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CLA nº 048/2024

Aracruz/ES, 26 de janeiro de 2024.

Senhora Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN


no Estado do Espírito Santo

Ref.: Processo nº 01409.000622/2015-01


Fazendas São Joaquim e Dourada Una (Bloco VI)
VI Relatório PIEP

SUZANO S.A., pessoa jurídica de direito privado, devidamente qualificada nos autos do
processo administrativo em epígrafe, doravante simplesmente designada por Manifestante,
por meio de seu representante já habilitado, vem à presença de V. Sa. considerando o
interesse desde ilustre órgão ambiental em manter-se atualizado acerca das atividades
executadas e os produtos gerados do Projeto de Educação Patrimonial, serve da presente
manifestação para apresentar o VI Relatório PIEP, já validado pelas comunidades;

Colocamo-nos à disposição para os esclarecimentos que eventualmente se fizerem


necessários.

Aracruz/ES, 26 de janeiro de 2024.

Ismael Paranágua
Consultor Corporativo de Licenciamento Ambiental
Suzano S.A.

SUZANO S.A.
Av. Professor Magalhães Neto, 1752  10º andar  Salas 1009/1011  CEP 41810-012  Salvador  BA
www.suzano.com.br
PROJETO INTEGRADO
DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL
Fazendas São Joaquim e Dourada Una Comunidades da AID –
Água Preta e Valdício Barbosa Municípios de Conceição da
Barra e Pedro Canário/ES
Processo IPHAN nº 01409.000622/2015-01

SEXTO RELATÓRIO – INVENTÁRIOS PARTICIPATIVOS


SÉTIMA ETAPA DE CAMPO

Elaborado por:

Júlio Jader Costa


Letícia Moura Simões de Souza
Fernando Walter da Silva Costa

Janeiro de 2024
1. LISTA DE ANEXOS

1 - Inventário Cultural de Água Preta

2 - Inventário Cultural do Assentamento Valdício Barbosa


SUMÁRIO
1. LISTA DE ANEXOS ................................................................... 2

SUMÁRIO.......................................................................................... 3

2. APRESENTAÇÃO ..................................................................... 4

3. METODOLOGIA........................................................................ 5

4. DESENVOLVIMENTO ............................................................... 6

4.1. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CAMPO ................................... 6

4.1.1. AÇÕES EXECUTADAS EM ÁGUA PRETA ........................... 6

4.1.2. AÇÕES EXECUTADAS EM VALDÍCIO BARBOSA ...............16

4.1.3. ENTREVISTA E ETNOREGISTRO COLABORATIVO COM


DONA DIDI 23

5. SISTEMA DE DOCUMENTAÇÃO E GESTÃO DAS


INFORMAÇÕES .........................................................................................29

6. DIVULGAÇÃO ÀS COMUNIDADES DO ENTORNO ...................34

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................36


2. APRESENTAÇÃO
Em conformidade com o alinhamento realizado com a comunidade de
Água Preta e com o Assentamento Valdício Barbosa, o relatório final apresenta
a seguinte configuração:
- A metodologia adotada segue a mesma das etapas anteriores, que
reproduzimos acrescentando uma referência específica para a ficha do
inventário.
- Descrição sumária da última etapa de campo, incluindo a validação-
devolutiva final realizada diretamente junto com as comunidades e o alinhamento
com a secretaria municipal de educação de Conceição da Barra para a difusão
dos produtos e resultados junto às escolas e comunidades quilombolas da
cidade. Para o caso do assentamento também foi realizada entrevista
complementar com “Dona Didi”, viúva de Valdício Barbosa dos Santos, que dá
nome à comunidade.
- Sistema de Documentação e Gestão das Informações - reúne extenso
volume de material audiovisual realizado com a colaboração dos comunitários
por ocasião dos etnoregistros. Este material é apresentado em seu volume bruto,
sendo que apenas uma pequena parte foi editada para fins de exibição restrita
junto aos esquemas de validação comunitária e aos colaboradores institucionais.
Considerando os direitos de imagem afirmados pelos comunitários, o tratamento
e edição deste amplo volume de materiais poderá ser objeto de cenários e
desenhos de futuro atrelados à realização de projetos culturais.
- Inventários participativos de Água Preta e Valdício Barbosa, que serão
apresentados como peças separadas e apensas ao texto do relatório. Em
estreita consonância com as reivindicações dos comunitários, esse formato visa
potencializar os inventários participativos como instrumentos de comprovação
da vitalidade e afirmação de direitos culturais. Deste modo, para além da
instrução do processo junto ao IPHAN, espera-se que estes documentos
contribuam para subsidiar a elaboração de novos projetos e a alocação de
programas e políticas públicas, notadamente de âmbito cultural.
3. METODOLOGIA
Nas atividades propostas, além da legislação vigente, Artigo 216 da
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), IN 2015 (IPHAN, 2015) e Portaria
nº 137/2016 (IPHAN, 2016) foi utilizado o referencial teórico-metodológico
disponível no site do IPHAN, como o Manual de Aplicação - Educação
Patrimonial: Inventários Participativos (2016), Educação Patrimonial, Histórico,
conceitos e processos (2014), mas, principalmente, foram tomados os
ensinamentos do patrono da pedagogia da autonomia (FREIRE, 1979, 1981,
1996, 1997, 2008).
As ações de cunho patrimonial sugeridas foram desenvolvidas no âmbito
da educação não formal que zela pelos conhecimentos e experiências
partilhadas em uma interação sociocultural. O processo de ensino/aprendizagem
não formal caracteriza-se, dentre outros critérios, pela inexistência de
obrigatoriedade e flexibilidade de tempos e espaços. Visa à capacitação do
indivíduo para o mundo, abrindo-o às janelas do conhecimento e envolvendo-o
com os conteúdos relativos à sua situação social e cultural.
A metodologia pode ser compreendida a partir das seguintes dimensões:
A primeira refere-se ao caráter integrativo dos produtos que compõem o
PIEP. Não obstante possuírem objetos distintos, a sinergia do PIEP opera estas
ligações em um conjunto (sistema) dotado de interações processuais. Resulta
que os registros de campo vão se acumulando e contribuindo progressivamente
para uma melhor aproximação com os detentores e a valoração de seus bens
culturais em contextos cotidianos que não se organizam segundo a
“compartimentação de alguns domínios do real”[1] típica das epistemes
científicas (disciplinas).
Isto coloca um impasse inicial, pois não estamos aqui exercitando as
ciências duras ou exatas com esquemas rígidos e projeções matemáticas.
Tampouco operamos entre as ciências da vida (biológicas), onde o estudo dos
organismos permite inferir certos padrões de funcionamento e previsibilidade.
Nossos agenciamentos inscrevem-se no campo das Humanidades, com
seus cenários qualitativos não preditivos[2] e recheados de variáveis de
incerteza social. Aqui, jaz absolutamente fundamental a distinção entre a lógica
formal e a lógica da vida, notadamente se nos apoiamos em procedimentos de
pesquisa etnográfica.
Esta constatação impõe como imperativo metodológico a flexibilidade na
implementação das ações, obedecendo a dois níveis distintos de respostas: 1º
Nível da Estratégia (Prescrição) - corresponde ao que é formalmente prescrito
nas normativas/instruções técnicas de salvaguarda, nas informações
sistematizadas já existentes sobre as comunidades e nos métodos de pesquisa
em uso.
2º Nível das Táticas (Real) [3] - corresponde à realidade acontecimal dos
comunitários. A aproximação do método etnográfico das atividades cotidianas,
bem como sua capacidade de adaptar-se às mudanças situacionais imediatas é
chamada de tática. Seu objetivo é manter no horizonte de alcance a estratégia,
isto é, os objetivos de salvaguarda. O pacote de ferramentas técnicas de campo
pode ser acessado a partir de nomeações como “pólo acontecimal”, “horizonte
dos detentores”, “contextos cotidianos”, “sentidos êmicos" (auto atribuições),
“configurações rizomáticas” e “patrimônio imaterial como um todo”.
A este universo semântico juntam-se a palavra colaborativa, significado
co = junto; labor= trabalho e ativa = fazer, significando fazer o trabalho junto
com…a comunidade.
Sendo vivo o patrimônio imaterial e referindo-se aos detentores humanos
e seus grupos sociais, não poderia ser de outra forma. Nesta injunção
construtivista, os comunitários assumem posição ativa de trabalho na valoração
de suas práticas culturais.
Dadas estas preliminares, justificam-se as atualizações em tempo real no
Mapa de Navegação, aferido como bússola orientadora das tarefas, mas com
capacidade de operar em cenários sociais móveis e dinâmicos.
As fichas de inventário foram extraídas do modelo “Educação Patrimonial
– Mais Educação – Versão Preliminar” disponível no site do IPHAN1.

4. DESENVOLVIMENTO
4.1. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CAMPO

4.1.1. AÇÕES EXECUTADAS EM ÁGUA PRETA

1 http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=30&busca=
ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO
O diário de bordo de Água Preta estabeleceu a sensibilização como
reforço para o agendamento realizado remotamente.
Nesta perspectiva, sempre valorizando os espaços de convívio
comunitário, a equipe se apresentou com antecedência para a atividade final. Foi
produzido e enviado às representantes da Associação de Moradores e
Agricultores da Comunidade de Água Preta (AMACAP) um foder de divulgação
da reunião de validação do Inventário Cultural de Água Preta, que foi repassado
pelas mesmas ao grupo de whatsapp da comunidade.
A equipe também fez a divulgação presencial, conversando com os
moradores nas ruas de Água Preta. Ainda foi providenciado junto às
representantes da AMACAP, Camila de Jesus Freitas e Angélica Santos Gomes,
a organização do espaço da escola para a realização do evento, cedido pela
secretaria de educação de Conceição da Barra, e a encomenda de bolos, sucos
e refrigerantes, a fim de valorizar a economia local.
Para garantir o foco e maior concentração dos comunitários genitores, foi
instalado um pula-pula anexo à escola.

Figura 1:estratégia de aproximação para validação do Inventário de Água Preta.


Figura 2:material de divulgação da reunião de validação do Inventário de Água Preta.

VALIDAÇÃO DO INVENTÁRIO
A atividade foi realizada na escola, contando com a participação do
considerável número de 33 comunitários, como pode ser observado na lista a
seguir.
Figura 3:Lista de presença da reunião de validação do Inventário de Água Preta.

A validação teve início com a revisão e reflexão sobre o Programa


Nacional de Patrimônio Imaterial e conceitos atrelados tais como registro,
inventário, incluindo a apresentação dos modelos consolidados pelo IPHAN: o
INRC e o inventário participativo, sendo que neste último caso foi pautada a
tarefa de complementação coletiva das fichas previamente esboçadas com
dados a partir dos etnoregistros e das validações parciais nas oficinas.
Figura 4: Apresentação e validação do Inventário Cultural de Água Preta.

Para uma melhor compreensão e dinâmica dos trabalhos e considerando


a configuração rizomática dos bens culturais transversalizados no território, a
equipe técnica propôs a construção participativa de um quadro síntese, tendo
como base os registros arquivados no sistema de documentação, seguido da
seleção de pontos prioritários para adoção de medidas de salvaguarda. Ei-lo a
seguir:
Categoria Bem Descrição Sumária Outros bens associados Detentores Recomendações técnicas para
inventariado salvaguarda
Lugares Paisagem Paço receptivo da Celebrações: Festa do Difuso e Estímulo a projetos paisagísticos para
ecológica comunidade com Sagrado Coração de Jesus coletivo proteção do espaço vital da comunidade,
castanheira, e Forró Tábua Rachada incluindo plantio de árvores, plantas
cajazeiras, figueira, (extinto). ornamentais e alimentícias, hortas, cercas
bancos de pequi, vivas e similares;
escola, Igreja Modos de expressão: Apoio à elaboração e Fomento de projetos
Sagrado Coração de Cultura do Brincar na culturais:
Jesus, Cemitério, Infância. (Série Documental) – edição e difusão
Campo de futebol, audiovisual – vídeos e
escola. Podcasts;
Implantação de ponto de cultura (programa
cultura viva) utilizando espaço ocioso da
escola;
Apoio e promoção da Festa do Sagrado
Coração de Jesus;
Resgate do Forró da Tábua Rachada.
Lugares Localidades Buticudo, Lagoa, Saberes: Pesca e Dona Apoio à elaboração e Fomento de projetos
ou sítios de Nova Canaã, Cadeia extrativismo, em especial do Imaculada e culturais:
memórias Velha, Fazenda e cipó, coco dendê, mamona e Família (Série Documental) – edição e difusão
Fornos do Pierote, pimenta rosa. audiovisual – vídeos e
Fazendas São Luiz e Podcasts;
São Joaquim, Igreja
Evangélica Apoio ao desenvolvimento de
Assembleia de Deus agroecossistemas familiares e comunitários.
(desativada).
Saberes Patrimônio Mosaicos policulturais Saberes do Pilão: Dona Apoio à elaboração e Fomento de projetos
agro-eco- dos quintais Feitio de óleos naturais: Imaculada e culturais:
alimentar produtivos- unidades dendê, coco e mamona; Família, (Série Documental) – edição e difusão
domésticas – Sr. Vila e audiovisual – vídeos e
sementes, plantios, Café pilado com garapa de Dona Maria Podcasts;
culinária e engenhoca; Implantação de ponto de cultura (programa
farmacopeia popular. Dona cultura viva) utilizando espaço ocioso da
Feitio de urucum Morenita e escola.
Dona
Imaculada
Dona
Objetos: pilões, Imaculada,
engenhocas, fornos e outros Dona
artefatos rústicos Morenita,
Dona Maria
etc.

Quitandas: Beiju-Ximango- Dona Incentivo à economia criativa, através da


bolo, doces Regina, promoção de eventos culturais na
Camila comunidade e venda de quitandas durante os
eventos.

Lugares: Córrego Água


Branca, Coletivo, Instalação do poco artesiano;
Córrego Água Preta toda a Ações de Educação ambiental e saneamento
comunidade ecológico;
Apoio ao desenvolvimento de
agroecossistemas familiares e comunitários.
Como pode ser observado, a abordagem genérica dos bens culturais e
detentores correlatos permitiu manter a perspectiva reflexiva e integrada dos
bens culturais comunitários e detentores correlatos. Nesta direção, as fichas de
inventário foram acionadas como instrumentos complementares aos dados dos
etnoregistros, evitando sua percepção como unidade isoladas e evidenciando
sua estreita conexão com o contexto territorial local e com o universo êmico dos
comunitários.
Durante a explanação das recomendações técnicas de salvaguarda a
Camila de Jesus Freitas, presidente da associação, indicou algumas ações que
vêm sendo realizadas em parceria da AMACAP com a Suzano e a Prefeitura de
Conceição da Barra, tais como abertura do poço artesiano para fornecimento de
água de qualidade aos comunitários, horta comunitária plantada no canteiro da
escola desativada, mudas de árvores que planejam plantar nas ruas de entrada
da comunidade.

Figura 5: plantio de horta comunitária no canteiro da escola em 09 e dezembro de 2023, abertura


do poço em 20 de dezembro de 2023 e 09 de janeiro de 2024; mudas de árvores que serão plantadas na
entrada da comunidade. Fonte: Camila de Jesus Freitas, presidente de AMACAP.

Antecedendo o lanche final e fora do espaço escolar, a validação se


estendeu com um abraço na tradicional figueira que conforma um espaço
triangular na entrada da comunidade e onde os locais reivindicam a construção
de uma pracinha com sinalização e estruturas para recepção de visitantes,
instalação de um parquinho, apontando que a mesma poderia ser erigida com
refugos de madeira, sinalizando uma ressignificação positiva do uso do eucalipto
para fins de entretenimento e acolhida.

Figura 6: abraço à figueira da entrada de Água Preta.

Figura 7: confraternização final.


4.1.2. AÇÕES EXECUTADAS EM VALDÍCIO BARBOSA

ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO
A exemplo da validação do Diagnóstico Cultural Colaborativo, a atividade
foi agendada remotamente com a direção plural e representativa do
assentamento, por meio de mensagem e folder de divulgação.

Figura 8: material de divulgação da reunião de validação do Inventário do Assentamento Valdício


Barbosa.

VALIDAÇÃO DO INVENTÁRIO
Ainda assim, em função de uma agenda regional que envolvia as
mulheres, a participação feminina foi menor que nas atividades anteriores. Um
total de nove (09) lideranças participaram da validação do inventário, conforme
lista de presença a seguir.

Figura 9: Lista de presença da reunião de validação do Inventário do Assentamento Valdício Barbosa.

A validação teve início com a revisão e reflexão sobre o Programa


Nacional de Patrimônio Imaterial e conceitos atrelados tais como registro,
inventário, incluindo a apresentação dos modelos consolidados pelo IPHAN: o
INRC e o inventário participativo, sendo que neste último caso pautada a tarefa
de complementação coletiva das fichas previamente esboçadas com dados a
partir dos etnoregistros e das validações parciais nas oficinas.
Figura 10: reunião de validação do Inventário Cultural do Assentamento Valdício Barbosa.

Para uma melhor compreensão e dinâmica dos trabalhos e considerando


a configuração rizomática dos bens culturais transversalizados no território, a
equipe técnica propôs a construção participativa de um quadro síntese, tendo
como base os registros arquivados no sistema de documentação, seguido da
seleção de pontos prioritários para adoção de medidas de salvaguarda. Ei-lo a
seguir:
Categoria Bem Descrição Sumária Outros bens associados Detentores Recomendações técnicas p-salvaguarda
inventariado
Lugares Agrovila Memória: tempos da Celebrações: Festa da Coletivo e Apoio à elaboração e Fomento de projetos
lona, farinheira, Colheita do café (início em difuso. culturais:
primeira escola, 2014, final da colheita) 5 (Série Documental) – edição e difusão
rodas de viola, igreja vezes – julho -agosto audiovisual – vídeos e Podcasts;
evangélica. Implantação de ponto de cultura (programa
Festa de aniversário do cultura viva) na agrovila;
Presente etnográfico: Assentamento (abril) Apoio e promoção dos festejos
associações, Pastor Zito Arborização e sinalização como estratégia de
projetos produtivos; Igreja Evangélica Assembleia orientação e delimitação do espaço territorial
de Deus e Festa do Ciclo de vital (direito à paisagem)
oração
Lugares EEEFVBS Arquitetura Política Ofício do educador popular Coletivo Reconhecimento, pelo IPHAN, como patrimônio
da edificação imaterial do ES: ofício do educador e das
(circularidade) Formas de Expressão: pedagogias de roda como forma de expressão
Igreja de São pedagogias de roda e auto (Inclui místicas, rodas de leitura, cirandas e
Sebastião eco – organização cultura da infância sem terrinha)
Mutirões
Celebrações:
Festa de São Sebastião Fomento de projetos culturais: Apoio à
elaboração e Fomento de projetos culturais:
Festa da Rainha da (Série Documental) – edição e difusão
Primavera Dona Didi audiovisual – vídeos e Podcasts;

Romaria dos Mártires, das Apoio e promoção dos festejos


Terras e das Águas (Floresta
do Sul)

Saberes Patrimônio Mosaicos Saberes do Pilão: azeite de Dona Maria


agro-eco- policulturais das Dendê, Urucum, Café, Dona Zilda
alimentar dos unidades domésticas Paçoca Sr.
quintais – quintais produtivos, Raimundo Fomento de projetos culturais: Apoia à
produtivos sementes, plantios e Objetos: pilões, engenhocas, Sr. Durico elaboração e Fomento de projetos culturais:
culinária fornos e outros artefatos Sr. Altamiro (Série Documental) – edição e difusão
rústicos Miriam, audiovisual
Etc.
Incentivo à economia criativa, através da
Quitandas – Beiju-Ximango- Adilson e promoção de eventos culturais na comunidade e
bolo-tortas-pão de cristo, Sabrina, venda de quitandas durante os eventos.
pizza, salgados, cocada, Lourdinha,
geleia de jabuticaba, melado Mara,
de cacau, óleo de coco, Eliane,
“cocada” de cacau (não leva Jaqueline
coco, de caroço de cacau),
melado de cacau, queijo,
requeijão
Farinheiras Ações de Educação ambiental e saneamento
Apicultura ecológico
Difuso e Apoio ao desenvolvimento de agroecossistemas
Paisagem e água: Agro coletivo familiares e comunitários
ecossistemas, designs
permaculturais,
bioarquiteturas, etc.
Como pode ser observado, a abordagem genérica dos bens culturais e
detentores correlatos permitiu manter a perspectiva reflexiva e integrada dos
bens culturais comunitários e detentores correlatos. Nesta direção, as fichas de
inventário foram acionadas como instrumentos complementares aos dados dos
etnoregistros e concomitantemente às reflexões criativas, evitando sua
percepção como unidade isoladas e evidenciando sua estreita conexão com o
contexto territorial local e com o universo êmico dos comunitários.

