1o e inrlicador. Pois esta proxitniclacle nã0 se previanicntc to<Ia atividatlc poética, porque r-reia tocia funclação jii
presta a scr Inedida por intcrvalos espacitis' ülas ítlltcs tricla cspór-ie Íix., . qr-re ela fu,clou. o sagraclo se abre a liomens e cleuses ao
de abertura clo indicado e da indicirção tlue convén1 a cste. A orig,en.t rne.§fito tcmpo, se a ceiebmção IFe-çl] acontece. Na celcbração Írparecc

pcnlite <iue a clistâDcia cxtrcrna brote, ao voltar-sc pitrir triis, tornanckl cr []irme iFcstel no qual se firma a origem essericial do poeta.

r; seu próprio solo firrne. Na clistância extrel'na ltrota ir possibilirlackl


() poeta nrorir junto rlir nascente, con[orme eie mostra o distante que
cia proxirnidarlc pura que sustenta a clistância. Sr'r c possívcl ntostrirr sc aproxinrir cluanckl clir che5,,ada clo Sagraclo. O poeta só pode avistar

a origern se a inclicação, nri condição dc retoruo da peregrirração, <1uc cstc vindourc pela prirnc'ira r.ez, e assirn se tornar acluele que iutlica c

í.oi perrnitirlo pela origein, tiyer sua erúradil arltlliticll nas inrediaçires faz p'esia, sc e lc a, rlleslro tenrpo pensa no fugo cio céu e concr,z esla

da origem. Deste uodri a ittclicação se crava a si tnesma, lirtnemcnte, experiência a un.ra cxibição cujo pensanlcnto se clirige à apropriaçiro
na {irmeza da origern. Isto signiÍica: ela funcla. Portattto, a [unclação é clas próirrias capaci<iades. Pois ele cstá aberto para a divir-rcratrc e

a perrnanôncia cltre se aproxiura da origellr, que permanece porque a l)ara a hurxilnidadc sonrcnte porquc, ao se lernlrrar o que aconteceu
Íunclação, encluanto camiuhada puclica à trasceutc, só coDl cliíiculdade clurante a percgriuaçã() c r1o que há para aprencler sobre a localidacle
conse€lue abandotrar o lugar cia proximidade. A fundação Íuncla a nativa, tem urna lnaneira indicativa c1e avistar o Aberto, que é o único
si rnesma, enquanto pertnanência indicativa. A prermanência, aqui, lugar em qrle os clcuses os cleuses se tornam hóspedes e os rromcns
ó o perrnanente. O poeta está autorizaclo a nomear o fr.rndatlo "um poclern co,struir urna habitação, o único lugar no interior ckr qual
pern-ianentd'. Apenas este fundado é 'b qrre tica", tal como pens:r«lri está algo ver<Jadeiro eÍn que eles poder, i,sistir. O poeta intlica
pelo poeta. esla aircrÍura clo intervalo clentro do quai ele mesrno deve nr.rar,
A busca de utna caracterizaçiio clesprtlvicia c1e conteítclo cla porque scu clizer inclicativo aconrpanha a origem. Assirl, seu dizer é
11r.re é o pe,t)anente <1ue Íixa o Sagra<lo que deve ad'ir
pennarlêlrciâ e cla Iundação parece correspondcr ao íccho do pocrna' na palavra d.
Mas esta impressão só clurará, claramente, etrqurtnttt tonlarnlos o pretir. sri então esta funclaçã<l é Íunciada pela primcira vez. o habitar
verso isoladamente e, alélrr clisso, clescuiclart'uos ,1l.tc ele trãtr cleixa próxirno à nascentc só é instituído se este permancnte pernrarlece.
c1e pensar nos poetas, mesn-io scndo indeternlilla(lo, à prin-rcira vista. Agora, a [u,daçiro csth "crn casa" rlil sua essência. 0 habitar fi,rnclantc

164 | Explicaçóes da poesia de Hôlclerlirr Martin Heidegger | 165


habitar originiirio dos filhos cla 'ltrra que stio ilo lresll1() [elllP() os
íinne'l Sri lhe resta o nirda clo vazi,, clesprovicla do perrnirnente cla
éo
1;crnranência próxirna à origem.
'lal vazio ernpreencle então a1lenas a
filhos clo céu. lt,ies são <'rs prttetas. SLn iroesitr se tolna lirntiação pela
() terreno instiilação rio es<luecimento tla verclirde Írhinta: que, senl o scr, lreln
pL,inreirtr vez dcste moclo. Lr,stes poetirs cercân1 e acertânl
sequer o natla seria.
para a coÍtstrução cia casa à rlual os deuses virão cotro collvidlt(los.
{ltrc cicvetri O habitar firnilante, próximo à origern, e o habitar originário,
Os pr-retas'tonsagrai-n o solo'1 ll,les nio sãti os carpiliteil'()ri
celebrar a elevaçáo cla curueeira ("4 crllrir-rllacla ;to cafilpri" iv, I 1 3): no qual o poético se birseia pi:la primcira vez, sobre cuj<l chlio os íilhos
cla le rra clcve'rn rnorirr 1rela prilre ira vez, se é que, cle resto, "hirbitarern

I)ossa o czrrpinteit-tl dizer o I't'ove rbio cla cttmctir tr'


poeticanrente sobrc essa'i'erra'l O poernatizar "clos poetas" é, agora,
afuntlaçlto clo premanente. A perrnanência é enqrranto "recorclaçào"
Que nós, tatlto cluanto ct'ltlse g,ttittros, lizcnrtls a
ut)§stl l)itrtc'
originiiria. Iista não se lintitir a peusar: simultrtlealnetlte no aconteci«lo
À.irrc1a assirn, por qlte os {tlndaclores qtte tlizetn
'ir Altíssirlrci' e no vincltiuro, ürirs pensa loitto no que precisa ser clito, unla vez que

rle antemão não poder-n tambérn pensar previaürelrtc soilrc o cltte p«rvérn cLr vincktur«r, .luanto no qlre deve ser abrigaclrt, pois rccua no

pertence à construção cla casa, irenr ctltuo rro qtlc pernlite Preserviir senticlo do rlue já aconleceu. Assim, a[é meslno o estrangei«r pocle
a constrttção e assim firtnirr as reltrçÕes elll qtte cnlão tlettscs e ser algo próprio na apropriaçio rlo quc Íbi apropriack>. A recordação

homens enc0ntrirm uns aos riutrris? Claramente, insistir nilo é algo pellsa na loctrliclarle do lngar cie origen-r a() pensar na peregrinaçiio

c1o mesmo tipo que fixar. Para insistir é trecessário tl


Altíssiuro, para através clo estraugeiro. A recorclação pensii sobre a uascente ao pensar

Íixar é necessário o lligorosíssiruo. Nenhr.itn clos dois pocle substituir no o n)ar atra\.essado .- no qual a nasc:eÍlte, corno rio, desemtrclcir
o outro. Por isso a arte deve recltitr ern consideraç:ão à persistêncitr tle antemão. O espírito do rio carrega it nâscerlte alé o ntar e traz
da origem. Em utl1a seutença s«rbre <l fragrnento c1e Píntlaru que o nliir até ii nascente, que s(r se anuncia pela printcira vcz ct»rro

intitr-rlou'A suprema', Flôlderlin aÍirma o segtrirrte (V'277): nascentc cm vista clo reÍlujr clo rio. O fluir clo rio ltr-urcla a permanência.
A perrnanência prepara o lugar histririco em que a hLrmaniclilrle
r\ cliscipliDa, cont.anto qtle seja a ftlrtna elr qu(l cl hornent erlcoll[ra it histórica dos ale mães precisa aprencler a tomar resiclência, para clLre,

si mesnro e o Deus, a Igreja e a lei c1o Estado e os cstatutos hereclitários qr-ranckr chegue ir llora, possa clenrorar sL. ert unr intervalo clo destino

(a sacralida<le de L)errs e, para o honteftr, il possibiliilatle cle trr1l equilibraclcl. Só quern reÍluil até tal oermanecer ser/r forte o su{iciente
conheciltlento, cie uttr escltrecinlento) eles excrcem ptltlertrsirrnerrte para tal demorrr-se. A verciacle poética cia rec-orclaç:ão se abriga no
o clireito mais justo cor-u a rrrã() altíssirllt, eles nrirlttêtrl, mais "ir" clo rio. A recorclação nunca presentiÍica a origem já conhecicla.
lirmemcnte clue a arte, as relações vivas etr qtte utl1 Povo' ':oÍI1 o 'larnpouccl a cria. Scria rnerliiclr dizer que este perlsarnento se íixa
tclllP(). cllcr)lltril r cnL()l'ilr()t.l it si ntcst itt' rxr s«llo esserrcial cla pocsia aci indicar a origem, conforrue persc!{Lle
ate a origem a essêrrcia cia poesia 1:, tnecliante tal perseguição é, ele
Se, porém, tais "relações vivits" nttnca clregaram a ilcontecer rresillo, poesitr. A "i:ecordirçito" ó a permunência poética nir essência
e sufgir, isto é, se não ficanr funrladas Íirmemente ttil tlrigetn e nãcl rlrr rtivielacle poética rlestinaiiva e hábil, perntanência clue inclica seu
têm uma origem poética no seu s;olo essencial, enLão torl;r tlisciplinir, I solo fundacional cle moclo celebrirtório no destino Íêstivo rla poesia
i
por mais estrita clue seja, não possui r.radir Íirrne que prtdesse "ruanter futura <.los alernães. O clerstinou habilitou o poeta i\ essência clo setr
i

166 | Explicaçóes cja poesia de Hôlderlin


l Martin Heidegger I t67

ri
o escolheu corü0 o plillleiro â scl'sacriíicrtio. llrn till A "recrir:diição" ó a composição única, llor si tnesfi)a regraclir,
L)Oelnatizar- e
Arluete t1're rlo "uras", palavra que nortreia o cnigma, que enquanto o "brotado cle
clestitraçáo, o pocta é satlrlaclo de matt*":ira originária'
a

nrndo 1-lurri' l)ertnâüccc üâ origem. Poernatizar ó recordar. A recorrlação


Íbi saudado saúclir o vcnto Nortlclitc, qttc silua o poclâ
l1ÍI
cleste nroclo
À4edintrte tr é [rrtrclação. () habitar íirnr]ante clo poeta iuciicir e consirgra o chão
claridadc cl() rrativo c lâvorecc os utarittherjros cnr viagetrl.
I)ot"isso, qttetli parir. ohirbitar Poótico cios íilhos cla Terra. um perinanentc resirlta tlo
Norcleste, o solitário clttrer os at-nigos sc junta aos otltros'
fictxr para trirs saÍrcla o país distantc nterdiante o lllesnl() venttt qtre lhc I)errlranecer. A rccorriação é. O Norclesle sopra.

indicir o cltre ihc é prtiprio. O sauclante, porórn' íica pirra trás' p<lrquc il
tlo Sa11raclo'
essência rlo siurdado sc transfirrtrlou, t.nctliatlte a sauclilçiro
prtlrtvrit clo Poctna
er]] pcrnranência. sua pernlanêncii', foi lirrrclada trii
..I{ecordar,:ão'l c) p()elrra üão "exprcssr,r vivêncizrs" tlo llcieta, tttls atrtc's

poe{a para tlcntro clo âmbito da suit cssência, o <1tral í'oi


aberttl
traz o
enquanto P0ema. c) poenra aitriga o agradccirnctrto tllarirvilhaclo
<I"re

e' tlcste lroclo'


agraticce pelo miracul()so, clue ó saudaclo pclo Sagrado
chamirclo i\ firnclação. O e.spar]to poélic(l tlesclotira grarlualnlcnte
a riqueza <la vocação" U:na vcz tlue a vocltçirrl frli t]ctcrtninacla à

catla ltnr <le


pernranência, parte ríe clegrar'r ctr clegrau, apoiar.rclo-se c'rlt
es(lllecer os
tal modo tltre já tarlbórn o deixa etrl favor c1o segtritltc' senl
<iegraus que al;anrlotlort. A estrulura da pcregrillação
que Ieruritla lta

estatlia erlt casa no próprio ó pcieticanlcntc concltrziria pelo'ilras"tiLtc


clá ao poenra tl scu tolll encoberto:

O Norcleste soPra,

Vai, porérn, agora.."

Ainda rnc lcutbra lretlt c como'-'

No piitio, cotltttcio, crcscc trlllal íigueirlt'

Ivlas quc me dô,

Mas onde estão os arniilos?

Pois ó no lrliu'tlllc c()lllc\'.ít...

l\''[as agora Iblartt.'.

Mils r) lllAl lil ir...

Mas o qut: fict' os Poctits o Íirnclattt'

168 | ExplicaçÕes da poesia de l-lôlderlin


Martin Fleidegger | 169
ATERRAEOCÉU
DE HOLDERLIN

Conferência prolerida na jomacia cla Sociedarde


l:iillcleriin r:rn lvluniquc em 6 de junho de I959 no
'leat«r Cluvilliés cla l{esidência.

ltepericla eur lri de julho de 1959 ntr Socicdade dii


iJiblioteca rle Stuttgart, no. salão azul clo átrio cle
rcci tais.

liepetida em 27 rle novernbro de 1959 parir o


Str-rdiutn generale da Universidade de Friburgo
em Brisgóvia, no auditório principal.

Il.cr-leticla em l8 de janeiro cle I 960 r-ro novo auditório


princi pal ria Univers iclade cle I{eiclelberga.

Observaçao prelin'tinnr ti conJ'erência em Mwtiquc


Lirn irlgurn ltrgar ein I(ant se encontra aproxirladamellte a
seguinte .bservaç:ão cujo sentido é: é fácil ciescobrir algo, clepois clue
se ilre inclicou onde se clevc procuràr.
No que <1iz respeito ir l{ôlclerlin, Norbert von l{eilingrath, cuja
inragern .se fez preserre hoje à larcle rnediaute um clesenho magistral,
I continua a ser, para todos nós, um indicador cleste tipo.
I

i
Observaçao prelirninnr à conferêncin em Sttútgart
I

{ Nesse meio tempo, pergunta-sr: se llôlderlin se inclui entre


l os fikilogcls ttrr os Íilósofbs. Ele não se inclui nenl entre urs, nerr
entre outros, e tanlporrco entre iuntros. A clisfunção, qtralcluer clue
I

I
Martin Heidegger I 17l

I
I

asstrrtto clue deve lhe tlar Pcrrra,ecerií iuconcl,so se e como, por esse tleio, a p'esia
seja o moclo col11o se a clecicia, descuicla dtl
clilrcza sobrc a cle IIôlderlin, erclrant. p.esiir, virá ao nosso encontro enr sLra
a rledida. Corno? No senticlo ein que não é preciso
e lnelhor clilo' se essên ci a.
quern cleutre nós tTôiderlin pertc[ce, I11as, apel]as
r-rós, rta época atual do trrul<lo, conscguiremos
pí-'rtencer à ptlesia tle lr,porta correr o risc. de nroclular nossa representação usual
Iliildcrlin. e lorna-lii uma expcriôncia de Lrensamento inusual, porque sitnples.
somente a isso n0ssir reÍlexão se refere. il
urna tefrtativa rie O ârnb:ito eln que tal tn,<l,Iação ressoa, poré.r, é o r1. unta
irté rlue seja ulnir fala Poética pro'i,cla cle rrrra proesia que jamais conseguirernrs
mudar o aÊtratnertto de uossa represcntação usurrl
cle pensane trlo inr-rsua1' porqLle simplt:s'
(A r.rroctrulaçãrr c,rrceber us:urc[o co,,,ro fio r:ondutor as categorias literárias e
cxperiência
pcrlsatlte do trreio das rclaçcres ticirs.
lLhrtstirrtrttungl leva à experiência
es [é

in{ruitits - a pârtir clc tal rneio - icva para firra cla


irnposição [(ie- I)eix*nos qr-re lleili*a vo, Arni,r ciiga ein que se,ticlo
sfcll], parn fora cltl ilcotltecitnento <io Quateruário'
rlttanrlo estc se ili;ldcrlin expericncia r atividacle poetica * e nào apenas a sra
dissirn tr lir ell(ltlal lto irnposiç:ão') Prirpria. ilascanclo.se nas anotaçires de Ilõlcicrlin qlre apirrccerirrn
O úr'rico cirnrinho verdadciro para a gt:antlcza tla pocsia enr lÍl()4 sobre as suas trachrç(res de stifocles, Ilettina von Arlirn
cie

é, cnqttanto
Ilõlclcrlin niro existe. (larlil trnl dos rnírltiplos catltitrhos explica a caractt'rizaçio hiilclerliniana da poesia com as segrrirrtes
mortal, urn ctes- catninho' scntÇnçirs, ao ílnal clo priurciro vohime de Oünderode:
"O poetnil
Se lbrvercla<le o que Paul Valéry diz d<t Poeilla:
ctrtão i't cscutir
* csta ltesitaçào perseveratlte ctltre sonr e sentido"-' lj assiut l)eus ernpregou o poeta conto seta paÍa, a partir do
tlrl escttla sã<r
do poetla c irtó, tall'ez, o petrsamctrto preliminar
cr-n
()rlrtltt<1o, tal hesiiação
arco, arrojlr scn ritrno, c queln niro o perccire nent se cllrva
irincla nrais hesitantes quc o própri0 poelllii. rlianrc diss.,unca será hábil orr atictica,rente
trata clc rtma virt,.s. para
possui unla cot.lvicção prr'rpria e sttperior; não t;tr s(-'rPocta, c estâ ])essoir sct'ii lraca demais para abarcar seja r.r
simples vacilaçã0' r:.ntcr'rrl,, st'.ja a pcrspccliva sobre o ruuntio clas Íbrnras nrais
a,ligas cir: rcprcscnt.çiio, seja
as nossas terrciências nas lirrr.as cle
ohscrvrrção ptc-linrinrtr à cctnfe rôrtcit:r cru l;riburg<s
cru llrisgtit"iL't
rePrr:scntaçáo rrrais recerrtes, e netrhur:tas lrorntas poéticas sc llre
(ltlc se ttrutirrá
Ncste ptltrto ó necessário ttlrl pr<iiogo ao rrrrrnifestarão. [).e tas <1uc praticârn formas j;i dacias conscgucnr

clizer a seguir' O títuio desta confcrôircia ó:


