O documento discute como as crianças são ensinadas a colocar a felicidade dos outros acima da própria, o que pode levar a situações de risco ao tentar agradar os outros. Também aborda como falar conosco mesmos com empatia pode ajudar a estabelecer limites saudáveis e preservar o bem-estar.
O documento discute como as crianças são ensinadas a colocar a felicidade dos outros acima da própria, o que pode levar a situações de risco ao tentar agradar os outros. Também aborda como falar conosco mesmos com empatia pode ajudar a estabelecer limites saudáveis e preservar o bem-estar.
O documento discute como as crianças são ensinadas a colocar a felicidade dos outros acima da própria, o que pode levar a situações de risco ao tentar agradar os outros. Também aborda como falar conosco mesmos com empatia pode ajudar a estabelecer limites saudáveis e preservar o bem-estar.
ele se sentisse mal… Nós ensinamos as crianças, desde cedo, a fazer os outros felizes, como se tal fosse sua responsabilidade. “Vai dar um beijinho à avó, que está triste”; “Vai com o tio, ele quer a tua companhia”; “Dá um abraço à tia, que gosta tanto de ti, para ela ficar contente” (...) Aprendemos que somos responsáveis pela felicidade dos outros”.
FÁTIMA SAMPAIO Ajudar é bom.
FERNANDES Sentir empatia é importante. Mas nunca a ponto de colocarmos em risco a nossa integridade
nós podemos usar uma ferra-
menta incrivelmente poderosa: a conversa interna distanciada. Psicóloga da Saúde Nós podemos falar connosco na terceira pessoa, colocando-nos na equação: “Patrícia, não te sin- A Patrícia viajou com alguns cole- tas mal. Ele é adulto. Não em- gas do seu departamento para Por- prestes o teu computador”; “Flo- tugal, em formação. O Ricardo jun- rentina, calma. Tu tens de cuidar tou-se à equipa um dia depois. Ti- de ti primeiro. Ele não é mais im- nha tomado a decisão um pouco portante do que tu, minha ami- mais tarde e não conseguira viajar ga!”; “Hermengarda, tapa a mão com os colegas no mesmo vôo. No quando estás a digitar o pin do regresso foi a mesma coisa: regres- cartão! Tens tanto dinheiro, que sariam todos a Luanda no mesmo o queres oferecer a alguém que te dia, mas não à mesma hora. O Ri- roube a carteira? Então, vá lá, juí- cardo quis acompanhar os colegas zo e amor-próprio”! ao aeroporto, e depois pediu à Pa- Também podemos falar con- trícia: “Pat, se não te importas, dei- nosco na primeira pessoa. Pode- xas-me ficar com o teu laptop para mos dizer a nós mesmos: “Eu não poder fazer o relatório? Ainda vou quero que ninguém tenha acesso ficar uma horas por aqui, e tenho aos meus dados pessoais. Não de enviar o documento ainda hoje, vou emprestar o meu computa- e o meu laptop tem um problema dor ou o meu telemóvel, porque qualquer de sistema…”. A Patrícia eu tenho o direito de preservar a olhou para ele. “Não te preocupes, minha intimidade. Quem me Pat, sou de confiança, não vou me- está a pedir é adulto, deverá en- xer em nada!”, disse o Ricardo, sor- contrar outra solução”; “O carro ridente e simpático. “Está bem. Vê é meu e não o quero emprestar. D.R.
