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A Justiça e a Soberania de Deus [revisado 2.

0]

Respondendo uma das objeções que se levantam contra a doutrina


da soberania divina
por Yuri Schein

Eis a objeção:

“A considerar o fato de Deus ser o legislador universal de todas as


leis, e o pressuposto básico de que Deus só pode legislar mediante
a sua boa vontade por causa da unicidade de seu ser, e elevação de
perfeição que é incomparável a tudo o que existe, seria incoerente
afirmar que o fator causal do pecado começa na ordenação de
Deus?”

Resposta:

1) Primeiramente começarei pela negação da ideia de que Deus


decreta todas as coisas inclusive o pecado, que seria a maneira
arminiana ou calvinista inconsistente de tentar defender a
santidade divina. O problema primário dessa visão é: se o pecado
não começa na ordenação de Deus, então existe atos no universo
(pecados) que vieram ao mundo sem o seu planejamento e
determinação, sendo assim, Deus receberia o conhecimento
externo da criatura sobre o que ela faria progredindo em
conhecimento destruindo a doutrina da onisciência e simplicidade
divina.

2) Outro problema está com a ideia de permissão. A minha


objeção é a seguinte: se Deus previu o pecado e então fez um
plano em cima do pecado, Deus reagiu ao pecado com um outro
plano, isso destrói a imutabilidade e impassibilidade divina, e faz
da criatura a causa anterior a Deus no seu plano posterior ao plano
da criatura.
3) No artigo antigo eu fiz a afirmação seguinte: ‘A natureza de
Deus é boa, mas onde está escrito na bíblia que o fato da natureza
de Deus ser boa torna impossível que Deus decrete ou planeje o
"mal" em primeira instância?’ Uma pessoa entendeu isso como
uma contradição, pois Deus sendo bom não pode decretar, o mal.
Eu respondo positivamente Deus não decreta o “mal e
pecado como se isso fosse mal e pecado", isso não significa que
ele não decrete o que é pecaminoso para o homem, ele não
entendeu minha afirmação quando disse que não há problema em
Deus bom decretar o “mal”. A questão é que não existe tal mal no
decreto divino, pois Deus não decreta esse mal como pecaminoso.
Isso estava auto explicativo no ponto 4, mas ele não entendeu,
então adicionarei um comentário a mais para enfatizar esse ponto.

Primeiramente temos que definir o que é mal, ou seja pecado: o


pecado é trangressão da lei divina e como veremos a seguir nesse
texto os preceitos dados ao homem não se aplicam a Deus da
mesma forma que se aplicam ao homem pelo fato de Deus ter
autoridade e propriedade sobre sua criação, Deus pode
decretar o "mal" como sendo algo bom, pois para ele não é mal
decretar a ação pecaminosa, mas é sim pecado para a criatura que
viola o seu preceito.

Jonathan Edwards explica o seguinte na sua Coletânea nº 85:

"É muito consistente quando dizemos que Deus decretou cada


ação do homem, sim, cada ação que ele toma que é pecaminosa e
cada circunstância dessas ações e, ainda assim, que Deus não
decreta as ações que são pecaminosas como pecaminosas, mas [as]
decreta como boas [...] Não queremos dizer que decretar uma ação
pecaminosa, seja o mesmo que decretar uma ação para que ela seja
pecaminosa; mas ao decretar uma ação pecaminosa, quero dizer
decretá-la em razão da pecaminosidade da ação. Deus decreta que
será pecaminosa em razão do bem que ele faz surgir de tal
pecaminosidade, enquanto que o homem a decreta pelo mal que há
nela."

Edwards esta dizendo que Deus decreta as ações pecaminosas por


motivos não
pecaminosos, ou seja, por santos motivos, isso acontece pois ele
tem um bom propósito para o mal, esse é um argumento positivo,
mas eu ressalto algo além disso: Meu ponto é que, ao decretar o
pecado, a própria ação pecaminosa da criatura não é pecaminosa
para Deus, pois ele não pode pecar, por isso a minha afirmação de
que não há contradição em que um Deus bom decrete o “mal”, ou
seja, não há contradição em que um Deus bom decrete o que ele
predeterminou que seria “mal” como preceitos para suas criaturas,
veremos isso no ponto a seguir que foi o que nosso amigo não
percebeu.

