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MÓDULO I
ABRIL/2001
ENF 660 - QUÍMICA DA MADEIRA
Página
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTOS DA QUÍMICA DE CARBOIDRATOS 1
1. DEFINIÇÕES: 1
1.1 Carboidratos 1
1.2. Fórmula Geral 1
1.3. Açúcar Redutor 1
1.4. Classificação: 1
2. ESTEREOQUIMÍCA DA GLICOSE: 1
2.1. Estereoisômeros 1
2.2. Configuração Absoluta: 2
2.3. Mutarrotação: 4
3. ESTRUTURA CÍCLICA DA GLICOSE: 4
3.1. Histórico 4
3.2. Estruturas Cíclicas de 5 e 6 Membros 6
4. REAÇÕES DOS CARBOIDRATOS 12
4.1. Oxidação com Periodato: 12
4.2. Redução com Borohidreto 13
4.3. Reação com Álcali 13
4.4. Reação de Adição com Íons Sulfito: 14
4.5. Reação de Oxidação por Íons Sulfito: 14
4.6. Hidrólise Ácida de Glicopiranosídeos: 14
5. DISSACARÍDEOS 15
5.1. Lactose 15
5.2. Maltose 16
5.3. Celobiose 16
6. RESUMO 17
1. DEFINIÇÕES:
Glicose Xilose
C6H12O6: C5H10O5:
Hexose Pentose
Carboidratos que reduzem "o reagente de Fehling'" (Cu2+ → Cu) são açúcares
redutores, o grupo -C=O é oxidado para -COOH. A maioria das aldoses e cetoses
são açúcares redutores, sendo exceção a sacarose.
1.4. Classificação:
2. ESTEREOQUIMÍCA DA GLICOSE:
2.1. Estereoisômeros
HO H 3
3 HO C* H
4
4 H C* OH
H OH
5
5 H C* OH
H OH
6
CH 2OH CH2OH
Estereoisômeros = 2n hexoses: 24 = 16
onde: n = *c pentoses: 23 = 8
tetroses: 22 = 4
1
2.2. Configuração Absoluta:
CH 2OH
CHO D-gliceraldeído
Esquerda
*
HO C H
CH 2OH
L-gliceraldeído
CH 2OH
CH 2OH
D-gliceraldeído D-eritrose
2
CHO CHO CHO
H C OH H C OH H C OH
H C OH HO C H HO C H
H C OH H C OH HO C H
HO C H HO C H HO C H
4
H C OH H C OH HO C H
H C OH H C OH H C OH
Epímeros
CH 2OH
3
2.3. Mutarrotação:
Cada açúcar tem uma rotação específica da luz polarizada [α]. O que causa
a mutarrotação é a presença dos *C assimétricos. É importante ressaltar que D- e
L- não tem nada a ver com mutarrotação.
D-glicose: [ α ]D = +52,7o
o
D-frutose: [α ]D = -92,4
L-Açúcares:
HO CHO
C H
H C OH
H C OH
HO C H
HO C H
HO C H
HO C H
CH 2OH
CH 2OH
L-glicose L-arabinose
(rara na natureza) (comum na natureza)
3.1. Histórico
Fischer iniciou seu trabalho em 1891. Em 1895 já estava claro que algo estava
errado com a fórmula original proposta para a glicose. Exemplos:
i. Glicose não respondia a algumas reações típicas de aldeídos. Não dá reação com
o reagente de Schiff, (fucsinaÆ formação de cor carmim) e não forma produto de
adição com o hidrossulfito.
ii. Mutarrotação: existem duas formas de glicose cristalina. (A mudança do valor da
rotação, de qualquer das formas para o valor de equilíbrio, chama-se
mutarrotação)
4
Técnica de determinação do ângulo da mutarrotação
α αβ β
[ α ]D +52,7o +19o
+112o glicose valor de glicose cristalina
ordinária equilíbrio (p.f. = 150 oC)
p.f. 146 oC em temp. > 98 oC
H H
+
R C O + H
CH3OH R C OCH3
OH
Hemiacetal
H
C OCH3
OCH3
Acetal completo (verdadeiro)
Dois compostos são formados quando a glicose é tratada com MeOH + HCl.
Fischer estudou a reação e não obteve nenhum acetal verdadeiro. Em vez do acetal
verdadeiro ele obteve os dois seguintes compostos:
H OCH3 CH3O H
1
C *Novo* C
2
H C* OH Os glicosídeos
H C OH
3 não são redutores
HO C* H e não apresentam C* O
O HO H
4 mutarrotação
*
H C OH
H C OH
5 *
H C
H C
6
CH 2OH
CH 2OH
etil-α-D-glicosídeo Metil-β-D-glicosídeo
[α] = 158º [α] = -33º
PF = 165º PF = 107ºC
5
Esses dois compostos são também acetais embora não verdadeiros por
definição.
Fica demonstrado nessas estruturas que houve a formação de um anel de
oxigênio entre C1 e C5. C1 é agora assimétrico, o que não era considerado antes.
Dois glicosídeos são formados. Segundo Hudson (1909) aquele de mais alta
rotação (mais destrorotatório) entre os dois membros do par será sempre
denominado α -D e o de mais baixa rotação β -D.
Na série L, o de mais alta rotação β-L e o de mais baixa α-L.
H C OH
HO C H O
H C OH
H C5
α-D-glicose
PF = 146º CH 2OH
[ α ] = + 112º
H OCH3
C
H C OH
Metil-α-D-glicopiranosídeo
HO C H O
H C OH
H C
CH2O
6
Entretanto, se a glicose for misturada com MeOH-HCl em temperatura
ambiente o resultado é :
H OCH3
C
H C OH
Metil α-D-glicofuranosídeo
O
HO C H
HC
H C OH
CH2O
O O
Pirano 1926 Furano
7
3.2.1.1. Estruturas cíclicas de 6 membros, anéis de piranose:
CHO
H C OH
CH2OH
HO C H H OH
H
H C OH H CHO
OH
OH
H C OH H OH
< 0,5%
CH 2OH D-glicose
CH2OH
C OH
H
CH2OH C C OH
OH H
5
H O OH C C
4 H
H OH
OH H H,OH
OH 3 2 CH2OH
ou OH
H OH H
H
H CHO
OH
α, β-D-glicopiranose OH COOH
H CH2O
OH
α = 112º
β = 18,7º equilíbrio = 52,7º < 0,5% acíclica
β = 63,6% composição
α = 36,4%
α-D-glicopiranose β-D-glicopiranose
8
Na série L:
H
HO O OH
CH2OH
H HO
H H
OH H
α-L-glicopiranose
CH2OH
HO H
O H
4 1
OH H OH
3
2
H H OH
α-D-glicofuranose
CH2OH CH2OH
H
H O H O OH O
H H, OH H H, OH H H, OH
OH H OH OH OH H
HO HO H
H OH H H H OH
H C OH 3
OH H
CH2OH
β-D-frutofuranose
D – frutose
9
3.2.3. Conformação dos açúcares
6 OH
4 111 o 1
HO CH2OH CH2OH
5 O 5
O
HO 2
109 o
1
3 OH OH
2
OH
4
OH
1
C1 (1 C) C4 (C1 )
10
H
CH2OH Efeito anomérico
HO 5 O (repulsão)
4
H
β-D-glicopiranosídeo
HO 3
2
H
OH OH α-D-glicopiranosídeo
OH
Exceção:
ou acetil
ou acetil
α-D-glicopiranose: OH no C-1 é:
11
Exemplos de outros açúcares
HO CH2OH axial
OH
O
CH2OH
OH O
HO OH
HO
OH axial OH
α-D-manopiranose β-D-galactopiranose
Esta é uma das reações mais úteis no estudo da química dos carboidratos.
H C OH + _ C O _
HIO4 CHO _
H C OH + IO4
+ IO3
C O
CHO
CHO
H C OH
HO C H
_
H C OH
5 IO4
H C OH _
5 HCOOH + CH 2O + 5 IO3
C H2O H
ácido
HCHO fórmico formaldeído
formaldeído
12
Ocorre quebra da ligação C-C sempre que houver HO-HO ou HO-carbonila
adjacentes.
Cada ligação quebrada consome um HIO4-. O que acontece na reação é a
substituição de ligações C-C por ligações C-OH. Posteriormente ocorre a
desidratação de cada pedaço formado.
H OCH3
C
H C OH H OCH3
_
2 IO4 C
HO C H O HCO 2H +
CHO
H C OH
_
H C O + 2 IO3
CHO
CH2OH
Metil α-D-glicopiranosídeo H C
CH2OH
13
CH2OH
CO2H
C O C(OH)CH2OH R = cadeia de celulose
C O CH2
CH2 H C OH
H COH CH2OH
CH2OH 6
5 Ácido Glicoisosacarínico
1 → 2 = Isomerização
2 → 3 = Formação de 2, 3 enodiol
3 → 4 = Eliminação β-alcoxila
4 → 5 = Tautomerização
5 → 6 = Rearranjo benzil-ácido benzílico, levando à formação de ácido
glicoisosacarínico.
H, OCH 3
HO OH
+ _ +
+ H H
Forma de meia cadeira
OH
_ CH OH +
O 3 HO
+ O
+ CH 3OH CH2OH
H, OCH 3
OH
H
H2 O
Glucose Dissacarídeo
(peq. quantidades)
14
5. DISSACARÍDEOS
5.1. Lactose
CH2OH
OH <1%
O
+
H OH CHO
CH2OH OH
HO O O
OH
OH A
H,OH
OH 1 4
O
Grupo não β
OH CH2OH
redutor Grupo redutor
resíduo de resíduo de
galactose glicose
CH2OH CH2OH
O O
HO
O H, OH
OH OH
B
OH OH
4-O-(β-D-galactopiranosil)-D-glicopiranosídeo
Abrev.: β-D-galp(1 → 4)-D-glcp
15
5.2. Maltose
5.3. Celobiose
CH2OH CH2OH
O 1 4
O
O H, OH Celobiose
OH OH
OH
OH OH
4-O-β-D-glicopiranosil-D-glicopiranosídeo
β-D-glcp-(1 → 4)-D-glcp
Celobiose (β-Anômero)
16
6. RESUMO
Rotação
específica Designação Fischer Haworth Conformacional
+ α-D Direita abaixo axial
- β-D Esquerda acima equatorial
+ α-L Esquerda acima equatorial
- β-L Direita abaixo axial
:. α D = β-L β-D = α-L
17
ENF 660 – QUÍMICA DA MADEIRA
1. COMPOSIÇÃO QUÍMICA
1.1.1. Carboidratos
1.1.3. Terpenos
18
1.1.4. Ácidos alifáticos
1.1.5. Álcoois
1.1.6. Proteínas
Constituem uma fração importante do tecido em desenvolvimento mas na
madeira madura a quantidade de proteínas é de aproximadamente 1%.
1.1.8. Outros
19
Madeira
Celulose Polissacarídeos
Não celulósicos
(hemiceluloses)
Hidrólise
Produz
D-glicose
Hidrólise produz
umidades
monoméricas
20
A maior porção da madeira é constituída de polissacarídeos e lignina. Estes
constituem os componentes da parede celular que juntamente com pequenas
quantidades de material intercelular formam a base da estrutura física da madeira.
É muito comum diferenciar os componentes da parede celular dos
componentes chamados estranhos, os quais não são considerados uma parte
essencial da estrutura da madeira. Os componentes estranhos incluem as
substâncias que são solúveis em solventes neutros e em água fria, ou são
voláteis, e são chamados de extrativos. A distinção entre componentes
pertencentes aos extrativos ou à parede celular é difícil em alguns casos.
Materiais tais como proteínas, substâncias pécticas e compostos inorgânicos são
constituintes que existem em pequenas quantidades na madeira madura. Eles
são parcialmente ou totalmente insolúveis nos solventes comumente utilizados
para remover extrativos. É conveniente incluir esses compostos entre os
estranhos, embora deva ser enfatizado que esses compostos participam
efetivamente nas atividades fisiológicas do tecido em desenvolvimento e
permanecem como parte da estrutura da madeira no tecido maduro.
A madeira livre de extrativos (usualmente extraída com álcool-benzeno) é
composta de lignina e polissacarídeos. Os polissacarídeos incluem a celulose,
que idealmente produz somente D-glicose quando hidrolisada, e os
polissacarídeos não-celulósicos que produzem principalmente outros açúcares
além da D-glicose quando hidrolisados.
A hidrólise ácida completa de polissacarídeos da madeira produz D-glicose,
D-manose, D-galactose, D-xilose e L-arabinose e, em algumas madeiras também
a L-ramnose. A separação dos açúcares produzidos por hidrólise pode ser
facilmente realizada por meio de cromatografia gás-líquido e HPLC.
Adicionalmente às unidades de açúcar, os polissacarídeos não-celulósicos
contêm unidades de ácido urônico (ácido 6-hexurônico) e ácido monometil urônico
como constituintes característicos. Esses ácidos são em grande parte destruídos
durante hidrólise. Depois de uma hidrólise ácida algumas unidades de ácido
urônico permanecem como ácido aldobiurônico ou outros, nas quais a parte do
anidrido urônico está combinada com uma ou mais unidades de açúcar
(usualmente D-xilose). O conteúdo total de unidades de ácido urônico (anidrido
urônico) pode ser determinada pela quantidade de CO2 produzida pela
descarboxilação através da fervura do material com HCl 12%.
Os açúcares são combinados para formar um polímero pela perda de uma
molécula de água por molécula de açúcar.
As cadeias de polissacarídeos podem ser separadas em frações que
possuem razões entre seus açúcares bem definidas (ex.: arabinogalactanas,
glicomananas). Os chamados homopolímeros, i.e, cadeias que produzem só um
tipo de açúcar quando hidrolisados são pouco frequentes na madeira, exceto, é
claro, pela celulose. A fração de polissacarídeos da madeira é isolada da madeira
livre de extrativos pela remoção da lignina através de algum processo de
deslignificação apropriado. Quando a lignina é removida com um mínimo de perda
dos polissacarídeos, o produto é chamado de HOLOCELULOSE. Os
procedimentos comuns para o isolamento da holocelulose são:
i. cloração e extração alternada com uma solução alcoólica de uma base forte
(ex. monoetanolamina).
ii. tratamento com uma solução aquosa acidificada e tamponada de clorito de
sódio.
iii. tratamento com ácido peracético.
21
Idealmente, um isolamento de holocelulose deve resultar em completa
remoção da lignina sem perda de polissacarídeos ou qualquer ataque aos
mesmos. Isso é muito difícil ser conseguido experimentalmente, e na prática não
há nenhum procedimento que permita a remoção completa da lignina sem ataque
aos polissacarídeos.
Os polissacarídeos não-celulósicos são largamente solúveis em álcalis e os
materiais dissolvidos tem sido chamados de hemiceluloses. Experimentalmente,
as hemiceluloses são removidas de preparações de polissacarídeos tais como
holocelulose pela extração com soluções aquosas alcalinas, ex.: NaOH 17,5%. O
resíduo insolúvel é chamado de alfa-celulose. A parte solúvel, correspondente às
hemiceluloses, pode ser dividida em duas frações: beta-celulose e gamma-
celulose. Beta celulose é a fração solúvel em NaOH 17,5% que é re-precipitada
quando a solução é neutralizada com ácido e gamma-celulose é a fração que não
é re-precipitada quando a solução é neutralizada.
Os grupos acetila (CH3CO) estão combinados, na forma de ésteres do ácido
acético, com os polissacarídeos não-celulósicos, e são removidos como ácido
acético por hidrólise alcalina. Os grupos acetila permanecem nos polissacarídeos
durante a preparação de holocelulose mas eles não resistem a um forte
tratamento alcalino como aquele utilizado na preparação de alfa-celulose.
A lignina não pode ser isolada como uma substância pura de composição
definida. É sabido que a lignina aromática e sua estrutura é baseada em unidades
fundamentais de fenilpropano. A lignina é insolúvel em ácido nas condições
utilizadas para a hidrólise de polissacarídeos. Os métodos usuais para a
determinação direta da lignina (Ex.: tratamento com H2SO4 de acordo com o
método de Klason) são baseados na pesagem da lignina insolúvel remanescente
depois de uma hidrólise ácida. Por outro lado, a lignina é mais facilmente
solubilizada por agentes oxidantes do que os polissacarídeos, e por isso muitos
processos de deslignificação são baseados na remoção oxidativa da lignina.
22
A análise somatória mais simples é aquela na qual os extrativos e a madeira
livre de extrativos são isolados. A soma dessas frações usualmente é muito
próxima de 100%. Possíveis erros podem advir devido a perda de substâncias
voláteis da madeira ou pela absorção de solventes orgânicos à madeira.
Essa análise somatória pode ser estendida e incluir os componentes da
parede celular (holocelulose e lignina). Em condições ideais, a soma dos
extrativos, holocelulose, lignina e cinzas deve representar 100% dos constituintes
da madeira. Muitos autores preferem expressar a análise somatória com base na
madeira livre de extrativos.
Não considerando o teor de cinzas, que é justificável para a maioria das
madeiras, a soma da holocelulose mais a lignina deve ser igual a 100% na
madeira livre de extrativos. Na verdade, esse tipo de adição tem sido utilizado
para estabelecer a validade dos procedimentos de determinação de holocelulose
e lignina. Experimentalmente, a soma das cinzas, holocelulose e lignina tem sido
demonstrada para várias madeiras estar entre 99,3 e 100%.
Entretanto, é importante observar que os procedimentos para determinação
de holocelulose e lignina estão muito sujeitos a erros experimentais. O resultado
final da soma muito próximo de 100% é na verdade um balanço entre os erros na
determinação de holocelulose e lignina. Tem sido demonstrado que há perdas de
polissacarídeos e de lignina seja qual for o método de isolamento dos mesmos.
No caso da lignina, é importante mencionar que esta é totalmente modificada
durante o isolamento pelos métodos convencionais, não deixando nenhuma
certeza de que o resíduo após isolamento representa em qualidade ou em
quantidade a PROTOLIGNINA, i.e., a lignina nativa da madeira.
Se os componentes da holocelulose forem desmembrados, outras análises
somatórias podem ser realizadas. O tratamento da holocelulose com soluções
alcalinas resulta em quase completa dissolução das hemiceluloses que podem
ser recuperadas por acidificação da solução alcalina e adição de álcool etílico. A
fração da celulose resistente ao álcali, ou alfa-celulose, é isolada e pesada. As
Tabelas I, II e III ilustram esse procedimento de análise somatória.
Uma análise somatória que inclui alfa-celulose e constituintes urônicos é
ilustrada nas Tabelas II e III. As xilanas, mananas e anidrido urônico são
determinadas na madeira original e as pequenas quantidades desses
componentes que permanecem na alfa-celulose isolada são deduzidas após
serem quantificadas.
O valor para CH2 é encontrado subtraindo-se do total de grupos metoxílicos
(OCH3) na madeira o conteúdo desses grupos na lignina isolada. A diferença
presumivelmente representa os grupos metoxílicos combinados com ácidos
urônicos na forma de éteres, e são calculados como CH2 equivalentes que
representa o incremento em peso quando grupos OH são metilados.
Depois do advento da cromatografia gás ou líquido se tornou possível
expressar a composição da fração de polissacarídeos da madeira na forma de
seus açúcares componentes. Nesse caso, todas as informações referentes à
composição do polímero original são perdidas. Um exemplo de análise somatória
na qual os açúcares componentes dos polímeros estão incluídos é apresentada
na Tabela IV. Deve ser bem entendido que os polímeros mostrados na tabela
(Ex.: glicana, xilana) representam somente um cálculo da quantidade de açúcares
anidros obtidos depois da hidrólise total do polímero. Em outras palavras, para o
Populus tremuloides, 57,3% da madeira é composta por anidro glicose, 2,3% por
23
anidro manose, etc. Essas glicoses e manoses fazem parte de polímeros
existentes na madeira tais como celulose e glicomananas.
