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SUZANO S.A., pessoa jurídica de direito privado, devidamente qualificada nos autos do
processo administrativo em epígrafe, doravante simplesmente designada por Manifestante,
por meio de seu representante já habilitado, vem à presença de V. Sa. expor:
Ismael Paranágua
Consultor Corporativo de Licenciamento Ambiental
Suzano S.A.
SUZANO S.A.
Av. Professor Magalhães Neto, 1752 10º andar Salas 1009/1011 CEP 41810-012 Salvador BA
www.suzano.com.br
Resposta ao Ofício o Nº 2016/2023/IPHAN-ES-IPHAN
CRONOGRAMA
DEZEMBRO 2023 JANEIRO 2024
ATIVIDADE 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2
6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0
Validação do X X X X X X X
Relatório 6 –
Inventário e
Mapas pelas
comunidades,
Divulgação nas
escolas do
entorno.
Adequação do X X X X X X X
Inventário às
demandas das
comunidades
RECESSO X X X X X
Revisão 2TREE X X X X X X X X X
e SUZANO
Disponibilizaç X
ão de site
dinâmico
Edição e X
publicação do
Inventário
PROTOCOLO X
junto ao
IPHAN-ES
*Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Brasil). Educação Patrimonial : inventários participativos : manual de aplicação / Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ; texto, Sônia Regina Rampim Florêncio et al. – Brasília-DF, 2016.
PROJETO INTEGRADO
DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL
Elaborado por:
1
Sumário
1. APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 4
2. METODOLOGIA ............................................................................................................ 5
3. AÇÕES DESENVOLVIDAS NO ASSENTAMENTO VALDÍCIO BARBOSA ................. 6
3.1. Estratégia de aproximação .................................................................................. 6
3.2. Imersão comunitária ............................................................................................. 8
3.3. Situação Atual de Valdício Barbosa .................................................................. 12
3.4. Condições de acesso ......................................................................................... 13
3.5. Etnoregistros colaborativos na EEEF Valdício Barbosa dos Santos .............. 13
3.5.1. Arquitetura e auto eco organização do espaço escolar............................ 13
3.5.2. Pedagogias de Roda.................................................................................... 19
3.6. Oficina Educação para o Patrimônio Cultural .................................................. 27
3.6.1. Grupo 1: EJA – Círculo de Cultura - 31/05/2023......................................... 27
3.6.2. Grupo 2: Cultural Digital – 6º ao 9º ano – 02/06/2023 ................................ 36
3.6.3. Grupo 3: Cultura do Brincar - 1º ao 5º ano – 02/06/23 ............................... 41
3.7. Oficina de Cartografia Social e Cultura Digital – 6º ao 9º ano – 07/06/2023 .... 50
3.8. Etnoregistro de unidades domésticas e quintais produtivos .......................... 58
3.8.1. 30/05/2023..................................................................................................... 58
3.8.2. 31/05/2023..................................................................................................... 62
3.8.3. 03/06/2023..................................................................................................... 65
3.8.4. 04/06/2023..................................................................................................... 67
3.8.5. 06/06/2023..................................................................................................... 68
3.8.6. 07/06/2023..................................................................................................... 80
3.9. Etnoregistro de organizações associativas e grupos de afinidade ................ 87
3.9.1. Etnoregistro da AMAG– Associação de Mulheres Agricultoras de VB –
07/06/2023 ................................................................................................................... 87
3.9.2. Etnoregistro – Igreja Evangélica Assembleia de Deus – 04/06/2023 e
07/06/2023 ................................................................................................................... 89
3.9.3. Etnoregistro da Associação de Agricultores Familiares de Valdício
Barbosa (AAFVAB) - Projeto do Secador de 01 a 07/06/2023 ................................. 91
3.10. Etnoregistro - Memória das Águas – 30/05/2023 a 07/06/2023 ..................... 92
3.11. Etnoregistro: Direito à paisagem – 30/05/2023 a 07/06/2023 ........................ 95
4. Atividades desenvolvidas em Água Preta ................................................................ 97
4.1. Estratégia de abordagem e aproximação do campo ........................................ 97
4.2. Situação Atual de Água Preta ............................................................................ 98
4.3. Etnoregistro Memória e Presente Etnográfico das Águas ............................... 98
2
4.4. Etnoregistro dos Quintais produtivos ............................................................. 102
5.5. Etnoregistro colaborativo: Saberes do pilão ...................................................... 109
5.6. Etnoregistro Colheita de café .............................................................................. 113
5.7. Etnoregistro da cultura do brincar na infância ................................................... 114
5. Cenários e Desenhos de Futuros de Água Preta ................................................... 114
6. Referências Bibliograficas ...................................................................................... 116
3
1. APRESENTAÇÃO
A peça em tela refere-se ao trabalho realizado entre os dias 30 de maio e 08
de junho de 2023, compreendendo o campo 06 com as comunidades de Água Preta
e Valdício Barbosa. Nessa etapa a maior parte do tempo foi dedicada ao
Assentamento, uma vez que o trabalho junto à comunidade de Água Preta estava
mais avançado e caminhando para a finalização dos etnoregistros.
O Mapa da 6ª Navegação estipulou para Água Preta a validação do relatório 4
(RT4), além do arremate final dos etnoregistros colaborativos relacionados aos
saberes do pilão (mamona e urucum); quintais produtivos; memória e presente
etnográfico das águas.
Para o assentamento Valdício Barbosa a nave foi ancorada na escola para a
realização das oficinas 2 (Educação para o Patrimônio Cultural) e 3 (Cartografia
Social e Cultura Digital), além dos etnoregistros colaborativos da arquitetura e das
pedagogias circulares, incluindo místicas e outros modos de auto-eco-organização do
espaço e das atividades escolares.
Complementarmente, a baldeação pelos mosaicos produtivos dos quintais das
policulturas no assentamento manteve aberto o horizonte etnográfico para o registro
da tradicional colheita do café, de saberes-fazeres imateriais relacionados à
permacultura/ agroecologia e seus rizomas conectados com uso do pilão e de outros
artefatos ou estruturas rústicas, as quitandas e prazeres gastronômicos, o artesanato
em couro atrelado aos hábitos de montaria, além dos associativismos locais e grupos
de afinidade mútua como círculo de oração católica e cultos da igreja evangélica.
A metodologia adotada segue a mesma das etapas anteriores, que
reproduzimos. Em seguida, apresentamos as atividades desenvolvidas no
Assentamento Valdício Barbosa; e, por fim, as ações ocorridas na comunidade de
Água Preta.
4
2. METODOLOGIA
5
da Estratégia (Prescrição) - corresponde ao que é formalmente prescrito nas
normativas/instruções técnicas de salvaguarda, nas informações sistematizadas já
existentes sobre as comunidades e nos métodos de pesquisa em uso.
2º Nível das Táticas (Real) [3] - corresponde à realidade acontecimal dos
comunitários. A aproximação do método etnográfico das atividades cotidianas, bem
como sua capacidade de adaptar-se às mudanças situacionais imediatas é chamada
de tática. Seu objetivo é manter no horizonte de alcance a estratégia, isto é, os
objetivos de salvaguarda. O pacote de ferramentas técnicas de campo pode ser
acessado a partir de nomeações como “pólo acontecimal”, “horizonte dos detentores”,
“contextos cotidianos”, “sentidos êmicos" (auto atribuições), “configurações
rizomáticas” e “patrimônio imaterial como um todo”.
