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XUPAESPACIAL

COMBATE MORTAL ENTRE O CAVALO E O ROBÔ E A


MULHER QUE VEIO COM O TEMPO

LUGARES DA PEÇA
1
SELVA CENTRAL

1. A CIDADE DE FERRO E O CAVALO-ROBÖ

A cidade de ferro do Capitão X 2 espacial é asfixiante e


opressora como os subterrâneo e as máquinas pesadas e
opressoras do Metrópolis de Lang (Fritz Lang). O Cavalo-Robö,
é o Robö de Metrópolis construído pelo cientista malévolo ... (e
depois tranformado em Robô-Maria, a Maria Robö, a pedido do
Empresário, criador de Metrópolis...) do Metropólis de Lang.
Escura, pesada, opressora e expressionista a cidade de Ferro do
Capitão X 2 Espacial.

2. Cerro de la Sal. – Gran Pajonal

3. Aldeia Ashanica

4. O universo invisivel

2
PERSONAGENS

PERSONAGENS MASCULINOS -

CAPITÃO-X2-ESPACIAL -Artur

CAVALO ROBÔ - Rogério

LADY LOVE - Elizangela

HOMIPAWA – UM JOVEM-ESPIRITO-AMOROSO - Alex

MARIA SOLARIS - MULHER QUE VEIO COM O TEMPO - PERENI


(A DAMA DO CERRO DE LA SAL) – FILHA DE SOLANGE SOL
valentina – vanessa – pequena papi

INDIA NA SOMBRA - Márcia

BIEDMA - MISSIONÁRIO FRANCISCANO ESPANHOL – Vitalli ou


Jéssica Cristelli

INDÍO ACHANINCA DAS TREVAS E DO ESCURO - Leo

FLAUTISTA ASHANINCA QUE TOCA A FLAUTA TUTAMA

CHEFE SAMUEL – xamã e chefe(curaca) da aldeia Ashaninka


PAJÉ ŠERIPIARI (XAMÃ)
(O šeripiari (xamã) atua como mediador entre os homens e essas diferentes
camadas do cosmos
Elias -

PÁVÁ (PAWA) (o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas


do universo)

KORIOŠPÍRI - SENHOR DOS DEMÔNIOS (Os espíritos do Mal e os


demônios, chamados genericamente KAMÁRI, habitam o nível mais
inferior, onde vivem sob a autoridade suprema de KORIOŠPÍRI.)

MANKÓITE (DEMONIO) que provoca morte instantânea no Cavalheiro


do Amor.

KATSIVORÉRI (que mata o índio das trevas e do escuro)

3
SHASHINTI é outro tipo de demônio extremamente magro, qualidade que
os Kampa associam à fraqueza e a transmissão de doenças. Quando aparece
para alguém, quebra-lhe o corpo em partes, que depois reagrupa, fazendo
reviver a vítima. Ao voltar para casa, doente, lembra-se de tudo o que
ocorreu e de repente morre.

IRAMPAVÁNTO ( que comanda o enfeitiçamento do parente da menina


- ) aparece para a Mulher, sozinha na floresta, sob a forma de um homem
atraente, impondo-se sedutoramente e convidando-a para ter relações
sexuais com ele. Após o coito, conta a verdade a ela que morre. Logo após
ela revive, volta para cidade lembrando do ocorrido e enlouquece.

IMPOSHITÓNIRO – SHONKATINIRO E TSOMIRINIRO


(são demônios aquáticos que vivem nos rodamoinhos e passagens difíceis
dos rios, onde esperam para tentar afogar e matar os viajantes que passem.
O pai de Shonkatiniro é Tsomiriniro, que recolhe, em seu estômago, as
almas dos Kampa afogados e os transforma em marido para suas filhas.
(ÍNDIO DAS TREVAS E DO ESCURO)ESCURO)

LUA ( o pai de Pava)

SOL ( a mãe de Pava)

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SINOPSE

1º ATO
No coração da Selva Central, um Cavaleiro-Espacial, o
Capitão-X-2-Espacial constrói uma cidade de Aço, a exemplo daquele
patrão, John Fredersen, que construiu a cidade do futuro, cidade das
máquinas, Metropólis no filme homônimo de Fritz Lang. Para que a
realização desse louco empreendimento, a construção de
XUPAESPACIAL, a cidade de aço, no centro da selva central, se tornasse
viável, esse Capitão-Espacial-Sinistro projetou instalar a cidade-espacial
sobre uma grande ferrovia dos índios Kampas, para que dessa ferrovia se
extraísse aço e ferro para a construção da alucinada cidade.
Desse Cavalheiro-Estrangeiro, acompanhado por seu Cavalo-Robö,
suspeitava-se ser espião-aéreo de um outro planeta ou de alguma nação
super-rica ou de um laboratório-multinacional como aquele que fez a
experiência-monstruosa com o office-boy-Durango na ópera-
contemporänea “Clara Crocodillo” de Arrigo Barnabé.

Durante 100 dias, o diabólico-Capitão manteve aprisionado na ferrovia, que


logo foi transformando-se no subterrâneo da cidade, mais de 2000 índios
ashaninka, para que construíssem a cidade de ferro e máquinas do louco
Capitão, foram as mãos-escravizadas desses-índios que construíram a
cidade-de-Ferro. 100 dias de terrível cativeiro nos subterrâneos da ferrovia
sob a cidade-de-metal que ia sendo erguida acima: mães que matavam seus
bebês esmagando-lhes o crânio contra as paredes da ferrovia-prisão para
que não fossem escravos, outros comiam pó de ferro e terra para se
suicidar apesar de amarrados, tortura e terror de uma insondável angústia,
corpos cobertos de gasolina
gasolina e queimados vivos para iluminar as refeições
campestres servidas pelo Capitão X 2.

5
A cidade de ferro do Capitão X 2 espacial é asfixiante e opressora como o
subterrâneo e as máquinas pesadas e escravizantes do Metrópolis de Lang.
Escura, pesada, opressora e expressionista a cidade de Ferro do Capitão X
2 Espacial.

O Cavalo-Robö descende do Robö de Metrópolis, construído pelo


inventor- malévolo Rotwang (que depois é transformado em Robô-Maria, a
Maria Robö, a pedido do Patrão-criador de Metrópolis), o Cavalo tem o
peso e a belicosidade-espetacular daquelas máquinas-de-guerra do Matrix
III. O Cavalo-Robö, monstruoso e assustador, é a arma de guerra absoluta
do Capitão X 2. Amedrontador e assassino, o Cavalo seduz, hipnotiza e
conduz eletronicamente os indígenas, escravizando-os e até eliminando os
que tentam fugir do poder de seu patrão. Aquele que não obedece o
Capitão é eliminado por esse Robô-Arma-Cavalo.

Uma Mulher-imaginária aparece na cidade-fantasma-de-ferro se dizendo a


Mulher-que-veio-com-o-tempo e neta de uma índia-morta-barbaramente
por caçadores-de-índios. Fascinado por essa criatura-misteriosa-feminina o
Capitão X 2 convida-a para ser a Raínha de Xupa-Espacial, a cidade de
Aço e das máquinas, diante da recusa dela o Capitão escraviza a Mulher,
obrigando-a a varrer-eternamente os lixos-diários da cidade, lixos-
nucleares.

Num lugar escondido da Selva-Central, uma aldeia secreta de ashaninka,


que conseguiram fugir das garras do Capitão e de seu cavalo-de-guerra-
robö vivem escondidos com medo de serem descobertos e re-capturados
pelo Capitão. Numa manhã de aziago uma criança-ashaninka, menina-
estranha, com ares demoníacos enterra em volta da casa estranhos-
materiais: pedaços de esteiras, ossos, pedaços de mandioca. Um parente da
menina adoece. O Xamã-Chefe-Samuel acusa a menina pela causa do
feitiço que adoeceu o parente, viram a criança enterrando materiais
enfeitiçados ao redor da casa. Para os Kampas, feiticeiros humanos são
sempre crianças, geralmente MENINAS. O ego-invisivel da menina se
pronuncia: fora seduzida por demônios na forma de animais – insetos –
abelhas, formigas, grilos, — que lhes ensinam bruxarias. Quando aparecem
a elas com esse propósito, eles o fazem sob a forma humana. Disfarçados
em humanos-belos, esses demônios-sedutores, de sexo-grande, abordam a
criança, são 4 insetos-nocivos, abelhas, grilos ou formigas do mal,
transformados em 4 Cavaleiros-demônios, seduzindo a criança com seus
encantos malignos, preparando algum plano de enfeitiçamento, vão
enfeitiçar alguém da família da menina. E a menina feiticeira, má-criança,
participa do plano. Enfeitiçam o parente da menina-bruxa, os objetos
enterrados ao redor da casa entram magicamente no corpo do parente,
fazem um mal sério a ele, o parente cai em séria enfermidade. O clã acha
que ele vai morrer. O Xamã diagnostica a doença por enfeitiçamento –
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designa a menina-bruxa – “ela enfeitiçou o parente, enterrou objetos ao
redor da casa, assessorada por insetos-demônios”.
Todos tratam a criança de forma bruta, consideram-na
consideram-na uma ameaça-social.
O Xamã apertando-lhe o braço, arrastando-a forçosamente obriga a
menina-diaba a desenterrar os materiais–enfeitiçados que escondeu ao
redor da casa. A menina forçada pelo Xamã-odioso desenterra os materiais-
enfeitiçados. O parente-vítima melhora. O clã perdoa a menina. Diante de
todos, o Xamã aconselha a feiticeirinha a desistir das bruxarias.

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Jogando com o messianismo, interpretado pelos Ashaninka como o
"Messias" de volta, e mais especificamente, como a personalização de um
famoso espírito Amachénka (Amachegua) enviado por Pawa (o demiurgo
ashaninka), o Capitão X 2 Espacial consegue juntar sob seu controle vários
Ashaninka a quem ele retribui (gratifica com presentes – que presentes – e
espingardas Winchester) com armas. Aos Kampa se juntam os Piro e
alguns mestiços, constituindo uma "verdadeira milícia" que permite ao
Capitão controlar a produção de caucho (ou ferro na região e construir a
cidade de ferro) em uma vasta área.
O processo está engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria, montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira milícia kampa-
piro cujas qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos geográficos de
imensos territórios sabia apreciar.
Figura sanguinária do grande patrão, as aventuras desse personagem –
figura sanguinária do grande patrão - foram responsável pelas correrias
sanguinárias que marcaram a história da região. A exploração do caucho
(ferro)provocou a dizimação de muitas populações nativas. Além de usar as
rivalidades tradicionais entre os grupos, O Capitão X 2 promoveu correrias
intra-étnicas entre os Ashaninka, rompendo a proibição da guerra interna ao
grupo.

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Cena I – CAPITÃO X2 E LADY LOVE

LADY LOVE
Que lugar Horrível é esse, Capitão X2 espacial?
Só vejo uma floresta, bichos, monstros, matos e essa gente feia e primitiva,
horrorosa, parecem orangotangos, da época da pedra lascada, sem escrita,
sem história, falando uma língua estranha e que ritos estranhos, e essas
vestes-cinzentas – roupas sem moda, sem gosto e sem estilo, e esses
artefatos esdrúxulos que dizem arte-material, e armas de guerra tão arcaicas
que desmoralizam o espetáculo do moderno, e nós estamos no ano 2100
Capitão, uma fadiga Capitão, um vömito, uma náusea, nausebunda. De
modos e cultos diferentes. O diferente me incomoda, me perturba, me
dissolve.

CAPITÃO
Isso é uma mina de ouro, querida, mina de ferro e ouro, um verdadeiro
tesouro. Terra boa, rica e diversa, madeira de lei sem lei, e tesouro,
segunda-marca-droga-midiática, segunda- marca-coca-midiática. Coração-
pulmão-selvagem do mundo
e do capital-selvagem. Eu sou o estrangeiro trazendo civilidade, trazendo
fricção interétnica, atrito-de-raças, confusão humana. Shakespeare, Freud e
Marx. Eu sou Fausto. Mefistófeles. Goeth. Moderno e Satânico. Marques
de Sade. Eu sou sádico, eu sofro tanto e desde. Prometeu inventando
bombas-contemporâneas. Eu sou o estrangeiro, trazendo conflito, projetos
de desenvolvimento, criando e destruindo alteridades radicais, tragédias,
drama-ocidental, trazendo ocidentalidade, grande-arte. Macbeth manchado
eternamente tronos de sangue e na selva das florestas e nas selvas das
cidades. Eu sou Fausto. Mefistófeles. Goeth. Moderno e Satânico. Marques
de Sade. Eu sou sádico, eu sofro tanto e desde.

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LADY LOVE
Que falta de imaginação, Capitão. Que convite o seu, eu, uma assistente de
laboratório Espacial, aqui? É muita desmoralização, se esses selvagens nos
vêem, por certo
suspeitarão que somos espiões-aéreos de um outro planeta ou de alguma
nação super-rica ou de um laboratório-científico-multinacional, ladrões-
internacionais. Espionagem Capitão X 2. O que o senhor está pensando
Capitão?
Capitão?

CAPITÃO
Estou pensando que você é a namorada do Super-Herói. E é aqui que
construirei o meu laboratório, entre mil reservas minerais. Essa floresta é
uma mina e tu serás a rainha. Dominaremos estes povos. O Cavalo-Robô
será a nossa arma. Isso será um espaço-espacial na terra. Dominaremos
tudo: esses povos, esses rios, esta floresta-emblemática. Serei o Rei do
Eldorado. E tu serás minha rainha. Terás trinta índias como escravas para te
servirem. Sempre adorei Metrópolis o filme de Lang. Nessa floresta
hermeticamente fechada construirei uma cidade de ferro, aço, alumínio e
vidro, anticéptica e virtual. Babel ou Mahagonny. Futurista e bélica.
Moderna nos matérias e no designer e pós-modernas nas linguagens e nas
comunicações. E o meu laboratório... cheio de computadores, máquinas de
tecnologias invisíveis, controles remotos, tudo será controlado por mim,
comigo e em mim.

LADY LOVE
O senhor não me convence Capitão. E, a partir de hoje, não quero mais ser
sua namorada. Volto para meu planeta de origem, para minhas galáxias,
não quero estar aqui quando chegar o seu fim: Por que isso aqui, será o seu
fim, Capitão X2 Espacial.

CAPITÃO
então me abandonas, minha amada?

LADY LOVE
Volto pra minha galáxia, capitão.

(Ela vai fugir em direção à nave espacial. O capitão aperta o botão do


controle remoto, um raio cósmico-colorido atinge o corpo dela, explode).

Cena II - A MULHER QUE VEIO COM O TEMPO.

CAPITÃO
uma mulher?
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MULHER
eu sou uma mulher.

CAPITÃO
Como chegaste aqui?

MULHER
Meu pai morreu, trabalhava na terra, chegaram uns homens, tomaram tudo,
o expulsaram (ele). Ele lutou, mataram ele, eu saí por ai, vi a cidade de aço.

CAPITÃO
A cidade é minha Aldeia de Aço.

MULHER
Vi uma índia por aí, minha avo era uma índia velha.
A cidade é fria.

CAPITÃO
Queres ser minha rainha?

MULHER
Eu? Rainha? O que me ofereces?
(APARECE O CAVALO ROBÔ).
Que bicho é esse? Um monstro?

Capitão
É o meu cavalo.
(O CAVALO GIRA EM TORNO DELA, EM SEU DORSO UMA
GRINALDA DE FLORES DE NOIVA, A GRINALDA CAI NO CHÃO)
É presente que te dou de chegada.
(COLOCA O VÉU NA CABEÇA DELA, ELA GRITA, HISTÉRICA, CAI
PELO CHÃO ENCOLHIDA, O CAVALO FOGE).
Assustaste o meu cavalo, isto é mau.

MULHER
O que é mau aqui?

CAPITÃO
Mau é não é ter medo do cavalo.

MULHER
Eu tive

(O CAPITÃO SOME).
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2º ATO

No rio Amônia
MENKÓRI
(o mundo das nuvens) e outras camadas que cobrem a terra e compõem o
céu

KAMAVÉNI
(o mundo terrestre),

KIVÍNTI
(o primeiro nível subterrâneo),

ŠARINKAVÉNI
(o “Inferno”),

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
DIVINDADES

PÁVÁ (PAWA
(PAWA),),
(o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas
do universo)
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI
NNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNN

KORIOŠPÍRI

KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI


KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRI KAMÁRIKAMÁRI KAMÁRI
(Os espíritos do Mal e os demônios, chamados genericamente
KAMÁRI,
KAMÁRI, habitam o nível mais inferior, onde vivem sob a autoridade
suprema de KORIOŠPÍRI.)
KORIOŠPÍRI.)

KAMARI – aquele ou aquela coisa repugnante, malévola ou repreensível.


MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

MANKÓITE

11
(Na “nossa” Terra, o principal demônio é MANKÓITE, que tem sua
moradia nas ribanceiras freqüentemente encontradas ao longo dos rios em
território ashaninka.)

ŠERIPIARI (XAMÃ)
(O šeripiari (xamã) atua como mediador entre os homens e
essas diferentes camadas do cosmos. Com o auxílio do tabaco, da coca e do
kamárampi (ayahuasca), ele procura comunicar-se com os espíritos bons e
combater as forças diabólicas, mas também pode dispor seu poder a serviço
do Mal (feitiçaria).)
VESTIR KUSHMAS
KUSMA 96 OK
A kushma pode ser descrita como um vestido de algodão cru, usado tanto
por homens quanto mulheres, tingido em uma grande cabaça, numa infusão
de vegetais, incluindo urucum e que contém uma alta percentagem de
tanino. Kushma é o nome genérico dado na região a este tipo de vestimenta
usada por diversas tribos. Os Kampa a chamam de kitsárentsi. A cor da
kushma recém-tingida é de um marrom avermelhado escuro, e com o uso
vai escurecendo mais. A interação destas cores na floresta faz uma perfeita
camuflagem, principalmente se a pessoa estiver imóvel. DORMEM
DIRETAMENTE NO CHAO
Quando estão fora de suas casas dormem diretamente no chão, deixando
cabeça, mãos e pés dentro da kushma, ficando deste modo completamente
cobertos. Estas roupas de algodão grosso são uma próteçao e fet ivá contra
todos os tipos de insetos noturnos.
A produção da kushma, incluindo o t ing intento e a coleta do material, é
tarefa feminina, mas não de todas as mulheres, apenas das que a fazem
muito bem ou que conhecem bem as técnicas, e que portanto, produzem
também para outras famílias.
As mulheres fiam o algodão cru e o armazenam em carretéis. Tingem estes
útilizando corantes vegetais, como o aguano, ou com tinta de tecido da
sociedade nacional, porém suas cores não são firmes. Os fios são tecidos
transformando-se em peças de três metros de comprimento por um de
largura, com padrões de listras mais ou menos largas (cf. SEEGER &
VOGEL, 1978).
A kushma é enfeitada por colares feitos de contas silvestres que se
compõem, como cachos para as mulheres e :omo feixes de cordões em
oandoleira para os homens (cf. SEEGER & VOGEL, 1978} .

