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SOTERIOLOGIA

DOUTRINA DA SALVAÇÃO

INTRODUÇÃO

A salvação para o homem não é obra humana, pois


a salvação vem de Deus. Isto significa que o homem
depende inteiramente de Deus. A salvação se dá
pela regeneração e pela renovação do Espírito
Santo de Deus, assim o homem é justificado pela
graça, mediante a fé, tornando-se herdeiro de Deus
e alcançando a vida eterna.
CONCEITO DE SALVAÇÃO
Conceito de Salvação: [o vocábulo
Gr. Soteria = cura, remédio, salvação, bem-estar
+ logia = ensino, estudo, doutrina, etc.]. Então
SOTERIOLOGIA significa – estudo sistemático das
verdades bíblicas acerca da salvação.
I. A PROVISÃO DA SALVAÇÃO.
As Sagradas Escrituras afirmam que
Cristo é tanto o Autor como o Consumador da fé (Hb
12.2).
A designação de Autor refere-se à
provisão da salvação mediante Jesus Cristo;
e Consumador refere-se à aplicação desta salvação
também mediante Cristo.
Vamos analisar as causas da provisão da
salvação:
1. O PECADO DO HOMEM.
Por causa da própria natureza caída, o
homem, desde o seu nascimento até a sua morte,
está em inimizade com Deus (Sl 51.5; Rm 7. 24).
O pecado é um estado mau da alma ou da
personalidade. Desta forma, às escrituras apresenta
o homem como um ser totalmente depravado,
alienado da glória de Deus e destinado ao castigo
divino (Rm 3. 23). Deste modo, por si só, o homem
não pode se salvar (Rm 7. 18).
Sob a perspectiva divina, o homem é
considerado alguém espiritualmente paralítico,
aguardando o estender do braço salvador (Is 59. 16).
2. A GRAÇA DIVINA
No contexto da Doutrina da Salvação, a
graça de Deus é abordada sob dois aspectos:
a) Como favor imerecido da parte de Deus, para
com todos indistintamente (Jo 3. 16).
b) Como poder restringidor do pecado,
operando na reconciliação do homem e sua
santificação (Jo 1. 16; Rm 5. 20).
A proporção da graça que o homem
recebe depende exclusivamente da sua decisão,
independentemente da vontade de Deus, já
manifesta. Por esta razão, nos adverte o apóstolo
Pedro (vejamos 2 Pe 3. 18).
3. A PROVISÃO DE CRISTO
Apesar de estar empenhado na nossa
salvação e segurança, não é querer de Deus
declarar-nos inocentes simplesmente. Devemos ter
em mente o fato de que Deus é um Deus não só de
amor, é um Deus também de justiça. Portanto, para
Deus declarar-nos inocentes independentemente da
nossa conversão, seria uma ofensa a sua justiça.
Seria um procedimento que entraria em choque com
a sua santidade que declara que a alma que peca
essa morrerá (Ez 18. 4, 20).
Então, como poderia Deus manter a
perfeição da sua justiça e ainda assim salvar
pecadores? A resposta está no fato de que Deus
não desculpa o nosso pecado, pelo contrário, Ele o
remove completamente.
Vejamos o que nos dizem as Escrituras
(Jo 1.29).
Assim como o cordeiro para o uso nos
sacrifícios da antiga aliança devia ser um animal
sem nenhum defeito, ou mancha, de igual modo
Deus requeria um cordeiro substituto perfeito, capaz
de oferecer um único sacrifício suficiente para salvar
a tantos quantos aceitasse o seu sacrifício (Hb 9.
14).
4. O ALCANCE DA SALVAÇÃO
Observe a seguinte indagação: “Por quem
Cristo morreu?”.
Se a resposta for “Pelo mundo inteiro”,
alguém dirá: “Porque então nem todas as pessoas
são salvas?”.
Se a resposta for “Pelos eleitos”, outro
articulará: “Deus é injusto, pois a salvação é
limitada”.
A fim de equacionar esta questão, a Bíblia
se nos oferece respostas:
a) A salvação é para o mundo inteiro (Hb 2. 9; 1 Jo
2.2).
b) A salvação é para os que crêem ( 1 Tm 4. 10;
At 16. 31).
c) Alguns abandonarão a salvação. (2 Pe 2. 1).
II. O ASPECTO DIVINO DA SALVAÇÃO.
A salvação tem seu fundamento em Deus.
Perguntas como: “Por que somos salvos” e “Como
somos salvos”, só podem encontrar resposta
verdadeira em algo fora do homem, em Deus. É este
aspecto da salvação que vamos considerar aqui.