24
(MC) contém mais lignina e menos celulose do que na madeira normal. A lignina
da MC contém menos grupos metoxílicos que a lignina de MN. A formação da MC
nas madeiras de Pinus spp. parece ocorrer naqueles troncos sujeitos a uma força
a centrífuga similar àquela da gravidade.
Nas folhosas a madeira de tensão (MT) de árvores de madeira de fibra curta
contém menos pentosanas e lignina e mais celulose que MN. Em Eucalyptus
ganiocalyx o rendimento em galactose após hidrólise é muito maior e as
propriedades da lignina são diferentes daquelas de MN. A chamada madeira
oposta (madeira que fica no lado oposto do galho ou tronco sob tensão) em
contraste com a MT, contém mais pentosanas e lignina, e menos celulose que a
MN.
Através da aplicação da técnica de microespectrografia foi demonstrado que
a parede secundária da MT de faia vermelha e da MC de abeto contém pequenas
quantidades de lignina. Observações microscópicas sugerem que as fibras da MT
são caracterizadas por uma camada gelatinosa que não possui lignina,
separando o lúmem da camada S3 na parede celular. Essa camada de gelatina
foi demonstrada ser altamente cristalina.
25
extração é relativamente rápida se a madeira for transformada em pequenas
partículas, e a quantidade de material dissolvido não aumenta significativamente
durante prolongada exposição a novas frações de solventes.
A quantidade de material dissolvido pela água aumenta significativamente
com o aumento da temperatura. Isto não deve ser atribuído a um coeficiente de
solubilidade dependente da temperatura uma vez que a quantidade de solvente
normalmente utilizada é suficiente para garantir que a saturação do solvente não
ocorra.
Uma consideração muito importante é o aumento da acidez causado pela
hidrólise de grupos acetil que leva à formação de ácido acético na presença de
água quente. O pH do extrato pode alcançar valores entre 3,5 - 4,5, algumas
vezes para MFC valores próximos de 2,0. Portanto, o efeito é aquele de hidrólise
pois observa-se na solução, alguns produtos oriundos da hidrólise ácida de
polissacarídeos.
Contrariamente à ação da água fria, a quantidade de material dissolvido
aumenta continuamente com o tempo de extração em água quente. Na extração
da madeira de Jack pine (Pinus bankasiana ), a quantidade de material dissolvido
por água fria foi somente cerca de 1%, e pouco material adicional foi removido
quando o tempo de extração foi estendido para 72h. Por outro lado, a quantidade
de material solúvel em água fervente foi de 2% depois de 3h e aumentou para
28% depois de 200h.
Uma extração de serragem de madeira de conífera por 50 dias em água a
o
100 C, reduziu o conteúdo de carboidrato de 61,9 para 49,8%, e o conteúdo de
lignina de 28,7 para 25,3%. Um tratamento com HCl 28,5% causou perdas
similares em 10h. O tratamento de serragem de madeira de carvalho com água
fervente dissolveu 32% do material em 50h e 65,6% em 1000h. As pentosanas
foram as mais rapidamente atacadas. Devido ao fato da água quente dissolver
tanto lignina quanto carboidratos, o material dissolvido tem sido chamado de
"madeira solúvel". Pelo menos uma porção do material dissolvido parece existir
na forma de complexos carboidrato-lignina.
o
Em temperaturas mais elevadas (150 – 175 C) o aumento na solubilidade
com o tempo de tratamento é ainda mais pronunciado, e 20 a 30% da madeira é
dissolvido em umas poucas horas. A hidrólise aquosa da madeira de "Gum" preta
o
a 160 C (2h) removeu 28,4% do peso da madeira e reduziu o conteúdo de
hemiceluloses em 70%. O pH final da mistura foi de 3,6. O efeito da água ou
ácidos diluídos, em temperaturas na faixa de 150 a 170 oC, obtido em uma etapa
chamada de pré-hidrólise, é aplicado como fase inicial de processos comerciais
de polpação visando a produção de polpa solúvel (polpas que devem conter o
mínimo possível de hemiceluloses).
A maior parte do material dissolvido consiste de polissacarídeos, mas uma
quantidade considerável de material aromático aparece no extrato e esta é
originária de substâncias que existem na lignina original (protolignina). A ação da
água a 150-175 oC conduz a formação de produtos de degradação ou de
hidrólises tais como açúcares, ácidos urônicos, furfural, e ácidos orgânicos não
voláteis oriundos dos carboidratos. Compostos aromáticos tais como aldeído
coniferílico, vanilina, ácido vanílico e outros aldeídos, cetonas e ácidos são
produtos de degradação da lignina. Os produtos aromáticos mais simples podem
ser extraídos da fase aquosa com éter e serem identificados por análises
cromatográficas. Uma parte da lignina dissolvida pode ser modificada e tornada
o
insolúvel através de uma hidrólise secundária a 100 C com ácido sulfúrico 2%.
26
Celulose é mais resistente que outros componentes mas não é
completamente imune ao ataque. Quando isolada, ela é hidrolisada e
parcialmente dissolvida pela água em temperaturas entre 100 e 225 oC, a uma
taxa que depende da concentração de íon hidrogênio (pH).
Aumentos maiores na temperatura, de 170 até 200 oC aumentam
progressivamente a severidade da ação da água na madeira. A quantidade de
madeira que se torna solúvel aumenta rapidamente e os carboidratos são os que
mais sofrem com a hidrólise. A lignina tende a condensar e isto tem sido
demonstrado pelo decréscimo do rendimento em vanilina pela oxidação com
nitrobenzeno. As pentosanas são parcialmente convertidas em furfural que
condensa com a lignina, alterando assim a composição da madeira
remanescente. Ao mesmo tempo, a lignina insolúvel é modificada de modo que
ela se torna parcialmente solúvel em solventes tais como dioxano e álcool.
O efeito da água é utilizado na formação de placas de fibra de madeira no
o
qual temperaturas iguais ou superiores a 200 C são geradas durante a formação.
Os produtos de hidrólise ou degradação dos carboidratos e lignina que aparecem
na fração solúvel em água podem reagir posteriormente ou condensarem
parcialmente a substâncias que contribuem para a qualidade do produto acabado.
A ação de solventes orgânicos neutros não aumenta grandemente
aumentando-se a temperatura até 100 oC mas a reação de álcoois com a lignina
ocorre em temperaturas entre 150 e 170 oC, e uma fração considerável da lignina
é dissolvida. Mistura de álcool e água dissolve a maior parte da lignina de MFC e
uma porção da lignina de MFL, em temperaturas elevadas. A ação de álcoois e
fenóis é aumentada na presença de catalizadores (ex.: ácidos minerais) e, em
temperaturas elevadas ocorre a dissolução da maior parte da lignina. O
tratamento da madeira com uma mistura de etanol e ácido clorídrico resulta na
introdução de grupos etila na lignina.
o
O tratamento de Eucalyptus regnans com metanol a 150 C extraiu lignina
sem a adição de um catalisador ácido mas a formação de éteres voláteis indicou
o
a liberação de ácidos da madeira. O aquecimento da madeira de abeto a 150 C
com MeOH ou EtOH na ausência de ácidos minerais produziu ligninas alquiladas.
27
O máximo rendimento de açúcares redutores depende do tempo,
temperatura e concentração do ácido durante o tratamento com ácidos fortes e
desses mesmos fatores durante o tratamento com os ácidos fracos que persistem
depois da diluição. As condições ótimas para o isolamento da lignina também
dependem desses fatores, mas não são necessariamente idênticos àqueles para
obtenção do máximo rendimento em açúcares.
Condições típicas para hidrólise quando H2SO4 72% é empregado são: 2h a
20 oC ou 0.6h a 30 oC seguido por aquecimento em H2SO4 3 a 4% por 4h a 100
o
C ou 1h a 120 oC sob pressão. O rendimento de açúcares redutores depende do
tempo de hidrólise com ácido diluído. Um valor máximo é atingido e então há um
decréscimo por causa da degradação de açúcares. As condições ótimas para
cada tipo de madeira devem ser estabelecidas experimentalmente.
A hidrólise da madeira por processos comerciais produz açúcares que são
recuperados comercialmente para produção de alimentos ou na produção de
álcoois e ácidos depois de serem fermentados. Nesses processos a quantidade
de ácido utilizada é um fator importante no custo do tratamento que é
normalmente executado com ácido diluído sob o efeito de pressão.
28
despolimerização terminal, i.e., por eliminação sucessiva do grupo terminal
redutor.
29
Quando soluções diluídas de ácidos fortes são utilizadas, as reações
químicas podem ser mais restritas. Por exemplo, se H2O2 for utilizado em
condições ótimas, ele pode ser um excelente agente alvejante de madeira moída,
não ocorrendo reação extensiva com a lignina ou carboidratos.
A ação do ácido periódico na madeira difere daquela de outros agentes
oxidantes porque ele ataca primariamente os polissacarídeos, deixando a lignina
(periodato de lignina) como um resíduo insolúvel. Vários tratamentos alternados
com solução de ácido periódico e água quente são necessários para dissolver os
fragmentos de carboidratos pela oxidação.
A oxidação da lignina com nitrobenzeno e óxido cúprico em solução alcalina
converte uma fração significativa da lignina de MFL para vanilina e das MFC para
vanilina e aldeído siringílico além de pequenas quantidades de produtos
aromáticos oxidados.
2.8. Hidrogenação
A reação da madeira com hidrogênio gasoso sob pressão é uma das mais
bem estudadas reações de redução. Na presença de um catalisador adequado
pode se produzir a partir da madeira, uma mistura complexa de produtos gasosos
e líquidos. "Raney Niquel" é um catalisador superior embora preparações de
cobre, ferro, crômio, molibdênio, zinco e cobalto também são eficientes na
promoção da reação de hidrogenação.
O processo de hidrogenação consiste da suspensão da madeira em meio
líquido. Quando o líquido é a água, ocorre concomitantemente hidrogenação e
hidrólise e, nesse caso, o processo chama-se HIDROGENOLISE. Outros líquidos
utilizados são uma mistura de etanol-água (1:1) e dioxano.
2.9.1. Nitração
30
da celulose foi demonstrado ser aproximadamente similar à quantidade de alfa-
celulose obtida pela extração alcalina de madeira deslignificada.
A nitração da madeira tem sido também realizada pela reação com
pentóxido de dinitrogênio anidro. Serragem de madeira de bétula foi nitrada com
uma mistura de ácido nítrico, ácido acético e anidrido acético. Depois da adição
de ácido nítrico concentrado à serragem de madeira embebida em ácido acético,
é possível se recuperar a nitrolignina da solução.
A madeira reage rapidamente mediante aquecimento com ácido nítrico em
meio alcóolico ou aquoso, com conseqüente formação de lignina nitrada solúvel.
A maioria das hemiceluloses são também dissolvidas mas a celulose é
praticamente inalterada exceto pelo decréscimo em peso molecular causado por
hidrólise. A nitração em meio alcóolico tem sido utilizada para a determinação
quantitativa de celulose na madeira. O processo envolve o refluxo de serragem de
madeira com uma mistura de metanol e ácido nítrico.
2.9.2. Alquilação
2.9.3. Esterificação
31
esterificados por ácidos mono e dicarboxílicos na presença de quantidades
equimolares de anidrido trifluoracético.
SOMATÓRIO A
Alfa-celulose 57,2 51,6 55,0 51,5 52,7 54,8 45,7 46,5
Hemiceluloses 14,1 15,5 15,3 17,4 14,6 16,4 23,3 23,4
Totala 100,6 99,2 101,2 98,4 100,6 99,3 97,7 100,1
SOMATÓRIO B
b
Alfa-celulose 48,3 44,5 46,6 45,6 47,5 45,3 43,7 45,6
Mananac 5,4 4,1 4,7 8,0 5,1 11,7 - -
Xilana 6,2 7,3 10,1 10,5 8,1 9,3 20,0 17,1
Anidro urônico 2,8 5,0 3,8 4,1 4,2 3,4 4,5 4,7
CH2 d 0 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,6 0,9
Totala 92,0 93,2 96,3 97,9 98,4 97,9 97,5 98,5
a
Incluindo cinzas, acetil e lignina.
b
Corrigida por cinzas, manana, xilana, e anidro urônico.
c
Pelo método de fenidrazina; os valores são subestimados provavelmente.
d
Calculado a partir dos grupos metoxila que não se encontram na lignina.
Fonte: B. L. Browning
32
Tabela III. Análise somatória de madeiras tropicais (203) (% de madeira seca com
extrativos)
SOMATÓRIO A
Alfa-cellulose 47,3 49,0 45,2 37,0 40,2 44,7
Hemiceluloses 14,3 13,4 14,7 12,2 16,0 13,2
Totala 99,8 99,3 98,6 97,3 98,3 99,9
SOMATÓRIO B
b
Alfa-cellulose 45,1 46,4 42,6 33,9 37,2 38,5
Manana 1,2 0,2 0,3 1,4 1,4 4,9
Xilana 12,5 13,2 12,0 11,7 10,9 10,0
Anidro urônico 3,8 4,1 4,2 3,8 4,5 3,9
CH2c 0,2 0,3 0,3 0,1 0,5 0,4
Total d 101,0 101,1 98,1 99,0 96,6 99,7
a o
Solúvel em éter in ether (ou clorofórmio), álcool 50%, acetona, e água (a 80 C).
b
Corrigida por cinzas, manana, xilana, e anidro urônico.
c
Calculado a partir dos grupos metoxila que não se encontram na lignina.
d
Incluindo extrativos, cinzas, acetil e lignina.
Fonte: B. L. Browning
33
Espécie Glicana Manana Galactana Xilana Arabinana Anidro Acetil Lignina Cinzas
urônico
FIBRA LONGA
Balsam fir
(Abies balsamea) 46,8 12,4 1,0 4,8 0,5 3,4 1,5 29,4 0,2
Eastern white-cedar
(Thuja occidentalis) 45,2 8,3 1,5 7,5 1,3 4,2 1,1 30,7 0,2
Eastern hemlock
(Tsuga canadensis) 45,3 11,2 1,2 4,0 0,6 3,3 1,7 32,5 0,2
Jack pine
(Pinus banksiana) 45,6 10,6 1,4 7,1 1,4 3,9 1,2 28,6 0,2
White pine
(Pinus strobus) 44,5 10,6 2,5 6,3 1,2 4,0 1,3 29,3 0,2
Loblolly pinea
(Pinus taeda) 45,0 11,2 2,3 6,8 1,7 3,8 1,1 27,7 0,3
Douglas-fira
(Pseudotsuga
taxifolia) 43,5 10,8 4,7 2,8 2,7 2,8 0,8 31,5 0,4
a
Black spruce
(Picea mariana) 47,9 10,5 b 8,0 b 4,1 1,1 28,0 0,4
White spruce
(Picea glauca) 46,5 11,6 1,2 6,8 1,6 3,6 1,3 27,1 0,3
Tamarack
(Larix laricina) 46,1 13,1 2,3 4,3 1,0 2,9 1,5 28,6 0,2
a
Dados fornecidos pelo Forest Products Laboratory; outros da ref. 185.
b
Galactana incluída com glicana e arabinana com manana.
Fonte: B. L. Browning
Fonte: B. L. Browning
34
ENF 660 – QUÍMICA DA MADEIRA
Energia solar
673 Kcal
Glicotransferase
UPD-D-glicose + [(1→4)-β-D-glicosil ]n ⎯⎯⎯⎯⎯⎯>
[(1Æ 4) -β-D-glicosil]n+1 + UPD
35
Glicose fosfato
CH 2 OH Nucleosídeo O
trifosfato
O HN
O O O
OH + -
O P O P O P O CH2 O N
HO OPO3
- - - O
O O O
HO
1
H
HO OH
2
CH2 OH O
O
HN
O O O O
OH
HO O P O P O CH2 O N + -
P O P O-
O
- - O - -
HO O O O O
UDP D glicose
HO OH 4
3
O O
primidina N purina
HN HN
O N H2N N N
HOCH2 O HOCH2 O
HO OH OH
HO
1 2
Figura 2. Estrutura de dois nucleosídeos: (1) uridina e (2) guanosina. Ambos contém
um resíduo de D-ribofuranose ligada a uma base (1) pirimídica ou (2)
púrica
36
Glicose
ATP
1 invertase
2 sacarose sintetase
3
t th
3 hexoquinase
ADP 4 fosfoglicomutase
5 UDP=glicose fosforilase
Glicose _ 6 _ P
Glicose _ 1_ P
UTP
5
PPI
UDP_ Glicose
Biogênese
da celulose 2
UDP
Frutose
Sacarose
H2O
37
Na síntese de outros polissacarídeos da madeira tanto a UDP-D-glicose
quanto a GDP-D-glicose participam no processo, este último sendo o principal
nucleotídeo responsável pela formação de hemiceluloses que contém manose
(galactoglicomananas, glicomananas).
Os açúcares monoméricos necessários à composição das várias
hemiceluloses são gerados através de reações enzimáticas complexas que
envolvem epimerização, desidrogenação e descarboxilação. Esses açúcares são
gerados a partir da UDP-D-glicose e/ou GDP-D-glicose. O processo está
representado na Figura 3.
Não é muito claro se os açúcares nucleotídeos são os doadores diretos de
glicosil durante a formação dos polissacarídeos da parede celular ou se a unidade
de glicosil é transferida para outro intermediário tal como um glicolipídio. Já foi
demonstrado que a síntese de polissacarídeos da parede celular de bactérias
envolve a formação de glicolipídios. Foi sugerido que a unidade glicosil é transferida
do nucleosídeo D-glicose pirofosfato para um glicolipídio na membrana do
citoplasma, e que a unidade de D-glicosil é translocada para fora da célula pela
metade lipídio. Em outras palavras, o glicolipídio atua com um transportador de
dentro da célula para o meio externo onde a unidade de D-glicosil é polimerizada
com a celulose.
Uma quantidade considerável de estudos tem sido dedicada a determinação
do local onde ocorre a síntese dos polissacarídeos na célula. A maioria das
evidências baseada em estudos autoradiográficos e químicos indicam que as
hemiceluloses e materiais pécticos são sintetizadas dentro do complexo de golgi.
Por outro lado, a maioria das evidências indicam que a celulose é sintetizada fora do
citoplasma na interface entre a membrana do plasma e a parede celular, i.e., em
local onde ocorre a deposição de microfibrilas. A evidência mais convincente para
isto são os estudos de autoradiografia in vitro que indicam a síntese da celulose
somente fora do protoplasto. Uma representação esquemática da síntese e
transporte dos polissacarídeos da planta é mostrado na Figura 4.
Ainda não se sabe como as células controlam o tamanho da molécula e a
orientação das microfibrilas. Em síntese, ainda não se sabe com precisão quais os
mecanismos de controle que governam a biogênese da parede celular ou as
interações entre o processo de biogênese da parede celular e o metabolismo geral
da célula. O número total de passos envolvidos na formação de um polissacarídeo a
partir de um açúcar nucleotídeo não é conhecido. Não se sabe também como o
controle celular se estende além da membrana do plasma ou como a parede celular
é formada a partir dos polímeros componentes. De fato, a biogênese da parede
celular é uma área onde há mais perguntas do que respostas.
