Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LUGARES DA PEÇA
1
SELVA CENTRAL
3. Aldeia Ashanica
4. O universo invisivel
2
PERSONAGENS
PERSONAGENS MASCULINOS -
CAPITÃO-X2-ESPACIAL -Artur
3
SHASHINTI é outro tipo de demônio extremamente magro, qualidade que
os Kampa associam à fraqueza e a transmissão de doenças. Quando aparece
para alguém, quebra-lhe o corpo em partes, que depois reagrupa, fazendo
reviver a vítima. Ao voltar para casa, doente, lembra-se de tudo o que
ocorreu e de repente morre.
4
SINOPSE
1º ATO
No coração da Selva Central, um Cavaleiro-Espacial, o
Capitão-X-2-Espacial constrói uma cidade de Aço, a exemplo daquele
patrão, John Fredersen, que construiu a cidade do futuro, cidade das
máquinas, Metropólis no filme homônimo de Fritz Lang. Para que a
realização desse louco empreendimento, a construção de
XUPAESPACIAL, a cidade de aço, no centro da selva central, se tornasse
viável, esse Capitão-Espacial-Sinistro projetou instalar a cidade-espacial
sobre uma grande ferrovia dos índios Kampas, para que dessa ferrovia se
extraísse aço e ferro para a construção da alucinada cidade.
Desse Cavalheiro-Estrangeiro, acompanhado por seu Cavalo-Robö,
suspeitava-se ser espião-aéreo de um outro planeta ou de alguma nação
super-rica ou de um laboratório-multinacional como aquele que fez a
experiência-monstruosa com o office-boy-Durango na ópera-
contemporänea “Clara Crocodillo” de Arrigo Barnabé.
5
A cidade de ferro do Capitão X 2 espacial é asfixiante e opressora como o
subterrâneo e as máquinas pesadas e escravizantes do Metrópolis de Lang.
Escura, pesada, opressora e expressionista a cidade de Ferro do Capitão X
2 Espacial.
€€€€€
€€€€€€€€€€€
Jogando com o messianismo, interpretado pelos Ashaninka como o
"Messias" de volta, e mais especificamente, como a personalização de um
famoso espírito Amachénka (Amachegua) enviado por Pawa (o demiurgo
ashaninka), o Capitão X 2 Espacial consegue juntar sob seu controle vários
Ashaninka a quem ele retribui (gratifica com presentes – que presentes – e
espingardas Winchester) com armas. Aos Kampa se juntam os Piro e
alguns mestiços, constituindo uma "verdadeira milícia" que permite ao
Capitão controlar a produção de caucho (ou ferro na região e construir a
cidade de ferro) em uma vasta área.
O processo está engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria, montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira milícia kampa-
piro cujas qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos geográficos de
imensos territórios sabia apreciar.
Figura sanguinária do grande patrão, as aventuras desse personagem –
figura sanguinária do grande patrão - foram responsável pelas correrias
sanguinárias que marcaram a história da região. A exploração do caucho
(ferro)provocou a dizimação de muitas populações nativas. Além de usar as
rivalidades tradicionais entre os grupos, O Capitão X 2 promoveu correrias
intra-étnicas entre os Ashaninka, rompendo a proibição da guerra interna ao
grupo.
7
Cena I – CAPITÃO X2 E LADY LOVE
LADY LOVE
Que lugar Horrível é esse, Capitão X2 espacial?
Só vejo uma floresta, bichos, monstros, matos e essa gente feia e primitiva,
horrorosa, parecem orangotangos, da época da pedra lascada, sem escrita,
sem história, falando uma língua estranha e que ritos estranhos, e essas
vestes-cinzentas – roupas sem moda, sem gosto e sem estilo, e esses
artefatos esdrúxulos que dizem arte-material, e armas de guerra tão arcaicas
que desmoralizam o espetáculo do moderno, e nós estamos no ano 2100
Capitão, uma fadiga Capitão, um vömito, uma náusea, nausebunda. De
modos e cultos diferentes. O diferente me incomoda, me perturba, me
dissolve.
CAPITÃO
Isso é uma mina de ouro, querida, mina de ferro e ouro, um verdadeiro
tesouro. Terra boa, rica e diversa, madeira de lei sem lei, e tesouro,
segunda-marca-droga-midiática, segunda- marca-coca-midiática. Coração-
pulmão-selvagem do mundo
e do capital-selvagem. Eu sou o estrangeiro trazendo civilidade, trazendo
fricção interétnica, atrito-de-raças, confusão humana. Shakespeare, Freud e
Marx. Eu sou Fausto. Mefistófeles. Goeth. Moderno e Satânico. Marques
de Sade. Eu sou sádico, eu sofro tanto e desde. Prometeu inventando
bombas-contemporâneas. Eu sou o estrangeiro, trazendo conflito, projetos
de desenvolvimento, criando e destruindo alteridades radicais, tragédias,
drama-ocidental, trazendo ocidentalidade, grande-arte. Macbeth manchado
eternamente tronos de sangue e na selva das florestas e nas selvas das
cidades. Eu sou Fausto. Mefistófeles. Goeth. Moderno e Satânico. Marques
de Sade. Eu sou sádico, eu sofro tanto e desde.
8
LADY LOVE
Que falta de imaginação, Capitão. Que convite o seu, eu, uma assistente de
laboratório Espacial, aqui? É muita desmoralização, se esses selvagens nos
vêem, por certo
suspeitarão que somos espiões-aéreos de um outro planeta ou de alguma
nação super-rica ou de um laboratório-científico-multinacional, ladrões-
internacionais. Espionagem Capitão X 2. O que o senhor está pensando
Capitão?
Capitão?
CAPITÃO
Estou pensando que você é a namorada do Super-Herói. E é aqui que
construirei o meu laboratório, entre mil reservas minerais. Essa floresta é
uma mina e tu serás a rainha. Dominaremos estes povos. O Cavalo-Robô
será a nossa arma. Isso será um espaço-espacial na terra. Dominaremos
tudo: esses povos, esses rios, esta floresta-emblemática. Serei o Rei do
Eldorado. E tu serás minha rainha. Terás trinta índias como escravas para te
servirem. Sempre adorei Metrópolis o filme de Lang. Nessa floresta
hermeticamente fechada construirei uma cidade de ferro, aço, alumínio e
vidro, anticéptica e virtual. Babel ou Mahagonny. Futurista e bélica.
Moderna nos matérias e no designer e pós-modernas nas linguagens e nas
comunicações. E o meu laboratório... cheio de computadores, máquinas de
tecnologias invisíveis, controles remotos, tudo será controlado por mim,
comigo e em mim.
LADY LOVE
O senhor não me convence Capitão. E, a partir de hoje, não quero mais ser
sua namorada. Volto para meu planeta de origem, para minhas galáxias,
não quero estar aqui quando chegar o seu fim: Por que isso aqui, será o seu
fim, Capitão X2 Espacial.
CAPITÃO
então me abandonas, minha amada?
LADY LOVE
Volto pra minha galáxia, capitão.
CAPITÃO
uma mulher?
9
MULHER
eu sou uma mulher.
CAPITÃO
Como chegaste aqui?
MULHER
Meu pai morreu, trabalhava na terra, chegaram uns homens, tomaram tudo,
o expulsaram (ele). Ele lutou, mataram ele, eu saí por ai, vi a cidade de aço.
CAPITÃO
A cidade é minha Aldeia de Aço.
MULHER
Vi uma índia por aí, minha avo era uma índia velha.
A cidade é fria.
CAPITÃO
Queres ser minha rainha?
MULHER
Eu? Rainha? O que me ofereces?
(APARECE O CAVALO ROBÔ).
Que bicho é esse? Um monstro?
Capitão
É o meu cavalo.
(O CAVALO GIRA EM TORNO DELA, EM SEU DORSO UMA
GRINALDA DE FLORES DE NOIVA, A GRINALDA CAI NO CHÃO)
É presente que te dou de chegada.
(COLOCA O VÉU NA CABEÇA DELA, ELA GRITA, HISTÉRICA, CAI
PELO CHÃO ENCOLHIDA, O CAVALO FOGE).
Assustaste o meu cavalo, isto é mau.
MULHER
O que é mau aqui?
CAPITÃO
Mau é não é ter medo do cavalo.
MULHER
Eu tive
(O CAPITÃO SOME).
10
2º ATO
No rio Amônia
MENKÓRI
(o mundo das nuvens) e outras camadas que cobrem a terra e compõem o
céu
KAMAVÉNI
(o mundo terrestre),
KIVÍNTI
(o primeiro nível subterrâneo),
ŠARINKAVÉNI
(o “Inferno”),
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
DIVINDADES
PÁVÁ (PAWA
(PAWA),),
(o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas
do universo)
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI
NNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNN
KORIOŠPÍRI
MANKÓITE
11
(Na “nossa” Terra, o principal demônio é MANKÓITE, que tem sua
moradia nas ribanceiras freqüentemente encontradas ao longo dos rios em
território ashaninka.)