'i\ terra c o cétt cltl tarnbónt âpcnas l'cpctir o ttspírito oulrora ciaclo, pousanl colilo
crrjo título
I-Iiilclerlin'l Por isso vocôs têtlr ciiante de si tltn texto avcs crll um gallro cla árvore cla língua e pc,dern dcle, ernbalaclas
segunclo o ritnto orip,inário que se encontra elr suas raízes, ntas
e "Grécia".
Assim, poclcr-se-ia tratar cle uma interprel'ação cle
uttr r)ã. rararl pur sobrc ela como urna águia espiritual que tivcssc
a represetrlação sirlo clrocatla pclo espírito da iíngua.
esboç«r c1e poenla, tnovida pela intenção cle expor
projcto lcgí1 itno. I].esr'rltaria,
hõlcleriiniana cla terra e clo céu. se ria u lrr ( llcl ti na von A rn im, Srit n tl itl r.e Werke, ed. !V. Oeh1kc, v. I1, p. 345.)
talvez,eln tlnla cor:rtribuição t\ pescluisa sobre iliildcrlin"
Contudo, eln comparação, a corrlcrôrrcia I sr:gitir visa
um
pcrlstttnetllo'
senticlo clifcrcllle e algo ptelilnittar: uttt ossurllo tJo I

172 | Explicações da poesia de Hõlderlin I


I
Martin Heidegger | 173

i
li irr e tertrpo cobren-r
Grécial
()'len'ível, para quc ncnhnm de rnais
(l vozes cio I)e stino, ó vias tlo Viantlalrtel
1-ror
( ) iuilt'ctltt]
lrt a-(,s 0tl
Pois ua escola az.ul Idos oiiros],
,\ alrua. Irois k:ngo tempo já csti'r aberta
De longe, no brarnir tll célr
(lrrrno [ir]has, paril rpr-eldcr, ou linlras e ângulos
Soa cot-t-to o canto clo trtelrtr
À Natureza.
A afinaçio Isegurai iilegre clas rttvcns' betlt
ii rnais clouraclas os sóis e ls luiis,
Aiinada pelil presetlça cte [)etrs, a tcnrpestacle'
Mls ent tenrpos
I1 apelos, como olhr.rr Pra longe
lirn que cluer acabar tr velha culir.rr-a
Pra ir irnor''aliclatle e os lreróis;
l)a Tbrra, isto é: conr histtir-ias,
Muitas recor-c1ações hti. Qttanclo a seguir
Iivoluítlas, corajosanrente lutarlas, como ern altrrras guia
l{essoirntlo, como pelc clc tiovilllo'
Der-rs a'lcrla. l)assos cle stnerliclos
A'l'errii, clcscle clevastações c tetrtaçõcs dos sanlos'
l,inrita-os cle poróm, lnas colllo flor-es tle ouro
I)ois lr prilrcil,irr u rrltt'i, se Iirr nla,
Se juntarn cntão irs forças da alma, os parentescos clir alura,
Se ltttc grarttlcs lt'is"r
(liôrr' iit
[)itru que na terra plefira
E a ternrtra e o laÍgo celt parecetidc) 'lepois
Morirr a ljeleza e clurtitlLrer fispírito
Puro ir-tvólttcro, cantAlt) tlLlvel)s callÔras'
Mais ttlt coútulu se jrrnte aos hornerrs.
I)ois l'lrltlc é da'I'erra
tur-rbigo' L que cativtrs t;nl lniirge ns clc
crvir cslittr
0
l)oce é entrio nrornr soh as altas sombras
,\s clrutnlts t {)s ullivclsilis
alto vive o lltcr' Mas [)e it'vores c colinas, ao sol, olde o canrinlro
Eterreltos. !,r1 sgl6ra medítrçiirl porétrt ntt
lrara a igreja é crrlcetaclo. N,tls aos viqantes, a (lue,
ar8ênteil
P()r an)or tla vida, r'nedindo-os scrlrpre,
Ent dias Pl,ros é a luz'
(lorno sitlril ck: antor
Os passos obetlccern, llcltesccrn
Az.u1-violela ir lcrril.
.lVIair; belos ()s L:anliltjtos, onric, o cirrnpo2
INius :rssirrt conl() Ô r'rtt [t'jtr

Vai ao casamcnto,l
Prn o rlue e hunriltle poile tarnbérn vir A terra e {} cóu cle }liilctredin
Unr granclc conlcço. A krla
ht»l c us'
e o céu -- a locução nrinte.ia uula couexão. A conjunçãcr
NI as t1l-oti<j.iarlamelltc, ó lllarav il I ra!' P()r anlol' cltls "d' o expressa, clecerto, mas não iliz nacla sobre o que e a conexão
Detts trtrz uln vestido.
e conro cla é, se ela subsiste por si ori se vent de rnnito longe. Neste
Il aos conirecitncnttls se octtlta a slta lace
citso, elir rlcveria pertencer a ur]ril relação mais plena, da rlual tarrkr
E cobre 0s arcs colr al-te'
tcll'it c()nlo céu |eceberiarn sua de terminação pela prjnleira vez..

loratn supritniclos
ra*"",,"1 corno irnpressir rra StA ll' p' 257. os versos ''scgurii'liirafir
entre
I' 'il. t
'haves iissirtalaclas n:r
;r;;;,;.i;;"r,eo' u pntuu"'"nttt''] igu'l''""t" crrtre chavcs' 2 (lUlhv f Ll.A, 1\)97,?.41t 4.1f, rrrodiÍicatla
primeirt varialte (N. do A')

174 | Explicaçôes da Poesia cle Hôlderlin


Marrin l-leidegger | 175
**_-

Nas vizi,hança.s clre co*Íinâtll corn o vale Vcnclec, itrteressurr,,re


ÉIôlclerlirrrros<lizalgoaesserespcit'o'Dcscjirríanrilsouviltl' o sclvlgetn marciirl, o prtrnnlcrlte masculino, çrara o qnal a luz tja
esboço rle poenla ctrjo lítr-rlo
T'cntarct.llos liizê-lo ao refletir sobre uln vida i,tetliataÍ1len1e a.orrc ircis olhos e merlbros, c se scntc (.{,tr)()
é..Grécia,l(]orrtuclo,el}qr.ralllolnortais,ntishotnelrssóporlcn-ros lurn vi|luosisrno na scnsaçãtl cla nrorte, c sacia sua sede clc corrheccr.
<lc tlris mesttros' trlgo
ouvir se tlissertnos arltecipirclantelrte' a partir
O tlito antecipallalrrente O atlctico das gcnLcs do Sul, nas ruínas do espírito tla Antigiiidncle,
àquilo clue clesejaria nos clirigir a palavra'
contuclo clcve ir irtl scu nre 1ôz conhccer rnclhor a cssônci:i pr(rpria dos grt_'gos; instnrí nre
não precisa nltrapassar a pirlavrir interpelante'
sobre sua nalurcT.il e sirlredorja, seus corpos, o nrorlo como cresce rârrl
enÇol1lro.Ei.spori1r.rêr10Scol1-lPfometelllosircluviropoemairllarlir (:Jll scrl clirna, a l'egr'ír coru que protegel.anr o gênio cxuberzrute tla
tnunclo' Prccisamente
clo que ncls diz respeito na é1:oca atr-ral do
violôncia clo elerlcrrto.
etrtãooprópritlp.,".o,-'n.fala,clararnenteit-rcotlíutrdível,apartirclo
Isto rle ternrirror-r -srra Poprrlar.iclade, suir rnaneira cle acolher naturezas
que the é PrriPrio.
..Crécialtlesboçoclepoenracliarrteclevocês,1-lt.trr,étnclaqttcle csÍrarrgciras c collt elas, assim eles aclquit.er» stra
c:orr.l.rnicar-sc

l{iilderlin chegara à sua pcculiaridatle i ndiviclual, que Irirnspiu.cce vividiunentc, coulormc rr


períoclo tarclio erlr qlle a pcíeÍj'rinaçãil de
é' clo ociclctrtai' Contr-rclo' t'r.rlcnclirr.rento sltl)rcrn(), cm .scntitlo grego, é facr-rldaclc rlc reflcxão,
tranqüiliclacle, no pr('prio do hcspórico' isto
c isso se nos 1.oÍnrl com|reettsivel quan<1o c<lncebetlos o c()r.l)o
PoIquerrinila..Grócia,lqueopróprioIIÔlclerlirrtlomeia..tlpirísdir hcrtiico clr,rs g1sLo.t cla la popllaridade dos gregos] ó ter.lura, cgn16
mirrrhã,,?SeI{Ôlclcrlinc0nvocamaisirrsistentenrettteqtlellllllcila
il llossit Po1,1s111i111111.'
Cirécia,etrrliortrtirctarclia,óporclueprtlvavelnrerrtcseinclinacrrr
última v':z' A visão rlas antigiiiclatles rlcn,rnc uma intprt_.ssão que 1rí]o apcnJ.\ nrc
sua clireção clo tnclclo mais ex[rernrl' pela
(]rlc isso ocorreu e cotrto se preparou nos é clito 1)or ull1 tonra os grcgos mais inteligívcis, mas l.arnbérn, cm gcral, o sul)l.cnro
artr até.o tn.vinlctrtt) slrpt'cllto
testeinutrho pocieroso' Tlata-se de uma cartit'
Supostamtrnte' cl;r qr.rc, e ua lenonreualizirção dos
B(iirlenclorfl' no final conccitos e cru tuckr o rlue ó intcntado seriamentc, ainda continua
i-lólclertin a cscl'eveLl c1e Nürtingerl a seu amigo
a

à plitria' clcpois c1a prirnavera rnan(er trrdo cle pé, e pa1'x si nresrno, dc tal n-rodo que a certcza, nesÍje
c1o outono cie i 802, clepois de regr':ssar

passada no sui c1a lrauça' (ilcil' V 2' cr1'


p' 327 ss'; StA Vl' r'ro' 240; sentido, ó a ftrrnra sul)rerna da indiciição.

Prccisei, tlepois cle rnuitos abalos c comoções da alirra, estaticlecer-


Vl, p. l0B(' ss.) A t'al tit cttttttcirt:
t-rtc por algtrrr {ernpu, c ncsse nteio tenrpo lcuho virriclcl na nrinha
citlacle rratal IlIôlilellin sotrtre rla nrorte de Diotima ao chegar r.[a
Melt ct1f0,
Irla nça.
estive clltrelllcntcs tra IrrAnr':a
.
rluito telrp0 scln tc cscrcvcr,
1

I)aSSci
cla i;ratlçe e bcltladcs A nirtrlrezir piitria ntais potlerosamerrtc tne captrlra, quanto r.nais a
c vi tr tcrra ir istc e solitiiria; os pastorcs clo sLrl
t1a ciÚvitla estttr'lo. À tcntIcs1adc, r'rão aLrerras la sua lpariçã{, sLtf r(.rita, n)âs
individuiris' hotnens e 'tnttllleres qtle crcsce rtnl na angirstia
lncsrno sob cslc;lspccto nacional, eltLluanto força e Íigrrra, nas
alr':
pal-riótica e cia fornc'
tllls ltrrtrretrs, stta vitll ltlt ticnrais Íirlrruts tlo t.óu, a Irrz ctll seus efeitos, e euquanto princípio e
() clcmetrto r,iolcnto, o frlgo tlo cérr c a r:allrrir

conlclllilll]cuto' tuc ittlprcssiotrarltttt


nâtul'cz.a, e sctt c<lmeclilncnto c
c()r.rlinuamcnte, e, Com(] Se Ct)llta clos irr:r<iis,
bcltt irrtSstl dizcr clttt: l-lslir Irassrgcor, tlrri: jii l{. i.n llellirrgralir s.spcitava se li'ataÍ de unr crm de rcrlaçro, é
rrrnrpk'la<l;r p.r A. llci:li (lit Vl. p. I 0ti9) rlo sequintc rnodo, quc me parccc acertatlo: "cla é
Apolo rlre í"er:itr. lernlll'r, (()rr() n rrossr lroPtriaririrrle é solrricdade'l (N, rL: Â.)

176 | Explicaçôes da poesia de Holderlin


Martin Heidegger I t77
lbrmticlor dr rultâ ,ttaneit-a tlo destitrrl, (lue nos é sagratlo, se tl ínlfe Lo Muitos dias e iroras pr<lpícias seriam necessáríos para
ao ir e vlf, o ciiractcrístico rlas llorestàs e a corlver!{êttciit ctt't Lttttit nreditar sol)re esta carta de lrroclo iicleqrlaclo. Agora rcssaltaren)os
nresrnLt regiilo de tlilererrtcs t'arilcteres dtr llattlrczir, qrlc l(xlos os apenas, e tudo coni il breviclade necessiiria, três situaçcies. Lllas estão
ltigares sâgrâc]os da'llerra tenharnr coltvergi(lo pafa ul]1 lngar e a ltLz interligaclas.
Íilostlfrca ern volÍir da nrinha janela é a nlinha aleg|ia rigrrtai tlttc etl E,m prirneiro lugar, considerarelnos que e corno l-Iólclerlin
Iu5sil gtl;.ir'(i;lt c(,llli8() ü(inl() (l)(Btlci ,ltc it(ltli! "veio conhecer ntelhor a essência própria «los gregos'l
a

À'ler-r caÍ;l Pcnso clut: os l)octas até os dias t1e lroje l1ão strÍ'Io Alérn clisst'r, considerareruos o lugar que) Llma vez âlcançado,
colneÍrtados, tllas dc lilto â li)rn)a d() cailto, en) gúral, lomal-1l Lun otltro o poeta conservou na memória, os carninhos (le sLla percgrinaÇã(), e
cariiter', e por isso r1ós não Prevalccrerelllos, Pois n(is, clescle os grcgos, Atentarefitos ao treslno tempo para a luz na qual tal recordaçâo se

[c}re'tlescrricluânr do pritrio']lell. IV, p.26al, recon)cÇiur]o§ ir citntxt', n)ove.


pàtr ialncrte e nàturâllllellte, tle tltodo proPrianlenttl origillal' Por firn, considerarenros a senterlça c'le lliilderlin sobre 'b
Iiscrcve-trte selr (lelll()rit. I)reciso de tetls totIS ptlros. A psyclLé suprelno cla arte'l
entre ilrltigr]s, (l sUl.gilrenlo (los peilsLrflrelrtos lta (l()r)velsa c calttl lontuckt, tr-rrlo isso serel feito crolrl o propf)sik) úrnico e
(

ú rreceSsriria ilOs ilrlistas. I)e outro fltr)d() nã0 telrltlS tterrhtttrs pOr preparatório cle ltos tornarmos ouvintes il)elhores para o que o
nós lresntos; é [relhor alizer quc tl pellsruneut() pefLcnce llo (luadlo esl)oço (le p()enta "Crecia'diz sobre a terrâ, o céu e a relação enlre
sagrado qnc ntis pitltalllos. AtL:tts c lelicictratles. eles. ll)xporut)-nos aL) perigo, clesse modo, c{e ouvir crrado. Flle é tão
csscnciitl e graricle, que nenhum progresso cl<l conhecintento po(le
'l'er-r li.! erradicá-1o.
"O atlético das gcrllcs clo SLrl, llas ruínas clo espírito da
4 lvluitos clc vocôs lorarn irtlirrltta.los sttlrre c(ltlrcr cssil !aIta e, srllrreltttltl, r llrte Íoi esctila
uttl Antigúitltrcle" nlostrou a essênciír própria dos grcgos rnais clílrarncntLr
atlo anles lo nlesnlo atni11o, krgo .1,/e.r Llil I)elrgrilil,io ao su[ ,]a llrarlç4, tirrirtlr Iitett. iotriitlas a Hrjlcierlin. tlr;lderrlin nào cxporiencia "o atletico" separadantcnte,
.o cottcxto cla cxplicação clo cluc liri ctrarnado "r,iraclir ocirletttal" de t{iil,lolin c (llle o l'IóPrit)
(]litürIrtlúe,
l:lôlclerlir, te0cio ern rnclrte rlg() tlilcrrntc, pcLrsa sotl ir tiÍu[r "virtrlir Iiitrja". por si ntcsnro, ltlas llo t:lelncnlo do espírito Íintigo. 0 verbo grogo a)
rleventos ortvir o dlscurso dc Ilirltlerlirr sobre o'piitrio" e o "Lracirtnal" clil Li)llsollâocja
colü
o seltiJii cLo seLL pcnsiurclllo, e isto signihci iicsprcrxle l,,.tr: ltlssils replcselitrlôcs rtsttltis qle/w signilicu "lutrlr", "clisputar", "agarrar" e "snportar". Ircrrsucio
cstreitâs. (-) "pátrio" signiii,:a a rc'n)issâ() do l)ri corlr() l)ctts sttPrettro, sililliliaa tsla ldi!iio"
dor.lora cl c vi,lr cn) quc o hotnul lt se clrr.(r nLl r, r outol l r rc lc!t) tl tn
"dcsli rlril I )o rttesttl,r lttoclo o i ltrt. tudo o quo disputa tnutrrftlnento
lrelerricirrrrelrlc, o alletico tra'z
"naciortal" iiigrlilica o l'ií§ (lc lla§ccll!:1 (/r'l't' 1, aollra), t1tre, truludllto
'olncio'
dclerlllllla t) qtle consigo ulesmo, c tlaÍttém assilll. O atlético ó o "rnaroial" herírico
(l
Perlnanece:
no sentidü do ruÓ)"e;rOq, dacluola lrrta cluc lleráclito peÍrsa cor]lo
[Él qu.'o rlLrc Itriris po,le selxlo o nrovilnento no qual c para o qual os deuses c os honlens, o
L,r nlscinretrto,
E o raio rle lttz que liberto e o sorvil rcbentam para o brilho da sua cssência. O atletico
Al jlltlc u recÚrll-Ílilsci(lo.
tlo "crlrlto lieróico" não é netx o purameuIe sensorial nem o plástico.
A cltrartr estrofe clo hino ao llc[ci co|ti:nr ullia ÊxPli.ilção prelitDitlar tlo setttirlrr.la exl,ressáo li, o brilho clo espírito, quc se dosvcncilha ern sua rncdida corpi)rea r:
"vitatla 1,;ilria" e o "rrarlorlai";
Irerrciotirca. Niio se atei]larii aqrLi à re[lexii.r,le I liiltlerlin sobre a
de tnodo aiglrrn, apel)as pt,rque h;i llltlito a sill rc§l)cil() (lue airrrla Ll rliÍj'il 'lt cs':larcecr' íigura, e dcste modo sc aprccndc.
e

