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ACADEMIA TEOLÓGICA

INDICE

I - GRAÇA COMUM..................................................................................................................... 2

II - A DOUTRINA DE ELEIÇÃO - UMA DOUTRINA POLÊMICA ............................................................ 3

III - A VISÃO ARMINIANA DA ELEIÇÃO E SALVAÇÃO ..................................................................... 5

IV - A VISÃO CALVINISTA DA ELEIÇÃO E SALVAÇÃO ..................................................................... 6

VI - CALVINISMO EXTREMADO X ARMINIANISMO EXTREMADO ..................................................... 10

VI - CALVINISMO EXTREMADO X ARMINIANISMO EXTREMADO ..................................................... 11

VII - A NATUREZA DA SALVAÇÃO .............................................................................................. 17

VIII - CONVERSÃO .................................................................................................................. 24

IX - A REGENERAÇÃO .............................................................................................................. 31

X - JUSTIFICAÇÃO ................................................................................................................... 33

XI - UNIÃO COM CRISTO .......................................................................................................... 39

XII - SANTIFICAÇÃO ............................................................................................................... 44

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expressa.
Pr. Anor Afonso Serio [2007]…Pág. 1 de 50
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SOTERIOLOGIA – A DOUTRINA DA SALVAÇÃO E DA ELEIÇÃO


De todas as doutrinas associadas a soteriologia, a mais polêmica é a doutrina da eleição.

A doutrina da eleição faz parte da fase preparatória da salvação, mas temos antes de estudar a
Graça de Deus.

I - GRAÇA COMUM

Graça comum é a graça de Deus pela qual ele dá às pessoas inumeráveis bênçãos que não
fazem parte da salvação.
Wayne Grudem

As Duas Graças em Cristo

Graça Comum Graça Salvífica

Não conduz à
A graça de Deus que
salvação. Ela é dada
conduz as pessoas à
igualmente a crentes
salvação.
e incrédulos.

Exemplos de Graça Comum

- O Domínio Físico

Os incrédulos continuam a viver neste mundo unicamente por causa da graça comum de Deus.

Gn 3.18; Mt 5.44-45; At 14.14-17; Sl 145.9; Sl 15-16; Rm 8.21-20

- O Domínio Intelectual

A graça comum de Deus no domínio intelectual é vista no fato de que todas as pessoas têm
algum conhecimento de Deus.

Jo 1.9; Rm 1.21; At 17.22-23

- O Domínio Moral

Deus também, por meio da graça comum, limita as pessoas para que não sejam tão más
quanto poderiam ser.
2Cr 24.17-25; Sl 81.12, Rm 1.24, 26, 28; Rm 2.14-15; Gl 3.11

- O Domínio Criativo

Deus tem permitido medidas significativas de talento nas áreas artísticas e musicais, atividades
atléticas, arte culinária, literatura e assim por diante.

- O Domínio Social

A graça de Deus também é evidente na existência de várias organizações e estruturas na


sociedade humana.

Gn 4.17, 19, 16; Rm 13.1

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- O Domínio Religioso

Até mesmo no domínio da religião humana, a graça comum de Deus produz algumas bênçãos
para pessoas incrédulas.

Mt 5.44; 1Tm 2.1-2; Lc 4.40; Sl 145.9, 15; Mt 7.22; Lc 6.35-36

As Razões da Graça Comum

- Por que é que Deus concede a graça comum a pecadores indignos?


o Para redimir os que serão salvos - 2Pe 3.9-10
o Para demonstrar a bondade e a misericórdia de Deus - Lc 6.35
o Para demonstrar a justiça de Deus - Rm 2.5, 3.19.
o Para demonstrar a glória de Deus.

Conseqüências da Doutrina da Graça Comum

1) A graça comum não significa que aqueles que a recebem serão salvos
Rm 5.10; Cl 1.21; Tg 4.4; Mt 12.30; Fp 3.18-19

2) Devemos ser cautelosos para não rejeitar as coisas boas que os incrédulos fazem como se
fossem totalmente más.

3) A doutrina da graça comum deve conduzir nosso coração a uma extrema gratidão a Deus.

II - A DOUTRINA DE ELEIÇÃO - UMA DOUTRINA POLÊMICA

Esta doutrina é conduzida por conceitos de preordenação, presciência, predestinação,


convocação, justificação e preservação. Todos estes conceitos são claramente retratados
na carta de Paulo aos Romanos:

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a
esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, à
vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8:28-31 RA)

Destacamos os 6 componentes da eleição que foram grifados no texto acima:

 Preordenação: “segundo o seu propósito"


 Presciência: "de antemão conheceu"
 Predestinação: “predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho".
 Convocação: "a esses também chamou"
 Justificação: "a esses também justificou"
 Preservação: “a esses também glorificou"

Admitindo a Polêmica

Algumas pessoas encontram grandes dificuldades em admitir a validade da opinião do outro.


Tem que ser do seu jeito ou não vai. A Bíblia revela várias verdades que aparentemente se
contradizem, mas, de fato, se complementam. Mais notáveis entre estas são o amor e a justiça
de Deus, ou, como Paulo retrata na carta aos romanos: a bondade e a severidade de Deus.

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"Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade;
mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; de outra sorte, também tu serás
cortado" (Rm 11:22).

Quem prefere pregar a bondade de Deus, precisa se informar acerca da Sua severidade. Quem
prefere pregar a severidade de Deus, precisa informar-se acerca da Sua bondade.

Quem é adepto da posição calvinista de eleição precisa informar-se acerca da posição


arminiana; quem é adepto da posição arminiana precisa informar-se acerca da posição
calvinista.

 Preordenação

Todos admitem que Deus faz tudo segundo a Sua vontade. Mas qual é essa vontade?

A polêmica aqui gira ao redor da ordem ou seqüência dos Decretos de Deus que vimos na
Doutrina de Deus. Lembramos que aquela doutrina é a nossa interpretação humana da
aparente política de Deus no mundo.
Também descrevemos estes decretos como sendo as regras do jogo. Das quatro posições1
principais a grande questão é se a salvação é providenciada para todos, todos aqueles que
crêem, ou apenas para alguns que Deus decidiu salvar.

 Presciência

Todos admitem que Deus sabe desde a eternidade quem será salvo. A polêmica é uma questão
de que tipo de ciência ou conhecimento está implicado: intelectual ou pessoal (de
relacionamento)2. Os calvinistas crêem que Deus relacionou-se com alguns desde a eternidade
enquanto os arminianistas crêem que Deus soube desde a eternidade quem iria responder
positivamente ao evangelho.

 Predestinação

Todos crêem na predestinação. A polêmica tem vários aspectos:

1) Se a predestinação é para salvação ou ministério

No Antigo Testamento tanto Israel como os profetas foram predestinados para serem os servos
do Senhor. No Novo Testamento a predestinação focaliza-se em questões soteriológicas.

2) Se a predestinação é de indivíduos ou nações

A Bíblia dá maior destaque à predestinação da nação de Israel, mas também fala da


predestinação de todas as nações. "Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações,
quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os limites dos povos, segundo o
número dos filhos de Israel” (Dt 32:8).

3) Se a predestinação é individual ou geral

1Supralapsarianista, Infralapsarianista, Sublapsarianista, e Arminianista. Lapsarianista quer dizer alguém


que crê na queda do homem. As variações nas posições do lapsarianismo (supra, infra e sub), tratam da
ordem da eleição de alguns para serem salvos, se antes, ou depois da criação.
2
Às vezes Mateus 7:23 é citado como evidência da posição do calvinismo: "Então, lhes direi
explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade". A interpretação é
que muitos crentes serão repudiados no dia de juízo porque não era a vontade de Deus salvá-los, mesmo
diante da expressa vontade do povo em questão que reconheciam o senhorio de Cristo, e operavam
milagres em Seu nome.

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João ou Maria foram predestinados para serem salvos, mesmo que não queiram? Ou, todos
aqueles que crêem foram predestinados para serem salvos?

4) Se a predestinação é dupla ou simples

A predestinação dupla ensina que uns foram predestinados para a vida eterna e ao mesmo
tempo outros foram predestinados para a perdição eterna. A predestinação simples ensina que
alguns foram misericordiosamente predestinados para a vida eterna e os demais foram
abandonados à justiça de Deus e ao castigo merecido de seus pecados.

 Convocação

Todos crêem que Deus chama o homem.

Há dois debates nesta questão:

1) Se a chamada é para salvação ou para serviço;

2) Se a chamada é resistível, ou irresistível.

 Justificação

Todos crêem na justificação pela fé.

A polêmica é se a fé é proveniente de uma resposta positiva por parte da pessoa, ou se é


apenas o dom soberanamente distribuído por Deus.

 Preservação

Todos crêem na preservação por Deus que faz parte da doutrina da perseverança dos santos. A
polêmica é se Deus garante a glorificação dos eleitos a despeito de qualquer coisa que fizerem,
ou se a glorificação depende da obediência individual.

III - A VISÃO ARMINIANA DA ELEIÇÃO E SALVAÇÃO

As raízes do arminianismo, dizem os teólogos, estão em Pelágio, que pregava um tipo de auto-
salvação, negava que o homem é depravado, e negava que Deus tem algum plano.

Jacobus Arminius (1560-1609), discípulo de Theodore Beza (1519-1605), sucessor de Calvino,


dedicou-se com afinco ao estudo das doutrinas calvinistas, a fim de combater mais eficazmente
as idéias pelagianas. Entretanto, o calvinista Armínio surpreendentemente chegou à conclusão
de que o calvinismo estava errado, e passou a defender a posição que vinha atacando!

Em 1610, após a morte de Armínio, seus seguidores produziram um Memorial constituído de 5


pontos fundamentais: o resumo do arminianismo. Armínio mesmo não deixou um sistema
doutrinário articulado. Segundo alguns, Simon Episcopius (1583-1643) foi quem sistematizou o
arminianismo, cuja teologia foi divulgada em seu livro Protesto (Remonstrance).

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Os 5 Pontos do Arminianismo (Memorial Arminiano)


Temos a seguir exposição resumida dos cinco pontos do memorial arminiano:

1. O Decreto divino de predestinação é condicional, não absoluto

Deus escolheu as pessoas para a salvação, antes da fundação do mundo, baseado em Sua
presciência. Ele previu quem aceitaria livremente a salvação, e predestinou os salvos. Não é
Deus somente quem escolhe o pecador. A salvação ocorre quando o pecador escolhe a Cristo
(sinergismo).

O pecador deve exercer sua própria fé, para crer em Cristo e salvar-se. Os que se perdem,
perdem-se por livre escolha: não quiseram crer em Cristo, rejeitaram a graça auxiliadora de
Deus.

Dt. 30:19; Jo 5:40; 8:24; Ef. 1:5, 6, 12; 2:10; Tg 1:14; 1 Pd. 1:2; Ap. 3:20; 22:17.

2. A expiação é universal

O sacrifício de Cristo torna possível a toda e qualquer pessoa salvar-se pela fé, mas não
assegura a salvação de ninguém. Só os que crêem nEle, e todos quantos crêem serão salvos.

Jo 3:16; 12:32; 17:21; 1 Jo 2:2; 1 Co. 15:22; 1 Tm. 2:3, 4; Hb. 2:9; 2 Pd. 3:9; 1 Jo 2:2.

3. Livre-arbítrio, ou capacidade humana

Embora a queda de Adão tenha afetado seriamente a natureza humana, as pessoas não ficaram
num estado de total incapacidade espiritual.

Todo pecador pode arrepender-se e crer, por livre-arbítrio, cujo uso determinará seu destino
eterno. O pecador precisa da ajuda do Espírito Santo, e só é regenerado depois de crer, porque
o exercício da fé é a participação humana no novo nascimento.

Is. 55:7; Mt. 25:41, 46; Mc. 9:47, 48; Rm. 14:10, 12; 2 Co. 5:10.

4. O pecador pode eficazmente rejeitar a graça

Deus faz tudo que pode para salvar os pecadores. Estes, porém, sendo livres, podem resistir
aos apelos da graça. Se o pecador não reagir positivamente, o Espírito não lhe pode
conceder vida. Portanto, a graça de Deus não é infalível nem irresistível. O homem pode
frustrar a vontade de Deus para sua salvação.

Lc. 18:23; 19:41, 42; Ef. 4:30; 1 Ts. 5:19.

5. Os crentes, regenerados pelo Espírito, podem cair da graça e perder-se eternamente

Embora o pecador tenha exercido fé, crido em Cristo e nascido de novo para crescer na
santificação, ele poderá cair da graça. Só quem perseverar até o fim é que será salvo.

Lc. 21:36; Gl. 5:4; Hb. 6:6; 10:26, 27; 2 Pd. 2:20-22.

IV - A VISÃO CALVINISTA DA ELEIÇÃO E SALVAÇÃO

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O Calvinismo é o sistema teológico das Igrejas Reformadas, cuja expressão doutrinária oficial é
a Confissão de Fé de Westminster, redigida por determinação do parlamento inglês. Os
trabalhos tomaram cinco anos e meio, terminando em 1648, deles participando 120 ministros
ou teólogos, 11 "lords”, 20 "comuns" (alguns eram das universidades de Oxford e Cambridge) e
7 delegados da Escócia.

Mas foi o Sínodo de Dort, em Dortrecht, na Holanda, reunido em 1618-1619, que teve o
objetivo precípuo de contra-atacar o arminianismo.

Foi ali que surgiram os "cinco pontos do calvinismo", em resposta aos cinco pontos do Memorial
Arminiano. A ordem desses pontos difere: no documento de Dort, o ponto número 1 responde
ao ponto número 3, do memorial arminiano; o número 2 responde ao número 1; o número 3,
ao número 2; o número 4, ao número 4, e o número 5, ao número 5.