A este universo semântico juntam-se a palavra colaborativa, significado co =
junto; labor= trabalho e ativa = fazer, significando fazer o trabalho junto com…a
comunidade.
Sendo vivo o patrimônio imaterial e referindo-se aos detentores humanos e
seus grupos sociais, não poderia ser de outra forma. Nesta injunção construtivista,
os comunitários assumem posição ativa de trabalho na valoração de suas práticas
culturais.
Dadas estas preliminares, justificam-se as atualizações em tempo real no Mapa
de Navegação, aferido como bússola orientadora das tarefas, mas com capacidade
de operar em cenários sociais móveis e dinâmicos.
6
O acréscimo da “cultura digital” foi uma sugestão da coordenação pedagógica
da escola Valdício Barbosa, uma vez que os jovens, ao verem a equipe registrar
momentos cotidianos da escola e da comunidade com equipamentos digitais,
demostraram interesse em manusear as câmeras. Sendo o assentamento intenso em
agendas, surgiu uma demanda de qualificação sobre o registro fotográfico (como
fotografar, a melhor maneira de registrar) para que tais estudantes possam contribuir
para futuras atividades na comunidade, na ausência de uma equipe externa.
Deste modo, quando a equipe chegou ao campo as ações já estavam pré-
programadas e foi realizada no dia 30∕05/23 uma reunião para os arremates finais de
atividades, datas e horários, com as educadoras Ronimárcia M. Lima e Maria
Aparecida Pereira da Silva (Cida) na Escola Estadual de Ensino Fundamental Valdício
Barbosa dos Santos (EEEFVBS).
Nessa ocasião foram apresentadas as estratégias previstas de avaliação das
oficinas mediante questionário semiestruturado, entretanto essa proposta avaliativa
não teve aderência das educadoras.
FOTOS 01-02: reunião de alinhamento das Oficinas 2 e 3 do PIEP com a equipe pedagógica.
7
FIGURAS 01-05: Material gráfico de divulgação do PIEP.
8
9
10
11
FOTOS 03-32: Momento da sensibilização comunitária no Assentamento Valdício Barbosa.
Data 30/05/23 a 07/06/23.
12
Outro ponto relevante para a descrição da situação atual é a problemática da
municipalização da Escola Estadual Valdício Barbosa, cujo desfecho foi favorável ao
assentamento. Isto porque foi decidido que as escolas do MST vão continuar sob
jurisdição da secretaria estadual de educação. E serão as únicas entre as escolas
rurais que manterão este status, alcançado com mediação do MP-ES.
Menos do que resultado da pressão política que refletiu o grau organizativo do
movimento, esta conquista está relacionada com especificidades da proposta de
educação no campo praticada pelo MST em Valdício Barbosa, como será descrito a
seguir.
13
XVII e XVIII e cujos objetivos miravam disciplinar corpos e mentes através de uma
vigilância contínua e hierárquica.
Nesta medida, a arquitetura ocupa um papel central na tarefa de estender para
toda a sociedade o princípio da “eficiência econômica panóptica” cujo modelo
exemplar seriam as prisões (BENTHAM, 2000:31-34).
Esta dimensão atrelada ao controle disciplinar é patente, especialmente nas
áreas urbanas, ao observarmos a arquitetura dos espaços escolares com seus muros
altos, gradis, espaços quadriculados e câmeras de vigilância.
Todo este aparato tem se apresentado ineficaz frente ao desafio de garantir
uma cultura de paz nas escolas. E, lamentavelmente, por todo o país temos assistido
a tristes episódios de violência que vitimizam crianças e famílias inocentes.
A escola Valdício Barbosa se apresenta como o oposto de tudo que
assinalamos acima. A arquitetura elege como regra de design a circularidade dos
espaços abertos. Em cada canto em que se observe, é possível enxergar uma roda,
como que ratificando o convite para o encontro, a prosa saudável e a boa convivência.
Rompendo com a perspectiva do isolamento prisional e fabril, a escola em
Valdício Barbosa é indissociável da história e do presente etnográfico do
assentamento, configurando-se como espaço aberto à comunidade e integrada ao
cotidiano, sendo também local de encontro para tarefas organizativas e de lazer.
14
FOTOS 35-40: Onipresença dos círculos na escola de inspiração freiriana.
15
no equipamento, incluindo os da cantina e limpeza. Em outros termos, além das
atribuições próprias de cargo, todos são igualmente designados como educadores e
assumem atribuições comuns no tocante a organização da rotina escolar.
Atualmente são 04 núcleos de educadores: Dandara, Marielle Franco, Paulo
Freire e MST como força política.
Cada um dos núcleos está assentado, isto é, possui um ponto referenciado no
espaço físico da escola, compondo elementos geométricos circulares e naturais como
flores e árvores.
16
Outra característica comum aos núcleos de educadores é que cada turma de
alunos possui uma palavra de ordem que demarca uma identidade própria de seus
componentes. Além disso, as turmas são divididas em núcleos responsáveis por
tarefas específicas no coletivo. 1
17
FOTOS 51-54: Turmas Campo em Harmonia e Adolescentes do futuro.
18
A autogestão generalizada socialmente expande-se tanto em direção às tarefas
pedagógicas, quanto para as atividades rotineiras da escola. Sob a perspectiva construtivista
são pactuados combinados que funcionam como horizonte ético norteador das condutas
dentro e fora da sala de aula. As turmas vão se revezando em compromissos organizativos
no pátio, nas salas de aula e na cantina. No tocante aos processos pedagógicos, elaboram
planos de estudo e de auto-organização sobre os temas geradores trimestrais, de cuja
escolha participam ativamente.
As pedagogias de roda não são meros ambientes artificialmente produzidos para fins
de registro do PIEP. Bem ao contrário, constituem-se em rotinas no presente etnográfico da
Escola Estadual de Ensino Fundamental Valdício Barbosa dos Santos e teriam acontecido
independente da presença da equipe técnica em campo.
Sua inclusão no mapa de navegação constituiu-se em agradável surpresa, dado o
potencial de alimentar os processos de inventariamento em curso.
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As místicas constituem-se em atividade diária da qual participam, sem exceção, todos
os colaboradores da escola. Como já assinalamos, estes compõem-se de educadores e
alunos. Visitantes e convidados também integram a atividade, que é a primeira do dia,
realizadas nos espaços circulares do pátio, antes da distribuição dos alunos para as salas de
aula.
Diariamente, um núcleo de educadores ou turma de alunos é responsável pela
preparação da atividade. O exercício matinal dura em torno de 15 minutos. Cada mística
começa com o hino do coletivo responsável, seguido dos hinos de todos outros coletivos de
educadores e estudantes. Este processo se repete no final da atividade. Antes, porém são
dados vivas, cantos e salvas de palmas para aniversariantes. Tanto no início quanto no fim
outros hinos como do MST e palavras de ordem podem ser puxados.
Um ponto central das místicas é a exaltação e a presença de motivos naturalistas
como sementes, plantas, mudas, folhas, frutos, terra, plantio. Estes repertórios refletem o
esforço educativo cotidiano de exaltação da ecologia e do meio ambiente. Retratam também
o compromisso da escola com a promoção e perpetuação de saberes sobre a terra
estritamente vinculados com os princípios e a vocação do MST.