porque o cla totaliila,l" ai,,,lu ,rao sc tler icliu rrnivr)cirmetltc, rr)ds d lirl
trtes l)or(lr rc I liildcr
"e,iti,1o "O entenclirnento si-rpremo, em senticlo grego" é "faculclacie
,lcituu pat" tr'i§ a(luele cstiigio tle sett cantitllro qtle irens()ll sob tl littrlo tle "viraila 1riítria" nil cie
mon)cllto eltl que 0 sulreror,. Íi () quc [)lecisdlrrrr)tc rrÜs riiz o 1nlo tltte liaja estc l,octtra lartlitl reÍicxão" - islo significa a([ui: a capiiciclacle de deixal brilhar cle nrodo
"Gréria" tiaratletltc i1!)cllls (olli{) Pr()ic{o"

l78 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 179


relleticlo tuclo o que em si mestno brillra puraruelltc e n-rediante tempcstacle sc chanra "cxislôncia clc Dcr-rs". A terra e o çóu, c os
tal brilho se íaz presente. No ctrtantt'r, o irresente t.II} tâl brilho é o deuscs ocuitos no sagrado, ruclo está prcsente para o afinanrcrrr.o
Bekl. o
atlético c a faculdacie dtr reflexão são ambos ntatrciras, etu l,ltimmungl trarrqüilo c alcgre rlo poetir na totaliclacle da natr,.eza
si rnesmas uniclas, dc trazer a belez.a à aparôrrcia. Por isso I Iôlderlin originariarncntc rcbcntantc. Illa lhe aparecc sob unta luz nova.
porle escreve r que ullla só é clrncebível corno rrnião com a outra" Iilas "e a iuz íilos(lÍica cln volta da minha jancla ó a rriinha
estão reunidas Ír() qlle llcllderlin chanta "tcrnura'l llla cottstitui o lraço alcgria agora". IlsÍa luz ó aquela çlaridadc quc concccie, no lrodcr
básico cla "populariclacle" <los gfegos, isto é, da sua cssôltcia ttaliva. rle deixar l:rilhar cic volta, na làculdadc da reflçxão, todo çrrescr.rtc
voltaremos a ouvir a paiavra "tcrnurdl jur.rto com <l signiítcaiio clc corn a saclalidaclc da prÇsoÍ1ça. A peculiariclaclc dcsta hiz, quc cla é
"íaculdacle cle reÍlcxão'l no projeto de pocma "Gréciir'' "Íilosrifica", surgc, Çomo trai scu nontc, QtÀoooQi«, ria Cirócia. Aí a
À palavra "l.elrrrtra" tcrn, a1é o sór:ulo XVIIi' c rics{.c trttltltr verdadc tlo scr sc iliu.niuou «lc lbrma inaugural, corno dcsçnçobrinrcnto
tar.nbérn para Ilólclcrlin, uilt sflrl ido supcrior, mais irbarçanlc o lliio- brilhante ckr prcscntc. Âí a verdattrc Íbi a própria belçza.
scntimental. C'orrr rcspcito a isso se csçlarcce o tcrcciro assLurto 11uc, dcsta

Iliilclçrlin clranra n Grcçia cn1 unla versíio tarrJia ilç "iraiirxrli' carta, rlcvc scr dcstaçad«r. As proposiçõcs seguintes o nonrciarn:
(stAII,p. Itj0)de..paísric.juvenl.Lrdedosollrosalkiticos".0olhartlcstcs
é, corno toclo olhar legítirno, cspirilual, ç brilha no c:o{r(rt'co' Os olhos A visão clas antiguicladcs cleu-rnc rüna impressào guc nio Lrllcltils ruc

somentc avislarn o quc brilha conformç são, dc atllelnãtl, ilunrinaclos o tornn os grcqos nrais intcligíveis, rnas também, crn geral, () supretno

visados por c1e. Os "olhos atiótic()s" avistatn o §çlçrza. Vivítla clc íirrrrra cla arte qr-rc, ató no movimento suprírfiro c na íênouenaiização rlos

grcga, cla ó a t,crrlaclc, ou soja, o clcscucobriltrottto clo quc: sc l-ltcscltteia conccitos c cnt tuclo o <1ue é inl,cntaclo scrilnientc, ainda continua a

os grcgos nratttcr ttrcio dc para si rnesnro,


a partir <le si ntcstrrri, da $Ó'o'rq,, daqucla ntrlurcza cl.ll tal rnoclo que a ccrlcza, tresse
p<!, e c1e
'ltlc sentido, é a íiirma suptcnla da indicação.
viviau], ea padir da qr-ra1 vivam. O oonhocinlçrrto supcrior que flÔlcler'lin
tcm cla cssênçia autêntica clos gr:ogos ó um dos itssuntos tla cafla'
O oulro, inseparávcl do pritnciro, cotrlóm a irrdicação clc A artc é, enqurnto o <.leixar aparecef <iue indica o irivisír,cl,
a íirnna suprc-n];t cia inclicirção. Por sua vez, a base e o ápice dc tal
tlÕlclcrlin do lugar a part.ir do qtral o conltçcinletlio arrtôn1ioo tla
indic:açiio se desclobrarn tro clizer enquanto canto poético.
cssôucil grcga, rccónr alcançado, ó tlotneaclo.
"Quc: toclos os lugares sagraclos tla Terrlt tettharn oonvcr6lidtt Cor.rtutlo, l)ara os gregos, o que há para indicar, isto é, o quc

para unl lLrgar [...] ó agora a tritlha alegria". Mctliante o lttgar qtrc o brilha por si nresr.r.to, é portirr.rto agora o verdaclciro: a bcleza. por isso,
pocta habita agora, a tcrra sc toflta novatucnle tcrra. Conro cdi[içio ele precislt cla arte, cla essênciit poerriatizante clo hornem. () l-ronre nr

dos Celestiais, cla abliga e Çarrcga o Sagrarlo, isto c" a çs['era do qLrc habita pocticamentc traz tudo que brilha * a terra e o céu e o
tlcus. Alerra só d 10çl'p Çnquanto Icrra c1o ceu, e só cnqrrattl() agc pttril Sagratlo.- il trlua lu;r qrre se erfjtrc por si rlesma e abriga turlo. Ijle
baixo, na clircção cla terra, ó que o cóu ó. sLra aparição a parlir dtr o traz, rra t:onÍiguraç:ão cla obra, a lim erguer-se segrrro. "Ilrgur:rrdo
altíssirlo, drl rclârnpago. ató as "dernais Íbrtnas" são mcuçionadas tutlo c pttr si rncsrnri' - significa: fundancio.
nas s0r.]tÇnças prcceclcfl1.cs ria cat'ta. Rclârnpago V]lilzl é a filcsll.llíl Portlnto, a Çarto r.le I Iõlclerrlin não f.ala sobre a Grécia. A prripria
palarrra quc olhar lr\lic:tr]. No olhar cstá a cxistência' Por isso, a Grircia ve* :ro sr:rr .r.rt:.ntro I'ro lrrilho cla terra e clo céu, no Sagrarlo

180 | Explicacões da poesia de Hôlderlin Martin l-ieidegger I lBl


Vctn ao seu per[en.:en] urnils i\.s outras lri-linitarnerrte na relação que as reúutc,
que vela o Deus, ua hurnarridatle 1loótica e Pellstnte'
'cle ponta a prtrrta", a partir do nteio. O nreio, clue leva esse rlonte
encolltronaquele lugar úrlico em (lue ii stlâ peregrinaçirtl poética
porrptc rlecleia, não é ncrn À [crra, nent o céu, nerrr o l)er.rs, nenr o
encontrou repouso, para aí Preservi:Ir ludo na rr:cortlaçiio'
Irorucrn. O lri-Íinito a ser perrsado aciui se clistingue cle ftlmra abissal
Ivlesrno qnc a trrriclacle do corrjuuttl cle lcrra c cétt' hotncm
e

cartâ, já venros algrl nrais rio sinrples inÍinilo, que náo adrnite uenluun crescimento, graças i\
deus, niio seja enunciarcla expressilnle nte 11â
slra ruonotonia. Ao contriirio, a "relação terni' clir terra e do céu,
claramente: que a terra e o ceu em sllrl cotrexãtl encontraÍi)-se
en1

carlto clc l)eus c clo hornern, poile se tomar mais infinita. Irois o que não
uma relirçãcl rniris fecutrda. [)eixa de ser surpreendetlte qt]e Llrn
teur existência unilateralmente pocle vir: à h-rz de moclo nrais puro
chamado "Grécii' aincltr clerive clac1r'rilo que llil carta se
prcPartr' e a<;

palavra provir r-la irrtensiclaclc na qual os Qr-ratro nrencionaclos se srlstelttalr-rl


que este cal1to possa trazcr csla relaçào rnais fecunda a ltrna
rcciprocamente.
funclaclora.
um outro Se consideranllos o dito na clrta, então a carta de Itôlclerlin
Supcle-se que por volta da lnesma época deste esboço
nos presenteia com acluilo cle que precisamos: 'ir surgirnento clo
Íbi anotacl<-r. Eie náo leva título uenhttln. "O Vaticano'l t ítulo ajuntaelo
pensilnrento'] especiÍicamente daqr-relc perlsarnento tlue tlevernos
tardiamente, incluz a ullr engíill()' Iiste poema te rntina abtttptatnente
[)L-rrsar r1e anterrrão ao canlo "(]rócia'] ptrra. ouvir, a partir rleste,
cont os versos seguintes (StA II, p' 253, v'45 ss):
corrlo o 1-roeta celebra rr terra e o cér"r, ou sejir, corno os corlr:lnnrrt
poct ic arttr'tt Ie.
ll.epor-rso consumatlo. Vermcllro tle outo' E a costit soa
l)eus O crtt)Io "(irclcia" r'()!))eç:I irs\irl):
Do globo terrestre arerloso na obra c1e

De editício explícito, dir rloite vcrclc


Ó voz-es clo I)eslino, ó vias clo Vianclante I
E espíriro, para a orrlem clas crrlttlras,
Para a rclaçãci realtrlcutu iLltcir 'r, cotll () llldio'
prirneirc esboço começâ com: "Vias do Viandantel" O lreciro
C)
1r racliante
clc verso precetlente foi cleixado crn br:anco. Pois l-Iôlderlin sabe
plcvianrente a via e deternrinrcla alhures e descle longe. (]uem
l)eterlo-nos agorâ apenas nas llaiavras "a relação realnrente
qr.re

irrteira, co1l1 o lneio" e it compreenclelllos, por conjecturtt'


coll1o o éo Vianiiante? Supostarr:tute, o próprio poeta. Contuclo, ele
(]orn justarlcrrte acaba clc chegar ao seu lugar. A peregrir.ração acaboi.r.
ltofire parâ aqllela totalidade <le terra e céu, i)ens e hometn.
Iintão, a invocação 'ii vias do Viandantcl" é clcí'inida conro um:r
base em indícios clos "Fragrr.renlos lilosóÍicos" cle IIôltlet'lin
em seu
recrorclaç:iio dos canrinhos triihados pelo poeta. Só que tais carninhos
prir:reiro períoclo em I lornburgo, estalnos autorizaclos a [olllei]r
esla
..relaçáo "relação não ternriuar)r por se tcrcm interrompido. Os carninhos terrliltilÍn
intcir.i'c}re iflclui a terra e o céu e a su.l c«lnexão a
rcp()usar; e aincla nssinr por se terenr reunickr no ca.nto rlo repouso cla
infinita mais terna'. A clel.erminaçáo "rn-Íinitri' deve ser
i-ro
Pensacla trr'l
cotrsuntaçlo. O canto, tocliwia, perclrrra eü Lrnta percgrirrirçào e viageirr
sentido cla dirriética especr-rlativa de Scl-relling e Flegel'
constarlles, cujos passos se rrreclem cclntiruaurrente corn o tretro do pé
tn-Ânito significa qrie as extremidarles e os laLlos' as regiôes
clc verso, com a medida do .lizer poétict'r. Os ciuninhos de tais viajar.rtes
rlas relaçoes não estão separatlas, netn continuariafir cle pe cle rnotlo
slio airrclir ntais belos cpe os tlajetos outr{u'a percolr:idos. C)s carninl-ros
trnilateral; c1e ftrto, clesobrigaclas cla uniirteralidatle e cla Íinitr'rde'

l82 | Explicaçoes da poesia de Hólderlin


Martin Heidegger I t83
l)esse modo, o "arnor i\ vida" nonreaclo no verso 49 clo csboço
poéiicos são belts, porque o país tlue atravcssau-l r: que torllatlr
pela
rtch,'ént relaçãtr abriga algo rnais profuncio. Ele inçhii a morte. Confor-nte a nt()rtc)
prirneir-a vcz pcrcorrível silo o ârnbito clir bc[ez.a, lr() <Ftal a

chcga, ela se desvanece. Os mortais tr]orretn ern vida a morte. Na


in{]nita cor-n il ltrilhar. O csb«lç0 "Crécia" termitla co]ll os vcrrios:
ttrorte o$ nrotlais sc lornarn r-nrr-rrtiris.
'1.. ir Vias r1o Viandante" - prcce<lcm-llas il$ "r.ozes do Destinril ()
Mas aos vii{:ltrles, a t1uc,
Iror anror ria vir-la, tncrlindo-os ÍicÍllPre, cpre signiíica aqui 'ilcstinri'? Só rl apreenderernos, se tturto, se prestarmos
()s passcts obctlccctl, llore scctn irlcrrção ao nrocio cclmo o destirio é nt»lleac1o. "ó vozes do destirrol'

Mais ltelos os catttirthos, otrtlc o catrptr Vozcs? lllrrs soarn. A elcgia "O pão c o viuho'pcri4unta, na quarta estrol.e:
"e oncie ressoa o llestirxr?" Pcnsa-se na "(ir:écia feliz." invocacla no
[íriu.l(]e
()u
esbo!:o se illtcrr()lnpc subitaü)eÍr[e; licl-iit por acilso?
Aqui <t corneço clcsta cstrofe, pirra quenl e crn querx o grancle L)estino ressoou.

porque a paisâgcn1 clas rclaçiles inÍinilas sc abrira [)ro[)rialncllfc ao Iini que clircçno, através rie cluc resso;It11 as "vt)zes do l)es{inci'?

sobrepujancio-o? I)0r que a (lrécia se itPtirxittlittit agtrrât, tr()


iroeta,
O tpe ressoir? 0 scgundo verso e os seguir-rtcs clizem:
sell ültlis plóprio, clo p<lera, c tle laitrl tla tllalleira crlnro elc a cttnta
ltcr

projeto clc canto acillla reproduzi.lo? Pois na escola azul [rios olliosl,
"Mas ;ros
Nno rlcixcmos cle ouvir, torlavia, o "trlas" do vt-r$o 48: I)c longc, no brantir do cóu

viajantes..i'. o viarrdanle, isto ti, o poel.a, se c1ifcrcncia 1)or contrilste Soa conro r; ci.rnto c1o nteh<r

diz rlos vcrsrls imecliâtamentc ent:inra'-l<ls: A aíinação alegrc das nuvens, bcfir
cotn o que se
Âfinacia prela presenç:a tlc Dcus, a tenrpestade .

IJocc ó ctrtão lnorirr sob as altas sontilras


() sonante é o cóu. Srra voz é a afinação serelta dirs nuvens.
L)e árvores c' coliuas, ao sol. onrle o cirtttitrhcr
t)ara a igreja é calcetarlo. O <yuc iríina as nuvcns pelo Abcrto é prccisamente o que elirs abrigarn
cnr si: a "apar:ição suprcina cla ternprestaclc'] o relâmpago, () lrovão, a
pocta cotr'tllreetrrle a boa f<irtur:a de qrrcnr pocle trilhar tl
0 leurpcstacie e as {ler:has t1a chur.a. A.í se encobre a presença do Deus.

canrir.rho Íirrnemente estabelecidtl que leva à igrcja c iraz <le Volta Ao mcsr.nu tcrnpo crrr que iis ltuvens de tempestade o csÇondem, elas

clela. F,stc,::aminhil não ó <t seu. No en[anto, iltilderlin tlittl retrega a l)ertct]ccm ao llcus e intlicarn a Sua satisfação. I)onde as nuyeÍts
estareü1 "bcnt afinir<iirs'l isÍo é, na srrir cletcrminirção correta.
vizinirança tLt "campanáricl' que "floresce ctn azul anlello coll.l scu
telhado rnet;ilictil No esboço cÍtcoutra-se, inicialmentc, "a afilração scgura clas

Provém r.las mcsrnas reclon<lczas unt cut'tto tardio. só ilrrc cle nrrvcrrs'l "Sr:gur-ri' siguiíica aqri.i "secururr'l o clcspreocuparianrcrrte
"tt'tttrtas" <1tre "lrii sosscgaclo. l)orrltLe as nuveils estão afiriirclas lla sua de ternrinação
tantbént ó mais umir peregritração. Ele chega ató as
c()rret., isto é, poi-qur: são "puro inv<ilucrci'do c(:u, mctliar.rte o tJual
na Crécidl ató o "rei lictipo, clue talvez tetlha uur ollro a Inais'l tlté o
"filiro de l,aid', "ao pobre cstrangeiro tla (]rócill Flste caut<l cotlcltti: o cóu soa, clas cstão sossc'garlas, apesar dc todo bratlir.
O cótr soa. Ille é unra dirs vozes cl«r Destino. Urna outra vor. í a

A vic'la é nlortc, c il tnorte Iirtnbóm (: utltlr vi<1a'


tcrra. Iila soa {anrb(rnr (v. 9 ss.):

184 | Explicaçóes da poesia rie Hólderlin Martin Heidegger I l85


....Qualcio a st:gtrir |'lern de onl.cr-n de hoje, n-ras perdurantlo selnpre e sempre

Ressoando, como pele cle novilllo, erguc se (a orientação) e ninguéru irtc agora viu
A 'i'elra, l partir <.le onclc ela :rpareceu.