Os 5 Pontos do Calvinismo

Eis a resposta calvinista ao memorial arminiano:

1. Total depravação

O homem natural não pode apreciar sequer as coisas de Deus. Menos ainda salvar-se. Ele é
cego, surdo, mudo, impotente, leproso espiritual, morto em seu pecado, insensível à graça
comum. Se Deus não tomar a iniciativa, infundindo-lhe fé salvadora, e fazendo-o ressuscitar
espiritualmente, o homem natural continuará morto eternamente.

Sl. 51:5; Jr. 13:23; Rm. 3:10-12; 7:18; 1 Co. 2:14; Ef. 1:3, 12; Cl. 2:11-13.

2. Eleição incondicional

Deus elegeu alguns para a salvação em Cristo, reprovando os demais. Deus não tem obrigação
de salvar ninguém, nem homens nem anjos decaídos. Resolveu soberanamente salvar alguns
homens (reprovando todos os demais) e torná-los filhos adotivos quando eram ainda filhos das
trevas. Teve misericórdia de algumas criaturas, e deixou as demais (inclusive os demônios)
entregues às suas próprias paixões pecaminosas.

A salvação é efetuada exclusivamente por Deus (monergismo). A fé, como a salvação, é dom
de Deus ao homem, não do homem a Deus.

Ml. 1:2, 3; Jo 6:65; 13:18; 15:6; 17:9; At. 13:48; Rm. 8:29, 30-33; 9:16; 11:5-7; Ef. 1:4, 5;
2:8-10; 2 Ts. 2:13; 1 Pd. 2:8, 9; Jd. 1, 4.

3. Expiação limitada, ou particular

Segundo Agostinho, a Graça de Deus é "suficiente para todos, eficiente para os eleitos". Cristo
foi sacrificado para redimir Seu povo, não para tentar redimi-lo. Ele abriu a porta da salvação
para todos, porém, só os eleitos querem entrar, e efetivamente entram.

Jo 17:6, 9, 10; At. 20:28;Ef. 5:25; Tt 3:5.

4. Graça irresistível, ou infalível

Embora os homens possam resistir à graça de Deus, ela é, todavia, infalível: acaba
convencendo o pecador de seu estado depravado, convertendo-o, dando-lhe nova vida, e
santificando-o. O Espírito Santo realiza isto sem coação. É como o rapaz apaixonado que ganha
o amor de sua eleita, e ela acaba casando-se com ele, livremente.

Deus age e o crente reage, livremente. Quem se perde tem consciência de que está livremente
rejeitando a salvação. Alguns escarnecem de Deus, outros se enfurecem, outros adiam a
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decisão, outros demonstram total indiferença para com as coisas sagradas. Todos, porém,
agem livremente.

Jr. 3:3; 5:24; 24:7; Ez. 11:19, 20; 36:26, 27; 1 Co. 4:7; 2 Co. 5:17; Ef. 1:19, 20; Cl. 2:13;
Heb. 12:2.

1. Perseverança dos salvos

Alguns preferem dizer "perseverança do Salvador". Nada há no homem que o habilite a


perseverar na obediência e fidelidade ao Senhor.

O Espírito é quem persevera pacientemente, exercendo misericórdia e disciplina, na condução


do crente. Quando ímpio, estava morto em seu pecado, e ressuscitou: Cristo lhe aplicou Seu
sangue remidor, e a graça salvífica de Deus infundiu-lhe fé para crer em Cristo e obedecer a
Deus.

Se todo o processo de salvação é obra de Deus, o homem não pode perdê-la. Segundo a Bíblia,
é impossível que o crente regenerado venha a perder sua salvação. Poderá pecar e morrer
fisicamente (1 Co. 5:1-5). Os apóstatas nunca nasceram de novo, jamais se converteram.

Is. 54:10; Jo 6:51; Rm. 5:8-10; 8:28, 32, 34-39; 11:29; Fl. 1:6; 2 Ts. 3:3; Heb. 7:25.

Definição de Eleição no Calvinismo

Eleição é um ato de Deus, antes da criação, no qual ele escolhe algumas pessoas para serem
salvas, não por causa de algum mérito antevisto delas, mas somente por causa de sua suprema
boa vontade. Wayne Grudem

A Doutrina da Eleição no Novo Testamento

- Como o Novo Testamento trata da doutrina da eleição?

Como um consolo - Rm 8.28


Como uma razão para louvar a Deus - Ef 1.5-6; 1Ts 1.2; 1 Ts 4.2
Como um incentivo à evangelização - 2Tm 2.10

Equívocos da Visão Arminiana em Relação à Doutrina da Eleição

A Eleição não é:

o Fatalista - Sistema no qual as escolhas e decisões humanas não fazem diferença


alguma.
Resposta Bíblica: Jo 3.18; At 18.9-10; Rm 10.14, 17; 1Ts 1.4-5; 2Tm 2.10
o Mecanicista - Sistema impessoal, no qual todas as coisas que acontecem foram
determinadas por uma força impessoal.
Resposta Bíblica : Ef 1.5; Ez 33.11; Mt 11.28; Ap 22.17; Jo 5.40

Conclusão da Visão Calvinista

A eleição é a escolha soberana de Deus – ele “nos predestinou para ele, para a adoção de
filhos” (Ef 1.5).

Deus nos escolheu simplesmente porque decidiu derramar seu amor sobre nós – não porque
anteviu em nós alguma fé ou mérito. Wayne Grudem
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Objeções à Visão Calvinista da Doutrina da Eleição

1) A eleição significa que não temos a opção de aceitar Cristo.


Resposta: A doutrina da eleição é totalmente capaz de abrigar a idéia de que temos uma
escolha voluntária e tomamos decisões espontâneas ao aceitar ou rejeitar Cristo.

2) Com base na doutrina de eleição, nossas escolhas não são escolhas reais.
Resposta: Se Deus nos faz de determinada maneira e nos diz que nossas escolhas
voluntárias são escolhas reais e genuínas, então temos de concordar que são.

3) A doutrina da eleição faz com que sejamos marionetes ou robôs, não pessoas reais.
Resposta: Deus nos criou, e, portanto, devemos reconhecer que é ele quem define o que é a
genuína pessoalidade.

4) Da doutrina da eleição decorre que os incrédulos jamais têm a chance de crer.


Resposta: Em primeiro lugar, quando as pessoas rejeitavam a Jesus, ele sempre lhes
atribuía a responsabilidade pela escolha deliberada de rejeitá-lo, e não em algum decreto de
Deus Pai (Jo 8.43,44; Mt 23.37; Jo 5.40; Rm 1.20). Em segundo lugar, a resposta a esta
questão já foi dada por Paulo: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!
Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).
Outro bom texto encontra-se em Jó 40.1-9 (interessante seria ler todo o discurso que Deus
faz para Jó).

5) A eleição é injusta.
Resposta: Primeiro, devemos lembrar-nos de que seria perfeitamente justo que Deus não
salvasse ninguém, exatamente como fez com os anjos. Segundo, não seria justo que Deus
criasse algumas pessoas, as quais, ele sabia, pecariam e seriam condenadas eternamente, e
às quais ele não redimiria.

6) A Bíblia diz que Deus deseja salvar todo mundo.


Resposta: Esses versículos falam da vontade revelada de Deus (declarando o que nós
devemos fazer), e não de sua vontade secreta (seus planos eternos sobre o que irá
ocorrer).

A Doutrina da Reprovação

Reprovação é a decisão soberana de Deus, antes da criação, de não levar em conta algumas
pessoas, decidindo em tristeza não salvá-las e puni-las por seus pecados, manifestando por
meio disto sua justiça. Wayne Grudem
Jd 4; Rm 9.17-22; 1Pe 2.8; Mt 11.25-26; Ef 1.3-6; 1Pe 1.1-3; Ez 33.11

A Aplicação Prática da Doutrina da Eleição

- A doutrina da eleição responde que sou cristão só porque Deus na eternidade passada decidiu
aplicar seu amor sobre mim.
- A doutrina da eleição confere-nos humildade diante de Deus para pensar dessa forma. Faz-
nos perceber que não temos direito algum à graça de Deus.

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V - Quadro Sinótico

Memorial Arminiano

VERSUS

Cinco Pontos do Calvinismo


(Análise a partir do Memorial Arminiano)
5 Pontos do Arminianismo 5 Pontos do Calvinismo
(Memorial Arminiano)
1. Deus predestinou a quem Ele previu que aceitaria 2. Deus predestinou as pessoas para aceitarem a
a Cristo. A predestinação de Deus depende da Cristo. A aceitação de Cristo pelo pecador depende da
aceitação de Cristo pelo pecador, mediante o livre- predestinação de Deus. A graça infunde fé salvadora e
arbítrio, bastando-lhe crer. nova vida, para que o pecador possa crer.

2. A expiação é universal. Cristo morreu por todos 3. A expiação é limitada, ou particular, "suficiente para
os homens, salvos e perdidos, mas Seu sangue não todos, eficiente para os eleitos". Cristo morreu para
assegura a salvação de ninguém, se não houver redimir Sua Igreja. O convite é universal. A aceitação é
aceitação pessoal. limitada.

3. O homem tem livre-arbítrio. É capaz de responder 1. O homem natural está morto espiritualmente, sendo
aos apelos do Espírito. Não é tão depravado que não incapaz de voltar-se para Deus. O pecador só tem livre-
seja capaz de decidir livre e conscientemente a arbítrio para o mal. Não consegue discernir as coisas de
aceitação ou a rejeição da graça divina. Deus. Se Deus não o ressuscitar, continuará morto.

4. O pecador pode rejeitar definitiva e eficazmente 4. A graça de Deus é infalível. Embora o pecador
os apelos do Espírito, por ser livre. O Espírito nada possa resistir o Espírito, entristecê-lo e extingui-lo, a obra
pode fazer se o pecador insistir na rejeição da graça. completa será feita nos eleitos. Deus regenera, santifica
O pecador pode frustrar os planos de Deus para sua e glorifica o crente, sem violentar-lhe a vontade livre.
salvação.

5. Os crentes regenerados pelo Espírito não estão 5. Os salvos não perdem a salvação. A perseverança
livres de cair da graça e perder-se eternamente. é do Salvador. Os apóstatas jamais nasceram de novo.

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VI - CALVINISMO EXTREMADO X ARMINIANISMO EXTREMADO

A Bíblia é um livro equilibrado e posições extremadas desafinam em relação às Escrituras,


porque tanto a soberania de Deus quanto a livre escolha humana são verdades que coexistem
simultaneamente.

O Calvinismo extremado

O termo calvinismo extremado é aplicado à posição teológica que, direta ou indiretamente,


nega a responsabilidade humana.

O termo hipercalvinismo é usado para designar uma idéia mais radical ainda, que é a dupla
predestinação, também chamada de supralapsarismo. É a crença de que Deus pré-destina os
eleitos para céu e os não eleitos para o inferno, independente da escolha humana.

Para o calvinismo extremado a livre escolha humana significa fazer o que desejamos e que
apenas os bons desejos são dados por Deus, e os maus são frutos da natureza pecaminosa do
homem.

Mas por que nem Lúcifer nem Adão tinham natureza má antes de pecarem e mesmo assim
pecaram? A grande pergunta é: quem fez o Diabo pecar? Se a livre escolha é fruto do desejo e
se todos os desejos vêm de Deus, a conclusão a que se chega é: Deus fez Lúcifer pecar contra
Deus.

Todavia, o profeta Habacuque, falando sobre Deus, garante: "teus olhos são tão puros que não
suportam ver o mal, e que não podes tolerar a maldade" - Hc 1.13. Tiago afirma que “Deus não
pode ser tentado e a ninguém tenta” (Tg 1.13).

Portanto, a posição calvinista radical deve ser rejeitada porque é extremamente contraditória
em si mesma.

O Arminianismo extremado

Algumas idéias citadas aqui como "arminianismo extremado" são também denominadas pelos
estudiosos de "pelagianismo" ou "teologia do processo".

Derivaram do arminianismo extremado a teologia heterodoxa denominada teologia relacional,


teísmo aberto ou neo-teísmo, que nega os atributos de Deus reconhecidos pela teologia cristã
dos últimos 2000 anos como Sua Soberania, Onipotência, Onisciência, Presciência e
Eternidade.

O argumento dos arminianos extremados, negando que Deus conhece as ações livres e futuras
do homem não pode ser aceito porque é contrário às Escrituras. Observe, a Bíblia afirma que
Deus conhece todas as coisas.

No livro do profeta Isaías, Deus afirma que conhece o fim desde o começo (Is 46.10). Contudo,
isso não significa que Ele tenha destinado de antemão uns à salvação e outros à perdição. A
predestinação está relacionada com o plano redentor idealizado por Deus, o qual se estende a
todos os seres humanos que crerem no Senhor Jesus (Jo 3.16).

Em Salmos tem-se a afirmação de que Deus conhece os verdadeiros segredos do coração


humano (Sl 139.1-6). Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele a quem
havemos de prestar contas (Hb 4.13).

Deus sabia desde a eternidade que nosso Senhor morreria por nossos pecados (1Pe 1.18-20,
Ap 13.8). Contudo, este ato envolveu a livre escolha de Jesus (Jo 10.17,18).

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Logo, se a afirmação dos arminianos extremados estivesse correta, isso não seria possível?

Sempre existiu e existirá uma tendência incurável para dois extremos: os que enfatizam a
soberania de Deus e anulam a liberdade de escolha humana; e os que enaltecem a livre escolha
humana a ponto de limitar os atributos de Deus, em especial a Onipotência, Presciência e a
Soberania.

Tanto o calvinismo extremado e o arminianismo extremado são posições que devem ser
evitadas, pois ambos são extremos desnecessários e como tais acarretam perigos teológicos
que contrariam a verdade bíblica.

UMA DOUTRINA POSITIVA

Se a doutrina de eleição é polêmica, ela é também uma doutrina positiva.