38
C-2-epimerase
NDP-D-GLICOSE NDP-D-MANOSE
Desidrogenase
C-4-epimerase
NDP-D-
GALACTOSE
C-4-epimerase
NDP-D-ÁCIDO GLICURÔNICO NDP-D-ÁCIDO
GLICURÔNICO GALACTURÔNICO
Descarboxilase
Descarboxilase
39
Parede celular
Membrana celular
Citoplasma
ácido UDP-D-galactose
péctico UDP-D-galcturonato
UDP-D-glicuronato
UDP-D-glicose
vesícula UDP-D-arabinose
de golgi UDP-D-xilose
L-arabinana
D-galactana corpo de golgi
Hemicelulose Reservatório de
engrossamento microtubos Hexose fosfato D-glicose
secundário solúveis
Plastídeo Ribossomos
ADP-glicose (UDP-D-
glicose) Retículo
endoplasmático Calose
amido
GDP-D-glicose
(UDP-D-glicose)
Partículas na microfibrilas
Membrana de celulose
celular
40
2. CELULOSE
2.1. Introdução
2.2.1. Algas marinhas O composto β(1-3) glicana está presente em quase todas as
algas marinhas(ex.: valônia - possui longas microfibrilas), existindo portanto
em grandes quantidades na natureza. Alguns autores acreditam que esse
composto é mais abundante na natureza que a própria celulose.
41
3. ESTRUTURA DA CELULOSE
42
Alguns autores como Kuhn admitem que a unidade repetitiva da celulose não é a
anidroglicose e sim a celobiose.
1 3
2
Grupo terminal Unidade central
não redutor Grupo terminal
de celobiose redutor
6
CH 2OH OH CH2OH H OH
5
H
H O H H O
O O
H OH H OH H H, OH
4 OH H 1
H OH H
H O H H O
HO H O
3 2
H OH CH 2OH H OH CH 2OH
n
CH 2OH
OH
OH CHO
O
OH
6 6 CH2 OH
CH 2 OH HO HO 4
3 1
4
O O
2 O 5 2 5 2 O
O 5
O
1
O 1
3 4 3
HO HO 6 CH2 OH HO HO
43
Durante muito tempo admitiu-se também que a celulose possuía em sua
estrutura outros monossacarídeos além da glicose. A razão era que outros açúcares
se cristalizavam sobre a molécula de celulose e eram difíceis de serem removidos.
Moléculas de celulose são completamente lineares e têm forte tendência para
formar pontes de hidrogênio inter e intramoleculares. Feixes de moléculas de
celulose se agregam na forma de microfibrilas na qual regiões altamente ordenadas
(cristalinas) se alternam com regiões menos ordenadas (amorfas). As microfibrilas
constróem fibrilas e estas finalmente constróem as fibras de celulose. Como
consequência dessa estrutura fibrosa a celulose possui alta resistência a tração e é
insolúvel na maioria dos solventes. O comportamento físico e químico da celulose
difere completamente daquele do amido o que é explicado pura e simplesmente por
características estereoquímicas. Como a celulose, a amilose (um dos componentes
do amido) é constituída de D-glicopiranose unidas por ligações (1-4) mas no amido
essas unidades são anômeros alfa. A amilose ocorre como uma hélice no estado
sólido e algumas vezes mesmo em solução. A amilopectina, o outro componente do
amido, possui além das ligações alfa (1-4) ligações alfa (1-6) e é ramificada. A
estrutura ramificada é responsável por sua extensiva solubilidade uma vez que ela
não pode se agregar de forma cristalina.
44
A
B
C
H
O3
H
H
3
6
O6 2
H
H
Figura 6. Estrutura da célula unitária da celulose I (celulose nativa) (a) vista de cima
(plano a-b), (b) vista do lado (plano a-c), e (c) vista do lado, indicando as
pontes de hidrogênio entre e dentro das cadeias no plano a-c.
45
ii.na celulose II existem ligações na direção b, o que não ocorre na celulose I,
iii.os valores de a, b e δ da celulose II são diferentes dos da celulose nativa
(Veja Figura 9).
As forças de ligação entre as cadeias de celulose dependem do eixo. Na
celulose nativa, as forças de pontes de hidrogênio na direção do eixo a são de 5,7
Kcal, na direção do eixo b só existem forças de Van der Waals que correspondem a
cerca de 1--- 2 Kcal e na direção do eixo c existem as ligações covalentes que
chegam a 90-100 Kcal. É importante mencionar que a força das pontes de
hidrogênio com distâncias entre moléculas de mais de 4,5Ao é quase nula.
Outros tipos de celulose tais como celulose III e celulose IV podem ser
produzidas quando celulose I e II são tratadas quimicamente ou aquecidas (Tabela
1). O tratamento da celulose I ou II com amônia líquida seguido por completa
evaporação do amônio resulta na celulose III. Duas formas polimórficas são obtidas
dependendo do material inicial; celulose I ou celulose II produzem celulose III1 ou
celulose III2, respectivamente. As células unitárias dos dois polimorfos (III1 e III2)
são idênticas e suas cópias de raio-x são muito semelhantes mas não
completamente idênticas. As duas estruturas parecem diferir em polaridade da
cadeia porque III1 pode ser convertida em celulose I pelo aquecimento em água
enquanto III2 volta para celulose II quando recebe esse tratamento.
A celulose III1 possui cadeias paralelas e é muito semelhante à celulose I,
formando os mesmos tipos de ponte de hidrogênio dentro das camadas. A estrutura
da celulose III2 ainda não foi analisada em detalhe mas devido ao fato dela ser
facilmente convertida em celulose II, espera-se que suas cadeias sejam
antiparalelas.
Como no caso da celulose III, duas formas polimórficas de celulose IV podem
ser obtidas, e isto é feito mais convencionalmente pelo aquecimento da celulose III a
280 oC. Por este método, celulose III1 produz o polimorfo IV1 e III2 produz o
polimorfo IV2. A celulose IV é obtida também aquecendo-se a celulose II em
glicerol ou álcali. A celulose IV tem densidade 1,62, portanto maior que a das
celuloses I e II, que é 1,59, e que a da celulose das regiões amorfas, que é de 1,50.
46
Figura 8. Projeções do modelo de cadeia antiparalela para a celulose II. (a) Projeção
perpendicular ao plano a-c. As cadeias “para baixo” (escuro) no meio são
intercaladas com as cadeias “para cima” dos cantos. (b) Projeção
perpendicular ao plano a-b no sentido do eixo da fibra. A ponte de
hidrogênio O(2)-H ---O(2’) ao longo dos planos 110 é indicada.
47
The structures of celluloses 1 and II
ABSTRACT
lii thL’ last feivyc’ctr~ we Ii ave usedX-ray crystaiiugraphy to determine the structure of natiue celiulose (Vaionia)
and regenerated ceííulose (For*isan rayon). Using least-sqttares refirwment methods, natiue celiuíose is shown
to consist ofan array aí paralle/ drnins (ia’., ali Lhe chains have the sarne sense) , whereas adjacent chains in
regcnr.’rated cel!ulose are antiparallei (i.e., they Iiave alternating sense). In additiov
to (hL dr/fercncL’ tn chajn polczrity. regenerated ceíluiose has extra intermoiecuíar hydrogenhondingaü,,gjheunjt
ceIí diaL’Q~p4.whi~/~probabj~contributcs to Lhe higher stability 0/ LCiíUlOse II cornparedtoc~I1u1ose 1. We
have now determined Lhe .~Lructurt’ rf mercc’rized cellulose using the sarne meL hods. Mercerized cottan is
found ii, hat~’ haswcLl1~’ fite .‘~atne antiparalieí chain structure as Lhe regeneratcd material.
A r”(tsonable ‘ne(haflLsm for the change in chain polarity during mercerization inr’oites rearrangeflLent of sheeLs
of celluiose chains when Lhe swelíing agent is
KEYWORDS
Ceiluiose structure
X-ray diffraction
Electron rnícroscopy
Hydrogen bonds
Mercerization
John Blackwell, Francis J. Kolpak, and Kenncorwin H. Gardner
Oepartment of Macromolecular Science, Case Western Reserve Untversity. Cleveiand, Oh~o 44106
We have used X-ray fiber c=1O.38Â and ~=97O. the space and side chain orientations
diffraction methods to group is P21 and Lhe unit of these chains werc thcn
determine the structuresof ccli contains sections of refined to give the best
nativo, regenerated, and eight ccllulose chains. Ali agreement with the intensity
mercerized celiuloses. In but three ofthe refIections data. Exhaustive refinement
each case the structure was can be indexed by a two- of Lhe best parallel and
refined by rigid.body least- chain unit cell similar to that anttpara]lei chain modeis
squares methods to give the of Meyer and Misch (3). indicated that Lhe parallel
best agreement between the These three reflections are modei gave Lhe best
observed and calculated X- ali very weak, and it is clear agreement. Based on
ray intnesities. Asdetajlod that the differences between statistical tests (5), the best
below, the results ind icate the four Meyer and Misch antiparaliei modei can be
that in native cellulose cells making up the eight- rejccted at a significance
c:uiIulo~e fl, ali the chains chain celi must be smaii. levei of better than 200:1.
have Lhe sarne polarity Thus, we have takon Lhe The final paraliel chain
~i.e., are parallei), whereas twochain unit ceil Ia=8.17X, model had a
in both regcnerated and b=7.86Â) as an adequate crystaliographic R value of
merCE’rized cellulose approximation to the 0.179 (ohserved data oniy,
(ceilulose II), the chains structure. unweightedi. Calculations
have aiternating poiarity (i.e., A model of the cellulose by Sarko and Muggli (6) and
they art• antiparailei). These chain was constructed, Liy French and Murphy (7)
results wili be discussed in based on the coordinates of also indicate that the
terms of possible rnt~eiian an average glucose residue par~11ei chain model gi~’es
istmt for cttnversion (4). The chain had a the best agreernent.
ofcellulose 1 tt cei iii i’sc’ 11 P21screw axis, with the The proposed model for
dttti ng mercerizatjon. observed fiber repeat of ~cIlulose 1 is shown in Fig. 1
10.38À, and possessedan (2). The conter chain is
intramolecular IO3)—H~ staggered by 0.266c with
Cellulose 1 0(5’)] hydrogen bond. This respect Lo Lhe comer chain,
conformation is rigid except and the “planes” of Lhe
Fib~r diffraction data ‘vere for possible rotation ofthe sugar rings Iie
obtained for nativv ceilulose CR2OHsíde chain about the approxirnately in the 020
from the alga Valnnia l(~,ItrtU(1sfl C5)—Cc6) bond. Paraliel planes. The CH2OH gmoup
ti, 2. Fortv-one refIections arv and antiparaiiel unit celi has the sarne conforrnation
ui)~ervvd. which are indexed •models ~vt’re coastructed (dose to tg ao both chains,
by a monuciin’t ttnit cvii with by placing lwo such chains such that each chain forms \
dimensions at
a=16.34Â, b=15.72Â, the center and comer of the
ah projection. The positions
48
structure of mercerized cellulose
11. The unit celI dimensions are
very similar to t hose oU
regenerated c ellulose, and
refinement leads to essentially the
same antiparallel chain structure.
This result is important in the
context of the possible
mechanisms of conversion from
cellulose 1 to II during
mercerizatjon. Reversal of chain
polarity on conversion via
regeneratjon is relat ively eas y to
visualize since the chama are
separated by the solvent.
2. Projections of the antiparall el
chain m odal for cellulose II. (a) However, the p roblem is more
Projection perpendicular to the ac complex in the case of merceriza-
plane. The center ‘do wn” chains tion, where conversion is effected
(dark) are staggered with respect simply by s welling in caustic soda.
to the comer “up’ chains. (b) A reasonable mechanism to
Projection perpendicular to the ab achieve this reversal of polarity is
plane along the fiber axis. The a rearrangement ofthe chains in
0(2) —H• .0(2’) hydrogen bond the swollen state. In the cellulose 1
along the 110 planes is indicated. crystallite, all the chains have the
same polarity, but at a higher level
crystallographic R value for the of organization, t he fibril is
antiparallel modal was R=0.171 thought to contain crystallites of
1. Projections of the parallel (observed data only, unweighted). both polarities. Swelling of native
chain m odel for cellulose 1. (a) Calculations by St ip anovik and
Pr ojection perpendicular (o the ac cellulose was shown by
Sarko (10) also indicate an Warwicker and coworkers (12,13)
plane. The contain chain (black) is antiparallel structure.
staggered with respect to that at to involve sep aration of sheets of
the origin. (b) Projection The proposed s tructure (9) for cellulose chains. Since c ellulose II
per pendicular to the ab plan e, regenerated cellulose II is shown is the more stable structure,
look ing along the fiber axis. in Fig. 2. The center chain is rearrangement to recombine with a
staggered by 0.216c with respect nei ghboring “antiparallel” rather
two intramolecular hydrogen to the comer chain (defined by the than a “parallel” sheet will be
bonds ro(3)—H• 0(5’) and separation of the glycosidic favored on removal of the swelling
0(2’)—H 0(6)]. Neighboring oxy gens). Unlike the situation in agent.
chains along the a axis are linked native cellulose, the —eH2 OH
by an intermolecular hydrogen groups on neighboring chains have Literature cite d
bond [O(6)—H 0(3)], such that the different conformations. For the 1.Gardner, K. H., and Blackwell, J.,
center chains, the side chains are Biochim Biop hys. Acta 342: 232
chains form hydrogen bonded (1974).
sheets of chains parallel t o the a in the gt position, and these chains
2.Gardne r, K. H., and Blackwell, J..
axis, i.e. in the 020 planes. There form sheets very similar t o those Biopolymers 14: 1975 (197 4.
are no hydrogen bonds along the in native cellulose: each chain 3.Meyer, K. H., and Misch , L.,HeIu.
unit cell diagonals; van der Waals forms two intramolecular bonds Ch im . Acta 20: 232 (1937).
forces must be responsible for the and is linked by an intermolecular 4.Arnott, S., and Scott, W. E., J.
stability of the structure in these 0(6)—H ~• 0(3) bond t o the next Chem. Soc. Perkin Trans li: 324
direct ions. chain along the a axis. In the case (1972).
of the comer chains, however, the 5.Hamilton, W. C., Acta Cryst. 1 8:
Cellulose II —CH~0H groups are in the gt 502 (1965).
position. Each chain has the 6.Sarko, A., and Muggli, R., Macro-
O(3)—H~~ 0(5’) intramole cular m.olgcules 7: 486 (1974).
Cellulose II intensity data was first 7.French, A.D., and Murphy, V.G.,
bond, but forms two
obtained ir Fortisan rayon A.C.S. Symposium Ser. 48: 12
intermolecular bonds: O(6)—H•
(regenerated) fibers 48,9). The 44 (1977).
~Q(~) to the next chain along the a
observed reflections were indexed 8.Kolpak , F. J., and Black well, J.,
axis in the 020 plane, and 0(2)—H
by a monoclinic unit cell with Macromolecules 8: 563 (1 975).
0(2’) to the chain along the
dimensions a=8.O1Â, b=9.04Â, 9.Kolpak, F. J., and Black well, J.,
diagonal in the 110 plane. This
c=10.36Ã, and y=ll’1.l0 , and space Macromolecules 9: 273 (1976).
additional intermolecular bonding
group P21. Refinement of parallel 10. Stipanovic, A. J., and Sarko , A.,
is a major difference between
and antiparallel chain models Macromolecules 9: 851 (1976).
cellulose II and cellulose 1, and
show ed that in this case the 11. Kolpak, F. J., and Blackwell, J.,
may exp lain the higher stability of
ant iparallel model gave t he best Polymer, in press.
form II.
agreement wit h the observed X- 12.Warwicker, J. V., J. AppI. Polymer
ray intensities, and the Sci.13: 41 (1969).
parallelmodel mus t also be Mercerized cellulose 13. Jeffries, R., and Warwicker, J. V.,
reject ed on stereochemic al Textiles Res. J. 39: 548 (1969).
grounds. The final M ore recently w e have used the
sarne methods to examine the
49
CELULOSE I:
GLC a GLC
CELULOSE II:
GLC a GLC
50
3.2. Cristalinidade da Celulose
51
L
52
Tabela 2 - Grau de cristalinidade de algumas amostras de celulose medido por
várias técnicas.
53
35Ao
35Å 36 cadeias
de celulose
Nota: Essa estrutura de fibrila
elementar não apresenta regiões
amorfas "verdadeiras".
Observa-se alguma difusão de
raio-x na estrutura devido à
presença dos deslocamentos de
finais de cadeia (chain-end
dislocations)
Deslocamento de
finais de cadeias
Protofibrilas de
celuose ligadas nas
faces laterais
Matriz lignina-
hemicelulose
Hemicelulose
54
Figura 12.3. - Estrutura pormenorizada da parede celular
55
Figura 13. Três modelos de cadeia dobrada, sugeridos para a celulose. A: De acordo
com Marx-Figini e Schulz. B: Modelo originalmente proposto por Manley.
C: Modelo modificado de Manley.
4. ISOLAMENTO DA CELULOSE
A celulose mais pura que existe na natureza é a do algodão com uma pureza
de 99,8%. Ela pode ser isolada pelo tratamento do algodão com um solvente
orgânico qualquer seguido da extração com NaOH 1% na ausência de oxigênio. A
celulose da madeira não pode ser isolada com esse grau de pureza devido estar
associada com outros componentes da madeira, de natureza não polissacarídica.
Alfa-celulose preparada de MFL normalmente contém 10-15% de manana e 2 - 5%
de xilana adicionalmente à celulose.
Os métodos de laboratório para isolamento da celulose são variados, mas
normalmente envolvem os seguintes passos:
i. redução da madeira a pequenas partículas
ii. extração das partículas de madeira com solventes orgânicos e água para
remover resinas e outros extrativos.
iii. deslignificação suave da madeira com clorito acidificado ou cloração seguida de
extração com monoetanolamina (NH2-CH2-CH2OH) ou oxidação com ácido
peracético (CH3COOOH).
iv. extração das hemiceluloses com bases.
57
Resultado: celulose parcialmente degradada e contaminada com lignina e frações de
hemiceluloses resistentes ao álcali.
Absorção de água, %
14
12 ∃
Secagem
10
8 ∃
6
Umidecimento
∃
4
0 ∃
0 25 50 75 90 100
Umidade Relativa, %
Figura 15. Efeito da umidade relativa de absorção de água pela celulose - fenômeno
da histerese.
58
6. INCHAÇO E DISSOLUÇÃO DA CELULOSE
7. MERCERIZAÇÃO DA CELULOSE
H+
H+
Celulose II
8. SOLVENTES DA CELULOSE
Ácidos minerais tais como H2SO4 72%, HCl 44% e H3PO4 85%
Cu (NH3)4 (OH)2
60
ii. Hidróxido de etilenodiamina cúprica ou cuen ou cuprien ou CED.
oxidação descarboxilação
(C6H10O5)n (C5H7O4 COOH)n (C5H8O4) n
ác. poliglicurônico xilana
61
10. COMPRIMENTO E POLIDISPERSIDADE DAS CADEIAS DE CELULOSE
62
Peso aritmético (Mn)
Comprimento da cadeia
63
10.1. Expressão do Peso Molecular
O peso molecular aritmético pode ser visualizado como sendo obtido pelo
somatório do número de moléculas de CADA peso molecular multiplicado por aquele
peso molecular e dividindo-se a soma pelo número total de moléculas.