1. A PRESCIÊNCIA DE DEUS
“Presciência é o aspecto da onisciência
relacionado com o fato de Deus conhecer todos os
eventos e possibilidades futuros”.
Este atributo divino não interfere nas
decisões do homem, nem do seu livre arbítrio.
As ações do homem não são permitidas
ou impedidas simplesmente porque são previamente
conhecidas por Deus.
Para uma melhor compreensão do
assunto, você poderá ler as seguintes referências
bíblicas: At 2.23; 26. 5; Rm 3. 25; 8. 29; 11. 2; 1 Pe
1. 2, 20; 2 Pe 3.17.
2. A ELEIÇÃO DIVINA
Eleição é o ato de eleger, escolha.
É o diploma divino com que é agraciado
todo o que recebe a Cristo Jesus como seu único e
suficiente salvador (Jo 3. 16).
A eleição subentende que a pessoa,
mediante o sacrifício de Cristo, já atendeu a todos os
requisitos exigidos pela justiça de Deus quanto ao
perdão de seus pecados.
2.1. CONSIDEARAÇÕES SOBRE A
DOUTRINA DA ELEIÇÃO
Na explicação da eleição, é preciso levar
em conta as duas verdades bíblicas, que é a
da soberania de Deus e a da responsabilidade do
homem na salvação.
a) A INICIATIVA DE DEUS NA SALVAÇÃO
Deus é quem toma a iniciativa na salvação
das pessoas.
A necessidade desta iniciativa vem do fato
do homem estar morto espiritualmente e não poder
operar a sua própria salvação (Ef 2. 1-3, 5, 6).
O pecador, sem a graça de Deus (1 Co 2.
14; 2 Co 4. 4; Ef 4. 18). Por isto, Deus toma a
iniciativa na salvação do homem.
b) A RESPONSABILIDADE DO HOMEM
Não obstante a eleição, o homem ainda
fica livre e responsável por suas decisões (Lc 9. 23;
Ap 22. 17).
Deus trabalha no homem. A mente, as
emoções, à vontade, a consciência do homem são
trabalhadas (e não substituídas) por Deus, através
do Espírito Santo e da Palavra, de maneira que o
homem possa aceitar, ele mesmo, e com
responsabilidade e vontade própria, a oferta de
Deus.
No plano geral de Deus, a obra de Cristo
visa a todos (Gn 12. 2; Mt 28. 19, 20; 1 Jo 2. 1, 2; Ef
3. 6; Tt 2. 11). Dentro desse plano geral vem a
eleição; dentro da eleição está a liberdade e a
responsabilidade do indivíduo (Rm 2. 12; Mt 11. 20-
24).
A maior dificuldade em entender a eleição
está no fator tempo. Daí a freqüência com que surge
a seguinte pergunta: “Se a pessoa é eleita antes de
lançados os fundamentos da terra, como, pois, a
eleição pode ser baseada na fé em Cristo?”. Pedro
responde esta pergunta, vejamos (1 Pe 1. 2).
Baseado no seu conhecimento quanto à decisão que
o crente tomaria, Deus o elegeu, antes mesmo de
lançados os fundamentos da terra.
3. A PREDESTINAÇÃO
A doutrina da predestinação é uma das
mais consoladoras doutrinas da Bíblia.
Sua essência repousa no fato de que
Deus tem um plano geral e original para o mundo,
que seus propósitos jamais serão frustrados.
3.1. DEFINIÇÃO DA PALAVRA
“PREDESTINAÇÃO”
“Predestinação” – pré = antes + destinar =
destino. Que é destinar com antecipação; escolher
desde toda a eternidade, etc. Este termo é do ponto
de vista literário.
Do ponto de vista divino, predestinação,
segundo se depreende, assume um caráter de
profundo significado e de infinito alcance.
Tal expressão vem do grego “proo-rdzo”,
que, literalmente, significa “assimilar de antemão”;
A preposição grega “pro” faz essa palavra
indicar uma atividade feita de antemão, etc.
Para entender melhor a Doutrina da
Predestinação vamos lê João 3.16.
a) A PREDESTINAÇÃO É UNIVERSAL.
Deus, em seu profundo e inigualável amor,
predestinou todos os seres humanos à vida eterna
(At 17. 30; Jo 3. 17).
Ninguém foi predestinado ao lago de fogo
que, conforme bem acentuou Jesus, fora preparado
para o diabo e seus anjos (Mt 25. 41).
b) MAS O FATO DE O HOMEM SER
PREDESTINADO A VIDA ETERNA NÃO LHE
GARANTE A BEM-AVENTURANÇA.