Figura 11: validação do Inventário Cultural do Assentamento Valdício Barbosa e confraternização final.

Após a validação do inventário as lideranças presentes fruiram uma torta


de frango e bolos produzidos pela Eliane Jesus Sousa, conhecida no
assentamento como Loira, detentora da comunidade.
4.1.3. ENTREVISTA E ETNOREGISTRO COLABORATIVO COM
DONA DIDI
Complementarmente, foi realizada entrevista com Edite França Barbosa,
Dona Didi, viúva de Valdício Barbosa dos Santos, o Léo.
Começou no antigo sítio da família de dona Didi, ainda produtivo, em que
o casal labutava e criava os filhos, estando ali presentes vestígios de várias
estruturas como farinheira e a velha casa de campo onde o casal criava os 10
filhos. No local dona Didi, considerada uma “rainha da agroecologia” mantém até
hoje cultivos orgânicos diversos e sementes crioulas 2.

Figura 12: Casa onde dona Didi, Valdício e família moraram, em sítio da família.

Dali, em um percurso que atalhava por dentro de vários assentamentos e


grandes fazendas, fomos conduzidos pela falante, que nos apontou
precisamente o local onde teria sido empreendido o genocídio contra os
indígenas residentes às margens do Rio Itaúnas, bem próximas às ruínas da
casa do velho Castro. A área conhecida como Aldeia Guarani (18°12’33.80”S/
40°4’41.18”O; 18°12’24.79”S/ 40°4’37.97”O) 3, atualmente faz parte do
assentamento Castro Alves, embora também seja conhecida como
assentamento do caboclo (18°12’41.59”S/ 40°4’54.51”O) em referência aos
ocupantes iniciais dizimados na primeira metade da década de 1950.

2 https://incaper.es.gov.br/Not%C3%ADcia/incaper-incentiva-o-cultivo-de-sementes-de-
milho-crioulo-em-pedro-canario ; https://www.seculodiario.com.br/meio-ambiente/sou-meio-
teimosa-sabe-insistente-a-gente-sempre-trabalhou-com-organico
3 DATUM SIRGAS 2000.
Figura 13: Locais onde havia duas aldeias Guarani, segundo dona Didi.

Figura 14: locais percorridos durante entrevista com a Dona Didi.


Dona Didi nos relata também muitas outras violências e assassinatos
praticados contra a população camponesa de forma geral, inclusive pelo referido
velho Castro e por um certo Pierote. É nesta toada que nos conduz até o local
de martírio e à casa de Valdício Barbosa, em Floresta do Sul, Pedro Canário,
ES. A realidade de suas palavras nos dá a dimensão da crueldade dos
latifundiários que contavam com a cumplicidade e impunidade do aparato judicial
e policial4.
Eu não me importo de falar. A gente sente. Você sabe, né? É uma ferida
que a gente tem que nunca que sara. Você pode sorrir, você pode chorar, você
pode trabalhar, você pode correr e essa ferida nunca que sara.
1º lugar, porque nunca teve justiça. A justiça não foi feita. Não prendeu o
comandante, nem prendeu (sic.) os pistoleiros. Ficaram (sic.) todo mundo
impune. A gente fica chocado com isso. Se tem a justiça, por que não faz justiça?
Por que não prende os mandantes? Por que não prende os pistoleiros? E
mataram uma pessoa, um pai de família com 10 filhos.
O Léo simplesmente era um sindicalista. Eu trabalhava na associação de
moradores, eu era presidente da associação e ele era delegado do sindicato de
trabalhadores rurais. A gente era perseguido por causa disso. Foi aí que
começou a perseguição.
O dia que a comunidade reuniu, junto com o sindicato, reuniu para buscar
alimento para as pessoas que estavam passando fome na beira da estrada
(Assentamento Castro Alves). O fazendeiro forjou o tombo de um caminhão
cheio de química, veneno. Porque eles bebiam água de um poço. Aí o fazendeiro
fez isso para poder matar todo mundo. E a gente sentiu, se tocou que não era
desse jeito, que a gente não poderia cruzar os braços e deixar eles morrendo de
fome e de sede. Então a gente saiu pedindo água, comida, tudo, coberta, para
poder ajudar eles. Inclusive fretando um caminhão, graças à Deus, todo mundo
ajudou.
Aí quando eles perceberam que a gente estava levando comida, os
poderosos tiraram retrato da gente.

4 https://pc.es.gov.br/operacao-da-policia-civil-prende-acusado-de-m
Fiquei sem meu pai, sem minha mãe e meu esposo. Praticamente todos
os 3 assassinados dentro de 42 dias. Fora os outros sindicalistas que lutavam
no mesmo objetivo que foi (sic.) assassinado por Inha e Damião. Meu pai e
minha mãe morreram do choque da morte do Léo. Meu pai já estava com 78
anos, minha mãe com 77, mas estavam uns velhos fortes, trabalhavam muito
ainda. Quando chegou a notícia que mataram Leo, eles passaram mal, foram
para o hospital. No outro dia chegou no cachão.
Mandaram matar 9 sindicalistas.

Figura 15: Dona Didi na casa que partilhava com Valdicio e filhos em Floresta do Sul, Pedro Canário/ES.

Em Pedro Canário, no pequeno distrito de Floresta do Sul refizemos o


trajeto da Romaria pelas Águas pela Terra e pelos Mártires, que ocorre
atualmente no mês de setembro, indo do local do martírio do Valdício Barbosa
(18°15’38.88”S/ 40°2’24.60”O) até a igreja católica de Nossa Senhora Aparecida
(18°15’46.36”S/ 40°4’48.33”O).
Em 12 de setembro de 1990, dia da primeira celebração, plantaram duas
árvores na frente da igreja em homenagem a Valdício (assassinado em 12 de
setembro de 1989) e a outro líder camponês de nome Verino, assassinato no
distrito de Montanha (em 22 de julho de 1989). Desde então a Romaria ocorre
todos os anos e os comunitários do Assentamento Valdício Barbosa participam
ativamente. Essa romaria faz parte de um movimento nacional da CPT, que teve
início na década de 1970, em virtude de episódios de violência no campo5.

5 https://www.cptnacional.org.br/romarias
Figura 16: Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Floresta do Sul, destaque para as duas árvores
plantadas na frente da igreja, em homenagem aos mártires Valdício e Verino.
Figura 17: Trajeto da Romaria das Águas e da Terra, partindo do local de martírio do Valdício Barbosa dos Santos.
A oitiva teve momentos emocionantes e contribuiu para lançar luz sobre
o contexto de violências e lutas no campo, recuando às décadas de 1940 e 50.

5. SISTEMA DE DOCUMENTAÇÃO E GESTÃO DAS INFORMAÇÕES


Constitui-se no acervo audiovisual comprobatório e detalhado de todas as
atividades realizadas durante o programa, incluindo os bens registrados
correlatos aos seus detentores.
A exceção são os materiais referentes ao Produto 1 – Diagnóstico Cultural
Colaborativo), que foi distribuído nas pastas dos Etnoregistros, conforme
temática de afinidade.
A pasta mãe foi designada PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL ÁGUA PRETA E VALDÍCIO BARBOSA.

Como pode ser observado acima, a pasta mãe foi subdivida em:
a) Contexto Regional – aqui são armazenados registros de cidades e
localidades do contexto regional, que estavam no trajeto geográfico no escopo
ampliado de abrangência da metodologia, constituindo-se em importante
repertórios locais de grande importância para a reflexão criativa sobre a memória
e o patrimônio cultural das comunidades alvo do registro.
As temáticas que orientaram a organização dos arquivos regionais podem ser
visualizadas a seguir.
b) PIEP AP – Constitui-se no registro detalhado das atividades, bens e
detentores inventariados em Agua Preta. A seguir são apresentados os prints
referentes às atividades de reflexão criativa, ou seja, oficinas e validação final.
Os materiais referentes ao etnoregistro compõem a parte ilustrativa das fichas
de registro.
c) PIEP VB – Constitui-se no registro detalhado das atividades, bens e
detentores inventariados no Assentamento Valdício Barbosa. A seguir são
apresentados os prints referentes às atividades de reflexão criativa, ou seja,
oficinas e validação final.
O detalhamento das pastas referentes aos etnoregistros compõem a parte
ilustrativa das fichas de registro que seguem anexas ao relatório.

6. DIVULGAÇÃO ÀS COMUNIDADES DO ENTORNO


Conforme demonstrado, a sétima etapa de campo ocorreu entre os dias
15 e 19 de dezembro, período em que as escolas estaduais e municipais da
região já se encontravam em recesso. Dessa maneira, procuramos a secretaria
de educação de Conceição da Barra na intenção de divulgar os resultados do
PIEP.
Sidineide Vidigal Reginaldo, coordenadora gestora das questões da
CEAFRO nas escolas municipais de Conceição da Barra nos recebeu no dia 18
de dezembro de 2023, em reunião previamente agendada. Na ocasião
apresentamos o resultado da pesquisa e dois vídeos de divulgação, com amostra
dos inventários participativos realizados.
Sidineide reconheceu a detentora Maria Imaculada e demonstrou muita
alegria em ver que a mestre tradicional de Água Preta participou ativamente do
PIEP. Ela revelou que a conhecia e pretendia, junto com outras profissionais da
secretaria de educação, promover o registro dos saberes de Imaculada, e
lamentou que outra detentora de Água Preta, cujo nome não recordou, tenha
falecido sem que se fizesse o registro de suas práticas tradicionais.
Dessa maneira, Sidineide se comprometeu a divulgar junto às
escolas municipais o conteúdo do PIEP, que será disponibilizado à secretaria de
educação em fevereiro de 2024, início do ano letivo, no formato de 2 vídeos
editados, um para cada comunidade. Assim as escolas do entorno poderão
conhecer um pouco das comunidades tradicionais Água Preta e Assentamento
Valdício Barbosa. Tão logo os vídeos sejam enviados à Secretaria de Educação
de Conceição da Barra, após adequações sugeridas pelos comunitários, será
encaminhada comprovação junto ao IPHAN por meio de ofício.

Figura 18: reunião de divulgação do PIEP na Secretaria Municipal de Educação de Conceição da Barra,
ES.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMADA, Vilma Paraíso Ferreira de. A escravidão na história econômica


social do Espírito Santo 1850 - 1888. Dissertação (Mestrado em História),
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1981.
ALMEIDA, Ceciliano Abel de. O desbravamento das selvas do Rio Doce.
Rio de Janeiro: Editora José Olympio,1978.
BRANDÃO, Carlos, H. PAULO FREIRE O MENINO QUE LIA O MUNDO
uma história de pessoas, de letras e de palavras. Editora Expressão Popular,
2014. Brasil. Constituição Federal. Brasília, 1988.
DADALTO, Maria C. Relacionamento interétnico e memória: narrativas de
colonizadores do norte do Espírito Santo. In: Revista Dimensões v. 18, 2006.
FERREIRA, Simone R. Batista. Quilombos do Sapê do Norte: a
territorialidade revivida pela memória. Texto extraído da tese de doutoramento
em Geografia intitulada: Donos do Lugar: a territorialidade quilombola do Sapê
do Norte-ES. RJ: UFF, junho de 2009
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979
____________. Ação Cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1981.
____________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
____________. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. São
Paulo: Olho D’Água, 1997.
____________. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
____________.Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 2015.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1991
HERNÁNDEZ, Ovidio S. D’Angelo. Autonomia integradora y
transformación social: El desafío ético emancipatorio de la complejidad. La
Habana: Publicaciones Acuario Centro Félix Varela, 2005 117
IPHAN. Educação Patrimonial: históricos, conceitos e processos. Brasília,
2014.
______. Educação Patrimonial. Inventários participativos: manual de
aplicação. Brasília-DF, 2016.
______. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 001. Brasília, 2015.
______. Portaria nº 137. Brasília, 2016.
MACIEL, Cleber. Negros no Espírito Santo –2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo
Público do Estado do Espírito Santo, 2016.
MARINATO, Francieli Aparecida. Índios imperiais: os Botocudos, os
militares e a colonização do Rio Doce (Espírito Santo, 1824-1845). Vitória:
Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas do
Centro de Ciências Humanas e Naturais, da Universidade Federal do Espírito
Santo, 2007.
MILHEIRA, R. Arqueologia Guarani na laguna dos Patos e serra do
Sudeste. 1ªed. Pelotas: Editora da UFPel, 2014.
MILHEIRA, R. Pelotas 2500 anos de História Indígena. Almanaque
Bicentenário de Pelotas. Pelotas: Ed. João Eduardo Keiber ME, v.3, p. 37-47,
2014.
NASCIMENTO, Evelin L. M. A. Textura da vida diária‖: materialidade e
paisagem no cotidiano do Quilombo de Marques (Vale do Mucuri/MG).
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Antropologia da
FAFICH/UFMG, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em
Antropologia, na linha de pesquisa Arqueologia Histórica.
NETO, Jair A DISSEMINAÇÃO DE PEQUENAS PROPRIEDADES
RURAIS E A SELETIVIDADE ÉTNICO-RACIAL NO ACESSO A TERRAS NO
ESPÍRITO SANTO (1850- 1940). Disponível em:
http://www.periodicos.ufes.br/ge B. ografares/article/view/1292/974 . Acesso em
01 de junho de 2023
PELEGRINI, S. C. A; Patrimônio Cultural: consciência e preservação. São
Paulo: Brasiliense, 2009.
Sites:
http://conceicao-dabarra.blogspot.com/2012/04/fotos-antigas-do-
municipiode-conceicao.html Acesso em 01 de junho de 2023
https://geobases.es.gov.br/downloads Acesso em 01 de junho de 2023
https://www.gov.br/incra/pt-br/assuntos/governancafundiaria/quilombolas
Acesso em 01 de junho de 2023
https://hemisphericinstitute.org/pt/hidvl-collections/itemlist/category/393-
boal.html . Consulta em 17/08/23
https://youtu.be/qCcFomiVmJI?si=I9yrmEcEKBwP7SM9 Consulta em
17/08/23
https://incaper.es.gov.br/Not%C3%ADcia/incaper-incentiva-o-cultivo-de-
sementes-de-milho-crioulo-em-pedro-canario Acesso em 03/01/2024
https://www.seculodiario.com.br/meio-ambiente/sou-meio-teimosa-sabe-
insistente-a-gente-sempre-trabalhou-com-organico Acesso em 03/01/2024
https://pc.es.gov.br/operacao-da-policia-civil-prende-acusado-de-m
Acesso em 03/01/2024.
http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=30&busca= Acesso
em 03/01/2024.
Inventário Participativo do Assentamento Valdício Barbosa dos
Santos
FICHA DO PROJETO

Título do Projeto:
PROJETO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - Fazendas São
Joaquim e Dourada Una Comunidades da AID – Água Preta e Valdício
Barbosa Municípios de Conceição da Barra e Pedro Canário/ES,
Processo IPHAN nº 01409.000622/2015-01

Nome da comunidade/ Bairro/ Município/ Estado:


Valdício Barbosa dos Santos, zona rural de Conceição da Barra, ES.

Equipe do Projeto:

Júlio Jader Costa Psicologo Social e Antropólogo


Letícia Moura Simões de Souza Cientista Social e Arqueóloga
Fernando Walter da Silva Costa Historiador e Arqueólogo
Frederico Simões da Silva Costa Lic. Geógrafo
Alisson Gonçalves Duarte Fotógrafo Cinegrafista

Monitores:

Júlio Jader Costa Psicologo Social e Antropólogo


Letícia Moura Simões de Souza Cientista Social e Arqueóloga
Alisson Gonçalves Duarte Fotógrafo e Cinegrafista

Nomes dos professores participante:

Ronimárcia Martins Lima Maria Aparecida Pereira da Silva


Ariel dos Santos Souza Thiago Rodrigues Cosme

Instituições Participantes:

Secretaria de Educação de Conceição da Barra, por meio da secretária


Cristiane de Sousa Sena, também através de Ariane Godinho Almeida,
responsável pela coordenação pedagógica, de Sidnineide Vidigal Reginaldo,
coordenadora gestora da CEAFRO nas escolas municipais de Conceição da
Barra e de Paumina Saith Castro, responsável pela organização da merenda
escolar das escolas de Conceição da Barra;
CRAS Itaúnas, por meio da coordenadora e assistente social Alessandra
Souto dos Santos;
CRAS Braço de Rio, por meio da coordenadora Maria Aparecida Marciano,
da assistente social Naiara Ferraz dos Santos e da psicóloga Camila
Rodrigues;
EEEF Valdício Barbosa dos Santos, por meio das coordenadoras Maria
Aparecida Pereira da Silva e Ronimárcia M. Lima;
Associação de Mulheres Agricultoras - AMAG, por meio da sua
representante Rosiene dos Santos Lima (Nininha);
Associação de Agricultores Familiares do Assentamento Valdício Barbosa
dos Santos –AAFAVB, por meio do seu representante Luciano Souto da
Silva.

Período de realização:

Novembro de 2022 a dezembro de 2023

Bens Culturais pesquisados:

1- Agrovila do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos – Lugar


simbólico/ paisagem cultural e ecológica;
2- Identificação: Escola Estadual de Ensino Fundamental Valdício
Barbosa dos Santos Lugar simbólico/ paisagem cultural;
3- Ofício do Educador Popular e Pedagogias de Roda como Forma
de Expressão;
4- Festa da Rainha da Primavera;
5- Aniversário do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos;
6- Festa da Colheita do Café;
7- Festa de São Sebastião;
8- Festa do Círculo da Oração - Igreja Evangélica Assembleia de
Deus;
9- Patrimônio Agroecolimentar das unidades domésticas;
10- Farinheiras / Casas de Farinha;
11- Produção de chimangos, beijus, quitandas, salgados, bolos e
similares.

Fichas das categorias do patrimônio cultural utilizadas no Projeto:

LUGARES: 2 FESTAS E CELEBRAÇÕES: 5


OFÍCIO E FORMAS DE EXPRESSÃO: 1 SABERES - OBJETO: 1
SABERES: 2
FICHA 1 . CATEGORIA LUGARES

Identificação
Agrovila do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos – Lugar
simbólico/ paisagem cultural e ecológica.