Sob a perspectiva decolonial, são acionadas técnicas de reverberação circulares que
demolem o império cognitivo centrado no mental, abrindo cena para afetos e corpos unidos
pela musicalidade e outras expressões da arte, como dramatizações e uma cenografia que
incorpora elementos dos repertórios e contexto local como ferramentas, chapéus de palha,
bandeiras e outros adereços.
O ciclo completo de místicas matinais finaliza depois que todos os núcleos de
educadores ou turmas de alunos fazem sua apresentação, portanto após onze rodadas, que
é o somatório entre o número de núcleos de educadores e turmas2.
2 Na etapa em relato foram realizados etnoregistros de místicas apresentadas por 07 coletivos. Apesar
de não ter documentado o ciclo completo, devido ao esgotamento do cronograma de campo, pensamos
que a amostra é suficiente para a descrição do bem cultural que para fins de inventariamento será
integrado ao conjunto das pedagogias de roda, cujo escopo incluirá ainda duas místicas registradas
durante a oficina de memória e história e no aniversário do assentamento.
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FOTOS 63-68: etnoregistro das místicas todas as manhãs, às 7:30 h.
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Do sorteio participaram convidados do Assentamento Paulo Vinha e da
coordenação de educação do MST que haviam participado da mística, bem como a
equipe técnica do PIEP.
Este momento, inclusive, constituiu-se em uma espécie de rito de iniciação dos
pesquisadores na dinâmica horizontal da escola, pois também participaram de uma
roda com educadores e convidados. Nessa, a leitura circulou entre todos os presentes
e o livro que teve um capítulo destrinchado foi “História do Menino que Lia o Mundo”,
de Carlos Rodrigues Brandão (Editora Expressão Popular) e que conta em prosa o
trajeto de Paulo Freire, cujo busto também compunha o cenário.
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FOTOS 71-79: rodas de leitura de estudante e coletivo de visitantes e educadores.
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pequeninhos até os adolescentes e jovens, vai circulando no coletivo da roda sua
potência criativa e reflexiva integrada com os conteúdos da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC).
TABELA 1: TEMAS GERADORES DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2023 – EEEF VALDÍCIO BARBOSA DOS SANTOS
Turma Eixo Temático Tema Gerador
INFANTIL Bandeira Vermelhinha Identidade e Cultura Eu e minha história
1º ANO Terra é Força Identidade e Cultura A Casa da minha família
2º ANO Terra é Força Identidade e Cultura A História da minha família
3º ANO Sem Terrinha Identidade da Família A Identidade da Família
4º ANO Campo em Harmonia Identidade da Família A História da Comunidade
5º ANO Campo em Harmonia Identidade da família A participação da família na
organização da comunidade
6º ANO Adolescente do Futuro As relações de trabalho e produção O trabalho na família
7º ANO Jovens Estudantes As relações de trabalho e produção A diversificação da produção
agropecuária
8º ANO Juventude em Movimento Os elementos Organizativos e As organizações sociais em nossa
Políticos do Campo região
9º ANO Juventude em Movimento Os elementos Organizativos e A luta por reforma agrária
Políticas do Campo
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25
FOTOS 80-97: culminância das atividades do primeiro trimestre de 2023 na EEEF Valdício Barbosa
dos Santos.
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3.6. Oficina Educação para o Patrimônio Cultural
As oficinas constituem-se nas atividades alinhadas pelas educadoras da
EEEFVBS e a equipe técnica do PIEP. Estavam cercadas de expectativas em função
da conexão positiva estabelecida pela equipe técnica com os assentados de forma
geral, em função da profundidade etnográfica alcançada pelas navegações anteriores
e dos afetos decorrentes.
Neste contexto, para a oficina de educação patrimonial foi acolhida a proposta
de atender o maior número de alunos, contemplando as turmas de Educação de
Jovens e Adultos (EJA) e os estudantes do 1º ao 9º ano matutino do ensino
fundamental. Portando, apenas as crianças da educação infantil não foram
diretamente beneficiadas.
Outra estratégia de sensibilização foi o material gráfico para divulgação junto
ao grupo de WhatsApp da comunidade.
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centro da roda. Foram instados a entrar em uma experiência sensorial mediante a
fruição de características dos alimentos como cor, cheiro, forma. Em seguida, foram
questionados sobre a origem das quitandas, através de reflexões como “o que são?”,
“quem fez?”, “quem sabe fazer?”.
Além do cafezinho, estavam na mesa bolos e beiju feitos por assentadas, que
foram sendo reconhecidas nos alimentos. Ao serem indagados sobre “quem sabia
fazer o beiju?” vários participantes levantaram a mão, o que permitiu alcançar o
objetivo de entrada da oficina, ou seja, refletir a respeito do patrimônio a partir dos
repertórios próprios dos participantes.
Nesta toada, ainda em volta da mesa, teve início uma reflexão coletiva sobre
as quitandas, os saberes e prazeres gastronômicos da comunidade, com seus pratos
típicos regionais e locais. Após este menu de entrada, todos degustaram as iguarias
e retornaram para seus assentos no círculo de cultura.
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Em seguida teve início a segunda mística, com fins de apresentação e
integração da turma e equipe técnica. Novamente no centro, foi colocado um balaio e
uma bandeira do MST. A palavra foi circulando entre todos os presentes, que foram
convocados a colocar dentro do cesto um objeto representativo de um valor ou
sentimento pessoal de cada um, algo que fosse importante para sua memória. Nessa
medida, iniciando a reflexão sobre o que consideram como patrimônio individual, o
que vale a pena preservar, ou manter na memória. Ainda sem apresentar nenhum
desses conceitos, mas sim, deixando a livre expressão.
Os participantes extrapolaram, além de artefatos colocaram de tudo no balaio:
ferramentas de trabalho (foicinha, batedeira de pimenta, carteira de motorista), som,
chuteira de futebol, garrafa de café, uma fotografia, animais de estimação (cachorro,
bezerra, papagaio), pessoas queridas, família, aliança de casamento, berço do
primeiro filho que está a caminho, educação, bolsa de estudos, lápis e trator e a
bandeira do MST. Foi um momento catártico e de muita emoção, com risos e choros.
A aprendizagem é que na escala de valores dos assentados as potências vivas se
sobrepõem aos objetos inanimados e, no final, a síntese do balaio cheio, com o que
ele mais continha, foi a palavra AMOR!
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FOTOS 102-107: Mística de apresentação e integração.
30
assentados e foi galgando progressiva e dialogicamente os degraus dos conteúdos
formais e normativos das políticas de salvaguarda preconizados pelo IPHAN.
FOTOS 108-113: Tempestade de ideias sobre o tema gerador e escolha dos repertórios.
31
FOTOS 114-117: Grupos reflexivos aprofundando os repertórios.
32
FOTO 118-122: Socialização dos repertórios pelos grupos.
33
5º Momento: Apresentação expositiva da equipe do PIEP
Este momento apresentou como desafio introduzir de forma dialógica questões
universais associadas ao patrimônio cultural e que o definem como ciência
multidisciplinar integrada. Mais uma vez, a equipe insistiu no esforço de operar com
materiais empíricos recolhidos, sempre que possível, nos contextos locais e regionais,
procurando encurtar a distância entre os repertórios dos comunitários e os conteúdos
de educação patrimonial prescritos no âmbito das normativas de proteção e
salvaguarda de bens culturais.