4) Matar é pecado? Deus pode matar? Sim; pois o preceito de não


matar não se aplica a Deus, visto que ele é o dono da vida. Roubar
é pecado? Sim, mas Deus pode pegar coisas de qualquer pessoa e
dar para quem quiser, pois todas as coisas lhe pertencem, logo
Deus não está debaixo do preceito de não roubar. Deus pode
cobiçar a mulher do próximo? Não, pois você só pode cobiçar algo
que não te pertence, e como todos os seres humanos pertencem a
Deus que é seu criador, Deus não pode cobiçar eles, assim quando
Deus decreta um estupro, ele não decreta por cobiça, visto que
todas as pessoas lhe pertencem, ele não tem, mal nenhum em
decretar nenhum pecado.

Como já ressaltei anteriormente com o comentário de Edwards é


que Deus não decreta esse mal sem um motivo santo, esse é
apenas um lado desta “moeda” como uma resposta apologética
sobre essa questão. Mas indo além, o que acabei de citar no
parágrafo anterior é a outra face da moeda, Deus não peca ao
decretar o pecado, pois o preceito como proibição e restrição não
se aplica a ele.
Uma outra objeção ou questionamento dessa pessoas é: "qual o
motivo santo que Deus poderia ter ao decretar um ato que seria
pecaminoso ao homem cometer?" Elas não percebem que essa
pergunta torna o próprio ato ser auto-significativo e impede Deus
de ser a causa intrinseca do ato a priori. Visto que não é
pecaminoso para Deus decretar esse ato e que é o próprio Deus
quem define para nós o significado e valor de todas as coisas a
objeção perderia qualquer relevância, Deus poderia decretar pelo
simples motivo tem o direito de fazer isso e não é pecaminoso que
decrete, e mais, eu poderia responder que: “o motivo santo é sua
própria Santa Vontade de glorificar Seu próprio Nome através
desse ato pecaminoso, assim, demonstrando e vindicando seu
próprio poder e autoridade sobre sua criação." Porém avançamos
com Jonathan Edwards dizendo que o Santo motivo de Deus está
em sua própria glória, e concordamos com muitos teólogos
reformados que o meio para isso é exibir seus atributos e se
revelando mais ainda aos seus eleitos. Além do mais, o que mais
seria um “motivo santo” ou uma “santa razão”? De onde tiramos o
padrão para isso? Da própria vontade divina revelada nas
Escrituras. Se a vontade e essência de Deus revelada nas
Escrituras é a razão máxima de todas as coisas, então não há
objeção nenhuma contra Deus decretar o que quer que seja, senão
sua própria vontade. Quando falamos em vontade não estamos eu
falo em uma vontade desligada da essência divina, mas sim do
essencialismo do comando divino, que é a posição do dr. Gordon
Clark e minha posição, você pode saber mais sobre isso nos livros
que são citados no final desse artigo.

5) Deus decreta o pecado, a bíblia afirma que Deus é quem


predestina TODAS as coisas conforme o Conselho da sua vontade
– Ef 1.11, e faz tudo o que lhe agrada – Sl 115.3, ela afirma que
ele estabelece o fim desde o princípio. A biblia ensina que Deus
não apenas ficou olhando para os reis da terra para que deem
poder ao anticristo, mas afirma que ele mesmo pôs em seus
corações que cumpram o seu intento e deem poder a Besta-
Apocalipse 17.17

6) Todos os homens nascem corrompidos pelo pecado, e Deus


continua criando homens no seu estado pecaminoso, estes homens
não decidem vir ao mundo escravos do pecado, mas antes, Deus
os planejou e determinou que nasceriam corrompidos. Deus os
controla e governa, Deus move o pecado dentro deles como lhe
apraz. Assim como Deus moveu o pecado nos irmãos de José para
cumprirem o seu propósito (Gn 45.8, 50.20) endureceu o coração
de Faraó e mesmo que diante de Faraó mandasse ele se humilhar
(Ex 10.3) ele já havia determinado endurecer ele (Ex 10.1-2).
Deus determinou que Sansao se apaixonasse pela filisteia- Jz 14.1-
4, A morte de Jesus – Is 53, Atos 2.23, 4.28.