Imagens
O que é
Constitui-se no núcleo inicial da ocupação, precedendo a distribuição
dos lotes na área mais ampla do assentamento e de onde podem ser
tecidas memórias associativas, sendo consagrada a expressão
“tempos das lonas” para se referir ao processo inicial de ocupação.
das lonas”
Onde está
18°18’6.54”S/ 39°52’48.57”O (Datum WGS84)
Períodos Importantes
Os relatos trazem à tona a resistência às dificuldades do período
inicial de luta, em especial às condições de vida e à violência da
oligarquia local.
Mas as lembranças também são recheadas de alegria, com destaque
para as rodas de viola à beira da fogueira, na ausência da luz elétrica
e após o dia de labuta no campo. As primeiras conquistas também
são celebradas com a edificação das casas em alvenaria, a farinheira,
a primeira escola e a igreja evangélica, que ainda hoje funciona no
local.

Significados
A importância da agrovila não se restringe à memória e ao passado,
ressoando no presente etnográfico através das edificações e
logradouros públicos, comunitários e dos projetos produtivos.
Mas, sobretudo, se destaca como espaço receptivo do assentamento,
onde são realizadas as principias celebrações como Aniversário do
Assentamento e Festa da Colheita do Café, além da Festa do Círculo
de Oração, realizada pela Igreja Evangélica Assembleia de Deus
desde o ano da fundação da agrovila.
Trata-se, portanto, de local que transversaliza outros bens e
categorias do patrimônio imaterial, como celebrações, saberes e
fazeres agroalimentares.

Descrição
Pessoas envolvidas
Valmir; Adelso e Cida; Pastor Zito; Sr. Joaquim; Cleidson e seu pai
Amilto; Sr. José Vitorino; Edenilson e seu pai Elvino; dona Maria Zilda
e sr. José; dona Dete e sua filha Rosiene; Sr. Aurindo, dona Alzira e sua
filha Cleidineia; Sr. Ernandes e dona Zeni; e dona Didi, viúva de
Valdício Barbosa dos Santos (Léo), etc.

Elementos Naturais
Precedendo a distribuição dos lotes para a área mais ampla do
assentamento e onde hoje se cultiva principalmente café e pimenta,
a agrovila se destaca pela paisagem arborizada e pelos moisaicos
policulturais dos quintais produtivos, onde são cultivados uma
miríade diversa de plantios alimenticios, ornamentais e da
farmacopéia popular.
Elementos construídos
Dada a sua centralidade na história do assentamento, a agrovila
sempre se destacou por abrigar as primeiras estruturas comunitárias
e públicas, como a escola e a farinheira.
Atualmente, destaca-se o secador de café e de pimenta em processo
de modernização que contou com investimentos de magnitude e
vários projetos produtivos capitaneados pelas duas associações
sediadas no local: Associação dos Agricultores Familiares do
Assentamento Valdício Barbosa (AAFAVB) e Associação de Mulheres
Agricultoras (AMAG).
Entre os logradouros públicos e comunitários estão o campo de
futebol, o posto de saúde, o secador de café e pimenta e a igreja
evangélica, que funciona no local desde a origem do assentamento.

Vestígios
Não foram encontradas evidências de ocupações anteriores ao
assentamento.

Materiais
As casas e estruturas são feitas de alvenaria.

Técnicas ou modos de fazer


Alvenaria.

Medidas
Aproximadamente 10 hectares.

Atividades que acontecem no lugar


Festa da Colheita do café – anualmente, julho a agosto;
Festa do Aniversário do Assentamento–anualmente, em abril;
Festa do Círculo da Oração – Igreja Evangélica Assembleia de Deus,
anualmente, em setembro;
Processamento e beneficiamento de café e pimenta – AAFVB;
Centralização do processo de venda dos produtos da agricultura
familiar – AMAG;
Quintais produtivos - pequenas produções familiares de café,
pimenta do reino e hortaliças, frutas e verduras, quitandas, farinha e
beiju.
Manutenção
Os próprios assentados, as associações e a prefeitura de Conceição
da Barra, ES são responsáveis pela manutenção do lugar.

Conservação
Está bem cuidado, mas as estradas de acesso precisam de melhorias.

Avaliação
A localização em relação ao acesso principal desde Pedro Canário,
bem como vias auxiliares que ligam ao vilarejo de Itaúnas, à fronteira
com a Bahia e a outras localidades da região constituem-se em fator
positivo.
Todavia, a precariedade das estradas em períodos chuvosos, bem
como a insuficiência da sinalização provocam desorientação espacial
e criam dificuldades ao acesso, sendo comum relatos de
visitantes perdidos, com impacto às festividades, celebrações e
trocas comerciais.

Recomendações
Plantio de árvores para funcionarem como marcadores territoriais e
para a delimitação do espaço eco culturais da agrovila.
Fomento a projetos culturais de fortalecimento e difusão dos festejos,
bem como projetos de difusão audiovisual, inclusive dos materiais
agregados ao inventário.
FICHA 2 . CATEGORIA LUGARES

Identificação
Escola Estadual de Ensino Fundamental Valdício Barbosa dos Santos,
lugar simbólico/ paisagem cultural

Imagens
O que é
Sob a inspiração de Paulo Freire, patrono da educação nacional, a
EEEFVBS possui centralidade na história do assentamento desde os
primórdios da ocupação. Para além de um equipamento, funciona
como termômetro refletor da comunidade. Integrada ao cotidiano e
seguindo a lógica da vida, afirma a autonomia e presentifica no
cotidiano a memória da luta pela conquista da terra.
Constitui-se no núcleo inicial da ocupação, precedendo a distribuição
dos lotes na área mais ampla do assentamento e de onde podem ser
tecidas memórias associativas, sendo consagrada a expressão
“tempos das lonas” para se referir ao processo inicial de ocupação.
Onde está
18°17’23.43”S/ 39°52’18,58”O (Datum WGS84)
Períodos Importantes
A escola já contou com 03 sedes. A primeira feita de tábuas na
agrovila concomitantemente à ocupação. Em seguida, foi construída
uma outra em alvenaria junto ao núcleo original, que pegou fogo em
1998. A edificação atual foi construída após este incêndio.

Significados
Em Valdício Barbosa a Escola não está só, vive a coletividade através
das místicas, promoção da cultura da infância (sem terrinha),
pedagogias de roda e como local de encontro, festa, organização do
trabalho, mutirão e assembleias, celebrações da Igreja Católica.

Descrição
Escola estadual de ensino fundamental que atende estudantes de
todas as idades, crianças, jovens e adultos, contemplando inclusive a
EJA. O mesmo espaço é utilizado pela comunidade para promoção
de eventos, missas da Igreja Católica, celebrações e festejos.

Pessoas envolvidas
Ronimárcia Martins Lima
Maria Aparecida Pereira da Silva
Thiago Rodrigues Cosme
Ariel Souza dos Santos
Etc.

Elementos Naturais
A dimensão ecológica possui papel de destaque e relevo no espaço
escolar, que conta com uma variabilidade de árvores, hortas e
cultivos. Todo este repertório é integrado ao currículo e à didática
escolar, que valoriza a autogestão das tarefas para zelo e cuidado.

Elementos construídos
A arquitetura elege como regra de design construtivo a circularidade
dos espaços abertos. Em cada canto em que se observe, é possível
enxergar uma roda, como que ratificando o convite para o encontro,
a prosa saudável e a boa convivência.
Além de quadra, salas de aula, formidável cozinha, biblioteca e
anexos administrativos, no terreno da escola localizam-se a Igreja de
São Sebastião.
Vestígios
Não foram encontradas evidências de ocupações anteriores ao
assentamento.

Materiais
As estruturas são feitas de alvenaria ou moldes pré-fabricados, sendo
quer na quadra se destacam os materiais metálicos.

Técnicas ou modos de fazer


Alvenaria.

Medidas
Aproximadamente 4 mil m².

Atividades que acontecem no lugar


Aulas, místicas, cirandas, rodas de leitura e similares;
Festa da Primavera – anualmente, em novembro;
Festa de São Sebastião – anualmente por volta de 20 de janeiro;
Mutirões, assembléias, reuniões e outras atividades de organização e
entretenimento comunitário.

Manutenção
A escola está sob jurisdição do governo estadual do ES, responsável
por sua manutenção.

Conservação
Estado excelente de conservação.

Avaliação
A estrutura e proposta pedagógica da escola tem estimulado e
permitido o ingresso de alunos de outros assentamento e
comunidades do entorno, inclusive o público infantil, através de
convênio que destina espaço específico para este nível de ensino.
Como pontos negativos estão as ameaças à sobrevivência da escola.
Recentemente, os comunitários pareciam ter vencido a pauta de
evitar a municipalização. Contudo, o fechamento da escola de um
assentamento vizinho reacendeu a vigilância.
Por ser no inteior do assentamento, a localização apresenta tanto
aspectos positivos quanto negativos. A posição mais central em
relação à agrovila, que abrigava as edificações anteriores, possibilita
uma certa equidade de acesso pelos comunitários. Por outro lado, é
comum a desorientação espacial, pois apesar do local ser
georeferenciado, o sinal de internet é precário e mesmo o sinal físico
da escola é prejudicado.

Recomendações
Plantio de árvores para funcionarem como marcadores territoriais e
de orientação espacial para acesso à escola.
Fomento à projetos culturais de fortalecimento e difusão dos festejos,
bem como projetos de cultura digital e de promoção do
protagonismo infanto-juvenil.
FICHA 3 . CATEGORIAS OFÍCIO E FORMAS DE EXPRESSÃO

Identificação
Ofício do Educador Popular e Pedagogias de Roda como Forma de
Expressão

Imagens
O que é
O educador popular constitui-se em ofício exercido em perfeita
harmonia com a prática educacional libertária de inspiração freiriana,
refletida nas atividades pedagógicas e na organização do espaço
escolar, incluindo os trabalhadores da cantina e da limpeza. Em
outros termos, além das atribuições próprias de cada cargo, na escola
do MST todos são igualmente designados como educadores e
assumem atribuições comuns no tocante à autogestão da escola.
As pedagogias de roda são formas de
expressão rotineiras no presente etnográfico
da escola de inspiração freiriana que, através
de técnicas de reverberação circulares
demolem o império cognitivo centrado no
mental, abrindo cena para afetos e corpos
unidos pela musicalidade e outras expressões
da arte, como dramatizações e uma cenografia
que incorpora elementos dos repertórios e
contexto local.

Onde está
As pedagogias de roda estão presentes na rotina cotidiana da escola.
Mas também são acionadas na agrovila ou em outros locais em
ocasiões especiais como festas.

Períodos Importantes
As místicas constituem-se em atividade diária da qual participam,
sem exceção, todos os colaboradores da escola, isto é, educadores e
alunos. Visitantes e convidados também integram a atividade, que é
a primeira do dia, realizada nos espaços circulares do pátio, antes da
distribuição dos alunos para as salas de aula. Diariamente, um núcleo
de educadores ou turma de alunos é responsável pela preparação da
atividade.
O exercício matinal dura em torno de 15 minutos. Cada mística
começa com o hino do coletivo responsável, seguido dos hinos de
todos outros coletivos de educadores e estudantes. Este processo se
repete no final da atividade. Antes, porém são dados vivas, cantos e
salvas de palmas para aniversariantes. Tanto no início quanto no fim
outros hinos como do MST e palavras de ordem podem ser puxados.
Um ponto central das místicas é a exaltação e a presença de motivos
naturalistas como sementes, plantas, mudas, folhas, frutos, terra,
plantio.
Estes repertórios refletem o esforço educativo cotidiano de exaltação
da ecologia e do meio ambiente. Retratam também o compromisso
da escola com a promoção e perpetuação de saberes sobre a terra
estritamente vinculada com os princípios e a vocação do MST.
O ciclo completo de místicas matinais finaliza depois que todos os
núcleos de educadores ou turmas de alunos fazem sua apresentação,
portanto após onze rodadas, que é o somatório entre o número de
núcleos de educadores e turmas.
As Rodas de Apresentação dos Temas Geradores são realizadas
trimestralmente e seu título faz referência direta ao conceito de
Paulo Freire, remetendo à problematização da realidade a partir de
repertórios contextuais locais. Escolhidos a cada trimestre, os temas
geradores são trabalhados nas salas de aula, valendo-se da dialética
teoria-prática e da utilização intensiva da arte-educação via escrita,
livro e leitura, música, teatro, dança, dramatizações, corporalidades,
artes visuais (desenho, maquetes) e outras multilinguagens
potencializadas pela confluência da criatividade infanto-juvenil com
o compromisso libertário da pedagogia de Paulo Freire.
A apresentação final dos temas geradores constitui-se em momento
de socialização onde cada turma, na sequência crescente das séries,
dos mais novos e pequeninos até os adolescentes e jovens, vai
circulando no coletivo da roda sua potência criativa e reflexiva
integrada com os conteúdos da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).
As rodas de leitura, cirandas e atividades circulares similares são
realizadas sem periodicidade definida, contudo com grande
frequência e seguem os princípios assinalados nas pedagogias de
roda descritas acima.

Significados
São acionadas técnicas de reverberação
circulares que demolem o império cognitivo
centrado no mental, abrindo cena para afetos e
corpos unidos pela musicalidade e outras
expressões da arte, como dramatizações e uma
cenografia que incorpora elementos dos
repertórios e contexto local.

Descrição
Designamos a perspectiva como auto eco organizadora em função
de duas vertentes constitutivas que circulam no cotidiano da escola –
a autogestão e a ecologia.
A autogestão manifesta-se através da organização dos núcleos de
educadores e das turmas de alunos, ambos possuem uma palavra de
ordem que demarca uma identidade própria de seus componentes.
Além disso, as turmas são divididas em núcleos responsáveis por
tarefas específicas no coletivo.
A ecologia se destaca pelo uso de elementos naturais e paisagísticos
como flores, folhas e árvores nas atividades ou assentados em pontos
específicos da escola como marcadores territoriais de cada núcleo ou
turma.

Pessoas envolvidas
Atualmente durante o dia são 04 núcleos de educadores: Dandara,
Marielle Franco, Paulo Freire e MST como força política.
Os educandos se organizam através das seguintes turmas: Bandeira
Vermelhinha – educação infantil; Terra é Força - 1 º e 2º ano; Sem-
terrinha - 3º ano; Campo em Harmonia - 4 º e 5º ano; Adolescentes do
futuro - 6ºano; Jovens Estudantes - 7º ano; Juventude em Movimento
- 8º e 9º ano.
À noite são multisseriados, jovens e adultos, que trabalham durante o
dia e participam da EJA.

Elementos Naturais
Estão onipresentes tantos nas atividades ciruclares quanto nos
assentamento fixados em pontos especificos e que demarcam a
territorialidade de cada núcleo ou turma.

Elementos construídos
A prática educacional libertária de inspiração freiriana expressas nas
atividades pedagógicas e na organização do espaço escolar
apresenta perfeita harmonia com a configuração circular dos espaços
físicos.
Cada um dos núcleos de educadores está assentado, isto é, possui
um ponto referenciado no espaço físico da escola, compondo
elementos geométricos circulares e naturais como flores e árvores.
Assim como o núcleo de educadores, cada turma de estudantes
possui um assentamento fincado em pontos paisagísticos e
circulares.
Vestígios
Não foram encontradas evidências de ocupações anteriores ao
assentamento.

Materiais
Os assentamentos circulares são simples, feitos de materiais naturais
ou reaproveitados (como pneus).

Técnicas ou modos de fazer


Permacultura, biodesign, bioarquitetura.

Medidas
Variáveis, mas as estruturas possuem raios similares em torno 20 a 40
cm.

Atividades que acontecem no lugar


Aulas, místicas, cirandas, rodas de leitura e similares.
Auto-eco-organização pedagógica e do espaço escolar.

Manutenção
Autogestão das tarefas pelos núcleos de educadores e pelas turmas
de alunos.

Conservação
Autogestão das tarefas pelos núcleos de educadores e pelas turmas
de alunos.

Avaliação
A pedagogia autogestionária do MST com suas expressões de
circularidade contribuem para a demolição de impérios cognitivos,
culturais e comportamentais impostos como padrões dominantes
desde os primórdios da colonização.
Como ponto negativo estão os limites de expansão deste padrão
para a campo heterônomo das relações sociais sob o capitalismo,
bem como a ignorância e preconceito de amplos segmentos da
sociedade.
Recomendações
Reconhecimento, pelo IPHAN do Ofício de Educador Popular e das
Pedagogias de Roda como patrimônio imaterial do Espírito Santo,
incluindo:
Arquitetura circular, auto-eco-organização das atividades e do
espaço escolar, místicas, rodas de leitura, cirandas e promoção da
cultura da infância sem-terrinha.
FICHA 4. CATEGORIA FESTAS E CELEBRAÇÕES

Identificação
Festa da Rainha da Primavera

O que é
Uma festa que celebra as meninas e jovens do assentamento, ocorre
sempre na primavera. A lealdade à etnografia foi premiada com a
obtenção de dados diretos via participação e fruição da XIII Festa da
Rainha da Primavera, que no RAIPI já havia sido qualificada como
ativo cultural comunitário. Essa festa está integrada à Arena de
Circularidade que inclui a escola.

Imagens

Onde acontece
EEEFVBS (2022) ou na Agrovila (2023)

Períodos importantes
Primavera, ocorre todo mês de novembro, anualmente. Em 2023 teve
a sua XIV edição.
História
A festa originou-se há cerca de 15 anos como inciativa de
educadores, genitores, tornando-se uma tradição anual da
comunidade suspensa apenas no período pandêmico.

Significados
Trata-se de um momento de confraternização que extrapola os
limites da comunidade, atraíndo um grande número de pessoas de
outros assentamentos, distritos e localidades de Pedro Canário e
Conceição da Barra. Tem, pois, um signifcado de integração regional
do assentamento com a vizinhança e grupos de afinidade.

Descrição
As meninas e adolescentes desfilam primeiro coletivamente em fila
indiana. Depois cada uma individualmente vai percorrendo a
passarela sob os aplausos efusivos do público. A vencedora é a que
vender mais votos mediante rifas, sendo que a premiação se estende
para a segunda e terceira colocadas.

Programação
No dia da atividade, bem cedo, é realziado um mutirão com ampla
mobilização de comunitários e empenho das organizaçoes
associativas, marcando a união entre escola,a AAFAVB e AMAG.
Um breve cermonial marca a abertura do evento no início da noite,
contando com presença de autoridades locais e lideranças do MST.
A primeira parte é o desfile propriamente dito, acompanhado por
som mecâncio.
Depois que todas desfilam é feito o anúncio das vencedoras, sendo
que as etapas descritas somam aproximadamente três horas.
Após o fechamento a passarela é desfeita e o piso liso da quadra
transforma-se em salão para a dança do forró.
O festejo com comes e bebes vara a madrugada.

Pessoas envolvidas
Ronimárcia EEEFVBS;
Nininha - AMAG;
Luciano -AAFAVB;
Comunitários – pais , mães, parentes;
Crianças e adolescentes do sexo feminino;
Visitantes.
Comidas e Bebidas
No evento são montadas barracas da escola e das associações para
venda de bebidas e alimentação típica, priorizando produtos
saúdavéis do assentamento. Entre os prazeres gastronômicos se
destacam caldos, tropeiro, churrasquinho, sanduíches, e uma
variedade de quitandas como bolos e doces caseiros.

Roupas e acessórios
São utilizadas indumentárias padronizadas para todas as
participantes e cujo design varia ano a ano, sendo que nas últimas
edições foi produzido pelo ateliê de costura da AMAG.

Expressões corporais (danças e encenações)


As participantes desfilam sob o som de músicas e com coreografia e
gestos ensaiados.