A este respeito, de forma geral foi mantida a apresentação utilizadas na oficina
de educação patrimonial de Água Preta (Terceiro Relatório- 4ª Etapa de Campo: Parte
de Água Preta; pp.26-43), acrescida da propositura de uma cronologia de ocupação
regional que recuava até o período pré-colonial chegando aos dias atuais, transitando
pelas principais estruturas e diferentes materiais arqueológicos até o período do
contato e histórico, onde foram arrematados os conteúdos trabalhados no círculo de
cultura.
Os conteúdos visualizados propiciaram profícuo debate entre os presentes.
34
Neste momento a palavra circulou entre todos os educadores e estudantes que
agradeceram o empenho e trabalho da equipe técnica, destacando a relevância da
atividade para a história da EJA da EEEFVBS.
Em tempo, a equipe introduziu uma mística final chamada Dança do Coração
da terra, que consiste numa variação do toré com todos girando e marcando o
compassado com a pisada acompanhada de gritos como hey (passo á frente) e how
(passo atrás), animados pelo instrutor que exclamava frases como “a cultura em
Valdício é como o coração da terra e não pode parar!” “ tá batendo muito fraco e
devagar este coração, acho que vai morrer”, “acelera e firma a pisada!” e outras
expressões do tipo. Os presentes foram acelerando e batendo cada vez mais forte,
se aproximando do centro onde bem juntinhos gritaram um grande hoooowww!!!
A oficina terminou em júbilo e foi coroada com uma pizza produzida por uma
assentada de alcunha “Loira”, gerando comentários adicionais sobre os efeitos
gastronômicos positivos oriundos do encontro dos povos, uma vez que a pizza é de
origem italiana, mas disseminada no Brasil e saboreada com prazer na comunidade.
35
FOTOS 132-133: fruição gastronômica final, pizza produzida no assentamento.
FOTO 134: lista de presença da Oficina Educação para o Patrimônio Cultural – EJA.
36
primazia à expressão corporal e dramatizações na propulsão do tema gerador e na
reverberação dos repertórios.
Além disso, foi criado um quinto grupo de cultura digital para documentar o
processo reflexivo criativo. Esta demanda foi reiterada no percurso do PIEP pela
direção do assentamento e educadores, e também apontada como vertente a ser
potencializada em confluência com o protagonismo juvenil e a vocação deste público
para operar mais facilmente com suportes digitais.
Foi ressaltada também a necessidade de que o manejo de suportes info-tele
midiáticos se desdobre em ganhos permanentes, qualificando os processos de
documentação e registro pela própria comunidade.
Qualificada nestes termos, as multilinguagens ativadas na oficina compõem
suportes do teatro∕ dramatização, audiovisual, música e sonorização, poesia,
patrimônio cultural material e imaterial.
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Os educandos fizeram a escolha aleatória dos repertórios e passaram à
reflexão crítica e criativa com a tarefa de roteirizar os conteúdos semióticos
apresentados nas imagens, preparando uma apresentação apoiada na dramatização
e expressão corporal.
Em apoio, a equipe técnica valeu-se de referência do Teatro do Oprimido de
Augusto Boal:
O Teatro do Oprimido é um teatro participativo que fomenta formas de
interação democráticas e cooperativas entre os participantes. É um "teatro
ensaio" praticado por ‘espect-atores’ (não espectadores), que têm a
oportunidade tanto de atuar quanto de observar processos de diálogo e
pensamento crítico empoderadores. No Teatro do Oprimido, o ato teatral é
vivenciado como uma intervenção consciente, como um ensaio para uma ação
social baseada na análise coletiva de problemas comuns.” (Fonte:
https://hemisphericinstitute.org/pt/hidvl-collections/itemlist/category/393-
boal.html . Consulta em 17/08/23).
38
FOTOS 139-144: Propulsão do tema gerador roteirização criativa dos repertórios.
39
FOTOS 145-152: enunciações criativas.
40
FOTOS 153-156: Momento expositivo e lanche final com os estudantes do ensino fundamental.
41
FOTOS 157-158: momento inicial, cirandas e cantigas de roda.
42
FOTOS 159-175: apresentação dos participantes.
43
FIGURA 06: palavras ditas pelos estudantes do 1º ao 5º ano.
44
FIGURAS 07-16: Sem Terrinha – desenhos de autoria de Kauelly, Alessandra, Pedro Lucas,
Mayhara, Allyson, Jackson, Gabriel, Jhenyffer, Wanderson e Miguel.
45
FIGURAS 17-28: Terra é Força – desenhos de autoria de Bernardo, Vitor, Heithor, Ivo, Maria Laura,
Manuella, Maria Klara, Nicolly, Anna Karolyna, Ludmila, Davi Luiz e Livya.
46
47
FIGURAS 29-42: Campo em Harmonia - desenhos de autoria de Dani, Rener, Elizeu,
Anderson, Kemilly, Maria Luara, Kauã, Lavynia, Natan, Pedro Gabriel, Matheus, Fernanda, Arthur e
Ederlan.
48
Terras). Essa é uma controvérsia que perpassa os séculos, desde 1500 existem
diferentes visões sobre esse chão que a gente pisa, a mãe terra é um ser vivo ou
uma propriedade? O encontro de diferentes cosmologias deu origem ao Brasil atual.
E até hoje, há uma diversidade de opiniões sobre o que fazer com essa terra, o que
plantar e como plantar. Pelas apresentações vimos que o assentamento opta pelo
plantio diverso, a agroecologia.
Após essa explanação perguntamos quem sabe fazer beiju? E quem gosta de
comer? As crianças se manifestaram, a maioria adora e tem alguém da família que
faz. Então convidamos todos a experimentarem o beiju e outras delícias produzidas
no assentamento acompanhadas de suco de maracujá.
49
FOTOS 176-178: Momento expositivo junto à meninada do 1º ao 6º ano.
FOTOS 179-180: momento final da oficina, degustação das quitandas feitas no assentamento.
50
cílios. Falamos sobre alimentos e produção do ASS. (...) (Jovens Estudantes
– 6º ano).
51
Tem hora que a gente fica aqui incomunicável. Várias vezes a gente saiu aqui
da escola, pegamos a moto e saímos procurando sinal para ter alguma
informação urgente ou alguma coisa. Ou às vezes, já aconteceu de algum pai
avisar de alguma criança e a gente não conseguir, não receber a informação.
Ou seja, não tem acesso à internet nem ao sinal telefônico, então é bem
complicado. (Relato da professora de geografia, Graciele, 07-06-2023)
A parte expositiva teve início com uma breve introdução sobre cartografia,
momento em que foram recapitulados pontos trabalhados nas aulas de geografia,
como tipos de mapas, procurando alinhar uma visão geral do tema a partir dos
repertórios dos participantes.
52
Fotos da construção de uma ponte sobre o rio Itaúnas, próximo a Pedro
Canário:
FOTOS 181-183: construção de uma ponte sobre o rio Itaúnas próximo a Pedro Canário,
acampamento próximo, porto de São Mateus, na década de 1950. Fonte: http://conceicao-da
barra.blogspot.com/2012/04/fotos-antigas-do-municipio-de-conceicao.html
53
Na sequência mostramos a localização do Assentamento em relação às
comunidades quilombolas da região e ao porto de São Mateus, além das já
mencionadas referências do bairro Camata e da comunidade de Água Preta.
