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RESENHA CRÍTICA
Campos, M. F., & Viegas, M. F. (2021). Saúde mental no trabalho docente: um estudo
sobre autonomia, intensificação e sobrecarga. Cadernos de Pesquisa, 417-437.
Outrossim, os autores utilizam como referencial teórico teorias que negassem a neutralidade
do trabalho, uma vez que o artigo busca relacionar a atividade profissional dos professores
com os efeitos que ela pode trazer para a saúde desses trabalhadores. Portanto, as teorias do
Desgaste Mental no Trabalho e da Psicodinâmica do Trabalho. Mais além, o artigo aponta
como o sistema capitalista de produção tem influenciado nas mudanças na escola, assim
também fizeram uso da perspectiva histórico-crítica da educação para elucidar a forma como
as transformações das organizações do trabalho capitalista ao longo do tempo contribuíram
para que nas últimas décadas do século XX acontecesse uma intensificação do controle da
educação e do trabalho dos professores em particular, uma vez que a administração pública
assume um caráter mercadológico após mudanças econômicas e políticas no capitalismo.
A pesquisa também apresenta como as características do trabalho docente estão relacionadas
a um possível adoecimento mental desses trabalhadores, visto que o trabalho docente tem
uma grande demanda de envolvimento cognitivo, afetivo e emocional, além do seu teor
artesanal e feminilização da profissão por conta da associação do cuidado ao feminino,
portanto a carreira de professora é historicamente seguida por mulheres e sofre com a
desvalorização econômica e social. A meu ver, há uma carência no texto ao não pontuar que a
desvalorização contínua dos professores, combinada com a falta de financiamento
educacional, criou uma tempestade perfeita para uma saúde mental precária do corpo
docente. Não apenas menos pessoas vão para o ensino, mas os salários mais baixos
contribuem para a menor qualidade de vida e lazer dos professores.
Por fim, os autores afirmam que os principais aspectos que interferem na saúde mental dos
professores são a intensificação e sobrecarga de trabalho, com um número maior de
atividades, sem mais tempo estabelecido para sua realização na legislação, levando a sinais
de fadiga até casos de síndrome de burnout. O outro fator seria a diminuição das
possibilidades, limites e ameaças à autonomia no trabalho dos professores, avaliações
externas como Enem e demanda por uma educação conservadora se mostram atores
principais na limitação da liberdade e autonomia do corpo docente, assim ao diminuir o
envolvimento criativo pode ocorrer um aumento do sofrimento. Concluindo com a afirmação
que esses fenômenos não são novos e que os sinais de adoecimento e desgaste emocional
vividos na produção do trabalho só podem ser combatidos uma vez entendido que o trabalho
dos professores não pode acontecer sem autonomia e que é preciso uma alteração na jornada
de trabalhos desses profissionais.