É necessário que o homem creia no
evangelho (Rm 1. 16). Somente assim poderá ser
havido por eleito (Jo 5. 24; Mc 16. 16; Jo 3. 18-21).
III. O ASPECTO HUMANO DA SALVAÇÃO
Faz-se necessário abordarmos o aspecto
humano da salvação.
A salvação é um ato que parte de Deus
em favor do homem, e não do homem em favor de
Deus. Haja vista a impossibilidade do homem em
agradar a Deus por si só houve a necessidade da
iniciativa divina em prover a salvação
independentemente dos méritos humanos. Porém,
existem três atos de responsabilidade do homem,
embora nestes também o pecador dependa da graça
de Deus para a sua realização. Estes atos são
tratados aqui numa ordem que tem sentido apenas
lógico, e não cronológico, porque, na verdade, eles
se realizam simultaneamente.
1. ARREPENDIMENTO
2.1. EXIGÊNCIA DO ARREPENDIMENTO NA
SALVAÇÃO
Arrependimento é o primeiro passo que se
requer na salvação. Sem ele não há salvação. Os
profetas do antigo testamento pregaram o
arrependimento, implícito na idéia da salvação, como
uma exigência básica de Deus para o livramento do
povo (Dt 30. 10; Jr 8. 6; Ez 18. 30).
Arrependimento foi também o ponto alto
na pregação de João, o Batista, como exigência do
Reino de Deus (Mt 3. 2; Mc 1. 15).
Jesus seguiu a mesma linha de pregação
do precursor, requerendo o arrependimento dos
homens para a entrada no Reino de Deus (Mt 4. 17;
Lc 13. 3-5).
O mesmo fez os apóstolos (Mc 6. 12; At 2.
38; 3. 19; 20. 21; 26.20). O arrependimento é uma
ordem de Deus para todos os homens e em todos os
lugares (At 17. 30).
2.2. SIGNIFICADO DE ARREPENDIMENTO
O arrependimento (gr. Metanoia) é
essencialmente uma mudança na mente em relação
ao pecado e a Deus.
O arrependimento envolve uma completa
mudança de pensamento sobre o pecado e a
percepção da necessidade de um salvador.
Esses são os passos que levam o homem
ao arrependimento operado por Deus:
a) RECONHECIMENTO DO PECADO (Sl 51. 3,7)
b) TRISTEZA PELO PECADO (Sl 51. 1,2; 2 Co 7.
9,10).
c) ABANDONO DO PECADO (1 Jo3.9).
A pessoa arrependida quer fazer a
vontade de Deus. Decide deixar o pecado e seguir a
cristo.
2. FÉ EM JESUS CRISTO:
2.1. A EXIGÊNCIA DA FÉ PARA A SALVAÇÃO
Junto com a exigência do arrependimento
para a salvação vem a fé em Cristo. A fé é o
elemento essencial na salvação cristã. É por meio
dela que a graça divina opera em nós. É pela fé em
cristo que somos salvos (At 16. 31; Ef 2. 8; Rm 5. 1).
Paulo resume sua exortação aos cristãos
da Galácia dizendo que “em Cristo Jesus nem a
circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma;
mas sim a fé que opera pelo amor” (Gl 5. 6). A fé é
básica no plano redentivo de Deus.
2.2. CONCEITO DE FÉ SALVADORA
A fé salvadora [Do gr. Pistenõ; Do lat.
Salvadore] isto é, proveniente da proclamação do
evangelho, esta fé leva-nos a receber a Cristo como
nosso único e suficiente salvador (Jo 3. 16).
A fé salvadora só há de nascer no coração
humano através da pregação do evangelho (Rm 10.
13-17). Sem a mensagem da cruz, não pode haver
fé salvadora.
3. CONVERSÃO
3.1. SIGNIFICADO DE CONVERSÃO E SUA
RELAÇÃO COM ARREPENDIMENTO E

Deus requer a conversão dos pecadores
para que sejam perdoados e salvos (Is 55. 7; Jr 18.
11; Mt 18. 3; At 3. 19), como também exige
arrependimento e fé (At 2. 38; 16. 31).
A conversão está intimamente associada
ao arrependimento e a fé, mas destes pode ser
distinguida. Num sentido mais geral, conversão inclui
o arrependimento e a fé (At 3. 19; At 2. 38; At 16.
31).
IV. COMPOSIÇÃO DA SALVAÇÃO
1. UNIÃO COM CRISTO:
1.1. UNIÃO COM CRISTO COMO LUGAR DA
SALVAÇÃO.