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
X

KUSMAS

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Diferentemente da maioria dos outros grupos indígenas das terras baixas
sul-americanas, os Ashaninka sempre usaram roupas. Veste tradicional
ashaninka, a kushma constitui um elemento importante na diferenciação
étnica. Cabe notar que a palavra “kushma
“kushma”” é de origem quéchua e, embora
ela seja também usada pelos índios, os Ashaninka têm o termo
“kitharentsi”,
kitharentsi”, que é utilizado para se referir tanto à vestimenta como ao tear
e ao tecido.
Foram as filhas de Pawa, o espírito absoluto que ensinaram as mulheres
ashaninka a tecer e a fazer a vestimenta. Para os homens, o decote tem uma
forma de “V”, enquanto o das mulheres é em “U”. A roupa masculina
apresenta listas verticais coloridas, que são obtidas após o tingimento da
linha de algodão. Na kushma feminina, as linhas são horizontais. Os
motivos realizados a partir dos corantes vegetais também são diferentes. Na
túnica dos homens, eles são tecidos e representam detalhes corporais de
animais: cara de arara, rabo de bico-de-jaca, características de larvas,
pássaros, peixes... Na kushma feminina, os desenhos são pintados e
representam pássaros, larvas, peixes e, sobretudo, onças e cobras... Depois
de um certo tempo de uso, ambas as vestimentas são tingidas com casca de
mogno e lama, o que lhes dá uma cor marrom/preta. A diferença mais
significativa entre as duas kushma é que a túnica do homem ainda é
realizada tradicionalmente com o algodão (ãpe (ãpe)) tecido no tear, enquanto as
mulheres usam tecido industrializado.

2º ATO
Cansada dos trabalho-escravo infinito, varrer os lixos-nucleares-
diários da cidade-aço, a Mulher-trazida-pelo-tempo consegue dar uma
discreta escapada e caminha na floresta no limite da cidade.
Embaixo de uma árvore-miúda, ensaia um descanso. Fica lá até que a
tarde se recuse, quando a noite já-anuncia sua entrada escura. Nessa
semi-vigília, ela vê ao longe, no entremeio das árvores, uma sombra. A
sombra do cavalo. Ou algum fantasma da floresta. A sombra se
apresenta. “Sou a Índia na Sombra” Dialogam, a velha é um
fantasma-indígena,
viveu e morreu há 300 anos. Teve muitos filhos que lutaram,
uns morreram na guerra defendendo a raça, outro tiveram feitos
heróicos, defendendo sua nação-indígena, enfim os fantasmas da
família carregam um mix de tragédia-étnica e passado-heróico. O
fantasma-da-velha fala de um tempo-iluminado, uma idade-dourada, o
paraíso era o Cerro de la sal. Viviam lá soberanos comerciantes
absolutos do sal em toda a Selva-Central-Amazönica. Essa conversa
entusiasmada entre as duas mulheres lembrando aquele tempo idílico
faz chover sal naquele trecho da floresta. A floresta mesmo a nmoite
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fica meio iluminada pelos reflexos da chuva de sal e é invadida por
fastasma-indígenas, filhos, maridos, sobrinhos, netas, genros, filhas,
irmãs, irmãos da velha, todos eles fantasmas da selva-indígena, (cena
virtual dos fantasmas-ashaninca e o herói Juan Ataulpa) os fantasmas
se apaguem somem, sõ o fantasma da índia velha permanece e o
diálogo entre as duas-formas-femeninas. O fantasma da velha
apresenta o Xamã Samuel a Mulher.
prossegue, VESTEM UMA KUSMA NA MULHER, emplicam-lhes os
significados profundos e religiosos das kusmas, a kusma marca o clã,
identifica a tribo. Rola um discurso de tecelagem e alta costura, tecido,
tingimento e estilo ashaninka – “Para os homens, o decote tem uma forma
de “V”, enquanto o das mulheres é em “U”. A roupa masculina apresenta
listas verticais coloridas, que são obtidas após o tingimento da linha de
algodão. Na kushma feminina, as linhas são horizontais. Os motivos
realizados a partir dos corantes vegetais também são diferentes.
a velha poetiza o discurso –
Foram as filhas de Pawa, o espírito absoluto dos Kampas, que ensinaram
as mulheres ashaninka a tecer e a fazer a vestimenta. é preciso vestir
kusmas –
os ashaninkas marcam uma diferencia da maioria dos outros grupos
indígenas das terras baixas sul-americanas que sempre andam nus, ou quase
nus, os ashaninkas pelo contrario sempre usam e usaram roupas,
KUSHMAS, os Ashaninka sempre usaram roupas. Sempre vestiram
kushma.Veste tradicional ashaninka, a kushma marca o ashaninca, define
esse povo, elemento importante na diferenciação étnica. Esse ato de vestir
a kusma na mulher é ceremonioso e cheio de significados.
A roupa masculina apresenta listas verticais coloridas, que são obtidas após
o tingimento da linha de algodão. Na kushma feminina, as linhas são
horizontais. Na túnica dos homens, eles são tecidos e representam detalhes
corporais de animais: cara de arara, rabo de bico-de-jaca, características de
larvas, pássaros, peixes... Na kushma feminina, os desenhos são pintados e
representam pássaros, larvas, peixes e, sobretudo, onças e cobras... Depois
de um certo tempo de uso, ambas as vestimentas são tingidas com casca de
mogno e lama, o que lhes dá uma cor marrom/preta.

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Iniciam o uma sessão de tatuagem, tatuam o corpo da mulher
imaginária.
com agulha e espinhos de palmeira; usam fuligem para colorir. A face
inerna do antebraço e o rosto só os lugares preferidos para as tatuagens, que
representam desenhos abstratos, traços, pontos e setas, cujo sentido, de
acordo com seria apenas estético.

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Escurecem os dentes dela com uma substância negra
A pintura com urucum é muito comum entre estes índios. Misturando o
urucum com gordura animal ele é aplicado à face em padrões especiais. A
pintura vermelha é uma proteção contra maus espíritos e pode ser
complementada com pontos azuis. O xamã discursa sobre a psicologia das
pinturas-corporais e das maquiagens-ashaninka.
O Kampa indica seus sentimentos através da pintura com o urucum,
pintando o que ele chama de "linhas de alegria", "linhas de tristeza" e
"linhas de cólera". Este costume é importante no encontro de estranhos, que
de antemão já sabem a reação de seus interlocutores. O capitão se
realmente é um bom captador vai entender as linguagem das minhas
mensagem-secretas
Onde estou em vigília ou em sonho acordada ou dormindo, a imagem
do cavalo-robo esta sempre presente na minha memória e no meus
glóbulos-oculares e o super-ego do Capitão me obsorvendo sempre
numa perseguição-informática.
a atmosfera da 1º Cena faz lembrar o primeiro sonho – a sinfonia das
raposas -do grande filme-onírico de Akira Kurossawa

vestem uma k

CENA III – ÍNDIA NA SOMBRA A MULHER E OS PAJÉS AVÓS.

ÍNDIA
Sou a índia na sombra.

MULHER
India, minha avó era uma índia velha.
Os caçadores de índios mataram minha avó.

INDIA
Eles estão soltos por ai.

"Em 1897, o padre Sala, explorando o Pajonal, encontrou Kampa em plena


correria para Fitzcarraldo e Suarez; deviam 'enganchar operários' para as
explorações do rio Manu. Espalhavam o boato de que) Amachegua seria
visto numa determinada aldeia e as pessoas se reuniam para ir vê-lo.
"Chegam Venancio e Romano [dois Kampa] encabeçando cinquenta
Kampa e Piro armados de winchesters [...] Fazem-nos embarcar em pirogas
para ir ver O MESSIAS [...] e levam-nos [...] para Iquitos ou ao rio Manu
[...] transformados em escravos.

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"Meu pai Juamiano era amigo dos caucheros, mas meu padrasto, com quem
eu vivia, não. Havia Italiano, que dirigia o posto cauchero da foz do
Timpia, no final do caminho de Lambari e descendo um pouco o rio na
outra margem vivia Aladino, que tinha uma aldeia tão grande quanto a de
Iromano (Romano), seus dois filhos. Aladino só tinha três mulheres, mas
íromano tinha vinte, sem contar as concubinas [...] Iromano linha pegado
toda a gente do Camisea, depois foi para o Ticumpinea e, no caminho,
saqueava todos os que encontrava [...] Então veio para o Picha [...] Todos
os do baixo e médio Picha [...] ele os pegou e vendeu a maior parte deles
[...] e eu, bem pequeno, o chamava de pai [...] Havia Venacio (Venancio)
que trabalhava no caucho em Sepahua, Amico, Peco, Pinango, mas isso foi
há muito tempo e só sei o que me contou minha mãe [...] e Isere, um grande
chete morto porque era contra as correrias. Havia Pensahkiri, um
Ashaninga que trabalhava para Colombiano, o pior de todos, esse
Colombiano. Matava até as mulheres [...] e todos os que resistiam [...] Uma
vez ele matou dez Matsiguenga sem mais nem menos, para dar o exemplo,
para amedrontar os outros." (Shirongama, 67 anos em 1978, que participou
de algumas correrias dos anos 1935-45.)

FESTA DO CAPITAO X 2 ESPACIAL ILUMINADAS POR


CORPOS QUEIMADOS DE ÍNDIOS

Outros relatos gravados, feitos pêlos sobreviventes, seus parentes jovens ou


seus descendentes contam o desespero do cativeiro: mães que matavam
seus bebês esmagando-lhes o crânio contra as vigas da casa-prisão para que
não fossem escravos, e os que comiam terra para se suicidar apesar de
amarrados; falam das torturas e relembram o terror de uma insondável
angústia: CORPOS COBERTOS DE GASOLINA E QUEIMADOS
VIVOS PARA ILUMINAR AS REFEIÇÕES CAMPESTRES SERVIDAS
POR FITZCARRALDO; mulheres que recusavam a concubinagem tinham
as costas dilaceradas e cobertas de pimenta, eram trancadas sob o sol
ardente em cubículos de zinco até morrerem; corpos torturados, almas
mutiladas... "Arames farpados de loucura!" Essas palavras, esses gritos, es-
ses testemunhos far-se-ão ouvir, mas na obra em negro em que não lhes
serão restituídos seus quinhões de espaço e de liberdade.

O CONVITE PARA O VOMITO SAGRADO DA AYAUASCA

Os Pajés querem falar contigo.


São espíritos mortos de pajés avós. Toma esse chá de cipó da terra dos
sonhos. Converse com os pajés.
(ela toma a bebida, na conversa, os pajés pintam, o corpo dela) (texto sobre
os deuses que vivem no primeiro patamar)

16
TATUAGEM
Muitos usam tatuagens, estas são feitas com agulha e espinhos de palmeira;
usam fuligem para colorir. A face nterna do antebraço e o rosto ao os
lugares preferidos para
as tatuagens, que representam desenhos abstratos, traços, pontos e setas,
cujo sentido, de acordo com Seeger e Vogeí (1978) seria apenas estético.
Escurecem os dentes com um substância negra (cf. STEWÀRD &
MÉTRAUX, 1948).
A pintura com urucum é muito comum entre estes índios. Misturando o
urucum com gordura animal (cf. CRAIG, 1967) ele é aplicado à face em
padrões especiais. A pintura vermelha é uma proteçâo contra maus espíritos
e pode ser complementada com pontos azuis (cf. WINKLER, 1978) .
O Kampa indica seus sentimentos através da pintura com o urucum,
pintando o que ele chama de "linhas de alegria", "linhas de tristeza" e
"linhas de cólera". Este costume é importante no encontro de estranhos, que
de antemão já sabem a reação de seus interlocutores (cf. CRÀIG, 1967;
WINKLER, 1978).
Os Machiguenga normalmente pintam também os seus animais domésticos.

A Índia diz para a mulher que o Chefe-Xama-ashaninka quer falar


com ela, ele tem uma menagem-divina de pawa o Esp~irito absoluto
dos Ashaninkas, que reside no nível superior do Universo invisível, um
recado-divino de pawa, quer revelar-lhe um segredo da raça, e confiar-
lhe uma grande-missao- etnica, a mulher diz que aceita conhece-lo, o
xamã-chefe Samuel aparece por entremeio das árvores.

Os Pajés querem falar contigo. A velha já falou

São espíritos mortos de pajés avós. Toma esse chá de cipó da terra dos
sonhos. Converse com os pajés.
(ela toma a bebida, na conversa, os pajés pintam, o corpo dela) (texto sobre
os deuses que vivem no primeiro patamar)

CHEFE-XAMA-SAMUEL
Essas tintas vão te proteger, (não tem pinturas corporais, pode ser uma
tatuagem ou vestir uma kushma) do fogo do Cavalo-Robô. Ele suga o
sangue dos índios. Um dia vais lutar com o Cavalo e derrubar o dono da
Aldeia de Aço.

MULHER
Por que eu?
Acabo de chegar nessa cidade.

PAWA

17
Fostes eleita, escolhida. Agora vamos dormir nosso sono no fundo do rio.
Se precisares, chama por nós, que viremos. Vai, teu dono te chama. (ela se
veste).
veste).

€€€€€€€€€€€€€€€€
PAVA ACOMPANHADO DOS TASÓRENSCI (BONS ESPIRITOS)
Pajés avós
essas tintas vão proteger, (não tem pinturas corporais, pode ser uma
tatuagem ou vestir uma kushma) do fogo do cavalo robô. Ele suga o sangue
dos índios. Um dia vais lutar com o cavalo e derrubar o dono da Aldeia de
Aço.

MULHER
Por que eu?
Acabo de chegar nessa cidade.

PAJÉS AVÓS SEU SAMUEL


Fostes eleita, escolhida. Agora vamos dormir nosso sono no fundo do rio.
Se precisares, chama por nós, que viremos. Vai, teu dono te chama. (ela se
veste).

VARRER LIXOS DA CIDADE DE FERRO

CAPITÃO
Vem varrer as ruas da cidade. Estão cheias de folhas de lixos.

MULHER
Aprendi isso desde criança. Varria o chão de casa, dava comida pros
passarinhos. Que vida essa minha. Se ao menos o vento me chamasse pra
outro lugar.
(O CAVALO APARECE DE UM LADO E A MORTE DO OUTRO).

O Capitão X invade a floresta cavalgando-voando o seu Cavalo-Robö


incendiário, as duas mulheres se assustam com tanto furor na selva, a
velha-Fantasmal some no éter, a mulher corre sobressaltada de volta para
Cidade-de-Ferro entra na praça transtornada. o Capitão vem em sua direção
montado no Cavalo Robô para atropela-la, com o vento desse furacão
infernal ela é atirada ao chão da cidade de aço.
O capitão reclama que as ruas da cidade estão cheias de lixo e que ela deve
varre-las outra vez.

O Fantasma da velha-india, aparece outra vez, desyta vez no centro da


praçaa da cidade-de-aço bebendo uma cuia de ayasca,

CENA IV – CAPITÃO X2 E ÍNDIA NA SOMBRA


18
CAPITÃO
Que tens na cuia?

ÍNDIA
Não sei

CAPITÃO
Não tens medo do cavalo-Robô?

ÍNDIA
Tenho, tenho muito medo.

CAPITÃO
Que tens na cuia?

ÍNDIA
São chás-da-terra-dos-sonhos, são meus sonhos.

CAPITÃO
a cidade ficou bonita, grande, forte.

ÍNDIA
Milhares de ashanincas morreram na construção da cidade de ferro. meus
filhos morreram do trabalho, por que não ordenas que me matem também.

CAPITÃO
sabes fazer comidas, bijus, carne moqueada.

Não posso manda matar fantasma.


ÍNDIA
mas não tenho sonhos.

3º ATO

VISÕES

SEQÜÊNCIA I – O ÍNDIO DAS TREVAS E DO ESCURO


"Nasci no alto Picha; [...] quando eu tinha seis ou sete anos, um Wiracocha
que se chamava
chamava Perara [sic] veio com mestiços e outros Matsiguenga [...]
todos eles tinham espingardas, nós não [...] cercaram nossa aldeia ao ama-
ama -
nhecer [...] mataram três ou quatro homens [...] depois todos os velhos que
não queriam, mas todos os outros, os adultos e nós, as crianças, eles
amarraram nossas mãos para trás, travaram
travaram nossos pés e vendaram nossos
19
olhos [...]
[...] fizeram uma grande balsa em que nos amontoaram
amontoaram mais
apertados do que frangos no fundo
fundo da piroga quando se vai vendê-los [...]
Levoram-nos para Atalaya. Alguns morreram, no meio de nós [...]
amarrados ao sol sobre a água e sem nada para beber, nem comer [...]
durante os dez dias de viagem. Os do meio da balsa não podiam beber,
eram só borrifados pela água do Ene, e os da borda, ao tentarem, caíam
n'água e se afogavam. Quando chegamos
chegamos em Atalaya, a metade de nós já
tinha morrido
morrido [...] Depois de duas luas, meus pais, meu irmão e minha irmã
mais velhos, eu, outras famílias,
famílias, fugimos para a floresta; andávamos de
noite e nos escondíamos de dia. Durante três meses, andamos para voltar ao
Picha e outros morreram durante essa volta." (Maricusa, aproximadamente
aproximadamente
setenta anos em 1978.)

ÍNDIO NAS TREVAS


Onde é o rio? Preciso lavar meus olhos, tudo é escuro, não vejo nada.

MULHER
O rio é no fim da curva, no começo da cidade.

ÍNDIO
O cavalo robô queimou os meus olhos. Vejo um buraco grande e fundo, me
atiro no rio.

MULHER
Te levo com a índia na sombra, ela te faz um remédio.

ÍNDIO DAS TREVAS


Eu era um guerreiro de tacape, flexa e lança. Mas o fogo do Cavalo Robô
apagou a luz dos meus olhos. Só vejo trevas. Me lanço no rio.

URUBU DA MORTE FRIA


Vem, o rio é aqui?

ÍNDIO DAS TREVAS


Onde? Onde é o rio? Quem me chama? Quem me empurra?

URUBU DA MORTE FRIA


Quem te empurra é o capitão X2 especial e o Cavalo dele. Quem te chama
sou eu, eu não queria, mas te empurram, eu estou aqui.