7) A natureza divina e sua bondade devem ser interpretadas de


acordo com a Bíblia e não com o que o homem humanista define o
que é bondade. Para o homem e para o pagão Platão, a justiça era
algo externo aos deuses que eles deveriam obedecer. No
cristianismo, nós sabemos o que é bondade porque Deus nos
revela na bíblia. Bondade é o que Deus define e não o que o
homem define. Por isso, Sempre que a Bíblia diz que Deus
decretou algo ruim, aquilo foi de acordo com a sua natureza boa,
sim, pois bondade é o que Deus diz. Não existe um padrão externo
a Deus que ele deva obedecer. E nenhum homem conhece o
padrão divino a parte da sua palavra. Como eu já demonstrei no
ponto 4, nenhum dos preceitos de Deus revelados ao homem
citados ali se aplicam a Deus pelo simples fato dele ser dono de
todas as coisas.

8) Nenhum dos preceitos ali no ponto 4 podem se aplicar a Deus


com relação ao que ele faz com as suas criação, pelo fato da
relação ser criação – criatura. Por exemplo, não matar, aplica em
um homem não assassinar outro, mas Deus não é homem. Alguém
poderia achar isso injusto, mas o que ela acha pouco importa. O
preceito talvez poderia ser interpretado por hipocrisia se Deus
dissesse para não matar, e existisse outro Deus por aí que e então
Deus O matasse. O preceito de cobiça, talvez poderíamos pensar
que se houvesse outro Deus por aí casado com
uma Deusa e Deus estuprasse ela então sim, o preceito de não
estuprar se aplicaria a ele. Mas visto que esse pensamento é uma
heresia e uma blasfêmia, devemos rejeitar isso por completo, não
há outros Deuses criadores, isso é paganismo, e o homem não é
Deus, portanto Deus faz o que quiser com o homem.

9) Se aplicarmos que devemos considerar a natureza divina pelos


padrões de preceitos morais que ele deu ao homem, para dizer que
Deus não pode causar pecados, deveríamos também defender que
Deus não pode permitir o pecado pois os preceitos divinos
definem que omissão é pecado (Tiago 4.17). Se você pode fazer o
bem e não faz peca. Deus pode impedir um estupro, mas não
impede. Se os preceitos que Deus deu ao homem podem ser
aplicados contra a Sua essência então Deus não poderia ser Deus
em nenhuma cosmovisão, o arminianismo estaria tanto errado
como o calvinismo. Porém esses preceitos foram dados ao homem
e não a Deus.

10) Deus não fez leis para si mesmo limitando o exercício de sua
Soberania, e como nenhum dos preceitos mencionados acima se
aplica a Deus, Deus decretar o mal não fere em nada a sua
essência Santa, visto que só podemos saber o que é Santidade e
Justiça por meio da ESCRITURA e não por meio de intuição
humana.

11) A pessoa pode alegar o quanto quiser que Deus tem limitações
por causa da sua essência, mas que ela deve mostrar as limitações
que quer impor a Deus de maneira que elas não contradigam as
ESCRITURAS. Se uma pessoa traz alguma limitação que
contradiga o que Deus faz claramente nas escrituras, ela está
trazendo uma contradição às Escrituras e cometendo um terrível
pecado de distorção.
12) Por isso perguntamos: “qual o padrão de justiça?” A justiça
vem do que Deus nos prescreve como justiça, pois não
conhecemos toda a essência de Deus a parte da bíblia e não das
nossas ideias, a bíblia demonstra que é claramente Justo Deus
fazer vasos para receptáculo da sua Ira (Rm 9) e que é justíssimo
DEUS fazer pessoas para o dia da destruição- Pv 16.4 ou decretar
pecados (Jz 14.1-4), Colocar intenções no coração dos homens
(Ap 17.17) e Enganar os falsos profetas (Ez 14.9) o fato de Deus
não agir contra a Sua essência é irrelevante pois a Escritura afirma
tudo isso, então tudo isso faz parte da sua essência e sua defesa é
inútil.

Agora irei adicionar alguns comentários de apologetas cristãos.


Certamente muitas pessoas, nunca ouviram falar de Essencialismo
do Comando Divino, que é o posicionamento de Gordon Clark.

“Uma palavra de cautela é necessária aqui. Essa discussão não tem


particular importância na imutabilidade divina. Argumentou-se
que Deus poderia ter criado um mundo físico diferente, se assim o
desejasse. Nada foi dito, de um jeito ou de outro, sobre se Deus
poderia desejar. Possivelmente, a imutabilidade do propósito e a
eternidade dos decretos implicam que este é o único mundo
possível – uma reviravolta calvinista para uma frase espinosista.
Contudo, se é assim, e se não faz sentido supor que Deus poderia
pensar de forma diferente, permanece o argumento de que a
moralidade, tanto quanto a física, é o que é porque Deus pensa
assim”
– Gordon H. Clark, Religion, Reason, and Revelation.