Em Cristo é o lugar onde se opera a
salvação. Os homens estão em Cristo ou fora de
Cristo, e por isto, salvos ou perdidos. Paulo declara
que “Se alguém está em Cristo nova criatura é” (2
Co 5. 17). Recebemos todas as bênçãos espirituais
como resultados de estarmos “em Cristo” (Ef 1. 3-
14).
Em Romanos 6. 1ss, o apóstolo explica
que o segredo da salvação efetiva na vida, capaz de
produzir santificação e libertação, é a nossa união
com Cristo, da qual o batismo é um sinal exterior.
Em João 15. 1ss, também está claro que a
única maneira de se viver à vida cristã é na união
com Cristo. Este é o ensino uniforme do novo
testamento. No arrependimento, fé e conversão, o
pecador é levado até Cristo e único a ele pelo
Espírito Santo.
2. REGENERAÇÃO
A regeneração difere do arrependimento,
fé e conversão no sentido de que ela é uma ação
direta de Deus na vida do crente. O homem deve
arrepender-se, crer e converter-se; assim Deus
ordena. Mas não há mandamento para que o
homem se regenere, pois esta é uma obra de Deus.
Ela é o princípio essencial da salvação.
2.1. TERMINOLOGIA BÍBLICA
A Bíblia utiliza vários termos para referir-se
ao que chamamos de regeneração.
Entre outros, ela fala de novo nascimento
(Jo 3. 3) ou nascido de Deus (Jo 1.13; Jo 5. 1, 4);
renovação pelo Espírito (Tt 3. 5); vivificação (Ef 2. 1,
5); nova criação (Cl 2. 13; 3. 1). O termo mais
apropriado e utilizado na teologia é regeneração (Tt
3. 5; 1 Pe 1. 3). A idéia Bíblica é de que há um
homem natural e outro regenerado, ou feito de novo
em Cristo.
2.2. NECESSIDADE DA REGENERAÇÃO
Regeneração
é uma exigência absoluta para a entrada no Reino
de Deus (Jo 3. 3).
A razão disto é que o homem está morto
em delitos e pecados (Ef 2. 1), e precisa de uma
vivificação de fora para poder viver eternamente (Ef
2. 4-6).
Nessa vivificação o pecador é santificado,
e sem esta nova vida moral e espiritual ele não
poderia ter comunhão com Deus (Hb 10. 10; 12. 14).
Além disto, o padrão ético-religioso de
Jesus para os seus seguidores está muito acima
daquilo que o homem natural pode atingir. Ele requer
uma justiça acima da “dos escribas e fariseus” (Mt 5.
20); o caráter dos cidadãos do Reino de Deus é
muitíssimo elevado (Mt 5 a 7); o alvo de perfeição é
o próprio Pai celestial (Mt 5. 48); o amor para com
Deus deve ser incondicional (Mt 22. 37s).
Por tudo isto se requer uma nova vida,
vinda de Deus para dentro do coração do homem,
conforme Ele mesmo prometeu fazer muito tempo
antes (Jr 31. 33, 34; Ez 36. 26,27).
2.3. SIGNIFICADO DE REGENERAÇÃO
Regeneração é o ato de Deus pelo qual
Ele muda a disposição moral da alma do indivíduo,
na união com Cristo, tornando-o moral e
espiritualmente semelhante a Cristo. Deste conceito
podemos destacar os seguintes aspectos:
2.3.1 REGENERAÇÃO COMO UM ATO DE DEUS
É Deus quem opera a regeneração, pelo
seu Espírito (Jo 1. 13; 3. 5, 6; Tt 3. 5; 1 Pe 1. 3).
O Espírito Santo convence o homem “do
pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16. 8). Ele purifica
e renova o coração e a alma.
A palavra de Deus é o instrumento que o
Espírito Santo usa na regeneração (Rm 1. 16; 1 Co
1.21; 1 Ts 2. 13; 1 Pe 1. 23).
O pregador pode semear a palavra e
cuidar da semente, mas só Deus dá o
crescimento (1 Co 3. 6).
2.3.2 REGENERAÇÃO COMO MUDANÇA NA
ALMA
Na regeneração Deus muda a disposição
moral dominante da alma do pecador. Romanos 8.
5-7, diz como é a disposição moral dominante de
quem não é regenerado:
a) É carnal, isto é, recebe seu impulso dominante
da própria natureza humana, no seu estado de
depravação ou corrupção, e não do Espírito de
Deus.
b) É também mortal, quer dizer, tem em si o germe
da morte e conduz pra lá.
c) É ainda inimiga de Deus e insubmissa a lei
divina.