ÍNDIO DAS TREVAS


Onde é o rio?

URUBU DA MORTE FRIA

20
É aqui te joga ao alto, já te empurram, estou pra te ensinar o ultimo
caminho, chegaste, te empurram, eu estou aqui. Vai, cai no buraco fundo.

CHEFE SAMUEL(CURACA)

Seu Samuel é chefe (curaka – koraka.


À função de curaca (koraka), chefe, não corresponde a um cargo. A chefia
não é nem hereditária, nem vitalícia. É difícil perceber as condições que
determinam o acesso de um homem à posição de curaca e as determinações
desse papel no sistema cultural Kampa
Os curacas, normalmente possuem renome como guerreiros. Renome este
estabelecido na época das "correrias". A propósito, copio o que se segue:
"De Kitora e Samuel dois curacas se diz que foram 'matadores'— cayéri.
Além disso, têm muitos parentes, 'sabem' beber ayahuasca, são caçadores
(ou foram) excelentes, homens sábios que curças (através de práticas
xamânicas com alucinógenos)"
O chefe, curaca, ao que parece, tem sua posição determinada pelos laços de
parentesco, pois reúne sempre grandes "clãs" a sua volta, pelo seu prestígio
como caçador e guerreiro, além de ser detentor de saberes importantes no
domínio de sua cultura.
Entre os Machiguenga, de acordo com Rosengren, a liderança é transmitida
patrilinearmente e se restringe ao comando da caça ou da pesca, da abertura
de novas roças, e também da organização durante as guerras. Também de
acordo com este autor, existem dois princípios de organização política: o
sexo e a idade. Os homens dominam as mulheres, e os de mais idade
dominam os mais novos.

CHEFE SAMUEL É POLÍGAMO

Chefe Samuel é polígamos. Quatro é o número de esposas. O grande


número de esposas impõe ao marido um considerável esforço físico e
económico; obriga-o a estar constantemente viajando. Para Craig, o grande
número de esposas poderia explicar a separação das casas. Esta separação
daria ao marido a certeza de suas esposas não serem roubadas, em sua
ausência, por um vizinho menos afortunado.

CHEFE SAMUEL É XAMÃ

21
€€€€€€€€€€€€€
Os Kampa são polígamos. Quatro é o maior número encontrado de esposas,
mas, ao que parece, este número pode ser excedido em raras ocasiões. O
grande número de esposas impõe ao marido um considerável esforço físico
e económico; obriga-o a estar constantemente viajando. Para Craig, o
grande número de esposas poderia explicar a separação das casas. Esta
separação daria ao marido a certeza de suas esposas não serem roubadas,
em sua ausência, por um vizinho menos afortunado.

€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$

CHEFE CURACA

À função de curaca (koraka), chefe, não corresponde a um cargo. A chefia


não é nem hereditária, nem vitalícia. É difícil perceber as condições que
determinam o acesso de um homem à posição de curaca e as determinações
desse papel no sistema cultural Kampa (cf. SEEGER & VOGEL, 1978). Os
curacas, nos casos vistos por Seeger e Vogel, normalmente possuem
renome como guerreiros. Renome este estabelecido na época das
"correrias". A propósito, copio o que se segue:
"De Kitora e Samuel dois curacas se diz que foram 'matadores'— cayéri.
Além disso, têm muitos parentes, 'sabem' beber ayahuasca, são caçadores
(ou foram) excelentes, homens sábios que curam doenças (através de
práticas xamânicas com alucinógenos)" (cf. SEEGER & VOGEL,
1973:44).
O chefe, curaca, ao que parece, tem sua posição determinada pêlos laços de
parentesco, pois reúne sempre grandes "clãs" a sua volta, pelo seu prestígio
como caçador e guerreiro, além de ser detentor de saberes importantes no
domínio de sua cultura.
Entre os Machiguenga, de acordo com Rosengren, a liderança é transmitida
patrilinearmente e se restringe ao comando da caça ou da pesca, da abertura
de novas roças, e também da organização durante as guerras. Também de
acordo com este autor, existem dois princípios de organização política: o
sexo e a idade. Os homens dominam as mulheres, e os de mais idade
dominam os mais novos.€

CENA – PAJÉS E A ÍNDIA

TRILOGIA DOS PAJÉS XAMÃ SAMUEL


é a luz
é a treva
é a luz perseguindo a luz
a luz maior apaga a luz menor
a luz das lamparinas não enfrenta
22
a luz dos holofotes
a luz dos holofotes explode – explode.

ÍNDIA
o índio das trevas e do escuro, de desgosto se jogou no rio. Era um
guerreiro forte, um herói.

TRILOGIA DOS PAJÉS – XAMÃ SAMUEL


é a luz grande, devorando a pequena. Luz ofusca luz. Holofotes encendeia
luz lamparina. Explode, explode.

LIBERDADE E LUTA

SEQÜÊNCIA II – O HOMEM DAS PEDRAS DO AMOR


(Esse personagem precisa ficar mais guerreiro, mais feroz, não apenas
romântico, amor e guerra)

MULHER
de onde vens, meu cavalheiro?

HOMEM
do reino (de
(de la sal)da
sal)da pedra dourada.

MULHER
tens um reino?

HOMEM
Tenho. Sou o homem das pedras de sal do amor. Meu reino é cheio de
pedras preciosas, (o reino mítico do Sal, Serro de la Sal) no fundo do rio.
rio.
Mas sou da guerra mortal, pela liberdade de minha naçao Kampa, fui, sou,
mítico.
mítico.

MULHER
Trazes uma para mim?

HOMEM
Trago. Trago pedras de diamantes. Em troca, te peço em casamento.

MULHER
Não posso.

HOMEM
não podes?

23
MULHER
tenho um dono, que me prende, que me guarda, me dilacera.

HOMEM
foges comigo para um lugar imaginário, um patamar invisível.

MULHER
Ele tem um cavalo. O cavalo tem uma cabeça de robô. Olhos de holofotes.
Cavalo-Robo-de-Metropolis-Xupaespacial. Holofotes que são rajadas de
fogo, que penetram no corpo, e tomam todo o sangue. São vampiros do dia
todo. Meu corpo é tatuado, essas tatuagens-ashaninkas fecham o meu
corpo, protegem a minha carne. Vermelhas de urucun e completada com
pontos azuis, essas tatuagens me protegem contra os maus espíritos e os
efeitos-radioativos-do-Cavalo. Essas pinturas-xamanicas me defendem do
Cavalo.

Meu nome é Maria.


Não sou Robótica, rara Maria de Metropolis da selva. Desci ao inferno da
selva sobre a linha do trõpico de (....).A
(....).A pintura vermelha é uma proteção
contra maus espíritos e pode ser complementada com pontos azuis (cf.
WINKLER, 1978)

De uma maneira geral, a visão que os Ashaninka do rio Amônia constroem


do branco pode assemelhar-se à categoria genérica dos espíritos malévolos,
kamari. Como eles, o branco é associado à morte e às doenças
(matsiarentsi).
matsiarentsi). Os índios acreditam que as doenças são o resultado desses
seres nefastos ou da atividade de um xamã maldoso através da feitiçaria.
Frente às perigosas e desconhecidas doenças dos brancos (mãtsiari
(mãtsiari
wirakotxa),
wirakotxa), a sabedoria do sheripiari é ineficaz.

Os Kampa possuem uma crença, muito difundida nos Andes, de que os


brancos das cidades grandes matam os índios para extrair a gordura de seus
corpos, que usam em automóveis e aviões. Para os Rampa há algo de
demoníaco nos brancos, são poderosos, não são benevolentes nem
generosos (cf. WEISS, 1974) .

CAPITÃO
lava teu corpo destas pinturas.

MULHER
foram os pajés avós que tisnaram em mim, água nenhuma da terra tira elas
de mim.

24
HOMEM
levo você daqui.

MULHER
o cavalo ouve vem e te castiga.

HOMEM
sou o homem das pedras do amor.

MULHER
não tem lugar para o amor aqui. Olha as árvores, estão morrendo. Esse ano,
a enchente veio grande. Isso aqui foi um dia uma aldeia de palha.

ÍNDIA
faz muito tempo.

MULHER
a índia na sombra chegou como os filhos. Eram treze filhos. Desceram as
cordilheiras, rios, cachoeiras, a mercê da ameaças. Ocupam uma terra,
fizeram uma aldeia.

ÍNDIA
trouxemos um canto, uma história, um trabalho, uma poesia. No final do
dia, eu, meus filhos, minhas noras, meus netos, íamos ver a lua sair.
Tomamos chá de cipó da terra dos sonhos, e sonhávamos com tudo, com
nossos avós mortos, tínhamos medo das almas e éramos felizes. Mas um
dia, veio o dono da aldeia de aço, acompanhado do cavalo dele. Jogava
raios de luz em rajadas, que explodiam. E incendiavam nossa aldeia de
palha. Depois obrigou os meus filhos a construírem a aldeia de aço. Meus
filhos trabalhavam que nem escravos. Adoeciam de febre, morriam, mas
construíram.

HOMEM DAS PEDRAS DO AMOR


Te dou amor, te tiro daqui.

MULHER
o cavalo te persegue.

HOMEM
fica com essa pedra, pra te lembrares de mim.

ÍNDIA
25
o que fazes a olhar essa pedra? Parece que o sonho te levou para outro
lugar.

MULHER
foi um vento que passou por aqui, bateu em mim, me encantou toda, me
deixou assim. Foi ventar pra outros lados, pro outro lado do rio, pro outro
lado do mundo.

ÍNDIA
Porque o vento não te levou? Não te fez um convite?

MULHER
Fez. O vento que passou por aqui me convidou. Mas tem essa corrente que
me prende o pé. Quando ele falou comigo, fiquei sorrindo, me sentir
menina. São tempos que lá se vão, me deixou sonhando na mão.

ÍNDIA
O amor é assim, vem com o vento, se assusta com o trovão. O amor quer
espaço no ar, pra voar com os pássaros, as nuvens, os ventos.

3º Ato

QUADRILHA

MULHER
Eu tinha uma pedra pintada, presente da minha madrinha. Eu era menina,
me levaram a pedrinha. Eu tinha uma pedra preciosa, presente do meu
amor. Me levaram a pedra. A pedra. A pedra era um esplendor. Eu tinha, eu
tinha, eu tinha, mas levaram, levaram, levaram.

SEQÜÊNCIA III

BANDIDO DE FAR-WEST E MOCINHA


REVOLTA INDÍGENA – OS FRANCISCANOS

WESTERN AMAZÔNICO
Ora, essa paz interna que Izaguirre data da época de Juan Santos Atahualpa
e, só!) o seu impulso, da guerra dos dez anos (1742-52) travada pêlos
Kampa com o auxílio dos Pano e que derrubou — western amazô-nico—
todos os fortes avançados (missões franciscanas fortificadas) e postos de
fronteira
fronteira defendidos pelo exército peruano, essa paz interna parece ser mais
26
antiga a julgar pêlos mitos, relato épico das guerras com o Império
Império Inca ou
das entradas. Vimos que essa paz interna certamente se consolidou no
tempo dos Incas, esboçada provavelmente desde Huari e a época seguinte,
aucarana, de guerras
guerras entre feudos andinos rivais. Essa não agressão kampa
é apenas confundida pêlos primeiros testemunhos pela assimilação de seus
raros defensores kampa cristianizados ao inundo
inundo branco e, portanto, como
eles atacados, como
como eles mortos ou expulsos.

REBELIÃO
REBELIÃO DOS NEÓFITOS

O DESEJO DE METAL

(...) as terras Kampas eram ricas em minério de ferro na região de


Chanchamayo, os grupos envolvidos começaram a extrair e fundir metal,
para garantir sua liberdade.
(...) o vale do Chanchamayo é colonizado e a frente pioneira se apropria
das minas de ferro, obrigando os kampas a abandonar sua fundição.

CAMADAS DE COSMOS – PLANOS – UNIVERSO INVISIVEL –


PATAMAR -

UNIVERSO INVISÍVEL

UNIVERSO INVISÍVEL

MENKÓRI
(o mundo das nuvens) e outras camadas que cobrem a terra e compõem o
céu

KAMAVÉNI
(o mundo terrestre),

KIVÍNTI
(o primeiro nível subterrâneo),

ŠARINKAVÉNI
(o “Inferno”),

COSMOLOGIA

27
Entre os Ashaninka, encontramos as CARACTERÍSTICAS que definem os
SISTEMAS COSMOLÓGICOS XAMÂNICOS presentes nas terras baixas
da Amazônia:

universo dividido em vários níveis;


a existência de um mundo invisível por trás do mundo visível,

o papel do xamã como mediador entre esses mundos etc.

O UNIVERSO ESTÁ DIVIDIDO EM VÁRIOS NIVEIS,


O MUNDO INVISÍVEL POR TRÁS DO MUNDO VISIVEL
O XAMA É QUE MEDIA ESSES MUNDOS

Os BONS ESPÍRITOS chamados pêlos participantes aparecem em forma


humana, mas somente O XAMÃ os vê claramente.
O OLHO-espírito-oculto dele vê os bons espíritos.

A mente vomitada-ayauasca do xamã é a nossa supermente


São os nossos quatro-mundos. Universo invisível. Espiritulidade ashaninka.

OBS.
(essas falas dos xamãs e de humanos ashanincas, de Pawa e do Coro-de-
bons-espíritos, de demônios, sobre: os quatro níveis, bons espíritos,
demönios e espiritualidade ashaninka; ocorrem numa sessão de ayauasca.)

DUALIDADE BEM-MAL
Talvez a particularidade Ashaninka resida na sua concepção extremamente
dualista do universo, definindo claramente as fronteiras entre o Bem e o
Mal.

ESQUEMA
4 MUNDOS – HABITANTES DOS QUATRO MUNDOS –
XAMÃ - AYAUASCA

O UNIVERSO INDÍGENA, ORGANIZADO VERTICALMENTE,


compreende um número indeterminado de níveis superpostos. Assim, de
baixo para cima, encontramos, sucessivamente:

Šarinkavéni (o “Inferno”),

Kivínti (o primeiro nível subterrâneo),

Kamavéni (o mundo terrestre),

28
Menkóri (o mundo das nuvens) e outras camadas que cobrem a terra e
compõem o céu.

O CONJUNTO DOS NÍVEIS CELESTES


é denominado HENÓKI,
HENÓKI,
mas esse termo também é utilizado como sinônimo de céu, cuja
denominação adequada é INKITE.
INKITE.

De acordo com Weiss, mesmo esses níveis sendo inter-relacionados, os


moradores de cada um deles experimentam seu mundo de uma maneira
sólida.

Assim, por exemplo, se tomamos como referência a nossa TERRA


(KAMAVÉNI),
KAMAVÉNI), RESIDÊNCIA DOS HOMENS MORTAIS, o céu visível a
partir dela constitui apenas o chão do nível imediatamente SUPERIOR
(MENKÓRI)
MENKÓRI) cuja maior parte permanece fora da nossa percepção visual.

O universo é Inkite ou Henori.


O que para um nível é céu para o nível superior é chão.
O nosso céu é o chão do céu-dos-ceus.
a nossa terra (KAMAVÉNI
(KAMAVÉNI),), RESIDÊNCIA DOS HOMENS MORTAIS,

o céu visível a partir dela constitui apenas o chão do nível imediatamente


SUPERIOR (MENKÓRI
(MENKÓRI))

cuja maior parte permanece fora da nossa percepção visual.


(POETIZAR) HOLDERLIN

Embaixo de Kamavéni,
Kamavéni, (a terra) existem dois níveis:

KIVÍNKI (-1), residência de “bons espíritos”,

e ŠARINKAVÉNI (-2) que, pode ser qualificado como o “Inferno dos


Campa”.

o nível -1 é KIVÍNKI - mencionado por poucos Ashaninka,

muitos considerando que, abaixo da terra, só existe ŠARINKAVÉNI:


ŠARINKAVÉNI: o
mundo dos demônios.

A cosmologia Ashaninka complica-se quando Weiss identifica os


habitantes das diferentes camadas do universo, procurando explicar o papel

29
desempenhado por cada um deles, suas diversas manifestações e suas
relações com os Ashaninka.

OS DEMONIOS
Os espíritos do Mal e os demônios, chamados genericamente Kamári,
Kamári,
habitam o nível mais inferior, onde vivem sob a autoridade suprema de
Koriošpíri.
Koriošpíri. Mas esses espíritos maléficos não residem apenas em
Šarinkavéni. Embora essa primeira camada da hierarquia apresente a maior
concentração desses seres e abrigue os mais poderosos entre eles, os
espíritos nefastos também se encontram, em vários lugares, no mundo
habitado pelos homens. Na “nossa” Terra, o principal demônio é Mankóite,
que tem sua moradia nas ribanceiras freqüentemente encontradas ao longo
dos rios em território ashaninka. Ele se caracteriza por uma forma humana,
mas geralmente permanece invisível. Um encontro com ele anuncia a
morte. É interessante notar que, segundo Weiss, o Mankóite vive de
maneira semelhante ao branco: suas casas têm os mesmos objetos, possuem
mercadorias etc.

Assim, A ESPIRITUALIDADE ASHANINKA apresenta um caráter


extremamente dualista. No Cosmos hierarquizado por Pává,
Pává, os espíritos
são, geralmente, bons (amacénka
(amacénka ou ašanínka)
ašanínka) ou maus (kamári
(kamári).
). Tanto
uns como outros manifestam sua presença de diferentes maneiras na Terra
habitada pelos humanos.

OS RITUAIS 1 -KAMARÃPI
-KAMARÃPI 2 - PIYARENTSI

XAMAS
ACRE

DOENÇAS SOBRENATURAIS TRATADAS PELO XAMA


Muitas doenças são tratadas com ervas
mas aquelas causadas pelo sobrenatural
são tratadas pêlos xamãs.

ALGUNS DOS "REMÉDIOS" USADOS PÊLOS KAMPA:


o coração da jaguatirica é usado para dar coragem;
a vesícula biliar é usada para realizar adivinhações oraculares;

a biles do macaco é usada contra problemas oculares;

a biles da rã é usada contra dor de dente.

Excremento de urso é usado para evitar a obesidade;

30
o besouro pitiro pulverizado é usado contra a anemia.

Costumam esfregar folhas secas de paio de balsa na cabeça para acabar


com dores

QUALQUER ELEMENTO DE DESEQUILÍBRIO É ENCONTRADO


PELO XAMÃ.
Uma de suas funções é a de descobrir o responsável pela doença, em caso
de feitiço.