ŠERIPIARI (XAMÃ)
(O šeripiari (xamã) atua como mediador entre os homens e
essas diferentes camadas do cosmos. Com o auxílio do tabaco, da coca e do
kamárampi (ayahuasca), ele procura comunicar-se com os espíritos bons e
combater as forças diabólicas, mas também pode dispor seu poder a serviço
do Mal (feitiçaria).)
VESTIR KUSHMAS
KUSMA 96 OK
A kushma pode ser descrita como um vestido de algodão cru, usado tanto
por homens quanto mulheres, tingido em uma grande cabaça, numa infusão
de vegetais, incluindo urucum e que contém uma alta percentagem de
tanino. Kushma é o nome genérico dado na região a este tipo de vestimenta
usada por diversas tribos. Os Kampa a chamam de kitsárentsi. A cor da
kushma recém-tingida é de um marrom avermelhado escuro, e com o uso
vai escurecendo mais. A interação destas cores na floresta faz uma perfeita
camuflagem, principalmente se a pessoa estiver imóvel. DORMEM
DIRETAMENTE NO CHAO
Quando estão fora de suas casas dormem diretamente no chão, deixando
cabeça, mãos e pés dentro da kushma, ficando deste modo completamente
cobertos. Estas roupas de algodão grosso são uma próteçao e fet ivá contra
todos os tipos de insetos noturnos.
A produção da kushma, incluindo o t ing intento e a coleta do material, é
tarefa feminina, mas não de todas as mulheres, apenas das que a fazem
muito bem ou que conhecem bem as técnicas, e que portanto, produzem
também para outras famílias.
As mulheres fiam o algodão cru e o armazenam em carretéis. Tingem estes
útilizando corantes vegetais, como o aguano, ou com tinta de tecido da
sociedade nacional, porém suas cores não são firmes. Os fios são tecidos
transformando-se em peças de três metros de comprimento por um de
largura, com padrões de listras mais ou menos largas (cf. SEEGER &
VOGEL, 1978).
A kushma é enfeitada por colares feitos de contas silvestres que se
compõem, como cachos para as mulheres e :omo feixes de cordões em
oandoleira para os homens (cf. SEEGER & VOGEL, 1978} .
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
X
KUSMAS
12
Diferentemente da maioria dos outros grupos indígenas das terras baixas
sul-americanas, os Ashaninka sempre usaram roupas. Veste tradicional
ashaninka, a kushma constitui um elemento importante na diferenciação
étnica. Cabe notar que a palavra “kushma
“kushma”” é de origem quéchua e, embora
ela seja também usada pelos índios, os Ashaninka têm o termo
“kitharentsi”,
kitharentsi”, que é utilizado para se referir tanto à vestimenta como ao tear
e ao tecido.
Foram as filhas de Pawa, o espírito absoluto que ensinaram as mulheres
ashaninka a tecer e a fazer a vestimenta. Para os homens, o decote tem uma
forma de “V”, enquanto o das mulheres é em “U”. A roupa masculina
apresenta listas verticais coloridas, que são obtidas após o tingimento da
linha de algodão. Na kushma feminina, as linhas são horizontais. Os
motivos realizados a partir dos corantes vegetais também são diferentes. Na
túnica dos homens, eles são tecidos e representam detalhes corporais de
animais: cara de arara, rabo de bico-de-jaca, características de larvas,
pássaros, peixes... Na kushma feminina, os desenhos são pintados e
representam pássaros, larvas, peixes e, sobretudo, onças e cobras... Depois
de um certo tempo de uso, ambas as vestimentas são tingidas com casca de
mogno e lama, o que lhes dá uma cor marrom/preta. A diferença mais
significativa entre as duas kushma é que a túnica do homem ainda é
realizada tradicionalmente com o algodão (ãpe (ãpe)) tecido no tear, enquanto as
mulheres usam tecido industrializado.
2º ATO
Cansada dos trabalho-escravo infinito, varrer os lixos-nucleares-
diários da cidade-aço, a Mulher-trazida-pelo-tempo consegue dar uma
discreta escapada e caminha na floresta no limite da cidade.
Embaixo de uma árvore-miúda, ensaia um descanso. Fica lá até que a
tarde se recuse, quando a noite já-anuncia sua entrada escura. Nessa
semi-vigília, ela vê ao longe, no entremeio das árvores, uma sombra. A
sombra do cavalo. Ou algum fantasma da floresta. A sombra se
apresenta. “Sou a Índia na Sombra” Dialogam, a velha é um
fantasma-indígena,
viveu e morreu há 300 anos. Teve muitos filhos que lutaram,
uns morreram na guerra defendendo a raça, outro tiveram feitos
heróicos, defendendo sua nação-indígena, enfim os fantasmas da
família carregam um mix de tragédia-étnica e passado-heróico. O
fantasma-da-velha fala de um tempo-iluminado, uma idade-dourada, o
paraíso era o Cerro de la sal. Viviam lá soberanos comerciantes
absolutos do sal em toda a Selva-Central-Amazönica. Essa conversa
entusiasmada entre as duas mulheres lembrando aquele tempo idílico
faz chover sal naquele trecho da floresta. A floresta mesmo a nmoite
13
fica meio iluminada pelos reflexos da chuva de sal e é invadida por
fastasma-indígenas, filhos, maridos, sobrinhos, netas, genros, filhas,
irmãs, irmãos da velha, todos eles fantasmas da selva-indígena, (cena
virtual dos fantasmas-ashaninca e o herói Juan Ataulpa) os fantasmas
se apaguem somem, sõ o fantasma da índia velha permanece e o
diálogo entre as duas-formas-femeninas. O fantasma da velha
apresenta o Xamã Samuel a Mulher.
prossegue, VESTEM UMA KUSMA NA MULHER, emplicam-lhes os
significados profundos e religiosos das kusmas, a kusma marca o clã,
identifica a tribo. Rola um discurso de tecelagem e alta costura, tecido,
tingimento e estilo ashaninka – “Para os homens, o decote tem uma forma
de “V”, enquanto o das mulheres é em “U”. A roupa masculina apresenta
listas verticais coloridas, que são obtidas após o tingimento da linha de
algodão. Na kushma feminina, as linhas são horizontais. Os motivos
realizados a partir dos corantes vegetais também são diferentes.
a velha poetiza o discurso –
Foram as filhas de Pawa, o espírito absoluto dos Kampas, que ensinaram
as mulheres ashaninka a tecer e a fazer a vestimenta. é preciso vestir
kusmas –
os ashaninkas marcam uma diferencia da maioria dos outros grupos
indígenas das terras baixas sul-americanas que sempre andam nus, ou quase
nus, os ashaninkas pelo contrario sempre usam e usaram roupas,
KUSHMAS, os Ashaninka sempre usaram roupas. Sempre vestiram
kushma.Veste tradicional ashaninka, a kushma marca o ashaninca, define
esse povo, elemento importante na diferenciação étnica. Esse ato de vestir
a kusma na mulher é ceremonioso e cheio de significados.
A roupa masculina apresenta listas verticais coloridas, que são obtidas após
o tingimento da linha de algodão. Na kushma feminina, as linhas são
horizontais. Na túnica dos homens, eles são tecidos e representam detalhes
corporais de animais: cara de arara, rabo de bico-de-jaca, características de
larvas, pássaros, peixes... Na kushma feminina, os desenhos são pintados e
representam pássaros, larvas, peixes e, sobretudo, onças e cobras... Depois
de um certo tempo de uso, ambas as vestimentas são tingidas com casca de
mogno e lama, o que lhes dá uma cor marrom/preta.
====[[[[]]]´´
€€€[[[[]]]´´
Iniciam o uma sessão de tatuagem, tatuam o corpo da mulher
imaginária.
com agulha e espinhos de palmeira; usam fuligem para colorir. A face
inerna do antebraço e o rosto só os lugares preferidos para as tatuagens, que
representam desenhos abstratos, traços, pontos e setas, cujo sentido, de
acordo com seria apenas estético.
14
Escurecem os dentes dela com uma substância negra
A pintura com urucum é muito comum entre estes índios. Misturando o
urucum com gordura animal ele é aplicado à face em padrões especiais. A
pintura vermelha é uma proteção contra maus espíritos e pode ser
complementada com pontos azuis. O xamã discursa sobre a psicologia das
pinturas-corporais e das maquiagens-ashaninka.
O Kampa indica seus sentimentos através da pintura com o urucum,
pintando o que ele chama de "linhas de alegria", "linhas de tristeza" e
"linhas de cólera". Este costume é importante no encontro de estranhos, que
de antemão já sabem a reação de seus interlocutores. O capitão se
realmente é um bom captador vai entender as linguagem das minhas
mensagem-secretas
Onde estou em vigília ou em sonho acordada ou dormindo, a imagem
do cavalo-robo esta sempre presente na minha memória e no meus
glóbulos-oculares e o super-ego do Capitão me obsorvendo sempre
numa perseguição-informática.
a atmosfera da 1º Cena faz lembrar o primeiro sonho – a sinfonia das
raposas -do grande filme-onírico de Akira Kurossawa
vestem uma k
ÍNDIA
Sou a índia na sombra.