As inclinações naturais do não regenerado
são, em sua natureza moral, concupiscentes,
infames e depravadas (Rm 1. 24, 26, 28).
O homem, por natureza, está morto
em delitos e pecados, e como tal é levado como um
cadáver por uma tríade infernal: o mundo, o diabo e
a carne (Ef 2. 1-3).
Na regeneração, esta situação do homem
natural é revertida. A paixão
dominante da alma converte-se em amor para com a
justiça e ódio para com o pecado (1 Jo 3. 6-9).
Produz-se no crente a imagem moral e
espiritual de Cristo (Rm 8. 29; 1 Jo 3.2).
O velho homem morre crucificado com
Cristo (Rm 6. 6), e ressurge um novo homem, que se
renova para a eternidade (cl 3. 9, 10).
2.3.3 REGENERAÇÃO E A UNIÃO COM CRISTO
O lugar onde se opera a regeneração é
em Cristo (2 Co 5. 17). Nele o velho homem morre e
o novo homem é criado (Ef 2. 10).
Esta união é obra do Espírito
Santo naquele que crê; com isto ele é unido a Cristo
pelo Espírito Santo (Ef 1.13).
2.3.4 REGENERAÇÃO E SEMELHANÇA MORAL
COM CRISTO
Nasce no regenerado um novo homem,
que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e
santidade (Ef 4. 24). Em princípio, o regenerado se
torna semelhante a Cristo. Ele não pode mais
descansar numa vida de pecado. Por causa da luta
ou guerra espiritual do crente com o pecado (Gl 5.
16-17). É disto que nasce o impulso da santificação,
como um processo de conformação contínua
do crente com a imagem de Cristo (Rm 12. 1-2).
2.4. EFEITOS DA REGENERAÇÃO
A regeneração produz efeitos posicionais,
espirituais e práticos.
1) EFEITOS POSICIONAIS
É a condição de filho de Deus por adoção
(Jo 1. 12, 13; Rm 8. 16; Gl 4. 6); como filho, o crente
é também herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo
(Rm 8. 17), cuja herança fica assegurada no céu (1
Pe 1. 4). Além disto, por ser filho o crente goza do
acesso ao Pai Celestial e tem comunhão com Ele
(Rm 5. 1ss).
2) OS EFEITOS ESPIRITUAIS
São as virtudes que o crente recebe do
Senhor na sua alma (Gl 2. 20). “Ele é fortalecido no
Senhor e na força do seu poder” (Ef 6. 10; 3. 16-19).
3) OS EFEITOS PRÁTICOS
Aparecem na vida do crente no dia-a-dia.
Ele busca a vida de justiça, santidade, amor e
verdade (Ef 4. 22ss). Ele pratica o amor fraternal,
serve a Cristo e aos irmãos. Produz as obras que é o
fruto da vida em Cristo (Gl 5. 22; Ef 5. 9-11).
3. JUSTIFICAÇÃO
3.1. O LUGAR DA JUSTIFICAÇÃO NA BÍBLIA
A justificação é uma doutrina importante
na ordem da salvação, a julgar pela ênfase e
importância que a Bíblia dá a ela. É o apóstolo Paulo
quem desenvolve e mais enfatiza a doutrina da
justificação, especialmente em Romanos e Gálatas
(cf. Rm 3. 24, 25, 26; 4. 25; 5. 1,16, 18; 8. 33; Gl 2.
16; 3. 11; At 13. 39). Mas não foi apenas Paulo que
falou dessa doutrina. O profeta Isaías já havia se
referido a ela como uma obra do Messias, que iria
justificar a muitos (Is 53. 11). Jesus Cristo também
fez menção à justificação quando disse que o
pecador publicano “desceu justificado para a sua
casa” (Lc 18. 14).
Portanto, trata-se de uma doutrina bíblica,
que foi desenvolvida pelo apóstolo aos gentios, no
contexto cultural greco-romano, enfatizando o
aspecto judicial da salvação.
3.2. O SIGNIFICADO DE JUSTIFICAÇÃO
Justificação pode ser definida com o ato
de Deus declarar o pecador perdoado, livre da
condenação, e restaurado ao favor divino. Com base
neste conceito, podemos fazer os seguintes
destaques relativos à justificação.
3.2.1 O SENTIDO JUDICIAL DE JUSTIFICAÇÃO
Justificação é um ato judicial de Deus. Ela
ocorre diante do tribunal divino e não na alma
humana do homem, como acontece com a
Regeneração.
A justificação significa que o pecador foi
julgado em Cristo, está perdoado, é aceito como
justo diante de Deus, e fica absolvido da
condenação eterna (Jo 5. 24; Rm 8. 1, 33).