Seu posicionamento era bíblico e estava de acordo com sua


herança calvinista:

“[…] pois embora Seu poder esteja acima de todas as leis, ainda
assim, porque Sua vontade é a mais certa regra de perfeita
equidade, o que quer que Ele faça deve ser perfeitamente certo; e,
portanto, Ele está livre das leis, porque Ele é uma lei para Si
mesmo e para todos”
~ João Calvino, Harmony of the Law , vol. I, p. 55.

"A posição cristã não é apenas a de que Deus revela normas, mas
que ele as estabelece. Mesmo que Platão tivesse adotado a ideia da
revelação verbal, seu sistema ainda teria sido atravancado com um
deus finito, uma espécie de dualismo maniqueísta, e, portanto,
com um insolúvel problema do mal. No cristianismo, entretanto,
embora o que chamamos de Mundo das Ideias deva ser retido, as
Ideias só existem na mente de Deus. O seu pensamento é a fonte
delas."
- Gordon Clark, Uma Introdução à Filosofia Cristã, p. 141

"A vontade de Deus é portanto, a causa de todas as coisas, como a


de ser ela mesma sem causa, pois nada pode ser a causa daquilo
que é a causa de todas as coisas [ ... ] Daí descobrimos, em última
análise, a solução para toda questão no mero soberano bel-prazer
de Deus".
- Jerome Zanchius

"Deus é um ser, cuja vontade não admite nenhuma causa[... ] Ele


não tem superior nem igual e a sua vontade é regra de todas as
coisas"
- Martinho Lutero

"Deus não tem outro motivo para aquilo que ele faz senão "ipsa
voluntas", a sua mera vontade, a qual vontade em si mesma está
mui longe de ser injusta e é justiça em si mesmà'.

- Martin Bucer

Platão, é claro, tinha feito a justiça ser superior à vontade de Deus.


Zanchius e Bucer mostram que elas são a mesma coisa.
- Gordon Clark, Uma Introdução à Filosofia Cristã, p. 142

DEUS, portanto, não quis tais coisas por serem retas em si


mesmas nem estava obrigado a querê-las; elas são corretas e justas
porque ele as quer".
- Jerome Zanchius, Absolute Predestination, Sovereign Grace
Book Club edition, 30-32, 67.

O comentário do apologeta Vincent Cheung em seu livro sobre o


bem e o mal é preciso e agudo:

O que a Bíblia ensina é que a bondade é inerente à natureza de


Deus, e, portanto, a definição de bondade procede naturalmente
dele. Dessa forma, Deus não está sujeito a algum padrão de
bondade externa a ele, e a definição de bondade não é arbitrária no
sentido de ser sem sentido e trivial, mas é
fundamentada na natureza imutável de Deus. Por exemplo, a
Bíblia diz que é bom amar. Isso procede a partir da natureza de
Deus, visto que “Deus é amor” (1Jo 4.8, 16) […] Ora, Deus define
a bondade e, assim, o que ele é e faz é ipso facto bom. Tudo o que
ele é e tudo o que ele faz é bom, o que significa que nenhum
padrão de bondade externa a Deus pode ser usado para julgar um
ato de Deus como bom
ou mau. Nós derivamos a própria definição de bondade a partir do
que Deus é e faz […] Como já mencionado, descobrimos o que é
bom e moral através da Escritura. E no início foi dito que a visão
que diz que a definição de bondade é de certa forma arbitrária não
pode ser descartada. Por exemplo, era bom para os crentes do
Antigo Testamento ser circuncidados somente porque Deus tinha
ordenado isso. Portanto, era bom para um crente do Antigo
Testamento ser circuncidado , e mau para ele o não ser. A
definição de bondade é, portanto, “arbitrária”, mas somente no
sentido de que a vontade de Deus determina tudo, incluindo o
padrão de bondade. Por arbitrária, portanto, não queremos dizer
“existindo ou sucedendo aparentemente de maneira aleatória ou
por acaso, ou como um ato de vontade caprichoso e
desarrazoado”; mas, antes, como algo similar a “não restringido
ou limitado no exercício de poder: governar com absoluta
autoridade”(MerriamWebster’s Collegiate Dictionary, 10aEdição).
A doutrina da simplicidade de Deus exige que consideremos seus
atributos como um, o que significa que não pode haver nenhuma
separação entre sua vontade e natureza. Todas as coisas, nesse
sentido, são arbitrárias por necessidade, visto que não há
explicação mais última para algo do que dizer que Deus a desejou,
e não há nada anterior à vontade de Deus que dite ou influencie o
que ele deseja. Ele é amor e ele desejou ser amor; ele desejou ser
amor e ele é amor. A vontade de Deus é a expressão final; não há
nenhuma causa anterior [...] Portanto, o fato de alguém matar
outra pessoa não é inerentemente imoral, mas é somente devido ao
mandamento de Deus: “Não matarás”. Do mesmo modo, teria sido
imoral para Abraão
se refrear de preparar Isaque para o sacrifício, uma vez que Deus o
tinha ordenado a fazê-lo –em outro contexto, chamaríamos isso de
assassinato. Se Deus não tivesse detido a mão de Abraão, ainda
teria sido bom para ele ter matado Isaque –simplesmente porque
Deus tinha ordenado isso. A justificativa para a pena de morte é
derivada da mesma forma. Deus tem soberania completa sobre
toda criação, e tudo o que ele ordena é bom por definição.
-- Vincent Cheung | Sobre o Bem e o Mal