Expressões orais (músicas, orações e outras formas de expressões


orais)
Após o desfile, são realizadas de forma intercalada com o som
mecânico apresentações musicais com bandas convidadas, sendo o
ritmo indiscutivelmente predominante o forró.

Objetos importantes (instrumentos musicais, objetos rituais,


elementos cênicos, decoração do espaço e outros)
O espaço é criativamente ornamentado com motivos naturais,
sobretudo florísticos, compondo uma cenografia feita
predominantemente de tecidos e materiais plásticos, com padrões
de cores similares às indumentárias, decorando todo o espaço da
quadra – passarela e cercas do fundo e laterais, além de faixas que
são espalhadas por todo perímetro da escola.

Estrutura e recursos necessários


Para atividade é mobilizada uma grande estrutura que inclui
barracas para alimentação, som mecânico, vários ônibus e veícuos de
visitantes.
Conta ainda com o acompanhamento de uma viatura da policia
militar, dado o grande contingente de particpantes.

Outros bens culturais relacionados


Escola Estadual EFVBS - Lugar
Avaliação
Por ser no inteior do assentamento, a localização apresenta tanto
aspectos positivos quanto negativos. A posição mais central em
relação à agrovila possibilita uma certa equidade de acesso pelos
comunitários.
Por outro lado, é comum a desorientação espacial, pois apesar do
local se georeferenciado, o sinal de internet é precário e mesmo
o sinal físico da escola é prejudicado.
O alcance regional do evento e o escopo abrangente dos
espectadores é sem dúvida fator importante para difusão do evento.

Recomendações
Plantio de árvores para funcionarem como marcadores territoriais e
de orientação espacial para acesso à escola, local onde se realiza a
festa.
Fomento a projetos culturais de fortalecimento e difusão do festejo.
Fomento a projetos culturais de difusão audiovisual, inclusive
dos materiais agregados ao inventário.
FICHA 5. CATEGORIA FESTAS E CELEBRAÇÕES

Identificação:
Festa de São Sebastião

O que é
Festa do padroeiro da comunidade, realizada anualmente na
segunda quinzena de janeiro.

Onde está
Igreja Católica do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos e
EEEFVB, Conceição da Barra/ES.

Períodos importantes
Ocorre anualmente no mês de Janeiro, na data de celebração do
santo ou nas proximidades da mesma, valorizando o fim de semana e
mais especificamente o domingo, dependendo da disponibilidade do
pároco.

História
Os relatos orais indicam que está ativa desde os tempos da lona,
embora tenha perdido vitalidade no período pandêmico. A origem
está associada à escolha do padroeiro pelo padre que realizava
celebrações no núcleo de ocupação inicial da comunidade.
Significados
Trata-se de uma festa eminentemente religiosa, acompanhada de
banquete oferecido aos visitantes, momento em que são consumidos
alimentos locais e em estreita afinidade com os atributos do santo,
provedor de saúde e mesa farta.

Descrição
A festa tem como anfitriã a comunidade de católicos do
assentamento. Estes se articulam na missa mensal realizada na
Igreja de São Sebastião e em círculos quinzenais de oração e terço
realizados nos domicílios alternadamente.
Contrasta com outros festejos da comunidade pelo ambiente
silencioso e de prosa moderada, onde se observa a ausência absoluta
de som mecânico e de músicas profanas.

Programação
O evento segue a seguinte ordem: Mutirão – Missa – Banquete –
Bingo.

Pessoas envolvidas
Pároco responsável pela capela;
Ministros da Igreja;
Membros da comunidade escolar que professam a fé católica.

Comidas e Bebidas
O banquete é farto, mas sem consumo de bebidas alcoólicas que
pudessem descaracterizar o caráter sagrado da celebração.
Contudo, extraoficialmente, alguns poucos desfrutam discretamente
de um aperitivo ou cachacinha para abrir o apetite. Tudo é gratuito,
inexistindo comércio no dia.

Roupas e acessórios
A vestimenta dos participantes costuma ser discreta, elegante e
muito bem cuidada. Há ainda uma indumentária específica para os
que celebram a missa, em especial o padre, que utiliza batina.

Expressões corporais (danças e encenações)


Roupas usais de celebrações católicas ou dominicais. À exceção do
padre que usa batina.
Expressões orais (músicas, orações e outras formas de expressões
orais)
São entoados vários cantos religiosos que compõem a celebração. Os
puxadores ocupam a linha de frente ao lado de musicistas que tocam
e todos são acompanhados em coro pelos presentes.

Objetos importantes (instrumentos musicais, objetos rituais,


elementos cênicos, decoração do espaço e outros)
Violão, espaço decorado com elementos naturais e motivos
paisagísticos, mas tudo com muita simplicidade.

Estrutura e recursos necessários


A celebração é caracterizada pela simplicidade, sendo notado apenas
a utilização de equipamento de som de baixa potência com
microfone usado pelo padre.

Outros bens culturais relacionados


Escola Estadual de Ensino Fundamental Valdicio Barbosa dos Santos

Avaliação
Por ser no inteior do assentamento, a localização apresenta tanto
aspectos positivos quanto negativos. A posição mais central em
relação à agrovila possibilita uma certa equidade de acesso pelos
comunitários. Por outro lado, é comum a desorientação espacial, pois
apesar do local ser georeferenciado, o sinal de internet é precário e
mesmo o sinal físico da escola é prejudicado.
Outro dificultador é o período chuvoso que dificulta o acesso pelas
estradas de terra.
Por outro lado, destaca-se a fartura de alimentos, indicando a união
positiva dos católicos locais para a realização e sobrevida da
celebração.

Recomendações
Plantio de árvores para funcionarem como marcadores territoriais e
de orientação espacial para acesso à escola, local onde se realiza a
festa.
Fomento a projetos culturais de fortalecimento e difusão do festejo.
Fomento a projetos culturais de difusão audiovisual, inclusive dos
materiais agregados ao inventário.
FICHA 6. CATEGORIA FESTAS E CELEBRAÇÕES

Identificação:
Aniversário do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos

O que é
Essa celebração ocorre anualmente, em comemoração ao aniversário
do assentamento Valdício Barbosa dos Santos.

Imagem

Onde está
Assentamento Valdício Barbosa dos Santos - Agrovila e Escola
Estadual.

Períodos importantes
1989 Valdício Barbosa dos Santos foi assassinado;
1995 (22 de outubro) - Ocupação da fazenda Água Preta; 400 famílias
oriundas do norte do ES, sendo que parte destas já estavam
acampadas desde 1993;

1996 (9 de abril) - Criação oficial do assentamento para 89 famílias; as


famílias excedentes formam transferidas e foram criados outros
assentamentos – ex. Assentamento Córrego da Lage em Mucurici;
Criação da Escola Valdício Barbosa dos Santos, 1º segmento;

1997 - Construção de infraestrutura social e produtiva (habitações,


prédio escolar da agrovila, farinheira, galpão, rede elétrica da agrovila;

1998-1999 - Construção do posto de saúde, outro prédio escolar,


barragens de água para irrigação; Construção do sistema de
abastecimento de água da agrovila (Pró Rural); Conquista de crédito
custeio para cultivo de culturas anuais;

2000 - Ampliação da rede elétrica para todo assentamento;


Conquista de crédito investimento para cultivo de café irrigado;
Ocupação de uma fazenda vizinha em comemoração aos “500 anos
de Brasil”;

2001/02 - Criação da escola de 2º segmento (5ª a 8ª série); Crise do


preço do café e investida do INCRA para “emancipação” do
assentamento – entrega de títulos privados de cada lote, a partir de
pagamento da terra conquistada; intensifica a desistência de famílias
do assentamento, a partir da venda de lote, criando uma crise
organizativa interna;

2005/06 - Trabalho de “moralização” do assentamento a partir de


trabalho do INCRA e coordenação do assentamento para retomada
de lotes e o assentamento de famílias acampadas;

2007 – 2009 - Conquista de crédito habitação para construção e


reforma de habitação via INCRA e Caixa Econômica Federal; Evolução
da produção agropecuária;

2013 - Construção do secador de café a partir de um grupo de


cooperação. Essa é a Cooperação enquanto necessidade na política
do MST enquanto princípio Participação do Assentamento Valdício
Barbosa na construção do CD Infância Sem Terrinha;

2015 – Crise hidrica no Assentamento Valdício Barbosa;


2016 – Reinvindicação junto à SEDU pela manutenção da Escola do
Campo do Assentamento Valdício Barbosa, comunidade constata e
informa problemas na rede elétrica do equipamento público;

2018 – Incêndio destrói sala de informática e a secretaria da escola do


campo do Assentamento Valdício Barbosa;

2019 -2020– Início da pandemia de Coronavírus, COVID-19;

2022-2023 – instalação e inalguração do novo secador de café e


pimenta do reino.

História
Ao longo do tempo a comunidade foi aprimorando o assentamento,
construindo escola, associações e anualmente celebrando a
conquista da terra e fortalecendo a luta da reforma agrária no país
para novas famílias.
O Assentamento Valdício Barbosa surgiu no contexto de luta pela
reforma agrária no norte do Espírito Santo. Segundo Ademilson,
militante do MST há 37 anos, a luta pela terra ocorreu desde a
primeira fase de negociação através de sindicatos rurais junto com
aIgreja (CPT), culminando com alguns assentamentos no norte do ES:
Onze de Agosto, Nova Vitória, Bela Vista, Córrego de Areia, Córrego
do Balão, São Roque e Córrego Grande.
Mas esta tendência se estancou, devido a reação dos fazendeiros.
Iniciou-se, pois, o processo de organização para a ocupação, com o
içamento da bandeira do MST em 1984 e tendo como marco
inaugural de ocupação no ES da Fazenda Georgina, em 27 de
Outubro de 1985, na cidade de São Mateus. Esta é considerada a
primeira grande conquista do MST no norte do estado e que hoje é
conhecida como Vale da Vitória.
Depois vieram Pontal de Jundiá, Castro Alves e também Valdício, cuja
força de brigada é muito grande pela história de enfrentamento que
fez e precisa continuar a fazer, devido à força da UDR e dos
latifundiários que também se organizam como milícias de longa
duração e que, segundo Ademilson, foram responsáveis pelo
assassinato de várias lideranças, entre elas Valdício Barbosa em 1989.
Valdício Barbosa, há época com 44 anos, pai de dez filhos, saia de seu
trabalho no sindicato de trabalhadores rurais quando praticamente
ante porta de casa foi emboscado, daí a homenagem tanto o nome
da Brigada regional como do assentamento para mais este mártir da
luta pela terra no Brasil.
Significados
Atualização no presente etnográfico da memória de conquista da
terra.

Descrição
Evento mais importante do calendário cultural da comunidade, de
maior peso político e de maior participação social, com presença de
líderes do MST e de autoridades das três esferas de governo.
Ocorre sempre no mês de abril, quando as famílias foram
oficialmente assentadas na localidade.
As atividades preparatórias ou “o esquenta” são realizadas na escola,
e o festejo propriamente dito é realizado na agrovila, na ampla área
perimetral da agroindústria de secagem de café e pimenta.

Programação
A programação varia anualmente conforme pautas conjunturais,
mantendo todavia alguns elementos comuns, tais como:
- Cerimônia de abertura prestigiada pela direção do MST e
organizações irmanadas no âmbito político e comercial
(cooperativas), bem como autoridades políticas de nível federal como
INCRA, estadual e municipal.
- Místicas extremamente bem elaboradas e especialmente
preparadas para a ocasião, que contam com participação de
comunitários de todas as faixas etárias.
-A parte final com banquete, um animadíssimo forró e bingo.

Pessoas envolvidas
AAFAVB – Adelso, Luciano;
AMAG – Nininha;
Escola EEFVBS – Ronimárcia, Cida, Thiago;
Comunitários em geral.

Comidas e Bebidas
Farto banquete é ofertado gratuitamente com alimentos colhidos no
assentamento e que são expostos no evento, bem como integrados à
mística.
Também inclui churrasco de boi oriundo da criação pecuária familiar
dos assentados. Todos os alimentos são gratuitos e cotizado pelos
assentados, embora exista a opção de compra de pastéis na barraca,
onde também são vendidas cervejas, refrigerantes e água.
Roupas e acessórios
De uso habitual em ocasiões sociais.

Expressões corporais (danças e encenações)


Forró em chão de terra batida.

Expressões orais (músicas, orações e outras formas de expressões


orais)
Banda de música ao vivo. Ritmo predominante forró.

Objetos importantes (instrumentos musicais, objetos rituais,


elementos cênicos, decoração do espaço e outros)
Toda a cenografia deste evento é composta nas cores do MST, com
cerca de uma centena de bandeiras espalhadas pelo amplo
perímetro da agroindústria para secagem de café e pimenta, bem
com em seu entorno.

Estrutura e recursos necessários


O evento envolve a contratação de som, palco e músicos
profissionais.

Outros bens culturais relacionados


Agrovila e Escola – Lugares
Místicas – pedagogias de roda – formas de expressão

Avaliação
A localização em relação ao acesso principal desde Pedro Canário,
bem como vias auxiliares que ligam à Vila de Itaúnas, à fronteira com
a Bahia e outras localidades da região constituem-se em fator
positivo.
Todavia, a insuficiência da sinalização provoca desorientação
espacial e cria dificuldades ao acesso, sendo comum relatos de
visitantes perdidos, com impacto para a festividade.

Recomendações
Plantio de árvores diversas para funcionarem como marcadores
territoriais e para oriental espacial dos visitantes.
Fomento a projetos culturais de fortalecimento e difusão do festejo,
bem como projetos de difusão audiovisual, inclusive com utilização
dos materiais agregados ao inventário.
FICHA 7. CATEGORIA FESTAS E CELEBRAÇÕES

Identificação:
Festa da Colheita do Café

O que é
É uma festa que celebra a fartura do trabalho na terra.

Imagem
Onde está
Agrovila

Períodos importantes
Ocorre desde 2014, exceto nos anos de pandemia de COVID-19, no
final da colheita de café, que varia de acordo com os anos, mas em
geral culmina nos meses de julho a agosto.

História
O primeiro secador de café foi erigido onde se localizava a farinheira
que, segundo Valmir,em virtude de problemas que exigiam
manutenção constante, fracassou como atividade produtiva capaz de
prover a sustentabilidade econômica para toda a comunidade.
A mudança surtiu efeitos para toda a comunidade e se mostrou
viável migrar do cultivo de mandioca para as lavouras de café.
Essa festa ocorreu inicialmente em 2014, na ocasião, para celebrar a
inauguração do primeiro secador de café, desde então ocorre sempre
no final da colheita.
O secador recentemente passou por processo de modernização,
mudança que também foi festejada na culminância da colheita.
O MST, nos últimos anos, têm colocado como atividade política,
festas de colheita nos assentamentos, seja no início ou no final das
colheitas. No caso do Assentamento Valdício Barbosa é sobre a
colheita do café, em outros pode ser por outros tipos de cultivos.

Significados
Momento sazonal comemorativo da colheita de café e
extensivamente de pimenta, associados aos negócios e à
prosperidade, bem como usufruto que advém da labuta prolongada
sobre a terra.

Descrição
O café e a pimenta são os cultivos predominantes após a distribuição
descentralizada dos lotes para além do perímetro da agrovila,
constituindo-se em escolhas econômicas para a sobrevida
comunitária. Desde então, os assentados têm acumulado
conhecimentos teóricos, técnicos e práticos sobre estes cultivos,
desde a produção, a colheita e o beneficiamento.
Deste modo, nos meses julho a agosto que acontece a colheita de
café, é realizada a festa como fator de integração, intercâmbio e
fortalecimento da agroindústria como referência para o
processamento e aprofundamentos dos vínculos entre os produtores.

Programação
A programação varia anualmente conforme pautas conjunturais,
mantendo, todavia, alguns elementos comuns, tais como:
- Cerimônia de abertura prestigiada pela direção do MST e
organizações irmanadas no âmbito político e comercial
(cooperativas), bem como autoridades políticas de nível federal como
INCRA, estadual e municipal;
- Místicas extremamente bem elaboradas e especialmente
preparadas para a ocasião e que contam com participação de
comunitários de todas as faixas etárias;
- A parte final com banquete, um animadíssimo forró e bingo.

Pessoas envolvidas
AAFAVB – Adelso, Luciano;
AMAG – Nininha;
Escola EEFVBS – Ronimárcia, Cida, Thiago;
Comunitários em geral.

Comidas e Bebidas
É oferecido um jantar gratuito a todos os presentes, mas também são
vendidas bebidas e salgados em uma barraquinha.

Roupas e acessórios
De uso habitual em ocasiões sociais.

Expressões corporais (danças e encenações)


Forró em chão de terra batida.

Expressões orais (músicas, orações e outras formas de expressões


orais)
Forró.

Objetos importantes (instrumentos musicais, objetos rituais,


elementos cênicos, decoração do espaço e outros)
Toda a cenografia deste evento é composta nas cores do MST.
Estrutura e recursos necessários
O evento envolve a contratação de som, palco e músicos
profissionais.

Outros bens culturais relacionados


Agrovila– Lugares
Mísitcas – pedagogias de roda – formas de expressão

Avaliação
A localização em relação ao acesso principal desde Pedro Canário,
bem como vias auxiliares que ligam à Vila de Itaúna, à fronteira com
a Bahia e a outras localidades da região constituem-se em fator
positivo.
Todavia, a insuficiência da sinalização provoca desorientação espacial
e cria dificuldades de acesso, sendo comum relatos de visitantes
perdidos, com impacto para a festividade.

Recomendações
Plantio de árvores para funcionarem como marcadores territoriais e
para orientação espacial dos visitantes.
Fomento a projetos culturais de fortalecimento e difusão do festejo,
bem como projetos de difusão audiovisual, inclusive com utilização
dos materiais agregados ao inventário.
FICHA 8. CATEGORIA FESTAS E CELEBRAÇÕES

Identificação:
Festa do Círculo da Oração - Igreja Evangélica Assembleia de Deus

O que é
Celebração anual da única igreja evangélica da comunidade, que
ocorre desde a data de ocupação.

Imagem

Onde está
Na Igreja Evangélica da Agrovila.

Períodos importantes
Ocorre sempre no mês de setembro, dede o ano de 1996.

História
O primeiro culto ocorreu de baixo de um pé de
boladeira. A Igreja foi erigida ainda em tábua, no
mesmo ano da ocupação e desde então vem
realizando anualmente a celebração. Os primeiros
batismos também ocorreram na lagoa do
Assentamento, onde hoje se situa o lote do professor
Thiago e sua família. O pastor Zito conduz a igreja desde de sua
fundação e conta que teve uma revelação desse trabalho antes da
ocupação, no ano de 1992.
Significados
Significado eminentemente religioso e restrito aos que professam a
fé protestante no assentamento.

Descrição
A festa tem como anfitriã a comunidade evangélica do
assentamento. Estes se articulam em dois cultos semanais e em
grupos de obreiros divididos entre “ciclo de mulheres”, “grupo de
varões”, “mocidade unida com Cristo” e as crianças.
Recebe um grande número de irmanados da congregação oriundos
de várias localidades, desde o Bairro Camata de Pedro Canário até de
cidades mais distantes que chegam em caravanas de Ônibus.

Programação
A celebração se incia com os preparativos de alimentos. Em virtude
do maior volume de irmãos da celebração é montado um palco e
distribuídas cadeiras na área externa, em frente à Igreja. Em seguida
tem início a celebração, que finaliza com a degustação da fartura de
alimentos.