Notemos o prefácio e posfácio da doutrina de Paulo: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).
“Que diremos, pois, á vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8:31)

Não importa qual a sua orientação teológica3, todos os cristãos se abrigam das intempestividades da
vida, debaixo do teto da soberania do Altíssimo. Todos acreditam que Ele rege todas as cosias
beneficamente para aqueles que amam a Deus e são chamados segundo o Seu propósito.

Não é diferente quando se trata do posfácio de Romanos 8:31: "Que diremos, pois, à vista destas
coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?".

Devida à ênfase que alguns teólogos dão à eleição, seria natural que algumas pessoas se focalizassem
na palavra "se": "se Deus é por nós". Senão a frase torna-se veículo de dúvida e o leitor pergunta:
"será que Deus é por mim?". No entanto, lido no contexto geral e específico da epístola, a palavra "se"
não inspira dúvida, e sim certeza! O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que
crê; ainda que sejamos pecadores Cristo morreu por nós; onde abundou o pecado, superabundou a
graça; não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus! A palavra "se'; de fato tem o
valor de ”desde que". Portanto, lemos: "desde que Deus é por nós - quem será contra nós?".

A conclusão do capítulo 8 reforça a natureza positiva da doutrina de eleição afirmando a invencibilidade


dos cristãos, em Cristo:

“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”. Porque
eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
coisas do presente, nem as do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor“. (Rm 8:38-39).

DEMONSTRADA PELA INTERFACE DE AMOR

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito" (Rm 8:28).

3 Por orientação teológica entendemos a estrutura teológica predomina em sua interpretação das
escrituras. As duas orientações principais são o Calvinismo (que destaca a soberania de Deus) e o
Arminianismo (que destaca a soberania do homem).

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“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou" (Rm
8:37).

Infelizmente, em muitos casos a doutrina de eleição tem sido desvinculada de seu maior referencial: o
amor. Ao contrário, a ênfase tem sido a justiça e soberania de Deus.

No intuito do equilíbrio bíblico, estudemos o papel do amor na eleição.

O primeiro texto (Rm 8:28) destaca o amor para Deus, enquanto o segundo (Rm 8:37) destaca o
amor de Deus. Tudo indica que os expoentes de uma eleição incondicional não perceberam uma óbvia
contradição no seu argumento.

Para ser coerente com esse entendimento, Romanos 8:28 deveria dizer que "todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que são amados por Deus". Isto porque, segundo eles mesmos afirmam, TUDO
provém de Deus.

Contudo, o texto de eleição começa com o referencial do amor para Deus: "todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus”.Em outras palavras, há uma providência especial para
aqueles que são recíprocos com Deus, que respondem à Sua oferta de salvação.

O segundo texto (Rm 8:37), destaca o amor de Deus que opera a favor dos eleitos: “Em todas estas
coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou". Somos "mais que
vencedores" porque fomos amados. Se a revelação de Deus ao apóstolo Paulo se limitava ao favor
imerecido, este amor divino teria sido destacado em Romanos 8:28.

O que descobrimos é que, mais uma vez, a verdade bíblica sobrevive em meio à tensão. De um lado
nos empurra à soberania de Deus, do outro à responsabilidade humana.

Quem abraça apenas a soberania de Deus descansa na passividade; quem abraça somente a
responsabilidade humana levanta-se na agressividade: "Mas, os que esperam no SENHOR renovam as
suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam" (Is
40:31).

UMA DOUTRINA PRAGMÁTICA

Verbete: pragmatisrno4

Doutrina segundo a qual a verdade duma proposição é uma relação totalmente interior à experiência
humana, e o conhecimento é um instrumento a serviço da ação, tendo o pensamento caráter
puramente finalístico: a verdade de uma proposição consiste no fato de que ela seja útil, tenha alguma
espécie de êxito ou de satisfação.

“E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato,
israelitas”. (Romanos 9:6)

A parte final do tópico anterior sobre eleição observa o desenrolar prático desta doutrina. Se a teologia
não é vivenciada ela se torna contraprodutiva. A doutrina de eleição nos conduz para a história do povo
de Israel em Romanos 9-11. Lá descobrimos que:

 Israel foi eleito para receber os privilégios de "adoção e também a glória, as alianças, a
legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo,
segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!" (Rm 9:4-5).

4
Dicionário Aurélio, Editora Nova Fronteira, 1996
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 A eleição não sobrepujou a sua vontade como nação. Israel não correspondeu à sua eleição.
"Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente"
(Rm 10:21).
 Apenas um remanescente aproveitará as bênçãos de eleição. "Assim, pois, também agora, no
tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça" (Rm 11:5).
 A eleição não é uma garantia incondicional de salvação. "Considerai, pois, a bondade e a
severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de
Deus, se nela permaneceres; de outra sorte, também tu serás cortado" (Rm 11:22).

CONCLUSÃO SOBRE A DOUTRINA DA ELEIÇÃO

Vimos que a doutrina de eleição é uma doutrina controvertida e que gera muita polêmica. A existência
desta polêmica deve alertar-nos para o fato de que existe mais que um lado desta questão.

No tocante à predestinação destacamos quatro áreas de fértil discussão para seu estudo se quiser levar
adiante o assunto. Observamos que a doutrina é bastante pastoral e vem conduzida pelo amor, a mais
nobre das virtudes. Como prefácio Paulo destaca o amor para com Deus. Como posfácio ele destaca
que fomos amados por Deus. Concluímos observando acima quatro fatos importantes acerca da eleição
de Israel.

O que a Bíblia diz sobre a eleição para a salvação?

Segundo a Palavra de Deus, tal escolha foi, primeiramente, coletiva. Deus elegeu em Cristo o seu povo
(Ef 1.4,5; 1 Pe 2.9). Daí Jesus ter dito: “... edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Isso significa que o Corpo de Cristo foi escolhido antes da fundação
do mundo.

Não houve eleição de alguns indivíduos para a salvação e de outros para a perdição, partindo de um
analise das posições arminiana e calvinista sob o ponto de vista bíblico equilibrado com base na
exposição do que está escrito na Bíblia Sagrada, à luz do contexto.

Então não existe eleição individual?

O plano de salvação abrange todos os indivíduos que vão sendo incluídos na Igreja por meio da fé na
obra de Cristo, como lemos em Atos 2.47: “... acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo
salvos”. A Igreja, como Corpo de Cristo, já foi eleita, porém ainda há lugar para a entrada de mais
indivíduos nesse Corpo: “... quem quiser tome de graça da água da vida” (Ap 22.17).

Jesus enfatizou que a eleição individual ocorre, mas para quem aceita o seu chamamento geral para a
salvação (Mt 11.28-30). Ao afirmar que “... muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”, Ele revelou
que, das multidões que ouvem o evangelho, apenas uma parte o segue (Mt 22.14).

De acordo com Ef 1.5, o Senhor “... nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”. No entanto, quando os indivíduos se tornam
efetivamente filhos de Deus e parte integrante do povo eleito?

A resposta está em João 1.12: “... a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus: aos que crêem no seu nome”.

A Palavra de Deus menciona também uma eleição individual para o ministério. Ela nada tem que ver
com a eleição geral para a salvação.
Paulo afirmou que Deus o separou desde o ventre de sua mãe e o chamou pela sua graça (Gl 1.15). O
mesmo aconteceu com Davi (Sl 22.10), Jeremias (1.5), Isaías (49.1) e João Batista (Lc 1.15). Contudo,
essa escolha soberana do Senhor para o santo ministério não interfere em seu desejo de salvar a todos
os seres humanos (1 Tm 2.4).

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Essa eleição individual também não exclui o livre-arbítrio, uma vez que os homens de Deus
mencionados podiam desobedecer à chamada divina. Paulo deixou claro isso ao contar o testemunho
de sua conversão ao rei Agripa: “E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava e, em
língua hebraica, dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? (...) Pelo que, ó rei Agripa, não fui
desobediente à visão celestial” (At 26.14-19). E se o apóstolo tivesse desobedecido à visão?

Em Romanos 8.29,30, está escrito que Deus predestinou para a salvação aqueles que conheceu por
antecipação. Mas, que o Senhor não conheceu antes da fundação do mundo? Todos nós fomos
conhecidos quando ainda éramos pecadores (Rm 5.8). E, como veremos, à luz das Escrituras Ele
predestinou, em Cristo, toda a humanidade para a salvação (Rm 11.32; 6.23; 2 Pe 3.9). O Senhor não
se vale de sua presciência para salvar ou condenar alguém. Ele sabia que Judas era “um diabo”;
mesmo assim, investiu nele e chamou-o para fazer parte dos doze apóstolos (Jo 6.70).

Por sua presciência, Deus conhece os que o rejeitarão, e mesmo assim, não interfere, uma vez que
dotou o ser humano de livre-arbítrio; Ele não viola esse princípio. Embora essa faculdade esteja
grandemente prejudicada pelos efeitos terríveis do pecado, o homem tem a capacidade de escolher
entre o bem e o mal. Ele não é um ser autômato, um robô, um fantoche, mas um ser responsável por
seus atos.

Existe livre-arbítrio?

Os seguidores do calvinismo extremista, com base em um evangelho centrado mais nas ilações
teológicas do que no evangelho bíblico, afirmam que o livre-arbítrio ficou praticamente sem efeito
depois da entrada do pecado no mundo. Contudo, A Bíblia Sagrada mostra que Deus, em todas as
épocas, antes e depois da entrada do pecado no mundo, respeitou as decisões humanas.

Nos dias de Moisés, Josué e Elias (muito tempo depois da Queda), vemos como Deus desejava que os
homens fizessem escolhas: “... te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe,
pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”; “... escolhei hoje a quem sirvais...”; “Até quando
coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o” (Dt 30.19; Js
24.15; 1 Rs 18.21).

Em Is 1.18, Deus convidou os pecadores a argüi-lo, a fim de que recebessem o perdão de seus mais
terríveis pecados, porém deixou claro que respeitaria as suas decisões: “Se quiserdes, e ouvirdes,
comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a
boca do Senhor o disse” (Is 1.19,20).

O salmista escolheu o caminho da verdade (Sl 119.30) e, sem duvidar, teve segurança para fazer este
pedido a Deus: “Venha a tua mão socorrer-me, pois escolhi os teus preceitos” (v. 173).

Em Apocalipse 22.17, no último livro da Bíblia, a água da vida não é oferecida a alguns eleitos para a
salvação. Jesus a oferece a quem tem sede e quer tomá-la de graça! Porém, o Senhor se importa com
aqueles que invocam o seu nome (At 2.21). Conseqüentemente, Pedro, ao pregar a Palavra de Cristo
na casa de Cornélio, afirmou: “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele
crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10.43)

MEDITAÇÃO FINAL

Como meditação final saiba que:

 Os eleitos de Deus serão tentados, mas não serão enganados por falsos milagres: “porque
surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se
possível, os próprios eleitos" (Mt 24:24).
 Deus não recebe acusações contra Seus eleitos: "Quem intentará acusação contra os eleitos de
Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8:33).

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 Os eleitos não andam nus: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de
ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade" (Cl
3:12).
 O obreiro deve estar disposto a sofrer por causa dos eleitos: "Por esta razão, tudo suporto por
causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com
eterna glória" (II Tm 2:10).
 Somos eleitos: "segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo" (I Pe 1:2).
 Com Cristo, os eleitos vencerão o inimigo: "Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os
vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos
e fiéis que se acham com ele" (Ap 17:14).

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VII - A NATUREZA DA SALVAÇÃO


Não é suficiente conhecermos a Cristo como nosso Salvador precisamos também
reconhecer qual a grandeza da Sua obra em nós. O autor aos Hebreus escreveu: "como
escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?" Partindo do fato de que os efésios
já conheceram a Cristo, o apóstolo Paulo não cessava de pedir uma iluminação de seu
entendimento para que pudessem saber:
 qual é a esperança do seu chamamento;
 qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e
 qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força
do seu poder (Ef 1:18-19 ).
Iremos analisar e denunciar dois grandes equívocos associados à questão da salvação.
O primeiro é associado à ignorância da cronologia da morte de Cristo; o segundo ao
propósito do sistema sacrificial do Antigo Testamento. Depois trataremos de dois grandes
livramentos, expondo a verdade fundamental da salvação: Livramento da ira de Deus, e
Livramento do Reino das Trevas. A terceira parte tratará de dois grandes problemas ligados à vida
cristã: o legalismo e o antinomianismo.

DOIS GRANDES EQUÍVOCOS

1) Jesus não Morreu no Dia da Expiação dos Pecados (Yom Kippur)


A maioria dos cristãos sabe que uma das verdades centrais do Evangelho é "que Cristo morreu
pelos nossos pecados, segundo as Escrituras" (I Co 15:3), no entanto poucos perceberam a
importância da hora da Sua morte. Não resta dúvida de que Jesus coordenou a mesma para
que acontecesse no lugar e tempo certos: Jerusalém, no momento da páscoa.
"Importa, contudo, caminhar hoje, amanhã e depois, porque não se espera que um profeta morra
fora de Jerusalém" (Lc 13:33).

"Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo
para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13:1).

Mais que os outros evangelistas, o apóstolo João percebeu a plena consciência que Jesus tinha
do tempo.
O pedido da sua mãe em Canaã da Galiléia foi julgado fora de tempo: "Mulher, que tenho eu
contigo? Ainda não é chegada a minha hora" (Jo 2:4). Ele recusou-se a ir à festa em Jerusalém
com seus irmãos, dizendo: "meu tempo ainda não está cumprido" (Jo 7:8).
Mais tarde Ele foi à festa, mas Deus não permitiu que Seus inimigos o prendessem porque
"ainda não era chegada a sua hora" (Jo 7:30). Contudo, finalmente Jesus disse a Seus discípulos:
"É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem" (Jo 12:23).