Assirrt como a pele do taurbor ruÍlrclo, trovejando à sua própria .,\ terra se lirnça nas grandes leis. Sobre clurais carninl.ros?

nrancira, rcpercute as baticl;is dr: tatrtbtlr, a'l'erra repercute os grllpes Iiles são n<lrneados (r,. 13-14); "a ciênciir e a ternura'.'A ciência,,, o
do re1âr»pago e a "chuva cie flechas" ("(irécia'l prilneira versão, StA sirbstantivti rrão adjetivacio, tal corno empregado aqr-ri, tern o sentid«i
Í1, p.25a,6). O soar e1a terra é tl eco clo céu' Ao reperctttir, a terrâ clo rnestre cle t{olclerlin, }--ichte, e clo seu arnigo, Hegel: "ir ciêncii'é
rerspoucle ao céu efit cLtrso pró;rrirl. o pensameüto clos pensaelores qLre receberam da Grecia sell norne e,

Urn fragrnento tarclio ciiz. (StA Il, p.334): junto conr esfe, sua essência. A clariclade do pensamenLo determina
"a luz em volta cla janela" através cla qual o poetâ "olha para fur:i'.

Sernprc, arnaclo! catninha


"[i a terntrra' , Ouvimos csta palavra nâ carta a Bôhlendorfl.
A'l'erraeocéupárir. A ternura caracteriza a "pctpuiariclacle" cl<ls gregos. A populoritas
é a faculclirde tla inclinaçirtr suirrerna e o cotnpartilhament<t rtrais
Para on<1e a ll'erra caminha, e por quais cirtuitlhos'? extrcmo coll o que atinge Llm povo, conÍ'orrne este elcntento,
encltranto forasteiro, se endereça precistrnrente ao que é Íànriliar a tal
...Quando a scgttir povo, conto se Íbsse um ciestino. r\ popr,rlaridacle clos gregos é ternura.
Ressoanilo, como irelc clc novilho, Irertencem-lhe, reunidos, tanto o atlc(lico ilo corpo heróico cotno a
A'l-er:ra,..................... (v. 9 ss.) firculdacle cia reÍlexlo. A ternnra, su;r essência clrrc é capaz, ao rnesr.Ix)
Segtte grirncles leis, a (liência tempo, cle se regozijar r.ra of'erta e cle receber corn simplicidacle,
l:l a ternura..... (v. 13 14)
coriservâ o céu c a terra abertos, junio corn a ciência, r1r-re os deixa
brilhar pur refiexo, quancLr prensa. Ambos fonnanr a relação cla terra
A terra "segue gralldss lcis". As "leis" nonreaclas aclui são os conr o céu, e por isso são ao rneslno tetnpo celestiais.
yÓLtOt_, no sentido cias 6rientaç;ões ilo gfande Destitlt) cltle lllostra
Começa rrssiru unr dos 'tantos nclturnos", que canta a Crécia
e envia ca<1a qull ató o ltrgar onl clLle so 1àz necessiiritl, do iic:ordo sob o títr-rlo "l.iigritnas'] e ctrja época cle surgirlento rectri entre a carta
coÍ11 slla essôncia. Não escritas, pol'clrjc in.rpassívcis rle retlaçãtr a lJ<jhlenrlorÍf e o projeto para "Grécia':
clas dcl0nninalrr â coesão iníinita cla relação inteira. Sãil, conlrl
Hcllrierlin já observerrí! nos "Frag,menl()s iilosóficos" cJe ltrorl.rbLtrgtl r\nror celeste! tcrno! se cu tc
(I Iell. l1l, p. 26 l ), as leis "de t1ue 1Ila An1ígona". Stifot;los, An tígttno Listlueccsse, se eu, ó víts destinadas,
456-451: Ó inllanraclas, plcnas de cinzas c
I)escrtas e aléru rlisso já isoladas,
ob ycp tr virv 1c roq0áq, cx]"À" cxei fiote
(T1l t«0tu, rcotrôeiq diôtu i:[ btou'(róort1 Vris ilhas arnadas, olhos clo munclo n'raravilhoso!

l86 | Explicações da poesia de l{ólderlin Martin Heidegger I l87


A esc.la azul ii.s rilhos é a<1uil. que i*strui os'irihos clo rrlrrrrrlo
Só vós é (lltc me inleressais,
ruraravilhoso", as ilhas cla (lrécia, "seus heróis e sanlos,,, quanclo olharn
(StA rl, P. 5tt; l{ell. IV, P. 70)
ele volta parâ o rlestin;rd.. Na te'ceíra estrofe clo canto notuurr
..cco ..4 "1.ágrirlas" I Itiidcrlin c1iz.:
A terra S()a, afinada Pe]O ijo cérr,l l,,la scla llcdiiltlte
ao destino'
ciência e a tertlura', c1ue, amtlas terre11il§, corresPondetü
Pois os sarrtus todo-agrndeciclos
a terra' Ii riepois?
Em qtre língrra? PÍimeiro re§soâ o cóu' A seguir rcssoa
Aí se rviranr crn dias cle beleza e
Os versos 14 e o seguinte clizcm: ( )s lrcrriis lir j'iírs{)s;r

c o largo cóu Parecetrcio dePois


Os apelos para â itnortaiiclirde que olhanr 1-rara Jonge sixr os
Puro irlólucrrl, canlitt.tt llul'/ells can()ras airelc's dos cor.rvocaclos. Ilstcs recebcm, junto corn o "ofíci<l cle
Poeta" a
rlekrminação pcrâ o r,:anto. c)s r}re assim corlvocam se transfornralr,
..irparecctrclo
As tltlvens canoras cantam dr:pclis,l ottc]e c ct»nrr
por isr;, lilesrno, em uura voz clo destino. seu "arrior à ilmrrtalicl:rde'i
cle a terra o
elas aparecem clepois, tlepois de soar no cétt' clepois isLo é, à clivindacle,'é urn clctrs" p.Zt|
{"0 <ir-rc é Deus?'l S1A II, 2.1ti)
repercutir? I)epois, cste canto só pocie ser o câtttictt que' partindo
tlrr 'lirl anror
[)erteu(e ao I)eus, perrnanecendo, contudo, um estrangeiro
terra, chama o céu, e que é assitn, ao nleslrlo tcmpo' celcste e terreno' lá .ncle r:le se ajusla, till colno pel:manece cstrangeiro i\s rruvens
\/erso 7 e seguinlc: câoor.ls. Pois nté o nerrs se sobpõe ao r)estino. o Deus é urna das
vozes clo I)eslirrci. f)e Dr:us <iiz-se no poema "O que é Deus?',
ti apclos, corno olhar pra longe
Pra a itnorlalida«1c c os hcróis; Qrranto urais Invisível urn ó, ... r.nai.s se ajusta ao estrangeiro.

o apelo clos canl.orcs é o cllhar ciirigiclo irrliatlte t\ irnortalitlarle, lilc sc ajusta: isto ó, ele acorre ao estrangeiro e aí .se tem. l)aí o
isto é, à ciivin,-iatle que se abriga no Sag,raclcl' Os apclos são
cotn«r al,clo obsen aclclr do cantor não l.rocler avistar a própria face do I)e irs.
unt olhar para longe, para além <la terra rulllo à inrensidão do
céu. O cantor é cego. O L)eus é airenas coníonne se encobre. F.is porque a
Maraviihosa é a identidaclc eutre oli]ar c cilatllar I1() c:tnto tcrreno frrrr.na c«lnro o carltor ceg'cliz o Deus no seu cântico é uma arte que

clo cantor. 'lbdavia, ela correspolrrie apctlirs à itlentitlaclc


entre olhar Ihe feclitr as pálpebr:as. O pensamento formaclo pelo poema clo cantor
ollros'l pertellce ao quaclro silgrado, isto é, i\ visão do Sagrado que encobre
e voz clo cérr. Estc, encluanto sonante, é a"escola aztrl cl«rs
Mas o canto que, pariirdo da terra, apela ao céu, .ão seria
O apelo que oihâ para longe, aconlpiruhancl<l a voz tlo clcstino' vai 'I)e,s.
"ctl1orrrbo" (stA u, 1t. 242) rumír voz sern ?i voz rlo [)cus, rque, nã.o obstante, poupa o homenr «itl
à escola conl o azul ckt céu. l'lo esboço
"terrrível" (v. 30). Que o Deus sc rnostre'totidianame,td'e "por t.cla
t{<ilclerlin cliz:
À cilaçâo (lesra terceiro cslrofe rlc "i,rigrir,as" e, antcs disso, da primeirir, dcveria se prestar
larnbérn ao proprisito, uão derlarrrlo, tlc olcrct:er urna indicaçã.o r1e explicação possír,el para
.........."....c ó Prccistt 'ilcsrlc rlevrstr\:íres c Icrrâções rlos santos" n() vcrso 11, cxplicação crrja
íaha diveisos ouvintes
Pergtrntar ao cóu. da r:olÍcrôncia scntiratn. (Oonrcntário inscritlo ciuralte a rcvisão pclo Â.)

IBB I Explicações da poesia de Hõlderlin


Martin Heidegger I l89
parte", âo se clestiilar ao ocilltalnelrt<l cliante do tllhar cltte O charnil'
pc-rterci,re.t<1. o ciesti,o traz os euatro para si, até o seu própr"io
seguintes: centro, reivinclica-os, dá início ri sua iutensiclade ao rec:oll)ô_1os.
eis o que [orna ntaravilhosa esÍo voz. dtl L)cstino' \'erso 25 e
sob o lítul. "Figura e espíritri']'{ôlcler}in L,screve: "rbtlo é intenso,,
(StA tI, p. 321; I-letl. lV 2". ed., p. llt3l). liriquantn cenrro cla
ivllts t.yuoticiiarlaÍncIltc, ó rllaraviilr;r!, i)or zullor clos lttlltrens' relirção
l)etts tritz um vestido. i,teir';r, o clestino é o co,reço q'e rec.lhe tudo. o centro e o gr.ncle
E aos conhecirncntos sc octtlta a srta lirct: conlcç(), er)qLranto grancle clestino soflrlnte.
!l cobre as piilpebras colll ilrte. N. entarl«'r, c1e tlr,re .rancira [,)t corneço é? U'r começo
estarai prese,te enqua[to continuar a chegar. pois a i,vestigação

I)e acorcio c0111 () n)anltscrito e com 0 assuflto, cleveria ler-se que recolhe os Quatro ao meio cia intensidirde é uma primcira
"pálpebras" no verso 28, ao invés tle "ares" ou cle "inragens"' tlri a[é chegada. í) co,reço pertlura en.iuanto chegarla.
euarrto ,rais o
rnesmo de "nmores". tiõlrlctlin qrler se relerir às pálpebras dos olhos c()nreço se nrantónr prórirno à possibiiiclade <Je cliegar e de trazer tr

cuja escola é o azul do ceu. rclaç:i. in.íinita - clue ele c,nserva juntcr a si, por ei.rviá-la - , nrais ele
Sâo quatr:o as vozes qrie fessoam: o céu, a terra, o homent' o l)cus' peÍsevcra. Ilntão tanrbém alg0 granclioso, p<lrem, cleve corresponcler
Nessas quatro vozes ô clestino reittte o conjunto da relação
inÍinita' à vincia clo grarrde coireço para abarcai,lo grancliosaÍlre,te, isto
contr:clo, nenhum clos quirtro sc sustém e caminha tlrrilateralrllel)te, é, deve estar enr condiçÕes de sustcrtar antecipacla,rente ,rna
graçâs a si mesnlo. Ncste senticlo, nenhunl é finitil' Nenhtttrr é setn expectiitivir grandiosa.
os
o qtte
outros. .Irr-Íinit:rmente eles se ntarltêm uns perantc os outros, são Crintnclo, lltrlc1erlin diz algo diferente (v.23-24):
sáo a partir de un-ra reiação ln-Íinitit, são esÍa tcltaliclaticr'
A terra e o cétt e sua collexão pertencertr, tlesse moclo' i\ Para o quc ó l-rr-rrnilcle potle tarnbém vir
relação rnais iecuncla cios Quatro. Esle núrmero irão lili Pensado Urn glantie conreço.

expressâmente por Flcilderlin, tlem enunciado nenhures'


(ltle se ()ncle está
Não obstantc, os Quatro sáo visaclos ern totla parte no o
humilcle? Nós devern«ts buscii-lo no lugar a
ref'ere ao seu clizer, previar[ente a partir da intensicla.le cle seu partir clo qual lttôlderlin chanra, olhanrl«r para Í'ora, através cla janela

pertencimento recíproco. Illes já l«trat1r enunreratlos ncl setrticlo filos(rllctr. É o hric. lugar para qrre corvergiranr toclos <.rs ltrgares
originiirio cla ntrrraliva clcls 'tlitos antigos (quase nem tluviclos)" sagrados cia 'l'erra.

cle seu pcrteltcimento recíproco. "Quatro' não clesigna ulra


somil Nri |11i1..1,, tlt'lrino (lurt ü()lneÇ.t ilssit)):
cortputacla, mas antes a c()l]liguração t1a relação irrfinita cla voz clcl
destino, conligr-rração esta que sc ttttifica tr par[ir cie si prtipria' Il o St'1,,vs1s11 os ( lclcstilis
próprio clestino? o que suâs vo7.es nos dizem a sett r:espeito? llle ( lonstrtrírtnr, irnóvel ele cstti
envia os Qr-ratro uns aos outros, conf'orme ntuntém reunida
jtrnto Sobre a terra, c bem-proporciorradas se ergLlent

it Si a relâção irrteira. F.ntão, seria rle se sllpor que o tlestitto fbsse As lrcrntauhas abisrnadas. (StA II, p. 222, I ss.)
,,o ponto ürédio" que n-recleia, couforme ele primeiro investiga
os Quatro em selr pertencimetrto recíproco, envianclo-r)s a tai IJ<ilclerlin cliz:

190 | Explicações da poesia de Hõlclerlin Martirr Heidegger I i9l


,{gora cr-rntr.t<1o fl orcsce Àssirn, o cilsi,rnrento scria, dc Iàto, o hr_rnrii*.Ie. ConÍ'orn:e, crrtão,
l-,m lugar pobre.
algtrrna out'a c.isa lhe s'brer,é* que i)cr.ntarlece re{êrida ao q'c

!l maravilhosantente grau<1e tlregr, tl casiultento tambérn pertence à virrcla. Ele próprio cltcga. Á
()ucr erguer- se. (v. I B ss.) se'u resPeito,L{iilclcrlirr tliz no conreç<l da c]écima terceira estrofc r,lo
hino iro l{cno (StA il, p. 147, 18()):
Agora,clepoisqueirgrlrtrtleC()Ino\it()irrícialclactltrstrtrçãr]sc
aquietou, depois que "in princípio, a obrtr se foruloti'(v' i2)'
agora lu-rtão ícstejan.i os csfronsais horncns e deuscs,

está cle pe aquele edifício da qual sc diz (StA 11, p' 723):
A nriiva éa lerra, parâ quenr a canção clo cóu vcrn. É o qtre cliz
...pro {ln clanrcn Ie cncrtl'ltdo, o esiroço lardio (StA lI,1>.253,44):

[j constntído c1o irlto par:a baixo'


Iintão venr a <'arrr;ão nrrpçi1[ tlo céu.

Íj clifícb da reiação inírnita' Agora


a e
"l1<lresce enr lugar pobril
A floração é a preparação alcgre-vigilaüte tlo amaclttrecitnetrlo e O crsautenlo é a totalidacle da intensidade t1a tcrra e do céu, dos
do frrrto. A relaçãcl inÍrr,lita csPera, ao cotltrário' que ?1 unta s<'t
vc'z horncns e dos tleuses. llie é celebração e festa da relação in-Íinita.
a floração se erga elll um lugar pobre e correspotlda ir unl gralcle O casanrerrlo vcru "er:tão I Qua[ é o tempo cieste "e;rtão'? De qr"re espécie é
cle hino seu terupo? lller se furta a todo côrnptrto. lhi tempo se teraporaliza para
co111cço. Tal como constatado por Fr. Beissnet, otrtro irrojeto a

cla mestna epoca soltrepirc, com suas litrhas, à "palavra germinal" clo expetlativa rro apelcl que olha para longe. O ternpo significa ac1ui, scmpr-r:,
.,um
to<lo: iugar secretci' (estrofe 5 dc "Gerrriânid'). Pcttencerá ao o lanri)o ce rto, quanclo é chcgacla il hora: o iustante histórico. lrste tern <,r
"único lugar" que o encontroll no país trirtivo' etrquanto o país seu 'tntãd' próprio. I)c rpre modo elc é, então, se está irnóvel sobre a llbrra,
Poeta
pobre (e secreto) àcluela humilciacle para a qual
"também poclc vir se o granclc conteço veio para o c.;ue é hurnikle? Flôlcierlin o diz (v. l9)2):
uru graude começo'? Mas cotno esLe viria?
osdoisVefsosqueprecedenaseirtenças0breavir-rc]ado llnr sotrora mcditação porém no alto vive o litcr. Mas argônlca

grande começo contênr a resPosta: Lrn rlias puros é a luz. Como sinal cle anror
Azul viole ta a '['crra.