Pessoas envolvidas
Pastor Zito e sua esposa;
Mara e Jairo;
Sr. Joaquim;
Comunitários evangélicos em geral.

Comidas e Bebidas
É servido banquete gratuito preparado pelas obreiras mulheres.
Apenas são disponibilizadas bebidas semálcool.

Roupas e acessórios
Vestimentas típicas da comunidade de crença, homens com ternos e
calças de brim e mulheres com saias longas.

Expressões corporais (danças e encenações)


Espontaneas, no ritmo decontágio dos louvores.
Expressões orais (músicas, orações e outras formas de expressões
orais)
São cantados louvores de forma efusiva por todos os participantes, ao
som de música gospel.

Objetos importantes (instrumentos musicais, objetos rituais,


elementos cênicos, decoração do espaço e outros)
Violão, baixo, bateria, potencializados por caixas acusticas.

Estrutura e recursos necessários


Montagem de tenda no pátio da igreja defronte ao
palco construído de alvenaria especificamente
para o evento.

Outros bens culturais relacionados


Agrovila

Avaliação
A localização em relação ao acesso principal desde
Pedro Canário, bem como vias auxiliares que ligam à Vila de Itaúna, à
fronteira com a Bahia e a outras localidades da região constituem-se
em fator positivo.
Todavia, a insuficiência da sinalização provoca desorientação
espacial e cria dificuldades de acesso, sendo comum relatos de
visitantes perdidos, com impacto para a festividade.

Recomendações
Plantio de árvores para funcionarem como marcadores territoriais e
para orientação espacial dos visitantes; Fomento a projetos culturais
de fortalecimento e difusão do festejo, bem como projetos de difusão
audiovisual, inclusive com utilização dos materiais agregados ao
inventário.
FICHA 9 . CATEGORIA SABERES

Identificação
Patrimônio Agroecolimentar das unidades domésticas

O que é
Coletivo formado pela tríade casa-quintal-terreiro

Imagens
Onde está
Agrovila em unidades familiares do Assentamento (do Sr. Ernandes,
do Sr. Avelar, da Rosalina, do sr. Raimundo e do Sr. Jovencio de Melo).

Períodos importantes
Atividade rotineira caracterizadas por policulturas ciclicas ao longo
de todo ano.
História
Em Valdício Barbosa algumas unidades domésticas com seus
quintais produtivos estão localizadas separadamente no núcleo
histórico irradiador da agrovila. Outras se expandiram ao longo do
tempo com a
distribuição dos lotes mais amplos e descentralizados, após o efetivo
assentamento. Portanto, o padrão de localização dos grandes
plantios de café, pimenta do reino e maracujá em relação às
unidades domésticas é variável. Algumas unidades são adjacentes,
outras nem tanto.

Significados
Expressa elementos identitários e socioculturais associados ao modo
local de apropriação do território e da paisagem.
Descrição
As unidades domésticas configuram agroecosistemas que
estabelecem contraste evidente em relação à paisagem dos cultivos
de café, pimenta e outros, que ocupam grandes áreas.

Restringem-se, pois, às unidades domésticas ao âmbito da


agricultura familiar, assentada na tríade:

• O terreiro geralmente à frente da casa e onde são recepcionados os


convivas, por isso geralmente está varrido e lipo;
• A casa, que serve de abrigo, geralmente na posição intermediária da
unidade;
• E o quintal, geralmente ao fundo, onde se localizam
majoritariamente os cultivos, caracterizados pelo acumulo muitas
vezes intencional de material orgânico que serve de base e reforço
aos cultivos, neste ponto distinguindo-se radicalmente do
espaço “limpo” do Terreiro frontal.

Pessoas envolvidas
Difuso e coletivo partilhado pela maioria da comunidade;
Sr. Raimundo (pai do professor Thiago), Sr. Altamiro– Engenhoca,
pilão e batedora depimenta de madeira;
Maria Zilda, dona Maria, Sr. Durico, sr. Altamiro, Miriam -Pilão e feitio
de óleo dendê, corante de urucum, paçoca de amendoim, paçoca de
carne seca, café etc.

Materiais
Utilização de materiais naturais e reaproveitados, com destaque para
madeira.

Modos de fazer ou técnicas


Os mosaicos policulturais das unidades domésticas constituem-se
em agroecosistemas que acionam técnicas variadas de biodesign,
bioarquitetura, permacultura, agroecologia e agricultura orgânica.

Produtos e suas principais características


Compreendem uma gama variada de cultivos e criações.

Arvores frutíferas - Frutas: jambo, manga, carambola, abacate, jaca,


seriguela, acerola, caju, coco, cacau, goiaba, jenipapo, maçã, abacaxi,
maracujá, pinha, graviola, laranja, mexerica, limão, cajá, jabuticaba,
melancia, três tipos de banana, pitaia, tamarindo, cupuaçu, cana de
açúcar, mamão, romã, biribiri e canela.;
Leguminosas e hortaliças – coentro, cebolinha, salsa, couve, rúcula,
alecrim, tomate, abóbora, batata doce, inhame, aipim, cenoura,
quiabo, jiló, berinjela, milho, beterraba, alho porró, abobrinha,
pimenta dedo de moça, pimenta biquinho, feijão andu, etc.;

Farmacopéia popular –ervas, raízes e outros remédios naturais, como


boldo, mastruz, folha de graviola, folha de são caetano (melãozinho),
sumo de tamarindo batido no pilão, arnica, limão, folha de jamelão,
boleira, casca de quinino, canela em pó, mel, etc.;

Animais: apicultura (diferentes tipos de abelhas nativas), piscicultura


(tilápia), bois, gado de leite, cavalos, porcos, galinhas, patos, codornas
e grande variedade de aves, ovelhas, etc.

Saberes do Pilão e derivados do extrativismo: feito de óleo de dendê,


de paçoca de amendoim, paçoca de carne seca, corante, óleo de
coco, melado de cacau, cocada de cacau, geleias de todo tipo de
fruta (jabuticaba, pitanga) etc.

Transformação cultural da paisagem: represamento de cursos


hídricos, construção de lagos, e de tanques para a prática da
psicultura com variedade de peixes.

Além disso, estabelecem rizomas transversais com outros saberes e


fazeres tais como quitandas (beijus, chimango, bolos), artesanato
(crochê; tábuas de madeira; selas, cabeçadas, selaria e rédeas de
cavalo; vassouras e cestarias de cipó etc.) e farinheiras.

Roupas e acessórios
Roupas apropriadas ao trabalho do campo, incluindo botas e
chapéus.

Expressões corporais (danças e encenações)


Não se aplica.

Expressões orais (músicas, orações e outras formas de oralidade)


Não se aplica.

Objetos importantes (ferramentas, instrumentos utilizados)


Enxada, pá, rastelo, tesouras para a poda e uma gama deoutros
utilizados no cultivo.
Estrutura e recursos necessários
Pilões, engenhocas e outras estruturas rústicas de madeira.

Transmissão do saber
Intrafamiliar e intergeracional.

Avaliação
A saída de alguns descendentes para morar na cidade galgando
inclusive níveis de formação superior e profissões especializadas é
fator de risco para o desalento das unidades domésticas.
Por outro lado, a integração da perspectiva ecológica e produtiva das
unidades domésticas com os conteúdos curriculares e práticas
escolares vem se mostrando capaz de sensibilizar os jovens,
garantindo o repasse dos saberes e fazeres.

Recomendações
Fomento a projetos para fortalecimento de agro eco sistemas
familiares.
FICHA 10. CATEGORIA SABERES – OBJETOS

Identificação:
Farinheiras / Casas de Farinha

O que é
As farinheiras são fábricas artesanais para o processamento da
mandioca, gerando farinha e produtos associados (goma, polvilho,
beiju, chimango etc.). Elas estão presentes no assentamento desde
os tempos da lona, como a farinheira tradicional (com poucos
maquinários)do Sr. Ernandes e outras modernizadas, como a do Sr.
Avelar.

Onde está
Quintais produtivos e unidades domésticas familiares do
assentamento.

Imagem
Períodos importantes
Em 2018,na ocasião da elaboração do RAIPI, havia 6 famílias
produtoras de farinha. Em junho de 2023, durante os registros do
PIEP, foram identificadas apenas três farinheiras ativas: a do sr.
Avelar, do sr. Ernandes e do Sr. Raimundo.
A dona Rosalina manteve sua farinheira, mas não estava mais
produzindo farinha e derivados da mandioca. O sr. Antônio se desfez
de seu terreno e a farinheira não interessou ao novo morador, mais
jovem a vendeu ao José Jovencio de Melo, também assentado em
Valdício Barbosa,segundo informação prestada pelo professor Thiago
em dezembro de 2023 (na reunião de validação do inventário). A
farinheira do Sebastião está desativada e em ruínas, pois ele não
reside mais na unidade e o novo morador, mais jovem, não se
interessa pela atividade.

História
A farinheira possui lugar de relevo na história do patrimônio imaterial
do norte do ES, especialmente junto às comunidades quilombolas.
Haja vista a história de sucesso do lider Negro Rugério, ocorrida no
século XIX, fundador do Quilombo do Morro, em Santana, Conceição
da Barra, chegou a se tornar um dos mais importantes centros
produtores de farinha de mandioca do mundo.

No assentamento Valdício Barbosa,a casa de farinha foi a primeira


estrutra produtiva coletiva, tendo funcionado, em 1997, onde hoje
está localizada a agroindustria para secagem de café e pimenta.
Dada ainviabilidade como atividade econômica capaz de suprir a
sobrevivencia coletiva dos assentados, a estrutura, que havia sido
erigida com apoio do INCRA, foi desmontada e doada a outro
assentamento da região.
Com a distribuição dos lotes a atividade foi descentralizada para
alguns quintais produtivos das unidades domésticas do
assentamento.

Significados
Possui lugar especial na memória e imaginário dos
comunitários, vista como inciativa que contribui
para aumentar a união e a esperança nos difíceis
períodos inciais da ocupação.

Descrição
Pessoas envolvidas
Sr. Ernandes
Dona Rosalina
Sr. Raimundo
Sr. Avelar

Materiais
Variados, as mais antigas, como a do sr. Ernandes, que é do tempo da
lona, de pau a pique com estruturas rústicas de madeira até a mais
moderna e ativa, do Sr. Avelar, que é de alvenaria e quase totalmente
mecanizada.

Técnicas ou modo de fazer


Na casa de farinha se dá o processamento da mandioca colhida e
trazida em um carrinho de madeira, como o do sr. Raimundo. Em
seguida, a mandioca é descascada, para então ser ralada e prensada
em panos apropriados, depois triturada e torrada. Já a produção de
beiju consiste na lavagem da massa de mandioca já ralada, descanso
e secagem da goma. A goma pode ser usada diretamente numa
frigideira para fazer beiju ou tapioca ou diretamente na chapa usada
para a torra da farinha. Em geral esse processo ocorre em dois dias,
no primeiro se faz a farinha e no seguinte o beiju.

Medidas
Váriaveis, mas coresponde visualmente ao equivalente de um quinto
do tamanho das edificações domésticas a que estão associadas.
Atividades relacionadas ao objeto

Saberes e Fazeres: produção de goma para beijus e biscoitos de


polvilho, como o chimango.

Manutenção
Geralmente os homens que compõem o núcleo familiar.

Conservação
Farinheiras do Assentamento Valdício Barbosa
2018 - RAIPI 2023 - PIEP
Rosalina, esposo e família Existente, porém inativa
Ernandes, esposa e família Ativa
Vendida ao Sr. José Jovencio de Melo
Antônio, esposa e família
do assentamento.
Mazinho, esposa e família Vendida aos Sr. Avelar e donaRegina
Raimundo, esposa e família Ativa para consumo da família
Sebastião, esposa e família Desativada, em ruínas

Avaliação
O envelhecimento dos detentores e inúmeros problemas de saúde
acarretados pela idade são diretamente responsáveis pelo declínio da
atividade, além da drástica redução das áreas de plantio de
mandicoca.

Recomendações
Estímulo e fomento ao plantio demandioca;
Fomento e Revitalização das farinheiras inativas com indições de
como produzir, incluindo ações educativas para o repasse da
tradição.
FICHA 11. CATEGORIA SABERES

Identificação:
Produção de chimangos, beijus, pães, quitandas, salgados, bolos e
similares.

O que é
Patrimônio agro familiar que tem
como detentoras mulheres.

Onde está
Unidades domésticas do Assentamento Valdício Barbosa e nafeira de
Pedro Canário.

Períodos importantes
Atividade rotineira em várias unidades domésticas do assentamento.

História
A produção de quitandas derivadas da mandioca é presente em toda
a região norte do estado, atestada pelos diversos relatos de
farinheiras existentes em quilombos e pequenas propriedades, pela
diversidade de barracas que vendem tais produtos nas feiras de
Pedro Canário e Conceição da Barra, assim como pela oferta deles
em padarias e outros estabelecimentos comerciais da região. Além
da farinha de mandioca, muito presente na culinária local, outros
derivados são vendidos nas feiras e mercados ou são apenas
produzidos para uso familiar como gomas, bolos, biscoitos e beijus.
Significados
Momento deencontro e convivência familiar, bem como expressão da
hospitalidade com os vistantes. Também possui uma dimensão
decomplementação da renda familiar.

Descrição
O chimango é feito com a goma de mandioca escaldada em água
quente, uma massa mais grossa e deve ser assado em um forno bem
quente, preferencialmente à lenha, o que é determinante para seu
crescimento. Em contraste, o biscoitinho voador é hidratado em
água fria e requer fogo baixo para não queimar.
Por sua vez, o pão artesanal é feito com gordura da nata comprada
no próprio assentamento e do fermento de Cristo, que é um fungo
cultivado in vitro e que, conforme a tradição, deve provir de doação.

Etapas
Chimango - Inicialmente dona Regina ferve um litro de água, escalda
o polvilho, mistura bem com uma colher para hidratar; em seguida,
acrescenta óleo, mistura bem, acrescenta ovos, sal e começa a sovar
a massa com as mãos até ficar homogênea e lisa; nesse ponto a
massa está pronta para ser moldada em rolinhos no formato de “S”.
Por fim, coloca no forno de barro e lenha, muito quente, se não
estiver muito quente a massa não cresce. Atualmente ela faz na
panela elétrica airfryer, também fica gostoso e mais prático, mas não
tem a mesma qualidade do feito em forno à lenha.
A Dona Regina produz a sua própria goma na casa de farinha do seu
marido Avelar, etapa anterior à descrita, e inclusive a comercializa
para terceiros, entre os quais a Lorrayne, expositora da feira de Pedro
Canário e assentada do Valdício Barbosa.
Pão de Cristo – A Mara começa colocando ovos num recipiente
grande, açúcar, nata e óleo, mistura bem com uma colher, em
seguida acrescenta o fermento e mistura novamente; coloca a
farinha de trigo, mistura ainda com a colher, em seguida começa a
sovar a massa até chegar ao ponto em que não gruda nas mãos. Ela
deixa a massa descansar ao longo do dia, começa fazendo de manhã
e por volta de nove ou dez horas da noite ela retoma a massa, já
dobrada de volume, é a hora que ela amassa de novo, enrola, coloca
nas formas e deixa descansar novamente. Na manhã seguinte, por
volta de quatro ou
Cinco horas da manhã, ela acorda e coloca a massa para assar. Mara
conta que esse pão cresce, chega um certo tamanho, se você não
assar, ele diminui. Por isso, é necessário ter esse período de descanso
e o período certo para poder assar.

Pessoas envolvidas
Dona Regina e sua filha Moábia – chimangos, beijus e salgados;
Dulcimara (Mara) – Pão com fermento de Cristo;
Eliane (Loira) – Pizza, bolos e tortas;
Jaqueline – bolos, beiju, geleia de pitanga;
Lourdinha – cocada, beiju, biscoito de polvilho.

Materiais
Goma demandicoca, no caso debeijus e ximangos;
Fermento de cristo e nata de leite de vaca, no caso do pão artesanal.

Modos de fazer ou técnicas


O modo de fazer é totalmente artesanal, dependendo do saber das
detentoras.

Produtos e suas principais características


Biscoitos, bolos, beiju, feitos artesanalmente.

Roupas e acessórios
Toucas e outros itens de higiene sanitária.

Expressões corporais (danças e encenações)


Não seaplica

Expressões orais (músicas, orações e outras formas de oralidade)


Não seaplica.

Objetos importantes (ferramentas, instrumentos utilizados)


Utensílios e quinquilharia doméstica, sobretudo demetal.

Estrutura e recursos necessários


Varia deestruturas rústicas como fornos e fogões à lenha. Embora
atualmente seja mais usado o fornoe fogão à gás. A matéria prima
mandicoa é essencial e o fermento de Cristo.
Transmissão do saber
Intrafamiliar e intergeracional.

Avaliação
O declínio das farinheiras e a redução drástica das áreas de cultivo de
mandioca reduziram a matéria prima para produção.
Por outro lado, a convivência familiar ampla em ambiente rural
facilita o repasse tanto dentro do núcleo familiar de geração a
geração.

Recomendações
Estímulo e fomento ao plantio demandioca;
Fomento e Revitalização das farinheiras inativas, aumentando as
condições de produzir, incluindo ações educativas para repasse da
tradição;
Incentivo à economia criativa, através da promoção de eventos
culturais na comunidade e venda de quitandas durante os eventos.
FICHA DO PROJETO

Título do Projeto:

PROJETO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - Fazendas São


Joaquim e Dourada Una Comunidades da AID – Água Preta e Valdício
Barbosa, Municípios de Conceição da Barra e Pedro Canário/ES,
Processo IPHAN nº 01409.000622/2015-01

Nome da comunidade/ Bairro/ Município/ Estado:

Água Preta, zona rural de Conceição da Barra, ES

Equipe do Projeto:
Júlio Jader Costa Psicologo Social e Antropólogo
Letícia Moura Simões de Souza Cientista Social e Arqueóloga
Fernando Walter da Silva Costa Historiador e Arqueólogo
Frederico Simões da Silva Costa Lic. Geógrafo
Alisson Gonçalves Duarte Fotógrafo e Cinegrafista

Monitores:
Júlio Jader Costa Psicologo Social e Antropólogo
Letícia Moura Simões de Souza Cientista Social e Arqueóloga
Frederico Simões da Silva Costa Lic. Geógrafo

Lideranças identitárias participantes:


Sr. Vila Sr. Avelar Soares dos Santos
Sr. Aurino Alves de Almeida Sr. Otaviano Pereira dos Santos
Dona Maria Emaculada Coelho Pires
Instituições Participantes:

Secretaria de Educação de Conceição da Barra, por meio da secretária


Cristiane de Sousa Sena, também através de Ariane Godinho Almeida,
responsável pela coordenação pedagógica, de Sidineide Vidigal
Reginaldo, coordenadora gestora da CEAFRO nas escolas municipais
de Conceição da Barra e de Paumina Saith Castro, responsável pela
organização da merenda escolar das escolas de Conceição da Barra.

Escola de Água Preta: por meio da professora Vanda Pereira Gonçalves


e das colaboradoras Angélica Santos Gomes e Camila de Jesus Freitas.

CRAS Itaúnas, por meio da coordenadora e assistente social


Alessandra Souto dos Santos.

CRAS Braço de Rio, por meio da coordenadora Maria Aparecida


Marciano, da assistente social Naiara Ferraz dos Santos e da psicóloga
Camila Rodrigues.

Associação de Moradores e Agricultores da Comunidade de Água


Preta (AMACAP), por meio das representantes Camila de Jesus Freitas,
Angélica Santos Gomes e Sueli Pires da Conceição.

