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SAÚDE MENTAL E TRABALHO

PUC Minas – Unidade Praça da Liberdade - 6° Psicologia – Matutino.


Professor: João César de Freitas Fonseca
Aluna: Luísa Brunialti Lima de Andrade Data: 10/12/2022

RESENHA CRÍTICA

Campos, M. F., & Viegas, M. F. (2021). Saúde mental no trabalho docente: um estudo
sobre autonomia, intensificação e sobrecarga. Cadernos de Pesquisa, 417-437.

O artigo “Saúde Mental no Trabalho Docente: um Estudo Sobre Autonomia, Intensificação e


Sobrecarga” foi realizado em 2021 apresentando um estudo qualitativo, no qual foram feitas
entrevistas com seis professoras e um professor da rede pública do estado do Rio Grande do
Sul. O objetivo da pesquisa foi descrever e compreender os impactos de fatores relacionados
ao trabalho como perda de autonomia, a intensificação e sobrecarga de tarefas no
adoecimento mental do corpo docente, especificamente da rede pública. Além disso, os
autores apontaram também que a finalidade do artigo foi contribuir tanto na necessidade de
pesquisas que busquem estender os efeitos na saúde mental dos professores quanto na
escassez de estudos baseados nas teorias do Desgaste Mental no Trabalho e da Psicodinâmica
do Trabalho, perspectivas relativamente novas que possuem uma construção identitária
própria para a realidade brasileira em termos de transformações e relações do trabalho.

Outrossim, os autores utilizam como referencial teórico teorias que negassem a neutralidade
do trabalho, uma vez que o artigo busca relacionar a atividade profissional dos professores
com os efeitos que ela pode trazer para a saúde desses trabalhadores. Portanto, as teorias do
Desgaste Mental no Trabalho e da Psicodinâmica do Trabalho. Mais além, o artigo aponta
como o sistema capitalista de produção tem influenciado nas mudanças na escola, assim
também fizeram uso da perspectiva histórico-crítica da educação para elucidar a forma como
as transformações das organizações do trabalho capitalista ao longo do tempo contribuíram
para que nas últimas décadas do século XX acontecesse uma intensificação do controle da
educação e do trabalho dos professores em particular, uma vez que a administração pública
assume um caráter mercadológico após mudanças econômicas e políticas no capitalismo.
A pesquisa também apresenta como as características do trabalho docente estão relacionadas
a um possível adoecimento mental desses trabalhadores, visto que o trabalho docente tem
uma grande demanda de envolvimento cognitivo, afetivo e emocional, além do seu teor
artesanal e feminilização da profissão por conta da associação do cuidado ao feminino,
portanto a carreira de professora é historicamente seguida por mulheres e sofre com a
desvalorização econômica e social. A meu ver, há uma carência no texto ao não pontuar que a
desvalorização contínua dos professores, combinada com a falta de financiamento
educacional, criou uma tempestade perfeita para uma saúde mental precária do corpo
docente. Não apenas menos pessoas vão para o ensino, mas os salários mais baixos
contribuem para a menor qualidade de vida e lazer dos professores.

Em seguida, o texto retoma as teorias do referencial teórico já mencionadas acima para


aprofundar na questão da saúde mental e sofrimento mental no trabalho, assumindo a não
neutralidade do trabalho os autores discutem como as características do trabalho ultrapassam
o espaço laboral e interferem na vida dos profissionais. Além do fato que os aspectos
desgastantes se sobressaem diante de fatores que favorecem as capacidades dos professores,
também é observado como as dimensões do trabalho, real e prescrito, estão em constante
conflito entre as normas preestabelecidas da atividade e criatividade à frente de situações
difíceis. Concluindo que o envolvimento subjetivo que ocorre está diretamente associado a
um sofrimento não patológico e as mudanças na organização do trabalho são de fato fatores
de agravamento do adoecimento mental dos professores.

Por fim, os autores afirmam que os principais aspectos que interferem na saúde mental dos
professores são a intensificação e sobrecarga de trabalho, com um número maior de
atividades, sem mais tempo estabelecido para sua realização na legislação, levando a sinais
de fadiga até casos de síndrome de burnout. O outro fator seria a diminuição das
possibilidades, limites e ameaças à autonomia no trabalho dos professores, avaliações
externas como Enem e demanda por uma educação conservadora se mostram atores
principais na limitação da liberdade e autonomia do corpo docente, assim ao diminuir o
envolvimento criativo pode ocorrer um aumento do sofrimento. Concluindo com a afirmação
que esses fenômenos não são novos e que os sinais de adoecimento e desgaste emocional
vividos na produção do trabalho só podem ser combatidos uma vez entendido que o trabalho
dos professores não pode acontecer sem autonomia e que é preciso uma alteração na jornada
de trabalhos desses profissionais.

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