MULHER
India, minha avó era uma índia velha.
Os caçadores de índios mataram minha avó.
INDIA
Eles estão soltos por ai.
15
"Meu pai Juamiano era amigo dos caucheros, mas meu padrasto, com quem
eu vivia, não. Havia Italiano, que dirigia o posto cauchero da foz do
Timpia, no final do caminho de Lambari e descendo um pouco o rio na
outra margem vivia Aladino, que tinha uma aldeia tão grande quanto a de
Iromano (Romano), seus dois filhos. Aladino só tinha três mulheres, mas
íromano tinha vinte, sem contar as concubinas [...] Iromano linha pegado
toda a gente do Camisea, depois foi para o Ticumpinea e, no caminho,
saqueava todos os que encontrava [...] Então veio para o Picha [...] Todos
os do baixo e médio Picha [...] ele os pegou e vendeu a maior parte deles
[...] e eu, bem pequeno, o chamava de pai [...] Havia Venacio (Venancio)
que trabalhava no caucho em Sepahua, Amico, Peco, Pinango, mas isso foi
há muito tempo e só sei o que me contou minha mãe [...] e Isere, um grande
chete morto porque era contra as correrias. Havia Pensahkiri, um
Ashaninga que trabalhava para Colombiano, o pior de todos, esse
Colombiano. Matava até as mulheres [...] e todos os que resistiam [...] Uma
vez ele matou dez Matsiguenga sem mais nem menos, para dar o exemplo,
para amedrontar os outros." (Shirongama, 67 anos em 1978, que participou
de algumas correrias dos anos 1935-45.)
16
TATUAGEM
Muitos usam tatuagens, estas são feitas com agulha e espinhos de palmeira;
usam fuligem para colorir. A face nterna do antebraço e o rosto ao os
lugares preferidos para
as tatuagens, que representam desenhos abstratos, traços, pontos e setas,
cujo sentido, de acordo com Seeger e Vogeí (1978) seria apenas estético.
Escurecem os dentes com um substância negra (cf. STEWÀRD &
MÉTRAUX, 1948).
A pintura com urucum é muito comum entre estes índios. Misturando o
urucum com gordura animal (cf. CRAIG, 1967) ele é aplicado à face em
padrões especiais. A pintura vermelha é uma proteçâo contra maus espíritos
e pode ser complementada com pontos azuis (cf. WINKLER, 1978) .
O Kampa indica seus sentimentos através da pintura com o urucum,
pintando o que ele chama de "linhas de alegria", "linhas de tristeza" e
"linhas de cólera". Este costume é importante no encontro de estranhos, que
de antemão já sabem a reação de seus interlocutores (cf. CRÀIG, 1967;
WINKLER, 1978).
Os Machiguenga normalmente pintam também os seus animais domésticos.
São espíritos mortos de pajés avós. Toma esse chá de cipó da terra dos
sonhos. Converse com os pajés.
(ela toma a bebida, na conversa, os pajés pintam, o corpo dela) (texto sobre
os deuses que vivem no primeiro patamar)
CHEFE-XAMA-SAMUEL
Essas tintas vão te proteger, (não tem pinturas corporais, pode ser uma
tatuagem ou vestir uma kushma) do fogo do Cavalo-Robô. Ele suga o
sangue dos índios. Um dia vais lutar com o Cavalo e derrubar o dono da
Aldeia de Aço.
MULHER
Por que eu?
Acabo de chegar nessa cidade.
PAWA
17
Fostes eleita, escolhida. Agora vamos dormir nosso sono no fundo do rio.
Se precisares, chama por nós, que viremos. Vai, teu dono te chama. (ela se
veste).
veste).
€€€€€€€€€€€€€€€€
PAVA ACOMPANHADO DOS TASÓRENSCI (BONS ESPIRITOS)
Pajés avós
essas tintas vão proteger, (não tem pinturas corporais, pode ser uma
tatuagem ou vestir uma kushma) do fogo do cavalo robô. Ele suga o sangue
dos índios. Um dia vais lutar com o cavalo e derrubar o dono da Aldeia de
Aço.
MULHER
Por que eu?
Acabo de chegar nessa cidade.
CAPITÃO
Vem varrer as ruas da cidade. Estão cheias de folhas de lixos.
MULHER
Aprendi isso desde criança. Varria o chão de casa, dava comida pros
passarinhos. Que vida essa minha. Se ao menos o vento me chamasse pra
outro lugar.
(O CAVALO APARECE DE UM LADO E A MORTE DO OUTRO).
ÍNDIA
Não sei
CAPITÃO
Não tens medo do cavalo-Robô?
ÍNDIA
Tenho, tenho muito medo.
CAPITÃO
Que tens na cuia?
ÍNDIA
São chás-da-terra-dos-sonhos, são meus sonhos.
CAPITÃO
a cidade ficou bonita, grande, forte.
ÍNDIA
Milhares de ashanincas morreram na construção da cidade de ferro. meus
filhos morreram do trabalho, por que não ordenas que me matem também.
CAPITÃO
sabes fazer comidas, bijus, carne moqueada.
3º ATO
VISÕES
MULHER
O rio é no fim da curva, no começo da cidade.
ÍNDIO
O cavalo robô queimou os meus olhos. Vejo um buraco grande e fundo, me
atiro no rio.
MULHER
Te levo com a índia na sombra, ela te faz um remédio.
20
É aqui te joga ao alto, já te empurram, estou pra te ensinar o ultimo
caminho, chegaste, te empurram, eu estou aqui. Vai, cai no buraco fundo.
CHEFE SAMUEL(CURACA)
21
€€€€€€€€€€€€€
Os Kampa são polígamos. Quatro é o maior número encontrado de esposas,
mas, ao que parece, este número pode ser excedido em raras ocasiões. O
grande número de esposas impõe ao marido um considerável esforço físico
e económico; obriga-o a estar constantemente viajando. Para Craig, o
grande número de esposas poderia explicar a separação das casas. Esta
separação daria ao marido a certeza de suas esposas não serem roubadas,
em sua ausência, por um vizinho menos afortunado.
€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$
CHEFE CURACA
ÍNDIA
o índio das trevas e do escuro, de desgosto se jogou no rio. Era um
guerreiro forte, um herói.
LIBERDADE E LUTA
MULHER
de onde vens, meu cavalheiro?
HOMEM
do reino (de
(de la sal)da
sal)da pedra dourada.
MULHER
tens um reino?
HOMEM
Tenho. Sou o homem das pedras de sal do amor. Meu reino é cheio de
pedras preciosas, (o reino mítico do Sal, Serro de la Sal) no fundo do rio.
rio.
Mas sou da guerra mortal, pela liberdade de minha naçao Kampa, fui, sou,
mítico.
mítico.
MULHER
Trazes uma para mim?
HOMEM
Trago. Trago pedras de diamantes. Em troca, te peço em casamento.
MULHER
Não posso.
HOMEM
não podes?
23
MULHER
tenho um dono, que me prende, que me guarda, me dilacera.
HOMEM
foges comigo para um lugar imaginário, um patamar invisível.
MULHER
Ele tem um cavalo. O cavalo tem uma cabeça de robô. Olhos de holofotes.
Cavalo-Robo-de-Metropolis-Xupaespacial. Holofotes que são rajadas de
fogo, que penetram no corpo, e tomam todo o sangue. São vampiros do dia
todo. Meu corpo é tatuado, essas tatuagens-ashaninkas fecham o meu
corpo, protegem a minha carne. Vermelhas de urucun e completada com
pontos azuis, essas tatuagens me protegem contra os maus espíritos e os
efeitos-radioativos-do-Cavalo. Essas pinturas-xamanicas me defendem do
Cavalo.
CAPITÃO
lava teu corpo destas pinturas.
MULHER
foram os pajés avós que tisnaram em mim, água nenhuma da terra tira elas
de mim.
24
HOMEM
levo você daqui.
MULHER
o cavalo ouve vem e te castiga.
HOMEM
sou o homem das pedras do amor.
MULHER
não tem lugar para o amor aqui. Olha as árvores, estão morrendo. Esse ano,
a enchente veio grande. Isso aqui foi um dia uma aldeia de palha.
ÍNDIA
faz muito tempo.
MULHER
a índia na sombra chegou como os filhos. Eram treze filhos. Desceram as
cordilheiras, rios, cachoeiras, a mercê da ameaças. Ocupam uma terra,
fizeram uma aldeia.
ÍNDIA
trouxemos um canto, uma história, um trabalho, uma poesia. No final do
dia, eu, meus filhos, minhas noras, meus netos, íamos ver a lua sair.