3.2.2 O PERDÃO NA JUSTIFICAÇÃO.
Justificação implica no perdão dos
pecados, por isto não há mais condenação (cf. Lc
18. 14; Jo 5. 24; Rm 8. 1). Todos os pecados são
tratados na justiça de Cristo, aqueles já cometidos e
os que ainda vierem a ser praticados, pois o perdão
remove toda a culpa do indivíduo diante do trono de
Deus, e garante seu pleno livramento da
condenação eterna. A provisão para o perdão dos
pecados futuros já fora feita (1 Jo 2. 1,2). Entretanto,
o justificado, ao cometer pecado, deverá confessá-lo
e apropriar-se do perdão oferecido para não carregar
o peso da culpa na sua consciência e sofrer os
efeitos disto na sua relação com Deus (cf. Sl 32. 3-5;
51. 1-13).
3.2.3 RESTAURAÇÃO NA PRESENÇA DIVINA
A justificação vai além do perdão e da
absolvição; há também um aspecto positivo: uma
nova relação com Deus e nova condição de vida. Os
justificados são recebidos diante de Deus como
filhos amados e alvos de todos os favores da graça
divina. A “adoção de filhos”, que é um ato legal e não
natural, resulta da justificação (Rm 8. 15, 16). Junto
com a adoção vem o direito de herança no reino de
Deus (Rm 8. 17; 1 Pe 1. 4) e o recebimento do
Espírito Santo (Gl 4. 6; Rm 8. 9ss).
Os justificados recebem “herança entre
aqueles que são santificados” (At 26.18). Eles
gozam da “paz com Deus”, e têm “acesso” à graça
de Deus, e contam com a “esperança da glória de
Deus” (Rm 5. 1,2). A justificação traz consigo a
reconciliação do indivíduo com Deus e a certeza de
salvação (Rm 5. 9, 10). Os favores divinos na
justificação incluem também a garantia daquelas
coisas futuras que acompanham a salvação: novo
corpo, novo céu e nova terra, nova comunhão com
Deus (Rm 8. 11, 23, 29, 30).
3.2.4 O SENTIDO ESCATOLÓGICO DA
JUSTIFICAÇÃO
A justificação, como relação com o juízo
final de Deus, tem um caráter essencialmente
escatológico. É um ato de Deus presente que
encontra sua substância num acontecimento futuro.
Sem a realidade do juízo final de Deus a justificação
não teria sentido.
Para o crente em cristo, Deus antecipa a
decisão do futuro e o declara absolvido da
condenação. Portanto, a justificação deve ser
recebida pela fé, “esperança”, como toda a salvação
(Rm 8. 24). Temos por certo algo que só haveremos
de receber completamente no futuro.
3.2.5 A BASE DA JUSTIFICAÇÃO
Como pode Deus justificar o pecador sem
que ele se torne injusto? A expiação de Cristo na
Cruz responde a questão (Rm 3. 25, 26). O
sofrimento de Cristo significa o pagamento da culpa
de todos os nossos pecados, o cumprimento da Lei
que condena, de modo que, unidos a Ele pela fé
morremos com Ele e ficamos livres da condenação
da Lei, e somos declarados justos e absolvidos da
nossa condenação.
A base da justificação é a justiça
alcançada pelo filho de Deus (2 Co 5. 14, 15, 19,
21).
V. CONTINUIDADE E CONSUMAÇÃO DA
SALVAÇÃO
O arrependimento, a fé a conversão, a
união com Cristo, à regeneração e a justificação são
atos salvíficos que acontecem no início da vida
cristã. Sem eles não se pode dizer que a pessoa
recebeu a salvação. Mas durante toda a vida do
crente, desenvolve-se nele a experiência de
salvação, através do processo da santificação. No
final da sua existência terrena, o crente é glorificado,
consumando-se nele a gloriosa salvação. Em todo
este processo, a graça de Deus atua de modo a
garantir a vida eterna. Portanto, santificação,
glorificação e preservação são os três tópicos que
vamos estudar aqui.
1. SANTIFICAÇÃO
1.1 CONCEITO DE SANTIFICAÇÃO
Santificação é a obra contínua do Espírito
Santo pela qual Ele vai conformando o crente
à imagem de Cristo.
A palavra santificação traduz duas idéias
básicas ou fundamentais: Separação para Deus
e Purificação.
Santificação é o processo pelo qual o
crente é separado do pecado e simultaneamente
preservado e estimulado para a santidade e serviço
a Deus. Esta separação para Deus implica em
purificação (cf. Lv 11. 44ss; i Ts 4. 3; 5. 23).