Período de realização:

Novembro de 2022 a dezembro de 2023

Bens Culturais pesquisados:


1- Paço receptivo Água Preta – Lugar simbólico/paisagem cultural e
ecológica;
2- Localidades de Buticudo, Lago, Cadeia Velha; Fazenda: Farinheira e
Fornos do Pierote; Fazendas São Joaquim e São Luiz;
3- Extrativismo - Artesanato e Pesca;
4- Patrimônio Agroecoalimentar das unidades domésticas – Quintais
Produtivos;
5- Patrimônio Agroecoalimentar – Saberes do Pilão
6- Forró - Forró do Mauro (ativo); Forró da Tábua Rachada (extinto);
7- Cultura do Brincar na Infância.

Fichas das categorias do patrimônio cultural utilizadas no Projeto:


LUGARES: 2 FESTAs E CELEBRAÇÕES: 1
FORMAS DE EXPRESSÃO: 1 SABERES: 3
FICHA 1 . CATEGORIA LUGARES
Identificação
Paço receptivo Água Preta – Lugar simbólico/paisagem
paisagem cultural e
ecológica.

Imagens

O que é
Complexo paisagístico ecológico e cultural formado por Igreja Católica
(Comunidade Sagrado Coração de Jesus) e Cemitério, Escola, árvores
sobreiras na interseção destes equipamentos.
Onde está
Comunidade de Água Preta –18°15’13.00”S/ 39°53’31.05”O (datum WGS84)
Períodos Importantes
O paço receptivo é o principal lugar de acolhida rotineira aos visitantes
que chegam até Água Preta. Ali também é realizada anualmente no
mês de julho a Festa do Sagrado Coração de Jesus, que dá nome à
Igreja católica e é o padroeiro da comunidade. Já o cemitério recebe
visitas ocasionais e esporádicas no dia de finados.
Ali também era realizado o forró da Tábua rachada, hoje extinto.

História
Até o momento não foi possível precisar um contexto cronológico para
a Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Através da oralidade, a zeladora
do templo, Sueli, indica que foi erguida em período que a densidade
demográfica dos assentamentos da região, a partir da década de 1940,
era incomensuravelmente maior que na atualidade, como atesta a
casuísticas da festa do padroeiro, de outras extintas como juninas e até
mesmo profanas como o forró, que recebiam romeiros e festeiros de
várias localidades. Os moradores mais antigos dizem que Água Preta
surgiu antes de Pedro Canário e inclusive seus moradores chegaram a
frequentar o pequeno comércio de Secos e Molhados do Sr. Pedro
Canário Ribeiro, criado em 1949.
O cemitério desativado, bem como o outro que o precedeu, antes de
ser coberto por lotes e casas, é indicativo da maior densidade
populacional que a localidade galgou no passado. Está também
associado a epidemias e pestes, como a febre amarela.

Significados
A importância do pátio receptivo não se restringe à memória e ao
passado, ressoando no presente etnográfico através das edificações e
logradouros públicos, comunitários e dos projetos produtivos.
Trata-se, portanto, de local que transversaliza outros bens e categorias
do patrimônio imaterial, como celebrações.

Descrição
A patrimonialização cultural de conjuntos paisagísticos é
hegemonicamente associada aos contextos históricos e urbanos,
apoiada no saber da arquitetura e na episteme que demarca o
universo pedra e cal, onde se destacam a monumentalidade e
suntuosidade de casarios, igrejas e edificações.
Em contraste, o conjunto paisagístico receptivo de Água Preta é
definido a partir de uma simplicidade que oculta seu enorme poder de
ressonância, isto é, sua capacidade de ativar memórias e operar
vínculos sociais no presente etnográfico.
A igreja e a escola são edificações simples, o cemitério rudimentar,
mas suas paredes e túmulos contam histórias e colocam em pauta os
direitos difusos e coletivos associados à paisagem cultural ecológica,
aos vínculos comunitários e à preservação de elementos do sagrado e
da ancestralidade (sepultamentos).

Pessoas envolvidas
Lideranças identitárias
identitárias: Sr. Vila, Sr. Avelar, Sr. Aurino, Sr Otaviano e
Dona Imaculada.

Elementos Naturais
Estabelecendo um contraste fronteiriço natural e visual com a
paisagem do entorno
entorno, tomada por eucaliptos e pastos, as belas e
suntuosas árvores sombreiras de Água Preta não se restringem à
função de marcadores territoriais e de memória. São operadores de
vínculos sociais no presente etnográfico vivo e dinâmico dos
comunitários. Todas as árvores do conjunto são apontadas com idade
superior há 50 anos, algumas b
bem mais.
A mais importante, do ponto de vista simbólico, é a castanheira, em
cuja sombra se reúnem espontaneamente os comunitários e
aconchegam-se naturalmente os visitantes. Trata-se da ágora natural
da comunidade. Sob sua sombra estão dois troncos rústicos de pequi
que funcionam como bancos.
Há um outro banco plainado de eucalipto conformando a cena
receptiva e acolhedora. A castanheira está localizada na rua principal,
próxima e quase em frente à escola, que possui outras árvores
adjacentes como mangueiras e coqueiros. Outra árvore relevante é
uma idosa figueira, demarcando o acesso principal à comunidade em
margem oposta à Igreja. Dentro da cercada do templo, duas cajazeiras
sombreiam frondoso banco de eucalipto aplanado e à espera de uma
boa prosa.
Mais um espaço interessante é o fundo da igreja, que, segundo a
zeladora, foi solicitado ao novo pároco - João Batista - concessão desta
área para plantio de alimentos. A demanda teria sido acolhida
positivamente pelo mesmo e estaria em fase de formalização do
combinado com a arquidiocese para que comece a receber plantio de
pimenta.

Elementos construídos
O salão da igreja é eventualmente usado para reuniões comunitárias, o
que pode constituir-se em fator restritivo de crença que obstaculiza
avanço na organização comunitária, já que a comunidade também
possui uma igreja evangélica.
Na singela torre está um sino que teve o badalo e o cone interior
invadidos por um enxame de marimbondos, exigindo precauções
complementares no exercício do ofício do toque. Na parte frontal da
campânula tem uma inscrição onde se lê "SINO ECONOMICUS". Além
disso possui um brasão, onde está forjada uma cruz em X trespassada
verticalmente por um cajado, de onde se deduz tratar-se de um tipo
de cruz cristã antiga, que após pesquisa comparada do detalhe
mostrou ser precisamente do “monograma Cajado de Cristo”.
O equipamento escolar permanece com atividades letivas suspensas
com justificativa de falta de demanda, o que vem gerando
preocupações com o seu sucateamento, sendo que inclusive já teve o
roteador de internet furtado. Considerando que a falta de uma função
útil para o equipamento tende a agravar a situação, a associação vem
problematizando o seu uso como espaço para reuniões comunitárias e
projetos educacionais e de capacitação profissional.
O cemitério está desativado e requerendo medidas urgentes de
conservação.

Vestígios
Não foram encontradas evidências de ocupações anteriores ao
assentamento. Mas cabe destacar que o primeiro cemitério da
comunidade foi sobreposto por habitações, partindo da casa do Sr.
Vila, passando pela casa e bar de Mauro e chegando até a igreja
Evangélica, conforme relatos dos comunitários.

Materiais
A escola, a igreja e a os túmulos que ainda estão de pé são feitos de
alvenaria

Técnicas ou modos de fazer


Alvenaria.

Medidas
Aproximadamente 600 m².

Atividades que acontecem no lugar


Festa do Sagrado Coração de Jesus
Forró da Tábua Rachada - extinto
Forró do Mauro – primeira semana todo mês
Visitação de familiares e nativos ausentes no Dia de Finados.

Manutenção
Água Preta está sob jurisdição da Prefeitura Municipal de Conceição
da Barra, que deveria ser responsável pela sua manutenção. Todavia, se
situa na área fronteiriça de Pedro Canário, estando bem mais próxima
desta cidade, o atendimento público das demandas comunitárias é
insuficiente.
Em alguns casos os comunitários têm recorrido ao apoio da Suzano
para questões prioritária e urgentes, como construção do poço
artesiano.

Conservação
Todos as construções carecem de reparos e manutenção. No caso do
cemitério e do campo a comunidade reivindica o cercamento da área
para minimizar os impactos sobre estes logradouros públicos.

Avaliação
O impulso para ocupação de novas áreas visando o plantio de
alimentos , incorporando áreas dentro e no entorno da escola e
nos fundos da igreja, insinua-se como tendência positiva que pode
estar ligada à sobrevivência e necessidade de reprodução
cultural dos comunitários frente ao parcelamento familiar
das unidades domésticas e terras cada vez mais escassas devido
à expansão da monocultura nas fazendas vizinhas.

Recomendações
Estímulo a projetos paisagísticos para proteção do espaço vital da
comunidade, incluindo plantio de árvores, plantas ornamentais e
alimentícias, hortas, cercas vivas e similares.
Estímulo à qualificação profissional de jovens de Água Preta,
através de oferta de estágios e outras oportunidades.
Apoio à elaboração e Fomento de projetos culturais:
(Série Documental) – edição e difusão audiovisual – vídeos e Podcasts;
Implantação de ponto de cultura (programa cultura viva) utilizando
espaço ocioso da escola;
Apoio e promoção da Festa do Sagrado Coração de Jesus;
Resgate do Forró da Tábua Rachada.

Além disso, surge a alocação de projetos para fortalecimento de


agro eco sistemas familiares com vistas a garantir fontes alternativas
para a obtenção das matérias primas. Um exemplo já
adotado nas proximidades é o plantio de cercas vivas com
urucum (e também pimenta rosa para o caso do extrativismo),
ampliando as fontes de acesso e colaborando colateralmente para
uma melhor fruição da paisagem.
FICHA .2 . CATEGORIA LUGARES

Identificação
Localidades de Buticudo, Lagoa, Cadeia Velha
Velha; Fazenda,, Farinheira e
Fornos do Pierote; Fazendas São Joaquim e São Luiz
Luiz.

Imagens
O que são
Fazendas que geravam empregos aos trabalhadores rurais
rurais, como aos
moradores da comunidade de Água Preta e atualmente são
destinadas ao plantio de euca
eucalipto.
Fazenda São Joaquim, também conhecida como “Fazenda Klabin” e
“Fazenda dos Paulistas”; Fazenda Planície, também conhecida por
Fazenda Pierote, Perote, Pierotti; Fazenda São Luiz. Essas fazendas
deram origem a povoados como Água Preta, Buticudo
Buticudo,, Lagoa
Lag e Nova
Canaã, também geraram estruturas repressoras, como as ruínas da
cadeia da Fazenda São Joaquim.

Onde está
ntorno da Comunidade de Água Preta
Fazendas do entorno
Períodos Importantes
Décadas de 1950 a 1970 marcadas pela elevada densidade
populacional em Buticudo, lagoa e Nova Canaã, que superavam Água
Preta em número de habitantes, justificando a existência de um
aparato repressivo que incluía a cadeia velha.
A partir do final da década de 1970 e início dos anos 1980 se destaca a
prosperidade material derivada dos trabalhos nos fornos e na
farinheira do Pierote.

1940 – Cia Industrial de Madeira – extração de madeira

1944 – construção da estrada unindo Morro Dantas a Nanuque

1948 – construção da estrada ligando Braço de Rio Preto a Morro


Dantas, e construção da ponte de mandeira sobre o rio Itaúnas

1949 - o senhor Pedro Canário Ribeiro abre sua pensão e um pequeno


comércio de secos e molhados que seria frequentado pelos moradores
de Água Preta

1950 - marcado por violentos processos de expulsão de posseiros da


área rural

1951 - uma ponte de concreto substitui a antiga ponte de madeira


sobre o Rio Itaúnas, a qual era constantemente avariada pelas chuvas e
enchentes.

1952 – Fazenda Klabim é comprada por Horácio Láfer

1953 – Fazenda dos Paulistas – plantio de café – surgimento das


comunidades de Água Preta, Buticudo e Nova Canaã (segundo sr.
Avelar)

1957 a 1962 - construção do trecho São Mateus – ES/ Mucuri- BA, da


atual BR 101, surgem os primeiros loteamentos urbando que darão
origem ao município de Pedro Canário

1957 – 1962 – Programa de Erradicação do café, provocando o declínio


populacional de Nova Canaã e Água Preta

1970 – instalação de indústrias de farinha e usinas produtoras de álcool


e açúcar, plantio de eucalipto para produção de carvão (Acesita) e
posteriormente de papel e celulose (Aracruz) aumentam o processo de
concentração fundiária da região em razão das vastas áreas exigidas,
há um êxodo rural dos pequenos proprietários e aumento
populacional nas sedes dos municípios

1978 – Algusto Ruschi apoia a criação de reserva florestal na fazenda


Klabim

1980 – distrito de Taquaras passa a ser denominado Pedro Canário

1981 – Grupo Monteiro Aranha comprou a fazenza Klabin e requereu a


junto à Delegacia Regional do IBDF no ES, a redução do percentual de
floresta natural de 43,6% (cerca de 2.700 ha) para apenas 20% (1.200
ha).

1980-1981 – Não havia rede elétrica em Água Preta, usavam candieiro


(relato oral do Sr. Benedito, 04/11/2022).

1984 – Governador Gerson Camata embargou o desmate na Fazenda


Klabin autorizado por Amaury Stábile, ex ministro da agricultura,
fazendo valer acordo de 1976, entre Grupo Klabin (antigo dono da
fazenda) com IBDF de preservar 43,6% da floresta extistente no local.
(A Tribuna, Vitória, ES, 17/03/1984, p.9, 1 cad, c.1-2.
http://biblioteca.ijsn.es.gov.br/Record/339434 )

História
É comum no repertório dos comunitários de Água Preta a alusão entre
uma possível relação toponímica com a localidade do “Buticudo” e os
indígenas conhecidos pelo nome de “botocudos”.
A especificidade da formação territorial de Água Preta nos conduz
para uma categoria social mais ampla: o campesinato negro. Esta
categoria foi forjada a partir da crítica à visão esbranquiçada ou, na
melhor das hipóteses, mestiçada do campesinato brasileiro,
concebido como fato empírico verificável.
Em que pese sua identificação tardia, a dispersão do campesinato
negro por várias regiões do país desde o período colonial, abarcando
negros alforriados ou fugitivos que se constituíam como camponeses
livres ou “meeiros de glebas familiares”. Em outros termos, a
desintegração do sistema escravista gerou as condições históricas
ideais para a explosão do campesinato negro, momento em que os
quilombos e as comunidades de roceiros libertos proliferaram em
regiões rurais de todo o país.
Contribuiu para este movimento o fato de que a Lei de Terras (1850)
vigente à época da abolição era extremamente desfavorável aos
negros, impedindo-lhes o acesso e posse através do trabalho (apenas
compra era permitida), ao mesmo tempo em que oferecia subsídios
para novos colonos/ imigrantes principalmente de origem europeia.
As comunidades quilombolas e outras comunidades negras rurais
constituem a expressão atual deste impasse fundiário que garantiu a
existência de uma mão de obra livre a ser explorada no campo, ou seja,
o campesinato negro. Assim, destaca-se a construção desta categoria a
partir de múltiplas vertentes, desde quilombos levantados como
estratégias de sobrevivência em contextos pré e pós abolição,
passando por roceiros livres que se apossaram de terras em áreas
ermas e de difícil acesso até contingentes de mão de obra explorada
através de diárias miseráveis ou regimes como arrendamento,“meia‟,
“terça‟ e similares. Mais recentemente, vem sendo destacada a adesão
do campesinato negro a frentes de trabalho para a implantação de
vetores de desenvolvimento capitalista, sendo que este deslocamento
pode ocorrer nos marcos da própria região de origem da massa
camponesa. Estas frentes de trabalho são de suma importância para a
injeção monetária nas localidades de origem, onde o dinheiro não é
regra geral e todo um regime de trocas e partilhas é acionado frente a
escassez do papel moeda.
Essas fazendas da região norte do ES, em Conceição da Barra e Pedro
Canário, fazem parte deste contexto. O Sr. Avelar, líder identitário de
Água Preta, lembra que antigamente usavam o “Boró” como uma
espécie de cartãozinho ou cédula com preço fixado, era uma moeda
utilizada apenas no comércio local.

Significados
Sítios de memória com ressonancia no presente etnográfico da
comunidade por meio de atividades da pesca e extrativismo. Locais
como Buticudo, Lagoa e Nova Canaã remetem a um passado de muito
oferta de trabalhos na colheita de café e outras atividades agrícolas.
Quando os cafezais foram sendo substituidos pelo monocultivo, a
mão de obra perdeu seus postos de trabalho, provocando a
decadência e abandono dos vilarejos. Os moradores de Água Preta
temem que o mesmo ocorra com a sua comunidade.
Descrição
O padrão de localização destes assentamentos é definido a partir de
conjugações pendulares da mão de obra explorada no campo em
situação de heteronomia ou confinada em lotes individuais/familiares
para a produção alimentar de subsistência (quintais produtivos). O
padrão de ocupação comum é a proximidade com fontes de recursos
naturais, especialmente os hídricos. Neste sentido, apresentam
rizomas transversais com o etnoregistro sobre as Memórias (e o
presente etnográfico) das Águas.
As camadas de impacto que vão se sobrepondo no território incluem
desde a supressão das matas nativas para a carvoaria, passando pela
monocultura do café (fazendas), cana e mais recentemente
o eucalipto.
A especificidade da formação territorial de Água Preta nos conduz
para uma categoria social mais ampla: o campesinato negro que
foi ocupado pelos assentamentos de “Buticudo”, Nova Canaã, Lagoa
ou habitou alojamentos na Fazenda São Joaquim,
evidenciando conjugações pendulares extremamente frágeis e
dependentes dos vetores de desenvolvimento capitalista em sua
crescente pressão sobre o território, abrindo campo para a formação
de um campesinato como mão de obra a ser explorada em
situação de quase absoluta heteronomia.
O Buticudo possui centralidade nas narrativas gerais dos
comunitários de Água preta, contando com relatos detalhados de
estruturas como o carneiro que bombeava a água da comunidade, e
que certamente está coberta por terra e pelo grande volume de
mata de galeria, onde existem inclusive vários pés de dendê. A
parte que está desmatada tem várias covas intercaladas. A
informação oral indica que está sendo preparada para plantio de
árvores e mata nativa pela Suzano, como parte de um projeto ou
compensação ambiental. A equipe técnica ainda não acessou
informação institucional da empresa que possa esclarecer melhor
esta ação.
Ali, no ano de 1966 teria falecido a mãe do Sr. Avelar, sepultada
na Água Preta. Apesar de ser de fácil acesso e transitada por
extrativistas, não é recomendável a pesca e o banho no local, pois
devido ao grande número de troncos e paus no fundo são relatados
grande número de animais peçonhentos como serpentes. A área é
confinante direta com
o novo plantio de eucalipto. Inclusive com as mudas recém
recém-plantadas.
A distância um ponto da L Lagoa
agoa traçado vetorialmente em linha reta,
passando pelo eucaliptal recém
recém-plantado
plantado e chegando até a Igreja do
Sagrado Coração de Jesus em Água Preta é de 1240 metros.

Pessoas envolvidas
Lideranças identitárias
identitárias: Sr. Vila, Sr. Avelar, Sr. Aurino,, Sr Otaviano e
Dona Imaculada.
Difuso e coletivo

Elementos Naturais
As localidades estão
ão recobertas pelas matas de encosta e de galeria.
Apresentando
sentando considerável grau de recomposição da vegetação
natural nas áreas definidas como de preservação permanente e que
por isso ficaram imune
imunes a ampliação dos eucaliptais.