Tomamos chá de cipó da terra dos sonhos, e sonhávamos com tudo, com
nossos avós mortos, tínhamos medo das almas e éramos felizes. Mas um
dia, veio o dono da aldeia de aço, acompanhado do cavalo dele. Jogava
raios de luz em rajadas, que explodiam. E incendiavam nossa aldeia de
palha. Depois obrigou os meus filhos a construírem a aldeia de aço. Meus
filhos trabalhavam que nem escravos. Adoeciam de febre, morriam, mas
construíram.
MULHER
o cavalo te persegue.
HOMEM
fica com essa pedra, pra te lembrares de mim.
ÍNDIA
25
o que fazes a olhar essa pedra? Parece que o sonho te levou para outro
lugar.
MULHER
foi um vento que passou por aqui, bateu em mim, me encantou toda, me
deixou assim. Foi ventar pra outros lados, pro outro lado do rio, pro outro
lado do mundo.
ÍNDIA
Porque o vento não te levou? Não te fez um convite?
MULHER
Fez. O vento que passou por aqui me convidou. Mas tem essa corrente que
me prende o pé. Quando ele falou comigo, fiquei sorrindo, me sentir
menina. São tempos que lá se vão, me deixou sonhando na mão.
ÍNDIA
O amor é assim, vem com o vento, se assusta com o trovão. O amor quer
espaço no ar, pra voar com os pássaros, as nuvens, os ventos.
3º Ato
QUADRILHA
MULHER
Eu tinha uma pedra pintada, presente da minha madrinha. Eu era menina,
me levaram a pedrinha. Eu tinha uma pedra preciosa, presente do meu
amor. Me levaram a pedra. A pedra. A pedra era um esplendor. Eu tinha, eu
tinha, eu tinha, mas levaram, levaram, levaram.
SEQÜÊNCIA III
WESTERN AMAZÔNICO
Ora, essa paz interna que Izaguirre data da época de Juan Santos Atahualpa
e, só!) o seu impulso, da guerra dos dez anos (1742-52) travada pêlos
Kampa com o auxílio dos Pano e que derrubou — western amazô-nico—
todos os fortes avançados (missões franciscanas fortificadas) e postos de
fronteira
fronteira defendidos pelo exército peruano, essa paz interna parece ser mais
26
antiga a julgar pêlos mitos, relato épico das guerras com o Império
Império Inca ou
das entradas. Vimos que essa paz interna certamente se consolidou no
tempo dos Incas, esboçada provavelmente desde Huari e a época seguinte,
aucarana, de guerras
guerras entre feudos andinos rivais. Essa não agressão kampa
é apenas confundida pêlos primeiros testemunhos pela assimilação de seus
raros defensores kampa cristianizados ao inundo
inundo branco e, portanto, como
eles atacados, como
como eles mortos ou expulsos.
REBELIÃO
REBELIÃO DOS NEÓFITOS
O DESEJO DE METAL
UNIVERSO INVISÍVEL
UNIVERSO INVISÍVEL
MENKÓRI
(o mundo das nuvens) e outras camadas que cobrem a terra e compõem o
céu
KAMAVÉNI
(o mundo terrestre),
KIVÍNTI
(o primeiro nível subterrâneo),
ŠARINKAVÉNI
(o “Inferno”),
COSMOLOGIA
27
Entre os Ashaninka, encontramos as CARACTERÍSTICAS que definem os
SISTEMAS COSMOLÓGICOS XAMÂNICOS presentes nas terras baixas
da Amazônia:
OBS.
(essas falas dos xamãs e de humanos ashanincas, de Pawa e do Coro-de-
bons-espíritos, de demônios, sobre: os quatro níveis, bons espíritos,
demönios e espiritualidade ashaninka; ocorrem numa sessão de ayauasca.)
DUALIDADE BEM-MAL
Talvez a particularidade Ashaninka resida na sua concepção extremamente
dualista do universo, definindo claramente as fronteiras entre o Bem e o
Mal.
ESQUEMA
4 MUNDOS – HABITANTES DOS QUATRO MUNDOS –
XAMÃ - AYAUASCA
Šarinkavéni (o “Inferno”),
28
Menkóri (o mundo das nuvens) e outras camadas que cobrem a terra e
compõem o céu.
Embaixo de Kamavéni,
Kamavéni, (a terra) existem dois níveis:
29
desempenhado por cada um deles, suas diversas manifestações e suas
relações com os Ashaninka.
OS DEMONIOS
Os espíritos do Mal e os demônios, chamados genericamente Kamári,
Kamári,
habitam o nível mais inferior, onde vivem sob a autoridade suprema de
Koriošpíri.
Koriošpíri. Mas esses espíritos maléficos não residem apenas em
Šarinkavéni. Embora essa primeira camada da hierarquia apresente a maior
concentração desses seres e abrigue os mais poderosos entre eles, os
espíritos nefastos também se encontram, em vários lugares, no mundo
habitado pelos homens. Na “nossa” Terra, o principal demônio é Mankóite,
que tem sua moradia nas ribanceiras freqüentemente encontradas ao longo
dos rios em território ashaninka. Ele se caracteriza por uma forma humana,
mas geralmente permanece invisível. Um encontro com ele anuncia a
morte. É interessante notar que, segundo Weiss, o Mankóite vive de
maneira semelhante ao branco: suas casas têm os mesmos objetos, possuem
mercadorias etc.
OS RITUAIS 1 -KAMARÃPI
-KAMARÃPI 2 - PIYARENTSI
XAMAS
ACRE
30
o besouro pitiro pulverizado é usado contra a anemia.
APRENDIZAGEM DO XAMÃ
O xamã Kampa passa por um período de aprendizagem. Durante este
período, e mesmo depois, obtém, mantém e aumenta seus poderes, através
do consumo contínuo de drogas: basicamente o tabaco na forma de um
xarope concentrado a AYAHUASCA.
TABACO
O tabaco não é um alucinógeno, mas em doses maciças é um tóxico
poderoso. Tanto que se acredita que seja a fonte de poder do xamã,
permitindo-lhe ver os espíritos e comunicar-se com eles, ao curar e
diagnosticar a doença. Ao que parece, é o tabaco que mantém o poder dos
espíritos junto ao xamã.
31
AYAHUASCA
A ayahuasca é um alucinógeno que o põe em comunicação direta com o
mundo dos espíritos, de modo que estes o visitam, ou sua alma deixa seu
corpo e visita-os em lugares distantes.
PLANTAS SAGRADAS
Há também o uso de diversas plantas sagradas; cada espécie de planta está
associada com um grupo específico de bons espíritos.
€€€€€€€€€€€€€€
O ŠERIPIARI (XAMÃ)
atua como mediador entre os homens e essas diferentes camadas do
cosmos. Com o auxílio do tabaco, da coca e do kamárampi (ayahuasca), ele
procura comunicar-se com os espíritos bons e combater as forças
diabólicas, mas também pode dispor seu poder a serviço do Mal (feitiçaria).
€€€€€€€€
APRENDIZADO XAMANICO
As respostas a todas as perguntas dos homens estão acessíveis com o
aprendizado xamânico, que é realizado através do consumo regular e
repetitivo da bebida, durante anos. A formação do xamã (sheripiari)
(sheripiari),, no
entanto, nunca pode ser considerada como concluída. Se a experiência lhe
confere respeito e credibilidade, ele está sempre aprendendo.
QUANTOS BEBEM.
Um Ashaninka pode consumir o chá sozinho, em família ou convidar um
grupo de amigos, mas, geralmente, as reuniões são constituídas de grupos
pequenos (cinco ou seis pessoas).
SILENCIO E RESPEITO
O kamarãpi se caracteriza pelo respeito e silêncio.
CANTOS A CAPELA
A comunicação entre os participantes é mínima e apenas os cantos,
inspirados pela bebida, vêm romper o silêncio da noite. Esses cantos
sagrados do kamarãpi não são acompanhados por nenhum instrumento
musical.
ISA
APRENDIZADO XAMANICO
As respostas a todas as perguntas dos homens estão acessíveis com o
aprendizado xamânico, que é realizado através do consumo regular e
repetitivo da bebida, durante anos. A formação do xamã (sheripiari)
(sheripiari),, no
33
entanto, nunca pode ser considerada como concluída. Se a experiência lhe
confere respeito e credibilidade, ele está sempre aprendendo.
AYAHUASCA
A ayahuasca é um alucinógeno que o põe em comunicação direta com o
mundo dos espíritos, de modo que estes o visitam, ou sua alma deixa seu
corpo e visita-os em lugares distantes.
€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€
Nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
n
AYAUASKA
kamárampi
em língua Kampa,
linguagem awhaninka.
Na língua Kampa AYAUASKA
é chamada kamárampi.
A quantidade necessária da droga,
a ser usada na cerimônia
na forma de um xarope espesso,
é preparada com antecedência.
O fazer com antecedência sacraliza o vömito
Vomitei vomitar
Ayahuasca kamarampi no verbo kampa
34
derivada do verbo kamarank, vomitar.
bebida é kamarãpi (vômito, vomitar)
o rito é kamarãpi (vômito, vomitar).