No atestado de óbito duas informações são de grande importância: a causa e o tempo da


morte. Muitos cristãos nunca perceberam o significado da hora da morte de Jesus. Ela não
aconteceu no dia da expiação, mas sim precisamente coordenada com a festa da páscoa:
"Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para
o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13:1).

Que Diferença faz a Cronologia da Morte de Jesus?


Há duas maneiras de responder a esta pergunta. A primeira, mais simples, seria medir a
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distância de dias que separam uma festa da outra. A segunda seria esclarecer a distância
teológica que afasta as duas.

• Quantos Meses Separam as Festas de Expiação da Páscoa?


Uma simples averiguação do calendário judaico lança enorme luz sobre os fatos. O dia de
Expiação acontece no mês de outubro e a festa da páscoa seis meses mais tarde, no mês de
abril.
É interessante observarmos que segundo Êxodo, capítulo 12, a páscoa marcava o início do
ano novo, e uma vida nova para os israelitas: "Disse o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do
Egito: Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano" (Ex 12:1-2).
Mais tarde o calendário judaico foi mudado em prol de um calendário civil agrícola e o ano
novo passou a ser celebrado depois do dia da expiação.

• Qual a Ênfase Teológica das Duas Festas?


A ênfase teológica das duas festas é completamente distinta. A páscoa destaca a libertação da
situação escravizante do povo de Deus dentro do Egito. O dia da expiação enfatiza o perdão
para a situação imperfeita da consagração do povo de Deus já liberto do Egito. Apesar
de todas as suas tentativas de conformidade à lei de Deus, nem mesmo o povo de Deus
alcança por completo o altíssimo padrão de Deus.

Em outras palavras, a páscoa realça a libertação do povo de Deus do reino das trevas e do
poder do pecado, enquanto o dia de expiação realça a remissão dos pecados cometidos como
povo de Deus.

Veja quão grande é a diferença entre as mensagens das duas festas. De propósito, Jesus
coordenou a hora da sua morte para destacar a libertação de Seu povo do reino das
trevas e do poder do pecado. Uma mensagem tão grande escondida dentro de um
calendário judaico. Eis a importância dos estudos do Antigo Testamento. Vale a pena dizer
que por falta de conhecimento técnico, a teologia de muita gente está seis meses fora de
uma sincronização bíblica.

O Propósito do Sistema Sacrificial

Passamos agora para o segundo equívoco que mencionamos: um conceito errado do


propósito do sistema sacrificial no Antigo Testamento. Este sistema, proposto por Deus
não visava à obtenção de salvação para Seu povo. Visava, sim, à manutenção de uma
salvação já providenciada ou realizada. A. B. Davidson explica que os sacrifícios:

“Não foram oferecidos para alcançar a sua graça, mas para retê-la, ou para evitar que a
comunhão existente entre Deus e seu povo fosse interrompida ou terminada pelas
imperfeições ainda inevitáveis do seu povo, quer seja de indivíduos, quer seja do povo
inteiro.”5

As implicações deste fato são suficientes para causar um terremoto na maior parte do
cristianismo. Torna-se claro que:

5
The Theology of the Old Testament, 316. Citado por A R. Crabtree. Teologia do velho
Testamento.3a ed. Rio de Janeiro: JUERP (1980), 196.

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 precisamos distinguir a salvação do perdão de pecados.


 o perdão de pecados visa à manutenção da salvação, ou seja, o bom
relacionamento entre Deus e Seu povo.
 o perdão de pecados pertence apenas ao povo de Deus, portanto não está
disponível a ninguém que não esteja em um relacionamento correto com Deus por
meio de Jesus Cristo.

Se os dois equívocos de que tratamos fossem apenas uma questão de terminologia,


poderiam ser deixados para as polêmicas da academia teológica, mas este não é o caso.
Os erros revelam uma falha estrutural na pregação do Evangelho e produzem uma
conversão superficial e uma vida cristã anêmica.

Quem recebe um evangelho equivocado é programado para descansar espiritualmente,


seguro do fato de que está livre para pecar porque Deus sempre perdoa os seus pecados.
Destarte, a Igreja, na sua maior parte, acaba tornando-se nominalmente cristã, e
profundamente pagã. Dificilmente nossos pastores não constataram esta realidade de
crentes acomodados com o pecado.

Não quero sugerir que o perdão de pecados não faça parte do Evangelho, mas quero
enfatizar que Cristo nos livrou do poder do pecado. Não devemos permanecer no pecado
para que a graça de Deus abunde.
"Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o
princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo" (I Jo
3:8).

2) Dois Grandes Livramentos

Fundamentalmente a idéia de salvação é livramento, libertação. O termo nasce no tempo


e no espaço e não é primordialmente um conceito espiritual. Noé é salvo do dilúvio, Ló do
fogo e enxofre de Sodoma, e o povo de Deus da escravidão no Egito.

O êxodo torna-se o padrão da obra salvífica de Deus e a páscoa seu memorial. Por este
motivo, Jesus coordenou a Sua morte para coincidir com isso. Quando Moisés e Elias
apareceram no monte de transfiguração, foi para discutir com Jesus o êxodo que Ele havia
de cumprir em Jerusalém:

“E aconteceu que, enquanto ele orava, a aparência do seu rosto se transfigurou e suas
vestes resplandeceram de brancura. Eis que dois varões falavam com ele: Moisés e Elias,
os quais apareceram em glória e falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em
Jerusalém.” (Lc 9:29-31).

Por trás da palavra "partida" está escondido o grego "êxodo", e embutido na palavra
"êxodo" está todo o conceito teológico da obra de Jesus. Vislumbramos Moisés liderando o
povo na sua saída da escravidão no Egito. Avistamos Elias preparando o sacrifício e fogo
descendo do céu. Mais tarde veremos que a cruz de Cristo toma o lugar da vara de Moisés
e devora toda a manifestação maléfica em Judas.

A saída de Moisés sinaliza a hora do povo entrar na terra prometida. A saída de Elias
sinaliza a chegada de Eliseu, que fará duas vezes mais de milagres do que Elias. Jesus
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disse "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as
obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai" (Jo 14:12).

Jesus veio como Libertador do povo de Deus, e efetuou dois grandes livramentos:

a) Da Ira de Deus

Segundo a Bíblia, somos salvos da ira de Deus: "Logo, muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rm 5:9). Mais uma vez
estamos de volta à importância fundamental do sangue do cordeiro pascal como meio de
evitar a ira de Deus. Lembre-se de que em qualquer tratamento da salvação, somos antes
criminosos que vítimas!

Atendendo à advertência de Deus, os israelitas aplicaram o sangue do cordeiro pascal aos


umbrais da porta das suas casas e assim escaparam da ira de Deus. Percebemos que Deus
havia de libertar Seu povo da escravidão, mas ai da pessoa que não aceitava ser liberta!
"Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa
expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários" (Hb
10:26-27).

b) Do Reino das Trevas

O segundo6 grande livramento do povo de Deus é seu livramento do reino das trevas.
Deus havia prometido aos israelitas: "Eu sou o SENHOR, e vos tirarei de debaixo das
cargas do Egito, e vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e
com grandes manifestações de julgamento" (Ex 6:6). Eles não foram apenas libertos da
escravidão no Egito, foram libertos do próprio império egípcio!

Eis o retrato da nossa salvação: "Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou
para o reino do Filho do seu amor" (Cl 1:13).

O Faraó tentou em vão impedir a saída do povo de Deus mandando suas tropas atrás. Mas
Deus abriu passagem no mar Vermelho. Seu povo passou para o outro lado em segurança
e, uma vez lá, Deus enterrou os inimigos no bravo mar!

Séculos mais tarde, o Filho de Deus invadiu o reino das trevas, noticiando: "edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16:18). Com o dedo
de Deus Ele expulsou os demônios e eventualmente estendeu Seus braços sobre a cruz do
calvário, abrindo uma passagem espiritual para nós sairmos do reino das trevas.
Crucificado em fraqueza, Ele foi ressuscitado em poder. Ele vive hoje eternamente para
fazer intercessão por Seu povo e “têm nas Suas mãos as chaves da morte e do
inferno”.(Ap 1:18).

6
Vamos lembrar que a salvação é primeiramente um livramento do juízo de Deus sobre o nosso
pecado, seguido de um livramento do poder e das conseqüências do pecado. O maior inimigo do
homem não é o diabo, e sim um Deus de misericórdia cuja oferta de salvação foi rejeitada. "De
quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho, e
profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós
conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor
julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10:29-31).

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3) Dois Grandes Problemas

Uma vez salvo pelo poder de Deus, o cristão precisa enfrentar dois grandes problemas: a
tendência ao legalismo e a tendência ao antinomianismo.

Legalismo

De modo geral a igreja brasileira parece sofrer desta primeira moléstia: o legalismo.
Contra o mesmo, Paulo escreveu aos Gálatas: "Sois assim insensatos que, tendo
começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?" (Gl 3:3).

O legalismo leva o crente a pensar que a sua situação espiritual não é tão séria assim. Ele
age como alguém querendo justificar-se diante de Deus, em vez de perceber que precisa
da justiça de Deus. Séculos antes de Cristo o profeta Isaias escreveu: "Mas todos nós
somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós
murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam" (Is
64:6).

Lucas registrou o retrato perfeito do legalista como descrito por Jesus:


"Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se
considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com
propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si
para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais
homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano: jejuo duas
vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé,
longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e
não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será
exaltado" (Ex 18:9-14).

Características do legalista:
 Confia em si mesmo
 Considera-se justo
 Despreza os outros
 Gosta de orar, mas faz da oração um exercício de orgulho
 Reclama dos pecados dos outros
 Enaltece-se a sim mesmo

Antinomianismo

O antinomianismo7 é um termo que significa o oposto do legalismo. Na reação contra o

7
Um termo que Lutero usou para descrever a opinião de Johann Schneider, posteriormente
conhecido como Agrícola. Este argumentava que não havia nenhum lugar para os 10 mandamentos
na experiência cristã. Desde então é usado para descrever aqueles que desprezam a importância
das proibições de Deus. Douglas, J. D., Comfort, Philip W. & Mitchell, Donald'. Editors, Agrícola,
Johann Schneider. Who's Who in Christian History (Quem é Quem na História Cristã), (Wheaton,
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legalismo que ora presenciamos no Brasil, o antinomianismo é uma ameaça real. Ao invés
do “nada pode”, entra o “tudo pode!”.

Salvos pela graça, há sempre o perigo de desprezar-se a importância de uma


conformidade com a lei de Deus. Quando o Evangelho é reduzido ao perdão de pecados é
fácil para o cristão desculpar-se da sua falta de santidade. Antecipando uma atitude
leviana por parte dos romanos, Paulo escreveu: “Que diremos, pois? Permaneceremos no
pecado, para que seja a graça mais abundante?" (Rm 6:1).

Vejamos a réplica de Paulo contra o antinomianismo. São quatro8 os argumentos que ele
fornece contra a permanência no pecado.
O cristão:
 Não pode, porque está unido com Cristo (6:1-2). Paulo está raciocinando.
 Não precisa, porque o domínio do pecado foi quebrado pela graça (6:12-14). Paulo
está apelando.
 Não permite, porque irá readmitir o pecado como mestre (Rm 6:15-19). Paulo
está comandando.
 Não persista (no pecado), porque irá findar em desastre (Rm 6:20-23). Paulo está
advertindo.

Concluímos este assunto com um versículo muitíssimo importante, e um dos que os que
desprezam a lei gostam de citar pela metade:
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da
graça" (Rm 6:14).

Muitos citam a última parte deste versículo para dizer que estão isentos da lei, mas tal
não é nem o caso, e muito menos a interpretação correta deste versículo.
O que Paulo quer dizer aos cristãos em Roma e a nós, é que o pecado é derrotado porque
Deus não nos ajuda de acordo com os nossos méritos, e sim de acordo com as
nossas necessidades!

Debaixo da lei, o povo precisava merecer o favor de Deus. Debaixo da graça de Deus, Ele
vem ao encontro das nossas carências, principalmente nossa carência moral e ética.
Diante do fato de que o poder de Deus é manifesto em nossas fraquezas, podemos
esperar socorro da parte de Deus a qualquer hora. Assim, Paulo escreve aos Corintios:
"Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que
sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos
proverá livramento, de sorte que a possais suportar" (I Co 10:13).

CONCLUSÃO SOBRE A NATUREZA DA SALVAÇÃO

Descobrimos dois equívocos em relação à ênfase teológica da mesma: primeiro, que a


salvação é, sobretudo, um ato de libertação, e segundo, que o perdão de pecados visa à
manutenção da nossa salvação.

Illinois: Tyndale House Publishers, Inc.) 1992.

8
Sanders, Oswald J. Spiritual Lessons (Lições Espirituais). Chicago: Moody Press. 1944,112-113.

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Os dois livramentos de que trata a salvação são livramento da ira de Deus e livramento do
reino das trevas. Finalmente, consideramos os dois grandes problemas associados à vida
cristã: legalismo e o antinomianismo. A seguir veremos mais um assunto de soteriologia:
conversão, que por sua vez é a expressão de arrependimento e fé.

No estudo do verdadeiro significado de salvação descobrimos que salvação é muito mais


do que o perdão de pecados. Mediante a cronologia e a teologia percebemos que Jesus
quis destacar o aspecto de libertação, muito mais que perdão. Por este motivo Ele
coordenou a sua morte com a páscoa ao invés do dia de expiação. No monte da
transfiguração ele discutiu com Moisés e Elias o êxodo que iria efetuar em Jerusalém (Lc
9.31). Iremos ver algumas particularidades da salvação: Conversão, uma nova maneira de
viver (produzida por uma combinação de arrependimento e fé), e Regeneração que é uma
nova qualidade de vida coerente com nossa nova natureza de filhos de Deus.