∞
∑ Mi x ni ∑ wi
i=0
Mn =
∞ portanto Mn = ∑ wi
∑ ni Mi
i=0
onde:
Wi = Mi.ni
Mi = Peso molecular da espécie i
Wi = Peso da espécie i
ni = número da espécie i
64
10.1.2. Peso molecular ponderal (Mw) = weight average molecular weight
O peso molecular ponderal pode ser determinado também por vários métodos:
Mw = RTS/ D(1-Vd)
iii. Método da dispersão de luz. Esse método foi desenvolvido por Peter Debye e é
baseado no princípio de que a dispersão da luz por polímeros em solução é
proporcional ao quadrado de seu comprimento. O grande problema desse método
é a necessidade de se ter uma solução perfeitamente límpida, i.e., solventes
como CED e cuoxan não podem ser usados na dissolução da celulose.
65
em diferentes pontos da coluna deverá ter peso molecular correspondente ao
ponto onde ele ficou retido. Cada gel utilizado tem suas características próprias e
é padronizado.
Wi = GPi x ni
ni = Wi
GPi
66
10.1.3. Método da viscosidade.
Polímero Solventes a
Hidroxietil-celulose - 0,79
Carboximetilcelulose - 0,73
Etil-hidroximetil-celulose - 0,82
Polibutilacrilato - 0,75
Lignina (dioxano-HCl) Piridina 0,15
Lignina alcalina Dioxano 0,12
Lignossulfonato NaCl 0,1M 0,32
Polimetilestireno Tolueno 0,71
Celulose Cadoxen 0,75
Nitrato de celulose Acetato de etila 0,99
Xilana DMSO 0,94
Xilana CED 1,15
Esfera de Einstein - 0
[η] = 0,025V
Log [η]
8
5 B
Tg B = a
4
1
Log K
0
1 2 3 4 5 6 7
Log Mv
68
Uma vez determinada as constantes a e k para um determinado sistema
solvente-celulose, a simples medição da viscosidade da solução em várias
concentrações permite o cálculo do peso molecular da amostra.
O grau de polimerização da celulose é muito variável em função do material de
origem e da localização das cadeias de celulose na parede celular (Tabela 6).
2
2S S
uma substituição: 1 - S 1-
S S = S 1- +
3 3 3 3 3 9
2
S
duas substituições: S S
1-
S = 1-
S
3 3 3 9 3
3
S
três substituições:
3
70
Assumindo igual reatividade para os três grupos OH, ou seja:
S2 = S3 = S6
S2,3 = S2,6 = S3,6
a d
80
60
b c
44,1%
40
29,7%
22,6%
20
3,7%
0 1 2 3
Grau de substituição
Figura 18. Distribuição teórica de unidades de glicose (a) não substituídas, (b) mono-
substituídas, (c) di-substituídas, e (d) tri-substituídas (Timell, 1950). Linhas
tracejadas: constantes de velocidade ida reação de substituição iguais
para HO-2, HO-3 e HO-6; Linhas contínuas: razão das constantes de
velocidade iguais à da metilcelulose (5:1:2) .
71
A celulose é, basicamente, hidrofílica. Entretanto, pode ser transformada em
mais hidrofílica ou hidrofóbica, dependendo da natureza dos grupos que reagem
com ela. Como existem três possibilidades de reações com os grupos OH, pode
ocorrer muita heterogeneidade no produto final. Antigamente acreditava-se que a
celulose nunca era totalmente substituída nas três posições de cada unidade de
anidro-glicose, mas hoje se sabe que é possível obter muitos derivados tri-
substituídos de celulose. A indústria de celulose precisa conhecer muito bem as
probabilidades de substituição para se obter produtos finais uniformes.
Este tipo de degradação se refere a cissão das ligações acetal da celulose, i.e.,
das ligações β-glicosídicas pela ação do ácido:
H OH CH2OH
H OH CH2OH O
O H3 O+
OH H H
OH H H O O
O O HO
O H HO OH H
H OH H O
O
CH2OH OH
CH2OH OH H
H
redutor não-redutor
CH2OH O H OH CH2OH
H O
+
H OH H H
A O C O
O B O
OH H H + OH H
O
OH CH2OH H
H H OH
74
Os principais compostos de adição da celulose são: celuloses alcalinas,
celuloses ácidas, amino-celuloses e celuloses salinas. As celuloses alcalinas e
ácidas são as mais importantes.
Desidratação
[R1O----H----O----H----OR2] R1O ⎯ H----.O-R2
H H
H
Celulose regenerada
76
- trióxido de enxofre/dióxido de enxofre, dimetilformamida, dissulfeto de
carbono
- ácido clorosulfônico/dióxido de enxofre, piridina
O SO3 é um forte eletrófilo capaz de adicionar aos grupos hidroxila e o íon oxônio
intermediário é decomposto em éster sulfato e próton:
H+
Cel – OH + SO3 ↔ [Cel – O – SO 3-] ↔ Cel O – SO3- + H+
Um mecanismo alternativo é:
H+
Cel – OH + H2SO 4 ↔ [Cel – OH ] + HSO 4- ↔ Cel O – SO3- + H3O+
77
Tabela 9 Acetatos de celulose comerciais
78
A acetilação da celulose catalisada por ácido ocorre de acordo com a seguinte
reação:
+
OH O
O O
+ H+ CH 3 C O C C H3
CH 3 C O C C H3 _
+ Cel OH
+
C H3 C O C CH3
OH O
OH O O
CH3 C O C C H3 CH 3 C O Cel
- CH3 COOH, - H +
HO Cel
14.3. Éteres
79
Tabela 11 - Éteres comerciais da celulose
Cel – O – + R – Cl ↔ Cel – OR + Cl –
R = CH3 ou C2H5
Metanol ou etanol reagem então com o cloreto de alquila formando éter dietílico ou
dimetílico
80
14.3.2. Éteres de hidroxi-alquila
O óxido de etileno pode reagir também com íons hidróxido resultando na formação
de etilenoglicol.
H
HO – + H2C – CH2 → CH2O – CH2O –
O
Por causa desta reação o grau de substituição (GS) das hidroxialquil celuloses
é mais baixo que a substituição molar (SM). A razão SM/GS é uma medida do
relativo comprimento das cadeias laterais. Usualmente, somente a metade do óxido
de etileno reage com a celulose, a outra metade é consumida em reações laterais.
Hidroxietil-celuloses solúveis em água apresentam substituição molar entre
1,5 e 2,5. A hidroxietil-celulose é usada como um espessador para tintas látex, como
emulsão na polimerizaçao de acetato de polivinila, para colagem de papel, para
aumentar a resistência a úmido do papel (junto com glioxal), na indústria de
cerâmica, etc.
Hidroxipropil-celuloses são aplicados para usos similares à anterior mas esta é
mais limitada. Devido ao fato da substituição por hidroxi-propil aumentar a
termoplasticidade e a solubilidade em solventes orgânicos, ela pode ser usada
como espessador de soluções orgânicas. A hidroxipropilação da celulose não resulta
em produtos solúveis em água e álcali até que o SM atinja 4 ou aproximadamente 4.
81
14.3.3. Carboximetilcelulose
14.3.4. Cianometilcelulose
+ +
Cel – O – + C H2=CH – C≡N Cel – O – CH2C H2 OH– + CN
+ H2O
– –
Cel – O – CH2 –C H – C≡N Cel – O – CH2CH=C=N
A preparação de fibras de viscose para rayon e celofane é feita via xantato que
é portanto um importante derivado da celulose. o tratamento da celulose alcalina
com dissulfeto de carbono resulta na formação do xantato de celulose
(ditiocarbonato).
S
–
– Cel – O – C – S
Cel – O + C
+
S H S
No primeiro passo a celulose é tratada com hidróxido de sódio 18% entre 15-30
o
C. Depois de removido o excesso de NaOH das fibras através de prensagem, a
celulose alcalina é transformada em pequenos fragmentos e sujeita a
envelhecimento para reduzir o grau de polimerização para valores entre 200 e 400.
A xantação é então executada a 25-30 oC por cerca de 3 horas o que resulta em GS
de aproximadamente 0,5. O xantato de celulose é dissolvido então em solução
aquosa de hidróxido de sódio 40% resultando em um líquido viscoso de cor laranja
chamado viscose. Depois de envelhecida, a solução de viscose é filtrada e forçada,
através de uma fiandeira (por extrusão) onde a celulose é regenerada na forma de
fios finos resultando em fibras de rayon. O celofane é preparado prensando-se a
viscose, através de uma fenda estreita, para um banho de ácido onde são formadas
as folhas de celofane.
83
ENF 660 - QUÍMICA DA MADEIRA
1. INTRODUÇÃO
84
Embora relacionadas, as hemiceluloses de madeiras de fibra longa e fibra
curta não são as mesmas, sendo os polissacarídeos das madeiras de fibra longa
mais complexos, tanto quanto ao número de hemiceluloses presentes quanto às
suas estruturas.
Dentre as hemiceluloses, as arabinogalactanas ocorrem em pequenas
quantidades, 1 a 3%, em todas as espécies. Glicomanana ocorre em pequenas
quantidades, 2 a 5% em madeiras de fibra curta. Acetato de galactoglicomanana
aparece em grandes quantidades em madeiras de fibra longa, cerca de 15 a
20%. Outra hemicelulose importante, 4-0-metil-glicurono-arabinoxilana, aparece
em quantidade equivalente a 10% em madeiras de fibra longa. Por outro lado, as
madeiras de fibra curta mostram o acetato de 4-0-metilglicuronoxilana em grande
quantidade, 20-35%. As xilanas são consequentemente, depois da celulose, os
mais importantes carboidratos da madeira. A natureza exata do composto não
celulósico Beta (1-3) glicana que aparece nas madeiras de fibra curta em
quantidades pequenas, 0-3%, é ainda motivo de controvérsias.
As hemiceluloses são polímeros geralmente amorfos, constituídos de uma
cadeia central de unidades repetitivas mais as cadeias laterais. Conforme as
unidades repetitivas do(s) monossacarídeo(s) das cadeias central e laterais é que
se denomina a hemicelulose.
As hemiceluloses, devido às inúmeras possibilidades de combinações dos
monossacarídeos, são numerosas e variam em estrutura. Descrições detalhadas
da constituição das principais hemiceluloses são recentes e passaram a ocorrer
depois que foram introduzidos os modernos métodos de separação
cromatográfica de carboidratos e os métodos de estudo de estrutura como
metilação, oxidação com periodato, hidrólise parcial com análise dos
oligossacarídeos formados etc.
Entretanto, antigamente o termo hemicelulose era designativo de
carboidratos que eram degradados em hidrólise ácida mais facilmente que a
celulose. As hemiceluloses eram consideradas também facilmente extraíveis da
madeira com álcali. Mais recentemente notou-se que estas características são
reais mas não absolutas. Existem hemiceluloses que são mais resistentes ao
álcali e ao ácido que a própria celulose. Não existe portanto uma distinção
abrupta entre hemiceluloses e celulose que permita a separação de ambas por
métodos empíricos. Com a evidência da heterogeneidade das hemiceluloses, o
termo plural, hemiceluloses, passou a ser adotado. Hoje conhecem-se diversas
hemiceluloses que reagem diferentemente nos processos de produção,
branqueamento e purificação da polpa. Importante porém é frisar que na
madeira podem existir outros polissacarídeos que não são considerados
hemiceluloses: gomas, mucilagem, substâncias pécticas e amido.
A composição e estrutura das hemiceluloses nas madeiras de fibra longa
diferem grandemente daquelas em madeiras de fibra curta. Diferenças
consideráveis existem também no conteúdo e composição entre hemiceluloses do
tronco, galhos, raízes e casca da árvore. Raios e células de parênquima
geralmente possuem maior teor de hemiceluloses que as paredes das fibras.
Existem também variações no conteúdo e composição das hemiceluloses de
madeiras de tensão, de compressão e normal.
A hemicelulose predominante nas madeiras de fibra curta é uma xilana ácída
parcialmente acetilada. As madeiras de Betula papirifera e Betula verrucosa
contém cerca de 35% desse polissacarídeo enquanto Ulmus americana tem
somente 20%. Madeiras de fibra curta possuem também glicomananas. As
85
hemiceluloses predominantes nas madeiras de fibra longa são as chamadas
galactoglicomananas, as quais são também parcialmente acetiladas. Elas
representam cerca de 20% do peso das madeiras de fibra longa. Uma xilana que
é similar mas não idêntica àquela das madeiras de fibra curta, existe na proporção
de 10% nas madeiras de fibra longa. Pelo menos uma madeira de fibra longa, a
Thuja occidentalis, possui quantidades similares de galactoglicomananas e de
xilanas. Espécies do gênero Larix contêm 10-20% de arabinogalactanas, as quais
em outras madeiras de fibra longa estão presentes somente em pequenas
quantidades.
86
O isolamento de hemiceluloses que contenham grupos acetila pode ser
realizado com sucesso pelo inchaço e extração da holocelulose com dimetil
sulfóxido. Esta técnica preserva mais os grupos acetila.
Nos extratos, as hemiceluloses podem ser isoladas por neutralização e
precipitação com álcool. Para purificação posterior usam-se técnicas de
fracionamento dos carboidratos. Os monossacarídeos separados podem ser
determinados por cromatografia. Outras técnicas como as anteriormente citadas
de metilação, oxidação com periodato, etc, podem ser utilizadas.
As preparações de hemiceluloses precipitadas podem ser ainda mais
purificadas por cromatografia de coluna. Cromatografia de gel é usada para o
fracionamento de acordo com o peso molecular. Na maioria dos casos,
entretanto, a diferença em propriedades químicas forma a base para a separação.
Por exemplo, a capacidade de certos grupos OH em algumas hemiceluloses de
formar complexos com metais. Alguns trocadores de íons derivados da celulose,
dextrina e agarose (ex. dietilaminoetilcelulose) em diferentes formas iônicas são
particularmente úteis na separação de hemiceluloses. Geralmente, a
cromatografia, em suas diversas formas é usada para a caracterização dos
produtos da hidrólise ácida de hemiceluloses isoladas. Isto é feito depois da
hidrólise total (análise dos monossacarídeos) ou hidrólise parcial (análise dos
oligossacarídeos). O método geral para a localização das ligações é a metilação
completa seguida de hidrólise e identificação dos açúcares metilados
(cromatografia gás-líquido-espectrometria de massa). Adicionalmente, pode se
fazer a determinação em separado para os ácidos urônicos, pentosanas, grupos
acetila e grupos metoxila.
4.1. O-Acetil-4-O-Metilglicurono-Xilana
87
holocelulose, preferivelmente preparada pelo método do clorito, é extraída
sucessivamente com dimetil sulfóxido em água. O rendimento nesse caso
raramente excede a 50%.
Todas as MFC até hoje investigadas foram demonstradas conter o mesmo
tipo de xilanas. Uma fórmula parcial das xilanas é mostrada na Figura 1, enquanto
uma estrutura simplificada, mas completa das unidades repetidoras é dada na
Figura 2. O esqueleto do polissacarídeo consiste de aproximadamente 200
resíduos de β-D-xilopiranose unidos por ligações glicosídicas (1-4). Algumas das
unidades de xilose possuem uma cadeia lateral consistindo de um resíduo de
ácido 4-0-metil-alfa-D-glicurônico, ligado diretamente na posição 2 da xilose. De
cada 10 unidades de xilose, 7 contém um grupo O-acetil no C-2 ou mais
freqüentemente no C-3. A presença dessa grande quantidade de grupos acetila
aumenta a solubilidade das xilanas não somente pelo aumento da polaridade mas
também pelo fato de tornar mais amorfa a estrutura dessa hemicelulose.
Pensava-se que as xilanas possuíam um esqueleto linear. Estudos mais
atuais demonstram que as xilanas são mesmo ramificadas. O comprimento das
ramificações não é conhecido mais eles são provavelmente curtos. Esta
conclusão é baseada no fato de que a relação entre viscosidade intrínseca e peso
molecular é a mesma para as xilanas de MFC e para a linear celulose. Também
as xilanas são capazes de formarem filmes (camadas) resistentes.
A distribuição dos grupos de ácido 4-O-metil-glicurônico no esqueleto das
xilanas não é conhecida com muita certeza, embora os resultados obtidos por
hidrólise enzimática parcial indicam um arranjo ao acaso. A distribuição dos
grupos O-acetil também não é conhecida. A maioria das 4-O-
metilglicuronoxilanas isoladas até o presente de angiospermas lenhosas contém
em média uma cadeia lateral de ácido para cada 10 resíduos de xilose. Algumas
exceções, que possuem uma cadeia lateral para cada 6-7 resíduos de xilose, são
as espécies de Ulmus americana, Malus punila (maça ) e Prumus avium (cereja
doce). A conformação da cadeia lateral do ácido 4-O-metilglicurônico é mostrada
na Figura 3.
Estudos feitos por dispersão de luz e por equilíbrio de sedimentação com
xilana de bétula indicam que o peso molecular ponderal é apenas um pouco mais
alto que o peso molecular aritmético. Isto sugere que a distribuição de peso
molecular nas xilanas é bastante estreita.
Os resíduos de xilose, como os de glicose na celulose estão provavelmente
presentes na conformação 4C1. Estudos utilizando as técnicas do Raio X e da luz
infravermelha polarizada demonstraram que as xilanas de MFC possuem uma
unidade repetidora de 15Å de comprimento (Figura 4).
O estado exato dos grupos carboxílicos da xilana nativa de MFC como ela
ocorre na madeira não é conhecido com certeza. Estudos usando a técnica de
espectroscopia infravermelho diferencial sugere que os grupos de ácidos urônicos
não estão presentes como íons carboxilatos. Foi observado que após o
tratamento de madeira finamente dividida com amônia líquida e extração com
água produz-se 4-O-metilglicurono-xilana contendo grupos amida. Isto indica a
ocorrência de lactona ou grupos ésteres na hemicelulose nativa. Esses grupos
podem estar esterificados com outras cadeias de xilana ou até mesmo com a
lignina. Acredita-se que esterificação com a lignina seja realmente a mais
provável.
As ligações xilosídicas entre unidades de xilose são facilmente hidrolisadas
por ácido, enquanto as ligações entre ácido urônico e xiloses são muito
88
resistentes. A resistência dessa ligação à hidrólise ácida pode ser comprovada
pela presença do chamado ácido alobiurônico (Figura 5) em solução após
tratamento das xilanas com ácido. A ligação é do tipo α-D e normalmente ocorre
entre C1 do ácido 4-O-metil glicurônico e C2 ou C3 da unidade de xilose. A
presença do ácido 4-O-metil glicurônico modifica a rotação da xilana. A xilana
sem cadeia lateral apresenta [alfa]D = -100o enquanto a xilana com ramificações
de ácido é de [alfa]D = -70o. Isto ocorre porque a ligação α-D tem rotação positiva.
Grupos acetila são muito facilmente hidrolisados por álcali, e o acetato formado
durante a polpação kraft da madeira origina principalmente desses grupos. Esses
grupos são hidrolisados vagarosamente à ácido acético, dentro da própria árvore
como um resultado da natureza ácida, especialmente da madeira de cerne.
Estudos recentes revelaram uma característica interessante da estrutura da
xilana de bétula (Figura 6). A unidade vizinha à unidade terminal redutora de
xilose é o ácido D-galacturônico, ligado a uma L-ramnose através da posição C-2.
A unidade de ramnose é por sua vez conectada à cadeia de xilana através da
posição C-3. A presença do ácido D-galacturônico próximo do final da cadeia
aumenta grandemente a estabilidade das xilanas em álcali. Uma vez removida a
unidade terminal redutora das xilanas, ocorre o bloqueio da despolimerização
devido a presença do ácido galacturônico.
[η] = KMav
89
4.1.2. Propriedades do cristal
4.2. Glicomananas
90
Esta hemicelulose é mais estável ao tratamento ácido que as xilanas. Isto
porque as glicomananas não possuem o C-5 disponível para hidrólise como é o
caso das xilanas. O hidrogênio do C-5 das xilanas é muito ácido e sofre hidrólise
facilmente. As ligações manosídicas entre unidades de manose são mais
facilmente hidrolisadas por ácido que as ligações glicosídicas correspondentes.