E novamente Gordon Clark aplica o seguinte em seu livro “Deus e


o Mal; O problema resolvido”:

“Não há lei, superior a Deus, que o proíba de decretar atos


pecaminosos. O pecado pressupõe uma lei, pois o pecado é
ilegalidade. Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de
Deus, ou qualquer transgressão dessa lei. Mas Deus é “Ex-lex”.
[…] A relação de um homem com outro é totalmente diferente da
relação de Deus com qualquer homem. Deus é o criador; o homem
é uma criatura. E mais, a relação de um homem com a lei é
igualmente diferente da relação de Deus com a lei. O que vale
numa situação não vale na outra. Deus tem direitos absolutos e
ilimitados sobre todas as coisas criadas. Da mesma massa ele pode
fazer um vaso para honra e outro para desonra. O barro não tem
direitos sobre o oleiro. Entre homens, pelo contrário, os direitos
são limitados. […] A ideia de que Deus está acima da lei pode ser
explicada em outro particular. As leis que Deus impõe aos homens
não se aplicam à natureza divina. Elas são aplicáveis somente a
condições humanas. Por exemplo, Deus não pode roubar, não
somente porque tudo quanto ele faz é certo, mas também porque
ele é o dono de tudo: não há ninguém de quem roubar. Assim, a lei
que define o pecado visa a condições humanas e não tem
relevância para um Criador soberano. Uma vez que Deus não pode
pecar, por conseguinte, Deus não é responsável pelo pecado,
mesmo que o decrete. Talvez seja bom, antes de concluirmos,
apresentar mais algumas comprovações bíblicas de que Deus
realmente decreta e causa* o pecado. 2 Crônicas 18.20-22 registra:
“Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse:
Eu o enganarei. Perguntou-lhe o Senhor: Com quê? Respondeu
ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus
profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai
e faze-o assim. Eis que o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca
de todos estes teus profetas e o Senhor falou o que é mau contra
ti”. Essa passagem definitivamente diz que o Senhor causou* os
profetas a mentirem. Outras passagens semelhantes podem ser
relembradas. […] Outro aspecto das condições humanas
pressupostas pelas leis que Deus impõe aos homens é que elas
levam consigo um castigo que não pode ser infligido a Deus. O
homem é responsável porque Deus chama-o às contas; o homem é
responsável porque o poder supremo pode castigá-lo pela
desobediência. Deus, pelo contrário, não pode ser responsável pela
razão óbvia de que não há poder superior a ele; não há nenhum ser
maior para considerá-lo responsável; ninguém pode castigá-lo;
não há ninguém a quem Deus tenha de prestar conta; não há leis às
quais ele possa desobedecer. O pecador, portanto, e não Deus, é
que é responsável; o pecador por si só é o autor do pecado. O
homem não tem livre-arbítrio, pois a salvação é puramente de
graça; e Deus é soberano.”