Purificação moral é um elemento de
santidade (1 Pe 1. 15; 2 Pe 1. 4). Por isto que
santificação, como um processo contínuo, implica
em mortificação constante do homem velho (Rm 6.
6; Gl 5. 24; Ef 4. 22) e renovação do homem novo
(Ef 4. 24; Cl 3. 3-10).
A idéia de santificação aplicada aos
cristãos deve ser vista sob três perspectivas, que
podemos chamar de santificação
posicional ou objetiva, santificação
progressiva e santificação futura.
a) SANTIFICAÇÃO POSICIONAL OU
OBJETIVA
No ato da regeneração, todos os crentes
são santificados e, portanto, são santos, porque já
estão separados para Deus e purificados (Rm 1. 7;
At 9. 13; 1 Co 1.2; 2 Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.2).
b) SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA
Isto é, o Espírito Santo continua
trabalhando na vida do cristão regenerado, a fim de
que ele desenvolva o seu caráter e a sua
personalidade, à luz do padrão perfeito, que é Cristo:
neste sentido somos exortados a que nos
santifiquemos ainda mais (Ef 4. 17ss; Cl 3. 1ss; 1 Ts
5. 23; Hb 12. 14; 1 Pe 1. 13ss). Significa que o
Espírito Santo continua no processo da nossa
separação para Deus e purificação, até o dia final,
quando então seremos aperfeiçoados diante de
Deus, e seremos perfeitos como Cristo o É (1 Jo 3.
2, 3): isto é a SANTIFICAÇÃO FUTURA.
1.2 ELEMENTOS DECISIVOS NA SANTIFICAÇÃO
1.2.1. O ESPÍRITO SANTO
É o Espírito Santo que efetua no crente a
santificação, tanto aquela inicial (posicional) (Tt 3. 5;
1 Pe 1. 2) como a que se desenvolve durante a vida
cristã (progressiva) (2 Co 3. 18; Rm 8. 13; Ef 3. 16;
Gl 5. 16).
O Espírito Santo ensina, convence, guia a
toda a verdade e fortalece o crente. Ele se dispõe a
habitar em plenitude no crente para desenvolver no
cristão a sua santificação (Ef 5. 18; Gl 5. 16). Sem
essa presença abundante do Espírito na vida, o
crente fica a mercê de suas fraquezas morais e
espirituais.
1.2.2. UNIÃO COM CRISTO
A santificação acontece na união com
Cristo. Santificação é o processo pelo qual o Espírito
Santo torna cada vez mais real em nossa vida,
nossa união com Cristo em sua morte e
ressurreição. A vida cristã é uma questão de nos
tornarmos em nível de caráter intrínseco o que já
somos em Cristo. Tornar-se o que é (Ef 5. 8).
O cultivo da união consciente com Cristo é
fundamental para o progresso da santificação (Jo 15.
4, 5; Gl 2. 20; Ef 3. 17).
1.2.3. A PALAVRA DE DEUS
A palavra de Deus é o instrumento do
Espírito Santo na santificação do crente (Jo 17. 17; 2
Tm 3. 17; Jo 15. 3).
A palavra de Deus é viva e penetra até as
profundezas da alma, sonda o íntimo, traz à luz da
consciência o pecado, convence o crente a
abandonar o erro, faz crescer (Hb 4. 12; 1 Pe 1.23;
2.2). Tudo isto Ela faz porque é uma palavra
inspirada de Deus e é usada pelo Espírito Santo.
1.2.4. O ESFORÇO DO CRENTE
A santificação é uma obra do Espírito de
Deus feita em cooperação com o crente. O indivíduo,
como ser pessoal, é elemento decisivo na
santificação. Ele há de buscar a vontade de Deus na
sua palavra, precisa buscar o enchimento do Espírito
Santo, deve ser submisso e obediente à palavra de
Deus; O crente tem de lutar contra o pecado que
ameaça alojar-se em sua vida, precisa deixar o
pecado e consagrar-se inteiramente a Deus (cf. Rm
6.11-13; Cl 3. 5ss; Fl 2.12,13; 1 Pe 1. 13-22).
1.2.5. A ORAÇÃO
Elemento também decisivo na santificação
da vida cristã é a oração. É pela oração que o crente
cultiva sua relação com Aquele que é Santo e que
santifica. Oração é o alimento da comunhão pessoal
do santificado com o Santificador.
É na oração que se aguça a percepção
espiritual, tanto para reconhecer os pecados na vida
como para vislumbrar a glória da santidade de Deus.