Em linhas gerais pode-se dizer que as glicomananas são facilmente
despolimerizadas na presença de ácido.
5.1. Arabino-4-O-Metilglicurono-Xilana
Diferentemente das MFC, as MFL não podem ser extraídas diretamente com
álcali para o isolamento das hemiceluloses. A razão para este fato é o mais alto
conteúdo de lignina na parede celular das MFL, resultando num alto grau de
incrustação do polissacarídeos. Para o isolamento das hemiceluloses de MFL, a
madeira tem primeiro que ser deslignificada, o que é usualmente feito por
tratamento da serragem com clorito.
Dentre todos os polissacarídeos presentes na madeira normal, a arabino-4-
O-metilglicurono-xilana é o mais difícil de ser isolado puro e quantitativamente.
Dentre os vários métodos já propostos para o isolamento das hemiceluloses de
MFL, a seqüência de reações mostrada na Figura 13, que foi originalmente
aplicada a madeira de Tsuga canadenesis, é provavelmente a melhor. Como
mostrado na Figura 13, a holocelulose é primeiramente extraída com solução
aquosa de hidróxido de potássio que remove as xilanas e as galactoglicomananas
91
solúveis em água. Essa mistura é separada por repetida reprecipitação das
galactoglicomananas com hidróxido de bário. Infelizmente, no curso desse longo
processo, uma quantidade significativa das xilanas é perdida enquanto o
rendimento em galactoglicomananas é satisfatório. Continuando a extraí-lo da
holocelulose residual com solução aquosa de hidróxido de sódio contendo borato
produz-se uma galactoglicomanana solúvel em álcali e de aceitável pureza que
pode ser posteriormente purificada pelo método do hidróxido de bário. A porção
remanescente da holocelulose consiste basicamente da celulose contendo alguns
resíduos de hemiceluloses.
Todas as xilanas de MFL já investigadas consistem de um esqueleto de
resíduos de β-D-xilopiranoses unidas por ligações (1-4). Alguns destes resíduos
estão ligados a unidades de ácido 4-O-metil-α-D-glicurônico através do C-2,
gerando xilanas similares àquelas existentes nas MFC. Diferentemente das
xilanas de MFC, as xilanas de MFL contém também resíduos de α-L-
arabinofuranose diretamente ligados ao C-3 das unidades de xilose. As xilanas de
MFL possuem em média 2 resíduos de ácido 4-O-metil glicurônico e 1,3 resíduos
de arabinofuranose por 10 unidades de xilose, respectivamente. Portanto as
xilanas de MFL são mais ácidas que as de MFC. A distribuição das cadeias
laterais de ácido e de arabinose não é presentemente conhecida.
Contrariamente ao que se pensava no passado, as xilanas de MFL não
possuem grupos acetila. Não se sabe ainda se esta hemicelulose é
completamente linear ou se apresenta ramificações.
Estudos mais recentes demonstram que as xilanas de MFL possuem uma
unidade de D-ramnose e de ácido D-galacturônico por cadeia de xilana. A Figura
14 mostra uma representação esquemática das xilanas de MFL.
Por causa de suas estruturas furanosídicas, as cadeias laterais de
arabinose são facilmente hidrolisadas por ácidos. A presença da arabinofuranose
nessas xilanas fazem com que elas também sejam parcialmente solúveis em
água. A presença de cadeias laterais tanto de arabinose quanto de ácido 4-O-
metilglicurônico aumentam a estabilidade dessas xilanas contra a degradação
catalisada por álcali.
As xilanas representam entre 5 e 10% do peso das MFL. O comprimento das
cadeias de xilanas não é conhecido com exatidão. Embora a quantidade de
xilanas seja menor que a de galactoglicomananas nas MFL, usualmente encontra-
se mais xilanas do que galactoglicomananas na polpa kraft dessas madeiras.
Esse fenômeno é explicado pela reprecipitação das xilanas sobre a fibra durante
o processo de polpação. A maior parte das glicomananas é solubilizada.
5.2.Galactoglicomananas
92
descobertos, a presença delas sendo anunciada em 1956 e 1960 por J.K.
Hamilton e colaboradores. O modo de isolamento dessas hemiceluloses foi
demonstrado no item anterior. O principal polímero obtido com as xilanas quando
a holocelulose é extraída com hidróxido de potássio é um polissacarídeo solúvel
em água contendo resíduos de galactose, glicose, e manose na razão 1:1:3.
Outras galactoglicomananas com uma composição de açúcares um pouco
diferente está também presente nesta fração. O polissacarídeo menos solúvel
(solúvel em álcali + H3BO3), freqüêntemente designado de "glicomanana",
consiste de resíduos de galactose, glicose e manose na razão 0,1:1:4.
Evidentemente, as MFL contém uma grande família de galactoglicomananas
aparentadas que diferem principalmente nos seus conteúdos de hexose, e mais
especificamente no conteúdo de galactose.
Uma fórmula estrutural genérica para essas glicomananas apresentada na
Figura 15. O esqueleto da hemicelulose consiste de resíduos de β-D-
glicopiranose e β-D-manopiranose unidos por ligações (1-4), largamente mas não
inteiramente distribuídos ao acaso. Algumas das unidades e hexoses possui um
resíduo terminal de α-D-galactopiranose ligadas ao C-6 (ligação α 1-6). É
provável que todas as galactoglicomananas sejam acetiladas na madeira original
e os grupos acetila estão ligados aos resíduos de manose. Existem entre 2 e 3
grupos acetila para cada 10 unidades de glicopiranose/manopiranose ligadas aos
C2 e C3.
O esqueleto principal das galactoglicomananas contém pelo menos 150
resíduos de hexose mas o peso molecular da cadeia é desconhecido porque não
se conhece com exatidão as ramificações. Alguns investigadores sugerem que as
glicomananas solúveis em álcali são ligeiramente ramificadas, enquanto outros
têm indicado que a cadeia é linear. A baixa viscosidade intrínseca desse polímero
comparada com a das xilanas de MFC ou celulose concorda com a idéia da
existência de umas poucas (2-3 por cadeia) mas longas ramificações. Depois de
despolimerizadas e desacetiladas, as galactoglicomananas podem ser induzidas
a cristalização, principalmente aquelas com baixo teor de galactose (0,1:1:4). As
galactoglicomananas são facilmente despolimerizadas por ácido, especialmente
a ligação α(1-6) entre galactose e a cadeia principal. Os grupos acetila são muito
mais facilmente removidos por álcali do que por ácido.
As galactoglicomananas são as hemiceluloses mais importantes das MFL,
representando cerca de 15-20% do peso da madeira.
93
arabinogalactana. Uma estrutura simplificada dessa arabinogalactana é
apresentada na Figura16.
A razão galactose/arabinose é, para a maioria das espécies de 6:1. O
esqueleto da macromolécula é composto de resíduos de β-D-galactopiranose
unidos por ligações (1-3), todos eles possuindo uma cadeia lateral nas suas
posições 6. A maioria dessas cadeias laterais são compostas em média de 2
resíduos de β-D-galactopiranose por cadeia, unidos por ligações (1- 6). Algumas
das unidades de galactose no esqueleto possuem resíduos de 3-0-β-L-
arabinopiranosil-L-arabinofuranose. Estão também presentes uns poucos
resíduos terminais de L-arabinofuranose e ácido D-glicurônico. Portanto, a
macromolécula é extensivamente ramificada, o que é evidenciado pela baixa
viscosidade de suas soluções aquosas. Não forma cristais e tem características
de um polímero esférico.
As arabinogalactanas são hemiceluloses extra celulares, i.e., elas se
localizam fora da parede celular. Elas são sintetizadas pelas células do raio do
alburno que posteriormente se transforma em cerne, um pouco antes dessas
células morrerem. Assim, elas se localizam no lúmen dos traqueídeos do cerne.
Essa é uma das razões porque ela é facilmente removida pela água. Por
extensão pode se dizer que a arabinogalactana constitui-se num extrativo da
madeira. Não se tem notícia de que esta hemicelulose tenha nenhuma função na
planta.
As arabinogalactanas são largamente solúveis em água, mesmo quando
extraídas de grandes pedaços de madeira (cavacos). Elas são também
extremamente sensíveis à hidrólise ácida. Elas sofrem hidrólise na própria
madeira. Como se sabe, as xilanas e galactoglicomananas são acetiladas. Por
oxidação ou por hidrólise os grupos acetila se desprendem e formam ácido
acético que abaixa o pH da madeira em alguns casos para valores tão baixos
quanto 3-4. Por isso as arabinoses sofrem hidrólise ácida constantemente
resultando em queda do peso molecular, perda das cadeias laterais de arabinose
e transformação das arabinogalactanas A em arabinogalactanas B. As
arabinogalactanas são subprodutos da indústria de conversão da madeira. As
fábricas de celulose que usam espécies do gênero Larix extraem essas
hemiceluloses dos cavacos por lavagem com água em contra-corrente e depois
recuperam as hemiceluloses. Devido suas baixas viscosidades, o principal uso
dessas hemiceluloses é na indústria gráfica para abaixar a tensão superficial de
soluções aquosas (agente tensoativo).
Para a polpação comercial da madeira de espécies do gênero Larix é
necessária a remoção preliminar das arabinogalactanas que causam consumo
dos reagentes.
94
arabinofuranose. Já foram isoladas arabinogalactanas de 7 espécies de Pinus,
duas de Picea e uma de Pseudotsuga. Embora a razão galactose/arabinose varie
entre 7 e 13, todas elas parecem ter a mesma estrutura básica.
6. XILANAS DO BAMBU
95
Tabela I. Resumo de dados sobre as hemiceluloses
Polissacarídeo Ocorrência % da Composição Proporção Ligações Linear ou [α] D graus Solventes GPn GPw
madeira ramificado
β-D-Xylp 10 1 4
O-acetil-4-O-metil- Madeira de 10...35 4-O-Me-α-D- 1 1 2 Ligeiramente -80 ± 5 Água, álcali 200 180 - 250
glicurono-xilana fibra curta GlpA 7 ramificada
O-Acetil
Glicomanana Madeira de 3...5 β-D-Manp 1…2 1 4 Não-definido -30 ± 2 Álcali >70 >120
fibra curta β-D-Glp 1 1 4
β-D-Xylp 10 1 4
Arabino-4-O-metil- Madeira de 10...15 4-O-Me-α-D- 2 1 2 Não-definido -37 ± 2 Não-definido >120
glicurono-xilana fibra longa GlpA 1.3 1 3
L-Araf
β-D-Manp 3 1 4
Galacto-glicomanana Madeira de 5...10 β-D-Glp 1 1 4 -7to ± 8 Não-definido >100 >150
(solúvel em água) fibra longa α-D-Galp 1 1 6
O-Acetil 0.24
β-D-Manp 3 1 4
Galactoglicomanana Madeira de 10...15 β-D-Glp 1 1 4 Provavelmente 35 ± 5 Álcali >100 >150
(solúvel em álcali) fibra longa α-D-Galp 0.1 1 6 ramificada
O-Acetil 0.24
β-D-Galp 6 1 3,
Arabinogalactana Madeira de 10...20 L-Araf 2/3 1 6 Altamente +10 ± 2 Água 220 100 e 600
Larix β-L-Arap 1/3 1 6 ramificada
β-D-GlpA Pouco 1 3
1 6
96
7. DISTRIBUIÇÃO, ESTADO E FUNÇÃO DAS HEMICELULOSES NA MADEIRA
7.1. Distribuição
Betula verrucosa
(bétula)
Prosênquima 22 7 86
Parênquima 39 1 93
97
como polifenóis. Alguns autores têm postulado que a concentração de
arabinogalactanas em Larix dehurica aumenta do centro da árvore em direção à
fronteira entre o cerne e alburno, atingindo o valor máximo nesse ponto. Zaitseva
determinou que as arabinogalactanas dessa mesma espécie estão concentradas
nas células do raio, nas células epiteliais que formam os canais de resina e nos
espaços intercelulares.
O fato de que todas as arabinogalactanas podem ser extraídas da madeira
de Larix com água elimina a possibilidade dela estar localizada dentro da parede
celular lignificada. Entretanto, se for considerado que algumas vezes 25% do
cerne é constituído deste polissacarídeo, se torna improvável que todo esse
material possa estar localizado nas células do raio e epiteliais e nos espaços
intercelulares.
A composição química do tecido cambial, do xilema em desenvolvimento e
do floema tem despertado muito interesse nos últimos anos. Um estudo
interessante relativos às mudanças na composição química que ocorrem nas
células do câmbio durante a diferenciação foi apresentado por Thornber. Na
formação das células do alburno em ambas angiospermas e gimnospermas, a
quantidade de pectina presente na região cambial permanece inalterada. A
formação da parede secundária requer a deposição de celulose, hemicelulose e
lignina, sendo formada mais celulose que hemicelulose. A composição química
geral do tecido cambial foi a mesma nas 4 espécies investigadas.
Alguns autores recuperaram xilanas, glicomananas e celulose dos tecidos do
xilema, do câmbio e do floema de Acer pseudoplatamus e Pinus sylvestris. As
células do tecido cambial demonstraram ter a mesma composição química para
ambas as espécies. A composição completa de açúcares de cada fração, o
conteúdo de ácidos urônicos das xilanas e, a composição de hexoses das
glicomananas e o grau de polimerização da celulose foram deteminados. Alguns
dos dados obtidos para as xilanas e glicomananas estão apresentados na Tabela
3.
98
no LFE que, no LIE. Os resultados mostrados na Tabela 5 indicam que isso é
uma realidade. Os resíduos de galactose na parede secundária das MFL originam
provavelmente das galactoglicomananas. A ocorrência de galactanas e de
materiais pécticos na camada S2 é pouco provável. Uma representação gráfica
da topoquímica dos constituintes na madeira de Pinus sylvestris é mostrada na
Figura 18.
Finalmente, a composição do conteúdo de hemicelulose varia entre células
jovens que estão ainda em crescimento e células maduras. As células de madeira
juvenil contém mais xilanas e menos celulose e glicomananas que a madeira
adulta.
Picea abies
Galactana 16,4 8,0 Nada Nada
Celulose 33,4 55,2 64,3 63,6
Glicomanana 7,9 18,1 24,4 23,7
Arabinoglicuronoxilana 13,0 17,6 10,7 12,7
Betula verrucosa
Galactana 16,9 1,2 0,7 Nada
Celulose 41,4 49,8 48,0 60,0
Glicomanana 3,1 2,8 2,1 5,1
Arabinana 13,4 1,9 1,5 Nada
Glicuronoxilana 25,2 44,1 47,7 35,1
a - contém também uma grande percentagem de material péctico.
99
7.2. Estado Físico das Hemiceluloses
7.3. Função
100
8. REATIVIDADE DAS HEMICELULOSES
101
9. PROPRIEDADES DAS HEMICELULOSES
102
A amilopectina também consiste de unidade de α-D-anidroglicopiranose,
unidas por ligações α(1-4) e α(1-6), mas que possui inúmeras ramificações. Em
geral a proporção entre amilose e amilopectina é de 1:2.
103
CO2H
O
OH
MeO
OH
OH O OH
O O O O
O O O O
OAC OAC OH
O OAC O OH
O O
O O
OH OAC OAC
OAC OH
O
HO O OH
OH OAC
O O
O
OH
n
acetil 7 1
4-O-Me-α-D-GlpA
O O
O OH
O n
O
O
O
O
O
OCH3
104
O
O
O
O
O
O
O
O
15 Å O
O
o
O
O
O
o
O
O
H
O OH
H
COOH OH
HO H
O O
OH
H 3CO
OH
Figura 5. Ácido alobiurônico [2-O(4-O-metil-glicuronil)-D-xilose]
OH HO O O
OH
O
O CH3 O
OH
OH OH H, OH
OH
O
O
O OH HO O O
OH COOH
105
Log [η]
8
Celulose
7
6
Xilana
5
4
3
2
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Log Mv
a = b = 9,16 Å
b β c = 14,84 Å
β = 120o
a
Figura 8. Célula unitária da xilose
NaOH 2,5%
ClO 2 KOH 24% + H3BO 3
Madeira Holocelulose Resíduo Celulose
Xilanas
106
CH 2OH CH 2OH
O O
Ba(OH) 2
H, OH H, OH
HO HO
HO OH
O O
Ba
D-manose complexo D-manose-Ba
CH 2OH CH 2OH
O O
H 3 BO 3
H, OH H, OH
HO HO
OH OH
O + O
B
O O O O
OH OH
OH OH OH OH OH OH OH
OH
107
Madeira
HClO2
Holocelulose
KOH
Solúvel Insolúvel
Hemiceluloses Resíduo
OH OH
O O
O O
OH OH
OH
O
O O
O O
O OH
O
OH
O
H3CO
OH
HOH2C OH
O
OH
COOH
1 1
4-O-Me-β-D-GlcpA 2 L-Araf
108
CH2OH CH2OH
O O
O OR RO O OR RO
O O O
OH O OR RO O
OH CH2O CH2OH
OH
OH
HO
O
CH2OH
Ac
1
β-D-Galp
1 1 1 1 1
β _ D _ Galp _ _
β _ D _ Galp β _ D _ Galp R α L Araf
6 6 3
6
1
1 1 1 β _ L _ Arap
β _ D _ Galp β _ D _ Galp β _ D _ Galp
109
C H 2O H CH 2O H C H 2O H
O O O
O O O O
OH OH OH
OH OH OH
M+P S1 S2 S3 Lumem
Glicuronoarabanaxilana Glicomanana
Arabana Celulose
Galactana
_ _
O O HO O O
O
H C H C H C H C OH
C
OH C OH C OH C O H C OH
H C
- [G]n
[G] n O [G] n O C H C H H C H H C H
C H
H C OH H C OH H C OH H C OH
H C OH
CH 2OH CH 2 OH CH 2 OH CH 2 OH
CH 2O H
I II III IV V
110
APÊNDICE 1 - AÇÚCARES COMPONENTES DAS HEMICELULOSES
O OH O HO O OH
CH3
OH OH
HO HOH 2 C OH
OH OH OH OH
β-D-xilose α-L-arabinose α-L-raminose
111
ENF 660 - QUÍMICA DA MADEIRA
CAPÍTULO 5 - LIGNINA
1. INTRODUÇÃO
2. BIOSSÍNTESE DA LIGNINA
2.1. Introdução
Acredita-se que a síntese da lignina foi uma adaptação básica e uma etapa
fundamental na evolução das plantas terrestres superiores. As plantas primitivas
tais como fungos e algas não possuem lignina, aparentemente porque seus
aglomerados de células não diferenciadas não requerem a ação protetora e de
suporte que é oferecida pela lignina. Especula-se que a lignina originou como
112
agente antimicrobial e que ao longo da evolução a lignina começou a
desempenhar um papel no suporte mecânico e no transporte de água na planta.
Ela permitiu que as plantas aumentassem em diâmetro e altura uma vez que os
tecidos lignificados eram capazes de resistir às forças de compressão e curvatura.
113
cinâmicos em três álcoois p-hidroxicinamílicos que são considerados os
precursores da lignina . São eles os álcoois p-coumarílico, coniferílico e sinapílico.