PARA DESCOBRIR quem fez o feitiço, o xamã Kam$pa salpica coca em


sua mão, mistura e descobre a pessoa culpada através da configuração
formada

PARA CURAR, ele sopra fumaça de tabaco e fricciona coca no paciente;


faz então uma sucção, livrando-o do "corpo estranho", do ."ser invasor" que
o feiticeiro pôs nessa pessoa. Fumando e bebendo cayampi, ele se empenha
em matar o feiticeiro, devolvendo o feitiço para ele

OS KAMPA USAM VÁRIAS SUBSTÂNCIAS MÁGICAS:


o CYPERUS PIRIRI, por exemplo, é esfregado no arco para que ele atire
bem, ajudando a não perder a caça.
Os xamãs o engolem junto com tabaco, antes de realizar um tratamento de
sucção, para "limpeza" do paciente.

A ESCADA é um objeto importante para o xamã Machiguenga, pois ela


simboliza a conexão entre nosso mundo e o mundo superior, o mundo dos
céus, CHAMADO MENKORIPTISA. No mundo do céu, o estrato
superior, vivem seres benignos, chamados sáangarite, que protegem as
pessoas em geral e que ajudam o xamâ a diagnosticar as doenças

APRENDIZAGEM DO XAMÃ
O xamã Kampa passa por um período de aprendizagem. Durante este
período, e mesmo depois, obtém, mantém e aumenta seus poderes, através
do consumo contínuo de drogas: basicamente o tabaco na forma de um
xarope concentrado a AYAHUASCA.
TABACO
O tabaco não é um alucinógeno, mas em doses maciças é um tóxico
poderoso. Tanto que se acredita que seja a fonte de poder do xamã,
permitindo-lhe ver os espíritos e comunicar-se com eles, ao curar e
diagnosticar a doença. Ao que parece, é o tabaco que mantém o poder dos
espíritos junto ao xamã.

31
AYAHUASCA
A ayahuasca é um alucinógeno que o põe em comunicação direta com o
mundo dos espíritos, de modo que estes o visitam, ou sua alma deixa seu
corpo e visita-os em lugares distantes.

PLANTAS SAGRADAS
Há também o uso de diversas plantas sagradas; cada espécie de planta está
associada com um grupo específico de bons espíritos.

O xamã tem sempre à mão um suprimento de ayahuasca para suas


necessidades, e de tempos em tempos ele conduz uma cerimônia grupal,
envolvendo o uso da ayahuasca, onde resolve casos complicados. Esta
cerimônia é essencialmente uma sessão xamânica de cura.

€€€€€€€€€€€€€€

O ŠERIPIARI (XAMÃ)
atua como mediador entre os homens e essas diferentes camadas do
cosmos. Com o auxílio do tabaco, da coca e do kamárampi (ayahuasca), ele
procura comunicar-se com os espíritos bons e combater as forças
diabólicas, mas também pode dispor seu poder a serviço do Mal (feitiçaria).

Dessa forma, o plano em que vivem os homens não é habitado


exclusivamente por seres humanos, animais e plantas. Ele apresenta-se
como um mundo em equilíbrio frágil, onde os homens vivem
constantemente assediados pelo confronto entre o Bem e o Mal.

€€€€€€€€
APRENDIZADO XAMANICO
As respostas a todas as perguntas dos homens estão acessíveis com o
aprendizado xamânico, que é realizado através do consumo regular e
repetitivo da bebida, durante anos. A formação do xamã (sheripiari)
(sheripiari),, no
entanto, nunca pode ser considerada como concluída. Se a experiência lhe
confere respeito e credibilidade, ele está sempre aprendendo.

VIAGEM ATRAVÉS DA AYAUSCA-KAMARÃPI


É através do kamarãpi que o sheripiari realiza suas viagens nos outros
mundos e adquire a sabedoria para curar os males e as doenças que afetam
a comunidade.
A cura realizada através do kamarãpi é eficaz apenas para as doenças
nativas causadas, geralmente, por meio da feitiçaria. Contra as “doenças de
branco” os Ashaninka só podem lutar com o auxílio de remédios
industrializados.
32
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RITUAIS
Entre os Ashaninka, tanto a bebida feita de ayuaska como o ritual são
chamados kamarãpi (vômito, vomitar).
A cerimônia é sempre realizada à noite e pode se prolongar até de
madrugada.

O RITO PARA SE BEBER AYAUSCA É KAMARÃPI.


A BEBIDA É KAMARÃPARI – VOMITO - VOMITAR

QUANTOS BEBEM.
Um Ashaninka pode consumir o chá sozinho, em família ou convidar um
grupo de amigos, mas, geralmente, as reuniões são constituídas de grupos
pequenos (cinco ou seis pessoas).

SILENCIO E RESPEITO
O kamarãpi se caracteriza pelo respeito e silêncio.

CANTOS A CAPELA
A comunicação entre os participantes é mínima e apenas os cantos,
inspirados pela bebida, vêm romper o silêncio da noite. Esses cantos
sagrados do kamarãpi não são acompanhados por nenhum instrumento
musical.
ISA

Quando o xamã canta, na realidade está repetindo o canto dos espíritos.


Estes se comunicam com os expectadores através do xamã.
-ACRE-

CANTOS COMUNICAÇAO COM OS ESPÍRITOS


Eles permitem aos Ashaninka comunicarem-se com os espíritos,
agradecerem e homenagearem Pawa.
Pawa.
O kamarãpi é um legado de Pawa, que deixou a bebida para que os
Ashaninka adquirissem o conhecimento e aprendessem como se deve viver
na Terra.
ISA

APRENDIZADO XAMANICO
As respostas a todas as perguntas dos homens estão acessíveis com o
aprendizado xamânico, que é realizado através do consumo regular e
repetitivo da bebida, durante anos. A formação do xamã (sheripiari)
(sheripiari),, no

33
entanto, nunca pode ser considerada como concluída. Se a experiência lhe
confere respeito e credibilidade, ele está sempre aprendendo.

VIAGEM ATRAVÉS DA AYAUSCA-KAMARÃPI


É através do kamarãpi que o sheripiari realiza suas viagens nos outros
mundos e adquire a sabedoria para curar os males e as doenças que afetam
a comunidade.
A cura realizada através do kamarãpi é eficaz apenas para as doenças
nativas causadas, geralmente, por meio da feitiçaria. Contra as “doenças de
branco” os Ashaninka só podem lutar com o auxílio de remédios
industrializados.

AYAHUASCA
A ayahuasca é um alucinógeno que o põe em comunicação direta com o
mundo dos espíritos, de modo que estes o visitam, ou sua alma deixa seu
corpo e visita-os em lugares distantes.

O xamã tem sempre à mão um suprimento de ayahuasca para suas


necessidades, e de tempos em tempos ele conduz uma cerimônia grupal,
envolvendo o uso da ayahuasca, onde resolve casos complicados. Esta
cerimônia é essencialmente uma sessão xamânica de cura.

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Nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
n

AYAUASKA, O VOMITO DO XAMÃ E DO DEUS PAWA

AYAUASKA
kamárampi
em língua Kampa,
linguagem awhaninka.
Na língua Kampa AYAUASKA
é chamada kamárampi.
A quantidade necessária da droga,
a ser usada na cerimônia
na forma de um xarope espesso,
é preparada com antecedência.
O fazer com antecedência sacraliza o vömito

Vomitei vomitar
Ayahuasca kamarampi no verbo kampa
34
derivada do verbo kamarank, vomitar.
bebida é kamarãpi (vômito, vomitar)
o rito é kamarãpi (vômito, vomitar).
A cerimônia é sempre realizada à noite
e pode se prolongar até o fim da madrugada,
enquanto o escuro da noite perdure
para que os efeitos do drogg
sejam realçados,
efeitos visuais de drogas-vegetais
ou de máquinas
aumentam sua definição
no mistério do escuro
num tempo cinzento.
Quando a luz se ameaça
no encerrar da madrugada
o vomito da ayausca se encerra
até que advenha
o escuro da noite seguinte,
para o esplendor
das imagens visuais
do torpor-vomito
da ayauasca-delírio.

A entrada de pava, a conversa com pava através da yaauasca, do vomito do


xama-xapado.

PAVA
Resido no nível-primeirissimo, no superlativo. No altíssimo.
Cercado por meus sacerdotes....
Só apareço no segundo nível através do vomito-drogado do xamã em
ayausca. Xarope expesso que dá o vomito, o narcose e o deus. O adeus ao
deus, o aceno do vomito, a linguagem-vomitada de deus, eu pava. Sõ
converso contigo se vomitas meu súdito humano.
Vomita já, agora, senão, não apareço, vomita que apareço.
O xamã vomita ayauasca.
Já vomitei, meu deus, deus Pawa, deus meu. já vomitei.
Vomita mais, vai, vai mais, vomita mais.
Vomita outra vez e outra e outra para que o escuro afirme a nitidez das
imagens visuais da vomitada do humano,
Para que no escuro da serpenteada no noite o universo, os 4 níveis do
universo mergulhem no vomito do xarope do alucino.
Vomitamos o que.

A denominação ayahuasca vem do Quêchua,


dos Incas do Peru pré-colombiano,
35
e significa
"a pequena morte"
ou
"a entrelaçadora de almas e espíritos dos mortos".

A ayahuasca é feita de extrato do cipó banisteriopis, misturado à psychotria


viridis.

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O XAMÃ é o encarregado do preparo e distribuição da bebida aos


participantes do ritual.

O GRANDE OBJETIVO DO USO DA AYAHUASCA


é o de efetuar curas, tanto no plano físico quanto no espiritual, obtendo
informações sobre as causas de uma doença cuja cura não foi possível
pêlos métodos comuns. O xamã descobre a "verdadeira" causa da doença,
percebendo qual o tratamento eficaz.

DESCRIÇÃO DA CERIMÔNIA DA AYAHUASCA ENTRE OS


KAMPA.

"Na cerimônia, o xamã e a vasilha contendo a droga são o centro das


atenções. Durante a sessão, as mulheres são separadas dos homens. Usando
uma cabaça, o xamã bebe uma quantidade do líquido e então passa a bebida
a outro participante. O procedimento é repetido várias vezes, em intervalos,
até que todo o suprimento seja consumido. Após meia ou uma hora, a droga
começa a fazer efeito. O xamã, então, canta. Sob o efeito da droga, ele
canta uma música atrás de outra.
Os BONS ESPÍRITOS chamados pêlos participantes aparecem em forma
humana, mas somente O XAMÃ os vê claramente.

BONS ESPÍRITOS

Aparece um cortejo de Tasórenci


Pawa aparece com seu cortejo de bons espíritos.

PÁVÁ (PAWA),
(o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas do universo)

TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI


TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI
TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI TASÓRENCI

36
No céu, ou mais especificamente, em cima (henóki), vivem os bons
espíritos. Essa categoria é chamada de amacénka e também ašanínka, ou
seja, é tomada como extensão da própria autodenominação do povo.
Esses espíritos são hierarquizados conforme o poder que lhes é atribuído e
sua importância na cosmologia. Os mais poderosos são denominados
Tasórenci e são considerados como verdadeiros deuses. Os Tasórenci têm
o poder de transformar tudo através do sopro e formam o panteão
ashaninka que criou e governa o universo. No topo dessa hierarquia está
Pává (Pawa), o mais poderoso dos Tasórenci, pai de todas as criaturas do
universo. Geralmente invisíveis aos olhos humanos, alguns Tasórenci
podem, no entanto, aparecer na Terra revestindo-se de forma humana.
€€€€€€€€
ACRE
Os BONS ESPÍRITOS são frequentemente CHAMADOS DE

AXANINKA, A AUTO-DENOMINAÇÃO DOS KAMPA, O QUE


MOSTRA A RELAÇÃO DE PROXIMIDADE QUE EXISTE ENTRE OS
KAMPA E ESTES ESPÍRITOS.

Um termo mais específico seria AMATSÉNKA, QUE PODE SER


TRADUZIDO COMO "NOSSOS ESPÍRITOS".

São também chamados de MANINKARI, "os ocultos".

A ESCADA é um objeto importante para o xamã Machiguenga, pois ela


simboliza a conexão entre nosso mundo e o mundo superior, o mundo dos
céus, CHAMADO MENKORIPTISA. No mundo do céu, o estrato
superior, vivem seres benignos, chamados SÁANGARITE, que protegem
as pessoas em geral e que ajudam o xamâ a diagnosticar as doenças

ONDE VIVEM OS BONS ESPÍRITOS


vivem num outro estrato do universo,
O ESTRATO CELESTE, MENKÓRI (o mundo das nuvens)
e outras camadas que cobrem a terra e compõem o céu

COMO VIVEM OS BONS ESPÍRITOS


Nestes locais os espíritos vivem em sua verdadeira FORMA, HUMANA,
vivendo como os Kampa, exceto pelo fato de que não conhecem doença,
miséria e morte.

ESPÍRITOS BONS REJUVENESCEM


Periodicamente se rejuvenescem banhando-se em hananeríte, a Via Láctea,
o rio celeste da eterna juventude.

37
ESPÍRITOS-ESCRELAS-VISIVEIS-NO-CEU-Á-NOITE
Muitos desses bons espíritos, divindades, são estrelas visíveis no céu à
noite. Por exemplo, Antares, a estrela vermelha da constelação de
Escorpião, é Kikákiri, uma divindade mitológica, um bom espírito.
Os Kampa reconhecem vários astros como divindades. Por exemplo: a lua,
Kaxiri, uma divindade masculina, pai do sol. O sol, Pava, é a divindade
máxima dos Kampa.

FORMA-HUMANA
Em sua verdadeira forma, eles, como já foi dito, são humanos,

INVISIVEIS AOS OLHOS HUMANOS


mas invisíveis aos nossos olhos.

SÓ OS XAMAS POSSUEM A CAPACIDE DE VER OS ESPÍRITOS


Apenas os xamãs possuem a capacidade de vê-los, devido a seus poderes
especiais.
OS OLHOS DOS XAMAS SAO RAIOS-X, SÃO RADARES-VIRTUAIS.

GENERO
Assim como os mortais, estes bons espíritos são homens e mulheres, apesar
de que seus órgãos genitais são diminutos,

COMO SE REPRODUZEM
pois se reproduzem de outra forma, sem necessidade da união sexual. Eles
nascem e em uma única lunação já se encontram em sua forma adulta.

ESPÍRITOS PASSAROS
Os Kampa identificam muitos pássaros como sendo manifestações
materiais de bons espíritos, mandados por seres que vivem no estrato
celeste, especialmente os de forma mais bonita e de mais bela plumagem.
Geralmente, ao falar desses pássaros sagrados, referem-se a eles como
homipava, filhos do sol. Acreditam que estes bons espíritos, quando
querem podem materializar uma forma visível aos olhos humanos para dar
instruções a um grupo de Kampa. Outros pássaros são vistos como sendo
mandados por bons espíritos que moram nas montanhas. Entre estes se
incluem o tucano e o beija-flor. Além de animais como o quati e o porco do
mato.

ANIMAIS BONS OU MAUS ESPÍRITOS


Alguns animais possuem um status ambivalente: podem ser manifestações
de bons ou maus espíritos. Duas espécies de pássaros estão nesta categoria:
amempore e etsóni. Amempore é o condor. Etsóni é um pássaro também
com plumagem preta e pescoço branco, da mesma família. Eles vivem

38
entre o céu e a terra. Os xamãs dizem que, quando os etsóni estão voando
em círculo, estão tocando flauta de pã e dançando.

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BONS ESPÍRITOS – RIO AMÖNIA - ISA

Os Ashaninka do rio Amônia também relatam uma visão do mundo


construída a partir de uma estrutura do UNIVERSO VERTICALMENTE
HIERARQUIZADA e composta de CAMADAS SUPERPOSTAS.

INFERNO
O nível subterrâneo é associado à morte e aos espíritos do mal: kamari.
kamari. Os
índios pouco falam sobre esse mundo onde moram pessoas estranhas,
algumas com um modo de vida semelhante ao do branco (casas, carros...) e
que conseguem respirar na água. Os Ashaninka afirmaram que nenhum
deles vive lá e que não gostam de pensar nesse lugar perigoso porque
poderiam acordar os espíritos maléficos e chamá-los para o nosso mundo.
Todos eles afirmam, no entanto, que essa camada existe e situa-se
“embaixo” (isawiki
(isawiki)) da nossa Terra.

Embora esse mundo esteja associado à morte e tenha sido qualificado por
alguns como o “Inferno”, ele não é sempre apresentado como tal.

Segundo o relato de SHOMÕTSE, atualmente O ASHANINKA MAIS


IDOSO DA ALDEIA APIWTXA,

o “Inferno” não se situaria nesse nível subterrâneo, mas estaria localizado


no céu ou, mais exatamente, “em cima” (henoki
(henoki),
), e não “embaixo”
(isawiki).
isawiki).

GEOGRAFIA DO INFERNO
Lá existe um “grande buraco com água fervendo numa grande panela”. O
dono desse lugar é Totõtsi,
Totõtsi, cuja principal tarefa é cozinhar os Ashaninka
pecadores. A presença do “Inferno” em cima também se encontra em
outros relatos, enquanto alguns informantes acreditam que esse lugar esteja
situado debaixo da Terra.

O CÉU E PAWA
Como no caso exposto por Weiss, os Ashaninka do rio Amônia apresentam
o céu como composto de várias camadas. No topo, em inkite,
inkite, encontra-se
Pawa,
Pawa, o Deus todo poderoso. Na camada imediatamente inferior, estão os
Tasorentsi, que são vistos com características divinas: “eles são como um
Deus, pegam qualquer coisa, sopram e transformam em outra coisa”. Num
39
nível abaixo deles, sempre em henoki,
henoki, encontram-se outros espíritos bons
que, como os Tasorentsi,
Tasorentsi, são os “verdadeiros filhos de Deus”. Segundo
alguns informantes, essa camada do céu é chamada Pitsitsiroyki.
Pitsitsiroyki. É onde
Pawa seleciona entre os Ashaninka aqueles que reconhece como filhos.
Segundo os Ashaninka do rio Amônia, esses “espíritos bons” que vivem
em henoki podem todos ser considerados como itome Pawa (filhos de
Pawa)
Pawa) e são chamados amatxenka ou asheninka.
asheninka.
Para os Ashaninka do rio Amônia, Pawa é apresentado como o Deus
criador de todo o universo. Às vezes, os Ashaninka se referem a ele como
Paapa (pai). Direta ou indiretamente apoiado pelos seus filhos, ele criou a
Terra, a floresta, os rios, os animais, os homens, o céu, as estrelas, o vento,
a chuva... Na mitologia nativa, muitas dessas criações são, na realidade,
transformações de pessoas ashaninka, filhos de Pawa,
Pawa, em outra coisa e
foram realizadas através do sopro. Assim, nos tempos da criação do
mundo, os animais, as plantas, os astros ou certos lugares ou fenômenos
tinham uma aparência humana e eram, de uma maneira geral, filhos de
Pawa. Em função do comportamento desses primeiros Ashaninka na Terra,
o Deus e/ou os Tasorentsi transformaram-nos em outra coisa, ruim ou boa.