Elementos
entos construídos
As Fazendas São Joaquim e São Luiz permacem ativas, mas com várias
estruturas em depreciação e em transição para amplia
ampliação de áreas
para cultivo de eucaliptos.

Vestígios
Tanto no Buticudo como na Lagoa foram identificados registros
arqueológicos
ológicos (vestígios e estruturas) que reforçam as fontes orais no
tocante à formação campesina das localidades.
Topônimo da localidade, a Lagoa teria reunido mais de 20 casinhas e
foi possível identificar vestígios do poço (cacimba) que abastecia o
assentamento,
mento, hoje coberto por cafezal.
A cadeia, por ter sido construída de estrutura mais fortificada, está em
processo de ruínas, mas em ritmo mais lento.

Os fornos da fazenda Planicie estão


intactos e recobertos por mato.
Várias estruturas metálicas de
tamanho
anho consideravel,
principalmente associadas ao
transporte de toras, estão abandonas
em uma ampla área desta.

Fornos da Fazenda Planície (ou Pierote).


Pierote)
Em Nova Canaã prossegue acelerado
a o
processo de transformação das
estruturas em ruínas ao mesmo tempo
em que o mato invade o local. Nova
Canaã é cadastrada como sítio
arqueológico (Código IPHAN:
ES3204054BAST00001)
ES3204054BAST00001).

Sítio arqueológico Nova Canaã


ã registrado no IPHAN
IPHAN.

Fonte: https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/31664
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/31664.. Acesso em setembro de 2023.

Materiais
Tanto as ruinas que ainda subsistem como as edificaç
edificações
es que estão de
pé são feitas majoritariamente de alvenaria.

Técnicas ou modos de fazer


Alvenaria.

Medidas
Um raio de 3,5 km entorno da comunidade de Água Preta.

Atividades que acontecem no lugar


N.A.
Manutenção
As localidades estão abandonas e sem nenhum tipo de manutenção,
em processo de formação de ruínas.

Conservação
As localidades estão abandonadas e sem nenhum tipo de
manutenção, em processo de formação de ruínas.

Avaliação
As profundas transformações demográficas, sociais e urbanas porque
passou a comunidade e a região de modo geral, tornaram irreversíveis
o exodo e abandono das localiades. Apenas alguns poucos idosos
possuem a memória oral acerca destas localiadades.

Recomendações
Apoio à elaboração e Fomento de projetos culturais: (Série
Documental) – edição e difusão audiovisual sobre a memória – vídeos e
Podcasts, inclusive com a utilização de materiais do inventário.
FICHA 3. CATEGORIA SABERES

Identificação
Extrativismo - Artesanato e Pesca

O que é
Manejo
ejo sustentável de recursos naturais disponíveis nas matas, rios e
lagoas da região.

Onde está
Territórios tradicionalmente utilizados pelos comunitários no entorno
de Água Preta

Períodos importantes
O extrativismo e a coleta constituem apenas uma par parte da cadeia
operatória dos saberes e fazeres tradicionais, pois seu rizoma se
expande para outras dimensões do patrimônio imaterial, mais
precisamente para o que já foi designado como “rizoma rizoma Pilão-
Pilão
Extrativismo”.
Nesta perspectiva, a ficha em tela circuns
circunscreve
creve seu âmbito ao
momento da cadeia operatória em que os detentores obtêm a matéria
prima para suas práticas. O beneficiamento destes produtos no PiIlão
será descrito em outra ficha, como no caso do preparo do óleo de
dendê e mamona juntamente com o café pilado e o feitio de urucum.
Por sua vez, a produção de vassouras e balaios para uso doméstico
foram agregados ao universo extrativista correlato, sendo, pois
contemplados na presente ficha.

História
Integrado ao modo de vida tradicional de comunidades rurais como
Água Preta e tendo como referência territórios específicos, o manejo
ecológico do cipó certamente se integrava com outras atividades no
passado, tais como pesca artesanal e até mesmo caça.
É bem certo e esperado que os locais de extrativismo e pesca
correspondam a áreas de preservação ambiental. Do ponto de vista
dos direitos de fruição à paisagem natural, configuram-se como
pequenas ilhas de beleza, abundância e vitalidade
faunística/florística/hídrica, contrastando com o entorno.

Significados
Os saberes e fazeres tradicionais associados ao extrativismo, ao
manejo do território e seus caminhos, incluindo as áreas tradicionais
de subsistência para atividades como caça, pesca e coleta; enfim, todo
este conjunto compõe um rico acervo memorial da cultura de trabalho
destas populações rurais.

Descrição
Integrado ao modo de vida tradicional de comunidades rurais como
Água Preta e tendo como referência territórios específicos, o manejo
ecológico do cipó certamente se integrava com outras atividades no
passado tais como pesca artesanal e até mesmo caça.
A Pesca Artesanal com Vara trata-se de modalidade simples e
bastante difundida na comunidade, mas ameaçada de extinção em
função de interdições da legislação ambiental, da restrição do acesso
aos rios/lagoas e da redução da quantidade e piora na qualidade dos
recursos hídricos. Contudo, algumas famílias como a da Dona
Imaculada e seus descendentes persistem na pesca artesanal como
atividade cultural de entretenimento e complementar na provisão da
segurança alimentar.
Outro ponto importante ressalta o caráter integrado das práticas
tradicionais e a configuração rizomática do patrimônio imaterial no
cotidiano dos detentores. É o território que enlaça e confere
consistência sinérgica a todo este conjunto de saberes e fazeres
tradicionais. Em termos mais simples, os detentores não se
embrenham na paisagem apenas para pescar, mas integram esta
atividade ao seu repertório tradicional, otimizando a oportunidade
para a coleta e o extrativismo de diferentes materiais que se
apresentam no trajeto.

Etapas

- Cipó

Coleta na mata - os detentores tradicionalmente recebiam autorização


para a coleta do cipó. Mas, em caso de proibição, acessavam
facilmente os locais pelos atalhos que conheciam na manga, nome
pelo qual designam os abundantes pastos que recortam todo o
território, interligando fazendas. O cipó alvo da busca ativa é
designado como “rejeira”, de ocorrência mais abundante, embora
outros tipos tenham sido usados no passado. Sua proliferação se dá
nas matas de galeria que protegem cursos d'água e áreas alagadas de
várzea e lagoa.

Seleção e poda – Após prospecção visual pela área e identificação da


peça, o detentor explica o manejo sustentável que consiste em cortar
fibras mais finas próximo a base e puxá-las para baixo até que se
soltem das copas. A técnica funciona como uma espécie de poda
invertida, preserva o que chamam de “Mãe”, que consiste no veio de
fibra mais grossa e de onde provém as demais. Ao mesmo tempo, o
corte favorece o surgimento de novas ramificações, contribuindo para
a proliferação da espécie.
Modos de fazer ou técnicas

Feitio de vassouras e balaios - Artesanato

Inicialmente o cipó “rejeira” é descascado com uma faca, preservando


a parte interna. Em seguida, corta
corta-se o cipó em tiras iguais. As tiras são
amarradas no centro, dobradas e na sequência é feito um trançado na
ponta, onde será fincada a madeira que servirá de cabo da vassoura.
Esse trançado final exige muita força na amarração para a vassoura
ficar firme.
- Mamona (Ricinuscommunis)

Cata ou coleta - Assim designada por Dona Imaculada, corresponde ao


momento inicial da cadeia operatória que vai se desdobrar no

processamento do óleo em sistema de pilagem artesanal. Trata


Trata-se de
prática tradicional cujo repasse abrange a primeira (filha) e segunda
(neta) geração de Dona Imaculada. É realizada em várias localidades
onde ocorre a mamona, mas para o presente caso o sítio de coleta fica
próximo da lagoa onde sua filha Sueli foi pescar. A técnica
nica de coleta
consiste em identificar as mamonas já escuras, queimadas pelo sol e
em fase de esporulação.
Secagem - Após a coleta as mamonas
são debulhadas e em seguida são
colocadas em um pano de linhagem
para a secagem no sol. Este processo
dura em torno de 15 dias. Só então as
mamonas estarão na condição ideal
para a pilhagem e cozimento, que
serão descritas mais adiante, na ficha
5 - saberes do pilão.

- Coco Dendê e Pimenta Rosa

Coleta - A Apimenta
pimenta
piment rosa rosa é intercalada
é intercalada aos iros.
dendezeiros.
aos dendezeiros.
dendez Am
Ambos compartilham
compartilham um padrãoum de
p drão padrão de localização,
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como cercas
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sua constituindo a mesmada a emprática.
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Em relação ao coco dendê, Geraldo Pires, filho
complementar de re a para os detentores da prática. de Imaculada, simulou
um corte na ao palha, uma
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coco dendê, que Pires,
Geraldo os cocos
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palha, uma
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planta.m maduros,
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mostrando como extrair
ext ir os cachos sem prejudicar a planta.
plan .
Processamento - O feito no pilão de coco de dendê e óleo de mamona,
incluindo o detalhamento das técnicas de manejo e coleta serão
descritos na ficha 5 – Saberes do Pilão.

Pessoas envolvidas
Dona Imaculada, Geraldo e outro filho – extrativismo e artesanato em
cipó, coco dendê e pimenta rosa;
Imaculada Sueli e neta – extrativismo mamona;
Sr. Avelar – Jequi de bambu.

Materiais
Cipó “rejeira” e outras espécies usadas com menos freqüência, Jequi
de bambu para a pesca.

Produtos e suas principais características


Vassouras, balaios;
Outros difusos e coletivos: jequis de bambu para a pesca.

Objetos importantes (ferramentas, instrumentos utilizados)


Utensílios e quinquilharia doméstica, sobretudo de metal.

Estrutura e recursos necessários


Recursos naturais presentes nas florestas do entorno de Água Preta.

Transmissão do saber
Intrafamiliar e intergeracional.

Avaliação
O valor memorial conferido pelos detentores a estas práticas entra,
inevitavelmente, em choque com a política e as normativas
ambientais, uma vez que estas são apresentadas como justificativa
para a restrição da circulação e do manejo tradicional pelos que
possuem os direitos de gestão econômica dos territórios, sejam
proprietários ou arrendatários.
No âmbito do patrimônio imaterial, o desafio é conjugar os avanços e
garantias procedimentais com o zoom das lentes etnográficas,
ajustando o foco para processos de territorialização/ reterritorialização
agenciados por detentores/bens fluídos e móveis, cujas dinâmicas
nem sempre coincidem com as métricas espaciais estáticas.
Recomendações
Para além do refúgio silvestre e da proteção ambiental, a salvaguarda
das práticas de cultura do trabalho e manejo extrativista de detentores
residentes em Água Preta exigiria avanços mais agudos no âmbito dos
direitos culturais e na autorização quanto ao uso e manejo de
territórios por populações rurais afetadas por grandes
empreendimentos, especialmente quando atrelados a processos de
concentração fundiária.
Alocação de projetos para fortalecimento de agro eco sistemas
familiares com vistas a garantir fontes alternativas para a obtenção das
matérias primas. Um exemplo já adotado nas proximidades é o plantio
de cercas vivas com urucum (e também pimenta rosa para o caso do
extrativismo), ampliando as fontes de acesso e colaborando
colateralmente para uma melhor fruição da paisagem ao minimizar o
contato visual direto aos eucaliptais.
No estado atual da situação, o único habitat que constatamos seguro
para o refúgio e preservação de tais práticas é a Memória, através do
fomento e estímulo ao desenvolvimento de projetos culturais: (Série
Documental) – edição e difusão audiovisual – vídeos e Podcasts,
incluindo o uso dos materiais inventariados.
FICHA 4 . CATEGORIA SABERES

Identificação
Patrimônio Agroecolimentar das unidades domésticas – Quintais
Produtivos

O que é
Coletivo formado pela
la tríade casa
casa-quintal-terreiro.

Imagens
Onde está
Unidades domésticas familiares de Água Preta
Períodos importantes
A partir da década de 1940 quando começaram a surgir os povoados
na região em função do plantio de café.

História
A especificidade da formação territorial de Água Preta nos conduz
para uma categoria social mais ampla: o campesinato negro. Esta
categoria foi forjada a partir da crítica à visão esbranquiçada ou, na
melhor das hipóteses, mestiçada do campesinato brasileiro,
concebido como fato empírico verificável. Em que pese sua
identificação tardia, a dispersão do campesinato negro por várias
regiões do país desde o período colonial, abarcando negros alforriados
ou fugitivos que se constituíam como camponeses livres ou “meeiros
de glebas familiares”. Em outros termos, a desintegração do sistema
escravista gerou as condições históricas ideais para a explosão do
campesinato negro, momento em que os quilombos e as
comunidades de roceiros libertos proliferaram em regiões rurais de
todo o país. Contribuiu para este movimento o fato de que a Lei de
Terras (1850) vigente à época da abolição era extremamente
desfavorável aos negros, impedindo-lhes o acesso e posse através do
trabalho (apenas compra era permitida), ao mesmo tempo em que
oferecia subsídios para novos colonos/ imigrantes principalmente de
origem européia.
As comunidades quilombolas e outras comunidades negras rurais
constituem a expressão atual deste impasse fundiário que garantiu a
existência de uma mão de obra livre a ser explorada no campo, ou seja,
o campesinato negro. Assim, destaca-se a construção desta categoria a
partir de múltiplas vertentes, desde quilombos levantados como
estratégias de sobrevivência em contextos pré e pós abolição,
passando por roceiros livres que se apossaram de terras em áreas
ermas e de difícil acesso até contingentes de mão de obra explorada
através de diárias miseráveis ou regimes como arrendamento, “meia‟,
“terça‟ e similares. Mais recentemente, vem sendo destacado a adesão
do campesinato negro a frentes de trabalho para a implantação de
vetores de desenvolvimento capitalista, sendo que este deslocamento
pode ocorrer nos marcos da própria região de origem da massa
camponesa. Estas frentes de trabalho são de suma importância para a
injeção monetária nas localidades de origem, onde o dinheiro não é
regra geral e todo um regime de trocas e partilhas é acionado frente a
escassez do papel moeda.
Significados
Expressa elementos identitários e socioculturais associados ao modo
local de apropriação do território e da paisagem.

Descrição
As unidades domésticas configuram agroecosistemas que
estabelecem contraste evidente em relação à paisagem dos cultivos
de café, pimenta e outros que ocupam grande as áreas.
Restringem-se, pois, as unidades domésticas ao âmbito da agricultura
familiar, assentada na tríade:

 O terreiro geralmente à frente da casa e onde são recepcionados os


convivas, por isso geralmente está varrido e lipo;
 A casa, que serve de abrigo, geralmente na posição intermediária da
unidade;
 O quintal, geralmente ao fundo, onde se localizam majoritariamente
os cultivos, caracterizados pelo acumulo muitas vezes intencional
dematerial orgânico que serve de base e reforço aos cultivos, neste
ponto distinguindo-se radicalmente do espaço “limpo “do terreiro
frontal.

Pessoas envolvidas
Sr. Vila, Dona Maria e filho Benedito;
Sr. Otaviano, recém falecido e irmão;
Sr. Aurino, filha Sandra e genro Carlos Antônio;
Dona Morenita;
Dona Imacula e os filhos Geraldo e Sueli;
Dona Albertina;
Mauro e Angélica;
Difuso e coletivo na comunidade.

Materiais
Utilização de materiais naturais e reaproveitados, com destaque para
madeira.
No quintal do Sr. Aurino permanece de pé a velha casa de pau a pique
ou stuck, que se constitui em remanescente raro desta técnica de
construção na comunidade.
Modos de fazer ou técnicas
Os mosaicos policulturais das unidades domésticas constituem-se em
agroecosistemas que acionam técnicas variadas de biodesign e
permacultura, ainda que de forma intuitiva.
A construção da casa de pau a pique foi descrita detalhadamente pelo
Carlos Antônio, genro do Sr. Aurino, incluindo a indicação das luas
corretas para a coleta da madeira ser traçada, de modo a evitar o
surgimento de brocas e outras pragas. A localização do quintal do Sr.
Aurino se dá nas margens do riacho Água Preta, à jusante da unidade
doméstica do casal Sr. Vila & Dona Maria, o que certamente contribuiu
para sua fertilidade, dado que na mesma foi identificada uma área
remanescente de cultura de várzea, onde se praticava o cultivo de
arroz, hoje extinto, mas que teve ativada a memória de sua trituração
via pilagem.

Produtos e suas principais características


O quintal do Sr. Aurino possui exuberantes árvores frutíferas como
mangueira, laranjeira, limeira, bananeiras. Um destaque é a profusão
de cacau, tendo sido descrito um saber do pilão extinto e que consistia
na produção de chocolates feitos por pilagem de sementes secas
deste delicioso fruto. Outras espécies identificadas a partir de seu
nome popular são aroeira, macadame, ingá de metro, umbu do sertão,
coco dendê e coco bahia. Neste último caso, as espécies são tão
antigas que suas folhas ressecam e caem formando aquilo que é
chamado popularmente de barba do profeta. A disponibilidade de
recurso hídrico no fundo do quintal vem permitindo a existência de
um pequeno e modesto poço para a prática de piscicultura.
No quintal do Mauro foi percorrido o espaço integrado à unidade
doméstica, onde um volume considerável de pimenta do reino estava
secando ao sol. Além da pimenta, o quintal possui hortaliças como
repolho e alface, frutíferas como mangueira e bananeira. Também está
em experimento o plantio de feijão, mas o destaque maior é a
mandioca (macaxeira ou aipim), cujo desterro exigiram esforço de
quatro braços masculinos dado o volume e a massa galgados pela raiz.
A inciativa de Mauro de expandir os cultivos reafirma a vocação rural
de Água Preta e encontra ressonância em outros comunitários já
mencionados no PIEP, como o caso de Geraldo que ocupou o entorno
da escola e Sueli que visualiza a possibilidade nos fundos da igreja.
Em comum em todos os casos há a escassez de terras para cultivo,
uma vez que os quintais familiares são de pequenas dimensões e
colocam desafios para superar o padrão de plantio de subsistência.
Dona Albertina nos recebeu fazendo a pilagem da pimenta colhida no
quintal. O seu quintal repete o padrão de outras unidades domésticas
percorridas ao longo do PIEP, com destaque para jiló fresquinho
colhido no pé, vultosa plantação de taioba e lindas flores de múltiplas
cores.
Dona Morenita nos recebeu ao lado do fogão à lenha de limpeza
impecável, seguido do esclarecimento de que é mantido nesta
condição permanente devido ao barro branco que busca
frequentemente na matinha. Revela, pois, novo saber extrativista.
Adentrando pelo quintal, emergem várias árvores e plantas frutíferas
como feijão verde, castanheira, bananeira, coco, cana, maxixe e limão.
Uma pequena horta com leguminosas, cebolinha, alecrim e capim da
lapa (cidreira), revela a coabitação entre espécies alimentícias e
medicinais usadas na preparação de chás caseiros.
Uma ocorrência que merece menção especial no quintal de Dona
Morenita é o Urucum (corante), que estabelece rizoma transversal com
os saberes do pilão, que serão abordados no tópico seguinte.
Dona Imaculada, a detentora apresentou sua horta com couve,
cebolinha, mostarda, taioba, jiló, entre outras espécies comestíveis.
Dispersos pelo quintal uma variedade de árvores frutíferas com os pés
carregados de romã, jaboticaba, abacate, coco, mamão, acerola,
bananas e presenteou a equipe com uma deliciosa pitaia. Destaca-se
um jardim ornamental com flores e espécies medicinais como
carqueja, capim da lapa, entre outras.
Dona imaculada é mais que uma detentora, é uma mestra de saberes e
fazeres tradicionais sobre a terra, cujo potencial de estabelecer
rizomas com outros bens imateriais já foi demonstrado em vários
momentos da execução do PIEP.