CH O
0H
H C OH
HO C H
H C OH HO COOH
H C OH
CH OH
2 0H
GLUCOSE ÁCIDO SHIQUÍMICO NH 2
HO CH2 CHCOOH
CH 2 COCOOH TIROSINA
HO
COOH
NH 2
CH 2 CHCOOH
ÁCIDO PREFÊNICO
FENILALANINA
FENOLASES
114
COOH COOH COOH
CH CH CH
CH CH CH
1. Fenolases 1. Fenolases
2. Metiltransferases 2. Metiltransferases
OCH3 H3 CO OCH3
OH OH OH
CH 2 OH CH 2 OH CH 2 OH
CH CH CH
CH CH CH
OCH3 H3 CO OCH3
OH OH OH
115
reatividade química com relação a sistemas de enzimas oxidantes. A baixa
solubilidade e a alta reatividade em relação a oxidantes faz com que seja crucial
para a célula estabilizar os álcoois p-hidroxicinamílicos contra a polimerização
prematura e o término de suas atividades de sustentação da vida. Esta
estabilização é conseguida através da formação de glicosídeos entre monômeros
fenólicos e unidades de açúcar. A primeira elucidação estrutural do glicosídeo
coniferina, o glicosídeo formado por β-D-glicose e álcool coniferílico, mostrado na
Figura 5, é creditado a Tiemann e Mandelsohn. A coniferina é caracterizada pela
sua alta solubilidade em meio aquoso. Ela também possui uma alta estabilidade
contra agentes oxidantes porque o grupo sensível à oxidação, a hidroxila fenólica,
está protegida por uma ligação glicosídica. Este glicosídeo pode ser livremente
armazenado e transportado pela planta sem o risco de uma polimerização
prematura da metade fenólica.
CH2OH
O
O CH CHCH2 OH
OH
OH
OCH3
OH
116
hidrogênio do fenol e dá partida a todo o processo de polimerização. Os principais
mecanismos da polimerização foram elaborados por Freudenberg e seus
colaboradores que produziram uma lignina in vitro, chamado de polímero de
desidrogenação (DHP), por tratamento do álcool coniferílico com uma lacase
fúngica e com uma peroxidase de rábano e peróxido de hidrogênio.
Embora a ação catalítica da lacase na presença de ar ou outras substâncias
oxidantes possa levar à formação de radicais de fenóxido a partir dos álcoois p-
hidroxicinamílicos, é geralmente aceito que os catalisadores responsáveis pela
iniciação das reações de polimerização in vivo são as peroxidases. Acredita-se
que as peroxidases estão envolvidas na geração de H2O2 e na polimerização
oxidativa dos álcoois p-hidroxicinamílicos. É possível que os dois mecanismos
sejam controlados por peroxidases diferentes.
A complexidade da estrutura da lignina resulta da existência de várias
formas mesoméricas de um radical de fenóxido gerado a partir do álcool p-
hidroxicinamílico. Estas são mostradas na Figura 6 para o álcool coniferílico. A
polimerização ocorre pela união não-enzimática dos radicais de fenóxido nas
várias formas mesoméricas. Se for assumida a existência de 5 formas
mesoméricas para cada radical de fenóxido, refletindo cinco sítios de alta
densidade de elétrons, o número teórico de estruturas diméricas ou ligações
interunitárias entre monômeros é 25. Contudo, apenas 4 radicais de fenóxido
participam do processo de polimerização, uma vez que o V (Figura 6) está
impedido estericamente ou desfavorecido termodinamicamente. Os principais
modos de acoplamento entre radicais são apresentados na Tabela 1.
CH 2 OH
HC
CH
OCH
3
OH
- (e - + H+ )
CH 2 OH CH 2 OH CH2 OH CH 2 OH CH 2 OH
HC HC HC HC HC
CH CH CH CH CH
I II III IV V
117
Tabela 1. Modos de acoplamento de radicais de fenóxido dos àlcoóis p-
hidroxicinamílicos mostrados na Figura 6.
I II III IV
I peróxido instável β-O-4 4-O-5 1-O-4*
II β-O-4 β-β β-5 β-1*
III 4-O-5 β-5 5-5 1-5*
IV 1-O-4* β-1* 1-5* 1-1*
* Outras opções possíveis
118
Tabela 2. Distribuição de densidades dos elétrons π nos radicais de fenóxido
relacionados a lignina.
O
β γ
O
α β
α α
1 1 1 1
6 6 6 2 6 2
2 2
5 3 5 3 5 3 5 3
4 4 4 4
R
O . O . O . O
.
I II III IV R = OCH 3
V R = Arila
V R = O-Arila
Posição I II III IV V VI
Oxigênio fenólico 0,23 0,25 0,22 0,30 0,21 0,23
1 0,20 0,22 0,19 0,19 0,17 0,18
2 0,03 0,03 0,02 0,02 0,05 0,05
3 0,14 0,16 0,14 0,14 0,11 0,11
4 0,05 0,04 0,04 0,07 0,05 0,06
5 0,15 0,16 0,14 0,19 0,15 0,15
6 0,02 0,02 0,01 0,00 0,01 0,02
α 0,00 0,02 0,02 - - -
β 0,18 - 0,16 - - -
γ - - 0,01 - - -
Oxigênio de - 0,11 0,08 - - -
carbonila
Oxigênio de aroxila - - - - - 0,04
Oxigênio de metoxila - - - 0,05 - -
Carbono de metoxila - - - 0,00 - -
119
da molécula C9; o resultado é uma ligação β-6. O deslocamento da cadeia lateral
mais freqüentemente conduzirá a ligação β-1 mostrada na Figura 8. Com relação
à desidrogenação enzimática, é interessante mencionar que nesse caso ela não
leva à polimerização, mas antes leva à fragmentação do polímero. Mesmo no
caso de fragmentação, é pouco provável que qualquer parte da molécula seja
perdida do sistema polimérico; mesmo as cadeias laterais deslocadas
permanecem presas a outras moléculas. Portanto, em resumo, pode se dizer que
a desidrogenação pode levar à polimerização ou fragmentação do polímero
durante a formação da lignina; existem polimerizações que não são baseadas em
desidrogenação mas sim na adição à quinonametídeos intermediários.
OH
OC H 3
C H 2 OH C H 2 OH
. CH . CH O
CH CH
CH2 CH
+ HC CH
[1]
CH CH2
OC H 3 OC H 3 O
O O
C H 3O
OH
C H 2 OH
CH
CH
C H 2 OH C H 2 OH
CH . CH
CH CH
C H 2 OH OC H 3
+ HC O [2]
C H OR
OC H 3 OC H 3
O . O
OH
C H 2 OH
CH
C H 2 OH CH
. CH C H 2 OH
CH
CH
CH C H 2 OH
HC OC H 3
+ [3]
HC O
.
OC H 3 OC H 3
OH
O
OC H 3
OH
Figura 7. Formação de três dilignóis a partir do álcool coniferílico. (1) - Dilignol com
ligação β-β, pinoresinol; (2) dilignol com ligação β-O-4, éter arilglicerol β-arila;
(3) - dilignol com ligação β-5, fenilcoumarano.
120
HO CH2
CH OH
C HR ' CH=O
OC H 3
C
+
C
C H 2 OH C OC H 3
R' = OH
.CH C OH O-açúcar
O-arila
CH
.CHR B-1 R = OH
O-alquila
+ R OH
OC H 3 OC H 3
O O C
C
C
C O
C H 2 OH CH
CHR CH2
CH
CH
CHR' e /o u CHR'
C H 3O
C H 3O
OH
OH
OC H 3
OC H 3
OH
OH
121
parede celular. A incorporação da lignina de natureza hidrofóbica leva ao
desinchaço da parede celular. Resultados obtidos de estudos de microscopia
ultravioleta, de flourescência e eletrônica, têm confirmado que a lignina se
deposita inicialmente nos cantos das células após o término do alargamento da
célula e antes do início do espessamento da parede secundária (S1). A
lignificação prossegue na lamela média (LM) e parede primária (P), começando
nas paredes tangenciais e se espalhando centripetalmente. A lignificação da
lamela média composta (M+P) continua durante a diferenciação das camadas S1
e S2 e até a formação da parede secundária, o que indica que a lignificação é um
processo permanente durante a diferenciação da parede celular, com um atraso
em relação à síntese da celulose e das hemiceluloses.
Hoje em dia considera-se a lignificação um processo controlado pelas
células individuais do xilema, i.e. um processo intracelular, sem a participação das
células do câmbio (exceto no papel de armazenamento dos precursores). Esta
suposição pode explicar a descoberta de fibras e esclerídeos em processo de
lignificação muito tempo depois destas células terem sido produzidas pelo
câmbio. Outros fatos que sugerem um processo intracelular são a existência de
tipos diferentes de lignina em células diferentes do mesmo tecido vegetal e a
existência da enzima fenilalanina amônia liase (PAL), uma enzima da rota do
ácido shiquímico, na parede celular de uma célula de xilema em processo de
lignificação mas sua ausência no câmbio da mesma planta.
Não se sabe ainda como os precursores da lignina chegam até a LM e
regiões externas da parede celular. Aparentemente, os precursores são
sintetizados e armazenados em vesículas derivadas principalmente das vesículas
de Golgi, parcialmente do retículo endoplasmático, e, finalmente, supridos à
parede celular. O mecanismo de transporte dentro da parede celular é
desconhecido.
122
LIGNIN COOH COOH COOH COOH
o
1. KOH, 170 C
2. Metilação
OCH HOOC OCH H CO OCH
A 3. KMnO 3 3 3 3
4
OCH OCH OCH OCH
3 3 3 3
[1] [2] [3]
H O H O H O
C C C
B Nitrobenzeno
OCH H CO OCH
3 3 3
OH OH OH
CH OH [CH ]
2 3
CH
2
CH
H , cat. 2
C 2
[OH]
OH
[7]
CH CH CH CH
3 3 3 3
C=O HCOC H C=O C=O
2 5
D 2% HCl em EtOH HCOC H C=O CH C=O
2 5 2
Figura 9. Exemplos dos métodos de química clássica que indicaram uma estrutura
fenilpropanóide para a lignina. (A): Oxidação com permanganato produz o
ácido verátrico (1) e quantidades dos ácidos isohemipínico (2) e
desidroverátrico (3). (B): Oxidação com nitrobenzeno em álcali leva à
formação de vanilina (4) nas MFL, siringaldeído (5) nas MFC e p-
hidroxibenzaldeído (6) nas gramíneas. (C): A hidrogenólise produz derivados
do propilciclohexano (7). (D): A etanólise leva à formação das cetonas de
Hibbert (8-11).
123
3.1.1.1. Oxidação
3.1.1.2. Hidrogenólise
O primeiro isolamento de produtos de degradação da lignina que continha o
esqueleto C3-C6 completo foi relatado por Harris e Adkins (1938). Esses autores
124
obtiveram rendimentos razoáveis de derivados de propilciclohexano quando
submeteram uma lignina-metanol de aspen à hidrogenação catalítica em
condições drásticas (Figura 9 - rota C). Hibbert, Pepper e Schuerch obtiveram
mais tarde derivados de guaiacil e siringilpropano por hidrogenólise em uma
variedade de condições.
3.1.1.3. Etanólise
3.1.1.4. Tioacetólise
125
CH2OH HC2 O COCH
3
HC O HC2 O CH2OH
CH2OH
CHOH HC2 S COCH3 CH2
OCH3 CH
OCH3 S
BF3 CH
NaOH Ni [H] CH2
CH3COSH OCH3
OCH3
OH OH HO OCH3 OCH3
- OH
O
OCH3
Espécie %C %O %H % OCH3
MFL
Picea abies 63,8 6,0 29,7 15,8
Araucaria angustifolia 59,1 5,6 35,3 17,8
Pinus taeda 61,6 5,9 32,5 14,0
Tsuga heterophylla 63,4 6,3 29,8 15,7
MFC
Eucalyptus regnans 59,2 6,3 33,6 22,9
Populus tremuloides 60,0 6,1 33,9 21,5
Gmelina arborea 58,7 5,8 35,5 19,3
Fagus silvatica 60,2 5,9 33,9 21,7
Betula verrucosa 58,8 6,5 34,0 21,4
126
A análise da composição elementar da lignina Bjorkman, de madeira de
abeto Norueguês sugere a seguinte fórmula elementar baseada no C9:
C9H7,92O2,40(OCH3)0,92
C9H7,12O2(H2O)0,40(OCH3)0,92 (Fórmula A)
O fato do conteúdo de grupos de metoxila ser menor que 1,0 pode ser
atribuído à copolimerização do álcool coniferílico com quantidades menores de
álcool p-coumarílico que não possui grupos de metoxila. Adicionalmente, uma
pequena fração de álcool sinapílico com 2 Grupos Metoxilícos (CH3O-) pode
também ser incorporada. Freudenberg assumiu que a relação entre esses álcoois
na formação da lignina de abeto era de 80:14:6, que corresponde a 0,8 + 2(0,06)
= 0,92 OCH3. O conteúdo de hidrogênio para tal mistura seria 10 - 0,92 = 9,08 e
a composição ficaria então:
C9H9,08O2(OCH3)0,92 (Fórmula B)
127
Tabela 4. Grupos funcionais da lignina por 100 unidades C9
A determinação dos grupos funcionais pode ser feita por uma variedade de
métodos químicos e físicos ou uma combinação dos dois. Uma descrição dos
principais grupos funcionais e métodos para identificá-los é apresentada a seguir.
OCH3 OCH
3
OR OH
ETERIFICADO LIVRE
NaOH
+H2 O
OCH
OCH3 -- + 3
O Na
OH
+CH2 N 2 + N2
OCH3
OCH3
OCH3
OH
C5
C4-O OCH
3
Cβ O-
+ ON(SO K)
3 2
O OCH3
OCH3
O
OH
Ortoquinona de cor verm e lha
CH OH CH OH
2 HC O 2
HC OR C O
CH
C O HC OR
HC
129
Outro método para se determinar grupos de carbonila emprega a
espectrofotometria ultravioleta diferencial. Espectros de amostras de lignina
reduzidas com borohidreto são subtraídos dos espectros de soluções das
amostras originais. Através da comparação desses espectros de diferença com
aquelas de compostos modelos, pode-se calcular a quantidade de grupos de
carbonilas conjugadas e não-conjugadas.
O C C CH OH
2
OCH3
C C C C
C C C C
C C OH C O C C O C
OH
130
C
C O C C
C C
C O C
C
C O C
O C
O O O
O
O O O O
Figura 11. Principais subestruturas da lignina. (Veja Tabela 5 para uma descrição
das estruturas).
131
Tabela 6. Percentagens dos diferentes tipos de ligações com lignina isolada
(MWL) de bétula (Betula verrucosa)a
132
com ácido tioacético. Os resultados dessa comparação são apresentados na
Tabela 7. É óbvio que existem diferenças entre os três grupos de dados;
entretanto, é difícil avaliar o significado dessas diferenças sem dados adicionais
que mostrem o quanto cada modelo representa melhor os comportamentos
analítico e de reação de cada uma das ligninas. Deve ser mencionado que a
razão entre o número total de ligações e o número total de unidades sempre será
maior que um devido a presença de configurações macrocíclicas no modelo de
lignina além do número de ligações interunitárias que dão origem a fratura do
esqueleto C9. Por isso, o número médio de ligações por C9 deve exceder a 1,0 a
despeito do fato de que o grau de desidrogenação por unidade de C9 é pouco
menor que 2,0.
133
Figura 12. Um modelo de lignina de abeto, proposto por Glasser
[
134
A avaliação estrutural da lignina baseada no método Rydholm é mostrada na
Tabela 8. Este método baseia-se nos tipos e freqüências das ligações
interunitárias bem como na concentração dos grupos funcionais. Algumas
estatísticas vitais a respeito das estruturas podem ser facilmente detectadas, tais
como o número de grupos de hidroxila fenólica, grupos de carbonila, éteres totais,
unidades condensadas versus não-condensadas, etc. Outras características
estruturais importantes são, entretanto, ignoradas nesse tipo de avaliação,
incluindo a concentração de radicais livres e o número de unidades de aril-
glicerol.
135
Posição Configuração Descrição Conteúdo
C coumaranos 0,14
C condensação 5-1 0,01
C condensação 5-6 0,01
C-O-CH3 unidades de siringil 0,06
6-Anel aromático CH unidades não- condensadas 0,95
C condensação 6-5 0,01
C condensação β-6 0,04
Hidroxila fenólica O condensação bifenil-éter 0,02
O éter-β-arila 0,41
CHO-aril éter-α-arila 0,05
O bifenil-éteres 0,12
O fenilcoumaranos 0,10
OH hidroxilas fenólicas 0,30
136
estabilidade contra ruptura oxidativa. As prováveis ligações entre ligninas e
polissacarídeos nos CLC são ilustradas na Figura 13. Além das ligações
covalentes, existem pontes de hidrogênio formadas entre os grupos de hidroxila e
de carboxila das hemiceluloses e os grupos alcoólico, de hidroxila fenólica, de
carbonila e de oxigênio eterificado da lignina.
CH OH
2
O CH
CH OH
2
HC O C=O OH
O CH H
O 2
HC O C
OH
OH O
H CO
H CO 3 O
3 O
O
OH H CO
3
O
Xyl-Xyl-Xyl Xyl-Xyl-Xyl
I II
CH OH
2
O CH
HCOH
CH OH
2 OCH
O 3
O
O OH OH
Man-Glu-Man
III
137
condensação com a lignina durante o procedimento. Pela mesma razão, deve-se
remover completamente solventes orgânicos da madeira extraída.
Tabela 9 - Métodos de isolamento de lignina e os preparos resultantes
138
Todos os preparos de lignina obtidos por hidrólise ácida são modificados
estruturalmente, devido predominantemente às reações de condensação. A
degradação oxidativa evita a condensação mas leva a alguma modificação
oxidativa da lignina. Outra maneira de se evitar reações de condensação é pela
preparação de lignina por dissolução. Embora a lignina ainda apresente algumas
modificações estruturais, considera-se a lignina de moagem de madeira (MWL) o
melhor método de isolamento para subseqüentes estudos estruturais da lignina.
139
5.2. Lignina Guaiacil-Siringil
140
silvatica) foi demonstrada possuir mais unidades guaiacil que a do xilema da
mesma árvore.
As ligninas da casca das MFL são basicamente do tipo guaiacil mas elas
contêm maior proporção de unidades p-hidroxifenil que a lignina da madeira
correspondente. As ligninas da casca das MFC são basicamente do tipo guaiacil-
siringil mas o conteúdo de siringil é muito mais baixo que aquele encontrado na
madeira correspondente.
Um aspecto importante da heterogeneidade da lignina foi elaborado por
Fergus e Goring que foram os primeiros a mostrar que a lignina de bétula difere
com sua posição na célula. Estudos de microscopia ultravioleta em seções
ultrafinas de madeira revelaram que a lignina nas paredes secundárias dos vasos
e da lamela média é principalmente lignina tipo G. A lignina da parede secundária
das fibras e dos raios de parênquima, é composta principalmente de unidades de
siringilpropano. A lignina da lamela média e cantos de células de fibras e células
de raio é uma mistura típica de lignina tipo G-S (Tabela 10).
O método proposto por Whiting e Goring para se fazer a separação das
ligninas das lamela média e parede secundária é o seguinte: 1) transformar a
madeira em finas partículas, 2) suspender a serragem em solução de CCl4-
dioxano, 3) centrifugar a mistura em 10000 rpm, 4) a lignina da lamela média
flutua e a da parede secundária submerge no solvente. O princípio desse método
baseia-se na menor densidade da lignina comparado com a dos carboidratos. A
parede celular submerge porque ela contém muitos carboidratos e baixa
concentração de lignina (20-25%). Usando a técnica de separação de camadas
da parede celular elaborada por Whiting e Goring, fizeram as seguintes
observações: 1) a lignina da parede secundária possui duas vezes mais grupos
fenólicos que a da lamela média composta (M+P), 2) a lignina da M+P tem mais
alto conteúdo de p-hidroxifenilpropano e, conseqüentemente, é mais condensada
e menos reativa, 3) a lignina da M+P reage mais devagar durante a polpação e
branqueamento do que a lignina da parede secundária.