Mas assim como o corlcjo


Vai ao casamento' llntão é o "repotrso cor.rsuntatlo. Ver.irrelho cle ouro'l I)e onro
são oÍi "sr'ris e luas nrais donririlas" rnanifestas. E, "vermelho"? Será
cortejri deve ser () grltll(lr: c () rasalnellt()
Eis clue soa estLaniro' O aquele "verr.nclho' qur: partc da J'crra, por meio <Lr c1ual o azul do cér.r

o humilcle? Pocleria muito bem se enlencler o contrilrio! A


cstrarlhezir se torna azul-violeta? I,)itão ele scria, na esfera do cintilar., o eco clo

cresce se considerarruos que cste "Mas assirn..l' trilo itttroduz


unta azul clue é cscola dos olhos.

simples cotnparação, lIlas antcs ciiz a própria coisa, sctrr
ttrilis: a saber' Os dias puros trrtnscorrcrn scm a conroção anreaçatJora
a rnaneira colno o granclc Çolneço pode vir Para o qtrc ó htlrnilde' clas nuvcns dc tr:ntpcstaclo. A cxislôncia clc Dcus não sc ocr-rlta na

192 | Explicações da poesia de llõlderlin Martin Heidegger | 193


cscuridiio. .,\ittcla n'rais cttcobritlora clttc cstir ó a claritlaclc uais olat'a' ll pura ir luz e ébrios

Na sua sereiliclado o Dçus ircittta rttctlita sobrc o dcstino tla rclaçiio C)s celestes estão

I)o veriladeilo, que


inÍinita, Lrrra vez rlue "o(leia" () "crescintont0 lbra clc cl;tação" cacla qual
Il conxr
(StA II, p.225,94 ss.) Já os gregos satrianr clue a claridadc e trrais é,

encobriclora qLro a esctlriclão.


Só enquanto cortejo dos celestes, qLre partinclri rlc seu fogo
con-io, porónr, urn tal rcpoirsO consurnarlo ila relaçLicl inÍinita
pocleria agorar se tlizcr hunrilde'/ Ilumild elgatirtglé a lirrrnii reÍbrçacla
no senticlo ria terra e do tcrreno vênt para dançar ern coro é tlue
ring, cluo signi{ica tl c;lte ó leve, tnitloiivel, dócil: cortejo pocle ser grandioso e, enquanto elorioso, pocle ser o conleÇo
cla palavra aleml
clo grancle clestino clue irrornpe. Não conseguimos esgotar a riqueza
pequcno, cm cüllrastc ootlt () grantle. No crrtatito, lle(ltlcllo [kleirt)
signihc;i originaimente "Íitltl' e llteciostl, L:{)ltlo a paiavra 'Jóia"
tli lralitvra 'tclrtejo'] em puclor singelo enunciacla. Pois ela nornt:iil a
o crsatneltto dit prróprirr riqueza espccificanrente claquilo que pocie advir. Nos hirros
It(leinrtctl aiucla cliz. l-lôlclerlln nãtl ctltt't1'lt'cenrlcrá
tleuscs I oS homcns cclebrant C:Otll() o hrrrnilric aos titãs se ciiz- (v. 20 ss.):
tetra c clo ceu qrre OS

no senlicio dc mcllosprezível. Pois "grallde" qrtcr erPrller-sc o tlue


Pois há longe tempo atr,ranr já
flor.esce em lugar pclbre. O lilrntiltlo sti sc torna htrnrilclc, llreoioso e r.r
As nuvcns sobre a ten'a.
úitirlo a scr saboreaclcl cluando ve ln 0 grânde L]OlIcq)o. (lot'rt'-ttlo, este
ll o ermo sagrardo cria rrrízes prepar-ando muito.
vem t\ mirneira clrt l'ocla tlançada pclo ctlrtc-']o.
Cálida c a ricpreza. Pois lalta
Assiln como não podornos ltos represelltar o (lue liri clitcl
.,hurniIcle" O ctrnto, qrre liberta o t'spírito.
no projeto corlto nrenosprczívcl, quallt() tlevetlttts
Devorar-se-1a
roconhccer na pâLlvra "cortcj0" aqtlcla riqtteztr mediante a qtral ela
B seria a si mesmo contriirir.r,
() cortrjrr
pocle n<tmear o nlesnto que o discurstl sobrc o gratttlc ct)lllcç().
}\ris já não sofi'e
signiíioa em grego Xapoç, a tlattça c1Ltc, cantantlo fbstivarnente,
Cativeiro o Íbgo celeste.í'
,[1p&u Àtóytoou (Flurípedes, A.s bttcuntes
oelebra o deus: XopoiÇ
22). Do rneslno rrrockt I Iôlder1in Íala eur "curte.io rne nhclico" enl tllllil
O que "riclueza" qrler dizer aqui é dito no poerna escri[o
vcrsão cla ode "Cor:agcm tie poeta" (S1A Il, p. 532 - 533)' Contuclo, tal
supostamen[e por vt.llta ctra rnesma época tla carta a l]iihlendorÍ1
cortejo só oorresporrde ao l)otts, llortllto os Celestiais sc jttntaram
nrencionacla, e anotaclo lto verso rle trmir carta de Diotima de 5 cle
Íro coro ctn "utn nútncro saglirclo" ("A fcsta tla paz", v' 105 ss')'
março t1e 1800:
o cortr:jo e a reuuião tlos próllrios deuses no íbgo celesÍe cla alegritr.
só por isso alinaureilto alegre o seleno cla existêrlcia clt)s
;rs nLlveils, o () que é a vida clos homens unra irnagenr da divinclade
deuses, poclcm ser cilnoríts. 0 hino aos titãs canta (licll' lV, 2'"' ed',
p'
Ilncluanto sob o céu errilÍ]r os seres telrcnos toclos, elc.s
201),441 ss.; StA II, p. 850, 22 ss.): Vêem-no. Ivlas como se lessenr
Nurn escrito, os honens irritarn a inliniilade
Mas quando se acende
O dia laborioso 6 QlnN'llll.A, t997,p. $t

194 | Explicaçôes da poesia de Hôlderlin Maftin Heidegger | 195


da relação in-iinita. l{eflctir sobre alguma coisit signiíica: cleixá-.la
ll a riqtreza. lr é o céu sinrPles
tlico então? Corro flores siro etn vcrdade íàlal de si rilesmet, esc:utor o qrre é nos clito por ela e a partir dc orrde
Nuve trs arg,ênteas. i\ttas c1c lii chor"c é clito, cspecificrnrente úa poesia cle l{ôlcierlin, para nós, soble a
O orvalho e o lelâm1rago. Qtrartdo porérn aiual época atrrirl <la histórin ntrrndial"
Sc apaga o aztri sirnPles, parecc Logo clepois da Prinreira Guerra rnunrlial (1919) Iraul Valéry
() bar;o ckl céu, (lrte sc asselllclha ao miirmtxe' corno trtittí'rio' publicorr unlrl carta sob o título "l,a crise de lbsprit". F,ic faz. cluas
Anúncio dc riqur:2a.7 (StA II, p.209) Ierg,rrrtlas irí:

Atravessanclo úertcl, ctltrvocaclo à tcrra' este íbgo'


ltln esPaço Iista litrropa vai se Íransftrrn]ar /ro que rea.lntatt.c e (ur réalit:é), istrt
"Vctn agora' lirgo!" é
enquâllto Srarlde cüneço, deve vir ató o hunlildc' ó, enr unr pc(luel)o ctbo <lo contincnte asititico? Ori esta l,,rrro1-r;t

comoComeçaocantoao]stro.()quevernnãoépropriill}]el1t€:oI)ctts. c<rntintralri t st..t'ttrluilo (luc porcrc (ca qublle paratt), isto é, a partc

o vindouro é a totaliclade cla rclação in-finitil, a (lue Pertel)ctxrl a tcrra preciosa cla'I'errn inleirir, a pérola tlo globo terrcsire, o céreLrro de

e o Çéu, junto cotn o i)etis, juuto com os hon1cl1s' A vincla do grancle trIrl colpo vastíssinro?

cor1reço traz consigo a l.runrilcladc clo humilde" A humildailc


ó a sett
'lirlvez a li)rrropa já tenha se lransforrrado no quc é: ern um
fllodo trausformacla - a pripria relaçáo in-lillita e Pertcllce ao ltrgar
pobre e secreto no cal.npo n:rliyo ao poeta. o lrulnilcle é o ocitlental. sirrrçrles cabo e eltquallto tal ao tnesLuo tempo lto çérebro cle tor.lo o

Contuclo a Grócia, o país orientri da auxlra, é o grartde coll1cço'


11o coriro tla'Ibrra, unr cérebro clue realiza o cálculo técnico,inclustrial,
senticlo ern qrre talvez venha. c) l-Ilunilde s<i é conf<rrrn c se
tronsJofl't'ttt planetiir:io-intcrestelar. Urna vez rlue é a.ssim e não pode continuar a scr

naquiio para que urn granrle comeÇo pode vir' ille aintia potle vir? clesta nriuteira, clevcnlos acresccntar às cluas perguntas cie Valéry talvcz.
c) ociclenltrl aincla existe? l]le se trans{brllotl l1íl llttro[rir. o scrr urna terceiril. Lla não inclagir soitrc a. direção que a iiuropa tourilrá a
âürbilo de rlorníilio tócnico-industrial se estetrcle sobre a l'erra segrrir, mas alttcÍi se r.olta para triis, para o começo eLlropeu. illa poderia

inteira. A 'I'erra, por sua vez, fili comilutada ctrtlttanto plancta no ser ftlrrnrrlar,la assinr: a Lurupl, enquânto cabo e cérebro, precisa sc
tlc
espilço cósmico iltterestelar clisponível colll(} csprlç(l planificado lranshlnnar ern urlr país clc tinra noite a partir da qual se preparirssc o
(f,ueln sc conlcço <lc ur.na outra arrrorit ilo destino trnir.ersal? A pergunta pilrcce
ação hulllirna. A terra e o céu «1o prclcua clcsaparcceralll'
atreveria a clizcr pilra oncle foram? A rclaçio iri-íillita <ie tcrrtr prcsliltçosâ nrbilr;iria. Não o[rstante, tcm o seu íunclaniento tanto
c cétr, e elr.l

horlern e l)cus parece tlestrr.rítla. ou será quc alé lrojc ela Í)unca ntn fato essenciiri cotl.to nulra sr.rposição essencial.

se manifestov enquanto relaçãrl infinita, qttc nrinca se


rilistou cle O Íàto inrplica o scguintc: o presentc estaclo planelário-
nroclo puro à nossa história a partir ila reunjão clo clestino
sotrltrte? intcrestclar clo munclo é europeu-ocidental-grego, de ponta a ponta

será que eltr ainciil não se tort](ru tleln se(lltcr se


ltreseute írrrttlor.r, c ineg;rvelrnenlc, clesclc () sell conleço essencial. Iisla suposição,

enquauto totaliclade, no sllprelno da arte? ilntão cla ttão pocli:ria porónr, pensa no scgr,rirrtc: o quc se transforma s«i consegue far,ê.lo

ser clestruí<la, em últirno caso só poclcria ser distorcitla, c


scit a pirrtir cla glanclcza dc seu coureço, a qual ainda se poupa. Por isso,

aparecimellto Íregâclo. llntâo iros caberia r:ellctir sobre esta rregllçãtr o cstarlo atual rlo mrrncio sri pode soÍier urna rnudança essencial, ou
trtrnh('nr Pocie rccebcr a i-)rcparaçao para tal ruudança a partir de scu
7 QtrlN'I'ELA, 1997,P. 4)5.

196 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 197


cOmeço, o ..lurtl deterrnilta conto um clestirlo a época ntulxlirtta attlal. do dcstino" urnas às outras jií não ressoa. C) desalio à elisposiq:ão
lrata-se c1o grarrcle começô. Mirnifestanreute, não há r'etttrntl Possível calctrlaclora cle tucio quc é e pocle scr dissimLLla a relaçãrt itr-{inita.
até ele. O presente, enqtlanto aqr-rilo que ncls ilgttardii e rlos olêrece Nlais aincla: o clesafio rlue ilnpera na dominação da essência da
resistência, só sc tratrsíorlra lro grantle conleço ao vir parir o tlue é fécnica rn<ldcrna consiclera iliescrutável aquilo de que, anles de tr-rr1o,

hrunilde. Este huniilde, cclututlo, nào potle nlais 1-lertltrlecer Ilo §eu cl inrpério disponibilizador dcl clesaíicl recebe seu cnr.io. O c1_re ele e?
isolamerrto ocidcrttal. Ille se abre para algtttrs potlcos otttros grandes llle é o rneio tla reltrção inÍinita reunida. O rneio é o próprio
coÍneços, ca<la qual conl o qttil lhe é pr:óprio, tocltls perterlcenclcr tle stino pruro. O inqr-rietante circuirclii o {l<Jbo [errestre, clue agora atinge

igualmer:ite ao colneço da relação infinita tla ciual a 'I-erra se retétlr. o clestino dos irornens desta épocu imetlktuntenle, e não nrecliaclo pekr
No ent'.rnttl nós, os hotnens desta época atuiil clo Inun(lo, soirr de srrils vozes. O clestino tnlrclo dos hontens os concerne unlil -
ettcontraülos na htrrrrilt'ladc e l1a eSCasSeZ
Sl"lpOStAÍnente ainda rtão ttos Íirrrnir errigrniitica cle silêncio. Supõe-sc que o homenr aincla contiluará
daqneizi pobreztr a partir da qual os ()r-ratro cla relaçáo inlinita se a não ouvi-lo cle nroclo algunr prtr ntuito tetnpo. Assirn, ainda não pocle

chaman uns üos outrr:s. Nós rnal nos cnc()ntrall1(is em estaclo de ilrrrpouco coruespr:nc'lcr ao envio da recusir. É ar-rtes o caso que esle se
lhe escape nrei-liante tentativas cacla yez mais desesperacliis (iLtcrer
i:enirria e precariecltrde. O caráter efilergerlcial rleste estarcltl consiste c1e

em que os mortais rtão o avistirur, netrt prestail atençàtt ao nrtlclo cotno controlar a tócnica por rneio cle sua vontacle n-rortal.

o possivelmente vinclc»ro virá parii nós, cle rntldo tão l)lais recePtivo Assim que corneçalnos a nos esforçar par:a reÍletir sobre isso,
quanto tlais recuLarntos diiurte clele. Mas para otrcle potleríamos surge ufilíl suposição: no int;rério daclr-rele desaÍio, isto é, no tlortrínio
rccuar? Para a discrição que aguarda. F,la é ern si, ao meslno ternpo, a essenciai e inconclicionado cla técnica moclcrna, poclcria irnperar o

suposiçao que pensir antecipadaltretrte.'lâl cliscriçãtl chega ao vindout'rl que reÍure unra articulação a ptrLir cla qual e nrediante a qual a relaçãcl

assinr que tenta experimetttar previanlente o qtte, presenlernettte, ti. in-flrritir irrteira articnlii em sua quaterniclade fVierfiiltigcs). A vot.
se

Se ouvirmos o que, no projeto cie poerna "(lrécia'] rePercilte ailirna clesta artic:r.rlaçãrl nos é ir rnais diííi:il de ouvir. Pois, para tanÍo,

tle trás para í'retlte, então se lu()strd qut rl ilparição ila relaçáo deveriatnos âr1tes nos prcpit.raf para altrenrler novanrente a ouyir rrr:r
infinita como totaiidade unidir se ilos r:eclrstt. liis ltrirque mal e mal riito rnais antigr>, no qual outrora rL.ssoon o grancle clestino cla (]recia.

conseglliinos ouvir as "t«tzes t1o clestiuo" a partir tla sua totalidacle. I)everíarnos nos antr:cipirr i\ experiência cotiilianrr e inscrir nela rr

O que se nos recusa nos diz. respeito, precisatnettte porque o qr.re Ileriiclito cliz no li'agnrento 54:

faz à sua própria mancira. O cltre concet-Ile ao hotnel'ir il.rcide sobre


'
ele hoje por todas as partes, lar.rçatlclo-lhc tlm desafio sobre clue Arttrtout r1 ct;r«vp1111q Kpt:l()rt(uu.

rirramente se meditor-r. E que o honrerD clesta T'erra foi <lesahado pela


dominação inconclicionatia cla essência dir técnica ntoclerna, junto O rrexo quc rcuusa o seu apatecer irnpcra rle rnodo srrperior'
Ao tic tnrr qur: se nrostre.E
conl es[a mesÍnit técnica, a clisp<ir tla totaliclacie do ullttldo coruo cle
um fundo uniíorme, assegurtrc{«r por uü1a {órtnula universal Úrltirna, e
8 Seprrtta do l!õlt.lerli*Johrlryth 1958 19ír0; A sertterrça tlo persatkrr pre pJalônico IIeráclilo
contabilizado com o selt auxílio. A exigência <le utrla tal disposição aonléln o ace[o cltcisivo corn resPclto ao rnodo corrlo dcyerlos expcrienciar totla ersôricia
reúrre tuclo em Llrrl único arrebatal.nento, cttja rnirqr'tinação nivela Ercgil, il trrtureza, o honrcm, as obras irunranas c a rlivirrla.lc; torlo visíyel a piLrtir c{e unr
ittvtsivel krdo <lizívcl l prrlir dc urn iailiz-ivel lotkr aparccer a irartir rle Lror ocultar se. () rlue
a articulação da relação inílnita. O remetirnetlto das quirtro "vozes sr orul{;r é nrais prtíxinro ii essêrrrir grcgr do clue o desrlr:rrllarlo; este vive daqucle. (N. do A.)

l98 | Explicaçôes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 199


amigori poetâs. Mas Hiilclerlin satre ttutrbÉrn coluo o hunriklc se
CorrÍilrrrrerefliianiossllbrctucloisscl,prrrlerct]l()SPcllsar
no relar:íontr corn o grandioso (fragmento cle tima ver.são tarclia ile
antecipaclamellte ao poetrla cie líolc-lerlin, isto ó, ao hr-rmilde
tnorlo hurnilcle. "Pirttnos"):
qtial elc habita ern un1 lugar, algo qne irrticulassr: clc