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Quando o xamã canta, na realidade está repetindo o canto dos espíritos.
Estes se comunicam com os expectadores através do xamã.

À atmosfera da cerimônia é tranqüila, sem frenesis, apesar do transe. A


sessão pode durar até o amanhecer".

"1) Samuel [curaca e xamã da aldeia] preparou a bebida num fogo


improvisado, perto do terreiro onde mais tarde se realizaria o ritual. A
bebida é uma decocção do cipó machucado, disposto na panela em
camadas alternadas com folhas de semiloca. Após duas horas de cozinhar, é
retirado do fogo para esfriar.

2) Em seguida, Samuel, Irándji e Nopi (neta e nora, respectivamente)


prepararam o terreiro, cortando todos os tufos de erva e varrendo-o até que
estivesse muito limpo.

3) Ao pôr do sol, todos se banharam no rio, vestiram kusmas limpas e se


pintaram com cuidado e capricho. Irándji e Nopi, que normalmente não se
pintam, porque têm vergonha, cumpriram esse processo de preparação para
o ritual.

4) Todos foram tomar a refeição da noite juntos, em casa de Samuel.

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5) Depois da noite cair inteiramente, Samuel estendeu uma linha de esteiras
no terreiro, preparou um braseiro e pôs a panela de bebida no chão, em
frente à sua esteira. Todos tomaram assento. Fomos advertidos de que
durante o ritual não se falava nem se acendiam fósforos.

6) [sic] Com todos sentados, de costas para uma lua cheia que despontava,
Samuel distribuiu a primeira rodada de cuias, depois de ter bebido a sua.
Passaram-se cerca de dez ou quinze minutos em absoluto silêncio, quando,
então, Samuel começou a cantar. Aos poucos, os demais entraram,
contraponteando o canto de Samuel.

7)Todos fumavam e, às vezes, se abanavam com suas kushmas (por causa


do enjoo que a bebida provoca), ou se levantavam para vomitar longe dali"
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Entre os Ashaninka, tanto a bebida feita de ayuaska como o ritual são
chamados kamarãpi (vômito, vomitar).
A cerimônia é sempre realizada à noite e pode se prolongar até de
madrugada.

O RITO PARA SE BEBER AYAUSCA É KAMARÃPI.


A BEBIDA É KAMARÃPARI – VOMITO - VOMITAR

QUANTOS BEBEM.
Um Ashaninka pode consumir o chá sozinho, em família ou convidar um
grupo de amigos, mas, geralmente, as reuniões são constituídas de grupos
pequenos (cinco ou seis pessoas).

SILENCIO E RESPEITO
O kamarãpi se caracteriza pelo respeito e silêncio.

CANTOS A CAPELA
A comunicação entre os participantes é mínima e apenas os cantos,
inspirados pela bebida, vêm romper o silêncio da noite. Esses cantos
sagrados do kamarãpi não são acompanhados por nenhum instrumento
musical.

CANTOS COMUNICAÇAO COM OS ESPÍRITOS


Eles permitem aos Ashaninka comunicarem-se com os espíritos,
agradecerem e homenagearem Pawa.
Pawa.
O kamarãpi é um legado de Pawa, que deixou a bebida para que os
Ashaninka adquirissem o conhecimento e aprendessem como se deve viver
na Terra.

APRENDIZADO XAMANICO

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As respostas a todas as perguntas dos homens estão acessíveis com o
aprendizado xamânico, que é realizado através do consumo regular e
repetitivo da bebida, durante anos. A formação do xamã (sheripiari)
(sheripiari),, no
entanto, nunca pode ser considerada como concluída. Se a experiência lhe
confere respeito e credibilidade, ele está sempre aprendendo.

VIAGEM ATRAVÉS DA AYAUSCA-KAMARÃPI


É através do kamarãpi que o sheripiari realiza suas viagens nos outros
mundos e adquire a sabedoria para curar os males e as doenças que afetam
a comunidade.
A cura realizada através do kamarãpi é eficaz apenas para as doenças
nativas causadas, geralmente, por meio da feitiçaria. Contra as “doenças de
branco” os Ashaninka só podem lutar com o auxílio de remédios
industrializados.

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PIYARENTSI
O PIYARENTSI, por sua vez, possui uma dimensão mais marcadamente
festiva, mas também possui dimensões econômicas, políticas e religiosas.
O ritual constitui o principal modo de sociabilidade e de interação social
entre os grupos familiares. Nos piyarentsi discute-se de tudo: casamentos,
brigas, caçadas, problemas com os brancos, projetos etc.

Em Apiwtxa, a organização de um ou vários piyarentsi ocorre com muita


freqüência, geralmente todos os finais de semana. O convite para beber tem
o caráter de uma obrigação social e rejeitá-lo é considerado uma ofensa.
Após contar com a ajuda do homem para arrancar a mandioca, a mulher é a
única responsável pela preparação da bebida.
Descascada, lavada e cozida, a mandioca (kaniri
(kaniri)) é posta numa grande
gamela (intxatonaki
(intxatonaki),
), onde é desmanchada com uma pá de madeira
(intxapatari).
intxapatari). Uma pequena porção é posta na boca e mastigada até adquirir
consistência de pasta, momento em que é jogada na gamela. Este processo
se repete com toda a mandioca. A gamela é então recoberta por folhas de
bananeira e a massa deixada em fermentação de um a três dias. O convite é
feito, geralmente, pelo marido, que passa de casa em casa avisando aos
outros chefes de família que haverá piyarentsi.
piyarentsi.
Todos os Ashaninka da aldeia participam da festa, em que bebem grandes
quantidades de piyarentsi.
piyarentsi. Embriagar-se nessa ocasião é sempre um
objetivo e motivo de orgulho. Os homens demonstram sua resistência
física, passando dias e noites bebendo, indo de casa em casa, sem dormir.
No auge da embriaguez, os Ashaninka tocam suas músicas, dançam, riem.
Afirmam que fazem piyarentsi para homenagear Pawa, que se alegra vendo
os seus filhos felizes. Foi durante uma reunião de piyarentsi que Pawa

42
reuniu seus filhos, embebedou-os e realizou as grandes transformações
antes de deixar a Terra e subir ao céu (Mendes 1991: 108).
Hoje, se as assembléias comunitárias aparecem como novos rituais gerados
pela situação de contato, é ainda no piyarentsi que se fortalece tanto a
política interna como externa. Além de conversarem sobre os assuntos do
cotidiano da comunidade, no piyarentsi os Ashaninka discutem os projetos
e é também aí que tentam conscientizar os parentes recém-chegados do
Peru, explicando com orgulho a história da comunidade e sua organização.

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CERRO DE LA SAL

SOCIEDADES ORGANIZADAS EM ESFERAS CONCÊNTRICAS de


sociabilidade e de coesão política (para qualquer ponto de referência): de
fato, não só as regiões formam províncias, como as províncias, ou pelo
menos os grupos fronteiriços e os chefes de prestígio, unem-se por sua vez
e tendem a integrar os vizinhos periféricos, mesmo que sejam estrangeiros,
num movimento centrípeto que contrabalança as periódicas divisões
internas das unidades locais, decompostas e recompostas a cada geração.
Esferas de sociabilidade em que cada unidade local, regional e provincial
mantém sua autonomia plena e se coloca como um centro de integração
que se irradia, de modo que a imagem da sociedade campa é a de um
organismo multicentrado cuja coesão se funda na multiplicação das
relações horizontais, igualitárias e reticuladas estabelecidas por cada
unidade local independentemente.
Sistema reticular ligando conjuntos tangentes e ESFERAS
CONCÊNTRICAS, são estas as duas figuras que parecem melhor exprimir
o tipo de organização "nacional" dos Kampa. Mas falar em ESFERAS
CONCÊNTRICAS significa falar de centro único, e é essa uma das
contradições socioculturais desses povos: todos detêm os mesmos locais
sagrados palcos dos mesmos atos civilizadores e nomeados pelo mesmo
topónimo, de modo que entre um rio e outro, repetem-se os mesmos nomes
de lugares aos quais estão ligados os mesmos mitos.

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PARENI – heroína civilizadora, que fez um longo percurso até o Cerro de


la Sal em que se transformou.

PARTILHA DO PERCURSO DE PARENI


Os kampas repartiram entre si o percurso de Pareni, heroína civilizadora, de
modo que cada província possui apenas um trecho da viagem dirigida a um
único centro, o Cerro de Ia Sal em que ela se transformou.
43
O SENTIDO DA VIAGEM DOS KAMPAS AO CERRO DE LA SAL.
Cada vez que um viajante chega a esse local, longínquo ou próximo pró ximo
dependendo de seu local de residência, restitui ao mesmo tempo à viagem e
aos Kampa
Kampa sua unidade nacional.

SISTEMAS DE EIXOS ORIENTADOS EM DIREÇÃO AO SAL


Assim, um sistema de eixos orientados em direção a um local únicoúnico e não
duplicável, fonte do sal, se sobrepõe à multiplicidade bem repartida dos
centros regionais.
regionais. Como que para tornar sensível a con-tradição entre os
dois sistemas, reticular e concêntrico,
concêntrico, ou sublinhai a inflexão hierárquica
introduzida por este último, para o qual convergiam
convergiam centenas de Araxvak e
Pano todos os anos, para comerciar, as vizinhanças do Cerro de Ia Sal
apresentavam uma concentração cadacada vez maior de aldeias populosas, com
uma chefia permanente, um sistema de vigias e de fortins ao longo do
Perene e do lambo, a preeminência
preeminência do chefe do Cerro de Ia Sal sobre seus
congéneres''' e seu papel frequente de guardião das terras que tomava a
iniciativa da guerra contra o ESTRANGEIRO.
Esferas concêntricas ou sistema reticular, num jogo de escritura torna-se
necessário para distinguir os diversos sistemas associativos.
associativos.
204
€€€€€€
“Com o sal dos Kampa o governo pretende criar um fundo para comprar
de volta Tacna e Arica, perdidas na guerra contra o Chile.”
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
ISA 3

SAL - TSIWI
Nesse sistema comercial e guerreiro, os Ashaninka e, de uma maneira
geral, os Aruak sub-andinos, ocupavam um lugar de destaque. Sua situação
privilegiada resultava não só de sua localização estratégica entre as terras
altas e os grupos Pano – que lhes permitia ativar a mobilização dos "povos
da floresta" quando a ameaça Inca ou branca se intensificava –, mas
também do controle da produção do principal produto envolvido no
comércio amazônico: O SAL, chamado TSIWI entre os Ashaninka do rio
Amônia.

O SABOR DO SAL
Para os "povos da floresta", o SAL era um produto altamente cobiçado pelo
sabor que dava à comida e por ser o meio de conservação de alimentos no
clima quente e úmido das terras baixas.

44
Situadas nas proximidades do rio Perene, em território ashaninka, as minas
das colinas do Cerro de la Sal constituíam tanto a principal fonte de
abastecimento para os povos amazônicos, como o centro político,
econômico e espiritual dos Aruak sub-andinos. Enquanto seu padrão de
assentamento tradicional é disperso, nas proximidades do Cerro de la Sal
estabeleceu-se uma concentração maior de diferentes grupos Amuesha,
Matsiguenga, Nomatsiguenga e, sobretudo, Ashaninka.
Nesse cenário, os Anti impediram durante séculos a penetração em massa
do não-amazônico em suas terras, mantendo a fronteira entre as terras altas
e as terras baixas relativamente estável.

€€€€€

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
CAPITAO X 2 ESPACIAL E FITZCARRALDO

(...) a história elegeu Carlos Fitzcarraldo como o "Rei do caucho".


Fitzcarraldo refugiou-se entre os índios do Gran Pajonal depois de ser
acusado de espionagem para o Chile e condenado à morte pelas autoridades
peruanas.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

SONHOS-MEMÕRIAS-LEMBRANÇAS DO CERRO DE LA SAL


O cerro sõ aparece em sonhos-lembranças.

Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Quem é o Capitão X 2 espacial.

Acusado de espionagem para o Chile (1880), condenado à morte pelas


autoridades peruanas e salvo in extremis, refugiou-se durante algum tempo
no gran pajonal, após a colonização ter se apossado do Cerro de Ia Sal
pouco a pouco, empurrando os Kampa para essa regiao.
Acompanhado por seu Cavalo-Robö. No Gran Pajonal, prõximoa aldeia
kampa, resolveu construir uma cidade de ferro, a exemplo de (...) que
45
construíu Metropólis no filme de Lang, para esse louco empreendimento
projetou instalar uma ferrovia.
Jogando com o messianismo, interpretado pelos Ashaninka como o
"Messias" de volta, e mais especificamente, como a personalização de um
famoso espírito Amachénka (Amachegua) enviado por Pawa (o demiurgo
ashaninka), o Capitão X 2 Espacial consegue juntar sob seu controle vários
Ashaninka a quem ele retribui (gratifica com presentes – que presentes – e
espingardas Winchester) com armas. Aos Kampa se juntam os Piro e
alguns mestiços, constituindo uma "verdadeira milícia" que permite ao
Capitão controlar a produção de caucho (ou ferro na região e construir a
cidade de ferro) em uma vasta área.
O processo está engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria, montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira milícia kampa-
piro cujas qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos geográficos de
imensos territórios sabia apreciar.
Figura sanguinária do grande patrão, as aventuras desse personagem –
figura sanguinária do grande patrão - foram responsável pelas correrias
sanguinárias que marcaram a história da região. A exploração do caucho
(ferro)provocou a dizimação de muitas populações nativas. Além de usar as
rivalidades tradicionais entre os grupos, O Capitão X 2 promoveu correrias
intra-étnicas entre os Ashaninka, rompendo a proibição da guerra interna ao
grupo.

Mas os impérios dos caucheros esgotavam depressa demais suas reservas


humanas; calcula-se
calcula-se que 40 mil Witolo foram extermina-dos entre 1900 e
1910 no Putumayo. As incessantes
incessantes correrias (como são popularmente
chamados popularmente os ataques aos índios e a conseqüente expulsão de
suas terras pelos seringalista) com seu assustador desperdício
desperdício de vidas
humanas subiam cada vez mais os rios para compensar as carnificinas ao
norte
norte e a leste, no Madre de Diós e na região do Acre; exatamente onde
Suarez, acusado de inúmeros crimes sem jamais ter sido processado, daria
refúgio e "trabalho" a Macedo e Meaacho, fugindo de pesadas penas pelo
caso
caso do Putumayo.

Outros RELATOS GRAVADOS,


GRAVADOS, feitos pêlos sobreviventes,
sobreviventes, seus parentes
jovens ou seus descendentes
descendentes contam o desespero do cativeiro: mães que
matavam seus bebês esmagando-lhes o crânio contra as vigas da casa-
prisão para que não fossem escravos, e os que comiam terra para se
46
suicidar apesar de amarrados; falam das torturas e relembram o terror de
uma insondável angústia: CORPOS COBERTOS DE GASOLINA GASOLINA E
QUEIMADOS VIVOS PARA ILUMINAR AS REFEIÇÕES
CAMPESTRES SERVIDAS POR FITZCARRALDO; FITZCARRALDO; mulheres que
recusavam a concubinagem tinham
tinham as costas dilaceradas e cobertas de
pimenta, eram trancadas sob o sol ardente em cubículos de zinco até
morrerem; corpos torturados,
torturados, almas mutiladas... "Arames farpados de
loucura!" Essas palavras, esses gritos, esses
esses testemunhos far-se-ão ouvir,
mas na obra em negro em que não lhes serão restituídos seus quinhões de
espaço e de liberdade.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXX

Pouco a pouco a colonização se apossa do Cerro de Ia Sal, empurrando os


Kampa para o Gran Pajonal. Foi nessa região que Fitzcarraldo, acusado de
espionagem para o Chile (1880), condenado à morte e salvo in extremis,
refugiou-se durante algum tempo.

Interpretado pelos Ashaninka como o "Messias" de volta, e mais


especificamente, como a personalização de um espírito amachénka enviado
por Pawa (o demiurgo ashaninka), Fitzcarraldo consegue juntar sob seu
controle vários Ashaninka a quem ele retribui com armas. Aos Campa se
juntam os Piro e alguns mestiços, constituindo uma "verdadeira milícia"
que permite a Fitzcarraldo controlar a produção de caucho em uma vasta
área.

A morte de Fitzcarraldo durante um naufrágio no Alto Urubamba em 1897


encerra as aventuras de um personagem responsável pelas correrias
sanguinárias que marcaram a história da região. A exploração do caucho
provocou a dizimação de muitas populações nativas. Além de usar as
rivalidades tradicionais entre os grupos, Fitzcarraldo promoveu correrias
intra-étnicas entre os Ashaninka, rompendo a proibição da guerra interna ao
grupo.

Outros relatos gravados, feitos pêlos sobreviventes, seus parentes jovens ou


seus descendentes contam o desespero do cativeiro: mães que matavam
seus bebês esmagando-lhes o crânio contra as vigas da casa-prisão para que
não fossem escravos, e os que comiam terra para se suicidar apesar de
47
amarrados; falam das torturas e relembram o terror de uma insondável
angústia: corpos cobertos de gasolina e queimados vivos para iluminar as
refeições campestres servidas por Fitzcarraldo; mulheres que recusavam a
concubinagem tinham as costas dilaceradas e cobertas de pimenta, eram
trancadas sob o sol ardente em cubículos de zinco até morrerem; corpos
torturados, almas mutiladas... "Arames farpados de loucura!" Essas
palavras, esses gritos, esses testemunhos far-se-ão ouvir, mas na obra em
negro em que não lhes serão restituídos seus quinhões de espaço e de
liberdade.

A partir de 1912, a economia caucheira entra progressivamente em crise


com a queda dos preços da borracha no mercado internacional. As correrias
institucionalizadas pelos patrões caucheiros vão diminuindo durante as
primeiras décadas do século XX, até desaparecerem. Com os avanços da
colonização peruana na região amazônica, muitos Ashaninka passam a
trabalhar em várias atividades econômicas promovidas pelos brancos:
fazenda, agricultura, café, caça, madeira, caucho…
Frente à violência da economia caucheira, muitos Ashaninka também
lutaram com as armas, alguns migraram para as regiões brasileiras e
bolivianas fronteiriças, outros encontraram nas missões protestantes e
evangélicas uma forma de proteção.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Mas os impérios dos caucheros esgotavam depressa demais suas reservas


humanas; calcula-se
calcula-se que 40 mil Witolo foram extermina-dos entre 1900 e
1910 no Putumayo. As incessantes
incessantes correrias com seu assustador desperdí-
desperdí-
cio de vidas humanas subiam cada vez mais os rios para compensar as
carnificinas ao norte
norte e a leste, no Madre de Diós e na região do Acre;
exatamente onde Suarez, acusado de inúmeros crimes sem jamais ter sido
processado, daria refúgio e "trabalho" a Macedo e Meaacho, fugindo de
pesadas penas pelo caso
caso do Putumayo.