FIGURA 47: contexto regional, presença negra expressa pelos quilombos e o porto de São Mateus.
O primeiro passo para utilizar o aplicativo AVENZA foi instalá-lo nos celulares.
Foi enviado por mensagem pelo grupo da escola um demonstrativo para instalação e
um mapa em pdf, para que todos já chegassem na oficina com os arquivos instalados,
sem necessitar de acesso à internet durante a Oficina.
Durante a Oficina ensinamos a maneira de inserir o mapa georeferenciado em
formato pdf no aplicativo. O mapa disponibilizado possuía como referência prévia a
localização da escola e o limite do Assentamento. Após obterem a imagem no
54
aplicativo, ensinamos a inserir pontos no mapa e gravar trajetos. Para tanto
convidamos os estudantes a caminharem pelos diferentes espaços da escola. O fato
que mais chamou atenção dos estudantes foi a marcação do trajeto.
55
um aparelho, onde ficou registrado o caminhamento e alguns pontos tomados, como
a localização da igreja católica, a quadra de esportes, as salas de aula das turmas
Juventude em Movimento e Sem Terrinha.
56
FOTO 191-194: oficina de cultura digital – fotografando com celular.
57
3.8. Etnoregistro de unidades domésticas e quintais produtivos
Neste momento do PIEP optaremos por adotar o conceito de unidade
doméstica, coletivo formado pela tríade casa-quintal-terreiro, em função do seu
potencial de expressar elementos identitários e socioculturais associados ao modo
local de apropriação do território e da paisagem3. A mesma tríade se traduz em outra
terminologia comumente usada no assentamento: o “lote produtivo”.
No âmbito etnográfico, a bússola é deslocada para os mosaicos policuturais
dos quintais e rizomas estabelecidos com saberes e fazeres nas unidades
domésticas, tais como quitandas, artesanato, farinheiras e saberes do pilão.
Em Valdício Barbosa algumas unidades domésticas com seus quintais
produtivos estão localizadas separadamente no núcleo histórico irradiador da
agrovila. Outras se expandiram ao longo do tempo com a distribuição dos lotes mais
amplos e descentralizados, após o efetivo assentamento. Portanto, o padrão de
localização dos grandes plantios de café, pimenta do reino e maracujá em relação às
unidades domésticas é variável. Algumas unidades são adjacentes, outras nem tanto.
Frente a este cenário, optamos por apresentar um sumário descritivo
cronologicamente fiel à sequência de captura das lentes etnográficas, reservando
para o inventario final a categorização e sistematização junto ao bem imaterial
correspondente.
3.8.1. 30/05/2023
Dando largada ao campo, celebramos a radicalidade etnográfica praticando o
método da deriva para abordagem direta de assentados que estavam trabalhando
nas áreas repletas de cafezais e pimenteiras.
O objetivo era observar a situação do Assentamento durante o trabalho no
campo, interferindo ao mínimo na atividade, através de técnicas como “escuta ao pé
da enxada”, “dedinho de prosa ao pé do coqueiro” e similares.
A proposta se mostrou bastante profícua e realizamos vários registros com
foco especial na lavoura do café, desde o plantio de novos pés, até a colheita das
plantas adultas carregadas de grãos, o manejo (poda) e a secagem. Ao longo dos
etnoregistros foram sendo coletados relatos do histórico dos plantios, a cooperação
3
Neste sentido, “é possível dizer que o resultado da dinâmica cotidiana de um grupo
na paisagem remete ao ethos daquele grupo.,” (NASCIMENTO, 2011:79).
58
dos agricultores, da mão de obra e proventos, da produção para consumo e
comercialização.
Também registramos a alternância de plantios, como café e maracujá, café e
pimenta do reino, bananeiras, cana de açúcar, aipim, laranja etc.
Colheita de café
Cleidson de Oliveira Santos, filho do Sr. Amilto Lima dos Santos, mora no
assentamento desde os tempos da Lona, veio quando tinha 3 anos de idade, hoje
está com 29 anos. Na ocasião do etnoregistro podava o plantio do vizinho (4 a 5 mil
pés), mas indicou que tem em seu lote cerca de 6 a 7 mil pés de café.
59
FOTO 198: Sr. José.
60
Ele explicou ainda que separa as folhas dos grãos porque elas podem pegar
fogo na hora da secagem.
“O café conilon é assim, já o arábica não, o arábica você pode deixar
a folha que não tem problema, já esse aqui você tem que tirar a folha
toda senão ele pega fogo no secador”.
FOTOS 201-202: Dona Márcia e sua filha, moradoras do Assentamento Valdício Barbosa,
trabalhando na colheita do cafezal do Cássio.
61
3.8.2. 31/05/2023
Unidade domiciliar - Tatiana
Tatiana mora no assentamento com o marido desde o final de 2020, início de
2021. Eles vieram de Sooretama, onde o sogro dela tem terra. No assentamento o
casal plantou maracujá (cerca de 3 mil pés) e café (28.500 pés). Ela contou que 5
meses após o plantio de maracujá chega a colher de 100 a 200 caixas por semana.
Ela trabalhou na AMAG, mas atualmente se dedica apenas ao plantio e aos
cuidados da casa. Ela conta com a ajuda do marido e dos parentes, que moram fora,
mas ajudam na roça deles durante a semana (sogro e cunhado). Além do café e do
maracujá planta para consumo quiabo, cebolinha e berinjela, quando sobra, vende na
AMAG.
62
Unidade domiciliar – Edenilson e seu pai Elvino
A prosa com Edenilson se deu na sombra de seu pomar, onde ofereceu à
equipe laranjas e mexericas. No seu lote produtivo havia ainda cafezais maduros e
recém-plantados (há cerca de 2 meses), pimenteiras e coqueirais. Ele relatou que o
coco é para consumo e para dar de comer às galinhas e porcos, uma vez que para a
comercialização os compradores da região oferecem muito pouco (R$ 0,50 por coco).
Ele está no Assentamento desde “moleque”, seu pai é do tempo da lona. Sobre
seu Elvino ele contou:
Meu pai tá (sic.) com 72 anos, meu pai é forte, meu pai pega café,
meu pai cata pimenta, meu pai capina, meu pai faz de tudo. É, o bicho
é bruto.
63
FOTOS 210-213: Nilcimara (Mara), fazendo o pão com “fermento de Cristo”.
Mara contou que já sabia fazer desde criança, mas começou a produzir
quitandas para vender quando sua filha de 7 anos era pequena de colo. Ela saia com
a filha de porta em porta no Assentamento e em Pedro Canário, vendendo seus pães
e bolos. Hoje ela não precisa fazer isso, pois vive das encomendas de uma clientela
estabelecida. Ela gosta de produzir pães com gordura da nata comprada de um
vizinho (na ocasião não tinha, por isso utilizou margarina) e fermento de Cristo, sobre
o fermento ela explica:
“Ele é um líquido, uma muda que você ganha. Não coloco ele na geladeira,
porque não dá nem tempo”.