A cerimônia é sempre realizada à noite
e pode se prolongar até o fim da madrugada,
enquanto o escuro da noite perdure
para que os efeitos do drogg
sejam realçados,
efeitos visuais de drogas-vegetais
ou de máquinas
aumentam sua definição
no mistério do escuro
num tempo cinzento.
Quando a luz se ameaça
no encerrar da madrugada
o vomito da ayausca se encerra
até que advenha
o escuro da noite seguinte,
para o esplendor
das imagens visuais
do torpor-vomito
da ayauasca-delírio.
PAVA
Resido no nível-primeirissimo, no superlativo. No altíssimo.
Cercado por meus sacerdotes....
Só apareço no segundo nível através do vomito-drogado do xamã em
ayausca. Xarope expesso que dá o vomito, o narcose e o deus. O adeus ao
deus, o aceno do vomito, a linguagem-vomitada de deus, eu pava. Sõ
converso contigo se vomitas meu súdito humano.
Vomita já, agora, senão, não apareço, vomita que apareço.
O xamã vomita ayauasca.
Já vomitei, meu deus, deus Pawa, deus meu. já vomitei.
Vomita mais, vai, vai mais, vomita mais.
Vomita outra vez e outra e outra para que o escuro afirme a nitidez das
imagens visuais da vomitada do humano,
Para que no escuro da serpenteada no noite o universo, os 4 níveis do
universo mergulhem no vomito do xarope do alucino.
Vomitamos o que.
€€€€€€€€€€€€€€€€€
BONS ESPÍRITOS
PÁVÁ (PAWA),
(o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas do universo)
36
No céu, ou mais especificamente, em cima (henóki), vivem os bons
espíritos. Essa categoria é chamada de amacénka e também ašanínka, ou
seja, é tomada como extensão da própria autodenominação do povo.
Esses espíritos são hierarquizados conforme o poder que lhes é atribuído e
sua importância na cosmologia. Os mais poderosos são denominados
Tasórenci e são considerados como verdadeiros deuses. Os Tasórenci têm
o poder de transformar tudo através do sopro e formam o panteão
ashaninka que criou e governa o universo. No topo dessa hierarquia está
Pává (Pawa), o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas do
universo. Geralmente invisíveis aos olhos humanos, alguns Tasórenci
podem, no entanto, aparecer na Terra revestindo-se de forma humana.
€€€€€€€€
ACRE
Os BONS ESPÍRITOS são frequentemente CHAMADOS DE
37
ESPÍRITOS-ESCRELAS-VISIVEIS-NO-CEU-Á-NOITE
Muitos desses bons espíritos, divindades, são estrelas visíveis no céu à
noite. Por exemplo, Antares, a estrela vermelha da constelação de
Escorpião, é Kikákiri, uma divindade mitológica, um bom espírito.
Os Kampa reconhecem vários astros como divindades. Por exemplo: a lua,
Kaxiri, uma divindade masculina, pai do sol. O sol, Pava, é a divindade
máxima dos Kampa.
FORMA-HUMANA
Em sua verdadeira forma, eles, como já foi dito, são humanos,
GENERO
Assim como os mortais, estes bons espíritos são homens e mulheres, apesar
de que seus órgãos genitais são diminutos,
COMO SE REPRODUZEM
pois se reproduzem de outra forma, sem necessidade da união sexual. Eles
nascem e em uma única lunação já se encontram em sua forma adulta.
ESPÍRITOS PASSAROS
Os Kampa identificam muitos pássaros como sendo manifestações
materiais de bons espíritos, mandados por seres que vivem no estrato
celeste, especialmente os de forma mais bonita e de mais bela plumagem.
Geralmente, ao falar desses pássaros sagrados, referem-se a eles como
homipava, filhos do sol. Acreditam que estes bons espíritos, quando
querem podem materializar uma forma visível aos olhos humanos para dar
instruções a um grupo de Kampa. Outros pássaros são vistos como sendo
mandados por bons espíritos que moram nas montanhas. Entre estes se
incluem o tucano e o beija-flor. Além de animais como o quati e o porco do
mato.
38
entre o céu e a terra. Os xamãs dizem que, quando os etsóni estão voando
em círculo, estão tocando flauta de pã e dançando.
€€€€€€€€€€€
INFERNO
O nível subterrâneo é associado à morte e aos espíritos do mal: kamari.
kamari. Os
índios pouco falam sobre esse mundo onde moram pessoas estranhas,
algumas com um modo de vida semelhante ao do branco (casas, carros...) e
que conseguem respirar na água. Os Ashaninka afirmaram que nenhum
deles vive lá e que não gostam de pensar nesse lugar perigoso porque
poderiam acordar os espíritos maléficos e chamá-los para o nosso mundo.
Todos eles afirmam, no entanto, que essa camada existe e situa-se
“embaixo” (isawiki
(isawiki)) da nossa Terra.
Embora esse mundo esteja associado à morte e tenha sido qualificado por
alguns como o “Inferno”, ele não é sempre apresentado como tal.
GEOGRAFIA DO INFERNO
Lá existe um “grande buraco com água fervendo numa grande panela”. O
dono desse lugar é Totõtsi,
Totõtsi, cuja principal tarefa é cozinhar os Ashaninka
pecadores. A presença do “Inferno” em cima também se encontra em
outros relatos, enquanto alguns informantes acreditam que esse lugar esteja
situado debaixo da Terra.
O CÉU E PAWA
Como no caso exposto por Weiss, os Ashaninka do rio Amônia apresentam
o céu como composto de várias camadas. No topo, em inkite,
inkite, encontra-se
Pawa,
Pawa, o Deus todo poderoso. Na camada imediatamente inferior, estão os
Tasorentsi, que são vistos com características divinas: “eles são como um
Deus, pegam qualquer coisa, sopram e transformam em outra coisa”. Num
39
nível abaixo deles, sempre em henoki,
henoki, encontram-se outros espíritos bons
que, como os Tasorentsi,
Tasorentsi, são os “verdadeiros filhos de Deus”. Segundo
alguns informantes, essa camada do céu é chamada Pitsitsiroyki.
Pitsitsiroyki. É onde
Pawa seleciona entre os Ashaninka aqueles que reconhece como filhos.
Segundo os Ashaninka do rio Amônia, esses “espíritos bons” que vivem
em henoki podem todos ser considerados como itome Pawa (filhos de
Pawa)
Pawa) e são chamados amatxenka ou asheninka.
asheninka.
Para os Ashaninka do rio Amônia, Pawa é apresentado como o Deus
criador de todo o universo. Às vezes, os Ashaninka se referem a ele como
Paapa (pai). Direta ou indiretamente apoiado pelos seus filhos, ele criou a
Terra, a floresta, os rios, os animais, os homens, o céu, as estrelas, o vento,
a chuva... Na mitologia nativa, muitas dessas criações são, na realidade,
transformações de pessoas ashaninka, filhos de Pawa,
Pawa, em outra coisa e
foram realizadas através do sopro. Assim, nos tempos da criação do
mundo, os animais, as plantas, os astros ou certos lugares ou fenômenos
tinham uma aparência humana e eram, de uma maneira geral, filhos de
Pawa. Em função do comportamento desses primeiros Ashaninka na Terra,
o Deus e/ou os Tasorentsi transformaram-nos em outra coisa, ruim ou boa.
€€€€€€€€€€€€€€€€€€€
Quando o xamã canta, na realidade está repetindo o canto dos espíritos.
Estes se comunicam com os expectadores através do xamã.
40
5) Depois da noite cair inteiramente, Samuel estendeu uma linha de esteiras
no terreiro, preparou um braseiro e pôs a panela de bebida no chão, em
frente à sua esteira. Todos tomaram assento. Fomos advertidos de que
durante o ritual não se falava nem se acendiam fósforos.
6) [sic] Com todos sentados, de costas para uma lua cheia que despontava,
Samuel distribuiu a primeira rodada de cuias, depois de ter bebido a sua.
Passaram-se cerca de dez ou quinze minutos em absoluto silêncio, quando,
então, Samuel começou a cantar. Aos poucos, os demais entraram,
contraponteando o canto de Samuel.
QUANTOS BEBEM.
Um Ashaninka pode consumir o chá sozinho, em família ou convidar um
grupo de amigos, mas, geralmente, as reuniões são constituídas de grupos
pequenos (cinco ou seis pessoas).
SILENCIO E RESPEITO
O kamarãpi se caracteriza pelo respeito e silêncio.
CANTOS A CAPELA
A comunicação entre os participantes é mínima e apenas os cantos,
inspirados pela bebida, vêm romper o silêncio da noite. Esses cantos
sagrados do kamarãpi não são acompanhados por nenhum instrumento
musical.
APRENDIZADO XAMANICO
41
As respostas a todas as perguntas dos homens estão acessíveis com o
aprendizado xamânico, que é realizado através do consumo regular e
repetitivo da bebida, durante anos. A formação do xamã (sheripiari)
(sheripiari),, no
entanto, nunca pode ser considerada como concluída. Se a experiência lhe
confere respeito e credibilidade, ele está sempre aprendendo.