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Os Kampa de Fitzcarraldo foram lançados contra outros Kampa; essa
"nação" que tinha perdido o ferro, o sal e o controle do comércio
interamazônico se via diante da derrocada
derrocada de suas bases sociais e culturais:
a lei que regia as relações dos Ashaninca entre si foi desprezada. Alguns
Kampa, enlouquecidos, se apossavam das armas de outros Kampa vendidos
vendidos
como escravos. Contra eles só havia duas coisas a fazer: a morte ou o exílio
voluntário para escapar dela, enquanto a memória de seus nomes, de seus
atos, contraposta à de antigos
antigos nomes gloriosos, deveria permitir o retorno
retorno a
certas tradições e, fomentando sua reunião,
reunião, promover o renascimento
48
kampa. Atualmente, já saíram de seu isolamento local os sobreviventes dos
que participaram das correrias
correrias pós-borracha (1920-50). Reinseridos no
tecido social eles contam, como se falassem de um momento
incompreensível de si mesmos,
mesmos, sua loucura de antanho, gerada pela de seus
pais.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXX

FITZCARRALDO – CAPITAO X 2

(...) a história elegeu Carlos Fitzcarraldo como o "Rei do caucho".


Fitzcarraldo refugiou-se entre os índios do Gran Pajonal depois de ser
acusado de espionagem para o Chile e condenado à morte pelas autoridades
peruanas. Interpretado pelos Ashaninka como o "Messias" de volta, e mais
especificamente, como a personalização de um espírito amachénka enviado
por Pawa (o demiurgo ashaninka), Fitzcarraldo consegue juntar sob seu
controle vários Ashaninka a quem ele retribui com armas. Aos Campa se
juntam os Piro e alguns mestiços, constituindo uma "verdadeira milícia"
que permite a Fitzcarraldo controlar a produção de caucho em uma vasta
área. A morte de Fitzcarraldo durante um naufrágio no Alto Urubamba em
1897 encerra as aventuras de um personagem responsável pelas correrias
sanguinárias que marcaram a história da região. A exploração do caucho
provocou a dizimação de muitas populações nativas. Além de usar as
rivalidades tradicionais entre os grupos, Fitzcarraldo promoveu correrias
intra-étnicas entre os Ashaninka, rompendo a proibição da guerra interna ao
grupo.
A partir de 1912, a economia caucheira entra progressivamente em crise
com a queda dos preços da borracha no mercado internacional. As correrias
institucionalizadas pelos patrões caucheiros vão diminuindo durante as
primeiras décadas do século XX, até desaparecerem. Com os avanços da
colonização peruana na região amazônica, muitos Ashaninka passam a
trabalhar em várias atividades econômicas promovidas pelos brancos:
fazenda, agricultura, café, caça, madeira, caucho…
Frente à violência da economia caucheira, muitos Ashaninka também
lutaram com as armas, alguns migraram para as regiões brasileiras e
bolivianas fronteiriças, outros encontraram nas missões protestantes e
evangélicas uma forma de proteção.
Outros relatos gravados, feitos pêlos sobreviventes, seus parentes jovens ou
seus descendentes contam o desespero do cativeiro: mães que matavam
seus bebês esmagando-lhes o crânio contra as vigas da casa-prisão para que
não fossem escravos, e os que comiam terra para se suicidar apesar de
amarrados; falam das torturas e relembram o terror de uma insondável
angústia: corpos cobertos de gasolina e queimados vivos para iluminar as
49
refeições campestres servidas por Fitzcarraldo; mulheres que recusavam a
concubinagem tinham as costas dilaceradas e cobertas de pimenta, eram
trancadas sob o sol ardente em cubículos de zinco até morrerem; corpos
torturados, almas mutiladas... "Arames farpados de loucura!" Essas
palavras, esses gritos, esses testemunhos far-se-ão ouvir, mas na obra em
negro em que não lhes serão restituídos seus quinhões de espaço e de
liberdade.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Pouco a pouco a colonização se apossa do Cerro de Ia Sal, empurrando os
Kampa para o Gran Pajonal. Foi nessa região que Fitzcarraldo, acusado de
espionagem para o Chile (1880), condenado à morte e salvo in extremis,
refugiou-se durante algum tempo. Jogando com o messianismo, dizendo
que levaria os Kampa para junto do famoso Amachegua, ele consegue
atrair um grupo inteiro que gratifica
gratifica com presentes e espingardas
Winchester. O processo está engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria, montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira milícia kampa-
piro cujas qualidades
qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos
conhecimentos geográficos de
imensos territórios sabia apreciar. Foram eles, afinal, que o fizeram des-des -
cobrir o varadero chamado istmo de Fitzcarraldo, que lhe permitiu fazer
carregar barcos do Ucayali ao Madre de Diós, e no qual projetava instalar
uma ferrovia quando morreu prematuramente.
prematuramente.
Mas os impérios dos caucheros esgotavam depressa demais suas reservas
humanas; calcula-se
calcula-se que 40 mil Witolo foram extermina-dos entre 1900 e
1910 no Putumayo. As incessantes
incessantes correrias com seu assustador desperdí-
desperdí-
cio de vidas humanas subiam cada vez mais os rios para compensar as
carnificinas ao norte
norte e a leste, no Madre de Diós e na região do Acre;
exatamente onde Suarez, acusado de inúmeros crimes sem jamais ter sido
processado, daria refúgio e "trabalho" a Macedo e Meaacho, fugindo de
pesadas penas pelo caso
caso do Putumayo.
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Os Kampa de Fitzcarraldo foram lançados contra outros Kampa; essa
"nação" que tinha perdido o ferro, o sal e o controle do comércio
interamazônico se via diante da derrocada
derrocada de suas bases sociais e culturais:
a lei que regia as relações dos Ashaninca entre si foi desprezada. Alguns
Kampa, enlouquecidos, se apossavam das armas de outros Kampa vendidosvendidos
como escravos. Contra eles só havia duas coisas a fazer: a morte ou o exílio
voluntário para escapar dela, enquanto a memória de seus nomes, de seus
50
atos, contraposta à de antigos
antigos nomes gloriosos, deveria permitir o retorno
retorno a
certas tradições e, fomentando sua reunião,
reunião, promover o renascimento
kampa. Atualmente, já saíram de seu isolamento local os sobreviventes dos
que participaram das correrias
correrias pós-borracha (1920-50). Reinseridos no
tecido social eles contam, como se falassem de um momento
incompreensível de si mesmos,
mesmos, sua loucura de antanho, gerada pela de seus
pais.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

ESPINGARDAS WINCHESTER
Foi nessa região que Fitzcarraldo, acusado de espionagem para o Chile
(1880), condenado à morte e salvo in extremis, refugiou-se durante algum
tempo. Jogando com o messianismo, dizendo que levaria os Kampa para
junto do famoso Amachegua, ele consegue atrair um grupo inteiro que
gratifica
gratifica com presentes e espingardas Winchester. O processo está
engatilhado.
"Com um conhecimento profundo da montaria,
montaria, ele soube utilizar as
rivalidades tradicionais
tradicionais [...] O método é simples: dão-se Winchesters aos
Cunibo que devem pagar em escravos kampa, e em seguida dão-se
Winchesters aos Kampa que devem pagar em escravos cunibo [ou outros]"
(cf. nota 30).

MILÍCIA KAMPA-PIRO
De fato, Fitzcarraldo acaba conseguindo uma verdadeira MILÍCIA
KAMPA-PIRO cujas qualidades
qualidades guerreiras e espantosos conhecimentos
conhecimentos
geográficos de imensos territórios sabia apreciar. Foram eles, afinal, que o
fizeram descobrir
descobrir o varadero chamado istmo de Fitzcarraldo, que lhe
permitiu fazer carregar barcos do Ucayali ao Madre de Diós, e no qual
projetava instalar uma ferrovia quando morreu prematuramente.
prematuramente.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Outros relatos gravados, feitos pêlos sobreviventes, seus parentes jovens ou


seus descendentes contam o desespero do cativeiro: mães que matavam
seus bebês esmagando-lhes o crânio contra as vigas da casa-prisão para que
não fossem escravos, e os que comiam terra para se suicidar apesar de
amarrados; falam das torturas e relembram o terror de uma insondável
angústia: corpos cobertos de gasolina e queimados vivos para iluminar as
refeições campestres servidas por Fitzcarraldo; mulheres que recusavam a
concubinagem tinham as costas dilaceradas e cobertas de pimenta, eram
trancadas sob o sol ardente em cubículos de zinco até morrerem; corpos
51
torturados, almas mutiladas... "Arames farpados de loucura!" Essas
palavras, esses gritos, esses testemunhos far-se-ão ouvir, mas na obra em
negro em que não lhes serão restituídos seus quinhões de espaço e de
liberdade.

SEQÜÊNCIA IV – O ANJO PALHAÇO

Capitão – o que fazes aqui? Por que me persegues?

Mulher – tu me persegues.

Capitão – o teu corpo, estas tintas me perseguem. A tua feitiçaria, a tua


alegria me persegue.

FLAUTISTA DE HAMELIN E O CAVALO ROBÔ


FLAUTISTA ASHANINCA QUE TOCA A FLAUTA TUTAMA

Entre os instrumentos musicais, os Ashaninka destacam


os tambores (tãpo)

e a flauta de tipo sõkari.

O tambor, de tamanho variável, é feito de madeira de cedro. O tronco é


escavado e recoberto dos dois lados com couro de porquinho, queixada ou
de várias espécies de macaco (preto, prego, barrigudo...), mais raramente,
de arraia. O couro é amarrado à madeira com uma corda de fibra natural
(imbaúba). A batida é feita com baquetas confeccionadas em madeira ou
com o osso de um macaco, geralmente o fêmur.

O sõkari é uma flauta de pã composta por cinco canos de bambu,


amarrados com uma corda feita a partir da linha de algodão. O bambu
utilizado é de uma espécie que os índios chamam de “shawope
“shawope”” e que vão
buscar no Alto Juruá peruano. O sõkari é geralmente tocado pelos homens
mais velhos e tem uma simbólica importante. Os informantes contam que
ele é usado para homenagear Pawa e se distingue das outras flautas, como
o showiretsi ou totama que são tocadas no piyarentsi,
piyarentsi, simplesmente para
dançar.
Mmmmmmmmmmmmmmm

FLAUTISTA DE HAMELIN E O CAVALO ROBÖ

52
FLAUTISTA
O que tem essa cidade, toda em aço frio? Onde está a sua gente? Onde está
o seu sorriso? Há música no ar? O ar expulsa a música, o rosto das
mulheres, as moças as meninas...?

3 ÍNDIOS FLAUTISTAS ASHANINCA


Flautista de Hamelin, hamelin, hamelin. Foge daqui, foge depressa. Aqui
não mora a música, a música não mora aqui. Flautista foge daqui.

FLAUTISTA
Onde está a fantasia desta cidade? As crianças, a alegria, as praças, e os
parques?

3 ÍNDIOS FLAUTISTAS ASHANINCA


Flautista de hamelin, foge agora, ou será tarde. Tem um Cavalo, o Cavalo
vem e acaba contigo.

FLAUTISTA
não vejo cavalo. Não tenho medo. Tenho a música que é minha arma.
(O CAVALO APARECE)

3 ÍNDIOS FLAUTISTA
Vê agora, meu rapaz? Te avisamos, foge agora, ainda é tempo. Ou será
tarde, o Cavalo avança em cima de ti.

FLAUTISTA
Tenho a música que é minha arma. Tenho minha música que é minha arma.

3 ÍNDIO FLAUTISTA
foge, foge, meu rapaz. A muito tocamos nossas flautas...

(ELE TOCA UMA CANÇÃO, O CAVALO ADORMECE. ELE VAI


LEVANDO O CAVALO PARA LONGE DA CIDADE, O CAPITÃO
AVANÇA FURIOSO COM UMA ARMA ESPACIAL, DÁ URROS.
LUTAM, LUTAM, O CAPITÃO DISPARA A ARMA, O FLAUTISTA
FOGE, VOA, DESAPARECE. O CAVALO ACORDA, RADIANTE,
FELIZ, FEROZ).

ÍNDIOS FLAUTISTAS
Te avisamos meu flautista, o cavalo é a praga. Não acreditastes, desafiastes.
Te avisamos meu rapaz.
53
Cavalos-robô não são ratos, são piores que praga.
(CAPITÃO E O CAVALO-ROBÔ ESTÃO EM FESTA).

A MORTE DO AMOR
Destino post-mortem
A ALMA dos Kampa, ISHIRE, sobrevive à morte e se junta a um ou outro
tipo dos espíritos imortais, os bons ou maus espíritos.

A ALMA INDIVIDUAL se parece com a pessoa cujo corpo habitou.

O centro da lame é o coração, e o mesmo termo é usado para ambos:


noshire, "meu coração", "minha alma". A alma é o que anima, o que dá
vida ao corpo.

A alma pode deixar o corpo por instantes — por exemplo, quando o xamã
leva a sua, num voo a um lugar distante, ou quando a pessoa está dormindo.

Para os Kampa o corpo é apenas e "roupa" da alma, pois


o eu essencial é a alma.

Eu acho que eu fui muito bom em vida, não fui tão mal.

Quando o Kampa morre, PODE UNIR-SE AOS BONS ou maus espíritos.


Se foi de fato MUITO BOM EM VIDA, torna-se UM BOM ESPÍRITO. Se
suas fraquezas humanas eram muito fortes, vira um espírito mau, que
voltará à aldeia em que viveu, atacando as pessoas que nela habitam. Além
disto, todo Kampa atacado por um demônio torna-se, após a morte, um
demônio de mesmo tipo. Os feiticeiros também viram demônios. Eles
consideram, portanto, que o mais comum é a pessoa tornar-se um mau
espírito e, por esta razão, abandonam a aldeia toda vez que ocorre uma
morte; partem, então, para a criação de uma nova aldeia, pois o morto é um
demônio em potencial.
Para prevenir o ataque de demónios, quando um louco ou um feiticeiro é
morto, eles o queimam, na expectativa de que a alma potencialmente
perigosa seja destruída pela chama junto com o corpo(cf. WEISS, 1974).

MULHER
Voltastes!?

HOMEM-DAS-PEDRAS-DO-AMOR
54
Voltei, vim te buscar pra seres seres minha esposa, casaremos em Inkite, no
alto dos céus.

MULHER
Não posso ir. Tenho um segredo, uma missão, um mistério. Só saio daqui,
se desvendo, fico presa. Me esquece, procura outra amante.

HOMEM-DAS-PEDRAS-DO-AMOR
Não consigo, em Inkiti já conversei com todos os deuses sobre o nosso
encontro-amoroso.Todos os Tosórenci já sabem de ti, vem comigo eu sou o
amor!

MULHER
Eu sei, quando partistes, o tempo me empurrava atrás de ti. Mas algo me
prendia.

HOMEM
És amante de um Cavalo que te prende?

MULHER
Não, não sou amante. O Cavalo é a arma do meu dono, minha arapuca.
Nenhum pássaro consegue se livrar. Sou apaixonada por ti, meu coração ti
escolheu.

HOMEM
Voa comigo.

MULHER
Não tenho asas.

HOMEM
Voa nas minhas costas para Inkiti, no andar de cima, ti levo.

MULHER
Não posso, tenho um trato.

(Capitão aparece, avança sobre o homem-das-pedras-do-amor ) (O cavalo


joga ondas-magnéticas sobre o corpo do homem).

€€€€€€€€€€

HOMEM

55
o que aconteceu comigo? A luz do cavalo queima meus olhos, me deixa
cego, encendeia o meu globo, chupa o meu sangue!

ÍNDIA-NA-SOMBRA
Homem-Das-Pedras-do-Amor, esta branco, amarelo, fraco, decaído como
folhas leves, que o vento leva. O membro dele esta mole, o corpo dele está
vazio.

MULHER
maldito matas-te o meu amor, antes que eu inteira me entregasse.
Mas te vingo, amado meu, louca que estou, possessa.
Te vingo com as mesmas mãos que te toquei.
Para o presente da pedra, presente furtado, o meu desafio aumenta. Tenho
que arrumar um jeito de destruir o Cavalo.
É a minha vingança, senão, não sossego.

MULHER
E tu, o que fazes aqui?
Andas sempre atrás de mim.

A MORTE
É tu que me provoca, que provoca em mim expectativas.

MULHER
Eu te odeio.

A MORTE
Esses índios me provocam, canibais.

MULHER
Eles fogem de ti. Tu estás contra eles.
A índia-na-sombra está escondida, desde o dia que tu levastes os filhos
dela.
Se escondeu debaixo de um guarda-sol, como um espectro, que foge do
mundo , do rio, dos matos e dos bichos.
Não conversa mais com os pássaros.
Os pajés me perseguem, me perseguem fugindo.
Não se entregam, sobrevivem poeticamente.
Em meus sonhos vestem túnicas mortuárias.
Mas perambulam por ai, nas fumaças coloridas do seu cigarro.

MULHER
mudaste de roupa.

A MORTE
56
mudei, mais continuo a mesma. O poder quer assim, eles mudam as
técnicas de execução.
Antes eu era a morte fria. Agora sou a morte lenta.

MULHER
Levaste o Amor.

(A MORTE NÃO OUVE MAIS. NUM OUTRO PONTO ELA CARREGA


O HOMEM-DAS-PEDRAS- DO-AMOR ).

MULHER
Sim precisamos matá-lo.

ÍNDIA-NA-SOMBRA
toma esta lança enfeitiçada, luta com ele, esta lança tem veneno dos Pajés-
Avós.
Chega e diz Cavalo-Robô não tenho medo de ti.

CAVALO-ROBÔ
quem falou?
Quem tem tamanha ousadia?
Quem luta comigo?

MULHER
eu fui escolhida.
Vou vingar o Homem-Das-Pedras-do-Amor.
Vou vingar tudo, tenho ajuda da Índia-Na-Sombra.

CAVALO-ROBÔ
Não tens medo da minha luz?

MULHER
estou cercada pela luz dos Pajés-Avós tenho veneno na flexa.

CAVALO-ROBÔ
não tens medo?
És mulher apenas.