64
FOTOS 214-215: casinha da filha do casal, instalada ao lado da oficina de geso do Jairo.
3.8.3. 03/06/2023
Unidade doméstica – Sr. Avelar e dona Regina
A unidade já havia sido visitada em mais de uma ocasião durante o PIEP, onde
foram realizados ertnoregistros das quitandas e da torra de café pisado no pilão, além
de colaborações valiosas para acesso e conteúdo de memória da região.
Para o relatório em tela consideramos o etnoregistro da farinheira, de
instalação mais recente entre as que operam no assentamento. Também é mais
moderna e mecanizada e seu processo produtivo será detalhado na fase seguinte do
PIEP (Inventário – Relatório 6).
65
FOTOS 216-219: farinheira do Sr. Avelar e dona Regina.
66
FOTOS 220-225: colheita de café e animais livres no lote do casal Avelar e Regina.
3.8.4. 04/06/2023
Unidade doméstica – Maria Aparecida e Adelso
Maria Aparecida Pereira da Silva (Cida) e Adelso Rocha Lima revelaram que
em seu quintal já chegaram a contar vinte e duas espécies frutíferas, então, aos
poucos foram pensando no quintal e nomeando o que lembravam:
“(...) tem jambo, manga, carambola, abacate, jaca, seriguela, acerola, coco, pinha,
graviola, laranja, jabuticaba, três tipos de banana, pitaia, cana de açúcar, mamão,
romã, biribiri e canela”.
Cida completou:
Nós viemos para cá, não tinha energia e nós fizemos pamonha, cozinhamos ali assim.
Nós trouxemos o milho da roça, ralou, pegou uma taboa, fez na lata de óleo, ralamos
aquele tanto de milho, aí depois coamos na peneira mesmo grande e botamos para
cozinhar no fogo, na panela grande ali no chão, as pamonhas. Detalhe, fizemos tudo
isso, cozinhamos e tivemos que distribuir para os vizinhos, porque não tinha geladeira
para conservar.
67
FOTO 226-228: Adelso e Cida preparando o milho para fazer uma deliciosa papa, gentilmente
oferecia e degustada pela equipe do PIEP.
3.8.5. 06/06/2023
Unidade Doméstica – Dona Maria de Fátima
Fomos recebidos por Dona Maria de Fátima de Jesus Souza, cujo esposo
Jorge Ferreira Gomes estava imerso no cafezal adjascente para a tarefa da colheita.
A unidade doméstica possui a configuração padrão com terreiro limpo à frente, casa
de alvearia sem reboco e quintal ao fundo com diversidade de cultivos e margeando
o curso d´agua. Destacam-se várias árvores fruiferas e sombreiras como
mangueiras, bananeiras, coqueiros. Identificamos ainda horta e plantas usadas como
condimentos, tais como o urucum. A anfitriã nos apresentou o secador de pimenta e
o secador de café, registrando que estas atividades são realizadas diretamente na
unidade doméstica.
68
FOTOS 229-234: unidade doméstica da Dona Fátima, o secador de café do Sr. Jorge, registrado
no RAIPI, permanece em uso.
69
FOTOS 235-243: unidade doméstica da Dona Rosalina.
70
FOTOS 244-249: farinheira e venda da Dona Rosalina, atualmente desativadas.
71
FOTOS 250-257: unidade doméstica da Dona Zilda.
72
FOTOS 258-263: unidade doméstica do Sr. José Antônio (Zezão).
73
Aí fomos lá para Aracruz. Conhece aquele assentamento lá? Nós fomos lá
para Aracruz, perto daqueles índios. Lá ficamos mais 11 meses, ficou um cado
de gente lá, porque não cabia tudo. Aí viemos parar aqui. Aqui tem 28 anos.
74
FOTOS 264-270: Unidade doméstica do Sr. Joaquim.
75
FOTOS 271-278: unidade domiciliar da Nininha.
76
FOTOS 279-287: abundância e diversidade das fontes alimentares.
Dona Dete mora no Assentamento há 26 anos, conta que quando chegou
estavam construindo a casa da Agrovila. As lonas do início foram montadas no terreno
onde ela vive, perto da represa. O inhame que elas têm até hoje é dessa época, fazem
questão de manter, de plantar hoje o “inhame original”. Ela contou também um caso
que ilustra sua vivência no MST:
“Tinha uns 2 anos que eu já morava aqui, vieram me pedir, um pessoal que
estava lonado em beira de estrada foi expulso e eles precisavam de um local
para ficar, até conseguir terra para eles irem. Ninguém aqui quis dar eles,
porque diz que não ia dar, que eles iam acabar invadindo tudo aqui.
Eu nem sabia que eles estavam questionando isso, peguei e arrumei, essa
parte aqui dessa margem até na porteira, da estrada pra (sic.) cá eles
encheram de lona e ficaram aí. É tanto que me ajudaram a limpar minha roça,
tinha um cafezinho aqui pouquinho, quase mil mudas de café.
E ficou (sic.) aí, até que eles conseguiram uma beira de estrada para eles ir
(sic.). Aí, quando fez (sic.) mais ou menos uns 6 meses, 7 meses, eles
pegaram e foram. Mas tudo começou foi aqui.”
77
Nininha contou que ainda pretende montar uma farinheira, ela cresceu vendo
a mãe trabalhar nesse lote e sente falta da farinheira que dona Dete tinha e foi
destruída pelo fogo. Ela contou que parte das peças foi vendida para sr. Raimundo,
pai do professor Thiago. Lavynia, sua filha mais velha, contou para mãe que comeu
beiju na escola, ressoando a Oficina de Educação para o Patrimônio Cultural – Cultura
do Brincar:
“O beiju foi (sic.) eles que trouxe (sic.), mãe.”
“Eu tô (sic.) doida pra descobrir como faz a tinta de jenipapo. E se eu descobrir
eu vou levar para escola. Da outra vez que eu fiz, que eu fui levar para
apresentação que a gente fez dos índios, eu fiz a tinta do urucum e fiz também
a tinta do carvão. Peguei carvão e fiz”.
78
Unidade doméstica - professor Thiago e familiares
A abordagem já tinha sido feita na parte da manhã do dia 30 de maio, momento
em que estivemos com o irmão do professor, Romário (foto 199), colhendo café.
Apesar da exaustão, após o dia inteiro de trabalho, retornamos ao pôr do sol para
registramos os pais. A diversidade de cultivos e o grande número de estruturas e
artefatos rústicos de madeira mostrou que valeu a pena. Além dos saberes do pilão,
que entre outras pisadas é ativado para fazer paçoca de amendoim, identificamos
uma engenhoca e um batedor de pimenta anexo ao secador.
O senhor José Raimundo da Silva, 82 anos, pai do Thiago, é um senhor
engenhoso. Ele que construiu uma série de objetos de madeira, inclusive uma
engenhoca e o pilão da família. Ele disse:
“Não tem coisa que eu não sei fazer.”
A dona Dilzete Rodrigues Cosme contou que veio morar no Assentamento há
11 anos, primeiro veio o filho Thiago, há 15 anos, para dar aulas na escola. Mas ela
está no MST há muito tempo, veio do Assentamento Córrego da Areia, o primeiro do
estado (37 anos), situado em Jaguaré.
79
FOTOS 290-296: Sr. Raimundo e Dona Dilzete e artefatos de madeira conformados por ele.