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VIII - CONVERSÃO

Por definição entendemos que é uma mudança não só de aparência, mas de substância.
Em outras palavras é uma mudança interna e não apenas uma mudança externa.
Enquanto a melhor ilustração de conversão é a parábola do filho pródigo, o melhor
exemplo bíblico é aquele de Saulo9 de Tarso.

O Chamado Eficaz

Quando Deus chama as pessoas ele as chama “das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe
2.9). Ele as chama:

o À comunhão de seu Filho - 1Co 1.9; At 2.39


o Para o seu reino e glória -1Ts 2.12; 1Pe 5.10; 2Pe 1.3
o Para ser de Jesus Cristo - Rm 1.6

O Chamado do Evangelho

Chamado do evangelho é a proclamação das boas novas à humanidade, oferecido a todas as


pessoas, mesmo a quem não o aceita. Às vezes esse chamado do evangelho é referido como
chamado externo ou chamado geral. É geral, externo e amiúde rejeitado.

Os Elementos do Chamado do Evangelho

- Explicação dos fatos concernentes à salvação - Rm 3.23; Rm 6.23; Rm 5.8


- Convite para aceitar Cristo pessoalmente com arrependimento e fé - Mt 11.28-30; Jo 1.11-
12; Ap 3.20; Lc 24.47
- Promessa de perdão e vida eterna - Jo 3.16; At 3.19; Jo 6.37

A NECESSIDADE DE CONVERSÃO

A mensagem da Bíblia é que todos precisam se converter, e que ninguém se converte sem
arrependimento e fé. Nem sempre o arrependimento resulta em conversão.
Semelhantemente, a fé não é garantia de conversão. Precisa haver uma interação destes
dois elementos para que a conversão aconteça.

ARREPENDIMENTO

A primeira afirmação que podemos fazer acerca do arrependimento é que faz parte da
vontade de Deus:
"Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário,
ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos
cheguem ao arrependimento" (II Pe 3:9 RA).

Se a mensagem do precursor de Jesus era o arrependimento, e a mensagem de Jesus era

9
Vale a pena dizer que mesmo convertido ele se chamava Saulo como vemos em Atos 13:2 "E,
servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo
para a obra a que os tenho chamado". Saulo era seu nome hebraico enquanto Paulo era seu nome
gentílico (grego) que preferiu usar por causa de seu ministério aos gentios.

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também o arrependimento, a mensagem de Seus discípulos e da Igreja não poderia ser


outra!

A mudança de que trata a conversão é baseada no arrependimento. O verbo no grego é


“metanoen” que significa mudança de mente, pensamento, conceito ou opinião. Envolve a
questão de reflexão, avaliação e decisão. O arrependimento não é apenas uma emoção,
mas é, sim, emotivo (algo que propulsiona).

DUAS FACES DO ARREPENDIMENTO

Podemos clarificar o significado de arrependimento observando sua composição negativa e


positiva. Negativamente é uma insatisfação com a conduta anterior. Sublinhamos a
palavra conduta para enfatizar que não é simplesmente uma insatisfação com o resultado
da conduta anterior. Esta ultima realidade seria apenas remorso. Positivamente podemos
dizer que envolve uma decisão de não continuar errado. Esta decisão implica em
mudanças imediatas: internas e externas, e implica necessariamente em auto-humilhação.
Lembramos as palavras do filho pródigo: "Levantar-me-ei, e irei ter como meu pai, e lhe
direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti, já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como um dos teus trabalhadores" (Lc 15:18-19 RA).
Henry Thiessen amplia um pouco mais o conceito dizendo que o arrependimento tem três
elementos:
• O elemento intelectual
• O elemento emocional
• O elemento volitivo
Sua análise tanto é sugestiva da natureza tríplice do homem, como relembra o maior
mandamento da lei. Desta forma alerta-nos para a necessidade de arrependimento em
todas as áreas da vida. "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma, de todo o teu entendimento, e de toda a tua força”.(Mc 12:30). Mt 3:2; 4:17;
At 2:38.

OS MEIOS DE ARREPENDIMENTO

Se você é um cristão que está sinceramente buscando a Deus para um verdadeiro


avivamento, você não pode deixar de considerar o que Thiessen chama de os meios de
arrependimento. De um lado o arrependimento é uma obra de Deus (At 11:18), do outro
lado, somos seus agentes de arrependimento mediante a pregação do Evangelho. Por
exemplo: "Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito
Santo" (At 2:38). Vejamos várias causas do arrependimento que saem da análise de
Thiessen:
• Milagres: "Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se
tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam
arrependido com pano de saco e cinza" (Mt 11:21 RA).
• A Pregação: "Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão;
porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que
Jonas" (Mt 12:41 RA).
• A Disciplina: "disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que
Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade" (II
Tm 2:25 RA).
• A Bondade de Deus: "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e
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longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?"


(Rm 2:4 RA).
• A Correção do Senhor: "Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e
arrepende-te" (Ap 3:19).
• Uma Nova Visão de Deus: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te
vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42:5-6).

OS FRUTOS DE ARREPENDIMENTO

Ao conclamar a multidão para mostrar os frutos de arrependimento, João Batista chamou


atenção pela visibilidade do arrependimento Ele desconfiava de arrependimento por
atacado, preferindo o arrependimento a varejo:
"Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: Raça
de víboras, quem vos induziu a fingir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão;
porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão “(Mt 3:7-9
RA).

Muito mais importante do que as lágrimas freqüentemente associadas ao arrependimento,


são as mudanças de vida. A Bíblia nos adverte a não sermos profanos como Esaú que
vendeu seus direitos de primogenitura por uma simples refeição.

A palavra profana refere-se a um terreno sem cerca, portanto aponta para uma pessoa
sem limites, sem restrições. Infelizmente, Esaú não conseguiu nenhum espaço de
arrependimento embora chorasse bastante (Hb 12:16-17). O texto sugere que todo o
terreno da sua vida foi tomado e ocupado, não sobrando mais nada para ele redimir:
"nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu
direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a
bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o
tivesse buscado" (Hb 12:16-17 RA).

SETE SINAIS DE ARREPENDIMENTO

"Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes
contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que
vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto" (II Co 7:11 RA).
Devido aos muitos pecados na igreja de Corinto, o apóstolo Paulo teve razão de disciplinar
e corrigir os cristãos. Certamente não foi uma situação agradável e causou-lhe bastante
tristeza. No entanto, como disse o autor da carta aos Hebreus: "Toda disciplina, com
efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois,
entretanto, produz fruto pacifico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça"
(Hb 12:11 RA).
Depois da correção o apóstolo congratulou os cristãos pela sua maturidade e óbvio
arrependimento. Ele destacou os seguintes sete elementos:
• Cuidado: um desejo de compensar o prejuízo.
• Defesa: uma disposição de vindicarem-se por condutas mais nobres.
• Indignação: contra o inimigo de Paulo que havia conseguido convencê-los.
• Temor: diante da sua própria passividade e os resultados desastrosos.
• Saudades: de Paulo.
• Zelo: para ver as coisas endireitadas.
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• Vindita: sua nova postura era a garantia da sua inocência ou justiça.

VOCÊ E O ARREPENDIMENTO

Ou cedo ou tarde, todos nós fazemos algo de que temos vergonha e precisamos nos
arrepender. Baseado neste versículo podemos dizer que você alcançou o arrependimento
quando estava disposto a:
• compensar o prejuízo
• viver uma vida mais nobre
• romper com as amizades prejudiciais
• estar chocado com a sua própria passividade e perceber os resultados desastrosos
• ter saudade de quem corrige você
• zelar para ver as coisas endireitadas

Salmo 51

O salmo 51 é um excelente exemplo de oração de arrependimento. Medite neste salmo e


peça a Deus a Sua graça para que você possa alcançar o arrependimento de que precisa.
"Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das
tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha
iniqüidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o
meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é
mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu
jogar. Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que te
comprazes na verdade no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Faze-me
ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. Esconde o rosto dos
meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades. Cria em mim, ó Deus, um coração
puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.
Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a
alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos
transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti. Livra-me dos crimes
de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará tua justiça.
Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores. Pois não te
comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos.
Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito,
não o desprezarás, ó Deus.
Faze bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. Então, te
agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; e sobre o
teu altar se oferecerão novilhos".
(Salmos 51:1-19 RA)

O PAPEL DE FÉ NA CONVERSÃO

"De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se
aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam" (Hb
11:6 RA).
"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem"
(Hb 11:1 RA).
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Existem três tipos de fé: fé lógica, fé soteriológica, e fé pneumatológica.


A fé lógica é aquela baseada na experiência humana. Entrar em um elevador, pegar um
ônibus, usar um telefone, são todos exemplos de fé lógica.
A fé soteriológica é aquela que viabiliza a salvação. Ela é dom de Deus, mas está
disponível a todos. A fé pneumatológica é a fé distribuída pelo Espírito Santo como dom
espiritual. Nem todos têm acesso a este dom.
Começamos agora a detalhar o papel da fé na conversão e na salvação. Thiessen observa
que a fé (tal como o arrependimento) opera em três dimensões: Intelectual, Emocional, e
Volitiva.

O LADO INTELECTUAL DA FÉ

A fé bíblica é uma fé informada, isso é, substanciada em fatos. Muitas vezes a exortação à


fé reporta algum evento histórico em que o poder de Deus se manifestou.
"Quem és tu que te esqueces do SENHOR, que te criou, que estendeu os céus e fundou a
terra, e temes continuamente todo o dia o furor do tirano, que se prepara para destruir?
Onde está o furor do tirano? 0 exilado cativo depressa será libertado, lá não morrerá, lá
não descerá à sepultura; o seu pão não lhe faltará. Pois eu sou o SENHOR, teu Deus, que
agito o mar, de modo que bramem as suas ondas — o SENHOR dos Exércitos é o meu
nome. Ponho as minhas palavras na tua boca e te protejo com a sombra da minha mão,
para que eu estenda novos céus, funde nova terra e diga a Sião: Tu és o meu povo" (Is
51:13-16).

O LADO EMOCIONAL DA FÉ

A verdadeira fé é muito mais do que um conceito intelectual. Ela é uma calorosa certeza
que invade o coração e expulsa o desânimo. A fé enxerga e saboreia a queda de todas as
muralhas de Jericó. A fé produz uma coragem que alenta o coração. Quem tem fé sente
que qualquer obstáculo que se levanta contra a gloriosa vontade de Deus está destinado a
cair. O moço Davi disse a Golias: "Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com
escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do SENHOR dos Exércitos, o Deus dos
exércitos de Israel, a quem tens afrontado" (I Sm 17:45).

O LADO VOLITIVO DA FÉ

A fé nunca é passiva. Ela inspira ação, e ação ousada. É neste sentido que Tiago insiste
"... assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tg
2:26).

Pela fé Moisés estendeu a sua vara e o mar Vermelho abriu-se. Pela fé Jesus estendeu
Seus braços sobre a cruz e as portas do inferno ruíram. Sem ação a fé nunca se
concretiza!

O VALOR ESTRATÉGICO DE FÉ

Quem lê Hebreus, capítulos 11, logo percebe a importância estratégica da fé:


• Pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho;
• Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício;

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Pr. Anor Afonso Serio [2007]…Pág. 28 de 50
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• Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte;


• Sem fé é impossível agradar a Deus;
• Pela fé, Noé aparelhou uma arca para a salvação de sua casa;
• Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu;
• Pela fé, Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade;
• Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque;
• Pela fé, Moisés recusou ser chamado filho da filha de Faraó;
• Pela fé, celebrou a Páscoa e o derramamento do sangue, para que o exterminador
não tocasse nos primogênitos dos israelitas;
• Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca; tentando-lo os
egípcios, foram tragados de todo;
• Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó, depois de rodeadas por sete dias;
• Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu
com paz aos espias;
• De Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas, os
quais por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram
promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam
ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra,
puseram em fuga exércitos de estrangeiros. Mulheres receberam, pela ressurreição,
os seus mortos.
• “(Pela fé)alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem
superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e
açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo
meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e
de cabras, necessitados, afligidos, maltratados” (Hb 11:1-40 RA).

A FÉ É INDISPENSÁVEL PARA UM BOM RELACIONAMENTO COM DEUS

"De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se
aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam" (Hb
11:6 RA).

A fé não é apenas de grande importância estratégica Ela é o ingrediente indispensável


para um bom relacionamento com Deus. Por isso a incredulidade recebe a mais severa
censura: "Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado"
(Mc 16:16).

Jesus exalta a manifestação de fé, reclama da sua falta e diz que é a medida que Deus
usa para nos abençoar.
A falta de fé é um grande impedimento na manifestação do poder de Deus.
• "Ó mulher, grande é a tua fé!" (Mt 15:28); "Faça-se-vos conforme a vossa fé" (Mt
9:29 RA);
• "Onde está a vossa fé?" (Lc 8:25);
• "não sejas incrédulo, mas crente" (Jo 20:27 RA);
• "E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles" (Mt 13:58).
Jesus, percebendo a estratégia satânica armando-se contra os discípulos, precaveu a
Pedro, contudo, ao mesmo tempo fez questão de orar pela sua fé: "Simão, Simão, eis que
Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a
tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos" (Lc 22:31-
32).
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0 grande antídoto ao veneno diabólico era a fé. Ela não podia faltar, por isso Jesus
intercedeu com ao Pai para que Pedro não desfalecesse.