€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€
PIYARENTSI
O PIYARENTSI, por sua vez, possui uma dimensão mais marcadamente
festiva, mas também possui dimensões econômicas, políticas e religiosas.
O ritual constitui o principal modo de sociabilidade e de interação social
entre os grupos familiares. Nos piyarentsi discute-se de tudo: casamentos,
brigas, caçadas, problemas com os brancos, projetos etc.
42
reuniu seus filhos, embebedou-os e realizou as grandes transformações
antes de deixar a Terra e subir ao céu (Mendes 1991: 108).
Hoje, se as assembléias comunitárias aparecem como novos rituais gerados
pela situação de contato, é ainda no piyarentsi que se fortalece tanto a
política interna como externa. Além de conversarem sobre os assuntos do
cotidiano da comunidade, no piyarentsi os Ashaninka discutem os projetos
e é também aí que tentam conscientizar os parentes recém-chegados do
Peru, explicando com orgulho a história da comunidade e sua organização.
€€€€€€€€€€€€€€
CERRO DE LA SAL
€€€€€€€€€€€€€€
SAL - TSIWI
Nesse sistema comercial e guerreiro, os Ashaninka e, de uma maneira
geral, os Aruak sub-andinos, ocupavam um lugar de destaque. Sua situação
privilegiada resultava não só de sua localização estratégica entre as terras
altas e os grupos Pano – que lhes permitia ativar a mobilização dos "povos
da floresta" quando a ameaça Inca ou branca se intensificava –, mas
também do controle da produção do principal produto envolvido no
comércio amazônico: O SAL, chamado TSIWI entre os Ashaninka do rio
Amônia.
O SABOR DO SAL
Para os "povos da floresta", o SAL era um produto altamente cobiçado pelo
sabor que dava à comida e por ser o meio de conservação de alimentos no
clima quente e úmido das terras baixas.
44
Situadas nas proximidades do rio Perene, em território ashaninka, as minas
das colinas do Cerro de la Sal constituíam tanto a principal fonte de
abastecimento para os povos amazônicos, como o centro político,
econômico e espiritual dos Aruak sub-andinos. Enquanto seu padrão de
assentamento tradicional é disperso, nas proximidades do Cerro de la Sal
estabeleceu-se uma concentração maior de diferentes grupos Amuesha,
Matsiguenga, Nomatsiguenga e, sobretudo, Ashaninka.
Nesse cenário, os Anti impediram durante séculos a penetração em massa
do não-amazônico em suas terras, mantendo a fronteira entre as terras altas
e as terras baixas relativamente estável.
€€€€€
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
CAPITAO X 2 ESPACIAL E FITZCARRALDO
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Os Kampa de Fitzcarraldo foram lançados contra outros Kampa; essa
"nação" que tinha perdido o ferro, o sal e o controle do comércio
interamazônico se via diante da derrocada
derrocada de suas bases sociais e culturais:
a lei que regia as relações dos Ashaninca entre si foi desprezada. Alguns
Kampa, enlouquecidos, se apossavam das armas de outros Kampa vendidos
vendidos
como escravos. Contra eles só havia duas coisas a fazer: a morte ou o exílio
voluntário para escapar dela, enquanto a memória de seus nomes, de seus
atos, contraposta à de antigos
antigos nomes gloriosos, deveria permitir o retorno
retorno a
certas tradições e, fomentando sua reunião,
reunião, promover o renascimento
48
kampa. Atualmente, já saíram de seu isolamento local os sobreviventes dos
que participaram das correrias
correrias pós-borracha (1920-50). Reinseridos no
tecido social eles contam, como se falassem de um momento
incompreensível de si mesmos,
mesmos, sua loucura de antanho, gerada pela de seus
pais.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXX
FITZCARRALDO – CAPITAO X 2
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Pouco a pouco a colonização se apossa do Cerro de Ia Sal, empurrando os
Kampa para o Gran Pajonal. Foi nessa região que Fitzcarraldo, acusado de
espionagem para o Chile (1880), condenado à morte e salvo in extremis,
refugiou-se durante algum tempo. Jogando com o messianismo, dizendo
que levaria os Kampa para junto do famoso Amachegua, ele consegue
atrair um grupo inteiro que gratifica
gratifica com presentes e espingardas
Winchester. O processo está engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria, montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira milícia kampa-
piro cujas qualidades
qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos
conhecimentos geográficos de
imensos territórios sabia apreciar. Foram eles, afinal, que o fizeram des-des -
cobrir o varadero chamado istmo de Fitzcarraldo, que lhe permitiu fazer
carregar barcos do Ucayali ao Madre de Diós, e no qual projetava instalar
uma ferrovia quando morreu prematuramente.
prematuramente.
Mas os impérios dos caucheros esgotavam depressa demais suas reservas
humanas; calcula-se
calcula-se que 40 mil Witolo foram extermina-dos entre 1900 e
1910 no Putumayo. As incessantes
incessantes correrias com seu assustador desperdí-
desperdí-
cio de vidas humanas subiam cada vez mais os rios para compensar as
carnificinas ao norte
norte e a leste, no Madre de Diós e na região do Acre;
exatamente onde Suarez, acusado de inúmeros crimes sem jamais ter sido
processado, daria refúgio e "trabalho" a Macedo e Meaacho, fugindo de
pesadas penas pelo caso
caso do Putumayo.
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Os Kampa de Fitzcarraldo foram lançados contra outros Kampa; essa
"nação" que tinha perdido o ferro, o sal e o controle do comércio
interamazônico se via diante da derrocada
derrocada de suas bases sociais e culturais:
a lei que regia as relações dos Ashaninca entre si foi desprezada. Alguns
Kampa, enlouquecidos, se apossavam das armas de outros Kampa vendidosvendidos
como escravos. Contra eles só havia duas coisas a fazer: a morte ou o exílio
voluntário para escapar dela, enquanto a memória de seus nomes, de seus
50
atos, contraposta à de antigos
antigos nomes gloriosos, deveria permitir o retorno
retorno a
certas tradições e, fomentando sua reunião,
reunião, promover o renascimento
kampa. Atualmente, já saíram de seu isolamento local os sobreviventes dos
que participaram das correrias
correrias pós-borracha (1920-50). Reinseridos no
tecido social eles contam, como se falassem de um momento
incompreensível de si mesmos,
mesmos, sua loucura de antanho, gerada pela de seus
pais.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
ESPINGARDAS WINCHESTER
Foi nessa região que Fitzcarraldo, acusado de espionagem para o Chile
(1880), condenado à morte e salvo in extremis, refugiou-se durante algum
tempo. Jogando com o messianismo, dizendo que levaria os Kampa para
junto do famoso Amachegua, ele consegue atrair um grupo inteiro que
gratifica
gratifica com presentes e espingardas Winchester. O processo está
engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria,
montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).
MILÍCIA KAMPA-PIRO
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira MILÍCIA
KAMPA-PIRO cujas qualidades
qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos
conhecimentos
geográficos de imensos territórios sabia apreciar. Foram eles, afinal, que o
fizeram descobrir
descobrir o varadero chamado istmo de Fitzcarraldo, que lhe
permitiu fazer carregar barcos do Ucayali ao Madre de Diós, e no qual
projetava instalar uma ferrovia quando morreu prematuramente.
prematuramente.
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Mulher – tu me persegues.
52
FLAUTISTA
O que tem essa cidade, toda em aço frio? Onde está a sua gente? Onde está
o seu sorriso? Há música no ar? O ar expulsa a música, o rosto das
mulheres, as moças as meninas...?
FLAUTISTA
Onde está a fantasia desta cidade? As crianças, a alegria, as praças, e os
parques?
FLAUTISTA
não vejo cavalo. Não tenho medo. Tenho a música que é minha arma.
(O CAVALO APARECE)
3 ÍNDIOS FLAUTISTA
Vê agora, meu rapaz? Te avisamos, foge agora, ainda é tempo. Ou será
tarde, o Cavalo avança em cima de ti.
FLAUTISTA
Tenho a música que é minha arma. Tenho minha música que é minha arma.
3 ÍNDIO FLAUTISTA
foge, foge, meu rapaz. A muito tocamos nossas flautas...
ÍNDIOS FLAUTISTAS
Te avisamos meu flautista, o cavalo é a praga. Não acreditastes, desafiastes.
Te avisamos meu rapaz.
53
Cavalos-robô não são ratos, são piores que praga.
(CAPITÃO E O CAVALO-ROBÔ ESTÃO EM FESTA).
A MORTE DO AMOR
Destino post-mortem
A ALMA dos Kampa, ISHIRE, sobrevive à morte e se junta a um ou outro
tipo dos espíritos imortais, os bons ou maus espíritos.
A alma pode deixar o corpo por instantes — por exemplo, quando o xamã
leva a sua, num voo a um lugar distante, ou quando a pessoa está dormindo.