3.8.6. 07/06/2023
Considerando que esta data era o último dia do campo, o esforço inicial do dia
previa secundarizar a deriva em prol da checagem de pontos georreferenciados
durante o RAIPI (2018) para atualização da situação dos bens, tais como as
farinheiras.
80
Unidade doméstica – Luciano (presidente da AAFVAB)
Contudo, devido a variação e imprecisão de alguns pontos, aconteceram
alguns desvios que se mostraram bastante produtivos. O primeiro deles nos levou até
a unidade de Luciano, presidente da associação de agricultores do Valdício Barbosa.
No local havia pimenta secando ao sol sobre uma lona e um curral onde Luciano
apresentou-nos uma sela e falou sobre seus hábitos de montaria. Em seguida nos
indicou a direção do ponto que estávamos buscando.
81
condição conforma um padrão: na medida em que a idade dos mais antigos avança
o bem vai perdendo vitalidade no assentamento, pois os que chegam são mais afins
a outras labutas com a terra.
Na unidade existe outro imóvel onde mora a irmã de Luciano com o esposo.
Os cultivos são diversos e há uma pequena horta bem em frente às residências.
Jeferson trabalha no secador comunitário e vive no assentamento há 10 anos. Nesse
lote (2 alqueires de terra) ele disse que tem pimenta e vai plantar café aos poucos.
Também tem couve, tomate, mamão, coco, cupuaçu, caju, manga, limão, aipim,
abóbora, além da criação de porco e galinha.
82
Sua filha Cleidineia (Neia) mora uns 300 metros ladeira abaixo com o esposo,
Pedro, que é artesão em couro produzindo celas e outros artigos de montaria, além
de sapatos, vassouras de cipó, cestarias e outras artes. É também mestre pilãozeiro
e no local tinha um dos grandes em processo de construção.
Cleidineia é uma das fundadoras da AMAG e mostra bem ali em frente da sua
casa a árvore onde surgiu o coletivo de mulheres. Durante o registro, ela estava
preparando a diversidade dos produtos para o caminhão recolher e levar à entidade
onde seria documentada a venda para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
de Conceição da Barra.
FOTOS 310-317: unidade doméstica do Sr. Aurindo e dona Alzira, da filha Cleidineia e seu esposo
Pedro.
83
O sr. Carlos Silva da Paixão mora no assentamento há 15 anos, quando
chegou começou o plantio de mandioca e feijão, porque não dispunha de recursos.
Aos poucos conseguiu “umas vaquinhas na meia”. Mas, em 2015, quando teve uma
seca muito grande, que prejudicou a criação, ele acabou se desfazendo das vacas de
leite, embora ainda pretenda retomar. Atualmente ele se dedica ao plantio de pimenta
e café, também tem coqueiros, mas, ao que tudo indica, gosta mesmo é do gado de
leite. Explicou que não retoma ainda por uma preocupação com a água. De todo
modo, ele planta um “capim-assú” para manter a muda, caso retome a criação já
poderá expandir a plantação para fazer silagem. No terreno dele passa um córrego:
De 2016 para cá começou a chover, começou a chover. Às vezes tinha
canhão. Até por isso que eu acabei com as vaca (sic.) de leite, se quer dá
piquete. Aí eu falei, eu vou acabar com as vaca (sic.) de leite, né. Isso aqui
(mostrando o sistema de irrigação) no projeto economiza muita água e no
canhão não, no canhão você tem que trabalhar bastante, né. Por causa do
pasto.
E aí, por isso, né, eu acabei com o negócio de gado, por causa disso aí. Mas
tenho vontade de um dia ainda voltar com as vaca (sic.) de leite. Mas só que
hoje, quando eu der de voltar, com um pouquinho a menos. Porque no pasto
gasta muita água.
FOTOS 318-321: unidade domiciliar do Sr. Carlos, com destaque para o “capim assú”, que ele cultiva
para futuramente fazer novas mudas e voltar a criar vacas leiteiras, e para o sistema de irrigação mais
eficiente.
84
Antiga farinheira do Sr. Antônio
A equipe seguiu seu percurso até a próxima farinheira georreferenciada pelo
RAIPI e que pertencia ao Sr. Antônio, esposa e filhos. No local deparou-se com as
ruínas e mais uma vez o motivo alegado para o desalento dos mais antigos que se
mudaram da unidade foi as limitações físicas impostas pela idade avançada.
85
Nós vendia (sic.) (farinha) de primeiro, mas eu adoeci. Ela sozinha não
trabalha. Ela faz um quilo de farinha para consumo. Faz beiju, a goma não tá
tirando não.
86
FOTOS 326-333: Farinheira e secador do sr. Ernandes.
87
FOTOS 334-335: Iasmim, aguardando o caminhão para efetuar sua entrega ao PAA, via AMAG.
88
FOTOS 336-342: Sede da AMAG.
89
tempos da lona, ele nos brindou com fotos antigas e valiosas contribuições para a
reconstituição final da linha do tempo que será apresentada no inventário.
90
3.9.3. Etnoregistro da Associação de Agricultores Familiares de Valdício
Barbosa (AAFVAB) - Projeto do Secador de 01 a 07/06/2023
Durante esta etapa de campo foram feitos vários registros, diurnos e noturnos,
do secador de café em potência total de funcionamento. O material empírico será
juntado a registros de campos anteriores, inclusive do Aniversário do Assentamento,
quando ocorreu a inauguração da estrutura, para ser descrito com detalhes no
inventário final.
91
FOTOS 351-358: processamento dos grãos de café para comercialização pela COOPTERRA.
92
trabalho junto aos produtores rurais para liberar as represas, de modo que a pouca
água disponível voltasse a correr.
Durante a navegação etnográfica, nas conversas com os assentados,
verificamos uma preocupação com a manutenção da riqueza hídrica, seja retomando
as situações de carência do passado recente (2015-2016), seja indicando mudanças
de hábitos para evitar desperdícios, ou mesmo atuando ativamente na preservação e
no reflorestamento das matas de galeria nas margens das nascentes, córregos e rios
que cortam seus lotes produtivos. A despeito do entorno, no assentamento vê-se uma
preocupação com a educação ambiental.
93
FOTOS 359-365: diferentes pontos de água registrados no Assentamento VB.
FOTOS 366-367: exibição do filme “Itaúnas Sempre Vivo da Foz à Nascente” pela ONG SAPI, 06-06-
2023, às 19h.
FOTOS 368-369: sistema de irrigação da lavoura de pimenta do Sr. Carlos Silva Paixão, comum em
vários lotes do assentamento.
94
3.11. Etnoregistro: Direito à paisagem – 30/05/2023 a 07/06/2023
Ao longo do campo e, extensivamente em todo o percurso do PIEP, foram
sendo coletados dados sobre componentes da paisagem revestidos de valor simbólico
para os assentados.
Transversalizando com a memória das águas, no presente momento é possível
destacar duas configurações que serão aprofundadas no inventario.
As árvores como marcadores territoriais – tendo em vista uma melhor
orientação espacial, já que o plantio de eucalipto, por homogeneizar a paisagem é
apontado como fator de desorientação, sobretudo para visitantes que vem
acompanhar as festas, realizar pesquisas ou parcerias comerciais. A mangueira numa
esquina, rente à porteira do Sr. Avelar, a castanheira marcando a bifurcação para a
escola e um pé de cajazinho do mato, indicando o caminho da Agrovila, são alguns
exemplos de orientação espacial possível nas estradas do Assentamento.