A FÉ E A SALVAÇÃO

A Bíblia tem muito a dizer acerca da fé, e, portanto, não é uma surpresa constatar que as
frases “pela fé”, “por fé” ou “mediante a fé” ocorrem 59 vezes no Novo Testamento.
Segundo a Bíblia somos:

• Justificados pela fé: "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 5:1 RA).
• Salvos pela fé: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus" (Ef 2:8).
• Vivemos pela fé: "o justo viverá pela fé" (Gl 3:11).
• Recebemos O Espírito Santo pela fé: "afim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito
prometido" (Gl 3:14).
• Santificados pela fé: "E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles,
purificando-lhes pela fé o coração" (At 15:9).
• Guardados pela fé: "que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a
salvação preparada para revelar-se no último tempo" (I Pe 1:5).
• Firmados pela fé: "porque somos cooperadores de vossa alegria; porquanto, pela
fé, já estais firmados" (H Co 1:24).
• Andamos pela fé: "andamos por fé e não pelo que vemos" (II Co 5:7).
• Herdamos as promessas pela fé: "pela fé e pela longanimidade, herdam as
promessas" (Hb 6:12).
• Rompemos as barreiras pela fé: “Tudo é possível ao que crê”.(Mc 9:23).
• Vencemos pela fé: "e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (I Jo 5:4).
• Cristo vive em nós pela fé: "e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé" (Ef
3:17).

Como se pode ver, a fé é essencial à salvação: "Quem não crer será condenado". Na Bíblia
a incredulidade é um crime hediondo contra Deus e foi responsável pela morte de uma
geração inteira da nação de Israel no deserto.

A falta de fé suscita a ira e o juízo de Deus porque questiona e repudia Sua capacidade,
generosidade, integridade e fidelidade:
"Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus,
suceda parecer que algum de vós tenha falhado. Porque também a nós foram anunciadas
as boas novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou,
visto não ter sido acompanhada pela fé, naqueles que a ouviram" (Hb 4:1-2).

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IX - A REGENERAÇÃO

A regeneração é o lado divino da conversão. Ela produz a nova vida que nós buscamos no
processo de arrependimento. Não há nada que o homem possa fazer para se regenerar,
mas, quando o pecador arrepende-se de seus pecados, quando ele crê no Evangelho,
quando ele se converte de seus maus caminhos e busca a Deus, a regeneração não está
longe!

A SOLUÇÃO DIVINA PARA NOSSA VELHA NATUREZA

Como parte do nosso estudo de soteriologia, observamos os desastrosos efeitos do pecado


sobre a criação e a humanidade. Herdamos de Adão uma natureza pecaminosa que é
oposta à vontade de Deus.

No Antigo Testamento o homem é visto como tendo um coração de pedra, mas o profeta
fala de um novo dia quando terá um coração de carne.
"Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de
pedra e vos darei coração de carne" (Ez 36:26 RA).

Este coração de carne fala de regeneração, e é acompanhado por um novo espírito,


relembrando-nos do Espírito Santo. Mais tarde teremos uma aula dedicada à questão da
nossa união com Cristo que focaliza este novo relacionamento com Deus.

O NOVO NASCIMENTO PRODUZ UMA VIDA NOVA

Quando Nicodemus veio falar com Jesus ele alegou que o concílio sabia que Jesus era um
mestre vindo da parte de Deus. Jesus não aceitou a proposta e insistiu que todos eles
precisavam nascer de novo para poder saber algo espiritual (Jo 3:1-3).
A Bíblia ensina que uma vez nascida de novo, a pessoa muda por completo. Baseados na
história de Nicodemus podemos afirmar que é possível o homem ser um respeitado
membro da igreja ou até do ministério, sem ter nascido de novo! E possível que alguém
que estude esta lição, ainda não tenha nascido de novo. Verifique algumas características
básicas dos regenerados. Quem é nascido de Deus:
• Vence a tentação: "Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de
pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando,
porque é nascido de Deus" (I Jo 3:9).
• Ama: Ama a Deus, seus irmãos, e seus inimigos, ama a Palavra de Deus, a vontade
de Deus e as almas perdidas. "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é
amor" (I Jo 4:8).
• Busca as coisas de cima: "Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo,
buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus" (Cl 3:1).

AGENTES DE REGENERAÇÃO

Concluímos esta aula observando o que a Bíblia fala em relação aos agentes da
regeneração. Nascemos de novo mediante:
• A vontade de Deus: "os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1:13).

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• A obra de Cristo: "Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele
que pratica a justiça é nascido dele" (I Jo 2:29).
• A Palavra de Deus: "pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de
incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (I Pe 1:23).
• Os ministros da Palavra: "Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em
Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo
Jesus" (I Co 4:15).
• O Espírito Santo: "não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua
misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo"
(Tt 3:5).

CONCLUSÃO

Com certeza que este assunto não trouxe grandes novidades. Quem nunca ouviu falar de
arrependimento, fé, conversão e regeneração? No entanto, por serem assuntos comuns,
muitas vezes não fazemos nenhum estudo sistemático deles. Este tipo de estudo deve
servir para você compartilhar um Evangelho mais apurado com os novos convertidos da
sua igreja.

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X - JUSTIFICAÇÃO

Hoje o assunto da nossa aula é justificação, um assunto de grande importância em relação


à nossa salvação, e infelizmente muito pouco entendido ou pregado em nossas Igrejas.
Quando foi a última vez que você ouviu uma pregação acerca deste assunto?

Nunca iremos entender o assunto da justificação se não percebermos a verdadeira


situação em que o ser humano se encontra. Como veremos na doutrina sobre o pecado -
Hamartologia, o pecado de Adão atingiu não somente a ele, mas a toda a sua
descendência. Comentaremos que quaisquer que sejam as dúvidas acerca da condição do
ser humano escolher o caminho de reconciliação com Deus, uma coisa é clara: o homem
está escravizado ao pecado. Sem a graça de Deus, o máximo que pode fazer é escolher
seus pecados; nunca se livrar deles.

Agostinho (354-430 d.C.) entendeu que no pecado de Adão, toda a humanidade revoltou-
se contra Deus e o juízo de Deus caiu sobre todos. A natureza humana foi
irremediavelmente corrompida. Nascemos como inimigos de Deus por sermos ligados à
rebelião de Adão. Durante a história da Igreja é a teoria de Agostinho ou uma versão
modificada da mesma que tem sido a mais aceita.

Imagine que você ofendeu alguém e esta pessoa processa você legalmente. Quando você,
acompanhado por seu advogado, é ouvido no tribunal, você escuta todas as acusações
trazidas pelo litigante. Depois, representado por seu advogado você externa o outro lado
da questão, não negando os fatos, mas explicando-os. Depois o juiz emite seu veredicto -
inocente!

Este é o caso de justificação - uma incrível decisão a nosso favor inocentando-nos de


todos os nossos pecados! Diz a Palavra de Deus em Deuteronômio 25:1 "Em havendo
contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e
condenando ao culpado”. Justificação é algo que o juiz faz quando convencido que o réu é
inocente dos crimes pelos quais foi processado.”

VOCABULÁRIO BÍBLICO

No Antigo Testamento a palavra é tsadaq, enquanto no Novo Testamento é dikaio. Os


termos significam absolver, declarar justo, e significam o oposto de condenar. Lemos em
provérbios 17:15 que "O que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são
para o SENHOR, tanto um como o outro". Ser justificado é estar livre de qualquer culpa.
Em Romanos 8:33 lemos: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus
quem os justifica".

TIRANDO A CONFUSÃO: AS VERDADES BÁSICAS DA JUSTIFICAÇÃO

O assunto da justificação pode tornar-se bastante confuso. A literatura evangélica em


relação a este assunto peca de duas formas: de um lado se ocupa em pormenores legais,
do outro hesita em afirmar o óbvio: que Deus não nos culpa pelos pecados cometidos
antes da nossa conversão a Cristo. Para reduzir a possibilidade de confusão, salientemos

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várias verdades acerca da justificação:


• Justificação é uma decisão judicial que Deus tomou desde a eternidade quando
planejou a nossa redenção.
• Somos justificados dos nossos pecados uma única vez, quando rompemos nossa
solidariedade com Adão em favor de Jesus Cristo.
• Pela justificação todo novo cristão é isento de toda a culpa de todos os pecados
cometidos antes da sua conversão a Cristo.
• Todos os cristãos foram igualmente justificados em Cristo.

CONDENAÇÃO: NOSSA SITUAÇÃO ANTES DA NOSSA CONVERSÃO A CRISTO

"Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8:1 RA).

Fica claro, biblicamente que, quem não está em Cristo, vive debaixo da ira de Deus e já
está sob o julgamento de Deus: "Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está
julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.(Jo 3:18).

Em relação à condenação, descobrimos em Romanos:


• O Princípio do Julgamento: Deus "retribuirá a cada um segundo o seu
procedimento" (Rm 2:6 RA).
• O Padrão do Julgamento: a Lei de Deus ou a consciência de quem não tem a lei.
"Assim, pois, todos os que pecaram sem lei, também sem lei perecerão; e todos os
que com lei pecaram, mediante lei serão julgados. Porque os simples ouvidores da
lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem por natureza de conformidade
com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a
norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a
consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se"
(Rm 2:12-15 RA).
• As Provas do Julgamento: os segredos dos homens:
"no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de
conformidade com o meu evangelho" (Rm 2:16 RA).
• O Problema do Julgamento: Ninguém será justificado pela Lei: "visto que ninguém
será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado" (Rm. 3:20 RA).

A JUSTIFICAÇÃO DOS ARREPENDIDOS

SUA BASE BÍBLICA

Se a condenação de todos os não-cristãos é patente, fica igualmente claro, biblicamente,


que o fundamento da justificação dos que crêem é, em primeiro lugar, a Graça de Deus:
"sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus" (Rm 3:24 RA).

Em segundo lugar, a base da justificação é A Morte de Jesus Cristo: "Logo, muito mais
agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rm 5:9 RA).

Estas duas verdades acerca da justificação não são difíceis de entender, mas como foi
possível para Deus justificar os ímpios sem perverter a Sua justiça?
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Esta doutrina é um pouco mais complicada. Não parece que haja uma contradição entre a
graça de Deus e a Sua justiça? Alguém poderia alegar que a contradição é entre o coração
de Deus, e a Sua mente! Sabemos que tal coisa é impossível, e parece difícil resolver o
impasse.

JUSTIFICAÇÃO E A JUSTIÇA DE DEUS

"Da falsa acusação te afastarás; não matarás o inocente e o justo, porque não justificarei
o ímpio" (Ex 23:7 RA).
"Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
atribuída como justiça" (Rm 4:5 RA).

Como se pode ver, o inculto tem certa razão quando diz que a Bíblia é “cheia de
contradições”. Contudo, existe uma explicação lógica desta contradição como veremos a
seguir:

A JUSTIÇA DE DEUS x A GRAÇA DE DEUS

A Bíblia diz que não podemos nos apresentar justos diante de Deus. Não há ninguém que
possa se justificar, pois todos são pecadores. Contudo, no tribunal divino, acompanhado
do nosso Advogado Jesus Cristo, podemos discutir a situação.

Somente Deus tem o poder de nos livrar da nossa culpa. No entanto não pode contravir à
Sua justiça. Seria um grande erro imaginar que em Cristo Deus estava procurando
furtivamente uma oportunidade para defraudar a Sua justiça.

Deus sempre faz a coisa certa e, portanto, não pode existir qualquer tensão entre o Seu
amor e a Sua Justiça! Se Deus nos justificou, e de fato o fez, Ele deve ter boas razões
para tanto. Sugerirei dois motivos para nossa absolvição: nosso relacionamento com Adão
e nosso relacionamento com Cristo.

NOSSO RELACIONAMENTO COM ADÃO

Um fato que o nosso Advogado esclareceu no tribunal de Deus foi o nosso relacionamento
infeliz com Adão. Este relacionamento é muito importante porque a Bíblia ensina que foi
por ele que o pecado entrou no mundo, e não somente isso, mas também, que ele foi
responsável por nossa natureza pecaminosa.

"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm
5:12 RA).

Através dos séculos um dos debates importantes na área da teologia tem sido a questão
da nossa identidade como pecadores. Somos pecadores porque pecamos, ou pecamos
porque somos pecadores? O peso da evidência bíblica sugere o último caso: Pecamos
porque somos pecadores!

Como o cachorro late porque é cachorro, o ser humano peca porque é pecador. Assim
como ninguém precisa ensinar o cachorro a latir, ninguém precisa ensinar o ser humano a
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pecar. É uma questão de natureza!

Tal não era o caso com Adão e Eva, mas desde então (com a notável exceção do nosso
Salvador, Jesus Cristo), nunca deixou de ser o caso. Enquanto Adão começou a sua vida
com uma natureza pura, nós começamos a nossa vida com uma natureza impura, caída,
depravada. Deus sabe disso e, portanto, possibilitou a nossa justificação baseada em
nossa total impossibilidade de fazer o bem.

A possibilidade de justificação repousa sobre este fato, que nós não começamos a nossa
vida com uma natureza pura. Nossos pecados não são do mesmo tipo de Adão. Ele teve
escolha - nós não tivemos. Sua culpa é inexorável, a nossa não é, porque Deus tem visto
a nossa desvantagem, e se propôs a justificar-nos do nosso passado baseado em nossa
decisão de rompermos com Adão, e aceitar a Cristo.

O NOSSO RELACIONAMENTO COM CRISTO

Pedir o cancelamento das nossas ofensas contra Deus na base do nosso relacionamento e
plena falta de condições de escolher o bem, é um lado do assunto da justificação. O outro
lado é a questão do nosso relacionamento com Jesus Cristo, o Último Adão.

Podemos afirmar que o nosso grande problema éi uma natureza depravada, herdada de
Adão. Será que é convincente este argumento?

Existe alguma evidência de que havendo um novo começo um ser humano poderia viver
retamente diante de Deus? A enfática resposta é SIM!