lá se não mexes em nada mesmo” – Ele é adulto. Se ficar chateado:
riu a Patrícia, um pouco desconfor- terá de aprender a lidar com as tável. O Armando chegou perto da não queria que ele pensasse que Norwood, em “Mulheres que tem delas. A autora refere tam- suas emoções, mas eu não me Patrícia: “Porque é que lhe em- eu desconfiava dele! Eu não que- amam demais” (2009), ao fala- bém que as crianças que foram devo colocar em segundo lugar”; prestaste o teu laptop?”. “Ah” – res- ria que ele se sentisse mal!”. rem de pessoas que sempre ten- humilhadas na infância (ridicu- “Espero que a moça compreen- pondeu a Patrícia, nervosa – “Não O Marco perguntou à Hermen- tam agradar e que não conse- larizadas, envergonhadas em da, mas eu vou tapar quando digi- quis que ele se sentisse mal…” garda, ao saírem da loja: “Como é guem dizer “não”, sacrificando as público) podem desenvolver, to o pin. Não quero ser assaltada A Florentina foi ter com o RH que tu digitas o pin do teu cartão suas próprias necessidades e de- mais tarde, um certo prazer na por alguém que ficou a conhecer da empresa. Tinha ficado quase multicaixa assim, sem tapar?”. sejos, explicam que são pessoas dor e na humilhação (masoquis- o pin do meu cartão”. dois meses em casa e fora convo- “Ora” – exclamou a Hermengar- que, regra geral, vêm de lares dis- mo), expondo-se a situações po- Sabem como é que Ted Bundy, cada para explicar o que se pas- da – “Não queria que a moça pen- funcionais, onde não receberam tencialmente danosas. um famoso e prolífico assassino sava. Assim que se sentou diante sasse que eu desconfio dela! Não atenção e amor, aprendendo que Mas há outra razão. Nós ensi- em série atacava as suas vítimas? da Maria e da Rita, do RH, come- quis que ela se sentisse mal”. só agradando aos outros podiam namos as crianças, desde cedo, a Fazendo-se de “coitadinho”, com çou logo a chorar. “Oh, Dona receber algum tipo de validação. fazer os outros felizes, como se tal gesso no braço, pedindo ajuda Florentina, então o que se pas- E quem nunca? Lise Boubeau, em “As cinco fe- fosse sua responsabilidade. “Vai para colocar algo no carro. A situa- sa?” – perguntou, delicadamen- Porque é que isso acontece? Me- ridas emocionais” (2020), por dar um beijinho à avó, que está ção era estranha? Claro! Porquê te, a Maria. A Florentina expli- lody Beattie, em “Vencer a code- sua vez, explica que crianças que triste”; “Vai com o tio, ele quer a pedir ajuda a uma jovem sozinha, e cou que começara a namorar no pendência” (1986), e Robin se sentiram abandonadas na in- tua companhia”; “Dá um abraço à não aguardar para pedir ajuda a ano passado e que se envolvera fância, geralmente por genito- tia, que gosta tanto de ti, para ela um homem ou a um grupo de jo- com o companheiro sem preser- res do sexo oposto (e o abandono ficar contente”; “Empresta o teu vens? As jovens que foram estu- vativo. Descobrira, há cerca de pode ser a chegada de um irmão carrinho, não vês que o menino pradas e mortas pensaram nisso? dois meses, que ele, afinal, tinha mais novo; a ausência dos pais está a chorar?”. Aprendemos que Provavelmente. Mas o medo de fa- mulher, que além disso era mu- Como podemos devido a longas horas de traba- nós somos responsáveis pela feli- zer aquele homem jovial e bonito lherengo, e, pior, que tinha HIV e lho; ficar em casa da avó ou da cidade dos outros. E aprendemos sentir-se mal era muito maior que que lhe tinha passado a doença. deixar de nos tia, para estudar; a morte do pai que a felicidade dos outros é mais o instinto de preservação. “Oh Dona Florentina, mas então colocarmos em risco ou da mãe; ficar no hospital; importante que a nossa. Ajudar é bom. Sentir empatia envolveu-se sem preservativo, por preocupação etc.), tornam-se, muitas vezes, Como podemos deixar de nos é importante. Mas nunca a pon- sem antes fazerem testes e sem o dependentes, com medo de erra- colocarmos em risco por preocu- to de colocarmos em risco a nos- conhecer bem?” – perguntou, com os sentimentos rem e serem abandonadas de pação com os sentimentos do ou- sa integridade física, a nossa paz, suavemente, a Rita. A Florenti- do outro? novo, esforçando-se o tempo tro? Ethan Kross, em “A voz na a nossa vida. Para reflexão. For- na desatou a chorar de novo: “Eu todo por agradar, para que gos- sua cabeça” (2021), explica como ça. Fique bem.