Pontos de Visada
Estão relacionados com fruição visual e permitem estabelecer contrastes entre
as áreas de cobertura vegetal nativa ou resultantes da policultura familiar com a
paisagem de outras culturas e do pasto extenso da Fazenda São Joaquim.
95
FOTOS 373-375: pontos de visada no Assentamento VB.
96
Todavia, em virtude da dificuldade de agenda com a comunidade, para a
sétima etapa de campo, o inventario final e a devolutiva final do PIEP serão enviados
por mensagem (via whatsapp), uma vez que a instabilidade do sinal de internet nas
comunidades não permitiria a realização de uma transmissão on-line. As sugestões e
complementações dos comunitários serão acatadas, assim como ocorre com o
presente relatório.
Pretendemos, nesta direção, na medida do possível, agregar o conhecimento
acumulado pelos esquemas construtivistas e colaborativos à perspectiva dos
inventários de referências culturais balizados pelo IPHAN.
4Aqui faz necessária uma retificação de informação apresentada no Terceiro Relatório (quarta etapa
de campo), mais precisamente no tópico “Conjunto Paisagístico Receptivo da Comunidade”. Ao
descrever os elementos que compõem a paisagem sombreira sob a tradicional castanheira, transcreve
erroneamente a suspira como madeira nobre de dois bancos rústicos que, na verdade, são de
pequizeiro. Assim posto, a redação corrigida passa a ser “Sob sua sombra estão dois troncos rústicos
de madeira nobre (pequizeiro) que funcionam como bancos. Há um outro banco plainado de eucalipto
conformando a cena receptiva e acolhedora “(Relatório 3: p.12).
97
FOTOS 376-377: registro do rompimento da rede elétrica na entrada da comunidade de Água Preta.
FOTOS 378-381: Água turva e com caramujos impõe abastecimento externo no bairro
Camata.
99
vasilhas. Na presente etapa de campo, tal situação foi identificada e, para solucionar
o problema, os comunitários fizeram uma “vaquinha” para aquisição de nova bomba,
uma vez que a que estava em uso queimou de vez.
100
FOTOS 384-389: Labuta dos comunitários para lavar vasilhas no corrégo Água Preta, 06/06/2023.
101
meses desde que o ofício foi protocolado junto ao executivo municipal e o
problema permanece sem solução.
102
Segundo o agricultor, o ciclo de vida da pimenta do reino dura em média
de 8 a 10 anos, sendo que os primeiros cachinhos já estão disponíveis após
doze meses e a colheita robusta é incrementada a partir do 3º ano.
103
FOTOS 397-398: Área de expansão do plantio de pimenta do reino.
Outro desafio é a água. Para o caso de Mauro, ele instalou mais de 300
metros de canalizações puxando diretamente do córrego Água Preta, através
de uma pequena bomba elétrica. Esta alternativa foi adotada como única
capaz de garantir segurança hídrica para a plantação, dado os já mencionados
problemas recorrentes no abastecimento geral da comunidade.
104
Dona Albertina
Nos recebeu fazendo a pilagem da pimenta colhida no quintal. O seu
quintal repete o padrão de outras unidades domésticas percorridas ao longo
do PIEP, com destaque para jiló fresquinho colhido no pé, vultosa plantação
de taioba e lindas flores de múltiplas cores.
105
Dona Morenita
106
FOTOS 407-411: Quintal produtivo de Dona Morenita
Dona Imaculada
A detentora apresentou sua horta com couve, cebolinha, mostarda, taioba, jiló,
entre outras espécies comestíveis.
Dispersos pelo quintal uma variedade de árvores frutíferas com os pés
carregados de romã, jaboticaba, abacate, coco, mamão, acerola, bananas e
presenteou a equipe com uma deliciosa pitaia. Destaca-se um jardim ornamental com
flores e espécies medicinais como carqueja, capim da lapa, entre outros.
107
FOTOS 412-415: Quintal produtivo de Dona Imaculada.
Dona imaculada é mais que uma detentora, é uma mestra de saberes e fazeres
tradicionais sobre a terra, cujo potencial de estabelecer rizomas com outros bens
imateriais já foi demonstrado em vários momentos da execução do PIEP.
108
5.5. Etnoregistro colaborativo: Saberes do pilão
109
FOTOS 416-421: Dona Imaculada, pilando e cozinhando a mamona para gerar o óleo.
110
FOTOS 422-424: Produção de óleo de Dendê por Dona Imaculada.
Além dos óleos de dendê e mamona, Dona Imaculada produz óleo de coco.
Todavia, neste caso, não faz uso do pilão.
FOTOS 425-426: Dona Morenita, colhendo urucum no seu quintal, após um dia de trabalho na
lavoura de café.
111
FOTOS 427-431: Feitio de corante por Dona Morenita.
112
5.6. Etnoregistro Colheita de café
113
5.7. Etnoregistro da cultura do brincar na infância
A finalização dos etnoregistros não poderia deixar passar em branco a
cultura imaterial do brincar que esteve onipresente em todos os momentos de
execução do PIEP.
114
Tomando como régua de medição o Diagnóstico Cultural Colaborativo (DCC -
Produto 1), os resultados até o momento geraram um grande volume de material
empírico.
Considerando a metodologia etnográfica e sinérgica do PIEP, assentado na
participação estrutural dos comunitários em todas as etapas, todo o material
produzido será revisitado e sistematizado para alimentar o inventário final. Outrossim,
o grande volume de trabalho e esforço de sistematização não pode obliterar, na reta
final, a perspectiva metodológica do PIEP.
Na etapa em tela, em função da agenda intensa de atividades em Valdício
Barbosa e devido ao fato de que as oficinas estavam finalizadas em Água Preta, não
foi possível reunir os comunitários dessa comunidade numa arena coletiva comum
para devolutiva da etapa anterior (oficina de cartografia) e a validação teve que ser
feita concomitantemente aos etnoregistros e em núcleos familiares separados. Tal
arranjo foi parcialmente possível devido à profundidade da imersão da equipe técnica
junto à comunidade e ao caráter cumulativo e sinérgico dos produtos.
Todavia, em virtude da dificuldade de agenda com a comunidade, para a
sétima etapa de campo, o inventario final e a devolutiva final do PIEP serão enviados
por mensagem (via whatsapp), uma vez que a instabilidade do sinal de internet nas
comunidades não permitiria a realização de uma transmissão on-line à associação,
recém-criada, uma vez que a instabilidade do sinal de internet nas comunidades não
permitiria a realização de uma transmissão on-line. As sugestões e complementações
dos comunitários serão acatadas.
Pretendemos, nesta direção, na medida do possível, agregar o conhecimento
acumulado pelos esquemas construtivistas e colaborativos à perspectiva dos
inventários de referências culturais balizados pelo IPHAN.
115
6. Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Ceciliano Abel de. O desbravamento das selvas do Rio Doce. Rio
de Janeiro: Editora José Olympio,1978.
____________. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. São
Paulo: Olho D’Água, 1997.
116
IPHAN. Educação Patrimonial: históricos, conceitos e processos. Brasília,
2014.
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