Eu acho que eu fui muito bom em vida, não fui tão mal.
MULHER
Voltastes!?
HOMEM-DAS-PEDRAS-DO-AMOR
54
Voltei, vim te buscar pra seres seres minha esposa, casaremos em Inkite, no
alto dos céus.
MULHER
Não posso ir. Tenho um segredo, uma missão, um mistério. Só saio daqui,
se desvendo, fico presa. Me esquece, procura outra amante.
HOMEM-DAS-PEDRAS-DO-AMOR
Não consigo, em Inkiti já conversei com todos os deuses sobre o nosso
encontro-amoroso.Todos os Tosórenci já sabem de ti, vem comigo eu sou o
amor!
MULHER
Eu sei, quando partistes, o tempo me empurrava atrás de ti. Mas algo me
prendia.
HOMEM
És amante de um Cavalo que te prende?
MULHER
Não, não sou amante. O Cavalo é a arma do meu dono, minha arapuca.
Nenhum pássaro consegue se livrar. Sou apaixonada por ti, meu coração ti
escolheu.
HOMEM
Voa comigo.
MULHER
Não tenho asas.
HOMEM
Voa nas minhas costas para Inkiti, no andar de cima, ti levo.
MULHER
Não posso, tenho um trato.
€€€€€€€€€€
HOMEM
55
o que aconteceu comigo? A luz do cavalo queima meus olhos, me deixa
cego, encendeia o meu globo, chupa o meu sangue!
ÍNDIA-NA-SOMBRA
Homem-Das-Pedras-do-Amor, esta branco, amarelo, fraco, decaído como
folhas leves, que o vento leva. O membro dele esta mole, o corpo dele está
vazio.
MULHER
maldito matas-te o meu amor, antes que eu inteira me entregasse.
Mas te vingo, amado meu, louca que estou, possessa.
Te vingo com as mesmas mãos que te toquei.
Para o presente da pedra, presente furtado, o meu desafio aumenta. Tenho
que arrumar um jeito de destruir o Cavalo.
É a minha vingança, senão, não sossego.
MULHER
E tu, o que fazes aqui?
Andas sempre atrás de mim.
A MORTE
É tu que me provoca, que provoca em mim expectativas.
MULHER
Eu te odeio.
A MORTE
Esses índios me provocam, canibais.
MULHER
Eles fogem de ti. Tu estás contra eles.
A índia-na-sombra está escondida, desde o dia que tu levastes os filhos
dela.
Se escondeu debaixo de um guarda-sol, como um espectro, que foge do
mundo , do rio, dos matos e dos bichos.
Não conversa mais com os pássaros.
Os pajés me perseguem, me perseguem fugindo.
Não se entregam, sobrevivem poeticamente.
Em meus sonhos vestem túnicas mortuárias.
Mas perambulam por ai, nas fumaças coloridas do seu cigarro.
MULHER
mudaste de roupa.
A MORTE
56
mudei, mais continuo a mesma. O poder quer assim, eles mudam as
técnicas de execução.
Antes eu era a morte fria. Agora sou a morte lenta.
MULHER
Levaste o Amor.
MULHER
Sim precisamos matá-lo.
ÍNDIA-NA-SOMBRA
toma esta lança enfeitiçada, luta com ele, esta lança tem veneno dos Pajés-
Avós.
Chega e diz Cavalo-Robô não tenho medo de ti.
CAVALO-ROBÔ
quem falou?
Quem tem tamanha ousadia?
Quem luta comigo?
MULHER
eu fui escolhida.
Vou vingar o Homem-Das-Pedras-do-Amor.
Vou vingar tudo, tenho ajuda da Índia-Na-Sombra.
CAVALO-ROBÔ
Não tens medo da minha luz?
MULHER
estou cercada pela luz dos Pajés-Avós tenho veneno na flexa.
CAVALO-ROBÔ
não tens medo?
És mulher apenas.
MULHER
não tenho medo, fui eleita escolhida.
Os ventos, os rios, os matos me escolheram, os Pajés me escolheram, estou
cercada da força deles.
( APARECE O CAVALO).
57
( ela avança em direção ao cavalo, luta com ele, ele joga rajadas sobre o
corpo dela, ela se desvia, esguia um momento tira a flexa, acerta, o cavalo
urra, cai no chão, pesado incendeia, fumaças cinzas, aparece o Capitão
acompanhado de três soldados romanos).
CAPITÃO
o que fizeste?
MULHER
o que fiz?
Matei o mostro, sobraram-lhes as cinzas, a fumaça foi para o céu, com as
nuvens.
CAPITÃO
cometeste uma heresia.
MULHER
eu?
CAPITÃO
Sim, tu cometeste.
MULHER
o sangue dele? Os olhos, os membros, o corpo?
CAPITÃO
cometeste uma heresia.
MULHER
Eu não sei o que é uma heresia. Heresia não me dizem respeito.
CAPITÃO
Heresia é não ter medo do Cavalo-Robô.
MULHER
Mas eu tive, no começo eu tive medo do Cavalo-Robô, os olhos de
holofotes, aquela luz, a força, eu corri desesperada, peguei os maracás,
balancei os maracás.
Mas depois quando vi o Homem-Das-Pedras-do-Amor, o corpo a cor e os
membros, a força que ele não tinha de chorar, fiquei louca possessa.
CAPITÃO
serás julgada.
MULHER
58
eu, julgada?
Eu tenho medo de ser julgada por ti, o cavalo era teu.
CAPITÃO
esses soldados serão teus jurados.
MULHER
jurados são sete.
CAPITÃO
eles são três e são sete.
MULHER
eu tenho medo de ser julgada.
Quando eu era menina , eu ia para beira do rio, minha mãe dizia: não vai o
rio leva os meninos, leva os homens, os velhos!.
Mas eu ia, eu queria ver, eu ia, minha mãe descobria e dizia que quando
meu pai chegasse ele ia dizer o que eu merecia, o meu pai batia, era o
julgamento. Mas eu ia, os barcos passavam no rio, os matos, os pássaros;
passavam os meus sonhos e eu ia.
E o meu pai batia, não tenho medo de julgamentos, agora eu sei.
CAPITÃO
tira a roupa.
MULHER
estes senhores estão ai.
CAPITÃO
tira a roupa mulher. (ela tira).
Com essas tintas, são bichos, matos, raízes?
MULHER
são cores de pássaros do céu, seus rostos, suas asas.
CAPITÃO
pecadora. São Sebastião, padroeiro da cidade, julgará os teus pecados.
59
CRIANCAS-FEITICEIRAS
110
FEITIÇARIA - MATSI
A feitiçaria constitui uma categoria especial de atividade demoníaca. O
termo Kampa é MATSI. Acreditam na existência de FEITICEIROS
HUMANOS E NÃO HUMANOS. Os não humanos são vários tipos de
ABELHAS E FORMIGAS.
MENINA-FEITIÇEIRA-MÁ
Grilos, esquilos, abelhas e
formigas
Meus animaiszinhos diletos meus amiginhos
60
Se aproximam de mim
me seduzem
conversam comigo
bichinhios nocivos, sedutores
insetos nocivos
Linguagens do mal
Insetos do inferno
Insetos demoniozinhos
Meus brinquedos, meus bruxedos
Faço um feitiço, faço uma maldadezinha
Contra um parente, um dos meus,
contra minha própria família
Bruxedos infantis
Eu sou uma menina feiticeira
Indiazinha-bruxa
Criança má
ameaça social
um sou um bruxedo
eu e meus insetos demônios.
O que faz aquela menina-india tão pequena sentada na beira do rio em noite
de lua cheia cercada por 4 cavaleiros-indios
de aspecto tão estranho.
(Ele agarra a criança com força bruta pelo próprio braço, apertando-le a
pele, os ossos e a carne, a gorota-berra.)
A MENINA-FEITICEIRA
Me larga, está machucando o meu bracinho, velho bruto.
XAMA-SAMUEL
Isso é para não botar mais feitiço no corpo de um parente,
causando-lhe seria doença, bichinho malvado, um belisão forte para ti e
teus insetos-demönios.
Essa criança má, enfeitando um parente, faz a aldeia toda se doer. Por isso
obrigo essa coisinha má a desenterrar os materiais do feitiço.
62
A menina-feitiçeira é surrada, privada de comida e confinados em um
quarto com muita fumaça.
MISSOES
(Em ACRE: HISTÓRIA... DA PÁGINA 80 A – FRANCISCANO)
LOS FRANCISCANOS
Quarenta anos depois do primeiro contato realizado pelos jesuítas,
os FRANCISCANOS iniciam a evangelização das populações indígenas da
Selva Central
com uma entrada mais ao norte,
próxima à região do Cerro de la Sal.
63
Em 1635, JERÓNIMO JIMENEZ
inaugura a chegada dos FRANCISCANOS,
entrando em território ashaninka e fundando a missão de Quimiri (atual
cidade de La Merced). Em 1637, ele organiza a primeira viagem de
exploração do rio Perene, mas ENCONTRA A MORTE, VÍTIMA DE
UMA TOCAIA ASHANINKA.