*Causa primeira ou máxima.

Perceba que a definição de Clark sobre o “Ex Lex” não remove a


ligação de Deus com os preceitos dados aos homens, mas
demonstram que a relação de Deus com a Lei dada aos homens é
totalmente diferente. Isso não significa que Deus agirá contra a
sua natureza santa e justa, mas significa que esses preceitos dados
ao homem NÃO PODEM SE APLICAR A DEUS, e nem ser um
parâmetro para o homem para a Deus:

“Deus não é responsável nem pecaminoso, embora seja a única


causa suprema de tudo. Ele não é pecaminoso porque, em primeiro
lugar, tudo quanto Deus faz é justo e reto. É justo e reto
simplesmente em virtude do fato de ser ele quem faz. Justiça ou
retidão não é um padrão externo a Deus, ao qual ele
está obrigado a se submeter. Retidão é aquilo que Deus faz. Uma
vez que Deus causou Judas a trair Jesus [preordenando tal evento],
esse ato causal é reto e não pecaminoso [...] Por definição, Deus
não pode pecar. Neste ponto deve ser particularmente indicado que
Deus causar um homem a pecar não é
pecado. Não há lei, superior a Deus, que o proíba de decretar atos
pecaminosos. O pecado pressupõe uma lei, pois o pecado é
ilegalidade. Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de
Deus, ou
qualquer transgressão dessa lei. Mas Deus é “Ex-lex” [...] É
verdade que se um homem, um ser criado, causasse ou tentasse
causar outro homem a pecar, essa tentativa seria pecaminosa. A
razão é imediata. A relação de um homem com outro homem é
totalmente diferente da relação de Deus com qualquer
homem. Deus é o criador; o homem é uma criatura. E mais, a
relação de um homem com a lei é igualmente diferente da relação
de Deus com a lei. O que vale numa situação não vale na outra.
Deus tem direitos absolutos e ilimitados. sobre todas as coisas
criadas. Da mesma massa ele pode fazer um vaso para honra e
outro para desonra. O barro não tem direitos sobre o oleiro. Entre
homens, pelo
contrário, os direitos são limitados [...] A ideia de que Deus está
acima da lei pode ser explicada em outro particular. As leis que
Deus impõe aos homens não se aplicam à natureza divina. Elas
são aplicáveis somente a condições humanas. Por exemplo, Deus
não pode roubar, não somente porque tudo quanto ele faz é certo,
mas também porque é dono de tudo; não há ninguém de quem
roubar. Assim a lei que define o pecado visa condições humanas e
não tem relevância para um criador soberano.”
- Gordon H. Clark, Deus e o Mal: O Problema Resolvido. Editora
Monergismo.

Em um debate o oponente citou o fato de Deus não se agradar com


o mal – Sl 5.4, é evidente, mas,mesmo que eu não queira ser
prolixo, novamente: “o que é mal?”.Mal é tudo aquilo que vai
contra os seus PRECEITOS. Quando Deus ordenou que Israel
matasse todas as crianças cananéias e amelequitas, ele estava
dando um preceito pecaminoso a Israel? Não.
Por quê? Pois ele não está sujeito aos preceitos que ele estabeleceu
ao homem Sendo assim, Deus não se agrada com o “mal” o mal é
tudo aquilo que o homem faz que vá contra os preceitos de Deus.
Isso não tem nada haver com os decretos de Deus. Deus decreta
todo o tipo de pecado que vai contra seus PRECEITOS na bíblia
(Ex 9, Ex 10, Gn 45.8, Is 53, Ez 14.9, Ap 17.17).

Se Deus não pudesse decretar um ato pecaminoso contra seus


PRECEITOS então não haveria crucificação e redenção que foram
atos contrários ao preceito divino que ele mesmo decretou (Atos
2.23, 4.27-28).

Meu oponente afirmou que essas passagens eram só hebraismo e


por isso não queriam dizer o que elas dizem. Ou seja, Deus não
decreta o mal.

Agora veja como a posição dele é irrelevante. Ele diz que todos os
textos que eu mencionei são apenas um hebraismo etc… Eu posso
jogar isso contra ele e dizer que seu Salmo 5.4 é um Hebraismo e
portanto é irrelevante, e assim o salmo não poderia me dar
conhecimento preceptivo de Deus.