MULHER
não tenho medo, fui eleita escolhida.
Os ventos, os rios, os matos me escolheram, os Pajés me escolheram, estou
cercada da força deles.

( APARECE O CAVALO).

57
( ela avança em direção ao cavalo, luta com ele, ele joga rajadas sobre o
corpo dela, ela se desvia, esguia um momento tira a flexa, acerta, o cavalo
urra, cai no chão, pesado incendeia, fumaças cinzas, aparece o Capitão
acompanhado de três soldados romanos).

CAPITÃO
o que fizeste?

MULHER
o que fiz?
Matei o mostro, sobraram-lhes as cinzas, a fumaça foi para o céu, com as
nuvens.

CAPITÃO
cometeste uma heresia.

MULHER
eu?

CAPITÃO
Sim, tu cometeste.

MULHER
o sangue dele? Os olhos, os membros, o corpo?

CAPITÃO
cometeste uma heresia.

MULHER
Eu não sei o que é uma heresia. Heresia não me dizem respeito.

CAPITÃO
Heresia é não ter medo do Cavalo-Robô.

MULHER
Mas eu tive, no começo eu tive medo do Cavalo-Robô, os olhos de
holofotes, aquela luz, a força, eu corri desesperada, peguei os maracás,
balancei os maracás.
Mas depois quando vi o Homem-Das-Pedras-do-Amor, o corpo a cor e os
membros, a força que ele não tinha de chorar, fiquei louca possessa.

CAPITÃO
serás julgada.

MULHER
58
eu, julgada?
Eu tenho medo de ser julgada por ti, o cavalo era teu.

CAPITÃO
esses soldados serão teus jurados.

MULHER
jurados são sete.

CAPITÃO
eles são três e são sete.

MULHER
eu tenho medo de ser julgada.
Quando eu era menina , eu ia para beira do rio, minha mãe dizia: não vai o
rio leva os meninos, leva os homens, os velhos!.
Mas eu ia, eu queria ver, eu ia, minha mãe descobria e dizia que quando
meu pai chegasse ele ia dizer o que eu merecia, o meu pai batia, era o
julgamento. Mas eu ia, os barcos passavam no rio, os matos, os pássaros;
passavam os meus sonhos e eu ia.
E o meu pai batia, não tenho medo de julgamentos, agora eu sei.

CAPITÃO
tira a roupa.

MULHER
estes senhores estão ai.

CAPITÃO
tira a roupa mulher. (ela tira).
Com essas tintas, são bichos, matos, raízes?

MULHER
são cores de pássaros do céu, seus rostos, suas asas.

CAPITÃO
pecadora. São Sebastião, padroeiro da cidade, julgará os teus pecados.

CRIANÇA MACABRA - CRIANÇA FEITIÇEIRA

“a feitiçaria domina vocës” Propércio

59
CRIANCAS-FEITICEIRAS
110
FEITIÇARIA - MATSI
A feitiçaria constitui uma categoria especial de atividade demoníaca. O
termo Kampa é MATSI. Acreditam na existência de FEITICEIROS
HUMANOS E NÃO HUMANOS. Os não humanos são vários tipos de
ABELHAS E FORMIGAS.

Quando alguém cai doente e o xamã diagnostica que alguma espécie de


FORMIGA OU ABELHA causou a doença por BRUXARIA, as pessoas da
aldeia saem para procurar nas redondezas estes INSETOS e os
DESTROEM, DESTRUINDO assim os SERES MATERIAIS USADOS
PARA A BRUXARIA.

FETIÇEIROS HUMANOS CRIANÇAS


Feiticeiros humanos são sempre crianças,
geralmente MENINAS,
que enterram materiais como
pedaços de esteiras, ossos
ou pedaços de mandioca
em volta da casa.
Estes materiais,
no entender dos Kampa,
podem entrar no corpo de alguém
e fazer um sério mal a ele.

(traduzir para cena de teatro)


As CRIANÇAS são seduzidas por demönios
na forma de animais —
grilos, esquilos ou outros —
que lhes ensinam bruxarias.
Quando aparecem a elas com esse propósito,
eles o fazem sob a forma humana.
A criança é abordada e,
deste modo,
começa inocentemente
mas, ao fazer feitiços,
torna-se uma ameaça social.

Uma criança acusada de bruxaria.

MENINA-FEITIÇEIRA-MÁ
Grilos, esquilos, abelhas e
formigas
Meus animaiszinhos diletos meus amiginhos
60
Se aproximam de mim
me seduzem
conversam comigo
bichinhios nocivos, sedutores
insetos nocivos
Linguagens do mal
Insetos do inferno
Insetos demoniozinhos
Meus brinquedos, meus bruxedos
Faço um feitiço, faço uma maldadezinha
Contra um parente, um dos meus,
contra minha própria família
Bruxedos infantis
Eu sou uma menina feiticeira
Indiazinha-bruxa
Criança má
ameaça social
um sou um bruxedo
eu e meus insetos demônios.

O que faz aquela menina-india tão pequena sentada na beira do rio em noite
de lua cheia cercada por 4 cavaleiros-indios
de aspecto tão estranho.

Eles não são 4 guerreiros-do-clã, são 4 insetos-nocivos, abelhas ou


formigas do mal, transformados em 4 Cavaleiros-demônios, seduzindo a
criança com seus encantos malignos, preparando algum plano de
enfeitiçamento, vão enfeitiçar alguém da família da menina. E a menina
feiticeira, má-criança, participa do plano.

Enterro materiais mágicos


pedaços de esteiras, ossos
ou pedaços de mandioca
em volta da casa,
para que estes materiais-enfeitiçados,
entrem no corpo de algum-adulto
da minha familia
todo mal a ele fazer
enterro esses matérias e meu parente
cai em extrema doença
adoece, dói ele, dói a família e a aldeia.

Formigas, grilos, abelhas, esquilos


Não haverá feitiço e coisa má maior nessa nossa aldeia de ferro e sal.
61
XAMÃ-SAMUEL
Criança estranha
Meninazinha má
Bruxinha
Garota feiticeira
Indiazinha desse inferno Kampa
Amiguinha dos demoniozinhos insetos
Acabo de diagnosticar uma doença
causada por feitiço humano,
já sei o que e quem foi a causa,
uma criança fez o feitiço
colocou doença na pessoa
a criança feiticeira na aldeia é tu
criança-má menina-bruxa
enfeitiçando pessoa da própria família.
Gorota-satänica.

(Ele agarra a criança com força bruta pelo próprio braço, apertando-le a
pele, os ossos e a carne, a gorota-berra.)

A MENINA-FEITICEIRA
Me larga, está machucando o meu bracinho, velho bruto.

XAMA-SAMUEL
Isso é para não botar mais feitiço no corpo de um parente,
causando-lhe seria doença, bichinho malvado, um belisão forte para ti e
teus insetos-demönios.

Essa criança má, enfeitando um parente, faz a aldeia toda se doer. Por isso
obrigo essa coisinha má a desenterrar os materiais do feitiço.

ele normalmente designa alguma criança na aldeia, muitas vezes na


própria- família da vítima, como feiticeira. Esta criança é tratada de forma
bruta e forçada a desenterrar os materiais que escondeu.

Na cena A a vítima melhora, a criança é perdoada com o conselho de


desistir das bruxarias.

Na cena B a vítima morre (o parente enfeitiçado), a criança é morta ou


comercializada com os brancos. Outras fontes confirmam estes fatos: "as
crianças Kampa e Amuexa são frequentemente acusadas de bruxaria, os
Kampa normalmente torturam e podem até queimá-las vivas.

62
A menina-feitiçeira é surrada, privada de comida e confinados em um
quarto com muita fumaça.

O caso de uma garota de nove anos,


que, em 1896, estava na iminência de ser morta devido à acusação de
feitiçaria.

Entre os Amuexa, considerados um sub-grupo Kampa, os feiticeiros


Trazem então o paciente e fazem com que ele retire os ossos, espinhos ou
outros objetos que causaram o mal. Se a vítima não melhora, o feiticeiro é
morto e jogado ao rio.
JULGAMENTO E HERESIA DA HERESIA- CENA XXV

MISSOES
(Em ACRE: HISTÓRIA... DA PÁGINA 80 A – FRANCISCANO)

Colonização e revoltas indígenas


Contrariamente a outras sociedades indígenas da Amazônia, o povo
ashaninka TEM UMA LONGA HISTÓRIA DE CONTATO COM O
MUNDO DOS BRANCOS, INICIADA DESDE O FINAL DO SÉCULO
XVI.

Depois da ocupação da Costa e da Serra, OS ESPANHÓIS


CONQUISTAM O IMPÉRIO INCA E INICIAM SUA PENETRAÇÃO
EM DIREÇÃO À AMAZÔNIA.

Os jesuítas Font e Mastrillo foram os primeiros a estabelecer um contato


com os Ashaninka, em 1595. Explorando a Selva Central a partir da cidade
serrana de Andamarca, as duas cartas enviadas pelos jesuítas a seus
superiores constituem a primeira fonte documentada sobre um grupo de
índios Pilcozone,
Pilcozone, hoje identificado como Ashaninka.

LOS FRANCISCANOS
Quarenta anos depois do primeiro contato realizado pelos jesuítas,
os FRANCISCANOS iniciam a evangelização das populações indígenas da
Selva Central
com uma entrada mais ao norte,
próxima à região do Cerro de la Sal.

63
Em 1635, JERÓNIMO JIMENEZ
inaugura a chegada dos FRANCISCANOS,
entrando em território ashaninka e fundando a missão de Quimiri (atual
cidade de La Merced). Em 1637, ele organiza a primeira viagem de
exploração do rio Perene, mas ENCONTRA A MORTE, VÍTIMA DE
UMA TOCAIA ASHANINKA.
ASHANINKA.

Em 1648, atraídos pelo mito de Paititi que apresenta o lugar como rico em
ouro, uma EXPEDIÇÃO DE MISSIONÁRIOS e aventureiros SE DIRIGE
AO CERRO DE LA SAL, mas é novamente DIZIMADA POR UM
ATAQUE ASHANINKA.

BIEDMA – FRANCISCANO
O FANTASMA DO FRANCISCANO BIEDMA

Apesar das derrotas sucessivas, AS ENTRADAS DOS ESPANHÓIS


CONTINUAM. A desarticulação do sistema de trocas nativo, através DA
INSTALAÇÃO DE MISSÕES em sítios estratégicos, está presente pela
primeira vez na empresa evangelizadora de BIEDMA, FRANCISCANO
identificado como O PRIMEIRO EXPLORADOR DA REGIÃO
PERUANA DE MONTAÑA .

Depois de obter, em 1671, uma licença para realizar novas entradas na


região do CERRO DE LA SAL,
BIEDMA organiza uma primeira expedição em 1673, abrindo novamente a
missão de Quimiri, até então perdida, e cria Santa Cruz de Sonomoro,
controlando desse modo as principais rotas de acesso às terras altas. Em
1674, Biedma funda a missão de Pichana com o objetivo de controlar o
trânsito dos nativos entre os rios Ene e Tambo na direção do CERRO DE
LA SAL. Deixada aos cuidados do Padre Izquierdo, a população ashaninka
de Pichana, liderada pelo cacique Mangoré, apoiado pelos chefes do
CERRO DE LA SAL, revolta-se contra A ADMINISTRAÇÃO
FRANCISCANA, que tenta PROIBIR A POLIGAMIA, e MATA OS
MISSIONÁRIOS.
Partidário do uso da força para conquistar os índios, BIEDMA MORRE
EM 1687 numa outra expedição para fundar uma missão no rio Tambo. A
morte trágica de BIEDMA, provavelmente vítima da vingança dos Piro
que, no ano anterior, tinham sido atacados pelos Conibo que
ACOMPANHAVAM O MISSIONÁRIO, fecha PRATICAMENTE O RIO
TAMBO À PENETRAÇÃO BRANCA ATÉ O INÍCIO DO SÉCULO XX.

64
INTENSIFICAÇÃO DA PRESSÃO SOBRE O CERRO DE LA SAL.
Cem anos depois dos primeiros contatos entre os Ashaninka e os brancos,
os resultados da penetração espanhola são praticamente nulos. Os esforços
dos colonizadores continuam no século XVIII com a INTENSIFICAÇÃO
DA PRESSÃO SOBRE O CERRO DE LA SAL. Em ALGUMAS
MISSÕES, os padres instalam forjas e apresentam-se como os únicos

PROVEDORES DE INSTRUMENTOS DE METAIS para atrair e manter


sob controle a população nativa.

CONSTRUÇAO DE FORTES
Ignorado na época de BIEDMA, o PEDIDO FRANCISCANO à Coroa para
a CONSTRUÇÃO DE FORTES NA REGIÃO concretiza-se com A
CRIAÇÃO, EM 1737, DO PRIMEIRO FORTE NA MISSÃO DE SANTA
CRUZ DE SONOMORO.

As MISSÕES MAIORES podiam agrupar centenas de nativos, mas a


proporção da população indígena aldeada é mínima.

INDIOS FOGEM ABANDONANDO AS MISSOES


Muitos índios fogem abandonando AS MISSÕES, outros preferem manter-
se isolados dos brancos, enquanto a maioria estabelece contatos
esporádicos, geralmente através de um chefe, com os MISSIONÁRIOS
para obter INSTRUMENTOS DE METAL e outras mercadorias. Apesar
dessa constatação geral, o suporte progressivo da Coroa AOS
FRANCISCANOS, tanto em homens armados como em dinheiro,
aumentou a PRESSÃO ESPANHOLA na SELVA CENTRAL e a
MULTIPLICAÇÃO DAS MISSÕES causou um impacto importante no
modo de vida das populações indígenas, fundamentando as bases das
revoltas nativas. Na visão indígena, a vida nas MISSÕES é também
associada à morte e ao terror das doenças.

O padrão de assentamento imposto pelas MISSÕES traduziu-se primeiro


pela sedentarização e a convivência obrigatória em aldeias multi-étnicas de
uma população heterogênea caracterizada por laços de afinidade, mas
também por conflitos e rivalidades internas.

65
A PERDA DA LIBERDADE, ESSÊNCIA DA VIDA ASHANINKA,
intensificou-se com A PROIBIÇÃO DA POLIGAMIA.

O FANTASMA do franciscano Biedma, morto em 1687, vaga pela


margem do rio Tambo ... (fantasma do “A conquista do México” de
Artaud) nos vidros da cidade de ferro do Capitão X 2 Espacial.

POLIGAMIA
Como assinalou Bodley, durante os primeiros séculos da conquista
espanhola, O PAPEL DOS CHEFES foi determinante NOS SUCESSOS E
FRACASSOS DAS MISSÕES. Ora, enquanto a DISTRIBUIÇÃO DE
MERCADORIAS AO CHEFE permitia aos MISSIONÁRIOS exercer um
certo controle sobre a população, O COMPORTAMENTO DOS
CACIQUES DESAFIAVA O IDEAL CRISTÃO. Atributo de prestígio
para os chefes, A POLIGAMIA era considerada pelos PADRES
FRANCISCANOS como um COMPORTAMENTO SOCIAL
ESCANDALOSO, REVELADOR DE UMA CAÓTICA
PROMISCUIDADE PRIMITIVA.

Como assinalou Bodley, durante os primeiros séculos da conquista


espanhola, O PAPEL DOS CHEFES foi determinante NOS SUCESSOS E
FRACASSOS DAS MISSÕES. Ora, enquanto a DISTRIBUIÇÃO DE
MERCADORIAS AO CHEFE permitia aos MISSIONÁRIOS exercer um
certo controle sobre a população, O COMPORTAMENTO DOS
CACIQUES DESAFIAVA O IDEAL CRISTÃO. Atributo de prestígio
para os chefes,

BIEDMA
ORA essa POLIGAMIA Sr. Chefe
um comportamento social escandaloso,
revelador de uma caótica promiscuidade primitiva.
Para que tantas mulheres
Uma apenas basta, pra que 4 mulheres
Uma é que é certo
4 é pecado
4 mulheres a igreja condena
Deus acha uma extravagäncia
Ora, seu Chefe
seu comportamento social escandaloso,
revela uma caótica promiscuidade primitiva.

CHEFE
4 mulheres é um privilegio
4 é um privilegio do Chefe.
66
Atributo de privilégio para o Chefe é ter 4 mulheres.

€€€€€€€€

JUAN SANTOS ATAHUALPA


(...) A insurreição indígena dirigida por JUAN SANTOS Atahualpa ocupa
um lugar de destaque na história peruana e merece uma atenção especial.
Através ela, os Índios da selva central e, principalmente, os Ashaninka,
recuperam sua autonomia política e a integralidade de seu território
tradicional, progressivamente cedido aos brancos.
(...)Apresentado como um mestiço andino ou um índio quéchua,
Messias libertador - auto-proclamado inca ou “filho de deus”, herdeiro
legítimo do império roubado pelos espanhóis, Atahualpa pretende restaurar
seu reino perdido e expulsar os intrusos com a ajuda de seus irmãos
indígenas, unidos na luta contra o branco.

Atahualpa teria recebido uma educação religiosa em Cuzco e viajado pela


Europa e África (Angola e Congo) com um padre jesuíta. Ele chega a
Quisopango, no coração do Gran Pajonal, em março de 1742,
acompanhado por um chefe Piro.

Com a notícia da chegada do MESSIAS LIBERTADOR, mensageiros


indígenas são enviados do GRAN PAJONAL e se espalham pela SELVA
CENTRAL e nas terras altas vizinhas.

Os índios respondem à mensagem e, rapidamente, AS MISSÕES


FRANCISCANAS SÃO ABANDONADAS. Ashaninka, Amuesha, Piro,
Conibo e outros grupos convergem para o GRAN PAJONAL animados
pela esperança de VER O FILHO DE DEUS. Índios serranos juntam-se ao
movimento E A Revolta Pan-Indígena se organiza na SELVA CENTRAL.
JUAN SANTOS ATAHUALPA convida os espanhóis e africanos a se
RETIRAREM PARA AS TERRAS ALTAS.
SE RETIREM PARA TERRA ALTA

O convite é recusado e O CONFRONTO ARMADO SE TORNA


INEVITÁVEL.
Entre 1742 e 1752, OS ENFRENTAMENTOS ENTRE ÍNDIOS E
TROPAS ESPANHOLAS SE MULTIPLICAM, oferecendo AOS
REBELDES UMA SÉRIE DE VITÓRIAS QUE GARANTIRAM A
AUTONOMIA POLÍTICA DOS ÍNDIOS DA SELVA CENTRAL
PERUANA E A INVIOLABILIDADE DE SEUS TERRITÓRIOS
TRADICIONAIS DURANTE MAIS DE UM SÉCULO. O IDEAL
REVOLUCIONÁRIO DE ATAHUALPA NÃO SE LIMITAVA ÀS
67
TERRAS BAIXAS, MAS PRETENDIA REUNIR TODOS OS ÍNDIOS
CONTRA OS "NÃO-ÍNDIOS”.
Durante as décadas que seguem A REVOLTA DE ATAHUALPA E DOS
ANTI,
ANTI, a SELVA CENTRAL PERUANA encontra-se SOB DOMÍNIO
DOS ÍNDIOS.