Jesus Cristo, o último Adão, entrou neste mundo sem a deficiência de uma natureza
pecaminosa, e viveu toda a sua vida retamente diante de Deus e dos homens. Assim, há
evidência de que o problema da raça humana é congênito.

Baseado neste fato (a vida justa de Cristo), Deus se predispõe a absolver todos os
pecadores de todos os seus pecados oriundos do seu relacionamento doentio com Adão.
No entanto, existe um detalhe que ainda falta para o indivíduo ser justificável. Qual seria?

Seria a prova de que o indivíduo é de fato sincero quando diz que não concordou com a
rebelião de Adão contra Deus. Damos evidência desta sinceridade quando revogamos
oficial e publicamente a procuração que Adão exerceu ilicitamente em nosso nome.

É como se um parente publicasse uma notícia no Diário Oficial dizendo que de forma
alguma será responsável por dívidas contraídas em seu nome por fulano de tal.
A partir desta data, o contratante dessa noticia não será mais legalmente responsável por
dívidas que o nomeado contrair na praça. A nossa justificação no tribunal de Deus
depende da nossa decisão de rejeitarmos a nossa filiação com Adão, e buscarmos filiação
em Jesus Cristo - o último Adão.

Deus, o Justo Juiz oferece um novo começo em Seu Filho, Jesus Cristo, aquele que é a
propiciação para nossos pecados. Em Cristo, Deus nos concede uma oportunidade para
demonstrar que de fato desejamos viver uma vida reta diante d'Ele. Mediante a aceitação
de Cristo, e a vontade de Deus nEle, Deus nos justifica dos velhos pecados e dá-nos uma
nova natureza: "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
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passaram; eis que se fizeram novas" (II Co 5:17 RA).

Agora podemos entender porque é inadmissível que um cristão continue alinhado com o
pecado. Seria inconcebível que os que aceitaram a Cristo como seu Salvador, que foram
justificados dos pecados cometidos anteriormente em Adão, não buscassem viver vidas
santas diante de Deus.
"Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?
De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?"
(Rm 6:1-2).

JUSTIFICAÇÃO NOS ESCRITOS DE PAULO

Segundo o Novo Dicionário da Bíblia, das 39 vezes que o verbo justificare usado no Novo
Testamento, 29 aparecem nos escritos ou palavras de Paulo. Sem dúvida ele fez da
justificação algo central à sua doutrina soteriológica.

Para Paulo justificação é o ato fundamental de bênção da parte de Deus porque ela nos
salva do passado e nos assegura do futuro. De um lado, significa o cancelamento das
nossas dívidas contraídas em Adão, e sinaliza o fim das hostilidades entre nós e Deus.

Do outro, significa aceitação, uma nova filiação, e uma promissora herança em Cristo. O
grande triunfo do redimido é assim descrito por Paulo:
"Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura,
não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os
eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem nos condenará? É Cristo Jesus quem
morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por
nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição,
ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?" (Rm 8:31-35 RA).

A IMPORTÂNCIA DA FÉ

Quando Paulo fala do meio de alcançar a prometida justificação ele deixa bem claro o
papel da fé:

"Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de Nosso Senhor Jesus
Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na
qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isto,
mas também nos gloriemos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a
esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5:1-5 RA).

Não é a fé que providencia a justificação, mas é a fé que alcança a promessa desta


justificação. "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça" (Rm 4:3). Certa
confusão surge por causa das perspectivas diferentes de Paulo e Tiago. Enquanto Paulo
salienta a importância da fé como o meio de alcançar a justificação, Tiago enfatiza que
uma tal fé precisa produzir frutos coerentes na vida da pessoa - ou seja - obras dignas de
um justificado.

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Paulo também advoga isso dizendo que a partir do momento em que somos justificados
estamos em um novo relacionamento com Deus e temos assumido uma nova postura
diante do pecado. Jamais apresentaremos nossos membros ao pecado, e sim individual e
corporalmente, apresentar-nos-emos a Deus como servos da justiça.

CONCLUSÃO

Como conclusão voltamos a reafirmar as verdades básicas que foram frisadas


anteriormente:
• Justificação é uma decisão judicial que Deus tomou desde a eternidade quando
planejou a nossa redenção.
• Somos justificados dos nossos pecados uma única vez, quando rompemos com
Adão a favor de Jesus Cristo.
• Pela justificação o novo cristão é isento de toda a culpa de todos os pecados
cometidos antes da sua conversão a Cristo.
• Todos os cristãos foram igualmente justificados em Cristo.

Justificação é uma palavra que significa aprovação. Na Bíblia, justificação é sempre o


oposto à condenação. É muito diferente de outras palavras associadas à nossa salvação,
por exemplo, perdão. Quando Deus perdoa nossos pecados, o pecado consta como uma
culpa real, mas Deus nos livra do castigo do mesmo. Justificação é bem diferente: é dizer
que não somos culpados. As ofensas são canceladas, recebemos uma certidão de “Nada
Consta” da suprema corte do universo.

Vejam como é importante este assunto!

"E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da
vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo
cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual
nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl 2:13-14 RA).
"a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança
da vida eterna" (Tt 3:7 RA).

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XI - UNIÃO COM CRISTO

Salvação não é apenas questão de uma obra de Cristo, mas também de um


relacionamento vital com Ele. "Todos que estão em Adão morrerão; todos que estão em
Cristo viverão" (I Co 15:22).

Sem dúvida alguma, o grande conceito Paulino de salvação é estar EM Cristo.

"E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis
que se fizeram novas" (II Co 5:17).

REPRESENTAÇÕES FIGURATIVAS DA NOSSA UNIÃO COM CRISTO

• A União Entre o Edifício e Seu Alicerce (Ef. 2:20-22; Cl. 2:7; I Pd. 2:4-5)
"Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo
Jesus, a pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário
dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para
habitação de Deus no Espírito" (Ef 2:20-22 RA).

• A União Entre o Marido e a Esposa (Rm 7:4; II Co 11:2; Ef 5:31-32; Ap 19:7)


"Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos
apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo" (II Co 11:2).
• A União Entre a Figueira e Seus Ramos (Jo 15:1-10; Ro 6:5; 11:24; Cl 2:6-7)
"Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá
muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" Jo 15:5 RA).

Baseado extensivamente no trabalho de Strong, Augustus Hopkins: Teologia


Sistemática. Editora Hagnos.

• União entre os Membros e a Cabeça do Corpo


(I Co 6:15-19; 12:12; Ef 1:22-23; 4:15-16; 5:29-30)

"Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois os membros
de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum." (I Co 6:15 RA).

DECLARAÇÕES DIRETAS ACERCA DESTA UNIÃO

• O Crente está em Cristo


(Jo 14:20; Rm 8:9-10; Gl 2:20; Cl 1:27; Jo 17:21-23)
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus
habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado,
mas o espírito vive por causa da justiça." (Rm 8:9-10 RA ).
• O Crente tem Vida através da Sua União com Cristo (Jo 6:53, 56-57; I Co 10:16-
17; I Jo 1:3)
"Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se
alimenta, também viverá por mim." (Jo 6:56-57).

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• O Pai e o Filho Habitam no Crente (Jo 14:23; 1 Jo 4:16)


"Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o
amará, e viremos para ele e faremos nele morada" (Jo 14:23 RA).

1 - CONSEQÜÊNCIAS DESTA UNIÃO COM CRISTO

• A União com Cristo efetua uma mudança na afeição dominante da alma.

A entrada de Cristo na alma faz com que ela se torne uma nova criatura no sentido de
que as tendências dominantes, que eram pecaminosas, se transformem em tendências
santificadoras. Esta mudança é chamada REGENERAÇÃO.

• A União com Cristo efetua um novo exercício dos poderes da alma em Arrependimento e
Fé.

Fé é o ato da alma através do qual, sob a ação divina, Cristo é recebido. A esta ação da
alma chamamos CONVERSÃO. É o lado humano de Regeneração.

• A União com Cristo traz ao Crente uma nova posição legal.

O crente recebe a posição legal de Cristo. Esta nova posição é o resultado de


JUSTIFICAÇÃO.

• A União com Cristo garante ao Crente um acesso contínuo ao poder transformador da


Vida de Cristo. Este novo poder é primeiramente para a alma e subseqüentemente para o
corpo. O efeito deste poder é chamado SANTIFICAÇÃO, que é o lado humano da
PERSEVERANÇA.

A União com Cristo efetua uma ligação vital com os outros Crentes. Esta ligação fornece a
base para as doutrinas da ECLESIOLOGIA e ESCATOLOGIA.

A EXPERIÊNCIA DA NOSSA UNIÃO COM CRISTO

Romanos 6 é um capítulo de grande relevância para o estudo de união com Cristo.


"Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para
que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da
sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição, sabendo
isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu, está
justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele
viveremos" (Rm 6:3-8 RA).

O PROCESSO DA NOSSA UNIÃO COM CRISTO

Notemos as seguintes etapas ou elementos da nossa união com Cristo:


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— mortos
— sepultados
— ressuscitados
— transformados

UNIÃO COM CRISTO E A SEGURANÇA DE SALVAÇÃO

Não conheço uma verdade mais importante que a união com Cristo para determinar a
segurança da nossa salvação.

Um texto importante é João 10:28 "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão,
eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão." Possivelmente este texto é um eco
de Isaias 43.13 onde Deus diz "Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que
possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? " (Is 43:13 RA).

Dentro ou Fora do Avião?

No Brasil é bastante comum encontrarmos crentes que não têm segurança da sua
salvação. Vivem amedrontados imaginando que qualquer pecado ou falha possa afastá-los
de Cristo, e prejudicar a sua salvação. Não poucos imaginam um arrebatamento parcial
quando Cristo voltar para Sua Igreja. A seguinte ilustração pode ajudar você a cristalizar a
questão da sua salvação.

Tomando como base a doutrina do crente estar em Cristo, vamos usar a ilustração de um
avião para representar a Jesus. Quando o avião decolar, quantos passageiros irão subir
com o avião? Todos os que estiverem a bordo! Da mesma forma, todos os que estão em
Cristo subirão para os céus com Ele. E se alguém estiver doente? - Subirá! E se alguém
estiver brigado com um parente? - Subirá.

Agora, nem todos terão o mesmo prazer ao subir. Alguns serão flagrados no pecado, e
subirão para a sua própria vergonha, enquanto outros para receberem galardões diante do
tribunal de Cristo.

Acerca do arrebatamento Paulo escreveu:

"Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e
ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com
eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre
com o Senhor: Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras" (I Ts 4:16-18).

Dentro ou Fora de Cristo?

Notem bem que a condição para o arrebatamento, como para a salvação, é o estar em
Cristo. Mesmo quando pecamos continuamos em Cristo.
Por este motivo o apóstolo fica horrorizado diante do pecado sexual por parte dos
cristãos:
"Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os
membros de Cristo e os faria membros de uma meretriz? Absolutamente, não." (I Co
6:15).
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Saímos de Cristo apenas por meio da apostasia, mediante a qual renunciamos a Cristo
como nosso Salvador e Mediador.

Qual, então, é a gravidade do pecado do crente, se é que ele subirá no arrebatamento?


Entre outras coisas afirmamos que o pecado:
• envergonha o nome do nosso Salvador, expondo-O a ridicularização diabólica.
• entristece o Espírito Santo que nos selou para a redenção.
• traz escândalo sobre a Igreja e o Evangelho
• abre o caminho para a apostasia

CONCLUSÃO

Aprendemos acerca da importância da nossa união com Cristo. Fomos enxertados em


Cristo pelo poder de Deus, e estamos mantidos em Cristo mediante a graça de Deus. No
entanto, precisamos esforçar-nos para que não recebamos a graça de Deus em vão.

Vimos como a salvação não é apenas uma obra de Cristo; como é imprescindivelmente
uma questão de relacionamento com Ele. Consideramos várias representações figurativas
desta união entre:
• um edifício e seu alicerce,
• o marido e sua esposa,
• a figueira e seus ramos,
• os membros e a cabeça do corpo

Percebemos que a Bíblia dá grande ênfase a esta união afirmando que:


• o crente está em Cristo, o crente tem vida através da sua união com Cristo e
• o Pai e o Filho habitam no crente.

Em seguida vimos quatro conseqüências desta união, para depois falar da nossa
experiência desta união. Salientamos que a segurança do crente está intimamente ligada
à sua posição de estar em Cristo, e que o mesmo é garantia do arrebatamento.

Fazemos o desfecho com a seguinte advertência de Jesus:


"Nem todo o que me diz Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor.
Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt
7:21-23 RA).

Chama muita atenção o fato de que esta multidão conhecia a Jesus, mas Jesus não a
conhecia. Em outras palavras, este povo teve conhecimento de Jesus e Seu poder, mas
não teve um relacionamento vital com Ele.

A grande pergunta é: "Você tem este mesmo problema?”

Não sabemos quantos fazem parte deste grupo, mas segundo Jesus são muitos, e têm
todo sinal de vitalidade cristã, mas não estão servindo a Jesus, e sim seus próprios
apetites. A seguir estudaremos o assunto de Santificação, “sem a qual ninguém verá o
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Senhor” (Hb 12:14).

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XII - SANTIFICAÇÃO

A santificação é algo tão importante que a palavra de Deus diz: "Segui a paz com todos e
a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12:14 RA).

Santificação não é uma opção para alguns supercrentes. É algo implícito em nosso
relacionamento para com Deus: “pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou,
tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento" (I Pe 1:15 RA).
Podemos dizer que santificação é algo que surge naturalmente da nossa união com Cristo,
que foi o assunto da aula passada.

Infelizmente, na igreja evangélica brasileira boa parte do conceito de santificação tem se


reduzido à questão de usos e costumes. Assim, virou mais um debate acerca de roupas,
cabelo e adornos, do que o vivenciamento de Cristo.