Desse contraste surge o quebrantamento e o
arrependimento, que impulsionam a santificação (Is
51. 17; Is 57. 15).
2. GLORIFICAÇÃO
A salvação na vida do indivíduo opera-se
em etapas diferentes. Ela tem um começo, um
desenvolvimento e uma consumação. No começo da
salvação destacamos o arrependimento, a fé, a
conversão à união com Cristo, à regeneração e a
justificação. Os três últimos são atos exclusivos de
Deus na vida de quem se arrepende, crê e se
converte a Cristo. No desenvolvimento da salvação
temos a santificação. Na consumação, está a
glorificação. É na glorificação que o crente pode
experimentar a plenitude da salvação. Portanto, a
salvação tem um tempo passado, outro presente e
outro futuro. O conteúdo maior da experiência da
salvação está no futuro (Rm 8. 24; 13. 11; 1 Pe 1. 3-
5; 2. 1, 2; 1 Jo 3. 2).
2.1 O SIGNIFICADO DA GLORIFICAÇÃO
O termo glorificação aqui é empregado
para designar tudo àquilo que está incluído na
salvação futura, a partir da morte física, mas
especialmente seguindo-se a volta de Cristo. Alguns
textos ressaltam essa glória que será dos salvos
(Rm 5. 2; 8. 18; 2 Co 4. 17; Cl 1. 27; 1 Pe 1. 4-9). As
experiências de aflições do crente no mundo
presente são amenizadas com a esperança de
Glória no mundo vindouro.
2.2 ASPECTOS DA GLORIFICAÇÃO
Não sabemos tudo que está incluído na
glorificação. Mas a Bíblia nos revela alguns aspectos
dessa glória vindoura.
2.2.1. NOVO CORPO
Na ressurreição os crentes terão um novo
corpo, corpo glorificado, isto é, adaptado as
condições de existência do mundo vindouro (Lc 20.
35, 36; Rm 8. 23; 1 Co 15. 51ss; Fl 3. 21). Aquele
corpo não estará mais sujeito as condições ou as
leis desta criação, mas será corpo espiritual, quer
dizer, regido por leis do espírito, da nova criação, tal
qual o corpo ressurreto de Jesus.
2.2.2. NOVA COMUNHÃO COM DEUS
Novo céu e nova terra, nova Jerusalém,
são expressões bíblicas que indicam uma nova
habitação para os remidos do Senhor (Fl 3. 20; Hb
11. 16; 2 Pe 3. 13; Ap 21. 1-4). Se o pecado arruinou
a morada de Deus com os homens aqui na terra, na
redenção Deus proveu uma nova terra, nova
morada, onde Deus estará com os homens.
2.2.3. NOVA COMUNHÃO COM DEUS
Nossa relação com o Pai e com o Filho
neste mundo é pela fé. Estamos ausentes do Senhor
(2 Co 5. 6).
Nossos privilégios de filhos de Deus são
ainda precários (1 Jo 3. 2; Rm 8. 23, 26), mas na
glorificação teremos uma aproximação perfeita com
Deus e com Jesus Cristo (2 Co 5. 6-8; i Jo 3. 2; Ap
21. 3,4; 22.4). A promessa para o final é
que veremos a sua face; e nas suas frontes estará o
seu nome (Ap 22. 4).
2.2.4. LIBERTAÇÃO PLENA DO PECADO
Na justificação o crente é libertado da
culpa e do castigo do pecado; na regeneração e na
santificação a libertação é do poder do pecado na
vida; na glorificação a libertação é não só das
conseqüências e do poder do pecado, mas também
da presença do pecado, e de modo completo. O
pecado não mais existirá na alma nem no mundo
dos salvos e não mais interferirá na relação com
Deus e com o próximo. Os salvos são normalmente
perfeitos (Hb 12. 23; 2 Pe 1.4; Ap 21. 27). Uma nova
sociedade surgirá dos remidos de Cristo. Desta
forma, a salvação estará consumada.
CONCLUSÃO
Portanto, a salvação tem um caráter
essencialmente escatológico. As experiências de
salvação desfrutadas no tempo presente são apenas
indícios e antecipação parcial das bênçãos futuras. A
fé e a esperança são agora as virtudes cristãs que
ligam o crente do conteúdo escatológico da
salvação. O amor é a conseqüência prática da fé e
da esperança (Gl 5. 6; 1 Tm 1. 5; 2 Pe 1. 5-7).
Na visão escatológica da salvação, o
crente encontra sentido e encorajamento para a sua
vida cristã terrena. Sem esta perspectiva, “somos de
todos os homens os mais dignos de lástima” (1 Co
15. 19).

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