Alinaclos a partir de tais petlsamentos, p<ldcríarnos tltrs lorrtar ttrriis


passíveis de ouvir o c.urk) r1ue, sob o título
"Grer:iil evoca o gralrcle I )ifícil é corrtuclo
Iirrr granclczir colrter o grande.
corncço 1ta sua possível vitrda para o hulnilde'
"qr"ralqtrer
É, a boda «la ter:ra e do criu, tal qtte os hontetrs e
es;lírito", isto é, tlnt detls, perlriitem cotrjtlutrrnrctltc que a belcz'a I)e [rto, lalvez o hirniilde vivitlo poeticírnlente por Hiilcler.lin
habite sobre a 'I'et:ra. A beleza é o puro brilirar clo clcsocrrltalllellt() já cst{a cletenninaclo à granclcza r.ra qual a vin<la possível do grande
cla rclaç:ão inÍinita intcira jr"ruto cotn o ulcio' O fi-rcir.l ó' contucio' c()111cÇo cstcjit abrigada até o últirno instante, qr.ranci,: o olhar clrarnar

enqttanto rneciiarlttr, o <1ne articrtla c o quc: ciisponiiriliza' Ele é a para iongc a "r:scola azul dos oll:ros'l

articulaç.io cla relar,:ào tlos ()uatro que rccLl$a o §cl'l âptrccer' No ano cle suil morte I liilderlin ciita um poema para alétn, para
ilesde o colllÇç(j cltl gr"anclc comÇço colllcço o t[rÚolc'' o ânrbito silencioso rla r.clirçâo infini1a. í1 tutr rlaqueles pocrnas clrja
czâ" a relaçãr.r inicira jh sc llÍÇpârou para a chcllrcla. A bçlcza
..nal.trr Íirr:rna sorror"t uronocr'irdia, ciuase coinprirnida, iucolnotla ntuilos
ó chamacla :\ otrra para cluo adlnita c atrrigue Iudo c:ttl sou
próprio' são ouviclos. Nrlrbert von llellingrath diz a respeito ciestes poemirs ern
e salvo. O csboço "Circüia" çan{a assinl i.los versos 32 a
45l. 'A krucura clc I'li.ilclerlirr'] seu discurso profericlo em l915, quc elcs
são "a retomada cla cxecução cle uma er.rfoniir rla alma novamente
l'ois longo tcrnPo iii cst:i abcrta serenaclal O pocma a citie se Íaz. refe rêr-rcia agora norreia o hornenr crl

Conr<; íôlhas, parit aprenrler', or'r'linlras e âllgulos sLla rclaçào conr a rrirttrre?la, (]llc dcvemos pensar a[Jora no scntido cle
A Naturcz.a' Ltõlderlin conro acluiio que estii soZrre cicuses e homens, cujo inrpório
Ir, rrrais {6uraclas qs síris e irs lua.s, rus liornens às vczes conseÍluetn agiientar.
Mas ett.t tctrtPos O poe:nta norncia 'b dito antigo] o ntostrar-se do granr{c
Iinr <1tre rptcr acabar a vcllta cttltttra conleço. O grande coltrcço é. Sua irresença se presenteia "por loda
[)a Terra, isto é: com histririas, prrrtc" cnr torno cle um único [i,rgar; e isto "com espiritualiclacle']
Flvolr.rídas, coririosillll(rnte luta<.las, cotno €rÍI1 irhttt as guil
isto ó, com divjnchcle qrre habita., cla mesrna, o Sagrado. 'Io<ios os
l)ctts a 'Ierra. l)assos clesnleditlos
lugarr's sagrados sc rennirarn. i\«rs versos finais, o poema deposita
[.intita-os clc porétl'r, luas colllo Í]ores cle ourtr
alnr:i'
suir confiança nr
"hutuanidade'l Segundo o ernprego <le outrora,
Se juntam etrtão as lôrç:trs ria altlla, c-'s 1)ârelltescos da
a palavra "humanidarle" não significa a totaliciirde dc todos os
Partt tlrte tla tt-rra Preíirir
Itorncns, rnas, iissim como "liberclade" signiíica "essência clo livre'l. a
Morar a Bclcza e qtrrrlqucr Espírito
Iturnanicia<le nrimeja a essência tlo homem. Ilsta essência sc enrpenhir
Mais ettr cottlLlll.l sc iuute tros hotltetrs'
nas "r'elirçíics c clcstino vivos", isto ó, na "vidai
()
pocrna traz o título "(à:écia'e a assinatura de Scarclanelli;
Ijsia recorclação cio repouso ctlnsrtntadtl é o pcnsantctrlo rlttc
urn l)olnc cstrangr:ito, conto se o poc'ta também precisirssc lnnçar.
"peÍtence a(} quadro sagrirdo" que Ilõlclerlirt cluis "pintar" c()lll ()ri

200 | Explicações da poesia de l{ólderlin Martin Heidegl;er | 20 I


se, .r si mesfilo e ao sell nliiis Pr(il)l]iô, 11o elitrangeiro, isttl é, trazer
o O POEMA
estrangeiro a si e ao seu rnais próprio e ier.ltli-Lls. A ciata rionteia tttu
.tiia de maio" e 11m aÍlo ern que t tiiklerlin tinrla niiri eÍ;l vivo (Si1\ lt,
p. 306):

Grécia
'l'exto revisàdo cla c()nferênciir cledicitcla ao
Assirn como os h<lnrens, ir vida é magnííica,
septuagésimo aniversário de Irriedrich Ci. Jiinger
Os hotnens sao alniútcle tnestres tlit llattttcztr,
em 25 de ngosto de 1968 ern Anlriswil
A tera espiêr'rdicla uáo se csconcle clos ltometls
Com encanto sllrgeln a noite e o dia.
Falar sobre o poenta talvez sigr-rificasse: falar cle cima para
Os caotpos abertos estão ct.rnro no dia cle colheita
baixo assinl descobrir a partir do exterior o que o poerna é.
e
Com espiritualiclade por tocla parte estii o clito ar.rtigo,
Oonr qtre írutoridade, a irartir cle qual conhecimento isto
E vicla nova rtasce rle ttovo da ltuntanidatle
poderia ocorrer? Ainbos estão em falta. Daí ser pretellsão a vontade
Assim cleclina o an() aolll ttrnit calnlil.'
c1e Íàiar sobre o poema. Mas corno poderia ser clifbrente?
Seria prelerível que nos deixerrlos interpelar pelo poenra â respeiLo
Vinte e rlttatro rle Maio tle 1748
(lotn strbserviêticia, claquilo ern (lue cclrtsiste sua peculiaridacle sobre a qual ele repousa.

Scar:tlanclli
l)ara percebê-lo de rnaneira suficieute, deveríamos nos
Íanriliarizar corn o poefira. Clontucio, só o poe[a é realmente íntirno
clo poerra e cle si meslno. A forma ade<,iuada para fillar do poenra
só pode scr a forma poética. Assinr, o poeta não fala nem sobre o
poelrra nern do poelna. LIe poematiza a peculiaritlade clo poenla. No
erlfanto, ele só a irtlltge quan(io faia a partir da detenninação do seu
poemâ, e urlicalnellte dela.
Um p<lcta rirr«r, quando não talvcz enigmático. Ille existe.
Cham;r-se flõlclerlin.
g (irkt hcnLn,l
Só que ele, ao que parece, jamais chega a se aproximar de nós
Wic lVlcrrsclien sinrl, so isl rlas Lebon priiclriig,
Ditr I"lcnschen sittd tler Ntrttrr õliors rlâchtig, ao ponto eu1 que sua paltrr.r'a nos alcirnce e atinjâ, de moclo a sernlos
Das priicht'ge L,aoci isl. lVlensulren nicht vcrborgcn
lvlit Ileiz erscheint clcrAbertl uld det Iúorgert' rrs atittBitlos c pclrllilnr'Lcl rrros a.\sitl).
Die olfircn frelder sind arls in der llrndtc'l'agc
Na poesia cle l-kilclerlin trperimentamos poeticalnente o
Mjl Geisiigl(eil ist wcit unrhcr (lic allc Sôge,
I Ind neLIcs l,ebcn l,.oltlnt atts Menschlrcit wierlcr poelna. "0 poema'- esta palarvra trai a sua arnbigüidade. "O poema"
So sinkt rias -lahr mit siner Stilte niedcr.
pocle signiÍrcar o poellr.t ern geral, o conccito cle poema que vale para
Der 24ien N{ai 1748 NIit llrrtcrtlrânigkoit,
toda iristória da literaturii.
ilcar tlar rcll i

202 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martin Heiclegger | 203


"C poenrii' podc significar t;itubéu o Poculâ rlcstacado, 0 poeta não itraginou o pr<iprio c1o seu pocnla. Illc llte íiri
assinalacio cle rnodo singular por dizer respeih ao llosso tlestiutl, clad.. Ele se subordina à dete.ni,ação e scguc a vocação. Flijklcrlin
porque cle mesmo poematiza o destino no qual nos enconlrautos, a norneia enl ulna variaute <1o mesnto canto.

qller o saiLranros otr não, cy'rer estcjamos proutos ou llãrl, l-rara uele Na obra poética tle Iliilderli^ e ,ro legaclo *an*scrito ocorre
nos ltrnçar ou não. nnrir ci|cunstâr'rcia singular com relação i\s varianlcs. As palavr.as
e crlll)rcgos quc não Íirram adn.ritidos nt] poema acabaclo co[rtôrn
Que IIôlderl-in pocnratize o Pocta, sua cletcrntinação c, cotrt
isso, a peculiaridade do poerna, o que é prtipricl Íro poema, rtostram- percepl:ires às vczers sr'rbitas e profundas sobrc a pccuiiariclacle clc sua

nos os títulos cle pocnlas ti'tis cotro "Ofício tle poetal'Ânilno de p()csia. A varia,te d.s versc,s 45 e 46 de "O pão e o vi.ho,,riiz (StA

poeta', e os próprios poemas nas suas diversas versões" 11,1t.597):

Contudo, o peusamcnto poético cle tlolderlir-r tarnlrénr aborda


a poema sob a [orma de eusaios e projetos: "Sobre as lnaneiras Atltes tlo tetllpo! li v()câçir() (los canlrlres sirgradOs e assirn

cle proceclcr: clo espírito poético'i "Sobrc a cliÍêrença clas ftrrntas Arrtecipaclanrentc servir c pe[c()rrei. o gr.rltric <Jcsiino.

poéticas", "Sobre as Partcs c1o poerna'(StA IV, p.241 ss'); cle rnoclo
ainda mais abrangente, a partir do olhtrr poético em sults traduç(rcs
'hnt.es d. tcr,pol" E,r que tempo .s poetas co,vocados dizct,
clas "tragéc1ias cle Stililcles", nas "Obser:vações sobre o i-idipo'l nas a sua palwra? QLral rlestino ó o grande? No canto "Mnemosintil
"ObservaçÕes sobre a Antígona" (StA \{ p' 193ss., 2(r3 s.s')' I-ltilderlin diz o segLrinte srbre o telnpo eni relação ao qual o poctii sc

Só que esses "ensaios sobre..l' e'tlbservaçÕes sobre"l'reP()usâtll


antei:iPa (SrA f I, p. I93, v. l6 s.):

sotrre a experiêr-rcia poética, qtie Se exarnina c0tttinrtatnenic, cio


L)eurorackr ó/ O terripo
poeutalizitr c rle sttit dctcrtrrilraçàtl.
Que ilôlclerlin conhece cotn tor-la clareza a Íilrtlra própria
clo seu poelna, Lraseario em sua cssência Íàcililente abatível e Quão clernorado entiro, perguntamos. Tão longo que alcança
inclusive nossa própria época, atualc clesencleusacia. corresponclenre
freqüentemente inclinada a se retrair por receio, cle t]lesmo o cliz na a

a csta lorrgir óp.ca, a palavra adiantada dos poetas também deve ser
terceira estroíe da elegia "O pão e o vir.:iro", que detlica a scit amigcr
poeta Heinzc e a qucm invocil (StA II, p. 91, ri. 4l ss'): dernoracla - esÍendenclt) suil cspera ao longe. Ela cleve conv,car 'b
granrle l)cstino'l Illa devc clizer pocticamente a chegacla <Jos deuses
...Vem, pois! Pâra contelnplat:tnos o espaço airerto, prcsentcs.

Para buscartt-tos algo de trrróprio, por longe qtte estcja' Contuckr, o que é "presente" aincla há de chegar? Sri que
'thegada" trq*i'ão sig,ifica jri ter chegado; melhor.dizendo, signiÍica
...a catla rtm t.'rnrbótn urlla prripria lhe é ciacla, ., acoutccin.rcnto da clregt<la anterior. os que chegaranr de tal moclo
I'ara lii vai e c:rtla ttrn cllcga até otr<lc poclc.r sc rDostrarn e n) uÍna aproxirnação peculiar. Nesta chegada eles esl.ã0

p|escntcs atr poertâ cla sua rnaneira própria: os que chegararn sâtl
clcnses q(rc sc p.stiu.n erl vigília [gegen-u,tirtige]. os que se torníur]
presclllcs r;otr este aspecto vinclouro não são, nranifestanrente, os
I ()t-,lN fliL^, 19q7, f.157.

204 | Éxplicaçóes da poesia cle Hôlclerlin Martin Heidegger | 205


porque elcs estão tão próxinros os deuses presentes
cleuses fugiclos cl;r Grécia antigir r|,re terianr retor[ac]o, erltborit
alt! l\,las

l)ev. Íicar c-orro se .stivt:ssem ro,gc, e ensorulrreatlo po*uvc.s


nlesrno estes, enqual1to fugidos, ctlrttitruent presetlles 11o sctt tttotit.r
Ileve sert l)orne ser p.r l.iL lrirr-r, ilpcnils ilntes de a ntanhã
próprio, ao ver cle }-Iiilclerlin, t crlr]tirrucrn a clizer rcsl)(rit() rtrt ltocta'
Ointilar; antes cle a vidr arcle r ao nteio dil
O corneço cia seguncla estrolê clo liirlo "Gerlnâllia" tliz (StA II' ir'
Nonreio os quieto p,u lr rlirtr, p.rr.u rlrrc () poeta tenha a sua
14e):
Itrsse, nras cluiurdo a luz ccleste desce
l\grada,rne pens.r no acontecido, e digo - Ílorescei contudo!
{)e uscs iugidosl tambenr vós, vós prcsentes, olltloril
Niais verídicos, vtis tivestes as vossas épocas!
Conlbrnre I-Iôlderlin tent "ir srra possc,] encorltl.a_se
rnodo Drais verídico continuarne,te na sua determinação dacla, é o poeta de sua poesia.
os que outrora estiver-anl presentes r-1o
Pergtr,tarnos sobre a preculiariclade desta. Iilrr pocle ser experienciacla
não são transatos, náo estáo extintos, apellas lilrirrn etnbrtra'
tlLrando consicleranrcls as seguintes perguntas:
A chegacla dos deuses presentes não signifrca, por r:onseguitrte,
Qual é, pâra o poeta, "a sua posse"? er;al própri«r lhe está
cle rnodo algum o retorncl clos derrses antigíJs. Sobre a chcgircla cluc
dado? l)rrra oucie o empurrír a resposta? I)e o,cle venr a resposta? De
o poeta expcriencia poeticalnellte diz ainda mais clatratrlettte umal
outra variante c1a elegia "O pão e o villlid' (StA II, p' 603, p t9 ss'): que nrodo ela prerne?

NIas porc}re ele s estiio tào Pr[fi1p65 os tleuses presentes


f)emorada e clifícil é a palavla relativer it esta chegatla ntas
I)evo íicar co')o se cstivessenr longe, e e's<lr,rrreackr por nuvens
Ilranco é (isto e, clarci) o instiilrte. Serviclorr:s dos celesLcs sãtr
I )t't t. sr,tt n()nt(, scl.l)ill,l iltit)1...
Poróm, ve rsirdos na'l'crra, sett l)a§so vrri ern rlircçao ao itlristnrr
I)os ltomens.
HscLrtarnrs rl,as Íbrma..i do verbo 'tlever'r u,ra se erlcor)tril
c:orneç:o rlo segrrnclo verso, il outra no conleço tlo segurrdo verso.
Sc puclóssentos esclarecer bettl este teKio, ele nos ajudaria
r1C)

"l)evo" cliz respeito i\ relação cio poetil cor. a presença dos cleuses
at experienciar o característico cla poesia tlue I Iôlclerliil está
prcserrtes. "l)eve" diz respeito i\ Íbrma de ncxneação pclr nrei, cla
clestinaclo a poenratizirt'. Mas este texto oferece grancles clilicrrlclacles
rl.ral o poeta nomeia os cleuses presentes. lim rlue metlir]a as ciuas
à meditaçáo stlgericla at1r"ri, e por isstl escolhcmos outra paiavrir clo
[ôr,as cle "rlever" estão unicl.s e relàrern-se ao lres,lo, ,u seja, ao
p()etír.
poenraiizar ao qtral Ilijlderlin se vê prernido, serii inciicaclo assirn
Ij,rn tocia sLri] deltsidircle, ela diz respeito tliretartlenle à It«lssa
q*e se tornar mais ciaro cle cltre mancira o
pergunla sobrc a poesia de l{tiitlerlin. A palavra tlo pocta a sr:r l.loenratizar deve se
Íàto tarclia, clo glancle reunir at,r poetil.
esclarecida a segtrir também é utna variirnte, <1e
(l'rrtr-rclo, arrtcs clisso perguntarnos: de onde vern
carrto "O arquipélagoiversos 261-2.68 (S1A ll, p' I tf )' a premê,cirr?
Por qrrê este iutperativo drqtlo?
são sete linhas. Elas klritrn publicadas pcla prirnciril vez enl
o prinreir. d«ls sete versos dá a rcsposta clue se estencie
1951 por. Frieclrich lleissner, na scgullda rnetacle clo segttncltl volttnle a. tuclo
0 quc vent a seguir:
da eciição cle stnttgart clc l{ôlderlin (p. 646). tt-xtrt etttttrcia:

206 | Explicações da poesia de Hôlclerlin Martin Fleldegger | 2A7


N,las Porquc eles es1ão tão próxitnos
os dettscs preseÍllcs íjpreciso sriportar Ltm peso até que a palavra tenha siclo
encontratlrr e floresça. o pcs<.r traz o dizer poeiico à premência. illa
Estranho - tetrderíarnos a pelrsar llr-le, se os dcuses presenlcs Llrelne. Ela vem'cla esfera dos deuses'l o elernento do clivino é o
estáo tã(l pr:óxirnos ao poeta, a cieclir-ração de scus n()lnes
viria a seguir, Sagrailo. -E,is porque }Iôklerii, diz, uo canto "|ur-rto à nascente clo

facilmente, e não llecessitaria r1e ncnhuÍra intlicaçirn especial cl«r i)anÍrbiri'(StA II, p. 128, v. 89 ss.):

poeta. Só clue o "tá0 pr:óxin.ros" nào signiíica "próxitnos o sr.rficienle",


rnas ao irtvés, "próximos dcntais". 0 hino
"Patmos" colncça: N(rs [e nomeamos, lorçaclos clc szrnta nccessiciade, te nomeârlos
..Pertoestáccliiíciicleairrectrclerol)etrs.''O..c''signiÍica: A ti, Naturezir! e novo, ,-:orn<l do banho, sai
..e Dc ti tlrranto rasce tlivinci.4
O Deus cstá próxirr-rtl rlenlais, c()lll() se fosse l.ácil de
porcluê,,.
apreender. A mesnra palavra qLle se cncolltra crn
"Próxitro" se
"ltrrçarlos dc santa neccssiclade" * our.imos esta locução unra
encontra enr "exato". A palavra alcnlã antiga Serlatl ("cxirto") signilica
"Patrnos", lclnos n<r Ír*ir:a vez cm toria pocsia de llôlclerlin: nesta passagem. Ela Íala da
nahegehencl ('b clLre se acercà'). No mcslrto lritro
exigêrrcia rnricla quc impera em. ro<la poesia de F{ôlderli*, sob a qtral
verso 78 ss. (StA II, p' 167) os versos ciifíceis c1e cxplicar:
se pÕe o clizer poótico tleste. A locrição nos esclarece o 'ileve] qr-re
preme o pocta "para que ele tcnha a sua / posse'l
() l'ortarior-de-1'e nrpestadcs anla\ra â simPleza

l)o cliscípuio, e o honlem atento oihort


A que se eucouÍra o l)oeta prernido?
(lot'rt exal idão a Iàcc tlo ])er;s'. 2

Mas porqLre eles estão tão p«lximos os deuses presentcs


i.)evo Ílcar coÍ]lo sc estivesscm longe, e en.sornbrr:ado por nuvells
Próxinros clemais, acercatftls clcrlais estão os deuses qtte )cvc
I st.tr n('lnc sct Ptra tttirtt, a[)enas...
chegam, que vêrn Ila direção rlo poeta, que se lhe fazem prcselltcs'
é airtda
É claro que esta clrcgacla clurar muito tetrp0, por isso tlleslno Norneio-os quieto parx rnirn,...
rnais pretnettte e aitlcla nrais cliÍicil de enutlciar qilc a prcscllça
consuntada. Pois nem seqLler esta, o irornetu con§egue perceber clc "Iror'çuclo dc santa ncçcssitladç" o pocta se vô a rlizer qrrc sc
niodo preciso e i[rediato, nem recelrer o betn cottccditio alravés clela.
lntllt ''sír" rlc rrrn charrurr qrriclo.
f)urcle constar n«r fim cia quinta estrolte cle "o pão eo vinho" (stA II,
O nornç clrrc Íala nossc uonlcílr dcve ser çnsombrcacJo.
p.92-93, w. 87 ss.): O h.rgar a partir clo qutrl o pocla rlçvc nornear os clcusçs clçvc
sr:r tal ciuc penrancÇam clislanies os quc 1rão de ser nt;meaclos lra
Assirr óo irourcnr; rluattclo os bctrs 'stão prcsctrtcs' e lllesnlo rtttr l)eus prÇscnça da suiL r:hcgada, c por issct ütesmo continucnr â ser o§
(luicia dele colll seus rlotts, nào o cotthccc tlelrl vô' virrdouros. Prira que tal distância sc li-anqueic euquanto clistante, o
'l'enr de sofielr, prittlcil'o; nlas agora ttotncia o tluc rnais atlra'
pucta clcvc lccuar da prr'«rxinriclade prcrrento dos dcuscs e ..norrçá_
l
Agota, agora têtn par;r isso de trascer paltrvt'as conro Ílorcs los apcnas quic-to".

z-!üiliillJil'p +oo.
4
3 QUINT'lll.A, 1997, P.3s8. idcrn, p..l8l

208 | Explicações da poesia de l{olderiin Martin Heidegger | 209


De que tipo é tal nonleação? () que significa, de uroclo geral, e precisarnerlte apenas rnediarrte este, o não-dito, e de iàto elquirnto
"nomear"? O "nonle'a.r" cortsiste eln llllrcíu'aign r:onr ultt ntllnç'1 I-'l nao-dito.
conlo sc prodLrz um nonte? I IÍilderlin comenta

O nome diz corno algo sc chaLna, cottro cle atcnclc ao ser


charnacio. O nornear cleperrtle de utt-t lrotne. lj o nol]le reslrlta clo ... npenas autes de a nranhal
Cintilar:, antes tle a virla arder ao ntei<t-dia
nomear. Com essa e.olpticação giratnos cm círcultl.
O vcrbo "1lomear" se dcrivir rlo strhstanlivo "nottlc", ttot'teil,
Nor1lç111.6a qtric.lo par':r rnirrr...

bUOprCt. Ilucontrer-se níarai.t."gpo", Yuâx;tq, ist6 é, conher:itt'tct.tttt.


Isso tieve significar que o poetir apenas guarda para si o que lrá
C) nome dá a conheççr. Que 1r tet.tl n6lue é atrtplarnenlc oolhecitlo.
de ser nomeirdo e não infbrma os outros honrens? Se isso acontecesse,
O nomear ó um riizer, isto é, uma inciicação clo quô e Çorlo o qr'rô algo
deve ser cxperienciaclo e oonservado. o nome desvela, tlesabrigil. ele teria se tornaclo infiel à sutr vocação de poeta.

O nomear ó o indicar que pennite cxperie nciar. Se o itrdicar, cotllLtdo,


O poeta nomeia'qr-rieto" para si mesmo os "rleuses prescntes,l
"Quieto" signiíica "acalmadcl", "em repouso'] naquele repouso eln qrle
deve acontecer de modo a afastar-se da proximiclacle tlaquilo quc
consiste n reunião junto à resposta, conlorme a resposta corresponcle
tleve ser nomcáckt, cntão 1al clizer sobre o distantc, encluattt«i tlizet'
à prenlência sagracia e se contenta conr ela. No canto cle i.{ôiclerlin
na ilistância, se [orna chamado. se, porérrt, aclttilo clrre cíovc ser
"A làsta da ptrz'] a paiavra 'qrdeto" ressoa coul freqüência.
chamado está perto clenrais, o que e rrorneado pe lo seu nome tlçve
ser.,ensombrociclo", para que o charnado permallcça prer;ervadtl ellt
O nornear quietcl acoutece "antes de a manhã / cintilar, antes
de a vicla artler ao treio,dia'l
sua tlistância. 0 nomc cleve ocultar. o norne, snqLlaltto cltamatlo cluo
'Antes" é uma cleterminação temporal, e de fato clo tempo que
abriga, é ao mesmo ien-rpo utn oottltanronto.
se temporrrliz.a apenas mediante a chegada e a proximiciade, mediatrte
Apalavra "nalurezit", reoétlr osctrlada, éo notne vercladeirantenÍe
a fuga e recusa dos deuses.
obs«:uro, cncobriclor-revelador rla poesia cle I [ijlclerlin. sc cl ncittear é
,.forçacio de santa necessiclatje", eritão i)S nolnes que ttontcia devetn O nomear prerlido pelo Sagraclo cleve ocorrer antes de a rntrnhã
clo dia <livitro cofireçar a cheglr verclacieiramente e se consllmar âo
ser sagrâdos.
Na estloÍb flnal du elcgia "A ohegada Ír casa", cornposta logo n-rcio-dia, quanclo o íogo celeste iirde. Nesse teÍllpo, parece que 'ir
I)elrs se envolve er.r'r aço'l É r, que cliz tlõlderlin na estrofe final do
depois cla voh.a de i lôldcrlin cia sr-ríça o po()tx só parott poLlcos Ineses
como preocptor em ilaupwil, perto cle oude sstamos cliz-sr: (StA II,
hino ao lLeno (StA II, p. 141i, v.210 ss.). No esboço para um poenla
p.99, v. 101): tardio (StA II,1>.24\),v. 6 s.) ele tàta clo "aço cle lbgo do rebanho cáliclo
de vicla'i (O aço lnnça centelhas e está assim iigado ao fogo.) "O l)etrs

no mais vcz.es;.Íàltanl-nos notnes sagratlos, se errvolve em aço" significa: o Derrs se envolve no fogo celeste ou ern
calar é o clue clevel)1o5 <{as

nuvens. O ttogo celeste que cega os olhos não é nreuos encobri<lor qr,rc

isso significtl apenâs nãr:l clizer nada, Íicar mudo? Ou escurir,liio drrs nuvctrs.
Calar - rr

só pode calar cle m«tclo erninente quern tem o qlle tlizer? Nesse caso
A
cietemrinação ternporai "antes" significa aquele "antes do

cirlaria no rnais alto griru cluern qltÍsesse deixar aParente, no seu dizer
tempo!" em que os poetas são lançaclos antecipadarnente junto corn

210 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin Martin Heidegger | 2l I


*ik.6EI1@

prlavr;.r <iuc foi salientada ao scr posta no começo


o seu diz.er nolneante''Aperras"' / Chamo-os cluicto irara nlirri'- o c1o vcrso seg.uirrte.
..parairrim,'po<lcriascreferiraoErrclapessoadelliilr'lerlirr,serrão liata-se de rcalizar a posse corrcta do próprio.'frata-se <te'guarclar a
carga'. 'li:atn-se rlc resistir i\ prernôncia clo dizer rrorneante cla chegada
versos as palavras:
seguissem, imecliatarrtente contíguas, nos lncÍilrlos
cl«rs cleuses irrescntes.'l'rirl a-se rlc suportar "quiel o' este dizer.
h4as o cp.re é seu, Lr<lvamenle, lião perteilcc ao poela conto rilll
Para que o poeta tenha a stta / ]rosse'
piltrinrônio conrpristado pr.>r ele.0 clue é seu cr»rsiste antes eln que o

tlitn", isttl ó, pâra o poeta, foram clados os cleuses


"Parir ;roeta posriui a<1uilo qr-rc o crnprcga cln seu serviço. Pois o dizer d<ls
pocrtas ó etnprcg:rdo para indicar, ocultar-reveliir e deixar que apaleçil
presentes, os qlle se aproximarn ilesde a clistância'
enqttantti
A presença rielcs' a clregaria clos cleuscs. Tal ctrcga<1a prccisa da palavra rio poetr para
aqueles que clevettl ser norteartos pclo chaurado'
o itrgar aparccet pilrir que, â() Írplrrccer sejir realrnerrte o quc ó.
próxima clemais, () premc a retirar seu dizer tlomeaclor até
Na oitava estrofe clo lrino "O I{en<i' se ciiz (StA TI, p. 145, v.
cla distância. O que o aguarcla aí? I-liiiclerlirt o diz
no
1í, -.n.ionnclo 09
no allo I ss. ):
começo cle seu úlÍitno grande hino, "Mnenlosinri" composto
cle 1{t00 (StA II, p.197,v' 5 ss.):
...1)ois porquc
()s be rn-avcnlurados nii<'r.scntenr nadur por si,
uuitas coisas,
...H
(lomo sobrc os ombros I')rlào lcr'á, se e pcrrttilitlo
D:izer: tal, tle etn notrte dos ricuscs,
Uma clrga de achas,
Oornpassivo, sertrtir urn otrtro,
Ilá a grr'.rrtlar.'
Ii e rlcssc <1'.re precisarn;

A clistância clos <ieuses que se apr«rximam remcte o poeta


àqriela região cia sua existência r.lnde lhe desaba o sok'r'
o chão qtre Ii no canto
corllpost() ile iuro anterior (por volta cle l800),
"abismo'l Na "O irrquipélugo'l diz Iliilcleliin (StA II, p. 104, v. 60 s.):
o sustenta. A ausência cleste so10 chanta }{ôlclerlin o
coln
variante mencionacla da elegia "O pão e o vinhci' que colneça
.,clcrnoracla
e difícil éa paiavra desta chegadal Elcil<lerlin cliz a respcilo
Senrpre pr"c'cisir pala l prripria fanrar, corno heróis cia coroa,
Dos clcnrentos consirgrncios, o coração dos horlens sensitir.os.
dos "serventes clos celestiais", isto é, clos poetas:

/ Dos hotuens' llarnn e elogio clevern ser pensados aqui ern scntido pindárico,
Seu passo é rlefronte o abismo
grego, cor11o aquikl rlre perurite clue algo apareça. Quenr scnte,
"Defronte" significa: dircção clo atrismo'
r.ra
anteciiranrlo-se a cle, o coração dos lrotneus sensitivos é o poeta. Ille
éo outro que os cicuses rccluisitatr:.
f)aclo ao poeta ó perseverar no dizer clir palavra da chegada:
.,paraqueeleterrhaasuir/posse,lAêrrfasenãorecaisrlsolirea (}lnr esta palavra tin'rici:rnrente sLrgericla a respeito tla
a "ptlssc"' nccessiclacle rk;s clcuscs e clçr uso corresponclente que Êazent cio poeta,
palavra "a sua", mas ao Inestllo tempo, c rtais ainda' sobre

i-fiilililIõ,p
(r ltk:rn, lt. -l9il.
a,a

Martin l-leidegger | 2-13


212 | Explicaçóes da poesia de Hôlderlin
Lftjlderlin mencioutt a cxperiência biisicir de sua trtiviclacle ptlética. REFEREfrICIAS
O pcnsanrento tité hoje nio loi capaz dc pellsar esta experiêllciir de
tun rnoclo arlequado ao assLurto, nern cle inclagar sclbre rl ânlbitil rlo
qúal ela se move.
O poema, o poema tle Ilijltleriin reítue o ptlentirtizar enqttirrlto

nonleaç1o clos der-rscs presentes lirr<;ada de saflttl rrecessiclacle,


celestiiilmente requisitacla, no dizer articulatlo. l)cpois cle i liilcleriin, AI{NIM, Ilettina vL>n. Siimtlit'he \\lerlçc. Ed. W. Oelrlke, v. II.IS.ri].
tal clizer fala em r-rossa língua, qtler c escutentos, qtlcr r1ã()'
collieçL] IJEISSNEI{, |rieclrich. As trathrções tle }-tôlderlin tr purtir clo grego.
A ode intitulada "[r'rcelrtivtl", concluÍcia pelrl poeta 11o
Stuttgart, i93-3.
clo ancl i1e 1801, conteÇa conl o brarlo "Eco r1o ctítLl'l ]lste eco é o
poernil c1e I{ôlderlin. lllrlfNA, A. lrranclie. t\ cloutrintt de. Platão sobre u yerdude. Jalu.lntclt
fiir die geisLige ÜberlielLnmg. Sergunclo volurne, 1942, pLrblicaclo corno
NIas porqr-re cles cstão tão ptóxilt-tos os cleuses Preselrtes sepilrata ert 1947. Lnsaio.
llevo íicar Co111o Se estivesseln longe, e ensoutl)rc'aclrl por llttvells
I)eve setL nome ser pirra rttiln, allellirs tllltes cie a luallliii
tílllDliaiGEI{, Martin. Cuminhos de l:lorcstu - I'lolzrvcgr:. Lisborr:
littndação Calouste (lullrenkian, 1950.
(lirrtilar, ântcs (lc a vicla arrler ao tltcio-tlia
Ntlnteio-os cluieto 1ta1x rtritll tttcst)ltl, Pirrlt tluc o poctâ tenha a sua IJIiIDllGGlltt, M.. I{õlderlin ea Í,ssência cia Poesia. In: Observações
Posse, nttts clttanclo a ltrz celeste rleclitllt sobre a Poesio de Ílolderlin lrrar-rl<íurt do iVIcno: I(lostermann, I951.
Agratla-rne Pensâ no ilcontecid(), e rligtr - llorescei cotttttdol
FlllII)EGGLR, NÍartin. ErliiuLertmgett zrt lliiklerlins Dichturtg. 2 ecl.
Friurkfurt a/M, l(losterrr]anl1, 1951. tlxplicaçoes cia poesia tle Iliilclerlin.
lll,lll)EGGER, Martin. Explicações cla poesia de I-lôltlerlin. In:
lJIllDllGGER, Martin. ,\pproche de Ilôltlerlin. Paris: Gallirnarcl, 197:t.
'Iittdução de I lenry Corbin, Iylichel Deguy, I-'rançois Irédier e )eatr Launay.

I IEIDllGGlrR, lvlartin. Elucitlntictns oJ' Llôlderlin's PLtetry. Arnhcrst, N [:


llrunanity l]«r«rl<s, 2000. Tiatlrção cle Keith Lkreller.

HOI-DEI(LIN, lI. tlefle"rões. Cartu ao lnníio. l{io tle }anciro: l{ch"rrnc.,


f)unrará, 199,1. 'liaciução cle Márcia Sá Cavalcante Schubirci<.

HÔl.t)LlfLIN, Friedrich. llinos tardios. I-isboa: Assír'io & Alvim, t999.


'lradução cle Maria'feresa Diirs Ftrrtaclo.

IIOI,DUItIIN, Irrierlrich. Elegias. l.isboa: Assírio & Alvirn, 2000.


'l)'atluçio de Maria'I'eresa i)ias Fur:tiido. Colecção: f)ocunrerrtir Poetiirr.

214 | Explicaçóes da poesia de Hólder iin Martin Heidegger | 215


QUINI'LLA, Paulo. Oüt"rls cotupletu$. Orgrr.rização de Lutlwig Slreicle et
,Ai?ÊN,!Dl(E
irl. v.Ii. l,isboa: F-untlação Calouste Clulbenkian, 1997.

SClflR.ÔDEI{, Ç)lt<t. Pindars Pythien. L,cipzig: B.Ci. 'tbulrner, 1922.