Meu oponente também disse o seguinte: “É como se Deus dissesse


‘faz o que eu digo, mas não faz o que eu faço”. Mas, é isso
mesmo! Deus proíbe que nos vinguemos uns aos outros, mas Ele é
o Deus Vingador. Deus nos pede para amar os inimigos, mas Ele
irá lançar no fogo eterno todos os inimigos de
Cristo. Deus é soberano e Suas Leis são para as criaturas e não
para Si mesmo. Eu ainda poderia argumentar assim, como já citei
nos pontos acima: Deus diz para um homem não matar outro, seria
hipocrisia em ultima instância se houvesse outro Deus e Deus
matasse esse outro Deus, ou roubasse ele, porém é uma blasfêmia
dizer que há outro Deus e por isso mesmo o argumento do
calvinista inconsistente é fraquíssimo.

A Biblia afirma a doutrina dos decretos eternos de Deus

Sl 33, Sl 115.3, Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb 6:17; Tiago 1:13-17;
João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34, Ef 1.11

De tal maneira que até mesmo o resultado de um lançar de dados é


determinado por Deus

At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom.


9:11-18.

O Apóstolo Paulo e o salmista deixam claro quando dizem que


“Deus faz tudo o que lhe agrada” Sl 115.3, e “segundo o propósito
daquele que faz TODAS AS COISAS conforme o Conselho da sua
vontade” [Sl 115.3, Ef 1.11], e sobre a reprovação dos ímpios [Pv
16.4, Rm 9, 1 Pe 2.7-9, Jd] também sobre todo o
tipo de criatura que Deus fez [Cl 1.15-16, Rm 11.33].

Quando a bíblia nos dá uma ilustração “Deus é aquele que brande


o bordão, usa o machado e a serra” ou Deus é o “Oleiro e nós
somos barro em suas mãos” qual a possibilidade desses objetos
fazerem qualquer coisa ou se criarem sozinhos?

Usando um Ad Hominem válido:

Alguns vão argumentar que o homem muito mais complexo do


que esses objetos, pois ele delibera, pensa etc… mas Deus
também é muito maior do que o homem, o controle de Deus sobre
o homem é muito maior do que o controle de alguém com um
machado na mão, pois além de Deus mover todas as coisas ele
também tem a relação de “criador-criatura” a qual ele predispõe a
natureza de cada coisa que ele criou.

Vamos ficar com o exemplo do machado por um tempo. Podemos


dizer, na visão de algumas pessoas, que Adão era como um
machado que foi criado bom, porém Deus o criou com a
capacidade de perder o fio. Agora, sendo Deus aquele que move
Adão, e o mesmo Deus estipulou a durabilidade do machado, ou
seja, Deus determinou quantas “batidas” o machado poderia dar
antes de ficar cego. Deus o fez com o propósito de perder o fio
obviamente, de maneira que quando Adão caiu, foi o exato
momento em que
Deus determinou que o fio ficaria cego de uma vez. Mesmo que
Deus tivesse apenas dado a capacidade de Adão se corromper, ele
também determinou a “durabilidade” de tal criatura. A menos que
Adão tivesse a capacidade de se auto-mover, e de auto-determinar
as suas ações, e aí sim, neste caso o próprio Adão
decidiria quando (ou não) ele iria “perder o fio”, a consequência
básica disso é que Deus teria que prever a ação de Adão para então
decretar a eleição. E toda a predestinação Divina estaria baseada
na ação de Adão, o plano de Deus seria concebido “depois” dele
prever a ação de Adão. Devo lembrar que Amyraut acreditava que
a predestinação aconteceu pois Deus previu que Adão cairia e que
nenhum homem iria responder ao chamado do evangelho.

Eu acho que essa visão é uma heresia de morte eterna? Não acho.
Mas acho inconsistente com a doutrina da soberania exaustiva.

Acréscimo: O Irmão Cristiano Lima escreve o seguinte:

TIAGO 1.17 PROVA QUE DEUS NÃO CAUSOU O MAL


MORAL?

“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo


do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de
variação”.(Tg 1.17)

PRIMEIRO, Tiago 1.17 não diz, nem implica necessariamente


dizer que Deus não causou o mal, tanto o mal natural quanto o mal
moral.

SEGUNDO, esse texto diz claramente apenas que “Toda a boa


dádiva e todo o dom perfeito”, é causado por Deus. Isso está de
acordo com vários outros versículos que ensinam que Deus é
Causa de tudo o que acontece.