DEFINIÇÃO

A terminologia bíblica acerca da santificação nos impulsiona em duas direções:


exclusividade, e pureza.

Exclusividade

No tocante à exclusividade, alguma coisa é tida como santa quando dedicada a um uso
restrito. Assim, todos os utensílios que pertenciam ao culto do Antigo Testamento foram
santificados, isto é, separados para o uso exclusivo do culto divino. Não poderiam ser
usados para outros fins. É importante entender que não eram utensílios estranhos ou
diferentes daqueles que os israelitas tinham em casa. O que fazia a diferença era o fato de
que somente seriam usados no culto divino.

"Ungirás também o altar do holocausto e todos os seus utensílios e consagrarás o altar; e


o altar se tornará santíssimo" (Ex 40:10 RA).

Tanto o altar como os utensílios foram ungidos para demonstrar exclusividade.

Pureza

A segunda direção em que nos impulsiona a palavra santificação é a da pureza. É uma


introdução à natureza moral implícita na santificação de seres humanos.
"Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que
é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura
dolosamente" (Sl 24:3-4).

Você percebeu a evidente ligação entre santo lugar e mãos limpas, e pureza de coração?

SANTIFICAÇÃO DEFINIDA NEGATIVAMENTE

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Às vezes é importante definirmos algum assunto negativamente, isto é, dizer o que não é.
Para evitar os abusos mais comuns no pensamento e tratamentos populares, quero
enfatizar que a santidade não nos converte em anjos. Ao contrário, ela nos faz
plenamente humanos.

A santidade não elimina certos aspectos da natureza humana que recebem forte censura
por parte de algumas comunidades eclesiásticas. Refiro-me à nossa sexualidade.

Vamos lembrar de que foi Deus, não o diabo que inventou o sexo. Portanto, uma pessoa
santificada não é sinônimo de uma pessoa assexuada. Na próxima vida, tudo indica que
não haverá mais relações sexuais entre os seres humanos, mas enquanto aqui, a Bíblia
diz: "Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula;
porque Deus julgará os impuros e adúlteros" (Hb 13:4 RA).

SANTIFICAÇÃO DEFINIDA POSITIVAMENTE

Positivamente, entendemos que a santificação tem tudo a ver com saúde, separação, e
serviço. É importante observarmos que o modelo ou paradigma da nossa santificação é
Jesus e não seu “primo” João Batista.

Lembre-se da palavra do próprio Jesus: "Pois veio João Batista, não comendo pão, nem
bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e
dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores”.(Lc 7:33-
34 RA).

João batista, que era o precursor de Jesus, não conseguiu entender os conflitantes
relatórios que recebia acerca de Jesus. "Quando os homens chegaram junto dele,
disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tú aquele que estava para vir ou
esperaremos outro?” (Lc 7:20 RA).

A Santificação é evidenciada não por costumes diferentes, mas por uma qualidade de vida
diferente. Jesus mandou uma palavra de consolo ao coração de João dizendo:

"Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os
leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres,
anuncia-se-lhes o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo
de tropeço" (Lc 7:22-23).
A plena verdade é que algumas vezes queremos ser mais santos que o próprio Jesus. O
reconhecimento da diferença entre as perspectivas de João e Jesus pode promover uma
grande melhoria na convivência de irmãos na mesma ou em diferentes comunidades. O
fato de que Jesus era bem mais liberal que João Batista é óbvio. Enquanto João vivia
afastado da sociedade, Jesus vivia dentro dela. Mais uma vez enfatizamos que Jesus, não
João Batista, é o nosso paradigma! O apóstolo Paulo enfatiza isso:
"Porquanto, ao ressuscitarem dos mortos, nem se casam, nem se dão em casamento; pelo
contrário, são como os anjos nos céus." (Mc 12:25)
"o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda
a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo" (Cl 1:28 RA).

METODOLOGIA DO ESTUDO

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Estudaremos o assunto da santificação usando o conceito de quatro polaridades ou


dicotomias:
• objetiva/subjetiva;
• interna/externa;
• imediata/progressiva;
• obra divina/humana.

Na segunda parte procuraremos entender os meios e os métodos de santificação.

SANTIFICAÇÃO: Uma perspectiva Objetiva e Subjetiva

Perspectiva Objetiva

Esta parte do curso pode ser bastante interessante (leia-se, complicada). Portanto vamos
começar com algo simples: um porco e uma ovelha. Segundo o conceito bíblico do Antigo
Testamento, todos os animais cabiam em uma de duas categorias: animais limpos ou
imundos. Você consegue decidir que animal pertence a que categoria? Provavelmente que
sim. O porco pertence à classe de animais imundos, enquanto a ovelha à classe dos
limpos.

Agora vamos usar estas categorias para ilustrar a questão da santificação objetiva.

Objetivamente, a ovelha é sempre um animal limpo e o porco é sempre um animal


imundo. Semelhantemente um cristão regenerado é sempre santificado, e um não-cristão
é sempre profano. Como nunca pode existiu uma ovelha que pertencesse à classe dos
porcos, nunca pode haver um cristão que pertença aos profanos.

De igual modo, nunca pode o porco pertencer à classe das ovelhas ou um não-cristão
pertencer à classe dos cristãos. Santificação objetiva é aquela que depende da natureza.

Perspectiva Subjetiva

Sabemos que a ovelha pertence à classe de animais limpos, enquanto o porco à classe dos
animais imundos. Mas o que dizer se a ovelha cai em um lamaçal, e alguém decidir dar
um banho no porco?

Teremos um animal limpo que é imundo, e um animal imundo que é limpo! Conseguiu
entender? Quando a ovelha se suja, continua pertencendo à classe de animais limpos. Do
outro lado, o porco pertence à classe dos animais imundos, não importa quantos banhos
receba. Esta ilustração simplifica a dificuldade que enfrentamos dentro e fora da Igreja.
Algumas pessoas salvas estão sujas, enquanto outras pessoas perdidas estão limpas.

Falando de santidade objetiva, sabemos que o que separa um ser humano do outro é seu
relacionamento com Jesus. Uma pessoa pode estar em Cristo e ainda estar vivendo aquém
do padrão de Deus. Sua santificação objetiva é garantida, (porque está em Cristo), mas
sua santificação subjetiva é comprometida, porque não está se sujeitando à vontade dEle.

Paulo não vê nenhuma contradição em chamar crentes pecadores de santos, ou afirmar


que há pessoas no mundo que são menos pecadoras que os crentes da Igreja.
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"à Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para
ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor deles e nosso" (I Co 1:2 RA).

"Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo
entre os gentios', isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai" (I
Co 5:1 RA).

Aos santificados: aqueles que estão em Cristo (Santificação objetiva), chamados para ser
santos, pesa sobre eles a obrigação de manter-se limpos (Santificação subjetiva).

Os gentios são como se fossem o porco limpo, enquanto o cristão em questão é como se
fosse a ovelha imunda.

SANTIFICAÇÃO: Uma coisa Interna e Externa

Durante a história, a ênfase sobre santificação tem oscilado entre as idéias internas e
externas. Encontramos as duas verdades na Bíblia, e ambas têm a sua importância.

Santificação Externa

Santificação externa é aquela santificação óbvia que pode ser vista nas doutrinas de usos
e costumes. A ênfase é sobre cabelo, roupa, comportamento. Os fariseus estavam
preocupados com estas coisas. Quanto a estas coisas, podemos afirmar o direito de cada
comunidade eclesiástica estabelecer seus padrões sociais, uma vez que perceba que não
são os únicos que um cristão pode ter.

"Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze
ao que não come; e o que não come não julgue ao que come, porque Deus o acolheu. Um
faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem
definida em sua própria mente" (Rm 14:2-3,5).

Santificação Interna

Se a conformidade com Cristo é nosso alvo, é importante que conheçamos a atitude de


Cristo em relação à santificação. Diferente dos fariseus de seu tempo, Jesus estava pouco
preocupado com as coisas externas, mas sim com as internas. Teve alguma preocupação,
sim. Por exemplo, insistia em ser batizado por João:
“Jesus, porém, lhe respondeu: Consente agora; porque assim nos convém cumprir toda a
justiça. Então ele consentiu”.(Mt 3:15 RA). Portanto, não digo que não teve preocupação
nenhuma com as coisas externas, mas que deu pouca ênfase a este assunto.

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato,
mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança. Fariseu cego! limpa
primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo. Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por
fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro,
estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade" (Mt 23:25-28).

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Uma santificação interna é aquela que é operada dentro de nós pelo Espírito Santo, a
Palavra de Deus e a presença de Cristo.

SANTIFICAÇÃO: Uma realidade Imediata e Progressiva

Uma terceira consideração em relação à santificação é a questão temporal. Quando é que


a santificação ocorre? Leia atentamente os versículos abaixo para perceber o aspecto
imediato:

"Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem
impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões,
nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de
Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas
fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (I Co
6:9-11 RA).

Obviamente os cristãos em Corinto haviam sido santificados! Como explicar, então, a


questão do seu presente comportamento reprovável? Sabemos que na Igreja havia todo
tipo de pecado: divisões (I Co 1:10), imoralidade (I Co 5:1), litígio (I Co 6:1), glutonaria
e bebedeiras (I Co 11:21) e ainda falsa doutrina (I Co 15.12).

A explicação é que, além de existir a questão da santificação objetiva/subjetiva, e


interna/externa, existe a questão da santificação imediata/progressiva. Foi rápido e fácil
Deus tirar Seu povo do Egito, mas foi difícil e lento o processo de tirar o Egito do coração
de Seu povo!

A realidade da santificação do cristão é semelhante à questão do reino de Deus: ora


chegou, ora está chegando. Através da Bíblia aprendemos a importância tanto do milagre
como do processo. Jesus foi concebido instantânea e milagrosamente, mas foi entregue a
um processo natural e longo de maturidade humana.

Semelhantemente, somos regenerados instantânea e milagrosamente, mas somos


entregues a um processo natural e longo de maturidade cristã. Eventualmente seremos
totalmente santificados:
"Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de
ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque
haveremos de vê-lo como ele é" (I Jo 3:2 RA).

SANTIFICAÇÃO: Uma parceria Divina e Humana

Como você está percebendo é muito fácil radicalizar a verdade, mas a Bíblia nos ensina o
equilíbrio. A santificação é tanto objetiva como subjetiva; ela é tanto uma questão externa
quanto uma questão interna; a santificação é algo que acontece de imediato, mas leva a
vida inteira.

Nesta última consideração de dicotomias ligadas à santificação, pesquisamos a fonte ou


responsabilidade de santificação. Debaixo da liderança de João Wesley, o movimento de
santidade desenvolveu uma teologia acerca da santificação como sendo uma segunda
experiência da graça de Deus, posterior à salvação.
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O ensinamento ligado àquela experiência parece um pouco com o ensino acerca do


batismo no Espírito Santo na tradição pentecostal. Todos os dois crêem no poder de Deus
conforme Atos 1:8:
"mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas
tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra" (At 1:8).

A diferença entre as duas tradições é que os pentecostais entendem que "sereis minhas
testemunhas" significa poder para evangelizar, enquanto os metodistas entendem que a
mesma frase significa convincentes testemunhos de vida cristã.

Uma Parceria

"Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença,
porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade" (Fl 2:12-13).

Há ampla evidência bíblica que sugere que o cristão precisa assumir responsabilidade para
sua vida e fazer progresso na santificação. Do outro lado, relembramos a amarga
experiência de Paulo em Romanos 7, onde ele encarou a sua própria falência espiritual.
Por este motivo ele chama a atenção dos filipenses para a necessidade de uma parceria.

Paulo encarrega os Filipenses do desenvolvimento da sua salvação - que interpreto


como sendo a sua santificação. Creio que a melhor ilustração bíblica deste conceito é de
Noé e a arca que aparelhou para a salvação dele próprio e da sua família.

Uma Obra Divina

Obviamente a idéia e o desenho da arca eram divinos. Deus revelou o caminho da


salvação para Noé e compartilhou tudo que precisava para fazer uma embarcação segura.
Revelou as medidas, o tipo de madeira, a divisão dos compartimentos e o segredo da
impermeabilização. Deu a ele bastante tempo para construir a arca, mas depois o deixou a
sós para fazê-la. Deus poderia ter criado a arca para Noé mediante uma simples palavra,
mas não o fez.

Noé, de posse da revelação de Deus, começou a trabalhar. Localizou as árvores indicadas,


cortou-as e preparou a madeira. Começou a construção, provavelmente sem muito
incentivo de família ou vizinhos.

Que trabalho difícil! Durante o projeto Noé tinha várias oportunidades para questionar as
exigências de Deus. Havia mil maneiras de reduzir o trabalho mediante uma modificação
dos planos de Deus. Por que tão alto, tão largo? Por que aquela madeira, por que duas
impermeabilizações? Deus não fiscalizava nada. Deixou Noé trabalhar do jeito que ele bem
entendia.

Um belo dia Deus chega para Noé e diz "Entre na arca!" Noé entrou e Deus trancou a
porta! Começou a chover e não parava! Agora era a hora da verdade. Agora era a hora de
Noé ficar dentro da embarcação que havia construído com temor e tremor! Agora iria se
manifestar à fidelidade do servo do Senhor, mas, se não tivesse sido fiel, ia morrer lá

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dentro!

Semelhantemente vai chegar o dia quando Deus chegará para nós e vamos ter de viajar
na embarcação celestial que temos construído segundo a Palavra de Deus. Por enquanto
cada um constrói como bem entender.

"Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à
vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria
glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes
promessas para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos
da corrupção das paixões que há no mundo, por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa
diligência, associai com a vossa fé a virtude: com a virtude, o conhecimento; com o
conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a
perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais
nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois
aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto,
esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com
diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo
assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente
suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (II Pe 1:3-
11).

Amanhã, o fogo provará o trabalho de cada um!

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