Tabela 10. Tipo de lignina de acordo com o tipo de célula numa MFC
141
6. DISTRIBUIÇÃO DAS LIGNINAS
Esse teste é menos específico para a lignina, por que ele produz uma
reação positiva na presença de grupos hidroxila fenólica em geral. Paredes
celulares lignificadas são coloridas com vermelho na presença de safranina
enquanto que o verde rápido, produz cor verde nos tecidos não-lignificados. O
corante Azure B reage de maneira análoga a safranina colorindo as regiões
lignificadas com coloração verde-azulada.
142
6.1.2. Espectroscopia e microscopia ultravioleta
Figura 14. Espectro ultravioleta de lignina MWL (A) e álcool coniferílico (B)
143
(absortividade) ε = 19 cm-1.L. g-1 enquanto o composto modelo do tipo
siringilpropano (2,6-dimetoxi-4-propilfenol) apresenta λ máx de 270-273 nm com
ε= 6 cm-1.L.g-1. Portanto, é de se esperar que uma lignina do tipo siringil pura
apresente λmáx em comprimentos de onda mais baixos e com absorção 3 vezes
mais fracas que a lignina do tipo guaiacil.
144
6.1.4. Eletromicroscopia
A lignina é tratada com bromo para emitir sinais típicos no raio-x. A lignina
da LM tem comportamento diferente durante o tratamento com bromo e por isso
apresentará também um raio-x diferente quando comparada com a lignina da
parede celular.
6.1.6. Autoradiografia
6.2. Distribuição das Ligninas nos Tecidos Vegetais e Nas Paredes Celulares
145
parede secundária das madeiras de compressão das coníferas pode apresentar
concentração de lignina entre 55 e 58%. Os resultados são bastante similares
para as MFC (Tabela 12) embora neste caso exista maiores incertezas analíticas
por causa da natureza mais heterogênea da madeira e da presença de unidades
guaiacil e siringil na lignina.
Muitos pesquisadores acreditam que a lignina isolada pelo método de
Bjorkman (MWL) origina principalmente da lamela média. De acordo com os
estudos de Musha e Goring, a lignina da lamela média de MFC é principalmente
do tipo guaiacil. Esses autores demonstram também que a relação guaiacil:siringil
na lignina das MFC é somente um pouco maior que a relação encontrada na
MWL, sugerindo que esse tipo de separação da lignina na verdade contém
também larga proporção da lignina da parede secundária das fibras.
Lenho de S 94 82 22
Fim de ML 4 10 60
Estação CC 2 9 100
a Para explicações veja Figura 16.
146
Tabela 12. Distribuição da lignina no xilema de bétula branca (Betula papyrifera)
147
Devido aos fatos acima mencionados, uma comparação de dados de peso
molecular na literatura se torna difícil e até de valor duvidoso.
A polidispersidade é uma propriedade apresentada por todas as ligninas
isoladas. A explicação mais provável deste fenômeno é a degradação ao acaso
da lignina nativa na parede celular pelo ataque químico durante o isolamento, que
leva à formação de fragmentos de tamanhos diferentes, mas de composição
química uniforme.
Do ponto de vista experimental, a polidispersidade faz com que seja
necessário considerar ambos o peso molecular ponderal e numérico (Mw e Mn),
sendo a razão Mw/Mn uma expressão do grau de polidispersidade. Valores de
Mw e Mw/Mn para ligninas de madeira moída (MWL) são dados na Tabela 13.
Comparado com a celulose e seus derivados, a polidispersidade da lignina é alta,
chegando a 2,5 para MWL de MFL. Tem sido observado que a polidispersidade
de polímeros obtidos por desidrogenação do álcool coniferílico (DHP) aumenta
com o aumento do peso molecular e é da mesma magnitude (3,0) que aquela da
MWL de MFL no peso molecular ponderal de 20000.
Polímeros Mw Mw/Mn
Abeto do Leste 20 600 2,6
Hemlock do Oeste 22 700 2,4
DHP1 11 000 2,2
DHP2 31 400 3,7
148
É importante ter uma noção da solubilidade da lignina em diferentes
solventes porque determinações do peso molecular e estudos de espectrometria
ultravioleta dependem de amostras de lignina totalmente dissolvidas. Devido ao
grande número de tipos de ligninas isoladas, se pode fazer apenas algumas
colocações gerais sobre a solubilidade da lignina. Solventes adequados para
ligninas analíticas e isoladas com solventes orgânicos são: o dioxano,
dimetilsulfoxido (DMSO), formamida, dimetilformamida (DMF), tetrahidrofurano
(THF), piridina, dicloroetano e etilenoglicol-monometiléter. Outros solventes
adequados são brometo de acetila em ácido acético e hexafloropropanol. A
escolha do solvente é restringida nos estudos de espectrometria ultravioleta
devido à absorção da maioria dos solventes nos comprimentos de onda mais
baixos.
8. REAÇÕES DE LIGNINA
149
γ
C β
C α
C
6 2
5 3
OCH
4 3
O
[OH]
H C R
2
H C R H C δ+
2 2
HC δ − HC HC
HC HC HC δ +
: δ−
+H+ , - RH δ+
δ+
δ− δ−
OCH OCH OCH
3
δ+
3 3
O O O
R' R' R'
150
Tabela 15. Reações Que Ocorrem Durante a Polpação
Reagente Tipo(s) de Reação Sítios de Ataque Intermediários ou Produtos
(Nucleófilo)
HO- abstração do próton hidroxilas fenólicas e alifáticas fenolatos e alcoolatos
152
Radicais
Cl· abstração do hidrogênio hidroxilas fenólicas radicais fenoxi- e ciclohexadienonila
(do Cl2, mesoméricos
HClO ou
abstração do elétron íons de fenolato ciclohexadienonas substituídas com Cl
ClO-) adição eletrofílica Cδ- em radicais fenóxidos e
ciclohexadienonílicos mesoméricos
·O2· abstração do hidrogênio hidroxilas fenólicas radicais fenoxi- e ciclohexadienonila
mesoméricos
153
Tabela 17. Branqueamento - Reações subseqüentes
154
8.2. Reações Conduzindo a Compostos Coloridos
OH
C OCH C R
3 H C O
C C
C
C C
R OCH C
3
OH
C R
O C C O OCH O OCH3
3
O O
H CO OCH3
3
Quinonas conjugadas Quinonas não-condensadas
155
ENF 660 - QUÍMICA DA MADEIRA
1. INTRODUÇÃO
156
voláteis fornecem valores estéticos. Certos compostos fenólicos fornecem
resistência contra ataque de fungos e de insetos aumentando a durabilidade da
madeira. Alguns extrativos são utilizados comercialmente. Por exemplo, o extrato
do cerne do quebracho, uma madeira sul americana, é uma das principais fontes
de taninos; terebintina e "tall oil" do processo sulfato fornecem a maior parte da
terebintina e ácidos graxos consumidos no mundo, especialmente nos EUA
Cânfora é um extrativo da planta de cânfora que pode também ser produzido
sinteticamente a partir de terpenos obtidos dos pinhos.
Alguns extrativos são prejudiciais à utilização da madeira. Alcalóides e
alguns outros materiais fisiologicamente ativos podem apresentar riscos para a
saúde. A deslignificação pelo processo sulfito é inibida por certos fenóis presentes
no cerne dos pinhos. Problemas de "pitch" e de redução da absorvância de certas
polpas são também causados por extrativos. Alguns materiais contribuem para a
corrosão enquanto que a presença de amido aumenta a suscetibilidade da
madeira ao ataque de insetos.
Frequentemente os extrativos ocorrem em maiores concentrações em outras
partes da árvore e em outros tecidos da planta do que propriamente na madeira.
A casca e as raízes são ricas fontes de extrativos. Exudatos são frequentemente
produzidos pelo alburno ou casca interna, especialmente quando a árvore sofre
injúrias. Os exudatos são compostos de gomas polissacarídicas, resinas
insolúveis em água e óleos voláteis. Os exudatos compostos de resinas e óleos
voláteis são conhecidos como oleoresinas, e aqueles provenientes de pinhos são
conhecidos como goma. Entretanto, os exudatos dos pinhos são muito diferentes
dos exudatos polissacarídicos de algumas outras árvores que são as verdadeiras
gomas. Latex secretado pela casca interna é uma fonte importante de certos
materiais estranhos.
Os extrativos tem sido classificados em vários grupos com base em certas
características estruturais, mas freqüentemente existe superposições tendo em
vista a natureza poli-funcional de alguns compostos. Eles podem ser agrupados
de acordo com propriedades físicas tais como solubilidade ou de acordo com
famílias botânicas ou gêneros. A classificação botânica é muito instrutiva mas é
limitada pelo fato de que muitas espécies ainda não foram estudadas
completamente.
Com base em características estruturais os extrativos podem ser
grosseiramente classificados em terpenos e ácidos resinosos, ambos constituídos
de unidades de isopreno, polifenóis (flavonóides, antocianinas, quinonas,
estilbenos, lignanas e taninos), tropolôneos, glicosídeos, açúcares, ácidos graxos
e minerais.
Fisiologicamente, os extrativos de madeira podem ser classificados como: (
1) materiais de reserva (ácidos graxos, açúcares, gorduras e óleos), ( 2) materiais
de proteção (terpenos, ácidos resinosos, fenóis, ceras) e ( 3) hormônios vegetais
(fitosterol, sitosterol).
Todos os principais componentes da resina de madeiras de madeiras de
fibra longa tais como ácidos resinosos, gorduras e terpenos são removidos por
extração com solventes orgânicos tais como etanol, acetona ou diclorometano. O
material extraído contém também uma variedade de compostos fenólicos como
por exemplo flavonóides, lignanas e estilbenos. Certos carboidratos, taninos e
sais inorgânicos podem ser extraídos da madeira com água, embora grandes
quantidades de tais extrativos solúveis em água estão presentes somente em
157
casos excepcionais. Algumas árvores podem conter até 30% de taninos
(quebracho, barbatimão) e 20-30% de arabinogalactanas (larix).
Algumas vezes se utilizam os termos resina patológica e resina fisiológica. A
primeira, localizada nos canais de resina, é composta principalmente de ácidos
resinosos e monoterpenos e protege a madeira contra danos biológicos. A
segunda, localizada nas células de parênquimas do raio, é rica em gorduras e
constitui uma fonte de reserva de alimentos. Madeiras de madeiras de fibra curta
possuem somente resina fisiológica.
Em geral as madeiras de fibra longa possuem de 4 a 10% de extrativos e as
madeiras de fibra curta de 1 a 4%.
158
dextropimárico e que duas reduções devem ocorrer para produzir ácidos do tipo
abiético, conforme mostrado na Figura 4.
O COOH
-H2O + CH3COOH
2CH3COOH CH3 C CH2 COOH CH2
C CH2 COOH
CH3 OH
CH3
C CH COOH
CH3
+ CO2 + H2O
COOH
COOH
CH2
H3PO4 CH2
C CH2 CH2OH
CH3 C CH2 CHO
OH
CH3 OH
COOH
159
CH3
2 C CH CH2
CH2
160
ÁLCOOIS GRAXOS ÁCIDOS GRAXOS
OPP
MONOTERPENOS GERANYL PP
SESQUITERPENOS
FARNESYL PP
ESQUALENO
2x
TRIPERPENOS
ESTERÓIDENOS OPP
GERANYL-
DITERPENOS GERANYL PP
TETRAPERNOS OPP
(CAROTENÓIDES) 2x
POLIMERIZAÇÃO
161
CH3
4 C CH COOH
CH3
1, 2
oxidação
COOH
COOH
Ácido Abiético
Ácido Dextropimárico
162
são transferidos e acumulados no parênquima sob a forma de ácidos graxos e
compostos não saponificáveis.
Os ácidos graxos de cadeia longa são provavelmente formados por
múltiplas condensações de acetato. Carboidratos de alto peso molecular são
degradados a fragmentos com dois carbonos e rearranjados, formando, dentre
outros compostos, os ácidos graxos. O ácido acético é o precursor comum de
todos os componentes das resinas (fisiológicas e patológicas) da madeira (HILL,
1963).
Na síntese dos ácidos insaturados tipo C18, HILDTCH (1951) considerou que
a ordem de formação se dá dos mais insaturados para aqueles menos
insaturados. Em climas temperados a taxa de formação de gorduras é mais baixa
e a produção de ácidos graxos pouco saturado não se dá por muito tempo. Isso
explica porque, quanto menores forem as temperaturas a que a árvore é
submetida, mais insaturados serão seus ácidos graxos. Essa variação na
composição dos ácidos graxos com a temperatura é aparentemente restrita aos
ácidos insaturados, e, ainda em 1951, HILDTCH sugeriu que os ácidos saturados
são formados por um mecanismo distinto daquele que ocorre na biossíntese dos
ácidos insaturados.
O ponto final na formação das gorduras é a esterificação com glicerol, ou
algum outro álcool. As gorduras também podem ser produzidas na planta pela
hidrólise de ácidos graxos e posterior β-oxidação para acetato. O acetato pode
ser convertido em açúcar ou amido, ou metabolizado completamente até gás
carbônico e água. Em alguns casos, evidências de uma B-oxidação têm sido
encontradas. Um grande volume de trabalhos foi feito a cerca das reações
envolvidas na síntese das ceras e gorduras, e muitas das enzimas e cofatores
necessários nessas reações foram identificados. Tanto na síntese como na
degradação das gorduras e também na síntese dos terpenos, fatores de grande
importância são a coenzima A e as isomerases (HILL, 1963).
Os álcoois graxos na fração não saponificável são provavelmente
sintetisados através de um mecanismo semelhante aos ácidos graxos. Os
esteróides, entretanto, alguns dos quais estão presentes em substâncias
quantidades na goma e resinas, são mais estreitamente relacionados com os
triterpenóides. Mostrou-se, depois de várias pesquisas que os esteróides de
origem animal, tais como o colesterol, são formados pela condensação de
unidades de isopreno através dos intermediários esqualeno e farneseno, com a
posterior introdução de uma oxidrila. Embora os detalhes da biossíntese dos
esteróides das plantas não tenham sido completamente estudados, aceita-se
atualmente que um esquema semelhante seja válido.
2.3. Tropolôneos
163
síntese é reforçado pela freqüente ocorrência dos terpenóides fenólicos carvacrol
e timoquinona, juto com os tropolôneos. A nootcatina é citada na literatura como
um sesquiterpeno tropolôneo, que pode ser derivado de um sesquiterpeno
diretamente ou pela introdução secundária de uma cadeia lateral de isopentil.
A possibilidade de que os tropolôneos poderiam ser derivados de um
precursor tipo O-catecol pelo alargamento do anel, ou a partir de um pirogalol via
derivados da prupurogalina também são mencionados. Nesta última relação é
importante ressaltar que, derivados monometilados do pirogalol ocorrem com as
tujaplicinas em Thuja plicata.
Experimentos com a biossíntese de matrizes dos tropolôneos indicaram que
eles se formam pelo mecanismo do acetato. Por outro lado, experimentos mais
recentes mostram que o anel tropolônico do alcalóide colchicina não é formado a
partir do acetato (HILLIS, 1963).
2.4. Polifenóis
164
árvore. Com a morte das células o protoplasma se arrebenta liberando os
polifenóis que então, passam a impregnar os tecidos senescentes.
O processo de cernificação é caracterizado também por um súbito aumento
no consumo de oxigênio e na liberação de gás carbônico. Todavia, experimentos
com Teca indiana (Tectona grandis) mostraram que seus polifenóis são formados
independentemente do teor de oxigênio, a partir de amido e água residual nas
células da periferia do alburno. Durante esse período de alta atividade espera-se
um núcleo mais ativo e com núcleo aumentado. Como isso não ocorre, os
pesquisadores chegaram á conclusão de que a atividade celular não é
intensificada e sim totalmente alterada.
165
COOH
C O
CH2
Fosfoenolpiruvato
+ HOCH
D _ Eritrose-4-fosfato COOH
HCOH OH
OH
HCOH HO OH
CH2OP
(VIII)
O O
COOH
COOH HO COOH
OH OH
HO HO
(II) HO
(I) (X)
OP
COOH COOH
OP O
OH
COOH HO
OH OH
HO HO OH C CH2
COOH
(III)
H OH
(VI) (V)
[IV]
OH
(VIII)
166
2.4.3.2. Rota do acetato
Hillis, W.E. Wood Extractives and their significance to the pulp and paper
industries. Academic Press, New York, 1963. 531p.
Pridhan, J.B. & Swain, T. Biosynthetic pathways in higher plants. Academic Press,
New York, 1965. 212p.
167
CH3O CH3O
CH3O
HO CHO HO COOH
HO COOH
etc. CH3O
OC O
HO OH
HO HO HO
O CO
O O etc.
açucares
OH
COOH
OH
HO
COOH
CH2COOH HOOC CH2COCOOH
HOOC HOOC CH2COCOOH HOOC CH2COCOOH
O O
O OH
OH OH OH
HO
HO
HO
HO
O HO O HO O
CO CO CO
HO
COCH3 COCH3 COCH3
HO
OH OH
CH3O CH3O
CH3O
CH3O CH3O
CH:CH.CH2OH HO CH:CH.CH2OH
HO CH:CHCH2OH HO
CO
O CH3O
etc.
O
HO
C OH Ligninas
HO Acetato Acetato
O Acetato
HO
CH3O O CH3
&
CH:CH HO
HO OH
Rotenóides HC
Brazilin ? HO C
etc.
CH HO O
etc. C
HO
O
OH
OH
O
HO
Flavonóides incluindo
Taninos condensados
OH
OH
HO
168
3. FORMAÇÃO E FUNÇÃO DOS EXTRATIVOS
169
4. LOCALIZAÇÃO DOS EXTRAVIOS
100 μm
100 μm
A B
Figura 7. Canais de resina em Picea abies (Back, 1969). (A) Canal de resina
horizontal em célula de raio (seção tangencial) originando dos anéis
anuais internos. Envolta do canal são células epiteliais que secretam
resina para dentro das cavidades dos canais. (B) Canal de resina
horizontal em célula de raio (seção tangencial) originando dos anéis
anuais externos. O canal está cheio de células epiteliais devido ao
inchaço dessas durante o preparo da amostra. (C) Canal de resina
vertical (seção transversal).
170
Figura 8. Variações radiais no conteúdo e composição dos extrativos em Pinus
sylvestris (Assarsson, 1969; Lindgren e Norin, 1969). 1-extrativos totais;
2 - triglicerídeos; 3 - ácidos resinosos; 4 - ácidos graxos; 5 - pinosilvina +
monometil éter.
171
parênquima é mais baixo. O raio das madeiras de madeiras de fibra longa
chegam a conter 20% de seu peso como extrativos.
CH3
CH3
2 C CH CH2
CH2
CH3 CH2
C10H16
172
5.1. Componentes Alifáticos (Gorduras e Ceras)
173
(teribintina da madeira), óleo de pinho e outros terpenos, (3) destilação destrutiva
de cavacos da madeira de Pinus para produzir terebintina, óleo de pinho, piche,
dipenteno e carvão e (4) recuperação dos gases volatilizados no cozimento kraft
de madeiras de fibra longa por condensação dos gases de alívio do digestor,
seguida por desodorização do líquido (terebintina sulfato).