TERCEIRO, Deus é a Causa tanto de “Toda a boa dádiva e todo o


dom perfeito”(Tg 1.17) quanto do mal natural (Is 45.7; Lm 3.38;
Am 3.6) e também do mal moral, como será demonstrado a seguir:

(1) Ele endureceu o coração de algumas pessoas para que elas


pecassem contra Ele. Ele endureceu o coração de
(i) De Faraó (Êx 4.21; 7.3,13,22; 8.19,32; 9.7,12,35; 10.20,27;
11.10; 13.15; 14.4,8)
(ii) Dos egípcios servos de Faraó(Êx 14.17)
(iii) De Seom rei de Hesbom(Dt 2.30)
(iv) Dos inimigos de Israel(Js 11.20)
(v) Dos filhos de Israel(Is 63.17; Jo 12.40; Rm 11.7)
(vi) "Logo pois [Deus] compadece-se de quem quer, e endurece a
quem quer". (Rm 9.18)

(2) Ele incitou a Davi a pecar contra Ele(1 Sm 24.10-16).


(3) Ele enviou da sua parte espíritos de mentira para enganar um
grupo de profetas(1 Rs 22:19-23); e um espírito maligno para
atormentar a Saul (I Sm16:14-23; 18.10; 19.9)
(4) Ele fez o ímpio para o dia do mal(Pv 16.4)
(5) Ele se agradou em moer a Cristo fazendo-o enfermar(Is 53.10)
(6) Ele predeterminou tudo quanto Herodes, Pilatos, os gentios e
israelitas fizeram contra Cristo(At 4.27-28)
(7) Ele preparou da mesma massa, tanto vasos para a perdição
quanto vasos preparados para a glória(Rm 9.21-23)

CONCLUSÃO: Existem vários outros textos. Porém, esses bastam


para provar que o Deus Santo, Justo e Bom, é a Causa tanto do
bem(Tg 1.17) quanto do mal natural e do mal moral.
- Cristiano Lima

O Bônus de um argumento prático:

O Arminianismo e o estupro

Frequentemente arminianos dizem que Deus não pode decretar


todos os eventos do mundo, pois não aceitam a ideia de que Deus
não poderia decretar um estupro ou algo do genero, o Argumento
do Estupro é um dos mais usados pelos arminianos. Eu já respondi
esse argumento diversas vezes, algumas pessoas pensam que
minha resposta é algo exclusivo da teologia de Cheung ou Clark,
mas não é, é uma resposta de calvinistas consistentes, embora eu
reconheça que Clark e Cheung defendem muito bem a teodiceia
[na minha opinião Cheung defende melhor].

A biblia diz que aquele que pode fazer o bem e não faz está
pecando [Tiago 4.17], segundo a lógica arminiana Deus permitiu
esse estupro podendo impedir, mas ficou só olhando como um
salva-vidas em uma guarita e não fez nada. Se Deus não pode
decretar um estupro ele também não pode permitir um estupro
pois isso também seria abominável para ele caso ele estivesse de
baixo de seus preceitos, mas a verdade é que Deus não está
debaixo desses preceitos, ele tem o direito sobre a sua criação
paradecretar o que ele quiser. Basta lembrar que Deus não decreta
esses pecados por malicia, afinal tudo lhe pertence e a cobiça do
estupro [que o estuprador comete] vem do sentimento de posse e
distorção sobre o corpo alheio, mas Deus não está fazendo nada
com o que não lhe pertence, tudo pertence a Deus, Deus está
decretando o mal, mas o AGENTE é o homem. Isso aconteceu
com a Assíria, que Deus decretou que destruiria muitas nações e
ao mesmo tempo puniria ela por sua arrogância [Isaias 10].

Se você se interessa por essa resposta apologética a teodiceia eu te


recomendo os livros:

“Deus e o Mal o Problema resolvido – Gordon Clark”,


“Ex Lex, Explicado e defendido de Falacias – Daniel Gomide”
“Autor do Pecado – Vincent Cheung”
“O Problema do Mal – Vincent Cheung”
“Melhor do que Ex Lex – Vincent Cheung”
“O Senhor das Tentações Vincent Cheung”

Que possamos nos livrar desses conceitos humanistas sobre Deus


e abraçar o Deus verdadeiro das Escrituras Sagradas com fé e
reverência.

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