Objetos importantes (ferramentas, instrumentos utilizados)


Enxada, pá, rastelo, tesouras para a poda e uma gama de outros
utilizados no cultivo.

Estrutura e recursos necessários


Pilões, engenhocas e outras estruturas rústicas de madeira.
Transmissão do saber
Intrafamiliar e intergeracional.

Avaliação
Sem área suficiente para o plantio próprio, os comunitários não vêm
outra alternativa senão oferecer o saber sobre a terra e a força de
trabalho aos fazendeiros para a colheita de café e outras
monoculturas, perpetuando a condição de campesinato em situação
de heteronomia.
Outro desafio é a escassez e a qualidade da água. Como alternativa
alguns detentores instalam canalizações puxando diretamente do
córrego Água Preta através de pequenas bombas elétrica, alternativa
apontada como única capaz de garantir segurança hídrica para a
plantação, dado os já mencionados problemas recorrentes no
abastecimento geral da comunidade.

Recomendações
Fomento a projetos para fortalecimento de agro eco sistemas
familiares.
Conclusão do novo poço artesiano.
FICHA 5 . CATEGORIA SABERES

Identificação
Patrimônio Agroecoalimentar
limentar – Saberes do Pilão

Imagens
Onde está
Unidades domésticas familiares de Água Preta
Preta.

Períodos importantes
O beneficiamento de produtos naturais no Pi
Pilão
lão constitui-se
constitui em um
momento da cadeia operatória precedido pelo extrativismo dos
produtos naturais na mata ou cultivados em agroecosistemas, o que
condiciona a prática a maior ou menor oferta em conformidade com
as variações sazonais.

História
ificidade da formação territorial de Água Preta nos conduz
A especificidade
para uma categoria social mais ampla: o campesinato negro. Esta
categoria foi forjada a partir da crítica à visão esbranquiçada ou, na
melhor das hipóteses, mestiçada do campesinato brasileiro,
concebido
cebido como fato empírico verificável. Em que pese sua
identificação tardia, a dispersão do campesinato negro por várias
regiões do país desde o período colonial, abarcando negros alforriados
ou fugitivos que se constituíam como camponeses livres ou “meeir
“meeiros
de glebas familiares”. Em outros termos, a desintegração do sistema
escravista gerou as condições históricas ideais para a explosão do
campesinato negro, momento em que os quilombos e as
comunidades de roceiros libertos proliferaram em regiões rurais de
todo o país. Contribuiu para este movimento o fato de que a Lei de
Terras (1850) vigente à época da abolição era extremamente
desfavorável aos negros, impedindo
impedindo-lhes
lhes o acesso e posse através do
trabalho (apenas compra era permitida), ao mesmo tempo em que
oferecia subsídios para novos colonos/ imigrantes principalmente de
origem europeia.
As comunidades quilombolas e outras comunidades negras rurais
constituem a expressão atual deste impasse fundiário que garantiu a
existência de uma mão de obra livre a ser explorada no campo, ou seja,
o campesinato negro. Assim, destaca-se a construção desta categoria a
partir de múltiplas vertentes, desde quilombos levantados como
estratégias de sobrevivência em contextos pré e pós abolição,
passando por roceiros livres que se apossaram de terras em áreas
ermas e de difícil acesso até contingentes de mão de obra explorada
através de diárias miseráveis ou regimes como arrendamento, “meia‟,
“terça‟ e similares. Mais recentemente, vem sendo destacado a adesão
do campesinato negro a frentes de trabalho para a implantação de
vetores de desenvolvimento capitalista, sendo que este deslocamento
pode ocorrer nos marcos da própria região de origem da massa
camponesa. Estas frentes de trabalho são de suma importância para a
injeção monetária nas localidades de origem, onde o dinheiro não é
regra geral e todo um regime de trocas e partilhas é acionado frente a
escassez do papel moeda.

Significados
Expressa elementos identitários e socioculturais associados ao modo
local de apropriação do território e da paisagem.

Descrição
O pilão foi erigido à símbolo da luta quilombola por excelência,
remetendo à resistência e ao modo de vida nas matas para a produção
e processamento dos alimentos. Sob esta perspectiva, o pilão pode ser
compreendido como usina pioneira para beneficiamento de
alimentos, extratos e oléos para uso alimentar e medicinal em áreas
rurais remotas.

Pessoas envolvidas
Sr. Vila e Dona Maria – na garapa de engenhoca;
Doma Imaculada – Feitio de Óleo de Dendê, Óleo de Mamona, além de
Óleo de Coco;
Dona Morenita e Dona Imaculada – Feitio de Urucum;
Sr. Avelar – Pilagem do café.
Materiais
Derivados do extrativismo.

Modos de fazer ou técnicas


Café Pilado e torrado na garapa de engenhoca

Esta atividade foi realizada envolvendo simultaneamente dois quintais


produtivos de dois dos mais antigos moradores de Água Preta. A
primeira corresponde a torra e pilagem de café, tendo acontecido no
quintal produtivo do Senhor Avelar, apontado como o mais antigo
morador de Água Preta. Sr. Avelar atualmente reside em Valdício
Barbosa dos Santos com a esposa Regina, em área que inclui outras
unidades domésticas como a da filha Moabia e do genro. Todavia,
mantém um comércio em Água Preta, onde seu descendente Esdras
habita a residência patronímica ao lado da esposa Camila, que acaba
de assumir a presidência da Associação de Moradores e Agricultores
da Comunidade de Água Preta (AMACAP), recém fundada.
O café é colhido ali mesmo no quintal, em meio a extensa plantação,
passando por uma secagem prévia in natura. Tradicionalmente, a
torra era processada em uma “bola de metal”, mas em função do
estado de depreciação do artefato o processo foi realizado na panela
em um fogão improvisado. Após o café atingir o ponto ideal de torra,
aferido através de inspeção visual, tem início a pilagem no tradicional
artefato. Por fim, o café foi coado em uma peneira de plástico de onde
os grãos mais finos atravessam para uma vasilha de aço inoxidável.
A etapa seguinte foi realizada no exuberante quintal produtivo do
Senhor Vila, que também está entre os mais antigos moradores da
comunidade. Ali podemos vivenciar a síntese dos mosaicos produtivos
da agricultura familiar, com uma variedade de frutas, alimentos,
plantas alimentares e medicinais, além de “cacimba” (poço) que
garante abundantes recursos hídricos. A cana é colhida e transportada
até a engenhoca para moeção, atividade que envolve, além do Sr. Vila
e sua esposa Dona Maria, moradores mais jovens, responsáveis pelo
trabalho físico mais pesado.
A exemplo do sari de cisterna, a formidável engenhoca funciona como
um tipo de alavanca. Possui um eixo central com duas extremidades,
ambas trespassadas por 4 hastes perpendiculares. Ao serem giradas
espremem, melhor dizendo, trituram a cana, que passa pelo fino
espaço entre o cilindro do eixo (envelopado por metal denteado) e um
segundo cilindro que serve de suporte. A garapa escorre naturalmente
até o balde por um dispositivo de desvio improvisado em chapa de
metal, seguindo para a coagem que é a última etapa. Depois é só levar
ao fogão de lenha, esquentar e passar coador de pano encaixado
numa pequena estrutura de madeira que funciona como haste e é
conhecido como mancebo. Depois é só saborear.

Dona Imaculada – Feitio de óleo de dendê e óleo de mamona.

Tendo apresentado na ficha 3 do inventário, do extrativismo às etapas


anteriores a coleta e secagem das espécies, cumpre-nos finalizar a
cadeia operatória de produção destes extratos feitos artesanalmente.
Após secagem por cerca de 15 dias, a mamona é socada no pilão. Para
o caso da mamona, após a prensa no pilão destacam-se dois tipos de
óleos, sendo um deles tóxico. A sabedoria prática do cozimento
consiste exatamente em separar estes dois componentes, retirando
com uma colher a espuma que flutua na medida em que avança a
fervura, ao passo que o óleo de mamona (rícino) vai paulatinamente
decantando no fundo.
Como o processo depende da intensidade do fogo e da quantidade de
matéria prima, não é possível estabelecer um tempo padrão para o
cozimento, e o ponto final depende do olhar e observação da
detentora. Após o cozimento, o óleo é resfriado em ambiente natural e
em seguida envazado em garrafa de vidro ou em recipientes pet. Dona
Imaculada é enfática ao assinalar a trabalheira implicada no feito do
óleo de mamona, afirmando que na experiência em tela foram
realizadas 3 pilagens para obter menos de 1 litro de extrato.
A produção de óleo de dendê é mais simples e rápida do que a de
mamona. O cozimento se dá em duas etapas. A primeira fervura tem
por objetivo amolecer o bagaço ou caroço para separá-lo da polpa,
processo que é completado no pilão. Em seguida é feita a lavagem em
água junto com peneiramento. O líquido é novamente levado ao
cozimento e o azeite vai flutuando e sendo retirado com uma colher,
ao passo que a água decanta no fundo junto com a borra.
Além dos óleos de dendê e mamona, Dona Imaculada produz óleo de
coco. Todavia, neste caso, não faz uso do pilão.
Dona Morenita – Feitio do corante - urucum

O feitio começa com a coleta do urucum no próprio quintal. Já dentro


de casa, rente ao fogo de lenha, procede caprichosa limpeza do pilão e
da mão de pilão. O passo seguinte é no fogão onde os grânulos de
urucum são levemente torrados junto com um pouco de óleo. Em
seguida o material é misturado com 1 kg de fubá em uma bacia de
metal. Só então o material é despejado no pilão e tem início a pisada.
Gradativamente, a mistura vai sendo pilada dando origem ao corante
avermelhado nos moldes em que é usado na culinária.

Produtos e suas principais características


Café coado e adoçado com cana de açúcar, óleos de dedê e mamona,
corante em pó.

Roupas e acessórios
Roupas apropriadas ao trabalho no campo.

Objetos importantes (ferramentas, instrumentos utilizados)


Panelas, tachos, bacias e outros utensílios domésticos de metal.

Estrutura e recursos necessários


Pilões, engenhocas, fogão de lenha e outras estruturas rústicas de
madeira.

Transmissão do saber
Intrafamiliar e intergeracional.

Avaliação
A limitação das áreas de extrativismo pelas injunções da política e das
normativas ambientais aumenta a escassez das fontes de matérias
primas para beneficiamento no tradicional pilão, uma vez que as
mesmas são apresentadas como justificativa para a restrição da
circulação e do manejo tradicional pelos que possuem os direitos de
gestão econômica dos territórios, sejam proprietários ou arrendatários.
No âmbito do patrimônio imaterial, o desafio é conjugar os avanços e
garantias procedimentais com o zoom das lentes etnográficas,
ajustando o foco para processos de territorialização/ reterritorialização
agenciados por detentores/bens fluídos e móveis, cujas dinâmicas
nem sempre coincidem com as métricas espaciais estáticas.
Recomendações
Para além do refúgio silvestre e da proteção ambiental, a salvaguarda
das práticas de cultura do trabalho e manejo extrativista de detentores
residentes em Água Preta exigiria avanços mais agudos no âmbito dos
direitos culturais e na autorização quanto ao uso e manejo de
territórios por populações rurais afetadas por grandes
empreendimentos, especialmente quando atrelados a processos de
concentração fundiária.
No estado atual da situação, o único habitat que constatamos seguro
para o refúgio e preservação de tais práticas é a Memória, através do
fomento e estímulo ao desenvolvimento de projetos culturais: (Série
Documental) – edição e difusão audiovisual – vídeos e Podcasts,
incluindo o uso dos materiais inventariados.
Além disso, urge a alocação de projetos para fortalecimento de agro
eco sistemas familiares com vistas a garantir fontes alternativas para a
obtenção das matérias primas. Um exemplo já adotado nas
proximidades é o plantio de cercas vivas com urucum (e também
pimenta rosa para o caso do extrativismo), ampliando as fontes de
acesso e colaborando colateralmente para uma melhor fruição da
paisagem ao minimizar o contato visual direto aos eucaliptais.
FICHA 6.. CATEGORIA FESTAS E CELEBRAÇÕES

Identificação.
Forró do Mauro, Forró da Tábua Rachada (Extinto)

O que é
O forró é expressão viva da memóri
memóriaa e do presente etnográfico de
Água Preta, tendo como detentores seus moradores de forma
generalizada e difusa..

Imagens

Onde acontece
Na rua, em frente ao Bar do Mauro
Mauro;
Tábua Rachada -Paço
Paço principal
principal.

Períodos importantes
O forró do Mauro ocorre na primeira semana de cada mês,
s, portanto
tem periodicidade mensal.
O forró da Tábua rachada acontecia uma vez por ano, após a festa da
Tábua lascada de Pedro Canário, ocorria, em sequência, a festa da
Tábua rachada em Água Preta, geralmente no mês de junho.

História
O forró da tábua rachada constituía-se em evento de saideira e prova de
resistência para os foliões mais animados que sobreviviam ao Forró da
Tábua lascada, mega evento que ocorre desde 1981 em Pedro Canário e
que permanece ativo ainda hoje.
O grande número de migrantes baianos na área fronteiriça com o Espírito
Santo é apontado como fator da vitalidade para os forrós na região.
Nas décadas de 70 e 80, período relatado como de relativa prosperidade e
maior densidade populacional pelos moradores de Água Preta (auge dos
fornos do Pierote) ocorria o forró da tábua rachada, em paráfrase ao da
pedra lascada, ambas se referindo ao modo como o piso era castigado
pelos dançantes em viras de dias consecutivos.

Significados
Trata-se de um momento de confraternização que extrapola os limites
da comunidade, atraindo um grande número de pessoas de outros
distritos e localidades de Pedro Canário e Conceição da Barra.
Tem, pois, um significado de integração regional da comunidade com
a vizinhança e grupos de afinidade.

Descrição
O forró praticado exige apenas um som e um espaço para dançar. No caso
do bar do Mauro há uma área coberta, mas também extrapola esse
espaço, ocupando a rua de terra. No passado ocorria em outros espaços
de Água Preta e há relatos de relacionamentos que se iniciaram em meio
aos passos suaves do forró ali praticado.

Pessoas envolvidas
Mauro;
Benedito;
Sueli;
Difuso e coletivo.

Forró do Mauro.
Comidas e Bebidas
Não existe nenhuma comida ou bebida específica, mas é certo que o
festejo se insere na esfera profana.

Roupas e acessórios
Não são utilizadas indumentárias padronizadas, mas para a prática é
adequado o uso de calçados baixos e roupas confortáveis.

Expressões corporais (danças e encenações)


Os participantes dançam juntos, em duplas, com passos
característicos, ao som do forró. A dança consiste em dois passos para
cada lado, bem juntinho.

Expressões orais (músicas, orações e outras formas de expressões orais)


O som mecânico toca músicas diversas, sendo o ritmo
indiscutivelmente predominante o forró.

Objetos importantes (instrumentos musicais, objetos rituais, elementos


cênicos, decoração do espaço e outros)
Não há.

Estrutura e recursos necessários


A estrutura do bar do Mauro é necessária para promover o evento
mensal.
Já o forró da tábua rachada contava com barraquinhas de alimentos
montadas pelos comunitários.

Outros bens culturais relacionados


Forró de Itaúnas.

Avaliação
O evento se insere no contexto regional de Itaúnas, Conceição da
Barra, onde o forró é promovido cotidianamente, inclusive gerando
festivais de alcance turístico nacional.
Em Água Preta há expressão dessa cutura do forró em menor escala,
atraindo as comunidades do entorno.

Recomendações
Fomento à projetos culturais de fortalecimento e difusão do festejo.
Fomento à projetos culturais de difusão audiovisual, inclusive dos
materiais agregados ao inventário.
FICHA 7.. CATEGORIA FORMAS DE EXPRESSÃO

Identificação
Cultura do Brincar na Infância

Imagens

O que é
As brincadeiras
ras infantis e a ressignificação de objetos para a
improvisação de brinquedos pelas crianças de Água Preta
Preta.

Onde está
Paço principal da comunidade
comunidade;
Ruas e terreiros;
Escola.

Períodos Importantes
No presente etnográfico se expressa uma cultura que vem de gegerações
passadas, do modo de vida pé no chão, desde os locais de origem dos
comunitários de Água Preta.
História
Essa história é contada pelas crianças, que reproduzem na infância um
modo de vida rural, de filhos de trabalhadores, cujos recursos
raramente permitiam um consumo excessivo, como o que ocorria nas
cidades. Dessa maneira, as crianças, muitas vezes, iam se arranjando
com o que viam pela frente, com objetos extraídos do seu meio. Daí
surgiram brincadeiras como telefone de lata, carrinho de rolimã, etc.

Significados
A cultura do brincar é uma expressão permanente e rotineira das
crianças de Água Preta, constituindo-se em importante fator de
socialização entre o público infantil, bem como estabelece seus
padrões de interação com o mundo externo.

Descrição
Variedade de atividades lúdicas mediadas que incluem tanto as
brincadeiras quanto os brinquedos criados pela imaginação infantil a
partir do uso de materiais simples.

Etapas
A cultura do brincar expressa uma forma de apropriação particular do
território e de seus recursos pelas crianças.
Todo tipo de objeto ou matéra é passível de virar brinquedo, incluindo
troncos, galhos, flores etc.
E, mesmo na ausência de objetos materiais as crianças são capazes de
criar cenários imaginários com a representação de motivos naturais
envolvendo rios, florestas,etc.

Pessoas envolvidas
Público infantil de forma generalizada.

Materiais
No que tange aos brinquedos inventados, provém de uma variedade
de materias como o cabos de vassoura, pneus velhos, elementos da
paisagem, papel para elaboração de brinquedos por dobraduras, etc.

Produtos
Cavalo de pau, barquinhos, carrinho, brinquedos de papel.
Roupas e acessórios
As roupas são bem simples e em geral estão bem sujas de terra.

Expressões corporais (danças e encenações)


Danças e Cirandas circulares;
Expressões orais;
Músicas entoadas em coro nas cantigas de roda.

Objetos importantes
Cabo de vassoura
Pneu velho, pet, lata velha, papel

Estrutura e recursos necessários


As brincadeiras são realizadas na rua.

Avaliação
A universalização dos smartphones que chegam até mesmo nestes
territórios de alta vulnerabilidade social, vem ganhando cada vez mais
tempo na agenda de brincar das crianças, dada a atratividade dos
jogos eletrônicos e o poder de sedução exercido sobre os pais, que
utilizam estes dispositivos como importante fator de distração e
controle dos filhos.
A despeito disso, a mesma ferramenta é utilizada pelos brincantes
para aprender, através de vídeos tutoriais, a produzir brinquedos de
papel, expressando sua identidade com materiais simples, mas
divertidos, que requerem movimento. As crianças de Água Preta,
mesmo utilizando novas tecnologias, têm a possibilidade de brincar na
rua, em livre expressão corporal.

Recomendações
Estímulo a projetos paisagísticos para proteção do espaço vital da
comunidade, incluindo plantio de árvores, plantas ornamentais e
alimentícias, hortas, cercas vivas e similares.

Apoio à elaboração e Fomento de projetos culturais:

Implantação de ponto de cultura (programa cultura viva) utilizando


espaço ocioso da escola.

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