Oltservaçãa preliminar à repetição clo discurso


(cnr 2l de junho de 1943, no auciiÍririo principal cla universida<ie)

Urrra celcbrirção eur "rnem(rriado poetii' não po<ieríanros


rcpetir janrais, tllesmo que rluiséssemos. Ao contrário, dcvernos
selrlpre recolneçar a praticar o pensamento l1o poeta, çlo único
ruro(Lr corno ele podc ci)rneçtr. É a tentrrtiva de pensar no que Íiri
poernatizaclo. Tãl rccordaçiio surge de urna convers:r do pensamcul.o
cour il poesia, sem quc sejam enunciados, de início, uern a prriirria
conversil, ncnl o lug;rr a partir clo qual ela Íàla.
O que foi poenutizaclo esth guar:dado no poema. para prat.ii:ar
a "recortÍação'clo poeta, escutaulos a elegia "A chcgada a casa'l 'Ib,los
os poemas rlo poeta que adentrou suir ativic{ade poética sãti poenras
dc chegacla a casa. se classificarrnos estes poemas traciicionarnrente
corno "elegia" (cankr firrebre) orr "hi,o' (canto de louv<lr), só tere,ros
pernrissão pari.r fazê-lo se nos depararmos com a essênçiil clo luto
(llle csÍes cantos fúnebres cantam, e se conhecermos â essêrrcia cio
Sagrario que é invocada nestes poemzrs. A respeito de urn e de ou[«1,
cl' ltrto
e clo Sagrado, das relaçôes recíprocas entre eles é que canta
o Çanto 'A chegacla a casa". Ao que charna o poeta à sua ativiclatle
poética ('b Sagraclo") e à rnaneir:r como o poeta deve dizer aquilo
<1ue lrá para poernatiz.ar ("o cuiclaclo") é que o poelna 'A chegacla a

casa"'se reltere'l Por iss,r, e apenas por isso ntts é permitido ateutar,
no cliscurso a seguir, para eslê poerxa, a úitima elegia de I{ôl<Jerlin. o
rnais íntinro drl Psç1113 se escontle no verso ,12, que nomeia as gentes
clo lugar:

216 | Explicaçóes da poesia de Hõlderlin Martin Heidegger | 217


 quem a graticliro sa6racla, a sorrir, devolve cls I'ttgitivos, OBSERVACÕTS
,

Sobre isso tl cliscurso cala.


Ape sar clos uomes "elegia" e "hino] irte agrlra ainda não sabemos,

dc verdaclc, o qite são as poesias cle F{ôlderlin' As pocsias apa{ecem


conl Llm santuário sein ternplo, no quai o prletad«l é cgrlservatlo' Os
pocrnas são, em tneio ao ruírlo "iínguas não-poéticas", ctllno utn
<Jas
t\ chegttt.ür a cusü / Aos ltorenfes. O cliscurso ibi ltito ern
sino, clue pencle ao ar livre e desaÍina cluanclo unril ncve srrrrve cai celebração clo poeta colncnroração do centenário de suir rnclrte rro
r1a
sobre cle. 'l'irlvcz por isso Ilôicierlin cliga tlnta vcz, erl versos [irrdios, irrrclitório principal cla universidade de l,'riburgo ern Ilrisgrivia rro clia
rrmâ seutençx que soir como prosa e, colttudo, é poetica conlo poLlctls 6 clc junho dc 1943 e repetido no lnesmo lugar no clia 2l cle juntro
(projeto para "Colombo" IV 395): cle 1943. Ille l'oi prrblicado ertr 19214, sob o título llxplicações dtt pocsitr
de lliilierlin
pela V. Klostermann, Frankíirrt do Meno, junlo corn o
Por r:oisas hurnilcles cliscurso "Ilõlclerlin e a essêncitr da poesidl Iido em l{onta em 1936.
Desalirrava como Pela neve
A arrrpliaçiro cla prirneirir ecliçlio tlas tixplicrtçóes Íoi proiblcia, bern
O sirto, cottr o qttal
corno il pultlicaçãti cle resenhas. (lonto ela, eur tais circunstâncias,
Os hometrs fazern soar
Ílc«ru corno que inacessÍr,el piira unt círculo mais arnplo, cl rliscur-so
A l.rora do jantar.
nrerrrolial Í'oi irnpresso novirurente en'liivhtm (ano VI, Iàscículo l),
ao contriirio da conl'erência tle Rorna, c1.re jamais fora publicadil cle
Talve't cacla expiicação destes poemas seja o cair dir neve sobre
tiutro rnoclrr.
o sino. Seja 1á o que for qlle uma explicação collsiÍla ou não, pode-se
Llõlderlin e a essênckt cla Stoesio. O cliscr"rrso ioi lido ern 2 cle abrj I
sernpre clizer a respeilo clela que a fala expiicativa deve se despedaçar;
em llonra c pLrblicado no fascículo cle clezembro de 1936 da revisla
bem conlo aquilo que eia bttsca, para qtle aquilcl que no poeura é
l)os inne.re Itelcfu. Urla sep?1rata Êoi puirlicacla em I9i7 errr prirrreira e
poetizado esteja aí tlln pouco rnais clararnente. A tlxplicação <1o
seguncla etlições prlr Altrert l-rrngen / Georg Muller, ern Muriique.
poelna deve ambicionar tornar-se supérÍIua em làvor c1o que é rlito 'Assint cofin etn dio santo..." O disctrrso Íbi lido diversas vezes
poelicamente. C irltimo passo de cada interpretação, mas tambénr o
cntre os anos tle l93i) e 1940, e publicaclo ern l94i por M. Nierneyer,
mais importzlnte, consiste etn desaparecer, junto coln sua explicação,
I trallc a. cl. S.
diante do simples estar aí clo poerna. Então, o poeltla ergtrido enl stta
Reutnluçiio. O tratado loi purblicatlo coruo coutribuição ao
própria letLraz Lima luz Lros otttros poernas, ele rnesmo e tle ntodo 'liihingar OedenltsdúJt, por ocasião clo ceuieniirio rla rnorte de
inrediato. Eis porque parece-nos, ao repetir a leitura, que selnPre
I-liilelerlin (org. por P. I(luckhohn), en 19,1J, por: J. C. ll" l!{o}rr,
tivérarlos comPreendido os poelltas tlesta fornre. E bonr qttc nos 'lirlririga, p. 267 )24.
-

pareça assim.
1\ terro e o céu tle Httlderlin. Conlcrência prolericla na jor:nacla
«la S«rcietla«le Iltilderlin errr jVluniclue, em 6 tle junho de 1959 no

2lB I Explicaçôes da poesia de Hõlderlin Martin Heidegger | 219


l'-eatro Cuviliiés cla t{esiclôrrcia e lrutriicada no iu)uário }Iólderlin clc POSFÁCIO DO EDITCIR
i95ti a 1960, p. 17 - j9. A s[xTA ED|ÇÂO
O poet'tn. l'extcl revislo cla cotlferêllcia dedicada ao

sepluagósitrro aniversário tle Friccirich Georg Jiinger em 25 de agosto


de 1968 cnr Ârrrliswil.
obscrt,açãLt prelintinar à repetição do tliscurso. Ireita antcs cla

rrpetição clo clisr:urso'A chegacla il casa/ Aos parentes" no clia 2t cie

junho no auditório principarl cla universiclaclc cie Fribtrrgo eir


cie 1943
I
t3risgóvia. Publicirclo pela prirtreira vez nas lixplictções da poesia de
tlõtdcrlin (Vittorio Klosterrnann: Írralrkl'urt clo lVícno 1944, p' 31 s')' A coríieur"ação textual 11. v.lurne 4 (i9sr) cla eclição coligi<ia
Prefticio ti leiÍ.uro dos ptternas de Lliildcrlin. (]rtrva<lo no clisco (.{}csanil.rtusgal.re) serviu de base para a publicação
ora apreserrtacla,
"Martin I lcidegger lê LIõICcrlin'l Eriit0ra Giinlher Nesl<e, Pfullirrgcn
a sexta edição avulsa das lixplicações da poesia d.e Í-kiklerlin, tal qr.rc,
r 963. cle agora em cliante, o texto desta ediçâo em broçhura é idêrrtir:o,
Os poemas, Írragnrentos c variantcs tlas quat ro pritlrciras quaÍrto à ietra e r\ paginação, ao cia rccdição do volurne 4, ptiblicarla
fixplicaçocs são citados cotn basc na seguncla erli5--ão, iie 1923, drr ao rúesrrro ternpo. A sexta erlição, efii comparaçáo com a c1uürta
"cclição lrist(rrico-críl-i«i' il'iiciada por Norbcrt v. I lcllingratl"r. O textcr (l98I), Íbi a*rpliacla i)or *rll apênclice, pclas observações rnargi,ais
clas ,.lnas últirnas [)xplicaçõcs scguc a eclição cla L]rossc SttÍtgrtrÍct' tir:aclas i1o cxenrplnr pessoal cle ileidegger, bem como por ullra carta
Au.sgtt lt e, eclitaci a por Iiricci rich B eissn cr.
de I-Ieidcgp;er, de 1953, a i)etlev [,üders, irnpressa,a scqu,cla se1:ão
dcste posfiicio.
No ",Apêndice" [i.;rarn reunidos dois textos curtos. tleidcggcr
pr«rlcriu a "Otrser'ação prclinrinrrr" por ocasião da repetição de serr
ciisctrrsr'A chcgar-la a crsa /Aos parentes" no dia 2 I cie juntro cle 1 943
no auclitririo principal da tlniversidadc de Friburgo, e pubiicou-a eur
1944,, rr;r pr:in'reir-a eclição das Explicaçocs da pocsia de llijlderlin.lllç
fec§creveu urrr trecir() clessa observação pr:eiiminar mais tarcle, para
cr prcfiicio ii segirnda ediçâo thts llxplicaçocs da poesia dc lttittleilin
( t 95 I ). - () PrcJ ac o à cituro d o s p o ern as de LliiltJcrlirt, que compusera
i I

parir o disco "Martin lleidegger lê Hô]derliril foi aperfeiço:rclo


estilisticamente cle rnodo pouco signiÍicativo para Íins cle ünpressáo.
N. rlisco, crn seguicl^ ao tcxto a que a obscrvação preriminar se referc,
ele lê os Poelnas "ll.rcentivo'] 'Â peregrinação'i'A chegacla a casa,,
'A lcsta tla paz.'l "O Istrol"O que ó l)eus?'l "O que é a vi<ltr do homern?'l
"Mas ern clr«ruPilnas vive'] "Corno as costirs marinhas" e "pátrial

220 | Expllcações da poesia de Hõlderlin Martin Heidegger | 7-2l


Além clisso, o 'Apênilice" conténl unta reprothtç:ao -l'otogitJico o t1ue, não obstante, repousa sobre algo, c1r_re deste rnodo se torna o
"Grécitll a partir que serve cle base ainda rnais originariamente; tal ilue o texto, visto n
das segr.rncia e terceira versões clo esboço cle hino
partir deste ponto, não pocle mais ser chamado aquilo que serve
do exenrplar cie Heiclegger r1o segunrLl vtlltrnte cla Crosse Strtltgorter cle
base. Ncl entanto, é assim que o Sr. o chamal'
Ausgabe clas obrrrs coligiclas tle Iloltlerlirt' As diversas anotaçties
à
,V{artin l'teidegger lhe rcspondeu no tlia 24 cle fevereiro cle I953.
Ínargem, ir]scritas a lápis por I{eiclegger clurattte a elalroração dtr
DetlevLiidersprrblicou esta resposta ent um ensaio "Umacarta de lVÍartin
conferência'A terra e o ctiu cie Iliilderlin" dcixam elltrever o seu
Fleiilegger sobre suas explicaçôes de I {ôlderlinl'no anuário da Frrntlação
nrodo rle trabalhar sr'tas "explicaçÓes".
clos Alernães Livres organizado por ele ('lulringa: M. Nienreyer, 1977, pp.
Seis 'bbservaçoes rnarginais" cssenciais cle tleidegger i\s
217-250). A carta cle Lleidegger é textualmente corno se segue:
suas Explicaçoes tlo poesict de Lltililertin, leilas nos seus exemplares
pessoais, foram impressas conlo rrotas i{e roclape, e clestilcatlas das
I'r'ez.rdo Sr. Lütlers:
observaçÕes do próprio l{eiclegger ao texto' Nas trotas de rodilpé'
Vrcê estit ccrtcl. A scfltellça nrencionirtla (p. 50 das lixplicaçiies,
tais observaçõcs marginais no exemplar do autor relltetenr à segtrntlil
cottttr cdição dc I951) ó inviiivel na vcrsão aprcsentada. Vou riscá-la, cirsrr
edição d.as Explicaçõe s da p oesi o rle tlijltlerlin (1 95 1 ), abreviada

EPII; além clisso, rernetem à prirneira edição do cliscttrsrl


"o hino clc aincla liaja rnais Luna reeiliçào.

IIôlderlin Assim como em dia santo..l" (Halle do s.: M. Niettteyer, Se você inverter ir sclltctlçir, resulta rpre:'A prc:sente tentaliva rle
intelpletação repollsa solrre o tcxto coÍrferido repetidanrcnte conr os
1g,11); por último, à separata t7<t Antuirío t-tôlderlin t95u-1960.
pri rneiros eslroços escr"itos."

II Nesta lbrnra, a sente'nçit estti tâo correta qtte se tontt g«rsseirtrnrente


trivinl, c pol isso stiperlfua.

à época nm cloutorando em l'eoria líterár'ia


l)etlev l,iiclers - A perguntir, clararnentc, permanece: o qne é "u[r texto'] collro se

sob supervisão cle Aclolf ilcck, e lroje diretor da Irunclação clos dcve lê-1o e quandct é estabeleci<lo cttrnpletaurente, enqLrallto tex1o.
Alerrráes livres ern FrankJirrt dcl MeDo -pecliu, elll ul1lâ carta
a llstas perguntas cstão tão essencialmente ligadas ii pergutrtir sobre a

Ileidegger cle 21 de fevereiro de I 951, um esclarecinlent<l s«lbte ttutit essência cla lingtragern e cia traclição linguagcira qLre etr rne lin'ritei

sentençil das Exltlicações dct ltoesia de I[õlderlin, especificamente clo toclo t> iempo ao absoh-rtamcnte necessiirio, quando havia aigo a

discurso sobre "O hino de flôlderlin Assim como eln clia santo..l'l notar sobre interpretação, explicação etc.

A sentença enuncia: "o texto que serve de base a esta conferêtlcia, f)e acorclo corn a eclição <le Beissncr ntostrou-se agoril, et)t ll, 2, pp.
corrferido repeticlamente corn tls prilneiros esboços escrittls, r(-PottsiI 695 ss., que a citaçio "Nós te nornciunos" está incornpleta (p. 56 clas
poesia
sobre o ensaio de interpretação que se segue"' (lixplicaçoes cla F.xplicações, eclição de J951). Ir4as a interpletação e l:úsa por câLrs.r
clisso, ou estirrá serluer correto o esclirrecirnento da passagenr íeito
clc I'lülclcrlin, P. 63)
entetrcto
..Não pol Reissncr? Ilá un texto ent si?-
observa Detlev l,üclers sobre esta Sentença:
como um texto pode repousar s:obre sua interpretação; unr texto' l.l
penso eu, é algo fixaclo literalmente' Sua frase envolve o paradoxo (jorn os nreus nrelhor-es cutnprirlrentos e votos de unr leliz trabalho
de o text.cl ser, por urn laclo, b que serve cle base', e, por outro
laclo'

222 | Explicaçóes da poesia de Hólderlin Martin Heidegger | 223


M. lleiclegger

scu ettsrtio
Corn precisão, Detlev l'iictrers ccin{irnra el)r
<1ttt:

htltrveumaterceiraecliçiiodasfr,:rplicaçot'stlttpoasictdelliililetlht,cl.lt
as rer:t1it;i-les a setltetlça
lg63, e uma quarta, ernlgTl,e qlle em alrtllar;
l:leitlegger
questionüda - contrarianlellte ao clesejo cie supressão cle
* perlnanec:e inalteracla.
lleicieggcr:
A carta c1e Detlcv Liiclers lbi grrardacla por lVlartin
Explicações
dentrcr exemplar de trabalho cla segurida eclição das
c1o seLl
exemplilr' a seDterlça
sem nenhuma anotaçãcl cle sua parte' Neste
questiontrda fcli inteirirmente mirrcatla t:m
verrnelho na tnitrgcrn cla
seu exeurplar cle trabalho cla prinreira
edição (194 1) clo
iiíguru. No
ell) clia santo"l'l a
cliscurso sobre"c) hino cle Ilôl<lerlin Assimcorno
"interpretaçãti' lcri posta
última palirvra cla setltença qttestionacla -
rnÍrrflenl direilir, I Icicleggcr
ent.e aspos e sublinhacla de leve a lápis; na
anototlesublintrouaiápis:.ilbservação,lAlélrrdestasarrrltirçôeslriio
nenl no resto tla obra
se encontra nenl nos exemplares cle trairalho'
se Martin
póstunra, rtenhuma inclicação <ia clual se puclesse concluir
<le suprirnir a trase' tenc.lo'
Heiclegger se manteve Íirnte no propósittt
se esqueciclo <le levá-lo a terttro nirs
duas ecliçôes seguintes'
contudo,
ouseelesetomououtradecisã(rc_cotttritriirtnetlteaoatrútncicierrr
SLla cartc - deixou conscienternetrte
que a sentença questiotlacla
penÍIanecess e e talvez qttisesse explicá-la'
conlo a irnotaçá<l à
sllpor' o c1*e acirbclu
lllargem rlo seu exemplar de trabalho permite
não acontecenclo por alguma razão desconhecida'
ljelrnente tr
Por solucionar ir difícil tarela c1e reproclttzir
marginália que I-teiclegger traçotl levernente
a lápis' agradeçtr
sinceramente a Walter v' Kenrpsl<i'

Irriburgo enr Ilrisgóviir,


Maio de 1996
F.-W. v. ] lernrann

224 | ExplicaçÕes da poesia de Holderlín

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

Você também pode gostar