As proporções de alfa e beta-pinenos variam de acordo com o método de
obtenção da terebintina e com a espécie de madeira. No Brasil existem poucas
unidades de produção de terebintina e a maioria dos processos existentes se
baseiam na destilação da resina do Pinus elliottii.
Em países como os E.U.A., onde a maioria da celulose química é produzida
de Pinus, a terebintina é obtida quase que exclusivamente pela condensação dos
gases de alívio do digestor. Em geral obtém-se de 1 a 30L de terebintina por
tonelada de celulose produzida, dependendo da espécie e da idade da madeira e
das condições de polpação.
Além de alfa e beta-pinenos a terebintina contém outros compostos tais
como limoneno, felandreno, 3-careno, canfeno, hidrocarbonetos acíclicos (n-
heptano e n-undecano) e terpenos oxidados.
Os pinenos a terebintina são convertidos em óleos de pinho sintético e
usados para produtos farmacêuticos, cosméticos e de desinfecção. Outros usos
da terebintina são: diluição de tintas e vernizes, manufatura de resinas sintéticas e
fabricação de produtos de limpeza o polimento.
A terebintina apresenta-se na forma de um líquido incolor, límpido e de
cheiro característico. Não é miscível em água, mas é no álcool etílico, éter etílico,
benzeno e éter de petróleo. Tende a ser oxidada lentamente a uma cor amarelada
na presença do ar. Suas principais características são: densidade (15oC) 0,85-
0,88, ponto de ebulição 155-175oC e índice de refração (15oC) 1,468-1,474.
O óleo de Pinho (terpineol) é recuperado durante a destilação fracionada de óleos
voláteis ou pela destilação destrutiva da madeira nos processos de produção da
teribintina. A terebintina passa a destilar à temperatura ligeiramente inferior a
170oC e o óleo de pinho na faixa de 185 a 215oC. O óleo de pinho consiste
principalmente de álcoois e éteres de terpenos, terpenos puros como limoneno e
cetonas. Seu principal uso é como anti-espumante e como agente de dispersão e
de umedecimento.
Outros compostos de valor comercial existentes nos óleos voláteis são: p-
cimeno e dipenteno. O primeiro encontrado no condensado de gases de alívio do
digestor de cozimentos sulfato de espécies do gênero Picea e Tsuga. O material
não é muito valioso mas têm propriedade solvente. O dipenteno é um produto que
destila entre a terebintina e o óleo de pinho.
174
A
OR
1 2 3 4 5
OH
6 8
7
B H OH
H
H H
H
9 10 11
OH
12 14
13
175
OH
1 OH 2
OH
H
3 4
COOH
CH2
COOH
5 HOOC 6
COOH 3
2
1
COOH
6
5
4
8
7
Figura 12. Exemplos de ácidos resinosos. (1) ácido pimárico; (2) ácido
sandaracopimárico; (3) ácido isopimárico; (4) ácido abiético; (5) ácido
levopimárico; (6) ácido palústrico; (7) ácido neoabiético; (8) ácido
desidroabiético.
176
Desde que muitos destes são poli-insaturados, eles podem polimerizar
prontamente para formar produtos de alto peso molecular, pouco solúveis, que
causam sérios problemas de piche na indústria de polpa e papel. Os ácidos
resinosos presentes na oleoresina de madeiras de fibra longa são derivados de
diterpenos tricíclicos. Eles podem ser classificados em dois tipos: tipo pimárico,
caracterizado pela presença de substituinte metil e vinil na posição C-7 e o tipo
abiético, caracterizado pela presença de um único substituinte isopropil na
posição C-7.
Por causa de suas ligações duplas conjugadas, os ácidos resinosos do tipo
abiético são mais reativos em reações de isomerização, oxidação e adição que os
análogos do tipo primário. Ácidos resinosos e ácidos graxos formam os principais
constituintes do "tall oil", um importante subproduto da indústria de polpa kraft.
Possuindo um esqueleto hidrofóbico combinado com grupos carboxílicos
hidrofílicos, os ácidos resinosos são bons agentes solubilizadores e contribuem
efetivamente (juntamente com sabões de ácidos graxos) para a remoção de
substâncias resinosas durante a polpação kraft e subseqüente de lavagem.
O ácido resinoso mais importante é o ácido abiético porque se constitui no
mais abundante componente do breu. Os breus obtidos da destilação da resina
ou da purificação do "tall oil" são constituídos de 40 a 90% de ácidos resinosos.
Existem também nos breus, ácidos graxos e uma fração neutra que é constituída
principalmente de ésteres de ácidos resinosos e de ácidos graxos e de
esteróides. Esta fração neutra é significativamente diferente nos breus
provenientes da destilação da oleoresina e do tall oil".
O breu é o resíduo da destilação da resina. Ele possui inúmeras utilizações,
tais como vernizes, resinas, sabões, agentes emulsificantes e cola de breu para
papel. A cola de breu nada mais é que um sal sódico do breu. Durante a
destilação da resina, remove-se uma fração volátil que é principalmente a
terebintina e sobra um produto não volátil que é o breu.
O breu pode ser obtido de:
i. resíduo da destilação da resina.
ii. resíduo da destilação do extrato obtido de cavacos de Pinus.
iii. purificação do "tall-oil" (sabão em forma de nata no licor negro concentrado
do processo kraft).
177
As condições alcalinas do processo kraft convertem os ácidos graxos e
resinosos em sais sódicos que flutuam na superfície do licor negro quando este é
concentrado a 25 a 35% de sólidos. Esta nata é removida do topo do licor negro,
lavada com água quente e dissolvida e fluidificada com ácido sulfúrico para formar
"tall-oil". O "tall-oil" consiste de 40 a 50% de ácidos graxos, 40 a 50% de ácidos
resinosos e 10% de não-saponificáveis. O rendimento em "tall-oil" é de 15 a 100
kg/tonelada de celulose. O material assim separado deve ser fracionado a vácuo,
obtendo-se frações de ácidos graxos e ácidos resinosos com 98 a 99% de
pureza.
O breu é um resíduo sólido, translúcido, quebradiço, de cor, amarelo claro, em
diversas tonalidades para o escuro, conforme o método de obtenção. Amolece
pelo calor a partir de 70oC. É insolúvel na água, porém solúvel em álcool etílico,
formando um líquido que é usado como verniz. Sua densidade é de 1,050 a
1,085. Com soluções de soda cáustica ou potassa cáustica, o breu forma sabões
solúveis em água que constituem-se em produtos para a indústria do papel.
Do ponto de vista econômico, ressalta-se que o Brasil depende quase que
integralmente de importação do breu e terebintina, obtendo-os principalmente de
Portugal e dos Estados Unidos. Lamentavelmente para o Brasil, não se tinha até
há alguns anos atrás, possibilidades de se produzir breu, porque a principal
conífera brasileira, a Araucaria angustifolia não possui ácidos resinosos
apropriados. Hoje a situação é bem melhor. Segundo o Instituto Brasileiro de
desenvolvimento Florestal, existiam em 1971 aproximadamente 1500.000 ha
plantados com Pinus no Brasil, dos quais 80% são P. elliotti, P. caribaea e P.
oocarpa que produzem resina em quantidades econômicas. Dessas plantações, a
partir de 1980, passar-se-á a ter em média 10 milhões de árvores por ano com a
idade de 14 15 anos, idade considerada ideal para resinagem. Um pinheiro
adulto fornece aproximadamente 4 kg de resina por árvore por ano, a qual
destilada produz 78% de breu e 16% de terebintina.
178
OH
HO 2
HO
1
OH
HO
4
HO
CH3
H CH2 C CH CH2 OH
6_ 9
3
179
5.3. Extrativos Fenólicos e Similares
O
O
OH
HO
HO OH
HO COOH
HO O OH
HO 1
2 O OH
HO O HO O
OH OH
HO 3 O OH HO O
4
HO O HO O
OH
HO 5 HO O
OH 6
OH
OH CH OH H3CO
H3CO 2
O
HO COOH O H2C CO
OH H C CH2
H C C H
H C C H
H H C CH2
H2C C
H3CO O
OH
7 OH
OCH3 OCH3
OH OCH3 HO
HO
HO 9
8
HO CH3
γ
HC CH H3C
β
α
HO O
10
11
180
Eles constituem uma classe heterogênea de compostos que pode ser
dividida nos seguintes grupos: taninos hidrolizáveis, flavonóides, lignanas,
estilbenos e tropolôneos.
Embora as substâncias fenólicas estejam concentradas no cerne e a casca,
havendo somente traços no xilema, eles têm propriedades fungicidas, e portanto
protegem a árvore efetivamente contra ataque microbiológico. Eles também
contribuem para a coloração natural da madeira. Entretanto, muito desses
compostos, especialmente pinosilvina e taxofolina, são muito nocivos porque eles
inibem efetivamente a deslignificação pelo processo sulfito ácido mesmo quando
presentes em baixas concentrações. Tropolôneos, formam fortes complexos com
íons de metais pesados, tais como íons férrico, e podem causar problemas de
corrosão durante a polpação.
A biossíntese dos extrativos é controlada geneticamente e por isso, cada
espécie de madeira tende a produzir substâncias específicas. Como um resultado
de mudanças secundárias, o cerne contém uma variada gama de substâncias
fenólicas. Do ponto de vista quimiotaxonômico, as estruturas químicas de vários
flavonóides, lignanas, estilbenos e tropolôneos são de interesse. Por exemplo,
espécies dentro do gênero Pinus, Acacia e Eucalyptus podem ser classificados
com base nas suas composições características de substâncias fenólicas.
HO OH
OH C=O
Ácido gálico O
OH HO COOH
CH2OH O
O
O C OH HO
HO Ácido digálico
HO OH OH OH
1-galoil-glicose
181
OH OH
HO HO
OH
O
C=O C=O
OH HO
O=C O O=C OH
OH OH
OH OH
5.3.2. Flavonóides
5.3.3. Lignanas
182
hemlock e abeto, enquanto que Thuja plicata contém lignanas derivadas do ácido
plicático.
5.3.4. Estilbenos
5.3.5. Tropolôneos
HO OH
H H H
H C C C H H3CO OH
OH OH OH
Glicerol
HO OH
Ciclitol
183
6.3. Açúcares
6.4. Minerais
184
7. VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO E NO CONTEÚDO DAS RESINAS
185
Perdas, %
Armazenagem, dias
186
Quadro 2. Características das células de parênquima de madeiras de fibra longa
187
Quadro 4. Composição química percentual de várias espécies de madeira
Espécies Nome comum Extrativos Lignina Celulose Glico- Glicurono- Outras Constituintes
(Inglês) Totais manana xilana polissacarí- Residuais
deos
Madeiras de fibra longa
Abies balsamea Balsam fir 2,7 29,1 38,8 17,4 8,4 2,7 0,9
Pseudotsuga menziesii Douglas fir 5,3 29,3 38,8 17,5 5,4 3,4 0,0
Tsuga canadensis Eastern hemlock 3,4 30,5 37,7 18,5 6,5 2,9 0,5
Juniperus communis Common juniper 3,2 32,1 33,0 16,4 10,7 3,2 1,4
Pinus radiata Monterey Pine 1,8 27,2 37,4 20,4 8,5 4,3 0,4
Pinus sylvestris Scots pine 3,5 27,7 40,0 16,0 8,9 3,6 0,3
Picea abies Norway spruce 1,7 27,4 41,7 16,3 8,6 3,4 0,9
Picea glauca White spruce 2,1 27,5 39,5 17,2 10,4 3,0 0,3
Larix Sibirica Siberian larch 1,8 26,8 41,4 14,1 6,8 8,7 0,4
Madeiras de fibra curta:
Acer rubrum Red maple 3,2 25,4 42,0 3,1 22,1 3,7 0,5
Acer saccharum Sugar maple 2,5 25,2 40,7 3,7 23,6 3,5 0,8
Fagus Sylvatica Common beech 1,2 24,8 39,4 1,3 27,8 4,2 1,3
Betula verrucosa Silver birch 3,2 22,0 41,0 2,3 27,5 2,6 1,4
Betula papyrifera Paper birch 2,6 21,4 39,4 1,4 29,7 3,4 2,1
Almus incana Gray alder 4,6 24,8 38,3 2,8 25,8 2,3 1,4
Eucalyptus River red gum 2,8 31,3 45,0 3,1 14,1 2,0 1,7
camaldulensis
Eucalyptus globulus Blues gum 1,3 21,9 51,3 1,4 19,9 3,9 0,3
Gmelina arborea Yemane 4,6 26,1 47,3 3,2 15,4 2,5 0,9
Acacia mollissima Black wattle 1,8 20,8 42,9 2,6 28,2 2,8 0,9
Ochroma logopus Balsa 2,0 21,5 47,7 3,0 21,7 2,9 1,2
188
Quadro 5. Exemplos de extrativos alifáticos no xilema e na casca.
Grupo Estrutura
n-alcanos CH3–(CH2)n–CH3 n = 8 - 30
Álcoois graxos CH3–(CH2)n–CH3OH n = 16 - 22
Ácidos graxos CH3–(CH2)n–COOH n = 10 - 24
gorduras R, R’e R” podem ser
(ésteres do glicerol) CH2 OR resíduos de ácidos
CH OR ' graxos (alquil–CO–) ou
hidrogênio (mono–di– e
CH2 OR " triglicerídeos)
Ceras RO–(CH2)n–CH3
(ésteres de outros RO– álcool terpeno
álcoois)
Suberina Características n = 18-20
[O– (CH2)n–CO-]
[–O–(CH2)n–O–CO–(CH2)n–
CO–]
Ácidos Estruturas
Saturados:
láurico C11H23COOH
mirístico C13H27COOH
palmítico C15H31COOH
esteárico C17H35COOH
araquídico C19H39COOH
behêmico C21H43COOH
lignocérico C23H47COOH
Insaturados:
palmitoléico C15H29COOH 9
oléico C17H33COOH 9
linoléico C17H31COOH 9,12
cinolênico C17H29COOH 9,12,15
eleoesteárico C17H29COOH 9,11,13
pinolênico C17H29COOH 5,9,12
189
ENF 660 - QUÍMICA DA MADEIRA
CAPÍTULO 7 - CASCA
1. INTRODUÇÃO
2. ANATOMIA DA CASCA
Epiderme
Periderme
Córtex
Floema primário
Ritidoma
Floema secundário
Câmbio Floema primário
Periderme
Xilema secundário
Floema secundário
Câmbio
Xilema primário
Figura 1. Tecidos de casca: caule juvenil (A), casca madura (B) (Chang, 1954).
(© 1954 TAPPI ).
190
2.1. Casca Interna (Floema)
191
primavera e no fim do verão são formadas camadas separadas na casca
correspondentes aos anéis anuais no xilema.
Por ser um tecido morto o ritidoma não pode expandir e acomodar o
crescimento radial do tronco e portanto ele é fragmentado. O padrão de
rachaduras da casca final resultante depende da estrutura e elasticidade do
ritidoma e é típico de cada espécie de árvore. Uma importante substância química
da casca externa é a suberina. Ela contém ácido felônico [C21H42 (OH)COOH] e
ácido subérico [COOH (CH2)6COOH].
3. QUÍMICA DA CASCA
192
Triterpenóides são abundantes na casca: β-sitosterol ocorre em ceras, como
o componente alcóolico, e as células corticosas na casca externa (periderme) de
bétula contém grandes quantidades de betulinol (Fig. 2).
CH2OH
HO
HO 2
1
OH
HO 4
HO
3
193
O
O
OH
HO
HO OH
HO COOH
HO O OH
HO
1 O OH
2
HO O HO O
OH
4
OH
HO 3 O OH HO O
HO O HO O
OH
HO 5
HO 6 O
OH
OH
H3CO
OH
H3CO CH 2OH
O
HO O H2C CO
OH COOH H C CH2
C C H
H C C H H
H C CH2
H2C C H
H3CO O
OH
7
OH
OCH3 OCH3
OH OCH3 HO
HO
HO 8
9
HO CH3
γ
HC CH H3C
β
α
10
HO O
11
194
Quantidades menores de carboidratos solúveis, proteínas, vitaminas, etc,
estão presentes na casca. Adicionalmente ao amido e pectinas, oligossacarídeos,
incluindo rafinose, têm sido detectados nos exudatos do floema.
A pectina de diferentes fontes apresenta composições diferentes, e algumas
delas contêm uns poucos grupos acetila (ex: pectina de beterraba e de alguns
frutos). O principal componente de todas as pectinas é um polímero de éster
metílico do ácido D-galacturônico. Pequenas quantidades de um polímero de L-
arabinofuranose (uma arabinana) e de um polímero de D-galactopiranose (uma
galactana) são também encontradas. O conteúdo de grupos metoxílicos do ácido
galacturônico polimérico (ácido péctico) é de 16,35%, enquanto que o conteúdo
de grupos metoxílicos das pectinas altamente esterificados é apenas ligeiramente
superior a 8%. Pectinas de baixa esterificação contêm menos que 7% de grupos
metoxila, usualmente 3-5%. Tecidos imaturos de plantas contêm pectinas
insolúveis em água, denominados protopectina mas a medida que a planta
amadurece, a pectina se torna mais solúvel. As propriedades de formação de gel
das pectinas estão relacionadas com éster metílico do ácido galacturônico (metil-
éster parcial do ácido péctico) que é uma molécula linear com peso molecular
entre 30.000 e 300.000, na qual unidades de ácido D-galacturônico são unidas
por ligações α(1--4). As arabinanas acompanhantes são compostas de L-
arabinofuranoses unidas por ligações α(1-5) e α(1-3). As galactanas
acompanhantes são compostas de D-galactopiranose unidas por ligações β(1-4).
Análise do comportamento físico da pectina mostra que ela possui cadeia linear.
Ánalises do raio-x de fibras preparadas de uma solução de pectinas mostrou que
ela apresenta orientação cristalina. Medições de viscosidades, sedimentação e
difusão suportam esse ponto de vista.
Os grupos metílicos são removidos vagarosamente por hidrólise ácida
deixando em estágios intermediários, um polissacarídeo parcialmente metilado
(ácido pectílico) onde os grupos ésteres estão distribuídos ao acaso.
A casca interna da madeira contém a maior proporção das pectinas,
chegando a 10% em alguns casos.
O amido ocorre na madeira na forma de grãos, principalmente nas células
do raio. As gorduras (lipídeos) ocorrem nas células do raio na forma de gotículas.
As proteínas e taninos ocorrem nas células do raio, obstruindo-as.
195
lignina de cerca de 15-30% (baseado no peso da casca livre de extrativos) têm
sido relatados para casca de coníferas derivados de espécies de madeira
diferentes. Outros estudos indicam que a lignina da casca interna é similar à
lignina da madeira, enquanto que a da casca externa difere significativamente.
As células corticosas na casca externa contêm poliestolídeos ou suberinas.
O conteúdo de suberina na camada externa da cortiça de carvalho é,
especialmente, alto e pode chegar a 20-40% no periderma da casca de abeto.
Poliestolídeos são polímeros complexos compostos de ácidos w-hidroxi-
monobásicos que são unidos uns aos outros por ligações ésteres.
Adicionalmente, eles contém ácidos α, β-dibásicos esterificados com álcoois
bifuncionais (dióis) bem como com ácidos ferúlico e sinápico. Importantes
representantes desses grupos são os ácidos felônicos e subérico. O comprimento
de cadeia varia nas suberinas que são moléculas tendo 16 a 18 átomos de
carbono. Existem também ligações duplas e grupos hidroxílicos através dos quais
ligações éteres e ésteres são possíveis. A camada externa da epiderme contém a
chamada cutina que é grandemente ramificada e tem uma estruturas similar à da
suberina.
196