ASHANINKA.
Em 1648, atraídos pelo mito de Paititi que apresenta o lugar como rico em
ouro, uma EXPEDIÇÃO DE MISSIONÁRIOS e aventureiros SE DIRIGE
AO CERRO DE LA SAL, mas é novamente DIZIMADA POR UM
ATAQUE ASHANINKA.
BIEDMA – FRANCISCANO
O FANTASMA DO FRANCISCANO BIEDMA
64
INTENSIFICAÇÃO DA PRESSÃO SOBRE O CERRO DE LA SAL.
Cem anos depois dos primeiros contatos entre os Ashaninka e os brancos,
os resultados da penetração espanhola são praticamente nulos. Os esforços
dos colonizadores continuam no século XVIII com a INTENSIFICAÇÃO
DA PRESSÃO SOBRE O CERRO DE LA SAL. Em ALGUMAS
MISSÕES, os padres instalam forjas e apresentam-se como os únicos
CONSTRUÇAO DE FORTES
Ignorado na época de BIEDMA, o PEDIDO FRANCISCANO à Coroa para
a CONSTRUÇÃO DE FORTES NA REGIÃO concretiza-se com A
CRIAÇÃO, EM 1737, DO PRIMEIRO FORTE NA MISSÃO DE SANTA
CRUZ DE SONOMORO.
65
A PERDA DA LIBERDADE, ESSÊNCIA DA VIDA ASHANINKA,
intensificou-se com A PROIBIÇÃO DA POLIGAMIA.
POLIGAMIA
Como assinalou Bodley, durante os primeiros séculos da conquista
espanhola, O PAPEL DOS CHEFES foi determinante NOS SUCESSOS E
FRACASSOS DAS MISSÕES. Ora, enquanto a DISTRIBUIÇÃO DE
MERCADORIAS AO CHEFE permitia aos MISSIONÁRIOS exercer um
certo controle sobre a população, O COMPORTAMENTO DOS
CACIQUES DESAFIAVA O IDEAL CRISTÃO. Atributo de prestígio
para os chefes, A POLIGAMIA era considerada pelos PADRES
FRANCISCANOS como um COMPORTAMENTO SOCIAL
ESCANDALOSO, REVELADOR DE UMA CAÓTICA
PROMISCUIDADE PRIMITIVA.
BIEDMA
ORA essa POLIGAMIA Sr. Chefe
um comportamento social escandaloso,
revelador de uma caótica promiscuidade primitiva.
Para que tantas mulheres
Uma apenas basta, pra que 4 mulheres
Uma é que é certo
4 é pecado
4 mulheres a igreja condena
Deus acha uma extravagäncia
Ora, seu Chefe
seu comportamento social escandaloso,
revela uma caótica promiscuidade primitiva.
CHEFE
4 mulheres é um privilegio
4 é um privilegio do Chefe.
66
Atributo de privilégio para o Chefe é ter 4 mulheres.
€€€€€€€€
€€€€€
JUAN SANTOS ATAHUALPA
Nesse contexto, a INSURREIÇÃO INDÍGENA dirigida por JUAN
SANTOS ATAHUALPA ocupa um lugar de destaque na história peruana e
merece uma atenção especial. Através ela, os ÍNDIOS DA SELVA
CENTRAL e, principalmente, os Ashaninka, RECUPERAM SUA
AUTONOMIA POLÍTICA E A INTEGRALIDADE DE SEU
TERRITÓRIO TRADICIONAL, PROGRESSIVAMENTE CEDIDO AOS
BRANCOS.
Apresentado como um MESTIÇO ANDINO OU UM ÍNDIO QUÉCHUA,
Atahualpa teria recebido uma educação religiosa em Cuzco e viajado pela
Europa e África (Angola e Congo) com um padre jesuíta. Ele chega a
Quisopango, no coração do Gran Pajonal, em março de 1742,
acompanhado por um chefe Piro.
FIM - ISA
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXX
€€€€€€€€
CONTATO
POLIGAMIA
Um chefe Kampa, ressentido contra a MONOGAMIA imposta pelos
padres, INCITA AO MASSACRE da MISSÃO FRANCISCANA.
Apesar do incidente, em 1640, os FRANCISCANOS possuem SETE
CENTROS na região. Estas MISSÕES somente se desfazem em, 1642,
como resultado de conflitos com MINERADORES ESPANHÓIS, que
penetraram na localidade.
70
Em 1671 os FRANCISCANOS retornam, restabelecendo suas
ANTIGAS MISSÕES perto cio Cerro de Ia sal, no Gran Pajonal, e
fundam novas ao longo do baixo Perene.
71
Frustrados na região do Tasibo-Perene, os FRANCISCANOS voltam
sua atenção para os Kampa mais ao sul, indo em 1743 para o vale de
Quillabamba.
Durante grande parte do século passado os Kampa da região dos rios
Perene e Tambo continuam hostis.
Há menção de que em 1850 exploradores tiveram de retornar do rio
Tambo devido a ataques dos Kampa. São "NUMEROSOS E
GUERREIROS" e "RESOLUTOS EM BARRAR A ENTRADA DE
ESTRANHOS EM SEU TERRITÓRIO" (cf. BODLEY, 1972).
Os ATAQUES DOS KAMPA DEIXAM OS RIOS TAMBO E
PERENE VIRTUALMENTE FECHADOS AOS VIAJANTES
BRANCOS.
Em 1869 os KAMPA DE CHANCHAMAYO FORAM
SUBJUGADOS e a cidade de LA MERCED foi fundada. Em 1891 uma
companhia inglesa, THE PERUVIAN CORPORATION LTD, deu uma
vasta concessão de terras no alto Perene PARA COLONIZAÇÃO E
PRODUÇÃO DE CAFÉ. Os Kampa, com seus limites abertos, começam a
trabalhar nas plantações de café.
Um censo realizado em 1907 lista mais de quatorze mil colonos na
região de Chanchamayo.
No início deste século e fins do século XIX, alguns pioneiros por
conta própria ou a serviço do governo procuraram atrair os Kampa. Os
principais foram Angelo Ferreira, António Bastos, Maneio Lima, Absalon
Moreira, Freire Carvalho, Francisco Bonifácio, Porfírio Ponciano, Braulio
Moura, Felizardo Cerqueira, etc.
0 ciclo da borracha trouxe um período de violência e exploração para
os Kampa. Foram forçados a muitas privações durante esta época. Estas
privações foram principalmente devido às excursões de captura,
"CORRERIAS", como são popularmente chamados os ataques a índios, e a
consequente expulsão de suas terras pêlos seringalistas
72
São Sebastião- pecadora nua, com o corpo pintado, com tição dos
demônios.
Mulher- não tenho, nunca tive, nunca quis, meu marido são os mortos, os
bichos , é o vento, é o tempo, são as frutas as flores, os pássaros.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Mulher
preciso conseguir minha pedra de volta .
Índia-na-sombra
consegues.
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Capitão
Preciso juntar essas cinzas são as cinzas do Cavalo-Robõ.
Essas cinzas contém explosivos, posso me defender. O que queres mulher?
73
Mulher
Quero a pedra, a pedra me pertence, foi o Homem-Das-Pedras-do-Amor
quem me deu de presente.
Essas cinzas porque essas cinzas ainda estão aí
(VAI VARRER O CHÃO, MAS ELE A IMPEDE).
Capitão
são as cinzas do meu cavalo.
Mulher
tenho medo de ti és forte, o espírito do teu cavalo te protege.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Índia-Na-Sombra
Toma esse Chá-de-cipó-da-terra-dos-sonhos, toma esse e devora as cinzas,
destrói, enquanto isso eu acordo os Pajés, precisamos deles.
( A MULHER BEBE E SE EMBRIAGA)
Capitão
Estais bêbada, embriagada, lOUca.
Mulher
Estou sonhando e vejo neste sonho um monte de cinzas, que queimam,
como queimam as brasas
Capitão
São as cinzas do meu Cavalo-Robô, são como pedras de brasas que
devoram.
Mulher
Em meu sonho, eu vejo uma viagem, eu vejo um desejo que me agonia, que
me extasia quero comer cinzas, quero comer cinza e fogo. Os Pajés me
empurram dizem que eu devo ir.
Pajés
Vai, vai, come a cinza, mastiga devora, caga, come a cinza, mastiga,
devora, caga.
Antropofagia
74
Mulher
ai..........i........... o que faço agora Pajés-avós.............. espantem esse peso
que se sacode dentro de mim.
EPÍLOGO
Índia-na-sombra
Eu vi meus filhos passarem no Sonho-dos-chás-dos-cipos-da-terra,
carregavam pedras, um dia nos descemos cachoeiras a mercê dos ventos e
do tempo, trouxemos conosco uma historia, no meio dos cestos e dos
paneiros trouxemos um canto uma poesia.
FIM
75