€€€€€
JUAN SANTOS ATAHUALPA
Nesse contexto, a INSURREIÇÃO INDÍGENA dirigida por JUAN
SANTOS ATAHUALPA ocupa um lugar de destaque na história peruana e
merece uma atenção especial. Através ela, os ÍNDIOS DA SELVA
CENTRAL e, principalmente, os Ashaninka, RECUPERAM SUA
AUTONOMIA POLÍTICA E A INTEGRALIDADE DE SEU
TERRITÓRIO TRADICIONAL, PROGRESSIVAMENTE CEDIDO AOS
BRANCOS.
Apresentado como um MESTIÇO ANDINO OU UM ÍNDIO QUÉCHUA,
Atahualpa teria recebido uma educação religiosa em Cuzco e viajado pela
Europa e África (Angola e Congo) com um padre jesuíta. Ele chega a
Quisopango, no coração do Gran Pajonal, em março de 1742,
acompanhado por um chefe Piro.

AUTO-PROCLAMADO INCA OU “FILHO DE DEUS”, HERDEIRO


LEGÍTIMO DO IMPÉRIO ROUBADO PELOS ESPANHÓIS,
ATAHUALPA PRETENDE RESTAURAR SEU REINO PERDIDO E
EXPULSAR OS INTRUSOS COM A AJUDA DE SEUS IRMÃOS
INDÍGENAS, UNIDOS NA LUTA CONTRA O BRANCO.

Com a notícia da chegada do MESSIAS LIBERTADOR, mensageiros


indígenas são enviados do GRAN PAJONAL e se espalham pela SELVA
CENTRAL e nas terras altas vizinhas.

Os índios respondem à mensagem e, rapidamente, AS MISSÕES


FRANCISCANAS SÃO ABANDONADAS. Ashaninka, Amuesha, Piro,
Conibo e outros grupos convergem para o GRAN PAJONAL animados
pela esperança de VER O FILHO DE DEUS. Índios serranos juntam-se ao
movimento E A Revolta Pan-Indígena se organiza na SELVA CENTRAL.
JUAN SANTOS ATAHUALPA convida os espanhóis e africanos a se
RETIRAREM PARA AS TERRAS ALTAS.
SE RETIREM PARA TERRA ALTA

O convite é recusado e O CONFRONTO ARMADO SE TORNA


INEVITÁVEL.
Entre 1742 e 1752, OS ENFRENTAMENTOS ENTRE ÍNDIOS E
TROPAS ESPANHOLAS SE MULTIPLICAM, oferecendo AOS
REBELDES UMA SÉRIE DE VITÓRIAS QUE GARANTIRAM A
68
AUTONOMIA POLÍTICA DOS ÍNDIOS DA SELVA CENTRAL
PERUANA E A INVIOLABILIDADE DE SEUS TERRITÓRIOS
TRADICIONAIS DURANTE MAIS DE UM SÉCULO. O IDEAL
REVOLUCIONÁRIO DE ATAHUALPA NÃO SE LIMITAVA ÀS
TERRAS BAIXAS, MAS PRETENDIA REUNIR TODOS OS ÍNDIOS
CONTRA OS "NÃO-ÍNDIOS”.
Durante as décadas que seguem A REVOLTA DE ATAHUALPA E DOS
ANTI,
ANTI, a SELVA CENTRAL PERUANA encontra-se SOB DOMÍNIO
DOS ÍNDIOS.

Os espanhóis limitam-se a controlar as rotas de acesso às terras altas e a


proteger suas posições na Serra. No Baixo Ucayali, os MISSIONÁRIOS
estabelecem um comércio com os grupos Pano ribeirinhos, MAS O
TERRITÓRIO ASHANINKA É INACESSÍVEL AOS BRANCOS.
Quando o Peru conquista a sua independência em 1822, A AMAZÔNIA
PERMANECE UMA REGIÃO EM LARGA MEDIDA
DESCONHECIDA; UMA TERRA MISTERIOSA E AMEAÇADORA
cuja integração é necessária à consolidação do novo Estado-nação.

FIM - ISA
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXX

Mas uma nova SÉRIE DE EPIDEMIAS assolava OS SETE POSTOS


MISSIONÁRIOS entre 1665 e 1667, causando MILHARES DE
MORTES CADA VEZ, E DESENCADEAVA
DESENCADEAVA UMA GUERRA:
Kampa, Piro e Pano do Ucayali confederados Vieram Matar Ou Ex- Ex-
pulsar Missionários, Colonos, Neófitos E Qualquer
Qualquer Germe
Epidemológico Dessa Zona Bastante
Bastante Afastada De Suas Próprias
Terras. Das únicas reduções importantes fundadas pêlos
FRANCISCANOS, só restam, quando voltam, duas pequenas pequenas aldeias
semidesertas. Essa primeira experiência
experiência de reduções "bem-sucedidas",
apesar do preço pago pelos índios às epidemias brancas,
brancas, marcou a
POLÍTICA FRANCISCANA na região a partir de então; OS PADRES
CORRERAM ATRÁS DESSA DESSA MIRAGEM sem jamais reencontrar
tamanho fervor, tão grande adesão ou reduções de tal proporção,13
sem nunca mais voltarem a demonstrar
demonstrar qualquer interesse sociológico
que pudesse melhorar sua compreensão não só dos Kampa, como de
sua própria estagnação.
"Em nossos índios, tanto serranos como da montaria, é preciso [...]
DOBRAR A VONTADE, MESMO MESMO QUE SEJA A PAULADA, a fim; de
que mais cedo
cedo ou mais tarde se ilustre e se abra o entendimento
entendimento [para a
civilização]" e fato, a fronteira andina oriental, apesar dos renovados
esforços dos FRANCISCANOS para estabelecer PEQUENOS POSTOS
69
MISSIONÁRIOS no mesmo ritmo em que eram varridos por rebeliões
rebeliões
yanesha e ashaninca, manteve-se em termos
termos gerais estacionada desde a
Conquista até meados do século XIX, quando GOODYEAR DESCOBRIU
DESCOBRIU
O PROCESSO DE VULCANIZAÇÃO
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

AMANTES DA LIBERDADE – LUTAM PARA DEFENDË-LA


Os Kampa pacíficos entre si e os Piro corn suas aldeias alternadamente
aliadas ou inimigas
inimigas dos primeiros são constantemente descritos
descritos como
EXCELENTES GUERREIROS, AMANTES DA LIBERDADE LIBERDADE e
PRONTOS PARA DEFENDÊ-LA EM CONJUNTO OU
SEPARADAMENTE. Vista das altas terras, sua fronteira é infalivelmente
descrita como de Índios De Guerra No Sentido Próprio, já que do lado
andino os destacamentos são nela mantidos ou reforçados. "Eles têm UMA
CONSCIÊNCIA AGUDA DE SUA LIBERDADE PESSOAL E
MORREM PARA DEFENDÊ-LA", escrevia BIEDMA em 1686, pouco
antes de ser executado por Kampa.
Kampa. Outros FRANCISCANOS, antes e
depois dele(BIEDMA), contam como geralmente SE ANUNCIA UMA
REBELIÃO
REBELIÃO DOS NEÓFITOS e CONSEQUENTE FECHAMENTO FECHAMENTO DAS
MISSÕES: "O Batísmo, Sim, A Mita (Corvéia), Não". Essa
CONSCIÊNCIA DE SUA LIBERDADE está associada a um zelo
constante em relação
relação às fronteiras ocidentais: "há muito tempo
ESPANHÓIS SE INTRODUZIRAM NAS SUAS TERRAS, contam contam
panataguas em 1557, ELES OS EXPULSARAM, MATANDO MUITOS
CAVALOS QUE COMERAM E HOMENS, HOMENS, ENTRE OS QUAIS UM
CAPITÃO CRISTÃO".

€€€€€€€€

CONTATO

Ao que consta, o primeiro contato dos Kampa foi em 1635 quando


FRANCISCANOS fundam uma missão perto de onde hoje há a cidade de
La Merced, no rio Chanchamayo, Peru.

POLIGAMIA
Um chefe Kampa, ressentido contra a MONOGAMIA imposta pelos
padres, INCITA AO MASSACRE da MISSÃO FRANCISCANA.
Apesar do incidente, em 1640, os FRANCISCANOS possuem SETE
CENTROS na região. Estas MISSÕES somente se desfazem em, 1642,
como resultado de conflitos com MINERADORES ESPANHÓIS, que
penetraram na localidade.

70
Em 1671 os FRANCISCANOS retornam, restabelecendo suas
ANTIGAS MISSÕES perto cio Cerro de Ia sal, no Gran Pajonal, e
fundam novas ao longo do baixo Perene.

Em 1674 há novamente uma rebelião causada peia PROIBIÇÃO DA


POLIGAMIA, incitada pelo CHEFE KAMPA FERNANDO TOROTE. Os
Kampa começam a deixar estas missões e em 1694 há outra rebelião.
Em 1709 os FRANCISCANOS retornam à região do alto Perene, de
onde haviam saído em 1642 e, apesar de uma rebelião dos ANTI, subgrupo
Kampa, em 1724, em 1730 possuem oito missões que congregam 1239
Kampa, entre outros índios. Em 1739 foram fundadas mais dez missões. Há
dados informando que, espalhados em pequenos grupos pelo Gran Pajonal,
havia nesta época vinte mil índios convertidos.
Em 1737 duas missões foram destruídas pelo chefe Ignácio Torote,
filho de Fernando Torote, que em 1674 organizou também uma rebelião

JUAN SANTOS ATAHUALPA


Este período missionário termina violentamente em 1742, quando JUAN
SANTOS ATAHUALPA, considerado um messias pêlos Kampa e que se
dizia descendente do Imperador Inca e portanto de Deus, Inti, instiga à
rebelião geral e ao massacre. "Em 1742 (...), na selva central do Peru um
MESSIAS QUÊCHUA incitava à rebelião milhares de indígenas
Ashaninka, Quêchua e uma dezena de grupos étnicos do alto Amazonas, o
que manteve os espanhóis e peruanos afastados da região durante quase
cem anos. Entre as várias reivindicações e propostas revolucionárias dos
insurretos se encontram algumas que atualmente identificaríamos com a
ecologia social: o DIREITO DE VIVER EM CASARIOS DISPERSOS
PARA CONTINUAR FAZENDO USO RACIONAL DA FLORESTA
TROPICAL ÚMIDA; A ELIMINAÇÃO DOS PORCOS,
CONSIDERADOS DANINHOS ÀS CULTURAS E PERIGOSOS PARA
A SAÚDE; O DIREITO AO LIVRE PLANTIO E USO DA COCA,
'ERVA DE DEUS1; O RESTABELECIMENTO DO DIREITO DE
PREPARAR E BEBER RITUALMENTE O MASATO, A BEBIDA
FERMENTADA DE MANDIOCA QUE TEM IMPORTANTÍSSIMA
FUNÇÃO NUTRITIVA"

No restante do século XVIII, OS MISSIONÁRIOS E


COLONIZADORES trabalham abaixo do rio Tulumayo até o Perene, sem
incluí-lo, devido À HOSTILIDADE DOS KAMPA HABITANTES DOS
RIOS CHANCHAMAYO, PICHIS, PACHITEA, PERENE, PANGOA E
TAMBO. Esta HOSTILIDADE CONTINUA POR MAIS DE CEM
ANOS. Só na segunda metade do século XIX os brancos conseguem
penetrar nesta região.

71
Frustrados na região do Tasibo-Perene, os FRANCISCANOS voltam
sua atenção para os Kampa mais ao sul, indo em 1743 para o vale de
Quillabamba.
Durante grande parte do século passado os Kampa da região dos rios
Perene e Tambo continuam hostis.
Há menção de que em 1850 exploradores tiveram de retornar do rio
Tambo devido a ataques dos Kampa. São "NUMEROSOS E
GUERREIROS" e "RESOLUTOS EM BARRAR A ENTRADA DE
ESTRANHOS EM SEU TERRITÓRIO" (cf. BODLEY, 1972).
Os ATAQUES DOS KAMPA DEIXAM OS RIOS TAMBO E
PERENE VIRTUALMENTE FECHADOS AOS VIAJANTES
BRANCOS.
Em 1869 os KAMPA DE CHANCHAMAYO FORAM
SUBJUGADOS e a cidade de LA MERCED foi fundada. Em 1891 uma
companhia inglesa, THE PERUVIAN CORPORATION LTD, deu uma
vasta concessão de terras no alto Perene PARA COLONIZAÇÃO E
PRODUÇÃO DE CAFÉ. Os Kampa, com seus limites abertos, começam a
trabalhar nas plantações de café.
Um censo realizado em 1907 lista mais de quatorze mil colonos na
região de Chanchamayo.
No início deste século e fins do século XIX, alguns pioneiros por
conta própria ou a serviço do governo procuraram atrair os Kampa. Os
principais foram Angelo Ferreira, António Bastos, Maneio Lima, Absalon
Moreira, Freire Carvalho, Francisco Bonifácio, Porfírio Ponciano, Braulio
Moura, Felizardo Cerqueira, etc.
0 ciclo da borracha trouxe um período de violência e exploração para
os Kampa. Foram forçados a muitas privações durante esta época. Estas
privações foram principalmente devido às excursões de captura,
"CORRERIAS", como são popularmente chamados os ataques a índios, e a
consequente expulsão de suas terras pêlos seringalistas

TERRA PARA OS ÍNDIOS


O antropólogo Noraldino Vieira, da FUNAI, justifica a necessidade
de terras para os índios da seguinte forma: "É postulado básico que quanto
menos atingido estiver o ambiente florestal pelo NÃO ÍNDIO, mais rica,
optativa "e variada será a atividade de coleta do elemento indígena. No
baixo Envira (...) onde o branco mais atuou (...) os Katukina dispõem de
muito menos alternativas (...) do que os Kampa do alto curso do mesmo rio,
com sua área florestal praticamente intacta (...) Com a caça e a pesca ocorre
o mesmo. Sua farta disponibilidade leva os Kampa a dispensarem o jacaré
como fonte alimentar, o que não acontece com os Kulina e Kaxinawá".

72
São Sebastião- pecadora nua, com o corpo pintado, com tição dos
demônios.

Mulher- com tição dos Pajés-Avos.

Capitão- que achas disso meu santo?


( A MULHER GIRA, GIRA, TONTA, RÉ)

São Sebastião- Heresia da heresia da heresia.


O corpo entregue ao demônio, possuído com as tintas da bruxaria, onde
está teu marido, mulher?

Mulher- não tenho, nunca tive, nunca quis, meu marido são os mortos, os
bichos , é o vento, é o tempo, são as frutas as flores, os pássaros.

São Sebastião- pecadora!


Nem cem anos de indulgências te livraria do fogo do inferno, soldados
cubram o corpo dessa mulher.
( eles vão cobri-la com um pano novo, ela joga o pano e atira flexas em São
Sebastião, que se escora num tronco e fica agonizando,santo nos braços.)

Capitão- aonde queres que eu te leve meu santo?

São Sebastião- pro meu santuário.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Mulher
preciso conseguir minha pedra de volta .

Índia-na-sombra
consegues.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Capitão
Preciso juntar essas cinzas são as cinzas do Cavalo-Robõ.
Essas cinzas contém explosivos, posso me defender. O que queres mulher?

73
Mulher
Quero a pedra, a pedra me pertence, foi o Homem-Das-Pedras-do-Amor
quem me deu de presente.
Essas cinzas porque essas cinzas ainda estão aí
(VAI VARRER O CHÃO, MAS ELE A IMPEDE).

Capitão
são as cinzas do meu cavalo.

Mulher
tenho medo de ti és forte, o espírito do teu cavalo te protege.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Índia-Na-Sombra
Toma esse Chá-de-cipó-da-terra-dos-sonhos, toma esse e devora as cinzas,
destrói, enquanto isso eu acordo os Pajés, precisamos deles.
( A MULHER BEBE E SE EMBRIAGA)

Capitão
Estais bêbada, embriagada, lOUca.

Mulher
Estou sonhando e vejo neste sonho um monte de cinzas, que queimam,
como queimam as brasas

Capitão
São as cinzas do meu Cavalo-Robô, são como pedras de brasas que
devoram.

Mulher
Em meu sonho, eu vejo uma viagem, eu vejo um desejo que me agonia, que
me extasia quero comer cinzas, quero comer cinza e fogo. Os Pajés me
empurram dizem que eu devo ir.

Pajés
Vai, vai, come a cinza, mastiga devora, caga, come a cinza, mastiga,
devora, caga.

Antropofagia

( ELA CORRE EM DIREÇÃO ÁS CINZAS, DEVORA, FAMINTA,


BÊBADA, TARADA, AOS GRITOS, LOUCA HISTÉRICA, A CINZA
CORRE PELO CORPO DELA.)

74
Mulher
ai..........i........... o que faço agora Pajés-avós.............. espantem esse peso
que se sacode dentro de mim.

( OS PAJÉS DANÇAM AO REDOR, O CAPITÃO SE CONTORCE


ENTRE OS AÇOS DA CIDADE- NO MEIO DO EIXO DELA – PELO
MEIO DAS PERNAS DELA SAI UM MORCEGO GRANDE ( GRITOS
HISTÉRICOS ) APAVORADA ELA SE ATIRA NOS BRAÇOS DO
PAJÉS QUE ESPANTAM O MORCEGO COM SUAS LANÇAS, ELA
VOLTA DA EMBRIAGUES, ACORDA- O CAPITÃO VIRA FUMAÇA
E SUMIU NO FUMAÇADO CACHIMBO DE UM DOS PAJÉS)

EPÍLOGO

Mulher (para a índia-na-sombra)


Toma essa pedra eu vou por ai onde o tempo me espera.
( VOA PARA OUTRO LADO DO HORIZONTE, OLHANDO AS
FUMAÇAS DA CIDADE DE AÇO)

Índia-na-sombra
Eu vi meus filhos passarem no Sonho-dos-chás-dos-cipos-da-terra,
carregavam pedras, um dia nos descemos cachoeiras a mercê dos ventos e
do tempo, trouxemos conosco uma historia, no meio dos cestos e dos
paneiros trouxemos um canto uma poesia.

FIM

75

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